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II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte Associação pasto-confinamento na produção intensiva de carne bovina Gustavo Rezende Siqueira 1 ; Matheus Henrique Moretti 2 ; Rodolfo Maciel Fernandes 2 ; Marcella de Toledo Piza Roth 3 ; Flávio Dutra de Resende 1 ; Antonio Ignacio dos Santos Júnior 4 1. Introdução Várias são as vertentes que levam a afirmação de que o Brasil continuará sendo um dos grandes produtores de proteína animal para o mundo no futuro. Abre-se então um “leque de opções", e um mercado consumidor potencial para ser explorado e conquistado. Porém, assumir este posto não é um dos fardos mais leves a serem carregados, visto uma série de desafios que podem ser observados na atividade. Ao analisar as margens da atividade pecuária ao longo dos últimos anos, é marcante a redução da lucratividade por animal e por área, reflexo da disparidade no aumento no valor dos insumos e da inflação, com o valor da arroba. Além do impacto no bolso do produtor, outro ponto afetado pela redução das margens é a competição pelo uso da terra, exercida por outras atividades que podem apresentar melhor retorno econômico, destacando-se as atividades que envolvem a produção de grãos, celulose e cana-de-açúcar. Visando aumentar a competitividade de sistemas pecuários e a manutenção de margens de lucratividade como no passado, a intensificação dos sistemas produtivos torna-se uma necessidade presente. A grande vantagem da pecuária nacional está fundamentada na produção de arrobas durante o período da safra de forragem. Contudo a maximização dessa exploração aumenta o déficit forrageiro no período da entressafra. Nesse ambiente produtivo o “casamento” pasto e confinamento estratégico é uma combinação perfeita. Permitindo explorar o potencial produtivo da propriedade como uma unidade produtiva e não mais de forma fragmentada. Cabe ressaltar que na opinião desses autores, mesmo que o confinamento não dê lucro, quando avaliado de forma isolada, seu benefício ao sistema produtivo é muito importante e lucrativo. 1 Pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios - APTA – Colina/SP, Prof. Pós- graduação em Zootecnia FCAV/Unesp – Campus de Jaboticabal – E-mail: [email protected] 2 Discentes do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da FCAV/unesp – Campus de Jaboticabal 3 Prof. UNIFEB - Barretos 4 Projeta – Consultoria Agropecuária

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II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

Associação pasto-confinamento na produção intensiva de carne bovina

Gustavo Rezende Siqueira1; Matheus Henrique Moretti2; Rodolfo Maciel

Fernandes2; Marcella de Toledo Piza Roth3; Flávio Dutra de Resende1; Antonio

Ignacio dos Santos Júnior4

1. Introdução

Várias são as vertentes que levam a afirmação de que o Brasil

continuará sendo um dos grandes produtores de proteína animal para o mundo

no futuro. Abre-se então um “leque de opções", e um mercado consumidor

potencial para ser explorado e conquistado. Porém, assumir este posto não é

um dos fardos mais leves a serem carregados, visto uma série de desafios que

podem ser observados na atividade.

Ao analisar as margens da atividade pecuária ao longo dos últimos anos,

é marcante a redução da lucratividade por animal e por área, reflexo da

disparidade no aumento no valor dos insumos e da inflação, com o valor da

arroba. Além do impacto no bolso do produtor, outro ponto afetado pela

redução das margens é a competição pelo uso da terra, exercida por outras

atividades que podem apresentar melhor retorno econômico, destacando-se as

atividades que envolvem a produção de grãos, celulose e cana-de-açúcar.

Visando aumentar a competitividade de sistemas pecuários e a

manutenção de margens de lucratividade como no passado, a intensificação

dos sistemas produtivos torna-se uma necessidade presente. A grande

vantagem da pecuária nacional está fundamentada na produção de arrobas

durante o período da safra de forragem. Contudo a maximização dessa

exploração aumenta o déficit forrageiro no período da entressafra. Nesse

ambiente produtivo o “casamento” pasto e confinamento estratégico é uma

combinação perfeita. Permitindo explorar o potencial produtivo da propriedade

como uma unidade produtiva e não mais de forma fragmentada. Cabe ressaltar

que na opinião desses autores, mesmo que o confinamento não dê lucro,

quando avaliado de forma isolada, seu benefício ao sistema produtivo é muito

importante e lucrativo.

1 Pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios - APTA – Colina/SP, Prof. Pós-

graduação em Zootecnia FCAV/Unesp – Campus de Jaboticabal – E-mail: [email protected] 2 Discentes do Programa de Pós-graduação em Zootecnia da FCAV/unesp – Campus de Jaboticabal

3 Prof. UNIFEB - Barretos

4 Projeta – Consultoria Agropecuária

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

Assim, o objetivo deste texto será definir alguns pontos dentro do

sistema de produção para atender as expectativas do mercado e manutenção

da perenidade da atividade pecuária. Neste contexto os autores acreditam que

o binômio pasto-confinamento é uma ótima ferramenta que deve ser analisada

e explorada.

2. Sistemas de produção no Brasil

Talvez um dos grandes entraves, ou gargalos do sistema produtivo da

carne resida sobre a principal vantagem da produção animal nos trópicos, a

produção forrageira. Ao mesmo tempo em que este sistema permite a

produção de uma arroba mais barata do que a produzida em outros sistemas

(i.e. sistema americano-confinado), ele sofre o impacto do efeito da

sazonalidade produtiva de forragem, resultando em alterações negativas na

curva de crescimento dos animais e abate de animais com idades mais

avançadas (3 a 4 anos).

