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Emanuela Guirra da Silva Implicações da atividade extrativista sobre a estrutura populacional, densidade e viabilidade do banco de sementes de Syagrus coronata (Mart.) Beccari Salvador 2010

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Emanuela Guirra da Silva

Implicações da atividade extrativista sobre a

estrutura populacional, densidade e viabilidade

do banco de sementes de Syagrus coronata

(Mart.) Beccari

Salvador

2010

Emanuela Guirra da Silva

Implicações da atividade extrativista sobre a

estrutura populacional, densidade e viabilidade

do banco de sementes de Syagrus coronata

(Mart.) Beccari Dissertação apresentada ao Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia, para a obtenção de Título de Mestre em Ecologia e Biomonitoramento.

Orientadora: Dr a Maria Aparecida José de Oliveira

Salvador

2010

Termo de Aprovação

Implicações da atividade extrativista sobre a estrutura populacional, densidade e

viabilidade do banco de sementes de Syagrus coronata (Mart.) Beccari.

Emanuela Guirra da Silva

Comissão Julgadora:

Prof. Dr. Mauro Ramalho

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Prof. Dr. Eduardo Mariano Neto

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

______________________________________________________________________

Profa. Dra. Maria Aparecida José de Oliveira (Orientadora)

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Este trabalho é dedicado aos catadores e

catadoras; aos coletores de todos os tempos;

aos momentos de silêncio em que aprendem

a decifrar os sinais da natureza. A minha

querida avó Joana, quem muito me ensinou

desses segredos.

Estas Verdades

Estas verdades não são perfeitas porque são ditas. E antes de ditas pensadas. Mas no fundo o que está certo é elas negarem-se a se próprias. Na negação oposta de afirmarem qualquer cousa. A única afirmação é ser. E ser o oposto é o que não queria de mim. .

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" (Heterónimo de Fernando Pessoa)

Agradecimentos

Agradeço aos professores do Instituto de Biologia- UFBA, pelos

conhecimentos compartilhados ao longo desses anos de graduação e pós-

graduação.

A professora Hermínia Bastos por ter acreditado em mim e auxiliado

nos primeiros passos da Iniciação Científica e a professora Maria

Aparecida por me orientar e por favorecer um espaço fértil e construtivo no

processo de desenvolvimento investigativo do mestrado.

Aos amigos de vida (BIO), que tornaram a aprendizagem muito mais

divertida e interessante, em especial: Vanessa, Theo, Fernanda, Dani e

Naty.

Aos muito amados avós: Joana, Alzira, Euzébio e José Gregório por

me proporcionarem terra fértil para o crescimento das raízes.

Aos meus pais, por estarem sempre presente, pelos lindos irmãos que

me deram, pela família que somos e pela vida que tanto amo.

Aos homens e mulheres que pacientemente interromperam seus

afazeres para fornecer informação sobre seus conhecimentos tradicionais,

fundamentais para o desenvolvimento dessa pesquisa.

A Guido por confundir e ressignificar tudo que aprendi.

ÍNDICE

Introdução geral 1

Referência Bibliográficas

4

Capitulo 1

Conhecimento e uso do licurí (Syagrus coronata (Mart.) Beccari) em

uma zona extrativista do semiárido baiano - Caldeirão Grande / BA

Resumo

7

Abstract

8

Resumen

9

1.Introdução

10

2. Materiais e Métodos

12

Caracterização da Área de estudo

12

Espécie estudada

13

Levantamento de dados com a comunidade rural

15

3.Resultado e Discussão

19

Dados socioambientais

19

4 Conclusão

30

5. Referências Bibliográficas

31

Capitulo 2

Implicações da atividade extrativista sobre a estrutura populacional ,

densidade e viabilidade do banco de sementes de Syagrus coronata

(Mart.) Beccari.

Resumo

36

Abstract

37

Resumen

38

1. Introdução

39

2. Materiais e Métodos

41

Caracterização da Área de estudo

41

Espécie estudada

42

Levantamento Ecológico

44

Áreas de coleta

44

Estrutura da população

45

Estádios de desenvolvimento

45

Padrão espacial

47

Densidade e viabilidade do banco de sementes no solo

47

3. Resultado e Discussão

48

Levantamento ecológico

48

Densidade e Estrutura da população

48

Padrão espacial

54

Densidade e viabilidade do banco de sementes no solo

55

4. Conclusão

58

5. Referências Bibliográficas

59

Conclusão geral

65

LISTA DE FIGURAS

Capitulo 1 Figura 1. Município de Caldeirão Grande; nordeste do estado da Bahia-Escala: 1:1. 000.000: Embrapa – 1976/1997. 12 Figura 2. Amêndoa do licuri em beneficiamento (2a) e comercialização (2b). 15 Figura 3.Relação entre o número de informantes e numero de eventos novos. 16

Figura 4.Proporções das categorias de uso citadas pelos extrativista de

Caldeirão Grande para Syagrus coronata (Mart.) Becc. (licuri) no município. 19 Figura 5. Distribuições socioeconômicas da atividade extrativista de S. coronata (licuri) no município de Caldeirão Grande , Bahia. 26 Figura 6. Perfil da renda das famílias extrativistas de Syagrus coronata (Mart.) Becc. (licuri) no município de Caldeirão Grande, Bahia. 27 Figura 7. Percepção ambiental dos informantes quanto ao numero de palmeiras e a produção de frutos nos últimos anos. no município de Caldeirão Grande , Bahia. 29 Capitulo 2 Figura 1. Município de Caldeirão Grande; nordeste do estado da Bahia –Escala: 1:1.000.000 : Embrapa – 1976/1997. 41 Figura 2. Área de amostragem; distribuição das parcelas 1 – 16. 44 Figura 3. Classificação dos estádios de desenvolvimento: plântula (3a), juvenil (3b), imaturo (3c) e reprodutivo (3d). 46 Figura 4. Distribuição de freqüências ontogenéticas da população de S. coronata estudada 51 Figura 5. Correlação densidade das parcelas pela distância da comunidade

extrativista. 54 Figura 6. Embriões de licurí; 6a corte longitudinal e remoção do opérculo da amêndoa; 6b embriões embebidos; 6c embriões viáveis corados com tetrazólio 5%,parte superior, e embriões não viáveis, parte inferior. 56

LISTA DE TABELAS Capitulo 1 Tabela 1. Índices baseados em técnicas de consenso do informante relacionados às plantas (Byg & Baslev 2001; Albuquerque & Lucena 2004) 17 Tabela 2. Índices baseados em técnicas de consenso do informante relacionados aos informantes (Byg & Baslev 2001; Albuquerque & Lucena 2004) 18 Tabela 3. Índice de valor da diversidade (UDs) e equitabilidade (UEs) de uso de Syagrus coronata (Mart.) Becc. (Licurí) no município de Caldeirão Grande, Bahia. 22 Tabela 4. Índice de valor de uso para as diferentes partes (PPV) de Syagrus coronata (Mart.) Becc. (Licurí) no município de Caldeirão Grande, Bahia.

24 Tabela 5. Índices de diversidade e equitabilidade do informante relativos à Syagrus coronata (Mart.) Beccari. (Licurí) no município de Caldeirão Grande, Bahia. 25 Capitulo 2 Tabela 1. Coordenadas geográficas, distancia em km das parcelas a comunidade, direção, altitude e médias da temperatura e umidade das parcelas. 45 Tabela 2. Numero de indivíduos por estádios de desenvolvimento observados para a população estudada de Syagrus coronata em Caldeirão Grande- Bahia. 49 Tabela 3. Índices Morisita (Id) e razão Variância/ média (R) para fases ontogenéticas de Syagrus coronata (Mart.) Becc. (Licurí). 54

INTRODUÇÃO GERAL

A família Arecaceae C. H. Schutz-Schultzenberg abrange atualmente

200 gêneros, aproximadamente 2.800 espécies (Medeiros-Costa, 2002) e

compreende as plantas popularmente conhecidas como palmeiras.

Originárias da América do Sul, apresentam distribuição pantropical,

acompanhada de grande variedade morfológica. Nas florestas dos

neotrópicos, o grupo destaca-se em termos de diversidade, abundância e

riqueza. Nesses ambientes, as palmeiras são bem representadas tanto na

composição estrutural quanto funcional dos habitats (Bernacci et al, 2008).

No século XVIII, Humboldt ao viajar pela região neotropical, chama

a atenção para a íntima relação existente entre os índios Guaraon e

Mauritia flexuosa L., a palmeira buriti (Balick, 1984). Esta relação poderia

ser explicada pela variedade de produtos obtidos a partir dessa planta, que

estão distribuídos entre diversas categorias de uso como alimentação,

forragem, medicinal, construção, artesanal e paisagístico.

Órgãos reprodutivos quanto vegetativos das palmeiras são

aproveitados como produtos florestais não-madeireiros (PFNMs), os quais

apresentam-se como alternativa sustentável ao uso dos solos, já que sua

exploração não exige prática de corte ou queima da vegetação, como

geralmente acontece na agricultura convencional (Sampaio, 2008) .

