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p 1 Comitê Estadual de Combate à Tortura Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Cidadania 2012 II PLANO ESTADUAL DE AÇÕES INTEGRADAS PARA ERRADICAÇÃO DA TORTURA NO MARANHÃO

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Comitê Estadual de Combate à TorturaSecretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Cidadania

2012

II PLANO ESTADUAL DE

AÇÕES INTEGRADAS PARA ERRADICAÇÃO DA TORTURA

NO MARANHÃO

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CONSIDERAÇÕES PRELIMINARESO Presente Plano Estadual de Ações Integradas para Erradicação da Tortura no Maranhão foi construído pelo CECT em 2007, atualizado em 2012, sendo lançado para consulta pública no dia 22 de março de 2012 com prazo de 45 dias para receber contribuições.

Coordenação do Comitê Estadual de Combate à Tortura

Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Assistência Social e Cidadania - SEDIHC

Ministério Público Estadual - MP

Sociedade Maranhense de Defesa dos Direitos Humanos - SMDH

Comitê Estadual de Combate à Tortura - CECT-MA

Tribunal de Justiça do Maranhão;

Ministério Público Estadual;

Secretaria de Estado de Segurança Pública;

Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Cidadania;

Procuradoria Geral do Estado;

Defensoria Pública do Estado;

Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa;

Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos;

Ordem dos Advogados do Brasil;

Cáritas Brasileira;

Associação de Saúde da Periferia;

Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Pe. Marcos Passerini;

Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz;

Pastoral Carcerária;

Comissão Pastoral da Terra;

Comissão Batista Maranhense;

União Estadual por Moradia Popular;

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra;

Núcleo de Assessoria Jurídica Popular “Negro Cosme”;

Centro de Cultura Negra;

Grupo Gayvota.

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APRESENTAÇÃO Os signos ideológicos que perfazem a construção dos modelos sociais condicionantes do status de cidadão, característicos da complexidade das sociedades hodiernas, também fornecem os fundamentos para a constituição de uma lógica social dicotômica, na qual a prática da tortura se instrumentaliza no mister de afirmar quais os comportamentos são permitidos e quais não são.

No Brasil, a submissão do corpo através dos sentidos e da psique persiste enquanto meio de anulação da figura antagonista a partir da eleição de critérios de seleção social, em que se cria um padrão subjetivo destinado a qualificar o indivíduo a partir de suas circunstâncias externas (escolaridade, emprego, habitação, recursos financeiros, etc.). Estas categorias vulneráveis são significadas através de um sub-conceituação da pessoa humana, em razão da qual toda violência empreendida na proteção dos “verdadeiros cidadãos” é justificada pela proteção deste modelo tão caro ao torturador.

Assim, é de caráter emergencial o resgate da cidadania destes indivíduos vulnerabilizados pelas circunstâncias em que se inscrevem ou em que são inscritos, a partir da confluência de esforços institucionais não apenas daqueles que respondem diretamente pela erradicação da tortura, mas também por todos aqueles que não podem tolerá-la. É nesse sentido que há necessidade de reconhecermos a importância da pluralidade das lutas transversais de combate à tortura, esteja ela dentro ou fora dos espaços institucionalizados.

A Secretaria de Direitos Humanos, Assistência Social e Cidadania do Estado assume com o Comitê Estadual de Combate à Tortura a importante responsabilidade de articular ações de fortalecimento das instâncias deliberativas e de controle social reconhecidas em sua configuração democrática, na qual se inserem os diversos atores responsáveis pela efetividade de políticas de prevenção e combate, em uma gestão compartilhada e continuamente aberta ao diálogo horizontal.

Assim, o lançamento do II Plano Estadual de Prevenção e Combate à Tortura se insere na continuidade de um trabalho de integração e fortalecimento da política de direitos humanos que a partir do reconhecimento da natureza transversal, característica do processo de articulação de direitos, define compromissos institucionais e garante o desenvolvimento das ações de combate à tortura.

São Luís – Maranhão, 26 de junho de 2012

Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Cidadania – SEDIHC Comitê Estadual de Combate à Tortura do Maranhão – CECT

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11

HISTÓRICO RECENTE DO COMBATE À TORTURA NO MARANHÃO 15

DIAGNOSTICO 21

PRINCÍPIOS NORTEADORES 27

PLANO OPERACIONAL 31

DESAFIOS PARA IMPLEMENTAÇÃO E EXECUÇÃO DO PLANO 39

MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DO PLANO 47

RECOMENDAÇÕES 49

ANEXOS 53

Lei federal nº 9455, de 7/04/1997, sobre tortura 55

Protocolo de Intenções 57

Recomendação nº 01/2003/PGE-MA 60

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INTRODUÇÃO

A história da humanidade ao longo dos anos tem sido pautada na luta pelo reconhecimento dos direitos humanos. Nos últimos anos o Brasil ratifi cou os principais instrumentos internacionais de direitos humanos que proíbem direta ou indiretamente, a tortura. Para efeito de se estabelecer um conceito sobre os atos de tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos e degradantes, acolhemos o Artigo 1º da Convenção contra a Tortura adotada pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1984: “Tortura designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infringidos intencionalmente a uma pessoa a fi m de obter, dela ou de terceira pessoa, informações ou confi ssões; de castigá-la por ato que ela ou terceira pessoa tenha cometido, ou seja, suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimento são infl igidos por funcionário público ou por outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam conseqüência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram”. No caso do Brasil, a tortura foi tipifi cada como crime pela lei n. 9.455, de 07 de abril de 1997. Pelo seu artigo 1º, constitui crime de tortura “constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: a) com o fi m de obter informação, declaração ou confi ssão da vítima ou de terceira pessoa; b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa e c) em razão de discriminação racial ou religiosa”.

Reafi rmando seu compromisso no combate a tortura, o Brasil ratifi ca o Protocolo Facultativo das Nações Unidas Contra a Tortura. Esse compromisso pressupõe a criação de um mecanismo nacional para prevenir os maus-tratos e a tortura em manicômios, unidades prisionais, delegacias, asilos públicos e demais espaços de detenção para adultos e adolescentes. No Brasil tal mecanismo deve ser um instrumento de monitoramento, nos moldes de um “Observatório da Tortura”. O órgão terá prerrogativa para entrar em qualquer unidade prisional do país sem autorização prévia dos governos estaduais.

O Maranhão é um dos poucos estados que manteve vivo o Comitê de Combate à Tortura como conseqüência

INTRODUÇÃO

pedrosouza
Note
afastar os dois pontos
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de um esforço significativo das organizações da sociedade civil e de alguns segmentos do Poder Público. Sua rearticulação se dá com mais intensidade a partir da criação da SEDIHC.

Essa articulação culminou com a assinatura do Termo de Adesão ao Plano Nacional de Ações Integradas para a Prevenção e Combate da Tortura no Brasil, no dia 26 de abril de 2007, em solenidade que contou com a presença do ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República Sr. Paulo de Tarso Vannuchi, do então governador Jackson Lago, de Secretários de Estado e de organizações da sociedade civil.

O Plano Estadual de Ações Integradas para a Erradicação da Tortura no Maranhão que ora é apresentado para consulta pública, traz no seu bojo uma série de ações visando combater a tortura, na sua maioria decorrente do abuso de poder e do uso excessivo da força por agentes públicos. Assim, a consolidação deste Plano perpassa principalmente pela articulação das organizações da sociedade civil e do Poder Púbico no sentido de colocar em prática as ações previstas, produzindo resultados positivos no combate a tortura no Estado capaz de aumentar a confiança da sociedade nas suas instituições e no serviço do Sistema de Justiça Criminal brasileira.

A tortura não é apenas mais uma dentre a lista de violações aos direitos humanos, mas aquela que atinge diretamente a pessoa humana em sua integridade física e psicológica, provocando danos irreversíveis em suas vítimas. Uma prática aviltante que resiste ao tempo, que se sustenta pelo silêncio, pela clandestinidade e principalmente pela impunidade. Crime geralmente cometido por servidores públicos responsáveis por garantir a aplicação da lei. A tolerância continuada pela prática da tortura coloca em risco a credibilidade da justiça e os valores fundamentais da sociedade.

“Nem o Estado, nem sua soberania são o fim em si mesmos; mas estão a serviço do homem, e são limitados pelos direitos humanos”.

Montesquieu

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HISTÓRICO RECENTE DO COMBATE À TORTURA NO MARANHÃO

O Movimento Nacional de Direitos Humanos, em parceria com a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e Cidadania, deu início ao combate à tortura nas suas mais diversas perspectivas: a identifi cação, a prevenção, o combate, o enfrentamento, a punição e a erradicação.