Têm-se então dois momentos distintos ao longo do ano:

a) Período das águas no qual as condições climáticas possibilitam o bom

desenvolvimento das plantas, o que permite que sejam aplicadas técnicas de

manejo que resultem na oferta de forragem com boa qualidade e em

quantidade para os animais, nesse período são observados bons ganhos de

peso por animal e uma boa taxa de lotação;

b) Período da seca no qual em função de limitações climáticas,

principalmente temperatura e umidade, a planta forrageira apresenta baixa taxa

de desenvolvimento e alta taxa de senescência o que resulta na diminuição

quanti e qualitativa do material ofertado e consumido pelos animais,

normalmente nesse período são observados baixos ganhos de peso ou até

mesmo perda de peso e baixa taxa de lotação.

O entendimento da curva de crescimento do animal e os limitantes

nutricionais dentro de cada fase produtiva (recria ou terminação) são de

extrema importância para a otimização da exploração animal e abate de

animais mais jovens (24 a 30 meses).

Na busca da antecipação da idade de abate, deve-se explorar o potencial

de ganho de peso dos animais durante a recria, período no qual o animal

apresenta boa conversão alimentar e permite a produção de uma arroba mais

barata, uma vez que a base da dieta é o pasto. Nessa fase, a correção dos

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nutrientes limitantes da dieta basal (pasto) permite incrementos no ganho de

peso dos animais (Detman et al., 2009) e aceleração da curva de crescimento.

No entanto, a intensificação durante a recria com aumento do peso dos

animais leva a um problema, a dificuldade de terminar esses animais em

regime exclusivo de pasto, principalmente pelo aumento da demanda

energética do animal. Siqueira et al. (2008) analisaram o crescimento de

bovinos associado a oferta de forragem ao longo do ano e mostraram que a

demanda alimentar dos animais na segunda seca é 65% superior a constatada

para o mesmo animal na primeira seca (pós-desmama), e assim demonstraram

que o aumento no ganho em peso dos animais durante a recria é fundamental

para o sucesso bioeconômico do sistema de produção, por ser este um redutor

do tempo de terminação.

Surge então o confinamento, podendo este ser utilizado como

“ferramenta” para terminação dos animais e ajuste de lotação da fazenda.

Assim em um sistema, em que o objetivo seja o abate de animais jovens

o período de recria deve ser de um ano e os animais terminados em

confinamento. Nesse sistema, os animais são desmamados, passam por um

período de seca e um de águas, nesta etapa a utilização de suplementação

deve ser feita de forma estratégica, buscando maximizar a exploração da

forragem. Nesse cenário o nível de suplementação adotado deve ser

considerado em função da meta traçada, para o ganho de arrobas por ano.

Vale lembrar que níveis elevados de suplementação devem ser muito bem

analisados, principalmente sobre duas óticas, a primeira seria o custo com o

suplemento e a segunda seria o impacto da modulação da taxa de ganho de

peso sobre a vida futura do animal, assunto este que será abordado mais a

frente.

Apenas como forma de exemplificar, resumidamente, um sistema de

produção. Pode-se considerar como um peso adequado a desmama 200 kg,

que ocorre normalmente entre os meses de maio a julho. Logo após o

desmame esse animal passa por um período de seca (primeira seca) que

perdura até outubro-novembro, para fins de cálculo considerou-se 160 dias, e

depois por um período de águas que duraria até maio do ano seguinte, mais

uns 180 dias, o que somaria aproximadamente um ano de recria em pastagem.

Considerando que na seca os ganhos médios seriam de 0,300 kg/dia e nas

águas 0,650 kg/dia, esse animal chegaria no início da segunda seca com 365

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kg. Siqueira et al. (2008) sugeriram que avaliações de sistema de produção

devem basear-se em peso de abate de pelo menos 18@, que considerando um

rendimento de carcaça de 54%, remeteria a um peso corporal de 500 kg, ou

seja, para a fase de terminação iniciada na segunda seca a demanda em

ganho de peso corporal seria de 135 kg.

Após o período de recria, de forma estratégica e para auxiliar o manejo da

fazenda, principalmente para aquelas propriedades que trabalham com ciclo

completo ou fazem recria e terminação. O confinamento entraria no sistema,

permitindo a terminação dos animais durante a época da seca e redução da

idade de abate (Figura 1). Já os animais que permaneceram em regime de

pasto para alcançarem o peso de abate, precisam que se inicie o período das

águas subsequentes, para que haja aumento do aporte de forragem e

consequente aceleração do ganho em peso.

Figura 1. Evolução do peso corporal em função do sistema de terminação.

(Terminação a pasto os animais recebiam suplementação de 0,5%

do peso corporal)

Fonte: Sampaio (2011)

Os animais cuja terminação foi realizada em confinamento apresentaram

ganho diário médio de 1,413 kg, enquanto que os mantidos no pasto tiveram

ganhos de 0,623 kg/dia. Essa diferença de ganho na fase final propiciou aos

animais elevação média de 0,111 kg/dia ao longo de todo o período, da

desmama ao abate. Consequentemente a idade ao abate foi reduzida em 3,5

504 508

360

390

420

450

480

510

27/jun 27/jul 27/ago 27/set 27/out 27/nov 27/dez

Pe

so

Co

rpo

ral (k

g)

Terminação pasto Terminação confinamento

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meses, passando o período de terminação de 182 dias nos animais mantidos

no pasto para 76 dias nos animais confinados. Considerando que a fase de

terminação começou no dia 20 de junho de 2007 (Figura 1), os animais

confinados na média foram abatidos até o mês de setembro, variando

conforme as estratégias utilizadas nas fases anteriores. Já os animais mantidos

no pasto a média de abate foi o mês de dezembro, sendo que alguns animais

permaneceram no sistema até o mês de fevereiro do ano seguinte.