Uma grande diversidade de espécies nativas de Arecaceae pode ser

encontrada no Brasil, o qual se destaca pelo importante uso comercial e de

subsistência, tanto de produtos processados como in natura. Na flora da

Bahia, encontram-se registrados 15 gêneros, sendo 8 espécies encontradas

no semiárido (Noblick,1991). Todas elas apresentam importância na

economia local, destacando as espécies Syagrus coronata (Mart.) Beccari,

popularmente conhecido como licurí, e Syagrus vagans (Bond.) Haweker, o

licurioba. Essas duas espécies juntas respondem por 90% dos recursos

econômicos gerados a partir do extrativismo de palmeiras, para a

população da caatinga (Bondar 1939a, Noblick 1986,Crepaldi 2001).

O licurí é uma palmeira nativa de região semiárida com distribuição

que vai do norte de Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Alagoas até o sul de

Pernambuco, limitada a oeste pelo rio São Francisco, ocorre na vegetação

da caatinga e matas semidecíduas, bem como na transição com a restinga e

cerrados (Noblick,1991; Lorenzi et al., 2004). A primeira referência de sua

importância econômica para comunidades tradicionais foi citada por Sousa

em 1587 no Tratado descritivo do Brasil.

Recentemente em levantamento etnobotânico, realizado no estado de

Pernambuco junto à tribo Fulni-ô, verificou-se que o licurí apresenta treze

formas de usos distribuídos nas categorias tecnologia e construção. As

folhas são as principais matérias primas, usadas na confecção de artesanato

e representam importante fonte de renda para essa comunidade indígena

(Silva, 2003).

Muitos autores concordam que o conhecimento tradicional das

comunidades humanas é importante na conservação dos ecossistemas; visto

que, geralmente, estas comunidades frequentemente preocupam-se coma

renovação dos recursos explorados (Albuquerque, 2001). No entanto, em

casos como o da comunidade indígena Fulni-ô, as alterações introduzidas

no habitat, associadas aos muitos tipos de exploração desordenada, têm

impactado populações locais de algumas espécies vegetais como o licurí

(Rufino, 2007), o que tem levado esse grupo indígena a comprar folhas

dessa palmeira, oriundas do estado de Alagoas, para confecção do

artesanato (Silva, 2003).

A sobrevivência de indivíduos em estádio reprodutivo é o parâmetro

demográfico que mais influencia o crescimento populacional de espécies

com ciclo de vida longo, como é caso do licurí (Silvertown et al.,

1993;Menges & Quintana –Ascencio, 2004; Adams et al., 2005). Visto que,

é a produção de frutos que mantém o banco de sementes e variabilidade

genética da espécie.

Em áreas de intenso extrativismo, o processo reprodutivo pode ser

afetado diretamente, pela retirada dos frutos e inflorescências, ou

indiretamente, pela retirada de órgãos vegetativos como folhas e raízes. Os

efeitos podem ser observados na redução da produtividade primária, na

alteração dos ciclos de reprodução ou de recrutamento.

Assim, é esperado que nas proximidades das comunidades extrativistas

a proporção de indivíduos adultos seja superior às outras fases do

desenvolvimento, visto que a coleta de frutos ou órgão vegetativos pode

afetar negativamente estabelecimento de indivíduos jovens.

O presente trabalho objetiva inventariar o conhecimento tradicional

e avaliar as possíveis implicações da atividade extrativista sobre a estrutura

populacional, densidade e viabilidade das sementes do solo de Syagrus

coronata ( Mart.) Beccari em uma região de caatinga.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADAMS, V. M.; MARSH,D.M.& KNOX. J. S. 2005. Importance of the

seed bank for population viability and population monitoring in a

threatened wetland herb. Biological Conservation, v.124,n.3,p.425-436.

ALBUQUERQUE, U. P. 2001. Uso, manejo e conservação de florestas

tropicais numa perspectiva etnobotânica: o caso da caatinga no estado

de Pernambuco. Tese de Doutorado (Programa de Pós-Graduação em

Biologia Vegetal) Universidade Federal de Pernambuco, Recife.

BALICK, M. J. 1984. Ethnobotany of Palms in the Neotropics.

Advances in Economic Botany. v. 1, p. 9-23.

BERNACCI, L.C. ; MARTINS, F. R.; SANTOS, F. A. M.; 2008.

Estrutura de estádios ontogenéticos em população nativa da palmeira

Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman (Arecaceae). Acta bot. bras.

22(1): 119-130. 2008

BONDAR, G. 1939a . Importância econômica das palmeiras nativas do

gênero Cocos nas zonas secas do interior baiano. Instituto central de

Fomento Econômico da Bahia, Boletim 5: 16

CREPALDI, I. C. 2001. Syagrus coronata (Martius) Beccari e Syagrus

vagans ( Bondar) Haweker palmeiras economicamente importantes da

caatinga. Tese de doutorado , Instituto de Biociências. Universidade de

São Paulo, São Paulo. 175 p.

LORENZI, H.; SOUZA. H. M.; MEDEIROS COSTA, J. T.;

CERQUEIRAQ, L. S. C.; FERREIRA, E. 2004. Palmeiras Brasileiras e

Exóticas Cultivadas. Instituto Platarum de Estudos da Flora. Nova

Odessa. p.416.

MEDEIROS-COSTA, J. T. 2002. As espécies de palmeiras (Arecaceae) do

Estado de Pernambuco, Brasil. P. 229-236. In: Tabarelli, M. e Silva, J. M.

C. (orgs) Diagnostico da Biodiversidade de Pernambuco. v. 1. SECTMA

& Massangana, Recife. p.721.

MEGES, E.S.& QUINTANA-ASCENIO, P. F. 2004. Population viability

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demographic data. Ecological Monographs, v.74, n.1, p. 79 -99.

NOBLICK, L. R. 1986. Palmeiras das caatingas da Bahia e as

potencialidades econômicas. In Simpósio sobre a caatinga e sua

exploração racional, Brasília, DF, EMBRAPA, p. 99 - 115.

NOBLICK, L. R. 1991. The indigenous palms of the state of Bahia,

Brazil , Dr. Thesis, University of Illinois, Chicago, p. 523

RUFINO, M. U. L. 2007. Conhecimento e uso da biodiversidade de

palmeiras (Arecaceae) no Estado de Pernambuco, nordeste do Brasil.

Dissertação de mestrado (Programa de Pós-Graduação em Biologia

Vegetal). Universidade Federal de Pernambuco, Recife. p.47.

SAMPAIO, M. B.; SCHIMIDT, I. B.; FIGUEIREDO, I.B. 2008.,

Harvesting effects and population ecology of the buriti palm ( Mauritia

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SILVA, V. A. 2003. Etnobotânica Fulni-ô. Tese de Doutorado (Programa

de Pós-Graduação em Biologia Vegetal). Universidade Federal de

Pernambuco, Recife. p.128.

SOUSA, G . S. 1587. Tratado descritivo do Brasil, cap. LV. 4° Ed. Cia.

Edit. Nacional, EDUSP, SP , p. 197 – 199.

SILVERTOWN, J. & FRANCO, M. 1993. Plant demography and

habitat: a comparative approach. Plant Species Biology, v.8, p. 67-73.. v.

11, p. 1025-1045.

CAPITULO 1

Conhecimento e uso do licurí (Syagrus coronata ( Mart.) Beccari) em uma zona extrativista do semiárido baiano - Calderião Grande / BA

RESUMO As palmeiras constituem um dos mais importantes recursos renováves para

as comunidades tradicionais que habitam os trópicos, sendo um dos principais fornecedores de alimento, combustível, artesanato e medicamento. Como produto florestal não- madeireiro (PFNM), é fonte de renda e subsistência para muitas famílias do semiárido. Considerando que as atividades humanas introduzem alterações no habitat, o presente estudo tem como objetivo inventariar o conhecimento tradicional aplicado na atividade extrativista do licuri, Syagrus coronata (Mart.) Beccari, em uma região do semiárido baiano. O estudo contemplou entrevistas participativas semi-estruturadas na comunidade extrativista, onde foram identificadas 142 citações de usos, agrupadas em seis categorias. A parte da planta mais utilizada é o fruto (PPV = 0,31) seguido da folha (PPV= 0,25) e da inflorescência (PPV= 0,24). Foi observado que a atividade extrativista é fonte secundária de renda para a maioria das famílias, realizada principalmente por mulheres, de faixa etária entre 21 e 40 anos, com baixo grau de escolaridade. Recomenda-se desenvolvimento de políticas dirigidas de resgate , valorização e disseminação do conhecimento tradicional local. Palavras Chave: Palmeira, Extrativismo, Caatinga.

