grandes culturas - cultivar 164

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Janeiro de 2013

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Page 1: Grandes Culturas - Cultivar 164
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Page 3: Grandes Culturas - Cultivar 164

Editorial

Índice

Podridão do caule em soja 04

Controle de pragas em soja 07

Revisão no manejo de percevejos 10

Desafio recorrente da ferrugem asiática 13

Os desafios para produzir soja em áreas de várzea 18

Manejo de doenças em milho 21

Perspectivas para a safrinha de milho 2013 24

Como enfrentar a resistência de plantas daninhas 26

Mancha amarela na cultura do trigo 30

Controle de corda de viola nos canaviais 32

Pulgão-da-raiz em arroz 34

Bicho-mineiro em café 36

Expediente

Cultivar Grandes Culturas • Ano XIV • Nº 164 • Especial 2012 • ISSN - 1516-358X

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: [email protected]

Grupo Cultivar de Publicações Ltda.CNPJ : 02783227/0001-86Insc. Est. 093/0309480Rua Sete de Setembro, 160, sala 702Pelotas – RS • 96015-300

DiretorNewton Peter

[email protected]

Assinatura anual (11 edições*): R$ 173,90(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

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Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

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REDAÇÃO• Editor

Gilvan Dutra Quevedo• Redação

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• RevisãoAline Partzsch de Almeida

MARKETING E PUBLICIDADE• Coordenação

Charles Ricardo Echer

• VendasSedeli FeijóJosé Luis Alves

CIRCULAÇÃO• Coordenação

Simone Lopes• Assinaturas

Natália RodriguesFrancine MartinsClarissa Cardoso

• ExpediçãoEdson Krause

GRÁFICAKunde Indústrias Gráficas Ltda.

Após encerrar mais um ano agrícola com saldo positivo os produtores brasileiros preparam-se para uma safra de grãos ainda maior em 2013.

A expectativa é de crescimento da ordem de 6,9% na produção de cereais, de acordo com prognóstico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao mesmo tempo o setor continua a desempenhar papel fundamental como pilar de sustentação da balança comercial brasileira. No terceiro trimestre de 2012 o Produto Interno Bruto (PIB) da Agropecuária liderou o crescimento e quebrou recorde histórico, registrado desde 1995, com aumento de 3,6%. O levantamento apontou, ainda, que o PIB brasileiro cresceu 0,9% na com-paração com o mesmo período do ano passado.

Com cotações aquecidas, mercado favorável e demanda por alimentos e energia em crescimento, o cenário é bastante promissor. Contudo, não se pode perder de vista grandes desafios como clima cada vez mais adverso, necessidade de produzir mais, de forma sustentável, a exigência de planejamento e

otimização do processo produtivo, investimentos em logística e armazenamento, além, é claro, do manejo de problemas fitossanitários, que possuem papel fundamental na produção.

Atenta aos diversos desafios que afetam as la-vouras brasileiras, Cultivar buscou ao longo de mais este ano contribuir com você, caro leitor, com informação técnica atualizada, útil e de qualida-de. Ao final de 2012, apresentamos nossa Edição Especial, preparada com os principais artigos publicados ao longo do ano, além de materiais inéditos. Neste número você confere um caderno técnico sobre o manejo de mancha-alvo e ferrugem asiática, duas doenças destrutivas e extremamente importantes na cultura da soja. Preparamos, tam-bém, um artigo sobre o que esperar da segunda safra, cuja tendência é se distanciar ainda mais do diminutivo “safrinha” e se firmar como excelente fonte de rendimento aos produtores.

Que venha 2013, repleto de boas notícias.

Boas festas e ótima leitura!

Um bom ano no horizonte

Page 4: Grandes Culturas - Cultivar 164

Soja

04 Especial 2012 • www.revistacultivar.com.br

Ataque inimigo

A podridão de carvão causada por Macrophomina phaseolina tem sido apontada como uma doença

associada a solos compactados, sob baixa oferta hídrica (menos de 840mm no ciclo da soja) e plantio convencional (enterrio dos restos culturais) em relação ao plantio direto. Não sendo ainda reportada no Brasil com evidência científica a sua associação com nematoides ectoparasitos causadores de ferimentos em raízes. No entanto, os danos causados à cultura da soja no País foram primeiramente relatados por Ferreira et al (1979), constatando que em anos secos, na região norte do Estado do Paraná, as perdas em soja das cultivares tardias Viçoja e Santa Rosa chegaram a 50%. O fungo é transmitido por sementes. O micélio dormente e microesclerócios se desenvolvem dentro do tegumento. Sementes, em geral, não apresentam sinais de infecção e o pató-

geno fica instalado nos tecidos da planta até a maturação, quando aparecem os sintomas carijó e deste modo a sintomatologia torna-se mais evidente. O estresse na planta, por falta de água ou nutrientes, é o sinalizador para que a doença se torne evidente no campo. Deste modo, a instalação da doença ocorre nas fases iniciais de estabelecimento da plântula no campo.

Após as visitas nas áreas produtoras reclamantes foram realizadas fotografias de reboleiras doentes (morte de plantas), bem como de reboleiras aparentemente sadias. Após a realização das fotos caracterizando as situações de campo foram retiradas amostras de solo de 0cm a 20cm de profundidade, bem como coleta de raízes para posterior análise da fertilidade (saturação de bases, matéria orgâ-nica, pH, teor de macro e micronutrientes). Também foram encaminhadas amostras para

o Laboratório de Nematologia da UFU, onde pelo método da flutuação em centrífuga em solução de sacarose foi determinada a popu-lação de nematoides no solo, bem como as espécies presentes em 100cm3 do substrato amostrado. Também foram utilizadas as téc-nicas de peneiramento e do papel de filtro, des-secação de raízes e a técnica do liquidificador. Como foi encontrada a presença de raízes com escurecimento interno (suspeita de podridão radicular por Macrophomina phaseolina) foi determinada a presença ou não do patógeno nas raízes por meio do isolamento em cultura pura no meio de BDA (batata-dextrose-ágar). Foram colocadas no meio de cultura dez fragmentos/amostra para a determinação do percentual de infecção na amostra. A Tabela 1 sumariza as diferentes situações de campo encontradas em relação aos plantios visitados e após análises realizadas nos Laboratórios

Fotos Fernando César Juliatti

Causada pelo fungo Macrophomina phaseolina a podridão de carvão do caule de soja tem se popularizado a cada safra e crescido em importância na cultura. Doença é

responsável por perdas de até 50% em cultivares tardias. O tratamento de sementes com fungicidas, para oferecer proteção na fase inicial, é uma das ferramentas

disponíveis para o produtor manejar o problema

Page 5: Grandes Culturas - Cultivar 164

05www.revistacultivar.com.br • Especial 2012

de Nematologia da UFU e Laboratório de Micologia e Proteção de Plantas após análises pelos profissionais responsáveis, referente às coletas em Goiatuba e Bom Jesus, Goiás e Pedrinópolis, Minas Gerais.

Pelos resultados apresentados na Tabela 1 percebe-se que não foi possível associar

diretamente os fatores químicos do solo, % de matéria orgânica e a presença de nematoides causadores de ferimentos em raízes em rela-ção à podridão radicular por Macrophomina phaseolina. Fato que pode estar associado a fatores físicos do solo (compactação), que não foram quantificados. As saturações de bases

encontradas nas amostras foram de: 1-44 %, 2-63 %, 3-56 %, 4-46 %, 5-52 %, 6-63 %, 7-54 %, 8-55%, 9-58 % e 10-29 %. De-monstrando não haver nenhuma relação das bases encontradas no solo (Ca, MG e K), % de matéria orgânica e a presença da podridão de raiz. A presença de veranicos no mês de março/2007, possivelmente tenha favorecido a maior expressão de podridão de raízes pelo fungo, aumentando a sua incidência e nível de dano nas lavouras comerciais de Minas Gerais e Goiás. Os sintomas de necrose foliar (carijó-semelhante à fitotoxidade de tebuconazole) foram associados à presença de Macrophomina no solo. Ocorreu um longo veranico de mais de 20 dias no mês de março que pode ter contribuído para a maximização dos sintomas em cultivares convencionais e RR de Minas Gerais e Goiás.

