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INFORMATIVOS ESTRATÉGICOS INFORMATIVO Nº 652 PUBLICADO PELO STJ EM 16/08/2019 Prof. Lucas Evangelinos - Sumário - 1/68 - Sumário – @proflucasevangelinos [email protected] Sumário Sumário ....................................................................................................... 1 DIREITO ADMINISTRATIVO ............................................................................. 5 1. Indenização de anistiado político ........................................................... 5 1.1. Situação fática. ............................................................................. 5 1.2. Análise Estratégica. ....................................................................... 5 1.2.1. Questão em debate.................................................................... 6 1.2.2. Incidem correção monetária e juros moratórios na indenização destinada a anistiado político? ............................................................... 6 1.3. Questões objetivas. ....................................................................... 6 1.4. Gabarito. ..................................................................................... 7 DIREITO EMPRESARIAL .................................................................................. 8 2. CDB e efeitos da falência da instituição financeira. ................................... 8 2.1. Situação fática. ............................................................................. 8 2.2. Análise Estratégica. ....................................................................... 9 2.2.1. Questão em debate.................................................................... 9 2.2.2. CDB, o que é isso? ..................................................................... 9 2.2.3. E como fica o art. 85 da Lei nº 11.101/05 a partir desse entendimento? ...................................................................................10 2.2.4. Mas o pedido de resgate antes da falência, com anuência do banco, não altera esse cenário? ......................................................................11 2.2.5. Mas e a Súmula nº 417/STF? .....................................................12 2.3. Questões objetivas. ......................................................................12 2.4. Gabarito. ....................................................................................12 2.5. Bibliografia. .................................................................................12 3. Litisconsórcio ativo na recuperação judicial e cumprimento do requisito temporal. .................................................................................................12 3.1. Situação fática. ............................................................................13 3.2. Análise Estratégica. ......................................................................14 3.2.1. Questão em debate...................................................................14 3.2.2. O que é grupo societário? ..........................................................14 3.2.3. A Lei nº 11.101/05 admite litisconsórcio ativo? ............................15 3.2.4. O exercício regular das atividades há mais de 2 (dois) anos deve ocorrer na mesma atividade? ...............................................................15 3.2.5. Em se tratando de grupo econômico, cada sociedade empresária deve demonstrar o cumprimento do requisito temporal de 2 (dois) anos? ..16 3.2.6. Ao período de exercício regular das atividades pode ser somado o tempo anteriormente exercido pela sociedade empresária sucedida? .........16 3.3. Questões objetivas. ......................................................................16 3.4. Gabarito. ....................................................................................17 3.5. Bibliografia. .................................................................................17 DIREITO PENAL ............................................................................................18 4. A redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do CP não se relaciona com as causas interruptivas da prescrição previstas no art. 117 do mesmo diploma legal. ...........................................................................................18 4.1. Situação fática. ............................................................................18 4.2. Análise Estratégica. ......................................................................19

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INFORMATIVOS ESTRATÉGICOS – INFORMATIVO Nº 652

PUBLICADO PELO STJ EM 16/08/2019

Prof. Lucas Evangelinos - Sumário -

1/68

- Sumário –

@proflucasevangelinos [email protected]

Sumário

Sumário ....................................................................................................... 1

DIREITO ADMINISTRATIVO ............................................................................. 5

1. Indenização de anistiado político ........................................................... 5

1.1. Situação fática. ............................................................................. 5

1.2. Análise Estratégica. ....................................................................... 5

1.2.1. Questão em debate.................................................................... 6

1.2.2. Incidem correção monetária e juros moratórios na indenização

destinada a anistiado político? ............................................................... 6

1.3. Questões objetivas. ....................................................................... 6

1.4. Gabarito. ..................................................................................... 7

DIREITO EMPRESARIAL .................................................................................. 8

2. CDB e efeitos da falência da instituição financeira. ................................... 8

2.1. Situação fática. ............................................................................. 8

2.2. Análise Estratégica. ....................................................................... 9

2.2.1. Questão em debate.................................................................... 9

2.2.2. CDB, o que é isso? ..................................................................... 9

2.2.3. E como fica o art. 85 da Lei nº 11.101/05 a partir desse

entendimento? ................................................................................... 10

2.2.4. Mas o pedido de resgate antes da falência, com anuência do banco,

não altera esse cenário? ...................................................................... 11

2.2.5. Mas e a Súmula nº 417/STF? ..................................................... 12

2.3. Questões objetivas. ...................................................................... 12

2.4. Gabarito. .................................................................................... 12

2.5. Bibliografia. ................................................................................. 12

3. Litisconsórcio ativo na recuperação judicial e cumprimento do requisito

temporal. ................................................................................................. 12

3.1. Situação fática. ............................................................................ 13

3.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 14

3.2.1. Questão em debate................................................................... 14

3.2.2. O que é grupo societário? .......................................................... 14

3.2.3. A Lei nº 11.101/05 admite litisconsórcio ativo? ............................ 15

3.2.4. O exercício regular das atividades há mais de 2 (dois) anos deve

ocorrer na mesma atividade? ............................................................... 15

3.2.5. Em se tratando de grupo econômico, cada sociedade empresária

deve demonstrar o cumprimento do requisito temporal de 2 (dois) anos? .. 16

3.2.6. Ao período de exercício regular das atividades pode ser somado o

tempo anteriormente exercido pela sociedade empresária sucedida? ......... 16

3.3. Questões objetivas. ...................................................................... 16

3.4. Gabarito. .................................................................................... 17

3.5. Bibliografia. ................................................................................. 17

DIREITO PENAL ............................................................................................ 18

4. A redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do CP não se relaciona

com as causas interruptivas da prescrição previstas no art. 117 do mesmo

diploma legal. ........................................................................................... 18

4.1. Situação fática. ............................................................................ 18

4.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 19

INFORMATIVOS ESTRATÉGICOS – INFORMATIVO Nº 652

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4.2.1. Questão em debate................................................................... 19

4.2.2. Mas o art. 115 do CP jamais se aplica diante de acórdão

condenatório? .................................................................................... 21

4.3. Tá, mas e se o acórdão apenas modificar o montante da pena,

mantendo a condenação?........................................................................ 21

4.4. Questões objetivas. ...................................................................... 23

4.5. Gabarito. .................................................................................... 23

DIREITO PREVIDENCIÁRIO ............................................................................ 24

5. Auxílio doença e segurado que exerce atividades em condições especiais. . 24

5.1. Situação fática. ............................................................................ 24

5.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 25

5.2.1. Questão em debate................................................................... 25

5.2.2. Histórico da legislação. .............................................................. 25

5.2.3. Justificativa da possibilidade de cômputo. .................................... 26

5.3. Questões objetivas. ...................................................................... 28

5.4. Gabarito. .................................................................................... 28

6. Trabalhador da lavoura da cana-de-açúcar não pode ser enquadrado na

categoria profissional de trabalhador da agropecuária. ................................... 29

6.1. Situação fática. ............................................................................ 29

6.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 29

6.2.1. Questão em debate................................................................... 29

6.2.2. Qual lei rege o cálculo do tempo de serviço? ................................ 32

6.2.3. E, então, o trabalhador da lavoura da cana-de-açúcar, empregado

rural, pode ter seu tempo de labor equiparado ao desempenhado na

agropecuária? .................................................................................... 33

6.3. Questões objetivas. ...................................................................... 34

6.4. Gabarito. .................................................................................... 34

6.5. Bibliografia. ................................................................................. 34

7. Termo a quo do prazo decadencial para a revisão da pensão por morte

quando há benefício originário. ................................................................... 34

7.1. Situação fática. ............................................................................ 35

7.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 35

7.2.1. Questão em debate................................................................... 35

7.2.2. Qual o prazo decadencial para requerer revisão de benefício

previdenciário? ................................................................................... 36

7.2.3. Se a revisão da pensão por morte (benefício derivado) decorre da

própria revisão do benefício recebido pelo segurado quando em vida

(benefício originário), deve-se contar o prazo decadencial da data da

concessão do primeiro benefício originário, certo? .................................. 36

7.2.4. Caso prático. ............................................................................ 38

7.2.5. Placar final. .............................................................................. 38

7.2.6. Trechos relevantes dos votos divergentes publicados. ................... 39

7.3. Questões objetivas. ...................................................................... 39

7.4. Gabarito. .................................................................................... 40

DIREITO PROCESSUAL CIVIL ......................................................................... 41

8. Inexistência de aceitação tácita da decisão por oposição de embargos do

devedor. .................................................................................................. 41

8.1. Situação fática. ............................................................................ 41

8.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 42

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- Sumário –

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8.2.1. Questão em debate................................................................... 42

8.2.2. O que se entende por aceitação tática? ....................................... 42

8.2.3. A oposição de embargos do devedor representa aceitação tácita da

decisão agravada que incluiu o embargante no polo passivo da execução? . 43

8.3. Questões objetivas. ...................................................................... 44

8.4. Gabarito. .................................................................................... 44

8.5. Bibliografia. ................................................................................. 44

9. Forma de contagem dos 15 dias para pagamento (art. 523 do NCPC). ...... 44

9.1. Situação fática. ............................................................................ 45

9.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 46

9.2.1. Questão em debate................................................................... 46

9.2.2. Tabela: processual ou material. .................................................. 46

9.3. Questões objetivas. ...................................................................... 48

9.4. Gabarito. .................................................................................... 48

10. Multa cominatória para compelir provedor de acesso a internet. ............ 48

10.1. Situação fática. ............................................................................ 48

10.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 49

10.2.1. Questão em debate. .............................................................. 49

10.2.2. O provedor de acesso à internet é obrigado a fornecer, com base

no endereço IP fornecido pelo requerente, os dados cadastrais de usuário

autor de ato ilícito? ............................................................................. 50

10.2.3. O que são astreintes? ............................................................ 50

10.2.4. A Súmula nº 372/STJ impede a fixação de astreintes contra

provedor de acesso à internet? ............................................................. 51

10.3. Questões objetivas. ...................................................................... 52

10.4. Gabarito. .................................................................................... 53

10.5. Bibliografia. ................................................................................. 53

DIREITO PROCESSUAL PENAL ........................................................................ 54

11. É possível a deflagração de investigação criminal com base em matéria

jornalística. .............................................................................................. 54

11.1. Situação fática. ............................................................................ 54

11.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 54

11.2.1. Questão em debate. .............................................................. 54

11.2.2. A Autoridade Policial pode iniciar investigação criminal a partir de

matéria jornalística? ........................................................................... 54

11.3. Questões objetivas. ...................................................................... 55

11.4. Gabarito. .................................................................................... 55

DIREITO TRIBUTÁRIO ................................................................................... 56

12. Crédito presumido de IPI e base de cálculo do IRPJ e CSLL. .................. 56

12.1. Situação fática. ............................................................................ 56

12.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 57

12.2.1. Questão em debate. .............................................................. 57

12.2.2. Que crédito presumido é esse? ............................................... 57

12.2.3. E aí, o crédito presumido de IPI previsto no art. 1º da Lei n.

9.363/96 integra a base de cálculo do IRPJ e da CSLL? ........................... 58

12.2.4. Por que não foi aplicado o mesmo entendimento que prevaleceu no

caso do crédito presumido do IPI e a base de cálculo do PIS e COFINS? .... 59

12.2.5. Placar final. .......................................................................... 60

12.2.6. Trechos relevantes dos votos divergentes publicados. ................ 61

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12.3. Questões objetivas. ...................................................................... 62

12.4. Gabarito. .................................................................................... 62

13. Suspensão da exigibilidade do crédito NÃO tributário com fiança bancária

e seguro garantia judicial. .......................................................................... 62

13.1. Situação fática. ............................................................................ 63

13.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 64

13.2.1. Questão em debate. .............................................................. 64

13.2.2. O que são créditos não tributários? A multa administrativa é

crédito não tributário? ......................................................................... 64

13.2.3. Quais são as hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito

tributário? ......................................................................................... 65

13.2.4. O que fazer então? ................................................................ 66

13.3. Questões objetivas. ...................................................................... 68

13.4. Gabarito. .................................................................................... 68

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DIREITO ADMINISTRATIVO

1. Indenização de anistiado político

AGRAVO INTERNO NO MANDADO DE SEGURANÇA (AgInt no MS)

É devida a incidência de correção monetária e juros moratórios em ação

mandamental para pagamento de retroativos devidos àqueles declarados anistiados

políticos, independentemente de decisão expressa nesse sentido (STJ, AgInt no

MS 24212/DF, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade,

julgado em 26/06/2019, DJe 01/08/2019)

Resultado: Recurso especial desprovido.

1.1. Situação fática.

AFRÂNIO, anistia político, impetrou mandado de segurança, no

STJ, em face do MINISTRO DO ESTADO DA DEFESA, buscando reparação econômica com base na Lei nº 10.559/02 (regulamenta o

art. 8º do ADCT).

Instância Desfecho

Superior

Tribunal

de Justiça

Em decisão monocrática, foi concedida a segurança para

determinar o pagamento da indenização, inclusive com incidência

de correção monetária e juros moratórios.

Em agravo interno, a UNIÃO defendeu a impossibilidade de se

aplicar correção monetária e os juros moratórios.

Instância Desfecho

Superior

Tribunal

de Justiça

Negou provimento ao recurso.

1.2. Análise Estratégica.

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1.2.1. Questão em debate.

Incidência ou não de correção monetária e juros moratórios na

indenização destinada a anistiado político.

1.2.2. Incidem correção monetária e juros moratórios na indenização destinada a anistiado

político?

R: Sim, nos termos do já decidido pelo STF no RE nº 553.710/DF, em que foi fixado o entendimento de que são devidos correção monetária

e juros de mora, mesmo em sede mandamental, pois configuram

consectários legais.

Aliás, desde esse julgamento no STF, o próprio STJ passou a

adotar tal posicionamento:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Seguindo a orientação dada pelo

Supremo Tribunal Federal, a Primeira Seção desta Corte de Justiça, nos

autos dos Mandados de Segurança n. 21.975/DF, 21.999/DF e 22.221/DF,

de relatoria do Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgados em 10/4/2019,

firmou compreensão de que os juros moratórios e correção monetária

devem incidir sobre os valores a serem pagos retroativamente em virtude da

condição de anistiado político. (...) Logo, de acordo com o recente

posicionamento adotado pela Primeira Seção desta Corte de Justiça, nos

termos delineados pelo Supremo Tribunal Federal, mostra-se devida a

incidência de correção monetária e juros moratórios nas hipóteses de

pagamento de retroativos devidos àqueles declarados anistiados políticos.”

