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Indicadores de atenção primária e secundária para planejamento
das ações em saúde bucal: uma proposta de utilização dos dados
do Projeto SB Minas Gerais 2012.
Rafaela da Silveira Pinto1, Daniele Lopes Leal
1, Jacqueline Silva Santos
1, Wanda Maria
AlvesTaulois Braga1, Angelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira
2
1Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais
2Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Indicadores de atenção primária e secundária para planejamento
das ações em saúde bucal: uma proposta de utilização dos dados
do Projeto SB Minas Gerais 2012.
Primary and secondary care indicators in dental health planning: a proposal for
using data from the "Survey of Dental Health - SB Minas Gerais 2012"
Rafaela da Silveira Pinto1, Daniele Lopes Leal
1, Jacqueline Silva Santos
1, Wanda Maria AlvesTaulois Braga
1,
Angelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira2
1Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais
2Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Título Resumido: Projeto SB Minas Gerais 2012 – indicadores de atenção primária e
secundária
Descritores: Necessidades e Demandas de Serviços de Saúde, acesso aos serviços de saúde,
prioridades em saúde, políticas públicas de saúde
Resumo
Conhecer dados populacionais precisos relativos às necessidades de saúde da população é
essencial para a modelagem da rede de atenção à saúde bucal e para o planejamento,
monitoramento e avaliação da atenção prestada. Desse modo, este trabalho tem como objetivo
apresentar uma proposta de indicadores de necessidades em saúde na atenção primária e e na
atenção secundária para auxiliar na construção e gestão da rede de atenção à saúde bucal no
estado de Minas Gerais. Estes indicadores foram elaborados a partir dos dados obtidos no
inquérito SBMinas Gerais 2012 e foram calculados para os domínios definidos no inquérito
(Capital, Interior I, Interior II e Estado) gerando estimativas populacionais. Apesar de serem
indicadores que necessitam de maior uso e validação, os resultados alcançados sugerem
possibilidade de sua utilização no processo de organização da atenção à saúde bucal no
estado.
1- Introdução
A trajetória da odontologia na saúde pública brasileira, voltada historicamente para o
atendimento de parcelas limitadas da população, gerou, durante décadas, um quadro de
exclusão da maioria da população à atenção em saúde bucal. O custo dessa situação se reflete
no alto índice de prevalência de perda dentária e de necessidade de reabilitação encontrado
entre adultos e principalmente entre idosos em nossa população.
O Sistema Único de Saúde (SUS), criado a partir da Constituição de 1988, apresentou
entre seus princípios direcionadores a universalização, a integralidade e a regionalização da
atenção, o que gerou a necessidade de uma reflexão sobre os caminhos trilhados pela saúde
bucal no serviço público e sobre novos caminhos a trilhar em busca de uma operacionalização
dos princípios definidos. Segundo Antunes e Narvai (2010), o SUS significou um marco de
referência do início de uma oferta ampliada de atendimento odontológico na rede pública de
saúde, implicando no reconhecimento da saúde bucal como parte indissociável da saúde geral,
como dever do Estado e direito de cidadania.
Em 2000, a partir da inclusão da odontologia no Programa Saúde da Família (PSF),
fortaleceu-se a discussão da reorganização da atenção com foco na universalização do acesso
da população às ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde (BRASIL, 2000). Em
2004, foram criados os Centros de Especialidades Odontológicas (CEO) (BRASIL, 2004a),
considerando necessidade de obtenção de avanços na integralidade e na regionalização da
assistência à saúde. Ambas as ações representaram um avanço na operacionalização dos
princípios do SUS na atenção à saúde bucal.
A proposta da organização do sistema de saúde em forma de Redes de Atenção está
sendo o direcionamento atual em busca de um SUS que possa dar respostas às necessidades
de saúde da população de forma adequada, no lugar e no tempo certos (MENDES, 2011). A
implantação da Rede de Atenção à Saúde Bucal leva a uma crescente conscientização sobre a
importância da discussão sobre modelo de atenção, estruturação dos pontos de atenção e
incorporação de tecnologias que aumentem a capacidade de diagnóstico das necessidades em
saúde bucal.
O diagnóstico das necessidades em saúde bucal tem na epidemiologia um grande
aliado. Uma das principais contribuições que os estudos epidemiológicos transversais trazem
para os serviços de saúde é a possibilidade de trabalhar com dados populacionais mais
precisos do que aqueles produzidos pelos próprios serviços. Isso permite planejar as ações em
saúde pública de modo mais racional, uma vez que os dados expressam a realidade da
situação de saúde e das necessidades de tratamento da população.
Essa estratégia está em consonância com os pressupostos da Política Nacional de
Saúde Bucal os quais visam a reorientação do modelo de atenção à saúde bucal, destacando-se
a “utilização da Epidemiologia e as informações sobre o território subsidiando o
planejamento” (BRASIL. 2004b).
No entanto, embora os índices utilizados nos inquéritos de saúde bucal gerem
informações relevantes para o diagnóstico coletivo, em muitas situações é preciso fazer uma
releitura destes índices no sentido de produzir indicadores específicos que possam subsidiar a
gestão.
