i&d internacional: perspectivas da indústria …seguiu-se uma análise das principais...
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Universidade de Aveiro
2009
Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial
Irina Adriana Saur Amaral
I&D Internacional: Perspectivas da Indústria Farmacêutica
Universidade de Aveiro
2009
Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial
Irina Adriana Saur Amaral
I&D Internacional: Perspectivas da Indústria Farmacêutica
dissertação apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Gestão Industrial, realizada sob a orientação científica do Prof. Doutor Joaquim José Borges Gouveia, Professor Catedrático do Departamento de Economia, Gestão e Engenharia Industrial da Universidade de Aveiro
Apoio financeiro da Fundação da Ciência e Tecnologia – fundos nacionais do MCTES (01/02/2008 – 13/11/2009) Bolsa SFRH/BD/36007/2007
Apoio financeiro da Universidade de Aveiro – Instituto de Investigação (01/02/2006 – 31/01/2008)
Dedico este trabalho ao Paulo, pelo seu incessante apoio, por estar sempre ao meu lado e por conseguir fazer-me sempre sorrir, às nossas filhas, Ana e Rita, pela sua fantástica forma de ser e pela mudança extraordinária que trouxeram nas nossas vidas, e ao meu avô, “Hopi”, que faleceu no passado mês de Agosto depois de 93 anos dedicados a fazer-nos felizes, com uma paz de alma quase alentejana que nos inspirava sempre calma e bem-estar.
o júri
presidente Doutor Eduardo Anselmo Ferreira da Silva Professor Catedrático da Universidade de Aveiro
Doutor Joaquim José Borges Gouveia Professor Catedrático da Universidade de Aveiro (orientador)
Doutor Carlos Henrique Figueiredo e Melo de Brito Professor Associado com Agregação da Faculdade de Economia da Universidade do Porto
Doutora Leonor Maria Gonçalves Pacheco Pais Andrade Cardoso Professora Auxiliar da Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra Doutor Manuel Duarte Mendes Monteiro Laranja Professor Auxiliar do Instituto Superior de Gestão da Universidade Técnica de Lisboa Doutor Henrique Manuel Morais Diz Professor Catedrático da Universidade de Aveiro
Doutor António Carrizo Moreira Professor Auxiliar da Universidade de Aveiro
Doutor Joaquim Carlos da Costa Pinho Professor Auxiliar Convidado da Universidade de Aveiro
agradecimentos
O presente trabalho não teria sido possível sem as conversas entusiásticascom muitas pessoas que tiveram a paciência e o interesse em discutir o tema estudado, quer em Portugal, quer nas várias conferências internacionais em que participei nos últimos três anos. Agradeço a todas porque os seuscontributos e críticas foram fundamentais para encontrar um caminho válido para realizar uma investigação de qualidade e realista. Agradeço em particular:
• Ao professor Joaquim Borges Gouveia, pela sua simpatia, disponibilidade, comentários críticos sobre o trabalho realizado e pela possibilidade que me deu de realizar um trabalho como eu queria, livre mas rigoroso, com os pés vincados na realidade empresarial;
• A todos os colaboradores da PharmaEU que participaram no estudo empírico, pela sua abertura, simpatia e tempo dispendido com a presente investigação, deixando uma particular palavra de apreço ao Administrador responsável pela minha presença na empresa, que me permitiu desenvolver a investigação com maior celeridade e qualidade;
• Ao Paulo, que teve a paciência de reler inúmeras vezes o meu trabalho, em várias fases de desenvolvimento, à procura de falhas que eu já não conseguia encontrar…e que me entregou sempre uma lista significativa de alterações por realizar;
• Ao resto da minha família (romena e portuguesa) por nunca terem deixado de acreditar que consigo superar os mais ambiciosos desafios...
palavras-chave
internacionalização, I&D internacional, indústria farmacêutica, estudo de caso
resumo
A teoria da internacionalização, já consolidada, tem como ponto de partida a internacionalização da produção e das vendas, e alguns dos investigadores desta área procuram aplicar os modelos existentes à internacionalização de I&D. Na presente dissertação, considera-se que as actividades de produção evendas e as actividades de I&D têm características distintas e devem ser analisadas de acordo com as suas especificidades. A internacionalização de I&D, como actividade distinta da produção e das vendas, começou a ser estudada nos anos oitenta, e desde então foram propostos alguns modelos de organização de I&D internacional (estruturas centralizadas, policêntricas, redes heterárquicas, ou estruturas híbridas mais recentes que começam a considerar os conceitos de Inovação Aberta e Indústria de Investigação). Contudo, os contributos científicos existentes são ainda limitados e apresentam um grau elevado de heterogeneidade nas respectivas abordagens, o que pode sugerir a existência de um quadro conceptual ainda pouco consolidado e limita a sua aplicabilidade. No caso da indústria farmacêutica, que se confronta com a necessidade de aumentar a eficiência do processo de I&D, desenvolvido internacionalmente, a literatura académica carece de modelos de organização de I&D internacional que possam ser avaliados e aplicados pelos gestores que trabalham nesta indústria. Falta no quadro conceptual relacionado com a internacionalização de I&D, tanto uma compreensão clara sobre os modelos que podem ser utilizados para este efeito, como uma indicação sobre as possíveis variáveis que podem ser relevantes no contexto da I&D farmacêutica internacional. A presente investigação procura colmatar esta lacuna e responde a duas perguntas de investigação: a) Que modelos de organização de I&D internacional são aplicáveis à indústria farmacêutica? e b) Como gerir a I&D internacional na indústria farmacêutica? Para responder a estas questões, o trabalho foi organizado como se segue. Depois da revisão crítica da literatura sobre internacionalização e sobre internacionalização de I&D, desenvolveu-se um modelo holístico que permitia ultrapassar as insuficiências do quadro conceptual existente no sentido de proporcionar um quadro integrador das variáveis aplicáveis e das formas de organização associadas. Este modelo holístico de organização de I&D internacional representa um contributo conceptual importante da presente investigação.
Seguiu-se uma análise das principais características da indústria farmacêutica, que foram utilizadas para desenvolver, a partir do modelo holístico, um modelo proposto de organização de I&D internacional aplicável nesta indústria. A estratégia de investigação utilizada para testar empiricamente o modelo proposto enquadrou-se no paradigma pragmático e consistiu na realização de um estudo de caso único, aprofundado e holístico, numa empresa farmacêutica. A recolha e a subsequente análise de dados basearam-se no modelo proposto de organização de I&D internacional na indústria farmacêutica. Os principais resultados do trabalho de investigação prendem-se com: a)confirmação do modelo proposto de organização de I&D internacional na indústria farmacêutica; b) identificação de variáveis relacionadas com a Inovação Aberta que devem ser incluídas em estudos futuros; c) necessidade de abordar a organização de I&D internacional de forma separada caso existam na mesma empresa tipos de I&D distintos, com sinergias mínimas; d) necessidade de abordar as redes de I&D internas e externas numa perspectiva integrada, numa óptica holística que permita gerir todas as interacções relevantes para as actividades de I&D. A investigação desenvolvida sugere, no âmbito de implicações para a gestão, a possibilidade de utilizar quer o modelo holístico, quer o modelo proposto para a indústria farmacêutica, como ferramenta de simulação de possíveis formas de organização de I&D internacional, escolhendo as variáveis dos respectivos modelos de acordo com a realidade de cada empresa ou sector de actividade. As medidas de política apontadas prendem-se com a regulamentação, e aplicam-se especificamente à indústria farmacêutica, uma vez que este aspecto foi confirmado no estudo empírico como sendo importante para a organização de I&D farmacêutica a nível internacional. A nível nacional, essas medidas passam por aumentar a celeridade e a clareza dos processos regulamentares, com vista a atrair empresas farmacêuticas que pretendem realizar ensaios no âmbito do processo de I&D e a ter um efeito positivo na redução do tempo de desenvolvimento. A nível internacional, as medidas de política mais eficazes relacionam-se com o desenvolvimento dos processos de normalização da regulamentação aplicável aos ensaios e à comercialização de medicamentos em vários países, com vista a reduzir o tempo despendido na compreensão de regulamentações diferentes e com vista a permitir um melhor planeamento e obtenção de dados nos ensaios clínicos. O modelo holístico de organização de I&D internacional e o modelo proposto para a indústria farmacêutica representam contributos úteis e originais para o quadro teórico existente. Estes modelos podem ser utilizados e desenvolvidos em estudos futuros por investigadores que pretendam analisar a temática dainternacionalização de I&D, e podem evoluir para incluir novas variáveis. Futuras direcções de investigação devem incluir o teste dos modelos noutros sectores de actividade ou com outros métodos de investigação, com vista a validar a sua aplicabilidade noutras situações.
keywords
Internationalization, international R&D, pharmaceutical industry, case study
abstract
The internationalization theory is based on internationalization of production and sales, yet some of the scholars associated to this area look to apply the internationalization models to internationalization of R&D. In this thesis, it is assumed that production and sales have different characteristics than R&D, and they should be studied according to their specificities. The internationalization of R&D, as specific firm activity, has been studied since the eighties, and ever since models of international R&D organization have been proposed (centralized or polycentric structures, heterarchical networks, or hybrid structures that start considering the concepts of Open Innovation and Research Industry). However, the scientific contributions to date are limited and are characterized by high heterogeneity in terms of approaches, which may indicate an insofar unconsolidated theory and limit its applicability. Regarding the pharmaceutical industry, which needs to increase the efficiency of its R&D process, developed internationally, there is a gap in academic models of international R&D organization that could be evaluated and applied by practitioners working in that industry. There is a lack of understanding of models that can be used, as well as ofpossible variables that can be used to study the internationalization of pharmaceutical R&D. This research looks to fill this gap and answers to two research questions:
a) What models of international R&D organization apply topharmaceutical industry?
b) How can we manage international pharmaceutical R&D? To answer those questions, the research was organized as follows. After a critical literature review on internationalization and internationalization of R&D, a holistic model was developed. This model allows overcoming theoretical insufficiencies and integrates relevant variables and organization structures. This is an important conceptual contribution of the current research. Next, followed an analysis of key characteristics of the pharmaceutical industry. These were used to adapt the holistic model to the reality of that industry and resulted in a proposed model of international R&D organization in the pharmaceutical industry.
The research strategy used to test empirically the proposed model fell into the pragmatic paradigm, and involved the development of a single in-depth case study in a pharmaceutical firm. The data collection and analysis were performed so as to inform the proposed model. The main results of the research are: a) confirmation of the proposed model of international R&D organization in the pharmaceutical industry; b) identification of variables related to Open Innovation that should be included in future studies; c) need to approach international R&D organization in different ways if there are distinct non-synergic types of R&D developed in the same firm; d) need to approach internal and external R&D networks in an integrated way, in a holistic approach that allows managing all interactions that are relevant for R&D. The research suggests that both the holistic and the proposed model can be used as a simulation tool to identify possible structures of international R&D organization in a specific firm, by choosing the variables according to the reality of each firm or industrial sector. Policy measures relate to regulation, and apply specifically to the pharmaceutical industry. At national level, there is need and space to increase the easiness and clearness of regulatory procedures, so as to attract pharmaceutical firms that intend to develop trials for their R&D process and to have a positive impact into the development time. At international level, there is a need to continue to develop the standardization procedures linked to pharmaceutical R&D in such a way that trials can be performed in safe and similar ways in most countries and reduce the necessity to perform additional tests for specific regulatory authorities. Both the holistic and the proposed model for international R&D organization are useful and original contributions to the current theory. Those models can be used and developed in future studies by scholars that intend to study internationalization of R&D and can evolve to include new variables. So, future studies should include testing the holistic model in other industrial sectors or using different research strategies, so as to validate their relevance in other situations.
ÍNDICE GERAL
PREFÁCIO ........................................................................................................................ 1
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 5
2. TEORIAS E MODELOS PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO................................... 11
2.1. Contéudo e lógica do capítulo .......................................................................... 11
2.2. Linhas de pensamento científico associadas à internacionalização.................. 11
2.3. Modelos de internacionalização ....................................................................... 14
2.3.1. Modelo Ciclo de Vida................................................................................ 15
2.3.2. Modelo Uppsala........................................................................................ 16
2.3.3. Modelo Ecléctico....................................................................................... 20
2.3.4. Modelo International New Ventures .......................................................... 23
2.3.5. Modelo Holístico ....................................................................................... 25
2.3.6. Análise comparativa dos modelos de internacionalização ....................... 27
2.4. Síntese das principais ilações .......................................................................... 31
3. TEORIAS E MODELOS PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO DE I&D...................... 33
3.1. Contéudo e lógica do capítulo .......................................................................... 33
3.2. Linhas de pensamento científico associadas à internacionalização de I&D...... 34
3.3. Principais razões para a internacionalização de I&D ........................................ 36
3.4. Actores envolvidos na internacionalização de I&D ........................................... 41
3.5. Metodologias de estudo de internacionalização de I&D.................................... 44
3.6. Indicadores de internacionalização de I&D....................................................... 46
3.7. Formas/Modelos de organização de I&D internacional..................................... 48
3.7.1. Modelo de Ronstadt (1984) ...................................................................... 52
3.7.2. Modelo de Bartlett e Ghoshal (1990) ........................................................ 56
3.7.3. Modelo de Hakanson (1990)..................................................................... 61
3.7.4. Modelo de Kuemmerle (1999)................................................................... 63
3.7.5. Modelo de Pearce e Papanastassiou (1999) ............................................ 67
3.7.6. Modelo de Gerybadze e Reger (1999)...................................................... 71
3.7.7. Modelo de Gassmann e von Zedtwitz (1999)............................................ 75
3.7.8. Modelo de Niosi e Godin (1999) ............................................................... 82
3.7.9. Modelo de Zander (1999) ......................................................................... 86
3.7.10. Modelo de Archibugi e Iammarino (2002) ................................................. 91
3.7.11. Análise comparativa dos modelos de organização de I&D internacional... 94
3.8. Modelo holístico de organização de I&D internacional...................................... 98
3.8.1. Construção do modelo.............................................................................. 98
3.8.1. Caracterização do modelo ...................................................................... 105
3.9. Síntese das principais ilações ........................................................................ 108
4. A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E O PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE
MEDICAMENTOS ......................................................................................................... 111
4.1. Indústria farmacêutica .................................................................................... 111
4.1.1. Produtos farmacêuticos .......................................................................... 112
4.1.2. Principais características do mercado..................................................... 115
4.2. I&D na indústria farmacêutica......................................................................... 120
4.2.1. Processo de desenvolvimento de medicamentos ................................... 121
4.2.2. Modelos recentes de inovação/I&D farmacêutica ................................... 124
4.3. Síntese das principais ilações ........................................................................ 129
5. MODELO DE ORGANIZAÇÃO DE I&D INTERNACIONAL NA INDÚSTRIA
FARMACÊUTICA .......................................................................................................... 131
5.1. Modelo proposto............................................................................................. 132
5.1.1. Síntese da informação relevante para a construção do modelo.............. 132
5.1.2. Construção do modelo............................................................................ 133
5.2. Discussão do modelo proposto e da sua aplicabilidade.................................. 143
6. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO ................................................................... 145
6.1. Paradigmas, estratégias e métodos de investigação científica ....................... 145
6.2. Escolhas metodológicas relevantes para a investigação ................................ 150
6.3. Estratégia de investigação escolhida: Estudo de caso ................................... 152
6.4. O protocolo de investigação ........................................................................... 156
7. ESTUDO DE CASO E VERIFICAÇÃO EMPÍRICA DO MODELO PROPOSTO ..... 161
7.1. Descrição do estudo de caso PharmaEU ....................................................... 161
7.1.1. Caracterização da empresa PharmaEU.................................................. 161
7.1.2. Características da recolha de dados realizada ....................................... 162
7.1.3. Sumário dos resultados obtidos da codificação das variáveis................. 165
7.2. Apresentação dos resultados obtidos no estudo de caso PharmaEU............. 175
7.2.1. Organização de I&D internacional na PharmaEU ................................... 177
7.2.2. Vantagens/boas práticas e desvantagens identificadas no que respeita à
organização de I&D internacional ........................................................... 192
7.2.3. Gestão de I&D na PharmaEU................................................................. 194
7.2.4. Vantagens/boas práticas e desvantagens identificadas no que respeita à
gestão de I&D......................................................................................... 207
7.3. Análise comparativa dos resultados obtidos relativamente ao modelo proposto
para organização de I&D internacional ...................................................................... 210
7.3.1. Análise comparativa com base na importância dada às variáveis
contempladas no modelo conceptual e empírico .................................... 211
7.3.2. Análise comparativa com base na presença de variáveis diferentes no
modelo proposto para a indústria farmacêutica e o modelo empírico...... 225
7.4. Implicações do estudo empírico realizado sobre as teorias e modelos de
internacionalização de I&D......................................................................................... 230
7.5. Síntese das principais ilações ........................................................................ 239
8. CONCLUSÕES...................................................................................................... 247
9. LISTA DE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 259
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 – Esquema da investigação realizada.................................................................. 9
Figura 2 – Modelo Uppsala (adaptado de Johanson & Vahlne, 1977, Fig. 1, p. 26 ) ........ 17
Figura 3 – Uma abordagem holística à internacionalização (adaptado de Fletcher, 2001)26
Figura 4 – Formas de internacionalização de I&D: uma perspectiva histórica.................. 50
Figura 5 – Tipologias de estruturas de I&D internacional e a sua evolução (representação
própria das tipologias propostas por Ronstadt, 1984) ...................................................... 53
Figura 6 – Tipos de unidades de I&D (exploração de activos e aumento de activos) e
respectivos fluxos de informação (adaptado de Kuemmerle, 1999) ................................. 65
Figura 7 – I&D centralizada e etnocêntrica (adaptado de Gassmann & von Zedtwitz, 1999)75
Figura 8 – I&D centralizada e geocêntrica (adaptado de Gassmann & von Zedtwitz, 1999)76
Figura 9 – I&D descentralizada e policêntrica (adaptado de Gassmann & von Zedtwitz,
1999) ............................................................................................................................... 76
Figura 10 – I&D tipo Hub (adaptado de Gassmann & von Zedtwitz, 1999)....................... 77
Figura 11 – Rede integrada de I&D (adaptado de Gassmann & von Zedtwitz, 1999)....... 77
Figura 12 – Tendências de evolução entre as formas de organização da I&D internacional
(adaptado de Gassmann & von Zedtwitz, 1999) .............................................................. 79
Figura 13 – Classificação de redes de inovação internacionais (adaptado de Ivo Zander,
1999) ............................................................................................................................... 87
Figura 14 – Categorias de variáveis utilizadas nos modelos de organização de I&D
internacional sintetizados e no metamodelo .................................................................... 99
Figura 15 – Apresentação gráfica da taxonomia proposta para as variáveis utilizadas nos
modelos de organização de I&D internacional ............................................................... 103
Figura 16 – Modelo holístico de organização de I&D internacional ................................ 106
Figura 17 – O circuito do medicamento para uso humano (adaptado de Infarmed, 2007)114
Figura 18 – Processo de I&D na indústria farmacêutica................................................. 122
Figura 19 – O modelo da inovação farmacêutica antes de 1990 (adaptado de Attridge,
2007) ............................................................................................................................. 125
Figura 20 – Relações nas redes de inovação farmacêutica (adaptado de Attridge, 2007)126
Figura 21 – O modelo da inovação farmacêutica depois de 2000 (adaptado de Attridge,
2007) ............................................................................................................................. 127
Figura 22 – Modelo de organização de I&D internacional na indústria farmacêutica:
variáveis mais relevantes............................................................................................... 137
Figura 23 – Modelo de organização de I&D internacional na indústria farmacêutica...... 142
Figura 24 – Estrutura de variáveis codificadas utilizada no NVivo.................................. 164
Figura 25 – Representação gráfica da codificação das variáveis: Nível 1 de codificação
(fontes de informação) ................................................................................................... 166
Figura 26 – Representação gráfica da codificação das variáveis: Nível 1 de codificação
(referências) .................................................................................................................. 167
Figura 27 – Representação gráfica da codificação das variáveis: Nível 2 de codificação
(fontes de informação) ................................................................................................... 168
Figura 28 – Representação gráfica da codificação das variáveis: Nível 2 de codificação
(referências) .................................................................................................................. 169
Figura 29 - Representação gráfica da codificação das variáveis: Nível 3 de codificação
(fontes de informação) ................................................................................................... 172
Figura 30 - Representação gráfica da codificação das variáveis: Nível 3 de codificação
(referências) .................................................................................................................. 173
Figura 31 – Organização de I&D internacional no caso PharmaEU ............................... 180
Figura 32 – Organização interna da componente de I&D no caso PharmaEU ............... 182
Figura 33 – Organização externa da componente de I&D no caso PharmaEU .............. 183
Figura 34 – Organização externa da componente de investigação no caso PharmaEU 184
Figura 35 – Organização externa da componente de desenvolvimento no caso PharmaEU186
Figura 36 – Níveis de gestão de I&D no caso PharmaEU.............................................. 194
Figura 37 – Representação gráfica da importância relativa das variáveis de nível 1 no
modelo conceptual e no modelo empírico...................................................................... 217
Figura 38 – Representação gráfica da importância relativa das variáveis de nível 2 no
modelo conceptual e no modelo empírico: TCN - Tecnologia ........................................ 218
Figura 39 – Representação gráfica da importância relativa das variáveis de nível 3 no
modelo conceptual e no modelo empírico: TCN - Tecnologia ........................................ 219
Figura 40 – Representação gráfica da importância relativa das variáveis de nível 2 no
modelo conceptual e no modelo empírico: RD - Ligações (redes) ................................. 221
Figura 41 – Representação gráfica da importância relativa das variáveis de nível 3 no
modelo conceptual e no modelo empírico: RD - Ligações (redes) ................................. 222
Figura 42 – Representação gráfica da importância relativa das variáveis de nível 2 no
modelo conceptual e no modelo empírico: MCD - Mercado ........................................... 223
Figura 43 – Representação gráfica da importância relativa das variáveis de nível 3 no
modelo conceptual e no modelo empírico: MCD - Mercado ........................................... 224
Figura 44 – Modelo de organização de I&D para a indústria farmacêutica: variáveis a
considerar em estudos futuros....................................................................................... 236
Figura 45 – Modelo de organização de I&D para a indústria farmacêutica: representação
gráfica da estrutura de organização a considerar em estudos futuros ........................... 237
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 – Modelos de internacionalização sintetizados na dissertação..........................15
Tabela 2 – Tipologia de actores envolvidos em I&D internacional ...................................41
Tabela 3 – Principais indicadores de internacionalização de I&D ....................................46
Tabela 4 – Principais modelos de organização de I&D internacional considerados .........48
Tabela 5 - Variáveis consideradas no modelo de Ronstadt .............................................55
Tabela 6 – Boas práticas nos processos de inovação internacional (síntese própria de
Bartlett & Ghoshal, 1990).................................................................................................57
Tabela 7 - Variáveis consideradas no modelo de Bartlett e Ghoshal ...............................59
Tabela 8 – Modelos de organização de I&D internacional (adaptado de H. Hakanson,
1990, Figura 10.2.) ..........................................................................................................61
Tabela 9 - Variáveis consideradas no modelo de Hakanson............................................62
Tabela 10 - Variáveis consideradas no modelo de Kuemmerle........................................66
Tabela 11 – Variáveis consideradas no modelo de Pearce e Papanastassiou.................70
Tabela 12 – Tipos de inovação transnacional (adaptado de Gerybadze & Reger, 1999) .72
Tabela 13 - Variáveis consideradas no modelo de Gerybadze e Reger...........................73
Tabela 14 – Comparação entre os cinco tipos de organização de I&D internacional
(adaptado de Gassmann & von Zedtwitz, 1999) ..............................................................78
Tabela 15 – Variáveis consideradas no modelo de Gassmann e von Zedtwitz ................80
Tabela 16 - Variáveis consideradas no modelo de Niosi e Godîn ....................................83
Tabela 17 – Variáveis consideradas no modelo de Zander..............................................88
Tabela 18 - Variáveis consideradas no modelo de Archibugi e Iammarino ......................92
Tabela 19 – Taxonomia proposta para as variáveis utilizadas nos modelos de
organização de I&D internacional ..................................................................................100
Tabela 20 – Tipologias de produtos na indústria farmacêutica.......................................112
Tabela 21 – Evolução do mercado farmacêutico global entre 1998-2005 (IMS, 2006)...116
Tabela 22 – Distribuição geográfica das vendas no mercado farmacêutico global em 2005
(IMS, 2006)....................................................................................................................116
Tabela 23 – Primeiros 10 mercados nacionais no mercado farmacêutico em 2001 e
previsão para 2009 (IMS, 2006).....................................................................................117
Tabela 24 – Vendas das primeiras 10 marcas no mercado farmacêutico global em 2005
(IMS, 2006)....................................................................................................................118
Tabela 25 – Vendas das primeiras 10 empresas no mercado farmacêutico global em
2005 (IMS, 2006) ...........................................................................................................118
Tabela 26 – Formas de organização de I&D internacional relevantes para a indústria
farmacêutica ..................................................................................................................139
Tabela 27 – Fontes de informação previstas para recolha no estudo de caso ...............159
Tabela 28 – Colaboradores entrevistados na PharmaEU: Principais características......163
Tabela 29 – Sumário dos resultados de codificação das variáveis: Nível 1 de codificação
......................................................................................................................................166
Tabela 30 – Sumário dos resultados de codificação das variáveis: Nível 2 de codificação
......................................................................................................................................168
Tabela 31 – Sumário dos resultados de codificação das variáveis: Nível 3 de codificação
......................................................................................................................................170
Tabela 32 – Funções internas e entidades externas que aparecem na organização de I&D
internacional da empresa PharmaEU ............................................................................178
Tabela 33 – Fluxos de informação, produtos e tecnologia que aparecem na organização
de I&D internacional da empresa PharmaEU.................................................................179
Tabela 34 – Síntese das variáveis consideradas no modelo conceptual proposto, com
indicação do número de fontes de informação por cada variável de nível 3...................212
Tabela 35 – Síntese das variáveis consideradas no modelo conceptual proposto, com
indicação do número de fontes de informação por cada variável de nível 2...................214
Tabela 36 – Síntese das variáveis consideradas no modelo conceptual proposto, com
indicação do número de fontes de informação por cada variável de nível 1...................215
Tabela 37 – Variáveis que foram consideradas no modelo conceptual e não apareceram
no modelo empírico .......................................................................................................225
Tabela 38 – Variáveis que não foram consideradas no modelo conceptual e apareceram
no modelo empírico .......................................................................................................227
ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo 1 – Conceito de internacionalização ....................................................................... I
Anexo 2 – Conceito de inovação aberta........................................................................... III
Anexo 3 – Análise comparativa dos modelos de internacionalização............................... IX
Anexo 4 – Domínios de conhecimento relacionados à internacionalização de I&D........ XIII
Anexo 5 – Teorias de internacionalização de Perlmutter e Hedlund .............................XVII
Anexo 6 - Análise comparativa dos modelos de organização de I&D internacional........XXI
Anexo 7 – Definição das variáveis incluídas no modelo holístico e das subcategorias XXV
Anexo 8 – Descrição dos fluxos entre as várias entidades envolvidas na I&D farmacêutica
internacional ............................................................................................................... XXIX
Anexo 9 – Tabelas de recolha de dados utilizadas no estudo de caso ....................... XXXI
Anexo 10 – Descrição dos fluxos entre as várias entidades envolvidas no processo de
I&D internacional da PharmaEU ................................................................................ XXXV
Anexo 11 - Variáveis consideradas no modelo conceptual proposto, com indicação do
número de fontes de informação por cada variável.................................................. XXXVII
Anexo 12 - Comparação das variáveis consideradas no modelo conceptual proposto com
as encontradas no estudo empírico ............................................................................... XLI
Anexo 13 – Comparação entre o modelo conceptual e o modelo empírico: frequências
para as variáveis de nível 3 ......................................................................................... XLIII
Anexo 14 – Comparação entre o modelo conceptual e o modelo empírico: frequências
para as variáveis de nível 2 ..........................................................................................XLV
Anexo 15 – Comparação entre o modelo conceptual e o modelo empírico: frequências
para as variáveis de nível 1 ........................................................................................XLVII
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1. PREFÁCIO
Em Julho de 2005, encontrava-me na conferência R&D Management onde vou
todos os anos, à procura de ideias cativantes, actuais e potenciamente relevantes, para
fazer o meu doutoramento. Queria fazer algo útil, com implicações práticas e
cientificamente interessantes para mim e para uma comunidade científica mais alargada.
Não me imaginava a trabalhar sozinha, fechada no meu gabinete durante vários anos,
mas perto do mundo empresarial e a trocar ideias com colegas investigadores para testar
constantemente o meu trabalho.
Depois de assistir a várias apresentações interessantes, e incentivada pelo calor
de Pisa naquela altura, saí para uma esplanada perto da Scuola Superiore Sant’Anna à
procura de uma bebida refrescante. Encontrei um colega e amigo, excelente investigador,
Phil Cooke, com o qual comecei uma conversa animada, da qual acabaria por surgir a
ideia de estudar a indústria farmacêutica. Devo ao Phil o interesse por esta indústria, e
fico contente que ele teve razão pois gostei de a estudar.
De regresso a Portugal, procurei mais informação, validei e organizei algumas
ideias, e foi com a ajuda do professor Borges Gouveia que a ideia inicial se transformou
num projecto realista. Delineámos em conjunto aquilo que havia de ser um primeiro
esboço da investigação apresentada nesta dissertação e tivemos uma primeira conversa
com o responsável máximo de uma grande empresa farmacêutica para validar a
abordagem. Mais uns acertos, e estava pronta para iniciar, em Fevereiro de 2006, o
projecto de investigação mais interessante que desenvolvi até à data, e certamente o
mais envolvente.
Mal comecei a trabalhar na dissertação, procurei logo compreender as questões
metodológicas. Queria ter algo que guiasse o processo de desenvolvimento da tese e
que me desse uma razoável certeza de que estava a seguir o caminho certo. Descobri
que a minha forma de ver o mundo é pragmática, e que para mim não há só uma
verdade, mas várias perspectivas subjectivas sobre o mesmo evento. Não acredito que
só uma perspectiva pode ser a certa, porque acredito que as pessoas têm limitações na
sua capacidade de compreender e descrever o mundo. O universo é muito grande e
complexo para o conseguirmos desvendar e descrever sozinhos. Pelo menos por
enquanto.
2
Uma consequência visível desta ontologia pragmática é a abordagem crítica
(construtiva e sustentada) da literatura analisada e do meu próprio contributo. Uma outra
é a escolha dos caminhos mistos para atingir o objectivo final, de acordo com as
necessidades, à medida que o trabalho avança, e escolhidos de entre os vários caminhos
possíveis.
E se não acredito que só uma perspectiva é a certa, acredito vivamente que
devemos fazer o nosso trabalho (neste caso, a nossa investigação) com o máximo rigor,
método e honestidade, tornando-o claro para quem o analisa, e permitindo a identificação
de limitações e possibilidades de melhoria. No fundo, permitindo que o trabalho feito seja
alvo de crítica. Foi isso que me guiou na realização da dissertação, pelo que espero que
as próximas páginas lhe permitam compreender o que foi feito, porquê e como, com a
maior clareza e transparência.
Ao longo dos três anos em que desenvolvi a dissertação, descobri que fazer
investigação de qualidade sobre a organização de I&D internacional é um desafio. E que
fazer investigação sobre a organização de I&D internacional na indústria farmacêutica é
um desafio ainda maior.
Em primeiro lugar, porque a área de investigação é recente (começou nos anos
oitenta) e porque os contributos são multidisciplinares. Há poucos estudos sobre a forma
como a I&D se organiza ao nível internacional, realizados por investigadores ligados à
economia, gestão estratégica, gestão da tecnologia, entre outros. Os estudos empíricos
com amostras relevantes escasseiam e a investigação qualitativa que ajudaria à
compreensão do fenómeno estudado é praticamente inexistente. A literatura sobre
internacionalização da empresa reflecte-se insuficientemente, no meu entender, nas
abordagens utilizadas para a I&D internacional. Podia haver mais integração; há muito
que se podia aprender pelo cruzamento das perspectivas dos investigadores destas duas
áreas. Em suma, há pouca informação estruturada e organizada que permita a
identificação de melhores práticas nesta área e dos principais desafios associados, de
uma forma holística.
Em segundo lugar, porque a indústria farmacêutica tem uma reputação de
secretismo, particularmente no que respeita ao seu processo de I&D (isto é, de
desenvolvimento de medicamentos e processos de fabrico), e a informação que a esta
diz respeito é um bem privado e caro (incluída, por exemplo, em relatórios de Business
Intelligence). Trata-se de uma indústria de tecnologia intensiva cujo mercado é global e
3
em que o principal factor de competitividade é a inovação (por norma baseada no
desenvolvimento de produtos novos para áreas terapêuticas muito diversas, protegidos
por patentes). As primeiras dez empresas detinham 40% do mercado global em 2005 e
não há sinais de que esta situação se possa estar a alterar significativamente. Acresce
que em Portugal e países vizinhos há poucas empresas farmacêuticas a fazerem I&D.
Resumindo, nem a área de estudo está consolidada, nem a informação ou as
empresas farmacêuticas estão facilmente acessíveis, o que levanta desafios e cria
oportunidades. Foi por causa das oportunidades identificadas que comecei este trabalho,
e, também, dos desafios, porque nunca gostei de projectos fáceis. Esperava encontrar
dificuldades pelo caminho e encontrei-as. Consegui contorná-las com o apoio de muitas
pessoas amigas, às quais agradeci na altura e volto a fazê-lo agora porque nunca é
demais.
Tive a sorte de realizar um trabalho de que gostei e de que gosto. Foi um trabalho
individual e simultaneamente de equipa, com o professor Borges Gouveia. Tivemos
conversas enriquecedoras que me ajudaram a abordar melhor a investigação. Recebi
excelente feedback sobre aquilo que estava a descobrir (ou pensar que estava a
descobrir!). Tive o apoio de que precisava, na altura em que precisava dele.
Tive a liberdade de escolher os caminhos e de os testar. Tive a oportunidade de
trocar opiniões com investigadores e profissionais de muitas áreas disciplinares. E, mais
importante de tudo, tive a possibilidade de aprender muito e de trazer algum contributo
para a área de investigação que analisei, por mais pequeno que este seja, o que me
deixa satisfeita. Não trabalhei em vão. Foi uma excelente experiência e somente espero
encontrar no futuro oportunidades para me envolver em projectos igualmente (ou mais)
desafiantes.
Tenho a noção de que muito mais podia ter sido feito, com melhor acesso à
informação, com mais tempo ou com mais recursos financeiros. Mas a ciência avança
passo a passo e partilhar resultados pequenos faz parte do seu progresso...
Irina Saur-Amaral
Aveiro, Junho de 2009
5
2. INTRODUÇÃO
A internacionalização1 tem sido estudada desde os anos sessenta, como
resultado da abertura da economia americana e início das exportações para a Europa
(Vernon, 1966). Os vários autores que analisaram a internacionalização têm uma
abordagem baseada na internacionalização da produção e das vendas, e o
desenvolvimento da teoria das multinacionais, entre outros, levantou algumas questões
sobre a transferência de conhecimento e a internacionalização de I&D, mas baseadas no
corpo teórico desenvolvido com base na internacionalização da produção e das vendas
(Dunning & Narula, 1995; Narula & Santangelo, 2009; Narula & Zanfei, 2005).
Os primeiros estudos que contemplam a internacionalização das actividades de
I&D partindo do pressuposto que estas têm dinâmicas diferentes das actividades de
produção e vendas, e que apresentam especificidades suficientemente importantes para
as estudar separadamente, começam a aparecer com alguma frequência nos anos
oitenta (por exemplo: Ronstadt, 1984). Desde então, o desenvolvimento do corpo teórico
associado à internacionalização de I&D considerou:
• as razões para a internacionalização de I&D (por exemplo: Dunning &
Narula, 1995; Gammeltoft, 2005; Gassmann & Reepmeyer, 2005; Gerybadze
& Reger, 1999; Kuemmerle, 1996; Narula & Zanfei, 2005; Walsh, 2002);
• os actores envolvidos na internacionalização de I&D (por exemplo:
Archibugi & Iammarino, 2002; Gammeltoft, 2005; Gerybadze & Reger, 1999);
• as metodologias de estudo e os indicadores para a medição do grau de
internacionalização de I&D (por exemplo: Archibugi & Iammarino, 2002;
Gammeltoft, 2005; Gerybadze & Reger, 1999; Narula & Zanfei, 2005; Niosi,
1999);
• as formas de organização de I&D internacional (por exemplo: Archibugi &
Iammarino, 2002; Bartlett & Ghoshal, 1990; Gammeltoft, 2005; Gassmann &
von Zedtwitz, 1999; Gerybadze & Reger, 1999; H. Hakanson, 1990;
Kuemmerle, 1999; Niosi, 1999; Niosi & Godin, 1999; Patel & Vega, 1999;
Pearce & Papanastassiou, 1999; Ronstadt, 1984; Zander, 1999).
1 Ver no Anexo 1 a definição do conceito de internacionalização e as principais abordagens
teóricas.
6
Há uma concentração significativa dos estudos sobre a internacionalização de I&D
que focam na componente de organização de I&D internacional e um número limitado de
estudos sobre as principais razões que levam à internacionalização de I&D e sobre os
actores envolvidos no processo. As principais metodologias utilizadas até à data para
estudar a internacionalização de I&D e os indicadores utilizados para fins de medição da
dimensão deste processo também foram pouco estudados (Niosi, 1999). No presente
doutoramento, a internacionalização de I&D é analisada na perspectiva de organização
de I&D internacional, que representa a área mais desenvolvida desde os anos oitenta.
Relativamente à componente associada à organização de I&D internacional,
alguns modelos foram propostos na literatura (desde estruturas centralizadas até redes
heterárquicas, e mais recentemente abordagens híbridas que consideram questões
associadas à inovação aberta2 (Chesbrough, 2003a; Cooke, 2006)) (Archibugi &
Iammarino, 2002; Bartlett & Ghoshal, 1990; Gammeltoft, 2005; Gassmann & von
Zedtwitz, 1999; Gerybadze & Reger, 1999; H. Hakanson, 1990; Kuemmerle, 1999; Niosi,
1999; Niosi & Godin, 1999; Pearce & Papanastassiou, 1999; Ronstadt, 1984; Zander,
1999).
Numa perspectiva histórica, as formas de organização de I&D internacional
começaram com estruturas centralizadas, dominadas pela empresa mãe e evoluiram
durante os anos noventa para estruturas tipo redes, mais “democráticas”, com estratégias
alinhadas e objectivos globais (Niosi, 1999; Saur-Amaral & Borges Gouveia, 2008a,
2008b). Alguns autores identificaram uma tendência actual na direcção de um aumento
do controlo hierárquico nas estruturas tipo rede, devido à complexidade associada à
coordenação da rede e aos custos acrescidos (Gammeltoft, 2005; Gassmann & von
Zedtwitz, 1999), mas as evidências ainda escasseiam.
Porém, muitos dos modelos de organização de I&D internacional propostos
na literatura são limitados, por não terem sido validados devidamente ou não se
aplicarem a sectores industriais específicos (o que representa um aspecto
fundamental no presente doutoramento).
Por exemplo, a indústria farmacêutica confronta-se com a necessidade de
aumentar a eficiência do seu processo de I&D, que é desenvolvido a nível
internacional. Faltam soluções concretas para gerir a I&D internacional nesta
2 Ver no Anexo 2 a definição do conceito de inovação aberta e as principais abordagens teóricas.
7
indústria e é necessário compreender que modelos de organização de I&D
internacional se aplicam na indústria farmacêutica e em que contexto (Gassmann, et
al., 2004; ICH, 2007; IFPMA & FIIM, 2004; IMS, 2006, 2007; Saur-Amaral & Borges
Gouveia, 2008a, 2008b; Staropoli, 1998).
Na presente investigação, pretende-se preencher essas lacunas respondendo às
seguintes questões de investigação:
• Que modelos de organização de I&D internacional se aplicam na indústria
farmacêutica?
• Como se gere a I&D internacional na indústria farmacêutica?
A tese do presente doutoramento é ser possível identificar um modelo de
organização de I&D internacional aplicável na indústria farmacêutica, e determinar os
respectivos actores e forma de gerir a I&D.
A metodologia utilizada é pragmática, utilizando a revisão da literatura como
ponto de partida para a construção de um modelo, que é subsequentemente testado
empiricamente no contexto de um estudo de caso.
Os contributos esperados da dissertação são:
• desenvolvimento de um modelo de I&D internacional com características
sectoriais, que falta no actual corpo teórico;
• desenvolvimento de de uma ferramenta potencialmente útil para os gestores
de I&D da indústria farmacêutica ou fazedores de política.
Para responder às questões de investigação e permitir alcançar os resultados
desejados, a investigação foi organizada como se descreve de seguida (ver,
também, a Figura 1).
Começou-se por fazer a revisão da literatura sobre a internacionalização em geral
(apresentada no capítulo 2) e sobre a internacionalização de I&D em particular
(apresentada no capítulo 3). Definem-se os principais conceitos e identificadas as
principais linhas de pensamento, sempre numa perspectiva crítica sobre a literatura
analisada, com vista a identificar pontos fortes e limitações da mesma. No final do
capítulo 3, desenvolve-se um modelo holístico de organização de I&D internacional, como
resultado da inexistência de um modelo teórico suficientemente completo para ser
aplicado num estudo empírico sectorial.
8
De seguida, no capítulo 4, apresentam-se algumas características da indústria
farmacêutica, ao nível do seu enquadramento, principais factores de competitividade e
importância da inovação/I&D farmacêutica.
Utilizando as ilações da caracterização da indústria farmacêutica, adaptou-se o
modelo holístico desenvolvido no capítulo 3 à realidade da indústria farmacêutica.
Identificam-se as formas de organização de I&D internacional mais susceptíveis de se
aplicar no caso desta indústria e, também, as variáveis do modelo holístico que têm à
partida mais probabilidade de desempenhar um papel relevante na organização da I&D
internacional farmacêutica. Resulta um modelo de organização de I&D internacional com
aplicabilidade potencial na indústria farmacêutica, designado por modelo proposto para a
organização de I&D internacional na indústria farmacêutica e apresentado no capítulo 5.
Este modelo proposto serve de base para a verificação empírica realizada no próximo
capítulo.
No capítulo 6, apresentam-se as principais questões metodológicas. A
investigação enquadra-se no paradigma pragmático e utilizam-se métodos mistos. A
estratégia de investigação utilizada é o estudo de caso, que permite responder às
questões de investigação, no contexto das especificidades da indústria farmacêutica.
Este capítulo apresenta em pormenor as decisões metodológicas tomadas e as razões
subjacentes e, também, o protocolo de investigação que orienta o estudo empírico.
A componente empírica é apresentada no capítulo 7 e contempla uma breve
caracterização do estudo de caso realizado e da recolha de dados, seguida por um relato
narrativo da forma de organização de I&D internacional identificada e da respectiva
gestão de I&D. Apresenta-se uma análise comparativa entre os resultados obtidos na
componente empírica e o modelo proposto para organização de I&D internacional na
indústria farmacêutica. No final deste capítulo faz-se a discussão das implicações do
estudo empírico sobre o corpo teórico associado à organização de I&D internacional, com
indicação das principais variáveis, aspectos de gestão e outras questões chave que pode
ser importante validar em estudos empíricos futuros.
Acaba-se com as conclusões da investigação, apresentadas no capítulo 8.
Analisa-se a forma como foram respondidas as questões de investigação colocadas e a
medida em que foram alcançados os resultados esperados. Incluem-se algumas
implicações para gestão, políticas e futuras direcções de investigação relacionadas com a
presente investigação.
9
Figura 1 – Esquema da investigação realizada
11
3. TEORIAS E MODELOS PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO
3.1. CONTÉUDO E LÓGICA DO CAPÍTULO
O presente capítulo aborda o conceito de internacionalização e as principais
linhas de pensamento associadas à internacionalização, e tem como objectivo
compreender o quadro de referência abrangente para a internacionalização de I&D, o
principal enfoque da dissertação.
O capítulo está estruturado como se segue. Primeiro, apresentam-se as principais
linhas de pensamento científico associadas à internacionalização. Segundo, apresenta-se
uma síntese dos principais modelos de internacionalização e efectua-se um análise
comparativa dos mesmos com vista a delinear as principais vantagens e insuficiências de
cada modelo. Por fim, reflecte-se sobre as principais características da literatura revista
sobre a internacionalização e as suas implicações sobre o estudo da internacionalização
de I&D.
3.2. LINHAS DE PENSAMENTO CIENTÍFICO ASSOCIADAS À INTERNACIONALIZAÇÃO
Sabe-se que a internacionalização da empresa é um processo de envolvimento
internacional de uma empresa, num ou vários países. É um processo através do qual
parte das actividades de uma empresa passam a ser desempenhadas fora do país de
origem, seja em unidades de negócio associadas à empresa mãe e localizadas no
estrangeiro (por exemplo, subsidiárias), seja através de terceiros (por exemplo,
subcontratação, representantes), seja utilizando uma combinação das duas soluções
anteriores (Archibugi & Iammarino, 2002; Havila, et al., 2002a; Saur-Amaral & Borges
Gouveia, 2006).
Como brevemente especificado na introdução (ver capítulo 1), no contexto da
presente dissertação e por uma questão de parcimónia, quando se referir à
internacionalização da empresa vai ser utilizado o termo de internacionalização.
Sabe-se, também, que a internacionalização de I&D tem sido objecto de uma
literatura específica (por exemplo, Archibugi & Iammarino, 2002; Dunning, 1998; Dunning
& Narula, 1995; H. Hakanson, 1990; L. Hakanson & Nobel, 1993a; Kuemmerle, 1996,
1999; Niosi, 1999; Roper & Hewitt-Dundas, 2006; von Zedtwitz, 2007; von Zedtwitz &
12
Gassmann, 2002; Wolff, 2006; Zander, 2002), tratada de forma distinta das actividades
de produção ou de vendas, e alegadamente influenciada pelas teorias de
internacionalização da empresa, um aspecto a abordar com mais pormenor na síntese
conclusiva do presente capítulo.
Refere-se que a literatura específica relativa à internacionalização da actividade
de investigação e desenvolvimento, o principal enfoque da presente dissertação, é
abordada em capítulo aparte (ver capítulo 3).
A internacionalização tem sido intensamente estudada desde os anos sessenta
(na perspectiva dos factores responsáveis pela internacionalização e do processo
propriamente dito). Há vários modelos de internacionalização propostos na literatura e há,
também, várias linhas de pensamento associadas, que foram alvo de análise e
classificação de vários investigadores (Fletcher, 2001; Havila, et al., 2002a; Malhotra, et
al., 2003; Ruzzier, et al., 2006, entre outros).
Virpi Havila, Mats Forsgren e Hakan Hakanson (2002b) apresentam na sua
monografia uma síntese interessante das várias linhas de pensamento associadas à
internacionalização, que classificam em duas categorias:
• internacionalização na perspectiva da empresa;
• internacionalização na perspectiva das redes.
A linha de pensamento da internacionalização na perspectiva da empresa
considera que a empresa desenvolveu certas características internas (por exemplo:
recursos disponíveis, estrutura da empresa, objectivos especiais, experiência específica)
que podem desencadear o processo de mudança. Trata-se de razões endógenas para a
internacionalização. A internacionalização é encarada como uma reacção a um estímulo
endógeno, “um processo em que o conhecimento acumulado junta-se aos compromissos
sucessivos em mercados estrangeiros” (Havila, et al., 2002a, p. 202).
O enfoque é dado aos factores endógenos, enquanto se considera que o
ambiente em que a empresa se insere é responsável, essencialmente, por criar
oportunidades (Havila, et al., 2002a). O modelo de internacionalização de Uppsala
(Johanson & Vahlne, 1977) enquadra-se nesta categoria.
Uma abordagem enquadrada na linha de pensamento da internacionalização na
perspectiva das redes considera que a razão principal para a internacionalização é
13
representada por uma variável exógena (por exemplo: clientes, fornecedores,
desenvolvimento do país de origem, evolução do mercado) que obriga a empresa a reagir
e adaptar-se às novas condições (Havila, et al., 2002a). O modelo de Vernon (1966), que
foca no ciclo de vida dos produtos, enquadra-se nesta categoria e a internacionalização é
encarada como uma reacção a um estímulo exógeno (Havila, et al., 2002a).
Ainda uma outra abordagem associada à perspectiva das redes considera que os
factores endógenos e exógenos se relacionam uns com os outros sistemática e
activamente, e podem ser analisados de uma perspectiva de interacção empresa –
ambiente/actores exógenos (Havila, et al., 2002a).
A internacionalização é encarada como um processo, seja este independente (que
deve ser estudado e compreendido à parte), seja este uma consequência de um outro
processo (que deve ser analisado da perspectiva da interacção com este outro processo)
e define-se como “um processo relacionado com o desenvolvimento global da interface
entre uma empresa e o ambiente em que se insere, visto à luz da rede da qual faz parte”
(Havila, et al., 2002a, p. 203).
Fazendo a ligação com a secção seguinte, menciona-se que grande parte dos
modelos de internacionalização assume haver interacção entre a empresa e o ambiente
em que se insere.
Muitos destes modelos consideram haver interacção e influência entre um
determinado aspecto/componente da empresa e um determinado factor exógeno,
analisando a internacionalização genericamente. Uma alternativa mais rica e mais
complexa é considerar que a interface entre a empresa e o ambiente em que se insere é
constituída por um conjunto dinâmico de relações, parte de uma rede maior, dinâmica, de
relações (Fletcher, 2001; Havila, et al., 2002a, 2002b; Havila & Salmi, 2002).
14
3.3. MODELOS DE INTERNACIONALIZAÇÃO
Na literatura associada à internacionalização podem ser encontrados vários
modelos interessantes, que têm sido referidos e validados nas últimas décadas (Cantwell,
1995; Cavusgil, 1980; Dunning, 1980, 1988; Fletcher, 2001; Hymer, 1976; Johanson &
Mattson, 1993; Johanson & Vahlne, 1977; Johanson & Wiedersheim-Paul, 1975;
McDougall, et al., 1994; Oviatt & McDougall, 1994, 2005b; Vernon, 1966, 1979;
Williamson, 1985, entre outros) .
Os modelos podem ser divididos em (Ambos, et al., 2006; Bilkey & Tesar, 1977;
Cerrato, 2006; Eisenhardt & Martin, 2000; Foss & Pedersen, 2002; Ghauri & Buckley,
2002; Hill, 2005; Kogut & Zander, 2003; Malhotra, et al., 2003; Miozzo, et al., 2005;
Perlmutter, 1969; Prahalad & Hamel, 1990; Tornroos, 2002; Welch & Welch, 1996; Zollo
& Winter, 2002):
• modelos associados a uma perspectiva económica (modelo da integração3 de
Hymer, do ciclo de vida dos produtos de Vernon, dos custos de transacção de
Williamson ou modelo ecléctico de Dunning, entre outros),
• modelos associados a perspectivas de gestão estratégica ou gestão de fluxos
de conhecimento (modelo de Uppsala de Johanson e Vahlne, modelo das
redes de Johanson e Mattson ou modelo International New Ventures de Oviatt
e McDougall, entre outros).
Apresentam-se na Tabela 1 os modelos de internacionalização considerados mais
citados (Hill, 2005; Jacobs, et al., 1997; Malhotra, et al., 2003; Tornroos, 2002) por ordem
cronológica da primeira publicação associada a cada modelo.
Inclui-se nessa tabela informação actualizada sobre o número de citações da
primeira publicação associada a cada modelo, que foi recolhida no dia 14 de Janeiro de
2009 de ISI Web of Knowledge para as publicações incluídas nessa base de dados, e de
Elsevier/ScienceDirect para as restantes publicações.
3 O termo inglês é “internalization”, e foi traduzido na presente dissertação por “integração”.
15
Tabela 1 – Modelos de internacionalização sintetizados na dissertação
Modelo Primeira publicação
N.º de citações Citações / ano (relativas a 2008)
Base de dados
Secção da dissertação
Ciclo de vida
(Vernon, 1966) 1136 27.04 ISI Web of Knowledge
2.3.1
Uppsala (Johanson & Wiedersheim-
Paul, 1975)
234 7.09 ISI Web of Knowledge
2.3.2
Ecléctico (Dunning, 1980) 173 6.18 ISI Web of Knowledge
2.3.3
International new
ventures
(Oviatt & McDougall,
1994)
217 15.5 ISI Web of Knowledge
2.3.4
Holístico (Fletcher, 2001) 13 1.86 Elsevier/ ScienceDirect
2.3.5
Estes modelos são descritos nas próximas secções da dissertação, pela ordem
apresentada e no fim do capítulo apresenta-se uma análise comparativa dos mesmos.
3.3.1. MODELO CICLO DE VIDA
O modelo de Vernon foi criado nos anos sessenta, com base na observação de
que grande parte dos produtos novos a nível mundial tinham sido desenvolvidos nos
Estados Unidos e vendidos primeiro nesse mercado. De acordo com este autor, a
dimensão e a riqueza deste mercado incentivava as empresas americanas a
desenvolverem novos produtos que, devido às características da procura, podiam ter no
início um preço relativamente elevado (que permitia ultrapassar os custos elevados de
mão-de-obra nos EUA) (Vernon, 1966).
No início do ciclo de vida dos produtos, a procura ao nível do mercado americano
era elevada, enquanto nos países desenvolvidos havia procura reduzida e somente na
classe média-alta de consumidores. As empresas americanas não tinham justificação
para produzir nestes países, mas faziam exportações. Mas à medida que a procura
aumenta nos países desenvolvidos, as empresas americanas optam por criar unidades
produtivas nesses países, para melhor satisfazer os clientes (Jacobs, et al., 1997;
Tornroos, 2002; Vernon, 1966).
Mais tarde, quando o mercado americano amadureceu, o produto ficou mais
estandardizado, e o preço tornou-se um factor competitivo importante. É nesta fase que
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as empresas americanas deslocalizaram a produção para países com baixo custo de
mão-de-obra e começaram a importar produtos para os EUA (Jacobs, et al., 1997;
Vernon, 1966).
O modelo de ciclo de vida do produto aborda a internacionalização como um
processo faseado, específico a cada empresa, e considera os mercados domésticos e
estrangeiros como principais factores impulsionadores (Tornroos, 2002; Vernon, 1966),
enquadrando-se por esta razão na linha de pensamento da internacionalização na
perspectiva das redes.
Trata-se de um modelo que está limitado pelas variáveis incluídas na análise, e
que poderá ainda aplicar-se somente em circunstâncias específicas, por exemplo,
quando se quer analisar a internacionalização do ponto de vista das diferenças
tecnológicas entre várias partes do mundo (Malhotra, et al., 2003; Tornroos, 2002).
Hill (2005) considera o modelo pouco relevante para o mundo moderno e o próprio
Vernon escreveu uma crítica em 1979 (Vernon, 1979), mas o modelo Ciclo de Vida
continua a representar uma referência importante na literatura associada à
internacionalização, com 1136 citações em 14 de Janeiro de 2009 (ver Tabela 1).
3.3.2. MODELO UPPSALA
O modelo Uppsala foi criado por Johanson e Wiedersheim-Paul (1975) e
desenvolvido por Johanson e Vahlne (1977). Este modelo analisa o processo de
internacionalização das pequenas e médias empresas, partindo do pressuposto de que a
empresa é um sistema em que actores diferentes têm interesses e ideias diferentes sobre
o desenvolvimento da empresa; que assume poucos riscos; e que maximiza a obtenção
de lucros a longo prazo com base no conhecimento limitado sobre os mercados em que
actuam.
Na óptica de Johanson e Vahlne (1977), o processo de internacionalização é o
resultado da interacção entre aspectos estáticos (conhecimento sobre o mercado e
comprometimento no mercado) e aspectos dinâmicos (decisões de
comprometimento e actividades correntes), tal como se revela na Figura 2.
17
Figura 2 – Modelo Uppsala (adaptado de Johanson & Vahlne, 1977, Fig. 1, p. 26 )
Havendo uma situação inesperada, a empresa reage, compromete alguns
recursos no mercado estrangeiro e começa a ganhar conhecimento através das
actividades que desempenha neste mercado. À medida que o tempo passa, o
conhecimento acumulado sobre este mercado reduz a percepção do risco e encoraja o
comprometimento de recursos adicionais neste mercado (Johanson & Vahlne, 1977,
2003).
No que respeita aos aspectos estáticos (conhecimento sobre o mercado), os
autores definem vários tipos de conhecimento relevante para actuar no mercado
internacional (Johanson & Vahlne, 1977, 2003):
• conhecimento baseado na experiência (que somente se adquire através da
experiência individual, do desempenho das actividades correntes);
• conhecimento objectivo (que pode ser aprendido sem experiência, através de
ensino);
• conhecimento geral (por exemplo, capacidade de marketing) e conhecimento
específico ao mercado (por exemplo, características específicas do mercado
estrangeiro);
• conhecimento sobre como internacionalizar e conhecimento dos mercados
estrangeiros.
O modelo de Uppsala considera duas fases no processo de internacionalização.
Numa primeira desenvolvem-se estruturas e rotinas compatíveis com os seus recursos e
competências. E na segunda utilizam-se essas estruturas e rotinas para procurar
18
conhecimento baseado na experiência sobre os mercados estrangeiros (Johanson &
Vahlne, 1977, 2003).
No que respeita aos aspectos estáticos (comprometimento no mercado), os
autores consideram que o comprometimento no mercado pode ser analisado através de
duas variáveis: a quantidade de recursos (isto é, a dimensão do investimento no mercado
estrangeiro) e o grau de comprometimento (isto é, a dificuldade ou facilidade de
desinvestir, de encontrar outro “destino” e de transferir os recursos atribuídos a um certo
mercado) (Johanson & Vahlne, 1977, 2003).
Sobre os aspectos dinâmicos (decisões de comprometimento no mercado),
Johanson e Vahlne (1977, 2003) afirmam que as decisões de comprometimento no
mercado dependem da percepção de problemas e oportunidades no mercado
internacional. Na decisão de investimento pesam o risco do mercado estrangeiro (uma
combinação dos recursos já comprometidos nesse mercado e da sua incerteza) e o risco
máximo que a empresa quer assumir. Estes autores referem que, por norma, o
comprometimento no mercado é feito em pequenos passos, com três excepções
• As empresas com muitos recursos, devido ao risco reduzido, podem fazer
passos maiores.
• No caso de mercados estáveis e homogéneos pode ganhar-se conhecimento
relevante por outras vias que não a experiência individual.
• As empresas que têm conhecimento avançado noutros mercados com
condições semelhantes podem aplicar por analogia a sua experiência a um
novo mercado.
Com base neste raciocínio, podem ser explicadas duas situações de
internacionalização (Johanson & Vahlne, 1977, 2003).
Primeiro, que o envolvimento de uma empresa num mercado específico segue um
modelo preestabelecido e faseado:
• No início não há exportação.
• De seguida, arranjam-se agentes de exportação.
• Depois, abre-se uma subsidiária para venda.
• Por último, passa-se à produção no país estrangeiro.
19
Assim, a empresa ganha informação sobre o mercado estrangeiro, passo a passo.
Segundo, que as empresas tendem a entrar fisicamente nos mercados
psicologicamente mais próximos e depois movem-se gradualmente para os mercados
que se encontram mais longe.
A distância psicológica está relacionada com a língua, cultura, sistema político,
práticas de negócio, entre outros, que diferenciam os mercados. Quanto maior for a
distância psicológica, mais dificuldades têm as empresas em compreender o novo
mercado. Mas à medida que a empresa acumula conhecimento sobre o mercado, esta
distância psicológica poderá ser ultrapassada (Johanson & Vahlne, 1977, 2003).
O modelo de Uppsala enquadra-se na linha de pensamento da
internacionalização na perspectiva da empresa. Este modelo continua válido no que
respeita ao envolvimento gradual e baseado na aprendizagem em actividades de
internacionalização (entrada e aumento da actividade internacional num dado mercado
estrangeiro), apesar das várias críticas e alterações realizadas desde que foi proposto
pela primeira vez.
A sua aplicação é contudo limitada e não inclui aspectos essenciais para explicar
as novas formas de internacionalização, tais como as Born Globals (Jacobs, et al., 1997;
Johanson & Vahlne, 2003; Oviatt & McDougall, 1994, 2005b; Tornroos, 2002).
Em 2003, os próprios autores analisaram o modelo à luz da perspectiva das redes
(Johanson & Mattson, 1993) e concluíram que a aprendizagem gradual pode ser
realizada através de interacção e relações continuadas com redes de actores que actuam
no mercado estrangeiro visado. Isto inclui no modelo inicial a questão da relação entre a
aprendizagem baseada na experiência e o comprometimento nos mercados e nas
relações com outros actores e permite abrir novos caminhos para a aplicação deste
modelo e para o seu desenvolvimento numa lógica diferente, enquadrada na linha de
pensamento sobre internacionalização na perspectiva das redes (Johanson & Vahlne,
2003).
20
3.3.3. MODELO ECLÉCTICO
O modelo ecléctico de internacionalização, também conhecido por modelo OLI, foi
sugerido por John Dunning e baseia-se na teoria da integração4 (Buckley & Casson,
1976, 1999), que se descreve brevemente de seguida.
Segundo Buckley e Casson (1976, 1999), os bens finais e intermédios têm um
mercado num determinado país estrangeiro quando se verificam uma ou várias das
seguintes situações:
• há empresas locais que produzem os bens no respectivo país;
• há subsidiárias de multinacionais que produzem os bens no respectivo país;
• há exportações feitas para empresas locais;
• há exportações feitas para empresas detidas por multinacionais.
As quatro situações anteriormente referidas distinguem-se através da localização
da produção dos respectivos bens (no respectivo país estrangeiro ou fora dele) ou da
propriedade das empresas que produzem ou comercializam os bens no respectivo país
estrangeiro).
O conceito de integração introduzido por Buckley e Casson (1976) está associado
à propriedade das actividades de produção de bens finais ou intermédios e implica a
incorporação dessas actividades na empresa como resultado da necessidade de
ultrapassar certas incertezas associadas aos mercados estrangeiros e de aumentar o
controlo sobre essas actividades.
John Dunning constrói sobre a teoria da integração de Buckley e Casson (1976) e
explica as razões para a internacionalização das actividades desenvolvidas em
multinacionais e o seu envolvimento nos mercados internacionais, com base em três
categorias de vantagens que uma empresa pode valorizar (Dunning, 1980, 1988, 1999):
• vantagens específicas da multinacional (ownership advantages), que
pertencem unicamente a esta empresa;
• vantagens de localização (localization advantages), que se referem às
características específicas do ponto de vista geográfico;
4 O termo inglês é “internalization”, e foi traduzido na presente dissertação por “integração”.
21
• vantagens de integração (internalization advantages), que se referem à
incorporação na respectiva empresa de actividades de produção de bens
intermédios ou finais.
As vantagens específicas da multinacional dizem respeito a certas
características próprias da empresa que lhe permitem estar numa melhor posição para
valorizar certos recursos e aproveitar determinadas oportunidades no mercado, tais como
(Dunning, 1980, 1988, 1999):
• dimensão (as empresas multinacionais têm grande dimensão, o que lhes
permite atingir economias de escala e, consequentemente, reduzir os seus
custos unitários e permite uma melhor utilização dos seus recursos);
• conhecimento inimitável (as multinacionais têm competências superiores, o
que lhes permite ser competitivas em mercados internacionais e ajuda a
ultrapassar as desvantagens relativamente aos competidores já consagrados
nesses mercados).
As vantagens de localização relacionam-se com a possibilidade que as
multinacionais têm de combinar vantagens nacionais com outras vantagens disponíveis
em certas localizações estrangeiras com vista a valorizar as suas vantagens específicas
e obter uma melhor posição competitiva (Dunning, 1980, 1988, 1999).
As vantagens de integração são obtidas quando a multinacional decide
incorporar actividades relacionadas com a produção de bens finais ou intermédios
realizadas no estrangeiro (Dunning, 1980, 1988, 1999).
Trata-se de uma alternativa ao licenciamento das vantagens específicas, em que
a multinacional decide investir para valorizar essas vantagens por si própria, para
ultrapassar certas imperfeições nos mercados estrangeiros (incerteza sobre o mercado,
sobre as matérias-primas, sobre a qualidade dos produtos). As multinacionais optam por
esta solução porque permite evitar custos contratuais elevados e permite controlar os
pontos de venda do mercado (Dunning, 1980, 1988, 1999).
John Dunning afirma que uma empresa doméstica não possui nenhuma das três
categorias de vantagens acima referidas e, ainda, que uma multinacional deve possui-las
todas, tendo-as adquirido sequencialmente (Dunning, 1980, 1988).
22
O autor identifica, também, várias razões que levam uma multinacional a envolver-
se em mercados estrangeiros (Dunning, 1980, 1988):
• procura de recursos mais baratos ou de melhor qualidade fora do país de
origem;
• procura de competências novas e relevantes, por exemplo, para ajudar no
desenvolvimento de novos produtos;
• procura de eficiência através da coordenação de várias actividades dispersas
geograficamente e concentradas para atingir efeitos de economia de escala e
gama;
• procura de activos estratégicos que reforçam a posição competitiva da
empresa ou enfraquecem a dos competidores;
• procura de mercados novos ou desenvolvimento de mercados existentes com
vista a aumentar as oportunidades de crescimento da empresa.
Algumas das principais limitações deste modelo residem na sua falta de aplicação
à internacionalização das pequenas e médias empresas e na sua concepção demasiado
“económica” (isto é, podia incluir algumas perspectivas das outras disciplinas, tais como a
procura de obtenção de activos estratégicos, ou de eficiência acrescida, através da
internacionalização) (Malhotra, et al., 2003; Tornroos, 2002).
O modelo ecléctico está, também, muito focado no interior da multinacional e na
sua capacidade de aumentar a eficiência das suas vantagens, e não considera
devidamente a importância das redes externas e alianças estratégicas (Johanson &
Mattson, 1993; Parkhe, 1991). Enquadra-se na linha de pensamento da
internacionalização na perspectiva da empresa.
23
3.3.4. MODELO INTERNATIONAL NEW VENTURES
O modelo International New Ventures resultou da reacção de Oviatt e McDougall
(1994) ao modelo de Uppsala, que não permite explicar porque certas empresas
conseguem internacionalizar-se cedo e depressa. De acordo com estes autores (Oviatt &
McDougall, 1994, 2005a, 2005b), as International New Ventures (INV) surgiram porque:
• os custos de comunicação e transporte internacional diminuíram, o que tornou
as actividades internacionais mais eficientes e reduziu os custos de entrada;
• muitos mercados nacionais se tornaram mais homogéneos, o que permitiu
maior integração e reduziu a distância psicológica entre os mercados;
• a experiência de gestão internacional se tornou disponível à larga escala,
permitindo que as empresas acedessem a este conhecimento através de
recrutamento;
• o financiamento internacional se tornou disponível, o que aumentou as
oportunidades para uma internacionalização rápida.
Todos estes aspectos tiveram impacto na redução da duração do processo de
internacionalização da empresa e da vantagem de custo que as grandes empresas, com
experiência nos mercados estrangeiros, tinham nas transacções internacionais (Oviatt &
McDougall, 1994, 2005a, 2005b).
O modelo de Oviatt e McDougall apresenta quatro elementos necessários e
suficientes que distinguem as INV sustentáveis das outras empresas (Oviatt &
McDougall, 1994, 2005a, 2005b; Poutanen, 2005).
• desenvolvimento interno de algumas transacções (uma transacção é
desenvolvida interna ou externamente se for mais eficiente fazê-la deste
modo);
• estruturas de governo alternativas (as INV têm poucos recursos, pelo que
devem recorrer a outras soluções para controlar os activos necessários ao
desenvolvimento da sua actividade: licenciamento, franchising, redes, entre
outros), que acarretam riscos elevados devido aos potenciais comportamentos
oportunistas dos parceiros;
24
• vantagens de localização (as INV têm as mesmas desvantagens que as
multinacionais em mercados estrangeiros, que superam utilizando o
conhecimento próprio, e, como têm muitas vezes produtos de conhecimento
muito avançado facilmente copiável, é necessário internacionalizar
imediatamente para maximizar os resultados e manter a vantagem
competitiva).
• recursos específicos, únicos (são indispensáveis para a sustentabilidade
das INV, e podem ser copiados. Por isso, as INV investem na protecção
através de patentes, licenciamento e preços baixos para desencorajar os
competidores ou preços altos se a duração de vida do conhecimento é curta,
para maximizar os resultados, e em estruturas de governo tipo rede em que a
confiança e relacionamento mútuo inibem os membros da rede de se apropriar
do conhecimento dos outros membros).
As INV são empresas que procuram, logo à nascença, obter uma vantagem
competitiva significativa através da utilização de recursos e venda de resultados em
vários países. Os seus fundadores têm habitualmente competências únicas em negócios
internacionais, adquiridas essencialmente através de experiências anteriores em
ambiente internacional (Oviatt & McDougall, 1994, 2005a, 2005b).
As INV reconhecem, obtêm acesso e exploram recursos fora do país de origem e
assim reforçam a sua vantagem competitiva. Isto é possível porque as INV têm
competências distintas. As INV têm vantagens em internacionalizarem-se cedo, porque
assim evitam a dependência dos modelos nacionais de negócio, no que respeita às
rotinas organizacionais, aos problemas estruturais, aos preconceitos criados quando as
empresas actuam somente no país de origem (Oviatt & McDougall, 1994, 2005a, 2005b).
O modelo International New Ventures faz parte de uma linha recente de
pensamento sobre a internacionalização das empresas de pequena e média dimensão,
que trabalha no limiar de duas linhas de pensamento distintas: teoria do
empreendedorismo e a teoria dos negócios internacionais, associada ao conceito de
empreendedorismo internacional. Assim, o sucesso das INV aparece frequentemente
relacionado com a inovação introduzida com sucesso em vários mercados internacionais,
com vista ao seu aproveitamento durante o período de validade e protecção do
conhecimento avançado (Oviatt & McDougall, 2005a).
25
Há contudo muitos aspectos que ainda não foram analisados (por exemplo, a
importância da experiência anterior dos fundadores, a consistência ou evolução dos
comportamentos a longo prazo) e mesmo a própria questão da sustentabilidade das INV
fica por provar (Di Gregorio, et al., 2008; Oviatt & McDougall, 2005a; Ruzzier, et al.,
2006).
Fica também por analisar até que ponto é que algumas das práticas das INV
podem aplicar-se às multinacionais (por exemplo, no caso da indústria farmacêutica, que
faz exploração global de inovações para os novos medicamentos) (Achilladelis &
Antonakis, 2001; Archibugi & Iammarino, 2002; Atun, Gurol-Urganci, et al., 2007; Atun &
Sheridan, 2007).
Por estas razões, o modelo deve ser considerado com algum cuidado e
perspectiva crítica no caso da sua aplicação, mas tem um grande potencial de
desenvolvimento, uma vez que considera o impacto de factores endógenos e exógenos e
de alianças estratégicas para a concretização do negócio, numa lógica de redução de
custos e maximização dos lucros à escala internacional. Trata-se de um modelo que se
enquadra na linha de pensamento da internacionalização na perspectiva das redes.
3.3.5. MODELO HOLÍSTICO
Richard Fletcher (2001) apresenta um modelo holístico de internacionalização (ver
Figura 3), que se baseia na integração das actividades internacionais viradas para o
exterior (por exemplo, a exportação) com as actividades internacionais viradas para o
interior (por exemplo, importação directa, indirecta, ou produção no estrangeiro para
venda no país de origem).
A principal novidade da sua abordagem consta na apresentação da
internacionalização de acordo com as suas perspectivas, permitindo obter uma visão
mais abrangente, sobre a internacionalização (Andersson, 2002; Fletcher, 2001).
O autor afirma que o processo de tomada de decisão internacional é
multidimensional (virado tanto para o exterior como para o interior) e multifocal (variedade
de formas de envolvimento internacional em função da situação específica em que se
encontram a empresa e o mercado) (Fletcher, 2001).
26
Figura 3 – Uma abordagem holística à internacionalização (adaptado de Fletcher, 2001)
A internacionalização é encarada de uma perspectiva holística porque permite a
compreensão das formas mais sofisticadas de envolvimento internacional, tais como as
empresas globais que têm mercados internos, as Born Globals, pequenos e médios
exportadores e empresas transnacionais (Fletcher, 2001).
O modelo holístico de Fletcher (2001) tem a vantagem de integrar as actividades
internacionais tanto da sede do país de origem para o estrangeiro como vice-versa, as
redes internas e externas, e as características estruturais internas e ambientais externas
à empresa internacional. Aplica-se a todas as categorias de empresas que desenvolvem
actividades internacionais, mas ainda não foi devidamente validado por outros estudos.
