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3º CONGRESSO NACIONAL DE GEOLOGIA

Coimbra, Outubro de 1991

LIVRO GUIA da Excursão A

BAIXO MONDEGO E MACIÇO CALCÁRIO DE SICÓ:

Aspectos geomorfológicos, hidrogeológicos e ambientais.

(25 de Outubro de 1991)

Responsáveis:

- Lúcio Cunha

- Fernando Peixinho Cristo

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Nota prévia

A preparação e organização de uma viagem de estudo para um Congresso de

Geologia é sempre uma tarefa difícil mas extremamente gratificante. Trata-se, em regra,

de ~ostrar no terreno e de discutir os resultados das últimas investigações realizadas,

equacionando e re-equacionando questões que contribuam de algum modo para o avanço

da Ciência Geológica.

No caso presente foi-nos solicitado um tipo de viagem de estudo algo diferente: a

temática não estaria centrada em factos e fenómenos de natureza exclusivamente, ou

talvez nem sequer principalmente, gelógica, mas em temas que, ainda que marginais,

mantêm com a Geologia uma grande afinidade. Assim e para um espaço que envolve o

Baixo Mondego (no seu sentido mais restrito, o da planície aluvial) e o Maciço calcário e

carsificado de Sicó, os organizadores da viagem pretendem mostrar e discutir com os

participantes um conjunto de aspectos de natureza geomorfológia, hidrogeológica e,

porque de grande premência e pertinência para as sociedades actuais, ambiental

(entendendo Ambiente nos seus sentidos mais amplos e integrados).

A escolha de um itinerário está, naturalmente, condicionada pela existência de vias

rodoviárias transitáveis a autocarros, o que, pelo menos no caso do Maciço de Sicó torna

muito difícil a observação e discussão in loco de alguns dos principais problemas

geomorfológicos que aqui se colocam.

No entanto, ao longo do percurso, serão apresentados alguns dos problemas

principais da Geomorfologia do Baixo Mondego (morfologia, condicionalismos

estruturais e evolução recente da planície aluvial; tipos de depósitos quaternários e

problemática da definição de "terraços" com eles relacionados; significado paleo­

-hidrográfico, paleo-ambiental e paleogeográfico desses depósitos) e do Maciço de Sicó

(grandes linhas de desenvolvimento do relevo e suas relações com a litologia e a

estrutura; formas cársicas e fluviocársicas e seu significado; depósitos de cobertura e

fases de carsificação do Maciço; evolução quaternária e depósitos estratificados de

vertente relacionados com os períodos frios; processos erosivos actuais: ravinamentos;

taxa de dissolução actual dos calcários, etc.).

Quanto aos aspectos hidrogeológicos da área procuraremos dar uma ideia do

comportamento dos grés cretácicos, particularmente dos Arenitos de Carrascal, das

aluviões do Mondego e do sistema hidrogeológico cársico do Maciço de Sicó.Neste

último caso, será dada particular importância à observação de algumas das principais

exs urgências da bordadura ocidental, tendo em atenção a sua integração no modelo de

compartimentação da drenagem hipogeia que foi estabelecido para esta área.

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Finalmente, e sempre que a ocasião seja propícia, tentaremos chamar a atenção e

discutir com os participantes alguns dos principais problemas ambientais que se colocam

nos territórios a percorrer. No caso do Baixo Mondego, assumem particular relevo, entre

outros, as indevidas formas de ocupação dos solos aluviais de grande produtividade

agrícola, a extracção desordenada de areias no leito de inundação do Rio, os processos de

reconversão florestal, os impactos das obras de regularização recentemente efectuadas e a

conservação das áreas apauladas, pelo seu significado biótico. No Maciço de Sicó, para

além dos problemas de conservação de uma paisagem de características especiais e de rara

beleza e dos factores de degradação dessa paisagem, nos quais se insere o problema, de

não fácil resolução, das pedreiras, assumem particular importância o problema da

conservação da qualidade e quantidade da água de circulação cársica, o problema da

conservação da fauna e da flora e a preservação dos ambientes subterrâneos. Esta área,

pouco desenvolvida do ponto de vista económico, em que as populações que aqui teimam

em manter-se se dedicam a uma magra agricultura de sequeiro e à pastorícia, parece

registar actualmente um surto de desenvolvimento que terá, certamente, de ser

equacionado de acordo com as necessidades em termos de preservação da qualidade

ambiental, de modo a não destruir uma harmonia que, apesar de tudo, .ainda hoje pode ser

aqui sentida e que parece ter já desaparecido, pelo menos parcialmente, de outras áreas

cársicas, ainda que protegidas legalmente em termos paisagísticos e ambientais, como

acontece com o Maciço Calcário Estremenho, parcialmente integrado no Parque Natural

das Serras de Aire e Candeeiros.

Apesar de se tratar de áreas relativamente próximas de Coimbra, não são muito

abundantes os trabalhos sobre a temática que pretendemos abordar nesta viagem.

Existem, no entanto, alguns de que apresentamos aqui alguns extractos, quer para

facilitar o acompanhamento da excursão, quer para proporcionar aos participantes

algumas pistas para o desenvolvimento dos temas que irão ser abordados de forma mais

superficial. Dentro desta ordem de ideias apresentam-se também algumas figuras, com

destaque para os cartogramas da área, e uma lista das principais referências bibliográficas

sobre as áreas e os temas a analisar.

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ITINERÁRIO:

• Partida às 8.00 h da Praça D. Dinis.

• Campo do BoIão: · Aspectos geomorfológicos: Planície aluvial de nível de base do Baixo

Mondego, sua génese e evolução recente (histórica). A grandiosidade

da forma e seu condicionamento hidrográfico (o meandro do Rio e a

confluência com a Ribª de Fornos) e estrutural ("graben" de Antuzede).

· Aspectos hidrogeológicos: O aquífero das aluviões do Mondego.

· Aspectos ambientais: Alguns problemas ligados à ocupação e utilização

indevida de solos de grande capacidade agrícola.

• Tentúgal: · Os "terraços" do Mondego: os depósitos de Ameal - StQ Varão e de

Tentúgal - Gabrielos no quadro dos depósitos quaternários do

BaixoMondego. Características morfológicas dos terraços e

características sedimentológicas dos seus depósitos.

· Significado morfogenético dos depósitos quaternários do Baixo Mondego:

hipóteses de movimentação tectónica quaternária, nomeadamente de um

movimento generalizado de flexuração na margem norte do Mondego.

• Montemor-o-Velho:

· Aspectos geomorfológicos: as várias secções do Baixo Mondego e seus

condicionalismos estruturais. Hipóteses de evolução recente do Baixo

Mondego: a abertura (antecedente ?) da "garganta" de Lares.

• Estaleiros: · As obras de Engenharia Hidráulica do Mondego: principais obras de arte e

significados hidráulico, hídrico, hidro-eléctrico e hidro-agrícola.

• Paúl da Madriz: · Apresentação geral do Paúl e do seu interesse em termos ambientais.

• Soure: . Almoço

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Itinerário da Viagem de Estudo ao Baixo Mondego e Maciço de Sicó.

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o 5 Kmf ..... __ I

Degradas

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• Arrifana:

· Apresentação geral do Maciço de Sicó: Importância da diferenciação

litológica (e sobretudo dos Calcários de Sicó) e da tectónica (linhas de

fracturação submeridianas) na morfologia geral.

· Principais traços da carsificação do Maciço.

Funcionamento hidrológico do Maciço: Importância da posição das

"camadas impermeáveis" (margas e calcários margosos), do pendor e

das linhas de fracturação na compartimentação "em grande" da

hidrologia do Maciço.

· A exsurgência permanente da Arrifana: o caudal varia entre 15 e 350 1/s

(cerca de 5 M m3 por ano) e as águas são bicarbonatadas cálcicas de

dureza normalmente elevada.

· As "Termas" da Arrifana.

• Ourão: · A exsurgência permanente do Ourão: o caudal varia entre 450 e 1500 1/s

(cerca de 25 M m3 por ano) e as águas são bicarbonatadas cálcicas de

dureza normalmente elevada.

• Degradas: · Morfologia cársica incaracterística do Planalto de Degracias-Alvorge: a

depressão (uvala ?) de Ramalheira, dolinas e lapiás parcialmente

enterrados; os vales secos.

· Os depósitos gresosos de cobertura e seu significado.

• Algar da Janeia:

· Aspectos da carsificação superficial e profunda dos calcários dolomíticos: a

dolina assimétrica e o algar da J aneia .

• Depressão do RabaçaI (área do Poço):

· Aspectos morfológicos ligados à estrutura: a depressão ligada à erosão

diferencial (calcários margosos e margas do Liásico médio e superior);

a frente da costeira de Janeanes, a Oeste; as colinas dolomíticas, a Este;

a fracturação meridiana; os relevos do Castelo do Rabaçal e do

Juromelo.

· Aspectos morfológicos ligados a processos cársicos e fIuvio-cársicos: o

fundo da depressão a funcionar como um "polje"; o canhão do Rio dos

Mouros em Conímbriga.

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· Aspectos gC?Omorfológicos da evolução quaternária das vertentes: dois tipos

de depósitos estratificados de vertente e seu significado em termos

paleo-ambientais (climas frios).

· Aspectos da evolução histórica e actual das vertentes: as ravinas e seus

condicionalismos evolutivos em termos de clima, vegetação, materiais

litológicos, exposição e declive.

• Alcabideque:

· A exsurgência permanente de Alcabideque e a hidrologia das colinas

doloIDÍticas: o caudal varia entre 100 e 900 1/s (cerca de 16 M m3 por

ano) e as águas são bicarbonatadas calco-magnesianas de dureza

elevada

• Condeixa:

· Os Tufos de Condeixa: características petrográficas e distribuição em

níveis; significado geomorfológico dos Tufos de Condeixa.

• Chegada a Coimbra cerca das 19 horas.

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BAIXO MONDEGO

A. Campar de ALMEIDA, A. Ferreira SOARES, Lúcio CUNHA & J. Fonseca MARQUES (1990) - " Proémio ao estudo do Baixo Mondego", in Bib/os, Coimbra, voI. LXVI, pp. 17-47 (em publicação)

" [...] Aspectos morfostruturais com incidência na paisagem

Considerados que foram os entendimentos de Baixo Mondego, a verdade é que,

no seu sentido mais amplo, ele "[ ... ] é um espaço complexo, onde se confrontam

unidades de paisagem diversificadas por imposições mais ou menos directas da litologia

e/ou estrutura geológica" (A. F. SOARES et aI., 1989). Com efeito, a presença de

volumes calcários e gresosos estruturalmente confrontados, associados a linhas de

fracturação onde se reflectem rejogos consequentes, pelo menos desde a "crise

pliensbachiana" (A. F. SOARES et aI., 1988), determinaram, dum modo mais ou menos

directo, a diversidade morfológica observada. Por si só, esta mesma diversidade parece

justificar os próprios termos directos ou indirectos de apropriação e ocupação do espaço

pelo Homem. É aqui e nesta perspectiva, tal como já referimos, que se podem ainda

procurar os limites do Baixo Mondego pela complementaridade do Campo cultivado

com o Monte habitado. A nossos olhos, as diversidades morfológica e paisagística

integram-se, chegando mesmo a confundir-se.

[...]

[... ]

A planície aluvial

"O vale, logo na Portela, começa a alargar, o Mondego corre nos terrenos que depositou, o cenário muda por completo. Os meandros encaixados cedem lugar aos meandros divagantes; o curso é um tanto incerto [ ... ] a sua marcha, na planície que de Coimbra se estende até além de Montemor, faz-se sobre as aluviões depositadas através dos tempos [ ...] "

(A. F. MARTINS, 1940, p. 86).

Esta é a 4ª secção do Mondego, ou seja o elemento de ligação ou mesmo de

unidade de todo o espaço que hoje integramos no Baixo Mondego.

Trata-se, no fundamental, duma vasta planície aluvial de nível de base que se

estende desde Coimbra até à Figueira da Foz, ocupando uma superfície de cerca de 15000

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ha, para uma largura máxima da ordem dos 4 Km e um volume de aluviões que se estima

em 3 a 4 Mm3. Para além dela, principal e ligada ao trabalho do Mondego, há ainda

digitações importantes através dos vales dos cursos seus afluentes: os das ribeiras de

Fornos e Ançã e do Rio Foja, na margem direita, e os da Ribeira de Cernache e dos rios

Ega, Arunca e Pranto, na margem esquerda.

Apesar de recentes, estas formas têm uma história complexa que decorre das

sucessivas acumulações estuarinas e fluviais impostas a partir do entalhe würmiano e da

penetração do mar através do "profundo" vale então criado, nos finais do Würm,

aquando do degelo e da subida do nível do mar (transgressão flandrlana). As aluviões

que enchem esta planície são ''[ ... ] fundamentalmente compostas por material arenoso

mais ou menos grosseiro, com lentículas de calhau que não chegam a atingir as

dimensões e a riqueza das aluviões mais antigas [ ... ] Para a base são frequentes unidades

argilo-arenosas cinzentas, mais ou menos escuras [ ... ] à medida que se caminha para a

foz, há tendência para o empobrecimento volumétrico em material grosseiro, com os

calhaus a darem lugar às conchas na marcação do assoreamento do estuário" (A. F.

