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Fevereiro de 2012

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Page 1: Grandes Culturas - Cultivar 153
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Ofensiva branca.........................14O que fazer diante do avanço do mofo branco nas áreas de produção de soja

Destaques

Índice

Diretas 04

Controle de perdas em adubação 06

Manejo outonal da buva 09

Mancha de ramulária em algodão 12

Mofo branco em soja 14

Podridão do caule em soja 18

Como planejar a safrinha de milho 22

Desempenho de cultivares de trigo 26

Pulgão-da-raiz em arroz 30

Manejo de carbono em cana-de-açúcar 32

Sistema para auxiliar no licenciamento ambiental 34

Coluna ANPII 36

Coluna Agronegócios 37

Mercado Agrícola 38

Janela aberta.....................................22Como planejar bem o plantio do milho safrinha e aproveitar o momento favorável ao cultivo

Expediente

Cultivar Grandes Culturas • Ano XIV • Nº 153 • Fevereiro 2012 • ISSN - 1516-358X

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: [email protected]

Grupo Cultivar de Publicações Ltda.CNPJ : 02783227/0001-86Insc. Est. 093/0309480Rua Sete de Setembro, 160, sala 702Pelotas – RS • 96015-300

DiretorNewton Peter

[email protected]

Assinatura anual (11 edições*): R$ 157,90(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 17,00Assinatura Internacional:US$ 130,00Euros 110,00

Nossos Telefones: (53)

Nossa capa

Contra a ramulária......................12As estratégias para combater a doença, cujo ataque tem ocorrido mais cedo e de forma mais agressiva em algodoeiro

Sem errar..................................30A importância de identificar corretamente os sintomas do pulgão-da-raiz em lavouras de arroz irrigado

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

• Geral3028.2000• Assinaturas:3028.2070• Redação:3028.2060

• Comercial:3028.20653028.20663028.2067

REDAÇÃO• Editor

Gilvan Dutra Quevedo• Redação

Carolina S. SilveiraJuliana Leitzke

• Design Gráfico e DiagramaçãoCristiano Ceia

• RevisãoAline Partzsch de Almeida

MARKETING E PUBLICIDADE• Coordenação

Charles Ricardo Echer• Vendas

Pedro Batistin

Sedeli FeijóJosé Luis Alves

CIRCULAÇÃO• Coordenação

Simone Lopes• Assinaturas

Natália RodriguesFrancine SoaresFrancine Martins

• ExpediçãoEdson Krause

GRÁFICAKunde Indústrias Gráficas Ltda.

Charles Echer

Page 4: Grandes Culturas - Cultivar 153

04 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Diretas

Gerhard Bohne

CapacitaçãoAs culturas de soja, milho e algodão serão o foco da segunda edição do Approach Técnico, capacitação oferecida pela Syngenta a Represen-tantes Técnicos de Vendas (RTVs). O cronograma começa em Mato Grosso e se encerra em Rio Verde, Goiás, em março. O treinamento ocorre em parceria com o Instituto Phytus, que através do Núcleo de Ensino acompanha e realiza a gestão técnica do programa.

MarketingRodrigo Egéa de Miran-da assumiu a função de diretor de Marketing da Milenia Agrociências. Será o responsável por todo o marketing de produto, de clientes, imagem e comu-nicação corporativa, além de desenvolvimento de novos produtos, inovação e suporte a mercados. Rodrigo Egéa de Miranda

Time A FMC é patrocinadora oficial do XV de Piracicaba, no campeonato paulista. Em janeiro, Antonio Carlos Zem, presidente da FMC América Latina, Carlos Alberto Batista, diretor de Vendas, e Mar-celo Magurno, gerente de Cana assistiram à partida de abertura da competição.

NegóciosO diretor de Marketing da FMC, Walter Costa, acaba de assumir a posição de diretor de Negócios Bra-sil. Além de continuar no comando de Estratégia e Marketing, passa a respon-der pelas áreas de Inovação (Desenvolvimento de Pro-duto e Desenvolvimento de Formulação) e Desen-volvimento de Novos Ne-gócios.

ConselhoO diretor de Desenvolvimento de Negócios e Portfólio para a Améri-ca Latina, na DuPont, João Sereno Lammel foi reconduzido ao cargo de presidente do Conselho Diretor da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) para o biênio 2012-2013. Integram também o Conselho os vice-presidentes Laércio Giampani, diretor geral da Syngenta no Brasil, e Eduardo Leduc, diretor de Negócios de Proteção de Cultivos da Basf.

PresençaA Dow AgroSciences participou, pelo 11º ano consecutivo, do Dia de Campo da C. Vale, em janeiro, em Palotina, no Paraná. O herbicida Spider, os híbridos de milho 2B587, 2B433 e 2B707 e um simulador de deriva para demonstrar aos agricultores e téc-nicos a importância das condições de aplicação dos agroquímicos estiveram entre os destaques da empresa no evento.

ParticipaçãoA Basf apresentou no Dia de Campo C. Vale as versões 2.0 e mobile do Digilab. O equipamento auxilia o agricultor na iden-tificação dos sintomas das principais doenças em diferentes culturas, por meio de um microscópio digital que captura a imagem, aumentando-a em até 200 vezes. O fungicida Abacus HC, destinado à cultura de milho, e o Sistema AgCelence Soja Produtividade Top também foram destaques da empresa no evento.

Mais MilhoA Bayer CropScience participou do XI Seminário Nacional Milho Safrinha em Lucas do Rio Verde (MT), onde destacou o Muito Mais Milho, progra-ma que oferece aos produtores soluções para o manejo integrado das lavouras, com destaque para o fungicida Nativo e o herbicida Soberan. “A produção do milho na safrinha já se tornou muito relevante para o agricultor, mas só por meio da adoção de tecnologias e mane-jo adequado das lavouras se consegue atingir os resultados esperados”, destaca Renato Bertuqui, gerente de Cultura Soja da Bayer CropScience e responsá-vel por cultivos de rotação, como milho safrinha, na região dos Cerrados.

ErrataNo caderno técnico sobre efeito fisiológico de fungicidas, en-cartado na edição 152, Especial 2011, cometemos um equívoco ao identificar os tratamentos realizados, na legenda da foto do canto inferior esquerdo da página 15. A imagem compara o efeito do tratamento de sementes associado à aplicação de fungicidas na parte aérea (R3 + R5) sobre a emergência de plântulas de soja.

João Sereno Lammel

Walter Costa

Renato Bertuqui

Carlos Alberto Batista, Marcelo Magurno e Antonio Carlos Zem

Page 5: Grandes Culturas - Cultivar 153
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06 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Nutrição

A adubação é um componente de grande importância na produ-ção agrícola, pois proporciona

ganhos elevados de produtividade quando realizada corretamente. Para que essa operação alcance sua eficiência máxima é necessário o conhecimento dos diferentes aspectos relacionados ao comportamento dos fertilizantes. Ressalte-se também que os custos dessa operação ocupam grande parcela da despesa do processo produtivo.

O manejo incorreto de fertilizantes tem impacto direto na nutrição de plan-tas, fator essencial para obtenção de altas produtividades. (Zavaschi, 2010)

A aplicação de conceitos básicos rela-tivos ao uso adequado dos fertilizantes, muitas vezes simples, pode levar o agri-cultor a resultados positivos na produção agrícola através da maximização da efici-ência desses insumos.

A adubação é, de uma forma simpli-ficada, o fornecimento da necessidade nutricional da cultura através de ferti-lizantes descontada a quantidade dos nutrientes que podem ser cedidos às plantas pelo solo. Para a definição correta da adubação é necessário considerar-se as perdas a que os fertilizantes estão sujeitos.

Os adubos nitrogenados, os fos-fatados e os potássicos são bastante suscetíveis a perdas. Em média, 40% a 70% de fertilizantes nitrogenados solúveis, 80% a 90% de fósforo e 50% a 70% de potássio, quando aplicados de forma inadequada, são perdidos para o ambiente sem serem absorvidos pelas plantas, o que provoca não só grandes perdas de recursos econômicos, mas também prejuízos ambientais em razão da poluição dos recursos hídricos e da atmosfera (Wu & Liu, 2008).

Controle de perdasResponsável por parcela importante das despesas do processo produtivo, a adubação exige

atenção e cuidados, sob pena de o manejo incorreto de fertilizantes comprometer a nutrição das plantas, impactar negativamente a produtividade e resultar em prejuízos econômicos e ambientais

PrinciPais formas de Perdas Antes das formas específicas de perdas,

torna-se necessário ressaltar a conservação do solo, que tem participação importantís-sima no uso eficiente de fertilizantes, pois a erosão carrega consigo os fertilizantes e corretivos aplicados.

Volatização Estão sujeitos a perdas por volatiliza-

ção, particularmente os adubos nitroge-nados amoniacais e amídicos aplicados em solos alcalinos.

A perda da ureia por volatilização da amônia ocorre da seguinte forma:

co(nH2 )2 (uréia) + H2o ---> (nH4 )2co3 ---> co2 + 2 nH3 (atmosfera) Perdas por volatilização de amônia

ocorrem, também, com fertilizantes ni-trogenados amoniacais, o que é explicado pela equação:

Jact

o

Page 7: Grandes Culturas - Cultivar 153

nH4 + H2o -----> H3o+ + nH3 (atmosfera)

Ghareschi (2010) apresenta dados de vários pesquisadores mostrando as altas perdas de N para a atmosfera por volati-lização de NH3 quando a ureia é aplicada na superfície dos solos: aproximadamente 20% a 40% de N aplicado em cana-de-açúcar, 16% a 44% do N em citros, 16% a 61% em pastagens. Outros estudos mos-traram perdas que variaram de 40% a 78% do N aplicado na superfície do solo.

As perdas por volatilização de amônia são maiores quanto mais altas as doses de nitrogênio aplicadas. A profundidade de aplicação do fertilizante também influen-cia suas perdas.

lixiViação ou percolação É a perda de nutrientes pela lavagem

do solo no sentido vertical com a água da chuva ou excesso de irrigação, carregando os nutrientes para as camadas mais pro-fundas do perfil do solo, fora do alcance das raízes.

Podem apresentar perdas por lixivia-ção os fertilizantes solúveis em água e os carreadores de ânions (íons negativos)

como (NO3)-, Cl-, SO4

2-, que não são ou são fracamente adsorvidos nas camadas superficiais do solo, onde, em geral, pre-dominam cargas negativas. Estão sujeitos a perdas por lixiviação os adubos nitroge-nados nítricos e os potássicos.

Desnitrificação Ocorre sob condições de falta de

oxigênio (arroz inundado, por exemplo) onde o nitrato (NO3)

- é reduzido a N2O ou N2 gasosos.

fixação O processo de fixação é a passagem

de formas solúveis do fósforo para formas insolúveis ou menos solúveis, não dispo-níveis às plantas.

O fósforo tem grande poder de fixação ao solo, fazendo com que a planta não consiga absorvê-lo. Isso ocorre principal-mente pela forte ligação do fósforo com o ferro e o alumínio ao solo. Estima-se que de 80% a 95% do fósforo que se adiciona no solo seja fixado e não disponível pela

planta e isso condiciona a fixação como uma perda (Alcarde et al, 1998).

como minimizar as PerdasNo Brasil, os fertilizantes nitrogena-

dos mais utilizados são a ureia, o nitrato de amônio e o sulfato de amônio. A eficiência de fertilizantes nitrogenados é muito variável, por serem sujeitos a perdas por volatilização, lixiviação, e desnitrificação.

A ureia, CO(NH2)2, adubo amídico, é

a primeira opção de uso entre os adubos nitrogenados. Quando adicionada ao solo, sofre hidrólise e se transforma em amônia que pode perder-se para a atmosfera.

Redução substancial das perdas por volatilização é alcançada pela simples in-corporação dos fertilizantes nitrogenados amoniacais ou amídicos em solos alcalinos ou calcários.

Dados de pesquisa mostram que perdas de 80% da ureia aplicada super-ficialmente no plantio direto e de 30% no plantio convencional tiveram grande

Conhecer o comportamento dos fertilizantes e realizar as operações de aplicação de forma correta são fundamentais para obter melhores resultados na adubação

Adubação no sulco de plantio

Fotos UFSCar

Page 8: Grandes Culturas - Cultivar 153

08 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

redução pela simples incorporação a 5cm/7cm de profundidade.

Portanto, nas adubações nitrogenadas com adubos amídicos (ureia) e amoniacais (sulfato de amônio, MAP, DAP e outros) os fertilizantes devem ser colocados no sulco de plantio e cobertos com aproxi-madamente 5cm de terra. Nas adubações em coberturas, quando não é possível a incorporação, recomenda-se a mistura do fertilizante com a camada superficial do solo.

Por outro lado, a incorporação me-cânica da ureia ao solo, além de mais demorada, apresenta maiores custos que a aplicação superficial. Ocorrem também outras dificuldades para incorporar o fertilizante em áreas com muita palha na superfície.

A indústria de fertilizantes procura alternativas para esses casos, desenvolven-do fertilizantes de liberação controlada, ou fertilizantes revestidos, que apresentam recobrimento dos fertilizantes tradicionais por substâncias orgânicas, inorgânicas ou polímeros, o que propicia uma barreira física contra a exposição do nutriente proporcionando fornecimento regular e contínuo de nutrientes às plantas e a re-dução de perdas por volatilização.

Inúmeros trabalhos de pesquisa de-monstram a eficiência dos fertilizantes nitrogenados revestidos em comparação com os nitrogenados convencionais.

controle De perDas por DesnitrificaçãoPerdas de nitrogênio gasoso pela redu-

ção do nitrato ocorrem nos solos sob condi-ções de excesso de água ou falta de O2.

Nestas condições, as perdas são mini-mizadas através de:

a) não utilização de fertilizantes nitro-genados na forma de nitratos;

b) drenagem do excesso de água e distribuição do fertilizante nitrogenado, seguindo-se o processo de inundação;

c) quando a drenagem da área não é possível, a forma mais eficiente de proce-der à adubação nitrogenada é a colocação de supergrânulos de ureia na zona de redução (enterrados a cerca de 10cm de profundidade).

controle De perDas por lixiViaçãoAs perdas por lixiviação que atingem

principalmente os adubos nitrogenados e os potássicos podem ser minimizadas através de parcelamento adequado dos fertilizantes solúveis, principalmente os nitrogenados e, em alguns casos, os potássicos.

Outra alternativa é a utilização de fertilizantes com disponibilidade mais controlada e solubilização mais coinci-dente com as necessidades da cultura. A distribuição dos fertilizantes solúveis em faixas estreitas em vez de sulcos também é recomendada.

Além destas técnicas, ressaltam-se ainda aquelas relacionadas à indução de

um maior desenvolvimento do sistema radicular em profundidade.

controle Das perDas por fixaçãoO processo de fixação, que pode re-

duzir drasticamente a oferta dos adubos fosfatados solúveis e reduzir a sua eficiên-cia, tem seu controle através de práticas como calagem adequada, que precipita o alumínio e o ferro, diminuindo as reações de precipitação do fósforo com esses ele-mentos, além de reduzir a adsorção pela geração de cargas negativas. Também são indicadas aplicações localizadas de fertilizantes fosfatados solúveis em sulcos ou faixas, evitando o contato íntimo das partículas de solo com os fertilizantes e facilitando o processo de difusão até as raízes. Outra estratégia é a aplicação na forma granulada.

comentários finaisEm síntese, as recomendações para

o uso adequado dos fertilizantes podem ser resumidas seguindo-se as seguintes “regras gerais” acompanhadas das reco-mendações apresentadas anteriormente:

• Conservação adequada do solo.• Análise química do solo para avalia-

ção das necessidades nutricionais. • Calagem para a disponibilização

dos nutrientes e diminuir a fixação de fósforo.

• Incorporação adequada dos fertili-zantes nitrogenados.

• Parcelamento das adubações nitro-genadas e potássicas.

• Fertilizantes fosfatados solúveis devem ser aplicados localizados (sulcos), na forma granulada.

