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I REUNIÃO DO QUATERNÃRIO IBÉRICO

I REUNION DEL CUATERNARIO IBERICO

LIVRO-GUIA DA EXCURSÃO

DA PIlli-REUNIÃO

(30 Agosto/1 Setembro 1985)

A GLACIAÇÃO DA SERRA DA ESTRELA

ASPECTOS DO QUATERNÃRIO DA ORLA ATLÂNTICA

Responsáve 1:

SUZANNE DAVEAU, Centro de Estudos Geográficos, Faculdade de Letras de Lisboa

Colaboradores:

B. P. BARBOSA, Serviços Geológicos de Portugal

FILOMENA DINIZ, Departamento de Geologia, Faculdade de Ciências de Lisboa

CARLOS JORGE SOARES FABIÃO, Faculdade de Ciências Sociais e Huma­nas, Universidade Nova de Lisboa

AMÍLCAR MANUEL RIBEIRO GUERRA, Faculdade de Ciências Sociais e Hu­manas, Universidade Nova de Lisboa

C. R. JANSSEN, Laboratory of Pa1aeobotany and Palyno1ogy, Univer­sity of Utrecht

J. FONSECA MAR~QUES, Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico, Universidade de Coimbra

JOÃO DE CASTRO NUNES, Instituto de Arqueologia, Faculdade de Letras de Lisbo8l

LuíSA RODRIGUES, Centro de Estudos Geográficos, Faculdade de Letras de Lisboa.

. JOÃO CARLOS DE SENNA-MARTlNEZ, Unidade de Arqueologia do Centro de História, Faculdade de Letras de Lisboa

ANT6NIO FERREIRA SOARES, Museu e Laboratório Mineralógico e Geológi co, Universidade de Coimbra

L I S B O A

1985

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Figueira, da Foz

Castelo Branco •

ITINERÁRIO DA EXCURSÃO E ESQUEMA GEOMORFOLÓGICO

altitude > 400 metros

glaciação da Serra da Estrela

ria flandriana e aluviamento holocénico dos Rios Mondego e Tejo

o SOkm ~, -~-~--~--~--~,

Figura 1

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3

SUMÁRIO

Páginas

CARACTERíSTICAS DA r~CURSÃO •••••• 4

APRESENTAÇÃO DA REGTLÃO PERCORRIDA 6

PRIMEIRO DIA, 30 de Agosto:

AS COLINAS E DEPRESSÕES DA ESTREMADURA E OS TERRAÇOS DO RIO ALVA 13

I. COLINAS E DEPRESSÕES DA ESTREMADURA . .. . .. 13

1. A BACIA DE RIO MAIOR (por FILOMENA DINIZ) • •• ••• 16

2. OS POLJE DE ALV ADOS E MINDE (por SUZANNE DAVEAU e LuíSA ROORIGUES) ••• ••• ••• ••• 33

3. O CORREDOR TOMAR-COIMBRA ... 40

II. OS TERRAÇOS DO RIO ALVA 45

1. O VALE ••• ••• ••• ••• 45

2. O PANORAMA ARQUEOLÕGICO DO CURSO MEIHO DO ALVA - REGIÃO DE ARGANIL (por J. DE CASTRO NUNES, J. C. DE SENNA-MARTINEZ, A. M. RIBEIRO GUERRA e C. J. SOARES FABIÃO) •• ••• ••• ••• 48

SEGUNDO DIA, 31 de Agosto:

A SERRA DA ESTRELA ••• • ••

1. A MAIS ALTA MONTANHA DE PORTUGAL

2. O ESTUDO CIENTÍFICO DA SERRA

3. A GLAC IAçÃO • •• ••• ••• • ••

4. HISTÕRIA DA VEGETAÇÃO (por C. R. JANSSEN)

TERCEIRO DIA, 1 de Setembro:

A REGIÃO DO BAIXO MONDEGO

54

54

58

61

66

73

I. ORGANIZAÇÃO DA PAISAGEM E EVOLUÇÃO DAS IDEIAS 74

1. A PLATAFORMA LITORAL • •• ••• 74

2. O ALTO LITORAL DA cHÃ DA MATA 77

II. VISITA A DIVERSOS LUGARES EM ESTUDO (por A. FERREIRA SOARES, J. FONSECA MARQUES e B. P. BARBOSAO • • • 84

1. O DEPÕSITO DE SANTA LUZIA - BARCOUÇO ••• ••• ••• ••• ••• 85

2. O DEPÕSITO DE LOGO DE DEUS; A ESTRUTURA DO CAMPO DO BOLÃO 87

3. O DEPÔSITO DA ZOUPARRIA DO CAMPO 91

4. O DEPÕSITO DE TENTúGAL 93

5. A SERRA DE MONTEMOR 95

LISTA DAS FIGURAS 101

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CARACTERíSTICAS DA EXCURSÃO

Os três dias de trabalho de campo que antecedem a Primeira Reu

nião do Quaternário Iberico tem por finalidade apresentar alguns dos as­

pectos relevantes da evolução do ambiente natural (sedimentação, erosão,

relevo e vegetação) na parte atlântica de Portugal Central e da interfe

rencia desta evolução no povoamento e actividades humanas. Através dos

aspectos observados serão tambem apontadas as linhas de investigação em

curso, referentes aos factos paleoclimáticos e tectónicos que condicio­

nam aqueles.

O ségundo dia da excursão e consagrado a apresentaçao de uma

area "clássica" do Quaternário ibérico: as cumeadas da Serra da Estrela,

marcadas por glaciação quaternária. Objecto de estudos desde hã um secu­

lo esta serra tem o grande interesse de constituir, com a Sierra Nevada,

as balizas sudoeste das montanhas europeias onde o gelo quaternário mar­

cou o relevo.

Em parte condicionado pela distância que separa Lisboa da Ser­

ra da Estrela (cerca de 350 km, por estradas que não permitem velocida­

des elevadas), o programa dos dois dias enquadrantes procura apresentar,

de caminho, alguns dos tópicos mais relevantes das investigações em cur-

soo

No dia 30 de Agosto serão sucessivamente observados: a bacia

tectónica e topográfica de Rio Maior, que conserva uma· série sedimentar

neogenica e quaternária, cuja microfloraforn~ceu recentemente resultados

de grande significado; aspectos do Maciço Calcário Estremenho, relacion~

dos com a movimentação neotectónica e evolução periglaciar das vertentes;

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a problemática geral do complexo corredor de baixa altitude que liga os

vales do Tejo e Mondego, entre Tomar e Coimbra; finalmente, as caracte­

rísticas geomorfológicas, ocupação proto-histórica e exploração mineira

dos terraços, no vale do baixo Rio Alva, no sope noroeste da Cordilheira

Central.

No último dia (1 de Setembro) serão apresentados aspectos geo­

lógicos e geomorfológicos da evolução quaternária da região do Baixo Mo~

dego, nos arredores de Coimbra: primeiro, vestígios de linhas de costa e

planícies litorais, escalonados entre 240 m e 50 m de altitude, a Oeste

do Maciço Marginal, estreito horst de orientação meridiana que limita a­

proximadamente o Maciço Antigo; a seguir, os problemas de interpretação

suscitados pelo levantamento geológico de pormenor das colinas e terra­

ços que dominam a vasta planície aluvial dos Campos do Mondego, entre

Coimbra e o Atlântico.

O presente livro-guia reune as contribuições dos vários colabo

radores citados na primeira página. Os textos sem menção de autor foram

escritos por Suzanne Daveau. A dactilografia e paginaçao do texto foram

realizadas no Centro de Estudos Geográficos de Lisboa por Conceição Dâm~

so e Manuel Figueiredo e por António Eanes. A impressão fez-se na Asso­

ciação de Estudantes da Faculdade de Letras de Lisboa.

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APRESENTAÇÃO DA REGIÃO PERCORRIDA

O relevo de Portugal tem uma disposição geral oblíqua, em re

lação tanto ao escalonamento em latitude como ao traçado do litoral o­

ceânico ocidental. Este traço fundamental da sua geografia tende a exa

gerar o contraste entre as frescas terras da orla atlântica e as de­

pressões e planícies interiores, marcadas não só pela secura estival me

diterrânea como também por contrastes térmicos ja acentuados (O.RIBEI­

RO, 1944). A obliquidade esta especialmente vincada na parte central

do país, o largo interfluvio entre Tejo e Mondego, que vai percorrer a

a excursão (figso 1 e 2).

à semelhança do que acontece entre as Sierras de Gredos e Ga

ta, o segmento português da Cordilheira Central Ibérica prolonga o ali

nhamento geral desta depois de um hiato, constituLrlo pelo planalto do

Sabugal, rebordo ligeiramente arrebitado da Meseta Norte, que domina

bruscamente as terras baixas da bacia do Tejo. Tanto o Zêzere como o

Mondego, nascidos na Serra da Estrela, inflectem rapidamente para Su­

doeste, depois de breve percurso em direcção ao interior da Península.

O primeiro entrincheira-se no meio dos varios blocos levantados que f~

mam a extremidade ocidental da Cordilheira, enquanto o Mondego arranha

só o fundo de larga plataforma abatida, balançada para Sudoeste.

A Orla Sedimentar, que separa o Maciço Antigo do Atlântico,

entra em contacto com aquele ao longo de um acidente· meridiano muitoan

tigo, que jogou repetidas vezes e que parece continuar muito sensivel

(fig. 2). Corresponde-lhe um complexo feixe de corredores deprimidos,

utilizados ao longo dos tempos por uma das mais activas vias de liga-

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+ + .. ~ + 9°

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Figura 2: Esquema estrutural da região percorrida, segundo a Carta Geológi­ca de Portugal (1972), S. DAVEAU (1969 e no prelo), M. JULIVERT et aI. (1974), A. RIBEIRO (1984)

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ção entre o Tejo inferior e o Noroeste peninsular. Um vau no Mondego e

a ponte de Coimbra que lhe sucedeu marcam um ponto essencial deste pe~

curso.

A Oeste do corredor, as colinas da Estremadura portuguesa a­

tingem, em vários lugares, altitudes de 500 a 678 m, constituindo ali­

nhamento descontínuo de terras altas repulsivas, que prolongam exacta­

mente a Cordilheira Central, mas segundo uma orientação que, em breve,

inflecte para SSW. Molda-se, com efeito, sobre o alinhamento do rift

pré-Atlântico que funcionou nos princípios da Era Secundária, quando a

Península Ibérica começava a separar-se do Banco da Terra Nova. As for

mações salíferas e gipsíferas do Liásico inferior, encimadas por pote~

tes séries calcárias e detríticas, introduzem complicações diapíricas

na organização e dinâmica estruturais da região (figs.2 e 3).

Uma plataforma litoral arasada durante o Plio-Pleistocenico,

desigualmente larga e levantada, separa as colinas da actual linha de

costa, além da qual a plataforma continental submarina prolonga para

Oeste a estrutura da Orla emersa (fig. 3).

A disposição morfo-estrutural que acaba de ser apresentada '0

plica que a influência atlântica consegue penetrar bastante longe para

o interior, aproveitando os sucessivos degraus das terras altas; expli

ca também que ela apareça rapidamente matizada, nas depressões, por t~'

ques de continentalidade, especialmente sensíveis na amplitude térmic~

como mostram os números reunidos no Quadro I. No entanto, a região pe~

corrida fica a margem das terras francamente mediterrâneas, marcadas

por prolongado estio; só dois a três meses de Verão são francamente se

coso Nas regiões de montanha multiplicam-se os dias de precipitação e,

principalmente, de chuva forte, devida em geral ao embate das ~ssas

de ar tropical, oriundas de Sudoeste. O litoral mantem-se relativamen­

te seco, tanto mais que o mar próximo, frequentemente marcado, no Ve­

rao, por subidas de águas profundas (upwelling), apresenta temperawras

moderadas, nitidamente inferiores às do continente.

A actual cobertura vegetal resulta de profunda transformação

pelo homem. No Maciço Calcário Estremenho subsistem 'exemplares espar­

sos do carvalho português (Quercus faginea varo lusitanica), que con­

serva as folhas durante quase todo o Inverno. Mas a maior parte das ve~

tentes calcárias não directamente viradas para o çceano foram planta-

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Plataforma continental

B Plataforma continental

Plataforma litoral

Serras ocidentais

Plataforma do Mondego

Plataforma Colinas da Bacia do litoral Estremadura Tejo

ti1:1:1] Soco ante- Mesozóico D Mesozóico e Paleogénico

t~~ Neogénico e Quaternário Infraliásico evaporítico

Figura 3: Cortes esquemáticos da fachada ocidental da Península Ibê rica,'A: a latitude da Beira, B: da Estremadura, segundo J.-R. VANNEY e D. MOUGENOT, 1981, fig. 38 modificada

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Quadro I

ASPECTOS DO CLIMA

Figueiral Coimbra/I Buçaco I Penhas

da Foz IBencanta

Latitude N 40° 09'

Longitude W 8° 51'

Altitude 12 m

Temperatura média anual 15° O

Temperatura mínima média Janeiro 6° 6

Temperatura maxima média Agosto 22° 9

N9 dias mínima < 0°

N9 dias máxima > 25°

Quantidade anual de precipitação

N9 meses < 30 rrnn

N9 dias precipitação em Julho

N9 anual dias de precipitação

N9 anual dias precipi t. > 10 rrnn

O

29

627 rrnn

4

2

106

20

40° 13'

8° 27'

35 m

15° 3

4° 5

28° 4

14

101

914 rrnn

2

2

112

33

(1) I Douradas

40° 23'

8° 22'

381 m

13° 9

4° 7

27° 4

4

67

40° 25'

7° 33'

1386 m

8° 9

_0° 4

21° 5

66

20

1533 mm 11916 rrnn

2 2

5

137

38

4

144

54

Covi 1hã ICabo Car

(2)

40° 17'

7° 31'

865 m

12° O

2° O

28° O

23

71

2320 rrnn

2

3

119

57

voe iro

39° 21'

9° 24'

32 m

15° O

8° 9

20° 8

O

4

549 mm

4

2

95

18

Rio Maior

(3)

39° 21'

8° 55'

75 m

15° 1

2° 8

29° 5

16

105

Fátima

(4)

39° 37'

8° 42

380 m

13° 2

1° 4

23° 6

32

16

861 mml 1402 mm

3 2

2

112

31

1

105

46

Normais 1931-60 salvo: (1) 1926-41; (2) 1931-41; (3) 1961-67 (T9); (4) 1963-69 (T9)

Rego da

Murta

39° 46'

8° 21'

218 m

15° 6

4° 1

30° 7

13

124

1052 mm

2

2

116

38

I-' o

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das de oliveiras, enquanto os solos mais p:obres ficaram largamente re­

florestados de pinheiros bravos (Pinus pinaster) •

O litoral e a parte vestibular dos vales guardam marcas níti

das das oscilações quaternárias do nível do mar, associadas a moderada

movimentação tectónica. Tanto o Mondego a jusante de Coimbra como o T~

JO quando entra na bacia terciária do Ribatejo, passam a correr em lar

ga planície aluvial, dominada por terraços escalonados, 10ca1menteafec

tados por falhas (fig. 1). -A. RIBEIRO (1984) tem mostrado que a compressao NW-SE que

a Península Ibérica desde o Miocénico e fez rejogar as cicatrizes tar­

di-hercínicas do soco pre-Mesozóico, adquiriu, a partir do Quaternário,

direcção WNW-ESE numa faixa de transição paralela ao litoral ocidental,

por causa da velocidade diferente do movimento no continente e no ocea

no. Os acidentes actualmente mais activos nesta faixa parecem ser as

falhas inversas perpendiculares ã direcção do movimento e os deslig~

mentos senestros de orientação WNW-ESE (s. DAVEAU, no prelo), que afe~

tam claramente a extremidade SW da Cordilheira Central e o Ribatejo

(fig. 2).

Parece demonstrado que todo o litoral ocidental português te

rá sofrido, pelo menos uma vez, os efeitos de uma crise fria que regu­

larizou comPletamente certas vertentes, através da produção de abunda~

tes gelifractos. As relações deste episódio periglaciar de baixa alti­

tude com os que maTcaram as terras altas ficam ainda por esclarecer.

REFERENCIAS GEIUIS

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CHOFFAT, Paul (1907), ''Notice SUl' la carte hypsométrique du Portugal", Comunicações dos S.G.P .• Lisboa, 7, 1, p. 1-71.

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DAVEAU~

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RIBEIRO~ António (1984) ~ "Néotectonique du Portugal"~ in' Livro de Ho­menagem a Orlando Ribeiro~ C.E.G.~ Lisboa., t. I~ P'. 173-182.

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RIBEIRO~ Orlando (l949) ~ Le Portugal Central~ Congres International á.e Géographie~ ExcUX'sion C~ Lisbonne~ 180 p. + ilo

(1955)~ Portugal~ t. V de Geografia de Espana y Portugal3

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(1967)~ Portugal~ o Mediterrâneo e o Atlântico~ ~. ed.~ Li~ boa~ 175 p. + il. (la. ed.~ 1944).

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TEIXEIRA~ Carlos (l979) ~ "Plio-Plistocénico de Portugal"~ Comunicações S.G'P' 1 Lisboa~ 65~ p. 35-46.

VANNEY~ J.-R.; MOUGENOT~ D. (1981)~ La Plate-forme continentale duPor­tugal et les provinces adjacentes: analyse gêomorphologique~ Memorias S.G.P.~ Lisboa~ 28~ 86 p.~ 41 fig.

ZBYSZEWSKI~ Georges (1958) ~ Le Quaternaire du Portugal~ I.A. C. ~ Lisbo~ 182 p. + a. (1969) ~ Carta Geológica do Quaternário de Portugal~ S.,G.P. ~ Lisboa~ 1:1.000.000.

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PRIMEIRO DIA

AS COLINAS E DEPRESSÕES DA ESTREMADURA

E ~S TERRAÇOS DO RIO ALVA

Durante a manhã serao apresentados temas referentes as coli

nas da Estremadura e, a tarde, depois de franqueado o corredor deprimi

do que liga as regiões de Tomar e Coimbra, os problemas do povoamento

pré- e proto-historico e da exploração mineira dos terraços do Rio Alva.

I. COLINAS E DEPRESSÕES DA ESTREMADURA

Os numerosos maciços de colinas que se sucedem, da Serra de

Sintra ate ã região de Coimbra, dividem a "península" estremenha em

duas vertentes, viradas para o Atlântico e para o Tejo, que comunicam

atraves de portelas de orientações e características muito variadas

(fig. 1). O Maciço Calcário Estremenho sobressai, menos pela altitude

superior que atinge (678 m na Serra de Aire), do que pela sua extensao.

