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PANORAMA MUSEUM INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 3

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INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 3

INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS aula 8

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Observe o uso dessa figura nos textos que seguem:

E um doce vento, que se erguera, punha nas folhas alagadas e lustrosas um frémito alegre e doce.

Eça de Queirós

Esta chuvinha de água viva esperneando luz e ainda com gosto de mato longe, meio baunilha, meio manacá, meio alfazema.

Mário de AndradeAs falas sentidas, que os olhos falavamNão quero, não posso, não devo contar.

Casimiro de Abreu

Indefiníveis músicas supremas, Harmonias da Cor e do Perfume ... Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...

Cruz e Sousa

No primeiro trecho, Eça de Queirós associa vento ao paladar. No segundo, a água da chuva (que percebemos pelo tato e paladar) foi vinculada ao “gosto de mato longe” que, por sua vez, sugere cheiro (baunilha, manacá, alfa-zema). No terceiro e no último, os sentidos são notados nas “falas“ dos olhos e a audição foi relacionada à visão e ao olfato (músicas, harmonias da cor e do perfume).

No poema a seguir, Olavo Bilac também se expressa por meio de sinestesias:

Via Láctea

“Ora (direis) ouvir estrelas! CertoPerdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,Que, para ouvi-las, muita vez despertoE abro as janelas, pálido de espanto...E conversamos toda a noite, enquantoA via láctea, como um pálio aberto,Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!Que conversas com elas? Que sentidoTem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “amai para entendê-las!Pois só quem ama pode ter ouvidoCapaz de ouvir e de entender estrelas.”

BILAC, O. Clássicos da literatura brasileira.

O Estado de S. Paulo. Coleção Ler é Aprender. p. 153. Fragmento.

No poema, o eu lírico inicia um diálogo imaginário com um leitor, utilizando vocabulário e ritmo que sugerem proximidade, afetividade. Além disso, lança mão de sines-tesias, em expressões como “ouvir estrelas”, convidando o leitor a partilhar de sua inusitada experiência: conversar com as estrelas.

EXERCÍCIOS

1. (UERJ – adaptado) Leia o texto para responder à questão:

As descontroladas

As primeiras mulheres que passaram na calçada da Rio Branco chamavam-se melindrosas. Eram um tanto afetadas, com seu vestido de cintura baixa e longas franjas, mas a julgar por uma caricatura célebre de J. Carlos tinham sempre uma multidão de almofadinhas correndo atrás. O mundo, cem anos depois, mudou pouco no essencial. Diz-se agora que o homem “corre atrás do prejuízo”. De resto, porém, a versão nacional do assim caminha a humanidade segue o mesmo cortejo de sempre pela Rio Branco — com o detalhe que as mulheres trocaram as franjas pelo cós baixo da calça da Gang. E, evidentemente, não são mais chamadas de melindrosas.

Elas já atenderam por vários nomes. Uma “uva” era aquela que, de tão suculenta e bem-feita de curvas, devia abrir as folhas de sua parreira e deliciar os machos com a eternidade de sua sombra. Há cem anos as mulheres que circulam pela Rio Branco já foram chamadas de tudo e, diga-se a bem da verdade, algumas atenderam. Por aqui passou o “broto”, o “avião”, o “violão”, a “certinha”, o “pedaço”, a “deusa”, a “boazuda”, o “pitéu”, a “gata” e tantas outras que podem não estar mais no mapa, como as mulatas do Sargentelli, mas já estão no Houaiss eletrônico. Houve um momento que, de tão belas, chegaram a ficar perigosas. Chamavam-nas “pedaço de mau caminho” ou “chave de cadeia”. Algumas, de carne tão tenra, eram “frangas”.