É com base em resultados como esse que a decisão por utilizar ou não

o confinamento, deve ser considerada. A definição de estratégias de

suplementação durante a recria e a adoção do confinamento devem ser

previamente planejadas e determinadas considerando todas as fases de

desenvolvimento do animal. Nesse sentido, atribui-se ao confinamento, o status

de importante ferramenta estratégica no manejo da lotação da propriedade e

consequentemente no manejo das pastagens visando o máximo da exploração

econômica destas.

3. Desafio de terminar bovinos em pastagens (seca)

Fica clara a necessidade da utilização do confinamento para a

terminação dos animais. Qual seria então a limitação das pastagens para a

terminação dos animais?

Para responder a essa pergunta deve-se voltar e analisar a curva de

crescimento e a dinâmica de deposição dos tecidos (ósseo, muscular e

adiposo) dos animais e associar a mesma ao cenário produtivo (Figura 2) cujo

objetivo é o abate de animais até os 24 meses de idade.

O padrão de crescimento dos animais segue uma curva sigmoide, à

medida que o peso do animal aumenta, ocorrem mudanças na composição do

ganho, observando-se maior deposição de gordura e menor deposição de

proteína, o que provoca mudanças nas exigências dos animais. A partir deste

ponto a maior parte dos nutrientes fornecidos será convertida em gordura.

Contudo, a gordura e o músculo apresentam diferenças quanto à quantidade

de energia consumida necessária para deposição, apesar de que o tecido

adiposo seja mais eficiente em termos de Mcal consumida/ Mcal depositada. O

tecido muscular é composto por 75% de água, necessitando menos energia

para sua deposição. Para a mesma quantidade de energia disponível (10 kcal)

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há a deposição de 4 vezes mais tecido muscular (2,8g) que adiposo (0,7g)

(Lanna, 1996).

Figura 2. Mudanças na composição corporal dos animais com o aumento do

peso corporal.

Nesse ponto reside a dificuldade em terminar animais em pastejo, pois

tem-se o paradigma, aumento da exigência de energia e limitação energética

da dieta consumida pelos animais (pasto) (Figura 2). Ao analisar o aumento da

exigência do animal por energia e aporte de energia advindo da forragem

(neste caso período da seca), considerando uma forragem com 60% de NDT

no início da seca e 50% no final do período, nota-se um deficit grande do

consumido em relação da exigência do animal para ganho (Figura 3). Outra

dificuldade encontrada para a terminação desses animais, além da limitação

nutritiva, seria a disponibilidade de alimento.

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

Figura 3. Estimativa da exigência e do consumo de NDT durante a fase de

terminação de bovinos em dietas de baixo valor energético, usando

o BR Corte

Outro ponto que pode ser destacado é que a maioria dos animais

abatidos atualmente no Brasil, não são castrados. Por uma questão hormonal,

esses animais, apresentam menor deposição de gordura do que os animais

castrados (Tabela 1). Moreira et al. (2013) avaliaram o efeito da condição

sexual sobre as características de carcaça e observaram a dificuldade de

abater animais bem acabados em regime de pastejo com suplementação. Vale

a ressalva que os animais receberam suplementação protéica energética

(3g/kg de peso corporal) da desmama ao abate, período superior a 200 dias.

Tabela 1. Espessura de gordura (EGS) e área de lombo em função da

condição sexual de bovinos F1 Angus x Nelore.

Variável Condição sexual

EPM Inteiro Castrado Imunocastrado

EGS (mm) 1,81 c 5,76 a 3,26 b 0,551

AOL (cm2) 82,3 a 71,3 b 78,9 a 2,747

Adaptado de Moreira et al., 2013

Além de todas as medidas já abordadas, o confinamento surge como

ponto chave para a intensificação do sistema de produção da carne bovina.

Diversas vantagens podem ser citadas com o uso dessa tecnologia, como o

aumento da produtividade, liberação de áreas de pastagens para a entrada de

5,00

5,20

5,40

5,60

5,80

6,00

6,20

6,40

6,60

6,80

7,00

380 400 420 440 460 480 500 520

kg d

e N

DT

Peso corporal (kg)

Consumo NDT (kg/dia)Exigência NDT (kg/dia)

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novas categorias animal, redução do tempo de abate e consequentemente o

aumento do giro de capital (Coan et al., 2009; Sampaio et al., 2002).

Outro estudo realizado na APTA-Colina/SP comparou a terminação de

animais Nelore, não castrados, com peso inicial de 480 kg, testou-se por 89

dias a suplementação na quantidade de 0,5 comparada a 2,0% do peso do

animal (o que chamamos de confinamento no piquete), durante a fase de

terminação. Como o esperado os animais que receberam 2,0% de suplemento

apresentaram ganhos de peso corporal muito superiores àqueles animais que

receberam 0,5% (1,505 contra 0,534kg/dia). O interessante de se discutir

nesse caso são as diferenças observadas em relação ao peso corporal e de

carcaça. Se compararmos os dados com base no peso final, considerando um

rendimento de 50%, concluiríamos que agregamos 2,8 arrobas com aumento o

nível de suplementação, e seriam essas arrobas produzidas a mais que teria

que “pagar“ a conta do gasto excedente com a suplementação. Porém os

rendimentos de carcaça são muito diferentes em função da suplementação

utilizada (Figura 4). Comparando as diferenças reais de carcaça produzidas

temos 5,1 arrobas produzidas a mais com a suplementação de 2,0%.

