incerteza científica e a opinião pública na balança das negociações sobre mudança de clima

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1 A INCERTEZA CIENTÍFICA E A OPINIÃO PÚBLICA NA BALANÇA DAS NEGOCIAÇÕES SOBRE MUDANÇA DE CLIMA ¹ Aímola, L. A. L; ² Silva Dias, P. L. ¹ Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (Procam/Universidade de São Paulo) [email protected] ² Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP), e Área de Ciências Ambientais – Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP) [email protected] RESUMO A questão do papel das incertezas científicas nas negociações internacionais sobre mudança de clima é abordada a partir da perspectiva de um modelo matemático integrado clima-economia-política baseado em agentes. São descritos os principais resultados das simulações preliminares realizadas com o protótipo Proclin. A conclusão geral é que a ciência do clima tem papel relevante, mas limitado para levar os governos a assumirem compromissos para abaterem significativamente suas emissões e ampliar o Protocolo de Quioto. O papel da opinião pública pode desempenhar um peso significativo nesse processo. Palavras-chave: mudanças climáticas; incertezas científicas; opinião pública; negociações internacionais; modelagem integrada; simulação multiagentes. www.interfacehs.sp.senac.br http://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=5&cod_artigo=87 ©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados.Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação completa da fonte. Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

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INCERTEZA CIENTÍFICA E A OPINIÃO PÚBLICA NA BALANÇA DAS NEGOCIAÇÕES SOBRE MUDANÇA DE CLIMA

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    A INCERTEZA CIENTFICA E A OPINIO PBLICA NA BALANA DAS

    NEGOCIAES SOBRE MUDANA DE CLIMA Amola, L. A. L; Silva Dias, P. L.

    Programa de Ps-Graduao em Cincias Ambientais (Procam/Universidade de So Paulo)

    [email protected]

    Instituto de Astronomia, Geofsica e Cincias Atmosfricas da Universidade de So Paulo (IAG/USP), e rea

    de Cincias Ambientais Instituto de Estudos Avanados da Universidade de So Paulo (IEA/USP)

    [email protected]

    RESUMO A questo do papel das incertezas cientficas nas negociaes internacionais sobre

    mudana de clima abordada a partir da perspectiva de um modelo matemtico integrado

    clima-economia-poltica baseado em agentes. So descritos os principais resultados das

    simulaes preliminares realizadas com o prottipo Proclin. A concluso geral que a

    cincia do clima tem papel relevante, mas limitado para levar os governos a assumirem

    compromissos para abaterem significativamente suas emisses e ampliar o Protocolo de

    Quioto. O papel da opinio pblica pode desempenhar um peso significativo nesse

    processo.

    Palavras-chave: mudanas climticas; incertezas cientficas; opinio pblica;

    negociaes internacionais; modelagem integrada; simulao multiagentes.

    www.interfacehs.sp.senac.br http://www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=5&cod_artigo=87

    Copyright, 2006. Todos os direitos so reservados.Ser permitida a reproduo integral ou parcial dos artigos, ocasio em que dever ser observada a obrigatoriedade de indicao da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citao completa da fonte.

    Em caso de dvidas, consulte a secretaria: [email protected]

  • A Incerteza Cientfica e a Opinio Pblica na Balana das Negociaes Sobre Mudana de Clima

    Amola, L. A. L; Silva Dias, P. L. INTERFACEHS

    2INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em Sade do Trabalho e Meio Ambiente - v.2, n.5, Artigo 7, dez 2007

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    A mdia mundial tem chamado o ano de 2007 de o ano das mudanas climticas.

    Isso se deve, primeiramente, ao fato de o Painel Intergovernamental de Mudanas

    Climticas (IPCC) ter publicado neste ano a quarta srie de trs relatrios de avaliao

    sobre o aquecimento global: o primeiro se concentra sobre as bases cientficas da

    mudana climtica e j foi publicado em Paris em fevereiro. O segundo trata dos impactos

    das mudanas climticas e das vulnerabilidades regionais a essas mudanas, e foi

    divulgado em abril. A ltima parte avalia como podemos mitigar as emisses de gases de

    efeito estufa (GEE) e foi publicado em maio. A principal mensagem desses relatrios

    que as mudanas climticas esto ocorrendo em uma velocidade sem precedentes na

    histria e por isso necessrio tomar duas atitudes bsicas: reduzir drasticamente as

    emisses globais de GEE e comear a se adaptar s mudanas que j se iniciaram.

