identificação de aglomerações produtivas de tecnologia da informação e comunicação no brasil...

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS DANIELE NOGUEIRA MILANI IDENTIFICAÇÃO DE AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO BRASIL E AS POLÍTICAS DE INCENTIVO A ESSAS ESTRUTURAS PRODUTIVAS PELO GOVERNO FEDERAL BRASÍLIA, janeiro de 2011.

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Monografia apresentada no Departamento de Economia da Universidade de Brasília, orientada pelo Prof. Luciano Martins Costa Póvoa, Dr., como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Economia. Aprovada em 09 de fevereiro de 2011 com menção final SS (9,00-10,00 valores).

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Page 1: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE

E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA

GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

DANIELE NOGUEIRA MILANI

IDENTIFICAÇÃO DE AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO BRASIL E

AS POLÍTICAS DE INCENTIVO A ESSAS ESTRUTURAS PRODUTIVAS PELO GOVERNO FEDERAL

BRASÍLIA, janeiro de 2011.

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DANIELE NOGUEIRA MILANI

IDENTIFICAÇÃO DE AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO BRASIL E

AS POLÍTICAS DE INCENTIVO A ESSAS ESTRUTURAS PRODUTIVAS PELO GOVERNO FEDERAL

Monografia apresentada no Departamento de Economia da Universidade de Brasília, orientada pelo Prof. Luciano Martins Costa Póvoa, Dr., como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Economia.

BRASÍLIA, janeiro de 2011.

Page 3: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

TERMO DE APROVAÇÃO

DANIELE NOGUEIRA MILANI

IDENTIFICAÇÃO DE AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO BRASIL E

AS POLÍTICAS DE INCENTIVO A ESSAS ESTRUTURAS PRODUTIVAS PELO GOVERNO FEDERAL

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Bacharel em Economia pelo Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e

Ciência da Informação e Comunicação da Universidade de Brasília.

Brasília - DF, 09 de fevereiro de 2011

_______________________________________ Prof. Luciano Martins Costa Póvoa, Dr.

Professor Adjunto

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________ Prof. Pedro Henrique Zuchi da Conceição, Dr.

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MILANI, Daniele. Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal. Brasília: UnB, 2011. Orientador: Prof. Dr. Luciano Martins Costa Póvoa 1. Economias de Aglomeração – 2. Economia do Conhecimento – 3. Setor de TIC – 4. Sistemas de Inovação – 5. Política Setorial – 6. Política de Ciência e Tecnologia.

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Minha inspiração:

“Se a norma fundamental do discurso teórico é a adequação descritiva ou representativa – ou verdade – a norma fundamental do discurso prático é a consecução, realização ou

satisfação dos desejos, necessidades e propósitos humanos. Se há razões reais (causas) para a crença ou ação, não devemos nos equivocar sobre elas, pois se fracassamos na verdade

podemos igualmente fracassar na satisfação.” (Bhaskar)

A música da minha vida:

“Would you like to say something before you leave? Perhaps you'd care to state exactly how you feel

We say goodbye before we've said hello I hardly even like you

I shouldn't care at all” (Summer 68, Atom Heart Mother, Pink Floyd)

O filme da minha vida:

"Je pense qu'il est temps de prendre le risque.” (Dufayel, Le fabuleux destin d'Amelie Poulain)

Page 6: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

Dedico cada letra, vírgula e todo o fôlego desse trabalho a todos os familiares e amigos que com uma dose de telepatia, com seu “espírito KGB”, criatividade e atitudes e palavras certas nas horas certas me salvaram de todo o tédio e solidão que residem sob o céu assustadoramente azul dessa cidade perfeita e infernal. Ingratidão? É, pode ser... (Pronto! Falei).

Page 7: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todo o pessoal da “Diretoria”. Meu muito obrigado pelas trocas de

fraldas, mamadeiras, educação, noites mal dormidas, almoços em família, brigas em família,

pelos empréstimos consignados, conversas fraternais e por tantas outras coisas que os

Nogueira Milani fizeram por mim; mas, especialmente, sou grata por terem aberto mão de

muitas coisas importantes pelo meu bem. Um abraço e um beijo especial ao “Diretor” e à

“Diretora” pelo ponta-pé inicial.

Agradeço aos “playboys” da Economia pelos devaneios teórico-experimentais nas

tardes e, muitas vezes, noites de “estudo” na biblioteca; pelas discussões quentíssimas e pelos

infinitos cafezinhos no intervalo entre as aulas; pelas domingueiras na casa da Paulinha; pelas

serestas no Pôr-do-Sol; pelas bebedeiras nas festinhas da UnB; pelos forrós de terça a

domingo; pelos cineminhas; pelos almoços “mazelas” no RU; pelas respostas das listas de

exercícios que rolaram por aí; enfim, por toda a companhia de primeira qualidade que me

proporcionaram, sem a qual teria sido muito difícil “chupar essa manga”.

Agradeço aos amigos (moradores, agregados e visitantes) do 109 B da Casa do

Estudante. Apesar de todas as nossas diferenças, essas pessoas foram cúmplices de muitas

experiências difíceis e de muitos dos momentos alegres que passei em Brasília, sendo uma

importante referência e um grande apoio que dificilmente se encontra fora da casa dos pais

(devo muito disso ao Paulinelly, à Ana e à Valéria). Em especial, agradeço à Let por toda sua

delicadeza e carinho inesgotável e ao Zé, o homem da casa, pelas “duras” no entregador de

pizza que sempre nos deixava esperando por mais de 40 minutos! Agradeço também, como

aluna residente na Universidade de Brasília, à Diretoria de Desenvolvimento Social pelo

apoio sem o qual teria sido muito difícil permanecer nessa cidade nos primeiros anos da

faculdade.

Agradeço a todos os docentes, em especial aos do Departamento de Economia da

Universidade de Brasília, que passaram pelo meu caminho. Com muita literatura e algumas

“pauladas”, ao longo desses quatro anos e meio, eles foram me ajudando a vestir essa roupa

apertadinha, mas que me cai tão bem, de economista. É com ela que, por muitos anos, espero

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sair todas as manhãs da minha casa para ganhar o pão e fazer algum bem à sociedade. Em

particular, agradeço ao professor Luciano Martins Costa Póvoa, que com sua paciência

transcendental e método ajudou-me a organizar as idéias desse trabalho, atuando como um

verdadeiro obstetra nesse longo e doloroso parto.

Agradeço a todos os funcionários do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, na

pessoa do técnico em pesquisa e planejamento Luís Cláudio Kubota, pela oportunidade de

aprimorar meus conhecimentos teóricos e práticos no campo da economia, especialmente, no

que se refere ao despertar de interesse pelo tema desenvolvido nesse trabalho, atuando como

uma fonte inesgotável de inspiração para minha vida profissional e acadêmica. Um abraço

especial ao meu eterno companheiro da sala 927, Gabriel Gontijo, pelas dicas de como comer

bem na cidade, pelo apoio, pela companhia e pelos pastéis de queijo dos “Tribunais”...

A tantos outros amigos e familiares que não foram citados nesse espaço, mas nem

por isso esquecidos ou menos parceiros ao longo da vida, o meu sincero agradecimento.

Aqui se encerra o “Momento CARAS” dessa monografia. Vamos ao trabalho!

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ÍNDICE

LISTA DE TABELAS .......................................................................................................ii

LISTA DE GRÁFICOS.....................................................................................................iii

RESUMO ..........................................................................................................................iv

ABSTRACT .......................................................................................................................v

1 Introdução .........................................................................................................................1

2 O setor de TIC como chave da Economia do Conhecimento .......................................2

3 Economias de Aglomeração.............................................................................................5

3.1 Conceituações de Economias de Aglomeração: dos Distritos Industriais aos

Sistemas Locais de Inovação..................................................................................................5

3.2 O setor de TIC como economia de aglomeração .......................................................8

4 O papel das políticas públicas destinadas ao desenvolvimento de economias de

aglomeração em uma economia de TICs globalizada .........................................................13

4.1 A articulação entre as políticas públicas de promoção aos APLs/SPLs e o Sistema

Nacional de Inovação...........................................................................................................15

5 Análise Descritiva: a evolução do setor de TIC no Brasil: 2000 – 2009 ....................18

6 Metodologia.....................................................................................................................34

6.1 A base de dados: Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho

- RAIS 34

6.2 Industry Perception Method (IPM) ..........................................................................36

7 Resultados .......................................................................................................................40

Considerações Finais ........................................................................................................50

Referências Bibliográficas................................................................................................54

Apêndice...........................................................................................................................58

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ii

LISTA DE TABELAS

TABELA 1. Código de Classe de Atividade Econômica do Setor de Tecnologia da

Informação e Comunicação - CNAE 2.0..................................................................................18

TABELA 2. Faturamento¹ do Setor de TIC comparativamente ao total da economia brasileira

por atividade econômica (em milhões). Período: 2000 – 2008. ...............................................21

TABELA 3. Número de Empregos no Setor de TIC (em milhares). Período: 2000 - 2009. ...23

TABELA 4. Pessoal ocupado altamente qualificado no Setor de TIC comparativamente ao

total da economia brasileira por categoria (em milhares). Período: 2000 – 2009 (anos

selecionados). ...........................................................................................................................25

TABELA 5. Número de Empresas Inovadoras do Setor de TIC. Período: 2001 - 2008..........29

TABELA 6. Gastos em Atividades Inovativas de Empresas Inovadoras do Setor de TIC. (em

milhões). Período: 2000 – 2008 (anos selecionados)...............................................................30

TABELA 7. Coeficientes de Gini Locacional (GL) para o valor da produção nas classes de

atividade econômica (4 dígitos) do setor de TIC no Brasil. Ano: 2009. ..................................40

TABELA 8. Estatística descritiva do Quociente Locacional para o emprego nas classes de

atividades econômicas do setor de TIC e municípios brasileiros. Ano: 2009..........................41

TABELA 9. Freqüência de casos para faixas de Quociente Locacional (QL) para o emprego

no setor de TIC e municípios brasileiros. Ano: 2009. ..............................................................42

TABELA 10. Número de municípios com classes de atividade econômica do setor de TIC

segundo número de estabelecimentos e participação no total do emprego do setor. Ano: 2009.

..................................................................................................................................................43

TABELA 11. Número de municípios de alta concentração e especialização no setor de TIC

segundo participação no total do emprego do setor. Ano: 2009. .............................................44

TABELA 12. Classes do setor de TIC nos municípios brasileiros identificados na categoria

núcleo de desenvolvimento setorial-regional. Ano: 2009. .......................................................45

TABELA 13. Classes do setor de TIC nos municípios brasileiros identificados na categoria

vetor de desenvolvimento local. Ano: 2009. ............................................................................46

TABELA 14. Classes do setor de TIC no município brasileiro identificado na categoria

vetores avançados. Ano: 2009. .................................................................................................48

TABELA 15. Classes do setor de TIC no município brasileiro identificado na categoria

embrião de arranjo produtivo. Ano: 2009. ...............................................................................49

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iiiLISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1. Escolaridade do pessoal ocupado no Setor de TIC (em milhares). Período: 2000

- 2009........................................................................................................................................24

GRÁFICO 2. Exportações e Importações no Setor de TIC (em milhões). Período: 2000 -

2009. .........................................................................................................................................32

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iv RESUMO

A literatura contemporânea em economia industrial e economia regional é repleta de

estudos de casos sobre economias de aglomeração locais para o setor de TIC, que é um

segmento chave para a inserção de economias locais na nova dinâmica da Economia do

Conhecimento, constituindo uma avaliação ex post das características dessas aglomerações e

suas contribuições para o desenvolvimento local. Raros são os estudos que procuram

identificar o surgimento de tais aglomerações. Do ponto de vista da elaboração de políticas

industrial públicas para o fomento de sistemas de inovação, essa lacuna é grave, uma vez que

leva a privilegiar aglomerações já estabelecidas em detrimento daquelas em formação.

O objetivo desse trabalho, portanto, é identificar essas aglomerações no país por

meio do método Industry Perception Method (IPM), amplamente utilizado anteriormente para

a identificação de indústrias manufatureiras no país. Ainda, que esse método necessite de

maiores ajustes à aplicação em setores de alta tecnologia, permitirá identificar os municípios

brasileiros em que a participação do setor de TIC na economia local seja significativa em

termos da participação relativa do emprego no país e do nível de especialização da atividade

produtiva.

Palavras-chave: economias de aglomeração, Economia do Conhecimento, setor de TIC,

sistemas de inovação, política setorial, política de ciência e tecnologia.

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v ABSTRACT

The literature on industrial economics and regional economics is full of case studies

on agglomeration economies for the local ICT sector, which is a key segment for the insertion

of new dynamic local economies in the Knowledge Economy, being an ex post features of

these settlements and their contributions to local development. Few studies tried to identify

the emergence of such settlements. From the standpoint of public policy development to

promote industrial innovation systems, this gap is because it leads to favoring established

agglomerations to the detriment of those in training.

The aim of this study therefore is to identify these agglomerations in the country by

the method Industry Perception Method (IPM), formerly widely used for the identification of

manufacturing industries in the country. Still, this method require further adjustments to the

application in high-tech sectors, will identify the municipalities where the share of ICT sector

in the local economy is significant in terms of relative share of employment in the country and

the expertise of productive activity.

Keywords: agglomeration economies, Knowledge Economy, ICT sector, innovation systems,

sectoral policy, science and technology policies.

JEL Classification: R12, R15, L88, L78

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1 INTRODUÇÃO

Uma questão relevante, no âmbito da economia regional, destaca as diversas

denominações e conceituações que as economias de aglomeração vêm assumindo ao longo

dos anos. Grande parte dessas mudanças está atrelada à formulação de políticas públicas cujos

objetivos evoluíram do aumento da competitividade por meio do aumento da produtividade de

empresas locais para o crescimento da inserção global dessas economias por intermédio do

desenvolvimento de capacidades inovativas locais, que contribuíram para a aproximação das

políticas de desenvolvimento regional com aquelas de ciência, tecnologia e inovação,

inserindo a dimensão local em uma nova estrutura econômica na qual a geração de

conhecimento constitui importante insumo produtivo. Visão essa a respeito de políticas

públicas que é confirmada pelo trecho a seguir:

As iniciativas de rede e de “clusters” continuam a emergir enquanto várias

ferramentas (ex. créditos fiscais) estão a ser utilizadas ao mesmo tempo para

promover a colaboração entre a indústria e a pesquisa. Com a globalização, o

apoio para grupos está igualmente a evoluir tendo em vista a criação de nós de

nível mundial para ligação de cadeias de valor globais de inovação em vez de

grupos circunscritos geograficamente. As ligações e cooperação entre regiões

tanto no interior como entre países estão a tornarem-se mais importantes.

(OCDE, 2008, p. 5).

Nesse novo contexto econômico, no qual se exige que as economias locais no

interior dos países estejam ligadas a níveis globais, torna-se indispensável o desenvolvimento

de tecnologias de informação a fim de ocorra de forma rápida a difusão de informações e

conhecimentos necessários à cooperação intra e inter aglomerações produtivas. Logo, o setor

de Tecnologia da Informação e Comunicação é a peça chave para o desenvolvimento de um

novo modelo econômico pautado em conhecimento, e devido à necessidade de economias de

escala e escopo, o próprio setor organiza-se sob a forma de economias locais especializadas,

sendo a caracterização das economias de aglomeração de TIC, as políticas públicas destinadas

a esse tipo de estrutura produtiva e a identificação de aglomerações produtivas no Brasil alvos

do nosso estudo.

A identificação dessas estruturas produtivas será realizada por meio da aplicação da

metodologia Industry Perception Method (IPM) empregada em Suzigan et all (2004). Esses

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2

resultados empíricos são utilizados para enriquecer o debate sobre as políticas públicas de

incentivo às estruturas de aglomeração e de ciência, tecnologia e inovação no Brasil, haja

vista que é condição para a elaboração dessas políticas a identificação de áreas ou regiões nas

quais existem esse tipo de estrutura ou potencialmente essa pode se desenvolver.

