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Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ Instituto de Ciências Biomédicas Departamento de Histologia e Embriologia Pós-Graduação em Ciências Morfológicas Dissertação de Mestrado “As características moleculares das leucemias agudas de lactentes em coorte brasileira” Autora: Mariana Emerenciano 2006

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Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Instituto de Ciências Biomédicas

Departamento de Histologia e Embriologia

Pós-Graduação em Ciências Morfológicas

Dissertação de Mestrado

“As características moleculares das leucemias agudas de

lactentes em coorte brasileira”

Autora: Mariana Emerenciano

2006

ii

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Instituto de Ciências Biomédicas

Departamento de Histologia e Embriologia

Pós-Graduação em Ciências Morfológicas

Dissertação de Mestrado

“As características moleculares das leucemias agudas de

lactentes em coorte brasileira”

Autora: Mariana Emerenciano

Sob a orientação da Dra. Maria do Socorro Pombo-de-Oliveira

Tese submetida como requisito parcial

para obtenção do grau de Mestre em

Ciências Morfológicas.

2006

iii

AS CARACTERÍSTICAS MOLECULARES DAS LEUCEMIAS

AGUDAS DE LACTENTES EM COORTE BRASILEIRA

MARIANA EMERENCIANO

ORIENTADORA: DRA. MARIA DO SOCORRO POMBO-DE-OLIVEIRA

APROVADA EM: 14/03/2006

BANCA EXAMINADORA:

ISIS QUEZADO MAGALHÃES

MARIA ISABEL DORIA ROSSI

RAQUEL MAIA

IVONE OTAZU

JOSÉ CLÁUDIO CASALLI

iv

A estas crianças e a seus pais,

ofereço o meu empenho e demonstro

gratidão e respeito.

v

AGRADECIMENTOS

À Dra. MARIA DO SOCORRO POMBO DE OLIVEIRA, pela orientação,

incentivo e amizade durante a realização deste e de outros trabalhos, e por ter

acreditado em mim desde a iniciação científica, disponibilizando recursos e

transmitindo conhecimentos.

A todos os MÉDICOS, ENTREVISTADORES e demais profissionais

envolvidos no Grupo Colaborativo Brasileiro do Estudo de Leucemia Aguda dos

Lactentes, pelo empenho e dedicação. Contando com a colaboração de vocês,

este trabalho pode ser concretizado.

A todos os AMIGOS DO LABORATÓRIO, agradeço pela ajuda

desinteressada, pelos conhecimentos compartilhados e pelo companheirismo de

todo e cada dia. A ALESSANDRA DE JESUS FARO e CRISIANE WAIS

ZANROSSO meu carinho especial.

À MINHA FAMÍLIA dedico mais esta conquista. Vocês foram essenciais

para que esta tese fosse concluída, mesmo que talvez nem saibam como.

A LAURO CAVALCANTI DE SÁ, por todo carinho, incentivo, ternura e

compreensão em todos os momentos da realização deste trabalho e de nossas

vidas. Obrigada, meu amor.

A VOCÊ, que ao ler minhas palavras me incentiva a prosseguir.

vi

RESUMO As anormalidades cromossômicas freqüentemente ocorrem no período pré-

natal nas leucemias da infância, caracterizando um evento precoce na

leucemogênese. A maioria das anormalidades que ocorrem nos lactentes envolve

o gene MLL na região cromossômica 11q23. Nós descrevemos os achados

genético-moleculares de 207 casos de leucemia aguda do lactente (LAL),

pertencentes ao Grupo Brasileiro de Estudo Cooperativo da Leucemia Aguda do

Lactente. O diagnóstico de leucemia linfoblástica aguda (LLA) ou leucemia

mielóide aguda (LMA) foi feito seguindo a classificação morfológica e

imunofenotípica, seguida por citogenética convencional. As amostras foram então

testadas usando o RT-PCR para a detecção de fusões gênicas específicas. A

análise por FISH para os rearranjos do MLL foi realizada somente nos casos com

resultados negativos ou inconclusivos. As características das crianças com LAL

eram: 115 meninos e 92 meninas, idade entre 0 e 23 meses, média de 12 meses

de idade, 145 LLA e 62 LMA. Uma associação estatisticamente significativa foi

observada entre os casos LLA pró-B e aqueles MLL+vos (p = 0.0001), e entre o

grupo etário de 0-3 meses com os casos MLL+vos (p = 0.008). Dois casos raros de

LLA pró-T com MLL+vo foram encontrados. Além dos rearranjos do MLL, outras

aberrações moleculares foram detectadas, como TEL/AML1 (n=9), E2A/PBX1

(n=4), PML/RARA (n=4) e AML1/ETO (n=2). As análises de citogenética

revelaram hiperdiploidia (n=6), del(7) em dois casos e del(11)(q23) em 7 casos.

Nossos resultados corroboram que não somente os rearranjos do MLL, como

também outras anormalidades moleculares ocorrem antes do nascimento e

podem contribuir para a leucemogênese.

vii

ABSTRACT

Background. Chromosome abnormalities often occur prenatally in childhood

leukemia, characterizing an early event in leukemogenesis. The majority of the

abnormalities occurring in infants involve the MLL gene on chromosome band

11q23. We describe the molecular cytogenetics findings of 207 infant acute

leukemia (IAL) cases included in the Brazilian Collaborative Study Group of Infant

acute leukemia. Procedure. The diagnosis of acute lymphoblastic leukemia (ALL)

or acute myeloblastic leukemia (AML) was made according to morphology and

immunophenotyping classification, followed by conventional karyotyping. Samples

were then screened using RT-PCR for the presence of specific fusion genes. FISH

assay for MLL rearrangements was performed only in cases with negative or

inconclusive cytogenetic or PCR results. Results. The characteristics of children

with IAL were as follow: 115 boys and 92 girls, age range 0 to 23 months, mean

age 12 months, 145 ALL and 62 AML. A statistically significant association was

observed between pro-B ALL cases and MLL+ve (p = 0.0001) cases and the age

group 0-3 months with MLL+ve (p = 0.008) cases. Two rare cases of pro-T ALL with

MLL+ve were found. Other than MLL rearrangements, other molecular aberrations

were detected including TEL/AML1+ve (n=9), E2A/PBX1+ve (n=4), PML/RARA+ve

(n=4) and AML1/ETO+ve (n=2). Cytogenetic analysis revealed hyperdiploidy (n=6),

del(7) in two cases and del(11)(q23) in 7 cases. Conclusions. Our results endorse

that not only MLL rearrangements, but also other molecular abnormalities occur

before birth and may contribute to leukemogenesis.

viii

RESUMO .........................................................................................................................VI

ABSTRACT ........................................... .........................................................................VII

ÍNDICE DE FIGURAS ......................................................................................................IX

ÍNDICE DE TABELAS .................................. ....................................................................X

LISTA DE ABREVIATURAS.............................. ..............................................................XI

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 1

1.1 HEMATOPOESE NORMAL..................................................................................... 1 1.2 LEUCEMIAS AGUDAS............................................................................................ 4

1.2.1 Leucemia linfoblástica aguda............................................................................ 7 1.2.2 Leucemia mielóide aguda ............................................................................... 11

1.3 IMUNOFENÓTIPO X GENÓTIPO NAS LEUCEMIAS AGUDAS............................ 12 1.3.1 Os rearranjos do gene MLL ............................................................................ 15 1.3.2 A fusão gênica TEL/AML1 .............................................................................. 21 1.3.3 Hiperdiploidia cromossomal............................................................................ 24 1.3.4 LLA com a fusão gênica E2A/PBX1................................................................ 25 1.3.5 A fusão gênica AML1/ETO ............................................................................. 26

1.4 UMA DOENÇA DIFERENTE A CADA IDADE ....................................................... 27 1.5 FATORES DE RISCO............................................................................................ 30

1.5.1 Os fatores ambientais ..................................................................................... 31 1.5.2 Infecção viral .................................................................................................. 34

2. JUSTIFICATIVA DO ESTUDO......................... ........................................................... 34

3. OBJETIVOS....................................... ......................................................................... 36

3.1 GERAL .................................................................................................................. 36 3.2 ESPECÍFICOS ...................................................................................................... 36

4. MATERIAL E MÉTODOS .............................. ............................................................. 37

4.1 AMOSTRAS .......................................................................................................... 37 4.2 ETAPAS DIAGNÓSTICAS .................................................................................... 38

4.2.1 Análise morfológica ........................................................................................ 38 4.2.2 Separação de células mononucleares ............................................................ 38 4.2.3 Imunofenotipagem.......................................................................................... 39 4.2.4 Citogenética convencional e FISH .................................................................. 42 4.2.5 Genética-molecular......................................................................................... 42

4.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA........................................................................................ 50

5. RESULTADOS...................................... ...................................................................... 51

6. DISCUSSÃO............................................................................................................... 60

7. CONCLUSÕES........................................................................................................... 67

8. REFERÊNCIAS........................................................................................................... 68

ANEXO 1 – Grupo Brasileiro de Estudo Colaborativo da Leucemia Aguda de Lactente….........82 ANEXO 2 – Banco de Dados ..……………………..…………………………………….…....83 ANEXO 3 – Produção bibliográfica durante o mestrado………….......……………….…....84

ix

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 – Hematopoese normal.............................................................................2

Figura 2 – Evolução clonal......................................................................................5

Figura 3 – Diferenciação da linhagem linfóide B.....................................................8

Figura 4 – Diferenciação da linhagem linfóide T...................................................10

Figura 5 – Diferenciação da linhagem mielóide....................................................12

Figura 6 – Parceiros do gene MLL........................................................................18

Figura 7 – Estrutura éxon/íntron do gene MLL......................................................19

Figura 8 – Modelo para a história natural das leucemias agudas da infância......24

Figura 9 – Subtipos moleculares da LLA em lactentes, crianças e adultos..........28

Figura 10 – Fatores de risco envolvidos no desenvolvimento da leucemia..........30

Figura 11 – Modelo esquemático das funções executadas pela topo-II...............33

Figura 12 – Corrida de eletroforese em gel de agarose dos produtos da

amplificação do gene GAPDH...............................................................................46

Figura 13 – Pontos de quebra e posições dos oligonucleotídeos iniciadores dos

genes incluídos na reação de RT-PCR multiplex..................................................49

Figura 14 – Exemplo de corrida de eletroforese em gel de agarose (2%) corado

com brometo de etídio dos produtos da amplificação do RT-PCR multiplex.........50

Figura 15 – Distribuição do número de casos por faixa etária de acordo com os

subtipos imunofenotípicos de leucemia…..............................................................52

Figura 16 – Resultados dos testes aplicados para verificar o status do gene MLL

no paciente com LLA pró-T....................................................................................58

Figura 17 – Distribuição do número de casos X faixa etária de acordo com os

rearranjos do MLL..................................................................................................63

x

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Subtipos celulares e alterações moleculares nas leucemias infantis..14

Tabela 2 – Associações dos AcMo utilizados no painel das leucemias agudas...40

Tabela 3 – Seqüência de oligonucleotídeos para a amplificação gênica

GAPDH..................................................................................................................45

Tabela 4 – Seqüência de oligonucleotídeos para a amplificação gênica das

principais translocações............................................. ..........................................47

Tabela 5 – Seqüência de oligonucleotídeos para a amplificação gênica rearranjos

do MLL...................................................................................................................48

Tabela 6 – Distribuição dos casos de LLA e LMA.................................................51

Tabela 7 – Características clínico-laboratoriais dos casos de LALs.....................53

Tabela 8 – Associação entre o gene MLL e características relacionadas.............54

Tabela 9 – Comparação de métodos usados na detecção do rearranjo do MLL. 55

Tabela 10 – Sumário das translocações cromossômicas X faixa etária...............56

Tabela 11 – Características dos casos raros de LAL............................................57

xi

LISTA DE ABREVIATURAS

AcMo – anticorpo monoclonal

ADN – ácido desoxirribonucléico

ADNc – ácido desoxirribonucléico complementar

ARN – ácido ribonucléico

CD – cluster of differentiation (grupamentos de diferenciação)

CSF – fator estimulador de colônia

DEPC – dietilpirocarbonato

dNTP – desoxinucleotídeos

DRM – doença residual mínima

DTT – ditiotreitol

EDTA – ácido etilenodiaminotetraacético

EGIL – European Group for Immunophenotyping Leukaemia

FAB – French-American-British group

FISH – fluorescent in situ hybridization hibridização in situ por fluorescência

FITC – Isotiocianato de fluoresceína

GAPDH – gliceraldeído - 3 - fosfato desidrogenase

HLA-DR – human leucocitary antigen-DR (antígeno leucocitário humano-DR)

LA – leucemia aguda

LAL – leucemia aguda de lactente

LLA – leucemia linfoblástica aguda

LLA-c – leucemia linfoblástica aguda comum

xii

LLA-pB – leucemia linfoblástica aguda de células precursoras B

LLA-T – leucemia linfoblástica aguda de linhagem T

LMA – leucemia mielóide aguda

MO – medula óssea

MPO – mieloperoxidase

NS – estastisticamente não significativo

pb – pares de bases

PBS – phosphate buffered saline (solução salina tamponada com fosfato)

PCR – polymerase chain reaction (reação em cadeia da polimerase)

PE – ficoeritrina

PerC5 – ficoeritrina – cianina 5.1

rpm – rotações por minuto

RT-PCR - reverse transcriptase polymerase chain reaction (reação em cadeia da

polimerase por transcriptase reversa)

SP – sangue periférico

SV – saco vitelínico

Taq – enzima Thermus aquaticus

TCR – T-cell receptor (receptor de célula-T)

Topo-II – topoisomerase II

xiii

EMERENCIANO, Mariana

As características moleculares das leucemias agudas de lactentes

em coorte brasileira / Mariana Emerenciano. -- Rio de Janeiro,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, 2006.

Orientadora: Maria do Socorro Pombo-de-Oliveira

Dissertação de Mestrado em Ciências Morfológicas

Palavras-chave: 1.Leucemia aguda de lactente. 2.MLL 3. TEL/AML1.