SOARES, 1966, p. 303). Estas características denotam a importância da dinâmica fluvial

e dum regime relativamente irregular, quase roçando o semi-torrencial.

Com efeito, antes das recentes obras de regularização do leito do Rio, este,

frequentemente, pelos meses de Inverno e Primavera, inundava os campos, atingindo em

Coimbra caudais da ordem dos 3000 m3Is, enquanto nos fmais de Verão não passava

dum fio de água, a justificar o singular de ser "um rio de areia com margens de água".

Este regime semi-torrencial, característico aliás dos rios das regiões mediterrâneas

em que nos inserimos, responsável pelas "brutais" inundações dos campos, a par com

uma grande disponibilidade em materiais areno-cascalhentos mobilizáveis, concorrem

para entendermos o rápido enchimento desta planície.

Este enchimento e o próprio assoreamento do álveo do Rio assume um particular

significado em tempos históricos e mesmo já em plena Idade Média quando, após a

reconquista das terras beirãs, estas começaram a ser arroteadas com vista a uma intensa

utilização agrícola destinada a populações entretanto fixadas. Deste rápido assoreamento

e das cheias que enchiam os campos deu-nos conta A. F. MARTINS (1940 e 1950)

através, quer da história do soterramento dos mosteiros medievais de Coimbra, quer dos

esforços públicos desenvolvidos ao longo dos tempos para minimizar prejuízos.

Apesar de significativas obras de regularização do leito do Rio realizadas nos

finais do séc. XVIII e nos princípios do séc. XIX sob a direcção do Pe. Estevão Cabral,

a verdade é que as cheias e o assoreamento do leito ordinário, em suma, o enchimento

progressivo da planície, ter-se-ão continuado até aos nossos dias, ou seja, até à

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realização, nos anos setenta, de um conjunto de obras de engenharia hidráulica tendentes

. à regularização do rio e ao aproveitamento do seu potencial hídrico.

Seja como for e apesar de uma história mais ou menos comum a toda a planície,

esta está longe de constituir uma unidade perfeitamente homogénea. Para além das

digitações afluentes, cada qual com as suas características morfológicas, na própria

planície principal, a do Mondego, é possível distinguir sectores com aspectos

morfológicos particulares que decorrem, em primeira instância, do modo com a planície

se instala e evolui aproveitando circunstâncias da estrutura geológica

Logo à saída de Coimbra, chama-nos a atenção, sobretudo pela sua amplitude, o

Campo do BoIão ou Golão. Com uma espessura média de sedimentos talvez superior a

40 metros, esta forma fluvial aparece-nos condicionada não só pelo modo como o Rio

descreve o amplo meandro, como pela confluência da Ribeira de Fornos, no cruzamento

de dois sistemas de fracturas quase ortogonais, que justificam o "graben" de Antuzede e o

próprio abatimento do vesttôulo daquela ribeira, já em tempos francamente quaternários.

Do Campo do BoIão até às proximidades de Montemor, a planície aluvial, com

largura que oscila entre 3 e 4 Km, mantém uma nítida regularidade morfológica.

Corresponde aos Campos de S. Silvestre, S. Martinho de Árvore, Tentúgal e Montemor,

pela margem direita, e aos Campos de Taveiro, Ameal, Pereira e Santo Varão, pela

margem esquerda Esta mais vasta planície de acumulação estreita-se frente a Montemor,

onde rochas calcárias, tanto do jurássico como do Cretácico, impõem, como

consequência, quer da sua maior resistência, quer do movimento das estruturas a que se

associam, verdadeiro aperto suficiente à individualização deste sector. Este é o campo

maior, o espaço onde é possível um discorrer mais fácil duma história e onde o retoque

tectónico parece limitado ao jogo duma possível flexura a Sul (A. F. SOARES et aI.,

1986) suficiente ao desencontro dos níveis de terraço numa e noutra margens do Rio.

Depois vem o chamado Campo da Ereira ou de Verride, de contornos quase

circulares e ligado ao estuário pela "garganta de Lares". A par das condicionantes

estruturais de valor diapírico e donde o afloramento da Ereira, quase no meio do campo, é

exemplo, nele convergem dois dos mais importantes tributários do Mondego, o Arunca e

o Rio de Foja.

A chamada "garganta de Lares" corresponde a dois estrangulamentos, um

simpático das unidades do Dogger e Malm e outro dos calcários cretácicos da costeira da

Salmanha. Entre eles e associado a unidades gresosas mais brandas dos Arenitos de Boa

Viagem e Arenitos de Carrascal, há um ligeiro alargamento do plaino, no Campo da

Goleta.

Assim, também neste último sector e à semelhança do que tinha já sido referido

atrás, há um claro condicionamento da morfologia da planície aluvial, numa evolução

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suficientemente rápida para .que não fossem esbatidas as diferenças litológicas. No

entanto e para o caso da "garganta de Lares", a abertura do vale parece ser bem mais

recente que a do conjunto que se desenha para montante. Para A. F. SOARES et aI.

(1989) o essencial desta abertura ter-se-á situado entre dois momentos de estabilidade que

estão marcados pelos depósitos de terraço de Ameal-Santo Varão e de Tentúgal­

Gabrielos. Para montante, o vale estaria já pelo menos parcialmente definido aquando da

organização dos depósitos de Ameal-Santo Varão, os mais antigos que parecem estar

inequivocamente relacionados com o Mondego.

O vale do Mondego baixo e a planície aluvial dos Campos que ocupam o seu

fundo, bem como as digitações ao longo dos vales afluentes, vão assim apresentar uma

certa diferenciação morfológica interna, resultado de uma evolução rápida (1) em terrenos

muito diversificados tanto litológica como estruturalmente. No entanto, ao conjunto

corresponde uma evolução solidária, efectuada sob comando fundamental do

Rio Mondego.

Em termos de paisagem, o mote é dado pela platitude do fundo do vale, a que se

podem acrescentar, como elementos de descrição, a ocupação que tem vindo a ser

imposta na reorganização de espaços agrícolas e ressurgimento de paúis, antigos arrozais,

"santuários" de nidificação e habitat de centenas de espécies animais, com especial

destaque para as aves aquáticas (F. REBELO et aI., 1990).

[...] "

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BAIXO MONDEGO

Fernando REBELO, Lúcio CUNHA e A. Campar de ALMEIDA ­- "Contribuição da Geografia Física para a inventariação das potencialidades turísticas do Baixo Mondego". Cadernos de Geografia, Coimbra, 9, 1990, pp. 3-34.

Planície aluvial do Mondego (Paúl da Madriz)

" [...]

Situado imediatamente a Sul do Casal do Redinho (freguesia de Vila Nova de

Anços, concelho de Soure), numa das digitações da planície aluvial do Mondego, a do

Arunca, o Paúl da Madriz tem uma área de apenas 23 hectares e ocupa o espaço de

antigos arrozais onde a água se acumula el dificilmente circula por falta de declives

~m(l1Jàa./suficientes. Aí prolifera uma flora higrófila, pelo caniço e pela tabua que dão uma certa

uniformidade vegetal ao paúl.

No respeitante à fauna, verifica-se que o Paúl da Madriz alberga ou é frequentado

por uma grande quantidade e variedade de animais especialmente aves. Foram lá

reconhecidas (J. PAIVA, 1987) 10 espécies de peixes, 7 de anfíbios, 11 de répteis, 14 de

mamíferos (entre os quais a lontra, a doninha, o texugo e o ouriço cacheiro) e 84 de aves.

Destas, metade são sedentárias, 20 invernantes, 13 visitantes de Verão e 2 visitantes de

Primavera; 17 delas são consideradas raras pelo que estão legalmente protegidas (caso,

por exemplo, da poupa, do falcão tagarote e do guarda-rios).

O Paúl da Madriz é cortado quase totalmente por um caminho que permite a sua

visita com facilidade.

[...] "

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BAIXO MONDEGO

A. F. SOARES, L. CUNHA e J. F. MARQUES (1989) - "Depósitos quaternários do Baixo Mondego", in Actas da II Reunião do Quaternário Ibérico, Madrid (no prelo).

"[... ]

OS "TERRAÇOS"

No estudo da evolução das bacias de drenagem há, nonnalmente, tendência para

se sobrevalorizar a posição topográfica (níveis) dos considerados "terraços" fluviais,

secundarizando o significado de outras evidências, como as resultantes da arquitectura e

composição das suas litologias. Asim e no caso do Baixo Mondego, foram considerados

por O. RIBEIRO e A. PATRÍCIO (1943) e A. F. SOARES (1966) "terraços" aos níveis

de: (a) 70-90 metros (75-95 m de cota); (b) 40-60 m (50-65 m de cota) - terraços

superiores; (c) 20-35 m (25-40 m de cota) - terraços médios; (d) 5-15 m (10-15 m

de cota) - terraços inferiores. A. F. SOARES (op. cit., p. 299) acrescenta que "[...]

aceitando os critérios que nestes rios (Minho,· Tejo e Guadiana) têm presidido ao

escalonamento temporal do Quaternário, pode tentar-se correlacionar os níveis de 5-15 m

e 20-35 m do Mondego com as praias tirrenianas e os outros dois níveis superiores com

as sicilianas". A evolução da sub-bacia hidrográfica do baixo Mondego tem sido

modelada na base destes níveis, quase no acordo com estas ideias correlativas e com

independência da natureza e consequente significado dos respectivos depósitos. Além

disso, há ainda o pressuposto e urna correspondência dos níveis numa e noutra margem

do Rio - "Ao longo da margem direita e [ ... ] em correspondência com a margem

esquerda, há quatro níveis de terraços fluviais mais ou menos desenvolvidos" (A. F.

SOARES, op. cit., p. 296),

Mais recentemente, A. F. SOARES et aI. (1985 e 1986) ao retornarem o tema,

consideraram, para a margem direita do baixo Mondego, um nível de "terraço" fluvial

(cotas de 20-30 m- S. João do Campo, S. Silvestre, S. Martinho de Árvore e Tentúgal

= terraços médios de O. RIBEIRO e A. PATRÍCIO), embutido num depósito mais ou

menos complexo e por eles denominado Areias de Zouparria. Estas e de acordo com

a definição original, têm composição e estrutura compatíveis com evolução dum pólo

fluvial (sequências SI e S2) ao fluviolacustre (seq. Sa = argilas negras com vivianite, em

Tentúgal). Sobre elas sucedem-se corpos mais ou menos imaturos, areno-cascalhentos e

maciços ou com esboços de entrecruzamento (seq. S3 = Areias de Zouparria, s. s.) e

interpretados como correspondendo a leques torrenciais. Concluímos daqui e para a

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margem direita, subsistirem ~penas, e para aqueles Autores, dois níveis de "terraços"

fluviais, os médios e os inferiores de O. RIBEIRO e A. PATRÍCIO (1943). Finalmente,

acresce ainda o terem admitido, fundamentados no significado atribuído às Areias de

Zouparria, quando conjugado com a própria assimetria observada nas margens do Rio,

a possibilidade de uma flexura segundo o seu eixo e com a qual se conjugavam pequenas

falhas meridianas a submeridianas, justificadoras dos desencontros registados nas

margens de algumas valas afluentes. Esta flexura para Sul, contrapor-se-ia a uma outra

para Norte, mais ampla e interessando possivelmente parte dos campos do Vouga. A

charneira desta "dupla flexura" parecia-lhes poder coincidir com o próprio eixo estrutural

Mogofores-Tocha ("antic1inal Tocha-Mogofores, sego P. CHOFFAT, 1900).

[...] [...]

OS DEPÓSITOS

1 - Depósitos essencialmente fluviais

Correspondem aos depósitos que compunham o conjunto dos "níveis" de terraço

abaixo dos 60 m de cota. De um modo geral areno-cascalhentos, organizam-se em

sequências tradutoras de associações que podem ir do pólo conglomerático, com

estratificações mais ou menos evidentes, ao arenoso muito grosseiro (por vezes

microconglomerático) a fino, entrecruzado e/ou laminado e sempre de natureza arcósica.

A estes associam-se, localmente, pelitos e/ou areno-pelitos cinzentos a negros, maciços

ou com fina laminação, bioturbados e com fragmentos carbonosos. Eles são interpretados

como depósitos de inundação e /ou alagamento, quando não mesmo de antigos paúis.

1.1 - Depósito de Tentúgal

Bem exposto na margem dos campos frente a Tentúgal, parece-nos ter sido

parcialmente embutido pelas aluviões do leito maior do Rio e assentar directamente sobre

depósitos do Cretácico superior. Com espessura variável, podendo atingir valores da

ordem dos 25 m, ele constitui o suporte duma parte importante das povoações ribeirinhas

da margem direita, entre S. João do Campo e Carapinheira. Na margem esquerda ele

desenvolve-se especialmente em Formoselha, Granja do Ulmeiro e Gabrielos, onde

parece constituir um mesmo horizonte.

