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I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte “Oportunidades e Entraves para a Pecuária de Corte Brasileira” Luciano da Silva Cabral 1 , Cláudio Luiz Barbosa de Toledo 1 , Deivison Novaes Rodrigues 1 , Leni Rodrigues Lima 1 , Welton Batista Cabral 1 , Inácio Martins da Silva Neto 1 , Rosemary Lais Galati 1 , Kamila Moura de Andrade 1 , Isabela de Ceni 1 , Laura Barbosa de Carvalho 1 , Adjanine de Oliveira Alves 1 1 Faculdade de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso, [email protected] , [email protected], [email protected], [email protected] 1 INTRODUÇÃO Os bovinos, por serem animais ruminantes, desempenham papel fundamental na geração de alimentos e outros produtos para a humanidade desde a pré-história. No caso da bovinocultura de corte, destaca-se a importância da carne, do couro, vísceras e esterco, como alimentos e produtos de valor agregado, sendo a carne o produto de maior destaque, pela sua importância nutricional, econômica e social. Pois, além de ser componente fundamental da dieta humana, gera receitas, impostos e mantêm as pessoas no campo. Adicionalmente, considerando-se toda a cadeia da bovinocultura de corte brasileira, cerca de 7,0 milhões de empregos são gerados diretamente pelo setor (Corrêa et al., 2001), e estima-se que mais de 21 milhões de empregos indiretos sejam gerados. Destaque deve ser dado ainda ao fato de que a geração desses produtos oriundos da bovinocultura de corte ocorre basicamente a partir do uso de forragem (principalmente no Brasil), substrato esse rico em fibra e, portanto, não integrante da dieta humana, bem como de vários outros animais, tais como aves e suínos. Mesmo considerando que em alguns países os sistemas de produção incluem grãos na dieta de ruminantes, como também verificado em sistemas mais intensivos no Brasil, o uso desses representa apenas 37% de todos os grãos utilizados na produção dos animais domésticos, embora os produtos gerados pelos animais ruminantes representam no mundo cerca de 60% da energia consumida pelos seres humanos, comparado aos 39% da energia oriunda de alimentos derivados de aves e suínos, os quais consomem cerca de 59% dos grãos destinados aos animais domésticos (Oltjen e Beckett, 1996).

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I SIMBOV – I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte

“Oportunidades e Entraves para a Pecuária de Corte Brasileira”

Luciano da Silva Cabral1, Cláudio Luiz Barbosa de Toledo1, Deivison Novaes Rodrigues1, Leni Rodrigues Lima1, Welton Batista Cabral1, Inácio Martins da Silva Neto1, Rosemary Lais Galati1, Kamila Moura de Andrade1, Isabela de Ceni1, Laura Barbosa de Carvalho1, Adjanine de Oliveira Alves1

1 Faculdade de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso, [email protected] , [email protected], [email protected], [email protected]

1 – INTRODUÇÃO

Os bovinos, por serem animais ruminantes, desempenham papel

fundamental na geração de alimentos e outros produtos para a humanidade

desde a pré-história. No caso da bovinocultura de corte, destaca-se a

importância da carne, do couro, vísceras e esterco, como alimentos e produtos

de valor agregado, sendo a carne o produto de maior destaque, pela sua

importância nutricional, econômica e social. Pois, além de ser componente

fundamental da dieta humana, gera receitas, impostos e mantêm as pessoas

no campo. Adicionalmente, considerando-se toda a cadeia da bovinocultura de

corte brasileira, cerca de 7,0 milhões de empregos são gerados diretamente

pelo setor (Corrêa et al., 2001), e estima-se que mais de 21 milhões de

empregos indiretos sejam gerados.

Destaque deve ser dado ainda ao fato de que a geração desses

produtos oriundos da bovinocultura de corte ocorre basicamente a partir do uso

de forragem (principalmente no Brasil), substrato esse rico em fibra e, portanto,

não integrante da dieta humana, bem como de vários outros animais, tais como

aves e suínos. Mesmo considerando que em alguns países os sistemas de

produção incluem grãos na dieta de ruminantes, como também verificado em

sistemas mais intensivos no Brasil, o uso desses representa apenas 37% de

todos os grãos utilizados na produção dos animais domésticos, embora os

produtos gerados pelos animais ruminantes representam no mundo cerca de

60% da energia consumida pelos seres humanos, comparado aos 39% da

energia oriunda de alimentos derivados de aves e suínos, os quais consomem

cerca de 59% dos grãos destinados aos animais domésticos (Oltjen e Beckett,

1996).

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Atualmente o Brasil detém, em números absolutos, o segundo maior

rebanho mundial de bovinos, e o maior rebanho comercial, e a partir do ano de

2003, tornou-se o maior exportador de carne bovina, aproveitando a perda de

mercados de seus concorrentes (Estados Unidos e Austrália). Só para dar uma

idéia de quanto a exportação de carne bovina avançou na última década, cita-

se que no início dos anos 1990 as exportações representavam apenas 5% da

produção total, enquanto que na atualidade correspondem à 25%. Os fatores

que contribuíram para essa conquista foram à desvalorização cambial do real

frente ao dólar e o trabalho de erradicação da febre aftosa, associado ao preço

competitivo do nosso produto, bem como a ocorrência de encefalopatia

espongiforme bovina (BSE) em países exportadores. Além disso, a

competitividade decorrente do baixo custo de produção, e a imagem positiva

que a carne brasileira apresenta, por ser produzida a pasto em comparação

com os sistemas de produção com alta inclusão de grãos, faz do Brasil

referência mundial na produção de carne bovina, com baixo custo e segurança

alimentar.

Apesar disso, a cadeia produtiva da carne bovina no Brasil é muito

complexa e dependente da atuação de vários segmentos, cuja articulação é

necessária para tornar o setor mais produtivo, eficiente e competitivo. Embora

seja elevado o potencial brasileiro para se consolidar como maior exportador

de carne bovina, ingressando em mercados até então inacessíveis, existem

problemas que precisam ser sanados, os quais envolvem aspectos que

acontecem na fazenda, bem como os que dependem de ações dos vários

componentes da cadeia produtiva da carne bovina, apoiado por ações

governamentais. Esses problemas têm sido apontados por vários especialistas

do setor como os principais limitantes à cadeia produtiva da carne bovina

brasileira.

Com a expectativa de aumento da população mundial para os próximos

20 anos, bem como pelo aumento de poder aquisitivo das populações em

várias partes do mundo, espera-se que a demanda por carne bovina seja

aumentada de forma expressiva, tendo o Brasil, grandes potencialidades para

atender boa parte desta demanda. Merece destaque o fato de que o

crescimento da população mundial corresponde com 70% do aumento do

consumo de alimentos, enquanto que o aumento do poder aquisitivo com

apenas 30% (Buainain e Batalha, 2007).

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Entretanto, o desafio da cadeia produtiva de carne bovina nacional é de

produzir uma carne que atenda as expectativas dos diversos mercados

consumidores, cujo grau de exigência tem se elevado de forma expressiva nos

últimos anos. Pois, o consumidor atual tem exigido uma carne de melhor

qualidade, considerando aspectos ligados à sua maciez, suculência, sabor e

aparência, bem como aspectos ligados à ausência de substâncias químicas e

contaminantes microbianos; que seja produzida com o mínimo de impacto

ambiental, proporcionando condições adequadas de bem-estar aos animais e

garantia de aspectos legais e sociais à mão-de-obra utilizada.

Desta forma, o presente texto foi elaborado com o intuito de discorrer

sobre os principais aspectos favoráveis da pecuária de corte brasileira que a

colocam como destaque no mercado mundial, os quais devem ser objeto de

intensificação, reforçados e enaltecidos, assim como destacar as principais

fragilidades e pontos que merecem atenção. Investimentos e preocupação do

setor produtivo e governamental, a fim de possibilitar que o nosso potencial

seja atingido, ou seja, a soberania mundial no abastecimento dos vários

mercados de carne bovina, por intermédio de uma carne produzida de forma

competitiva, respeitando os princípios de bem-estar animal, ecológicos e

sociais, com qualidade nutricional e segura do ponto de vista sanitário.

2 – CARNE BOVINA E SAÚDE HUMANA: HAVERÁ FUTURO PARA A

CARNE VERMELHA NA DIETA?

O ser humano consome carne desde a pré-história, quando por

intermédio da caça conseguia capturar e abater os animais para satisfazer as

suas necessidades em energia e proteína. Há indícios de que o homem mais

primitivo tinha dieta baseada em alimentos vegetais e, que o fato de tornar-se

onívoro, ou seja, incluir a proteína de origem animal (carne e leite) na sua dieta

tenha sido fato decisivo para sua evolução, no que diz respeito à sua estatura e

intelecto. Desta forma, presume-se que a inclusão da proteína animal foi de

vital importância para o homem tornar-se uma espécie diferenciada das

demais. Dentre as proteínas de origem animal que compuseram a dieta do ser

humano desde muito tempo atrás, destaca-se a carne bovina, em decorrência

do seu valor nutritivo e sabor e cheiro inigualáveis.

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Do ponto de vista nutricional, a carne bovina é uma das principais fontes

de proteína (de elevado valor biológico), energia, ferro e zinco e vitaminas do

complexo B (cianocobalamina – vitamina B12; riboflavina – vitamina B1, e

niacina ou ácido nicotínico) na dieta humana sendo, portanto, considerada

necessária para uma saúde adequada. Esse perfil de nutrientes, notadamente

em aminoácidos essenciais, encontrado na carne bovina não é verificado em

nenhuma proteína de origem vegetal.

Apesar disso, nos últimos 50 ou 60 anos, a imagem da carne bovina tem

sido arranhada constantemente por conta de pesquisas conduzidas na área da

Medicina Humana, as quais são até o presente momento, inconclusivas sobre

a sua ligação com doenças cardiovasculares. Pois, todas as tentativas de

estabelecer uma relação de causa e efeito do consumo de carne bovina, a qual

contém gordura animal, com essas doenças, foi percebido que as doenças

cardiovasculares ocorrem por causas multifatoriais, incluindo os fatores

genéticos, sedentarismo, estresse, obesidade, hipertensão arterial e

alimentação (Varella, 2001).

De fato, os níveis séricos de colesterol, particularmente da lipoproteína

de baixa densidade (LDL) são positivamente correlacionados com as doenças

cardiovasculares, mas o simples fato de retirar a gordura animal não promove

redução significativa nos níveis de LDL (apenas 10%). De modo geral, a

redução da carne da dieta humana foi compensada pelo aumento do consumo

de carboidratos, notadamente de açúcares e amido, sendo essa troca

considerada mais nefasta, pois predispõe à obesidade, hiperglicemia,

resistência à insulina, hipertensão arterial e, conseqüentemente, às doenças

cardiovasculares (Varella, 2001).

Apesar da falta de evidências da relação do consumo de carne bovina

com as doenças cardiovasculares, nas 4 ou 5 últimas décadas foi grande o

impacto da mídia e falsas pesquisas sobre o consumo de carne bovina em

vários países. Tal efeito predispôs o fortalecimento da cadeia produtiva de

outras carnes, consideradas mais “saudáveis”.

Mais recentemente, aproximadamente no início da década de 1990,

alguns pesquisadores descobriram que um ácido graxo poliinsaturado, o ácido

linoléico conjugado (CLA), encontrado exclusivamente nos produtos gerados

pelos animais ruminantes (carne e leite), apresentava elevada atividade anti-

carcinogênica e de combate ao câncer (IP et al., 1994). Tal fato pode causar

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uma grande revolução no consumo de carne bovina no mundo, considerando

os casos crescentes de câncer em seres humanos.

Essa discussão não foi criada com o objetivo de apoiar o consumo

indiscriminado de carne bovina, pois sabe-se das suas conseqüências, as

quais incluem a incidência de ácido úrico, sobrecarga hepática e renal

relacionada ao excesso de N no organismos, etc. Mas, acredita-se que dentro

de uma dieta balanceada, típico do brasileiro, composta por arroz, feijão,

verduras, legumes e um bife por teriam pouca chance de predispor às doenças

cardiovasculares. A menos que fossem associadas ao fumo, estresse,

sedentarismo e fatores genéticos. Neste sentido, Varella (2001) destaca a

importância de reduzir o consumo de calorias totais, a fim de retardar o

envelhecimento e aumentar a longevidade e, que apesar disso, o corpo exige

um número mínimo de calorias diárias, não interessa se retiradas da cenoura

ou do bacon.

Considerando esses aspectos há a necessidade urgente de

propagandas de esclarecimento sobre esses conceitos equivocados sobre a

carne bovina, no sentido de trazer a verdade à tona, pois os dados científicos

não sustentam as informações mal intencionadas que foram divulgadas sobre a

proteína animal de maior preferência pelos seres humanos em várias partes do

mundo.

3 – EVOLUÇÃO DA PECUÁRIA DE CORTE NACIONAL

A pecuária é praticada em todas as regiões do Brasil, tendo o seu início

ocorrido pela introdução do gado bovino no país nos séculos XV e XVI.

Entretanto, como atividade econômica, a pecuária de corte avançou no final do

século XIX e início do século XX, com a introdução do gado Zebu (Peixoto,

2010), notadamente da raça Nelore, a qual equivale atualmente a

aproximadamente a 80% do gado de corte criado no país (Peixoto, 2010).

A bovinocultura de corte nacional atravessou algumas décadas

mantendo baixos índices de produtividade, em decorrência de crises na

economia, limitado consumo de carne pela população, falta de estímulo do

governo e incertezas sobre o mercado. Nesta época, o investimento em gado

representava uma forma segura de reserva de capital e, desta forma, o

desempenho produtivo do animal e por área não tinha tanta importância, de

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modo que, mesmo mantendo elevadas idades de abate (acima de 5 anos),

avançada idade ao primeiro parto, reduzida natalidade (menor que 50%) e

reduzida taxa de abate dos animais, permitia retorno satisfatório do capital

investido.

De acordo com De Zen e Barros (2010), a elevada liquidez, o baixo

custo de manutenção e a flexibilidade temporal nas negociações explicam

grande parte da história da bovinocultura de corte brasileira até a década de

1980.

Da década de 1950 a 2010 o rebanho bovino passou de 58 milhões para

206 milhões de animais, o que representa um crescimento de 255% no período

compreendido (Figura 1). Adicionalmente ao aumento do número de animais,

houve também nos últimos anos expressiva melhora do desempenho da

pecuária de corte brasileira, notadamente a partir dos anos 70, pela introdução

de gramíneas exóticas nas áreas de pastagens nativas, menos produtivas.