Nesse sentido, foi criada a Campanha Nacional Permanente Contra a Tortura, em decorrência do Pacto Nacional Contra a Tortura, fi rmado em 2000, que através de um conjunto articulado de ações empreendidas por entidades da sociedade civil e de instituições públicas, tendo como objetivo a erradicação da tortura e de todas as formas de tratamento desumano, cruel e degradante, praticas criminalizadas pela Constituição de 1988, cujo enfrentamento foi regulamentado pela Lei 9.455/97.

Dentre os principais objetivos da Campanha destacam-se:

I - a articulação de esforços e ações coordenadas sob a ótica da identifi cação da tortura bem como sua prevenção, controle, enfrentamento e amparo às vítimas, testemunhas e seus familiares;

II - a sensibilização da opinião pública acerca da concepção da tortura como um ato criminoso que degrada determinadas instituições sociais e desvirtua o propósito do Estado de Direito;

III - a promoção de capacitação de defensores e militantes dos direitos humanos, de agentes e operadores de segurança pública e do sistema de justiça e segurança respectivamente para prevenir, enfrentar e responsabilizar os casos de tortura.

Diante desses objetivos foram estabelecidas algumas ações centrais da Campanha para que fosse possível a sua efetiva implantação no Brasil. A referida Campanha teve como lógica de funcionamento a criação de um comitê nacional e de comitês locais, compostos por entidades da sociedade civil e do Poder Público, a instalação de uma central nacional e centrais em cada unidade da federação.

HISTÓRICO RECENTE DO COMBATE À TORTURA NO MARANHÃO

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A Central Nacional recebia, via telefone, as denúncias de tortura, encaminhadas pelos estados. Os denunciantes eram recepcionados por estudantes de psicologia e direito, os quais registravam todos os dados fornecidos e os submetiam à verificação de seu eventual enquadramento no tipo penal previsto pela lei 9455/97. A partir de então, as denúncias eram encaminhadas às centrais estaduais, que tinham como tarefa relacioná-las e apresentá-las ao comitê local e aos órgãos responsáveis pela sua apuração. Além disso, respondiam pela sistemática alimentação das informações no Banco de Dados Nacional.

Observa-se que a Campanha era alimentada por ampla divulgação através dos meios de comunicação, de cartazes, folder e camisetas, tendo ao seu serviço o Disque Denúncia. O comitê local, além de acompanhar o andamento dos casos tinha – e continua tendo – ações no sentido de sensibilização junto aos órgãos públicos e à população em geral e capacitação, principalmente junto aos operadores do Sistema de Justiça e Segurança.

Dessa forma, foi implementado o SOS Tortura, através do número 0800-707 55 51 e o Banco de Dados, permitindo o recebimento na Central Nacional de denúncias dos casos de tortura e de tratamento cruel, desumano e degradante para assim, encaminhá-los aos órgãos competentes, além de monitorar seu andamento articulando esforços para garantir o apoio e proteção das vítimas, testemunhas e seus familiares.

Embora a Campanha Nacional tenha sido desativada em vários estados, alguns comitês locais continuam a existir, como é o caso do Maranhão.

A Campanha sob a coordenação de Oscar Gatica foi lançada nacionalmente em outubro de 2001. No Maranhão especificamente a Campanha “Tortura é crime: Denuncie!” foi lançada oficialmente no dia 07 de março de 2002 no auditório da OAB em São Luís.

Nesta mesma ocasião foi oficializado tanto o funcionamento da Central de Atendimento e Encaminhamento das Denúncias. A entidade indicada pelas filiadas ao Movimento Nacional de Direitos Humanos para sediá-la foi a Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos, em razão de sua trajetória e de seu compromisso pela efetiva proteção e garantia dos direitos humanos dos cidadãos, tanto quanto pelo funcionamento do Comitê Estadual de Combate à Tortura.

Este momento, que contou com a participação de diversos representantes da sociedade civil, em especial a presidente da SMDH, Joisiane Sanches de Oliveira Gamba, o coordenador da MNDH, Dr. Marcelo Silva de Freitas, e do Poder Público, o Procurador Geral de Justiça Dr. Suvany Vivekananda Meireles, o representante da OAB Dr. José Caldas Goes e o então Gerente Adjunto de Justiça e Segurança Pública Dr. Álvaro Rodrigues, foi de singular importância para que o Maranhão progredisse em relação ao combate ao crime de tortura, já que dentre muitos dos objetivos efetivados tínhamos o funcionamento da Central de Denúncias através do Disque 0800, cuja ligação era gratuita e confidencial, vindo a se tornar essencial para que as denúncias de prática da tortura sejam encaminhadas aos órgãos competentes para elucidação e punição dos agentes criminosos.

A Campanha Nacional foi também lançada em alguns municípios do interior do MA: em Itapecuru-Mirim, em Araioses, em Tutóia, Caxias e Codó destacando as intensas mobilizações e participação popular que marcaram o lançamento.

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Em particular, o Comitê Estadual foi criado com a responsabilidade de coordenar a Campanha em âmbito estadual, implementando as atividades propostas e buscando parcerias para combater o crime de tortura. Embora a campanha nacional tenha sido desativada, em vários estados o Comitê continua a existir, como aqui no Maranhão, realizando visitas em unidades de privação de liberdade e outros locais de detenção. Também acompanha casos particulares e emblemáticos, como o do artista popular “Gerô”, que fora vítima fatal de crime de tortura, praticado por agentes de segurança pública.

Mais recentemente, em dezembro de 2002, o Brasil ratifica o Protocolo Facultativo à Convenção da ONU Contra a Tortura, e em outubro de 2003, o Congresso Nacional o aprova.

No final de 2005, o governo federal lança o então Plano Nacional de Ações Integradas de Prevenção e Controle da Tortura no Brasil. E, no ano de 2008, o Maranhão faz o lançamento do seu Plano Estadual de Ações Integradas para Prevenção e Erradicação da Tortura.

Atualmente o Comitê é composto por representantes da Sociedade Civil e órgãos do Poder Público, descritos a seguir:

• Tribunal de Justiça do Maranhão;

• Ministério Público Estadual;

• Secretaria de Estado de Segurança;

• Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Cidadania;

• Procuradoria Geral do Estado;

• Defensoria Pública do Estado;

• Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa;

• Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos;

• Ordem dos Advogados do Brasil;

• Cáritas Brasileira;

• Associação de Saúde da Periferia;

• Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Pe. Marcos Passerini;

• Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz;

• Pastoral Carcerária;

• Comissão Pastoral da Terra;

• Comissão Batista Maranhense;

• União Estadual por Moradia Popular;

• Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra;

• Núcleo de Assessoria Jurídica Popular “Negro Cosme”;

• Centro de Cultura Negra;

• Sindicato dos Servidores Públicos do Maranhão;

• Grupo Gayvota.

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As entidades que formam a Coordenação do Comitê no Maranhão são a Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos, Ministério Público Estadual, e a Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Cidadania.

A periodicidade das reuniões é mensal e o Comitê trabalha tendo como orientação o Protocolo de Intenções e o Pacto Estadual pela Erradicação da Tortura. Além desses documentos, a Procuradoria de Justiça do Maranhão aprovou recomendação que “cuida dos procedimentos para responsabilização criminal, administrativa e cível nos casos de tortura (Lei 9.455/97) e dá outras providências”.

Já a Procuradoria Geral do Estado aprovou recomendação orientando que “quando apresentada ação de ressarcimento contra o estado do Maranhão em conseqüência de prática de tortura por servidor público estadual, deve ser ajuizada ação regressiva contra o servidor”, e informando que o “procurador deve ingressar com ação civil por improbidade administrativa nos termos do art. 17 da Lei 8429/92”.

Para fins estatísticos da Campanha Nacional Permanente Contra Tortura, deve ser encaminhada à Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos comunicação sobre o ajuizamento das ações de que trata a presente recomendação, bem como sua conclusão, para repasse ao Comitê Nacional da Campanha.

Também, resultante da ação ininterrupta do Comitê Estadual de Combate à Tortura, foi apresentada à Câmara Federal Projeto de Lei 417/2007, que “acrescenta inciso ao artigo 11 da Lei nº 8.429, de 02 de junho de 1992, dispondo sobre a classificação da prática de tortura como ato de improbidade administrativa”, tendo recebido parecer favorável do relator.

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DIAGNÓSTICO

O diagnóstico relativo à ocorrência da prática de tortura no Maranhão, de suas causas e motivações são elementos fundamentais para a elaboração de uma política efi caz para seu enfrentamento. Entretanto, os únicos dados sistematizados que se dispõe são referentes ao período de 30 de outubro de 2001 à 31 de janeiro de 2004, isto é, o intervalo de tempo correspondente ao desenvolvimento da Campanha Nacional Permanente de Combate à Tortura e à Impunidade e ao período de junho de 2008 a dezembro de 2011 com os dados sistematizados pela Ouvidoria de Segurança Pública, após sua implantação em junho de 2008. Constata-se assim um lapso de 03 anos e cinco meses sem informações sistematizadas.

