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III Congresso Consad de Gestão Pública CICLOS ORÇAMENTÁRIOS NOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DE SÃO PAULO Euripedes Magalhães de Oliveira

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III Congresso Consad de Gestão Pública

CICLOS ORÇAMENTÁRIOS NOS MUNICÍPIOS DO

ESTADO DE SÃO PAULO

Euripedes Magalhães de Oliveira

Painel 45/177 Transparência, accountability e combate à corrupção

CICLOS ORÇAMENTÁRIOS NOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DE SÃO PAULO

Euripedes Magalhães de Oliveira

RESUMO Este trabalho avalia o comportamento dos prefeitos do Estado de São Paulo, no quesito de gastos públicos, com especial destaque para as gestões entre 1996 a 2004. O interesse por este período se deve a possibilidade de reeleição conferida a todos os prefeitos eleitos em 1996, desde o início de seus mandatos em 1997 estavam cientes que dali a 4 anos poderiam todos disputar a releição de seus cargos. É importante informar que não foram encontradas junto aos órgãos estatais competentes informações eleitorais para os Municípios brasileiros para pleitos que remontassem a períodos anteriores a eleição de 1996 que pudessem ser aplicados para este trabalho. Apesar destas considerações, observa-se a formação de um cenário com grande quantidade de observações que permitam avaliar a prática de comportamentos oportunistas por parte dos governantes como forma de se beneficiarem. Ao mesmo tempo, é importante atentar para a possibilidade dos eleitores identificarem tais medidas nas atitudes de seus prefeitos e avaliar se há ou não a punição a estes governantes pela adoção de tais práticas. Partindo-se da premissa de que os políticos, de modo geral, têm interesse em se manterem em seus cargos ou garantirem a posição para seus partidos, buscaram-se entre as eleições ocorridas nos pleitos de 2000 e 2004 para as prefeituras do Estado de São Paulo todos os casos em que se observou os prefeitos ou seus respectivos partidos disputando a reeleição. Para este trabalho, baseia-se na literatura de voto econômico e conservadorismo eleitoral para se identificar o comportamento dos governantes locais para os pleitos de 2000 e 2004 e se houve punição aos governantes que elevaram déficits em seus mandatos. Para tanto, confrontam-se as principais visões sobre voto econômico e sua aversão a políticas deficitárias por parte dos governantes e, com isso, busca se identificar de que forma a literatura permite entender e explicar a situação observada para esta região ao longo do período. O modelo aplicado para este trabalho aplica o modelo probit de análise e procura-se controlar os resultados para o efeito da heteroscedasticidade pela adoção de regressões de robustez. As informações sobre as eleições podem ser encontradas no site do Superior Tribunal de Justiça (TSE) e no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Estado de São Paulo. As principais bases de dados contendo informações financeiras sobre os Municípios brasileiros podem ser encontradas no site do Tesouro Nacional, bem como nas bases de dados públicas do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA) e da Fundação Sistema de Estadual de Análise de Dados (SEADE). Em virtude do pluripartidarismo brasileiro e as possibilidades de mudanças partidárias, este trabalho avalia o ciclo eleitoral sob a ótica da reeleição partidária, mas também avalia se há diferenças no comportamento apenas dos políticos candidatos a reeleição. Diante disso, procura-se avaliar se o eleitor municipal pune os governantes que incorrem em déficit para buscarem a

reeleição. Apresentada a metodologia de análise e os resultados identificados para os Municípios da região, espera-se que este trabalho contribua para o desenvolvimento de novos trabalhos na área de federalismo fiscal voltado para o Estudo de governos locais no Brasil. Ao mesmo tempo, espera-se contribuir no desenvolvimento de políticas públicas voltadas para os temas de descentralização e accountability. Palavras-chave: Federalismo. Descentralização. Accountability. Voto econômico. Conservadorismo dos eleitores.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................. 04

FEDERALISMO, DESCENTRALIZAÇÃO E ACCOUNTABILITY – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE O TEMA................................................................................. 06

OS MUNICÍPIOS BRASILEIROS – RETROSPECTIVA DOS ANOS 90 E SEUS EFEITOS SOBRE O PROCESSO FINANCEIRO E ELEITORAL DOS MUNICÍPIOS...... 08

METODOLOGIA.............................................................................................................. 10

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES............................................ 15

REFERÊNCIAS............................................................................................................... 21

4

INTRODUÇÃO

A manipulação de recursos públicos pelo governante local é percebida

pelo eleitor? O Eleitor punirá o governante por essas práticas? O país passou por

profundas mudanças de ordem institucional ao longo da década de 90 com efeitos

sobre sistema eleitoral e, por conseqüência, sobre as estratégias dos políticos. Para

responder as perguntas do início deste trabalho será avaliado o comportamento de

gastos dos governantes Municipais no Estado de são Paulo e seus efeitos sobre as

eleições de 2000 e 2004.

O interesse por este período se deve a possibilidade de reeleição

conferida aos governantes e que permitiu a todos os prefeitos eleitos em 1996 a se

candidatarem a reeleição em 2000 ao mesmo tempo. Para este trabalho, baseia-se

na literatura de voto econômico e conservadorismo eleitoral para se identificar o

comportamento dos governantes locais para os pleitos de 2000 e 2004 e se houve

punição aos governantes que elevaram déficits em seus mandatos.

