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Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Escola de Aprendizes do Evangelho — 8ª turma 100ª aula: Fraternidade do Trevo e FDJ Textos complementares GEAEL Aula 100 — Entre muitas, a lição que fica: “Discípulo de Jesus é aquele que se sublimou na glória de servir”. Vivência do Espiritismo Religioso — Autores diversos C erta feita relatou‑nos o Comandante Armond, que Razin, um espírito de grande elevação presenciou os momen‑ tos finais da passagem de Jesus pela Terra, tendo sido envolvido por emoções muito for‑ tes no triste, momento do Calvário. Ainda segundo esclarecimentos de Ar‑ mond, naquele momento Razin reuniu al‑ gumas pessoas que, atônitas presenciavam a imolação do Cordeiro de Deus, propondo a formação de um grupo com o propósito de trabalhar incessantemente até que os ensi‑ namentos do Cristo penetrassem no coração dos homens. Não nos recordamos, pelo relato do Co‑ mandante, se na época Razin se encontrava encarnado, ou se a passagem citada teve lu‑ gar no plano imaterial, mas a verdade, é que esses espíritos formaram uma fraternidade do eepaço, que com o tempo, ganhou novos adeptos e veio a ser denominada Fraternida‑ de do Trevo. No final da década de 40 quando Ar‑ mond, na Federação Espirita do Estado de São Paulo, dava início ao grande movimento de evangelização através da Escola de Apren‑ dizes do Evangelho, adeptos de Razin consta‑ taram uma notável identificação de ideais, e passaram a apoiar decisivamente a iniciativa de Armond. Com a formação da primeira turma da Escola de Aprendizes, o Plano Espiritual na pessoa de Razin, propôs a criação, no plano material, da Fraternidade dos Discípulos de Jesus, como uma extensão da Fraternidade do Trevo. Ingressam na Fraternidade aqueles que concluem com proveito a Escola de Aprendi‑ zes, que passaram pela Reforma Intima e se

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Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de LimeiraEscola de Aprendizes do Evangelho — 8ª turma

100ª aula: Fraternidade do Trevo e FDJTextos complementares

GEAEL

Aula 100 — Entre muitas, a lição que fica:“Discípulo de Jesus é aquele que se sublimou na glória de servir”.

Vivência do Espiritismo Religioso — Autores diversos

Certa feita relatou‑nos o Comandante Armond, que Razin, um espírito de grande elevação presenciou os momen‑

tos finais da passagem de Jesus pela Terra, tendo sido envolvido por emoções muito for‑tes no triste, momento do Calvário.

Ainda segundo esclarecimentos de Ar‑mond, naquele momento Razin reuniu al‑gumas pessoas que, atônitas presenciavam a imolação do Cordeiro de Deus, propondo a formação de um grupo com o propósito de trabalhar incessantemente até que os ensi‑namentos do Cristo penetrassem no coração dos homens.

Não nos recordamos, pelo relato do Co‑mandante, se na época Razin se encontrava encarnado, ou se a passagem citada teve lu‑gar no plano imaterial, mas a verdade, é que esses espíritos formaram uma fraternidade do eepaço, que com o tempo, ganhou novos adeptos e veio a ser denominada Fraternida‑de do Trevo.

No final da década de 40 quando Ar‑mond, na Federação Espirita do Estado de São Paulo, dava início ao grande movimento de evangelização através da Escola de Apren‑dizes do Evangelho, adeptos de Razin consta‑taram uma notável identificação de ideais, e passaram a apoiar decisivamente a iniciativa de Armond.

Com a formação da primeira turma da Escola de Aprendizes, o Plano Espiritual na pessoa de Razin, propôs a criação, no plano material, da Fraternidade dos Discípulos de Jesus, como uma extensão da Fraternidade do Trevo.

