iluminação de espaços coorporativos – normatização e realidade

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1 Iluminação de espaços coorporativos normatização e realidade Josy Mendonça [email protected] Iluminação e Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação e Graduação IPOG Salvador, BA, 30/10/2012 Resumo Desde o início do século passado os espaços coorporativos vêm sofrendo alterações de acordo com as necessidades e pela imposição de normas técnicas. As normas de iluminação estão à disposição dos profissionais da área, mas será que são efetivamente observadas? A motivação deste trabalho ocorreu pela observação de várias empresas e seus sistemas de iluminação. Assim, o objetivo da pesquisa é comprovar que as técnicas não são utilizadas. Nesta pesquisa houve a verificação da realidade apresentada em três empresas, com diferentes áreas de atuação e em duas cidades. Os resultados encontrados vão de encontro a todas as técnicas, tendências, normas e teorias. Dos resultados encontrados percebe-se claramente que os projetistas e os empresários ainda não se deram conta da importância de uma boa iluminação. Um projeto luminotécnico criterioso levará conforto e bem-estar aos usuários de escritório e, consequentemente, ao aumento da produtividade. Palavras-chave: Iluminação. Empresas. Conforto. Normas. Produtividade. 1. Introdução Muitas são as diretrizes técnicas encontradas na literatura referente à iluminação. O surgimento delas decorreu de pesquisas científicas baseadas em dados técnicos coletados através de estudos de casos reais e montados em laboratórios com rigoroso controle. Antes de entender como iluminar, necessário se faz estudar o aspecto físico da luz, posto ser energia radiante em forma de espectro de luz (GUERRINI, 2008:15). Também o conhecimento de várias ciências, tais como a antropologia, a filosofia, medicina, sociologia foram agregadas dando subsídios para encontrar e melhorar as condições dos usuários em diversos tipos de espaços. Em se tratando de espaços coorporativos, a normatização deve ainda mais ser observada, haja vista a complexidade do assunto e a diversidade de tarefas, tipos de profissionais e seres humanos. O Projetista de Iluminação utiliza sua formação técnica para a melhoria da qualidade de vida das pessoas através da criação e execução de projetos luminotécnicos que assegurem conforto e qualidade estética em ambientes públicos e privados. Não é demais lembrar que o trabalho deste profissional está também intimamente ligado à saúde e à segurança da população. O exercício por pessoas não qualificadas, sem conhecimento técnico de ergonomia, de design de interiores, conforto ambiental, iluminação natural, eficiência energética e de outros aspectos relativos à iluminação, pode acarretar danos irreparáveis à saúde do usuário, ao patrimônio privado e público. Além disso, deve ser criativo, imaginativo e artístico, mas, igualmente, disciplinado, organizado e empreendedor. Deve combinar uma visão estética com habilidades práticas e conhecimentos técnicos, inclusive físico-químicos, como acima explicitados. Sobretudo, exige-se desse profissional a sensibilidade para trabalhar com a luz na busca de soluções que sejam adequadas a cada projeto. A criação de um projeto luminotécnico exige uma metodologia sistemática e coordenada por um profissional que apresenta competências técnicas, humanísticas e artísticas. É no design que todas as qualidades desejadas são planejadas, discutidas em sua natureza técnica e

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Desde o início do século passado os espaços coorporativos vêm sofrendo alterações de acordo com as necessidades e pela imposição de normas técnicas. As normas de iluminação estão à disposição dos profissionais da área, mas será que são efetivamente observadas? A motivação deste trabalho ocorreu pela observação de várias empresas e seus sistemas de iluminação. Assim, o objetivo da pesquisa é comprovar que as técnicas não são utilizadas. Nesta pesquisa houve a verificação da realidade apresentada em três empresas, com diferentes áreas de atuação e em duas cidades. Os resultados encontrados vão de encontro a todas as técnicas, tendências, normas e teorias. Dos resultados encontrados percebe-se claramente que os projetistas e os empresários ainda não se deram conta da importância de uma boa iluminação. Um projeto luminotécnico criterioso levará conforto e bem-estar aos usuários de escritório e, consequentemente, ao aumento da produtividade.Palavras-chave: Iluminação. Empresas. Conforto. Normas. Produtividade