A seguir são apontadas algumas das principais características do modelo

federativo brasileiro instituído a partir da carta constitucional de 1988 e alguns dos

principais eventos que permearam o período democrático que se seguiu, com

especial enfoque para a questão municipal. A revisão de literatura a seguir procura

apresentar algumas das principais considerações sobre os efeitos do gasto público e

seus resultados sobre as eleições. Segundo o trabalho de Nordhaus (1975), espera-

se que em anos eleitorais os governantes elevem os gastos em determinadas áreas

e em projetos que aumentem a sua possibilidade de reeleição ou a do seu partido.

Os eleitores, segundo esta ótica seriam agentes com pouca capacidade de

fiscalização e limitados na avaliação apenas dos fenômenos de curto prazo

praticados pelos governantes.

Ao longo do tempo, diversos modelos surgem em contraponto a essa

visão e o comportamento do eleitor passa a ser considerado sobre uma perspectiva

de racionalidade. Desse modo, os eleitores não teriam condições de fiscalizar ou

obter todas as informações sobre o comportamento de seus governantes, mas o

aprendizado com eleições anteriores e a observação de alguns parâmetros no

comportamento deste governante seriam as referências para a sua fiscalização.

Nesta temática, é bastante controversa a identificação dos mecanismos adotados

5

pelo governante para a manipulação de tais recursos públicos, como o eleitorado

responde a tais manipulações, ou ainda, o quão efetivos são os mecanismos de

controle empreendidos pela legislação nacional para coibir tal manipulação de

recursos. A discussão torna-se ainda mais interessante se lembrarmos que o Brasil

pode ser classificado como um país de economia emergente e a sua democracia

bastante recente, haja vista o fim do regime militar na metade da década de 80.

Em virtude do pluripartidarismo brasileiro e as possibilidades de

mudanças partidárias, este trabalho avalia o ciclo eleitoral sob a ótica da reeleição

partidária, mas também avalia se há diferenças no comportamento apenas dos

políticos candidatos a reeleição. Sob a ótica do trabalho de Brender (2003), procura-

se avaliar se o eleitor municipal pune os governantes que incorrem em déficit para

buscarem a reeleição. Apresentada a metodologia de análise e os resultados

identificados para os Municípios da região, espera-se que este trabalho contribua

para o desenvolvimento de novos trabalhos na área de federalismo fiscal voltado

para o Estudo de governos locais no Brasil. Ao mesmo tempo, espera-se contribuir

no desenvolvimento de políticas públicas voltadas para os temas de

descentralização e accountability.

6

FEDERALISMO, DESCENTRALIZAÇÃO E ACCOUNTABILITY – REVISÃO

BIBLIOGRÁFICA SOBRE O TEMA

A base do regime federativo é trazer para próximo da população as

atividades desempenhadas pelo Estado de forma a favorecer a sua fiscalização e

controle (Rodden 2005). Essa visão foi largamente reproduzida em diversos

trabalhos ao longo do tempo como um fato dado. Trabalhos como o de Oates

(1972), Hayek (1939) e Brennan e Buchanan (1980) apontavam que o modelo

federativo permitiria a cada um dos entes uma alocação eficiente dos recursos na

oferta de bens públicos que fossem mais adequados aos interesses de cada

comunidade e a descentralização um importante elemento para a promoção do

accountability na sociedade.

A oferta de bens públicos pelo nível subnacional permitiria aos cidadãos

avaliar a eficiência de cada ente federativo. Uma forma de avaliar a eficiência seria

observada através da migração de empresas e indivíduos rumo a governos mais

eficientes e levaria, por conseqüência, a diminuir o tamanho do Estado. Outro efeito

importante identificado a partir destas obras é que a maior descentralização e a

busca por governos mais eficientes seriam uma forma eficiente de combate a

corrupção e com impactos positivos diretos sobre o crescimento econômico.

Estas considerações, contudo, passaram a sofrer críticas em trabalhos

recentes. Nas diversas federações pelo mundo observou-se a formação de governos

maiores (Stein 1999), ou ainda a percepção de corrupção (Treisman 2000),

instabilidades macro econômicas (Wibbels 2000) e até a ocorrência de menores

índices de crescimento econômico (Davoodi e Zou 1998).

Os primeiros trabalhos a avaliarem a relação entre gastos e resultados

eleitorais podem ser identificados em Nordhaus (1975), abrindo um campo de

estudo sobre o tema e, no trabalho de Brender (2003), identificam-se os efeitos da

performance fiscal dos governos locais de Israel, um dos primeiros trabalhos a

avaliar o comportamento de ciclos orçamentários para governos locais. As

ingerências de entes governamentais de outras esferas na política de receitas e

gastos eram entendidas como uma forma dos governantes locais ocultarem seus

problemas de gestão e dificultando o processo de avaliação dos eleitores sobre os

eleitos. Resultados semelhantes são observados por Peltzman (1992), Person e

7

Tabellini (2002) e Brender e Drazen (2003) ao trabalhar o comportamento de gastos

públicos em períodos pré-eleitorais e o resultado sobre o voto. Voltados para o

estudo do tema em governos locais, é possível identificar não apenas os trabalhos

de Brender (2003), mas também os trabalhos de Eslava (2006) e Porto e Porto

(2000) que identificam relações semelhantes às observadas para governos centrais.