Figura 4. Desempenho animal de animais recebendo 0,5 ou 2,0% do peso corporal durante a fase de terminação.

Além do aumento no ganho em peso, bem como a elevação do

rendimento de carcaça obtido quando os animais recebem alimentação como a

de confinamento, constatou-se importante melhoria no acabamento de carcaça.

Os animais que receberam a suplementação de 0,5% do peso corporal

apresentaram espessura de gordura média de 1,8 mm o que caracteriza o

acabamento escasso. Já os animais que receberam alimentação como a de

528 b

284 b

53,8 b

615 a

361 a

58,7 a

Peso final (kg) Peso carcaça (kg) Rendimento carcaça (%)

0,50% 2,00%

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confinamento a espessura de gordura foi de 3,6 mm o que caracteriza um

acabamento mediano, que atende as exigências mínimas dos frigoríficos.

4. Potencializando a recria

Durante a fase de recria são inumeras as opções de melhorar o

desempenho dos animais. O correto manejo das pastagens e a utilização de

alimentos suplementares são as opções mais comumente utilizadas para a

antecipação da idade de abate. Neste contexto a suplementação deve ser

utilizada com o intuito de corrigir as deficiencias nutritivas da pastagem e

promover ganhos adicionais aos animais. Esse tema foi muito bem explorado

por Zervoudakis et al. (2011) na primeira edição deste evento, recomendá-se a

leitura dessa revisão. Pois na presente revisão, os assuntos referentes a

suplementação serão abordados de forma superficial.

O principal entrave neste sistema seria a limitação da atividade dos

microrganismos ruminais quando o animal está exposto a dietas de baixa

qualidade (i.e. período da seca). Nesse cenário o principal limitante seria a

quantidade de nitrogênio disponível no rumen para subsidiar a degradação do

alimento e síntese de proteina microbiana. Segundo Detman et al. (2009) é

necessária a concentração de nitrogênio amoniacal ruminal de 8 mg/dL de

líquido ruminal para que não ocorra comprometimento da degradação da FDN

da forragem, todavia os autores apontam como 15 mg/dL a concentração que

potencializa o consumo de fibra.

Avaliando o efeito da suplementação protéica comparada a

suplementação mineral em uma dieta de baixa qualida (deficiente em PB)

Oliveira et al (2009) relataram o aumento de 36% na degradação da FDN e 9%

na taxa de passagem. Ao suprir a deficiência proteica ruminal, houve melhor

atuação das bactérias ruminais o que resultou em aumento da degradação da

fibra e passagem do alimento. Estes efeitos subsidiaram o aumento no

consumo dos animais (Figura 5).

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

Figura 5. Efeitos da suplementação proteica sobre alguns parametros de

bovinos consumindo dieta de baixa qualidade.

Adaptado de Oliveira et al. (2009)

A partir da correção dos nutrientes limitantes, ganhos adicionais

almejados para o sistema produtivo seriam alcançados com a utlização de

maiores níveis de suplementação e combinação de ingredientes protéicos e/ou

energéticos.

Cabe a colocação de que a utilização da suplementação da dieta dos

animais pode promover efeitos nulos, positivos ou negativos sobre o consumo

de matéria seca do animal. Assim, esta técnica deve ser muito bem avaliada e

análisada do ponto de vista econômico.

Os “ranges” alcançados com a utilização da suplementação das dieta

dos animais pode representar o ponto chave na determinação da viabilidade da

técnica. Ao analizarmos uma série de estudos (Sampaio, 2011; Roth, 2012;

Moretti - em andamento) pode-se observar efeitos interessantes em função da

suplementação utlizada.

Analizando a suplementação protéica pode-se notar que ocorre a

dimunuição do “range” com o aumento da taxa de ganho de peso (Figura 6A).

Com base nessa análise de regressão não existiria resposta com a utlização de

proteinado a partir de ganhos de 1,100 kg/dia. Porém quando analisado o

ganho adicional (kg/ dia) sobre o ganho de peso base (Figura 6B) pode-se

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

notar que que independente da taxa de ganho de peso ocorre um ganho

adicional da ordem de 0,100 a 0,150 kg/dia com a utilização deste tipo de

suplemento e que este valor estaria sendo mascarado com a análise baseada

na porcentagem.

A explicação para este ganho adicional não reside exclusivamente sobre

o fornecimento de proteína, mas sim ao conjunto tecnológico embutido neste

tipo de suplementação, o proteínado de baixo consumo (Moretti et al., 2013).

Com pequenas doses de suplementos (1g/kg de peso corporal)

consegue-se corrigir possíveis desarranjos que possam estar limitando

atividade das bactérias ruminais e também levar ao rúmen alguns aditivos

(antibióticos ionóforos e não ionóforos, leveduras, óleos essenciais, etc), cujo

papel seria manipular o ambiente ruminal e aumentar a eficiência de utlização

da forragem pelo o animal. Alves Neto et al. (2013) avaliaram a inclusão de

doses de virginiamicina na suplementação proteica de baixo consumo para

bovinos Nelore na época das águas. Constatou-se aumento de 0,110 kg/dia

com a utilização da dose de 47 mg/100 kg de peso corporal. Demonstranto o

potencial de resposta da inclusão de aditivos em animais em pastagens.

