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Informativo 652-STJ (16/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Informativo comentado: Informativo 652-STJ Márcio André Lopes Cavalcante ÍNDICE DIREITO ADMINISTRATIVO ANISTIA POLÍTICA O acórdão concessivo do MS que determina o pagamento retroativo dos valores devidos a anistiado político deve incluir também os juros de mora e correção monetária. DIREITO EMPRESARIAL FALÊNCIA Em caso de falência do banco, os titulares de CDB deverão tentar receber seus créditos habilitando-os na falência, não sendo possível mero pedido de restituição. RECUPERAÇÃO JUDICIAL Em caso de recuperação judicial pedido por meio de litisconsórcio ativo, a exigência dos 2 anos deverá ser contada individualmente. DIREITO PROCESSUAL CIVIL MULTA COMINATÓRIA É cabível multa cominatória para compelir provedor de acesso a internet ao fornecimento de dados para identificação de usuário. EXECUÇÃO O prazo para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em dias úteis. A oposição de embargos do devedor por aquele que recorreu contra a decisão que incluiu seu nome no polo passivo da execução não representa prática de ato incompatível com a vontade de recorrer. DIREITO PENAL PRESCRIÇÃO O termo “sentença” contido no art. 115 do Código Penal se refere à primeira decisão condenatória, seja a do juiz singular ou a proferida pelo Tribunal, não se operando a redução do prazo prescricional quando a sentença condenatória é confirmada em sede de apelação. DIREITO PROCESSUAL PENAL INVESTIGAÇÃO CRIMINAL É possível a deflagração de investigação criminal com base em matéria jornalística. DIREITO TRIBUTÁRIO EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO NÃO TRIBUTÁRIO É cabível a suspensão da exigibilidade do crédito não tributário mediante a apresentação de fiança bancária ou de seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de 30%. IPI Crédito presumido de IPI integra a base de cálculo do IRPJ e da CSLL.

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Informativo 652-STJ (16/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Informativo comentado: Informativo 652-STJ

Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE DIREITO ADMINISTRATIVO

ANISTIA POLÍTICA O acórdão concessivo do MS que determina o pagamento retroativo dos valores devidos a anistiado político deve

incluir também os juros de mora e correção monetária.

DIREITO EMPRESARIAL

FALÊNCIA Em caso de falência do banco, os titulares de CDB deverão tentar receber seus créditos habilitando-os na falência,

não sendo possível mero pedido de restituição. RECUPERAÇÃO JUDICIAL Em caso de recuperação judicial pedido por meio de litisconsórcio ativo, a exigência dos 2 anos deverá ser contada

individualmente.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

MULTA COMINATÓRIA É cabível multa cominatória para compelir provedor de acesso a internet ao fornecimento de dados para

identificação de usuário. EXECUÇÃO O prazo para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em dias úteis. A oposição de embargos do devedor por aquele que recorreu contra a decisão que incluiu seu nome no polo passivo

da execução não representa prática de ato incompatível com a vontade de recorrer.

DIREITO PENAL

PRESCRIÇÃO O termo “sentença” contido no art. 115 do Código Penal se refere à primeira decisão condenatória, seja a do ju iz

singular ou a proferida pelo Tribunal, não se operando a redução do prazo prescricional quando a sentença condenatória é confirmada em sede de apelação.

DIREITO PROCESSUAL PENAL

INVESTIGAÇÃO CRIMINAL É possível a deflagração de investigação criminal com base em matéria jornalística.

DIREITO TRIBUTÁRIO

EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO NÃO TRIBUTÁRIO É cabível a suspensão da exigibilidade do crédito não tributário mediante a apresentação de fiança bancária ou de

seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de 30%. IPI Crédito presumido de IPI integra a base de cálculo do IRPJ e da CSLL.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

APOSENTADORIA ESPECIAL O tempo que o segurado fica afastado do trabalho gozando de auxílio-doença pode ser considerado “tempo

especial” para fins de aposentadoria especial. O Decreto 53.831/64, no seu item 2.2.1, considera como insalubre somente os serviços e atividades profissionais

desempenhados na agropecuária, não se enquadrando como tal a atividade laboral exercida apenas na lavoura da cana-de-açúcar.

PENSÃO POR MORTE Em caso de revisão de pensão por morte mediante revisão da RMI da aposentadoria que a originou, o termo inicial

do prazo decadencial para a ação é a data da concessão da aposentadoria (benefício originário).

DIREITO ADMINISTRATIVO

ANISTIA POLÍTICA O acórdão concessivo do MS que determina o pagamento retroativo dos valores devidos a

anistiado político deve incluir também os juros de mora e correção monetária

Não é necessário o ajuizamento de ação autônoma para o pagamento dos consectários legais inerentes à reparação econômica devida a anistiado político e reconhecida por meio de Portaria do Ministro da Justiça, a teor do disposto no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) e no art. 6º, § 6º, da Lei 10.559/2002.

STF. 1ª Turma. RMS 36182/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/5/2019 (Info 940).

É devida a incidência de correção monetária e juros moratórios em ação mandamental para pagamento de retroativos devidos àqueles declarados anistiados políticos, independentemente de decisão expressa nesse sentido.

STJ. 1ª Seção. AgInt no MS 24.212-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/06/2019 (Info 652).

Os juros de mora e a correção monetária constituem consectários legais da condenação, de modo que incidem independentemente de expresso pronunciamento judicial.

STF. Plenário. RE 553710 ED, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 01/08/2018.

Imagine a seguinte situação hipotética: João foi vítima de perseguição política praticada pelo governo federal durante a época da ditadura militar, instalada no Brasil em 1964. Ele era cabo da Aeronáutica e, por ser considerado “subversivo” pelo regime militar, foi expulso das Forças Armadas.

Anistia política e reparação de natureza econômica A fim de reparar política e economicamente situações como a que foi relatada acima, que atingiram milhares de indivíduos na época da ditadura militar, a CF/88 previu, no art. 8º do ADCT, que a União poderá conceder anistia política a pessoas que foram prejudicadas por perseguições decorrentes de motivação política no período de 18/09/1946 até a data de promulgação da Constituição. Há previsão também de que o anistiado receba uma reparação de natureza econômica, a ser paga pela União, em alguns casos nos quais fique demonstrado que ele sofreu prejuízos em sua atividade laboral.

Voltando ao exemplo: Em 1998, João requereu a anistia política e seus efeitos.

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Em 2004, a anistia foi concedida pela Portaria 84/2004 do Ministério da Justiça. Desde então, o anistiado recebe reparação econômica mensal, permanente e continuada, de R$ 3.000,00. Ocorre que o Governo ainda não lhe pagou os valores atrasados relativos ao período que vai de 1998 a 2004, o que totaliza cerca de R$ 200.000,00. Três meses depois, João impetrou mandado de segurança contra o Ministro da Defesa afirmando que já se passou o prazo de 60 dias previsto na Lei sem que ele tenha recebido a quantia atrasada. Diante disso, pugna pelo cumprimento integral da portaria e, consequentemente, o pagamento dos valores pretéritos.

Cabe mandado de segurança neste caso? SIM. Configurado o direito líquido e certo do anistiado, ele poderá impetrar mandado de segurança, considerando que o pedido e a causa de pedir desta ação é o cumprimento integral da Portaria, que consiste em uma obrigação de fazer. É claro que o cumprimento efetivo da Portaria irá provocar efeitos patrimoniais em favor do autor, mas o pedido do MS é que ele seja reconhecido de forma efetiva como anistiado político. O pagamento dos valores é mera consequência disso. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. RMS 26.899/DF, Min. Rel. Cármen Lúcia, DJe de 6/8/10. Diferentemente de uma ação de cobrança que é proposta para o pagamento de valores atrasados, no caso em tela temos um mandado de segurança impetrado para que seja cumprida norma editada pela própria Administração (Portaria do Ministro da Justiça). Logo, não incide, no caso, a proibição contida nas súmulas 269 e 271 do STF:

Súmula 271-STF: Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais, em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria. Súmula 269-STF: O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.

Além do valor principal, o acórdão do mandado de segurança deverá assegurar ao impetrante também os consectários legais (juros e correção monetária) ou o autor terá que ajuizar uma outra ação apenas para cobrar esses valores? O próprio acórdão do MS deverá assegurar o pagamento dos juros e correção monetária. Esse é o entendimento do STF:

Não é necessário o ajuizamento de ação autônoma para o pagamento dos consectários legais inerentes à reparação econômica devida a anistiado político e reconhecida por meio de Portaria do Ministro da Justiça, a teor do disposto no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) e no art. 6º, § 6º, da Lei 10.559/2002. STF. 1ª Turma. RMS 36182/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/5/2019 (Info 940).

Assim, o acórdão concessivo do mandado de segurança deverá determinar o pagamento retroativo dos valores devidos a anistiado político acrescidos de juros de mora e correção monetária, por serem estes acessórios ao valor principal, afastando-se a incidência da Súmula 269 do STF. Nesse sentido:

(...) 2. Havendo condenação da instância inferior ao pagamento de juros de mora e correção monetária, uma vez mantido o acórdão recorrido, também está reconhecido o direito ao percebimento de tais valores, ainda que a respeito do tema não se tenha pronunciado expressamente o STF. 3. Os juros de mora e a correção monetária constituem consectários legais da condenação, de modo que incidem independentemente de expresso pronunciamento judicial. 4. Embargos de declaração acolhidos apenas para esclarecer que os valores retroativos previstos nas portarias de anistia deverão ser acrescidos de juros moratórios e de correção monetária. STF. Plenário. RE 553710 ED, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 01/08/2018.

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(...) 2. O Superior Tribunal de Justiça aplica orientação, segundo a qual, o direito líquido e certo amparável na via mandamental restringia-se ao reconhecimento da omissão da autoridade impetrada em providenciar o pagamento das parcelas pretéritas da reparação econômica decorrente de anistia política, conforme valor nominal previsto na Portaria Ministerial concessiva do benefício. Assim, a fixação de juros e correção monetária poderia ser buscada em ação própria, dada a impossibilidade da cobrança de valores em sede de Mandado de Segurança, consoante enunciado da Súmula 269/STF. 3. No entanto, essa orientação há de ser modificada, para se ajustar à compreensão atual e contemporânea da problemática da recomposição da situação jurídica derivada de direito líquido e certo amparável na via mandamental, ou seja, direito subjetivo na esmerada posição de liquidez e certeza, comprovado de plano e por meio de elementos materiais prévios. Parece de absoluta transparência e calcada na mais definida intuição de justiça que a situação ilegal ou abusiva a que o mandamus pôs fim deve retornar, integralmente, ao estado anterior à prática do ato vulnerador. Por tal razão, tudo o que for devido ao impetrante lhe deve ser reposto prontamente, pela força da decisão mandamental concessiva da ordem. 4. A Súmula 269/STF, cujo enunciado se opõe a este entendimento, tem a seu favor a ancianidade de sua edição - 55 anos - de modo que, somente por milagre, haveria de se manter atual e ensejadora de observância irrestrita. A interpretação deste verbete, porém, deve ser temperada com as várias regras legais que alteraram o perfil do Mandado de Segurança. E deve ser alterada, sobretudo, pela evolução vigorosa que este instituto sofreu nas últimas décadas, em virtude da progressiva afirmação dos Direitos Humanos e Fundamentais, no sentido albergar sob a sua proteção os mais vastos contingentes individuais e os mais amplos direitos subjetivos. 5. Não há mais razão jurídica e nem moral na alternativa de encaminhar-se o pleito de valores anteriores à impetração para as chamadas vias ordinárias, quando já se tem uma decisão judicial mandamental favorável ao direito da parte. Isso significaria protelar para as calendas gregas a fruição do direito pela parte que o titula, congestionar as instâncias judiciais, em situação de desnecessidade, expor-se a União ao pagamento de honorários, porque a Ação de Cobrança lhe seria, fatalmente, desfavorável e, além disso, amesquinhar o préstimo do Mandado de Segurança, encurtando o alcance de sua eficácia. 6. Bem por isso, no julgamento dos Embargos Declaratórios opostos no RE 553.710/DF, de relatoria do Ministro DIAS TOFFOLI, DJe 23.8.2018, o STF decidiu que os valores retroativos previstos nas Portarias de Anistia hão de ser acrescidos de juros moratórios e de correção monetária, desde o momento em que verba se tornou devida. Como bem disse o ilustre Relator, incumbe lembrar que a correção monetária e os juros moratórios consistem em consectários legais da condenação, consequências automáticas da decisão condenatória e, portanto, são devidos independentemente de expresso pronunciamento judicial - sua obrigatoriedade decorre automaticamente de dispositivo de lei. 7. A leitura principiológica desse precedente, bem como da decisão do eminente Ministro LUIZ FUX, no RE 35.990/DF, asseguram o entendimento de que os juros moratórios e a correção monetária, por serem consectários legais, são deferidos ao impetrante mandamental vitorioso, juntamente com a sua própria pretensão no writ. Isso não constitui pretensão autônoma, nem pedido isolado e, muito menos, significa deferimento de pedido não formulado. Este é o pensamento judicial contemporâneo, atualizador da máxima eficácia da plataforma garantista, de modo a prover os institutos de proteção dos direitos e das liberdades da maior abrangência possível e também de sua efetividade maximizada. (...) STJ. 1ª Seção. MS 22.221/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 10/04/2019.