Visando analisar a situação da saúde bucal da população mineira com o objetivo de
produzir informações úteis ao planejamento das ações e dos serviços públicos de saúde bucal
no estado de Minas Gerais, a Diretoria de Saúde Bucal/Secretaria de Estado de Saúde de
Minas Gerais realizou em 2012 o inquérito SB Minas Gerais, com caráter de pesquisa de base
amostral junto a 60 municípios do estado.
O inquérito foi realizado com a mesma metodologia do SBBrasil 2010, porém
algumas análises diferenciadas foram realizadas com o intuito de obtenção de resultados que
pudessem servir de orientadores aos gestores nesse processo crescente de organização da
atenção em saúde bucal no SUS.
Nesse processo foram elaborados indicadores de atenção primária e atenção
secundária como apoio para subsidiar o planejamento, monitoramento e avaliação de ações
que respondam às necessidades de saúde da população no contexto da construção da Rede de
Atenção à Saúde Bucal.
2- JUSTIFICATIVA
O Ministério da Saúde define Rede de Atenção à Saúde como “conjunto de ações e
serviços de saúde articulados em níveis de complexidade crescente, com a finalidade de
garantir a integralidade da assistência à saúde.” (BRASIL, 2011a).
Assim, a Rede de Atenção à Saúde Bucal deve ser organizada de forma a responder às
necessidades de saúde bucal da população e de prestar uma assistência contínua e integral aos
indivíduos através da organização de todos os pontos de atenção.
A Secretaria de Estade de Saúde de Minas Gerais, por meio da sua Diretoria de Saúde
Bucal, está trabalhando na organização da Rede de Atenção à Saúde Bucal no âmbito de todo
o estado, e nesse sentido, a proposição de indicadores que possam diagnosticar as
necessidades de saúde bucal da população por nível de atenção se fazem importantes por
oferecerem subsídios para a modelagem dessa rede e para o seu monitoramento.
Assim, considerou-se necessária a elaboração de indicadores de atenção primária e
secundária em saúde bucal, produzidos a partir dos dados obtidos no inquérito SBMinas
Gerais 2012 (MINAS GERAIS, no prelo).
3- Objetivos
3.1 Objetivo Geral
Apresentar uma proposta de indicadores de atenção primária e secundária em saúde
bucal, produzidos a partir dos dados obtidos no inquérito SBMinas Gerais 2012.
3.2 Objetivos Específicos
- Apresentar a distribuição das necessidades de tratamento na atenção primária para a
cárie dentária e doença periodontal, e distribuição da ocorrência de impacto na vida diária
provocado pelas condições bucais de acordo com o grupo etário e domínio;
- Apresentar a distribuição das estimativas populacionais para cada grupo etário e
domínio das necessidades em atenção primária e secundária.
4- Referencial Teórico
O estado de Minas Gerais apresenta uma área de 580.720,8 km2, é composto
por 853 municípios, e tem uma população de 19.855.332 habitantes (BRASIL, 2012).
Apresenta uma enorme diversidade no clima, vegetação e relevo, diversidade esta que
também se reflete nos aspectos culturais, econômicos e sociais. É um estado síntese do Brasil
em termos de desigualdades em desenvolvimento regional (SANTOS e PALES, 2012).
O Sistema Único de Saúde encontra-se estruturado de forma regionalizada no estado, e
seu PDR (Plano Diretor de Regionalização) descreve que todos os municípios devem oferecer
a atenção primária de forma universalizada a seus habitantes, que as 77 Regiões de Saúde
devem ser responsáveis pela oferta de atenção especializada em nível secundário, e as 13
Regiões Ampliadas de Saúde devem estar voltadas à oferta de atenção especializada em nível
terciário (MINAS GERIS, 2007; 2011).
Nesse contexto se insere a atenção à saúde bucal. Pelo fato das condições bucais
poderem causar grande impacto na saúde geral e na qualidade de vida, e serem consideradas
importantes problemas de saúde pública devido à sua prevalência e impacto nos indivíduos e
na sociedade (MINAS GERAIS, 2006), apresenta-se como grande desafio para a Diretoria de
Saúde Bucal da SES/MG incentivar a promoção da equidade em saúde bucal para a população
do estado.
4.1 Epidemiologia das doenças bucais
Alguns inquéritos epidemiológicos foram realizados em nosso país durante as últimas
décadas, o que nos permite acompanhar a evolução das condições de saúde bucal da
população brasileira.
Em 1986 foi realizado o Levantamento Epidemiológico em Saúde Bucal (1986), cujos
resultados mostraram altos índices de cárie dentária entre as crianças brasileiras, que estavam
entre os maiores CPO-D (índice que mede o número médio de dentes permanentes cariados,
perdidos e obturados) do mundo. O CPO-D médio evoluiu de 1,25 aos 6 anos para 3,61 aos 9
anos, atingindo 6,65 aos 12 anos (BRASIL, 1986). O contínuo crescimento do índice CPO-D
(12,7 dos 15 aos 19 anos; 22,5 dos 35 aos 44 anos e 27,2 dos 50 aos 59 anos) deu-se
fundamentalmente em conseqüência do aumento da contribuição no índice do componente
que corresponde aos dentes extraídos. Somente 40,0% das pessoas de 18 anos apresentavam
todos os dentes. Mais de 72,0% da população urbana analisada, na faixa de 50 a 59 anos, já
havia extraído todos os dentes em pelo menos um maxilar. No grupo de 35 a 44 anos, quatro
em cada 10 pessoas requeriam apoio protético, reduzindo-se a 1,7% na faixa de 15 a 19 anos
(BRASIL, 1986).