4. AML1/ETO. 5. E2A/PBX1. 6. PML/RARA.

1

1. INTRODUÇÃO

As leucemias agudas (LAs) são doenças malignas decorrentes da

expansão clonal de um precursor hematopoético. Durante a evolução de uma

célula progenitora, é possível que ocorra uma anormalidade genômica e, outros

fatores celulares ou moleculares que favoreçam a expansão deste clone de

células defeituosas, caracterizadas por um fenótipo definido por moléculas de

superfície celular e pela etapa de diferenciação do precursor hematopoético (1).

Sendo assim, o entendimento da hematopoese normal é necessário para que sua

contrapartida patogênica possa ser discutida.

1.1 HEMATOPOESE NORMAL

A hematopoese se inicia no embrião e se prolonga por toda a vida do

indivíduo. Por volta do sétimo dia embrionário nas ilhotas sangüíneas do saco

vitelínico (SV), as células são especificadas a partir de precursores mesodérmicos

e são produzidas por meio de uma “onda” de hematopoese primitiva, consistindo

principalmente de eritrócitos nucleados (1). Esta onda transitória de hematopoese

primitiva é progressivamente substituída por uma segunda onda de hematopoese

definitiva, que garante a produção células especializadas linfóides, mielóides e

eritróides. À medida que a hematopoese primitiva vai se reduzindo, as células

produzidas no SV e num local hematogênico chamado de região aorta-gônada-

mesonéfrica colonizam o fígado fetal por volta do décimo primeiro dia

embrionário, este se torna o principal local da produção sangüínea durante a

gestação do embrião (1). Durante toda a vida uterina, o feto sofre as

transformações necessárias para adaptar o aparelho circulatório à sua futura

2

existência fora do útero. Próximo ao final da gestação, outra mudança ocorre e a

medula óssea (MO) passa a ser o local predominante da hematopoese definitiva e

assim permanece durante a vida pós-natal (2).

As células primitivas hematopoéticas possuem a propriedade de auto-

renovação e também a de gerar, através de divisão e diferenciação celular,

populações de células progenitoras encarregadas das principais linhagens de

células da medula óssea: eritróides, granulocíticas e monocíticas,

megacariocíticas e linfóides (Figura 1). Estes precursores multipotentes são

células altamente proliferativas que expressam receptores para fatores de

crescimento e de sobrevivência específicos, os fatores estimuladores de colônias

(CSFs), e passam por várias etapas sucessivas de diferenciação até que sejam

uma progênie matura e que não se divide, capaz de gerar os tipos celulares

específicos do sangue (3-5).

Figura 1 - Hematopoese normal*.

*Modificado de Hitzler JK e colaboradores (6).

3

O controle da proliferação, diferenciação e maturação desses diversos

tipos celulares é feito através de uma complexa interação molecular das células

com o microambiente da MO e depende de mecanismos que estabilizem e

mantenham programas específicos de expressão gênica (5). A função

desempenhada pelos fatores de transcrição é central neste processo, pois eles

atuam de modo combinatório para ativar ou conter conjuntos de genes-alvo no

ambiente celular adequado (7,8).

Muitas informações importantes sobre o papel dos fatores de transcrição

no desenvolvimento da linhagem hematopoética têm sido obtidas a partir de

estudos envolvendo bloqueio de ação ou superexpressão destes fatores (2,4,8).

Muitos genes foram identificados por estarem rompidos em conseqüência das

translocações cromossômicas encontradas nas leucemias. Pode-se citar como

exemplo os fatores de transcrição quiméricos, originados de translocações

cromossômicas, que ativam diversas cascatas transcricionais que, pelo menos

em parte, convergem para modificar o padrão de expressão normal de membros

da importante família dos genes HOX. Os fatores de transcrição HOX se ligam ao

ADN e regulam genes envolvidos tanto na diferenciação do embrião como da

célula–tronco hematopoética; eles também são importantes na auto-renovação e

na proliferação das células hematopoéticas (9). Os progressos no conhecimento

destes mecanismos da dinâmica hematopoética vêm sendo muito importantes

para o sucesso do tratamento das leucemias.

4

1.2 LEUCEMIAS AGUDAS

Assim como ocorre para outros tipos de câncer, o entendimento da

natureza das LAs ainda é um grande desafio. A leucemia é uma doença clonal, ou

seja, se origina de uma única célula e evolui a partir da aquisição de alterações

moleculares neste clone. A Figura 2 exemplifica didaticamente como ocorre uma

evolução do tipo clonal, ou seja, um “tumor” desenvolve-se a partir de sucessivos

ciclos de mutação e proliferação, podendo eventualmente gerar um clone

completo de células malignas. Em cada etapa, uma única célula sofre uma

mutação que potencializa a proliferação celular, de forma que sua progênie torne-

se o clone dominante. A proliferação deste clone então acelera a ocorrência da

próxima etapa da progressão do câncer, devido ao aumento do tamanho da

população celular que está sob o risco de sofrer uma mutação adicional. O

resultado é uma diversificação genética progressiva seguida por uma “seleção

natural” dos subclones mutantes dominantes.

As LAs foram inicialmente descritas como um grupo de doenças no qual

ocorre um descontrole dos mecanismos fisiológicos de proliferação e maturação

de células do sistema hematopoético. O organismo é muitas vezes incapaz de

reparar uma mutação e a célula alterada, chamada de blasto, começa a se

multiplicar descontroladamente.

Entre os sintomas, são freqüentes as infecções, pois o paciente fica

imunodeprimido, a anemia, pois a produção de glóbulos vermelhos decai à

medida que as células leucêmicas predominam na MO e, o sangramento

excessivo, pois a capacidade de coagulação diminui à medida que diminui o

número de plaquetas, conseqüente da diminuição dos megacariócitos (1).

5

Figura 2 - Evolução clonal*

Sob o ponto de vista morfológico e citoquímico, as LAs compreendem dois

grupos principais: mielóides e linfóides. Em adultos, aproximadamente 85% são

mielóides. Em crianças, ocorre o inverso, com 80% sendo linfóides. A leucemia

linfoblástica aguda (LLA) é a neoplasia mais comum na infância. Desde o início de

1990, com o aprimoramento de técnicas imunomoleculares que refinaram a

identificação das leucemias, o Prof. Mel Greaves e colaboradores defendem uma

hipótese de que mutações espontâneas são responsáveis pelo desenvolvimento

das leucemias na infância. O ambiente fetal é rico em células em diversos estágios

maturativos sob estímulos constantes para proliferação e diferenciação celular. As

mutações sucessivas neste período embrionário podem desempenhar um papel

importante nas codificações gênicas e predisporem a um desequilíbrio celular que

resulte em alterações malignas (10). De acordo com esta hipótese, uma ou mais

mutações seqüenciais ocorrendo no desenvolvimento de uma célula progenitora

*Modificado de Alberts, Molecular Biology of the cell, 2002

6

poderiam desviar o mecanismo normal de proliferação em curso, em um

determinado momento da infância.

O padrão alterado de auto-renovação e diferenciação das células-tronco

hematopoéticas que causam a leucemia pode resultar dos fatores de transcrição

quiméricos que, por sua vez, são gerados a partir das translocações

cromossômicas que unem porções de dois genes diferentes. Estas alterações

genéticas, portanto, contribuem para a transformação leucêmica das células-

tronco hematopoéticas ou de seus progenitores comprometidos através da

alteração de funções celulares. Elas alteram processos regulatórios essenciais

por manterem ou por aumentarem uma capacidade ilimitada de auto-renovação,

subvertendo aos controles de proliferação normal, bloqueando a diferenciação, e

promovendo resistência aos sinais de morte celular (apoptose) (11).

Muitos avanços foram conseguidos no entendimento da fisiopatologia

molecular da LA através da clonagem e da caracterização de fusões gênicas

recorrentes presentes em vários subtipos de LAs, que permitiram a identificação

de genes críticos para o processo leucemogênico (12). Além disso, a presença de

determinadas alterações pode estratificar os pacientes em distintos subgrupos

leucêmicos. O uso das análises de microarranjo para caracterizar as diferenças

na expressão gênica entre as leucemias com diferentes aberrações moleculares

solidificou a noção de que anormalidades cromossômicas específicas determinam

subgrupos leucêmicos únicos (13,14).

A necessidade de uma classificação mais abrangente das leucemias,

portanto se faz necessária pelo fato de que os protocolos quimioterápicos se

adaptam a cada tipo de leucemia e para pesquisas referentes aos fatores que

7

determinam sua etiologia.

No princípio, as classificações das leucemias baseavam-se nos aspectos

clínicos, morfológicos e citoquímicos. Em seguida, o emprego da citometria de

fluxo e anticorpos monoclonais, que permite o reconhecimento dos diferentes

tipos de células e de suas linhagens específicas, e os estudos moleculares

consolidaram as buscas dos fatores que contribuem para o processo

leucemogênico e as características do prognóstico.

1.2.1 Leucemia linfoblástica aguda

As LLAs podem ser causadas por um dano genético adquirido no ADN de

uma única célula na MO. Os efeitos são o crescimento incontrolável e exagerado

e o acúmulo de células chamadas linfoblastos e, o bloqueio da produção normal

de células da medula, levando a uma deficiência de células vermelhas (anemia),

plaquetas (trombocitopenia) e de células brancas no sangue.

Os principais tipos das LLAs são definidos por exames de

imunofenotipagem, subdivididos em dois grandes grupos oriundos de precursores

de células B e de linfócitos T (15). A LLA representa a maioria dos casos de

leucemia infantil e o pico de incidência ocorre aos 2-5 anos. Para explicar o pico

de ocorrência das LLAs da infância, foram elaboradas teorias envolvendo

mecanismos de uma resposta imune às infecções adquiridas na infância, ou

associações a infecções virais (16).

8

A LLA constitui diversos tipos de malignidade das linhagens de linfócitos

precursores B ou T, de acordo com a diferenciação interrompida e semelhante a

seus progenitores. As figuras 3 e 4 resumem as principais etapas da

diferenciação antigênica das células hematopoéticas e seus correspondentes

malignos (17-21).

Os estágios iniciais do desenvolvimento da célula B dependem de

interações entre moléculas da superfície celular e dos produtos secretados das

células estromais com seus receptores nos progenitores linfóides. Estes estágios

seqüenciais do desenvolvimento da célula B foram definidos por marcadores

DIFERENCIAÇÃO NORMAL CORRESPONDENTECORRESPONDENTE

MALÍGNOMALÍGNO

CÉLULATRONCOLINFÓIDE

LLA LLA ProPro-B-B

LLA-LLA-comumcomum

CÉLULAPRÉ-B LLA PRÉ-B

(µµµµ+)

CÉLULA BIMATURA LLA -B sIg M+

CD34HLADr

CD34CD19HLADrcCD79a

CD19HLADrCD10cCD79a

CD19HLADrCD10cCD22Cµ Ig

CD19HLADrCD22sIgM+κκκκ ou λ λ λ λ

µµµµ

TDT+

µ

µµ

µ

µ

TDT+

TDT+

TDT+

VLA-4

ÓR

OS

LIN

IDE

SS

EC

UN

RIO

S

SAN

GU

E P

ER

IFÉ

RI C

O

sIgCD19

B

CD19sIgGsIgAsIgEsIgM

B

B

Plasmócito

Y

Y

Linfócito Bde Memória

Diagrama elaborado por Dr. Geraldo Cavalcanti Júnior

Figura 3 – Diferenciação da linhagem linfóide B

9

moleculares que podem ser usados para classificar as malignidades linfóides

como uma representação do impedimento da maturação e da imortalização em

etapas específicas da ontogenia da célula B. Vários dos fatores que controlam o

rearranjo ordenado e a expressão dos genes da imunoglobulina (Ig) foram

identificados. Alguns sinais gerados por intermediários durante o rearranjo do

gene da Ig, assim como pela molécula da Ig propriamente dita, foram

comprovados como sendo essenciais no processo de direcionamento do

desenvolvimento inicial da célula B. Os processos de ativação periférica da célula

B, de maturação da afinidade antigênica e de diferenciação terminal também são

altamente regulados (17,19,20).

Nos estágios mais precoces desde a célula pluripotente hematopoética e

os precursores totalmente comprometidos que sofrerão o rearranjo gênico do

receptor de célula T (TCR), existem diferenças significantes entre a linfopoese

fetal e a adulta. O grau de comprometimento dos precursores linfóides presentes

na MO ainda é parcialmente desconhecido, embora esteja claro que as células

pluripotentes hematopoéticas passam por alterações em seu desenvolvimento

antes de migrarem para o timo. Tanto os precursores multipotentes como aqueles

restritos à linhagem T foram isolados a partir de sangue fetal, sugerindo que

ambos podem povoar o timo. No timo, várias populações discretas de precursores

T antecedem o estágio do rearranjo gênico do TCR. Estas incluem precursores

que não estão exclusivamente comprometidos com a linhagem T, embora sejam

diferentes das células pluripotentes hematopoéticas. Estes precursores têm um

potencial para gerar células NK (natural killer), células B, células dendríticas e,

10

algumas vezes, células mielóides. Alguns fatores como IL-7 e os fatores de

transcrição Ikaros controlam o desenvolvimento linfóide inicial (18,21).

Figura 4 – Diferenciação da linhagem linfóide T

Diagrama elaborado por Dr. Geraldo Cavalcanti Júnior

11

Diversos antígenos intracitoplasmáticos e de superfície da membrana são

hoje reconhecidos através de um número progressivo de anticorpos monoclonais

(AcMo). Estas moléculas de leucócitos humanos se tornaram importantes no

estabelecimento de um diagnóstico preciso dos diversos subtipos de LLA (15).

1.2.2 Leucemia mielóide aguda

A leucemia mielóide aguda (LMA) é caracterizada pelo crescimento

incontrolável e exagerado e o acúmulo de células chamadas de mieloblastos. A

interrupção da produção normal de células da medula freqüentemente resulta em

insuficiência hematopoética (granulocitopenia, trombocitopenia, ou anemia), com

ou sem leucocitose (22) (Figura 5).