Vale ressaltar ainda que:

É devida a incidência de correção monetária e juros moratórios em ação mandamental para pagamento de retroativos devidos àqueles declarados anistiados políticos, independentemente de decisão expressa nesse sentido. STJ. 1ª Seção. AgInt no MS 24.212-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/06/2019 (Info 652).

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Os juros de mora e a correção monetária constituem consectários legais da condenação, de modo que incidem independentemente de expresso pronunciamento judicial. STF. Plenário. RE 553710 ED, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 01/08/2018.

Peculiaridade que gera polêmica Em princípio, o entendimento acima não se confunde com estes outros julgados do STJ:

Nos casos de anistia política, em sede de mandado de segurança, só é possível a inclusão de juros de mora e correção monetária na fase executiva quando houver decisão expressa nesse sentido. STJ. 1ª Seção. ExeMS 18782-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/09/2018 (Info 634). STJ. 1ª Seção. AgInt na ExeMS 14.607/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/04/2019.

(...) nos casos de anistia política, em sede de mandado de segurança, só é possível a inclusão de juros de mora e correção monetária na fase executiva quando houver decisão expressa nesse sentido (Informativo 634/STJ). STJ. 1ª Seção. EDcl no AgInt na ExeMS 18.366/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/06/2019.

O STJ disse que são situações diferentes: • STF RMS 36182/DF e STJ MS 22.221/DF: aqui se está dizendo que o acórdão que julgar o MS deverá, obrigatoriamente, incluir os juros e correção monetária. Se não incluir, o autor deverá recorrer pedindo que seja corrigida essa lacuna. • STJ ExeMS 18782-DF e AgInt na ExeMS 14.607/D: nestes julgados, o caso concreto teve peculiaridades. O acórdão do MS, na fase de conhecimento, não incluiu os juros e correção monetária. Pelo entendimento que expliquei, o autor poderia ter recorrido pedindo a sua inclusão. Ocorre que o autor não recorreu e, portanto, houve o trânsito em julgado. Assim, o título executivo (acórdão do MS) não incluiu os juros e correção monetária. Quando chegou na fase de execução, o autor pediu a execução também dos juros e correção monetária. O STJ afirmou que isso não era possível porque não estava previsto no título executivo (ofenderia a coisa julgada). Veja o que explicou o Min. Relator no STJ:

“Não se desconhece que o Supremo Tribunal Federal, ao apreciar os Embargos de Declaração no RE 553.710/DF, em 1º de agosto de 2018, estabeleceu que ‘os valores retroativos previstos nas portarias de anistia deverão ser acrescidos de juros moratórios e de correção monetária’. Contudo, essa decisão refere-se a feito julgado na fase de conhecimento (recurso ordinário interposto em face de acórdão deste Tribunal proferido em sede de mandado de segurança), cujos efeitos não podem ser ampliados aos feitos que já se encontram na fase executiva, sob pena de manifesta afronta à coisa julgada.”

Não sei se essa distinção proposta pelo STJ irá prevalecer, considerando que no item 3 da ementa do RE 553710 ED, o STF afirma: “Os juros de mora e a correção monetária constituem consectários legais da condenação, de modo que incidem independentemente de expresso pronunciamento judicial.” No entanto, por ora, essa diferenciação existe na prática. Para fins de concurso, é bem provável que sejam cobradas as seguintes afirmações: • É devida a incidência de correção monetária e juros moratórios em ação mandamental para pagamento de retroativos devidos àqueles declarados anistiados políticos, independentemente de decisão expressa nesse sentido. (CERTO) • Os juros de mora e a correção monetária constituem consectários legais da condenação, de modo que incidem independentemente de expresso pronunciamento judicial. (CERTO).

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DIREITO EMPRESARIAL

FALÊNCIA Em caso de falência do banco, os titulares de CDB deverão tentar receber seus créditos

habilitando-os na falência, não sendo possível mero pedido de restituição

Os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) se submetem aos efeitos da falência da instituição financeira.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.801.031-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/06/2019 (Info 652).

CDB Se você é acostumado com investimentos financeiros, certamente já ouviu falar em CDB. CDB (Certificados de Depósito Bancário) é um título privado, que é emitido pelas instituições financeiras como forma de captação de recursos. Se o banco está precisando de dinheiro, ele emite o CDB. O indivíduo interessado em investir pode adquirir (“comprar”) o CDB pagando o valor ao banco. Em troca, o banco se compromete a devolver o valor recebido acrescido de juros. Assim, o banco consegue o dinheiro que precisava e o investidor será remunerado com os juros pagos. Imagine agora a seguinte situação hipotética: João decidiu investir seu dinheiro e, para tanto, adquiriu três certificados de depósito bancário (CDBs), no valor de R$ 600 mil, do Banco BVA S.A. Percebendo que o banco estava passando por dificuldades financeiras, João pediu o resgaste antecipado dos CDBs, mas a instituição financeira não efetuou o pagamento. Logo em seguida o banco foi à falência. Diante disso, indaga-se: esses CDBs também estarão sujeitos aos efeitos da falência? João terá que tentar receber seu crédito por meio do processo de falência? SIM.

Os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) se submetem aos efeitos da falência da instituição financeira. STJ. 3ª Turma. REsp 1.801.031-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/06/2019 (Info 652).

Quando João adquiriu os CDBs ele celebrou com o banco um contrato de depósito bancário. Orlando Gomes explica as características do contrato de depósito bancário:

“Quando um banco recebe certa soma em dinheiro, obrigando-se a restituí-la em determinado prazo, ou ad nutum de quem a entrega, realiza contrato de depósito bancário. Adquire, nesse caso, pleno gozo da quantia depositada. Não a recebe para guardá-la. Aceitando-a, não está a prestar serviço ao depositante, como ocorre no depósito regular. Depositando, o cliente empresta ao banco, em última análise, a soma depositada. O depósito bancário não se confunde com a custódia, que é depósito regular. Nesta, o depositante não perde a propriedade da coisa depositada. Naquela, torna-se simples credor do banco.” (Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 24ª ed., 2001, p. 324-325).

Quando se trata de contratos de depósito bancário, ocorre a transferência da propriedade do bem para a instituição financeira, assumindo o depositante, via de consequência, a posição de credor daqueles valores (REsp 212.886/MA, 3ª Turma, DJ 28/8/2000).

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A Lei nº 6.024/74 (que trata sobre a liquidação extrajudicial das instituições financeiras) prevê que os valores referentes a contratos de depósito tornam-se inexigíveis a partir do momento em que for decretada, pelo Banco Central, a intervenção na instituição financeira:

Art. 6º A intervenção produzirá, desde sua decretação, os seguintes efeitos: (...) c) inexigibilidade dos depósitos já existentes à data de sua decretação.

No momento em que houve a intervenção do Banco Central, o banco ainda não havia devolvido o dinheiro dos CDBs. Assim, João (o depositante) não tem direito à mera restituição dos valores, devendo, enquanto credor, submeter-se aos efeitos da falência, entrando na lista geral de credores. A natureza da relação existente entre o depositante e a instituição financeira falida é creditícia e, como corolário, deve o montante devido sujeitar-se aos efeitos da execução concursal, em respeito ao par conditio creditorum. O fato de o depositante ter solicitado a restituição das quantias antes da falência não tem como efeito a alteração da natureza jurídica da relação existente entre as partes. Se a instituição bancária não fez a devolução no prazo que assinalou, a consequência jurídica disso é a caracterização da mora e não a extinção automática do contrato. Logo, só resta ao depositante tentar receber os valores na falência.

RECUPERAÇÃO JUDICIAL Em caso de recuperação judicial pedido por meio de litisconsórcio ativo,

a exigência dos 2 anos deverá ser contada individualmente

O art. 48 da Lei nº 11.101/2005 elenca requisitos que deverão ser cumpridos pelo devedor para que ele possa requerer recuperação judicial.

O primeiro requisito é a previsão de que o devedor deverá estar exercendo regulamente suas atividades há, no mínimo, 2 anos no momento do pedido.

As sociedades empresárias integrantes de grupo econômico devem demonstrar individualmente o cumprimento do requisito temporal de 2 (dois) anos (art. 48 da Lei nº 11.101/2005) de exercício regular de suas atividades para postular a recuperação judicial em litisconsórcio ativo.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.665.042-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/06/2019 (Info 652).

Recuperação judicial A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e, com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores. A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência. Fases da recuperação De forma resumida, a recuperação judicial possui três fases: a) postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento; b) processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva; c) execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial.

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Requisitos para a recuperação judicial A recuperação judicial é um processo judicial, ou seja, é um pedido que será formulado ao juiz. Para isso, no entanto, é necessário que a devedora cumpra alguns requisitos previstos no art. 48 da Lei nº 11.101/2005:

Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente: I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes; II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial; III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo; (Redação dada pela Lei Complementar nº 147, de 2014) IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei

Requisito temporal de 2 anos O primeiro requisito para que a empresa possa requerer a recuperação judicial é que ela esteja exercendo regulamente suas atividades há, no mínimo, 2 anos (caput do art. 48) no momento do pedido. O prazo de 2 anos tem como objetivo principal conceder a recuperação judicial apenas a empresários ou a sociedades empresárias que se acham, de certo modo, consolidados no mercado e que apresentem certo grau de viabilidade econômico-financeira capazes de justificar o sacrifício dos credores. Segundo Marlon Tomazzete, apenas em relação a empresas sérias, relevantes e viáveis “é que se justifica o sacrifício dos credores em uma recuperação judicial. Uma empresa exercida há menos de dois anos ainda não possui relevância para a economia que justifique a recuperação.” (Curso de direito empresarial: falência e recuperação de empresas. São Paulo: Atlas, 2011, p. 60). A partir de quando se começa a contar esse prazo de 2 anos? Da data de inscrição na junta comercial competente. Logo, no pedido de recuperação judicial, deverá ser juntada uma certidão emitida pela respectiva junta comercial na qual conste a inscrição do empresário individual ou o registro do contrato social ou do estatuto da sociedade. Desse modo, estão proibidos de requerer recuperação judicial, os empresários “de fato” ou “irregulares”, isto é, aqueles que exercem a atividade empresarial de modo informal, sem registro na junta comercial. Esse requisito temporal deve ser em atividade idêntica ou correlata Para o processamento da recuperação judicial, a Lei, em seu art. 48, não exige somente a regularidade no exercício da atividade, mas também o exercício por mais de dois anos, devendo-se entender tratar-se da prática, no lapso temporal, da mesma atividade (ou de correlata) que se pretende recuperar. STJ. 4ª Turma. REsp 1.478.001/ES, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 10/11/2015. Imagine agora a seguinte situação hipotética: Vopato Calçados Ltda, Vopato Confecções Ltda e Vopato Indústria Ltda. são três sociedades empresárias distintas (pessoas jurídicas diferentes), mas que integram o mesmo grupo econômico. A Vopato Calçados atua há 5 anos no mercado, a Vopato Confecções exerce suas atividades há 3 anos e a Vopato Indústria foi registrada na junta comercial há 1 ano. As três empresas estão passando por graves dificuldades financeiras e ingressaram em conjunto, ou seja, em litisconsórcio ativo, com pedido de recuperação judicial.

