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III Congresso Consad de Gestão Pública
O INSS E A CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS EM
TRINTA MINUTOS
Eliane Barbosa da Conceição Sandra Denise de Oliveira Clinco
Painel 49/195 Gestão por resultados sem flexibilidades? O difícil avanço da agenda de gestão no Brasil
O INSS E A CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS EM TRINTA MINUTOS
Eliane Barbosa da Conceição Sandra Denise de Oliveira Clinco
RESUMO Em janeiro do ano de 2009, o INSS inaugurou um programa que teve como meta inicial a concessão de aposentadoria por idade em trinta minutos aos trabalhadores urbanos. Um dos objetivos do Programa é o de prestar serviços de qualidade aos usuários. De fato, o Instituto tem implementado diversas ações e programas que concorrem para essa finalidade, como exemplo podem ser citados o projeto de ampliação em sessenta e cinco por cento do número de agências de atendimento ao público em todo país, até este ano (2010) e o serviço de atendimento telefônico, que disponibiliza um número (135) para o qual o usuário pode ligar gratuitamente para saber mais informações e/ou agendar sua ida a uma das agências do instituto. Essas iniciativas do INSS não podem ser avaliadas de modo isolado, pois existe certo consenso, entre os formuladores de políticas públicas e acadêmicos da área, de que, nas democracias contemporâneas, a preocupação com o aprimoramento da qualidade dos serviços disponibilizados aos cidadãos deva fazer parte de uma agenda de gestão pública. No Brasil, esse princípio fora elucidado no “Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado”, em 1995. O Referido documento argumentava em favor da reorganização das estruturas da administração pública, dando ênfase à qualidade e à produtividade dos serviços ofertados. Para o, então, Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado, Bresser Pereira, a eficiência da administração pública – que, segundo sua visão, inclui a redução dos gastos governamentais e o aprimoramento da qualidade dos serviços prestados – era questão essencial. Porém, como prescreve a literatura de gerenciamento de serviços, esses não podem ser prestados com qualidade caso não sejam atendidos alguns requisitos mínimos, dentre os quais o emprego de uma mão-de-obra qualificada na sua prestação. Na literatura de gerenciamento de serviços, a área de interesse que trata das questões relacionadas à relação da organização com empregados/funcionários e destes com os clientes/usuários é chamada de marketing interno (MI), que também pode ser entendido como um programa de gerenciamento de pessoas. Nesse último sentido, o apresenta-se como um elemento importante para a solução do problema da entrega de serviços de alta qualidade. O princípio básico do MI declara que os empregados/funcionários – a interface da organização com os cliente/usuários – são elementos essenciais em programas de prestação de serviços de qualidade e que, por essa razão, as organizações precisam planejar e dirigir com firmeza os recursos humanos e as questões a eles referentes. Ele é tido como um veículo para administrar a implantação ou a mudança de estratégias organizacionais. Tal concepção baseia-se na idéia de que a organização precisa vencer conflitos interfuncionais e estabelecer formas de se comunicar melhor com seu público interno nas ocasiões em que esteja passando por mudanças de estratégia, que é, por exemplo, o que está acontecendo
com INSS nesses últimos dez anos, visto que a entidade tem-se reestruturado para atender seus usuários com mais eficiência e eficácia. O MI é um conceito amplo que inclui atividades destinadas a motivar empregados/funcionários a oferecer bom atendimento aos clientes/usuários e atividades que visem a levar a organização como um todo a trabalhar coordenadamente na perseguição desse objetivo. O objetivo do presente trabalho foi examinar, a partir de uma perspectiva gerencial, se, em sua busca pela excelência no atendimento ao usuário, o INSS tem dado atenção ao papel fundamental que os funcionários desempenham no processo. Em princípio, pode parecer descabida a avaliação de atividades do setor público a partir de valores e medidas desenvolvidas para o setor privado. Não concorre a esse favor, as lições dadas por Laurence E. Lynn Jr. e James G. March, em que os autores destacam que as pesquisas na área de administração pública podem ser enriquecidas quando se utilizam dos conhecimentos produzidos pelos estudos de administração geral. Para o alcance desse objetivo, procedemos ao levantamento dos documentos relacionados ao Programa de Concessão de Benefícios em Trinta Minutos, produzidos pela entidade, e realizamos uma entrevista semi-estruturada, da qual participaram o Chefe da Divisão de Atendimento da Gerência Regional de São Paulo, a Chefe da Assessoria de Comunicação Social do INSS de São Paulo e a Chefe da Seção de Gerenciamento da Rede de Atendimento daquela mesma Regional. O formulário utilizado na entrevista foi retirado da literatura disponível em marketing de serviços (MS) e adaptado para a realidade dos serviços públicos. A análise das respostas colhidas demonstra que, segundo a percepção de seus gestores, o INSS tem adotado quase todos os procedimentos recomendados pelos pesquisadores de MI, o que leva a acreditar que o Instituto tem caminhado em direção à consecução de seu objetivo, que é o de oferecer ao cidadão um atendimento de qualidade. Seus dirigentes têm-se ocupado das questões relativas aos servidores, oferecendo-lhes o treinamento necessário para a execução de suas atividades; avaliando o seu comportamento; recompensado em função do seu desempenho; disponibilizando instrumentos que promovem e facilitam a comunicação interna. Não podemos desconsiderar, todavia, que essa pesquisa apresenta algumas limitações. Sendo a principal delas o fato de que somente ouvimos os gestores da entidade, o que nos deu uma visão parcial do fenômeno estudado. Para que tivéssemos uma visão mais adequada acerca de nossa questão inicial seriam necessárias pesquisas com os servidores e com os usuários dos serviços ofertados pelo INSS. Sugerimos, assim, que novas pesquisas, objetivado verificar a percepção de servidores e usuários quanto às questões aqui levantadas, sejam realizadas com o fim de ampliar nossa visão acerca do nosso objeto de estudo.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................04
OBJETIVOS................................................................................................................08
ASPECTOS METODOLÓGICOS............................................................................... 09
REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................... 10
Gerenciamento de serviços........................................................................................ 10
MI................................................................................................................................ 12
RESULTADOS........................................................................................................... 15
ANÁLISE DOS RESULTADOS.................................................................................. 20
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................22
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 24
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INTRODUÇÃO
A partir dos anos de 1990, a administração pública brasileira vem
desenvolvendo ações que visam incentivar órgãos e entidades, que possuam entre
seu conjunto de atribuições aquelas de atendimento direto ao cidadão, a
desenvolverem sistemas de gestão que levem em consideração não somente seus
processos internos de organização, mas também, e com o mesmo grau de
importância, as necessidades dos usuários de seus serviços. Diante dessa proposta,
as organizações públicas se vêem diante de duplo desafio.