É formado pela estreita justaposição de três compartimentos, separados

por algumas das linhas tectonicas principais da região, que experime~

tam ainda movimentação actual (fig. 2 e 4). A Oeste de comprido alinh~

mento diapírico, individualisa-se o estreito e complexo anticlinal da

Serra dos Candeeiros (615 m)~ paralelo ao litoral actual e que conser­

va, no sope ocidental, marcas de antigas linhas de costa. A Leste do

acidente estendem-se vastos planaltos cãrsicos, de estrutura desigual­

mente falhada e ondulada. Dominam bruscamente, a Sueste, a bacia rerciã

ria do Tejo, através do abrupto de um "arrife", que traduz a passagem

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CARTA MORFOLÓGICA ESQUEMÁTICA E PROVISÓRIA DO MACIÇO CALCÁRIO ESTREMENHO

Extraído de A. FERNANDES MARTINS, 1949

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23

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Leçenria: 1 _ Abóbadas anticlinais; 2 - Cuvetas sincllnais; 3 - Abrnpto de escarpa de falha; ,- Grande abrupto de escarpa de falha; 5 - Frente de cavall!amento; 6 - Cavalgamento qne se traduz por nma Inversilo do relevo; 7 - Valeiros snspensos por falha; 8 - Escarpa de eroBAo, cornijas de calcário duro e vertentes abrnptas dos vales; 9 - Canhllo; 10 _ Vale transversal de dobras anUo/inais (clnsel; 11 - Sectores com bastanles dolinas; 12 - SecLores onde predominam algares; 18 - Polja e depre.sões análogas; I' - Outraa eélulu cáraicas (unalas, vales cegos,; 15 - Sector onde predominam os valeiros de vertentes em dmm; 16 - Perda; exsurgência. e rea­lurllênclu; POtIor. emissivosj 17 - Superflc.e pllocénica dos confins ocidentais do Maciço; 18 _ Bacia terciária do Tejo; 19 - Rochal! eruptivas eocénlcas que se traduzem no relevo; 20 - Colinas modeladas nas formações do Neojnrásslco; 21 _ Colinas modelada. no Belulano; 2~ - Bel.siano do fundo do graben dos Amlais; 23 - Bacia cretácicI d. Onrém ; 24 - Vales tifónicos ; 25 - Regiões calcárias earalfleadas exteriores ao Maciço; 26 - N/vel dà charneca; 27 - Formações sillciosas grosseiras superficiais jacentes DOS planaltos; !8 - Planaltos eusiOca,los : a -- planalto de Santo António; b - planalto de Silo Mamede; c - plataforma de Fátima.

AbreviaLDru: F - Fátima; A - anticUnal do Alqneidlio; M - Minde; Md - Mendiga.

Figura 4 N. B. - Por lapso nlia fora". figuradas "O desenho ... manchas da formaçijo rilieioaa urou",a

do Arrimal e de Santa Catarina da &Tra.

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de uma falha inversa de cavalgamento. A pequena bacia de Rio Maior en­

contra-se na área de interferência dos dois acidentes principais.

Outro alinhamento tectónico, de orientação WNW-ESE, atraves­

sa os planaltos orientais, acabando a Oeste, na região de Porto de Mós,

de encontro ao acidente diapírico e prolongando-se, pelo contrário, a

Leste, pela bacia terciária adentro, no enfiamento do troço Leste-Oes­

te do Vale do Tejo que a cidade de Abrantes domina (fig. 2). Traduz-se,

no plano local, pela aparição de um graben dissimetrico em corrediça,

cujos dois tramos são dominados por escarpa de falha muito fresca, de

300 m de altura, ao fundo do qual uma serie de polje se desenvolveram

(figs.4 e 10). O mais vasto, melhor conservado e funcional é o de Min­

de; nas suas margens cresceram duas povoações industriais de certa im­

portância, Mira e Minde, pertencentes, a primeira ao distrito de Lei­

ria, a outra ao de Santarém, o que sublinha o papel de separação huma­

na desempenhado tradicionalmente pelo Maciço Calcário.

Os dois sítios sucessivamente apresentados durante a excur­

sao, a bacia de Rio Maior e o polje de Minde, permitem colocar alguns

problemas da evolução quaternária da fachada atlântica portuguesa: o

controverso assunto da caracterização do ambiente do Pliocénico e da

sua passagem ao do Quaternário; a importância e as modalidades da movi

mentação tectónica quaternária; a ocorrência de, pelo menos, uma fase

fria, capaz de marcar o modelado das vertentes a baixa altitude e fra­

ca distância do Oceano.

REFERÊNCIAS

AZém das referências gerais (p. 11 -12), citam-se:

DAVEAU, Suzanne (1973), "Quelques exerrrples d'évoZution quaternaire des versants au PortugaZ", Finisterra, 15, p. 5-47.

frMRTINS, A. Fernandes (1949), Maciço CaZcário Estremenho. Contrioui0io para V~ Estudo de Geografia Fisica, Coimbra, 248 p.

(1950), '~spectos do reZevo caZcário em PortugaZ: os pOiJes de Minde e de Alvados'~ Boletim Centro de Estudos Geográfi­cos, Coimbra, 1, p. 1:3 - 22 (reproduzidõ em Cãdernos de :;6:; gr;ãfia, Coinibra, 1, 1983, p. 25-33.

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ZBYSZEWSKI, G.; MANllPPELLA, G.; FERREIRA, O. Veiga (1971), Noticia ex­pZicati~ da foZha 27-C, TOPres No~s. da Carta GeoZógica de PortugaZ, 1:50.000, Lisboa, 46 p.

(1974), Noticia e oZha 27-A, ViZa Nova de Ou-rém. da Carta Geo 1:50.000, L~s oa, 82 p.

1. A BACIA DE RIO MAIOR

por FILOMENA DINIZ

a. Apresentação geológica

A região de Rio Maior situada no bordo NW da bacia do Tejo­

-Sado e uma área aplanada enquadrada pela Serra dos Candeeiros e os

planaltos da margem direita do rio Tejo.

Os estudos geológicos da região (ZBYSZEWSKI, 1943 e ALMEIDA, 1960)

referem a existência de espessos depósitos continentais discordantes s~

bre o Jurássico, o Cretácico, o Paleogénico ou o Miocénico; eles cons­

tituem a bacia de Rio Maior de 7,5 km de comprimento e 3 km de largur~

limitada por falhas de orientação NW-SE. Trabalhos ulteriores possibi­

litaram uma melhor definição das unidades litológicas e o conhecimento

geral da estrutura da região (ZBYSZEWSKI 1967; CARVALHO e PEREIRA1973~

Das unidades estratigráficas citadas na carta geológica das

Caldas da Rainha referem-se apenas o Miocénico e o Plio-Plistocénico,

por estarem directamente relacionados com o problema que nos propusemos

abordar.

Os terrenos miocénicos que limitam a bacia (afloramentos de

Azinheira, Quintas, Panasqueira, Vale de Õbidos e Freiria) foram de­

signados por Complexo de Vale de Õbidos; compreendem, da base para o

topo, duas séries 1itológicas:

- a serie greso-arenosa formada por sedimentos de cor avermelhada

que repousam sobre o Jurássico (Freiria) ou o Oligocénico; numerosas

falhas são responsáveis pela presença de afloramentos dispersos por v~

zes difíceis de distinguir das formações subjacentes. Esta série foi

correlacionada com os Gres e conglomerados de Arneiro e da Ota atribuí

dos ao Burdigaliano e ao Helveciano;

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- a série de grés, argilas e calcários lacustres com fauna de molus

cos terrestres e de água doce atribuída ao Pontiano (ROMAN e TORRES,

1907) •

O Plio-Plistocênico integra:

- os sedimentos marinhos com fauna "astiana", recobertos por ligni­

tos e diatomitos da região de Caldas da Rainha, Óbidos, etc.;

- os depósitos continentais da bacia de Rio Maior.

Bacia de Rio Maior (fig. 5)

A sucessão litológica é constituída, da base para o topo, por:

(1) areias brancas ricas de caulino, (2) espessas camadas de lignito e

de diatomito e (3) cobertura de areias com intercalações de argila,

gres e calhaus (fig. 6).

Por baixo das areias brancas encontram-se argilas, margas e

calcários (por vezes com gastrõpodos) atribuídos ao Miocénico por sem~

lhança de fácies com sedimentos bem visíveis nos bordos norte, ociden­

tal e sul da bacia.

Areias brancas. Afloram em diversos pontos da bacia (Vale

de Óbidos, _Panasqueira, Cidral). Nos arredores de Freiria repousam so­

bre calcários "pontianos", na mina do Espadanal observam-se por baixo

dos diatomitos e dos lignitos. Quarenta sondagens permitiram (CARVALHO

e PEREIRA, 1973) calcular a área do depósito bem como a sua configura­

ção: elas desenvolvem-se sob o complexo de diatomitos e de lignitos ou

por baixo de formações mais recentes (cobertura de areias); a sua es­

pessura varia de 40 a 50 m nos bordos da bacia, atingindo 120 m no cen

troo

são are1as finas bem calibradas, de cor branca, rosada ou a­

vermelhada, apresentando esporadicamente leitos de argila ou conglomer~

dos. Essencialmente quartzosas, contém minerais pesados (turmalina, an

daluzite, zircão) e mostram sinais de transporte eólico.

Complexo de lignitos e de diatomitos. Encontra-se no bordo

oriental da bacia, nas imediações de Espadanal, formando uma pequena

depressão de orientação NW-SE, de 3,5 km de comprimento e 1 km de lar­

gura, designada por "bacia de lígnitos e de diatomitos".

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o 1 2Km B.DémBso,des.

5 9 13

600 " 10,/' ,.

14

7~ ,/

11 , ,/ ,./

15 o

8 12 (" 16 e

Figura 5: Carta geológica da região de Rio Maior, segundo a carta geológica de Portugal na escala l/50 000, folha 26D - Caldas da Rainha (1960).

1, Holocénico; 2, Plistocénico; 3, Plio-Plistocénico; 4, ~iocénico (. calcários); 5, Paleogénico; 6, Cretácico; 7, Jurássico médio e superior; 8, Hetangiano; 9, Basaltos e do1eritos; 10, Falhas; 11, Li mite da bacia de lignitos e de diatomitos de Rio Maior; 12, Areei-­ros; l3~ Vegetais fósseis; 14, Sondagens com p~lenes e esporos; 15, Sondagens sem pó1enes e esporos; 16, Sondagens parcialnente es-..... ..l ... ...l __

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m 100

50

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-50

-100

-150

-200

sw

-_---::.

--

19

Mines d'Espadanal F 16 F 58

t t

:~-----.:- O

I

Figura 6: Perfil geológico da bacia de lignitos e de diatomitos de Rio Maior, segundo A.M.G. de CARVALHO e V.B. PEREIRA (1973).

1, Cobertura areno-argilosa; 2, Lignitos e diatomitos;

=

200m I

3, Areias ricas de caulino ("areias brancas"); 4, Argilas, grés, margas e calcarios; 5, Complexo deGansaria, 6, Falha

De uma maneira geral este complexo e formado da base para o

topo por:

- diatomito de cor escura, lignitosos, em alternância com lignitos,

notando-se por vezes níveis de areia e argila;

- massa principal de lignito;

- espessas camadas de diatomito com intercalações de areia e de ar-

gila.

Os diatomitos afloram no barranco de Abum (fig. 5), na Quin­

ta do Sampaio, na estrada de Alcanede, etc. Contêm 80% de silica prov~

niente de frústulas de diatomaceas (LEFEBURE, 1938; SILVA, 1946).

O estudo de macro-restos provenientes das camadas superiores

de Abum levou C. TEIXEIRA (1943, 1944, a, b, c, d e 1973-74; TEIXEIRA

e PAIS, 1976) ã determinação dos seguintes taxones: Osmunda sp.,Pteris

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cf. parch1ugiana, PinuB sp., P. praepinaster, Sequoia cf. 1angsdorfii,

G1yptostrobus europaeus, Saba1 cf. haeringiana, Chamaerops humi1is,

Cinnamomum po1ymorphum, Oreodaphne heeri (Ocotea foetens fossi1is?),

Smi1ax targionni, S. mauritanica, Pittosporum tavaresi (P. tobira fos­

si1is?), Comptonia cf. oeningensis, Myrica sp., Fagus cf. si1vatica,

Quercus faginea, Castanea sp. e Sa1ix sp.

Cobertura greso-argi10sa. ~ constituída por argilas, areias

e gres muito rubificados contendo por vezes delgadas intercalações de

diatomito e de lignito. Segundo G. ZBYSZEWSKI (1943) esta cobertura te

ria resultado da lavagem de formações cretâcicas, miocénicas e p1iocé­

nicas e também de dejecções torrenciais relacionadas com períodos mui­

to húmidos, sendo a sua idade quaternária.

Pa1eogeografía e cronostratigrafia. A jazida de Rio Maior e

considerada a partir dos anos 40 como um ponto chave do P1iocénico po~

tuguês em virtude da abundante macrof10ra que possui e da situação pri

vi1egiada que ocupa no limite de dois domínios pa1eogeográficos, a Or­

la Ocidental e a bacia do Tejo-Sado.

G. ZBYSZEWSKI (1943) atribuiu os 1ignitos e diatomitos ao

P1iocénico superior (Vi1afranquiano) ou mesmo ã base do

apoiando-se nas diatomâceas e na macrof10ra.

Quaternário,

Posteriormente correlaciona as camadas lignitosas das Caldas

da Rainha com as de Rio Maior, dada a semelhança entre as sucessões li

to1ógicas (areias, 1ignitos e diatomitos) e as afinidades existentes eu

tre as macrof10ras. Os depositos da bacia de Rio Maior foram deste mo­

do inseridos no ciclo sedimentar proposto para as sequências 1ito1ógi­

cas, atribuídas ao P1iocénico, que se desenvolvem na orla ocidental

(Quadro 2).

Após a regressao do Miocénico superior o mar teria invadido

o litoral, penetrando nas regiões de Pombal, Monte Real, Famalicão, Ca.!.

das da Rainha, A1feite, etc. (Quadro 2; unidades 1 e 2). A esta trans­

gressão teria sucedido uma fase regressiva com formação de depósitos

continentais (idem 3), 1ignitos, diatomítos e argilas ricas de restos

vegetais (jazidas de Alto dos Crespos, Barracão, Marrazes, Óbidos, Rio

Maior). Finalmente uma nova transgressão teria deixado marcas na morf~

10gia: o conjunto greso-cong10merâtico (idem 4) termina a cerca de

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'AMP lUtO SA

UNI T [ S

4. Ensemble gréso-con- I sablcs glomérati~e grossi"rs

marin

3. Dépõü ennt inentaux cons t itués d 'argiles,

de lignites et de

diatomites riches en végétaux foss iles

2. Argiles et

cong I oméra t;' à faune marine

1. Conglo­mérats et

sabl es fl uv io­marins

Substratum

lígnites à

végétaux fossiles

SOURf

® Mine

Pinheiro

sablcs lígniteux, argUes,

lignites à bois fos.-

sUes, lígnites à Chlo.mIJ6 e~c.u.a. argiles, marnC8. gres

argi lcux

marnes,

P

Carnide, Va le

Farpado, ...

lumachelle et conglo­

mérat à "faune

astienne"

*

gr". ~rossicrs (Crét;lc'; )

gyp"e, I argilc c31cair~s v~rl~

~lett,1nl\i'!Il) ("Miadon .. ")

o M 8

® Matos da

Ranha

argiles, gres,

I ignites à bois

lossiles, argiles

gres ("Hiocenc tl

)

A L

Alto dos Crespos,

Va le Coínbra

argiles, lignites,

diatomites

QUADRO I I

L[IIIIA

Barracão, Areei ro J Monle Rea II Boa Vi s la, Pal~o I Marrazes

b1.1ble,; 11 cailloux

roulés

gres à interca la­

tions argileuses et ligni-

teuses riches en végétaux fossUes

sables, argiles à

"faune astienne"

ma rnes (lH1anr,ieN

!wblCti

gres à argUe. ,

conglomé­rats.

argiles, llgnite.

à végétaux fossiles

AlCOUAÇA - CAlDA~ IJA /lAINIIA

Bom Jesus, Serra de Mangues,

Sa lir, ...

lumachelle et conglo­mérat à "faune

astienne"

marn(!s 1

l'.el,·aircs. scl-g,,,mm(>

01"11 ""II ; C 11/

Pa Ihague i r ... Casa 1 do Negrelho,

Obidos, ...

lignitcs, diatomites.

argiles, sable.

fins

~erra do Bouro

::iaulcti à cailluux

roulés

PENINSULE IJ[ S[TUUAL

Alfeite, Fonte da Telha

sables roses et grav ie ta

"couches supérieures d'Alfeite":

conglomé­rata à

intercala­dons

,argileuses à "laune

astienne"

"couches ,~nférieures l'I'Alfeite":

conglo!Dé­rata et

sables à stratifica­tion entre­

croisée

couches de Sobreda

(Tortunien­Hio-

1'1 i oc/lne )

Ilibe ira da Apostiça,

R i b. Pa te i ra AI farim

Iignites, diatomites, sable. de

Coina

VALLH IJU TAGl rivc dro 1 te

® Rio Maior

argi les, gre., diato !Dites, gres.

argiles. couche à Chlo.my6 uci6a,

diatolÍlites à végétaux lossiles, I ignites,

diatolDites ligniteuses,

sables blancs

calcaires lacustre. ,ia "fauna

pontienne U

® Vale de Santa rém

sables. argUes, argUes ii végétaux fossiles, lignit~s, sabll!s. ar~ilcs,

gres. sables b Ianes

calcdif(·~

lacustres ii "faunt.:' pontil.11I11.'u

N t-'

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200 m de altitude por uma superfície plana com calhaus bem rolados; ela

deve corresponder a uma plataforma de abrasão marinha que se estendia

do Porto ao Algarve penetrando para o interior ate à base das serrasdo

Buçaco, Candeeiros, CercaI (TEIXEIRA e ZBYSZEWSKI, 1951; TE IXE IRA,

1979) •

Múltiplas foram as idades atribuídas a estes depósitos da OE

la Ocidental: Tabianiano-Zancleano para as formações flúvio-marinhas;

Pliocenico superior para as camadas "astianas" de Pombal, etc.; Plioc~

nico medio, Pliocenico superior, base do Quaternário para os depósitos

continentais e, finalmente, Pliocénico terminal a Calabriano para a

formação transgressiva azóica.

Assim, dada a ausencia de foraminíferos típicos e de mamífe­

ros, so recentemente se pode estabelecer de maneira decisiva idade Plio

cenico superior (Placenciano) para os níveis fossilíferos de Pombal,

graças a determinações de CARLA MULLER (in letteris) referentes aos na

nofósseis (NN 16 - NN 18) das camadas de Carnide (Pombal).

Em 1968 A. CARVALHO atribui idade Plio-Plistocénico aos sedi

mentos da bacia de Rio Maior com base na correlação entre as areias

brancas ricas de caulino e o vasto areal de Aljubarrota, re lacionado

com o nivel marinho de 200 m, tido como do Pliocénico superior ou mes­

mo do Calabriano. Elas ter-se-iam depositado na bacia de Rio Maior por

progressão dunar através de áreas deprimidas ao sul da Serra de Can­

deeiros.