Oito anos após a sua publicação ainda havia muito poucas citações a este
modelo: uma pesquisa realizada em 12 de Janeiro de 2009 no ScienceDirect revelou
somente treze citações para o artigo de Fletcher (2001), uma das quais representa uma
auto-citação (Acedo & Jones, 2007; Agndal, 2006; Andersson, 2002; Bell, et al., 2001; Di
Gregorio, et al., 2008; Fletcher, 2008; Johnson & Vanetti, 2005; Knudsen & Servais, 2007;
Liu, et al., 2008; Overby & Servais, 2005; Pajunen & Maunula, 2008; Quintens, et al.,
2005; Quintens, et al., 2006). Por esta razão, o modelo deve ser aplicado com algum
cuidado.
Trata-se de um modelo que se enquadra na linha de pensamento da
internacionalização na perspectiva das redes.
27
3.3.6. ANÁLISE COMPARATIVA DOS MODELOS DE INTERNACIONALIZAÇÃO
Vários autores dedicaram-se à classificação e análise dos modelos de
internacionalização, pelo que não falta literatura sobre este tópico (ver, por exemplo,
Cerrato, 2006; Fletcher, 2001; Hill, 2005; Jacobs, et al., 1997; Malhotra, et al., 2003;
Ruzzier, et al., 2006; Tornroos, 2002). Os critérios de análise comparativa e os modelos
considerados podem variar, mas por norma incluem: as razões para a
internacionalização, o tipo de empresas abrangidas, as vantagens e as limitações dos
respectivos modelos.
A análise que se segue utiliza os critérios acima referidos e complementa-os com
os seguintes: definição/entendimento da internacionalização, principais conceitos
considerados nos respectivos modelos, linha de pensamento da internacionalização,
número de citações à primeira publicação associada a cada modelo, e forma como é
abordada a internacionalização de I&D.
Os resultados da análise comparativa realizada de acordo com os critérios
anteriormente referida são apresentados no Anexo 2.
Uma primeira ilação que resulta da análise dos modelos de internacionalização
considerados prende-se com a variedade de abordagens utilizadas actualmente e com a
sua validade. Há modelos estáticos e dinâmicos, modelos económicos, modelos
estratégicos e modelos multidisciplinares, modelos holísticos e modelos focados
unicamente num tipo de empresa. Todos os modelos apresentados aparecem
frequentemente na literatura, sendo objecto de análise dos investigadores que estudam a
internacionalização. Mas nem todos são directamente aplicáveis no contexto actual.
Os modelos Ciclo de vida, Uppsala e Ecléctico necessitam de desenvolvimento
com vista a incluir as novas formas de internacionalização e a perspectiva das redes e
alianças estratégicas. Se o modelo Ciclo de Vida parece deixar de ser válido, os
restantes dois têm potencial de actualização e adaptação ao contexto económico e
empresarial contemporâneo.
Os restantes dois modelos, International New Ventures e Holístico apresentam
perspectivas interessantes e são aparentemente válidos e aplicáveis. Mas também
necessitam de mais desenvolvimentos.
28
O modelo International New Ventures baseia-se numa abordagem multidisciplinar,
de cruzamento de duas áreas de literatura distintas, e ainda pouco consolidada. Haverá
certamente questões de metodologia e validação de resultados que devem ser acertadas
e testadas, o que demora tempo. E as próprias INV apareceram recentemente e ainda há
dúvidas quanto à sua sustentabilidade a longo prazo, o que representa um desafio sério à
aplicabilidade deste modelo no futuro.
O modelo Holístico aplica-se a todos os tipos de empresas, incluindo as
multinacionais, as PME e INV, e até os pequenos exportadores e empresas
transnacionais. Integra duas perspectivas importantes sobre a internacionalização: a
virada para o exterior (do mercado doméstico para o estrangeiro) e a virada para o
interior (do mercado estrangeiro para o doméstico), o que significa que ultrapassa a
perspectiva centralizada de tomada de decisão, baseada na sede, e alarga o âmbito da
análise para uma perspectiva integrada de todas as actividades internacionais realizadas.
Mas este modelo ainda não foi devidamente validado e reconhecido pelos pares,
não parece ter vingado porque há poucas citações ao modelo. Pode ser porque este
modelo é algo estático e não há compreensão suficiente sobre a forma de evolução
internacional das empresas. Pode ser que a inclusão de uma perspectiva evolucionista
ajude ao seu reconhecimento e subsequente validação por outros investigadores.
Uma segunda ilação tem a ver com o entendimento do conceito de
internacionalização e com as razões que levam as empresas a internacionalizar as suas
actividades. Uma vez mais, há uma grande variedade de definições da
internacionalização e de razões. E apesar dos estudos algo frequentes que procuram
sintetizar e criar modelos holístico ou ecléctios de internacionalização, parece haver
pouco acordo sobre a perspectiva mais relevante a considerar. Isto pode dever-se à
variedade de disciplinas envolvidas no estudo do tema, mas devia haver mais5 esforço
conjunto continuado e multidisciplinar para integrar as várias abordagens e colmatar as
insuficiências dos modelos.
Devia haver estudos que considerassem em simultâneo os factores endógenos e
exógenos, a interacção com o ambiente, o papel das redes e das alianças estratégicas
na internacionalização, as questões associadas ao comprometimento e conhecimento
5 Já há esforços neste sentido, e o trabalho de integração da abordagem de Uppsala com a
perspectiva das redes foi referida por Johanson e Vahlne (2003).
29
acumulado relativamente aos mercados, mas também relativamente às relações com os
actores que intervêm na internacionalização, a relação entre as empresas internacionais
de pequena dimensão e as multinacionais ao nível de parcerias e de competição, o papel
dos mercados internos e externos às empresas internacionais e o aproveitamento das
vantagens específicas neste contexto, entre outros. E todos estes aspectos deviam ser
abordados num contexto dinâmico, de evolução internacional da empresa e da
organização das suas actividades.
Uma terceira ilação prende-se com a forma como é abordada a
internacionalização de I&D nesses modelos, comparativamente com a
internacionalização de outras actividades da empresa.
Nenhum dos modelos de internacionalização revistos considera a
internacionalização de I&D como um processo específico, que careça de atenção
particular, tal como o referem vários autores (Archibugi & Iammarino, 2002; Dunning,
1998; Dunning & Narula, 1995; H. Hakanson, 1990; L. Hakanson & Nobel, 1993a;
Kuemmerle, 1996, 1999; Niosi, 1999; von Zedtwitz, 2007; von Zedtwitz & Gassmann,
2002; Wolff, 2006; Zander, 2002, entre outros). O principal enfoque dos modelos é a
venda internacional, combinada com a questão de produção/manufactura em quatro dos
cinco modelos apresentados.
O facto de o modelo Ciclo de Vida e INV referirem a importância da valorização
das características inovadoras dos bens noutros mercados que não o de origem permite
contemplar, na óptica da investigadora, uma perspectiva muito limitada sobre a
internacionalização de I&D comparativamente, por exemplo, com a complexidade
associada à realização de actividades de I&D em unidades próprias localizadas no
estrangeiro que valorizam recursos humanos locais com competências específicas
(Ronstadt, 1984).
As actividades de vendas, produção e I&D têm dinâmicas diferentes e requerem
abordagens diferentes (Archibugi & Iammarino, 2002; Dunning, 1998; Dunning & Narula,
1995; H. Hakanson, 1990; L. Hakanson & Nobel, 1993a; Kuemmerle, 1996, 1999; Niosi,
1999; von Zedtwitz, 2007; von Zedtwitz & Gassmann, 2002; Wolff, 2006; Zander, 2002,
entre outros). Em suma, devia haver modelos de internacionalização que reflectissem
expressamente as características específcas das actividades de I&D para permitir
orientar a investigação realizada nesta área.
30
Esta terceira e última ilação resultante da análise comparativa dos modelos de
internacionalização tem uma implicação directa sobre o tema estudado na presente
dissertação, como se segue. Os modelos de internacionalização revistos permitem
compreender o quadro de referência geral associado à internacionalização, e foram
desenvolvidos para explicar a internacionalização da produção e das vendas.
Sendo as características das actividades de I&D muito diferentes, com
especificidades inerentes que devem ser devidamente consideradas, decidiu-se
identificar modelos de internacionalização de I&D específicos em vez de procurar utilizar
os modelos de internacionalização para explicar e compreender as actividades de I&D
internacional.
Não se pretende, com esta decisão, afirmar que os modelos de
internacionalização carecem de relevância. Optou-se por procurar literatura mais
específica, directamente aplicável à internacionalização de I&D, e por aferir, no final da
investigação, a eventual compatibilidade com o quadro geral de referência associado à
internacionalização.
31
3.4. SÍNTESE DAS PRINCIPAIS ILAÇÕES
No presente capítulo realizou-se uma revisão crítica da literatura associada à
internacionalização. Apresentaram-se as principais linhas de pensamento associadas e
cinco modelos de internacionalização, numa perspectiva histórica.
Identificaram-se as principais limitações da literatura revista, designadamente:
• alguns modelos têm aplicabilidade limitada no contexto actual (Ciclo de Vida,
Uppsala), concentram-se em demasia no interior da multinacional (Uppsala,
Ecléctico), enquanto outros não foram devidamente validados pela
comunidade científica (Holístico) ou estudam tipos de empresas muito
recentes, que ainda não provaram ser sustentáveis (INV);
• os modelos são construídos para considerar as especificidades das
actividades de produção e venda internacionais.
Sendo o principal enfoque da presente dissertação a internacionalização de I&D,
averiguou-se até que ponto a literatura revista relativa à internacionalização devia ser
utilizada como ponto de partida para explicar a internacionalização de I&D.
Concluiu-se que a literatura associada à internacionalização focava
preferencialmente nas actividades de venda e produção internacionais, havendo somente
referências esporádicas à exploração das características inovadoras dos bens, em
mercados internacionais.
Seguidamente, decidiu-se aprofundar a revisão da literatura com o intuito de
identificar estudos específicos que consideram devidamente as particularidades da
actividade de I&D internacional.
Assim, considera-se que a revisão da literatura sobre internacionalização
representa o quadro de referência geral, que permite compreender o contexto mais lato
associado à internacionalização. Apresenta-se, no próximo capítulo, o quadro de
referência específico, que permite avançar com a investigação sobre a
internacionalização de I&D.
33
4. TEORIAS E MODELOS PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO DE I&D
4.1. CONTÉUDO E LÓGICA DO CAPÍTULO
Começa-se o presente capítulo sobre I&D internacional com o esclarecimento do
conceito de internacionalização de I&D.
Logo depois esclarecem-se as principais abordagens utilizadas na literatura para
estudar internacionalização de I&D. Repara-se que há uma concentração significativa dos
estudos na componente de organização de I&D internacional e um número limitado de
estudos sobre as principais razões que levam à internacionalização de I&D e sobre os
actores envolvidos no processo. Há, neste sentido, uma diferença relativamente aos
estudos sobre internacionalização em geral, que tendem focar-se de forma significativa
tanto na organização da actividade internacional, como nas principais razões para a
internacionalização, e que adaptam os modelos de internacionalização, em muitos casos,
a tipologias específicas de actores (por exemplo: multinacionais ou pequenas e médias
empresas). Apresentam-se ainda as principais metodologias utilizadas até à data para
estudar a internacionalização de I&D e os indicadores utilizados para fins de medição da
dimensão deste processo.
De seguida, a investigação concentra-se na organização de I&D internacional e
visa aprofundar e compreender os modelos associados. Começa-se por analisar a
evolução histórica dos vários modelos, com vista a proporcionar uma perspectiva de
evolução temporal nas últimas três décadas (desde que há estudos sistemáticos sobre
organização de I&D internacional). Depois apresentam-se em pormenor os principais
modelos de organização de I&D internacional, as suas vantagens e limitações. Por fim,
faz-se uma análise comparativa dos modelos apresentados, que focam em questões
associadas à gestão estratégica, à coordenação e aos recursos/activos utilizados, e
classificam-se as variáveis utilizadas de acordo com a sua relevância para o processo de
I&D. Os resultados da análise comparativa reflectem-se no desenvolvimento de um
modelo holístico de organização de I&D internacional que engloba as variáveis utilizadas
pelos vários modelos e complementa-as com outras variáveis, de acordo com quatro
categorias: Exploração e Desenvolvimento Tecnológico; Recursos; Redes; Mercado.
34
4.2. LINHAS DE PENSAMENTO CIENTÍFICO ASSOCIADAS À INTERNACIONALIZAÇÃO
DE I&D
No início do capítulo de internacionalização, definiu-se a internacionalização da
empresa como o processo de envolvimento internacional de uma empresa num ou vários
países. Através desse processo, parte das actividades de uma empresa passam a ser
desempenhadas fora do país de origem, seja em unidades de negócio associadas à
empresa mãe e localizadas no estrangeiro, seja através de terceiros, seja recorrendo a
uma combinação das duas soluções anteriores (Archibugi & Iammarino, 2002; Havila, et
al., 2002a; Saur-Amaral & Borges Gouveia, 2006).
A internacionalização de I&D empresarial6 pode ser definida como um processo
em que parte ou totalidade das actividades de I&D de uma empresa passam a ser
desempenhadas fora do país de origem, seja em unidades de negócio associadas à
empresa mãe e localizadas no estrangeiro, seja através de terceiros, seja recorrendo a
uma combinação das duas soluções anteriores.
Esta definição está em concordância com as perspectivas dos vários autores que
estudam o processo de internacionalização de I&D (Archibugi & Iammarino, 2002;
Cantwell & Kosmopolou, 2002; Dunning & Narula, 1995; Gammeltoft, 2005; Gassmann &
Reepmeyer, 2005; Gassmann, et al., 2004; Gassmann & von Zedtwitz, 1999; Gerybadze
& Reger, 1999; Narula & Zanfei, 2005; Niosi, 1999; Saur-Amaral & Borges Gouveia, 2006;
von Zedtwitz & Gassmann, 2002).
Porém, variam as perspectivas sobre as principais razões que levam à
internacionalização de I&D e os actores envolvidos, sobre os indicadores que devem ser
utilizados para a medir, sobre as metodologias mais apropriadas para a estudar e sobre
as formas (os modelos) de organização de I&D internacional. Analisam-se estes aspectos
nas secções seguintes.
Até aos anos oitenta, a literatura sobre a internacionalização de actividades
específicas da empresa concentrava-se, por norma, na internacionalização da produção
e da componente de vendas e marketing. Foi somente a partir dos anos oitenta que a
comunidade académica começou a analisar a internacionalização de I&D mais 6 A partir deste ponto da dissertação, quando se faz referência à internacionalização de I&D
assume-se que se trata de I&D empresarial.
35
frequentemente, numa altura em que houve um aumento da I&D desenvolvida no
estrangeiro ou financiada com dinheiro estrangeiro (Niosi, 1999; Ronstadt, 1984).
Foi também nesta fase que as unidades de I&D internacionais começaram a
evoluir da adaptação tecnológica (tecnologia desenvolvida na empresa mãe, no país de
origem) para o desenvolvimento de tecnologia e produtos novos próprios para o mercado
do país de origem e para os outros mercados (Niosi, 1999). Jeremy Howells (1990, 1995)
refere que foram as novas tecnologias de informação e comunicação que, ao ligar as
actividades de I&D dispersas, possibilitaram a organização de I&D distribuída, em vários
países.
Na literatura académica associada à internacionalização de I&D há uma
concentração significativa dos estudos científicos sobre a internacionalização de I&D que
focam na componente de organização de I&D internacional (por exemplo: Archibugi &
Iammarino, 2002; Bartlett & Ghoshal, 1990; Cantwell & Kosmopolou, 2002; Gammeltoft,
2005; Gassmann & von Zedtwitz, 1999; Gerybadze & Reger, 1999; H. Hakanson, 1990;
Kuemmerle, 1999; Niosi, 1999; Niosi & Godin, 1999; Patel & Vega, 1999; Pearce &
Papanastassiou, 1999; Ronstadt, 1984; Zander, 1999) e um número limitado de estudos
sobre as principais razões que levam à internacionalização de I&D (por exemplo: Dunning
& Narula, 1995; Gammeltoft, 2005; Gassmann & Reepmeyer, 2005; Gerybadze & Reger,
1999; Kuemmerle, 1996; Narula & Zanfei, 2005; Walsh, 2002) e sobre os actores
envolvidos no processo (por exemplo: Archibugi & Iammarino, 2002; Gammeltoft, 2005;
Gerybadze & Reger, 1999).
As principais metodologias utilizadas até à data para estudar a internacionalização
de I&D (por exemplo: Niosi, 1999) e os indicadores utilizados para fins de medição da
dimensão deste processo também foram pouco estudados (por exemplo: Archibugi &
Iammarino, 2002; Gammeltoft, 2005; Gerybadze & Reger, 1999; Narula & Zanfei, 2005;
Niosi, 1999).
Apresenta-se, de seguida, uma síntese dos aspectos menos estudados da
internacionalização de I&D, e logo depois uma apresentação e análise pormenorizadas
da área em que se concentram os estudos, isto é, a organização de I&D internacional.
36
4.3. PRINCIPAIS RAZÕES PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO DE I&D
Os vários autores que analisaram as razões para a internacionalização de I&D
propuseram as seguintes categorias:
a) de acordo com a intenção de internacionalizar a I&D: intencionais e
acidentais (Dunning & Narula, 1995; Gammeltoft, 2005; Gassmann &
Reepmeyer, 2005; Gerybadze & Reger, 1999; Kuemmerle, 1996; Narula &
Zanfei, 2005; Walsh, 2002);
b) de acordo com o principal objectivo das actividades de I&D internacional:
exploração de activos domésticos e aumento de activos domésticos
(Gammeltoft, 2005; Gassmann & Reepmeyer, 2005; Gerybadze & Reger,
1999; L. Hakanson & Nobel, 1993a, 1993b; Narula & Zanfei, 2005);
c) de acordo com as características e organização interna da empresa:
dimensão da empresa e sectores de actividade em que actua, eficiência
das actividades de I&D, coordenação das actividades e obtenção de
efeitos sinérgicos (Gammeltoft, 2005; Gassmann & Reepmeyer, 2005;
Narula & Zanfei, 2005);
d) de acordo com as características e recursos nacionais e locais: limitações de
recursos tecnológicos no país de origem, acesso a recursos
tecnológicos no país estrangeiro, requisitos ou incentivos à I&D feita no
estrangeiro e acesso e proximidade de mercados chave (Gammeltoft,
2005; Gassmann & Reepmeyer, 2005; Gerybadze & Reger, 1999; L.
Hakanson & Nobel, 1993a, 1993b; Narula & Zanfei, 2005; Walsh, 2002).
A primeira categoria reflecte uma característica importante das actividades de I&D
internacional: a intenção de as internacionalizar. As actividades de I&D internacional
podem e devem ser o resultado de uma acção estratégica coerente e intencional da
organização que visa por essa via, por exemplo, aumentar a eficiência das suas
actividades de I&D ou aceder a competências e tecnologias complementares e
relevantes. Mas também podem resultar de aquisições e/ou fusões com outras entidades
que têm actividades de I&D próprias, representando assim um efeito acessório, uma vez
que não corresponde a uma atitude pró-activa da parte da empresa (Dunning & Narula,
1995; Gammeltoft, 2005; Gassmann & Reepmeyer, 2005; Gerybadze & Reger, 1999;
Kuemmerle, 1996; Narula & Zanfei, 2005; Walsh, 2002).
37
A segunda categoria contém razões associadas ao principal objectivo das
actividades de I&D internacional. Distingue-se entre:
• actividades de exploração de activos de I&D desenvolvidos no país de
origem (por exemplo, suporte à produção, suporte às vendas, actividades de
adaptação dos produtos da empresa em mercados estrangeiros específicos),
que representam uma extensão da I&D feita no país de origem (Gammeltoft,
2005; Gassmann & Reepmeyer, 2005; Gerybadze & Reger, 1999; L.
Hakanson & Nobel, 1993a, 1993b; Narula & Zanfei, 2005); e
• actividades de exploração dos activos estrangeiros para aumento dos
activos de I&D existentes (por exemplo, geração de novos activos
específicos da empresa, capitalização das vantagens específicas de cada
localização através de divisão internacional de trabalho entre as unidades de
I&D internacionais), que representam um aproveitamento da diversidade e
heterogeneidade de conhecimentos complementares disponíveis em
localizações geograficamente distintas com o principal objectivo de lidar com a
complexidade crescente associada ao desenvolvimento tecnológico e criar
oportunidades de aplicação específicas a cada localização (Gammeltoft, 2005;
Gassmann & Reepmeyer, 2005; L. Hakanson & Nobel, 1993a, 1993b; Narula
& Zanfei, 2005).
A categoria acima referida reflecte uma característica de I&D internacional que
tende estar presente no início do processo de internacionalização de I&D: a tendência de
centralizar o desenvolvimento tecnológico no país de origem, sítio em que há maior
controlo sobre o conhecimento novo avançado, e em que se concentram as principais
competências especializadas (H. Hakanson, 1990; Niosi, 1999; Ronstadt, 1984).
Na terceira categoria, distingue-se, em função das características e organização
interna da empresa, entre razões associadas à:
• dimensão da empresa e aos sectores de actividade em que actua: por
exemplo, as empresas de pequena dimensão geralmente têm recursos
limitados para utilizar em actividades internacionais; as trajectórias
tecnológicas de cada sector de actividade influenciam o desenvolvimento
tecnológico (em sectores de actividade com tecnologia madura, em que a
inovação é essencialmente incremental, haverá poucos incentivos para
desenvolver I&D internacional, enquanto nos sectores de actividade com
38
tecnologia nova há mudanças tecnológicas rápidas que justificam, por
exemplo, o estabelecimento de unidades de I&D perto de centros de
excelência ou mercados chave) (Narula & Zanfei, 2005);
• eficiência das actividades de I&D: por exemplo, custo de fazer I&D, massa
crítica e dimensão das unidades, processos de transferência de conhecimento
eficientes entre I&D e outras funções organizacionais, custos de coordenação
e transferência tecnológica (Gassmann & Reepmeyer, 2005; Narula & Zanfei,
2005);
• coordenação das actividades: por exemplo, dificuldades de gestão de
actividades de I&D internacional que leva à necessidade de coordenação
intensiva entre as unidades que realizam I&D internacional e a sede, e a um
acréscimo de custos (Narula & Zanfei, 2005);
• obtenção de efeitos sinérgicos: por exemplo, redução do tempo até
comercialização, capacidades acrescidas de aprendizagem, desenvolvimento
de um fluxo mais rápido e mais diversificado de novas ideias, produtos e
processos (Gammeltoft, 2005; Gassmann & Reepmeyer, 2005).
Nesta terceira categoria coexistem razões que incentivam à internacionalização
das actividades de I&D (por exemplo: sectores tecnológicos dinâmicos, necessidade de
maior eficiência da actividade de I&D, ou obtenção de efeitos sinérgicos) e razões que
podem inibir a internacionalização de I&D (por exemplo: dimensão pequena da empresa
e recursos financeiros insuficientes, custos acrescidos de coordenação e transferência,
dificuldades de gestão das actividades de I&D).
Na última categoria, em função das características e recursos nacionais e locais,
distingue-se entre:
• limitações de recursos tecnológicos no país de origem: por exemplo, base
de conhecimento nacional com diversidade, complexidade e heterogeneidade
insuficientes para as necessidades de desenvolvimento e estratégia
tecnológica da empresa; problemas de recrutamento de pessoal chave, o que
leva as empresas a procurarem os recursos humanos adequados fora do país
de origem; infra-estruturas físicas, económicas e técnicas para I&D
insuficientes (Gammeltoft, 2005; Narula & Zanfei, 2005);
39
• oportunidades de acesso a recursos tecnológicos no país estrangeiro:
por exemplo, acesso aos recursos científicos e tecnológicos de outros países,
monitorização tecnológica (análise dos competidores e das tecnologias
chave), aquisição e monitorização de expertise, conhecimento e tecnologias,
monitorização da investigação, infra-estruturas físicas, sociais, económicas e
técnicas para I&D (Gammeltoft, 2005; Gassmann & Reepmeyer, 2005;
Gerybadze & Reger, 1999; L. Hakanson & Nobel, 1993a, 1993b; Walsh, 2002);
• requisitos ou incentivos à I&D feita no estrangeiro (políticos ou
socioculturais): por exemplo, requisitos ou incentivos regulamentares
(facilitação e promoção dos investimentos estrangeiros, subsídios, entre
outros), isenção/redução de impostos, diferenças de custo, apoio profissional à
internacionalização de I&D, custo inicial de integração das actividades nos
contextos locais (Gammeltoft, 2005; Gassmann & Reepmeyer, 2005; L.
Hakanson & Nobel, 1993a, 1993b; Narula & Zanfei, 2005; Walsh, 2002);
• acesso e proximidade de mercados chave/relevantes: por exemplo,
proximidade dos mercados/clientes mais relevantes, melhoria da capacidade
de resposta do ponto de vista da rapidez e relevância, melhoria da imagem da
empresa, colaborações com clientes e parceiros chave, necessidade de
adaptar versões de produtos a estes mercados (Gammeltoft, 2005; Gassmann
& Reepmeyer, 2005; Gerybadze & Reger, 1999; L. Hakanson & Nobel, 1993a,
1993b; Walsh, 2002).
A categoria acima referida salienta a importância das razões associadas ao
acesso a recursos tecnológicos relevantes para a actividade de I&D, tanto da perspectiva
do acesso a recursos especializados, somente disponíveis, por exemplo, em centros de
excelência e localizações específicas, como da perspectiva do custo e da eficiência de
acesso a estes recursos.
A respectiva categoria realça, também, a importância dos incentivos nacionais à
realização de actividades de I&D, quer no país de origem, quer nos países estrangeiros.
Assim, a existência de limitações no país de origem e os incentivos existentes nos países
estrangeiros estimulam a realização de I&D no estrangeiro, enquanto a criação de
condições favoráveis no país de origem e a existência de barreiras nos países
estrangeiros fomenta a concentração das actividades de I&D no país de origem.
40
Em suma, há várias razões para a internacionalização propositada das
actividades de I&D. Algumas podem servir de incentivo para internacionalizar I&D, outras
podem inibir o desenvolvimento de actividades de I&D no estrangeiro. As organizações
procuram aceder aos recursos necessários para desenvolver tecnologias e novos
produtos com maior eficiência ou com maior inovação, ou ainda para explorar os
resultados da actividade de I&D em países estrangeiros.
Estas razões, combinadas com os recursos disponíveis e os objectivos
estratégicos da organização reflectem-se na forma de organização de I&D internacional e
na sua evolução a médio e longo prazo (por exemplo: as razões associadas ao principal
objectivo das actividades de I&D internacional reflectem-se no modelo de organização de
I&D internacional de Walter Kuemmerle proposto em 1999 e apresentado num próximo
capítulo da presente dissertação).
Mais estudos sobre as razões de internacionalização de I&D e sobre a forma
como estas influenciam a organização de I&D internacional podem ser úteis para melhor
compreender o processo de internacionalização de I&D, à semelhança do que acontece
na teoria da internacionalização. Contudo, não é este o foco da presente investigação,
que dá enfoque à organização de I&D internacional. Mas poderá haver ilações desta
investigação que revelem informação sobre as razões de internacionalização de I&D e se
porventura isto acontecer, haverá o devido cuidado de as analisar e introduzir nas
conclusões desta dissertação.
41
4.4. ACTORES ENVOLVIDOS NA INTERNACIONALIZAÇÃO DE I&D
Grande parte dos autores que estudam I&D internacional não consideram
tipologias diferentes de actores quando analisam internacionalização de I&D; os seus
modelos tendem a aplicar-se a empresas multinacionais. Referem-se de seguida três
trabalhos (Archibugi & Iammarino, 2002; Gammeltoft, 2005; Gerybadze & Reger, 1999)
que identificam actores diferentes e mencionam algumas especificidades ao nível do
funcionamento de I&D internacional consoante os actores envolvidos (ver Tabela 2).
Tabela 2 – Tipologia de actores envolvidos em I&D internacional
Actores Tipo de I&D internacional Formas Autores
Empresas e indivíduos à procura de lucros
Exploração internacional de inovações produzidas no país de origem
Exportação de bens inovadores; Cedência de licenças e patentes; Produção no estrangeiro de bens inovadores congeminados e desenvolvidos no país de origem.
AI, G
Empresas multinacionais
Geração global de inovações Actividades inovadoras e de I&D tanto no país de origem como no país de destino; Aquisição de laboratórios de I&D ou investimentos para criação de estruturas novas de I&D nos países de destino.
AI, G
Empresas nacionais e multinacionais
Colaborações tecnológicas globais
Joint-ventures para projectos inovadores específicos; Acordos de produção com partilha/troca de informação técnica e/ou equipamentos.
AI, G
Universidades e institutos de investigação públicos
Colaborações tecnológicas globais
Projectos científicos em cooperação; Mobilidade científica, licenças sabáticas; Mobilidade internacional dos estudantes.
AI, G
Empresas de países grandes. Base de I&D forte
Baseada na ciência e investigação, base de I&D grande. Centro de I&D dominante no país de origem; actividades de I&D adicionais noutros sítios.
Acesso à I&D avançada.
Localização num país de origem grande, muito desenvolvido, com competências de I&D fortes numa área específica.
GR
Empresas de países pequenos. Empresas de países grandes com limitações de I&D
Baseada na ciência e investigação, base de I&D pequena. Múltiplos centros de I&D avançada fora do país de origem. Factores chave: massa crítica das unidades de I&D externas e a transferência de tecnologia para o país de origem.
Excelência na investigação.
Localização num país com competências de I&D menos desenvolvidos numa área específica ou num país pequeno.
GR
42
Actores Tipo de I&D internacional Formas Autores
Empresas de países grandes. I&D forte e mercado chave no país de origem.
Inovação, I&D e marketing articulados, mercado chave no país de origem. Um ou dois centros de I&D e inovação dominantes nos mercados chave. Ligação estreita entre as unidades de I&D e de produção.
As empresas dependem da proximidade com um mercado chave “world-class” e conseguem articular de forma eficiente a inovação, a I&D e o marketing no país de origem.
GR
Empresas de países pequenos.
Empresas de países grandes com limitações de mercado chave ao nível nacional.
Inovação, I&D e marketing articulados, mercado chave fora do país de origem.
Factores chave: concentração de competências fora do país de origem e estabelecimento de novas unidades de negócio.
Acesso a um mercado chave sito fora do país de origem.
Devido ao tamanho e/ou nível de sofisticação do mercado doméstico, estas desempenham funções críticas fora do país de origem.
Articulação da procura e a distribuição dos recursos organizacionais faz-se por área geográfica, frequentemente separadas funcionalmente.
GR
Legenda: AI = Archibugi & Iammarino, 2002; GR = Gerybadze & Reger, 1999; G = Gammeltoft, 2005
Após análise da informação apresentada na tabela anteriormente referida, podem
distinguir-se duas categorias de actores:
• em função do tipo de entidade envolvida: empresas multinacionais, outras
empresas e outras entidades não empresariais (por exemplo, universidades,
institutos públicos de investigação) (Archibugi & Iammarino, 2002; Gammeltoft,
2005);
• em função da dimensão e características do país de origem (Gerybadze &
Reger, 1999): empresas de países grandes, com base de I&D forte numa área
específica; empresas de países pequenos e empresas de países grandes com
limitações de I&D numa área específica; empresas de países grandes, com
base de I&D forte e mercado chave no país de origem; empresas de países
pequenos e empresas de países grandes com limitações de mercado chave
ao nível nacional.
Os autores (Archibugi & Iammarino, 2002; Gammeltoft, 2005; Gerybadze & Reger,
1999) fazem a distinção entre multinacionais e outro tipo de organizações e ainda entre
empresas oriundas de países com condições específicas do ponto de vista dos recursos
necessários para I&D e do mercado para a comercialização dos resultados.
Há, também, outros tipos de actores que influenciam as actividades de I&D e a
sua internacionalização, e que não se encontram contemplados nos trabalhos desses
43
autores. Trata-se, entre outros, das autoridades regulamentares, que têm uma
importância grande na organização de I&D internacional (por exemplo: na indústria
farmacêutica), e dos parceiros que se dedicam à prestação de serviços de I&D à escala
global (por exemplo: as Contract Research Organizations na indústria farmacêutica),
(Attridge, 2007; Atun, Gurol-Urganci, et al., 2007; Atun & Sheridan, 2007).
Falta compreender melhor como participam nas actividades de I&D internacional
os vários tipos de actores, como interagem, e como são reflectidos os novos paradigmas
da Indústria de Investigação (Cooke, 2005, 2006) e da Inovação Aberta (Chesbrough,
2003a) na internacionalização de I&D.
Em suma, deveria haver mais estudos sobre os actores envolvidos na
internacionalização de I&D, com o principal objectivo de identificar outros tipos de actores
que a possam influenciar. Não sendo este um dos objectivos da presente investigação,
que dá enfoque à organização de I&D internacional, poderá haver ilações acessórias
relevantes desta investigação sobre esta matéria. Se porventura isto acontecer, haverá o
devido cuidado de as analisar e introduzir nas conclusões desta dissertação.
44
4.5. METODOLOGIAS DE ESTUDO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE I&D
Niosi (1999) indica as principais metodologias utilizadas ao longo dos anos para
estudar a I&D internacional. Inicialmente, utilizaram-se duas abordagens: o investimento
em I&D por cada localização; e as despesas de I&D nas grandes multinacionais e a sua
distribuição. Depois do fim dos anos 80, foram utilizados os dados de patentes, que
revelaram novos aspectos sobre I&D internacional.
Niosi (1999) refere duas grandes tendências:
• Análise da percentagem de I&D financiada com dinheiro estrangeiro, que
revelou uma aceleração na internacionalização de I&D e, também, grandes
diferenças entre os países industrializados.
• Análise da percentagem de patentes americanas associadas à investigação
desenvolvida no estrangeiro, que aumentou para as grandes empresas
sedeadas nos países industrializados e revelou grandes diferenças entre os
níveis de internacionalização de I&D por sector industrial (a indústria
farmacêutica liderava a globalização de I&D).
As metodologias correspondentes às duas tendências acima mencionadas
baseiam-se na análise de dados secundários, de índole financeiro ou de propriedade
intelectual, que permitem análises macroeconómicas (Niosi, 1999).
Os dados financeiros são influenciados por práticas contabilístico-financeiras
diversas. Os dados associados às patentes americanas são influenciados pelas práticas
de registo de famílias de patentes e pela limitação às bases de dados norte americanas,
que não abrangem todas as patentes publicadas.
Devido a estas limitações, é desejável complementar ou substituir estas
metodologias com abordagens mais ricas ao nível de conteúdo e do nível de
compreensão, que permitam triangulação dos métodos e verificação da validade dos
dados utilizados (Creswell, 2003; Tashakkori & Teddlie, 1998; Yin, 2003).
Começaram recentemente a surgir novas abordagens metodológicas que
englobam abordagens qualitativas e recolha de dados primários, estimuladas pela
necessidade de aumentar a compreensão sobre a dinâmica do processo de
45
internacionalização de I&D (Gassmann & von Zedtwitz, 1999; Niosi, 1999; von Zedtwitz,
2007; von Zedtwitz & Gassmann, 2002).
Essas abordagens consideram devidamente a heterogeneidade de objectivos,
estratégias de coordenação e tipos de unidades de I&D localizadas no estrangeiro, que
coexistem por vezes dentro da mesma multinacional. Trata-se de estudos de caso e
inquéritos, entre outros, que se encontram apenas raramente na investigação associada
à internacionalização de I&D (Gassmann & von Zedtwitz, 1999; Niosi, 1999; von Zedtwitz,
2007; von Zedtwitz & Gassmann, 2002).
46
4.6. INDICADORES DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE I&D
As metodologias utilizadas estão relacionadas com os indicadores utilizados para
medir a internacionalização de I&D (Archibugi & Iammarino, 2002; Gammeltoft, 2005;
Gerybadze & Reger, 1999; Narula & Zanfei, 2005; Niosi, 1999).
Tabela 3 – Principais indicadores de internacionalização de I&D
Categoria Indicadores Autores
Investimento directo estrangeiro; AI, NZ Investimentos financeiros no estrangeiro
Fluxos financeiros no Technology Balance of Payments. AI
Fluxos de investimento em I&D virados para o exterior e virados para o interior;
AI
Despesas com I&D no estrangeiro; AI, G, GR, N
Distribuição de I&D entre o país de origem e o estrangeiro; AI, G, GR, N
Investimentos financeiros associados à I&D no estrangeiro
N.º de unidades de I&D localizadas no estrangeiro; GR
Recursos humanos próprios afectos à I&D no estrangeiro
N.º de colaboradores ligados à I&D realizada no estrangeiro; GR
N.º de alianças estratégicas de índole tecnológico; AI, NZ
N.º de colaborações internacionais de índole tecnológico ou científico;
AI, NZ
Colaborações associadas à I&D no estrangeiro
N.º de licenças adquiridas de ou concedidas a parceiros internacionais;
NZ
Invenções associadas à I&D no estrangeiro
N.º de patentes registadas no estrangeiro; AI, G, GR, NZ, N
Legenda: AI = Archibugi & Iammarino, 2002; GR = Gerybadze & Reger, 1999; G = Gammeltoft, 2005; NZ = Narula & Zanfei, 2005; N = Niosi, 1999
Apresenta-se na Tabela 3 uma perspectiva sobre os principais indicadores, que
foram organizados em cinco categorias (Archibugi & Iammarino, 2002; Gammeltoft, 2005;
Gerybadze & Reger, 1999; Narula & Zanfei, 2005; Niosi, 1999):
• investimentos financeiros no estrangeiro, que permitem avaliar a dimensão do
investimento total num certo país;
• investimentos financeiros associados à I&D no estrangeiro, que permitem
avaliar a dimensão do investimento específico em I&D num certo país;
47
• recursos humanos próprios afectos à I&D no estrangeiro, que permitem avaliar
as competências próprias localizadas no estrangeiro e afectas à actividade de
I&D;
• colaborações associadas à I&D no estrangeiro, que permitem avaliar as
ligações externas associadas à I&D no estrangeiro;
• invenções associadas à I&D no estrangeiro, que permitem avaliar o grau de
originalidade dos resultados da I&D no estrangeiro.
Tal como foi referido na secção sobre metodologias de estudo de
internacionalização de I&D, os indicadores anteriormente referidos devem ser
complementados por indicadores de cariz qualitativo, desenvolvidos à medida de cada
estudo empírico (por exemplo: estudos de caso ou inquéritos) com vista a obter uma
melhor compreensão da dinâmica do processo de internacionalização de I&D (Creswell,
2003; Tashakkori & Teddlie, 1998; Yin, 2003).
Cabe ainda referir que os indicadores apresentados conseguem ser mais
abrangentes na sua área de análise do que as metodologias de estudo identificadas no
subcapítulo anterior, o que pode indicar um desalinhamento entre as metodologias e os
indicadores utilizados para estudar a internacionalização de I&D. Este facto não
surpreende, sendo os contributos para esta área multidisciplinares e de desenvolvimento
relativamente recente (Niosi, 1999; Saur-Amaral & Borges Gouveia, 2007, 2008a).
48
4.7. FORMAS/MODELOS DE ORGANIZAÇÃO DE I&D INTERNACIONAL
Os pioneiros da internacionalização de I&D foram as empresas que actuavam em
sectores de tecnologia intensiva, oriundas de países pequenos, com mercados e base de
I&D doméstica limitados. Só depois seguiram as restantes, motivadas pela competição
doméstica e internacional, tanto dentro como fora dos seus sectores de actividade
(Gassmann & von Zedtwitz, 1999; Niosi, 1999).
As formas de organização de I&D internacional começaram por estruturas
centralizadas, dominadas pela empresa mãe, no início dos anos oitenta e evoluíram para
estruturas tipo rede, algo mais “democráticas” e com estratégias alinhadas que visam
atingir objectivos globais. Estas estruturas tornaram-se mais frequentes a partir dos anos
noventa (Niosi, 1999; Saur-Amaral & Borges Gouveia, 2008a).
Há contudo autores que afirmam haver uma tendência actual para o aumento do
controlo hierárquico devido às questões de complexidade da coordenação associada às
redes e aos custos crescentes (por exemplo: Gammeltoft, 2005; Gassmann & von
Zedtwitz, 1999), mas as evidências ainda escasseiam.
Tabela 4 – Principais modelos de organização de I&D internacional considerados7
Modelo Estruturas
centralizadas Estruturas policêntricas
Redes integradas
Ronstadt (1984) Sim Sim -
Bartlett e Ghoshal (1990) Sim Sim Sim
Hakanson (1990) Sim Sim Sim
Kuemmerle (1999) Sim - -
Pearce e Papanastassiou (1999) Sim Sim Sim
Gerybadze e Reger (1999) Sim - Sim
Gassmann e von Zedtwitz (1999) Sim Sim Sim
Niosi e Godin (1999) Sim Sim Sim
Zander (1999) Sim - Sim
Archibugi e Iammarino (2002) Sim - Sim
A existência de um certo tipo de organização de I&D internacional que aparece
com maior frequência num certo período não implica que os restantes não coexistam no
7 Ver Anexo 5 para uma síntese dos principais termos associados às estruturas de organização de
I&D internacional.
49
mesmo período. Pode significar, contudo, que os estudos académicos realizados deram
maior ênfase a esses tipos de organização de I&D internacional por apresentarem
elementos inovadores ou por terem graus de complexidade elevados para a respectiva
altura. Aliás, como se poderá constatar nas próximas secções, os principais modelos de
organização de I&D tendem a contemplar várias formas de organização de I&D
internacional num determinado intervalo temporal (ver Tabela 4).
Tal como se pode observar na Tabela 4 e na Figura 4, no início dos anos oitenta
dominavam as estruturas centralizadas de I&D. O desenvolvimento tecnológico era feito
no país de origem e havia unidades de I&D específicas no estrangeiro que apoiavam na
transferência de tecnologia, adaptando-a às características do mercado local. Outros
tipos de unidades de I&D internacional começaram a surgir, por exemplo, as que faziam
desenvolvimento para o mercado local e as que visavam o mercado global, e o
desenvolvimento tecnológico era independente em cada unidade de I&D (H. Hakanson,
1990; Niosi, 1999; Pearce & Papanastassiou, 1999; Ronstadt, 1984).
Todos os modelos de organização de I&D fazem referência a este tipo de
organização de I&D por representar a forma utilizada pelas empresas no início da
internacionalização das suas actividades de I&D, e que ainda persiste nas empresas das
mais variadas dimensões e sectores de actividade (ver Tabela 4).
Entre meados dos anos oitenta e início dos noventa, as estruturas mais
frequentemente utilizadas eram policêntricas. Havia unidades de I&D descentralizadas,
com objectivos, recursos e formas de coordenação diferentes. Grande parte da I&D ainda
era feita no país de origem. A procura, oferta e as condições ambientais8 eram
considerados factores importantes que influenciavam a forma de organização das
unidades de I&D internacional (Narula & Zanfei, 2005; Niosi, 1999; Niosi & Godin, 1999).
Seis dos 10 modelos de organização de I&D consideraram importante este tipo de
estrutura, que referem ter sido muito utilizada, mas que tem como ponto fraco a falta de
coordenação e integração estratégica da I&D (ver Tabela 4).
8 Para detalhes sobre estes factores, ver Niosi e Godin (1999, p. 216).
50
Tipos de unidades de TT:* apoio técnico (adaptação ao ME) - maioria* indígenas (desenvolvimento e venda noME)* globais (desenvolvimento no E e venda nosMEs)* corporativas (novas ideias para a empresamãe)
1980 1990 2000
Estruturas centralizadas
Sede
Lab
Lab
Lab
TTTT
TT
desenvolvimentoadaptação
adaptação adaptação
O,MO
= país de origem,mercado de origem
E,ME
= país estrangeiro,mercado estrangeiro
TT = transferência de tecnologia
Sede
Lab
Lab
Lab
desenvolvimento
desenvolvimento eadaptação
Estruturas policêntricas
desenvolvimento eadaptação
desenvolvimento eadaptação
Empresas grandes, países pequenos,mercados pequenos, poucos recursos de I&Dno MOEmpresas de alta tecnologiaGrande parte da I&D feita no país O
Procura
Oferta
Factoresambientais
influencia
Sede
Lab
Lab
Lab
desenvolvimento eadaptação
desenvolvimentoe adaptação
Redes integradas (globais)
desenvolvimentoe adaptação
desenvolvimentoe adaptação
Sourcing tecnológicoExploração para aumento de activosDesenvolvimento independente e emcooperação, entre subsidiárias e/ou comparceiros externosUtilização da tecnologia dentro e fora daempresaOs mercados tendem ser globais
Lab
desenvolvimento eadaptação
parceiro externo à empresa,do país O ou E
Fase de consolidaçãoDemasiada complexidadeProcura de maior simplicidade, controlohierárquico e coordenação
Figura 4 – Formas de internacionalização de I&D: uma perspectiva histórica
51
Entre meados e finais dos anos noventa, a organização de I&D internacional
caracteriza-se por redes globais integradas, alianças tecnológicas com parceiros externos
e aprendizagem internacional. Surgem problemas de coordenação das unidades de I&D,
mas também surgem várias formas de gestão consoante a forma de organização de I&D,
nomeadamente: desenvolvimento centralizado, no país de origem, visando mercados
globais; desenvolvimento local, nas subsidiárias estrangeiras, visando os mercados
locais; desenvolvimento local independente, nas subsidiárias estrangeiras, visando
mercados globais; desenvolvimento em cooperação entre as subsidiárias estrangeiras
e/ou a sede, visando mercados globais, entre outros (Narula & Zanfei, 2005; Niosi, 1999).
A procura tecnológica depende das competências existentes na empresa e das
trajectórias tecnológicas que caracterizam o sector de actividade em que esta actua.
Frequentemente, a tecnologia desenvolvida internamente é utilizada dentro das várias
subsidiárias da mesma empresa e com o surgimento das alianças tecnológicas globais
começa a fazer-se desenvolvimento em cooperação com terceiros e a partilhar esta
tecnologia entre os vários actores envolvidos (Narula & Zanfei, 2005; Niosi, 1999).
Depois dos anos noventa, as empresas começam a fazer mais aquisição de
tecnologia. Algumas unidades evoluem para exploração com vista ao aumento de activos
(Narula & Zanfei, 2005). As grandes empresas recorrem a estratégias coerentes de
integração, múltiplos centros de aprendizagem e as actividades de I&D encontram-se
frequentemente sob controlo da sede (Gerybadze & Reger, 1999; Narula & Zanfei, 2005).
Melhora-se a capacidade de absorção através de projectos cooperativos e redes,
o que permite um relacionamento rápido e flexível de centros de competências
distribuídos. Organizam-se cadeias de inovação integradas e procuram-se oportunidades
junto dos centros de excelência localizados no estrangeiro (Gerybadze & Reger, 1999).
Praticamente todos os modelos de organização de I&D mais recentes referem
este tipo de estruturas. O papel das redes na internacionalização tem sido muito
estudada ultimamente (após o trabalho de Johanson & Mattson, 1993) e a literatura sobre
internacionalização de I&D também reflecte este facto (ver Tabela 4)
Como foi mencionado no início desta secção, os vários modelos de organização
de I&D internacional (ver Tabela 4) consideram formas de organização diversas,
presentes em períodos distintos. Apresenta-se nas próximas secções uma síntese
desses modelos, por ordem cronológica (ano de publicação).
52
4.7.1. MODELO DE RONSTADT (1984)
O estudo desenvolvido por Robert Ronstadt (1984) utilizou uma amostra de sete
multinacionais americanas que actuavam em sectores industriais diferentes, com o
objectivo de identificar tipologias específicas de unidades de I&D internacional e padrões
de evolução entre estas tipologias. Estudou 55 unidades de I&D internacional, das quais
o autor considera relevantes somente 42, que foram criadas de raiz (comparativamente
com as restantes unidades que foram adquiridas incidentalmente).
O autor (Ronstadt, 1984) identificou quatro tipos de unidades de I&D internacional:
Unidades de Transferência de Tecnologia (UTT), Unidades Tecnológicas Indígenas
(UTI), Unidades Tecnológicas Globais (UTG) e Unidades Tecnológicas Corporativas
(UTC). Tanto as UTG como as UTC tiveram uma representatividade muito baixa na
amostra (Ronstadt, 1984), pelo que a sua relevância à data em que o estudo foi realizado
foi baixa e somente serviu propósitos exploratórios. Descrevem-se de seguida as
características de cada tipo de unidade e apresentam-se visualmente na Figura 5.
As UTT destinavam-se a apoiar unidades produtivas localizadas no estrangeiro no
que respeita à transferência de tecnologia e proporcionar algum tipo de apoio técnico
para os respectivos mercados locais. Foram criadas nos anos cinquenta e sessenta, e o
processo de decisão associado à sua criação envolveu três passos: a) decisão da
empresa mãe de investir em produção no estrangeiro; b) tecnologia para produzir ou para
apoiar o processo de produção ainda insuficientemente desenvolvida ou estabilizada; c)
previsão de uma certa continuidade de desenvolvimento de projectos técnicos no
estrangeiro. As UTT estavam localizadas essencialmente perto de unidades produtivas e
começaram com poucos recursos humanos, dedicados a projectos de pequena dimensão
e risco reduzido (Ronstadt, 1984).
As UTI foram criadas com o propósito de desenvolver produtos específicos para
os mercados locais, sendo que esses produtos não resultavam directamente da
tecnologia desenvolvida ou detida pela empresa mãe. Este tipo de unidade de I&D
internacional apareceu nos anos setenta, depois de várias alterações nas actividades
internacionais das empresas multinacionais: a) investimentos substanciais nas
actividades produtivas no estrangeiro; b) redução no fluxo de produtos e processos novos
provenientes da empresa mãe; c) novos investimentos no estrangeiro; d) capacidades
técnicas e de gestão comprovadas nas unidades de I&D internacional para prosseguir
53
com actividades de desenvolvimento de novos produtos e projectos de dimensão e
significância relevante para a multinacional (Ronstadt, 1984).
UTT
Sede
Unidadede I&D
Unidadede I&D
Unidadede I&DTT TT
TT
desenvolvimento
adaptação
adaptação adaptação
UTI
Sede
Unidadede I&D
Unidadede I&D
Unidadede I&D
desenvolvimento
desenvolvimento desenvolvimento
Unidade de produção& mercado local
Unidade de produção& mercado local
Unidade de produção& mercado local
Mercado local Mercado local
Mercado local
desenvolvimento
UTG
SedeUnidadede I&D
Unidadede I&D
Unidadede I&D
desenvolvimento
desenvolvimento
desenvolvimento desenvolvimento
Unidade de produção& marketing
Unidade de produção& marketing
Unidade de produção& marketing
Mercado global
UTC
Sede
Unidadede I&D
Unidadede I&D
Unidadede I&D
desenvolvimento
Investigaçãoexploratória
Investigaçãoexploratória
Investigaçãoexploratória
Concentração
& enfoque no
mercado
Customização
Especialização
Figura 5 – Tipologias de estruturas de I&D internacional e a sua evolução (representação própria das tipologias propostas por Ronstadt, 1984)
As UTG destinavam-se ao desenvolvimento de novos produtos e processos para
os principais mercados mundiais. Foram criadas nos anos sessenta, em situações em
que já havia investimentos substanciais em produção e marketing no estrangeiro, a
estratégia organizacional estipulava a necessidade de produzir uma única gama de
produtos para o mercado global, e era preciso desenvolver certos produtos em
subsidiárias estrangeiras devido aos recursos domésticos (da empresa mãe) totalmente
utilizados. Estes tipos de unidades de I&D internacional estavam localizados na
54
proximidade de unidades de produção e marketing sitas no estrangeiro para assegurar
uma comunicação eficiente (Ronstadt, 1984).
As UTC foram criadas entre meados dos anos cinquenta e início dos sessenta,
com o objectivo de desenvolver nova tecnologia com propósitos exploratórios, para
utilização pela empresa mãe. Resultaram da necessidade de aceder a competências
específicas somente disponíveis no estrangeiro, por exemplo, a cientistas que não
queriam mudar de país. Este tipo de unidade de I&D internacional era muito autónoma e
teve pouco sucesso devido à falta de objectivos claros (Ronstadt, 1984).
Ronstadt (1984) indicou, como se pode constatar na representação proposta na
Figura 5, alguns padrões de evolução das unidades de I&D internacional: a) a maioria da
UTT transformaram-se em UTI; b) algumas UTG começaram a desenvolver também
algumas actividades associadas às UTI, numa abordagem híbrida; c) a maioria das UTC
foram descontinuadas, só uma se transformou em UTI. Também mencionou que os
investimentos em I&D internacional tenderam a alterar o seu enfoque e manter-se na
mesma localização, enquanto houve reforço dos respectivos recursos humanos. Quando
esta alteração não se realizava, registava-se uma tendência de descontinuar essas
unidades.
O estudo do Robert Ronstadt analisou um número elevado de unidades de I&D
estrangeiras, de vários sectores de actividade. Trata-se do primeiro trabalho significativo
na literatura sobre a organização de I&D internacional que tem sido largamente citado
pelos pares. Como se revela na análise dos próximos modelos, as formas de organização
propostas pelo autor ainda são válidas, e até o trabalho de Daniela Archibugi e Simona
Iammarino (2002) que é um dos mais recentes, apresenta duas formas de organização
que podem ser associadas às UTTs e respectivamente às UTG.
Do ponto de vista das variáveis consideradas no estudo (ver Tabela 5), pode-se
afirmar que estas se dividem em variáveis associadas ao principal objectivo da actividade
tecnológica e à sua localização (isto é, exploração ou aumento da tecnologia, no país de
origem ou no estrangeiro) e ao mercado potencial visado (isto é, local ou global).
Apresentam-se, na tabela seguinte, as variáveis associadas a cada forma de organização
de I&D internacional proposta por Robert Ronstadt (1984).
55
Tabela 5 - Variáveis consideradas no modelo de Ronstadt
Forma de organização de I&D internacional
Variável Relacionada com…
Exploração no estrangeiro Objectivo da actividade tecnológica
Aumento no país de origem Objectivo da actividade tecnológica
Desenvolvimento da tecnologia chave no país de origem
Localização da actividade tecnológica UTT
Mercado local Mercado visado
Exploração no estrangeiro Objectivo da actividade tecnológica
Aumento no país de origem Objectivo da actividade tecnológica UTI
Mercado local Mercado visado
Aumento no estrangeiro Objectivo da actividade tecnológica
UTC Desenvolvimento da tecnologia chave no estrangeiro
Localização da actividade tecnológica
Desenvolvimento da tecnologia chave no estrangeiro
Localização da actividade tecnológica UTG
Mercado global Mercado visado
O modelo de Robert Ronstadt representa o ponto de partida para a realização de
novos trabalhos de investigação na área de organização de I&D internacional, mas
apresenta algumas limitações.
O modelo foi criado num período em que tinha começado a manifestar-se o
fenómeno de internacionalização de I&D, e em que dominavam as estruturas
centralizadas (ver Figura 3). Trata-se de uma altura em que ainda não havia uma
disseminação à larga escala das novas tecnologias de informação e comunicação, que
permitiu a criação das estruturas de organização tipo rede (Howells, 1990, 1995). As
relações entre as unidades e a sede seriam certamente de uma natureza completamente
diferente se houvesse dificuldades de comunicação.
Os padrões de evolução das unidades de I&D internacional são interessantes do
ponto de vista histórico, mas precisam de validação na situação contemporânea.
Surgiram novas formas de organização (por exemplo: redes distribuídas), tal como se
apresenta nos próximos modelos (por exemplo: modelo de Gassmann e von Zedwitz,
modelo de Gerybadze e Reger ou modelo de Zander) e a questão da subcontratação/
indústria de investigação (Cooke, 2006) e da Inovação Aberta (Chesbrough, 2003a)
coloca-se frequentemente, pelo que é expectável que os padrões de evolução também
tenham alterado.
56
Finalmente, e também relacionado com as questões de subcontratação/indústria
de investigação (Cooke, 2006) e da Inovação Aberta (Chesbrough, 2003a), as formas de
organização propostas por Robert Ronstadt são demasiado fechadas, demasiado
focadas no interior da empresa. No contexto actual, devem ser consideradas
devidamente as ligações com o exterior (por exemplo: as redes e as alianças
estratégicas) (Parkhe, 1991).
4.7.2. MODELO DE BARTLETT E GHOSHAL (1990)
Bartlett e Ghoshal (1990), com base num estudo alargado realizado em nove
multinacionais (38 casos de estudo detalhados e discussões com 230 gestores), sugerem
uma nova taxonomia de formas de inovação internacional: inovação central para
mercado global (CMG), inovação local para mercado local (LML), inovação baseada
nos recursos locais para mercados locais e global (LMLG), inovação baseada nos
recursos globais para mercados locais e global (GMLG).
A inovação CMG consiste na utilização dos recursos da empresa mãe para criar
produtos/processos novos para fins de exploração à escala mundial. A oportunidade de
negócio é detectada pela empresa mãe, no país de origem. Este tipo de processo é
associado ao “hub centralizado” e a mentalidade associada é global ao extremo, no
sentido que a diversidade dos mercados é encarada como uma desvantagem e o
principal objectivo é procurar uniformizar o produto à escala mundial. Geralmente resulta
de uma necessidade de proteger as competências chave e de construir economias de
escala e especialização em I&D. Os principais riscos associados a este tipo de processo
são: falta de sensibilidade às necessidades do mercado e dificuldades de
implementação/venda em mercados específicos (Bartlett & Ghoshal, 1990).
A inovação LML decorre nas subsidiárias localizadas no estrangeiro, que utilizam
recursos próprios para desenvolver produtos novos para os respectivos mercados locais.
Este tipo de processo é associado à “federação descentralizada” e requer uma
mentalidade multinacional, em que a prioridade é assegurar conformidade com as
necessidades locais, específicas a cada mercado. Neste caso, é importante obter uma
resposta pronta e correcta aos requisitos locais, mas este tipo de processo pode levar a
uma perda de eficiência ao nível global (da multinacional) e a situações de reinvenção da
roda (Bartlett & Ghoshal, 1990).
57
A inovação LMLG pressupõe a utilização dos recursos de uma subsidiária
estrangeira para desenvolver produtos/processos novos para exploração nos mercados
local e global. Permite que toda a organização beneficie dos recursos e competências
existentes em todas as subsidiárias, e que se utilizem soluções de um certo mercado
para criar tendências noutros mercados. Assim, é possível utilizar ao máximo e potenciar
todos os recursos inovadores ao nível mundial. Os principais problemas associados a
este tipo de processo são: o sindroma not-invented-here, tentativas de transferência de
soluções inadequadas para certos mercados locais, coordenação insuficiente dos
mecanismos de transferência entre subsidiárias e mercados (Bartlett & Ghoshal, 1990).
A inovação GMLG utiliza recursos e competências de várias subsidiárias e sede
para desenvolver e explorar uma inovação conjuntamente, no mercado global.
Representa uma resposta de real cooperação a uma oportunidade detectada
globalmente, baseada em sinergias e relações flexíveis entre as subsidiárias e com a
sede. As principais desvantagens desta solução são a coordenação extensiva e cara e a
gestão da complexidade de relações (Bartlett & Ghoshal, 1990).
Os autores sugerem algumas boas práticas para cada tipo de processo de
inovação internacional, com base nos dados recolhidos no seu estudo (ver Tabela 6).
Tabela 6 – Boas práticas nos processos de inovação internacional (síntese própria de Bartlett & Ghoshal, 1990)
Forma de organização
Boas práticas
CMG Envolvimento das subsidiárias no processo. Ligação entre as actividades de desenvolvimento e as necessidades de mercado. Gestão da transferência de responsabilidade entre as várias fases do processo de inovação.
LML Expatriados empreendedores. Integração funcional nas subsidiárias. Dispersão de recursos e autoridade/poder de decisão.
LMLG e GMLG
Interdependência de recursos e responsabilidades entre subsidiárias e sede. Mecanismos fortes de integração. Identificação cultural e organizacional forte. Perspectivas estratégicas globais bem desenvolvidas e claras.
As formas de organização de I&D internacional LMLG e GMLG pressupõem a
existência de uma mentalidade de gestão “transnacional”, que procura tirar proveito da
diversidade dos mercados e encara a diferença como uma forma de aumentar a
capacidade de ter uma resposta inovadora eficiente (Bartlett & Ghoshal, 1990).
Bartlett e Ghoshal (1990) realçam ainda o principal desafio de gestão da inovação
internacional: aumentar a eficiência de cada tipo de processo de inovação e criar
58
condições para a sua coexistência numa perspectiva de complementaridade. Este
desafio é relacionado com a mentalidade de gestão transnacional anteriormente referida.
Uma questão interessante levantada pelos dois autores do modelo é a existência
de papéis diferentes desempenhados por cada uma das subsidiárias de uma
multinacional no processo de inovação internacional. Estes papéis diferem em função do
tipo de processo/produto inovador em que participam e em função da importância
estratégica do ambiente local e dos recursos e competências locais: líder estratégico,
detector (sensor), participante ou implementador (Bartlett & Ghoshal, 1990)
O estudo de Bartlett e Ghoshal (1990) contemplou multinacionais de três sectores
de actividade e realizou 38 casos de estudo pormenorizados em subsidiárias de todo o
mundo. É um trabalho importante, que permitiu aumentar a compreensão sobre o
funcionamento de I&D internacional antes da década dos noventa. Tal como o trabalho
do Robert Ronstadt (1984), este estudo tem sido frequentemente citado pelos pares.
As formas de organização propostas pelos autores estão relacionadas com as
propostas por Ronstadt (1984) e muitos dos modelos propostos em 1999 e 2002 sugerem
formas de organização inspiradas no trabalho destes, como será possível reparar na
análise dos modelos apresentada nos próximos subcapítulos.
Do ponto de vista das variáveis consideradas no estudo, estas dividem-se em
variáveis associadas ao principal objectivo da actividade tecnológica e à sua localização
(isto é, exploração ou aumento da tecnologia, no país de origem ou no estrangeiro), ao
papel das unidades de I&D no desenvolvimento tecnológico, às questões de ligações
internas à organização do ponto de vista financeiro, estratégico e de coordenação e ao
mercado potencial visado (isto é, local ou global). Apresentam-se, na Tabela 7, as
variáveis associadas a cada forma de organização de I&D internacional proposta por
Bartlett e Ghoshal (1990).
O modelo de Bartlett e Ghoshal foi criado num período em que se fazia a
passagem das estruturas centralizadas às estruturas policêntricas. Nesta altura, tinha-se
começado a utilizar novas tecnologias de informação e comunicação, o que permitiu a
criação das estruturas de organização tipo rede e uma melhor comunicação (Howells,
1990, 1995) entre as várias unidades de I&D internacional.
59
Tabela 7 - Variáveis consideradas no modelo de Bartlett e Ghoshal
Forma de organização de I&D internacional
Variável Relacionada com… Anteriormente referida em ...
Exploração no estrangeiro Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI
Aumento no país de origem Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI
Desenvolvimento da tecnologia chave no país de origem
Localização da actividade tecnológica
UTT
Coordenação central Ligações internas N/A
Financiamento central Ligações internas N/A
Gestão estratégica central Ligações internas N/A
CMG
Mercado global Mercado visado UTG
Exploração no estrangeiro Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTT
Aumento no estrangeiro Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTG, UTC
Coordenação local Ligações internas N/A
Financiamento local Ligações internas N/A
Gestão estratégica local Ligações internas N/A
LML
Mercado local Mercado visado UTI
Aumento no estrangeiro Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTG, UTC
Liderança estratégica Papel das unidades de I&D N/A
Detector Papel das unidades de I&D N/A
Participante Papel das unidades de I&D N/A
Implementador Papel das unidades de I&D N/A
Coordenação local Ligações internas N/A
Financiamento local Ligações internas N/A
Gestão estratégica global Ligações internas N/A
Mercado local Mercado visado UTI
LMLG
Mercado global Mercado visado UTG
Aumento no estrangeiro Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTG, UTC
Liderança estratégica Papel das unidades de I&D N/A
Detector Papel das unidades de I&D N/A
Participante Papel das unidades de I&D N/A
Implementador Papel das unidades de I&D N/A
Coordenação global Ligações internas N/A
GMLG
Financiamento global Ligações internas N/A
60
Forma de organização de I&D internacional
Variável Relacionada com… Anteriormente referida em ...
Gestão estratégica global Ligações internas N/A
Mercado global Mercado visado UTG
Legenda: UTT, UTI, UTG, UTC (Ronstadt, 1984)
É um modelo que contempla variáveis relevantes para o contexto actual e que
apresenta ainda boas práticas de gestão da I&D internacional para cada forma de
organização proposta. Trata-se de uma referência importante para a realização de novos
trabalhos de investigação na área de organização de I&D internacional. Este modelo tem,
contudo, algumas limitações.
A questão das novas formas de organização actuais (por exemplo: redes, alianças
estratégicas, estruturas mais flexíveis que recorrem à subcontratação) associadas à
cooperação e complementaridade de competências (Chesbrough, 2003a; Johanson &
Mattson, 1993; Johanson & Vahlne, 2003; Parkhe, 1991) não foi devidamente
contemplada no modelo de Bartlett e Ghoshal. Nem nas formas de organização de I&D
mais avançadas propostas pelos autores (isto é: LMLG e GMLG) estes aspectos foram
abordados.
É manifesta ainda a mesma limitação que se verificava no modelo de Ronstadt,
relacionada com as questões de subcontratação/indústria de investigação (Cooke &
Piccaluga, 2006) e da Inovação Aberta (Chesbrough, 2003a). As formas de organização
propostas por Bartlett e Ghoshal são demasiado fechadas, demasiado focadas no interior
da empresa. No contexto actual, devem ser consideradas as ligações com o exterior e as
suas implicações sobre as formas de organização.
61
4.7.3. MODELO DE HAKANSON (1990)9
Hakan Hakanson (1990) analisou quatro multinacionais suecas à procura de
padrões de evolução no que respeita à organização de I&D internacional.
Complementando com uma análise teórica (ver Tabela 8), o autor indicou uma
mudança/viragem das “federações descentralizadas” para abordagens “geocêntricas” e
“redes integradas”. O autor sugere que esta mudança identificada nas empresas suecas
analisadas possa aplicar-se a outras empresas, também, eventualmente àquelas
localizadas em países de origem com mercados de pequena dimensão. Contudo, faltam
dados concretos que sustentem esta afirmação.
Tabela 8 – Modelos de organização de I&D internacional (adaptado de H. Hakanson, 1990, Figura 10.2.)
Organização Orientação Estrutura Estrutura da rede
I&D, produção, gestão estratégica no país de origem. Marketing no estrangeiro.
Etnocêntrica Divisão internacional
Hub centralizado
I&D e gestão estratégica no país de origem. Produção e marketing no estrangeiro.
Todas tanto no país de origem como no estrangeiro. Alguma integração ao nível da gestão estratégica.
Policêntrica Mãe/filho Federação descentralizada
Gestão estratégica no país de origem. Restantes actividades tanto no país de origem como no estrangeiro.
Estrutura global
Rede integrada
Gestão estratégica e I&D tanto no país de origem como no estrangeiro. Algum marketing no estrangeiro. Alguma produção no estrangeiro. Forte integração ao nível da gestão estratégica.
Geocêntrica
Heterarquias Heterarquia / rede transnacional
Hakan Hakanson (1990) argumentou que as empresas multinacionais que
adaptaram as suas formas de funcionamento e organização de I&D internacional para
criar estruturas globais/redes integradas e heterarquias precisavam de adaptar as suas
estruturas hierárquicas, capacidades, sistemas de incentivos e os seus mecanismos de
coordenação e controlo, e de desenvolver novos paradigmas organizacionais, com vista a
conseguir dar resposta aos desafios dessas formas de organização. O autor sugere ainda
algumas hipóteses desses novos paradigmas, mas sem validação ou sustento em dados
empíricos significativos ou argumentações teóricas.
9 Muitos dos conceitos utilizados no modelo de Hakanson e sintetizados neste capítulo
relacionam-se com as teorias de internacionalização de Perlmutter (1969) e Hedlund (1986).
Recomenda-se a leitura do Anexo 5 que explica o significado e a origem destes conceitos.
62
O estudo de Hakanson teve como base para o estudo empírico quatro
multinacionais suecas, com actuação em diferentes sectores de actividade. Construiu o
seu modelo a partir de alguma literatura associada à internacionalização (Hedlund, 1986;
Perlmutter, 1969) e procurou sugerir algumas formas de organização de I&D inspiradas
nessa literatura e algumas tendências de evolução.
As variáveis consideradas no estudo dividem-se em variáveis associadas ao
principal objectivo da actividade tecnológica e à sua localização (isto é, exploração ou
aumento da tecnologia, no país de origem ou no estrangeiro), e às ligações internas
(neste caso: coordenação e gestão estratégica). Apresentam-se, na tabela seguinte, as
variáveis associadas a cada forma de organização de I&D internacional proposta por
Hakanson (1990).
Tabela 9 - Variáveis consideradas no modelo de Hakanson
Forma de organização de I&D internacional
Variável Relacionada com… Anteriormente referida em ...
Exploração no estrangeiro Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, LML
Aumento no país de origem
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG
Coordenação central Ligações internas CMG
Etnocêntrica
Gestão estratégica central Ligações internas CMG
Exploração no estrangeiro Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, LML
Aumento no país de origem
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG
Coordenação local Ligações internas LML, LMLG
Policêntrica
Gestão estratégica local Ligações internas LML
Aumento no estrangeiro Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTG, UTC, LML, LMLG, GMLG
Coordenação global Ligações internas GMLG Geocêntrica
Gestão estratégica global Ligações internas LMLG, GMLG
Legenda: UTT, UTI, UTG, UTC (Ronstadt, 1984), LML, CMG, LMLG, GMLG (Bartlett & Ghoshal, 1990)
O modelo de Hakanson baseia-se numa síntese de abordagens anteriores sobre a
organização internacional das actividades de uma multinacional, e introduz alguns dos
conceitos mais utilizados para a caracterização das várias configurações de I&D
internacional.
63
Contudo, e apesar de este trabalho ser citado com alguma frequência pelos pares,
considera-se que as ilações propostas deviam ter sido mais fundamentadas, por exemplo
recorrendo a uma amostra maior ou realizando estudos mais aprofundados para ter uma
relevância científica acrescida. Um exemplo de estudo mais fundamentado que engloba
as formas de organização etnocêntrica, policêntrica e geocêntrica é sintetizado num dos
subcapítulos seguintes: o modelo de Gassmann e von Zedtwitz (1999).
É manifesta ainda a mesma limitação que se verificava no modelo de Ronstadt e
no modelo de Bartlett e Ghoshal, relacionada com as questões de subcontratação e da
Inovação Aberta (Chesbrough, 2003a). As formas de organização propostas por Hakan
Hakanson são demasiado fechadas, demasiado focadas no interior da empresa. No
contexto actual, devem ser consideradas as ligações com o exterior e as suas
implicações sobre as formas de organização de I&D internacional.
4.7.4. MODELO DE KUEMMERLE (1999)
O modelo de Walter Kuemmerle (1999) procurava colmatar o que o autor
considerava faltar nos estudos realizados até àquela altura sobre internacionalização de
I&D, isto é, realizar uma investigação baseada num inquérito alargado que abrangesse
vários países e vários sectores de actividade. A sua perspectiva é baseada na análise do
investimento directo estrangeiro (IDE), mas inclui a evolução do mesmo ao longo do
tempo e inclui ainda uma análise do IDE em I&D no país de origem. Kuemmerle (1999)
analisou 32 empresas multinacionais da indústria farmacêutica e dos produtos
electrónicos, sitas na Europa, EUA e Japão (isto é, a Tríade).
O modelo considera os seguintes aspectos: razões para internacionalização de
I&D, localização, evolução e formas de entrada em mercados estrangeiros, e
comparação entre investimentos domésticos e estrangeiros em I&D (Kuemmerle, 1999).
Kuemmerle (1999) utiliza a classificação home-base exploiting (exploração de
activos desenvolvidos no país de origem) e home-base augmenting (aumento de activos
desenvolvidos no país de origem) (Dunning, 1998; Dunning & Narula, 1995) que se
descreve também na abordagem de Narula e Zanfei (2005) e representa uma reacção ao
modelo do ciclo de vida do produto de Vernon (1966). Trata-se de um modelo que
procura construir em cima de abordagens propostas por autores que estudaram a
internacionalização da empresa para obter um modelo para internacionalização de I&D.
64
De acordo com Kuemmerle (1999), as empresas criam unidades de I&D
localizadas no estrangeiro para a exploração de activos, quando querem maximizar a
utilização de competências e conhecimento específicos da empresa e desenvolvidos no
país de origem. Optam por este tipo de investimento porque lhes permite obter lucros
maiores do que através do licenciamento a empresas estrangeiras (cedência de
licenças).