ABSTRACT Palms are one of the most important resources for communities living in the tropics; they are an outstanding source of food, fuel, handicrafts and medicines. As non-timber forest products (NTFPs), they are a source of income and livelihood for many families in semi-arid areas. Considering that human activities introduce changes in habitat, this study aims to inventory traditional knowledge applied to the extractive activity of licurí (Syagrus coronata (Mart.) Beccari) in a semiarid region of Bahia. The study methodology includes semi-structured and participatory interviews among the membres of community, especially to the people who are in

charge of the extraction. 142 types of applications were identified and grouped into six categories. The most used plant parts are fruits (PPV = 0.31), followed by leaves (PPV = 0.25) and inflorescences (PPV = 0.24). It has been also observed that licurí harvesting is a secondary source of income for many families, particularly practised by women from 21 to 40 years old and with low educational level. It is recommended the development of policies for assessment, dissemination and recuperation of local traditional knowledge.

Key Words: Palm, Harvesting, Caatinga.

RESUMEN Las palmeras son uno de los recursos más importantes para las comunidades que habitan los trópicos, es un importante proveedor de alimentos, combustible, artesanía y medicinas. Como producto forestal no maderero (PFNM), es fuente de ingresos y de sustento para muchas familias en las zonas semiáridas. Teniendo en cuenta que las actividades humanas introducen cambios en el hábitat, este estudio tiene como objetivo inventariar el conocimiento tradicional aplicado en la actividad extractiva licurí, Syagrus coronata (Mart.) Beccari, en una región semiárida de Bahía. El estudio incluyó entrevistas participativas semi-estructuradas en la comunidad extractivista, donde se identificaron 142 citaciones de usos, agrupados en seis categorías. Las partes de la planta más utilizada es el fruto (VPP = 0,31) seguido de la hoja (VPP = 0,25) y la inflorescencia (VPP = 0,24). Se observó que la cosecha es una fuente secundaria de

ingresos para la mayoría de las famílias, se realiza principalmente por mujeres de 21-40 años y con nivel educativo bajo. Se recomienda el desarrollo de políticas dirigidas a valoración, diseminación y recuperación de los conocimientos tradicionales locales. Palabras Clave: Palmera, Extractivismo, Caatinga

1. INTRODUÇÃO A família Arecaceae é a terceira família botânica mais importante no

que diz respeito ao uso humano, sendo a mais usada por povos indígenas e

rurais na Amazônia (Balick, 1979; Kahn & Henderson, 1999; Macía,

2004). Esse fato poderia ser explicado pelos inúmeros produtos que são

obtidos destas plantas, utilizados como alimento na forma de frutos,

sementes, óleo, seiva, palmito e amido, remédios e fibras das folhas que

são usadas para a fabricação de cordas, tecelagem, escovas, vassouras e

telhado, além do estipe que é usado na construção e como combustível

(Johnson,1998).

Todos estes produtos estão na categoria de Produtos Florestais não-

madeireiros (PFNMs), os quais têm sido utilizados, coletados e manejados

por populações humanas para subsistência e para trocas com outros

produtos durante milhares de anos e tem ganhado atenção nos círculos

conservacionistas (Ticktin, 2004). Considera-se que essa pode ser uma

estratégia de conservação, alternativa para a extração de madeira e o

monocultivo, já que a vegetação é manejada em loco e mantida viva (FAO,

1991). Além disso, populações locais podem obter alimentação e renda

com a extração dos PFNMs (Runk et al., 2004); desde que as estratégias de

manejo adotadas sejam sustentáveis, combinando níveis econômicos de

extração dos produtos com a conservação da biodiversidade (Reis et al.,

2000).

No Equador, Velásquez-Runk (1998) relatou a produtividade e

sustentabilidade do uso da palmeira Phytelephas aequatorialis Spruce, o

marfim vegetal , cujo material extraído das sementes é utilizado para

produção de broches, pequenas esculturas e brinquedos. Nesse estudo,

apesar das coletas serem consideradas não destrutivas, o autor constatou a

diminuição do estabelecimento de plantas jovens causado pelo impacto da

crescente procura pelas sementes, apontando a necessidade de

aprofundamento de estudos de manejo para tornar a extração sustentável.

Embora a maioria das palmeiras ocorrentes no Brasil não estejam

incluídas entre as espécies ameaçadas de extinção, o uso desordenado torna

algumas delas vulneráveis, como é o caso do licuri (Silva et al., 2003),

praticamente desaparecido em Águas Belas, no sertão pernambucano e

municípios vizinhos, pelo intensivo uso para fins artesanais

tradicionalmente praticados pelos Fulni-ô.

O licurí é uma palmeira nativa de região semiárida (Noblick,1991;

Lorenzi et al., 2004) onde as condições climáticas restringem

significativamente as possibilidades de cultivo, especialmente nas épocas

de estiagem. Existe por tanto, uma sensível necessidade de

desenvolvimento de conhecimentos tradicionais que possibilitem o uso dos

recursos locais, que assegurem a subsistência das famílias nos períodos

mais críticos.

Apesar do grande potencial extrativo das palmeiras exposto acima,

faltam trabalhos direcionados para as Arecaceae no Brasil, particularmente,

no nordeste. Dada a grande importância etnoecológica, o resgate do

conhecimento das comunidades tradicionais pode contribuir para a

realização de projetos de biologia da conservação mais objetivos e

abrangentes.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Caracterização da Área de estudo

O município de Caldeirão Grande Bahia, esta localizado no

piemonte da Chapada Diamantina (11° 01.193` S 40° 18.210` W) com

altitude que variam em torno dos 400 metros (Fig. 1). Região de clima

semiárido, com pluviosidade média variando de 700 a 900 mm/ano,

onde predomina latossolo e vegetação predominante caatinga. Nesta

região Syagrus coronata, licurí, ocorre em manchas esparsas que se

destacam no conjunto da vegetação natural e das pastagens.

Figura 1. Município de Caldeirão Grande ; nordeste do estado da

Bahia –Escala: 1:1.000.000 :: Embrapa – 1976/1997.

O município tem uma extensão territorial de 495,837 km2 e dista 333

km da capital do estado, Salvador. A população está constituída por 13.072

habitantes, distribuída em seis comunidades rurais, além da sede

(IBGE,2008).

O povoamento da região teve início em 1895. Quando, em virtude a

dificuldade de água potável, os moradores fixaram-se nas proximidades de

um lajedo, cujas depressões armazenavam as águas das chuvas. Essa

ocupação inicial desenvolveu-se sustentada basicamente pela agricultura e

pela extração do licurí, atividades que ainda hoje desempenham papel

singular na economia local (IBGE,2008).

Espécie estudada

A espécie Syagrus coronata (Mart.) Beccari, pertence à família

Arecaceae, subfamília Arecoídeae, tribo Cocoeae, surtribo Butiineae

(Noblick, 1991). Pode ser encontrado do norte de Minas gerais ao sul de

Pernambuco, passando pelos estados da Bahia, Sergipe e Alagoas (Bondar

1939 a , Henderson et al. 1995). Popularmente conhecido como ouricuri,

nicuri, alicuri ou licurí, é uma espécie predominante da caatinga, embora

também possa estar presente em matas semidecíduas e áreas de transição

com a restinga e o cerrado (Lorenzi et al., 2004).

A espécie possui tronco ereto, 6 - 10 m de altura e até 20 cm de

diâmetro, profundamente anelado. As folhas possuem pecíolos persistentes

e agrupados em cinco fileiras de espirais que ocorrem no ápice do estipe,

formando a “coroa foliar” que designou o epíteto específico coronata (

Crepaldi, 2001).

As folhas são coriáceas, usualmente glaucas em ambas as superfícies e

folíolos agregados em grupos de 2-3; pinas com 60-66 cm de comprimento

e 3,0-3,5 m de largura. Em geral apresentam pontas acuminadas e

assimétricas. O pecíolo apresenta margens armadas de fibras longas, rígidas

e achatadas, semelhantes a espinhos; parte da bráctea estéril é expandida,

com 42-75 cm de comprimento e 6-17 m de largura além de profundamente

sulcada; a ramificação da inflorescência mede 33-51 cm de comprimento,

possuído um número de 48-52 ráquilas, cada uma variando de 25-29 cm

de comprimento. As flores pistiladas são piramidais e possuem sépalas

maiores que as pétalas na antese, medindo 7-12 mm de comprimento e 5-9

mm em largura. As estaminadas dispõem-se em arranjo espiral organizados

em tríades (uma pistilada, duas estaminadas). Contém seis estames e

medem 10-16 mm de comprimento para 4-7 mm de largura. Os frutos são

do tipo drupa e variam entre 2,5 - 3 cm de comprimento e 1,7-2 cm de

diâmetro. Endocarpo truncado na base, com 2-3 mm de espessura nos lados

e 4-6 mm de espessura nas extremidades. A semente é ovóide, 1,4-1,6 cm

de comprimento e aproximadamente 1 cm de diâmetro (Glassman, 1996).

Floresce e frutifica o ano todo, tendo pico de produção entre dezembro e

março ( Bondar , 1938; Noblick ,1991)

Levantamento de dados com a comunidade rural

Com o intuito de obter as informações sobre o conhecimento

tradicional desde a extração, beneficiamento, uso, comercialização de

frutos (Fig. 2), perfil socio-econômico e percepção do ambiente, o estudo

contemplou entrevistas participativas realizadas com mulheres e homens,

de idades variadas e que realizassem algum tipo de atividade extrativista,

em maior ou menor grau de dependência econômica.

