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Green Supply Chain e Produção Mais Limpa: uma revisão em prol da aplicabilidade destas abordagens ao setor sucroenergético Livia R. Ignácio a , Guilherme F. Pescim a a Departamento de Engenharia de Produção, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo (USP), São Carlos-SP, Brasil Resumo: A fim de melhorar a performance ambiental e diminuir os impactos ambientais de sistemas produtivos, foram criadas as abordagens de Green Supply Chain Management e Produção Mais Limpa. Mas qual seria a relação entre elas? A Green Supply Chain é uma abordagem que busca a melhoria do desempenho ambiental em todos os elos de uma cadeia de suprimentos, desde a extração da matéria-prima até o consumo e disposição final do produto, por meio de relações de colaboração ou conformidade entre as partes. A abordagem da Produção Mais Limpa, por outro lado, tem o foco em práticas de ecoeficiência em um sistema produtivo. Atualmente o setor sucroenergético nacional vive um contexto de crise econômica forte concomitante com uma baixa eficiência produtiva, além do grande impacto ambiental gerado por seus processos. Diante deste cenário, é forte a pressão de investidores externos e outras partes interessadas no que tange à conformidade legal, eficiência produtiva e performances econômica, ambiental e social do setor. Esta proposta de trabalho visa apresentar os conceitos das duas abordagens citadas a fim de explorar a aplicabilidade de suas ferramentas e práticas à cadeia de valor da indústria sucroenergética, com vistas a contribuir para o aprimoramento da performance ambiental do setor. Palavras-chave: Green Supply Chain, GSCM, Produção Mais Limpa, P+L, Cleaner Production, setor sucroenergético, desempenho ambiental 1. Introdução Todo produto provoca um impacto no meio ambiente, seja em função das matérias- primas que consome, de seu processo produtivo, ou devido ao uso e disposição final (CHEHEBE, 1997). Ao longo dos anos, a postura das empresas perante a gestão ambiental evoluiu continuamente de passiva para reativa e, por fim, para preventiva (HILSON, 2003). Esta evolução é decorrente da percepção de que é possível gerar valor econômico ao negócio ao mesmo tempo em que se promove a melhoria das condições ambientais para a sociedade. O fato, segundo Yang et al. (2010), é que pode-se aumentar a competitividade das empresas por meio de práticas de gestão ambiental, que se refletem em redução de custos e alto nível de qualidade e confiança. Enquanto os sistemas de produção tradicionais existem para proporcionar apenas eficiência, precisão e baixos custos, os novos modelos também passaram a ser orientados para a sua sustentabilidade (ARAUJO, 2010). Entretanto, a forma pela qual os novos conceitos de gestão ambiental são incorporados pelas empresas, se são realmente aplicados de forma consistente dentro e entre as organizações, é uma questão a parte (EY e GREENBIZ, 2013).

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Green Supply Chain e Produção Mais Limpa: uma revisão em prol da aplicabilidade

destas abordagens ao setor sucroenergético

Livia R. Ignácioa, Guilherme F. Pescima

a Departamento de Engenharia de Produção, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo (USP), São Carlos-SP, Brasil

Resumo: A fim de melhorar a performance ambiental e diminuir os impactos ambientais de sistemas

produtivos, foram criadas as abordagens de Green Supply Chain Management e Produção Mais

Limpa. Mas qual seria a relação entre elas? A Green Supply Chain é uma abordagem que busca a

melhoria do desempenho ambiental em todos os elos de uma cadeia de suprimentos, desde a

extração da matéria-prima até o consumo e disposição final do produto, por meio de relações de

colaboração ou conformidade entre as partes. A abordagem da Produção Mais Limpa, por outro

lado, tem o foco em práticas de ecoeficiência em um sistema produtivo. Atualmente o setor

sucroenergético nacional vive um contexto de crise econômica forte concomitante com uma baixa

eficiência produtiva, além do grande impacto ambiental gerado por seus processos. Diante deste

cenário, é forte a pressão de investidores externos e outras partes interessadas no que tange à

conformidade legal, eficiência produtiva e performances econômica, ambiental e social do setor.

Esta proposta de trabalho visa apresentar os conceitos das duas abordagens citadas a fim de

explorar a aplicabilidade de suas ferramentas e práticas à cadeia de valor da indústria

sucroenergética, com vistas a contribuir para o aprimoramento da performance ambiental do setor.

Palavras-chave: Green Supply Chain, GSCM, Produção Mais Limpa, P+L, Cleaner Production,

setor sucroenergético, desempenho ambiental

1. Introdução

Todo produto provoca um impacto no meio

ambiente, seja em função das matérias-

primas que consome, de seu processo

produtivo, ou devido ao uso e disposição final

(CHEHEBE, 1997). Ao longo dos anos, a

postura das empresas perante a gestão

ambiental evoluiu continuamente de passiva

para reativa e, por fim, para preventiva

(HILSON, 2003). Esta evolução é decorrente

da percepção de que é possível gerar valor

econômico ao negócio ao mesmo tempo em

que se promove a melhoria das condições

ambientais para a sociedade. O fato, segundo

Yang et al. (2010), é que pode-se aumentar a

competitividade das empresas por meio de

práticas de gestão ambiental, que se refletem

em redução de custos e alto nível de

qualidade e confiança. Enquanto os sistemas

de produção tradicionais existem para

proporcionar apenas eficiência, precisão e

baixos custos, os novos modelos também

passaram a ser orientados para a sua

sustentabilidade (ARAUJO, 2010). Entretanto,

a forma pela qual os novos conceitos de

gestão ambiental são incorporados pelas

empresas, se são realmente aplicados de

forma consistente dentro e entre as

organizações, é uma questão a parte (EY e

GREENBIZ, 2013).