Estudos realizados na Universidade Fe-deral de Uberlândia apontam que a doença é transmitida por sementes, na cultura da soja, em taxas variando de 0,25% a 40%. Possivelmente, o micélio do fungo ou micro-escleródios emitem um crescimento inicial e são transmitidos às plântulas nas fases iniciais de germinação. A prática do tratamento de se-mentes com fungicidas reduz a disseminação do patógeno e foram encontradas diferenças entre genótipos para as cultivares brasileiras em relação à incidência da doença nas fases

Tabela 1- Resultados de ocorrência de patógenos encontrados em amostras de solo realizadas após incubação pelo LANEM-UFU (Laboratório de Nematologia) e LAMIP-UFU (Laboratório de Micologia), no ano de 2007 em áreas com suspeita de fitotoxidade de tebuconazole. UFU, Uberlândia, 2007

Área

1 - Área comercial com podridão de raízes. Cultivar não identificada RR2 - Área comercial sem podridão de raízes. Cultivar não identificada RR3 - Área de BRS Silvânia (RR) com

Podridão de raízes4 - Área de CD219 (RR) com podridão

de raízes5 - Área de cultivar Pioneer (RR) com

podrdão de raízes6 - Área comercial sem podridão de raízes. Cultivar não identificada RR

7 - Área comercial sem podridão de raízes. Cultivar não identificada convencional

8 - Área comercial com podridão de raízes. Cultivar não identificada convencional

9 - Área comercial sem podridão de raízes. Cultivar não identificada RR

10 - Área comercial com Podridão de raízes. Cultivar não identificada RR

Namatóides determinados

Pratylenchus brachyurus e Helicotylenchus

Negativo para presença de nematoides

Negativo para presença de nematoides

Negativo para presença de nematoides

Negativo para presença de nematoides

Negativo para presença de nematoides

Negativo para presença de nematoidesRotylenchulus

reniformisPratylenchus brachyurus

Negativo para presença de nematóides

População dos patógenosMunicípio

Bom Jesus(GO)

Bom Jesus(GO)

Bom Jesus(GO)

Bom Jesus(GO)

Bom Jesus(GO)

Bom Jesus(GO)

Goiatuba(GO)

Goiatuba (GO)

Goiatuba (GO)

Goiatuba (GO)

Pratylenchus/Rotylenchus

105 juvenis / 150cm3 de solo

-

-

-

-

-

-

102 juvenis /150cm3 de solo

60 juvenis /150cm3 de solo

-

Helicotylenchus

105 juvenis / 150cm3 de solo

-

-

-

-

-

-

-

-

-

Incidência deMacrophomina (%)

100%

0%

100%

100%

100%

0%

0%

100%

0%

100%

Sintomas iniciais em plântulas

Page 6: Grandes Culturas - Cultivar 164

06 Especial 2012 • www.revistacultivar.com.br

Tabela 2

ATENTO69,75 a47,81 b49,00 a

55,52

MAXIM66,60 a64,24 a58,23 a

63,02

S210 A53,50 b66,37 a56,59 a

58,82

S210 B61,83 a54,25 b54,49 a

56,86

TESTEMUNHA51,73 b52,90 b51,00 a

51,88

36 DiasMÉDIA60,6857,1153,86

Tratamentos/CultivaresNK 7074Syn 9074Syn 9078

CV (%)Média

14,02

Tabela 3

ATENTO1609,411232,861311,58

1384,61 A

MAXIM1461,871560,821379,17

1467,29 A

S210 A1507,291781,011513,99

1600,76 A

S210 B1633,651531,951336,58

1500,73 A

TESTEMUNHA1299,361203,501446,30

1316,39 A

Tratamentos/CultivaresNK 7074Syn 9074Syn 9078

CV (%)Média

20,17

MÉDIA1502,31 a1462,03 a1397,52 a

Produtividade (kg/ha)

Tabela 4

ATENTO148,75134,07140,45

141,09

MAXIM147,30136,00138,40

140,57

S210 A152,40 A126,95 B145,05 A

141,47

S210 B147,97137,72133,42

139,70

TESTEMUNHA147,30 A131,95 B130,67 B

136,64

Tratamentos/CultivaresNK 7074Syn 9074Syn 9078

CV (%)Média

6,70

MÉDIA148,74 a133,34 b137,60 b

Peso 1000 Grãos (g)

iniciais da cultura. A rotação de culturas com gramíneas como o milheto ou produção de massa verde e seca, por exemplo, braquiárias, reduz a incidência da doença. O mais impor-tante no manejo da doença é reduzir a com-pactação do solo e melhorar o teor de matéria orgânica, ou seja, obter sustentabilidade nos sistemas de cultivos.

Na avaliação da resistência de cultivares de soja a Macrophomina phaseolina, patógeno causador de tombamento em plântulas, morte prematura e em reboleira de plantas adultas. O experimento foi conduzido em bandejas de isopor na casa de vegetação, com delineamento inteiramente casualizado e quatro repetições de cinco plantas para cada tratamento. As sementes foram previamente inoculadas com 30.000 microescleródios mL-1 e plantadas em substrato esterilizado. A partir da produção de microescleródios produzidos em BDA, pH 5, cinco e após seis dias, temperatura de 20 graus Celsius inoculou-se às sementes após imersão na suspensão de inóculo por 24 horas. Após a semeadura em bandejas de isopor tipo “speedling” avaliou-se a evolução

da doença com base nos seguintes tipos de sintomas: sementes mortas, plantas mortas, plantas vivas com e sem sintomas (5 plan-tas/repetição). Após 15 dias da emergência também avaliou-se a altura de plantas. Analisaram-se os dados pela Anava e foram realizadas correlações entre as variáveis (altu-ra de plantas e incidência da doença (porcen-tagem de plantas doentes). Os genótipos que apresentaram preliminarmente resistência ao patógeno foram: MSOY8849RR – Altamente resistente, TMG121RR, MSOY8585,P98R31,P99R01,MSOY8360RRe MSOY8849RR

(Moderadamente resistente). A correlação entre a incidência de doença e altura de plantas foi de -0,95.

Nas Tabelas 2, 3 e 4 estão apresentados resultados da emergência em campo, produti-vidade e peso de mil grãos (g), para diferentes cultivares submetidas à inoculação artificial via sementes, seguido do tratamento de sementes. Nota-se que a cultivar NK7074 apresenta maior resistência ao patógeno independente da cultivar.

Aspecto de campo de cultivo na maturação

Campos de produção em Goiás e MG com a presença da doença e percevejos castanhos que não estão relacionados na ocorrência da doença. Observa-se o comprometimento do sistema radicular com a doença

Fernando Cezar Juliatti,UFU

Sintomas em raízes durante a maturação

Comparação da sintomatologiaentre Fusarium e Macrophomina

CC

Fotos Fernando Cezar Juliatti

Page 7: Grandes Culturas - Cultivar 164

07www.revistacultivar.com.br • Especial 2012

Soja

A cultura da soja pode ser atacada por pragas desde a germinação das sementes e emergência das plantas

até a fase de maturação fisiológica, sendo esses organismos constituídos por insetos, moluscos, diplópodes e ácaros. Essas pragas podem ser classificadas como de importância primária, regional ou secundária, em função da sua frequência, abrangência de ocorrência e do potencial de danos.

