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III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES
15 a 17 de Maio de 2013 Universidade do Estado da Bahia – Campus I
Salvador - BA
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“DIADORIM UNEB” EM MOVIMENTO: UM DIÁLOGO COM A LIGA BRASILEIRA
DE LÉSBICAS DA BAHIA
Zuleide Paiva da Silva1
Amélia T.S.R. Maraux2
Virginia Nunes3
Introdução
As epistemologias feministas, frutos da educação libertária idealizada por Freire (1996), indicam
que as práticas educacionais que buscam transformações das relações sociais, raciais e sexuais a partir
da equidade de gênero, raça, sexualidade, ainda estão em construção, sendo trilhadas e gestadas por
diferentes sujeitos(as) implicados(as) no projeto educacional feminista, isto é, em projeto pautado na
produção e difusão de saberes que não sejam apenas por e sobre subalternizados, mas para os/as
subalternizados/as e suas/nossas lutas (CARDOSO, SILVA, 2009). No texto “Pedagogias feministas
como alternativa para uma educação anti-sexista, anti-racista”, Cardoso e Silva, ambas pesquisadoras do
Diadorim -Núcleo de Estudos de Gênero e Sexualidade da Universidade do Estado da Bahia (NuGSex-
Diadorim/UNEB), ressaltam que o projeto educacional feminista não é desprovido de uma
intencionalidade, ao contrário, traz uma prática pedagógica revestida de ato político que viabiliza a
transformação pessoal e profissional dos sujeitos(as) nele envolvidos(as), revelando assim as marcas
identitárias e o lugar do sujeito do discurso, que é sempre um sujeito político. Em sintonia com a crítica
feminista às ciências, as autoras citadas e demais pesquisadoras(res) do NuGSex Diadorim/UNEB
advogam que teoria e prática se imbricam e se apoiam, mesmo que não tenhamos consciência disso,
pois “toda prática incorpora uma teoria, isto é, o que pretendemos é revelado pelo que fazemos, mesmo
quando for inconsistente com o que afirmamos aprender” (LINTON, 1997, p. 296).
Desde essa perspectiva de educação, o NuGSEx Diadorim/UNEB tem priorizado a escuta
sensível, o diálogo reflexivo e a parceria com os movimentos sociais para potencializar suas ações de
1Professora Assistente do Campus XIV/UNEB, integrante do NuGSex DIADORIM/UNEB, Ativista da Liga Brasileira
de Lésbicas. 2 Professora Assistente do Campus XIV, integrante do NuGSex DIADORIM/UNEB, Superintendente da SUDEB-
SEC/BA. 3 Integrante da equipe técnica do NuGSex DIADORIM/UNEB, ativista da Liga Brasileira de Lésbicas.
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ensino, pesquisa e extensão. Enlaçando fios tecidos pela pedagogia de Freire, desde a sua criação em
2003, a politica de educação do NugSex Diadorim tem primado pelo processo coletivo, participativo e
colaborativo de construção de conhecimento, contribuindo assim com a construção de pedagogias
alternativas que fomentam a inclusão das temáticas de gênero e sexualidade nos currículos da UNEB.
Reconhecendo as ações de extensão do NuGSex Diadorim como práxis pedagógica orientada
por matrizes do pensamento feministas e LGBT, nosso propósito neste texto é apresentar experiências
de educação do NugSex Diadorim Uneb em parceria com a Liga Brasileira de Lésbicas. O foco das
experiências aqui em questão é a lesbianidade, pensada como uma categoria política que expressa um
jeito de ser e viver lésbica. Também é nosso propósito refletir sobre as experiências como uma prática
feminista de educação. Buscamos romper silêncios em torno dos pensares e fazeres das lésbicas.
Imbricamos-nos nessa escrita ressaltando que este texto se caracteriza como uma retomada das
discussões apresentadas no V Seminário de Extensão da Uneb, realizado em dezembro de 2012,
quando, em parceria com o professor Marco Antônio Martins, apresentamos a comunicação intitulada ,
“Nossa história de lésbica a gente faz”. Como educadoras lésbicas feministas, acreditamos e
promovemos o diálogo entre os movimentos sociais como estratégia de empoderamento mutuo. Todas
as experiências aqui tratadas são frutos dessa crença.