Ingressam na Fraternidade aqueles que concluem com proveito a Escola de Aprendi‑zes, que passaram pela Reforma Intima e se

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2 100ª aula: Fraternidade do Trevo e FDJ

transformam, em um verdadeiro processo de espiritualização.Destacamos abaixo alguns conceitos sobre o Discípulo

de Jesus apresentados em diversas épocas por Armond e co‑lecionados ao longo dos anos:

• Discípulo de Jesus é satisfeito com o mundo e tudo que nele existe porém é insatisfeito consigo mesmo;

• Discípulo de Jesus nada teme a não ser a si mesmo;• O Aprendiz trabalha quando solicitado. O Servidor

quando encarregado e o Discípulo quando necessário;• Aprendiz: o trabalho corno obrigação; Servidor: o tra‑

balho como dever; Discípulo: o trabalho como prêmio.• Para o Discípulo de Jesus, a seara de trabalho é o mundo;• Modelo de Discípulo de Jesus: Paulo de Tarso;• Durante a Escola de Aprendizes do Evangelho o aluno

passa de Conduzido a Condutor;• Discípulo: aquele que aceita as determinações do Se‑

nhor.Trecho do Guia do Discípulo, Exortação Final, mensa‑

gem de Razin: “Não recueis a oportunidade de servir ao Di‑vino Amigo, Senhor desta Terra, à qual também pertencemos por divina misericórdia evoluindo. E voltemo‑nos agora para o mestre dizendo: conscientes estaremos, Senhor Jesus, des‑

te instante. E ousando também eu, respondo pelos que aqui estão preparando‑se para receber o titulo de discípulos teus e para testemunharem. E ousarei também, Senhor, dizer, que nenhum deles desistira, nenhum vos será desleal, infiel; ne‑nhum interromperá a caminhada, a não ser para passar para o nosso plano”.

Que cada dirigente de Escola de Aprendizes do Evange‑lho possa sentir e entender que cada aluno inicia a sua carta de intenção de ingresso na Fraternidade dos Discípulos de Jesus, com as anotações na caderneta pessoal, ferramenta que afere a definição do caminho da renovação pessoal.

“Discípulo de Jesus é aquele que se sublimou na glória de servir.”

Para o bom entendimento da Fraternidade do Discípulos de Jesus e outras Fraternidades torna‑se indispensável a lei‑tura do capítulo 4 do Vivência do Espiritismo Religioso 5ª edição editora Aliança 2000.

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Escola de Aprendizes do Evangelho ‑ Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 3

InauguraçãoEsta Fraternidade — que não é uma instituição particu‑

lar, mas um organismo integrado nos programas de evange-lização do Plano Maior — é um complemento da Escola de Aprendizes do Evangelho, que participa da mesma ressalva.

Foi inaugurada na Federação Espírita do Estado de São Paulo no dia 4 de março de 1954, ao receber em seus qua‑dros os servidores que terminaram o período probatório da 1ª Turma, de 1950.

Dada a importância do fato, foi organizado um programa mais solene, promovendo‑se um verdadeiro congraçamento entre aprendizes, servidores, discípulos e familiares, marcan‑do‑se a data espiritual com uma pedra branca nos dois pla‑nos.

A título de relembrança, damos um resumo da descrição do panorama espiritual da sessão.

1ª PARTE1º quadroApós a acomodação de todos os integrantes da Frater‑

nidade, iniciou‑se a Prece dos Aprendizes, com esplendentes focos de coloração branca procedendo do Alto sobre a cabeça de todos, na forma de uma enorme coroa de flores brancas cintilantes.

2º quadroTerminada a prece, e já em profunda concentração, cons‑

tatou‑se a presença de todas as Fraternidades do Espaço in‑tegradas nos trabalhos da Federação e um grande medalhão oval emoldurando a figura de Jesus pairava sobre a Tribuna, com a destra levantada na atitude característica da bênção e

de cujos rebordos, faixas de cor amarelo‑pá‑lido saíam em várias direções formando um círculo que ostentava, à pequena distância um do outro, outros tantos medalhões bem menores, com figuras evocativas de sentido espiritual.

3º quadroDivisou‑se um hospital em região pró‑

xima da Terra, em um de cujos salões acha‑vam‑se deitados em seus leitos sessenta do‑entes desencarnados, predominando entre eles os tuberculosos. Para esses doentes fo‑ram canalizadas as vibrações da assembléia, captadas por aparelhos adequados.

4º quadroReproduziram‑se neste quadro a assis‑

tência a vários outros institutos hospitalares.

2ª PARTE1º quadroOs espíritos mentores da Iniciação Espírita mantiveram‑

‑se no estrado ao lado do diretor do trabalho.

2º quadroApresentaram‑se na tribuna os espíritos representantes

das Fraternidades ligadas aos trabalhos da Casa, na seguinte ordem: Samaritanos, Irmãos da Esperança, Irmãos do Mé‑xico, Irmãos da China, Irmãos Humildes, Irmãos do Egito, Irmãos Hindus, Irmãos do Tibete e Irmãos Essênios.

