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ICMS VERDE: POLÍTICA AMBIENTAL EM PROL DO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL RONDONIENSE
Área temática: Gestão Ambiental & Sustentabilidade
André Bolanho Mota Santana
Ione Grace do Nascimento
José Moreira da Silva Neto
Resumo: O objetivo deste artigo é fazer uma análise da política de desenvolvimento sustentável do estado de
Rondônia, tendo como foco o Imposto sobre Circulação de Mercadorias de Bens e Serviços Verdes (ICMS Verde ou
Ecológico), correlacionando as receitas repassadas desse imposto aos municípios com a taxa de desmatamento do
estado. O resultado da pesquisa mostrou que há uma correlação positiva e significativa entre as variáveis, no entanto
baixa.
Palavras-chaves: Desenvolvimento sustentável. ICMS Verde. Taxa de desmatamento.
ISSN 1984-9354
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
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INTRODUÇÃO
Sem dúvida um dos temas que mais preocupa e tem causado grande repercussão
mundial, atualmente, é a situação do meio ambiente e seu equilíbrio. O consumismo
desenfreado dos seres humanos, ocasionado por um crescimento econômico forte em toda
parte do planeta, devido ao avanço tecnológico, tem afetado de maneira significativa o
ecossistema da Terra. Aquecimento global, derretimento das calotas polares, aumento dos
níveis dos mares e escassez de alimento são algumas das consequências, caso as nações
não se alinharem a capacidade de auto-recomposição dos recursos renováveis do planeta
(MOREIRA, 2002).
A partir da década 1970, teorias em torno de um desenvolvimento sustentável global
ganharam forças, principalmente depois das Conferências das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente, realizadas em 1972, na Suécia e em 1992, no Rio de Janeiro/Brasil.
No estado de Rondônia, o desenvolvimento sustentável começa a ser planejado no
final da década de 1970, onde o intenso fluxo de pessoas para região estava gerando um
caos social e enorme degradação ao meio ambiente, com repercussão a nível internacional.
Entre os vários planos de sustentabilidade implantados no estado, está o ICMS Verde, que
por intermédio de incentivos financeiros estimulam os municípios a preservarem suas
unidades de conservação.
No entanto, será que repasses governamentais garantem realmente a redução do
nível de desmatamento no estado de Rondônia?
Para responder essa pergunta e chegar ao objetivo a que se propõe esse artigo, a
estrutura do trabalho subdivide-se em sete: partindo da Introdução, a segunda parte é
composta pela fundamentação teórica onde se tem uma breve explanação sobre
Crescimento econômico, Desenvolvimento econômico e Desenvolvimento sustentável; a
terceira parte comenta o Desmatamento no estado de Rondônia, a sua origem e os planos e
programas sustentabilidade implantados no estado; a quarta aborda o ICMS Verde; a quinta
mostra a Metodologia usada na pesquisa; a sexta parte faz análise dos Resultados
encontrados e; finalmente, têm-se as considerações finais do trabalho.
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2 – Crescimento econômico, Desenvolvimento econômico e
Desenvolvimento sustentável
Não há dúvida que um dos objetivos de quase todas teorias econômicas formuladas
até o presente século, foi de se obter primeiramente o crescimento econômico, levando a
economia ao pleno emprego, aumentando a Renda e o Produto nacional e em segundo
momento, levar a economia ao desenvolvimento econômico, que para Vasconcellos (2002,
p. 401),
[...] é um conceito mais qualitativo, incluindo alterações no produto e na alocação dos recursos pelos diferentes setores da economia, como forma de melhorar os indicadores de bem-estar econômico e social como pobreza, desemprego, desigualdade social, saúde, nutrição, educação e moradia.
Para Sen (2000, apud Matos e Rovella, 2010), o desenvolvimento econômico,
também é consequência da conciliação de inovação tecnológica, investimentos em pesquisa
e desenvolvimento e aumento de fatores de produção como recursos humanos e acúmulo
de capital. Em 1990 para melhor mensurar o desenvolvimento econômico, foi criado o Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH).