Figura 2: Amêndoa do licuri em beneficiamento ( 2a ) e

comercialização ( 2b ).

Durante as entrevistas, foi aplicado um formulário semi-estruturado,

buscando informações sobre o perfil dos informantes, procedimentos de

coleta, formas de uso, percepção do ambiente e possíveis alterações, dos

locais onde praticam extrativismo. Os usos citados foram enquadrados nas

categorias de: alimento, subdividida em alimento do homem, forragem para

animais de criação (porco, galinha, cabra, bode, boi, vaca); artesanato;

combustível; construção; medicinal e outras ( a especificar).

Foram consultados um total de 30 informantes, com idades que

variaram entre 19 e 82 anos.

A suficiência amostral foi verificada por saturação, através do

cálculo da curva de rarefação (Albuquerque & Lucena 2004) que mede o

número de eventos novos informados pelo número de informantes,

identificando assim a saturação da amostra ( Figura 3).

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31

Numero de informantes

Num

ero

de e

vent

os n

ovos

Nº de Eventos Novos

Nº de informantes

Figura 3: A relação entre o número de informantes e numero de eventos novos.

Para avaliação do grau de consenso entre os informantes, foram

utilizados como referências os índices descritos nas Tabelas 1 e 2.

Tabela 1. Índices baseados em técnicas de consenso do informante relacionados às plantas (Byg & Baslev 2001; Albuquerque & Lucena 2004)

Índices

Cálculo Descrição

Valor para parte da planta (PPV)

Razão entre o número total de usos reportados para cada parte da planta e o somatório de usos reportados para aquela planta.

Indica diferença no número de usos das partes da planta e aponta a parte da planta mais utilizada.

Valor da diversidade do uso (UDs)

Número de indicações registradas por categorias de uso dividido pelo número total de indicações para todas as categorias.

Mede como uma espécie é usada em uma categoria e como esta contribui para o valor de uso total.

Valor de equitabilidade de uso (UEs)

Valor da diversidade do uso dividido pelo valor máximo do referido índice.

Mede como diferentes usos contribuem para o uso total de uma espécie, independente do número de categorias de uso.

Tabela 2. Índices baseados em técnicas de consenso do informante relacionados aos informantes (Byg & Baslev 2001; Albuquerque & Lucena 2004) Índices Cálculo Descrição

Valor da diversidade do informante (IDs)

N°de usos citados por determinado informante / n° de usos totais (total de citações de todos os informantes).

Mede como muitos informantes usam uma espécie e como o seu uso está distribuído entre eles.

Valor da equitabilidade do informante (IEs)

Valor da diversidade do informante dividido pelo valor máximo do referido índice.

Mede como o uso de uma planta está distribuído entre os informantes , independente do número de informantes que usam a planta.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dados socioambientais

Através das entrevistas obtiveram-se 142 citações de usos,

distribuídas nas categorias: Alimento para o homem, forragem, medicinal,

construção, artesanato e combustível (Figura 4).

Categorias de Usos

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

Alimento Forrajem Medicinal Construção Artesanato Combustível

Figura 4. Proporções das categorias de uso citadas pelos extrativista de Caldeirão Grande para Syagrus coronata (Mart.) Becc. (licuri) no município.

Byg & Baslev (2001), justificaram que a importância local de dada

espécie vegetal é atribuída em função da quantidade de usos existentes na

comunidade. Esses autores estudaram espécies de palmeiras utilizadas em

três comunidades extrativistas situados nos arredores de áreas de floresta

protegidas, em Madagascar. Segundo eles, a importância de uma planta

para um determinado grupo humano seria, então,o resultado de uma

medida da diversidade de aproveitamento da espécie. Nessa concepção, o

licurí se destaca em importância em zonas de caatinga como município de

Caldeirão Grande, no estado da Bahia e em Buíque, semiárido

pernambucano, onde foram reportadas um total de 640 citações para a

espécie.

A contribuição dos diferentes usos para a utilidade total da planta

varia muito para uma espécie com elevado número de usos; geralmente o

que se observa-se é que poucos desses usos são responsáveis pela maioria

das citações, sendo os demais mencionados por poucos informantes.

Assim, verifica-se que alguns usos contribuem mais fortemente para o

número total de citações (Byg & Baslev ,2001).

Entre as categorias identificadas em Caldeirão Grande, (Figura 4) , o

uso para alimentação humana foi citado por todos os informantes , referido-

se a extração do palmito e principalmente ao consumo do fruto in natura ou

processado em forma de óleos, leite ou cocada.

Foi relatado que em épocas de seca mais intensa, quando a escassez

cônica de alimento na região é mais severa, as pessoas que não dispunham

de recursos faziam o “bró” para saciar a fome. O “bró” consistia em uma

farinha a base de fibras, feita a partir do esmagamento do estipe.

Em termos nutricionais o licurí tem despertado o interesse científico

, sendo sugerido como alternativa de suprimento alimentar para as famílias

de região semi árida e como complemento vitamínico de escolares da área

rural da caatinga baiana (Crepalde et.al., 2001). Nesse estudo, a análise da

composição nutricional indicou que o fruto é altamente calórico, sendo

lipídios e proteínas os principais componentes da amêndoa e o β-caroteno

um importante constituinte da polpa.

Recentemente o de engenharia de alimentos do Instituto Federal da

Bahia- IFBA propôs a produção de barras de cereais e sorvete à base de

licurí. O caráter forrageiro, da espécie também foi observados nos estudos

de Gonçalves et al. (2005) onde relata-se que pequenos produtores da

caatinga baiana preparam artesanalmente uma ração triturando frutos

frescos e secos de licurí, cuja análise mostrou ser de boa qualidade

microbiológica.

Nas entrevistas foram declarados o uso das folhas (palha) e dos

frutos para alimentação de animais domésticos e mais genericamente o

consumo dos frutos pelos animais silvestres. Interessante notar que os

ruminantes ingerem os frutos do licurí, consomem o mesocarpo e

regurgitam a semente, que passa a ser chamado ¨licurí de gado¨ e também

é coletado e aproveitado pela população local. Foi observado durante as

visitas a campo que esses frutos regurgitados possuem maior facilidade

para germinação, entretanto essa afirmação carece de testes empíricos

quantitativos.

A terceira categoria mais citada foi artesanato, incluindo vassouras,

esteiras, cestos (bogó) e chapéus, que são colocados a venda uma vez por

semana na a feira da cidade. Na zona rural cada família costuma produzir

seus próprios utensílios com o licurí.

O uso da palmeira para fins medicinais, combustível e de construção

foram menos recorrentes, mas ainda assim significativos. Nessas

categorias, foram identificados indícios de erosão do conhecimento

tradicional, sendo que a maior parte dos usos foram citados pelos

informantes de maior idade, havendo informantes que declaravam ter a

informação do uso, mas nunca ter usado.

Como uso medicinal a raiz foi citada como remédio contra

hidrofobia ou “cachorro doido”, a inflorescência é usada para purificar ou

“clarear” água, disenteria, enfermidade femininas referidas como

“quentura” e remédio para o gado e o endocarpo dos frutos jovens foram

referidos como colírio.

Na produção de energia, foram citados como combustíveis

prioritariamente a folha “palha”, por sua fácil combustão, seguidos da

casca dos frutos seco ( resíduo do beneficiamento da amêndoa), do ingaço

( esqueleto da inflorescência seco), a estipe e a base persistente do pecíolo

“garra”. Para fins de construção a palha foi o órgão vegetativo mais citado,

usado na construção de ranchos ( casas de palha ) , telhados e abrigos para

os animais; seguido da estipe que embora usada, é pouco apreciada para

construção por sua baixa resistência.

Tabela 3. Índice de valor da diversidade (UDs) e equitabilidade (UEs) de uso de Syagrus coronata (Mart.) Becc. (Licurí) no município de

Caldeirão Grande , Bahia.

Categori

as de Uso

UDs UEs

Alimentaç

ão

0,24 1

Forragem 0,22 0,88

Combustív

el

0,12 0,48

Artesanato 0,20 0,80

Construçã

o

0,09 0,37

Medicinal 0,13 0,51

Os valores encontrados em Caldeirão Grande (Tabela 3) evidenciam

que a categoria que mais contribui para o uso de Syagrus coronata é a

alimentação humana valor de diversidade do uso (UDs) igual a 0,24 , valor

máximo também observado no índice de equitabilidade de uso (UEs) 1,0 ;

seguida pelas categorias de alimentação animal, artesanato, medicinal,

combustível e construção. Dentro dessas categorias as partes da planta que

mais são aproveitadas são o fruto (PPV 0,31), a folha (PPV 0,25) e a

inflorescência (PPV 0,24), tabela 4.