Apesar do contexto atual de crise

econômica mundial, mercados cada vez mais

competitivos e tomados por grandes grupos

corporativos, estudos têm apontado que a

aplicação de práticas da abordagem de Green

Supply Chain Management (GSCM), tais

como a Produção Mais Limpa (P+L),

contribuem positivamente para melhoria da

performance geral dos negócios em diversos

setores (Zeng et al., 2010; Cagno et al., 2005;

Stefanelli, 2014; Neto et al., 2015 apud Silva e

Medeiros, 2006).

No contexto brasileiro, o setor

sucroenergético tem se especializado e

buscado captar recursos necessários para

expansão dos negócios e melhoria da

eficiência produtiva e econômica. De acordo

com Esalq (2015), o setor está cada vez mais

competitivo por conta da representatividade

do açúcar e etanol no painel de exportação do

país, sendo de fundamental importância o

conhecimento dessa cadeia produtiva. Neste

contexto, investidores internacionais e

clientes estabelecem requisitos para melhoria

da eficiência ambiental e econômica do setor,

como premissas para se tornarem parceiros

do negócio. Ao mesmo tempo, a própria

sociedade e mídia têm pressionado pela

melhoria das condições ambientais onde as

usinas de cana de açúcar operam.

No caso de GSCM, apesar da crescente

evolução dos estudos sobre esta temática, os

principais trabalhos publicados ainda não

focaram o setor sucroenergético, e ainda mais

considerando-se a realidade brasileira

(STEFANELLI, 2014).

Faz-se, então, necessário investigar como

as empresas do setor sucroenergético podem

incorporar práticas de gestão ambiental a fim

de aprimorar seu desempenho ambiental e

atender aos requisitos cabíveis. Este artigo

visa revisar os principais conceitos e

aplicações de Green Supply Chain

Management (GSCM) e Produção Mais Limpa

(P+L) e identificar práticas destas duas

abordagens que podem gerar ganhos

ambientais ao setor sucroenergético.

2. Green Supply Chain Management

(GSCM)

A GSCM foi originada dos conceitos

tradicionais de gestão da cadeia de

suprimentos – supply chain management

(SCM) (FORTES, 2009), relacionados à

transformação de matérias-primas em

produtos finais com valor agregado.

Tradicionalmente, havia grande concentração

de esforços das empresas somente em

medidas internas para melhoria de sua

performance ambiental (CHEN et al., 2013),

tais como redução no consumo de resíduos,

controle de poluição, dentre outras. No

entanto, esta realidade mudou, sendo uma

das razões a percepção de que os clientes

não fazem distinção clara entre uma empresa

e seus fornecedores (SARKIS, 2006).

Ocorrendo qualquer tipo de não

conformidade, geralmente culpa-se a

empresa proprietária do produto ou serviço, e

não o fornecedor que vendeu componentes

defeituosos, ou que adotou práticas de

trabalho ilegais (CHEN et al., 2013).

Neste contexto, desde a década de 90,

foram cunhadas diversas definições teóricas

acerca de GSCM (STEFANELLI, 2014). No

entanto, os principais autores e trabalhos

(GREEN et al., 1996; MESSELBACK e

WHALEY, 1999; SARKIS, 2003; ZHU e

SARKIS, 2004; RAO e HOLT, 2005; ZHU,

SARKIS e GENG, 2005; ZHU e SARKIS,

2006; VACHON e KLASSEN, 2006;

SRIVASTAVA, 2007; AGERON et al., 2011;

SARKIS et al., 2011; MIN e KIN, 2012)

possuem um denominador comum entre as

definições que propõem para GSCM: a

necessidade de incorporar de forma integrada

a variável ambiental em todos os elos de uma

cadeia de valor a fim de melhorar a sua

performance ambiental e diminuir os impactos

ambientais gerados pela sua rede de players

(indústria, serviços, fornecedores,

compradores, distribuidores, consumidores,

etc).

A GSCM é um tema recente e

multidisciplinar, cujo conceito ainda não é um

consenso entre os pesquisadores (ZHU e

SARKIS, 2004). Existem diversas definições,

nomenclaturas e siglas, porém, segundo

Teixeira (2014), o foco é adaptar as atividades

operacionais e incorporar a filosofia de gestão

da cadeia de suprimentos para as

preocupações ambientais entre os elos da

cadeia. O mesmo autor também afirma que,

apesar de não haver um padrão de práticas

aplicáveis, existe uma maior concentração em

algumas práticas, por exemplo, as relações

com fornecedores e relações com clientes.

A abordagem é composta por uma série

de práticas ambientais (JABBOUR;

JABBOUR, 2012), que já foram agrupadas de

diferentes maneiras por alguns autores, tais

como Zhu e Sarkis (2004), Zhu e Sarkis

(2006), Zhu, Sarkis e Lai (2008), Vachon e

Klassen (2008), Chien e Shih (2007) e Zheng

(2010), conforme retratado na Figura 3.

Em termos práticos, é possível verificar

que as categorias de ferramentas de GSCM

são passíveis de aplicação em qualquer setor

econômico. Estudos têm avaliado a GSCM

pelo nível de implantação de práticas

ambientais nas empresas (ARIMURA et al.,

2011). É necessário, no entanto, haver o

entendimento claro do tipo de cadeia

considerada, os seus elos, as funções

desempenhadas por cada um e,

principalmente, os tipos de relações

estabelecidas entre os elos.

Segundo Stefanelli (2014) e seu estudo

sobre a relação entre práticas de GSCM e o

desempenho ambiental em uma amostra de

micro, pequenas e médias empresas

fornecedoras de usinas do setor

sucroenergético, é baixa a adoção de práticas

de GSCM neste segmento.