No entanto, os conceitos de crescimento e desenvolvimento econômico não levam
em conta os impactos que a pujança econômica aliada ao crescimento demográfico possam
causar ao meio ambiente. Os mais importantes são resultados de números e indicadores.
Conspecção, esta, que começa a mudar com a Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente Humano realizada, em 1972 na Suécia, onde foi promovida uma análise
crítica sobre a possível escassez de recursos renováveis do planeta Terra, caso as
economias mundiais mantivessem ou aumentassem os seus níveis de produção e consumo
em massa, apontando para um futuro catastrófico caso as tendências observadas não
fossem impedidas. Era necessário haver desenvolvimento sustentável, conforme o Ministério
do Desenvolvimento Agrário (2004, p.5).
No livro Nosso Futuro Comum, de 1987, mais conhecido como Relatório de
Bruntland, em homenagem a Primeira Ministra da Suécia Gro Harlem Bruntland, definiu o
que seria desenvolvimento sustentável:
O Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende às necessidades da geração presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de atender às suas necessidades. (Nosso Futuro Comum/Relatório Bruntland, 1987).
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Em 1991, a Comissão Interministerial para Preparação da Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CIMA) publicou o relatório Desafio do
Desenvolvimento Sustentável, onde diz que o desenvolvimento sustentável seria alcançado
pela melhor distribuição dos benefícios do crescimento econômico e pela racionalização do
uso de energia produzida, e era necessário também ter: estabilização demográfica,
conservação dos recursos renováveis por meio da reorientação tecnológica e decisões
econômicas tomadas com base em critérios ambientais:
O desenvolvimento sustentável seria atingido pela retomada do crescimento e melhor distribuição de seus benefícios e pela racionalização do uso de energia; o atendimento das necessidades básicas das populações, pela estabilização dos níveis demográficos; a conservação da base de recursos, pela reorientação da tecnologia no sentido da redução de seu impacto Verde e a incorporação de critérios ambientais nas decisões econômicas (CIMA, 1991, p. 182).
Essas premissas foram base para a Conferência da Organização das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, mais
conhecido como Eco-92 ou Rio-92, onde o trade-off de crescimento econômico e meio
ambiente saudável ficou mais disseminada.
Para Filho (2007), o Desenvolvimento Sustentável tem que ter conciliação de três
fatores para dá certo, que são: crescimento do PIB, melhoria na distribuição de renda e
melhoria na qualidade ambiental. O autor segue dizendo que as leis da economia são
diferentes das leis da natureza e que a economia só vai ser ecológica quando começar a
respeitar os ciclos naturais.
Já Tayra (2007), coloca o fator desenvolvimento humano neste processo. Para o
autor, o desenvolvimento sustentável é a compatibilização de crescimento econômico com o
desenvolvimento humano e qualidade ambiental, onde a sociedade, presente, atende suas
necessidades momentâneas como produção e consumo, mas assegurando essa
oportunidade às gerações vindouras.
Além dos três conceitos ditos até agora, existe o que seria uma ramificação do
desenvolvimento sustentável, que é a sustentabilidade que segundo a Organização das
Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - FAO (1993), citado por SILVA (2012) pode
ser:
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O manejo e a conservação da base de recursos naturais, e a orientação da mudança tecnológica e institucional, de maneira a assegurar a obtenção e a satisfação contínua das necessidades humanas para as gerações presentes e futuras. Tal desenvolvimento sustentável (na agricultura, na exploração florestal, na pesca) resulta na conservação do solo, da água e dos recursos genéticos animais e vegetais, além de não degradar o ambiente, ser tecnicamente apropriado, economicamente viável e socialmente aceitável. (FAO, 1993, apud SILVA, 2012, p. 27).