Neste sentido, merece destaque a introdução dos capins do gênero Brachiaria,

os quais não apenas permitiram o aumento da taxa de lotação (de 0,25 para

1,0 UA/ha) das pastagens, mas também proporcionaram incremento no

desempenho produtivo dos rebanhos de bovinos de corte nas mais diversas

regiões do Brasil.

Nas décadas de 70 e 80 as indústrias frigoríficas passaram por grandes

instabilidades de mercado, as empresas nasciam e desapareciam em larga

escala, deixando a inadimplência espalhada com os produtores rurais. Nesse

período de economia instável, poucas empresas mantiveram uma situação

equilibrada (De Zen & Barros, 2010).

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1950 1960 1970 1980 1990 200 2010

Ano

Milh

ões

de

cab

eças

Figura 1 – Evolução do rebanho bovino nacional nas últimas sete décadas

(Adaptados de Anualpec (2009) Euclides Filho e Euclides (2010).

No ano de 1994, o novo comportamento da economia entrou no mais

longo período de estabilidade e os preços do boi gordo passam a ser moldados

pela oferta e procura. O equilíbrio entre oferta e demanda deve-se a fatores

inerentes à produção, merecendo destaque as condições climáticas,

tecnológicas, e a rentabilidade, como variáveis que influem na oferta; já a

demanda é condicionada por fatores como renda, exportações e credibilidade

das empresas (De Zen & Barros, 2010).

Os frigoríficos então iniciaram sua organização financeira, pois, somente

desta forma poderiam efetuar a contratação de empréstimos de bancos de

investimentos, como o BNDES. Posterior a organização e aos financiamentos,

vem o indicativo de que a empresa tem condições para receber novos

investimentos, abrindo caminho para os financiamentos de bancos

internacionais e autorização da Comissão de Valores Mobiliários para abertura

de capital. Tais adequações levaram ao crescimento e internacionalização das

indústrias, passando a ter maior abrangência dos mercados de acordo com

cada local, causando uma assimetria de informação.

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A pecuária de corte representa atualmente importante setor da economia

que contribui de forma decisiva para o equilíbrio da balança comercial do país.

Conforme já salientado, nas últimas décadas passou por profundas mudanças

no ponto de vista organizacional e estrutural, o que tem possibilitado o

incremento dos índices zootécnicos nos últimos anos. Pois, houve expressivo

aumento na taxa de desfrute do rebanho, passando de 16 para 23%,

proporcionado pelo aumento dos abates de animais em comparação ao

aumento do rebanho (Figuras 1 e 2), ou seja, a taxa de abate cresceu mais que

(36%) a taxa de crescimento do rebanho (20%), no período de 1995 a 2007

(Euclides Filho e Euclides, 2010). Deve ser comentado que parte do aumento

do abate no período citado envolve o aumento dos índices produtivos e parte

relacionada ao abate de matrizes. No que se refere ao aumento da

produtividade, pode-se inferir que a mesma se deve ao aumento da aplicação

de tecnologias relacionadas ao melhoramento genético, reprodução, sanidade,

manejo de pastos e nutrição dos animais. É importante destacar a dificuldade

na obtenção de dados acurados sobre o rebanho nacional, pois, trata-se de um

país com elevada extensão territorial e dificuldades de acesso em alguns locais

mais longínquos.

Tabela 1. Índices zootécnicos da pecuária bovina de corte brasileira de 1990 a

2010

Item 1990 1995 2000 2005 2010

Rebanho bovino (milhões de

cabeças)

156 159 171 189 196

Natalidade (%) 50 53 55 58 60

Abate (milhões de cabeças) 29 31 34 38 43

Taxa de abate (%) 16,0 18,7 19,2 21,5 23,0

Produção de carne (mil toneladas) 5.820 6.270 6.900 7.700 8.750

Consumo per capita (kg/hab./ano) 35,8 35,3 35,3 36,4 36,7

Consumo interno (mil toneladas) 5710 5.793 6.091 6.463 6.700

Adaptados de Anualpec (2009) Euclides Filho e Euclides (2010)

2 Dados estimados;

3 em equivalente-carcaça.

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(a)

(b)

Figura 2 – Abate de bovinos no Brasil, expresso em número de animais (a) e toneladas (b) nos últimos anos. Fonte: Adaptados de Anualpec (2009) Euclides Filho e Euclides (2010)

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Adicionalmente, houve redução da idade de abate, a qual foi reduzida de

48-50 meses para 30-36 meses, a qual deve-se, principalmente, ao maior

desempenho observado pelos animais, em decorrência da aplicação de

técnicas relacionadas ao manejo do pasto, à suplementação na época seca,

bem como o uso do confinamento e semi-confinamento (Euclides Filho e

Euclides, 2010). Ressalta-se também a melhora na eficiência reprodutiva do

rebanho, a qual passou de 40 para 63%, proporcionando elevado impacto

sobre a produção de carne no país, pois aumentou a disponibilidade de

animais para a engorda.

Nas últimas duas décadas houve expressivo aumento da participação

nacional no mercado mundial de carne bovina, chegando a permitir desde 2004

que o país se tornasse o maior exportador, ultrapassando a Austrália. Os

fatores que contribuíram para esse incremento foram a desvalorização cambial

do real frente ao dólar e o trabalho de erradicação da febre aftosa, associado

ao preço competitivo do nosso produto, bem como a ocorrência de

Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE) em países exportadores.

Ao mesmo tempo em que o Brasil apresenta-se como maior exportador

de carne bovina, aumenta-se a competição pelos mercados consumidores, o

grau de exigência dos consumidores no que se refere à qualidade e segurança

alimentar, bem como as preocupações com questões sociais, ambientais e de

bem-estar animal (Euclides Filho e Euclides, 2010). Essas pressões internas e

externas, em que pesa o aumento da eficiência de uso do solo, da água,

nutrientes e da energia, têm exercido elevado impacto para a intensificação dos

sistemas de produção de bovinos de corte no Brasil, o que tem sido

evidenciado pelo aumento dos índices de produção observados nas duas

últimas décadas, assim como deslocamento da produção e de frigoríficos para

as regiões Norte e Centro Oeste.

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35606

27861

33688

24575

51457

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste

Região

Bo

vin

os

de C

orte

(n

)

Figura 3 – Rebanho de bovinos de corte nas diferentes regiões brasileiras (Fonte: Adaptados de Anualpec (2009) Euclides Filho e Euclides (2010).

Cabe ressaltar que nesse processo de transformação da pecuária de

corte brasileira ocorrido nos 20 anos mais recentes, houve migração para as

regiões Centro Oeste e Norte, em busca de terras mais baratas, condições

climáticas favoráveis e menor preço dos grãos para os sistemas mais

intensivos (semi-confinamento e confinamento), bem como pela forte pressão

exercida pela agricultura, gerando elevada concorrência com a pecuária

tradicional de baixo uso de tecnologias. Esse deslocamento da pecuária deu-se

em função da pressão exercida pela agricultura praticada no Brasil,

notadamente da soja, milho, algodão e cana-de-açúcar, as quais pelo uso

intensivo de tecnologia têm proporcionado maiores desempenhos produtivos e

econômicos que a pecuária tradicional, na qual se aplica pouca tecnologia

(Euclides Filho e Euclides, 2010; Peixoto, 2010).

Desta forma, estados como São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul

tiveram os seus rebanhos de bovinos de corte estabilizados ou reduzidos,

enquanto que em Mato Grosso, de 1990 a 2005, o rebanho bovino aumentou

em 200%, e no Pará e Rondônia 200 e 600%, respectivamente, comparado ao

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do estado da São Paulo que cresceu apenas de 9% no mesmo período (Tabela

2).

Acompanhando o deslocamento do rebanho bovino para as regiões

supracitadas, houve o estabelecimento de indústrias frigoríficas nestas regiões.

Atualmente, dos 100 frigoríficos habilitados para exportação de carne bovina no

Brasil, 70% das unidades estão instaladas nas regiões Centro Oeste e

Sudeste, e na região Norte concentra-se 10% deste total.

Tabela 2. Rebanho bovino (milhões de cabeças) dos principais estados de

cada região

Estado 1990 1995 2000 2005 2009

Mato Grosso 9,0 14,2 18,9 22,0 28,0

Mato Grosso do Sul 19,6 22,3 22,6 24,5 25,0

Minas Gerais 20,4 20,1 20,2 21,4 22,5

Goiás 17,6 18,9 18,4 20,7 21,0

Pará 6,2 8,1 11,0 18,1 18,2

Rio Grande do Sul 13,7 14,3 13,9 14,2 14,4

São Paulo 12,3 13,1 13,3 13,4 13,5

Rondônia 1,7 3,9 6,6 11,3 11,5

Bahia 11,5 9,8 9,9 10,5 11,0

Paraná 8,6 9,4 9,8 10,2 10,5

Fonte: Adaptados de Anualpec (2009), Euclides Filho e Euclides (2010)

Atualmente o Brasil detém o segundo maior rebanho mundial de bovinos

e projeta-se como maior exportador de carne, viabilizado pelo seu numeroso

rebanho e, principalmente pela competitividade decorrente do baixo custo de

produção dos animais em sistemas de pastejo. Soma-se a isso, a imagem

positiva que a carne brasileira apresenta em alguns mercados internacionais,

por ser produzida sob condições naturais (pastagem) em comparação com os

sistemas de produção em confinamento que geralmente não garantem os

princípios de bem-estar animal.

Embora em fase de transformação, a pecuária de corte brasileira está

sendo penalizada coma forte descapitalização do produtor, em função de

queda continuada no preço do boi gordo e aumento expressivo do custo de

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produção, pois de 2003 a 2007 o preço do boi gordo variou apenas 4,5%, ao

passo que o custo operacional total variou 43,82%. Este fato tem colaborado

para o expressivo abate de matrizes ocorrido na última década e desestímulo a

novos investimentos (Euclides Filho e Euclides, 2010).

É importante destacar o incremento do uso de tecnologias relacionadas

ao manejo das pastagens, incluindo espécies forrageiras mais adaptadas e

adequação no seu manejo, tais como adubação de manutenção e calagem e

orientação do manejo com base na altura adequada do pasto. Adicionalmente,

a adoção da inseminação artificial tem trazido benefícios significativos para o

aumento da eficiência reprodutiva do rebanho, pelo seu controle mais efetivo,

no sentido de manter no rebanho, vacas mais eficientes e descartar aquelas

que não parem com regularidade, efetuando desta forma, uma seleção para a

eficiência reprodutiva.

Da mesma forma, pode-se citar o árduo trabalho do setor de vigilância

sanitária vinculado aos governos federal e estadual, os quais têm trabalhado de

forma eficiente para o controle e erradicação de importantes enfermidades, tais

como: febre aftosa, tuberculose, rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR), diarréia

viral bovina (BVD), brucelose, etc., as quais têm sido fator limitante para que a

carne bovina conquiste de fato importantes mercados consumidores, tais como

aqueles dos Estados Unidos, Japão, Coréia do Sul e Comunidade Européia.

Apesar do aumento dos índices zootécnicos nos últimos anos, a

pecuária de corte ainda se depara com índices abaixo do potencial em função

de alguns fatores, tais como: o gado ainda é visto como reserva de capital por

alguns produtores, o que fazia sentido em épocas de inflação elevada, como

aquelas verificadas na década de 1970 e 1980; na pecuária, em certas regiões,

ser chamado de pecuarista e detentor de grande rebanho ainda é status social,

mesmo que aspectos ligados ao desempenho produtivo e econômico não

sejam contemplados.

Quanto ao sistema de produção adotado, embora predomine a produção

de animais em pastejo, este pode ser conduzido pelo uso de sistemas

extensivos, onde verifica-se a predominância de gramíneas naturais e/ou

exóticas como recurso alimentar, com baixo uso de tecnologias; assim como

sistemas de pastejo intensivos, com a utilização de gramíneas dos gêneros

Brachiaria e Panicum sob adubação e/ou irrigação, associadas ao uso da

suplementação protéica e/ou energética na seca ou durante todo o ano; bem

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como o semi-confinamento ou o confinamento total dos animais. Esses

sistemas variam de acordo com a região e com o custo relativo da terra, sendo

os sistemas mais intensivos adotados em regiões cujo custo da terra é mais

elevado.

Dentro destas variações de sistemas de produção dos animais, estão

inclusas fazendas destinadas à cria, recria e engorda, às que realizam apenas

a cria e a recria, enquanto outras trabalham apenas com a terminação dos

animais. Neste aspecto, deve ser mencionada à tendência da especialização

da atividade, com produtores tendendo a trabalhar em parceria no sentido de

desempenharem apenas uma das fases, ou seja, apenas a recria/recria,

recria/engorda ou engorda apenas.

Adicionalmente aos sistemas de produção, outro componente que

merece destaque na pecuária de corte nacional é o relacionado à genética

animal utilizada, onde verifica-se a predominância de animais zebuínos,

notadamente da raça Nelore, nas regiões Centro Oeste, Norte, Nordeste e

Sudeste, enquanto que na região Sul predominam as raças Simental, Hereford,

Angus e Charolês. Ainda merecem destaque as diferenças relacionadas quanto

ao material forrageiro utilizado entre as regiões do país, em que naquelas

consideradas tropicais, predominam gramíneas tropicais (C3) associadas ou

não às leguminosas, enquanto que na região considerada sub-tropical (região

sul do país), predominam pastos nativos e gramíneas temperadas (azevém,

aveia) e/ou leguminosas (trevo).

No custo de produção os itens que mais pesam são os salários, insumos

para pastagem e suplementação mineral. Geralmente os custos de produção

são afetados pela economia como um todo, por exemplo, o aquecimento do

mercado de grãos tende a elevar o preço dos fertilizantes e corretivos, assim

como o aumento das exportações de carne aumenta os custos dos insumos

importados. No geral, o processo de elevação contínuo do custo reflete

também na absorção de tecnologia, que eleva a produtividade.

De acordo com De Zen & Barros (2010) as imperfeições do mercado com as

restrições ao livre comércio, explicam as diferenças dos preços em níveis

superiores daqueles esperados. Se os mercados funcionassem sem restrições,

haveria um equilíbrio entre os preços dos diversos países, e o custo, também

se equilibraria em patamares diferentes daqueles observados.

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Em todos os segmentos do processo produtivo da carne, a competência

é o sinônimo de sucesso na conquista dos objetivos de toda a cadeia produtiva.

Todavia, a comercialização dos animais nos frigoríficos é cercada por uma

série de problemas que geram riscos e contrastam com o elevado grau de

profissionalismo que tem limitado o sucesso da cadeia produtiva. O produtor

rural tem acesso a informações e mercado local, enquanto o frigorífico tem

acesso ao mercado de várias regiões.