Aplicação de adubo líquido em profundidade (esquerda) e operação com adubo líquido despejado no solo (direita)

Luiz Carlos Ferreira da Silva,Miguel Ângelo Maniero,José Carlos Casagrande eRubismar Stolf,CCA/UFSCar

Carga e descarga de adubo em big-bag

CC

Fotos UFSCar

Page 9: Grandes Culturas - Cultivar 153

Plantas daninhas

A seleção de populações de buva resistentes à aplicação de glifosato tem motivado a busca de alternativas para enfrentar essa planta daninha, que infesta lavouras de culturas como trigo, soja e milho, principalmente na entressafra. Dentre as estratégias se destaca a aplicação de herbicidas dessecantes e residuais, após a colheita da cultura de verão ou do milho safrinha

Manejo outonal

Cha

rles

Ech

er

A buva (Conyza bonariensis) é uma espécie de planta daninha nativa da América do Sul com frequente

ocorrência na Argentina, no Uruguai, no Paraguai e no Brasil. É uma planta anual que se reproduz por sementes, podendo produzir até 200 mil sementes por planta em condi-ções ambientais favoráveis (WU E Walher, 2006). Sua germinação, geralmente, ocorre no outono/inverno, com encerramento do ciclo no verão, caracterizando-se assim como uma

planta daninha de inverno e verão. Nas regiões Sul do Brasil, mais precisamente Paraná e Rio Grande do Sul, a buva se apresenta como im-portante planta daninha por infestar lavouras de trigo, soja, milho e ser a principal planta daninha no período de entressafra.

A partir da safra 2004 foi observado con-trole insatisfatório de buva após a aplicação de glifosato no manejo de pré-semeadura que antecede a semeadura da cultura da soja, no Rio Grande do Sul e no oeste do

estado do Paraná. Desde então, trabalhos de pesquisa foram direcionados para esclarecer quais eram as causas das falhas de controle de glifosato sobre a buva, uma vez que este herbicida controlava esta planta daninha com facilidade. Desta forma, foi comprovado que a ineficiência no controle se devia à seleção de biótipos de buva resistentes ao herbicida glifosato (Vargas et al, 2007).

Populações de plantas daninhas resisten-tes a herbicidas são selecionadas devido às apli-cações repetidas de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação. Neste caso, a introdução da tecnologia Roundup Ready intensificou as aplicações do glifosato, pelo fato de permitir o uso deste herbicida para o controle de plantas daninhas em pós-emergência da cultura da soja. Assim, juntamente com aumento do número de aplicação, ocorreu maior pressão de seleção de plantas daninhas resistentes e, como consequência da adoção desta tecnolo-gia, populações de buva resistente ao glifosato foram selecionadas.

Uma das alternativas de controle destas populações é a utilização de outros herbicidas em mistura com glifosato. Contudo, tem-se observado que para se obter controle satisfató-rio e economicamente viável, as aplicações de-vem ser realizadas antes que a buva ultrapasse o estádio de 16 centímetros de altura. No caso de plantas com estádios mais desenvolvidos as opções de controle se tornam mais caras, podendo, em alguns casos, não proporcionar controles eficientes (Blainski et al, 2009).

Portanto, para que se tenha um excelente controle dispondo de menos recursos finan-ceiros no manejo de pré-semeadura da soja, é importante garantir que a buva se apresente em estádio semelhante ou inferior a 16cm, no momento da dessecação. Entretanto, a ausên-cia de manejo no período de entressafra na região Sul do Brasil tem permitido que a buva se apresente com porte elevado no momento da dessecação, proporcionando, desta forma, um controle ineficaz além de ser observados em muitos casos problemas de rebrotes após a semeadura da cultura da soja.

Dentre as possibilidades de manejo da buva no período de entressafra, destaca-se o manejo outonal com uso de herbicidas

09www.revistacultivar.com.br • Fevereiro 2012

Page 10: Grandes Culturas - Cultivar 153

10 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Tabela 1 - Porcentagem de controle residual aos 60 e 75 dias após a aplicação de manejo outonal. campina da lagoa, paraná – 2009

Tratamentos e doses

T1- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 200g flumioxazina (ciclohexenodicarboximida)

T2- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 250g flumioxazina (ciclohexenodicarboximida)

T3- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina (ácido ariloxialca-nóico) + 150g flumioxazina (ciclohexenodicarboximida) + 80g clorimurom-etílico (sulfoniluréia)

T4- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina(ácido ariloxialcanóico) + 100g flumioxazina (ciclohexenodicarboximida)/2,0L glifosato-sal de

potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 100g flumioxazina (ciclohexenodicarboximida)

T5- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 0,8 L imazetapir (imidazolinona)

T6- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 80g clorimurom-etílico (sulfoniluréia)

T7- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 30g diclosulam (sulfonanilida triazolopirimidina)

T8- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 6g metsulfurom-metílico (sulfoniluréia)

t9- 2,0l glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8l 2,4-D-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 0,7 L sulfentrazona (triazolona)

T10- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina(ácido ariloxialcanóico)

% controle residual 60 daa96,50

97,00

97,50

89,00

12,50

95,75

98,50

18,75

61,50

0,00

% controle residual 75 daa (Pré-semeadura)

91,00

94,00

88,75

100,00

0,00

88,00

98,00

0,00

0,00

0,00

tabela 2 - altura da buva aos 60 e 75 dias após a aplicação de manejo outonal. campina da lagoa, paraná - 2009

Tratamentos e doses

T1- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 200g flumioxazina (ciclohexenodicarboximida)

T2- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 250g flumioxazina (ciclohexenodicarboximida)

T3- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina (ácido ariloxialca-nóico) + 150g flumioxazina (ciclohexenodicarboximida) + 80g clorimurom-etílico (sulfoniluréia)

T4- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 100g flumioxazina (ciclohexenodicarboximida)/2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina(ácido ariloxialcanóico) + 100g flumioxazina (ciclohexenodicarboximida)

T5- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 0,8 L imazetapir (imidazolinona)

T6- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 80g clorimurom-etílico (sulfoniluréia)

T7- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 30g diclosulam (sulfonanilida triazolopirimidina)

T8- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina(ácido ariloxialcanóico) + 6g metsulfurom-metílico (sulfoniluréia)

t9- 2,0l glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8l 2,4-D-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 0,7 L sulfentrazona (triazolona)

T10- 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-d-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico)

Buva 60 daa

6 cm

2 cm

5 cm

15 cm

15 cm

4 cm

2 cm

13 cm

15 cm

18 cm

Buva 75daa(Pré-semeadura)

11 cm

6 cm

8 cm

-

22 cm

9 cm

4 cm

20 cm

22 cm

28 cm

Blainski, Oliveira Júnior, Oliveira Neto e Constantin realizaram ensaios com herbicidas

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residuais. Este manejo consiste na aplicação de herbicidas dessecantes combinados com herbicidas residuais, após a colheita da cul-tura de verão ou do milho safrinha, sendo essa prática comum no Sul do Brasil. Desta forma, eliminam-se as plantas que emergem na área e se garante o controle de novos fluxos de germinação até o momento da dessecação. Não deixando, portanto, com que a buva se

desenvolva livremente neste período e venha causar problemas posteriores.

Dois pontos são fundamentais para a o êxito deste manejo. O primeiro seria a realização da aplicação quando a buva ainda estiver com tamanho adequado (<16cm), para garantir a eficácia de seu controle de pós-emergência. Sendo o segundo a utilização de um herbicida que apresente residual suficiente

para controlar os novos fluxos de emergência até o manejo de pré-semeadura, ou que faça com que a buva se apresente com tamanho dentro de limites controláveis.

Na Tabela 1 estão demonstrados os re-sultados de porcentagem de controle residual de buva, obtidos em experimento realizado em Campina da Lagoa, no estado do Paraná. Neste ensaio as aplicações herbicidas foram realizadas em julho de 2009, 15 dias após a colheita do milho safrinha, quando a buva ainda estava com altura inferior a 15cm, para avaliar quais herbicidas residuais apresenta-vam controle da daninha até a pré-semeadura da soja, ou proporcionasse com que a buva se encontrava com altura igual ou abaixo de 16cm.

Destaca-se que glifosato-sal de potássio (glicina substituída) e 2,4-D-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) foram usados para controlar as plantas de buva presentes na área (herbicidas dessecantes). Os herbicidas clorimurom-etílico (sulfonilureia), flumioxa-zina (ciclohexenodicarboximida) e diclosulam (sulfonanilida triazolopirimidina) foram opções eficientes para o manejo outonal de buva (Figura 1), por apresentarem elevados níveis de controle, além de permitirem que a daninha chegue com tamanho que facilite o controle no momento da dessecação de pré-semeadura da soja, ou seja, abaixo de 16cm (Tabela 2).

O tratamento 4, que foi composto de aplicação sequencial, onde foi aplicado novamente glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 2,4-D-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + flumioxazina (ciclohexe-nodicarboximida) aos 60 dias após a primeira aplicação quando o novo fluxo de buva tinha 13cm de altura, proporcionou controle total das plantas de buva e de outras plantas dani-

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Figura 1 - Controle da buva proporcionado pelos herbicidas 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-D-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) (A), sequencial de 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída)+ 0,8L 2,4-D-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 100g flumioxazina (ciclohexenodicarboximida) (B), 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-D-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 80g clorimurom-etílico (sulfoniluréia) (C) e 2,0L glifosato-sal de potássio (glicina substituída) + 0,8L 2,4-D-dimetilamina (ácido ariloxialcanóico) + 30g de diclosulam (sulfonanilida triazolopirimidina) aos 75 dias após a aplicação do manejo outonal (Pré-semeadura). Campina da lagoa, Paraná, 2009

nhas. Desta forma, não houve a necessidade de realizar nova dessecação antes da semeadura, apresentando, como vantagem, efeito residual que se estendeu após a semeadura da soja, con-trolando o primeiro fluxo de plantas daninhas que emergiram após a semeadura, evitando, assim, a matocompetição inicial.

Contudo, são vários os casos de plantas daninhas resistentes aos herbicidas inibidores da enzima ALS como chlorimuron-ethyl e diclosulam. Inclusive, há episódios de buva resistentes a estes herbicidas em outros países, causados pelo uso exclusivo destes produ-tos aliado à alta eficiência e ao longo efeito residual. Assim, se destaca cada vez mais a importância da rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação para prevenir novos casos de resistência. Desta forma, como flumioxazin tem como mecanismo de ação a inibição da protox, se apresenta como impor-tante herbicida para ser utilizado em rotação ou em mistura com os inibidores da ALS e prolongar o uso eficaz destas moléculas no manejo outonal da buva.Eder Blainski,Rubem Silvério de O. Júnior,Antonio Mendes de O. Neto eJamil Constantin,Napd/UEM

CC

Page 12: Grandes Culturas - Cultivar 153

Algodão

12 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Precoce e severaDe ocorrência frequente apenas no final do ciclo do algodoeiro, a ramulária passou a

surgir mais cedo e a provocar sérios danos à cultura no Brasil, em especial na região dos Cerrados. A combinação de aplicações de fungicidas com cultivares resistentes à doença é

opção viável do ponto de vista econômico e ambiental

O algodoeiro está sujeito à ação de aproximadamente 250 patógenos. Desse total, 221

são fungos, cuja importância relativa depende das condições edafoclimáticas, das cultivares utilizadas e da presença do agente causal patogênico (Mehta & Menten, 2006). Na região do Cerrado, em particular Mato Grosso, a doença mais importante, por ocorrer com maior frequência e severidade, causando se-veros danos e perdas, exigindo assim maiores esforços e gastos no manejo, é a mancha de ramulária. (Mehta & Menten, 2006; Suassuna & Coutinho, 2007).

O agente causal da mancha de ramulária é o fungo Ramularia areola. As temperaturas entre 12ºC e 32ºC, a s soc i adas à umidade re-lat iva acima de 80%, favo-recem a doença. O patógeno é dis-seminado através do vento, respingos de chuva e trânsito de máquinas na área, sobrevive sobre lesões em restos culturais e os esporos produzidos nestas condições constituem o inóculo primário; é comum o fungo sobreviver em plan-tas nativas

de algodão perene, sendo que há a necessidade de estudos para verificar se plantas daninhas são hospedeiro alternativo deste patógeno (Zambiasi & Belot, 2005).

No Brasil, até algum tempo atrás, a ramulária ocorria apenas no final do ciclo da cultura, sem implicar em perdas. Porém, com o aumento da área plantada com algodão no Cerrado, essa doença passou a surgir mais cedo, principalmente quando a copa da planta inicia o sombreamento intenso das fo-lhas mais velhas, aliadas às condições de alta umidade (Araújo, 2003; Suassuna & Coutinho, 2007).

SintomasOs sintomas se manifestam em

ambas as faces da folha, no início prin-cipalmente na face inferior, consistindo em lesões angulosas entre as nervuras, medindo geralmente de 1mm a 3mm, inicialmente de coloração branca, poste-riormente amarelada e de aspecto pulve-rulento, caracterizado pela esporulação do patógeno. As lesões multiplicam-se e ocupam quase todo limbo foliar, podendo necrosar após o período de esporulação do patógeno. Alta severida-de da doença induz à desfolha precoce nas plantas. Em períodos chuvosos podem ocorrer manifestações precoces chegando a provocar queda de folhas e apodrecimento de maçãs dos ramos mais próximos do solo (Gondim et al, 1999; Mehta & Menten, 2006).

ControleAtualmente a principal forma de

controle dessa doença é através da apli-cação de fungicidas, porém, existem

outras medidas como uso de rota-ção de culturas, para diminuir a

fonte de inóculo, emprego de cultivares com níveis de

resistência e manejo adequado da cultura quanto ao regulador

de crescimento e espa-çamento.

O controle quími-co é uma tática comu-mente empregada para contenção da doença,

devendo ser iniciado preventivamen-

te aos 30 dias após a emer-gência da cul-

tura ou assim que as primeiras

lesões forem iden-tificadas nas folhas

mais velhas. O mo-nitoramento constante

da lavoura é de extrema importância, uma vez que

as primeiras lesões são de difícil

Page 13: Grandes Culturas - Cultivar 153

cultivares de algodoeiro com resistência à mancha de ramulária e a aplicações de fungicidas. Assim, a resistência genéti-ca reduz a necessidade do número de aplicação de fungicidas para o controle efetivo da doença. Também é impor-tante relatar que mesmo em genótipos resistentes recomenda-se pelo menos uma ou duas aplicações de fungicidas durante o ciclo da cultura para auxiliar na manutenção dessa característica, porque há a possibilidade de surgimento e seleção de variantes do patógeno passí-veis de quebrar essa resistência genética em cultivares de algodoeiro.

para tomar a decisão sobre qual produto deve ser usado e quando aplicá-lo. Além desse conhecimento, o uso de maneira alternada de fungicidas com diferentes princípios ativos é fundamental, pois é uma estratégia eficaz para se evitar o aumento da frequência de isolados resistentes, dentro da população de R. areola (Suassuna & Coutinho, 2007).

O atraso no início da primeira apli-cação diminui a eficiência do controle, podendo, inclusive, ser economicamente inviável (Siqueri & Costa, 2003).

Níveis de infecção de Ramularia areola abaixo de 25% da área foliar da planta não resultam em perdas de pro-dutividade. Portanto, fungicidas que alcancem níveis de controle próximos a este patamar devem ser considerados eficientes (Cassetari Neto & Machado, 2005).

Uma opção economicamente e am-bientalmente viável é a associação de

13www.revistacultivar.com.br • Fevereiro 2012

Fotos IMAmt/José Medeiros

CC

A mancha de ramulária é a doença maisimportante na cultura do algodão, no Cerrado

identificação antes de ocorrer esporula-ção. Nos últimos anos houve aumento na incidência e severidade de ramulária nas lavouras do estado de Mato Grosso. Com isso, atualmente realiza-se em média cinco aplicações de fungicidas no controle da doença durante a safra, sendo que em alguns casos pode-se chegar a até oito aplicações.