Esse trabalho está divido em sete partes, além dessa introdução. Na primeira delas é

apresentada uma breve discussão sobre o papel do setor de TIC como principal instrumento

na difusão do conhecimento na nova dinâmica econômica que se consolidou a partir dos anos

90. Já a segunda seção é dedicada a uma revisão bibliográfica sobre a conceituação e

características das economias de aglomeração e as particularidades daquelas em que o

enfoque tecnológico é o do setor de TIC. Na terceira, analisa-se o papel das políticas públicas

destinadas ao desenvolvimento de economias de aglomeração para o setor de TIC,

especialmente no que concerne à articulação entre as políticas de promoção dos arranjos

produtivos locais e Sistemas Nacionais de Inovação. Na quarta, apresenta-se uma análise

descritiva do setor de TIC brasileiro na última década (2000-2009), identificando-se as

principais tendências do setor no país. Na quinta parte, desenvolveu-se a metodologia

empregada na identificação de aglomerações produtivas do setor a ser estudado, focando

também na análise da base de dados empregada. A sexta seção dedica-se à apresentação dos

resultados e, por fim, na sétima e última parte faz-se as considerações finais.

2 O SETOR DE TIC COMO CHAVE DA ECONOMIA DO

CONHECIMENTO

A estrutura do que hoje os economistas costumam chamar de Economia do

Conhecimento começou a ser desenhada entre 1980 e 1990. Verspagen (2004) define esse

status quo como "era da informação", baseada na aplicação das tecnologias da informação e

comunicação (TICs) na economia. Embora o processamento automático de dados tenha sido

inventado durante a fase anterior (neste caso, durante e logo após a segunda guerra mundial,

quando os Estados Unidos e o Reino Unido desenvolveram o "computador"), essa tecnologia

só veio a ter plena exploração na década de 1980 e 1990, após sua fusão com as

telecomunicações, permitindo a difusão dos conhecimentos processados.

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3

Antes de definirmos o que se entende por Economia do Conhecimento, definiremos a

princípio o que é o conhecimento e a relação desse com o que comumente chamamos de

TICs. Braga e Natário (2003) afirmam que o conhecimento resulta da interpretação de

informações com base em objetivos pré-definidos e experiências passadas, podendo ser

dividido em duas categorias: (i) conhecimento explícito (ou informação), que está codificado,

formalizado e pode ser transmitido sem perda de integridade, sendo o tipo de conhecimento

que depende do aparato das TICs para ser repassado de foram mais ágil; e (ii) conhecimento

tácito, o qual só pode ser obtido por meio da experiência e prática em um determinado

segmento, dependendo da interação local entre os agentes.

Quanto ao conhecimento explícito, segundo essas autoras, o processo de acumulação

progressiva do conhecimento parte da coleta, sistematização e interpretação de dados e

informações que, utilizando-se da experiência e talento humanos, ao serem codificadas

transformam-se em conhecimento. Contudo, esse processo não pára por aí, exigindo a

transmissão dos mesmos por meios materiais (linguagem humana e textos que podem ou não

estarem apoiados em bases tecnológicas, por exemplo), que permitirá a produção de mais

conhecimento por meio da aprendizagem e partilha cuja utilização econômica afeta o

processo de mudança tecnológica, inovação e sua difusão.

A fim de que se promova o crescimento econômico, a inovação é atualmente é um

fator essencial ao sucesso das organizações nesse aspecto na medida em que a sobrevivência

em um ambiente de competição crescente exige a abertura constante de novos mercados ou,

ao menos, a redução da substituibilidade da demanda. Desta forma, supõe-se, que em um

mercado livre concorrencial, a geração de inovações deve ocorrer de forma cada vez mais

veloz para que as firmas mantenham suas posições e, para isso, é preciso que acelere também

a produção do conhecimento, sendo necessária a utilização de tecnologias da informação e

comunicação (TICs) tanto para a formação de redes de conhecimento quanto para o acesso

rápido ao mundo do conhecimento.

Essa análise nos permite afirmar que, nesse novo contexto econômico, o

conhecimento constitui um insumo produtivo, assim como o trabalho e o capital, ainda que

constitua um recurso intangível. A partir desse entendimento do conhecimento, pode-se

definir “a economia do conhecimento como produção e serviços baseados em atividades

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4

intensivas em conhecimento que contribuem para um acelerado ritmo de avanço científico e

tecnológico, bem como a rápida obsolescência” (POWELL; SNELLMAN, 2004, p.199,

tradução nossa); a introdução desse novo elemento produtivo intangível pode ser evidenciada

pela reestruturação e realocação do capital – observou-se o aumento da importância do

investimento nas TICs pelas firmas –, migração de profissionais mais qualificados da força de

trabalho para esse setor, além do aumento dos investimentos em treinamento e pesquisa.

Essa variável difícil de mensurar, contudo, não está ainda incorporada como uma

variável na função de produção de uma empresa. Mas, seus efeitos podem ser observados em

termos das mudanças reais nos negócios das empresas. Segundo Atkeson e Kehoe (2007),

quando uma organização adota de forma eficaz novas tecnologias da informação, exige-se a

reformulação da organização empresarial. No entanto, as melhorias na concepção de práticas

de negócios não cessam com a introdução de capital de TIC, já o aumento da capacidade de

computação e redes leva a uma crescente variedade de novos tipos de práticas de negócios.

Ainda, é necessário ressaltar que esse processo de melhoria da estrutura de uma organização

pode envolver um período prolongado de aprendizagem antes que os pagamentos deste

investimento sejam plenamente realizados.

A despeito da reestruturação do ambiente microeconômico por meio da utilização de

TICs, esse insumo produtivo foi capaz de promover mudanças nas esferas social, política e,

sobretudo, macroeconômica, pois “acompanhando a difusão do novo padrão desenvolvem-se

novas práticas de produção, comercialização e consumo de variados bens e serviços, de

cooperação e competição entre os agentes, de circulação e de valorização do capital (...)”

(LASTRES; CASSIOLATO, 2003, p. 7), abarcando atividades produtivas com baixa

intensidade tecnológica. Essas mudanças na conformação da organização social promovidas

pelas TICs permitiram, segundo esses autores, a formação de comunidades e redes virtuais,

que acelerou o processo de globalização, revalorizando-se inclusive o espaço local na medida

em que se observa o aumento da diferenciação entre esses espaços.

Contrariando a visão de que em um mundo globalizado haveria a homogeneização

das organizações sociais, econômicas e políticas, os formatos organizacionais que privilegiam

a interação e atuação conjunta dos mais variados agentes no âmbito local – economias de

aglomeração, tais como arranjos e sistemas produtivos e inovativos cujas definições serão

Page 19: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

5

apresentadas a seguir – são importantes com o intuito de mobilizar e proteger as capacitações,

principalmente os conhecimentos tácitos acumulados, gerando um diferencial competitivo

para essas economias e guiando as políticas de desenvolvimento regional, especialmente em

países considerados em desenvolvimento.

Sendo, portanto, as TICs fundamentais para o desenvolvimento da economia do

conhecimento, quais são as características desse setor em âmbito regional? O setor de TIC é

capaz de se apropriar de conhecimentos tácitos presentes no âmbito local? E como esse setor,

tão internacionalizado e de alto conteúdo tecnológico, pode integrar a estratégia de políticas

industriais, científicas e tecnológicas e desenvolvimentistas de países em desenvolvimento

como o Brasil com foco em conceitos de estruturas produtivas de dinâmica local? Esses

questionamentos serão discutidos nas seções seguintes, onde introduziremos os diversos

conceitos de economias de aglomeração e como esses são formulados para o setor de TIC.

3 ECONOMIAS DE AGLOMERAÇÃO

3.1 CONCEITUAÇÕES DE ECONOMIAS DE AGLOMERAÇÃO:

DOS DISTRITOS INDUSTRIAIS AOS SISTEMAS LOCAIS DE

INOVAÇÃO

O termo “Sistemas Produtivos Locais” (também conhecido pela sigla SPL) é usado

para nomear arranjos produtivos em que se observa a interdependência, articulação e vínculos

consistentes dos quais podem resultar interação, cooperação e aprendizagem, promovendo o

aumento da competitividade e do desenvolvimento local, segundo Cassiolato e Szapiro

(2002). Esses autores ainda identificam de forma mais restrita o que ficou conhecido como

Arranjos Produtivos Locais (APLs), que são estruturas produtivas em que essas articulações

entre os agentes ocorrem de forma sistemática, sendo essa a forma de organização da estrutura

produtiva de uma determinada indústria ou setor mais conhecida e comumente utilizada como

de economia de aglomeração.

Para melhor compreendermos esse tipo de organização, devemos, primeiramente,

responder à seguinte pergunta: quais são os condicionantes do aparecimento de uma atividade

Page 20: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

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localizada? Marshall (1890) definiu esse processo como o de concentração de uma indústria1

em determinada localidade, ao realizar a observação de distritos industriais ingleses. Esses

constituem um conjunto de indústrias que produzem bens finais e outras subsidiárias, e,

portanto, não estão associados ao aparecimento de uma indústria focada em um único setor

produtivo, que se estabelecem ao redor da indústria principal não só devido à presença de

fatores produtivos (condições físicas e presença de mão-de-obra) que favoreçam a produção,

mas também motivadas pela presença de mercado consumidor.

Essas competências locais são comumente denominadas na literatura sobre o assunto

como economias externas marshallianas. Belussi e Caldari (2009) afirmam que os distritos

industriais – denominação utilizada a princípio por Marshall para o que é conhecido mais

recentemente como APLs – se fixam em uma determinada região em função de uma série de

fatores locais que constituem vantagens à fixação das empresas naquela região e não em outra

qualquer. Essas são denominadas economias externas passivas e não foram criadas pela

interação entre os agentes produtivos e instituições locais, ou seja, elas já existiam em

determinada localidade ou foram introduzidas pelo governo a fim de estimular o

desenvolvimento econômico de uma determinada região.

No entanto, ao longo do tempo, as interações que ocorrem dentro dessa organização

produtiva geram diversas outras estruturas que fortalecem aquele grupo de empresas,

retroalimentando o sistema a fim de que essas permaneçam naquela região. Essas vantagens

comparativas adicionais, conhecidas como economias externas ativas, podem ser:

conhecimento técnico tácito difundido localmente, crescimento de empresas subsidiárias,

presença de uma liderança local e o desenvolvimento de um mercado de trabalhadores

especializados. Essas condicionantes permitem que uma determinada atividade produtiva

permaneça em uma região e são fruto da articulação entre os agentes locais.

Mais recentemente, introduziu-se um novo conceito de economia de aglomeração

com o intuito de evidenciar a relação entre o desenvolvimento de competências locais e o

1 O processo de concentração das atividades industriais foi desenvolvido na obra de Penrose (1959). Segundo a autora, em uma economia em crescente expansão, haveria crescimento das firmas e, consequentemente, aumento da concentração das atividades industriais, até o ponto em que a taxa de crescimento dessas empresas torna-se igual a zero, ponto a partir do qual a produtividade dos fatores de produção tornar-se-ia decrescente. Essa redução se manifestaria em um aumento do número de firmas grandes e diminuição da importância delas e do reordenamento das firmas na economia.

Page 21: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

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aumento da competitividade por meio de práticas inovativas. Esse denominado como

Sistemas Inovativos Locais, segundo Johnson et all (2003), é caracterizado como o conjunto

de agentes econômicos e instituições políticas que estão interligados em âmbito local e que

por meio de ações conjuntas incentivam, promovem e financiam inovações. Assim como nos

SPLs e APLs, essa definição apresentada acima também está apoiada em uma dimensão

geográfica, que pode ser local, regional, nacional ou supranacional e presume coerência e

orientação interna para processos inovativos, e outra, setorial, que delimita campos

específicos de tecnologias e, consequentemente, processos inovativos e políticas de incentivo

e promoção próprios.

Dessas conceituações, pode-se aprofundar que a articulação entre os agentes

econômicos de uma economia de aglomeração ocorre basicamente por meio de três

movimentos: a troca de conhecimento e informação entre eles, a realização de ações conjuntas

que favoreçam o aumento da produtividade do grupo de empresários e a criação de um

ambiente cultural empresarial local, que favorece a difusão e transferência de conhecimento

tácito entre os agentes. Morosini (2004) caracterizou esses movimentos como capacidades

presentes em um arranjo produtivo local que mantém seus agentes unidos, denominadas como

common glue.

Esses movimentos ou capacidades presentes em uma economia de aglomeração que

mantém os agentes unidos dependem da coordenação que eles exercem sobre as inter-relações

produtivas, comerciais e tecnológicas, constituindo um sistema de governança local. Para

Suzigan et al. (2007), a forma que a governança local pode assumir influência no desempenho

econômico de um arranjo produtivo local, sendo os principais condicionantes de sua

organização:

i. A estrutura de produção, especialmente quanto ao número de empresas e sua

distribuição por tamanhos;

ii. A natureza do produto ou da atividade econômica e sua base tecnológica;

iii. A forma de organização da produção e divisão do trabalho na cadeia produtiva;

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8

iv. A forma de inserção comercial das empresas locais nos mercados;

v. A existência ou não de empresas que dominem capacitações e ativos estratégicos;

vi. As instituições locais, seu grau de desenvolvimento e de interação com o setor

produtivo; e,

vii. O contexto social/cultural/ político e suas características quanto a associativismo,

solidariedade, coesão social, confiança e capacidade de gerar lideranças locais.

A identificação desses condicionantes à organização da governança local de

economias de aglomeração nos permite avaliar que essas estruturas produtivas podem ser

bastante diversas, podendo ser identificadas em muitos ramos de atividade econômica, com

empresas de variados portes, mercados de trabalho e consumidor e com grupos bastante

distintos de instituições locais de apoio, permitindo-nos afirmar que a existência dessa

estrutura produtiva depende primordialmente da interação mesmo que incipiente entre os

agentes em âmbito local.

3.2 O SETOR DE TIC COMO ECONOMIA DE AGLOMERAÇÃO

O setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) apresenta uma estrutura

verticalizada de interação entre seus diversos segmentos (ou subsetores). Esses subsetores

incorporam elementos de níveis que estão acima deles por meio de processos de compra de

infra-estrutura para agregarem aos seus processos produtivos, o que implica uma forte

dependência tecnológica entre as firmas que atuam em diferentes segmentos desse setor,

segundo Fransman2 (2007).

Esse tipo de interação no setor de TIC pode ser encontrado no arranjo produtivo de

Campinas, São Paulo. Porto et all (2000) observam que entre as empresas do arranjo existem

intensas relações comercias, englobando tanto as relações estritamente comerciais quanto às 2 Em Fransman (2007), desenvolveu-se o Modelo em Camada do Ecossistema de TIC (ICT Ecosystem Layer Model – ELM), que representa o sistema global do setor e permite sua análise, pois conceitualiza esse setor em termos de camadas independentes e com funções bem definidas. Cada uma delas comunica-se entre si, permitindo a compreensão da estrutura de mercado e industrial, a dinâmica e regulação do setor.

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9

de desenvolvimento entre clientes e fornecedores, identificadas como transferências

tecnológicas verticais, ou seja, via consumo de insumos produtivos.

Nesse arranjo produtivo, não são observadas transferências tecnológicas horizontais,

ou seja, entre empresas que atuam como concorrentes em um mesmo segmento. Os autores

salientam que existe um elevado grau de autonomia tecnológica no arranjo, em grande parte

decorrente do alto conteúdo tecnológico dos produtos; em parte, as iniciativas de cooperação

são inibidas em função da presença de corporações estrangeiras presentes no arranjo.

Em um setor altamente globalizado, dominado por grandes players internacionais,

grande parte do processo de compra e venda de componentes do setor de TIC ocorreria entre

empresas de diferentes países, posto que a “(...) logística global permite o acesso a fatores de

produção básicos, tais como capital e o mercado de mão-de-obra especializada em grande

parte são abertos a todos (...)” (MOROSINI, 2004, p.307, tradução nossa).