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Iluminação de espaços coorporativos – normatização e realidade

Josy Mendonça – [email protected]

Iluminação e Design de Interiores

Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG

Salvador, BA, 30/10/2012

Resumo

Desde o início do século passado os espaços coorporativos vêm sofrendo alterações de acordo

com as necessidades e pela imposição de normas técnicas. As normas de iluminação estão à

disposição dos profissionais da área, mas será que são efetivamente observadas? A motivação deste trabalho ocorreu pela observação de várias empresas e seus sistemas de iluminação.

Assim, o objetivo da pesquisa é comprovar que as técnicas não são utilizadas. Nesta pesquisa houve a verificação da realidade apresentada em três empresas, com diferentes áreas de

atuação e em duas cidades. Os resultados encontrados vão de encontro a todas as técnicas,

tendências, normas e teorias. Dos resultados encontrados percebe-se claramente que os projetistas e os empresários ainda não se deram conta da importância de uma boa iluminação.

Um projeto luminotécnico criterioso levará conforto e bem-estar aos usuários de escritório e, consequentemente, ao aumento da produtividade.

Palavras-chave: Iluminação. Empresas. Conforto. Normas. Produtividade.

1. Introdução

Muitas são as diretrizes técnicas encontradas na literatura referente à iluminação. O surgimento delas decorreu de pesquisas científicas baseadas em dados técnicos coletados

através de estudos de casos reais e montados em laboratórios com rigoroso controle. Antes de

entender como iluminar, necessário se faz estudar o aspecto físico da luz, posto ser energia radiante em forma de espectro de luz (GUERRINI, 2008:15). Também o conhecimento de

várias ciências, tais como a antropologia, a filosofia, medicina, sociologia foram agregadas dando subsídios para encontrar e melhorar as condições dos usuários em diversos tipos de

espaços.

Em se tratando de espaços coorporativos, a normatização deve ainda mais ser observada, haja vista a complexidade do assunto e a diversidade de tarefas, tipos de profissionais e seres

humanos. O Projetista de Iluminação utiliza sua formação técnica para a melhoria da qualidade de vida

das pessoas através da criação e execução de projetos luminotécnicos que assegurem conforto

e qualidade estética em ambientes públicos e privados. Não é demais lembrar que o trabalho deste profissional está também intimamente ligado à saúde e à segurança da população. O

exercício por pessoas não qualificadas, sem conhecimento técnico de ergonomia, de design de interiores, conforto ambiental, iluminação natural, eficiência energética e de outros aspectos

relativos à iluminação, pode acarretar danos irreparáveis à saúde do usuário, ao patrimônio

privado e público. Além disso, deve ser criativo, imaginativo e artístico, mas, igualmente, disciplinado, organizado e empreendedor. Deve combinar uma visão estética com habilidades

práticas e conhecimentos técnicos, inclusive físico-químicos, como acima explicitados. Sobretudo, exige-se desse profissional a sensibilidade para trabalhar com a luz na busca de

soluções que sejam adequadas a cada projeto. A criação de um projeto luminotécnico exige uma metodologia sistemática e coordenada por

um profissional que apresenta competências técnicas, humanísticas e artísticas. É no design

que todas as qualidades desejadas são planejadas, discutidas em sua natureza técnica e

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orientadas para sua adequada produção, onde todos os aspectos simbólicos, comportamentais e sinestésicos devem ser encontrados projeto. Elementos subjetivos como conforto,

acolhimento, aconchego são ferramentas a serviço do profissional.

Segundo Neide Senzi, os parâmetros indispensáveis para um bom projeto são: nível de iluminação ou iluminância, distribuição de luminárias no campo da visão, controle de

ofuscamento, cor da luz, aparência e reprodução de cor. Também são fatores importantes à modelagem, a direção e distribuição de luz. Nelson Solano complementa a exigência de se

observar o aspecto humano e suas características fisiológicas, emocional/psicológicas.