A relação comercial produtor-frigorífico é extremamente dinâmica e

complexa, pois ocorre dentro de um ambiente rico em concorrência. Seqüentes

modificações vêm interferindo nessa relação nos últimos anos, em decorrência

do aumento de exportações, que favoreceu o desenvolvimento de grupos

frigoríficos, com estruturas em diversas regiões e munidos de planejamento

estratégico. O produtor tem condições de controlar os custos, mas os preços

são formados pelo equilíbrio entre a oferta e a demanda.

O Brasil conta atualmente com cerca de 205 milhões de bovinos, dos

quais aproximadamente, 175 milhões são representados pelo rebanho de

corte, destacando-se como o segundo maior rebanho do mundo e desde 2004

como o maior exportador de carne bovina.

Embora os animais abatidos oriundos dos confinamentos representem

cerca de 5% apenas do total de animais abatidos ao ano no Brasil, esse

número aumentou expressivamente nos últimos anos, motivado pela relativa

valorização da arroba do boi, particularmente para os animais destinados à

exportação e pela estabilização da economia. O confinamento de bovinos de

corte no Brasil ocorre entre os meses de abril a novembro e tem como principal

característica a duração de apenas 80-90 dias, comparado ao confinamento

praticado em outros países, e a utilização de vários lotes ao ano (dois a três)

por unidade confinadora (Almeida et al., 2010). Esse sistema de produção de

animais para o abate possui as seguintes vantagens: maior ganho de peso dos

animais, requer menor área, desocupação dos pastos por animais em

terminação e a sua liberação para animais mais eficientes (recria).

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4 – PANORAMA ATUAL DA PECUÁRIA DE CORTE NO MUNDO

Índia, Brasil, China, Estados Unidos e Argentina (em ordem de

importância numérica) concentram cerca de 50% do rebanho mundial de

bovinos, sendo que na última década, dentre estes 5 países, apenas os

rebanhos brasileiros e chineses tiveram aumento, com os demais

apresentando declínio (Tabela 3). Mas, considerando o rebanho geral de

bovinos, o mesmo cresceu cerca de 4,2% no período de 1995 a 2006,

passando de 1,325 para 1,376 bilhões de animais.

Tabela 3. Maiores rebanhos bovinos do mundo.

País 2007 2008 2009 2010 2011(1)

Índia(2) 297,7 304,4 309,9 316,4 320,6

Brasil 173,8 175,4 179,5 185,1 206

China 104,7 105,9 105,7 105,4 104,8

Estados

Unidos 96,6 96,0 94,5 93,8 92,6

União

Européia 88,5 89,0 88,8 88,3 87,3

Argentina 55,7 55,7 54,2 49,0 48,5

Colômbia 29,3 30,1 30,7 31,1 31,8

Austrália 28,4 28,0 27,3 27,9 28,0

México 23,3 22,8 22,6 22,1 21,5

Rússia 21,6 21,5 21,0 20,6 20,0

Venezuela 13,8 13,5 13,2 13,1 12,8

Outros 88,6 82,5 71,8 53,3 52,0

Total 1.021,9 1.020,5 1.019,6 1.006,5 1.010,7

Fonte: Adaptados de Anualpec (2009) Euclides Filho e Euclides (2010) (1)

Estimativa (2)

Rebanho não comercial

A produção de carne bovina, no período de 1995 a 2006, aumentou de

48 para 53 milhões de t de equivalente carcaça, sendo os Estados Unidos,

Brasil, China, União Européia e Argentina os países que se destacam como

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maiores produtores (Tabela 4). Vale ressaltar que os maiores rebanhos não

necessariamente implicam em maiores produções de carne, pois os Estados

Unidos cujo rebanho bovino é apenas o quarto maior do mundo, em

decorrência da utilização de sistemas intensivos de produção, é o maior

produtor de carne bovina do mundo.

Tabela 4. Produção mundial de carne bovina (toneladas equivalentes carcaça).

País 2007 2008 2009 2010 2011(1)

Estados

Unidos 12.097 12.163 11.891 12.048 11.946

Brasil 9.303 9.024 8.935 9.115 9.365

China 6.134 6.132 5.764 5.600 5.500

União

Européia 8.188 8.090 8.200 7.870 8.000

Argentina 3.300 3.150 3.380 2.600 2.500

Índia(2) 2.413 2.552 2.514 2.830 2.960

México 1.600 1.667 1.700 1.751 1.775

Paquistão 1.344 1.388 1.457 1.486 1.450

Austrália 2.172 2.159 2.129 2.087 2.140

Rússia 1.430 1.490 1.460 1.435 1.400

Canadá 1.278 1.289 1.252 1.272 1.275

Outros 9.359 9.496 8.961 9.014 9.047

Total 58.618 58.600 57.356 56.323 57.358

(1) Estimativa (2) Rebanho não comercial

No tocante à exportação de carne bovina, Brasil, Austrália, Índia, Nova

Zelândia e Estados Unidos se destacam. Até 2002 e 2003, Austrália e Estados

Unidos eram os maiores exportadores mundiais de carne bovina, mas com a

ocorrência de encefalopatia espongiforme bovina (BSE) nos Estados Unidos

nesse período, houve expressiva restrição de compra de carne bovina deste

país pelos países importadores, o que possibilitou a inserção da carne bovina

brasileira, em função de sua disponibilidade (rebanho) e preço competitivo

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(animais criados em pastejo). É importante destacar que no período de 1995 a

2006 a exportação de carne bovina brasileira saltou de 228 mil toneladas para

2.160 mil toneladas de equivalente carcaça, representando na atualidade,

aproximadamente 25% de toda a carne produzida no país.

Figura 4 - Exportações de carne bovina pelo Brasil. Fonte: Adaptados de Anualpec (2009), Euclides Filho e Euclides (2010)

O mercado de exportação da carne bovina pode ser subdivido em:

mercado do oceano pacífico, em que Japão e Coréia do Sul são os principais

importadores, tendo como países principais fornecedores a Austrália, Estados

Unidos e Nova Zelândia; enquanto que o mercado do oceano atlântico tem

como principais importadores a Comunidade Européia, Rússia e Oriente Médio,

sendo abastecidos pelos países do Mercosul.

O maior investimento em produção e infra-estrutura voltada à exportação

ocorreu no início dos anos 90, com a implantação do plano real houve

desvalorização da moeda nacional frente ao dólar, o que impulsionou as

exportações. A partir de então, houve expressivo investimento no agronegócio

de exportação, incluindo aspectos ligados ao manejo dos animais nas

fazendas, seu rastreamento, transporte e processamento, no sentido de

atender as legislações impostas pelos países importadores.

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Da carne bovina exportada pelo Brasil, os principais clientes são os

países de Comunidade Européia, Rússia e países do oriente médio.

Adicionalmente, 11% são destinados aos Estados Unidos, caracterizados

principalmente por carne industrializada; 26% para o Norte da África, 9% para a

América do Sul. A exportação de carne bovina do Brasil para a Rússia

aumentou de forma significativa recentemente, e acredita-se que com o

aumento do poder aquisitivo daquele país, em decorrência da estabilidade da

sua economia, promova ainda maiores incrementos nessa demanda.

Importantes mercados de carne bovina, como o japonês e sul-coreano

continuam fechados à carne brasileira, em decorrência de problemas de ordem

sanitária, sendo os Estados Unidos e Austrália os principais fornecedores dos

produtos para os países supracitados.

Figura 5 – Participação de machos e fêmeas no abate brasileiro de bovinos. Fonte: Adaptados de Anualpec (2009), Euclides Filho e Euclides (2010)

Conforme já mencionado o Japão mantêm elevado rigor quanto às

barreiras sanitárias para a importação de carne bovina de vários países,

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incluindo a brasileira, mas representa um mercado altamente consumidor desta

carne e com preços bem acima da média do mercado internacional. Como

exemplo deste fato, o preço pago pelos japoneses pela carne importada dos

Estados Unidos é de U$ 3.770,00/t, enquanto o valor médio pago pela carne

bovina brasileira no mercado externo é de U$ 2.240,00/t. Desta forma, esforços

devem ser feitos no país para que a carne bovina seja aceita por esses

mercados, os quais são grandes importadores e propiciam elevado valor de

pagamento pela carne.

Nos últimos anos, também houve expressivo aumento da exportação da

carne brasileira para a China, com incremento de 37,5% no volume exportado,

num mercado que aumentou o seu consumo de carne bovina em 29% em

apenas dois anos. A demanda aumentada de carne bovina na China deve-se

as mudanças de hábito de consumo por uma população extremamente

numerosa, motivada pelo aumento do poder de compra em decorrência do

crescimento econômico do país. Além da China, outros países emergentes, tais

como Índia, Rússia e México apresentam-se como países cuja atenção deve

ser aumentada, em decorrência do mais rápido crescimento da população

associado às maiores taxas de crescimento econômico, o que certamente

afetará a demanda por alimentos, incluindo a carne bovina.

Tabela 5. Mundo: exportações de carne bovina e de vitelo, principais países

(mil toneladas equivalente-carcaça)

País 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Brasil 2.134 2.405 2.534 2.163 1.926 2.600

Austrália 1.388 1.430 1.400 1.407 1.390 1.350

Índia 617 681 678 672 675 700

Nova Zelândia 577 530 496 533 525 517

Canadá 596 477 457 494 475 490

Argentina 754 552 534 422 560 390

Uruguai 417 460 385 361 310 360

Paraguai 193 240 206 233 210 230

EU-27 253 218 140 203 160 160

Nicarágua 59 68 83 89 90 95

Estados Unidos 316 519 650 856 785 837

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Outros 300 244 353 419 375 207

Total 7.304 7.580 7.563 7.433 7.106 5.129

Fonte: Adaptados de Anualpec (2009), Euclides Filho e Euclides (2010)

As expectativas de exportação da carne bovina brasileira dependerão

nos próximos anos de aspectos relacionados ao comportamento dos

concorrentes do Brasil e dos resultados das negociações que vem sendo feitas

com países da Comunidade Européia relativas às cotas, tarifas e às exigências

de certificação e rastreabilidade. Soma-se a isso, os efeitos decorrentes do

expressivo abate de matrizes nos últimos anos, o qual poderá afetar a

disponibilidade de animais para o abate. Ressalta-se que no período de 2000 a

2005 o abate de matrizes aumentou de 26 para 37% do total de abates

ocorridos, o que cria certa preocupação do ponto de vista de afetar o número

de ventres disponíveis na fazenda para a geração de bezerros e animais para

terminação, ou seja, pode comprometer o crescimento do rebanho nacional

para o atendimento das exportações e de possíveis incrementos na demanda

interna.

Tabela 6. Mundo: exportações de carne bovina – maiores exportadores para

maiores importadores em 2004 (percentagem)

Destino

EU

A

Méxic

o

Japã

o

Extrem

o

Oriente

Canad

á

Coréi

a do

Sul

EU

-25

Norte

da

Áfric

a

Améric

a do

Sul

Rússi

a Fornecedo

r

Canadá 83 15 - - - - - - - -

Austrália 39 - 36 8 - - - - - -

N.

Zelândia

50 - - 16 11 6 - - - -

Brasil 11 - - - - - 28 26 9 -

Argentin

a

18 - - - - - 24 13 - 16

EUA - 14 70 - - 3 - - - -

Fonte: BUAINAIN e BATALHA (2007)

Deve ser salientado que o aumento do consumo de carne pelo brasileiro

pode afetar a geração de excedentes exportáveis, assim como o aumento das

exportações podem afetar o preço do produto no mercado interno. Caso as

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duas situações ocorram simultaneamente, ou seja, aumento das exportações e

da demanda interna, uma rápida alternativa para evitar a excessiva elevação

dos preços seria o aumento do rebanho, e para isso, volta-se a discussão

sobre o abate de matrizes.

Com relação ao consumo da carne bovina, Estados Unidos, União

Européia, China e Brasil são os quatro primeiros relacionados, com valores de

ordem de 12,8; 8,3; 7,4; 6,9 e 2,6 milhões de t de equivalente-carcaça,

respectivamente, representando 68% do consumo de carne bovina no mundo.

Deve-se destacar o expressivo incremento no consumo de carne bovina na

China, que foi de 80% no período de 1995 a 2006, justificado pelo aumento do

poder aquisitivo da população e de mudanças de hábito de consumo.

Entretanto, quando se avalia o consumo per capita, nota-se que

Argentina, Estados Unidos, Austrália, Brasil e Canadá destacam-se com

valores de 65, 42 e 36 kg/habitante/ano. Percebe-se (Tabela 8) que a maioria

dos países teve a manutenção ou declínio do consumo de carne bovina,

justificado pela ocorrência da doença da vaca louca, maior preocupação com a

saúde, considerando a idéia que é vinculada sobre os possíveis efeitos

negativos da carne vermelha e sua gordura com a saúde humana e, possíveis

alterações periódicas do consumo, em decorrência de variações do preço da

carne bovina em relação à outras carnes. De modo geral, países de maior

renda da população mantêm maior consumo de carne bovina por habitante.

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Tabela 7. Mundo: consumo de carne bovina e de vitelo, principais países

(milhões de toneladas equivalente-carcaça)

Países 1996 1998 2000 2002 2004 2006

EUA 11,9 12,1 12,5 12,7 12,7 12,8

EU-25 nd nd 8,1 8,2 8,3 8,3

China 3,5 4,7 5,3 5,8 6,7 7,4

Brasil 6,1 5,9 6,1 6,4 6,4 6,9

Argentina 2,1 2,3 2,5 2,4 2,5 2,6

México 1,9 2,1 2,3 2,4 2,4 2,5

Rússia 3,5 2,9 2,2 2,5 2,3 2,4

Índia 0,7 1,3 1,4 1,4 1,6 1,6

Japão 1,4 1,5 1,6 1,3 1,2 1,2

Canadá 0,9 1,0 1,0 1,0 1,1 1,1

Outros 14,4 14,6 6,5 6,2 4,8 4,9

Mundo 46,4 48,5 49,5 50,3 49,9 51,7

Fonte: BUAINAIN e BATALHA (2007)

O aumento do consumo de alimentos depende do crescimento da

população e/ou do seu poder aquisitivo, do preço do produto (carne bovina) e

de outros alternativos (carne de frango, suína, etc.). Desta forma, considerando

as projeções para o aumento da população mundial para 2030-2040 (9,0

bilhões de habitantes), associado à estabilidade econômica e melhoria do

poder de compra em vários países do mundo (China, Rússia, etc.), bem como

à limitação de áreas e condições para produção de carne nesses países, o

Brasil passa a ser o centro das atenções para o atendimento destas demandas

por carne bovina.