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Havia, de um modo geral, um louvor respeitoso na identificação de cada um desses tipos que sucederam as melindrosas. Gosto de lembrar daquela, ali pelo início dos 60, que era um “suco”. Talvez porque sucedesse o tipo de “uva” e fosse tão aperfeiçoada no inevitável processo de evolução da espécie que já viesse sem casca e, principalmente, sem os caroços. Sempre prontinhas para beber. De uns tempos para cá, quando se pensava que na esquina surgiria um vinho de safra especial, a coisa avinagrou. As mulheres ficam cada vez mais lindas mas os homens, na hora de homenageá-las, inventam rótulos de carinho duvidoso. O “broto”, o “violão” e o “pitéu” na versão arroba ponto com 2000 era a “popozuda”. Depois, software 2001, veio a “cachorra”, a “sarada”. Pasmem: era elogio. Algumas continuavam atendendo.

Agora está entrando em cena, perfilada num funk do grupo As Panteras – um rótulo que, a propósito, notou a evolução das “gatas” –, a mulher do tipo “descontrolada”. [...]. Não é exatamente o que o almofadinha lá do início diria no encami-nhamento do eterno processo sedutivo, mas, afinal, homem nenhum também carrega mais almofadas para se sentar no bonde. Sequer bondes há. Já fomos “pães”. Muito doce, não pegou. Somos todos lamentáveis “tigrões” em nossa triste sina de matar um leão por dia.

Elas mereciam verbetes melhores, que se lhes ajustassem perfeitos, redondos, como a tal calça da Gang. A língua das ruas anda avacalhando com as nossas “minas”, para usar a última expressão em que as mulheres foram saudadas com delicadeza e exatidão – dentro da mina, afinal, cabe tanto a pepita de ouro como a cavidade que se enche de pólvora para explodir e destruir tudo o que estiver em cima.

A deusa da nossa rua, que sempre pisou os astros distraída, não passa hoje de “tchutchuca marombada” ou “popo-zuda descontrolada”. É pouco para quem caminha nas pedrinhas portuguesas como se São Pedro fosse sobre as águas bíblicas. Algumas delas, uvas do vinho sagrado, santas apenas no aguardo da beatificação vaticana, provocando ainda maior alvoroço, alumbramento e estupefação dos sentidos.

FERREIRA DOS SANTOS, J.O que as mulheres procuram na bolsa: crônicas.

Rio de Janeiro: Record, 2004.

O cronista explica o sentido dos nomes almofadinha e mina, aplicados respectivamente ao homem e à mulher.Resuma cada uma dessas explicações e identifique a figura de linguagem correspondente ao uso de cada nome.

2. (Unesp) Para responder à questão a seguir, leia o fragmento de um romance de Erico Verissimo (1905-1975).

O defunto dominava a casa com a sua presença enorme.Anoitecia, e os homens que cercavam o morto ali na sala ainda não se haviam habituado ao seu silêncio espesso.Fazia um calor opressivo. Do quarto contíguo vinham soluços sem choro. Pareciam pedaços arrancados dum grito de

dor único e descomunal, davam uma impressão de dilaceramento, de agonia sincopada.As velas ardiam e o cheiro da cera derretida se casava com o perfume adocicado das flores que cobriam o caixão. A

mistura enjoativa inundava o ar como uma emanação mesma do defunto, entrava pelas narinas dos vivos e lhes dava a sensação desconfortante duma comunhão com a morte.

O velho calvo que estava a um canto da sala, voltou a cabeça para o militar a seu lado e cochichou:– Está fazendo falta aqui é o Tico, capitão.O oficial ainda não conhecia o Tico. Era novo na cidade.Então o velho explicou. O Tico era um sujeito que sabia animar os velórios, contava histórias, tinha um jeito especial de

levar a conversa, deixando todo o mundo à vontade. Sem o Tico era o diabo... Por onde andaria aquela alma?Entrou um homem magro, alto, de preto. Cumprimentou com um aceno discreto de cabeça, caminhou devagarinho

até o cadáver e ergueu o lenço branco que lhe cobria o rosto.Por alguns segundos fitou na cara morta os olhos tristes. Depois deixou cair o lenço, afastou-se enxugando as lágrimas

com as costas das mãos e entrou no quarto vizinho.

Resposta: O termo “almofadinha”, usado como metonímia, define o indivíduo com base em um hábito que era o de carregar uma almofada para se sentar nos bondes. A palavra “mina” constitui uma metáfora, associando a mulher a algo valioso e que oferece risco de confusão ou destruição.