- 16 ­

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Em Tentúgal, o depósito inicia-se por um conglomerado muito grosseiro, grano­

decrescente (CI % =38-10 cm), polimítico (Qz+Qt1 =70±1O%; X =25±5%; Ot =::;;5%),

imaturo, com predomínio de calhaus de quartzo subredondos a subangulosos de

esfericidade baixa e com 10 a 20% de matriz arcosarenítica muito grosseira a grosseira,

quando não mesmo microconglomerática (fácies Gms a Gt de A. D. MIALL, 1984).

Sobre ele há camadas de arcosarenito muito grosseiro a médio, por vezes

microconglomerático, imaturo a submaturo, com estratificação oblíqua e/ou "em ventre"

(fácies St a Sp). O conjunto assim definido tem cerca de 12±4 m de espessura e, por

cima, tanto em Tentúgal como em Gabrielos, há corpos pelíticos e/ou areno-pelíticos

cinzentos a negros, maciços ou com fina laminação local e bioturbados. A espessura

máxima destes corpos foi registada em Tentúgal, com 6±2 m. Ainda aqui e sobre os

pelitos surgem, quer arcosarenitos grosseiros a muito grosseiros, imaturos, amarelo­

acastanhados, por vezes com esboço de entrecruzamento (fácies Se de P. P. CUNHA,

1987), quer arenitos finos a muito finos, submaturos a maturos e amarelados. Estes

últimos corresponde às Areias de Tentúgal.

Para jusante e ainda na margem direita, sobretudo a partir das Meãs do Campo, os

corpos arenosos parecem-nos mais frequentes. Já na zona do estuário, entre Lares e

Salmanha, os corpos conglomeráticos perfazem 25±5% do volume total dos

depósitos.[ ...]

Comparando os resultados agora expostos com os de trabalhos anteriores

verificamos a possibilidade de o depósito de Tentúgal, tal como aqui o descrevemos,

enquadrar os "níveis" de terraço inferior (10-15 m) e médio (25-40 m). [ ... ]

1.2 -:- Depósitos de Ameal-St2 Varão

Essencialmente cascalhentos, acastanhados e/ou amarelados, apresentam-se com

espessuras não superiores aos 10 m. Eles estão particularmente bem representados na

margem esquerda, sempre entre os 40 e os 50 m de cota. Na margem direita, o único

depósito susceptível de lhes equivaler é o da E. N. 11, entre os Kms 24 e 25, a cotas

entre 20 e 30 m (Bombas de gasolina de Tentúgal).

Em AmeaI e St2 Varão o corpo fundamental do depósito é conglomerático,

grosseiro, grano-decrescente (CI % = 50-30 cm), submaturo, polimítico (Qz+Qt = 80±5%; X = 15±5%; Ot = vest.) e com predomínio de calhaus de quartzo subredondos a

redondos de esfericidade baixa. A matriz (l5±5%) é arcosarenítica muito grosseira a

1 _ Qz = quartzo; Qt = quartzito; X = xisto; Ot = outros ("granitóides" + microconglomerados siliciosos + feldspato).

- 17 ­

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microconglomerática e submatura a imatura. Os corpos arenosos, sempre cascalhentos,

parecem-nos perfazer8±3% do volume total dos depósitos. De natureza arcosarenítica,

grosseira a muito grosseira, imatura a submatura, apresentam estratificações

entrecruzadas, em ventre e/ou planar (fácies St e Sp).

Na margem direita, o depósito anteriormente referido e cuja espessura total ronda

os 3 m, é essencialmente conglomerático, acastanhado, grosseiro, grano-decrescente

(Cl% = 30-6 cm), submaturo e polimítico (Qz+Qt = 75±5%; X = 20±5%; Ot =

=:;10%2). A matriz (20±8%) é arcosarenítica (feldspatos = 40±1O%), grosseira a

microconglomerática e submatura. Os corpos arenosos, sempre arcosareníticos muito

grosseiros e/ou microconglomeráticos e cascalhentos são subordinados e estruturam-se

com entrecruzados em ventre e/ou planar. Para jusante, o depósito é mais imaturo, a

estruturação é menos evidente e guarda blocos de microconglomerado silicioso,

macroscopicamente semelhantes ao chamado Grés do Buçaco e com diâmetros

maiores da ordem do metro. A. F. SOARES (1966), relativamente a estes blocos,

opinava serem eles semelhantes aos observados na Plataforma de Arazede, próximo

a Carapetos, pelo que teriam ''[ ...] sido herdados de um nível mais elevado,

provavalmente das Meãs do Campo (cota 84 m) ou proximidades de ~. Onofre" (p.

298).

[...]

[ ...]

IDEIAS DE CORRELAÇÃO

Apesar da complexidade dos depósitos, ditada fundamentalmente pelas variações

mais ou menos bruscas de fácies, associadas à exiguidade das exposições, houve a

possibilidade de os sistematizar em dois grandes grupos morfogenéticos, simplificando­

-se os modelos propostos.

Aos dois grupos, posicionados a cotas mais ou menos diferenciadas numa e

noutra margem dos Campos do AmeaI e Tentúgal, juntam-se outros, agora não

considerados, como as Areias de Tentúgal, eólicas (G. S. CARVALHO, 1951 e A.

F. SOARES, 1966) e/ou hidro-eólicas (B. P. BARBOSA et aI., 1988).

Os depósitos admitidos como inequivocamente fluviais, parecem hierarquizar-se,

de modo mais claro na margem sul, em dois "níveis de terraço" do Mondego. Contudo,

2_ Microconglomerado silicioso (macroscopicamente semelhante ao Grés do Buçaco) + grés ferruginoso (restos de carapaças férricas) + "granit6ides".

- 18 ­

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enquanto os depósitos do "nível" mais baixo (Tentúgal e Gabrielos) se apresentam

sensivelmente à mesma cota (10-25 m) em ambas as margens, os de "nível" mais elevado

(Ameal - StQ Varão e Bombas de gasolina de Tentúgal) apresentam, se os admitirmos

correlacionados, uma clara diferenciação de cotas, com os da margem sul (40-50 m) a

ficarem normalmente cerca de 20 metros acima dos da margem norte (20-30 m).

Esta diferença de cotas, conjugada com a própria assimetria registada para o desenho da rede hidrográfica das duas margens, faz supor que, entre os tempos de

construção dos depósitos, se terá acentuado o movimento geral de flexuração para Sul, ao

longo do eixo do Mondego, conforme o já admitido por A. F. SOARES et alo (1986).

Bem diferentes destes depósitos fluviais, são os interpretados como resultantes de

derrames torrenciais e/ou fluvio-torrenciais e associados, dum modo mais directo, à

evolução dos relevos duma e outra margem. Posicionados quase sempre acima dos

depósitos do "nível" de terraço mais elevado, eles parecem ser, na margem sul e pelo

menos em parte (Depósitos de Carqueja) mais antigos que aqueles. Se assim for, então

admitimos não só continuidade espaço-temporal dos processos morfogenéticos, a

extravasar o tempo reflectido pelos depósitos de "terraço" fluvial, como possibilidade de

remobilizações dos depósitos sucessivamente gerados. É, neste quadro de possíveis

relações, que julgamos as interstratificações de ambos os tipos de depósitos, observados

tanto na margem sul (Arzila e Montes de Cima e de Baixo), como na margem norte

(Sandelgas).

Um dos problemas normalmente levantado aquando do estudo dos depósitos de

terraço no sector terminal dos cursos de água, é o da identificação de depósitos praiais

susceptíveis de situarem uma linha de costa correlativa daqueles.

Assim, com os depósitos de StQ Varão - Ameal podem relacionar-se os depósitos de tipo praial de Alqueidão (30-40 m) e possivelmente ainda os de Lavos (25-40 m),

representados na folha 19-C (Figueira da Foz) da Carta Geológica de Portugal

(esc. 1/50000; S.G.P., 1976). Também na margem esquerda, mas mais para montante,

no morro da Cabeça Gorda, a Sul de Gabrielos, há, por baixo dos depósitos de

Salabardo, um outro areno-cascalhento, semelhante ao de Alqueidão.

A Norte do Mondego, depósitos de tipo praial susceptíveis de relacionamento

com este nível de terraço, parecem ser os que suportam as "plataformas" de Mira (30-40

m) e Quiaios (30-50 m). No entanto, se estes depósitos forem paralelizáveis com os da

"plataforma" de Cantanhede (Plataforma de Cantanhede-Mira, de G. S.

CARVALHO, 1952 e 1964), então será de presumir uma reactivação tectónica ligada à

fractura meridiana Aronca - Montemor - Palhaça, com descida do bloco ocidental de

cerca de 10 metros. Há então que pensar na possibilidade dum antigo litoral, numa posição bastante mais para Oriente do actual e que mergulhava pelo "triângulo da

Bouça", entre as Serras de Montemor e Boa-Viagem - A1l}adas, constituindo-se então

- 19­

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KHC - ~aciço Marginal de Coimbra.

Fig. 2 - Esquemas de interpretação paIeogeográfica A - Depósitos de AmeaI-Sr' Varão (Siciliano?-Tirreniano); B - Depósitos de TentúgaI-Gabrielos (Tirreniano); C - O conjunto actual.

- 20­

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esta como possível "ilha" dirigida a Noroeste. Nesta hipótese, os depósitos de Alqueidão

relacionar-se-iam com acumulações estuarianas de pequenos riachos (pré-Pranto 1)

relacionados directamente com o litoral de Lavos (fig.2 A).

Com os depósitos de Tentúgal e Gabrielos parecem relacionar-se apenas os da

praia da Murtinheira (l0±2 m) que mergulham hoje para Norte, perdendo-se sob as areias

da praia actual. Provavelmente em relação com esta praia estará um antigo litoral, cujos

depósitos estão mascarados pelas dunas de Quiaios e Cantanhede. Nesta hipótese, poderá

mesmo acontecer coincidência desse antigo litoral com o próprio alinhamento das Lagoas

das Braças, Vela, Salgueira e Teixoeiros (fig. 2 B).

Em suma, as hipóteses de articulação adiantadas permitem-nos pensar ter o

corredor de Lares significado próximo de uma antecedência, no todo ou em grande parte

contemporânea da flexura admitida, ligada ao retoque que a reestruturação (diapfrica 1)

das serras da Boa Viagem - Verride e Montemor imprimiram à modificação eustática da

linha de costa .

CONCLUSÃO

No processo de organização do espaço em que se derme o Baixo Mondego, terá

havido outros tempos em que aconteceram importantes derrames, testemunhados hoje,

entre outras, pelas Areias Vermelhas de Ingote (A. F. Soares et aI., 1985), a

reflectirem movimentações tectónicas ligadas à expressão do Maciço Marginal de

Coimbra (Deformação do "nível de Serra da Vila"; cfr. L. CUNHA, 1990). A uma fase

ferritizante anterior, possivelmente quente e húmida, teria então correspondido um clima

caracterizado por uma certa aridez e um contraste pluviométrico. Em possível anúncio

dum período rexistásico, a cobertura vegetal, a todos os seus níveis, deveria ser pouco

desenvolvida o que, sob as condições meteorológicas e de relevo admitidas, iria facilitar o

desenvolvimento dos leques torrenciais.

Condições semelhantes deveriam ainda reinar aquando do afeiçoamento do relevo

testemunhado pelos depósitos da Carqueja, os mais antigos, talvez ainda sicilianos, dos

aqui tratados.

Com os depósitos de Ameal-Stº Varão, os do terraço mais alto do Mondego, é

possível ter-se acentuado o contraste climático, a ditar regras ao carácter mais torrencial

do Rio. Os depósitos, tal como hoje os conhecemos, denotam restos de antigas aluviões

posicionadas nas margens dum leito maior a receber contribuições laterais mais ou menos

directas. É possível serem estes depósitos, de acordo com os enquadramentos admitidos,

de idade tirreniana, se não mesmo siciliana. G. S. CARVALHO (1952 e 1964) atribuiu

- 21 ­

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ao Siciliano os depósitos qu~ pensamos correlativos de Cantanhede e Quiaios e ao

Tirreniano aqueles outros de Mira.

Relativamente aos depósitos de Tentúgal e Gabrielos, os terraços mais baixos do

Mondego, as suas organizações aproximam-se das conhecidas para as aluviões actuais, o

que faz pressupor semelhança de condições hidrodinâmicas, sob um clima não muito

diverso do actual. Se estes depósitos forem contemporâneos da "fauna da Mealhada", tida

como tirreniana (Riss-Wunn) segundo G. ZBYSZEWSKI (1977) eM. T. ANTUNES

(1986), as condições ambientais admitidas para o interglaciar Eemiano (DANSGAARD,

pp. 218 e sgts; in H. FWHN & R FANTECIll, 1984) seriam idênticas às actuais, com

ligeiro aumento dos valores médios da temperatura (2-3°C) e da precipitação (50-100

mm).

Os restantes depósitos coluviais que interstratificam e se sobrepõem aos dos

terraços, corresponderão, como já referimos, a várias fases de difícil identificação

temporal. No entanto, uma importante fase de remeximento e transporte de materiais ao

nível das vertentes, está materializada, sobretudo na margem direita, pelos depósitos da

Zouparria do Campo que, sobrepondo-se em parte aos de Tentúgal e Gabrielos, serão

essencialmente würmianos, ou mesmo holocénicos. Eles reflectem os efeitos da

flexuração imposta a este troço do Baixo Mondego.