(STJ, AgInt no MS 24212/DF, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira

Seção, por unanimidade, julgado em 26/06/2019, DJe 01/08/2019)

1.3. Questões objetivas.

Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. É devida a incidência de correção monetária

em ação mandamental para pagamento de retroativos devidos àqueles declarados

anistiados políticos, independentemente de decisão expressa nesse sentido, salvo

quanto aos juros moratórios, que exigem decisão expressa.

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1.4. Gabarito.

Q1º. FALSA.

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DIREITO EMPRESARIAL

2. CDB e efeitos da falência da instituição financeira.

RECURSO ESPECIAL (REsp)

Os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) se submetem aos efeitos da falência

da instituição financeira (STJ, REsp 1801031/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,

Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 04/06/2019, DJe

07/06/2019)

Resultado: Recurso especial desprovido.

Tribunal de Origem: TJSP.

2.1. Situação fática.

Pouco tempo antes da decretação da falência do BANCO BVA S/A, a sociedade AUTOMETAL S/A requereu o resgate de suas

aplicações em CDBs que estavam com a instituição financeira, o que

foi consentido pelo banco.

Ocorre que, em razão da falência, o banco acabou permanecendo com o valor das aplicações, os quais, aliás, foram

classificados como créditos quirografários no procedimento

falimentar.

A AUTOMETAL S/A então apresentou impugnação ao crédito, solicitando sua imediata restituição, nos termos do art. 85 da Lei nº

11.101/05. Em síntese, afirmou que a solicitação do resgate, acompanhada da anuência da instituição depositária, implicou

extinção das aplicações, de maneira que o montante das CDBs estaria

indevidamente em posse do banco:

“Art. 85, caput, da Lei nº 11.101/05. O proprietário de bem arrecadado

no processo de falência ou que se encontre em poder do devedor na data da

decretação da falência poderá pedir sua restituição.”

Instância Desfecho

1º Grau Rejeitou a impugnação ao crédito, mantendo o valor das CDBs

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como crédito quirografário.

Em agravo de instrumento, a AUTOMETAL S/A manteve o

pedido.

Instância Desfecho

2º Grau Negou provimento ao recurso.

Em recurso especial, a AUTOMETAL S/A pugnou pela reforma

do Acórdão.

Instância Desfecho

Superior

Tribunal

de Justiça

Negou provimento ao recurso.

2.2. Análise Estratégica.

2.2.1. Questão em debate.

O propósito recursal é definir se os créditos representativos de

valores investidos em CDBs se submetem ou não aos efeitos da

falência da instituição financeira.

2.2.2. CDB, o que é isso?

R: No contrato de depósito bancário, o banco recebe, em regra, certa soma em dinheiro, obrigando-se a restituí-la em determinado

prazo:

“Depósito bancário consiste no contrato cuja prestação principal envolve a

custódia e guarda de dinheiro pelo banco. Deposita-se, normalmente, em

conta-corrente. Porém, é correto que a aplicação de recursos financeiros em

dados produtos do banco, mediante celebração de contratos específicos para

este fim, também geralmente envolve depósitos de valores.” (Bruno

Miragem)

E o CDB trata-se de uma modalidade de depósito bancário:

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“Dentro da categoria dos depósitos (iii) a prazo fixo, geralmente

encontramos contratos que estipulam regras sobre uma remuneração dos

valores depositados. É o caso da poupança. Também, nessa categoria,

encontramos os instrumentos de captação conhecidos como Certificados

de Depósito Bancário (CDBs) e Recibos de Depósitos Bancários (RDBs),

(...).” (Gilberto Gornati e Ivo Waisberg)

Contudo, não deixe o nome “depósito” te enganar! De acordo com a doutrina e com o STJ, no contrato de depósito bancário ocorre

a efetiva transferência da propriedade do valor para a instituição

financeira:

“[Trecho do corpo do acórdão:] O STJ, ao enfrentar questões análogas à

presente, tem refletido a posição doutrinária precitada, manifestando

entendimento no sentido de que, quando se trata de contratos de

depósito bancário, ocorre a transferência da propriedade do bem

para a instituição financeira, assumindo o depositante, via de

consequência, a posição de credor daqueles valores (REsp

212.886/MA, 3ª Turma, DJ 28/8/2000; REsp 98.623/MG, 4ª Turma, DJ

06/10/1997).” (STJ, REsp 1801031/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,

Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 04/06/2019, DJe

07/06/2019)

No mesmo sentido:

“Quando um banco recebe certa soma em dinheiro, obrigando-se a restituí-

la em determinado prazo, ou ad nutum de quem a entrega, realiza contrato

de depósito bancário. Adquire, nesse caso, pleno gozo da quantia

depositada. Não a recebe para guardá-la. Aceitando-a, não está a prestar

serviço ao depositante, como ocorre no depósito regular. Depositando, o

cliente empresta ao banco, em última análise, a soma depositada. O

depósito bancário não se confunde com a custódia, que é depósito regular.

Nesta, o depositante não perde a propriedade da coisa depositada. Naquela,

torna-se simples credor do banco.” (Orlando Gomes)

2.2.3. E como fica o art. 85 da Lei nº 11.101/05 a

partir desse entendimento?

R: Vejamos o dispositivo novamente:

“Art. 85, caput, da Lei nº 11.101/05. O proprietário de bem arrecadado

no processo de falência ou que se encontre em poder do devedor na data da

decretação da falência poderá pedir sua restituição.”

Se o contrato de depósito bancário implica transferência da propriedade do numerário para instituição financeira, é possível falar

que o bem, na verdade, é de propriedade da AUTOMETAL S/A e se

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encontra em poder da falida? Não! O banco falido não é simples

detentor ou custodiante, ele é proprietário, como apontou a Min.

NANCY ANDRIGHI:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Assim, como a instituição financeira tem

em sua disponibilidade os valores depositados, não se poderia equiparar a

situação dos autos às hipóteses em que o devedor ostenta a condição de

mero detentor ou custodiante do bem arrecado, hipóteses fáticas que

atrairiam a incidência do art. 85 da LFRE.” (STJ, REsp 1801031/SP, Rel.

Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em

04/06/2019, DJe 07/06/2019)

Vejam! A AUTOMETAL S/A tem crédito contra a falida, mas

não direito à restituição:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Ademais, este Superior Tribunal, quando

da apreciação do REsp 492.956, decidiu que, ‘ocorrendo a liquidação

extrajudicial da Instituição Financeira os depósitos denominados

irregulares passam a integrar a massa falida gerando direito de

crédito e não à restituição dos valores depositados, concorrendo o

correntista com os demais credores quirografários’ (sem destaque no

original. 1ª Turma, DJ 26/05/2003, entendimento que veio a ser sufragado

quando do julgamento do agravo regimental acerca da mesma questão pela

4ª Turma em 5/8/2004).

(...) Segundo entendimento pacífico desta Corte, portanto, e de acordo com

a doutrina sobre o tema, a natureza da relação existente entre a recorrente

e a instituição financeira falida é creditícia e, como corolário, deve o

montante impugnado sujeitar-se aos efeitos da execução concursal, em

respetio ao par conditio creditorum.” (STJ, REsp 1801031/SP, Rel. Min.

Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em

04/06/2019, DJe 07/06/2019)

Em outras palavras, perdeu...

2.2.4. Mas o pedido de resgate antes da falência,

com anuência do banco, não altera esse cenário?

R: Claro, sqn... A Min. NANCY ANDRIGHI terminou dizendo que:

“[Trecho do corpo do acórdão:] De se consignar, por fim, que, ao

contrário da tese defendida pela recorrente, a solicitação de resgate dos

certificados de depósito objeto da presente irresignação não tem como efeito

a alteração da natureza jurídica da relação existente entre as partes.” (STJ,

REsp 1801031/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por

unanimidade, julgado em 04/06/2019, DJe 07/06/2019)

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2.2.5. Mas e a Súmula nº 417/STF?

“Pode ser objeto de restituição, na falência, dinheiro em poder do falido,

recebido em nome de outrem, ou do qual, por lei ou contrato, não tivesse

ele a disponibilidade.” (Súmula nº 417/STF)

R: Bom, primeiro, se você lembrou dessa súmula, meus sinceros parabéns! Você dá importância para matéria mais relevante do

universo jurídico, possivelmente de todos as outras disciplinas do

Mundo, o magnânimo DIREITO EMPRESARIAL!

Em segundo, ela não se aplica ao caso, pois, como vimos, ao banco é transferida a propriedade do numerário; logo, ele tem sim

disponibilidade sobre o mesmo.

2.3. Questões objetivas.

Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. Os Certificados de Depósito Bancário

(CDBs) se submetem aos efeitos da falência da instituição financeira.

2.4. Gabarito.

Q1º. VERDADEIRA.

2.5. Bibliografia.

WAISBERG, Ivo, GORNATI, Gilberto. Direito bancário: contratos e operações

bancárias. São Paulo: Quartier Latin do Brasil, 2012.

3. Litisconsórcio ativo na recuperação judicial e cumprimento

do requisito temporal.

RECURSO ESPECIAL (REsp)

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As sociedades empresárias integrantes de grupo econômico devem demonstrar

individualmente o cumprimento do requisito temporal de 2 (dois) anos (art. 48 da

Lei n. 11.101/2005) de exercício regular de suas atividades para postular a

recuperação judicial em litisconsórcio ativo (STJ, REsp 1665042/RS, Rel. Min.

Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em

25/06/2019, DJe 01/07/2019)

Resultado: Recurso especial provido.

Tribunal de Origem: TJRS.

3.1. Situação fática.

O grupo societário KOLPATO ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÕES S/A, LOJAS KOLPATO LTDA e REDE VAREJO

DO BRASIL ELETRODOMÉSTICO KOLPATO LTDA apresentou, em

litisconsórcio ativo, pedido de recuperação judicial.

Deferido o processamento do pedido de recuperação judicial, o BANCO BRADESCO S/A, um dos credores, destacou que a

sociedade REDE VAREJO DO BRASIL ELETRODOMÉSTICO KOLPATO LTDA não possuía 2 (dois) anos de atividade, como exige

o art. 48, caput, da Lei nº 11.101/05:

“Art. 48, caput, da Lei nº 11.101/05. Poderá requerer recuperação

judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas

atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes

requisitos, cumulativamente: (...).”

Instância Desfecho

1º Grau

Manteve o processamento da recuperação judicial de todo o grupo,

pois as outras duas sociedades empresárias exerciam regularmente

suas atividades faz mais de 2 (dois) anos.

Em agravo de instrumento, o BANCO BRADESCO S/A

defendeu que o requisito temporal deve ser demonstrado por todos

os litisconsortes:

Instância Desfecho

2º Grau Deu provimento ao recurso por entender que, havendo

litisconsórcio ativo de empresários do mesmo grupo societário,

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cada um, individualmente, deve comprovar o requisito temporal.

Em recurso especial, REDE VAREJO DO BRASIL

ELETRODOMÉSTICO KOLPATO LTDA defendeu: (a) que o requisito temporal não precisa ser comprovado por cada litisconsorte

e; (b) que possui, sim, o período temporal já que decorre da cisão total da sociedade Kolpato Compras Ltda, a qual já atuava no

mercado faz mais de 20 (vinte) anos.

Instância Desfecho

Superior

Tribunal

de Justiça

Deu provimento ao recurso.

3.2. Análise Estratégica.

3.2.1. Questão em debate.

Cinge-se a controvérsia a definir se, em caso de recuperação

judicial de grupo societário (grupo econômico), todas as sociedades empresárias devem cumprir individualmente o requisito temporal de

2 (dois) anos previsto no caput do art. 48 da Lei nº 11.101/05.

3.2.2. O que é grupo societário?

R: De acordo com ARNALDO RIZZARDO:

“(...) o grupo de sociedades compreende a coligação ou união de duas ou

mais sociedades, abrangendo as sociedades coligadas, as controladoras e as

controladas, ou formas diferentes de reunião. Mais apropriadamente,

organizam-se as sociedades de modo a formar um inter-relacionamento,

para a realização de atividades comuns. Constitui-se uma ‘sociedade de

sociedades’, o que se dá através da aprovação pela assembleias gerais de

cada sociedade. Oportuna a explicação de Alfredo Lamy Filho e José Luiz

Bulhões Pedreira: ‘A vinculação de duas ou mais sociedades mediante

relações de participação societária dá origem a uma estrutura de

sociedades, e quando essa estrutura é hierarquizada (ou seja, uma

sociedade detém o poder de controlar outra ou outras), é usualmente

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designada como grupo de sociedades, que pode ser de fato (baseado apenas

nas relações de participação societária e de controle) ou de direito (se, além

disso, é regulado por convenção de grupo registrada nos termos do Capítulo

XXI da Lei nº 6.404/1976)’.” (Arnaldo Rizzardo)

3.2.3. A Lei nº 11.101/05 admite litisconsórcio ativo?

R: Como destacado pela Min. RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,

embora a Lei nº 11.101/05 não preveja a situação de litisconsórcio ativo, seu art. 189 estabelece a aplicação subsidiária do Código de

Processo Civil, de modo que a jurisprudência passou a admitir tal

possibilidade:

“[Trecho do corpo do acórdão:] A Lei nº 11.101/2005, ao reputar o

devedor como sendo o empresário ou a sociedade empresária (expressões

usadas no singular pela LRF), deixou de disciplinar a possibilidade de

apresentação conjunta do pedido de recuperação judicial por sociedades

empresárias que componham determinado grupo econômico. Portanto, não

dispôs acerca da formação do litisconsórcio ativo. Todavia, conforme o art.

189 da LRF, o Código de Processo Civil (CPC) é aplicável subsidiariamente

aos processos de recuperação judicial e de falência. Desse modo, as normas

da legislação adjetiva brasileira visam suprir, no que for compatível,

eventuais lacunas contidas no referido estatuto concursal.” (STJ, REsp

1665042/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma,

por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe 01/07/2019)

3.2.4. O exercício regular das atividades há mais de 2

(dois) anos deve ocorrer na mesma atividade?

R: De acordo com o STJ, o requisito temporal deve ocorrer em

atividade idêntica ou correlata:

“(...) Porém, para o processamento da recuperação judicial, a Lei, em seu

art. 48, não exige somente a regularidade no exercício da atividade, mas

também o exercício por mais de dois anos, devendo-se entender tratar-se

da prática, no lapso temporal, da mesma atividade (ou de correlata) que se

pretende recuperar. (...)" (STJ, REsp 1.478.001/ES, Rel. Ministro RAUL

ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 10/11/2015, DJe

19/11/2015)

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3.2.5. Em se tratando de grupo econômico, cada

sociedade empresária deve demonstrar o

cumprimento do requisito temporal de 2 (dois) anos?

R: Sim!

“[Trecho do corpo do acórdão:] Em se tratando de grupo econômico,

cada sociedade empresária deve demonstrar o cumprimento do requisito

temporal de 2 (dois) anos, pois elas conservam a sua individualidade e, por

conseguinte, apresentam a personalidade jurídica distinta das demais

integrantes da referida coletividade.” (STJ, REsp 1665042/RS, Rel. Min.

Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado

em 25/06/2019, DJe 01/07/2019)

“Tá, mas por qual razão o recurso especial foi provido?”

3.2.6. Ao período de exercício regular das atividades

pode ser somado o tempo anteriormente exercido

pela sociedade empresária sucedida?

R: No julgado, o Min. RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA vislumbrou, pelo menos, duas operações societárias que autorizam essa soma de

tempo: transformação e cisão.

Logo, desde que mantido o mesmo objeto social (ou, ao menos,

correlato) a sucessora pode somar seu tempo de exercício regular de atividade ao do empresário (pessoa física ou pessoa jurídica)

sucedido:

“[Trecho do corpo do acórdão:] É válido ressaltar que a cisão não

ocasionou alteração do objeto social, tampouco a interrupção das atividades

empresariais tanto da sociedade cedente e quanto da cindida. Sérgio

Campinho ensina que, em caso de transformação societária, poderá

haver o cômputo do exercício anterior para atingir o prazo de 2 (dois) anos,

desde que não haja a descontinuidade da empresa: (...).

Assim, conforme o referido ensinamento doutrinário, se a sociedade anterior

tinha mais de 2 (anos) de atividade empresarial, a nova - objeto da cisão -

não precisa cumprir novamente o biênio.” (STJ, REsp 1665042/RS, Rel.

Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, por unanimidade,

julgado em 25/06/2019, DJe 01/07/2019)

3.3. Questões objetivas.

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Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. As sociedades empresárias integrantes de

grupo econômico devem demonstrar individualmente o cumprimento do requisito

temporal de 2 (dois) anos de exercício regular de suas atividades para postular a

recuperação judicial em litisconsórcio ativo.

Q2º. Estratégia Carreiras Jurídicas. A Lei nº 11.101/05 expressamente prevê

hipóteses de litisconsórcio ativo.

Q3º. Estratégia Carreiras Jurídicas. Em caso de cisão, o período de exercício

regular da sociedade empresária sucessora pode ser somado ao da cindida para fins

de comprovação do período de 2 (dois) anos de atividade.

3.4. Gabarito.

Q1º. VERDADEIRA.

Q2º. FALSA.

Q3º. VERDADEIRA.

3.5. Bibliografia.

RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. Rio de Janeiro: Forense, 2018.

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DIREITO PENAL

4. A redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do CP

não se relaciona com as causas interruptivas da prescrição

previstas no art. 117 do mesmo diploma legal.

HABEAS CORPUS (HC)

A redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do CP não se relaciona com as

causas interruptivas da prescrição previstas no art. 117 do mesmo diploma legal,

tratando-se de fenômenos distintos e que repercutem de maneira diversa (STJ, HC

316110/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por

unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe 01/07/2019)

Resultado: Ordem denegada.

Tribunal de Origem: TRF 3ª Região.

4.1. Situação fática.

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL denunciou KIWI pela

prática do crime previsto no art. 4º da Lei nº 7.492/86:

“Art. 4º da Lei nº 7.492/86. Gerir fraudulentamente instituição financeira:

Pena - Reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa.

Parágrafo único. Se a gestão é temerária:

Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.”

Instância Desfecho

1º Grau

Julgou procedente a ação penal, condenando KIWI à pena

privativa de liberdade de 4 (quatro) anos e 8 (oito) meses de

reclusão mais pagamento de multa de 11 (onze) dias-multa.

Em recurso de apelação, a defesa de KIWI pugnou pela

absolvição ou, subsidiariamente, pela redução da pena.

Instância Desfecho

2º Grau Manteve a condenação, mas reduziu a pena privativa de liberdade

a 4 (quatro) anos de reclusão mais pagamento de multa de 10

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(dez) dias-multa.

Transitada em julgado a condenação, a defesa de KIWI

impetrou habeas corpus, requerendo o reconhecimento da prescrição da pretensão executória, com base nos arts. 107,

inciso IV, c/c 110, § 1º, conjuntamente aos arts. 115 e 117, todos do CP, já que, quando do acórdão confirmatório da sentença, o paciente

tinha mais de 70 (setenta) anos:

“Art. 107 CP. Extingue-se a punibilidade: IV - pela prescrição, decadência

ou perempção;”

“Art. 110, § 1º, CP. A prescrição, depois da sentença condenatória com

trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso,

regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por

termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa.”

“Art. 115 CP. São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o

criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na

data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.”

“Art. 117 CP. O curso da prescrição interrompe-se: IV - pela publicação da

sentença ou acórdão condenatórios recorríveis;”

Instância Desfecho

Superior

Tribunal

de Justiça

Ordem denegada.

4.2. Análise Estratégica.

4.2.1. Questão em debate.

O cerne do julgado diz respeito à possibilidade (ou não) de

aplicação do marco interruptivo da prescrição do inciso IV do art. 117 do CP (publicação do acórdão condenatório recorrível) como marco

para redução do prazo prescricional do criminoso maior de 70

(setenta) anos (art. 115 CP).

Alguns podem ter lido a ementa e pensado: “Isso é óbvio! Uma

coisa é uma coisa, outa coisa é outa coisa!” Sim, mas vamos

entender a tese da defesa.

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Como a maioria da jurisprudência faz interpretação literal do

art. 115 do CP, ou seja, exige, para redução do prazo prescricional, a idade de mais de 70 (setenta) anos na 1ª DECISÃO

CONDENATÓRIA, a defesa “propôs” estender a marca interruptiva do prazo prescricional (PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO

CONDENATÓRIO RECORRÍVEL – art. 117, IV, CP) ao caput do art.

115 do CP, que passaria a ser interpretado da seguinte forma:

São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era,

ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença

[OU DA PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO CONDENATÓRIO RECORRÍVEL], maior

de 70 (setenta) anos.

A partir daí, KIWI seria beneficiado com a redução do prazo

prescricional, já que sua condenação de 1º Grau (1ª DECISÃO

CONDENATÓRIA) foi mantida em acórdão condenatório recorrível (PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO CONDENATÓRIO RECORRÍVEL –

art. 117, IV, CP).

Em outras palavras, a defesa tentou dar um “somebody love”

ao misturar os institutos.

REDUÇÃO DO PRAZO

PRESCRICIONAL

CAUSAS INTERRUPTIVAS DO PRAZO

PRESCRICIONAL

“Art. 115 CP. São reduzidos de metade

os prazos de prescrição quando o

criminoso era, ao tempo do crime,

menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na

data da sentença, maior de 70 (setenta)

anos.”

“Art. 117 CP. O curso da prescrição

interrompe-se: IV - pela publicação da

sentença ou acórdão condenatórios

recorríveis;”

Nessa linha, destacou o Min. ROGÉRIO SHIETTI:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Entretanto, uma coisa é a redução do

prazo prescricional e outra são os marcos interruptivos da prescrição. Em

minha compreensão não relaciono a redução dos prazos, conforme art. 115

do CP, com as causas interruptivas da prescrição, previstas no art. 117 do

mesmo Diploma Legal, porquanto se trata de fenômenos distintos e que

repercutem de maneira diversa. Além disso, há ainda a própria disposição

legal (art. 115 do CP), que apenas alude a necessidade de sentença como

marco temporal para a redução, por razão etária, do prazo prescricional.”

(STJ, HC 316110/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma,

por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe 01/07/2019)

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4.2.2. Mas o art. 115 do CP jamais se aplica diante de

acórdão condenatório?

R: Pela interpretação literal do dispositivo, nunca. Contudo, o STF

entende que o termo “sentença” deve ser compreendido como a 1ª DECISÃO CONDENATÓRIA, ou seja, a redução deve operar quando

o agente completar 70 (setenta) anos antes da 1ª DECISÃO

CONDENATÓRIA:

“(...) 5. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal em sede de

habeas corpus é no sentido da ‘inviabilidade de redução do prazo

prescricional quando a idade limite é completada na época do

acórdão ratificador da condenação fixada pelo juízo de origem’ (HC

117.386, Rel.ª Min.ª Rosa Weber). Precedentes. 6. Agravo regimental a que

se nega provimento.” (STF, ARE 915543 AgR, Relator(a): Min.

ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 24/11/2015)

“Boa, então se a 1ª decisão condenatória for o acórdão em razão de recurso do Ministério Público, podemos aplicar o art. 115 do

CP.” Exatamente, se o réu tiver mais de 70 (setenta) anos quando proferido o acórdão condenatório que reforma sentença absolutória,

aplica-se a redução do prazo prescricional do art. 115 do CP:

“(...) Consoante entendimento desta Corte, a redução do prazo prescricional,

prevista no art. 115, segunda parte, do Código Penal, é aplicada até a

sentença ou o acórdão condenatório. Na hipótese de sentença absolutória,

ainda é possível a incidência do redutor até que haja acórdão condenatório.

(...).” (STJ, EDcl no AgRg no REsp 1134047/PR, Rel. Ministro

ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 20/02/2018,

DJe 26/02/2018)

4.3. Tá, mas e se o acórdão apenas modificar o

montante da pena, mantendo a condenação?

R: Apesar de não ser pacífico no STJ, há julgados, segundo os quais

a redução do prazo prescricional pode acontecer quando o réu, embora complete 70 (setenta) anos após a 1ª DECISÃO

CONDENATÓRIA, obtenha, da Corte ad quem em apelação,

modificação substancial da 1ª DECISÃO CONDENATÓRIA:

“(...) Havendo substancial modificação da sentença pelo acórdão, que não

apenas aumentou o quantum de pena, mas também o próprio lapso

prescricional, além de modificar a tipificação conferida ao fato, deve o

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acórdão ser considerado como novo marco interruptivo da prescrição,

inclusive para fins de aplicação do benefício do art. 115 do Código Penal.

(...).” (STJ, AgRg no REsp 1481022/RS, Rel. Ministra MARIA

THEREZA DE ASSIS MOURA, Rel. p/ Acórdão Ministro SEBASTIÃO

REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 18/09/2018, DJe

22/10/2018)

E o que se entende por “modificação substancial”? Segundo o

Min. ROGÉRIO SHIETTI:

“[Trecho do corpo do acórdão:] (...) a concepção de modificação

substancial da condenação, conforme diretrizes estabelecidas pelos próprios

precedentes, pressupõe que ocorra uma nova capitulação jurídica do crime e

o redimensionamento substancial da pena, suficiente para alterar os prazos

prescricionais.” (STJ, HC 316110/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,

Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe

01/07/2019)

Ou seja:

E não dava para beneficiar o KIWI com essa interpretação?

Não! KIWI teve apenas reduzido o montante da pena, não houve

modificação substancial:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Ainda que considerássemos essa

compreensão como acertada – o que faço apenas para argumentar, visto

que a redução do prazo pela idade não se confunde com marco interruptivo,

como visto linhas atrás –, observo que não atingiria a hipótese sub examine.

Deveras, o paciente, que somente completou 70 anos de idade após o édito

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de primeiro grau, teve somente reduzida a pena imposta em primeiro grau,

sem que houvesse a modificação da capitulação jurídica do crime.” (STJ, HC

316110/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por

unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe 01/07/2019)

4.4. Questões objetivas.

Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. A redução do prazo prescricional prevista no

art. 115 do CP não se relaciona com as causas interruptivas da prescrição previstas

no art. 117 do mesmo diploma legal, tratando-se de fenômenos distintos e que

repercutem de maneira diversa.

Q2º. Estratégia Carreiras Jurídicas. A modificação substancial da condenação de

1º grau para considerar o acórdão condenatório causa interruptiva da prescrição

exige nova capitulação jurídica do crime e o redimensionamento substancial da

pena.

4.5. Gabarito.

Q1º. VERDADEIRA.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

5. Auxílio doença e segurado que exerce atividades em

condições especiais.

RECURSO ESPECIAL (REsp)

O segurado que exerce atividades em condições especiais, quando em gozo de

auxílio-doença, seja acidentário ou previdenciário, faz jus ao cômputo desse mesmo

período como tempo de serviço especial (STJ, REsp 1759098/RS, Rel. Min.

Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em

26/06/2019, DJe 01/08/2019 - Tema 998)

Resultado: Recurso especial desprovido.

Tribunal de Origem: TRF 3ª Região.

5.1. Situação fática.

ARNALDO ajuizou ação em face do INSS em razão de a

autarquia não ter computado, como período especial, o intervalo em que o autor esteve afastado do trabalho em gozo de auxílio doença

NÃO acidentário (auxílio doença previdenciário).

O INSS, por sua vez, defendeu a impossibilidade de contagem

especial de tempo de serviço no período em que o segurado estava em gozo de auxílio-doença, uma vez que, nesse período, não havia

exposição a agentes nocivos.

Instância Desfecho

1º Grau Julgou procedente a demanda.

2º Grau Negou provimento ao recurso do INSS.

Em recurso especial, o INSS continuou defendendo a

impossibilidade de contagem especial de tempo de serviço no período

em que o segurado estava em gozo de auxílio-doença.

Instância Desfecho

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Superior

Tribunal

de Justiça

Negou provimento ao recurso.

5.2. Análise Estratégica.

5.2.1. Questão em debate.

Cinge-se a controvérsia em estabelecer a possibilidade (ou não) de cômputo como tempo de serviço especial, para fins de inativação,

do período em que o segurado está em gozo de auxílio-doença de

natureza NÃO acidentária.

5.2.2. Histórico da legislação.

“Hora da história”. Como o assunto é um pouco maçante,

vamos esquematizar.

O Decreto nº 3.048/99 permitia o cômputo como tempo especial dosperíodos correspondentes ao exercício de atividade permanente e habitualsujeita a condições especiais que prejudicassem a saúde ou a integridadefísica do contribuinte, INCLUSIVE quanto aos períodos de férias, licençamédica e auxílio-doença (seja acidentário ou previdenciário/não-acidentário).

Ocorre que, com a publicação do Decreto 4.882/03, passou-se areconhecer como cômputo especial SOMENTE o período em que osegurado especial ficasse afastado em gozo de benefício por incapacidadede natureza acidentária, excluindo-se, assim, a contagem especial peloafastamento na modalidade não acidentária (previdenciária).

Assim, nas hipóteses em que o segurado fosse afastado de suasatividades habituais especiais por motivos de auxílio-doença nãoacidentário (previdenciário), o período de afastamento seria computadoapenas como tempo de atividade comum.

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“Mas qual a justificativa da exclusão do cômputo do período de

auxílio não acidentário?” A justificativa para tal distinção estaria no fato de que, nos períodos de afastamento em razão do gozo de

benefício não acidentário (previdenciário), não estaria o segurado exposto a nenhum agente nocivo, o que impossibilitaria a contagem

de tal período como especial.