Quando se trata de estudos acadêmicos

acerca desta temática, foi verificado em um

artigo recente publicado por Sehnen et al.

(2015) sobre a produção científica em GSCM

de 2001 a 2012 que esta pesquisa tem se

intensificado nos últimos três anos. Este fato

também pode ser estendido ao contexto de

pesquisa do assunto no Brasil, conforme

gráfico gerado pela base Web of Science,

quando se faz uma busca simples pelo tópico

green supply chain em todos os anos. Nesta

busca, foi verificado que a produção de artigos

internacionais por brasileiros se intensificou

nos últimos três anos.

Figura 1: Número de publicações brasileiras na base Web of Science acerca do tópico "green supply chain".

(Fonte: Web of Science, 05/12/2015)

3. Produção Mais Limpa (P+L)

O conceito de Produção mais Limpa (P+L)

começou a ser difundido a partir dos

resultados do trabalho do Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente

(PNUMA) e da Organização da Indústria e

Desenvolvimento das Nações Unidas

(UNIDO) (HILSON, 2003). A UNEP define a

P+L como “a aplicação contínua de

estratégias ambientais preventivas e

integradas aos processos, produtos e serviços

com o objetivo de aumentar a eficiência global

e reduzir riscos para o homem e o meio

ambiente”.

A P+L é uma abordagem de gestão

ambiental preventiva que busca reduzir a

poluição na fonte, enquanto as tecnologias de

fim de tubo restringem as emissões de

poluentes por meio da implementação de

equipamentos de controle (FRONDEL et al.,

2006).

Muitos pesquisadores consideram que a

P+L pode ter uma influência significativa como

ferramenta, programa ou filosofia para a

promoção de novas tecnologias ambientais,

catalisação da gestão ambiental associada ao

processo e produto final, reforma de

paradigmas relacionados ao retorno

financeiro de iniciativas ambientais e

promoção da conexão entre a industrialização

e a sustentabilidade (HILSON, 2003).

A P+L tem sido implantada com sucesso

ao redor do mundo, em diferentes setores da

indústria, tais como papel e celulose,

saneamento, fabricação de joias banhadas a

ouro, mineração, eletrônicos e metalúrgico,

gerando retorno financeiro às empresas.

(HILSON, 2003; ZENG et al., 2010; SILVA et

al., 2013). A P+L impacta de fato na

lucratividade dos negócios (CAGNO et al.,

2005), sendo que as práticas de baixo custo

apresentam uma contribuição maior para a

performance financeira se comparada com a

performance não financeira (ZENG et al.,

2010).

Os principais princípios de P+L, segundo

Neto et al. (2015), adotados pelas empresas

brasileiras foram agrupados em seis

categorias, a partir das práticas apresentadas

na Figura 4:

i) a adoção de P+L e ecologia industrial com

sistema de gestão ambiental baseada na ISO

14.001, visando o desenvolvimento de

projetos para o meio ambiente no produto,

processo produtivo e redes logísticas;

ii) a cocriação com os clientes no

desenvolvimento de produto ecológico com

foco na logística reversa de remanufatura;

iii) a adoção de planejamento e controle da

produção ambiental com investimento em

pesquisa e inovação e foco na redução de

riscos ambientais externos;

iv) a cocriação com os fornecedores para o

desenvolvimento de matérias-primas e

componentes ecológicos, além de promover

sistema de auditorias;

v) a adoção de gestão da cadeia de

suprimentos verde para selecionar

fornecedores sustentáveis e desdobrar os

indicadores ambientais; e, finalmente,

vi) a intensificação de treinamentos aos

fornecedores sobre educação ambiental para

auxiliar nas ações de logística reversa de pós-

consumo e pós-venda para reuso,

remanufatura e reciclagem.

Um estudo bibliométrico recente realizado

por Giacchetti e Aguiar (2015) demonstra que

a produção científica sobre o tema de P+L tem

apresentado uma tendência de aumento

gradual ao longo dos anos.

Especificamente para o Brasil, uma busca

simples realizada na base Web of Science

pelo tópico cleaner production também

demonstra uma evolução gradual no número

de publicações de autores brasileiros.

Figura 2: Número de publicações brasileiras na base Web of Science acerca do tópico "cleaner production" (Fonte: Web of

Science, 05/12/2015)

4. A cadeia de valor da indústria

sucroenergética

O setor de açúcar e álcool é um dos mais

dinâmicos e importantes do Brasil (PINTO,

2011). Na safra 2014/2015, a produção total

de açúcar e álcool no Brasil foi de,

respectivamente, 35,56 milhões de toneladas

e 28,66 bilhões de litros (CONAB, 2015).

O processo de produção de açúcar e

álcool conta resumidamente com as seguintes

etapas: Preparação do solo, Plantio, Manejo

de cultura, Colheita, Transporte da Cana de

Açúcar, Moagem, Produção de Açúcar,

Produção de Álcool, Vinhaça e Energia, e

Distribuição (OMETTO, 2005).

Segundo Semenzato (1995) e Pavia e

Morabito (2008) a gestão da cadeia de

suprimentos do açúcar e, em particular, da

colheita da cana de açúcar, é uma complexa

operação logística que envolve o corte,

carregamento de cana nos campos,

transporte e descarregamento nas moendas.

Esta operação envolve diversas empresas

que devem estar coordenados entre si e com

a moenda receptora.

A reutilização de subprodutos no setor de

açúcar e álcool é caracterizada pela aplicação

de vinhaça (fertirrigação) e torta de filtro no

cultivo da cana-de-açúcar (OMETTO, 2005).