Posteriormente outras datações foram alvitradas: pôs-Pliocé­

nico inferior (TEIXEIRA, 1973), Quaternário (ANTUNES in RIBEIRO et aL,

1979), Vilafranquiano inferior (ANTUNES et aI. in RIBEIRO et a1.,1979),

alto nível do pliocénico (TEIXEIRA, 1979), parte média do Pliocénico su

perior (TEIXEIRA e GONÇALVES, 1980).

O único elemento de datação existente até agora para os ~

pôsitos de Rio Maior e a idade indicada pela fauna de micromamífe~os

dos calcários lacustres de Freiria: base do Valesiano superior, MN la

(ANTUNES e MEIN, 1979), isto se considerarmos que os calcários lacus­

tres subjacentes às areias brancas de Rio Maior são correlativos dos

de Freiria.

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b. Estudos palinológicos

A análise polínica de series contínuas permite traçar a his­

tória da vegetação, reconstituir os paleoambientes e as transforma­

ções ocorridas atraves dos tempos, possibilitando a restituição do cli

ma e da sua evolução.

Por outro lado têm-se revelado extremamente importantes as

correlações estabelecidas atraves da análise polínica (climatostrati­

grafia) com regiões onde palinostratigrafias contínuas e concordantes

estão bem aferidas por metodos cronostratigráficos independentes. Tais

correlações são particularmente frutuosas nos casos em que escasseiam

ou são inexistentes os elementos de datação tradicionalmente utilizados

tanto no domínio marinho (foraminiferos, nanoplancton) como no dominio

continental (micromamiferos).

Os estudos palinolôgicos referentes à bacia de Rio Maior ini

ciaram-se, de forma sistemática, pela análise polínica de três amostras

de diatomíto colhidas na parte superior do barranco de Abum (DINIZ,

1965), tendo sido publicados posteriormente vários outros resultados

(DINIZ, 1967, 1969; DINIZ e SIVAK, 1979). A memória recentemente elabo

rada (DINIZ, 1984) relata a história dos paleoecossistemas da fachada

ocidental da Península, bem como a sua evoluçãopaleoclimática, for

necendo novos elementos de datação para o Pliocenico português.

Paleoflora. A flora polínica de Rio Maior obtida a partir de

128 amostras provenientes de duas sondagens profundas implantadas na

parte média da bacia (F 16: cota 89,83 m; prof. 142,40 m; F 58: cota

104,10 m; prof. 170 m) compreende 215 tãxones repartidos por 79 famí­

lias e 95 generos; para 42 deles uma aproximação até à espécie (actual)

foi possível.

No seu conjunto esta microflora e dominada porgraos de po­

len de pinus, Cupressaceae, Myrica e Ericaceae. Entre os tâxones que

vivem actualmente na Europa, Quercus e o melhor representado. Os ele­

mentos exóticos como Cyrillaceae-Clethaceae, Symplocos, Engelhardia são

muito frequentes nos niveis inferiores. Do ponto de vista paleoflorís­

tico nota-se a abundância de elementos hoje acantonados na Ãsi~na ~

rica do Norte e na Macaronesia, ao lado de outros que vivem actualmen­

te nas costas europeias do Atlântico e do Mediterrâneo.

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RIO MAIOR - Sondage F 58.

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A

Figura 7: Diagrama pOlínico sintético da sondagem F 58

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o exame dos diagramas palinolôgicos estabelecidos para as son

dagens F 58 e F 16 levaram a propor subdivisões (conjuntos A a I) ba­

seadas nas variações qualitativas e quantitativas observadas simulta­

neamente ao nível dos táxones, nos diagramas detalhados, e ao nível de

grupos de táxones nos diagramas sinteticos.

Sete grupos bioclimãticos foram considerados (Fig. 7):

plantas que exigem um clima quente e húmido (Cyrillaceae-Cletha­

~, Nyssa, Symplocos, Myrica, Taxodiaceae, Enge lhardia , etc.);

- plantas menos termôfi las mas que suportam um certo grau de humid~

de (LLquidambar, Juglans, Quercus, Acer, Alnus, Fraxinus, Salix, etc.);

- as Abietaceae que traduzem em parte acarreios relativamente afas­

tados;

- os gêneros que vwem hoje em climas mediterrânicos (Olea, Phillyrea,

Cistus, Myrtus, Rhamnaceae, Quercus do tipo ilex-coccifera);

- as Cupressaceae, cuja determinação para alem da família e delica­

da e que compreendem táxones de ecologia bastante variável;

- plantas herbáceas (outras Cistaceae, Rume x , Graminae, Compositae,

Ephedra, Amaranthaceae-Quenopodiaceae, Cyperaceae, Umbelliferae, etc.);

- o grupo das Ericaceae.

A vegetação e o clima. A riqueza desta micro e macroflora su

gere a existência de agrupamentos vegetais bastante diversificados:

- um grupo palustre, por vezes denso (conjunto B e D, fig. 7), que

compreende,alem das herbáceas, arbustos e arvores como Cyrillaceae-C~

thraceae, Myrica, Symplocos, Nyssa, Taxodium;

- mais afastadas do meio de deposição existiam formações arbóreas

complexas com Magnolia, Castanea-Castanopsis, Palmae, Quercus p.p., En­

gelhardia Sapotaceae, Taxodiaceae p.p., Hamamelidaceae, Cathaya, Celas­

traceae, e árvores de folhagem caduca como Carya, ~, Juglans, Quer­

~ p.p., Liquidambar; Populus, Salix, Alnus e provavelmente Glyptos­

trobus ocupavam biotopos mais húmidos como as ripisilvas; arbustos

(Ericaceae) e herbáceas integravam-se nestes agrupamentos; estas flo­

restas cobriam extensas areas;

- em altitude as formações caducifolias passariam progressivamente a

associações em que as Gimnospermicas se tornavam predominantes (Pinus

p.p., Tsuga, Sciadopítys, Sequoia, Cupressaceae, Abies, Picea, Cedrus,

Keteeleria e algumas Betulas);

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- mais ou menos integrados nas formações florestais e em função d0

substrato e da exposição estariam os agrupamentos mais esclerofilos ln

cluindo os representantes dos taxones que vivem hoje na região medite~

rânica (Cistus, Myrtus, Olea, Phillyrea, Quercus do tipo ilex-coccife­

ra) .

A evolução climática para o período estudado mostra certo n~

mero de variações de amplitude bastante modesta (Fig. 8). o que é devl

do. provavelmente, a latitude e à influência estabilizadora do oceano

Atlântico.

Dois patamares são nítidos relativamente a variaçao da temp~

ratura e da humidade: um no limite dos conjuntos D e F e outro entre F

e G. O primeiro, bem evidente no plano qualitativo (expansão máxima de

tãxones termôfilos na fase D), traduz um abaixamento de temperatura. 0

segundo, mais significativo no plano quantitativo (desaparecimento ou

rarefação da maioria dos táxones mais termôfi10s; redução das anteriO­

res formações florestais em proveito de agrupamentos formados por Lu­

pressaceas), indica sobretudo uma diminuição de humidade.

Evocando as condições climáticas em que vive a laurisilva

chinesa actual e os parâmetros climáticos existentes na Ilha da Madel

ra a altitude média (DINIZ, 1984),somos levados a pensar que um (lima

quente e húmido sem grandes contrastes sazonais e com abundantes prec~

pitações teria evoluído no sentido de um clima ainda quente mas com

uma~uviometria repartida de maneira diversa isto ê, com a redução das

precipitações estivais.

Finalmente os dois espectros polínicos que constituem o Lon­

junto I (rarefação de todos os pó1enes de plantas arbóreas com excep­

ção de A1nus; presença discreta de táxones mediterrânicos; desenvolvi

mento de plantas herbáceas) teriam correspondido a condiçóes nitidame~

te mais frescas e mais húmidas. Assim entre a fase H e a fase I teria

ocorrido uma flutuação do clima caracterizada por um forte abaixamento

de temperatura acompanhado de aumento de humidade.

Idade dos depósitos de Rio Maior. Do exposto anteriormente

(paleogeografia e cronostratigrafia) concluiu-se que as formações mio­

cénicas subjacentes às areias brancas de Rio Maior seriam de idade Va­

lesiano superior (base).

Por outro lado (DINIZ, 1984): 1) a análise polínica do con-

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EVOLUTIO N DU C L I M A T El'I/SE.'tB LES TEMPERATURE PRECIPITATIONS

ENSE.\1BlES

POLLlNIQUES moyenne annuelle total annuel POLLINIQUES

1,5 2,0·C 1°1°0 20,00mm

I I I I 'I 'I • •

H H

~

I G G I I I

F ) F I I

I E E

I

I I I O O

C C

B ) B I

t A ~ A

Figura 8: Evolução climática deduzida da análise polrnica das sondagens F 58 e F 16.

Os valores da temperatura e das precipitações foram calculados em função dos parâmetros climáticos sob os quais vivem actual­mente certos táxones, nomeadamente os que pertencem à laurisil va chinesa.

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glomerado de Vale Fa.rpado (Carnide) de idade Pliocénico superior (NN 16

a NN 18 - P1acenciano) leva a correlacioná-lo com a parte superior do

conjunto F da sondagem F 58; 2) o nível lignitoso de Pampilhosa do Bo­

tao (DINIZ, 1972) mostra um espectro polinico comparável, igualmente,

aos do conjunto F; 3) as análises polínicas das 3 amostras do barranco

de Abum (DINIZ, 1965) são favoraveis à sua correlação com o conjunto G

da mesma sondagem.

Uma primeira consequência da atribuição dos espectros de Va­

le Farpado e de Pampilhosa do Botão ao topo do conjunto F de Rio Maior

seria a correlação dos conjuntos F e G com uma fase transgressiva do

Pliocénico. Esta hipõtese é apoiada por índices de influências mar1-

nhas (quistos de Dinoflagelados) na fase G da sondagem F 16 e pela pr~

sença de conchas marinhas (Chlamys excisa) numa sondagem próxima (ACO

3), a cota comparável.

Uma segunda consequência seria a atribuição de idade Pliocé

n1CO superior (Placenciano) ao conjunto F, em virtude da datação dos

nanofõsseis de Pombal.

Quanto ã base dos depositos de Rio Maior, M. ANTUNES e J.

PAIS (1983) sugerem que os calcários de Freiria se teriam formado em

condições climáticas relativamente quentes mas secas. Tendo em linha . -. -. ( 16/ 18) . 4'. de conta os dados 1sotOp1COS ocean1COS ° ° e m1crofaun1st1cos,

que forneceram curvas climáticas contínuas (VERGNAUD-GRAZZINI, 1975 e

1979; MULLER, 1983), o Miocénico superior é considerado, de um modo g~

ral, menos húmido e um pouco menos quente que o Miocénico médio e o

Pliocénico inferior. Estes factos levam-nos a iniciar o ciclo climáti­

co pliocénico (para os depositos em questão) a partir da fase "B" das

sondagens F 58 e F 16 (Fig. 5).

Existem actualmente na Europa duas curvas climaticas conti­

nuas estabelecidas a partir da análise polínica (Países Baixos: ZAGWIJN,

1960, 1963 e 1974; Mediterrâneo norte ocidental: SUC, 1980,

1984) •

1982 e

A sua comparação levou ao estabelecimento de correlações cro

nostratigráficas (climatostratigrafia: SUC e ZAGWIJN, 1983; ZAGWIJN e

SUC, 1984) que foram aferidas por outros dados crono- ou biostratigráfi.

cos (paleomagnetismo: VAN MONTFRANS, 1971; RYAN, 1973; foraminíferos

planctõnicos e nanoflora: CITA e RYAN, 1973; CITA, 1975; CRAVATE e SU4

1981; SUC e CRAVATE, 1982; SPAAK, 1983; RAFFI e RIO, 1979; DRIEVER, 1984).

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P A Y S - B A.S PORTUGAL

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(Zagwijn, 1960)

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R I O M A I O R

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Figura 9: Propostas de correlação climato-estratigrãficas entre Portugal e os Países Baixos e Mediterrâneo Norte-ocidental

F 16

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M E D I T E R R A N E E NORD-OCC DENTAL E

(Suc,1984)

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HIOCENE SUP.

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A correspondência entre estas duas palinostratigrafias (Paí-

ses Baixos e Mediterrâneo norte ocidental) baseia-se na semelhança

nas fases glaciares, entre os espectros representativos da tundra-pa~

que no norte da Europa e os espectros indicadores da estepe no sul. An

teriormente a este primeiro período frio (pretigliano) as correlações

baseiam-se na concordância entre as oscilações climáticas, na biostra­

tigrafia de pequenos mamíferos e nos estados evolutivos do genero ~tra­

tiotes.

Das hipóteses formuladas (DINIZ, 1984) sobre o significadc

climatostratigráfico atribuído aos limites D/E, F/G e H/I, referiremos

apenas aquela que perfilhamos.

As modificações (da vegetação e do clima) observadas no tope

do conjunto D (Fig. 9) serão equivalen~ às ocorridas na passagem dc

Brunsumiano ao Reuveriano, na Holanda. A partir das correlações propo~

tas entre o Mediterrâneo norte ocidental e a Europa do norte, podemos

estabelecer a correlação dos conjuntos B a D de Rio Maior com o Pliocé

n~co inferior (Zancleano).

A fase G que traduz como vimos um ligeiro abaixamento da te~

per atura mas especialmente uma diminuição da humidade estaria de acor­

do com a afirmação de condições climáticas mediterrânicas que ocorrenc

Pliocénico superior (SUe, 1984).

Finalmente a oscilação climática (abaixamento da temperatura

e aumento da humidade) admitida para a passagem de H para I represent~

ria o Pretigliano, correspondendo a fase I ao início do Tigliano.

Os estudos palinolõgicos permitiram atribuir aos depósitos

lacustres de Rio Maior (conjuntos B a D) idade Pliocénico inferior e à

parte superior do preenchimento lacustre (conjunto D) idade próxima do

limite Plio-Quaternário.

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ANTUNES,

ANTUNES~

CARVALHO,

CARVALHO,

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2. OS POLJE DE ALV.ADOS E MINDE

por SUZANNE DAVEAU

e LUtSA RODRIGUES

Sa1ram independentemente, em 1949, duas importantes contri

buições ã bibliografia geográfica portuguesa, que se debruçavam ambas

sobre os problemas geomorfológicos do Maciço Calcário Estremenbo (fig.

4) e, nomeadamente, da escarpa e dos polje que o atrave.ssam. Em "Les

surfaces d' erosion du Portugal central et septentrional" PIERRE . BIROT

(p. 96-98), incorpora a interpretação destas formas numa vasta discus-

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são sobre a progressiva e complexa evolução do relevo português, situa

do na intersecção do instavel mundo mediterrâneo e do sensível rebordo

atlântico. ~ no âmbito mais circunscrito do próprio Maciço Calcarioque

A. FERNANDES MARTINS enquadra os problemas dos mesmos acidentes tectó­

nicos CP. 92-100) e carsicos Cp. 178-189); em 1950, retoma, num artigo

do primeiro número do Boletim do Centro de Estudos Geograficos de Co~

bra, a apresentação dos polje de Minde e Alvados, discutindo de passa­

gem as interpretações de P. BIROT. Os problemas levantados são: a ida­

de da deslocação tectónica, a frescura da correspondente escarpa, o p~

pel relativo da posição estrutural e da erosão cârsica na definição dos

poljee o significado do depósito de pequenos calhaus de calcario, ob­

servado em Minde.

Com pequenas diferenças na interpretação, os autores admitem

que os polje se desenvolveram as expensas de uma depressão de ângulode

falha, tendo o acidente jogado no Quaternário. Segundo P. BIROT a fa­

lha de Mínde seria "extremamente recente", tendo precedido de pouco o

"último período glaciar", em razão da perfeita frescura dOa escarpa que

lhe corresponde, enquanto o jogo mais antigo da falha de Alvados expli

caria o recuo e degradação ja sensív~ desta escarpa. Segundo A. FER­

NANDES MARTINS esta diferença de aspecto seria sobretudo devida a modi

ficação lateral das facies, tanto dos calcarios margosos liasicos, que

formam a parte inferior das Costas, como do~próprio calcario bajociano

das cornijas culminantes.

Enquanto o polje de Alvados só conheceria actualmente funcio

namento carsico na extremidade sueste, o de Minde apresenta, em muitos

anos, inundações parciais ou gerais, tendo o lago duração muito varia­

vel, em função das oscilações da pluviosidade. A sua profundidade pode

atingir localmente 8 metros e forte ondulação chega a manifestar;-se

quando os ventos de Oeste enfiam na depressão.

A parte noroeste do polje de Alvados, carsicamente nãofun­

cional na actualidade, conserva uma película de pequenos calhaus calca

rios angulosos, que A. FERNANDES MARTINS considerou testemunho dos an­

tigos mantos de inundação. Na extremidade sueste do,polje de Minde, os

cortes da estrada, observaveis em 1949, mostravam outra formação, de

pequenos calhaus calcarios, bastante rolados, que P. BIROT considerava

provavel equ~valente da dó polje de Alvados, enquanto A. FERNANDES MAR

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TINS dava a descrição e interpretação seguintes, segundo o texto de

1950 (p. 29):

"Cerca de Minde, uma barra cársica, alçada pouco mais de uma

dúzia de metros acima do fundo actual do polje e que delimi"ta uma de­

pressão satélite, tem no tope um depósito de calhauzitos rolados de ca.!.

cário, depósito esse ligeiramente consolidado e com espessura de 3 a 4

metros. O rolamento desses calhauzitos e a facies da formação, que tam

bem aparece esparsa na base da Costa, junto do Lombeiro, levam a admi­

tir que num dos períodos glaciários, com maior probabilidade no decor­

rer do último, um lago se escastoou na depressão a favor da forte plu­

viosidade coeva e porque as galerias subterrâneas não escoavam toda a

água recebida. Como os possíveis cursos de água superficiais contempo­

râneos do depósito não poderiam ter grande percurso, dada a restrita

área do Maciço, obviamente não foram os agentes de tão perfeito rola­

mento, como aliás se contraprova fazendo a comparação com a grosseira

carga sólida dos cursos temporários actuais. Terão aqueles cursos do

Quaternário sido, isso sim, os agentes do transporte, mas o rolamento

foi obra das águas do lago primitivo, como se poderá concluir sem es­

forço vendo quebrar as ondas do lago temporário que, na actualidade,se

instala no polje durante o inverno.

Porem, como se terá extinguido aquele lago quaternário? Com

o decorrer dos tempos a capacidade das galerias hipogeias aumentaria e,

paralelamente, o total das precipitações ia diminuindo ã medida que o

clima se transformava; por outro lado, talvez o Maciço tenha sido soer

guido ligeiramente ou haja descido o nível de base - e estas circuns­

tâncias, quer actuassem ou não simultaneamente, contribuíram para que

se esgotasse o lago quaternário e fosse desmantelada, perdendo-se nos

ponors, grande parte do depósito lacustre.