“Mas a lei permite esse cômputo como especial no período de

férias?!?!?! Ora!” Grande ministro(a), exatamente! Totalmente

ilógico:

“[Trecho do corpo do acórdão:] A legislação permite o cômputo, como

atividade especial, por períodos em que o Segurado esteve em gozo de

salário-maternidade e férias, afastamentos esses que também suspendem o

seu contrato de trabalho, do mesmo modo que o auxílio-doença, e retiram o

Trabalhador da exposição aos agentes nocivos. Ora, se nesses casos o

legislador prevê o cômputo normal desses afastamentos como atividade

especial, não há, sob nenhum aspecto, motivo para que o período em

afastamento de auxílio-doença não acidentário também não seja

computado, desde que, à data do afastamento, o Segurado estivesse

exercendo atividade considerada especial.” (STJ, REsp 1759098/RS, Rel.

Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, por unanimidade,

julgado em 26/06/2019, DJe 01/08/2019 - Tema 998)

5.2.3. Justificativa da possibilidade de cômputo.

Vejamos as justificativas apresentadas pelo Min. NAPOLEÃO

NUNES MAIA FILHO e pela Min. ASSUSETE MAGALHÃES para

nocautear o Decreto nº 4.882/03:

(i) há evidente incongruência em não permitir o cômputo do

período de gozo do auxílio doença previdenciário (não acidentário) por não estar o segurado, nesse intervalo, exposto a agentes nocivos,

mas permitir o cômputo do período de afastamento de férias, licença,

auxílio acidentário:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Registre-se que a circunstância de não

haver, no período do afastamento, efetiva exposição aos agentes nocivos,

não pode, por si só, impedir a pretendida inclusão, porquanto nas hipóteses

de afastamento decorrente de férias, licença maternidade e de auxílio-

doença acidentário, permite-se a inclusão do tempo como especial, na forma

do Decreto 4.882/2003, embora, nesses casos, o segurado também não

esteja sujeito ao agente agressivo.” (STJ, REsp 1759098/RS, Voto-Vista,

Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por unanimidade,

julgado em 26/06/2019, DJe 01/08/2019 - Tema 998)

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(ii) não é porque se trata de auxílio não acidentário

(previdenciário), que o segurado não sofre as sequelas da exposição

prologada a agentes nocivos durante o período de recuperação:

“[Trecho do corpo do acórdão:] (...) o Trabalhador exposto a agentes

nocivos por longos períodos tem a suas condições clínicas afetadas de modo

geral – e, na verdade, para todo o tempo de sua vida –, de modo que não se

pode esperar que um Trabalhador de minas de carvão, por exemplo,

acometido por uma gripe viral, doença sem qualquer relação com a sua

atividade laboral, tenha a mesma possibilidade de recuperação clínica de um

Trabalhador que trabalha em um escritório de advocacia.” (STJ, REsp

1759098/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção,

por unanimidade, julgado em 26/06/2019, DJe 01/08/2019 - Tema

998)

(iii) dificilmente se consegue excluir, por completo, nexo causal

entre a doença que permitiu o gozo de auxílio doença não acidentário

(previdenciário) e as atividades especiais exercidas pelo segurado;

“[Trecho do corpo do acórdão:] Ademais, há inúmeros agentes que

somente são relacionados a determinadas doenças anos após o afastamento

do empregado, o que dificulta, muitas vezes, estabelecer, de pronto, no

momento do afastamento, o nexo causal entre o agente nocivo e a

concessão do auxílio-doença.” (STJ, REsp 1759098/RS, Voto-Vista, Rel.

Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por unanimidade, julgado

em 26/06/2019, DJe 01/08/2019 - Tema 998)

(iv) a Lei nº 8.213/91 (art. 57) não traz nenhuma distinção entre os benefícios auxílio-doença acidentário e previdenciário (não

acidentário) que autorize tratamento diferenciado quanto ao cômputo

do período de afastamento e;

“[Trecho do corpo do acórdão:] A Lei 8.213/91, porém, não impede, ao

menos expressamente, a inclusão do auxílio-doença previdenciário na

contagem do tempo de serviço especial (...).” (STJ, REsp 1759098/RS,

Voto-Vista, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por

unanimidade, julgado em 26/06/2019, DJe 01/08/2019 - Tema

998)

(v) estando ou não afastado por benefício motivado por acidente do trabalho, o segurado exposto a condições nocivas à sua

saúde promove a ocorrência do fato gerador da contribuição previdenciária destinada ao custeio do benefício de aposentadoria

especial.

“[Trecho do corpo do acórdão:] (...) Se a atividade do segurado está

sujeita à cobrança de contribuição em percentual diferenciado, mais

oneroso, e se, no exercício dessa atividade, há o afastamento, ainda que

não esteja, diretamente, relacionado à atividade especial, há de se incluir o

tempo de afastamento como sendo especial, sob pena de o segurado pagar

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mais e ter o mesmo tratamento daquele que paga menos, qual seja, o

segurado sujeito à atividade comum. Ou seja, exigir-se-ia contribuição

maior, mas, uma vez doente, contar-se-ia o tempo como dos demais

segurados.” (STJ, REsp 1759098/RS, Voto-Vista, Rel. Min. Assusete

Magalhães, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em

26/06/2019, DJe 01/08/2019 - Tema 998)

Dessa forma, impõe-se reconhecer que o segurado que exerce atividades em condições especiais, quando em gozo de auxílio-

doença, seja acidentário ou previdenciário (não acidentário), faz jus

ao cômputo desse período como especial.

“Tá, mas e o Decreto nº 4.882/03?” Perdeu! “Certo, mas juridicamente?” Extrapolou seu poder regulamentar ao criar exceção

não prevista na lei:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Diante desse quadro, ao criar exceção

não prevista em lei, o Decreto 4.882/2003, no confronto com o art. 57 da

Lei 8.213/91, extrapolou o alcance da citada Lei, não podendo, nessa

medida, impedir o reconhecimeto do direito à inclusão do auxílio-doença

previdenciário, como tempo de serviço especial, para o segurado que, antes

do afastamento, estava sujeito aos agentes nocivos, os quais justificam a

concessão da aposentadoria especial.” (STJ, REsp 1759098/RS, Voto-

Vista, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por

unanimidade, julgado em 26/06/2019, DJe 01/08/2019 - Tema

998)

5.3. Questões objetivas.

Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. O segurado que exerce atividades em

condições especiais, apenas quando em gozo de auxílio-doença acidentário faz jus

ao cômputo desse mesmo período como tempo de serviço especial.

Q2º. Estratégia Carreiras Jurídicas. O segurado que exerce atividades em

condições especiais, apenas quando em gozo de auxílio-doença previdenciário faz

jus ao cômputo desse mesmo período como tempo de serviço especial.

5.4. Gabarito.

Q1º. FALSA.

Q2º. FALSA.

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6. Trabalhador da lavoura da cana-de-açúcar não pode ser

enquadrado na categoria profissional de trabalhador da

agropecuária.

PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI (PUIL)

O trabalhador da lavoura da cana-de-açúcar NÃO pode ser enquadrado na

categoria profissional de trabalhador da agropecuária constante do item 2.2.1 do

Decreto nº 53.831/64, vigente à época da prestação dos serviços. (STJ, PUIL

452/PE, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, por maioria, julgado

em 08/05/2019, DJe 14/06/2019)

Resultado: Pedido de uniformização de interpretação de lei procedente.

Tribunal de Origem: TNU.

6.1. Situação fática.

Trata-se de Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei

(PUIL) formulado pelo INSS em razão de Acórdão da Turma Nacional

de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais – TNU, que reconheceu que o trabalhador da lavoura da cana-de-

açúcar pode ser enquadrado na categoria profissional de trabalhador da agropecuária constante no item 2.2.1 do Decreto nº 53.831/64

vigente à época da prestação dos serviços.

Instância Desfecho

Superior

Tribunal

de Justiça

Pedido de uniformização de interpretação de lei procedente.

6.2. Análise Estratégica.

6.2.1. Questão em debate.

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O ponto controvertido é se o trabalhador rural da lavoura da

cana-de-açúcar poderia (ou não) ser enquadrado na categoria profissional de trabalhador da agropecuária, constante no item

2.2.1 do Decreto nº 53.831/64, vigente à época da prestação dos serviços, garantindo-lhe conversão ou contagem como tempo

especial para fins de aposentadoria por tempo de

serviço/contribuição ou aposentadoria especial, respectivamente.

“Mas o trabalhador rural já não é segurado especial?” Cuidado para não confundir SEGURADO ESPECIAL com ATIVIDADE

ESPECIAL:

SEGURADO ESPECIAL ATIVIDADE ESPECIAL

“A última categoria de segurados

obrigatórios enumerada pela legislação

é a dos segurados especiais. Esta se

estabelece a partir da redação do art.

195, § 8º, da Constituição, que

determina ao legislador que observe

tratamento diferenciado àqueles que,

trabalhando por conta própria em

regime de economia familiar, realizem

pequena produção, com a qual retiram

sua subsistência. O dispositivo

constitucional determina que a base de

cálculo das contribuições à Seguridade

Social destes seja o produto da

comercialização de sua produção,

criando assim regra diferenciada para a

participação no custeio. É que, sendo a

atividade destes instável durante o ano

(em função dos períodos de safra, no

caso dos agricultores, temporadas de

pesca, para os pescadores, criação e

engorda do gado, no caso dos

pecuaristas, etc.), não se pode exigir

dos mesmos, em boa parte dos casos,

contribuições mensais, em valores fixos

estipulados.” (Carlos Alberto Pereira

de Castro e João Batista Lazzari)

“A aposentadoria especial é uma

espécie de aposentadoria por tempo de

contribuição, com redução do tempo

necessário à inativação, concedida em

razão do exercício de atividades

consideradas prejudiciais à saúde ou à

integridade física. Ou seja, é um

benefício de natureza previdenciária que

se presta a reparar financeiramente o

trabalhador sujeito a condições de

trabalho inadequadas.” (Carlos Alberto

Pereira de Castro e João Batista

Lazzari)

“Art. 195, § 8º, CF. O produtor, o

parceiro, o meeiro e o arrendatário

rurais e o pescador artesanal, bem

como os respectivos cônjuges, que

exerçam suas atividades em regime de

“Art. 57, caput, da Lei nº 8.213/91.

A aposentadoria especial será devida,

uma vez cumprida a carência exigida

nesta Lei, ao segurado que tiver

trabalhado sujeito a condições especiais

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economia familiar, sem empregados

permanentes, contribuirão para a

seguridade social mediante a aplicação

de uma alíquota sobre o resultado da

comercialização da produção e farão jus

aos benefícios nos termos da lei.”

“Art. 11 da Lei nº 8.213/91. São

segurados obrigatórios da Previdência

Social as seguintes pessoas físicas: (...)

VII – como segurado especial: a pessoa

física residente no imóvel rural ou em

aglomerado urbano ou rural próximo a

ele que, individualmente ou em regime

de economia familiar, ainda que com o

auxílio eventual de terceiros, na

condição de: a) produtor, seja

proprietário, usufrutuário, possuidor,

assentado, parceiro ou meeiro

outorgados, comodatário ou

arrendatário rurais, que explore

atividade: 1. agropecuária em área de

até 4 (quatro) módulos fiscais; 2. de

seringueiro ou extrativista vegetal que

exerça suas atividades nos termos do

inciso XII do caput do art. 2º da Lei no

9.985, de 18 de julho de 2000, e faça

dessas atividades o principal meio de

vida; b) pescador artesanal ou a este

assemelhado que faça da pesca

profissão habitual ou principal meio de

vida; e c) cônjuge ou companheiro,

bem como filho maior de 16 (dezesseis)

anos de idade ou a este equiparado, do

segurado de que tratam as alíneas a e b

deste inciso, que, comprovadamente,

trabalhem com o grupo familiar

respectivo. § 1º Entende-se como

regime de economia familiar a atividade

em que o trabalho dos membros da

família é indispensável à própria

subsistência e ao desenvolvimento

socioeconômico do núcleo familiar e é

exercido em condições de mútua

dependência e colaboração, sem a

utilização de empregados permanentes.

(...).”

que prejudiquem a saúde ou a

integridade física, durante 15 (quinze),

20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos,

conforme dispuser a lei.”

Exs.: pescador artesanal, seringueiro, Exs.: trabalhador da agropecuária,

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trabalhador rural enquadrado como

segurado especial.

profissional da radiologia.

6.2.2. Qual lei rege o cálculo do tempo de serviço?

R: Está pacificado no STJ o entendimento de que a lei que rege o tempo de serviço (comum ou especial) é aquela vigente no

momento da prestação do labor, mas cuidado para não confundir:

O tempo do labor é especial ou

comum?

Qual o fator de conversão entre as

espécies de tempo de serviço

(comum e especial)?

Depende da classificação atribuída pela

lei vigente no momento do

desempenho do trabalho

(STJ, REsp 1398260/PR, Rel. Ministro

HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO,

julgado em 14/05/2014, DJe

05/12/2014)

Depende da lei em vigor quando

preenchidas as exigências da

aposentadoria

(STJ, REsp 1310034/PR, Rel. Ministro

HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO,

julgado em 24/10/2012, DJe

19/12/2012)

Nessa linha, em período anterior ao da edição da Lei nº 9.032/95, a aposentadoria especial e a conversão do tempo

trabalhado em atividades especiais eram concedidas em virtude da categoria profissional, conforme a classificação inserta no Anexo

do Decreto nº 53.831/64, e nos Anexos I e II do Decreto nº 83.080/79, ratificados pelo art. 292 do Decreto nº 611/92, o qual

regulamentou, inicialmente, a Lei nº 8.213/91, preconizando a desnecessidade de laudo técnico da efetiva exposição aos agentes

agressivos, exceto para ruído e calor.

A Lei nº 9.032, de 29 de abril de 1995, por sua vez, deu nova

redação ao art. 57 da Lei nº 8.213/91, alterando substancialmente o

seu §4º, passando a exigir a demonstração da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos, químicos, físicos e biológicos, de

forma habitual e permanente, sendo suficiente a apresentação de formulário-padrão fornecido pela empresa (como o PPP - Perfil

Profissiográfico Previdenciário). A partir de então, retirou-se do ordenamento jurídico a possibilidade do mero enquadramento da

atividade do segurado em categoria profissional considerada especial,

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mantendo, contudo, a possibilidade de conversão do tempo de

trabalho comum em especial:

“A Lei n. 9.032, de 29.4.1995, acabou com o enquadramento por categoria

profissional e impôs a necessidade de comprovação, pelo segurado, da

efetiva exposição aos agentes agressivos, exigindo ainda que essa exposição

fosse habitual e permanente. A exigência de exposição aos agentes nocivos

é salutar, pois existiam categorias inteiras que eram beneficiadas com

aposentadorias precoces sem que os trabalhadores tivessem sido

efetivamente expostos aos agentes nocivos à saúde e aos riscos do

trabalho.” (Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari)

6.2.3. E, então, o trabalhador da lavoura da cana-de-açúcar, empregado rural, pode ter seu tempo de

labor equiparado ao desempenhado na agropecuária?