Complementa, ainda, a importância da atividade funcional exercida. Este Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo confrontar a legislação pertinente à

iluminação em espaços coorporativos e a realidade. Para tanto, embasou-se em pesquisa empírica em três empresas, em duas cidades distintas, com características diversas tanto no

tocante ao trabalho ali exercido como ao nível econômico de cada uma. Com os resultados

obtidos, objetiva-se corrigir falhas nestas empresas e posteriormente multiplicar este conhecimento para outros estabelecimentos e outros profissionais da área.

2. Embasamento teórico

2.1 – Conforto Diante do amplo campo de estudo bibliográfico, chega-se a conclusão que conforto é todo

método natural ou artificial que produz sensações sensoriais agradáveis positivas ao ser humano, seja no aspecto objetivo (físico) ou subjetivo (emocional). Em pesquisa realizada por

Nelson Solano em sala de aula na OSRAM (novembro, 2011), palavras diversas foram

traduzidas como conforto, tais como: segurança, relaxamento, adequação, bem estar, tranquilidade, paz, comodidade, agradável, dentre outras.

2.2 – Conforto visual

É o uso adequado da iluminação natural ou artificial, visando à obtenção do resultado

pretendido com o mínimo de esforço fisiológico em relação à luz para realização de uma determina tarefa. De aspecto altamente subjetivo, posto as diferenças de cada ser humano, tais

como: experiências anteriores, personalidade, estado de ânimo, faixa etária, relação de gênero, aspectos culturais e estéticos.

2.3 – Objetivos da iluminação Segundo os ensinamentos do arquiteto e Lighting Designer mexicano Gustavo Ables, a luz

não ilumina só o objeto, mas também o significado. Então, a função é o mais importante a se observar para realização de um bom projeto, com a utilização de luz adequada. Visibilidade,

segurança e orientação são objetivos principais em espaços coorporativos (OSRAM,

2011:10).

2.4 – Sistemas de iluminação Primeiro passo em um projeto luminotécnico é definir o sistema de iluminação, o qual

dependerá do ambiente e sua função, além dos efeitos produzidos no plano de trabalho. Aqui nos deteremos aos principais sistemas encontrados no campo laborativo.

2.4.1 – Iluminação geral Como o próprio nome diz, ilumina uniformemente todo o ambiente. Convém salientar que

uniformidade não é igualdade, mas sim nivelamento médio. Tem como vantagens uma maior flexibilidade de layout. Este é o que mais encontramos nos espaços coorporativos atuais. No

entanto, tudo que é generalizado conduz ao erro, porque não prevê os níveis mínimos de

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iluminância para cada tarefa, o consumo/desperdício de energia e o ofuscamento dos usuários. Cabe aqui o ensinamento do professor Farlley Jorge Lourenço Derze:

“A verdade é uma crença particular” (Derze, anotações em sala de aula,

2012).

2.4.2 – Iluminação localizada

É uma iluminação pontual, concentrando-se na tarefa a ser realizada. As luminárias são

colocadas em alturas que possibilitem tanto a iluminação na estação de trabalho como uma iluminação geral. Este tipo de iluminação dificulta a mudança de layout, posto ser necessárias

mudanças das luminárias e até complementação por sistema de iluminação geral.

2.4.3 – Iluminação de destaque

Como o próprio nome diz, usa-se um sistema que produza destaque a um objeto, com o escopo de chamar atenção do olhar.

2.4.4 – Iluminação de efeito

É a luz como objeto principal, fachos de luz, contrastes ente luz e sombras, tirando partido

dos elementos arquitetônicos, tais como: como texturas, sancas, corrimões, volumetria.

2.4.5 – Iluminação combinada

É o tipo de iluminação mais inteligente, pois agrega diversas necessidades laborativas e é a mais democrática em relação ao seres humanos na medida em que tornam iguais os desiguais.

Também existe a possibilidade de modular a intensidade da luz através da dimerização, que se caracteriza pela possibilidade de aumentar a intensidade da iluminação, adaptando o ambiente

as necessidades momentâneas ou permanentes, tais como o nível de precisão e o tempo

necessário para a realização da tarefa, a idade do usuário e o controle de ofuscamento.