O lento crescimento do consumo de carne bovina no Brasil nos anos

mais recentes pode ser devido ao aumento do preço do produto no mercado

nacional, influenciado pelas exportações, bem como pela estabilização do

poder de compra da população, embora tenha havido melhora expressiva do

poder aquisitivo do brasileiro, comparado a 20 anos atrás.

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Tabela 8. Mundo: consumo per capita de carne bovina, países selecionados (Kg/habitante/ano)

País 1996 1998 2000 2002 2004 2006

Argentina 58,6 63,6 67,8 61,6 64,2 65,2

Estados Unidos 44,1 43,6 44,3 44,3 43,2 42,9

Austrália 38,4 38,0 33,7 35,6 34,8 36,9

Brasil 42,2 38,0 36,2 36,0 37,5 36,5

Canadá 30,3 31,1 31,7 31,0 32,5 32,2

México 20,1 21,6 23,1 23,5 22,4 23,1

EU-25 18,4 19,6 17,9 17,9 18,2 18,0

Rússia 23,4 19,2 15,7 16,5 15,7 15,7

África do Sul 13,6 12,8 14,8 14,7 15,0 15,5

Coréia do Sul 10,0 9,6 12,5 12,7 9,6 8,6

Fonte: BUAINAIN e BATALHA (2007)

Deve ser salientado que durante algumas décadas, a carne bovina

sofreu elevada pressão da mídia, relacionando o consumo desta à incidência

de doenças cardiovasculares, o que de certa forma, contribui para manter

estável o consumo desta em vários países, permitindo com isso, que outras

carnes, consideradas “mais saudáveis”, como a carne de frango, tivessem o

seu consumo aumentado, aliado ao preço mais acessível. Entretanto, mais

recentemente, com as novas descobertas relativas à presença de importantes

componentes que apresentam propriedade anti-cancerígena na carne bovina,

tais como o ácido linoléico conjugado (CLA), espera-se que ocorra uma

reversão nessa imagem negativa criada sobre a carne bovina.

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5 – OPORTUNIDADES PARA A PECUÁRIA DE CORTE BRASILEIRA:

Na Tabela 9 são listadas as principais potencialidades da pecuária de

corte nacional e suas implicações favoráveis para o Brasil, as quais têm sido

fundamentais para colocar o país em lugar de destaque no cenário mundial.

Tabela 9. Principais potencialidades da pecuária de corte brasileira

Item Vantagens

Disponibilidade de áreas maior que outros países concorrentes.

Produção baseada no uso do pasto: menor custo de produção;

elevada competitividade;

ecologicamente correta;

bem-estar animal;

maior concentração de CLA.

Clima e gramíneas tropicais elevada produção de forragem.

Ausência de mal da vaca louca: elevado potencial para exportação.

Crescimento do consumo interno aumento da demanda interna.

Crescimento da população mundial aumento da demanda externa.

Aumento do poder aquisitivo aumento da demanda externa.

Potencial para confinamento no

Centro Oeste do Brasil

disponibilidade de alimentos de baixo

custo.

5.1.1 – Sistema de produção baseado em pastagens

A pecuária de corte brasileira baseia-se no uso de sistemas de produção

de animais em condições de pastejo, sendo que somente 5% dos animais

destinados ao abate são oriundos dos confinamentos. Considerando a elevada

dimensão territorial do país e, com isso, a elevada disponibilidade de áreas de

pastagens (170 milhões de ha), associadas ao clima predominantemente

tropical, o que possibilita a utilização de forrageiras tropicais (mais produtivas

que as de clima temperado), bem como ao fato do nosso rebanho de bovinos

de corte ser representado basicamente por animais zebuínos (Nelore), torna-se

possível imaginar o nosso potencial de produção de carne de animais em

sistemas de pastejo.

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Em países da Europa, nos Estados Unidos e na Austrália, o custo da

arroba produzida é elevado, pois o sistema de produção de animais em

confinamento é a base da produção de carne bovina, pois são elevados os

investimentos em instalações, alimentos conservados e concentrados, bem

como em máquinas, diesel e mão-de-obra. Desta forma, o Brasil tem grande

poder de barganha e de conquistar novos mercados, pois o animal em pastejo

colhe a forragem por si só, reduzindo os investimentos decorrentes do

confinamento. Com isso, a carne brasileira custa cerca de 30% daquela

verificada nos Estados Unidos e 50% da produzida na Austrália, o que reforça

a idéia da nossa elevada competitividade.

Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 80% dos bovinos de corte

produzidos são provenientes de sistemas que utilizam dietas com elevada

proporção de grãos (Lawrence e Ibarburu, 2008), o que impacta o preço da

arroba, bem como denota a dependência desse país pelos grãos, aliado ao fato

da sua vulnerabilidade em decorrência de crises mundiais que venham a

ocorrer relativas à produção de milho e soja.

O território brasileiro compreende uma área de 851 milhões de hectares,

dos quais 51% são ocupados por florestas nativas e 47% são áreas

agricultáveis. Destas últimas, cerca de 172,3 milhões de hectares são

destinados às pastagens, dos quais 129 milhões de hectares encontram-se no

Cerrado, onde 54 milhões de hectares são de pastagens cultivadas (Sano et

al., 2008).

A Figura 6 ilustra a relação entre a área total de vários países e a área

disponível para a agricultura e, nota-se que, o Brasil destaca-se neste sentido,

pois a maioria dos países de agropecuária desenvolvida ou com grandes

mercados consumidores, a relação entre a área potencialmente utilizável e

atualmente usada pela agropecuária é muito reduzida. Esse fato tem colocado

o Brasil no foca das discussões sobre o potencial de produzir alimentos para a

humanidade no futuro, reconhecido esse capacidade pela FAO.

Apesar disso, essa questão precisa ser melhor discutida, pois salientar

esse fato pode permitir a sua associação com o desmatamento da Amazônia, o

que deve ser coibido de forma incisiva, se quisermos que a carne bovina no

Brasil seja aceita nos mercados mais exigentes. Portanto, apesar de dispormos

de elevada proporção de terras ainda não utilizadas, assumindo que as áreas

de pastagens degradadas no Brasil central sejam reformadas ou renovadas,

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não precisaremos dispor dessas áreas ainda não utilizadas para aumentar o

nosso rebanho e sua produtividade.

A região do Cerrado comporta atualmente 60 milhões de cabeças de

bovinos, mas estima-se que da área total de pastagem cultivada (50 milhões),

aproximadamente 50% encontra-se em algum grau de degradação, mantendo

na média, cerca de 1,0 UA/ha. Desta forma, a reforma ou renovação destas

áreas poderia permitir aumentar a capacidade de suporte para, para no mínimo

2,0 UA/ha, o que possibilitaria aumentar o rebanho em 30 milhões de cabeças.

0

100

200

300

400

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USA

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área não utilizada

área utilizada

FIGURA 6. Relação entre o total de área utilizada e não utilizada pela agropecuária em vários países

Outra grande vantagem pertinente à pecuária de corte nacional se refere

à maior concentração de ácido linoléico conjugado (CLA) em produtos (carne e

leite) provenientes de animais mantidos em pastejo comparado aos mesmos

produtos oriundos de animais confinados. Pois, em várias pesquisas realizadas

no final dos anos 80 e inicio dos anos 90 compravam a elevada habilidade em

prevenir e combater o câncer do CLA. Desta forma, a carne bovina brasileira

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agregaria valor considerando o fato de conter de 2 a 5 vezes mais CLA que a

carne produzida em confinamento.

Deve ser destacado que a sociedade, de modo geral, tem estado alerta

aos aspectos relacionados ao modo que os animais são criados e, neste

sentido, alguns mercados mais exigentes e com maior poder de compra, como

o europeu, negam-se a comprar produtos animais oriundos de sistemas que

não empregam práticas de manejo adequadas e/ou que não propiciam bem-

estar aos animais. Neste aspecto, os sistemas de produção naturais, ou seja,

que mantêm os animais em seu ambiente natural, o pasto, são muito bem

vistos por esses consumidores, o que favorece a pecuária bovina brasileira,

sendo esse aspecto, fator muito importante para a divulgação e propaganda

sobre a carne produzida em nosso país.

5.1.2 – Ausência de “Mal da Vaca Louca”:

A pecuária de corte brasileira ainda apresenta vantagens considerando

os casos de encefalopatia espongiforme bovina (BSE – “mal da vaca louca”),

ocorridos na Europa e Estados Unidos em 2000, os quais são países

consumidores e exportadores de carne bovina, pois, até o presente momento,

não foram verificados casos da doença no Brasil e, certamente, não haveremos

de presenciar. Esses problemas sanitários proporcionaram grande espaço para

a carne bovina nacional, possibilitando tornar-se o maior exportador em 2003.

Ao mesmo tempo, a ocorrência de gripe aviária (influenza aviária) na Europa

criou uma crise no mercado da carne de aves em vários países, incluindo no

Brasil, o que por receio dos consumidores em consumir carne de aves

contaminada, acabou promovendo o aumento de consumo da carne bovina,

tendo impacto favorável à pecuária de corte mundial.

Embora vários países utilizem severas barreiras sanitárias, considerando

principalmente a ausência de febre aftosa com vacinação em alguns países e

sem vacinação em países mais rigorosos (EUA, Japão e Coréia do Sul), deve

ser salientado que essas restrições sanitárias servem também, na maioria dos

casos, como barreiras comercias disfarçadas, no sentido de conter as

importações nesses países e proteger a produção local. Apesar disso, com a

expectativa de aumento da demanda mundial de alimentos e com a capacidade

limitada em vários países de atender essa demanda, por questões de

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limitações de áreas e por terem esgotado o seu limite tecnológico, pode-se

inferir, em uma análise otimista, que essas barreiras sanitárias possam deixar

de existir, ou pelo menos, se tornarem mais flexíveis, em um futuro não muito

distante.

5.1.3 – Aumento da Demanda de Carne no Mundo: crescimento das

exportações e do consumo interno

Com a expectativa de crescimento da população mundial em alguns

países (desenvolvimento) e de aumento do poder aquisitivo desta, as

perspectivas são muito boas para a pecuária bovina nacional, considerando

que a carne bovina apresenta o seu consumo pela espécie humana

influenciado pelo poder aquisitivo da mesma e, desta forma, sofre pressão e

concorrência com outras carnes, tais como a de frango e a suína. Entretanto,

conforme já mencionado anteriormente, o Brasil é tido como o país que

apresenta maior potencial para suprir boa parte desta demanda, seja em

países desenvolvidos ou emergentes.

De acordo com a FAO até 2050 a produção de alimentos para atender a

população mundial crescente deverá ser o dobro da atual. Pois, a população

crescerá a uma taxa de 1,25% ao ano e, desta forma, deverá ser de mais que

10 bilhões de habitantes. Soma-se a isso, o aumento médio da renda per

capita em vários países, a qual deverá passar de US$ 1.080,00 para US$

2.217,00 em 2020, bem como a elevada taxa de crescimento da economia de

países com elevada densidade demográfica, tais como China (1,3 bilhões de

habitantes) e Índia (1,1 bilhões de habitantes), os quais cresceram 9,5 e 9,2%

nos últimos 20 anos (ANUALPEC, 2009).

Quanto ao mercado interno, o mesmo raciocínio pode ser mantido, pois

considerado as expectativas de crescimento da economia brasileira, o que

obrigatoriamente afeta favoravelmente o poder aquisitivo da mesma, pode-se

esperar aumento da demanda de carne bovina pelos brasileiros. Na Tabela 10

é apresentada simulação do crescimento da economia brasileira em três taxas

diferentes e o seu reflexo sobre a demanda de carne bovina. Obviamente,

precisa ser destacado que o aumento da demanda de carne bovina pelo

mercado interno pode afetar as exportações e preço da carne bovina e, vice-

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versa. Ou seja, o aumento das exportações tende a reduzir a disponibilidade de

carne no mercado nacional, aumentando o preço do produto.

Para o Brasil, a elasticidade média encontrada para a carne bovina de

primeira foi de 0,538. Significa que, a elevação em 10% da renda aumentará

em 5,38% a despesa com este tipo de carne. Já para a carne bovina de

segunda, percebe-se menor elasticidade-renda média para o País, pois o

aumento da renda do consumidor eleva muito pouco a demanda por este tipo

de carne (BUAINAIN e BATALHA, 2007).

Tabela 10. Brasil: projeções1 de consumo de carne bovina, segundo cenários

de crescimento do PIB2 (mil toneladas equivalente-carcaça).

Ano Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Consumo

observado

2000 6.328 6.452 6.577 6.158

2001 6.429 6.619 6.812 6.091

2002 6.532 6.790 7.055 6.395

2003 6.636 6.965 7.307 6.463

2004 6.742 7.145 7.568 6.549

2005 6.849 7.329 7.838 6.700

2006 6.959 7.519 8.118 6.780

2007 7.070 7.713 8.408 6.880

2008 7.182 7.912 8.708

2009 7.297 8.117 9.019

2010 7.413 8.326 9.342

2011 7.509 8.477 9.543

2012 7.617 8.664 9.819

2013 7.726 8.851 10.095

2014 7.834 9.039 10.371

2015 7.943 9.226 10.647

1 Projeções elaboradas no ano de 2000;

2 Cenário 1: crescimento de 2% a.a., Cenário 2:

crescimento de 4% a.a.; Cenário 3: crescimento de 6% a.a. Fonte: BUAINAIN e BATALHA (2007)

Embora a demanda de carne bovina no mercado nacional tenha

crescido de forma discreta nos últimos anos, mantendo-se estável nos anos

2000, sendo parte desse efeito ocorrido pela competição com carnes de menor

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custo, como a de frango, pode-se esperar que o aumento do poder aquisitivo

da população brasileira em função do crescimento da economia exercerá uma

forte pressão sobre a demanda de carne bovina no país. Pois, sabe-se que a

carne bovina apresenta elevada elasticidade de consumo em função da

variação da renda da população, seu consumo nas classes de menor poder

aquisitivo afetadas diretamente pela variação do poder de compra,

diferentemente da classe alta, a qual possivelmente já tenha atingido a sua

máxima capacidade de consumo de carne bovina.