O primeiro deles consiste em elevar a qualidade dos serviços prestados
aos cidadãos, mediante, entre outros, o aprimoramento de seus processos internos,
a formação e aperfeiçoamento de sua força de trabalho e a utilização inteligente da
tecnologia disponível. O segundo resume-se em seu dever de estimular a
participação dos usuários no processo de melhoria dos serviços que lhes são
oferecidos, induzindo-os ao controle dos atos da administração pública e,
conseqüentemente, tornando-os mais exigentes em relação aos serviços públicos
que lhe são prestados.
Neste artigo, trataremos apenas de questões relativas ao primeiro desafio
e dos esforços empreendidos naquele sentido pelo Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS), nesse momento em que busca a excelência no atendimento ao
usuário. Seu compromisso com o aprimoramento da qualidade dos serviços
prestados – como, por exemplo, a fixação de prazo máximo de trinta minutos para a
concessão de alguns benefícios e a ampliação do número dos postos de
atendimento – tem sido amplamente divulgado nos jornais de grande circulação, em
sua página na Internet e boletins do instituto.
Conforme pontua Regina Pacheco (2004, p. 4) existe, hoje, certo
consenso, entre os formuladores de políticas públicas e acadêmicos da área, de
que, nas democracias contemporâneas, a preocupação com o aprimoramento da
qualidade dos serviços disponibilizados aos cidadãos deve fazer parte de uma
agenda de gestão pública. No Brasil, esse princípio fora elucidado no “Plano Diretor
da Reforma do Aparelho do Estado”, em 1995. O Referido documento argumentava
em favor da reorganização das estruturas da administração pública, dando ênfase à
qualidade e à produtividade dos serviços ofertados (p. 7). Para o, então, Ministro da
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Administração Federal e Reforma do Estado, Bresser Pereira, a eficiência da
administração pública – que, segundo sua visão, inclui a redução dos gastos
governamentais e o aprimoramento da qualidade dos serviços prestados – era
questão essencial, conforme elucidado no trecho a seguir: “A reforma do aparelho
do Estado passa a ser orientada predominantemente pelos valores da eficiência e
qualidade na prestação de serviços públicos e pelo desenvolvimento de uma cultura
gerencial nas organizações” (p. 16).
O Plano Diretor preceituava que para alcançar a eficiência, o Estado
deveria transformar as fundações e autarquias, dentre as quais o INSS, em agências
autônomas, administradas segundo um contrato de gestão e por o dirigente
escolhido, dentre funcionários públicos ou profissionais de mercado, pelo Ministro
segundo critérios rigorosamente profissionais. (BRASIL, 1995, p. 46). Essas
agências seriam voltadas para resultados e dotadas de flexibilidade administrativa e
ampla autonomia de gestão (BRASIL, 1995, p. 55), o que lhes daria a capacidade
para a prestação de serviços de alta qualidade aos usuários dos sistemas públicos.
Em que pese a não realização do projeto contido no Plano Diretor, essa
mesma preocupação com a qualidade dos serviços estatais levou o Governo
Federal a publicar, em junho de 2000, o Decreto no 3.507, que trata do
estabelecimento de padrões de qualidade no atendimento prestado aos cidadãos
pelos órgãos e pelas entidades da Administração Pública Federal direta, indireta e
fundacional que mantêm contato direto com usuários dos serviços públicos. Assim,
as organizações públicas passaram não só a estabelecer padrões de qualidade
adequados aos seus serviços, como também a tornar público esses padrões,
oferecendo à sociedade instrumentos que a auxiliasse na avaliação dos serviços
públicos. Além disso, as entidades públicas deveriam ser submetidas a avaliações
periódicas, por parte de órgãos responsáveis, conforme as diretrizes normativas
constantes do Decreto (BRASIL, 2008a, p. 9).
A partir de então, foi institucionalizado o “Projeto Padrões de Qualidade
do Atendimento ao Cidadão”, visando a alcançar a participação das organizações
que fazem atendimento ao público. Como resultado, observa-se um processo
permanente de busca pela melhoria da qualidade dos serviços prestados à
população, visto que, ao estabelecer e divulgar padrões de qualidade, as
organizações se comprometem com a excelência do atendimento, tornando-o cada
vez mais acessível aos usuários (BRASIL, 2008a, p. 9).
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Dando mais um passo em direção ao perseguido objetivo, em fevereiro de
2005, foram fundidos os “Programa da Qualidade no Serviço Público” e o “Programa
Nacional de Desburocratização”, certamente, em uma tentativa de unificar os
procedimentos de controle de qualidade de serviços públicos, o ato foi publicado no
Decreto no 5.378.
Já, no âmbito do “Programa Nacional de Gestão Pública e
Desburocratização” foi lançada, em 2008, a “Carta de Serviços aos Cidadãos”,
documento que resgata algumas ações desenvolvidas pelas entidades públicas no
“Projeto Padrões de Qualidade do Atendimento ao Cidadão”, que era fundamentado
no Decreto no 3.507/00 (BRASIL, 2008a, p. 7-9). Importante notar a continuidade na
perseguição desse objetivo – da prestação de serviços públicos de qualidade –,
mesmo diante das mudanças de governo ocorridas no período em observação.