Um dos problemas na cultura da soja são as pragas iniciais. Começam com a presença de lagartas, especialmente Spodoptera frugiperda, na cobertura a ser dessecada (ex. milheto). Insetos de solo como os corós, Phyllophaga cuyabana, P. capillata, Liogenys fuscus e os per-cevejos castanhos, Scaptocoris spp., seguidos pelas pragas de superfície, tais como a lagarta-elasmo, Elasmopalpus lignosellus, e o tamanduá da soja, Sternechus subsignatus, são também considerados pragas iniciais. Esse grupo de pragas pode reduzir significantemente o es-tande inicial da cultura e, consequentemente, afetar o rendimento de grãos. Se não existem lagartas na cobertura a ser dessecada, torna-se necessário o monitoramento em pré-plantio,

ou se o cultivo for realizado mais do que 20 dias após a dessecação, mesmo que existam lagartas na cobertura, não se recomenda a aplicação de inseticidas, pois na ausência de alimento após o efeito do herbicida, as lagartas puparão ou morrerão.

No entanto, havendo lagartas na co-bertura, recomenda-se aplicar um produto lagarticida efetivo, mas que tenha pouco efeito sobre os inimigos naturais como os inseticidas tiodicarbe, metomil, espinosade e os regulado-res de crescimento.

Pragas de solo, como os corós e os perce-vejos castanhos, devem ser controladas pre-ventivamente através de inseticidas aplicados nas sementes e/ou pulverizados no sulco de plantio e, para tanto, uma avaliação do técnico responsável torna-se necessária. O tratamento de sementes com inseticidas (exemplo fipronil, imidacloprido + tiodicarbe) pode ser utilizado em áreas que requerem ressemeadura devido ao ataque de elasmo ou onde tradicional-mente essa praga constitui um problema. Já para o manejo do tamanduá, a soja deve ser rotacionada com uma cultura não hospedeira como milho, algodão, sorgo, girassol, milheto,

Os indesejáveisPragas iniciais, lagartas desfolhadoras, brocas e sugadoras são os principais grupos

de insetos que causam prejuízos na cultura da soja. Conter sua presença nas lavouras é indispensável, mas o manejo precisa ser realizado com as ferramentas

corretas e de forma racional, para evitar o agravamento do problema

Crotalaria juncea ou mucuna preta, onde o inseto não se desenvolve e, consequente-mente, interrompe o seu ciclo biológico. Com esse procedimento o produtor pode livrar-se do tamanduá da sua área, podendo realizar o plantio de soja na safra seguinte. Este proce-dimento será mais eficaz se for feito também pelos produtores vizinhos, cujas áreas também possuem infestação da praga.

Por outro lado, quando não existe o ta-manduá na área, mas a lavoura do vizinho ad-jacente o possui, o controle pode ser realizado através da cultura armadilha, que nada mais é que o plantio de faixas com fileiras de plantas medindo 40m a 50m de bordadura, tratadas com fipronil ou tiametoxam, para contenção dos adultos que chegarem à lavoura, sendo que estas faixas podem ser plantadas com uma ou duas semanas antes do plantio do restante da área. Porém, o uso dessa cultura armadilha não dispensará o emprego do tratamento de sementes no plantio regular.

LAgARTAS DESfoLHADoRAS E BRoCASCom o aparecimento das primeiras folhas

de soja, as lagartas que atacam a parte aérea

Pragas iniciais, lagartas desfolhadoras, brocas e sugadoras são os principais grupos de insetos que causam prejuízos na cultura da soja. Conter sua presença nas

lavouras é indispensável, mas o manejo precisa ser realizado com as ferramentas corretas e de forma racional, para evitar o agravamento do problemaFo

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Page 8: Grandes Culturas - Cultivar 164

causados pelos percevejos se verificam pela introdução do seu aparelho bucal nas vagens, podendo atingir os grãos ou as sementes em desenvolvimento, danificando os seus tecidos ou infectando-os com patógenos (fungos). Em consequência dessa injúria, os grãos ficam enrugados e de coloração mais escura do que a normal, afetando negativamente tanto o rendimento da cultura como a qualidade dos grãos ou sementes produzidas. Além do dano direto, um ataque severo de percevejos na soja pode causar distúrbio fisiológico na planta, condicionando o aparecimento de retenção foliar e/ou haste verde, fenômeno conhecido como “soja louca”, que retarda e/ou dificulta a colheita.

Os percevejos somente causam danos na soja quando ocorrem durante os estádios de desenvolvimento R3 a R7. Nestas condições, o controle deve ser realizado quando forem en-contrados dois percevejos/m de fileira de soja para produção de grãos e de um percevejo/m de fileira no caso de lavouras destinadas à produção de sementes. Alguns inseticidas são recomendados pela da Comissão de Entomologia da RPSRCB para o controle dos percevejos. Além da eficiência, o critério da seletividade, ou seja, o efeito do produto sobre os inimigos naturais, deve ser também considerado na escolha. Em adição, um mes-mo ingrediente ativo nunca deve ser usado em duas aplicações sucessivas. Essa medida tem por objetivo prevenir o desenvolvimento de resistência do inseto ao produto químico que está sendo reaplicado. Várias espécies de pa-rasitoides são, normalmente, encontradas nas lavouras de soja atuando sobre as populações dos percevejos fitófagos. Dentre os principais parasitoides de ovos destacam-se as espécies Trissolcus basalis, que ocorre no estado do Paraná, e Telenomus podisi, que apresenta pre-dominância na região Centro-Oeste do Brasil. Já Hexacladia smithii é o parasitoide de adultos dos percevejos, já constatado nos estados do Paraná e de Mato Grosso do Sul.

A mosca-branca, Bemisia tabaci biótipo “B”, é outro inseto sugador que pode ocorrer tanto na fase vegetativa como reprodutiva da soja. Os danos na soja são causados tanto pelos adultos quanto pelas ninfas (formas jovens), quando se alimentam da seiva das plantas. Em condições de população elevada, especialmen-te as ninfas excretam substâncias açucaradas (honeydew) em grande quantidade na superfí-cie foliar, proporcionando o desenvolvimento da fumagina, deixando a folha escurecida e com aspecto ressecado. Esse escurecimento da superfície foliar reduz a capacidade fo-tossintética da planta, causa ressecamento e queda das folhas, diminuindo assim o ciclo da cultura e sua produtividade, que dependendo do estádio de desenvolvimento, pode chegar a até 100%. Danos indiretos da mosca-branca

08 Especial 2012 • www.revistacultivar.com.br

começam a surgir na cultura, podendo ocor-rer até a fase de enchimento dos grãos. As principais espécies com potencial para causar danos na soja são: a lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis; a lagarta falsa-medideira, Pseudo-plusia includens; a lagarta-da-maçã, Heliothis virescens; a lagarta enroladeira, Omiodes indi-cata, e o complexo de Spodoptera spp., em que estão inclusas S. frugiperda, S. cosmioides e S. eridania. Essas lagartas podem se alimentar de folhas, flores ou até mesmo de vagens (depen-dendo da espécie considerada).

O controle de lagartas na soja deve ser realizado com base no nível de desfolha da cultura e/ou no número de lagartas presentes nas plantas. Recomenda-se o controle quando forem encontradas, em média, 40 lagartas grandes (igual ou maior que 1,5cm) por pano de batida ou se a desfolha atingir 30% antes da floração e 15% tão logo apareçam as primeiras flores. Seria importante o produtor levar em consideração, no momento da batida, também, a cultivar, as condições ambientais, o tamanho das áreas e o maquinário dis-ponível na fazenda, pois um contratempo pode elevar o dano destas desfolhadoras. É importante lembrar que as lagartas aumentam a voracidade conforme crescem em tamanho. Dessa forma, só um monitoramento frequente poderia ajudar na constatação exata do pico populacional de qualquer que seja a espécie. Cabe salientar que na maioria das vezes é mais fácil controlar 100 lagartas pequenas do que dez lagartas grandes e vorazes.