A opção de investir em unidades de I&D localizadas no estrangeiro para o
aumento de activos é feita quando se procuram aumentar as competências e
conhecimento específicos da empresa, e quando este tipo de aumento da base de
conhecimento organizacional é mais vantajoso do que o licenciamento de empresas
estrangeiras (aquisição de licenças) (Kuemmerle, 1999).
O mesmo autor afirma ser vantajoso combinar os dois tipos de IDE em I&D, mas
refere que isto depende de vários factores, por exemplo, localização específica, e
apresenta uma representação esquemática (ver Figura 6) da possível organização e do
relacionamento entre a sede e os dois tipos de unidades de I&D que foram anteriormente
referidos (Kuemmerle, 1999).
Como se pode reparar na Figura 6, há fluxos importantes de informação de cariz
tecnológico:
• da sede para a unidade dedicada à exploração de activos (com vista a passar
o conhecimento existente na base de conhecimento central localizada no país
de origem para a unidade estrangeira) e desta para a unidade de produção
local (com vista a assegurar a produção da tecnologia para o mercado
estrangeiro);
• da base de conhecimento local para a unidade dedicada ao aumento de
activos (com vista a absorver o conhecimento existente na base de
conhecimento estrangeira) e desta unidade para a sede (com vista a aumentar
a base de conhecimento central).
Há, também, trocas de informação de cariz tecnológico de menos intensidade
entre a unidade dedicada ao aumento de activos e a base de conhecimento local, numa
lógica de troca, e desta unidade para a unidade dedicada à exploração de activos.
Contudo, neste último caso, a sede fica responsável pelos fluxos de informação mais
importantes. A lógica de funcionamento baseia-se na centralização do conhecimento no
65
país de origem e na transferência subsequente desse conhecimento para as unidades de
exploração de activos.
Ambientelocal de I&D
Unidade de I&Dpara aumento de
activos
Produçãolocal
Unidade de I&Dpara exploração
de activos
Marketinglocal
Sede - unidade deI&D localizada nopaís de origem
Legenda:
Informação relacionada com a tecnologia
Informação relacionada com o mercado e com a produção
Figura 6 – Tipos de unidades de I&D (exploração de activos e aumento de activos) e respectivos fluxos de informação (adaptado de Kuemmerle, 1999)
O que falta no esquema de Kuemmerle (1999) é o fluxo de informação de cariz
tecnológico da sede para a unidade de I&D dedicada ao aumento de activos, o que leva a
pensar que esta unidade tem como único objectivo absorver o conhecimento local e
transmiti-lo para a sede, sem haver envolvimento em actividades de desenvolvimento.
Esta ideia é confirmada pelo autor, que menciona que o foco principal das unidades de
I&D para aumento de activos é a transferência de conhecimento dentro da empresa
(Kuemmerle, 1999, p. 189).
Um outro aspecto importante do modelo de Walter Kuemmerle (1999) é associado
à localização específica dos dois tipos de unidades de I&D. As unidades dedicadas à
exploração de activos tendem a ser localizadas perto de uma unidade de produção e/ou
de um mercado chave. As unidades dedicadas ao aumento de activos tendem ser
localizadas perto de universidades.
No que respeita à evolução do IDE em I&D, Kuemmerle (1999) confirma na sua
investigação que as primeiras empresas foram as americanas (a partir dos anos
cinquenta), seguidas pelas europeias e finalmente pelas japonesas (nos anos setenta). O
autor confirma ainda que os principais beneficiários do IDE em I&D têm sido os países
industrializados, apontando uma tendência emergente (em 1999) de investimentos nos
países asiáticos, por exemplo, China e Índia.
Walter Kuemmerle (1999) adianta ainda que tende a haver uma evolução gradual
no estabelecimento de unidades de I&D por uma empresa. As empresas têm a tendência
66
de criar uma rede de I&D no país de origem antes de se aventurarem fora das fronteiras
nacionais. E quando fazem investimentos em I&D estrangeiro, tendem a começar pelas
unidades dedicadas à exploração de activos e somente depois se seguem as dedicadas
ao aumento de activos. Este facto deve-se, entre outros factores, às dificuldades
acrescidas de gestão das unidades de I&D internacional, particularmente daquelas que
procuram aumentar a base de conhecimento central.
As formas de entrada nos países estrangeiros com vista à realização de I&D são
três: a) criação de uma unidade de raiz; b) aquisição de uma unidade existente; c)
parceria com uma entidade local (por exemplo, para criar uma joint venture). A
investigação de Kuemmerle (1999) descobriu que nas empresas analisadas, a forma
dominante de entrada (quase 80%) foi a criação de uma unidade de raiz, seguida pelas
aquisições e pelas parcerias com entidades locais. Estes resultados devem-se em parte
às especificidades de unidades adquiridas do ponto de vista da cultura e da capacidade
de absorção de conhecimento oriundo da sede ou de transmissão do mesmo para a sede
e à questão da propriedade intelectual associada à investigação.
Tabela 10 - Variáveis consideradas no modelo de Kuemmerle
Forma de organização de I&D internacional
Variável Relacionada com… Anteriormente referida em ...
Exploração no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, LML, etnocêntrica, policêntrica
Aumento no país de origem
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, etnocêntrica, policêntrica Exploração
Desenvolvimento da tecnologia chave no país de origem
Localização da actividade tecnológica
UTT, CMG
Aumento no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTG, UTC, LML, LMLG, GMLG, geocêntrica
Aumento Desenvolvimento da tecnologia chave no estrangeiro
Localização da actividade tecnológica
UTI, UTC, UTG, LML
Legenda: UTT, UTI, UTG, UTC (Ronstadt, 1984), LML, CMG, LMLG, GMLG (Bartlett & Ghoshal, 1990), etnocêntrica, geocêntrica, policêntrica (H. Hakanson, 1990)
No que respeita às variáveis consideradas (ver Tabela 10), estas dividem-se em
variáveis associadas ao principal objectivo da actividade tecnológica e à sua localização
(isto é, exploração ou aumento da tecnologia, no país de origem ou no estrangeiro), e às
ligações internas (neste caso: coordenação e gestão estratégica).
67
As conclusões do estudo de Kuemmerle (1999) são limitadas, devido ao foco
exclusivo em dois sectores de actividade, um dos quais (o farmacêutico) é alvo de
regulamentação muito apertada e regras de funcionamento muito específicas, e ao
estudo de organizações cujo país de origem está na Tríade (Estados Unidos, Europa e
Japão), entre outros.
A mesma limitação que se verificava no modelo de Ronstadt, no modelo de
Bartlett e Ghoshal e no modelo de Hakanson, relacionada com as questões de
subcontratação/indústria de investigação (Cooke, 2006) e da Inovação Aberta
(Chesbrough, 2003a) também caracteriza o estudo de Kuemmerle. As formas de
organização propostas por Walter Kuemmerle são demasiado fechadas, demasiado
focadas no interior da empresa. No contexto actual, devem ser consideradas as ligações
com o exterior e as suas implicações sobre as formas de organização de I&D
internacional (por exemplo: redes, alianças estratégicas) (Parkhe, 1991).
4.7.5. MODELO DE PEARCE E PAPANASTASSIOU (1999)
Robert Pearce e Marina Papanastassiou (1999) realizaram em 1994 um estudo
empírico que envolveu 48 unidades de I&D localizadas na Grã-Bretanha, pertencentes a
multinacionais oriundas de Japão, Estados Unidos e União Europeia que actuavam em
vários sectores de actividade (com dominância dos sectores farmacêutico, químico e
electrónico).
Os autores analisam as respectivas unidades de I&D com o intuito de identificar o
papel estratégico que estas desempenham nas suas multinacionais. Este papel faz parte
de uma estratégia global que permite introduzir os produtos inovadores com máxima
rapidez em todos os segmentos chave do mercado global enquanto assegura que estes
produtos respondem às necessidades específicas de cada segmento. As unidades
analisadas representam formas de resposta das respectivas multinacionais à
heterogeneidade do mercado e da tecnologia (Pearce & Papanastassiou, 1999).
Pearce e Papanastassiou (1999) identificaram dois tipos de papéis estratégicos
para as unidades de I&D analisadas e localizadas na Grã-Bretanha:
• participação em novas abordagens globais à inovação seja através de
desenvolvimento de novos produtos, seja através de desenvolvimento de
versões de produtos existentes muito diferentes, visando segmentos chave
68
do mercado global. As unidades que desenvolvem este tipo de papel têm
relações intensas de cooperação com outras funções localizadas na Grã-
Bretanha (por exemplo: marketing, gestão, engenharia);
• participação em programas globais de investigação précompetitiva, em
que são responsáveis por partes específicas de investigação básica que se
reflectem nas competências locais.
Os papéis estratégicos identificados indicam que as multinacionais às quais
pertencem as unidades analisadas têm uma estratégia tecnológica global distribuída que
foca tanto na aplicação do conhecimento existente (através de estratégias globais de
exploração da inovação), como na renovação da sua base de conhecimento e na
revitalização da sua tecnologia (Pearce & Papanastassiou, 1999).
Robert Pearce e Marina Papanastassiou (1999) propuseram ainda três tipos de
unidades de I&D internacional: Laboratórios de suporte (LS), Laboratórios com
integração local (LIL) e Laboratórios com integração internacional (LII).
Os Laboratórios de suporte (LS) desempenham um papel limitado de suporte e
visam assegurar que uma unidade produtiva localizada no mesmo país estrangeiro
explora de forma eficiente a tecnologia existente na multinacional, em conformidade com
a aplicação que já lhe foi dada em produtos existentes (Pearce & Papanastassiou, 1999).
Trata-se de um tipo de unidade semelhante à UTT de Ronstadt (1984) e associada à
lógica de exploração de activos existentes (Kuemmerle, 1999), entre outros.
À semelhança dos LS, os Laboratórios com integração local (LIL) também
trabalham em cooperação com uma unidade produtiva local, mas têm como principal
objectivo participar, em cooperação com outras funções (por exemplo: marketing,
engenharia ou gestão), numa abordagem integrada de desenvolvimento de novos
produtos que vão ser utilizados pela unidade local para atingir os seus próprios objectivos
no que respeita às condições específicas de produção local e ao segmento de mercado
visado (Pearce & Papanastassiou, 1999). Este tipo de unidade assemelha-se à UTI de
Ronstadt (1984), às LMLG de Bartlett e Ghoshal (1990) e às estruturas policêntricas (H.
Hakanson, 1990)
Os Laboratórios com integração internacional (LII) trabalham na parte de
investigação précompetitiva. Têm pouca interacção e integração com as outras
actividades locais (isto é, produção, marketing, engenharia ou gestão), mas trabalham
69
interdependentemente com laboratórios semelhantes de outros países, com vista a
proporcionar à multinacional uma perspectiva global coordenada da investigação
realizada. Este tipo de unidade de I&D representa uma forma mais evoluída de UTC
(Ronstadt, 1984) em que há uma rede global de investigação que pode ser coordenada
centralmente (Pearce & Papanastassiou, 1999).
As unidades de I&D internacional propostas pelos dois autores consideram
variáveis associadas ao principal objectivo da actividade tecnológica e à sua localização
(isto é, exploração ou aumento da tecnologia, no país de origem ou no estrangeiro), às
ligações internas (neste caso: coordenação e gestão estratégica) e ao mercado visado
(isto é: local ou global).
Apresentam-se, na Tabela 11, as variáveis associadas a cada forma de
organização de I&D internacional proposta por Pearce e Papanastassiou (1999).
O estudo de Pearce e Papanastassiou tem uma abordagem diferente (isto é,
análise das unidades de I&D internacional localizadas num dado país) e refere algumas
ilações associadas ao papel estratégico das unidades de I&D. O estudo permite
identificar a perspectiva das unidades de I&D internacional, e considerar as suas
particularidades.
Contudo, o que representa um ponto forte, também representa uma limitação,
porque somente com a perspectiva das unidades de I&D é difícil discernir os padrões de
organização de I&D internacional nas multinacionais analisadas e, também,
contextualizar com base em dados significativos qual o papel que estas unidades
desempenham na estratégia global de I&D internacional. É desejável incluir no mesmo
estudo a perspectiva das unidades de I&D internacional e a perspectiva da sede, com
vista à comparação dos resultados.
Ainda, o facto de o estudo ter sido realizado num só país tem que ser considerado
na análise das ilações propostas e em qualquer tentativa de generalização, porque Grã-
Bretanha tem um perfil específico de centro de excelência em certos sectores de
actividade e as unidades de I&D internacional localizadas neste país possivelmente
procuram aceder a competências específicas que permitem fazer investigação básica
(Papanastassiou & Pearce, 2005). Será o caso das unidades de I&D internacional do
sector farmacêutico sitas perto de centros de excelência em biotecnologia (Cooke &
Piccaluga, 2006), entre outros.
70
Tabela 11 – Variáveis consideradas no modelo de Pearce e Papanastassiou
Forma de organização de I&D internacional
Variável Relacionada com… Anteriormente referida em ...
Exploração no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, LML, etnocêntrica, policêntrica, exploração
Desenvolvimento da tecnologia chave no país de origem
Localização da actividade tecnológica
UTT, CMG, exploração
Coordenação central Ligações internas CMG, etnocêntrica
LS
Gestão estratégica central
Ligações internas CMG, etnocêntrica
Aumento no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTG, UTC, LML, LMLG, GMLG, geocêntrica, aumento
Desenvolvimento da tecnologia chave no estrangeiro
Localização da actividade tecnológica
UTI, UTC, UTG, LML, aumento
Coordenação local Ligações internas LML, LMLG, policêntrica
Gestão estratégica local
Ligações internas LML, policêntrica
Mercado local Mercado visado UTI, LML, LMLG
LIL
Mercado global Mercado visado UTG, CMG, LMLG, GMLG
Aumento no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTG, UTC, LML, LMLG, GMLG, geocêntrica, aumento
Desenvolvimento da tecnologia chave no estrangeiro
Localização da actividade tecnológica
UTI, UTC, UTG, LML, aumento
Coordenação central Ligações internas CMG (Bartlett & Ghoshal, 1990), etnocêntrica (H. Hakanson, 1990)
LII
Gestão estratégica global
Ligações internas LMLG, GMLG (Bartlett & Ghoshal, 1990), geocêntrica (H. Hakanson, 1990)
Legenda: UTT, UTI, UTG, UTC (Ronstadt, 1984), LML, CMG, LMLG, GMLG (Bartlett & Ghoshal, 1990), etnocêntrica, geocêntrica, policêntrica (H. Hakanson, 1990), exploração, aumento (Kuemmerle, 1999)
Por fim, o modelo de Pearce e Papanastassiou, apesar de contemplar a I&D
internacional como uma rede integrada, particularmente visível no caso dos LIIs, não
considera as questões de subcontratação/indústria de investigação (Cooke, 2006) e da
Inovação Aberta (Chesbrough, 2003a). As formas de organização propostas focam
demasiado no interior da empresa. No contexto actual, devem ser consideradas as
ligações com o exterior e as suas implicações sobre as formas de organização de I&D
internacional (por exemplo: redes externas, alianças estratégicas) (Parkhe, 1991).
71
4.7.6. MODELO DE GERYBADZE E REGER (1999)
Alexander Gerybadze e Guido Reger (1999) realizaram o seu estudo em 21
grandes empresas de diferentes sectores de actividades, sitas na Tríade, analisaram as
formas de organizar a I&D internacional e identificaram tendências de gestão de I&D e
respectivos processos de tomadas de decisão.
Os autores identificaram padrões diferentes de internacionalização e falam de dois
paradigmas distintos de internacionalização de I&D: tradicional e transnacional, dando
particular enfoque ao último (Gerybadze & Reger, 1999).
O paradigma tradicional é caracterizado pela transferência de tecnologia
unidireccional: os conceitos de produto e as bases de conhecimento tecnológico são
geradas no país de origem e seguidamente replicadas noutras localizações internacionais
consideradas periféricas; este processo pode ser interpretado como aprendizagem virada
para o exterior (outward) ou como exploração de conhecimento (tipicamente envolvendo
fluxos de informação do centro para a periferia) (Gerybadze & Reger, 1999).
O paradigma da inovação transnacional é caracterizado por: interacções
intensas entre o mercado e a tecnologia; múltiplos centros de conhecimento (em várias
localizações); aprendizagem interfuncional (integrando várias funções e segmentos ao
longo da cadeia de valor); combinação de aprendizagem virada para interior e para
exterior; transferência de tecnologia bidireccional entre várias localizações entre unidades
da mesma organização (funções, departamentos) (Gerybadze & Reger, 1999).
Este novo paradigma baseia-se na multiplicidade e dispersão das competências
numa escala global, tanto daquelas relacionadas com a investigação como daquelas
relacionadas com a oferta de tecnologia (Gerybadze & Reger, 1999).
O paradigma de inovação transnacional requer, de acordo com os dois autores,
uma presença constante das empresas mais avançadas do ponto de vista da tecnologia
utilizada nos principais centros de excelência para conseguir reagir prontamente às
alterações do mercado. Mas as empresas devem estabelecer mecanismos internos
eficientes para transferir conhecimento e transformar as oportunidades identificadas em
negócios rentáveis, melhorando a sua capacidade de absorção (por exemplo, projectos
cooperativos e redes). Estes mecanismos contribuem para acelerar a aplicação do
72
conhecimento, aumentar a interacção entre mercados e a I&D, e integrar eficazmente
múltiplos centros de aprendizagem (Gerybadze & Reger, 1999).
Este mesmo paradigma incentiva a subcontratação global, uma vez que há
proliferação de centros de conhecimento em várias localizações no mundo e sistemas de
aquisição de tecnologia globais (Gerybadze & Reger, 1999).
Tabela 12 – Tipos de inovação transnacional (adaptado de Gerybadze & Reger, 1999)
Tipos de inovação Características Empresas predominantes
Baseada na ciência e investigação, base de I&D grande
Centro de I&D dominante sito no país de origem. Actividades de I&D adicionais noutros sítios. Acesso à I&D específica.
Empresas de países grandes, com competências de I&D numa área específica.
Baseada na ciência e investigação, base de I&D pequena
As empresas dependem da sua excelência na investigação. Múltiplos centros de I&D avançada fora do país de origem. Factores chave: massa crítica das unidades de I&D externas e a transferência de tecnologia para o país de origem.
Empresas de países pequenos. Empresas de países grandes com limitações de I&D numa área específica.
Inovação, I&D e marketing articulados, mercado chave no país de origem
I&D forte e mercado chave no país de origem. Um ou dois centros de I&D e inovação dominantes nos mercados chave. Ligação estreita entre as unidades de I&D e de produção. Factor chave: proximidade com um mercado chave world-class.
Empresas de países grandes.
Inovação, I&D e marketing articulados, mercado chave fora do país de origem
A articulação da procura e a distribuição dos recursos organizacionais serão por área geográfica e frequentemente separadas do ponto de vista funcional. Factores chave: concentração de competências fora do país de origem e estabelecimento de novas unidades de negócio.
Empresas de países pequenos. Empresas de países grandes com limitações de mercado chave ao nível nacional. Estas são obrigadas a desempenhar funções críticas fora do país de origem.
Gerybadze e Reger (1999) apresentam quatro tipos de I&D e inovação
transnacional (ver Tabela 12). A taxonomia apresentada baseia-se na distinção entre dois
regimes distintos de inovação: regimes menos dinâmicos, de inovação lenta e
regimes dinâmicos, de inovação rápida (Gerybadze & Reger, 1999).
Os regimes menos dinâmicos, de inovação lenta têm uma intensidade
reduzida das actividades de I&D, ciclos de inovação mais lentos e inovação incremental,
por exemplo, engenharia civil, indústria do aço ou construção naval (Gerybadze & Reger,
1999).
Os regimes dinâmicos, de inovação rápida são caracterizados por uma
intensidade elevada de I&D, ciclos de inovação rápidos e uma importância relativamente
73
forte da inovação radical, por exemplo, semicondutores, optoelectrónica ou computadores
pessoais. Nesta categoria, Gerybadze e Reger (1999) distinguem ainda dois tipos de
inovação: Inovação baseada na ciência e investigação (diferente em função da base
de I&D disponível no país de origem); e Inovação, I&D e Marketing articulados
(diferente em função da localização do mercado chave dentro ou fora do país de origem).
Os dois paradigmas de inovação internacional propostos pelos dois autores
consideram variáveis associadas ao principal objectivo da actividade tecnológica e à sua
localização (isto é, exploração de tecnologia, no país de origem ou no estrangeiro), à
dimensão dos recursos científico-tecnológicos, às ligações internas (neste caso:
articulação entre a função de I&D/inovação e a função de marketing) e ao mercado
visado (neste caso: global). Apresentam-se, na Tabela 13, as variáveis associadas a
cada forma de organização de I&D internacional proposta por Gerbadze e Reger (1999).
O modelo de Gerybadze e Reger baseia-se num estudo empírico realizado em
1993 num número reduzido de empresas com localização nos Estados Unidos, Europa e
Japão. Trata-se de um estudo interessante, que diferencia as formas de organização de
I&D em função dos sectores de actividade e do país de origem, e que considera
comportamentos distintos em função da dinâmica dos regimes de inovação sectoriais.
Este modelo procura ainda definir o paradigma da inovação transnacional.
Contudo o resultado parece ser mais uma amálgama de características do contexto
actual associado à inovação que se compara com o paradigma de inovação “tradicional”,
pelo que devia ser estudado e organizado melhor em estudos futuros.
Tabela 13 - Variáveis consideradas no modelo de Gerybadze e Reger
Forma de organização de I&D internacional
Variável Relacionada com… Anteriormente referida em ...
Exploração no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, LML, etnocêntrica, policêntrica, exploração, LS
Inovação tradicional Desenvolvimento da tecnologia chave no país de origem
Localização da actividade tecnológica
UTT, CMG, exploração, LS
Aumento no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTG, UTC, LML, LMLG, GMLG, geocêntrica, aumento, LIL, LII
Inovação transnacional
Desenvolvimento da tecnologia chave no estrangeiro
Localização da actividade tecnológica
UTI, UTC, UTG, LML, aumento, LIL, LII
74
Forma de organização de I&D internacional
Variável Relacionada com… Anteriormente referida em ...
Recursos científico-tecnológicos no país de origem
Dimensão dos recursos científico-tecnológicos
N/A
Articulação I&D/inovação e marketing
Ligações internas N/A
Mercado global Mercado visado UTG, CMG, LMLG, GMLG, LII
Legenda: UTT, UTI, UTG, UTC (Ronstadt, 1984), LML, CMG, LMLG, GMLG (Bartlett & Ghoshal, 1990), etnocêntrica, geocêntrica, policêntrica (H. Hakanson, 1990), exploração, aumento (Kuemmerle, 1999), LS, LIL, LII (Pearce & Papanastassiou, 1999)
Tal como os modelos de organização de I&D anteriormente apresentados (Bartlett
& Ghoshal, 1990; H. Hakanson, 1990; Kuemmerle, 1999; Pearce & Papanastassiou,
1999; Ronstadt, 1984), o modelo de Gerybadze e Reger não contempla as questões de
subcontratação/indústria de investigação (Cooke, 2006) e da Inovação Aberta
(Chesbrough, 2003a). As formas de organização propostas focam demasiado no interior
da empresa. No contexto actual, devem ser consideradas as ligações com o exterior e as
suas implicações sobre as formas de organização de I&D internacional (por exemplo:
redes externas, alianças estratégicas) (Parkhe, 1991).
75
4.7.7. MODELO DE GASSMANN E VON ZEDTWITZ (1999)
Oliver Gassmann e Maximilian von Zedtwitz (1999) apresentam cinco tipologias de
organização de I&D internacional aplicáveis a multinacionais, com base na análise dos
estudos teóricos existentes à data complementada por um estudo extenso de 33
empresas sitas na Tríade (Estados Unidos, Europa e Japão) e pertencentes a sectores
industriais distintos (195 entrevistas semi-estruturadas entre 1994 e 1998). A taxonomia
proposta tem duas componentes chave: a dispersão geográfica das actividades de I&D e
a cooperação entre as várias unidades de I&D.
As cinco tipologias de Gassmann e von Zedtwitz (1999) são: I&D centralizada e
etnocêntrica; I&D centralizada e geocêntrica; I&D descentralizada e policêntrica;
I&D tipo Hub; e Rede integrada de I&D. Segue uma breve descrição das características
de cada tipo, e uma representação visual dos mesmos.
A I&D centralizada e etnocêntrica (ver Figura 7) caracteriza-se por actividades
de I&D desempenhadas no país de origem. A empresa mãe considera ter competências
tecnológicas e vantagens claras comparativamente com as subsidiárias localizadas no
estrangeiro. A abordagem é nacional virada para o interior (Gassmann & von Zedtwitz,
1999).
Figura 7 – I&D centralizada e etnocêntrica (adaptado de Gassmann & von Zedtwitz, 1999)
A I&D centralizada e geocêntrica (ver Figura 8) assume que a empresa mãe
adquire conhecimento sobre vários tipos de tecnologias recorrendo por exemplo, a
colaboradores que se deslocam para o estrangeiro para compreender melhor os
mercados. As principais actividades de I&D continuam a ser desempenhadas
centralmente, no país de origem. Este tipo de organização de I&D internacional
pressupõe cooperação internacional (Gassmann & von Zedtwitz, 1999).
76
Figura 8 – I&D centralizada e geocêntrica (adaptado de Gassmann & von Zedtwitz, 1999)
A I&D descentralizada e policêntrica (ver Figura 9) pressupõe a existência de
vários laboratórios locais que apoiam a produção e o marketing no estrangeiro. Há
competição entre as várias unidades de I&D. A unidade de I&D localizada no país de
origem não desempenha qualquer papel de supervisão da I&D realizada no estrangeiro.
Trata-se de uma organização do tipo “federação descentralizada” (Gassmann & von
Zedtwitz, 1999).
Figura 9 – I&D descentralizada e policêntrica (adaptado de Gassmann & von Zedtwitz, 1999)
A I&D tipo Hub (ver Figura 10) baseia-se na existência de uma unidade de I&D
forte no país de origem, que coordena as actividades das várias unidades de I&D
internacional, cujo papel inicial tinha sido a monitorização de certos sítios relevantes do
ponto de vista tecnológico. A unidade central de I&D desempenha um papel de apoio e
cooperação com as restantes unidades de I&D localizadas no estrangeiro (Gassmann &
von Zedtwitz, 1999).
77
Figura 10 – I&D tipo Hub (adaptado de Gassmann & von Zedtwitz, 1999)
A Rede integrada de I&D (ver Figura 11) pressupõe que cada unidade de I&D
tenha um papel específico. A unidade de I&D do país de origem está em pé de igualdade
com as restantes unidades, representa meramente um centro específico de
competências. A I&D é muito dispersa. O principal objectivo deste tipo de organização é
integrar e criar sinergias entre as várias unidades de I&D, com base na cooperação e
parceria internacional entre as mesmas, à escala mundial (Gassmann & von Zedtwitz,
1999).
Figura 11 – Rede integrada de I&D (adaptado de Gassmann & von Zedtwitz, 1999)
Gassmann e von Zedtwitz (1999) apresentam uma comparação entre os cinco
tipos de organização de I&D internacional, utilizando três dimensões de análise:
orientação, pontos fortes e pontos fracos (ver Tabela 14).
78
Tabela 14 – Comparação entre os cinco tipos de organização de I&D internacional (adaptado de Gassmann & von Zedtwitz, 1999)
Organização Orientação Pontos fortes Pontos fracos
I&D centralizado e etnocêntrico
Orientação etnocêntrica. Grupos de especialistas no país de origem. Protecção da tecnologia chave dos competidores. Cultura de I&D homogénea.
Elevada eficiência. Custos de I&D baixos (efeito de escala). Curta duração dos ciclos. Tecnologias chave protegidas.
Pouca sensibilidade para mercados locais. Perigo de “perda” de tecnologias externas. Sindroma “not invented here”. Tendência para forma de organização rígida.
I&D centralizado e geocêntrico
Orientação geocêntrica. Cooperação próxima com outros sítios. Fluxos de informação sem restrições. Agentes de mudança facilitam a internacionalização.
Eficiência devida à centralização. Elevada sensibilidade para mercados locais e tendências tecnológicas. Internacionalização de I&D eficiente do ponto de vista dos custos.
Perigo de ignorar a internacionalização sistemática. Restrições de recursos locais. Especificidades do mercado insuficientemente consideradas.
I&D descentralizada e policêntrica
Orientação policêntrica. Mais personalização do que normalização. Mais eficiência local do que eficiência global. Princípio de “arm’s length” – esticar quanto dá o braço.
Elevada sensibilidade para mercados locais. Adaptação ao ambiente local. Utilização dos recursos locais.
Ineficiência e desenvolvimento paralelo. Falta de enfoque tecnológico. Problemas com a massa crítica.
I&D tipo “Hub”
I&D descentralizada com elevado controlo pelo centro. Unidade central de I&D detém a tecnologia chave. Coordenação global da estratégia de I&D e do respectivo orçamento.
Eficiência elevada devida à coordenação de I&D. Evita a I&D redundante. Exploração de todos os pontos fortes disponíveis. Sinergias.
Custos elevados de coordenação e tempo disponível. Perigo de suprimir a criatividade e flexibilidade através de directivas centrais.
Rede integrada de I&D
Orientação geocêntrica, conceito de país chave. Parcerias entre todos os centros de competência. Fluxo de informação sem restrições.
Juntam-se os efeitos de especialização e sinergias. Eficiência mais global do que local. Aprendizagem organizacional em várias localizações. Exploração e refinação dos pontos fortes locais.
Custos de coordenação muito elevados. Complexidade das regras institucionais e dos processos de decisão.
Gassmann e von Zedtwitz (1999) identificaram ainda padrões de evolução entre
os cinco tipos de organização de I&D internacional (ver Figura 12). Aparenta haver uma
tendência de evolução da competição para a cooperação e da I&D centralizada para a
I&D descentralizada, com uma ou outra excepção (Gassmann & von Zedtwitz, 1999).
79
2. Tapping
2. Tapping
3. Competências
Rede integrada de I&D
I&D descentralizada e
policêntrica
I&D tipo "Hub"
I&D centralizado e etnocêntrico
I&D centralizado e geocêntrico
1. Localização
4. Sinergias
5. C
ustos
Competição Cooperação
I&D centralizada
I&D descentralizada
Figura 12 – Tendências de evolução entre as formas de organização da I&D internacional (adaptado de Gassmann & von Zedtwitz, 1999)
As formas de organização de I&D internacional propostas pelos dois autores
consideram variáveis associadas ao principal objectivo da actividade tecnológica e à sua
localização (isto é, aumento ou exploração de tecnologia, no país de origem ou no
estrangeiro) e às ligações internas (isto é: ambiente de cooperação entre as unidades de
I&D distribuída, articulação entre a função de I&D/inovação e a função de marketing,
coordenação e gestão estratégica).
Apresentam-se, na Tabela 15, as variáveis associadas a cada forma de
organização de I&D internacional proposta por Gassmann e von Zedtwitz (1999), com
excepção da primeira (I&D centralizada e etnocêntrica), que representa uma forma de
organização doméstica de I&D com impacte regional, pelo que cai fora do âmbito da
presente investigação.
O modelo de Gassmann e von Zedtwitz (1999) baseia-se num estudo empírico
alargado realizado entre 1994 e 1998 num grande número de empresas com localização
nos Estados Unidos, Europa e Japão. É um dos primeiros estudos largamente citado
pelos pares que recorre a entrevistas para aumentar a compreensão do funcionamento
da organização de I&D internacional.
80
Tabela 15 – Variáveis consideradas no modelo de Gassmann e von Zedtwitz
Forma de organização de I&D internacional
Variável Relacionada com… Anteriormente referida em ...
Aumento no país de origem
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, etnocêntrica, policêntrica, exploração
Exploração no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, LML, etnocêntrica, policêntrica, exploração, LS, inovação tradicional
Desenvolvimento da tecnologia chave no país de origem
Localização da actividade tecnológica
UTT, CMG, exploração, LS, inovação tradicional
Cooperação Ligações internas N/A
Coordenação central Ligações internas CMG, etnocêntrica, LS, LII
I&D centralizada e geocêntrica
Gestão estratégica central
Ligações internas CMG, etnocêntrica, LS
Aumento no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTG, UTC, LML, LMLG, GMLG, geocêntrica, aumento, LIL, LII, inovação transnacional
Exploração no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, LML, etnocêntrica, policêntrica, exploração, LS, inovação transnacional
Desenvolvimento da tecnologia chave no estrangeiro
Localização da actividade tecnológica
UTI, UTC, UTG, LML, aumento, LIL, LII, inovação transnacional
Competição Ligações internas N/A
Coordenação local Ligações internas LML, LMLG, policêntrica, LIL
I&D descentralizada e policêntrica
Gestão estratégica local
Ligações internas LML, policêntrica, LIL
Aumento no país de origem
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, etnocêntrica, policêntrica, exploração
Exploração no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, LML, etnocêntrica, policêntrica, exploração, LS, inovação tradicional
Desenvolvimento da tecnologia chave no país de origem
Localização da actividade tecnológica
UTT, CMG, exploração, LS, inovação tradicional
Cooperação Ligações internas N/A
Coordenação central Ligações internas CMG, etnocêntrica, LS, LII
I&D tipo Hub
Gestão estratégica central
Ligações internas CMG, etnocêntrica, LS
81
Forma de organização de I&D internacional
Variável Relacionada com… Anteriormente referida em ...
Aumento no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTG, UTC, LML, LMLG, GMLG, geocêntrica, aumento, LIL, LII, inovação transnacional
Exploração no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, LML, etnocêntrica, policêntrica, exploração, LS, inovação transnacional
Desenvolvimento da tecnologia chave no estrangeiro
Localização da actividade tecnológica
UTI, UTC, UTG, LML, aumento, LIL, LII, inovação transnacional
Cooperação Ligações internas N/A
Coordenação global Ligações internas GMLG, geocêntrica
Rede integrada de I&D
Gestão estratégica global
Ligações internas LMLG, GMLG, geocêntrica, LII
Legenda: UTT, UTI, UTG, UTC (Ronstadt, 1984), LML, CMG, LMLG, GMLG (Bartlett & Ghoshal, 1990), etnocêntrica, geocêntrica, policêntrica (H. Hakanson, 1990), exploração, aumento (Kuemmerle, 1999), LS, LIL, LII (Pearce & Papanastassiou, 1999), inovação tradicional, inovação transnacional (Gerybadze & Reger, 1999)
Trata-se de um estudo interessante, que inclui a perspectiva da competição ou
cooperação interna como variável de análise, que é também considerada no modelo de
Niosi e Godîn apresentado num próximo subcapítulo da dissertação. A abordagem e as
conclusões são caracterizadas por um elevado rigor científico. O estudo dos dois autores
tem, também, limitações.
A primeira forma de organização de I&D internacional (centralizada e etnocêntrica)
não inclui aspectos internacionais, mas representa uma forma de organização da I&D no
país de origem, com impacto regional. Por isso, não pode ser utilizada como base de
análise no âmbito da presente dissertação.
A variável mercado não foi considerada no estudo dos dois autores (Gassmann &
von Zedtwitz, 1999), e podia ter trazido valor acrescentado tanto na perspectiva da
compreensão dos conceitos de “mercado global” e “mercado local”, como na perspectiva
de uma vista panorâmica completa sobre o processo de organização de I&D internacional
que tem entradas e saídas (neste caso: mercados).
Finalmente, tal como os restantes modelos de organização de I&D anteriormente
apresentados (Bartlett & Ghoshal, 1990; Gerybadze & Reger, 1999; H. Hakanson, 1990;
Kuemmerle, 1999; Pearce & Papanastassiou, 1999; Ronstadt, 1984), o modelo de
Gassmann e von Zedtwitz não contempla as questões de subcontratação/indústria de
82
investigação (Cooke, 2006) e da Inovação Aberta (Chesbrough, 2003a). As formas de
organização propostas focam demasiado no interior da empresa. No contexto actual,
devem ser consideradas as ligações com o exterior e as suas implicações sobre as
formas de organização de I&D internacional (por exemplo: licenciamento, redes externas,
alianças estratégicas) (Parkhe, 1991).
4.7.8. MODELO DE NIOSI E GODIN (1999)
Niosi e Godin estudaram 22 subsidiárias de 18 multinacionais canadianas
envolvidas em I&D internacional em 1992 e 1995, pertencentes a nove sectores de
actividade distintos. Estas subsidiárias foram adquiridas pelas multinacionais canadianas
(80%) e o laboratório central de I&D não se encontrava no país de origem em 40% das
multinacionais estudadas. Mais de metade das subsidiárias tinham programas de I&D
internos, permanentes (Niosi & Godin, 1999).
Niosi e Godin (1999) definiram, com base no seu estudo, três tipos de unidades
de I&D, como se segue.
Primeiro, as unidades que focam em bens dos mesmos sectores industriais
em que a empresa mãe actua no país de origem (diversificação uniforme). A grande
maioria das subsidiárias estudadas enquadra-se nesta categoria. Este tipo de unidade de
I&D é associado à produção de máquinas especializadas, equipamento de transporte e
produtos metálicos e dedica-se à criação de produtos novos ou melhorados no seu
negócio específico. Visam mercados globais (inclusive o do país de origem) ou locais e
têm grande autonomia de recrutamento e gestão de projectos. Os fundos para I&D
provêem dos fundos das próprias subsidiárias. Os principais resultados do processo de
I&D são protótipos e materiais.
Segundo, as unidades integradas verticalmente, que desenvolvem materiais e
produtos específicos, sendo que a inovação de processo é realizada no país de origem.
Este tipo de unidade de I&D é associado à produção de metais, produtos florestais e
empresas químicas e foram adquiridas pelas multinacionais. Têm muita autonomia, mas
a empresa mãe influencia os projectos de I&D e os fundos são oriundos também de
outras subsidiárias ou da empresa mãe. Os principais resultados do processo de I&D são
protótipos e relatórios internos
83
Terceiro, as unidades globais, em que há divisão internacional do trabalho. Este
tipo de unidade de I&D é associado ao sector electrónico. As unidades dedicam-se à
transferência de tecnologia da empresa mãe e apoio às actividades de marketing
centrais. Há menos autonomia, fala-se de cooperação e comunicação internacional, de
supervisão das actividades de I&D realizadas pela rede de subsidiárias e muitas ideias e
iniciativas de I&D são iniciadas pela empresa mãe. Os fundos provêem de outras
subsidiárias e da empresa mãe. Os principais resultados são algoritmos e software.
Apresentam-se, na Tabela 16, as variáveis associadas às formas de organização
de I&D internacional propostas por Niosi e Godîn.
Tabela 16 - Variáveis consideradas no modelo de Niosi e Godîn
Forma de organização de I&D internacional
Variável Relacionada com…
Anteriormente referida em ...
Aumento no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTG, UTC, LML, LMLG, GMLG, geocêntrica, aumento, LIL, LII, inovação transnacional, I&D descentralizada policêntrica, rede integrada de I&D
Desenvolvimento da tecnologia chave no estrangeiro
Localização da actividade tecnológica
UTI, UTC, UTG, LML, aumento, LIL, LII, inovação transnacional, I&D descentralizada policêntrica, rede integrada de I&D
Diversificação uniforme
Exploração no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, LML, etnocêntrica, policêntrica, exploração, LS, inovação tradicional, I&D centralizada e geocêntrica, I&D descentralizada policêntrica, I&D tipo Hub, rede integrada de I&D
Coordenação local
Ligações internas LML, LMLG, policêntrica, LIL, I&D descentralizada e policêntrica
Financiamento local
Ligações internas N/A
Gestão estratégica local
Ligações internas LML, policêntrica, LIL, I&D descentralizada e policêntrica
Mercado global Mercado visado UTG, CMG, LMLG, GMLG, LII, inovação transnacional
Integração vertical Aumento no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTG, UTC, LML, LMLG, GMLG, geocêntrica, aumento, LIL, LII, inovação transnacional, I&D descentralizada policêntrica, rede integrada de I&D
84
Forma de organização de I&D internacional
Variável Relacionada com…
Anteriormente referida em ...
Desenvolvimento da tecnologia chave no estrangeiro
Localização da actividade tecnológica
UTI, UTC, UTG, LML, aumento, LIL, LII, inovação transnacional, I&D descentralizada policêntrica, rede integrada de I&D
Financiamento global
Ligações internas N/A
Coordenação global
Ligações internas GMLG, geocêntrica, rede integrada de I&D
Gestão estratégica local
Ligações internas LML, policêntrica, LIL, I&D descentralizada e policêntrica
Aumento no país de origem
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, etnocêntrica, policêntrica, exploração, I&D centralizada e geocêntrica, I&D tipo Hub
Exploração no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, LML, etnocêntrica, policêntrica, exploração, LS, inovação tradicional, I&D centralizada e geocêntrica, I&D descentralizada policêntrica, I&D tipo Hub, rede integrada de I&D
Desenvolvimento da tecnologia chave no país de origem
Localização da actividade tecnológica
UTT, CMG, exploração, LS, inovação tradicional, I&D centralizada e geocêntrica, I&D tipo Hub
Cooperação Ligações internas I&D centralizada e geocêntrica, I&D tipo Hub, rede integrada de I&D
Financiamento global
Ligações internas N/A
Coordenação global
Ligações internas GMLG, geocêntrica, rede integrada de I&D
Unidades globais
Gestão estratégica global
Ligações internas LMLG, GMLG, geocêntrica, LII, rede integrada de I&D
Legenda: UTT, UTI, UTG, UTC (Ronstadt, 1984), LML, CMG, LMLG, GMLG (Bartlett & Ghoshal, 1990), etnocêntrica, geocêntrica, policêntrica (H. Hakanson, 1990), exploração, aumento (Kuemmerle, 1999), LS, LIL, LII (Pearce & Papanastassiou, 1999), inovação tradicional, inovação transnacional (Gerybadze & Reger, 1999), I&D centralizada e geocêntrica, I&D descentralizada policêntrica, I&D tipo Hub, rede integrada de I&D (Gassmann & von Zedtwitz, 1999)
O modelo de Niosi e Godîn (1999) baseia-se num estudo realizado entre 1992 e
1995 em várias multinacionais canadianas e nas suas subsidiárias, o que provavelmente
permitiu obter informação completa sobre as perspectivas centrais e das respectivas
unidades internacionais.
85
Os autores identificam as características específicas das unidades analisadas em
função do sector de actividade, o que leva a constatar de que pode ser importante fazer
estudos sectoriais para identificar tipos de organização de I&D internacional específicos.
Esta questão é de particular importância para a presente investigação, uma vez que esta
segue com a análise e modelação das formas de organização de I&D internacional na
indústria farmacêutica.
O estudo tem a limitação de ter estudado empresas com o mesmo país de origem,
o que pode ter influenciado as formas de organização de I&D, por questões culturais, de
base tecnológica específica ou de regime nacional e sectorial de inovação (Gerybadze &
Reger, 1999; Hofstede, 1983).
Uma outra limitação prende-se com a natureza da amostra: 80% das unidades de
I&D internacional foram adquiridas, sendo o resultado de uma aquisição incidental. O que
pode levantar questões quanto à relevância dessas unidades adquiridas para fins de
estudo, uma vez que não representam o resultado de um acto de gestão estratégica de
I&D dirigido claramente ao alargamento da base de competências e tecnologias
necessárias para a I&D global da multinacional.
E por fim, à semelhança dos modelos anteriormente sintetizados (Bartlett &
Ghoshal, 1990; Gassmann & von Zedtwitz, 1999; Gerybadze & Reger, 1999; H.
Hakanson, 1990; Kuemmerle, 1999; Pearce & Papanastassiou, 1999; Ronstadt, 1984),
não contempla as questões de subcontratação/indústria de investigação (Cooke, 2006) e
da Inovação Aberta (Chesbrough, 2003a). As formas de organização propostas focam
demasiado no interior da empresa. No contexto actual, devem ser consideradas as
ligações com o exterior e as suas implicações sobre as formas de organização de I&D
internacional (por exemplo: licenciamento, redes externas, alianças estratégicas) (Parkhe,
1991).
86
4.7.9. MODELO DE ZANDER (1999)
Ivo Zander (1999) apresenta no seu estudo uma classificação de redes de
inovação internacionais desenvolvida com base na revisão e análise da literatura.
O autor distingue entre dois tipos de actividades de inovação internacional:
duplicação e diversificação, e considera que estas têm influencias distintas no esforço
que a empresa faz para integrar o conhecimento geograficamente disperso. A duplicação
internacional das competências tecnológicas está associada à situação em que há várias
subsidiárias com competências nos mesmos domínios tecnológicos. No caso da
diversificação internacional, os domínios tecnológicos variam, as subsidiárias tendem a
ser únicas nas suas competências tecnológicas e, por isso, complementares (Zander,
1999).
A duplicação internacional das competências tecnológicas enquadra-se no
contexto centralizado em que uma unidade central desenvolve novas tecnologias e outras
unidades, menos sofisticadas, fazem a adaptação da mesma aos mercados locais. O
autor (Zander, 1999) relaciona este tipo de actividade de inovação com as classificações
das unidades de transferência de tecnologia mencionadas por Rondstadt (1984),
Hakanson e Nobel (L. Hakanson & Nobel, 1993a, 1993b) ou as actividades de
exploração/aumento de activos de Kuemmerle (1999).
A diversificação internacional das competências tecnológicas representa, de
acordo com Ivo Zander (1999), uma componente importante das redes de multinacionais.
O autor relaciona este tipo de actividade com o surgimento de unidades
tecnológicas/corporativas globais (Ronstadt, 1984), centros de excelência (Chiesa, 1995)
e processos de inovação locais para mercados globais (Bartlett & Ghoshal, 1990),
considerando-a parte de uma tendência que leva à criação de laboratórios integrados e
processos internacionais de inovação para mercados globais (Bartlett & Ghoshal, 1990;
L. Hakanson & Nobel, 1993a, 1993b).
A classificação de Ivo Zander (1999) acima mencionada é apresentada de forma
esquemática na Figura 13.
87
Duplicaçãointernacional
Dispersão
Diversificaçãointernacional
Enfoque no país deorigem
Sim
Sim
Não
Não
Diversificação internacional das competênciastecnológicas
Duplicação internacional das competências
tecnológicas
Figura 13 – Classificação de redes de inovação internacionais (adaptado de Ivo Zander, 1999)
De acordo com o autor (Zander, 1999), as empresas focadas no país de origem
tendem a concentrar as suas competências tecnológicas no país de origem. Podem ter
desenvolvido pontualmente alguma duplicação internacional, ou através de transferência
de tecnologia e aquisições, ou através de centros de excelência especializados, mas
estas actividades não levaram a uma mudança significativa das actividades tecnológicas
fora das fronteiras nacionais. Neste caso é difícil obter quaisquer vantagens significativas
do acesso a novas oportunidades de expansão ou da integração de actividades de
investigação dispersas internacionalmente.
As empresas parte da categoria de duplicação internacional incluem as que
reforçaram as suas competências tecnológicas no estrangeiro, mas em que as
subsidiárias são associadas ao mesmo tipo de tecnologia que domina no país de origem.
Estas empresas podem ter ganho flexibilidade para mudar o enfoque das actividades
tecnológicas desempenhadas na rede de inovação internacional, e podem ter
desenvolvido a sua capacidade de transferir conhecimento entre unidades
geograficamente dispersas e que desenvolvem tecnologia nos mesmos domínios
(Zander, 1999).
88
No caso das empresas que se enquadram na categoria de diversificação
internacional, as competências tecnológicas desenvolvidas no estrangeiro ganharam
importância ao longo do tempo e há uma divisão clara do trabalho entre as várias
subsidiárias. Cada subsidiária tende a especializar-se num domínio tecnológico distinto e
desenvolve competências diferentes, orientadas pelo mercado local ou global. Estas
empresas podem aceder e aproveitar novas oportunidades de expansão/crescimento e
desenvolveram a capacidade de integrar e recombinar várias tecnologias em produtos
novos e sistemas complexos (Zander, 1999).
Finalmente, as empresas dispersas internacionalmente são as que tendem a
desenvolver grande parte da sua tecnologia fora do país de origem. Estas empresas já
fizeram duplicação tecnológica, e também dominam um conjunto de tecnologias
desenvolvidas nas subsidiárias estrangeiras, que visaram o mercado global. Têm uma
estrutura complexa de competências internacionais, dispersas, e desenvolveram
condições para partilhar e recombinar conhecimento tecnológico à escala mundial
(Zander, 1999).
Tabela 17 – Variáveis consideradas no modelo de Zander
Forma de organização de I&D internacional
Variável Relacionada com…
Anteriormente referida em ...
Exploração no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, LML, etnocêntrica, policêntrica, exploração, LS, inovação tradicional, I&D centralizada e geocêntrica, I&D descentralizada policêntrica, I&D tipo Hub, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, unidades globais
Aumento no país de origem
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, etnocêntrica, policêntrica, exploração, I&D centralizada e geocêntrica, I&D tipo Hub, unidades globais
Desenvolvimento da tecnologia chave no país de origem
Localização da actividade tecnológica
UTT, CMG, exploração, LS, inovação tradicional, I&D centralizada e geocêntrica, I&D tipo Hub, unidades globais
Duplicação internacional
Mercado local Mercado visado UTI, LML, LMLG, LIL
Diversificação internacional
Exploração no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, LML, etnocêntrica, policêntrica, exploração, LS, inovação tradicional, I&D centralizada e geocêntrica, I&D descentralizada policêntrica, I&D tipo Hub, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, unidades globais
89
Forma de organização de I&D internacional
Variável Relacionada com…
Anteriormente referida em ...
Aumento no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTG, UTC, LML, LMLG, GMLG, geocêntrica, aumento, LIL, LII, inovação transnacional, I&D descentralizada policêntrica, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, integração vertical
Desenvolvimento da tecnologia chave no estrangeiro
Localização da actividade tecnológica
UTI, UTC, UTG, LML, aumento, LIL, LII, inovação transnacional, I&D descentralizada policêntrica, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, integração vertical
Coordenação central
Ligações internas
CMG, etnocêntrica, LS, LII, I&D centralizada geocêntrica, I&D tipo Hub
Gestão estratégica central
Ligações internas
CMG, etnocêntrica, LS, I&D centralizada geocêntrica, I&D tipo Hub
Mercado local Mercado visado UTI, LML, LMLG, LIL
Mercado global Mercado visado UTG, CMG, LMLG, GMLG, LII, inovação transnacional, diversificação uniforme
Exploração no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, LML, etnocêntrica, policêntrica, exploração, LS, inovação tradicional, I&D centralizada e geocêntrica, I&D descentralizada policêntrica, I&D tipo Hub, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, unidades globais
Aumento no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTG, UTC, LML, LMLG, GMLG, geocêntrica, aumento, LIL, LII, inovação transnacional, I&D descentralizada policêntrica, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, integração vertical
Desenvolvimento da tecnologia chave no estrangeiro
Localização da actividade tecnológica
UTI, UTC, UTG, LML, aumento, LIL, LII, inovação transnacional, I&D descentralizada policêntrica, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, integração vertical
Coordenação global
Ligações internas
GMLG, geocêntrica, rede integrada de I&D, integração vertical, unidades globais
Gestão estratégica global
Ligações internas
LMLG, GMLG, geocêntrica, LII, rede integrada de I&D, unidades globais
Dispersão
Mercado global Mercado visado UTG, CMG, LMLG, GMLG, LII, inovação transnacional, diversificação uniforme
Legenda: UTT, UTI, UTG, UTC (Ronstadt, 1984), LML, CMG, LMLG, GMLG (Bartlett & Ghoshal, 1990), etnocêntrica, geocêntrica, policêntrica (H. Hakanson, 1990), exploração, aumento (Kuemmerle, 1999), LS, LIL, LII (Pearce & Papanastassiou, 1999), inovação tradicional, inovação transnacional (Gerybadze & Reger, 1999), I&D centralizada e geocêntrica, I&D descentralizada policêntrica, I&D tipo Hub, rede integrada de I&D (Gassmann & von Zedtwitz, 1999), diversificação uniforme, integração vertical, unidades globais
90
Apresentam-se, na Tabela 17, as variáveis associadas a cada forma de
organização de I&D internacional proposta por Ivo Zander.
Ivo Zander teve uma abordagem teórica, de análise da literatura associada à
organização de I&D internacional, e procurou combinar e construir a partir dos estudos
identificados. Realizou, também, uma primeira validação da relevância do estudo em 24
multinacionais suecas.
Tal como Niosi e Godîn (1999) realçam no seu estudo e Ivo Zander (1999)
também corrobora, há diferenças significativas entre as formas de organização de I&D
internacional nos vários sectores de actividade, particularmente no que respeita à
diversificação tecnológica. Este facto aponta para a necessidade de realização de
estudos sectoriais, com vista a obter uma melhor compreensão da organização de I&D
internacional.
Uma limitação do estudo de Ivo Zander está relacionada com a validação empírica
realizada. Tal como o próprio autor indica nas conclusões do seu trabalho, a capacidade
de generalização do modelo limita-se a empresas oriundas de países semelhantes à
Suécia. Seria preciso que houvesse outros estudos que procurassem compreender e
validar a sua abordagem, em países diferentes ou com abordagens sectoriais.
E ainda, à semelhança dos modelos anteriormente apresentados (Bartlett &
Ghoshal, 1990; Gassmann & von Zedtwitz, 1999; Gerybadze & Reger, 1999; H.
Hakanson, 1990; Kuemmerle, 1999; Niosi & Godin, 1999; Pearce & Papanastassiou,
1999; Ronstadt, 1984), o modelo proposto por Ivo Zander não contempla as questões de
subcontratação/indústria de investigação (Cooke, 2006) e da Inovação Aberta
(Chesbrough, 2003a). As formas de organização propostas focam demasiado no interior
da empresa. No contexto actual, devem ser consideradas as ligações com o exterior e as
suas implicações sobre as formas de organização de I&D internacional (por exemplo:
licenciamento, redes externas, alianças estratégicas) (Parkhe, 1991).
91
4.7.10. MODELO DE ARCHIBUGI E IAMMARINO (2002)
Archibugi e Iammarino (2002) apresentam uma nova taxonomia de
inovações/formas de organização de I&D internacional: exploração internacional de
inovações produzidas no país de origem; geração global de inovações; colaborações
tecnológicas globais.
A exploração internacional de inovações produzidas no país de origem
refere-se às abordagens em que empresas e indivíduos procuram obter lucros adicionais
da exploração das suas inovações fora do país de origem. As principais formas de
exploração são: exportação de bens inovadores; cedência de licenças e direitos de
utilização de patentes, produção no estrangeiro de bens inovadores congeminados e
desenvolvidos no país de origem (Archibugi & Iammarino, 2002). Trata-se de uma
abordagem semelhante à exploração de activos de Kuemmerle (1999).
A geração global de inovações inclui inovações criadas para exploração global
por empresas multinacionais. Pode manifestar-se através de actividades inovadoras e de
I&D tanto no país de origem como no país de destino, aquisição de laboratórios de I&D
ou investimentos para criação de estruturas novas de I&D nos países de destino
(Archibugi & Iammarino, 2002). Esta abordagem é associada às categorias de Bartlett e
Ghoshal (1990): CMG, LML e GMLG.
As colaborações tecnológicas globais acontecem em duas situações distintas:
quando há, por exemplo, uma joint venture entre duas ou mais empresas localizadas em
países diferentes, com vista a desenvolver tecnologia ou produtos novos; ou ainda
quando há cooperação entre universidades e institutos de investigação (Archibugi &
Iammarino, 2002), mas neste caso não tem implicações directas sobre a I&D empresarial.
As colaborações tecnológicas globais entre duas ou mais empresas podem se
associadas com as alianças internacionais referidas por Jorge Niosi (1999).
Apresentam-se, na Tabela 18, as variáveis associadas às formas de organização
de I&D internacional propostas por Daniela Archibugi e Simona Iammarino.
92
Tabela 18 - Variáveis consideradas no modelo de Archibugi e Iammarino
Forma de organização de I&D internacional
Variável Relacionada com…
Anteriormente referida em ...
Exploração no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, LML, etnocêntrica, policêntrica, exploração, LS, inovação tradicional, I&D centralizada e geocêntrica, I&D descentralizada policêntrica, I&D tipo Hub, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, unidades globais, duplicação internacional, diversificação internacional, dispersão
Aumento no país de origem
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, etnocêntrica, policêntrica, exploração, I&D centralizada e geocêntrica, I&D tipo Hub, unidades globais, duplicação internacional
Licenciamento tecnológico
Protecção e licenciamento tecnológico
N/A
Desenvolvimento da tecnologia chave no país de origem
Localização da actividade tecnológica
UTT, CMG, exploração, LS, inovação tradicional, I&D centralizada e geocêntrica, I&D tipo Hub, unidades globais, duplicação internacional
Exploração internacional
Parceiros para desenvolvimento no país de origem
Parceiros para desenvolvi-mento
N/A
Exploração no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTT, UTI, CMG, LML, etnocêntrica, policêntrica, exploração, LS, inovação tradicional, I&D centralizada e geocêntrica, I&D descentralizada policêntrica, I&D tipo Hub, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, unidades globais, duplicação internacional, diversificação internacional, dispersão
Aumento no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTG, UTC, LML, LMLG, GMLG, geocêntrica, aumento, LIL, LII, inovação transnacional, I&D descentralizada policêntrica, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, integração vertical, diversificação internacional, dispersão
Desenvolvimento da tecnologia chave no estrangeiro
Localização da actividade tecnológica
UTI, UTC, UTG, LML, aumento, LIL, LII, inovação transnacional, I&D descentralizada policêntrica, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, integração vertical, diversificação internacional, dispersão
Parceiros para desenvolvimento no estrangeiro
Parceiros para desenvolvi-mento
N/A
Geração global
Parceiros para desenvolvimento dentro da empresa
Parceiros para desenvolvi-mento
N/A
93
Forma de organização de I&D internacional
Variável Relacionada com…
Anteriormente referida em ...
Aumento no estrangeiro
Objectivo da actividade tecnológica
UTI, UTG, UTC, LML, LMLG, GMLG, geocêntrica, aumento, LIL, LII, inovação transnacional, I&D descentralizada policêntrica, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, integração vertical, diversificação internacional, dispersão
Desenvolvimento da tecnologia chave no estrangeiro
Localização da actividade tecnológica
UTI, UTC, UTG, LML, aumento, LIL, LII, inovação transnacional, I&D descentralizada policêntrica, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, integração vertical, diversificação internacional, dispersão
Colaborações tecnológicas globais
Parceiros para desenvolvimento fora da empresa
Parceiros para desenvolvi-mento
N/A
Legenda: UTT, UTI, UTG, UTC (Ronstadt, 1984), LML, CMG, LMLG, GMLG (Bartlett & Ghoshal, 1990), etnocêntrica, geocêntrica, policêntrica (H. Hakanson, 1990), exploração, aumento (Kuemmerle, 1999), LS, LIL, LII (Pearce & Papanastassiou, 1999), inovação tradicional, inovação transnacional (Gerybadze & Reger, 1999), I&D centralizada e geocêntrica, I&D descentralizada policêntrica, I&D tipo Hub, rede integrada de I&D (Gassmann & von Zedtwitz, 1999), diversificação uniforme, integração vertical, unidades globais, duplicação internacional, diversificação internacional, dispersão (Zander, 1999)
A abordagem de Daniela Archibugi e Simona Iammarino (2002) é a primeira a
trazer uma perspectiva associada à Inovação Aberta (Chesbrough, 2003a) no estudo da
organização de I&D internacional. Trata-se de um dos primeiros estudos desta natureza,
amplamente citado pelos pares, que considera outros actores no processo de inovação
internacional e outras formas de fazer inovação internacional, por exemplo o
licenciamento tecnológico ou as alianças estratégicas (Parkhe, 1991).
Contudo, este estudo é limitado por se basear somente em perspectivas teóricas
e não validar o modelo proposto com dados empíricos. Sem a devida validação em
países específicos, vários tipos de organizações e sectores de actividade, entre outros, é
difícil corroborar as ilações tiradas pelas duas autoras.
Uma outra limitação relaciona-se com as formas de organização de I&D/inovação
internacional propostas, que são insuficientemente desenvolvidas e não incluem
perspectivas associadas à coordenação e gestão estratégica, que permitem uma melhor
compreensão do funcionamento e comunicação entre as unidades de I&D internacional.
E ainda, não consideram especificamente a variável mercado, que podia permitir
compreender e associar as formas de organização de I&D aos tipos de mercados
visados.
94
Por fim, a questão do licenciamento tecnológico aparece somente como um meio
de alcançar mercados internacionais, na perspectiva de cedência de licenças a outras
organizações para exploração e recepção de royalties. Devia ser complementado, de
acordo com a lógica de Inovação Aberta (Chesbrough, 2003a), com perspectivas de
venda (cedência) e compra de licenças com vista a aumentar a eficiência do processo
global de I&D, optimizar a gestão do portfólio tecnológico e maximizar as capacidades
próprias de exploração tecnológica nos mercados chave, a nível global.
4.7.11. ANÁLISE COMPARATIVA DOS MODELOS DE ORGANIZAÇÃO DE I&D
INTERNACIONAL
A análise dos modelos e respectivas formas de organização de I&D internacional
começou pela apresentação da evolução histórica desde os anos oitenta até ao início dos
anos 2000. De acordo com a informação apresentada no início da secção 3.7., pode
distinguir-se entre quatro períodos distintos:
• até início dos anos oitenta, em que dominavam as estruturas centralizadas de
I&D;
• desde meados dos anos oitenta até ao início dos anos noventa, em que as
formas de organização de I&D internacional mais frequentes eram as
estruturas policêntricas;
• desde meados até finais dos anos noventa, em que começaram a surgir as
redes globais integradas e as alianças tecnológicas com parceiros externos;
• a partir do início dos anos 2000, em que a aquisição de tecnologia se tornou
mais frequente e em que predominam os centros de competência distribuída,
tendo sido mencionada uma possível tendência de aumentar o controlo
centralizado da I&D internacional por razões de eficiência e redução de custos;
Depois, fez-se uma síntese de cada um dos modelos de organização de I&D
internacional encontrados na literatura (num total de dez modelos), identificaram-se as
variáveis utilizadas no estudo e apontaram-se as principais vantagens e limitações de
cada modelo.
95
Na presente secção apresenta-se a análise comparativa dos modelos de
organização de I&D internacional sintetizados, devidamente contextualizada com a
informação sobre a evolução histórica das formas de organização de I&D internacional,
como se segue:
• até início dos anos oitenta, em que dominavam as estruturas centralizadas de
I&D: modelo de Ronstadt;
• desde meados dos anos oitenta até ao início dos anos noventa, em que as
formas de organização de I&D internacional mais frequentes eram as
estruturas policêntricas: modelos de Bartlett e Ghoshal, e Hakanson;
• desde meados até finais dos anos noventa, em que começaram a surgir as
redes globais integradas e as alianças tecnológicas com parceiros externos:
modelos de Kuemmerle, Pearce e Papanastassiou, Gerybadze e Reger,
Gassman e von Zedtwitz, Niosi e Godîn, e Zander;
• a partir do início dos anos 2000, em que a aquisição de tecnologia se tornou
mais frequente e em que predominam os centros de competência distribuída,
tendo sido mencionada uma possível tendência de aumentar o controlo
centralizado da I&D internacional por razões de eficiência e redução de custos:
modelo de Archibugi e Iammarino.
A abordagem utilizada para fazer a comparação inspirou-se na análise realizada
por Jorge Niosi (1999) no artigo introdutório da edição especial da Research Policy de
1999 sobre I&D internacional. Este autor comparou as variáveis utilizadas e as
taxonomias consideradas pelos vários autores que tinham estudado o tema de I&D
internacional até à data, inclusive os incluídos naquela edição especial.
Na análise comparativa feita no âmbito desta dissertação complementou-se a
abordagem de Jorge Niosi (1999) com informação sobre o tipo de estudo, dados
utilizados, vantagens, limitações e alguns comentários considerados relevantes, com o
principal propósito de enriquecer a base de comparação (ver Anexo 6).
Apresentam-se de seguida as ilações que resultam da comparação apresentada
no Anexo 6, organizadas em três categorias: o principal enfoque da investigação, as
metodologias de validação empírica e as variáveis consideradas.
96
No que respeita ao principal enfoque da investigação, repara-se que os estudos
realizados sobre I&D internacional se concentraram nas empresas oriundas da Tríade.
Falta investigação sobre as empresas localizadas fora da Tríade porque a
internacionalização da investigação pelas empresas localizadas nos países em via de
desenvolvimento tem regras distintas (von Zedtwitz, 2007).
Uma outra ilação prende-se com o facto de os principais sectores de actividade
analisados serem de tecnologia intensiva. Os mais estudados foram: indústria
electrónica, telecomunicações e indústria química/ farmacêutica. Continua a haver
questões sobre a maneira como a I&D internacional é organizada e funciona noutros
sectores de actividade e sobre os problemas enfrentados pelos gestores de I&D que
actuam nesses sectores.
Relativamente às metodologias de validação empírica, podem tirar-se três ilações.
Em primeiro lugar, os estudos teóricos recorrem na sua maioria a dados de
patentes norte-americanas para validar os modelos propostos. Faltam estudos empíricos
com dados primários, em sectores de actividade específicos, com amostras maiores ou
com maior profundidade de análise para aumentar a compreensão sobre a teoria de I&D
internacional e aumentar a aplicabilidade dos modelos, identificando, por exemplo, boas
práticas de gestão. Esta ilação corrobora o que foi afirmado na secção 3.5. relativamente
às insuficiências metodológicas associadas ao estudo da internacionalização de I&D.
Em segundo lugar, os estudos empíricos usam amostras reduzidas de empresas
(entre 5 e 33) de vários sectores industriais e domínios de actividade. A importância dos
estudos sectoriais é significativa, como especificaram Niosi e Godîn (1999) e Zander
(1999), devido às especificidades das formas de organização de I&D internacional em
cada sector de actividade. Mas estes estudos escasseiam.
Em terceiro lugar, utilizam-se perspectivas incompletas sobre as formas de
organização de I&D internacional, porque nem sempre são incluídas na investigação
tanto as unidades de I&D localizadas no estrangeiro, como a sede da empresa. Este
facto pode enviesar a investigação, uma vez que há diferenças significativas de
perspectivas entre as mesmas, que devem ser devidamente consideradas e trianguladas
para assegurar a validade dos estudos empíricos (Creswell, 2003; Yin, 2003).
97
Finalmente, no que respeita às variáveis consideradas, realça-se que nove dos
dez modelos apresentados contemplam perspectivas fechadas, viradas para o interior da
organização, que excluem da análise a lógica da subcontratação/indústria de
investigação e da Inovação Aberta ( Chesbrough, 2003a; Cooke, 2006; Parkhe, 1991),
que caracterizam a forma contemporânea de fazer inovação.
Houve uma evolução clara das variáveis utilizadas nos modelos apresentados:
• desde modelos focados no objectivo e localização do desenvolvimento
tecnológico e no mercado visado: Ronstadt, Kuemmerle,
• passando por modelos que consideram, também, as ligações internas
(coordenação, gestão, financiamento) entre as várias unidades e/ou o papel
que cada uma pode desempenhar: Bartlett e Ghoshal, Hakanson, Pearce e
Papanastassiou, Niosi e Godîn, Zander,
• e por modelos que acrescentam ainda a importância dos recursos científico-
tecnológicos, da articulação entre a função de marketing e de I&D ou da
cooperação entre as várias unidades de I&D: Gerybadze e Reger, Gassmann
e von Zedtwitz
• até ao último modelo, que introduz algumas perspectivas associadas à
inovação aberta, isto é, o licenciamento tecnológico e as parcerias externas
para desenvolvimento tecnológico: Archibugi e Iammarino.
Contudo, nenhum modelo pode ser considerado completo, do ponto de vista das
variáveis utilizadas. Houve evolução, mas insuficiente. A lógica da inovação aberta
(licenciamento tecnológico, valorização das patentes, subcontratação da inovação) e das
novas formas de organização (redes externas, alianças estratégicas) ainda está
insuficientemente contemplada e faltam modelos apropriados para validação empírica,
com amostras alargadas, envolvendo os actores internos e externos relevantes.
Há necessidade de ter um modelo fiável que inclua as variáveis utilizadas até à
data, que identifique variáveis que ainda não foram consideradas, que permita validação
empírica e, também, aplicação a sectores de actividade específicos. Na próxima secção
constrói-se um modelo de organização de I&D internacional que responde aos requisitos
acima referidos, a partir das variáveis utilizadas nos dez modelos apresentados e
analisados na presente dissertação, que foi designado por modelo holístico.
98
4.8. MODELO HOLÍSTICO DE ORGANIZAÇÃO DE I&D INTERNACIONAL
4.8.1. CONSTRUÇÃO DO MODELO
A construção de um modelo holístico de organização de I&D internacional partiu
das variáveis utilizadas nos dez modelos sintetizados nas secções anteriores e
considerou devidamente as semelhanças entre as respectivas variáveis. Depois de
construída a componente do modelo que reflectia as variáveis utilizadas nos dez
modelos, foram identificadas novas variáveis consideradas importantes para reflectir
aspectos importantes na forma contemporânea de fazer inovação. Segue uma descrição
mais pormenorizada dos passos realizados para a construção do modelo e dos
resultados obtidos.
Havendo uma relativa heterogeneidade nas abordagens e considerando que
nenhum dos modelos sintetizados proporcionava uma imagem abrangente e completa
sobre a organização de I&D internacional, procurou-se primeiro encontrar uma taxonomia
coerente que pudesse juntar as variáveis utilizadas nos dez modelos e permitir acomodar
novas variáveis (Dey, 1993) que permitissem reflectir as questões associadas à inovação
aberta e à indústria de investigação (Chesbrough, 2003a; Cooke, 2006; Parkhe, 1991),
porque “sem classificar a informação não há maneira de saber claramente o que estamos
a analisar” (Dey, 1993, p. 40).
Utilizou-se uma abordagem de categorização sugerida por Ian Dey (1993). Esta
abordagem envolve um processo de agrupamento de informação (neste caso, as
variáveis consideradas nos dez modelos) de acordo com características semelhantes e
critérios claros que permitam distinguir a informação que se procura classificar, e implica
flexibilidade e iteratividade no desenvolvimento de categorias até ao ponto em que se
considera haver consistência e coerência suficiente na classificação (Dey, 1993).
A partir das subcategorias identificadas na análise de cada modelo de
organização de I&D internacional, apresentadas na coluna Relacionada com… das
tabelas de apresentação das variáveis (ver Tabelas 9-11, 13, 15-18), desenvolveu-se um
esquema de agrupamento destas subcategorias em quatro categorias mais abrangentes,
que permitia coerência e fronteiras claras entre as respectivas categorias (ver Figura 14).
99
Ligações (redes)
internas
Organização
Desenvolvimento
tecnológico Mercado Recursos
Ligações (redes)
externas
Figura 14 – Categorias de variáveis utilizadas nos modelos de organização de I&D internacional sintetizados e no metamodelo
A lógica subjacente a estas quatro categorias baseia-se na abordagem da
actividade de I&D numa perspectiva sistémica. O desenvolvimento tecnológico está no
centro, recebe recursos internos/externos e precisa de colaborações internas/externas
para a sua concretização, e tem saídas internas/externas (neste caso, o mercado
externo, mas a perspectiva do mercado interno também pode ser contemplada).
As quatro categorias são:
• Tecnologia (desenvolvimento e exploração), em que se incluem as
variáveis associadas ao principal objectivo do desenvolvimento tecnológico, à
sua exploração no país de origem ou no estrangeiro, à perspectiva de
localização do desenvolvimento tecnológicos, ao papel que as unidades de
I&D desempenham no que respeita ao desenvolvimento tecnológico e à
protecção e licenciamento tecnológico;
• Recursos, em que se enquadram as variáveis associadas às competências/
conhecimento e outra infra-estrutura técnica necessária para o
desenvolvimento tecnológico;
• Ligações (redes), em que se incluem as variáveis associadas às interacções
internas necessárias para o desenvolvimento tecnológico, à sua coordenação,
financiamento e gestão estratégica, e variáveis associadas às redes externas,
isto é aos parceiros para o desenvolvimento tecnológico localizados fora da
empresa;
100
• Mercado, em que se enquadram as variáveis associadas ao(s) mercado(s)
em que a tecnologia desenvolvida vai ser explorada, por exemplo, sob forma
de produtos novos.
De seguida, foram associadas a cada uma das quatro categorias, as
subcategorias identificadas na análise de cada modelo de organização de I&D
internacional e as variáveis associadas a cada subcategoria (ver Tabela 19).
Tabela 19 – Taxonomia proposta para as variáveis utilizadas nos modelos de organização de I&D internacional
Categoria Subcategoria Variável Referida em...