As LMAs correspondem a 85% das leucemias dos adultos. O risco

aumenta em dez vezes entre a idade de 30 anos (cerca de um caso por 100.000

pessoas) para a idade de 70 anos (cerca de um caso por 10.000 pessoas). Entre

os casos de leucemias infantis, apenas 15% são LMA (22). Entre os fatores de

risco associados ao desenvolvimento da LMA estão os distúrbios genéticos como

anemia de Fanconi e síndrome de Down, e exposição a doses muito altas de

irradiação, exposição a agentes químicos e à quimioterapia prolongada com

agentes alquilantes utilizados no tratamento de outros cânceres, têm sido

descritos como fatores de riscos associados ao desenvolvimento da LMA.

A idade do paciente, a contagem inicial dos glóbulos brancos no

hemograma e a presença de anormalidades cromossômicas influencia no

prognóstico. A evolução do sistema de classificação das LMAs que vai da

morfologia aos achados citogenético-moleculares, reflete o reconhecimento da

12

importância biológica de um subtipo específico (23). Apesar do refinamento no

diagnóstico dos subtipos de LMA e dos avanços nas estratégias terapêuticas,

ocorridos nas últimas décadas, a taxa de sobrevivência entre pacientes com idade

inferior a 65 anos é de apenas 40% (24).

1.3 IMUNOFENÓTIPO X GENÓTIPO NAS LEUCEMIAS AGUDAS

O padrão imunomolecular, as informações epidemiológicas e dados

etiopatológicos consistentes sugerem que as leucemias podem ser causadas por

mecanismos multifatoriais e que requerem um certo tempo para expansão do

clone leucêmico (25-28). Durante a evolução de uma célula progenitora, é

possível que ocorra uma anormalidade genômica e outros fatores celulares ou

moleculares, que favoreçam a expansão deste clone de células alteradas,

caracterizadas por um imunofenótipo definido por moléculas de superfície celular

e pela etapa de diferenciação do precursor hematopoético (29).

Assim, as LAs são doenças heterogêneas de progresso rápido que afetam

a maior parte das células ainda não diferenciadas. Atualmente, a classificação

CD34 CD33 CD13 CD65 CD15 / CD115 CD66

C

HLADR

CFU-GM Mieloblasto Metamielócito Pró-Mielócito Mielócito Bastão Segmentado

Figura 5 - Diferenciação da linhagem mielóide

a-MPO

Diagrama elaborado por Dr. Geraldo Cavalcanti Júnior

13

das LAs baseia-se em estudos de citometria de fluxo multiparamétrica, genética

molecular e citogenética.

A imunofenotipagem nos permite identificar a linhagem hematopoética da

qual as populações leucêmicas se originam. Um painel relativamente simples foi

proposto para a sub-classificação das leucemias pelo European Group for

Immunophenotyping Leukaemia (EGIL) (15). Através de técnicas de conjugação

dos anticorpos aos fluorocromos, e com técnicas de permeabilização, é possível o

acesso simultâneo aos marcadores de superfície e aos intracelulares.

Primeiramente, procede-se a marcação intracitoplasmática com os marcadores

mais específicos de linhagem expressos prematuramente e/ou somente no

citoplasma. Estes são: cCD79, cCD3 e mieloperoxidase (MPO), que são

altamente específicos para as linhagens B, T e mielóides, respectivamente (15).

Embora o cCD79 seja o marcador mais prematuro associado à linhagem B, o

cCD22 também foi proposto para caracterizar a linhagem B (30). Os blastos

leucêmicos na LMA e na LLA expressam antígenos normais de diferenciação

mielóide e linfóide, respectivamente. No entanto, mesmo nas leucemias com um

padrão de expressão de antígenos bem definido, são identificados casos em que

ocorre expressão aberrante de um marcador associado a uma outra linhagem

celular (31).

As técnicas moleculares estão auxiliando cada vez mais o diagnóstico e a

classificação das LAs (32). À medida que os marcadores moleculares vão sendo

identificados, as associações com idade, prognóstico, subtipo leucêmico e

expressão antigênica se solidificam (29,33-36). Os dados provenientes destes

estudos já nos permitem estabelecer associações entre as categorias genotípicas

14

das LAs e suas características imunofenotípicas (Tabela 1). A expressão de uma

única molécula raramente pode predizer um subtipo genético-molecular. Apenas

algumas exceções, como exemplo a fusão protéica CBFβ/SMMHC {produto da

inv(16)} (37) e a molécula aberrante de sulfato de condroitina NG2 (que se

correlaciona com as translocações envolvendo o gene MLL) (38,39). Apesar dos

contínuos esforços, alguns genótipos ainda apresentam o imunofenótipo bastante

variável, impedindo que se estabeleça a concordância completa entre as

categorias imunofenotípicas e genotípicas (29,32).

Tabela 1 – Subtipos celulares e alterações moleculares nas leucemias infantis

Subtipo leucêmico Alteração cromossômica Lesão molecular Freqüência (%)

LLA de células

progenitoras B

Translocações

na região 11q23

MLL/AF4, /ENL e outras

fusões gênicas

~85 (LLA de lactentes)

~5 (LLA em geral)

LLA de células

precursoras B (LLA-pB)

Hiperdiploidia Maior dosagem gênica ~35 (LLA-pB)

t(12;21)(p13;q22) TEL/AML1 ~20 (LLA-pB)

t(1;19)(q23;p13) E2A/PBX1 ~5 (LLA-pB)

t(9;22)(q34;q11) BCR/ABL ~5 (LLA-pB)

LLA de células

precursoras T

Deleção 1q-;

t(1;14)(p32;q11) SIL/SCL

~25 (LLA células

precursoras T)

LMA Translocações

na região 11q23

MLL/AF6, /AF9, /AF10 ou

outras fusões gênicas ~50 (LMA de lactentes)

t(8;21)(q22;q22) AML1/ETO ~15 (LMA em geral)

Adaptado de Greaves e Wiemels, 2003 (40)

O conhecimento destas categorias reflete em aplicações práticas que já

são realidade em muitos laboratórios. É possível, por exemplo, monitorar os

15

pacientes com LA durante e depois do tratamento, para detecção de doença

residual mínima (DRM), tanto pela identificação de marcadores aberrantes por

citometria de fluxo como por técnicas de reação em cadeia da polimerase (PCR) e

reação em cadeia da polimerase por transcriptase reversa (RT-PCR) (32,41). Este

tipo de associação ajuda também a explicar os mecanismos etiopatogênicos de

determinados subtipos de leucemias. A seguir estão descritos os principais

subgrupos leucêmicos, definidos por suas características genético-moleculares e

as expressões antigênicas freqüentemente encontradas nos blastos.

1.3.1 Os rearranjos do gene MLL

Os blastos de LLA com rearranjos do MLL são tipicamente CD19+, CD34+,

TdT+ e CD10- e, muitas vezes, expressam antígenos associados à linhagem

mielóide como o CD15 e/ou CD65 (42). Outros antígenos mielóides (CD13, CD33

e CD66c) podem ser positivos, já o CD20 é tipicamente negativo, correspondendo

aos estágios iniciais da diferenciação da célula B.

Um marcador importante das células leucêmicas que carregam rearranjos

do MLL é o homólogo de NG2, uma molécula de sulfato de condroitina que reage

com o anticorpo monoclonal 7.1, freqüentemente detectado nos casos de LLA

assim como nos de LMA. A expressão de NG2 é altamente sensível e específica

para rearranjos no MLL, chegando a alcançar quase 100% de especificidade nos

casos de LLA (38).

16

1.3.1.1 Estrutura e função do gene MLL e da proteín a MLL

O gene MLL é um homólogo humano do gene Trithorax da Drosophila (43),

que é um regulador crucial do desenvolvimento, incluindo a regulação da

expressão dos genes Hox, conforme mostrado em estudos de eliminação gênica

(44,45). O MLL ocupa uma extensão de aproximadamente 90 kb no cromossomo

11 na região 11q23 com quase 12 kb de seqüências codificadoras e codifica uma

proteína de 3.969 aminoácidos com um peso molecular de aproximadamente 430

kDa. A proteína MLL é clivada proteoliticamente pela Taspase1, uma protease

recentemente identificada (46), em um fragmento de 320-kd N-terminal e um

fragmento de 180 kd C-terminal, que interagem entre si para evitar a degradação

e conceder estabilidade à proteína (47).

Uma das principais funções da proteína MLL parece ser a manutenção da

expressão dos genes Hox como HoxA9 e HoxC8, que são genes essenciais na

regulação do desenvolvimento. A proteína MLL pode se ligar diretamente aos

promotores dos genes Hox e manter (mas não promover) seus níveis de

expressão através da modificação de histonas (48,49). O papel da proteína MLL

no desenvolvimento hematopoético normal foi identificada em vários estudos de

eliminação gênica. Em modelos experimentais foi possível estudar o papel do

MLL na hematopoese e também obter informações sobre a leucemogênese. Em

estudos realizados usando embriões de camundongos MLL-nulos, as células

hematopoéticas do saco vitelínico (50) e do fígado fetal prematuro (51) tinham

uma capacidade clonogênica reduzida, indicando um papel crucial da proteína

MLL no desenvolvimento das células sangüíneas. Estes resultados foram

importantes porque demonstraram que o MLL é necessário para a hematopoese

17

definitiva. Por outro lado, estes mesmos estudos de eliminação gênica deixaram

um perfil incompleto a respeito do papel do MLL na hematopoese porque os

camundongos MLL-nulos morriam precocemente.

1.3.1.2 Rearranjos do gene MLL nas leucemias

Os rearranjos do MLL são encontrados em 60-80% dos casos de

leucemias agudas de lactentes (LAL) geralmente encontrados em LLA pró-B, no

entanto, estes transcritos também podem ser vistos na LMA. Nas LLAs, o gene

AF4 é o parceiro mais comum entre os possíveis parceiros do MLL (Figura 6). É

(52).

Atualmente o MLL tem aproximadamente 40 parceiros de fusão descritos,

com diversas funções e domínios funcionais variáveis (51,53,54). As proteínas

quiméricas resultantes das fusões com o MLL, independentemente da localização

do parceiro de fusão, seja nuclear ou citoplasmático, formam consistentemente

padrões pontilhados no núcleo (55), indicando que a localização da fusão protéica

e, dos possíveis genes-alvo, é principalmente determinada pela atividade de

ligação ao ADN da porção correspondente ao MLL e não pelo parceiro de fusão.

Os principais genes-alvo desregulados transcricionalmente pelas proteínas

quiméricas resultantes das fusões do MLL no contexto da leucemogênese não

foram completamente identificados, mas vários estudos sugerem que os genes

Hox estão incluídos nesta lista. A expressão dos genes Hox foi identificada em

tecidos hematopoéticos normais, incluindo as células-tronco hematopoéticas, e foi

demonstrado que eles exercem um impacto significativo na proliferação e na

diferenciação (44,45). É possivelmente através da regulação dos genes Hox que

18

o MLL exerce um grande impacto no desenvolvimento hematopoético, conforme

mostrado em estudos in vitro e in vivo com células MLL-nulas (50,51). Acredita-se

que esta via de sinalização transcricional normal esteja alterada na

leucemogênese, como uma conseqüência da fusão gênica do MLL.

Figura 6 – Parceiros do gene MLL

Nas células leucêmicas com rearranjos do MLL, as regiões de ponto-de-

quebra genômicas estão em um fragmento que se estende do éxon 5 ao éxon 11

do gene MLL, esta região é chamada de região de concentração dos pontos-de-

quebra (breakpoint cluster region – bcr) (56) (Figura 7). A bcr do MLL tem vários

motivos que estão relacionados com a recombinação do ADN, como os sítios de

ligação à topoisomerase-II (topo-II) (57) e as seqüências Alu (56).

19

Figura 7 – Estrutura éxon/íntron do gene MLL*. A, o MLL ocupa 90 kb no cromossomo

11, consistindo de 36 éxons. B, mapa físico da bcr do gene MLL. As setas verticais indicam os

sítios consenso com a topoisomerase-II.

A presença destas seqüências de predisposição para a recombinação na

pequena região bcr indica que o rearranjo do MLL pode ser resultado de eventos

de quebra e recombinação do ADN. Os sítios de ligação da topo-II parecem estar

envolvidos em rearranjos do MLL relacionados a tratamentos com drogas que

atuam sobre a topo-II (quinolonas, etoposídios, teniposídios e antraciclinas) (58).

A mesma distribuição polarizada dos pontos-de-quebra na bcr do MLL vista em

leucemias secundárias ao tratamento, por exemplo, bcr telomérica, também foi

vista nas leucemias dos lactentes (59). Esta observação indicou que os

mecanismos de quebra do MLL nas LALs podem ser similares aos das LAs

secundárias a tratamentos quimioterápicos. Este achado levou à sugestão de que

a exposição fetal a alguns agentes com atividade inibidora da topo-II poderia ser o

evento inicial para o desenvolvimento das leucemias que afetam crianças com

* Modificado de Eguchi M e colaboradores, International Journal of Hematology, 2003.

20

idade inferior a 12 meses. Nestes casos, os rearranjos são os marcadores mais

freqüentemente encontrados (27,60).

1.3.1.3 A fusão do MLL é suficiente para causar a l eucemia?

As fusões gênicas encontradas nas LAs são consideradas como evento

iniciador da transformação leucêmica. Existe um debate bastante intenso no que

diz respeito à necessidade de mudanças genéticas adicionais nas LAs com

fusões do MLL. De acordo com a biologia do câncer e também com a história

natural das leucemias, sugere-se que pelo menos duas lesões genéticas

independentes em vias de sinalização complementares sejam necessárias para a

ocorrência de uma malignidade. Foi sugerido que as alterações genéticas que

afetam a diferenciação (p.ex., via fusões gênicas) requereriam um complemento

por uma alteração no controle do ciclo celular (p.ex., ativação de quinase) (61).

Uma característica relevante da história natural das LLAs de lactentes

assim como das leucemias secundárias com fusões gênicas do MLL é o

brevíssimo período pré-clínico ou latência da doença – média de 6 e 7 meses,

respectivamente (62,63). Estes dados sugerem que é possível que as fusões

gênicas do MLL sejam suficientes para a leucemogênese ou que as mutações

secundárias essenciais sejam rapidamente adquiridas. A concordância muito alta

de leucemia em gêmeos idênticos com LLA (quase 100% (64)) também sugere

que as fusões gênicas do MLL sejam suficientes ou que todas as alterações

genéticas necessárias sejam adquiridas no período pré-natal. Por outro lado, mas

não contrariamente, um estudo realizado com camundongos demonstrou que os

parceiros de fusão do MLL desempenham um papel importante na determinação

21

de algumas características biológicas das leucemias associadas ao MLL. Os

autores deste estudo verificaram que a transformação mielóide nos camundongos

com leucemias induzidas pelas fusões MLL/FKHRL1 e MLL/AFX tinham latências

e apresentações clínicas diferentes do que nas leucemias induzidas pelas fusões

MLL/AF10 ou MLL/ENL, que são notavelmente mais agressivas (65).