Ensaios realizados nas últimas sa-fras pelo Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMAmt), demonstraram que os fungicidas mais eficientes no controle de ramulária pertencem ao grupo dos triazóis e triazóis + estrobilurinas.

Os primeiros sintomas da doença surgem geralmente com o início da fase reprodutiva da planta. Em geral, entre o aparecimento do primeiro botão floral até a abertura da primeira flor. Os da-nos causados pela doença estendem-se até o final do ciclo da cultura, sendo mais expressivos entre o início do flo-rescimento e a abertura dos primeiros capulhos. Após o início de abertura de cápsulas, o controle químico não traz benefícios, exceto quando há muita perda de maçãs no terço inferior da planta em decorrência de podridões. No controle químico da doença, é impor-tante conhecer o modo de ação e o tipo de translocação do fungicida na planta,

A cultura do algodoeiro, no Brasil, apresentou grande expansão a

partir da década de 90, principalmente na região do Cerrado, graças, especial-mente, ao lançamento de variedades com maior produtividade e adequadas à região e ao sistema de produção.

Até 1997 a produção de algodão concentrava-se nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, mas, a partir de 1998, houve aumento significativo na participação da região Centro-Oeste, com destaque para o estado do Mato Grosso, cuja área plan-tada em 1998 era de 109 mil hectares e em 2011 foi de aproximadamente 725 mil hectares, sendo o maior produtor de algodão do Brasil.

Essa expansão do tamanho da área cultivada com algodão no Cerrado, em especial no Centro-Oeste, principalmen-te no estado de Mato Grosso, trouxe também problemas, como o aumento da incidência de pragas, doenças e plantas daninhas já existentes na região.

NO BRASIL

O algodoeiro está sujeito à ação de uma extensa gama de doenças, com aproximadamente 250 diferentes patógenos

Edson de Andrade Junior,Patrícia de Andrade Vilela eRafael Galbieri,Inst. Mato-Grossense do Algodão

Andrade Junior, Patrícia e Galbieri recomendam conciliar a resistência genética com a aplicação de fungicidas

Doença é favorecida por umidade relativa acima de 80%

Page 14: Grandes Culturas - Cultivar 153

Soja

14 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Fotos Hércules Diniz Campos

Avanço branco

Nas últimas safras tem-se obser-vado produtividades elevadas de soja em muitas regiões produto-

ras, porém são resultados que, na maioria das vezes, não se repetem em safras sucessivas. Essa instabilidade normalmente está atribu-ída à monocultura, ao uso de sementes de qualidade duvidosa e, consequentemente, ao aumento da ocorrência e intensidade de doenças a cada ano de cultivo. Em função dos danos proporcionados, o mofo branco ou podridão branca da haste causada pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) De Bary vem se destacando nas principais regiões produtoras dos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso.

O mofo branco teve seu primeiro relato no Brasil em 1921, no estado de São Paulo, atacando a cultura da batata. Mas foi em 1976-1977, no estado do Paraná, o primeiro relato de ocorrência na cultura da soja. Em 1982-1983 a doença foi detectada em soja no Cerrado brasileiro, no estado de Minas Gerais e, em 1985, no Distrito Federal. Nas últimas safras, já se manifestou em quase todas as regiões produtoras de soja do país. Em 2009

estimou-se que aproximadamente 45% da área cultivada no estado de Goiás tinham ocorrên-cia da doença. No entanto, em 2011 estima-se que 65% da área cultivada no estado tenham a presença da doença. Fato semelhante ocorre no estado da Bahia, estimado em aproxima-damente 80% da área cultivada.

Nos demais estados, embora ainda não se tenha informações de todas as regiões produtoras, sabe-se que o percentual de áreas infestadas é crescente, pois o mofo branco já causou perdas em lavouras de soja com altitudes acima de 600 metros nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e ocorrências em algumas regiões no Mato Grosso (Primavera do Leste, Campo Verde, Serra da Petrovina, Campo Novo dos Parecis, Tangará da Serra, Lucas do Rio Verde e Sorriso).

As perdas nas áreas de Cerrado têm varia-do a cada safra, a exemplo de algumas áreas no sudoeste de Goiás que ultrapassaram 40%.

O fungo Sclerotinia sclerotiorum tem uma gama de hospedeiros que abrange mais de 400 espécies de plantas em todo o mundo. Entre essas espécies destacam-se soja, feijão, ervilha, alface, girassol, canola, algodão,

tomate, cenoura, guandu, nabo forrageiro, alfafa, estilosantes, amendoim, níger, mucu-na, crotalária, batata, tremoço, fumo e várias plantas daninhas. Além disso, o fungo pode sobreviver no solo através de seus escleródios, estrutura de resistência que produz os apo-técios, resultado da germinação carpogênica (sexuada). Os apotécios produzem milhões de ascósporos (esporos) que, após serem ejetados, são facilmente levados pelo vento a curtas distâncias.

conTroLe inTegradoContudo, as perdas provocadas pelo

mofo branco na cultura da soja poderão ser minimizadas adotando-se medidas de controle de forma integrada, coerente e racional, o que caracterizamos como manejo integrado. Dentre essas estratégias destacam-se plantio de sementes livres do patógeno e tratadas com fungicidas, limpeza de implementos agrícolas, rotação de culturas com gramíneas associada à formação de palhada, plantio de cultivares com arquitetura menos propícia à evolução da doença, espaçamento entre linhas e população adequada ao cultivar, controle biológico e químico na parte aérea.

Avanço brancoCausado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, o mofo branco tem se agravado ao longo das últimas safras nas diversas regiões produtoras de soja do Brasil. Manejar com sucesso a

doença não é tarefa fácil, que permita medidas isoladas. Recomendam-se adoção integrada de ações como plantio de sementes livres do patógeno e tratadas com fungicidas, limpeza de implementos agrícolas, rotação de culturas com gramíneas associada à formação de palhada,

plantio de cultivares com arquitetura menos propícia à evolução do fungo, espaçamento entre linhas e população adequada ao cultivar, controle biológico e químico na parte aérea

Causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum, o mofo branco tem se agravado ao longo das últimas safras nas diversas regiões produtoras de soja do Brasil. Manejar com sucesso a

doença não é tarefa fácil, que permita medidas isoladas. Recomendam-se adoção integrada de ações como plantio de sementes livres do patógeno e tratadas com fungicidas, limpeza de implementos agrícolas, rotação de culturas com gramíneas associada à formação de palhada,

plantio de cultivares com arquitetura menos propícia à evolução do fungo, espaçamento entre linhas e população adequada ao cultivar, controle biológico e químico na parte aérea

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Plantio de sementes livres do patógeno – Utilizar sementes de soja de origem idônea e tratada com fungicidas eficazes é a garantia de se evitar a introdução do patógeno na área, uma vez que representa uma das principais formas de disseminação. Entretanto, a utili-zação de grãos pelo agricultor (semente salva) ou de procedência duvidosa, aumenta ainda mais o risco da disseminação.

O fungo pode ser disseminado pelas sementes de duas formas: a primeira pelos escleródios juntos às sementes, a segunda através de micélio dormente externamente ou dentro da semente. Conforme recomen-dações da Embrapa, os escleródios juntos às sementes são passíveis de remoção em prati-camente 100% desse inóculo, o que pode ser obtido com bom beneficiamento utilizando a pré-limpeza (máquinas de ar e peneira), seguido de separador espiral (imprescindível para remover os esclerócios) e finalmente pela mesa de gravidade ou densimétrica (acaba-mento). Já nas sementes infectadas, apenas uma análise específica de patologia poderá detectar a presença do patógeno. Os percen-tuais de sementes infectadas e detectadas em um lote de sementes têm sido relativamente “baixos”, normalmente inferiores a 2%, entretanto, a transmissibilidade tende a ser altamente eficiente, o que ajuda a explicar a elevada ocorrência da doença nas diferentes regiões produtoras de soja no país. Entretan-to, se considerarmos um lote com 0,25% de sementes infectadas, teremos uma semente infectada a cada 400 sementes. No campo, isso representaria, ao semear 300 mil sementes por hectare, pelo menos 750 sementes infectadas pelo patógeno em um único hectare.

É cogitado entre alguns pesquisadores e técnicos que a tolerância seja zero para o pató-geno em testes de sanidade para a certificação de sementes. Porém, nas condições atuais, esse nível de tolerância poderia inviabilizar a

Massa de sementes com escleródios (esquerda) e resíduosde beneficiamento com a presença de escleródios (direita)

produção de sementes nas principais regiões produtoras do Brasil. Em contrapartida, a tolerância zero para escleródios junto às sementes, como de fato já é preconizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abaste-cimento (Mapa), é extremamente coerente, uma vez que é possível elimina-los durante o beneficiamento.

Limpeza de implementos agrícolas – Outra forma importante de disseminação do fungo se dá através de escleródios que podem ser levados por máquinas e implementos agrícolas infestados. Portanto, quando o agricultor utilizar seus maquinários e imple-mentos em áreas onde há histórico da doença, é importante que se realize sua limpeza antes de começar as atividades em talhões ou áreas onde não foi observada. Essa limpeza poderá ser feita, de forma eficiente, utilizando apenas água sob pressão. Tal medida é ainda mais importante quando se emprega implementos terceirizados.

Rotação de culturas associada à formação de palhada – No caso específico do mofo branco, a maioria das culturas anuais (feijão, girassol, algodão, tomate, crotalária, canola, amendoim e nabo forrageiro) cultivadas no Cerrado brasileiro é hospedeira potencial da doença, assim, a rotação de culturas deve ser

essencialmente com gramíneas, as quais não são hospedeiras do fungo. O agricultor deve dar preferência para aquelas gramíneas que produzem maior quantidade de palha e que possibilitem maior tempo de permanência sobre o solo.

O cultivo consorciado de milho (verão ou safrinha) e Brachyaria spp. tem se destacado em programas de rotação, uma vez que for-mam ampla palha sobre o solo e ainda apresen-ta retorno econômico para o agricultor. A palha oriunda do plantio direto, diferentemente do que havia se pensando em um passado recente, tem contribuído sobremaneira no controle da doença. Além de aumentar a matéria orgânica do solo, permitindo a proliferação e manuten-ção de micro-organismos antagonistas, a palha funciona como uma barreira física obstruindo a emergência dos apotécios e a liberação dos ascósporos (esporos). Quanto mais densa e uniforme for a palha sobre o solo, maior o impedimento físico imposto à disseminação e proliferação do patógeno.

No Sudoeste de Goiás, produtores têm ob-tido ampla formação de palha com a integra-ção lavoura-pecuária, otimizando um manejo sustentável do mofo branco na cultura da soja em área com alta pressão de inóculo.

Uso de cultivares com arquitetura menos propícia à doença – Para áreas infestadas é recomendável optar por cultivares precoces, que apresentem menor porte, folhas mais eretas, com período de floração mais concen-trado e não retêm restos florais nas vagens que estão no início de formação. Plantas de porte baixo com folhas menores e eretas são menos favoráveis à ocorrência da doença, ou seja, não proporcionam um microclima favorável à infecção e ao desenvolvimento do patógeno. Quanto às cultivares com período de flora-ção concentrado, sabe-se que os ascósporos (esporos sexuais) do fungo, S. sclerotiorum, ao germinarem, encontram dificuldades em

Apotécios no solo em área com a presença de mofo branco

15www.revistacultivar.com.br • Fevereiro 2012

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o seu estabelecimento e consequentemente para exercer seu papel de controle biológico. Em complemento, a presença de palha é extremamente importante para proporcionar um ambiente adequado ao estabelecimento e sobrevivência do antagonista.

O modo de aplicação do antagonista (via semente ou pulverizado na parte aérea das plantas de soja), muitas vezes mal recomen-dado pelas empresas que os comercializam, também tem sido outro grande obstáculo para o sucesso do controle biológico de S. sclerotiorum. Os fungicidas utilizados em tratamento de sementes podem controlar até 100% do Trichoderma spp., impedindo que tais práticas sejam realizadas concomitantemente. As aplicações dos agentes de biocontrole não devem coincidir com a utilização de fungicidas na parte aérea da planta.

Controle químico – Ensaios realizados pela Universidade de Rio Verde, desde a safra 2004/2005, bem como ensaios cooperativos empreendidos por diferentes instituições (Goiás, Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso) desde a safra 2008/2009, têm evidenciado a eficácia de diversos grupos de fungicidas, tanto em aplicações de parte aérea como no tratamento de sementes. Até o momento, os fungicidas Cercobin 500 SC (tiofanato metílico), Certeza (tiofanato metílico + fluazinam), Sumilex (procimidona) e Frowncide/Zignal/Agata/Alti-ma/Cignus/Legacy (fluazinam), encontram-se registrados no Mapa para o controle de S. sclerotiorum em soja.

A eficácia do controle químico, além do princípio ativo utilizado, depende também do número de aplicações, do momento da aplica-ção e da tecnologia utilizada. De acordo com os resultados de pesquisa, melhor controle da doença tem sido verificado com os fungicidas à

16 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

infectar diretamente nos tecidos da haste da planta de soja, necessitando da flor, de prefe-rência pétalas em senescência, para iniciar a infecção na planta. Assim sendo, existe menor período para que ocorram as infecções.

Espaçamento e população adequada de plantas – O menor espaçamento, ou seja, inferior a 50cm e, dependendo da cultivar, normalmente acarretará fechamento entre linhas mais rápido, o que proporciona condi-ções microclimáticas favoráveis à germinação dos escleródios que se encontram no solo, aumentando as chances da doença se iniciar logo que a planta emite as primeiras flores. Entretanto, não adianta aumentar o espaça-mento entre linhas e manter alta população de plantas ou utilizar cultivares que compensam o maior espaçamento com o seu desenvolvi-mento. Em algumas áreas no oeste baiano, em função de logística no período de plantio, tem sido comum a utilização de semeadoras reguladas com o mesmo espaçamento para a cultura do algodão, assim, a soja tem sido semeada com até 76cm de espaçamento entre linhas e, para manter a mesma população de plantas recomendada, aumenta a densidade de sementes na linha. Esse procedimento tem mantido altas incidências do mofo branco nas lavouras e perdas severas nesta região.

Portanto, devem-se utilizar espaçamento e população de plantas de forma conjunta, adequando-se em conformidade com cada região e cultivar utilizada. Sabe-se que maiores populações de plantas por hectare favorecem a incidência e a severidade do mofo branco. Experimentos conduzidos pela Universidade de Rio Verde, em área infestada no município de Montividiu, Goiás, evidenciaram que a utilização de um estande com 20 plantas

por metro proporcionou 10,27% e 8,45% a mais de incidência e perdas, respectivamente, quando comparado com um estande de 12 plantas.

Controle biológico – Entende-se como controle biológico a utilização de um organis-mo vivo para o controle de outro organismo, podendo ocorrer a partir de diferentes proces-sos (antibiose, competição, parasitismo etc). No caso do mofo branco, espécies de fungos pertencentes aos gêneros Coniothyrium, Gliocladium e Trichoderma têm sido citadas como eficazes no biocontrole. Entretanto, as espécies Trichoderma harzianum e T. asperellum tem sido as mais empregadas para o controle biológico de S. sclerotiorum em soja. Contudo, ainda são restritos os produtos registrados jun-to ao Mapa, o que torna limitado o controle da doença em soja. Embora existam vários pro-dutos comerciais formulados com Trichoderma no mercado, muitos deles não apresentam padrão de qualidade, podendo assim não proporcionar o resultado esperado.

Outros fatores importantes estão relacio-nados com o modo e o momento de aplicação do antagonista (via sementes, aplicação via sulco após o plantio ou em parte aérea etc), bem como da própria viabilidade do fungo na formulação do produto comercial. Comu-mente têm se verificado relatos de sucesso e insucesso pelo uso de Trichoderma em lavouras das regiões de Goiás, Minas Gerais e Bahia.