Uma visão moderna do setor,

considerando as suas principais estruturas,

entradas e produtos encontra-se resumida na

Figura 5.

Figura 3: Práticas de GSCM (Fonte: Vários autores)

Código Práticas de Green Supply Chain Management

GSCM01 Comprometimento de GSCM de gestores seniores

GSCM02 Suporte para GSCM de gerentes de nível médio

GSCM03 Cooperação inter-funcional para melhorias ambientais

GSCM04 Gestão ambiental da qualidade total

GSCM05 Cumprimento da legislação ambiental e programas de auditoria

GSCM06 Certificação ISO 14.001

GSCM07 Existência de sistemas de gestão ambiental

GSCM08 Fornecer especificações de design para fornecedores que incluem exigências ambientais para o item comprador

GSCM09 Cooperação com os fornecedores para objetivos ambientais

GSCM10 Auditorias ambientais para a gestão interna de fornecedores

GSCM11 Certificação ISO 14.001 dos fornecedores

GSCM12 Avaliação de práticas ambientais de fornecedores de segunda camada

GSCM13 Cooperação com o cliente para o eco-design

GSCM14 Cooperação com os clientes para a produção mais limpa

GSCM15 Cooperação com os clientes para utilização de embalagens “verdes”

GSCM16 Recuperação do investimento (venda) do excesso de estoques / materiais

GSCM17 Venda de sucata e materiais usados

GSCM18 Venda de bens de capital em excesso

GSCM19 Projeto de produtos para reduzir o consumo de materiais / energia

GSCM20 Design de produtos para reutilização, reciclagem e recuperação de materiais

GSCM21 Design de produtos a fim de evitar ou reduzir a utilização de resíduos perigosos de produtos no seu processo de fabricação

GSCM27 Colaboração

GSCM28 Monitoramento ambiental

GSCM29 Compras verdes

GSCM30 Elaboração de lista de controle de substâncias potencialmente perigosas

GSCM31 Perfil das matérias primas com substâncias proibidas

GSCM32 Tabela para avaliar a gestão ambiental em fornecedores

GSCM33 Informações para a certificação de produtos verdes

GSCM34 Mecanismos de auditoria para a gestão verde

GSCM35 Práticas de produção verde

GSCM36 Design verde (eco-design)

GSCM37 Fabricação (produção) de produtos verdes

GSCM38 Recuperação e reutilização de produtos usados

GSCM39 Padronização de produtos verdes

GSCM40 Implementação ambiental

GSCM41 Direcionamento ambiental positivo

GSCM42 Gestão da informação ambiental

GSCM43 Gestão ambiental global

GSCM44 Gestão do ciclo de vida

GSCM45 Teste de eficácia ambiental

GSCM46 Competências ambientais dos fornecedores

GSCM47 Eco-design

GSCM48 Avaliação de risco ambiental

GSCM49 Cumprimento das leis ambientais

GSCM50 Auditoria ambiental

Vachon e Klassen (2008)

Chien e Shih (2007)

Zheng (2010)

Zhu e Sarkis (2006) & Zhu, Sarkis e Lai (2008)

Gestão ambiental interna

Compras verdes

Cooperação com consumidores

Eco-design

Recuperação do investimento

Zhu e Sarkis (2004)

Gestão ambiental interna

Práticas GSCM externas (Green Operations)

Recuperação do investimento

Eco-design (Green Design)

Figura 4: Práticas de P+L (Fonte: Neto et al., 2015)

Código Práticas de Produção Mais Limpa

PL01 Planejamento e controle da produção com educação ambiental

PL02 Cocriação com o cliente para conhecer os atributos ambientais para a concepção de produtos e/ou prover mudança incremental no existente

PL03 Projeto do produto ecoeficiente visando o uso de materiais ecológicos

PL04 Projeto do produto para remanufatura, reúso e reciclagem

PL05 Projeto do processo produtivo ecoeficiente

PL06 Auditoria e controle da poluição na manufatura

PL07 Investimento de pesquisa e inovação sobre práticas de sustentabilidade na produção

PL08 Cocriação com fornecedores para o desenvolvimento de matérias-primas e componentes ecológicos

PL09 Critérios qualificadores e ganhadores de pedidos ambientais para a compra e seleção de fornecedores sustentáveis

PL10 Auditoria ambiental nos fornecedores

PL11 Utilizar embalagens ecológicas nos produtos para a redução do impacto ambiental

PL12 Considerar questões ambientais no gerenciamento da cadeia de suprimentos

PL13 Logística Reversa de pós-consumo e pós venda para reuso, remanufatura e reciclagem

PL14 Redução de riscos ambientais externos à organização por meio de controle de resíduos e emissões na fabricação

PL15 Método de avaliação do fator de intensidade de material para minimizar e controlar a geração de resíduos e emissões na produção

PL16 Procedimento de avaliação do ciclo de vida na concepção do projeto do produto

PL17 Análise de risco ambiental do produto/produção

PL18 Prevenção à Poluição – P2

PL19 Projeto das redes logísticas especializadas

PL20 Ecologia Industrial

PL21 Indicador de investimento em treinamento sobre educação ambiental na produção

PL22 Indicador de custo operacional devido à compra de produtos com selo verde

PL23 Processo de avaliação do desempenho ambiental ampliado (ADAA)

PL24 O método Sellitto, Borchardt e Pereira

PL25 Implementação da P+L e auditorias para avaliar se o roteiro de ações está sendo cumprido

PL26 Tecnologia da informação na Cadeia de Suprimentos Verde

PL27 A existência de sistema de gestão ambiental com certificação ISO 14001 e Eco-Management Audit System (EMAS) no sistema produtivo

PL28 A existência de norma de rotulagem ambiental nos produtos fabricados

PL29 A existência de norma (AA1000) que trata aspectos da inclusividade dos stakeholders nas decisões operacionais

PL30 Implementar tecnologias mais limpas no sistema produtivo para prevenção da poluição

Neto et. al (2015)

Figura 5: Entradas e Saídas de uma unidade sucroenergética (Fonte: Esalq, 2015)

De um modo geral, a cadeia de valor do

setor de açúcar e álcool envolve fornecedores

de cana-de-açúcar, fertilizantes, defensivos

agrícolas, combustíveis, corretivos de solo,

insumos industriais, transportadoras,

equipamentos agrícolas e industriais, energia

e serviços. (OMETTO, 2005; CHAGAS et al.,

2015).

