aglomeraÇÕes produtivas ou clusters industriais na indÚstria de transformaÇÃo da regiÃo sul?

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A busca de alternativas de crescimento econômico em momentos restritivos da economia nacional einternacional tem sido uma preocupação marcante nos últimos anos. Aposta-se na busca de um novopadrão de crescimento econômico para Estados e municípios que poderão se beneficiar dasexperiências históricas da região de desenvolvimento que vem sendo denominada de Arco Alpino,cujas principais áreas têm apresentado os melhores resultados de crescimento do PIB per capita e dastaxas de emprego entre as macrorregiões européias. Trata-se de um grupo de empresas altamenteconcentradas do ponto de vista geográfico, que trabalham direta ou indiretamente, para o mesmomercado final; que compartilham valores e conhecimentos tão importantes que definem um ambientecultural; e que são especificamente interligados num mix de competição e cooperação. É o que aliteratura tem denominado de Clusters. A existência dos chamados clusters parece ser o estágio maisavançado de um desenvolvimento produtivo que têm aparecido na literatura seguindo uma “ordem”percebida de forma relativamente clara, qual seja: uma aglomeração especializada; um arranjoprodutivo local; um sistema local de produção e, finalmente, um cluster. O objetivo do estudo é tentarentender objetivamente os conceitos principais a cada uma das fases supracitadas. Num segundomomento, fazer uma breve revisão quanto aos aspectos metodológicos envolvidos no presente tema,tendo em vista a pretensão de realizarmos uma tentativa de identificação de clusters industriais naindústria de transformação da região sul. A questão central é: os aglomerados industriais do sul doBrasil podem ser classificados como clusters? Em que divisões eles se concentram? Em que municípioseles estão localizados?

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  • EDITORIAL Perspectivas Contemporneas Faculdade Integrado Campo Mouro Paran Brasil Av. Irmos Pereira, 670, Centro Fone: 55 44 3523 1982 CEP: 87301-010 Editor Chefe Patrcia Regina Cenci Queiroz Editor de Reviso e Correo Ana Paula Previate Widerski Editor de Lngua Estrangeira Aparecida da Penha dos Santos Fernanda Scheibel Bispo Editor de normalizao Vinicius Ortiz de Camargo Editor Externo Luciana Aparecida Bastos Emanulle Torino Editor de Layout Mrcia Regina Ferri Projeto Grfico e Edio Final Emanuelle Torino Mrcia Regina Ferri Patrcia Regina Cenci Queiroz Suporte Tcnico Jos Leandro Xavier [email protected]

    Perspectivas Contemporneas

    Its a brave new world, diria Aldous Huxley em sua clebre obra, e certamente admirvel , este mundo. Este novo mundo, modificado de forma acelerada nos dois ltimos sculos, tornou-se, ao mesmo tempo, uma arena de desafios e oportunidades tanto para as cincias quanto para os empreendimentos humanos. lcito afirmar que a cincia tem modificado o mundo e os efeitos destas mudanas trouxeram simultaneamente solues e problemas para a humanidade.

    uma era de paradoxos, parafraseando Charles Handy, na qual pode-se, ao mesmo tempo, verificar os benefcios inegveis da tecnologia nas reas da sade, comunicaes, educao e transportes e, em contraposio, os problemas causados nas mesmas reas tm igual ou maior impacto.

    Para explicar as relaes existentes entre os artigos do presente nmero da revista, preferi classific-los em trs eixos principais: i) problemtica scio-ambiental; ii) negcios; e iii) tecnologia.

    No primeiro eixo, scio-ambiental, enquadram-se o artigo de SILVA e CORONEL, sobre os movimentos ambientais e o artigo Desenvolvimento humano em municpios gachos [...] de FROEHLICH e NEUMANN, que demonstram dois campos de estudos que, embora muito abordados ultimamente, ainda carecem de contribuies como estas para o entendimento desta interao entre sociedade e ambiente, to antiga na convivncia, mas grande novidade como rea de estudos nas cincias sociais.

    Como representantes do segundo eixo, esto os artigos de SANTOS e SAAVEDRA, sobre negociaes, GONALVES e RAIHER, sobre concesses rodovirias, MACIEL, da rea de estratgia, GALEANO e MATA, representante da rea de finanas. Estes artigos, quando lidos e classificados como presentes em uma linha de raciocnio, tm o grande mrito de demonstrar a grande diversidade de temas que podem ser discutidos na rea de organizaes e, mais especificamente, sobre empresas. Esta diversidade que depe a favor do, j antigo, alerta sobre o aumento da complexidade das operaes dos setores produtivos, e em ltima instncia, impactando em inevitvel aumento da complexidade da vida humana na sociedade de consumo atual.

    Restam ainda os artigos de JESUS e PERIOTO, que mesclam os dois eixos anteriores, apresentando uma viso sobre a interface existente empreendedorismo e meio-ambiente, mediada pela tecnologia e o artigo de RIBEIRO, ZABADAL e FREITAG, sobre os custos de emprego de tecnologias de segurana no mundo virtual, como respostas s ameaas que diariamente rondam este ambiente.

    Desta forma, novamente, a revista Perspectivas Contemporneas faz jus a seu ttulo e a sua linha editorial, apresentando artigos de qualidade e que efetivamente contribuem para o fomento s discusses e ao esclarecimento dos temas que concernem a estes assuntos.

    Boa leitura.

    Rogrio Silveira Tonet

    Coordenador de Extenso da Faculdade Integrado, administrador com especializaes em Recursos Humanos e Marketing, Mestre em Administrao pela Universidade Federal do Paran (2004).

  • Perspec. Contemp., Campo Mouro, v. 2, n. 2, p. 44-78, jul./dez. 2007.

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    AGLOMERAES PRODUTIVAS OU CLUSTERS INDUSTRIAIS NA INDSTRIA DE TRANSFORMAO DA REGIO SUL?

    Rinaldo Aparecido Galeti (1) Faculdades Nobel, Maring PR

    RESUMO A busca de alternativas de crescimento econmico em momentos restritivos da economia nacional e internacional tem sido uma preocupao marcante nos ltimos anos. Aposta-se na busca de um novo padro de crescimento econmico para Estados e municpios que podero se beneficiar das experincias histricas da regio de desenvolvimento que vem sendo denominada de Arco Alpino, cujas principais reas tm apresentado os melhores resultados de crescimento do PIB per capita e das taxas de emprego entre as macrorregies europias. Trata-se de um grupo de empresas altamente concentradas do ponto de vista geogrfico, que trabalham direta ou indiretamente, para o mesmo mercado final; que compartilham valores e conhecimentos to importantes que definem um ambiente cultural; e que so especificamente interligados num mix de competio e cooperao. o que a literatura tem denominado de Clusters. A existncia dos chamados clusters parece ser o estgio mais avanado de um desenvolvimento produtivo que tm aparecido na literatura seguindo uma ordem percebida de forma relativamente clara, qual seja: uma aglomerao especializada; um arranjo produtivo local; um sistema local de produo e, finalmente, um cluster. O objetivo do estudo tentar entender objetivamente os conceitos principais a cada uma das fases supracitadas. Num segundo momento, fazer uma breve reviso quanto aos aspectos metodolgicos envolvidos no presente tema, tendo em vista a pretenso de realizarmos uma tentativa de identificao de clusters industriais na indstria de transformao da regio sul. A questo central : os aglomerados industriais do sul do Brasil podem ser classificados como clusters? Em que divises eles se concentram? Em que municpios eles esto localizados? PALAVRAS-CHAVE: Aglomeraes industriais. Clusters. Indstria de Transformao. PRODUCTIVE AGGLOMERATION OR INDUSTRIAL CLUSTERS IN THE SOUTH REGION INDUSTRY OF TRANSFORMATION?

    ABSTRACT The seek of alternatives to the economic growth, in specifics moments from the national and international economy, has been a present concerning during the last years. Its trying to find a new standard of economic growth in the states and cities which can receive benefits from the historical experiences of the region of developing that is called Arco Alpino, which the main areas have showed the best results of the PIB and the job taxes between the Europe macro regions. Its related to a group of companies located in a small space in the geographic point of view, that work direct or indirectly, to the same final market, that share values and knowledge so important who defines a cultural environment; and they are specifically interconnected in a mix of competition and cooperation. This is an example what some books call clusters. The existence of these clusters seem to be the highest level of productive development which has appeared in books following an order perceived in a kind of clear way, that is: an specialized agglomeration; a local productive arrange; a productive local system, and finally, a cluster. The objective of this study is try to understand the principles concepts of each one of the phases mentioned before. In a second moment, to make a brief review of the methodological aspects involved in the present theme, having as a point of view accomplish an attempt of identifying the industry clusters in the south region industry of transformation. The principle matter is: Can the agglomeration industry of Brazil be classified as clusters? In which section are they? In which cities are they located? KEYWORDS: Industry agglomeration; Clusters; Industry of transformation.

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    INTRODUO

    A busca de alternativas de crescimento econmico em momentos restritivos da

    economia nacional e internacional tem sido uma preocupao marcante nos ltimos

    anos. Destaca-se, na literatura contempornea, a necessidade de buscar um padro

    de crescimento para a nossa economia que seja compatvel com a nova realidade da

    economia brasileira, cada vez mais globalizada, mais privatizada e mais

    desregulamentada; consistente com os compromissos assumidos pelo Estado com os

    princpios da responsabilidade fiscal e financeira e vivel num Estado e num pas

    que iro viver, durante os prximos anos, num contexto de fortes restries

    oramentrias (HADDAD, 2005, p. 1).

    Aposta-se, agora, na busca de um novo padro de crescimento econmico

    para Estados e municpios que podero se beneficiar das experincias histricas da

    regio de desenvolvimento que vem sendo denominada de Arco Alpino, cujas

    principais reas (Centro e Nordeste da Itlia; Baviera e Baden-Wurttenberg, da

    Alemanha; e Rhnes-Alpes da Frana) tm apresentado os melhores resultados de

    crescimento do PIB per capita e das taxas de emprego entre as macrorregies

    europias. Geralmente, o que se busca nesse novo padro de desenvolvimento

    transformar arranjos e sistemas produtivos locais de micro, pequenas e mdias

    empresas (MPMEs) em agrupamentos avanados segundo o modelo do distrito

    industrial italiano. (HADDAD, 2005, p. 2)

    Trata-se de um grupo de empresas altamente concentradas do ponto de

    vista geogrfico, que trabalham direta ou indiretamente, para o mesmo mercado

    final; que compartilham valores e conhecimentos to importantes que definem um

    ambiente cultural; e que so especificamente interligados num mix de competio e

    cooperao (modelo de concorrncia com cooperao). As principais fontes de

    competitividade so os elementos de confiana, solidariedade e cooperao entre as

    empresas, um resultado de relaes muito estreitas de natureza econmica, social e

    comunitria.

    o que a literatura especializada tem denominado de Clusters Produtivos.