Também holocénicas, e mesmo em grande parte já históricas, serão as actuais

aluviões do Mondego que entulham um profundo vale escavado durante a regressão

würmiana, transfonnando-se em "RIA" com a transgressão flandriana.

- 22­

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MACIÇO DE SICÓ

Lúcio CUNHA (1990) - As Serras Calcárias de Condeixa-Sicó­-Alvaiázere. Estudo de Geomorfologia. INIC, coI. Geografia Física, Coimbra, 1, pp. 59-62 e 78-82.

"[ ... ]

3 - AS UNIDADES MORFO-ESTRUTURAIS

[ ... ]

3.2 - AS DEPRESSÕES CALCOMARGOSAS (Depressão do RabaçaI)

Já nos referimos ao comportamento mais brando das formações calcomargosas do

Liásico médio e superior em relação aos materiais calcários e dolomíticos encaixantes.

Não surpreende, assim, que encontremos relevos deprimidos sempre que aqueles materiais

afloram e que os seus limites coincidam, de forma quase rigorosa, com os limites dos

afloramentos, sobretudo nos contactos com os calcários do Dogger, logo nas situações em que

a diferença de resistência atinge o máximo1. De todas as depressões, a maior, a mais complexa

e, quiçá, a mais espectacular, é a depressão do Rabaçal que, com orientação Sul-Norte, se abre

desde as proximidades do Alvorge até à entrada do canhão de Conímbriga, sendo aproveitada

pelo curso superior do Rio dos Mouros. Com cerca de 12 km de comprimento por uma largura

que normalmente oscila entre 1 e 2,5 km, esta depressão, embora relacionada com o Rio dos

Mouros, parece ter, na sua origem e evolução, pouco a ver com o ribeiro sazonal que hoje

percorre o seu fundo.

Se o seu limite ocidental é bem nítido, marcado pela linha de "cuesta", nalguns pontos

relativamente degradada, cuja comija se talha nos calcários margosos compactos do Aaleniano,

o seu limite oriental, mais recortado e confuso, corresponde à passagem para os calcários

dolomíticos ou para os relevos do Juromelo, Castelo do Rabaçal e Cruzeiro, que devem o

essencial da sua morfologia às escamas calcárias que os encimam, protegendo os materiais

calcomargosos subjacentes (fig: 12).

1 _ Esta diferença de comportamento face aos agentes erosivos é aqui entendida em termos meramente mecânicos, já que em relação aos processos físictrquímicos que comandam a dissolução e portanto a carsificação, passa-se exactamente o oposto, dada a grande percentagem de argila, logo de material insolúvel, contido nestes materiais.

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Esta faixa liásica encontra-se intensamente fracturada (1. ROSSET, R. MOUTERDE e

R. B. ROCHA, 1975). Esta fracturação, cujas direcções principais são N-S a NNE-SSW e

E-W a WNW-ESE, tem reflexos morfológicos importantes, sobretudo na complexa vertente

oriental, no contacto com os calcários dolomíticos, condicionando o traçado dos vales secos e

criando na paisagem uma compartimentação em blocos sensivelmente rectangulares em que

estão comprometidos a litologia e a tectónica. Essa compartimentação é bem visível no sector

meridional da depressão, entre o Castelo do Rabaçal e a Ateanha.

A abertura desta depressão parece ter-se feito em tempos relativamente recentes,

provavelmente já no Quaternário. A aceitarmos a hipótese proposta por S. DAVEAU (1972 e

1985/6), essa abertura será posterior à elaboração do nível de Serra da Vila que, como vimos,

se restitui de forma quase perfeita nas colinas dolomíticas a Oriente da depressão, embora-o

mesmo não aconteça nos calcários que lhe ficam a Ocidente. Com efeito, as cotas são aí mais

elevadas e apenas a Sul da Serra do Rabaçal, o Planalto de Degracias-Alvorge parece apresentar

uma relação altimétrica com aquele nível. A história desta abertura coloca, no entanto, muitas

dúvidas. A ausência quase total de depósitos e a inexistência de rechãs bem conservadas

impedem, aqui, a análise sequencial de processos e formas, que se pode fazer para áreas bem

próximas cuja evolução teria decorrido no mesmo intervalo de tempo, como é o caso do vizinho

vale do Dueça (F. REBELO, 1966, S. DAVEAU, 1972 e 1985/6 e L. CUNHA, 1981).

No que diz respeito a depósitos e para além de alguns calhaus esparsos de quartzo e

quartzito, aqueles que encontrámos, depósitos de vertente relacionados com manifestações do

frio quaternário, se nos permitem tirar ilações para alguns episódios relativamente recentes, já

depois de aberta a depressão, não esclarecem as dúvidas postas por essa mesma abertura.

Quanto a rechãs nas vertentes deste amplo vale, também o seu significado não é bem

claro. Na vertente oriental as colinas dolomíticas atingem cotas da ordem dos 250 metros, como

já referimos. Abaixo desta cota e até ao fundo da depressão, que no seu sector mais largo, entre

Rabaçal e Zambujal, se desenvolve pelos 160-170 metros, não é muito fácil acompanhar e

correlacionar rechãs nesta vertente, embora abundem os retalhos aplanados. As suas cotas

variam de local para local e a sua forma parece dever-se mais à estrutura, nomeadamente a

camadas mais resistentes, do que a fases de estabilidade na abertura da depressãol .

Na vertente oriental, ou seja na ampla frente de "cuesta" e, mais propriamente, no seu

talude escavado nas margas e calcários margosos do Liásico médio e superior, também

algumas dúvidas se colocam. Parece haver duas linhas de "cuesta" secundárias, uma que se

desenvolve por volta dos 230-240 metros e outra, mais baixa, bem nítida apenas nas

proximidades da povoação do Rabaçal, pelos 180-190 metros. Embora estas linhas

- Parece, no entanto, haver uma certa repetição das cotas situadas por volta dos 200 metros, tanto de um lado como de outro da depressão.

- 25­

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secundárias, que nalguns ponto.s não passam de simples ressaltos na vertente, tenham uma

origem e uma morfologia nitidamente estruturais, pela forma como se ligam a camadas mais

duras porque mais calcárias ou porque mais espessas, e pelo ligeiro declive para Oeste do seu

reverso, em resposta ao pendor das camadas, parecem, no entanto, fornecer algumas indicações

quanto à evolução da depressão em que se integram. Com efeito, ao fazer-se a abertura da

depressão do Rabaçal, se esta se processasse a um ritmo mais ou menos contínuo, a fraca

espessura das camadas mais calcárias seria insuficiente para o estabelecimento destes acidentes

morfológicos secundários; já o mesmo não aconteceria se estas formas tivessem sido elaboradas

durante o encaixe rápido que se seguiria a fases de estabilidade do fundo da depressão, de tal

modo que ressaltassem as diferenças litológicas de pormenor. Quer dizer, estas formas, apesar

de estruturais, podem ter o significado de verdadeiras rechãs.

Embora não contenham depósitos, estas formas podem relacionar-se, como adiante

veremos, com os escassos depósitos que se conservam na depressão, que embora não tenham

origem fluvial, já que de depósitos de vertente se trata, significarão vários momentos de

estabilidade, ou pelo menos de paragem no processo de escavamento, de modo a permitir a

manutenção de testemunhos do trabalho de evolução ao nível das vertentes.

[...] 3.3 - AS SERRAS E PLANALTOS CALCÁRIOS

[...] 3.3.4 - O Planalto de Degracias-Alvorge

Mas nem só serras ocupam o território a que correspondem os afloramentos calcários

do Dogger. Toda uma vasta área situada entre as Serras do Rabaçal e de Sicó apresenta-se como

uma superfície, ainda que irregular, desenvolvida entre os 300 e os 350 metros, donde

sobressaem pequenos relevos que raramente ultrapassam os 400 metros. Esta superfície é

limitada a Oeste pela grande falha da Senhora da Estrela, que a deixa soerguida cerca de

200 metros, e a Este pela linha de "cuesta" imposta pela passagem dos calcários aalenianos para

as margas toarcianas, onde se escava, cerca de 150 metros abaixo, o fundo da depressão

ortoclinal onde corre o Rio dos Mouros (fig. 22). Assim levantada em relação às áreas

adjacentes, esta superfície bem pode ser considerada como um planalto, a que damos o nome de

duas das mais importantes povoações que nele se situam, Degracias e Alvorge, que, colocadas

em pontos opostos, respectivamente a NW e a SE, dão uma ideia da extensão da forma.

- 26­

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Fig. 22 - O Planalto de Degracias-Alvorge. Corte geológico esquemático do conjunto. F - Falha; F - Falha provável; 1 - Dolomias e calcários dolomíticos (Liásico inferior); 2 - Margas e calcários margosos (Liásico médio e superior); 3 - Calcários margosos (AaIeniano); 4 - Calcários (Bajociano-Batoniano); 5 - "Arenitos de Carrascal" (Cretácico inferior); 6 - Terraço (Quaternário); 7 - Aluviões (idem).

A irregularidade desta superfície está talvez relacionada com a sua complexidade do

ponto de vista genético. Se, no sector ocidental, parece haver uma relação mais ou menos

vincada entre a estrutura e as formas, no sector oriental, onde se conservam os retalhos

aplanados mais perfeitos, a morfologia parece ter a ver não só com uma carsificação antiga e

complexa, nalguns casos em dependência directa de linhas estruturais, mas também com

processos fluviais, fluviomarinhos ou mesmo marinhos, que arrasaram completamente a

estrutura.

Aos limites ocidental e oriental deste planalto correspondem formas que têm de ser

entendidas como formas estruturais: a escarpa de falha da Senhora da Estrela e a linha de

"cuesta" da depressão do Rabaçal.

A escarpa de falha da Senhora da Estrela está em relação com acidentes de orientação

meridiana do bordo ocidental das serras calcárias. A ligação entre o planalto e as baixas colinas

que se desenvolvem a Oeste do Rio Anços faz-se através de uma complexa escadaria tectónica,

a que correspondem degraus topográficos bem nítidos, mas havendo sempre um acidente

principal a que corresponde a escarpa mais importante (Costa do Alvito; Senhora da Estrela;

fig. 23).

Tal como acontecia na vertente ocidental da Serra de Sicó, também aqui parece haver

indícios do rejogo relativamente tardio destes acidentes. Para além da rigidez e da imponência

das escarpas maiores, os perfis transversais de alguns valeiros e mesmo dos canhões dos

Poios, bem como a conservação de depósitos nos sectores mais evoluídos destes valeiros,

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acima da escarpa, permitem pensar na actuação da tectónica posterionnente ao Pliocénico

terminal ou mesmo Quaternário inicial, idade presumível para tais depósitos!.

O limite oriental do planalto coincide praticamente com o limite dos calcários do

Dogger. Se, em traços gerais, a este limite corresponde uma linha de "cuesta", no ponnenor tal

fonna apenas se encontra já a Norte da Serra do Rabaçal. Com efeito, ao longo da frente

': oriental dos calcários do Dogger, de Norte para Sul vai-se perdendo o carácter de "cuesta". Isto

II: POdde dedver-se aadasdoisd faNctores. EmSpulrimeiro lugdar pardaece dhaver umoa dilID.l5~nUição gr~d~al do i,:I, pen or as cam e orte para , com pen ores or: em dos 1 a nas proxumdades

I['r de J aneanes e pendores inferiores a 10° nas imediações de Pombalinho e Alvorge. Isso, só por

J si, poderia justificar um maior vigor da fonna no sector setentrional. Por oútro lado, esse vigor

'ii depende também do grau de escavamento atingido na depressão ortoclinal escavada nas Iriargas

li: e calcários margosos liásicos. Ora, a depressão do Rabaçal atinge um escavamento mais !I

I' acentuado no seu sector de jusante, à entrada do canhão que lhe serve de abertura.

O aprofundamento vertical da depressão traz como consequência um evoluir sucessivo das

vertentes, mantendo neste sector uma fonna muito mais fresca que aquela que ocorre mais a

montante, onde a vertente apresenta um perfil bastante mais evoluído, logo, menos dependente

da estrutura.

Analisados que estão os limites principais desta unidade morfológica, já que apenas

falta referir o seu limite SE, o menos nítido, uma vez que a partir de Santiago da Guarda se vai

sucessivamente perdendo cota para SE e para Sul, dando passagem à Bacia Cretácica de

Ansião, atentemos agora no interior do planalto.

O seu desenvolvimento topográfico de Ocidente para Oriente mostra bem que esta

fonna, pelo menos nas suas grandes linhas, deve alguma coisa à estrutura. O basculamento

imposto pela falha da Senhora da Estrela tem repercussão morfológica imediata tanto na escarpa

já referida, como na descida que se regista no planalto (fig. 22 e 23), desde a Senhora da

Estrela (397 m) até Mocifas (260-280 m). Já o sector oriental, com maior regularidade

topográfica (300 m), parece corresponder a uma superfície de erosão, antiga e de origem

complexa, em que os processos de erosão cársica tiveram alguma responsabilidade, como se

pode deduzir das depressões amplas e pouco incisas, com contornos por vezes mal defmidos,

que aqui se conservam. Sirvam de exemplo, para já, as depressões de Alvorge-V ale Florido e a

superfície de Charneca, onde se conservam grandes quantidades de depósitos que pensamos

serem parcialmente correlativos desta fase de carsificação. Neste sector, menos tectonizado,

parecem estar disponíveis os elementos que permitem traçar a história deste planalto e, de certo

modo, de toda a área em estudo.