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O velho calvo suspirou.– Pouca gente...O militar passou o lenço pela testa suada.– Muito pouca. E o calor está brabo.– E ainda é cedo.O capitão tirou o relógio: faltava um quarto para as oito.

VERISSIMO, E.Um lugar ao sol, 1978.

A força expressiva da locução silêncio espesso resulta do fato de o substantivo e o adjetivo:a) traduzirem conceitos religiosos.b) produzirem uma reestruturação sintática do período.c) apresentarem sentidos similares.d) harmonizarem sensações agradáveis e desagradáveis.e) associarem características sensoriais distintas.

ESTUDO ORIENTADO

Caro(a) aluno(a),A seguir, você encontrará exercícios retirados das provas de vestibulares mais importantes do Brasil. Lembre-se de

que a resolução deles é o primeiro passo para você medir o grau de entendimento da matéria. Ao terminá-los, leia com atenção o texto da Roda de leitura, que vai aprofundar o sentido das figuras de palavras.

Bons estudos!

EXERCÍCIOS

1. (Enem) Manta que costura causos e histórias no seio de uma família serve de metáfora da memória em obra escritapor autora portuguesa.

O que poderia valer mais do que a manta para aquela família? Quadros de pintores famosos? Joias de rainha? Palácios? Uma manta feita de centenas de retalhos de roupas velhas aquecia os pés das crianças e a memória da avó, que a cada quadrado apontado por seus netos resgatava de suas lembranças uma história. Histórias fantasiosas como a do vestido com um bolso que abrigava um gnomo comedor de biscoitos; histórias de traquinagem como a do calção transformado em farrapos no dia em que o menino, que gostava de andar de bicicleta de olhos fechados, quebrou o braço; histórias de saudades, como o avental que carregou uma carta por mais de um mês... Muitas histórias formavam aquela manta. Os protagonistas eram pessoas da família, um tio, uma tia, o avô, a bisavó, ela mesma, os antigos donos das roupas. Um dia, a avó morreu, e as tias passaram a disputar a manta, todas a queriam, mais do que aos quadros, joias e palácios deixados por ela. Felizmente, as tias conseguiram chegar a um acordo, e a manta passou a ficar cada mês na casa de uma delas. E os retalhos, à medida que iam se acabando, eram substituídos por outros retalhos, e novas e antigas histórias foram sendo incorporadas à manta mais valiosa do mundo.

LASEVICIUS, A. Língua Portuguesa.

São Paulo, n. 76, 2012 (adaptado).

Alternativa e. A expressão “silêncio espesso” traduz o ambiente do velório por meio de uma sinestesia, pois relaciona duas características sensoriais advindas de órgãos diferentes: “silêncio” e “espessos”, relacionados à audição e tato, respectivamente.

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Esse tipo de oração, encabeçada pelo pronome indefinido “quem” cria a expectativa de que ele venha a ser o sujeito do verbo da oração seguinte. Mas nem sempre é assim. Veja o exemplo a seguir:

“Quem ama o feio, bonito lhe parece.”

Nessa frase, o leitor cria a expectativa de que o sujeito da primeira oração “quem” venha a ser, também, o sujeito da se-gunda oração “bonito lhe parece”. Mas, recorrendo à análise sintática, observa-se que houve uma quebra na estruturação lógica da frase: o pronome “lhe” (complemento nominal do adjetivo “bonito”) relembra “quem” (sujeito da primeira oração), mas não desempenha a mesma função sintática deste. A preposição “a”, exigida pelo pronome “quem” (no caso, “quem parece bonito, parece bonito a alguém”, ou seja a “quem ama o feio”), não acompanha esse pronome indefinido, estabe-lecendo a quebra. Portanto, “Quem ama o feio” fica sem função sintática na oração “bonito lhe parece”. Desdobrando e reescrevendo a frase de outra forma, ficaria: “O feio parece bonito a quem o ama”. Assim, “o feio” desempenha a função de sujeito, “parece” é verbo de ligação e “bonito”, predicativo do sujeito.