As principais referências para o diagnóstico são os três relatórios locais oriundos da Central de Recebimento de Denúncias no Maranhão - Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), o relatório nacional publicado pelo MNDH e os relatórios da Ouvidoria de Segurança do Maranhão, correspondentes ao período de junho de 2008 a dezembro de 2011.

Observa-se, ainda que o relatório da Ouvidoria de Segurança Pública é restrito à tortura institucional, tendo registrado os casos de tortura no sistema penitenciário somente até o fi nal do ano de 2010, quando a política penitenciária passou a ser gestada pela Secretaria de Estado da Justiça e da Administração Penitenciaria.

Embora os primeiros dados sejam correspondentes a 30 de outubro de 2001, quando a Campanha Nacional foi iniciada, o acompanhamento das mesmas só se dá a partir de março de 2002, quando foi lançada no Maranhão e estende-se até 03 de julho de 2004, quando foi divulgado o último relatório.

No período correspondente, a Central Estadual recebeu da Central Nacional 93 alegações, correspondendo apenas a 16,45% das ligações recebidas, sendo encaminhadas ao Ministério Público, às Delegacias de Polícia, às corregedorias do sistema de segurança ou penitenciária, ao Poder Judiciário e Conselhos Tutelares, quando tinham como vítimas crianças e adolescentes. Os indicadores ora apresentados obedecem nove (09) aspectos:

DIAGNÓSTICO

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Caráter institucional/particular

Praticada por agente público Campanha

77 82,80%

Praticada por particulares 16 17,20%

A Polícia Militar aparece com 51,59% das indicações, seguida da Policia Civil com 21,36%. O percentual de 4,48% foi atribuído a funcionário do sistema prisional ou de casas de custódias; 4,48% a familiares. Os 18.09% restantes representam o não fornecimento de informação ou se trata de outros agentes particulares.

A partir dos atendimentos efetuados, junto à Ouvidoria de Segurança Pública, se registrou em 2011, somente em atividade policial, 16 (dezesseis) casos de torturas. Todavia como a tipologia “tortura” tem uma gama enorme de possíveis qualificativos, que vão da tortura física a psicológica, há casos em que a própria vítima não sabe classificar se foi torturada.

Tortura/tratamento desumano ou degradante

Das alegações, 96,70% configuram tortura e 4,30% foram classificadas como tratamento desumano e degradante.

Natureza da tortura

Em 100% dos casos houve violência física.

Local do crime

Do total de alegações, 46,24% ocorreram em delegacias de polícia, 17,20% em residências, 12,90% em local deserto, também foram citados, o batalhão da Policia Militar (3,23%), quartel (2,16%) e viaturas policiais (1,08%), 17.19% não informa a localidade.

Os dados da Ouvidoria apontam como palco privilegiado os presídios e delegacias de polícia.

Sexo do agente

Em 86,02% dos casos os crimes foram praticados por homens; 5.26% por mulheres; 3,22% por ambos; e 5,5% não foi informado.

Sexo e faixa etária da vítima

Quanto à idade, 77,55% das vítimas são adultos; 10,20% são adolescentes; 10,20% são crianças; e 2,05% são idosos.

Quanto ao sexo, 76,34% foram cometidas contra homens; 7,52% só contra mulheres; 9,67% contra homens e mulheres simultaneamente; e 6,47% não foi informado.

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Localidade

33,33% ocorreram na capital, São Luís e 66,67% ocorreram no interior do Estado, com destaque para os municípios de Açailândia, Coroatá e Coelho Neto.

Motivação da tortura

34,41% são praticadas com o intuito de castigar; 39,72% são infligidas com o propósito de obter confissão do torturado; e os demais casos têm como motivação a intimidação (7.63%), obrigar a vítima a praticar algum delito (1,08%) e extorsão (1,08%). O percentual de 16,08% representa outras motivações ou não souberam informar.

Os dados da Ouvidoria de Segurança Pública apontam como principais motivações a obtenção de confissões de “supostos suspeitos”.

Última situação do monitoramento

Das 93 alegações encaminhadas aos órgãos competentes, se obteve retorno de 64,51%, sendo que 12,90% das alegações foram transformadas em processos judiciais não necessariamente com a tipificação tortura; 2,15% resultaram em condenações (comarcas de São Bernardo e Coroatá); 27,95% das alegações se encontravam na fase de investigação; e 23,65% das alegações foram arquivadas.

Em 35,49% das alegações, correspondente a 33 casos, não se obteve nenhum pronunciamento das autoridades comunicadas, isto é nem do Ministério Público, nem da Secretaria de Segurança Pública, nem das Corregedorias, nem dos Conselhos Tutelares.

Estes são os dados coletados e tabulados nos 21 meses de funcionamento da Central de Recebimento de notícias de tortura, tratamento desumano e degradante no estado do Maranhão, constatando-se que:

• A maioria da prática denunciada trata-se de tortura institucional;

• A principal motivação é a obtenção de confissão;

• São praticadas geralmente nas delegacias de polícia;

• Os agressores são na maioria homens;

• As vítimas estão na base da pirâmide social – pobres, suspeitos da prática de crimes ou pessoas privadas de liberdade em razão de sentença judicial;

• As autoridades têm dificuldade em fornecer informações;

• As autoridades têm dificuldades em assumir a tipificação da pratica delituosa como tortura, enquadrando geralmente como lesões corporais e abuso de autoridade;

• O problema da impunidade em relação a pratica da tortura advém menos do texto da lei e mais da dificuldade da obtenção de provas e da tradição cultural dos aplicadores da lei.

Finalizando, registramos o prejuízo do encerramento das atividades da Central, que impossibilitou o recebimento de denúncias e consequentemente a atualização sistemática do Banco de Dados, fato que já dura alguns anos.

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Entretanto, dois casos ocorridos nos primeiros meses de 2007 – do artista popular Gerô e de Santa Helena (MA) – demonstram que esta prática não foi abolida, assumindo requintes de refinamento e adoção de ações audaciosas por parte dos algozes.

Complementando as informações, acrescenta-se a análise produzida pela Ouvidoria de Segurança Pública a constatação de que o uso da prática de tortura é geralmente contra algum acusado de crime, ou detento de alguma delegacia do Estado, como também no ato da prisão e em fase de investigação, muitas vezes de forma arbitrária, no intuito de obter confissão de “supostos suspeitos”, sem o devido processo legal e movido por “seduções” e/ou pressões das vítimas de alguma natureza de delito, que usam do desvio de conduta de policiais para indevidamente, e valendo-se do poder coercitivo, contra os segmentos mais vulneráveis da população, o que invariavelmente resulta em prisão ou seqüestro “relâmpago”, seguido de interrogatório em lugares ermos, estranhos ao convívio social, e impróprios à atividade policial, com o fim de forçosamente obter confissão, indicando que em alguns casos o suposto réu já está previamente condenado. Muitas vezes resulta em confissões ilegais ou infundadas, lesões graves, com seqüelas várias e até morte.

Em alguns dos casos monitorados há uma clara prática de racismo, onde o negro atende ao estereótipo de periculosidade. Uma vez convencido, ainda que a própria vítima do crime não reconheça no preso seu verdadeiro algoz, o policial acaba criando um fato que justifique a sua intervenção desqualificada, o que resulta em forjamento de provas.

Finalmente, a Ouvidoria de Segurança Pública registra que como instância de controle social não tem a prerrogativa da investigação e por isso o atendimento resulta em um encaminhamento às instâncias de controle interno, como a Corregedoria, e externo, como Ministério Público, que por sua vez tem o papel legal da investigação.

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PRINCÍPIOS NORTEADORES DO PLANO

Este Plano norteia-se pelos seguintes princípios, os quais estão fundamentados no Plano de Ações Integradas para Prevenção e Combate à Tortura no Brasil:

• Promover um reordenamento institucional no combate à tortura

As pesquisas e estudos realizados no Brasil acerca da tortura apontam que este é um crime de oportunidade, que tem na atuação dos próprios agentes e instituições do Estado a sua principal causa.

Nesse contexto, faz-se necessário a adoção de estratégias que apontem para a construção de uma nova institucionalidade, desenvolvendo ações voltadas para a promoção da integridade das instituições do Sistema de Justiça Criminal por meio de mudanças organizacionais e gerenciais, procedimentos, práticas, atitudes, normas e valores profi ssionais que permitam o desenvolvimento e a consolidação de uma cultura de integridade no interior das instituições. A intenção é reforçar a inclinação dos agentes públicos de resistir às oportunidades para o abuso de poder e da força e para a tolerância dos abusos associados aos seus cargos e funções.