Além disso, por se tratar de um micro-organismo vivo, o Trichoderma sp., ao ser aplicado em área comercial de sequeiro, neces-sita se estabelecer e encontrar condições para sobreviver e controlar o agente patogênico, o que nem sempre ocorre no primeiro ano de sua utilização, exigindo assim mais tempo para

Nas últimas safras a infestação de lavouras de soja pelo mofo branco alcança praticamente todas as regiões produtoras da cultura

Interior de vagem de soja com escleródiose grãos afetados pelo mofo branco

Fotos Hércules Diniz Campos

Page 17: Grandes Culturas - Cultivar 153

base de fluazinam e procimidona, caracte-rizados como fungicidas específicos para o controle de S. sclerotiorum em soja. Outros princípios ativos, também caracterizados como específicos, têm apresentado alta eficácia no controle da doença, contudo, encontram-se em processo de registro junto ao Mapa. O fungicida tiofanato metílico, pertencente ao grupo químico dos thiophanates (conforme reclassifica-ção do Frac), também apresenta eficácia satisfatória no controle da doença, mas em níveis inferiores quando comparados àqueles citados anteriormente. Por outro lado, são produtos que podem auxiliar no controle de outras doenças.

Trabalhos desenvolvidos pela Univer-sidade de Rio Verde já demonstraram que esses fungicidas são mais eficazes quando aplicados preventivamente e em áreas com menor pressão de inóculo. Contudo, o nú-mero de aplicações também é importante e depende do período de florescimento da cultivar. Não foi observado efeito significa-tivo no controle da doença com aplicações de fungicidas realizadas após a formação das vagens e início do enchimento dos grãos, estádios esses, sem vestígio algum de restos florais, portanto, nestas condi-ções, não se tem recomendado aplicações de fungicidas visando especificamente o

controle do mofo branco em soja.É importante reforçar o fato de não

existir um manejo caracterizado como “receita de bolo”, pois para o sucesso do

Danos e presença de escleródio nas hastes de planta de soja

Os apotécios produzem milhões de ascósporos que, após serem ejetados, são facilmente levados pelo vento

controle químico há necessidade de se considerar as características da cultivar, o clima, a presença ou o histórico do pa-tógeno na área (apotécios), entre outros fatores. Sendo assim, deve-se evidenciar que a integração de estratégias de controle (manejo integrado), planejada por um engenheiro agrônomo, ainda é a melhor alternativa para a convivência com o mofo branco na cultura da soja.

Hercules Diniz Campos eLuís Henrique Carregal Silva,Universidade de Rio VerdeJuliana Silva,Campos Carregal Pesq. e Tec. Agr.

CC

Page 18: Grandes Culturas - Cultivar 153

Soja

18 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Ataque inimigo

A podridão de carvão causada por Macrophomina phaseolina tem sido apontada como uma doença

associada a solos compactados, sob baixa oferta hídrica (menos de 840mm no ciclo da soja) e plantio convencional (enterrio dos restos culturais) em relação ao plantio direto. Não sendo ainda reportada no Brasil com evidência científica a sua associação com nematoides ectoparasitos causadores de ferimentos em raízes. No entanto, os danos causados à cultura da soja no País foram primeiramente relatados por Ferreira et al (1979), constatando que em anos secos, na região norte do Estado do Paraná, as perdas em soja das cultivares tardias Viçoja e Santa Rosa chegaram a 50%. O fungo é transmitido por sementes. O micélio dormente e microesclerócios se desenvolvem dentro do tegumento. Sementes, em geral,

não apresentam sinais de infecção e o pató-geno fica instalado nos tecidos da planta até a maturação, quando aparecem os sintomas carijó e deste modo a sintomatologia torna-se mais evidente. O estresse na planta, por falta de água ou nutrientes, é o sinalizador para que a doença se torne evidente no campo. Deste modo, a instalação da doença ocorre nas fases iniciais de estabelecimento da plântula no campo.

Após as visitas nas áreas produtoras reclamantes foram realizadas fotografias de reboleiras doentes (morte de plantas), bem como de reboleiras aparentemente sadias. Após a realização das fotos caracterizando as situações de campo foram retiradas amostras de solo de 0cm a 20cm de profundidade, bem como coleta de raízes para posterior análise da fertilidade (saturação de bases, matéria

orgânica, pH, teor de macro e micronutrien-tes). Também foram encaminhadas amostras para o Laboratório de Nematologia da UFU, onde pelo método da flutuação em centrífuga em solução de sacarose foi determinada a população de nematoides no solo, bem como as espécies presentes em 100cm3 do substrato amostrado. Também foram utilizadas as técni-cas de peneiramento e do papel de filtro, des-secação de raízes e a técnica do liquidificador. Como foi encontrada a presença de raízes com escurecimento interno (suspeita de podridão radicular por Macrophomina phaseolina) foi determinada a presença ou não do patógeno nas raízes por meio do isolamento em cultura pura no meio de BDA (batata-dextrose-ágar). Foram colocadas no meio de cultura dez fragmentos/amostra para a determinação do percentual de infecção na amostra. A Tabela

Fotos Fernando César Juliatti

Causada pelo fungo Macrophomina phaseolina a podridão do carvão do caule de soja tem se popularizado a cada safra e crescido em importância na cultura. Doença é

responsável por perdas de até 50% em cultivares tardias. O tratamento de sementes com fungicidas, para oferecer proteção na fase inicial, é uma das ferramentas

disponíveis para o produtor manejar o problema

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19www.revistacultivar.com.br • Fevereiro 2012

1 sumariza as diferentes situações de campo encontradas em relação aos plantios visitados e após análises realizadas nos Laboratórios de Nematologia da UFU e Laboratório de Micologia e Proteção de Plantas após análises pelos profissionais responsáveis, referente às coletas em Goiatuba e Bom Jesus, Goiás e

Pedrinópolis, Minas Gerais.Pelos resultados apresentados na Tabela

1 percebe-se que não foi possível associar diretamente os fatores químicos do solo, % de matéria orgânica e a presença de nematoides causadores de ferimentos em raízes em rela-ção à podridão radicular por Macrophomina

phaseolina. Fato que pode estar associado a fatores físicos do solo (compactação), que não foram quantificados. As saturações de bases encontradas nas amostras foram de: 1-44 %, 2-63 %, 3-56 %, 4-46 %, 5-52 %, 6-63 %, 7-54 %, 8-55%, 9-58 % e 10-29 %. De-monstrando não haver nenhuma relação das bases encontradas no solo (Ca, MG e K), % de matéria orgânica e a presença da podridão de raiz. A presença de veranicos no mês de março/2007, possivelmente tenha favorecido a maior expressão de podridão de raízes pelo fungo, aumentando a sua incidência e nível de dano nas lavouras comerciais de Minas Gerais e Goiás. Os sintomas de necrose foliar (carijó-semelhante à fitotoxidade de tebuconazole) foram associados à presença de Macrophomina no solo. Ocorreu um longo veranico de mais de 20 dias no mês de março que pode ter contribuído para a maximização dos sintomas em cultivares convencionais e RR de Minas Gerais e Goiás.

Estudos realizados na Universidade Fe-deral de Uberlândia apontam que a doença é transmitida por sementes, na cultura da soja, em taxas variando de 0,25% a 40%. Possivelmente, o micélio do fungo ou micro-escleródios emitem um crescimento inicial e são transmitidos às plântulas nas fases iniciais de germinação. A prática do tratamento de se-mentes com fungicidas reduz a disseminação do patógeno e foram encontradas diferenças entre genótipos para as cultivares brasileiras em relação à incidência da doença nas fases iniciais da cultura. A rotação de culturas com

Tabela 1- resultados de ocorrência de patógenos encontrados em amostras de solo realizadas após incubação pelo lanem-ufu (laboratório de nematologia) e lamip-ufu (laboratório de micologia), no ano de 2007 em áreas com suspeita de fitotoxidade de tebuconazole. ufu, uberlândia, 2007

área

1 - área comercial com podridão de raízes. cultivar não identificada rr2 - área comercial sem podridão de raízes. cultivar não identificada rr3 - área de Brs silvânia (rr) com

Podridão de raízes4 - área de cD219 (rr) com podridão

de raízes5 - área de cultivar pioneer (rr) com

podrdão de raízes6 - área comercial sem podridão de raízes. cultivar não identificada rr

7 - área comercial sem podridão de raízes. cultivar não identificada convencional

8 - área comercial com podridão de raízes. cultivar não identificada convencional

9 - área comercial sem podridão de raízes. cultivar não identificada rr

10 - área comercial com podridão de raízes. cultivar não identificada rr

namatóides determinados

Pratylenchus brachyurus e Helicotylenchus

negativo para presença de nematoides

negativo para presença de nematoides

negativo para presença de nematoides

negativo para presença de nematoides

negativo para presença de nematoides

negativo para presença de nematoidesrotylenchulus

reniformisPratylenchus brachyurus

negativo para presença de nematóides

População dos patógenosmunicípio

Bom Jesus(go)

Bom Jesus(go)

Bom Jesus(go)

Bom Jesus(go)

Bom Jesus(go)

Bom Jesus(go)

goiatuba(go)

goiatuba (go)

goiatuba (go)

goiatuba (go)

Pratylenchus/rotylenchus

105 juvenis / 150cm3 de solo

-

-

-

-

-

-

102 juvenis /150cm3 de solo

60 juvenis /150cm3 de solo

-

Helicotylenchus

105 juvenis / 150cm3 de solo

-

-

-

-

-

-

-

-

-

incidência demacrophomina (%)

100%

0%

100%

100%

100%

0%

0%

100%

0%

100%

Sintomas iniciais em plântulas

Emergência de sementes inoculadas com o patógeno, com e sem tratamento e sintoma inicial

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20 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Tabela 2

aTenTo69,75 a47,81 b49,00 a

55,52

maXim66,60 a64,24 a58,23 a

63,02

s210 a53,50 b66,37 a56,59 a

58,82

s210 B61,83 a54,25 b54,49 a

56,86

testemunHa51,73 b52,90 b51,00 a

51,88

36 diasmÉdia60,6857,1153,86

Tratamentos/cultivaresnK 7074syn 9074syn 9078

cV (%)média

14,02

Tabela 3

aTenTo1609,411232,861311,58

1384,61 a

maXim1461,871560,821379,17

1467,29 a

s210 a1507,291781,011513,99

1600,76 a

s210 B1633,651531,951336,58

1500,73 a

testemunHa1299,361203,501446,30

1316,39 a

Tratamentos/cultivaresnK 7074syn 9074syn 9078

cV (%)média

20,17

mÉdia1502,31 a1462,03 a1397,52 a

Produtividade (kg/ha)

Tabela 4

aTenTo148,75134,07140,45

141,09

maXim147,30136,00138,40

140,57

s210 a152,40 a126,95 B145,05 a

141,47

s210 B147,97137,72133,42

139,70

testemunHa147,30 a131,95 B130,67 B

136,64

Tratamentos/cultivaresnK 7074syn 9074syn 9078

cV (%)média

6,70

mÉdia148,74 a133,34 b137,60 b

Peso 1000 grãos (g)

gramíneas como o milheto ou produção de massa verde e seca, por exemplo, braquiárias, reduz a incidência da doença. O mais impor-tante no manejo da doença é reduzir a com-pactação do solo e melhorar o teor de matéria orgânica, ou seja, obter sustentabilidade nos sistemas de cultivos.

Na avaliação da resistência de cultivares de soja a Macrophomina phaseolina, patógeno causador de tombamento em plântulas, morte prematura e em reboleira de plantas adultas. O experimento foi conduzido em bandejas de isopor na casa de vegetação, com delineamento inteiramente casualizado e quatro repetições de cinco plantas para cada tratamento. As sementes foram previamente inoculadas com 30.000 microescleródios mL-1 e plantadas em substrato esterilizado. A partir da produção de microescleródios produzidos em BDA, pH 5,cinco e após seis dias, temperatura de 20 graus Celsius inoculou-se às sementes após imersão na suspensão de inóculo por 24 horas. Após a semeadura em bandejas de isopor tipo “speedling” avaliou-se a evolução da doença com base nos seguintes tipos de

sintomas: sementes mortas, plantas mortas, plantas vivas com e sem sintomas (5 plan-tas/repetição). Após 15 dias da emergência também avaliou-se a altura de plantas. Analisaram-se os dados pela Anava e foram realizadas correlações entre as variáveis (altu-ra de plantas e incidência da doença (porcen-tagem de plantas doentes). Os genótipos que apresentaram preliminarmente resistência ao patógeno foram: MSOY8849RR – Altamente resistente, TMG121RR, MSOY8585,P98R31,P99R01,MSOY8360RRe MSOY8849RR (Moderadamente resistente). A correlação

entre a incidência de doença e altura de plantas foi de -0,95.

Nas Tabelas 2, 3 e 4 estão apresentados resultados da emergência em campo, produti-vidade e peso de mil grãos (g), para diferentes cultivares submetidas à inoculação artificial via sementes, seguido do tratamento de sementes. Nota-se que a cultivar NK7074 apresenta maior resistência ao patógeno independente da cultivar.

Aspecto de campo de cultivo na maturação

Campos de produção em Goiás e MG com a presença da doença e percevejos castanhos que não estão relacionados na ocorrência da doença. Observa-se o comprometimento do sistema radicular com a doença

Fernando Cezar Juliatti,UFU

Sintomas em raízes durante a maturação

Comparação da sintomatologiaentre Fusarium e Macrophomina

CC

Fotos Fernando Cezar Juliatti

Page 21: Grandes Culturas - Cultivar 153
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22 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Milho

Janela abertaFatores como a semeadura da soja mais cedo e perdas ocorridas por conta da estiagem nos estados do Sul reforçam a expectativa em torno da próxima safrinha de milho no Brasil.

As estimativas apontam aumento de área e de produção. Para obter sucesso e aproveitar o momento favorável, o produtor precisa lançar mão de planejamento antecipado, com atenção a aspectos como período correto de semeadura, escolha de cultivares, espaçamento, densidade, manejo correto do solo, adubação e combate racional de pragas, doenças e plantas daninhas

Em 2012 a tendência é de aumen-to da área de cultivo de milho safrinha no Brasil, devido à soja

ter sido semeada mais cedo, o que garante janela ótima para a semeadura do milho. As estimativas de área plantada e produção (de acordo com o Quarto Levantamento da Safra de Grãos de janeiro de 2012) são respectivamente de cerca de 5,922 milhões de hectares e 21,288 milhões de tonela-das. No Mato Grosso, segundo projeções do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a safrinha de 2012 deverá atingir 2,2 milhões de hectares, que estima-se resultem em uma produção de aproximadamente dez milhões de tonela-das de grãos.

Alguns aspectos importantes preci-sam ser observados para que o produtor possa obter sucesso no plantio do milho safrinha.

ÉPoca de PLanTio Quanto mais tarde for semeado,

menor será o potencial produtivo e maior o risco de perdas por geadas e/ou seca. O Zoneamento Agroclimático de Milho Safrinha estabeleceu o início da semeadura em 1º de janeiro para todas as macrorregiões, e o término variável nos diferentes estados.

A época de plantio do milho safrinha é limitada principalmente pela umidade, temperatura e pela radiação solar. O milho safrinha tem sua produtividade bastante afetada pelo regime de chuvas e por fortes limitações de radiação solar e temperatura na fase final de seu ciclo. Além disso, como o milho safrinha é plantado após uma cultura de verão, a sua data de cultivo depende da época do plantio dessa cultura e de seu ciclo. Assim, o planejamento do milho safrinha

começa com a cultura do verão, com o objetivo de liberar a área o mais cedo possível.

De acordo com um levantamento realizado pela Embrapa Milho e Sorgo, observou-se que a maioria das lavouras de milho safrinha que obteve altos ren-dimentos (superiores a 5.000kg/ha) foi plantada até o final do mês de fevereiro (83%). Apenas 17% delas foram plantadas em março.

genÉTicaNa safra 2011/12 foram ofertadas 316

cultivares convencionais e 173 transgêni-cas, com grande predominância de híbri-dos simples (60,32%) e triplos (20,04%), de maior potencial genético.