R: Não, pois o Decreto nº 53.831/64, no seu item 2.2.1, considera

como insalubre somente os serviços e atividades profissionais

desempenhados na agropecuária, NÃO se enquadrando como tal

a atividade laboral exercida apenas na lavoura.

“(...) O Decreto nº 53.831/64, no seu item 2.2.1, considera como insalubre

somente os serviços e atividades profissionais desempenhados na

agropecuária, não se enquadrando como tal a atividade laboral exercida

apenas na lavoura (...).” (STJ, AgRg no REsp 1084268/SP, Rel. Ministro

SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 05/03/2013,

DJe 13/03/2013)

“(...) O Decreto nº 53.831/1964, que traz o conceito de atividade

agropecuária, não contemplou o exercício de serviço rural na lavoura como

insalubre. (...).” (STJ, AgRg no REsp 1208587/RS, Rel. Ministro JORGE

MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 27/09/2011, DJe 13/10/2011)

Ou seja, o labor rurícola exercido em regime de economia

familiar não está contido no conceito de atividade agropecuária, previsto no Decreto nº 53.831/64, inclusive no que tange ao

reconhecimento de insalubridade.

Aliás, os rurícolas, que são segurados especiais, já são

contemplados com regras específicas que buscam protegê-los das vicissitudes próprias das estafantes atividades que desempenham,

assegurando-lhes, de forma compensatória:

(i) a aposentadoria por idade com redução de 5 (cinco) anos

em relação aos trabalhadores urbanos;

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(ii) a dispensa do recolhimento de contribuições até o advento

da Lei nº 8.213/91 e;

(iii) um menor rigor quanto ao conteúdo dos documentos

aceitos como início de prova material.

6.3. Questões objetivas.

Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. O trabalhador da lavoura da cana-de-açúcar

não pode ser enquadrado na categoria profissional de trabalhador da agropecuária

constante do item 2.2.1 do Decreto nº 53.831/64, vigente à época da prestação

dos serviços.

6.4. Gabarito.

Q1º. VERDADEIRA.

6.5. Bibliografia.

CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, LAZZARI, João Batista. Manual de direito

previdenciário. Rio de Janeiro: Forense, 2017.

7. Termo a quo do prazo decadencial para a revisão da pensão

por morte quando há benefício originário.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL (EREsp)

O termo a quo do prazo decadencial para a revisão da pensão por morte (benefício

derivado), mediante revisão da renda mensal inicial (RMI) da aposentadoria que a

originou (benefício originário), corresponde à data da concessão do benefício

originário. (STJ, EREsp 1605554/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel.

Acd. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por maioria, julgado em

27/02/2019, DJe 02/08/2019)

Resultado: Embargos de divergência desprovidos.

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7.1. Situação fática.

Tratando-se de embargos de divergência1, vejamos a

divergência existente entre a Primeira e Segunda Turmas do STJ.

PRIMEIRA TURMA SEGUNDA TURMA

O prazo decadencial do direito de

revisão de pensão por morte (benefício

derivado), que tem como escopo a

revisão de benefício originário recebido

pelo segurado em vida, TEM INÍCIO A

PARTIR DA CONCESSÃO DO

BENEFÍCIO ORIGINÁRIO, e não da

concessão da pensão por morte

(benefício derivado) (STJ, AgInt no

REsp 1567049/RS, Rel. Ministro

SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA,

julgado em 20/04/2017, DJe

05/05/2017)

O prazo decadencial do direito de

revisão da pensão por morte (benefício

derivado), que tem como escopo a

revisão de benefício originário recebido

pelo segurado em vida, TEM INÍCIO A

PARTIR DA CONCESSÃO DA

PENSÃO POR MORTE (benefício

derivado), momento em que nasce a

legitimidade para pleitear a revisão

pretendida, e não a partir da concessão

do benefício originário (STJ, AgInt no

REsp 1547074/RS, Rel. Ministro

FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA

TURMA, julgado em 07/03/2017, DJe

10/03/2017)

TESE VENCEDORA TESE PERDEDORA

7.2. Análise Estratégica.

7.2.1. Questão em debate.

1 “Art. 1.043 NCPC. É embargável o acórdão de órgão fracionário que: I - em

recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer

outro órgão do mesmo tribunal, sendo os acórdãos, embargado e paradigma, de

mérito; II – Revogado; III - em recurso extraordinário ou em recurso especial,

divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo um

acórdão de mérito e outro que não tenha conhecido do recurso, embora tenha

apreciado a controvérsia; IV – Revogado. (...).”

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O ponto principal do recurso diz respeito à fixação do termo

inicial do prazo decadencial para a revisão da pensão por morte:

(a) se se conta da concessão do benefício originário recebido

pelo segurado em vida ou;

(b) se se conta da concessão do benefício da pensão por

morte.

7.2.2. Qual o prazo decadencial para requerer

revisão de benefício previdenciário?

R: De acordo com o art. 103 da Lei nº 8.213/91, o prazo decadencial

é de 10 (dez) anos:

“Art. 103 da Lei nº 8.213/91. O prazo de decadência do direito ou da

ação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão,

indeferimento, cancelamento ou cessação de benefício e do ato de

deferimento, indeferimento ou não concessão de revisão de benefício é de

10 (dez) anos, contado:

I - do dia primeiro do mês subsequente ao do recebimento da primeira

prestação ou da data em que a prestação deveria ter sido paga com o valor

revisto; ou

II - do dia em que o segurado tomar conhecimento da decisão de

indeferimento, cancelamento ou cessação do seu pedido de benefício ou da

decisão de deferimento ou indeferimento de revisão de benefício, no âmbito

administrativo.

Parágrafo único. Prescreve em cinco anos, a contar da data em que

deveriam ter sido pagas, toda e qualquer ação para haver prestações

vencidas ou quaisquer restituições ou diferenças devidas pela Previdência

Social, salvo o direito dos menores, incapazes e ausentes, na forma do

Código Civil.”

7.2.3. Se a revisão da pensão por morte (benefício derivado) decorre da própria revisão do benefício

recebido pelo segurado quando em vida (benefício originário), deve-se contar o prazo decadencial da

data da concessão do primeiro benefício originário,

certo?

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R: Exato, apesar da divergência, foi esse entendimento que

prevaleceu, ou seja, o termo a quo do prazo decadencial para a revisão da pensão por morte, mediante revisão da renda mensal

inicial da aposentadoria que a originou, corresponde à data da

concessão do benefício originário (aposentadoria).

Isso porque:

“[Trecho do corpo do acórdão:] (...) o prazo decadencial é fixado em

relação ao direito em si, não em relação à pessoa, de modo que nem mesmo

os incapazes escapam dos seus efeitos. Não admite a decadência, por outro

lado, diferentemente do que ocorre com a prescrição, suspensão ou

interrupção.” (STJ, EREsp 1605554/PR, Rel. Min. Mauro Campbell

Marques, Rel. Acd. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por

maioria, julgado em 27/02/2019, DJe 02/08/2019)

“Tá, mas e o princípio da actio nata, pois o dependente titular

da pensão morte só tem legitimidade para ajuizar demanda revisional

depois do falecimento?”

Humm...De acordo com o Min. MAURO CAMPBELL MARQUES, voto vencido, a partir do princípio da actio nata, não há falar em

decadência do direito da parte de rever o valor da pensão por morte, por intermédio da revisão da aposentadoria, se proposta a ação antes

de decorridos 10 (dez) anos contados do ato de concessão do benefício derivado (pensão por morte), pois, antes disso, a parte

sequer teria legitimidade para ajuizamento da demanda revisional:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Ademais, deve ser levado em

consideração, que a parte interessada só detém legitimidade para pleitear a

revisão do benefício originário, após o óbito do instituidor. Logo, em razão

da observância ao Principio da Actio Nata, o curso do prazo decadencial só

tem início com a concessão da pensão por morte, momento em que nasce a

legitimidade para o pleito da revisão pretendida.” (STJ, EREsp

1605554/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. Acd. Min.

Assusete Magalhães, Primeira Seção, por maioria, julgado em

27/02/2019, DJe 02/08/2019)

Contudo, segundo a Min. ASSUSETE MAGALHÃES, voto vencedor, o princípio da actio nata não se aplica ao prazo

decadencial, apenas ao prescricional:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Com efeito, o princípio da actio nata diz

respeito ao direito de ação, e, nessa medida, está interligado ao prazo

prescricional. O prazo decadencial, por sua vez, refere-se ao direito material,

que, no caso, deveria ter sido exercido no prazo de dez anos, na forma do

art. 103, caput, da Lei 8.213/91, mas não o foi, na hipótese em

julgamento.” (STJ, EREsp 1605554/PR, Rel. Min. Mauro Campbell

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Marques, Rel. Acd. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por

maioria, julgado em 27/02/2019, DJe 02/08/2019)

7.2.4. Caso prático.

Em 12.09.2011, NAZIRA ajuizou em face do INSS demanda revisional do benefício de pensão morte de que é titular desde

09.11.2008, sustentando que o seu pai, aposentado em 02.07.1991 e falecido em 14.10.2008, tinha direito adquirido a

melhor benefício de aposentadoria (benefício originário), o que reflete no valor do seu atual benefício de pensão morte oriundo do

falecimento do seu genitor (benefício derivado).

Qual o desfecho? De acordo com o entendimento firmado nestes embargos de divergência, o termo inicial do prazo decadencial

para revisão do benefício seria 02.07.1991, e não 09.11.2008. Ou seja, a demanda deve ser extinta em razão da decadência do direito

da autora.

7.2.5. Placar final.

ASSUSETE MAGALHÃES, SÉRGIO

KUKINA, GURGEL DE FARIA e

HERMAN BENJAMIN

MAURO CAMPBELL MARQUES,

REGINA HELENA COSTA e

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO

O prazo decadencial do direito de

revisão da pensão por morte (benefício

derivado), que tem como escopo a

revisão de benefício originário recebido

pelo segurado em vida, TEM INÍCIO A

PARTIR DA CONCESSÃO DO

BENEFÍCIO ORIGINÁRIO, e não da

concessão da pensão por morte

(benefício derivado).

O prazo decadencial do direito de

revisão da pensão por morte (benefício

derivado), que tem como escopo a

revisão de benefício originário recebido

pelo segurado em vida, TEM INÍCIO A

PARTIR DA CONCESSÃO DA

PENSÃO POR MORTE (benefício

derivado), momento em que nasce a

legitimidade para pleitear a revisão

pretendida, e não a partir da concessão

do benefício originário.

4 3

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7.2.6. Trechos relevantes dos votos divergentes

publicados.

Ministro(a) Posição

Min. MAURO CAMPBELL MARQUES

“Ademais, deve ser levado em

consideração, que a parte interessada

só detém legitimidade para pleitear a

revisão do benefício originário, após o

óbito do instituidor. Logo, em razão da

observância ao Principio da Actio Nata,

o curso do prazo decadencial só tem

início com a concessão da pensão por

morte, momento em que nasce a

legitimidade para o pleito da revisão

pretendida. Somente com a concessão

da pensão, recebida em nome próprio,

o dependente passa a deter

legitimidade para questionar o ato de

concessão da aposentadoria que era

recebida pelo segurado falecido, ainda

que para fins de reflexos monetários

em sua pensão. (...) Cumpre esclarecer

que a revisão do benefício originário

gera efeitos financeiros apenas em

relação ao benefício derivado, de sorte

que, o beneficiário só terá direito de

receber as diferenças advindas da

revisão da pensão por morte.”

7.3. Questões objetivas.

Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. O termo a quo do prazo decadencial para a

revisão da pensão por morte (benefício derivado), mediante revisão da renda

mensal inicial (RMI) da aposentadoria que a originou (benefício originário),

corresponde à data da concessão do benefício originário.

Q2º. Estratégia Carreiras Jurídicas. O termo a quo do prazo decadencial para a

revisão da pensão por morte (benefício derivado), mediante revisão da renda

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mensal inicial (RMI) da aposentadoria que a originou (benefício originário),

corresponde à data da concessão do benefício derivado.

7.4. Gabarito.

Q1º. VERDADEIRA.

Q2º. FALSA.

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8. Inexistência de aceitação tácita da decisão por oposição de

embargos do devedor.

RECURSO ESPECIAL (REsp)

Não configura ato incompatível com a vontade de recorrer a oposição de embargos

do devedor pela parte que recorreu contra decisão que incluiu seu nome no polo

passivo da execução (STJ, REsp 1655655/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas

Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe

01/07/2019)

Resultado: Recurso especial provido.

Tribunal de Origem: TJSP.

8.1. Situação fática.

No curso de execução proposta pelo BANCO SAFRA S/A

contra WT COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, foi requerida a

inclusão de MIGUEL no polo passivo.

Instância Desfecho

1º Grau Deferiu a inclusão de MIGUEL no polo passivo.

Em agravo de instrumento, MIGUEL sustentou sua

ilegitimidade passiva, pugnado, liminarmente, pela suspensão da decisão de 1º Grau, o que foi deferido. Contudo, antes do julgamento

do mérito do recurso, MIGUEL opostos embargos à execução no 1º

Grau.

Instância Desfecho

2º Grau

Julgou prejudicado o agravo de instrumento por prática de ato

incompatível com a vontade de recorrer (art. 1.000, parágrafo

único, NCPC), qual seja: oposição de embargos à execução no 1º

Grau.

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“Art. 1.000, parágrafo único, NCPC. Considera-se aceitação tácita a

prática, sem nenhuma reserva, de ato incompatível com a vontade de

recorrer.”

Em recurso especial, MIGUEL pugnou pela reforma do Acórdão,

com o retorno dos autos ao tribunal para apreciação do seu mérito:

Instância Desfecho

Superior

Tribunal

de Justiça

Deu provimento ao recurso especial.

8.2. Análise Estratégica.

8.2.1. Questão em debate.

Cinge-se a controvérsia a definir se a oposição de embargos do

devedor (embargos à execução) por aqueles que recorreram contra a

decisão que incluiu seus nomes no polo passivo da execução

representa prática de ato incompatível com a vontade de recorrer.

8.2.2. O que se entende por aceitação tática?

R: E aí, como interpretar o parágrafo único do art. 1.000 do NCPC?

“Art. 1.000, parágrafo único, NCPC. Considera-se aceitação tácita a

prática, sem nenhuma reserva, de ato incompatível com a vontade de

recorrer.”