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É possível pedido de recuperação judicial em litisconsórcio ativo? SIM. A Lei nº 11.101/2005, deixou de disciplinar a possibilidade de apresentação conjunta do pedido de recuperação judicial por sociedades empresárias que componham determinado grupo econômico. Portanto, não dispôs acerca da formação do litisconsórcio ativo. Todavia, conforme o art. 189 da LRF, o Código de Processo Civil é aplicável subsidiariamente aos processos de recuperação judicial e de falência. Desse modo, as normas do CPC podem suprir, no que for compatível, eventuais lacunas contidas na Lei nº 11.101/2005. Justamente por isso, é plenamente possível o pedido de recuperação judicial formulado por grupo econômico, em litisconsórcio ativo. Voltando ao exemplo: No pedido, argumentou-se que, apesar de a Vopato Indústria não ter 2 anos de atividade regular, no presente caso, trata-se de um grupo econômico, formado por três empresas umbilicalmente ligadas. Logo, essa exigência do prazo mínimo de 2 anos deve ser aplicada de forma global (e não individual). A tese das empresas foi acolhida pelo STJ? NÃO.

As sociedades empresárias integrantes de grupo econômico devem demonstrar individualmente o cumprimento do requisito temporal de 2 (dois) anos (art. 48 da Lei nº 11.101/2005) de exercício regular de suas atividades para postular a recuperação judicial em litisconsórcio ativo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.665.042-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/06/2019 (Info 652).

Em se tratando de grupo econômico, cada sociedade empresária deve demonstrar o cumprimento do requisito temporal de 2 (dois) anos, pois elas conservam a sua individualidade e, por conseguinte, apresentam a personalidade jurídica distinta das demais integrantes da referida coletividade. Essa é a lição de Fábio Ulhoa Coelho:

“(...) A lei não cuida da hipótese, mas tem sido admitido o litisconsórcio ativo na recuperação, desde que as sociedades empresárias requerentes integrem o mesmo grupo econômico, de fato ou de direito, e atendam, obviamente, todas aos requisitos legais de acesso à medida judicial.” (Comentários à lei de falência e de recuperação judicial. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 139)

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

MULTA COMINATÓRIA É cabível multa cominatória para compelir provedor de acesso à internet

ao fornecimento de dados para identificação de usuário

É cabível multa cominatória para compelir provedor de acesso a internet ao fornecimento de dados para identificação de usuário.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.560.976-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 30/05/2019 (Info 652).

Imagine a seguinte situação hipotética ocorrida ainda na vigência do CPC/1973: Em um blog na internet, um usuário identificado apenas pelo pseudônimo “Coronel” publicou diversas ofensas contra João.

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O ofendido conseguiu obter o endereço do IP utilizado pelo usuário e descobriu que ele utilizou os serviços de internet do provedor “Oi”. IP, abreviatura de “Internet Protocol”, é um número que identifica o dispositivo (computador, celular, impressora etc) conectado a uma rede (como a internet). É como se fosse um “RG” ou “CPF” do dispositivo que está conectado. João notificou a “Oi” para que fornecesse a identificação do usuário/ofensor, o que foi, expressamente, recusado. Diante disso, ele ajuizou ação cautelar contra a “Oi”, pedindo que ela fosse condenada a exibir, em juízo, os dados necessários (nome completo, CPF, endereço residencial ou comercial cadastrado e telefones de contato) para a identificação do blogueiro que ofendeu o autor, possibilitando a futura propositura das ações judiciais cabíveis. O juiz deferiu tutela antecipada determinando que a “Oi” (provedora de acesso à internet) forneça os dados para identificação do usuário, sob pena de multa diária de R$ 500,00. A “Oi” recorreu contra a decisão afirmando que o magistrado não poderia ter aplicado a multa cominatória na ação de exibição de documento, conforme entendimento sumulado do STJ:

Súmula 372-STJ: Na ação de exibição de documentos, não cabe a aplicação de multa cominatória.

Agiu corretamente o magistrado? É possível a imposição de multa cominatória, no âmbito de ação na qual se pretende o fornecimento de dados para identificação de usuário de provedor de acesso à internet, de modo a permitir eventual ação indenizatória futura? SIM. Multa cominatória A multa cominatória (também chamada de astreintes, multa coercitiva ou multa diária) é penalidade pecuniária que caracteriza medida executiva de coerção indireta, pois seu único escopo é compelir o devedor a realizar a obrigação de fazer ou a não realizar determinado comportamento. Cuida-se de uma medida atípica de apoio à decisão judicial, de caráter meramente persuasório e instrumental, não caracterizando um fim em si mesmo. A multa cominatória apresenta, portanto, feição meramente coercitiva/indutiva. Isso porque o magistrado, para sua aplicação, é movido por desígnios de ordem dissuasória e intimidatória, no intuito de que as astreintes se mostrem capazes de estimular o devedor a cumprir o comando judicial que lhe é imposto, ciente de que a incidência da multa causar-lhe-á dano maior. Nessa perspectiva, o propósito final do sistema jurídico processual é que a multa nem incida concretamente, priorizando-se o seu escopo de garantia da efetividade das decisões judiciais. Pedido do autor não é o mesmo que uma ação de exibição (de que trata a súmula 372) No presente caso, o autor pretendia o fornecimento de dados para identificação do indivíduo que estava ofendendo a sua honra. Tratava-se, portanto, de pedido para impor uma obrigação de fazer, consistente no ato de identificação do usuário do serviço de internet. Para o STJ, esse pedido (de obrigar o provedor a fornecer a identidade do usuário) não é o mesmo pedido que é formulado em uma ação de exibição de documento (que era regulada pelo art. 844 do CPC/1973) e que inspirou a Súmula 372 do STJ. Não são a mesma coisa. Razão de ser da súmula não se aplica no presente caso A razão de ser da súmula 372 do STJ está no fato de que não é cabível a multa porque existem outros instrumentos e sanções processuais que podem ser utilizados para suprir o descumprimento da ordem judicial. O juiz pode, por exemplo, presumir que as informações que estão supostamente presentes no documento são verdadeiras (art. 359 do CPC/1973; art. 400 do CPC/2015). Outra alternativa que o magistrado possui é a determinação de busca e apreensão.

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No entanto, o raciocínio presente na súmula não se aplica ao presente caso. Isso porque não se trata propriamente de uma ação de exibição de documentos. O que se pretende na ação é que se forneça a identificação do usuário, ou seja, uma informação que deverá ser buscada no sistema informatizado da empresa. Assim, a multa é a única forma de compelir a ré a cumprir a decisão, já que não seria viável ordenar uma busca e apreensão na empresa, considerando que esse dado não está escrito em um papel arquivado, estando nos sistemas informatizados do provedor de acesso à internet. Não é igualmente aplicável a determinação contida no art. 359 do CPC (presunção de veracidade dos fatos afirmados pela parte requerente da exibição dos documentos), pois não se busca a prova de fatos contra a demandada, mas a identificação do terceiro responsável pela autoria de atos ilícitos. A causa em tela é muito mais específica e deve ser vista sob outro prisma que não o do já sumulado pelo STJ na súmula 372, pois se trata de matéria eletrônica, onde as demais possibilidades legais, que não a multa cominatória, são inócuas. Assim, as sanções processuais aplicáveis à recusa de exibição de documento - presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor e busca e apreensão, revelam-se evidentemente inócuas na espécie. Logo, as citadas peculiaridades, extraídas do caso concreto, constituem distinguishing apto a afastar a incidência do entendimento plasmado na Súmula 372 do STJ. Obrigação dos provedores de acesso de guardar os dados Registre-se que, desde 2009, já havia recomendação do Comitê Gestor de Internet no Brasil no sentido de que os provedores de acesso mantivessem, por um prazo mínimo de três anos, os dados de conexão e comunicação realizadas por meio de seus equipamentos. Em suma:

É cabível multa cominatória para compelir provedor de acesso à internet ao fornecimento de dados para identificação de usuário. STJ. 4ª Turma. REsp 1.560.976-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 30/05/2019 (Info 652).

A Súmula 372 do STJ ainda permanece válida com o CPC/2015? A doutrina majoritária afirma que não. Com a entrada em vigor do CPC/2015, a Súmula 372 do STJ está SUPERADA. Nesse sentido é o enunciado nº 54 do Fórum Permanente de Processualistas Civis. Isso porque o novo CPC permite expressamente a fixação de multa de natureza coercitiva na ação de exibição de documento. Veja:

Art. 400 (...) Parágrafo único. Sendo necessário, o juiz pode adotar medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias para que o documento seja exibido.

Art. 403 (...) Parágrafo único. Se o terceiro descumprir a ordem, o juiz expedirá mandado de apreensão, requisitando, se necessário, força policial, sem prejuízo da responsabilidade por crime de desobediência, pagamento de multa e outras medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar a efetivação da decisão.

Sobre o tema, importante mencionar a lição de Guilherme Rizzo Amaral:

“Na vigência do CPC de 1973, havia pacífico entendimento jurisprudencial pela inaplicabilidade da multa para a coerção do dever de exibição de documentos, entendimento esse consubstanciado na súmula 372 do STJ. Tal súmula resta superada com o CPC de 2015, que prevê em seu art. 400, parágrafo único, que poderá o juiz “adotar medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-

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rogatórias' para a exibição do documento, incluindo-se aí, portanto, a multa periódica. É claro que, podendo valer-se da presunção de veracidade dos fatos decorrente da não apresentação do documento (art. 400, caput), deverá o juiz sempre por ela optar, deixando assim de aplicar a multa, que somente se presta àquelas situações em que a coerção se mostre estritamente necessária (como pode ocorrer, por exemplo, quando não se tiver a exata dimensão dos fatos que se pretendem provar com o documento).” (AMARAL, Guilherme Rizzo. Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. [livro eletrônico]./Coordenadores Teresa Arruda Alvim Wambier, Fredie Didier Jr., Eduardo Talamini e Bruno Dantas. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, Capítulo VI, comentário 2 ao artigo 537)

O Ministro Luís Felipe Salomão, em obiter dictum, revelou que concorda com o entendimento doutrinário no sentido de que está, de fato, superada. Veja:

“A título meramente informativo – pois a presente controvérsia se estabeleceu durante a vigência do CPC de 1973 –, revela-se importante destacar que o verbete sumular parece ter sido superado pelo poder geral de efetivação das decisões judiciais conferido ao juiz pelos artigos 139, inciso IV, e 400, parágrafo único, do CPC de 2015.”