Exploração no estrangeiro
UTT, UTI, CMG, LML, etnocêntrica, policêntrica, exploração, LS, inovação tradicional, I&D centralizada e geocêntrica, I&D descentralizada policêntrica, I&D tipo Hub, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, unidades globais, duplicação internacional, diversificação internacional, dispersão, exploração internacional, geração global
Aumento no país de origem
UTT, UTI, CMG, etnocêntrica, policêntrica, exploração, I&D centralizada e geocêntrica, I&D tipo Hub, unidades globais, duplicação internacional, exploração internacional
Objectivo da actividade tecnológica
Aumento no estrangeiro
UTI, UTG, UTC, LML, LMLG, GMLG, geocêntrica, aumento, LIL, LII, inovação transnacional, I&D descentralizada policêntrica, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, integração vertical, diversificação internacional, dispersão, geração global, colaborações tecnológicas globais
Desenvolvimento no país de origem
UTT, CMG, exploração, LS, inovação tradicional, I&D centralizada e geocêntrica, I&D tipo Hub, unidades globais, duplicação internacional, exploração internacional Desenvolvi-
mento da tecnologia chave Desenvolvimento
no estrangeiro
UTI, UTC, UTG, LML, aumento, LIL, LII, inovação transnacional, I&D descentralizada policêntrica, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, integração vertical, diversificação internacional, dispersão, geração global, colaborações tecnológicas globais
Liderança estratégica
LMLG, GMLG
Detector LMLG, GMLG
Participante LMLG, GMLG
Papel das unidades de I&D
Implementador LMLG, GMLG
Tecnologia
Protecção e licenciamento tecnológico
Licenciamento tecnológico (venda de licenças)
Exploração internacional
101
Categoria Subcategoria Variável Referida em...
Recursos
Limitações dos recursos científico-tecnológicos
País de origem Inovação transnacional
Coordenação central
CMG, etnocêntrica, LS, LII, I&D centralizada geocêntrica, I&D tipo Hub, diversificação internacional
Coordenação local
LML, LMLG, policêntrica, LIL, I&D descentralizada e policêntrica, diversificação uniforme
Coordenação global
GMLG, geocêntrica, rede integrada de I&D, integração vertical, unidades globais, dispersão
Gestão estratégica central
CMG, etnocêntrica, LS, I&D centralizada geocêntrica, I&D tipo Hub, diversificação internacional
Gestão estratégica local
LML, policêntrica, LIL, I&D descentralizada e policêntrica, diversificação uniforme, integração vertical
Gestão estratégica global
LMLG, GMLG, geocêntrica, LII, rede integrada de I&D, unidades globais, dispersão
Financiamento local
Diversificação uniforme
Financiamento global
Integração vertical, unidades globais
Relacionamento de cooperação
I&D centralizada e geocêntrica, I&D tipo Hub, rede integrada de I&D
Relacionamento de competição
I&D descentralizada e policêntrica
Articulação I&D, inovação e marketing
Inovação transnacional
Ligações (redes) internas
Parceiros internos para desenvolvi-mento
Geração global
Parceiros externos para desenvolvimento, no país de origem
Exploração internacional
Ligações (redes)
Ligações (redes) externas Parceiros
externos para desenvolvimento, no estrangeiro
Geração global, colaborações tecnológicas globais
Local UTI, LML, LMLG, LIL, duplicação internacional, diversificação internacional
Mercado Mercado visado
Global UTG, CMG, LMLG, GMLG, LII, inovação transnacional, diversificação uniforme, diversificação internacional, dispersão
102
Legenda: UTT, UTI, UTG, UTC (Ronstadt, 1984), LML, CMG, LMLG, GMLG (Bartlett & Ghoshal, 1990), etnocêntrica, geocêntrica, policêntrica (H. Hakanson, 1990), exploração, aumento (Kuemmerle, 1999), LS, LIL, LII (Pearce & Papanastassiou, 1999), inovação tradicional, inovação transnacional (Gerybadze & Reger, 1999), I&D centralizada e geocêntrica, I&D descentralizada policêntrica, I&D tipo Hub, rede integrada de I&D (Gassmann & von Zedtwitz, 1999), diversificação uniforme, integração vertical, unidades globais, duplicação internacional, diversificação internacional, dispersão (Zander, 1999), exploração internacional, geração global, colaborações tecnológicas globais (Archibugi & Iammarino, 2002)
Apresenta-se na Figura 15 uma perspectiva alternativa sobre as principais
variáveis utilizadas, organizadas de acordo com a taxonomia referida na Tabela 19. Os
modelos de I&D internacional considerados nesta dissertação são representados como
abreviatura dos apelidos dos seus autores.
Todos os modelos analisados utilizam variáveis associadas ao desenvolvimento e
exploração tecnológica, isto é, actividades para exploração de I&D (duplicação) ou para
aumento de I&D (diversificação), e variáveis associadas à localização em que é
desenvolvida a tecnologia chave da empresa, isto é, no país de origem ou no estrangeiro.
Isto indica um claro interesse pela natureza dos desenvolvimentos tecnológicos
realizados no país de origem ou no estrangeiro, um aspecto chave na teoria actual de
organização de I&D internacional. Não se pode concluir, contudo, que haja debate
suficiente sobre este aspecto, ou que as principais questões estejam resolvidas, devido
ao número limitado de estudos, ao seu reduzido poder dedutivo e à dificuldade de
aplicação dos mesmos em sectores específicos.
Pouco mais de metade dos modelos analisados referem questões associadas à
coordenação de I&D internacional e à sua gestão estratégica. Na altura em que as
organizações de I&D internacional começaram a migrar para soluções heterárquicas,
redes integradas e abordagens descentralizadas, surgiram problemas de coordenação e
gestão, e as empresas procuraram soluções. Estes aspectos ainda continuam por
resolver, como Gammeltoft (2005) relembra no seu estudo. A complexidade aparenta
criar pressões nas organizações de I&D internacional no sentido da consolidação,
aumento do controlo hierárquico e coordenação global.
103
< 80 m80 --> 90 m90 --> f90 > 2000
Categoria Subcategoria(estruturas
centralizadas)
(estruturas
policêntricas)
(redes globais integradas, alianças
tecnológicas)
(aquisição tecnológica, centros de
competências distribuídos)
Exploração No estrangeiro R BG, H K, PP, GR, GvZ, NG, Z AI
No país de origem R BG, H K, PP, GR, GvZ, NG, Z AI
No estrangeiro R BG, H K, PP, GR, GvZ, NG, Z AI
No país de origem R BG, H K, PP, GR, GvZ, NG, Z AI
No estrangeiro R BG, H K, PP, GR, GvZ, NG, Z AI
Liderança
estratégicaBG, H
Detector BG, H
Participante BG, H
Implementador BG, H
Protecção e
licenciamento
tecnológico
Licenciamento Venda de licenças AI
Re
curs
os
Limitações dos principais
recursos científico-
tecnológicos
País de origem K, PP, GR, GvZ, NG, Z
Central BG, H K, PP, GR, GvZ, NG, Z
Local BG, H K, PP, GR, GvZ, NG, Z
Global BG, H K, PP, GR, GvZ, NG, Z
Central BG, H K, PP, GR, GvZ, NG, Z
Local BG, H K, PP, GR, GvZ, NG, Z
Global BG, H K, PP, GR, GvZ, NG, Z
Local K, PP, GR, GvZ, NG, Z
Global K, PP, GR, GvZ, NG, Z
Cooperação K, PP, GR, GvZ, NG, Z
Competição K, PP, GR, GvZ, NG, Z
Articulação I&D e
marketingK, PP, GR, GvZ, NG, Z
Parceiros para
desenvolvimentoInternos (à organização) AI
Externos (à organização), no
país de origemAI
Externos (à organização), no
estrangeiroAI
Local R BG, H K, PP, GR, GvZ, NG, Z
Global R BG, H K, PP, GR, GvZ, NG, Z
Legenda R (Ronstadt, 1984), BG (Bartlett & Ghoshal, 1990), H (H. Hakanson, 1990), K (Kuemmerle, 1999), PP (Pearce & Papanastassiou, 1999), GR (Gerybadze & Reger, 1999), GvZ (Gassmann &
von Zedtwitz, 1999), NG (Niosi & Godîn, 1999), Z (Zander, 1999), AI (Archibugi & Iammarino, 2002)
Mercado visado
Lig
açõ
es
(re
de
s) i
nte
rna
s e
ex
tern
as
Me
rca
do
Te
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to,
ex
plo
raçã
o e
pro
tecç
ão
)
Ligações (redes) internas
Objectivo da actividade
tecnológica
Coordenação
Gestão estratégica
Financiamento
Relacionamento
Ligações (redes) externasParceiros para
desenvolvimento
Aumento
Variáveis
Desenvolvimento da
tecnologia chaveDesenvolvimento
Papel das unidades de
I&D
Figura 15 – Apresentação gráfica da taxonomia proposta para as variáveis utilizadas nos modelos de organização de I&D internacional
104
Pode-se ainda identificar uma tendência de análise das variáveis ligadas ao
mercado (cerca de metade dos modelos), reflectindo a situação de várias empresas que
actualmente procuram mercados globais. Ou uma tendência para relacionamento interno
em rede, algo tangencial às tendências de participação em redes de cooperação e à
teoria das organizações virtuais analisadas por outras comunidades de investigadores.
De qualquer maneira, é desejável incluir estas variáveis em estudos empíricos futuros
com vista a validar a sua existência e estabelecer a sua relevância para a organização de
I&D internacional e para a própria eficácia/eficiência do processo.
No último modelo sintetizado, verifica-se uma tentativa de inclusão de certas
variáveis relacionadas com a subcontratação/indústria de investigação e Inovação Aberta
(Chesbrough, 2003a; Cooke, 2006; Parkhe, 1991), isto é, venda de licenças e parcerias
externas para desenvolvimento tecnológico. Contudo, estes aspectos devem ser
analisados em mais pormenor e numa perspectiva integrada, o que significa que é
preciso analisar em simultâneo a compra e venda de licenças e a estratégia de protecção
intelectual associada a patentes e, eventualmente, marcas.
É portanto desejável que o modelo holístico de organização de I&D internacional
contemple variáveis relacionadas com todos estes aspectos (compra de licenças, venda
de licenças, patentes e marcas).
Há, também, uma outra questão que não foi contemplada por nenhum dos
modelos analisados, mas que desempenha um papel crítico em certas indústrias
(indústria farmacêutica, entre outros) e influencia a localização e organização
internacional das actividades de I&D: os aspectos de regulamentação associados ao
mercado e à actividade de desenvolvimento (Buckley & Casson, 1999).
Estes aspectos deviam ser incluídos em estudos futuros sobre a organização de
I&D internacional para compreender o seu impacto e proceder à sua validação, e o
modelo holístico de organização de I&D deve contemplar variáveis específicas que digam
respeito à regulamentação.
Por fim, a análise das variáveis incluídas na taxonomia e utilizadas nos modelos
de organização de I&D internacional sintetizados, reflecte uma inconsistência na
subcategoria Ligações internas, que reflecte somente duas variáveis associadas ao
financiamento: financiamento local e financiamento global, sem considerar a possibilidade
de haver financiamento central, da sede para as restantes unidades. Por uma questão de
105
solidez taxonómica, considera-se que o modelo holístico de organização de I&D
internacional deve contemplar esta nova variável (isto é, financiamento central) para que
seja possível averiguar a sua presença e relevância em estudos empíricos futuros.
Actualizou-se a a perspectiva apresentada na Figura 15, com vista a reflectir as
quatro novas variáveis – compra de licenças, patentes e marcas (na subcategoria
Protecção e licenciamento da tecnologia, parte da categoria Tecnologia); regulamentação
(como subcategoria aparte, na categoria Mercado); financiamento central (na
subcategoria Ligações internas) – e o resultado foi designado por modelo holístico de
organização de I&D internacional (ver Figura 16)10.
4.8.2. CARACTERIZAÇÃO DO MODELO
O modelo holístico apresenta um conjunto de características interessantes, que se
apresentam de seguida.
Primeiro, permite ter uma visão integrada do problema estudado, o que
nenhum modelo proposto até à data permitia. É claro quais as variáveis utilizadas e as
categorias em que se enquadram, sendo que a lógica utilizada para a classificação é
robusta.
Segundo, permite obter visões diversas e diferentes, adaptando-se de acordo
com a situação em que é aplicado. Por exemplo, se o modelo holístico for utilizado para
analisar e comparar as formas de organização de I&D internacional em dois sectores
diferentes de actividade, é possível representar de forma gráfica as variáveis mais
importantes em cada sector, recorrendo a cores diferentes, entre outros métodos de
representação gráfica ao dispor (Dey, 1993).
Terceiro, o modelo holístico é flexível, permite integrar diversos tipos de
actividades e diferentes empresas/actores, o que permite ultrapassar algumas
deficiências associadas aos estudos de I&D internacional, por exemplo estudo somente
de empresas multinacionais e de sectores de tecnologia intensiva localizados em países
desenvolvidos.
10 A definição de cada variável e de cada subcategoria é apresentada no Anexo 7.
106
Papel das unidades de I&D liderança estratégica
detector (sensor)
Desenvolvimento da tecnologia chave
Limitações dos principais recursos científico -tecnológicos
Ligações internas
relacionamento cooperação
competição
coordenação central
local
global
financiamento central
local
global
gestão estratégica central
local
global
articulação I&D, inovação & marketing
Mercado visado local
global
MERCADO
TECNOLOGIA (DESENVOLVIMENTO
E EXPLORAÇÃO
RECURSOS
LIGAÇÕES (REDES)
Objectivo da actividade tecnológica
exploração no estrangeiro
aumento
participante
implementador
no país de origemno estrangeiro
no país de origem
no estrangeiro
no país de origem
Protecção e licenciamento da tecnologia
venda de licenças
patentes e marcas
compra de licenças
Ligações externas parceiros para desenvolvimento
externos (à organização), no país de origem
Regulamentação
desenvolvimento
licenciamento
parceiros para desenvolvimento
internos (à organização)
externos (à organização), no estrangeiro
local
global
Subcategoria nova Variável novaLegenda:
Figura 16 – Modelo holístico de organização de I&D internacional
107
Quarto, o modelo é dinâmico e escalável, porque permite a inclusão de novas
variáveis e perspectivas. Depois de validado numa situação específica, é possível
identificar novas variáveis que podem ser relevantes para outras situações e introduzi-las
no modelo para futuras validações empíricas.
Quinto, o modelo holístico é adaptável ao racional de aplicação. Para tal, é
necessário conhecer as características específicas da situação em que vai ser aplicado,
por exemplo, de um determinado sector de actividade, e identificar as variáveis mais
propensas de serem relevantes nessa situação. Depois, como há uma ligação entre as
variáveis utilizadas no modelo e as formas de organização de I&D propostas nos dez
modelos analisados, é possível identificar, também, as formas de organização de I&D
mais prováveis de aparecer nessa situação. A escolha da metodologia fica ao dispor de
cada investigador, podendo ser utilizados métodos quantitativos, qualitativos ou mistos.
Por fim, o modelo é mensurável. Cada variável pode ser medida, seja recorrendo
aos instrumentos utilizados pelos autores dos modelos e das formas de organização que
utilizaram estas variáveis, quer recorrendo aos indicadores apresentados na secção 4.6,
quer criando indicadores específicos adaptados à situação.
A I&D internacional é uma área recente. É necessário ter mais estudos e mais
tempo para definir devidamente as suas fronteiras e principais áreas de interesse, e
também para proporcionar uma visão mais integrada das diferentes tipologias de
organização de I&D internacional, especificamente por sectores industriais, países,
tipologias de produtos, entre outros. Pode ser interessante recorrer a abordagens
multidisciplinares na investigação associada para ajudar a discernir as principais
características desta área científica.
108
4.9. SÍNTESE DAS PRINCIPAIS ILAÇÕES
Ao longo deste capítulo realizou-se uma revisão crítica da literatura associada à
internacionalização de I&D, com particular enfoque na organização de I&D internacional.
Identificaram-se os principais pontos fracos da literatura existente, entre outros:
• estudos insuficientes sobre as principais razões de internacionalização de I&D,
o que reflecte algum distanciamento das abordagens utilizadas na teoria da
internacionalização;
• análise indiferenciada dos actores que participam na I&D internacional,
enfoque quase exclusivo nas empresas, alguma menção a outras
organizações que participam no processo de inovação, na lógica da Inovação
Aberta, e exclusão da análise das autoridades regulamentares;
• metodologias de estudo que permitem melhor compreensão do processo de
internacionalização de I&D ainda em desenvolvimento (por exemplo: estudos
de casos e inquéritos alargados);
• indicadores de medição do grau de internacionalização de I&D relativamente
bem desenvolvidos, com cariz económico, e que deixam espaço para o
desenvolvimento de indicadores particulares para estudos empíricos
específicos;
• modelos de organização de I&D internacional com grande heterogeneidade de
variáveis utilizadas e estudos empíricos pouco desenvolvidos;
• tendência recente de introdução de variáveis de estudo da organização de I&D
internacional relacionadas com a Inovação Aberta, mas ainda pouco
consolidada;
O enfoque da presente dissertação é na organização de I&D internacional, pelo
que se seguiu esta linha de análise, considerando que eventuais conclusões relacionadas
com outros aspectos de internacionalização de I&D representariam aspectos acessórios,
mas que seriam analisados se porventura se verificar na investigação algumas
descobertas relevantes (seguindo a lógica da Inovação Aberta, também).
Construiu-se um modelo holístico de organização de I&D internacional que
procura colmatar as insuficiências dos modelos propostos até à data e sintetizados na
109
presente dissertação. Este modelo inclui todas as variáveis consideradas nos modelos
teóricos propostos e complementa as mesmas com duas variáveis associadas à
Inovação Aberta (compra de licenças e estratégia de patentes/marcas), uma variável
associada ao papel da regulamentação na organização de I&D internacional, e uma
variável relativa ao financiamento central das actividades de I&D.
O próximo passo é testar a aplicação do modelo holístico de organização de I&D
internacional num sector de actividade específico, e compreender melhor as suas
características, pontos fortes e pontos fracos. Os capítulos 4 e 5 da presente dissertação
focam-se na descrição do sector farmacêutico e na adaptação do modelo holístico para
aplicação nesse sector de actividade. No capítulo 7 apresenta-se o estudo empírico
realizado para testar o modelo holístico adaptado, no contexto da indústria farmacêutica.
111
5. A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E O PROCESSO DE
DESENVOLVIMENTO DE MEDICAMENTOS
5.1. INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
A indústria farmacêutica faz parte do sector da saúde e deve ser analisada à luz
dos principais desafios sociais, políticos e éticos que caracterizam este sector/sistema.
O principal aspecto que diferencia o sector da saúde dos restantes reside no
envolvimento do estado e das respectivas entidades regulamentares no mercado com
vista a assegurar a segurança para o consumidor e evitar a falência do mesmo. O
envolvimento do estado pode ser somente de apoio, limitado à regulamentação,
desenvolvimento de políticas e do panorama estratégico, ou pode ser activo, incluindo
financiamento, aquisição ou prestação de serviços de saúde. Em qualquer uma destas
situações, deve ter-se em atenção que a focalização em questões de eficiência a curto
prazo pode prejudicar a sustentabilidade do sistema de saúde a longo prazo (Atun, Gurol-
Urganci, et al., 2007; Atun & Sheridan, 2007).
Os novos tratamentos para doentes e medicamentos são desenvolvidos a partir
da investigação fundamental realizada essencialmente nas universidades e outros
institutos públicos de investigação, mas praticamente todos os produtos finais são
desenvolvidos e produzidos por empresas farmacêuticas, de biotecnologia e outras
empresas da área da saúde (por exemplo, dispositivos médicos). As empresas
farmacêuticas desempenham um papel importante no sector da saúde: estão envolvidas
no desenvolvimento e comercialização de medicamentos para uso humano. Estas
empresas actuam em mercados estritamente regulamentados, desde a parte da
investigação e desenvolvimento, até à componente de produção e comercialização, e a
eficiência do processo é geralmente aumentada pela cooperação entre os vários actores
presentes nesses mercados (Atun & Sheridan, 2007; Infarmed, 2007; Kleyn, et al., 2007).
No sector da saúde, e especificamente nas indústrias farmacêutica e de
biotecnologia, a inovação deve ser encarada de forma holística, como um processo
interactivo inserido num ecossistema que combina incentivos, recompensas e aspectos
regulamentares que estimulam a inovação e a aplicação e disseminação da mesma no
mercado (Atun & Sheridan, 2007).
112
É, por esta razão, útil compreender não somente o funcionamento global do
mercado farmacêutico mas também o funcionamento e a dinâmica das várias tipologias
de cadeias de valor associados aos diferentes tipos de produtos farmacêuticos e o papel
dos vários actores nacionais e internacionais que nessas participam.
5.1.1. PRODUTOS FARMACÊUTICOS
Os produtos da indústria farmacêutica podem ser classificados de acordo com
várias tipologias (ver Tabela 20) (EMEA, 2007; IFPMA & FIIM, 2004; Infarmed, 2007).
Tabela 20 – Tipologias de produtos na indústria farmacêutica
Critério Tipologia Descrição
Produtos novos
Produtos protegidos por patente(s), geralmente de âmbito internacional. Somente podem ser produzidos e comercializados pela empresa detentora da patente ou por outras, mediante contrato de licenciamento e pagamento de royalties. Existência de
protecção por
patentes Produtos genéricos
Produtos que não beneficiam desta protecção. Podem ser produzidos por qualquer empresa, desde que esta respeite as regras impostas pelas autoridades reguladoras e que obtenha a devida autorização de introdução no mercado.
Produtos éticos
Produtos que somente podem ser vendidos ao consumidor final mediante apresentação de prescrição médica. Trata-se, em geral, de produtos que apresentam efeitos secundários mais perigosos ou que podem por exemplo interagir mais fortemente em combinação com outros medicamentos. O principal decisor da compra é o médico, que passa a prescrição.
Necessidade
de prescrição
médica
Produtos de venda livre
Produtos que não precisam de prescrição médica para serem vendidos ao consumidor final. Os principais decisores da compra são o farmacêutico e o consumidor final.
Produtos comparticipa-dos
Produtos cujo valor de venda é suportado em parte pelo consumidor final e em parte por outra entidade, pública ou privada. Em muitos países, esta entidade é o estado, através por exemplo do Ministério da Saúde. Noutros, trata-se de entidades seguradoras.
Geralmente os produtos comparticipados são sujeitos a negociações duras aquando da aprovação do preço de venda no mercado e do valor comparticipado.
Comparticipa-
ção por
organismos
públicos ou
privados
Produtos não comparticipa-dos
Produtos cujo valor de venda é suportado somente pelo consumidor final.
Grau de
inovação
Produtos breakthrough
Produtos que representam uma mudança revolucionária comparativamente com as terapias existentes para uma doença específica. São muitas vezes associados à inovação radical e à criação de novas trajectórias de inovação no mercado farmacêutico.
113
Critério Tipologia Descrição
Produtos me-too
Produtos que seguem os produtos breakthrough e ajudam a melhorar certos componentes, por exemplo, a forma de administração (de injectável para oral) ou a posologia (de três vezes por dia para uma vez por semana). São muitas vezes associados à inovação incremental e a trajectórias de inovação existentes.
Produtos blockbusters
Produtos que conseguem obter em vendas anuais mais de mil milhões de dólares. São relativamente poucos e muitas vezes duram poucos anos, também limitados pela duração da patente, como por norma são produtos inovadores e protegidos.
Valor das
vendas anuais
Produtos não blockbusters
Produtos que não conseguem alcançar o valor de mil milhões de dólares. Representam a grande maioria dos produtos comercializados.
Os produtos farmacêuticos são comercializados em dois tipos de mercados:
ambulatório (em que a administração de medicamentos é feita fora de ambiente médico
controlado) e hospitalar (em que a administração é feita dentro de ambiente médico
controlado) (Infarmed, 2007; PharmaPortugal, 2006).
A aprovação de comercialização de medicamentos para cada mercado, a sua
distribuição/cadeia de fornecimento, os decisores no processo de compra, entre outros,
são distintos em função de cada um destes mercados e diferem de país para país
(EMEA, 2007; ICH, 2007; IFPMA & FIIM, 2004).
Há contudo aspectos comuns aos dois mercados e aos vários tipos de produtos,
no que respeita a importância das autoridades regulamentares. As regras diferem de país
para país e dos países desenvolvidos para os em via de desenvolvimento. Entidades
como a OMS (Organização Mundial da Saúde) e ICH (International Conference
Harmonization) procuram obter consenso entre os vários actores envolvidos no
desenvolvimento, venda e utilização de medicamentos, e criar padrões éticos e normas
comuns para o quadro regulamentar da indústria farmacêutica global (EMEA, 2007; ICH,
2007; WHO, 2007).
Este quadro regulamentar contempla várias dimensões: fases de I&D (incluindo
testes in vitro, in vivo e em humanos), autorização de entrada no mercado, produção,
comercialização (estabelecimento de preços e comparticipação, venda propriamente dita
e farmacovigilância), eliminação de medicamentos fora de uso. Para cada dimensão, há
regras claras e a passagem de uma fase para outra faz-se sempre mediante aprovação
expressa das autoridades regulamentares responsáveis (Gassmann, et al., 2004; ICH,
2007; IFPMA & FIIM, 2004; Infarmed, 2007).
114
Por exemplo, para realizar I&D em território português e passar de uma fase da
investigação para outra, é preciso entregar ao Infarmed (Autoridade Nacional do
Medicamento e Produtos de Saúde, I.P.) um dossier com informação específica sobre o
princípio activo (futuro produto) estudado, incluindo, entre outros, os testes que se
pretendem realizar, e informação relacionada com a segurança do futuro produto
(Infarmed, 2007).
Para comercializar um produto num dado país é preciso obter autorização de
entrada no mercado neste país, aprovar o preço de venda nesse mercado, ter a fábrica
que vai produzir para venda neste país licenciada (certificada) pela autoridade
regulamentar responsável deste país (ou outra superior reconhecida no respectivo país) e
recorrer a entidades distribuidoras autorizadas pela autoridade regulamentar responsável
no respectivo país (Gassmann, et al., 2004; ICH, 2007; IFPMA & FIIM, 2004; Infarmed,
2007).
I&D Ensaios clínicos Autorização Fabrico
Distribuição por grosso
PrescriçãoDispensaUtilização
Inspecção
Comprovação da qualidade
Farmacovigilância
Avaliação Técnico-Científica
Avaliação Económica e Comparticipação
Figura 17 – O circuito do medicamento para uso humano (adaptado de Infarmed, 2007)
Por exemplo, para vender um produto em Portugal, há um circuito bem definido
para os medicamentos de uso humano (ver Figura 17). É preciso obter autorização de
introdução no mercado do Infarmed (que é válida para venda em todos os estados
membros da União Europeia), ter o preço aprovado pela mesma entidade (válido
somente em Portugal e obtido com base nos preços de referência do mesmo produto ou
115
semelhantes noutros mercados europeus), ter a fábrica licenciada pelo Ministério da
Economia e da Inovação colaborando a Infarmed neste processo e recorrer a entidades
autorizadas pelo Infarmed para distribuir por grosso medicamentos de uso humano
(IFPMA & FIIM, 2004; Infarmed, 2007).
5.1.2. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO MERCADO
A indústria farmacêutica é uma indústria global, tanto no que respeita à venda
dos seus produtos, como no que respeita à sua I&D. Grande parte do mercado
farmacêutico é dominado por grandes empresas e concentrado na Tríade (Estados
Unidos, Europa e Japão) e num número reduzido de marcas comercializadas
(Achilladelis & Antonakis, 2001; Attridge, 2007; Atun, Gurol-Urganci, et al., 2007; Atun &
Sheridan, 2007; European Commission, 2004; IMS, 2005, 2006; Quere, 2003).
É considerada, também, uma indústria de tecnologia intensiva, e o seu
desempenho e investimentos em I&D são dos mais elevados. Para esta indústria,
grande parte dos lucros e do valor das empresas farmacêuticas depende dos resultados
da actividade de I&D. Comparativamente com outros sectores de actividade, a indústria
farmacêutica tem um número elevado de invenções e patentes que foram desenvolvidas
em ambiente empresarial, e uma experiência de investigação e desenvolvimento de mais
de 200 anos (Achilladelis & Antonakis, 2001; Attridge, 2007; European Commission,
2004, 2007a, 2007b; IMS, 2005, 2006; Orsenigo, et al., 2001; Quere, 2003; Schmid &
Smith, 2005).
Um factor competitivo importante na indústria farmacêutica é representado pela
gestão da propriedade intelectual associada aos novos produtos. Como o processo de
desenvolvimento de medicamentos é demorado e dispendioso, a protecção assegurada
pela patente acaba por reduzir o tempo de permanência competitiva do produto novo no
mercado, devido à ameaça dos produtos genéricos. Isto leva a uma perspectiva de
comercialização internacional/global com vista a maximizar os lucros obtidos durante o
período de vida da patente, que caracteriza as grandes empresas da indústria
farmacêutica (Attridge, 2007; Atun, Harvey, et al., 2007; European Commission, 2004;
Quere, 2003). Outros factores são a produtividade, eficiência e rapidez das actividades
de I&D, que ajudam a aumentar o tempo de permanência competitiva no mercado
(European Commission, 2004; Quere, 2003)
116
Apresentam-se de seguida alguns dados estatísticos que podem ajudar a
compreender a dimensão do mercado e a sua distribuição geográfica, por marca e por
empresa. As fontes de informação utilizadas são na sua grande maioria associadas ao
IMS (Institute for Medical Statistics), a entidade utilizada a nível mundial para obter
informação de confiança sobre a dimensão, funcionamento, estrutura e dinâmica do
sector farmacêutico. As bases de dados e relatórios de business intelligence deste
instituto têm acesso pago.
A Tabela 21 apresenta a evolução do mercado farmacêutico global entre 1998 e
2005. O valor das vendas esteve a crescer em média a mais de 7% anualmente, e
duplicou no intervalo analisado. Este situava-se, em 2005, nos 602 mil milhões de dólares
americanos.
Tabela 21 – Evolução do mercado farmacêutico global entre 1998-2005 (IMS, 2006)
Vendas (mil milhões de dólares) 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Total mercado global: 298 331 356 390 427 497 559 602
Crescimento relativo ao ano anterior: 7% 11% 11% 13% 9% 10% 8% 7%
Do valor registado em 2005 e acima referido, o IMS auditou 565,9 mil milhões de
dólares11, ou seja cerca de 94% do valor das vendas realizadas (ver Tabela 22) e
encontrou uma distribuição de 87,7% dessas vendas em três regiões: América de Norte,
Europa e Japão. Só a América de Norte é responsável por 47% das vendas, o que
reflecte a concentração do mercado farmacêutico nessa região.
Tabela 22 – Distribuição geográfica das vendas no mercado farmacêutico global em 2005 (IMS, 2006)
Mercado mundial auditado pelo IMS Mil milhões de dólares % do total vendas
América de Norte 265,7 47,0%
Europa 169,5 30,0%
Japão 60,3 10,7%
Ásia/África/Austrália 46,4 8,2%
América Latina 24,0 4,2%
Total auditado pelo IMS: 565,9 100%
11 Todos os dados estatísticos referentes ao ano de 2005 e oriundos das bases de dados do IMS
apresentados de seguida dizem respeito aos dados auditados pelos mesmos, ou seja ao valor de
565,9 mil milhões de dólares (94% do valor total das vendas a nível mundial). Para facilitar a
leitura assume-se que “total vendas” equivale a “total vendas auditadas pelo IMS”.
117
Prevê-se que em 2009 se mantenha a ordenação apresentada na Tabela 22 e
que a América de Norte reduza ligeiramente a sua percentagem nas vendas de
medicamentos para 45% devido a um aumento esperado do valor de vendas no Japão,
que poderão aumentar a respectiva percentagem para 9,7%, e outras pequenas
variações nas restantes regiões (IMS, 2005, 2006).
O IMS prevê que o valor do mercado mundial de medicamentos em 2009 deva
situar-se entre 710 e 820 mil milhões de dólares, o que corresponderia a um crescimento
médio entre 4,5% e 9% por ano (IMS, 2005, 2006).
Tabela 23 – Primeiros 10 mercados nacionais no mercado farmacêutico em 2001 e previsão para 2009 (IMS, 2006)
# 2001 2009
1. Estados Unidos Estados Unidos
2. Japão Japão
3. Alemanha Alemanha
4. França França
5. Itália Reino Unido
6. Reino Unido Itália
7. Espanha China
8. Canadá Espanha
9. China Canadá
10. Turquia Turquia
No que respeita à ordem dos 10 países com maiores mercados farmacêuticos,
também se prevê manter a ordenação, com a excepção da China, que poderá subir da 9ª
para a 7ª posição e da Itália que poderá descer para a 6ª posição, trocando com o Reino
Unido (ver Tabela 23).
Outros dados interessantes são revelados na Tabela 24, e prendem-se com as
vendas das primeiras 10 marcas existentes no mercado em 2005. Essas marcas
representavam 10,1% das vendas totais a nível mundial e reflectem a concentração do
mercado farmacêutico ao nível de marca/produto e a importância da inovação nesse
mercado (trata-se de produtos novos, protegidos por patentes).
118
Tabela 24 – Vendas das primeiras 10 marcas no mercado farmacêutico global em 2005 (IMS, 2006)
Marcas (princípio activo) Mil milhões de dólares % do total vendas
Lipitor (atorvastatin) 12,9 2,3%
Plavix (clopidogrel) 5,9 1,0%
Nexium (esomeprazole) 5,7 1,0%
Seretide/Advair (fluticasone+salmeterol) 5,6 1,0%
Zocor (simvastatin) 5,3 0,9%
Norvasc (amlodipine) 5,0 0,9%
Zyprexa (olanzapine) 4,7 0,8%
Risperdal (risperidone) 4,0 0,7%
Ogastro/Prevacid (lansoprazole) 4,0 0,7%
Effexor (venlafaxine) 3,8 0,7%
Total: 56,9 10,1%
Também há concentração ao nível das principais empresas que actuam no
mercado farmacêutico (ver Tabela 25): 46,7% do mercado mundial encontra-se nas
“mãos” das primeiras 10 empresas, cuja posição no top pode alterar bastante mediante o
portfolio de marcas comercializadas e frequentes fusões (Attridge, 2007; IMS, 2005,
2006). Em 2005, o líder de mercado era a Pfizer, com uma diferença significativa de mais
de 2% de quota de mercado para o seguidor, a Glaxo.
Tabela 25 – Vendas das primeiras 10 empresas no mercado farmacêutico global em 2005 (IMS, 2006)
Empresa Mil milhões de dólares % do total vendas
Pfizer 47,6 8,4%
GlaxoSmithKline 34,7 6,1%
Sanofi-Aventis 30,0 5,3%
Novartis 28,5 5,0%
Johnson & Johnson 25,3 4,5%
AstraZeneca 24,0 4,3%
Merck & Co 23,5 4,2%
Roche 19,8 3,5%
Abbott 15,7 2,8%
Bristol-Myers Squibb 14,7 2,6%
Total: 264,0 46,7%
119
Para compreender a dimensão dos investimentos em I&D na indústria
farmacêutica, recorreu-se à informação da Comissão Europeia, mais precisamente ao
2006 EU industrial R&D investment Scoreboard (European Commission, 2007b) e ao
documento de análise desse Scoreboard (European Commission, 2007a). Realça-se que
os dados fornecidos são desta vez em euros e ao nível da indústria há somente dados
agregados para farmacêutica e biotecnologia. Há também dados individuais ao nível das
2000 empresas que mais investem em I&D (1000 fora da União Europeia – 25 membros
e 1000 dentro da mesma).
De acordo com essas fontes e baseado nos dados agregados das 2000 empresas
que mais investem em I&D, as indústrias farmacêutica e de biotecnologia investiram
em 2005 mais de 68 mil milhões de euros em investigação e desenvolvimento, o que
as situa em segundo lugar ao nível mundial, com 18,4% do investimento total em I&D
em 2005, a seguir ao Equipamento e Hardware Tecnológico (1ª posição) e antes do
sector Automóvel e Componentes (3ª posição). Estes três sectores agregados
representam 54,7% do investimento total em I&D em 2005 (European Commission,
2007a, 2007b).
Das primeiras 50 empresas que mais investiram em I&D em 2005, 11 são
empresas farmacêuticas e 1 é empresa de biotecnologia. A Pfizer, a Johnson & Johnson
e a GlaxoSmithKline estão nas primeiras 10 empresas, na 2ª, 7ª e respectivamente 10ª
posição, com investimentos de 6,3 mil milhões de euros, 5,3 mil milhões de euros e
respectivamente 4,5 mil milhões de euros (European Commission, 2007a, 2007b).
A nível europeu, as empresas farmacêuticas encontravam-se em 2005 na 2ª, 3ª,
5ª, 7ª e 10ª posição (GlaxoSmithKline, Novartis, Sanofi-Aventis, Roche e AstraZeneca),
com investimentos em I&D entre 2,8 mil milhões de euros (AstraZeneca) e 4,5 mil
milhões de euros (GlaxoSmithKline) (European Commission, 2007a, 2007b).
Trata-se então de uma indústria em que a inovação representa um factor
competitivo muito forte, mas em que há também custos/investimentos muito elevados ao
nível da I&D realizada. Estes aspectos, complementados pela baixa produtividade do
processo de I&D e pela redução nos últimos anos do número de blockbusters e até de
princípios activos novos criam uma pressão forte sobre a gestão de I&D na indústria
farmacêutica e levam à procura de novas soluções e novos modelos de inovação
(Attridge, 2007; Danner, et al., 2008; IMS, 2006; Orsenigo, et al., 2001; Quere, 2003).
120
5.2. I&D NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
A indústria farmacêutica passou por várias fases de evolução, tendo sido
confrontada com períodos de crise e rotura geralmente ditadas por descobertas
sensacionais. É manifesta a capacidade das empresas deste sector de lidar com
mudanças/inovações drásticas/radicais (Galambos & Sturchio, 1996; Gambardella, 1995;
Henderson, et al., 1999; Orsenigo, et al., 2001; Schmid & Smith, 2004; Schmid & Smith,
2005).
O volume da informação gerada no processo de I&D da indústria farmacêutica
tem aumentado exponencialmente, devido à utilização das novas técnicas de
desenvolvimento de medicamentos e aos crescentes requisitos regulamentares
associados à segurança. Frequentemente, a cooperação externa nacional e internacional
(com outras empresas, por exemplo, de biotecnologia, com instituições públicas de
investigação, com hospitais, com as autoridades regulamentares, entre outros) é
necessária para facilitar a descoberta de novos compostos e tornar o processo de I&D
mais eficaz (Achilladelis & Antonakis, 2001; DiMasi, et al., 2004; Quere, 2003).
Os investimentos em I&D na indústria farmacêutica são particularmente elevados.
O processo de desenvolvimento de um medicamento pode custar mais de mil milhões de
dólares e demorar entre 5 e 12 anos. Não é surpreendente que seja necessário investir
seguidamente no marketing e na venda dos medicamentos em mercados internacionais
para aumentar as hipóteses de sucesso no mercado e aumentar as vendas no período de
protecção pela patente. Um medicamento considerado “um sucesso” (isto é, blockbuster)
pode trazer à empresa que o produz perto de 3 mil milhões de dólares por ano (DiMasi, et
al., 2004; IMS, 2006).
A indústria farmacêutica é considerada uma indústria global. O seu funcionamento
é influenciado pelas várias entidades regulamentares e envolve parceiros diferentes em
vários momentos da sua cadeia de valor, sendo regra a cooperação e/ou subcontratação
internacional de actividades de I&D. Por exemplo, as CRO (Contract Research
Organizations) são parceiros internacionais que apoiam a realização dos ensaios clínicos
nas fases de investigação clínica. Os pedidos de opinião às entidades regulamentares
internacionais são frequentes para ajudar a estruturar os testes de segurança e
assegurar uma maior rapidez e celeridade no processo de autorização de entrada nos
vários mercados, entre outros (Attridge, 2007; EMEA, 2007; ICH, 2007; IFPMA & FIIM,
2004; Piachaud, 2002).
121
5.2.1. PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE MEDICAMENTOS
O processo de I&D na indústria farmacêutica é um dos poucos que têm
abordagens sistemáticas na sua parte inicial, de descoberta. Sendo alvo de regulação e
regulamentação restritiva devido às suas implicações para a saúde humana, pode ser
considerado um processo algo inflexível e linear na sua íntegra, com fases muito bem
definidas. A passagem de uma fase para outra é possível somente mediante aprovação
das autoridades regulamentares e de realização de ensaios específicos (Bhattacharya, et
al., 2005; Gassmann, et al., 2004; IFPMA & FIIM, 2004; Infarmed, 2007; Piachaud, 2002;
Tokens, 2005).
O processo de I&D farmacêutico contém duas partes: Investigação/Geração de
hipóteses; e Desenvolvimento do composto. Depois deste momento, segue-se a
componente de comercialização do produto farmacêutico, com a obtenção das
autorizações de entrada no mercado para cada país visado, e as fases de monitorização
dos mercados e eliminação do uso, mediante a regulamentação existente em cada país.
As duas fases do processo de I&D são apresentadas na Figura 18, que foi desenvolvida
com informação sintetizada e adaptada de vários autores (Bhattacharya, et al., 2005;
Gassmann, et al., 2004; IFPMA & FIIM, 2004; Tokens, 2005).
A informação numérica presente nessa figura foi incluída meramente a título de
exemplo, para servir de orientação no que respeita à dimensão e evolução, por exemplo
do número de compostos promissores no início e durante o processo, ou do número de
voluntários nas várias fases clínicas. Mediante o tipo de alvo e o tipo de inovação que se
pretende estes números variam muito (DiMasi, et al., 2004).
O processo de Investigação/Geração de hipóteses começa com a validação do
conceito. Identifica-se um alvo apropriado para permitir o desenvolvimento e teste de um
número alargado de compostos, valida-se o mesmo recorrendo a experiências
preliminares de laboratório, identifica-se um número de compostos potenciais e prepara-
se o protocolo de triagem (Bhattacharya, et al., 2005; Gassmann, et al., 2004; IFPMA &
FIIM, 2004; Saur-Amaral & Borges Gouveia, 2006; Tokens, 2005).
122
DESENVOLVIMENTO DO COMPOSTO
INVESTIGAÇÃO / GERAÇÃO DE HIPÓTESES
VALIDAÇÃO DO CONCEITO
1. IDENTIFICAÇÃO DO ALVO
- deve permitir que um grande número de compostos possam ser desenvolvidos e testados
2. VALIDAÇÃO DO ALVO
- recorre a várias experiências preliminares
3. DESENVOLVIMENTO DO ENSAIO
- identificar compostos a analisar- desenvolver protocolo para suportar a triagem
TRIAGEM
4. TRIAGEM DE ALTO RENDIMENTO
- testes moleculares para determinar o valor do investimento:
* características químicas: facilidade de síntese; solubilidade; reactividade;
* características biológicas: selectividade; actividade em organismos vivos; toxicidade.- programa de síntese química para identificar compostos semelhantes com melhor características
5. IDENTIFICAÇÃO DE PISTAS
- identificação de um conjunto reduzido de compostos (~1 milhão) que inibem a função biológica do alvo
6. SELEÇÃO DO CANDIDATO MAIS
PROMISSOR
- concentração nos compostos mais promissores (~1000)
DESENVOLVIMENTO PRÉ-CLÍNICO
8. TESTE PRÉ-CLÍNICO
- testes com animais: cinética; toxicidade; carcinogeneidade.
7. OPTIMIZAÇÃO DO COMPOSTO
- reduzir o número de compostos com base na estrutura química e efeitos biológicos- testes in vitro
DESENVOLVIMENTO CLÍNICO
10. ENSAIOS - FASE IIa
- 20-100 voluntários com forma "pura" da doença e mínimo de medicação- várias semanas + várias meses de follow up - centros e investigadores especializados- visam obter/estabelecer:
* provas preliminares de eficácia
* efeitos farmaco-dinâmicos em doentes
* a dosagem em pessoas com a respectiva doença
11. ENSAIOS - FASE IIb
- 20-100 voluntários com forma "pura" da doença e mínimo de medicação- várias semanas + várias meses de follow up - centros e investigadores especializados- visam obter/realizar:
* estudos definitivos de relação dosagem - efeitos
* provas de eficácia definitivas (placebo)- visam estabelecer:
* dosagem máxima eficaz* dosagem máxima tolerada
- estudam interacções medicamento - medicamento e efeitos farmaco-cinéticos e dinâmicos em doentes
12. ENSAIOS - FASE III
- '000 voluntários doentes em condições reais e com medicação diversa- ensaios cruzados de eficácia e segurança- ensaios controlados (ex. placebo) em n.º grande de doentes- investigadores menos especializados em vários países- visam obter:
* confirmação da eficácia* perfil completo de segurança* informação base para fins de
registo* avaliação do ratio custo/
benefício
9. ENSAIOS - FASE I
- 10-30 voluntários saudáveis- 1-2 dias/semana + 1 semana de follow up- visam estabelecer:
* efeitos farmaco-cinéticos (organismo --> medicamento)
* efeitos farmaco-dinâmicos (medicamento --> organismo)
* dose máxima tolerada* perfis das reacções
adversas* dosagem e posologia
Figura 18 – Processo de I&D na indústria farmacêutica
123
O processo de Investigação/Geração de hipóteses começa com a validação do
conceito. Identifica-se um alvo apropriado para permitir o desenvolvimento e teste de um
número alargado de compostos, valida-se o mesmo recorrendo a experiências
preliminares de laboratório, identifica-se um número de compostos potenciais e prepara-
se o protocolo de triagem (Bhattacharya, et al., 2005; Gassmann, et al., 2004; IFPMA &
FIIM, 2004; Saur-Amaral & Borges Gouveia, 2006; Tokens, 2005).
Segue-se a fase de triagem. Primeiro, é realizada uma triagem de alto rendimento,
considerando vários testes moleculares que permitem avaliar o potencial e a
exequibilidade dos compostos. As características químicas e biológicas de cada
composto são analisadas no laboratório e é efectuado um procedimento de síntese
química para identificar compostos semelhantes com características melhoradas. De
seguida, a identificação de pistas e a optimização permitem reduzir o número de
compostos e a selecção dos mais promissores (Bhattacharya, et al., 2005; Gassmann, et
al., 2004; IFPMA & FIIM, 2004; Saur-Amaral & Borges Gouveia, 2006; Tokens, 2005).
No Desenvolvimento do composto os vários compostos são optimizados,
testados e desenvolvidos até um ponto em que os efeitos secundários possíveis sob a
saúde humana são considerados razoáveis do ponto de vista estatístico
comparativamente aos benefícios prometidos. A componente regulamentar tem um
impacto forte no tempo de desenvolvimento e os custos aumentam exponencialmente de
uma fase para outra (Bhattacharya, et al., 2005; Gassmann, et al., 2004; IFPMA & FIIM,
2004; Saur-Amaral & Borges Gouveia, 2006; Tokens, 2005).
Numa primeira fase, o composto entra no desenvolvimento preclínico, é
optimizado e sujeito a testes in vitro. Seguem-se ensaios de cinética, toxicidade,
carcinogeneidade, entre outros, em animais que, se tiverem sucesso, marcam a
passagem para os ensaios em seres humanos, parte do desenvolvimento clínico
(Bhattacharya, et al., 2005; Gassmann, et al., 2004; IFPMA & FIIM, 2004; Saur-Amaral &
Borges Gouveia, 2006; Tokens, 2005).
O desenvolvimento clínico consiste num número elevado de ensaios em
voluntários humanos que visam obter uma compreensão suficiente dos efeitos do
potencial medicamento sobre a saúde humana e sobre o alvo, e isolar os efeitos
secundários por tipo de doente. Nos ensaios da primeira fase, analisam-se voluntários
saudáveis que tomaram o potencial produto e procura-se identificar os efeitos reais que o
124
composto tem sobre o organismo, os efeitos reais que o organismo tem sobre o
composto e estabelecer a dosagem máxima tolerada e a respectiva posologia. Nos
ensaios das fases dois e três, analisam-se voluntários doentes, primeiro com uma forma
“pura” da respectiva doença (isto é, se possível sem terem tomado medicação, e sem
qualquer intervenção médica até à data dos ensaios) e depois com uma forma “real” (isto
é, em contexto real, doentes que já tomaram medicação e que eventualmente
apresentam outras patologias), com vista a determinar: a dosagem final, a eficácia real, a
interacção com outros medicamentos, efeitos reais por categoria de doente, rácio custo -
benefício (Bhattacharya, et al., 2005; Gassmann, et al., 2004; IFPMA & FIIM, 2004; Saur-
Amaral & Borges Gouveia, 2006; Tokens, 2005).
É frequente a realização de partes ou totalidade dos ensaios do desenvolvimento
clínico fora da empresa, recorrendo a outras entidades especializadas, por exemplo:
CRO (Contract Research Organizations), centros especializados de I&D, universidades,
hospitais. Nessa altura o composto em desenvolvimento está protegido pela patente e
procura-se reduzir o tempo até à introdução no mercado. Os custos nessa fase são
particularmente elevados (Bhattacharya, et al., 2005; DiMasi, et al., 2004; Gassmann, et
al., 2004; IFPMA & FIIM, 2004; Saur-Amaral & Borges Gouveia, 2006; Tokens, 2005).
5.2.2. MODELOS RECENTES DE INOVAÇÃO/I&D FARMACÊUTICA
O processo de desenvolvimento de medicamentos (I&D farmacêutica) passou por
várias fases de evolução, acompanhando as mudanças que afectaram a indústria
farmacêutica. A evolução do conhecimento biotecnológico, a evolução das tecnologias de
informação e comunicação e a internacionalização desempenharam um papel importante
neste processo e levaram a que as empresas farmacêuticas tentassem integrar as
competências de desenvolvimento de medicamentos algo mecanicistas com a
abrangência global dos seus produtos, cujos principais mercados estão na Tríade
(Achilladelis & Antonakis, 2001; Attridge, 2007; Busfield, 2003; Galambos & Sturchio,
1996; Gambardella, 1995; Gassmann & Reepmeyer, 2005; Henderson, et al., 1999;
Orsenigo, et al., 2001; Quere, 2003; Schmid & Smith, 2004; Schmid & Smith, 2005).
Vários autores estudaram esta evolução histórica e apresentaram-na de uma
forma mais sistemática (Achilladelis & Antonakis, 2001; Attridge, 2007; Busfield, 2003;
Quere, 2003). De acordo com estes autores, antes dos anos noventa, a inovação
farmacêutica era dominada pelas novas descobertas tecnológicas, sendo menos
125
orientada para o mercado (isto é, dominava o princípio de technology push). O
funcionamento deste modelo de inovação baseava-se em quatro factores (Achilladelis &
Antonakis, 2001; Attridge, 2007):
• criação de conhecimento médico e biológico, designadamente ao nível da
compreensão dos processos e estruturas moleculares e celulares e melhoria
do conhecimento sobre as causas das doenças e as práticas médicas;
• criação de conhecimento novo avançado com possíveis aplicações originais e
que pode ser patenteado;
• existência de uma posição consolidada de protecção intelectual através de
patentes, que possibilita o envolvimento em processos de desenvolvimento de
compostos a longo prazo, de risco elevado e com custos altos;
• capacidade de comercialização pronta dos novos medicamentos em mercados
internacionais de modo a obter um lucro articulado com a dimensão do
investimento em I&D e dos riscos associados.
O processo de I&D caracterizava-se nesta fase por uma natureza linear,
sequencial, com frequentes interacções com agências e entidades reguladoras nacionais
e internacionais (ver Figura 19) (Achilladelis & Antonakis, 2001; Attridge, 2007; Busfield,
2003; Quere, 2003).
Figura 19 – O modelo da inovação farmacêutica antes de 1990 (adaptado de Attridge, 2007)
126
A evolução para o modelo de inovação actual (pós-2000) começou com o
constante aumento da exigência das entidades regulamentares com vista a assegurar a
segurança e a eficácia dos novos produtos. A indústria farmacêutica adaptou-se e
desenvolveu estratégias para gerir o processo de I&D de forma mais eficiente, por
exemplo, através do desenvolvimento de novas competências de trabalho em equipas
multidisciplinares, ou de novas competências especializadas para gerir o processo de
inovação que envolvia uma gama alargada de parceiros internacionais (Achilladelis &
Antonakis, 2001; Attridge, 2007; Busfield, 2003; EMEA, 2007; Infarmed, 2007; Quere,
2003).
No início do século XXI, as grandes empresas farmacêuticas manifestam
preferência por parcerias focadas na exploração comercial em detrimento das parcerias
focadas no desenvolvimento de novas tecnologias ou novas competências,
particularmente no que respeitava àquelas parcerias que envolvem empresas de
biotecnologia (Achilladelis & Antonakis, 2001; Attridge, 2007).
Figura 20 – Relações nas redes de inovação farmacêutica (adaptado de Attridge, 2007)
A tendência actual é de desenvolver e melhorar a rede de inovação internacional
utilizada para o desenvolvimento de medicamentos (ver Figura 20), com vista a melhorar
a eficiência do processo de I&D. As actividades de desenvolvimento preclínico e clínico
envolvem cada vez mais agrupamentos internacionais de entidades de investigação
subcontratadas, organizações para gestão da investigação clínica e unidades de
127
investigação clínica localizadas em vários hospitais em localizações chave em todo o
mundo (Achilladelis & Antonakis, 2001; Attridge, 2007; Gassmann, et al., 2004).
Figura 21 – O modelo da inovação farmacêutica depois de 2000 (adaptado de Attridge, 2007)
O modelo de inovação farmacêutica pós-2000 acompanhou essas mudanças e
tendências (ver Figura 21). Realçam-se de seguida várias características deste modelo
actual (Achilladelis & Antonakis, 2001; Attridge, 2007; Busfield, 2003; Gassmann, et al.,
2004; Quere, 2003).
Primeiro, as relações de subcontratação internacional são mais frequentes e
complexas no processo de I&D e as empresas farmacêuticas consideram seriamente a
redução da dimensão das unidades de I&D internas.
Segundo, há sinais de que os clusters/centros de excelância começam a ser
substituídos por redes de investigação globais e “abertas”.
Terceiro, há pressão no sentido de reduzir o tempo de desenvolvimento
recorrendo a processos paralelos e subcontratação pragmática de desenvolvimento
128
preclínico e clínico, o que leva a abordagens mais criativas de internacionalização de I&D
para alcançar maior eficiência deste processo.
Quarto, apesar da harmonização internacional substancial (por exemplo, ICH) dos
requisitos regulamentares para introdução dos novos medicamentos no mercado, a
negociação do conteúdo dos dossiers para a obtenção da respectiva autorização
continua a ser imprevisível e de alto risco.
Quinto, fora dos Estados Unidos, o acesso aos mercados envolve formas
heterogéneas e algo “opacas” de negociação e estabelecimento de preço devido a
restrições orçamentais e reduções de custos na área da saúde.
Por último, já se procura aceder aos mercados de países em via de
desenvolvimento (por exemplo, China, Índia), muitas vezes utilizando investimentos em
I&D local.
129
5.3. SÍNTESE DAS PRINCIPAIS ILAÇÕES
Neste capítulo apresentam-se as principais características da indústria
farmacêutica e do processo de desenvolvimento de medicamentos. Segue-se uma
síntese dessas características:
• a indústria farmacêutica e o exclusivo responsável para introduzir novos
medicamentos no mercado;
• a indústria farmacêutica, tanto na componente de desenvolvimento de
medicamentos, como na sua produção, comercialização e retirada de
medicamentos do mercado, é alvo de regulamentação restritiva, por entidades
nacionais e internacionais, em função do mercado visado para a
comercialização ou do país em que faz o desenvolvimento;
• é uma indústria global, concentrada na Tríade (Estados Unidos, Europa e
Japão), com recente diversificação para outros mercados em rápido
desenvolvimento;
• a competitividade da indústria farmacêutica depende fortemente da inovação e
da protecção intelectual dos novos medicamentos, havendo uma grande
concentração das vendas em poucos produtos que lideram a nível mundial e,
também, em poucas empresas multinacionais;
• é uma indústria de tecnologia intensiva, com investimentos elevadíssimos em
I&D e reduzida eficiência do processo de desenvolvimento (que é, por norma,
dispendioso, demora muito tempo e tem uma reduzida taxa de sucesso), que
obriga à colaboração com vários parceiros nacionais e internacionais;
• a compra e venda de licenças é uma prática frequente nesta indústria, tanto a
nível do processo de desenvolvimento como a nível da comercialização dos
novos medicamentos;
• a comercialização dos novos medicamentos é feita, por norma, em vários
mercados internacionais em simultâneo, com vista a maximizar os lucros e
recuperar os investimentos em I&D durante a duração de vida da patente;
As características acima apresentadas são características gerais da indústria
farmacêutica, aplicáveis às grandes empresas multinacionais que dominam o mercado
global, do qual 90% é representado por mercados localizados na Tríade. É expectável
130
que haja diferenças e particularidades quando se analisar, por exemplo, empresas de
média e pequena dimensão ou mercados em via de desenvolvimento, fora da Tríade.
131
6. MODELO DE ORGANIZAÇÃO DE I&D INTERNACIONAL NA
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
A necessidade de reduzir os custos, reduzir os riscos de fracasso e aumentar a
produtividade da I&D farmacêutica foi encarada pelas empresas com pelo menos três
tipos de soluções: 1) novas formas de gestão da tecnologia, associadas à performance
organizacional das empresas farmacêuticas; 2) modelos de Inovação Aberta, geralmente
relacionadas com as colaborações entre indústria farmacêutica e as empresas de
biotecnologia; e 3) internacionalização de I&D farmacêutica. Tudo isto coloca desafios
complexos à gestão da I&D, gestão de recursos e gestão de conhecimento, obrigando à
flexibilização da estrutura organizacional e a um aumento dos investimentos em I&D
enquanto a produtividade tem estado a baixar (Achilladelis & Antonakis, 2001; Archibugi
& Iammarino, 2002; Henry Chesbrough, 2003a; DiMasi, et al., 2004; Gassmann &
Reepmeyer, 2005; IFPMA & FIIM, 2004; IMS, 2005, 2006).
As empresas da indústria farmacêutica procuram encontrar o justo equilíbrio entre
a I&D feita internamente, em cooperação ou externamente (sendo que neste último caso
podem optar por escolher parceiros internacionais, caso em que se transforma em I&D
internacional). Podem identificar as actividades de I&D interna que trazem valor
acrescentado ou que têm importância estratégica e subcontratar as restantes actividades
(Cooke, 2006; Gassmann, et al., 2004).
Como não foram encontrados na literatura modelos que permitissem apoiar as
empresas farmacêuticas na tomada de melhores decisões de gestão do processo de I&D
internacional, partiu-se do modelo holístico de organização de I&D internacional
desenvolvido na componente teórica (ver secção 3.8) e adaptou-se o mesmo à indústria
farmacêutica, considerando as características do próprio processo de desenvolvimento
de medicamentos e do mais recente modelo de inovação, e os principais parceiros
envolvidos (ver capítulo 4).
132
6.1. MODELO PROPOSTO
6.1.1. SÍNTESE DA INFORMAÇÃO RELEVANTE PARA A CONSTRUÇÃO DO MODELO
Para desenvolver o modelo foram consideradas duas categorias de informação: a)
o modelo holístico de organização de I&D internacional e os dez modelos teóricos
considerados para a sua construção, e b) as principais características da indústria
farmacêutica e do seu processo de I&D, e os principais actores envolvidos nesse
processo. Apresenta-se seguidamente uma breve síntese dessa informação, com vista a
facilitar a compreensão do processo de desenvolvimento do modelo proposto e tornar o
mesmo mais transparente.
No capítulo 4.7 foram analisados e comparados os dez modelos de organização
de I&D internacional. Os respectivos modelos utilizam variáveis heterogéneas e não
contemplam todas as variáveis relevantes. A inexistência de estudos exclusivamente
sectoriais representa, também, um ponto fraco.
O modelo holístico concebido e apresentado na secção 3.8. permite organizar as
principais variáveis utilizadas nos dez modelos de organização de I&D internacional,
recorrendo a uma taxonomia consistente, baseada em quatro categorias: Tecnologia
(desenvolvimento e exploração), Recursos, Ligações (redes) e Mercado.
Este modelo engloba, também, novas variáveis que não foram contemplados
pelos autores dos dez modelos (venda de licenças, patentes e marcas, financiamento
central e regulamentação) e tem potencial de aplicação e teste em sectores industriais
específicos, devido às suas características (ver secção 3.8.1.).
Por conseguinte, o modelo holístico pode ser adaptado às características da
indústria farmacêutica para possibilitar o seu teste com dados empíricos.
No capítulo 4 foram apresentadas as principais características da indústria
farmacêutica e do processo de desenvolvimento de medicamentos.
Esta indústria apresenta-se como uma indústria global, com grande parte dos
mercados localizados na Tríade, sendo que um dos factores de competitividade está
directamente associado ao desenvolvimento e comercialização de novos medicamentos
no mercado global. A protecção intelectual (patentes e marcas) é prática comum, com
133
vista a assegurar a recuperação de pelo menos parte dos elevados investimentos na I&D
farmacêutica e contornar a taxa de fracasso relativamente grande.
Os modelos de inovação associados à Inovação Aberta são frequentes, tendo
sido aliás esta indústria que serviu de inspiração para a criação desse paradigma. A
subcontratação de serviços durante o desenvolvimento de medicamentos é prática
corrente, tal como o é a colaboração com as mais diversas entidades, inclusive as
autoridades regulamentares, ou a compra e venda de licenças durante o
desenvolvimento e na fase de comercialização.
O desenvolvimento de medicamentos é feito em simultâneo em vários países,
sendo frequente a especialização das unidades de I&D em áreas terapêuticas específicas
e a sua localização perto de centros de excelência.
Por fim, tanto o desenvolvimento, como a comercialização de medicamentos são
alvo de intensa regulamentação, ao nível nacional e internacional, devido às implicações
possíveis sobre a saúde e vida humana.
Portanto, a escolha da indústria farmacêutica para fins de teste do modelo
holístico permite, entre outros, verificar a relevância das novas variáveis incluídas nesse
modelo, relacionadas com a protecção e valorização de propriedade intelectual e com os
aspectos regulamentares.
6.1.2. CONSTRUÇÃO DO MODELO
A abordagem utilizada para construir o modelo proposto de organização de I&D
internacional para a indústria farmacêutica envolveu três passos.
Primeiro, analisadaram-se as variáveis incluídas no modelo holístico (ver Figura
16) à luz das características da indústria farmacêutica. Identificaram-se, neste ponto, as
variáveis que tinham, à partida, maior possibilidade de serem relevantes para a indústria
farmacêutica. Criou-se, assim, uma versão específica do modelo holístico, adaptada às
características da indústria farmacêutica.
Depois, identificaram-se as formas de organização associadas a estas variáveis e
ao modelo de organização de I&D internacional na indústria farmacêutica, com base na
síntese apresentada na Tabela 19 da presente dissertação. Foram excluídas, neste
134
ponto, as formas de organização que não se ajustávam às características da indústria
farmacêutica e apresentaram-se as razões para esta exclusão.
Por fim, realizou-se uma representação gráfica das formas de organização de I&D
internacional com possibilidade de aplicação na indústria farmacêutica, com indicação
dos potenciais actores e formas de interacção. Esta representação gráfica complementa
a versão específica do modelo de organização de I&D internacional para a indústria
farmacêutica e visa proporcionar uma perspectiva de mais fácil compreensão sobre o tipo
de configuração de I&D internacional que se espera encontrar na indústria farmacêutica.
Apresentam-se, de seguida, os três passos acima mencionados e os principais
resultados.
ANÁLISE E IDENTIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS RELEVANTES PARA A INDÚSTRIA
FARMACÊUTICA
A análise das variáveis relevantes para a indústria farmacêutica foi feita por
subcategoria, como se segue.
Na subcategoria Objectivo da actividade tecnológica, há três variáveis: exploração
no estrangeiro, aumento no país de origem e aumento no estrangeiro. No caso da
indústria farmacêutica, todas estas variáveis são relevantes. É de esperar que as
empresas farmacêuticas façam I&D para a exploração e aumento de activos tecnológicos
tanto no país de origem, como no estrangeiro, o que sugere a introdução de uma nova
variável no modelo de organização de I&D internacional: exploração no país de origem. O
mercado da indústria farmacêutica é global e o processo de I&D é internacional.
Na subcategoria Desenvolvimento da tecnologia chave, que está relacionada com
a subcategoria anterior, há duas variáveis: desenvolvimento no país de origem e
desenvolvimento no estrangeiro. Ambas as variáveis são relevantes para a indústria
farmacêutica. Devido à globalização da I&D farmacêutica (por exemplo, no caso dos
ensaios clínicos), a tecnologia é desenvolvida tanto no país de origem, como no
estrangeiro, procurando aumentar a eficiência do processo e aceder às competências
adequadas em tempo útil e com custos baixos.
Na subcategoria Papel das unidades de I&D, há quatro variáveis: liderança
estratégica, detector, participante, implementador. É de esperar que as unidades de I&D
135
internacional desempenham estes papéis nas várias iniciativas de I&D em que se
envolvem. Contudo, não há dados concretos neste sentido, pelo que a validação empírica
é importante.
Na subcategoria Protecção e licenciamento tecnológico, há três variáveis: venda
de licenças, compra de licenças e patentes e marcas. Todas estas variáveis têm uma
grande influência no funcionamento da indústria farmacêutica devido aos custos e riscos
elevados do processo de desenvolvimento de medicamentos, e da necessidade de
maximizar os lucros com as vendas internacionais durante o período de vida das
patentes. A protecção por patente é crítica devido à ameaça dos genéricos.
A variável Limitações dos principais recursos científico-tecnológicos no país de
origem: foi considerada importante há algumas décadas para compreender o
comportamento de organizações oriundas de países pequenos (por exemplo: a empresa
farmacêutica Roche). Estas organizações internacionalizaram as suas actividades para
alargar a sua base de competências, insuficientemente servida pelos recursos nacionais.
É de esperar que esta questão se tenha tornado menos importante na indústria
farmacêutica devido à globalização do processo de desenvolvimento de medicamentos.
Não há dados concretos neste sentido, contudo, pelo que a validação empírica é
importante.
Na subcategoria Ligações (redes) internas – Coordenação e Gestão estratégica,
há três variáveis: central, local e global. É de esperar que a coordenação e a gestão
estratégica sejam centrais ou globais por razões de eficiência, elevada taxa de falhanço e
necessidade de reduzir o tempo de desenvolvimento de medicamentos. Não há dados
concretos neste sentido, contudo, pelo que a validação empírica é importante.
Na subcategoria Ligações (redes) internas – Financiamento, há duas variáveis:
local e global. É de esperar que o financiamento seja central ou global por razões de
eficiência e controlo do portfolio de projectos, uma vez que os custos são elevados e a
taxa de sucesso muito baixa. O que sugere a introdução de uma nova variável no modelo
de organização de I&D: financiamento central. Não há dados concretos neste sentido,
contudo, pelo que a validação empírica é importante.
Na subcategoria Ligações (redes) internas – Relacionamento, há duas variáveis:
cooperação e competição. É de esperar que haja cooperação entre as várias unidades de
I&D com vista a aumentar a eficiência do processo de desenvolvimento de medicamentos
136
e com vista a reduzir o tempo até à introdução no mercado. Não há dados concretos
neste sentido, contudo, pelo que a validação empírica é importante.
Na subcategoria Ligações (redes) internas – Articulação I&D, inovação e
marketing, é de esperar que haja uma colaboração próxima entre estas funções, devido a
questões de eficiência das actividades de I&D. Há equipas multidisciplinares que
acompanham o processo de desenvolvimento de medicamentos e há ainda, uma forte
orientação para o mercado global desde os anos noventa.
Na subcategoria Ligações (redes) internas – Parceiros para desenvolvimento, há
uma ligação próxima com as variáveis Relacionamento e Coordenação. Sendo de
esperar que haja cooperação entre as várias unidades e uma coordenação global das
unidades de I&D, é possível que haja desenvolvimento em conjunto de certos
medicamentos. Não há dados concretos neste sentido, contudo, pelo que a validação
empírica é importante.
Na subcategoria Ligações (redes) externas – Parceiros para desenvolvimento, há
duas variáveis: externos, no país de origem, e externos, no estrangeiro. Os parceiros
externos para desenvolvimento tecnológico são tanto nacionais como internacionais,
porque quer para a I&D farmacêutica, quer para a venda de medicamentos são
necessários parceiros internacionais/globais.
Na subcategoria Mercado visado, há duas variáveis: local e global. O mercado
visado é global e ainda muito concentrado na Tríade. Há uma abertura recente para os
países em via de desenvolvimento, mas o volume de negócios obtido nesses países está
comparativamente ainda muito pequeno.
Na subcategoria Regulamentação, há duas variáveis: local e global. Na indústria
farmacêutica, as empresas são alvo de regulamentação quer no país de origem, quer nos
países em que visam comercializar os medicamentos, tanto na fase de desenvolvimento,
como na fase de comercialização. É de esperar que ambas as variáveis sejam
relevantes.
Apresenta-se, na Figura 22, o modelo específico de organização de I&D
internacional na indústria farmacêutica, que reflecte a análise acima realizada.
137
Papel das unidades de I&D liderança estratégica
detector (sensor)
Desenvolvimento da tecnologia chave
Limitações dos principais recursos científico -tecnológicos
Ligações internas
relacionamento cooperação
competição
coordenação central
local
global
financiamento central
local
global
gestão estratégica central
local
global
articulação I&D, inovação & marketing
Mercado visado local
global
MERCADO
TECNOLOGIA (DESENVOLVIMENTO
E EXPLORAÇÃO
RECURSOS
LIGAÇÕES (REDES)
Objectivo da actividade tecnológica
exploração
aumento
participante
implementador
no país de origem
no estrangeiro
no país de origem
no estrangeiro
no país de origem
Protecção e licenciamento da tecnologia
venda de licenças
patentes e marcas
compra de licenças
Ligações externas parceiros para
desenvolvimento
externos (à organização),
no país de origem
Regulamentação
desenvolvimento
licenciamento
parceiros para
desenvolvimentointernos (à organização)
externos (à organização),
no estrangeiro
local
global
Variável relevante para a indústria farmacêutica
Variável novaLegenda:
no país de origem
no estrangeiro
Figura 22 – Modelo de organização de I&D internacional na indústria farmacêutica: variáveis mais relevantes
138
IDENTIFICAÇÃO DAS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DE I&D INTERNACIONAL APLICÁVEIS À
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
De seguida, identificam-se as formas de organização de I&D internacional
aplicáveis à indústria farmacêutica, com base nos vários modelos de organização de I&D
internacional apresentados no capítulo 3.7 e sintetizados na Tabela 19.
Logo à partida, foi realizada uma filtragem das formas de organização de I&D
internacional, por haver incompatibilidade com algumas características da indústria
farmacêutica. Foram excluídas da análise as seguintes formas de organização de I&D
internacional:
• UTI (Ronstadt, 1984), LML (Bartlett & Ghoshal, 1990) e inovação tradicional
(Gerybadze & Reger, 1999), por serem modelos focados no mercado local,
exclusivamente;
• LML e LMLG (Bartlett & Ghoshal, 1990), porque a gestão estratégica nessas
formas de organização é exclusivamente local, quase desligada da sede;
• policêntrica (H. Hakanson, 1990) e descentralizada policêntrica (Gassmann &
von Zedtwitz, 1999), por faltar integração ao nível da gestão estratégica entre
as várias unidades, o que é pouco eficiente do ponto de vista global, e por
haver um ambiente de competição entre as várias unidades de I&D;
• etnocêntrica (H. Hakanson, 1990), por não haver I&D desenvolvida
internacionalmente, mas somente vendas internacionais;
• LIL (Pearce & Papanastassiou, 1999), porque esta forma de organização visa
atingir os objectivos de unidade internacional de I&D e não os objectivos
globais da organização, o que é pouco eficiente;
• UTT (Ronstadt, 1984), CMG (Bartlett & Ghoshal, 1990), exploração
(Kuemmerle, 1999), LS (Pearce & Papanastassiou, 1999), centralizada
geocêntrica (Gassmann & von Zedtwitz, 1999), duplicação internacional
(Zander, 1999) e exploração internacional (Archibugi & Iammarino, 2002),
porque consideram que as actividades de I&D são desenvolvidas no país de
origem, exclusivamente.
Apresentam-se, de seguida, as formas de organização de I&D internacional para
cada variável relevante para a indústria farmacêutica (ver Tabela 26).