Figura 1 – Sistemas de Iluminação

Fonte: Bitencourt (2011)

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2.5 – Conceitos básicos

2.5.1 – Fluxo energético

Símbolo: Pt Unidade: W ou KW

É a quantidade de energia para a produção dos três espectros: luz visível, infravermelha e a ultravioleta.

2.5.2 – Fluxo Luminoso

Símbolo: f

Unidade: lúmem (lm) É a quantidade de luz “visível” que irradia da fonte em todas as direções. Comumente

chamado de “pacote de luz”.

2.5.3 – Intensidade luminosa Símbolo: I

Unidade: Candela (cd)

É a luz emitida por uma fonte ou refletida em uma superfície iluminada.

2.5.4 – Iluminância Símbolo: E

Unidade: Lux (lm/m²)

É a quantidade de luz que incide sobre uma superfície. Pode ser medida com um aparelho chamado luxímetro (bastante utilizado nos estudos de casos adiante citados). A norma ABNT

– NBR 5413 estabelece os níveis mínimos, médios e máximos para cada atividade executada nos ambientes, sempre visando o conforto visual.

2.5.5 – Eficiência luminosa

Símbolo: h

Unidade: Lúmem/watt Simplesmente é a eficácia ou rendimento. Tal parâmetro é de vital importância para a escolha

de um sistema de iluminação.

2.5.6 – Luminância

Símbolo: cd/m² Unidade: candela/m²

É a quantidade de luz que incide sobre uma superfície e a única percebida pelo olho humano, haja vista transmitir a sensação de claridade (ou brilho) aos olhos.

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Figura 2 – Luminância x Iluminância

Fonte: OSRAM (2011)

Figura 3 – Luminância (percepção de brilho)

Fonte: OSRAM (2011)

2.5.7 – Contraste

Símbolo: C Unidade: ---

“É a diferença relativa de luminâncias entre um determinado objeto e seu

entorno” (Bitencourt, 2011).

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2.5.8 – Índice de reprodução de cor (IRC) A cor real de um objeto tem como parâmetro 100% a luz natural (de preferência ao meio dia).

Os diversos tipos de lâmpadas não conseguem esta perfeição. No entanto, é aceitável um IRC

acima de 80% para algumas tarefas onde a cor não possui tanta relevância. O ideal é escolher lâmpadas com IRC acima de 90%, posto já existir tecnologia suficiente onde o custo x

benefício é amplamente aceitável.

Foto1 – IRC – Utilização de diferentes tipos de lâmpadas com as mesmas cores

Fonte: Mendonça, Laboratório OSRAM (2011).

2.5.9 – Temperatura de cor

Símbolo: K Unidade: Kelvin

É a aparência de cor das lâmpadas.

“A radiação visível de uma cor emitida pelo corpo negro, quando aquecida a

uma certa temperatura, é chamada de temperatura de cor” (Senzi, 2011).

Figura 4 – Temperatura de cor

Fonte: http://ricardocanha.blogspot.com.br/2011/01/temperatura-de-cor.html (2012)

2.5.10 – Ofuscamento

Os olhos sempre se adaptam as condições de luminosidade. No entanto, quando em excesso desta há perda dos detalhes, da cor e profundidade, ou seja, há uma sobrecarga de

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luminosidade na retina, dificultando a adaptação do olho humano. O ofuscamento é direto quando incide diretamente no órgão visual e indireto quando a luz é

direcionada ao plano de trabalho e refletida a retina. Para que isto não aconteça o ângulo entre

fonte luminosa e usuário não deve ser maior que 45º, conforme figura abaixo.

Figura 5 – Ofuscamento

Fonte: OSRAM (2011)

3 – Critérios da Iluminação em espaços coorporativos

3.1 – Níveis mínimos de iluminância (LUX) Segundo ABNT – Norma 5413, para escritórios a iluminância tem que ter como nível mínimo

500 lx, nível médio 750 lx e máximo de 1000 lx.