Muito embora a comunicação virtual e tecnologias de informação e comunicação

gerem conhecimento tácito e relações pessoais próximas entre os agentes econômicos, sendo

determinantes para o sucesso competitivo das empresas, Morosini (2004) salienta que os

fluxos de conhecimento especializado e rica interação de conhecimentos que levam a

inovações valiosas continuam mais fortes entre os agentes do mesmo espaço geográfico.

Ainda, no longo prazo, as economias de aglomeração que tem acesso a mercados

estrangeiros adquirem competências tecnológicas que aumentam sua competitividade no

mercado local. Propis e Driffield (2006) afirmam que o IED (Investimento Estrangeiro

Direto) aumenta a produtividade dos fatores de produção apenas quando aplicados em

arranjos produtivos locais pré-existentes, sendo utilizado para o acesso das empresas dos

APLs – no caso estudado – a mercados externos, que são mais competitivos globalmente.

Entende-se, dessa forma, que essas organizações de alta tecnologia são favorecidas

pelo intercâmbio tanto entre os agentes locais, quanto com agentes externos ao arranjo

produtivo local, que podem ser acessados por meio do IED. No arranjo produtivo de alta

tecnologia de Oxfordshire, por exemplo, os empresários vêem nas redes de trabalho (network)

– que incluem tanto conferências quanto relações informais entre empresários – a principal

Page 24: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

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fonte de informações para o desenvolvimento de novos produtos e serviços, a despeito do

importante papel desempenhado pelas universidades e centros de pesquisas locais na

realização de pesquisa básica e treinamento.

Ainda, a abertura e o fortalecimento das redes de trabalho (network) afetam

positivamente o desempenho dos clusters. Eisingerich et all (2010) sugere que o mercado de

TIC constitui-se em um ambiente caracterizado por turbulências tecnológicas, que se refletem

nas constantes mudanças tecnológicas, a competição no mercado e as alterações repentinas

nas preferências dos consumidores, favorece a abertura das redes de trabalho (network), mas

reduz seu fortalecimento, o que faz com que os clusters devam adaptar suas estruturas de

redes de trabalho (network) ao ambiente de incertezas para obter bons desempenhos.

Segundo Lawton-Smith (2002), o empresário é o centro do ciclo virtuoso do

crescimento do distrito industrial de Oxfordshire, sendo ele o principal responsável pelo

desenvolvimento de novas tecnologias, uma vez que atua como articulador entre os setores

privado e público, que dá suporte a esse processo.

Nesse distrito industrial, o setor público promove políticas públicas locais de apoio à

transferência tecnológica por meio de agência de desenvolvimento econômico, criadas para

esse fim e cuja principal atividade é gerenciar os recursos das entidades públicas da região

para a promoção de pesquisa em nível mundial e treinamento de recursos humanos; enquanto

no nível nacional, as políticas públicas priorizam o alívio fiscal e dão subsídios às atividades

de P&D. Observa-se que o governo atua no arranjo produtivo local oferecendo meios à

realização de atividades pouco exploradas no âmbito dos empresários.

Um caso contrário ao do distrito industrial de Oxfordshire pode ser observado no

Pólo de Informática de Ilhéus, Bahia. Segundo Ferreira Júnior e Santos (2006), não existe

troca de conhecimento local entre as empresas, em grande parte montadoras de computadores,

que incorporam conhecimentos ao seu processo produtivo por meio de transferência

tecnológica do relacionamento com fornecedores externos ao arranjo produtivo local,

evidenciando o baixo comércio intra-regional. A própria natureza da indústria em Ilhéus,

constituídas por firmas montadoras de computadores e que, portanto, depende de

transferências externas de tecnologia, faz com que a cooperação entre as firmas locais seja

Page 25: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

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baixa, dificultando a criação de vantagens comparativas que garantiriam a fixação das

empresas e o desenvolvimento e crescimento do setor na localidade.

A despeito da importância da interação entre os empresários para o crescimento das

economias de aglomeração do setor de TIC, o desenvolvimento de pesquisa é essencial para a

geração de novos produtos com alto valor agregado. No entanto, a localização e a

proximidade geográfica entre as empresas desses tipos de organização não geram vantagens

discerníveis que incentivam a atividade de P&D nessas empresas. Para Lee (2009), a

proximidade geográfica é um fator limitador da transferência de novas oportunidades

promissoras de P&D devido ao alto nível de exclusão natural desse investimento.

O baixo investimento em P&D pode ter como causa o comportamento oportunista

por parte de algumas empresas aglomeradas, que se apropriariam dos transbordamentos

gerados pelo desenvolvimento desse tipo de atividade no ambiente local, sem que elas

próprias investissem em P&D. Esse comportamento poderia gerar uma espécie de seleção

adversa, ou seja, apenas as empresas menos eficientes e com menos investimentos em

atividades inovativas têm incentivos para se aglomerar, ao passo que as mais eficientes –

logo, as que investem em algum tipo de atividade inovativa – se isolam de suas semelhantes

por se sentirem desestimuladas em realizar esse tipo de investimento no ambiente do arranjo

produtivo local.

Pensamento semelhante pode ser desenvolvido com respeito ao investimento em

treinamento em arranjos produtivos locais, posto que as firmas mais eficientes – logo, as que

investem em algum tipo de treinamento – se isolam de suas semelhantes por medo de perder

os trabalhadores nos quais investiram. Lobo e Silva et al. (2010) afirmam que haverá

maximização do bem-estar quando houver a instalação de uma instituição de ensino

independente em uma economia em que há uma concentração industrial, permitindo que haja

investimento em treinamento localmente com custo compartilhado equitativamente entre as

empresas, evitando comportamentos oportunistas.

As mudanças no conteúdo tecnológico são fonte da forte cooperação entre as

empresas do setor de TIC e a Universidade de Waterloo, Canadá, inicialmente devido à

crescente necessidade de mão-de-obra qualificada para atender às empresas que se instalaram

Page 26: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

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na região. Wolfe (2002) relata que os estudantes têm contato com a indústria local e retorna

para a sala de aula para obter conhecimento regular; tem-se uma relação reflexiva entre o

currículo dos estudantes e a fronteira do conhecimento na indústria, permitindo aos estudantes

explorar inovações que são pouco usuais na academia.

Os investimentos em treinamento no arranjo produtivo local de TIC de Waterloo,

Canadá, não foram, contudo, iniciativa do setor privado em parceria com a universidade local,

mas também são fruto de políticas públicas. Segundo o autor, destacam-se aquelas que

financiam a educação secundária e a criação de fundos e subsídios de pesquisa inovadoras,

que repercutiu na criação de um Ministério de Pesquisa e Inovação em âmbito federal. Mais

recentemente, tem sido criadas estruturas para a promoção de comercialização de novas

tecnologias.

Em suma, nas mais diversas formas de organização de economias de aglomeração do

setor de TIC ocorrem interações tanto entre os empresários no mesmo espaço geográfico

quanto com empresas externas a essa estrutura produtiva, colocando esses produtores na

fronteira da produção desse setor. A difusão tecnológica no nível global é essencial para essas

empresas se mantenham competitivas localmente, uma vez que o mercado de TICs sofre

constantes turbulências tecnológicas e aceleradas mudanças nas preferências dos clientes

(caracterizando o ambiente com nível de incerteza elevado). No entanto, a competição por

mercados pode inibir a transferência tecnológica horizontal (entre empresas concorrentes) nas

economias locais do setor de TIC, o que faz com as empresas desse tipo de arranjo foquem na

interação e troca de conhecimento e inovações tecnológicas por meio de processos de compra

e venda de insumos.

A fim de estimular a realização de atividades inovativas cooperadas entre as

empresas desses tipos de economias de aglomeração, governo pode subsidiar e incentivar a

sua realização, fortalecendo as interações entre as empresas locais, e estímulos à realização de

atividades de ensino e treinamento local com o intuito de criar um contingente de mão-de-

obra especializada, o que contribuiria para a difusão do conhecimento tácito nesse tipo

arranjo. O governo pode ter um papel central nesse tipo de organização, pois gera

oportunidades que aproveitam potencialidades de criação de inovações e conhecimentos

locais, normalmente pouco exploradas pelas empresas de TIC organizadas localmente.

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4 O PAPEL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DESTINADAS AO

DESENVOLVIMENTO DE ECONOMIAS DE AGLOMERAÇÃO EM

UMA ECONOMIA DE TICS GLOBALIZADA

O principal objetivo das políticas públicas voltadas para a promoção de qualquer tipo

de economia de aglomeração é o desenvolvimento regional. Segundo Eisenbith (2005), essas

podem desenhar vantagens que estão relacionadas a retornos políticos, ao atendimento das

prioridades nacionais ou para a construção de uma estratégia industrial própria independente

das políticas nacionais. Existem diversos caminhos para a promoção desses aglomerados,

dentre os quais: a política industrial e tecnológica, política de desenvolvimento regional ou de

promoção às MPEs (Micro e Pequenas Empresas).

No entanto, no que tange à integração dessas políticas no Brasil, a política industrial

voltada ao setor de TIC tradicionalmente é distinta de uma política setorial clássica cuja

principal característica é falta de coordenação entre os seus instrumentos e de outras políticas.

Bonelli e Veiga (2003) afirmam que, a partir dos meados da década de 1990, a política para as

tecnologias da informação passou a integrar instrumentos tradicionais de política industrial,

como os incentivos fiscais, com instrumentos típicos de uma política tecnológica, como o

financiamento e cooperação para o fomento de atividades inovativas que garantissem o

crescimento da competitividade, das exportações e das inovações.

Nesse novo modelo, houve o reordenamento institucional da política com a

integração de diversas instâncias do governo federal (Ministério da Ciência e Tecnologia;

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social), os agentes privados e de instituições de pesquisa e ensino, que passaram

a cooperar de forma mais efetiva sob a concepção de sociedade da informação, tornando-se

mais eficaz, inclusive, na promoção de economias de aglomeração também em âmbito local.

Essa política industrial e tecnológica sustenta ações voltadas ao treinamento de mão-

de-obra, na criação de centros de iniciação tecnológica, que requerem maiores esforços no

preparo das ações por trabalhar como o financiamento público, mas, normalmente, também

Page 28: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

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são capazes de captar financiamento externo. Essas medidas atraem mais empresas de setores

relacionados à atividade central dos arranjos produtivos locais; ainda que muito comumente,

nesse tipo de iniciativa, haja uma baixa participação do público alvo, os empresários que são

pouco motivados e participativos.

Para tanto, contudo, é preciso identificar e caracterizar essas estruturas produtivas

com o intuito de que o governo concentre esforços e evite o desperdício de recursos públicos

na construção de políticas voltadas a essas estruturas. Nesse estudo será utilizada a

metodologia3 desenvolvida por Suzigan et all (2004) cujo objetivo é a identificação

estatística, mapeamento geográfico e caracterização estrutural dos arranjos, propiciando a

estratificação desses em categorias relativamente homogêneas para as quais poderiam ser

identificados pacotes de estímulos e apoio a essas estruturas.

Nesse contexto, as políticas públicas dirigidas à promoção de aglomerações locais

para o setor de Tecnologia da Informação e Comunicação visam ao desenvolvimento regional.

Contudo, não estão desvinculadas da política industrial e tecnológica e de inovação, haja vista

ser esse um setor estratégico para o desenvolvimento tecnológico e econômico do país,

melhorando o posicionamento e sustentabilidade desse setor no mercado internacional.

3 Hasenclever e Zissimos (2006) fizeram análise crítica de algumas metodologias empregadas pelos estudiosos brasileiros para a identificação dos níveis de agregação e especialização. A identificação de arranjos produtivos locais pode ocorrer por meio da metodologia IPM, amplamente utilizadas por Suzigan et all (2004). Existe também metodologia para avaliar a distribuição espacial da indústria por meio da análise da participação no emprego e da produção industrial, presente no trabalho de Diniz e Cocco (1996); por fim, os atores analisam a metodologia desenvolvida por Resende e Wyllie (2005), usam o que eles denominam medidas de aglomeração para fazer um estudo empírico sobre a distribuição espacial da indústria no Brasil. O estudo profundo de diversos casos permitiu aos autores brasileiros a criação de diversas tipologias para enquadrar os arranjos produtivos locais em função de uma série de características empíricas apresentadas por eles e por seus processos de aglomeração. Os autores destacam que a maior parte das tipologias empregadas pelos autores apresentados é fruto de fatos estilizados (generalizações de relações de hierarquia entre as instituições ou dos produtores com o mercado) decorrente da observação de estruturas existentes. A evolução desse trabalho de caracterização, destaca, deve envolver a criação de uma metodologia de classificação para a seleção de aglomerações de empresas que possam ser o objeto de estudos de caso, fazendo-se o caminho inverso do que foi realizado até então.

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4.1 A ARTICULAÇÃO ENTRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE

PROMOÇÃO AOS APLS/SPLS E O SISTEMA NACIONAL DE

INOVAÇÃO

Os moldes conceituais em que estão baseadas as políticas industrial e tecnológica

brasileira e o Sistema Nacional de Inovação são os mesmos que definem o conceito de arranjo

produtivo local em termos das políticas de desenvolvimento regional, permitindo sua

articulação. Cassiolato e Szapiro (2002) definem o conceito de arranjo produtivo local como

sendo um aglomerado de firmas e instituições com foco num conjunto específico de

atividades econômicas que possibilite e privilegie a análise de interações, particularmente

aquelas que levem à introdução de novos produtos e processos.

Reconhecendo que a competitividade está cada vez mais aliada à capacidade

inovativa, esses autores constroem uma conceituação para arranjos produtivos locais baseada

na idéia de competitividade, que é a capacidade de organizações formularem e implantarem

estratégias concorrenciais, permitindo as empresas ocupar uma posição sustentável no

mercado. A busca por maior competitividade depende da criação e renovação de vantagens

competitivas advindas da territorialização da atividade produtiva.

Na perspectiva da teoria econômica neo-Schumpeteriana, Faulkner et al. (2010)

afirmam que a dinâmica de inovação e mudanças tecnológicas ocorrem por meio de processos

de desequilíbrio que promovem a substituição tecnológica, alterando o desenvolvimento

econômico. Nesse sentido, a elaboração da política industrial, no caso brasileiro, está

identificada com a visão neo-Schumpeteriana. Suzigan e Furtado (2006) afirmam que esse

instrumento deve favorecer setores ou atividades econômicas que levem às mudanças

tecnológicas proporcionando a evolução da organização das empresas e, consequentemente, o

desenvolvimento econômico.

Ainda, para Pereira (2004), a política industrial atua como gerador de externalidades

positivas e fatores político-institucionais que aumentam a competitividade da indústria

nacional em nível macroeconômico; sendo que ao mesmo tempo, em nível microeconômico,

estimula a cooperação entre as empresas que atendem um mesmo segmento e na cadeia

Page 30: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

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produtiva, criando mecanismo que facilitem o aprendizado coletivo e, conseqüentemente, o

desenvolvimento de novos bens de alto valor agregado.

Contudo, no Brasil, as políticas industriais como instrumento de desenvolvimento

econômico foram mais bem estruturadas conforme a visão neo-Schumpeteriana a partir da

década de 1990. Batista (2010) mostra que, na verdade, existiam no país políticas de reserva

de mercado, adotadas entre os anos de 1960 e final da década de 1980, que dificultavam a

transferência tecnológica entre as empresas nacionais e estrangeiras, impedindo a inserção dos

produtos eletrônicos brasileiros no mercado externo com a abertura comercial no início da

década de 1990. A própria manutenção do mercado interno foi dificultada com o fim das

barreiras à importação.