139
Tabela 26 – Formas de organização de I&D internacional relevantes para a indústria farmacêutica
Subcategoria Variável Formas de organização de I&D internacional
Exploração no país de origem
N/A. Variável nova.
Exploração no estrangeiro
I&D tipo Hub, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, unidades globais, diversificação internacional, dispersão, geração global
Aumento no país de origem
aumento, I&D tipo Hub, unidades globais
Objectivo da actividade tecnológica
Aumento no estrangeiro
UTG, UTC, GMLG, geocêntrica, aumento, LII, inovação transnacional, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, integração vertical, diversificação internacional, dispersão, geração global, colaborações tecnológicas globais
Desenvolvimento no país de origem
I&D tipo Hub, unidades globais Desenvolvimento da tecnologia chave
Desenvolvimento no estrangeiro
UTC, UTG, aumento, LII, inovação transnacional, rede integrada de I&D, diversificação uniforme, integração vertical, diversificação internacional, dispersão, geração global, colaborações tecnológicas globais
Liderança estratégica GMLG
Detector GMLG
Participante GMLG
Papel das unidades de I&D
Implementador GMLG
Venda de licenças Referida em exploração internacional, mas numa pespectiva que não se ajusta às características da indústria farmacêutica
Compra de licenças N/A. Variável nova.
Protecção e licenciamento tecnológico
Patentes e marcas N/A. Variável nova.
Coordenação central LII, I&D tipo Hub, diversificação internacional
Coordenação global GMLG, geocêntrica, rede integrada de I&D, integração vertical, unidades globais, dispersão
Gestão estratégica central
I&D tipo Hub, diversificação internacional
Gestão estratégica global GMLG, geocêntrica, LII, rede integrada de I&D, unidades globais, dispersão
Financiamento central N/A. Variável nova.
Financiamento global Integração vertical, unidades globais
Relacionamento de cooperação
I&D tipo Hub, rede integrada de I&D
Ligações internas
Articulação I&D, inovação e marketing
Inovação transnacional
Parceiros internos para desenvolvimento
Geração global
140
Subcategoria Variável Formas de organização de I&D internacional
Parceiros externos para desenvolvimento, no país de origem
Referida em exploração internacional, mas esta forma de organização não se ajusta às características da indústria farmacêutica. Ligações
externas Parceiros externos para desenvolvimento,, no estrangeiro
Geração global, colaborações tecnológicas globais
Mercado visado
Global UTG, GMLG, LII, inovação transnacional, diversificação uniforme, diversificação internacional, dispersão
Local N/A. Variável nova. Regulamenta-ção Global N/A. Variável nova.
Legenda: UTG, UTC (Ronstadt, 1984), GMLG (Bartlett & Ghoshal, 1990), geocêntrica (H. Hakanson, 1990), aumento (Kuemmerle, 1999), LII (Pearce & Papanastassiou, 1999), inovação transnacional (Gerybadze & Reger, 1999), I&D tipo Hub, rede integrada de I&D (Gassmann & von Zedtwitz, 1999), diversificação uniforme, integração vertical, unidades globais (Niosi & Godin, 1999), diversificação internacional, dispersão (Zander, 1999), geração global, colaborações tecnológicas globais (Archibugi & Iammarino, 2002)
Sintetizando, as formas de organização de I&D internacional relevantes e, à
partida, aplicáveis à indústria farmacêutica são: UTG, UTC (Ronstadt, 1984), GMLG
(Bartlett & Ghoshal, 1990), geocêntrica (H. Hakanson, 1990), aumento (Kuemmerle,
1999), LII (Pearce & Papanastassiou, 1999), inovação transnacional (Gerybadze &
Reger, 1999), I&D tipo Hub, rede integrada de I&D (Oliver Gassmann & von Zedtwitz,
1999), diversificação uniforme, integração vertical, unidades globais (Jorge Niosi & Godin,
1999), diversificação internacional, dispersão (Zander, 1999), geração global e
colaborações tecnológicas globais (Archibugi & Iammarino, 2002).
As formas de organização de I&D internacional identificadas dividem-se em três
categorias:
A. investigação precompetitiva integrada, em que há integração, colaboração
e comunicação internacionais, entre as várias unidades de I&D, entre estas e
a sede, e entre estas e parceiros externos nacionais ou internacionais. As
formas de organização correspondentes são: UTC (Ronstadt, 1984), LII
(Pearce & Papanastassiou, 1999) e colaborações tecnológicas globais
(Archibugi & Iammarino, 2002).
B. desenvolvimento global integrado, em rede, em que há interdependência de
recursos e responsabilidade entre unidades internacionais de I&D e a sede,
sendo o controlo e a gestão estratégica centrais ou globais. As formas de
organização correspondentes são: UTG (Ronstadt, 1984), GMLG (Bartlett &
Ghoshal, 1990), geocêntrica (H. Hakanson, 1990), aumento (Kuemmerle,
141
1999), inovação transnacional (Gerybadze & Reger, 1999), I&D tipo Hub, rede
integrada de I&D (Gassmann & von Zedtwitz, 1999), unidades globais (Niosi &
Godin, 1999), diversificação internacional, dispersão (Zander, 1999) e geração
global (Archibugi & Iammarino, 2002).
C. integração vertical e diversificação uniforme, em que as unidades de I&D
internacionais desenvolvem actividades no mesmo sector de actividade que a
sede. As formas de organização correspondentes são: diversificação uniforme
e integração vertical (Niosi & Godin, 1999).
Para as variáveis associadas à protecção e licenciamento tecnológico e à
regulação não há formas de organização teóricas que possam servir de inspiração.
Contudo, há algumas possibilidades de inclusão nas formas de organização identificadas,
mas que terão que ser validadas empiricamente:
• a primeira categoria, de investigação precompetitiva integrada, deve
contemplar a questão da protecção intelectual (registo de patente) e eventual
venda de licenças e a questão da regulação nacional, se implicar a realização
de ensaios;
• a segunda categoria, de desenvolvimento global integrado, deve contemplar a
questão da protecção intelectual e licenciamento tecnológico (registo de
patentes e marcas, venda e compra de licenças) e a questão da
regulamentação nacional e internacional, uma vez que implica a realização de
ensaios em animais e humanos.
Das três categorias identificadas, as primeiras duas podem ser integradas numa
só representação gráfica. A terceira categoria, de integração vertical e diversificação
uniforme, será considerada também no modelo, no sentido de verificar se as unidades de
I&D internacionais na indústria farmacêuticas desempenham actividades em sectores de
actividade semelhantes à sede.
142
REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DO MODELO DE ORGANIZAÇÃO DE I&D INTERNACIONAL NA
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
Apresenta-se, na Figura 23, o modelo de organização de I&D internacional na
indústria farmacêutica. A informação sobre o conteúdo dos fluxos entre as várias
entidades, está apresentada no Anexo 8.
Figura 23 – Modelo de organização de I&D internacional na indústria farmacêutica
143
6.2. DISCUSSÃO DO MODELO PROPOSTO E DA SUA APLICABILIDADE
O modelo proposto resultou da adaptação do modelo holístico apresentado na
secção 3.8 às características da indústria farmacêutica. O modelo de organização de I&D
internacional adaptado à indústria farmacêutica realça as variáveis que podiam ter, à
partida, maior relevância na organização internacional da I&D farmacêutica. Apresentou-
se este modelo na Figura 22.
Identificaram-se, também, as formas de organização de I&D internacional que
tinham, à partida, maior relevância na indústria farmacêutica. Estas dividem-se em três
categorias: investigação precompetitiva integrada, desenvolvimento global integrado e
integração vertical e diversificação uniforme, sendo que as primeiras duas categorias
foram representadas graficamente na Figura 23.
No que respeita às características do modelo proposto para a organização de I&D
internacional na indústria farmacêutica, estas baseiam-se nas características do modelo
holístico, apresentadas na secção 3.8.1.
Assim, o modelo permite ter uma visão integrada do problema estudado,
indicando claramente as variáveis utilizadas e as categorias em que se enquadram, com
recurso a uma lógica robusta, e ainda com uma representação gráfica inspiradora que
facilita a compreensão das possíveis formas de organização de I&D farmacêutica
internacional.
Permite ainda ter uma visão específica da situação em que é aplicado,
reflectindo claramente as características da indústria farmacêutica e dos restantes
actores envolvidos na I&D farmacêutica internacional e permitindo a obtenção de uma
perspectiva sectorial, o que os estudos até à data não permitiam.
O modelo proposto é dinâmico e escalável, porque permite a inclusão de novas
variáveis e perspectivas depois da validação empírica.
É, também, adaptável ao racional de aplicação, permitindo a realização de
estudos na indústria farmacêutica, com recurso a métodos quantitativos, qualitativos ou
mistos, em função das preferências do investigador, da população disponível para o
estudo e, também, do principal objectivo dos estudos (validação empírica com vista à
generalização ou à melhor compreensão do fenómeno estudado).
144
Por fim, o modelo proposto é mensurável, porque cada variável pode ser medida,
seja recorrendo aos instrumentos utilizados pelos autores dos modelos e das formas de
organização que propuseram inicialmente estas variáveis, quer recorrendo aos
indicadores apresentados na secção 3.6, quer criando indicadores específicos adaptados
à situação.
Em suma, recorrendo ao modelo proposto, com indicação das variáveis e formas
de organização de I&D com mais relevância, à partida, na indústria farmacêutica,
considera-se haver condições para proceder ao teste empírico com vista a aumentar a
compreensão sobre a organização da I&D farmacêutica internacional e enriquecer o
modelo.
Nos próximos dois capítulos apresentam-se a metodologia utilizada para testar o
modelo na indústria farmacêutica e os principais resultados obtidos no estudo empírico
realizado.
145
7. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
7.1. PARADIGMAS, ESTRATÉGIAS E MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
Alan Chalmers (1983) afirma na introdução da sua monografia sobre a natureza
da ciência:
“Hoje em dia, a ciência é considerada algo notável. Aparentemente,
acredita-se que é algo especial e que os métodos científicos são
particulares. Considerar que uma determinada afirmação ou investigação é
«científica» implica que tem um mérito exclusivo ou que está
singularmente fiável” (Chalmers, 1983, p. xv)
Não se pretende começar um debate sobre a veracidade dessa afirmação. Mas
Alan Chalmers toca, com as suas palavras, num aspecto incontroverso da ciência: para
considerar que algo é científico, é preciso utilizar as estratégias de investigação e os
métodos científicos aceites, que lhe possam conferir aquela fiabilidade ou aquele mérito
particular. E qualquer investigador que pretende afirmar que o seu trabalho é científico
deve escolher as estratégias e os métodos apropriados, reconhecidos pela comunidade
científica à qual se associa (Chalmers, 1983; Creswell, 2003, 2007; da Costa & French,
2003; Dey, 1993; Silverman, 2005; Tashakkori & Teddlie, 1998; Yin, 2003).
O debate sobre as estratégias e os métodos científicos certos vai longe na
filosofia da ciência (Chalmers, 1983; Creswell, 2003, 2007; Tashakkori & Teddlie, 1998) e
há várias escolas de pensamento que apoiaram diferentes abordagens científicas que
reclamam assegurar que a investigação científica é fiável e meritória.
As designações atribuídas às escolas de pensamento podem variar, mas as mais
conhecidas são associadas às abordagens quantitativas (positivistas e pós-positivistas),
abordagens qualitativas (construtivistas) e, mais recentemente, abordagens mistas
(pragmáticos). Todas estas abordagens estão associadas a formas específicas de fazer
investigação e aos princípios de evolução da ciência aceites pelas respectivas escolas,
ou seja, a paradigmas científicos (positivista e pós-positivista, construtivista e pragmático)
(Chalmers, 1983; Creswell, 2003, 2007; Tashakkori & Teddlie, 1998).
Os três paradigmas científicos anteriormente referidos representam três formas
diferentes de encarar o mundo e de fazer investigação. Trata-se de lógicas diferentes e
146
não é possível afirmar que uma seja melhor que outra, ou que um paradigma particular
permite obter resultados verdadeiros, replicáveis em qualquer situação. Mas a lógica de
cada paradigma deve ser respeitada, e por esta razão é preciso compreender e escolher
o paradigma apropriado para cada investigação e para cada investigador, as estratégias
de investigação subjacentes ao paradigma escolhido e os métodos específicos de
investigação que permitem implementar as respectivas estratégias (Chalmers, 1983;
Creswell, 2003, 2007; da Costa & French, 2003; Tashakkori & Teddlie, 1998).
Apresenta-se, de seguida, uma breve síntese de cada paradigma e das
estratégias e métodos de investigação associados.
PARADIGMA POSITIVISTA/PÓS-POSITIVISTA
O paradigma positivista/pós-positivista é tipicamente conhecido como a
abordagem quantitativa de fazer investigação científica. Se a escola positivista parte do
pressuposto que o conhecimento é absoluto, ou seja que há uma única verdade e que
esta pode ser identificada se forem utilizados as estratégias e os métodos correctos, o
pós-positivismo chega a afirmar que ninguém pode ter uma certeza absoluta sobre aquilo
que é investigado, particularmente quando se trata de comportamento e acções
humanas, ou seja, que o conhecimento pode ser relativo (Creswell, 2003, 2007;
Tashakkori & Teddlie, 1998).
Esse paradigma está associado a um tipo de investigação causal, ou seja os
investigadores positivistas/pós-positivistas procuram identificar causas que levam a
certos resultados, habitualmente escolhendo um número reduzido de hipóteses que
podem ser testadas, e utilizam métodos numéricos para observar e estudar o
comportamento humano. Os investigadores adoptam uma postura objectiva, sendo por
esta razão importante assegurar uma escolha pertinente dos métodos de investigação
utilizados e identificar a probabilidade de erro associada à respectiva investigação
(Creswell, 2003, 2007; Silverman, 2005).
As estratégias de investigação aceites pelos investigadores associados a este
paradigma baseiam-se, tipicamente, numa organização da investigação do tipo: estudo
da teoria, identificação de variáveis, construção de hipóteses, recolha de dados que
confirmam ou contrariam as hipóteses e a teoria, análise numérica e procedimentos
estatísticos, e sugestão de revisões que possam melhorar futuros estudos. As estratégias
147
podem ser divididas em estratégias experimentais (experiências e quase-experiências) e
estratégias não experimentais (inquéritos, entre outros) (Creswell, 2003, 2007).
Os métodos de investigação positivistas/pós-positivistas geramente adoptados
baseiam-se em questionários/entrevistas com questões fechadas, experiências com
respostas pré-estabelecidas, e análise estatística de dados numéricos – a utilização das
questões semi-abertas ou com dados em formato de texto tipicamente obriga à
transformação em dados numéricos que possam ser analisados estatisticamente
(Creswell, 2003, 2007; Tashakkori & Teddlie, 1998).
PARADIGMA CONSTRUTIVISTA
O paradigma construtivista, associado às abordagens qualitativas de fazer
investigação científica, constrói-se com base na subjectividade das medidas. De acordo
com os investigadores associados a este paradigma, a compreensão do mundo é feita
através de múltiplas perspectivas subjectivas, baseadas na experiência de cada indivíduo
e na sua interpretação daquilo que o rodeia (Creswell, 2003, 2007; Silverman, 2005).
Os investigadores construtivistas têm uma postura subjectiva e procuram a
complexidade, em vez da simplicidade. Definem questões de investigação mais
abrangentes, mais gerais, permitindo a construção das respostas através da interacção
com outros indivíduos, em contextos específicos. Os objectivos da investigação visam
configurar uma resposta com base nas experiências de vários indivíduos, pelo que a
investigação qualitativa habitualmente começa pelos dados recolhidos e depois
eventualmente procura associar os resultados a uma teoria específica (Creswell, 2003,
2007; Silverman, 2005).
As estratégias de investigação habitualmente utilizadas no construtivismo, mais
consolidadas a partir dos anos noventa, dividem-se em (Creswell, 2003, 2007; Silverman,
2005):
• Etnografias (estudo de uma comunidade ou grupo com características
culturais homogéneas durante um período alargado de tempo);
• Grounded theory (estudo em que o objectivo é construir uma teoria específica,
abstracta, sobre um certo fenómeno com base nas perspectivas pessoais dos
indivíduos analisados);
148
• Estudos de caso (estudo aprofundado de uma certa situação, fenómeno ou
indivíduo, recorrendo a múltiplas fontes de informação e técnicas de recolha
de dados);
• Investigação fenomenológica (estudo aprofundado de um fenómeno com o
propósito de compreender o que é fundamental nesse mesmo fenómeno com
base nas perspectivas pessoais dos indivíduos analisados);
• Narrativa (estudo de vidas de indivíduos com base nos relatos desses
indivíduos, reescrito pelo investigador numa perspectiva cronológica e
enriquecido com as opiniões pessoais do mesmo).
Os métodos de investigação mais utilizados são: questionários/entrevistas com
questões abertas, com predilecção pela obtenção de dados em formato de texto, imagem
ou som, visando a obtenção de respostas influenciadas ao mínimo pelo investigador, que
reflectem a experiência individual de cada participante, seguidos por análise de texto, de
imagem e de som (Creswell, 2003, 2007).
PARADIGMA PRAGMÁTICO
O paradigma pragmático está associado às mais recentes abordagens mistas de
fazer investigação científica. Para os investigadores pragmáticos o enfoque está no
problema estudado, que deve ser compreendido, escolhendo para este efeito dentro de
todos os métodos científicos ao dispor, quer quantitativos, quer qualitativos, mediante
aquilo que permite alcançar os objectivos da investigação (Creswell, 2003, 2007;
Tashakkori & Teddlie, 1998).
Os investigadores pragmáticos podem então escolher vários métodos de
investigação e combiná-los, e habitualmente optam por analisar várias perspectivas sobre
o problema estudado com base em múltiplos pressupostos, o que leva a utilização de
muitas estratégias de investigação. A verdade, para estes investigadores, não é absoluta,
mas relativa, dependente do contexo e do seu próprio sistema de valores (Creswell,
2003; Tashakkori & Teddlie, 1998).
“O pragmatismo caracteriza-se por uma filosofia de investigação muito
prática, muito aplicada: estudar aquilo que é interessante e valioso para o
investigador, estudá-lo das várias maneiras que este considerar
apropriadas e utilizar os resultados para criar consequências positivas de
149
acordo com o sistema de valores do investigador” (Tashakkori & Teddlie,
1998, p. 30).
As estratégias de investigação associadas ao pragmatismo são desenvolvidas à
medida para cada investigação, mas envolvem tipicamente vários métodos de
investigação para analisar o problema estudado e baseiam-se na triangulação para
confrontar os dados obtidos, quer triangulação de fontes de informação, quer triangulação
de métodos (Creswell, 2003, 2007; Tashakkori & Teddlie, 1998; Yin, 2003).
Tratando-se de um paradigma recente, podem ser encontradas classificações
diferentes das estratégias de investigação pragmáticas. Refere-se, a título de exemplo, a
taxonomia de Creswell (2003, 2007):
• Estratégia sequencial (estudo em que o investigador procura expandir e
confirmar os resultados obtidos com um método recorrendo a um outro
método: por exemplo, estudo qualitativo para fins exploratórios seguido de
estudo quantitativo para fins de generalização);
• Estratégia convergente (estudo em que o investigador utiliza dados
quantitativos e qualitativos recolhidos na mesma altura para proporcionar uma
análise compreensiva do problema analisado);
• Estratégia transformacional (estudo em que o investigador utiliza uma
perspectiva teórica que enquadra a recolha de dados com métodos
quantitativos e qualitativos, orienta a sua análise e contextualiza os resultados
obtidos).
Os métodos de investigação mais utilizados combinam os métodos quantitativos e
qualitativos: questionários/entrevistas com questões abertas ou fechadas, recolha de
dados numéricos, texto, imagem e som, seguidos de análise de texto, imagem, som, mas
também de análise estatística (Creswell, 2003, 2007).
150
7.2. ESCOLHAS METODOLÓGICAS RELEVANTES PARA A INVESTIGAÇÃO
A presente investigação está mais próxima do paradigma pragmático, com alguns
traços de construtivismo, por duas razões.
Primeiro, por se acreditar que não há só uma verdade, perceptível por quem
utiliza a abordagem certa, e que há uma subjectividade associada à descoberta e
apresentação da verdade. O que significa que há várias verdades que podem ser
defendidas, subjectivas devido à insuficiência dos métodos utilizados, e do próprio acto
de medir a realidade, que afecta a forma como a realidade é percebida por vários
investigadores.
E segundo, por se procurar a complexidade, em vez da simplicidade, quer na
definição das questões de investigação, que são abrangentes, quer na forma de
construção das respostas através da triangulação de várias fontes de informação.
Consequentemente, no início da investigação teve-se mais predilecção na escolha
de abordagens de investigação qualitativas ou mistas, associadas aos paradigmas
construtivista e pragmático.
Os resultados do trabalho teórico e conceptual descritos nos capítulos anteriores,
concretizados na construção de um modelo de organização de I&D internacional aplicável
na indústria farmacêutica influenciaram, também, a escolha e definição mais precisa da
abordagem de investigação que se utiliza, como se descreve de seguida.
Considerando que o quadro teórico e conceptual disponível na literatura
académica analisada tem insuficiências profundas ao nível das melhores abordagens a
utilizar, dos indicadores mais apropriados e das próprias metodologias de estudo mais
adequadas ao estudo de modelos de organização de I&D, foi claro que a escolha de
abordagens de investigação que pudessem confirmar alguns dos pressupostos obtidos
conceptualmente enquanto permitissem o seu enriquecimento (numa perspectiva
aumentada em vez de redutora) era uma escolha válida e desejável.
Por conseguinte, tanto a utilização do estudo de caso como método confirmatório
- exploratório, como a utilização de inquéritos com questões semi-abertas (para permitir o
enriquecimento do quadro conceptual desenvolvido) revelaram-se escolhas válidas e
151
desejáveis. As duas estratégias de investigação enquadram-se nos paradigmas
construtivista e pragmática.
Como o sector industrial que se pretendia investigar é caracterizado por uma
grande concentração de empresas (ou seja, número relativamente reduzido
comparativamente com outros sectores industriais) e de mercados, e também por um
grande secretismo relativamente ao funcionamento da função de I&D, que representa o
ponto-chave no desenvolvimento da sua posição competitiva, a opção de utilizar um
método que obrigava ao estudo de várias empresas farmacêuticas tinha uma
probabilidade reduzida de sucesso sem ser suportado por um projecto de grande
envergadura e teria envolvido custos financeiros e de tempo significativos, sem garantir
os resultados desejados.
Neste contexto, a realização de um inquérito com poucas empresas farmacêuticas
tinha valor científico reduzido e não permitiria obter a informação necessária.
A realização de um estudo de caso múltiplo, que era desejável, tinha a
desvantagem de se confrontar com reticência por parte das empresas farmacêuticas em
serem analisadas num estudo conjunto com os seus competidores, e também de ter
pouca margem para organizar os estudos de caso de modo a serem realizados com o
mesmo nível de análise (ou seja comparáveis) devido a níveis de acesso diferentes nas
várias empresas.
Depois de analisadas as várias possibilidades, e contactadas as empresas do
sector, optou-se pelo estudo de caso único, com análise aprofundada, envolvendo vários
níveis de análise na empresa, e utilização de fontes de informação variadas, quer
qualitativas, quer quantitativas (estratégias de investigação convergente e
transformacional, associadas ao paradigma pragmático).
Como se poderá observar na descrição do estudo de caso realizado, apresentada
no capítulo seguinte, esta escolha permitiu, entre outros:
• flexibilidade total na estruturação do estudo, com vista a obter resposta a
todas as questões relevantes que decorrem do quadro conceptual
desenvolvido;
• obtenção de uma visão integradora do assunto analisado, tanto devido à
análise realizada a três níveis diferentes, na mesma organização, como devido
152
à origem da informação proveniente das entrevistas que integra todas as
funções relevantes para o processo de I&D internacional na respectiva
organização;
• acesso alargado à informação existente na respectiva organização,
discussões abertas e conclusivas, interacção frequente com as pessoas
entrevistadas, mesmo se sob a alçada de um acordo de confidencialidade.
Esta abordagem metodológica tem, como qualquer outra abordagem, as suas
limitações, e por essa razão, devem ser tomados cuidados particulares para assegurar a
fiabilidade dos resultados. Apresentam-se na secção seguinte, as especificidades do
estudo de caso único como estratégia de investigação e os cuidados que devem ser
tomados para assegurar a realização de um estudo de caso de qualidade.
7.3. ESTRATÉGIA DE INVESTIGAÇÃO ESCOLHIDA: ESTUDO DE CASO
O estudo de caso é tipicamente considerado uma estratégia de investigação
qualitativa que procura obter uma compreensão aprofundada sobre uma determinada
situação, fenómeno, actividade, grupo de indivíduos ou indivíduo, e que tem sido utilizado
frequentemente nas investigações de tipo misto (Creswell, 2003, 2007; Silverman, 2005;
Tashakkori & Teddlie, 1998; Yin, 2003).
Trata-se de uma estratégia de investigação cujo objectivo é estudar aspectos
contemporâneos, parte de um sistema bem delimitado no tempo e no espaço,
recorrendo à recolha e análise de dados com base em múltiplas fontes de informação
relativas ao respectivo sistema, e ao relato descritivo das principais ilações (Creswell,
2007; Yin, 2003).
Há vários tipos de estudos de caso. As principais taxonomias adoptadas por
muitos autores (Creswell, 2003, 2007; Silverman, 2005; Yin, 2003, entre outros) dividem
os estudos de caso em:
• únicos e múltiplos, consoante o número de casos analisados;
• holísticos e imbricados, consoante a forma em que o(s) caso(s) é (são)
analisado(s), numa perspectiva abrangente ou por componentes;
• exploratórios, descritivos e explicativos, consoante o tipo de questão e
objectivos de investigação.
153
Cada um desses tipos de estudo de caso tem as suas especificidades, mas para
todos há três aspectos que devem ser considerados para assegurar a qualidade dos
resultados finais (Yin, 2003):
• validade dos constructos – assegurada através da utilização de várias fontes
de informação aquando da recolha de dados, e através da revisão do relato do
estudo de caso pelos principais participantes no estudo;
• validade externa (generalização12) – assegurada na fase de estruturação da
investigação através da utilização da teoria como ponto de partida para os
estudos de caso únicos e da utilização da mesma abordagem, replicativa, para
os estudos de caso múltiplos;
• fiabilidade – assegurada na fase de recolha de dados através da utilização de
um protocolo de estudo de caso previamente concebido, e através da
utilização de uma base de dados em que se organiza e regista toda a
informação associada ao estudo de caso para permitir a replicação posterior
da investigação, se necessário.
Para os estudos de caso explicativos, há um aspecto adicional a considerar.
Trata-se da validade interna, que pode ser assegurada na fase de análise de dados
através de justificações adequadas para cada relação causal identificada, e da
confrontação e explicação de explicações contraditórias (Yin, 2003).
Apresenta-se de seguida uma breve síntese dos aspectos críticos a considerar em
cada uma das fases de desenvolvimento de um estudo de caso, que permitem assegurar
a validade dos construtos, a validade externa, a fiabilidade, e a validade interna (se
aplicável).
Na fase da estruturação da investigação, há um conjunto de decisões que
devem ser tomadas e devidamente explanadas (Yin, 2003), designadamente quanto ao
tipo de estudo de caso a realizar (único ou múltiplo; holístico ou imbricado; exploratório,
12 O conceito de generalização não é utilizado no sentido estatístico ou quantitativo, em que os
resultados de uma investigação devem permitir a indução das conclusões para o
universo/população afectada. É utilizado no sentido em que há uma generalização abstracta
através do enriquecimento ou validação teórica, particularmente válido quando os estudos de caso
são realizados com base numa revisão da literatura e na construção de um modelo teórico que
pretendem testar empiricamente (Yin, 2003).
154
descritivo ou explicativo) e aos passos necesários para a realização do estudo. Todas
estas decisões devem ser incluídas no protocolo do estudo de caso, que representa o
principal documento que orienta a investigação, aumentando a sua fiabilidade.
Este protocolo contém todos os procedimentos associados à realização do estudo
de caso, servindo de guião para o(s) respectivo(s) investigador(es) e permitindo antecipar
dificuldades e encontrar soluções. Yin (2003) sugere o seguinte conteúdo:
• perspectiva geral sobre a investigação (objectivos do estudo de caso e
aspectos críticos, entre outros);
• procedimentos de recolha de dados (acesso aos sítios, fontes de informação,
lembretes, entre outros);
• questões fundamentais (questões de investigação, tabelas de recolha de
dados, potenciais fontes de informação para responder a cada questão);
• possível organização do relato do estudo de caso (índice, forma em que vai
ser escrito, utilização e apresentação das fontes de informação empíricas e da
eventual bibliografia, entre outros).
Na fase da recolha de dados, há três aspectos a considerar (Yin, 2003):
• utilização de várias fontes para recolher dados sobre os mesmos factos, no
sentido de assegurar a triangulação das fontes de informação, aumentando a
validade dos constructos na investigação realizada;
• construção de uma base de dados associada ao estudo de caso em que são
guardados todos os elementos relevantes para a investigação, desde o seu
planeamento até ao relato final, no sentido de assegurar que é possível
identificar as fontes de informação utilizadas para obter os resultados finais e a
forma como foi feita a análise das mesmas, aumentando a fiabilidade da
investigação realizada;
• transparência do estudo de caso, através da possível identificação de todos os
passos realizados durante a investigação, do contexto em que foram feitos, e
da possível replicação desses passos para obter os mesmos resultados, no
sentido de assegurar que as conclusões obtidas são válidas, aumentando a
fiabilidade da investigação realizada.
155
Na fase da análise de dados, a principal preocupação é compreender o que se
pretende analisar e por que razões. Em muitos estudos de caso, esta componente não
está bem desenvolvida, o que afecta negativamente a qualidade dos resultados finais
(Yin, 2003).
Yin (2003) recomenda uma estratégia específica para organizar devidamente esta
fase da investigação: a utilização da teoria para orientar aquilo que se pretende analisar,
uma vez que as questões de investigação que derivam de uma revisão da literatura
permitem identificar claramente os elementos que devem ser observados no estudo de
caso e permitem, também, estabelecer uma ligação directa entre as conclusões do
estudo de caso e as respectivas implicações sobre a teoria associada. Dessa forma é
possível aumentar simultaneamente tanto a validade interna (se aplicável), como a
validade externa da investigação realizada.
Por fim, na fase do relato, os aspectos críticos consistem na escrita do estudo de
caso para a respectiva audiência, na definição da forma como vai ser organizado o relato,
e na revisão desse relato por indivíduos que participaram no estudo de caso, se possível
(Yin, 2003). Esse último aspecto assegura, também, que se aumenta a validade dos
constructos da investigação realizada.
Se a identificação da audiência e a correspondente adaptação da forma de
escrever, e a revisão do relato por participantes no estudo de caso são aspectos que
geralmente não colocam desafios particulares ao(s) investigador(es), a componente de
organização do relato é mais desafiante, particularmente por não haver indicações claras
sobre a melhor forma de o fazer (Creswell, 2003, 2007; Yin, 2003).
De acordo com Yin (2003), trata-se de uma questão de prática e experiência, e
também de um certo talento ou competência para escrever. O mesmo autor refere duas
boas práticas que podem ajudar: colocar no relato referências às fontes de informação
utilizadas para suportar as afirmações feitas, decidir cedo sobre o anonimado dos
participantes no estudo de caso e utilizar um sistema coerente de abreviações para fazer
as referências no relato. Contudo, a forma como o estudo de caso deve ser relatado fica
ao discernimento do(s) investigador(es).
156
7.4. O PROTOCOLO DE INVESTIGAÇÃO
Depois de feita a escolha da estratégia de investigação a utilizar e compreendidos
os principais aspectos a considerar na realização do estudo de caso, foi delineado o
protocolo da investigação, que orientou a priori todo o estudo empírico, procurando
aumentar a validade dos resultados (somente a validade dos constructos, a validade
externa e a fiabilidade, uma vez que não se trata de um estudo de caso
explicativo/explanatório).
Apresentam-se, de seguida, os principais elementos considerados no protocolo do
estudo de caso.
OBJECTIVOS DO ESTUDO DE CASO
Com base nas questões de investigação iniciais definidas para o presente
doutoramento que orientaram a revisão da literatura, o estudo de caso pretendeu
responder às seguintes questões:
• Como é organizada a I&D no caso estudado? Porquê? Que vantagens/boas
práticas podem ser identificadas? Que desvantagens podem ser identificadas?
• Como é gerida a I&D? Porquê? Que vantagens/boas práticas podem ser
identificadas? Que desvantagens podem ser identificadas?
Com vista a obter resposta a estas duas questões, considerou-se importante obter
informação de três níveis distintos e complementares de análise. Segue uma breve
descrição desses níveis e das razões subjacentes à escolha de cada um.
O primeiro nível de análise procurou compreender o contexto organizacional em
que funciona e é organizada a função de I&D internacional, com o principal objectivo de
criar uma compreensão mais alargada para a interpretação da informação obtida sobre a
I&D internacional, no caso estudado.
O segundo nível de análise procurou responder à primeira questão: “Como está
organizada a função de I&D internacional no caso estudado e porquê?”, permitindo a
obtenção de uma perspectiva holística e integrada da função de I&D.
O terceiro nível de análise procurou responder à segunda questão: “Como se faz
I&D nesta estrutura? Que questões práticas de gestão estratégica ou de projecto surgem
157
ao nível do projecto de I&D?”, permitindo obter uma perspectiva particular da organização
de I&D internacional no caso estudado, através da análise de um projecto de I&D.
Estes níveis de análise foram reflectidos através da análise das variáveis
consideradas relevantes, identificadas no modelo conceptual proposto e apresentadas
em capítulo aparte da dissertação (ver capítulo 5):
• Tecnologia (Desenvolvimento e exploração): Objectivo da actividade
tecnológica, Desenvolvimento da tecnologia chave, Papel das unidades de
I&D, Protecção e licenciamento da tecnologia;
• Ligações (Redes): Ligações internas, Ligações externas;
• Mercado: Mercado visado, Regulamentação
Contudo, uma vez que se procurava confirmar e enriquecer o modelo proposto,
optou-se por verificar a presença das restantes variáveis do modelo e de variáveis novas
que pudessem revelar-se importantes. Considerou-se que a eventual presença dessas
variáveis devia ser justificada e que devia ser averiguada a sua relevância para inclusão
num modelo actualizado, mais descritivo da realidade empírica observada.
TIPO E NATUREZA DO ESTUDO DE CASO
A escolha do caso foi cuidadosa. Procurou-se, em conformidade com as escolhas
metodológicas descritas na secção 6.2., uma só empresa farmacêutica que estivesse a
desenvolver novos medicamentos e que visasse a sua venda à escala internacional.
Procurou-se ainda uma empresa que desenvolvesse novos medicamentos em mais que
um país, de preferência com unidades dedicadas e parceiros internacionais. Por fim,
procurou-se uma empresa que permitisse acesso livre à informação, e em que fosse
possível analisar a função de I&D cruzando as perspectivas de vários intervenientes no
processo.
Depois de analisadas várias empresas farmacêuticas localizadas na Europa,
escolheu-se uma empresa farmacêutica localizada numa economia europeia de pequena
– média dimensão, que tem actividade de I&D internacional, designada por PharmaEU
(nome fictício).
158
Trata-se de uma empresa com duas unidades de I&D próprias, localizadas em
dois países europeus. É este o caso estudado, e a recolha de dados foi efectuada entre
Fevereiro e Setembro de 2008.
O estudo de caso analisa em pormenor as questões de investigação com base na
teoria (ou seja no modelo conceptual de organização de I&D farmacêutica desenvolvido
na presente dissertação) com vista a sua validação, melhor compreensão e eventual
descoberta de assuntos relevantes a partir do caso que possam enriquecer o modelo
teórico, sendo que, na óptica do Yin (2003), permite testar uma teoria claramente
formulada.
Esta teoria (o modelo de organização de I&D farmacêutica a nível internacional)
sugere um conjunto de aspectos relevantes para a indústria farmacêutica e as
circunstâncias em que estes aspectos podem vir a verificar-se. O estudo de caso
PharmaEU pretende confirmar, desafiar ou expandir o modelo teórico proposto. Desta
forma, o caso PharmaEU representa, à partida, uma escolha acertada para obter uma
contribuição significativa para o desenvolvimento da teoria analisada (isto é, do modelo
proposto).
O estudo de caso é considerado holístico e não imbricado porque analisa o
assunto na sua íntegra, sem haver necessidade de realizar estudos comparativos entre
as várias componentes do caso.
INFORMAÇÃO CONTEXTUAL
Para a realização do estudo de caso, considerou-se essencial compreender o
contexto em que este funciona, nomeadamente:
• as características genéricas da indústria farmacêutica, para compreender a
dinâmica do sector e os principais factores competitivos, entre outros;
• as características específicas do mercado farmacêutico europeu em que se
integra a PharmaEU, para compreender o contexto específico de actuação,
que influencia a I&D farmacêutica no que respeita à regulamentação e às
características dos parceiros locais;
O primeiro aspecto foi contemplado em capítulo aparte da presente dissertação. O
segundo foi incluído no relato do estudo de caso.
159
PROCEDIMENTOS DE RECOLHA DE DADOS
A estruturação inicial do estudo de caso, incluída no protocolo de investigação, foi
discutida e acordada com o Administrador da PharmaEU responsável pelo
acompanhamento da investigação nesta empresa, na reunião de arranque da recolha de
dados. Nessa reunião, preparou-se a recolha de dados e tratou-se do acordo de
confidencialidade que estabeleceu as regras da colaboração com a empresa.
Aquando da reunião de arranque da recolha de dados com o Administrador da
PharmaEU identificaram-se os colaboradores relevantes para a obtenção da informação
necessária para a investigação e foi averiguado junto do Administrador o melhor
procedimento para avisar esses colaboradores da sua participação na investigação. De
seguida, realizaram-se contactos individuais pela investigadora para a marcação de
entrevistas e recolha de outras fontes de informação consideradas relevantes, com base
em tabelas de recolha de dados predefinidas que asseguraram a obtenção de toda a
informação necessária e a triangulação das fontes (ver Anexo 7).
Com vista a definir a melhor maneira de organizar e recolher a informação
necessária, fez-se uma previsão do tipo de fontes de informação necessárias para atingir
os objectivos do estudo de caso e para responder às respectivas questões (ver Tabela
27). Utilizou-se para o efeito a taxonomia de fontes de informação sugerida por Yin
(2003) com o propósito de escolher fontes de informação distintas, que permitissem
triangulação.
Tabela 27 – Fontes de informação previstas para recolha no estudo de caso
Fontes de informação
Documentação Recortes de jornal, outros documentos internos
Registos arquivados Organogramas, dados estatísticos (secundários), registos pessoais sobre o caso resultantes da investigação
Entrevistas Guião de entrevista, texto propriamente dito, comentários próprios sobre cada entrevista
Observação Observação das pessoas, do sítio, do ambiente
No que respeita aos procedimentos de recolha de dados e da sua análise, optou-
se por utilizar o software de análise qualitativa NVivo, na sua versão 8, com vista a
organizar toda a informação recolhida numa única base de dados e documentar todo o
processo de investigação desde o planeamento até à conclusão do mesmo.
160
Relativamente à recolha de dados através de entrevistas, foram consideradas
duas possibilidades para o registo das respostas dos intervenientes: tomar notas versus
gravar a discussão.
A primeira opção envolvia um processo de selecção da informação relevante na
altura da entrevista (devido à capacidade de processamento e registo da informação
manualmente) com maior eficiência na transposição da informação para formato digital.
A segunda opção suponha uma maior interacção e flexibilidade na altura da
entrevista, com registo mais fiel da informação proporcionada pelos intervenientes, mas
era seguida por um processo muito mais demorado aquando da transcrição da entrevista.
Como o objectivo da investigação era de aumentar a fiabilidade da informação
recolhida e o grau de detalhe da mesma, optou-se por gravar as entrevistas, realizar a
transcrição e enviar a transcrição para comentários e correcções aos respectivos
intervenientes, aumentando por essa via a validade da informação recolhida.
A análise de toda a informação recolhida foi feita com ajuda do software NVivo,
recorrendo a estruturas predefinidas de codificação construídas a partir das variáveis que
se pretendem analisar, ou seja, a partir do modelo conceptual desenvolvido a partir da
componente teórica da investigação.
O relato do estudo de caso foi feito para uma audiência académica, tendo em
consideração a apresentação cuidada de todos os passos seguidos e dos cuidados
metodológicos que foram tomados. Os participantes no estudo foram mantidos anónimos,
apresentando-se unicamente a sua ligação com os departamentos da PharmaEU
envolvidos no estudo, e as referências feitas com base em abreviaturas consistentes ao
longo do relato, tanto referindo os participantes entrevistados, como as fontes de
informação documentais.
161
8. ESTUDO DE CASO E VERIFICAÇÃO EMPÍRICA DO MODELO
PROPOSTO
8.1. DESCRIÇÃO DO ESTUDO DE CASO PHARMAEU
8.1.1. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA PHARMAEU
PharmaEU é uma empresa internacional sediada num país da União Europeia,
cuja economia é de pequena/média dimensão. Desenvolve actividades de venda nacional
e internacional de produtos inovadores protegidos por patente, sob licença mas com
marca própria. Tem várias subsidiárias dedicadas à venda dos seus produtos localizadas
na Europa e na África, duas das quais desenvolvem I&D própria.
Há menos de duas décadas, PharmaEU tomou a decisão estratégica de investir
no desenvolvimento de novos medicamentos, e tem actualmente vários novos produtos
(químicos) em desenvolvimento, concentrados em duas áreas terapêuticas. A I&D
química tem sido desenvolvida numa só unidade da empresa, com vários parceiros
internacionais e nacionais.
Há menos de uma década, PharmaEU adquiriu uma empresa localizada num
outro país europeu, que detinha uma unidade de I&D especializada em novos produtos
(biológicos) de uma terceira área terapêutica. A I&D biológica tem sido desenvolvida só
nesta unidade adquirida, sem recorrer a uma rede extensa de parceiros, como acontece
no caso da investigação química. Durante o processo de recolha de dados, estava em
curso um processo de negociação com vista à alienação desta unidade de I&D, pelo que
não foi possível obter informação directamente do respectivo sítio.
PharmaEU não estava cotada na bolsa na altura da recolha de dados e não havia
planos para que esta situação alterasse num futuro próximo. A empresa tem um
Presidente de Conselho de Administração, e no nível hierárquico imediatamente abaixo
encontram-se os Directores de unidades (nacional e internacionais) e o Director de I&D
química. A estrutura hierárquica é vertical, com estruturas complementares tipo matriz.
A excelência, a responsabilidade social, a inovação, a internacionalização são
algumas das prioridades estratégicas da PharmaEU, que tem estado em franco
crescimento nas últimas décadas e cujo investimento anual em I&D ronda os 20%.
162
8.1.2. CARACTERÍSTICAS DA RECOLHA DE DADOS REALIZADA
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS
O processo de recolha de dados foi feito de acordo com o protocolo de
investigação, e começou com a reunião de arranque realizada no dia 18 de Março de
2008, na qual participou um dos Administradores da PharmaEU.
Nessa reunião, identificaram-se os colaboradores da PharmaEU que podiam
contribuir para a investigação, e foi também acordado que, devido ao processo de
negociação com vista à alienação da unidade de I&D localizada num outro país europeu,
não seria possível recolher dados directamente nessa unidade.
O contacto com os colaboradores devia ser feito directamente pela investigadora,
com conhecimento do respectivo Administrador, e foi o que aconteceu, permitindo a
realização das entrevistas que decorreram entre Março e Setembro de 2008, unicamente
na sede da PharmaEU.
Desde este primeiro contacto até ao final da investigação, o acesso à empresa e a
abertura dos colaboradores em participar na investigação foi total, e devidamente
enquadrado por um contrato de confidencialidade que assegurava que não haveria fugas
indesejáveis de informação enquanto permitia o acesso total para a obtenção dos dados
necessários à realização do estudo.
FONTES DE INFORMAÇÃO UTILIZADAS
Utilizaram-se todas as fontes de informação previstas na Tabela 27: 13 entrevistas
com observações sobre as entrevistas incluídas no fim da transcrição, 1 documento com
notas da reunião de arranque, 1 documento com o diário da investigação e principais
observações gerais, 1 documento de arquivo, 11 artigos de jornal.
Algumas destas fontes serviram para a compreensão do contexto de actuação.
Neste sentido, foram directamente relevantes para as variáveis do modelo somente 15
fontes (13 entrevistas a nove colaboradores, 1 documento de arquivo e 1 documento da
reunião de arranque).
Utilizaram-se abreviaturas para estas fontes que podem ser encontradas neste
capítulo, nas citações realizadas no relato do estudo de caso. As 13 entrevistas
163
realizadas com nove colaboradores foram referidas com as abreviaturas E1 a E9,
considerando-se como fonte de informação principal o colaborador entrevistado em vez
da entrevista propriamente dita. Os restantes documentos foram referidos com as
abreviaturas D1 e D2.
Entrevistaram-se nove colaboradores distribuídos pelos departamentos que
contribuem activamente para o desenvolvimento de novos medicamentos e três da
administração da empresa, num total de 13 entrevistas. Apresenta-se, na Tabela 28, um
sumário das principais características desses colaboradores.
Tabela 28 – Colaboradores entrevistados na PharmaEU: Principais características
Departamento: I&D Qualidade Área de negócios, legal e
regulamentar Administração Total
N.º pessoas entrevistadas
2 2 3 2 9
Tempo na PharmaEU
>10 anos (2)
>10 anos (2)
<5 anos (1)
5-10 anos (1)
>10 anos (1)
>10 anos (2) 9
Sexo M (2) M (2) F (1) M (2) F (1) M (1) 9
N.º entrevistas 3 4 4 2 13
Duração das entrevistas
7h31 7h00 4h22 1h55 20h48
Páginas transcrição
57 71 45 18 191
Tal como delineado no protocolo de investigação, prepararam-se tabelas de
recolha de dados (ver Anexo 9) e guiões de entrevista específicos, por cada colaborador.
Assegurou-se, logo à partida, que haveria cruzamento de informação/opiniões
entre pelo menos dois colaboradores entrevistados, e com as restantes fontes de
informação (nesse último caso apenas foi possível verificar-se parte da informação
recolhida, porque muita informação foi obtida unicamente através de entrevistas).
164
Figura 24 – Estrutura de variáveis codificadas utilizada no NVivo
Nível 1
Nível 2
Nível 3
165
PROCESSO DE CODIFICAÇÃO DA INFORMAÇÃO RECOLHIDA
Começou-se a análise com um processo de codificação da informação
recolhida (entrevistas e restantes fontes de informação) realizado no NVivo, a partir da
estrutura de códigos/variáveis construída com base no modelo proposto para a
indústria farmacêutica. Utilizaram-se designações abreviadas para facilitar a
codificação (ver Figura 24). Relembra-se a designação por extenso na Tabela 31.
O procedimento utilizado para efectuar a codificação implicou vários passos,
visando manter a objectividade e a coerência do processo para todas as fontes de
informação contidas na base de dados NVivo.
Primeiro, leu-se com atenção a definição da variável que se pretendia
identificar nas várias fontes de informação, começando com as variáveis de nível 2:
Objectivo da exploração tecnológica, Desenvolvimento da tecnologia chave, Papel das
unidades de I&D, Protecção e licenciamento da tecnologia, Ligações (redes) internas,
Ligações (redes) externas, Mercado visado, Regulamentação.
Segundo, fez-se a codificação de todas as fontes de informação contidas na
base de dados NVivo com a respectiva variável, até concluída a codificação de todas
as variáveis de nível 2. Desta maneira, foi possível realizar uma análise abrangente
que possibilitou a identificação de novas variáveis presentes no nível 2.
Terceiro, passou-se às variáveis de nível 3, utilizando a mesma abordagem:
leitura atenta da definição da respectiva variável, seguida de codificação de todas as
fontes de informação contidas na base de dados NVivo.
8.1.3. SUMÁRIO DOS RESULTADOS OBTIDOS DA CODIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS
Apresentam-se, de seguida, os resultados da codificação realizada, por níveis
de análise (1, 2 e 3 – ver Figura 24). As novas variáveis identificadas no estudo de
caso são apresentadas com indicação “NOVO” antes da respectiva designação, e a
cor azul claro.
Ilustra-se, por cada nível de análise, tanto o número de fontes de informação
em que foram identificas as respectivas variáveis, como o número de referências a
estas variáveis, ou seja o número de vezes que a respectiva variável foi identificada
nas respectivas fontes de informação.
166
Relembra-se que, de todas as fontes de informação utilizadas no estudo de
caso, somente 15 fontes de informação proporcionaram informação directamente
relacionada com as variáveis incluídas no modelo (13 entrevistas, 1 documento de
arquivo e 1 documento da reunião de arranque), sendo que as restantes serviram para
a compreensão do contexto e para a interpretação dos resultados obtidos.
Tabela 29 – Sumário dos resultados de codificação das variáveis: Nível 1 de codificação
Fontes de informação
Referências
1. TCN - Tecnologia (desenvolvimento e exploração) 14 147
2. RD - Ligações (redes) internas e externas 14 588
3. Recursos 3 5
4. MCD - Mercado 12 111
TOTAL 15 851
Como se pode observar na Tabela 29 e na Figura 25, 3 das 4 categorias de
nível 1 foram consideradas muito importantes para a organização de I&D internacional
do ponto de vista das fontes de informação que as referenciaram. Trata-se de:
• 1. TCN - Tecnologia (desenvolvimento e exploração) e 2. RD - Ligações
(redes) internas e externas, consideradas em 14 das 15 fontes de
informação;
• 4. MCD – Mercado, considerada em 12 das 15 fontes de informação.
0
2
4
6
8
10
12
14
1. TCN 2. RD 3. Recursos 4. MCD
14 14
3
12
Fontes de informação codificadas por variáveis de nível 1
Figura 25 – Representação gráfica da codificação das variáveis: Nível 1 de codificação (fontes de informação)
167
Estas três categorias tinham sido consideradas como ponto de partida para o
modelo proposto para a organização de I&D na indústria farmacêutica, sendo que a
quarta categoria, 3. Recursos, não era expectável surgir no estudo de caso. A
explicação para esta nova categoria e para a variável de nível 2 associada é
proporcionada no final da componente empírica, aquando da comparação do modelo
proposto com o modelo que resultou do estudo empírico.
17,27%
69,10%
0,59% 13,04%
Referências codificadas por variáveis de nível 1 (%)
1. TCN
2. RD
3. Recursos
4. MCD
Figura 26 – Representação gráfica da codificação das variáveis: Nível 1 de codificação (referências)
No que respeita às referências que foram identificadas para cada uma das
categorias, de acordo com o apresentado na Tabela 29 e na Figura 26, é dada maior
ênfase à categoria 2. RD - Ligações (redes) internas e externas, que representa quase
70% do total das referências identificadas, com 588 de 851 referências. Seguem-se ao
longe as categorias 1. TCN - Tecnologia (desenvolvimento e exploração) e 4. MCD –
Mercado, com 17%, respectivamente 13% do total das referências identificadas.
Consequentemente, no estudo de caso realizado na PharmaEU dá-se maior
importância aos aspectos relacionados com redes internas e externas, no contexto da
organização de I&D internacional, o que reforça a relevância de estudar estas
questões e integrá-las em modelos de organização de I&D internacional no futuro.
Uma análise mais pormenorizada por cada uma das categorias de variáveis de
nível 2, apresentada na Tabela 30 e na Figura 27, revela que as fontes de informação
consideradas no estudo de caso dão maior importância às redes externas e internas
(RDe - Ligações (redes) externas e RDi - Ligações (redes) internas), que foram alvo de
codificação em 14 das 15 fontes de informação.
168
Tabela 30 – Sumário dos resultados de codificação das variáveis: Nível 2 de codificação
Fontes de informação
Referências
1. TCN - Tecnologia (desenvolvimento e exploração) 14 147
OBJ_TCN - Objectivo da actividade tecnológica 6 30
CHV_TCN - Desenvolvimento da tecnologia chave 7 21
PPL_TCN - Papel das unidades de I&D 0 0
LIC_TCN - Protecção e licenciamento da tecnologia 11 96
2. RD - Ligações (redes) internas e externas 14 588
RDe - Ligações (redes) externas 14 283
RDi - Ligações (redes) internas 14 305
3. Recursos 3 5
NOVO Limitações dos recursos nacionais 3 5
4. MCD - Mercado 12 111
REG_MCD - Regulamentação 11 99
VIS_MCD - Mercado visado 7 12
TOTAL 15 851
Seguem-se, por ordem de importância, os aspectos associados à propriedade
intelectual (LIC_TCN - Protecção e licenciamento da tecnologia) e à regulamentação
no mercado (REG_MCD - Regulamentação), com 11 das 15 fontes de informação, que
reflectem a sua relevância na actual forma de organização de I&D internacional e a
dinâmica específica da inovação na indústria farmacêutica.
02468
101214
67
0
11
14 14
11
7
3
Fontes de informação codificadas por variáveis de nível 2
Figura 27 – Representação gráfica da codificação das variáveis: Nível 2 de codificação (fontes de informação)
Os aspectos associados ao desenvolvimento tecnológico (OBJ_TCN -
Objectivo da actividade tecnológica e CHV_TCN - Desenvolvimento da tecnologia
169
chave) e ao mercado-alvo para os resultados do processo de I&D (VIS_MCD -
Mercado visado) foram mencionados por somente 6 e 7 de 15 fontes de informação,
apesar de terem sido consideradas como variáveis essenciais para a organização de
I&D internacional em estudos anteriores, como foi mencionado na construção do
modelo proposto, na componente teórica da dissertação.
3,53%
2,47%
0,00%
11,28%
33,25%35,84%
0,59% 11,63%
1,41%
Referências codificadas por variáveis de nível 2 (%)
OBJ_TCN
CHV_TCN
PPL_TCN
LIC_TCN
RDe
RDi
NOVO LIM_REC_NAC
VIS_MCD
Figura 28 – Representação gráfica da codificação das variáveis: Nível 2 de codificação (referências)
No que respeita ao número de referências, de acordo com Tabela 30 e Figura
28, as variáveis de nível 2 consideradas mais importantes são RDi - Ligações (redes)
internas, com 305 de 588 referências (51.8%) e RDe - Ligações (redes) externas, com
283 de 588 referências (48.1%), o que continua a representar um peso significativo no
total das referências consideradas relevantes para a confirmação do modelo
conceptual.
Seguem-se, com mais de 16%, REG_MCD – Regulamentação e LIC_TCN -
Protecção e licenciamento da tecnologia, que confirmam a sua relevância na actual
forma de organização de I&D internacional e a dinâmica específica da inovação na
indústria farmacêutica, corroborando os resultados obtidos na análise do número de
fontes de informação.
As restantes variáveis de nível 2 têm abaixo de 5% no que respeita ao número
de referências, apesar de terem sido consideradas como variáveis essenciais para a
organização de I&D internacional em estudos anteriores, como foi mencionado na
construção do modelo proposto, na componente teórica da dissertação, corroborando
os resultados obtidos na análise do número de fontes de informação.
170
Tabela 31 – Sumário dos resultados de codificação das variáveis: Nível 3 de codificação
Fontes de informação Referências
1. TCN - Tecnologia (desenvolvimento e exploração) 14 147
OBJ_TCN - Objectivo da actividade tecnológica 6 30
Amnt_Estr - Aumento no estrangeiro 5 10
Amnt_Orig - Aumento no país de origem 6 8
Expl_Estr - Exploração no estrangeiro 6 6
Expl_Orig - Exploração no país de origem 4 6
CHV_TCN - Desenvolvimento da tecnologia chave 7 21
Des_Estr - Desenvolvimento no estrangeiro 4 7
Des_Orig - Desenvolvimento no país de origem 7 14
PPL_TCN - Papel das unidades de I&D 0 0
Impl - Implementador - -
Lid - Liderança estratégica - -
Part - Participante - -
Sens - Detector (sensor) - -
LIC_TCN - Protecção e licenciamento da tecnologia 11 96
Cmpr_Lic - Compra de licenças 5 18
Patnt - Patentes e marcas 6 42
Vnd_Lic - Venda de licenças 10 36
2. RD - Ligações (redes) internas e externas 14 588
RDe - Ligações (redes) externas 14 283
Parc_Ext_Estr - Parceiros para desenvolvimento externos à organização, no estrangeiro
14 224
Parc_Ext_Orig - Parceiros para desenvolvimento externos à organização, no país de origem
14 59
RDi - Ligações (redes) internas 14 305
Artic - Articulação I&D, inovação e marketing 9 41
Coop - Relacionamento de cooperação 6 19
Crd_Cntr - Coordenação central 11 34
Crd_Glob - Coordenação global 2 4
Fin_Cntr - Financiamento central 5 10
Fin_Glob - Financiamento global - -
GE_Cntr - Gestão estratégica central 9 42
GE_Glob - Gestão estratégica global 4 4
NOVO Crd_Loc - Coordenação Local 13 144
Parc_Int - Parceiros para desenvolvimento internos à organização
4 7
171
Fontes de informação Referências
3. Recursos 3 5
NOVO Limitações dos recursos nacionais 3 5
4. MCD - Mercado 12 111
REG_MCD - Regulamentação 11 99
Reg_Glob - Regulamentação global (internacional) 10 72
Reg_Loc - Regulamentação local (nacional) 7 27
VIS_MCD - Mercado visado 7 12
Mcd_Glob - Mercado Global 6 11
NOVO Mcd_Loc - Mercado local 1 1
TOTAL 15 851
Por último, a análise de cada uma das categorias de variáveis de nível 3
apresentadas na Tabela 31 e na Figura 29, revela que as fontes de informação
consideradas no estudo de caso dão maior importância aos parceiros externos
(Parc_Ext_Estr - Parceiros para desenvolvimento externos à organização, no
estrangeiro e Parc_Ext_Orig - Parceiros para desenvolvimento externos à
organização, no país de origem) com 14 das 15 fontes de informação consideradas,
seguidas de uma nova variável, Crd_Loc - Coordenação Local, com 13 das 15 fontes
de informação e Crd_Cntr - Coordenação central, com 11 das 15 fontes de
informação.
Seguem-se, com 10 fontes de informação, duas variáveis relacionadas com
protecção da propriedade intelectual e regulamentação, Vnd_Lic - Venda de licenças e
Reg_Glob - Regulamentação global, e com 9 fontes de informação, duas variáveis
associadas às redes internas (Artic - Articulação I&D, inovação e marketing e GE_Cntr
- Gestão estratégica central).
Ou seja, ao nível 3 de análise, já muito pormenorizado, mantém-se a
importância dada às redes externas, com peso semelhante para os parceiros externos
à PharmaEU localizados no país de origem e no estrangeiro, do ponto de vista do
número de fontes de informação em que foram identificadas estas variáveis. A questão
da coordenação da actividade de I&D vem logo a seguir em termos de importância,
com aspectos de coordenação local, especificamente no país de origem, em que se
realiza I&D química, e de coordenação centralizada ao nível do grupo, que inclui a
componente de I&D química e I&D biológica.
172
Figura 29 - Representação gráfica da codificação das variáveis: Nível 3 de codificação (fontes de informação)
Surgem novamente os aspectos associados à regulamentação e à propriedade
intelectual, devido às especificidades da indústria analisada. Na componente da
propriedade intelectual enfatiza-se a importância da venda de licenças de I&D, devido
ao tipo de I&D química realizada pela PharmaEU e pela sua dimensão (pequena –
média) no mercado farmacêutico.
As redes internas também são consideradas importantes, com enfoque nas
questões de articulação das várias funções essenciais para ter resultados de sucesso
da I&D química e com enfoque na forma centralizada de estabelecer e implementar a
estratégia da PharmaEU, uma característica da empresa que sobrepõe este tipo de
gestão estratégica com uma estrutura policêntrica de I&D internacional.
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Fontes de informação codificadas por variáveis de nível 3
173
Figura 30 - Representação gráfica da codificação das variáveis: Nível 3 de codificação (referências)
No que respeita ao número de referências (ver Tabela 31 e Figura 30), no
caso PharmaEU dá-se maior importância a Parc_Ext_Estr - Parceiros para
desenvolvimento externos à organização, no estrangeiro (26.48%) e a uma nova
variável, Crd_Loc - Coordenação Local (17%), ambas variáveis associadas às redes.
Seguem-se, a uma distância razoável Reg_Glob – Regulamentação global, com
8.51%, e Parc_Ext_Orig - Parceiros para desenvolvimento externos à organização, no
país de origem, com 6.9%.
1,18%
0,95%
0,71%
0,71%
0,83%
1,65%
0,00%
0,00%
0,00%
0,00%
2,13%
4,96%
4,26%
26,48%
6,97%4,85%
2,25%
4,02%
0,47%
1,18%
0,00%
4,96%
0,47%
17,02%
0,83% 8,51%
3,19%
1,30%
0,12%
Referências codificadas por variáveis de nível 3 (%)
Amnt_Orig - Aumento no país de origem
Expl_Estr - Exploração no estrangeiro
Expl_Orig - Exploração no país de origem
Des_Estr - Desenvolvimento no estrangeiro
Impl - Implementador
Lid - Liderança estratégica
Sens - Detector (sensor)
Vnd_Lic - Venda de licenças
Parc_Ext_Estr - Parceiros para desenvolvimento
externos à organização, no estrangeiroParc_Ext_Orig - Parceiros para desenvolvimento
externos à organização, no país de origemArtic - Articulação I&D, inovação e marketing
Coop - Relacionamento de cooperação
Crd_Cntr - Coordenação central
Crd_Glob - Coordenação global
Fin_Cntr - Financiamento central
Fin_Glob - Financiamento global
GE_Cntr - Gestão estratégica central
GE_Glob - Gestão estratégica global
NOVO Crd_Loc - Coordenação Local
Parc_Int - Parceiros para desenvolvimento internos à
organizaçãoReg_Glob - Regulamentação global (internacional)
Reg_Loc - Regulamentação local (nacional)
Mcd_Glob - Mercado Global
NOVO Mcd_Loc - Mercado local
174
Ou seja, confirma-se a importância atribuída aos parceiros externos na parte de
análise das fontes de informação, mas dá-se maior enfoque aos parceiros externos
localizados no estrangeiro, que corresponde à forma da indústria de fazer I&D, com
recurso a parceiros com actuação global. Confirma-se ainda a importância atribuída
às questões de coordenação local e aos aspectos regulamentares, também com
enfoque internacional/global.
175
8.2. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS NO ESTUDO DE CASO
PHARMAEU
Depois da análise estatística descritiva realizada na secção anterior, passa-se
à apresentação dos resultados obtidos depois da análise qualitativa realizada com
apoio do software NVivo, que se deseja mais rica e mais reveladora do contexto e da
forma de funcionamento do caso estudado.
Logo à partida teve-se um grande desafio, porque a forma de apresentação de
resultados obtidos utilizando o método de estudo de caso não tem uma estrutura
predefinida, nem linhas orientadoras consensuais (Creswell, 2003, 2007; Silverman,
2005; Yin, 2003). É essencial que o(s) caso(s) seja(m) bem delineados através da
definição das suas fronteiras temporais e geográficas, e que se siga um processo de
recolha e análise de dados conforme com uma série de princípios explicados no
capítulo de metodologia. A linguagem e a estrutura do relato a utilizar são deixadas à
escolha e à criatividade do investigador, sendo que devia envolver os leitores e
denotar entusiasmo e persuasão (Yin, 2003) e constituir uma boa história (Dey, 1993).
Havia duas alternativas no que respeita à linguagem: a) utilizar uma linguagem
envolvente, viva, na primeira pessoa, que permitisse criar uma história envolvente,
uma viagem pelos resultados obtidos que cativasse o leitor (Dey, 1993); ou b) utilizar
uma linguagem mais contida, mais própria de um trabalho académico, que cativasse
talvez menos, mas que proporcionasse todas as evidências necessárias para
compreender e justificar as afirmações feitas, adaptando a linguagem à audiência
pretendida (Yin, 2003). Tratando-se de um trabalho de doutoramento, a escolha foi
franca: recorrer ao segundo tipo de linguagem, que permitisse apresentar e sustentar
com o devido rigor o caso estudado frente a uma audiência académica exigente.
No que respeita à estrutura, havia muitas alternativas e poucas orientações.
Consideraram-se dois aspectos no delinear da estrutura mais apropriada. Primeiro,
como o estudo de caso foi organizado para responder a duas questões de
investigação, incluídas no protocolo inicial, orientou-se o relato de modo a obter
respostas a estas questões e justificá-las devidamente. Segundo, e sendo que o
estudo de caso foi realizado a partir do modelo proposto (teórico/conceptual) para a
organização de I&D internacional na indústria farmacêutica, fazia sentido que a
estrutura do relato contemplasse devidamente esta ligação e que realçasse os
resultados comparativamente a esta referência.
176
Consequentemente, a apresentação dos resultados obtidos no estudo de caso
PharmaEU foi feita de forma relacionada com os objectivos do estudo de caso.
Primeiro, apresentou-se a organização de I&D internacional no caso
PharmaEU, tal como identificada a partir dos dados/da informação recolhida
empiricamente. Segundo, apontaram-se vantagens/boas práticas e desvantagens no
que respeita à estrutura de organização identificada, com o intuito de contribuir,
também, com uma perspectiva crítica preliminar sobre os resultados obtidos. Terceiro,
apresentou-se a gestão de I&D internacional no caso PharmaEU e, por último,
indicaram-se vantagens/boas práticas e desvantagens no que respeita a esta forma de
gestão.
Recorda-se que os objectivos do estudo de caso realizado se prendiam com a
obtenção de respostas às seguintes questões:
• Como é organizada a I&D no caso estudado? Porquê é organizada desta
maneira? Que vantagens/boas práticas podem ser identificadas? Que
desvantagens podem ser identificadas?
• Como é gerida a I&D? Porquê? Que vantagens/boas práticas podem ser
identificadas? Que desvantagens podem ser identificadas?
Organizou-se o estudo de caso em três níveis distintos e complementares de
análise (compreensão do contexto organizacional, obtenção de uma perspectiva
holística e integrada da organização de I&D, e obtenção de uma perspectiva particular
da organização de I&D através da análise de um projecto concreto), sendo que os dois
últimos visavam a obtenção de informação às duas questões de investigação
colocadas e o primeiro a obtenção de informação contextual que permitisse interpretar
correctamente essa informação.
Tal como se apresenta e se justifica nas seguintes secções, considera-se que
os objectivos do estudo de caso foram atingidos, porque foi possível obter respostas
às questões anteriormente referidas com grau de detalhe suficiente e triangulando as
fontes de informação para aumentar a validade das principais ilações.
177
8.2.1. ORGANIZAÇÃO DE I&D INTERNACIONAL NA PHARMAEU
A I&D na PharmaEU divide-se em duas componentes distintas, que
praticamente não interagem e que se caracterizam por graus de complexidade
distintos, quer no que respeita à componente de processo de I&D, quer no que
respeita à comercialização dos resultados deste processo.
A primeira componente está focada na I&D química, e tem como objectivo o
desenvolvimento de novos medicamentos patenteados em duas áreas terapêuticas
definidas como parte da estratégia da empresa. Esta componente da função de I&D é
considerada crítica para o negócio e representa uma das prioridades estratégicas, e
consiste em I&D realizada internamente, no país de origem, e I&D desenvolvida com
ajuda de parceiros externos, designadamente internacionais (E1-E9, D1-D2).
“Nós estamos a desenvolver projectos globais, e o ensaio do medicamento é sempre alguma coisa que é pensada para a globalidade, não é para determinada área geográfica, e portanto, nós, no fundo, temos projectos que são globais, e fazemos serviço de investigação no país de origem e fora dele. Fronteiras não temos, e fazemos esta interacção de ensaios” (E1)
É a componente de I&D que acarreta mais custos, mas que tem maior
probabilidade de gerar rendimentos elevados, apesar da taxa de sucesso
relativamente baixa. O mercado potencial para os medicamentos resultantes é global
(E1-E4, E7-E9, D1-D2).
A segunda componente está focada na I&D biológica, e tem como objectivo
o desenvolvimento de medicamentos patenteáveis ou não, de aplicação personalizada
em doentes, depois da realização de análises clínicas específicas para
estabelecimento do perfil do doente. É uma componente de I&D cujos custos são
nitidamente inferiores aos custos associados à I&D química, que é feita
essencialmente com recursos internos, num país estrangeiro (E1-E4, E7-E9, D1-D2).
“…alguns projectos têm horizonte temporal de dois anos, é muito diferente dos 10, 12, 14 anos cá (N.I. no país de origem). E é uma investigação mais aplicada. A gama de produtos biológicos locais foi integralmente desenvolvida pelo departamento de I&D daquele país. A dimensão na qual se trabalha é muito diferente, quer em termos de investimento, quer em termos de tempo” (E9)
“…as competências são completamente diferentes…o departamento de I&D (N.I. no país estrangeiro) só se dedica aos biológicos e não tem interacção nenhuma na área da química farmacêutica” (E1)
178
O mercado potencial para os medicamentos resultantes é o mercado local,
acrescido do país de origem, e muito pouco desenvolvido noutros países, sendo que a
estratégia actual não aponta para um alargamento dos mercados existentes, de
abrangência internacional (E1, E2, E7-E9, D1-D2).
Do ponto de vista gráfico, a organização de I&D internacional da PharmaEU na
altura da recolha de dados pode ser esquematizada de acordo com o apresentado na
Figura 31.
À semelhança da justificação apresentada para o modelo de organização de
I&D internacional para a indústria farmacêutica (ver Anexo 8), explicitam-se de seguida
as funções internas e as entidades externas que aparecem na Figura 31/Tabela 32) e
os fluxos de informação entre as funções internas, entre estas funções e as entidades
externas, e ainda os fluxos de produtos resultantes da I&D química e biológica e os
fluxos de tecnologia resultantes da I&D biológica (Tabela 33). Apresenta-se uma visão
pormenorizada de cada fluxo de informação e de cada fluxo de produtos/tecnologia no
Anexo 10.
Tabela 32 – Funções internas e entidades externas que aparecem na organização de I&D internacional da empresa PharmaEU
Funções internas Descrição
UI Unidade de investigação
UD Unidade de desenvolvimento
Mk Departamento de marketing
Prod Departamento de produção
Jrdc Departamento jurídico e de assuntos regulamentares
Ql Departamento de qualidade e desenvolvimento farmacêutico
Entidades externas Descrição
Uni Universidade
II Instituto de investigação
IP IP firms: empresas especializadas em propriedade intelectual (patentes e marcas)
EMEA Entidade regulamentar europeia
Consult Consultor
H Hospital
CRO Contract Research Organization: prestador de serviços de I&D, subcontratado
179
CMO Contract Manufacturing Organization: produtor de matérias primas ou de produto final, subcontratado
Lic Licenciador
FDA Entidade regulamentar dos Estados Unidos
Tabela 33 – Fluxos de informação, produtos e tecnologia que aparecem na organização de I&D internacional da empresa PharmaEU
Fluxos Descrição
Fluxo de informação associado à I&D química ou biológica
Fluxo de produtos resultantes da I&D química
Fluxo de tecnologia resultante da I&D química
Fluxo de produtos resultantes da I&D biológica
Tal como se pode observar na Figura 31, as duas unidades de I&D da
PharmaEU funcionam de acordo com modelos diferentes, estruturas de organização
local diferentes (integração funcional com equipas multidisciplinares e cooperação
interna e externa, para a I&D desenvolvida no país de origem, versus articulação entre
I&D, produção e marketing, para a I&D desenvolvida na unidade estrangeira de I&D), e
visam mercados diferentes (E1-E9, D1-D2). Trata-se de uma organização de I&D
internacional policêntrica, com coordenação local/central, no contexto de uma gestão
estratégica centralizada, concentrada no país de origem.
A unidade de I&D estrangeira tem um impacto reduzido na estratégia
internacional de I&D do grupo, baseia-se essencialmente em competências internas e
locais e os mercados que visa são o local e o do país de origem (E1, E2, E7-E9, D1-
D2). De acordo com a informação recolhida, não se prevê o alargamento dos
mercados visados a curto ou médio prazo, nem a diversificação das actividades de
I&D biológica. Pelo contrário, a I&D química, desenvolvida com competências internas,
no país de origem, e múltiplas parcerias e subcontratações internacionais, representa
uma aposta estratégica a médio e longo prazo, tanto ao nível dos mercados visados,
como ao nível da diversificação das actividades e aumento das competências internas
associadas (E1-E4, E7-E9, D1-D2). Consequentemente, o desenvolvimento
estratégico da I&D da PharmaEU faz-se com prioridade na direcção da I&D química,
recorrendo a competências internas e a uma extensa rede de parceiros internacionais.