Em essência, tanto o Projeto Padrões de Qualidade do Atendimento ao
Cidadão como a Carta de Serviços ao Cidadão visam a objetivos comuns, que são o
de levar o órgão ou entidade da administração pública federal a informar os
cidadãos dos serviços que são por elas prestados, do como ter acesso e obter esses
serviços e de quais são os compromissos de atendimento estabelecidos. Na prática,
essa exigência requer o ingresso do ente estatal em processo de transformação
fundamentada nos princípios de participação e comprometimento, informação e
transparência, aprendizagem e participação do cidadão. Esses princípios têm como
premissas o foco no cidadão, a participação de todas as pessoas que integram a
organização e a indução ao controle social (BRASIL, 2008a, p. 10).
Essa premissa, de dar publicidade às metas de aprimoramento dos
serviços disponibilizados pela entidade à população, tem orientado as ações do
INSS. Uma visita à página eletrônica do instituto é reveladora. Lá estão disponíveis,
entre outros, (1) lista de todos os serviços prestados pela autarquia; (2) links com
textos explicativos sobre cada um dos benefícios concedidos; (3) folders
promocionais para cada serviço, do qual consta seção intitulada “Saiba mais” sobre
o benefício e o número do telefone (135) para o qual o usuário pode ligar
gratuitamente para saber mais informações e/ou agendar sua ida a uma das
agências do instituto; (4) cartilhas e guias diversos; (5) diversas publicações, por
exemplo, grande parte do material usado como referência para o presente trabalho
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foi retirado da página eletrônica. Também, na página eletrônica está disponível uma
seção para que o usuário faça seu agendamento eletrônico. Esses são só alguns
dos serviços disponíveis no site da organização.
Igualmente, como já pontuamos acima, o INSS tem divulgado amplamente
as metas a que deseja alcançar na melhoria da qualidade do atendimento aos
usuários. Assim, a entidade tem divulgado, desde o último trimestre de 2008, o serviço
de concessão, em trinta minutos, de aposentadoria por idade para trabalhadores
urbanos. Esse serviço passou a ser oferecido a partir de janeiro deste ano (OESP,
23/12/08; 03/01/09; 06/01/09). Porém, já no final de janeiro mesmo, o programa foi
ampliado para incluir os benefícios de aposentadoria por tempo de contribuição (para
trabalhadores urbanos e rurais) e salário maternidade (OESP, 06/01/09). A
implantação do novo serviço foi possível a partir de mudanças na legislação –
introduzidas pela Lei Complementar no 128 de 2008, regulamentada pelo Decreto no
6.722 daquele mesmo ano –, que permitiram a ampliação da base de dados
certificada do Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS). As modificações
legais permitiram ao INSS utilizar todos os dados referentes a vínculos empregatícios
e contribuições existentes no CNIS para fins de concessão de benefícios, sem a
necessidade da apresentação de documentos. Antes do Programa, o tempo médio de
espera para obter um benefício era de 21 dias (OESP, 27/01/09). Visando ampliar o
acesso do usuário aos serviços previdenciários e ao aperfeiçoamento no atendimento,
o INSS divulgou recentemente que até 2010 estará construindo mais setecentas e
vinte agências e interiorizando a oferta de serviços para evitar longos deslocamentos
por parte dos usuários. Essas medidas não só trarão mais comodidade para o
usuário, como também contribuirá para a redução no tempo do agendamento e
proporcionará mais agilidade na concessão e manutenção do benefício previdenciário.
Além disso, o projeto ainda inclui a reforma de trezentas agências dentre as 1.110 que
estão em funcionamento (BRASIL, 2009b).
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OBJETIVOS
Ao observar todos os esforços empreendidos pelo INSS em direção ao
aprimoramento do atendimento oferecido ao cidadão, pareceu-nos que a entidade
tem-se orientado por objetivos respaldados na literatura de gerenciamento de
serviços e, mesmo, na literatura de qualidade em serviços públicos, uma vez que
ambas apontam a variável rapidez no atendimento como um dos elementos
determinantes da percepção dos clientes a respeito da qualidade dos serviços
recebidos (BERRY; PARASURAMAN, 1992; DINSDALE; MARSON, 2000;
GRÖNRROS, 2003). Também, nos pareceu que o INSS tem adotado
comportamento diverso daquele apontado como próprio aos prestadores de
serviços públicos por parte da literatura, quando essa afirma que a prestação de
serviços realizada pelo poder público ainda mantém em foco a própria existência
do serviço, deixando sua qualidade relegada ao segundo plano (FADEL; REGIS
FILHO, 2009, p. 9).
Mas, ao mesmo tempo, tivemos dúvidas em relação a outro ponto.
Questionamo-nos se a entidade estaria também prestando atenção aos princípios da
qualidade na prestação de serviços como previstos na literatura de gerenciamento
de serviços. Em seguida, lembramo-nos das lições dadas por Lynn Jr. (1994) e
March (1997), em que os autores destacam que as pesquisas na área de
administração pública podem ser enriquecidas quando se utilizam dos
conhecimentos produzidos pelos estudos de administração geral. Dessa forma,
voltamo-nos à realização da presente pesquisa que objetivou verificar, a partir de
uma perspectiva gerencial, se, em sua busca pela excelência no atendimento ao
usuário, o INSS tem dado a devida atenção ao papel fundamental que os
funcionários desempenham no processo. Os autores de gerenciamento de serviços
destacam a importância desse elemento, visto que o contato com os funcionários,
especialmente os de linha de frente, em muito contribui na determinação da
percepção de qualidade do serviço recebido pelos clientes, no caso aqui tratado,
pelos usuários.
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ASPECTOS METODOLÓGICOS
Para alcançar a esse objetivo, procedemos ao levantamento dos
documentos relacionados ao Programa de Concessão de Benefícios em Trinta
Minutos, produzidos pela entidade, e realizamos uma entrevista semi-estruturada, da
qual participaram o Chefe da Divisão de Atendimento da Gerência Regional de São
Paulo, a Chefe da Assessoria de Comunicação Social do INSS de São Paulo e a
Chefe da Seção de Gerenciamento da Rede de Atendimento daquela mesma
Regional. O formulário utilizado na entrevista foi retirado da literatura disponível em
MS, mais especificamente de Conceição (2005, p. 235-6), e adaptado para a
realidade dos serviços públicos.