Já quando analisado o efeito adicional obtido com a suplementação

protéica energética, independente do ponto de vista analisado, ocorre a

diminuição da resposta do ganho adicional com o aumento da taxa de ganho

de peso (Figura 6C e D). Quanto menor for o ganho de peso maior é o delta da

resposta animal com a utilização deste tipo de suplemento, sendo que este

seria nulo com ganhos da ordem de 1,100 kg/dia.

Neste caso o efeito observado explica-se pela substituição de nutrientes.

Em dietas bases com potencial de bons ganhos de peso por animal, a

utilização de maiores doses de suplemento (protéico energético) responde em

substituição a origem de ingestão de nutrientes, pasto ou suplemento. Assim,

quanto melhor a qualidade da dieta basal menor a resposta com a utilização do

suplemento.

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Figura 6. Resposta da suplementação proteica (A e B) e proteica energética (C

e D) em relação a taxa de ganho de peso

Uma série de estudos avaliando o ganho em peso da desmama ao

abate foram e são realizados na APTA – Colina/SP (Sampaio, 2011, Roth,

2012, Moretti – em andamento). Nesses estudos várias combinações de

suplementação durante a recria, considerando fases de secas e águas, foram

avaliadas.

De forma geral foi constato ganhos na recria variando de 4 a 7@ em

função do tipo de suplementação utilizada. Essa variação permite flexibizar o

sistema produtivo. Em alguns casos pode-se optar por acelerar o ganho em

peso, mesmo com elevação significativa do custo da arroba adicional. Decisões

como essas podem proporcionar a entrada de animais em um ciclo de

confinamento reduzindo em 6 a 1 meses a idade de abate. Considerando um

bezerro desmamado com 180 kg (6@) caso esse ganhe 120 kg (4@ -plano

nutricional baixo) durante a recria, o mesmo terá aos 18/20 meses 300 kg

(10@) o que é um peso baixo para a entrada no confinamenta. Desta forma, a

y = -55,405x + 57,229 R² = 0,6119

15

20

25

30

35

40

0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

% d

o G

anh

o A

dic

iona

l

Ganho de peso (kg/dia) (A)

y = 0,0262x + 0,1283 R² = 0,0117

0,05

0,08

0,10

0,13

0,15

0,18

0,20

0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

Ga

nh

o A

dic

ion

al (

kg

/dia

)

Ganho de peso (kg/dia) (B)

y = -105,1x + 114,6 R² = 0,9156

0

20

40

60

80

100

0,3 0,5 0,7 0,9 1,1

% d

o G

anh

o A

dic

iona

l

Ganho de peso (kg/dia) (C)

y = -0,3802x + 0,4637 R² = 0,9884

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,3 0,5 0,7 0,9 1,1Ga

nh

o A

dic

ion

al (

kg

/dia

)

Ganho de peso (kg/dia) (D)

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

intensificação da recria deste animal, fazendo com que o mesmo ganho 6 a

7@, habilita-o a ser confinado, pois o mesmo teria de 360 a 390 aos 18/20

meses, o que está próximo ao observado por Millen et al. (2009) como peso

médio de entrada no confinamento (370 kg).

Cervieri e Carvalho (2013) apontam que a falta de planejamento durante

a recria tem levado a redução do peso de entrada do confinamento, fato este

não desejavel, porém observado de forma crescente, pelos autores durante os

últimos anos. Mais uma vez fica evidenciada a necessidade do planejamento

integrado da propriedade pecuária, pois a decisão do nível e tipo de

suplementação não é apenas técnica e econcômica, mas também estratégica.

5. Confinamento

De acordo com Owens (2007) a meta da utilização de confinamentos

para a terminação dos animais é converter grãos e forragem em carne de

forma mais rápida e eficiente, em comparação com sistemas de pastejo,

maximizando o consumo de alimentos pelos animais.

Segundo Almeida et al. (2010) a terminação de animais em

confinamento surgiu como estratégia para viabilizar a compra de animais nos

períodos de safra e revenda na entressafra, posteriormente foi utilizado como

forma de aproveitamento de resíduos da agroindústria e hoje é ferramenta de

manejo que auxilia os sistemas de produção em pastagens, pois

estrategicamente retira os animais do pasto durante a estacionalidade da

produção forrageira e acelera o crescimento dos bovinos que são abatidos

mais jovens e mais pesados.

A categoria preferida pelos confinadores brasileiros é a de machos não

castrados, a qual está presente em quase 70 % dos confinamentos do país,

onde os animais comumente iniciam o confinamento com peso médio de 372

kg o que acarreta no mínimo em 84 dias confinados e a maior exigência em

proteína, ao menos no inicio do confinamento, o que resulta em dieta com alto

teor deste nutriente (Millen et al., 2009).

De acordo com Paulino et al. (2010), as dietas utilizadas em

confinamentos para terminação eram formuladas com base no custo do

alimento, ou seja, com grande proporção de volumosos, porém com a evolução

dos confinamentos a estocagem desses alimentos se tornaram grande entrave

ao sistema resultando em aumento da proporção de concentrados nas dietas

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(70 a 90 % de matéria seca das dietas) o que também beneficia a conversão

alimentar dos animais.