As atividades desenvolvidas pelo setor

apresentam potenciais impactos ambientais

que, se gerenciados de forma adequada,

podem ser mitigados e, ao mesmo tempo,

gerar ganhos ambientais e econômicos para o

negócio. De acordo com Alvarenga e Queiroz

(2009) apud Langowski (2007), os principais

impactos ambientais da cadeia de produção

de açúcar e álcool são:

Código Principais Impactos do Setor

Sucroenergético

I1 Perda de biodiversidade causada pelo desmatamento e pela implantação da monocultura

I2

Contaminação das águas superficiais e do solo devido à aplicação de fertilizantes, corretivos minerais e herbicidas

I3

Compactação do solo por conta do tráfego de maquinaria pesada durante o plantio, os tratos culturais e a colheita

I4 Assoreamento de corpos d’água devido à erosão do solo em áreas de renovação de lavoura

I5 Alteração da qualidade do ar devido à emissão de fuligem e contribuição para o efeito estufa devido à

emissão gases de efeito estufa na queima controlada ou incêndios

I6 Degradação da qualidade da água e solo devido à aplicação de vinhaça e torta de filtro

I7 Consumo intenso de água para o processamento industrial da cana de açúcar

Figura 6: Impactos ambientais causados pelo setor sucroenergético (Fonte: Alvarenga e Queiroz, 2009

apud Langowski, 2007)

Cetesb (2002) apresenta algumas

medidas de P+L específicas para aplicação no

setor de açúcar e álcool. Conforme Soares

(2004), o pleno aproveitamento energético da

cana-de-açúcar, para além do etanol e do

açúcar obtidos de forma convencional, está

ligado ao atual conceito de biorrefinaria, que

transformam estas matérias vegetais em

subprodutos para atender às necessidades do

consumo moderno, de forma sustentável e

com o mínimo de impacto ambiental.

5. Aplicação de práticas de GSCM e

P+L no setor sucroenergético

A análise de aplicação das práticas de

GSCM e P+L no setor sucroenergético teve

como referência a revisão bibliográfica de

conceitos e práticas realizada neste artigo.

Primeiramente, foi realizada análise

comparativa simples entre as práticas de

GSCM da Figura 3, provenientes de diversos

autores, com aquelas de P+L propostas por

Neto et al. (2015), retratadas na Figura 4.

Entre estas duas listas-mestras, foram

identificadas relações de conteúdo na Figura

8, conforme critérios descritos em formato de

legenda (Figura 7).

Figura 7: Critérios adotados para comparação entre práticas de GSCM e P+L (Fonte: os autores)

Após estabelecer os vínculos conceituais

entre as categorias de GSCM e P+L, propôs-

se uma tabela única (Figura 9) contendo

práticas de gestão ambiental que podem

contribuir para a melhoria na performance

ambiental de uma organização. Esta tabela

unificada é fruto da fusão das práticas de

GSCM e P+L encontradas na literatura e que

passaram pelo processo de análise

comparativa com base nos critérios da

legenda da Figura 7.

Stefanelli (2014) apontou que uma das

limitações de sua pesquisa foi justamente o

conjunto de práticas, no caso, de GSCM

existente, que foi originado de pesquisadores

internacionais. O autor alega que este

conjunto pode possuir práticas não aderentes

ao contexto brasileiro, e ressalta a

possibilidade de abertura para a proposição

de novos modelos adaptados à realidade

nacional.

Na sequência, foram avaliadas cada uma

das práticas propostas na lista unificada da

Figura 9 frente a alguns parâmetros acerca

das características da cadeia de valor do setor

sucroenergético. Para cada uma das práticas

foram avaliadas as seguintes perguntas:

Aplicável ao setor sucroenergético?

o Sim / Não

Em qual elo da cadeia de valor?

o Fornecimento agrícola

o Fornecimento industrial

o Usina

o Transporte e logística

o Comercialização

6. Discussão

A comparação realizada entre as práticas

de GSCM e P+L demonstrou a existência de

uma grande sinergia entre as duas

abordagens. De um total de 80 práticas

consideradas, apenas 20% foram

consideradas exclusivas, sendo 9% para

GSCM e 11% para P+L.

Um total de 18% das práticas analisadas

foram consideradas idênticas, 56% foram

consideradas complementares e 6%

unificadas por se tratarem do mesmo tema

dentro de uma mesma abordagem (GSCM ou

P+L).

Para a avaliação de unificação das

abordagens, cinco práticas foram

desconsideradas devido à falta de definições

claras sobre os seus conceitos, como foi o

caso de “Direcionamento ambiental positivo” e

“O método Sellitto, Borchardt e Pereira”;

devido ao alto grau de subjetividade, no caso

de “Considerar questões ambientais no

gerenciamento da cadeia de suprimentos”; e

devido à alta especificidade das práticas, no

caso de “Método de avaliação do fator de

intensidade de material para minimizar e

controlar a geração de resíduos e emissões

E

Prática exclusiva da respectiva

abordagem (GSCM ou P+L): não

há prática análoga no conjunto

da outra abordagem

I

Práticas idênticas: não há

nenhuma diferença entre elas

em termos teóricos e práticos

C

Práticas complementares: há

proximidade em termos

teóricos, mas cada uma tem

sua própria forma de

operacionalização

na produção” e “Indicador de investimento em

treinamento sobre educação ambiental na

produção”.