3.2 – Distribuição de luz e não ofuscamento

Deve ter uma boa uniformidade na distribuição de luz. A adaptação a diferentes luminâncias (além de ofuscamento) provoca cansaço visual, prejudicando a saúde do trabalhador.

3.3 – Mutabilidade, flexibilidade, visibilidade

Indispensável para um bom rendimento laboral.

3.4 – Boa reprodução de cor

Como dito, acima de 80%, no mínimo, a depender da especificidade do trabalho.

3.5 – Temperatura de Cor Afeta o funcionamento fisiológico. A cor quente induz ao sono, posto acolhedora, relaxante.

Ideal para áreas de descompressão das empresas. A cor neutra normalmente é a mais utilizada

(3.500 K). A cor fria apressa o ritmo de trabalho, em excesso pode provocar malefícios irreparáveis ao ser humano.

3.6 – Economia de Energia

Não há um bom projeto luminotécnico sem prever este item. Em escritórios, o mais comum é

encontrar lâmpadas T8 e T5, porém o descarte destas é um problema para o meio ambiente. Felizmente, com o aparecimento de novas tecnologias, o LED está gradativamente

substituindo-as.

3.7 – Integração do projeto luminotécnico

Começa a existir a consciência da necessidade de especialista em iluminação para a complementação do projeto arquitetônico e de design de interiores. Infelizmente ainda muito

incipiente. Chegará o dia em que a iluminação será tratada como um “instrumento de

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produção”.

4 – Percepção Visual

A percepção é, talvez, o conceito mais complexo na iluminação. Cada indivíduo traz sua carga genética, suas experiências pessoais, suas características fisiológicas. Até mesmo o

estado emocional pode influenciar na maneira de ver e interpretar um fato ou objeto. Segundo Lima (2010:31), outra característica importante é o tipo de personalidade do

indivíduo: introversão/extroversão; atividade/passividade; claustrofobia/agorafobia;

individualismo/gregarismo; apoliniano/dionisíatico; neofilia/neofobia. No tocante a iluminação, a percepção é um aspecto de relevância fundamental, na medida em

que a luz é o principal instrumento de modificação da arquitetura. O jogo de sombra e luz pode é um efeito que sempre se busca. No entanto, dependendo das características acima nem

todos os indivíduos a percebem ou podem criar dificuldade na identificação das formas. Um

exemplo clássico pode ser a má iluminação de placas de sinalização, onde os usuários externos de uma empresa se baseiam para satisfazer suas necessidades.

A visibilidade e a claridade devem estar de acordo com a NBR 5413, evitando-se, assim, confusões, desorientações e até mesmo acidentes.

A luz pode influenciar o comportamento dos indivíduos. Espaços coorporativos onde há

uniformidade na iluminação geram monotonia e repetição, alterando o ânimo do trabalhador ao fim da jornada de trabalho. Com o tempo pode causar doenças, tais como: depressão,

melancolia e fadiga. Por isto, cada vez mais empresas estão criando locais destinados ao descanso, os chamados “espaços de descompressão”, onde o limite é a imaginação.

5 – Sistema circadiano

O sistema circadiano sai dos círculos médicos para outras áreas da ciência. O sistema

circadiano é o ritmo biológico, cujo período abrange 24 horas. Os princípios do sistema circadiano são melatonina e temperatura. Pela manhã o hormônio serotonina está em seu nível

máximo. Com o passar das horas decresce e o organismo produz outro hormônio: a

melatonina. Diversos fatores podem alterar este sistema, tais como, viagens com grandes diferenças de fuso horário, estresse, iluminação incorreta.

6 – Diagrama de Boyce

Todos os conceitos aqui apresentados e que podem afetar o ser humano podem ser mais

facilmente entendidos se analisarmos no diagrama elaborado por Boyce (2003), o qual demonstra o referencial teórico que estabelece os três caminhos pelo qual as condições de

iluminação podem influenciar o desempenho humano. As setas no diagrama indicam a direção do efeito. O único ponto não tratado aqui foi o estudo da Teoria das Cores, assunto a

ser exaustivamente pesquisado em trabalho complementar a este.