É importante também saber que quanto mais tempo for possível retardar a primeira aplicação de inseticidas na cultura, maior será a probabilidade de sucesso do manejo, pois essa atitude proporciona condições para o es-tabelecimento dos primeiros inimigos naturais no agroecossistema, que se multiplicam sobre a primeira geração de lagartas que se estabelece na cultura. Na escolha do inseticida para o controle de lagartas devem ser levados em consideração a sua toxicidade e o efeito sobre inimigos naturais. As informações contidas nas tabelas de recomendações de inseticidas da Reunião de Pesquisa de Soja da Região

Central do Brasil (RPSRCB), disponível em http://www.cnpso.embrapa.br/download/Tecnol2009.pdf.

Após o fechamento da soja, os inseticidas reguladores de crescimento constituem ótima opção para o controle de lagartas, pois repre-sentam produtos seletivos para os inimigos naturais e apresentam maior efeito residual que os convencionais. No caso da lagarta-da-maçã, ainda não existe recomendação de inseticidas para o seu manejo, porém, trabalhos conduzidos em Mato Grosso do Sul evidenciaram que os produtos metomil, tiodicarbe, espinosade, flubendiamide e clo-rantraniliprole proporcionaram boa eficácia no controle dessa praga.

PRAgAS SUgADoRASApós ou até mesmo durante a ocorrência

de lagartas desfolhadoras na soja, começam a aparecer os artrópodes sugadores como os percevejos pentatomídeos fitófagos e até mesmo mosca-branca e ácaros. Os percevejos inserem seus estiletes em diferentes estruturas da planta de soja, embora os grãos em fase de enchimento sejam os locais preferidos para a sua alimentação.

O percevejo marrom, Euschistus heros, o percevejo verde-pequeno, Piezodorus guildinii, e o percevejo verde, Nezara viridula, são as espécies mais abundantes na cultura, embora outras como Dichelops melacanthus, Edessa me-ditabunda, Thyanta perditor e Acrosternum sp. possam, também, estar presentes especialmen-te na região Centro-Sul do Brasil. Os danos

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O controle de lagartas na soja deve ser realizado com base no nível de desfolhamento e de insetos nas plantas

Insetos de solo, como corós (esquerda) e percevejo castanho (direita), são comuns em áreas produtoras de soja

Page 9: Grandes Culturas - Cultivar 164

A lagarta falsa-medideira é uma das principais espécies com potencial para causar prejuízos na cultura da soja

na soja podem também ser observados pela transmissão de vírus pelo inseto, cujo sintoma é a necrose da haste.

O sucesso de controle da mosca-branca está em reduzir a população de suas formas jovens (ovos e ninfas), uma vez que a aplicação de adulticidas na cultura constitui uma ação paliativa e de efeito temporário. Em poucos dias ressurgirá uma nova geração de adul-tos, exigindo reaplicação. Alguns inseticidas podem apresentar bom controle de formas jovens da mosca-branca como piriproxifem e espiromesifen. A adição de óleo mineral na calda inseticida (0.25%) é de extrema impor-tância para maximizar a eficácia de controle dos inseticidas.

Na região do Cerrado tem sido também verificada a incidência de ácaros em lavouras de soja, sendo o ácaro rajado, Tetranychus urticae, o vermelho, Tetranychus ludeni, o branco, Polyphagotarsonemus latus, e o verde, Mononychellus planki, as espécies mais fre-quentes. As infestações iniciam-se geralmente nas bordaduras, aparecendo os sintomas de seu ataque, normalmente, em reboleiras na lavoura. Os ácaros perfuram as células das folhas da soja e alimentam-se do líquido exsudado na face inferior.

Em função dessa injúria, os folíolos ficam

com uma coloração esbranquiçada ou prateada e, posteriormente, marrom. Em condições de alta população, pode ocorrer queda prematura de folhas, com redução da capacidade fotossin-tética das plantas e, consequentemente, da sua produtividade. Trabalhos conduzidos na Fun-dacep, no Rio Grande do Sul, demonstraram que em lavouras de soja com alta incidência de ácaros podem ocorrer definhamento das plantas e quedas no rendimento de grãos de até 50%.

Os ácaros fitófagos da soja podem ser naturalmente controlados em situações de chuvas intensas e de umidade relativa elevada.

Essas condições propiciam o desenvolvimento de fungos entomopatogênicos e outros agentes de controle biológico no agroecossistema.

Produtos de amplo espectro, como os piretroides, quando aplicados para o controle de lagartas nos estádios iniciais de desen-volvimento da cultura, podem favorecer a incidência de ácaros, pois esses defensivos causam a morte de inimigos naturais, espe-cialmente de ácaros predadores da família Phytoseiidae. Inseticidas organofosforados como metamidofós, profenofós dimetoato, endosulfam, clorpirifós e os produtos spiro-mesifen e flufenoxurome são sugeridos para o controle de ácaros na cultura da soja. No entanto, produtos à base de abamectina têm demonstrado eficiência igual e efeito residual superior aos inseticidas convencionais. A adição de óleo mineral na calda inseticida tem proporcionado efeito aditivo de mortalidade dos ácaros na soja, bem como assegurado maior efeito residual dos agroquímicos apli-cados em pulverização.Crébio José Ávila,Embrapa Agropecuária OesteCecília Czepak,Universidade Federal de Goiás - UFGAlexa Gabriela Santana,Embrapa Agropecuária Oeste

CC

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Soja

10 Especial 2012 • www.revistacultivar.com.br

A soja está em constante transfor-mação e os percevejos (grupo mais agressivo) são pragas cujos

danos devem ser rediscutidos, revisados e atualizados. O manejo dos percevejos deve considerar que atualmente a oleaginosa é cultivada em grande amplitude de épocas e lo-cais, construindo “pontes verdes hospedeiras” que, associadas ao plantio direto, protegem algumas espécies. O amplo uso de cultivares de hábito de crescimento indeterminado e de grupos de maturação 3.0 e 4.0 torna a cultura mais vulnerável aos percevejos que, aparen-temente, estão mais difíceis de controlar, seja pela soma destes fatores ou pela redução dos ingredientes ativos disponíveis. O manejo dos percevejos é dificultado pela adoção de um nível de controle demasiadamente elevado e inflexível. As ações de manejo considerando um nível elevado são, muitas vezes, tardias e

ineficazes. Os danos dos percevejos já foram muito

estudados e existem inúmeras formas de avaliar as injúrias e o resultado de seus efeitos. Foi abordado o efeito de ninfas e adultos de distintas espécies; em campo, semicampo ou em laboratório, sobre diversas cultivares de soja, por períodos que variaram entre sete e até mais de 50 dias (Tabela 1). Mesmo com base nesses resultados é de alto risco estabele-cer um valor fixo de dano. A intensidade dos danos dos percevejos depende: (1) da espécie de percevejo; (2) do nível populacional; (3) do estágio de desenvolvimento do percevejo; (4) do estádio fenológico da soja no ataque; (5) da duração do ataque; (6) da cultivar e (7) das variáveis ambientais, entre outros.

A maior vulnerabilidade aos percevejos ocorre entre o começo da frutificação (R3) e a máxima acumulação de matéria seca no grão

(R7). O intervalo mais vulnerável às perdas é a partir de R4 (final do desenvolvimento das vagens) até R5.5 (final do enchimento de grãos), com base em resultados de estudos analisados (Figura 1). A Tabela 1 mostra variação de perdas de 49kg/ha a 125kg/ha de soja para 1 percevejo/m2 ou 10 mil percevejos/ha, em trabalhos desenvolvidos na Argentina, no Brasil e nos Estados Unidos, dando uma ideia do impacto desta praga.