• Articular ações integradas entre as diversas instituições e no interior destas na implementação das ações do Plano.

O êxito das ações previstas neste Plano passa pelo desenvolvimento de estratégias de articulação no plano interinstitucional e também no interior das próprias instituições e/ou esferas de poder envolvidos na efetividade deste Plano.

Desse modo, é necessário desenvolver ações articulando iniciativas desenvolvidas no âmbito da Segurança Pública, Ministério Público, Poder Judiciário, Defensoria Pública, Procuradoria Geral do Estado, SEDIHC, SEJAP e unidades de internação de adolescentes e sociedade civil. No mesmo sentido, são desejáveis as articulações internas entres as ações de cada um dos poderes para não tornar as iniciativas isoladas e desvinculadas de uma política mais abrangente.

PRINCÍPIOS NORTEADORES DO PLANO

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• Promover a gestão participativa e a transparência no desenvolvimento das ações previstas no Plano;

Pretende-se garantir a mais ampla participação de todos os atores que têm responsabilidades no enfrentamento ao crime de tortura na condução da política de combate a tortura. Nesse sentido, o Sistema de Justiça Criminal e as organizações da sociedade civil que atuam na área devem participar tanto na formulação quanto na execução e implantação das ações previstas no Plano, assim como garantir sua transparência.

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PLANO OPERACIONAL

Compartilhando responsabilidade para a execução deste Plano entre instituições públicas e da sociedade civil, vale ressaltar que ele é composto por três blocos de ação, a saber: na área preventiva – voltadas para o conhecimento da realidade; na área de responsabilização – ações que visem responsabilizar especialmente os agentes públicos que cometem a prática da tortura; e na área de proteção e reparação – garantir ações capazes de proteger e reparar os danos causados por prática de tortura.

Ações de Prevenção

AÇÕES PRAZOS RESPONSÁVEL

Garantir o combate à tortura como prioridade do Estado do Maranhão

Permanente Governo do Estado do

MA

Privilegiar o apoio a iniciativas de geração de emprego e renda voltados

para os grupos mais vulneráveis à prática da tortura (jovens, homens, negros e

habitantes das áreas periféricas urbana)

Permanente Governo do Estado do

MA

Estabelecer estratégias de atuação operacional entre Executivo, Judiciário

e Legislativo em relação às ações preventivas e repressivas de combate à

tortura no Maranhão

Permanente SEDIHC, TJ, MP, DP, AL e

Sociedade Civil

PLANO OPERACIONAL

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Garantir dotação suficiente para implantação e implementação das ações

definidas neste plano.Permanente SEDIHC

Avaliar e monitorar a implementação do Pacto de Combate à Tortura no Maranhão

de 2002 e do Termo de Adesão para Implementação do Plano Nacional de Ações Integradas para Prevenção e

Controle da Tortura no âmbito do Estado do Maranhão

Até junho de 2012

Coordenação do

CECT-MA (SEDH,

PGJ e SMDH)

Lançar Manual de combate à tortura para Magistrados e Membros do MP 26 de junho de 2012

CECT-MA com as Associações dos

Magistrados e do MP

Criar na SEDIHC uma biblioteca básica de documentos, estudos, pesquisas e manuais referentes à prevenção e

enfrentamento da tortura

Até dezembro de 2012 SEDHIC

Estimular a produção de estudos, pesquisas e manuais com vistas ao reordenamento das instituições do

Sistema de Justiça Criminal com atenção especial para a prevenção e erradicação

da tortura.

Permanente SEDHIC, SEJAP, SSP e

CECT-MA

Desenvolver campanha estadual de conscientização, sensibilização e

capacitação para o combate à torturaCurto prazo SEDIHC

Incluir a temática do combate à tortura nos parâmetros curriculares estaduais e

municipaisCurto prazo SEDUC

Envolver a mídia comunitária na abordagem do tema nos veículos de

comunicaçãoPermanente Sociedade Civil

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Desenvolver um módulo sobre direitos humanos e tortura para ser aplicado na formação de policiais e servidores

penitenciários

Curto prazo SSP e SEJAP

Criar banco de dados que reúna informações sobre notícias de tortura capaz de diagnosticar a situação da tortura no Maranhão mantendo a

divulgação sistemática

Ate dezembro de 2012Ouvidorias de Segurança e de Direitos Humanos

Criar banco de dados sobre boas práticas para prevenção e erradicação da tortura

Ate dezembro de 2012 SEDIHC

Criar e implantar estruturas de atendimento jurídico e psicosocial às

vítimas de tortura2012 SEDIHC

Divulgar o Protocolo Facultativo à Convenção das Nações Unidas Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas

Cruéis, Desumanos ou Degradantes

PermanenteGoverno do Estado do

MA

Desenvolver campanha visando à erradicação e prevenção da tortura por meio da mídia e junto às instituições do

sistema de justiça criminal e ONG’s

Permanente com início em

MP, DP, TJ e SEDIHC

Criar Mecanismo Preventivo Estadual de Monitoramento dos Locais de Privação

de Liberdade com destinação de recursos materiais e financeiros para visita

aos locais de privação de liberdade, independente de denúncias.

Até dezembro de 2012 AL, SEDIHC, SEJAP

Elaborar e implementar um programa de treinamento para os responsáveis pela execução penal em unidades de

internação de mediadas sócio educativas e de outros locais de privação de

liberdade, de acordo com as diretrizes do Protocolo Facultativo

Ate dezembro de 2012 SEDES (FUNAC)

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Fortalecer a política de criação de Conselhos da Comunidade, conforme

prevê a Lei de Execuções Penais (LEP).Permanente SEJAP e TJ

Realizar oficina para propor ações de melhoria de gestão organizacional e

prevenção de abusos de poder e o uso excessivo da força nos locais de privação

de liberdade.

2012

SEDIHC e SEJAP

Rede de Controle Externo das Policiais

Fortalecer a Defensoria Pública para garantir assistência jurídica gratuita às pessoas privadas de liberdade,

garantindo os direitos dos indivíduos ao acompanhamento do inquérito e do

processo e prevenindo a tortura

Permanente Governo do Estado do

Maranhão

Definir indicadores e monitorar a execução dos compromissos contidos

nesse planoPermanente CECT-MA

Ações de responsabilização

AÇÕES PRAZOS RESPONSÁVEL

Fortalecimento das corregedorias especifica do Sistema Justiça e

Segurança PúblicaPermanente SEJAP e SSP

Garantir a participação do CEDDH-MA no processo de escolha das ouvidorias do sistema penitenciário e de direitos humanos a exemplo da Ouvidoria de

Segurança Pública

2012 SEDIHC e SEJAP

Garantir as condições materiais e humanas (estrutura logística como

veículos e material de informática e de comunicação) para o funcionamento

independente das ouvidorias de direitos humanos, segurança pública e sistema

penitenciário.

Permanente SEDIHC, SEJAP e SSP

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Garantir as condições materiais e humanas para o funcionamento do CAOP

DH e do Centro de Controle Externo da Atividade Policial (CEAP) no nível da

Procuradoria de Justiça

2012 PGJ

Estimular a criação de grupo de promotores especializados para o

combate à tortura2012 PGJ

Articular os promotores para a necessidade de inverter o ônus da prova

na alegação de tortura, nos casos em que as denúncias de tortura ou outras

formas de maus tratos forem levantadas por um réu durante o julgamento

Permanente CECT-MA

Adoção de medidas que tornem mais rápidas as apurações das denúncias de

tortura e maus tratos e que levem à responsabilização do pessoal envolvido

Permanente Corregedorias

Fortalecer a estrutura física e pessoal do sistema penitenciário

Permanente SEJAP

Investir na formação/capacitação do servidor da saúde que atue no sistema

prisional e de saúde pública para registro e encaminhamento legal dos casos de tortura e de maus tratos a que forem

submetidos os presos

Permanente iniciando em 2012

Secretaria de Saúde e SEJAP

Lançar o Protocolo Brasileiro de Perícias – Protocolo de Istambul “Código

Internacional de Conduta para médicos legistas”

2013 SEDIHC

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Articular com o Conselho Estadual de Medicina a conscientização dos médicos

(as) para que comuniquem a prática de crime de tortura às autoridades competentes, informando sobre a

contravenção penal tipificada no artigo 66, II, do DL 3688/41

2012 CECT-MA

Estimular o MP a acompanhar as investigações sobre policiais ou outros agentes públicos envolvidos em casos de tortura, conforme recomendação do

relator da ONU.