Não é muito diferente do conceito de desenvolvimento sustentável, mas o
importante é que nas últimas décadas o tema vem ganhando notoriedade e mais livros e
artigos científicos vêm sendo publicado sobre o assunto.
3 - Desmatamento no Estado de Rondônia
Rondônia é um estado muito novo e ainda em formação, com apenas 33 anos
completos neste ano, a ação antrópica se manifesta muito mais pela intervenção na floresta
do que por meio de fatores industriais ou de concentração urbana. O fator principal para tal
situação foi o grande fluxo migratório decorrente do término da construção da BR 364, em
1968, e as reformas agrárias feitas pelo governo federal, através do INCRA, que implantou
os Projetos de Integração e Colonização (PIC), que distribuíam lotes de 100 hectares a
preços baixos para migrantes que vinham, principalmente, das regiões sul e sudeste do país
em busca de uma nova vida (ROCHA e BACHA, 2001).
Devido ao alto fluxo migratório para Rondônia o crescimento demográfico aumentou
significativamente passando de 70.783 habitantes em 1960, para 116.620, em 1970,
aumento de 64,75%, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2015),
causando danos ao meio ambiente à medida que o contingente populacional e as atividades
econômicas iam avançando exponencialmente. Só para ter uma ideia, a área desmatada no
estado em 1978 era de 420 mil hectares, em 1988 foi para 3 milhões de hectares, aumento
de 614%, passando a partir de então a crescer a taxas médias de 10% ao ano (INPE, 1992,
apud NUNES, 1997).
A tabela 1, abaixo, mostra o nível de desmatamento no estado de 1978 a 1993:
Tabela 1 - Desmatamento em Rondônia - 1978 a 1993
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Ano Área desmatada (ha)
1978 420.000
1988 3.000.000
1989 3.180.000
1990 3.350.000
1993 (*) 4.005.790
Fonte: NUNES (1997) apud INPE (1992) e SEDAM (1996*).
Os projetos de colonização não se preocupavam em garantir a sustentabilidade dos
recursos florestais e o desmatamento era uma das formas de obtenção do direito de posse
da terra, sendo a derrubada de florestas considerada uma benfeitoria, valendo mais o solo
da terra do que a própria floresta (ROCHA e BACHA, 2001).
3.1 - POLONOROESTE
O Governo Federal temeroso com intenso fluxo migratório para região noroeste do
país, que compreende parte do estado do Mato Grosso e o estado de Rondônia,
abrangendo uma região de 420.000 km², por estes estados não conseguirem atender as
necessidades básicas vitais de suas populações como emprego, saúde, educação e
segurança pública; baixa, em 27 de julho de 1981 o Decreto Federal n. 86.029 que institui o
Programa de Desenvolvimento Integrado para o Noroeste do Brasil, denominado
POLONOROESTE, segundo esclarecem Rocha e Bacha (2001).
O Polonoroeste foi o primeiro programa de desenvolvimento regional integrado da
Amazônia, financiado pelo Banco Mundial e administrado pela Superintendência de
Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO) e teve como objetivos principais: pavimentar a
BR 364, contribuir para maior integração nacional da região, promover a adequada
ocupação demográfica da região noroeste do Brasil, absorvendo populações
economicamente marginalizadas e oriundas de outras regiões, proporcionando-lhes
empregos, aumento da produtividade regional e a renda de sua população; reduzir as
disparidades de desenvolvimento intra e inter-regionais; assegurar o crescimento da
produção em harmonia com as preocupações de preservação do sistema Verde e de
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proteção às comunidades indígenas (SEPLAN-RO, 1990 apud MARCOLINO, LEAL e
ALVES, 2006, p. 4).
Dentre as ações do programa, incluiu-se a implantação de projetos de colonização
agrícola, visando o assentamento de pequenos agricultores sem-terra para a prática de
agricultura familiar, afirmam Marcolino, Leal e Alves (2006, p.4).