Estes espíritos ali permaneceram até o encerramento, quando Emmanuel aproximou‑se do dirigente, dando‑lhe apoio na parte evangélica do encerramento.

Durante a prece final, plasmou‑se o seguinte quadro: de uma elevação completamente atapetada de relva orvalhada, a imagem de Jesus, esplendorosamente iluminada, ascendia aos céus, enquanto um grupo maior de quinhentas pessoas, todas trajadas de branco, permaneciam ajoelhadas em fervo‑rosa prece.

Edgard ArmondVivência do Espiritismo Religioso

Editora Aliança

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4 100ª aula: Fraternidade do Trevo e FDJ

Nos Planos Espirituais, as entidades se agrupam por afi‑nidades morais e vibratórias, isto é, segundo condições evolutivas significando, para umas, escravização e temores e, para outras, as mais evoluídas, ordem, disciplina, res‑ponsabilidade, unidade de sentimentos e participação. – As fraternidades – Vivência do Espiritismo Religioso.

Edgard Armond é, com certeza, uma vertente muito dife‑rente no movimento espírita tradicional, exatamente porque surgiu como uma proposta revolucionária, e não reformado‑ra, a partir de uma crise de estagnação pela qual passava o movimento nas primeiras décadas do século XX. A marca iniciática da sua escola, introduzida como elemento didático nos cursos sistematizados da Feesp, bem como a relação operacional direta com espíritos de forte cultura religiosa, serviram como instrumentos de neutralização das banalida‑des que estavam retrocedendo o espiritismo ao período das mesas‑girantes. Nos anos 1930 e 1940 a doutrina, no Brasil, ainda era vista apenas como especulação filosófica e diversão pseudo-científica. Os médiuns eram seres de uso descartável para espetáculos que mais se assemelhavam ao circo do que à pesquisa, numa época em que o movimento espírita era ainda muito fragmentado em ações socialmente isoladas. Outra tendência que tomava corpo era a dos intelectuais, que lutavam para desvincular a doutrina das suas raízes filosófi‑co‑religiosas, através da politização do movimento. Armond reagiu a tudo isso e não só inovou com uma escola técnica, mas inventou uma escola filosófica espírita, o que assusta os mais conservadores, que veem nisso não um fato complemen‑tar e confirmador da superioridade da Codificação, mas um acontecimento ameaçador à sua integridade histórica e dou‑trinária. O fato é que a doutrina vagava na superficialidade intelectual e nas atividades mediúnicas empíricas, causando uma ansiedade de realização permanente nos espíritos mais dinâmicos. Já nessa época muitos vultos importantes do espiritismo intelectualista empolgaram‑se, como era típico daquele contexto, com a possibilidade de mudar o mundo, “politizando” o movimento espírita. Naturalmente, afetados pelo excesso de entusiasmo, se esqueciam de que as prefe‑rências políticas dos espíritas, assim como as preferências ideológicas no meio religioso, são reflexos psicológicos da personalidade e não uma simples questão de “politização”. Armond pretendia sacudir essa viciação, para ele ultrapassa‑da e equivocada, a mesma que fez degenerar o movimento na Europa e na América do Norte, dando um rumo social mais significativo ao cristianismo restaurado por Kardec. A ideia já havia sido tentada por Bezerra de Menezes, mas somente Armond conseguiu delinear, com clareza, esse projeto de socializar a evangelização das massas e educar sistematica‑mente a mediunidade em bases espíritas. Os relatos que cita‑

remos mais adiante, extraídos de sua autobiografia, dizem que ele foi investido na direção da Feesp por determinação do espírito Ismael. Era uma época de grandes transformações no movimento espírita brasileiro, e a instituição paulista seria um dos principais palcos dessas mudanças históricas, ainda que existissem os obstáculos das imperfeições humanas dos seus membros.