Atualmente, as políticas públicas de desenvolvimento industrial (Política Industrial,

Tecnológica e de Comércio Exterior – PITCE e a Política de Desenvolvimento Produtivo –

PDP, mais especificamente) têm como objetivo de longo prazo a transformação da base

produtiva brasileira para elevá-la a um patamar de maior valor agregado por meio da inovação

e diferenciação de produtos. Essas políticas industriais têm um enfoque setorial privilegiando

os bens de capital, software e semicondutores que são pontos chaves da indústria de

transformação, pois apresentam alto potencial para o desenvolvimento tecnológico e de

inovações, além de representarem setores da indústria nacional fornecedora de suprimentos, o

que permite a difusão das inovações pretendidas a outros setores.

No entanto, essas políticas enfrentam dificuldades em sua implantação devido a

problemas de governança. Suzigan e Furtado (2010) afirmam que para fazer política industrial

exige que se faça escolha em virtude do direcionamento estratégico setorial que o

planejamento dessas políticas impõe na atualidade. Dentro de uma perspectiva organizacional,

é necessário que os diversos órgãos governamentais coordenem e articulem suas ações sob

uma liderança forte que seja capaz de dinamizar o processo decisório.

Para que a indústria brasileira possa conquistar o objetivo dessas políticas e

solucionar o problema da governança, pretende-se o fortalecimento do Sistema Nacional de

Inovação (SNI), que é basicamente o fortalecimento das relações entre instituições públicas,

privadas e empresas em que há a análise de processos de produção, difusão e uso de CT&I,

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considerando a influência simultânea de aspectos organizacionais, institucionais e

econômicos.

Ainda assim, a natureza do governo é fragmentada o que dificulta a coordenação dos

seus diversos organismos que compõem o Sistema Nacional de Inovação. Para Fransman

(2007), os burocratas do comércio e indústria, o regulador, a autoridade da concorrência,

finanças, ciência e tecnologia e educação têm perspectivas significativamente diferentes,

dificultando a identificação de objetivos comuns no âmbito do Sistema Nacional de Inovação,

quais são os problemas e o que deve ser feito. Basicamente, um SNI mais bem articulado

favorece a geração de variedades, tecnologias, formas de organização e de idéias, embora

muitas dessas não sobrevivam ao processo de seleção.

Em um mundo de incertezas gerado por grandes mudanças, a ação dos formuladores

de políticas públicas pode fornecer alguma salvaguarda para o futuro o que os levaria a

fortalecer o SNI pelas políticas de inovação que são construídas pelo cruzamento das políticas

de ciência e tecnologia e industrial.

Salermo e Kubota (2008) partem da premissa de que o conhecimento tem um papel

crucial no progresso econômico, gerando produtos e processos inovadores. A difusão de

conhecimento e informação tem ocorrido de forma mais acelerada com a emergência das

tecnologias de informação e comunicação, o que torna esse setor estratégico dentro da

iniciativa das políticas públicas de desenvolvimento econômico por meio do progresso

industrial.

Existe, desta forma, uma importante articulação entre as políticas voltadas às mais

diversas formas de economias de aglomeração cujo principal objetivo é o desenvolvimento

regional e a de Sistemas Nacionais de Inovação, voltadas para os setores de desenvolvimento

estratégico que são aqueles de alta tecnologia, como é o caso das TICs, uma vez que seu

objetivo final (o aumento da competitividade das empresas brasileiras por meio de introdução

de processos inovativos contínuos na firma) emerge de uma forte base conceitual, fruto do

diálogo entre os formuladores de políticas públicas e a academia, que direcionam suas

iniciativas que acabam por convergir e complementar-se.

Page 32: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

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5 ANÁLISE DESCRITIVA: A EVOLUÇÃO DO SETOR DE TIC NO

BRASIL: 2000 – 2009

Na última década, houve uma importante expansão do setor de TIC no Brasil. Esse

fenômeno pode ser evidenciado pela variação do número de firmas do setor e do faturamento

das empresas, por exemplo, quando comparados à totalidade da economia brasileira. No

entanto, mais do que o simples aumento da participação econômica do setor, seu crescimento

pode ser entendido como reflexo pelo aumento da demanda de produtos e serviços

tecnológicos que suportem o desenvolvimento de uma nova estrutura econômica pautada pelo

conhecimento, sendo, para isso, necessário compreender a estrutura desse segmento e sua

evolução.

Em termos práticos, para esse trabalho, a autora identificou o setor de Tecnologia da

Informação e Comunicação como aquele composto pelas seguintes classes de indústrias e

serviços a um nível de desagregação de 4 dígitos, que corresponde às classes de atividade

econômica conforme a CNAE 2.04, descritos na TABELA 1 a seguir:

TABELA 1. Código de Classe de Atividade Econômica do Setor de Tecnologia da Informação e Comunicação - CNAE 2.0.

Código Classe de Atividade Econômica

2610-8 Fabricação de Componentes Eletrônicos

2621-3 Fabricação de Equipamentos de Informática

2622-1 Fabricação de Periféricos para Equipamentos de Informática

2631-1 Fabricação de Equipamentos Transmissores de Comunicação

2632-9 Fabricação de Aparelhos Telefônicos e de Outros Equipamentos de Comunicação

2651-5 Fabricação de Aparelhos e Equipamentos de Medida, Teste e Controle

3312-1 Manutenção e Reparação de Equipamentos Eletrônicos e Ópticos

9511-8 Reparação e Manutenção de Computadores e de Equipamentos Periféricos

9512-6 Reparação e Manutenção de Equipamentos de Comunicação

Fonte: Elaboração da autora a partir de dados CONCLA/MPOG e IBGE.

4 A CNAE 2.0 (Classificação Nacional de Atividades Econômicas, versão 2.0) é a classificação oficialmente adotada pelo Sistema Estatístico Nacional e pelos órgãos federais, gestores de registros administrativos, relativas às atividades econômicas. Esta versão da CNAE, definida pela Resolução CONCLA 01/2006 publicada no Diário Oficial em 05/09/2006, será empregada entre os anos de 2007 e 2012 para as estatísticas oficiais; tendo sido precedida pela CNAE 1.0 (Diário Oficial da União de 09/10/2002) e CNAE (Diário Oficial da União em 26/12/1994), conforme informações da Comissão Nacional de Classificação (disponível em: http://www.ibge.gov.br/concla/cnae/cnae.php?sl=1. Acessado em 09 de janeiro de 2010, 11h51min).

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Conforme o TABELA 1, o setor de TIC é composto tanto por classes de atividades

econômicas de indústria de transformação, ligadas à fabricação de equipamentos de

informática, produtos eletrônicos e ópticos e manutenção, reparação e instalação de máquinas

e equipamentos, quanto às atividades de serviços, mais especificamente àquelas de reparação

e manutenção de equipamentos de informática e comunicação e de objetos pessoais e

domésticos.

Ainda, é preciso ressaltar que as atividades econômicas descritas nas demais tabelas

abaixo, estão em conformidade com a classificação da CNAE 2.0 para os anos de 2007 e

2009. Para os anos de 2002 a 2005, as categorias de atividade econômica são definidas

conforme CNAE 1.0 e para os anos 2000 e 2001, conforme a CNAE, guardando-se as devidas

equivalências entre os grupos de atividades econômicas da CNAE 2.0 descritas no

APÊNDICE 1.

Em 2000, existiam no país 1.371 estabelecimentos produtivos dentre os setores

classificados como pertencentes ao setor de TIC, enquanto que em 2009, esses correspondiam

a 8.623, o que implica um aumento de 528,9% no período. O aumento do número de

estabelecimento não foi acompanhado pelo acrescimento da importância desse setor na

economia brasileira em termos da renda nacional, pois ainda que se observe o aumento do

faturamento do setor de R$ 48.897,5 milhões para R$ 55.423,5 milhões (o que corresponde a

um aumento de 13,3%) entre 2000 e 2008, a participação na composição da receita bruta de

todas as atividades econômicas do país caiu de 2,3% para 1,8%, devido ao crescimento mais

acelerado de outros setores que alavancaram o crescimento da economia brasileira em 49,3%

nesses 9 anos.

Para o setor de TIC, o grupo de maior participação é aquele relacionado às atividades

industriais, que engloba a fabricação de componentes eletrônicos, de equipamentos de

informática e periféricos, equipamentos de comunicação, e fabricação de aparelhos e

instrumentos de medida, teste e controle; cronômetros e relógios, cuja participação no total da

receita bruta da venda de produtos industriais foi superior a 94,2% no período. O outro

segmento que compõe o setor de TIC é o de serviços, que corresponde às atividades de

manutenção e reparação de equipamentos eletrônicos, ópticos, periféricos, comunicação e

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computadores, mas não aparecem discriminados por classes de atividades econômicas na

Pesquisa Anual do Setor de Serviços.

Dentre as atividades econômicas do setor de TIC, aquela que tem uma maior

participação no total do setor foi a de fabricação de equipamentos de comunicação (que inclui

a fabricação de aparelhos transmissores e receptores de rádio e televisão e de

telecomunicações), que correspondeu no mínimo a 43,6% do total em 2008. No entanto, esse

segmento vem perdendo espaço no setor de TIC para outras atividades, como a fabricação de

equipamentos de informática e periféricos cuja participação cresceu de 23,1% para 31,6%; e,

também aquele de fabricação de aparelhos e instrumentos de medida, teste e controle,

cronômetros e relógios, que se expandiu de 5,6% para 10,6%, como se verifica na TABELA

2, que traz o faturamento do Setor de TIC comparativamente ao total das atividades da

economia brasileira por atividade econômica entre 2000 e 2008.

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TABELA 2. Faturamento¹ do Setor de TIC comparativamente ao total da economia brasileira por atividade econômica (em milhões). Período: 2000 – 2008.

Atividades Industriais do Setor de TIC Anos

Atividade Econômica 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Fabricação de componentes eletrônicos

6.218,6 6.193,1 6.155,3 5.160,5 5.009,5 4.615,8 6.134,4 5.271,7 5.547,2

Fabricação de equipamentos de informática e periféricos

11.287,0 16.479,2 10.546,2 10.761,2 10.968,6 13.114,8 13.069,9 17.835,1 21.729,0

Fabricação de equipamentos de comunicação

28.663,3 34.750,4 23.707,6 20.053,2 34.126,6 28.964,3 30.437,3 24.605,7 18.721,7

Fabricação de aparelhos e instrumentos de medida, teste e controle; cronômetros e relógios

2.728,7 3.047,0 3.174,1 2.757,6 3.609,5 3.918,2 3.664,2 5.971,3 5.781,7

Total das Atividades Industriais do Setor de TIC

48.897,5 60.469,6 43.583,3 38.732,4 53.714,2 50.613,0 53.305,8 53.683,8 51.779,6

Atividades de Serviços do Setor de TIC Anos

Atividade Econômica 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Manutenção e Reparação de Equipamentos Eletrônicos e Ópticos

- - - - - - - - -

Reparação e Manutenção de Computadores e de Equipamentos Periféricos

- - - - - - - - -

Reparação e Manutenção de Equipamentos de Comunicação

- - - - - - - - -

Total das Atividades de Serviços do Setor de TIC - - 2.685,8 2.263,8 2.495,1 2.517,9 2.445,3 2.692,3 3.643,9

Setor de TIC 48.897,5 60.469,6 46.269,1 40.996,2 56.209,3 53.130,9 55.751,0 56.376,0 55.423,5

Total da Economia Brasileira 2.117.443,0 2.170.506,3 2.188.092,1 2.302.181,2 2.444.272,8 2.557.757,9 2.733.383,2 2.938.706,3 3.161.324,6 Fonte: Elaboração da autora a partir da base de dados da PIA Empresa (IBGE) e PAS Empresa (IBGE) - 2000 a 2009. Notas: (1) O faturamento é entendido como a receita bruta de venda de produtos industriais e de prestação de serviços. Valores aos preços de 2009 pelo IPCA (IBGE).

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Quanto ao número de empregos no setor, em levantamento feito a partir da base de

dados Razão Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho entre os anos 2000 e 2009,

o número de empregos criados cresceu de 41,8 mil para 172,22 mil, o que corresponde a uma

variação de 312,0%. Esse aumento significativo na criação de postos de trabalho no setor no foi

acompanhada por um aumento muito significativo da participação do setor em termos da mão-de-

obra empregada, que ficou entre 0,1% e 0,4% em todo o período.

Entre 2000 e 2009, a indústria de TIC teve maior participação em termos de emprego

relativa ao total do setor de TIC, comparativamente ao segmento de serviços, que cresceu no

período de 66,0% para 72,0%. Dentre as classes de atividade econômica selecionadas, houve uma

redução acentuada da participação em termos de número de empregos na indústria de fabricação

de componentes eletrônicos, diminuindo de 31,7% em 2001 para 21,5% em 2009, ao passo que o

segmento de reparação e manutenção de computadores e de equipamentos periféricos cresceu de

18,5% para 22,6% no período, tornando-se a classe de atividade econômica mais importante no

setor em termos do número de empregos criados.

A maior parte dos empregos criados no setor de TIC concentra-se nos estados das

regiões Sudeste e Sul, o que pode indicar uma forte concentração geográfica dessa atividade

nessas regiões que, mesmo de forma mais acentuada, acompanha a distribuição do número de

empregos em termos relativos da economia brasileira como um todo. No entanto, ao longo do

período estudado, ocorreu uma diminuição relativa da participação das regiões Sudeste no

número de empregos, reduzindo de 73,3% para 62,8%; a participação do emprego na região Sul

sempre foi ascendente, com aumento bastante expressivo de 10,9% para 21,1%, sendo

acompanhada pela região Norte, que teve uma elevação da participação, passando de 6,0% para

9,3%, como pode ser observado na TABELA 3, a seguir:

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TABELA 3. Número de Empregos no Setor de TIC (em milhares). Período: 2000 - 2009. Setor de TIC

Anos Regiões

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Norte 2,5 7,3 9,6 11,5 16,6 22,2 26,5 23,5 21,2 16,0 Nordeste 3,8 8,8 4,8 3,8 3,9 4,3 5,5 7,2 8,4 8,5 Sudeste 30,7 67,4 60,4 62,6 68,4 70,5 87,2 95,9 112,7 108,2 Sul 4,5 10,3 12,7 13,2 13,4 14,3 22,7 29,0 35,2 36,4 Centro-Oeste 0,3 1,4 1,5 1,4 1,4 4,2 1,6 2,0 2,6 3,2 Total 41,8 95,2 89,0 92,5 103,8 115,4 143,4 157,6 180,1 172,2

Fonte: Elaboração da autora a partir da base de dados da RAIS Empresa (Ministério do Trabalho) - 2000 a 2009.

Ao longo desses anos, pode-se observar um aumento do pessoal ocupado no setor de

TIC com ensino médio e superior completos, com uma elevação da participação no total de

pessoas empregadas, respectivamente, de 49,2% para 66,8% e, de 18,5% para 23,1%, o implica

em uma redução expressiva do número de pessoas somente com o ensino fundamental

empregadas. Comportamento similar também foi observado na economia brasileira, contudo, a

participação do pessoal ocupado que possuía ensino médio e superior completo sempre foi

inferior àquela observada no setor de TIC, passando, respectivamente, de 33,2% para 47,4% e, de

16,3% para 20,5%. Em ambos os casos observou-se um aumento do pessoal ocupado, que, para o

setor de TIC, pode ser visto no GRÁFICO 1 a seguir.

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GRÁFICO 1. Escolaridade do pessoal ocupado no Setor de TIC (em milhares). Período: 2000 - 2009.

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

120,0

140,0

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Anos

Pes

soal

Ocu

pado

(em

Milh

ares

)

Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior

Fonte: Elaboração da autora a partir da base de dados da RAIS Empresa (Ministério do Trabalho) - 2000 a 2009.