No entanto, apesar do Polonoroeste ter aumentado os investimentos em obra e
infraestrutura de 1982 a 1985, as propostas de desenvolvimento social e Verde não se
concretizaram, segundo Tavernard e Lisboa (2009). Conforme Rocha e Bacha (2001), a
pavimentação da BR 364 fez com que viessem para Rondônia mais migrantes em busca de
terras, aumentado, assim, o contingenciamento e a taxa de desmatamento do estado, que
passou de 13.955 km², em 1982, para 27.658 Km² em 1985.
Para Rocha e Bacha (2001), o Polonoroeste não se preocupou em tomar decisões
sobre pesquisa, alocação de crédito e extensão rural em critérios ambientais, os quais
poderiam ter dado suporte ao desenvolvimento e à uma melhor utilização dos recursos
naturais.
O Polonoroeste vigorou no estado até o final da década de 1980, onde foi
concretizado e substituído pelo Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia –
PLANAFLORO.
3.2 - PLANAFLORO
O Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia foi mais um programa de
sustentabilidade ambiental e social que Rondônia teve, e também financiado pelo Banco
Mundial. Entretanto, esse Plano era específico para o estado de Rondônia.
O Plano foi estabelecido em 1988 e implantado em 1991, teve como ferramenta
básica o zoneamento e planificação, definindo a política de ordenamento ambiental para
ocupação racional das terras do estado. Era composto pelos seguintes objetivos:
gerenciamento, conservação e proteção ambiental, incluindo no zoneamento, o
mapeamento e regularização fundiária; estabelecimento, manejo e proteção do meio
ambiente; e fortalecimento institucional, assistência técnica e estudos (MARCOLINO, LEAL
e ALVES, 2006).
Nas palavras de Tavernard e Lisboa (2009), o Planafloro seria:
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[...] ações [...] baseadas no zoneamento socioeconômico-Verde, em outras palavras, suas ações buscavam equilibrar a ocupação do território pelas atividades econômicas (agricultura, pecuária, mineração etc.) com a conservação da sua diversidade biológicas e culturais, sanando conflitos fundiários e o mau uso dos recursos naturais (desmatamento, erosão e assoreamento dos cursos d'água, entre outros), desestimulando a expansão desordenada da fronteira de Rondônia, reduzindo a taxa de destruição da floresta tropical a níveis controláveis e aceitáveis, incluindo também um programa de reformas institucionais que permitisse o fortalecimento institucional, a capacitação técnica e a articulação das políticas públicas (TAVERNARD e LISBOA, 2009, p.6).
O Planafloro dividiu o território em seis zonas socioeconômico Verde (Lei
Complementar nº 233, de 06 de junho de 2000), com as seguintes distinções: zona de
intensificação da exploração agropecuária (abrangendo 6.195.000 ha), zona de pequenos
produtores em coletividade (3.015.000 ha), zona ribeirinha (579.000 ha), zona extrativista
(3.500.000 ha), zona de manejo florestal (3.601.000 ha) e zona de conservação e
preservação (abrangendo 7.404.000 ha), segundo Rocha e Bacha (2001), e a FEDERAÇÃO
DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE RONDONIA (1995).
Há divergência quanto aos motivos que levaram o Planafloro a não atingir seus
objetivos de sustentabilidade, para Rocha e Bacha (2001), um dos motivos foi a falta de
entendimento entre o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA) e a SEDAM-RO, quanto à emissão de licença para desmatamento
florestal, pois não havia uma definição claro sobre quais eram terras da União e quais eram
do Estado, fazendo com que um órgão se sobrepujasse à competência do outro, gerando,
assim, conflito. Outra questão, também, foi a falta de corpo técnico na fiscalização das
reservas de preservação e na expedição de autorização para o transporte de produtos
florestais.