Quanto ao vocabulário utilizado, cabe destacar que os termos marketing
de serviços (MS) e gerenciamento de serviços devem ser considerados sinônimos,
conforme destaca Grönroos (2003). Da mesma forma, a terminologia marketing
interno (MI), refere-se ao gerenciamento dos recursos humanos de uma
organização, quando esta os gerencia de forma orientada ao cliente/usuário de seus
serviços. Ambos, MS e MI, são usados aqui como sinônimos de gestão de serviços e
gestão de pessoas, respectivamente.
O artigo possui, além desta introdução, bibliografia, mais quatro seções.
Assim, na primeira parte trataremos da teoria de gerenciamento de serviços, dando
ênfase aos fatores que influenciam os clientes/usuários na avaliação da qualidade
de serviços e, mais especificamente, no papel do empregado/funcionário de linha de
frente para a qualidade no atendimento ao cliente/usuário. Na segunda parte,
apresentaremos os resultados da entrevista realizada. Na terceira seção,
analisaremos esses resultados à luz da teoria apresentada na primeira parte.
Finalmente, na última parte, faremos nossas considerações finais.
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REFERENCIAL TEÓRICO
Gerenciamento de serviços
Os objetivos primordiais do gerenciamento de serviços são a medição da
qualidade de sua prestação e a subseqüente adoção de medidas visando à
manutenção ou o alcance dessa qualidade. No entanto, medir a qualidade de serviços
não é tarefa simples. Isso porque serviços possuem características que dificultam o
processo de avaliação. Eles decorrem da interação entre o prestador e os tomadores
(usuários ou clientes) dos serviços. Desse ponto derivam características que os
diferenciam dos bens físicos, dentre as quais se encontram a intangibilidade, a
heterogeneidade e a simultaneidade entre sua produção e consumo. De modo
simplificado, essas características revelam que, a qualidade de serviços é medida de
forma muito peculiar. Sendo, em grande parte das vezes, mesmo medida a partir da
percepção do cliente a respeito do atendimento que lhe foi dado e não pela qualidade
técnica do serviço, visto que, geralmente, o cliente não possui formação ou
informações necessária para medir a qualidade técnica dos serviços.
Não obstante os atributos da intangibilidade e da heterogeneidade,
quando uma pessoa se dirige a uma organização que lhe prestará algum serviço, ela
já vai com uma idéia, uma expectativa acerca do que precisa e do que deseja
receber em troca. Tal expectativa é determinada por diversos fatores, muitos dos
quais são comuns para todos os tipos de serviços, inclusive os públicos. Dentre os
fatores que influenciam as expectativas de um cliente/usuário acerca da qualidade
dos serviços, encontram-se as próprias necessidades do cliente/usuário, suas
experiências anteriores, sua filosofia do que vem a ser um serviço de qualidade, a
comunicação da organização com a sociedade e a imagem da instituição à qual se
dirige. O serviço será avaliado positivamente quando a qualidade experimentada
atender às expectativas do cliente/usuário, ou seja, quando houver casamento entre
o padrão de qualidade esperado e o serviços efetivamente recebido (GRÖNRROS,
1995; ZEITHAML; BITNER, 2003).
Além das expectativas, que geralmente são criadas em momento anterior
ao recebimento dos serviços, outros fatores atuam no processo de avaliação da
qualidade por parte dos clientes/usuários. Entre esses está a própria experiência
com o recebimento do serviço. Ou seja, durante o período em que o cliente/usuário
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está em contato com o prestador de serviços, o primeiro fica atento a forma como
está sendo tratado pelo último. Como, no mais das vezes, não podem julgar a
qualidade técnica dos serviços, os cliente/usuários se apegam a alguns elementos
relacionados ao comportamento do prestador e, a partir deles, avalia o grau de
qualidade dos serviços. Esses elementos são, geralmente, chamados de
determinantes da qualidade de serviços. Alguns pesquisadores (por exemplo,
GRÖNROOS, 1995, 2003 e ZEITHAML; BITNER, 2003), apontam cinco deles como
os mais importantes: confiabilidade; presteza/prontidão; segurança/domínio;
empatia; e tangíveis.
Chamamos a atenção para o fato de que, dentre esses cinco determinantes,
três são diretamente relacionados a características dos atendentes. Conclui-se que a
forma como os clientes/usuários são tratados pelos funcionários de linha de frente, em
muito contribui na avaliação que fazem sobre a qualidade dos serviços.
Juntamente com as expectativas sobre o serviço e os determinantes de
sua qualidade, outros fatores influenciaram os clientes/usuários em sua avaliação da
qualidade, a figura 1 apresenta de forma resumida alguns desses elementos.
Figura 1: Fatores que influenciam as avaliações dos usuários/cidadãos a respeito de serviços públicos
Fonte: Dinsdale e Marson, 2000, p. 32
Expectativas
de serviço:
• comunicações
• necessidades
pessoais
• experiência (s)
passada (s) com
serviços
Percepções
do serviço público
e servidores públicos:
• princípios e valores:
eqüidade e processa-
mento apropriado
Características dos
serviços prestados:
• tangível X intangível
• voluntário X involun
tário
• direto X indireto
Características
dos receptores
de serviços:
idade, sexo,
histórico
Percepções respeito
das políti-
cas e dos políticos
• níveis de confiança
• desempenho
percebido
• “contaminação
política”
Prestação de
serviços: número e
duração de contatos,
custos, comunicação,
atitude e
conhecimento do
atendente
Percepção dos
serviços
governamentais
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Dado o propósito deste trabalho, no entanto, cabe destacar que existem
fatores que influenciam unicamente os usuários dos serviços públicos em sua
avaliação da qualidade dos serviços recebidos. Quando se considera, por exemplo,
os motivos pelos quais os usuários buscam os serviços públicos alguns desses
elementos emergem. No setor privado, os prestadores de serviços são, quase
sempre, solicitados em função do desejo ou, pelo menos, da escolha do cliente. No
setor público, diferentemente, há poucas opções quanto a prestadores. Além disso,
em alguns casos, os serviços públicos são legalmente exigidos, o que significa que
muitos usuários do governo o são involuntariamente, o que pode influenciar
seriamente a percepção da qualidade do serviço recebido. Outro elemento que
pode influenciar as percepções dos serviços do setor público é a confiança dos
cidadãos no governo, nos políticos e nos servidores públicos (DINSDALE;
MARSON, 2000, p. 28).