Permanente CECT-MA

Criar e integrar banco de dados referentes à recepção e encaminhamento de denúncias de tortura para autoridades

do Sistema de Justiça e Segurança Pública (ex. cadastro nacional de armas)

Permanente

Iniciando em 2012SEDIHC

Apoiar aprovação do PL sobre improbidade administrativa.

2012 AL

Ações de Proteção e Reparação

AÇÕES PRAZO RESPONSÁVEL

Ampliar a capacidade técnico-cientifica do IML, ICRIM e CPTCA

2012 SSP

Realizar concurso para ampliação do quadro de servidores do IML, ICRIM e

CPTCA2012 SSP

Ampliar a colaboração de órgãos pertencentes às universidades públicas

para a realização de exames de corpo de delito

Agosto 2012 SSP

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Tornar mais ágil a realização de corpo delito na entrada e saída do preso, disponibilizando um profissional da

medicina em regime de plantão

Permanente SSP e SEJAP

Acompanhar os processos que versem sobre o crime de tortura em tramitação no Poder Judiciário e nas corregedorias,

sensibilizando corregedores, juízes desembargadores e ministros

Permanente MP, DP, Associações dos

Magistrados MP e DP

Ampliar e aperfeiçoar os serviços de acolhimento, assistência e proteção à vítimas, testemunhas e familiares de vítimas e testemunhas de violência

institucional

2012 SEDIHC

Adotar medidas visando à reparação dos danos causados às vítimas de abuso de poder e uso excessivo da força por

agentes públicos.

Permanente Procuradoria do Estado e

Defensoria Pública

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DESAFIOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO E EXECUÇÃO DO PLANO

A despeito de tratar-se de crime hediondo, a tortura no Brasil contemporâneo continua a ser praticada na clandestinidade, muitas vezes chegando a assumir contornos institucionais. Não é por acaso que a erradicação da prática apresenta tanto obstáculos: trata-se de um fenômeno multicausal, cujo enfrentamento não pode seguir outra direção senão a da transversalidade.

Independente das motivações, a tortura instrumentalizada consiste fundamentalmente em meio de submissão do corpo, através do qual se manifesta o poder sobre os sentidos como forma de anulação do outro, do antagonista, cuja existência representa uma verdadeira ameaça a algum elemento ou padrão social que é caro ao torturador.

Aparentemente, está se estruturando, na nossa sociedade, uma verdadeira zona de exclusão de alguns indivíduos destituídos de status de cidadão, em razão de serem considerados uma alteridade inferior e destituída aptidão para recuperar-se. Quanto a esses, não se concede nem mesmo o benefício da dúvida, visto que são avaliados de forma absoluta como transgressores. Esta equivocada noção transita em diversos estratos sociais, inclusive naqueles com formação superior, levando muitos a perdoar ou até a admitir a tortura como forma de compensar a inefi ciência do Estado em buscar resultados efetivos com métodos adequados.

Lamentavelmente, a tortura faz parte da tradição histórica que não remonta à última ditadura militar. A prática da tortura é secular, com castigos físicos e suplício de segmentos claramente identifi cáveis pela sociedade.

Sua adoção remete à colonização européia, que deixou como herança a utilização da tortura enquanto instrumento de controle social. Na condição de violência sistêmica, ela se expressa tanto na cidade quanto no campo, em contextos muito claros de repressão não só da criminalidade urbana, mas também dos movimentos sociais.

DESAFIOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO E EXECUÇÃO DO PLANO

DESAFIOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO E EXECUÇÃO DO PLANO

DESAFIOS PARA A IMPLEMENTAÇÃO E

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Dentro desse cenário, o Plano Estadual de Ações Integradas para Erradicação da Tortura no Maranhão, em sua implementação e execução, defrontar-se-á com grandes desafios.

Por detrás da tortura institucional há, ainda que veladamente, um consentimento dos indivíduos que se auto definem como “de bem”. Grandes vítimas da insegurança generalizada decorrente da ausência de políticas públicas eficazes de prevenção e combate ao crime, aliada à seletividade dos destinatários dos direitos fundamentais à educação, saúde e infraestrutura, estas pessoas tendem à manutenção de uma perspectiva social maniqueísta e ingênua, fundada no princípio do medo e da provisão de medidas que ofereçam resultados a curto prazo. Assim, a crescente criminalidade nas zonas urbanas funciona como um elemento de legitimação da tortura.

Percebe-se, portanto, que a tortura no Brasil se origina e continua vinculada às noções de seleção social: cria-se um padrão subjetivo destinado a qualificar o indivíduo a partir de suas circunstâncias externas (escolaridade, emprego, habitação, recursos financeiros, etc.), definindo aqueles a quem é reconhecida a cidadania e aqueles a quem não é. A partir disso, qualquer razão que sugira a proteção “dos cidadãos” é motivo suficiente para submeter às chamadas “classes torturáveis”.

O antagonismo estabelecido na relação das classes cidadãs com as classes torturáveis é o fundamento da prática que continua sendo um instrumento de submissão do outro. Hoje, elas encontram sua maioria na população carcerária, nos hospitais psiquiátricos e entre os moradores de rua, mas assumem diferentes características segundo cada contexto social no qual se inserem.

Na área rural, onde se verifica o oligopólio de terras e de outros recursos naturais, a tortura funciona como forma arcaica de controle social. Este contexto é caracterizado como a transfiguração da propriedade privada no proprietário e de seus privilégios. Nesse sentido, a tortura é empregada a partir da estigmatização do povo rural, que deve sempre lembrar qual a “ordem natural das coisas”.

Entre as populações urbanas, a tortura se circunscreve às classes sociais vulneráveis, dentre as quais podemos identificar as mulheres, em situação de violência doméstica ou mães de criminosos; idosos, que costumam ser torturados sistematicamente por seus guardiões; e, principalmente, os moradores de rua, que muito preocupa por indicar o crescimento de um fenômeno social.

A violência contra os moradores de rua não é novidade, mas vem apontando gradualmente para a existência de um propósito: os assassinos pretendem com isso promover uma espécie de limpeza urbana. Para tanto, parecem desenvolver um certo “modus operandi”, na medida em que se revelam reiterados os empreendimentos com arma de fogo através de carro ou moto em movimento. O símbolo que envolve os moradores de rua está diretamente relacionado aos valores ocidentais, ao inverso do sucesso: ao fracasso, analfabetismo e à incapacidade para o trabalho.

Associado a este pensamento, na raiz das políticas “higienistas” encontra-se uma deturpada idéia de prevenir e combater a criminalidade. Assim, quem nunca teve reconhecida sua própria condição humana também não teria sua ausência notada.

A tortura contra a população carcerária começa entre os próprios detentos, que mantêm práticas violentas contra alguns grupos ali também confinados, como os homossexuais. Soma-se a isto a venda de benefícios dos servidores públicos, muitas vezes já adquiridos judicialmente pelos detentos, como a liberdade

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provisória.

Com a mesma precaução devem ser monitorados os espaços para cumprimento de medida de segurança, uma vez que a recuperação do internoguarda uma enorme dependência em relação à maneira com a qual o tratamento é conduzido.

Na verdade, a preocupação com medida judicial a que estará sujeito o infrator deve anteceder sua entrega ao sistema penitenciário. Hoje existem no Estado pessoas em cumprimento de pena em estabelecimento prisional submetidas à contínua prática de tortura não apenas pelos agentes penitenciários, mas pelos próprios presos, em razão de características subjetivas relacionadas ao desenvolvimento mental e emocional, que deveriam ter sido observadas no momento da sentença.

Nesse sentido, recomenda-se a realização de uma ação efetiva em relação aos indivíduos que deveriam, na verdade, estar sujeitos à medida de segurança, uma vez que se acabam tornando-se vítimas potenciais da violência nos presídios.

Ainda no contexto do sistema penitenciário, deve ser dirigida maior atenção aos detentos que vieram a adquirir deficiências físicas ou mentais em virtude da tortura. Para além das medidas compensatórias e reparatórias, devem ser garantidos a esses indivíduos os direitos decorrentes de sua nova condição.

Contudo, a violência perpetrada pelos agentes penitenciários ainda é uma das mais notáveis. Para além de uma prática esporádica, a tortura no presídio segue um mesmo padrão de violação de forma reiterada e sistêmica, elevando-a a nível institucional, ou seja, o agente particular passa a ser substituído pela instituição que representa: o Estado.