Os valores encontrados em Caldeirão Grande, Bahia, corroboram os

observados em Buíque, Pernambuco, até então único estado que apresenta

dados de investigação etnobotânica da espécie publicados. Segundo Rufino

(2007), em Buíque a alimentação humana também é o fator que mais

contribui para o uso da palmeira do licurí, apresentando UD 0,27 e UE 1,0;

sendo a amêndoa citada como principal recurso alimentício tanto para

homens quanto para animais (PPV 0,48).

Tabela 4. Índice de valor de uso para as diferentes partes (PPV) de Syagrus coronata (Mart.) Becc. (Licurí) no município de Caldeirão Grande , Bahia.

Parte da

planta

Licurí

Fruto 0,31

Folha 0,25

Inflorescên

cia

0,24

Estipe 0,17

Raiz 0,08

Para avaliar se os informantes conheciam aproximadamente o

mesmo número de usos e identificar o quanto cada um deles conhece do

total de usos citados, foram calculados os índices da diversidade (IDs) e de

equitabilidade (IEs) do informante ( Tab. 5).

Tabela 5. Índices de diversidade e equitabilidade do informante relativos a Syagrus coronata (Mart.) Becc. ( Licurí) no município de Caldeirão Grande, Bahia.

Índice Licurí

Diversidade do

informante

(IDs)

0,02 - 0,05

Equitabilidade do

informante(IEs

)

0,28 -1

Os valores de diversidade do informante (IDs) encontrados variam

entre 0,02-0,05. Sendo que, 43% estão na faixa entre 0,02 e 0,03; 37%

entre 0,03 e 0,04 e 20% entre 0,04 e 0,05; dessa maneira, identificamos que

a maioria dos informantes conhece menos da metade dos usos citados e

apenas três deles mostraram conhecer todos os usos. Nos valores de

equitabilidade dos informantes (IEs), observou-se uma variação entre 0,28-

1,0 com média de 0,44, indicando que na comunidade não há

homogeneidade no conhecimento de uso do licurí e que a maioria das

pessoas declararam poucos usos.

Além disso, foi observado que a atividade extrativista é fonte

secundária de renda para a maioria das famílias, realizada principalmente

por mulheres de faixa etária entre 21 a 40 anos e com baixo grau de

escolaridade (Figura 5).

Participação do Extravismo na Renda Familiar

Fonte exc lusiva de renda

Fonte secundária de renda

Fonte teciária de renda

Proporção dos Extrativistas por Genero

masculino

feminino

Proporção dos Extrativistas por Faixa Etária

Até 20 anos

Entre 21 e 40

Entre 41 e 60

Entre 61 e 80

Mais de 80

Proporção do Grau de Escolaridade dos Informantes

Não alfabetizada

Alfabetizada*

Fund. incompleto

Fund. completo

Médio incompleto

Médio completo

Figura 5. Proporções socioeconômicas da atividade extrativista de Syagrus coronata (Mart.) Becc. (licuri) no município de Caldeirão Grande , Bahia.

Poucas são as famílias que dependem do extrativismo como fonte

exclusiva de renda. A atividade está basicamente associada ao trabalho no

campo, secundariamente aposentadoria e eventualmente com outras

atividades econômicas (Figura 6).

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Extrativismoesclusivo

Extrativismo +Trab.Rural

Extrativismo +Aposentadoria

Extrativismo +Func. publico

Extrativismo +Trab.Rural +

Aposentadoria

Renda familiar

Fam

ilias

Figura 6. Perfil da renda das famílias extrativistas de Syagrus coronata (Mart.) Becc. (licuri) no município de Caldeirão Grande, Bahia. Embora o extrativismo esteja intimamente associado ao trabalho

rural, o que se percebe é que muitas vezes coletores não são proprietários

de terras, trabalhando como meeiros (dividindo a produção com os donos

da terra onde coletam) ou simplesmente adentrando nos pastos sem

autorização. Essa é uma questão conflitiva localmente, já que muitos dos

fazendeiros proíbem e fiscalizam suas terras para impedir o acesso dos

extrativistas que não sejam seus meeiros.

As coletas, principalmente dos frutos, costumam ser diárias com

venda semanal e os locais de extrativismo preferências são selecionados

por dois critérios: abundância e proximidade das residências.

Quando perguntados sobre qual fase ontogenética de S. coronata era

mais freqüente, 87% dos informantes responderam que era a fase adulta /

reprodutiva justificando que a coleta dos frutos estaria limitando o

crescimento de novas plantas ou que os indivíduos jovens eram eliminados

no momento de aragem da terra e que as plântulas só eram facilmente

encontradas nas “capoeiras” ( matas) fechadas.

A maioria dos informantes também acredita que o número de

licurizeiros reprodutivos diminuiu nos últimos anos, indicando a seca e o

desmatamento para a produção de pastos como principais fatores para essa

redução. Entre os informantes que declararam que existem mais palmeiras

agora que antes, a justificativa foi de que “as pequenas cresceram e

continuam nascendo mais”. Há a idéia de continuidade infinita das

palmeiras, com constante crescimento da população cuja ocorrência está

“por todo o mundo”. Quando perguntados pelo numero de frutos, a maioria

afirmou que está menor nos últimos anos e apontam o corte dos adultos, a

seca e a “podridão” do fruto como responsáveis. Entre os que responderam

que quantidade de licurí está maior estão os que concordam com o

crescimento constante dos licurizeiros. Entre os informantes que citaram

que o número total permanece igual, o relato foi de que a variação é normal

e corresponde a safra de cada ano, assim, existem anos com mais e outros

com menos, mas em geral a quantidade de fruto se mantém (Figura 7).

N umero de P a lmeira no s Ult imo s A no s

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

A umento u D iminuio P ermaneceigual

N ãoo bservo u

Numero de Frutos nos Ultimos Anos

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Aumentou Diminuio Permanece igual

Figura 7. Percepção ambiental dos informantes quanto ao numero de palmeiras e a produção de frutos nos últimos anos. no município de Caldeirão Grande , Bahia. Segundo Albuquerque & Andrade (2002), estudos etnobotânicos

indicam que as pessoas afetam a estrutura de comunidades vegetais e

paisagens, a evolução de espécies individuais, a biologia de determinadas

populações de plantas de interesse, não apenas sob aspectos negativos,

como comumente se credita à intervenção humana, mas também

beneficiando e promovendo os recursos manejados. Assim, com a

finalidade de avaliar possíveis impactos ecológicos da comunidade

extrativista de licurí no município de Caldeirão Grande, relacionou-se a

percepção ambiental dos informantes, com aspectos da ecologia

populacional da espécie, porque além de se preservar os recursos genéticos

ha que se preservar as diversas formas do conhecimento.

4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

O conhecimento tradicional em Caldeirão Grande encontra-se

categorizado por faixa etária, sexo, nível de escolaridade e condição

econômica. Isso implica que existem grupos da sociedade onde esse

conhecimento se mantém e se propaga pelas gerações. Em termos gerais,

os informantes que manifestaram o conhecimento tradicional da região,

correspondem as classes de menor renda, baixa escolaridade e em sua

grande maioria pertertencendo a gênero femenino. Assim, a distribuição do

conhecimento e da atividade extrativista predomina entre os grupos menos

favorecidos sendo interpretadas de forma depreciativa perante os demais

grupos.

Ficou evidenciado que o extrativismo de Syagrus coronata, em

Caldeirão Grande é uma forma de complemento à renda familiar, que

necessita ser resgatando enquanto identidade cultural.

Entre os informantes, existe a percepção de um ambiente dinâmico,

onde oscilações acontecem mas e são associadas a frequências temporais

determinadas e que o recurso não se acabará. Apesar disso, alguns dos

informantes admitem que alterações antrópicas no habitat e a falta de

chuva estejam afetando profundamente o ciclo da palmeira.

Faz-se necessário o desenvolvimento de políticas de valorização e

disseminação do conhecimento tradicional fragilizado pelos [des] valores

dos sistemas econômicos predominantes.

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CAPITULO 2

Implicações da atividade extrativista sobre a estrutura populacional e densidade do banco de sementes de Syagrus coronata ( Mart.) Beccari.