Algumas observações indicam um papel ativo de uma ou mais mutações

adicionais na leucemogênese com fusão do MLL. Em número substancial de

casos de lactentes diagnosticados com LLA - MLL positivo, estão também

presentes alterações cromossômicas ou mudanças genéticas sutis (66). Além

disso, aproximadamente 20% dos casos MLL-positivos de LAL apresentam

mutações no domínio de ativação do Flt3, resultando numa ativação aberrante da

quinase Flt3 (67). Nos casos em que o Flt3 está mutado, o inibidor específico de

Flt3 PCK412 pode inibir a proliferação celular aberrante in vitro e in vivo (67),

sugerindo que as células leucêmicas com fusão do MLL são dependentes da

ativação da quinase Flt3 para a sobrevivência. Esta hipótese está de acordo com

os resultados derivados de um modelo usando galinhas com leucemia MLL/ENL –

positivo, nas quais a fusão conseguia gerar a leucemia in vivo mas somente em

combinação com uma quinase ativada (68).

1.3.2 A fusão gênica TEL/AML1

A t(12;21)(p13;q22), não detectável por citogenética convencional, que une

os genes TEL e AML1, pode ser detectada por RT-PCR e/ou hibridização in situ

por fluorescência (FISH) em aproximadamente 25% dos casos de LLA da

infância, despontando como o rearranjo mais freqüente nas leucemias infantis . A

22

maioria dos pacientes positivos tem idade entre 1 e 12 anos ao diagnóstico, com

um pico entre 2 e 5 anos (69,70). Os casos de LLA que apresentam o transcrito

gênico TEL/AML1 apresentam exclusivamente fenótipo de célula precursora B,

sendo a maioria casos de LLA comum. Estes pacientes são caracterizados por

uma baixa contagem leucocitária ao diagnóstico (<50 000/l), e até o momento, a

t(12;21) não foi encontrada em LMA ou LLA-T e, sua freqüência em pacientes

adultos é baixa (71). Fenotipicamente, a maioria destes casos expressam CD19+,

CD34+, TdT+ e CD10+, ocorrendo em muitos casos a expressão aberrante do

CD33 e/ou CD13 (29).

A translocação t(12;21)(p13;q22) gera uma fusão gênica que inclui a

porção 5’ do TEL, um membro da família ETS de genes de fatores de transcrição,

e quase toda a região codificante de um outro fator de transcrição, o gene AML1,

que codifica a subunidade α do fator de ligação ao núcleo, um regulador

independente da formação das células-tronco hematopoéticas definitivas (72,73).

O fator de transcrição quimérico TEL/AML1 conserva um domínio de interação

essencial proteína-proteína do TEL e as seqüências de ligação ao ADN e de

regulação transcricional do AML1 [(também chamado CBF(α)] (72,73). O fator de

transcrição TEL é necessário para o retorno das células hematopoéticas

progenitoras para o seu local de origem na MO (74), enquanto o AML1 é o

componente de ligação ao ADN do fator de transcrição heterodimérico [CBF(α)

mais CBF(β)] chamado de fator de ligação ao núcleo, que exerce um papel central

na hematopoese (73,75). Os genes Hox provavelmente agem a jusante na

cascata de transcrição iniciada pelo fator de ligação ao núcleo (9).

23

Um efeito notável da fusão protéica TEL/AML1 é a inibição da atividade

transcricional que é normalmente iniciada quando AML1 se liga a uma região do

ADN chamada de seqüência “enhancer” do núcleo (76). A ligação do AML1 a esta

seqüência recruta outros fatores de transcrição e co-ativadores para esta região,

e o complexo protéico resultante regula a transcrição. Este complexo inclui

histona acetilases, que adicionam grupos acetil às histonas ligadas ao ADN,

causando assim mudanças na conformação da cromatina que intensificam a

transcrição dos genes-alvo. Assim como o AML1, a fusão protéica TEL/AML1

anormal é capaz de se ligar à seqüência “enhancer” do núcleo, mas ao invés de

ativar a transcrição, ela recruta histonas desacetilases, que induzem ao

fechamento da estrutura da cromatina e, conseqüentemente, à inibição da

transcrição . Estas mudanças na cascata normal de transcrição mediada pelo

AML1 alteram tanto a capacidade de auto-renovação como a de diferenciação

das células-tronco hematopoéticas (75,77).

A grande maioria (70-80%) dos casos com a fusão gênica TEL/AML1

apresenta deleção do alelo TEL normal (78). Esta deleção do alelo não-

rearranjado teria importante papel na patogênese da LLA da infância (77), pois, as

evidências sugerem que a fusão gênica TEL/AML1 normalmente acontece no

período pré-natal, como um evento precoce ou iniciador (64) e, que um evento

genético adicional ou secundário seria necessário para a transformação

leucêmica (28,79,80). Nestas leucemias, está cada vez mais evidente que,

independentemente das mudanças cromossômicas intra-uterinas, o evento pós-

natal ou as exposições que favorecem as mudanças genéticas secundárias,

24

inclusive a deleção do TEL, são cruciais para a maioria dos casos de leucemia na

infância (27) (Figura 8).

O processo leucemogênico constituído de mais de uma etapa parece ser

uma regra para as leucemias pediátricas com TEL/AML1 ou AML1/ETO (40).

Embora a fusão TEL/AML1 normalmente ocorra in utero (28,81), assim como a

fusão MLL/AF4 (26,82), o período de latência até o desenvolvimento da leucemia

é algumas vezes prolongado. Esta situação contrasta com os períodos de latência

muito curtos (em média, 6 meses após o nascimento) da maioria dos casos de

leucemia com a fusão MLL/AF4 (79).

Figura 8 – Modelo para a história natural das LAs da infância

1.3.3 Hiperdiploidia cromossomal

As alterações genéticas nas células leucêmicas incluem além das

alterações estruturais, alterações no número de cromossomos (ploidia). A ploidia

pode ser determinada diretamente pelo clássico método de contagem do número

de cromossomos num cariótipo metafásico, ou por um método indireto alternativo

que mede o conteúdo de ADN por citometria de fluxo.

Modificado de A Zelent e cols., 2004

25

A hiperdiploidia é a anormalidade cromossomal numérica mais comum na

LLA, caracterizada pela presença de 51 a 65 cromossomos por célula leucêmica,

correspondendo a um índice de ADN entre 1.16 e 1.6 (83). As conseqüências da

hiperdiploidia incluem uma propensão celular para entrar em apoptose e o

prognóstico é geralmente favorável. Este subtipo de LLA costuma ocorrer num

pico de idade pré-escolar. As trissomias (presença de 3 cópias de um

cromossomo) são as anormalidades mais vistas em casos de hiperdiploidia (84).

O imunofenótipo destes blastos corresponde à linhagem de célula

precursora B, em sua maioria CD19+, TdT+, CD10+ (muitas vezes

superexpresso) e CD45-. Os CD22 e CD24 também são tipicamente positivos e,

os antígenos mielóides, CD13, CD33 e CD 65 são usualmente negativos (85).

Normalmente os casos de hiperdiploidia são encontrados na ausência de

rearranjos do MLL e das fusões gênicas TEL/AML1 e BCR/ABL. Raros casos de

ocorrência mútua foram descritos (71,86).

1.3.4 LLA com a fusão gênica E2A/PBX1

A translocação recorrente t(1;19)(q23;p13) ocorre em aproximadamente 5-

6% das crianças e, em menos do que 5% dos adultos com LLA. Em 90-95%

destes casos, esta translocação leva à fusão gênica E2A/PBX1 (87). Existe uma

forte correlação entre esta fusão e os casos de LLA pré-B expressando IgM

citoplasmática, embora alguns casos raros em LLA pró-B, LLA comum, LLA-T e

LMA já tenham sido descritos (35,88). O imunofenótipo típico destes casos mostra

uma expressão homogênea de CD19, CD10 e imunoglobulina citoplasmática,

ausência completa de CD34 e, ausência parcial de CD20 (89).

26

A presença desta translocação confere um prognóstico desfavorável e está

freqüentemente correlacionada à presença de riscos clínicos como elevada

contagem celular, altos níveis séricos de desidrogenase láctea e envolvimento do

sistema nervoso central (35).

Após buscas pela fusão gênica E2A/PBX1 em amostras obtidas ao

nascimento e estudos moleculares, até o momento, as evidências sugerem que a

mesma deriva de uma origem pós-natal, ao contrário do que é encontrado para

outras translocações [t(12;21), t(8;21), e t(4;11)], que parecem ocorrer

predominantemente no período pré-natal (90).

1.3.5 A fusão gênica AML1/ETO

A translocação t(8;21)(q22;q22) é encontrada em aproximadamente 7%

das LMA e em aproximadamente 40% das LMA-M2 (22). A clonagem desta

translocação levou à identificação do AML1, que codifica uma unidade de ligação

do ADN ao fator de transcrição CBF(β), que tem um papel central na

hematopoese (73,75). Interessantemente, as translocações t(16;16) e t(12;21),

associadas respectivamente à LMA e à LLA, também envolvem o complexo

transcripcional AML1-CBF(β), fazendo deste o mais freqüente alvo de rearranjos

gênicos nas LAs (76).

A fusão AML1/ETO é encontrada tanto nas LMA de adultos como de

crianças, com ocorrência equilibrada entre os sexos, e com uma incidência

relativamente maior nos pacientes mais jovens (22). Assim como para outras

fusões (MLL/AF4 e TEL/AML1), os estudos sugerem que a fusão AML1/ETO se

origina in utero (26,91).

27

O imunofenótipo característico das LMA com t(8;21) é de blastos imaturos

mostrando expressão alta de CD34 e co-expressão de CD19. A expressão de

TdT na população de blastos imaturos é comum e, aparecem características de

assincronia de maturação com co-expressão de CD34 em alta intensidade,

concomitantemente com CD15 e mieloperoxidase (MPO) em alta intensidade. A

expressão do CD13 é usualmente elevada e a expressão do CD33 é

relativamente baixa. O CD56 é freqüentemente expresso e em alguns estudos foi

considerado um marcador de pior prognóstico (33,92).

1.4 UMA DOENÇA DIFERENTE A CADA IDADE

Os estudos clinico-epidemiológicos demonstraram que a leucemia infantil

não é uma doença homogênea. As diferenças, como visto anteriormente, estão

refletidas tanto na morfologia e nos marcadores imunofenotípicos de superfície

celular quanto em níveis bem mais sutis, como as translocações, deleções

gênicas ou trocas simples de bases nucleotídicas em determinados genes. Além

de toda esta diversidade imunomolecular, a LA infantil também está dividida em

subgrupos que variam de acordo com a idade (Figura 9). Este achado

clínico/biológico ajuda por exemplo a explicar as diferenças na sobrevida entre

lactentes (< 1 ano), crianças (entre 2 e 10 anos) e adultos (93).

Atualmente existem evidências importantes sugerindo que as fusões

gênicas normalmente encontradas nas leucemias pediátricas freqüentemente se

originam no período pré-natal durante a hematopoese fetal. Alguns estudos

investigativos exploram a hipótese de que os eventos aberrantes ocorram durante

a vida intra-uterina, usando como ferramenta molecular de investigação a

28

seqüência genômica da fusão gerada pela translocação cromossômica como um

marcador único e clonotípico. Um primeiro estudo envolve a investigação da

relação clonal entre leucemias concordantes em gêmeos monozigóticos (64).

Uma explicação plausível para este fenômeno clínico foi dada em 1975, quando

Boyse e Clarkson sugeriram que a leucemia concordante em gêmeos poderia ser

resultante do quimerismo sangüíneo, com a leucemia iniciando em um feto e

depois se propagando ao outro gêmeo através da comunicação vascular de uma

mesma placenta (94). Vários casos foram descritos ao longo dos anos, inclusive

um caso de leucemia em gêmeos siameses ocorrendo o fenótipo clínico após a

separação cirúrgica dos gêmeos (95).

Figura 9 – Subtipos moleculares da LLA em lactentes, crianças e adultos

A evidência convincente que fortalece a idéia da “metástase

intraplacentária” veio de um estudo internacional de casos de leucemia

concordante entre gêmeos. Este estudo utilizou as regiões de quebra genômicas

Modificado de M GREAVES, 2002

29

únicas nas fusões do MLL (82)e TEL/AML1 (28,81), e os rearranjos clonotípicos

de IGH e TCR (96,97). Em cada par de gêmeos investigado, foi demonstrado que

suas células leucêmicas compartilhavam a mesma seqüência de fusão gênica ou

seqüências de IGH/TCR. Como estes eventos clonais não-constitutivos e

adquiridos são compartilhados por cada par de gêmeos, a única explicação

sustentável é a de uma única origem celular seguida por ‘metástase’ (64).

Estes estudos nos gêmeos também foram informativos em outros

aspectos. Primeiramente, eles demonstraram que a latência pós-natal poderia ser

variável, mesmo entre gêmeos de um mesmo par, e poderia ser prolongada (em

até 14 anos) (28). Segundo, como a concordância entre os gêmeos variou de

50% ou mais para os casos de lactentes a até 5-10% em casos pediátricos com

maior idade, é provável que eventos genéticos adicionais e pós-natais sejam

necessários para complementar o evento da fusão gênica precoce (64,93).

Para reiterar a hipótese da origem pré-natal foi realizado um teste ainda

mais direto em pacientes não-gêmeos com leucemia. Foi realizado um

rastreamento da seqüência da fusão gênica no ADN arquivado (desde o período

neonatal) de pacientes com diagnóstico de leucemia (26,91). Estes estudos

confirmaram a origem pré-natal da fusão gênica (MLL/AF4) na LAL, e mostraram

que muitas e provavelmente a maioria das fusões TEL/AML1 (na LLA) e

AML1/ETO (na LMA) se originam in utero. Assim sendo, a idade ao diagnóstico

e/ou os distintos subgrupos biológicos são muito provavelmente os reflexos de

seus diferentes mecanismos etiológicos.