A essa altura é muito importante lembrar que Armond, tal qual Chico Xavier, Emmanuel e André Luiz, rompe a linha de revelações do mundo espiritual mostrando a existência, além das “colônias”, de comunidades ideológicas denominadas “Fraternidades do Espaço”,1 nas quais milhares de espíritos se agrupam por afinidade de ideias e sentimentos, para rea‑lizar tarefas específicas de proteção e auxílio aos encarnados. Ele amplia revelações contidas no livro Brasil Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, quando Jesus se dirige a Ismael, dizendo: “Reúne as incansáveis falanges do Infinito, que coope‑ram nos ideais sacrossantos de minha doutrina, e inicia, desde já, a construção da pátria do meu ensinamento”; e no livro Nosso Lar, ao falar da ministra Veneranda, a servidora Narcisa diz para André Luiz:

As fraternidades da luz, que regem os destinos cristãos da América, homenagearam Veneranda conferindo‑lhe a meda‑lha do Mérito de Serviço, a primeira entidade da colônia que conseguiu, até hoje, semelhante triunfo, apresentando um milhão de horas de trabalho útil, sem interromper, sem reclamar e sem esmorecer.

No mesmo livro, no capítulo 41, ao falar do impacto que a Segunda Guerra Mundial teve no Plano Espiritual, André Luiz revela:

Sabia‑se, desde muito, que as Grandes Fraternidades do Oriente suportavam as vibrações antagônicas da nação japonesa, experimentando dificuldades de vulto (...) Assim como os nobres círculos espirituais da velha Ásia lutavam em silêncio, preparava‑se Nosso Lar para o mesmo gênero de serviço.

Outra importante revelação ampliada na sua obra são as “Leis Universais”,2 das quais Kardec havia exposto como Leis Morais e Armond e seus mentores ampliaram na Iniciação Espírita adotando o conceito de “Leis Principais” e “Leis Secundárias ou subsidiárias”. Ambas as concepções reconhecem as “Bem‑aventuranças” do Sermão do Monte 1 Tanto o conceito de “colônias” como o de “fraternidades” são desdobramentos ampliados de “Mundos transitórios” do capítulo VI de O Livro dos Espíritos. Ver também Vivência do Espiritismo Religioso, capítulo 4, item 4.29. Editora Aliança, 5ª ed., 1995; Ver também Martha Gallego Thomaz, As Fraternidades do Espaço (edições Feesp, 2001) e História das Fraternidades (Fraternidade Assistencial Esperança, 2001).2 Iniciação Espírita, aula 72.

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como a síntese dessas leis. Sem dogmatizar o assunto, pois as diferenças entre ele e Kardec são apenas de nomenclatu‑ra, Armond informa que muitas leis do universo ainda não puderam ser reveladas, pois estão longe do alcance da com‑preensão humana. Mas uma delas está estreitamente ligada à humanidade, que é a lei do livre‑arbítrio, a qual ele considera o principal fator de evolução espiritual. Numa obra específi‑ca sobre o assunto, publicada em 1979,3 ele faz uma análise sintética, porém muito profunda, das implicações dessa lei na vida psíquica e social do espírito encarnado. Nada de diferente ou divergente do que informa conceitualmente O Livro dos Espíritos, contudo acrescido de um ponto de vista incomum. De forma alguma isso representa uma superação dos livros da Codificação e das matérias da Revista Espírita. A ruptura está nos detalhes e não na essência do que já havia sido revelado pelos espíritos. O aspecto da identificação pelo simbolismo, que caracteriza as “Fraternidades do Espaço” foi, durante muito tempo, omitido pelos autores citados e consagrados, porque a aparência perispiritual e a cultura desses grupos fogem completamente da ideia ortodoxa que predomina no meio espírita. São os ameríndios, africanos, asiáticos, espíritos de outros orbes, enfim, toda uma diver‑sidade de inteligências que sabemos existir nos conceitos da Codificação, mas que podem ser “rejeitados” por diversos motivos de ortodoxia, inclusive preconceito racial e cultural herdado do elitismo colonial europeu.

Foi a partir dessas informações, reveladas a diversos médiuns e comprovadas por verificações, que Armond criou, em 31 de maio de 1952, a Fraternidade dos Discípulos de Jesus – FDJ, composta inicialmente de membros encarnados e associada espiritualmente à Fraternidade do Trevo, com‑posta por desencarnados. Foi inaugurada somente em 1954 com o ingresso de alunos oriundos da 1ª turma da Escola de Aprendizes da Feesp. A fdj,4 organizada por estatutos e regimento interno, reúne atualmente milhares de membros encarnados, todos oriundos das Escolas de Aprendizes do Evangelho, que têm como objetivo vivenciar, permanente‑mente, os ensinamentos cristãos à luz da doutrina espírita. Comunicações mediúnicas surgidas nos três setores de atu‑ação dos discípulos informam que atualmente, no mundo espiritual, a FDJ é independente e dirigida pelo próprio espírito Armond, reunindo milhares de ex‑alunos que após o desencarne continuaram cultivando os ideais da escola.