As cultivares de soja com hábito de cres-cimento indeterminado e de grupo de matu-ração 3.0 e 4.0 (precoces) apresentam maior suscetibilidade aos danos de percevejos (Ga-mundi et al, 2007), na Argentina. Com esses resultados o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (Inta) definiu níveis de controle, considerando estádio de desenvolvimento, hábito de crescimento, grupo de maturação das cultivares e destino da produção de soja

Revisão necessáriaRevisão necessáriaAs constantes transformações na cultura da soja e no ataque de percevejos, que causam danos severos às lavouras, tornam necessário revisar as estratégias de manejo. Adotar métodos de amostragem mais rápidos e eficazes, reavaliar o nível de controle e combater o uso aleatório e indiscriminado de inseticidas estão entre as alternativas para obter resultados eficientes e duradouros na luta contra a praga

As constantes transformações na cultura da soja e no ataque de percevejos, que causam danos severos às lavouras, tornam necessário revisar as estratégias de manejo. Adotar métodos de amostragem mais rápidos e eficazes, reavaliar o nível de controle e combater o uso aleatório e indiscriminado de inseticidas estão entre as alternativas para obter resultados eficientes e duradouros na luta contra a praga

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Dirceu Gassen

(Tabela 2). Estes NC “flexíveis”, ao conside-rarem o hábito de crescimento e o grupo de maturação das cultivares de soja, sofreram abaixamento dos seus valores absolutos. Com essa redução, o início do manejo ocorre mais cedo, gerando resultados mais eficazes na diminuição das populações.

Cultivares de florescimento mais precoce e/ou hábito de crescimento indeterminado proporcionam a ocorrência de legumes por mais tempo. Assim, a emissão de novos nós, com novas flores, ocorre concomitantemente ao desenvolvimento dos legumes, até a emissão do último nó, ampliando o período reproduti-vo “real” da cultivar. Comparando cultivares como BRAGG e IAS-5 (determinadas) com as cultivares NS 4823 RR e BMX Potência RR (indeterminadas) se verifica que o perí-odo de emissão de nós é de seis a sete dias, nas cultivares antigas, e entre 25 e 30 dias,

nas novas cultivares (Streck et al, informação pessoal). Essa grande diferença no tempo de emissão de flores aumenta o período favorável ao desenvolvimento dos percevejos.

NívEL DE DANo ECoNôMICo (NDE) E DE CoNTRoLE O nível de dano econômico (NDE) deter-

mina o nível de controle (NC), que é menor que o primeiro. Na soja, para percevejos, as indicações técnicas da soja no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina (RTP-Soja-Sul, 2010) recomendam o NC de dois percevejos por metro de fileira (adultos ou ninfas gran-des). Em lavouras de produção de sementes, este nível deve ser de um percevejo por metro de fileira.

Esses valores não podem ser fixos ou imutáveis, ainda mais considerando que foram estabelecidos há mais de 20 anos, sob um ce-nário muito diferente de hoje. Nesse período, se alterou o custo dos tratamentos (inseticida + serviços) e o valor econômico resultante (valor da soja x produtividade). Pode haver discussão a respeito, mas há fatos incontestes, como: 1) a soja tem hoje maior valor por saca; 2) se produz atualmente muito mais soja por unidade de área; 3) o resultado produtividade × preço é muito maior, portanto, a relação custo do controle × risco se alterou sensi-velmente; 4) os tratamentos inseticidas estão mais baratos; 5) se conhece melhor a biologia, a ecologia, o comportamento e os danos das espécies, em relação aos anos 80 e 90.

MANEJo DoS PERCEvEJoS DA SoJAO Manejo Integrado de Pragas (MIP) pre-

coniza o uso harmônico de diferentes métodos de controle, a partir do momento em que a população da praga atinja níveis que causem danos à cultura. Sua adoção envolve muitos aspectos, como a espécie de inseto, o nível de controle e, sobretudo, amostragem das pragas. A amostragem de pragas é a única forma de se conhecer a densidade e a distribuição das

populações de pragas e sua ausência determina aplicações preventivas e/ou aleatórias de inse-ticidas, muitas vezes, juntamente com outros agroquímicos.

A amostragem indicada pela RTP-Soja-Sul, 2010, deve ser feita com o pano de batida, com duas tomadas em uma fileira de soja (1m); fazendo seis amostras para áreas de até 10ha, oito amostras para áreas de 11ha a 30ha e dez amostras para áreas de 30ha a 100ha, para áreas superiores a 100ha. Entretanto, a quantificação mais eficiente dos percevejos da soja deve ser feita usando pano de batida largo ou com o pano de batida vertical, de emprego mais prático e eficaz. A comparação entre métodos de amostragem em soja demonstrou maior capacidade de coleta do pano de batida vertical em relação ao pano de batida “antigo” (Guedes et al, 2006). Estudo mais recente aponta a necessidade de amostrar 20 pontos ou mais por lavoura, para estimar com maior precisão os percevejos da soja, independente-mente do tamanho da área (Stürmer, 2012), e confirma a maior eficiência amostral do pano de batida vertical (Figura 2).

CoNTRoLE qUíMICo O controle químico dos percevejos da soja

apresenta muitas dificuldades, considerando os aspectos relacionados à tolerância das espécies aos inseticidas, o elevado potencial reprodutivo, o hábito alimentar peculiar e a sua distribuição agregada. Também interferem no manejo, os aspectos ambientais, especial-mente a oferta de abrigo e alimento, além dos hospedeiros em diferentes épocas do ano. O controle torna-se difícil, pelas características da soja, como: densidade de plantas, índice de área foliar elevado e períodos reprodutivos mais longos (com emissão de flores por mais de 25 dias a 30 dias nas sojas “modernas”). Por fim, os aspectos operacionais do controle, como a redução do número de ingredientes ativos e de grupos químicos disponíveis, os métodos de pulverização eficazes no alcance

figura 1 - Período de risco de danos (baixo – médio – alto) dos percevejos da soja

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Figura 2 - Pano de batida vertical com calha de PVC na base

Tabela 1 - Dano (kg/ha) de 1 percevejo/m2, sob diferentes situações, em soja

Fases de convivência1

R5a partir R5.1a partir R5.1

R2 - R5.5R1 - R6R5 - R8

Cultivar

CentennialDareBraggBragg

ADM 4800 RRUFV -1

Período2 (dias)

?71330??

Dano(kg/ha)

90,949,066,049,9125,072,3

Referência3

Boethel et al. (2002)McPherson et al. (1979)

Morosini (1978)Costa & Corseuil (1979)Gamundi et al. (2003)

villas Bôas et al. (1990)

Espécie

Nezara viridulaNezara viridula

Piezodorus guildiniiPiezodorus guildinii

N. viridula; P. guildinii Euschistus heros; P. guildinii; N. viridula

1 Estádios de desenvolvimento da soja. 2 Alguns trabalhos não apresentam a informação. 3 As referências bibliográficas podem ser solicitadas à redação – [email protected]

Tabela 2 - Níveis de controle de percevejos da soja. INTA. (Gamundi et al., 2008)

Grupo de maturação VI e VII determinados1,4 4,0

Grupo de maturação III, IV e V Indeterminados0,7(1,2)

2,1

Estádio de desenvolvimentoda soja

R3 – R5.5R6 – R7

1 Percevejos/m de linha (espaçamento 0,52m). 2 Produção de sementes – reduzir valor à metade em todo o período reprodutivo.

Cultivares

do alvo, o início tardio do controle e os erros de aplicação dificultam ainda mais o controle dos percevejos.

O percevejo-marrom apresenta maior tolerância aos inseticidas e esta dificuldade desencadeou as primeiras reclamações a respeito do controle químico. Adicional-mente, esta espécie começou a apresentar resistência a alguns inseticidas, entre eles, Endosulfan, Monocrotofós e Metamido-fós. Os casos de resistência, somados ao lançamento de novos inseticidas, criaram as condições para proibição da comerciali-zação de Monocrotrofós e Metamidofós. O cancelamento desses inseticidas determinou mudanças nas estratégias de controle, pois com a impossibilidade da sua utilização o produtor teve que lançar mão de um menor “cardápio” de alternativas, com muitos riscos.