Em termos de sementes plantadas (vendidas), também há predomínio da utilização de híbridos simples de alto

Page 23: Grandes Culturas - Cultivar 153

23www.revistacultivar.com.br • Fevereiro 2012

O cuidado com infestações de plantas daninhas não pode ser negligenciado pelos produtores

Fotos Charles Echer

potencial genético, que representam cerca de 60% das sementes, plantadas tanto na safra como na safrinha. São híbridos simples, portanto, é fundamental utilizar um sistema de produção com nível tecno-lógico adequado para que essas sementes possam mostrar o seu potencial produtivo e o agricultor obter maior lucro.

A escolha das cultivares deve ser criteriosa. As melhores são aqueles que apresentam reconhecido desempenho agronômico regional e a melhor relação entre o benefício do seu emprego e o custo das sementes. Além do potencial produtivo e da estabilidade de produção, é fundamental levar em consideração o ciclo da cultivar e o seu comportamento em relação às principais doenças que prevalecem na região, maior tolerância ao acamamento e quebramento de plantas e maior sanidade de grãos.

Geralmente, à medida que a semea-dura é atrasada, menor será o potencial produtivo e maior o risco de perdas, devendo-se reduzir os investimentos em cultivares, optando-se pelos híbridos tri-plos e os duplos de menor custo.

De maneira geral, as cultivares de ciclos mais tardios (precoce e normal) são mais adaptadas às primeiras semeaduras do período da safrinha, isto porque os meses de janeiro, fevereiro e até março são caracterizados por apresentarem ainda elevadas temperaturas, o que reduz o perí-odo de desenvolvimento vegetativo. Nessa

situação de calor excessivo, cultivares de ciclos caracterizados como superprecoces atingem o período de florescimento muito rapidamente, o que reduz a expressão de seu potencial produtivo.

semeio com caPricHoA falta de uniformidade no estande

e no desenvolvimento inicial das plan-tas, com elevados índices de plantas dominadas (raquíticas e sem espigas), é o principal problema da maioria das la-vouras de milho safrinha. Muitas vezes a necessidade de se realizar o plantio o mais cedo possível compromete a qualidade. Deve-se levar em consideração tanto as condições da área (cobertura e umidade

do solo) quanto a regulagem (espaçamen-to, densidade, profundidade de plantio, compactação das sementes, utilização de tratamento de sementes e de grafite) da plantadeira e a velocidade de plantio. Tudo isto tem por objetivo germinação e emergência uniformes, reduzindo a ocorrência de plantas dominadas e asse-gurando maior sobrevivência das plantas durante o seu desenvolvimento.

maneJo do soLoToda estratégia de manejo do solo deve

levar em consideração propiciar maior quantidade de água disponível às plantas. Nesse caso, sempre que possível, deve-se optar pelo sistema de plantio direto, pois oferece maior rapidez nas operações,

Page 24: Grandes Culturas - Cultivar 153

24 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

principalmente quando realizado simulta-neamente à colheita, permitindo o plantio o mais cedo possível. Além disso, um sistema de plantio direto, com adequada cobertura da superfície do solo, permi-tirá o aumento da infiltração da água no solo e a redução da evaporação, com consequente aumento no teor de água disponível para as plantas. Em algumas áreas de plantio direto já se constatou aumento do teor de matéria orgânica do solo, afetando a curva de retenção de umidade e aumentando ainda mais o teor de umidade para as plantas.

aDuBaçãoAdubar adequadamente aumenta o

potencial produtivo e a tolerância das plantas aos estresses climáticos modera-dos. Os princípios usados na recomenda-ção de adubação do milho cultivado na safrinha são os mesmos da época normal. Entretanto, deve-se levar em consideração o menor potencial produtivo (que limita as doses econômicas), a precipitação pluvial decrescente com a proximidade do inverno (que afeta o parcelamento da adubação) e as peculiaridades da sucessão de culturas predominante (após soja). Como a recomendação de fertilizantes é diretamente proporcional ao nível de produtividade das lavouras, a quantidade

de fertilizantes é relativamente baixa na safrinha comparada à safra de verão.

maneJo de PragasA liberação comercial da tecnologia Bt

no Brasil, a partir da safra 2008, foi um marco na agricultura brasileira. A rápida taxa de adoção desta tecnologia pode ser explicada pela facilidade e segurança no controle da lagarta-do-cartucho, consi-derada principal praga das lavouras de milho no país. Entretanto, as cultivares transgênicas, atualmente comercializadas no Brasil, não dispensam o tratamento de sementes, que continua sendo necessário para o controle de insetos sugadores e pragas subterrâneas, especialmente para o cultivo do milho safrinha. Além disso, dependendo do produto empregado para o tratamento, há um efeito protetor também para outras pragas iniciais que atacam a lavoura. Porém, a escolha do inseticida a ser utilizado no tratamento de sementes deve ser pautada pelo moni-toramento prévio da palhada ou com base em histórico da área de cultivo.

maneJo de doençasEmbora se constate uma variação re-

lativamente acentuada entre anos, regiões e épocas de semeadura, há uma tendência das doenças apresentarem-se em um nível

de severidade maior no período de cultivo da safrinha.

Mesmo apresentando eficácia, o uso de forma isolada do controle químico (fungicida) de doenças do milho não é adequado do ponto de vista epidemio-lógico e ambiental. Pode-se amenizar a ação dos patógenos, atuando de forma preventiva, utilizando as seguintes ações conjuntas no manejo das doenças: rotação de culturas, rotação de genótipos, cultiva-res com diferentes níveis de resistência e manejo cultural (adubação, espaçamento, densidade etc). Ressalte-se que a resis-tência genética é a principal forma de controle das doenças do milho. Entre as vantagens de explorá-la estão: maior pro-dutividade da cultura sem custo adicional ao produtor, menor impacto ambiental por tornar desnecessário ou reduzido o uso de fungicidas, menor disseminação de doenças para lavouras vizinhas e a obtenção de um produto final com me-lhor qualidade para o consumidor. Em última análise, ao se optar pela aplicação de forma preventiva, deve-se considerar o risco e o valor de desembolso, porque, eventualmente, não se observará retorno financeiro com esta operação.

esPaçamenTo e densidadeDe um modo geral, considera-se que

a população a ser empregada na safrinha deve sofrer uma redução de 10% a 20% daquela ideal recomendada para a safra de verão. Ressalte-se que populações excessivas oneram o custo do item se-mentes e podem aumentar o acamamento e o quebramento de plantas em algumas cultivares, além de não compensarem os efeitos negativos de falhas no estande.

Há uma grande variação no espaça-mento entre fileiras. Em São Paulo e no Paraná, ainda é mais comum o espaça-mento convencional, enquanto nos estados da região Centro-Oeste a utilização de espaçamento reduzido é maior, especial-mente em Goiás. Em um levantamento para caracterizar o sistema de produção de milho safrinha com produtividade superior a 5.000kg/ha, verificou-se que a população de plantas variou de 45 mil plantas por hectare a 65 mil plantas por hectare, com maior frequência (39%) da população em 50 mil plantas por hectare a 55 mil plantas por hectare. Praticamente não houve va-riação da população de plantas em função do espaçamento. Também não se verificou diferença no rendimento final em função do espaçamento.

maneJo de PLanTas daninHasNormalmente o controle de plantas

O tratamento de sementes é estratégia importante no manejo de pragas em milho, principalmente na safrinha

André Shimohiro

Page 25: Grandes Culturas - Cultivar 153

daninhas na safrinha é mais fácil do que na safra devido à menor infestação das in-vasoras nesse período. A menor oferta de água e calor, principalmente nos estádios finais da cultura, faz também com que a reinfestação seja pequena. Entretanto, a disponibilidade tanto de soja como de milho transgênicos com tolerâncias a diferentes tipos de herbicidas vai exigir maior cuidado por parte de produtores e técnicos na escolha das cultivares utiliza-das nos programas de rotação e sucessão de culturas, para facilitar o controle das restevas, tanto da soja como do milho.

consorciação com forrageirasConsiderando que a maioria das lavou-

ras da sucessão de soja e milho safrinha apresenta baixa cobertura de solo com palha, o cultivo consorciado de uma espécie forrageira é importante oportunidade para inserir palha no sistema. Além disso, a presença de massa verde na lavoura, após a colheita do milho safrinha, reduz a presen-ça de plantas daninhas e possibilita utilizar essa forrageira na alimentação de animais, justamente num período de baixa oferta de pasto nos campos de pecuária. Recomenda-se a semeadura simultânea do milho e da

forrageira, a fim de proporcionar a germi-nação e o melhor estabelecimento da for-rageira. Geralmente, não há diferença na produtividade de grãos do milho safrinha entre o consórcio e a lavoura solteira, ou seja, as plantas forrageiras não interferem negativamente na produtividade do mi-lho safrinha. Além disso, são observados efeitos benéficos na produtividade da soja cultivada em sucessão e na incidência de plantas daninhas.

consiDerações geraisHoje, o planejamento do plantio da

safrinha começa com a escolha da cultivar

da soja a ser plantada no verão, levando em consideração seu ciclo (geralmente superprecoce), a época de plantio e o tipo e manejo de solo (geralmente o que apre-senta maior retenção de água disponível para as plantas). Na realidade, o milho safrinha não é apenas um plantio isolado e sim parte de um sistema integrado, que necessita ser gerenciado de forma correta, com um planejamento técnico que en-volva um sistema de rotação de culturas tanto de verão quanto de inverno, e com práticas de manejo integrado que levem em consideração todas as suas caracterís-ticas. Com pequenas variações entre as diferentes regiões, os maiores rendimen-tos têm sido obtidos quando o plantio é feito até o final do mês de fevereiro. É importante salientar que à medida que se atrasa a época do plantio, há um aumento na adversidade climática e normalmente o agricultor ajusta seu sistema de produ-ção, reduzindo a quantidade de insumo aplicada e utilizando cultivares de menor custo, geralmente híbridos duplos.

Cruz e Pereira Filho alertam para a necessidade de planejar e gerenciar corretamente o plantio

José Carlos Cruz eIsrael Alexandre Pereira Filho,Embrapa Milho e Sorgo

CC

Dilvulgação

Page 26: Grandes Culturas - Cultivar 153

26 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Trigo

Desempenho avaliado

O rendimento e a própria viabilidade econômica das lavouras de trigo são fortemente influenciados pelas condições de clima. Por isso, fatores como tolerância à chuva e capacidade produtiva precisam ser observados na hora de escolher cultivares que mais se adaptam à região de cultivo

Um dos grandes desafios de técnicos e produtores ligados à cadeia produtiva do trigo

reside na busca de materiais que apre-sentem ótimo desempenho produtivo e de qualidade ao longo dos anos e cultivo em diferentes condições de ambiente. Por isso, mesmo sendo o trigo uma cultura que apresenta certa plasticidade em termos de condições climáticas, essa cultura tem seu rendimento e até mesmo sua viabilidade econômica fortemente influenciada pelas condições de clima.

O fator clima não influencia apenas a produtividade, mas, também, suas carac-terísticas de qualidade industrial. Este fato tem sido destacado por diversos trabalhos, mostrando que o clima pode definir áreas para a produção de trigo, com diferentes padrões e níveis de qualidade industrial. Para o Rio Grande do Sul são apontados dois principais riscos climáticos para a cultura do trigo, conforme Cunha et al, (2001): a geada na floração e o excesso de chuva na colheita. Riscos que podem variar de região para região no estado em função da época de semeadura.

Para o caso do risco de chuva na co-lheita, o trabalho de Beralto (1992) mostra probabilidade maior para a região norte do Rio Grande do Sul. O molhamento

e a posterior secagem dos grãos também reduzem o peso hectolítrico (PH) e em consequência ocorre a diminuição de sua densidade. Essa redução do peso hectolí-

O rendimento e a própria viabilidade econômica das lavouras de trigo são fortemente influenciados pelas condições de clima. Por isso, fatores como tolerância à chuva e capacidade produtiva precisam ser observados na hora de escolher cultivares que mais se adaptam à região de cultivo

Desempenho avaliado

Alcançar bom desempenho produtivo e manter a qualidade ao longo dos anos de cultivo em condições diversas de ambiente são desafios enfrentados pelos triticultores

Fotos Claudir José Basso

Page 27: Grandes Culturas - Cultivar 153

trico é resultante da alta taxa de respiração associada aos grãos germinados, que conso-mem os carboidratos acumulados. Logo, a análise da adaptabilidade de cultivares de trigo, bem como o nível tecnológico a ser empregado para cada material é, sem dú-vida, fator importante para o sucesso dessa cultura (Caierão et al, 2006). Dessa forma, o estabelecimento de regiões de plantio com características semelhantes para as quais são recomendadas tecnologias de produção específica para cada situação, tem como objetivo principal a produtividade e a manutenção da qualidade do trigo para a indústria. Por isso, o presente trabalho teve por objetivo avaliar a adaptabilidade de novas cultivares de trigo para a região do Médio Alto Uruguai do Rio Grande do Sul e a sua capacidade de tolerar chuvas após o ponto de colheita.

Para isso um experimento foi conduzi-do, no ano de 2010, na área experimental do Centro de Educação Superior Norte do Rio Grande do Sul (Cesnors/UFSM), no município gaúcho de Frederico Wes-tphalen. O local apresenta altitude de 490 metros e latitude e longitude de 27°21'33" e 53°23'40", respectivamente. O clima da região segundo Koppen é classificado como subtropical, com índices de precipitação anual na faixa de 1.800mm a 2.100mm. O solo é classificado como Latossolo Ver-melho distrófico típico com as seguintes características físico-químicas: pH em água (1:1) 5,7 índice SMP 6,2 argila 620g/kg, matéria orgânica 3,3g/kg, potássio, cálcio, magnésio e alumínio 0,39, 9,48, 3,20 e 0,15cmolcdm-3, respectivamente, P-mehli-

ch, enxofre e Mn com 9,4 e 4,5 e 23,0mg dm-3, respectivamente. As cultivares de trigo avaliadas e que constituíram os trata-mentos foram: Fundacep 52 (tipo brando) e Fundacep Raízes, CEP Cristalino, OR Abalone, OR Quartzo, OR Mirante, Coo-detec 117, e BRS Guamirim (tipo pão). Em 10/6/2010 foi efetuada semeadura manual das cultivares de trigo em espaçamento de 17cm entre linhas, densidade de 75 semen-tes por metro linear e adubação de base de 300kg/ha da fórmula 09-33-12 de N-P-K, distribuída a lanço logo após a semeadura. Trinta e cinco dias após a semeadura foi efetuada a adubação de cobertura com aplicação de 50kg/ha de nitrogênio (N) na forma de ureia. Todos os demais tratos

culturais se deram conforme indicação da Comissão Sul-Brasileira e Centro-Sul de Pesquisa de Trigo (Reunião, 2010).

As avaliações foram divididas em duas etapas. Em um primeiro momento, quan-do os grãos atingiram o ponto de colheita (umidade em torno de 14%), foi realizada a primeira colheita. Uma parte das plantas da área útil da parcela permaneceu no cam-po após o ponto de colheita por mais 25 dias, com intuito de avaliar os impactos do clima sobre a produtividade e o PH final. A precipitação durante todo o período de condução do experimento pode ser obser-vada na Figura 1 com dados obtidos da estação meteorológica instalada no campus da Universidade vinculada ao Instituto

A colheita é um dos períodos sensíveis para a cultura, por conta da influência da distribuição de chuvas na qualidade do produto final

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28 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Nacional de Meteorologia (Inmet).Os parâmetros observados em dez

plantas foram: avaliação visual quanto à exposição do grão na espiga, sendo classi-ficado em: E (exposto), ME (mediamente exposto), P (protegido), MP (mediamente protegido). Quanto aos componentes de rendimento foram avaliados número de espigas/m2, número de grãos por espiga e peso de mil sementes (PMS). Além disso, foram avaliados a produtividade de grãos e o peso hectolítrico de cada cultivar deter-minado através da massa de 100 litros de trigo, expressa em quilogramas, determi-nado em balança para peso específico. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância através do teste F e teste de comparação de médias (Tukey) ao nível de significância de 5%.