Já para Tavernard e Lisboa (2009), os motivos foram falhas quanto ao zoneamento
socioeconômico Verde, o qual ao propor uma abordagem restrita à preservação dos
recursos florestais ignorou as demandas socioeconômicas. Segundo FERREIRA (2006,
apud TAVERNARD e LISBOA, 2009) os objetivos do programa eram o beneficiamento direto
de 52 mil famílias de produtores rurais; 2.400 famílias de seringueiros; 900 famílias de
pescadores artesanais; e cerca de 6 mil índios (1.200 famílias), contudo, os únicos
plenamente atendido pelo programa foram os indígenas.
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3.3 - Unidades de Conservação do Estado de Rondônia
As Unidades de Conservação (UC) são espaços territoriais, incluindo seus recursos
ambientais, com características naturais relevantes, que têm a função de assegurar a
representatividade de amostras significativas e ecologicamente viáveis das diferentes
populações, habitats e ecossistemas do território nacional e das águas jurisdicionais,
preservando o patrimônio biológico existente. São legalmente criadas pelos governos
federal, estaduais e municipais, após a realização de estudos técnicos dos espaços
propostos e, quando necessário, consulta à população. (MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE,
2015).
O estado de Rondônia possui um território de 237.576,17 km², do qual 5.320.777
hectares são destinados às 53 unidades de conservação que o estado possui, e que
representa 22% do seu território. As unidades de conservação de proteção integral
compreendem 2.904.014 hectares (12% da área total do estado) e de uso sustentável,
2.416.763 ha (10% da área do estado). (WWF-BRASL, SEDAM-RO e ICMBio, 2011).
4 - ICMS VERDE (LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL Nº 147/96)
Dentre várias medidas de financiamento, o Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviço Verde (ICMS Verde) é a forma mais barata que o Estado encontrou
para a sustentabilidade, pois não endivida o estado através de empréstimos com juros
altíssimos e ainda incentiva os municípios a conservarem e cuidarem de suas áreas de
preservação.
Para LEITE (2001), a politica do ICMS Verde não se encaixa no princípio do
Poluidor-Pagador, mas, sim, no princípio do Protetor-Recebedor, pois quanto maior os
investimentos feitos no meio ambiente maior será a parcela dos recursos. Os municípios
interessados nesta compensação têm que criar unidades de conservação e cuidar da
qualidade destas, investindo em saneamento e proteção, ou qualquer outro fator ligado ao
meio ambiente que entre no cálculo dos valores repassados (LEITE, 2001, p. 35).
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A base legal para implantação do ICMS Verde nos estados está no inciso II do
parágrafo do artigo 158 da Constituição Federal, que é regulamentada pela Lei
Complementar Federal nº 63 de 11 de janeiro de 1990, onde possibilita cada estado legislar
sobre parte dos recursos da ICMS que devem ser repassados aos municípios:
25% (vinte e cinco por cento) do produto da arrecadação do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação serão creditados pelos Estados, aos respectivos Municípios, conforme os seguintes critérios: I – ¾ (três quartos), no mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços, realizadas em seus territórios; II – até ¼ (um quarto), de acordo com o que dispuser a lei estadual ou, no caso dos territórios, lei federal.
O primeiro estado a implantar o ICMS Verde foi o Paraná, que por meio da Lei
Complementar paranaense n. 59 de 1991, destinou 5% (cinco por cento) do montante
arrecadado com ICMS no Estado aos municípios que tinham unidades de conservação ou
mananciais de abastecimento público em seus territórios. Até o ano de 1999, o aumento
total da superfície das áreas de conservação no estado foi de 142,82% (NETO, 2000 apud
LEITE, 2001).
No estado de Rondônia, o ICMS Verde foi criado pela Lei Complementar nº 115 de
1994, alterada e substituída pela Lei Complementar n° 147 de 1996 e regulamentada pelo
Decreto Lei nº 9.787 de 2001 e, também, alterado e substituído pelo Decreto Lei nº 11.908
de 12 de Dezembro de 2005, que rege atualmente os critérios para apuração dos índices de
participação dos municípios no resultado da arrecadação do ICMS.