1 - Estaríamos numa situação algo semelhante à descrita por A. F. MARTINS (1949) para o bordo ocidental do Planalto de S. Mamede, levantado através da falha do Reguengo do Fetal.

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Independentemente da atribuição de idades às fonnas e depósitos encontrados no

planalto, parece ter-se registado um aplanamento hipoteticamente fluviocársico, durante um

tempo suficientemente longo para permitir a regularidade da fonna, de que apenas sobressaem

alguns "hums". A tectónica plio-quatemária e sobretudo o jogo da falha meridiana da Senhora

da Estrela provocou a defonnação desta superfície, sobretudo no sector ocidental, a que se teria

seguido, por imperativo dos declives recém-criados, uma fase de exumação fluvial, a favor dos

depósitos conservados e da sua impermeabilidade. Desta fase são testemunhos, entre outros, os

canhões dos Poios. No entanto, esta fase deve ter sido bastante curta, pois, para além dos

canhões dos Poios, os restantes valeiros apresentam-se suspensos. Para isso terá contribuído a

importância que sucessivamente os processos de erosão cársica iam ganhando por relação aos

processos de erosão fluvial, à medida que os depósitos iam sendo arrastados e as águas

ganhavam o contacto directo com a rocha mãe calcária, intensamente fracturada e soerguida em

relação às áreas adjacentes, deixando de correr superficialmente, para se infIltrarem e atingirem

as áreas marginais ao carso através da rede de galerias subterrâneas.

[...]"

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MACIÇO DE SICÓ

Lúcio CUNHA (1990) - As Serras Calcárias de Condeixa-Sicó­-Alvaiázere. Estudo de Geomorfologia. INIC, cal. Geografia Física, Coimbra, 1, pp. 235-241.

" [...] 5.6.2 - Hidrologia cársica

A ausência de escoamento superficial é uma das características principais dos maciços

calcários carsificados. A maior parte da água que cai no maciço entra na rede de galerias através

dos algares, dos lapiás e, de um modo geral, através das fendas superficiais do calcário, para

percorrer a rede subterrânea e sair, normalmente na bordadura dos maciços, através das

exsurgências. É isto que acontece na área em estudo, onde praticamente não existem cursos de

água subaéreos dentro da área dos calcários do Dogger e mesmo na área dos calcários

dolorníticos.

Nos calcários do Dogger são conhecidas algumas perdas e variadas exsurgências, tendo

sido já efectuadas algumas experiências de traçagem para avaliar o comportamento da drenagem

hipogeia (1. A. CRISPIM, 1986a e 1987). Embora não esteja demonstrada a existência de

verdadeiros "rios subterrâneos", existem, no momento actual, indicações importantes acerca de

alguns dos principais fluxos subterrâneos nesta área.

[...] A presença, em número significativo, de lapas e algares totalmente secos, a par com as

perdas e as exsurgências temporárias e permanentes, prova bem o desenvolvimento das três

zonas hidrológicas cársicas: a "zona seca", a "zona intermédia", temporariamente húmida, e a

"zona perpetuamente húmida" (CVmC, cito por A. F. MARTINS, 1949a, p. 205). A zona

seca, atinge já um des~nvolvimento importante, visto que algares explorados até à profundidade

de 75 m se apresentam sem vestígios de actividade hidrológica. As condições topográficas, mas

sobretudo as estruturais parecem indicar um mergulho para Oeste dos tectos das zonas

hidrológicas, pelo menos na área do Planalto de Degracias-Alvorge, em que as exsurgêndas

temporárias se encontram a cotas da ordem dos 250-300 m, a Este, e de cerca de 140 m, a

Oeste.

A localização das perdas e das exsurgências, algumas das relações entre estas,

demonstradas por trabalhos de traçagem, e a análise da estrutura e da morfologia da área,

permitem uma aproximação ao modo como se faz a circulação hipogeia no interior dos calcários

do Dogger, o mais importante conjunto carsificado da área. Para tal apoiamo-nos também nos

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cartogramas feitos por Ch. THOMAS (1985, p. 37) e por J. A. CRISPIM (1986a, p. 75), com

a mesma finalidade: mostrar dé forma esquemática o modo como se processa a circulação

cársica da área.

É difícil a defmição das bacias superficiais responsáveis por cada um dos escoamentos

hipogeios principais, já que, como ficou demonstrado por traçagem, pode haver difluência das

águas em profundidade, a exemplo do que acontece com as águas perdidas no Algar do

Caçador.

No entanto algumas regras gerais, presentes nos trabalhos já citados, permitem-nos

chegar ao cartograma da fig. 69.

Uma delas é a do papel dos anticlinais de Cabeça Gorda, Rabaçal e Torre de Vale de

Todos, de direcção ENE-WSW, e do anticlinal submeridiano de Campo-Camporez e dos

respectivos núcleos margosos, na compartimentação, em grande l , das bacias hidrológicas

cársicas.

Outra será a do papel desempenhado pelas grandes linhas de fracturação, nomeadamente

as de direcção N-S, NNE-SSW e NNW-SSE, no escoamento preferencial das águas

subterrâneas pelas razões já expostas quando do estudo da morfologia das cavidades.

Também de ter em conta é o papel desempenhado pelo pendor das camadas, susceptível

de, só por si, ditar os sentidos gerais do escoamento.

Juntamente com estes elementos de ordem estrutural, deverá ser ponderada a área

ocupada por cada uma das bacias superficiais, atendendo aos valores da precipitação e da

evapotranspiração real nas serras calcárias2 e dos caudais medidos nas exsurgências ou

conjuntos de exsurgências considerados (quadro XIX).

A análise da fig. 69 faz ressaltar a grande importância do grupo de exsurgências do Vale

do Anços, no escoamento hipogeio das águas caídas na área dos calcários do Dogger. A bacia

superficial de alimentação deste conjunto de exsurgências pode dividir-se em duas sub-bacias

pelo anticlinal da Serra do Rabaçal, drenando a sub-bacia setentrional para a exsurgência do

Ourão.

1 - "Em grande", porque, como já mostrámos, por vezes as margas liásicas podem deixar circular alguma água.

2 - Considerámos como valores médios para a área em questão, 1250 mm de precipitação e 570mm de evapotranspiração real (c. de 45% da precipitação).

Este valor de precipitação, ligeiramente inferior aos que resultariam da análise do mapa da repartição da precipitação de S. DA VEAU (1977), é estabelecido com base nos dados do posto de Degracias, o único situado no interior da área. Infelizmente, este posto apenas entrou em funcionamento em 1980, pelo que os seus dados foram aferidos pelos dos postos de Coimbra e de Soure.

O valor da evapotranspiração real foi calculado para Degracias, pressupondo que os valores de temperatura não se afastariam muito dos de Coimbra e que a capacidade de retenção de água do solo era bastante baixa (75 mm).

Os valores assim encontrados, se bem que algo artificiais, ajustam-se aos caudais anuais médios das exsurgências, partindo do princípio de que a escorrência superficial é nula.

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QUADRO XIX - Principais grupos de exsurgências

Nome Tipo Cota (m)

Caudal mínimo

(Vs)

Caudal máximo

(Vs)

Caudal méd.anual

(Mm3)

FORA DO DOGGER: Vila Nova Penn. 110 10 40 0.5 Olho Meirinho Penn. 120 5 300 4.0 Alcabideque Penn. 120 100 900 16.0 Lapinha

ARRIFANA:

Penn.

Penn.

70

Olho da Mó Penn. 40 ? ? 0.5 Arrifana Penn. 40 15 350 5.0

TOTAL:

ANÇOS:

5.5

OUIão Penn. 40 450 1500 25.0 Caruncho Penn. 60 50 300 4.0 Casal dos Morcegos Penn. 65 10 1000 10.0 Olhos de Água do Anços Penn. 70 400 5000 50.0 Rio Temp. 75 O 1000 0.5 Outras 0.5

TOTAL: 90.0

VALE PAIO

GRUPO ORIENTAL:

Temp. 120 O ? 0.5

Legacão Temp. 300 O 100 0.5 Alcalamouque Temp. 220 O 200 2.0 Fonte do Alvorge Penn. 240 7 50 1.0

TOTAL:

ANSIÃO:

3.5

Fonte do Carvalho Temp. 230 O ? 0.9 Poço Machinho Temp. 230 O ? 0.1 Olhos de Água de Ansião Temp. 210 O 1000 20.0

TOTAL:

DUEÇA:

21.0

Olhos de Água do Dueça

ALVAIÁZERE:

Temp. 200 1 1000 20.0

Vale Casado Temp. 175 O ? 5.0 Olho do Tordo Temp. 170 O ? 10.0

TOTAL: 15.0

TOTAL NO DOGGER: 155.5

Fonte: Dados gentilmente cedidos pelo Dr. F. Peixinho, da D. G. R. N. (Coimbra) e Espeleo-Divulgação, CRISPIM (1986a) e THOMAS (1985).

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Fig. 69 - Esquema provisório da circulação bipogeia nas Serras Calcárias de Condeixa-Sicó-Alvaiázere (Sector dos calcários do Dogger). 1 - Limite dos calcários do Dogger; 2 - Idem, por falha; 3 - Anticlinal; 4 - Exsurgências permanentes e temporárias e perdas; 5 - Limite das grandes bacias hidrológicas; 6 - Área não drenada directamente para qualquer dos grupos considerados; 7 - Pendor das camadas; 8 - Zona privilegiada de condução, motivada estruturalmente; 9 - Ligações provadas por traçagem; 10 - Ligações hipotéticas; 11 - Sentidos gerais do fluxo.

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As bacias meridionais que drenam para os Olhos de Água do Dueça, de Ansião e do

Tordo (Alvaiázere), e sobretudo as duas primeiras, têm uma área nos calcários do Dogger

bastante inferior àquela que seria necessária para assegurar o caudal que calculámos

para as exs urgências. Assim, somos forçados a pensar que, para os Olhos de Água do

Dueça, mais de metade da sua alimentação virá através dos calcários dolomíticos que ocupam a

parte superior da bacia hidrográfica do Dueça, enquanto que para o grupo de Ansião, cerca de

30% da água deve entrar na circulação cársica depois de se infiltrar nos depósitos gresosos da

Bacia de Ansião.

5.7 - TENTATIVA DE QUANTIFICAÇÃO DA VELOCIDADE DE EROSÃO

A tentativa de quantificação da velocidade de erosão nos maciços calcários tem

preocupado vários autores1, tendo sido muitos os esforços para medir de forma mais ou menos

rigorosa a velocidade a que se processa a dissolução actual dos carbonatos.

Esses cálculos baseiam-se sempre em dois tipos de dados: a quantidade de água que

percorre os sistemas hidrológicos cársicos superficial e profundo e o teor em carbonatos das

águas dos cursos superficiais e das exsurgências.

Em relação ao caso concreto da área em estudo, procurámos estabelecer estes valores

para o sector ocupado pelos calcários do Dogger, onde praticamente não existe escoamento

superficial. Através de análises químicas das águas das exsurgências (quadro XX) podemos

avaliar a quantidade de carbonatos dissolvidos2• Mais difícil é a avaliação da quantidade de água

que circula no sistema hipogeio pois, como vimos atrás, os valores dos caudais medidos das

exs urgências assentam num reduzido número de observações, e para os valores da precipitação

e da evapotranspiração real falta uma rede de postos de observação minimamente adequada.

Assim, os valores de 1250 e 570 mm calculados atrás, corresponderão apenas a uma

aproximação à realidade, o mesmo acontecendo com os 155.5 Mm3 estimados para o total

anual médio das águas escoadas pelas exsurgências.

1 _ Entre outros, referem-se J. CORBEL (1957 e 1959), J. DEMANGEOT (1965) e T. C. ATKINSON e D. I. SMITH (1976, citados por S. TRUDGILL, 1985).

2 _ Dado que as águas das exsurgências apresentam a grande maior parte das substâncias dissolvidas sob a forma de bicarbonatos de cálcio e de magnésio, foram determinados os teores em HC03-, Ca++ e Mg++. Apenas a exsurgência de Alcabideque revela teores de HCÜ3 inferiores em mais de 5% (margem de erro considerada) aos necessários para que todo o cálcio e magnésio estivessem sob a forma de bicarbonato, levando-nos a presumir a existência de sulfatos, já que estes foram aqui detectados, em valores significativos, por F. G. SILVA.

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No cálculo que efectuámos foi utilizada a fórmula de CORBEL (1959):

r

X =(P-E)H/lOOOIl, em que X corresponde à dissolução específica, expressa em m3

por Km2 e por ano; P-E, à coluna de água escoada, quer dizer à precipitação média anual

menos a evapotrallspiração real (em mm); H, ao teor médio em carbonatos das águas das

exsurgências; e 11 à densidade da rocha calcária, que é de cerca de 2.5. A dissolução específica

poderá ser expressa também em mm/milénio.