    No Brasil a experincia recente tem evidenciado, tanto no mbito do debate

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    acadmico quanto da formulao de polticas pblicas, e de iniciativas empresariais,

    uma grande difuso de estudos e proposies baseados na abordagem dos chamados

    Clusters Produtivos. Santos (2003) nos alerta que, Na verdade constata-se que na

    grande maioria dos casos a idia de aglomerao de empresas pouco tem haver

    propriamente com o conceito de cluster produtivo, constituindo-se em meros

    agrupamentos de firmas, unidas por nexos muito frgeis e interesses difusos. A idia

    de cluster produtivo envolve uma srie de caractersticas e condicionalidades que

    extrapolam em muito a conotao que usualmente vem se difundindo no Brasil.

    (SANTOS, 2003, p. 1)

    Segundo Santos (2003), em linhas gerais poder-se ia dizer que a literatura

    sobre cluster est sendo trabalhada na fronteira entre uma base terica baseada em

    princpios da cincia econmica, sobretudo da denominada Organizao Industrial e

    da Economia Regional e um conjunto de referncias oriundos da cincia poltica,

    antropologia e sociologia (2) das organizaes.

    Conceitualmente, a existncia dos chamados clusters produtivos parece ser o

    estgio mais avanado de um desenvolvimento produtivo que tm aparecido na

    literatura especializada seguindo uma ordem percebida de forma relativamente

    clara, qual seja: uma aglomerao especializada; um arranjo produtivo local; um

    sistema local de produo e, finalmente, um cluster.

    No presente estudo o objetivo tentar entender objetivamente os conceitos

    principais a cada uma das fases supracitadas. Num segundo momento, ainda que de

    maneira sumria, fazer uma breve reviso quanto aos aspectos metodolgicos

    envolvidos no presente tema, tendo em vista a pretenso de realizarmos, uma

    tentativa de identificao de clusters industriais na indstria de transformao da

    regio sul. A questo central : os aglomerados industriais do sul do Brasil podem ser

    classificados como clusters? O estudo est assim dividido, alm dessa introduo: a

    seo dois apresenta a fundamentao terica e os principais conceitos evolvidos no

    presente tema; na seo trs so apresentados os principais procedimentos

    metodolgicos utilizados para a realizao de mapeamento e caracterizao de

    aglomeraes industriais e, potenciais clusters produtivos, bem como uma descrio

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    das principais bases de dados utilizadas para este empreendimento; na seo quatro

    sumariza as principais concluses.

    2. FUNDAMENTAO TERICA E CONCEITOS BSICOS.

    A abordagem terica dos chamados clusters produtivos, segundo Santos (2003),

    tm sido enfatizada por anlises que se encontram fundamentadas em arcabouos

    conceituais diversos, dentre os quais merecem destaque: i) primrdios distritos

    industriais marshalianos de meados do sculo XIX; ii) os interesses da geografia

    econmica e da economia regional, iniciados na dcada de 1950, tendo a frente

    autores como Perroux (1975), Hirschman (1958), Markussen e Becatini; iii) os

    argumentos da economia neoclssica tradicional, com nfase na denominada nova

    teoria do crescimento atravs de autores como Paul Krugman (1991); iv) o enfoque

    baseado na moderna gesto de empresas, tendo como autor principal Michel Porter

    (1999); v) a contribuio dos institucionalistas, neo-shumpeterrianos e evolucionistas,

    tambm chamados de localistas, que valorizam elementos extra preo ou extra

    mercado, como o papel da inovao tecnolgica no desenvolvimento local (ex. de

    Freeman, 1994); vi) e a abordagem associativista, com nfase na relevncia na

    formao e acmulo de capital social localizado, baseada na experincia dos distritos

    industriais da Terceira Itlia, analisados pelo pesquisador Robert Putnam (2000).

    A idia seminal sobre os chamados clusters produtivos, ainda que no

    explicitamente, nos apresentada por Marshall (1982). Segundo Paiva (2004), na

    transio do sculo XIX para o XX, o economista ingls Alfred Marshall colocou-se a

    seguinte questo terica: por que em algumas regies manifesta-se uma forte

    aglomerao de empresas de um mesmo setor? Que vantagens s empresas extraem

    da proximidade com suas concorrentes? No seria mais racional que empresas

    concorrentes buscassem o maior afastamento possvel uma das outras, distribuindo-

    se de forma homognea por todo o territrio?

    A resposta de Marshall far escola. Segundo o autor, a aglomerao de uma determinada indstria ou servio em um espao regional pode ter as mais diversas origens. Mas o que origina uma aglomerao distinto do que a

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    sustenta e a faz desenvolver-se. Uma vez originada, uma aglomerao tende a se reproduzir e a se aprofundar por determinaes distintas daquelas que lhes deram origem. Contemporaneamente, toda uma vertente da Economia voltada ao estudo do desenvolvimento regional sistematizou os momentos marshallianos do desenvolvimento das aglomeraes produtivas em novas categorias. O primeiro momento o da aglomerao. Uma vez constituda, ela tende a se desenvolver, deixando de ser uma mera aglomerao, e passa a ser um arranjo produtivo. E quando o arranjo produtivo toma conscincia de si e coordena racionalmente o seu desenvolvimento, ele se transforma em um sistema local de produo (SLP) [ou clusters produtivos]. (PAIVA, 2004, p.14, Grifos nossos)

    Entretanto, a definio conceitual dessas novas categorias at chegar-se ao

    conceito acabado de cluster produtivo no tarefa trivial, nem isenta de

    controvrsias. Suzigan (2002) destaca que:

    Esses sistemas, como se sabe, podem ter configuraes e abordagens variadas, abrangendo clusters (aglomeraes industriais, agroindustriais ou de servios), distritos industriais, aglomeraes de pequenas empresas (em setores especficos, ou redes de PEs, ou ainda PEs em rede de fornecedores de grandes empresas), e sistemas locais de inovao. (SUZIGAN, 2002, p.32, grifos nossos)

    Para PAIVA (2004):

    A especializao de um stio (que pode ser uma rua de um bairro, um bairro de uma cidade, uma cidade de uma regio, ou uma regio de um estado) em uma atividade o que chamamos de aglomerao. Desde o incio ela se torna um fator de atrao de compradores e de fornecedores para aquela regio. Se para pequenas compras pode no valer a pena se deslocar at o local onde se encontra o maior nmero de produtores e/ou vendedores, grandes compras no podem ser feitas sem levantamento de preos. E os stios especializados so o local de preferncia para qualquer levantamento de preos. O que significa dizer que as firmas que no se localizarem naquele stio podem perder visitas e clientes importantes, decididos a comprar em grande quantidade. Assim como para os clientes, para os fornecedores mais fcil visitar as firmar que se encontram concentradas em determinado espao do que aquelas dispersas no territrio. De forma que as firmas que fazem parte da aglomerao so as primeiras a conhecer e a poder incorporar as novidades, as inovaes, seja em matrias primas, seja em maquinrio, seja em processos ou em produtos finais, desde que estas inovaes sejam comercializveis e contem com representantes. Na medida em que a aglomerao cresce, ela passa a atrair para o entorno os produtores das principais matrias primas e insumos utilizados pelas empresas que a compe. O que induz mais firmas compradoras a se instalarem perto dos fornecedores. E vice versa, num crculo virtuoso sem fim pr-establecido. E onde tem muitas firmas instaladas, os melhores trabalhadores especializados vo procurar emprego. E se instalam escolas tcnicas no entorno. E se instalam firmas de assistncia

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    tcnica. E firmas especializadas em vendas dos produtos da regio (inclusive para os distantes e difceis mercados externos). (PAIVA, 2004, p. 2-3, grifos do autor)

    A existncia de uma aglomerao poderia, sob certas condies, ajudar a

    formar o que na literatura Neoclssica denominado por distritos industriais:

    O formato clssico dos sistemas produtivos locais, com processos inovativos tipicamente localizados, so os chamados distritos marshallianos, especialmente sua vertente contempornea, os distritos da Terceira Itlia, que tm merecido particular ateno na literatura de geografia econmica (Markusen 1999). Estes so caracterizados pela proximidade geogrfica, especializao setorial, predominncia de pequenas e mdias empresas (PMEs), cooperao inter-firmas, competio inter-firmas determinada pela inovao, troca de informaes baseada na confiana socialmente construda, organizaes de apoio ativas na oferta de servios e parceria estreita como o setor pblico local. Seu dinamismo inovativo decorre do fato de ser um tipo de arranjo institucional especfico e localizado, capaz de estabelecer o aprendizado coletivo interativo, que, por sua vez, alimentado e induzido no tempo pelo prprio processo de competio entre as firmas do distrito(3). (CROCCO et al, 2003, p. 8, grifos nossos)

    No podemos nos esquecer, entretanto, que os distritos marshalianos esto

    historicamente distantes do que hoje se denominam clusters e apresentam

    diferenas significativas:

    Neste sentido, um cluster diferencia-se de um distrito industrial no sentido de que este, embora possa conter formas de ao conjunta deliberada, ordinariamente no caracteriza como aglomerao de fabricantes especializados e seus agentes. Isto restringe o escopo das economias externas e limita o alcance da eficincia coletiva. Diferencia-se igualmente do conceito de aglomeraes produtivas, segundo a nova geografia econmica. Nesta as economias externas so incidentais e restritas produo, e o papel das polticas pblicas minimizado. mais prxima ao enfoque de cluster adotado por M. Porter, embora este tambm limite o papel das polticas pblicas. (SUZIGAN , 2002, p. 3)

    Especificando um pouco melhor este conceito de aglomeraes produtivas,

    derivado da nova geografia econmica, Suzigan (2002) destaca que:

    Aglomeraes produtivas, (industriais ou outras), segundo alguns enfoques, resultam de processos de causao cumulativa induzidos pela presena de economias externas geograficamente restritas, de natureza pecuniria (likages) ou tecnolgica (knowledge spillovers), e envolvem empresas que se beneficiam de retornos crescentes de escala e operam em mercados imperfeitamente competitivos (Krugman, 1998). Essas economias externas