RESUMO Estudos de dinâmica populacional de plantas são úteis para avaliar a persistência de populações em longo prazo. Nesse estudo, são analisados alguns aspectos demográficos, como estrutura populacional, número de indivíduos reprodutivos por hectare, além da densidade e viabilidade do banco de sementes de licurí, Syagrus coronata ( Mart.) Beccari, em uma região de extrativismo do semiárido baiano. Quanto à estrutura populacional observa-se que em nenhuma das 16 parcelas a população apresenta distribuição diamétrica do tipo hipérbole negativa (J invertido), podendo ser um indicativo de instabilidade e baixa capacidade de auto-regeneração. Houve distribuição agrupada para todos os estádios de desenvolvimento, com uma média de 97,5 indivíduos reprodutivos/ha. A viabilidade do banco de sementes do solo foi baixa, observada em apenas 8,3% das sementes coletadas. Sugere-se a elaboração de um plano de manejo, associado a medidas de educação ambiental, resgate e valorização do conhecimento tradicional. Fazem-se necessárias políticas que assegurem a continuidade das atividades extrativista, que sejam compatíveis com o recrutamento e o desenvolvimento de novos indivíduos, evitando perda de diversidade genética. Palavras Chave: Semiárido, Ecologia, Extrativismo

ABSTRACT Studies of population dynamics of plants are useful to evaluate the long-

term persistence of populations. In this study, we analyze some aspects of demographic behaviour such as the structure of the population, the number of breeding individuals per hectare, and also the density and viability of the seed bank of licurí, Syagrus coronata (Mart.) Beccari, in a semi-arid region of Bahia where licurí extraction happens. Concerning the population structure, it has been observed that in any of the 16 plots the diameter distribution of the population has negative hyperbole type (J inverted), what may be indicative of the instability and low capacity for self-regeneration. There was clumped distribution at all stages of development, with an average of 97.5 reproductive individuals per hectare. The viability of soil seed bank was low, seen positive by only 8.3% of the seeds. It suggests creating a plan of management, together with measures of environmental education, rescue and recovery of traditional knowledge. Policies are needed to ensure the continuity of local extractive activities, but also recruiting and promoting the development of new individuals, avoiding the loss of genetic diversity. Key Words: Semi-arid, Ecology, Harvesting

RESUMEN Los estudios de dinámica poblacional de plantas son útiles para evaluar la persistencia de poblaciones en el largo plazo. En esta investigación, se analizan algunos aspectos del comportamiento demográfico, tales como la estructura de la población, el número de individuos reproductores por hectárea, además de la densidad y la viabilidad del banco de semillas de Licurí, Syagrus coronata (Mart.) Beccari, en una región de extractivismo del semiárido baiano. En cuanto a la estructura de la población se observa que en ninguna de las 16 parcelas hay la distribución diamétrica del tipo

hipérbole negativa (J invertida), pudiendo ser un indicativo de la inestabilidad y baja capacidad de auto-regeneración. Hubo distribución agrupada en todos los estadios de desarrollo, con un promedio de 97,5 individuos reproductivos por hectárea. La viabilidad del banco de semillas del suelo fue baja, siendo positivamente por sólo el 8,3% de las semillas. Se sugiere la creación de un plan de gestión, junto con medidas de educación ambiental, rescate y recuperación de los conocimientos tradicionales. Las políticas son necesarias para garantizar la continuidad de las actividades extractivistas locales pero también favoreciendo el recrutamiento y desarrollo de nuevos individuos, evitando la pérdida de diversidad genética. Palabras clave: Semiárido, Ecología, Extractivismo

1. INTRODUÇÃO

Do ponto de vista biológico, o conhecimento da história de vida da

espécie alvo e de seu comportamento demográfico (isto é, estrutura

populacional, taxa de regeneração e número de indivíduos produtivos por

hectare) é essencial para alcançar uma prática de manejo sustentável

(Sunderland & Dransfield, 2002 apud Escalante at al., 2004).

A estrutura de uma população é a expressão das oportunidades

experimentadas por cada membro no curso de seu desenvolvimento e

resulta de um conjunto de variáveis bióticas e abióticas, como herbivoria,

estrutura genética, disponibilidade e competição por recursos,

heterogeneidade ambiental, habilidade de dispersão, oportunidades de

recrutamento e riscos de mortalidade (Hutchings, 2003; Barot et al., 1999 )

. A estrutura pode ser utilizada para avaliar a vitalidade atual de uma

população, através da proporção de indivíduos entre os estádios iniciais e

finais do ciclo de vida (Oostermeijer et al., 1992; Oostermeijer et al.,

1994).

O potencial de regeneração das plantas exploradas é importante para

entender a dinâmica dessas populações, pois a extração vegetal pode afetar

a demografia de diversas maneiras, conforme a parte da planta explorada,

quantidade, idade dos indivíduos , época , além das formas de manejo

empregadas nas coletas (Ticktin,2004). Apesar disso, poucos estudos têm

avaliado eventos de regeneração natural de espécies alvo de extrativismo

(Matos & Watkinson, 1998; Cintra & Terborgh, 2000; Silva & Tabarelli,

2001), fundamentais para entender as implicações sobre a sobrevivencia

dessas populações vegetais.

Uma variável indicadora do potencial de regerenação das populações

é o banco de sementes, ou a reserva de sementes viáveis, potencialmente

capazes de constituir plantas adultas, presentes no solo, sobre ele ou

associadas à serapilheira (Simpson et al. 1989; Fenner, 1995)

Nas regiões semiáridas, dadas as limitações climáticas para a

consolidação dos cultivos, especialmente nos períodos e estiagem, as

atividades extrativistas tornam-se alternativas de subsistência para muitas

famílias. Em Caldeirão Grande - BA, foram reportadas 142 citações de

usos o licurí, Syagrus coronata (Mart.) Beccari , que foram agrupadas nas

categorias de alimento, forragem, combustível, artesanato, construção e

medicinal . Nessa região, a parte da planta mais utilizada é o fruto; cuja

exploração desordenada poderia afetar o banco de semente, reduzindo o

recrutamento e limitando a renovação da população adulta de licurizeiros.

Considerando a importância de avaliar as fases de regeneração

natural do licuri e compreender as possíveis implicações da atividade

extrativista sobre a população, este estudo tem como objetivos: i) Analisar

a estrutura populacional de Syagrus coronata (Mart.) Beccari no entorno da

comunidade extrativista e ii) Avaliar densidade e viabilidade do banco de

sementes do solo , identificando possíveis modificações espaço-temporais

destes parêmetros.

Pretende-se, gerar informações que possam contribuir para o

desenvolvimento de estratégias de manejo que assegurem simultaneamente

a conservação das populações de Syagrus coronata e uma exploração

econômica sustentável pelas comunidades extrativistas.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Caracterização da Área de estudo

O município de Caldeirão Grande Bahia, esta localizado no

piemonte da Chapada Diamantina (11° 01.193` S 40° 18.210` W)

com altitude que variam em torno dos 400 metros (Fig. 1). Região de

clima semiárido, com pluviosidade média variando de 700 a 900

mm/ano, onde predomina latossolo e vegetação predominante

caatinga. Nesta região Syagrus coronata, licurí, ocorre em manchas

esparsas que se destacam no conjunto da vegetação natural e das

pastagens.

Figura 1. Município de Caldeirão Grande ; nordeste do estado da

Bahia –Escala: 1:1.000.000 :: Embrapa – 1976/1997.

O município tem uma extensão territorial de 495, 837 km2 e dista 333

km da capital do estado, Salvador. A população está constituída por 13.072

habitantes, distribuída em seis comunidades rurais, além da sede (IBGE,

2008).

O povoamento da região teve início em 1895. Quando, em virtude a

dificuldade de água potável, os moradores fixaram-se nas proximidades de

um lajedo, cujas depressões armazenavam as águas das chuvas. Essa

ocupação inicial desenvolveu-se sustentada basicamente pela agricultura e

pela extração do licurí, atividades que ainda hoje desempenham papel

singular na economia local (IBGE, 2008).

Espécie estudada

A espécie Syagrus coronata (Mart.) Beccari, pertence à família

Arecaceae, subfamília Arecoídeae, tribo Cocoeae, surtribo Butiineae

(Noblick, 1991). Pode ser encontrado do norte de Minas gerais ao sul de

Pernambuco, passando pelos estados da Bahia, Sergipe e Alagoas (Bondar

1939 a , Henderson et al. 1995). Popularmente conhecido como ouricuri,

nicuri, alicuri ou licurí, é uma espécie predominante da caatinga, embora

também possa estar presente em matas semidecíduas e áreas de transição

com a restinga e o cerrado (Lorenzi et al., 2004).

A espécie possui tronco ereto, 6 - 10 m de altura e até 20 cm de

diâmetro, profundamente anelado. As folhas possuem pecíolos persistentes

e agrupados em cinco fileiras de espirais que ocorrem no ápice do estipe,

formando a “coroa foliar” que designou o epíteto específico coronata

(Crepaldi, 2001).

As folhas são coriáceas, usualmente glaucas em ambas as superfícies e

folíolos agregados em grupos de 2-3; pinas com 60-66 cm de comprimento

e 3,0-3,5 m de largura. Em geral apresentam pontas acuminadas e

assimétricas. O pecíolo apresenta margens armadas de fibras longas, rígidas

e achatadas, semelhantes a espinhos; parte da bráctea estéril é expandida,

com 42-75 cm de comprimento e 6-17 m de largura além de profundamente

sulcada; a ramificação da inflorescência mede 33-51 cm de comprimento,

possuído um número de 48-52 ráquilas, cada uma variando de 25-29 cm

de comprimento. As flores pistiladas são piramidais e possuem sépalas

maiores que as pétalas na antese, medindo 7-12 mm de comprimento e 5-9

mm em largura. As estaminadas dispõem-se em arranjo espiral organizados

em tríades (uma pistilada, duas estaminadas). Contém seis estames e

medem 10-16 mm de comprimento para 4-7 mm de largura. Os frutos são

do tipo drupa e variam entre 2,5 - 3 cm de comprimento e 1,7-2 cm de

diâmetro. Endocarpo truncado na base, com 2-3 mm de espessura nos lados

e 4-6 mm de espessura nas extremidades. A semente é ovóide, 1,4-1,6 cm

de comprimento e aproximadamente 1 cm de diâmetro (Glassman, 1996).