Para o final desta fase da sua evolução, o polje primitivo S8

meçaria a geminar-se: na extremidade de sudeste, uma pequena bacia se­

cundária ficaria progressivamente isolada da depressão principal: e ne~

ta se afeiçoaria, a pouco e pouco, o fundo do polje moderno, na actua­

lidade cerca de 15 metros abaixo da aplanação anterior."

Resumindo, num semi-graben resultante de movimentação tectó­

nica quaternária, o polje de Minde ter-se-ia progressivamente encasto~

do, talvez já antes, mas sobretudo depois, de uma fase lacustre, favo-

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recida pelo ainda fraco desenvolvimento das condutas subterrâneas e a

forte precipitação de um período "glaciar". A acção mecânica do gelo

teria então fornecido abundantes fragmentos angulosos de calcario,

transportados pelos riachos e arredondados pela forte ondulação da ex

tremidade sudoeste do lago. Posteriormente ã fase lacustre, o fundo do

polje ter-se-ía abaixado ainda cerca de 15 m.

Os problemas deste notave1 sítio merecem ser hoje retomados

com ajuda da documentação entretanto surgida (o mapa topográfico na es

cala de 1: 25.000, em 1968, o levantamento geologico, na escala de

1: 50.000, em 1970 e as fotografias aéreas). As recentes observações de

campo foram favorecidas pela multiplicação dos cortes artificiais, re­

sultantes do desenvolvimento urbano de Mira e de Minde, e permitiram~

rificar o seguinte:

1. Toda a parte noroeste do polje não funcional de Alvados es

ta coberta de gelifractos de calcario, que constituem uma rampa (gla­

eis) de acumulação com cerca de 29 de pendor (figs. 10 e -U,A). A espe~

sura e variavel (máximo observado: 7 m). Os calhaus são heterometricos

(com uma moda de 5 a 7 cm) e predominantemente angulosos, não apresentam

disposição em leitos definidos mas, s~,imbricação correspondente a e~

coamento a partir da Costa de Alvados. A matriz silto-argilosa, amare-

lo-acastanhada, e geralmente pouco abundante e não inclui em regra

areia quartzosa. Os ge1ifractos são cobertos por película superficial

de remeximento, com matriz abundante, e sofreram abarrancamento poste-

rior.

O contacto com a Costa faz-se ao longo de complexo acidente

tectonico, cujas relações com o deposito variam de um ponto para outro,

sugerindo às vezes rejogo posterior (na saída do vale da Ribeira da Ca

nada, por exemplo). A base da vertente esta modelada em "cones rocho­

sos", com inclinação de cerca de 189, enquanto o pendor médio da ver­

tente atinge cerca de 609. Estas formas lembram as que foram descritas

na vertente ocidental da Serra dos Candeeiros (fig. 4) onde atingem,no

entanto, maior desenvolvimento e conservam, alem de gelifractos compa­

raveis aos do polje, testemunhos de uma evolução quaternaria muito mais

antiga (espessa brecha calcaria muito consolidada, sobreposta a areias

de tipo litoral, S. DAVEAU, 1973).

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Figura 10: Esquema geomorfológico dos polje de Alvados e Minde.

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2. No polje. funcional de Minde os gelifractos estao un~camen

te conservados nos lugares indicados por A. FERNANDES MARTINS, consti­

tuindo como que dois diques transversais ao fundo, no Lombeiro e emMin

de (fig. 10). A espessura observável em Mínde ê de cerca de 25 m, des­

cendo os gelifractos atê ao fundo actual do pólje. Na abertura de po­

ços encontrou-se a pincha atê profundidade ainda maior, o que sugere,

ou que a extremidade SE do polje estava mais escavada pela erosão cár­

sica quando os gelifractos se depositaram, ou que estes sofreram movi­

mentação cársica ou tectónica posterior.

Ao contrário do que acontece nopolje de Alvados os gelifrac

tos do Lombeiro e de Minde estão dispostos em leitos bem definidos, que

não apresentam declive algum no sentido transversal ao polje, mas in­

clinam paralelamente ã Costa, de cerca de 109 para SE no Lombeiro (fig.

11,C) e de 79 a 129 para NW em Minde (fig. 11,E). Nalguns leitos sur­

gem nítidas formas de crioturbação contemporânea da deposição. Os ca­

lhaus são, em maioria, pequenos, com uma ~da de 2 a 3 cm, tendo al­

guns leitos moda inferior a 1 cm. Apresentam, alem disso, certo grau de

rolamento, que cresce sensivelmente, em Minde, com o afastamento da

Costa (fig. 11,E). Os leitos de calhaus intercalam-se, sobretudo na par

te SE deste depósito, numa formação argilo-arenosa avermelhada (fig.l~

D); nítidas marcas de carsificação observam-se, quer na parte superior

do depósito, quer no contacto com os leitos argilo-arenosos. A superfí

cie topográfica actual corta obliquamente os leitos da pincha, o que

implica erosão posterior ã sua deposição e a ausêucia de inclinação des

tes a partir da Costa sugere, como no polje de Alvados, um rejogo do

grande acidente tectónico, ainda que a própria Costa, de imponente j~

ventude e unidade de forma, não conserve marca alguma de deformação tec

tónica tardia.

As observações em curso mostram assim o funcionamento em re­

gime periglaciar das vertentes do Maciço Calcário Estremenho, qualquer

que seja a sua orientação. Não permitiram, atê agora, estabelecer se

se tratou de episÓdio unico ou de fases frias repetidas. A intervenção

da ondulação do lago no roilamento dos calhaus permanece problemática.

Não parece, contrariamente ao que tinha pensado A. FERNANDES MARTINS,

que a erosão cársica do fundo do polje de Minde tivesse progredido mui

to posterio~ente ã deposição da pincha, a qual não ê, pos'sivelmente

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tao recente como tinha pensado. Quando muito, o funcionamento do polje

pode ter sido responsavel pela desaparição parcial dos gelífractos, ~

lhor conservados no polje de Alvados, inactual e de fundo ligeiramente

balançado. A ocorrência de um rejogo posterior do grande acidente tec­

tónico não pode ser considerada demonstrada e vai ser objecto de novas

investigações.

3. O CORREDOR TOMAR-COlMBRA

O conjunto de depressões onde corria a antiga "estrada coim­

brã" constitui o caminho mais curto entre a parte dos vales do Tejo e

Mondego acessível ã navegação - 80 km, em vez dos 165 km que separam

as fozes destes rios.

O corredor acompanha aprox'imadamente o contacto do Maciço ~

tigo com a Orla sedimentar atlântica que'segue, por seu turno, quase

exactamente o traçado de antiga faixa tectónica, de origem pré-her"cín!.

ca mas que mantém movimentação persistente. Ao Norte do Mondego um ali

nhamento estrutural parecido continua-se em direcção ã foz do Douro,~

flectindo ligeiramente para NNW; a sua extremidade meridional, a Norte

de Coimbra, sera estudada durante o terceiro dia da excursão (fig. 2).

Os aspectos deste alinbamentotectônico de orientação meri­

diana variam bastante de um lugar para outro, associando em geral um

feix~ de blocos levantados e abatidos (fig. 12). Na parte meridional,

que pertence ã baciado Tejo, o eixo mais deprimido encontra-se a Les­

te e corresponde ã garganta contorcida.que o baixo Zêzere: imprime nas

rochas variadas do soco, recebendo numerosos afluentes, uns oriundosde

NE, outros, quer da depressão periférica aberta no Tríásico,quer, atra­

vis do Rio Nabão, das próprias colinas jurassicas e cretácicas ociden­

tais. Os calcarios lUÍocénicos lacustres do Ribatejo, que a .. eKcursão

~travessa depois de deixar o Maciço Calcario, prolongam-se até a re­

gião de Tomar. No entanto, o Nabão vai sair da bacia terciaria e abrir

estreita garganta nas rochas do Maciço antigo, para se ir juntar ao zê

zere.

Mais ao Norte, a estrada passa ao vale do Dueça, subafluente

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el les massits a~~!~~t~~O~:r~.paysage dans la région de cODtacl ent.re I'Eslrerna·dura

Crislallin . 1. Socle anchiD. -:- 2. Schistes prima ires. - 3. Quartzites primaires _ 4 Gres 1 .

~lques. - ~. ~Iarnes et grês du Lias inlérieur. - 6. Calcaires dolomiti 'ues Ii~~; ues ria­I. Marnes liaslques. - 8. Calcaires jurassiques. - 9. Gres et cailloutis c;étacéS. - q .-

Figura 12: Amostra da paisagem da região de contacto en­tre a Estremadura e o Maciço antigo, extraído de P. BIROT (1949)

do Mondego, através de indecisa divisória de água, depois do cruzamen­

to rodoviário do Pontão. O vale é, a principio, apertado entre o horst

oriental da Serra da Lousã (Trevim, 1205 m), onde dominam os xistos e

grauvaques do Complexo pré-Ordovicico, e a frente escarpada, correspo~

dente a falha inversa, pela qual os calcários jurássicos da fossa lusi

tana cavalgam o estreito corredor triásico. A jusante, o Dueça, depois

de curta incursao para Leste, na bacia tectónica de Miranda do Corvo -

- Lousã, encaixa-se no sope ocidental do Maciço marginal, estreito

horst liminar do Maciço antigo. Os seus meandros angulosos são domina­

dos por um nível de erosão local, aberto nas rochas triásicas e limita

do a Oeste por uma costeira de calcário liásico (fig.. 13 e 14).

-A pouca distância a montante de Coimbra, o Dueça reune-se ao

Rio Ceira e, a seguir, ao Mondego, no lugar da Portela, que marca a saí

da das duas imponentes gargantas pelas quais estes dois rios atraves­

sam o Maciço marginal (fig. 13). A excursão utilizará a estrada que

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...... -S.n.84

Figura 13: Perspectiva cavaleira da regiao situada a Leste de Coimbra, extraída de S. DAVEAU et colo (no prelo)

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Figura 14: Esquema de localização da região situada a Leste de Coimbra

R. Dueça

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acompanha os meandros do Ceira, virando assim a Leste para acabar de

contornar a extremidade ocidental da Cordilheira Central Ibérica.

Vê-se que a drenagem do corredor Tomar-Coimbra nao apresenta

unidade alguma e tem disposição geral centrífuga. O traçado dos rios é

geralmente indiferente ao pormenor da litologia, as bacias de fundo

plano, abertas nas rochas menos resistentes, alternando com gargantas de

ligação. Parece tratar-se de uma fase ainda incipiente da evolução da

rede hidrográfica, marcada por reajustes constantes, em função de uma

estrutura ainda instável. No entanto, outros aspectos da paisagem deno

tam demorada evolução: os topos das colinas conservam restos de anti­

gas aplanações, alguns corredores de erosão não coincidem já com o tra

çado da rede actual, depósitos grosseiros antigos, de fácies rana, sao

ou abatidos entre falhas (Várzea Longa) ou só preservados no topo de

colinas isoladas (Arega, Cabeço Mosqueiro).

Este feixe de corredores deprimidos e húmidos, inseridos en­

tra as terras altas e pobres dos maciços de xisto e calcário, tem con~

tituido uma via natural de vital importância, ao longo dOa qual a unida

de da monarquia portuguesa se tem formado e consolidado. Foi o caminho

para o Sul durante a fase da Reconquista, quando Coimbra era cabeça do

Reino. De entre os lugares fortes então construídos, avulta o caste ll'

de Tomar, fundado em 1160 pela Ordem dos Templários. Quando, mais tar­

de, a Corte itinerante fixou sobretudo as suas estadias no baixo vale

do Tejo (de Lisboa a Santarém/Almeirim) e em ~vora, a estrada coimbrà

passou a ser constantemente percorrida pelos almocreves e mensageiros

da administração real, ate que os itinerários mais ocidentais da mala

posta (1798) e do caminho-de-ferro (1864), bem como a extinção de qua~

quer navegação ao longo do Tejo e do Mondego, a reduziram ao seu actual

papel, muito secundário.

REFERENCIAS

Ver as obras citadas p. 11 e 12.

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II. OS TERRAÇOS DO RIO ALVA

1. O VALE

Ao contrário do Mondego, do Ceira e do Dueça, que atravessam

por gargantas apertadas o bloco levantado do Maciço marginal antes de

atingir a Orla sedimentar ocidental, o Rio Alva, nascido na Serra da

Estrela, mal acaba de descer a escadaria de blocos que forma a extrem~

dade ocidental levantada da montanha (fig. 19), vai seguir constante­

mente a parte mais baixa de compartimentos abatidos. Entra primeiro nu

ma profunda garganta que separa, ao longo de 20 km, a Serra do Açor da

plataforma do Mondego e que corresponde muito provavelmente a estreito

graben, associado a uma faixa de rochas esmagadas. A montante de Coja,

o Alva afasta-se ligeiramente da Serra, ao entrar na bacia sedimentar,

conservada em ângulo de falha, que se prolonga até a região da Lousa

(figs. 13 e 14). O rio atravessa em curta garganta epigénica, a montan

te de Arganil, a extremidade meridional do alinhamento quartzítico de

Sta. Eufémia, isolando assim a Lomba do Canho, sítio de grande intere~

se arqueológico (fig. 15); inflecte a seguir para NW e vai juntar-se

ao Mondego na parte mais baixa da grande plataforma abatida, que a cri~

ta de quartzito de Penedos de Góis-Serra do Buçaco limita a jusante.

Instalado primitivamente na cobertura de sedimentos terciá­

rios e quaternários, o Alva escavou o vale, quase em toda a parte, até

ao substrato xistento (fig. 16). Os meandros fixaram-se então, segundo

um traçado contornado e anguloso, ao longo das fracturas que afectam

aquele. Os interflúvios conservam restos dos sedimentos, constituídos,

na base, por arcoses eocénicas, cobertas por complexa série de depósi­

tos detriticos, às vezes muito grosseiros. Estes são, pelo menos em pa.!:.

te, correlativas do levantamento da Cordilheira Central. Restos de ter

raços dominam a garganta xistenta, mas as aluviões foram muito desman­

teladas por explorações mineiras antigas (figs. 15 e 16, G. ALMEIDA ~

aI., 1980). A lavagem de volumes enormes de aluviões e também, as vezes,

dos depósitos de sopé, tem deixado montões de calhaus rolados e alg~

gumas frentes de exploração que mantiveram praticamente ã verticalidad~

Existem também galerias subterrâneas, que aparecem ao acaso da abertu­

ra de estradas ou da construção de casas.

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Depósitos de cobertura do planalto e aluviois dos terraços do Rio Alva:

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Figura 15: Exploração mineira dos depósitos de cobertura e aluviões dos terraços do Rio Alva, na região de Coja-Arganil. Extraido de S. DAVEAU et colo (no prelo)

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~ cailloux en surface / tront d'exploitation

Figura 16: Perfil dos terraços da região de Coja. Extraído de S. DAVEAU et cal. (no prelo)

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REFERENCIAS

ALMEIDA~ Graça~ et aZo (ver p. 52).

DAVEAU~ Suzanne (1976) ~ "Le bassin de LoU8ã. EvoZution sédimentoZogi­que~ tectonique et morrphoZogique"~ Memórias e NotÍ-cias~ Coi'!!. ~a~ 82~ p. 95-115.

DAVEAU~ Suzanne et co Z. eno pre Zo) ~ Les bas-sins de Lousã e t dr Argani Lo Rechepches géomorphoZogiquesets~tmentotogiques sur Ze Massif ancien et. sa"'Oouverturoe'.àZ'Est de Coim~a~ Mémópias

. C.KG., Lisboa~ 8~ 2 voZumes.

2. PANORAMA ARQUEOLÕGICO DO CURSOMmJIO DO ALVA (REGIÃo DE ARGANIL)

por JOÃO DR CASTRO NUNES (1)

JOÃO CARLOS DR SENNA-MARTINEZ(2)

AMÍLCAR MANUEL RIBEIRO GUERRA (3)

CARLOS JORGR SOARES F ABIÃo (3)

O curso médio do Rio Alva corre encaixado entre vertentes

que, frequentemente, se elevam a mais de 100 m sobre o leito do rio~Aí,

só as baixas ribeirinhas de pouca largura oferecem terrenos férteis e

agricultáveis, estas alargam-se na confluência do rio com as ribeiras

de Arganil e da Ferrugem oU'do Fontão, respectivamente a jusante e a

montante do cabeço onde se situa q Campo Arqueológico da Lomba do Ca­

nho. As encostas e cabeços que circundam o rio são, fundamentalmente,

ocupadas por pinhal que substitui a antiga mata de que restam poucas

manchas fortemente degradadas. O subsolo ê constituído pelo complexo

(1) Professor Associado da Faculdade de Letras de Lisboa e Director do respectivo In'stituto de Arqueologia.

(2) Assistente do Departamento de História da Faculdade de Letras de de Lisboa e Investigador da Unidade de Arqueologia do Centro de Histó­ria da Universidade de Lisboa.

(3) Assistentes Estagiários da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova.de Lisboa.

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xisto-grauvãquico das Beiras, que aflora frequentemente, nalguns lo­

cais escassamente coberto por um palmo de terra argilosa.

Do ponto de vista arqueológico os principais monumentos e si

tios articulam-se em torno do complexo do Campo Arqueológico da Lomba

do Canho, freguesia das Secarias, Concelho de Arganil, e agrupam-se em

duas epocas cronológica e culturalmente distintas: o Calcolitico e o

Bronze Antigo/Médio por um lado, a ocupação romana por outro (fig. 17).

Do primeiro momento referido, o local de ma10r importância é,

sem dúvida, a necrópole dos Moinhos de Vento cujo Dólmen n9 1 consti

tui monumento impar em toda a região, pelo particular da sua constru­

ção, utilização e riqueza de espólio (CASTRO NUNES, 1974). Correspon­

dendo ao final do Calco lítico o monumento liga-se, através dos artefac

tos recuperados, aos inicios da mineração na zona representados pelas

antigas explorações da Eira de Mouros (Liboreiro, Góis) e terraços mi­

nerados do Alva, mormente os de Sarzedo e Pousadouros (ALMEIDA, COE­

LHO, DAVEAU, 1980; CASTRO NUNES, 1958; SENNA~TINEZ, 1983; SENNA-~~

TINEZ, LUZ, 1983).

Escavações ainda em curso em dois outros monumentos funerã­

r10S da necrópole em causa, rec~ntemente descobertos, apontam para uma

continuidad~ de utilização do local que entraria pela Idade do Bronze

a permitir ligações em toda a região dos concelhos de Seia, Gouveia,~~

las e Mangualde onde detectâmos recentemente uma presença importante de

tumulações dessa epoca em monumentos megalíticos (SENNA-MARTINEZ, 1984~

1984b; SENNA~TINEZ, GARCIA, ROSA, 1984), englobando também monurnen

tos do concelho de Oliveira do Hospital onde, igualmente, surgiram os

únicos materiais campaniformes até hoje encontrados na bacia do Médio

Mondego (SENNA-MARTINEZ, 1982).