Os dados de precipitação da Figura 1 mostram que o ano foi muito favorável ao bom estabelecimento, desenvolvimento e expressão do potencial produtivo da cul-tura do trigo no estado do Rio Grande do Sul. Durante a fase de emborrachamento e enchimento de grãos não ocorreram perdas por déficit hídrico, nem por geada, além disso, a boa distribuição e os baixos volumes de chuvas durante o período de colheita propiciaram um produto final de

média em 312, 3 espigas/m2 (Tabela 1).Quanto ao PMS para a primeira avalia-

ção feita quando a cultura atingiu o ponto de colheita (Tabela 2), os maiores valores foram observados com as cultivares OR Mirante e Fundacep Raízes com 37,84g e 33,49g, respectivamente, não diferindo estatisticamente entre si. Já as cultivares OR Abalone e Fundacep Cristalino foram as que apresentaram os menores PMS nessa primeira avaliação, 29,14g e 28,29g, respectivamente. Quando se compara o PMS da primeira com o da segunda ava-liação, não houve diferença significativa, o que pode ser atribuído à boa distribuição de chuva (74,3mm, Figura 1) entre a pri-meira e a segunda colheita.

As cultivares que apresentaram maior produtividade no ponto de colheita (1ª avaliação) e diferiram estatisticamente das demais, foram OR Mirante e OR Quartzo, com produtividade média de 4.020,9Kg/ha (67,0 sc/ha) e 3.818,6Kg/ha (63,6 sc/ha), respectivamente (Tabela 2). As de-mais cultivares também mostraram boas produtividades, oscilando de 3.148,1Kg/ha (52,4 sc/ha) a 2.700,5Kg/ha (45,0 sc/ha). A produtividade média de 3.139,64Kg/ha (52,3 sc/ha) na primeira avaliação para as diferentes cultivares, mostra que essas cultivares se adaptam bem às condições edafoclimáticas da região. Quando se compara a produtividade das duas ava-liações não houve redução significativa da primeira para a segunda avaliação. Na média de todas as cultivares, a redução na produtividade na segunda avaliação realizada 25 dias após a primeira foi de 171,74Kg/ha (5,5 %), bem inferior aos 17% observados por Felicio et al, 2002, onde o atraso de 14 dias na colheita reduziu em 17% a produtividade final do trigo.

De uma maneira geral, a permanência do trigo no campo por mais 25 dias após

figura 1 - distribuição e volume total de chuva acumulado em cada mês durante todo o ciclo de desenvolvimento da cultura e colheita do trigo

boa qualidade para a indústria. A cultivar OR Mirante foi a que apre-

sentou o maior número de grãos por espiga (40,33), diferindo estatisticamente da OR Abalone (29,33), Fundacep Raízes (30,00) e BRS Guamirim (26,66). Para as demais cultivares esses valores foram intermedi-ários, não diferindo estatisticamente da OR Mirante. Para o número de espigas por metro quadrado, não houve diferença significativa entre as cultivares, ficando na

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29www.revistacultivar.com.br • Fevereiro 2012

ter atingido o ponto de colheita não afetou negativamente a produtividade de grãos das cultivares, o que se justifica pelas con-dições ambientais de muito pouca chuva e muito bem distribuídas (Figura 1) e a não ocorrência de debulha natural, mesmo para as cultivares que tinham maior exposição dos grãos (Tabela 3). Essa manutenção dos níveis de produtividade na segunda avaliação se justifica pelos valores de PMS, que se mantiveram constantes durante o período de exposição, conforme discutido anteriormente.

As cultivares que apresentaram maior PH (Kg 100L) no ponto de colheita e diferiram estatisticamente das demais foram OR Mirante (81,95), OR Abalo-ne (81,88), Coodetec 117 (80,58), OR Quartzo (80,21) e Fundacep 52 (80,07). Após 25 dias de permanência no campo, as cultivares que apresentaram maior PH foram Fundacep 52 (77,55), OR Abalone (77,38), OR Mirante (77,23) e Coodetec 117 (76,42) (Tabela 3).

Esses valores de PH das cultivares tive-ram relação direta com o nível de exposição do grão na espiga, onde as cultivares com maior nível de exposição apresentaram os menores valores nas duas avaliações observadas nas cultivares Fundacep Raízes e BRS Guamirim. Na média das

cultivares com grãos protegidos o PH foi equivalente a 80,93, superior aos 77,64 obtidos na média para as cultivares com grãos expostos. Com exceção da cultivar BRS Guamirim, todas as demais cultivares reduziram significativamente os valores de PH após a chuva, o que demonstra a alta suscetibilidade da cultura do trigo a precipitações pluviométricas após o ponto de colheita. Essa forte relação entre as variáveis climáticas e a qualidade do trigo foi demonstrada em estudo de correlação (Miloca et al, 2007).

As cultivares de trigo que apresen-taram os maiores valores de PH inicial, foram as que tiveram redução mais acentuada do PH na segunda avaliação, porém, mesmo assim, esse valor de PH na segunda avaliação (25 dias após a primeira avaliação), foram próximos ou levemente superiores à média das duas cultivares que apresentaram os menores valores na primeira avaliação. Por isso, o produtor deve buscar uma cultivar com potencial genético para alto valor de PH do que uma cultivar com maior tolerância

Tabela 1 - número de grãos por espiga e número de espigas por metro quadrado das oito cultivares de trigo em estudo. frederico Westphalen, rs, cesnors/ufsm, 2010

nº de grão/espiga40,33 a(*)

39,67 a36,00 ab33,00 abc35,33 ab29,33 bc30,00 bc26,66 c33,798,43

nº espiga/m2

289,33 a328.33 a286,00 a302,00 a304,67 a329,00 a301,00 a325,67 a

312,37,93

cultivaror miranteor Quartzofundacep 52coodetec 117

fundacep cristalinoor abalone

fundacep raízesBrs guamirim

médiacV%

(*) médias seguidas da mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5%.

Tabela 2 - Peso de mil sementes (Pms) e produtividade nas duas épocas de colheita do trigo. frederico Westphalen, rs, cesnors/ufsm, 2010

1ª avaliação37,84 aa(*)32,27 bca31,30 bcda30,18 cdea28,29 ea29,14 dea33,49 aa

32,76 bca31,912,95

2ª avaliação40,48 aa33,50 bca31,40 bca29,74 bca29,84 bca29,12 ca34,15 ba32,52 bca

32,595,31

cultivar

or miranteor Quartzofundacp 52

coodetec 117fundacep cristalino

or abalonefundacep raízesBrs guamirim

médiacV%

(*) médias seguidas da mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5%.

1ª avaliação4.020,9 aa3.818,6 aba3.148,1bca2.907,2 ca2.865,0 ca2.831,0 ca2.825,8 ca2.700,5 ca3139,64

8,74

2ª avaliação40,48 aa33,50 bca31,40 bca29,74 bca29,84 bca29,12 ca34,15 ba32,52 bca

32,595,31

Pms - gramas Produtividade - kg ha-1

Tabela 3 - exposição dos grãos e variação do peso hectolítrico (PH) no ponto de colheita (1ª avaliação) e 25 dias após (2ª avaliação), para as oito cultivares de trigo testadas. frederico Westphalen, rs, cesnors/ufsm, 2010

exposição dos grãos(*)

ProtegidoProtegidoProtegidoProtegido

moderadamente expostoProtegidoexpostoexposto

cultivar

or miranteor Quartzofundacp 52

coodetec 117fundacep cristalino

or abalonefundacep raízesBrs guamirim

cV%(*) avaliação visual. (**) médias seguidas da mesma letra maiúscula na linha e minúscula na coluna não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey a 5%.

1ª avaliação81,95 aa(**)

80,21aba80,07 abca80,58 aa

78,22 bcda81,88 aa77,98 cda77,30 da

0,94

2ª avaliação77,23 abB75.73 bcdB77.55 aB

76,42 abcB74,68 dB77,38 aB74,68 dB75,05 cda

0,69

Peso Hectolítrico (Kg/100L)

à chuva e planejamento operacional para se fazer uma rápida colheita. Sob o ponto de vista agronômico, todas as cultivares apresentaram comporta-mento semelhante ao descrito pelas empresas detentoras da tecnologia, mostrando que as condições de clima e solo da região não interferiram na expressão das características fenotípi-cas de cada material. A permanência de 25 dias do trigo no campo após o ponto de colheita demonstra causar redução no peso hectolítrico o que afeta o fator qualidade do trigo, hoje cada vez mais exigido pela indústria. Com as mudanças previstas para as safras (2012/2013) alterando as classes e trazendo maior exigência para o trigo pão, o produtor deve estar atendo às informações disponí-veis, com o objetivo de manter bons níveis de produtividade aliados à boa qualidade do trigo.

Claudir José Basso, Antônio Luiz Santi, Fabiane Pinto Lamego, Gustavo Miguel Colognese, Altamir Mateus Bertolo, Julio Cesar Orlandi, Tiago José Brigo, Felipe Fritch, UFSM/Cesnors

CC

Basso, Santi e Fabiane avaliaram a adaptação de cultivares à região de plantio e sua tolerância a chuvas

Fotos Claudir José Basso

Page 30: Grandes Culturas - Cultivar 153

Arroz

30 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

No manejo de insetos-praga, a identificação da espécie causa-dora dos sintomas aparentes é

uma etapa fundamental. Quando os danos ocorrem nas folhas ou nas panículas, os insetos podem ser facilmente identificados. Porém, quando o ataque se dá nas raízes, a identificação não é tão simples, e é necessário o conhecimento dos sintomas para uma correta amostragem e adoção de práticas de manejo. Esta pode ser uma das dificuldades em áreas onde ocorre o pulgão-da-raiz, Rhopalosiphum rufiabdominale.

Segundo trabalhos do Instituto Riogran-dense do Arroz (Irga), o pulgão-da-raiz é uma espécie que causa preocupação aos produtores desde 1987. Atualmente, é um dos principais insetos no Rio Grande do Sul, com ataque a áreas expressivas, com perdas econômicas. Nas últimas safras, a sua população tem aumen-tado e a ocorrência se dá principalmente na região da Fronteira Oeste, Campanha, Depres-

são Central e na Planície Costeira Externa. Em alguns municípios da Fronteira Oeste, até 70% da área de arroz irrigado é atacada.

Os pulgões são insetos de corpo mole, que apresentam em média 2mm de comprimento, coloração verde-escura na parte anterior do corpo e vermelho-alaranjado no segmento posterior. Possuem aparelho bucal do tipo picador-sugador e se multiplicam rapidamen-te, sendo favorecidos por temperatura amena a elevada e clima seco. Vivem em colônias nas raízes, em profundidade de 2cm a 3cm, sendo estas formadas por adultos (fêmeas) alados ou ápteros e por ninfas de diferentes tama-nhos. A dispersão é realizada principalmente pelo vento, portanto, podem atingir grandes distâncias.

Durante a entressafra com as condições climáticas desfavoráveis, estes insetos ficam abrigados, sendo os principais locais de hibernação a roseta (Soliva pterosperma), o capim-rabo-de-burro (Andropogon bicornis),

o capim-arroz (Echinochloa spp) e o arroz espontâneo (Oryza sativa).

Os pulgões não resistem ao encharca-mento do solo. Assim, são característicos de solos arenosos e bem drenados. Após o alagamento, podem permanecer nos locais mais altos da lavoura, como taipas, coroas e bordaduras. Tanto as formas adultas como as ninfas atacam as plantas, tornando-as fracas,

Identificação corretaFacilmente confundido com outros sintomas, como a fitotoxidade provocada por herbicidas, o ataque do pulgão-da-raiz pode ser tratado de forma equivocada em áreas de arroz irrigado. Por

isso, o monitoramento adequado da lavoura é o primeiro passo para o sucesso no manejo da praga

Nas últimas safras a presença do pulgão-da-raiz tem aumentado nas regiões produtoras de arroz irrigado

Identificação correta

Fotos Jaime Vargas de Oliveira

Page 31: Grandes Culturas - Cultivar 153

Jaime Vargas de Oliveira, Thais Fernanda S. de Freitas, Sintia da Costa Trojan e Gustavo Cantori Hernandes,Irga

31www.revistacultivar.com.br • Fevereiro 2012

Tabela 1 - número de tratamentos, doses de produtos em tratamento das sementes, avaliações, número de pulgões e percentagem de controle do pulgão-da-raiz em arroz irrigado. irga, uruguaiana, rs, 2011.

dosemL/100kg semente

5010015080120--

n2

0,00,00,00,02928

40das1

100 100 100 100 0 0

Tratamentos

1. tiametoxam (neonicotinóide) 350fs 2. tiametoxam (neonicotinóide) 350fs3. tiametoxam (neonicotinóide) 350fs4.imidacloprido (neonicotinóide) 600fs

5. fipronil (pirazol) 250fs6. Testemunha

1 dias após a semeadura; 2 número médio de pulgões

n1

0,00,00,02325

55das97 100 100 100 9 0

avaliações (% controle)

com estatura reduzida e folhas cloróticas. O ataque às plantas pode começar logo após a emergência, alimentando-se principalmente das raízes, mas tende a ocorrer também na base do colmo. É um sintoma comum do ataque as linhas mais altas das taipas ficarem amareladas, até totalmente alaranjadas, po-dendo chegar à morte. Muitas vezes o ataque do pulgão-da-raiz é confundido com a fitoto-xidade provocada por herbicidas.

O monitoramento deve ser realizado após a emergência do arroz, começando pelas partes mais altas da lavoura e concentrando-se prin-cipalmente nas taipas. O número de amostras e o tamanho da área de coleta serão determi-nantes na precisão do método. Em regra geral, quanto maior o número de amostras, maior será a precisão. A determinação da população de insetos pode ser feita através da coleta de no mínimo 20 amostras representativas da área.

Na coleta do inseto, deve-se fazer um exa-me detalhado do sistema radicular, pois, pela sua coloração escura, os pulgões são difíceis de serem encontrados. Para determinar os pulgões, deve-se arrancar as plantas e dividir as raízes em partes, facilitando desse modo a constatação do inseto. Também pode ser colocado um papel branco e em cima agitar as plantas. Os pulgões desprendem-se das raízes e movimentam-se facilitando a sua identifi-cação. Muitas vezes, como o solo está muito seco, ao arrancar as plantas algumas raízes rompem-se. Logo, nestes casos o emprego de enxada ou pá auxilia a coleta dos insetos.

maneJoAs estratégias de manejo devem começar

com o adequado monitoramento da lavoura por parte do produtor. Conhecer os sinais do ataque, os hábitos do inseto e os locais mais prováveis de sua atividade são requisitos básicos para que o produtor saiba o local e o momento de procurá-las.

reDução Das plantas DaninHasAs plantas hospedeiras junto aos canais

de irrigação, sobre as ruas e nas bordas da lavoura, devem ser cortadas fazendo com

que os insetos fiquem expostos no período da hibernação, quando as condições climáticas são desfavoráveis. Porém, não devem ser eliminadas totalmente, pois inimigos naturais ali abrigados podem ser afetados, provocando sua redução.

Destruição Da resteVaA eliminação da resteva após a colheita

através de roçadeira, incorporação por grade ou a colocação de animais, vai auxiliar na redução de população dos insetos existentes. Também, a palha do arroz, concentrada nas áreas mais altas da lavoura, forma locais favo-ráveis ao abrigo dos insetos.

manejo De águaO manejo da irrigação, com a entrada da

água mais cedo ou através da manutenção de lâmina de água uniforme em toda a área, sem permitir a existência de coroas ou partes da lavoura no seco, vai reduzir a população. Em taipas altas, como a água não atinge a

parte superior, a redução do pulgão-da-raiz é baixa.

controle químicoNão existem inseticidas registrados para

controle do pulgão-da-raiz em arroz irrigado. Na busca por produtos eficientes foi realizado um estudo via tratamento das sementes, onde avaliou-se o comportamento de algumas molé-culas de menor perfil toxicológico no controle deste inseto-praga. Os resultados experimen-tais obtidos, conforme Tabela 1, mostram que os inseticidas tiametoxam (neonicotinoide) 350FS e imidacloprido (neonicotinoide) 600FS, em leituras realizadas até 55 dias após a semeadura, foram eficientes no controle do pulgão-da-raiz, Rhopalosiphum rufiabdominale em arroz irrigado.