Trataremos, abaixo, dos fatores relativos à atuação dos funcionários que
lidam com atendimento direto ao usuário, uma vez que a proposta deste trabalho é
justamente verificar se, segundo a percepção de seus dirigentes, o INSS tem
preparado esses profissionais adequadamente e se a eles tem disponibilizado as
ferramentas necessárias à execução de suas atribuições.
MI
O MI apresenta-se como um elemento importante para a solução do
problema da entrega de serviços de alta qualidade (RAFIQ; AHMED, 2000). O
princípio básico do MI declara que os empregados/funcionários – a interface da
organização com os cliente/usuários – são elementos essenciais em programas de
prestação de serviços de qualidade e que, por essa razão as organizações precisam
planejar e dirigir com firmeza os recursos humanos e as questões a eles referentes.
Ele é tido como um veículo para administrar a implantação ou a mudança
de estratégias organizacionais. Tal concepção baseia-se na idéia de que a
organização precisa vencer conflitos interfuncionais e estabelecer formas de se
comunicar melhor com seu público interno nas ocasiões em que esteja passando
por mudanças de estratégia (RAFIQ; AHMED, 2000), que é, por exemplo, o que está
acontecendo com INSS nesses últimos dez anos, visto que a entidade tem-se
reestruturado para atender seus usuários com mais eficiência e eficácia.
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Assim, o MI é um conceito amplo que inclui atividades destinadas a
motivar empregados/funcionários a oferecer bom atendimento aos clientes/usuários
e atividades que visem a levar a organização como um todo a trabalhar
coordenadamente na perseguição desse objetivo (RAFIQ; AHMED, 2000, p. 454).
Conforme Zeithaml e Bitner (2003), para que os executores e os sistemas
de serviços possam cumprir o que foi prometido, eles precisam estar preparados
para esse fim. Os recursos humanos precisam da habilidade, da competência, da
motivação e das ferramentas necessárias à execução do serviço. Para as autoras,
gerar promessas é a parte mais fácil de qualquer negócio; o difícil é cumpri-las. Em
uma organização, em que se pressupõe um misto de relações interdepartamentais,
é necessário trabalho árduo para a preparação dos executores a fim de capacitá-los
a atuar de modo eficiente. Para que isso ocorra, a organização precisa contratá-los,
treiná-los, motivá-los, ensiná-los a trabalhar em equipe, orientá-los aos clientes.
Igualmente, eles precisam de suporte tecnológico, aparelhos e ferramentas
adequadas para bem desempenhar seu papel. Em contrapartida, a organização
precisa, além de prepará-los, recompensá-los pelo desempenho orientado ao
cliente. Sem esses esforços continuados por parte dos líderes da organização, as
promessas não poderão ser cumpridas. O MI, então, objetiva oferecer respostas
adequadas a tais necessidades.
Acreditamos que, guardadas as necessárias ressalvas – especialmente
aquelas concernentes aos objetivos do serviço público, que não se fundamentariam
somente em valores como o de garantir a satisfação do cliente, mas também nos
princípios da isonomia e da justiça social (DINSDALE; MARSON, 2000) -, essa
lógica também pode ser aplicada.
Grönroos (2003, p. 409) ensina que o MI não é legitimado por seus
métodos – ou seja, qualquer atividade poderia fazer parte de um programa dessa
natureza –, mas por seus propósitos de alinhar processos internos orientados
para o pessoal com seus efeitos externos, como também os internos, orientados
para o cliente.
Nesse sentido, para a aplicação do MI, não existe uma lista de atividades
ou um conjunto de procedimentos e passos a serem seguidos que sejam
coletivamente exaustivos. Como Grönroos orienta, toda e qualquer atividade
proposta pela organização, visando alcançar os objetivos do MI, pode ser
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classificada como atividade própria de MI. Dado seu objetivo maior, preparar a
organização para cumprir suas promessas, as atividades do MI serão, no mais das
vezes, multidisciplinares, possuindo interface maior com a administração de recursos
humanos, área que fornece diversas ferramentas que podem ser usadas em
programas de MI, tais como contratação, treinamento, planejamento de carreiras,
sistemas de avaliação e recompensa, atividades que podem ser desenvolvidas
mesmo na ausência de um conjunto completo de procedimentos de MI (CHIESA,
2001, p. 30 e GRÖNROOS, 2003, P. 409).
Nesse sentido, Berry e Parasuraman (1992, p.180) destacam sete pontos
que consideram essenciais à prática do MI e que, de alguma forma, resumem as
atividades apontadas pelos demais pesquisadores. Os sete pontos são: (a)
Recrutamento e seleção; (b) objetivos claros; (c) treinamento; (d) dar ênfase ao
trabalho de equipe; (e) influenciar o fator liberdade (empowerment); (f) avaliar e
recompensar e (g) comunicação com clientes internos e externos.
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RESULTADOS
O roteiro da entrevista permitiu a coleta de informações de duas
categorias, as mais gerais, relacionadas à criação do Programa de Atendimento em
Trinta Minutos (como começou? por que? dificuldades encontradas na implantação
etc.), e perguntas mais técnicas, relacionadas às atividades de MI, que vimos acima.
Como se direcionou a uma organização prestadora de serviços públicos, o roteiro,
retirado da literatura de MI, foi adaptado àquela realidade. Sendo assim, não foram
feitas perguntas com relação à contratação da mão-de-obra, visto que os
funcionários públicos ingressam na repartição através de concurso público.