Dentre os níveis de escolaridade do pessoal ocupado no setor de TIC, aquele em que se

obteve um aumento mais acentuado o crescimento foi o que corresponde ao do ensino médio, que

19,2 mil indivíduos em 2000 para 115 mil em 2009, o que corresponde a uma variação de

498,9%, o que contribuiu para o aumento da participação relativa desse segmento em detrimento

do ensino fundamental. Os demais níveis de escolaridade também sofreram variações positivas,

embora menos expressivas do que a representada pelo aumento do ensino médio; o número de

pessoas com ensino superior cresceu de 7,2 mil para 59,8 mil, o que corresponde a um aumento

de 452,7% (acompanhado o aumento do pessoal ocupado que possui ensino médio completo), e

um aumento menos expressivo do ensino fundamental cuja elevação foi de 12,5 mil para 16,8

mil, com crescimento de 34,4% no período.

Embora os profissionais com pós-graduação não tenham sido incluídos nessa pesquisa,

entre os anos de 2006 e 2009, eles perfizeram um total de 500 profissionais empregados por ano

no setor. Esse número mostrou-se pouco relevante e ao longo dessa série de anos variou pouco,

dificultando a análise da evolução do emprego de profissionais altamente qualificados no setor,

que estariam envolvidos com atividades potencialmente inovativas.

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Para fazermos essa avaliação, levantaremos o número de profissionais envolvidos por

cargos ocupados nas empresas de TIC, dentre os quais selecionamos os profissionais

pesquisadores, engenheiros e cientistas, comparativamente ao total do pessoal ocupado nas

empresas do setor

Os profissionais definidos acima como altamente qualificados correspondem a

aumentaram no setor de TIC de 1,5 mil para 9,5 mil entre anos de 2000 e 2009. O aumento desse

grupo de profissionais foi maior que a média do crescimento de pessoas ocupadas no setor, uma

vez que foi acompanhado por um aumento da participação relativa deles de 3,8% para 5,5%

nesses 10 anos. Os dados referentes à evolução das categorias profissionais identificadas como

altamente qualificadas entre os anos 2000 e 2009 está descrito na TABELA 4 a diante.

TABELA 4. Pessoal ocupado altamente qualificado no Setor de TIC comparativamente ao total da economia brasileira por categoria (em milhares). Período: 2000 – 2009 (anos selecionados).

Setor de TIC Anos

2000 2004 2006 2008 2009 Qualificações Valor % Valor % Valor % Valor % Valor %

Pesquisadores 0,1 7,9% 0,1 2,3% 0,2 2,1% 0,3 3,0% 0,4 3,7% Engenheiros 1,0 70,1% 2,4 45,9% 3,7 50,4% 3,8 38,3% 3,7 39,0% Cientistas 0,3 22,0% 2,7 51,8% 3,4 47,4% 5,9 58,7% 5,4 57,3% PO altamente qualificados do Setor de TIC

1,5 3,8% 5,2 5,0% 7,2 5,1% 10,0 5,6% 9,5 5,5%

PO Total do Setor de TIC 38,9 103,7 143,3 180,0 172,1

Economia Brasileira Anos

2000 2004 2006 2008 2009 Qualificações Valor % Valor % Valor % Valor % Valor %

Pesquisadores 15,2 6,3% 10,2 3,5% 12,3 3,5% 16,6 3,8% 17,6 3,7% Engenheiros 113,4 46,9% 129,2 44,7% 148,1 42,2% 176,4 40,6% 185,8 39,6% Cientistas 113,0 46,8% 149,5 51,8% 190,7 54,3% 241,0 55,5% 265,6 56,6%

PO altamente qualificados

241,6 0,9% 288,9 0,9% 351,1 1,0% 434,0 1,1% 468,9 1,1%

PO Total 26.002,3 31.371,1 35.268,6 40.027,4 41.191,7 Fonte: Elaboração da autora a partir da base de dados da RAIS Empresa (Ministério do Trabalho) - 2000 a 2009.

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Quanto aos profissionais altamente qualificados, observa-se mudança no perfil da

categoria profissional predominante no setor de TIC. Enquanto em 2000 existiam uma maior

participação de engenheiros, que correspondiam a 70% dos profissionais considerados altamente

qualificados; em 2009, predominavam os cientistas, com 57,3% de participação. Essa

modificação, entrementes, pode não predizer uma alteração do papel predominantes das

atividades inovativas dentro da empresa, que passariam de desenvolvedoras de produtos e

serviços melhorados, como um papel mais característico do engenheiro, para a criação de

produtos e serviços inovadores, envolvendo a atuação de cientistas em pesquisa básica.

Muito desses profissionais considerados cientistas podem ter também a formação de

engenheiros, tendo em vista que essas categorias não são auto-exclusivas e que os profissionais

de engenharia são os mais requisitados para realizar atividades de P&D nas empresas,

universidades e centros de pesquisa. O que pode ter ocorrido é o aumento do número de

engenheiros vinculados justamente às universidades e centros de pesquisa, pois não se pode

observar um crescimento do número de pós-graduados ao longo do período analisado no pessoal

ocupado das firmas, que, normalmente, estão atrelados a essas categorias de profissionais

envolvidos com pesquisa e atividades inovativas.

Movimento semelhante pode ser observado na economia brasileira. Em 2000, a

participação de engenheiros, com 46,9% de participação entre os profissionais altamente

qualificados, era a mesma dos cientistas, com 46,8%; ao passo que em 2009, observa-se um

crescimento do número de cientistas, que chegaram a 56,6%, percentual bastante próximo ao das

empresas de TIC. Entrementes, a participação do pessoal ocupado altamente qualificado é bem

inferior àquela registrada pelo setor de TIC, não ultrapassando 1,1%, percentual alcançado em

2008, do total do pessoal ocupado na economia brasileira, ainda que tenha ocorrido a expansão

dessa participação.

O aumento dos profissionais envolvidos em atividades inovativas indica um aumento da

preocupação das empresas do setor de TIC com o desenvolvimento de inovações e,

consequentemente, com o aumento do número de empresas inovadoras. No triênio 2001-2003,

foram identificadas cerca de 1.660 empresas inovadoras no setor industrial de TIC – que

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conforme a CNAE 1.0, também inclui manutenção, reparação e instalação de máquinas e

equipamentos –, ao passo que no triênio 2006-2008, contabilizamos 3.089 nessa categoria, o que

corresponde a um crescimento de 86,1% no total de empresas nesse grupo. Esses dados estão

disponíveis na TABELA 5, que apresenta o número de empresas inovadoras por categoria de

inovação implantada e por classe de atividade econômica.

Segundo metodologia da Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC), “a maioria das

variáveis qualitativas, entendidas como aquelas que não envolvem registro de valor, se refere a

um período de três anos consecutivos” (IBGE, 2008, p. 3), ou seja, corresponde à soma delas;

cabe lembrar que como variável qualitativa, as inovações implantadas nas firmas correspondem à

soma do número de inovações realizadas por essas ao longo dos três anos, podendo uma empresa

ter registrado mais de um tipo de inovação, uma vez que essas podem enquadrarem-se em mais

de uma categoria, o que implica afirmar que os dados apresentados quanto ao número de

empresas inovadoras está superestimado.

Tendo em vista esses esclarecimentos, as inovações que essas empresas implantaram

foram identificadas em três categorias pela pesquisa: inovação de produto e/ou processo;

desenvolvimento de projetos inovadores incompletos e/ou abandonados; e, inovações

organizacionais e/ou de marketing. Entre 2001 e 2003, a maior parte das inovações era realizada

em termos de produtos e/ou processos, que tinha uma participação de 52,7%; essa, porém, foi

reduzida para 37,7% do total das inovações realizadas pelas empresas do setor de TIC no triênio

2006-2008 devido ao aumento das inovações organizacionais e/ou de marketing, que passaram de

28,7% para 33,3% entre esses triênios.

Também observamos mudanças quanto à presença de empresas inovadoras no grupo de

atividades econômicas classificadas como pertencentes ao setor de TIC. Entre 2001 e 2003,

predominavam as empresas inovadoras na área industrial de fabricação de outros produtos

eletrônicos e ópticos, que contava com participação de 50,9%; porém, a partir do triênio 2006-

2008, quando se passou a contabilizar as atividades de manutenção, reparação e instalação de

máquinas e equipamentos – posteriormente identificadas pela CNAE 2.0 como atividades de

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serviços –, percebeu-se que essa atividade reunia o maior número de empresas inovadoras, com

participação de 75,8%.

No que tange aos setores com maior taxa de inovação (percentual de empresas que

implantaram algum tipo de inovação em relação ao total de empresas inovadoras), no triênio

2001-2003, a fabricação de equipamentos de informática e periféricos era o que apresentava a

maior taxa de inovação em produto e/ou processo (71,19%), sendo superado no triênio de 2006-

2008 pela fabricação de outros produtos eletrônicos e ópticos com 63,51% das empresas do setor

inovando ao menos nesse segmento.

Quanto ao segmento de inovações organizacionais e/ou de marketing, no primeiro

triênio, o setor que apresentava a maior taxa de inovação nessa área era o de fabricação de outros

produtos eletrônicos e ópticos (36,77%); ao passo que no triênio 2006-2008, observa-se que o

setor de TIC com maior taxa de inovação organizacional e/ou de marketing foi o de manutenção,

reparação e instalação de máquinas e equipamentos com 37,90% das firmas envolvidas. Esse

setor de serviços não havia sido computado na pesquisa realizada anteriormente, dificultando

qualquer comparação; contudo, é previsível que pela própria natureza da atividade, haja um

maior número de empresas inovadoras nessa área no setor classificação como de serviços do que

no setores industriais.

No triênio de 2006-2008, comparativamente ao de 2001-2003, houve uma redução da

taxa geral de inovação nas empresas, com diminuição de 83,80% para 73,62%. No que se refere

aos tipos de inovação existentes, pode-se observar uma redução da taxa de empresas inovadoras

em produto e/ou processos, ocorrendo redução de 52,72% para 37,67% das firmas que ao menos

inovam nesse quesito. Em contrapartida, ocorreu um pequeno aumento, porém significativo,

dessa taxa na área de inovação e/ou marketing, com crescimento de 28,74% para 33,30%.

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TABELA 5. Número de Empresas Inovadoras do Setor de TIC. Período: 2001 - 2008. 2001-2003 2006-2008 Que implantaram¹ Que implantaram¹

Inovação de produto e/ou

processo

Apenas projetos incompletos e/ou

abandonados

Apenas inovações

organizacionais e/ou de

marketing

Inovação de produto e/ou

processo

Apenas projetos incompletos e/ou

abandonados

Apenas inovações

organizacionais e/ou de

marketing

Atividade Econômica

Total

Número (%) Número (%) Número (%)

Total

Número (%) Número (%) Número (%)

Fabricação de componentes eletrônicos

308 190 61,66% 12 3,84% 76 24,59% 372 182 49,00% 21 5,72% 87 23,25%

Fabricação de equipamentos de informática e periféricos

201 143 71,19% 13 6,58% 18 9,18% 222 119 53,82% 6 2,70% 70 31,38%

Fabricação de equipamentos de comunicação

306 158 51,79% 4 1,46% 72 23,59% 317 173 54,64% 3 0,84% 81 25,69%

Fabricação de outros produtos eletrônicos e ópticos

845 384 45,40% 10 1,16% 311 36,77% 555 352 63,51% 18 3,17% 143 25,70%

Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos

- - - - - - - 2.343 608 25,94% 53 2,27% 888 37,90%

Total das Atividades do Setor de TIC

1.660 875 52,72% 39 2,37% 477 28,74% 3.809 1.435 37,67% 101 2,65% 1.268 33,30%

Fonte: Elaboração da autora a partir da base de dados da PINTEC (IBGE) - 2001 a 2008. Nota: (1) Nos períodos pesquisados, foram consideradas as empresas que implantaram produto e/ou processo tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorado, que desenvolveram projetos que foram abandonados ou ficaram incompletos, e que realizaram mudanças organizacionais.

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A redução da taxa de inovação nas empresas e a diminuição da participação das

inovações em produto e/ou processo, que são mais custosas para as empresas do que as

organizacionais e/ou de marketing, que cresceram, pode ser causa do decréscimo dos gastos em

atividades inovativas, que incluem investimentos em P&D externo e interno, aquisição de ativos,

treinamentos, introdução de inovações tecnológicas no mercado, e projetos industriais e outras

preparações técnicas. Entre 2000 e 2008, houve uma significativa redução desses gastos, que

caíram de R$ 2.926,6 milhões para R$ 2.245,9 milhões, implicando em uma redução de 23,3%.

Essas informações podem ser encontradas na TABELA 6, a seguir, na qual encontramos os gatos

em atividades inovativas de empresas inovadoras do setor de TIC entre 2000 e 2008.

TABELA 6. Gastos em Atividades Inovativas de Empresas Inovadoras do Setor de TIC. (em milhões). Período: 2000 – 2008 (anos selecionados).

Anos 2000 2003 2005 2008 Atividade Econômica

Valor % Valor % Valor % Valor % Fabricação de componentes eletrônicos

233,2 8,0% 252,7 10,7% 125,0 3,8% 96,0 4,3%

Fabricação de equipamentos de informática e periféricos

469,0 16,0% 693,5 29,4% 474,0 14,5% 558,7 24,9%

Fabricação de equipamentos de comunicação

1.865,1 63,7% 1.169,8 49,6% 2.201,5 67,2% 1.188,8 52,9%

Fabricação de outros produtos eletrônicos e ópticos

359,3 12,3% 242,5 10,3% 474,4 14,5% 225,4 10,0%

Manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos

- - - - - - 177,0 7,9%

Total das Atividades Industriais do Setor de TIC

2.926,6 2.358,5 3.274,9 2.245,9

Fonte: Elaboração da autora a partir da base de dados da PINTEC (IBGE) - 2001 a 2008. Nota: Valores aos preços de 2009 pelo IPCA (IBGE).

Esses dados de gastos em atividades inovativas ainda surpreendem, pois, embora o

maior número de empresas inovadoras no primeiro triênio anteriormente analisado (2001-2003)

esteja contemplado na classe de fabricação de outros produtos eletrônicos e ópticos, o maior

gasto em atividades inovativas foi verificado no setor de fabricação de equipamentos de

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comunicação, que, ainda, tendo sua participação reduzida no período, contou uma participação

mínima de 49,6% no total dos gastos, verificada em 2003. Como outro fato importante de

ressaltar ainda, destacamos o crescimento dos investimentos em atividades inovativas realizados

na fabricação de equipamentos de informática e periféricos, que cresceu no período de 2000 a

2008 em 19,1%, aumentando, inclusive, sua participação no total dos gastos de 16,0% para

24,9%.

Acredita-se que o aumento dos gastos em inovações pode gerar elevação produtos

inovadores no mercado tanto no mercado interno, quanto no mercado externo, promovendo o

crescimento das exportações e, conseqüentemente, das exportações líquidas. No GRÁFICO 2, a

seguir, apresenta-se a evolução do comércio externo no setor de TIC para o período de 2000 a

2009 no Brasil, no qual observamos um baixo crescimento nas exportações de R$ 1.531,1

milhões para R$ 2.868,0 milhões, variando 87,3%, comparativamente às importações cuja

variação foi de 139,3%, passando de R$ 3.837,5 milhões para R$ 9.181,4 milhões no período,

fato que pode ser resultado dos baixos investimentos em atividades inovativas, especialmente

naquelas relativas a produtos e/ou processos que possuem maior circulação no mercado externo.

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GRÁFICO 2. Exportações e Importações no Setor de TIC (em milhões). Período: 2000 - 2009.

-10.000,0

-5.000,0

0,0

5.000,0

10.000,0

15.000,0

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Anos

R$

(em

Milh

ões)

Exportações Líquidas Importações Exportações

Fonte: Elaboração da autora a partir da base de dados da SECEX Empresa (Ministério do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior) - 2000 a 2009.

Nota: Valores aos preços de 2009 pelo IPCA (IBGE).