Após o alagamento os insetos podem permanecer nos locais mais altos da lavoura, como taipas

Sintomas do ataque de pulgão-da-raiz em plantas de arroz irrigado

CC

Page 32: Grandes Culturas - Cultivar 153

Cana-de-açúcar

32 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

A cultura da cana-de-açúcar é sobre-maneira a de maior importância na região Centro-Sul do Brasil. Apro-

ximadamente sete milhões de hectares são cultivados com esta gramínea semiperene e de grande potencial de recobrimento do solo.

Atualmente, muitos produtores se pre-ocupam com o arrendamento da terra e a possibilidade de não depauperar o solo. Em outras palavras, conservá-lo para seus filhos e netos.

O potencial que existe em retorno em curto e médio prazo com açúcar e álcool e agora com o advento da biomassa, ou seja, de co-geração de energia, satisfaz muito a expectativa em relação ao futuro da cana no agronegócio paulista e brasileiro.

Além de terraceamento da área de cultivo bem feito, direcionamento e escoamento da produção, o produtor quer estar certo do que pode desenvolver em parceria com a

agroindústria e vislumbrar sua receita líquida satisfatória ao final do mês ou ao término do ano, dependendo da sua inserção no mercado sucroenergético.

A maior dificuldade nos dias atuais para os produtores é entender qual o grande benefício em se recuperar o canavial após quatro a seis cortes na cultura da cana (com média de cinco cortes), anteriormente à renovação (com a própria cana) ou reforma (com leguminosas alternando o sistema radicular e fixando nitrogênio).

Sabendo-se que a grande contribuição da leguminosa utilizada a seguir irá satisfazer os benefícios esperados com relação à conserva-ção do solo e ao acúmulo de fitomassa, que virá sem a queima, poderá esta fitomassa, ou biomassa, permitir aumento da matéria orgâ-nica do solo, diversificando biologicamente a área de cultivo e, por vezes, agregando renda ao produtor.

Atualmente, já é consenso da comu-nidade agronômica que as leguminosas aumentam o conteúdo de nitrogênio total do solo que, produzem maior quantidade de matéria seca e retornam mais carbono à terra, que auxilia na preservação da es-trutura do solo, na infiltração de água, na contenção da erosão e na minimização do assoreamento de mananciais.

O fator econômico a curto e médio prazo faz com que a maioria dos produtores não se preocupe com estas estratégias de rotação de culturas com soja, amendoim, crotalária, mucuna (verde ou cinza), adubos verdes em geral e até mesmo com gramíneas que podem ser consorciadas com leguminosas e com a cultura do milho.

Vontade política, conhecimento científico e pesquisas em andamento não faltam para equilibrar um agroecossistema como a cultura da cana, entretanto, alguns conhecimentos

Carbono manejadoExigência ambiental, a colheita mecanizada da cana-de-açúcar, sem despalha a fogo, traz

benefícios e novos desafios a serem enfrentados por produtores e indústria. Conhecimentos básicos são essenciais para o equilíbrio do agroecossistema

Page 33: Grandes Culturas - Cultivar 153

básicos necessitam ser popularizados para a grande maioria dos produtores, fornecedores e arrendatários de cana–de–açúcar de todo o país.

queima ou colHeita mecanizaDaPodem-se elencar diversos aspectos

com relação à cultura, como, por exemplo, a comparação entre a cana colhida queimada e a colheita mecanizada. A cana-de-açúcar, durante a fotossíntese, processo de obtenção de energia da planta, retira gás carbônico do ar. O gás carbônico é transformado pela planta em compostos orgânicos que são incorporados por raízes, colmo (caule da cana) e folhas.

Quando a colheita é feita por meio da queimada das folhas, o carbono presente nos compostos orgânicos vai direto para a atmos-fera em forma de gás carbônico, como produto da combustão. Em contrapartida, quando a cana é colhida mecanicamente sem queima, parte do carbono não volta para a atmosfera e é fixado no solo.

etanol ou gasolinaSegundo muitas fontes na literatura, a

vantagem de colheitas mecanizadas faz com que plantações de cana-de-açúcar destinadas à produção de etanol tornem este biocom-bustível duplamente mais benéfico do que a gasolina, porque o gás carbônico liberado na

combustão do etanol é o mesmo consumido durante a fotossíntese da cana. Na combustão da gasolina esta reciclagem não ocorre.

Em outras palavras não há perda, trata-se de um sistema conservativo com ganho energético enorme, o que valoriza ainda mais esta tecnologia que colhe a cultura da cana, sem despalha a fogo.

como aTender as demandasSegundo o professor Marcos Fava Neves,

da USP, Ribeirão Preto, até 2016 o Brasil pode produzir um montante de açúcar que atenderia, em sua totalidade, a China, como país, em um universo de muitos pretendentes pelo nosso açúcar, inclusive o abasteciemto no mercado interno.

asPecTo sociaLCom a modificação da forma de colheita

existirá reposição de pessoal por máquinas, e para estas pessoas qual será o futuro? Serão treinadas dentro da usina ou outra parte do setor sucroenergético precisará absorver, do contrário, o desemprego será um problema inevitável, principalmente nas regiões norte e nordeste de São Paulo, onde existem cidades inteiras com mão de obra consolidada.

reforma com soJaA cultura da soja tem potencial de pro-

dutividade e recuperação de solo altíssimo no noroeste de São Paulo, em áreas de reforma da cana–de-açúcar, posicionadas em solos suscetíveis ao processo erosivo. Isto pode ser equacionado desde que medidas de incentivo na reforma e adequação de ambientes de pro-dução sejam congruentes entre os ambientes de soja e cana, ou até mesmo de amendoim e cana, no caso de solos de textura mais arenosa, nas regiões de Marília e Araçatuba.

emissão De carBonoEm áreas de cana crua, onde existe palha

sobre a superfície, o solo apresenta uma clara uniformidade de emissão de carbono, enquan-

to nas áreas de cana queimada é observada maior variabilidade nos índices de emissão.

De acordo com dados da literatura, já se sabe que o preparo do solo para o plantio da cana-de-açúcar, em que se faz uma intensa aração do terreno onde a planta será cultivada, acelera muito as emissões de carbono do solo para a atmosfera. Entretanto, está provado que a remoção da palha da superfície do solo também provocava emissões tão altas quanto as induzidas pelo preparo.

Algumas das alternativas de uso desse re-síduo no cultivo da cana que estão sendo estu-dadas são: utilizá-lo para produzir bioenergia, comumente chamado de co-geração; usá-lo como matéria-prima para o etanol de segunda geração ou na alimentação animal. Entretanto, no meio conservacionista, a melhor utilidade seria mantê-lo mesmo sobre a superfície do solo dos canaviais, devido aos seus impactos na mitigação do carbono. Admite-se 50% de cobertura do solo como um manejo conser-vacionista, após a retirada da palha.

plantio Direto ou cultiVo mínimoO plantio direto ou cultivo mínimo é

uma grande alternativa conservacionista para a cultura da cana, pois a mobilização do solo é minimizada, produz um sulco bem menor que o tradicionalmente utilizado, diminui o tráfego de máquinas e propor-ciona, além do incremento do carbono orgânico do solo via cana crua, a melhoria da própria estrutura do solo, aumentando a quantidade de agregados estáveis, podendo ter uma relação entre macro e microporos ideal para o determinado tipo de solo sub-metido ao manejo sustentável da cultura da cana, dando oportunidade às culturas subsequentes que virão na reforma após cinco ciclos produtivos de cana, agregando valor econômico ao produtor e retornando benefícios ambientais ao próprio solo.

Fotos John Deere

Sandro Roberto BrancaliãoApta/IAC

Com a colheita mecanizada parte do carbono é fixada no solo e não retorna à atmosfera

33www.revistacultivar.com.br • Fevereiro 2012

CC

Page 34: Grandes Culturas - Cultivar 153

Gestão ambiental

34 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

No Brasil as questões sobre desmatamento afetam direta-mente a sustentabilidade do

agronegócio e a conservação da biodiversi-dade, pois cabe ao Estado promover o de-senvolvimento e, ao mesmo tempo, garantir a preservação e conservação dos recursos naturais. De acordo com a Lei Federal 6.938/81 e o Decreto 99.274/90, norteado-res da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), encontra-se estabelecido que os órgãos e entidades da União, os Estados, o Distrito Federal, os territórios e municípios, assim como as fundações instituídas pelo poder público são responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental.

Dentre outros instrumentos, a Lei 6.938/81 criou o licenciamento ambiental que se refere ao licenciamento e revisão de atividades efetivas ou potencialmente po-

luidoras. Desta forma, ficou determinada a obrigatoriedade do licenciamento ambiental para empreendimentos agropecuários, con-forme disposto no seu art. 10: “A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente poluidores, bem como os capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental”. No entanto, trans-corridos 30 anos da promulgação dessa lei, o Estado brasileiro ainda busca um sistema de monitoramento e de apoio à tomada de decisão eficiente para a regularização am-biental obrigatória dos empreendimentos agropecuários.

O planejamento ambiental e o con-sequente monitoramento dos recursos naturais não se restringem apenas à elabo-ração de leis, requer um acompanhamento

constante sobre a dinâmica desse uso e ocupação para que possam ser regulariza-das ou fornecidas licenças ambientais para implantação dos diversos empreendimentos agropecuários.

Preocupado com essas questões, o gover-no do estado de Mato Grosso do Sul buscou uma alternativa para solucionar o monito-ramento dos recursos naturais e da regu-larização ambiental, encontrada mediante a aplicação de tecnologias de informação, baseadas no uso de softwares grátis ou livres, desenvolvimento de software e ferramentas de geotecnologias (sensoriamento remoto, sistemas de informações geográficas, banco de dados georreferenciados, consultas e oferta de dados via web). Para que isso fosse consolidado, o estado firmou um convênio com a Embrapa Informática Agropecuária para desenvolver o projeto GeoMS - Sistema

Suporte necessárioCom a crescente demanda por regularização ambiental para empreendimentos agropecuários, aumenta a busca por sistemas que auxiliem no monitoramento

dos recursos naturais e facilitem o acesso às licenças obrigatórias

Fotos João Vila

Page 35: Grandes Culturas - Cultivar 153

de Informação Georreferenciada.Entre os principais resultados está a

obtenção e organização dos dados espa-cializados em um sistema de informações geográficas. Para estruturação do banco de dados georreferenciado foi utilizado o Sistema de Informações Geográficas Spring (Sistema de Processamento de Imagens Georreferenciadas), utilizando os mode-los de dados temáticos e imagens. Foram criados diversos projetos no sistema de projeção cartográfica Universal Transversa de Mercator (UTM), com Datum SAD69 (South America Datum) e um projeto chamado mosaico, com abrangência para todo o estado, na projeção Lambert e com Datum SAD69.

Em seguida, foi efetuada a modelagem dos dados (temáticos - pontos, linhas, áre-as -, imagens etc) a serem armazenados e gerenciados.

maPeamenTo Esta etapa envolveu a seleção das

imagens do satélite CBERS 2, ano 2007, processamento, interpretação e verificações a campo. A interpretação está sendo visual e busca separar, para o mapa de desma-tamento, áreas com vegetação natural e locais, onde houve a supressão da vegetação natural. Tais interpretações têm como base as verificações a campo em áreas amostrais, realizadas com botânicos e especialistas em geotecnologias.

Para o mapa de cobertura vegetal e uso da terra, cada polígono está sendo classifi-cado em termos de fitofisionomia natural (cerrado, floresta decídua...) e uso (agríco-la, pastagem...), sendo adotado o sistema brasileiro de classificação da vegetação, preconizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os trabalhos de campo são fundamen-tais para verificar as informações duvidosas sobre os limites das classes identificadas,

servindo para fazer os ajustes e correções necessárias para a consolidação do mapea-mento da cobertura vegetal e uso da terra.

Delimitação Das Bacias HiDrográficas Os limites das atuais 15 bacias delimita-

das foram refinados para a escala 1:100.000, utilizando dados do imageamento topográ-fico realizado pela SRTM (Shuttle Radar Topography Mission). Além disso, para cada uma dessas bacias estão sendo delimitadas em torno de 20 sub-bacias hidrográficas.

O Estado forneceu as bases vetoriais da rede de drenagem na escala 1:100.000 origi-nada das bases cartográficas. A drenagem foi recebida em layers separados e estão sendo individualizados em rios perenes e rios temporários. Os ajustes dos vetores estão sendo realizados na forma manual.

DesenVolVimento e implantação O Sistema Interativo de Suporte ao

Licenciamento Ambiental (Sisla) tem como objetivo oferecer dados geográficos de interesse à gestão ambiental e ao licen-ciamento ambiental de Mato Grosso do Sul aos empreendedores, consultores, fiscais e sociedade em geral.

O sistema, implantado em Mato Gros-so do Sul em agosto de 2008, constitui-se de um conjunto de ferramentas de nave-gação, espécies de análises, compartilha-mento e geração de mapas sob demanda. Além da análise e geração de relatório do entorno do empreendimento para o licenciamento ambiental, o Sisla permite o cadastro de processos de licenciamento ambiental com seus respectivos mapas georreferenciados; consultas georrefe-renciadas aos processos cadastrados, verificando intersecção e proximidade de áreas protegidas pelo governo do estado; análise técnica dos processos cadastrados, possibilitando a visualização das áreas cadastradas para os processos.

O acesso a essas funcionalidades tam-bém é diferenciado, ou seja, apenas a fun-cionalidade de análise e relatório do entorno do empreendimento é aberta ao público. Todas as outras funcionalidades exigem login e senha previamente cadastrados pelos administradores.

O acesso aos dados do Sisla é realizado por meio de qualquer navegador para In-ternet, para ambiente Microsoft Windows ou Linux. Atualmente há mais de 20 mapas temáticos do estado disponíveis neste siste-ma. O endereço eletrônico do Sisla é ( http://sisla.imasul.ms.gov.br).

João Vila, Embrapa Informática Agropecuária

A exigência de licenciamento ambiental para empreendimentosagropecuários está cada vez mais presente na rotina dos produtores

35www.revistacultivar.com.br • Fevereiro 2012

Sistema adotado no Mato Grosso utiliza informações georreferenciadas, com mapeamento da cobertura vegetal e do uso da terra

CC

Page 36: Grandes Culturas - Cultivar 153

36 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Coluna ANPII

foco na soja

De 11 a 14 de junho ocorre o 6º Congresso Brasilei-ro de Soja, em Cuiabá,

Mato Grosso. Nas cinco edições anteriores foram discutidos temas de grande interesse e diversas ações de pesquisa e produção têm sido bali-zadas por estes eventos, que reúnem expressivo número de pesquisadores, produtores, consultores e empresas ligadas à cadeia da soja. Em 2004 o Congresso Brasileiro de Soja coin-

PII, autor desta coluna. A discussão servirá para que possam ser expostos aos participantes do Congresso os mais recentes resultados de pesquisa, mostrando a plena viabilidade do uso exclusivo da inoculação como fonte de nitrogênio para a obtenção de produtividades acima de 5.000kg/ha, meta já presente em diversas lavou-ras espalhadas pelo Brasil.

Trabalhos de pesquisa realiza-dos nos últimos 30 anos ao redor

Solon de AraujoConsultor da ANPII

e Abastecimento (Mapa), que tem apresentado o maior índice de con-formidade, sempre acima de 90%, o que indica perfeita sintonia com o elevado índice tecnológico que os agricultores brasileiros utilizam em suas lavouras.