O confinamento brasileiro é claramente estratégico, sendo a maioria

complementar ao sistema produtivo de propriedades que realizam recria e/ou

cria. Conforme relatado por Millen et al. (2009) os nossos confinamentos são

realizados em períodos curtos (média 84 dias), em alguns caso os animais

permanecem aproximadamente 100 dias, em função de atender prazos legais

que permitam exportações para alguns mercados. Essa caracterização deixa

claro que o principal objetivo de utilização do confinamento é ajustar a lotação

das propriedades na época de déficit forrageiro.

6. Interação pasto confinamento

Em revisão Santos et al. (2007) destacaram que os benefícios da

suplementação com concentrado na fase de recria em pastagens

aparentemente são estendidos ao período de terminação em confinamento,

visto que animais suplementados durante a recria no pasto apresentaram maior

ganho em peso, com maior rendimento e melhor acabamento de carcaça

quando comparados com animais não suplementados terminados em

confinamento. Além disso, a suplementação dos animais no período que

antecede a terminação pode auxiliar a adaptação no início do confinamento.

Apesar de não encontrarmos trabalhos na literatura nacional que

avaliaram o efeito da suplementação no pré-confinamento sobre a adaptação

no confinamento, acreditamos que essa estratégia trás benefícios

contundentes. O confinamento brasileiro é predominantemente realizado com

animais acima de 24 meses e de origem zebuína. Normalmente esses animais

são mais reativos que animais de origem taurina. Essa situação leva a uma

dificuldade de adaptação, que pode ser minimizada com adaptações do animal

ainda no sistema de pastejo. É de nosso conhecimento que algumas

propriedades têm adaptado os animais em pastagens, chegando a fornecer a

mesma quantidade de concentrado que será utilizada no confinamento.

Segundo os técnicos essa estratégia tem reduzido a próximo da nulidade o

chamado “refugo de cocho”. Em tempos onde as margens são cada vez mais

estreitas, estratégias me reduzam problemas e causem prejuízo devem ser

avaliadas.

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

São inúmeros os fatores que afetam a formação do produto final, carne.

Deve-se ter em mente que o desempenho animal é modulado por vários

fatores que podem começar desde a nutrição da vaca, durante a formação

embrionária do feto, pelas taxas de ganho e composição da dieta ao longo de

toda curva de crescimento que podem promover possíveis mudanças na

composição corporal (dentro de uma mesma faixa de peso), e resultar em

diferentes exigências para um mesmo ganho de peso.

Desse modo, o desempenho dos animais durante a fase de terminação

sofre efeito de todas as ações que a antecederam. A adoção de planos

nutricionais distintos durante as fases que compõem a recria modificam as

taxas e formas de ganhos dos animais durante o período que permanecem

confinados, influenciando diretamente o tempo de permanência no sistema de

produção e a qualidade da carcaça (Figura 7).

Figura 7. Fatores que podem afetar o desempenho animal ao longo da curva

de crescimento.

Drouillard & Kuhl (1999) revisaram os artigos publicados existentes até

aquele momento sobre o efeito da suplementação na recria sobre o

desempenho dos animais em confinamento. Os autores avaliaram 11

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

trabalhos, sendo que em 7 não foi constatada diferença significativa, já em 4

constatou-se redução no desempenho durante a fase de confinamento. É

ressaltado que não houve compensação total da diferença existente no inicio

do confinamento.

Revisando os trabalhos realizados no Brasil encontrou-se experimentos

que avaliaram o efeito da suplementação na recria sobre a terminação de

bovinos tanto em pastagens quanto em confinamento. O objetivo central destes

experimentos foi avaliar se o aumento do padrão nutricional na fase de recria

reduziria o desempenho dos bovinos na fase da seca.

De forma geral, observou-se que mais determinante que a suplementação

na época de recria é o nível nutricional na fase de terminação (Tabela 2).

Nesses estudos, os animais foram recriados, na época das águas, em

pastagens intensivamente manejadas o que propiciou ganhos em peso

corporal adequados e a fase de terminação ocorreu de duas formas,

confinamento ou em pastagem. No pasto procedeu-se a suplementação que

variou de 0,3 a 0,8% do peso corporal, porém na sua maioria na época da

seca, o que constitui um limitante nutricional, devido a baixa qualidade do

pasto.

Constata-se pela análise da Tabela 2, que em todos os experimentos

sempre os animais que apresentaram maiores ganhos em peso na fase de

recria, quer seja, devido a suplementação ou por maior oferta de pasto, na fase

de terminação apresentaram menores ganhos em peso. É importante ressaltar

que a explicação para esse fato não se baseia em ganho compensatório, pois

os animais na fase de terminação apresentaram ganhos em peso semelhantes

os inferiores, quando contrastados com os ganhos na fase de recria na época

das águas. Uma explicação para esse fato está baseada no aumento da

exigência de mantença dos animais que foram melhores alimentados na fase

de recria, principalmente devido ao possível aumento do tamanho dos órgãos

como fígado e rins que são grandes drenos energia.

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

Tabela 2. Ganhos em peso corporal de bovinos terminados em pastagem

recebendo suplementação, em função da suplementação recebida

na recria

Suplemento GPD r3 GPD t

3 Dif Recria

3 Dif term

3 Autores

SM 0,742 0,870 Fernandes et al.