Situando os sujeitos da ação feminista
NuGSex Diadorim – UNEB, um espaço de conhecimento
Reconhecendo que a Universidade, e todo o sistema educacional, é gendrado, generificado,
racializado e sexualizado, onde prevalece relações desiguais de gênero, um grupo de docentes da
Universidade do Estado da Bahia (UNEB), constituído majoritariamente por gays e lésbicas de
diferentes Campi, se articulou com diferentes coletivos acadêmicos de estudo, pesquisa e extensão
e iniciou em 2003 um longo debate sobre a criação de um Núcleo de Gênero e Sexualidade na
UNEB com o propósito de demarcar e fortalecer o campo de estudos de gênero e sexualidade e
fomentar políticas públicas de educação LGBT. Desse debate emergiu a proposta de construção do
NuGSex Diadorim/UNEB, que foi aprovada pelo CONSU -Conselho Universitário ainda em 2003.
Desde a sua criação, o NuGSex Diadorim – UNEB, vem se constituindo como espaço de
encontro, de diálogos, de produção e difusão de conhecimentos relevantes para os sujeitos excluídos
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da história, sobretudo para as mulheres e pessoas LGBT (Lésbica, Gay, Bissexual, Travesti).
Metendo cunhas nas estruturas internas da universidade para promover a inclusão das temáticas de
gênero e sexualidade nas ações de ensino, pesquisa e extensão, o NuGSex Diadorim articula suas
ações a partir de três linhas de pesquisa que o constitui, a saber: a) EDUCAÇÃO E
INTERSECCIONALIDADE, b) GÊNERO, LINGUAGENS E SEXUALIDADES, c)
HOMOSSEXUALIDADES.
A tessitura e o enlace dessas linhas fundamentam três macro ações desenvolvidas pelo
NuGSex Diadorim, a saber: o Programa “Uneb combatendo a homofobia”, em andamento desde
2006, o Projeto de extensão Campanha 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as
mulheres, também em andamento desde 2006 e projeto “Cinemando com a Literatura”, em
desenvolvimento desde 2007. Essas macro ações compreendem um conjunto de atividades
construídas de forma coletiva, participativa e colaborativa com diferentes seguimentos dos
movimentos sociais e do Estado. Todas as ações desenvolvidas levam em conta a inteseccionalidade
do gênero, da sexualidade e da raça, sem, contudo, negligenciar a geração e o espaço/território.
A partir das citadas macro ações, o NugSex Diadorim/UNEB se desafia a produzir reflexões
que considerem as novas e as antigas, ainda não alcançadas, bandeiras de luta das feministas, das
mulheres e dos movimentos LGBT. O NugSex Diadorim/UNEB também se desafia a ocupação de
espaços de poder já existentes na universidade e a criação de novos espaços de poder, levando em
conta as necessidades de empoderamento das mulheres e da população LGBT.
Seu compromisso é, sobretudo, com a educação pela diferença, isto é, com a promoção de
educação dialógica, não normalizadora, em que as experiências até hoje invisibilizadas, não
reconhecidas ou, mais comumente, violentadas passem a ser incorporadas no cotidiano acadêmico,
“modificando a hierarquia entre quem educa e quem é educado e buscando estabelecer mais
simetria entre eles de forma a se passar da educação para um aprendizagem relacional e
transformador para ambos” (MISKOLCI, 2012,p. 55).
É no desafio da aprendizagem pela diferença que o NugSex Diadorim iniciou em 2010 um
diálogo afetivo e efetivo com a Liga Brasileira de Lésbicas, e desde então, “juntas e misturadas”,
docentes ativistas do NugSeX Diadorim em parceria com ativistas da LBL têm promovido
importantes ações de extensão, na capital do Estado e no interior da Bahia.
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Liga Brasileira de Lésbicas, uma rede em movimento
A história da Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) vem sendo construída por diferentes
lésbicas e mulheres bissexuais, desde a sua criação, em 2003. De acordo com as ativistas Salem
(2007) e Silva (2012), ambas ativistas da LBL em tempos diferentes, a LBL é uma rede que
começou a ser tecida no FSM -Fórum Social Mundial, realizado em 2003 na cidade de Porto
Alegre.