Para acentuar ainda mais o cará-ter de elevado padrão dos inoculan-tes produzidos pelas empresas a ela filiadas, a ANPII estuda a implan-tação de um projeto de certificação,

ANPII prepara painel para aprofundar o debate sobre a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) durante o 6º Congresso Brasileiro de Soja, que ocorre

em junho, em Cuiabá

A ANPII levará ao Congresso os dados de produção de inoculante para soja

cidiu com o Congresso mundial da oleaginosa, mostrando a importância que o país tem no âmbito da cultura e do agronegócio como um todo.

Em 2012 haverá um painel es-pecífico sobre a Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN), em que será reforçado o papel estratégico que a FBN apresenta para a cultura da le-guminosa, fornecendo praticamente todo o nitrogênio necessário para as mais elevadas produtividades. A inclusão deste tema no Congresso mostra a importância desta tecno-logia, reconhecida mundialmente como um dos pilares da competi-tividade e da sustentabilidade na cultura da soja.

Este painel contará com palestras dos pesquisadores Mariângela Hun-gria, da Embrapa Soja; Fábio Martins Mercante, da Embrapa Agropecuária Oeste; Antônio Luiz Fancelli, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz; e do consultor da AN-

do mundo, em especial no Brasil e Argentina, demonstram de forma irrefutável que uma boa inoculação, feita com inoculante de qualidade e produzida com estirpes de elevada eficiência, pode suprir toda a deman-da de nitrogênio de uma lavoura de soja, por maior que seja o potencial genético da cultivar.

A ANPII levará ao Congresso os dados de produção de inocu-lante para soja, enfatizando que a comercialização deste insumo no Brasil supre plenamente, do ponto de vista quantitativo e qualitativo, toda a necessidade do mercado. As empresas filiadas à associação estão plenamente cientes de sua respon-sabilidade no contexto da cadeia da soja, fornecendo produtos adequados às necessidades do mercado.

Dentro do parâmetro qualidade, o inoculante foi o produto, dentre os insumos amostrados pelo Mi-nistério da Agricultura, Pecuária

com o objetivo de reforçar a avaliação da qualidade dos lotes produzidos, emitindo um laudo de conformidade. Desta forma o agricultor teria uma dupla garantia: além dos laudos oficiais do Mapa, que faz um am-plo trabalho de coleta e análises de amostras em laboratórios oficiais, haveria uma segunda garantia, com análises realizadas por laboratório independente, que daria a dupla segurança ao agricultor.

Desta forma, as empresas pro-dutoras de inoculante filiadas à ANPII capacitam-se cada vez mais para oferecer ao mercado produtos que venham a suprir as plantas com nitrogênio pela via biológica, sem sombra de dúvida a melhor, mais econômica e mais limpa fonte de fornecimento do nutriente exigido em maior quantidade pela soja. CC

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Coluna Agronegócios

37www.revistacultivar.com.br • Fevereiro 2012

cana-de-açúcar e ambiente

Agricultura e alterações no am-biente são gêmeos siameses, des-de que o homem de Neanderthal

pela primeira vez plantou numa roça. A cana-de-açúcar apresenta interações positi-vas e negativas com o ambiente, sendo que o consumo de água, o uso de fertilizantes e a participação da cultura da cana na dinâmica dos gases de efeito estufa são os principais aspectos a serem analisados. Sem dúvida, o fato de a cana ser a matéria-prima do etanol, um combustível amigável ao ambiente e que responde por mais de 50% do volume de combustível que abastece veículos de passeio no Brasil, gera a expectativa de mitigação do efeito estufa, superando os seus impactos negativos sobre o ambiente.

Com plantações concentradas em áreas com boa distribuição de chuvas, o

água nas usinasMas o consumo de água não ocorre

apenas na lavoura, a demanda também ocorre nas usinas. Esta preocupação tem sido uma constante, ao ponto de que o consumo industrial de água se reduziu de 5,6m3 para 1,8m3, nas duas últimas décadas. Além das preocupações ambientais e de custos, as políticas públicas também apontam nesta direção. Por exemplo, em São Paulo, as novas plantas industriais podem consumir, no máximo, 1m3 de água por tonelada de cana processada. Uma notícia alvissareira: a indústria Dedini, maior fornecedora de usinas de cana, já dispõe de tecnologia que permite o fluxo de água em circuito fecha-do, reduzindo a zero a necessidade de água adicional nas usinas!

A indústria da cana-de-açúcar também

Recentemente, a Embrapa lançou no mer-cado a tecnologia de bactérias simbiônticas, fixadoras de nitrogênio, que devem diminuir em até 50% o uso de adubos nitrogenados minerais na cana.

emissões Pelo potencial de ocupação do mercado

de biocombustíveis, as emissões de gases de efeito estufa do ciclo de vida do etanol atraem a atenção de cientistas, ONGs e governos. Os fertilizantes nitrogenados têm papel importante, pois liberam óxido nitroso (N2O), que é 300 vezes mais potente que o CO2 na contribuição para o efeito estufa. Admite-se, atualmente, que 1% do fertili-zante empregado possa ser liberado para a atmosfera como NOx.

O CO2 também compõe a avaliação

Décio Luiz GazzoniO autor é Engenheiro Agrônomo,

pesquisador da Embrapa Soja

A cana-de-açúcar consome 13% do adubo utilizado no Brasil, e a contaminação por fósforo e nitrato dos fertilizantes também pode redundar em impacto ambiental

cultivo da cana-de-açúcar na maior parte do Brasil dispensa irrigação. Embora a cultura apresente alta resposta à irrigação, os resultados disponíveis demonstram que utiliza menos água que outros cultivos, como soja e café, em relação ao volume de biomassa produzido por unidade de área. Mesmo nas regiões em que a irrigação é necessária, como nos Cerrados do centro do Brasil, a da cana não precisa ser inten-siva para obter produtividade semelhante à principal região produtora de São Paulo. Nestes locais aplica-se a chamada irrigação de salvação, que permite a brotação e o estabelecimento da cultura, durante o período de seca, entre maio e setembro.

A alta resposta da cana à irrigação foi claramente demonstrada pelo pes-quisador Marcos Landell (IAC, Ribeirão Preto), que desenvolveu uma variedade que apresentou produtividade superior a 300t/ha, cultivada em condições ideais de suprimento de água e de nutrientes. A vantagem desta alta produtividade é a possibilidade de reduzir a expansão da área plantada e do volume total de água con-sumido, consequentemente diminuindo os impactos ambientais.

se preocupa com a preservação das águas superficiais e lençóis freáticos. Subprodutos contaminantes, como a vinhaça, não podem ser jogados em rios e são reaproveitados como fertilizantes, que também são submetidos a limites de aplicação a fim de que não haja contaminação do solo por excesso de sua aplicação.

ferTiLizanTesA cana-de-açúcar consome 13% do

adubo utilizado no Brasil, e a contaminação por fósforo e nitrato dos fertilizantes também pode redundar em impacto ambiental. Os fer-tilizantes nitrogenados são altamente solúveis, sendo lixiviados para as camadas subsuperfi-ciais do solo. O excesso de fósforo provoca a eutrofização, que é a proliferação de algas na água. As avaliações disponíveis indicam que estes problemas são de baixa magnitude no Brasil, comparativamente ao que ocorre nos Estados Unidos, Europa ou Japão.

Em 2008, com produção semelhante de etanol no Brasil e nos EUA, a cana brasileira consumiu 910 mil toneladas de adubo, muito abaixo dos 2,8 milhões de toneladas empregadas na produção do milho norte-americano destinado à produção de etanol.

ambiental da cana, pois há mais carbono na camada superficial do solo do planeta do que na atmosfera. Isso faz com que qualquer ati-vidade de manejo do solo seja uma potencial liberadora de CO2. A estrutura da planta de cana é favorável nesse sentido, pois concentra a parte seca e mais rica em carbono na parte inferior e na raiz do vegetal, o que mantém o CO2 sob o solo.

A colheita da cana crua, sem a queima, pode aumentar o teor de carbono na terra. Os subprodutos como a vinhaça e a torta de filtro retornam ao campo como adubos. A legislação do estado de São Paulo – maior produtor brasileiro de cana - prevê a extinção da colheita com fogo até 2031. Além de man-ter a palha no campo, a cana crua não libera o CO2 por queima da palhada residual.

Além disso, os dois principais produtos da cana, como a sacarose e o etanol, contêm somente carbono, hidrogênio e oxigênio, ou seja, boa parte dos minerais presentes nos fertilizantes pode ser reciclada, permanecen-do no campo, o que reduz a contaminação ambiental. CC

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Coluna Mercado Agrícola

agronegócio começa 2012 com pé no acelerador

TRIGO - O mercado do trigo brasileiro foi prejudicado pelo clima chuvoso na colheita, com perdas importantes na qualidade. Boa parte da safra teve como destino o setor de ração e os indicativos estiveram até abaixo da faixa dos R$ 400,00. Mas o quadro deverá começar a mudar em fevereiro, com mais procura e espaço para o crescimento das cotações. Com a demanda voltando a andar forte e dando espaço para ajustes positivos ao grão restante.

ALGODÃO - Os produtores estão plantando a safra, com boa parte apontando que estavam negociados pelo menos 50% do que pretendem colher. Muitos, inclusive, indicam que estariam vendidos mais de 70%, buscando aproveitar os momentos de alta para fechar negócios e garantir rentabilidade.

EUA - A safra foi ajustada pelo USDA para números maiores do que estavam sendo apontados em dezembro ou novembro, na contramão do que o mercado esperava. Mesmo assim os indicativos foram de 83,2 milhões de toneladas de soja contra 82,9 milhões de toneladas projetados em dezembro. Para o milho os novos números foram de 313,1 milhões de toneladas contra 312,7 milhões de toneladas. O mercado esperava que a produção ficasse próxima de 310 milhões de toneladas. Os números do

miLHoComeço em altaO mercado do milho, que se manteve em cal-

maria até dezembro, tem na seca que afetou o Sul do Brasil o fator de arranque nas cotações nestes primeiros dias do ano. Com forte avanço nos números e indicativos de que novamente haverá um bom ano para o cereal, porque foram perdidas mais de quatro milhões de toneladas com a estia-gem entre os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Desta forma, como há grandes volumes de milho contratado para a exportação neste começo de ano, certamente haverá disputa entre as indústrias de ração (que irão crescer em consumo) e os exportadores. Isso já se percebe neste mês de janeiro, com as primeiras colheitas, com boa disputa entre os compradores e cotações que chegaram a bater a marca dos R$ 30,00 no FOB RS. Mas os números reais da safra deverão se acomodar em níveis menores, embora lucrativos para os produtores, estimulando o plantio da segunda safra que já está em andamento.

soJaSeca na Argentina reverte onda baixistaO mercado da soja, que, no final do ano

apresentava indicativos de perda de fôlego e queda em Chicago, começou 2012 com força total. O Sul do Brasil e a Argentina passaram por uma forte onda de calor e seca, com perdas crescentes no potencial produtivo. No meio de janeiro houve chuvas nessas regiões, mas de pouco impacto, já indicando que mais seca vem pela frente. Desta forma o clima comandará Chicago e tudo aponta para grandes perdas na Argentina e cotações maiores e acima dos 12,00 dólares ou 13,00 dólares. Há poucos negócios realizados neste começo de ano, porque os produtores brasileiros já estão com a safra nova bem comercializada e existe pouco volume de soja velha ofertada.

feijãoRevertendo onda baixista em 2012O mercado do feijão, que nos últimos dois

anos navegou mais na linha negativa, começou 2012 com indicativos de que este será o ano do feijão. Isso porque os custos para importar subiram, o dólar está mais forte do que há dois anos, o produto está mais caro no mercado internacional e a primeira safra foi fortemente afetada pela redução da área no Sul e pela seca

que derrubou a produtividade. Assim, os volumes que foram sendo colhidos logo desapareceram e de agora em diante os produtores dos estados centrais comandarão as cotações (que já foram negociadas na casa dos R$ 200,00 e podem ter números próximos ou acima destes em vários momentos do ano).

arrozReação ainda tímida Os produtores do arroz tiveram um ano

bastante frágil em 2011 e o reflexo começa a aparecer já neste início de 2012, com redu-ção forte na safra. Até mesmo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que normalmente é otimista em seus números, aponta que haverá produção muito abaixo do consumo. Será necessário quase dobrar as importações para atender à demanda. Isso sinaliza que se os produtores quiserem este será um bom ano para o arroz. A Conab apontou a safra em 11,4 milhões de toneladas contra 13,6 milhões de toneladas colhidas no ano passado. Enquanto isso o consumo deve crescer muito acima das 12,5 milhões toneladas colhidas no ano passado.

CURTAS E BOASUSDA são otimistas, mas o fato é que houve perdas importantes na última safra, porque as projeções iniciais apontavam algo acima de 350 milhões de toneladas para o milho e de 90 milhões de toneladas para a soja. A boa notícia é que o país está abrindo o mercado para a carne suína do Brasil. A medida é uma espécie de selo de garantia para vender em outros países e dará espaço para o produto brasileiro crescer.

CHINA - As importações foram gigantes e o país não para de crescer. Projeta-se um crescimento da economia acima dos 8,5% neste ano. E isso tende a refletir em demanda de alimentos, que trará os chineses como grandes compradores da soja e também de frango e suíno, se-tores que começam a crescer e mostram grande potencial de venda pelo Brasil.

ARGENTINA - O clima será o grande vilão da safra portenha neste ano, porque já trouxe grandes perdas no potencial produtivo e tende a ser des-favorável no restante de safra. A projeção da soja, que era de 55 milhões de toneladas, agora está abaixo de 50 milhões de toneladas. Para o milho, que se chegou a falar em 32 milhões de toneladas, estima-se atualmente 22 milhões de toneladas. Esse panorama dá fôlego para o mercado inter-nacional se mostrar mais forte em 2012.

38 Fevereiro 2012 • www.revistacultivar.com.br

Vlamir [email protected]

O agronegócio começa 2012 com o pé no acelerador, com as cotações fortes no mercado de Chicago e de Nova York e o clima causando estragos nas lavouras do Sul da América do Sul. Há grandes perdas, principalmente na Argentina, o que dá apelo altista às cotações, que começaram o ano em forte alta, mesmo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) trazendo o seu primeiro relatório negativo, como de costume, tentando tirar o brilho deste começo de ano, que promete ser de bons lucros aos produtores brasileiros. A safrinha que está sendo plantada teve o otimismo renovado, com a quebra da primeira safra de milho do Sul do Brasil, que suplantou o temor de cotações baixas. Culturas como o feijão mostram neste primeiro mês do ano as maiores cotações em quase dois anos, com fôlego para se manter em bons níveis aos produtores. A soja, que vinha em uma fase de pessimismo forçado pela crise da Europa e desaceleração da China, volta a mostrar bons indicativos e promete cotações atrativas. Junto a isso, os chineses divulgaram o crescimento de 2011, com o país avançando 9,2%, o que supera as expectativas. Mesmo sendo o menor índice de crescimento em mais de dez anos na China, o percentual é positivo diante da previsão anterior que apontava números inferiores. O cenário seguirá dando fôlego a grandes importa-ções do país, principalmente de soja, que continua como carro-chefe do Brasil, com mais de 23,8 bilhões de dólares em exportações em 2011. Desse total, 70% da oleaginosa comercializada foram para a China, que continuará comprando forte em 2012. As exportações do setor de carnes brasileiras chegaram à casa dos 15 bilhões de dólares no último ano e mostram todo potencial de manter (ou até mesmo avançar) porque o crescimento se deu em países emergentes e que vão seguir crescendo forte neste ano. Também tendem a continuar os embarques brasileiros dos demais produtos agrícolas como café, laranja, açúcar, milho e agora com boa presença até mesmo do arroz (com aproximadamente dois milhões de toneladas estimadas para fechar o ano comercial). O panorama atual confirma o Brasil como celeiro do mundo, com ótimas condições para manter o pé no acelerador em 2012.

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