Em todos estes trabalhos, vale atentar para os mecanismos identificados

para que o eleitor perceba as mudanças na política de gastos dos governantes.

Diversos problemas podem ser identificados para as falhas no sistema de punição,

dentre eles assimetria de informações tratada nas discussões em torno do problema

de principal-agente.

A assimetria informacional é identificada pela falta de clareza nas

informações financeiras divulgadas sobre o governo local, bem como a dificuldade

em obter tais informações. Ao mesmo tempo, é importante lembrar a capacidade de

o governante manipular os recursos públicos alterando os mecanismos de alocação

dos recursos ao longo do seu mandato e, assim, procurar satisfazer os interesses do

eleitorado com gastos mais próximos aos seus interesses em períodos próximos as

eleições. Frente a estas dificuldades, não é incomum que os trabalhos procurem

avaliar as mudanças no perfil de gastos em períodos prévios as eleições.

Frente a isso, apresenta-se a seguir um panorama geral da administração

Municipal no país e alguns dos principais eventos ocorridos ao longo da década de

90 para a identificação das variáveis de estudo deste trabalho. Como poderá ser

observado, estas políticas foram adotadas como uma tentativa de conter o problema

de assimetria informacional e, ao mesmo tempo, gerar mecanismos institucionais

para um maior controle das atividades dos governantes.

8

OS MUNICÍPIOS BRASILEIROS – RETROSPECTIVA DOS ANOS 90 E SEUS

EFEITOS SOBRE O PROCESSO FINANCEIRO E ELEITORAL DOS MUNICÍPIOS

Nesta parte do trabalho, o intuito é levantar alguns fenômenos

observados ao longo das últimas décadas e, por sua relevância possam representar

alguma mudança na política empreendida pelos Municípios. De antemão, identifica-

se a aprovação da Emenda Constitucional (“EC”) n° 161 logo no primeiro ano de

mandado dos prefeitos recém eleitos no pleito de 1996. É importante lembrar que os

mandado dos prefeitos brasileiros tem duração de 4 anos e não é realizada com a

eleição para outros níveis de governo. A aprovação de tal Emenda conferiu a todos

os chefes de Poderes Executivos no país a disputarem nas próximas eleições a

reeleição para seus cargos.

Outro importante elemento que marca as próximas eleições Municipais diz

respeito à aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal (“LRF”) 2. Com esta lei,

obrigaram-se os Municípios a serem mais responsáveis com os recursos públicos.

Diferentemente do que aponta Brender (2003), esta legislação funcionaria como

uma trava no comportamento dos prefeitos para que não mais praticassem medidas

populistas em seus mandatos e obtivessem a reeleição. Neste modelo de atuação, o

governante adotaria uma política de aumento de gastos as vésperas da eleição para

aumentar sua possibilidade de reeleição ou a de seu partido. Como conseqüência

desta atuação, seria promoveria uma política de reajuste fiscal e orçamentária nos

anos subseqüentes e revertida novamente no período de véspera eleitoral.

A este caldeirão de Mudanças normativas, vale observar que, como

destaca Affonso (2000), a Constituição Federal criou ao Estado brasileiro diversas

obrigações sociais que, ao longo da década foram crescentemente demandas pela

sociedade sobre o poder público. Esta conjuntura de mais agentes para dividir os

recursos tributários (União, Estados e Municípios), a obrigatoriedade em cumprir o

estabelecido pela Constituição e a conjuntura econômica nacional e internacional

levaram o país a promover diversos mecanismos de distorção de sua base tributária

ou barganhas por mais transferências.

1 EC no 16 de 04 de Junho de 1997 2 LRF aprovada a partir da LC n°101 e entrou em vigor no dia 04 de maio de 2000, este, aliás um ano de pleitos municipais.

9

Diferentemente do relatado por Brender (2003); Arvate, Avelino e Tavares

(2007) encontram um resultado distinto para o comportamento dos estados

brasileiros frente à realidade de Israel. É possível observar que o governo brasileiro

tomou importantes medidas ao longo da década de 90 para conter o movimento de

ingerência dos governos subnacionais quanto aos seus recursos. Não apenas a LRF

representou um importante passo neste sistema de controle dos gastos públicos,

mas iniciativas importantes por parte do Governo Federal, como por exemplo, os

processos de fiscalização por sorteios da CGU sobre os recursos voluntários

destinados pelo Governo Federal aos Municípios3. A estes fatores de ordem

institucional, também pode ser considerada como um elemento importante na

promoção de medidas de ajuste fiscal as crises econômicas enfrentadas pelo país

ao longo dos últimos anos e que demandaram dos governantes um maior rigor nas

contas públicas.

Com o intuito de avaliar a capacidade dos eleitores de fiscalizarem a atuação

de seus governantes, passa-se a seguir a apresentação da metodologia adotada para

este trabalho e a identificação das principais variáveis de controle adotadas.