Desse modo, o caso acima exposto, se ocorrido sob a égide do CPC/2015, não geraria polêmica porque, ainda que se considerasse que a demanda proposta por João era uma ação de exibição, mesmo assim seria cabível a imposição da multa cominatória.

EXECUÇÃO O prazo para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em dias úteis

Importante!!!

O prazo previsto no art. 523, caput, do Código de Processo Civil, para o cumprimento voluntário da obrigação, possui natureza processual, devendo ser contado em dias úteis.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.708.348-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/06/2019 (Info 652).

No mesmo sentido, ou seja, de que se trata de prazo processual, veja:

O prazo comum para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em dobro no caso de litisconsortes com procuradores distintos, em autos físicos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.693.784-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017 (Info 619).

Procedimento para execução O procedimento para execução de quantia pode ser realizado de duas formas: a) execução de quantia fundada em título executivo extrajudicial; b) execução de quantia fundada em título executivo judicial (cumprimento de sentença). Imagine a seguinte situação hipotética: João ajuíza uma ação de cobrança contra Pedro. O juiz julgou a sentença procedente, condenando Pedro a pagar R$ 1 milhão ao autor. Houve o trânsito em julgado.

O que acontece agora? João terá que ingressar com uma petição em juízo requerendo o cumprimento da sentença.

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O início da fase de cumprimento da sentença pode ser feito de ofício pelo juiz? NÃO. O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo, só pode ser feito a requerimento do exequente (art. 513, § 1º do CPC/2015). Cabe ao credor o exercício de atos para o regular cumprimento da decisão condenatória, especialmente requerer ao juízo que dê ciência ao devedor sobre o montante apurado, consoante demonstrativo discriminado e atualizado do crédito (art. 524 do CPC/2015). Em outras palavras, o início da fase de cumprimento da sentença exige um requerimento do credor:

Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver.

A partir do requerimento do credor, o que faz o juiz? O juiz determina a intimação do devedor para pagar a quantia em um prazo máximo de 15 dias. O prazo de 15 dias, previsto no art. 523 do CPC/2015, tem natureza processual ou material? Vou já responder, mas antes faço uma nova pergunta: qual a relevância prática disso? A importância disso está na forma da contagem do prazo. Isso porque os prazos de natureza processual são contados em dias úteis, nos termos do caput do art. 219 do CPC:

Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis.

Os prazos de natureza material, por sua vez, são contados em dias contínuos, conforme se pode concluir pela leitura do parágrafo único do art. 219 do CPC:

Art. 219 (...) Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos processuais.

• Prazos processuais: dias úteis. • Prazos materiais: dias contínuos (corridos). E, então? O prazo de 15 dias, previsto no art. 523 do CPC/2015, é processual ou material? Ele é contado em dias úteis ou corridos? É um prazo processual e, portanto, contado em dias úteis.

O prazo previsto no art. 523, caput, do Código de Processo Civil, para o cumprimento voluntário da obrigação, possui natureza processual, devendo ser contado em dias úteis. STJ. 3ª Turma. REsp 1.708.348-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/06/2019 (Info 652).

Esta é também a posição da doutrina majoritária:

Enunciado 89 – I Jornada CJF: Conta-se em dias úteis o prazo do caput do art. 523 do CPC.

Embora o pagamento seja um ato a ser praticado pela parte, é preciso lembrar que a intimação para o cumprimento voluntário da sentença, nos termos do art. 523 do CPC/2015, ocorre, como regra, na pessoa do advogado constituído nos autos. É o que determina o art. 513, § 2º, I, do CPC/2015. Assim, considerando que a intimação para o cumprimento de sentença se dá na pessoa do advogado constituído (e não da parte devedora), esse fato acarretará um ônus ao causídico, que deverá comunicar ao seu cliente não só o resultado desfavorável da demanda, como também as próprias consequências

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jurídicas da ausência de cumprimento voluntário da sentença, tais como a imposição de multa e fixação de honorários advocatícios, dentre outras. Logo, o prazo do art. 523 do CPC gera um “trabalho” para o advogado da parte e a razão de ser do art. 219, caput, do CPC/2015 foi a de dar maior tranquilidade aos advogados, possibilitando, por exemplo, que eles não tenham que trabalhar nos finais de semana, feriados ou recessos. Esse prazo de 15 dias é contado a partir de quando? Da intimação do devedor para pagar. Não basta que o devedor já tenha sido intimado anteriormente da sentença que o condenou. Para começar o prazo de 15 dias para pagamento, é necessária nova intimação. Assim, a multa de 10% depende de nova intimação prévia do devedor. A forma dessa intimação está prevista no art. 513 do CPC/2015:

Art. 513 (...) § 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença: I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos; II - por carta com aviso de recebimento, quando representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído nos autos, ressalvada a hipótese do inciso IV; III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art. 246, não tiver procurador constituído nos autos IV - por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido revel na fase de conhecimento. § 3º Na hipótese do § 2º, incisos II e III, considera-se realizada a intimação quando o devedor houver mudado de endereço sem prévia comunicação ao juízo, observado o disposto no parágrafo único do art. 274. § 4º Se o requerimento a que alude o § 1º for formulado após 1 (um) ano do trânsito em julgado da sentença, a intimação será feita na pessoa do devedor, por meio de carta com aviso de recebimento encaminhada ao endereço constante dos autos, observado o disposto no parágrafo único do art. 274 e no § 3º deste artigo.

Se os executados forem litisconsortes com diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, este prazo de 15 dias poderá ser contado em dobro? SIM.

O prazo comum para cumprimento voluntário de sentença deverá ser computado em dobro no caso de litisconsortes com procuradores distintos, em autos físicos. STJ. 4ª Turma. REsp 1.693.784-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017 (Info 619).

Conforme já afirmado, o cumprimento voluntário da sentença possui natureza dúplice. Cuida-se de ato a ser praticado pela própria parte, mas a fluência do prazo para pagamento inicia-se com a intimação do advogado pela imprensa oficial, o que impõe ônus ao patrono, qual seja, o dever de comunicar o devedor do desfecho desfavorável da demanda, alertando-o das consequências jurídicas da ausência do cumprimento voluntário. Assim, uma vez constatada a hipótese prevista no art. 229 do CPC/2015 (litisconsortes com procuradores de escritórios diferentes), o prazo comum para pagamento espontâneo deverá ser computado em dobro, ou seja, será de 30 dias úteis.

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EXECUÇÃO A oposição de embargos do devedor por aquele que recorreu contra a decisão que incluiu seu nome no polo passivo da execução não representa prática de ato incompatível com a vontade de recorrer

Não configura ato incompatível com a vontade de recorrer a oposição de embargos do devedor pela parte que recorreu contra decisão que incluiu seu nome no polo passivo da execução.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.655.655-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/06/2019 (Info 652).

Imagine a seguinte situação hipotética: O banco ajuizou execução de título extrajudicial contra a empresa “Santos e Silva Ltda.”, distribuído para a 5ª Vara Cível da Capital. No curso do processo, o Juiz da 5ª Vara Cível deferiu a inclusão de João da Silva, sócio da empresa, no polo passivo da execução. Irresignado, João interpôs, no TJ, agravo de instrumento objetivando a reforma da decisão agravada com o reconhecimento da sua ilegitimidade e consequente exclusão do polo passivo da demanda executiva. Além disso, João apresentou, no juízo da 5ª Vara Cível, embargos do devedor (embargos à execução) deduzindo excesso de execução. O Desembargador Relator do agravo no TJ, ao ser informado de que João havia apresentado embargos do devedor em 1ª instância, proferiu decisão monocrática julgando prejudicado o agravo, sob o argumento de que esse ato de João (apresentar embargos à execução) seria incompatível com a vontade de recorrer, nos termos do art. 1.000 do CPC/2015:

Art. 1.000. A parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá recorrer. Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem nenhuma reserva, de ato incompatível com a vontade de recorrer.

Para o Desembargador, ao apresentar embargos do devedor, o agravante assumiu a posição de executado, de forma que praticou ato incompatível com a vontade de recorrer contra a decisão que determinou a sua inclusão no polo passivo da execução. É como se ele tivesse concordado que é parte legítima, tanto que apresentou defesa de executado. O STJ concordou com a argumentação deduzida pelo Desembargador? A oposição de embargos do devedor por aquele que recorreu contra a decisão que incluiu seu nome no polo passivo da execução representa prática de ato incompatível com a vontade de recorrer? NÃO. Para se dizer que houve “aceitação tácita” (art. 1.000, parágrafo único), é indispensável que tenha ocorrido algum fato inequívoco, absolutamente inconciliável com a impugnação da decisão. Assim, não configura preclusão lógica a prática de ato próprio do impulso oficial, como é a apresentação de defesa em processo em curso, por exemplo. A apresentação dos embargos ao processo executivo, a fim de evitar o perecimento do direito de defesa, está destituída de qualquer caráter de espontaneidade que possa sugerir a aquiescência tácita e a ocorrência de preclusão lógica pela prática de ato. Além disso, havendo dúvida acerca da anuência do recorrente à decisão agravada (que deve ser inequívoca), a solução que melhor se amolda à instrumentalidade inerente ao processo civil deve ser no sentido do prosseguimento do julgamento do recurso.

Em suma:

Não configura ato incompatível com a vontade de recorrer a oposição de embargos do devedor pela parte que recorreu contra decisão que incluiu seu nome no polo passivo da execução. STJ. 3ª Turma. REsp 1.655.655-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/06/2019 (Info 652).

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DIREITO PENAL

PRESCRIÇÃO O termo “sentença” contido no art. 115 do Código Penal se refere à primeira decisão

condenatória, seja a do juiz singular ou a proferida pelo Tribunal, não se operando a redução do prazo prescricional quando a sentença condenatória é confirmada em sede de apelação

Por expressa previsão do art. 115 do CP, são reduzidos pela metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, na data da sentença, maior de 70 anos. O termo sentença deve ser compreendido como a primeira decisão condenatória, seja sentença ou acórdão proferido em apelação.

A redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do CP não se relaciona com as causas interruptivas da prescrição previstas no art. 117 do mesmo diploma legal, tratando-se de fenômenos distintos e que repercutem de maneira diversa.

STJ. 6ª Turma. HC 316.110-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 25/06/2019 (Info 652).

Obs: vale ressaltar que existem alguns poucos julgados da 6ª Turma do STJ admitindo a aplicação do art. 115 do CP caso o acórdão tenha confirmado a condenação, mas tenha também modificado substancialmente a sentença a ponto de ser considerado um novo édito condenatório. Confira:

Havendo substancial modificação da sentença pelo acórdão, que não apenas aumentou o quantum de pena, mas também o próprio lapso prescricional, além de modificar a tipificação conferida ao fato, deve o acórdão ser considerado como novo marco interruptivo da prescrição, inclusive para fins de aplicação do benefício do art. 115 do Código Penal (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1481022/RS, Rel. p/ Acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 18/09/2018).

Conceito de prescrição Prescrição é a perda do direito do Estado de punir (pretensão punitiva) ou de executar uma punição já imposta (pretensão executória) em razão de não ter agido (inércia) nos prazos previstos em lei. Natureza jurídica A prescrição é causa de extinção da punibilidade (art. 107, IV, do CP). Embora a prescrição produza efeitos no processo penal, ela possui natureza de direito penal (direito material) tendo em vista que influencia diretamente no direito ou não do Estado de punir. Logo, são aplicados à prescrição os “princípios” do direito penal, dentre eles o da irretroatividade da lei ulterior mais gravosa. Prazos Os prazos de prescrição estão previstos no art. 109 do CP:

Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1º do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze; II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze; III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito; IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro; V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano.