Embora as escolas de aprendizes do evangelho tenham sido criadas para atender as massas, temia‑se o crescimento quantitativo desse sistema de ensino em prejuízo da qualida‑de desses recursos de avaliação educacional. Para muitos que desconhecem suas estruturas, a escola de Armond sempre foi associada e comparada superficialmente com os rituais ini‑ciáticos da maçonaria e outras organizações ocultistas, ideia que não está totalmente descartada quanto ao formato adra‑gógico, e por isso é vista como um processo obscuro e alheio

3 O Livre-Arbítrio, poderoso fator de evolução, 1ª ed. Editora Aliança. São Paulo, 1979.4 Vivência do Espiritismo Religioso, Capitulo 4, página 4.25. Ver também FDJ – Perguntas e Respostas, Editora Aliança, 2004.

à clareza e objetividade da doutrina espírita. O que Armond escreveu, e o que constatamos pessoalmente no funcionamen‑to de muitos grupos, é que realmente não se afastam nem se aproximam das ideias e práticas de Kardec; é um método sui generis que não pode ser mensurado, por exemplo, pelo modelo metodológico e institucional da Sociedade Espírita de Paris, o que é bem diferente de doutrina. Mas nos grupos que crescem em quantidade e descuidam‑se da qualidade, sempre há desvios e interpretações equivocadas, levadas a efeito por personalidades rígidas e fanáticas, pessoas sem conhecimento doutrinário e sem habilidade para uma liderança educacio‑nal, e que sempre dão um jeito de ocupar cargos e assumir tarefas longe de suas possibilidades de desempenho. Essas experiências, naturalmente, não se enquadram no aspecto ideal dessa escola e nos requisitos delineados por Armond, principalmente no seu Guia do Aprendiz.

Ao criar toda essa sistemática, cremos nós que Armond estava apenas preocupado com o tipo de relação e compro‑misso que os adeptos do espiritismo poderiam desenvolver com a doutrina, deixando bem claro que tudo era uma ques‑tão de opção individual, nunca de julgamento, aprovação ou condenação absolutas. Quando Jesus foi em busca de discí‑pulos, ele mesmo fez pessoalmente a seleção, deixando claro que na iniciação quem faz a primeira chamada é o Mestre, mas a escolha definitiva é feita pelo livre‑arbítrio e pela vida do discípulo. Edgard Armond entendia que existem três modos de “vivência espiritual”, de acordo com o entendimen‑to individual5

Uns a realizam simplesmente crendo; outros, crendo e participando de atos exteriores, como no cumprimento de um dever; outros, finalmente, mais esclarecidos, estudando, praticando e devotando‑se às realizações, com o desejo sincero de tornar suas vidas espiritualmente melhores. O Discípulo de Jesus crê, participa e devota‑se, aperfeiçoando seus conhecimentos e sua espiritualidade, para dedicar‑se ao serviço do Bem. Desde que passou a discípulo, tornou‑se um porta‑voz do Mestre, um agente Seu, iluminado pelo amor e pela fé mais pura e profunda, nas sombras e nas misérias deste mundo de provas e expiações.

Dessas três definições de vivência, a terceira é a que fez do trabalho de Armond um fato histórico de grande reper‑cussão social. É nesse aspecto que ele se tornou um divisor de águas no movimento espírita, independente dos supostos conceitos ou preconceitos sobre a sua pureza doutrinária.

Nova História do EspiritismoDalmo Duque dos SantosEditora do Conhecimento

5 Guia do Discípulo, Editora Aliança, 1982.

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6 100ª aula: Fraternidade do Trevo e FDJ

Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram‑lhe, então, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele respondeu: Se eu não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o meu dedo, e não puser a minha mão no seu lado, de modo algum acreditarei. – João. XX‑24,25.