Excluindo os prolongamentos meridionais da "cultura cas treja"

do Noroeste (Castro de Romariz, Castro de Fiães, Castro da Cárcoda,

etc.), ainda pouco conhecidos, os povoados do Baixo Mondego (Sta.Olaia

e Tavarede) , fortemente conectados com o "mundo mediterrânico" e os es

tratos pré-romanos de Conimbriga, insuficientemente caracterizados, na

da se conhece sobre a Idade do Ferro na zona de Entre-Douro e Tejo.

No sentido de começar a preencher esta lacuna a nossa inves­

tigação orienta-se, de momento, para o Castro de S. Romão (Seia), po­

voado que poderã ser significativo para o conhecimento da continuidade

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1- Ac.ampame.nto Romano da. Lomba. do Ca.nho; 2- NeCJtõpo!e do~ Mo-ú1.ho.6 de Ventoi

3- FJLen;tu de exp.f.oJta.ç.ã.o rrúne.úz.a. do Sevr..zedo; 4- E'i.ent:e..6 de exp.e..o/'.,a.ç.ã.o m.ú1.~

Jta. do~ POLL.6a.dOM.6; 5- Mina..6 da. EVt..a. de MouJW.6; 6- G,'U1V~ RLLpu.t-'i.e.6 da. Pe­

dJta. 1U6ca.da.; 7- GJta.vuJu1.6 RuputJt.u da. PedJta. LetJt.e-Vt.a.; 8 - Ca.pela. de· S. PeciJLO;

9- Lomba. da. Nogue..ina.

Figura 17: Localização das principais estações e achados arqueológicos d a região de Arganil

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51

da presença humana no vale do Alva, tendo já fornecido indicações de

superfície que apontam para uma ocupação que poderá ir do Bronze Final

à Romanização.

Não é portanto tarefa fácil estabelecer os moldes em que se

processou o povoamento da região no período atrás referido. Apenas as

ligações com as culturas mediterrânicas dos povoados do Baixo Mondego

podem indicar uma continuidade da importância na exploração dos recur­

sos mineiros para a economia das populações locais. No mesmo sentido

mas indicando uma ligação preferencial de sentido mais atlântico, con­

correm os bronzes do depósito de Arganil (CASTRO NUNES, 1957a).

O Acampamento Militar Romano da Lomba do Canho, freguesia das

Secarias, Arganil, datável dos meados do século I a.C., representa ce~

tamente um dos mais antigos vestígios da presença romana nesta zona.

Implantado sobre um cabeço de cota baixa (214 m no marco SH40) , encai­

xado num meandro do Alva, com excelente localização estratégica e con­

dições naturais de defesa (o mesmo onde 800 m a Sul se situa a necróp~

le dos Moinhos de Vento), corresponde a uma epoca em que o processo de

romanização ainda esboça as suas primeiras acções consequentes, sendo

provável que a riqueza mineira da região constituisse o principalatr~

tivo (CASTRO NUNES, 1958b, 1958c, 1959, 1981; FABIÃO, GUERRA, no prel~

FARIA, 1981; GUERRA, FABIÃO, no prelo e GUERRA, SENNA-MARTINEZ, 1984).

A exploração sistemática destas riquezas, com abertura de n~

merosas galerias, só se deve ter desenvolvido a partir do século I doC.,

como o atestam os achados da Escádia (GÓis, cf. CARVALHO, VEIGA FERREI­

RA, 1954; CASTRO NUNES, 1957b; TEIXEIRA, 1942 e VEIGA FERREIRA, 1952)

e da própria vila de Arganil.

Conhecem-se também galerias no sope do cabeço onde se situa

o Acampamento, conquanto não seja, de momento, possível estabelecer uma

relação entre ambos, e na baixa junto à Capela de S. Pedro, perto da

confluência da ribeira de Folques com o Alva. Neste ultimo caso, o apa

recimento de materiais romanos à superfície faz crer que a exploração

data desta época.

Alguns vestígios dispersos, achados na Lomba da Nogueira (em

depósito no Museu Regional de Arqueologia de Arganil), na zona da já

referida Capela de S. Pedro, uma arrecada de ouro surgida em Góis (CAS

TRO NUNES, 1956), um tesouro numismático do Baixo Império em ~uronho

(Tábua), etc., documentam a continuidade da ocupação romana na região.

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AIMEJlJA,

CARVALHO,

S2

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SEGUNDO DIA

A SERRA DA ESTRELA

1. A MAIS ALTA MONTANHA DE PORTUGAL

Com uma altitude que não chega aos 2000 m, a Serra da Estre­

la (1993 m) apresenta-se bastante isolada no contexto nacional. As ter

ras de altitude superior a 1200 m ocupam só 451 km2 , ou seja 0,5% da su

perfície de Portugal, dos quais cerca de metade (224 km2) pertencem a

Serra da Estrela (P. CHOFFAT, 1907). Com efeito as mais altas serras do

extremo Norte do país ultrapassam de pouco 1500 m.

O segmento português da Cordilheira Central e constituidopor

três blocos balançados (fig. 2), que se sucedem de SW para NE: a Serra da

Lousã (1205 m), que inclina para SSW em direcção ao Zêzere; a Serra·do

Açor (1418 m), inclinada para Oeste e fendida ao meio pelo vale do Rio

Ceira - encontrando-se, alem disso desdobrada, ao Sul do Zêzere, numa

serie de outros blocos montanhosos de disposição análoga, que atingem a

altitude máxima de 1084 m; quanto ã Serra da Estrela, inclina-se suav~

mente para NE e liga-se, na região da Guarda, ã extremidade ocidental

da Meseta Norte, por um degrau de uma centena de metros, (fig. 18). A

NW.e SE ela domina alterosamente as depressões aplanadas da plataforma

do Mondego e da Cova da Beira, a SW o "mar encapelado" das lombas de

xisto da Serra do Açor. Com efeito, enquanto esta e a Serra da Lousã

são montanhas xistentas, profundamente dissecadas, onde vales estrei­

tos e lombas convexas alternam monotonament~ a Serra da Estrela, consti

tuída sobretudo de granito, ostenta largas superfícies culminantes, de

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Coupes longltudinale et transversale de la Serra da Estrela

8:Z3 2

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1-Granite grossier; 2 - granlte fln; 3 - migmatltes; 4: - schistes méta­morphlques et cornéennes; li - schlstes; 6 - dépOts superficiels. La coupe A est complétée par quelques proflLs projetés: 1- vallée de Lorlga; 2 - croupe de Fragão da Igreja; 3 - plateau de Torre; 4: -llgne

de partage des eaux entre les basslns du Zêzere et du Mondego; li - éperon de Guarda.

Figura 18: Perfil longitudinal e transversal da Serra da Estrela. Extra!do de S. DAVEAU (1971)

.. ~ 3

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56

formas bem conservada~ e ainda atapetadas por espessas areias,result~

tes da alteração do granito.

No topo da serra, distinguemrse duas gerações de formas apl~

nadas embutidas, sendo a mais moderna desenvolvida sobretudo às expen­

sas dos afloramentos de xisto (fig. 19). Estas antigas superfícies de

erosão foram recentemente levantadas e balançadas, o que fez da Serra

da Estrela uma típica montanha de blocos em escadaria (O. RIBEIRO,195~.

De entre densa rede de fracturação tardi-hercínica, são os acidentes de

orientação NNE-SSW que rejogaram ultimamente, criando escarpas tectôni

cas de grande frescura (S. DAVEAU, 1969). Segundo A. RIBEIRO (1984) os

ressaltos que a própria moreia da Nave de S. Antônio apresenta ser~am

devidos ao jogo holocenico do grande desligamento que atravessa a Ser­

ra e que segue, atraves do Nordeste de Portugal, até à região de Pue­

bla de Sanabria. As fontes termais de Unhais da Serra e Caldas de Man­

teigas pontuam o mesmo alinhamento.

A boa conservação de superfícies suavemente onduladas, coms~

los profundos, faz com que a Serra da Estrela seja rica em pastagens de

cervum (Nardus stricta). Contribui também para isto a frescura e humi­

dade do clima estival de altitude. O Quadro I indica os valores nor­

mais da estação meteorológica de Penhas Douradas, a 1386 m; a de Pe­

nhas da Saúde, a 1510 m, regista Verões ainda mais frescos, durante os

quais a temperatura máxima diurna só ultrapassa 25 0 dez vezes em me­

dia. A secura estival ê também bastante atenuada; em 5 anos (1941-45),

Julho registou, em média, 5 dias e 50 mm de precipitação, Agosto 3 dias

e 23 mm.

Os pastos de Verão da Serra tiveram papel importante na cria

ção das ovelhas, não só no quadro nacional - recebendo os rebanhos que

passavam o Inverno no Sul do Alentejo (Campo de Ourique), nos campos do

Baixo Mondego ou, ainda, na Terra Quente do Douro - mas também caste­

lhano -por exemplo, no fim do século XV, o Mosteiro de Sta. Maria de Gua

dalupe tinha o privilégio de mandar 15 000 ovelhas passar o Verão na Se.!:.

ra da Estrela (O. RIBEIRO, 1941, A. T. MARTINHO, 1980). Ê muito prová­

vel que este centro de transhumância já tivesse funcionado muito antes

da constituição da nacionalidade portuguesa. É tema que os arqueólogos

se esforçam hoje para precisar e documentar, através de escavações nos

dolmens e castros que circundam a Serra.

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- Les aplanissements sommitaux de la Serra da Estrela. 1 - Rebord du plateau; 2 - croupes et replats isolés du plateau mais ayant conservé la trace d'un des aplanissements sommitaux; 3 -limite du massif montagneux; 4-surface d'aplanissement culminante; 5-idem, abaissée par faille; 6 - coupole résiduelle de Torre; 7 - surface d'apla­nissement et vallées müres emboitées dans 4; 8 - rebord d'érosion; 9 - escarpement de faille ayant dénivelé des éléments des aplanissements

sommitaux; 10 - escarpement de faille probable.

Figura 19: As aplanações culminantes da Serra da Estrela. Extraido de S. DAVEAU (1969)

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o que não levanta dúvida é que a Serra da Estrela teve, mui­

to cedo, importante papel de referência na organização de uma consciên

cia espacial da nação portuguesa. O nome da região central do pais, a

Beira, parece ter o mesmo sentido original de rebordo, ou sopé, que a

Vera da Si erra de Gredos. Em 15 de Outubro de 1527 é a própria Serra

da Estrela que GIL VICENTE encarrega de apresentar os cumprimentos do

povo português ã Rainha D. Catarina, que acabava de parir em Coimbra.

Uma tradição, pouco a pouco desenvolvida, quer que Viriato, o campeão

da independência nacional "lusitana", face aos Romanos, tenha sido "pa~

tor da Serra da Estrela".

2. O ESTUDO CIENTÍFICO DA SERRA

A fama popular da Serra, o seu papel de simbolo da nacionali

dade, não sao, com certeza, estranhos ao interesse que, cedo, ela des­

pertou entre os c;orografos e outros estudiosos. Em 1881 ainda, a Socie­

dade de Geografia de Lisboa, fundada em 1875, organizou uma verdadeira

''Expedição Scientífica ã Serra da Estrela" que reuniu uma centena de pe~

soas, durante duas semanas, no acampamento instalado a 1850 m de alti­

tude. Seis relatórios e várias publicações deram conta dos resultados

(S. DAVEAU, 1981).

Os progresso-.s que se l.am realizando, entretanto, na compreen­

são do fenómeno glaciário quaternário da Europa setentrional, chamaram

a atençao dos primeiros geólogos portugueses para as marcas então con­

sideradas mais significativas: moreias, blocos erráticos e superficies

estriadas. Por provável analogia topográfica com as grandes planicies

do Norte da Europa, é nas terras baixas (Douro inferior, bacia do Mon­

dego a montante de Coimbra) que eles pensaram, a partir de 1870, tere~

contrado marcas de glaciação quaternária. A autoridade dos directores

dos Serviços Geológicos, CARLOS RIBEIRO e NERY DELGADO fará com que se

aceite, durante muito tempo, a enorme extensão dos glaciares e dos la­

gos gelados que teriam acompanhado estes.

Será só em 1884 que F. de VASCONCELLOS PEREIRA CABRAL irá pr~

curar "Vestígios Glaciários na Serra da Estrela", em 1916 que E. FLEURY

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retomará o mesmo estudo, confirmando ou corrigindo as observações ant~

riores. Ainda que ele aceite as conclusões dos seus colegas portugue­

ses, o geólogo suiço é levado a distinguir duas épocas glaciárias, a

primeira de larga extensao, a de Góis, mas a segunda muito mais restri

ta, a da Serra.

O estudo da genese do relevo da Serra da Estrela e a carto-

grafia sistemática da sua glaciação serão obra de H. LAUTENSACH (1929),

sendo o seu estudo fundamental retomado e aprofundado sucessivamente

por O. RIBEIRO (1949 e 1954) e S. DAVEAU (1969, 1971 e 1973).

Quanto ã cobertura vegetal da Serra, estudada,entre outros,

por LINK e HOFFMANSEGG no fim do século XVII (1805), por A.RIVOLI em

1873 (1881), por J. HENRIQUES em 1881 (1883), o seu conheCÍIDentoactual

foi sintetizado em 1980 por A. R. PINTO DA SILVA e A. N. TELES. Ainda

que o maciço não seja muito rico em plantas endémicas exclusivas (só 7

espécies e sub-espécies se encontram neste caso),ele comporta plantas

numerosas que só aparecem noutras montanhas da Península ou, ainda, em

regiões longínquas da Europa do Norte e do Centro. ci tarnrse , como pla~

tas de maior interesse florístico ou fitogeográfico: "o teixo (Taxus

baccata L.), o zimbro-rasteiro (Juniperus communis L. ssp. ~ Syme) ,

o vidoeiro (Betula pubescens Ehrh.), a macieira-brava (Malussylvestris

Mill.), a tramazeira (Sorbus Aucuparia L. ssp. Aucuparia), o arando

(Vaccinium Myrtillus L.) ea fava-de-água (Menyanthes trifoliata L.).

Todas estas plantas se encontram no espaço português com carácter resi

dual, constituindo provavelmente elementos antigos que nos tempos pos­

-glaciários se refugiaram nas montanhas" CId. p. 15).

Distinguernrse na Serra três andares devegetação:

"1. Andar basal, de acentuada influência mediterrânica, ate

800-900 metros;

2. Andar intermédio, correspondente ao domÍnio climático do

carvalho-negral (Quercus pyrenaica Willd.), de (600) 800 a1600metros;

3. Andar superior, correspondente ao domÍnio do zimbro (Ju­

niperus communis L. ssp. nana Syme), acima dos 1600 metros." (Id. p. 19).

Um dos maiores problemas corresponde ao andar superior (fig.

20), que se encontra actualmente desprovido de arvores: tratar-se-á de

fenómeno natural ou resultante da acção humana? Não ê de admirar que e~

te andar tenha sido alvo de uma das primeiras tentativas de análise p~

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LAGOA DO PEIXÃO CÂNTAROS

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Figura 20: Andares de vegetaçao na Serra da Estrela. Extra1do de A. R. PINTO DA SILVA e A. N. TELES

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61

línica feita em Portugal (C. ROMARIZ, 1950). Assinalou-se entao a pre­

sença de Pinus sylvestris no horizonte mais profundo de uma sondagem

realizada perto da Lagoa Comprida. Mais recentemente, este andar foi ob

jecto da primera publicação de C. R. JANSSEN sobre a evolução holocéni

ca da vegetação portuguesa (C. R. JANSSEN, R. E. WOLDRINGH, 1981).

A ocupação humana permanente parece ter sido sempre periféri

ca. O imponente castro de S. Romão, porta de uma das entradas mais fá­

ceis da Serra, é actualmente objecto de uma primeira campanha de esca­

vações. Só duas aldeias se internam na Serra, em altitudes bastante e­

levadas: Videmonte (950 m), situada no velho caminho de Viseu a Guarda

(o mesmo que levava provavelmente, nos tempos da Lusitania, a Centum

Cellae, ponte de Alcântara e Mérida) e Sabugueiro (1050 m), espécie de

anexo serrano das vilas de Seia e S. Romão, no caminho que leva para as

pastagens de Verão.

As vilas, acasteladas ou não, sucedem-se num rosário muito

denso no sopé da Serra, beneficiando dos produtos das ovelhas (o lei­

te e a lã) e das águas puras e abundantes para a rega, a movimentação

dos engenhos, mais recentemente a produção de electricidade. Muitas das

aldeias e vilas se industrializaram, primeiro para o tratamento da lã,

mais tarde dos téxteis sintéticos. A partir dos fins do século XIX, os

sanatórios para tuberculosos e, depois, a moda da neve - ainda que a o

corrência desta seja muito incerta - trouxeram à Serra certa vida tu­

rística, mas que se traduz mais por excursões fugazes do que por esta­

dias demoradas (S. DAVEAU 1970, S. DAVEAU, O. RIBEIRO, 1978).

3. A GLACIAÇÃO

Ao contrário das marcas mui tas vezes equívocas do frio nas monta­

nhas do'Noroeste de Portugal, a glaciação da Serra da Estrela deixou teste

munhos claros, que permi tem, quase em toda a parte, fixar com grande ri­

gor a sua extensão e caracterizar as variantes locais da marca do gelo

(H. LAUTENSACH, 1929, S. DAVEAU, 1971, figs. 21 e 22). E. FLEURY já ti

nha notado, em 1916, a distinção entre uma zona superior "de ablação" ou

"dos lagos", onde dominam as formas escavadas e alisadas na própria r~

cha e uma auréola menos elevada "de acumulação", onde abundam os depô-

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sitos morénicos. LAUTENSACH mostrou a complementaridade da área culmi­

nante de fe1d, correspondente ao planalto, e das línguas divergentes,

que o primeiro alimentou. Estas inserem-se ao longo dos antigos vales -

maduros, hoje suspensos acima dos entalhes recentes desenvolvidos nas

faixas esmagadas pelo jogo das grandes linhas de fractura (fig. 19).C~

mo os grandes vales são, em maioria, de traçado paralelo ao rebordo do

planalto, a alimentação dos glaciares que lhes correspondem é essencial

mente lateral. Isto explica que as moreias maiores sublinham a margem

externa da área glaciada.

LAUTENSACH demonstrou que a alimentação destas potentes acu­

mulações não implicou muita erosão mecânica da parte dos glaciares,que

empurrara~ simplesmente, inúmeras bolas graníticas residuais, prepara­

das pela intensa alteração das superfícies culminantes da montanha.