Floresce e frutifica o ano todo, tendo pico de produção entre dezembro e

março (Bondar , 1938; Noblick ,1991)

Levantamento Ecológico Áreas de coleta

Para realização deste estudo foi considerado ponto zero, a praça

principal da cidade, no centro da praça foi marcado a coordenada

geográfica. A partir do ponto zero foram sorteadas as distâncias e direção

das áreas de coleta de dados (tabela 1), tendo como referência os pontos

cardiais (leste, oeste, norte e sul). Foi amostrada uma área total de 4

hectares , dividida em 16 parcelas randomicamente dispostas no entorno

da comunidade extrativista (Fig.2).

Figura 2. Área de amostragem; distribuição das parcelas 1 – 16.

Em cada área sorteada foi lançada uma parcela de 50 m x 50 m, cada

parcela foi delimitadas com barbante grosso e marcadas com uma estaca

em cada ponta, no centro de cada parcela foram tomadas as coordenadas de

localização geográfica, distancia em relação ao ponto zero, direção, altitude

e médias de temperatura e umidade (Tabela 1).

Tabela 1. Coordenadas geográficas, distancia em km das parcelas ao ponto zero (comunidade), Rumo, altitude e médias da temperatura e umidade das parcelas.

Estrutura da população

Estádios de desenvolvimento

Para identificação dos estádios de desenvolvimento da espécie em

campo, foram categorizadas as fases segundo as características

macromorfológicas das plantas. Estabeleceram-se quatro estádios

ontogenéticos, conforme metodologia adaptada (Bernacci et al., 2008) e

identificados na figura 3. Destes, três estádios são pré-reprodutivos e um é

reprodutivo. Estes estádios estão caracterizados da seguinte forma:

(i) Plântula: Presença apenas de eófilos como órgão vegetativo aéreo.

(ii) Juvenil: Presença de folhas semipinactessetas (metafilo) ou

pinatissectas (monofilo) com estipe recoberto pelas bainhas basais.

(iii) Imaturo: Estipe visível pela quedas das bainhas basais, folhas

pinatissectas (monofilos).

(iv) Reprodutivo: Estipe visível, com órgãos ou vestígios de estruturas

reprodutivas.

Considerou-se como eófilos as primeiras folhas pós-cotiledonares

com lâmina expandida, podendo ser inteiras, bífidas ou segmentadas.

Metáfilos como as séries de folhas segmentadas transicionais emitidas

posteriormente aos eófilos e monofilo como tipo de folhas característico

dos adultos (Bernacci et al., 2008).

Figura 3. Classificação dos estádios de desenvolvimento: plântula (3a), juvenil (3b), imaturo (3c) e reprodutivo (3d).

Padrão espacial e distribuição das freqüências

Foram calculadas as razões Variância/ média (R) (Krebs, 1989), e o

Índice de Morisita (Id) para cada um dos estádios (Zar, 1984).

O padrão espacial da espécie foi calculado conforme o índice de

Morisita (Id) para cada um dos estádios (Zar, 1984) a partir da seguinte

expressão:

Id = n (Óx2 – N) / N (N-1); onde: n = número de parcelas;

N = número total de individuos presente por parcela;

Ó x2= somatório do quadrado do número de individuos por parcela.

Considerando-se que valores de Id e R igual a zero indicam padrões

randômicos, acima de zero padrões agrupados e abaixo de zero padrões

uniformes.

As distribuições de freqüência das classes ontogenéticas da

população, em cada parcela, foi analisada com histogramas de freqüências

(Monteiro & Fisch, 2005).

Densidade e viabilidade do banco de sementes no solo

Para avaliar a variação espacial da densidade de diásporos no solo

(isto é, sementes e demais unidades de dispersão como fruto ou endocarpo),

foram aleatorizadas dentro de cada parcela 50m x 50m, 5 sub-parcelas

marcadas com barbante, de 5 m x 5 cm. Nelas foram retiradas amostras na

profundidade de 0 a 3 cm.

A distribuição espacial dos diásporos foram medidas por meio da

distância de cada amostra ao indivíduo reprodutivo mais próximo.

Após a coleta, as amostras foram peneiradas, contados os diásporos e

encaminhadas para o Laboratório de Alternativas Viáveis a Impactos em

Ecossistemas Terrestres (LAVIET – IBIO / UFBA) onde foram submetidos

ao teste de viabilidade.

A viabilidade das sementes intactas foi avaliada pelo teste de

Tetrazólio (Cotrell, 1947; Simpson et al., 1989). Os embriões foram

retirados das sementes e submetidos à embebição direta em água destilada

por um período de duas horas e posteriormente foram colocados por quatro

horas em solução de tetrazólio a 5%. Considerou-se viável, sementes cujos

polos germinativos dos embriões apresentaram coloração vermelha ou rosa

após o tratamento.

3. RESUTADOS E DISCUSSÃO

Levantamento ecológico

Densidade e Estrutura da população

A população amostrada foi representada por um número total

de 2.292 indivíduos, distribuídos em uma área total de 40.000 metros. A

distribuição das frequência entre as classes observadas difere do percebido

pelos extrativistas, no sentido de que a quantidade de plântulas, 333,5

indivíduos/ha, é superior a quantidade de indivíduos reprodutivos, 97,5

indivíduos/ha

(Tabela 2). Sendo esse o estágio ontogenético dominante em 14 das 16

parcelas estudadas.

Tabela 2. Numero de indivíduos por estádios de desenvolvimento

observados para a população estudada de Syagrus coronata em

Caldeirão Grande- Bahia.

Plantulas 1.334

Juvenis 441

Imaturos 127

Reprodutivos 390

Em estudo com a comunidade extrativista, constatou-se que a

maioria dos informantes acredita ser maior a quantidade de indivíduos

reprodutivos quando comparado aos demais estádios de desenvolvimento.

Uma possível explicação seria o fato de os indivíduos reprodutivos estarem

visualmente evidenciados pelo seu grande porte , além disso , por ser esse

o estádio que contumam buscar em suas atividades de coleta, os coletores

entrevistados estão visualmente “treinados” para identifica-los rapidamente

no contexto da vegetação.

Diferente disso, foi observado, a existencia de um grande

número de plantulas, totalizando 58% dos indivíduos amostrados, em

relação aos demais estadios . Entretanto, observa-se que o número de

indivíduos vai reduzindo significativamente nas fases susbequentes,

especialmente no estádio de imaturo onde foram identificados 5% dos

indivíduos amostrados.

A baixa frequencia das ultimas fases pode ser explicada pela

alta mortalidade nas fases iniciais, principalmente das plantulas, tendo que

a espécie forma banco de plantulas, no qual poucas sobrevivem até a fase

adulta.

Após a germinação, as plântulas são ainda sujeitas a altas taxas

de mortalidade (Fenner, 1987), possivelmente causados por fatores

dependentes da densidade de plântulas, como a competição intraespecífica

e o ataque de patógenos e herbívoros (Condit et al., 1994). A mortalidade

dos indivíduos nas fases mais jovens também pode ser associada às

atividades de alterações do habitat. Dentre essas atividades de impácto,

algunas foram observadas em campo , como a aragem da terra para plantio

, o forrajeio e as queimadas para produção de pastos.

Observou-se uma quantidade de individuos jóvens bastante

variável entre as parcelas, refletindo o grau de interferência na cobertura

vegetação de cada área amostrada. O número de juvenís variou desde 45%

na parcela 10 a 0% nas parcelas 4, 11 e 13 com uma média de 28% . O

número de imaturos , é ainda mais reduzido, sendo a categoria com menor

número de indivíduos, onde apenas 7 das 16 parcelas apesentam um

percentual de indivíduos superior a 1%, com uma média de 8%.

Quando comparado em histograma, as distruições das frequências

dos individuos por estádios, observa-se que em nenhuma das pacelas a

população de Syagrus coronata apresentou distribuição diamétrica do tipo

hipérbole negativa (J invertido), como pode ser observado na figura 4.

Figura 4. Distribuição de freqüências ontogenéticas da pupolação de S. coronata estudada.

Segundo Meyer et. al. (1961), a estrutura populacional caracterizada

por uma sequência geométrica decrescente, ou J invertido, individualiza as

populações potencialmente estáveis e auto-regenerativas. Casos contrários

podem indicar interrupção do recrutamento e reprodução da espécie.