O aumento das importações do setor de TIC pode estar atrelado a um déficit tecnológico

desse setor, o que, consequentemente, provocou o déficit comercial crescente em todo o período

estudado. No período, as exportações líquidas diminuíram de um saldo negativo R$ 2.306,4

milhões para um saldo negativo de R$ 6.313,4 milhões. Contudo, na economia brasileira, entre

esses anos, pudemos observar um movimento inverso, no qual ocorreu um aumento das

exportações maior do que o das importações, o que garantiu um superávit da balança comercial

no período que em 2009 superou R$ 36.890,0 milhões.

Quanto às classes de atividade econômicas identificadas como sendo do setor de TIC,

aquela que se destaca em termos das importações é a fabricação de aparelhos telefônicos e de

outros equipamentos de comunicação cujas importações evoluíram de R$ 2.794,6 milhões em

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33

2000, ano no qual o segmento tinha participação de 72,8% nas importações do setor, para R$

3.828,9 milhões em 2009 com participação diminuída em 41,7%, embora ainda represente a

maior parcela das importações do setor de TIC.

Embora a classe de atividade econômica fabricação de aparelhos telefônicos e de outros

equipamentos de comunicação tenha representado a maior parcela das importações no período,

também foi o segmento que mais exportou no setor de TIC, ainda que suas exportações não

tenham superado as importações. Suas exportações variaram de R$ 1.133,8 milhões para R$

1.891,7, com crescimento de 66,8% entre 2000 e 2009.

Com base nessas informações apresentadas, podem-se identificar as principais

características do setor de TIC no Brasil entre 2000 e 2009:

i. Aumento significativo do número de empresas abertas do setor no país e,

consequentemente, o aumento do faturamento, muito embora sua participação tenha

diminuído no período;

ii. Predominância, em termos do faturamento, das atividades industriais sobre as de

serviço, com destaque para o segmento de fabricação de equipamentos de comunicação

cuja participação mínima do total do setor foi superior a 40% em todo o período;

iii. Aumento do número de postos de trabalho, com o aumento da participação do segmento

industrial e expansão nas regiões Sul e Norte;

iv. Elevação da qualificação do pessoal ocupado, aumento do número de empregados com

nível médio e superior completos comparativamente ao total do pessoal do setor;

v. Embora não tenha ocorrido um aumento significativo de pós-graduados no setor, houve

um crescimento do número de profissionais envolvidos com atividades inovativas, sendo

designados sob a alcunha de cientistas, pesquisadores e engenheiros;

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34

vi. Crescimento do número de empresas inovadoras em processos organizacionais e/ou de

marketing, superando a participação daquelas que produzem inovações em produto e/ou

processos, entre 2001 e 2008;

vii. Redução dos gastos em atividades inovativas pelas empresas classificadas como

inovadoras pela PINTEC/IBGE entre 2001 e 2008, podendo estar atrelado ao

decréscimo das inovações em produto e/ou processo;

viii. Aumento do déficit das exportações líquidas, com um crescimento expressivo de

importações comparativamente às exportações.

6 METODOLOGIA

6.1 A BASE DE DADOS: RELAÇÃO ANUAL DE INFORMAÇÕES

SOCIAIS DO MINISTÉRIO DO TRABALHO - RAIS

Conforme identificado anteriormente, o setor de TIC é composto tanto por classes de

atividades econômicas de indústria de transformação, ligadas à fabricação de equipamentos de

informática, produtos eletrônicos e ópticos e manutenção, reparação e instalação de máquinas e

equipamentos, quanto às atividades de serviços, mais especificamente aquelas de reparação e

manutenção de equipamentos de informática e comunicação e de objetos pessoais e domésticos.

Passemos agora à base de dados e informações que possibilita a elaboração dos dois

indicadores, de concentração geográfica da atividade econômica, Gini Locacional (GL), e de

especialização produtiva, Quociente Local (QL), serão elaborados a partir da base de dados RAIS

(Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério do Trabalho para o ano de 2009.

A RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) constitui base de dados bastante

detalhada sobre o volume de emprego e número de estabelecimentos por atividade econômica e

por município, que permitirá a identificação e análise de aglomerações de empresas. A coleta e a

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35

tabulação dessas informações são realizadas anualmente pelo Ministério do Trabalho e do

Emprego. Essa pesquisa coleta com relação às seguintes informações: número de contratos (ou

vínculos estabelecidos); pessoal ocupado com nível de ensino fundamental, médio, superior e

pós-graduação; número de filiais; número de pesquisadores, engenheiros e cientistas; idade da

empresa; número médio de horas pagas; código do município em que o estabelecimento está

sediado e código da classe da atividade econômica.

É preciso salientar que a RAIS estabelece como unidade de pesquisa padrão o número

de estabelecimentos industriais ou de serviços e não, a empresa, o que pode implicar a dupla

contagem de uma empresa em termos do número de unidades produtivas, uma vez que uma

empresa pode ser multiplanta; no entanto, isso não provoca esse tipo de viés em relação à

variável que se pretende empregar na construção dos índices: número de contratos ou número de

vínculos empregatícios para uma determinada classe de atividade econômica identificada pela

classificação CNAE 2.0 a 4 dígitos e região, no caso desse estudo os municípios brasileiros em

relação ao país como um todo. Essa pesquisa cobre 90% do mercado de trabalho brasileiro,

identificando somente os vínculos empregatícios formais.

Para melhor compreendermos os índices que iremos criar, precisamos compreender o

que significa a variável número de empregos, que é dado em termos do número de contratos

empregatícios estabelecidos, no âmbito da RAIS. Em trecho apresentado em manual divulgado

pelo IPEA, faz-se uma breve distinção entre o número de pessoas empregadas e o número de

empregos (ou de contratos):

O número de empregos em determinado período de referência corresponde ao total

de vínculos empregatícios efetivados. O número de empregos difere do número de

pessoas empregadas, uma vez que o indivíduo pode estar acumulando, na data de

referência, mais de um emprego. Consideradas as informações disponíveis sobre

vínculos empregatícios, são facultadas duas opções para mensurar a evolução do

nível de emprego. A primeira refere-se à comparação de estoques (número de

empregos) em determinado período. (IPEA, 2008, p. 3).

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Portanto, pode-se concluir que indicador irá mensurar o nível de emprego gerado pelo

setor de TIC em termos do número de postos de trabalho que esse setor cria em um determinado

período e não em termos da mão-de-obra efetivamente empregada por esse. Conhecendo-se as

bases de dados utilizadas para a elaboração dos indicadores. A seguir, explanaremos as

metodologias a serem comparadas.

6.2 INDUSTRY PERCEPTION METHOD (IPM)

A metodologia denominada Industry Perception Method (IPM) de identificação de

arranjos produtivos locais foi utilizada no âmbito do projeto de pesquisa “Sistemas Produtivos

Locais na Indústria Calçadista Brasileira: avaliação e sugestões de políticas” de Suzigan et all

(2004). Esta consiste na elaboração, a partir da base de dados da RAIS/MTE, de dois índices: um

de concentração, o índice de Gini Locacional (GL), e outro de especialização, o Quociente

Locacional (QL).

Bastos e Almeida (2008) classificam os diversos métodos existentes no Brasil de

identificação de indústria em dois grandes grupos: o primeiro, tendo em vista o fenômeno da

desconcentração industrial brasileira, avalia as tendências da localização geográfica dos setores

das indústrias, enquanto o segundo, conhecido como Industry Perception Method (IPM), busca

identificar e caracterizar aglomerações geográficas de empresas de menor porte. Esse teve origem

em Krugman (1991), onde este autor sugere o uso do coeficiente de Gini para identificação de

áreas geográficas com concentração de emprego.

A elaboração de indicadores e medidas de concentração e de especialização regional de

atividades econômicas tem sido objeto de estudo da economia regional, pois permitem observar a

distribuição geográfica da produção e identificar especializações regionais; muito embora, não

sejam suficientes para identificar as relações entre os agentes locais que são características

fundamentais das economias de aglomeração, o que exigiria a elaboração de estudos de caso com

o intuito de analisar esse fator. Seria necessário também que se adequassem esse indicador

criando variáveis que captassem esse fenômeno; no entanto, esse não é objetivo desse estudo.

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37

A partir da base de dados da RAIS/MTE é possível elaborar esses indicadores de

concentração geográfica (Gini Locacional – GL) e de especialização (Quociente Locacional –

QL). No caso em estudo, os coeficientes serão calculados em termos das atividades econômicas

definidas como aquelas que compõem o setor de TIC; enquanto, a unidade territorial em estudo

será o país para o primeiro indicador e o município para o segundo relativo à totalidade dos

municípios brasileiros.

O coeficiente de Gini Locacional (GL) é um indicador de grau de concentração

geográfica de uma determinada indústria e um espaço geográfico específico. Esse coeficiente

varia entre zero e um e, quanto mais concentrada for uma determinada indústria em uma região

específica, mais próximo da unidade será o índice. Se a indústria for uniformemente distribuída

na região, o indicador será próximo de zero.

Nesse estudo, calcularemos o índice de Gini Locacional para cada uma das classes de

atividade econômica do setor de TIC no Brasil comparativamente ao total da Indústria de

Transformação (conjunto de atividades econômicas relacionadas à de fabricação, impressão,

manutenção, reparação e instalação de bens industriais e que compõem a divisão C na CNAE 2.0,

da qual faz parte as classes de atividade econômica ligadas aos setores industriais de TIC) e

Outras Atividades de Serviços (que é o conjunto de atividades econômicas relativas às

organizações associativas; reparação e manutenção de equipamentos de informática e

comunicação e de objetos pessoais e domésticos, na qual se inclui as atividades de serviços do

setor de TIC; e, outras atividades de serviços pessoais, compondo a divisão S na CNAE 2.0) no

país.

Esse coeficiente será a relação entre o percentual acumulado de contratos da classe de

atividade econômica industrial identificada como do setor Tecnologia da Informação e

Comunicação no Brasil em relação à Indústria de Transformação brasileira (representado por α) e

o percentual acumulado de contatos da Indústria de Transformação no Brasil (representado por

β); sendo que para as classes de atividades econômicas do setor de serviços em TIC, a referência

para o cálculo do percentual acumulado será a divisão Outras Atividades de Serviços.

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38

Dessa forma, α está compreendido entre 0 ≤ α ≤ 1,0 e β está compreendido entre α ≤ β ≤

1,0 e sabendo-se que a representação de índice de Gini Locacional é dada por:

GL = α/β

Para o cálculo do índice de Gini Locacional para o setor de TIC como um todo, iremos

fazer a média ponderada de cada um dos indicadores calculados para as classes de atividade

econômica, sendo que o termo de ponderação será a participação relativa de cada uma dessas

classes no número de contratos do setor de TIC (representado por c):

GL = ∑ (ci . αi/βi), sendo i = classe de atividade econômica do setor de TIC

A aplicação desse indicador permitirá identificar o grau de importância do setor de TIC

no país em termos da concentração geográfica, sendo um critério do corte para o cálculo do

Quociente Locacional. Portanto, tem-se que o índice de Gini Locacional está compreendido entre

0 ≤ GL ≤ 1. Quanto mais próximo de 1 for esse índice, mais concentrado territorialmente é esse

setor. Para o caso do setor de TIC, identificaremos que um GL≥ 0,5, nos permite afirmar que a

concentração geográfica desse setor é elevada um espaço geográfico do município e que pode

existir um nível especialização do setor nessa área.

O Quociente Locacional (QL) indica a concentração relativa de uma determinada

indústria num estado, distrito ou município comparativamente à participação dessa mesma

indústria no espaço definido como base. Assim, a verificação de um QL elevado em determinada

indústria numa região (ou município, como é o caso) indica a especialização da estrutura de

produção local naquela indústria para aquele município.

Esse é indicado por:

QLij = Eij : Ei●

E●j : E●●

Quociente Locacional do setor i na região j

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� Eij = emprego no setor i da região j;

� Ei● = emprego no setor i do somatório de todas as regiões;

� E●j = somatório do emprego em todos os setores na região j;

� E●● = somatório do emprego do somatório de todos os setores de todas as regiões.

O Quociente Locacional permitirá a classificação dos aglomerados de empresas de um

determinado setor em quatro categorias:

i. Núcleos de Desenvolvimento Setorial: QL > 2, aglomeração de elevada importância para

a região, e participação > 2,5% no total do emprego da classe industrial, indicando

elevada importância para a classe de indústria da região;

ii. Vetores de Desenvolvimento Local: QL > 2, aglomeração de elevada importância para a

região, e participação < 2,5% no total do emprego da classe industrial, indicando pouca

importância para a classe de indústria da região;

iii. Vetores Avançados: QL < 2, aglomeração de baixa importância para a região, e

participação > 2,5% no total do emprego da classe industrial, indicando elevada

importância para a classe de indústria da região;

iv. Embriões de Sistemas Locais de Produção: QL < 2, aglomeração de baixa importância

para a região, e participação < 2,5% no total do emprego da classe industrial, indicando

pouca importância para a classe de indústria da região.

A aplicação dessa metodologia permitirá a identificação de aglomerações produtivas do

setor de TIC no país. Ainda não podemos dizer que de fato essas correspondem de fato as

categorias que identificamos como economias de aglomeração, haja vista que isso exige a

elaboração de estudos de casos específicos para cada uma das regiões, como foi exposto

anteriormente. Mas, os resultados darão indícios de quais são as regiões onde podem existir essas

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estruturas consolidadas, ainda incipientes ou com potencial para desenvolvimento, exigindo a

implantação de políticas públicas para o seu desenvolvimento.

7 RESULTADOS

Os resultados da aplicação da metodologia IPM aos dados de emprego da RAIS/2009

referentes ao Brasil, segundo as 9 classes de atividade econômica da CNAE 2.0 a 4 dígitos que

compõem o setor de TIC, são resumidos nessa seção. Primeiramente, iremos calcular o

coeficiente de Gini Locacional (GL) para as 9 classes de atividade econômica que formam o setor

de TIC e para esse como um todo, a fim de identificar estatisticamente se a concentração

geográfica é verificada nessas. Para que uma atividade econômica seja considerada

geograficamente concentrada o GL deve ser superior a 0,5. Na TABELA 7, a seguir, serão

apresentados os coeficientes de Gini Locacional das classes econômicas identificadas como

sendo do setor de TIC em termos do valor da produção para o ano de 2009.

TABELA 7. Coeficientes de Gini Locacional (GL) para o valor da produção nas classes de atividade econômica (4 dígitos) do setor de TIC no Brasil. Ano: 2009.

Classes de Atividade Econômica do Setor de TIC (CNAE 2.0 - 4 dígitos) GL

2610-8 Fabricação de Componentes Eletrônicos 0,512621-3 Fabricação de Equipamentos de Informática 0,292622-1 Fabricação de Periféricos e Equipamentos de Informática 0,402631-1 Fabricação de Equipamentos Transmissores de Comunicação 0,192632-9 Fabricação de Aparelhos Telefônicos e Outros Equipamentos de Comunicação 0,332651-5 Fabricação de Aparelhos e Equipamentos de Medida, Teste e Controle 0,383312-1 Manutenção e Reparação de Equipamentos Eletrônicos e Ópticos 0,469511-8 Reparação e Manutenção de Computadores e Equipamentos Periféricos 0,879512-6 Reparação e Manutenção de Equipamentos de Comunicação 0,43

Total do Setor de TIC 0,50Fonte: Elaboração da autora a partir da base de dados da RAIS Empresa (Ministério do Trabalho) - 2009.

Uma vez identificado que o setor de TIC apresenta importante concentração geográfica

(> 0,5) no total das atividades econômicas do Brasil em termos do número de empregos para o

ano de 2009, analisaremos a seguir o grau de especialização do setor de TIC, calculando o

Quociente Locacional (QL) relativos aos municípios brasileiros. Na TABELA 8, na qual se

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41

mostram as estatísticas descritivas das informações que foram utilizadas para a elaboração do

QL, observa-se que dos 5565 municípios brasileiros, apenas 955 deles apresentam ao menos uma

empresa classificada dentro de uma das 9 classes de atividades econômicas enquadradas como

pertencentes ao setor de TIC, sendo essa a amostra estudada.