30

1.5 FATORES DE RISCO

Com base em tudo o que foi visto até aqui, é possível que raramente a

leucemia da criança envolva eventos genéticos herdados. Ao contrário, acredita-

se que as mutações nas células hematopoéticas ocorram mais freqüentemente in

utero ou, em alguns casos, durante a infância. Conforme mencionado

anteriormente, sugere-se que as mutações adicionais seriam necessárias para a

transformação leucêmica e que, na maioria das vezes, estes eventos ocorreriam

no período pós-natal, num clone pré-leucêmico (28,64,77,80,98). Saber como

estas mutações são adquiridas é a questão principal na etiologia da doença. A

princípio, são os estudos epidemiológicos que nos revelam as primeiras

informações nesta busca. Na figura 10 estão relacionados alguns dos fatores

associados com um risco aumentado para o desenvolvimento de leucemia.

Figura 10 – Fatores de risco envolvidos no desenvolvimento da leucemia (1,25).

31

As LALs representam o melhor modelo para os estudos epidemiológicos

moleculares: (i) A maioria dos casos de lactentes (aproximadamente 85% com

LLA e 65% com LMA) têm rearranjos na região 11q23 envolvendo o gene MLL

(36,64,99). (ii) Neste grupo, as evidências moleculares da ocorrência in utero dos

rearranjos do MLL são irrefutáveis (26,82). (iii) A janela crítica de exposições está

muito definida pelo tempo de exposição aos fatores de risco (59,100).

1.5.1 Os fatores ambientais

Algumas associações significativas já foram testadas e confirmadas,

apontando fatores de risco que influenciam na etiologia da leucemia. Estes

incluem um peso acima de 4.000 g ao nascimento (associado a um risco

aumentado 2 vezes maior de desenvolver LMA e LLA nas crianças menores de

dois anos), o consumo materno de álcool durante a gravidez (com um risco 1,5

vez maior associado com LMA infantil), e história materna de aborto ou parto de

natimorto (riscos aumentados em 2 a 5 vezes de desenvolver LLA ou LMA nos

lactentes) (101,102).

A exposição à radiação ionizante e a certos agentes químicos são

exemplos de fatores associados ao desenvolvimento da LA. Entre os

sobreviventes das explosões de bombas atômicas no Japão, o índice de casos de

leucemia é elevado. Em um estudo que analisou uma população de 73.330

sobreviventes em Hiroshima e Nagasaki, a curva de um efeito estimado de dose-

resposta entre a radiação ionizante e a mortalidade causada por leucemia foi

muito íngreme (P < 0.002), com um fator de 2.4, entre àqueles que relataram

queda dos pelos dentro do prazo de 60 dias após o bombardeamento, quando

32

comparados aos que não sofreram este sinal de exposição aguda à radiação

(103,104).

A exposição química (benzeno, por exemplo) também está associada ao

risco de desenvolver leucemia, no entanto, está diretamente relacionado à

atividade da enzima NAD(P)H que o metaboliza. Um estudo que determinou os

polimorfismos da enzima NQO1 que detoxifica o benzeno mostrou que as

leucemias com rearranjos do MLL apresentavam maior número de genótipos com

baixa atividade enzimática de NQO1 (heterozigotos CT ou homozigotos TT no

nucleotídeo 609) do que os controles (OR, 2.5; P = 0.015). Ao contrário, nenhuma

associação foi encontrada em outros grupos de leucemias pediátricas com as

fusões TEL-AML1 (n = 50) ou hiperdiploidia (n = 29). No subgrupo das leucemias

de lactentes que continham a fusão MLL-AF4 (n = 21), a associação era ainda

maior com os genótipos que determinam função reduzida ou nula de NQO1 (OR,

8.12; P = 0.00013) (105).

1.5.1.1 Agentes inibidores da topoisomerase II

A explicação mais plausível para as fusões gênicas do MLL no

cromossomo 11q23 dos lactentes recai sobre a exposição materna durante o

período gestacional a agentes químicos, como epidofilotoxinas e antracilcinas,

que causam quebras no ADN por meio da inibição da função da topoisomerase II

(topo-II) (60). A topo-II desempenha um papel crucial durante a replicação, sua

potencial ação na aquisição das translocações foi primeiramente notada

comparando-se os rearranjos do MLL em lactentes com aqueles observados em

leucemias secundárias ao uso de drogas que a têm como alvo (106,107).

33

Primeiramente a topo-II gera quebras na dupla-fita (Figura 11A) que será religada

depois do desenovelamento do ADN (Figura 11B). As drogas que atuam sobre a

enzima, interrompem o processo enquanto as fitas de ADN estão separadas,

deixando-as livres e mais propensas à ocorrência de fusões gênicas (108).

Considerando-se que o rearranjo do MLL acontece in utero na LAL e que

as células no feto em desenvolvimento têm um grau elevado de proliferação, a

exposição intra-uterina a drogas, alimentos, ou a fatores ambientais que inibem a

topo-II é considerada como um fator de risco bastante aceito para o início dos

rearranjos do MLL (27,109).

Figura 11 – Modelo esquemático das funções executadas pela topo-II

Uma grande variedade de componentes naturais e sintéticos, incluindo

agentes quimioterápicos, antibióticos a base de quinolonas, flavonóides

encontrados em comidas e bebidas, catequinas, resina, metabólitos do benzeno

(108,110,111), e até mesmo estrógenos podem inibir a topo-II . Em recente

A B

Topo -II

Dupla -fita ADN

34

estudo epidemiológico internacional, a exposição transplacentária a drogas que

danificam o ADN, como uma droga anti-inflamatória não-esteroidal (dipirona) e um

pesticida, foi associada ao desenvolvimento das LALs envolvendo fusões gênicas

do MLL (25). Embora os efeitos da dieta, medicação e exposições ambientais

sejam reduzidos em relação ao uso de quimioterápicos, a capacidade reduzida de

um feto e/ou sua mãe em desintoxicar tais agentes poderia potencializar a

susceptibilidade do feto em desenvolver leucemia (112,113).

1.5.2 Infecção viral

Desde a década de 80, com os primeiros trabalhos de Kinlen e Greaves,

existe a suspeita de que as infecções virais também poderiam desempenhar um

papel na patogênese da leucemia humana (10,114). Esta hipótese foi resultado

da observação de que a pouca idade em que se dá início a LLA corresponde ao

período em que o sistema imune está em desenvolvimento, e talvez, mais

vulnerável aos efeitos oncogênicos de certos vírus. Por enquanto, não há

associações diretas entre exposição viral pré-natal e o risco de leucemia. No

entanto, há um crescente suporte epidemiológico para a idéia de que o estresse

proliferativo associado a exposições virais deficientes durante a infância e

respostas imunológicas anormais devido ao retardo na ocorrência das infecções

comuns, desempenham um papel causal na LLA-comum (LLA-c) (27,93).

2. JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

Todo projeto de pesquisa deriva de um processo dinâmico. Nosso grupo de

trabalho desenvolve projetos que buscam respostas de cunho etiopatogênico nas

35

LALs. Para tal, utilizamos uma metodologia multidisciplinar que inclui análise

morfológica, testes com citometria de fluxo (imunofenotipagem) e análises

moleculares. Com estas ferramentas foi iniciado um estudo multicêntrico e

multidisciplinar, com objetivo de investigar a etiologia das alterações moleculares

que comprometem a região 11q23 nas LALs, com atenção especial para a

exposição a fatores exógenos que danificam as estruturas de ADN. Além das

publicações científicas (25,31,115-118) e colaborações com pesquisadores

nacionais e estrangeiros, este estudo resultou num verdadeiro banco de

informações e associações clínico-biológicas e ambientais das LALs do Brasil.

Entre outras, as associações entre subtipos celulares, moleculares e a

idade dos pacientes são cada vez mais encontradas nas leucemias de forma

geral. As LLAs pró-B em neonatos com rearranjos do gene MLL e as LLAs-c em

crianças (2-10 anos) com hiperdiploidia cromossômica ou a fusão gênica

TEL/AML1 são exemplos clássicos. A hipótese da ocorrência intra-uterina

contempla algumas das translocações e/ou mutações encontradas nas leucemias.

No entanto, no grupo de casos analisados preliminarmente para o estudo

epidemiológico, foram encontrados casos raros que questionam algumas das

associações já estabelecidas.

Em vista dos relatos acima, propusemos um rastreamento nos casos de

lactentes, buscando pelas alterações genético-moleculares envolvidas na

leucemogênese. Estes dados certamente contribuirão nas discussões que ainda

polemizam os fóruns de reflexão sobre a etiopatogenia da doença.

36

3. OBJETIVOS

3.1 GERAL

• Identificar as alterações moleculares associadas às LAs infantis que

provavelmente se iniciam na vida intra-uterina;

3.2 ESPECÍFICOS

• Caracterizar através de testes imunomoleculares os marcadores mais

frequentes em LAs de crianças com idade inferior a 24 meses;

• Estabelecer um algoritmo de testes imunofenotípicos e citogenético-

moleculares capazes de caracterizar as alterações do gene MLL nas

LALs;

• Prover dados biológicos consistentes ao estudo epidemiológico

exploratório sobre LA infantil e fatores de risco ambientais.

37

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.1 AMOSTRAS

Foram incluídas nesta análise amostras de crianças com idade inferior a 24

meses (lactentes) portadores de LA, procedentes de diversos estados brasileiros,

sem restrição de idade, raça ou sexo e isentos de tratamento quimioterápico

prévio. As amostras destes pacientes foram obtidas após exames clínicos e

hemogramas sugestivos de leucemia e encaminhadas, para fins diagnósticos ao

nosso laboratório no Instituto Nacional de Câncer (INCA), Rio de Janeiro-RJ, no

período de janeiro de 2000 a fevereiro de 2005. Somente foram inseridas as

amostras de crianças cujos pais ou responsáveis legais concordaram com a

participação no estudo formalizado através da assinatura do “Termo de

consentimento livre e esclarecido”.

• Foram coletadas amostras de MO e/ou sangue periférico (SP) dos

pacientes em uma seringa esterilizada (5-10 ml) com anticoagulante

EDTA;

• 4 lâminas com esfregaços de MO e/ou SP foram enviadas para a

realização da análise morfológica;

As amostras de MO e/ou SP, tiveram seu imunofenótipo caracterizado pela

citometria de fluxo multiparamétrica conforme tabela 2.

38

4.2 ETAPAS DIAGNÓSTICAS

4.2.1 Análise morfológica

A análise morfológica inicial foi feita pela coloração convencional por May-

Grünwald-Giemsa (MGG) complementada pela técnica citoquímica pelo Negro de

Sudan. Esta análise preliminar permitiu a distinção entre LLA e LMA e a aplicação

dos critérios definidos pelo grupo French-American-British (FAB) (119).

4.2.2 Separação de células mononucleares

Técnica de separação por Ficoll-Hypaque-Hystopaque®

• As amostras foram inicialmente centrifugadas a 1500 rpm por 5 minutos,

para separação do plasma. Este foi retirado do tubo. A amostra restante

foi diluída com meio RPMI e homogeneizada;

• Nos casos com hiperleucocitose (>30 x 109 leucócitos/l) a etapa inicial

consistia na separação celular para obtenção das células mononucleares,

baseada em gradiente de centrifugação através de Ficoll-Hypaque-

Hystopaque® (densidade 1077);

• Todo o conteúdo das amostras diluídas foram cuidadosamente

depositados em tubos falcon de 15 ml, contendo Ficoll- Hystopaque®, na

proporção de 1:3 ml de amostra diluída e centrifugados a 1500 rpm por

25minutos;

• Após a centrifugação forma-se um anel na interfase do tubo, contendo as

células mononucleares. Este anel foi recolhido com pipeta Pasteur e

39

transferido para um novo tubo; o volume foi novamente completado com

RPMI para um volume de 10 ml;

• O tubo foi homogeneizado e centrifugado por 5 minutos a 1500 rpm; o

sobrenadante foi descartado e as células foram ressuspendidas em 2,0 ml

de RPMI;

• A viabilidade celular foi avaliada através da coloração pelo azul de tripano

e as células foram observadas e contadas em câmara de Newbauer;

• As células mononucleadas foram então distribuídas na concentração de

1,0 - 1,6 x 106/ml para realização da imunofenotipagem e citospins;

4.2.3 Imunofenotipagem

As células foram colocadas em tubos apropriados, para leitura no citômetro

de fluxo, em concentração de 106 células e incubadas durante 30 minutos com 10

µl do anticorpo primário. As incubações foram feitas com duplas ou triplas

associações de anticorpos monoclonais (AcMo) específicos marcados com

diferentes fluorocromos (fluoresceína ou ficoeritrina).

A aquisição e análise dos casos foram executadas em citômetro de fluxo,

seja no Epics-Coulter® ou no FacScan®, Becton Dickinson, existentes no setor,

onde foram contadas 104 células por cada tubo. Para as análises

citofluorimétricas foi utilizado um painel de AcMos capaz de reconhecer as

seguintes moléculas de superfície: CD45, CD14, CD15, CD34, CD117, CD19,

CD10, CD20, CD7, CD3, CD4, CD8, CD13, CD33, CD61, CD34, CD42, CD38,

HLA-DR, 7.1 e glicoforina-a. Os AcMos utilizados foram adquiridos com diversos

fabricantes como Coulter, Imunotech, Becton-Dickson, Pharmigen e Dako. As

40

associações dos anticorpos conforme a combinação de cores para análises por

citometria estão descritas na tabela 2.

No estabelecimento dos critérios de positividade para cada AcMo,

adotamos o valor mínimo de 20% das células analisadas. Os marcadores de

células precursoras como aMPO, CD34 e TdT, por serem muito específicos e

sensíveis, foram considerados positivos quando os valores excederam 10% das

células analisadas.