Segundo a doutrina, a aquiescência tácita há de se inferir de

fatos inequívocos, absolutamente inconciliáveis com a impugnação da

decisão:

“É tradicional a regra de que a aquiescência tácita se há de inferir de fato

inequívocos (facta concludentia), inconciliáveis com a impugnação da

decisão. O exemplo clássico, encontradiço em leis antigas, é o do condenado

a pagar que pede prazo para cumprir a condenação. Acrescenta-se em

doutrina, entre outros, o do cumprimento espontâneo de sentença ainda

insuscetível de execução forçada.” (Barbosa Moreira)

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8.2.3. A oposição de embargos do devedor

representa aceitação tácita da decisão agravada que

incluiu o embargante no polo passivo da execução?

R: Não! “Tá, mas não configura preclusão lógica?” Também não!

“[Trecho do corpo do acórdão:] Assim, não configura preclusão lógica a

prática de ato próprio do impulso oficial, como é a apresentação de defesa

em processo em curso, por exemplo.” (STJ, REsp 1655655/SP, Rel. Min.

Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado

em 25/06/2019, DJe 01/07/2019)

Entendimento novo então? Negativo: STJ, REsp 1.000.314/GO, Rel.

Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 05/03/2009, DJe 30/03/2009;

STJ, REsp 174.080/BA, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA

TURMA, julgado em 26/10/1999, DJ 13/12/1999.

Aliás, a Min. NANCY ANDRIGHI fez questão de lembrar que,

havendo dúvida sobre a existência (ou não) da aceitação tácita,

deve-se prosseguir no julgamento do recurso:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Acrescenta-se que, na linha da

jurisprudência desta Corte, havendo dúvida acerca da anuência da

recorrente à decisão agravada - que deve ser inequívoca -, a solução que

melhor se amolda à instrumentalidade inerente ao processo civil deve ser no

sentido do prosseguimento do julgamento do recurso.” (STJ, REsp

1655655/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma,

por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe 01/07/2019)

E, para fechar, a Min. NANCY ANDRIGHI baixou esse “zap”

aqui:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Não é outra a orientação doutrinária,

como se colhe da lição clássica de Chiovenda, segundo a qual, ‘(...) na

dúvida, deve-se em qualquer hipótese considerar excluída a aquiescência

tácita’, de modo que ‘dos fatos equívocos, ou seja, que se pode entender de

vários modos, não há deduzir uma renúncia (...)’. (CHIOVENDA, Giuseppe.

Instituições de direito processual civil. 4. ed. Campinas: Bookseller, 1998. v.

3, pág. 251)” (STJ, REsp 1655655/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas

Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 25/06/2019,

DJe 01/07/2019)

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8.3. Questões objetivas.

Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. Configura ato incompatível com a vontade

de recorrer a oposição de embargos do devedor pela parte que recorreu contra

decisão que incluiu seu nome no polo passivo da execução.

Q2º. Estratégia Carreiras Jurídicas. Na dúvida entre a existência ou não de ato

incompatível com a vontade de recorrer deve ser julgado o recurso.

8.4. Gabarito.

Q1º. FALSA.

Q2º. VERDADEIRA.

8.5. Bibliografia.

MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil: arts.

476 a 565. Rio de Janeiro: Forense, 2006..

9. Forma de contagem dos 15 dias para pagamento (art. 523

do NCPC).

RECURSO ESPECIAL (REsp)

O prazo previsto no art. 523, caput, do Código de Processo Civil, para o

cumprimento voluntário da obrigação, possui natureza processual, devendo ser

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contado em dias úteis (STJ, REsp 1708348/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio

Bellizze, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe

01/08/2019)

Resultado: Recurso especial provido.

Tribunal de Origem: TJRJ.

9.1. Situação fática.

Em petição, JULIANA requereu o início da fase de

cumprimento de sentença contra FÁBIO.

Instância Desfecho

1º Grau

Determinou, com base no art. 523 do NCPC, a intimação do

executado para pagamento do débito em 15 (quinze) dias

CORRIDOS.

“Art. 523, caput, NCPC. No caso de condenação em quantia certa, ou já

fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o

cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente,

sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze)

dias, acrescido de custas, se houver.”

Inconformado a contagem de dias de forma corrida, FÁBIO

agravou, pleiteando a aplicação do art. 219 do NCPC:

“Art. 219 NCPC. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou

pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis.

Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos

processuais.”

Instância Desfecho

2º Grau Negou provimento ao recurso.

Mais inconformado ainda em recurso especial, FÁBIO pugnou

pela reforma do Acórdão.

Instância Desfecho

Superior

Tribunal

de Justiça

Deu provimento ao recurso.

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9.2. Análise Estratégica.

9.2.1. Questão em debate.

A controvérsia debatida consiste em saber se o prazo para o

cumprimento voluntário da obrigação, previsto no art. 523, caput, do NCPC, possui natureza processual ou material, a fim de estabelecer

se a sua contagem se dará, respectivamente, em dias úteis ou corridos, nos termos do que dispõe o art. 219, caput e parágrafo

único, do NCPC.

9.2.2. Tabela: processual ou material.

O STJ decidiu que se trata de prazo processual, de modo que

deve ser contado em dias úteis, observando-se o art. 219, caput, do

NCPC.

Agora, vamos montar uma tabela para entender a conclusão do

STJ:

O prazo de 15 dias para pagamento voluntário do art. 523, caput, do

NCPC, é material ou processual?

PRAZO É PROCESSUAL PRAZO É MATERIAL

Em regra, a intimação para pagamento ocorre na

pessoa do advogado, e não da parte (art. 513, §

2º, NCPC)

O prazo tem como

destinatário a parte, que é

quem deve praticar o ato

para cumprimento da

sentença (pagamento), e

não seu advogado.

“[Trecho do corpo do acórdão:] Assim,

considerando que a intimação para o cumprimento

de sentença se dá na pessoa do advogado

constituído, e não da parte devedora, tal fato

acarretará, inevitavelmente, um ônus ao causídico,

que deverá comunicar ao seu cliente não só o

resultado desfavorável da demanda, como também

A contagem de prazos em

dias úteis, ínsita aos prazos

processuais, tem como

fundamento garantir certa

tranquilidade à organização

de trabalho dos advogados.

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as próprias consequências jurídicas da ausência de

cumprimento voluntário da sentença, tais como a

imposição de multa e fixação de honorários

advocatícios, dentre outras.” (STJ, REsp

1708348/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,

Terceira Turma, por unanimidade, julgado em

25/06/2019, DJe 01/08/2019)

O descumprimento do pagamento voluntário gera

consequências processuais, e não apenas para

parte.

A prática do ato

(pagamento) não exige

nenhuma atividade técnica

ou postulatória, o que

demandaria participação do

advogado.

O prazo está previsto na legislação processual civil.

“[Trecho do corpo do acórdão:] Com efeito, não

se pode ignorar que a intimação para o

cumprimento de sentença tem como finalidade a

prática de um ato processual, pois, além da norma

correlata estar prevista na própria legislação

processual - CPC/2015 -, também trará

consequências para o processo, pois, caso não seja

adimplido o débito no prazo legal, haverá a

incidência de multa, fixação de honorários

advocatícios, possibilidade de penhora de bens e

valores, início do prazo para impugnação ao

cumprimento de sentença, dentre outras. E, sendo

um ato nitidamente processual, o respectivo prazo,

por decorrência lógica, terá a mesma natureza

jurídica, o que faz incidir a norma do art. 219 do

CPC/2015, que determina a contagem em dias

úteis.” (STJ, REsp 1708348/RJ, Rel. Min. Marco

Aurélio Bellizze, Terceira Turma, por

unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe

01/08/2019)

Não havendo pagamento, o prazo respectivo

(apresentação de impugnação ao cumprimento de

sentença) é, evidentemente, processual: “[Trecho

do corpo do acórdão:] Em resumo, após a

intimação do devedor para o cumprimento de

sentença, nos termos do art. 523 do CPC/2015,

abrem-se dois prazos sucessivos: i) 15 (quinze)

dias para pagamento voluntário do débito; e, na

sequência, ii) mais 15 (quinze) dias para a

apresentação de impugnação ao cumprimento de

sentença, independentemente de nova intimação ou

penhora.” (STJ, REsp 1708348/RJ, Rel. Min.

Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, por

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unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe

01/08/2019)

No mesmo sentido: NELSON NERY JÚNIOR, ROSA

MARIA DE ANDRADE NERY, JOSÉ MIGUEL GARCIA

MEDINA, HUMBERTO THEODORO JÚNIOR e

JURISTAS DA II JORNADA DE DIREITO

PROCESSUAL CIVIL (Enunciado nº 89)

9.3. Questões objetivas.

Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. O prazo previsto no art. 523, caput, do

Código de Processo Civil, para o cumprimento voluntário da obrigação, possui

natureza processual, devendo ser contado em dias corridos.

9.4. Gabarito.

Q1º. FALSA.

10. Multa cominatória para compelir provedor de acesso a

internet.

RECURSO ESPECIAL (REsp)

É cabível multa cominatória (astreintes/multa coercitiva) para compelir provedor de

acesso a internet ao fornecimento de dados para identificação de usuário (STJ,

REsp 1560976/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, por

unanimidade, julgado em 30/05/2019, DJe 01/07/2019)

Resultado: Recurso especial desprovido.

Tribunal de Origem: TJRJ.

10.1. Situação fática.

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PETROBRÁS S/A ajuizou ação cautelar inominada em face de

TELEMAR NORTE LESTE S/A, provedora de acesso à internet, postulando a apresentação de dados para a identificação do

responsável pelo blog www.*******.blogspot.com, o qual, escondido no anonimato, proferiu diversas ofensas não apenas à imagem da

empresa, como de seus colaboradores da alta administração.

Instância Desfecho

1º Grau Julgou procedente a demanda, determinando a apresentação dos

dados, sob pena de multa diária.

Em recurso de apelação, TELEMAR NORTE LESTE S/A alegou

violação à Súmula nº 372/STJ:

“Na ação de exibição de documentos, não cabe a aplicação de multa

cominatória.” (Súmula nº 372/STJ)

Instância Desfecho

2º Grau Negou provimento ao recurso.

Em recurso especial, TELEMAR NORTE LESTE S/A pugnou

pela reforma do Acórdão.

Instância Desfecho

Superior

Tribunal

de Justiça

Negou provimento ao recurso.

10.2. Análise Estratégica.

10.2.1. Questão em debate.

A controvérsia principal está em definir se é possível a imposição de multa cominatória, no âmbito de ação cautelar, quando

se pretende o fornecimento de dados para identificação de usuário de

provedor de acesso à internet.

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10.2.2. O provedor de acesso à internet é obrigado a

fornecer, com base no endereço IP fornecido pelo requerente, os dados cadastrais de usuário autor de

ato ilícito?

R: Sim, como já decidiu o STJ, inclusive em demanda ajuizada antes

da Lei nº 12.965/14 (Marco Civil da Internet).

“(...) 1. Controvérsia acerca da obrigação de empresa de acesso à internet

fornecer, a partir do endereço de IP (‘Internet Protocol’), os dados cadastrais

de usuário autor de ato ilícito, em data anterior à Lei nº 12.965/2014 (Marco

Civil da Internet). 2. Reconhecimento pela jurisprudência de um dever

jurídico dos provedores de acesso de armazenar dados cadastrais de seus

usuários durante o prazo de prescrição de eventual ação de reparação civil.

Julgados desta Corte Superior. 3. Descabimento da alegação de

impossibilidade fática ou jurídica do fornecimento de dados cadastrais a

partir da identificação do IP. Julgados desta Corte Superior. (...).” (STJ,

REsp 1622483/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,

TERCEIRA TURMA, julgado em 15/05/2018, DJe 18/05/2018)

A Lei nº 12.965/14, por sua vez, já prevê, expressamente, tal

obrigação (arts. 10 e 13):

“Art. 10 da Lei nº 12.965/14. A guarda e a disponibilização dos registros

de conexão e de acesso a aplicações de internet de que trata esta Lei, bem

como de dados pessoais e do conteúdo de comunicações privadas, devem

atender à preservação da intimidade, da vida privada, da honra e da

imagem das partes direta ou indiretamente envolvidas.

§ 1º O provedor responsável pela guarda somente será obrigado a

disponibilizar os registros mencionados no caput, de forma autônoma ou

associados a dados pessoais ou a outras informações que possam contribuir

para a identificação do usuário ou do terminal, mediante ordem judicial, na

forma do disposto na Seção IV deste Capítulo, respeitado o disposto no art.

7º.

§ 2º O conteúdo das comunicações privadas somente poderá ser

disponibilizado mediante ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei

estabelecer, respeitado o disposto nos incisos II e III do art. 7º. (...).”

“Art. 13, caput, da Lei nº 12.965/14. Na provisão de conexão à internet,

cabe ao administrador de sistema autônomo respectivo o dever de manter

os registros de conexão, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança,

pelo prazo de 1 (um) ano, nos termos do regulamento.”

10.2.3. O que são astreintes?

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R: As astreintes, também chamadas de multa cominatória, multa

coercitiva ou multa periódica, são uma medida atípica de apoio à decisão judicial, de caráter meramente persuasório e instrumental,

não caracterizando um fim em si mesmo:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Para tal desiderato, destaca-se, na praxe

forense, a utilização da multa cominatória (também chamada de astreintes,

multa coercitiva ou multa diária), isto é, uma penalidade pecuniária que

caracteriza medida executiva de coerção indireta, pois seu único escopo é

compelir o devedor a realizar a obrigação de fazer ou a não realizar

determinado comportamento. Cuida-se de uma medida atípica de apoio à

decisão judicial, de caráter meramente persuasório e instrumental, não

caracterizando um fim em si mesmo. A multa cominatória apresenta,

portanto, feição meramente coercitiva/indutiva.” (STJ, REsp 1560976/RJ,

Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, por unanimidade,

julgado em 30/05/2019, DJe 01/07/2019)

No mesmo sentido:

“Na vigência do CPC de 1973, havia pacífico entendimento jurisprudencial

pela inaplicabilidade da multa para a coerção do dever de exibição de

documentos, entendimento esse consubstanciado na súmula 372 do STJ. Tal

súmula resta superada com o CPC de 2015, que prevê em seu art. 400,

parágrafo único, que poderá o juiz adotar medidas indutivas, coercitivas,

mandamentais ou sub-rogatória para a exibição do documento, incluindo-se

aí, portanto, a multa periódica. É claro que, podendo valer-se da presunção

de veracidade dos fatos decorrente da não apresentação do documento (art.

400, caput), deverá o juiz sempre por ela optar, deixando assim de aplicar a

multa, que somente se presta àquelas situações em que a coerção se mostre

estritamente necessária (como pode ocorrer, por exemplo, quando não se

tiver a exata dimensão dos fatos que se pretendem provar com o

documento).” (Guilherme Rizzo Amaral)

10.2.4. A Súmula nº 372/STJ impede a fixação de

astreintes contra provedor de acesso à internet?