Na ocasião do FSM, durante Planeta Arco-íris que aconteceu na Usina do Gasômentro, no
centro da cidade, lésbicas e mulheres bissexuais de diferentes Estados brasileiros realizaram uma
oficina para tratar do problema da “Visibilidade Lésbica”, onde foram abordadas as dificuldades
desses segmentos discutirem suas agendas tanto no seio dos movimentos feministas protagonizados
por mulheres heterossexuais, o chamado “hetero feminismo”, quanto no seio do movimento LGBT,
protagonizado majoritariamente por gays. Dessa discussão nasceu a proposta de criação de uma
rede específica de lésbicas e mulheres bissexuais para tratar das suas demandas especificas.
É assim que surge a LBL como uma “expressão do movimento social, de âmbito nacional,
que se constitui como espaço autônomo e não institucional de articulação política, integrada por
lésbicas e mulheres bissexuais, militantes autônomas e/ou organizadas em grupos específicos ou
mistos pela livre orientação sexual” (LBL, 2004, on line). Durante a referida oficina de
“Visibilidade Lésbica”, as fundadoras da LBL produziram e socializaram uma Carta Aberta
ressaltando a criação da Liga e os seus propósitos políticos (SALEM, 2007, p. 102).
CARTA ABERTA AO III FÓRUM SOCIAL MUNDIAL.
Porto Alegre-Brasil, 27 de janeiro, 2003
[...] Fundamos a LBL para explicitar as nossas questões e reivindicações como a
visibilidade lésbica, saúde, direitos humanos, direitos econômicos, diversidades e
vários outros. Entendemos o FSM como um espaço de luta e busca pela conquista
de possibilidades de um mundo melhor. Chamamos com urgência os Comitês
Organizacionais do Fórum Social Mundial a incluir a partir do IV FSM as questões
LBTTG – Lésbicas, Bissexuais, Transgêneros, Traves Gays nos eixos de discussão.
LIGA BRASILEIRA DE LÉSBICA
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Afirmando que os nossos corpos nos pertencem, que é com o corpo que amamos, a LBL
vem atuado pela liberdade dos corpos e pela garantia dos Direitos Humanos em diferentes áreas. O
histórico da LBL mostra que a mesma tem se destacado na construção do Plano Nacional de
Políticas para as Mulheres mediante participação nas Conferências de Políticas para as Mulheres,
trabalho este reconhecido pela obtenção da titularidade, desde 2006, no Conselho Nacional dos
Direitos da Mulher.
Em razão de suas ações na área da saúde, a LBL foi eleita para a titularidade na
representação do segmento LGBT no Conselho Nacional de Saúde em 2007, e, desde então, tem se
mantido na gestão do referido CNS. Também integrou a comissão organizadora da 1ª e da 2ª
Conferência Nacional dos Direitos LGBT (Lésbica, Gay, Bissexual, Travesti), que aconteceram,
respectivamente, em 2008 e 2010, contribuindo efetivamente com os resultados das conferências,
que deu origem ao Plano Nacional de Combate a Homofobia, um plano que tem exigido muita
articulação dos movimentos LGBT em todo o país. Por conta da sua atuação em âmbito nacional no
campo dos Direitos Humanos, a LBL recebeu um convite para compor o grupo que trabalhou na
construção do Conselho Nacional LGBT, onde foi eleita titular na representação das lésbicas no
referido Conselho Nacional LGBT, nas gestões 2010-2012 e 2013-2014, se destacando em defesa
da cidadania e Direitos Humanos da Lésbicas e Mulheres Bissexuais.