No quadro XX apresentam-se os resultados das análises químicas das águas efectuadas

nas principais exsurgências ligadas ao funcionamento hidrológico dos calcários do Dogger e,

ainda, os da exsurgência de Alcabideque. Foram efectuadas apenas quatro amostragens,

número reduzido para poder avaliar com exactidão o comportamento químico das águas

subterrâneas, mas que permite já avançar com uma ideia suficientemente credível dos valores

aproximados da erosão cársica na área.

Se excluirmos a exsurgência de Alcabideque, cuja bacia de alimentação se desenvolve, essencialmente, nas dolomias e calcários dolomíticos, a média ponderada dos teoresde CaC03

das águas das restantes exsurgências é de cerca de 245 mg!l, o que corresponderá a um valor de

dissolução específica de 66.6 m3/Km2/ano ou mm/milénio.

Este valor, muito semelhante ao encontrado por J. A. CRISPIMl (1986a, pp. 80-86)

para a mesma área (62.4 mm/milénio), apesar de constituir apenas uma grosseira aproximação,

pela dificuldade em estabelecer com rigor o balanço hídrico da área calcária e pelo baixo número

de análises efectuadas, pode, no entanto, comparar-se com os valores apontados na bibliografia

para outras áreas do Globo com características climáticas sensivelmente semelhantes. Segundo

dados de T. C. ATKINSON e D. 1. SMITH (citados por S. TRUDGILL, 1985), valores

semelhantes podem ser encontrados em Mendip, nas llhas Britânicas, e em Trieste, no carso

italo-jugoslavo. Valores ainda próximos poderão verificar-se também na Jugoslávia, no carso

de Postjona (60 mm/milénio; CORBEL, 1957, citado por J. DEMANGEOT, 1965, p. 314) e

valores um pouco mais elevados (80 mm/milénio) foram encontrados pelo próprio

DEMANGEOT para os Abruzos adriáticos, que apresentam um balanço hídrico mais favorável.

Implantando o valor encontrado no gráfico que relaciona os valores da dissolução com

os do balanço hídrico (T. C. A TKINSON e D. 1. SMITH, ob. cit.; J. A. CRISPIM, ob. cit.),

verifica-se que ele se relaciona com os dos carsos temperados revestidos por solos e cobertos

de vegetação. Como vimos atrás, embora persistam, na área em estudo, coberturas gresosas

que permitem o desenvolvimento da vegetação, afloram também largas áreas de calcários nus.

Com os dados recolhidos e aqueles que são fornecidos por J. A. CRISPIM (ob. cit.),

não será possível fazer ainda uma análise detalhada das variações regionais e locais das

condições de dissolução para as serras calcárias. No entanto, os valores encontrados para as

1 - A f6nnula utilizada foi também a de CORBEL (1. A. CRISPIM, oh. cit., p. 84).

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várias exsurgências apresentam uma certa variação, podendo afIrmar-se que as exsurgências da

frente ocidental, as mais importantes quanto aos caudais escoados e, provavelmente, as que

traduzem uma circulação mais profunda, são as que apresentam os mais baixos teores em

carbonatos. Os valores mais elevados vão encontrar-se na exsurgência do Alvorge e, para além

do seu fraco caudal, deverão ter a ver com a alimentação na área da uvala do Alvorge, atapetada

por depósitos gresosos e densamente florestada, pelo menos nalguns sectores.

Teores também relativamente elevados ocorrem nos Olhos de Água de Ansião, cuja

alimentação se relaciona, pelo menos em parte, com a área florestada de passagem das serras

calcárias para a Bacia Cretácica de Ansião. Os valores apresentados por J. A. CRISPIM (ob.

cit.) para as exsurgências de Fonte do Carvalho e Poço Machinho, a Norte de Ansião (326 e

346 p. p. m., respectivamente) e mesmo para o Olho do Tordo e Vale Casado, no sopé

ocidental da Serra de Alvaiázere (291 e 273 p. p. m., respectivamente), traduzem uma situação

semelhante: uma maior agressividade e uma maior velocidade de dissolução quando as águas

percorrem terrenos gresosos revestidos por vegetação abundante, já que estas quatro

exsurgências se situam na bordadura ocidental das serras e planaltos que se estendem do

Castelo do Sobral à Serra de Alvaiázere, no encontro com a Bacia Cretácica de Ansião, sendo

alimentadas numa área calcária ainda fortemente revestida por depósitos e vegetação.

Assim, apesar do carácter provisório destes dados, é possível supor que todo o sector

meridional das serras calcárias, onde se mantêm grandes quantidades de coberturas gresosas,

reveladoras de uma exumação incompleta das formas, terá uma evolução cársica mais activa que

a verifIcada nos sectores setentrional e central, menos revestidos, o que poderá signifIcar a

grande importância que a carsifIcação sob cobertura ainda detem na evolução do modelado e

presumir a que teria tido, para o conjunto da área, antes do desmantelamento parcial dos

depósitos gresosos.

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Quadro XX - Análises químicas sumárias das águas das exsurgências e cálculo da velocidade de dissolução cársica (CORBEL, 1959) nas Serras Calcá­rias de Condeixa-Sicó-Alvaiázere (sector de calcários do Dogger).

Caudalméd. anual (Mm3) HC03 Ca

Alcabideque - 06.11.87 310.0 96.1 04.03.88 320.0 105.2 15.05.88 324.0 99.8 12.07.88 325.2 105.8

16

Arrifana - 06.11.87 287.5 94.7 04.03.88 290.0 95.7 15.05.88 294.4 96.2 12.07.88 306.8 99.4

5 Ourão - 06.11.87 254.0 84.0

04.03.88 280.0 91.2 15.05.88 257.6 83.0 12.07.88 287.4 90.6

25 O. A. Anços -06.11.87 280.0 92.6

04.03.88 290.0 94.7 , 15.05.88 290.0 95.0

12.07.88 305.0 98.6 50

O. A. Ansião-06.11.87 292.5 94.7 04.03.88 325.0 101.2 15.05.88 308.8 98.2 12.07.88 329.1 104.2

20 Alvorge - 06.11.87 366.0 124.0

04.03.88 360.5 121.7 15.05.88 368.8 118.2 12.07.88 367.5 127.1

1

Teor equivalente de CaC03 CRISPIM Mg (mgfl) Valo moo. (1986a) 12.4 291 17.0 333 14.2 308 16.5 332

316 -1.9 245 1.6 246 1.0 245 2.0 257

248 246 2.5 220 3.3 242 3.4 221 2.2 236

230 -2.7 243 1.0 241 3.1 250 1.0 251

246 261 4.5 255 2.7 264 1.9 253 1.0 265

259 286 3.5 324 1.0 308 1.8 303 1.0 322

314 324 Média ponderada: 245 267

Prec. - Evap.real: 680 mm 600 mm

Valor da dissolução cársica (mm/milénio): 66.6 62.4

- 38­

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MACIÇO DE SICÓ

Lúcio CUNHA (1990)- "Alguns problemas ambientais em áreas cársicas. O exemplo das Serras Calcárias de Condeixa-Sic6-Alvaiázere". Cadernos de Geografia, Coimbra, 9, 1990, pp.127-142.

"[...]

A PAISAGEM 1

Ape'sar de eventualmente se prestarem a confusões e a equívocos quanto ao seu

significado, estes termos, ligados ao objecto de estudo da Geografia (e da Geografia Física),

parecem-nos, no entanto, os que melhor se adaptam para a descrição e interpretação sistémica

do espaço gegráfico, numa perspectiva ambientaI.

Embora corresponda a "um todo, percebido através dos vários sentidos"

(G. ROUGERIE, 1971), para entendermos uma paisagem e a sua dinâmica toma-se muitas

vezes necessário dissociá-la nos seus vários componentes.

Entre os componentes principais da paisagem das serras calcárias distinguiremos, as

formas de relevo (a geomorfologia), a vegetação e os solos que lhe servem de suporte

(a biogeografia) e ainda aqueles que resultam directamente da intervenção das sociedades

humanas, que, por sua vez, estão dependentes da densidade populacional, dos tipo de

actividades praticadas e, ainda, do nível económico e sócio-culturaI das populações.

A principal especificidade geomorfológica desta área calcária está, certamente, no

desenvolvimento de um conjunto de formas cársicas típicas e atípicas, de superfície e de

profundidade.

Entre essas formas, já tratadas em anteriores trabalhos, inventariamos aquelas que, sem

dúvida, contribuem para a especificidade e espectacularidade da paisagem cársica: lapiás,

dolinas, grandes depressões cársicas, canhões fluviocársicos, com ou sem as características

"buracas", dentro das formas de superfície, e lapas e algares, dentro das formas cársicas de

profundidade.

Apesar de as formas cársicas mais típicas, as dolinas, e de certo modo também as

grandes depressões cársicas, se di~tribuirem por todo o afloramento de calcários do Dogger

sem concentrações dignas de registo especial, a distribuição espacial das restantes formas, tanto

de superfície, como de profundidade, mostra que estas apresentam uma clara preferência pelos

sectores mais fracturados e soerguidos em relação às áreas marginais. Este facto tem a ver não

I _ A utilização dos tennos "paisagem" e "paisagem natural" entre os geógrafos não é totalmente destituída de polémica (cfr., por exemplo, G. BER1RAND,1982).

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só com a importância decisiva .da fracturação e do soerguimento no desenvolvimento da

"permeabilidade em grande" dos calcários, mas também com um outro facto que diz respeito ao

modo com ao longo dos tempos geológicos se fez a evolução dos mecanismos cársicos na área.

Com efeito, a carsificação registada nas serras calcárias de Condeixa - Sicó - Alvaiázere

é uma carsificação antiga e com uma história complexa (cfr., a propósito, L. CUNHA e

A. F. SOARES, 1987 e L. CUNHA, 1990), na qual se distinguem diversas fases, que

progressivamente contribuíram para a paisagem cársica nossa contemporânea. Sabe-se hoje que

uma das principais fases de carsificação será anterior ao soterramento das formas então geradas,

por depósitos gresosos em tudo semelhantes aos Arenitos de Carrascal1,. No Cretácico

inferior, estes depósitos gresosos terão coberto todo ou quase todo o afloramento ~alcário,

soterrando uma topografia provavelmente pouco vigorosa e pouco soerguida no seu conjunto,

mas em que as formas cársicas (lapiás gigantes, doli~as e grandes depressões cársicas) tinham

já uma importância fundamental.

À medida que, durante o Terciário e já mesmo no Quaternário, se fez o levantamento

diferenciado das Serras Calcárias, as áreas mais levantadas vão sendo exumadas e expostas à

carsificação subaérea, ao mesmo tempo que nos blocos deprimidos se conservam os depósitos

cretácicos e se depositam remeximentos destes, e, muito lentamente, continua a actuar a

carsificação sob uma cobertura que não é totalmente impermeável.

Não admira, assim, que ainda hoje se assista a uma diferenciação espacial na repartição

de algumas formas cársicas (lapiás, lapas e algares, por exemplo) que se concentram,

sobretudo, nos sectores mais fracturados, elevados e, consequentemente, "limpos" de

depósitos. Mercê da tectónica que afectou estes sectores e do modo como os cursos de água

subaéreos se instalam, é também, aqui que se encontram as vertentes mais íngremes e

espectaculares, quer se trate de simples escarpas de falha ou das vertentes dos canhões e

"reculées" de natureza fluviocársica.

Essas áreas de maior concentração de formas cársicas correspondem a todo o sector

ocidental das Serras calcárias e sobretudo às Serras do Circo, Rabaçal e Sicó e às áreas da

Srª' da Estrela e dos Poios, no Planalto de Degracias - Alvorge, a Ocidente, e às Se!fas de

Ariques e Alvaiázere, a Oriente. A estas áreas de rocha nua e lapiasada, perfurada interiormente

por uma rede mais ou menas densa de galerias, opõe-se, por exemplo, a grande maior parte do

Planalto de Degracias - Alvorge, onde apesar da existência de dolinas e uvalas, de alguns

pequenos campos de lapiás e de algumas poucas lapas e algares, se desenvolve uma morfologia

de tipo essencialmente fluvial, ainda que os valeíros, hoje quase sempre secos, não tenham a

1 -Reconhece-se uma fase de carsificação anterior, intrajurássica, marcada pelo preenchimento de depressões cársicas abertas nos calcários do Dogger, por margas gresosas e argilitos vennelhos tidos como do Malm. Esta fase, importante para a compreensão da sedimentação jurássica e dos seus condicionalismos, não terá um significado digno de registo especial quando se trata de explicar a morfologia cársica actual.

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funcionalidade de tempos idos. A preservação destas formas revela o grande preenchimento

(quase se poderia dizer fossilização) do carso epidérmico por depósitos gresosos de várias

gerações, mas que virão, pelo menos, desde os tempos cretácicos.

A diferenciação entre áreas de carso nu ou parcialmente exumado das áreas de carso

coberto ou enterrado por depósitos gresosos, vai necessariamente repercurtir-se na distribuição

dos solos e da vegetação.