EXERCÍCIOS

1. (Unesp)

Elegia na morte de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, poeta e cidadão.

A morte chegou pelo interurbano em longas espirais metálicas.

Era de madrugada. Ouvi a voz de minha mãe, viúva.De repente não tinha pai.No escuro de minha casa em Los Angeles procurei

recompor tua lembrançaDepois de tanta ausência. Fragmentos da infânciaBoiaram do mar de minhas lágrimas. Vi-me eu meninoCorrendo ao teu encontro. Na ilha noturnaTinham-se apenas acendido os lampiões a gás, e a

clarinetaDe Augusto geralmente procrastinava a tarde.Era belo esperar-te, cidadão. O bondinhoRangia nos trilhos a muitas praias de distância...Dizíamos: “Ê-vem meu pai!”. Quando a curvaSe acendia de luzes semoventes*, ah, corríamosCorríamos ao teu encontro. A grande coisa era

chegar antesMas ser marraio** em teus braços, sentir por últimoOs doces espinhos da tua barba.Trazias de então uma expressão indizível de fidelidade

e paciênciaTeu rosto tinha os sulcos fundamentais da doçuraDe quem se deixou ser. Teus ombros possantesSe curvavam como ao peso da enorme poesiaQue não realizaste. O barbante cortava teus dedosPesados de mil embrulhos: carne, pão, utensíliosPara o cotidiano (e frequentemente o binóculoQue vivias comprando e com que te deixavas horas

inteiras

Mirando o mar). Dize-me, meu paiQue viste tantos anos através do teu óculo de alcanceQue nunca revelaste a ninguém?Vencias o percurso entre a amendoeira e a casa

como o atleta[exausto no último lance da maratona.Te grimpávamos. Eras penca de filho. JamaisUma palavra dura, um rosnar paterno. Entravas a

casa humildeA um gesto do mar. A noite se fechavaSobre o grupo familial como uma grande porta

espessa.Muitas vezes te vi desejar. Desejavas. Deixavas-te

olhando o marCom mirada de argonauta. Teus pequenos olhos feiosBuscavam ilhas, outras ilhas... — as imaculadas,

inacessíveisIlhas do Tesouro. Querias. Querias um dia aportarE trazer — depositar aos pés da amada as joias

fulgurantesDo teu amor. Sim, foste descobridor, e entre elesDos mais provectos***. Muitas vezes te vi, coman-

danteComandar, batido de ventos, perdido na fosforênciaDe vastos e noturnos oceanosSem jamais.Deste-nos pobreza e amor. A mim me desteA suprema pobreza: o dom da poesia, e a capacidade

de amarEm silêncio. Foste um pobre. Mendigavas nosso amorEm silêncio. Foste um no lado esquerdo. MasTeu amor inventou. Financiaste uma lancha

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Movida a água: foi reta para o fundo. Partiste um diaPara um brasil além, garimpeiro sem medo e sem

mácula.Doze luas voltaste. Tua primogênita — diz-se —Não te reconheceu. Trazias grandes barbas e peque-

nas águas-marinhas.

MORAES, V. Antologia poética. 11. ed.

Rio de Janeiro: José Olympio, 1974. p. 180-181.

(*) Semovente: “Que ou o que anda ou se move por si próprio.”

(**) Marraio: “No gude e noutros jogos, palavra que dá, a quem primeiro a grita, o direito de ser o último a jogar.”

(***) Provecto: “Que conhece muito um assunto ou uma ciência, experiente, versado, mestre.”

Dicionário Eletrônico Houaiss

Marque a alternativa cujo verso contém um pleo-nasmo, ou seja, uma redundância de termos com bom efeito estilístico.

a) De repente não tinha pai.b) Rangia nos trilhos a muitas praias de distância...c) Se curvavam como ao peso da enorme poesia.d) Sobre o grupo familial como uma grande porta

espessa.e) Deste-nos pobreza e amor. A mim me deste.