Até o advento do espiritismo a imortali‑dade era uma equação existencial insolúvel no campo da religião e, como objeto espe‑culativo, era uma exclusividade da filosofia. Ainda assim, falar nesse assunto era, quase sempre, tratar de uma utopia, a mera pos‑sibilidade do vir a ser, bem distante daqui‑lo que atribuímos à realidade. Apesar de ser um tema muito presente no cotidiano da maioria das culturas históricas, como mostram os inúmeros relatos de aparições e comunicações entre vivos e mortos, foi somente no século XIX que a questão da sobrevivência após a morte deixou de ser mera hipótese. Com o espiritismo ela passou a ser vista como realidade plausível, pois tratava‑se, ao con‑trário da visão estreita e materialista, inclusive dos religiosos, de um fenômeno observável, de abordagem cientificamente positiva. Da evidência do fenômeno para outras conseqüên‑cias especulativas foi apenas um passo. Seguiram‑se então as interessantes investigações da hipnose, a psicanálise e as teorias da personalidade, as curiosas experimentações da parapsicologia, até chegarmos nas recentes pesquisas em torno dos relatos de pacientes terminais e das terapias de vidas passadas. Diríamos, historicamente falando, que todo esse processo é a consagração parcial da imortalidade, mas não a mesma que foi vivenciada por Sócrates, no seu gesto tranqüilo e simbólico, ao ingerir cicuta, nem a que foi exem‑plificada por Jesus, ao manter a serenidade e perdoar os que zombavam da sua condição de crucificado.

O espiritismo com sua fenomenologia foi, sim, um novo desafio para as equações existenciais que haviam testado os primeiros apóstolos e que agora teriam de ser novamente experimentadas pelos novos cristãos. A doutrina é também um desafio para a consagração da certeza sobre a dúvida, a maior das interrogações humanas, da qual o apóstolo Tomé tornou‑se símbolo universal. Como no tempo de Jesus, as maravilhas dos fenômenos não eram os fins a que se propu‑nham os espíritos superiores; eram apenas os meios para se chegar ao “xis” da equação existencial. Ora, isso é tão óbvio se lembrarmos que o simples fato de saber que existe vida em

outra dimensão não basta para solucionarmos o enigma inte‑rior que nos atormenta a existência. No mundo espiritual não existem espíritos ateus, que continuam materialistas, que não compreendem Deus e as leis do universo e que consideram tudo um produto do acaso? Portanto, a revelação do mundo espiritual, pelo espetáculo dos fenômenos, foi apenas o pano de fundo para percebermos uma realidade que não está no Além, mas em nós mesmos. A equação existencial do espírito em crise, encarnado ou desencarnado, é o “Reino de Deus”, o estado de espírito que Tomé não conseguiu atingir naqueles primeiros contatos com o Cristo. A fé, como virtude e valor da moral teológica, está presente em todas as religiões, porque todas elas pregam a dualidade entre a matéria e o espírito, entre o físico e metafísico. Essa dualidade conflitante, a qual o indivíduo deve superar e solucionar por si próprio, é para as religiões dogmáticas o verdadeiro sentido da vida, o prin‑cipal objeto de conquista e realização do ser encarnado. Mas para o espiritismo, como havia ensinado Jesus, esse conflito é sempre uma prova, uma escolha que é composta de inúmeras outras escolhas durante as existências, tornando a fé um pro‑cesso de conquista íntima gradual. O livre-arbítrio torna-se, então, mais do que uma simples faculdade racional; ele é uma lei natural, que impulsiona todos a fazerem escolhas e tomar as decisões que formam a bagagem individual. Mas chega um momento crucial da existência em que o livre‑arbítrio atinge um limite, uma espécie de prova suprema da nossa autono‑mia, na qual somos derradeiramente testados a definir se

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Escola de Aprendizes do Evangelho ‑ Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 7

avançamos para um outro está‑gio evolutivo ou se estacionamos, até que possa‑mos retomar as rédeas do nosso destino. O limite é a fé, que sem‑pre se apresenta em dois aspec‑tos: a confiança incondic ional numa força superior, nossa eterna bússola existencial, e a confiança em si mesmo, que é o fio condutor do destino. Essas duas coisas deveriam, para o nosso conforto psicológi‑co, sempre estar em harmonia. Mas não é bem assim que a vida funciona: a incongruência entre a fé em Deus e a fé em si próprio é o dilema natural da humanidade, uma espécie de “complexo de Adão”, o protótipo do homem biológico do passado, e que só vai ser equacionado quando todos os liames com a animalidade estiverem liberados, sem nenhum vestígio dos instintos.