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    podem ser contrabalanadas, a partir de certo ponto no tempo, por deseconomias externas decorrentes de limite fsicos (terra, recursos naturais), restries institucionais, congestionamento, poluio, etc. A dinmica do processo de aglomerao vai depender, obviamente, do embate dessas foras de atrao e de repulso presentes no local. (SUZIGAN, 2002, p. 4)

    O desenvolvimento daquele conjunto de crculos concntricos de firmas e

    agncias de capacitao produtiva no entorno da aglomerao, descritos por Paiva

    (2004), a transforma qualitativamente. Na realidade, j no temos aqui uma mera

    aglomerao, mas um verdadeiro arranjo produtivo local (APL). Crocco et al (2003)

    reforam que:

    (...) na medida em que clusters ou sistemas locais de produo so um produto histrico do espao social local, deve-se reconhecer o carter especfico que assumem na periferia capitalista(4). (...) Neste sentido, um grupo de autores(5) vem adotando o termo geral arranjos produtivos locais (APLs) para definir aqueles sistemas de produo local associados ao processo de formao histrico perifrico. (CROCCO et al, 2003, p. 8)

    Por exemplo, Suzigan et al (2002) argumentam que sistemas locais de produo podem ter variadas caracterizaes conforme sua histria, evoluo, organizao institucional, contextos sociais e culturais nos quais se inserem: estrutura produtiva, organizao industrial, formas de governana, logstica, associativismo, cooperao entre agentes, formas de aprendizado e grau de disseminao do conhecimento especializado local. Por isso, definir tais sistemas no tarefa trivial, nem isenta de controvrsias. Estes autores apresentam uma tentativa de definio:

    (...) que parece bastante adequada, a que foi adotada pela Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (Redesist), coordenada pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Segundo essa definio, sistemas locais de produo e inovao, [...] referem-se a aglomerados de agentes econmicos, polticos e sociais, localizados em um mesmo territrio, que apresentam vnculos consistentes de articulao, interao, cooperao e aprendizagem. Incluem no apenas empresas produtoras de bens e servios finais, fornecedores de insumos e equipamentos, prestadores de servios, comercializadoras, clientes, etc. e suas variadas formas de representao e associao mas tambm outras instituies pblicas e privadas voltadas formao e treinamento de recursos humanos, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, promoo e financiamento. (SUZIGAN et al, 2002, p. 1-2, grifos nossos)

    E complementam:

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    Adicionalmente, procurando levar em conta sistemas locais ainda no inteiramente constitudos, a Redesist adota o conceito auxiliar de arranjos produtivos locais (APLs) para denominar aglomeraes produtivas cujas articulaes entre os agentes locais no suficientemente desenvolvida para caracteriz-las como sistemas(6). (SUZIGAN et al, 2002, p. 2, grifos nossos)

    Para Suzigan et al (2002), tais aglomeraes de empresas e instituies tm

    como caracterstica essencial capacidade de gerar economias externas, incidentais

    ou deliberadamente criadas, que contribuem para o incremento da competitividade

    das empresas e, em conseqncia, do sistema(7) ou arranjo como um todo. Entretanto,

    os agentes locais (empresas e instituies) podem reforar sua capacidade

    competitiva por meio de aes conjuntas deliberadas(8) que resulta na chamada a

    eficincia coletiva, principal determinante da capacidade competitiva das

    empresas locais (SCHMITZ; NADVI, 1999).

    Crocco et al (2003) destacam que apesar de ser possvel encontrar, em pases

    da periferia capitalista, arranjos produtivos locais mais completos (organizados e

    inovativos, sendo estes ltimos os mais raros), a maior parte deles:

    (...) assume caractersticas de arranjos informais, tal como definido por Mytelka e Farinelli (2000), ou mesmo de enclaves mono-produtos. Arranjos produtivos informais, de acordo com Mytelka e Farinelli (2000: 6-7), so compostos geralmente, por PMEs, cujo nvel tecnolgico baixo em relao fronteira da indstria e cuja capacidade de gesto precria. Alm disso, a fora de trabalho possui baixo nvel de qualificao sem sistema contnuo de aprendizado. Embora as baixas barreiras entrada possam resultar em crescimento no nmero e no desenvolvimento de instituies de apoio dentro do arranjo, isto no reflete, em geral, uma dinmica positiva, como nos casos de uma progresso de capacidade de gesto; de investimentos em novas tecnologias de processo; de melhoramento da qualidade do produto; de diversificao de produtos; ou de direcionamento de parte da produo para exportaes. As formas de coordenao e o estabelecimento de redes e ligaes inter-firmas so pouco evoludas, sendo que predomina competio predatria, baixo nvel de confiana entre os agentes e informaes pouco compartilhadas. A infra-estrutura do arranjo precria, estando ausentes os servios bsicos de apoio ao seu desenvolvimento sustentado, tais como servios financeiros, centros de produtividade e treinamento. Em alguns casos, a dificuldade de integrar verticalmente e adensar a cadeia produtiva do arranjo pode resultar em arranjos constitudos por um aglomerado de empresas mono-produto, com baixo nvel de trocas e cooperao intra-arranjo(9). (CROCCO et al, 2003, p. 8-9, grifos nossos)

    Para Suzigan et al (2002), sistemas locais de inovao, por sua vez, so

    arranjos produtivos localizados, caracterizados por intensas interaes de fabricantes

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    com fornecedores e instituies de pesquisa, bem como pela presena de

    conhecimentos tcitos e especficos de natureza local, que levam a um processo de

    aprendizado coletivo e a capacitao inovativa. Uma vez que o conhecimento

    gerado e transmitido mais eficientemente quando h proximidade local, atividades

    inovativas tendem a se aglomerar geograficamente.

    J o conceito de cluster, que parece ser sinnimo de um Sistema Local de

    produo e Inovao, segundo alguns autores, remete-nos a um conceito mais amplo.

    Segundo Suzigan et al (2002):

    Clusters so aglomeraes geogrficas e setoriais de produtores especializados de bens ou servios diferenciados, cooperando entre si e com outros agentes tambm especializados (fornecedores, agentes comerciais, agentes transportadores, centros de P&D e outros). Em conjunto, beneficiam-se de economias externas, pecunirias ou tecnolgicas, derivadas no s da produo (economias externas puras, ou relacionadas a tamanho de mercado, ou existncia de mercados locais de trabalho especializado), mas tambm de atividades de distribuio, marketing, compras, servios de manuteno e outros servios especializados. Estas atividades so, em alguns casos, resultado de aes conjuntas deliberadas de produtores, fornecedores e outros agentes especializados, e levam eficincia coletiva - Schmitz, 1997. (SUZIGAN et al, 2002, p. 2-3)

    Para Suzigan et al (2002), ao se tratar do conceito de Clusters ou Sistema Local

    de Produo/Inovao:

    H trs aspectos mais relevantes: (1) a importncia das economias externas locais, cerne de toda a discusso sobre clusters ou SLPs; (2) a necessria caracterizao como aglomerao geogrfica de empresas que atuam em atividades similares ou relacionadas, e sua respectiva forma de organizao e de coordenao, e (3) os condicionantes histricos, institucionais, social e culturais que podem influir decisivamente na formao e evoluo do cluster ou SLP. O cluster ou SLP deve necessariamente caracterizar-se como uma aglomerao geogrfica de grande nmero de empresas de porte variados, com a presena significativa de pequenas empresas no integradas verticalmente, fabricantes de um mesmo tipo de produto (ou produtos similares) e seus fornecedores e prestadores de servios. Essa caracterstica estrutural determinante da diviso do trabalho entre as empresas locais, o que permite a realizao de economias de escala e de escopo independente do tamanho da empresa e, por conseqncia, da estrutura de governana do cluster. H vrias configuraes possveis(10). De todo modo, alguma forma de cooperao relaes de mercado, estrutura de governana, liderana local - est presente. E a proximidade geogrfica entre os agentes (empresas, instituies, centros de pesquisa) essencial para a coordenao, bem como para o aproveitamento das economias externas locais e a disseminao de novos conhecimentos. (SUZIGAN et al, 2002, p. 2-3).

  • Perspec. Contemp., Campo Mouro, v. 2, n. 2, p. 44-78, jul./dez. 2007.

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    Segundo Britto; Albuquerque (2002):

    (...) o conceito de cluster refere-se emergncia de uma concentrao geogrfica e setorial de empresas, a partir da qual so geradas externalidades produtivas e tecnolgicas.(11) Argumenta-se que partindo da idia simples de que as atividades empresariais raramente encontram-se isoladas, o conceito de cluster busca investigar atividades produtivas e inovadores de forma integrada questo do espao e das vantagens de proximidade. Ao se apoiarem mutuamente, os agentes integrados a estes arranjos conferem vantagens competitivas ao nvel industrial para uma regio particular, permitindo explorar diversas economias de aglomerao. (BRITTO; ALBUQUERQUE, 2002, p. 72)

    Segundo Holanda (1975, p. 207-208), as economias de aglomerao so de

    particular importncia para as indstrias bsicas que dependem de um grande

    nmero de indstrias subsidirias ou de empresas subcontratantes (ex. indstria

    automobilstica) ou que tm problemas especiais de manuteno e servios

    auxiliares. Pode-se considerar como economias de aglomerao aqueles benefcios

    coletivos de que desfrutam as indstrias em decorrncia de sua concentrao em

    determinado local. Essas economias so de dois tipos: economias de localizao e

    economias de urbanizao.

    As economias de localizao so aquelas economias externas criadas pela

    aglomerao industrial preexistente de que se beneficia a nova indstria que se

    instala, em termos de acesso a mo-de-obra j treinada e a facilidades comuns para

    pesquisa e comercializao, proximidade de indstria de equipamentos,

    fornecedores de partes e componentes, servios de reparo e manuteno,

    possibilidades de maior diviso de trabalho e especializao industrial. Essas

    economias de localizao tendero a ser mais importantes nos casos de pequenas

    empresas ou de indstrias com elevado grau de interdependncia setorial (linkages).

    As economias de urbanizao correspondem quelas vantagens decorrentes da

    localizao em uma rea industrial ou metropolitana, em termos de disponibilidade

    de infra-estrutura de transportes, energia, gua, comunicaes, instituies

    educacionais e de pesquisas e facilidades culturais e recreativas(12).