180
Figura 31 – Organização de I&D internacional no caso PharmaEU
181
Entende-se que a visão estratégica actual da PharmaEU concentra-se na I&D
química, sem que nessa visão a I&D biológica tenha uma importância notável (D1-D2),
tornando valiosas a compreensão e a análise pormenorizada da forma de organização
internacional da I&D química na sua componente interna à PharmaEU e na sua
componente externa, designadamente a rede internacional de parcerias e o seu
funcionamento. Por esta razão, passa-se a descrever de seguida esta forma de
organização.
Forma de organização internacional da I&D química no caso PharmaEU
A I&D química no caso PharmaEU está organizada de acordo com duas
vertentes: 1) organização interna, na unidade de I&D localizada na sede, no país de
origem, e 2) organização externa, que contempla a extensa rede de parceiros nacionais
e internacionais.
No que respeita à organização interna de I&D, a PharmaEU tem um
departamento de I&D que é responsável pela parte de investigação e pela parte de
desenvolvimento de novos medicamentos a partir de princípios activos patenteados.
Na componente de investigação, as interacções com as restantes funções da
PharmaEU são limitadas a dois tipos de contactos. Primeiro, há uma interacção com o
departamento Jurídico, no âmbito da definição da estratégia de patentes e na submissão
e gestão de pedidos de patentes para novos princípios activos. Segundo, há uma
interacção com o departamento de Marketing estratégico e desenvolvimento do negócio,
no âmbito da avaliação da viabilidade de investigação e desenvolvimento de novos
medicamentos numa certa área terapêutica e relativamente a alvos específicos (ver
Figura 32). Há interacção com o responsável máximo da empresa, com vista a assegurar
que a investigação realizada corresponde à direcção de desenvolvimento estratégico da
empresa a longo prazo (E1-E2, E5, E7-E9).
Na componente de desenvolvimento, ou seja depois da aprovação de um projecto
de desenvolvimento de um novo medicamento, definição do planeamento das actividades
associadas e atribuição do orçamento, as interacções com as restantes funções da
PharmaEU são extensas, e a sua coordenação é feita através de uma equipa
multidisciplinar que reúne directores e gestores intermédios das funções envolvidas (ver
Figura 33). Cada função especificada na Tabela 32 tem um ou mais representantes
nessa equipa multidisciplinar, escolhidos com base na sua complementaridade nas
182
tarefas associadas ao projecto de desenvolvimento do novo medicamento e na sua
capacidade de reflectir sobre o projecto como um todo e sobre a sua estratégia de
execução (E1-E9).
Figura 32 – Organização interna da componente de I&D no caso PharmaEU
A comunicação e a interacção com as restantes funções relevantes para o
sucesso do projecto de desenvolvimento fazem-se através dos canais hierárquicos
definidos no organigrama, nomeadamente quando se trata de tomar decisões formais, e
através da equipa multidisciplinar, uma estrutura tipo matriz transversal à organização
hierárquica, quando se trata de coordenação e partilha de informação que permite
aumentar a rapidez do desenvolvimento enquanto mantém a qualidade do produto (E8-
E9).
A interacção com o responsável máximo da empresa realiza-se através dos
canais formais, hierárquicos, disponíveis a cada departamento, e ainda através do
coordenador da equipa multidisciplinar, um membro do conselho de administração da
PharmaEU (E1-E4, E7-E9).
No caso da investigação química na PharmaEU a responsabilidade pelo sucesso
das actividades associadas cabe essencialmente ao director do departamento de I&D,
enquanto no caso do desenvolvimento, a responsabilidade é partilhada por vários
departamentos e funções presentes na equipa multidisciplinar que coordena um dado
projecto. Esta responsabilidade encontra-se reflectida ao nível de indicadores específicos
presentes no sistema de avaliação de desempenho da PharmaEU (E1-E4, E7-E9).
183
No que respeita à organização externa de I&D, todos os contactos realizados
com entidades externas não regulamentares são precedidas por um contrato de
confidencialidade que protege a informação divulgada nesses contactos de fugas
indevidas (E1-E7). No caso das entidades regulamentares essa formalidade não é
necessária, sendo assegurada pelos próprios estatutos das respectivas entidades (E6).
Figura 33 – Organização externa da componente de I&D no caso PharmaEU
Também, em todos os contactos realizados com entidades externas, a
responsabilidade pelo sucesso das actividades associadas a estes contactos, seja em
regime de prestação de serviços/subcontratação, seja em regime de colaboração ou de
prestação de informação de cariz regulamentar, é claramente definida na PharmaEU
como pertencendo ao pivô interno responsável pela respectiva actividade. Ou seja,
mesmo havendo um contrato com, por exemplo, entidades prestadoras de serviços de
I&D, a responsabilidade pelo sucesso dos respectivos serviços prestados é o colaborador
interno que coordenou a respectiva contratação em termos de serviços a realizar (E1-E4).
184
Uma visão completa da rede de colaboradores externos utilizados para fins de
I&D é apresentada na Figura 33.
Na componente de investigação, os contactos com entidades externas são mais
limitados que na componente de desenvolvimento, por razões associadas à necessidade
de manter o segredo dos novos compostos. Esses contactos (ver Figura 34) enquadram-
se essencialmente em duas categorias: contactos para a obtenção da patente para um
novo composto; e contactos para a realização de testes e análises específicas
relativamente à estrutura e às principais propriedades dos compostos que podem
avançar para o desenvolvimento.
Figura 34 – Organização externa da componente de investigação no caso PharmaEU
Nos contactos para a obtenção da patente, há uma colaboração muito próxima do
departamento de I&D e do departamento Jurídico com as empresas especialistas em
protecção industrial (IP firms) com competências para pensar uma estratégia de
protecção a nível mundial e para a gestão dos pedidos de patente nos vários países
185
relevantes, podendo haver contactos pontuais com consultores nesse mesmo âmbito (E5,
E8).
[NI: As IP firms] “têm diversas valências, na área jurídica, têm advogados, mas também têm outras pessoas que têm background científico e que trabalham na área das patentes, na área química, na área mecânica, se for o caso, electrotécnica, talvez” (E5)
Nos contactos para a realização de testes e análises específicas, há contactos
pontuais com institutos de investigação, universidades, consultores e outros prestadores
de serviços (“Contract Research Organizations”) de pequena, média ou grande
dimensão, limitados à determinação de certas características dos possíveis novos
compostos a desenvolver ou de certos métodos de síntese para os quais não há
tecnologias ou competências internamente, na PharmaEU (E1-E9).
“Qualquer subcontratado, prestador de serviços é um CRO. O conceito pode estender-se a qualquer tipo de entidade prestadora de serviços de investigação sob contrato, independentemente da respectiva dimensão” (E2)
“Podem ser desde prestadores de serviços na área preclínica, serviços muito técnicos, há certos estudos e determinadas análises que é preciso fazer […]. Estamos a falar de centros de investigação, de universidades, de empresas especializadas etc.” (E9)
É frequente contactar com entidades locais/nacionais, do país de origem, mas
também com entidades internacionais e há um cuidado muito grande com a forma como
são contratados os respectivos serviços, com vista a nunca divulgar o segredo associado
aos novos compostos (E1-E9).
“As CROs […] têm contratos de confidencialidade porque existe uma grande quantidade de informação técnica que circula…“ (E9)
“Diria que grande parte das CROs são internacionais, podem ter subsidiárias locais, mas estamos a falar de organizações globais…” (E7)
Na componente de desenvolvimento, os contactos com as entidades externas,
essencialmente internacionais, são extensos e contemplam uma grande variedade de
entidades e de tipos de prestação de serviços (ver Figura 35).
186
Figura 35 – Organização externa da componente de desenvolvimento no caso PharmaEU
De acordo com o tipo de entidade externa, distinguem-se contactos com:
• IP firms: empresas especializadas em propriedade intelectual (patentes e marcas)
• Entidades regulamentares: europeia e americana
• Consultores
• Hospitais
• Contract Research Organizations: prestadores de serviços de I&D, subcontratados
• Contract Manufacturing Organizations: produtores de matérias-primas ou de produto final, subcontratados
• Licenciadores
187
Os contactos realizados com IP firms estão associados à gestão internacional das
marcas associadas com um novo composto. As funções internas responsáveis por estes
contactos são: Marketing estratégico e desenvolvimento do negócio e Jurídico, que
coordenam sempre este processo com o responsável do departamento de I&D (E5, E7).
O processo de registo de marcas a nível internacional implica a verificação de
marcas existentes nos países alvo, e o registo das marcas desejadas para os novos
compostos nesses países. Numa fase mais avançada, há lugar a um processo de revisão
das marcas registadas, quando se obtém feedback das autoridades regulamentares
competentes durante o processo de obtenção de autorização de entrada no mercado de
um novo composto (E5, E7).
“Quando conhecemos os compostos suficientemente bem, na fase clínica, depois da fase II, contactamos uma agência e começamos a desenvolver várias designações. Depois de um processo de selecção interna, acabamos por ter uma lista mais reduzida de possíveis marcas. Essas são registadas pelo nosso departamento Jurídico em cada país relevante e este processo pode demorar muito tempo. Mais tarde, na componente de marketing, desenvolvemos estas marcas e a estratégia de promoção” (E7)
Os contactos com entidades regulamentares podem ser de dois tipos: contactos
no âmbito da autorização de realização de certos ensaios ou da comercialização de um
novo produto; ou contactos de pedidos formais de opinião sobre direcções desejadas de
desenvolvimento de um certo ensaio ou de obtenção de certo tipo de informação
considerada fundamental para obter autorizações futuras (E1-E2, E4, E7).
“Seguimos à risca aquilo que estava pedido pelas autoridades regulamentares […] fomos extremamente exigentes com isso” (E1)
“Tivemos uma abordagem conservadora, segura ao processo de desenvolvimento, procurámos ter muito cuidado no que respeita àquilo que os estudos pretendem alcançar, ao número de estudos realizados, aos pedidos de opinião que fizemos” (E7)
Este tipo de contactos desempenha um papel fundamental no aumento da
qualidade e rapidez da I&D farmacêutica, porque sem a obtenção de autorização por
parte das autoridades regulamentares competentes, não podem ser desenvolvidos
ensaios in-vitro ou in-vivo e não pode haver venda de qualquer produto farmacêutico. No
caso da PharmaEU, os dois tipos de contactos eram frequentes e o feedback recebido
por parte das diversas autoridades era devidamente considerado no processo de
desenvolvimento dos novos compostos (E1-E2, E4, E7).
“Há mecanismos que podemos utilizar para chegar à FDA e à EMEA para pedir opinião e feedback, e isso trouxe uma experiência valiosa durante o projecto” (E7)
188
O departamento responsável pelos contactos com as autoridades regulamentares
é o Jurídico, que contempla uma função específica dedicada aos assuntos
regulamentares. Esse departamento realiza os seus contactos com base na informação
recebida por parte dos restantes departamentos envolvidos na componente de
desenvolvimento, realizando dessa forma contactos sustentados em informação interna
que é, por norma, multidisciplinar e razoavelmente completa, e que reflecte a realidade
do estado de desenvolvimento do respectivo composto (E1-E4, E6, E8).
Mediante as autoridades regulamentares com as quais se contacta pode haver
abordagens diferentes, e a PharmaEU considera devidamente estas diferenças tanto ao
nível da apresentação da informação requerida para obter autorizações ou dos pedidos
de opinião, como ao nível do próprio contacto directo com as autoridades, nas ocasiões
em que este se prova necessário (E6, E8).
“Cada autoridade é uma autoridade […]. Depende da forma como cada profissional desta área entende abordar a autoridade. Depende do conhecimento que temos nesta área. Depende da forma como trabalhamos, como encaramos as coisas…” (E6)
Ao nível da União Europeia, a presença da EMEA permite uma maior
estandardização dos procedimentos e dos requisitos, o que aparenta facilitar os
contactos mas sem descurar as particularidades presentes em cada país (E1, E4, E6).
[N.I. O produto] “pode ser registado por etapas em grupos de diferentes autoridades europeias” (E6)
Apesar do processo de uniformização a decorrer entre as entidades
regulamentares da Tríade, há requisitos diferentes ao nível de forma e de conteúdo
específico entre EMEA, FDA, entre outros (E1, E3-E4, E6-E7).
“O que funciona com EMEA, não funciona necessariamente com FDA…A ideia é procurar criar sinergias, mas em certos aspectos não partilham a mesma visão…” (E7)
“…os procedimentos são diferentes. Aí reside a diferença. Agora em termos de solução para questões […] já é tudo muito standard. Ou seja, como têm guidelines que são transversais às três regiões, à Europa, aos EUA e ao Japão, as coisas começam a ficar cada vez mais fáceis de gerir porque cada vez são mais parecidas” (E6)
“Temos uma diversidade grande de tipos de interacção, cada país tem as suas abordagens, apesar de haver orientações que são internacionais e normas que são comuns a todos, há sensibilidades diferentes, há leituras ligeiramente diferentes” (E1)
Os contactos pontuais com entidades de outros países fora da Tríade em que
decorrem ensaios com pacientes, em fases II e III de desenvolvimento, reflectem,
189
também estas diferenças de abordagem e de cultura entre as autoridades
regulamentares (E1-E2).
Os contactos realizados com consultores podem ser de natureza extremamente
diversa. Recorre-se a consultores quando se pretende obter um conhecimento específico
e especialista sobre um certo assunto, seja ligado ao desenvolvimento propriamente dito
do composto, seja ligado aos assuntos regulamentares associados e à melhor
abordagem/estratégia a escolher (E4, E6-E7).
“Fomos falar com especialistas que fazem parte dos grupos que estudam as questões de segurança ao nível da EMEA. Fomos também falar com várias autoridades europeias reconhecidas pela sua expertise, para procurar opiniões, e também falámos com peritos dessas autoridades” (E7)
Ao nível interno, a própria unidade de I&D pode recorrer a consultores para
assuntos relacionados com o desenvolvimento do produto, o departamento de Qualidade
pode fazê-lo no âmbito de assuntos de desenvolvimento de tecnologia farmacêutica, ou
ainda o departamento Jurídico, para assuntos de cariz regulamentar ou legal (E2-E4, E7).
Os contactos realizados com hospitais e centros clínicos relacionam-se com a
realização de ensaios no processo de desenvolvimento de um novo composto, seja ao
nível dos ensaios em voluntários saudáveis, quando não se têm internamente instalações
devidamente autorizadas para o efeito, seja ao nível dos ensaios em voluntários doentes,
em pacientes, que se encontram em ambiente hospitalar ou tem acompanhamento em
ambulatório com ligação a hospitais ou centros clínicos (E1-E4, E7).
“Geralmente contactamos com hospitais. Sejam privados, sejam públicos, estes centros têm que funcionar de acordo com a lei local, ter uma comissão de ética que se lhe aplique (nacional, local, ou privada – EUA), e a instituição autorizar. Temos um contrato com a organização, com o hospital, onde o ensaio vai decorrer.” (E2)
Os contactos com comissões de ética são feitos no âmbito da obtenção de
autorização preliminar para a realização de ensaios em voluntários humanos e consistem
na submissão dos protocolos dos ensaios a realizar. Estes contactos são da
responsabilidade do departamento de I&D, assistido pelo departamento Jurídico (E1-E2).
“A comissão de ética é uma entidade independente e multidisciplinar que avalia eticamente a investigação, que tem de a aprovar. Por exemplo, está a validar que, efectivamente, aquela investigação tem um risco aceitável para o doente. Ela avalia sempre a priori. Nós não podemos fazer qualquer tipo de investigação que envolva humanos, sem ter primeiro uma aprovação por uma comissão de ética. É uma condição sine qua non para se fazer os ensaios” (E1)
190
Os contactos com as Contract Research Organizations (CROs) são muito
diversificados, podendo haver contactos de abrangência temporal, de complexidade e de
investimentos muito diferentes. Esses contactos fazem-se mediante necessidade de
resolução de certos aspectos associados ao desenvolvimento de um novo composto, e
cabe ao departamento que iniciou estes contactos gerir a relação com as CROs e
assegurar a qualidade dos resultados (E1-E9).
“Nós, num ensaio clínico, devemos estar a tratar no mesmo tempo com 3 ou 4 CROs diferentes, em fases diferentes” (E1)
Os contactos de maior dimensão e importância no processo de desenvolvimento
de um novo medicamento envolvem as CROs globais, que fazem a gestão dos ensaios
de fase II e fase III em doentes localizados em vários países, em simultâneo. Trata-se de
prestações de serviços que podem durar 3 a 5 anos e que obrigam à monitorização
próxima dos respectivos serviços pelos colaboradores da PharmaEU, oriundos de vários
departamentos (por exemplo: I&D e Qualidade), com o principal objectivo de assegurar a
qualidade dos resultados e a obtenção dos mesmos dentro do prazo acordado com as
respectivas CROs (E1-E4, E7).
“São entidades a quem nós colocamos toda a questão da logística associada aos ensaios clínicos de medicamentos experimentais. Nós chamamos estas entidades CROs, especificamente na fase III clínica” (E4).
Os contactos com as Contract Manufacturing Organizations (CMOs) visam a
produção de matérias-primas ou de medicamentos experimentais para utilização nos
vários ensaios realizados durante o desenvolvimento do novo composto. Podem resultar
de uma decisão de não utilizar a capacidade de produção da empresa para apoiar o
processo de desenvolvimento ou de uma decisão de utilizar instalações mais adequadas
para a utilização do medicamento experimental em certos países. Estes contactos podem
preparar a produção de escala na altura em que o novo composto seja aceite para
comercialização (E1-E4, E7, E9).
Internamente, na PharmaEU, o departamento responsável pelos contactos com as
CMOs é o de Qualidade, que coordena todo o processo de auditoria da qualidade destas
entidades e o processo de transferência de tecnologia farmacêutica para a produção do
medicamento experimental ou medicamento para fins de comercialização (E3-E4, E9).
191
Os contactos com os licenciadores de um composto em desenvolvimento
contemplam todos os assuntos relacionados com o desenvolvimento e a comercialização
de um novo composto no mercado para o qual foi licenciado (E1-E4, E8, E9).
É necessário transferir todo o conhecimento necessário para uma comercialização
de sucesso, o que envolve contactos por parte de todos os departamentos envolvidos na
componente de desenvolvimento do novo composto (I&D, Qualidade, Jurídico, Marketing,
Produção) com os departamentos correspondentes no licenciador (E1-E4, E8, E9).
“Basicamente há um contrato que define as regras de jogo, que tem algumas dezenas de páginas, e depois temos equipas responsáveis por levarem a cabo nas suas empresas aquilo que foi acordado por um lado contratualmente, por outro lado nos planos de trabalho acordados e aprovados por estas equipas.” (E8)
É também necessário coordenar as acções de marketing realizadas no mercado
licenciado e nos restantes mercados, com vista à identificação e ao realce das
características distintivas do novo composto junto da comunidade científica e fazedores
de opinião, de uma forma consistente e sustentada. Neste âmbito, o departamento de
Marketing contacta com o departamento correspondente no licenciador para acertar a
estratégia de divulgação (E1, E7).
“Deve ser uma estratégia global e concertada, até porque os líderes de opinião são os mesmos e conhecidos a nível internacional” (E7)
De notar que estas acções de marketing começam ano e meio a dois anos antes
da obtenção da autorização de entrada no mercado, ou seja do início da comercialização,
pelo que acontecem em paralelo com a parte final do processo de desenvolvimento do
novo composto (E1, E7).
192
8.2.2. VANTAGENS/BOAS PRÁTICAS E DESVANTAGENS IDENTIFICADAS NO QUE
RESPEITA À ORGANIZAÇÃO DE I&D INTERNACIONAL
PharmaEU tem, como previamente referido, uma organização de I&D
internacional policêntrica, com dois pólos de I&D, um químico e outro biológico, e
coordenação local/central.
A componente biológica está localizada num país europeu, diferente do país em
que está localizada a sede e tem ligações limitadas fora da empresa, tratando-se
essencialmente de I&D local, cujo principal mercado visado é também local, estendendo-
se também ao mercado do país de origem.
A componente química está localizada na sede e baseia-se essencialmente numa
extensa rede internacional de parceiros, com interacções variadas e complexas. O
mercado visado é global, podendo ser alcançado através de uma rede própria de vendas
em determinados países e através de acordos de licenciamento noutros países (o caso
dos Estados Unidos, entre outros).
A presença deste tipo de estrutura de I&D internacional leva primeiro a observar
que se trata de duas estruturas de I&D completamente distintas, tanto ao nível da base
específica de conhecimento, como ao nível do próprio processo de I&D.
Ainda, como PharmaEU dá importância estratégica diferente aos dois tipos de
I&D, apostando com prioridade na I&D química devido aos investimentos e possibilidades
de retorno associadas, questiona-se até que ponto é eficiente manter duas estruturas
diferentes de I&D que não interagem e não criam sinergias, em vez de apostar numa só
estrutura.
Numa altura em que são necessários recursos avultados para suportar a I&D
química, a manutenção de uma estrutura de I&D biológica que não será desenvolvida nos
próximos anos pode ser desfavorável, criando um desvio das prioridades estratégicas da
PharmaEU. O facto de a empresa ter iniciado um processo de negociação com vista à
alienação da componente de I&D biológica na altura em que a presente investigação foi
realizada pode suportar a ilação anterior.
A forma como a I&D química está organizada, com uma rede internacional
alargada de parceiros, e centralizada na sede deve permitir obter uma maior eficiência e
193
controlo sobre os projectos de I&D, o que possibilita a manutenção da qualidade dos
resultados da investigação e do desenvolvimento em conformidade com os padrões
internos da PharmaEU.
O recurso a competências externas à empresa para preencher lacunas de
competências e tecnologias ao nível interno permite consolidar a base de conhecimento
específica e aprender com as formas de actuação dos respectivos parceiros. A criação de
estruturas internas que lidam com os parceiros externos de forma eficaz permite
implementar o conceito de Inovação Aberta na PharmaEU e obter, se bem coordenado,
maior rapidez e produtividade ao nível do processo de I&D farmacêutica.
Todavia, cria muita pressão sobre os responsáveis internos que coordenam as
colaborações com os parceiros internacionais, obrigando-os a desenvolver competências
de gestão das relações externas com vista a assegurar que os resultados correspondem
àquilo que foi acordado e que é desejado pela PharmaEU.
A responsabilização dos colaboradores internos pelo sucesso das parcerias
externas, parte integrante do sistema de avaliação de desempenho ao nível de
indicadores de execução e sucesso das tarefas de I&D, consolida esta pressão,
manifesta em muitos dos colaboradores entrevistados que tinham interfaces externas.
Dessa forma, a PharmaEU assegura que os colaboradores envolvidos estão motivados e
zelam pelo sucesso dos serviços subcontratados, tanto no que respeita à sua qualidade,
como no que respeita ao cumprimento dos prazos, permitindo por essa via agilizar o
projecto de desenvolvimento para chegar mais depressa ao mercado e aproveitar o
tempo de vida da patente.
A existência manifesta desta pressão sobre os colaboradores, combinada com o
crescimento da própria empresa e do número de projectos de desenvolvimento, leva a
questionar também a capacidade da empresa de lidar segundo os mesmos princípios
com um aumento das relações de parcerias externas, ou seja com o aumento da rede de
parceiros utilizados para apoiar o processo de I&D farmacêutica.
194
8.2.3. GESTÃO DE I&D NA PHARMAEU
A gestão de I&D na PharmaEU é feita de forma distinta, consoante o seu impacto
a nível interno (à empresa) ou externo (ver Figura 36).
Figura 36 – Níveis de gestão de I&D no caso PharmaEU
Quando se observa a I&D interna à PharmaEU, distinguem-se formas de gestão
diferente para a I&D química e a I&D biológica, e para as actividades dentro de cada
função relevante e entre funções relevantes13. A componente de relacionamento entre
I&D química e biológica é praticamente inexistente, excepto no que respeita a reuniões
estratégicas realizadas anualmente, pelo que não há gestão desta componente (isso é,
interunidades) (E1-E2, E7-E9).
13 De notar que a informação obtida sobre a forma de funcionamento da unidade de I&D biológica
é limitada devido ao contexto presente na altura da realização da investigação e é oriunda de duas
fontes de informação. A descrição do funcionamento da unidade de I&D biológica deve ser
considerada à luz desta limitação.
195
“Não há contacto directo da I&D química com a I&D biológica, porque se trata de campos completamente distintos, não havendo sinergia entre as duas áreas. Os grupos de investigação funcionam 100% independentemente” (E9)
“Há contacto zero entre as unidades. Tal seria perdermos tempo porque não há possibilidade de sinergias” (E2)
No que respeita à I&D externa à PharmaEU, há formas diferentes de gestão
mediante a tipologia das entidades externas envolvidas, sendo as principais categorias os
subcontratados (CROs, CMOs, consultores, hospitais, centros de investigação, entre
outros), os licenciadores e as autoridades regulamentares.
Passa-se a descrever o funcionamento da gestão de I&D da PharmaEU, a nível
interno e depois a nível externo.
Nível interno (unidades de I&D química e biológica)
Unidade de I&D química
A actividade de I&D química tem uma componente de gestão por cada
departamento/função, da responsabilidade dos directores de departamentos envolvidos
na I&D, e dos gestores intermédios responsáveis por funções associadas à I&D.
Como em qualquer empresa, os estilos de gestão são diferentes e há elementos
que são comuns, sendo que esses derivam da própria estrutura organizacional, dos
mecanismos de coordenação e da política de recursos humanos, entre outros. Estes
elementos são explicados de seguida.
Faz-se gestão por objectivos, com base no planeamento estratégico (a 3 anos no
caso de muitos departamentos, e a mais de 10 anos no caso do departamento de I&D
onde “estamos a falar de 11 a 13 anos de desenvolvimento…depende da complexidade,
como é evidente…” (E3)), no planeamento a curto e médio prazo (a 1 ano) e na
monitorização do grau de realização dos planos aprovados (E1-E3, E7-E9) recorrendo a
“indicadores de execução (executado versus planeado)” (E3).
“Tem a ver com os planos a 3 anos, planos anuais e controlos orçamentais que existem nos planos. É tudo com base em planos e controlo de execução de planos” (E9)
Há uma definição muito clara das actividades que entram na área de
responsabilidade de uma certa função, quer no plano geral, quer em planos detalhados
(E1-E4, E7-E8).
196
“Nós temos procedimentos internos escritos que definem como é que nos organizamos e quais são as nossas responsabilidades” (E2)
“Temos «silos» de competências, áreas muito especializadas…” (E7)
Directamente associados aos planos de actividade estão os orçamentos
aprovados, cuja utilização é feita com extremo cuidado, e dentro daquilo que foi previsto.
Qualquer revisão orçamental deve ser aprovada pelo Presidente do Conselho de
Administração e implica negociações com os restantes departamentos, pelo que somente
se inicia em situações excepcionais (E1-E3, E7-E8).
“Exactamente como qualquer outro projecto, mesmo na fase pré-clínica, a decisão é tomada pelo presidente do conselho de administração e é tornada no âmbito do plano estratégico, com base na informação científica e do mercado e com base nas capacidades financeiras da companhia, porque quando uma proposta é aprovada, vem com a informação relativa à I&D e com os custos associados” (E8)
O sistema de avaliação de desempenho em vigor na PharmaEU responsabiliza os
colaboradores pela realização com sucesso dos objectivos incluídos nos planos, o que
incentiva a realização dos mesmos e faz com que a resolução de problemas e conflitos
que possam aparecer durante a actividade diária seja rápida e para que não seja posta
em causa a realização dos objectivos (E2-E4, E7-E9).
Há sistemas de informação comuns a toda a empresa, que são utilizados para
monitorização de cumprimento de objectivos e para outras actividades de coordenação.
O ERP e o Sistema de Gestão Documental são dois exemplos, entre outros (E1-E3, E9).
“O ERP é comum a todo o grupo, por isso tudo que é controlo orçamental, tudo que é compra, isto é comum” (E9)
“Nós temos um sistema de gestão documental que tem toda a documentação gerada e que dá acesso controlado à mesma” (E3)
Nos vários departamentos ligados à I&D, há sistemas de informação específicos,
que permitem uma melhor gestão operacional das actividades associadas. É o caso dos
sistemas de informação existentes no departamento de I&D, entre outros, que permitem a
modelação molecular com aplicações de bioinformática ou a consulta e selecção de
bibliografia relevante para uma certa área terapêutica (E1-E2, E9).
“O departamento de I&D química tem alguns softwares específicos, alguns deles associados a alguns equipamentos específicos de investigação” (E9)
197
A política de gestão da informação concretiza-se em procedimentos específicos e
regula a utilização da informação dentro da empresa, quer a nível funcional, quer a nível
de troca da informação entre funções diferentes (E3, E9).
A implementação de uma norma específica que permite orientar as actividades
associadas à I&D e inovação favoreceu a gestão de I&D de acordo com princípios claros
e partilhados tanto dentro de cada departamento/função, como entre
departamentos/funções (E3-E4).
“…nós estamos num sistema de gestão de investigação, desenvolvimento e inovação, temos que fazer uma avaliação periódica da forma como está a funcionar, a vários níveis: apreciação global, gestão dos processos, avaliação dos resultados e melhorias, gestão de ideias, planeamento, gestão e melhoria de projectos, gestão da propriedade intelectual, auditorias, análise e comunicação interna e externa…” (E3)
A gestão interfuncional existente na PharmaEU, que regula as relações entre
departamentos/funções diferentes faz-se por via hierárquica (seguindo a linha de reporte
presente no organigrama, e dando conhecimento ao director de cada departamento
quando houver comunicação interdepartamental ordinária) e por via da coordenação nas
equipas multidisciplinares associadas à I&D (E3, E9).
“Em termos de comunicação interna, as regras são as mesmas para toda a empresa. A comunicação é hierárquica e técnica” (E9)
“…dada a repartição por diferentes departamentos, se fosse para utilizar sempre a via hierárquica, era pesado. Optou-se por uma organização transversal e multifuncional […] para que os produtos e os problemas sejam discutidos, que se discuta porque se quer alterar, porque se fez aquilo” (E9)
Quando se trata de questões que implicam uma tomada de decisão fora da área
de responsabilidade de um certo gestor intermédio ou director ou que envolvem vários
departamentos, há uma comunicação do respectivo assunto ao nível hierárquico superior
e uma tomada de decisão a este nível ou a um nível ainda superior mediante a
importância e impacto da decisão que se pretende tomar. Contudo, é habitual haver uma
discussão prévia para dar conhecimento do respectivo assunto aos respectivos
responsáveis e colaboradores envolvidos, com vista a encontrar a melhor solução e a
fluidificar o processo de decisão formal (E9).
“Há uma coordenação prévia, uma análise conjunta destes assuntos. Se for necessário tomar decisões, cada um dos responsáveis na cadeia hierárquica propõe se necessário afectar o orçamento, transferir orçamento de um departamento para outro” (E9)
198
Este último aspecto reflecte-se na forma de funcionamento das estruturas/equipas
multidepartamentais/multifuncionais permanentes. No caso da PharmaEU foram
identificadas duas estruturas/equipas deste tipo: uma ao nível da investigação, e outra ao
nível do desenvolvimento. Nestas estruturas há uma discussão prévia e análise das
implicações de uma certa decisão e somente após acordo é que se avança para a
componente de decisão formal, por via hierárquica (E3, E7, E9).
A equipa multifuncional ao nível do desenvolvimento “…permite dar uma visão global de todo o conjunto das actividades, dar a conhecer o que cada um está a fazer neste momento, o ponto da situação de cada um, de cada actividade, porque por vezes há interligações que temos com os outros e ficamos a par nesta altura…porque todos os assuntos fundamentais estão aqui analisados e portanto estamos aqui com a tal visão global e actual em todo o ponto da situação” (E3)
A equipa multifuncional ao nível do desenvolvimento “tem sido o principal fórum para gerir os projectos internamente, para ajudar os assuntos importantes a progredirem…” (E7)
Geralmente, a comunicação entre os membros destas equipas é pessoal, com
pouco apoio das ferramentas informáticas e concretiza-se em actas/minutas das
principais conclusões que seguem posteriormente por correio electrónico (E1-E4, E7-E9).
“Quando há coisas que justificam, fazemos contactos telefónicos (informais ou mais formais, as ditas “teleconferências”) e, se necessário, reuniões presenciais. Em projectos de longo prazo e de grande importância, a equipa é desafiada a fazer uma reunião presencial com os seus contrapartes uma vez por mês, pelo menos uma chamada telefónica por semana e comunicar por email sempre que for preciso (nalguns casos, várias vezes por dia)” (E2)
“Estamos com sorte […]. Se precisamos de falar, vamos ao lado e falamos pessoalmente, não precisamos de avião para ir ter uns com os outros” (E7)
Uma destas equipas permanentes (aquela que funciona ao nível do
desenvolvimento) têm, também, um outro fim: a coordenação de projectos complexos de
I&D (no caso da I&D química todos os projectos) e realização de ajustes atempados para
reduzir a duração dos projectos (e o consequente tempo até entrada no mercado dos
novos medicamentos que se pretende desenvolver). Esta coordenação e realização de
ajustes fazem-se com a ajuda do plano orientador de desenvolvimento de cada projecto
(E3, E7-E8).
“Há um documento que se chama Masterplan e que tem não sei quantas páginas. Todas as etapas / tarefas a levar a cabo estão no Masterplan…” (E8)
É através dos planos estratégicos, dos planos a curto prazo e da equipa
multifuncional acima referida que se faz a articulação de objectivos e esforços entre a
199
componente de desenvolvimento, vendas, marketing e produção. Para cada projecto de
desenvolvimento, na altura em que o plano associado (o chamado Masterplan) prevê o
contacto com vendas, marketing ou produção, os representantes das respectivas funções
são chamados para dar a sua opinião e para incluir nos seus planos de actividade, aquilo
que é necessário para o sucesso do projecto (E1-E4, E7, E8-E9). Há uma dependência
grande dos Masterplans criados para cada projecto de desenvolvimento.
“Esta interligação faz-se mais ou menos para ter uma ideia, quando se fazem os acordos de fabrico do produto no futuro e com o marketing, mas a generalidade da comunicação e coordenação é feita fundamentalmente através destas reuniões periódicas, das equipas multifuncionais, é o ponto fundamental de comunicação” (E3).
A gestão e coordenação destas equipas multidepartamentais é um desafio, uma
vez que se reúnem à volta da mesma mesa colaboradores oriundos de vários
departamentos, com linguagens diferentes e com abordagens diferentes aos assuntos
que se pretendem resolver e aos problemas que possam surgir (E8).
“O objectivo é fazer com que, de uma forma fluida, estes Masterplans se concretizem, que se vão concretizando de acordo com o que está planeado e para isto é preciso que as pessoas se entendam, que as pessoas conversem, que tomem decisões e que cumpram prazos” (E8)
Na equipa que funciona ao nível de desenvolvimento, que contém 12 participantes
permanentes que trabalham em cinco departamentos distintos, há um coordenador
formal das reuniões, que têm periodicidade mensal. Os principais instrumentos de gestão
e coordenação utilizados são as agendas de reunião e as actas associadas, que são da
responsabilidade do coordenador, e os planos de actividade dos projectos de
desenvolvimento de medicamentos que estão em curso, os chamados Masterplans. Os
participantes nessa equipa trabalham em conjunto há muitos anos (E1-E2, E4, E7-E8).
“As pessoas estão na empresa há muito tempo. Temos as mesmas pessoas, consolidámos as relações ao longo dos anos […]. Temos uma compreensão partilhada sobre onde estamos neste momento” (E7)
Na equipa que funciona ao nível de investigação, que contém 4-5 participantes
permanentes que trabalham em dois departamentos distintos, essa coordenação formal
não é considerada necessária, sendo analisados os assuntos que surgem no intervalo
das reuniões, que têm periodicidade mensal, também. Os principais instrumentos de
gestão e coordenação utilizados são os planos de actividade dos projectos de
investigação de medicamentos que estão a ser averiguados (E1, E5, E7). Esta equipa
trabalha com informação confidencial: “tentámos manter nas reuniões somente quem é
200
estritamente necessário […] para minimizar o risco de fuga de informação demasiado
cedo” (E7).
Finalmente, um último aspecto a sublinhar prende-se com a abordagem
multidisciplinar e multifuncional que PharmaEU tem quando prepara informação de
alguma complexidade para parceiros fora da empresa, ou quando recebe informação da
mesma natureza de fontes externas à empresa. Como a empresa está muito bem
estruturada em termos de descrição de funções e competências, cada responsável é
chamado para contribuir com informação que depois é integrada pelo pivô responsável
pela entrega ou para ajudar a interpretar informação recebida. O objectivo é assegurar
que aquilo que é proporcionado a terceiros ou recebido de terceiros tem qualidade, é
compreendido devidamente e é coerente (E3-E4).
“Trabalhamos, no fundo, em equipa, mas se for um assunto de síntese química, é com o homem da síntese química, se for um assunto para produzir é com a produção, a parte da qualidade, tudo que tem a ver com a qualidade, é comigo. Tudo que tem a ver com o registo, com os assuntos regulamentares, é com o departamento Jurídico. Mas comunicamos todos” (E3)
Unidade de I&D biológica
No caso da unidade de I&D biológica, foi possível identificar, com base na
informação obtida de duas fontes de informação que fazem parte do conselho de
administração da unidade estrangeira da PharmaEU, qual a abordagem de gestão e
coordenação nessa unidade. Contudo, devido à limitação de ter somente duas fontes de
informação ao nível da gestão de topo dessa unidade e que habitualmente trabalham no
país de origem, deve considerar-se somente à título de orientação.
A gestão é baseada no planeamento estratégico (a 3 anos), com concretização
nos planos de curto prazo (a 1 ano) e na monitorização do grau de realização dos planos
aprovados. Tanto os planos de actividade como os orçamentos associados à I&D
biológica são aprovados primeiro ao nível do Conselho de Administração da unidade
estrangeira e depois validados ao nível do grupo (E8-E9).
A abordagem de gestão e coordenação é hierárquica, não havendo estruturas de
organização transversais que fomentassem a colaboração interfuncional continuada,
também porque “a gama de produtos foi integralmente desenvolvida pelo departamento
de I&D” (E9).
201
A aprovação dos projectos e a reflexão estratégica sobre a I&D biológica é feita
sobretudo com base em informação do director do departamento de I&D biológica, e
menos do mercado, que é essencialmente local (E8-E9).
Contudo, o departamento de I&D biológica desenvolve a sua actividade em
sintonia com o departamento comercial e com o departamento de produção, devido à
duração dos projectos de I&D, que se situa à volta de 4-5 anos (E9).
“Há um departamento que faz investigação, algumas coisas têm um efeito muito mais aplicado, mais a curto prazo, sobre o departamento industrial que tem que produzir […]. Existe uma auscultação ao departamento comercial para saber se precisam daquele produto, se tem interesse, como é que se faz…” (E9)
Existem sistemas de informação comuns a toda a empresa, que são utilizados
para monitorização de cumprimento de objectivos e para outras actividades de
coordenação, como é o caso do ERP do grupo (E9).
Nível externo (unidade de I&D química)
Gestão do relacionamento com subcontratados
Os vários tipos de subcontratados que colaboram com a PharmaEU são geridos
de forma diferente, mediante a sua importância e o impacto potencial que os seus
serviços tem na duração e na qualidade de um projecto específico (E1-E3, E5).
Na componente de investigação, os contactos são poucos, essencialmente com
os agentes de patentes/propriedade intelectual e com CROs de pequena dimensão
(indivíduos e laboratórios, entre outros).
No caso dos agentes de patentes, a gestão é feita através de reuniões periódicas
com os mesmos sobre os produtos que se pretende proteger, sendo que a decisão é
tomada mediante cada situação concreta. Não há uma estratégia específica, as decisões
dependem da natureza de cada produto e das suas possibilidades de protecção eficaz
(E5, E8).
No caso das CROs de pequena dimensão, opta-se por dividir as análises entre
várias CROs com vista a se proteger o mais possível contra fugas de informação antes
da patente, e a coordenação é feita mediante planos de trabalhos acordados e incluídos
nos contratos com estes subcontratados, protegidos, naturalmente, por contratos de
confidencialidade muito rigorosos (E1, E4, E9).
202
Na componente de desenvolvimento, o leque de subcontratados alarga, os
investimentos envolvidos sobem e também aumentam a pressão e o impacto que os
resultados das respectivas subcontratações têm na duração e na qualidade dos projectos
de desenvolvimento. Por esta razão, a gestão destes relacionamentos é mais apertada e
mais complexa (E1-E2, E4).
“É muito complicado. E obriga a uma enorme atenção permanente, e um foco permanente nos objectivos. Porque seria muito fácil deixar tudo implodir. Bastava deixar de ser atento um mês ou dois para tudo implodir…” (E2)
Ao nível interno, o responsável pela gestão do relacionamento com o
subcontratado é o departamento que iniciou a contratação, e faz-se com base nos
acordos assinados, nos planos de trabalho acordados e nos respectivos prazos, e
protegidos por acordos de confidencialidade (E2-E4), sabendo que “o mais importante é
evitar que não se saiba o que acontece do outro lado, porque tem que se conhecer as
pessoas com quem estamos a trabalhar, conhecer a forma como elas estão a tratar do
nosso projecto…” (E4).
Quando há envolvimento interno de mais do que um departamento, com vista a
coordenar e acordar de forma consistente a abordagem de gestão, utiliza-se a estrutura
de coordenação tipo matriz mencionada no sub-capítulo anterior, em que são
representados todos os departamentos e funções relevantes para o sucesso de um
projecto de desenvolvimento, e que pretende reduzir as dificuldades de coordenação
interna (E4, E7, E9).
No caso das CROs responsáveis pela realização dos ensaios de fase II e III, que
podem durar até três anos, procura-se evitar resultados sem a devida qualidade e atrasos
nomeadamente devido ao recrutamento deficitário de doentes (E1-E2, E9).
À excepção dos planos de actividade e dos prazos delineados nos respectivos
contratos, o principal instrumento de gestão e monitorização dos ensaios é a realização
de auditorias nos hospitais e centros clínicos em que são realizados os mesmos. “Metade
do departamento de I&D trabalha fora da empresa, perto dos locais em que se realizam
os ensaios” (E2), a dedicar-se à verificação da correcção dos ensaios em curso (E1-E2).
Com base na informação obtida, os gestores comparam o que aconteceu na
realidade com aquilo que consta do plano de actividade inicial, e caso haja desvios
203
definem as medidas correctivas que se podem tomar “incluir mais um país, como cenário
de contingência, ou ir visitar centros que estão a recrutar mal para os motivar…” (E2).
“Gerimos sempre muito de perto tudo aquilo que se estava a passar e quando víamos que algo estava a correr mal, nós actuávamos logo…” (E1)
O relacionamento com este tipo de CROs gere-se mediante as especificidades de
cada uma, mantendo um leque estreito de subcontratados para permitir esta gestão
personalizada. As equipas são, também, adaptadas a cada subcontratado e procura-se
compreender como é que reagem estas entidades externas nas várias situações que
ocorrem nos ensaios e averiguar o grau de confiança e de controlo que se deve aplicar a
cada um (E1-E3).
Contudo, a estratégia passa por nunca ter só um fornecedor, “até porque são
relações de médio prazo, 3-4 anos, e podem ser arriscadas…temos que ter sempre uma
salvaguarda, não estarmos a depender só de um” (E2) e em certas situações prefere-se
investir um pouco mais e ter uma certa duplicação da capacidade “porque se há um azar,
temos a possibilidade de fazer isto noutro lado” (E1).
No que respeita à pressão colocada sobre cada subcontratado e ao controlo da
execução de certas análises ou ensaios, há uma abordagem diferenciada mediante o
impacto ou a importância que a obtenção dos respectivos resultados têm na continuação
do projecto, e “normalmente temos isto perfeitamente identificado internamente, e a
atenção é para aqueles que são críticos. O que é colateral vai-se fazendo” (E2).
Se se tratar de resultados que não condicionam a realização de actividades
subsequentes, e que não geram um atraso na data final estimada de conclusão do
projecto (ou seja, data de entrada no mercado), a pressão é mais reduzida, “não vale a
pena aumentar o investimento apenas para adiantarmos a conclusão” (E2).
Se se tratar de resultados críticos que podem gerar atrasos, o controlo é muito
apertado e procura-se encontrar soluções que agilizem a obtenção dos resultados:
“muitas das vezes fazemos nós o que pagamos para ser feito por outrem. Outras vezes
recorremos a outras CROs que são especialistas na área em que a outra CRO é muito
fraca, para melhorar a qualidade do output da CRO naquela área específica” (E2).
No caso das CMOs responsáveis seja pelo fornecimento de matérias-primas, seja
pela produção do medicamento experimental para fins de ensaios ou final para fins de
204
comercialização, a gestão do relacionamento com estes fornecedores é muito próxima, e
pode envolver transferência de tecnologia farmacêutica e auditorias de instalações e de
produção, que recaem na responsabilidade do departamento de Qualidade da PharmaEU
(E3-E4, E7).
“Esta é uma das razões para a qual serve uma auditoria. Para ir lá ver como é que as coisas efectivamente funcionam e com que tipo de pessoas estamos a falar” (E4)
O respeito das normas de fabrico e da qualidade dos produtos intermédios ou
finais é encarada não somente como uma exigência legal, mas também como uma
responsabilidade, pelo que há um contacto presencial nas instalações das CMOs e só
raramente subcontratação dos serviços de auditoria, por exemplo (E3-E4, E7).
“A ideia é: a tecnologia é transferida para a CMO. Esta CMO fica com o know-how que lhe permite produzir e analisar aquele produto. Como é evidente, todo este know-how está abrangido por contratos de confidencialidade, e todo este know-how é nosso. A CMO produz, analisa, e é paga para fazer este trabalho” (E4)
A gestão corrente do relacionamento com as CMOs faz-se através de pontos da
situação e de outros contactos, sempre que necessários, e sempre no âmbito do plano de
transferência de tecnologia, de auditoria e de fabrico, que foi acordado entre as partes
(E3-E4):
“Nós no que diz respeito às CMO, porque temos um projecto ongoing, porque os prazos estão mais apertados, porque uns estão aqui outros lá, nós optámos por ter call-conferences quinzenais para discutir o ponto de situação do projecto” (E4)
“Há uma relação quase diária com eles. Há uma conferência cada quinze dias e emails todos os dias“ (E3)
Um outro aspecto interessante quando se trata de relacionamento com as CMOs
é a resposta flexível que a PharmaEU tem internamente para facilitar a gestão dos
projectos de transferência de tecnologia ou de fabrico. Dentro da PharmaEU cria-se uma
rede de responsáveis que permite recolher todos os contributos internos necessários
para o bom funcionamento do projecto, sendo que os pivôs responsáveis pelo contacto
directo com as CMOs tratam da integração dos respectivos contributos e da comunicação
clara com estes parceiros. Geralmente a coordenação desta rede é facilitada através da
equipa multifuncional associada ao desenvolvimento de medicamentos (E3-E4, E7).
“No caso da transferência de tecnologia, há uma série de órgãos envolvidos, há uma série de coisas que têm que ser trabalhadas. Ou seja, há do lado exterior da companhia, uma box que vai receber toda a informação e esta tem uma cara que é esta que se nos apresenta. Geralmente é um Project Manager (PM), que é com quem
205
nós lidamos. Mas depois internamente o projecto acaba por se dividir em diferentes braços. Porque os know-hows estão distribuídos e é necessário integrar tudo aquilo e é a mesma coisa que o PM faz do lado do subcontratado” (E4)
Tal como no caso das CROs de grande dimensão, a estratégia da PharmaEU é
diversificar e ter mais que um fornecedor, com vista a assegurar que não há dependência
excessiva de uma CMO. Mas o leque é, também, mantido estreito, até por razões de
transferência de tecnologia e manutenção de conhecimento especializado dentro da
empresa (E3).
“É habitual neste caso procurar fornecedores alternativos […], temos que ter sempre uma salvaguarda, não estarmos a depender só de um, pode acontecer alguma coisa ou eles resolvem aumentar os preços exageradamente…temos que ter alternativas!” (E3)
Gestão do relacionamento com licenciadores
O relacionamento com os licenciadores é visto como uma parceria com troca livre
de informação entre PharmaEU e os mesmos, mediante as linhas orientadoras definidas
no contrato de licenciamento (E1, E3-E4, E7, E9).
“…toda a informação é partilhada em conformidade com o acordo que existe entre as empresas…” (E1)
”…pode ser qualquer informação relacionada com o produto licenciado, de qualquer natureza…” (E3)
Há uma componente de gestão técnica, orientada para o esclarecimento de
assuntos relacionados com os produtos licenciados, para transferência de conhecimento
e de tecnologia, caso aplicável, e para a coordenação global das acções de marketing,
registo dos produtos e ensaios a realizar, com vista a apresentar uma imagem
consistente dos produtos licenciados ao mercado, e à comunidade científica e médica
que averigua as suas potencialidades e pontos fracos (E7, E9).
“…é necessário coordenar o que o licenciador faz num outro país…há aspectos tais como comunicação, congressos, líderes de opinião…não se podem separar as nossas abordagens das do licenciador…a abordagem tem que ser globalmente alinhada” (E7)
A este nível, tanto a PharmaEU como os licenciadores, organizam-se
internamente e criam pontos de contacto com responsabilidades claramente definidas
nos vários departamentos para possibilitar a partilha fluida de informação entre as duas
entidades (E2, E7, E8-E9):
206
“…basicamente há um contrato que define as regras do jogo, que tem algumas dezenas de páginas, e depois temos equipas responsáveis por levarem a cabo, nas suas empresas, aquilo que foi acordado, por um lado, contratualmente e, por outro lado, nos planos de trabalho acordados e aprovados por estas equipas.” (E9)
Há, também, uma componente de gestão da aliança/parceria que envolve os
pormenores contratuais e as futuras colaborações, e em que se assegura a fluidez de
todo o processo de gestão do licenciamento, com vista a maximizar os benefícios para
ambas as partes (E7-E8).
“…temos uma parceria e há tarefas específicas que devem acontecer em momentos predefinidos, mas mais que isto há a necessidade de estarmos sempre em contacto e comunicar regularmente…temos, por exemplo, reuniões periódicas especificadas no contrato e também momentos de reflexão estratégica sobre a evolução do projecto…” (E7)
Tal como no caso da relação com os subcontratados, há uma adaptação da rede
interna às necessidades dos licenciadores, baseada na definição clara das
responsabilidades (E2, E4, E7):
“Todos os elementos da equipa da PharmaEU acabam por ser pontes com o licenciador, cada qual na sua área de responsabilidade e competência” (E4)
Gestão do relacionamento com autoridades regulamentares
As autoridades regulamentares são vistas como entidades externas chave, e todo
o processo de desenvolvimento está orientado para responder com precisão aos
requisitos regulamentares, uma vez que a rapidez do processo depende da obtenção das
autorizações necessárias por parte das autoridades (E1, E4, E7, E9).
“…nós seguimos à risca aquilo que estava pedido pelas autoridades regulamentares…” (E1)
A existência de experiências de colaboração com autoridades de um certo país
influencia a escolha das áreas de intervenção dos ensaios clínicos, entre outros, porque
se tem conhecimento sobre o tipo de relacionamento e há confiança e conhecimento
prévio de ambas as partes (E2, E4).
O relacionamento com as diversas autoridades regulamentares faz-se sempre
com máximo rigor e qualidade, e de modo a se adaptar às especificidades de
procedimentos e de abordagem/cultura de cada autoridade, apesar de haver algumas
207
semelhanças naquilo que é pedido para a obtenção de autorizações de ensaios ou
pedidos de registo para entrada no mercado (E1, E4, E6).
“As próprias autoridades são diferentes, vão-se alterando na sua forma estrutural, nas pessoas. Depende muito de quem é o interlocutor do outro lado…” (E6)
E este relacionamento é encarado, também, como uma fonte de aprendizagem,
através dos pedidos formais de opinião que podem ser submetidos junto das diversas
autoridades, e que foram colocados sempre com a devida antecedência e sem coincidir
com pedidos de autorização sobre o respectivo assunto (E2, E7).
“…aprendemos que o processo regulamentar pode também proporcionar muita informação para o processo de desenvolvimento, porque é possível consultar as autoridades sobre diversas matérias. Porque apesar de haver linhas de orientação, há também muitas áreas cinzentas sobre como as interpretar. E a possibilidade de pedir esclarecimentos sobre certos assuntos existe, e nós utilizámo-la várias vezes, com sucesso…” (E7)
8.2.4. VANTAGENS/BOAS PRÁTICAS E DESVANTAGENS IDENTIFICADAS NO QUE
RESPEITA À GESTÃO DE I&D
A gestão de I&D presente na PharmaEU adapta-se à estrutura policêntrica
identificada. A gestão das duas unidades de I&D é feita localmente, a nível de subsidiária,
com as devidas interacções com os departamentos relevantes para o sucesso da I&D.
Como já foi referido, não há interacção entre as duas unidades da PharmaEU no âmbito
de I&D devido ao enfoque diferente de cada tipo de investigação.
No caso da I&D química, há formas de interacção e gestão da interacção mais
complexas, tanto interna como externamente, enquanto no caso da I&D biológica as
interacções internas são mais simples e os contactos externos praticamente inexistentes.
À gestão da I&D, quer química, quer biológica, sobrepõe-se a gestão estratégica
do grupo que é centralizada no país de origem, sendo o presidente de conselho de
administração que toma as decisões finais e acerta as perspectivas estratégicas de
acordo com as principais prioridades da PharmaEU, uma das quais é a I&D química.
Os principais instrumentos de gestão são os planos estratégicos e a curto prazo, e
a monitorização de execução dos respectivos planos e dos orçamentos associados.
Nesse sentido, há alguma dificuldade em alterar planos e orçamentos já aprovados,
numa tentativa de manter previsível a actividade do grupo. Uma abordagem eficiente do
208
ponto de vista da gestão orçamental/financeira, mas que pode criar dificuldades se for
necessário tomar decisões rápidas para agilizar determinados projectos de I&D,
particularmente de I&D química devido ao ambiente extremamente competitivo.
Especificamente no caso da gestão da I&D química, há vantagens na gestão
separada da investigação e do desenvolvimento dos vários compostos, devido a razões
de eficiência e de confidencialidade. Na componente de investigação, o acesso à
informação associada é restrito ao departamento de I&D e à Área de Negócios, jurídica e
regulamentar, até depois da submissão da patente para os novos compostos. Na
componente de desenvolvimento, também devido à complexidade da gestão dos
projectos, estão envolvidos muitos departamentos e a abordagem é claramente
multidisciplinar.
Esta abordagem multidisciplinar traz, por um lado, vantagens, porque permite
integrar contributos muito diversos e alcançar um nível de compreensão mais elevado
sobre os assuntos que estão a ser analisados. Por outro lado, traz algumas dificuldades
ao nível da eficiência do processo de análise e pode levar a discussões acesas sobre
certos assuntos mais polémicos. A alternância da estrutura hierárquica, vista como o
meio formal para a tomada de decisão, com a estrutura multifuncional tipo matriz, vista
como fórum de coordenação e debate, permite gerir a multidisciplinaridade de uma forma
mais eficiente.
Esta abordagem de gestão baseada na multidisciplinaridade e a cooperação entre
os vários departamentos associados à I&D química permite gerir o relacionamento com
as entidades externas adaptando a interface à especificidade de cada um, através de
uma flexibilidade organizacional inesperada numa empresa hierárquica.
A rede interna de responsáveis adapta-se, assim, para responder e acompanhar o
relacionamento com as entidades externas, sendo facilitada pela definição clara de
responsabilidades na PharmaEU. Permite, também, fazer uma gestão personalizada do
relacionamento com as diversas entidades externas mediante a posição de ascendência
ou descendência relativamente às mesmas, ou mediante o impacto que estas entidades
podem ter no sucesso e na duração dos projectos de desenvolvimento em questão, o que
constitui uma clara vantagem desta forma de gestão.
Na PharmaEU, a articulação entre a I&D e restantes funções relevantes realiza-se
prioritariamente através dos planos de desenvolvimento dos vários medicamentos, que
209
indicam os momentos de contacto com o marketing, a produção, entre outros. Isto pode
representar uma vantagem, se considerar que há um planeamento prévio das actividades
que devem participar no desenvolvimento de um projecto e um momento bem definido
em que estas actividades devem ocorrer. Mas pode representar também uma
desvantagem, no sentido que um plano representa essencialmente uma ferramenta de
orientação, que não deve ser vista como algo rígido, e que no caso dos projectos de
desenvolvimento de medicamentos refere-se a intervalos de 5 a 10 anos. Questiona-se
até que ponto é possível prever o desenvolvimento num prazo tão alargado com base na
informação que se tem sobre o desenvolvimento de projectos semelhantes. As condições
do mercado mudam, e pode-se ignorar uma alteração que seja relevante para o
desenvolvimento do projecto, quer por aumentar o prazo de desenvolvimento, quer por
ignorar possíveis alternativas que o poderiam ter encurtado.
PharmaEU tem um número reduzido de parceiros subcontratados e foi manifesta
a intenção de diversificar os parceiros existentes para ter alternativas viáveis, mas manter
o leque estreito, o que pode ser uma vantagem. Como um dos objectivos é conhecer
muito bem os parceiros e monitorizar/controlar os resultados obtidos de uma
subcontratação, e, em simultâneo, ter um número limitado de parceiros, um dos aspectos
críticos nos próximos tempos, particularmente no contexto do crescimento acentuado da
empresa, será a criação de um portfolio de parceiros preferenciais que possam agilizar o
processo de I&D e reduzir o gasto de tempo no estabelecimento de contactos.
210
8.3. ANÁLISE COMPARATIVA DOS RESULTADOS OBTIDOS RELATIVAMENTE AO
MODELO PROPOSTO PARA ORGANIZAÇÃO DE I&D INTERNACIONAL
Depois de relatado o caso de estudo, nesta secção comparam-se os resultados
obtidos na componente empírica com o modelo proposto para organização de I&D
internacional.
A comparação foi realizada de acordo com duas perspectivas diferentes e
complementares.
A primeira perspectiva procura analisar e explicar a importância dada a cada
variável incluída no modelo proposto para a organização de I&D internacional versus o
modelo empírico, utilizando-se para este efeito o número de fontes de informação em que
cada variável foi considerada.
De notar que, no caso do modelo proposto, se utilizam como “fontes de
informação” os estudos científicos considerados, que correspondem aos 10 modelos de
organização de I&D internacional. No caso do modelo empírico, utilizam-se as fontes de
informação recolhidas, designadamente colaboradores entrevistados, documentos de
acompanhamento da investigação, documentos de arquivo e artigos de jornal.
Considerou-se, ao fazer esta escolha, que havia uma base de comparação comum, que
pudesse ajudar a identificar as variáveis consideradas importantes, por um lado, na
literatura directamente relevante para a organização de I&D internacional e, por outro
lado, no estudo empírico realizado.
A segunda perspectiva procura analisar e explicar as diferenças entre o modelo
proposto para a organização de I&D internacional na indústria farmacêutica e o modelo
empírico, ao nível das novas variáveis que foram identificadas no estudo empírico, das
variáveis que foram confirmadas no estudo empírico e das variáveis que não foram
confirmadas nesse estudo.
De notar que nesse caso, a comparação não recai sobre a importância de cada
variável, mas sobre a sua (in)existência no modelo empírico de organização de I&D
internacional na indústria farmacêutica e sobre a razão subjacente a esta (in)existência.
211
8.3.1. ANÁLISE COMPARATIVA COM BASE NA IMPORTÂNCIA DADA ÀS VARIÁVEIS
CONTEMPLADAS NO MODELO CONCEPTUAL E EMPÍRICO
Para conseguir analisar e explicar a importância dada a cada variável incluída no
modelo holístico de organização de I&D internacional versus o modelo empírico, o
primeiro passo foi voltar ao modelo holístico e procurar compreender qual é que era a
importância dada a cada variável, a cada um dos três níveis de análise considerados.
ANÁLISE E EXPLICAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DADA ÀS VARIÁVEIS CONTEMPLADAS NO
MODELO CONCEPTUAL
Como descrito no capítulo 3, secção 3.8, as variáveis incluídas no modelo
holístico quer foram utilizadas nos dez modelos de I&D internacional contemplados, quer
foram sugeridas no âmbito da presente investigação para reflectir a forma actual de fazer
inovação, designadamente a utilização de fontes externas para dinamizar o processo de
inovação e a protecção e valorização da propriedade intelectual (isto é, a inovação
aberta).
Começa-se a análise com as variáveis de nível 3 e apresenta-se, na Tabela 34,
uma síntese das variáveis consideradas no modelo holístico e do número de fontes de
informação teóricas que fizeram referência a cada variável (ver no Anexo 11) a
informação completa).
De acordo com essa síntese, há variáveis que têm maior importância, se
consideramos o número de estudos científicos que as incluíram nos respectivos modelos
de organização de I&D internacional.
Assim, 10 dos 10 estudos considerados referiram a variável Amnt_Estr – Aumento
no estrangeiro, o que reflecte a importância dada à I&D desenvolvida no estrangeiro para
acrescentar valor para a empresa, um papel mais activo do que a mera adaptação da I&D
desenvolvida no país de origem para comercialização no mercado local.
Em segundo lugar aparece uma variável relacionada à anterior, mencionada por 8
dos 10 estudos considerados, Des_Estr – Desenvolvimento no Estrangeiro, que reforça a
participação da componente de I&D localizada no estrangeiro no processo de I&D para a
obtenção de tecnologias ou produtos para o mercado local, internacional ou global.
212
Tabela 34 – Síntese das variáveis consideradas no modelo conceptual proposto, com indicação do número de fontes de informação por cada variável de nível 3
Variáveis
Nível 1 Nível 2 Nível 3
Modelos de organização de I&D internacional que
consideram estas variáveis
Incluídas no modelo para a indústria farmacêutica
Expl_Estr - Exploração no estrangeiro
4 Sim
Amnt_Orig - Aumento no país de origem 3 Sim
OBJ_TCN - Objectivo da actividade tecnológica
Amnt_Estr - Aumento no estrangeiro 10 Sim
Des_Orig - Desenvolvimento no país de origem 2 Sim
CHV_TCN - Desenvolvimento da tecnologia chave Des_Estr - Desenvolvimento no
estrangeiro 8 Sim
Lid - Liderança estratégica 1 Sim
Sens - Detector 1 Sim
Part - Participante 1 Sim
PPL_TCN - Papel das unidades de I&D
Impl - Implementador 1 Sim
Vnd_Lic - Licenciamento tecnológico (venda de licenças)
1 Sim
Cmpr_Lic - Licenciamento tecnológico (compra de licenças)
0 Sim
1. TCN - Tecnologia (desenvolvimento,
exploração e protecção)
LIC_TCN - Protecção e licenciamento tecnológico
Patnt - Patentes e marcas 0 Sim
2. Recursos Limitações dos principais
recursos científico-tecnológicos Limitações no país de origem 1 Não
Crd_Cntr - Coordenação central 3 Sim
Coordenação local 5 Não
3. RD – Ligações (redes) internas e
externas
RDi – Ligações (redes) internas
Crd_Glob - Coordenação global 5 Sim
213
Variáveis
Nível 1 Nível 2 Nível 3
Modelos de organização de I&D internacional que
consideram estas variáveis
Incluídas no modelo para a indústria farmacêutica
GE_Cntr - Gestão estratégica central 2 Sim
Gestão estratégica local 5 Não
GE_Glob - Gestão estratégica global 6 Sim
Fin_Cntr - Financiamento central 0 Sim
Financiamento local 1 Não
Fin_Glob - Financiamento global 1 Sim
Coop - Cooperação 1 Sim
Competição 1 Não
Artic - Articulação I&D e marketing 1 Sim
Parc_Int - Parceiros Internos para desenvolvimento 1 Sim
Parc_Ext_Orig - Parceiros externos para desenvolvimento, no país de
origem 1 Sim
RDe – Ligações (redes) externas Parc_Ext_Estr - Parceiros externos
para desenvolvimento, no estrangeiro
1 Sim
Mercado local 4 Não VIS_MCD - Mercado visado
Mcd_Glob - Mercado global 6 Sim
Reg_Loc - Regulamentação local 0 Sim 4. MCD - Mercado
REG_MCD - Regulamentação Reg_Glob - Regulamentação internacional / global
0 Sim
214
Por fim, e em terceiro lugar, com 6 dos 10 estudos considerados, surgem duas
variáveis. A variável associada às redes internas, GE_Glob – Gestão estratégica global,
reflecte a importância dada à participação das subsidiárias junto da sede, numa relação
de parceria, no desenvolvimento da estratégia da empresa e na sua implementação nas
várias unidades, no país de origem e na sede. A variável associada ao mercado visado,
Mcd_Glob – Mercado global, é um reflexo da importância dada ao mercado numa
perspectiva global, integrada, em que os produtos e/ou as tecnologias visam um mercado
mundial, muito abrangente, e, também, da importância dada à estratégia global.
Em suma, as variáveis de nível 3 mais utilizadas nos estudos teóricos
considerados encontram-se em duas categorias associadas ao desenvolvimento
tecnológico, numa categoria associada às redes internas e numa categoria associada ao
mercado visado para os resultados da I&D.
Tabela 35 – Síntese das variáveis consideradas no modelo conceptual proposto, com indicação do número de fontes de informação por cada variável de nível 2
Variáveis
Nível 1 Nível 2
Modelos de organização de I&D internacional que consideram estas
variáveis
Incluídas no modelo para a indústria farmacêutica
OBJ_TCN - Objectivo da actividade tecnológica
10 Sim
CHV_TCN - Desenvolvimento da tecnologia chave
8 Sim
PPL_TCN - Papel das unidades de I&D
1 Sim
1. TCN - Tecnologia (desenvolvimento,
exploração e protecção)
LIC_TCN - Protecção e licenciamento tecnológico 1 Sim
2. Recursos Limitações dos principais
recursos científico-tecnológicos
1 Não
RDi – Ligações (redes) internas 8 Sim 3. RD – Ligações
(redes) internas e externas RDe – Ligações (redes)
externas 1 Sim
VIS_MCD - Mercado visado 6 Sim 4. MCD - Mercado
REG_MCD - Regulamentação
- Sim
215
Uma análise das variáveis de nível 2, efectuada com base na síntese
apresentada na Tabela 35, revela que nos modelos teóricos foi dada maior importância a
OBJ_TCN – Objectivo da actividade tecnológica, considerada por 10 dos 10 modelos. Ou
seja, os respectivos autores consideraram como mais importantes para a organização de
I&D internacional a orientação da actividade tecnológica para a exploração ou aumento.
Seguem-se, no segundo lugar, duas variáveis incluídas em 8 dos 10 modelos:
CHV_TCN – Desenvolvimento da tecnologia chave e RDi – Ligações (redes) internas.
A primeira variável reforça a importância atribuída à localização do
desenvolvimento tecnológico (no país de origem versus no estrangeiro) e complementa a
variável OBJ_TCN – Objectivo da actividade tecnológica.
A segunda variável reflecte o enfoque nas questões de redes internas, de
coordenação, gestão estratégica, financiamento, entre outros, de grande importância
para o funcionamento interno das empresas, vistas ao nível das várias unidades
internacionais relevantes para a actividade de I&D.
Por fim, e em terceiro lugar, 6 dos 10 modelos consideraram importante a variável
VIS_MCD – Mercado visado, o que significa que a forma de organização de I&D
internacional depende dos mercados em que se procuram comercializar os resultados da
actividade de I&D.
Tabela 36 – Síntese das variáveis consideradas no modelo conceptual proposto, com indicação do número de fontes de informação por cada variável de nível 1
Variáveis
Nível 1
Modelos de organização de I&D internacional que consideram
estas variáveis
Incluídas no modelo para a indústria farmacêutica
1. TCN - Tecnologia (desenvolvimento, exploração e protecção) 10 Sim
2. Recursos 1 Não
3. RD – Ligações (redes) internas e externas 8 Sim
4. MCD - Mercado 6 Sim
A análise das variáveis de nível 1 acrescenta relativamente pouco à análise feita
às variáveis de nível 2. Tal como se pode constatar na Tabela 36, os modelos de I&D
internacional consideraram relevante, em primeiro lugar, a categoria TCN – Tecnologia
(desenvolvimento, exploração e protecção), em segundo lugar a categoria RD – Ligações
216
(redes) internas e externas e por fim a categoria MCD – Mercado. Ou seja, todas as
categorias à excepção da categoria Recursos são consideradas importantes, com
preferência para as variáveis associadas à tecnologia.
ANÁLISE E EXPLICAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DADA ÀS VARIÁVEIS CONTEMPLADAS NO
MODELO CONCEPTUAL E NO MODELO EMPÍRICO
Se se comparar os resultados da análise do modelo conceptual com aquilo que foi
observado no estudo empírico, resultam diferenças significativas no que respeita às
variáveis que foram consideradas importantes.
A análise e explicação destas diferenças fazem-se com base na informação
apresentada nos Anexos 13 a 15, separadamente por cada categoria de variáveis.
Começa-se por uma análise comparativa das variáveis de nível 1, seguida de uma
análise separada das variáveis de nível 2 e 3 por cada categoria do modelo.
Realça-se que, para assegurar uma base de comparação entre a componente
conceptual (total de 10 fontes de informação/modelos de organização de I&D
internacional) e a componente empírica (total de 15 fontes de informação consideradas
relevantes para o modelo), fez-se uma transformação do número de fontes de informação
em número relativo de fontes de informação (isto é relativo ao número total de fontes de
informação), tal como ilustrado nos respectivos anexos. É relativamente a este número
relativo de fontes de informação que se realiza a análise e explicação das diferenças em
termos de importância atribuída às variáveis do modelo de organização de I&D
internacional.
A comparação das variáveis de nível 1, apresentada graficamente na Figura 37,
não ilustra diferenças marcantes a este nível de análise. Na categoria MCD – Mercado no
estudo empírico foi dada mais importância a esta categoria (mais 20%) enquanto nas
restantes três categorias a diferença é igual ou inferior a 10%.
217
1. TCN 2. Recursos 3. RD 4. MCD
Frequência relativa
(modelo conceptual)1,00 0,10 0,80 0,60
Frequência relativa
(modelo empírico)0,93 0,20 0,93 0,80
-
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
Figura 37 – Representação gráfica da importância relativa das variáveis de nível 1 no modelo conceptual e no modelo empírico
A comparação das variáveis de nível 2 e 3, como anteriormente mencionado, é
feita por cada categoria (isto é, por cada variável de nível 1).
CATEGORIA TCN - TECNOLOGIA
A representação gráfica realizada na Figura 38 realça as principais diferenças
entre o estudo conceptual e empírico, ao nível 2 de análise. Enquanto no modelo
conceptual se enfatizam as questões associadas com o objectivo da actividade
tecnológica (100% dos estudos) e a localização da tecnologia chave (80% dos estudos),
no estudo empírico estas variáveis não têm tanta importância (40% e, respectivamente,
47% das fontes de informação), o principal enfoque sendo nas questões de protecção e
valorização da propriedade intelectual (73% das fontes de informação).
Esta diferença pode ser explicada pela principal insuficiência da literatura sobre a
organização de I&D internacional, já mencionada na componente de revisão da literatura:
falta de enfoque nas questões associadas à inovação aberta, neste caso particular nas
questões de protecção e valorização da tecnologia desenvolvida pela empresa. Tal como
se pode observar na respectiva figura, o enfoque prioritário nas questões de protecção e
valorização da propriedade intelectual não implica descurar as questões consideradas
importantes pelo modelo conceptual, mas atribui-lhes, comparativamente, uma
importância mais reduzida.
218
OBJ_TCN CHV_TCN PPL_TCN LIC_TCN
Frequência relativa
(modelo conceptual)1,00 0,80 0,10 0,10
Frequência relativa
(modelo empírico)0,40 0,47 - 0,73
-
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
Figura 38 – Representação gráfica da importância relativa das variáveis de nível 2 no modelo conceptual e no modelo empírico: TCN - Tecnologia
De realçar, também, que as questões associadas ao papel que cada unidade de
I&D pode desempenhar em projectos de desenvolvimento tecnológico têm pouca
importância tanto no modelo conceptual como no modelo empírico (onde não foram
identificadas). Este facto deve-se à natureza específica do caso estudado, em que esta
questão não se coloca devido à inexistência de projectos conjuntos entre as unidades de
I&D e não pode ser vista como uma potencial confirmação da pouca importância que
estas questões possam ter na organização de I&D internacional.
Na Figura 39 podem ser observadas as principais diferenças entre o estudo
conceptual e empírico, ao nível 3 de análise.
Nesse nível de análise, repara-se que o modelo conceptual dá mais ênfase a
Amnt – Aumento no estrangeiro (100% das fontes de informação) e Des_Estr –
Desenvolvimento no estrangeiro (80% das fontes de informação), reforçando o que foi
mencionado no nível 2 de análise e considerando como importantes as variáveis
associadas a actividades de I&D realizadas no estrangeiro com vista ao desenvolvimento
tecnológico em vez da adaptação tecnológica.