Com efeito, enquanto os sectores mais elevados e exumados, com rocha nua e com

magros solos descontínuos nas fendas dos lapiás, apresentam uma vegetação degradada de tipo

garrigue com tufos de carrasco, algumas oliveiras e apenas alguns tufos de vegetação arbórea

(carvalho português, pinheiro, eucalipto) junto aos fundos de vale onde se concentram os

escassos depósitos de cobertura que permitem o desenvolvimento de solos com uma certa

espesssura, os sectores mais deprimidos ou aqueles que ainda conservam grandes quantidades

de depósitos gresosos, como acontece com a grande maior parte do Planalto de Degracias -

Alvorge, mantêm uma vegetação relativamente exuberante com carvalho português e sobreiro,

restos da antiga vegetação de características mediterrâneas, a que se associam, na maior parte

dos casos, os pinheiros e os eucaliptos de introdução mais recente.

Embora correndo o risco de um certo simplismo no raciocício e até de um

"determinismo" exagerado, pode afIrmar-se que esta diferenciação vai ainda manifestar-se na

rendimento agrícola dos solos, tendo forçosamente consequências na 'distribuição actual da

população que, presa a actividades socio-económicas muito ligadas à agricultura e à pastorícia,

se afasta dos sectores de carso exumado, manifestando uma clara preferência pelas área de

carso coberto. Quer o número de povoações, quer sobretudo a densidade populacional, variam

muito no interior da área aqui em análise, apresentando os valores mais baixos nos sectores das

Serras Calcárias, que se apresentam mais soerguidas, exumadas e carsmcadas em termos

superfIciais. Com efeito, para o ano de ,1981, a densidade populacional dos seis concelhos a

que pertence a área varia entre 60,7 habIKm2 em Penela e 98,2 habIKm2 em Condeixa.

No conjunto das Serras Calcárias em análise a densidade populacional é bastante mais baixa, da

ordem dos 33,5 hablKm2, e mais baixa ainda será no sector de carso exumado, onde se

encontram valores de 22,0 hab/Km2 no bloco que vai da Serra do Circo à Serra de Sicó e de

6,6 hab/Km2 nas Serras de Ariques e Alvaiázere. Em contrapartida, no sector do Planalto de

Degracias-Alvorge em que o carso permanece soterrado por depósitos gresosos e as condições

agrícolas são mais favoráveis, a densidade populacional atinge os 67 hab/Km2, valor que se

aproxima do valor médio de alguns dos concelhos em causa.

Fica assim demostrada claramente a existência nas serras e planaltos calcários de dois

tipos de paisagens que, ainda que comandadas directa ou indirectamente por processos

cársicos, são bem distintas.

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Nos sectores de carso .exumado, a paisagem cársica revela-se em toda a sua

grandiosidade selvagem: rocha nua, perfurada e lavrada em campos de lapiás; vertentes

escarpadas, a que as "buracas" e as escombreiras de gravidade aumentam a espectacularidade;

existência frequente de lapas e algares que estabelecem a comunicação entre a superfície e as

galerias interiores; a vegetação arbustiva e arbórea é escassa e restringe-se a algumas oliveiras, a

tufos arbustivos à base de carrasco e a raros tufos arbóreos de carvalho português e por vezes,

pinheiro e mesmo eucalipto. A intervenção humana sobre as componentes naturais desta

paisagem tem vindo a ser progressivamente reduzida à medida que a população abandona estas

áreas pobres. As marcas maiores da acção humana estão patentes no desaparecimento de grande

parte do coberto vegetal através do pastoreio de gado caprino e ovino e das queimadas com

vista ao aproveitamento de terrenos para a pastorícia e o cultivo. Outras marcas,

harmoniosamente inseridas nesta paisagem de pedra, são os muros e os montículos de pedra , solta, ligados à tarefa de despedrega dos campos para a magra agricultura de sequeira que aqui

se pratica.

Nos sectores em que a exumação do carso foi incompleta, como acontece com a grande

maior parte do Planalto de Degracias-Alvorge, embora estejam presentes algumas formas

cársicas de grandes dimensões (casos dos depressões de tipo uvala de Ramalheira e do

Alvorge), a presença das coberturas gresosas com carácter mais ou menos contínuo, ainda que

não permita a retenção superficial da água, que continua a faltar, é responsável por um maior

desenvolvimento da cobertura vegetal arbórea e por um aproveitamento agrícola muito mais

significativo.

Para além das áreas de paisagem cársica propriamente dita, merece ainda referência

especial a paisagem que pode ser observada nas depressões calcomargosas do Rabaçal, de

Torre de Vale de Todos e do Campo-Camporez e nas áreas que envolvem as duas primeiras,

nomeadamente as que dizem respeito aos relevos do Castelo do Rabaçal, Juromelo, Cruzeiro,

Ateanha e Monte de Vez. Encimados por calcários compactos do Dogger, estes morros

destacam-se bem numa paisagem de terras baixas e praticamente despidas de vegetação, que

correspondem aos calcários margosos e margas do Liásico médio e superior.

As características climáticas da área bem como o desaparecimento da vegetação das

vertentes calcomargosas, muitas vezes recobertas por cascalheiras móveis, em associação com

condições favoráveis de exposição e de declive, têm levado ao aparecimento e desenvolvimento

relativamente rápido de ravinas (F. REBELO, 1982 e F. REBELO et ai., 1986), um dos

elementos morfólogicos de ordem secundária desta unidade paisagística.

O aproveitamento agrícola do fundo destas depressões e nomeadamente a presença

abundante da oliveira e da vinha, contribuem para dar a esta área a marca de uma paisagem de

características tipicamente mediterrâneas.

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Pela relativa platitude dos cimos e pela fraca carsificação superficial e profunda, a

paisagem das colinas dolomíticas não tem a grandiosidade e a variedade daquelas que podem

ser observadas nas serras e planaltos calcários ou nas depressões calcomargosas e relevos

envolventes. A própria vegetação, que corresponde a extensas e monótonas matas de pinheiro e

eucalipto, com raros carvalhos ou sobreiros, e a intensa utilização agrícola de que são alvo os

fundos dos vales fazem com que, do ponto de vista paisagístico e em nossa opinião, as colinas

dolomíticas se assemelhem mais aos terrenos gresosos e baixos que as marginam a Oriente, ou

mesmo com as serras do Maciço Hespérico, do que com as áreas atrás apresentadas.

PROBLEMAS AMBIENTAIS

Como foi já referido, mercê das suas características geomorfológicas, hidrogeológicas e

bióticas, as serras e maciços calcários carsificados são áreas particularmente sensíveis em

termos ambientais.

Os principais problemas que nestas áreas se colocam e que têm levado a tentativas de

protecção e de preservação do ambiente consentânea com a promoção económica, social e

cultural das populações rurais que as habitam, como acontece com o "vizinho" Maciço Calcário

Estremenho1, são:

- a preservação da paisagem "natural", sui generis e de grande beleza;

- a preservação da qualidade e da quantidade da água;

- preservação da fauna e da flora naturais; e

- a preservação dos ambientes subterrâneos.

Sobre estes dois últimos aspectos não caberá, talvez, ao geógrafo pronunciar-se, dada a

sua falta de formação específica nestes domínios. No entanto, em relação aos aspectos ,

biológicos e biogeográficos deste espaço, será pelo menos de referir a importância de algumas

raras matas de carvalho português e de alguns belos exemplares isolados de Quercus faginea,

testemunhos da vegetação natural de tempos idos, bem como a importante reserva cinegética

que esta área constitui do ponto de vista faunístico.

Em relação aos ambientes subterrâneos, merece especial destaque o importante trabalho

desenvolvido pelas equipas de espeleólogos amadores. Apesar das condições deficientes de

trabalho, por falta de apoios materiais, estas equipas têm desempenhado uma tarefa altamente

meritória na inventariação, exploração, estudo e mesmo protecção das cavidades subterrâneas.

1 _ O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, criado através do Decreto-Lei nS! 11Sn9 de 4 de Maio, engloba praticamente todo o Maciço Calcário Estremenho, com exclusão da grande maior parte do Plana1to de S.Mamede.

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Acresce, ainda, o facto de não haver cavidades sujeitas a exploração turística, reduzindo-se,

assim, significativamente, as agressões sobre os ambientes subterrâneos.

Preservação da paisagem natural

Registámos, atrás, a diversidade de paisagens que aqui se pode constatar e que resulta

da conjugação de características geomorfológicas e pedológicas diversas, de coberturas vegetais

distintas e de pressões humanas e graus de degradação igualmente diferenciadas.

Para evitar a degradação futura de uma paisagem ainda relativamente pouco degradada,

pelo menos nalguns sectores, impõe-se a criação de um parque natural l , que inclua pelo menos

as Serras de Alconcere, Cruto, Circo e Rabaçal, as áreas da srª da Estrela e dos Poios, a Serra

de Sicó e as Serras que se estendem desde o Castelo do Sobral a Alvaiázere. ,

A esta área de paisagem cársica, que do ponto de vista espacial mantém uma certa

descontinuidade, dever-se-ão juntar, garantindo uma solução de continuidade ao conjunto da

área, os restantes sectores do afloramento de calcários do Dogger, se bem que pouco

carsificados, as depressões calcomargosas do Rabaçal e de Torre de Vale de Todos, e ainda os

relevos envolventes (Monte de Vez, Ateanha, Cruzeiro, Juromelo e Castelo do Rabaçal).

O interesse do parque natural a ser criado não se restringirá aos aspectos

geomorfológicos, bióticos e humanos que directamente se manifestam na paisagem, já que esta

área apresenta também um significativo interesse nos domínios geológico, hidrológico,

espeleológico e histórico-arqueológico, a justificar a sua criação.

Sendo o parque natural uma área em que a protecção do ambiente decorre em

consonância com a promoção económica, social e cultural das populações, haverá dentro desta

vasta área, outras mais restritas, cuja dinâmica específica talvez justifique uma protecção de tipo

integral, como acontece com os vales das Buracas e dos Poios, e com a área da escarpa da

srª· da Estrela. Para estas e eventualmente para outras áreas a fixar talvez se justifique a figura

jurídica de reserva natural .

Uma das principais formas de agressão paisagística, e portanto ambiental, que

normalmente atinge as serras e maciços calcários é a que resulta da extracção da pedra.

Com efeito, a pedra, o calcário, extraído para os mais diversos fins (rocha ornamental,

indústrias cimenteira e da cal, saibro, ou mesmo pó para calagens) constitui um dos principais

recursos naturais destas áreas pobres.

Sem pretender entrar em grandes considerações ou mesmo em polémicas sobre esta

matéria, pode no entanto, afirmar-se que as pedreiras, tal como hoje se apresentam na área aqui

1_ Segundo o Decreto-Lei n·B· 613n6 de 27 de Julho, um parque natural é "uma área do território, devidamente ordenada, tendo em vista o recreio, a conservação da natureza, a protecção da paisagem e a promoção das populações rurais".

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em análise e na generalidade do nosso país, constituem, de facto, uma violenta agressão à

paisagem1, mas que a exploração da pedra pode e deve mesmo desenvolver-se desde que não

seja feita de forma perfeitamente anárquica e selvagem, mas desde que sejam observadas as

normas já previstas na Lei2. Entre essas normas salientam-se a necessidade de proceder a

estudos de localização e de avaliação do impacto ambiental das unidades a instalar, o correcto

dimensionamento das explorações em função do enquadramento paisagístico, e, por fim, a

obrigatoriadade da recuperação paisagística no final da exploração.

Estas e outras normas, quer dizer o cumprimento da Lei vigente, poderá vir a permitir a

valorização económica desta áreas deprimidas, sem que os custos em termos ambientais sejam

demasiado elevados.

Preservação da qualidade e da quantidade da água

A água, ou melhor, a sua falta, constitui talvez o principal problema das populações

serranas. No entanto a água que escasseia à superfície, onde rapidamente se infiltra ainda que

de forma difusa, abunda no sistema cársico interior, percorrendo galerias hipogeias e saindo

nos sectores marginais mais baixos através de exsurgências bem localizadas.

Com efeito e pensando apenas no sistema cársico principal, aquele que diz respeito aos

calcários do Dogger, no conjunto das Serras Calcárias aqui em apreço deverão circular cerca de

155 x 10 6 m3 por ano, dos quais cerca de 90 x 106 m3 serão drenados pelo conjunto de

exsurgências do vale do Anços, o mais importante sub-sistema de toda a área.

Com uma circulação que, sob pressão ou apenas sob a acção da gravidade, se faz em

condutas mais ou menos amplas, a água em circulação embora sofra decantações sucessivas

não passa por nenhum processo eficaz de filtrage~ natural desde a sua entrada nas fendas

superficiais do calcário, até à sua saída n~s exsurgências.

Esta água, hoje já utilizada no abastecimento público às populações3 constitui uma

importante reserva em termos futuros, pelo que alguns cuidados terão de ser tomados para

manter a qualidade desta água em níveis aceitáveis.

Os principais problemas que se colocam a este respeito são a falta de rede ou de

qualquer tipo de saneamento básico para os cerca de 7000 habitantes que habitam o sector dos

calcários do Dogger, a utilização dos algares como vazadouros de lixo e como cemitérios de

1 _ Para além do seu efeito de agressão estética na paisagem, as pedreiras, depois de abandonadas sem qualquer trabalho de recuperação, representam um sério perigo para as populações, não só pelas movimentações de terrenos que nelas podem ocorrer, como pelo facto de normalmente serem utilizadas como vazadouros de lixo e entulhos, contribuindo para poluição dos aquíferos hipogeios.