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    Na literatura pertinente ao presente tema, independente do conceito ou da

    linha terica que se assuma, mesmo entre aquelas mais ortodoxas, parece haver

    um consenso no sentido de que:

    (...) Mesmo sob a forma de arranjos produtivos informais ou enclaves mono-produtos, estes arranjos se beneficiam da dimenso passiva da eficincia coletiva(13). (...) mesmo em arranjos produtivos informais, as firmas tomam parte no processo de aprendizado coletivo localizado e podem explorar economias externas de escala. Como resultado, mesmo em suas formas mais incompletas, os arranjos produtivos possuem impactos significativos sobre o desempenho das firmas, notadamente pequenas e mdias, e na gerao de empregos. Por isso, os arranjos produtivos tm sido considerados uma importante forma de promover o desenvolvimento econmico. (CROCCO et al, 2003, p. 9)

    Segundo Britto; Albuquerque (2002), apesar da cooperao produtiva e/ou

    tecnolgica no ser um requisito necessrio para a consolidao destes clusters,

    supe-se que a estruturao dos mesmos estimula um processo de interao local

    que viabiliza o aumento da eficincia produtiva, criando um ambiente propcio

    elevao da competitividade dos agentes. O recorte analtico baseado no conceito de

    clusters ressalta tambm os impactos das articulaes entre agentes em termos de

    gerao de efeitos de aprendizado e da dinamizao do processo inovador em escala

    local ou regional.

    Segundo Britto; Albuquerque (2002):

    O conceito de clusters industriais tem sido utilizado tanto por anlises estritamente qualitativas-descritivas baseadas em estudos de caso como por anlises de cunho mais quantitativo, que procuram definir critrios especficos para identificao, caracterizao e comparao desses arranjos. (BRITTO; ALBUQUERQUE, 2002, p. 74),

    A diferena entre estas anlises reside no fato de que a primeira geralmente

    pressupe que tais arranjos podem ser associados a uma estrutura relativamente

    visualizvel, referenciada a um setor especfico ou a uma regio geogrfica bem

    delimitada. Assim, procura-se detalhar a conformao institucional desses arranjos,

    com base em critrios especficos de agregao e classificao dos agentes, avaliando-

    se os resultados em termos de performance produtiva e tecnolgica do setor

  • Perspec. Contemp., Campo Mouro, v. 2, n. 2, p. 44-78, jul./dez. 2007.

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    investigado. Este tipo de anlise ressalta os possveis ganhos de eficincia

    proporcionados pela especializao produtiva de firmas localizadas em uma mesma

    regio geogrfica, atribuindo particular importncia institucionalidade subjacente

    s relaes entre os agentes, indutora de formas de colaborao implcitas e explcitas

    entre eles(14).

    Segundo Britto; Albuquerque (2002), um aspecto bastante mencionado como

    fator de fortalecimento de empresas inseridas em clusters industriais referem-se

    ampliao dos nveis de eficincia coletiva(15) proporcionados pelo arranjo. Esta

    eficincia coletiva associada reduo de custos de produo e transao em

    virtude da consolidao de economias de especializao e de diversos tipos de

    externalidades em escala local. A consolidao desses arranjos facilita a realizao de

    aes conjuntas e coordenadas entre os agentes, baseadas no intercmbio de

    informaes e no fortalecimento de laos cooperativos entre os agentes. Estes

    arranjos estimulam a circulao de informaes e o desenvolvimento de uma

    capacitao comercial e mercadolgica que facilita a antecipao de tendncias de

    comportamento do mercado, viabilizando a rpida introduo de novos produtos em

    virtude destas tendncias. A gerao de ganhos competitivos para os membros

    desses arranjos decorre tambm do aprofundamento de processos de aprendizado

    em escala local que facilitam a difuso de inovaes tecnolgicas e organizacionais.

    As anlises quantitativas dos clusters industriais so elaboradas a partir da

    identificao de dois aspectos fundamentais relacionados aglomerao espacial de

    atividades industriais(16). O primeiro aspecto est associado ao conceito de

    similaridade enquanto princpio geral de estruturao desses arranjos, pressupondo

    que diferentes atividades econmicas se estruturam em clusters por que necessitam

    de uma infra-estrutura semelhante para operarem de forma eficiente. Nesta

    perspectiva, os clusters so concebidos como agrupamentos de aglomeraes

    similares que usufruem de diversos tipos de benefcios ou externalidades que no

    so acessveis para agentes isolados.

    Albuquerque; Britto (2002) destacam que enquanto algumas anlises tendem a

    privilegiar a similaridade entre os agentes integrados aos clusters industriais, outras

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    ressaltam a consolidao de uma interdependncia entre estes agentes. Nesta

    perspectiva, as relaes entre setores ou atividades so vistas como mola propulsora

    da dinmica interna dos clusters industriais. Pressupe-se que uma caracterstica

    bsica do cluster o agrupamento de agentes no similares mas que apresentam

    competncias complementares, o que refora a interdependncia entre eles e a

    necessidade de alguma forma de coordenao coletiva no nvel do arranjo. Assim

    atribui-se particular importncia s relaes interindustriais entre cliente-fornecedor

    e produtor-usurio que conformam uma diviso de trabalho interna no cluster.

    3. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS E UNIVERSO DE ANLISE

    Dada a importncia atribuda na literatura especializada ao papel das

    aglomeraes produtivas locais e potenciais para o desenvolvimento econmico local

    e regional, do ponto de vista metodolgico observa-se um debate relativamente

    acirrado sobre qual seria a melhor forma metodolgica para identificar dessas

    aglomeraes. (CROCCO et al, 2003, p. 5) destacam que:

    Para a elaborao de critrios de identificao de aglomeraes produtivas torna-se interessante elaborar um indicador que seja capaz de captar quatro caractersticas de uma aglomerao produtiva local: (1) a especificidade de um setor dentro do de uma regio; (2) o seu peso em relao estrutura industrial da regio; (3) a importncia do setor nacionalmente; e (4) a escala absoluta da estrutura industrial local. Normalmente, a medida mais utilizada para medir a primeira caracterstica o chamado Quociente Locacional (QL) da indstria. (CROCCO et al, 2003, p. 5)

    O QL um ndice indicador de especializao tradicional na literatura de

    economia regional, e procura comparar duas estruturas setoriais-espaciais. Ele a

    razo entre duas estruturas econmicas: no numerador temos a economia em

    estudo e no denominador uma economia de referncia. Uma das principais bases

    de dados que possibilitam a construo desse indicador de concentrao geogrfica

    da atividade econmica e de especializao local a Relao Anual de Informaes

    Sociais RAIS. Tendo em vista os objetivos aqui estabelecidos e a utilizao desta

    base de dados, adotando-se como base o total de empregados registrados (EMP) em

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    cada municpio, por exemplo, informado pela RAIS, o clculo do QL feito segundo

    a frmula abaixo(17):

    QL = (EMP setor i no municpio/ EMP total no municpio j) /

    (EMP total do setor i na Regio Sul/ EMP total da Regio Sul)

    Segundo Crocco et al (2003):

    (...) Vale frisar que a literatura de economia regional reconhece que este indicador bastante apropriado para regies de porte mdio. Para regies pequenas, com emprego industrial diminuto e estrutura produtiva pouco diversificada, o quociente tende a sobrevalorizar o peso de um determinado setor para a regio. De forma semelhante, o quociente tambm tende a subvalorizar a importncia de determinados setores em regies com uma estrutura produtiva bem diversificada, mesmo que este setor possusse peso significativo no contexto nacional. (CROCCO et al, 2003, p. 6)

    Crocco et al (2003) alertam para o fato de que:

    [...] a literatura de identificao de aglomeraes produtivas vem considerando o quociente locacional como o indicador mais importante, em alguns casos o nico, para a identificao de aglomeraes potenciais. (...) No entanto, (...) este indicador pode gerar srias distores. (CROCCO et al, 2003, p. 6)

    Ao revisar a literatura nacional sobre o referente tema, sob a tica

    metodolgica, Crocco et al (2003) destacam que na literatura nacional existem trs

    trabalhos que propem metodologias de identificao de arranjos produtivos locais,

    a saber: Brito; Albuquerque (2002); SEBRAE (2002) e IEDI (2002).

    Segundo Crocco et al (2003), Brito; Albuquerque (2002) propem uma

    metodologia baseada em trs critrios. O primeiro o uso do Quociente Locacional

    (QL) para determinar se uma cidade em particular possui especializao em um setor

    especfico. Os autores consideram que existiria especializao no setor i na regio j,

    caso seu QL fosse superior a um. Uma vez que o par regio-setor passe por esse

    critrio, ele ser avaliado em termos de sua relevncia nacional. Assim sendo, os

    autores adotam, como segundo critrio, a participao relativa do par regio-setor no

    emprego nacional i. e., ele deve possuir pelo menos 1% do emprego nacional

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    daquele setor. Aqueles Arranjos Produtivos Locais (APLs) que possurem QL > 1 e

    participao relativa maior que 1%, devero, ento, ser controlados pelo ltimo

    critrio, denominado pelos autores como critrio de densidade. Desta forma, s sero

    considerados APLs aqueles arranjos que apresentarem um mnimo de 10

    estabelecimentos no respectivo setor e mais de 10 estabelecimentos em atividades

    associadas. Este critrio visa capturar tanto a escala de aglomerao, como tambm a

    possvel existncia de cooperao dentro da aglomerao(18).

    O trabalho do SEBRAE (2002) tambm caminha na mesma direo

    metodolgica de Brito; Albuquerque (2002). O QL utilizado como o primeiro

    critrio para a identificao de clusters potenciais. A diferena em relao ao trabalho

    anterior est na utilizao da varivel nmero de estabelecimentos, e no emprego,

    para o clculo do QL. Da mesma forma, os pares setores-municpios que apresentem

    QL superior a um passariam neste primeiro filtro, pois seriam consideradas

    especializaes produtivas. Tais pares so tambm submetidos ao crivo de um

    segundo critrio de densidade que estabelece um nmero mnimo de 30

    estabelecimentos. Os setores municpios que passarem por estes dois filtros so

    ordenados de acordo com o QL obtido, estabelecendo-se assim, um ordenamento da

    potencialidade para o desenvolvimento dos respectivos APLS.