3 A partir do ano de 2003, o Governo Federal instituiu um sistema de fiscalização dos recursos voluntariamente destinados aos governos subnacionais (não se fiscaliza a alocação dos recursos constitucionalmente destinados aos Municípios). Tal fiscalização é feita a partir da Controladoria Geral da União, um órgão ligado ao Executivo Federal que, por meio de sorteios públicos, seleciona municípios brasileiros para a realização de auditorias.

10

METODOLOGIA

O Estado de São Paulo representa o Estado mais populoso

(aproximadamente 21% da população brasileira) e economicamente desenvolvido

da Federação (responde por aproximadamente 1/3 da economia nacional) e

apresentou, para os anos em estudo, 645 prefeituras em sua região4.

Partindo-se da premissa de que os políticos, de modo geral, têm interesse

em se manterem em seus cargos ou garantirem a posição para seus partidos,

buscaram-se entre as eleições ocorridas nos pleitos de 2000 e 2004 para as

prefeituras do Estado de São Paulo todos os casos em que se observou os prefeitos

ou seus respectivos partidos disputando a reeleição. As informações sobre as

eleições podem ser encontradas no site do Superior Tribunal de Justiça (TSE) e no

Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Estado de São Paulo.

Nesta etapa do trabalho, o objetivo é apontar algumas considerações que

permitem identificar variáveis de controle para a formulação de um modelo de

avaliação da probabilidade de reeleição dos prefeitos diante da possibilidade de

reeleição para os anos de 2000 e 2004. Os modelos aplicados para este trabalho

procuram replicar os trabalhos desenvolvidos por Eslava (2005) e um estudo feito

por Arvate, Avelino e Tavares (2007) como forma de avaliar não apenas o

comportamento de eleitores e eleitos com as informações do ano eleitoral, mas

também com as informações disponíveis para todo o período de gestão dos

prefeitos e partidos eleitos. O modelo aplicado para este trabalho aplica o modelo

probit de análise e procura-se controlar os resultados para o efeito da

heteroscedasticidade pela adoção de regressões de robustez.

As principais bases de dados contendo informações financeiras sobre os

Municípios brasileiros podem ser encontradas no site do Tesouro Nacional5, bem

como nas bases de dados públicas do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

(IPEA) 6 e da Fundação Sistema de Estadual de Análise de Dados (SEADE) 7.

4 Não foi identificada a criação de novos municípios no Estado ao longo deste período. 5 Base de dados Municipais Finbra. 6 Este banco de dados agrega informações de diversos órgãos do Governo Federal e órgãos de Estatística Estaduais e os disponibiliza gratuitamente. 7 Órgão responsável pelo desenvolvimento de pesquisas econômicas e estatísticas do Estado de São Paulo.

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REELEIÇÃOsuptot_pc X X X Xsupelei_pc

(1) (2) (3) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (1) (2) (3)ln_dens_pop X X X X X X X X X Xtransf_Fed_TOT X X X X X X X Xtransf_Fed_ELEI X X X X X X X Xtransf_EST_TOT X X X X X X X Xtransf_EST_ELEI X X X X X X X Xpopurb X X X X X X X XRendmed X X X X X X X XGINI X X X X X X X XVar_PIB_gestão X X X XAnalf X X X X X X X X

X XX X

Partido Político1997-2000 2001-2004 1997-2000 2001-2004

Em um primeiro momento, procura-se avaliar o comportamento dos

partidos políticos no poder e se foram observadas mudanças no comportamento dos

gastos públicos e qual a sua relação com os resultados eleitorais.

Tabela 1: Descrição de modelos considerando a probabilidade de reeleição para os anos de 2000 e 2004

A análise dos resultados financeiros dos Municípios brasileiros apresenta

certa dificuldade de análise em virtude da pouca quantidade de informações

disponíveis para este nível de governo. Muitas informações financeiras são

apresentadas de modo agrupado para a década de 90 e muitas informações de

ordem social e econômica estão disponíveis apenas para alguns períodos de tempo

ou disponíveis apenas em virtude do censo de 2000. Deste modo, muitas das

variáveis propostas por Brender (2003) ou nos trabalhos desenvolvidos por Eslavae

Porto e Porto não podem ser totalmente replicados para o caso.

Este trabalho tomará como principal variável independente de análise o

comportamento dos prefeitos quanto à inocorrência de déficits em suas

administrações e a percepção deste comportamento por parte dos eleitores. Adotou-

se para este trabalho a simplificação da análise eleitoral como um referendo do

gestor ou partido político no cargo e tomou-se apenas a ocorrência ou não de

reeleição para o cargo em detrimento do percentual de votos obtidos. Para o

aspecto fiscal, a ausência de maiores detalhes quanto à contabilidade municipal

impede a construção de índices de superávit primário para este nível de governo e,

portanto, procurou-se trabalhar com uma perspectiva de administração financeira

semelhante a uma gestão de caixa. Deste modo, este trabalho simplificou a análise

para a observância de superávits ou déficits por parte das administrações municipais

quanto ao montante total dos recursos orçamentários.