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Informativo 652-STJ (16/08/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17

Causas que interrompem o prazo prescricional O art. 117 do CP traz os momentos em que o prazo da prescrição é interrompido. Interrupção do prazo significa que ele é zerado e recomeça a ser contado a partir daquela data.

Art. 117. O curso da prescrição interrompe-se: I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; II - pela pronúncia; III - pela decisão confirmatória da pronúncia; IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; VI - pela reincidência.

Redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do CP O art. 115 do CP preconiza:

Art. 115. São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.

Imagine agora a seguinte situação hipotética: João, com 69 anos, foi condenado em 1ª instância. O condenado interpôs apelação. O Tribunal manteve a condenação, mas reduziu a pena de 13 anos para 4 anos e 6 meses. Nesta data, ele já tinha 73 anos. O réu pediu o reconhecimento de que ele teria direito à redução do art. 115 do CP. Argumentou que o acórdão, ao confirmar a sentença, constituiu-se novo édito condenatório, sobretudo porque reformou parcialmente a sentença, circunstância que repercutiria na redução do prazo prescricional. O réu terá direito ao art. 115 do CP? Prevalece que não. Veja julgados nesse sentido:

Para que incida a redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do CP, é necessário que, no momento da sentença, o condenado possua mais de 70 anos. Se ele só completou a idade após a sentença, não terá direito ao benefício, mesmo que isso tenha ocorrido antes do julgamento de apelação interposta contra a sentença. Existe, no entanto, uma situação em que o condenado será beneficiado pela redução do art. 115 do CP mesmo tendo completado 70 anos após a "sentença" (sentença ou acórdão condenatório): isso ocorre quando o condenado opõe embargos de declaração contra a sentença/acórdão condenatórios e esses embargos são conhecidos. Nesse caso, o prazo prescricional será reduzido pela metade se o réu completar 70 anos até a data do julgamento dos embargos. Nesse sentido: STF. Plenário. AP 516 ED/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 5/12/2013 (Info 731). STF. 2ª Turma. HC 129696/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/4/2016 (Info 822).

Para fins de reconhecimento da extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva, não é possível a redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do Código Penal na hipótese em que o réu completou 70 anos somente após a sentença condenatória. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1471005/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/08/2019.

O termo “sentença” contido no art. 115 do Código Penal se refere à primeira decisão condenatória, seja a do juiz singular ou a proferida pelo Tribunal, não se operando a redução do prazo prescricional quando o édito repressivo é confirmado em sede de apelação ou de recurso de natureza extraordinária. STJ. 6ª Turma. HC 503.356/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 13/08/2019.

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A redução do prazo prescricional, prevista no art. 115 do Código Penal, apenas é aplicável quando o réu atingir 70 (setenta) anos até a primeira decisão condenatória, seja ela sentença ou acórdão. STJ. Corte Especial. EDcl na APn 741/DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 07/08/2019.

O termo “sentença”, mencionado no art. 115 do CP, deve ser entendido como "primeira decisão condenatória”, seja sentença ou acórdão proferido em apelação É possível aplicar a redução do art. 115 do CP no momento do acórdão (ou seja, após a sentença), se a sentença foi absolutória e o primeiro decreto condenatório foi a apelação. Ex: João tinha 68 anos quando foi prolatada a sentença; a sentença foi absolutória; o MP apelou e o TJ reformou a sentença, condenando o réu; ocorre que, no momento do acórdão condenatório, João já tinha mais de 70 anos; neste caso, será possível aplicar a redução pela metade do prazo prescricional, conforme previsto no art. 115 do CP. Assim, a redução do prazo prescricional à metade, com base no art. 115 do Código Penal, aplica-se aos réus que atingirem a idade de 70 anos até a primeva condenação, tenha ela se dado na sentença ou no acórdão. STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 491.258/TO, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 07/02/2019.

Julgado em sentido contrário Vale ressaltar que existem alguns poucos julgados da 6ª Turma do STJ admitindo a aplicação do art. 115 do CP caso o acórdão tenha confirmado a condenação, mas tenha também modificado substancialmente a sentença a ponto de ser considerado um novo édito condenatório. Confira:

Havendo substancial modificação da sentença pelo acórdão, que não apenas aumentou o quantum de pena, mas também o próprio lapso prescricional, além de modificar a tipificação conferida ao fato, deve o acórdão ser considerado como novo marco interruptivo da prescrição, inclusive para fins de aplicação do benefício do art. 115 do Código Penal. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1481022/RS, Rel. p/ Acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 18/09/2018.

Julgado divulgado no Info 652 do STJ reitera o entendimento majoritário O Informativo 652 do STJ noticia julgado no qual se adotou a posição majoritária:

Por expressa previsão do art. 115 do CP, são reduzidos pela metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, na data da sentença, maior de 70 anos. O termo sentença deve ser compreendido como a primeira decisão condenatória, seja sentença ou acórdão proferido em apelação. A redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do CP não se relaciona com as causas interruptivas da prescrição previstas no art. 117 do mesmo diploma legal, tratando-se de fenômenos distintos e que repercutem de maneira diversa. STJ. 6ª Turma. HC 316.110-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 25/06/2019 (Info 652).

O Min. Rogerio Schietti Cruz assim explicou o tema:

“Merece ser frisado que, de fato, alguns precedentes desta 6ª Turma têm se inclinado para o reconhecimento, nos casos em que há modificação substancial da condenação pelo Tribunal, de novo marco interruptivo da prescrição e, também, a possibilidade de aplicação do benefício previsto no art. 115 do Código Penal. No entanto, uma coisa é a redução do prazo prescricional e outra são os marcos interruptivos da prescrição. Não se relaciona a redução dos prazos, conforme art. 115 do CP, com as causas interruptivas da prescrição, previstas no art. 117 do mesmo Diploma Legal, porquanto se trata de fenômenos distintos e que repercutem de maneira diversa.

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Além disso, há ainda a própria disposição legal (art. 115 do CP), que apenas alude a necessidade de sentença como marco temporal para a redução, por razão etária, do prazo prescricional. Sob o aspecto da descrição legal, extrai-se do art. 115 do CP a seguinte redação: ‘São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos’. Veja-se que a redução ocorrerá se o agente foi maior que 70 anos na data da sentença. Por fim, saliente-se que, segundo a orientação desta Corte e do STF, o termo sentença deve ser compreendido como a primeira decisão condenatória, ou seja, a redução deve operar quando o agente completar 70 anos antes da primeira decisão condenatória, somente.”

DIREITO PROCESSUAL PENAL

INVESTIGAÇÃO CRIMINAL É possível a deflagração de investigação criminal com base em matéria jornalística

É possível a deflagração de investigação criminal com base em matéria jornalística.

STJ. 6ª Turma. RHC 98.056-CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 04/06/2019 (Info 652).

É possível que a autoridade policial ou o Ministério Público inicie uma investigação criminal a partir das informações divulgadas em reportagem jornalística? Claro que sim. Instauração de ofício de inquérito policial O CPP prevê expressamente a possibilidade de instauração de ofício do inquérito policial:

Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: I - de ofício; (...)

Assim, se a autoridade policial tomar conhecimento de um fato delituoso, ele tem o dever de instaurar o inquérito policial de ofício, ou seja, mesmo sem provocação formal de alguém. O exemplo típico e mais comum dado pelos livros é justamente o caso do Delegado que sabe da prática de um crime por meio de uma notícia no jornal. Quando o Delegado instaura de ofício um inquérito policial, ele o faz por meio de portaria. É o que se convencionou a denominar, em doutrina, de notitia criminis de cognição imediata (ou espontânea). Instauração de ofício de PIC O Ministério Público também pode instaurar, de ofício, procedimento de investigação criminal (PIC). É o que prevê o art. 3º da Resolução nº 181/2017, do CNMP:

Art. 1º O procedimento investigatório criminal é instrumento sumário e desburocratizado de natureza administrativa e investigatória, instaurado e presidido pelo membro do Ministério Público com atribuição criminal, e terá como finalidade apurar a ocorrência de infrações penais de iniciativa pública, servindo como preparação e embasamento para o juízo de propositura, ou não, da respectiva ação penal. (...)

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Art. 3º O procedimento investigatório criminal poderá ser instaurado de ofício, por membro do Ministério Público, no âmbito de suas atribuições criminais, ao tomar conhecimento de infração penal de iniciativa pública, por qualquer meio, ainda que informal, ou mediante provocação.

Nas palavras do Min. Antonio Saldanha Palheiro:

“É possível que a investigação criminal seja perscrutada pautando-se pelas atividades diuturnas da autoridade policial, verbi gratia, o conhecimento da prática de determinada conduta delitiva a partir de veículo midiático, no caso, a imprensa. É o que se convencionou a denominar, em doutrina, de notitia criminis de cognição imediata (ou espontânea), terminologia obtida a partir da exegese do art. 5º, inciso I, do CPP, do qual se extrai que ‘nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado de ofício’”.

Em suma:

É possível a deflagração de investigação criminal com base em matéria jornalística. STJ. 6ª Turma. RHC 98.056-CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 04/06/2019 (Info 652).

DIREITO TRIBUTÁRIO

EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO NÃO TRIBUTÁRIO É cabível a suspensão da exigibilidade do crédito não tributário mediante a apresentação de fiança bancária ou de seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito

constante da inicial, acrescido de 30%

É cabível a suspensão da exigibilidade do crédito não tributário a partir da apresentação da fiança bancária ou do seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.381.254-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 25/06/2019 (Info 652).

Imagine a seguinte situação hipotética: A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), uma autarquia federal, autuou a empresa “Transportes Ltda.”, aplicando-lhe uma multa administrativa de R$ 100 mil. A empresa ajuizou ação anulatória, pedindo a desconstituição do auto de infração. A empresa temia ser inscrita no CADIN (Cadastro Informativo de créditos não quitados do setor público federal) e, por isso, apresentou em juízo uma caução por meio de seguro garantia. Com a apresentação desse seguro garantia, a autora pediu ao juiz que concedesse tutela provisória suspendendo a exigibilidade do crédito. Com o crédito suspenso, a empresa não poderia ser inscrita no CADIN, e a ANTT também não poderia executar a dívida. A autora invocou, como fundamento legal, o art. 151, II, do CTN e os arts. 9º, II e 38, da Lei nº 6.830/80 (Lei de Execuções Fiscais):

CTN Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: (...) II - o depósito do seu montante integral;

LEF

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Art. 9º Em garantia da execução, pelo valor da dívida, juros e multa de mora e encargos indicados na Certidão de Dívida Ativa, o executado poderá: (...) II - oferecer fiança bancária; Art. 38. A discussão judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública só é admissível em execução, na forma desta Lei, salvo as hipóteses de mandado de segurança, ação de repetição do indébito ou ação anulatória do ato declarativo da dívida, esta precedida do depósito preparatório do valor do débito, monetariamente corrigido e acrescido dos juros e multa de mora e demais encargos. Parágrafo único. A propositura, pelo contribuinte, da ação prevista neste artigo importa em renúncia ao poder de recorrer na esfera administrativa e desistência do recurso acaso interposto.

A ANTT contestou a demanda alegando, dentre outros argumentos, que: • os dispositivos legais invocados pela autora não se aplicam ao caso concreto, considerando que a multa administrativa se constitui em crédito não tributário; • a suspensão da exigibilidade do crédito somente pode ser autorizada com o depósito integral e em dinheiro, nos termos do enunciado 112 do STJ:

Súmula 112-STJ: O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro.