Em 1996, dez anos após o primeiro levantamento epidemiológico de âmbito nacional,
foi realizado o segundo levantamento em saúde bucal, o Levantamento epidemiológico em
saúde bucal: cárie dentária (1996), com o objetivo de verificar alterações ocorridas no perfil
da população brasileira (OPAS, 2006). A pesquisa verificou apenas a condição cárie dentária
em crianças na faixa etária de 6 a 12 anos de escolas públicas e privadas das 27 capitais e do
Distrito Federal. Os resultados mostraram uma evolução do CPO-D médio de 0,28 aos 6 anos
para 1,53 aos 9 anos de idade, atingindo 3,06 aos 12 anos (BRASIL,1996).
Os Inquéritos SB Brasil - Condições de saúde bucal da população brasileira,
realizados em 2003 e 2010 representaram um grande avanço na vigilância epidemiológica em
saúde bucal no país, por sua abrangência e pelo estabelecimento de uma série histórica
passível de comparação. Dentre os principais resultados, verificou-se que a cárie dentária
ainda é o principal problema de saúde bucal dos brasileiros. Felizmente, a situação melhorou
entre os anos de 2003 e 2010 (BRASIL, 2004c; 2011). Na idade de 12 anos, a doença atingia
69,0% da população em 2003. Essa porcentagem diminuiu para 56,0% em 2010. O número
médio de dentes atacados por cárie também diminuiu nas crianças: era 2,8 em 2003 e caiu
para 2,1 em 2010, uma redução de 25,0% (BRASIL, 2004c; 2011). Em termos absolutos, e
considerando a população brasileira estimada para 2010, essas reduções indicam que, no
período considerado, cerca de um milhão e 600 mil dentes permanentes deixaram de ser
afetados pela cárie em crianças de 12 anos em todo o país (BRASIL, 2004c; 2011). Em
adolescentes, a redução do número de dentes que foram poupados do ataque de cárie, em
relação a 2003, chegou a aproximadamente 18 milhões. As necessidades de próteses dentárias
por adolescentes reduziram-se em 52,0%. Entre os adultos o destaque cabe a uma
importantíssima inversão de tendência: as extrações de dentes vêm cedendo espaço aos
tratamentos restauradores. Em adultos, as necessidades de próteses reduziram-se em 70,0%
(BRASIL, 2004c; 2011).
Em 2012 a Diretoria de Saúde Bucal da SES/MG desenvolveu o projeto SB Minas
Gerais 2012: Pesquisa das condições de saúde bucal da população mineira (MINAS
GERAIS, no prelo) com o objetivo de conhecer as condições e as necessidades em saúde
bucal da população mineira.
Entre os resultados encontrados para cárie dentária, o CPO-D médio aos 12 anos de
idade é igual a 1,8, significando que menos de 2 dentes estão afetados pela cárie dentária
nestas crianças. Este valor é inferior à média nacional encontrada em 2010 (2,1). Enquanto em
Minas Gerais o componente cariado do CPO-D médio aos 12 anos de idade representa 44%
do índice, no Brasil esse componente representa 54,1% do índice nacional. Em relação ao
componente obturado do índice CPO-D, em Minas Gerais este componente representa 50%
do índice enquanto que no Brasil ele corresponde a 35%, apontando para maior acesso ao
tratamento reparador em crianças de Minas Gerais quando comparado ao Brasil.
Contudo, estes valores expressam a média geral do estado de Minas Gerais, o qual
apresenta grandes desigualdades regionais, assim como acontece em nosso país.
Desagregando-se estes dados para a capital e os municípios do interior e, nestes,
diferenciando-os pela situação socioeconômica, percebe-se um gradiente importante na
prevalência e severidade da cárie dentária. A capital do estado tem um CPO aos 12 anos de
1,1, dos quais 0,6 dentes estão cariados e 0,5 restaurados. No interior a média passa para 2,1,
indicando que a situação epidemiológica destes municípios impactam no resultado final da
média estadual.
Com relação à cárie dentária em adolescentes (15 a 19 anos), a situação é semelhante,
com Minas apresentando um índice CPO de 3,9 ante uma média nacional de 4,2. A média de
dentes cariados nesta mesma faixa etária é mais baixa (1,3 em Minas e 1,5 no Brasil).
Novamente se observa a desigualdade na distribuição da doença em adolescentes, uma vez
que a capital apresenta um índice (2,3) que corresponde a um pouco mais da metade daquele
encontrado nos municípios do interior do estado (4,3).
Finalmente, com relação à cárie dentária em adultos e idosos, a situação em Minas é
semelhante à realidade nacional, onde o maior problema é representado pela alta prevalência
de perda dentária. Em mineiros adultos de 35 a 44 anos, 5,3 dentes em média já foram
extraídos, estando esta média abaixo da nacional (7,5) Em idosos na faixa etária de 65 a 74
anos a situação é praticamente a mesma do Brasil, em que foi encontrada uma média de 26,3
dentes extraídos, o que representa quase toda a dentição. A média nacional é muito
semelhante, pouco mais de 25 dentes, indicando que a extensa mutilação dentária em idosos
brasileiros é uma condição de alta prevalência em todo o país.