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VARIÁVEL DESCRIÇÃO DOS DADOS

yReeleição (pode ser do partido - duas primeiras planilhas) (pode ser do prefeito - no caso das plans de candidatos

ln_dens_popLog da densidade populacional - base do IBGE disponível no IPEA com informações do ano de 2000 pessoas/km²

suptot_pc Superávit obtido ao longo da gestão - Rec Orçamentária - Desp Orçamentária

supelei_pcSuperávit obtido no ano de eleição (2000 e 2004) - Rec Orçamentária - Desp Orçamentária

recproptotReceita própria total - Rec. Tributária + Rec. Capital (capacidade própria do município arrecadar)

transf_Fed_TOTSoma de todas as receitas de transferências oriundas do Gov. Federal ao longo das gestões

transf_Fed_ELEI Soma das receitas de transferência apenas no ano eleitoralVar_PIB_gestão Variação do Pib Municipal frente ao Pib Estadual ao longo da gestãotransf_EST_TOT Soma das receitas de transferência do governo estadual transf_EST_ELEI Soma das receitas de transferência do governo estadual apenas no ano eleitoralpopurb Percentual da população localizada na região urbana para o ano de 2000Rendmed Renda Média da população segundo o censo de 2000GINI Indice de Gini dos Municípios para o ano de 2000Var_PIB Variação do Pib Municipal frente ao Pib Estadual no ano eleitoralAnalf Taxa de Analfabetismo dos moradores acima de 15 anos

lncurrencyLog das despesas correntes, pode ser do ano eleitoral ou a soma das despesas correntes ao longo da gestão

lninvestmentLog das despesas com investimento, pode ser do ano eleitoral ou a soma das despesas correntes ao longo da gestão

Em virtude da grande disparidade social e econômica dentro do Estado

de São Paulo, este trabalho adotou como mecanismos de controle para os

municípios que considerassem o seu tamanho populacional (por isso todas as

variáveis procuram adotar o critério per capta de comparação), bem como a adoção

de variáveis sociais que pudessem influenciar na capacidade de fiscalização dos

eleitores sobre as atividades de seus governantes, tal como adota Arvate, Avelino e

Tavares (2007). A tabela contendo a descrição dos dados é apresentada a seguir:

Tabela 2: Tabela de descrição dos dados

*todos os valores monetários foram transformados para reais no ano de 2000 tendo o IPCA anual como referência.

Como pode ser observado na metodologia deste trabalho há o interesse

nesta análise em avaliar se os eleitores monitoram o comportamento do governante

quanto a sua gestão (os 4 anos em que esteve no comando da prefeitura) ou se as

medidas adotadas no ano eleitoral teriam maior impacto para a reeleição. Outro

elemento importante que se procura destacar neste trabalho é se haveria distinção

no fator eleitoral para avaliação partidária e para a reeleição dos políticos

isoladamente. Neste segundo momento de avaliação do trabalho, será utilizada a

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base de dados contendo apenas informações sobre os prefeitos que iniciaram e

terminaram seus mandatos dentro dos prazos de 4 anos e foram candidatos a

reeleição (735 casos entre as duas eleições em 577 municípios do Estado).

O intuito deste corte foi selecionar os casos em que apenas avaliava-se a

gestão do prefeito ao longo do mandato e, assim, evitar a conturbada rede de

alianças políticas locais e que muitas vezes não seguem a lógica das coligações

para o governo federal e Estadual8.

Como pode ser identificado no trabalho de Arvate, Avelino e Tavares

(2007), há uma grande dificuldade no sistema político brasileiro em se estudar e

definir as estruturas de coalizões partidárias ao longo dos diversos níveis. Ao

mesmo tempo, as regras eleitorais em muito dificultam a adoção de um mecanismo

único entre os pleitos. A tabela a seguir apresenta a dimensão dos dados utilizados

para avaliação da gestão dos políticos e um quadro apontando os principais partidos

que ocuparam as prefeituras municipais do Estado nas 3 eleições de referência

deste trabalho.

Tabela 3: Descrição do quadro eleitoral para os anos de 2000 e 2004

Observações

Ano

1996

Ano

2000

Ano

2004

Municípios no Estado 645 645 645

Ausência de informações eleitorais* 233 314

Candidaturas únicas e/ou falhas na base de

dados** 18 11

Prefeitos candidatos a reeleição 394 320

Prefeitos reeleitos 187 188

Prefeitos Derrotados 207 132

*Nestes casos foram identificados prefeitos afastados do cargo por qualquer motivo ou casos em que o prefeito não poderia mais se reeleger **Nestes casos incluem-se candidaturas únicas ou falhas entre as bases de dados do TER

8 Segundo a legislação eleitoral, não há regras que imponham a formação de alianças locais nos mesmos moldes das alianças firmadas no âmbito federal, o que torna difícil a definição de como se formam tais alianças para cada um dos municípios. Deste modo, procura-se avaliar também o grau de personalismo nas eleições para governos locais.