O pedido da empresa pode ser deferido, segundo o STJ? É possível que o devedor ofereça seguro garantia com o objetivo de suspender antecipadamente a exigibilidade do crédito não tributário, equiparando-se ao depósito integral do montante em dinheiro? SIM. Crédito não tributário Créditos nãos tributários são todos aqueles que não derivam (não provêm) da atividade tributária do ente federativo, tal como as multas administrativas. Os créditos originados das multas administrativas nascem da inobservância das normas administrativas, sendo, portanto, créditos não tributários (não provêm da atividade tributária do Estado). Assim, multa administrativa não é tributo (não tem natureza tributária). A multa administrativa é uma prestação pecuniária, de natureza sancionatória, exigida conforme previsão legal, por força de conduta ilícita praticada pelo agente, sendo constituída mediante atividade administrativa vinculada. Súmula 112-STJ não se aplica para créditos não tributários Conforme vimos acima, a Súmula 112 do STJ afirma que: “O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro.” Ocorre que, segundo o STJ, o entendimento contemplado nesta súmula não se estende aos créditos não tributários originários de multa administrativa imposta no exercício do poder de polícia. Dito de outro modo: no caso de créditos não tributários, o depósito integral pode suspender a sua exigibilidade mesmo que esse depósito não seja em dinheiro, podendo ser pela apresentação da fiança bancária ou do seguro garantia judicial. Por quê? Vamos entender com calma. A execução fiscal (disciplinada pela Lei nº 6.830/80) serve para cobrança também de créditos não tributários?

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SIM. A execução fiscal é a ação judicial proposta pela Fazenda Pública (União, Estados, DF, Municípios e suas respectivas autarquias e fundações) para cobrar do devedor tanto créditos tributários como também créditos não tributários, desde que inscritos em dívida ativa. Isso está previsto no art. 1º c/c art. 2º, § 2º da Lei nº 6.830/80. A Lei nº 6.830/80 trata sobre garantia da execução por meio de caução que não seja em dinheiro? SIM. O art. 9º da Lei nº 6.830/80, alterado pela Lei nº 13.043/2014, permite que o devedor faça a garantia da execução por meio de fiança bancária ou de seguro garantia. Veja:

Art. 9º Em garantia da execução, pelo valor da dívida, juros e multa de mora e encargos indicados na Certidão de Dívida Ativa, o executado poderá: I - efetuar depósito em dinheiro, à ordem do Juízo em estabelecimento oficial de crédito, que assegure atualização monetária; II - oferecer fiança bancária ou seguro garantia; III - nomear bens à penhora, observada a ordem do artigo 11; ou IV - indicar à penhora bens oferecidos por terceiros e aceitos pela Fazenda Pública. (...) § 3º A garantia da execução, por meio de depósito em dinheiro, fiança bancária ou seguro garantia, produz os mesmos efeitos da penhora.

Súmula 112 do STJ é baseada no art. 151, II, do CTN É preciso esclarecer que, quando a súmula 112 do STJ diz que o depósito integral só irá acarretar a suspensão da exigibilidade do crédito tributário se esse depósito for em dinheiro, esse enunciado está baseado no art. 151, II, do CTN:

Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: (...) II - o depósito do seu montante integral;

Ocorre que o CTN, ao prescrever as hipóteses da suspensão da exigibilidade, o faz apenas com relação aos créditos de natureza tributária, conforme expressamente prevê o caput do art. 151. Sendo assim, o art. 151, II, do CTN não se aplica para a suspensão de exigibilidade de crédito não tributário. Na verdade, não existe um dispositivo legal que trata especificamente da suspensão de exigibilidade de crédito não tributário. Diante dessa lacuna, o que se deve fazer? Inexistindo previsão legal de suspensão de exigibilidade de crédito não tributário no arcabouço jurídico brasileiro, deve a situação se resolver, no caso concreto, mediante as técnicas de integração normativa de correção do sistema previstas no art. 4º da LINDB. Como vimos acima, o art. 9º, da Lei nº 6.830/80 prevê que a fiança bancária e o seguro garantia são equiparados para fins de garantia do valor da dívida ativa. O art. 835, § 2º do CPC/2015, por sua vez, também diz que a fiança bancária e o seguro garantia são equiparados a dinheiro para fins de substituição da penhora. Confira:

Art. 835 (...) § 2º Para fins de substituição da penhora, equiparam-se a dinheiro a fiança bancária e o seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento.

Desse modo, aplicando, por analogia, esses dispositivos, conclui-se que é cabível a suspensão da exigibilidade do crédito não tributário a partir da apresentação da fiança bancária e do seguro garantia

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judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento, nos moldes previstos no art. 151, II do CTN c/c o art. 835, § 2º do CPC/2015 e o art. 9º, § 3º da Lei nº 6.830/80, uma vez que não há dúvida quanto à liquidez de tais modalidades de garantia, permitindo, desse modo, a produção dos mesmos efeitos jurídicos do dinheiro. Não há razão jurídica para inviabilizar a aceitação do seguro garantia judicial, porque, em virtude da natureza precária (provisória) da decisão que decreta a suspensão da exigibilidade do crédito não tributário (multa administrativa), o Poder Público poderá solicitar a revogação da decisão suspensiva caso em algum momento não viger ou se tornar insuficiente a garantia apresentada. Vale ressaltar, por fim, que o crédito não tributário, diversamente do crédito tributário, o qual não pode ser alterado por lei ordinária em razão de ser matéria reservada à lei complementar (art. 146, III, “b”, da CF/88), permite, nos termos aqui delineados, a suspensão da sua exigibilidade, mediante a utilização, por analogia, de leis ordinárias (como o CPC e a Lei nº 6.830/80. Em suma:

É cabível a suspensão da exigibilidade do crédito não tributário a partir da apresentação da fiança bancária ou do seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento. STJ. 1ª Turma. REsp 1.381.254-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 25/06/2019 (Info 652).

IPI Crédito presumido de IPI integra a base de cálculo do IRPJ e da CSLL

O crédito presumido de IPI previsto no art. 1º da Lei nº 9.363/96 integra a base de cálculo do IRPJ e da CSLL.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.210.941-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 22/05/2019 (Info 652).

IRPJ IRPJ é a sigla para Imposto de Renda de Pessoa Jurídica. A base de cálculo do IRPJ é o montante, real, arbitrado ou presumido, da renda ou dos proventos tributáveis (art. 44 do CTN). Em outras palavras, a base de cálculo do IRPJ é o lucro (real, presumido ou arbitrado) correspondente ao período de apuração. CSLL CSLL é a sigla para Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. Segundo a Lei que rege a CSLL, a base de cálculo dessa contribuição “é o valor do resultado do exercício, antes da provisão para o imposto de renda” (art. 2º da Lei nº 7.689/88). Desse modo, a base de cálculo da CSLL também é o lucro, mas apurado antes da provisão para o IRPJ. Crédito presumido de IPI Trata-se de um incentivo concedido pela legislação por meio do que se concede um crédito ao contribuinte para que ele pague menos IPI. Assim, se a empresa contribuinte cumprir determinados requisitos previstos na legislação, ela poderá ter direito a esse “crédito”, pagando menos IPI. O crédito presumido de IPI está previsto no art. 1º da Lei nº 9.363/96:

Art. 1º A empresa produtora e exportadora de mercadorias nacionais fará jus a crédito presumido do Imposto sobre Produtos Industrializados, como ressarcimento das contribuições de que tratam as Leis Complementares nos 7, de 7 de setembro de 1970, 8, de 3 de dezembro de 1970, e 70, de

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30 de dezembro de 1991, incidentes sobre as respectivas aquisições, no mercado interno, de matérias-primas, produtos intermediários e material de embalagem, para utilização no processo produtivo. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, inclusive, nos casos de venda a empresa comercial exportadora com o fim específico de exportação para o exterior.

Desse modo, pode-se concluir que a concessão de crédito presumido de IPI possui natureza jurídica de incentivo fiscal. Como se trata de um benefício fiscal, a Administração Tributária entende que isso o crédito presumido de IPI aumenta o lucro da empresa, ainda que indiretamente, devendo, portanto, ser considerado na base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Essa tese é aceita, atualmente, pelo STJ? O crédito presumido de IPI, por representar, indiretamente, um lucro para a pessoa jurídica, deverá ser incluído na base de cálculo do IRPJ e da CSLL? SIM. O crédito presumido de IPI, previsto no art. 1º da Lei nº 9.363/96, integra a base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Isso porque todo benefício fiscal, relativo a qualquer tributo, ao diminuir a carga tributária, acaba indiretamente, majorando o lucro da empresa e, consequentemente, impactando na base de cálculo do imposto de renda. O IRPJ incide sobre o lucro da empresa que é, direta ou indiretamente, influenciado por todas as receitas, créditos, benefícios, despesas etc. Ressalva Registre-se que o crédito presumido pode ser excluído da base de cálculo do IRPJ apurado pelo regime do lucro presumido quando o contribuinte comprovar que se refira a período no qual tenha se submetido ao regime de tributação pelo lucro presumido ou arbitrado ou, caso sujeito ao regime do lucro real, não tenha sido feita a dedução (arts. 53 da Lei nº 9.430/96 e 521, § 3º, do RIR/99). Nesse sentido:

O crédito presumido de IPI previsto no art. 1º da Lei nº 9.363/96 que se refira a período no qual o contribuinte tenha se submetido ao regime de tributação com base no lucro presumido deve ser excluído das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL apuradas pelo regime do lucro presumido. STJ. 2ª Turma. REsp 1611110-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 4/8/2016 (Info 587).

Cuidado para não confundir com o crédito presumido de ICMS:

Crédito presumido de ICMS não integra a base de cálculo do IRPJ e da CSLL. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.517.492-PR, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. Acd. Min. Regina Helena Costa, julgado em 08/11/2017 (Info 618).

• crédito presumido de ICMS: NÃO integra a base de cálculo do IRPJ e da CSLL. • crédito presumido de IPI: INTEGRA a base de cálculo do IRPJ e da CSLL.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

APOSENTADORIA ESPECIAL O tempo que o segurado fica afastado do trabalho gozando de auxílio-doença pode ser

considerado “tempo especial” para fins de aposentadoria especial

Importante!!!

O segurado que exerce atividades em condições especiais, quando em gozo de auxílio-doença, seja acidentário ou previdenciário, faz jus ao cômputo desse mesmo período como tempo de serviço especial.

Ex: João trabalhou, de 2000 a 2015, em atividades permanentes no subsolo de minerações subterrâneas. Segundo o Anexo IV do Decreto nº 3.048/99, se o segurado trabalhar durante 15 anos nessa atividade, ele terá direito a aposentadoria especial. João requereu, então, a sua aposentadoria especial. Ocorre que o INSS negou o pedido sob o argumento de que em 2012, João ficou 6 meses sem trabalhar porque estava gozando de auxílio-doença previdenciário em razão de uma diverticulite. Essa argumentação da autarquia não é aceita pela STJ que considera ser possível o cômputo desse período como serviço especial.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.759.098-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 26/06/2019 (recurso repetitivo) (Info 652).

Aposentadoria especial Aposentadoria especial é aquela cujos requisitos e critérios exigidos do beneficiário são mais favoráveis que os estabelecidos normalmente para as demais pessoas. Regra geral A CF/88 estipula, como regra geral, que a lei não pode adotar requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social (“regime do INSS”). Em outras palavras, em regra, a lei não pode estabelecer que determinados grupos de pessoas tenham condições “mais fáceis” para se aposentar. Exceções A própria CF/88 admite exceções a essa regra. Assim, de forma excepcional, o § 1º do art. 201 da CF/88 estabelece que LEI COMPLEMENTAR poderá prever requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria em dois casos:

1) Para as pessoas que exercem atividades sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.

Disciplinada pelos arts. 57 e 58 da Lei 8.213/91 que, quanto a este tema, possui status de LC.