Consoante a Lei Complementar 147/96, no seu Artigo 1º, os 25% (vinte cincos por
cento) do ICMS de competência estadual será repassado aos municípios da seguinte forma,
como compensação ambiental:
I – 75% (setenta e cinco por cento) na proporção do valor adicionado nas operações relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços realizados em seu território; II – 25% (vinte e cinco por cento), em consonância com o disposto abaixo: a) 0,5% (meio por cento) proporcional à superfície territorial; b) 5% (cinco por cento) proporcional à produção agrícola, pecuária extrativa; c) 0,5% (meio por cento) proporcional à população; d) 14% (dezenove por cento) em partes iguais; e) 5% (cinco por cento) proporcionais à ocupação territorial dos municípios com unidades de conservação.
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O recebimento do repasse ICMS Verde será somente para os municípios que
possuem unidades de conservação em seus territórios, que segundo o artigo 3º da lei
147/96, entram nesse quesito: as áreas protegidas no território estadual no âmbito
administrativo do Governo Federal, Estadual e Municipal, nas categorias de Estação
Ecológica, Reserva Biológica, Parque, Monumento Natural, Área de Proteção Ambiental,
Reserva Indígena, Floresta, Reserva Extrativista e outras inclusas em quaisquer categorias
de unidade de conservação, criadas por leis ou decreto municipal, estadual ou federal.
As prefeituras deverão cadastrar as unidades de conservação existentes no território
municipal junto ao órgão estadual competente. O órgão responsável pelo cálculo do ICMS
Verde no estado é a Secretaria de Finanças do Estado (SEFIN-RO), usando a seguinte
metodologia de cálculo estipulada no Decreto Lei nº 11.908 de 2005:
Unidade de preservação ambiental do município x 5,0 % = Coeficiente fator de Preservação Total das Unidades de Preservação do Estado
Segundo Marcolino, Leal e Alves (2006), através deste cálculo, o município que tiver
maior área de conservação em relação ao total da área das unidades de Preservação do
Estado, obterá um índice maior, recebendo uma parcela proporcionalmente maior de
recursos.
E os municípios que receberem o incentivo e deixarem suas áreas de conservação
serem degradas terão redução no repasse do ICMS Verde, repartindo o montante
proveniente da redução com os demais municípios eficientes ecologicamente, consoante
prescrito no Parágrafo Único do Art. 5º da Lei 147/96:
Parágrafo Único – Serão aplicados redutores nos cálculos dos percentuais de participação dos municípios na repartição do Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias a prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação – ICMS, em função da comprovação de invasões ou explorações ilegais, repartindo-se o montante reduzido entre aqueles municípios cujas unidades de conservação estejam em acordo com a legislação ambiental.
A política do ICMS Verde do Estado tem semelhança ao implantado no estado do
Paraná, o que as diferenciam é a metodologia de cálculo usado no repasse das receitas do
imposto aos municípios, pois em Rondônia só considera-se as variáveis quantitativas e não
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as qualitativas das unidades de preservação, o que pode representar um risco ao objetivo da
politica que é a preservação do meio ambiente (ROCHA e BACHA, 2001).
5 - METODOLOGIA
O método de pesquisa utilizado foi o quanti-qualitativo, com pesquisas bibliográficas,
revisão de textos disponíveis na internet e dados retirados de sites de órgãos
governamentais estaduais e federais como: SEDAM, SEFIN, IBGE e Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE).
Esta pesquisa teve um delineamento do tipo exploratório, que tem a função de
aumentar o conhecimento sobre o fenômeno, o esclarecimento de conceitos, a definição de
prioridades para futuras pesquisas, além de informações sobre a aplicabilidade prática em
situações de vida real, considerando que não foram localizados outros estudos sobre a
questão da efetividade dos repasses governamentais quanto à redução do nível de
desmatamento no estado de Rondônia.