A aplicação de piretroides para o contro-

le de percevejos apresenta efeito de choque, entretanto, estes inseticidas produzem se-vero efeito deletério sobre a fauna benéfica, como parasitoides, predadores e também sobre polinizadores. Tanto o uso de acefato, quanto das misturas piretroide + neonico-tinoide são muito utilizados e mesmo sem grande inovação, podem ser eficazes quando adotados no momento (populacional) ade-quado, ou seja, no início do crescimento das populações de percevejos.

As espécies apresentam variação de tolerância às doses dos inseticidas e o percevejo-marrom é mais difícil de contro-lar que o percevejo-verde-pequeno e que o percevejo-verde, embora acefato não siga este padrão (Figura 3). Também há uma distinta reação das fases de vida dos perce-vejos, aos inseticidas. As ninfas de primeiro, segundo e terceiro instar apresentam menor movimentação e alimentação, o que difi-

culta o seu controle. As ninfas de quarto e quinto instar de P. guildinii, por exemplo, se movimentam e se alimentam de forma similar aos adultos, permanecendo mais nos estratos médio e superior das plantas, que as tornam mais suscetíveis ao controle.

NovoS CENÁRIoS: Novo MANEJoOs novos cenários da cultura e das pragas

da soja determinam alterações do manejo dos percevejos da soja. O futuro do manejo deve ser revisado frente à nova realidade econômica da soja e aos novos conhecimentos sobre os percevejos.

Esta nova visão do manejo de perce-vejos deve ser sistêmica, considerando todas as dimensões, levando em conta também as outras pragas da soja, além da realidade e da diversidade da lavoura de soja brasileira.

É premente que se discuta e conside-re: adotar métodos de amostragem mais rápidos e eficazes; reavaliar o nível de controle em função das espécies de perce-vejos; reavaliar o nível de controle para os diferentes hábitos de crescimento e grupos de maturação da soja; adaptar e adotar as tecnologias de precisão no manejo de pragas; retomar ou desenvolver o manejo localizado das populações (bordaduras, beira de matos, banhados e reboleiras); buscar a inovação, a integração e o uso de novas tecnologias de manejo; e combater o uso aleatório e indiscriminado de inse-ticidas em soja.Jerson Carús Guedes,Jonas André Arnemann, Mauricio Bigolin, Clérison Régis Perini, Deise Cagliari e Regis Felipe Stacke,Univ. Federal de Santa Maria

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figura 3 - Doses de registro e proporção/percentual para controle de cada espécie de percevejo

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14 Especial 2012 • www.revistacultivar.com.br

Desafio recorrente

O cultivo da soja no Brasil passou por uma incrível mudança na última década. A adoção de bio-

tecnologia, a introdução de variedades com potencial produtivo superior, o advento de novas tecnologias e a chegada da ferrugem asiática sem dúvida causaram modificações marcantes e definitivas no cultivo desta olea-ginosa em nosso país. Além disso, passamos de uma área de aproximadamente 14 milhões de hectares em 2000/2001 para quase 25 milhões na temporada 2011/2012 (salto de 79%). No Mato Grosso este salto foi de 222%, pulando de 3,12 milhões de hectares para atuais 6,93 milhões de hectares (Conab).

Porém, neste mesmo período, a produ-tividade não alcançou o mesmo patamar de crescimento. Saímos de um índice de 2.751kg/ha em 2001, para os atuais 2.753kg/ha, em termos nacionais, e de 3.090kg/ha no início da década, para os 3.180kg/ha previstos para serem colhidos neste ano em Mato Grosso. A constatação, forte, que “paramos no tempo” em termos de produtividade é inequívoca. Fatores como clima, época de semeadura, insetos, nematoides, etc interferiram nestes resultados de produtividade. Mas, uma coin-cidência marca esta estabilização de produtivi-dade, apesar de todas as tecnologias agregadas neste período à cultura da soja: a chegada da ferrugem asiática.

A doença se aclimatou muitíssimo bem no Centro-Oeste do Brasil, e especialmente em Mato Grosso vem causando prejuízos variáveis ano após ano. Muito dependente do clima na entressafra, nas últimas safras tem se prognosticado, com grande probabilidade de acerto, baseado no volume e na frequência das chuvas no inverno do cerrado, como será o comportamento da doença na safra de verão seguinte. Se forem observadas as últimas três safras, (09/10, 10/11 e 11/12) fica muito clara esta tendência. No inverno de 2009 tivemos chuvas frequentes entre maio e outubro, e a ferrugem chegou mais cedo. No ano seguinte, o inverno foi extremamente seco no Centro-Oeste e também na Bolívia, e a ferrugem foi irrisória na maior parte do estado. Nesta últi-ma safra, com o clima um pouco mais úmido no inverno, a ferrugem causou sérios prejuízos, principalmente na região Médio-Norte e Vale do Araguaia.

Uma questão importante sempre é le-vantada após uma safra de prejuízos com a ferrugem, como a que estamos vivendo agora: como é possível, após tantos anos de apren-dizado e convivência com a doença, ainda ocorrer níveis de perdas como os recentemente observados?

Esta é uma questão que suscita muitas outras. Se for analisado o histórico da ferru-

gem no País, o que se verá é que muitas etapas foram vencidas e verdades, antes inabaláveis, foram “postas por terra”. Outras se mantêm até hoje.

Em se tratando do principal método de controle, o químico, o manejo mudou nos últimos anos. Existia uma grande lista de pro-dutos, isolados (triazóis) ou não (misturas de triazóis com estrobilurinas), que propiciavam patamares de controle acima de 80%. Hoje, há poucas misturas que propiciam controles que mal chegam a este valor (Consórcio Antifer-rugem, 2011).

O velho debate entre preventivo e curati-vo, felizmente vencido pelo primeiro, causou muitas dúvidas entre técnicos e produtores. Ainda hoje, principalmente após uma safra tranquila com relação à ferrugem, muitos atrasam a primeira aplicação com o intuito de diminuir o custo com esta prática. A fer-rugem não perdoa atrasos. Os produtores do médio-norte do Mato Grosso estão aí para comprovar.

Táticas de manejo como semeadura an-tecipada, uso de variedades precoces e super-precoces (escape), vazio sanitário (conquista fundamental e marco divisório das perdas de ferrugem no Brasil), destruição de plantas tigueras na entressafra, plantio numa janela mais concentrada, melhoria na qualidade da aplicação e adequação do tamanho da frota de pulverizadores, uso de variedades resistentes (Tecnologia Inox) e outras, foram sendo incorporadas, ao longo do tempo, ao manejo da ferrugem. São bastante conheci-das e muitas delas amplamente difundidas e praticadas com sucesso. Mas então, onde está se errando?

O sucesso no controle de doenças em soja, principalmente da ferrugem asiática, não é uma equação exata. É praticada atualmente uma agricultura de larga escala, sob um clima muitas vezes adverso, que atrapalha sobremaneira o dia a dia das propriedades e impede que todas as operações sejam feitas a contento e no tempo certo. Além disso, fatores como insistência e um pouco de soberba por parte dos tomadores de decisão ganham peso nesta equação. Sabe-se que muitos produto-res e técnicos, pressionados para redução de custos de produção, optam por diminuir doses de produtos e/ou aumentar o intervalo entre aplicações. Nos atuais patamares de preços tanto da soja como dos fungicidas, isto é, no mínimo, inconcebível. Dada a importância amplamente comprovada dos fungicidas, não se justifica, sob nenhum aspecto, economia com estes insumos, no nível de tecnologia atu-al do cultivo da soja no Centro-Oeste brasileiro e do risco que representa a ferrugem.