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PARTIDO LEGENDA 1996 2000 2004 PARTIDO LEGENDA 1996 2000 2004

PP 11 54 34 28 PFL 25 105 89 76PDT 12 26 21 21 PAN 26 0 0 1PT 13 13 38 57 PSDC 27 1 1 0

PTB 14 41 71 64 PHS 31 0 0 4

PMDB 15 109 111 88 PMN 33 2 1 1

PSL 17 3 2 3 PSB 40 9 12 16

PTN 19 1 0 0 PSD 41 19 13 1PSC 20 0 0 1 PV 43 6 4 16PL 22 21 32 33 PRP 44 11 4 1

PPS 23 3 32 37 PSDB 45 221 179 196

PC do B 65 0 0 1

Tabela 4: Partidos eleitos no Estado de São Paulo para os pleitos de 1996, 2000 e 2004

Apresentam-se acima as informações sobre os partidos vencedores dos

pleitos nos 3 pleitos de referência9. É importante observar a grande quantidade de

prefeituras sob o comando do partido do governador do Estado de São Paulo10, bem

como de partidos que estiveram presente na base de governo da gestão Federal do

Governo FHC. É importante notar que há para o país trabalhos que visam avaliar a

relação de resultados eleitorais para os governos estaduais e o governo federal,

porém não se identificam trabalhos para avaliar esta temática sob a ótica do governo

local. Destaca-se que entre os prefeitos que se candidataram a reeleição, 24,6% dos

candidatos a reeleição mudaram de partido entre as eleições de 1996 e 2000 e de

13,46% entre os pleitos de 2000 e 2004. Passa-se agora a apresentar os resultados

para o modelo apontado acima.

9 Informações obtidas a partir dos resultados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) 10 Ao longo de todo o período considerado o governo do Estado de São Paulo foi comandado pelo PSDB.

15

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES

A seguir, os resultados das regressões realizadas para este trabalho:

REELEIÇÃOsuptot_pc 0.0002281* .0002307* 0.0003614** 0.0005452** 0.0005654** 0.0006427**

(.0001166) (.0001270) (.0001397) (.0001856) (.0001835) (.0001929)supelei_pc 0.0001855 0.0001526 0.0002176 0.0008899* 0.0008915* 0.0010622

(.0001990) (.0002002) (.0002064) (.0003987) (.0004028) (.0004298)(1) (2) (3) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (1) (2) (3)

ln_dens_pop 0.0021993 0.0185158 0.0394895 0.0412059(.0233519) (.0236235) (.0235576) (.0242701)

transf_Fed_TOT -0.0849353 0.3441029* -0.666259** -0.3711891(.1043638) (.1747149) (.2117264) (.3258342)

transf_Fed_ELEI -0.0538564 0.4325671 -0.2188859 0.1434982(.1605036) (.2381844) (.1325739) (.2025643)

transf_EST_TOT -0.5022851** -0.3047739 -0.1469245 0.093781(.2224902) (.2500090) (.2779425) (.3117372)

transf_EST_ELEI -0.3005014 -0.1159734 0.0077463 0.1930804(.2045752) (.2312695) (.1761256) (.1912419)

popurb -0.1427014 -0.1684339 0.0291526 0.0496071(.1566155) (.1627815) (.1710740) (.1761823)

Rendmed 0.000388 0.0002806 0.0001861 0.0002215(.0004358) (.0004109) (.0004233) (.0004409)

GINI -0.3947942 -0.3607576 0.0547361 -0.3132682(.4874313) (.5220498) (.4974313) (.5092658)

Var_PIB_elei -0.0303613 -0.0473479 -0.1883928 -0.2007259(.1028191) (.1025789) (.1564260) (.1608640)

Var_PIB_gestão -0.0274738 -0.0710728(.0732727) (.0765266)

Analf 1..4477 -.2048075* 0.2346881 1.082.656(.9679237) (.9786525) (1..028777) (1..079624)

lntotcurrency 0.0555622 0.0435375 -0.2958546 -0.3829613*(.1193264) (.1264266) (.1676368) (.1715804)

ln currency_elei -0.0439021 -0.0428263 -0.0687559 -(.0912676)0.0524106 (.0589780) 0.0580547 (.0640063)

lntotinvest -0.0392942 -0.0310009 0.3061234 0.3768135**(.1095648) (.1160533) (.1574010) (.1618967)

lninvest_elei 0.0560472* 0.0612648* 0.1097653** 0.1250766**(.0267040) (.0275923) (.0315883) (.0335567)

observations 617 617 588 567 567 543 612 611 587 589 589 568Log L -334.274 -368.291 -346.376 -334.323 -331.709 -306.053 -373.072 -363.428 -343.443 359.074 -352.373 -334.282Predicted P 0.29613 0.29612 0.28701 0.28140 0.27987 0.26692 0.30618 0.30167 0.29292 0.30876 0.30597 0.29818

Partido1997-2000 2001-2004

Tabela 5: Resultado do modelo de regressão considerando a probabilidade de Reeleição dos partidos políticos nas prefeituras do Estado de São Paulo para os pleitos de 2000 e 2004

Nota: Para cada variável independente apresenta-se (dF/dx) que representa a mudança marginal na probabilidade de sucesso para a média dos valores de cada uma das variáveis independentes consideradas. Os valores em parênteses apresentam os erros padrões robustos calculados a partir de modelos de heteroscedasticidade. * significante ao nível de 10%, ** significante ao nível de 5%.