Em 2012, motivada pelos princípios da laicidade do Estado, a LBL foi protagonista na
vitória histórica que promoveu a retirada dos símbolos religiosos dos espaços públicos no Rio
Grande do Sul e na III Conferência Nacional de Mulheres (FONTE) e protagonista da defesa que
garantiu a aprovação da proposta de descriminalização do aborto (PAIVA, 2011, on line)
Todas as ações da LBL, que não pretende se constituir em única alternativa de articulação do
movimento de lésbicas, são norteadas pela sua “Carta de Princípios4”, que é fruto de construção
coletiva, colaborativa e participativa de militantes de diferentes Estados5. Essa Carta de Princípios
4 A Carta de Princípios da LBL foi aprovada no 1º Encontro Nacional da Liga, realizado em 2004, em São Paulo e atualizada no II Encontro Nacional da LBL, realizado em 2007, no Piauí (LBL, 2004). Esse documento norteador da LBL se baseia na defesa da liberdade, igualdade de direitos, autonomia e democracia, assim como no enfrentamento ao machismo, à misoginia, ao sexismo, ao racismo e a toda e qualquer forma de violência, preconceito e discriminação. 5 Segundo Salem (2007, p.103), a Carta de Princípios da LBL foi construída a partir de propostas apresentadas em
encontros e reuniões da Liga que antecederam o II EnLBL, a saber: I Encontro Regional LBL-Sul, realizado em
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define os seguintes fundamentos que devem ser assimilados e reiterados cotidianamente por todas
as integrantes da rede: 1) Pluralismo; 2) Autonomia, autodeterminação e liberdade; 3)
Solidariedade; 4) Transparência; 5) Horizontalidade; 6) Liberdade de orientação e expressão
afetivo-sexual; 7) Defesa do Estado laico; 8) Visibilidade lésbica; 9) Posição antirracista; 10)
Posição anticapitalista.
Salem (2007) afirma que de acordo com o relato da Reunião da LBL Nordeste, realizada no
Piauí, em 2006, compartilhar os princípios presentes na carta coletiva da LBL significa incorporá-la
na prática política e na fala pública. Nessa perspectiva, a Carta de Princípios da LBL é o seu
fundamento filosófico, um discurso em movimento norteador de todas as ações das suas militantes.
No artigo intitulado “LBL-BA: rede sem cabeça, pulsante, comunicante, toda pensante!?”,
Silva (2012), docente ativista do NuGSerx Diadorim/UNEB, integrante da LBL-BA, ressalta que a
LBL é uma “rede tecida em redes, estadual, regional e nacional, com características comuns às
demais redes sociais”. Ao analisar o grau de centralidade da Liga Baiana, Silva aponta a LBL-BA,
principal interlocutora do NugSex Diadoirm/UNEB, como “uma rede dinâmica, interativa e auto-
organizada a partir de princípios construídos e assumidos coletivamente”. Para Silva, a Liga baiana
é tecida com fios da ciência e da política. “A tessitura com esses fios exige habilidade. Cada fio
tecido vem de campo de natureza conflitosa, e como tal, são de alta tensão. Um deslize pode
destruir, cortar ou queimar, toda a trama” (SILVA, 2012, p.).
Nosso diálogos teóricos, nossas práxis engajadas: experiências de educação pelas diferenças
Tomamos de empréstimo a noção de experiência construída por Scott (1999), que a reconhece
como uma categoria amarrada à identidade, e, como tal, um elemento constituinte do sujeito. Assim,
associando experiência à identidade, Scott recusa a separação entre “experiência” e linguagem
insistindo na ideia, com a qual concordamos, de que os sujeitos são constituídos discursivamente, mas
que existem conflitos entre sistemas discursivos.
Isso posto, ressaltamos que os enlaces teóricos que fundamentam as experiências de extensão
aqui em tela têm origem no feminismo perspectivista, protagonizado pelas mulheres negras e pelas
setembro, 2004, I Encontro Estadual LBL-SP, realizado em abril, 2004, e I Reunião LBL Nordeste, realizada em novembro, de 2004.
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lésbicas. Esse feminismo, que norteia as pedagogias feministas que promovemos a partir das nossas
experiências, aponta que as mulheres não compartilham as mesmas experiências de opressão, que é
preciso diferenciá-las para entender as suas especificidades e não universalizá-las através da categoria
“mulher”, pois há diferenças que fazem a diferença (SIVA, 2010).