O nosso aparato de segurança pública trata o criminoso como inimigo interno. Trata-se de uma guerra que tem como pano de fundo a cidadania e que serve à justificação de todas tentativas de retaliação ao antagonista. Nesse sentido tem-se a tortura, que persiste nos distritos policiais, nas prisões, nas instituições para adolescentes em conflito com a lei e nos espaços de cumprimento de medida de segurança.

Nestes ambientes verificam-se casos de violência institucional para extrair informações e confissões forçadas, obter extorsão ou mesmo como forma de punição. Esses casos têm ocorrido especialmente durante a fase de detenção temporária para investigação e busca de provas. Ao mesmo tempo, o número de denúncias formalizadas ao Poder Judiciário por conta do crime de tortura ainda é muito baixo e o número de condenações ainda menor, associado à impunidade de seus agentes pela própria instituição policial.

Destarte, os locais de detenção devem ter o seu acesso sempre garantido, de modo a permitir seu contínuo monitoramento. Na prática, é recorrente a dificuldade enfrentada pelos membros do Comitê de Tortura em realizar a permanente fiscalização.

A partir dessas constatações, o enfrentamento da tortura deve ser promovido através de dois eixos: o primeiro está relacionado às políticas afirmativas de direitos, nas quais estão inseridas as ações de prevenção, educação em direitos humanos e promoção da cidadania, tendo vista toda a sociedade e, mais especificamente, a qualificação profissional e a garantia das condições operacionais necessárias ao exercício dos deveres conferidos aos agentes de segurança pública.

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Infelizmente, algumas faculdades de Direito não têm no currículo a matéria “Direitos Humanos”. As escolas de magistratura tendem a tratar o tema com a rubrica dos Direitos Fundamentais, com carga horária absolutamente residual. O Ministério Público, geralmente, também não dá a ênfase necessária aos direitos humanos, assim como os órgãos de segurança pública, que não investem nesse aspecto.

Este cenário contribui para a formação de profissionais carentes de sensibilidade para as violações sistemáticas que lhe cabem reprimir e despreparados para lidar com as pressões da sociedade que a cada dia procura mais respostas à violência de que é vítima. Não há um contraponto que permita a reflexão serena e científica sobre esse senso comum que circula, segundo o qual para que a Polícia seja eficiente é necessário lançar mão da tortura, é necessário praticar um crime. Temos experiência no País — e, sobretudo, fora dele — de que onde há maior índice de resolução dos casos, a Polícia não disparou sequer um tiro para elucidar crimes. A mediação de conflitos, por exemplo, é um modelo que podemos seguir.

O segundo eixo de atuação no enfrentamento à tortura é o da repressão. O Judiciário e o Ministério Público precisam conferir maior efetividade às disposições constitucionais e legais que vedam a tortura e visam punir os seus autores. Embora já haja uma tendência jurisprudencial mais favorável ao combate à tortura, com punição de torturadores, os casos ainda são poucos. Geralmente, os magistrados desqualificam as condutas que deveriam ser tipificadas como crime de tortura, enquadrando-as em crimes com penas menos rigorosas, como maus tratos ou lesão corporal. Uma das razões disso é a dificuldade encontrada para a caracterização dos crimes de tortura, em face da ausência, na maioria dos casos, da prova pericial. Assim, a responsabilização pela tortura psicológica é ainda menos recorrente.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo art. 5º, III vedou expressamente a prática da tortura. Posteriormente, com a promulgação da Lei n.º 9.455/97, houve a tipificação dos crimes de tortura. Todas essas providências no campo constitucional e legislativo guardam um importante significado dentro da escolha de não tolerar a tortura.

Contudo, a falta de efetividade dos provimentos judiciais e o assoberbamento do Poder Judiciário e do Ministério Público contribui continuamente para a reiteração da prática, uma vez que sem o julgamento dos casos e, consequentemente, sem a responsabilização do torturador, abre-se margem para um contexto de impunidade que acaba por incentivar a prática da tortura.

Outrossim, essa sobrecarga de serviços dos Magistrados e membros do Ministério Público poderá dificultar a implementação e execução das ações do Plano Estadual de Ações Integradas para Erradicação da Tortura no Maranhão que lhes competirem, razão pela qual as mesmas devem ser assumidas como prioridade no exercício de suas funções.

Nessa conjuntura, a Defensoria Pública do Estado também possui função primordial, devendo ser fortalecida para uma melhor e mais abrangente assistência judiciária às pessoas privadas de liberdade, de modo a garantir os direitos dos indivíduos ao acompanhamento do inquérito e do processo, e prevenindo a ocorrência de tortura.

Contudo, o grande desafio enfrentado por essa instituição é a sua atuação com recursos precários e com um número insuficiente de defensores. Essa realidade acaba dificultando o exercício de forma efetiva dos direitos individuais garantidos constitucionalmente aos cidadãos, dentre eles a ampla defesa, o devido processo legal, e a presença dos defensores onde possa ocorrer o abuso de autoridade e violações aos

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direitos humanos. Dessa forma, o fortalecimento da Defensoria Pública no Maranhão não é só um dever do Estado, mas deve ser considerada uma relevante prioridade.

Ainda dentro desse contexto, a Procuradoria Geral do Estado também possui importante papel e têm como maior desafio responsabilizar civilmente os servidores estaduais envolvidos com a prática do crime de tortura, ajuizando ação regressiva contra esses, quando apresentada ação de ressarcimento contra o estado do Maranhão em consequência da prática de tortura. Igualmente importante é a possibilidade conferida à Procuradoria Geral do Estado de ingressar com ação civil por improbidade administrativa contra o agente público que, no exercício de funções próprias de sua atividade, praticar tortura, podendo lhe acarretar a perda do cargo público, suspensão dos direitos políticos e multa, dentre outras punições.

Além de atuar na repressão, deve estar também comprometida com a difusão nos órgãos públicos estaduais das normas referentes à proteção dos direitos humanos e combate à tortura, agindo de forma preventiva.

Mas, nesse sistema, não basta que estes atores tentem realizar o que lhes cabe de maneira isolada. Devem, portanto, se reconhecer num todo, como parte do sistema, e admitirem suas limitações, ou não conseguirão alcançar o resultado adequado.

Outros obstáculos a serem superados referem-se à ausência de mecanismos de denúncias anônimas; de atendimento às vítimas dos crimes de tortura e seus familiares; à carência de ações voltadas para o combate da tortura praticada no âmbito privado, bem como as dificuldades encontradas pelos Conselhos Tutelares e Centro de Referência no cumprimento de seu papel nos casos de tortura.

Podemos concluir que a Justiça só responde se passar a ser controlada pela sociedade, se, se enxergar como parte da sociedade. Para tanto, é necessário legitimar os representantes da sociedade para atuar perante a Justiça. À medida que aumentamos os braços da sociedade, também vamos permitindo maior judicialização dos casos de tortura, que passam a ser resgatados da obscuridade em que hoje se encontram e ingressam no sistema.

Essa estratégia é fundamental para se afastar a sistematização da prática de tortura através da responsabilização dos torturadores. Tortura existe onde quer que existam seres humanos; existe em todos os países ao redor do mundo. A diferença que se percebe entre os países efetivamente democráticos e aqueles que vivenciam um momento de crise institucional são as consequências que o Estado atribui à violência: se há a responsabilização do torturador e o amparo à vítima, então podemos dizer que estamos em um verdadeiro Estado de Direito. A tortura acontece como outros delitos, mas há a aplicação das devidas sanções às disposições legais transgredidas.

Com a aprovação do Plano Estadual de Ações Integradas para Erradicação da Tortura no Maranhão como política de Estado e com a criação de mecanismos, pretende-se estabelecer este consenso, no sentido de que o combate à tortura se dará como política do Estado do Maranhão, pois já não é possível se incorrer no erro de enfrentar um crime de tamanha gravidade como tema meramente federal.

Em relação ao pacto federativo, considerando a segurança pública e o sistema prisional, a nossa Carta Constitucional atribui a posição de preponderância à autoridade estadual. As ações devem, portanto, envolver a todos, ou seja, além dos Governos Federal, Estadual e Municipal, o Ministério Público, que tem papel relevante; as Defensorias Públicas, que ganham especial destaque, a partir da sua autonomia; o

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Judiciário e a sociedade civil que, com seu papel catalisador, é quem impulsiona o Estado brasileiro a assumir compromissos cada vez maiores de combate à tortura.

Portanto, se, por um lado, a tortura permanece como um fenômeno grave, por outro, temos notícias de que se está constituindo uma confluência de forças necessária para obtenção de uma política permanente de combate e prevenção à tortura.