Em relação à condição periodontal, em termos populacionais os problemas gengivais
aumentam, de modo geral, com a idade. Os resultados do Inquério SB Minas indicam que o
percentual de indivíduos sem nenhum problema periodontal foi de 62,7% para a idade de 12
anos, 52,6% para a faixa de 15 a 19 anos, 23,9% para os adultos de 35 a 44 anos e somente
2,2% nos idosos de 65 a 74 anos. É uma situação ligeiramente mais favorável que a brasileira,
cujos percentuais foram de 63%, 51%, 18% e 1,8% respectivamente. Entre os indivíduos com
algum problema na gengiva, a presença de cálculo e sangramento é mais comum entre os
adolescentes. As formas mais graves da doença periodontal aparecem de modo mais
significativo nos adultos (35 a 44 anos), que apresentam uma prevalência de 15,8%, valor
abaixo do nacional (19,4%). Nos idosos, os problemas gengivais têm pequena expressão em
termos populacionais, em decorrência do reduzido número de dentes presentes.
A necessidade de prótese dentária também se mostrou muito prevalente. Nesta
pesquisa as necessidades de próteses dentárias foram estimadas, com a finalidade de
proporcionar subsídios para o planejamento dos serviços reabilitadores. As próteses dentárias
referidas foram as removíveis parciais e totais. Entre os adolescentes, 7,4% necessitam de
próteses parciais em um ou dois maxilares, não havendo registro para necessidade de próteses
totais. Este valor é pouco mais da metade do encontrado para o Brasil em 2010 (13,7%). Entre
adultos, 57,2% apresentaram necessidade de algum tipo de prótese, sendo a maioria parciais
em um ou dois maxilares, embora a necessidade de prótese total (simples ou dupla) já esteja
presente em 3,2% desta população. Em idosos o percentual de necessidade de prótese é maior
(67,7%), e a grande maioria (46,6%) é representada por próteses totais. Contabilizando apenas
a necessidade de prótese total dupla (em que todos os dentes foram perdidos e não repostos),
encontramos 30,1% de idosos nesta situação.
Os problemas de oclusão dentária atingem 33,8% das crianças aos 12 anos. Em 17,5%
dessas crianças, os problemas se expressam na forma mais branda. Mas 9,8% têm oclusopatia
severa e 6,5% apresentam oclusopatia muito severa, sendo esta a condição que requer
tratamento mais imediato. Nos adolescentes, as proporções são ligeiramente menores, com
26,7% apresentando algum tipo de problema e, destes, cerca de 6,2% correspondem à forma
mais severa da doença.
4.2 A Epidemiologia e a Rede de Atenção à Saúde Bucal
Apesar de termos observado melhoras nas condições de saúde bucal da população de
nosso país e especificamente do estado de Minas Gerais, ainda temos muitas necessidades de
tratamento a serem atendidas.
Diante dessa realidade, e conforme Oliveira et al (1998), realizar levantamentos
epidemiológicos acerca das doenças bucais deve ser uma operação estratégica para, a partir
dos dados primários coletados, a gestão possa gerar informações capazes de orientar o
planejamento, a execução e a avaliação das ações de saúde bucal (preventivas e terapêuticas)
e de inferir sobre a eficácia geral dos serviços, além de permitir comparações de prevalências
em diferentes períodos de tempo e áreas geográficas.
A proposta de mudança de paradigma na atenção à saúde, representada pela
implantação das Redes de Atenção à Saúde, representa uma proposta atual que pode servir de
orientadora para a organização da atenção em saúde bucal de forma a dar respostas às
necessidades encontradas em nossa população.
Os Sistemas Integrados de Saúde – as Redes de Atenção à Saúde - são aqueles
organizados através de um conjunto coordenado de pontos de atenção à saúde para prestar
uma assistência contínua e integral a uma população definida (SILVA, 2011).
As Redes de Atenção à Saúde devem prestar uma atenção no lugar certo, no tempo
certo, com a qualidade certa, com o custo certo e com responsabilização sanitária e econômica
por uma população adscrita (MENDES, 2011). Para o planejamento desta rede, faz-se
necessária a utilização de dados epidemiológicos que expressem as necessidades da
população, pois, segundo Teixeira (1999), no campo da saúde na dimensão populacional, a
reorientação da gestão, do financiamento e do modelo de atenção à saúde são processos que
não podem prescindir da epidemiologia.
Isso se faz muito importante no processo de implantação das redes de atenção, pois a
partir do momento em que essa estratégia propõe uma mudança de um sistema de saúde
baseado na oferta para um sistema de saúde modelado com base nas necessidades
apresentadas pela população, os indicadores ligados ao diagnóstico dessas necessidades se
tornam essenciais no processo de construção dessa rede de atenção.
Quando gerados de forma regular e manejados em um sistema dinâmico, os
indicadores sao ferramentas de extrema importância para a gestão e avaliação da situação de
saúde, em todos os níveis da atenção, e portanto, elementos fundamentais para o
estabelecimento de políticas públicas e prioridades melhor ajustadas às necessidades de saúde
da população. Ademais, para o estabelecimento de políticas públicas e prioridades
condizentes com as necessidades de saúde da população, os indicadores são ferramentas de
extrema importância para a gestão e avaliação da situação de saúde (OPAS, 2008).