REELEIÇÃOsuptot_pc 0.0002105 0.0001867 0.0002577 0.0010753** 0.0009967** 0.0009978**

(.0001642) (.0001608) (.0001695) (.0003387) (.0003589) (.0003635)supelei_pc 0.0002042 0.0001913 0.0002046 0.0025458** 0.0027569** 0.0028924**

(.0002765) (.0002790) (.0002705) (.0006855) (.0006806) (.0007216)(1) (2) (3) (1) (2) (3) (1) (2) (3) (1) (2) (3)

ln_dens_pop 0.0133917 0.0316745 0.0214503 0.0221915(.0324738) (.0354685) (.0359493) (.0360204)

transf_Fed_TOT -0.1455788 0.3140655 0.088056 0.7872131(.1416373) (.2635180) (.3306088) (.5037620)

transf_Fed_ELEI -0.115512 0.2988032 0.1906371 0.7758179**(.2080188) (.3184237) (.2113476) (.3179540)

transf_EST_TOT -0.6098446 -0.4258675 0.2031794 0.5106146(.3151082) (.3495599) (.4178305) (.4605348)

transf_EST_ELEI -0.3655372 -0.1718983 0.2712757 0.4632912(.2792827) (.3094730) (.2798578) (.3066001)

popurb 0.269746 0.3676881 0.1860335 0.2081001(.2140999) (.2347110) (.2481830) (.2488888)

Rendmed 0.0006037 0.0004346 0.0009058 0.0012748(.0005885) (.0006173) (.0007177) (.0007167)

GINI -0.3240674 -0.2140775 0.7264913 0.0392028(.6802378) (.7825021) (.8238217) (.7956927)

Var_PIB_elei -0.190673 -0.2196054 -(.1370427) -(.2446693)(.1526513) (.1556619) (.2766517) (.2970091)

Var_PIB_gestão 0.1324636 0.0865805(.1240120) (.1315263)

Analf 1.095.261 0.2505276 0.1274841 1.313.029(1..334868) (1..466651) (1..697034) (1..673157)

lntotcurrency 0.0141851 0.0269708 -0.2267395 -0.3065113(.1492432) (.1658221) 0.2598755 (.2758468)

ln currency_elei -0.0157992 -0.0222153 -0.0928819 -(.0940392)(.0639747) (.0693403) 0.1009589 (.1081326)

lntotinvest 0.021372 -0.0097478 0.2531494 0.3676637(.1362816) (.1501788) (.2406217) (.2595826)

lninvest_elei 0.0204915 0.0211607 0.1452203** 0.1911058**(.0396942) (.0410700) (.0543724) (.0582016)

observations 388 386 371 347 347 332 312 307 296 299 299 289Log L -267.539 -263.782 -251.115 -238.225 -236.078 -222.193 -202.468 -195.138 -183.345 -197.301 -195.947 -185.478Predicted P 0.47136 0.47104 0.46226 0.46772 0.46730 0.45736 0.58940 0.59284 0.59362 0.58900 0.59078 0.59305

Político1997-2000 2001-2004

Tabela 6: Resultado do modelo de regressão considerando a probabilidade de Reeleição dos prefeitos do Estado de São Paulo para os pleitos de 2000 e 2004

Nota: Para cada variável independente apresenta-se (dF/dx) que representa a mudança marginal na probabilidade de sucesso para a média dos valores de cada uma das variáveis independentes consideradas. Os valores em parênteses apresentam os erros padrões robustos calculados a partir de modelos de heteroscedasticidade. * significante ao nível de 10%, ** significante ao nível de 5%.

18

Contrariando os dados apresentados por Brender (2003), é possível

observar que os pleitos eleitorais para o Estado de São Paulo apresentam

resultados positivos para ambos os modelos de análise tomados como referência

para o Estado nas duas eleições avaliadas, porém nem todos os modelos

apresentaram resultados significativos. É importante destacar entre os dados que há

muitas semelhanças entre os resultados apresentados para a análise sob a ótica

dos partidos e considerando-se apenas a gestão dos prefeitos em ambos os pleitos.

Desse modo, não é possível identificar mudanças entre o comportamento observado

para partidos ou apenas para os políticos como algo significativo.

Merece especial destaque a maior significância encontrada para as

gestões de 2001-2004, possivelmente como uma influência da LRF sobre a gestão

dos municípios e, surpreendentemente, para o fato de serem mais significantes os

resultados apresentados para as gestões frente aos resultados apenas para o

período eleitoral. Esta preocupação com o aumento de gastos correntes pode ser

observada pelo sinal negativo tomado pela variável na análise dos períodos

eleitorais em todos os modelos

Um elemento que merece ser mais profundamente avaliado em trabalhos

posteriores pode ser encontrado nos significativos resultados apresentados para o

comportamento da variável de investimento em alguns dos modelos apresentados e

com especial destaque para aqueles que avaliam apenas os recursos despendidos

em períodos eleitorais. Aproximando-se das considerações feitas por Nordhaus

(1975), estes resultados encontram respaldo na literatura como uma política que

atraia votos para o prefeito realizador de obras. Estes resultados podem estar

associados a alguma política de gestão de obras e projetos para que suas entregas

estejam programadas para o final de mandato e favorecer a imagem dos

governantes junto à população no período eleitoral. Mais destaque para este efeito

pode ser dado se considerarmos as proibições expressas de uso da máquina

pública para autopromoção em épocas eleitorais impostas pela legislação brasileira.

