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Informativo Nascimento e Mourão Março – Abril 2016 (empregados, administradores, partes beneficiárias, debêntures, entre outros). Com efeito, a definição de resultados não operacionais deve ser encontrada por meio da observância de normas e preceitos contábeis, pois que a Lei 6.404/76 (“Lei das S/A”) não nos traz tal definição, de tal modo, como conclusão e argumento derradeiro, toma-se como referência precípua a Norma de Procedimento de Contabilidade (“NPC”) nº 14, emitido pelo Instituto dos Auditores Independentes do Brasil - IBRACON, o qual define que a contribuição dos proprietários, acionistas ou quotistas exclui-se da definição de receita 3 , de tal forma, as importâncias oriundas de ágio na emissão de quotas ou ações (essas, mantidas como reserva de capital) não devem configurar renda, sendo excluída hipótese de incidência do IR. Este entendimento foi, inclusive, acolhido pela segunda instância, sendo derrubada apenas (e por votação não unânime, como conferimos acima) na última instância. Outros pontos a serem considerados como relevantes, são: (i) tal decisão contraria a jurisprudência anterior do próprio CARF, a qual acolhia a posição dos contribuintes pela não incidência de IR nesse tipo de operação; (ii) a título de argumentação (embora tal tese tenha sido, de início, afastada pelo voto vencedor do CARF), como mecanismo de proteção à sociedades de responsabilidade limitada, especificamente neste cenário, pode-se incluir cláusula no contrato social determinando que suas regras serão regidas, subsidiariamente, pela Lei das S/A (de tal modo, as regras que regem as S/A seriam aplicáveis, também, às sociedades limitadas, descartando a incidência de IR conforme demonstrado acima); e (iii) as decisões do CARF, embora notoriamente reconhecidas no universo tributário, podem ser derrubadas por entendimentos advindos do judiciário, abrindo considerável margem para relevante discussão sobre o tema. Vinícius Oliveira Bocalini A chegada do novo Código de Processo Civil Após anos de muita expectativa da sociedade brasileira, intensos debates, infindáveis audiências públicas e idas e vindas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, enfim o Novo Código de Processo Civil (CPC - Lei nº 13.105/2015) entrou em vigência no último dia 18 de março. A nova lei vem para substituir o antigo e retalhado código processual, que vinha sendo utilizado desde 1973, Em recente decisão 1 , o Conselho de Administração de Recursos Fiscais (“CARF”), órgão subordinado ao Ministério da Fazenda, o qual possui como finalidade o julgamento, em esfera administrativa, de recursos dos contribuintes em débito com a Receita Federal, estabeleceu entendimento, não unânime, acerca da incidência de imposto de renda (“IR”) sobre o ágio na subscrição de quotas de sociedades de responsabilidade limitada. O ágio, em matéria societária vinculada a aquisições de empresa, é a diferença do valor efetivamente pago pelo adquirente e o valor nominal estabelecido em um papel (neste caso, quota), de tal forma, o ágio constitui-se como o valor pago pelo adquirente pela expectativa de rentabilidade futura da empresa adquirida. Apontada matéria foi objeto de muita divergência em esfera administrativa, até sobrevir decisão de última instância, prolatada pelo CARF, desfavorável aos contribuintes. A discussão concentra-se, sobretudo, na interpretação diversa da legislação concernente ao tema. O CARF, por maioria, decidiu que o IR não terá incidência somente nas operações efetuadas por sociedades anônimas e quando o ágio destinar-se à reserva de capital 2 , sendo, portanto aplicável a incidência do IR sobre operações dessa ordem em sociedades distintas, de natureza societária diversa, tomando como justificativa que a norma preceitua especificamente “companhias abertas” no seu texto. Para reforçar o argumento, o voto vencedor ainda ressaltou que tal mecanismo seria um incentivo ao mercado de capitais e ao mercado de valores mobiliários, vez que as quotas de sociedades de responsabilidade limitada não contemplam negociação nas bolsas de valores. Todavia, a posição contrária, fundamentada por argumentos que foram, inclusive, acolhidos pelo voto vencido e prolatado pelo relator do processo, asseveram que valores recebidos neste tipo de operação simplesmente não configuram renda, de tal forma, não seria possível a incidência do IR. Como fundamento, apontam argumentos estritamente técnicos, esclarecendo que o lucro líquido é composto a partir da soma do resultado operacional (consecução do objeto social da empresa, pela prestação de serviços e/ou venda de produtos, menos despesas operacionais) com os resultados não operacionais (receitas menos despesas não operacionais), menos as participações www.nascimentomourao.adv.br - telefone: (11) 2608-8300 A Incidência de Imposto de Renda sobre o ágio na aquisição de quotas de Sociedade Limitada 1 Processo nº 13899.002346/2003-88, sessão de 07 de outubro de 2014. 2 Conforme preceito do art. 442 do Regulamento do Imposto de Renda, que, por sua vez, tem base legal no art. 38, inciso I do Decreto-lei nº 1.598/77, o qual define que “Não serão computadas na determinação do lucro real as importâncias, creditadas a reservas de capital, que o contribuinte com a forma de companhia receber dos subscritores de valores mobiliários de sua emissão a título de: I - ágio na subscrição de ações por preço superior ao valor nominal, ou a parte do preço de emissão de ações sem valor nominal destinadas a formação de reserva de capital. 3 O NPC nº 14 dispõe, entre outros pontos, que: “Receita é a entrada bruta de benefícios econômicos durante o período que ocorre no curso das atividades ordinárias de uma empresa, quando tais entradas resultam em aumento do patrimônio líquido, excluídos aqueles decorrentes de contribuições dos proprietários, acionistas ou quotistas”.