A unificação das abordagens de GSCM e

P+L resultou em um total de 27 práticas,

sendo que duas não são aplicáveis para o

setor sucroenergético. Essas práticas são

“Parceria com clientes para Eco-design” e

“Projeto do Produto para remanufatura, reuso

e reciclagem”. A não aplicabilidade destas

práticas ao setor analisado ocorre por conta

das características dos produtos

comercializados, como açúcar, etanol,

energia, dentre outros, pois não representam

uma categoria de bens duráveis para os quais

a aplicação de técnicas de Eco-design e

remanufatura, reuso e reciclagem são

importantes no aumento da eficiência

ambiental. Sendo assim, os resultados

mostraram que 25 das práticas unificadas

podem ser consideradas aplicáveis ao setor.

A avaliação das práticas para cada elo da

cadeia de valor do setor resultou no seguinte

percentual de aplicabilidade:

o Fornecimento agrícola: 32%

o Fornecimento industrial: 32%

o Usina: 80%

o Transporte e logística: 12%

o Comercialização: 24%

A distribuição em porcentagem demonstra

a abrangência para todos os elos da cadeia de

valor em relação aos temas considerados nas

abordagens de GSCM e P+L, sendo que a

maior aplicabilidade avaliada é referente à

Usina e a menor ao Transporte e Logística.

As práticas que englobam todos os cinco

elos da cadeia de valor são “Gestão do Ciclo

de Vida do Produto” e “Engajamento com

partes interessadas relacionadas a práticas

de gestão ambiental”. Em um cenário

competitivo no qual o setor está inserido, as

empresas têm sido cada vez mais

pressionadas para buscar uma relação

positiva com todas as suas partes

interessadas (clientes, acionistas, sociedade

e governo) de forma a atender as demandas

da sociedade, reduzir riscos para a operação

e gerar valor ao negócio. Nesta mesma linha,

a avaliação do ciclo de vida de produtos se

tornou um requisito importante de mercado

para o setor. Um exemplo disso são as

exigências e concessões de benefícios para a

exportação de etanol aos Estados Unidos com

níveis menores de intensidade carbônica na

cadeia de valor, conforme regulamentações

da Agência Ambiental Americana (EPA) e do

Órgão Regulamentador de Emissões

Atmosféricas da Califórnia (CARB). A

transversalidade em toda a cadeia de valor é

uma característica intrínseca às duas práticas

comentadas.

Para a Usina, as principais práticas

identificadas estão relacionadas com a gestão

ambiental interna, como o comprometimento

da liderança e cooperação inter-funcional para

melhorias ambientais, implementação de

sistema de gestão ambiental baseado na NBR

ISO 14.001, monitoramento, cumprimento da

legislação, auditoria ambiental interna,

acompanhamento de planos de ação, controle

de substâncias perigosas adquiridas,

avaliação de riscos e desempenho ambiental,

educação ambiental e investimentos em

inovação. O uso e controle de substâncias

perigosas é particularmente importante no

setor. A larga aplicação de defensivos

agrícolas como insumo dos processos possui

alta capacidade de geração de impactos

ambientais.

Em relação aos elos de fornecimento

agrícola e industrial, verifica-se que as

práticas podem ser inseridas tanto em uma

busca por conformidade quanto por meio de

relações de colaboração e parceria com os

fornecedores. Por exemplo, “Auditoria

ambiental nos fornecedores” e “Critérios de

meio ambiente para seleção de fornecedores”

consistem em práticas que estabelecem uma

relação de conformidade entre empresa e

fornecedor, ao passo em que as práticas de

“Parceria com fornecedores para melhorias

ambientais dos produtos fornecidos” e

“Parceria com cadeia de suprimentos para

implantação de práticas de Ecologia

Industrial” criam uma relação de colaboração

entre os elos. Como exemplos de uma relação

de colaboração, pode-se citar a busca de

fertilizantes orgânicos, as parcerias em

pesquisa e inovação e a aplicação controlada

de vinhaça como fertilizante em áreas de

fornecedores de cana.

O elo de Comercialização pode ter

aplicação de práticas que estabelecem

vínculos com os clientes, tais como “Parceria

com clientes para implementação de

tecnologias mais limpas”, “Parceria com

clientes para utilização de embalagens

verdes” e “Recuperação, reutilização, venda e

logística reversa de produtos e materiais

usados”. Como exemplos, podem ser citados

a destinação de resíduos ou subprodutos para

indústrias de outros segmentos,

benchmarkings para conhecimento de

tecnologias avançadas utilizadas por clientes,

parcerias para melhoria de processo a fim de

atender a exigências ambientais do cliente e

também agregar mais valor ao produto, dentre

outras práticas. Acerca da aplicação das

práticas neste elo, pode-se dizer que existe

grande potencial de desenvolvimento. No

caso do setor sucroenergético, entende-se

que há maiores dificuldades na aplicação

destas práticas, pois os produtos oferecidos

ao mercado caracterizam-se como bens de

consumo, o que limita inovações no produto

final.

Para o elo Transporte e logística, a prática

especificamente aplicável é o “Projeto de

redes logísticas otimizadas”. Esta prática

pode ser exemplificada pelo transporte da

cana-de-açúcar em raios menores entre a

área agrícola e a usina, o que promove, além

das melhorias operacionais e redução de

custos, uma performance ambiental mais

eficiente devido à redução no consumo de

combustíveis fósseis e consequentes

emissões de poluentes atmosféricos. Além

disso, a mesma rede logística utilizada para

transporte de produtos acabados pode ser

otimizada para retornar com insumos de

processo ou outros equipamentos.