TABELA 8. Estatística descritiva do Quociente Locacional para o emprego nas classes de atividades econômicas do setor de TIC e municípios brasileiros. Ano: 2009.

Estatística Amostra 955

Média 0,8390

Desvio Padrão 2,9239

Variância 8,5494

Amplitude 41,2769

Mínimo 0,0010

Máximo 41,2779Fonte: Elaboração da autora a partir da base de dados da RAIS Empresa (Ministério do Trabalho) - 2009.

Os resultados apontam um largo campo de variação dos resultados dos Quocientes

Locacionais, que vai de 0,001 até 41,2779. A partir dessas informações, um primeiro filtro é

aplicado aos dados, baseados nos municípios cujos índices de especialização produtiva sejam

elevados. Nesse sentido, foram eliminadas as classes que apresentavam QL menor do que 0,5,

indicando baixo nível de especialização. A TABELA 8 mostra a freqüência de municípios e seus

respectivos Quocientes Locacionais.

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TABELA 9. Freqüência de casos para faixas de Quociente Locacional (QL) para o emprego no setor de TIC e municípios brasileiros. Ano: 2009.

Faixa de Quociente Locacional

Nº de Municípios (%) Freqüência Acumulada

(%)

QL≤0,30 618 64,7% 618 64,7%0,30<QL≤0,40 61 6,4% 679 71,1%0,40<QL≤0,50 43 4,5% 722 75,6%0,50<QL≤0,60 32 3,4% 754 79,0%0,60<QL≤0,70 15 1,6% 769 80,5%0,70<QL≤0,80 26 2,7% 795 83,2%0,80<QL≤0,90 14 1,5% 809 84,7%0,90<QL≤1,00 8 0,8% 817 85,5%1,00<QL≤2,00 61 6,4% 878 91,9%2,00<QL≤3,00 27 2,8% 905 94,8%3,00<QL≤4,00 10 1,0% 915 95,8%4,00<QL≤5,00 8 0,8% 923 96,6%5,00<QL≤6,00 5 0,5% 928 97,2%6,00<QL≤10,00 15 1,6% 943 98,7%10,00<QL≤15,00 6 0,6% 949 99,4%15,00<QL 6 0,6% 955 100,0%Total 955 100,0% Fonte: Elaboração da autora a partir da base de dados da RAIS Empresa (Ministério do Trabalho) - 2009.

Pelos dados da TABELA 9, percebe-se que, dos 955 municípios brasileiros que

apresentam ao menos uma empresa classificada dentro de uma das 9 classes CNAE identificadas

como pertencentes ao setor de TIC, 233 municípios (24,4% do total somente) apresentam

Quociente Locacional superior a 0,5, o que indica algum grau de especialização produtiva.

Contudo, com o intuito de focalizar a análise em concentrações que potencialmente

possam se enquadrar em algumas das tipologias identificadas como sendo economias de

aglomeração, foram utilizados alguns filtros, que são variáveis de controle aplicadas ao nível do

município. Justifica-se a utilização desses filtros para que seja possível verificar se tais

concentrações apresentam a densidade industrial e a importância econômica que permita

enquadrá-los na conceituação de economias de aglomeração. Nesse sentido, pretende-se aqui

estabelecer um critério rigoroso para a definição de um aglomerado econômico, que é composto

pela utilização de três variáveis de modo combinado:

i. O índice de especialização, ou Quociente Locacional (QL), que mostra o nível de

especialização relativa do município;

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ii. A participação relativa do emprego do setor de TIC no município comparativamente ao

total do emprego nesse setor no Brasil;

iii. O número de estabelecimentos no município classificadas em uma das 9 classes de

atividade econômica que constituem o setor de TIC.

O resultado da aplicação desses filtros resulta em um conjunto de possibilidades, de

maior ou menor rigor, no que se refere ao número de aglomerações de empresas pelas classes de

atividade econômica do setor de TIC nos municípios brasileiros (TABELA 10).

TABELA 10. Número de municípios com classes de atividade econômica do setor de TIC segundo número de estabelecimentos e participação no total do emprego do setor. Ano: 2009.

Participação do setor de TIC do Município no total do emprego desse setor (maior ou igual) Nº de

Estabelecimentos QL Nº de

Municípios 0,5% 1,0% 2,5% 5,0%

Maior do que 0,5 233 13 8 0 0 Maior do que 1 138 13 8 0 0 Maior do que 2 77 11 8 0 0 Maior do que 0,5 27 19 13 5 3 Maior ou igual a 5 Maior do que 1 22 17 12 5 3 Maior do que 2 17 13 9 4 2 Maior do que 0,5 11 10 6 3 3 Maior ou igual a 10 Maior do que 1 8 8 5 3 3 Maior do que 2 6 6 4 2 2 Maior do que 0,5 6 6 4 4 3 Maior ou igual a 20 Maior do que 1 4 4 3 3 3 Maior do que 2 3 3 2 2 2 Fonte: Elaboração da autora a partir da base de dados da RAIS Empresa (Ministério do Trabalho) - 2009.

Para os propósitos desse trabalho, em que pretende utilizar um critério mais rigoroso, a

caracterização de uma economia de aglomeração requer que o índice de especialização,

mensurado pelo QL, seja superior a 1, o que reduz o número de municípios considerados para

138 (o que corresponde a 59,2% dos municípios que apresentam algum grau de especialização

produtiva nesse setor).

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Quantos aos outros critérios analisados, o emprego no setor de TIC no município deve

corresponder a pelo menos 0,5% do total do emprego nesse setor no Brasil, enquanto que o

número de estabelecimentos nesse espaço geográfico deve ser maior ou igual a 10. O resultado

dessa combinação de critérios foi a identificação de 8 municípios que potencialmente podem

constituir algum tipo de economia de aglomeração. A seguir, na TABELA 11, esses municípios

são divididos em categorias conforme o nível de especialização e o peso da estrutura produtiva do

setor no Brasil.

TABELA 11. Número de municípios de alta concentração e especialização no setor de TIC segundo participação no total do emprego do setor. Ano: 2009.

Participação do setor de TIC do Município no total do emprego desse setor (CNAE 4 dígitos) QL

P≤2,5% P>2,5% Total >2 4 2 6

1<QL≤2 1 1 2 Total 5 3 8

Fonte: Elaboração da autora a partir da base de dados da RAIS Empresa (Ministério do Trabalho) - 2009.

Porém, para verificar se essas aglomerações se configuram como economias de

aglomeração, é preciso verificar quais são os municípios que compõem cada categoria da

classificação acima proposta. O primeiro caso é o que pode ser chamado de núcleos de

desenvolvimento setorial-regional, que engloba dois municípios cuja atividade econômica é

fortemente concentrada e especializada, ou seja, o QL é maior que 2 e a participação do

município no total do emprego do setor é maior que 2,5%. Essas aglomerações caracterizam-se

pela elevada importância para a região e, ao mesmo tempo, para a estrutura do setor de TIC

brasileiro, como se pode observar, a seguir, na TABELA 12.

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TABELA 12. Classes do setor de TIC nos municípios brasileiros identificados na categoria núcleo de desenvolvimento setorial-regional. Ano: 2009.

Código Município

Municípios Classes de Atividade Econômica do Setor de TIC (CNAE 2.0 - 4 dígitos)

Nº de Estabelecimentos

2610-8 Fabricação de Componentes Eletrônicos 33 2621-3 Fabricação de Equipamentos de Informática 6 2622-1 Fabricação de Periféricos e Equipamentos de Informática 20

2631-1 Fabricação de Equipamentos Transmissores de Comunicação

7

2632-9 Fabricação de Aparelhos Telefônicos e Outros Equipamentos de Comunicação 5

2651-5 Fabricação de Aparelhos e Equipamentos de Medida, Teste e Controle

5

3312-1 Manutenção e Reparação de Equipamentos Eletrônicos e Ópticos

4

9511-8 Reparação e Manutenção de Computadores e Equipamentos Periféricos

22

9512-6 Reparação e Manutenção de Equipamentos de Comunicação

6

130260 Manaus (AM)

Total dos Estabelecimentos do Setor de TIC 108 2610-8 Fabricação de Componentes Eletrônicos 34 2621-3 Fabricação de Equipamentos de Informática 8 2622-1 Fabricação de Periféricos e Equipamentos de Informática 5

2631-1 Fabricação de Equipamentos Transmissores de Comunicação

5

2632-9 Fabricação de Aparelhos Telefônicos e Outros Equipamentos de Comunicação

4

2651-5 Fabricação de Aparelhos e Equipamentos de Medida, Teste e Controle

15

3312-1 Manutenção e Reparação de Equipamentos Eletrônicos e Ópticos

15

9511-8 Reparação e Manutenção de Computadores e Equipamentos Periféricos

101

9512-6 Reparação e Manutenção de Equipamentos de Comunicação

9

410690 Curitiba

(PR)

Total dos Estabelecimentos do Setor de TIC 196 Fonte: Elaboração da autora a partir da base de dados da RAIS Empresa (Ministério do Trabalho) - 2009.

Embora ambos os municípios acima sejam identificados como núcleos de

desenvolvimento setorial-regional, Manaus e Curitiba são cidades com estruturas produtivas

bastante distintas. Enquanto em Manaus, a participação relativa elevada de estabelecimentos de

fabricação de componentes eletrônicos (30,6%), reparação e manutenção de periféricos (20,4%) e

fabricação de periféricos e equipamentos de informática (18,5%) no total do setor de TIC, tendo

uma estrutura produtiva bastante diversificada voltada à produção de eletroeletrônicos, ainda que

a maior parte das firmas existentes nessa cidades sejam multinacionais, que realizam

transferência tecnológica com suas sedes no exterior, não desenvolvendo, portanto, P&D e

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inovações no país; agora, em Curitiba, a classe econômica com maior participação de

estabelecimentos do setor de TIC é a de reparação e manutenção de computadores e

equipamentos periféricos (51,5%), assemelhando-se à estrutura produtiva do setor existente na

cidade de São Paulo, muito embora, a importância no nível de especialização e no total do

emprego dessa área seja maior.

Foram também encontradas 4 aglomerações produtivas muito importantes para as

respectivas regiões em que situam – microrregião e estado, por exemplo – em função do elevado

índice de especialização (QL>2); no entanto, são menos importantes para a estrutura produtiva

brasileira, uma vez que a participação relativa ao emprego no município é menor que 2,5% para o

Brasil. Essas aglomerações foram chamadas de vetores de desenvolvimento local, e são

mostradas na TABELA 13.

TABELA 13. Classes do setor de TIC nos municípios brasileiros identificados na categoria vetor de desenvolvimento local. Ano: 2009.

Código Município

Municípios Classes de Atividade Econômica do Setor de TIC (CNAE 2.0 - 4 dígitos)

Nº de Estabelecimentos

2610-8 Fabricação de Componentes Eletrônicos 4 2621-3 Fabricação de Equipamentos de Informática 27 2622-1 Fabricação de Periféricos e Equipamentos de Informática 6

2631-1 Fabricação de Equipamentos Transmissores de Comunicação

2

2632-9 Fabricação de Aparelhos Telefônicos e Outros Equipamentos de Comunicação

1

2651-5 Fabricação de Aparelhos e Equipamentos de Medida, Teste e Controle

1

3312-1 Manutenção e Reparação de Equipamentos Eletrônicos e Ópticos

1

9511-8 Reparação e Manutenção de Computadores e Equipamentos Periféricos

5

9512-6 Reparação e Manutenção de Equipamentos de Comunicação

2

291360 Ilhéus (BA)

Total dos Estabelecimentos do Setor de TIC 49 2610-8 Fabricação de Componentes Eletrônicos 66 2621-3 Fabricação de Equipamentos de Informática 8 2622-1 Fabricação de Periféricos e Equipamentos de Informática 5

2631-1 Fabricação de Equipamentos Transmissores de Comunicação

13

2632-9 Fabricação de Aparelhos Telefônicos e Outros Equipamentos de Comunicação 9

315960 Santa Rita do Sapucaí (MG)

2651-5 Fabricação de Aparelhos e Equipamentos de Medida, Teste e Controle

6

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47

9511-8 Reparação e Manutenção de Computadores e Equipamentos Periféricos

2

9512-6 Reparação e Manutenção de Equipamentos de Comunicação 1

Total dos Estabelecimentos do Setor de TIC 110 2610-8 Fabricação de Componentes Eletrônicos 7 2622-1 Fabricação de Periféricos e Equipamentos de Informática 2

2631-1 Fabricação de Equipamentos Transmissores de Comunicação

3

2632-9 Fabricação de Aparelhos Telefônicos e Outros Equipamentos de Comunicação

6

2651-5 Fabricação de Aparelhos e Equipamentos de Medida, Teste e Controle

5

9511-8 Reparação e Manutenção de Computadores e Equipamentos Periféricos

18

9512-6 Reparação e Manutenção de Equipamentos de Comunicação

3

353440 Osasco (SP)

Total dos Estabelecimentos do Setor de TIC 44 2610-8 Fabricação de Componentes Eletrônicos 9 2622-1 Fabricação de Periféricos e Equipamentos de Informática 2

2651-5 Fabricação de Aparelhos e Equipamentos de Medida, Teste e Controle

5

3312-1 Manutenção e Reparação de Equipamentos Eletrônicos e Ópticos

1

9511-8 Reparação e Manutenção de Computadores e Equipamentos Periféricos

2

9512-6 Reparação e Manutenção de Equipamentos de Comunicação

1

430920 Gravataí

(RS)

Total dos Estabelecimentos do Setor de TIC 20 Fonte: Elaboração da autora a partir da base de dados da RAIS Empresa (Ministério do Trabalho) - 2009.

Dentre quatro municípios identificados na categoria vetor de desenvolvimento local, três

deles são municípios com forte vocação industrial: em Ilhéus, destaca-se a fabricação de

equipamentos de informática, o que corresponde a 55,1% dos estabelecimentos do setor de TIC

do município, ainda que esse município seja considerado responsável apenas pela montagem de

equipamentos eletrônicos; em Santa Rita do Sapucaí, temos 60% dos estabelecimentos do setor

de TIC são de fabricação de componentes eletrônicos; por fim, em Gravataí, 45% dos

estabelecimentos do setor de TIC são de fabricação de componentes eletrônicos. Essas indústrias

são altamente dependentes de outras atividades econômicas, como aquelas relativas à

manutenção e reparação para esses setores. Diferentemente dos demais, em Osasco, encontramos

a maior parte dos estabelecimentos envolvidos com a reparação e manutenção de computadores e

equipamentos periféricos.

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48

Foi encontrado um município que possui elevado peso na participação do emprego no

setor de TIC para o Brasil, ou seja, a participação relativa é maior que 2,5%; entrementes, a

estrutura produtiva não apresenta grau de especialização tão elevado (1<QL≤2). Nessa categoria,

que foi denominada como vetores avançados, encontramos uma importante região metropolitana

brasileira, em que se verifica elevada densidade industrial e pequeno grau de especialização

produtiva, como mostra a TABELA 14.

TABELA 14. Classes do setor de TIC no município brasileiro identificado na categoria vetores avançados. Ano: 2009.

Código Município

Municípios Classes de Atividade Econômica do Setor de TIC

(CNAE 2.0 - 4 dígitos) Nº de

Estabelecimentos

2610-8 Fabricação de Componentes Eletrônicos 191

2621-3 Fabricação de Equipamentos de Informática 26

2622-1 Fabricação de Periféricos e Equipamentos de Informática 73

2631-1 Fabricação de Equipamentos Transmissores de Comunicação

33

2632-9 Fabricação de Aparelhos Telefônicos e Outros Equipamentos de Comunicação

34

2651-5 Fabricação de Aparelhos e Equipamentos de Medida, Teste e Controle

149

3312-1 Manutenção e Reparação de Equipamentos Eletrônicos e Ópticos

45

9511-8 Reparação e Manutenção de Computadores e Equipamentos Periféricos

665

9512-6 Reparação e Manutenção de Equipamentos de Comunicação 43

355030 São Paulo

(SP)

Total dos Estabelecimentos do Setor de TIC 1259 Fonte: Elaboração da autora a partir da base de dados da RAIS Empresa (Ministério do Trabalho) - 2009.