Adicionalmente, com base no fato de que nos últimos dez anos houve a

inclusão de aproximadamente 30 milhões de brasileiros na chamada nova

classe média, fomentada pelo aumento da oferta de emprego no país e melhor

remuneração de uma mão-de-obra melhor qualificada, espera-se repercussão

deste incremento sobre o consumo e demanda por carne bovina no mercado

nacional, o qual deve ser valorizado e reconhecido a sua importância. Pois, em

momentos críticos, tais como quando são feitos embargos da importação da

carne brasileira por importantes mercados consumidores internacionais, tais

como, o da Rússia ou da Europa, o mercado nacional passa a ter maior

representatividade e importância no sentido de evitar que ocorra maior oferta

de carne em relação à sua demanda e, consequentemente, queda do preço do

produto. Então, aliada ao fato de que devem ser envidados esforços para

fortalecer o mercado de exportação, não se pode esquecer da importância de

incentivar o consumo de carne bovina pelo consumidor brasileiro e, neste

sentido, são de tamanha importância a produção de uma carne com preço

competitivo e acessível, produzida dentro de rigores de segurança alimentar.

5.1.4 – disponibilidade de grãos, co-produtos e sistemas de produção

integrada

Considerando que o Brasil se destaca na produção de grãos (milho,

soja, algodão) e cana-de-açúcar, nas diversas regiões do país, há elevada

disponibilidade desses em preços acessíveis, bem como de seus co-produtos,

os quais têm sido utilizados na alimentação animal, notadamente na dieta de

ruminantes (bovinos, caprinos e ovinos). Com isso, evita-se o acúmulo destes

nas unidades produtoras, o que representaria forte risco de promover impactos

ambientais, assim como possibilita a sua transformação em alimentos nobres

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ao homem (carne), conciliando ainda a redução dos custos da dieta, uma vez

que substituem ingredientes de maior custo, tais como o milho e o farelo de

soja. Neste aspecto, o estado de Mato Grosso destaca-se como maior produtor

de soja, segundo maior produtor de algodão e maior produtor de milho,

disponibilizando ao setor de produção de bovinos de corte uma diversidade de

produtos aproveitáveis, com elevada concentração de energia e/ou proteína.

Especificamente no estado de Mato Grosso, pode-se citar que os de

25,8 milhões de ha de pastagem comportam atualmente um rebanho de 28

milhões de cabeças de bovinos (IMEA, 2011). As perspectivas para o estado

são formidáveis, considerando o clima propício, a elevada produção das

forrageiras tropicais (Brachiaria e Panicum) quando bem manejadas; a elevada

disponibilidade de grãos (milho, sorgo, soja, algodão) com reduzido custo e

seus co-produtos, comparado a outras regiões do país, o que possibilita a sua

utilização em suplementos para animais em pastejo, bem como viabilizam os

confinamentos. Adicionalmente, a produção de bovinos se mescla a produção

de grãos, nos sistemas de integração lavoura-pecuária, uma vez que o estado

é importante produtor de milho, soja, algodão, além de girassol e mamona,

possibilitando intensificar a produção de carne sob pastejo ou favorecer os

confinamentos, bem como propiciar a diversificação das atividades na fazenda,

por meio de rotações e e/ou sucessões entre pasto e lavoura, aumentando a

receita e os lucros, sob menor risco para ambos os segmentos.

Uma estratégia de aumento da produtividade com sustentabilidade são

os sistemas de integração entre lavoura e pecuária e/ou destas com a

silvicultura, nos chamados sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) ou

integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Nestes sistemas, pela rotação de

culturas anuais (grãos) com a pastagem, ocorre interrupção do ciclo de pragas

e invasoras, promovendo maior sustentabilidade, produtividade e a redução de

riscos (Kluthcouski et al., 1991).

A degradação das pastagens é de longe o problema mais importante da

produção pecuária no Brasil. Mais de 100 milhões de ha de pastagens

cultivadas estão em exploração no país hoje, mas cerca de 60%, estima-se que

em diferentes graus de degradação (Macedo et al. 2000). Degradação é

comumente associado com diminuição da produção animal, a fertilidade do

solo e de sua conservação, invasão de ervas daninhas, ocorrência de pragas e

doenças, problemas ambientais e de declínio da sustentabilidade.

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Procedimentos comuns para a recuperação direta de pastagens, tais

como práticas de manejo animal, aplicação de fertilizantes e de novas

cultivares estão disponíveis, mas a tradição, os custos e preços finais dos

produtos têm desencorajado alguns agricultores. Mais recentemente, uma

alternativa eficiente, mas que consiste em um sistema agrícola mais complexo,

tem sido utilizado, a fim de recuperar as pastagens: trata-se de uma série de

sistemas de integração lavoura e pecuária (ILP). Os custos de fertilizantes,

preparo do solo, sementes, etc., usados para recuperar pastagens e melhorar a

fertilidade do solo podem ser compensados quando a ILP é utilizada. Um

benefício complementar é observado, pois a fertilização de culturas anuais,

melhoram os níveis de fertilidade do solo e, por outro lado, as profundas raízes

das gramíneas tropicais melhoram as propriedades físicas do solo, diminuindo

a sua compactação, densidade e taxa de infiltração de água. Muitos estudos

feitos com ILP, na região do Cerrado do Brasil, têm mostrado melhora na

produção animal e vegetal, como demonstrado pelo aumento das taxas de

lotação, ganho de peso e rendimento de grãos, em direção a novos limiares

das condições de produção e meio ambiente, portanto, na direção da

sustentabilidade. Além disso, lucros mais elevados, aumento no emprego, uso

de produtos e utilização eficiente de máquinas e de trabalho, também são

outras vantagens relacionadas com a ILP.

Culturas e sistemas de produção animal são definidas como sistemas de

produções de grãos, fibras, carne, leite, lã e outros, que são cultivadas na

mesma área, em plantio simultâneo ou seqüencial, de forma rotativa. Os

objetivos são os de maximizar os ciclos biológicos dos animais, das plantas e

seus resíduos, melhorar a utilização dos efeitos residuais dos fertilizantes,

tentativa de minimizar o uso de pesticidas, herbicidas, etc., para melhorar a

eficiência de máquinas, equipamentos e do trabalho, proporcionando, aumento

da renda e condições sociais na zona rural, com a perspectiva da proteção do

ambiente e sustentabilidade. Tecnologias associadas, tais como cultivo mínimo

(plantio direto), juntamente com as culturas e pastagens, rotação e ILP têm

impulsionado ainda mais. Cultivo mínimo foi implementada em mais de 60% do

preparo do solo no Brasil (Macedo et al. 2000). A adoção deste sistema em

larga escala, abrangendo várias regiões, com diferenças de clima e solo, é

altamente dependente das culturas que produzem grandes quantidades de

resíduos e palha para uma melhor cobertura do solo.

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A ILP pode ser utilizada com diversas culturas, tais como: soja, milho,

milheto, sorgo, girassol, etc. e, especialmente gramíneas tropicais perenes

como o capim Brachiaria brizantha, consorciadas ou não. Assim, a ILP tornou

se uma alternativa importante para a recuperação de pastagens degradadas e

melhoria da sustentabilidade da produção animal no Brasil.

Uma das vantagens de adoção da ILP é a possibilidade de semeadura

simultânea das culturas e pastagens, na mesma operação, independente do

período de plantio. O plantio simultâneo de milho e forrageiras tropicais é uma

prática antiga e comum entre os agricultores. No entanto, esta prática foi

melhor definida e organizada como um processo ou como pacote tecnológico e

que foram relatados: Sistema "Barreirão" (Kluthcouski et al,. 2003) tinha arroz e

Brachiaria como cultura companheira, e uma preparação do solo definidos no

sistema e o “Sistema Santa Fé” (Cobucci et al., 2001) que consistia na

produção de palhada para solos que seriam cultivados para a produção de

grãos.

Uma nova tendência é a incorporação de um novo componente na ILP:

as árvores. Os resultados obtidos na Embrapa Gado de Leite por Carvalho et

al. (1997), com o objetivo de selecionar diferentes forrageiras tropicais

adaptadas a níveis de sombreamento, e as estratégias propostas para os

sistemas agro-florestais. Estudos com arranjos entre espaçamentos entre

árvores, diferentes espécies de árvores, forrageiras adaptadas ao

sombreamento e espaço suficiente para produção de grãos já estão

disponíveis, como descrito por Macedo et al. (2000).

Vários estudos com variação diferente da cultura, floresta, pastagem, e

sistemas integrados indicam que o componente florestal proporciona diversos

benefícios, que por sua vez, melhoraram a eficiência do uso da terra (Macedo

et al., 2000). Portanto, as possibilidades de aumentar o uso desses sistemas

sob cenários de mudanças climáticas globais são reforçadas por sua

capacidade de produzir impactos positivos sobre as variáveis microclimáticas e

também para aumentar o seqüestro de carbono. Sistemas integrados com 250

a 350 árvores de eucalipto / ha, que estará pronto para o corte após oito a doze

anos, podem produzir 25 m3 ha-1 ano de madeira (Ofugi et al., 2008). Isto

representa um seqüestro de carbono anual de cerca de 5 t C ha-1 ou de 18 t ha-

1 equivalente de CO2, O que significa uma neutralização de emissões de GEE

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(gases do efeito estufa) semelhante à 12 bovinos adultos (Euclides Filho et al.,

2010).

Em 2009, como resultado da COP-15 (Conferência da ONU sobre

Mudanças Climáticas), realizada em Copenhague, capital da Dinamarca, os

representantes do Brasil destacaram-se, apresentando propostas voluntárias

para a mitigação da emissão de gases de efeito estufa relacionadas com a

agricultura e pecuária, com alguns importantes objetivos a serem alcançados

até 2020: redução de 83-104 milhões de toneladas de equivalente CO2 com a

recuperação de pastagens, 18-22 Mt equivalente CO2 com utilização de

sistemas integrados, 16-20 milhões de toneladas de equivalente CO2 com a

fixação biológica de nitrogênio (Brasil, 2009). Esses objetivos demonstram a

necessidade de melhorar a eficiência dos sistemas brasileiros de produção de

bovinos visando à mitigação de GEE e aqui, revela-se um importante papel a

ser desempenhado pela bovinocultura de corte. Segundo Cerri et al. (2010)

esses objetivos podem ser atingidos com as tecnologias já disponíveis, no

entanto, há uma necessidade de incentivos governamentais e investimentos

para o estimulo do uso correto deles por sistemas de produção.

Ainda como potencialidade da pecuária nacional destaca-se a produção

de animais em confinamento, cujo número de animais confinados aumentou

em 38% de 2000 a 2009 (Figura 7), particularmente na região Centro Oeste,

em função da elevada disponibilidade de co-produtos da agroindústria com

reduzido custo (caroço de algodão, tortas das oleaginosas, casca de soja,

bagaço de cana, resíduo de soja, glicerina, etc.). Essa estratégia de terminação

de animais apresenta grandes vantagens aos pecuaristas, pois permite retirar

do pasto bois de maior peso e menos eficientes, liberando espaço para animais

com maior eficiência de ganho de peso (bezerros desmamados).

Adicionalmente, permite terminar os animais na entressafra, produzir carne e

carcaça de melhor qualidade, aproveitando alimentos de baixo custo, em

algumas regiões do Brasil.

No Brasil, o número de animais confinados por ano é dependente da

relação entre o peso do boi magro e o do boi gordo, bem como do preço dos

ingredientes que compõem tradicionalmente as dietas de confinamento.

Adicionalmente, questões relacionadas ao efeito das variações do clima

também podem afetar a intenção de confinar o gado. Pois, em anos em que

ocorre término do período chuvoso mais cedo, a menor oferta de pasto mais

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precocemente pode forçar os pecuaristas a venderem animais da fazenda para

reduzir a pressão de pastejo ou buscarem pelo confinamento. Em 2011, de

acordo com o IMEA (2011), o confinamento de bovinos de corte em Mato

Grosso deve aumentar em 30%, em decorrência dos motivos citados

anteriormente.

Figura 7 – Evolução do número de animais confinados no Brasil de 2000 a

2009.

Ainda relativo aos GEE merece referência o trabalho de Monteiro (2009),

o qual por intermédio de modelos matemáticos e simulação estimou a emissão

desses gases provenientes de bovinos de corte em três sistemas de produção:

tradicional (extensivo), intensivo a pasto e intensivo a pasto (recria) +

confinamento (terminação). O autor concluiu que a adoção de técnicas de

manejo que melhorem a eficiência de uso do pasto (produção mais intensiva)

permite reduzir a emissão de metano (kg/kg de carcaça) em 29% comparado

ao sistema convencional e, que o sistema misto (intensivo a pasto +

confinamento) possibilitava redução de 39,6% da emissão de metano

comparado ao tradicional. Esses dados são de suma importância para

fortalecer a imagem positiva da carne bovina brasileira no mercado

internacional, pois a pecuária de corte nacional está a cada dia se

intensificando, o que contribui para a redução das emissões de GEE,

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contrariamente ao que tem sido veiculado em artigos científicos ou meios de

comunicação sobre a pecuária do Brasil.

Certamente o aumento da produtividade representa o principal meio de

reduzir a emissão de metano entérico pelos bovinos de corte, pois de acordo

com Barioni et al. (2007) se a eficiência produtiva crescer até 2025 em 25%, os

níveis de emissão de GEE crescerão apenas 3%, o que significa uma redução

de 18% na relação kg CH4/ kg de carne produzida. Desta forma, apesar de

grande contribuidora para emissão de metano, com 16% do total produzido, a

pecuária mostra ter um grande potencial de seqüestro de carbono, através da

aplicação de tecnologias que melhorem o manejo dos pastos. Atualmente, a

emissão de metano nacional é um pouco maior que 1Mg CO2 eq/ha, enquanto

o seqüestro pode atingir 0,78 Mg CO2 eq/ha.

Este conhecimento científico-tecnológico é estratégico para o Brasil,

uma vez que contribuirá para uma melhor compreensão sobre a gestão

adequada dos sistemas de produção animal, a fim de minimizar os impactos e

obter benefícios ambientais, econômicos e sociais. Além disso, seria esclarecer

a sociedade brasileira sobre os verdadeiros benefícios e as desvantagens da

produção animal e fortalecer a posição do país para as negociações

internacionais, bem como fornecer argumentos para neutralizar eventuais

embargos.

Merece destaque ainda o trabalho da Associação Brasileira de Criadores

de Zebu (ABCZ), a qual proporcionou um grande avanço na seleção e no

melhoramento genético de animais da raça Nelore, o que tem contribuído de

forma decisiva, juntamente com aplicação de tecnologias relacionadas ao

manejo dos pastos, nutrição, reprodução e sanidade, incrementar o

desempenho produtivo, reduzir a idade de abate e, com isso, aumentar a

apreciação e aceitação da carne bovina brasileira em marcados mais

exigentes.