4.2.3.1 Técnica para marcação intracitoplasmática

Ao tubo contendo as células separadas foram acrescentados 500 µL

de solução de lise FACS Lysing Solution® (Becton Dickinson). O tubo foi agitado

repetitiva e vigorosamente e incubado por 15 minutos, à temperatura ambiente e

protegido da luz. O tubo foi centrifugado por 5 minutos a 1500 rpm e o

sobrenadante foi desprezado.

GRUPO FITC PE PC51 CD19 CD10 CD452 CD38 CD34 CD453 CD34 CD7 CD454 CD13 CD335 CD13 CD146 CD61 glicoforina-a7 CD15 CD338 CD117 CD19 CD459 CD10 CD20 CD19

10 CD8 CD4 CD311 7.1 CD19 CD45

Tabela 2 – Associações dos AcMo utilizados no painel de análise das leucemias agudas

41

Foram adicionados 500 µl de solução detergente (TWEEN 20), para

permeabilizar a membrana celular, e a solução foi homogeneizada. Procedeu-se

nova centrifugação por 5 minutos a 1500 rpm, o sobrenadante foi desprezado e

então os AcMos (anti-CD22, CD3, IgM, aMPO, CD79a e CD13) foram

acrescentados em combinações de acordo com fluorocromo conjugado (PE ou

FITC).

4.2.3.2 Técnica para marcação de superfície celular

Adicionou-se ao tubo contendo as células separadas (5-15µl) de cada

AcMo, em simples, duplas ou triplas associações, conjugados com FITC, PE e

PerC5). O tubo foi homogeneizado e incubado por 20 minutos, a temperatura

ambiente e protegido da luz. Foram acrescentados 500 µl de PBS em cada tubo,

o tubo foi centrifugado por 5 minutos a 1500 rpm e o sobrenadante foi descartado.

Nos casos onde o AcMo não era conjugado a nenhum fluorocromo, foram

adicionados 2,5 µl de um segundo anticorpo conjugado a FITC ou PE,

constituindo a segunda camada e incubou-se por 20 minutos. As células foram

ressuspensas em 500 µl de PBS para serem analisadas no citômetro de fluxo.

4.2.3.3 Técnica para marcação por lise de hemáceas

Nos casos em que havia baixa leucometria ou pouco material para estudo,

a marcação foi feita por lise de hemáceas. Em um tubo de 5 ml foram colocados

50 µl de sangue e 5-10 µl de anticorpo. Após 20 minutos, adicionou-se 500 µl de

solução de lise de hemáceas, deixando o tubo em repouso por mais 10 minutos.

O tubo foi centrifugado por 5 minutos a 1500 rpm e o sobrenadante foi

42

descartado. Foram acrescentados 500 µl de PBS e o tubo foi novamente

centrifugado por 5 minutos a 1500 rpm. As células foram ressuspensas em 500 µl

de PBS para serem analisadas no citômetro de fluxo.

4.2.4 Citogenética convencional e FISH

A presença de anormalidades cromossômicas foi pesquisada através de

estudos do cariótipo, utilizando metodologia previamente descrita (120) e

realizados por Maria Luiza Macedo Silva, PhD e Gilena Dantas de Brito, Ms no

Laboratório de Citogenética/CEMO – Instituto Nacional de Câncer. As análises de

metáfases (quando disponíveis) e intérfases foram documentadas de acordo com

os critérios descritos por Hopman e colaboradores (121). Ao menos 200 células

foram analisadas por amostra usando o programa Cytovision, Applied Imaging. A

hibridização foi realizada usando MLL sonda bicolor que detecta a quebra

seguindo os protocolos da Vysis Inc. G.D.B. foi responsável por todos os

resultados de FISH aqui reportados.

4.2.5 Genética-molecular

As amostras de MO e/ou SP foram mantidas congeladas em freezer –80 ºC

ou em tanque de nitrogênio líquido, conforme rotina do laboratório, até seu

processamento inicial de acordo com os protocolos de estudo.

Para investigar o status do MLL, primeiramente foi realizada a citogenética

convencional, seguida pela RT-PCR nos casos inconclusivos ou negativos. O

rastreamento final foi por análise de FISH, realizada em 36 casos inconclusivos

43

e/ou negativos, ou em 7 casos com material biológico insuficiente para outros

testes. Para aqueles casos que foram negativos para o rearranjo do MLL, foi

realizada uma investigação adicional pela fusão gênica TEL/AML1 nas LLAs de

células precursoras B (LLA-pB) e, para a fusão gênica E2A/PBX1 nos casos LLA-

pB TEL/AML1-vos. Nos casos de LMA MLL-vos também foi testada a presença da

fusão gênica AML1/ETO.

4.2.5.1 Purificação de ácido ribonucléico (ARN)

O material que não continha células separadas passou por uma lise inicial

das hemáceas. Em tubo eppendorf contendo SP ou MO, adicionou-se 500 µl de

solução de lise de hemáceas e por inversão o tubo foi homogeneizado. Incubou-

se por 10 minutos a temperatura ambiente. Centrifugou-se por 10 minutos a

12000 rpm, desprezando-se o sobrenadante. Ao final desta etapa, acrescentou-se

TRIZOL LS Reagent (Invitrogen, EUA) em uma proporção de 3:1 (para cada 250

µl de suspensão celular adicionou-se 750 µl de TRIZOL), homogeneizando com

a pipeta até completa dissolução dos grumos. Após incubação em temperatura

ambiente por 5 minutos, foram acrescentados 200 µl de clorofórmio,

homogeneizando com pipeta e agitando-se vigorosamente por 15 segundos. A

solução resultante foi centrifugada a 4 ºC por 15 minutos a 12500 rpm e a fase

transparente (superior) de cada tubo foi transferida para novos tubos livres de

agentes deteriorantes de ácido ribonucléico (ARN). O ARN foi precipitado com

500 µl de álcool isopropílico 100% e gelado. As amostras foram incubadas a

temperatura ambiente por 10 minutos. A seguir, centrifugou-se a amostra a 4 ºC

por 15 minutos a 12500 rpm, desprezando-se o sobrenadante. Acrescentou-se

44

1000 µl de etanol 75%, seguido novamente de centrifugação refrigerada por 5

minutos a 7500 rpm. Retirou-se todo o álcool e o pellet preso ao tubo foi

dissolvido com água tratada com DEPC por pelo menos 15 minutos. O material foi

identificado e armazenado.

4.2.5.2 Síntese da fita de ADN complementar (ADNc)

Para cada 5 µg (3 a 5 µl) de ARN a ser transcrito, acrescentou-se 2 µl de

enzima que digere o ADN (10 U/µl), 2 µl de solução tampão 10X (500 mM Tris, pH

8,0, 100 mM MgCl2 e água tratada com DEPC para completar um volume final de

20 µl. Esta mistura foi incubada por 30 minutos a 37 ºC. Ao final, foram

adicionados 2 µl de EDTA 25 mM e incubou-se por 15 minutos a 65 ºC para

inibição da reação.

A seguir, cada amostra foi dividida em 2 tubos, contendo 10 µl cada. Um

dos tubos era identificado como RT e o outro como n-RT. A cada tubo,

acrescentou-se 1 µl de solução com mistura de dNTPs (deoxyNucleotide mix 10

mM; Invitrogen, EUA) e 1 µl de solução de iniciadores oligo (dT) 0,5 µg/µl

(Invitrogen, EUA). O conteúdo foi incubado por 5 minutos a 65 ºC. Ao final deste

processo, acrescentou-se ao tubo 4 µl do tampão de síntese 5X (First Strand

Buffer; Invitrogen, EUA), 2 µl de DTT 0,1 M (Invitrogen, EUA) e 1 µl do inibidor de

substâncias que digerem o ARN. As amostras foram levemente homogeneizadas.

Após esta etapa, ao tubo RT foi acrescentado 1 µl da enzima transcriptase

(Rnase H-Reverse Transcriptase 200 U/µl; Invitrogen, EUA) e todos os tubos

foram incubados em banho-maria a 37 ºC por uma hora. Ao final, as amostras

foram armazenadas a –20 ºC.

45

4.2.5.3 RT-PCR para amplificação do gene GAPDH

Para comprovar a integridade das amostras de ADNc, foi realizada a RT-

PCR para amplificação do gene GAPDH. Este gene de referência endógena ou

housekeeping codifica a proteína gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase (GAPDH),

expressa em todas as células nucleadas. A seqüência de oligonucleotídeos

utilizada está descrita na tabela 3. O tamanho do produto de PCR amplificado é

de 419 pb.

Tabela 3 – Seqüência de oligonucleotídeos para a amplificação gênica GAPDH

PRIMER SEQÜÊNCIA (5’ – 3’)

GAPDH senso TGACCCCTTCATTGACCTCA

GAPDH anti-senso AGTCCTTCCACGATACCAAA

Para a reação de PCR foram utilizados 3 µl de ADNc. A solução adicionada

ao ADNc foi preparada contendo uma solução final de 50 µl com as seguintes

quantidades: iniciadores 0,4 µM, dNTPs 200 µM, solução tampão 1X (Invitrogen,

Brasil), cloreto de magnésio 2,5 mM (Invitrogen, Brasil), água de ampola para

completar o volume e 1U de Taq-polimerase 5U/µl (Taq DNA Polymerase;

Invitrogen, Brasil).

O termociclador utilizado foi o PCR-System 9700 (Gene Amp, Applied

Biosystems, EUA), utilizando-se as seguintes temperaturas e número de ciclos:

desnaturação inicial a 94 ºC por 3 minutos, 35 ciclos de desnaturação a 94 ºC por

30 segundos, anelamento a 60 ºC por 30 segundos e extensão a 72 ºC por 45

segundos e, extensão final a 72 ºC por 10 minutos. Os produtos de PCR foram

46

visualizados em gel de agarose corado com brometo de etídio através de luz

ultravioleta (Figura 12).

Figura 12 – Corrida de eletroforese em gel de agarose (1,5%) corado com

brometo de etídio dos produtos da amplificação do gene GAPDH

4.2.5.4 RT-PCR para amplificação dos genes MLL/AF4, TEL/AML1, E2A/PBX1

e AML1/ETO

As fusões gênicas resultantes das translocações t(4;11)(q21;q23),

t(12;21)(p13;q22), t(1;19)(q23;p13) e t(8;21)(q22;q22) foram pesquisadas através

de RT-PCR (simples, ninho ou semi-ninho) utilizando-se as condições e os

iniciadores divulgados pelo BIOMED-1 Concerted Action: Investigation of minimal

residual disease in acute leukemia (41). Na tabela 4 estão descritos os

oligonucleotídeos utilizados para este estudo.

O termociclador usado foi o PCR-System 9700 (Gene Amp, Applied

Biosystems, EUA), utilizando-se as seguintes temperaturas e número de ciclos:

desnaturação inicial a 94 ºC por 2 minutos, 35 ciclos de desnaturação a 94 ºC por

100 pb 1 2 3 4 5 6 7 8

419 pb

47

30 segundos, anelamento a 60 ºC por 60 segundos e extensão a 72 ºC por 60

segundos.

Tabela 4 – Seqüência de oligonucleotídeos para a amplificação gênica das

principais translocações

NOME SEQÜÊNCIA (5’ – 3’)

MLL-A CCG CCT CAG CCA CCT AC

MLL-C AGG ACC GCC AAG AAA AGA

AF4-B TGT CAC TGA GCT GAA GGT CG

TEL-A TGC ACC CTC TGA TCC TGA AC

AML1-B AAC GCC TCG CTC ATC TTG C

E2A-A CAC CAG CCT CAT GCA CAA C

PBX-B TCG CAG GAG ATT CAT CAC G

E2A-C CAC CCT CCC TGA CCT GTC T

PBX1-D GGC CTG CTC GTA TTT CTC C

AML1-A CTA CCG CAG CCA TGA AG AAC C

ETO-B AGA GGA AGG CCC ATT GCT GAA

Para a fusão gênica MLL/AF4 foi feito o RT-PCR ninho, com os iniciadores

MLL-A, AF4-B para a primeira reação e MLL-C e AF4-B para a segunda. O

transcrito TEL/AML1 foi procurado por RT-PCR simples, com os iniciadores TEL-

A e AML1-B. Para a análise da fusão gênica E2A/PBX1, também foi utilizado o

RT-PCR ninho, com os iniciadores E2A-A e PBX-B para a primeira reação e E2A-

C e PBX-D para a segunda. Por fim, o RT-PCR semi-ninho (utilizando os mesmos

oligonucleotídeos que foram usados na primeira reação) foi usado na amplificação

da fusão gênica AML1/ETO, com os iniciadores AML1-A e ETO-B.

48

Os controles positivos foram as linhagens celulares RS4;11, REH,

KAZUMI-1 e 697, respectivamente, para as translocações t(4;11), t(12;21), t(8;21)

e t(1;19). Em algumas reações, pacientes positivos pela citogenética convencional

foram usados como controles positivos.

4.2.5.5 Reação RT-PCR multiplex para a amplificação dos principais

rearranjos do gene MLL

Para a detecção das fusões gênicas resultantes das translocações

t(4;11)(q21;q23), t(11;19)(q23;p13.3), t(9;11)(p21-22;q23), e t(11;19)(q23;q13.1),

utilizou-se a técnica de RT-PCR multiplex previamente descrita(122). A tabela 5

contém as seqüências dos nucleotídeos utilizadas.

Tabela 5 – Seqüência de oligonucleotídeos para os rearranjos do MLL

NOME SEQÜÊNCIA (5’ – 3’)

MLL 3759 CCC AAA GAA AAG CAG TAG TGA

AF4 1607 TTT GTA GGG AAA GGA AAC TTG

AF9 1825 GAT TTG CTT TGC TTT ATT GG

ENL 216 CGT ACC CCG ACT CCT CTA CT

ENL 1399 GCC TGA CAC CTT GCT GTT

49

Os parceiros mais freqüentes do MLL são rastreados por esta técnica. A

realização de reações simples após a detecção do rearranjo permite a

identificação do parceiro exato em cada caso. A figura 13 é um esquema

mostrando os pontos de quebra e as posições dos genes usados no multiplex.

Figura 13 – Pontos de quebra (setas verticais) e posições dos oligonucleotídeos

iniciadores (setas horizontais) dos genes incluídos na reação de RT-PCR

multiplex.