Figura 8: Comparação entre práticas de GSCM e P+L (Fonte: os autores)

Código Prática GSCM Código Prática P+L Relação Código da Prática unificada

GSCM01 Comprometimento de GSCM de gestores seniores - -

GSCM02 Suporte para GSCM de gerentes de nível médio - -

GSCM03 Cooperação inter-funcional para melhorias ambientais - - E U02

GSCM04 Gestão ambiental da qualidade total

GSCM06 Certificação ISO 14.001

GSCM07 Existência de sistemas de gestão ambiental

GSCM42 Gestão da informação ambiental

GSCM43 Gestão ambiental global

GSCM05 Cumprimento da legislação ambiental e programas de auditoria

GSCM49 Cumprimento das leis ambientais

GSCM08Fornecer especificações de design para fornecedores que incluem

exigências ambientais para o item comprado

GSCM09 Cooperação com os fornecedores para objetivos ambientais

GSCM10 Auditorias ambientais para a gestão interna de fornecedores

GSCM12 Avaliação de práticas ambientais de fornecedores de segunda camada

GSCM34 Mecanismos de auditoria para a gestão verde

GSCM11 Certificação ISO 14.001 dos fornecedores C

GSCM29 Compras verdes I

GSCM32 Tabela para avaliar a gestão ambiental em fornecedores C

GSCM46 Competências ambientais dos fornecedores C

GSCM13 Cooperação com o cliente para o eco-design I

GSCM47 Eco-design C

GSCM21Design de produtos a fim de evitar ou reduzir a utilização de resíduos

perigosos de produtos no seu processo de fabricaçãoC

GSCM19 Projeto de produtos para reduzir o consumo de materiais / energia C

GSCM36 Design verde (eco-design) C

GSCM14 Cooperação com os clientes para a produção mais limpa PL30

Implementar tecnologias mais

limpas no sistema produtivo para

prevenção da poluição

C U09

GSCM15 Cooperação com os clientes para utilização de embalagens “verdes” PL11

Utilizar embalagens ecológicas

nos produtos para a redução do

impacto ambiental

C U10

GSCM16 Recuperação do investimento (venda) do excesso de estoques / materiais

GSCM17 Venda de sucata e materiais usados

GSCM18 Venda de bens de capital em excesso

GSCM38 Recuperação e reutilização de produtos usados

GSCM20Design de produtos para reutilização, reciclagem e recuperação de

materiaisPL04

Projeto do produto para

remanufatura, reúso e

reciclagem

I U12

GSCM27 Colaboração PL20 Ecologia Industrial C U13

GSCM28 Monitoramento ambiental - - E U14

C

E

C

U01

U03

U04

U05

U06

U07

U08

U11

PL09

Critérios qualificadores e

ganhadores de pedidos

ambientais para a compra e

seleção de fornecedores

PL02

Cocriação com o cliente para

conhecer os atributos ambientais

para a concepção de produtos

e/ou prover mudança

incremental no existente

PL13

Logística Reversa de pós-

consumo e pós venda para reuso,

remanufatura e reciclagem

PL27

A existência de sistema de

gestão ambiental com

certificação ISO 14001 e Eco-

Management Audit System

(EMAS) no sistema produtivo

PL10Auditoria ambiental nos

fornecedoresI

- - E

PL08

Cocriação com fornecedores para

o desenvolvimento de matérias-

primas e componentes

C

Figura 8: Comparação entre práticas de GSCM e P+L (Fonte: os autores) - Cont.

Código Prática GSCM Código Prática P+L Relação Código da Prática unificada

GSCM30 Elaboração de lista de controle de substâncias potencialmente perigosas

GSCM31 Perfil das matérias primas com substâncias proibidas

GSCM33 Informações para a certificação de produtos verdes PL22

Indicador de custo operacional

devido à compra de produtos

com selo verde

C U16

GSCM35 Práticas de produção verde PL05Projeto do processo produtivo

ecoeficienteI

GSCM37 Fabricação (produção) de produtos verdes PL03

Projeto do produto ecoeficiente

visando o uso de materiais

ecológicos

C

GSCM39 Padronização de produtos verdes PL28

A existência de norma de

rotulagem ambiental nos

produtos fabricados

C

GSCM40 Implementação ambiental PL25

Implementação da P+L e

auditorias para avaliar se o

roteiro de ações está sendo

cumprido

I U18

GSCM41 Direcionamento ambiental positivo - - E N/A

GSCM44 Gestão do ciclo de vida PL16

Procedimento de avaliação do

ciclo de vida na concepção do

projeto do produto

C U19

GSCM45 Teste de eficácia ambiental PL23

Processo de avaliação do

desempenho ambiental

ampliado (ADAA)

C U20

PL14

Redução de riscos ambientais

externos à organização por meio

de controle de resíduos e

emissões na fabricação

C

PL17Análise de risco ambiental do

produto/produçãoC

GSCM50 Auditoria ambiental PL06Auditoria e controle da poluição

na manufaturaC U22

U15

U17

U21GSCM48 Avaliação de risco ambiental

PL18 Prevenção à Poluição – P2 C

Figura 8: Comparação entre práticas de GSCM e P+L (Fonte: os autores) - Cont.