2 _ Decreto-Lei 89190 de 16 de Março.

3 _Estão instalados sistemas de captação nas exsurgências de Arrifana, Ourão e Olhos de Água de Ansião.

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animais e a progressiva introduçã~ do gado bovino criado em regime estabular. Pensando mais

em termos de acautelar situações futuras do que no que hoje acontece, poder-se-ia acrescentar a

instalação de indústrias poluentes dos aquíferos, que no momento actual se limitam a duas

pequenas unidades agro-alimentares.

CONCLUSÕES

Embora correndo o risco de uma certa superficialidade nas propostas que se irão

apresentar, pensamos que a resolução ou a tentativa de resolução dos problemas de ambiente

nas Serras Calcárias de Condeixa - Sicó - Alvaiázere passará sempre, para além das medidas de

carácter jurídico-administrativo, tais como a criação de um Parque Natural e/ou de Reservas ,

Naturais para áreas mais circunscritas e de características específicas, por:

1. Avaliação/estudo do estado actual do ambiente e da sua dinâmica. Tal

estudo em grande parte já realizado ou em vias de realização, terá de ser entendido numa

perspectiva interdisciplinar e para além dos geógrafos, cientistas privilegiados para estabelecer

esta primeira caracterização do estado do ambiente, devará contar com a -participação de

geólogos, biólogos, espeleólogos, historiadores, agrónomos e outros especialistas cuja

participação se venha a revelar pertinente para este estudo de caracterização.

2. Melhoria das condições de vida das populações , tanto do ponto de vista

socio-económico, como do ponto de vista cultural. De grande premência é o problema da

criação de infra-estruturas que permitam esta melhoria. Estão em causa a instalação da rede de

distribuição de água ao domicílio, encontrar uma solução para o problema do saneamento

básico e continuar o esforço já feito no sentido de dotar a área serrana de um conjunto de

estradas e caminhos que permitam o fácil acesso a todas as povoações.

3. Sensibilização das populações, quer para a protecção do ambiente em termos

gerais, quer para o risco que envolve o lançamento de lixo e de cadáveres de animais para os

algares.

4. Incentivo à retoma de práticas e culturas tradicionais, como é o caso dos

frutos secos, do azeite e do mel, a par com a produção do já célebre queijo (Queijo do Rabaçal).

5. Resolução dos problemas levantados pelas pedreiras, tarefa que compete

essencialmente às autarquias e aos organismos oficiais responsáveis pelo licenciamento e

fiscalização da actividade de extracção da pedra. Pensamos que com a aplicação rigorosa da Lei

em vigor, grande parte dos problemas serão resolvidos.

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Com estas medidas que mais não visam que o compromisso entre a promoção socio­

-económica das populações e a preservação da qualidade da paisagem e do ambiente em termos

mais gerais, este espaço pode ganhar uma outra rentabilidade, eventualmente acrescida através

do aproveitamento turístico das serras calcárias. A beleza da paisagem e a singeleza dos

modos de vida são susceptíveis de atrair pessoas interessadas na prática do chamado "turismo

rural", mas também e sobretudo no "turismo de passagem". Para tal impõe-se a marcação de

itinerários e a criação de miradouros criteriosamente estudados de modo a fazer ressaltar a

riqueza paisagística da área.

Por outro lado, impõe-se a criação de pontos de estud%bservação e mesmo

de Laboratórios Naturais. Trata-se, de facto, de um espaço privilegiado para o

desenvolvimento de estudos científicos de grande interesse, que muito poderão vir a contribuir

para a divulgação e prestígio, portanto para a valorização, desta área

Ainda que sem carácter exaustivo, referem-se alguns dos temas a estudar ou alguns dos

pontos de interesse científico mais relevantes: no âmbito da geomorfologia, o estudo de

processos erosivos actuais (dissolução dos calcários e ravinamentos, por exemplo); no âmbito

da geologia, a fixação de cortes geológicos de referência quer para o estudo litostratigráfico,

quer para o estudo das condições tectónicas que condicionaram a sedimentação carbonatada; no

domínio da biologia e da ecologia, o estudo da dinâmica de povoamentos vegetais em extinção;

e, para terminar esta lista meramente exemplificativa, no dorilínio da espeleologia, o estudo das

condições ambientais subterrâneas.

[ ...] "

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Mapas, Gráficos e Quadros

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---------------o Al uvieo ~

Areias de Gândara Areias Eõlicc3

Terraços Fl uviais (Tufos de Condeixa)o ~

Areias de Cantanhedeu ~

Depósito de Arazede'o ~D~ãN

Areias de Alencarceo Z LU U formação de Bom Sucesso> Arenitos de Queridas

Areias e Argilas de Silvei ri nha

Areias e Arailas Arenitos e Argilas ~o . ~________~d~e~V:i~Z~O~~~JC:2~~í1:;~~

Grés de Rebolia ­~

Arenitos Fi nos de Lousões

Cfllcérios de Tentúgfll 5 Calcários de Costa de Arnes

Arenitos de Boa-Vlagem I: . 3-J Calcários e Margas oe:: I: . Calcários Hidráulicos

Calcários de Póvoa da Lomba

Margas e calc~rios Margosos de Pedrul ha(parte)5 Margas Calcá:i~s de S. Gião

Margas e Calcarios Margosos de Ei ras Margas e Calcanos Margosos de Quiaios

Camadas de Coimbra

Ca mades de Pe rei ros Grés5 Ma rgas de Dago rda deo Camedas de Castelo Viegas Silvesu-<I) Camadas de Conraria .<J:

....:a::= r- c

Fig. 1 - Esboço geológico do Baixo Mondego (legenda), sego A. F. SOARES e J. F.

1:1ARQUES, in A. C. ALMEIDA et aI., 1991.

- 50­

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12 LAIVOS AMARELOS. AREIA MUITO GROSSEIRA, CAULiNiFERA. ES8RANQUIÇADA, CQM

- ' ..~ ----- -------_. --- 1--­- ARGILA AVERMELHADA COM LAIVOS AMARelOS. 13-

. , AREIA MUITO GROSSEIRA, CAULINiFERA, ESBRANQUiÇADA C/OUAR· 14 TZQ FERRUGINOSO. ARG IL',;: ÃVE'RMElHAoà COM LAIVOS AMARelADOS. 15

... AREIA MEDIA A GROSSEIRA. CAULINiFERA. BRANCA .. ...2!-

Furo de captação no aquífero das aluviões do Mondego - Campo do BoIão, Coimbra (captação da Fábrica da Cerveja).

- 52 ­

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0.0

. Solo aIle.no.\o IÚco em r.1lLtéJúa.

01t!Jâ.YÚ.c.a.

5.M---------------------------~~~~~

Á!r.ua. metÜ..a a é·üla leveJ:Iente lo

paIt.lt a bcu e.

12. JTi--------------tt±~~:2i

Lodo ca.4.:tanho UCUJt.o levemente

aIleno.\o.

22. L--__1�� 23.0

Á!r.v..a !J~o.\.\~a a muito !J~o.\.\~

.\.Ux.o com c.alhau. Mlado.

36.0~__________________________~~~~~LL~~

Furo de captação no aquífero das aluviões do Mondego - Campo do BoIão, Coimbra.

- 53 ­

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P .... o

750

- 9,511

-11:1,00

Ardi ... fin:, acinlen'.kl.J lodosa

20

Ludo cin':t:nlll dSCuro com Conch,:,ai

-29,50

-30,50

-33,00

-37,00

-39,00 AIUil;. arunosa av~'melh.JCIa

, 40,Gu

Furo de captação no aquífero das aluviões do Mondego - Parque de Campismo de Montemor-o-Velho.

- 54 ­

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INTEFI --AC 2

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-140.00

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Furo de captação no aquífero dos Arenitos de Carrascal - Carritos, Figueira da Foz.

- 55 ­

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ES80Ç~ GEOMORFOLÓG1CO DAS SERRAS CALCÁRIAS DE CONDEIXA -SICÓ - ALVAIAZERE

Morrumelr .. :

I~HUI·v~'.X:e~

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E\:::-~lújO de L CC?\I-L\ (1990) - 56 ­

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I i ," i ~ v i ' !'­: : /i . " iI': "\.i/r i "

/ I ! 1

Gráfico da Precipitação I Descarga das exsurgências p do bordo ocidental do Maciço de Sicó Q

(mm) (l/s)

500 5000

.... . ___ Arrifana

I I

- -fr- - Ourão I 400 I 4000

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300 "I ! ! 3000

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1984 1985 1986

Segundo F. PEIXINHO

·57 ­

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Quadro XXII - Quadro-resumo da .,·olllção regional do r, levo (·l.

TECTÓSICA COSDIÇÓES CLI~IÁTICAS DEPÓSITOS

FOR~IAS E ?ROCESSOS SÃO c.- RSICOS

FASES DE CARSIFICA­ÇÃOIEXU~AÇÃO

i\"U"IUCS (' lU.Ui c~it.·.. nlJlo 1o'Oluçao oe f"Jm :n",r a.u ovenenles

HOLOCÉ/-.~CO l000v +-----1

Tempc:n.do (~t'd.) 2 i

de fundo de vale

Tufol (50 m)

(p_ ex.: 11 InunenlOs)

Encaixe ~b·.C1UaJ

~ IXp. de verto hettrométrico Friõ Oitoral) Canifieaçlo de pormenor

, p.leouolo neuro • (lariás e peqlJCn&S dolin••)

200:)0 i GelifuC'los (Ino, e homomê-

IricoS Encaixe da IT· e IUdro",Uic. e. regulariu,·o parcial das

Wilrm Frio ver. -:lIes

Canifieaçio de pormenorTufos (10 m) 7 Tr-mpc:ndo100000 (Iapih e requen&. JoHnu)

Inicio di .lbenura do Dep. ven. hctcrom. (cim.) canhio d~ Con(mbri,.

(fue "von vcl lO de)tft­Frio200000 Riss Gc:lifractos fino: e homomé­ volvimcnH de cap.uru) lricos (cim.)

Canificaçlo imponlnlC .,Tnycrtinos (100 m) Tc:mpc:ndo a quente M/R

Moy. tectónicosMindel S(){I()()()

GIM

1M Gunz

VF. SUj)o r- Mov. tecto importo (Der. r ..... W)

2 M -;------1

Vl Mov, tectónicos ~ (I· locrguimenlo)

5M

.ã ::: ~10M ~UMIOCÉNICO

20M

Mov. tect6nicos8 oUGOCÉNlCC I­

3 '" § EOCÉl\~CO i ,2

SOM ~ PALEOCÉNlCC 5 I------Ig

a

CRETÁCICO f-

I-____~ ~ ~OY. tecto modo

JURÁSSICO

200 M +------1 '";;

100M

Frio ('~)

Tcmpcndo

Frio(1)

Árido Cresco

Quente (c húmido?)

Temp.• quente (2 uI)

Qucnlc e húmido

QUnt~ c contrastado (.ridc:r: progrcniva)

Quente (:! eSl.)

Quente e húmido

Tufos (100 m - bue)

Dep. derrame (Pei.uiro-Arrifana)

Areias finas d. Sr' Estrela Depósitos com "bichouro"

"Grés e Argil.s de Pomb.l­-Redinha"

(dep. poligénicos vennelhos)

D~p. poligénicos vennelhOl

-Arenitos de Ca.mse.r

Entaixe ( captura,

Encai.xe e i lCnura dos prin­cipais c.. Ih6cs drsic:os

(abcrtun r: -via! das depressões ; ~lcomlt,oslJ)

Plalalom" litora1 e nível de $, :Ta da Vi.la

vale secos (1)

supcrfit : pré-C'rt1âc:ica

Desorganwçlo dn;ea das depI"Cssões e.lromargosas e abertura das dcp. mlfllnais7

Exuma,io de pa.lcofonnu

Carsifieaçlo seguida, de exumaçlo c alerros

EAumaçlo c aterros difereneiados

Carsificlçio fundamcnlll

CanificI,lo

(.) - Como se pode ler no textll, este quadro traduz o modelo evolutivo do rdevo a que conseguimos, hegar. Se a sucessão temporal de depósitos c form3S pod<.-rá ,":citar-se cm termos de cronologia relativa. as rcl:.;Õ<:s que são estabelecidas COI1l a COJna crono-<:strJligrálica gerJ! revestem-se de um carácter meramente hipotético. -

Extraído de L. CUNHA (1990)

- 58­

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O I

400

300

o

t~·r SOam.

c •• 0.' ••

341

c§: 1 ---2 [7:0:1 7 ~

Fig. 49 - A depressão da Ramalheira. 1 - Curva de nível e ponto cotado; 2 - Fracturas prin ;ipais; 3 - Depressão cársica; 4 - "Hum"; 5 - "Reculée"; 6 - Calcários (Dogger); 7 - Depé5itos superficiais.

Extraído de L. CUNHA (1990)

- 59 ­

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BIBLIOGRAFIA

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