Mas não é só a fé em Deus que gera dúvida e ceticismo; a fé em si próprio também é uma busca, que fazemos paralelamen‑te com a fé em Deus. O “complexo de Adão”, durante o curso humano, só é superado, em inúmeras reencarnações, quando essas duas crenças incompletas e aparentemente antagônicas se encontram e formam uma só experiência, a fé integral, típica do homem psicológico do futuro. Essa realização não é uma experiência de exclusividade individual: ela ocorre em socieda‑de, onde seres semelhantes compartilham suas buscas pessoais tentando solucioná‑las, olhando, inconscientemente, para o mundo interior uns dos outros. É por isso que a maioria das coisas que aprendemos no terreno vivencial da existência só o fazemos pelo exemplo e não pelo intelecto. O “Reino de Deus”, que é o símbolo do nosso enigma existencial, do resultado da nossa busca, só pode ser decifrado e penetrado através do contato com o outro, o semelhante, que também faz o mesmo percurso, e nunca por nós isoladamente. Esse foi o sentido dessas chaves que recebemos para desvendar esses segredos: “Sede perfeitos, como vosso Pai celestial!”, “Ama ao próximo como a si mesmo” etc. Esse foi o triunfo de Tomé, exemplifi‑cado em nosso tempo na personalidade e na missão de Allan Kardec. Do “ver para crer” das mesas‑girantes o apóstolo de Lyon fez escolhas essenciais, passou por provas tentadoras, superou obstáculos exteriores que tentaram desviá‑lo para outros caminhos, até chegar no “xis” da sua equação, que foi o seu e o nosso reencontro definitivo com o Cristo: não bastavam os fenômenos para renovar os antigos milagres; era necessário renovar‑se para perceber o verdadeiro alcance dos mesmos.

Nova História do EspiritismoDalmo Duque dos SantosEditora do Conhecimento

PERGUNTA — É certo que os velhos mestres da tra-dição iniciática não endossam a codificação espírita, porque Allan Kardec expôs demasiadamente, em públi-co, os mistérios do ocultismo?

RAMATÍS: — Allan Kardec foi um dos mais avan‑çados mestres de iniciação esotérica do passado, bastante familiarizado com a atmosfera dos templos egípcios, caldeus e hindus. E inúmeros iniciados que desenvolve‑ram suas energias psíquicas e despertaram seus poderes espirituais nos ambientes dos antigos templos iniciáticos, também estão agora encarnados na Terra e cooperam valiosamente na seara espírita. Pouco a pouco, eles reve‑lam os conhecimentos ocultos, que Allan Kardec teve que velar em sua época por falta de clima psicológico adequa‑do e favorável aos ensinamentos esotéricos, em público. Esses iniciados, com o auxílio da própria ciência profana, extirpam gradualmente da prática mediúnica muito com‑pungimento lacrimoso e religioso, que não se coaduna com o espírito científico, lógico e sensato dos postulados espíritas, cada vez mais avançados.

O espiritismo simplificou os ensinamentos complexos do Oriente, como a reencarnação e a lei do carma, expon‑do‑os de modo conciso e fácil, sem as sutilezas iniciáticas, os simbolismos complexos e as grafias sibilinas do sâns‑crito, graduando‑se de acordo com a capacidade mental dos seus adeptos ainda imaturos para uma didática muito esotérica.

Porém descansem os espíritas demasiadamente orto‑doxos e temerosos de qualquer “confusão doutrinária” no seio do espiritismo, só porque venham a examinar os ensi‑nos e conhecimentos de outros movimentos espiritualistas. Mesmo porque a revelação do verdadeiro mecanismo da vida do espírito imortal não se fará de modo instantâneo e miraculoso. Isso se processará através do estudo, de pesquisa e da busca incessante por parte do discípulo liberto de qualquer condicionamento sectarista. A cômoda atitude do espírita de ignorar propositadamente qualquer assunto que não se relaciona com a sua doutrina, em geral, é mais fruto da preguiça mental do que mesmo receio de confusão doutrinária.

Aliás, a confusão não está nas coisas que investiga‑mos. Ela está em nós mesmos, pois só o homem realmente confuso tem medo de conhecer outros movimentos eso‑téricos, cujos princípios doutrinários apóiam‑se também nos fundamentos em que assentam os postulados do espi‑ritismo. Tal receio resultará num estacionamento mental obstinado, que não livrará o discípulo de enfrentar essa tarefa nesta ou noutra existência.”