“Na ação de exibição de documentos, não cabe a aplicação de multa

cominatória.” (Súmula nº 372/STJ)

R: O Min. LUIS FELIPE SALOMÃO adotou três linhas de raciocínio

para afastar o enunciado:

(a) a obrigação de prestar informações para identificação de ofensor usuário da internet não se confunde com o pedido da ação

cautelar de exibição de documento;

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(b) as sanções processuais da cautelar de exibição de

documento (busca e apreensão e presunção de veracidade) não tem nenhuma eficácia diante da obrigação de prestar informações para

identificação de ofensor usuário da internet;

(c) a súmula, aparentemente, está superada pelo poder geral

de efetivação das decisões judiciais, previsto nos arts. 139, inciso IV,

e 400, parágrafo único, do NCPC:

“[Trecho do corpo do acórdão:] A título meramente informativo – pois a

presente controvérsia se estabeleceu durante a vigência do CPC de 1973 –,

revela-se importante destacar que o verbete sumular parece ter sido

superado pelo poder geral de efetivação das decisões judiciais

conferido ao juiz pelos artigos 139, inciso IV, e 400, parágrafo único, do CPC

de 2015. (...) [A] obrigação, certificada mediante decisão judicial, de prestar

informações para identificação de ofensor usuário da internet, não se

confunde com a pretensão cautelar de exibição de documento (...). (...)

Além do mais, as sanções processuais aplicáveis à recusa de exibição de

documento – presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor e busca

e apreensão (artigos 359 e 362 do CPC de 1973 [arts. 400 e 403 NCPC]) –,

revelam-se evidentemente inócuas em casos que tais. (...) Tais

peculiaridades, extraídas do caso concreto, constituem, a meu ver,

distinguishing apto a afastar a incidência do entendimento plasmado na

Súmula 372/STJ (‘na ação de exibição de documentos, não cabe a aplicação

de multa cominatória’) e reafirmado no Recurso Especial repetitivo

1.333.988/SP (‘descabimento de multa cominatória na exibição, incidental

ou autônoma, de documento relativo a direito disponível’). (...) No tocante à

Súmula 372/STJ – e ao repetitivo –, a ratio decidendi de ambos reside no

cabimento da busca e apreensão e da presunção de veracidade como meios

suficientes para garantir a efetivação da decisão judicial de exibição de

documento, motivo pelo qual considerada excessiva a utilização da multa

cominatória. O presente caso, entretanto, consoante ressaltado alhures, não

diz respeito à exibição de documento, revelando-se, ademais, inócuas as

sanções processuais referidas nos precedentes que serviram de base à

Súmula 372/STJ.” (STJ, REsp 1560976/RJ, Rel. Min. Luis Felipe

Salomão, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 30/05/2019,

DJe 01/07/2019)

10.3. Questões objetivas.

Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. É cabível multa cominatória

(astreintes/multa coercitiva) para compelir provedor de acesso a internet ao

fornecimento de dados para identificação de usuário.

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10.4. Gabarito.

Q1º. VERDADEIRA.

10.5. Bibliografia.

AMARAL, Guilherme Rizzo. Comentários às alterações do novo CPC. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 2015.

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11. É possível a deflagração de investigação criminal com

base em matéria jornalística.

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS (RHC)

É possível a deflagração de investigação criminal com base em matéria jornalística

(STJ, RHC 98.056-CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma,

por unanimidade, julgado em 04/06/2019, DJe 21/06/2019)

Resultado: Recurso ordinário desprovido.

Tribunal de Origem: TRF 5ª Região.

11.1. Situação fática.

A partir do vazamento ilegal de informações sigilosas, determinado periódico fez larga investigação a respeito da conduta de

ZACK, tendo publicado matéria sobre o fato.

Ciente da matéria jornalística, a AUTORIDADE POLICIAL

instaurou inquérito policial.

Sem alento nem no 1º nem no 2º Grau, a defesa recorreu ao

STJ.

11.2. Análise Estratégica.

11.2.1. Questão em debate.

Possibilidade ou não de deflagração de investigação criminal

com base em matéria jornalística.

11.2.2. A Autoridade Policial pode iniciar investigação

criminal a partir de matéria jornalística?

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R: Desde que exista justa causa, ou seja:

“(...) suporte probatório mínimo [que] se relaciona com os indícios da

autoria, existência material de uma conduta típica e alguma prova de que

sua antijuridicidade e culpabilidade. (...).” (Afrânio Silva Jardim)

A Autoridade Policial pode, sim, iniciar investigação criminal a partir de matéria jornalística, pois o conteúdo apresentado em veículo

midiático (matéria) representa notia criminis de cognição

imediata (ou espontânea):

“[Trecho do corpo do acórdão:] Consigne-se, inicialmente, que é possível

que a investigação criminal seja perscrutada pautando-se pelas atividades

diuturnas da autoridade policial, verbi gratia, o conhecimento da prática de

determinada conduta delitiva a partir de veículo midiático, no caso, a

imprensa, como de fato ocorreu na hipótese vertente. É o que se

convencionou a denominar, em doutrina, de notitia criminis de

cognição imediata (ou espontânea) (...) terminologia obtida a partir da

exegese do art. 5º, inciso I, do CPP, do qual se extrai que ‘nos crimes de

ação pública o inquérito policial será iniciado de ofício’.” (STJ, RHC 98.056-

CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, por

unanimidade, julgado em 04/06/2019, DJe 21/06/2019)

Vejamos o dispositivo para fechar:

“Art. 5º CPP. Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:

I - de ofício;”

11.3. Questões objetivas.

Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. É possível a deflagração de investigação

criminal com base em matéria jornalística.

11.4. Gabarito.

Q1º. VERDADEIRA.

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12. Crédito presumido de IPI e base de cálculo do IRPJ e

CSLL.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA (EREsp)

O crédito presumido de IPI previsto no art. 1º da Lei n. 9.363/96 integra a base de

cálculo do IRPJ e da CSLL (STJ, EREsp 1210941/RS, Rel. Min. Og Fernandes,

Primeira Seção, por maioria, julgado em 22/05/2019, DJe 01/08/2019)

Resultado: Embargos de divergência providos.

12.1. Situação fática.

Tratando-se de embargos de divergência2, vejamos a

divergência existente entre a PRIMEIRA e SEGUNDA Turmas do STJ:

PRIMEIRA TURMA SEGUNDA TURMA

O crédito presumido de IPI previsto no

art. 1º da Lei n. 9.363/96 NÃO integra

a base de cálculo do IRPJ e da CSLL

O crédito presumido de IPI previsto no

art. 1º da Lei n. 9.363/96 INTEGRA a

base de cálculo do IRPJ e da CSLL

I. O incentivo fiscal do crédito

presumido de IPI promove ganhos às

empresas que operam no setor

beneficiado na exata medida em que

A. Todo benefício fiscal, relativo a

qualquer tributo, ao diminuir a carga

tributária, acaba, indiretamente,

majorando o lucro da empresa e,

2 “Art. 1.043 NCPC. É embargável o acórdão de órgão fracionário que: I - em

recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer

outro órgão do mesmo tribunal, sendo os acórdãos, embargado e paradigma, de

mérito; II – Revogado; III - em recurso extraordinário ou em recurso especial,

divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo um

acórdão de mérito e outro que não tenha conhecido do recurso, embora tenha

apreciado a controvérsia; IV – Revogado. (...).”

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reduz o volume da obrigação tributária.

II. Dessa forma, a inclusão de valores

relativos a créditos fictos (presumidos)

de IPI na base de cálculo do IRPJ e da

CSLL teria o condão de esvaziar a

utilidade do instituto, anulando o

objetivo da política fiscal desoneradora,

que é aliviar a carga tributária.

consequentemente, impacta na base de

cálculo do IR.

B. Qualquer diminuição de custos e

despesas implica aumento do lucro.

C. O IR incide sobre o lucro da

empresa, que é, direta ou

indiretamente, influenciado por todas

as receitas, créditos (inclusive o

presumido), benefícios, despesas etc.

D. Aliás, tanto é lucro que os valores

do crédito presumido de IPI podem, em

certas situações, serem compensados

com outros débitos e até ressarcidos

em moeda.

STJ, REsp 1210941/RS, Rel. Ministro

BENEDITO GONÇALVES, Rel. p/

Acórdão Ministro NAPOLEÃO NUNES

MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA,

julgado em 04/09/2014, DJe

14/11/2014

STJ, REsp 1310993/RS, Rel. Ministra

ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA,

julgado em 20/08/2013, REPDJe

17/09/2013, DJe 11/09/2013

TESE PERDEDORA TESE VENCEDORA

12.2. Análise Estratégica.

12.2.1. Questão em debate.

A divergência traçada envolve questão relacionada à inclusão do crédito presumido de IPI instituído pela Lei nº 9.363/96 na base

de cálculo do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e da

Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

12.2.2. Que crédito presumido é esse?

R: Esse benefício está previsto no art. 1º da Lei nº 9.636/96:

“Art. 1º da Lei nº 9.363/96. A empresa PRODUTORA E EXPORTADORA

de MERCADORIAS NACIONAIS fará jus a crédito presumido do Imposto

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sobre Produtos Industrializados [IPI], como ressarcimento das contribuições

de que tratam as Leis Complementares nos 7, de 7 de setembro de 1970, 8,

de 3 de dezembro de 1970, e 70, de 30 de dezembro de 1991, incidentes

sobre as respectivas aquisições, no mercado interno, de matérias-primas,

produtos intermediários e material de embalagem, para utilização no

processo produtivo.

Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, inclusive, nos casos de

VENDA À EMPRESA COMERCIAL EXPORTADORA com o fim específico de

exportação para o exterior.”

Qual seu fundamento? De acordo com a Min. REGINA HELENA

COSTA e com o Min. MAURO CAMPBELL MARQUES:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Trata-se de alívio fiscal, indutor do

desenvolvimento econômico, cujas leis de regência elegeram as empresas

produtoras e exportadoras de mercadorias nacionais para beneficiarem-se

do ressarcimento de créditos presumidos de IPI e, desse modo, propiciar o

incremento do volume de exportações, atenuando o indesejado fenômeno da

‘exportação de tributos’.” (STJ, EREsp 1210941/RS, Voto-Vencido, Rel.

Min. Regina Helena Costa, Primeira Seção, por maioria, julgado em

22/05/2019, DJe 01/08/2019)

“[Trecho do corpo do acórdão:] O crédito presumido do Imposto sobre

Produtos Industrializados - IPI, criado pelo art. 1º da Lei 9.363/96, o foi com

o intuito de desonerar as empresas produtoras/exportadoras do custo por

elas incorrido com a repercussão econômica do pagamento pelos seus

fornecedores (etapa anterior na cadeia) das contribuições de que tratam as

Leis Complementares n. 7/70 (PIS) e n. 70/91 (COFINS), incidentes sobre

as aquisições, no mercado interno, de matérias-primas, produtos

intermediários e material de embalagem (insumos em geral), para utilização

no processo produtivo dos bens a serem por elas exportados.

(...) A finalidade do incentivo fiscal em análise era reduzir, dos produtos

exportados, o chamado ‘Custo Brasil’, permitindo que as mercadorias

brasileiras que se sujeitam ou se sujeitavam à sistemática cumulativa de

recolhimento do PIS e da COFINS, gozassem de maior competitividade no

mercado internacional, adotando-se a máxima existente no comércio

internacional de que ‘não se exportam tributos’ junto com os produtos e

serviços vendidos ao exterior.” (STJ, EREsp 1210941/RS, Voto-Vencido,

Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por maioria,

julgado em 22/05/2019, DJe 01/08/2019)

12.2.3. E aí, o crédito presumido de IPI previsto no

art. 1º da Lei n. 9.363/96 integra a base de cálculo

do IRPJ e da CSLL?

R: Sim! Foi a tese que prevaleceu para o desespero das empresas... “Zoou o bagulho!” É, infelizmente, a maioria (esmagadora) dos

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ministros (7x2) entendeu que o crédito presumido, em última análise,

gera, sim, lucro e, portanto, deve ser incluído na base de cálculo o

IRPJ e CSLL.

Ademais, dando um nocaute na tese contrária, a Min.

ASSUSETE MAGALHÃES, em Voto-Vista, mandou essa aqui:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Não obstante os ponderáveis

fundamentos em sentido diverso, o crédito presumido de IPI representa,

para a sociedade empresária, em sua contabilidade, em regra, um acréscimo

de natureza patrimonial, a ensejar a tributação em debate. Bem demonstra

essa compreensão a circunstância de que tais valores podem ser objeto de

compensação com outros débitos, e, inclusive, de pedido de ressarcimento,

se for o caso, na forma da disposição literal do art. 4º, caput, da Lei

9.363/96: (...).” (STJ, EREsp 1210941/RS, Voto-Vista, Rel. Min.

Assusete Magalhães, Primeira Seção, por maioria, julgado em

22/05/2019, DJe 01/08/2019)

Calma, pois o Relator fez questão de lembrar de uma exceção, ou seja, situação em que o crédito presumido de IPI não vai incidir

sobre a base de cálculo do IRPJ:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Registre-se, no entanto, que o crédito

presumido pode ser excluído da base de cálculo do IRPJ apurado pelo regime

do lucro presumido quando o contribuinte comprovar que se refira a período

no qual tenha se submetido ao regime de tributação pelo lucro presumido ou

arbitrado ou, caso sujeito ao regime do lucro real, não tenha sido feita a

dedução (arts. 53 da Lei n. 9.430/1996 e 521, § 3º, do RIR/1999).” (STJ,

EREsp 1210941/RS, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por

maioria, julgado em 22/05/2019, DJe 01/08/2019)

No mesmo sentido: STJ, REsp 1611110/RS, Rel. Ministro

MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em

04/08/2016, DJe 12/08/2016.

12.2.4. Por que não foi aplicado o mesmo entendimento que prevaleceu no caso do crédito

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presumido do IPI e a base de cálculo do PIS e

COFINS?