Daí uma técnica de trabalho de campo, que permite delimitar com preci­

sáo e segurança os espaços planálticos que foram, ou não, cobertos de

gelo.

Ê ainda a LAUTENSACH que se deve o reconhecimento da forte

dissimetria Oeste-Leste da glaciação, devido ã sobre-alimentação dos

circos abertos a oriente do planalto pelos ventos dominantes de Oeste.

Assim se explica o excepcional comprimento do glaciar do Zêzere (13 km)

e a baixa altitude que atingiu (600 m segundo LAUTENSACH, 680 m segun­

do S. DAVEAU). A cartografia de pormenor (S. DAVEAU, 1971) permite, a­

lém disso, apontar outra dissimetria, entre o rebordo norte da monta­

nha, onde a conservação de múltiplos arcos morenicos paralelos sugere

condições de fusão muito progressiva (Covão do Urso e Covão Grande) e

a fachada sul, onde episódios de fusão acelerada terão provocado a ac~

mulação de vastos terraços pró-glaciares grosseiros (vales de Alvoco,

Estrela e A1forfa e, em parte, vale do Zêzere). Este segundo contraste

sugere a existência de forte insolação estival ã latitude da Serra da

Estrela. E interessante notar que nada de semelhante se manifesta nas

montanhas glaciadas do Noroeste de Portugal, o que demonstra a existê~

cia de forte diferença climática estival entre as duas latitudes, em

boa conformidade, aliás, com os resultados dos estudos das temperatu­

ras do Atlântico.

A espessura atingida pelo gelo nos vales pode ser apreciada

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com bastante rigor graças aos terraços de obturação lateral (1), de ali­

mentação geralmente periglaciar, conservados nos barrancos afluentes,

que foram bloqueados a jusante pelo gelo que enchia os vales princi­

pais (fig. 22).

O glaciar do Zêzere e, de longe, o organismo mais importante

e complexo que o feld tenha alimentado. Bastante espesso a montante

(cerca de 300 m), acumulou na sua margem direita potentes arcos moreni

cos, que limitam ao Norte a Nave de St9 António e penetram um pouco no

alto vale da Ribeira de Beijames, no sítio de Lagoa Seca. É num dos e­

normes blocos desta moreia que H. SCHROEDER~LANZ(198l) observou um lí­

quen Rhizocarpon geographicum, ainda vivo, de 24-25 cm de diametro, o

que permite atribuir-lhe idade de cerca de 7700-8000 anos e outro, de

centro esvaziado, com 30-32 cm de diametro, que teria um mÍnimo de

10 000 anos.

Mais a jusante, os blocos das moreias laterais deslizaram e

cobriram as íngremes vertentes do vale de fractura, mas os terraços de

obturação lateral conservados nos va1eiros afluentes permitem apreciar

a espessura decrescente e a rápida descida altitudinal da lingua de g~

10. Por cima das casas das Caldas uma pequena acumulação lateral muito

bem conservada se mantêm a 900 m, enquanto nas proximidades da vila,as

acumulações são já muito mais baixas e de formas menos nítidas. A base

da grande vertente escarpada que domina a ocidente a povoação é cober­

ta por espesso co1uvião, muito grosseiro, que pode ser, ou não, contem

porâneo da extensão máxima do gelo. O fundo do vale está preenchido por

potentes acumulações pró-glaciares, nas quais o Zêzere abre a custo o

actual leito. H. LAUTENSACH (1929) e S. DAVEAU (1971) aceitaram que o

glaciar acabava aproximadamente no lugar do depósito de Vargem do Cras

to, considerado moreia por VASCONCELLOS DE PEREIRA CABRAL (1984); tra­

ta-se na realidade da associação de um depósito de vertente e de um ter

raço pró-glaciar. É possível que o glaciar tenha terminado um pouco

mais a montante mas não ultrapassou com certeza este lugar.

(1) Designados como "terrasses de kame" no artigo de 1971.

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--- .... t-~ .... 4r--"I~

.......... _~fp- .... '

Figura 21: A glaciação da Serra da Estrela, segundo H. LAUTENSACH (1929)

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Glaciation de la Serra da Estrela.

............ 1 ~2 ~ 3 00' .- 4 .~~~:::~~: 5

..,_-6 __ 7

<4 8 \:.~~:S~· 9" tJ 10

1 -escarpements dans la zone englacH;

2 -Iac; 3 -Iac remblayé; 4 - are morainiqu.;

5 - couverture morai nique ; 6 - limM du glacier; 7 - émissaire ; 8 - terrasse

de kame; 9 - épandage proglaci~;

10 - ravin et cône de déjection o

Equidistance des courbes: 5Om.

o 3 km

Figura 22: A glaciação da Serra da Estrela, segundo S. DAVEAU (1971)

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4. HISTÕRIA DA VEGETAÇÃO

por C. R. JANSSEN

Os estudos em curso na Serra da Estrela fazem parte de um

projecto de investigação, a longo prazo, do Laboratory of Palaeobotany

and'Palynology (Utrecht, Países Baixos). Procura-se reconstituir a his

tQria da vegetação dos andares serranos - montanhês e (sub)alpino - de

uma serie de montanhas hercínicas, dispostas ao longo de um gradiente

fitogeográfico e climático: os Vosges, o Forez no Maciço Central fran­

cês, .os Montes Cantábricos e as serras de Portugal.

Atraves da análise da vegetação actual e dos pólens recolhi

dos nas sondagens realizadas em lagos, pântanos e solos, estabelecem­

-se as associações de plantas presentes e passadas dos vários andares

destas montanhas, em função do habitat local, do clima, dos solos e de

outros parâmetros.

Em termos gerais a vegetaçao do andar montanhês e caracteri

zada, nos Vosges e no Forez, por dois elementos dominantes, Abies alba

(abeto) e Fagus sylvatica (faia). Nos Montes Cantábricos apenas existe

a faia e, na Serra da Estrela, nem o abeto nem a faia fazem parte da

vegetação natural.

No contexto da Península Ibérica a posição desta última ser

ra é especialmente interessante por corresponder ao ponto de encontro

de três áreas climáticas: o Interior continental, o Noroeste atlântico

e o Sul mediterrâneo.

Presentemente a paisagem vegetal das partes culminantes da

Serra da Estrela corresponde a vastas extensões desprovidas de árvores.

Em altitudes menores a árvore mais frequente é Pinus pinaster (pinhei­

ro bravo); trata-se de uma espécie que foi introduzida há alguns sécu­

los. Não existe nenhum limite superior da floresta ou das árvores (flo­

rest line ou tree line). A especie arbórea que parece ter constituído

outrora o limite é Quercus pyrenaica (carvalho negral). Ainda presente

na Serra, esta árvore é hoje, no entanto, bastante rara no andar mon­

tanhês.

A finalidade do projecto é reconstituir a história da vege­

tação da Serra da Estrela nas diferentes altitudes. Foram realizadas

sondagens em turfeiras e sedimentos lacustres para submeter as colunas

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recolhidas ã análise pa1inologica (fig. 23). Contam-se os grãos de po-

1en e esporos presentes nos vários níveis da coluna. A quantidade en­

contrada será inserida, em percentagem, no chamado diagrama polínico,

para indicar a proporção dos vários tipos de pólens existentes em cada

nível. Até hoje só se terminaram as análises polínicas referentes a

dois dos sítios (5 e 6 da figura 23).

A figura 24 é o diagrama polínico esquematico da sondagem

realizada num pequeno lago, situado imediatamente ao Norte da Lagoa

Comprida, a 1600 m de altitude. Vários autores pensam que esta corres­

ponde ao limite natural das árvores na Serra da Estrela. Se for o caso,

qualquer modificação do limite deve reflectir-se imediatamente nos dia

gramas po1ínicos das sondagens situadas a esta altitude.

O diagrama esquemático (fig. 24) mostra, na Zona polínica ~

ferior, anterior a 9000 BP, muito pólen de pinheiro (de tipo Pinus syl­

vestris ou pinheiro silvestre) e também pólen de plantas estépicas.Ce~

ca de 9000 BP a paisagem muda: o numero de pólens de pinheiro e plan­

tas não arbóreas diminui, ao passo que os de carvalho (Quercus) e, mais

tarde, de vidoeiro (Betula) se tornam dominantes no conjunto polínico.

Os pólens de tipo não arbóreo são muito pouco numerosos, o que sugere

que o lugar estudado se encontrava dentro da floresta. A comparação com

a proporção de pólens de vidoeiro existentes nos diagramas polínicos

realizados a várias altitudes no Noroeste de Espanha leva ã conclusão

que o vidoeiro devia estar presente no limite superior das árvores e

que pode, ate, ter formado um andar de vegetação acima da floresta de

carval1Ds do andar montanhês.

O diagrama mostra também que a história da vegetação, duran

te o Holocénico superior, corresponde a uma desflorestação crescente

da paisagem. Na altura da Zona 5 as percentagens de pólens de urzes

(Ericaceae) vão aumentando até que se nota uma diminuição da percenta­

gem dos carvalhos e, um pouco mais tarde (4300 BP), dos vidoeiros. O

provável andar dos vidoeiros parece ter sido então fortemente afectado.

Na altura do declínio dos vidoeiros o diagrama polinico mo~

tra um aumento da percentagem dos pólens de carvalhas. Esta observação

podia conduzir a falsa interpretação. Na realidade, vão desaparecendo

plantas próximas, providas de abundante produção e boa dispersão dos

pólens, como os vidoeiros e carvalhos, e vão sendo substituídas por

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Figura 23: Sondagens realizadas em turfeiras e sed~entos lacustres na Serra da Estrela

plantas que apresentam fraca capacidade de dispersão dos pólens, como

as Ericaceae. Daí resulta que a quantidade de pólen depositada por uni.

dade de tempo é muito reduzida. Nestas condições os pólens de carvalho,

embora provenientes de grande distância, tornam-se os tipos polínicos

dominantes. Com excepção da regeneração temporaria dos vidoeiros duran

te a Fase cultural 3, os conjuntos polínicos mostram que, a partir des

ta .época, o andar montanhês se manteve desarborizado.

Como interpretar tão importante modificação da cobertura ve

getal? Tratando-se do Holocenico superior, pode-se e.scolher entre a ac

ção do clima e a do Homem. Pensamos que a causa principal da desflore~

tação é o pastoreio, porque cada fase cultural se acompanha de um (le­

ve) aumento da proporção dos pólens de oliveira COlea). No caso de es-

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-l ~ LAGOA COMPRIDA 2 ~Vl 9 Vl ::> UI o UI

REGIONAL POLLEN TYPES

t- Vl J: Z -l« t- o Summary pollendiagram ::>J: :::J N % AP~ 20 40 60 80

othpr NAP

U~~0t~~~~~~~ 4-4

5

4

~ Cyperaceae peot _ Chorcool

ePinus oBetula

/Quercus

40 20~NAP% ~ Gyttja

850!90 BP

-3280! 70 BP

-4340:!:90 BP

i C14 dotes

"II!11 ~ 2 4 6%~

10 20 30%-..+

Figura 24: Diagrama pOlinico esquemático da sondagem Lagoa Comprida 2

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ta interpretaçao ser ~orrecta, significaria uma data bastante precoce

(2000 BC) para um impacto tão acentuado io pastoreio sobre a vegeta­

ção do andar montanhês. Esperamos esclarecer melhor este problema qu~

do se dispuser de novas contagens de pólens, referentes a outras sonda

gens.

Na parte superior do diagrama polÍnico esquemático as perce~

tagens dos pólens de oliveira (Olea) aumentam de maneira enorme. A da­

ta (850 BP) indica a Idade Média, época habitual dos grandes arrotea­

mentos. Depois, a proporção dos pólens de pinheIro aumenta, como resul

tado da plantação desta árvore.

Para completar a imagem da evoluçao da vegetaçao na Serra da

Estrela, novas análises polínicas vào ser efectuadas, sobre outras son

dagens. O estudo pode ser alargado de duas maneLras: ou procurar as di

ferenças na evolução da cobertura vegetal nas diferentes altitudes, ou

estudar a evolução anterior a 9000 BP. Os sítlos propicios a futuras

sondagens aparecem indicados na figura 23. A Serra da Estrela é, pote~

cialmente, favorável ao estudo da cobertura vegetal durante o último

período glaciar porque apresenta muitos aspectos geomorfológicos típI­

cos que podem ser, ao mesmo tempo, datados pela análise polínica e en­

quadrados no paleo-ambiente que presidiu a sua elaboração.

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TERCEIRO DIA

A REGIÃO DO BAIXO MONDEGO

Depois de ter saído da Serra da Estrela e contornado a sua

extremidade norte, o Mondego inflecte para Sudoeste e acompanha, duran

te cerca de 80 km, a inclinação da plataforma abatida, situada ao NW

da Cordilheira Central (fig. 13). Recebe então, num curto espaço, toda

uma série de afluentes importantes, o Dão, o Cris, a Ribeira de Mortá­

gua e o Alv~epenetra numa sucessão de espectaculares gargantas que,

em cerca de 20 km, lhe permitem franquear o compartimento levantado do

Maciço marginal e desembocar na Orla sedimentar atlântica.

O Maciço marginal é um horst complexo de orientação meridia­

na que culmina a 568 m perto da Cruz Alta (Serra do Buçaco) e que liga

os blocos montanhosos das Serras da Lousã (1205 m) e do Caramulo (1075

m). Nas bacias interiores de Mortágua CP. BIROT, 1944; R. FIGUEIREDO

DE CARVALHO, 1961-62, A. DE BRUM FERREIRA, 1978) e de Lousã-Arganil (S.

DAVEAU et co1., no prelo) conservam-se séries sedimentares que vão do

Cretácico ao Quaternario.

Os temas estudados serão as características geomorfologicas

e sedimentologicas do Quaternário da plataforma litoral e do baixo va­

le do Mondego, que será possível observar na margem direita do rio. A1

vos de estudos parcelares já bastante antigos, os complexos problemas

da evolução quaternária desta região nunca foram ainda objecto de in-

terpretaçao de conjunto. Por isso, só o momento actual das

ções em curso pode ser apresentado.

investig~

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I. ORGANIZAÇÃO DA PAISAGEM E EVOLUÇÃO DAS IDEIAS

1. A PLATAFORMA LITORAL

Característicasde conjunto. Toda a fachada ocidental de Por­

tugal é acompanhada por uma faixa aplanada, contínua, mas de largura e

altitude bastante desiguais. Foi arasada pelo mar e conserva abundan­

tes restos de sedimentos marinhos ou litorais (figs. 25 e 26). g loca!

mente limitada, para o interior, por alto rebordo que parece antiga a~

riba, já que conserva no sopé testemunhos de praias levantadas ou areias

dunares. Isto observa-se tanto ao Sul do Mondego (Serra de Sintra, A.

DE BRUM FERREIRA, 1984. Serra de Montejunto, S. DAVEAU, 1973, Serra de

Candeeiros, C. TEIXEIRA, L. BERTHOIS, 1952, S. DAVEAU, 1973), como ao

Norte (litoral minhoto e galego, H. NONN, 1966). Muitas vezes o limite

interior é, no entanto, mal definido, como se viu já na região de Rio

Maior, no primeiro dia da excursão, e como se verá na peninsula de Se­

túbal na excursão do dia 6 de Setembro (M. TERESA MIRA DE AZEVEDO, 1982).

Noutros lugares o rebordo que limita a Leste a plataforma litoral cor­

responde, na realidade, a escarpa de falha posterior à aplanação (por

exemplo, no Norte da Beira, A. DE BRUM FERREIRA, 1978 ou a Norte da

Serra de Sintra, na falha do Sabugo, S. DAVEAU, 1977, A. RAMOS PEREIRA,

1982).

A idade da plataforma é tambem dificil de determinar porque

os sedimentos que ela conserva são, em muitos lugares, perfeitamente

azõicos. Foi considerada pliocénica ou calabriana, mas sem argumentos

muito seguros (C. TEIXEIRA, G. ZBYSZEWSKI, 1954, G. ZBYSZEWSKI, 1958).

A descoberta recente de seixos afeiçoados, em jazidas situadas a alti­

tudes bastante elevadas, não e elemento suficiente para resolver o pr~

blema da idade. ~ provável, como indicava já M. FEIO (1952) a propósi

to do Algarve ocidental, que aplanações sucessivas se intersectem sob

ângulo fraco.

Aspectos regionais. A plataforma que se estende entre o Maci

ço marginal e o mar, ao Norte do Rio Mondego, apresenta aspectos de

grande interesse e complexidade. Na própria vertente da Serra do Buça-

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Figura 25: O litoral pliocén1co em Portugal. Extraído de C. TEIXEIRA e G. ZBYSZEWSKI (1954)

S"

.. '

o

2

o

o

o 20 40 60Km , , ',!

.... 3S0

o 50 km ... ' ................................. '

des. L. Mendes

Extension de l'action de la mer dana le modelé des régions littorales.

1-abrasion dominante; 2 - accumulation dominante; 3 - anclenne fie; 4 - escarpement a.yant fonctionné en falaise; 5 -ligue de rlvage

hypothétique.

I /

Figura 26:

Extensão da acçao do mar no modelado das regiões lito­rais. Extraído de D. DE BRUM FERREIRA ( 1981)

,

(

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76

co como na extremid~e do ramo ocidental do sinclinal ordovícico, na

chã da Mata, conservam-se vários testemunhos de sedimentos litorais,de

altitude bastante elevada, entre 170 m e 240 m (fig. 27). Dominam vas­

tas plataformas que conservam, em regra, cobertura de areias e peque­

nos calhaus rolados de quartzo e quartzito as "amêndoas" ou "bichou­

ros", e que se escalonam. geralmente entre 50 m e 150 m, sem que as mais

baixas se encontrem sempre em posição mais ocidental. O Baixo Mondego

atravessa a região no meio de vasta planície aluvial (fig. 30), os fa­

mosos Campos, de grande fertilidade, mas frequentemente devastados pe­

las cheias bruscas do rio (A. FERNANDES MARTINS, 1950). Os Campos sao

ladeados por terraços aluviais escalonados e estreitam-se, a jusante, a

atravessar a estrutura anticlinal de Buarcos-Verride (P. CHOFFAT, 1927).

Os estudos consagrados ã evolução plio-quaternária da região

tem seguido duas ópticas diferentes, sem que a necessária síntese te­

nha sido ainda realizada. Para uns, o esquema director foi o escalona­

mento clássico dos níveis litorais CC. TEIXEIRA, 1948, resumido em G.

ZBYSZEWSKI, 1958) ou dos terraços da parte vestibular dos vales (O. RI

BEIRO, A. PATRíCIO, 1943, esquema aceite com ligeiras modificações por

A. FERREIRA SOARES, 1966). Para G. SOARES DE CARVALHO (1948, 1949, 195~

1953) as correlações tem, pelo contrário, de fazer-se principalmente

atraves das características sedimento lógicas das formações.