    Um outro motivo que vrios especialistas em clima tm afirmado que o efeito

    estufa conjugado com o fenmeno climtico El Nio faro de 2007 o ano mais quente j

    registrado, com conseqncias para todo o planeta. Uma confirmao parcial dessa

    previso j se realizou: o inverno no hemisfrio Norte foi o mais quente dos ltimos 128

    anos. A julgar pela grande cobertura dada pela mdia para a publicao dos relatrios do

    IPCC, e a sua grande repercusso na sociedade, espera-se ainda muito mais discusso e

    mobilizao de vrios setores da sociedade ainda este ano sobre o problema do

    aquecimento global.

    O ano de 2007 promete ser tambm um ano de decises polticas importantes

    nesta rea. Pouco tempo depois da publicao do IPCC em Paris, a Unio Europia

    decidiu fixar a meta de reduzir pelo menos 20% de suas emisses de gases do efeito

    estufa (GEE) at 2020. Mas nem tudo neste ano pode representar avanos polticos nesta

    rea. Discusses de bastidores para a 13a Conferncia das Partes que acontecer no

    final do ano em Bali e que definir as polticas de redues de emisses aps o perodo

    de cumprimento do Protocolo de Quioto, 2008-2012 tm indicado que, apesar de vrias

    declaraes recentes de muitos governos sobre a necessidade de ao mais vigorosa a

    partir de 2013, ainda existem muitas dificuldades a serem superadas at que se alcance

    um consenso sobre quem deve nessa prxima etapa reduzir suas emisses e de quanto

    deve ser essa reduo.

    Os Estados Unidos, maior emissor mundial de GEE, se negaram a participar do

    acordo de Quioto, e sua participao em um acordo aps 2012 ser muito importante

    para que haja polticas eficazes de controle do aquecimento global, mas sua posio

    ainda incerta. O Congresso norte-americano tem h muito tempo condicionado um

    compromisso dos Estados Unidos em qualquer acordo global a que pases em

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    3INTERFACEHS Revista de Gesto Integrada em Sade do Trabalho e Meio Ambiente - v.2, n.5, Artigo 7, dez 2007

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    desenvolvimento tais como ndia, China e Brasil tambm assumam metas obrigatrias. De

    outro lado, esses pases ainda resistem fortemente a quaisquer obrigaes de redues

    de emisses, pois, argumentam, precisam crescer para resolver seus graves problemas

    sociais, e cortar suas emisses representa um freio nesse processo.

    O caminho at a ratificao do Protocolo de Quioto demonstrou que o consenso

    entre os pases, e mesmo dentro deles, de difcil obteno. E no parece que as

    negociaes para o prximo perodo sero mais fceis, embora aparentemente haja um

    momento mais propcio a um consenso mais amplo, sobretudo pela publicao dos

    relatrios do IPCC. Sem dvida todos esses acontecimentos podero ter influncia no

    final deste ano em Bali. A esperana que o ano termine com a perspectiva de um

    acordo que amplie aquele j feito em Quioto. Na realidade ainda impossvel prever o

    impacto que os documentos do IPCC tero sobre essas negociaes.

    O estado do conhecimento cientfico sobre as mudanas climticas expresso nos

    relatrios do IPCC tem sido a plataforma a partir da qual os governos, as ONGs e as

    corporaes tomam suas decises sobre o que fazer para lidar com o problema das

    mudanas climticas. Por isso, espera-se que a cada publicao desses relatrios

    assistamos a mudanas cada vez mais significativas nas atitudes dos governos e no

    comportamento geral da sociedade em direo a uma poltica global eficaz de combate s

    mudanas climticas. O motivo bsico a expectativa de que as incertezas cientficas

    sobre o aquecimento global e seus efeitos diminuam sistematicamente. Dessa forma,

    pensa-se, as negociaes tendero cada vez mais a acordos globais mais amplos. Ser

    que a relao entre o avano do conhecimento sobre mudana de clima e os acordos

    internacionais segue essa lgica simples?