(2003a) 0,4 %PC1 0,881 0,850 0,139 -0,020

0,7 %PC 1,041 0,790 0,299 -0,080

SM 0,770 1,120

Fernandes et al. (2003b) 0,6 %PC 1,060 1,100 0,290 -0,020

SM 0,460 0,375

Casagrande (2010)

0,3 %PC 0,638 0,350 0,178 -0,025

Pasto - 152 0,406 0,406

Pasto - 25 0,559 0,342 0,153 -0,064

Pasto - 35 0,682 0,341 0,276 -0,065

SM 0,583 0,300

Vieira (2011)

0,3 %PC 0,768 0,252 0,185 -0,048

0,3 %PC 0,772 0,256 0,189 -0,044

Pasto - 15 0,609 0,300 Pasto - 25 0,731 0,243 0,122 -0,057

Pasto - 35 0,783 0,264 0,174 -0,036

SM 0,580 0,589 Sampaio (2011) 0,1 %PC 0,684 0,409 0,104 -0,180

0,3 %PC 0,822 0,298 0,242 -0,291

1 %PC: porcentagem do peso corporal, 2: Altura do pasto, 3-GPDr: ganho em peso na recria, GPDt: ganho em peso na terminação, Dif recria: diferença do ganho dos animais suplementados em relação aos que receberam sal mineral, na fase da recria Dif term: diferença do ganho dos animais suplementados em relação aos que receberam sal mineral, na fase da terminação

Já quando os animais são terminados em confinamento dos 7

experimentos avaliados em 5 não houve redução efeito da suplementação na

recria sobre o ganho em peso no confinamento. Em 1 houve diferença

significativa positiva e em 1 houve redução do ganho em peso.

Desta forma, aconselha-se aos produtores que escolham as estratégias

de suplementação a serem praticadas pensando além da resposta direta, no

futuro deste animal. Segundo Medeiros et al. (2010) aspecto importante a ser

observado na suplementação dos animais é que a intensificação do sistema

deve ser feita de maneira crescente.

Fica claro com essa compilação de dados que a definição do nível de

suplementação a ser utilizado não depende apenas do diferencial em ganho de

peso que ela consegue imprimir, mas também do plano nutricional futuro.

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

Tabela 3. Desempenho de bovinos terminados em confinamento, em função da

suplementação recebida na recria

Suplementação GPD (kg/dia)3 Tempo (dias)4 PI (kg)5 PF (kg)6 Autores

SM 1.23 a 169.3 a 287.8 c 496.2 a

Correia (2006) 0,3% PC1 1.25 a 151.3 ab 301.1 b 490.0 a

0,6% PC 1.21 a 147.7 ab 308.6 b 484.7 a

0,9% PC 1.18 a 143.1 b 320.3 a 488.4 a

SM 1.376 b 125

308.7 b 486.6 b

Ramalho (2006) 0,6% PC – E 1.507 a 125

328.9 a 519.0 a

0,6% PC – P 1.449 a 125 339.5 a 518.3 a

SM 0.951 a 102 a 272.0 a 366.0 a

Casagrande (2010)

0,3% PC 0.922 a 86 b 291.0 b 365.3 a

Pasto 152 0.999 a 101 a 270.0 b 369.5 a

Pasto 25 0.967 ab 91 ab 282.0 ab 365.0 a

Pasto 35 0.854 b 89 b 291.0 a 362.6 a

SM 1.15 a 63 a 473.2 b 545.4 a Andrade (2010)

0,3% PC 1.11 a 55 b 483.9 a 545.3 a

SM 0.829 a 90 a 275.0 b 352.0 a

Vieira (2011)

0,3% PC - E 0.866 a 65 b 294.0 a 357.0 a

0,3% PC - P 0.857 a 63 b 296.0 a 356.0 a

Pasto 15 0.823 a 94 a 273.0 b 355.0 a

Pasto 25 0.876 a 65 b 293.0 a 351.0 a

Pasto 35 0.863 a 58 b 300.0 a 353.0 a

SM 1.416 a 91 a 357.4 c 486.3 a

Sampaio (2011) 0,1% PC 1.213 b 79 b 384.6 b 481.5 a

0,3% PC 1.146 c 59 c 418.8 a 485.9 a

SM 0.954 a 143 a 369.7 c 504 a

Roth (2012) 0,1% PC 0.902 a 135 ab 392.6 b 513.1 a

0,3% PC 0.870 a 130 b 404.2 a 515.6 a 1 %PC: porcentagem do peso corporal, 2: Altura do pasto, 3: ganho em peso na terminação, 4: Tempo da terminação; 5: Peso inicial, PF: Peso final

Outra abordagem complementar, que merece destaque é a avaliação do

ganho em carcaça durante a fase de terminação. Avaliando apenas os

experimentos realizados na APTA-Colina/SP. Constatamos que mesmo nos

estudos onde ocorreu redução do ganho em peso na terminação em função do

maior aporte da suplementação na recria (Figura 8A), quando analisado o

ganho em carcaça esse não é reduzido (Figura 8 B).

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

Figura 8. Efeito do histórico alimentar (suplementação nas águas) sobre o

desempenho dos animais durante a fase de terminação.

De forma geral os principais benefícios alcançados com a

suplementação na recria sobre a terminação são a redução do tempo de

confinamento ou o aumento do peso de abate.

7. Estudo de caso: Fazenda Progresso – SP

A melhor forma de comprovação de que a adoção de tecnologia de

maneira correta e planejada resulta em aumento de produtividade e

rentabilidade é pela demonstração prática da mesma. Nesse estudo de caso

serão discutidos os efeitos promovidos pela intensificação do sistema produtivo

da Fazenda Progresso, localizada no oeste paulista, no município de Sud

Menucci.