Ele distinguiu três formações sucessivas: na base um fanglo­

merado grosseiro, provavelmente correlativo de um levantamento do com­

part~ento oriental, depois os depósitos bem rolados de uma transgres­

são marinha, talvez plasenciana e, finalmente, novos depósitos de ori­

gem continental e fácies fluviatil, possivelmente vilafranquianos. Es­

tudos recentes, referentes ã região situada imediatamente ao Norte (J.

GRADE, A. CASAL MOURA, 1980-1981), não trazem elementos novos de data­

gem; admitem que a formação sablo-argilosa de Aguada, que atinge uma

espessura máxima de 35 m, foi depositada em ambiente continental ou de

transição e teria idade pliocenica; a formação sobreposta de Gandra, de

fácies torrencial héterometrico, seria quaternária. As sondagens, des­

ti~as a delimitar o nível de argilas escuras de interesse económico,

parecem demonstrar que a formação Aguada está conservada num fosso tec

tónico de orientação meridiana, que corresponde ao vale do Certima e

terá jogado 4urante o Quaternário.

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Este vale conserva aliás, em vários lugares, elementos sus­

ceptíveis de caracterizar e datar certas fases dos paleo-ambientes. Em

Pampilhosa do Botão, um nível rico em pólens penni tiu reconhecer tma antiga

floresta mista de pinheiros que dominava uma baixa húmida. A sua comp~

sição florística ê compatível com idades que vão do Pliocênico supe­

rior ao MimeI inclusivê (F. DINIZ, 1972). Ao SW da Mealhada poços abe...!

tos na planície aluvial do Cêrtima tem atravessado 7 a 9 m de forma-

ções que assentam nas margas liásicas. Encontram-se na base argilas ri

cas em fósseis florísticos que, segundo C. TEIXEIRA (1944), indicamcli

ma parecido com o actual; forneceram também restos de Elephas antiquus.

Por cima, areias com calhaus rolados contém artefactos de tipo acheu­

lense e mousteriense (G. ZBYSZEWSKI, 1977). Outros sedimentos, capazes

de fornecer elementos de caracterização ambiental e datagem, são os t~

fos, conhecidos em Ançã, ao Norte do Mondego e sobretudo perto de Con­

deixa, ao Sul. Os levantamentos de pormenor, que decorrem actualmente

na região do Baixo Mondego, vão com certeza permitir, num futuro próx~

mo, as correlações indispensáveis a uma interpretação de conjunto.

2. O ALTO LITORAL DA cHÃ DA MATA

As vastas plataformas que enquadram, a altitudes próximas de

120-150 m, o vale superior do Cêrtima, são dominadas, a Leste, no re­

bordo do Maciço marginal, por vestígios litorais que ultrapassam 200 m

(fig. 27) e se associam a acumulações muito grosseiras de blocos de

quartzito e gres do Buçaco. O sítio mais elevado e complexo ê o da Chã

da Mata. Já assinalado no levantamento geológico ao 1: 50.000 realiza­

do em 1908 por NERY DELGADO, foi estudado independentemente por G. SOA

RES DE CARVALHO (1948, 1949) e P. BIROT (1949). As figuras 28 e 29 re­

sumem os levantamentos geológicos ao 1: 25.000 recentemente efectuados

sob a direcção de A. FERREIRA SOARES e os estudos geomorfológicos pu­

blicados em S. DAVEAU et coI. (no prelo).

O rebordo do pequeno planalto quartzítico da chã da Mata con

serva, graças a uma potente couraça ferruginosa, umas camadas de areias

e blocos rolados de indiscutível fácies litoral. O local reúne um con-

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N

(TI I ,..,. crista de quartzlto

78

S NW SE Serra do Buçaco

i i torai .'.vado ria :taL .,

Figura 27: Perfil projectado do Maciço marginal e dos restos de litorais elevados na região do Buçaco

junto de traços de grande complexidade e interesse. Parece possivel d ~

tinguir três níveis de erosão escalonados. O mais elevado, que arasa a

os quartzitos a 250 m, ê de idade provavelmente antiga mas indeterminá

vel; o litoral, ligeiramente mais baixo (240 m), parece o ponto de ch~

gada de uma acumulação coluvial muito grosseira, de fácies rana, cons­

tituída por blocos de quartzito e gres do Buçaco que as ondas do mar

teriam rolado antes que sejam cobertos por outros calhaus angulosos,

de menor dimensão,a seguir impregnados por cimento ferruginoso; poste­

rior entalhe de poucas dezenas de metros, de novo acompanhado por um

derrame de blocos grosseiros, marca-se localmente pela estreita rechã

da Ladeira (figso 28 e 29), mas parece corresponder, a escala regiona4

ã aplanação bastante extensa, representada ao Sul da chã da Mata pela

superfície de Monte Redondo. Deu-se a esta aplanação o nome de "Super-

fície da Serra da Vila" e considerou-se como de provável idade Vila-

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m NE 600 Serro do Buçaco

400

200

m NW SE

'OO~Ã I :_~swlN

I","UI l'dn5V~,solt Moinhos do Vale do

Cob.ço doo Mo Ih.do Mlnho1os Ano do S."o do!

Machado Corvoelros Chã do Mato

---

S

O!O----------,-----------c----------r----------,-----------.5r--------1-6r----------.7-k-m--~ m

600W

200 Poço

CM d. Mola S.". doo I Canoê'ros .........

~----~~-- ----------__________ -- - ---- ------ -iiib.(iõãõi.íô 01----------,r----------r---------~----------"

O

Se" a do Buçac:o E

.,---------5 7 km

f{f)tJ g'.5 t ~ d,jpôt gro5sitr TTfT1'1TTTT culro!,. ferrugíneus. _ '0_0' nlveou 5upc.lrieur _. -"- nlVldU C» !;euo do Vilo

Figura 28: Perfil atraves da rana de Cabeço dos Minhotos e do litoral da chã da Mata. Extraído de S. DAVEAU et coI. (no prelo)

4----------- -- - -- -- environ 1 km - -- - -------m W

260

240

2

200

180

Chã da Mata E

Alto do Espinho

F F

ln. I ~"*' 160~~~~~~~~=---------------------------~--------~~~

~Trias

[n] gres et conglomérats autuniens

~ quartzites ordoviciens

~ schistes métamorphiques L..L:::::JJ du Précambrien

)( )( )( cailloutis anguleux de quartzite a cuirasse ferrugineuse ~ aI cailloutis anguleux ~ bl gale"ts arrondis

L':·";:".» sables littoraux

1 ... .tzi:~:I rana à blocs de quartzite

D gres du Buçaco non silicifié

Figura 29: O sítio da chã da Mata. Extraído de S. DAVEAU et eol_ (no nr~lo)

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franquiano superior (S. DAVEAU et coI., no prelo). O conjunto destas

formas domina brutalmente, de mais de uma centena de metros, o· fundo

plano da depressão do Cértima, o que implica importante movimento tec­

tonico posterior. ~ ainda impossível decidir se o litoral da Chã da Ma

ta corresponde ã mesma transgressão que arasou a plataforma litoral o~

mais provavelmente, ã transgressão anterior.

3. O VALE DO BAIXO MONDEGO (OS CAMPOS)

Saído na Portela do Maciço antigo, o vale do Mondego perman~

ce relativamente estreito até a jusante de Coimbra onde, inflectindo ~

ra WSW, o rio passa a correr numa planície aluvial quase rectilínea, r~

gularmente larga de 3 a 4 km (figs. 30 e 31). Espraiam-se nela as

cheias que, na estreita garganta a montante, chegam a ultrapassar 9 m

de altura (fig. 32). Rápido aluviamento tem progressivamente elevado o

nível da parte oriental da planície, soterrando pontes e edifícios da

região de Coimbra. Numerosos documentos históricos documentam, a par­

tir do. século XIII, a subida do fundo arenoso do vale (A. FERNANDES

MARTINS, 1950) e tornam responsável deste facto as desarborizações e

arroteamentos realizados na bacia. ~ muito possível que as fases mais

antigas da sua ocupação e aproveitamento pastoril e mineiro, hoje doc~

mentadas através dos estudos palinológicos e arqueológicos, tenham dei

xado também marca própria nas aluviões acumuladas na região de Coimbr&

Actualmente, as menores cheias bastam para inundar as ruelas

do bairro comercial, da Baixa de Coimbra, enquanto a maré penetra já

pouco no vale (fig. 32). Pelos meados do século XII, Edricí considera­

va ainda que Montemor-o-Velno (M, na fig. 30) defendia a próxima foz

do rio, graças ao seu castelo ''muito forte e com vista ao mar"; era o

porto onde os peregrinos com destino a Santiago de Compostela embarca-

vamo

Têm sido publicadas algumas sondagens nas· aluviões. A reali­

zada perto de S. Silvestre (A. FERREIRA SOARES, 1966) atravessou, en­

tre -7,5 me -15,5 m de altitude, sedimentos de estuário, um lodo escu

ro com conc~sde Cardium edule L. e Mytilus edulis L. (fig. 32). Pare

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CARTA VI - Secção inferior do Mondego.

Escala: 1: 450.000

A pontuado assinala-se a zona inunddvel. c~rca de 16.700 hm.l •

Figura 30: O Campo do Mondego. Extraído de A. FERNANDES MARTINS (1940)

o,) \ JU:t.. .c.";: .... 11).,

Carso do Mondego entre Coimbra e Montemor. nos menrlos do séc. XVIII

I n .. prodnç40 parcial de um mapa desenhado .. m 171;11·

Note-se quanto erl\ indeciso o traçarlo do álveo e como RS insaas - entre as quais a de Lou­renço de Matos, de movimentada his~ó1"ia - obstruiam o leito. Junto de Coiinbra, as aluviões, apoiadas na margem esqtl~rdA, haviam estreitado o álveo e atingiam já o O da pon te. .

O encanamento artificial, já então projectado, está indicado pela referência cAlves novo~. A aldeia de S. João do Campo figarl\ ainda com o topónimo coevo ~ Lava Rabos.

Figura 31: Extraído de A. FERNANDES MARTINS (1950)

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ce isto significar que a ria flandriana atingiu, pelo menos, o sítio

de Coimbra e que o aluviamento fluvial posterior se acumulou, na parte

oriental dos Campos, sobre mais de 20 m de espessura.

O traçado natural do rio era irregular e mal fixaoo, com nu­

merosas ilhas (fig. 31). Desde o seculo XVIII que se tentou fixar o lei.

to, atraves de diques que definiram um traçado rectilíneo, com a espe­

rança de fornecer assim ao rio maior pendor e, consequentemente, maior

força para levar as areias até ao mar. As inundações desastrosas conti

nuaram no entanto e é só nos anos recentes que a construção de uma sé­

rie de barragens, entre as quais avulta a da Aguieira (fig. 14), em­

preendeu a regularização total do rio e o seu aproveitamento racional

para a rega dos.Campos e regiões enquadrantes. O Mondego deixou entao

de apresentar no Verão o habitual leito de areias, com alguns fios de

agua, aproveitados pelas lavadeiras. ~, no entanto, ainda cedo pa~ ter

a certeza que a regularização do regime invernal foi realmente

guida.

conse

Esta vasta planície aluvial corta obliquamente a estrutura re

gional (P. CHOFFAT, 1927 t A. FERREIRA SOARES, 1966). ~ implantada no

rebordo de largo sinclinal, de eixo paralelo ao vale, alguns quilóme­

tros ao Sul. A FERREIRA SOARES tem mostrado que a extremidade oriental

da planície (o Campo do BoIão) corresponde a area densamente falhada

por importantes acidentes. A jusante, na região de Mbntemor-o-Velho,

complexo cruzamento de direcções tectónicas (com afloramento diapírico

das margas gipsiferas hetangianas na Ereira) marca a entrada da passa­

gem epigenica do baixo vale atraves da estrutura anticlinal de Buarcos

-Verride. No entanto, não foi ainda encontrado indício algum de um aci

dente transversal a estas diversas estruturas, de maneira que a rígida

orientação da planície dos Campos continua um enigma.

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Serra da Boa Viagem

Campos do Mondego

Massif Synclinal Marginal quartzitique

du Buçaco

5ynclinal quartzitique de Santa Euf'mia

m I I ~ ~ • I ~ I .= ! 200 N ~ 'iAl &t: 113 ~ ~ ~ r---"'- o ~

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ISO

100

-50

50 ---------------------------rl SO

O

O 50 100 140 km

J.,.. ~

Figura 32: Perfil longitudinal esquemático do curso médio e inferior dos Rios Mondego e Alva. Extraído de S. DAVEAU et coI. (no prelo)

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II. VISITA A DIVERSOS LUGARES EM ESTUDO

por A. FERREIRA SOARES

J. FONSECA MARQUES

e B. P. BARBOSA

Reclama atençao especial a compreensão das formações mais re

centes da região do Baixo Mondego, parte da bacia estendida para OC1-

dente da Portela, ponto em que o rio deixa o Maciço Hesperico e recebe

na margem esquerda o Ceira.

Uma tal exigência ressalta (1) da análise cuidada da biblio­

grafia, onde se destacam os trabalhos de GASPAR DE CARVALHO por meados

da década de 40, princípio da de 50, e (2) da progressiva aquisição do

cop~ecimento relativo ã neotectõnica, aqui com particular expressão.

Pretendemos assim compreender não só as variações de fácies daquelesd~

põsitos mais recentes, e que localmente afeiçoam a facha4a atlântica do

Maciço Marginal, como as suas relações com o próprio traçado do Cérti­

ma (ou Cértuma) para jusante da Pampilhosa ou, com o alvéolo que e, no

contexto dos campos do Mondego, o Campo do BoIão (ou Golão). Finalmen­

te, é ainda a vontade de compreender o arco aberto com que o Mondego

condiciona Coimbra, o braço abandonado que particulariza o substrato

dos bairros citadinos do Calhabe, Arregaça e Solum, ou a descida da AI

ta sobre o traço das ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz (o Canal) •

Por isso, sentimo-nos tambem obrigados a ilustrar as nossas

actuais preocupações na compreensão da arquitectura dos terraços do

Mondego, tal como foi desenhada por um de nós (A. FERREIRA SOARES, 19(6),

na sequência da nota publicada por O. RIBEIRO e A. PATRIcIO (1943).

"Ao longo da margem direita do rio Mondego... em correspon­

dência com a margem esquerda, há quatro níveis de terraços fluviais

mais ou menos desenvolvidos. Em relação ao nível de estiagem do rio,

os terraços correspondem aos seguintes níveis: a) 70-90 m (75-95 m);

b) 40-60 m (50-65 m); 20-35 m (25-40 m); 5-15 m (10-15 m)." (FERREIRA

SOARES, 1966, p. 296). Hoje juntamos argumentos que confrontam aqueles

que presidiram a uma tal arquitectura, tradutora das ideias da epoca.

Tentamos organizar o quadro das paisagens suporte da articulação das

fácies dos terraços fluviais, como ainda das suas relações com depõsi-

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tos de outros ambientes praiais e/ou dunares (~). Tentamos compreender

a força da neotectónica na articulação das diversas unidades.

Por último, cumpre-nos ainda ilustrar o nosso entendimento

quanto aos depósitos tidos por p1io-p1istocenicos e sempre julgados no

contexto do modelo proposto por C. TEIXEIRA (1979). Parece-nos claro

haver dois estilos sequenciais capazes de individualizarem não so os

depósitos como, com isso, fazer ressurgir neo-estruturas que apontamno

sentido de possuirmos uma paisagem que, esboçada com o ressoar durante

o P1iocenico de outras mais antigas, foi sendo progressivamente remoç~

da durante os tempos quaternários. Para disto termos noção, basta ate~

der ao que escreveu A. DE BRUM FERREIRA (1970, p. 374) ao tratar o seu

capítulo sobre "a margem atlântica" do Maciço Hesperico e quando nos

deixa a ideia de·que "os grandes acidentes tectónicos que compartimen­

tam o relevo do Norte da Beira parecem resultar, no Quaternário, de

fracturas antigas, geralmente tardi-hercínicas" (p. 322). Não signifi­

ca esta nossa posição, o aceitarmos como explicação última da paisagem

a condicionante estrutural. Mas, porque geólogos, talvez demasiado dias

trofistas no sentir os problemas da sedimento10gia desta parte do País,

há em nós a tendência para subalternizar as imposições dos climas ou

do próprio Homem.

1. O DEPÕSITO DE SANTA LUZIA - BARCOUÇO

(Plataforma do Carqueijo, in C. TEIXEIRA, 1979)

Folhas n9s 230 e 219, esc. 1/25.000, S.C.E. (fig. 33)

Discordante estratigraficamente sobre o Gres de Furadouro

(seg. BARBOSA, 1981) de idade provavelmente turoniana, o depósito é es

sencia1mente areno-casca1hento, muito rico em seixo fino de quartzo e

quartzito redondo a muito redondo e de esfericidade baixa (bichouro) e

apresenta cor amarelada e/ou acastanhada dominantes. Para a base enri­

quece em 1enticu1as de seixo e calhau rolado de tendência oligomít~ca

(quartzo + quartzito), enquanto para o tecto e um pouco a norte de Car

queijo, possui outras de pe1ito cinzento, lembrando as que foram reco­

nhecidas não só na região do Luso (próximo a Lameiras de S. Pedro), co

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SARGENTO -MÓR

\ )

... / '"' I ..,

o 0.5 lKm t::! ==--===-_

Figura 33: A plataforma de Sta. Luzia

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mo em outros pontos mais a norte. Para C. TEIXEIRA (1979) o depósito

seria mais novo que o "Pliocenico lignitoso" da Pampilhosa do Botão.

FILOMENA DINIZ (1972) estudou o espectro polínico e não exclui a hipó­

tese da flora ser do Pliocenico super~or.

~ possível que a espessura máxima do depósito não ultrapasse

os 20 m, observando-se localmente o limite a tecto por restitos de de

pósitos areno-cascalhentos imaturos, avermelhados e/ou acastanhados,

com carapaças ferricas e correspondentes a provável zona distal de um

possivel cone coluvial.

O cotejo do limite cartográfico do depósito indica-nos uma

tendência de declive suave para NNW ou NW, possível imposição do rejo­

go complexo das falhas de Ferdebunho e Ribeira da Lendiosa a ocidente

e da de Cabeças a norte.

Este depósito é, em nosso entender, semelhante a muitos ou­

tros que, a diversas altitudes, surgem fundamentalmente associados a

estrutura do Certima. Localmente e para oriente, os depósitos mostram

tendência a tornar-se mais conglomeráticos e a apresentar extraclastos

de argila. Como hipótese, admitimos ser o depósito de Santa Luzia cor­

relativo daquele outro de chã da Mata (altitude de 252 m), com estrutu

ra a apontar acumulação em ambiente de praia.