    Esses relatrios, embora sejam a melhor informao que temos sobre o assunto,

    esto ainda repletos de incertezas sobre quanto exatamente a temperatura global subiria

    se nada fizssemos para evitar o aquecimento. As incertezas se ampliam

    significativamente quando tentamos prever essas elevaes de temperatura para daqui a

    20, 30, 50 ou 100 anos frente. Uma cascata de incertezas gerada nos modelos de

    circulao geral oceano-atmosfera acoplados, por causa das incertezas nos valores de

    inmeros dos seus parmetros levando a um largo espectro de situaes possveis

    quando se tenta prever quais exatamente seriam os nveis mdios de precipitao e de

    elevao do nvel mdio do mar, e qual a distribuio de impactos nos ecossistemas

    atravs do globo.

    O sistema do clima altamente complexo, envolve no-linearidades, muitas delas

    ainda no muito bem compreendidas, e o fenmeno do aquecimento global e das

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    mudanas climticas resultantes de muito longo prazo. Quando esses modelos so

    usados para calibrar modelos climticos de menor complexidade acoplados a modelos

    ecolgicos e econmicos a situao piora, pois a cascata de incertezas se amplia ainda

    mais quando incorpora o elemento humano, que em muitos aspectos imprevisvel. Em

    geral os cenrios gerados por esses modelos apontam para futuros com inmeros

    impactos negativos em extensas reas do globo, mas a sua intensidade e a poca precisa

    em que ocorreriam so questes ainda sem resposta e no podem ser obtidas

    rapidamente. Para algumas questes as incertezas so intrnsecas e no simplesmente

    estatsticas, o que implica nunca poderem ser reduzidas.

    Parece despropositado falar das incertezas em um momento como este, ps-

    relatrio do IPCC, em que a sociedade parece estar alcanando uma conscientizao

    sem precedentes, cuja mobilizao pode pressionar muito os governos a tomarem

    medidas mais severas no combate ao aquecimento global. Mas os fatos mostram que os

    governos do mundo todo esto avanando muito pouco nos esforos para dar seqncia

    ao Protocolo de Quioto mesmo diante da crescente preocupao da opinio pblica com

    as mudanas climticas e os alertas da ONU, de que o problema representa uma ameaa

    de dimenses semelhantes s de uma guerra. O fato que a grande amplitude das

    incertezas cientficas sobre o tema ainda oferece muito espao para que coexistam vrias

    posies contrrias ao movimento de intensificao de redues de emisses e permite

    que vrios governos possam continuar a resistir a qualquer compromisso formal para

    reduzirem suas emisses de GEE.

    Estudos tm mostrado que os pases formam suas posies nas negociaes

    internacionais sobre mudanas climticas a partir da avaliao de sua vulnerabilidade

    potencial quelas mudanas e dos custos em que incorreriam se viessem a reduzir suas

    emisses. Essa concluso tem sido chamada de teoria do auto-interesse dos pases nas

    negociaes ambientais internacionais, pois preconiza basicamente a idia de que cada

    pas forma suas posies visando unicamente seus interesses nacionais, em oposio a

    qualquer atitude altrusta que busque o bem-estar de outras naes (SPRINZ &

    VAAHATORANTA, 1994).

    Um pas que, segundo essa teoria, estimasse para seu territrio danos climticos

    altos e custos baixos para o abatimento de suas emisses domsticas, tomaria uma

    atitude promovedora de polticas de redues mais severa. Daria o exemplo aos outros

    pases assumindo voluntariamente metas mais ambiciosas de redues e cobraria desses

    pases atitudes semelhantes. Esse comportamento o que observamos, por exemplo, na

    Unio Europia, que assumiu o compromisso acima indicado.