Através de dados colhidos na entrevista e materiais divulgados no site da
entidade, verificamos que, o INSS vem fazendo esforços em favor da
desburocratização de seus procedimentos internos, com vistas a alcançar
excelência no atendimento ao usuário/cidadão. Esse comportamento é largamente
defendido na literatura de gestão pública, que preceitua o princípio da eficiência,
inclusive no atendimento ao usuário, como elemento necessário às democracias
saudáveis (ABRUCIO, 2007)
Visando ao alcance desse objetivo, a entidade criou diversos meios para
facilitar o acesso dos usuários/cidadãos aos serviços oferecidos, como fica claro a
partir do argumento do chefe da Divisão de Atendimento Gerência Regional de São
Paulo (DIVAT-GER/SP):
... Em todos os horários, manhã, hora do almoço, até às 18:00 h. A gente vem fazendo um trabalho a longo prazo, esse trabalho tem pelo menos 4 anos, onde criou-se a central 135, criou-se a agenda eletrônica. O que significa a agenda eletrônica? (...)Hoje a gente sabe quem vai, o que ele vai fazer e praticamente, quer dizer, o que ele quer. A gente já puxa os dados dele, já está tudo na mão, então isso facilitou para que a gente conseguisse a concessão em trinta minutos. (...)Isso, então as informações da pessoa já estão na base. É tudo muito mais fácil! Você já ta sabendo quem é a pessoa que está chegando.
Mais recentemente, como destacamos na introdução deste trabalho, a
entidade criou mecanismos para conceder os benefícios de aposentadoria por
tempo de serviços, idade e salário maternidade em trinta minutos. Essa mudança no
atendimento tornou-se possível após a regulamentação da lei que prevê o
reconhecimento automático de direitos dos segurados, eliminando a obrigação do
INSS de exigir comprovantes dos trabalhadores quando os dados eletrônicos já
estão disponíveis no sistema informatizado. O Decreto 6.722/08 regulamentou a
16
autorização para que o INSS utilize toda a base de dados certificados do Cadastro
Nacional de Informações Sociais (CNIS) como comprovante do direito ao benefício.
Com isso, a lei permitiu a inversão do ônus da prova, que era do trabalhador, como
enfatizou o Chefe da DIVAT-GER/SP:
Isso, na hora. Por exemplo, você quer o seu benefício, então vamos lá, que você tenha lá trinta anos de trabalho. Os seus trinta anos estarão no CNIS. Teoricamente estarão no CNIS. Se não estiverem aí sim eu tenho que olhar sua carteira, tenho que olhar outros documentos que comprovem que estejam.
Se os dados do contribuinte não estiverem no CNIS, não será possível a
concessão do benefício no tempo previsto, isto porque, nesse caso, o funcionário
tem que incluir os dados fornecidos pelo beneficiário no sistema. Apesar de ser um
procedimento relativamente rápido, para os casos em que o usuário apresente
documentos claros e atualizados, vai depender da cada situação específica, pois
pode ocorrer de o contribuinte apresentar documentos incompletos e, mesmo,
falsos. Nesses casos, o funcionário deverá proceder a todo o processo de
verificação da autenticidade dos documentos apresentados.
O objetivo da concessão em trinta minutos está próximo de ser
alcançado, a média do tempo dos atendimentos está em cerca de trinta e dois
minutos, atualmente. Mas, isso é média, tem casos em que o atendimento ocorre em
menos de trinta minutos e outros em que ultrapassa o limite estabelecido. Os
entrevistados relataram, no entanto, que o INSS está em fase limite, no sentido de
que, de ora em diante, a possibilidade de atendimentos mais rápidos tende a
melhorar, visto que o CNIS tem sido aprimorado a cada ano e, especialmente,
porque desde de 1974, o sistema já era mais amplo. Isso significa que a maioria das
pessoas que estarão se aposentado nos próximos anos já tem seus dados incluídos
no sistema, o que facilitará sobremodo o andamento dos trabalhos.
Quando questionados sobre quais as maiores dificuldades e obstáculos
que estão enfrentando na implantação do serviço, os entrevistados foram unânimes
em responder que as maiores dificuldades estão relacionadas ao comportamento
dos funcionários, especialmente dos mais antigos, como se pode ver nos
argumentos abaixo transcritos:
...Os servidores mais antigos, que ainda tinham o critério de pegar, analisar tudo. Era cultura deles (Chefe da DIVAT-GER/SP). Ele estava acostumado a fazer daquele jeito, para ele implementar..., está lá no CNIS, pega aquilo e usa. Não! preciso ver o papel, preciso me certificar! (Assessora de Comunicação Social da GER/SP).
17
Com relação às questões mais diretamente relacionadas ao MI,
apresentamos abaixo um resumo das respostas dos entrevistados. Ou seja, o texto
abaixo foi elaborado tendo como fundamento as respostas dos entrevistados.
Optamos por não reproduzir as respostas na íntegra, pelo volume de dados, o que
tornaria este texto muito mais longo e cansativo. De toda a forma, incluímos alguns
fragmentos das respostas dadas, quando os julgamos elucidativos.
Os entrevistados relataram que no INSS os treinamentos são realizados
constantemente. O instituto está estruturado em quatro divisões: Administração,
Atendimento, Benefícios, e Recursos Humanos e uma Assessoria de Comunicação.
Isso significa que no âmbito do Ministério da Previdência (MP), em Brasília, existem
essas cinco seções que são também encontradas em cada uma das cinco
Gerências Regionais no país. Os programas de treinamento são desenvolvidos pela
Divisão de Recursos Humanos (DRH). As divisões que requerem o treinamento
sinalizam para o DRH o que eles estão precisando, o DRH operacionaliza. No caso
da concessão de benefícios em trinta minutos, por exemplo, as divisões
responsáveis pelo serviço são a de Atendimento e a de Benefícios. Logo, o
treinamento dos funcionários para esse programa foi planejado por uma equipe do
DRH, informada das necessidades do pessoal de Atendimento e Benefícios.
Para isso o Instituto mantém um grupo de pessoas, chamadas de
capacitadores, que são preparadas para dar instruções presenciais. Além disso,
existe a possibilidade de instrução à distância, pela Escola da Previdência,
disponível a todos os servidores. Segundo o Chefe da DIVAT-GER/SP, todos os
funcionários estão sempre fazendo algum tipo de curso. Nos cursos presenciais, os
participantes são, geralmente, indicados pela chefia. Mas, segundo falaram, existe
oportunidade para todos.