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Figura 6 - Diagrama do Desempenho Humano (este diagrama também está contido nos anexos em maior

tamanho)

Fonte: Adaptado de BOYCE, 2003, p.124)

7 – Metodologia aplicada

Impossível seria analisar a usabilidade dos conceitos acima de não fossem aplicados questionários e entrevistas. As normas estão à disposição de todos os profissionais de

arquitetura e design de interiores, mas e a realidade?

Foram pesquisadas as condições de três empresas (através de questionários e fotos). Duas delas situadas em Recife/PE e a última em Aracaju/SE. No total, trinta pessoas responderam

ao questionário. Salienta-se que não houve a devolução de alguns deles em decorrência da não obrigatoriedade.

Os questionários possuem questionamentos além do objeto deste estudo, na medida em que

serão utilizados para outro tema de pesquisa. Após a pesquisa em Recife/PE, formulou-se um segundo questionário, tornando-o mais completo (Questionário 01 e Questionário 02, anexos).

Foram medidas as iluminâncias com o aparelho luxímetro, ao nível da estação de trabalho, posto ser omissa a NBR 5413.

8 – Estudo de casos

8.1 – Empresa nº 01

Localizada em Recife/PE, com aproximadamente 06 anos, é uma empresa de incorporadora mobiliária de grande porte. Situada em prédio com envoltório praticamente em vidro, o que

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traduz um desafio à pesquisa, decorrente da grande incidência de luz natural.

8.1.1 – Características encontradas

- Não possuem nenhuma espécie de controle de iluminação - Temperatura de cor não uniforme

- Sem iluminação individual - Existência de mesas e cadeiras ociosas com iluminação

- Ambientes não flexíveis

- Iluminação geral - Espaço amplo

- Cor do teto = areia - Cor da parede = bege e vidros

- Piso = carpete multicolor

- Não há área de descompressão - Há objetos de decoração

- Não há paisagismo

Figura 7 – Planta baixa, mobiliário, nível de iluminância

Fonte: Mendonça, 2012

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Figura 8 – Planta de iluminação – seção 1

Fonte: Mendonça, 2012

Figura 9 – Planta de iluminação – seção 2

Fonte: Mendonça, 2012

8.2 – Empresa nº 02

Localizada em Recife/PE, com aproximadamente 06 anos, é uma empresa de investimentos

de grande porte. Situada no mesmo prédio da Empresa 01.

8.2.1 – Características encontradas - Não possuem nenhuma espécie de controle de iluminação

- Temperatura de cor uniforme

- Possui luz de destaque - Sem iluminação individual

- Existência de mesas e cadeiras ociosas com iluminação

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- Ambientes não flexíveis - Iluminação geral

- Espaço amplo

- Cor do teto = branco - Cor da parede = cinza

- Piso = branco - Não há área de descompressão

- Há objetos de decoração

- Há paisagismo

Figura 10 – Planta de iluminação – seção 2

Fonte: Mendonça, 2012

8.3 – Empresa nº 03

Localizada em Aracaju/SE, com aproximadamente 12 anos, é uma empresa de tecnologia da informática de pequeno porte.

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Figura 10 – Planta de iluminação – seção 2

Fonte: Mendonça, 2012

8.3.1 – Características encontradas

- Não possuem nenhuma espécie de controle de iluminação - Temperatura de cor não uniforme

- Não possui luz de destaque

- Sem iluminação individual - Existência de mesas e cadeiras ociosas com iluminação

- Ambientes não flexíveis - Iluminação geral

- Espaço amplo

- Cor do teto = branco - Cor da parede = cinza

- Piso = bege - Não há área de descompressão

- Não há objetos de decoração

- Não há paisagismo

9 – Análise dos resultados

As empresas 1 e 2 são de alto padrão em termos de design de interiores e iluminação,

inclusive com projeto luminotécnico. No entanto, ainda permanecem com a rigidez no layout

e na iluminação (sistema de iluminação geral), sem observar as características individuais de cada trabalhador. Eventualmente podemos observar luz de destaque.