    J no trabalho do IEDI (2002), este possui uma inovao, qual seja, o clculo de

    um Gini Locacional anterior utilizao do QL como critrio de identificao de

    clusters ou sistemas produtivos locais. O ndice de Gini Locacional, aplicado para

    dados de emprego da RAIS e PIA (Pesquisa Industrial Anual) utilizado para

    identificar quais classes de indstrias so geograficamente mais concentradas em um

    pas ou regio. O QL, utilizado para os mesmos dados para microrregies, detecta a

    especializao produtiva do local. O procedimento de identificao comea com a

    identificao dos setores mais concentrados na regio. Para estes, so calculados os

    QL, sendo que aqueles pares setores-microrregies que possurem QL maior que um

    sero sistemas produtivos locais potenciais (quanto maior o QL, maior o potencial).

    Por fim, para confirmar se a especializao local permite configurar a microrregio

    como um sistema produtivo local, variveis de controle so utilizadas, tais como

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    participao relativa no total do emprego no setor, volume absoluto de empregos e

    nmero de estabelecimentos.

    Crocco et al (2003) chamam ateno para o fato de que:

    (...) todas estas trs metodologias atribuem ao QL um papel central na identificao de APLs. No entanto, duas importantes questes devem ser consideradas quando da utilizao deste quociente. (...) apesar do QL ser um indicador extremamente til na identificao da especializao produtiva de uma regio, ele deve ser utilizado com cautela, pois a interpretao de seu resultado deve levar em conta as caractersticas da economia que est sendo considerada como referncia. Em duas, das trs metodologias acima descritas, a economia de referncia o Brasil. Tendo em vista o elevado grau de disparidade regional existente no pas, de se esperar que um nmero enorme de setores em diferentes cidades ir apresentar QL acima de um, sem que isto signifique a existncia de especializao produtiva, mas sim de diferenciao produtiva. factvel supor que, dada esta disparidade regional, uma gama enorme de cidades (ou microrregies) brasileiras ir apresentar pelo menos um setor com QL acima de 1. Assim, seria prudente que o valor de corte a ser assumido pelo QL deveria ser significativamente acima de 1 (...) a literatura tambm ressalta que este indicador bastante apropriado para regies de porte mdio. Para regies pequenas, com emprego (ou estabelecimentos) industrial diminuto e estrutura produtiva pouco diversificada, o quociente tende a subvalorizar a importncia de terminados setores em regies com uma estrutura produtiva bem diversificada, mesmo quando este setor possua peso significativo no contexto nacional. (CROCCO et al, 2003, p. 11)

    Crocco et al (2003) argumentam que este critrio de utilizao do QL deveria

    ser mais rigoroso, haja vista que: Alguns estudos para economia americana, que

    possui uma distribuio espacial de sua indstria bem mais homognea que a nossa,

    consideram especializao industrial aquela regio que apresentar um QL acima de

    4.

    Crocco et al (2003) propem a utilizao de um nico indicador de

    concentrao de um setor industrial dentro de uma regio, o qual descrito nos

    referidos trabalhos, e denominado de ndice de Concentrao normalizado (ICn).

    Entretanto, ressaltam que:

    (...) a metodologia aqui proposta no tem por objetivo identificar todos os fatores que afetam o desempenho de um APL. De fato, o ndice de Concentrao aqui proposto capta apenas alguns aspectos relevantes de um APL. (...) ele capta os chamados elementos passivos, que nada mais so do que as economias externas de escala associadas concentrao espacial e setorial das firmas. Para uma real identificao do potencial produtivo, inovativo e de crescimento de um APL, faz-se necessrio conhecer tambm a

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    sua dimenso ativa ou construda. (...) deve-se avaliar a existncia ou no de interdependncias intencionais, i.e., de arranjos cooperativos, a sua intensidade e densidade; assim como a forma como o ambiente local construdo. No entanto, entende-se que tais aspectos s podem ser capitados atravs de pesquisas de campo. (CROCCO et al, 2003, p. 23, grifos nossos)

    A fonte bsica de informaes utilizada nos estudos advm dos dados da

    Relao Anual de Informaes Sociais RAIS, disponibilizados pelo Ministrio do

    Trabalho e do Emprego MTE. A RAIS foi criada pelo Decreto 76.900, de 23 de

    dezembro de 1975. Ela substituiu as declaraes do artigo 354 da Consolidao das

    Leis do Trabalho - C.L.T - (a chamada Lei dos 2/3). Devido riqueza de informaes

    prestadas e a periodicidade anual dos dados, a RAIS apresenta um enorme potencial

    para aqueles interessados em questes referentes ao mercado formal de trabalho no

    Brasil. Por mercado formal de emprego entende-se aquele onde prevalecem relaes

    de trabalho assalariadas. Dele fazem parte o conjunto de empresas que apresentam

    relaes jurdicas de trabalho, proporcionando ao indivduo proteo como INSS,

    FGTS e PIS/PASEP, entre outros.

    Suzigan (2002) e IEDI (2002) destacam que esta base de dados, como inerente

    quase todas, tm virtudes e problemas.

    (...) a principal vantagem da RAIS justamente a elevada desagregao setorial e geogrfica dos dados. Isto torna possvel, sem necessidade de recurso a tabulaes especiais, obter e processar diretamente os dados desagregados, em termos espaciais, at o nvel de municpios e, em termos setoriais, at o nvel de classes de indstrias a 4 dgitos da CNAE Classificao Nacional da Atividade Econmica. (...) a RAIS apresenta um grau relativamente elevado de uniformidade que permite comparar a distribuio dos setores da atividade econmica ao longo do tempo. Essas vantagens da RAIS so contrabalanadas por algumas deficincias. (...) A primeira deficincia da RAIS a sua cobertura, j que o Cadastro, apesar de cobertura nacional, inclui apelas relaes contratuais formalizadas por meio da carteira assinada. Segundo, a RAIS utiliza o mtodo da auto classificao na coleta das informaes primrias, sem qualquer verificao de consistncia, o que pode distorcer os resultados e colocar diversos problemas em relao s possibilidades de anlise. Adicionalmente, a empresa declarante pode optar por respostas nicas em nvel de empresa, distanciando o resultado da realidade em dois aspectos. Em primeiro lugar, classificando o conjunto de unidades produtivas de uma empresa diversificada coexistentes num mesmo endereo num nico setor CNAE Classificao Nacional de Atividade Econmica. Em segundo lugar, que pode somar-se ao anterior, a empresa pode reunir todas as unidades produtivas dispersas numa mesma declarao. Isto tem efeitos importantes, especialmente quando as empresas so multi-planta (que podem declarar

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    todo o volume de emprego na mesma unidade produtiva, geralmente a matriz) e firmas multi-produto (que muitas vezes enquadram-se apenas na atividade correspondente ao seu produto principal). A terceira deficincia da RAIS a de que, como essa base de dados utiliza o emprego como a varivel-base, ela deixa de captar diferenas inter-regionais de tecnologia e produtividade, o que vai se refletir em, por exemplo, diferentes regies com volume de emprego semelhantes, que possuem na verdade produo fsica ou em valor distintas. Quarto e ltimo, o fato de ser declaratria pode provocar distores na anlise de pequenas empresas ou de regies menos desenvolvidas, em virtude da mais elevada concorrncia de empresas no declarantes. (IEDI, 2002, p. 4-5, grifos nossos)

    Apesar das deficincias apontadas esta base tem virtudes suficientes para

    possibilitar a construo do indicador da metodologia aqui empregada tendo em

    vista os objetivos propostos. No presente estudo a metodologia a ser utilizada ser

    adaptada dos estudos supracitados. O objeto de anlise ser os 1.183 municpios da

    Regio Sul. O setor econmico analisado ser a Indstria de Transformao. O

    processamento dos registros administrativos da RAIS Relao Anual de

    Informaes Sociais ser feito, inicialmente, a dois dgitos da Classificao Nacional

    de Atividades Econmicas CNAE 1.0. De acordo com esta classificao a indstria

    de transformao composta por 23 divises, divididas entre tradicionais e

    modernas (dinmicas), conforme quadro 2. No presente estudo adotou-se o seguinte

    critrio metodolgico, acumulativo, para identificar as aglomeraes produtivas

    locais, os quais esto sumarizados no quadro 1: inicialmente sero selecionados

    apenas os municpios onde as seguintes condies forem atendidas: apresentarem

    Q.L. 4; tiverem participao de no emprego total da indstria 1% e apresentarem

    um nmero mnimo de 10 estabelecimentos nas divises industriais da indstria da

    transformao. Este ponto de partida para a identificao das aglomeraes

    industriais foi adotado tendo em vista que, segundo (CROCCO et alli 2003(b)

    Alguns estudos para economia americana, que possui uma distribuio espacial de

    sua indstria bem mais homognea que a nossa, consideram especializao

    industrial aquela regio que apresentar um QL acima de 4. Uma outra varivel de

    controle utilizada, de forma a garantir para que um setor em anlise pudesse ser

    melhor definido como um potencial cluster foi a participao mnima do municpio

    no total do emprego do setor. O nmero mnimo de 10 estabelecimentos nos

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    municpios em cada uma das divises analisadas complementa a primeira fase

    metodolgica para identificar a presena de, no mnimo, uma aglomerao industrial

    especializada naquela dentro daquele municpio e naquela diviso da CNAE. Em

    resumo, esse primeiro filtro visa inicialmente diferenciar uma aglomerao de um

    cluster (BRITO & ALBUQUERQUE, 2002).

    Quadro 1: critrios considerados na identificao das aglomeraes produtivas locais

    Primeiro critrio Segundo critrio Terceiro critrio Quarto critrio

    ESPECIALIZAO RELEVNCIA DENSIDADE SUPERPOSIO QL 4 Q.L. 4 e

    Participao 1 %. Q.L. 4;

    Participao 1 % e Numero de estabelecimentos nos municpios 10 em cada uma das divises industriais.

    Q.L. 4; Participao 1 %;

    nmero de estabelecimentos nos municpios 50 em

    cada uma das divises industriais;

    pelo menos 10 estabelecimentos em

    atividades associadas(19) e pelo menos 1 produtor de mquinas para o

    setor.

    Fonte: Ver procedimentos metodolgicos

    Com o objetivo de avanar no sentido da incorporao de princpios de

    superposio das atividades com vistas a identificar, para uma mesma aglomerao

    industrial, a existncia de elementos que apontariam para a possvel existncia de um

    cluster, procurar-se- identificar se h algum tipo de diviso de trabalho entre os

    diversos atores envolvidos. Inicialmente procuramos avaliar se existem firmas

    atuantes em setores industriais que possam ser consideradas como fornecedores.