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6 – ENTRAVES PARA E PECUÁRIA DE CORTE BRASILEIRA:

A cadeia de carne bovina ocupa posição de destaque no contexto da

economia rural brasileira, ocupando vasta área do território nacional e

respondendo pela geração de emprego e renda de milhões de brasileiros. O

conjunto de agentes que a compõe apresenta grande heterogeneidade: de

pecuaristas altamente capitalizados a pequenos produtores empobrecidos, de

frigoríficos com alto padrão tecnológico, capazes de atender a uma exigente

demanda externa, a abatedouros que dificilmente preenchem requisitos

mínimos da legislação sanitária.

Considerando essa complexidade, a cadeia produtiva da carne bovina

foi ilustrada na Figura 8, a qual permite perceber que esta é representada por

componentes que participam dentro e fora da porteira, sendo ainda, afetada

por fatos históricos, econômicos e políticos que marcam a atividade ao longo

dos tempos. Desta forma, torna-se necessária uma melhor articulação entre os

seus componentes (subsistemas), no sentido de tornar a produção de carne

mais competitiva e eficiente.

Figura 8. Estrutura da cadeia produtiva da carne bovina (extraído de Buainain e Batalha, 2007).

Na Tabela 11 são apresentados os principais entraves da pecuária de

corte nacional, que ocorrem dentro e/ou fora da porteira, e os impactos

decorrentes deles. Considerando a importância desses fatores, os principais

foram discutidos de forma breve, no texto que segue, onde são realizadas

ainda, possíveis caminho para contorná-los.

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Tabela 11. Principais entraves para a pecuária de corte brasileira.

Local Item Implicações

Dentro da

porteira:

baixos índices zootécnicos. Aumento dos custos

Limita a taxa de abate

Limita as exportações

Limita o consumo interno

degradação das pastagens

e

Morte dos pastos

Impacto ambiental

Redução dos índices

produtivos

Imagem negativa

desmatamento de florestas Impacto ambiental

Imagem negativa

ocorrência de febre aftosa Mercados exigentes se

tornam inacessíveis

Fora da porteira: Falta de Organização da

cadeia produtiva

Ações governamentais

Qualidade ainda questionada Não aceita pelos

consumidores dos EUA,

Japão e Koréia do Sul

6.1 - Dentro da porteira:

6.1.1 – Índices zootécnicos:

O número total de vacas na fazenda, a porcentagem dessas que estão

em condição reprodutiva e a freqüência com ocorrem os partos determinam o

número de animais (bezerros ou novilhos) disponíveis para a engorda e abate.

Desta forma, depreende-se a importância que exerce a eficiência reprodutiva

das vacas de corte sobre a produção de carne bovina.

No Brasil, a taxa de natalidade (60%) na pecuária de corte aumentou

nas duas últimas décadas, mas ainda continua bem abaixo do potencial ou das

metas consideradas adequadas para uma pecuária de corte eficiente (85%).

Adicionalmente, outras variáveis precisam ter os seus índices melhorados na

pecuária nacional assim como o intervalo de partos, a idade de abate, a taxa

de abate e a taxa de lotação das pastagens (Tabela 12).

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Considerando que o principal objetivo do pecuarista de corte é produzir

animais para o abate, sejam esses terminados por ele ou não, para que haja a

produção desses animais é preciso que as vacas do rebanho de cria tenham

saúde e condição corporal adequada, para apresentarem cios férteis, a

gestação e parirem bezerros viáveis. Para isso, há a necessidade de propiciar

a esses animais condições nutricionais, sanitárias, reprodutivas e de conforto

ambiental.

Tabela 12. Índices zootécnicos atuais da pecuária de corte e metas a serem

atingidas

Item Atual

(média nacional)

Meta

Natalidade 60% >85%

Idade à primeira cria 4 anos 1,7 a 2,6

Intervalo de partos 15 meses 12 meses

Idade de Abate 36 – 40 meses < 30 meses

Taxa de abate 23% 30-35%

Taxa de lotação 1 UA/ha > 2,0 UA/ha

Adaptado de Oliveira et al. (2006)

Na Figura 9 são relacionados os fatores que afetam a taxa de desfrute

na pecuária de corte e, desta forma, a busca pela melhora de apenas um dos

fatores pode ser diluída pelo elevado efeito dos demais. Portanto, como meta,

deve-se buscar atingir eficiência reprodutiva acima de 75% (meta 80%),

mortalidade menor que 5%, idade ao primeiro parto próxima a 30 meses e

idade de abate menor que 36 meses (Tabela 12).

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Figura 9. Variáveis que interferem na taxa de desfrute do rebanho de corte nacional (Folz, 2002, citado por Corrêa et al., 2009).

Uma vez satisfeitas essas necessidades, será possível produzir bezerros

de qualidade, o que no Brasil ainda não tem sido conseguido, pois as

condições as quais vacas são submetidas não permitem ao bezerro ambiente

adequado para apresentarem rápido desenvolvimento. Deve ser lembrado que

a qualidade da carne obtida no frigorífico depende da produção de um bezerro

de qualidade, no sentido de que este último consiga de forma eficiente atingir o

peso de abate considerado adequado, bem como ter acabamento e carne

macia e suculenta conforme exige o consumidor final.

No tocante à eficiência reprodutiva da vaca merece destaque a

contribuição dos touros e, neste sentido, pode-se inferir que devem ser

mantidos touros com libido e fecundidade comprovados, bem como mantidos

em adequada proporção do número de vacas do lote (relação touro/vaca).

6.1.1 – Problemas Sanitários:

Igualmente importante, pode ser dada ênfase à cura de umbigo, que

embora pareça uma coisa impraticável e dispensável em grandes rebanhos,

pode trazer grandes prejuízos à pecuária de corte, tanto pelo aumento da

mortalidade de animais jovens, quanto por afetar o desempenho de animais

adultos.

A necessidade urgente de erradicação da febre aftosa é determinante

para que o Brasil conquiste mercados mais exigentes, como o americano,

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japonês e sul coreano, os quais não permitem a entrada de carne fresca de

países que não tenham a chancela de livre de aftosa sem vacinação.

Neste aspecto, pode-se dizer que houve um expressivo avanço no país,

fomentada por meio de campanhas de vacinação e o papel da vigilância

sanitária federal e estadual. Entretanto, ainda como fatores limitantes à

erradicação da febre aftosa em território nacional, pode-se destacar a

resistência de produtores pelo desconhecimento sobre a doença ou mesmo

irresponsabilidade dos próprios; a elevada extensão do país e do elevado

rebanho bovino, o que limita um trabalho mais eficiente da vigilância sanitária;

as fronteiras do país e os nossos vizinhos, o que possibilita o trânsito de

animais de forma clandestina e, com isso, a entrada de animais que não foram

devidamente imunizados contra a doença, o que reforça o papel da vigilância

sanitárias junto a essas regiões de fronteira, bem como exige das autoridades

da área a busca de parcerias nos países vizinhos a fim de que nesses, a

erradicação da doença seja também priorizada.

Atualmente, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais,

Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe, Rondônia, Tocantins e o Distrito

Federal são reconhecidos pela OIE (Organização Mundial de Sáude Animal)

como livres de aftosa com vacinação. Ou seja, doze unidades da federação de

um total de 27, o que representa que metade dos estados brasileiros ainda se

encontra em status de zona infectada.

Dos estados que têm status de livre com vacinação, alguns estão na

expectativa de obterem o status de livre sem vacinação, o que pode ser

bastante interessante para o Brasil, na perspectiva de conquistar os mercados

dos EUA, Japão e Coréia do Sul, com carne in natura. A OIE reconheceu a

grande dimensão do país e emite o status por estado, considerando as

particularidades do país. Desta forma, isso evita que a um surto da doença em

um estado possa afetar outro estado cuja causa não foi detectada e o controle

é efetivo.

Só a título de ilustração da importância e impacto das questões

relacionadas às barreiras sanitárias exercem no comércio internacional de

carnes, na época em que o presente texto foi elaborado ocorreu um embargo

pela Rússia sobre 19 frigoríficos brasileiros, cujo argumento baseia-se no do

não atendimento a questões de vigilância sanitária e segurança alimentar por

parte desses. Apesar disso, acredita-se que os motivos envolvam barreiras

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comerciais, mas espera-se que rapidamente o problema seja resolvido, em

função do empenho de técnicos nacionais que estão comprometidos em

resolver tal impasse. Esse fato destaca a importância de fortalecer o mercado

nacional e, desta forma, quem pode fazê-lo é o governo federal, por meio de

medidas políticas que aumentem o crescimento econômico do país.

Se a intenção dos diferentes atores que compõem a cadeia produtiva da

carne bovina nacional, bem como de autoridades e governantes, é de tornar o

Brasil maior produtor e conseguir conquistar os mercados mais bem pagadores

da carne bovina (EUA, Japão e Coréia do Sul), eliminar a febre aftosa do

rebanho nacional é meta primordial. E, enquanto isso não ocorre, pode-se fizer

que se constitui no principal entrave para a pecuária nacional melhorar a sua

imagem nesses mercados consumidores.

6.1.2 – Manejo dos pastos e sua degradação:

Um importante problema que acomete a pecuária de corte, dentro da

porteira, refere-se ao manejo do pasto, pois a grande maioria dos pecuaristas

ainda não encara o pasto como cultura e, desta forma, a reposição de

nutrientes ao sistema, notadamente N, P e K não tem sido implementada.

Adicionalmente, merece destaque a falta de utilização de técnicas para

adequar o número de animais, ou melhor, kg de peso corporal em função da

quantidade de forragem disponível (ou oferta de forragem) e deixar de

considerar apenas o conceito de taxa de lotação (n. de animais/ha).

A forragem exerce elevada influência sobre os animais em termos de

permitir a expressão do genótipo para a produção, na sua saúde e

desempenho reprodutivo, uma vez que o pasto representa a principal fonte de

nutrientes aos animais por maior período de tempo ao longo do ciclo produtivo.

Com isso, a oferta de forragem e seu valor nutritivo aliado à estrutura do pasto,

exercem elevada influência sobre o comportamento dos animais em pastejo,

afetando a taxa de bocados, o tempo de pastejo, a ingestão de forragem e a

sua digestibilidade, determinando, portanto, o suprimento de nutrientes para

mantença e produção. Apesar da pouca adoção de tecnologias relacionadas ao

manejo do pasto pelos pecuaristas ao longo da história da pecuária de corte

nacional, onde apenas a troca da espécie forrageira representava o principal

meio de promover melhorias no manejo do pasto, mas era limitado por 4 ou 5

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anos, pois não havia adoção de técnicas de manejo adequadas, na última

década tanto houve aumento expressivo do conhecimento gerado nas

universidades e centros de pesquisa (EMBRAPA), aliado ao melhor

esclarecimento dos produtores no que se refere à adoção destas práticas.

Partindo do princípio de que 95% dos animais abatidos no Brasil são

oriundos de sistemas baseados no uso de pastagens e, que, no Brasil Central,

é sabido que cerca de 65% destas áreas se encontram em algum grau de

degradação, há a necessidade urgente de que as áreas ainda não degradadas

sejam adequadamente manejadas para evitar o processo de degradação e

que, aquelas já degradadas sejam recuperadas ou renovadas (Macedo, 2009).

A degradação das pastagens pode ser definida como um processo

gradativo de perda de vigor e produtividade, bem como da capacidade de

suporte do pasto decorrente da falta da reposição de nutrientes ao solo,

notadamente de N, P e K; do manejo inadequado do mesmo no que se refere à

adequação da sua lotação animal em função da disponibilidade de forragem;

da inadequação da espécie forrageira ao tipo de solo (Macedo , 2009).

Um dos principais fatores que explicam, em parte, a não reposição de

nutrientes ao solo é o aspecto cultural dos pecuaristas, que não encaram o

pasto como uma cultura; ao elevado custo dos adubos, particularmente os

nitrogenados e fosfatados e a baixa resposta das gramíneas à aplicação dos

adubos, causado pelo manejo, dose e modos de aplicação incorretos.

Durante muito tempo, o manejo das áreas de pastagens baseou-se no

uso do conceito da taxa de lotação (número de unidades animais – UA/ha), o

que não mantêm nenhuma relação com a quantidade ou oferta de forragem

aos animais, que consiste no método mais recomendado para o manejo de

áreas de pastagens com animais. Desta forma, o uso da taxa de lotação tem

causado, pelo menos em parte do ano, excessivo número de animais em

relação à quantidade de forragem disponível, o que além de afetar

negativamente o desempenho animal, pela baixa oferta de forragem e o efeito

desta sobre o consumo, limita a perenidade da planta forrageira, pois não

permite a essa manter ou recuperar a sua área foliar após o pastejo exercido

pelos animais.

Desta forma, a melhora no manejo dos pastos no sentido de ofertar aos

animais forragem em quantidade adequada e com bom valor nutritivo, deve ser

prioridade para os rebanhos de cria, recria e engorda, diferentemente da

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cultura atual de que as terras de pior qualidade sejam destinadas às fazendas

de cria. Essa mentalidade, sem qualquer sombra de dúvida, tem causado

grande prejuízo ao produtor de bezerros desmamados, pois a manutenção de

um elevado número de vacas improdutivas no rebanho reduz a eficiência

econômica da atividade, pelos gastos decorrentes de energia e proteína para

mantença desses animais.

6.1.3 – Morte dos pastos na região Centro Oeste:

Adicionalmente ao problema da degradação das pastagens, que é um

processo progressivo de perda de produtividade e capacidade de suporte, em

todas as regiões do estado de Mato Grosso tem sido verificado recentemente

um fenômeno denominado de “morte das pastagens”, que tem preocupado os

pecuaristas, técnicos e pesquisadores, por ser um problema multifatorial. O

primeiro episódio de morte de pastagens ocorreu em 2004, em fazendas

localizadas na região Oeste do estado, com expressivas áreas de capim

Marandu completamente mortas. Na época, pesquisadores da EMBRAPA

(CNPGC) e técnicos da região identificaram a causa do problema como

relacionado à ocorrência de fungos no pasto pela excessiva umidade em solos

com drenagem deficiente, bem como o feito direto da umidade excessiva no

solo sobre o capim Marandu, reconhecidamente intolerante a solos com baixa

drenagem; e ao ataque de cigarrinhas das pastagens.

Em 2010-2011, o problema retornou, acometendo todas as regiões do

estado, que de acordo com levantamentos feito pelo IMEA (2011), cerca de

57% dos produtores entrevistados citaram a ocorrência do problema. De

acordo com o levantamento, dos 25,8 milhões de há de pastagens no estado

de Mato Grosso, cerca de 8,6%, ou seja, 2,23 milhões de há foram acometidos

em 2011, sendo a região sudeste com maior incidência do problema, com 15%

da área total de pastagem. Em termos absolutos, a região Nordeste registrou a

maior área afetada, com cerca de 705 mil ha. As causas do problema tem sido

associadas excesso de água nos solos, à incidência de pragas e ao efeito da

seca, com proporções de 4, 43 e 53%, respectivamente, de contribuição para o

problema, segundo os produtores.