Elucidações do AlémRamatís / Hercílio Maes

Editora do Conhecimento

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22. O primeiro ato de toda criatura humana, que deve marcar o seu retorno à atividade diária, é a pre‑ce. Quase todos oram; mas poucos sabem orar. Que im‑portância tem para Deus as frases encadeadas, umas às outras, automaticamente, só por uma questão de hábito, ou por uma mera obrigação a ser cumprida, e que vos abor‑rece?

A prece do cristão, do es-pírita, ou de qualquer outro culto, deve ser feita ao acor‑dar, ou melhor, logo que o espírito tenha retornado ao cativeiro do corpo, após o sono. Deve elevar‑se aos pés da Divina Majestade com hu‑mildade e sinceridade, num impulso de reconhecimento

por todos os benefícios recebidos; pela noite que passou, durante a qual vos foi permitido, embora inconscientemente, reencontrar vossos amigos, vossos guias, para renovar, ao contato com eles, vossas forças e a confiança. Vossa prece deve elevar‑se humilde aos pés do Senhor, para confessar‑Lhe vossa fragilidade, supli‑car amparo, indulgência e misericórdia. Ela deve ser intensa, pois é vossa alma que deve elevar‑se em direção ao Criador, transfigurando‑se como Jesus o fez no monte Tabor,1 e chegar a Deus radiante de amor e de esperança.

Vossa prece deve conter o pedido das graças de que necessitais verdadeira‑mente. É inútil, pois, pedir ao Senhor que abrevie vossas provas, que vos dê ale‑grias e riquezas. Pedi a Ele que vos conceda bens mais preciosos, como a paci‑ência, a resignação e a fé. Não digais, como muitos dentre vós: “Não vale a pena orar, já que Deus não me atende”. Tendes lembrado de Lhe pedir o vosso aper‑feiçoamento moral? Não! Pouquíssimas vezes pedis isso. Contudo, estais sempre pedindo o sucesso em vossos negócios terrenos, e frequentemente vos lamentais: “Deus não se preocupa conosco. Se se preocupasse, não haveria tantas injusti‑ças”. Insensatos! Ingratos! Se mergulhásseis no fundo de vossa consciência, quase sempre encontraríeis em vós mesmos o ponto de partida dos males dos quais vos lamentais. Pedi, então, antes de qualquer coisa, o vosso aperfeiçoamento, e vereis 1 Monte Tabor: Situado na região da Judéia, onde Jesus transfigurou‑se diante de Pedro, João e Tiago.

Capítulo 27Pedi e obtereis

O Evangelho Segundo o Espiritismo

É preciso que se dê mais importância à leitura do Evangelho. E, no entanto, abandona‑se esta divina obra;faz‑se dela uma palavra vazia, uma mensagem cifrada. Relega‑se este admirável código moral ao esquecimento.

que torrente de graças e consolações se derramarão sobre vós. (Veja capítulo V, número 4, desta obra).

Deveis orar sempre, sem que para isso preciseis vos recolher ao oratório ou ajoelhar‑vos em lugares públicos. A prece diária é o complemento de todos os vossos deveres, sem exceção, sejam eles de que natureza forem. Não é uma prova de amor para com o Senhor aju‑dar vossos irmãos numa necessidade qualquer, seja ela moral ou física? Não é um ato de reconhecimento elevar o vosso pensamento a Deus, quando algo de bom vos acontece, quando um aci‑dente é evitado, quando uma contrarie‑dade vos atinge de leve? Portanto, de‑veis dizer sempre: “Bendito sejas, meu Pai!”. Quando sentirdes que errastes, ainda que só por um breve pensamen‑to, não é um ato de arrependimento vos humilhar diante do Supremo Juiz, di‑zendo‑lhe: “Perdoai‑me, meu Deus, por‑que pequei por orgulho, por egoísmo ou por falta de misericórdia. Dai‑me forças para não voltar a errar, e coragem para reparar meu erro”?

Deveis proceder dessa maneira, in‑dependentemente das preces regulares da manhã, da noite e dos dias consa‑grados. Como vedes, a prece pode ser feita a qualquer momento, sem causar interrupção em vossos trabalhos. As‑sim recitada, a prece os santificará. Po‑deis crer que um único pensamento que parte do coração é mais ouvido por nos‑so Pai celestial do que as longas preces ditas por hábito, muitas vezes sem um motivo específico, das quais vos lem-brais automaticamente, em hora con-vencional. (V. Monod, Bordéus, 1862).