2. O DEPOSITO DE LOGO DE DEUS; A ESTRUTURA DO CAMPO DO BOLÃO

(ou Golão) - Folha n9 230, esc. 1/25.000, S.S.E. (figs. 34 e 35)

Julgamos oportuno lembrar aqui o termos privilegiado a natu­

reza e organização dos depósitos, ã simples posição altimetrica que o­

cupam. Esta posição, básica nos trabalhos de GASPAR DE CARVALHO,foi re

centemente redefinida por este Autor ao propor "uma metodologia para

análise dos depósitos do Quaternário" (Arqueologia; Grupo de Estudos

Arqueológicos do Porto, n9 4 - Dez. 1981).

O depósito de Logo de Deus (fig. 34), posicionado a 110-120 m

acima da porção adjacente do leito maior do Mondego, incluir-se-ia no

grupo dos considerados pré-sicilianos em C. TEIXEIRA (1979). Essencia!

mente areno-cascalhento, submaturo, tem matriz grosseira a muito gros-

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N

o DEPÓSITO DE LOGO DE DEUS

__ I

I I , I I .. " I

o 0.5 lkm --=====--==::::1

E.:t~~~ ALUVIÃO

100°0°0°01 "OEPÓSITO DE LOGO DE DEUS·'

I· I I I I MARGAS E CALCÁRIOS MARGOSOS

~. CAMADAS DE PEREIROS

... CASTELO VIEGAS {

TOARtANO

HETANGIANO

Figura 34: O depósito de Logo de Deus

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N

CAMPO DO BOlÃO

o 1 2km

la 6 o o o 1 CASCALHEIRAS o o o o o PLlO- HOLOCÉNlCAS

DOMíNIO CRETÁCICO MÉDIO A SUPERIOR . INFERIOR A MEDIO

: .. :.~ .......... : .............. : I--"'----r---IJ L I·A S

Figura 35: O Campo do BoIão

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seira, mal calibrada e de cor avermelhada e/ou acastanhada. Os niveis

cascalhentos, mais abundantes para a base, mostram tendência oligomiti

ca em quartzo e quartzito e predomínio de calhaus subredondos de esfe­

ricidade baixa. Se bem que a média da dimensão máxima (segundo o eixo

maior) dos calhaus oscile por 8 a 15 cm, há, localmente, raros com 20

a 30 cm de eixo maior.

O traçado do depósito está condicionado essencialmente por

dois sistemas de falhas quase ortogonais, com realce para as que rumam

N60W a E-W.

Se admitirmos, por identidade de litofácies, que os depósi­

tos de Logo de Deus, Eiras, Alto dos Reis (vulgarmente conhecido pelo

do Ingote) e Conchada (a cotas máximas de 143, 126, 136 e 83 m respec­

tivamente) correspondem a uma mesma unidade, então faremos sobressair

um conjunto de blocos estruturais de tendência NE-SW. t: aliás esta uma

das direcções privilegiadas no desenho da depressão da zona vestibular

da Rib. de Fornos que conjugada com aquela outra de Antuzede (FERREIRA

SOARES, 1966), definida por um outro sistema de fracturas' quase ortog~

nal aquela direcção, justificam e quanto a nos, o Campo do Bolão (fig.

35) •

Se admitirmos agora que o corpo principal do depósito da Pó­

voa do Pinheiro é: (1) pela semelhança das litofácies, correlativo ao

de Santa Luzia; (2) que sobre ele há restitos a lembrarem o depósito de

Logo de Deus; então poderemos pensar, atendendo às variações nas cotas

dos limites cartográficos de ambas as unidades, que: 1) houve, pelo m~

nos, dois tempos essenciais ã definição da estrutura de Antuzede, sen­

do o mais antigo post-depósito de Santa Luzia; 2) o tempo mais recente

e que parece ter sido essencial ã definição da estrutura da zona vesti

bular da Rib. de Fornos, foi post-depôsito Logo de Deus.

Finalmente e porque o Mondego é, na definição dos seus cam­

pos, onde se inclui o do Bolão, uma estrutura que guarda, a jusante de

Coimbra, uma espessura média de sedimentos superior a 40 m, há que co~

tinuar a sua história; aquela que equilibrará o conhecimento da estru­

tura do manto aluvionar (corpos líticos de ambientes salobros têm sido

detectados para jusante de S. Silvestre; A. FERREIRA SOARES, 1966), com

o da informação - "Assim quando às portas de Coimbra foi escolhido na

. margem direita, a montante da ponte", o terreno onde seria edificado o

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conve.nto de S. Domingos "o rio naque la idade corr ia fundo e a1cant i la­

do" e tanto que o edifício, concluído em 1227, "lhe ficava sobranceiro"

(A. FERNANDES MARTINS, 1983).

3. O DEPOSITO DA ZOUPARRIA DO CAMPO

Folha n9 229, esc. 1/25.000, S.C.E. (fig. 36)

Quando em 1981 seleccionámos esta formação neste mesmo ponto,

como suficientemente digna da análise dos Colegas que então nos acomp~

nhavam, não suspeitávamos que, volvidos quatro anos, pouco tivésse-

mos evoluído na sua compreensão. Na realidade, o problema mostra-se, a

nossos olhos, complexo - para não dizermos difícil - ao exercíció da

correlação, e isto como consequência da variação mais ou menos brusca

das fácies. Acresce ainda, o não dispormos, para aquele exercício, de

outros meios que não os da análise directa pela prática sedimento1ógi-

ca.

A formação tem, na Zouparria do Campo cerca de 20 m de espe~

sura e apresenta-se susceptível de subdivisão em duas subunidades de

igual representatividade. A unidade superior, aparentemente mais homo­

génea, permite-nos aceitar a correlação tanto com o depósito observado

em S. Silvestre, como com aquele outro de Sande1gas - Ardezubre. A ser

assim, o exame cartográfico mostra-nos: (1) o depósito da Zouparria e~

tá, em cota, cerca de 15 : 5 m acima do de S. Silvestre; (2) todos eles

inclinam suavemente para o Mondego, sendo possível que o de Sande1gas

- Ardezubre, a descer de modo contínuo a partir da cota cerca de 75 m,

tenha deixado mais a norte, a cota de 100 m, na estrada para Andorinha,

um pequeno retalho sobre os calcários do Cenomaniano superior.

Maiores dúvidas subsistem quando tentamos a correlação com

os depósitos observados tanto em S. João do Campo, como em Tentúga1 e

Póvoa de Sta. Catarina. Se todos eles forem efectivamente corre1ativos,

entao poderemos ter encontrado um índice capaz de nos auxiliar na dia~

nose da diastrofia desta parte do Baixo Mondego. Até lá, teremos pre­

sente aquela mesma dúvida que nos havia ficado, a quando da definição

tão simplesmente dos diversos níveis de terraços (FERREIRA SOARES, 1966)

ou seja - porque não mais (?).

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o 0.5 1 km --===--=~

~ PALEOCORRENTES

JJ1 FÓSSEIS VEGETArS

~ ~ BIOTURBAÇÃO • FRAGMENTOS CARBONOSOS ~ ESTRUTURAS EM "RIPPLE"

.. CANAL

20m

18

16

14

12

10

8

6

2

O

CD

. . .......

Figura 36: O depósito de Zouparria do Campo

I

\ Sup.Erosão

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4. OS DEPÕSITOS DE TENTOGAL

Folha n9 229, esc. 1/25.000, S.C.E. (fig. 37)

Mais conforme com,a realidade geológica seria tratar aqui

dos depósitos líticos post-cretacicos da região de Tentugal e não ape­

nas de um deles. Mas houve que optar e, se na estação anterior analis~

mos depósitos sobre que ·se encontram cascalheiras tidas como indicado­

ras de terraços fluviais dos níveis 20-35 m e 40-60 m, agora passare­

mos a observar o depósito que integra cascalheiras tidas como referen­

ciadoras do nível 5-15 m.

O perfil aqui descrito, de baixo para cima, foi efectuado a

partir de antiga exploração de cascalho localizada junto ao campo do

Mondego, cerca de 250 m para ocidente da estrada que, de Tentúgal, des

ce ao Rio.

1 - Gres grosseiro a muito grosseiro, argiloso, micaceo, imaturo

e avermelhado com manchas cinzentas (Gres Groseiro Superior;

Cretacico - FERREIRA SOARES, 1966).

2 - Cerca de 3 m de cascalheira de tendência polimítica (Quartzo

-40%; Quartzito -42%; Xisto -18%; Sílex-vest.; Granito-vest) e

matriz grosseira a muito grosseira, p. v. mesmo micro-conglo­

merãtica, subarcósica imatura, castanha a castanho-avermelha­

da e com quartzo dominantemente sub-redondo de esf. baixa, d~

minui de tamanho para o tecto (média do diâmetro maior - 2lcm

na base; 13 cm a meio; 6 cm no tecto) e mostra-se localmente

imbricado.

Segue-se cerca de 0,8 m de areão subarcósico a arcósico,

imaturo, castanho e rico em calhau e seixo fino de quartzo e

quartzito, a que se associam raras "patelas" de xisto. Para o

tecto ocorrem fragmentos de carapaça ferrica.

3 - Cerca de 1,6 m acima de 2 surge 0,8 m de arcosarenito a subar

cosarenito muito grosseiro, imaturo, com seixo de quartzo su~

anguloso a anguloso e com carapaças ferricas castanhas e/ou

negras.

4 - Visível por cerca de 1 m vem argilito muito plastico e domi­

nantemente cinzento e/ou negro (na base localmente acastanha-

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N

® o 0.5 1km

1i11~~ (6em)

2

(21em) CD I

GRANITO v~st.

XISTO lSo/.

CALHAUS "SILEX .. v~st.

QUARTZITO 42°/. QUARTZO 40°/.

Figura 37: Os depósitos de Tentugal

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do). Este argilito ê macroscopicamente semelhante àquele que

ocorre junto à EN 111 e na qual se encontram núcleos de vivia

nite. É passiveI que a espessura deste corpo argiloso não se­

ja aqui, junto à estrada, superior a 8 m.

Finalmente referimos ainda o corpo de subarcosarenito a

quartzarenito medio a fino, maturo e esbranquiçado a amarela­

do. Primeiros 0,6 m da base amarelo-castanho e rico em carap~

ças ferricas. (Corresponde às "Areias de Tentúgal" sego GASPAR

DE CARVALHO (1950) e ao "Depósito eólico de cobertura" sego

FERREIRA SOARES, 1966).

Se tomarmos em atenção o conjunto dos depósitos, verificamos

que sobem da cota cerca dos 9 m à próxima dos 29 m. Deste cerca de

20 m em media da espessura total, e provável que não mais de 3 a 8 m

correspondam às "Areias de Tentúgal" de caracteristicas eólicas e os

restantes a depósitos de ambientes fluviais. Mais para ocidente e ain­

da na EN 111, há, a cota cerca de 20 m, um depósito essencialmente

quartzar:.enitico e subarcosarenítico, grosseiro a fino, imaturo a subma

turo, esbranquiçado a amarelo-acastanhado e com seixo e areão de quar!

zo e quartzito. Para a base possui alguns seixos e calhaus de quartzo

e quartzito. É possível, pela arquitectura manifesta, que este depósi­

to, com cerca de 7 m de espessura rríaxima e assentando directamente so­

bre o Gres Grosseiro Superior de idade cretácica, represente acumula­

ção associada ao traçado de antigo meandro (?). Tenha-se em atençao que

este depósito está afectado por fracturas com rumo N 30 W.

5. A SERRA DE MONTEMOR

Folha n9 240, esc,1/25.000, S.C.E. (fig. 38)

Finalmente, fica-nos ainda sobre a margem direita do Hondego

e já bem perto do limite a jusante dos seus Campos, a Serra de Monte­

mor. Esguia, de dorso quase nu e alongado para NNE, ela não sobe alem

do 116 m da Cavalinha. A sul, passada a EN 111, fronteira ao rio, res­

ta o pequeno outeiro que faz jus a suporte do castelo que viu nascer a

vila. No desnho dos limites dos Campos, ele mais se parece com promon-

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ESBOÇO GEOLÓGICO DA REGIÃO MONTEMOR-O-VE LHO - SOURE

Adaptado da Carta Geológica de Portugal

folha 19 C, Figueíra da Foz;

es c. 1 I 5 O 00 O i 1 976

Arenitos finos de Lousões + Areias e Argilas de Taveiro Calcários apinhoados de Costa d'Ar

Ar€'rtitos de' Cclrrascal

~~~~4 Ar€'nitos, Margas e Calcarios MALM ~ _ margosos

~ Margas Calcarios margosos DOGGER €' earcarios

--- Margas,Calc. marg. e Calcáriosl Dolomias LIAS

Figura 38: Esboço geológico da região de Montemor-o-Velho-Soure

2 3 km

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tório que, elevado a 55 m, ruma para NE, desviando-se da direcção domi

nante da Serra.

Na paisagem, a Serra de Montemor toma posição no limite orien

tal do triângulo de Santo Amaro da Bouça. A ocidente, este segue o tra

ço da Serra das A1hadas cuja altitude máxima, no vertice que traz o

seu nome, e de 153 m. Mais para ocidente ainda, quando aquela Serra to

ma rumo poente e recebe os nomes de Brenha, Buarcos ou da Boa Viagem,

ela sobe e atinge os 257 m na Bandeira. Aí a assimetria é dura com es­

carpado virado a norte sobre as terras da Gândara. E, são agora estas,

que, na paisagem e nas gentes, se vão casar com os Campos no triângulo

de Santo Amaro da Bouça. Unidade de paisagem, com vértice em pleno c~

po aluvionar do Mondego, na pequena "ilha" da Ereira, frente a Verride

que, na margem esquerda do Rio, dã nome ao antic1ina1 que parece bar­

rar a sul as estruturas suporte. E lá estão, na Ereira, sob casca1hel­

ra de terraço, pe1itos e do10mias das "Margas de Dagorda". Elas const~

tuem testemunho ha10cinético que esbatido para norte, atraves do triân

gu10 de Santo Amaro da Bouça, permite compreender não só a inversão re

gistada no Cretácico de Santo Amaro das Amoreiras, a ENE da Brenha, co

mo ainda o que um de nos escreveu - a Serra de Montemor" pela própria

geometria das unidades cartografadas, e ••• um anticlina1 complexo", f~

1hado e repuxado a ocidente. ,,~ provável que o entumescimento do nu­

c1eo se tenha já feito sentir anteriormente a deposição do grés do Be­

lasiano, continuando-se pelo menos, durante o Cretácico". (FERREIRA

SOARES, 1966; p. 313-314). Estamos hoje em crer que a fractura, limite

a ocidente da Serra de Montemor, tem, no seu rejogo e conjugada com ou

tras NW-SE, afectado os depósitos do Amieiro, tidos como Quaternário.

Para sul a fractura parece caminhar em direcção ã Ereira, ao possível

encontro daquela outra que, associada ao traçado do arco da Serra da

Boa Viagem-A1hadas, justifica a arquitectura dos depósitos cretácicos

no conjunto dos afloramentos do Pincho, Santo Amaro das Amoreiras e

Bernardes. t! possivelmente ainda esta que isolando o núcleo de calcá­

rios do Dogger da estação de caminho-de-ferro do Maruja1, se constitui

como limite a ocidente da depressão do troço vestibular do Rio Anços.

Tal como se admitiu (FERREIRA SOARES, A., PENA DOS REIS, R.P.B., 1984),

parece-nos possível, a julgar pela cartografia dos depósitos tidos por

p1iocenicos, que toda a zona diapírica de Soure esteja agora em abati­

mento.

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LISTA DAS FIGURAS

Páginas

1 - Itinerário da excursão e esquema geomorfológico 2

2 - Esquema estrutural da região percorrida ••• 7

3 - Cortes esquemáticos da fachada ocidental da peninsula Iberi ca ••• ••• ••• ••• ••• ••• ••• ••• ••• ••• • •• •.• ••• ••• 9

4 - Carta morfológica esquemática e provisória do Maciço Calcá-rio Estremenho ••• ••• ••• ••• ••• ••• • • • 14

5 - Carta geológica da região de Rio Maior

6 - Perfil geológico da bacia de Rio Maior

da sondagem F 58 ••

. . . 7 - Diagrama polínico sintetico

8 - Evolução climática deduzida gens F 58 e F 16 •• ••• • ••

da análise polinica das . .. ... ... ... . ..

...

sonda-

9 - Propostas de correlações climato-estratigráficas entre Por-

18

19

24

27

tugal e os Paises Baixos e Mediterrâneo Norte-ocidental 28

10 - Os polje de Alvados e Minde ••••••••• 37

11 - Cortes nos depósitos dos polie de Alvados e Minde 39

12 - Amostra da paisagem da região de contacto entre a Estremadu r a e o Maciço antigo .. ... ... ... ... ... ... ... ... ... 41

13 - Perspectiva cavaleira da região situada a Leste de Coimbra 42

14 - Esquema de localização da região situada a Leste de Coimbra 43

15 - Exploração mineira dos depósitos de cobertura e aluviões dos terraços do Rio Alva na região de Coja - Arganil.. 46

16 - Perfil dos terraços na região de Coja . .. ... ... . .. 47

17 - Localização das principais estações e achados arqueológicos da região de Arganil •• ••• ••• ••• ••• ••• .•• ••• ••• 50

18 - Perfil longitudinal e transversal da Serra da Estrela 55

19 - As aplanações culminantes da Serra da Estrela ... 57

20 - Andares de vegetação da- Serra da Estrela ., • 60

21 - A glaciação da Serra da Estrela, segundo H. Lautensach (1929) 64

22 - A glaciação da Serra da Estrela, segundo S. Daveau (1971) 65

23 - Sondagens realizadas em turfeiras e sedimentos lacustres na Serra da Estrela •• ••• ••• ••• ••• ••• ••• ••• ••• ••• ••• 68

24 - Diagrama polínico esquemático da sondagem Lagoa Comprida 2 69

25 - O li tor aI p liocénico em Portugal • •• ••• ••• ••• ••• ••• 75

26 - Extensão da acção do mar no modelado das regiões litorais 75

27 - Perfil projectado do Maciço Marginal e dos restos de lito-rais elevados na região do Buçaco • •• ••• ••• ••• ••• .•• 78

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Páginas

28 - Perfil atraves da rana de Cabeço do Minhoto e do litoral da chã da Mata ••• ••• ••• • • • • • • 79

29

30

31

o sítio da chã da Mata

O Campo do Mondego ... . .. . .. ...

Curso do Mondego entre Coimbra e Montemor, nos meados sec. XllII! . •• ... ... ... . ..

do

32 - Perfil longitudinal esquemático da parte média e inferior

33

34

35

36

37

38

dos Rios Mondego e Alva ••• • •• ••• • ••

A plataforma de Sta. Luzia

O depósito de Logo de Deus

O Campo do Bolão ••

...

O depósito de Zouparria

Os depósitos de Tentugal

do Campo ••

..

· .. · .. . .. · .. . ..

... ...

Esboço geológico da região Montemor-o-Velho-Soure

79

81

81

83

86

88

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