    Neste caso, o objetivo investigar a presena de firmas produtoras de equipamentos

    para o setor analisado, fazendo-se a anlise em nvel de Classes da CNAE (04

    dgitos). O objetivo aqui identificar possveis clusters verticais. Segundo Britto;

    Albuquerque (2002):

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    A intuio por trs da sugesto de clusters verticais(20) relaciona-se quilo que a discusso precedente trata como interdependncia. Baseia-se, portanto, na interao existente entre uma indstria produtora de bens de consumo com uma indstria produtora de mquinas e equipamentos para aquela indstrias, ambas presentes na mesma regio. Nesse tipo de cluster h espao razovel para interao entre produtor-usurio, a qual constitui importante componente para a construo de um sistema de inovao. (BRITTO; ALBUQUERQUE, 2002, p. 80)

    Adicionalmente tambm seria possvel identificar clusters horizontais, que

    apresentam um padro distinto de relacionamentos internos. Segundo Britto;

    Albuquerque (2002):

    A caracterizao desses clusters se d mais pela presena, em um mesmo municpio, de um conjunto de indstrias complementares, que possivelmente estariam compartilhando algum recurso comum (mo-de-obra qualificada, por exemplo). A variedade de atividades realizadas no interior desses clusters requer que a introduo de critrios de similaridade- particularmente relacionados natureza especfica das competncias tcnicas mobilizadas no processo de produo para identificar atividades que fazem parte deste arranjo. Dentre essas atividades similares destaca-se a produo de peas e componentes a serem incorporados em produtos mais complexos produzidos no mbito daquela localidade (como automveis e eletrnicos de consumo, por exemplo). Nesses casos, importante identificar a existncia de uma especializao nas diversas classes CNAE relacionadas diviso considerada, o que conferiria uma maior complexidade estrutural ao cluster. Supe-se, nesse sentido, que firmas mais envolvidas com essas atividades compartilham recursos disponveis na regio, o que favorece a consolidao de relaes diretas e indiretas entre elas, que do organicidade ao cluster(21). (BRITTO; ALBUQUERQUE, 2002, p. 81)

    Metodologicamente, o primeiro critrio utilizado no presente estudo est

    baseado no conceito de focalizao e procura identificar um conjunto de

    aglomeraes especializadas em nvel local, em relao s quais existiriam evidncias

    acerca da presena efetiva de clusters industriais. Este critrio identifica a presena de

    uma especializao efetiva do municpio no ramo de atividade (diviso CNAE)

    considerado.

    O segundo critrio est relacionado importncia do municpio em relao ao

    emprego total de cada setor considerado. Esse critrio complementa o anterior, e

    evita que municpios muito especializados, mas com importncia desprezvel no

    conjunto do setor, sejam considerados na identificao de clusters industriais.

  • Perspec. Contemp., Campo Mouro, v. 2, n. 2, p. 44-78, jul./dez. 2007.

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    O terceiro critrio refere-se existncia de uma certa densidade mnima em

    termos de nmero de firmas presentes nos municpios considerados. Segundo

    Albuquerque; Britto (2002): Supe-se, nesse sentido, que essa densidade um pr-

    requisito para a consolidao de relaes internas que conferem organicidade ao

    cluster. (ALBUQUERQUE; BRITTO, 2002, p. 83)

    Finalmente, a partir do mapeamento geral das aglomeraes nos setores

    analisados busca-se avanar no sentido de identificar efetivamente a presena de

    clusters industriais.

    Para que essa identificao seja possvel, importante considerar um estgio adicional da anlise que procura incorporar critrios de superposio de atividades para fim de caracterizao daqueles clusters. Supe-se, nesse sentido, que essa superposio confere uma maior complexidade estrutura empresarial de cada aglomerao industrial, servindo de critrio para identificar, dentro de um determinado conjunto de aglomeraes, aquelas nas quais h indcios efetivos da presena de clusters industriais. (BRITTO; ALBUQUERQUE, 2002, p. 84)

    No presente estudo, o critrio adotado foi considerar como atividades

    associadas ao setor industrial, alm do nmero de estabelecimentos de empresas

    especializadas na produo de mquinas para a indstria, o nmero de

    estabelecimentos do comrcio atacadista e do comrcio varejista associados quela

    diviso industrial. Para as divises onde no h explicitamente uma classe

    correspondente respectiva diviso adotou-se o critrio de agregao, conforme

    anexo. Os trs primeiros critrios objetivam identificar as aglomeraes industriais

    que, potencialmente, poderiam se caracterizar como clusters industriais, o quarto

    critrio procura efetivamente tentar identificar em quais divises/municpios

    estariam presentes os clusters industriais.

    4. RESULTADOS EMPRICOS.

    A partir dos critrios metodolgicos adotados no presente estudo, conforme

    indicado no quadro 3, os resultados empricos apontam para a existncia de, pelo

    menos, 140 aglomeraes industriais, presentes em 19 das 23 divises da indstria de

    transformao da regio sul. Em relao regio sul, estas aglomeraes industriais

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    eram responsveis por 8,3% do emprego total, gerando 435.220 postos de formais de

    trabalho e por 2,0% dos estabelecimentos industriais. Em relao indstria de

    transformao, elas eram responsveis por 31% dos empregos formais e por 15% dos

    estabelecimentos industriais, equivalendo a 11.285 estabelecimentos industriais na

    indstria de transformao da regio sul.

    Estas aglomeraes industriais se concentram, majoritariamente, nas divises

    de alimentos e bebidas (7,9%); preparao de couros e calados (15,7%); produtos de

    madeira (12,9%); produtos minerais no-metlicos (9,3%) e produtos de borracha e

    plstico (6,4%).

    A participao das aglomeraes no total do emprego da indstria maior nos

    setores mais intensivos em mo-de-obra e tecnologicamente menos sofisticados, tais

    como: alimentos e bebidas (3,3%); produtos txteis (2,3%); confeces e vesturio

    (2,2%) preparao de couros e calados (7,6%); produtos de madeira (2,7%) e mveis

    e indstrias diversas (2,0%).

    As aglomeraes que concentram uma parcela maior do emprego setorial:

    fumo (58,7%); produtos txteis (43,8%); preparao de couros e calcados (65,5%);

    produtos de metal (36,2%); produtos e materiais eltricos (43,7%); veculos (43,4%)

    so aquelas que apresentam menor fragmentao do processo de aglomerao

    industrial no setor.

    Aps uma anlise mais detalhada destas 140 aglomeraes e,

    concomitantemente, a aplicao dos critrios de superposio descritos na seo 3

    (quadro1) foi possvel definir mais claramente se existe, quantos so e onde esto

    localizados os potenciais clusters industriais na indstria de transformao da regio

    sul.

    A partir dos critrios de superposio, conforme indicados no quadro 4, os

    resultados empricos apontam para a existncia de, pelo menos, 41 potenciais clusters

    industriais em 14 das 23 divises da indstria de transformao da regio sul,

    conforme descrio detalhada do quadro 5, em anexo.

    Em relao regio sul estes potenciais clusters eram responsveis por 4,2% do

    emprego total, gerando 221.512 postos formais de trabalho e por 1,3% dos

  • Perspec. Contemp., Campo Mouro, v. 2, n. 2, p. 44-78, jul./dez. 2007.

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    estabelecimentos industriais. Em relao indstria de transformao, estes

    potenciais clusters eram responsveis por 15,6% dos empregos formais e por 8,5% dos

    estabelecimentos industriais, equivalendo a 6.435 estabelecimentos industriais na

    regio sul.

    Estes potenciais clusters industriais se concentram, majoritariamente, nas

    divises de: produtos txteis (12,2%); preparao de produtos de couro e calados

    (19,5%); produtos de madeira (9,8%); produtos minerais no-metlicos (9,8%) e

    indstria de mveis e indstrias diversas.

    A participao dos potenciais clusters no total do emprego da indstria

    maior nos setores mais intensivos em mo-de-obra e tecnologicamente menos

    sofisticados, tais como: alimentos e bebidas (26,3%); produtos txteis/confeces e

    vesturio (16,2%); preparao de couros e calados (36,8%); produtos de madeira

    (17,0%) e; mveis e indstrias diversas (23,9%).

    Os potenciais clusters que concentram uma parcela maior do emprego setorial

    so aqueles que apresentam menor fragmentao do processo de aglomerao

    industrial no setor, tais como: produtos txteis (41%); preparao de couros e

    calados (37%); produtos de borracha e plstico (20,4%); produtos de metal (exceto

    mquinas e equipamentos); montagem de veculos (24,8%) e; mveis e indstrias

    diversas, (12,2%).

    5. CONSIDERAES FINAIS

    O objetivo geral foi identificar aglomeraes industriais ou potenciais clusters

    industriais na indstria de transformao da Regio Sul, a partir dos registros

    administrativos da base de dados da Relao Anual de Informaes Sociais RAIS.

    Clusters so um grupo de empresas altamente concentradas do ponto de vista

    geogrfico, que trabalham, direta ou indiretamente, para o mesmo mercado final;

    que compartilham valores e conhecimentos to importantes que definem um

    ambiente cultural; e que so especificamente interligados num mix de competio e

    cooperao. As principais fontes de competitividade so os elementos de confiana,

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    solidariedade e cooperao entre as empresas, um resultado de relaes muito

    estreitas de natureza econmica, social e comunitria.

    A partir dos critrios metodolgicos adotados no presente estudo os

    resultados empricos apontam para a existncia de 140 aglomeraes industriais,

    presentes em 19, das 23 divises da indstria de transformao da regio sul. Em

    relao regio sul, estas aglomeraes industriais eram responsveis por 8,3% do

    emprego total e por 2,0% dos estabelecimentos industriais. Em relao indstria de

    transformao, elas eram responsveis por 31% dos empregos formais e por 15% dos

    estabelecimentos industriais.

    Estas aglomeraes industriais se concentram nas divises de alimentos e

    bebidas; preparao de couros e calados; produtos de madeira; produtos minerais

    no-metlicos e produtos de borracha e plstico. A participao das aglomeraes no

    total do emprego da indstria maior nos setores mais intensivos em mo-de-obra e

    tecnologicamente menos sofisticados. As aglomeraes que concentram uma parcela

    maior do emprego setorial so aquelas que apresentam menor fragmentao do

    processo de aglomerao industrial no setor.