A ideia central de um indicador é que ele possa gerar informações relevantes que
possam ser aplicadas ao conjunto da população adscrita aos pontos de atenção da rede.
Considerando a proposta de modelagem da rede de saúde bucal, é importante saber qual a
demanda potencial para as ações de atenção primária e secundária em saúde bucal. Aliado a
isso, é importante que os indicadores sejam aplicados para os distintos grupos etários e
possam distinguir as diferenças regionais.
5- Metodologia
A partir dos resultados do Projeto SB Minas Gerais 2012 – Pesquisa das condições de
saúde bucal da população mineira (MINAS GERAIS, no prelo), foram produzidos dois
blocos de indicadores - indicador geral de necessidade de atenção primária e bloco de
indicadores da atenção secundária.
O projeto SB Minas Gerais foi realizado ao longo do ano de 2012 pela Diretoria de
Saúde Bucal da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, em parceria com secretarias
municipais de saúde, entidades de classe e universidades, e tomou como base a metodologia
do Projeto SBBrasil conduzido em 2010. A pesquisa surgiu da necessidade de conhecer as
condições de saúde bucal da população do estado de Minas Gerais e, a partir deste
diagnóstico, propor ações no âmbito estadual que contemplem as necessidades desta
população. Os dados foram obtidos em 57 cidades do interior do estado mais a capital, Belo
Horizonte. No interior, os municípios foram divididos em dois blocos (Interior I e Interior II),
de acordo com o Fator de Alocação elaborado pela Fundação João Pinheiro.
No estado de Minas Gerais, o Fator de Alocação de Recursos Finanaceiros destinados
à saúde, foi elaborado pela Fundação João Pinheiro em parceria com o Centro de
Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas da
Universidade Federal de Minas Gerais em 2004 (MINAS GERAIS, 2004). É composto pelo
Índice de Porte Econômico (indicador que corresponde ao valor per capita do ICMS de cada
município, trabalhado por uma expressão logarítmica, expressa a capacidade do município
financiar com recursos próprios, os cuidados com a saúde dos cidadãos) e pelo Índice de
Necessidade de Saúde (indicador composto por seis variáveis epidemiológicas e
socioeconômicas). Os 853 municípios do estado foram classificados em quatro grupos de
Fator de Alocação, sendo que, no grupo 1 estão aqueles que têm menor necessidade relativa
de recursos financeiros e no grupo 4 são os que tê maior necessidade.
No Projeto SB Minas 2012, com exceção da capital Belo Horizonte que já havia sido
contemplada no SB Brasil 2010, os municípios com Fator de Alocação 1 e 2 foram agrupados
no primeiro domínio (Interior I) e os municípios com Fator de Alocação 3 e 4 foram
agrupados no segundo domínio (Interior II) (MINAS GERAIS, 2012). Importante destacar
que os municípios com Fator de Alocação 1 e 2 estão concentrados na região sul do estado e
os municípios com Fator de Alocação 3 e 4 estão concentrados nas regiões norte e nordeste do
estado.
Portanto, foram definidos no Projeto SB Minas 2012, quatro domínios no estudo:
Capital, Interior I, Interior II e Estado de MG.
Foram examinados e entrevistados, em seus domicílios, por dentistas pertencentes aos
serviços de saúde dos municípios participantes, crianças de 5 e de 12 anos de idade,
adolescentes de 15 a 19 anos, adultos de 35 a 44 anos e idosos de 65 a 74 anos. A amostra,
estatisticamente representativa da população mineira, foi de aproximadamente 5 mil pessoas.
O Projeto SB Minas Gerais analisou a situação da população mineira com relação à cárie
dentária, condição periodontal, traumatismo dentário, fluorose dentária, edentulismo (uso e
necessidade de prótese), oclusão dentária, condição socioeconômica, utilização de serviços
odontológicos e autopercepção de saúde bucal.
5.1 – Indicador geral de necessidade de atenção primária
O indicador geral de necessidade de atenção primária em saúde bucal foi criado
considerando os dois agravos mais prevalentes em saúde bucal, cárie e doença periodontal,
associado a uma medida subjetiva avaliada pelo índice de impactos na vida diária provocados
pelas condições dentais (OIDP).
Tendo como base o Índice de necessidade de tratamento (Cárie dentária), o CPI -
Índice Periodontal Comunitário - (Condição periodontal) e o OIDP (Auto percepção dos
impactos das condições bucais) foram inicialmente separadas as categorias destes índices que
correspondiam às necessidades de atenção primária.
a) Necessidades de Tratamento para Cárie Dentária
Dentro do indicador de necessidade de tratamento foram selecionadas as categorias
“1” (restauração de 1 superfície), “2” (restauração de 2 ou mais superfícies), “6” (extração),
“7” (tratamento de lesão branca) e “8” (selante). Foi criado, então, um indicador específico,
relativo ao número de dentes com estas necessidades. Este indicador, baseado na sua
distribuição em cada grupo etário, foi reclassificado em 3 categorias (0-nenhum dente; 1-um
dente e 2-2 ou mais dentes). A Tabela 1 ilustra a distribuição deste indicador de acordo com
grupo etário e domínio.