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    Um pas que, ao contrrio do primeiro tipo, estima danos climticos baixos e

    custos de abatimento altos, seguiria o comportamento inverso: resistiria a qualquer acordo

    que o levasse a ter de assumir redues intensas de emisses. Ele pode ser

    caracterizado por uma atitude procrastinadora nas negociaes. O exemplo tpico de um

    protelador so os Estados Unidos. J uma nao que avalia danos climticos altos, e

    custos de abatimento tambm altos, tem uma atitude intermediria entre os casos

    anteriores e sua atitude na maior parte do tempo ambgua, procurando evitar assumir

    custos de abatimento, mas pressionando os outros pases a reduzirem suas emisses.

    Esse o caso, por exemplo, da China, do Brasil e da ndia. Finalmente, o pas que estima

    danos e custos baixos tem uma atitude expectadora, procurando se aproveitar das

    situaes para fazer acordos que o beneficiem em outras reas. Esse o caso, por

    exemplo, da Rssia nas negociaes do Protocolo de Quioto.

    UM MODELO DE NEGOCIAES SOB INCERTEZA

    A partir dessa tipologia, o que podemos esperar daqui para frente em termos das

    negociaes sobre a mudana de clima? Para tentar responder a esta pergunta,

    construiu-se um modelo matemtico que representa as economias nacionais e suas

    emisses de GEE, as vulnerabilidades de cada pas ao aquecimento global e a maneira

    como as expectativas de cada um, em funo das incertezas cientficas, influenciam seu

    papel nas negociaes. Cada pas foi representado como um agente que tem um modelo

    clima-economia no qual alguns de seus parmetros-chave tm incertezas representadas

    por distribuies de probabilidades que mudam ao longo do tempo (AMOLA, 2006).

    Nesse ltimo aspecto, o modelo inovador. Baseia-se em um mtodo ainda pouco

    utilizado para modelagem em mudanas climticas, a Simulao de Sistemas

    Multiagentes. Nele, cada governo faz planos, usa uma metodologia para projetar cenrios

    futuros de mudana de clima e de impactos econmicos, assim como um critrio de

    deciso para escolher sua posio. Para modelar as negociaes propriamente ditas,

    usou-se a Teoria dos Jogos, uma rea da Cincia Econmica que trata do

    comportamento estratgico dos agentes.

    Foram escolhidos alguns parmetros-chave ainda altamente incertos, sobre os

    quais a resoluo das incertezas, ainda que gradual, crucial para antecipar o

    comportamento do clima e da economia, e levar ao mais eficaz. Para o clima, foram

    escolhidos como parmetros incertos a sensibilidade climtica e a inrcia trmica do

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    oceano. Para as economias, a vulnerabilidade s mudanas climticas e os custos

    marginais de abatimento de emisses de GEE. A partir dessa representao, o modelo

    explora cenrios de evoluo dos conhecimentos cientficos sobre o aquecimento global e

    sua influncia no processo poltico internacional.

    O modelo permite realizar simulaes variando-se com diferentes velocidades as

    distribuies de probabilidades para representar a reduo das incertezas e os possveis

    ritmos de tais redues. impossvel prever como se dar a evoluo do conhecimento

    cientfico sobre o clima, a vulnerabilidade de cada pas em seu territrio, bem como os

    custos domsticos de abatimento de emisses, mas no modelo podem-se explorar

    diversos cenrios de reduo de incertezas e fazer uma anlise global dos resultados de

    cada simulao.

    O modelo capaz de reproduzir a tipologia de comportamentos dos pases nas

    negociaes sobre mudana de clima como descritos pela teoria do auto-interesse para

    vrias situaes de incertezas. Com ele podem-se simular cenrios em que a diminuio

    das incertezas se d de forma lenta 5% por dcada ou rpida 20% ou mais por

    dcada, o que significaria a resoluo completa das incertezas na metade deste sculo

    e observar a mudana de comportamento de cada pas toda vez que negocia metas de

    redues de emisses de GEE.

    Assim, por exemplo, um pas que inicialmente protelador nas negociaes, com

    a diminuio das incertezas sobre sua vulnerabilidade e seus custos pode vir a adotar

    uma atitude promovedora de redues de emisses. Pases de comportamento

    intermedirio podem passar a ter posio mais definida, seja pelo lado da ao vigorosa,

    seja pela procrastinao. Promotores podem manter suas atitudes, ou no, e pases

    indiferentes podem se tornar promotores ou proteladores, dependendo do resultado

    final da diminuio das incertezas dos impactos e dos custos esperados.