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Informativo Nascimento e Mourão Março – Abril 2016

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(empregados, administradores, partes beneficiárias, debêntures, entre outros). Com efeito, a definição de resultados não operacionais deve ser encontrada por meio da observância de normas e preceitos contábeis, pois que a Lei 6.404/76 (“Lei das S/A”) não nos traz tal definição, de tal modo, como conclusão e argumento derradeiro, toma-se como referência precípua a Norma de Procedimento de Contabilidade (“NPC”) nº 14, emitido pelo Instituto dos Auditores Independentes do Brasil - IBRACON, o qual define que a contribuição dos proprietários, acionistas ou quotistas exclui-se da definição de receita3, de tal forma, as importâncias oriundas de ágio na emissão de quotas ou ações (essas, mantidas como reserva de capital) não devem configurar renda, sendo excluída hipótese de incidência do IR. Este entendimento foi, inclusive, acolhido pela segunda instância, sendo derrubada apenas (e por votação não unânime, como conferimos acima) na última instância. Outros pontos a serem considerados como relevantes, são: (i) tal decisão contraria a jurisprudência anterior do próprio CARF, a qual acolhia a posição dos contribuintes pela não incidência de IR nesse tipo de operação; (ii) a título de argumentação (embora tal tese tenha sido, de início, afastada pelo voto vencedor do CARF), como mecanismo de proteção à sociedades de responsabilidade limitada, especificamente neste cenário, pode-se incluir cláusula no contrato social determinando que suas regras serão regidas, subsidiariamente, pela Lei das S/A (de tal modo, as regras que regem as S/A seriam aplicáveis, também, às sociedades limitadas, descartando a incidência de IR conforme demonstrado acima); e (iii) as decisões do CARF, embora notoriamente reconhecidas no universo tributário, podem ser derrubadas por entendimentos advindos do judiciário, abrindo considerável margem para relevante discussão sobre o tema.

Vinícius Oliveira Bocalini

A chegada do novo Código de Processo Civil

Após anos de muita expectativa da sociedade brasileira, intensos debates, infindáveis audiências públicas e idas e vindas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, enfim o Novo Código de Processo Civil (CPC - Lei nº 13.105/2015) entrou em vigência no último dia 18 de março. A nova lei vem para substituir o antigo e retalhado código processual, que vinha sendo utilizado desde 1973,