b) Indicador de Condição Periodontal
Para a criação deste indicador seguiu-se a mesma lógica anterior, selecionando as
categorias do CPI relacionadas à atenção básica, quais sejam, 1 (sangramento), 2 (cálculo) e 3
(bolsa rasa). A Tabela 1 ilustra a distribuição do indicador segundo grupo etário e domínio. A
presença de gengivite, cálculo e/ou bolsa periodontal de até 5 mm, foram portanto
consideradas condições que podem e devem ser resolvidas na atenção primária.
c) Indicador de impactos na vida diária
O OIDP (Oral Impacts on Daily Living) é um indicador que aponta, a partir do relato
do entrevistado, quais dimensões da sua vida diária foram afetadas pelas condições de saúde
bucal. Dentre as nove condições observadas, foram considerados positivos os casos em que
pelo menos um impacto foi relatado. A distribuição deste indicador se encontra na Tabela 1.
d) Indicador Geral de Necessidades de Atenção Primária
Para a construção do Indicador Geral de Necessidades de Atenção Primária, que é um
indicador agregado, foram consideradas as diferentes combinações de agravos de acordo com
o Quadro a seguir:
Quadro 1. Critérios para o estabelecimento do indicador agregado, baseado
nas 3 condições avaliadas.
Condição Periodontal
Necessidade de Cárie
Impactos
Nenhum Pelo menos 1
Nenhuma necessidade
Nenhum Baixo Baixo
1 dente Médio Médio
2 ou mais Alto Alto
Sangramento Nenhum Médio Médio
1 dente Médio Médio
2 ou mais Alto Alto
Cálculo Nenhum Médio Médio
1 dente Médio Médio
2 ou mais Alto Alto
Bolsa Rasa Nenhum Alto Alto
1 dente Alto Alto
2 ou mais Alto Alto
Desse modo, um indivíduo sem necessidade de cárie, doença periodontal e sem
impactos relatados é considerado com baixo nível de necessidade. Por outro lado, um
indivíduo com cálculo, mesmo sem necessidade de cárie e sem impacto é considerado como
nível médio. No limite extremo, temos indivíduos com bolsa rasa, 2 ou mais dentes para
serem tratados e ainda com impactos relatados.
5.2 – Bloco de indicadores de atenção secundária
Para estimar as necessidades de atenção secundária em saúde bucal foram considerados
quatro situações diferentes:
a) Necessidade de Tratamento Endodôntico
Avaliada a partir do seu respectivo código nas necessidades de tratamento para cárie
dentária. A ocorrência de mais de um dente com necessidade de tratamento endodôntico em
um mesmo indivíduo é bastante baixa, de modo que o número médio encontrado aplicado à
população pode ser interpretado como o número de dentes a serem tratados como também
uma estimativa do número de pessoas com esta necessidade. Esse indicador foi aplicado para
todos os grupos etários.
b) Necessidade de Tratamento Periodontal
Neste caso considerou-se o código relativo à prevalência de bolsa periodontal profunda
(com mais de 5 mm) como a condição que requer tratamento especializado. Esse indicador foi
aplicado apenas para os grupos etários acima de 15 anos.
c) Necessidade de Tratamento Ortodôntico
Para a idade de 5 anos foi considerada a ocorrência de pelo menos uma situação
anormal encontrada no índice de Foster & Hamilton. Para crianças de 12 anos e
adolescentes de 15 a 19 anos, foram consideradas as categorias de necessidade de
tratamento imediato do Índice de Estética Dental (DAI). Esse indicador foi aplicado
apenas para os grupos etários até 19 anos.
d) Necessidade de Prótese
Todas as categorias relativas a qualquer tipo de prótese foram agrupadas. Esse indicador
foi aplicado apenas para os grupos etários acima de 15 anos.
Cada uma destas necessidades foi tratada separadamente. Como se tratam de valores
percentuais e médias, podem ser aplicados às populações para estimar o número de
indivíduos em cada categoria.
Os dois blocos de indicadores (da atenção primária e da atenção secundária) foram
aplicados nos domínios da pesquisa Projeto SB Minas Gerais (Capital, Interior I e Interior
II) gerando estimativas populacionais para subsidiar a gestão das ações de planejamento e
avaliação.
No sentido de obter estimativas para toda a população, os dados de cada grupo etário
do SBMinas foram aplicados a diferentes grupos etários populacionais, conforme descrição
a seguir:
Amostra de 5 anos – grupo populacional de 4 a 8 anos
Amostra de 12 anos – grupo populacional de 9 a 13 anos
Amostra de 15 a 19 anos – grupo populacional de 14 a 24 anos
Amostra de 35 a 44 anos – grupo populacional de 25 a 54 anos
Amostra de 65 a 74 anos – grupo populacional de 55 anos ou mais
6- Resultados e discussão
A Tabela 1 apresenta a distribuição das necessidades de tratamento na atenção primária
para a cárie dentária e doença periodontal e a distribuição da ocorrência de impacto na vida
diária provocado pelas condições bucais de acordo com o grupo etário e domínio. É possível
verificar nesta tabela cada um dos indicadores que compõem o indicador geral de necessidade
de atenção primária.
Assim, um determinado município do Interior I teria 17,3% das crianças de 12 anos
precisando de uma intervenção de atenção básica em um dente e 25,3% em dois ou mais
dentes para cárie. Seguindo o mesmo raciocínio anterior, 68% dos adolescentes da capital não
têm nenhuma necessidade periodontal e 24,2% têm cálculo .