A Fundação MT tem realizado pesquisas ao longo deste período de dura convivência com a ferrugem. Tem procurado, ano após

Desafio recorrenteA cada safra a ferrugem asiática volta a trazer prejuízos às lavouras brasileiras de soja. Influenciada por fatores como clima e tipo de manejo, a severidade do ataque é variável de um ano para outro, mas a presença da ameaça não cessa. Como doença-chave na cultura, seu manejo merece atenção redobrada e deve nortear o combate a outros problemas como mela, mancha-alvo e antracnose

A cada safra a ferrugem asiática volta a trazer prejuízos às lavouras brasileiras de soja. Influenciada por fatores como clima e tipo de manejo, a severidade do ataque é variável de um ano para outro, mas a presença da ameaça não cessa. Como doença-chave na cultura, seu manejo merece atenção redobrada e deve nortear o combate a outros problemas como mela, mancha-alvo e antracnose

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Soja

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ano, levar aos produtores e técnicos as infor-mações mais precisas possíveis em termos de recomendações para o controle da ferrugem e de outras doenças importantes no contexto estadual, como mela (Tanatephorus cucumeris), mancha-alvo (Corynespora cassiicola) e antrac-nose (Colletotrichm truncatum). Desde que os primeiros estudos foram realizados, na safra 2001/2002, muitas descobertas foram feitas e, por se tratar de uma matéria muito dinâmica (doenças em plantas), estabelecidas recomen-dações que muitas vezes foram revogadas.

A doença-chave da cultura da soja é a fer-rugem. Todo o manejo complementar deve ser feito em função desta doença. O que muitas vezes ocorre é que produtores dão mais impor-tância às doenças como antracnose e mancha-alvo e relegam a ferrugem ao segundo plano. Salvo em condições onde há a ocorrência de mofo-branco e mela, doenças que exigem um controle específico e antecipado em relação ao que é recomendado para a ferrugem, o controle integrado deveria ser guiado pelo da ferrugem asiática. Isto é verdadeiro tanto em termos de produtos escolhidos como época e intervalos de aplicação adotados.

oUTRAS DoENçASResultados de pesquisas da Fundação MT

têm demonstrado que no caso de mancha-alvo, os principais triazóis, estrobilurinas, combinações destes e os benzimidazóis de maneira geral têm pouco ou nenhum efeito sobre a doença. Dos produtos que estão no mercado, apenas alguns poucos têm mostrado efeito, ainda que na casa de 40% a 50% de controle. Porém, este resultado é verdadeiro apenas quando se realizam no mínimo duas aplicações. Dependendo da suscetibilidade da variedade este resultado é alcançado apenas com três aplicações.

Há uma nova geração de produtos em fase de registro no Ministério da Agricultura, do grupo químico das carboxamidas, que trarão um novo patamar de controle para mancha-alvo. Resultados bastante animadores, com controle acima de 80%, foram obtidos com aplicação destes produtos nas últimas duas safras. Pelo perfil de suscetibilidade das culti-vares atualmente cultivadas, esta nova geração de produtos trará benefícios reais em termos de diminuição de perdas por esta doença na cultura.

Antracnose em soja é um desafio. Sabe-se que se trata de uma doença oportunista, que se aproveita de condições climáticas favoráveis e suscetibilidade do hospedeiro para causar danos, que são proporcionalmente maiores quanto mais os dois fatores supracitados influenciem positivamente a ocorrência da enfermidade. Um fato relevante e interessante a se observar sobre esta doença é que, nos catálogos de cultivares de todas as empresas

detentoras, a informação sobre suscetibilidade dos materiais à antracnose não está presente. Isto ilustra um pouco a dificuldade de se isolar e estudar esta doença. Porém, na visão da Fundação MT, muitos sintomas verificados no campo e relatados como antracnose não são causados pelo fungo em questão. Muitas vezes, a queda de vagens, que caem “chochas”, é atribuída 100% à antracnose, o que não é verdadeiro. As causas podem ser as mais va-riadas, além da antracnose. Estresses de qual-quer tipo, ferimentos por insetos, deficiência nutricional e outros podem causar o mesmo sintoma. Outro sintoma característico é a quebra do pecíolo, normalmente encontrado na parte intermediária das plantas, onde há sombreamento. Quando se trata de um ataque muito severo, com desfolha significativa das plantas, por este fator as perdas são certas. Porém, o que se tem observado em grande parte das regiões é uma desfolha tímida, de poucos trifólios por planta. Em termos de controle químico, sabe-se que grande parte dos produtos aplicados na cultura da soja para controle de ferrugem e outras doenças controla o Colletotrichum truncatum. Ensaios realizados em laboratório têm comprovado estes efeitos. Porém, quando levamos este cenário para o campo, onde a quantidade de fatores que influenciam a ação do fungicida sobre o patógeno aumenta consideravelmente, os efeitos são bem diferentes. Nos ensaios conduzidos pela Fundação MT não se tem conseguido reproduzir o controle encontra-do por outras instituições. Trata-se de uma combinação complexa de época de aplicação, conseguir atingir o alvo, metodologia adotada etc.

AS LIçõES DA fERRUgEMCom relação ao controle de ferrugem

asiática, muito se tem aprendido, ano após ano, com esta incrível e surpreendente doença. Alguns princípios de manejo estão fortemente consolidados, graças às comprovações práticas e científicas de sua efetividade. As já citadas estratégias de escape como vazio sanitário, uso de cultivares resistentes, entre outros, têm contribuído sobremaneira para que se tenha diminuição de perdas com relação a esta doença.

Entretanto, o controle químico é, e ainda será por muito tempo, o principal meio de controle desta doença. Já passamos por várias fases em termos de recomendação e o que hoje predomina é basicamente a realização da primeira aplicação preventivamente, entre os estádios R1 e R2 (variedades com crescimento determinado) ou entre os 40 e 50 dias após a semeadura da cultura, para materiais com crescimento indeterminado. Segundo ainda a recomendação mais comum, a reaplicação deve se dar por volta dos 21 dias após a primeira e, a partir daí, deve se realizar o monitoramento para reaplicações, seja ela a terceira, quarta etc.

Os produtos recomendados hoje se limi-tam às combinações de triazóis com estrobi-lurinas, sendo que há diferenças de controle entre elas. Inciativas como a rede de ensaios coordenada pelo Consórcio Antiferrugem, formada por diversos pesquisadores em todo o Brasil, têm contribuído para monitorar o desempenho e a eficácia dos produtos dispo-níveis no mercado, assim como lançamentos e até pré-lançamentos de produtos que ainda não estão no mercado. Resultados dos dois últimos anos vêm mostrando que alguns produtos que terão seu lançamento no futuro estabelecerão novos patamares de controle para a doença. Além de novas combinações entre triazóis e estrobilurinas, diferentes das já existentes no mercado, os fungicidas contendo produtos do já citado grupo das carboxamidas vêm contribuir com a melhoria do controle da doença, estabelecendo um novo patamar de eficiência. Isso é muito animador, do ponto de vista de manejo da resistência da doença também, visto que temos sofrido baixas nas opções de controle nos últimos anos. O controle hoje é fortemente baseado no grupo das estrobilurinas, o que pode ser pouco sus-tentável a longo prazo. Alguns produtos desta nova geração de produtos (carboxamidas) vêm se mostrando muito eficientes para ferrugem, mas devem ser muito bem trabalhados em termos de recomendação, pois se trata de um grupo com histórico de resistência adquirida em outros patossistemas.

Fabiano Siqueri,Fundação MT

Siqueri lembra que após uma safra tranquila há tendência de demora na primeira aplicação, o que é grave, pois a ferrugem não perdoa atrasos

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Soja

Risco calculadoCom cotações favoráveis o cultivo de soja ultrapassa fronteiras tradicionais e alcança cada vez mais áreas utilizadas para o plantio de arroz, no sul do Rio Grande do Sul.