219
-
0,20
0,40
0,60
0,80
1,00
1,20
Frequência relativa (modelo conceptual) Frequência relativa (modelo empírico)
Figura 39 – Representação gráfica da importância relativa das variáveis de nível 3 no modelo conceptual e no modelo empírico: TCN - Tecnologia
A situação altera-se no modelo empírico, em que as principais variáveis são
associadas à protecção e valorização da propriedade intelectual: Vnd_Lic – Venda de
licenças (100% das fontes de informação) e Patnt – Patentes e marcas (60% das fontes
de informação), coincidente com a análise feita ao nível 2.
Reduz-se a importância dada a Des_Estr – Desenvolvimento no estrangeiro (47%
das fontes de informação) e dá-se maior importância às actividades associadas ao
aumento no país de origem (Amnt_Orig – Aumento no país de origem, com 40% das
fontes de informação). Trata-se de uma abordagem mais equilibrada, em que se
complementam as questões de localização do desenvolvimento no país de origem (a
variável Expl_Orig – Exploração no estrangeiro está presente com 27% das fontes de
informação) com o desenvolvimento realizado no estrangeiro.
Esta ocorrência pode ser explicada pela organização particular de I&D
internacional da PharmaEU e pela própria natureza da indústria farmacêutica, em que as
fontes externas para I&D química desempenham um papel essencial na obtenção de
medicamentos que possam ser comercializados rapidamente e com segurança para os
pacientes, no prazo de vida da patente.
220
As questões associadas à protecção e valorização da propriedade intelectual
também se prendem com a natureza específica da indústria farmacêutica, em que estas
representam um factor importante de competitividade e em que há uma gestão cuidadosa
do portfolio de patentes e de medicamentos novos em desenvolvimento (alguns
propriedade de quem os desenvolve, alguns desenvolvidos com base em compra de
licenças de outras empresas farmacêuticas). Na óptica da investigadora, estas questões
deveriam ser incluídas em estudos futuros sobre organização de I&D internacional na
indústria farmacêutica em particular, e noutras indústrias em que a protecção tecnológica
seja prática comum, para validar a sua relevância e importância no âmbito do modelo de
organização de I&D internacional.
CATEGORIA RECURSOS
Nesta categoria não há diferenças significativas entre o modelo conceptual e o
modelo empírico.
Dá-se pouca importância à variável que se enquadra nesta categoria (10% das
fontes de informação no modelo conceptual e 20% das fontes de informação no modelo
empírico) e no caso estudado foi referido expressamente que as questões associadas à
uma certa limitação dos recursos existentes no país de origem (trata-se de recursos
humanos) podem ser facilmente superadas com mais recursos financeiros, através da
“importação” de recursos do estrangeiro, abordagem que já tinha sido utilizada pela
PharmaEU em várias situações.
Consequentemente, considera-se que não é expectável que esta variável
desempenhe um papel muito importante na organização de I&D internacional.
CATEGORIA RD - LIGAÇÕES (REDES)
Na representação gráfica realizada na Figura 40, realçam-se as principais
diferenças entre o estudo conceptual e empírico, ao nível 2 de análise.
No modelo conceptual, dá-se muita importância às questões associadas às redes
internas (variável RDi – Ligações (redes) internas, com 80% das fontes de informação) e
muito pouca às questões associadas às redes externas (variável RDe – Ligações (redes)
internas, com 10% das fontes de informação), valorizando assim os aspectos que dizem
respeito ao ambiente interno da empresa (coordenação, gestão estratégica, entre outros).
221
RDi RDe
Frequência relativa
(modelo conceptual)0,80 0,10
Frequência relativa
(modelo empírico)0,93 0,93
-
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,90
1,00
Figura 40 – Representação gráfica da importância relativa das variáveis de nível 2 no modelo conceptual e no modelo empírico: RD - Ligações (redes)
No modelo empírico consideram-se ambas as variáveis como fundamentais (93%
das fontes de informação) e reflecte-se dessa forma a importância tida quer pelas
questões que dizem respeito ao ambiente interno da empresa, quer por aquelas que se
referem à colaboração com parceiros externos à empresa, no âmbito da I&D. Este facto
pode ser explicado pela natureza específica da indústria farmacêutica e pela orientação
dessa indústria para inovação aberta. Contudo, é importante referir que não se trata de
um enfoque exclusivo no relacionamento com parceiros externos, em detrimento do
funcionamento interno das actividades de I&D, mas de uma abordagem complementar
que procura considerar ambas as situações.
A representação gráfica da importância relativa das variáveis de nível 3 no
modelo conceptual e no modelo empírico, ilustrada na Figura 41, permite a identificação
das principais diferenças entre os dois modelos.
No modelo conceptual, atribui-se uma maior importância às questões associadas
a uma abordagem global – GE_Glob – Gestão estratégica global (60% das fontes de
informação) e Crd_Glob – Coordenação global (50% das fontes de informação) – mas
também a Crd_Loc – Coordenação local (50% das fontes de informação) e dá-se
somenos importância aos aspectos associados ao financiamento, ao relacionamento de
cooperação e parcerias entre as subsidiárias, à articulação das várias funções relevantes
para o sucesso da I&D e ao relacionamento com terceiros no âmbito da I&D (somente
222
10% das fontes de informação). O enfoque é essencialmente nas questões de
coordenação e gestão estratégica.
-
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,90
1,00
Frequência relativa (modelo conceptual) Frequência relativa (modelo empírico)
Figura 41 – Representação gráfica da importância relativa das variáveis de nível 3 no modelo conceptual e no modelo empírico: RD - Ligações (redes)
No modelo empírico, reforçam-se as conclusões da análise realizada ao nível 2 no
que respeita à importância das parcerias externas (93% das fontes de informação) quer
no país de origem, quer no estrangeiro. Consideram-se importantes, também, as
variáveis associadas à coordenação e gestão estratégica, nomeadamente: Coordenação
local (87% das fontes de informação), GE_Cntr – Gestão estratégica central (60% das
fontes de informação), e as outras variáveis associadas ao ambiente interno,
nomeadamente Artic – Articulação I&D, marketing e produção (60% das fontes de
informação) e Coop – Cooperação (40% das fontes de informação).
Há, consequentemente, um enfoque equilibrado nas questões que dizem respeito
ao ambiente interno da empresa e às parcerias externas, com especificidades associadas
à forma particular da PharmaEU de organizar e fazer I&D (estrutura policêntrica e
prioridade à I&D biológica).
CATEGORIA MCD - MERCADO
Na representação gráfica realizada na Figura 42, realçam-se as principais
diferenças entre o estudo conceptual e empírico, ao nível 2 de análise.
223
VIS_MCD REG_MCD
Frequência relativa
(modelo conceptual)0,60 -
Frequência relativa
(modelo empírico)0,47 0,73
-
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
Figura 42 – Representação gráfica da importância relativa das variáveis de nível 2 no modelo conceptual e no modelo empírico: MCD - Mercado
Enquanto no modelo conceptual se dá alguma importância a VIS_MCD – Mercado
visado (60% das fontes de informação) e as questões associadas à regulamentação não
são consideradas importantes para a organização de I&D internacional, no modelo
empírico atribui-se importância elevada às questões de regulamentação (REG_MCD –
Regulamentação com 73% das fontes de informação). O mercado visado continua a ser
considerado importante, com 47% das fontes de informação.
A principal diferença reside no enfoque diferente dado à regulamentação, o que
não constitui surpresa porque foi uma variável nova introduzida no modelo proposto no
âmbito da presente investigação. Confirma-se que no caso da PharmaEU, empresa
farmacêutica que desenvolve medicamentos novos, a regulamentação representa um
aspecto importante a considerar.
A análise das variáveis de nível 3, ilustrada na Figura 43, permite identificar com
mais pormenor as principais diferenças.
No modelo conceptual, consideram-se importantes duas variáveis: Mcd_Glob –
Mercado global (60% das fontes de informação) e Mercado local (40% das fontes de
informação), o que reflecte a tendência dos modelos teóricos de analisar a organização
de I&D internacional com base nas questões de valorização comercial numa escala
global e de adaptação tecnológica para venda nos mercados locais.
224
-
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,90
Mercado local Mcd_Glob Reg_Loc Reg_Glob
Frequência relativa (modelo conceptual) Frequência relativa (modelo empírico)
Figura 43 – Representação gráfica da importância relativa das variáveis de nível 3 no modelo conceptual e no modelo empírico: MCD - Mercado
No modelo empírico, consideram-se importantes as questões associadas à
regulamentação, quer global (80% das fontes de informação), quer local (47% das fontes
de informação), e a perspectiva global do mercado (40% das fontes de informação), o
que corrobora a análise efectuada ao nível 2 de análise.
Este facto pode ser explicado pela natureza da indústria farmacêutica, em que os
medicamentos para uso humano são sujeitos à regulamentação muito restritiva, devido
ao risco para a saúde humana que está associado à administração de medicamentos.
Essa regulamentação contempla tanto as questões que dizem respeito à investigação e
desenvolvimento de novos medicamentos como às que dizem respeito à sua
comercialização, e tem um impacto local (localização dos laboratórios em que se fazem
os ensaios ou localização dos pacientes sujeitos à administração de medicamentos em
fase de desenvolvimento ou já à venda) mas também global pelo número elevado de
países em que são feitos os ensaios e comercializados os novos medicamentos.
225
8.3.2. ANÁLISE COMPARATIVA COM BASE NA PRESENÇA DE VARIÁVEIS
DIFERENTES NO MODELO PROPOSTO PARA A INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E O
MODELO EMPÍRICO
Como pode ser observado no Anexo 12, há poucas variáveis que foram incluídas
no modelo proposto para a indústria farmacêutica e não foram encontradas no modelo
empírico ou vice-versa. Apresentam-se de seguida todas essas variáveis e indicam-se as
possíveis razões para esta situação.
VARIÁVEIS QUE FORAM CONSIDERADAS NO MODELO PROPOSTO PARA A INDÚSTRIA
FARMACÊUTICA E NÃO APARECERAM NO MODELO EMPÍRICO
Há cinco variáveis de nível 3 que foram incluídas no modelo proposto para a
indústria farmacêutica e não foram confirmadas no modelo empírico (ver Tabela 37).
Tabela 37 – Variáveis que foram consideradas no modelo conceptual e não apareceram no modelo empírico
Variáveis
Nível 1 Nível 2 Nível 3
Incluída no modelo para a
indústria farmacêutica
Encontrada no modelo empírico
Lid - Liderança estratégica
Sim Não
Sens - Detector Sim Não
Part - Participante Sim Não
1. TCN - Tecnologia
(desenvolvimento, exploração e protecção)
PPL_TCN - Papel das unidades de
I&D
Impl - Implementador Sim Não
3. RD – Ligações (redes) internas e
externas
RDi – Ligações (redes) internas
Fin_Glob - Financiamento global
Sim Não
A inexistência de referências às quatro variáveis associadas ao papel das
unidades de I&D (Lid – Liderança estratégica, Sens – Detector, Part – Participante, Impl –
Implementador) não é surpreendente.
Esta situação deve-se às características específicas da PharmaEU, que
desenvolve I&D em duas unidades distintas, localizadas no país de origem e num outro
país estrangeiro, mas a I&D desenvolvida foca em duas áreas farmacêuticas que, na
óptica dos colaboradores PharmaEU, não têm semelhanças nem ao nível da base de
conhecimento aplicável, nem ao nível do processo de desenvolvimento propriamente dito
e da regulamentação associada.
226
Sendo áreas distintas, a interacção é muito limitada e não há projectos conjuntos
de I&D, pelo que as unidades de I&D não podem desempenhar papéis específicos
nesses projectos. Cada uma das duas unidades age independentemente. Em suma, as
respectivas variáveis não podiam estar presente no caso PharmaEU, tal como a própria
variável de nível 2 (PPL_TCN - Papel das unidades de I&D), devido à inexistência de
projectos conjuntos de I&D.
Contudo, nada impede que estas variáveis estejam presentes noutras empresas
farmacêuticas, com uma organização diferente de I&D, em que as várias unidades estão
envolvidas em projectos conjuntos de I&D. Por essa razão, mantém-se a recomendação
feita aquando da sua inclusão no modelo proposto para a indústria farmacêutica sobre a
relevância da validação empírica dessas variáveis em estudos futuros.
No que respeita à variável Fin_Glob - Financiamento global, a razão pela sua
inclusão no modelo proposto prendia-se com o facto de ser expectável que o
financiamento fosse central ou global, por razões de eficiência e controlo de projectos
(custos elevados das actividades de I&D e taxa de sucesso muito reduzida).
No caso da PharmaEU, a forma de organização de I&D internacional e o
funcionamento da empresa favoreceram a existência de financiamento central das
actividades de I&D. O financiamento global não era expectável no caso estudado devido
à prioridade diferente atribuída aos dois tipos de I&D desenvolvidos nas duas unidades,
sendo que a I&D química representa uma das prioridades estratégicas da empresa, e,
comparativamente, a I&D biológica necessita de recursos financeiros muito diminutos.
VARIÁVEIS QUE NÃO FORAM CONSIDERADAS NO MODELO PROPOSTO PARA A
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E APARECERAM NO MODELO EMPÍRICO
Há três variáveis de nível 3 que foram incluídas no modelo proposto para a
indústria farmacêutica e não foram confirmadas no modelo empírico (ver Tabela 38).
Realça-se que todas essas variáveis de nível 3 estavam incluídas no modelo
conceptual, mas à luz das características da indústria farmacêutica não tinham sido
consideradas relevantes na altura em que foi proposto o modelo para a indústria
farmacêutica. De seguida, analisam-se e discutem-se as razões que levaram a não
inclusão no modelo proposto dessas variáveis e explicam-se os motivos para a sua
existência no modelo empírico.
227
Tabela 38 – Variáveis que não foram consideradas no modelo conceptual e apareceram no modelo empírico
Variáveis
Nível 1 Nível 2 Nível 3
Incluída no modelo para a
indústria farmacêutica
Encontrada no modelo empírico
2. Recursos
Limitações dos principais recursos científico-
tecnológicos
Limitações no país de origem
Não Sim
3. RD – Ligações (redes) internas e
externas
RDi – Ligações (redes) internas
Coordenação local Não Sim
4. MCD - Mercado VIS_MCD - Mercado visado
Mercado local Não Sim
A variável associada aos recursos para I&D, Limitações no país de origem, não foi
considerada no modelo proposto para a indústria farmacêutica porque estava associado
ao comportamento específico das organizações oriundas de países pequenos que
internacionalizaram as suas actividades para alargar a sua base de competências,
insuficientemente servida pelos recursos nacionais. Esperava-se que esta questão se
tivesse tornado menos importante no caso da indústria farmacêutica devido à
globalização do processo de desenvolvimento de medicamentos, e ao recurso a
parcerias externas para complementar a base interna de competências.
No caso PharmaEU, as parcerias externas foram consideradas essenciais para
complementar a base interna de competências, e o processo de desenvolvimento de
medicamentos é feito com recurso a parceiros com dimensão global.
A variável Limitações no país de origem apareceu no caso estudado como
resultado de alguma dificuldade em encontrar recursos humanos qualificados para as
actividades de I&D no país de origem, em que é localizada a unidade de I&D química, e
também, pontualmente, com a dificuldade de encontrar parceiros no país de origem que
pudessem dar resposta adequada aos problemas específicos que surgem no processo
de I&D.
Repara-se, contudo, que a respectiva dificuldade, mencionada por três
entrevistados (E1, E7 e E9 - 20% das fontes de informação empíricas) é considerada
como facilmente superável havendo os recursos financeiros necessários para a
contratação de colaboradores especializado no estrangeiro, uma prática à qual
228
PharmaEU tem recorrido com sucesso nos últimos anos). Trata-se, consequentemente,
de uma questão secundária, uma dificuldade financeira, e que não aparenta
desempenhar um papel importante na forma de organização de I&D internacional da
PharmaEU.
A variável Coordenação local não foi considerada no modelo proposto por razões
de eficiência. Era expectável que a coordenação fosse central ou global devido à elevada
taxa de falhanço e à necessidade de reduzir o tempo de desenvolvimento de
medicamentos. No caso PharmaEU há coordenação central (a variável Crd_Cntr –
Coordenação central foi referida por 73% das fontes de informação) mas também há
coordenação local, que está associada aos dois tipos de I&D e apresenta-se com maior
importância (87% das fontes de informação).
Esta situação deve-se à presença de elementos de coordenação que são centrais
e iguais para toda a empresa (orçamentos, planos estratégicos e planos de actividade,
mecanismos de controlo da execução dos planos e dos orçamentos, entre outros), mas
também à presença de questões específicas de coordenação da I&D química e I&D
biológica.
Assim, o enfoque dos colaboradores envolvidos na I&D química é na forma de
coordenar as actividades específicas associadas, quer internas, no país de origem, quer
externas, com parceiros locais ou estrangeiros. Da mesma maneira, os colaboradores
envolvidos na I&D biológica procuram coordenar as actividades associadas a este tipo de
I&D, que são essencialmente internas, no país estrangeiro em que se encontra localizada
a respectiva subsidiária. Pensa-se ser por essa razão que foram identificados muitos
elementos associados a Coordenação local.
Ora, como não há interacção entre os dois tipos de I&D, que são considerados
completamente diferentes pelos colaboradores da PharmaEU, não há um alinhamento
das actividades de coordenação ao nível da empresa, não há mecanismos comuns de
controlo e monitorização dessas actividades específicas (excepto os planos e
orçamentos) e não há partilha de boas práticas. É uma característica das estruturas
policêntricas de I&D, em que se enquadra a forma de organização de I&D internacional
identificada na PharmaEU.
A variável Mercado local não foi considerada no modelo proposto porque na
indústria farmacêutica a valorização dos resultados de I&D quer seja química, quer seja
229
biológica, deve ser feita em vários mercados internacionais para alcançar e manter
vantagens competitivas e aproveitar ao máximo a duração de vida da patente.
No estudo empírico, esta variável foi associada unicamente à I&D biológica e não
à I&D química. E no contexto da PharmaEU não é surpreendente que a I&D biológica
desenvolvida na unidade estrangeira não tenha um alcance global. Trata-se de um tipo
de investigação em que são raras as patentes e que obriga a um investimento muito
grande na infraestrutura de vendas necessária para a sua comercialização. Também não
é considerada uma prioridade estratégica e tem um volume de negócios
significativamente inferior àquele que pode ser obtido pela valorização da I&D química.
Na PharmaEU, os colaboradores entrevistados não esperavam que a I&D
biológica pudesse permitir obter uma vantagem competitiva sustentável e relevante para
a empresa, tendo havido durante o estudo empírico uma tentativa de alienação dessa
componente.
Por essas razões, a presença da variável Mercado local no caso estudado é
explicável, mas mantém-se as razões iniciais para a não inclusão desta variável no
modelo proposto para a indústria farmacêutica, uma vez que se trata de uma situação
muito particular que caracteriza a PharmaEU.
230
8.4. IMPLICAÇÕES DO ESTUDO EMPÍRICO REALIZADO SOBRE AS TEORIAS E
MODELOS DE INTERNACIONALIZAÇÃO DE I&D
Nas secções anteriores, apresentaram-se os principais resultados do estudo
empírico realizado, acompanhados de uma breve discussão. Esta secção dedica-se a
alargar essa discussão. Começa-se com as questões metodológicas e depois
apresentam-se os principais resultados, o seu significado, e as suas implicações sobre o
corpo teórico associado à internacionalização de I&D.
A componente empírica constou na realização de um estudo de caso único,
holístico e exploratório (Yin, 2003), numa empresa farmacêutica de pequena – média
dimensão, localizada na União Europeia.
O estudo foi enquadrado no paradigma pragmático (Creswell, 2003, 2007;
Tashakkori & Teddlie, 1998) e foi realizado de modo a assegurar a validade dos
constructos, a validade externa e a fiabilidade, características fundamentais de um
estudo de caso não explicativo (Yin, 2003), como se descreve de seguida.
A validade dos constructos foi assegurada, em primeiro lugar, através da recolha
de informação de várias fontes, designadamente entrevistas, documentos de arquivo e
registos da investigação realizada. De um total de 37 fontes de informação, 15
proporcionaram informação directamente relacionada com as variáveis do modelo de
organização de I&D para a indústria farmacêutica: 13 entrevistas, 1 documento de
arquivo e 1 documento da reunião de arranque. Todas as variáveis identificadas no
estudo de caso foram sugeridas por mais que uma fonte de informação, o que permitiu a
triangulação das fontes (Yin, 2003).
Em segundo lugar, quer as transcrições das entrevistas, quer o relato do estudo
de caso foram revistos pelos participantes no estudo, o que contribuiu, também, para
aumentar a validade dos constructos (Yin, 2003).
A validade externa (generalização) foi assegurada na altura em que o estudo de
caso foi estruturado, através da sua ligação à componente teórica (Yin, 2003), ou seja,
através da utilização do modelo de organização de I&D internacional desenvolvido
conceptualmente, a partir da literatura existente, como elemento estruturante da
componente empírica.
231
Recorda-se que o termo generalização é encarado (ver secção 6.3), quando se
fala de estudos de caso, numa perspectiva de enriquecimento ou validação teórica,
havendo vários autores que debatem a possibilidade de inferir os resultados de um
estudo de caso para uma população muito abrangente (ver, entre outros, Gomm, et al.,
2004; Lincoln & Guba, 2004; Schofield, 2004; Stake, 2004; Yin, 2003).
Neste sentido, o estudo de caso realizado permite complementar a literatura
existente através do modelo de organização de I&D internacional para a indústria
farmacêutica (ao nível de variáveis, actores, entre outros), e através do aumento da
compreensão sobre a forma como funciona a organização de I&D internacional.
Devido às limitações inerentes a esta estratégia de investigação, o estudo de caso
realizado não permite afirmar que o tipo de organização de I&D internacional e a forma
de gestão de I&D identificados se encontram noutras empresas farmacêuticas, que
desenvolvem os mesmos tipos de I&D.
A fiabilidade do estudo de caso (Yin, 2003) foi asegurada através da concepção e
utilização do protocolo de estudo de caso (ver secção 6.4) para orientar a investigação e
através da utilização do NVivo 8 (software científico de análise qualitativa de dados) para
compilar toda a informação recolhida, registar os passos da investigação, e realizar o
tratamento e a análise de dados.
Em suma, no que respeita às questões metodológicas, o estudo de caso realizado
caracteriza-se por validade dos constructos, validade externa e fiabilidade, e não há
limitações particulares. No que respeita à generalização, o estudo de caso caracteriza-se
pelas limitações inerentes a esta estratégia de investigação, nomeadamente é possível
uma generalização abstracta, para a literatura em que se baseou o estudo de caso, em
vez de uma generalização para uma população com características semelhantes,
havendo contudo a possibilidade de utilizar o estudo de caso realizado como fonte de
inspiração para identificar aspectos que possam ser estudados no futuro por outros
investigadores.
No que respeita aos resultados obtidos na componente empírica, uma das
primeiras questões a realçar prende-se com a confirmação da presença das variáveis
novas, introduzidas no modelo holístico para a organização de I&D internacional e no
modelo proposto para a indústria farmacêutica.
232
Assim, confirmou-se ser relevante introduzir num modelo de organização de I&D
internacional as variáveis associadas à protecção e licenciamento tecnológico, ao nível
de compra de licenças e das patentes e marcas, uma vez que estas variáveis foram
encontradas no estudo empírico realizado.
As questões associadas à Inovação Aberta (Chesbrough, 2003a) devem ser, por
conseguinte, consideradas nos estudos de organização de I&D internacional, tal como foi
assumido na revisão da literatura e no desenvolvimento do modelo conceptual, e
considerando as várias possibilidades de manifestação deste tipo de inovação (protecção
e valorização da tecnologia desenvolvida internamente, utilização de fontes externas de
conhecimento para complementar a base interna de conhecimento, entre outros).
Confirmou-se, ainda, a relevância da inclusão no modelo de uma variável
associada ao financiamento central das actividades de I&D. No estudo de caso realizado,
o financiamento central foi a forma preferencial de financiamento de I&D, pelo que deve
ser incluído no modelo conceptual e analisado em estudos futuros.
Foi, também, confirmada a relevância da inclusão no modelo de organização de
I&D internacional das variáveis associadas à regulamentação de I&D, quer local, quer
internacional. O aspecto da regulamentação de I&D é muito importante no caso da
indústria farmacêutica, por se tratar de produtos finais ou intermédios que podem afectar
negativamente a saúde e a vida humana (Atun, Gurol-Urganci, et al., 2007; Atun &
Sheridan, 2007; Infarmed, 2007; Kleyn, et al., 2007; PharmaPortugal, 2006).
Poderá haver outras indústrias com produtos semelhantes em que os aspectos
regulamentares associados à I&D sejam relevantes e possam afectar a forma de
organização de I&D internacional.
Em suma, no que respeita à confirmação da presença das variáveis novas, o
estudo empírico realizado permitiu confirmar que as variáveis associadas à protecção e
licenciamento tecnológico (compra de licenças, patentes e marcas), ao financiamento
central das actividades de I&D e à regulamentação de I&D, devem ser incluídas no
modelo proposto para organização de I&D internacional na indústria farmacêutica e,
também, no modelo holístico.
233
No que respeita à importância atribuída às variáveis do modelo de organização
de I&D internacional, os resultados obtidos no estudo empírico indicam um maior
equilíbrio entre certas variáveis, tal como se explica de seguida.
Dá-se uma importância significativa e semelhante às redes internas e externas
(cerca de 50% das referências identificadas e 14 das 15 fontes de informação utilizadas),
o que demonstra uma preocupação semelhante para o bom funcionamento interno das
actividades relacionadas com a I&D e, também, para o bom funcionamento externo
dessas actividades. As redes para I&D são encaradas de uma forma integrada, sem
haver um enfoque particular no interior ou exterior da empresa, apesar de haver práticas
de gestão diferentes para as redes internas e externas.
Este facto é importante, em primeiro lugar, porque a literatura associada à
organização de I&D internacional que foi utilizada para a construção do modelo
conceptual refere com predilecção a importância das redes internas, ou seja, da criação
de uma estrutura interna funcional e eficaz que apoiasse as actividades de I&D (Archibugi
& Iammarino, 2002; Bartlett & Ghoshal, 1990; Gassmann & von Zedtwitz, 1999;
Gerybadze & Reger, 1999; H. Hakanson, 1990; Niosi & Godin, 1999; Pearce &
Papanastassiou, 1999; Zander, 1999).
E, em segundo lugar, porque a literatura associada à Inovação Aberta (Henry
Chesbrough, 2003a) refere a importância das redes externas, ou seja, da criação de uma
interface funcional entre a empresa e as fontes de conhecimento externas que possa
apoiar as actividades de I&D.
Em suma, nenhum dos dois tipos de literatura fomenta a análise das redes para
I&D numa perspectiva holística, que somente pode beneficiar as actividades de I&D. Os
resultados obtidos na componente empírica reflectem a importância de abordar este
assunto das redes para I&D precisamente nesta perspectiva holística, de
complementaridade entre as redes internas e externas.
No modelo empírico dá-se uma importância semelhante à localização do
desenvolvimento tecnológico no país de origem e no estrangeiro, numa lógica de
desenvolvimento internacional em que se desenvolve tecnologia nos países que se
comprovam mais apropriados para o efeito, quer se trate do país de origem, quer se trate
de um país estrangeiro. Este aspecto é importante porque alguns dos autores cujos
modelos foram utilizados para a construção do modelo conceptual realçam com
234
predilecção as variáveis associadas ao desenvolvimento nos países estrangeiros, em
detrimento do desenvolvimento no país de origem (Gerybadze & Reger, 1999; H.
Hakanson, 1990; Pearce & Papanastassiou, 1999). É considerado relevante que se dê
importância semelhante aos vários países possíveis para a localização do
desenvolvimento tecnológico.
Em suma, no que respeita à importância atribuída às variáveis, o estudo empírico
realizado permitiu aferir ser importante abordar a questão das redes de I&D numa
perspectiva holística e integrada (internas e externas, no seu conjunto), e, também, ser
importante considerar a questão da localização do desenvolvimento tecnológico numa
lógica global, quer no país de origem, quer no estrangeiro. Consequentemente, os
estudos futuros sobre organização de I&D internacional deverão considerar devidamente
estas questões.
No que respeita às restantes diferenças entre o modelo conceptual e o modelo
empírico de organização de I&D internacional, discutem-se de seguida as duas
situações encontradas.
Em primeiro lugar, a ausência das cinco variáveis incluídas no modelo proposto e
não encontradas no modelo empírico (relacionadas com o papel das unidades de I&D em
projectos conjuntos e com o financiamento global das actividades de I&D) é justificada e
explicável devido às características específicas do caso estudado, não havendo neste
sentido razões para questionar a forma como foi construído o modelo proposto para a
indústria farmacêutica ou as variáveis incluídas nesse modelo.
E em segundo lugar, as três variáveis encontradas no modelo empírico e que não
tínham sido incluídas no modelo conceptual (relacionadas com limitações de recursos no
país de origem, com coordenação local das actividades de I&D e com a existência de um
mercado local) foram justificadas e explicadas com base nas características específicas
da empresa farmacêutica estudada e, em particular, com a existência de dois tipos
distintos de I&D que têm dinâmicas e formas de funcionamento distintas.
As limitações de recursos no país de origem surgiram devido a alguma dificuldade
em encontrar recursos humanos qualificados nesse país, mas com indicação de que se
tratava de algo que foi superado no passado pela contratação de especialistas oriundos
de outros países, e que poderá ser superado no futuro desde que haja recursos
financeiros disponíveis. Não constitui uma razão suficientemente forte para proceder à
235
deslocalização da I&D química para o estrangeiro, porque os recursos humanos são
caracterizados por mobilidade, e não há falhas de recursos de outra natureza que
pudessem justificar essa delocalização. Também, considerando que na literatura utilizada
para a construção do modelo somente um autor incluiu esta variável no seu estudo
(Gerybadze & Reger, 1999), não se afigura necessário inclui-la no modelo conceptual
proposto para a indústria farmacêutica.
As características da indústria farmacêutica, especificamente a necessidade de
aumentar a produtividade, eficiência e rapidez das actividades de I&D (Achilladelis &
Antonakis, 2001; Attridge, 2007; Atun, Harvey, et al., 2007; Busfield, 2003; Gassmann, et
al., 2004; Quere, 2003) tornam as estruturas policêntricas formas pouco recomendadas
para a organização de I&D internacional nesta indústria e, por arrastamento, explicam a
não introdução no modelo conceptual das variáveis associadas à coordenação e ao
mercado locais, que são específicas das estruturas policêntricas.
Ora, a forma de organização de I&D internacional identificada na componente
empírica é policêntrica, se for vista numa perspectiva abrangente. Contudo, é composta
por duas estruturas distintas de I&D: uma estrutura centralizada para a I&D química, com
características internacionais vincadas, e uma estrutura centralizada para a I&D biológica,
com características etnocêntricas e um só mercado internacional, no país de origem da
empresa mãe.
Na literatura associada à organização de I&D internacional não havia indicações
que pudessem sugerir a existência de formas de organização diferentes mediante o tipo
de I&D desenvolvido na empresa. Contudo, este aspecto é fundamental, uma vez que no
caso estudado revelou-se que a existência de duas estruturas imbricadas, eficazes para
cada um dos dois tipos de I&D, pode levar a uma estrutura policêntrica holística, ao nível
da empresa, que se revela eficiente. O que contradiz os resultados dos autores que
criticam as estruturas policêntricas e afirmam estarem a cair em desuso (Gassmann &
von Zedtwitz, 1999, entre outros).
236
MERCADO
TECNOLOGIA (DESENVOLVIMENTO
E EXPLORAÇÃO
RECURSOS
LIGAÇÕES (REDES)
Figura 44 – Modelo de organização de I&D para a indústria farmacêutica: variáveis a considerar em estudos futuros
237
Figura 45 – Modelo de organização de I&D para a indústria farmacêutica: representação gráfica da estrutura de organização a considerar em estudos futuros
238
A ilação mais importante que daí resulta prende-se com a forma como deve ser
estudada a organização de I&D internacional, e que é diferente daquilo que foi feito na
literatura utilizada para a construção do modelo de organização de I&D internacional.
Nomeadamente, devem ser estudadas separadamente as formas de organização de I&D
internacional relativas a tipos de I&D que coexistem na mesma organização, e que são
considerados distintos ao ponto de não haver sinergias ou de haver sinergias mínimas
entre esses tipos de I&D.
Esta ilação implica a utilização de uma lógica diferente e a identificação de
estruturas de organização de I&D internacional específicas para cada um desses tipos de
I&D. E implica, também, a existência de pressupostos ou hipóteses diferentes para
estudos académicos que pretendem estudar a organização de I&D internacional em
empresas que têm actividades de I&D distintas, com sinergias não significativas.
Em suma, no que respeita às restantes diferenças entre o modelo conceptual e o
modelo empírico, o estudo empírico realizado permitiu confirmar que os pressupostos
utilizados para a construção do modelo de organização de I&D internacional para a
indústria farmacêutica (e a lógica subjacente) foram correctos. Permitiu ainda revelar que,
no caso da existência de tipos de I&D distintos e com sinergias mínimas no seio da
mesma organização é importante estudar separadamente as estruturas de organização
de I&D internacional para cada tipo de I&D, o que representa uma diferença clara de
abordagem face à literatura analisada, que não refere esta necessidade.
Na sequência dos resultados obtidos e da discussão realizada, apresenta-se no
final deste capítulo o modelo de organização de I&D internacional para a indústria
farmacêutica, tal como pode ser utilizado em estudos futuros, nas suas duas
perspectivas: variáveis (Figura 44) e estrutura de organização de I&D internacional
(Figura 45).
239
8.5. SÍNTESE DAS PRINCIPAIS ILAÇÕES
Ao longo deste capítulo foram apresentadas as principais componentes do estudo
empírico, que consistiu na realização de um estudo de caso aprofundado, único e
holístico, numa empresa farmacêutica designada por PharmaEU (nome fictício), e as
principais implicações deste estudo sobre a teoria e os modelos de internacionalização
de I&D.
Primeiro, no início do capítulo, foram apresentadas questões associadas à
recolha de dados, ao número e tipo de fontes de informação utilizadas, aos cuidados
metodológicos tidos em conta e à forma como foi recolhida a informação necessária para
responder às questões de investigação.
Na recolha de dados, os procedimentos e as fontes de informação utilizadas
foram aqueles incluídos no protocolo de investigação, com 15 fontes directamente
utilizadas para a codificação das variáveis incluídas no modelo de organização de I&D
internacional proposto para a indústria farmacêutica e testado no estudo empírico.
Dessas 15 fontes de informação, 13 constituem entrevistas com colaboradores
localizados em funções chave para a I&D desenvolvida na PharmaEU, tendo assim
havido uma dependência grande de informação recolhida em entrevistas pessoais com
possibilidade de triangulação da informação recebida das várias fontes, na altura das
entrevistas e posteriormente.
Segundo, foram apresentados os principais resultados da análise da informação
recolhida, primeiro recorrendo a estatísticas descritivas, e depois apresentando o relato
qualitativo do estudo de caso. Foram identificadas boas práticas e desvantagens relativas
à forma de organização de I&D internacional existente na PharmaEU e à gestão
associada. Foi, também, nessa componente do relato, que se respondeu às questões de
investigação associadas ao estudo de caso, de uma forma abrangente e pormenorizada.
Destacam-se, nesta componente, um conjunto de elementos, que se descrevem
de seguida.
No estudo de caso realizado dá-se uma importância significativa aos aspectos
relacionados com redes internas e externas (cerca de 50% das referências identificadas
e 14 das 15 fontes de informação utilizadas), com licenciamento tecnológico e com a
240
regulamentação do mercado (cerca de 16% das referências identificadas e 11 das 15
fontes de informação utilizadas) no contexto da organização de I&D internacional.
Nas redes internas, dá-se particular enfoque às questões de articulação das
várias funções internas essenciais para o sucesso da I&D química, num contexto de
coordenação central ao nível da empresa PharmaEU e local ao nível da I&D química e
I&D biológica.
Nas redes externas, os parceiros externos que participam no processo de I&D
farmacêutica (química) estão localizados quer no estrangeiro, quer no país de origem e
desempenham um papel fundamental no sucesso das actividades de I&D.
No licenciamento tecnológico é enfatizada a importância da venda de licenças de
I&D, devido ao tipo de I&D química realizada pela PharmaEU e pela sua dimensão
(pequena – média), no mercado farmacêutico global.
No que respeita à regulamentação, esta é considerada essencial para o sucesso
das actividades de I&D e para uma comercialização rápida e eficaz em vários mercados
internacionais, e a lógica é internacional/global, procurando criar sinergias.
A forma de organização de I&D internacional identificada no estudo de caso
realizado é policêntrica, com uma gestão estratégica central e coordenação
central/local. As razões por esta forma de organização prendem-se com os dois tipos de
I&D realizadas na PharmaEU, química e biológica, que têm características distintas e
não podem ser organizadas numa perspectiva sinérgica.
Pode-se afirmar que cada tipo de I&D está organizado numa estrutura
centralizada, sendo que no caso da I&D química esta estrutura é complementada por
uma extensa rede de parceiros externos localizados no país de origem e no estrangeiro
que têm relações de tipo díade com PharmaEU.
O recurso a competências externas à empresa para preencher lacunas de
competências e tecnologias ao nível interno permite, no caso da I&D química, consolidar
a base de conhecimento disponível e aprender com as formas de actuação dos
respectivos parceiros.
A criação de estruturas internas que lidam com os parceiros externos de forma
eficaz permite implementar o conceito de Inovação Aberta e obter, se bem coordenado,
241
maior rapidez e produtividade na I&D farmacêutica desenvolvida na PharmaEU. Contudo,
existe na PharmaEU uma pressão elevada sobre os colaboradores que coordenam as
parcerias internacionais, que os obriga a desenvolver competências de gestão das
relações externas e internas associadas a determinados assuntos realizados em
parceria, e que pode ter efeitos negativos ao nível da produtividade individual se se
mantiver a médio-longo prazo. Esta pressão deve-se, entre outros, ao crescimento da
empresa e ao aumento de projectos de desenvolvimento e da rede externa de parceiros.
A gestão de I&D existente na PharmaEU adequa-se à estrutura policêntrica
identificada.
Ao nível da empresa, os principais instrumentos de gestão são os planos
estratégicos e a curto prazo, combinados com os respectivos orçamentos e a
monitorização da sua execução. Há alguma rigidez na alteração de orçamentos, o que
pode ser eficiente do ponto de vista da gestão, mas pode dificultar as situações em que é
preciso tomar decisões rápidas para agilizar determinados projectos de I&D.
A investigação e o desenvolvimento químicos são geridos de forma separada
devido a razões de eficiência e confidencialidade, reforçando a importância da protecção
da propriedade intelectual como factor competitivo na indústria farmacêutica e
especificamente na PharmaEU.
Ao nível da I&D química, a abordagem é multidisciplinar, numa perspectiva de
gestão executiva separada de cada função associada à I&D, mas com equipas
multifuncionais que proporcionam a possibilidade de integrar os contributos oriundos das
várias funções e alcançar um nível de compreensão mais elevado sobre a maneira como
estão a evoluir os vários projectos de investigação. A alternância da estrutura hierárquica,
vista como meio formal para a tomada de decisão, com a estrutura multifuncional tipo
matriz, vista como fórum de coordenação e debate, permite gerir a multidisciplinaridade
de uma forma mais eficiente.
Na PharmaEU, os projectos de desenvolvimento (químicos) estão baseados em
planos de desenvolvimento predefinidos, actualizados quando for considerado oportuno,
e a gestão de projecto e a articulação com as restantes funções relevantes é feita com
base nesses planos. Este aspecto pode ter efeitos positivos ao nível da gestão, mas pode
também representar um entrave se houver demasiada dependência dos respectivos
242
planos, particularmente devido ao tempo elevado de desenvolvimento de cada projecto
(em média, 5 a 10 anos).
Terceiro, foi feita a ponte entre o modelo empírico de organização de I&D
internacional (reflectido nas variáveis encontradas no estudo de caso realizado) e os
modelos holístico de organização de I&D internacional e proposto de organização de I&D
internacional na indústria farmacêutica.
A análise comparativa entre esses modelos contemplou dois níveis distintos: a)
análise das diferenças existentes na importância atribuída às variáveis, em cada modelo;
e b) análise das diferenças existentes entre as variáveis presentes em cada modelo.
O primeiro nível de análise visou compreender as principais diferenças entre as
variáveis consideradas importantes na literatura e as variáveis consideradas importantes
na PharmaEU.
Os principais resultados foram:
• Na categoria Tecnologia, maior importância foi atribuída, no modelo proposto,
às variáveis associadas com o objectivo da actividade tecnológica e a
localização da tecnologia chave, enquando no modelo empírico o principal
enfoque foi nas questões de protecção e valorização da propriedade
intelectual. Também, no modelo empírico, as questões de localização do
desenvolvimento no país de origem complementam-se com o desenvolvimento
realizado no estrangeiro, numa lógica de desenvolvimento internacional/global;
• Na categoria Ligações (Redes), o modelo proposto atribui maior importância
às redes internas em devafor das redes externas, valorizando os aspectos que
dizem respeito ao bom funcionamento interno da empresa. O modelo empírico
considera ambos os aspectos essenciais, numa abordagem complementar
que procura considerar o bom funcionamento interno da empresa e o bom
funcionamento das redes externas de parceiros que participam na I&D
química;
• Na categoria Mercado, a principal diferença reside no enfoque diferente dado
às questões regulamentares, o que não constitui surpresa porque se trata de
uma variável nova introduzida no modelo proposto.
243
O segundo nível de análise visou analisar e explicar as diferenças entre o modelo
proposto para a organização de I&D internacional e o modelo empírico presente na
PharmaEU, e apresentou as razões para a existência dessas diferenças.
Os principais resultados foram:
• Cinco variáveis foram incluídas no modelo proposto e não foram
encontradas no estudo empírico.
Quatro dessas variáveis (associadas ao papel das unidades de I&D em
projectos conjuntos de investigação ou de desenvolvimento) não podiam estar
presentes no caso da PharmaEU uma vez que não há projectos conjuntos
entre as unidades dedicadas à I&D química e à I&D biológica.
A quinta variável (associada ao financiamento global das actividades de I&D)
tinha sido incluída no modelo como possibilidade, tendo como alternativa o
financiamento central das actividades de I&D. O estudo empírico identificou a
existência de financiamento central, pelo que a ausência da variável associada
ao financiamento global é justificada;
• Há três variáveis que não foram incluídas no modelo proposto e foram
encontradas no estudo empírico. Todas estas variáveis faziam parte do
modelo holístico, mas devido às características específicas da indústria
farmacêutica não foram consideradas relevantes para inclusão no modelo
proposto.
A primeira variável está associada às limitações de recursos existentes no
país de origem, e não foi considerada inicialmente por estar associada ao
comportamento de empresas que internacionalizaram as suas actividades
para alargar a sua base de competências, insuficientemente servida pelos
recursos nacionais. Esperava-se que esta questão se tivesse tornado menos
importante no caso da indústria farmacêutica devido à internacionalização do
processo de desenvolvimento de medicamentos e ao recurso a parcerias
externas para complementar a base interna de competências. No estudo
empírico, esta dificuldade surgiu associada a alguma dificuldade em encontrar
recursos humanos qualificados e parceiros com dimensão suficiente no país
de origem, mas foi considerada facilmente superável havendo os recursos
financeiros necessários para contratação de colaboradores no estrangeiro e
com recurso a parceiros internacionais.
244
A segunda variável está associada à coordenação local das actividades de
I&D, que representa uma prática menos eficiente devido à elevada taxa de
insucesso das actividades de I&D e que está associada às estruturas
policêntricas. Na PharmaEU há dois tipos de I&D entre os quais não há
sinergias, e que levantam questões específicas de coordenação, com índole
local (porque somente há uma unidade de I&D responsável por cada tipo de
I&D). Como não há interacção entre os dois tipos de I&D, não há um
alinhamento das actividades de coordenação de I&D ao nível da empersa, não
há mecanismos comuns de controlo e monitorização dessas actividades
específicas e não há partilha de boas práticas. É uma característica das
estruturas policêntricas de I&D, em que se enquadra a forma de organização
de I&D internacional identificada na PharmaEU.
A terceira variável está associada ao mercado local, que não foi considerada
incialmente porque na indústria farmacêutica a valorização dos resultados de
I&D deve ser feita em vários mercados internacionais para alcançar e manter
as vantagens competitivas e aproveitar ao máximo a duração de vida da
patente. No estudo empírico, esta variável foi associada unicamente à I&D
biológica, que abrange um tipo de investigação em que as patentes são raras
e que obriga a um investimento muito grande e complexo para a sua
comercialização em novos países. Não sendo considerada uma prioridade
estratégica e também não sendo vista como um tipo de I&D que pudesse
trazer uma vantagem competitiva sustentável para a empresa caso fosse
internacionalziada, a sua exploração no mercado local é explicável. Trata-se,
contudo, de uma situação muito particular que caracteriza a empresa
estudada.
Em suma, o estudo de caso realizado permitiu responder às questões de
investigação colocadas e ajudou a aumentar o conhecimento disponível sobre a forma
como é organizada e gerida a I&D internacional na indústria farmacêutica.
Devido aos cuidados metodológicos na preparação, recolha e análise de dados, o
estudo é fiável, caracteriza-se por validade dos constructos e validade externa. Não se
tratando de um estudo de caso explicativo, a questão da validade interna não se coloca.
Destacam-se, como mais-valias do estudo de caso: a abrangência do estudo e a
possibilidade de obter informação oriunda de entrevistas com colaboradores
245
extremamente abertos na sua forma de falar e responder às questões colocadas. Tem-se
confiança na veracidade da informação obtida, e a verificação das transcrições e do
próprio relato do estudo de caso pelos colaboradores da PharmaEU permitiu assegurar
que o entendimento foi correcto antes e depois da compilação e triangulação das fontes.
Um aspecto que não foi possível ultrapassar na realização do estudo, devido à
restricções existentes na PharmaEU aquando da recolha de dados, foi a impossibilidade
de recolher dados da unidade de I&D biológica. Este facto enviesa as eventuais
conclusões sobre o funcionamento desta unidade e constitui uma limitação importante do
estudo de caso realizado. Contudo, considera-se que a natureza muito distinta dos dois
tipos de I&D realizados na PharmaEU e a sua centralização numa só unidade, permitiu
obter informação relevante e completa sobre o funcionamento da I&D química,
assegurando que as questões de investigação foram respondidas devidamente.
Quarto e último, apresentaram-se as principais ilações relevantes para a teoria
de internacionalização de I&D, fazendo-se a ponte com o quadro de referência
específico. Destacam-se um conjunto de aspectos que se referem de seguda.
O rigor metodológico permite a utilização do estudo de caso realizado como
fonte de inspiração para estudos futuros e ainda uma generalização abstracta do
modelo empírico, que pode ser utilizado para futuras investigações.
As variáveis associadas à protecção e licenciamento tecnológico, ao
financiamento central das actividades de I&D e à regulamentação de I&D foram
validadas empiricamente, e devem ser utilizadas em estudos futuros sobre
internacionalização de I&D, especificamente na indústria farmacêutica.
É importante abordar as redes de I&D internas e externas numa perspectiva
integrada, e considerar a questão da localização do desenvolvimento tecnológico
numa perspectiva global, quer no país de origem, quer no estrangeiro, aspectos a
considerar em estudos futuros.
No caso de haver tipos distintos de I&D na mesma organização, com
sinergias mínimas ou sem sinergias, é importante analisar a organização de I&D
internacional separadamente por cada tipo de I&D. Esta ilação representa uma
diferença clara de abordagem face à literatura analisada e tem implicações na teoria de
internacionalização de I&D.
247
9. CONCLUSÕES
A internacionalização tem sido estudada desde os anos sessenta, com particular
enfoque na internacionalização das vendas e da produção, e muitos cientistas têm
realizado investigações de qualidade nesta área (Dunning, 1980, 1988, 1998, 1999;
Fletcher, 2001, 2008; Johanson & Vahlne, 1977; Johanson & Wiedersheim-Paul, 1975;
Oviatt & McDougall, 1994, 2005b; Vernon, 1966; 1979, entre outros), permitindo
consolidar o quadro teórico associado.
Contudo, a internacionalização de I&D foi alvo de menos atenção por parte dos
autores que se dedicaram ao estudo da internacionalização, como foi referido na secção
2.4 da presente dissertação.
Os estudos que se dedicam à internacionalização das actividades de I&D por
considerar estas actividades suficientemente distintas das actividades de produção e
vendas para serem analisadas separadamente começaram a aparecer nos anos oitenta
(um dos primeiros estudos é o de Ronstadt, 1984), e o quadro teórico associado ainda
está pouco desenvolvido.
As razões que levam à internacionalização de I&D, os actores envolvidos no
processo, e as metodologias de estudo mais apropriadas foram pouco estudadas, como
se expôs nas secções 3.3 a 3.5 da presente dissertação.
A organização de I&D internacional representa, comparativamente, a área mais
desenvolvida, e foi aí que a investigação realizada se focou, respondendo a duas
questões de investigação relacionadas com essa área e aplicadas à indústria
farmacêutica:
• Que modelos de organização de I&D internacional se aplicam na
indústria farmacêutica?
• Como se gere a I&D internacional na indústria farmacêutica?
Na presente dissertação apresentaram-se e discutiram-se em pormenor aspectos
relacionados com a resposta a estas duas questões, sendo que o relato da investigação
realizada foi dividido em seis grandes capítulos, acrescidos de prefácio, introdução e
conclusões.
248
O primeiro capítulo dedicou-se à revisão da literatura associada à
internacionalização, com o principal objectivo de identificar até que ponto era possível
recorrer a abordagens utilizadas para estudar a internacionalização, para estudar a I&D
internacional na indústria farmacêutica.
Contudo, apesar da consolidação do quadro teórico associado à
internacionalização, reparou-se que uma das principais limitações da literatura analisada
consta na construção dos modelos de internacionalização a partir das especificidades
das actividades de produção e de vendas internacionais. Havia somente referências
esporádicas à exploração das características inovadoras dos bens em mercados
internacionais, numa lógica de vendas internacionais e menos de desenvolvimento de
nova tecnologia ou de novos produtos em outros países que não o país de origem.
Este facto levou a que se tomasse a decisão de aprofundar a revisão da literatura,
com o objectivo de identificar estudos específicos que consideravam as particularidades
das actividades de I&D internacional, como actividades distintas da produção e venda
internacionais.
No segundo capítulo, apresenta-se a revisão da literatura específica associada à
internacionalização de I&D, com o principal objectivo de identificar modelos de
internacionalização de I&D que pudessem ser aplicados à indústria farmacêutica.
A internacionalização de I&D foi estudada com base na literatura relacionada com
a organização de I&D internacional, por se tratar da área mais estudada
comparativamente com a literatura associada às razões para a internacionalização de
I&D, aos actores envolvidos nesse processo e às metodologias e indicadores utilizados.
A revisão da literatura apresentada neste capítulo concentrou-se na organização
de I&D internacional com o intuito de aprofundar e compreender os modelos propostos
pelos vários autores e identificar aqueles aplicáveis à indústria farmacêutica.
Na análise comparativa dos dez modelos identificados revelou-se que havia uma
grande heterogeneidade nas variáveis utilizadas e estudos empíricos pouco
desenvolvidos. Nos estudos quantitativos, as amostras eram geralmente reduzidas, e os
estudos qualitativos praticamente inexistentes. Pareceu haver pouca concordância
quanto à melhor maneira de estudar a organização de I&D internacional, o que reflecte
um quadro teórico ainda pouco consolidado, em desenvolvimento.
249
Na mesma análise comparativa revelou-se, também, que os dez modelos de
organização de I&D internacional falhavam em incluir aspectos importantes relacionados
com a forma actual de fazer I&D e inovação, designadamente aspectos associados com
a Inovação Aberta (Chesbrough, 2003a) e com a Indústria de Investigação (Cooke,
2006). O modelo mais recente proposto por Archibugi & Iammarino (2002) incluía
algumas variáveis relevantes (venda de licenças e parceiros externos para I&D),
utilizando uma perspectiva pouco desenvolvida que carece de validação empírica.
Ainda, não se encontrou nenhum modelo de organização de I&D internacional que
pudesse ser considerado relevante e válido no contexto actual e que se pudesse aplicar à
indústria farmacêutica.
Com vista a conseguir responder às questões de investigação e superar as
insuficiências identificadas nas literatura analisada, desenvolveu-se um modelo holístico
de organização de I&D internacional a partir dos dez modelos considerados,
complementado com algumas variáveis novas associadas essencialmente com a
Inovação Aberta e a regulamentação das actividades de I&D.
O modelo holístico representa um primeiro contributo importante da
presente dissertação, com implicações no quadro teórico sobre a
internacionalização de I&D, por permitir estruturar os contributos existentes sobre
a organização de I&D internacional e orientar estudos futuros nessa área,
recorrendo a métodos apropriados, quantitativos ou qualitativos.
Contudo, não havia informação sobre a forma como o modelo holístico
desenvolvido podia adaptar-se à indústria farmacêutica. Por essa razão, o terceiro e o
quarto capítulo foram dedicados à construção de um modelo proposto de organização de
I&D internacional na indústria farmacêutica, a partir do modelo holístico.
Para este efeito, no terceiro capítulo apresentam-se as principais características
da indústria farmacêutica e do processo de I&D farmacêutica, revelando as suas
especificidades: indústria global, ainda muito concentrada na Tríade e num número
reduzido de empresas e produtos novos protegidos por patente; indústria com exclusiva
responsabilidade para a introdução de novos medicamentos no mercado; competitividade
dependente da inovação e valorização da propriedade intelectual dos novos produtos
(venda e compra de licenças); investimentos extensos em I&D, combinados com baixa
produtividade do processo e reduzida taxa de sucesso das actividades de I&D;
250
actividades de I&D que obrigam à colaboração com parceiros externos à empresa, no
país de origem e no estrangeiro; comercialização dos novos medicamenos feita em
vários mercados em simultâneo, para maximizar os lucros durante a duração de vida da
patente.
No quarto capítulo utilizam-se as especificidades da indústria farmacêutica para
identificar as variáveis do modelo holístico e as formas de organização de I&D
internacional potencialmente válidas no caso desta indústria. Este processo teve dois
resultados:
• as variáveis do modelo holístico que podiam ser relevantes para a organização
de I&D internacional na indústria farmacêutica, que constituíram o modelo
proposto de organização de I&D na indústria farmacêutica (apresentado na
Figura 22);
• a representação gráfica da forma de organização de I&D que podia ser
relevante na indústria farmacêutica (apresentada na Figura 23).
Sendo que o modelo proposto para a organização de I&D internacional na
indústria farmacêutica: a) baseava-se no modelo holístico, por sua vez desenvolvido com
base na literatura revista, e b) permitia acomodar as especificidades da indústria
farmacêutica, considerou-se que este modelo seria um bom ponto de partida para uma
validação ou confirmação empírica, e que podia permitir responder às questões de
investigação colocadas.
No quinto capítulo, definiu-se a abordagem metodológica utilizada para a
realização da componente empírica da dissertação, tomando em consideração os
paradigmas científicos existentes e o enquadramento da investigação no paradigma
pragmático, as estratégias e os métodos de investigação subjacentes a este paradigma e
as características da indústria farmacêutica.
Nas escolhas metodológicas tomadas consideraram-se vários aspectos, descritos
em pormenor neste capítulo. Os mais importantes foram:
• utilizar abordagens de investigação que permitissem confirmar o modelo
proposto enquanto permitissem o seu enriquecimento, numa perspectiva
aumentada em vez de redutora, porque o quadro teórico sobre a
internacionalização de I&D tinha insuficiências profundas;
251
• possibilitar um estudo empírico numa indústria com grande concentração de
empresas e uma reputação de secretismo associado às suas actividades de
I&D.
As duas estratégias de investigação possíveis que permitiam responder às
condicionantes acima referidas eram: estudo de caso e inquéritos com questões semi-
abertas.
A realização de inquéritos obrigava à utilização de um número elevado de
empresas e contactos dispendiosos em termos de tempo, se não houvesse um projecto
de grande envergadura que suportasse a investigação. Não havia certezas de que os
resultados desejados podiam ser alcançados se se recorresse a esta estratégia de
investigação.
O estudo de caso era possível, segundo contactos preliminares com as empresas
do sector, mas a realização de um estudo de caso múltiplo que permitisse comparar
várias empresas farmacêuticas tinha a desvantagem de se confrontar com reticência por
parte dessas empresas, devido à profundidade da análise e da importância estratégica da
actividade de I&D para as empresas farmacêuticas.
Optou-se, consequentemente, por realizar um estudo de caso único, aprofundado,
envolvendo vários níveis de análise na empresa estudada e utilizando múltiplas fontes de
informação. A investigação realizou-se sob a alçada de um acordo de confidencialidade
que permitia à respectiva empresa farmacêutica ter a necessária segurança de que os
aspectos revelados na investigação não prejudicavam a sua posição competitiva
presente ou futura.
Considera-se que a decisão tomada foi acertada, no respectivo contexto, e que
permitiu responder às questões de investigação colocadas com qualidade e rigor,
enriquecendo o quadro teórico de referência relativo à internacionalização de I&D.
No sexto capítulo, apresentaram-se os resultados obtidos no estudo de caso
realizado numa única empresa farmacêutica, designada pelo nome fictício PharmaEU,
realizou-se a comparação entre o modelo empírico de organização de I&D internacional
encontrado nessa empresa e o modelo proposto para a organização de I&D internacional
na indústria farmacêutica e identificaram-se as implicações desse estudo de caso no
quadro teórico de referência.
252
PharmaEU apresenta uma forma de organização de I&D internacional policêntrica,
se for vista numa perspectiva holístiva, ou uma combinação de estrutura centralizada
com múltiplas parcerias internacionais (para a I&D química) e de estrutura centralizada
etnocêntrica, com mercados limitados e I&D interna (para a I&D biológica). A forma de
gestão de I&D adequa-se a esta forma de organização de I&D internacional.
Como limitação específica do estudo de caso realizado na PharmaEU,
menciona-se a impossibilidade de recolher dados directamente da unidade de I&D
biológica, devido a restricções contextuais na altura em que o estudo foi realizado.
Este facto enviesa as eventuais conclusões sobre o funcionamento desta unidade,
mas considera-se que a natureza distinta da I&D química e o estudo completo da
sua forma de organização permitiu responder devidamente às questões de
investigação colocadas.
Explicaram-se e justificaram-se as diferenças existentes entre o modelo empírico
e o modelo proposto de organização de I&D internacional para a indústria farmacêutica.
As razões para a existência de diferenças na importância atribuída às variáveis no
modelo empírico versus no modelo conceptual prendem-se com um enfoque particular
dos modelos considerados na literatura nas questões de localização de desenvolvimento
tecnológico e no funcionamento interno das actividades de I&D, em detrimento de uma
abordagem mais holística e equilibrada quer sobre a localização do desenvolvimento
tecnológico, quer sobre o funcionamento interno das actividades de I&D e das interfaces
com aos parceiros externos para I&D.
O estudo empírico permitiu auferir, por conseguinte, ser importante abordar
as redes de I&D internas e externas numa perspectiva integrada, e considerar a
questão da localização do desenvolvimento tecnológico de modo a incluir nas
possíveis opções quer o país de origem, quer os países estrangeiros.
Os estudos futuros sobre internacionalização de I&D deverão considerar
estes aspectos e ultrapassar por esta via as actuais insuficiências do quadro
teórico associado.
As razões para a presença ou ausência de determinadas variáveis devem-se quer
à especificidade do estudo de caso realizado, em que a presença de algumas variáveis
incluídas no modelo proposto não era expectável, quer a uma insuficiência particular da
253
literatura associada à organização de I&D internacional, que não reflecte a possibilidade
da existência de estruturas imbricadas de I&D na mesma empresa, caso existam tipos de
I&D distintos, com sinergias mínimas.
No final do capítulo discutiram-se os resultados obtidos na componente empírica e
indicaram-se as principais implicações sobre as teorias e modelos de internacionalização
de I&D.
Concluiu-se que o estudo de caso foi realizado com rigor metodológico,
caracterizando-se por validade dos constructos, validade externa e fiabilidade.
Concretamente, no que respeita à validade externa (generalização), é possível
generalizar para a literatura em que se alicerçou o estudo de caso, o quadro teórico
relativo à internacionalização de I&D, através da confirmação das novas variáveis
incluídas no modelo proposto, e das questões relativas à importância de certas variáveis
nesse mesmo modelo.
Consequentemente, foi possível confirmar o modelo proposto de
organização de I&D internacional para a indústria farmacêutica, o que representa o
segundo contributo importante da presente dissertação. Este modelo de
organização de I&D internacional (ver Figuras 44 e 45) pode ser utilizado por
investigadores académicos para orientar estudos futuros nessa área, recorrendo a
métodos quantitativos ou qualitativos, segundo as preferências de cada
investigador.
O modelo pode ser utilizado, também, como uma ferramenta de gestão para
as empresas farmacêuticas, porque permite delinear as formas de organização de
I&D internacional mais apropriadas para um determinado tipo de I&D, através da
identificação das variáveis mais relevantes para cada empresa e das estruturas de
organização e gestão subjacentes (à semelhança daquilo que foi feito no capítulo 5
para desenvolver um modelo proposto para a indústria farmacêutica).
Realçou-se, também, ser relevante introduzir no modelo de organização de I&D
internacional variáveis associadas à Inovação Aberta (Chesbrough, 2003a). Estas
variáveis devem ser consideradas em estudos futuros, considerando as várias
possibilidades de manifestação deste tipo de inovação (protecção e valorização da
tecnologia, recurso a parcerias externas para complementar a base interna de
conhecimento, entre outros).
254
A literatura analisada sobre a internacionalização de I&D e especificamente
sobre organização de I&D internacional não contemplava devidamente as variáveis
associadas à Inovação Aberta, o que representa uma insuficiência importante que
deve ser colmatada em estudos futuros, de acordo com as ilações decorrentes da
presente investigação.
A questão da regulamentação de I&D, quer local, quer internacional, também foi
confirmada, e deverá ser considerada em estudos futuros, nos sectores de actividade em
que a regulamentação possa afectar a forma como se faz I&D, como é certamente o caso
da indústria farmacêutica.
Por fim, uma última ilação realçada neste capítulo de discussão prende-se com
uma falha na literatura existente sobre organização de I&D internacional. Tem sido
afirmado por alguns autores, tal como referido na secção 3.7 da presente dissertação,
que as estruturas policêntricas de I&D não são eficientes e que tendem a cair em desuso.
O caso PharmaEU comprovou o contrário, e levou a compreender que o nível de
análise utilizado na literatura até à data é demasiado abrangente, no sentido de não
sugerir a existência de formas de organização de I&D diferentes no seio da mesma
empresa, caso os tipos de I&D desenvolvida sejam suficientemente distintos para não
permitir sinergias significativas. Trata-se de uma diferença clara de abordagem
comparativamente com a literatura analisada, que não refere esta necessidade.
PharmaEU tem uma estrutura policêntrica, se for analisada numa perspectiva
abrangente, que não diferencia os dois tipos de I&D, mas tem duas estruturas
centralizadas de I&D para cada tipo, se for analisada a um nível mais pormenorizado.
Este aspecto é fundamental e tem um impacto significativo na forma como
deve ser estudada a organização de I&D internacional no futuro. A presente
investigação possibilitou a identificação da necessidade de separar a análise de
formas de organização de I&D internacional caso se trate de tipos de I&D distintos,
com sinergias mínimas, uma insuficiência importante do quadro teórico existente.
Os estudos futuros sobre organização de I&D internacional devem considerar
devidamente este aspecto e o mesmo acontece com os gestores da indústria
farmacêutica que pretendem definir estruturas de organização de I&D internacional
para as empresas em que trabalham.
255
No que respeita às implicações para a gestão, já foi mencionada a
possibilidade de utilizar o modelo proposto de organização de I&D internacional na
indústria farmacêutica como uma ferramenta de gestão para as empresas
farmacêuticas, para delinear as formas de organização de I&D internacional mais
apropriadas para um determinado tipo de I&D e as estruturas de organização e
gestão associadas. A utilização do modelo para este efeito permitirá a realização de
simulações e a escolha das formas de organização de I&D internacional que mais se
adequam à estratégia e às características de cada empresa.
Uma implicação análoga prende-se com a possibilidade de utilizar o modelo
holístico de organização de I&D internacional como ferramenta de gestão para
empresas de outros sectores de actividade, com vista a delinear as formas de
organização de I&D internacional mais apropriados para um determinado tipo de
I&D e as estruturas de organização e gestão associadas. Tal como no caso da
indústria farmacêutica, a utilização do modelo para este efeito permitirá a realização de
simulações e a escolha das formas de organização de I&D internacional que mais se
adequam à estratégia e às características de cada empresa.
Uma terceira implicação, que já foi mencionada, também, está relacionada com a
necessidade de os gestores de I&D internacional, quer na indústria farmacêutica,
quer noutras indústrias, analisarem as redes de I&D internas e externas à empresa,
caso existam, numa perspectiva de integração, uma vez que o enfoque na optimização
somente de um tipo de rede no detrimento de uma outra pode tornar-se prejudicial para o
funcionamento eficaz das actividades de I&D e dos resultados obtidos dessas mesmas
actividades.
Por fim, no que respeita às implicações para a política, viu-se que a
regulamentação afecta os modelos de organização de I&D internacional, o que sugere
que qualquer tipo de medida de política implementada por via da regulamentação afecta
directamente a forma de organização de I&D internacional, especificamente no caso da
indústria farmacêutica, em que a presença e importância desta variável foi comprovada.
Assim, na indústria farmacêutica, podem ser consideradas algumas medidas de
política associadas à regulamentação, como se descreve de seguida.
256
A nível nacional, podem ser tomadas medidas no âmbito da regulamentação
que incentivem a realização de ensaios no respectivo país, sem comprometer a
segurança associada à utilização de medicamentos experimentais em humanos,
tais como:
• aumentar a rapidez de aprovação dos ensaios, com vista a ter um impacto
positivo na duração do processo de desenvolvimento de medicamentos;
• clarificar a forma como deve ser interpretada a legislação com vista a reduzir o
tempo despendido em contactos com as autoridades regulamentares no
âmbito da preparação do pedido de autorização do ensaio;
• alinhar a legislação geral para permitir a realização dos ensaios com máxima
fluidez (por exemplo, alinhar a legislação de protecção de dados pessoas com
o necessário processamento de dados no âmbito de ensaios clínicos).
A nível internacional, como a indústria farmacêutica é uma indústria global quer no
que respeita ao desenvolvimento de medicamentos, quer no que respeita à sua
comercialização, pode dar-se continuidade a iniciativas de normalização da
regulamentação existente, como é o caso da International Conference for
Harmonization (ICH, 2007) aplicável nos países da Tríade, ou da existência do actual
acordo europeu para obtenção de autorizações de entrada no mercado (Infarmed, 2007).
Por essa via, podem ser desenvolvidas e aplicadas normas de boas práticas
clínicas associadas aos ensaios que funcionam nos países aderentes às respectivas
iniciativas de normalização, e que permitem às empresas farmacêuticas a utilização dos
mesmos princípios para vários ensaios e, também, para a preparação dos dossiês de
registo para entrada em vários mercados.
Este tipo de medidas de política, com impacto internacional, necessitam de um
alinhamento entre vários países e podem ser de mais difícil implementação. Contudo, o
seu impacto na produtividade do processo de I&D farmacêutica pode ser significativo, e
pode resultar em melhores e mais medicamentos novos.
257
No que respeita às direcções de investigação futura, os principais aspectos já
foram mencionados, designadamente:
• possibilidade de utilizar o modelo holístico de organização de I&D
internacional como ponto de partida para estudar a forma como a I&D
internacional está organizada e gerida, em vários sectores de actividade,
vários tipos de empresas e recorrendo a métodos quantitativos ou qualitativos;
a utilização deste modelo para este efeito permitirá a realização de
comparações entre as investigações realizadas e a integração de contributos
resultantes de abordagens quantitativas e qualitativas;
• possibilidade de utilizar o modelo proposto de organização de I&D
internacional na indústria farmacêutica para estudar a forma como a I&D
internacional está organizada e gerida neste sector de actividade,
recorrendo a métodos quantitativos ou qualitativos; a utilização deste modelo
para este efeito permitirá a realização de comparações entre as investigações
realizadas e a integração de contributos resultantes de abordagens
quantitativas e qualitativas.
Acresce-se ainda a possibilidade e necessidade de utilizar nos estudos
futuros as variáveis relacionadas com a Inovação Aberta já incluídas no modelo
holístico e no modelo proposto para a indústria farmacêutica, e procurar identificar,
também, outras variáveis relacionadas com este tipo de fazer inovação e averiguar a
sua importância para a organização de I&D internacional.
Considera-se que, através das três direcções de investigação futura acima
mencionadas será possível desenvolver o modelo holístico e o modelo proposto para a
indústria farmacêutica, validar os mesmos com base em estudos empíricos de maior
dimensão, e enriquecer esses modelos com base nos resultados obtidos, permitindo que
se mantenha a sua actualidade no contexto em que são testados e aplicados. Em suma,
será possível que a partir da investigação realizada no âmbito do presente doutoramento
sejam desenvolvidos novos trabalhos, respeitando o princípio cumulativo da ciência.
259
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14 As citações e referências bibliográficas desta dissertação foram realizadas exclusivamente com
o apoio do software de referências bibliográficas Endnote, versão X1. O processo de
correspondência entre as citações e a lista de referências biliográficas final é automático e
assegura que não há citações no texto que não sejam referidas na lista de referências, nem
referências incluídas nesta lista que não sejam citadas no texto.
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ANEXOS
I
Anexo 1 – Conceito de internacionalização
A internacionalização está associada à actividade desempenhada em países estrangeiros
e pode ser analisada a vários níveis: por exemplo, de país/economia, de empresa ou de
actividade/função/projecto. Cada uma destas perspectivas leva à utilização de modelos de análise
e abordagens distintas. O entendimento do conceito de internacionalização é, também, distinto.
A internacionalização a nível do país é vista como um processo de crescente
interligação e interdependência económica à escala internacional entre economias nacionais
anteriormente separadas; manifesta-se, por exemplo, através de investimento directo ou de
fornecimento de capital, tecnologia, informação, mão-de-obra qualificada, matérias-primas, fontes
energéticas, entre outros (Fletcher, 2001; Poutanen, 2005). Este tipo de internacionalização está
associado ao conceito de globalização e encontra-se no foco de debates particularmente
controversos. Considera-se que este nível de análise não se enquadra no âmbito da presente
investigação.
A internacionalização da empresa é um processo de envolvimento internacional de uma
empresa, num ou vários países (Archibugi & Iammarino, 2002; Havila, et al., 2002a). É um
processo através do qual parte das actividades de uma empresa passam a ser desempenhadas
fora do país de origem, seja em unidades de negócio associadas à empresa mãe e localizadas no
estrangeiro (por exemplo, subsidiárias), seja através de terceiros (por exemplo, subcontratação,
representantes), seja utilizando uma combinação das duas soluções anteriores (Saur-Amaral &
Borges Gouveia, 2006).
O envolvimento internacional de uma empresa e as actividades que esta passa a
desenvolver fora do país de origem devem seguir uma lógica de atribuição de recursos e
investimento nas localizações certas num dado momento. Ao longo do tempo, em função dos
objectivos e dos recursos disponíveis, a participação da empresa nos vários mercados
estrangeiros varia, dando lugar tanto ao aumento da actividade (investimentos), como à sua
diminuição (desinvestimento) (Archibugi & Iammarino, 2002; Saur-Amaral & Borges Gouveia,
2006).
Grande parte da literatura sobre este tipo de internacionalização (por exemplo, Cantwell,
1995; Dunning, 1998; Dunning & Narula, 1995; Fletcher, 2001; Havila et al., 2002a; Havila & Salmi,
2002; Hill, 2005; Vernon, 1966) foca nas razões que levam uma empresa a internacionalizar as
suas actividades (por exemplo, perspectiva da empresa e perspectiva das redes), tendo sido
elaborados vários modelos de internacionalização (por exemplo, modelo ciclo de vida, modelo
Uppsala, modelo ecléctico, modelo International New Ventures, modelo holístico, entre outros).
Estes aspectos são tratados num capítulo aparte (ver 3.2).