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Além do efeito direto sobre a produção do pasto e, conseqüentemente,

sobre a capacidade de suporte da pastagem e o desempenho animal, a morte

do pasto tem um impacto econômico considerável, decorrente do custo relativo

à recuperação da área de pastagem. O custo médio estimado por há para

replantar o pasto é de R$ 1.190,00 e, desta forma, o estrago econômico da

morte dos pastos apenas sobre a recuperação das áreas pode ser estimado

em 2,63 bilhões de reais.

Tanto do ponto de vista de efeito sobre o desempenho produtivo dos

animais, quanto pela limitação da conquista de mercados mais exigentes, o

controle e erradicação de algumas enfermidades se faz necessária para que a

pecuária de corte brasileira se torne mais eficiente e competitiva. Neste

aspecto, pode-se iniciar com o controle de infecções causadas por

endoparasitas em animais jovens (bezerros e novilhos) que são mais

susceptíveis e sensíveis aos vermes gastrintestinais.

Em vários países do hemisfério norte a pecuária de corte nos trópicos

tem sido tachada de ser dependente do uso de extensas áreas de pastagens,

geralmente atrelando essas áreas a florestas que teriam sido derrubadas, com

conotações de baixa eficiência produtiva. O argumento para esse raciocínio

reside no fato da elevada produção de carne por ha apresentada pela pecuária

de corte nesses países, mantida em decorrência do elevado uso de alimentos

concentrados nos sistemas de confinamento e semi-confinamento. Entretanto,

o que não se contabiliza são as extensas áreas de lavouras necessárias para a

produção de grãos, os quais são usados nos confinamentos, geralmente

produzidos em outros países, notadamente os em desenvolvimento.

Um dos fatores considerado limitante à introdução de novas tecnologias

de produção na pecuária de corte, no que se refere às atividades que se dão

dentro da porteira é a baixa qualificação do trabalhador rural e, com isso, a

dificuldade e resistência do mesmo em absorver novas informações e técnicas

de manejo (Pires, 2002). Entretanto, considerando a importância do trabalhador

rural na adequada aplicação da tecnologia para que ocorra o desenvolvimento

do setor pecuário, faz-se necessário a sua capacitação e conscientização, bem

como a valorização do seu trabalho, no sentido de garantir a eficiência das

técnicas adotadas na fazenda. Portanto, é imprescindível a difusão de

conhecimento e tecnologia por meio de agentes multiplicadores (Pires, 2002).

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6.1.4 – Administração da propriedade e planejamento:

Um aspecto de elevada relevância que afeta a eficiência produtiva e

econômica da pecuária de corte diz respeito à administração da propriedade e

do planejamento das ações. Pois, considerando que em elevada freqüência

não existe nas fazendas brasileiras pessoal com treinamento para exercer tais

atribuições, pode-se inferir que a pecuária de corte é caracterizada por

sistemas gerencial e econômico deficitários. Desta forma, é um tema de grande

importância, pois determina as ações a serem tomadas para alcançar

determinados objetivos, os quais dependem de fatores técnicos e econômicos

(Vale, 2002).

Segundo Vale (2002), no processo administrativo, a tomada de decisão

necessita da identificação do problema; da coleta de dados, fatos e

informações relevantes; da identificação de soluções alternativas e sua análise;

da tomada de decisão propriamente dita, escolhendo a melhor alternativa; a

implementação desta última e da avaliação dos resultados. Infelizmente na

maioria das fazendas brasileiras, tanto não existe pessoal treinado para

conduzir tal processo, bem como a falta de coleta de dados produtivos do

rebanho dificulta a implementação de tal sistemática. Mas, assumindo que o

objetivo com a produção de bovinos de corte seja a obtenção de lucro, faz-se

necessária a contratação de mão-de-obra qualificada para conduzir a gestão e

o planejamento, os quais podem determinar o aumento da eficiência produtiva

e econômica.

No item planejamento, envolve o planejamento tático e o estratégico, os

quais são determinantes para reduzir os riscos e evitar surpresas decorrentes

de intempéries ou oscilações de preços de insumos ou do mercado regional,

nacional ou internacional.

Considerando que nos últimos 20 anos as Universidades e Centros de

Pesquisa Nacionais (EMBRAPA) geraram uma quantidade extraordinária de

conhecimento relativa ao setor pecuário, publicados na forma de

dissertações/teses e/ou artigos científicos, crê-se que este conhecimento já

permita grande avanço da pecuária de corte nacional, como já tem acontecido

durante a última década. Portanto, basta que essas informações sejam

adaptadas e aplicadas em cada condição particular para que as

transformações ocorram de forma mais rápida e eficaz.

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Dentro do enfoque de melhorar o manejo do rebanho de corte, no

sentido de permitir a produção de carne que atenda os mercados mais

exigentes do mundo, há a necessidade de se produzir alimentos seguros, de

qualidade reconhecida e proveniente de sistemas de produção sustentáveis.

Com esses objetivos, o Centro Nacional de Pesquisa em Gado de Corte

(CNPGC – EMBRAPA) lançou em 2002 (Euclides et al. 2002) a primeira edição

do Manual de Boas Práticas Agropecuárias, também conhecido como Brazilian

GAP (GAP = good agropecuarian production), o qual foi reeditado em ampliado

por Valle (2011), que segundo os autores, tem os seguintes objetivos:

“proporcionar um manual de procedimentos em boas práticas que orienta o

produtor rural na utilização adequada das tecnologias sustentáveis disponíveis

a cada região produtora, em consonância com os requisitos econômicos,

sociais e ambientais que devem ser seguidos, de modo a permitir a habilitação

(certificação) das propriedades rurais, dos processos de produção e dos

produtos obtidos”.

6.2 - FORA DA PORTEIRA:

De acordo com Buainain e Batalha (2007), os principais obstáculos a

serem vencidos pela pecuária de corte nacional para se consolidar de forma

definitiva como maior exportador e, no futuro próximo, como maior produtor de

carne bovina do mundo são a falta diferenciação de produtos; as barreiras

sanitárias mantidas por alguns países tendo como critério a necessidade de

atingir o status de livre de febre aftosa sem vacinação; a falta de um padrão de

qualidade e a desorganização da cadeia produtiva.

6.2.1 – rastreabilidade e qualidade da carne bovina

A intenção e o desafio de conquistar mercados consumidores

importantes de carne bovina colocam a pecuária de corte nacional em um

grande conflito, pois exige maior diversificação da produção da carne bovina

nacional. Junto a isso, tornam-se fundamentais os trabalhos de tipificação e

padronização de carcaças, com vistas à melhoria da qualidade da carne

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bovina, traduzida particularmente pelos aspectos ligados à sua maciez, cor e

suculência. Pois, considerando que os animais abatidos no Brasil são oriundos

de sistemas de produção baseados em pastagens, as quais exclusivamente da

forma que são manejadas em sua maioria, não permitem o abate de animais

precoces, que reconhecidamente apresentam carne mais macia e suculenta do

que animais mais tardios (Luchiari Filho, 2006).

Neste aspecto, merece destacar as limitações do sistema de produção a

pasto com gado Nelore em atender os mercados americanos e japonês, os

quais demandam carnes provenientes de animais confinados e com elevado

grau de marmoreio. Adicionalmente, a carne do gado zebu é considerada

pouco macia e suculenta, bem como com pouco grau de marmoreio, o que vai

exigir muito empenho e dedicação da cadeia produtiva da carne bovina para

reverter essa imagem e para promover alterações significativas nos sistemas

de produção a fim de atender esses mercados, caso eles se abram à carne

bovina brasileira.

O mercado da carne bovina no Brasil e no mundo é e será ditado por

aspectos relacionados ao crescimento da população e seu poder aquisitivo,

bem como pelo grau de exigência do consumidor relacionados às questões

nutricionais, segurança alimentar, bem-estar animal e aspectos ambientais e

sociais. Com isso, para o atendimento destas reivindicações, há a necessidade

urgente de que sejam estabelecidas as chamadas alianças mercadológicas, as

quais podem ser definidas como uma integração organizada entre os diversos

componentes da cadeia produtiva de bovinos de corte. Nestas alianças, os

diferentes componentes trabalham em conjunto com objetivos comuns, dentro

de suas atribuições, a fim de proporcionar o atendimento de metas previamente

estabelecidas, ou seja, ofertar aos consumidores produtos diferenciados,

assegurando a esses atributos de qualidade intrínseca e extrínseca do produto

ao longo do processo de produção.

Apesar dessa questão o conceito de qualidade é dependente do

mercado consumidor em questão, influenciado por questões culturais, sócio-

econômicas, político-religiosas, etc. Neste aspecto, deve-se destacar que o

conceito de qualidade aplicado à carne bovina pode ganhar diferentes

conotações e interpretações e, desta forma, define o conceito de qualidade a

partir de uma série de componentes:

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- rendimento e composição – mensurada pela quantidade de produto

comercializável, proporção de carne magra e gordura e, o tamanho e a forma

dos músculos;

- aparência e características tecnológicas – cor e textura da gordura,

quantidade de marmorização no tecido magro, cor e capacidade de retenção

de água e composição química do músculo;

- palatabilidade – textura, maciez, suculência, sabor e aroma;

- integridade do produto – qualidade nutricional, segurança química e biológica;

- qualidade ética – questões relacionadas ao bem estar animal.

Dentro dessa problemática a qual parece ser iminente, certamente a

utilização de cruzamentos do gado zebu com raças taurinas parece ser uma

opção extremamente interessante em curto prazo para proporcionar rápido

impacto na maciez, no marmoreio e suculência exigida pelos mercados

supracitados. Adicionalmente, o confinamento provavelmente aumente a sua

importância e participação no total de gado abatido no Brasil para atender

esses mercados específicos.

No caso da carne bovina, o conceito de qualidade incluem a

Rastreabilidade; as Boas Práticas Agrícolas (GAP) e a APPCC (Análise de

Perigos e Pontos Críticos de Controle), os quais precisam ser absorvidos por

toda a cadeia produtiva da carne bovina, a fim de garantir segurança,

confiabilidade, qualidade e a redução de riscos. Desta forma, considerando os

problemas sanitários ocorridos na Europa e os diferentes sistemas de

rastreabilidade estabelecidos em alguns países, mas tendo como referência o

sistema europeu, o MAPA (2006) visando estabelecer normas para a produção

de carne bovina com garantia de origem e qualidade, publicou então a

Instrução Normativa n° 17, em 14/07/2006, com nova estrutura operacional

para o Serviço de Rastreabilidade da Cadeia Produtiva de Bovinos e Bubalinos

– SISBOV (BRASIL, 2006). O novo sistema é de adesão voluntária,

permanecendo a obrigatoriedade de adesão apenas para os mercados que

exijam a adesão. Apesar do avanço, acredita-se que apenas rastrear o rebanho

e a sua carne para os mercados de exportação que exigem tal procedimento,

de certa forma, desmerece o mercado interno e outros mercados externos,

apesar do custo inerente da adesão ao sistema.

Embora muito pouco utilizada no Brasil, tem ocorrido nos últimos anos a

criação de determinadas marcas ou programas para estabelecer qualidade da

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carne bovina no Brasil, no sentido de identificar para o consumidor além da

qualidade do produto apresentado, todo um sistema de produção,

processamento e distribuição que atribuem e agregam valor ao produto.

Exemplos de tais iniciativas são as marcas: Programa de Qualidade Nelore

Natural (PQNN), Programa Carne Angus Certificada, Friboi Quality Farms,

“Brazilian Beef - Naturally Healthy”.

O PQNN na verdade representa um conjunto de normas e

procedimentos que visam garantir o padrão de produção de carcaças bovinas,

bem como dos sistemas de cria e engorda, além do uso orientado de

reprodutores da raça. Tem como meta proporcionar ao mercado consumidor

uma carne diferenciada pela sua padronização e qualidade controlada. O

programa está baseado na simplicidade e praticidade, de forma que qualquer

criador, recriador ou invernista pode participar, independentemente do tamanho

de seu rebanho, aliados às indústrias frigoríficas e estabelecimentos varejistas,

os quais devem ser habilitados pelo Programa. Como foco principal, o sistema

de criação dos animais deve ser baseado em uso de pasto e sal mineral. Os

animais podem receber suplementação estratégica, inclusive a terminação dos

animais em confinamento, desde que com produtos de origem vegetal e por

períodos limitados.

Igualmente importante, foi a criação do Programa Carne Angus

Certificada, por intermédio de parceria entre a Associação Brasileira de Angus

(ABA) a indústria frigorífica, no sentido de produzir carne de qualidade

certificada, com o uso de animais da raça Angus e suas cruzas. Esta iniciativa

visa valorizar a carne desses animais por meio de pagamentos por qualidade,

bem como fortalecer a integração da cadeia produtiva da carne bovina.

Com o mesmo objetivo anteriormente descrito, foi proposto pela

EMBRAPA Gado de Corte o “Programa Embrapa Carne de Qualidade”,

caracterizado por ser um programa abrangente, audacioso e pretensioso, pois

tem como meta englobar todos os elos da cadeia produtiva até o consumidor,

promovendo interações entre produtores, e os demais segmentos, tais como, a

indústria frigorífica, redes de distribuição, no sentido de estruturar as chamadas

alianças mercadológicas. Ainda, podem ser citado os sistemas PAS (produtos

alimentos seguros) e a produção de carne orgânica como estratégias muito

importantes para estimular o consumo de carne bovina associada ao aspectos

de qualidade e segurança alimentar.

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Sem dúvida alguma, a falta de conquistas ainda mais expressiva pelos

mercados internacionais deve-se ao pouco investimento nesses programas de

criação de marcas de qualidade da carne bovina, o que precisa ser fomentado.

Para isso, há a necessidade que empresas frigoríficas e produtores

reconheçam os benefícios desta iniciativa e promovam maior integração entre

si.

A carne bovina foi e tem sido motivo de muita discussão pela sociedade

e pela mídia, sendo na maioria das vezes, feita uma análise equivocada sobre

a sua importância como componente da dieta humana. Neste sentido, desde a

década de 1970 que tem sido associada à carne bovina (carne vermelha) a

causa de doenças cardiovasculares, causada pela presença de gordura

saturada nesta. Entretanto, precisa ser salientado que isso constitui num mito,

pois os trabalhos de pesquisa não evidenciaram até o presente momento uma

relação de causa e efeito direta entre o consumo de carne bovina dentro de

uma dieta equilibrada e a ocorrência destas dietas. Pois, é sabido que além de

fatores relacionadas à dieta, essas doenças ocorrem pela soma de fatores

genéticos e aqueles relacionados ao estresse, sedentarismo, etc.