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Em recente decisão1, o Conselho de Administração de Recursos Fiscais (“CARF”), órgão subordinado ao Ministério da Fazenda, o qual possui como finalidade o julgamento, em esfera administrativa, de recursos dos contribuintes em débito com a Receita Federal, estabeleceu entendimento, não unânime, acerca da incidência de imposto de renda (“IR”) sobre o ágio na subscrição de quotas de sociedades de responsabilidade limitada. O ágio, em matéria societária vinculada a aquisições de empresa, é a diferença do valor efetivamente pago pelo adquirente e o valor nominal estabelecido em um papel (neste caso, quota), de tal forma, o ágio constitui-se como o valor pago pelo adquirente pela expectativa de rentabilidade futura da empresa adquirida. Apontada matéria foi objeto de muita divergência em esfera administrativa, até sobrevir decisão de última instância, prolatada pelo CARF, desfavorável aos contribuintes. A discussão concentra-se, sobretudo, na interpretação diversa da legislação concernente ao tema. O CARF, por maioria, decidiu que o IR não terá incidência somente nas operações efetuadas por sociedades anônimas e quando o ágio destinar-se à reserva de capital2, sendo, portanto aplicável a incidência do IR sobre operações dessa ordem em sociedades distintas, de natureza societária diversa, tomando como justificativa que a norma preceitua especificamente “companhias abertas” no seu texto. Para reforçar o argumento, o voto vencedor ainda ressaltou que tal mecanismo seria um incentivo ao mercado de capitais e ao mercado de valores mobiliários, vez que as quotas de sociedades de responsabilidade limitada não contemplam negociação nas bolsas de valores. Todavia, a posição contrária, fundamentada por argumentos que foram, inclusive, acolhidos pelo voto vencido e prolatado pelo relator do processo, asseveram que valores recebidos neste tipo de operação simplesmente não configuram renda, de tal forma, não seria possível a incidência do IR. Como fundamento, apontam argumentos estritamente técnicos, esclarecendo que o lucro líquido é composto a partir da soma do resultado operacional (consecução do objeto social da empresa, pela prestação de serviços e/ou venda de produtos, menos despesas operacionais) com os resultados não operacionais (receitas menos despesas não operacionais), menos as participações

www.nascimentomourao.adv.br - telefone: (11) 2608-8300

A Incidência de Imposto de Renda sobre o ágio na aquisição de quotas de Sociedade Limitada

1 Processo nº 13899.002346/2003-88, sessão de 07 de outubro de 2014. 2 Conforme preceito do art. 442 do Regulamento do Imposto de Renda, que, por sua vez, tem base legal no art. 38, inciso I do Decreto-lei nº 1.598/77, o qual define que “Não serão computadas na determinação do lucro real as importâncias, creditadas a reservas de capital, que o contribuinte com a forma de companhia receber dos subscritores de valores mobiliários de sua emissão a título de: I - ágio na subscrição de ações por preço superior ao valor nominal, ou a parte do preço de emissão de ações sem valor nominal destinadas a formação de reserva de capital. 3 O NPC nº 14 dispõe, entre outros pontos, que: “Receita é a entrada bruta de benefícios econômicos durante o período que ocorre no curso das atividades ordinárias de uma empresa, quando tais entradas resultam em aumento do patrimônio líquido, excluídos aqueles decorrentes de contribuições dos proprietários, acionistas ou quotistas”.

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período da ditadura militar, e que foi objeto de mais de 60 mudanças desde sua criação. Concebido com a ideia de combater a morosidade do Poder Judiciário brasileiro, a nova codificação processual trouxe notáveis inovações no que concerne ao trâmite processual, adotando uma nova dinâmica de prazos, recursos e ritos processuais, com especial destaque para o fortalecimento dos mecanismos de solução alternativa de conflitos, com estímulo à adoção de soluções consensuais por meio da conciliação (como medida prévia à apresentação de defesa pelo réu) e da mediação, a fim de se evitar que uma discussão, que pode facilmente ser resolvida, arraste-se por anos. Outra mudança relevante consiste na elevação dos custos para aqueles que litigam em demasia, como meio de inibir a interposição de recursos de maneira excessiva e desnecessária. Pela nova sistemática, o tribunal poderá elevar o valor dos honorários advocatícios de sucumbência fixados na decisão anterior, bem como deverá fixar honorários de sucumbência por ocasião do julgamento de cada recurso interposto. Tal novidade certamente fará com que advogados e clientes analisem o caso e a jurisprudência aplicável com mais critério, evitando custo desnecessário e possível majoração dos honorários advocatícios da parte contrária em caso de confirmação da decisão recorrida. Existe ainda, o fortalecimento dos precedentes como medida para se buscar soluções mais uniformes, evitando julgamentos contraditórios em casos idênticos. Nesse sentido, a exemplo dos recursos repetitivos, criou-se o chamado Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, aplicável nas situações em que se identificar a existência de um número considerável de demandas judiciais similares, permitindo aos tribunais selecionar uma delas e suspender as demais até ulterior deliberação sobre a matéria objeto dos conflitos, cuja decisão será aplicável a todos os casos. Tal medida visa evitar que dois juízes profiram decisões distintas sobre casos muito parecidos. Se o Novo CPC vai melhorar o andamento dos processos já existentes e diminuir a morosidade do Poder Judiciário, só com a sua aplicação e tempo teremos certeza. Juristas estão divididos sobre sua eficácia ou melhora do sistema jurídico brasileiro. Até lá, cabem aos advogados, promotores, juízes, conciliadores e defensores adaptarem-se às novas regras e melhor conduzir os processos já existentes e os que estão por vir.