    Aps uma anlise mais detalhada destas 140 aglomeraes e,

    concomitantemente, a aplicao dos critrios de superposio foi possvel definir

    mais claramente se existe, quantos so e onde esto localizados os potenciais clusters

    industriais na indstria de transformao da regio sul. A partir dos critrios de

    superposio, os resultados empricos apontam para a existncia de, pelo menos, 41

    potenciais clusters industriais potenciais em 14 das 23 divises da indstria de

    transformao da regio sul, conforme descrio detalhada do quadro 5, em anexo.

    Em relao regio sul estes potenciais clusters eram responsveis por 4,2% do

    emprego total de postos formais de trabalho e por 1,3% dos estabelecimentos

    industriais. Em relao indstria de transformao, estes potenciais clusters eram

    responsveis por 15,6% dos empregos formais e por 8,5% dos estabelecimentos

    industriais. Estes potenciais clusters industriais se concentram, majoritariamente, nas

    divises de: produtos txteis; preparao de produtos de couro e calados; produtos

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    de madeira; produtos minerais no-metlicos e indstria de mveis e indstrias

    diversas.

    A participao dos potenciais clusters no total do emprego da indstria

    maior nos setores mais intensivos em mo-de-obra e tecnologicamente menos

    sofisticados, tais como: alimentos e bebidas (26,3%); produtos txteis/confeces e

    vesturio (16,2%); preparao de couros e calados (36,8%); produtos de madeira

    (17,0%) e; mveis e indstrias diversas (23,9%).

    Os potenciais clusters que concentram uma parcela maior do emprego setorial

    so aqueles que apresentam menor fragmentao do processo de aglomerao

    industrial no setor, tais como: produtos txteis (41%); preparao de couros e

    calados (37%); produtos de borracha e plstico (20,4%); produtos de metal (exceto

    mquinas e equipamentos); montagem de veculos (24,8%) e; mveis e indstrias

    diversas.

    Agora se faz necessrio conhecer tambm a sua dimenso ativa deve-se avaliar

    a existncia ou no de interdependncias intencionais, de arranjos cooperativos, a

    sua intensidade e densidade; assim como a forma como o ambiente local

    construdo, somente capitados atravs de pesquisas de campo. Estudos setoriais

    futuros poderiam contribuir enormemente para este empreendimento.

    REFERNCIAS BRITTO, J.; ALBUQUERQUE, E. da M. Estrutura e Dinamismo de Clusters Industriais na Economia Brasileira: uma anlise comparativa e exploratria. In: IV Encontro de Economistas de Lngua Portuguesa. vora: Universidade de vora, 2001. BRITTO, J.; ALBUQUERQUE, E. da M. Clusters Industriais na Economia Brasileira: Uma Anlise Exploratria a Partir de Dados da RAIS. Estudos Econmicos. So Paulo, v. 32, n. 1, p. 71-102, Jan./Mar. 2002. CAMPOS, A. C. de; PAULA, N. M. de. O conceito e organizao das firmas nos aglomerados industriais: uma abordagem neoschumpeteriana. In: III Encontro de Economia Paranaense ECOPAR. Anais... Londrina: ECOPAR, 2004. Disponvel em: . Acessado em: 25 ago. 2006. CASSIOLATO, J. et. al. Arranjos e sistemas produtivos locais e proposies de poltica de desenvolvimento industrial e tecnolgico. Seminrio Local Clusters

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    NOTAS

    (1) Bacharel em Economia pela UEM - Universidade Estadual de Maring (1993); Especialista em Estatstica Aplicada pela UEM - Universidade Estadual de Maring (1995) e Mestre em Economia Social e do Trabalho pela UNICAMP (1998). Atualmente leciona em nvel superior nas seguintes Faculdades: CESPAR - Centro de Ensino Superior de Maring; FATEMA - Faculdade Alvorada de Tecnologia e Educao de Maring e Faculdades NOBEL. E-mail de contato: [email protected]. (2) O conceito de desenvolvimento local se apia na idia de que as localidades e territrios dispem de recursos econmicos, humanos, institucionais, ambientais e culturais, alm de economias de escalas no exploradas, que constituem seu potencial de desenvolvimento. As estratgias e as iniciativas de desenvolvimento local propem-se a estimular a diversificao da base econmica local, favorecendo o surgimento e a expanso de empresas. Ver Zapata (2004). (3) A predominncia de PMEs nestes ambientes locais, organizados industrialmente como sistemas produtivos, explica porque, nos ltimos anos, a literatura em economia industrial sobre PMEs vem incorporando, principalmente numa perspectiva de redes, a dimenso da proximidade geogrfica como um elemento de competitividade e sobrevivncia destas empresas de menor porte. (CROCCO et al, 2003, p.49 nota de rodap 5. (4) Na periferia capitalista: (a) as capacitaes inovativas so, via de regra, inferiores s dos pases desenvolvidos; (b) o ambiente organizacional aberto e passivo i.e., as funes estratgicas primordiais so realizadas externamente ao sistema, prevalecendo, localmente, uma mentalidade quase exclusivamente produtiva; (c) o ambiente institucional e macroeconmico mais voltil e permeado por constrangimentos estruturais; e (d) o entorno destes sistemas basicamente de subsistncia, a densidade urbana limitada, o nvel de renda per capita baixo, os nveis educacionais so baixos, a complementaridade produtiva e de servios com o plo urbano limitado e a imerso social frgil. (CROCCO, 2003, p. 8). ET: Por capacitaes inovativas o autor entende, tal como definido por Lastres et al (1998), a capacidade endgena de gerao de progresso tecnolgico. (5) Ver a este respeito os vrios trabalhos da REDESIST , coordenada por Cassiolato e Lastres (CASSIOLATO et al, 2000) (6) Conforme Redesist

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    (7) De fato, as economias externas esto no centro da discusso sobre os sistemas locais. Elas podem ser incidentais, decorrentes de (i) existncia de um vasto contingente de mo-de-obra especializada e com habilidades especficas ao sistema local; (ii) presena e atrao de um conjunto de fornecedores especializados de matria-prima, componentes e servios, e (iii) grande disseminao de conhecimentos e informaes concernentes ao ramo de atividade dos produtores locais. As economias externas de carter incidental foram apontadas por Marshall, em seu pioneiro trabalho sobre os distritos industriais ingleses (SUZIGAN et al, 2002, p. 2) (8) Tais como compra de matrias primas, promoo de cursos de capacitao gerencial e formao profissional, criao de conscios de exportao, contratao de servios especializados, estabelecimento de centro tecnolgicos de uso coletivo, entre outros. (9) Crocco et al (2003) alertam que: Em alguns casos, os arranjos podem ser desintegrados regionalmente i.e., seu entorno de subsistncia, com uma rede urbana fragilmente integrada ou no-integrada constituindo-se em verdadeiros enclaves produtivos. Apesar deste ltimo tipo de arranjo poder apresentar certa integrao com o mercado local ou internacional atuando, portanto, como base de exportao isto no suficiente para estimular o desenvolvimento de complementaridade setorial da base exportadora. De fato, em muitos casos, a indstria local no est localmente ancorada (foot loose), mas sempre em aberta possibilidade de sua relocalizao. (CROCCO et al, 2003, p. 9) (10) [...] empresas lderes operando redes de pequenas empresas terceirizadas, redes autnomas de pequenas empresas, estruturas dominadas por grandes empresas externas de comercializao, predominncia de alguma forma de governana pblica ou privada (associaes de classe) local. (SUZIGAN, 2002, p. 3) (11) OECD (1999; UNCTAD (1998) e Porter (1998) apud Britto; Albuquerque, (2001) e Britto; Albuquerque (2002). (12) Obviamente, a partir de certo ponto a concentrao urbana passa a apresentar deseconomias de aglomerao, em termos de custos mais elevados de fatores e insumos e dificuldades de congestionamento de trfico e poluio. (HOLANDA, 1975 p. 208). (13) Vale dizer, o desempenho econmico das empresas destes arranjos positivamente afetado pelas economias externas s firmas e internas ao local, que emergem das vrias interdependncias (no-intencionais) entre os atores localizados em um espao geograficamente delimitado. Mesmo considerando-se que estas externalidades no venham a ser completamente apropriadas pelas firmas dado o nvel de suas capacitaes ou que sua emergncia seja comprometida pela fragilidade do ambiente local, a proximidade significa que, como destacado por Marshall (1920), os segredos da indstria deixam de ser segredos e, por assim dizer, ficam soltos no ar [...]. (CROCCO et al, 2003, p. 9) (14) (BRITTO; ALBUQUERQUE, 2001, p. 74) (15) Schmitz (1997) apud Britto; Albuquerque (2002). (16) OECD (1999) apud Britto; Albuquerque (2002)

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    (17) A interpretao do valor do indicador QL baseia-se numa comparao entre especializao, a partir da qual trs situaes distintas podem ser representadas: a) Quando QL = 1, a especializao do municpio j em relao s atividades do setor i idntica especializao do conjunto do estado nas atividades desse setor; b) Quando QL < 1, a especializao do municpio j em atividades do setor i inferior especializao do conjunto do estado nas atividades desse setor; c) Quando QL >1, a especializao do municpio j em atividades do setor i superior especializao do conjunto do estado nas atividades desse setor. (18) Crocco et al (2003) argumentam que: Deve-se notar que a existncia de complementaridade inter-setorial, que os autores captam com este ltimo critrio, no implica, necessariamente a existncia de cooperao. A cooperao depende de outros elementos alm da existncia da desintegrao inter-setorial interna ao aglomerado. (CROCCO et al, 2003, p. 11 nota de rodap 11) (19) Atividades associadas consideradas no presente estudo: Nmero de estabelecimentos presentes nas atividades de Comrcio Atacadista e Comrcio Varejista da Indstria. (20) Um exemplo desse tipo de cluster refere-se queles envolvidos na produo de calados, nos quais costumam estar presentes no apenas empresas de montagem, como tambm empresas especializadas em diferentes etapas do processo de produo e empresas produtoras de mquinas para a produo de calados. (21) Um exemplo desse tipo de cluster a indstria eletrnica, na qual a proximidade espacial de diversos segmentos expressa a existncia de vantagens aglomerativas, particularmente em termos da concentrao de profissionais que podem atuar em diferentes firmas presentes no municpio e no setor. Enviado: 25/03/2007 Aceito: 01/10/2007 Publicado: 12/12/2007

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    ANEXOS

    Quadro 2: Classificao Nacional de Atividades Econmicas - Ind. de Transformao.

    TRADICIONAL MODERNA (Dinmica) 15 Fabricao de produtos alimentcios e bebidas.