Recentemente, o consumidor tem dado muito valor aos aspectos

relacionados aos efeitos dos alimentos sobre a sua saúde e, desta forma, a

carne bovina foi muito penalizada e teve o seu consumo afetado por

propagandas e reportagens infundadas divulgadas nos mais diversos meios de

comunicação. Com base nisso, outras carnes tidas como mais saudáveis

tiveram incremento elevado de consumo se beneficiando destas informações

equivocadas sobre a carne bovina. Apesar disso, a carne bovina ainda é

bastante consumida, é fundamental na dieta do homem pelas suas

propriedades nutritivas, bem como pelas suas características organolépticas

incomparáveis (cheiro, sabor, textura, maciez, etc.) de tal forma que há uma

necessidade premente de que seja revertida essa imagem, por meio de

esclarecimentos e divulgação do seu valor nutritivo, tanto para a sociedade,

quanto para os formadores de opinião, incluindo mídia, médicos e

nutricionistas. Neste sentido, cabe destacar a criação do Serviço de Informação

da Carne (SIC), em 1999, com o objetivo de divulgar aspectos da importância

da carne bovina, desmistificar conceitos equivocados que relacionam o seu

consumo com a saúde humana, e estimular o consumo da mesma no mercado

nacional e internacional.

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6.2.2 – impactos ambientes da pecuária:

Infelizmente, a pecuária de corte nacional tem sido associada ao uso de

áreas de florestas e, mais especificamente, a abertura da floresta amazônica, o

que tem criado uma imagem negativa dos produtos gerados em importantes

mercados consumidores, como o Europeu, que está preocupado com questões

relacionadas aos sistemas de produção, envolvendo além destes, aspectos

sociais e de bem-estar proporcionados aos animais, adicionalmente à

segurança alimentar. De certa forma, a pressão exercida pela agricultura sobre

a pecuária em áreas de maior valor e com maior aptidão agrícola, proporcionou

mudanças e uma migração da pecuária nacional para as regiões Centro Oeste

e Norte, o que incidiu sobre áreas de cerrado e florestas.

Entretanto, considerando que nos últimos anos houve expressiva

aplicação de tecnologia associada ao manejo de pastagens e à nutrição dos

animais mantidos nestas áreas, notadamente o uso de suplementação de

animais na época seca e, até mesmo no período das águas, tem sido estimado

que a área destinada à pecuária nas regiões Norte e Centro Oeste tenha sido

reduzida em pelo menos 2% nos últimos cinco anos e, que o aumento da

produção de carne ocorreu pelo aumento da produtividade nas áreas de

pastagem existentes. Esse fato destaca as mudanças que vêm ocorrendo com

a pecuária de corte nacional, sendo essas promovidas pela aplicação de

tecnologias e pela mudança de consciência dos produtores, o que evidencia a

pujança do Brasil para a produção de alimentos (tal como a carne) para a

população do mundo num futuro próximo.

Também precisa ser acrescentado à essa discussão a necessidade de

melhor caracterização do que se chama de área da floresta amazônica,

daquela área onde a pecuária tem sido mantida, o que tem sido

equivocadamente aceita pela sociedade urbana desconhecedora e divulgada

pela mídia sensacionalista. Soma-se a isso, o empenho das instituições

federais (IBAMA) e estaduais (SEMA) de fiscalização para reprimir a abertura

de novas áreas, o que certamente tem colaborado para evitar tal tipo de

ocorrência.

Outra questão bastante relevante inerente à discussão sobre os

impactos ambientais da pecuária decorre das superestimativas da contribuição

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dos animais ruminantes (incluindo os bovinos de corte) para a emissão de

gases de efeito estufa (GEE) para a atmosfera, notadamente o metano, dada a

sua relação com o chamado aquecimento global. Deve ser salientado que o

metano é um gás natural decorrente do processo fermentativo nos

compartimentos digestivos do trato digestório dos animais ruminantes, cuja

intensidade pode ser reduzida pelo aumento da eficiência de utilização dos

nutrientes no rúmen, decorrentes do uso de forrageiras de melhor valor nutritivo

(maior % de PB e menor % de FDN) e de técnicas mais intensivas de produção

(lotação rotacionada, suplementação, aditivos, etc.). Considerando que a

pecuária de corte brasileira sofreu um processo de intensificação nos anos

mais recentes, caracterizada pelo aumento do rebanho e de sua produtividade,

mas sem que ocorresse aumento da área de pastagens, pode-se afirmar que

naturalmente as emissões de metano dos sistemas pecuários nacionais estão

em declínio, concomitante à intensificação da pecuária de corte. Entretanto,

deve ser ressaltado que o saldo da emissão de carbono total pela pecuária

nacional tem sido reduzido, tanto pelo aumento da intensificação da produção

animal, quanto pelo aumento da eficiência de produção das forrageiras

tropicais, as quais marcadamente apresentam elevada eficiência fotossintética

e, neste aspecto, propiciam um saldo favorável, pois fixam elevada quantidade

de CO2 atmosférico através da fotossíntese via C4. Desta forma, dentro do

conceito de agricultura de baixo carbono (ABC), programa lançado pelo MAPA,

objetiva-se tornar os sistemas agrícolas mais produtivos e sustentáveis, por

meio de recursos e iniciativas que fomentem a utilização de práticas agrícolas

que sejam mais eficientes e com baixa emissão de carbono para a atmosfera

(GEE).

6.2.3 – Desorganização da cadeia produtiva, falta de alianças

mercadológicas e ações governamentais:

De acordo com Rocha et al. (2001) citados por Pineda e Rocha, (2002)

aliança mercadológica ou parceria vertical pode ser definida como uma

iniciativa conjunta de supermercados, frigoríficos e pecuaristas objetivando

proporcionar ao consumidor uma carne de origem conhecida e com qualidade

assegurada. Precisa ser enfatizado que as alianças mercadológicas devem

beneficiar, primeiramente, o consumidor, por intermédio da oferta de um

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produto que atenda aos seus anseios; assim como a todos os componentes da

mesma. Neste caso, para o pecuarista, participar de um programa de qualidade

possibilita incrementar o giro de capital na propriedade, em função de trabalhar

com uma matéria-prima mais precoce (animal) que adicionalmente, permite

uma remuneração extra pela qualidade de seu produto. No caso da indústria, o

seu benefício decorre da garantia do fornecimento regular de uma matéria-

prima padronizada em quantidade e qualidade (Pineda e Rocha, 2002).

Ainda, de acordo com Pineda e Rocha, (2002), as alianças

mercadológicas estabelecem um programa de qualidade que leva em

consideração uma redefinição do comportamento de todos os agentes da

cadeia produtiva da carne bovina. Neste aspecto, merece ser destacado que a

formação de alianças mercadológicas pode proporcionar o extermínio da

histórica relação de oportunismo entre os componentes da cadeia da

bovinocultura de corte, a qual compromete as relações comerciais entre os

agentes econômicos do setor e representa um impedimento à melhoria da

eficiência econômica dos diversos elos que a compõem. Entretanto,

considerando a complexidade de toda a cadeia produtiva da carne bovina,

existem peculiaridades inerentes à cada componente da mesma que dificultam

o estabelecimento da integração.

Ao longo dos últimos anos, os produtores enfrentaram situações críticas

em função da relação receita e custo na produção de bovinos de corte,

entretanto, com a retomada dos preços da carne, outras exigências impostas

pelos consumidores expõe as necessidades e os benefícios oriundos de uma

produção integrada, de forma que todos os setores da cadeia produtiva

funcionem em sincronia, representando uma estrutura única e organizada.

Essa organização não deve ser estabelecida somente para o aumento

da eficiência na produção de carne, mas também para fornecer produtos

diferenciados que venham a competir e suprir diferentes nichos do mercado

consumidor (Euclides Filho e Euclides, 2010).

Todas essas mudanças passam a ser determinadas pelo consumidor

final que apresenta crescentes demandas por alimentos seguros e de

qualidade nutricional superior. As alianças mercadológicas, por viabilizarem a

interação entre os vários segmentos da cadeia produtiva de forma organizada,

disponibilizam ao consumidor produtos diferenciados, assegurando atributos de

qualidade intrínseca e extrínseca ao longo de todo o processo de produção.

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Tal estratégia não somente possibilita o atendimento por qualidade do

alimento, mas também possibilita que os diversos setores compartilhem o lucro

adicional, resultante da agregação de valor. É evidente que essa

implementação não depende somente dos fabricantes de insumos, produtores,

indústrias frigoríficas, governo e instituições de pesquisa, mas também da

qualificação da mão de obra disponível aos segmentos da cadeia produtiva.

Embora a cadeia produtiva da bovinocultura de corte necessite de

articulação e empenho para dirimir os problemas que lhe competem, há a

necessidade de que ocorram ao mesmo tempo ações governamentais, no

sentido de apoiar ou facilitar todo o empenho dos integrantes do sistema de

produção de carne. Neste sentido, entende-se que uma importante ação do

governo federal deve envolver a utilização de esforços para o fortalecimento da

economia e o investimento em novas fontes de trabalho, pois, sabe-se do efeito

positivo que a geração de empregos e do aumento do poder aquisitivo da

população exercem sobre o consumo de carne bovina no Brasil.

Da mesma forma, crê-se que políticas de créditos e financiamentos a

juros mais acessíveis e a desburocratização dos sistemas vigentes seriam

fundamentais no sentido de possibilitar tanto aos produtores como aos demais

componentes da cadeia produtiva da carne bovina maiores investimentos no

setor, a fim de promoverem aumento da produção e produtividade, aliada ao

aumento da qualidade e agregação de valor à carne bovina.

Também de fundamental importância seria o aumento da política de

crédito e apoios fiscais à política da exportação da carne bovina, no sentido de

possibilitar ao nosso produto maior poder de concorrência nos mercados

externos.

Um tópico que merece uma discussão mais extensa do que a que será

aqui apresentada se refere aos investimentos e infra-estrutura de transporte

dos produtos agropecuários no Brasil, o qual é considerado deficiente e, desta

forma, aumenta as perdas e os custos do deslocamento dos produtos,

incluindo a carne bovina, das regiões produtoras para os centros consumidores

e, principalmente, das zonas portuárias de exportação. Neste sentido, há a

necessidade de investimentos pesados em melhoria de várias rodovias

federais e estaduais, bem como a construção de rodovias estratégicas que

permitam o escoamento da produção de forma mais rápida, segura, eficiente e

de menor custo. Dentro desse assunto, destaca-se a necessidade urgente de

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investimentos em ferrovias, as quais permitiriam aumentar de forma mais

expressiva e eficiente à redução dos custos de transporte.

Entende-se que também seja relevante o investimento por parte dos

governos em estrutura portuária, pois as condições dos portos brasileiros são

consideradas deficitárias por especialistas do setor. Tal situação compromete a

rapidez do atendimento das entregas nos países importadores, assim como a

qualidade do produto, aumenta os custos e reduz a confiança no Brasil como

país que se apresenta para ser o grande celeiro da humanidade nos séculos

vindouros.

A saúde e bem-estar da população moderna têm sido atribuídos

principalmente à alimentação, tanto no quesito qualidade quanto aos seus

aspectos de conveniência, acessibilidade, higiene, apresentação (embalagem),

funcionalidade e de segurança do alimento consumido (Euclides Filho e

Euclides, 2010). Dessa forma o consumidor torna-se mais exigente com a

melhoria dos níveis de educação e de informação, e com o aumento da renda.

Perpendicular a tais exigências, o consumo de alimentos é também

influenciado por outros fatores, como: a taxa de crescimento da população; a

estrutura e tamanho da família; a estrutura de emprego; e a etnia.

Segundo Euclides Filho e Euclides (2010), a produção integrada é

definida como sendo um sistema de exploração agrária que produz alimentos e

outros produtos de alta qualidade mediante ao uso dos recursos naturais e de

mecanismos reguladores, para minimizar o uso de insumos e contaminantes e

para assegurar produção sustentável.

O consumo da carne bovina e a conseqüente expansão de mercados

são influenciados principalmente pelo aumento das exigências por parte dos

consumidores em relação à qualidade e com relação à segurança dos

alimentos. No entanto, o atendimento a essas exigências pode ser facilitado

pelo desenvolvimento de marcas, que por sua vez, pode caracterizar-se de

estratégia viável para a implantação de programas integrados, via alianças

estratégicas.

Para que ocorra a sincronia por parte de cada segmento da cadeia

produtiva, faz-se necessário o acompanhamento do produto durante todo o

processo de produção, industrialização, na distribuição, sendo ainda pertinente

o acompanhamento da produção e utilização dos insumos, possibilitando que

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esse rastreamento do produto final apresente certificação, ou seja, da fazenda

a mesa do consumidor.

O segmento, geração de conhecimento e tecnologia, também deve ser

considerado como componente da cadeia produtiva, com o objetivo de

fundamentar e possibilitar a identificação eficiente de seus principais entraves e

de suas oportunidades mais relevantes, além de estruturação e condução dos

projetos de pesquisa, de viabilização da transferência tecnológica e da

capacitação de pessoal.

Nesse contexto integrado, a participação da pesquisa requer o

estabelecimento de parcerias sólidas, fortalecendo um modelo de pesquisa

focado em inovação, sem inviabilizar o desenvolvimento científico.

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7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pecuária de corte brasileira ocupa lugar de destaque na economia

nacional, colaborando de forme efetiva na geração de empregos e para o saldo

positivo da balança comercial. A partir da década de 1980 houve expressiva

aplicação de tecnologias ao setor que associado à estabilização da economia

promoveu incremento nos índices produtivos. A partir de 2003, em função do

seu elevado rebanho, preço competitivo e da ocorrência de problemas

sanitários na Europa e Estados Unidos, o Brasil tornou-se o maior exportador

de carne bovina do mundo. Em decorrência dos fatores associados

anteriormente, a pecuária de corte nacional possui elevada capacidade de

manter-se como maior exportador e ainda, conquistar mercados mais exigentes

e que remuneram melhor. Entretanto, por questões relacionadas à aplicação de

tecnologias, problemas de ordem sanitária, de organização da cadeia

produtiva, da qualidade e diversificação da carne e questões que dependem de

ações governamentais, a pecuária de corte bovina do Brasil ainda encontra

dificuldades em acessar esses mercados, tornando necessária a articulação

dos diversos segmentos que compõem a cadeia produtiva no sentido de

implementar essas transformações, as quais certamente poderão colocar a

pecuária de corte em condição privilegiada no cenário internacional, compatível

com o nosso potencial.

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