Utilizou-se o software econométrico Gretl para fazer análise de correlação entre o
montante anual de receitas de ICMS Verde repassados pelo estado aos municípios com a
taxa de desmatamento anual do estado de Rondônia, no período de 1998 a 2010.
6 - ANÁLISE DE RESULTADOS
O gráfico 1 mostra a evolução dos repasses com ICMS Verde feito pelo o estado ao
municípios no período de 1998 a 2014.
Pode-se notar pelo gráfico 1, abaixo, que o repasse anual de ICMS Verde segue
uma ascendência positiva, aumentando com o passar dos anos, chegando a ultrapassar, em
2014, o teto de 140 milhões de reais.
Gráfico 1 – Evolução dos repasses do ICMS Verde – 1998 a 2014
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Fonte: MINISTÉRIO DA FAZENDA e SEFIN-RO.
No gráfico 2, abaixo, mostra o comportamento da taxa de desmatamento anual no
Estado no mesmo período analisado.
Gráfico 2 - Taxa de desmatamento anual do estado de Rondônia – 1998 a 2014
Fonte:INPE.
Fazendo uma análise comparativa entre os gráficos das duas variáveis, percebe-se
que, enquanto o montante repassado de ICMS Verde aos municípios vai aumentando a
cada ano, a taxa desmatamento do Estado cresce da mesma forma (situação fora do
normal), chegando ao seu máximo no ano de 2004, onde ultrapassa a média de 12 mil/km²,
e depois segue em declínio nos demais anos seguintes, deixando pairar dúvidas quanto à
efetividade do ICMS Verde na redução do desmatamento no Estado.
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Realizando a análise de correlação entre o montante das receitas anuais do o ICMS
Verde repassadas aos municípios e com a taxa desmatamento anual do Estado, obteve-se o
seguinte resultado:
Fonte: elaboração própria a partir dos resultados do Software econométrico Gretl.
Conforme a função acima nota-se por meio do coeficiente de correlação (R²) que as
duas variáveis têm uma correlação de 63% (sessenta e três por cento), isso quer dizer, que
os recursos do ICMS Verde repassados aos municípios influenciam, cerca de 63% na
redução da taxa de desmatamento no estado. Observa-se que para cada aumento de R$ 1
(um real) aplicado, a taxa de desmatamento cai, em cerca de 0, 00005%, isto significativo ao
nível de 5%.
CONSIDERAÇOES FINAIS
No delinear deste artigo, que buscou verificar se os repasses governamentais
garantem realmente a redução do nível de desmatamento no estado de Rondônia, foi
possível conhecer um pouco das políticas de sustentabilidade no estado de Rondônia,
sendo a mais recente a denominada ICMS Verde, implantada a pouco mais de 18 anos e
que vem trazendo resultados satisfatórios para Rondônia.
Segundo o INPE, no período de 1998 a 2011, houve uma redução de 83% na taxa
desmatamento do estado, como resultado do ICMS Verde. É claro que o índice dessa
redução também se deve a outros fatores envolvidos, mas por ser tratar de uma medida
ambiental recente no estado, vem trazendo efeitos positivos como o principal: o interesse
dos municípios em preservarem suas áreas de conservação, mesmo com intuito de receber
mais recurso por isso.
No entanto, ainda é muito cedo para uma conclusão mais precisa sobre a
efetividade do ICMS Verde, pois a própria análise de correlação realizada no estudo deixa
bem explícito isso, mesmo sendo significativos os resultados encontrados entre as duas
TAXA DE DESM. = 9.519,7 – 6,54E-05 ICMS VERDE
t = 8, 875 (-5,141) R² = 0,63
*nível de significância de 5%
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variáveis, há ainda pouca relação entre elas e uma das explicações pode está na aplicação,
por pequenos municípios, de recursos destinados a preservação do meio ambiente em
outras áreas como: saúde, educação, segurança pública, consideradas mais importantes, o
que sugere estudos futuros.
REFERÊNCIAS
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