Assim, é preciso garantir à sociedade o espaço e as condições necessárias para enfrentar este fenômeno. É com a mesma preocupação que se reconhece a necessidade de garantir novos mecanismos de atuação de seus representantes e confiar de que estes permaneçam articulados no combate e na prevenção à tortura. Esse é mais um grande desafio na implementação e execução do Plano Estadual de Ações Integradas para Erradicação da Tortura no Maranhão.

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MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DO PLANO

O Plano Estadual de Ações Integradas para Erradicação da Tortura no Maranhão tem como principal instância responsável pelo seu monitoramento o Comitê Estadual de Combate à Tortura do Maranhão, o qual deverá pautar mensalmente em suas reuniões o monitoramento e avaliação das ações previstas no Plano.

A sistematização deste monitoramento dar-se-á com a produção de um relatório, que tratará do cumprimento das metas físicas. Para isto faz-se necessário:

• Ter como instrumento de monitoramento um cronograma físico e cronológico de atividades, construído a partir do detalhamento do Plano e de uma pactuação com as instituições com responsabilidades defi nidas neste plano estadual, de forma que se especifi quem metas, prazos e periodicidade;

• Ter no Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos um parceiro na avaliação dos objetivos estipulados;

• Estabelecer parceria com as universidades locais, para que se possa contar com a colaboração de pesquisadores no processo de coleta, análise dos dados e avaliações técnicas e políticas;

• Realizar visitas in loco a estabelecimentos de privação de liberdade, de forma a poder proporcionar a observação.

O Comitê deverá organizar ainda plenárias temáticas semestrais de monitoramento, reunindo os diversos atores responsáveis pela implementação dos três eixos do plano: prevenção; reparação e proteção; e responsabilização.

O Comitê Estadual de Combate à Tortura e o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos organizarão um seminário de monitoramento, o qual deverá contar com a assessoria de especialistas no tema. Como resultado deste evento, deverá ser produzido um relatório de avaliação.

MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO DO PLANO

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RECOMENDAÇÕES

1. Reduzir a superlotação nas carceragens, casas de detenção, penitenciárias e unidades de internação de adolescentes por meio de geração de vagas – particularmente por meio da redução da permanência na condição de prisão temporária, provisória ou preventiva, bem como da maior aplicação de penas e medidas sócio-educativas alternativas ou, se necessário, mediante clemência exercida pelo executivo;

2. Estimular o aumento do número de agentes penitenciários por preso, para minimizar a atual situação na qual os agentes são em pequeno número e o quotidiano da prisão é controlado quase que integralmente pelos presos – o que signifi ca a possibilidade de dominação dos grupos mais fortes sobre a massa;

3. Criar a Escola de Administração Penitenciária e a Escola de Polícia, que desenvolvam processos de seleção, treinamento e aperfeiçoamento de pessoal de acordo com os princípios da Administração Pública, orientada para a prestação de um serviço de qualidade e com respeito aos direitos do cidadão. Essas escolas devem, necessariamente, contar com a cooperação e o apoio de universidades, OAB, Ministério Público, Judiciário e ONGs para evitar que a seleção, os treinamentos e o aperfeiçoamento se tornem processos viciados e impregnados da cultura institucional tradicional;

4. Desenvolver, em conjunto com parceiros da área de segurança pública, procedimentos regulamentares para o tratamento de presos e apuração de denúncias de tortura. Uma das maneiras mais efi cazes de prevenir a violência policial e carcerária é o estabelecimento de rotinas administrativas a serem seguidas pelos funcionários;

5. Modifi car o conceito de “delegacia” e dotá-las de uma nova estrutura capaz de prestar serviço ao público. As Delegacias Legais implementadas em caráter pioneiro no estado do Rio de Janeiro são um modelo a ser seguido;

6. Estimular os órgãos policiais a adotarem medidas para que a tomada de declaração ou confi ssão de um preso seja feita somente com a presença de um defensor. Trata-se de se conscientizar da força vinculante dos tratados internacionais que já existem e buscar a teleologia da nova redação dada pela Lei nº. 10.792/03

RECOMENDAÇÕES

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ao art. 185 do Código de Processo Penal, que se aplica também no interrogatório na fase do inquérito por imposição do art. 6º, V, do mesmo diploma legal;

7. Evitar que as pessoas legitimamente presas em flagrante delito sejam mantidas em delegacias de policia além das 24 horas necessárias para obtenção de um mandado judicial de prisão provisória, evitando também que qualquer prisão seja cumprida em delegacia, mesmo que seja ela uma prisão provisória. Cessar a prisão de qualquer suspeito sem ordem judicial ou flagrante delito;

8. Estimular que os agentes públicos informem às pessoas presas acerca de seus direitos, principalmente o de se consultar com um profissional habilitado para acompanhá-lo e assisti-lo juridicamente. Da mesma forma, informar à família do preso sobre sua situação. Estimular para que se disponibilize em lugar visível nos locais de privação de liberdade, inclusive em delegacias, um texto da Lei de Execução Penal e demais instrumentos legais que veiculem direitos dos presos;

9. Adotar registro de custódia separado para cada pessoa presa, indicando a hora e as razões da prisão, a identidade dos policiais que a efetuaram, assim como a hora e as razões de quaisquer transferências subseqüentes;

10. Estimular a gravação em vídeo dos interrogatórios com a devida identificação dos presentes;

11. Promover estudos e debates sobre o impacto social de leis que ampliam a permanência de pessoas sob privação da liberdade (custos para o Estado, efeitos sobre as famílias dos criminosos, desenvolvimento de carreiras criminais, etc.) e propor a revisão desses dispositivos legais;

12. Criar um ambiente de discussão para fortalecer o Sistema Único de Segurança Pública;

13. Estabelecer um programa de conscientização no âmbito do Judiciário a fim de garantir que essa instituição, que se encontra no coração do Estado de Direito e da garantia dos Direitos Humanos torne-se tão sensível à necessidade de proteger os direitos dos suspeitos e de presos condenados quanto a necessidade de reprimir a criminalidade. Tratando-se de crimes ordinários, nos casos em que houver acusações alternativas, o Judiciário também deveria ser relutante em proceder a acusações que impeçam a concessão de fiança, excluir a possibilidade de sentenças alternativas, exigir custódia sob regime fechado, bem como em limitar a progressão de sentenças;

14. Articular para a adoção de uma legislação que acabe com a jurisdição militar no caso de crimes praticados contra civis;

15. Promover debates acerca dos limites para federalização dos crimes contra direitos humanos. As autoridades federais do Ministério Público necessitarão de um aumento substancial dos recursos a elas alocados para poderem cumprir efetivamente a nova responsabilidade;

16. Discutir a aceitação pelo Governo do direito de petição individual ao Comitê Estadualde Combate à Tortura, mediante a declaração prevista nos termos do Artigo 22 da Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Punições Cruéis, Desumanos ou Degradantes;

17. Estimular o Governo a convidar o Relator Especial sobre Execuções Extrajudiciais, Sumárias ou Arbitrárias da ONU a visitar o país;

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18. Adotar medidas que transfiram da esfera policial para a forense ou para outra esfera não-policial as carreiras de médico legista e perito criminal;

19. Estimular junto aos serviços privados de segurança a realização de cursos e treinamento que disseminem informações sobre a proteção e promoção dos direitos do cidadão e a prevenção do abuso de poder e o uso excessivo da força.

“Ninguém vai ser torturado com vontade de lutar”

César Teixeira

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ANEXOS

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ANEXO I

Lei federal nº 9455, de 7/04/1997, sobre tortura

Defi ne os crimes de tortura

Defi ne os crimes de tortura e dá outras providências

CONGRESSO NACIONAL

Lei nº 9455, de 7 de abril de 1997.

O Presidente da República. Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Artigo 1º - Constitui crime de tortura:

I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:

a) com o fi m de obter informação, declaração ou confi ssão da vítima ou de terceira pessoa;

b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.

§ 2º - Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.

§ 3º - Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.

§ 4º - Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:

I - se o crime é cometido por agente público; II - se o crime é cometido contra criança, gestante, defi ciente e adolescente; III - se o crime é cometido mediante seqüestro.

§ 5º - A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

§ 6º - O crime de tortura é inafi ançável e insuscetível de graça ou anistia.

§ 7º - O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.

ANEXO I

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Artigo 2º - O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.

Artigo 3º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Artigo 4º - Revoga-se o art. 233 da Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.

Brasília, 7 de abril de 1997; 176º da Independência e 109º da República.

Fernando Henrique Cardoso

Nélson A. Jobim

(Publicado no DOU de 08 de abril de 1997).