As fusões gênicas MLL/AF4, MLL/AF9 e MLL/ENL foram amplificadas

numa mesma reação. A reação multiplex de RT-PCR foi realizada em 50 µl de 1,1

X PCR Buffer, 2,0 mM de MgCl2, 0,8 mM de dNTPs, 1 U de Taq polimerase, e os

ML AF4

AF6

AF9

AF1

ELL

ENL

50

oligonucleotídeos iniciadores numa concentração final de 0,5 µM. Realizou-se 35

ciclos de amplificação numa máquina termocicladora contendo o seguinte

programa: 95 ºC por 5 minutos, 35 ciclos de 95 ºC por 30 segundos, 60 ºC por 30

segundos, e 72 ºC por 1 minuto, 72 ºC por 5 minutos.

Figura 14 – Exemplo de corrida de eletroforese em gel de agarose (2%) corado

com brometo de etídio dos produtos da amplificação do RT-PCR multiplex para

detecção dos rearranjos do MLL. Coluna 1 mostra o controle positivo. Colunas 2, 4 e 13

mostram pacientes negativos para as fusões procuradas. Colunas 3 e 5-12 mostram pacientes

positivos para alguma das fusões procuradas. Coluna 14 mostra o controle negativo.

4.3 ANÁLISE ESTATÍSTICA

A análise estatística foi realizada através do programa SPSS 13.0 (SPSS

Inc., 2004). Para a avaliação estatística das freqüências e das associações entre

os dados clínicos e a presença ou ausência das anormalidades cromossômicas, o

teste Pearson Chi-Square foi utilizado. Um valor de p menor ou igual a 0.05 foi

considerado significativo.

100 pb 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 50 pb

51

5. RESULTADOS

Foram incluídos neste estudo 207 casos de LALs (Tabela 6). Não houve

diferença estatística no que diz que respeito ao sexo. Um total de 139 mães

definiu a cor da pele de seus bebês como branca, enquanto apenas 64 foram

definidas como não-brancas com diferença estatística significante, independente

do subtipo LLA ou LMA. Considerando-se a distribuição tanto dos casos de LLA

como dos de LMA pelas regiões brasileiras, a região Sudeste contribuiu com a

maior quantidade (n=116), seguida pela região Nordeste (n=64). A distribuição

dos pacientes pela faixa etária mostra uma predominância de crianças menores

de 12 meses de idade (n=103).

Tabela 6 – Distribuição dos casos de LLA e LMA

LLA (%) (n=145) LMA (%) (n=62) p Sexo NS Feminino 66 (45) 26 (42) Masculino 79 (55) 36 (58) Idade (meses) 0-12 75 (52) 28 (45) 0,05 13-18 45 (31) 20 (32) ≥ 19 25 (17) 14 (23) Cor da pele*

Branca 99 (68) 40 (64) 0,003

Não-branca 42 (29) 22 (36)

Região

Sul 11 (8) 6 (10)

Sudeste 79 (54) 37 (60) 0,004 Centro-oeste 6 (4) 4 (6) Nordeste 49 (34) 15 (24)

* Refere-se à cor da pele definida pela mãe da criança; em 4 crianças a cor da pele não foi especificada. LLA –

leucemia linfoblástica aguda, LMA – leucemia mielóide aguda, NS – estatisticamente não significativo.

52

As principais características clínicas e laboratoriais dos casos de LALs são

mostradas na Tabela 7. A hepatoesplenomegalia foi freqüentemente encontrada

entre os pacientes. O predomínio de LLA pró-B foi associado com crianças

menores de 12 meses, enquanto os casos de LLA-c foram mais freqüentes em

crianças maiores de 14 meses, conforme Figura 15. Foram encontrados oito

subtipos diferentes de LMA, sendo os subtipos M4, M5 e M7 os mais comuns. A

maior freqüência dos casos de LMA foi encontrada na faixa etária de 7 a 14

meses. Uma grande variedade de aberrações cromossômicas foi encontrada,

sendo que as anormalidades citogenéticas mais freqüentemente observadas

foram aquelas que envolviam a região cromossômica 11q23.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0-2 3-6 7-14 15-21

Pró-B LLA-c Pró-T LMA

Figura 15 – Distribuição do número de casos por faixa etária de acordo

com os subtipos imunofenotípicos de leucemia

Faixa etária

53

Tabela 7 – Características clinico-laboratoriais dos casos de LALs e as alterações

cromossômicas mais freqüentes

n/ntotal (%) n/ ntotal (%)

Achados clínicos Anormalidades citogenéticas **

Hepatomegalia 83/114 (72.8) Região 11q23 28/95 (29.5)

Esplenomegalia 80/114 (70) t(4;11)(q21;q23) 13/28 (46.4)

Cutis leucêmica 31/72 (43) t(11;19)(q23;p13) 3/28 (10.7)

Leucometria (x10 9/l) t(1;11)(q21;q23) 3/28(10.7)

≤ 50 98/207 (47.3) t(6;11)(q27;q23) 1/28 (3.6)

> 50 109/207 (52.7) t(9;11)(p22;q23) 1/28 (3.6)

LLA - Imunofenótipo * del(11q23) 7/28 (25)

Pró-B 63/133 (47.3) Hiperdiploidia 7/95 (7.3)

LLA-c 59/133 (44.4) 46,XY, del(7)(q22) 2/95 (2.1)

Pré-B 4/133 (3) 46,XY; t (2;19) (q31;q13,2) 1/95 (1.05)

Pró-T 7/133 (5.3) 46,XX,dic(7;9)(p13;q11) 1/95 (1.05)

LMA – subtipos FAB 47,XY,+8,+del11(q23) 1/95 (1.05)

M0 4/62 (6.4) 46,XX dic(7;12) 1/95 (1.05)

M1 2/62 (3.2) 47,XY,t(1;3)(q25,q27) [20] 1/95 (1.05)

M2 7/62 (11.3) 46,XX, inv(16)(p13;q22) 1/95 (1.05)

M3 5/62 (8.1) 46,XX,-8,+13 1/95 (1.05)

M4-M5 28/62 (45.2) t(11;14)(p13;q11) 1/95 (1.05)

M6 2/62 (3.2) t(15;17)(q22;q21) 4/95 (4.2)

M7 14/62 (22.6) t(1;19)(q23;p13) 2/95 (2.1)

t(8;21)(q22;q22) 1/95 (1.05)

*Sete casos não foram testados; **Resultados por citogenética convencional; FAB = grupo

French-American-British (119).

A associação entre o imunofenótipo e o genótipo foi estatisticamente

significativa entre os casos LLA pró-B e MLL+vos (p=0,001) (Tabela 8). Uma

54

associação contrária foi observada com o subtipo imunofenotípico LLA-c e os

casos MLL-vos (p=0,005). Além disso, uma associação estatisticamente

significativa foi observada quando o status do MLL foi comparado com a idade ao

diagnóstico. O grupo etário de 0-3 meses foi associado com os casos MLL+vos

(p=0,004), enquanto o grupo etário referente aos lactentes maiores de 13 meses

foi associado com os casos MLL-vos (p=0,05).

Tabela 8 – Associação entre o status do gene MLL e características

relacionadas

MLL

n+vo/ntotal (%) p

Subtipo LLA pró-B 42/58 (72) 0,001

imunofenotípico LLA-c 14/53 (26) 0,005

LLA pró-T 2/6 (33)

LMA 19/49 (39)

Outros 2/14(14)

Idade (meses) 0 – 3 12/19 (63) 0,004

4 – 12 37/72 (51)

> 13 31/88 (35) 0,05

Contagem leucocitária (x10 9/l) ≤ 50 22/59 (37)

50 - 100 15/30 (50)

>100 32/51 (63)

NA 2/11 (18)

55

A ordem de prioridade dos testes utilizados na detecção dos rearranjos do

gene MLL e de outras anormalidades cromossômicas foi definida de acordo com

os subtipos das LALs e da disponibilidade de material biológico. Os resultados

estão na Tabela 9. A citogenética convencional constituiu a primeira etapa e foi a

menos eficiente para demonstrar a presença dos rearranjos, já que apenas 56%

dos casos LLA pró-B foram positivos por esta técnica. Foram 95 casos com

material suficiente para a citogenética convencional e dez entre estes eram

normais. Em 36 casos não foram obtidas mitoses, mas análises posteriores foram

possíveis por FISH. A RT-PCR foi realizada em 103 casos, sendo que alguns

destes haviam sido previamente testados pela citogenética, conforme descrito na

metodologia.

Tabela 9 – Comparação dos métodos usados para a detecção do rearranjo do

MLL

Citogenética RT-PCR FISH MLL status

Subtipo n+vo /ntotal (%) n+vo /ntotal (%) n+vo /ntotal (%) n+vo/ntotal (%) p

LLA Pró-B 13/23 (56) 28/37 (76) 8/9 (89) 42/58 (74) 0,001

LLA-c 3/26 (11,5) 10/24 (42) 1/10 (10) 14/53 (23) 0,005

LLA Pré-B 0/2 (0) 0/5 (0) 0/0 (0) 0/4 (0) >0,05

LLA Pró-T 0/5 (0) 2/3 (67) 0/1 (0) 2/6 (33) >0,05

Bi-LA 1/2 (50) 1/3 (33) 0/1 (0) 2/5 (40) >0,05

LLA 0/2 (0) ½ (50) 1/4 (25) 2/7 (28) >0,05

LMA 11/35 (31) 13/29 (45) 8/11 (73) 19/47 (40) 0,07

Total 28/95 (29) 43/103 (42) 18/36 (50) 81/180 (45)

56

No total, 61 pacientes com LLA-pB foram testados por RT-PCR para

verificar a presença da fusão gênica TEL/AML1. Dentre estes, nove (15%) foram

positivos e tinham uma alta concordância com o imunofenótipo LLA-c (sete

casos). Em 23 casos LLA-pB foi realizada a RT-PCR para a detecção da fusão

gênica E2A/PBX1. Foram quatro casos positivos e todos apresentavam o

imunofenótipo típico, caracterizando o estágio pré-B da diferenciação, que é

definido pela expressão citoplasmática mas não de superfície da IgM. Dois foram

diagnosticados com a translocação cromossômica t(1;19)(q23;p13) tanto pela

citogenética convencional quanto por RT-PCR. Onze casos de LMA foram

investigados para a presença da fusão gênica AML1/ETO e, dois casos positivos

foram encontrados. Um deles também teve a translocação detectada por

citogenética convencional. A Tabela 10 sumariza os resultados finais destas

fusões gênicas de acordo com a faixa etária.

Tabela 10 – Sumário das translocações cromossômicas de acordo com a faixa

etária

0-12 months 13-23 months

Fusão gênica n+vo /ntotal (%) n+vo /ntotal (%) p

MLL 50/86 (58%) 31/78 (40%) 0,011

TEL/AML1 4/29 (14%) 5/32 (16%) 1,000

E2A/PBX1 1/10 (10%) 3/13 (23%) 0,604

AML1/ETO 1/6 (17%) 2/5 (40%) 0,545

57

Esta série de casos de LALs apresentou alguns resultados incomuns

quanto aos achados da citogenética convencional e molecular (Tabela 11). No

total, foram cinco casos MLL+vos com imunofenótipos atípicos. Dois entre estes

foram diagnosticados com LLA pró-T. Um menino de 14 meses de idade

apresentava infiltração da MO com linfoblastos caracterizados por células

CD7+/cCD3+, enquanto os CD19, CD10 e os marcadores mielóides eram

negativos.

Tabela 11 – Características dos casos raros de LAL

Sexo Idade

(meses)

Leuco

(x109/l) Subtipo Citogenética convencional e molecular

1 M 14 57.1 LLA Pró-T del(11)(q23); MLL/AF4+vo

2 F 20 330 LLA Pró-T t(4;11)(q21;q23); MLL/AF4+ vo

3 M 12 26.1 LMA-M7 del(11)(q23); MLL+ vo

4 F 21 2.7 LMA-M7 MLL/AF4+ vo

5 F 21 107.1 LMA-M7 t(11;19)(q23;p13); MLL/ENL+ vo

6 M 1 7.6 LLA-c TEL/AML1+ vo; MLL- vo

7 F 3 132.5 LLA-c TEL/AML1+ vo; MLL/AF4- vo

8 M 7 152.3 LLA-c TEL/AML1+ vo; MLL/AF4- vo

9 F 5 140.1 ND* TEL/AML1+ vo; MLL/AF4- vo

10 F 14 150.1 LLA Pré-B t(1;19)(q23;p13); E2A/PBX1+ vo

11 M 19 82.1 LLA Pré-B E2A/PBX1+ vo

12 F 22 55.7 LLA Pré-B E2A/PBX1+ vo

13 F 10 20.8 LLA Pré-B t(1;19)(q23;p13); E2A/PBX1+ vo

14 M 14 3.9 LLA-c 46,XY,del(7)(q22), t(9;11)(p22;q23)

15 F 20 5.32 LMA-M2 t(8;21)(q22;q22)

16 M 18 36.5 LMA -M2 AML1/ETO+ vo

17 F 14 9.5 LMA -M4 46,XX, inv(16)(p13;q22)

18 M 16 10.9 LMA -M3 t(15;17)(q22;q21); PML/RARA+ vo

19 M 14 78.9 LMA -M3 t (15,17)(q22;q21)

20 M 17 5.1 LMA -M3 t(15;17)(q22;q21)

*ND= subtipo imunofenotípico não definido, porque o CD10 não foi usado;

58

O segundo caso, uma menina de 20 meses, com 90% de blastos em sua

MO, apresentava um quadro de leucemia caracterizado por CD7+/cCD3+/TdT+ e

a fusão gênica MLL/AF4 foi detectada por RT-PCR, citogenética convencional e

FISH (Figura 16). Os outros três casos MLL+vos com imunofenótipos atípicos foram

diagnosticados com LMA-M7, apresentando alta expressão de CD61 e outros

marcadores mielóides como CD13 e CD33.