2) Para segurados portadores de deficiência (a aposentadoria especial para pessoas com deficiência foi inserida pela EC 47/05)

Disciplinada pela LC 142/2013.

O julgado aqui explicado trata da primeira hipótese de aposentadoria especial, ou seja, aquela que beneficia pessoas que exercem atividades sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.

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Aposentadoria especial para segurados que tenham trabalhado em atividades sob condições especiais Segundo o art. 57 da Lei nº 8.213/91, a aposentadoria especial será devida ao segurado que tenha trabalhado durante 15, 20 ou 25 anos, conforme o caso, em atividades que o sujeitem a condições especiais que prejudiquem a sua saúde ou a sua integridade física. Desse modo, o segurado terá direito a aposentadoria especial se tiver trabalhado sujeito (exposto) a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física durante 15, 20 ou 25 anos. Esse tempo necessário para a aposentadoria (15, 20 ou 25 anos) irá variar de acordo com o tipo de agente nocivo a que ele estava exposto. É como se houvesse uma gradação de nocividade: agentes altamente nocivos, com nocividade média e nocividade leve. Assim, se a pessoa trabalhou exposta a determinado agente altamente nocivo, seu tempo de aposentadoria será 15 anos, por exemplo. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos, considerados para fins de concessão de aposentadoria especial, está prevista atualmente no Anexo IV do Regulamento da Previdência Social (Decreto nº 3.048/99), conforme autoriza a Lei nº 8.213/91:

Art. 58. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física considerados para fins de concessão da aposentadoria especial de que trata o artigo anterior será definida pelo Poder Executivo.

Ex1: um dos agentes considerados nocivos e que dão direito à aposentadoria é o ruído. Assim, se ficar comprovado que o indivíduo trabalhou durante 25 anos sujeito a ruído em níveis superiores aos que são permitidos pela legislação, ele terá direito à aposentadoria especial. Ex2: se o segurado trabalhou por 15 anos em atividades permanentes no subsolo de minerações subterrâneas terá direito à aposentadoria especial. Imagine agora a seguinte situação hipotética: João trabalhou, de 2000 a 2015, em atividades permanentes no subsolo de minerações subterrâneas terá direito à aposentadoria especial. Segundo o Anexo IV do Decreto nº 3.048/99, se o segurado trabalhar durante 15 anos nessa atividade, ele terá direito a aposentadoria especial. João requereu, então, a sua aposentadoria especial. Ocorre que o INSS negou o pedido sob o argumento de que em 2012, João ficou 6 meses sem trabalhar porque estava gozando de auxílio-doença previdenciário em razão de uma diverticulite. Assim, para o INSS, João trabalhou apenas 14 anos e 6 meses em atividades consideradas especiais considerando que o período em que esteve em gozo de auxílio-doença não poderia ser considerado como tempo de serviço especial, devendo ser computado apenas como tempo de atividade comum. A autarquia previdenciária defendeu a impossibilidade de contagem especial de tempo de serviço no período em que o segurado está em gozo de auxílio-doença, uma vez que não há exposição a agentes nocivos no período de afastamento. A justificativa para isso estaria no fato de que no período de afastamento em razão do gozo de auxílio-doença, o segurado não estaria exposto a qualquer agente nocivo, o que impossibilitaria a contagem de tal período como especial. Para o INSS, o art. 65, parágrafo único, do Decreto nº 3.048/99 afirma que o período gozado de auxílio-doença somente pode ser computado como “tempo especial” se for auxílio-doença acidentário (ou seja, decorrente de acidente de trabalho). Se for auxílio-doença previdenciário, deve ser computado como tempo comum. Veda a redação do dispositivo:

Art. 65. Considera-se tempo de trabalho permanente aquele que é exercido de forma não ocasional nem intermitente, no qual a exposição do empregado, do trabalhador avulso ou do cooperado ao agente nocivo seja indissociável da produção do bem ou da prestação do serviço. (Redação dada pelo Decreto nº 8.123/2013)

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Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput aos períodos de descanso determinados pela legislação trabalhista, inclusive férias, aos de afastamento decorrentes de gozo de benefícios de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez acidentários, bem como aos de percepção de salário-maternidade, desde que, à data do afastamento, o segurado estivesse exposto aos fatores de risco de que trata o art. 68. (Redação dada pelo Decreto nº 8.123/2013)

A tese do INSS foi aceita pelo STJ? O tempo que o segurado fica afastado do trabalho gozando de auxílio-doença previdenciário deve ser excluído do critério “tempo especial” para fins de aposentadoria especial? NÃO. A tese do INSS não foi acolhida pelo STJ.

O segurado que exerce atividades em condições especiais, quando em gozo de auxílio-doença, seja acidentário ou previdenciário, faz jus ao cômputo desse mesmo período como tempo de serviço especial. STJ. 1ª Seção. REsp 1.759.098-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 26/06/2019 (recurso repetitivo) (Info 652).

O trabalhador exposto a agentes nocivos por longos períodos tem a suas condições clínicas afetadas de modo geral – e, na verdade, para todo o tempo de sua vida –, de modo que não se pode esperar que um trabalhador de minas de carvão, por exemplo, acometido por uma gripe viral, doença sem qualquer relação com a sua atividade laboral, tenha a mesma possibilidade de recuperação clínica de um trabalhador que trabalha em um escritório de advocacia. Vale ressaltar também que, segundo estudo realizado pelo Ministério da Saúde e pela Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil, é muito difícil estabelecer, com precisão, o nexo causal entre a moléstia e as atividades exercidas por um trabalhador, ou seja, é sempre muito complicado dizer se aquela incapacidade decorre ou não de um acidente de trabalho. Importante ainda esclarecer que a Lei nº 8.213/91 não faz distinção quanto aos benefícios auxílio-doença acidentário ou previdenciário para fins de aproveitamento como tempo especial. Essa diferenciação foi feita, portanto, apenas pelo decreto que, segundo o STJ, extrapolou o limite do poder regulamentar, restringindo ilegalmente a proteção da Previdência Social ao trabalhador sujeito a condições especiais que prejudiquem a sua saúde ou a sua integridade física. Deve-se esclarecer, por fim, que o decreto permite o cômputo, como atividade especial, de períodos em que o segurado esteja em gozo de salário-maternidade e férias. Esses afastamentos, assim como o auxílio-doença previdenciário, também suspendem o contrato de trabalho, e retiram o trabalhador da exposição aos agentes nocivos. Logo, com isso se demonstra que não há sentido na distinção imposta.

APOSENTADORIA ESPECIAL O Decreto 53.831/64, no seu item 2.2.1, considera como insalubre somente os serviços e

atividades profissionais desempenhados na agropecuária, não se enquadrando como tal a atividade laboral exercida apenas na lavoura da cana-de-açúcar

O empregado rural, trabalhador da lavoura da cana-de-açúcar, não pode ser enquadrado na categoria profissional de trabalhador da agropecuária constante no item 2.2.1 do Decreto nº 53.831/64 vigente à época da prestação dos serviços.

STJ. 1ª Seção. PUIL 452-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 08/05/2019 (Info 652).

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Aposentadoria especial Aposentadoria especial é aquela cujos requisitos e critérios exigidos do beneficiário são mais favoráveis que os estabelecidos normalmente para as demais pessoas. Aposentadoria especial regulada pela Lei 3.807/60 e pelos Decretos 53.831/64 e 83.080/79 A aposentadoria especial foi instituída pelo art. 31 da Lei nº 3.807/60 (antiga Lei Orgânica da Previdência Social). Esse art. 31 (atualmente revogado) previu que o segurado poderia se aposentar com menos tempo caso trabalhasse em serviços considerados penosos, insalubres ou perigosos. Segundo o dispositivo legal, a relação desses serviços deveria ser definida por Decreto do Poder Executivo. Assim, durante muitos anos, a comprovação das atividades nocivas (que ensejavam aposentadoria especial) encontrava-se disciplinada pelos Decretos 53.831/64 e 83.080/79. Tais Decretos listavam, portanto, uma série de categorias profissionais que, na visão do Poder Executivo, estavam sujeitas a condições nocivas de trabalho e que, portanto, faziam jus à contagem diferenciada do tempo de serviço. Ex: o item 2.2.1 do anexo constante no Decreto 53.831/64 previa que os trabalhadores da agropecuária exerciam atividade insalubre e, portanto, tinham direito à aposentadoria especial após 25 anos de tempo de serviço. Vale ressaltar que vigorava, nesta época, o sistema da presunção legal, de sorte que, estando prevista nos Decretos, aquela atividade ensejava aposentadoria especial mesmo sem que houvesse efetiva comprovação (exs: perícia, laudo etc.) de que a atividade era realmente nociva. Imagine agora a seguinte situação hipotética: De janeiro de 1970 a janeiro de 1995, João trabalhou na lavoura da cana-de-açúcar como empregado rural. Ele requereu aposentadoria, pedindo que esse período fosse reconhecido como “tempo especial” (tempo prestado sob condições especiais) e que, ao ser convertido em tempo comum, o fosse com o fator de conversão. Abrindo um parêntese: o tempo de trabalho exercido sob condições especiais consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será convertido em “tempo comum” (exercido em atividade comum e nesta conversão vão ser aplicados alguns índices matemáticos que farão com que o tempo se torne maior. Ex.: 20 anos = 7300 dias de tempo comum. No entanto, como esses 20 anos foram prestados em atividade especial, para serem convertidos em tempo comum, eles devem ser multiplicados por 1,2. Assim, teremos 7.300 x 1,2 = 8.760. Logo, 7.300 dias trabalhados sob o regime especial podem se transformar em 8.760 dias caso este período de tempo especial seja convertido em tempo comum). Em outras palavras, mesmo que a pessoa não trabalhe todo o período necessário em atividades especiais para ter direito à aposentadoria especial, ainda assim esse tempo especial será contado de forma maior para a aposentadoria “comum” (não especial). Fechando o parêntese e voltando ao exemplo: João argumentou que, ao exercer a atividade na lavoura de cana-de-açúcar, ele pode ser enquadrado na categoria profissional de “trabalhador da agropecuária”, prevista no item 2.2.1 do Decreto nº 53.831/64, que estava vigente na época dos fatos. Como vimos acima, o Decreto nº 53.831/64 previa as atividades consideradas especiais e, trabalhador da agropecuária, era uma delas. O pedido de João deve ser acolhido? O trabalhador rural da lavoura da cana-de-açúcar, empregado rural, pode ser enquadrado na categoria profissional de trabalhador da agropecuária constante no item 2.2.1 do Decreto 53.831/64? NÃO. Inicialmente, é importante esclarecer que: • a lei que rege o tempo de serviço é aquela que estava em vigor no momento da prestação do trabalho;

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• por outro lado, a lei em vigor quando preenchidas as exigências da aposentadoria é a que define o fator de conversão entre as espécies de tempo de serviço. Nesse sentido: STJ. 1ª Seção. REsp 1.310.034/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/10/2012. Assim, para saber se o trabalho de João pode ou não ser enquadrado como “especial”, é necessário analisar a legislação em vigor naquela época. E qual é a intepretação que o STJ dá para a legislação da época? Para o STJ, o trabalhador rural, para ter direito ao tempo especial precisa demonstrar que a atividade rurícola exercida era exclusivamente de natureza agropecuária a fim de que possa ser enquadrada no item 2.2.1 do Decreto 53.831/64. Nesse sentido:

(...) 3. O autor não apresentou qualquer prova de que a atividade rurícola era exclusivamente de natureza agropecuária, o que inviabiliza qualquer tentativa de reconhecimento do seu labor como especial. STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 928.224/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, julgado em 25/10/2016.