Dentre as autoras do feminismo negro com as quais dialogamos, destacamos : a) Collins (1986),
que apresenta o pensamento feminista negro como uma epistemologia que “consiste de ideias
produzidas por mulheres negras que clarificam um ponto de vista da e para as mulheres negras” (1986,
p.6); b) Alice Walker (1983), que reivindica a solidariedade e a cumplicidade entre as mulheres e
retoma as lutas das mulheres negras anterior ao “surgimento” do feminismo como teoria frente ao
sexismo, o racismo, a pobreza e o capitalismo internacional; c) Angela Daves (2005), uma das primeiras
teóricas a demonstrar a importância da articulação das categorias gênero, raça, classe e corpo na
pesquisa feminista.
Dentre as protagonistas lésbicas do feminismo, destacamos: a) Adriane Rich (1981), que resgata
o afeto, a solidariedade, a amizade e o amor entre as mulheres para refletir a existência lésbica e
contínum lésbico, apresentado como uma categoria que tenta explicar a "coisa que não tem nome" que
liga todas as mulheres, independente da relação sexual entre elas.; b) Monique Wittig (1980), que pensa
o mundo como um conjunto de discursos e apresenta a “Heterossexualidade compulsória” como um
regime político de controle da sexualidade feminina; c) Judith Butler, que apresenta a “Teoria da
performance”, colocando em cheque a ordem compulsória do sexo/gênero/desejo/prática.
Exercitando o transito entre a ciência e a política, reconhecendo o gênero, a raça e a sexualidade
como elementos constitutivos do sujeito histórico, o NuGSex, Diadorim/UNEB e a LBL se encontraram
pela primeira vez em 2010, em ação de reflexão e enfrentamento a todas as formas de violência de
gênero. Na ocasião, o NuGSex Diadorim estava articulando ações do Programa Uneb combatendo a
Homofobia e do Projeto de Extensão “Campanha de 16 dias de ativismo na UNEB pelo fim da
violência contra as mulheres”.
O NugSex Diadorim ainda não conhecia as integrantes da LBL da Bahia quando convidou os
segmentos de lésbicas, através de uma lista de discussão, para discutir a 5ª ed, “Campanha de 16 dias de
ativismo na UNEB pelo fim da violência contra as mulheres”. como mostra a mensagem abaixo.
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Meninas, A uneb está em movimento rumo a sua 5ª edição da "Campanha de 16 dias de
ativismo na Uneb pelo fim da violência contra as mulheres". Queremos promover
diálogos possíveis e necessários à construção dessa Campanha. Queremos retomar nossos diálogos anteriores e construir novos, queremos parcerias. O que vocês
acham? Vamos conversar sobre esse projeto? [...]
Beijos, aguardo contato6
Integrantes da LBL, do Coletivo LESBIBAHIA, assim como integrantes do grupo AJOBI,
responderam ao chamado do NugSex Diadorim. Mas o envolvimento da LBL-BA na tessitura da 5ª
edição da Campanha de 16 dias na Uneb só foi efetivada de fato a partir da adesão de uma das
coordenadoras da Campanha a LBL. Isso aconteceu em agosto de 2010, depois do seguinte
chamado, dessa vez, na lista de discussão da LBL-BA, em 29/08/2010:
Meninas,
Obrigada pela atenção e receptividade. Já recebi a carta de princípios da LBL e
encaminhei a minha ficha de adesão para a Edlene. Também agradeço à Carmem
por ter intermediado essa adesão. Espero em breve poder conhecer todas as integrantes da Liga/BA (Conheci a Virginia em Florianópolis)
Aproveito para convidá-las a participar da Campanha de 16 dias de ativismo na
UNEB pelo fim da violência contra as mulheres, uma ação/intervenção que a Universidade do Estado da Bahia, através do seu DIADORIM-Núcleo de Gênero e
Sexualidade/UNEB e o Sistema de Biblilotecas da Universidade realiza ha 5 anos.