Código Prática GSCM Código Prática P+L Relação Código da Prática unificada

- - PL01

Planejamento e controle da

produção com educação

ambiental

E U23

- - PL07

Investimento de pesquisa e

inovação sobre práticas de

sustentabilidade na produção

E U24

- - PL12

Considerar questões ambientais

no gerenciamento da cadeia de

suprimentos

E N/A

- - PL15

Método de avaliação do fator de

intensidade de material para

minimizar e controlar a geração

de resíduos e emissões na

produção

E N/A

- - PL19Projeto das redes logísticas

especializadasE U25

- - PL21

Indicador de investimento em

treinamento sobre educação

ambiental na produção

E N/A

- - PL24O método Sellitto, Borchardt e

PereiraE N/A

- - PL26Tecnologia da informação na

Cadeia de Suprimentos VerdeE U26

- - PL29

A existência de norma (AA1000)

que trata aspectos da inclusão

dos stakeholders nas decisões

operacionais

E U27

Figura 9: Práticas unificadas de GSCM e P+L e análise de aplicabilidade ao setor sucroenergético (Fonte: os autores)

Código Práticas para Melhoria da Performance AmbientalAplicável ao setor

sucroenergético?

Em qual elo da cadeia de valor a

prática pode ser aplicada?

U01 Comprometimento da liderança em práticas de gestão ambiental Sim o Usina

U02 Cooperação inter-funcional para melhorias ambientais Sim o Usina

U03 Sistema de Gestão Ambiental baseado na NBR ISO 14.001 Sim o Usina

U04 Cumprimento de legislação ambiental Sim o Usina

U05 Parceria com fornecedores para melhorias ambientais dos produtos fornecidos Sim

o Fornecimento agrícola

o Fornecimento industrial

o Usina

U06 Auditoria ambiental nos fornecedores Simo Fornecimento agrícola

o Fornecimento industrial

U07 Critérios de meio ambiente para seleção de fornecedores Simo Fornecimento agrícola

o Fornecimento industrial

U08 Parceria com clientes para eco-design Não -

U09 Parceria com clientes para implementação de tecnologias mais limpas Sim o Comercialização

U10 Parceria com clientes para utilização de embalagens "verdes" Sim o Comercialização

U11 Recuperação, reutilização, venda e logística reversa de produtos e materiais usados Sim

o Fornecimento agrícola

o Fornecimento industrial

o Usina

o Comercialização

U12 Projeto do produto para remanufatura, reúso e reciclagem Não -

U13 Parceria com cadeia de suprimentos para implantação de práticas de Ecologia Industrial Sim

o Fornecimento agrícola

o Fornecimento industrial

o Usina

o Comercialização

U14 Monitoramento ambiental Sim o Usina

U15 Inventário e controle de substâncias perigosas Sim o Usina

U16 Certificação ambiental de produtos Sim o Usina

U17 Projeto de processo e produto ecoeficientes Sim o Usina

U18 Estabelecimento e acompanhamento de planos de ação para melhorias ambientais Sim o Usina

U19 Gestão do ciclo de vida do produto Sim

o Fornecimento agrícola

o Fornecimento industrial

o Usina

o Transporte e logística

o Comercialização

U20 Processo de avaliação do desempenho ambiental da companhia Sim o Usina

U21 Avaliação de risco ambiental Sim o Usina

U22 Auditoria ambiental interna Sim o Usina

U23 Planejamento e controle da produção com educação ambiental Sim o Usina

U24 Investimento de pesquisa e inovação para melhorias ambientais da companhia Sim o Usina

U25 Projeto de redes logísticas otimizadas Sim o Transporte e logística

U26 TI verde na cadeia de suprimentos Sim

o Fornecimento agrícola

o Fornecimento industrial

o Usina

U27 Engajamento com partes interessadas relacionadas a práticas de gestão ambiental Sim

o Fornecimento agrícola

o Fornecimento industrial

o Usina

o Transporte e logística

o Comercialização

7. Conclusões

O presente trabalho buscou,

primeiramente, compreender o grau de

semelhança entre as abordagens de Green

Supply Chain Management e Produção Mais

Limpa, tendo sido possível concluir que há

alto grau de sinergia entre elas. As práticas

levantadas na literatura e comparadas

conforme critérios de exclusividade,

complementaridade e semelhança,

permitiram apresentar uma lista de 27 práticas

unificadas.

Esta grande semelhança indica a

necessidade de se deixar mais clara a

distinção da terminologia destas abordagens

nas publicações científicas, já que existe

sobreposição de termos e práticas adotadas

em ambas. Diante do exposto, verificou-se

também certa confusão de conceitos, por

exemplo, a presença de eco-design como

prática de P+L, o que não faz sentido visto que

a P+L é uma abordagem de gestão do

processo produtivo, sendo o eco-design uma

ferramenta de projeto de produto. É possível,

então, levantar algumas questões. Quais são

as fronteiras de cada uma destas

abordagens? Visto que o GSCM é um

conceito que também trabalha a gestão

ambiental interna, qual a diferença com a

adoção de práticas de P+L?

Em uma análise das 27 práticas

unificadas, foi possível identificar 25

aplicáveis ao setor sucroenergético. Estas

estão distribuídas em todos os elos da cadeia

de valor, com maior aplicabilidade ao elo do

processo produtivo (Usina), e menor

aplicação ao elo de Transporte e logística.

Todas as práticas listadas têm o potencial

de aumentar a eficiência ambiental do setor e

atender a requisitos legais e de mercado. Por

conta do tipo de produto ofertado por este

segmento (commodities), a diferenciação de

uma empresa neste setor torna-se mais

limitada. Além de critérios de qualidade e

preço, a gestão ambiental tem potencial ou já

pode ser considerada fator de diferencial

competitivo para empresas do setor. Este

diferencial poderá ser alcançado conforme o

grau de aplicação das práticas de gestão

ambiental tratadas neste trabalho.

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