Ainda de acordo com a Tabela 1, 43,4% dos adultos do Interior II relataram pelo menos
uma dimensão impactada pelas suas condições de saúde bucal.
Tabela 1. Distribuição das necessidades de tratamento básico para a cárie dentária e doença periodontal e distribuição da
ocorrência de impacto na vida diária provocado pelas condições bucais de acordo com o grupo etário e domínio. Minas Gerais,
2012.
Domínio n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % n %
Capital
5 anos 99 49,5 31 15,5 70 35 200 100 200 100 0 0 0 0 0 0 200 100 150 75 50 25 200 100
12 anos 169 64,5 48 18,3 45 17,2 262 100 201 76,7 28 10,7 33 12,6 0 0 262 100 167 63,7 95 36,3 262 100
15 a 19 anos 79 53 28 18,8 42 28,2 149 100 101 67,8 11 7,4 36 24,2 1 0,7 149 100 98 65,8 51 34,2 149 100
35 a 44 anos 128 49,2 53 20,4 79 30,4 260 100 94 36,2 10 3,8 129 49,6 27 10 260 100 119 45,8 141 54,2 260 100
65 a 74 anos 176 71,3 29 11,7 42 17 247 100 216 87,4 2 0,8 24 9,7 5 2 247 100 149 60,3 98 39,7 247 100
Total 651 58,2 189 16,9 278 24,9 1.118 100 812 72,6 51 4,6 222 19,9 33 3 1.118 100 683 61,1 435 38,9 1.118 100
Interior I
5 anos 350 59 58 9,8 185 31,2 593 100 593 100 0 0 0 0 0 0 593 100 438 73,9 155 26,1 593 100
12 anos 332 57,4 100 17,3 146 25,3 578 100 397 68,7 92 15,9 89 15,4 0 0 578 100 390 67,5 188 32,5 578 100
15 a 19 anos 332 56,6 88 15 167 28,4 587 100 318 54,2 81 13,8 131 22,3 57 9,7 587 100 413 70,4 174 29,6 587 100
35 a 44 anos 263 52,1 77 15,2 165 32,7 505 100 298 59 24 4,8 120 23,8 63 13 505 100 282 55,8 223 44,2 505 100
65 a 74 anos 465 81,6 33 5,8 72 12,6 570 100 551 96,7 2 0,4 9 1,6 8 1,4 570 100 357 62,6 213 37,4 570 100
Total 1742 61,5 356 12,6 735 25,9 2.833 100 2.157 76,1 199 7 349 12,3 128 4,5 2.833 100 1.880 66,4 953 33,6 2.833 100
Interior II
5 anos 209 52,2 41 10,2 150 37,5 400 100 400 100 0 0 0 0 0 0 400 100 309 77,2 91 22,8 400 100
12 anos 177 46,9 52 13,8 148 39,3 377 100 251 66,6 64 17 62 16,4 0 0 377 100 252 66,8 125 33,2 377 100
15 a 19 anos 232 49,8 73 15,7 161 34,5 466 100 312 67 46 9,9 87 18,7 21 4,5 466 100 309 66,3 157 33,7 466 100
35 a 44 anos 241 54,5 68 15,4 133 30,1 442 100 309 69,9 15 3,4 66 14,9 52 12 442 100 250 56,6 192 43,4 442 100
65 a 74 anos 312 82,1 13 3,4 55 14,5 380 100 373 98,2 1 0,3 4 1,1 2 0,5 380 100 228 60 152 40 380 100
Total 1171 56,7 247 12 647 31,3 2.065 100 1.645 79,7 126 6,1 219 10,6 75 3,6 2.065 100 1.348 65,3 717 34,7 2.065 100
Estado
5 anos 658 55,2 130 10,9 405 33,9 1.193 100 1.193 100 0 0 0 0 0 0 1.193 100 897 75,2 296 24,8 1.193 100
12 anos 678 55,7 200 16,4 339 27,9 1.217 100 849 69,8 184 15,1 184 15,1 0 0 1.217 100 809 66,5 408 33,5 1.217 100
15 a 19 anos 643 53,5 189 15,7 370 30,8 1.202 100 731 60,8 138 11,5 254 21,1 79 6,6 1.202 100 820 68,2 382 31,8 1.202 100
35 a 44 anos 632 52,4 198 16,4 377 31,2 1.207 100 701 58,1 49 4,1 315 26,1 142 12 1.207 100 651 53,9 556 46,1 1.207 100
65 a 74 anos 953 79,6 75 6,3 169 14,1 1.197 100 1.140 95,2 5 0,4 37 3,1 15 1,3 1.197 100 734 61,3 463 38,7 1.197 100
Total 3564 59,2 792 13,2 1.660 27,6 6.016 100 4.614 76,7 376 6,2 790 13,1 236 3,9 6.016 100 3.911 65 2.105 35 6.016 100
TotalNenhum 1 dente 2 ou mais Total OIDP = 0 OIDP = 1 Total
Necessidade de Tratamento Básico de Cárie
Dentária Necessidade de Tratamento Periodontal Básico Impactos Dentais na Vida Diária
Sem
Necessidade Sangramento Cálculo
Bolsa
Rasa
A Tabela 2 mostra os valores finais das estimativas de necessidade de tratamento em
atenção primária e secundária em saúde bucal de acordo com grupo etário e domínio de
estudo.