Faço parte da comissão organizadora dessa campanha. Dia 04/09, às 9:00h, na Biblioteca Pública do Estado (Barris), estaremos realizando
a oficina "Pirulitando na Parada", como o propósito de produzir cartazes/pirulitos
para a Folia lésbica feminista para o lançamento da referida Campanha na Parada
Gay de Salvador, onde estaremos, com dinamismo, criatividade e rebeldia, junto ao Trio do Diadorim levando o nosso protesto. Acho importante que a LBL se faça
presente nessa ação/intervenção. A Val já confirmou presença, não é mesmo Val?
será uma alegria contar com a participação das demais7.
A partir dessa adesão, fundamentada na Carta de Princípios da LBL, reconhecendo a
universidade como espaço de diálogo e construção de saberes necessários às lutas das lésbicas e das
mulheres Bissexuais, e como tal uma entidade parceira dos movimentos de lésbicas, a LBL tornou-se
uma das principais colaboradoras da Campanha 16 dias da UNEB. Vale ressaltar que a “Campanha de
16 dias de ativismo na UNEB pelo fim da violência contra as mulheres”, é uma ação feminista,
comprometida com o propósito de promover o debate em torno das faces da violência contra as
mulheres e da lesbofobia como uma violação dos Direitos Humanos, além de oferecer parâmetros
6 Mensagem enviada pela coordenadora do projeto “Campanha 16 dias de ativismo na Uneb pelo fim da violência contra as mulheres” para a lista [email protected], em 25/05/2010. 7 Mensagem enviada por Eide Paiva para lista de discussão da LBL-BA em 29/08/2010.
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teórico-metodológicos para uma reflexão sobre as relações sociais de gênero, raça/etnia,
sexualidade e classe nas sociedades capitalistas, com ênfase na análise da sociedade brasileira.
O diálogo entre o NugSeX Diadorim e a LBL resultou em um conjunto de ações norteadas pelas
pedagogias feministas, isto é num “conjunto de princípios e práticas que objetivam conscientizar
indivíduos, tanto homens como mulheres, no tocante à ordem patriarcal vigente, dando-lhes instrumento
para atuarem no sentido de superá-la e, assim construir a equidade entre os sexos” (SARDEMBERG,
2004, p.2).
Dentre as ações da 5ª ed. da Campanha de 16 na Uneb que contou com o protagonismo da LBL,
destacamos: a) Oficinas “Pirulitando da Parada”, uma ação de leitura e comunicação do pensamento
feminista produzido por lésbicas, realizadas nos dias 04 e 10/09/2010, em Salvador, com o propósito
produzir cartazes/pirulitos para Folia Lésbica Feminista, realizada durante a IX Parada Gay de Salvador,
em setembro/2010; b) Folia lésbica feminista, uma intervenção política no trio elétrico do NuGSex
Diadorim durante a 9ª Parada Gay de Salvador; c) participação na mesa de abertura do Encontro de
Núcleos de Práticas Jurídicas, realizado em 22 e 23/11/2010, no Ministério Público do Estado da Bahia,
localizado em Salvador,d) Exposição “Margaridas Africanas”, da ativista Silvana Conti, da LBL-RS.
Essa exposição, realizada em Salvador e Conceição do Coité, em novembro e dezembro/2010,
respectivamente, consiste em um conjunto de fotografias de lésbicas, mulheres e meninas negras. O
propósito da Exposição é refletir sobre o racismo como expressão da violência contra as mulheres.
Tão logo a Campanha 16 dias foi encerrada, em janeiro de 2011, o NuGSex Diadorim fomentou
a inclusão da LBL-BA na Comissão de Cidadania e Direitos Humanos das Lésbicas e das Mulheres
Bissexuais do Conselho Municipal de Direito da Mulher de Conceição do Coité, então presidida por
uma das organizadora da referida Campanha de 16 dias.
A partir da inclusão da LBL-BA na Comissão, levantando a bandeira dos movimentos “justas
somos fortes, organizadas temos poder”, NuGSex Diadorim e LBL adentraram caminhos e
descaminhos do Território do Sisal na promoção do debate sobre os Direitos Humanos, fomentando a
consciência critica, potencializando transformações sociais. Durante essa caminhada, realizaram
exibição de filmes, rodas de conversas, exposições, dentre outras atividades, além de serem
protagonistas no processo de articulação da 1ª Audiência Pública do Território do Sisal, realizada em
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Conceição do Coité, em junho de 2011. Para tanto, a parceria e a presença do Fórum Baiano LGBT,
através da participação da rede Afro-LGBT foi fundamental.