Além disso, o STJ considera que o segurado especial em regime de economia familiar não pode ser enquadrado como trabalhador da agropecuária para fins de tempo especial do item 2.2.1 do Decreto 53.831/64:

(...) 2. Os segurados especiais (rurícolas) já são contemplados com regras específicas que buscam protegê-los das vicissitudes próprias das estafantes atividades que desempenham, assegurando-lhes, de forma compensatória, a aposentadoria por idade com redução de cinco anos em relação aos trabalhadores urbanos; a dispensa do recolhimento de contribuições até o advento da Lei n. 8.213/91; e um menor rigor quanto ao conteúdo dos documentos aceitos como início de prova material. 3. Assim, a teor do entendimento do STJ, o Decreto n. 53.831/64, no item 2.2.1 de seu anexo, considera como insalubres as atividades desenvolvidas na agropecuária por outras categorias de segurados, que não dos segurados especiais (rurícolas) que exerçam seus afazeres na lavoura em regime de economia familiar. (...) STJ. 1ª Turma. REsp 1.309.245/RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 6/10/2015.

Por fim, o STJ entende que se o segurado trabalhava apenas na lavoura, ele não tem direito ao enquadramento como especial do item 2.2.1 do Decreto 53.831/64, já que este fala em atividade agropecuária (agrícola + pecuária):

(...) 3. O Decreto nº 53.831/64, no seu item 2.2.1, considera como insalubre somente os serviços e atividades profissionais desempenhados na agropecuária, não se enquadrando como tal a atividade laboral exercida apenas na lavoura (...) STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.084.268/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 5/3/2013.

Atividade agropecuária é aquela que envolve a prática da agricultura e da pecuária por meio de relações mútuas. Desse modo, considerando-se a legislação vigente à época em que o serviço foi prestado, tem-se que, salvo laudo pericial dispondo em sentido contrário, somente os trabalhos exercidos na agropecuária podem ser enquadrados como atividade especial. Lavoura de cana-de-açúcar pode ser considerada atividade agrícola, mas não é agropecuária, de sorte que não se enquadra no item 2.2.1 do Decreto nº 53.831/64. Em suma:

O empregado rural, trabalhador da lavoura da cana-de-açúcar, não pode ser enquadrado na categoria profissional de trabalhador da agropecuária constante no item 2.2.1 do Decreto nº 53.831/64 vigente à época da prestação dos serviços. STJ. 1ª Seção. PUIL 452-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 08/05/2019 (Info 652).

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PENSÃO POR MORTE Em caso de revisão de pensão por morte mediante revisão da RMI da aposentadoria que a

originou, o termo inicial do prazo decadencial para a ação é a data da concessão da aposentadoria (benefício originário)

Atualize o Info 568-STJ

O termo a quo do prazo decadencial para a revisão da pensão por morte, mediante revisão da renda mensal inicial da aposentadoria que a originou, corresponde à data da concessão do benefício originário.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.605.554-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. Acd. Min. Assusete Magalhães, julgado em 27/02/2019 (Info 652).

Salário de benefício Salário de benefício (SB) é um valor utilizado como base para se calcular a renda mensal dos benefícios. Em outras palavras, o SB é a base de cálculo utilizada para se estimar o valor do benefício que será pago. Sobre o valor do SB incidirá uma alíquota prevista em lei e, assim, calcula-se o valor da renda mensal do benefício (RMB). Ex: o RMB da pensão por morte é igual a 100% do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento. Em fórmula matemática: RMB da aposentadoria por invalidez = salário-de-benefício. Renda mensal do benefício (RMB) / Renda mensal inicial (RMI) Renda mensal do benefício (também chamada de renda mensal inicial) é o valor que efetivamente será pago ao segurado. Como vimos acima, primeiro temos que descobrir o valor do salário de benefício. Depois, sobre esse valor aplicamos uma alíquota prevista em lei. O resultado dessa operação equivale à renda mensal do benefício. Ilustrando com uma fórmula matemática: RMB/RMI = salário-de-benefício x alíquota Em que consiste a pensão por morte? Pensão por morte é um benefício previdenciário pago pelo INSS aos dependentes do segurado em virtude do falecimento deste. Em suma, quando o segurado morre, seus dependentes passam a ter direito de receber uma pensão mensal. Valor da pensão por morte A pensão por morte será paga no mesmo valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento (100% do salário de benefício) (AMADO, Frederico. Direito Previdenciário Sistematizado. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 565). Revisão de benefícios previdenciários Como o salário de benefício e a RMB são calculados com base em inúmeros critérios analisados pelo INSS (tempo de contribuição, enquadramento na lei, idade etc.), é comum que muitas pessoas discordem do valor encontrado. Neste caso, é possível ajuizar ação pedindo a revisão do benefício previdenciário. Para isso, ele possui o prazo de 10 anos, nos termos do art. 103 da Lei nº 8.213/91:

Art. 103. É de dez anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ou ação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão de benefício, a contar do dia primeiro do mês seguinte ao do recebimento da primeira prestação ou, quando for o caso, do dia em que tomar conhecimento da decisão indeferitória definitiva no âmbito administrativo.

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Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: João foi aposentado pelo INSS em 2004. No momento em que ele se aposentou, o INSS calculou a RMI como sendo “XX reais”. João ficou recebendo aposentadoria até que faleceu em 2015. A partir de 2015, Maria, esposa de João, passou a receber pensão por morte, que foi calculada com base na aposentadoria dele (pensão por morte de Maria = 100% da aposentadoria de João). Ocorre que Maria, orientada por um advogado, verificou que o INSS calculou errado o valor da aposentadoria de João. Como consequência, o valor da pensão por morte por ela recebido também ficou menor do que seria devido. Diante disso, em 2018, Maria ajuizou ação de revisão da pensão por morte, objetivando o recálculo da renda mensal inicial do benefício originário de aposentadoria, o que iria produzir reflexos na sua pensão. Dito de outro modo, a autora, titular da pensão por morte, busca o aumento do valor de seu benefício (pensão por morte), solicitando, para tanto, a prévia revisão da renda mensal inicial (RMI) da aposentadoria de seu falecido marido. Contestação do INSS O INSS contestou o pedido alegando a decadência. Segundo argumentou a autarquia, o cálculo feito para se chegar ao valor da pensão por morte foi correto (100% da aposentadoria). Logo, o que a autora está buscando é questionar o cálculo da aposentadoria que era recebida pelo segurado (João) e que deu origem à pensão. Ocorre que essa aposentadoria foi concedida em 2004 e já se passaram mais de 10 anos, de forma que não é mais possível o ajuizamento da revisão (art. 103 da Lei nº 8.213/91). A autora, por sua vez, refutou a tese da autarquia alegando que o termo inicial da decadência deveria ser a data da concessão do benefício de pensão por morte com base no chamado princípio da actio nata, segundo o qual o prazo para ajuizar a ação somente se inicia quando o direito for violado. O direito de Maria só teria começado a ser violado em 2013, quando a pensão por morte foi concedida com valor inferior ao que seria realmente devido. Qual das duas teses é acolhida atualmente pelo STJ: a do INSS ou da segurada? A tese do INSS.

O termo a quo do prazo decadencial para a revisão da pensão por morte, mediante revisão da renda mensal inicial da aposentadoria que a originou, corresponde à data da concessão do benefício originário. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.605.554-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. Acd. Min. Assusete Magalhães, julgado em 27/02/2019 (Info 652).

Embora o pedido seja de revisão da pensão por morte, o que a parte autora pretende é, na verdade, revisar a renda mensal inicial da aposentadoria que ensejou a pensão, o que geraria, por óbvio, reflexos financeiros no benefício derivado. Se houve algum equívoco administrativo, isso ocorreu no momento da concessão da aposentadoria. Não pode ser aplicado aqui o princípio da actio nata, considerando que ele está ligado à prescrição (e não à decadência). Com efeito, deve ser feita a distinção entre o direito de ação (vinculado ao prazo prescricional) e o direito material em si. O direito de ação está vinculado ao prazo prescricional. O direito material, por sua vez, se não exercido em certo prazo, é atingido pela decadência, que não se suspende, nem se interrompe. Como já dito, o princípio da actio nata diz respeito ao direito de ação, e, nessa medida, está ligado ao prazo prescricional. O prazo decadencial, por sua vez, refere-se ao direito material, que, no caso, deveria ter sido exercido no prazo de 10 anos, na forma do art. 103, caput, da Lei nº 8.213/91.

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O prazo decadencial é fixado em relação ao direito em si, não em relação à pessoa, de modo que nem mesmo os incapazes escapam dos seus efeitos. Diferentemente do que ocorre com a prescrição, a decadência não admite suspensão ou interrupção. Assim sendo, a morte do marido da autora e a concessão da pensão em nada interferem na decadência do direito de revisão do benefício originário, decadência que, no caso concreto, consumou-se em 2014, ou seja, antes mesmo de João falecer (em 2015). Nesse panorama, se já havia decaído para o instituidor da pensão (João) o direito à revisão de sua aposentadoria, o titular da pensão por morte (Maria) não mais poderá exercê-lo, considerando que este direito já havia perecido. Para o STJ, essa situação não pode ser mitigada, por força do princípio da actio nata, que diz respeito ao direito de ação, não fazendo ressurgir o direito material correspondente. O pedido de revisão da pensão por morte exige, como pressuposto necessário, a revisão da renda mensal inicial da aposentadoria que a originou. Todavia, se o direito à revisão da aposentadoria não mais existia quando o óbito ocorreu (em 2015), esse direito não ressurge com a concessão da pensão.

EXERCÍCIOS Julgue os itens a seguir: 1) É devida a incidência de correção monetária e juros moratórios em ação mandamental para pagamento

de retroativos devidos àqueles declarados anistiados políticos, independentemente de decisão expressa nesse sentido. ( )

2) Os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) não se submetem aos efeitos da falência da instituição financeira. ( )

3) As sociedades empresárias integrantes de grupo econômico devem demonstrar individualmente o cumprimento do requisito temporal de 2 (dois) anos (art. 48 da Lei nº 11.101/2005) de exercício regular de suas atividades para postular a recuperação judicial em litisconsórcio ativo. ( )

4) Não é cabível multa cominatória para compelir provedor de acesso a internet ao fornecimento de dados para identificação de usuário. ( )

5) O prazo previsto no art. 523, caput, do Código de Processo Civil, para o cumprimento voluntário da obrigação, possui natureza processual, devendo ser contado em dias úteis. ( )

6) É possível a deflagração de investigação criminal com base em matéria jornalística, desde que haja uma provocação formal da autoridade policial ou do Ministério Público. ( )

7) É cabível a suspensão da exigibilidade do crédito não tributário a partir da apresentação da fiança bancária ou do seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento. ( )

8) O crédito presumido de IPI previsto no art. 1º da Lei nº 9.363/96 integra a base de cálculo do IRPJ e da CSLL. ( )

9) O segurado que exerce atividades em condições especiais, quando em gozo de auxílio-doença, seja acidentário ou previdenciário, faz jus ao cômputo desse mesmo período como tempo de serviço especial. ( )

10) O empregado rural, trabalhador da lavoura da cana-de-açúcar, não pode ser enquadrado na categoria profissional de trabalhador da agropecuária constante no item 2.2.1 do Decreto nº 53.831/64 vigente à época da prestação dos serviços. ( )

11) O termo a quo do prazo decadencial para a revisão da pensão por morte, mediante revisão da renda mensal inicial da aposentadoria que a originou, corresponde à data da concessão do benefício originário. ( )

Gabarito

1. C 2. E 3. C 4. E 5. C 6. E 7. C 8. C 9. C 10. C 11. C