II
A internacionalização de uma actividade/função/projecto específico tem sido objecto
de uma literatura específica, em função do tipo de actividade a internacionalizar. A
internacionalização da produção (por exemplo, De Fraja & Norman, 2004; Gao, 2007; MacCarthy
& Atthirawong, 2003; Meijboom & Voordijk, 2003; Miozzo, et al., 2005; Moati & Mouhoud, 2005;
Sim, 2004), das vendas (por exemplo, Bello & Zhu, 2006; Ghemawat, 2005; Katsikeas, 2006;
Kiessling, et al., 2006; Soares, et al., 2007; Viswanathan & Dickson, 2007), da tecnologia/inovação
(por exemplo, Archibugi & Iammarino, 2002; Dunning, 1998; Dunning & Narula, 1995; H.
Hakanson, 1990; L. Hakanson & Nobel, 1993a; Kuemmerle, 1996, 1999; Niosi, 1999; Roper &
Hewitt-Dundas, 2006; von Zedtwitz, 2007; von Zedtwitz & Gassmann, 2002; Wolff, 2006; Zander,
2002), entre outros, são aspectos tratados de forma distinta e influenciados pelas teorias de
internacionalização da empresa.
No presente trabalho, dá-se enfoque à internacionalização da actividade de investigação e
desenvolvimento.
III
Anexo 2 – Conceito de inovação aberta15
Inovar exclusivamente dentro das fronteiras de uma organização, utilizando unicamente
recursos internos, deixou de representar uma solução competitiva sustentável. Muitas
organizações recorrem a recursos externos e utilizam abordagens criativas para aumentar a sua
capacidade de inovação. A abertura das organizações para aproveitar recursos externos com vista
à inovação está associada ao conceito de Inovação Aberta (Chesbrough, 2003a; Chesbrough &
Crowther, 2006; Chesbrough & Schwartz, 2007; Chesbrough, 2003b).
O conceito de Inovação Aberta – inovar dentro e fora das fronteiras da organização,
com recurso a parcerias externas, subcontratação, aquisição de tecnologias, entre outros – é
relativamente recente. Introduzido por Henry Chesbrough em 2003, prende-se com a
necessidade de deixar as ideias fluir para fora da organização, com vista a encontrar
formas mais vantajosas de as valorizar, e para dentro da organização, com vista a encontrar
novas combinações e novas formas de inovar (Brown, 2003; Chesbrough, 2003a).
As principais diferenças entre a Inovação Aberta e a forma anterior de fazer inovação,
designada por Inovação Fechada podem ser observadas na tabela seguinte (adaptada de
Chesbrough, 2003a, p. xxvi).
Princípios associados à Inovação Fechada Princípios associados à Inovação Aberta
Os especialistas na área em que estamos a inovar trabalham dentro da organização.
Nem todos os especialistas na área em que estamos a inovar trabalham dentro da organização. É preciso trabalhar com especialistas de dentro e de fora da organização.
Para obter lucro de I&D, é preciso descobrir, desenvolver e distribuir, com recurso a actividades internas à organização.
A I&D desenvolvida externamente pode criar um valor significativo. É preciso ter I&D interna para aproveitar parte desse valor.
Se conseguir fazer uma descoberta, o objectivo principal é levá-la primeiro ao mercado.
Não é necessário fazer uma descoberta para tirar lucro da mesma.
A primeira empresa que leva uma inovação ao mercado vai ganhar.
Criar um modelo de negócio melhor é preferível ao chegar primeiro ao mercado.
Uma empresa vai ganhar se conseguir ter muitas e melhores ideias num dado sector de actividade.
Uma empresa vai ganhar se conseguir utilizar melhor ideias internas e externas.
Uma empresa deve controlar e proteger a sua propriedade intelectual, para que os competidores não possam aproveitar as suas ideias.
Uma empresa deve permitir e tirar lucro da utilização que outros fazem da sua propriedade intelectual, e deve tirar lucro da propriedade intelectual dos outros quando lhe permite potenciar o seu modelo de negócio.
15 Optou-se por manter os conceitos de “Inovação Aberta” e “Inovação Fechada” tais como descritos por
Henry Chesbrough (2003) por serem muito utilizados na comunidade académica. Realça-se, contudo, que o
papel desse autor foi de disseminar um conceito de inovação que já existia, até porque o processo de
inovação implica necessariamente uma abertura para o exterior da empresa, nem que seja na fase de pré-
comercialização de um novo produto ou serviço. Trata-se de um novo modelo de inovação, que realça as
ligações que a empresa tem com o exterior no âmbito do seu processo de inovação.
IV
Sendo um conceito recente e “na moda”, procurou-se compreender quais eram as
principais linhas de investigação associadas à Inovação Aberta (Amaral & Saur-Amaral, 2008).
Uma pesquisa sistemática realizada no ISI Current Contents nos artigos científicos publicados
entre 1998 e 2008 nas publicações associadas às Ciências Sociais revelou que havia somente 42
artigos que contém, no título ou assunto, “inovação aberta” ou expressões relacionadas (open
innovation, external innovation, sourcing innovation, innovation licensing, technology licensing,
technology in-licensing, technology out-licensing ( Chesbrough & Crowther, 2006)). Apresentam-
se, na tabela seguinte, os artigos encontrados por expressão de pesquisa.
Expressão Nº de artigos
Open innovation 27
External innovation 7
Sourcing innovation 1
Innovation licensing 1
Technology licensing 7
Technology in-licensing 7
Technology out-licensing 7
Utilizou-se a função de análise disponível no ISI Current Contents para identificar os
autores mais frequentes, as disciplinas que mais contribuíram para os artigos (e
consequentemente para o presente quadro teórico da Inovação Aberta), e as revistas científicas
em esses artigos foram publicados. Apresentam-se os resultados nas tabelas que se seguem.
Autores Registos % de total artigos
Chesbrough, H 6 14.29 %
Lichtenthaler, U 4 9.52 %
Ernst, H 3 7.14 %
Cooke, P 2 4.76 %
Henkel, J 2 4.76 %
(70 autores têm menos de 2 artigos)
O desenvolvimento de teoria em Inovação Aberta é presentemente liderado por Henry
Chesbrough, que primeiro propôs o conceito, seguido de perto por Ulrich Lichtenthaler e Holger
Ernst. Há, contudo, muitos autores que contribuíram apenas com um artigo.
V
Disciplina Registos % de total artigos
Management 33 78.57 %
Management & Organization 17 40.48 %
Technology R & D/Management 15 35.71 %
Engineering Management/General 13 30.95 %
Economics 8 19.05 %
Business & Economics 2 4.76 %
(só 1 disciplina tem menos de 2 artigos)
Verifica-se que o quadro teórico associado à Inovação Aberta é construído através de
artigos científicos asociados às disciplinas de gestão, com contribuições significativas de áreas
tais como gestão da I&D/gestão da tecnológia e engenharia, e somente com contribuições
residuais de disciplinas ligadas à economia e gestão de negócios.
Revistas Registos % de total artigos
R & D Management 9 21.43 %
Research-Technology Management 6 14.29 %
International Journal of Technology Management 3 7.14 %
Research Policy 3 7.14 %
Applied Economics Letters 2 4.76 %
California Management Review 2 4.76 %
MIT Sloan Management Review 2 4.76 %
Organization Science 2 4.76 %
Technovation 2 4.76 %
(11 revistas têm menos de 2 artigos)
Há uma liderança clara de R&D Management Journal em termos de contribuição o quadro
teórico associado à Inovação Aberta, essencialmente devido à edição especial sobre este tópico
publicada em 2006. O segundo lugar é ocupado pela revista Research-Technology Management
Journal. Seguem-se outras revistas com contribuição menos significativa.
No que respeita à distribuição dos 42 artigos ao longo do tempo, refere-se um pico em
2006, devido à edição especial da revista R&D Management, como se pode observar na figura
seguinte.
VI
0
2
4
6
8
10
12
14
16
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
(01/03/08)
Distribuição anual dos artigos sobre Inovação Aberta
Artigos
Seguiu-se uma análise dos 42 artigos com o software bibliográfico RefViz 2.0. Os
resultados são apresentados na figura seguinte.
G1 – Parcerias para desenvolvimento
de novos produtos em cooperação
G2 – Licenciamento
tecnológico (empresas e
universidades)
G3–
Desenvolvimento
de produtos e
Propriedade
intelectual
G4 – Utilização
de tecnologia
externa para
inovar
G5 – Novas empresas
& Comunidades
G6 – Gestão de conhecimento
interno e externo
42 artigos sobre Inovação Aberta
(1999-2008)
Como foi possível averiguar, os artigos relacionados com a inovação Aberta estão
organizados em seis tópicos distintos, como se segue:
1. O Grupo 1 (1 artigo) está centrado em parcerias de co-desenvolvimento, em particular nas
relações entre uma empresa e o seu parceiro para o desenvolvimento de nova
tecnologia/produto;
VII
2. O Grupo 2 (9 artigos) está centrado no licenciamento de tecnologia, principalmente na
perspectiva do licenciamento de tecnologia oriunda das universidades e spin-off;
3. O Grupo 3 (12 artigos) está centrado na propriedade intelectual e no desenvolvimento de
novos produtos fora das fronteiras da empresa, com preocupações ao nível do papel do
consumidor/utilizador no processo de inovação;
4. O Grupo 4 (12 artigos) centra-se na obtenção de tecnologia externa para potenciar a
inovação na empresa e na mudança organizacional associada, necessária para que o
processo decorra com eficiência;
5. O Grupo 5 (4 referências) centra-se nas novas empresas e no papel da comunidade,
associada ao desenvolvimento de software open source;
6. O Grupo 6 (4 referências) centra-se na importância da gestão do conhecimento interno e
externo que permita o funcionamento eficaz da Inovação Aberta e o seu alinhamento com
a estratégia organizacional.
As contribuições teóricas existentes centram-se em diversas áreas, das parcerias e nova
governação para a inovação aberta à gestão do conhecimento e gestão de I&D/inovação aberta,
incluindo temas tais como mudança organizacional (p.e. novas arquitecturas, nova cultura) e
alinhamento estratégico.
Os artigos abordam a Inovação Aberta essencialmente na perspectiva da empresa
inovadora, com a excepção de alguns artigos sobre o desenvolvimento de software open source e
sobre o papel da universidade na transferência de tecnologia e licenciamento.
Em suma, o quadro teórico associado à Inovação Aberta está em desenvolvimento, com
muitas perspectivas por consolidar e muitas áreas que ainda não foram exploradas. Aspectos
relacionados com a perspectiva do fornecedor de serviços de inovação ou se tecnologia, ou ainda
com a Indústria de Investigação (conceito proposto por Phil Cooke (2006)) são somente alguns de
muitos em que mais estudos são necessários para compreender o seu enquadramento.
IX
Anexo 3 – Análise comparativa dos modelos de internacionalização
Modelo Empresas Internacionalização Razões Conceitos Vantagens Limitações Linha de pensamento
Internacionalização de I&D
Ciclo de vida
Indiferenciado
Processo gradual, dependente da maturidade do produto no mercado doméstico.
Redução de custos de produção. Evolução dos mercados doméstico e estrangeiros.
Ciclo de vida do produto.
-
Criado nos anos sessenta e focado na dinâmica das empresas americanas. Demasiado etnocêntrico.
Redes
Somente considera como importantes as vantagens inovadoras dos produtos para um determinado país. O modelo foca nas actividades de produção e vendas.
Uppsala
Pequenas e médias empresas (PME)
Processo faseado, baseado no conhecimento sobre um certo mercado.
Conhecimento sobre o mercado. Comprometimen-to no mercado.
Distância psicológica. Importância do conhecimento acumulado, baseado na experiência. Aprendizagem gradual.
Modelo dinâmico. Reflecte a situação de internacionalização passo a passo e considera a redução da incerteza sobre um dado mercado estrangeiro.
Demasiado rígido. As quatro fases consideradas são raramente realizadas dessa forma no contexto actual. Não explica formas de internacionalização mais recentes, por exemplo: Born Globals. Deve explorar mais a questão das redes.
Empresa
O modelo foca nas actividades de produção/vendas e não aborda especificamente a internacionalização de I&D.
X
Modelo Empresas Internacionalização Razões Conceitos Vantagens Limitações Linha de pensamento
Internacionalização de I&D
Ecléctico Multinacionais
Resultado da exploração das vantagens específicas, de localização e de interiorização.
Exploração das vantagens específicas, de localização e de intergração. Os mercados externos não permitem a obtenção de benefícios acrescidos.
Integração. Vantagens específicas.
Explica a razão de existência das multinacionais.
Concepção demasiado “económica”. Não considera outros tipos de empresas (por exemplo, PME) e não se aplica às formas de internacionalização mais recentes, por exemplo: Born Globals. Demasiado focado no interior da multinacional. Deve explorar mais as redes e alianças estratégicas.
Empresa
O modelo foca nas actividades de produção/vendas e deixa compreender que se aplica a todas as actividades de uma multinacional, sem referir especificamente a internacionalização de I&D.
INV INV – por norma, PME
Processo rápido de exploração dos mercados globais.
Necessidade de explorar e maximizar os lucros associados a produtos de conhecimento muito avançado e rapidamente “perecível”.
Estruturas de governo alternativo. Redes, alianças estratégicas. Vantagens de localização.
Explica as formas de internacionalização mais recentes. Inclui questões associadas à aprendizagem, redes e alianças estratégicas. Integra literatura sobre empreendedorismo com literatura sobre negócios internacionais.
Abordagem recente, multidisciplinar, pouco consolidada. Contempla uma situação específica, de arranque, das INV. Não há provas continuadas da sustentabilidade deste tipo de empresa. Pouco clara a aplicabilidade a outros tipos de empresas.
Redes
Somente considera como importantes a valorização dos produtos inovadores, de índole tecnológico, em vários mercados internacionais. O modelo foca nas vendas como meio de valorização destas vantagens inovadores.
XI
Modelo Empresas Internacionalização Razões Conceitos Vantagens Limitações Linha de pensamento
Internacionalização de I&D
Holístico Indiferenciado. Todas as empresas.
Conjunto de actividades internacionais do mercado doméstico para o estrangeiro e vice-versa.
Não especificadas.
Tomada de decisão internacional multidimensional e multifocal.
Integração de todas as actividades internacionais. Perspectiva que toca na abordagem geocêntrica, de rede integrada. Aplicação a todo o tipo de empresas e formas de internacionalização.
Ainda não foi devidamente validado e reconhecido pelos pares. Poucas citações ao modelo. Modelo algo estático, não há desenvolvimento suficiente sobre a forma de evolução internacional das empresas.
Redes
O modelo somente considera as actividades de venda/produção, sem abordar especificamente a internacionalização de I&D.
XIII
Anexo 4 – Domínios de conhecimento relacionados à internacionalização de I&D
Realizou-se uma pesquisa no Web of Science – ISI Current Contents, com o objectivo de
identificar todos os artigos científicos publicados desde 1998 até 2008 que tinham no tópico a
expressão (international* AND (R&D OR innovat*)), isto é, que se referiam à inovação ou I&D
internacional. Foram encontrados 1288 artigos que correspondiam à equação de pesquisa
utilizada, divididos em nove disciplinas, como se apresenta na próxima tabela. Um artigo pode
pertencer a mais que uma área disciplinar.
Disciplinas Artigos % de total artigos
ECONOMICS 541 42.00 %
MANAGEMENT 399 30.98 %
ENVIRONMENTAL STUDIES, GEOGRAPHY & DEVELOPMENT 230 17.86 %
MANAGEMENT & ORGANIZATION 163 12.66 %
BUSINESS & ECONOMICS 122 9.47 %
POLITICAL SCIENCE & PUBLIC ADMINISTRATION 114 8.85 %
ENGINEERING MANAGEMENT/GENERAL 76 5.90 %
POLITICAL SCIENCE, PUBLIC ADMIN & DEVELOPMENT 52 4.04 %
TECHNOLOGY R & D/MANAGEMENT 33 2.56 %
MARKETING & BUSINESS COMMUNICATION 21 1.63 %
(11 disciplinas têm menos de 21 artigos)
Tal como se pode observar na tabela acima, há contributos de áreas distintas, como
Economia, Gestão, Estudos ambientais e Geografia, Ciências políticas, Gestão da I&D/Tecnologia
e Marketing, o que indicia um quadro teórico com contribuições muito diversas, de cariz
multidisciplinar.
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Artigos 93 84 103 98 105 108 116 124 111 174 159
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
Distribuição anual de artigos sobre internacionalização
de I&D (1998 - 2008)
XIV
A distribuição dos artigos por anos de publicação tem-se mantido equilibrada, como se
pode observar na figura anterior, com um aumento de publicações em 2007 e 2008.
No que respeita às principais revistas científicas associadas à internacionalização de I&D,
a Research Policy lidera com cerca de 7% das publicações, seguida pela International Journal of
Technology Management, com cerca de 3,5 % e outras revistas com menos de 2,5%, tal como se
pode observar na tabela seguinte.
Revista Artigos % de total artigos
RESEARCH POLICY 92 7.1429 %
INTERNATIONAL JOURNAL OF TECHNOLOGY MANAGEMENT 45 3.4938 %
JOURNAL OF INTERNATIONAL ECONOMICS 32 2.4845 %
R & D MANAGEMENT 31 2.4068 %
JOURNAL OF INTERNATIONAL BUSINESS STUDIES 28 2.1739 %
STRATEGIC MANAGEMENT JOURNAL 25 1.9410 %
TECHNOLOGICAL FORECASTING AND SOCIAL CHANGE 23 1.7857 %
JOURNAL OF WORLD BUSINESS 20 1.5528 %
EUROPEAN PLANNING STUDIES 19 1.4752 %
SMALL BUSINESS ECONOMICS 18 1.3975 %
(306 revistas têm menos de 18 artigos)
Um exercício adicional de análise, utilizando o software RefViz 2.2., revela uma
organização dos artigos em 35 grupos distintos, apresentada na figura seguinte. Indicaram-se
somente os primeiros 8 grupos em termos de número de referências (mais de 60% do total).
Grupo 6 (160 referências) -management,
development, market
Grupo 6 (160 referências) -management,
development, market
Grupo 32 (120 referências)- country, model, market
Grupo 23 (132 referências)- market, industry, country
Grupo 18 (96 referências) -policy, development, country
Grupo 21 (83 referências) -market, performance, model
Grupo 24 (82 referências) -development,
management, multinational
Grupo 33 (80 referências) -industry, country, development
Grupo 25 (68 referências) -country, foreign, model
XV
Como foi possível averiguar, os artigos relacionados com a internacionalização de I&D/
inovação estão concentrados em domínios de conhecimento diversos. Apresentam-se na tabela
seguinte os principais grupos e depois explicita-se o seu conteúdo.
N.º do grupo N.º de referências Palavras-chave % do total % cumulativa
6 160 management, development, market 12,49% 12,49%
23 132 market, industry, country 10,30% 22,79%
32 120 country, model, market 9,37% 32,16%
18 96 policy, development, country 7,49% 39,66%
21 83 market, performance, model 6,48% 46,14%
24 82 development, management, multinational 6,40% 52,54%
33 80 industry, country, development 6,25% 58,78%
25 68 country, foreign, model 5,31% 64,09%
Total 821 64,09%
1. Grupo 6 (160 artigos) está centrado nos aspectos associados às estratégias de inovação
internacionais, à globalização de I&D, à gestão dos projectos internacionais de
desenvolvimento tecnológico com parceiros externos ou dentro da multinacional (numa
perspectiva de redes globais de conhecimento, entre outros) e aos aspectos éticos e de
sustentabilidade associados à globalização da inovação;
2. Grupo 23 (132 artigos) está centrado nos aspectos associados aos fluxos internacionais
de conhecimento (relacionados ou não com os sistemas nacionais/regionais de inovação),
à inovação vista como factor de competitividade internacional e aos modelos de inovação
internacional;
3. Grupo 32 (120 artigos) está centrado nos aspectos associados ao marketing internacional
(adopção e difusão de novos produtos a nível internacional), às questões financeiras
relacionadas com inovação internacional, à protecção da propriedade industrial e ao
licenciamento tecnológico, e, também, à difusão internacional das novas tecnologias e o
seu eventual impacto nas trajectórias tecnológicas nacionais;
4. Grupo 18 (96 artigos) está centrado nos aspectos associados às políticas de inovação e
respectiva regulamentação (abordagens regionais e globais), à importância e impacto das
tecnologias no desenvolvimento regional ou de um deteminado sector de actividade;
5. Grupo 21 (83 artigos) está centrado nos aspectos associados às alianças e parcerias
estratégicas internacionais, às principais formas de entrada nos mercados internacionais e
às vantagens específicas ou de localização que podem ser exploradas, aos factores de
competitividade internacional e ao empreendedorismo internacional (born-globals, entre
outros);
6. Grupo 24 (82 artigos) está centrado nos aspectos associados às redes e outros tipos de
formas de cooperação internacional para I&D (competências necessárias, barreiras à
cooperação, gestão da propriedade intelectual, entre outras), e à ligação universidade –
indústria e à transferência de conhecimento entre estas;
XVI
7. Grupo 33 (80 artigos) está centrado nos aspectos associados às tipologias e número de
patentes das unidades internacionais, à especificidade da base de conhecimento regional,
e à decisão de localização das empresas de tecnologias intensiva perto de clusters
tecnológicos reconhecidos a nível internacional;
8. Grupo 25 (68 artigos) está centrado nos aspectos associados à transferência
internacional de tecnologia, aos mercados internacionais de tecnologia, e à difusão
tecnológica a nível internacional.
Em suma, trata-se de um campo de estudo com contribuições diversas e dispersas, tanto
no que respeita aos temas abordados, como foi possível observar através da análise dos grupos
anteriormente apresentados, como no que respeita às disciplinas associadas, como foi
mencionado no início do presente anexo.
XVII
Anexo 5 – Teorias de internacionalização de Perlmutter e Hedlund
O presente anexo baseia-se em duas fontes de informação (Hedlund, 1986; Perlmutter,
1969) consideradas seminais para esclarecer quatro conceitos utilizados na dissertação. Trata-se
de obras citadas frequentemente por outros autores quando se referem a: etnocentrismo,
policentrismo, geocentrismo ou heterarquias. O conteúdo dessas duas obras é sintetizado de
seguida (em primeiro Perlmutter, em segundo Hedlund), e conclui-se o anexo com uma tabela
comparativa dos quatro conceitos.
Howard Perlmutter (1969), ao dissertar sobre o grau de multinacionalidade de uma
empresa, considera que as formas de organização internacional são o resultado de
atitudes/posições diferentes relativamente à maneira de funcionamento dessa empresa.
Distinguem-se, de acordo com este autor, três formas de organização internacional diferentes,
tipicamente manifestas nas declarações públicas dos gestores das empresas multinacionais:
• Etnocentrismo (orientação para o país de origem);
• Policentrismo (orientação local);
• Geocentrismo (orientação para o mundo em geral, em vez de especificamente para
um determinado país.
No caso do etnocentrismo, os colaboradores do país de origem são considerados
melhores e mais de confiança que os colaboradores estrangeiros, quer quando estes trabalham no
país de origem, quer quando trabalham nas unidades estrangeiras da empresa. Este tipo de
atitude “nacionalista” tem como principais consequências: a) produção de produtos menos
complexos nas unidades estrangeiras, e de produtos mais complexos ou considerados chave nas
unidades localizadas no país de origem; e b) apresentação pública da empresa como uma
empresa “portuguesa” ou “americana”, em função do país de origem (Perlmutter, 1969).
No policentrismo, parte-se do pressuposto que as culturas estrangeiras são diferentes e
que os colaboradores e os mercados estrangeiros são difíceis de compreender, razões que
justificam a presença quase exclusiva de colaboradores locais nas unidades estrangeiras. Este
tipo de atitude tem como consequência a separação nítida e a reduzida comunicação entre as
unidades estrangeiras e a empresa mãe. Tipicamente não há mobilidade internacional entre os
colaboradores das várias unidades da empresa (Perlmutter, 1969).
No geocentrismo considera-se que é preciso ter os melhores colaboradores,
independentemente da sua nacionalidade, para resolver os problemas da empresa em qualquer
sítio do mundo. Tem como consequência o estabelecimento de objectivos mundias e depois
locais, com base na comunicação entre todas as unidades da empresa, independentemente da
sua localização, e obriga a uma colaboração continuada entre estas unidades (Perlmutter, 1969).
XVIII
Gunnar Hedlund (1986) introduz o conceito de heterarquia, associando o mesmo a uma
empresa multinacional. O posicionamento do conceito é feito através de comparações com os três
conceitos propostos por Perlmutter (isto é, etnocentrismo, policentrismo e geocentrismo).
A abordagem heterárquica difere do geocentrismo. Baseia-se no pressuposto de que a
vantagem competitiva não reside num único país, mas em muitos, e que os produtos e ideias
novas podem surgir em países diferentes e podem ser explorados à escala mundial. Cada unidade
da empresa multinacional pode coordenar as actividades globais de um certo produto novo, por
exemplo, e desempenhar um papel periférico no caso de um outro produto novo (Hedlund, 1986).
Uma outra característica da abordagem heterárquica é a responsabilização dos gestores
tanto por aquilo que acontece na unidade em que desempenham as suas funções, como por
aquilo que afecta a empresa na sua totalidade. A cultura organizacional tem um papel fundamental
e há integração e partilha de informação sobre a empresa. Assim, cada unidade representa um
espelho daquilo que é a empresa vista na sua globalidade (metafora do holograma) (Hedlund,
1986).
Finalmente, as empresas heterárquicas envolvem-se em alianças com outras empresas e
fazem parcerias com outro tipo de actores, o que é facilitado pela extensão global da empresa
(Hedlund, 1986).
Etnocentrismo Policentrismo Geocentrismo Heterarquia
Importância atribuída às unidades estrangeiras
Marginal Substancial Máxima Máxima
Estratégia internacional
Exploração de vantagens específicas
Dimensão dos mercados, economías de escala e gama
Competição internacional, multinacionalidade
Multicentralidade e exploração global
Complexidade da forma de organização
Complexa no país de origem, simples no estrangeiro
Variada, organização independente
Complexa e interdependente
Complexa, alinhada e interdependente
Autoridade, tomada de decisão
Essencialmente na empresa mãe
Essencialmente local Colaboração entre as várias unidades
Colaboração entre as várias unidades
Controlo
Baseado em indicadores de performance da empresa mãe
Baseado em indicadores de performance locais
Baseado em indicadores válidos global e localmente
Baseado na cultura organizacional e menos num controlo coercitivo
Comunicação, fluxos de informação
Da empresa mãe para as unidades estrageiras
Pouca informação das unidades estrangeiras para a empresa mãe e vice-versa ou para outras unidades
Da empresa mãe para as unidades estrangeiras e vice-versa. Entre unidades estrangeiras
Da empresa mãe para as unidades estrangeiras e vice-versa. Entre unidades estrangeiras. Integração da informação.
XIX
Etnocentrismo Policentrismo Geocentrismo Heterarquia
Política de recursos humanos
Recrutamento e valorização dos colaboradores nacionais do país de origem; colocação desses colaboradores nas várias unidades
Recrutamento e valorização dos colaboradores locais para funções nas respectivas unidades estrangeiras. Pouca mobilidade.
Recrutamento e valorização de colaboradores independemente da nacionalidade. Muita mobilidade. Mentalidade global dos gestores.
Recrutamento e valorização de colaboradores independemente da nacionalidade. Muita mobilidade. Mentalidade global valorizada também em níveis mais baixos da hierarquia
(tabela adaptada de Perlmutter, 1969 e Hedlund, 1986)
Em suma, as quatro formas de oranização internacional explicadas no presente anexo têm
características distintas (ver comparação realizada na tabela anterior) e resultam de uma
abordagem de estudo em que a empresa multinacional é vista como um todo. Não se pode
afirmar, por essa razão, que haja uma aplicabilidade directa dessas formas de organização
quando se analisam as formas de organização internacional de actividades específicas dentro da
multinacional (produção, vendas, I&D, entre outros).
Como é possível constatar no capítulo 3.7. da presente dissertação, alguns autores que
estudaram a organização de I&D internacional adoptaram as quatro designações para estudar
essa actividade particular. Esses autores efectuaram certas adaptações que julgaram oportunas,
referidas aquando da síntese das respectivas obras.
XXI
Anexo 6 - Análise comparativa dos modelos de organização de I&D internacional
Modelo Formas de organização
Tipo de estudo
Dados empíricos Vantagens Limitações Comentários
Ronstadt (1984)
UTT (50-60), UTI (>70), UTG (60), UTC (50-60).
Empírico (dados primários)
Sete multinacionais das áreas de: energia, indústria química, elevadores, vidro, informática, indústria alimentar; 55 unidades de I&D estrangeiras; 1931 – 1974.
Primeiro trabalho significativo sobre organização de I&D internacional.
Formas de organização propostas ainda são válidas.
Não considera as novas formas de organização (redes, alianças estratégicas).
Não considera estruturas alternativas (por exemplo: licenciamento tecnológico ou subcontratação).
Abordagem fechada, virada para o interior.
Evolução de TTU para UTI, UTG para misto de UTG e UTI.
Bartlett e Ghoshal (1990)
CMG, LML, LMLG, GMLG.
Empírico (dados primários)
Nove multinacionais norte americanas e europeias de: electrónica, embalagens, telecomunicações; 38 casos de estudo detalhados; 230 entrevistas; subsidiárias em EUA, Grã-bretanha, Alemanha, França, Itália, Taiwan, Singapura, Japão, Brasil, Austrália.
Estudo pormenorizado, amostra grande.
Apresenta boas práticas de gestão de I&D.
Introduz as variáveis de coordenação e gestão estratégica, e o papel das unidades de I&D.
Não considera as novas formas de organização.
Não considera estruturas alternativas).
Abordagem fechada, virada para o interior.
Factores críticos de sucesso: aumento da eficiência individual de cada tipo de I&D internacional; complementaridade entre os vários tipos.
Papéis para cada unidade de I&D dentro da multinacional.
Hakanson (1990)
Etnocêntrica, Policêntrica, Geocêntrica.
Teórico (construção do modelo)
Validação empírica (dados primários)
Quatro multinacionais suecas de várias indústrias.
Primeiro estudo que refere as formas de organização etnocêntrica, policêntrica, geocêntrica no estudo de I&D internacional.
Estudo empírico com amostra baixa. Mais fundamentação necessária para principais ilações.
Não considera as novas formas de organização.
Não considera estruturas alternativas.
Abordagem fechada, virada para o interior.
Evolução de federações descentralizadas para redes integradas / heterarquias.
Ideias sobre novas paradigmas organizacionais para heterarquias.
XXII
Modelo Formas de organização
Tipo de estudo
Dados empíricos Vantagens Limitações Comentários
Kuemmerle (1999)
I&D para exploração de activos, I&D para aumento de activos.
Empírico (dados secundários)
32 empresas localizadas na Tríade, das áreas: farmacêutica, electrónica. Investimento directo estrangeiro para fora do país e para dentro do país, 1965 – 1995.
Primeiro estudo que refere as formas de organização associadas à exploração e ao aumento de activos no estudo de I&D internacional.
Estudo empírico limitado.
Não considera as novas formas de organização.
Não considera estruturas alternativas.
Abordagem fechada, virada para o interior.
Abordagem baseada em fluxos de informação. Evolução de actividades para exploração de activos para actividades de aumento de activos.
Pearce e Papanasta-ssiou (1999)
LS, LIL, LII. Empírico (dados primários)
48 unidades de I&D internacional localizadas na Grã-Bretanha, pertencentes a empresas oriundas da Tríade. Sectores de actividade: farmacêutico, químico, electrónico, entre outros. Estudo feito em 1994.
Abordagem diferente de estudo: unidades de I&D localizadas num dado país.
Enfoque no papel estratégico das unidades de I&D.
Falta de perspectiva integrada (só unidades de I&D, sem sede).
Estudo realizado só num país.
Não considera as novas formas de organização.
Não considera estruturas alternativas.
Abordagem fechada, virada para o interior.
I&D internacional vista como o resultado do trabalho de uma rede integrada interna à multinacional.
Gerybadze e Reger (1999)
Paradigma tradicional, Paradigma transnacional
Empírico (dados primários)
21 empresas das áreas: engenharia electrónica, informática, telecomunicações, química/ farmacêutica, aeronáutica, cosmética, localizadas na Tríade. Estudo em 1993.
Diferenciação das formas de organização de I&D em função dos sectores de actividade, país de origem e regime de inovação.
Introduz as variáveis de base científico-tecnológica no país de origem e articulação entre I&D e marketing.
Estudo empírico limitado à Tríade, com poucas empresas.
Não considera as novas formas de organização.
Não considera estruturas alternativas.
Abordagem fechada, virada para o interior.
Tentativa de definição do paradigma transnacional, mas com algumas deficiências.
XXIII
Modelo Formas de organização
Tipo de estudo
Dados empíricos Vantagens Limitações Comentários
Gassmann e von Zedtwitz (1999)
Centralizada geocêntrica, Descentralizada policêntrica, I&D tipo hub, Rede integrada de I&D.
Empírico (dados primários)
33 empresas das áreas: electrónica, automóvel, máquinas e equipamentos, química, farmacêutica, localizadas na Tríade (EUA, Europa, Japão). Entrevistas: 1994 – 1998.
Estudo empírico aprofundado e extenso.
Introduz as variáveis de competição e cooperação interna.
Uma das formas de organização propostas não é internacional.
Ignora a variável Mercado.
Não considera as novas formas de organização.
Não considera estruturas alternativas.
Abordagem fechada, virada para o interior.
Evolução de competição para cooperação; e de I&D centralizado para I&D descentralizado.
Niosi e Godin (1999)
Empresas diversificadas internacionalmente; empresas integradas verticalmente; redes globais
Empírico (dados primários)
18 multinacionais canadianas, 22 subsidiárias, 9 indústrias diferentes. 80% das unidades de I&D adquiridas. Estudo entre 1992 e 1995.
Introduz a variável Financiamento.
Realça a importância dos estudos sectoriais devido às diferenças entre as várias formas de organização de I&D internacional.
80% das unidades de I&D foram adquiridas acidentalmente.
Só um país.
Não considera as novas formas de organização.
Não considera estruturas alternativas.
Abordagem fechada, virada para o interior.
-
Zander (1999)
Duplicação internacional, Diversificação internacional, Dispersão.
Teórico (construção do modelo)
Empírico (dados secundários)
24 empresas suecas, de várias indústrias.
Modelo simples, mas com grande riqueza de variáveis utilizadas.
Realça a importância dos estudos sectoriais.
Estudo empírico limitado, e só um país.
Não considera as novas formas de organização.
Não considera estruturas alternativas.
Abordagem fechada, virada para o interior.
Diferenças entre sectores industriais: redes, abordagens competitivas, práticas de gestão, maneiras de explorar oportunidades específicas.
XXIV
Modelo Formas de organização
Tipo de estudo
Dados empíricos Vantagens Limitações Comentários
Archibugi e Iammarino (2002)
Exploração internacional, Geração global, Colaborações tecnológicas globais.
Teórico (construção do modelo)
N/A
Abordagem diferente de estudo e associação à Inovação Aberta.
Introduz as variáveis Licenciamento tecnológico, Parceiros para o desenvolvimento.
Falta validação empírica.
Desenvolvimento e explicação insuficiente das formas de organização de I&D e das formas de colaboração externa.
Ignora a variável Mercado.
Perspectiva limitada do licenciamento tecnológico.
-
XXV
Anexo 7 – Definição das variáveis incluídas no modelo holístico e das subcategorias
Categoria (nível 1) Definição
Tecnologia
(desenvolvimento,
exploração e protecção)
Inclui variáveis associadas ao principal objectivo do desenvolvimento tecnológico, à sua
exploração no país de origem ou no estrangeiro, à perspectiva de localização do
desenvolvimento tecnológico, ao papel que as unidades de I&D desempenham no que
respeita ao desenvolvimento tecnológico e à protecção e licenciamento tecnológico.
Recursos Inclui variáveis associadas a competências/conhecimento e outra infra-estrutura técnica
necessária para o desenvolvimento tecnológico.
Ligações (redes)
internas e externas
Inclui variáveis associadas às interacções internas necessárias para o desenvolvimento
tecnológico, à sua coordenação, financiamento e gestão estratégica, e variáveis associadas
às redes externas, isto é, aos parceiros para o desenvolvimento tecnológico localizados fora
da empresa.
Mercado Inclui variáveis associadas aos mercados em que a tecnologia desenvolvida vai ser
explorada, por exemplo, sob forma de produtos novos.
Subcategoria (nível 2) Definição
Objectivo da exploração
tecnológica
Inclui variáveis associadas à exploração de activos de I&D no estrangeiro, ao aumento de
activos de I&D no país de origem e no estrangeiro.
Desenvolvimento da
tecnologia chave
Inclui variáveis associadas à localização do desenvolvimento da tecnologia chave: no país
de origem e no estrangeiro
Papel das unidades de
I&D
Inclui variáveis associadas ao papel das unidades de I&D internacionais, por exemplo:
liderança estratégica, detector (sensor), participante, implementador.
Protecção e
licenciamento da
tecnologia
Inclui variáveis associadas à venda e compra de licenças e aos patentes e marcas.
Limitações dos
principais recursos
científico-tecnológicos
Inclui variáveis associadas a limitações de competências/conhecimento e outra infra-
estrutura técnica necessária para o desenvolvimento tecnológico.
Ligações (redes)
internas
Inclui variáveis associadas às interacções internas necessaries para desenvolver,
coordenar, financiar e gerir a tecnologia.
Ligações (redes)
externas
Inclui variáveis associadas aos parceiros externos para desenvolvimento tecnológico, seja
no país de origem, seja no estrangeiro.
Mercado visado Inclui variáveis associadas à localização do mercado chave.
Regulamentação Inclui variáveis associadas à origem da regulamentação: nacional ou global, que afecta o
desenvolvimento ou a comercialização da tecnologia.
XXVI
Variável Definição Referências
Exploração no estrangeiro
Actividade realizada no estrangeiro que permite explorar activos de I&D desenvolvidos no país de origem. Não contempla a perspectiva de criar valor acrescentado para os activos de I&D existentes ou a criação de novos activos de I&D.
(Archibugi & Iammarino, 1999; Bartlett & Ghoshal, 1990; Gassmann & von Zedtwitz, 1999; Gerybadze & Reger, 1999; H. Hakanson, 1990; Kuemmerle, 1999; Niosi & Godin, 1999; Pearce & Papanastassiou, 1999; Ronstadt, 1984; Zander, 1999)
Aumento no país de origem
Desenvolvimento tecnológico no país de origem, que permite a criação de valor acrescentado para os activos de I&D existentes e/ou a criação de novos activos de I&D. Não contempla a perspectiva de exploração de activos de I&D existentes.
(Archibugi & Iammarino, 1999; Bartlett & Ghoshal, 1990; Gassmann & von Zedtwitz, 1999; H. Hakanson, 1990; Kuemmerle, 1999; Niosi & Godin, 1999; Ronstadt, 1984; Zander, 1999)
Aumento no estrangeiro
Desenvolvimento tecnológico no estrangeiro, que permite a criação de valor acrescentado para os activos de I&D existentes e/ou a criação de novos activos de I&D. Não contempla a perspectiva de exploração de activos de I&D existentes.
(Archibugi & Iammarino, 1999; Bartlett & Ghoshal, 1990; Gassmann & von Zedtwitz, 1999; Gerybadze & Reger, 1999; H. Hakanson, 1990; Kuemmerle, 1999; Niosi & Godin, 1999; Pearce & Papanastassiou, 1999; Ronstadt, 1984; Zander, 1999)
Desenvolvimento no país de origem
Desenvolvimento tecnológico no país de origem. Não tem enfoque no valor acrescentado, mas na localização do desenvolvimento tecnológico.
(Archibugi & Iammarino, 1999; Bartlett & Ghoshal, 1990; Gassmann & von Zedtwitz, 1999; Gerybadze & Reger, 1999; H. Hakanson, 1990; Kuemmerle, 1999; Niosi & Godin, 1999; Pearce & Papanastassiou, 1999; Ronstadt, 1984; Zander, 1999)
Desenvolvimento no estrangeiro
Desenvolvimento tecnológico no estrangeiro. Não tem enfoque no valor acrescentado, mas na localização do desenvolvimento tecnológico.
(Archibugi & Iammarino, 1999; Bartlett & Ghoshal, 1990; Gassmann & von Zedtwitz, 1999; Gerybadze & Reger, 1999; H. Hakanson, 1990; Kuemmerle, 1999; Niosi & Godin, 1999; Pearce & Papanastassiou, 1999; Ronstadt, 1984; Zander, 1999)
Liderança estratégica
Papel activo no desenvolvimento tecnológico, especialmente manifesto nos projectos tecnológicos com colaboração de várias unidades internacionais de I&D, que consiste em influenciar a direcção do desenvolvimento tecnológico devido a uma posição privilegiada em termos de competências avançadas críticas para os respectivos projectos.
(Bartlett & Ghoshal, 1990)
Detector (sensor)
Papel activo no desenvolvimento tecnológico, especialmente manifesto nos projectos tecnológicos com colaboração de várias unidades internacionais de I&D, que consiste em detectar e monitorizar conhecimento avançado para certos projectos, aproveitando uma localização privilegiada, por exemplo, perto de centros de excelência específicos.
(Bartlett & Ghoshal, 1990)
Participante
Papel menos activo no desenvolvimento tecnológico, especialmente manifesto nos projectos tecnológicos com colaboração de várias unidades internacionais de I&D, que consiste em contribuir a certos projectos para os quais as suas competências podem trazer valor acrescentado.
(Bartlett & Ghoshal, 1990)
XXVII
Variável Definição Referências
Implementador
Papel passivo no desenvolvimento tecnológico, especialmente manifesto nos projectos tecnológicos com colaboração de várias unidades internacionais de I&D, que consiste em adaptar e implementar certas inovações desenvolvidas noutras unidades no mercado local. Trata-se de um papel mais associado à adaptação tecnológica.
(Bartlett & Ghoshal, 1990)
Venda de licenças
Alienação de tecnologia nova protegida pela empresa a parceiros externos. Pode envolver um pagamento de um montante fixo e/ou a obtenção e royalties.
(Archibugi & Iammarino, 2002)
Compra de licenças
Aquisição de tecnologia nova protegida por outras empresas. Pode envolver um pagamento de um montante fixo e/ou a obtenção e royalties.
N/A, variável nova
Patentes e marcas
Protecção de propriedade intelectual através de registo de patentes e marcas associadas à tecnologia desenvolvida ou propriedade da empresa.
N/A, variável nova
Limitações dos recursos científico-tecnológicos
Limitações de competências/conhecimento e outra infra-estrutura técnica necessária para o desenvolvimento tecnológico.
(Gerybadze & Reger, 1999)
Coordenação central
Actividade de organização dos vários componentes da actividade de I&D com vista a permitir o seu funcionamento eficaz, gerida pela sede da empresa.
(Bartlett & Ghoshal, 1990; Gerybadze & Reger, 1999; H. Hakanson, 1990; Pearce & Papanastassiou, 1999; Zander, 1999)
Coordenação local
Actividade de organização dos vários componentes da actividade de I&D com vista a permitir o seu funcionamento eficaz, gerida localmente.
(Bartlett & Ghoshal, 1990; Gerybadze & Reger, 1999; H. Hakanson, 1990; Niosi & Godin, 1999; Pearce & Papanastassiou, 1999)
Coordenação global
Actividade de organização dos vários componentes da actividade de I&D com vista a permitir o seu funcionamento eficaz, gerida globalmente, pelo conjunto de unidades de I&D da empresa.
(Bartlett & Ghoshal, 1990; Gerybadze & Reger, 1999; H. Hakanson, 1990; Niosi & Godin, 1999; Zander, 1999)
Gestão estratégica central
Actividade de gestão da empresa que permite formular, implementar e avaliar decisões multifuncionais com vista a permitir que se atinjam os objectivos da empresa, realizada pela sede da empresa. Trata-se de uma perspectiva que abrange todas as funções e actividades da empresa, inclusive a função de I&D.
(Bartlett & Ghoshal, 1990; Gerybadze & Reger, 1999; H. Hakanson, 1990; Pearce & Papanastassiou, 1999; Zander, 1999)
Gestão estratégical local
Actividade de gestão da empresa que permite formular, implementar e avaliar decisões multifuncionais com vista a permitir que se atinjam os objectivos da empresa, realizada localmente. Trata-se de uma perspectiva que abrange todas as funções e actividades da empresa, inclusive a função de I&D.
(Bartlett & Ghoshal, 1990; Gerybadze & Reger, 1999; H. Hakanson, 1990; Niosi & Godin, 1999; Pearce & Papanastassiou, 1999)
Gestão estratégica global
Actividade de gestão da empresa que permite formular, implementar e avaliar decisões multifuncionais com vista a permitir que se atinjam os objectivos da empresa, realizada globalmente, pelo conjunto de unidades de I&D da empresa. Trata-se de uma perspectiva que abrange todas as funções e actividades da empresa, inclusive a função de I&D.
(Bartlett & Ghoshal, 1990; Gerybadze & Reger, 1999; H. Hakanson, 1990; Niosi & Godin, 1999; Pearce & Papanastassiou, 1999; Zander, 1999)
Financiamento central
Actividade de distribuição de fundos para as várias funções, actividades e projectos da empresa, realizada pela sede da empresa.
(Niosi & Godin, 1999)
XXVIII
Variável Definição Referências
Financiamento local
Actividade de distribuição de fundos para as várias funções, actividades e projectos da empresa, realizada localmente.
(Niosi & Godin, 1999)
Financiamento global
Actividade de distribuição de fundos para as várias funções, actividades e projectos da empresa, realizada globalmente, pelo conjunto de unidades de I&D da empresa.
(Niosi & Godin, 1999)
Cooperação Relacionamento entre as unidades de I&D caracterizado por trabalho conjunto para atingir objectivos partilhados da organização.
(Gassmann & von Zedtwitz, 1999)
Competição Relacionamento entre as unidades de I&D caracterizado por competição entre as mesmas.
(Gassmann & von Zedtwitz, 1999)
Articulação I&D, marketing e produção
Alinhamento de objectivos entre as funções e actividades de I&D, marketing e produção, com vista ao estabelecimento de relações de cooperação entre as mesmas.
(Gerybadze & Reger, 1999)
Parceiros internos
Parcerias para desenvolvimento tecnológico entre as várias unidades de I&D da empresa, com vista à complementaridade de competências necessárias para o desenvolvimento tecnológico.
(Archibugi & Iammarino, 2002)
Parceiros externos no país de origem
Parcerias para desenvolvimento tecnológico entre as várias unidades de I&D da empresa e entidades externas localizadas no país de origem, com vista à complementaridade de competências necessárias para o desenvolvimento tecnológico.
(Archibugi & Iammarino, 2002)
Parceiros externos no estrangeiro
Parcerias para desenvolvimento tecnológico entre as várias unidades de I&D da empresa e entidades externas localizadas no estrangeiro, com vista à complementaridade de competências necessárias para o desenvolvimento tecnológico.
(Archibugi & Iammarino, 2002)
Mercado local Objectivos de comercialização da tecnologia desenvolvida ao nível local.
(Bartlett & Ghoshal, 1990; Pearce & Papanastassiou, 1999; Ronstadt, 1984; Zander, 1999)
Mercado global Objectivos de comercialização da tecnologia desenvolvida ao nível global.
(Bartlett & Ghoshal, 1990; Gerybadze & Reger, 1999; Niosi & Godin, 1999; Pearce & Papanastassiou, 1999; Ronstadt, 1984; Zander, 1999)
Regulamentação local
Actividades desenvolvidas por autoridades nacionais com vista a aplicar a regulamentação em vigor.
N/A, variável nova
Regulamentação global
Actividades desenvolvidas por autoridades internacionais com vista a aplicar a regulamentação em vigor.
N/A, variável nova
XXIX
Anexo 8 – Descrição dos fluxos entre as várias entidades envolvidas na I&D farmacêutica internacional
Tipo de fluxo Descrição
UI - UI fluxos entre unidades de investigação precompetitiva
colaboração, coordenação e alinhamento estratégico, entre outros;
UI - Sede fluxos entre as unidades de investigação precompetitiva e a sede
colaboração, coordenação e alinhamento estratégico, tecnologias e outros recursos, entre outros;
UI - UD fluxos entre as unidades de investigação precompetitiva e unidades de desenvolvimento
colaboração, coordenação, alinhamento estratégico, recursos e transferência de novas tecnologias, entre outros;
UI - Jrdc fluxos entre as unidades de investigação precompetitiva e o departamento jurídico
colaboração com vista a registo de patentes, licenciamento tecnológico (venda), parcerias externas ou contactos com entidades regulamentares para a realização de ensaios;
UI - Mk fluxos entre as unidades de investigação precompetitiva e o departamento de marketing
articulação com a realidade dos mercados;
UI - Uni
UI - II
UI - H
fluxos entre as unidades de investigação precompetitiva e parceiros externos (universidades, institutos de investigação ou hospitais)
colaboração com vista a desenvolvimento tecnológico ou a realização de ensaios, entre outros;
UI - Farma fluxos entre as unidades de investigação precompetitiva e outras empresas farmacêuticas
licenciamento tecnológico (venda);
UI - Reg fluxos entre as unidades de investigação precompetitiva e as entidades regulamentares
colaboração e autorizações de realização de ensaios para o desenvolvimento tecnológico, entre outros;
UI - PO fluxos entre as unidades de investigação precompetitiva e Patent Offices
registo de patentes;
UD - UD fluxos entre unidades de desenvolvimento
colaboração, coordenação, alinhamento estratégico, tecnologias e outros recursos, entre outros;
UD - Sede fluxos entre as unidades de desenvolvimento e a sede
colaboração, coordenação e alinhamento estratégico, tecnologias e outros recursos, entre outros;
UD - Jrdc fluxos entre as unidades de desenvolvimento e o departamento jurídico
colaboração com vista a registo de patentes, licenciamento tecnológico (compra e venda), parcerias externas ou contactos com entidades regulamentares para a realização de ensaios;
UD - Mk fluxos entre as unidades de desenvolvimento e o departamento de marketing
articulação com a realidade dos mercados;
UD - Uni
UD - II
UD - H
fluxos entre as unidades de desenvolvimento e parceiros externos (universidades, institutos de investigação ou hospitais)
colaboração com vista a desenvolvimento de produtos ou a realização de ensaios, entre outros;
XXX
Tipo de fluxo Descrição
UD - CRO fluxos entre as unidades de desenvolvimento e parceiros externos (CRO)
colaboração com vista a realização de ensaios à escala global;
UI - PO fluxos entre as unidades de desenvolvimento e Patent Offices
registo de patentes;
UD - Farma fluxos entre as unidades de desenvolvimento e outras empresas farmacêuticas
licenciamento tecnológico (compra e venda);
UD - Reg fluxos entre as unidades de desenvolvimento e as entidades regulamentares
colaboração e autorizações de realização de ensaios para o desenvolvimento tecnológico, entre outros;
XXXI
Anexo 9 – Tabelas de recolha de dados utilizadas no estudo de caso
Análise contextual: Em que contexto actua a empresa? Que organização hierárquica e que comunicação
entre as várias funções? Nível de análise: Empresa (E).
Código Descrição Variável Fontes de informação
E1 Questões de gestão estratégica: como se tomam as decisões? Fóruns conjuntos incluindo as unidades internacionais ou …
GE_Cntr, GE_Glob
Administração
E2 Políticas de coordenação (centrais, locais ou globais) em geral e no caso da I&D (relação com F8)
Crd_Cntr, Crd_Glob
Administração, I&D
E3 Organização da empresa – unidades internacionais, datas de criação
Administração, Recortes de jornal, Relatórios (fontes de arquivo)
E4 Perfil de cooperação e de decisão entre unidades internacionais e centro, em geral e no caso da I&D (relação com F11)
Coop Administração, I&D
E5 Orçamentação: percentagem atribuída ao marketing, à produção, à I&D etc. e tendências (relação com F9)
Fin_Cntr, Fin_Glob
Administração, Recortes de jornal
E6 Organigrama Administração
E7 Mercado visado: global? Ou qual a política aplicável?
Mcd_Glob Administração, Recortes de jornal
E8 Que perspectivas futuras? Que modelo desejado para a PharmaEU no futuro?
Administração, Recortes de jornal
Análise holística e integrada: Como está organizada a função de I&D internacional e porquê? Nível de
análise: Função de I&D (F).
Código Descrição Variável Fontes de informação
F1
Unidades de I&D nacionais e internacionais: quantas, quantos colaboradores, alguma especialização? Qual a idade e se foram adquiridas, quando é que isto aconteceu?
Administração, I&D, Recortes de jornal, Departamento financeiro
F2 Investimento em I&D total e distribuição por unidade
Fin_Cntr, Fin_Glob
Administração, Recortes de jornal, Departamento financeiro, Relatórios (fontes de arquivo)
F3 Estruturação/organização da actividade de I&D: abordagem diferente por fase de I&D?
Administração, I&D
F4 Enfoque: aumento/exploração no país de origem ou fora
Expl_Estr, Amnt_Orig, Amnt_Estr, Des_Orig, Des_Estr
Administração, I&D
F5 Papéis das unidades de I&D Lid, Sens, Part, Impl
Administração, I&D, Equipas multidisciplinares
XXXII
Código Descrição Variável Fontes de informação
F6 Políticas de licenciamento: venda e compra Vnd_Lic, Cmpr_Lic
Administração, Área de negócios, legal e regulamentar, I&D
F7 Patentes Patnt Administração, Área de negócios, legal e regulamentar, I&D
F8 Coordenação da actividade de I&D Crd_Cntr, Crd_Glob
Administração, Equipas multidisciplinares, I&D, Organigrama (relação com E8)
F9 Financiamento da I&D Fin_Cntr, Fin_Glob
Administração, Departamento financeiro, I&D
F10 Resultados de I&D Administração, Departamento financeiro, Responsável de I&D
F11 Cooperação na I&D entre unidades Coop Administração, Recursos humanos (?), I&D
F12 Articulação com as funções de marketing e inovação, eventualmente com outras funções
Artic Equipas multidisciplinares, Administração, I&D
F13 Parcerias internas para desenvolvimento tecnológico
Parc_Int Administração, I&D, Equipas multidisciplinares
F14 Parcerias externas para desenvolvimento tecnológico
Parc_Ext_Orig, Parc_Ext_Estr
Administração, I&D, Equipas multidisciplinares (?)
F15 Que fontes de competências para a monitorização tecnológica e descoberta de novas oportunidades
Sens Administração, I&D
F16 Questões de regulação essenciais para I&D. Alguma diferença entre as unidades de I&D?
Reg_Loc, Reg_Glob
Administração, Área de negócios, legal e regulamentar
Análise particular: Como se faz I&D nesta estrutura? Questões práticas de gestão estratégica e de projecto.
Nível de análise: Projectos de I&D (P).
Código Descrição Variável Fontes de informação
P1 Características do projecto analisado: o que é, qual a duração, qual o mercado visado? Qual a perspectiva de lucros e de pay-off?
Mcd_Glob
Administração, I&D, Área de negócios, legal e regulamentar, Equipas multidisciplinares
P2 Histórico: fases e estado actual I&D, Equipas multidisciplinares
P3 Investimento até à data I&D, Departamento financeiro, Recortes de jornal
P4
Equipas envolvidas, poder de decisão, questões de coordenação (planeamento, monitorização de desvios, implementação de medidas correctivas e resolução de conflitos e dificuldades)
Coop (?), GE_Cntr, GE_Glob, Crd_Cntr, Crd_Glob
Administração, I&D, Equipas multidisciplinares
XXXIII
Código Descrição Variável Fontes de informação
P5 Quantas pessoas trabalharam e com que perfil? Grau de educação e experiência com este tipo de projectos
I&D, Relatórios (fontes de arquivo)
P6
Dificuldades que surgiram ao longo do caminho: técnicas, de relacionamento com outras funções, financeiras, de gestão/coordenação, outras…
Fin_Cntr, Fin_Glob, Crd_Cntr, Crd_Glob
Administração, I&D, Equipas multidisciplinares
P7 Boas práticas de gestão: aspectos que correram bem ao longo do caminho.
Administração, I&D, Equipas multidisciplinares
P8 Más práticas: o que não se devia repetir nos futuros projectos? Que erros que possam ter afectado a eficácia ou eficiência do projecto.
Administração, I&D, Equipas multidisciplinares
P9 Alguma alteração de organigrama durante o projecto que possa ter afectado o seu funcionamento?
Administração, I&D
P10
Parcerias externas: com que tipo de entidades? Considerar: Institutos de investigação, universidades, hospitais, entidades regulamentares, CRO, Patent Office, Outras empresas farmacêuticas.
Como funciona o contacto com as autoridades regulamentares? Alguma diferença entre as unidades de I&D?
Parc_Ext_Orig Parc_Ext_Estr, Reg_Loc, Reg_Glob
Administração, I&D, Equipas multidisciplinares, Área de negócios, legal e regulamentar
Nota: As variáveis foram abreviadas para facilitar a recolha de dados. A designação por extenso pode ser
encontrada na Tabela 33.
XXXV
Anexo 10 – Descrição dos fluxos entre as várias entidades envolvidas no processo de I&D internacional da PharmaEU
Tipo de fluxo Descrição
UI - UD fluxos entre a unidade de investigação precompetitiva e a unidade de desenvolvimento
colaboração, coordenação, alinhamento estratégico, recursos e transferência de novas tecnologias, entre outros;
UI - Jrdc fluxos entre a unidade de investigação precompetitiva e o departamento jurídico
colaboração com vista ao registo de patentes ou contactos com entidades regulamentares para a realização de ensaios;
UI - Mk fluxos entre a unidade de investigação precompetitiva e o departamento de marketing
articulação com a realidade dos mercados;
UI - Prod fluxos entre a unidade de investigação precompetitiva e o departamento de produção
articulação com a realidade da produção / industrialização;
UI – CRO fluxos entre a unidade de investigação precompetitiva e as CROs
colaboração com vista a realização de ensaios pontuais;
UI - Uni
UI - II
UI - Consult
fluxos entre a unidade de investigação precompetitiva e parceiros externos (universidades, institutos de investigação ou consultores)
colaboração com vista a desenvolvimento tecnológico ou a realização de ensaios, entre outros;
UI - IP fluxos entre a unidade de investigação precompetitiva e IP firms
colaboração no âmbito do registo de patentes;
UD - Jrdc fluxos entre a unidade de desenvolvimento e o departamento jurídico
colaboração com vista ao licenciamento tecnológico (compra e venda), parcerias externas ou contactos com entidades regulamentares para a realização de ensaios;
UD - Mk fluxos entre a unidade de desenvolvimento e o departamento de marketing
articulação com a realidade dos mercados;
UD - Ql fluxos entre a unidade de desenvolvimento e o departamento de qualidade
colaboração com vista ao desenvolvimento farmacêutico, auditorias ou outros assuntos de qualidade dos medicamentos experimentais;
UD - CMO fluxos entre a unidade de desenvolvimento e parceiros externos (CMO)
colaboração com vista a produção de medicamentos experimentais ou finais;
UD - II
UD - H
UD - Consult
fluxos entre a unidade de desenvolvimento e parceiros externos (institutos de investigação, hospitais ou consultores)
colaboração com vista a desenvolvimento de produtos ou a realização de ensaios, entre outros;
UD - CRO fluxos entre a unidade de desenvolvimento e parceiros externos (CRO)
colaboração com vista a realização de ensaios à escala global;
UI - IP fluxos entre a unidade de desenvolvimento e IP firms
registo de marcas;
XXXVI
Tipo de fluxo Descrição
UD - Lic
fluxos entre a unidades de desenvolvimento e empresas farmacêuticas que compraram licenças de comercialização
licenciamento tecnológico (venda);
UD - EMEA
UD - FDA
fluxos entre as unidades de desenvolvimento e as entidades regulamentares europeia e norte-americana
colaboração e autorizações de realização de ensaios para o desenvolvimento tecnológico ou para comercialização;
XXXVII
Anexo 11 - Variáveis consideradas no modelo conceptual proposto, com indicação do número de fontes de informação por cada variável
Variáveis Modelos de organização de I&D internacional que consideram
estas variáveis
Nível 1 Nível 2 Nível 3 Referências N.º de
modelos
Incluída no modelo para a indústria farmacêutica
Expl_Estr - Exploração no estrangeiro
(Gassmann & von Zedtwitz, 1999), (Niosi & Godin, 1999), (Zander, 1999), (Archibugi & Iammarino,
2002) 4 Sim
Amnt_Orig - Aumento no país de origem
(Kuemmerle, 1999), (Gassmann & von Zedtwitz, 1999), (Niosi & Godin, 1999),
3 Sim OBJ_TCN - Objectivo da actividade tecnológica
Amnt_Estr - Aumento no estrangeiro
(Ronstadt, 1984), (Bartlett & Ghoshal, 1990), (H. Hakanson, 1990), (Kuemmerle, 1999), (Pearce &
Papanastassiou, 1999), (Gerybadze & Reger, 1999), (Gassmann & von Zedtwitz, 1999), (Niosi &
Godin, 1999), (Zander, 1999), (Archibugi & Iammarino, 2002)
10 Sim
Des_Orig - Desenvolvimento no país
de origem
(Gassmann & von Zedtwitz, 1999), (Niosi & Godin, 1999)
2 Sim
CHV_TCN - Desenvolvimento da tecnologia
chave Des_Estr -
Desenvolvimento no estrangeiro
(Ronstadt, 1984), (Kuemmerle, 1999), (Pearce & Papanastassiou, 1999), (Gerybadze & Reger,
1999), (Gassmann & von Zedtwitz, 1999), (Niosi & Godin, 1999), (Zander, 1999), (Archibugi &
Iammarino, 2002)
8 Sim
Lid - Liderança estratégica (Bartlett & Ghoshal, 1990) 1 Sim
Sens - Detector (Bartlett & Ghoshal, 1990) 1 Sim
Part - Participante (Bartlett & Ghoshal, 1990) 1 Sim
1. TCN - Tecnologia
(desenvolvimento, exploração e protecção)
PPL_TCN - Papel das unidades de
I&D
Impl - Implementador (Bartlett & Ghoshal, 1990) 1 Sim
XXXVIII
Variáveis Modelos de organização de I&D internacional que consideram
estas variáveis
Nível 1 Nível 2 Nível 3 Referências N.º de
modelos
Incluída no modelo para a indústria farmacêutica
Vnd_Lic - Licenciamento tecnológico (venda de
licenças) (Archibugi & Iammarino, 2002) 1 Sim
Cmpr_Lic - Licenciamento tecnológico (compra de
licenças) N/A. Variável nova. 0 Sim
LIC_TCN - Protecção e licenciamento tecnológico
Patnt - Patentes e marcas N/A. Variável nova. 0 Sim
2. Recursos
Limitações dos principais recursos científico-
tecnológicos
Limitações no país de origem
(Gerybadze & Reger, 1999) 1 Não
Crd_Cntr - Coordenação central
(Pearce & Papanastassiou, 1999), (Gassmann & von Zedtwitz, 1999), (Zander, 1999)
3 Sim
Coordenação local (Bartlett & Ghoshal, 1990), (H. Hakanson, 1990), (Pearce & Papanastassiou, 1999), (Gassmann &
von Zedtwitz, 1999), (Niosi & Godin, 1999) 5 Não
Crd_Glob - Coordenação global
(Bartlett & Ghoshal, 1990), (H. Hakanson, 1990), (Gassmann & von Zedtwitz, 1999), (Niosi & Godin,
1999), (Zander, 1999) 5 Sim
GE_Cntr - Gestão estratégica central
(Gassmann & von Zedtwitz, 1999), (Zander, 1999) 2 Sim
3. RD – Ligações (redes) internas e
externas
RDi – Ligações (redes) internas
Gestão estratégica local (Bartlett & Ghoshal, 1990), (H. Hakanson, 1990), (Pearce & Papanastassiou, 1999), (Gassmann &
von Zedtwitz, 1999), (Niosi & Godin, 1999) 5 Não
XXXIX
Variáveis Modelos de organização de I&D internacional que consideram
estas variáveis
Nível 1 Nível 2 Nível 3 Referências N.º de
modelos
Incluída no modelo para a indústria farmacêutica
GE_Glob - Gestão estratégica global
(Bartlett & Ghoshal, 1990), (H. Hakanson, 1990), (Pearce & Papanastassiou, 1999), (Gassmann &
von Zedtwitz, 1999), (Niosi & Godin, 1999), (Zander, 1999)
6 Sim
Fin_Cntr – Financiamento central
N/A. Variável nova. 0 Sim
Financiamento local (Niosi & Godin, 1999) 1 Não
Fin_Glob - Financiamento global
(Niosi & Godin, 1999) 1 Sim
Coop - Cooperação (Gassmann & von Zedtwitz, 1999) 1 Sim
Competição (Gassmann & von Zedtwitz, 1999) 1 Não
Artic - Articulação I&D e marketing
(Gerybadze & Reger, 1999) 1 Sim
Parc_Int - Parceiros Internos para
desenvolvimento (Archibugi & Iammarino, 2002) 1 Sim
Parc_Ext_Orig - Parceiros externos para
desenvolvimento, no país de origem
(Archibugi & Iammarino, 2002) 1 Sim
RDe – Ligações (redes) externas Parc_Ext_Estr - Parceiros
externos para desenvolvimento, no
estrangeiro
(Archibugi & Iammarino, 2002) 1 Sim
XL
Variáveis Modelos de organização de I&D internacional que consideram
estas variáveis
Nível 1 Nível 2 Nível 3 Referências N.º de
modelos
Incluída no modelo para a indústria farmacêutica
Mercado local (Ronstadt, 1984), (Bartlett & Ghoshal, 1990),
(Pearce & Papanastassiou, 1999), (Zander, 1999) 4 Não
VIS_MCD - Mercado visado
Mcd_Glob - Mercado global (Ronstadt, 1984), (Bartlett & Ghoshal, 1990),
(Pearce & Papanastassiou, 1999), (Gerybadze & Reger, 1999), (Niosi & Godin, 1999), (Zander, 1999)
6 Sim
Reg_Loc - Regulamentação local
N/A. Variável nova. 0 Sim
4. MCD - Mercado
REG_MCD - Regulamentação Reg_Glob -
Regulamentação internacional / global
N/A. Variável nova. 0 Sim
XLI
Anexo 12 - Comparação das variáveis consideradas no modelo conceptual proposto com as encontradas no estudo empírico
Variáveis
Nível 1 Nível 2 Nível 3
Incluída no modelo para a
indústria farmacêutica
Encontrada no modelo empírico
Expl_Estr - Exploração no estrangeiro
Sim Sim
Expl_Orig – Exploração no país de origem
Sim Sim
Amnt_Orig - Aumento no país de origem
Sim Sim
OBJ_TCN - Objectivo da actividade tecnológica
Amnt_Estr - Aumento no estrangeiro
Sim Sim
Des_Orig - Desenvolvimento no país
de origem Sim Sim CHV_TCN -
Desenvolvimento da tecnologia
chave Des_Estr -
Desenvolvimento no estrangeiro
Sim Sim
Lid - Liderança estratégica
Sim Não
Sens - Detector Sim Não
Part - Participante Sim Não
PPL_TCN - Papel das unidades de
I&D
Impl - Implementador Sim Não
Vnd_Lic - Licenciamento tecnológico (venda de
licenças) Sim Sim
Cmpr_Lic - Licenciamento
tecnológico (compra de licenças)
Sim Sim
1. TCN - Tecnologia
(desenvolvimento, exploração e protecção)
LIC_TCN - Protecção e licenciamento tecnológico
Patnt - Patentes e marcas Sim Sim
2. Recursos
Limitações dos principais recursos científico-
tecnológicos
Limitações no país de origem
Não Sim
Crd_Cntr - Coordenação central
Sim Sim
Coordenação local Não Sim
3. RD – Ligações (redes) internas e
externas
RDi – Ligações (redes) internas
Crd_Glob - Coordenação global
Sim Sim
XLII
Variáveis
Nível 1 Nível 2 Nível 3
Incluída no modelo para a
indústria farmacêutica
Encontrada no modelo empírico
GE_Cntr - Gestão estratégica central
Sim Sim
Gestão estratégica local Não Não
GE_Glob - Gestão estratégica global
Sim Sim
Fin_Cntr – Financiamento central
Sim Sim
Financiamento local Não Não
Fin_Glob - Financiamento global
Sim Não
Coop - Cooperação Sim Sim
Competição Não Não
Artic - Articulação I&D e marketing
Sim Sim
Parc_Int - Parceiros Internos para
desenvolvimento Sim Sim
Parc_Ext_Orig - Parceiros externos para
desenvolvimento, no país de origem
Sim Sim
RDe – Ligações (redes) externas Parc_Ext_Estr - Parceiros
externos para desenvolvimento, no
estrangeiro
Sim Sim
Mercado local Não Sim VIS_MCD -
Mercado visado Mcd_Glob - Mercado global
Sim Sim
Reg_Loc - Regulamentação local
Sim Sim 4. MCD - Mercado
REG_MCD - Regulamentação Reg_Glob -
Regulamentação internacional / global
Sim Sim
XLIII
Anexo 13 – Comparação entre o modelo conceptual e o modelo empírico: frequências para as variáveis de nível 3
Conceptual Empírico
Variável nível 3
Frequência absoluta (Nível 3)
Frequência relativa (Total fontes)
Frequência absoluta (Nível 3)
Frequência relativa (Total fontes)
Expl_Estr 4 0,400 5 0,333
Expl_Orig 0 0,000 4 0,267
Amnt_Orig 3 0,300 6 0,400
Amnt_Estr 10 1,000 5 0,333
Des_Orig 2 0,200 4 0,267
Des_Estr 8 0,800 7 0,467
Lid 1 0,100 - -
Sens 1 0,100 - -
Part 1 0,100 - -
Impl 1 0,100 - -
Vnd_Lic 1 0,100 10 0,667
Cmpr_Lic - - 5 0,333
Patnt - - 6 0,400
Limitações no país de origem
1 0,100 3 0,200
Crd_Cntr 3 0,300 11 0,733
Coordenação local 5 0,500 13 0,867
Crd_Glob 5 0,500 2 0,133
GE_Cntr 2 0,200 9 0,600
Gestão estratégica
local 5 0,500 - -
GE_Glob 6 0,600 4 0,267
Fin_Cntr 0 0,000 5 0,333
Financiamento local 1 0,100 - -
Fin_Glob 1 0,100 - -
Coop 1 0,100 6 0,400
Competição 1 0,100 - -
Artic 1 0,100 9 0,600
Parc_Int 1 0,100 4 0,267
Parc_Ext_Orig 1 0,100 14 0,933
Parc_Ext_Estr 1 0,100 14 0,933
Mercado local 4 0,400 4 0,267
Mcd_Glob 6 0,600 6 0,400
Reg_Loc - - 7 0,467
Reg_Glob - - 12 0,800
XLIV
-
2
4
6
8
10
12
14
16
Frequência absoluta (modelo conceptual) Frequência absoluta (modelo empírico)
-
0,200
0,400
0,600
0,800
1,000
1,200
Frequência relativa (modelo conceptual) Frequência relativa (modelo empírico)
XLV
Anexo 14 – Comparação entre o modelo conceptual e o modelo empírico: frequências para as variáveis de nível 2
Conceptual Empírico
Variável nível 2
Frequência absoluta (Nível 2)
Frequência relativa (Total fontes)
Frequência absoluta (Nível 2)
Frequência relativa (Total fontes)
OBJ_TCN 10 1,000 6 0,400
CHV_TCN 8 0,800 7 0,467
PPL_TCN 1 0,100 - -
LIC_TCN 1 0,100 11 0,733
Limitações dos
principais recursos científico-
tecnológicos
1 0,100 3 0,200
RDi 8 0,800 14 0,933
RDe 1 0,100 14 0,933
VIS_MCD 6 0,600 7 0,467
REG_MCD - - 11 0,733
-
2
4
6
8
10
12
14
16
Frequência absoluta (modelo conceptual) Frequência absoluta (modelo empírico)
XLVI
-
0,200
0,400
0,600
0,800
1,000
1,200
Frequência relativa (modelo conceptual) Frequência relativa (modelo empírico)
XLVII
Anexo 15 – Comparação entre o modelo conceptual e o modelo empírico: frequências para as variáveis de nível 1
Conceptual Empírico
Variável nível 1
Frequência absoluta (Nível 2)
Frequência relativa (Total fontes)
Frequência absoluta (Nível 2)
Frequência relativa (Total fontes)
1. TCN 10 1,000 14 0,933
2. Recursos 1 0,100 3 0,200
3. RD 8 0,800 14 0,933
4. MCD 6 0,600 12 0,800
-
2
4
6
8
10
12
14
16
1. TCN 2. Recursos 3. RD 4. MCD
Frequência absoluta (modelo conceptual) Frequência absoluta (modelo empírico)
-
0,200
0,400
0,600
0,800
1,000
1,200
1. TCN 2. Recursos 3. RD 4. MCD
Frequência relativa (modelo conceptual) Frequência relativa (modelo empírico)