O INSS adotou recentemente um programa de avaliação dos funcionários
– o primeiro ciclo começou em maio/2009 e terminou em outubro daquele ano,
quando o relatório de avaliação será feito. Os dados da avaliação serão utilizados,
também, para compor a parte variável dos salários. A ideia é que os servidores
receberão salários em duas partes, uma fixa e outra variável, em função da
produtividade e da avaliação individual.
Em sua estrutura, o Instituto possui uma Ouvidoria que, segundo os
entrevistados, é muito atuante. Ao ligar para o número 135, o usuário pode falar na
18
Ouvidoria e lá fazer uma reclamação ou o um elogio. Sempre que é feito uma crítica
negativa ou elogio a um servidor, a Ouvidoria passa esse conteúdo para o Gerente
da área, que repassa essa informação ao chefe do servidor elogiado, nas agências.
Dessa forma, o funcionário recebe um feedback sobre seu comportamento.
As pesquisas com funcionários acontecem, mas não periodicamente.
Quando uma divisão identifica a necessidade de realização de pesquisa para
investigar um fato específico, a Assessoria de Comunicação, divisão responsável
pela contratação de pesquisas, é acionada. As pesquisas qualitativas são,
geralmente, conduzidas pela Agência de Publicidade do MP. Mas, os entrevistados
acreditam que elas ainda não ocorram da forma desejada
A comunicação interna também é muito bem estruturada. As cinco
Gerências Regionais se reúnem, em Brasília ou outro ponto do país, a cada
quarenta e cinco dias. Nessas reuniões são passadas as informações sobre as
estratégias da entidade. No caso específico aqui tratado, a decisão do Ministro foi
divulgada em uma dessas reuniões, a partir daí as Gerências Regionais fizeram
palestras para os gestores, que repassaram o projeto para suas linhas. Em seguida
foi realizada pequena campanha interna para a conscientização dos funcionários.
Externamente, o programa foi divulgado por meio da imprensa.
Os servidores são informados das decisões da entidade antes da
divulgação externa. E, mesmo antes da publicação de legislação. Existe todo um
movimento interno em direção ao alcance de certo objetivo, mesmo sem que tal
“promessa” tenha sido comunicada aos cidadãos. Segundo os entrevistados, a
comunicação interna é muito transparente no INSS, que utiliza diversos meios, como
boletins internos, intranet, reuniões, entre outros, com o objetivo de tornar “as
coisas” bem claras para todos os servidores.
Em relação à tecnologia e equipamentos atualmente disponíveis aos
servidores, os entrevistados declararam que, nos últimos anos o INSS deu um salto
de qualidade nesse sentido.
Os entrevistados reconhecem que atualmente o INSS tem oferecido aos
usuários facilidades das quais, antes, não dispunham. Essas facilidades se
manifestam nos seguintes pontos: (1) oitenta por cento das transações com o INSS
podem ser realizadas pela Internet ou pela central 135. Diante disso, o usuário só
precisa se dirigir a uma agência para resolver problemas muito específicos; (2) para
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o usuário que seja cliente do Banco do Brasil, já está disponibilizado, desde março
deste ano, um sistema pelo qual o usuário, utilizando uma senha própria, pode
consultar seus os dados no CNIS. A idéia é ampliar o projeto para incluir a Caixa
Econômica Federal e demais bancos privados; (3) retirando o extrato do CNIS,
usuário pode fazer uma simulação da sua situação previdenciária, pela Internet.
Além de poder fazer o acompanhamento de seus depósitos junto ao instituto; (4)
quando o usuário chega à agência para tratar de assuntos como aposentadoria ou
salário maternidade, ele encontra um servidor especializado no assunto para
atendê-lo. Tal procedimento tornou-se possível em razão do agendamento
eletrônico, pois as agências conseguem se preparar com antecedência para atender
o público agendado para cada dia.
Essas facilidades levam os usuários a perceber que eles mesmos podem
resolver todos os assuntos relativos aos seus benefícios, sem o auxílio de
intermediários, prática que nunca foi necessária, mas que era muito comum em
passado recente.
Os entrevistados avaliam que a melhoria na prestação dos serviços tem
introduzido nova cultura nos cidadãos, que agora percebem a falta de necessidade
dos intermediários. Eles sentem, inclusive, que nos últimos tempos houve redução
no número desses profissionais.
Para finalizarmos, perguntamos aos entrevistados a que eles atribuíam
essas mudanças que estavam ocorrendo no INSS, ou seja, na visão deles, o que
justificava tantos esforços humanos e investimentos financeiros para alcançar a
qualidade no atendimento ao usuário? Para eles, a ocupação da presidência do
Instituto por uma pessoa que conhece bem os objetivos da instituição e que já tenha
militando durante muitos anos na área previdenciária é a razão das recentes
mudanças.
20
ANÁLISE DOS RESULTADOS
Essa seção destina-se a comparar os procedimentos que o INSS tem
adotado em relação aos elementos do MI – treinamento, trabalho em equipe,
empowerment, avaliação e recompensa, pesquisas com funcionários e comunicação
interna e externa – com aqueles preceituados na literatura, a fim de verificar se,
segundo a percepção dos entrevistados, o Instituto tem dado a devida atenção
elemento humano na sua estratégia de aprimoramento do atendimento
disponibilizado ao usuário/cidadão.
Pelas respostas oferecidas, o INSS parece estar adotando quase todos
os procedimentos recomendados pelos pesquisadores de MI. Com exceção do item
“realizar pesquisas com funcionários” de modo sistemático, a organização parece
estar caminhando em direção à consecução de seu objetivo, que é o de oferecer ao
cidadão um atendimento de qualidade.
Para tanto, seus dirigentes têm se ocupado das questões relativas aos
servidores, oferecendo-lhes o treinamento necessário para a execução de suas
atividades; avaliando o seu comportamento; recompensado em função do seu
desempenho; disponibilizando instrumentos eficazes de comunicação interna.