2. (UFRJ)

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,Depois da Luz se segue a noite escura,Em tristes sombras morre a formosura,           Em contínuas tristezas a alegria.Porém se acaba o Sol, por que nascia?Se formosa a Luz é, por que não dura?Como a beleza assim se transfigura?Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,Na formosura não se dê constância,E na alegria sinta-se tristeza.           Começa o mundo enfim pela ignorância,E tem qualquer dos bens por naturezaA firmeza somente na inconstância.

MATOS, Gregório de.Obras completas de Gregório de Matos.

Salvador: Janaína, 1969. 7 volumes.

De forma recorrente, o Barroco lança mão de figu-ras de sintaxe como recurso expressivo.

a) Considerando o terceiro e o quarto versos da primeira estrofe do soneto, explicite as duas figuras de sintaxe que, nesses versos, estão relacionadas aos termosoracionais classificados, tradicionalmente, comoessenciais ou básicos.

b) Classifique, quanto à função sintática, os constituin-tes do último verso da primeira estrofe.

ESTUDO ORIENTADO

Caro(a) aluno(a),Continuamos com a sistematização das figuras de linguagem. Depois de realizar os exercícios e as outras seções do

Estudo orientado, estude a Senha. O texto que está lá é um incentivo para, além de perceber as sonoridades do poe-ma, você conhecer mais sobre o poeta Cruz e Sousa. Terminada a Senha, dirija-se para a Ágora e converse com seus amigos sobre qual seria a resposta para a pergunta dessa seção. Ela foi baseada em uma questão da Fuvest.

Bons estudos!

Alternativa e. Na oração “A mim me deste” ocorre duplamente o objeto indireto: “me” e “a mim”.

As duas figuras de construção sintática são as seguintes: hipérbato (inversão da ordem canônica dos termos sintáticos “em tristes sombras” e “a formosura”, no terceiro verso, e dos termos “em contínuas tristezas” e “a alegria”, no quarto verso); elipse/zeugma (omissão do verbo “morre” no quarto verso).

O constituinte “Em contínuas tristezas” exerce função de adjunto adverbial, e o constituinte “a alegria”, função de sujeito.

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EXERCÍCIOS

1. (Unicamp) O parágrafo reproduzido a seguir introduz a crônica intitulada Tragédia concretista, de Luís Martins.

O poeta concretista acordou inspirado. Sonhara a noite toda com a namorada. E pensou: lábio, lábia. O lábio em que pensou era o da namorada, a lábia era a própria. Em todo o caso, na pior das hipóteses, já tinha um bom começo de poema. Todavia, cada vez mais obcecado pela lembrança daqueles lábios, achou que podia aproveitar a sua lábia e, pro-visoriamente desinteressado da poesia pura, resolveu telefonar à criatura amada, na esperança de maiores intimidades e vantagens. Até os poetas concretistas podem ser homens práticos.

MARTINS, L. As cem melhores crônicas brasileiras.

Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. p. 132.

a) Compare lábio e lábia quanto à forma e ao significado. Considerando a especificidade do poeta, justifique a ocor-rência dessas duas palavras dentro da crônica.

b) Explique por que a palavra todavia é usada para introduzir um dos enunciados da crônica.

ESTUDO ORIENTADO

Caro(a) aluno(a),Geralmente, tem-se a concepção bastante limitada de que as figuras de som são indistintamente vistas como uma

proliferação ornamental de fonemas com sons idênticos ou parecidos. No entanto, elas podem ser utilizadas e vistas como recursos definidores da especificidade da linguagem poética. É por isso que você deve estudar com afinco essas figuras, para além de questões relativas apenas aos vestibulares. Para a poesia, a linguagem é mais que ornamento: ela é som e sentido. Os exercícios e os textos que você encontra neste Estudo orientado vão mostrar como a linguagem pode ser rica e interessante sonoramente falando.

Bons estudos!

A conjunção coordenativa “todavia” é usada para introduzir uma ideia que contraria a preocupação inicial do poeta em fazer um poema concreto, pois a urgência em estabelecer contato com a namorada era ainda mais forte.