Figura 16 – Resultados dos testes aplicados para verificar o status do gene MLL no paciente com

LLA pró-T. A, perfil imunofenotípico definido para casos LLA pró-T. B, análise cariotípica mostrando a

translocação cromossômica t(4;11)(q21;q23). C, gel de agarose corado com brometo de etídeo mostrando o

produto da RT-PCR para MLL/AF4; 1: controle positivo, 2: controle negativo, 3 e 4: pacientes negativos, e 5:

paciente com LLA pró-T. D, análise do FISH mostrando o sinal co-localizado laranja e verde (1)

representando o gene MLL normal e, a presença dos sinais laranja e verde separadamente (2 e 3,

respectivamente) indica a quebra do MLL.

468bp

1 2 3 4 5

C

CD 10

CD 19

cCD 13

CD 7

cCD 3

cTdT

A B

t(4;11)(q21;q23)

D

3

2

1

59

No grupo das LLAs, duas crianças com hiperdiploidia eram menores do

que 16 meses de idade. Entre os lactentes com LMA, dois casos apresentavam

trissomia do cromossomo 8 e uma deleção na região 11q23. Deleções na região

cromossômica 11q23 foram encontradas em outros sete casos. Entre estes, cinco

eram MLL+vo e dois eram MLL-vo. Os casos positivos foram confirmados somente

por RT-PCR em dois pacientes, somente por FISH em outros dois pacientes e,

tanto por RT-PCR como por FISH em um dos pacientes. Um paciente MLL+vo

[t(9;11)(p22;q23)] também continha uma anormalidade cariotípica adicional,

caracterizada por del(7)(q22).

Uma menina e um menino, 18 e 20 meses respectivamente, com LMA-M2

de acordo com a classificação FAB (119) e, com o imunofenótipo definido por a-

MPO/CD33/CD19+ tiveram a translocação t(8;21)(q22;q22) detectada por

citogenética convencional e RT-PCR. A citogenética convencional ainda revelou a

presença da translocação cromossômica t(15;17)(q22;q21), resultando na fusão

gênica PML/RARα em quatro amostras de LAL. As idades ao diagnóstico eram

14, 16, 17 e 21 meses e todos apresentavam o subtipo LMA-M3 (123). Por fim,

uma garota de 14 meses com LMA-M4, apresentava o cariótipo

46,XX,inv(16)(p13;q22).

60

6. DISCUSSÃO

O risco da leucemia infantil reflete uma combinação de fatores que incluem

a predisposição hereditária, as exposições exógenas a agentes com potencial

leucemogênico e, eventos ao acaso (98). A ocorrência de alterações

cromossômicas e moleculares está diretamente associada a estes fatores. Estas

alterações genéticas tornaram-se marcadores de diagnóstico e também são

importantes para o conhecimento da patogênese da leucemia. O grupo de LAL

tem sido especialmente importante na compreensão da etiologia das leucemias.

Neste contexto, as leucemias de novo restritas aos lactentes com fusões do gene

MLL merecem uma atenção especial (34,82,98).

Em estudo colaborativo internacional anterior, foi realizada uma

investigação do tipo caso-controle, a fim de testar a hipótese de que certas

exposições ambientais poderiam aumentar o risco de LAL com rearranjos do MLL.

Vários fatores de exposição durante a gravidez foram identificados como

possíveis causadores das fusões do MLL e, conseqüentemente das LALs. As

taxas de risco aumentado foram encontradas somente nas leucemias com MLL+vo:

OR= 2.31 para drogas que danificam o ADN (p=0.03), e OR= 9.68 para o uso de

pesticidas (p=0.003). Neste estudo, no entanto, o desconhecimento do status do

gene MLL em alguns casos reduziu significativamente a força estatística dos

resultados (25). Este fato levou a realização de um amplo estudo em uma coorte

brasileira de LAL com os seguintes objetivos: (i) conduzir um estudo

imunofenotípico e molecular em crianças menores de dois anos de idade com LA,

para determinar as associações com fatores de risco selecionados em LALs de

diferentes regiões do Brasil; (ii) caracterizar as anormalidades moleculares

61

freqüentemente encontradas em LALs no Brasil. Os resultados referentes aos

estudos moleculares estão aqui descritos. Os resultados preliminares a respeito

dos fatores de risco associados com marcadores moleculares e com as

exposições maternas transplacentárias destes casos apontaram a exposição a

hormônios como um fator de risco proeminente (124).

Entre outras muitas técnicas disponíveis para a detecção de anormalidades

cromossômicas, a análise cariotípica clássica, RT-PCR e FISH são especialmente

responsáveis pelos avanços nas abordagens moleculares para a avaliação

biológica das LAs. Como cada técnica tem suas vantagens e desvantagens,

existe uma necessidade de combinar métodos para realizar uma análise confiável

do status do gene MLL em um estudo exploratório complexo. Por exemplo, a

citogenética que é plausível por proporcionar uma visão geral dos esfregaços

cromossômicos não é tão sensível como os métodos de PCR. A análise

cariotípica requer cromossomos em metáfase e, as amostras de MO de lactentes

são às vezes insuficientes. A análise por RT-PCR simples de genes quiméricos

específicos é rápida, mas detecta somente uma translocação por reação. A

análise por FISH pode ser usada para revelar se o MLL está rearranjado, mas é

um método limitado para a detecção de eventos raros, e não fornece nenhuma

informação sobre a fusão gênica específica gerada. Esta desvantagem pode ter

implicações clínicas já que diferenças no prognóstico têm sido descritas

dependendo do gene parceiro do MLL. Além disso, é uma técnica cara para um

país com outras prioridades como o Brasil, tornando a combinação de métodos

uma alternativa bastante plausível.

62

A LAL freqüentemente se apresenta com alta contagem leucocitária e um

imunofenótipo com o CD10 negativo. Na maioria dos casos (85-95%) de LALs os

rearranjos do gene MLL na região 11q23 estão presentes nos casos de LLA e

decresce nos casos de LMA (34,36). Estas características biológicas esperadas

também foram encontradas neste estudo, que mostrou os rearranjos do MLL em

ambos os subgrupos de LA, respeitando as diferentes proporções entre LLA e

LMA. Os casos MLL+vos foram estatisticamente associados ao grupo etário 0-3

meses (p = 0,004), ao subtipo LLA pró-B (p = 0,001) e, a altas contagens

leucocitárias (p = 0,009). É importante mencionar que uma porcentagem relevante

dos casos MLL+vos foi encontrada no grupo etário de 12-23 meses (Tabela 8),

sustentando nossa escolha ao incluir estas crianças neste estudo. No outro

extremo, os casos MLL-vos foram estatisticamente associados ao grupo etário >14

meses (p = 0,05) e ao imunofenótipo LLA-c (p = 0,005).

Em relação à positividade dos rearranjos do MLL, este estudo encontrou

uma freqüência menor do que aquela freqüentemente descrita na literatura (85-

95%). Foram 81 casos positivos entre 180 casos analisados. No entanto,

devemos considerar que este estudo incluiu casos de diversos subtipos

imunofenotípicos, havendo praticamente o mesmo número de casos de LLA pró-B

e LLA-comum. Além disso, a faixa etária analisada foi de 0 a 23 meses e,

conforme visto na figura 17, a partir dos 12 meses de idade, a positividade do

MLL decai significativamente.

63

Figura 17 – Distribuição do número de casos X faixa etária de acordo com

os rearranjos do MLL

Conforme descrito previamente, o gene MLL está envolvido em

aproximadamente 30 translocações diferentes (66). Cada um dos parceiros na

fusão gênica apresenta propriedades funcionais distintas, tornando possível a

ocorrência dos rearranjos do MLL em LLA-pB, LMA, síndrome mielodisplástica,

alguns casos de LLA-T e, em leucemia secundária. Devido às características

deste amplo estudo epidemiológico, vários casos MLL+vos incomuns foram

encontrados. No entanto, é importante ressaltar que se restringíssemos nossas

análises somente com base nas associações previamente relatadas na literatura

em relação aos padrões genotípicos e imunofenotípicos, não teríamos identificado

tais casos (29).

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0-2 3-6 7-14 15-21

Faixa etária (meses)

MLL +vo

MLL -vo

64

A fusão gênica TEL/AML1 foi descrita como sendo exclusivamente

associada ao subtipo LLA-c e isto foi confirmado neste estudo. Sua freqüência de

ocorrência está em torno de 25% das leucemias pediátricas de células

precursoras B. O pico de ocorrência de LLA-c com a fusão gênica TEL/AML1 está

em 4 anos de idade (variando entre 2 e 12 anos de idade) (70). O rastreamento

realizado neste estudo revelou quatro casos positivos para TEL/AML1 em

pacientes menores do que um ano de idade. Os estudos retrospectivos de

marcadores de LA indicam que a maioria das leucemias pediátricas

provavelmente têm origem intra-uterina através de alterações cromossômicas

(26,91). Estas incluem as fusões gênicas do MLL, TEL/AML1 e AML1/ETO. Ao

contrário das fusões que envolvem o MLL, que poderiam ser suficientes para

causar a leucemia por si só (53,64), os estudos em gêmeos com LA indicam que

a fusão gênica TEL/AML1, normalmente vista em LLA-c, requer alterações

genéticas pós-natais adicionais para gerar a leucemia (28,79). Nossa suposição é

que nestes casos de LAL com TEL/AML1+vo, os fatores de risco aos quais as

crianças foram expostas durante a gravidez foram suficientes para gerar estas

alterações genéticas adicionais.

Estudos dos marcadores de clonalidade IGH mostraram 100% de

positividade para a lesão genética nos esfregaços sangüíneos neonatais

(125,126). Nós relatamos sete casos de LAL, todos LLA-c, apresentando

hiperdiploidia em seus cariótipos. Uma possível exceção no que diz respeito à

origem intra-uterina é a fusão E2A/PBX1, considerando-se que a maioria dos

esfregaços sangüíneos neonatais é negativa para esta translocação. Mesmo

Embora rara, esta lesão foi descrita nos esfregaços sangüíneos neonatais com

65

uma freqüência em torno de 10% (90). Provavelmente duas meninas da nossa

coorte de estudo figuram nesta baixa porcentagem, já que elas tinham 10 e 14

meses ao diagnóstico. A presença e a descrição de eventos secundários em tais

casos têm sido investigadas buscando-se por associações que poderiam estar

envolvidas na leucemogênese.

Outros achados da citogenética convencional incluem deleções na região

cromossômica 11q23 (n=5) e deleções no cromossomo 7 (n=2). Embora as

translocações sejam as anormalidades mais comuns, as deleções também podem

ocorrer. A LAL está freqüentemente associada com anormalidades envolvendo

esta região, outros casos perinatais de LA mostrando estas aberrações já foram

descritos (127).

Uma outra fusão gênica que provavelmente também se origina in utero

deriva da translocação t(8;21)(q22;q22) e está associada com a LMA-M2 de novo,

com uma incidência relativamente maior em pacientes jovens (33). Em LMAs, há

também o relato de um caso com esfregaço neonatal positivo para PML/RARA e,

um outro positivo para CBFβ/MYH11 (128). Dois entre os 11 casos LMA-M2

(18%) pesquisados neste grupo para a fusão AML1/ETO foram positivos. Além

disso, três casos interessantes com o transcrito PML/RARA formado em

conseqüência da translocação t(15;17)(q22;q21) foram encontrados. Todos

apresentavam uma morfologia tipicamente do subtipo LMA-M3. Estes casos

foram discutidos com relação a uma maior incidência de LMA-M3 previamente

vista em estudos na população latina da Europa e dos Estados Unidos (123). Os

estudos epidemiológicos demonstraram que a LMA-M3 raramente ocorre em

crianças menores de dois anos de idade. Entretanto, uma alta freqüência de LMA-

66

M3 em crianças latinas levou à hipótese de que a leucemia promielocítica poderia

estar relacionada com razões étnicas e/ou com exposições a fatores ambientais

específicos.

Este trabalho contribuiu ainda com os resultados do estudo epidemiológico

que investigou o comportamento materno (exposições durante a gravidez) através

do Grupo Brasileiro de Estudo Colaborativo da Leucemia Aguda de Lactente,

fornecendo a caracterização molecular de um número maior de casos de

lactentes, cujas mães responderam ao questionário sobre os fatores de risco

ambientais (129).

Os dados apresentados acima também contribuem com casos novos e

interessantes sobre a LAL. Até o momento, os estudos têm contemplado

associações de exposição somente relacionadas às anormalidades do gene MLL.

O presente estudo sustenta a idéia de que o tempo de exposição necessário para

gerar as lesões genéticas e a leucemia difere entre os casos e, reforça a noção

de que as LALs com fusões do gene MLL têm uma etiologia única que

possivelmente envolve a exposição transplacentária a compostos químicos que

danificam o ADN. Além disso, nossos resultados sugerem que não somente os

rearranjos do MLL como também outras anormalidades gênicas ocorrem antes do

nascimento e podem contribuir para a leucemogênese. Assim, os hábitos

maternos devem ser cuidadosamente investigados para que os possíveis fatores

que causam o surgimento precoce da LA sejam compreendidos e evitados.

67

7. CONCLUSÕES

� A freqüência de positividade do gene MLL nesta coorte foi de 45%,

ressaltando-se que a faixa etária foi de 0 – 23 meses e que diferentes

subtipos de LLA e LMA foram incluídos;

� Uma alta prevalência de casos com MLL rearranjado foi encontrada em

crianças com idade inferior a 3 meses (63%). Por outro lado, nas crianças

com idade igual ou superior a 13 meses a prevalência dos rearranjos do

MLL foi de 35%, superior aos 5% encontrados nas LAs em geral;

� Embora pouco freqüente nos lactentes, entre as LLAs de células

precursoras B foi encontrada a presença da fusão TEL/AML1 restrita ao

subtipo LLA-comum (CD10+);

� O período e os fatores de exposição que levaram à leucemia dos casos

TEL/AML1 positivos devem ser melhor estudados, pois a latência foi

bastante curta, levando-se em consideração a história natural de no

mínimo dois eventos para a ocorrência deste subtipo de leucemia;

� Os casos atípicos aqui descritos sugerem que a grande relação entre

imunofenótipo e genótipo não é absoluta, pois LLA-T e LMA-M7 podem ter

rearranjos envolvendo o MLL;

� Para um estudo com base epidemiológica, a combinação de métodos

diagnósticos para a verificação do status do gene MLL é uma alternativa

bastante plausível.

68

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ANEXO 1

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ANEXO 2

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ANEXO 3