    A partir dessas mudanas de papis, que implicam diferentes distribuies de

    metas de redues de emisses negociadas entre os pases, possvel avaliar o efeito da

    diminuio das incertezas sobre o aquecimento global e a magnitude dos danos

    econmicos em cada territrio nacional.

    Desenvolveu-se um programa de computador, o Proclin Prottipo para Simular o

    Papel das Incertezas nas Negociaes Climticas , para simular situaes simples,

    considerando inicialmente somente dois grandes blocos de pases, representando as

    naes industrializadas e aquelas em desenvolvimento. Isto , um dos blocos foi calibrado

    com parmetros que representam um grupo de pases ricos com emisses altas,

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    enquanto o outro representa naes com renda mais baixa e emisses ainda reduzidas,

    mas crescendo rapidamente (AMOLA, 2006).

    O objetivo das simulaes saber sob que condies de diminuio das

    incertezas cientficas as futuras negociaes podem gerar polticas que evitem impactos

    climticos severos ainda neste sculo em pelo menos um ou nos dois blocos de pases.

    Considerou-se como dano econmico severo a situao em que o Produto Interno Bruto

    de cada bloco comearia a declinar, levando recesso econmica em virtude das

    perdas advindas do aquecimento global destruio de infraestrutura, quebras de safras

    agrcolas, aumento drstico de doenas infectocontagiosas etc.

    CONCLUSO

    A concluso das simulaes preliminares que somente para redues muito

    rpidas das incertezas, tais como 20% por dcada, as negociaes evitam recesso

    econmica em ambos os blocos de pases. No modelo, isso ocorre apenas em cenrios

    onde o aquecimento se d de forma muito lenta. Para elevaes rpidas de temperatura,

    a recesso inevitvel para os dois blocos mesmo que as incertezas diminuam muito

    rapidamente.

    Algumas simulaes indicaram que se as incertezas no diminussem, ou se o

    fizessem muito lentamente, as recesses econmicas viriam mais rpida e intensamente.

    Isso mostra que a pesquisa cientfica tem papel relevante nas negociaes, mas limitado

    no que se refere eficcia das redues negociadas. Ou seja, o clima pode reagir

    quantidade de emisses mais rapidamente do que mudanas significativas de posio

    dos pases nas negociaes. No modelo, importante lembrar, as mudanas de posies

    ocorrem somente aps os pases obterem um conhecimento cientfico mais seguro. As

    aes so tomadas a partir de nova informao.

    Em um cenrio de incertezas diminuindo lentamente e com pases possuindo

    elevada averso recesso, a seqncia de negociaes simulada evitou a contrao do

    PIB. O resultado indica que a precauo quanto ao que de pior pode ocorrer um fator

    relevante no processo, mesmo que esse cenrio seja considerado de baixa probabilidade.

    Nesse caso, abre-se a oportunidade de uma postura proativa por parte de governos e

    sociedades, e o conhecimento avana junto com as aes preventivas.

    Alm da informao cientfica a averso ao risco um fator chave para levar os

    governos a tratar o problema com a seriedade que ele merece, e nesse sentido a

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    percepo da sociedade com relao s ameaas das mudanas climticas poder ter

    um papel decisivo como elemento de presso, para que se amplie o acordo de Quioto.

    Por isso, na balana das negociaes a mdia e movimentos ambientalistas como o mega

    show Earth Live, liderado pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, realizado

    em julho deste ano, que alcanou dois bilhes de pessoas em todo o mundo pela TV e

    pela internet, podem contribuir de forma decisiva para mudar o panorama poltico sobre

    as mudanas climticas.

    REFERNCIAS

    AIMOLA, L. A. L. Cascata de incertezas, impactos climticos perigosos e negociaes

    internacionais de mudana de clima global: um modelo exploratrio. Tese (Doutorado em

    Cincia Ambiental) Procam/USP. So Paulo, 2006.

    SPRINZ, D., VAAHATORANTA. The Interested-based explanation of international

    environmental policy. International Organization, v.48, n.1, 1994.

    Artigo recebido em 10.09.2007. Aprovado em 01.10.2007.