O termo “lábio” designa cada parte externa do contorno da boca, e o seu feminino, “lábia”, está associado, na linguagem informal, à arte de iludir alguém com palavreado astucioso. Por meio da figura de linguagem denominada paranomásia, o autor brinca com esse recurso, usado frequentemente pelos poetas concretistas para narrar o episódio.

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EXERCÍCIOS

1. (UERJ)

Língua

Esta língua é como um elásticoque espicharam pelo mundo.

No início era tensa,de tão clássica.

Com o tempo, se foi amaciando,foi-se tornando romântica,incorporando os termos nativose amolecendo nas folhas de bananeiraas expressões mais sisudas.

Um elástico que já não se podemais trocar, de tão usado;nem se arrebenta mais, de tão forte.

Um elástico assim como é a vidaque nunca volta ao ponto de partida.

MENDONÇA TELES, G.Hora aberta: poemas reunidos.

Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília: INL, 1986.

A segunda e a terceira estrofes retratam a língua em imagens opostas. Ao estado de rigidez se segue o de uma mudança gradual.

Considerando a terceira estrofe, apresente o recurso gramatical que o autor utiliza para exprimir essa gradação e o verso que reafirma a rigidez já expressa na segunda estrofe.

2. (Unicamp)

“Os turistas que visitam as favelas do Rio se dizem transformados, capazes de dar valor ao que realmente importa”, observa a socióloga Bianca Freire-Medeiros, autora da pesquisa “Para ver os pobres: a construção

da favela carioca como destino turístico”. “Ao mesmo tempo, as vantagens, os confortos e os benefícios do lar são reforçados por meio da exposição à diferença e à escassez. Em um interessante paradoxo, o contato em primeira mão com aqueles a quem vários bens de consumo ainda são inacessíveis garante aos turistas seu aperfeiçoamento como consumidores.”

No geral, o turista é visto como rude, grosseiro, invasivo, pouco interessado na vida da comunidade, preferindo visitar o espaço como se visita um zoológico e decidido a gastar o mínimo e levar o máximo. Con-forme relata um guia, “O turismo na favela é um pouco invasivo, sabe? Porque você anda naquelas ruelas apertadas e as pessoas deixam as janelas abertas. E tem turista que não tem ‘desconfiômetro’: mete o carão dentro da casa das pessoas! Isso é realmente desagra-dável. Já aconteceu com outro guia. A moradora estava cozinhando e o fogão dela era do lado da janelinha; o turista passou, meteu a mão pela janela e abriu a tampa da panela. Ela ficou uma fera. Aí bateu na mão dele.”

HAAG, C.“Laje cheia de turista. Como funcionam os tours pelas

favelas cariocas.”Pesquisa FAPESP. n. 165, 2009, p.90-93. (adaptado)

a) Explique o que o autor identifica como “um interes-sante paradoxo”.

b) O trecho em itálico, que reproduz em discurso direto a fala do guia, contém marcas típicas da linguagem coloquial oral. Reescreva a passagem em discurso indireto, adequando-a à linguagem escrita formal.

O paradoxo reside no fato de os turistas, ao contatarem setores sociais que não usu-fruem de conforto nem têm satisfeitas as suas necessidades básicas, não se sentirem incomodados com a desigualdade social, o que, naturalmente, implicaria uma reflexão sobre atitudes claramente consumistas, típicas de uma classe privilegiada como a sua. Pelo contrário, a visita à favela “garante aos turistas seu aperfeiçoamento como consu-midores”, ou seja, reafirmam suas opções consumistas.

A gradação é sugerida através da repetição do gerúndio (“amaciando”, “tornando”, “incorporando”, “amolecendo”) e a rigidez, no verso “as expressões mais sisudas”.

Um guia relatou que o turismo na favela é um pouco invasivo, pois, ao andarem por aquelas ruas estreitas e, como os moradores deixam as janelas abertas, os turistas olham, sem pudor, para dentro das casas, criando situações desagradáveis, como a ocorrida com outro colega de trabalho. Contou que uma moradora cozinhava em seu fogão localizado perto da janela, quando um turista, que por ali passava, enfiou o braço e abriu a tampa da panela, enfurecendo a mulher, que chegou a golpeá-lo.