Quanto às transferências, é possível notar certa diferença no

comportamento dos sinais destes coeficientes ao serem adicionadas variáveis

sociais de controle. Vale atentar que muitos municípios brasileiros são dependentes

dos recursos oriundos de transferências governamentais e estas se dividem em

transferências de ordem constitucional e nas chamadas transferências voluntárias.

19

Enquanto as constitucionais são critérios constantes ao longo do tempo, as variáveis

voluntárias podem sofrer influência da relação partidária entre os partidos dos

prefeitos e os partidos da base de apoio do Governador e Presidente da República.

É importante destacar que as comunidades locais teriam maior dificuldade em

avaliar a gestão dos recursos públicos por parte dos prefeitos quando seus recursos

são oriundos de outras esferas do Estado em detrimento de um modelo baseado em

arrecadação próprias. Esta se torna uma discussão importante frente a possibilidade

de se avaliar o prefeito não apenas como um gestor, mas até mesmo como uma

perspectiva de voto de referendo ao governador, ao presidente da República e a

capacidade do governante local em atrair mais recursos destas esferas.

Outra triste variável que merece ser analisada neste trabalho diz respeito

aos efeitos do analfabetismo na população e a reeleição de partidos e políticos

locais. Da literatura de desenvolvimento social é possível observar a importância da

educação para o desenvolvimento de um país e, ao mesmo tempo da sua

importância como um elemento de maior controle e monitoramento do Estado. Por

outro lado, é importante avaliar que o comportamento da variável para o índice de

Gini como um elemento negativo para a reeleição dos prefeitos, apontando para a

necessidade de uma preocupação dos governantes em combater este problema

social do país.

Este trabalho procurou abordar uma realidade na política brasileira ainda

pouco explorada que é o processo de accountability nos governos municipais a partir

de teorias de voto econômico. Com o processo de abertura política consolidado ao

longo de toda a década de 90, é válido apontar que o tema permite o

desenvolvimento de diversos estudos na área de economia e ciência política. Em

especial, merece destaque a tentativa de avaliar esta problemática a partir de uma

importante janela de observação que foi a instituição do mecanismo de reeleição a

partir do primeiro ano de 1997.

A proposta deste trabalho foi avaliar de que forma alguns dos

componentes de custos da administração pública podem impactar a decisão de

alocação de recursos praticada pelos prefeitos na possibilidade de sua reeleição,

ou na eleição de membros do seu partido. Como identificado, todos os prefeitos

eleitos em 1996, desde o início de seus mandatos em 1997 estavam cientes que

dali a 4 anos poderiam todos disputar a releição de seus cargos. Diante disso, é

20

importante observar a formação de um cenário com grande quantidade de

observações que permitam avaliar a prática de comportamentos oportunistas por

parte dos governantes como forma de se beneficiarem. Ao mesmo tempo, é

importante atentar para a possibilidade dos eleitores identificarem tais medidas nas

atitudes de seus prefeitos e avaliar se há ou não a punição a estes governantes

pela adoção de tais práticas.

Neste tópico, cabem considerações para trabalhos futuros que visem

aprofundar os estudos na formação de coalizões no âmbito local, qual a relação que

pode ser identificada entre este nível de governo e os demais na federação, ou

ainda como estes fenômenos poderiam alterar os resultados aqui encontrados.

É importante notar que a sociedade recompensa o governante local pela

gestão responsável dos recursos do município, mas especial destaque é dado para

a capacidade de maior avaliação dos resultados de gestão como um elemento mais

significativo comparativamente a uma análise apenas dos resultados para o período

eleitoral. Espera-se que este tema suscite a realização de novos debates sobre a

racionalidade dos eleitores em avaliar períodos de maior ou menor prazo.

Apesar de trabalhar com a análise do superávit/déficit orçamentário como,

este trabalho não afirma que o governante que simplesmente acumula caixa ao

longo de sua gestão será reeleito. O que se propõe avaliar aqui é uma maior

preocupação dos gestores públicos com a racionalização no uso dos recursos

públicos e a capacidade dos eleitores de acompanharem sua atuação. Entre

elementos que sustentam esta perspectiva e, também, levantam debates para

futuros trabalhos é possível apontar os efeitos da política de gastos com

investimentos empreendidas nos anos eleitorais e cabendo destacar de que forma

esta atuação se relaciona com a Lei de Responsabilidade Fiscal e a legislação

eleitoral vigente no país.

Vale observar que houve mudanças na significância de percepção destes

fatores de um pleito a outro e novos trabalhos são necessários para mais períodos

eleitorais para identificar se a evolução do processo democrático no país permite

afirmar que isto representaria um maior aprendizado da população sobre as práticas

de seus governantes, ou se as medidas adotadas pelo país nas políticas de combate

ao mal uso de recursos públicos têm favorecido um maior controle da sociedade

sobre as atividades dos governantes e na alocação dos recursos públicos.

21

REFERÊNCIAS

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22

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AUTORIA

Euripedes Magalhães de Oliveira – Mestrando FGV-EAESP. Bacharel em Administração FGV EAESP. Graduando em Direito USP.

Endereço eletrônico: [email protected]