Em São Paulo, município em que encontramos a participação as classes de atividade

econômica identificadas como pertencentes ao setor de TIC e identificado como vetor avançado,

aquela que conta com maior participação no total de estabelecimentos é a de reparação e

manutenção de computadores e equipamentos periféricos com 665, o que corresponde a 52,8%

do total. A grande quantidade de empreendimentos desse tipo pode estar relacionada à existência

de um setor de TIC como atividade de suporte a outras atividades econômicas de maior

importância para a cidade, como aquelas relativas ao comércio e de serviços bancários.

Nesse município, apesar da baixa participação relativa dos estabelecimentos de

fabricação de componentes eletrônicos e fabricação de aparelhos e equipamentos de medida, teste

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49

e controle no total do setor de TIC, respectivamente, 15,2% e 11,8%, existe uma grande

quantidade de estabelecimentos dessas classes de atividade econômica, o que mostra ainda a

vocação desse município como importante pólo industrial brasileiro, apesar da estrutura

produtiva em transação.

Por fim, uma última categoria é a que foi chamada de embrião de arranjo produtivo, que

envolve aglomerações de empresas, diga-se, em fase embrionária ou decadente. Em ambos os

casos, o município identificado apresenta baixos indicadores de importância na estrutura local e

também para o Brasil; dessa forma, a participação no total do emprego do setor de TIC . Em

virtude do elevado rigor dos filtros utilizados, essa categoria ficou pouco numerosa em termos de

quantidade de casos. Com uma pequena atenuação nos filtros, por exemplo, redução do filtro de

QL de 1 para 0,5 e do número de estabelecimentos de 10 para 5, certamente contribuiria para a

elevação do número de casos nessa categoria (aumentando de 1 para 19 casos). Na TABELA 15,

a seguir, é apresentado o município identificado na categoria embrião de arranjo produtivo.

TABELA 15. Classes do setor de TIC no município brasileiro identificado na categoria embrião de arranjo produtivo. Ano: 2009.

Código Município

Municípios Classes de Atividade Econômica do Setor de TIC (CNAE 2.0 - 4 dígitos)

Nº de Estabelecimentos

2610-8 Fabricação de Componentes Eletrônicos 8

2622-1 Fabricação de Periféricos e Equipamentos de Informática 2

2651-5 Fabricação de Aparelhos e Equipamentos de Medida, Teste e Controle

3

3312-1 Manutenção e Reparação de Equipamentos Eletrônicos e Ópticos

7

9511-8 Reparação e Manutenção de Computadores e Equipamentos Periféricos

20

9512-6 Reparação e Manutenção de Equipamentos de Comunicação

5

311860 Contagem

(MG)

Total dos Estabelecimentos do Setor de TIC 45 Fonte: Elaboração da autora a partir da base de dados da RAIS Empresa (Ministério do Trabalho) - 2009.

Na cidade de Contagem, em Minas Gerais, identificada como embrião de arranjo

produtivo, dentre as classes de atividade econômica de maior interesse para a região encontra-se a

reparação e manutenção de computadores e equipamentos periféricos que corresponde a 44,4%

dos estabelecimentos do município envolvidos com essa atividade, que é uma atividade com

baixo potencial inovativo e relacionada normalmente à atividade de serviços varejista, o que pode

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50

nos levar a supor a presença de um baixo potencial de crescimento para o setor de TIC nessa

região.

Com esses resultados alcançados, na seção seguinte faremos as considerações finais, na

qual analisaremos os resultados obtidos e problemas metodológicos envolvidos na utilização

desse indicador para a identificação das economias de aglomeração ou, ao menos a princípio, de

aglomerações produtivas importantes para o setor de TIC.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As TICs são o principal instrumento de difusão da informação e conhecimento na nova

dinâmica econômica que se convencionou chamar de Economia do Conhecimento, na qual a

produção e os serviços são baseados em atividades intensivas em conhecimento que contribuem

para o aumento da capacidade inovativa das firmas, tornando-as mais competitivas nos mercados

em que atuam. Esse diferencial competitivo, contudo, também pode ser estimulado, mesmo em

setores de alto conteúdo tecnológico como o de TIC, por meio do conhecimento tácito, que não

podem ser codificados e, por isso, exigem que existam interações entre os agentes produtivos de

uma mesma localidade, mobilizando e protegendo capacitações específicas, permitindo-se que

essas estruturas se organizem sob a forma de arranjos e sistemas produtivos e/ou inovativos

locais.

A principal característica desses tipos de organização, que nesse trabalho são

classificadas como economias de aglomeração, é que essas estruturas possuem tanto uma

dimensão geográfica quanto, uma setorial. A primeira permite a interação entre os agentes em

âmbito local em diversos níveis – podendo evoluir desde a relação entre compradores e

vendedores em uma cadeia produtiva até a organização de governanças de produtores locais –; ao

passo que a segunda é responsável pelo grau de especialização setorial da atividade desenvolvida,

orientando a tomada de decisão desses produtores. Para o caso do setor de TIC, que apresenta

uma estrutura verticalizada de interação entre os seus diversos segmentos, levando-nos a

presumir, que apesar da elevada dependência tecnológica entre as partes, a transferência

Page 65: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

51

tecnológica se dá por meio de processos de compra e venda, o que contraria a idéia de

cooperação entre os agentes em âmbito local, especialmente a interação horizontal – que ocorre

entre os concorrentes –, que é tão difundida entre os diversos estudos sobre aglomerações

produtivas.

Embora seja possível identificar economias de aglomeração para o setor de TIC – o que

foi evidenciado pelos resultados da pesquisa que foram apresentados –, essas se organizam em

função da presença de infra-estrutura e incentivos governamentais a conformação desse tipo de

estrutura produtiva localizada. A troca de conhecimento tácito ocorre normalmente por

intermédio do intercâmbio de profissionais especializados existentes nessas localidades em

função da presença, muitas vezes, de instituições de ensino de excelência, nas quais nascem

muitas dessas empresas – fruto das incubadoras de empresas – e com as quais estabelecem

principalmente parcerias em P&D.

Essas peculiaridades das economias de aglomeração incentivaram à promoção de

políticas de desenvolvimento no Brasil a partir dos anos de 1990. No entanto, para o setor de TIC

brasileiro no qual, conforme dados apresentados na análise descritiva, observa-se a expansão do

número de firmas inovativas, do seu faturamento e do número de profissionais qualificados, a

despeito da redução dos gastos em atividades inovativas, dentre as quais se inclui P&D, que pode

estar atrelado ao baixo grau de investimento em projetos de inovação em produto e/ou processo,

que está sendo substituído pelo investimento em inovação organizacional e/ou de marketing – o

que pode ser causa do déficit das exportações líquidas devido à perda de mercado para economias

mais inovativas no setor em termos de produtos e/ou processos e, consequentemente, mais

competitivas internacionalmente – é necessário que essas políticas estejam voltadas às estratégias

de desenvolvimento industrial, científico e tecnológico com um enfoque setorial e que haja um

melhor controle na concessão de incentivos às empresas.

No âmbito das políticas do Governo Federal, as políticas destinadas a esse tipo de

organização produtiva enquadram-se nos Sistemas Nacionais de Inovação, que se materializa sob

a forma justamente de instrumentos de incentivo fiscal e financiamento público à geração de

atividades inovativas e estímulos às parcerias entre universidades e empresas.

Page 66: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

52

A fim de que se aperfeiçoem os esforços na elaboração de políticas públicas com

enfoque regional no país e, não somente nacional, esse estudo esforçou-se em realizar um estudo

empírico de identificação de economias de aglomeração para o setor de TIC. Por falta de um

instrumento de identificação próprio aos setores de alta tecnologia, empregou-se nesse estudo o

Industry Prospection Method (IPM), que busca identificar e caracterizar aglomerações

geográficas de empresas de menor porte por meio do Gini Locacional (GL), que indica a

concentração relativa de um determinado setor em uma área geográfica, e o Quociente

Locacional (QL), que mede o grau de especialização de um setor, para a identificação e limitação

geográfica de aglomerações produtivas, aplicando-se filtros de controle que envolve

requerimentos sobre o número de empresas e sobre a participação relativa do emprego da

atividade econômica por municípios em relação ao país.

É preciso considerar que ainda não podemos dizer que de fato essas correspondem de

fato as categorias que identificamos como economias de aglomeração, haja vista que isso exige a

elaboração de estudos de casos específicos para cada uma das regiões. Apesar disso, os resultados

darão indícios de quais são os municípios onde podem existir essas estruturas consolidadas, ainda

incipientes ou com potencial para desenvolvimento, o que, nessa última situação, exigiria a

implantação de políticas públicas para o seu desenvolvimento.

Nesse estudo, foi possível identificar oito municípios, nos quais potencialmente podem

se originar sistemas nacionais de inovação, sendo classificados conforme tipologia empregada

por Suzigan et all (2004), estão listados a seguir: Manaus e Curitiba (núcleos de desenvolvimento

setorial-regional, em que QL é maior que 2 e a participação do município no total do emprego do

setor é maior que 2,5%, indicando elevado nível de especialização e emprego na região); Ilhéus,

Santa Rita do Sapucaí, Osasco e Gravataí (vetores de desenvolvimento local, nos quais existem

elevados índices de especialização (QL>2); no entanto, são menos importantes para a estrutura

produtiva brasileira, uma vez que a participação relativa ao emprego no município é menor que

2,5% para o Brasil); São Paulo (vetor avançado, a participação relativa no total do emprego no

país é elevada, sendo maior que 2,5%; entrementes, a estrutura produtiva não apresenta grau de

especialização tão elevado, 1<QL≤2); e, Contagem (embrião de arranjo produtivo, no qual a

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53

participação do emprego do município em relação ao país é menor que 2,5%, caracterizando

pequena participação no total do emprego, e incipiente especialização produtiva, 1<QL≤2).

Dentre os resultados apresentados, devemos relativizar o caso de São Paulo, enquadrado

na categoria de vetor avançado. Nessa cidade, embora o setor de TIC nessa cidade seja

importante para o país em termos do número de empregos gerados, não existe um nível elevado

de especialização produtiva nesse tipo de atividade. A grande dimensão espacial do território do

município e o posicionamento de São Paulo como economia global pode inviabilizar a

cooperação entre as firmas em nível local, até mesmo no que concerne as trocas de experiência

entre os profissionais empregados, já que profissionais do mundo todo são atraídos para atuar

nesse município e, consequentemente, o papel de instituições de ensino e pesquisa no município

no fornecimento de profissionais qualificados torna-se menos relevante. Poderíamos considerar,

portanto, essa tipologia de vetor avançado como uma categoria antitética dentro da conceituação

de economias de aglomeração.

Outro problema dessa metodologia, encontra-se na classificação das atividades

econômicas do banco de dados. Embora Manaus tenha sido identificado como núcleo de

desenvolvimento setorial-regional e Ilhéus, como vetor de desenvolvimento local, essas regiões

são pólo conhecidamente de indústrias maquiladoras, ou seja, áreas nas quais empresas

multinacionais instalam-se para montar seus produtos e comercializar no mercado nacional a

custos menores do que aqueles de importação de produtos. Essas empresas fazem uso de mão-de-

obra pouco qualificada e implantando no país uma atividade baseada em baixo conteúdo

tecnológico, que não identificado pela classe de atividade econômica da CNAE 2.0 que as

enquadram como fabricantes de produtos industriais e, não como montadoras, o que pode

deturpar a percepção que se tem da atividade do setor de TIC na região.

Mesmo assim, esses resultados, ainda que preliminares, pois essa metodologia exige

maiores ajustes à aplicação em setores de alta tecnologia, pode inspirar a realização de estudos de

casos que caracterizem melhor os municípios identificados, apresentando as principais lacunas ao

desenvolvimento econômico dessas áreas dentro da concepção de sistemas de inovação, o que

pode contribuir positivamente para a formulação de políticas públicas.

Page 68: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

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APÊNDICE

APÊNDICE 1

Equivalências entre CNAE, CNAE 1.0 e CNAE 2.0

A tabela de correspondência, a seguir, indica, para cada classe da CNAE e CNAE 1.0, o

correspondente código (ou códigos) na estrutura da CNAE 2.0. O asterisco (*) precedendo o

código na CNAE 2.0 (segunda coluna) indica que somente uma parte do seu conteúdo está

presente nesta específica correspondência, ou seja, as atividades compreendidas na classe com

asterisco (*) distribuem-se por mais de uma classe nas versões CNAE e 1.0. Na coluna

Observações é descrito o conteúdo da parte envolvida na correspondência.

CNAE CNAE 1.0 CNAE 2.0

Código Denominação Código Denominação Código Denominação Observações

- Não existia 32.10-7 Fabricação de material eletrônico básico

26.10-8 Fabricação de componentes eletrônicos

- Não existia 30.21-0 Fabricação de computadores

26.21-3* Fabricação de equipamentos de informática

Fabricação de computadores.

- Não existia 30.22-8

Fabricação de equipamentos periféricos para máquinas eletrônicas para tratamento de informações

26.22-1*

Fabricação de periféricos para equipamentos de informática

Fabricação de periféricos para equipamentos de informática.

32.21-2* 32.21-2

Fabricação de equipamentos transmissores de rádio e televisão e de equipamentos para estações telefônicas, para radiotelefonia e radiotelegrafia - inclusive de microondas e repetidoras

26.31-1

Fabricação de equipamentos transmissores de comunicação

Exceto manutenção e reparação de equipamentos transmissores de rádio e televisão e de equipamentos para estações telefônicas, para radiotelefonia e radiotelegrafia - inclusive de microondas e repetidoras.

Page 73: Identificação de Aglomerações Produtivas de Tecnologia da Informação e Comunicação no Brasil e as Políticas de Incentivo a essas Estruturas Produtivas pelo Governo Federal

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32.22-0**

32.22-0

Fabricação de aparelhos telefônicos, sistemas de intercomunicação e semelhantes

26.32-9*

Fabricação de aparelhos telefônicos e de outros equipamentos de comunicação

*Exceto a manutenção de telefones; ** Exceto manutenção e reparação de aparelhos telefônicos, sistemas de intercomunicação e semelhantes.

33.20-0**

33.20-0

Fabricação de aparelhos e instrumentos de medida, teste e controle - exceto equipamentos para controle de processos industriais

26.51-5*

Fabricação de aparelhos e equipamentos de medida, teste e controle

*Exceto a fabricação de termômetros médicos; ** Exceto manutenção e reparação de aparelhos e instrumentos de medida, teste e controle - exceto equipamentos para controle de processos industriais.

33.10-3**

33.91-0

Manutenção e reparação de equipamentos médico-hospitalares, odontológicos e de laboratório

33.12-1*

Manutenção e reparação de equipamentos eletrônicos e ópticos

*Manutenção e reparação de equipamentos eletrônicos para uso médico-hospitalares, odontológicos e de laboratório; ** Manutenção e reparação de aparelhos e instrumentos para usos médico-hospitalares, odontológicos e de laboratórios e aparelhos ortopédicos.

- Não existia 72.50-8

Manutenção e reparação de máquinas de escritório e de informática

95.11-8

Reparação e manutenção de computadores e de equipamentos periféricos

32.22-0**

32.90-5

Manutenção e reparação de aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de transmissores de televisão e rádio - exceto telefones

95.12-6*

Reparação e manutenção de equipamentos de comunicação

*Exceto a manutenção de telefones; ** Manutenção e reparação de sistemas de intercomunicação e semelhantes.

Fonte: Elaborado pela própria autora a partir de informações da CONCLA/MPOG e IBGE.