Também participaram ativamente da COT- LGBT SISAL – Comissão Organizadora da
Conferência Territorial do Sisal, articulando e realizando as conferências LGBT do Território do Sisal,
realizada no município de Serrinha, em 08/10/11 e do Território Portal do Sertão, realizada em Coração
de Maria, em 01/10/11. Durante o processo de construção e realização da Conferências LGBT, vale
ressaltar que a LBL-BA e o NuGSeX Diadorim fortaleceram laços políticos com o Fórum Baiano
LGBT e desde então o diálogo entre essas entidades têm sido muito profícuos.
Em 2012, NugSex Diadorim –UNEB e LB-BA buscaram parceria com o GGB-Grupo Gay da
Bahia, entidade filiada ao Fórum Baiano LGBT, e juntos construíram o Seminário pela eliminação de
todas as formas de violência contra as mulheres heterossexuais, bissexuais, travestis e lésbicas,
realizado nos dias 22 e 23 de março, no auditório da Faculdade Visconde de Cairu, em Salvador. Ainda
em 2012, dando continuidade aos diálogos necessários entre a Universidade e os movimentos sociais,
LBL_BA e NuGSex Diadorim/UNEB, também em parceria com o Fórum Baiano LGBT,
desenvolveram o projeto “Mais lésbicas no poder: Semana da visibilidade lésbicas -2012”, no período
de 25 a 31 de agosto8.
Com uma programação extensa e diversificada, o projeto “Mais Lésbicas no Poder” foi
desenvolvido com os seguintes propósitos: a) Fomentar a produção e a difusão do conhecimento
voltado para a valorização das expressões das lésbicas e mulheres bissexuais; b) refletir sobre
trajetória e a presença das lésbicas nos espaços de poder e decisão como um caminho para o
aperfeiçoamento e consolidação da democracia; c) refletir sobre a visibilidade e o empoderamento
de lésbica como um caminho para o aperfeiçoamento e consolidação da cidadania; d) discutir a
importância da "Frente Parlamentar pela cidadania LGBT na Bahia" como instrumento necessário à
implantação de políticas públicas com foco na Cidadania e Direitos humanos das Lésbicas e
Mulheres Bissexuais; e) fomentar a criação de redes de proteção dos Direitos Humanos de lésbicas,
gays, bissexuais. A programação compreendeu mesas-redondas, rodas de conversa, performances,
8 Essa atividade de extensão, vale ressaltar, é vinculada ao projeto de Doutorado da professora Zuleide Paiva, intitulado “Pensamento e Movimento de lésbicas na Bahia: fios e tramas de conhecimento situado”, em desenvolvimento no programa de Pós Graduação do DMMDC – Doutorado Multi-Institucional e Multidisciplinar em Difusão do Conhecimento/UFBA, sob orientação da professora Dra. Rosangela Araújo. É também uma atividade vinculada às macro ações do NuGSex Diadorim/UNEB.
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poesia, música, exibição de filmes, oficinas. As atividades foram realizadas em cinco municípios (
Castro Alves, Lauro de Freitas, Salvador, Cachoeira e Conceição do Coité). Para tanto, a articulação
política foi intensa.
Durante a realização do referido projeto “Mais lésbicas no poder”, no dia 24/10, a Bahia foi
surpreendida com o assassinato de duas jovens lésbicas negras, moradoras de Camaçari que andavam de
mãos dadas quando foram executadas. Esse caso de lesbofobia foi discutido em todas as ações do
projeto “Mais lésbicas no poder”. Expressando solidariedade e repudio, NuGSex Diadorim/UNEB,
LBL-BA, LESBIBAHIA9, LILAS
10 produziram uma nota pública que foi e lida no inicio de cada
atividade. Após a leitura da nota, solicitando um minuto de silêncio, laços de fita preta foram
distribuídos para representar o luto de todas as lésbicas e toda sociedade que luta pela criminalização da
homofobia11
.