A fazenda cujo proprietário é o Sr. Luiz Otavio Rodrigues da Cunha, que

também é o gestor do projeto, é engenheiro agrônomo, e trouxe consigo a

experiência de 40 anos de pecuária tradicional que ainda prática no Estado do

Pará, mas possui os olhos voltados para o futuro, e capacidade para analise

crítica comparativa dos dois sistemas de produção. A propriedade possui área

total de 756 hectares, sendo 606 constituídos por pastagens de Brachiaria

brizantha. Inicialmente a propriedade possuía um rebanho de 900 animais que

eram adquiridos como bois magros. Estes permaneciam na fazenda por

aproximadamente 12 a 18 meses, sendo que o abate médio anual era de 450

animais, ou seja, a taxa de desfrute da propriedade era de 50%.

Buscando melhora na exploração da propriedade, o Sr. Luiz Otávio a

partir do ano de 2001, junto a Projeta, empresa de consultoria e planejamento

0,5

0,7

0,9

1,1

1,3

1,5

2006 2007 2008 2009

Ga

nh

o e

m p

eso

(kg

/dia

)

SM 1 g/kg 3 g/kg(A)

0,5

0,7

0,9

1,1

1,3

1,5

2006 2007 2008 2009

Ga

nh

o e

m c

arc

aça

(kg

/d)

SM 1 g/kg 3 g/kg(B)

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

agropecuário, vem desenvolvendo uma proposta de intensificação, cujo

objetivo é tornar a atividade (pecuária de corte) competitiva na região. Tomou-

se como base e meta, a competição com a cana-de-açúcar, pelo uso da terra,

que para a região é uma referência de rentabilidade a ser suplantada.

A análise de dados obtidos com a coleta dos dados zootécnicos da

propriedade (ganho de peso/cabeça e por área, capacidade de suporte,

consumo de suplementos, etc.) e também dados financeiros da atividade, que

permitiriam em curto espaço, avaliar com precisão o impacto, da adoção da

proposta.

A primeira ação do projeto foi à divisão da área de pastagem em

piquetes, os quais passaram a ser manejados em sistema de lotação

intermitente. Estes foram equipados com bebedouros e cochos para a

suplementação dos animais.

Adotou-se a suplementação proteica de baixo consumo, 1g/ kg de peso

corporal, como base durante o período de recria dos animais, o que resultou

em um ganho médio diário durante a recria, (seca e águas) da ordem de 0,450

kg/dia. Foi realizada durante o período das águas, a adubação e correção do

solo das áreas de pastejo o que subsidiou aumento na taxa de lotação (Figura

9), evoluindo de 1,4 UA/ha, valor representativo da pecuária nacional, para

aproximadamente 4,5 UA/ha, que é um valor bem alto quando este retrata a

média geral da propriedade. Quando analisado a quantidade de kg de peso

corporal/ha produzido por ano, houve aumento de 104,34%, ou seja, a

produção que era de 261,20 kg/ha/ano em 2002 passou a ser de 533,73

kg/ha/ano.

A intensificação promovida durante a recria forçou o aumento do

confinamento a fim de acelerar o desfrute da produção, que saltou de 82,32%

no ano de 2002 para 140,97% no ano de 2011. Esse aumento superior a 100%

foi possível em função da compra de animais para a entrada direta no

confinamento, assim, com a intensificação da propriedade passou-se a abater

100% dos bois magros adquiridos para recria e mais um excedente foi

adquirido exclusivamente para o confinamento.

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

Figura 9. Evolução das taxas de lotação e do rebanho confinado da Fazenda

Paraíso, no município de Sud Menucci, estado de São Paulo.

A média de rentabilidade de 10 anos de avaliação foi de 4,011%,

considerando-se o valor da terra atualizado anualmente, pelos preços de

mercado da região. O rebanho, é contabilizado, considerando-se o valor médio

de venda do kg vivo, durante o ano.

Ressalta-se que o aumento da intensificação leva ao aumento do custo

de produção da @, principalmente a maior demanda de insumos no sistema.

Porém ao analisar a renda por hectare nota-se que a mesma aumenta de

forma linear, ou seja, maiores gastos com investimento resultam em maiores

rendas (Figura 10). A rentabilidade/ha nos dois últimos anos foi superior a R$

1.500,00, demonstrando que a atividade pecuária, quando realizada aplicando

os conceitos teóricos de forma adequada na prática geram resultados

econômicos bastante satisfatórios.

Figura 10. Relação do custo da arroba (R$) com a receita por hectare (R$/ha)

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

UA

/ h

a

Lotação (UA/ha) (A)

500

1500

2500

3500

4500

5500

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11N

úm

ero

de a

nim

ais

Total Rebanho Confinado (B)

0

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

1.600

1.800

30,00 40,00 50,00 60,00 70,00 80,00 90,00

Re

ceita

por

ha (

R$

)

Custo de Produção da @ (R$)

II SIMBOV – II Simpósio Matogrossense de Bovinocultura de Corte

Como busca de um novo patamar para aumento de produtividade, está

sendo estudado um projeto para a implantação de Pivô Central, como forma de

ampliar a recria, e ter uma maior e principalmente, mais estável produção de

forragem ao longo dos anos, que garantiria o abastecimento do confinamento a

custos competitivos.

8. Literatura consultada

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