R: Na mencionada situação, prevaleceu que:

“(...) O crédito presumido do IPI tem natureza jurídica de benefício fiscal,

não se constituindo receita, seja do ponto de vista econômico-financeiro,

seja do ponto de vista contábil, devendo ser contabilizado como

‘Recuperação de Custos’. Portanto, não pode integrar a base de cálculo do

PIS e da COFINS. (...).” (STJ, REsp 807.130/SC, Rel. Ministra ELIANA

CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/06/2008, DJe

21/10/2008)

“Orra! Por que não aplicaram esse entendimento no caso da base de cálculo do IRPJ e do CSLL?” De acordo com a maioria (7x2),

seguindo precedente da Min. ELIANA CALMON (Aposentada), o PIS e o COFINS têm como base de cálculo o faturamento, que não é a

mesma coisa que a receita (base de cálculo do IRPJ) nem que lucro

(base de cálculo do CSLL):

“[Trecho do corpo do acórdão:] a) a base de cálculo do PIS e da COFINS

é o faturamento, que equivale à receita bruta, resultado da venda de bens e

serviços pela empresa; b) a Lei 9.718/98, ao ampliar a base de cálculo do

PIS e da COFINS e criar novo conceito para o termo "faturamento", para fins

de incidência da COFINS, com o objetivo de abranger todas as receitas

auferidas pela pessoa jurídica, invadiu a esfera da definição do direito

privado;” (STJ, EREsp 1210941/RS, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira

Seção, por maioria, julgado em 22/05/2019, DJe 01/08/2019)

No mesmo sentido:

12.2.5. Placar final.

OG FERNANDES, BENEDITO

GONÇALVES, ASSUSETE

MAGALHÃES, SÉRGIO KUKINA,

GURGEL DE FARIA, FRANCISCO

FALCÃO e NAPOLEÃO NUNES MAIA

FILHO

MAURO CAMPBELL MARQUES e

REGINA HELENA COSTA

O crédito presumido de IPI previsto no

art. 1º da Lei n. 9.363/96 NÃO integra

O crédito presumido de IPI previsto no

art. 1º da Lei n. 9.363/96 INTEGRA a

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a base de cálculo do IRPJ e da CSLL base de cálculo do IRPJ e da CSLL

7 2

12.2.6. Trechos relevantes dos votos divergentes

publicados.

Ministro(a) Posição

REGINA HELENA COSTA

“[Trecho do corpo do acórdão:] Com

a devida vênia, ao considerar tal

crédito como lucro, o entendimento

manifestado pelo acórdão paradigma,

da 2ª Turma, sufraga, em última

análise, a possibilidade de a União

retirar, por via oblíqua, o incentivo

fiscal à exportação que, em obediência

à Constituição, concedeu. Com efeito,

tal entendimento leva ao esvaziamento

ou redução do incentivo fiscal

legitimamente outorgado, em especial

porque orientado nitidamente por atos

infralegais, consubstanciados na

Solução de Consulta da

Superintendência Regional da Receita

Federal da 9ª Região Fiscal -

SRRF/9ª/DISIT n. 240/2003, e no

Acórdão DRJ/POA n. 3.196/2003,

consoante declinado pela própria

autoridade coatora nas informações

prestadas (fls. 5.110/5.119e). (...) De

fato, seria rematado contrassenso

admitir-se que a União proceda à

desoneração com incentivo fiscal à

exportação e, por via transversa,

pretenda recuperar, total ou

parcialmente, tais valores mediante

alargamento da base de cálculo de

tributos exigíveis do mesmo universo

de contribuintes que visou desobrigar,

em clara ofensa à confiança legítima

nos atos estatais e ao consequente

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impedimento da prática de atos

estatais contraditórios, expressões do

sobreprincípio da segurança jurídica.”

MAURO CAMPBELL MARQUES

“Desse modo, a simples consideração

de que o benefício fiscal pode ensejar a

majoração do lucro, por si só, não

implica conclusão no sentido de que o

valor correspondente deva ser

tributado pelo imposto de renda. É

necessário observar a forma que o

benefício foi delineado na lei de

regência.

(...) Além disso, considerando a

finalidade que justificou a sua

instituição, o crédito presumido de IPI

não é um benefício destinado a

aumentar os ganhos (lucro ou renda)

do exportador, e sim desonerar o

produto exportado, fomentando a

expansão das vendas externas e

objetivando alcançar os benefícios dela

decorrentes (crescimento do emprego,

da renda e da capacidade de importar

do país).”

12.3. Questões objetivas.

Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. O crédito presumido de IPI previsto no art.

1º da Lei n. 9.363/96 não integra a base de cálculo do IRPJ e da CSLL.

12.4. Gabarito.

Q1º. FALSA.

13. Suspensão da exigibilidade do crédito NÃO tributário com

fiança bancária e seguro garantia judicial.

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RECURSO ESPECIAL (REsp)

É cabível a suspensão da exigibilidade do crédito NÃO tributário a partir da

apresentação da fiança bancária ou do seguro garantia judicial, desde que em valor

não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de 30% (trinta por cento)

(STJ, REsp 1381254/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira

Turma, por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe 28/06/2019)

Resultado: Recurso especial desprovido.

Tribunal de Origem: TRF 4ª Região.

13.1. Situação fática.

BETO MALHA NORTE TRANSPORTES S/A ajuizou ação anulatória de multa administrativa (crédito NÃO tributário) imposta

pela AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES TERRESTRES (ANTT). E, liminarmente, pugnou pela suspensão da exigibilidade do

crédito, ofertando seguro garantir judicial, com o fim de

levantamento de sua inscrição no CADIN.

Instância Desfecho

1º Grau

Concedeu a tutela de urgência para suspender a exigibilidade da

multa administrativa, determinando a retirada do nome do autor da

lista do CADIN.

Em agravo de instrumento, a AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES TERRESTRES (ANTT) sustentou que a suspensão

da exigibilidade do crédito só pode ser autorizada com o depósito

integral e em dinheiro.

Instância Desfecho

2º Grau Negou provimento ao recurso

Em recurso especial, a AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES TERRESTRES (ANTT) continuou sustentando que a

suspensão da exigibilidade do crédito só pode ser autorizada com o

depósito integral e em dinheiro.

Instância Desfecho

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Superior

Tribunal

de Justiça

Negou provimento ao recurso

13.2. Análise Estratégica.

13.2.1. Questão em debate.

Cinge-se a controvérsia acerca da possibilidade de ofertar seguro garantia com o objetivo de suspender antecipadamente a

exigibilidade do crédito NÃO tributário, equiparando-se ao depósito

integral do montante em dinheiro.

13.2.2. O que são créditos não tributários? A multa

administrativa é crédito não tributário?

R: O conceito de crédito não tributário é encontrado por exclusão. Créditos não tributários são todos aqueles não derivados da atividade

tributária do ente federativo. E a multa administrativa é um exemplo

de crédito não tributário:

“[Trecho do corpo do acórdão:] 3. Cabe assinalar, primeiramente, que

créditos não tributários, por definição, são todos aqueles não derivados da

atividade tributária do Ente Federativo, tal como as multas administrativas.

É fora de dúvida que os créditos originados das multas administrativas

nascem da inobservância das normas administrativas. 4. A distinção entre

tributo e multa administrativa abrange a relação jurídica subjacente quanto

à exigência da respectiva prestação pecuniária. No caso da multa

administrativa, a vinculação decorre da conduta praticada pelo sujeito

passivo, em infringência à norma administrativa, o que enseja a aplicação da

penalidade prevista legalmente. Já no tributo, o vínculo decorre da Lei, e a

cobrança se dá mediante atividade administrativa plenamente vinculada,

apurada em face da ocorrência do fato gerador, nos moldes do art. 3º do

CTN. 5. Dessa forma, a exata compreensão é que a multa administrativa

assume a condição de prestação pecuniária, exigida consoante previsão

legal, de natureza sancionadora, por conduta ilícita praticada, sendo

constituída mediante atividade administrativa vinculada. Assim, é fácil

constatar que a diferença existente entre multa administrativa e tributo

está, essencialmente, [está] na natureza jurídica de sanção daquela.” (STJ,

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REsp 1381254/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira

Turma, por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe 28/06/2019)

Cuidado! A multa tributária, oriunda do descumprimento da obrigação tributária acessória (art. 113 CTN), tem natureza de crédito

tributário, ao contrário da multa administrativa:

“Art. 113 CTN. A obrigação tributária é principal ou acessória.

§ 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por

objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se

juntamente com o crédito dela decorrente.

§ 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto

as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da

arrecadação ou da fiscalização dos tributos.

§ 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância,

converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.”

13.2.3. Quais são as hipóteses de suspensão da

exigibilidade do crédito tributário?

R: As hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário

estão previstas no art. 151 do CTN:

“Art. 151 CTN. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:

I - moratória;

II - o depósito do seu montante integral;

III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do

processo tributário administrativo;

IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança.

V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras

espécies de ação judicial;

VI – o parcelamento.

Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o cumprimento das

obrigações assessórios dependentes da obrigação principal cujo crédito seja

suspenso, ou dela consequentes.”

Aliás, de acordo com o STJ, esse rol do art. 151 do CTN é taxativo, de modo que não se admite a suspensão do crédito

tributário pelo oferecimento, por exemplo, de fiança bancária, devendo haver depósito integral e em dinheiro nos termos da Súmula

nº 112/STJ:

“(...) A fiança bancária não é equiparável ao depósito integral do débito

exequendo para fins de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, ante

a taxatividade do art. 151 do CTN e o teor do Enunciado Sumular n. 112

desta Corte, cujos precedentes são de clareza hialina (...). Deveras, a

suspensão da exigibilidade do crédito tributário (que implica óbice à prática

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de quaisquer atos executivos) encontra-se taxativamente prevista no art.

151 do CTN, sendo certo que a prestação de caução, mediante o

oferecimento de fiança bancária, ainda que no montante integral do valor

devido, não ostenta o efeito de suspender a exigibilidade do crédito

tributário, mas apenas de garantir o débito exequendo, em equiparação ou

antecipação à penhora, com o escopo precípuo de viabilizar a expedição de

Certidão Positiva com Efeitos de Negativa e a oposição de embargos. (...).”

(STJ, REsp 1156668/DF, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO,

julgado em 24/11/2010, DJe 10/12/2010)

“O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for

integral e em dinheiro.” (Súmula nº 112/STJ)

“Tá, mas estamos analisando a multa administrativa, que é um

crédito NÃO tributário...” Exato!

“[Trecho do corpo do acórdão:] Dentro dessa perspectiva, não podemos

ignorar que o CTN, ao prescrever as hipóteses da suspensão da

exigibilidade, o faz seguramente apenas aos créditos de natureza tributária,

consoante se depreende no caput do art. 151 do referido diploma legal.”

(STJ, REsp 1381254/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,

Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe

28/06/2019)

“Aham...mas quais as hipóteses de suspensão de exigibilidade

de crédito não tributário?” Não há previsão no ordenamento jurídico:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Sendo assim, vislumbra-se claro NÃO

subsistir previsão legal de suspensão de exigibilidade de crédito não

tributário no arcabouço jurídico brasileiro.” (STJ, REsp 1381254/PR, Rel.

Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, por unanimidade,

julgado em 25/06/2019, DJe 28/06/2019)

13.2.4. O que fazer então?

R: Temos que nos valer da analogia, costumes e princípios gerais do

direito, conforme art. 4º da LINDB:

“[Trecho do corpo do acórdão:] É importante registrar, diante dessa

constatação, que a norma jurídica não pode regular todas as situações

possíveis e imagináveis da convivência humana. Nesses casos, há ocorrência

de lacuna normativa e, não havendo lei prévia tratando do tema, a situação

se resolve mediante as técnicas de integração normativa de correção do

sistema previstas no art. 4º da LINDB, quais sejam: a analogia, os costumes

e os princípios gerais do direito; assim, colmatando o sistema jurídico e

tornando-o prático e abstratamente pleno (sem lacunas).

(...) Cabe mencionar, por fim, que o crédito não tributário, diversamente do

crédito tributário, o qual não pode ser alterado por Lei Ordinária em razão

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de ser matéria reservada à Lei Complementar (art. 146, III, alínea b da

CF/1988), permite, nos termos aqui delineados, a suspensão da sua

exigibilidade mediante utilização de diplomas legais de envergaduras

distintas por meio da técnica integrativa da analogia.” (STJ, REsp

1381254/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma,

por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe 28/06/2019)

Analogia a o quê? Neste caso, ao art. 9º, inciso II e § 3º, da Lei

nº 6.830/80 (LEF) e ao art. 835, § 2º, do NCPC:

LEF NCPC

“Art. 9º LEF. Em garantia da execução,

pelo valor da dívida, juros e multa de

mora e encargos indicados na Certidão

de Dívida Ativa, o executado poderá:

(...) II - oferecer fiança bancária ou

seguro garantia;

(...) § 3º A garantia da execução, por

meio de depósito em dinheiro, fiança

bancária ou seguro garantia, produz os

mesmos efeitos da penhora.”

“Art. 835 NCPC. A penhora observará,

preferencialmente, a seguinte ordem:

(...) § 2º Para fins de substituição da

penhora, equiparam-se a dinheiro a

fiança bancária e o seguro garantia

judicial, desde que em valor não

inferior ao do débito constante da

inicial, acrescido de trinta por

cento.”

A partir da análise desses dois dispositivos, torna-se claro que

dinheiro, fiança bancária e seguro garantia judicial são equiparados, devendo essa conclusão ser aplicada também à suspensão da

exigibilidade do crédito NÃO tributário:

“[Trecho do corpo do acórdão:] Com isso, tornou-se claro que o

dinheiro, a fiança bancária, bem como o seguro garantia são

equiparados para os fins de substituição da penhora ou mesmo para a

garantia do valor da dívida ativa, seja ela tributária ou não tributária, sob a

ótica absolutamente alinhada do § 2º do art. 835 do Código Fux c/c o inciso

II e § 3º do art. 9º da Lei 6.830/1980, alterado pela Lei 13.043/2014 (...).

(...) A partir dessa conclusão e, ainda, diante da natureza sancionadora da

multa administrativa, bem como verificada a possibilidade de o devedor, por

meio de caução na modalidade seguro garantia, assegurar a sua obrigação

mediante garantia idônea e suficiente, é cabível a suspensão da exigibilidade

do crédito não tributário a partir da apresentação da fiança bancária e do

seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito

constante da inicial, acrescido de trinta por cento, nos moldes previstos no

art. 151, inciso II do CTN c/c o art. 835, § 2º do Código Fux e o art. 9º, § 3º

da Lei 6.830/1980, uma vez que não há dúvida quanto à liquidez de tais

modalidades de garantia, permitindo, desse modo, a produção dos mesmos

efeitos jurídicos do dinheiro.” (STJ, REsp 1381254/PR, Rel. Min.

Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, por unanimidade,

julgado em 25/06/2019, DJe 28/06/2019)

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Cuidado para não esquecer do “chorinho”:

13.3. Questões objetivas.

Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. É cabível a suspensão da exigibilidade do

crédito não tributário a partir da apresentação da fiança bancária, desde que em

valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de 30% (trinta por

cento).

Q2º. Estratégia Carreiras Jurídicas. Não é cabível a suspensão da exigibilidade

do crédito não tributário a partir da apresentação de seguro fiança judicial.

13.4. Gabarito.

Q1º. VERDADEIRA.

Q2º. FALSA.