Apesar de termos excluído esse item do nosso questionário, ao final da
pesquisa fomos surpreendidas com a idéia de que, talvez, os órgãos e entidades
públicas possam, de algum modo, selecionar os funcionários que fazem atendimento
ao público. Visto que em todas as organizações de atendimento existem tarefas
mais administrativas – cuja realização não exija do funcionário contato direto com o
público externo – e outras mais interativas – que exigem esse contato –, os
responsáveis pelas seções de atendimento poderiam fazer uma triagem interna,
para verificar, dentre o pessoal disponível, quais demonstrem maior inclinação para
o contato interpessoal e incumbir estes do atendimento ao usuário/cidadão, como
prevê a literatura de MS.
Além disso, frisamos que seria oportuno para a entidade proceder
regularmente a pesquisas internas com seus funcionários, especialmente com
aqueles da linha de frente, uma vez que, como frisa a literatura, o contato direto com
os usuários fornece a esses servidores uma visão mais ampla a respeito das
necessidades daqueles primeiros. O conhecimento dessa informação levaria o INSS
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a adotar novos programas de atendimento que visassem a satisfazer seus usuários,
resguardado aquele equilíbrio, entre a satisfação do usuário/cidadão e os princípios
da justiça social e eqüidade, tão peculiar ao serviço público, que foram tratados
alhures neste texto.
De igual modo, a análise dos dados nos permite fazer uma observação
relacionada à pesquisa com usuários. A percepção que se tem, pelos dados
colhidos, é que o INSS está realmente comprometido com o objetivo de prestar
serviços de qualidade. Assim, sendo, acreditamos que seria interessante que a
entidade, também, realizasse pesquisas regulares com seus usuários. Os resultados
dessas pesquisas levarão o Instituto mais rapidamente ao encontro de seu objetivo,
como recomendam não só a literatura de MS, mas também a de qualidade em
serviço público (ver, por exemplo, DINSDALE; MARSON, 2000).
Outra questão que emerge dos dados relaciona-se com a visão dos
gestores acerca do papel dos recursos humanos na implantação da estratégia da
organização. Quando questionados sobre os maiores desafios e obstáculos que têm
enfrentado na introdução do Programa de Concessão de Benefícios em Trinta
Minutos, os próprios entrevistados relataram que esses desafios diziam respeito à
resistência dos servidores mais antigos, que teimam em continuar adotando
procedimentos desnecessários no atendimento ao usuário/cidadão. Essa
constatação revela a importância do objeto desta pesquisa, visto que o
comportamento dos funcionários, quando em dissonância daquele proposto pela
organização, pode levar ao fracasso de uma estratégia de serviço.
Finalmente, devemos observar que, segundo os entrevistados, a
preocupação que, hoje, a entidade estudada demonstra com o aprimoramento do
atendimento ofertado ao usuário/cidadão nasceu em função do trabalho de uma
equipe dirigente que conhece os propósitos do INSS. Ou seja, o presidente do INSS,
os secretários e a diretoria da autarquia são profissionais que fizeram carreira no
INSS e sabem a que fins ele se presta. Essas observações sinalizam que, para as
áreas de atendimento ao cidadão, talvez fosse interessante apontar gestores que
sejam, não necessariamente profissionais de carreira no setor público, mas,
comprometidos com os objetivos maiores da prestação de serviço público.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do ano de 2005, O INSS tem adotado novas estratégias de
atendimento ao público. Seguindo a orientação da literatura de gestão pública, a
entidade ingressou na alteração de seus processos internos, ou desburocratização,
com o fim de torná-los mais eficientes e eficazes. Um dos claros sinais do
compromisso do Instituto com essa meta foi não só a adoção como a ampla
divulgação de seu Programa de Concessão de Benefícios em Trinta Minutos. Para a
consecução de seus objetivos, de aprimoramento no atendimento ao cidadão, a
entidade tem alterado uma série de processos internos e incorrido em investimentos
nas áreas de tecnologia e a de recursos humanos, unidades estratégicas para as
organizações de serviços.
Oferecendo aos servidores o treinamento necessário, estabelecendo com
eles uma comunicação aberta, avaliando seu desempenho e disponibilizando a eles
os recursos tecnológicos necessários à realização de suas atividades em muito
contribui para que os últimos venham a abraçar os objetivos da entidade, sem
negligenciar que serviços de qualidade no setor público implicam, também,
tratamento isonômico dos usuários e a busca de justiça social. Pela análise dos
resultados, acreditamos que o INSS tem-se conduzido de forma adequada em busca
do atingimento de seus objetivos.
Não podemos desconsiderar, todavia, que essa pesquisa apresenta
algumas limitações. Sendo a principal delas o fato de que somente ouvimos os
gestores da entidade, o que nos deu uma visão parcial do fenômeno estudado. Para
que tivéssemos uma visão mais adequada acerca de nossa questão inicial seriam
necessárias pesquisas com os servidores e com os usuários dos serviços ofertados
pelo INSS.
Destarte, uma alternativa possível para ampliar e complementar esta
pesquisa é a análise do tema sob a ótica dos servidores: por exemplo, procurar
confirmar com os integrantes dos quadros funcionais a opinião deles acerca das
políticas de recursos humanos do Instituto.
23
Outra sugestão de pesquisa seria a análise do tema na concepção dos
usuários. Observar a percepção deles a respeito da forma como são atendidos pela
entidade representaria continuidade a esse estudo, visto que, dessa forma,
poderíamos averiguar se o direcionamento seguido pelo INSS, especialmente no
que concerne à preparação dos servidores, tem alcançado os resultados esperados
junto ao público externo.
24
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AUTORIA
Eliane Barbosa da Conceição – Mestre em Administração de Empresas pelo Ibmec-RJ. Atualmente é pesquisadora do Centro de Estudo em Administração Pública e Governo da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (CEAPG- FGV/SP) e doutoranda em Administração de Empresas nessa mesma instituição.
Endereço eletrônico: [email protected] Sandra Denise de Oliveira Clinco – Mestre em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, EAESP-FGV. Atualmente é gerente de enfermagem de uma Instituição Hospitalar Filantrópica na cidade de São Paulo. Desde 2009, é aluna de doutorado em Administração de Empresas, na área de Gestão Socioambielntal e da Saúde da EAESP-FGV. Endereço eletrônico: [email protected]