No tocante a escolha das luminárias, ainda que adequadas porque possuem aletas anti ofuscamento, não são consideradas tão modernas. As lâmpadas na sua maioria são

fluorescentes, mas encontramos dicroicas e AR70 (não econômicas energeticamente). Na empresa de n° 2, na sala da diretoria observou-se luz de destaque em LED.

A pele de vidro da fachada ofusca aqueles que estão mais próximo, os quais usam telas de

proteção solar para controlar o ofuscamento.

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Na empresa n°1, o mais surpreendente é que apenas nos corredores a NBR 5413 foi observada (150/200 lux). Não há uniformidade, sendo encontrados valores de iluminância de 262 a

1895. E mais grave, em poucas estações de trabalho alcançaram o mínimo de 500 lux de

iluminância. Analisando a empresa nº 2, percebe-se uma melhor uniformidade, sendo somente crítica a

iluminância em uma estação de trabalho. As iluminâncias dos corredores estão dentro das normas.

A empresa 3, apesar de trabalhar com tecnologia da informação, encontra-se com padrões de

iluminância críticos, inclusive com funcionários trabalhando com as lâmpadas apagadas (por opção).

10 – Análise dos questionários

As respostas obtidas não condizem com os aspectos técnicos encontrados. Em sua maioria,

nas três empresas os funcionários estão satisfeitos com todos os aspectos. Não perceberam que quase todos usam óculos, que preferem o turno da manhã para trabalhar (serotonina +

maior nível de iluminação). Demonstram desconhecer outros tipos de luminárias, com aspecto esteticamente mais agradável. Somente na empresa de n° 3 há menos aceitação quanto ao

nível de iluminância.

Em todas elas observa-se ofuscamento, direto e indireto (ângulos acima de 45°). Mais surpreendente, ainda é que todos se sentem bem de maneira geral e a palavra escolhida

levaria a um observador que não conhecesse estes dados que são espaços coorporativos perfeitos em relação ao fator iluminação.

11. Conclusão

Projetar é trazer as imagens do inconsciente à tona, numa interpretação real da Gestalt (a

Teoria da Gestalt afirma que não se pode ter conhecimento do todo através das partes, e sim das partes através do todo; que os conjuntos possuem leis próprias e estas regem seus

elementos - e não o contrário, como se pensava antes; e que só através da percepção da

totalidade é que o cérebro pode de fato perceber, decodificar e assimilar uma imagem ou um conceito).

Neste sentido, Le Corbusier escreveu: "Os olhos são feitos para ver as formas em luz: cubos, cones, esferas, cilindros ou pirâmides são as grandes formas primárias".

Design e sofisticação, sem, contudo, esquecer o conforto e bem-estar e as normas técnicas,

quesitos fundamentais para um bom projeto. No projeto também não se pode esquecer os critérios de um bom projeto luminotécnico, não aplicados em todas as empresas estudadas.

Nas duas primeiras empresas a estética criativa foi lembrada, mas esqueceram do fator humano, do espaço e da tecnologia.

Assim, todo projeto deve ser embasado em um minucioso estudo técnico, no respeito ao ser humano, na importância de um ambiente coorporativo saudável – um projeto pensando para o

para futuras modificações. Que seja funcional e aprazível, com materiais e acessórios modernos, para que venham garantir um ambiente de trabalho seguro, visando não só os

usuários diários, mas também os visitantes. Diante dos dados obtidos, conclui-se que o ser humano inconscientemente é levado a

assimilar toda a experiência externa sensorial a acontecimentos culturais. Toda vez que se

constrói um novo instrumento, quebra-se um paradigma, aumentando o cone de percepção coletiva e mais coisas são percebidas, tornando a qualidade vida melhor.

Segundo o Green Building Council (palestrante Marcos Casado) quanto melhor o conforto, o bem estar dos trabalhadores pode-se obter um aumento de produtividade de 2 a 16%.

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Pensar, pesquisar, sentir os benefícios, criar, inovar. Itens que não podem ser esquecidos pelo empresário – produtividade, lucro e conforto em total integração!

Referências

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