Com o compromisso de combater todas as formas de violência de gênero, ainda em 2012, o
NuGSex Diadorim e LBL, em parceria com a SEC-BA, realizaram 6ª edição da “Campanha de 16 dias
de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres”, com ações presenciais em Salvador e em
Conceição do Coité. A ação realizada em Salvador, mesa-redonda “Somos da educação, não toleramos
violência”, teve o propósito de refletir sobre as interseccionalidades da violência de gênero na escola,
com ênfase nos marcadores de raça e sexualidade. Essa atividade, que contou com a participação das
professoras Jussara Costa (UEPB), que é ativista da LBL e Denise Botelho (UFPE) ativista do
Movimento de Mulheres Negras, além de contar com a professora Amélia Maraux, Superintendente da
Educação Básica da Bahia e pesquisadora no NuGSex Diadorim/UNEB, foi transmitida por vídeo
conferência para todos os Campi da UNEB e para todas as salas de vídeo conferência do Instituto
Anísio Teixeira – IAT/SEC - BA, fato que garantiu grande alcance da ação em todo o estado.
Em 2013, novas tessituras entre a LBL e o NugSex Diadorim se iniciam com a expectativa de
promover aprendizado pela diferença em todos os Campi da UNEB. O debate sobre a Cidadania e os
Direitos Humanos das mulheres e das pessoas LGBT, dentro e fora da universidade, é desafio do
9 Coletivo de Lésbicas e Mulheres Bissexuais da Bahia. Também é uma ação de extensão 10 LILAS-Liga de Lésbicas e Mulheres Bissexuais de Lauro de Freitas 11 NuGSex Diadorim a e toda a sociedade baiana ainda esperam que a justiça se faça e que o assassinato das jovens seja punido, que a homofobia seja criminalizada. Enquanto isso não acontece, enquanto os direitos humanos são violados, o NuGSex Diadorim e LBL estão e continuarão em movimento pelo fim de todas as formas de violência
III SEMINÁRIO INTERNACIONAL ENLAÇANDO SEXUALIDADES
15 a 17 de Maio de 2013 Universidade do Estado da Bahia – Campus I
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NuGSex Diadorim/UNEB, da LBL, do Fórum Baiano LGBT e de todos as entidades comprometidas
com a educação como trilha de empoderamento.
Um olhar auto avaliativo e as nossas considerações finais
Acreditamos que as ações aqui em pauta para além de indicarem possibilidades para uma
extensão universitária engajada nas lutas sociais, revelam, sobretudo, as pedagogias feministas como
ferramentas necessárias à construção de uma nova sociedade onde as diferenças não sejam
transformadas em desigualdades. Acreditamos e promovemos as pedagogias feministas como diálogos
formativos capazes de fomentar e construir a um novo projeto de educação.
Em sintonia com as ativistas lésbicas, ressaltamos que lesbianizar e racializar a educação é
preciso. Em nossas camisas disseminamos nossas crenças coletivas, “Se você é LGBT, diz que é”.
“LGBT, não se cale. Denuncie. Silêncio = Morte”. Em coro, dizemos “Somos da educação, não
toleramos violência”.
Temos ciência de que a igualdade e a democratização da educação exige reformulação curricular
capaz de contemplar o enlace das categorias de gênero, raça e sexualidade no ensino, na pesquisa e na
extensão, sem, contudo, negligenciar as condições materiais de produção do conhecimento. Só assim,
acreditamos, é possível potencializar uma educação anti-sexista, anti-racista e anti-homofóbica.
Também temos ciência de que para garantir tal reforma faz-se necessário uma mudança de atitude
docente frente a essas temáticas. Esse é nosso desafio. Como educadara(res) orientadas(os) pelas
pedagogias feministas, compreendemos que educar não é transferir conhecimento, que educar
exige risco, aceitação do novo e rejeição a toda forma de preconceito.
Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque
indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando
intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não
conheço e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, 2007, p.29)
Assim, NugSex Diadorim Uneb e LBL, em movimento seguimos nossos caminhos e
descaminhos pela educação.
Referências
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