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ANEXO II

Protocolo de Intenções

As organizações abaixo-assinadas, representantes do Poder Público e da Sociedade Civil Organizada maranhenses,

CONSIDERANDO os termos do art. 5º, III e XLIII da CF, que condena a prática de tortura;

CONSIDERANDO que a República Federativa do Brasil incorporou, através do Decreto nº 40, de 15/2/1991, a Convenção da ONU contra tortura e outros tratamentos desumanos ou degradantes, ex vi do art.5º, § 2º da Constituição Federal;

CONSIDERANDO que a República Federativa do Brasil igualmente trouxe para o plano do ordenamento interno, através do Decreto nº 98.386/1989, de 9/11/1989, a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura;

CONSIDERANDO que a República Federativa do Brasil também classifi cou a tortura como crime contra a humanidade, passível de punição através da jurisdição internacional admitida pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional (art. 7.º, item 1.f ), cuja execução e cumprimento foram determinados nacionalmente por via do Decreto n.º 4.388, de 25 de setembro de 2002;

CONSIDERANDO que a Lei 9455/97 descreve as condutas que tipifi cam a tortura;

CONSIDERANDO que o Plano Nacional Nacional de Direitos Humanos II prevê o combate à tortura,

CONSIDERANDO as conclusões do relatório da ONU (Relatório Nigel Rodley) sobre tortura no Brasil, em 11 de abril de 2.001;

CONSIDERANDO a declaração do comitê contra a tortura da ONU, de 26/11/2001;

CONSIDERANDO o relatório preliminar da VII Conferência Nacional de Direitos Humanos;

CONSIDERANDO os resultados do Seminário Nacional de Avaliação da Campanha Nacional Permanente que apontam a tortura institucional como a de maior incidência do delito, principalmente no interior do País;

CONSIDERANDO que Movimento Nacional dos Direitos Humanos coordena a Campanha Nacional Permanente Contra Tortura que inclui um sistema de registro de notícias de tortura e de monitoramento das providências de responsabilização, através de um Disque – Denúncia (SOS TORTURA 0800 7075551) e uma rede de comitês e centrais estaduais, pra recebimento das alegações às autoridades locais para a responsabilização penal e administrativa;

CONSIDERANDO que a Central Maranhense do SOS TORTURA é operada pela Sociedade Maranhense de Direitos Humanos que, ao receber as alegações de tortura enviadas pela Central Nacional, as retransmite à Corregedoria de Polícia e ao Ministério Público;

CONSIDERANDO a necessidade de se formalizar o Comitê Estadual da Campanha Nacional de Combate à

ANEXO II

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Tortura como um órgão colegiado composto pela Sociedade Maranhense dos Direitos Humano – SMDH, pelo Ministério Público do Maranhão, pelo Poder Judiciário, pela Defensoria Pública do Estado, pela Procuradoria Geral do Estado, pela Gerência de Estado de Segurança Pública – GESEP, pela Gerência de Estado de Justiça e Cidadania – GEJUC, pela Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, pela Seccional Maranhense da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/MA , pela Associação de Saúde da Periferia – ASP, pela Cáritas Brasileira, Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente “Pe. Marcos Passerine” – CDMP, pela Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz, pela Pastoral Carcerária, pela Comissão Pastoral da terra, pela Convenção Batista Maranhense, pela Federação das Entidades Representativas de Classe da Segurança Pública, pelo Fórum da Moradia, pela União Estadual de Moradia Popular, pelo Grupo de Mulheres da Ilha, pelo Instituto em Defesa da Cidadania, pelo Movimento Sem Terra, pelo Núcleo de Assistência Jurídica Popular “Nego Cosme” – NAJUP, pelo Sindicato dos Policiais civis e pelo Centro de Cultura Negra (Ofício n.º 92/2002, da SMDH);

CONSIDERANDO que cabe a todos a defesa do Estado Democrático de Direito e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, como a dignidade da pessoa humana (CF, art. 1.º, III);

Comprometem-se

através do presente protocolo de intenções a constituírem o COMITÊ ESTADUAL DA CAMPANHA NACIONAL PERMANENTE CONTRA A TORTURA, em igualdade de condições de voz e intervenção, reconhecendo, ainda:

a) O COMITÊ ESTADUAL DA CAMPANHA NACIONAL PERMANENTE CONTRA A TORTURA como a representação legítima da campanha, sendo o órgão de sua nterlocução local e de controle social do processo de responsabilização judicial e administrativa dos agentes da tortura;

b) A necessidade de atuação sistemática e coordenada, respeitados os âmbitos de atuação de cada organização pública ou não-governamental, formando o PACTO MARANHENSE CONTRA A TORTURA, visando o enfrentamento da impunidade nesta espécie de crime e a pedagogia social pela indignação contra este tipo de aviltamento da dignidade humana;

c) O sistema de registro de notícias-crime de tortura; - SOS TORTURA -; como indicador social do problema em todo o país, devendo ser alimentado através da colaboração institucional de cada membro do COMITÊ ESTADUAL DA CAMPANHA NACIONAL PERMANENTE CONTRA A TORTURA;

d) A tortura praticada por agentes do Estado como a mais abjeta, por inverter a própria lógica da existência da autoridade estatal e por representar uma das formas de mais difícil punição pela tendência corporativa das instituições;

e) A necessidade permanente de se revitalizar, a cada momento de pânico social pela insegurança, o império do respeito aos direitos humanos de todas as pessoas, com a indignação contra toda forma de tortura e tratamento degradante; e,

f) A urgência na instalação do Conselho Estadual de Direitos Humanos, como órgão articulador da política de Direitos Humanos do Estado.

São Luís, 24 de março de 2002

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- Tribunal de Justiça

- Ministério Público Estadual

- Gerência de Estado de Segurança Pública

- Gerência de Estado de Justiça e Cidadania

- Procuradoria-Geral do Estado

- Defensoria Pública do Estado

- Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa

- Sociedade Maranhense de Direitos Humanos

- OAB/MA

- Cáritas Brasileira

- ASP – Associação de Saúde da Periferia

- Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente “Pe. Marcos Passerine”

- Comissão Arquidiocesana de Justiça e Paz

- Pastoral Carcerária

- Comissão Pastoral da Terra

- Convenção Batista Maranhense

- Federação das Entidades Representativas de Classe da Segurança Pública

- Fórum da Moradia

- União Estadual por Moradia Popular

- Grupo de Mulheres da Ilha

- Instituto em Defesa da Cidadania

- Movimento dos Sem-Terra

- Núcleo de Assistência Jurídica Popular “Nego Cosme” – NAJUP

- Sindicato dos Policiais Civis

- Centro de Cultura Negra

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ANEXO III

Recomendação nº 01/2003/PGE-MA

Cuida dos procedimentos para responsabilização cível de servidores estaduais nos casos de tortura (Lei 9.455/97) e dá outras providências.

A Procuradora Geral do Estado do Maranhão, no exercício de suas atribuições dispostas no art. 4º, II, IV, V e XXXIV da Lei Complementar 20/94,

CONSIDERANDO os termos do art. 5º, III e XLIII da Constituição Federal, condenando a prática de tortura;

CONSIDERANDO que a Procuradoria Geral do Estado do Maranhão se incorporou ao esforço de combater a prática da tortura através de assinatura de PROTOCOLO DE INTENÇÕES juntamente com diversas instituições em 24 de março de 2003 na sede da Procuradoria Geral de Justiça;

CONSIDERANDO que a missão constitucional da Procuradoria Geral se relaciona com a defesa judicial e extrajudicial da Administração Pública Estadual ( art. 103, Constituição Estadual )

RECOMENDA aos Procuradores do Estado, que no exercício de suas funções:

Art.1º - Quando apresentada ação de ressarcimento contra o Estado do Maranhão em conseqüência de prática de tortura por servidor público estadual, deve ser ajuizada ação regressiva contra o servidor nos termos do art. 37, §6º da Constituição Federal.

Parágrafo único - A ação mencionada no caput deste artigo não prejudica a comunicação à esfera policial para instauração de inquérito sobre a alegação de tortura.

Art. 2º. Além da ação regressiva prevista no art. 1º, o Procurador deve ingressar com ação civil por improbidade administrativa nos termos do art. 17 da Lei 8429/92.

Art. 3º Para fi ns estatísticos da Campanha Nacional Permanente contra Tortura deve ser encaminhada à Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos comunicação sobre o ajuizamento das ações de que trata a presente recomendação, bem como sua conclusão, para repasse ao Comitê Nacional da Campanha.

Art. 4.º - Esta recomendação entra em vigor na data de sua publicação.

Gabinete da Procuradora-Geral do Estado do Maranhão , em São Luís/MA, 29 de março de 2.003

ANA MARIA DIAS VIEIRA Procuradora-Geral do Estado do Maranhão

ANEXO III

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Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, Assistência Social e Cidadania

E-mail: [email protected]

www.sedihc.ma.gov.br

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