Para Syagrus coronata, diferente do que ocorre em muitas outras

espécies de palmeiras, o recrutamento decorre basicamente de reprodução

sexuada, dependendo portanto da viabilidade do banco de sementes. Dessa

forma, considerando que o fruto do licurí é a parte da planta mais utilizada

pelos extrativistas, poderíamos inferir que a atual reserva de sementes

viáveis, potencialmente capazes de constituir plantas adultas, seria

resultante da pressão extrativista da espécie na região. Assim, poderiamos

inferir a existência de uma relação direta entre a distância da comunidade

coletora e as taxas de recrutamento in sito da espécie. No entanto, o que se

observou foi um elevado número de plantulas, em todos os pontos

amostrados , independende de ser maior a frequência de retirada dos frutos

nas áreas mais próximas.

A distância mínima observada foi de 1,59 km e máxima de 8,73 km,

a distância média ficou em torno de 4,22 km, com mais ou menos 2,15 de

variação.

A fim de submeter as variáveis, distância da comunidade extrativista

e estrutura populacional das áreas amostradas, a testes estatíticos de

coorrelação, iniciamente foram avaliadas as hipóteses de normalidade.

Para a variável distância, para um nível de significância de 5% e o valor

obtido de p: 0,06 nao havendo portanto evidências para regeitar

normalidade dos dados de distância da comunidade. A estrutura da

população, apresentou uma média de 83,38 indivíduos/área amostrada, com

uma variação em torno da média de mais ou menos 77,82 . Submetida ao

teste de Shapiro,foi encontrado um valor de p= 0, 001, para um nível de 5%

de significancia, o que determina por tanto, a negação da hipótese de

normalidade.

Para verificar a linearidade das variáveis , foram plotados gráficos

de dispersão (Scatterplot) , onde foi observado a inexistência da relação.

Aplicou-se por tanto, o Teste de Correlação de Kendall procedido para um

nível de 5% de significancia.

O coeficiente da Correlação de Kendall encontrado foi de -0, 075,

valor de p = 0, 685, o que indica que a correlação entre estrutura da

população e distância da comunidade rural é muito fraca para ser válida.

Dessa maneira segundo os resultados estatísticos observados, apesar

dos extrativistas demonstrarem preferência por zonas mais próximas as

suas residências, não se identificam diferenças na estrutura da população

que possa ser diretamente relacionada a essa preferência.

De igual maneira, quando avaliamos os valores de densidade de

indivíduos nas parcelas, considerando todas as categorias ontogenéticas,

nao se observa relação com a distância da comunidade, onde foi obtida a

menor densidade, d = 0, 013, na distancia mais longa , 8.73 km, e maior

densidade, d = 0,14, na média das distâncias, 4.48 km como apresentado na

figura 5 abaixo.

Figura 5. Dispersão da densidade das parcelas pela distância da

comunidade extrativista.

Padrão espacial

Os Resultados encontrados demonstraram que a espécie possui

distribuição agregada em todos os estádios (Tab.3).

Tabela 3. Índices Morisita (Id) e razão Variância/ média (R) para fases

ontogenéticas de Syagrus coronata (Mart.) Becc. ( Licurí).

Estádios Id R

Plântula 1,8 72,6

Juvenil 3,6 78,0

Imaturo 8,4 63,4

Reprodutiv

o

1,5 15,4

A distribuição agrupada é considerada quando os valores de Id e R

são maiores que 1, encontrado para todos os estádios de licurí. Esse padrão

é verificado naturalmente quando em parcelas semelhantes, o número de

indivíduos varia fortemente de uma para a outra (Nascimento et al. 2001;

Sétamou et al. 2000).

De forma geral, padrões espaciais são derivados da biologia da

espécie, da heterogeneidade de habitat e das interações. Padrões espaciais

derivam de processos diferentes; onde o espaçamento está mais relacionado

às interações bióticas enquanto que a formação de grupos pode resultar de

uma predisposição social, a distribuição agrupada de recursos no ambiente

e da tendência da prole em permanecer próximos (Ricklefs, 2003).

Densidade e viabilidade do banco de sementes no solo

Segundo dados do IBGE, Extração Vegetal e Silvicultura 2008, no

município de Caldeirão Grande, são coletadas anualmente 597 toneladas de

frutos de licurí gerando uma renda de 448 mil reais. Fato corroborado na

investigação com os informantes, cujo maior valor de uso para partes da

planta foi identificado para os frutos. Considerando que é a partir da

germinação dessas sementes que acontece o recrutamento e conseqüente

reposição da espécie no habitat, coletou-se 7.506 diásporos para análise de

dispersão e viabilidade.

Distribuídos em uma área total de 400 m2 , com densidade média de

3,7 diásporos por metro quadrado; os diásporos foram encontrados a uma

distância de até 12,5 metros dos indivíduos reprodutivos, com média de 2,5

metros.

Nos pontos mais distantes dos indivíduos reprodutivos, os diásporos

eram menos frequentes e geralmente estavam associados a fezes de

animais, indicando a participação dos mesmos na dispersão da espécie

através da ingestão dos frutos.

Nos pontos mais próximos aos indivíduos reprodutivos, foram

observados bancos de diásporos; uma possível explicação seria o tamanho

e peso dos frutos que se acumulam na base das plantas reprodutoras após a

abscisão; considerando que cada infrutescência pesa em média 6.26 kg e

contém aproximadamente 1.070 frutos (Crepalde ,2001).

A viabilidade , determinada pela coloração avermelhada do pólo

germinativo do embrião, foi observada em apenas 8,3% das sementes

coletadas ( Figura 6).

Figura 6. Embriões de licurí; 6a corte longitudinal e remoção do opérculo da amêndoa; 6b embriões embebidos; 6c embriões viáveis corados com tetrazólio 5% (parte superior) e embriões não viáveis (parte inferior).

O percentual de sementes viáveis encontrado para Syagrus coronata,

(8,3%; n = 7.506) é proporcionalmente baixo quando comparado com o a

taxa de germinação em campo das sementes de Geonoma schottiana Mart.

(3,3%; n = 1.250) , que por sua vez é menor do que de outras espécies

congenéricas, atribuída à alta intensidade de predação (Sampaio, 2006). O

pequeno número encontrado de diásporos viáveis poderia ser explicado

pelo fato de que, a pesar das do baixo teor de umidade entre as sementes

oleosas como o licurí, os lipídeos são mais instáveis e oxidáveis do que

outras substâncias de reserva como proteínas, amido, celulose ou goma e

por esse motivo, são sementes que perdem a viabilidade mais facilmente e

sofrem maior deterioração e predação (Harrington, 1972).

4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Segundo o observado, o extrativismo do licurí em Caldeirão Grande

não apresenta efeitos sobre o recrutamento da espécie. Enteranto,

modicações introduzidas no habitat pelas monoculturas e criação bovina,

possivelmente estão afetendo o desenvolvimiento e a dinâmica da espécie

na localidade.

Nas distribuições dos indivíduos por estádios, fica evidenciado que a

população de licurí não apresenta um potencial estável de auto-

regeneração, com altos números de plantulas e adultos reprodutivos mas

com números redusidos de indivíduos nas fases intermediárias.

A viabilidade das sementes é baixa. A dispersão dos frutos é

concentrada próxima à planta-mãe e a distribuição espacial de todos os

estádios apresentaram padrão agregado.

Diante dos padrões ecológicos observados, e da importância

econômica da espécie na região, recomenda-se a realização de estudos de

longo prazo, que possam mensurar melhores técnicas de plantio e manejo.

Para que, o conhecimento científico possa somar-se ao conhecimento

tradicional local, gerando condições à manutenção da produtividade,

assegurando níveis sustentáveis de extrativismo e evitando perda de

diversidade genética.

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CONCLUSÃO GERAL

Informações de cunho ecológico e etnobotânico podem esclarecer o

nível de dependência de uma comunidade em relação aos recursos vegetais

locais, fornecendo informações sobre as conseqüências de determinados

tipos de exploração dos recursos. Assim, conhecer quais as necessidades

locais atendidas com produtos obtidos do extrativismo, os padrões de

utilização e quais os grupos sociais mais dependentes dos recursos, torna-se

necessário tanto do ponto de vista científico como econômico e

conservacionista.

O resgate do conhecimento local associado ao conhecimento gerado

por investigações ecológicas tornam possíveis políticas ambientais efetivas,

considerando que no Brasil, o fracasso de muitos projetos que visavam

reduzir a pressão antrópica no ambiente ou promover o desenvolvimento

econômico de uma região, foi em parte, devido a não se levar em

consideração o apoio e envolvimento das comunidades locais.

Para verificar efeitos do extrativismo sobre populações vegetais e

seus ecossistemas, é ideal o acompanhamento de populações exploradas em

condições naturais, nesse sentido, investigar o comportamento demográfico

(isto é, estrutura populacional, taxa de regeneração e número de indivíduos

produtivos por hectare) é essencial para alcançar uma prática de manejo

que sustente a base de recursos.

Pelo verificados nos dados de estrutura da população de viabilidade

do de sementes do solo, a comunidade extrativista de Caldeirão Grande

aparentemente não exercesse sobrexploração do licurí; no entanto, fazem-

se necessárias medidas de educação ambiental, especialmente dirigidas aos

agricultores e criadores de gado, para que sejam minimizadas as alterações

de habitat na região.