    21 Fabricao de celulose, papel e produtos de papel.

    16 Fabricao de produtos do fumo. 23 Fabricao de coque, refino de petrleo, elaborao de combustveis nucleares e produo de lcool.

    17 Fabricao de produtos txteis. 24 Fabricao de produtos qumicos. 18 Confeces de artigos de vesturios e acessrios.

    25 Fabricao de artigos de borracha e plstico.

    19 Fabricao de couros e fabricao de artefatos de couro, artigos de viagem e calados.

    26 Fabricao de produtos minerais no-metlicos.

    20 Fabricao de produtos de madeira. 27 Metalurgia bsica. 22 Edio, impresso e reproduo de gravaes.

    28 Fabricao de produtos de metal (exclusive mquinas e equipamentos)

    36 Fabricao de mveis e indstrias diversas. 29 Fabricao de mquinas e equipamentos. 30 Fabricao de mquinas para escritrio e

    equipamentos de informtica. 31 Fabricao de mquinas, aparelhos e

    materiais eltricos. 32 Fabricao de material eletrnico e de

    aparelhos e equipamentos de comunicaes. 33 Fabricao de equipamentos de

    instrumentao mdico-hospitalares, instrumentos de preciso e pticos, equipamentos para automao industriais, cronmetros e relgios.

    34 Fabricao e montagem de veculos automotores, reboques e carrocerias.

    35 Fabricao de outros equipamentos de transportes.

    Fonte: IBGE, 2006.

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    Quadro 3 - Caractersticas bsicas das aglomeraes identificadas

    Diviso N de

    Aglomeraes Participao

    % Emprego nas Aglomeraes

    Estabelecimentos nas Aglomeraes

    % Aglomeraes

    nos setores

    % Aglomeraes nos municpios

    Alimentos e bebidas.

    11 7,9 46786 340 17,8 3,3

    Produtos do fumo.

    1 0,7 3909 19 58,7 0,3

    Produtos txteis. 7 5,0 32.104 742 43,8 2,3 Artigos do vesturio.

    8 5,7 30.991 2.073 24,5 2,2

    Preparao de couros e calados.

    22 15,7 107.746 2.869 64,5 7,6

    Produtos de madeira.

    18 12,9 38.157 1.018 34,5 2,7

    Celulose e produtos de papel.

    2 1,4 2.542 25 6,5 0,2

    Edio, Impresso

    1 0,7 627 13 1,7 0,0

    Produtos qumicos.

    7 5,0 8.972 157 23,1 0,6

    Borracha e plstico.

    9 6,4 23.935 511 31,4 1,7

    Produtos minerais no-metlicos.

    13 9,3 16.894 673 29,2 1,2

    Metalurgia bsica.

    5 3,6 11.623 147 36,2 0,8

    Fabricao de produtos de metal

    7 5,0 17.772 787 22,1 1,3

    Mquinas e equipamentos.

    8 5,7 25.990 370 27,7 1,8

    Materiais eltricos.

    4 2,6 12.070 14,6 43,7 0,9

    Equipamentos de instrumentao.

    2 1,4 842 29 15,4 0,1

    Montagem de veculos automotores.

    5 3,6 24.825 209 43,4 1,7

    Outros equipamentos de transporte.

    2 1,4 1.298 27 35,9 0,1

    Mveis e indstrias diversas

    8 5,7 28.137 1.130 28,1 2

    TOTAL 140 100,0 435.220 11.285 - -

    Fonte: Dados da Pesquisa. RAIS Estabelecimentos (2003)

  • Perspec. Contemp., Campo Mouro, v. 2, n. 2, p. 44-78, jul./dez. 2007.

    ISSN: 1980-0193

    76

    Quadro 4 - Caractersticas bsicas dos clusters industriais identificados

    Diviso N de

    Aglomeraes Participao

    % Emprego nas Aglomeraes

    Estabelecimentos nas

    Aglomeraes

    % Aglomeraes

    nos setores

    % Aglomeraes

    nos municpios

    Alimentos e bebidas.

    2 4,9 12.355 115 4,7 26,3

    Produtos txteis.

    5 12,2 30.070 605 41,0 16,2

    Artigos do vesturio.

    2 4,9 12.185 697 9,6 16,2

    Preparao de couros e calados.

    8 19,5 62.048 2.015 37,1 36,8

    Produtos de madeira.

    4 9,8 8.168 340 7,4 17,0

    Produtos qumicos.

    1 2,4 1.725 50 4,4 3,7

    Borracha e plstico.

    3 7,3 15.514 406 20,4 7,3

    Produtos minerais no-metlicos.

    4 9,8 6.703 250 11,6 9,6

    Metalurgia bsica.

    1 2,4 8.465 69 26,4 7,2

    Fabricao de produtos de metal

    3 7,3 11.188 662 13,9 7,6

    Mquinas e equipamentos.

    1 2,4 13.247 161 14,1 11,2

    Materiais eltricos.

    1 2,4 3.006 96 10,9 2,7

    Montagem de veculos automotores.

    1 2,4 14,197 110 24,8 12,7

    Mveis e indstrias diversas

    5 12,2 22.641 859 22,6 23,9

    TOTAL 41 100,0 221,512 6.435 17% 14,2%

    Fonte: Dados da Pesquisa. RAIS Estabelecimentos (2003)

  • Perspec. Contemp., Campo Mouro, v. 2, n. 2, p. 44-78, jul./dez. 2007.

    ISSN: 1980-0193

    77

    Quadro 5: Potenciais Clusters industriais na indstria de transformao da regio sul Alimentos e bebidas N Estab. EMPREGO QL Part EMPREGOS Atacadista Varejista Prod. Mquinas

    Lajeado RS 60 6.177 5,8 2,4 21.314 49 119 3

    Toledo PR 55 6.178 4,8 2,4 25.676 7 137 2

    TOTAL 115 12.355 5,3 4,7 46.990 56 256 5

    Produtos Txteis N Estab. EMPREGO QL Part EMPREGOS Atacadista Varejista Prod. Mquinas

    Blumenau SC 182 14.405 12,2 19,6 84.853 27 60 10

    Brusque SC 239 8.114 19,3 11,1 30.138 25 31 1

    Gaspar SC 64 1.444 8,6 2,0 12.059 2 8 4

    Indaial SC 61 3.365 18,1 4,6 13.311 4 8 2

    Jaragu do Sul SC 59 2.742 4,3 3,7 45.305 3 10 3

    TOTAL 605 30.070 11,6 41,0 185.666 61 117 20

    Confeces e Vesturio N Estab. EMPREGO QL Part EMPREGOS Atacadista Varejista Prod. Mquinas

    Brusque SC 499 4.338 6,0 3,4 30.138 80 374 1

    Jaragu do Sul SC 198 7.847 7,2 6,2 45.305 6 156 2

    TOTAL 697 12.185 6,7 9,6 75.443 86 530 3

    Preparao de couros e calados N Estab. EMPREGO QL Part EMPREGOS Atacadista Varejista Prod. Mquinas

    Campo Bom RS 246 8.618 12,5 5,2 21.673 6 15 13

    Dois Irmos RS 120 6.578 18,4 3,9 11.226 1 11 1

    Estncia Velha RS 144 5.867 17,7 3,5 10.419 3 8 4

    Farroupilha RS 114 2.461 4,8 1,5 16.181 2 13 7

    Igrejinha RS 282 5.771 20,2 3,5 8.989 3 11 4

    Novo Hamburgo RS 594 16.169 7,2 9,7 70.470 28 86 69

    So Joo Batista SC 142 1.948 14,5 1,2 4.219 2 10 3

    Sapiranga RS 373 14.636 18,2 8,8 25.353 2 12 17

    TOTAL 2.015 62.048 11,7 37,1 168.530 47 166 118

    Produtos de madeira N Estab. EMPREGO QL Part EMPREGOS Atacadista Varejista Prod. Mquinas

    Curitibanos SC 73 1.521 10,7 1,4 6.736 4 19 2

    Lages SC 116 3.288 5,6 3,0 27.729 12 69 4

    Porto Unio SC 59 1.099 12,4 1,0 4.202 0 18 1

    Unio da Vitria PR 92 2.260 11,3 2,0 9.469 7 32 1

    TOTAL 340 8.168 3,5 7,4 48.136 23 138 8

    Produtos qumicos N Estab. EMPREGO QL Part EMPREGO Atacadista Varejista Prod. Mquinas

    So Jose dos Pinhais PR 50 1.725 5,0 4,4 46.349 5 81 8

    TOTAL 50 1.725 5,0 4,4 46.349 5 81 8

    Produtos de borracha e plsticos N Estab. EMPREGO QL Part EMPREGOS Atacadista Varejista Prod. Mquinas

    Joinvile SC 128 7.414 4,3 9,7 118.241 6 141 30

    Novo Hamburgo RS 206 6.546 6,4 8,6 70.470 12 291 35

    Pinhais PR 72 1.554 4,5 2,0 23.789 2 95 13

    TOTAL 406 15.514 5,0 20,4 212.500 20 527 78

  • Perspec. Contemp., Campo Mouro, v. 2, n. 2, p. 44-78, jul./dez. 2007.

    ISSN: 1980-0193

    78

    (Continuao)

    Minerais no metlicos N Estab. EMPREGO QL Part EMPREGOS Atacadista Varejista Prod. Mquinas

    Almirante Tamandar PR 61 803 9,9 1,4 7.326 3 36 1

    Campo Largo PR 63 2.703 14,1 4,7 17.330 4 66 1

    Cricima SC 52 2.300 5,1 4,0 41.097 4 172 1

    Morro da Fumaa SC 74 897 20,5 1,5 3.974 1 15 3

    TOTAL 250 6.703 10,5 11,6 69.727 12 289 6

    Metalurgia bsica N Estab. EMPREGO QL Part EMPREGO Atacadista Varejista Prod. Mquinas

    Joinvile SC 69 8.465 11,7 26,4 118.241 31 80 4

    TOTAL 69 8.465 11,7 26,4 118.241 31 80 4

    Produtos de metal (ex.maq. Equip.) N Estab. EMPREGO QL Part EMPREGO Atacadista Varejista Prod. Mquinas

    Araucria PR 62 2.002 5,3 2,5 24.501 0 70 3

    Caxias do Sul RS 550 6.815 4,0 8,5 111.955 13 404 20

    Panambi RS 50 2.371 14,8 2,9 10.456 2 31 2

    TOTAL 662 11.188 5,0 13,9 146.912 15 505 25

    Mquinas e equipamentos N Estab. EMPREGO QL Part EMPREG