Tabela 2. Distribuição das estimativas populacionais para cada grupo etário e domínio
das necessidades em atenção primária e secundária. Minas Gerais, 2012.
Atenção Primária Atenção Secundária
Grupo Etário Baixo Médio Alto Endo Perio Orto Prótese
Capital
5 anos 49,70 15,20 35,00 0,11 - 67,10 -
12 anos 49,50 33,70 16,80 0,06 - 19,50 -
15 a 19 anos 36,10 35,80 28,10 0,11 0,00 14,60 9,30
35 a 44 anos 22,90 39,60 37,50 0,06 2,40 - 63,60
65 a 74 anos 65,40 15,90 18,70 0,02 0,00 - 86,90
Interior I
5 anos 57,90 9,60 32,50 0,13 - 52,90 -
12 anos 42,50 32,40 25,10 0,06 - 16,30 -
15 a 19 anos 33,10 31,80 35,10 0,12 0,00 11,20 6,40
35 a 44 anos 31,00 29,80 39,10 0,12 4,40 - 57,80
65 a 74 anos 82,40 5,70 11,90 0,02 0,00 - 65,20
Interior II
5 anos 51,80 10,90 37,30 0,15 - 53,20 -
12 anos 33,30 27,60 39,20 0,08 - 12,50 -
15 a 19 anos 36,00 26,70 37,20 0,12 0,40 14,60 11,40
35 a 44 anos 40,50 22,50 37,00 0,07 0,70 - 48,00
65 a 74 anos 83,20 3,30 13,50 0,03 1,70 - 71,20
Conforme pode ser observado na Tabela 2, a maioria dos indivíduos de 5 anos apresentam
baixa necessidade de atenção primária enquanto que na atenção secundária estes mesmos
indivíduos tem maior necessidade em relação ao tratamento da má oclusão.
Aos 12 anos, este quadro epidemiológico se repete para a Capital e Interior I (municípios
com melhores condições sócio econômicas). No interior II, a maioria dos indivíduos dessa
faixa etária apresenta alta necessidade de atenção primária.
No grupo etário de 15 a 19 anos, as necessidades de atenção primária encontram-se
distribuídas de forma homogênea entre as três categorias de necessidades (baixa, média e
alta). Em relação à atenção secundária, surge a necessidade de prótese nos três domínios e a
condição periodontal no interior II.
Nos indivíduos de 35 a 44 anos, verifica-se que a maior necessidade é em relação a
prótese e a grande maioria dos idosos (65 a 74 anos) é classificada como baixa necessidade de
atenção primária, porém necessidade de prótese é grande nos três domínios, indicando alta
prevalência de edentulismo.
O conjunto de estimativas descrito acima é uma proposta de utilização de dados
epidemiológicos no sentido de subsidiar a gestão. Essas estimativas podem servir como
ferramenta para dimensionar a estrutura operacional necessária na rede de atenção à saúde
bucal, e a partir do estabelecimento da média de ações/procedimentos a serem realizados por
pessoa para cada uma das condições estudadas, pode-se chegar a uma previsão do tempo
necessário para que as necessidades da população adscrita à rede de atenção sejam atendidas.
E, principalmente, podem monitorar o desempenho da atenção primária e da atenção
secundária na rede, de forma a orientar tomadas de decisões que levem a um crescente
equilíbrio da resolubilidade desses níveis de atenção e da operacionalização dos princípios da
universalidade, da regionalização e da integralidade na atenção em saúde bucal no SUS.
Em linhas gerais, os indicadores apontam para a proporção de indivíduos em cada grupo
etário e domínio de modo que, considerando a representatividade do dado para o estado, esta
proporção pode ser aplicada em termos populacionais. Como se tratam de valores percentuais
e médias, seguindo, portanto, esse mesmo raciocínio, pode-se saber da demanda potencial em
qualquer grupo etário e em qualquer município, bem como uma estimativa geral para toda a
população.
Provavelmente existem diferenças entre municípios de uma mesma classificação
socioeconômica mas, neste caso e por questões operacionais, eles foram considerados como
iguais do ponto de vista epidemiológico. Discrepâncias pontuais poderão ocorrer, mas, em seu
conjunto, os dados obtidos através do uso dos indicadores propostos podem ser utilizados no
planejamento das ações, principalmente em nível estadual.
Trata-se de um modelo a ser utilizado e validado e espera-se que seu uso possa trazer
informações importantes no sentido de seu aperfeiçoamento.
Este conjunto de indicadores é uma proposta de utilização de dados epidemiológicos para
gerar estimativas populacionais no sentido de subsidiar a gestão no planejamento e
monitoramento da implantação da Rede de Atenção à Saúde Bucal. Por serem estimativas
obtidas a partir de dados epidemiológicos amostrais, não devem ser tomadas como verdade
absoluta mas pelo que elas de fato são, ou seja, estimativas. No entanto, em seu conjunto, os
dados podem representar bons indicadores de planejamento das ações.
A partir da utilização e validação dos indicadores apresentados espera-se que novas
informações sejam produzidas no sentido de seu aperfeiçoamento como ferramenta a ser
utilizada no processo de organização da atenção em saúde bucal no SUS.
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