O novo marco legal da biodiversidade e novos requisitos

para requisição de direitos de propriedade intelectual A pesquisa e desenvolvimento de produtos com biodiversidade brasileira, no Brasil, é regulada pela Lei 13.123/2015, que entrou em

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vigor em novembro de 2015. Esta nova norma estabelece diversas obrigações àquele que deseja acessar a biodiversidade brasileira, i.e. para quem deseja identificar alguma funcionalidade na espécie da biodiversidade brasileira e a utilizar para desenvolver algum produto. Mesmo com a instituição destas novas obrigações a quem deseja pleitear a proteção a direitos de propriedade intelectual, esta norma representa um avanço e estímulo à inovação e desenvolvimento de pesquisas no Brasil, com biodiversidade brasileira, na medida em que elimina a necessidade de autorização prévia de acesso ao patrimônio genético nacional ou ao conhecimento tradicional associado, requisito que era necessário quando a legislação aplicável a este tema era a Medida Provisória nº 2.186-16/2001. Neste novo regime, aquele que deseja pesquisar a biodiversidade brasileira deve realizar cadastro informando sobre suas atividades em sistema a ser disponibilizado pela União e aquele que desejar comercializar produtos oriundos de acesso ao patrimônio genético ou conhecimento tradicional a ele associado, deverá notificar seus produtos previamente ao início de sua comercialização, bem como repartir benefícios na ordem de 1% da receita líquida destes produtos. Ainda, a nova lei libera as operações de licenciamento, transferência ou permissão de utilização de qualquer forma de direito de propriedade intelectual da obrigação de pagamento de repartição de benefícios, situação que beneficia em muito a inovação no país, sem onerar a transferência ou licenciamento de direitos de propriedade intelectual. Contudo, a nova lei institui nova obrigação a ser atendida por aquele que deseja pleitear direito

de propriedade intelectual oriundo de acesso ao patrimônio genético ou ao conhecimento tradicional a ele associado, qual seja, o interessado em realizar um depósito de patente, por exemplo, passa a ter a obrigação de realizar, previamente ao requerimento perante o INPI, o cadastramento de sua atividade de acesso ao patrimônio genético perante o CGEN. As informações que deverão ser prestadas para fins de realização do referido cadastro ainda não foram previstas quer na nova lei, quer em seu regulamento que ainda não foi publicado e atualmente está em fase de consulta pública até o dia 02 de maio de 2016. Assim, passará a ser essencial

a todas as empresas e instituições de pesquisas que desenvolvem tecnologia a partir do patrimônio genético nacional que realizem seus cadastros perante o CGEN sob pena de não conseguirem realizar o requerimento de qualquer direito de propriedade

intelectual. Caso desejem entender se as patentes de V.Sas. demandariam a realização deste cadastro ou se desejarem conhecer em mais detalhes quais serão as informações exigidas para a realização do cadastro, estaremos à disposição.

• O sócio Carlos Mourão foi nomeado membro do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil para a gestão 2016-2018, e também presidente da Comissão de Advocacia Pública da Seção SP da OAB/Brasil, que terá assento na Comissão de Direitos e Prerrogativas da entidade.

• O sócio João Emmanuel Cordeiro Lima e o consultor Pedro Henrique Cordeiro Lima conduziram uma exposição sobre “Fiscalização ambiental e a responsabilização da empresa e de seus sócios-administradores” na Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte – FIERN. A palestra ocorreu durante a reunião mensal da Diretoria da FIERN, realizada em 1° de abril em Natal-RN.

• Em 9 de março a sócia Alessandra Mourão participou como debatedora na sessão plenária da Cúpula Latino Americana de Líderes de Ordens e Colégios de Advogados da International Bar Association (IBA). O evento teve como tema geral The future of continuous legal education.

• O consultor Pedro Henrique Cordeiro Lima é o novo presidente da Comissão de Direito Imobiliário e Condominial da OAB/RN.

• O Curso de Formação Inicial do 185° Concurso de Ingresso na Magistratura, ministrado pela Escola Paulista da Magistratura – EPM, contou com a palestra “Técnica e Treinamento em Mediação“, apresentada pela sócia Alessandra Mourão em 23 de março.

• O sócio João Emmanuel Cordeiro Lima participou da mesa sobre Licenciamentos, Fiscalização e Responsabilidades Sócio-Ambientais no Fórum Nacional Eólico, que ocorreu em Natal-RN nos dias 18 e 19 de abril.

NOTÍCIAS NASCIMENTO E MOURÃO

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