Na safra 2012/13 a oleaginosa atingirá 250 mil hectares de várzea, o que representa um desafio, principalmente por conta das características do solo e do excesso

hídrico. Entraves que podem ser devidamente manejados com atenção a aspectos como drenagem, oferta de nutrientes adequada e escolha correta de cultivares

O cultivo de soja em solos arro-zeiros do Rio Grande do Sul tem aumentado nos últimos

anos. Na safra 2012/13 estima-se que a cultura irá ocupar 250 mil hectares, 90 mil a mais que na anterior (Irga, 2012). O interesse em plantar soja nestas áreas surgiu do benefício de redução do banco de sementes de plantas daninhas do arroz, especialmente o arroz-vermelho, com a expectativa de ganhos no cultivo deste cereal na safra subsequente. No entanto,

os resultados de pesquisa mostram que com manejo adequado o cultivo de soja em solos arrozeiros não apenas contribui para a limpeza da área para o arroz, mas também favorece o aumento e a diversificação da renda da propriedade.

A recente valorização da soja tem aumentado a intenção de cultivo da es-pécie nas áreas orizícolas, o que é visto com entusiasmo por alguns e com muita apreensão por outros. Os solos arrozeiros constituem ambiente muito desafiador

para as culturas de sequeiro de uma forma geral, devido aos episódios frequentes e se-veros de excesso hídrico (EH), resultantes da baixa condutividade hidráulica destes solos, característica que os fazem aptos ao cultivo do arroz irrigado. O EH ocorre quando o volume de água que chega ao solo por precipitações pluviométricas ou por irrigação é superior à quantidade de saída do sistema por drenagem, o que resulta no preenchimento dos poros com água, expulsando o ar, reduzindo drasticamente

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a oferta de oxigênio para a manutenção da respiração aeróbica dos seres vivos deste ambiente, incluindo as raízes de plantas que ali habitam.

A falta de oxigênio para a respiração dos tecidos das raízes leva à redução da produção de energia no interior das células, desencadeando um processo metabólico que resulta em grande consumo de fotoas-similados na etapa fermentativa da respira-ção, com prejuízo na alocação de biomassa para o desenvolvimento e produção das plantas, além do acúmulo de metabólitos secundários com grande potencial tóxico nas células, que precisam ser neutraliza-dos. Os danos às plantas dependem da severidade e do período de privação de oxigênio a que as raízes são submetidas, mas os prejuízos na lavoura são reflexos da redução da acumulação de biomassa e morte de plantas, ocasionando perdas acentuadas do rendimento de grãos.

O desenvolvimento de espécies de se-queiro em solos arrozeiros depende princi-palmente de evitar o EH. O cultivo de soja nestes solos é possível, como provam inú-meros casos consolidados de rotação soja x arroz irrigado no Rio Grande do Sul, desde que sejam adotadas medidas que evitem e/ou reduzam este estresse. A primeira reco-mendação é adequar o ambiente de cultivo, garantindo condições de drenagem, acidez e fertilidade de solo corretos à cultura. A outra exigência é utilizar cultivares mais tolerantes ao excesso hídrico.

Entre os principais pontos de manejo que maximizam a frequência de sucesso no cultivo de soja em solos arrozeiros podem ser destacadas a correta drenagem, a adequação da fertilidade, a escolha de cultivares e a atenção ao controle de plantas daninhas.

DRENAgEMGarantir boa drenagem superficial, de

forma que as poças de água eventualmente formadas não perdurem mais de 24 horas, é condição primordial para assegurar o sucesso do empreendimento. O primeiro passo é a escolha da área, principalmente para aqueles que vão começar na cultura. Recomenda-se a utilização de áreas que naturalmente favorecem a drenagem, como as partes mais altas da propriedade, que apresentem algum desnível, evitando áreas de cotas muito baixas em que o escoamento de água é muito lento. A semeadura da soja em microcamalhões é uma alternativa para facilitar a drenagem da lavoura e evitar danos de excesso hídrico em áreas com dificuldade de drenagem. Resultados de avaliações conduzidas pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) indicam que esta forma de semeadura é promissora para

a maioria dos solos cultivados com arroz irrigado no Rio Grande do Sul.

Os drenos e os canais coletores devem estar limpos de vegetação e não assoreados. Esta condição deve ser mantida preferen-cialmente durante o ano todo, pois assim fica assegurado que a área estará drenada e em condições de ser semeada na melhor época, mesmo em anos de primavera chu-vosa. Paralelamente, solos bem oxigenados permitem a continuidade da atividade microbiana que degrada moléculas de herbicidas, afastando a possibilidade de ocorrência de fitointoxicação da soja por re-síduos de herbicidas utilizados na lavoura de arroz na safra anterior. A montagem da malha de drenos em cada talhão depende de vários fatores, como propriedades físicas do solo, declividade etc, impondo uma

Drenos e canais coletores mantidos limpos e desimpedidos

Fotos Irga

Variabilidade genética para a tolerância ao excesso hídrico entre cultivares comerciais de soja no Rio Grande do Sul

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20 Especial 2012 • www.revistacultivar.com.br

Irga

solução para cada área.

ADEqUAção DA fERTILIDADE Do SoLo Há grande diversidade dos atributos

de fertilidade dos solos arrozeiros dentro e entre as regiões (Vedelago et al, 2012 no prelo), com o predomínio de solos ácidos e com baixa oferta de nutrientes para o desenvolvimento da soja. A calagem cor-reta exerce papel central na adequação do solo, pois além de corrigir a acidez, que prejudica o desenvolvimento das plantas e a fixação simbiótica de nitrogênio, regula a disponibilidade dos nutrientes em geral. A maioria dos solos arrozeiros necessita de doses de calcário superiores a 3,2t/ha (PRNT 100%) para atingir o pH de re-ferência para o cultivo de soja, que é 6,0. Em média, estes solos também apresentam baixo teor de fósforo disponível. Na Planí-cie Costeira Externa, que apresenta menor restrição desse nutriente, apenas 21% dos solos apresentem faixas de fósforo supe-riores ao valor de suficiência. A situação do potássio é menos crítica do que a do fósforo, sendo que em média 46% destes solos apresentam o teor deste nutriente em níveis de suficiência, embora com grande variação entre as regiões.

ESCoLHA DE CULTIvARES Existe grande variação para a tolerân-

cia ao EH entre as cultivares comerciais de soja (Figura 4). Em áreas sabidamente com maior dificuldade de drenagem, o uso de cultivares mais tolerantes deve estar aliado a sistemas de drenagem su-perficial eficientes. O sucesso da lavoura jamais deverá depender exclusivamente da tolerância da cultivar, pois mesmo as mais tolerantes são impactadas pelo EH através de perda de rendimento de grãos. O grupo de maturação também deve ser considerado na escolha de

cultivares, pois um aspecto importante para o sistema de rotação com o arroz é a colheita da soja em solo seco para evitar a formação de rastros com a colheitadeira, e desta forma evitar a mobilização do solo antes da semeadura do arroz. A maior frequência de chuvas no outono ocorre a partir da segunda metade da estação, neste sentido a escolha de cultivares de ciclo tardio passa a representar um risco aos objetivos propostos.

CoNTRoLE DE PLANTAS DANINHASAs atuais estratégias de controle de

plantas daninhas no cultivo de soja nas áreas orizícolas são voltadas mais para a redução do banco de sementes das la-vouras com o objetivo de cultivos futuros de arroz, do que propriamente focadas nos resultados da soja. De fato, é comum observar lavouras com alta infestação de plantas daninhas durante o período crítico de interferência (estádios V3 a V6) em que o controle das daninhas será realizado em estádios mais adiantados do desenvolvimento da cultura. Esta estratégia ocasiona a chamada “perda invisível”, ou seja, o produtor consegue limpar a lavoura após a aplicação do herbicida, mas boa parte do potencial de rendimento da lavoura foi perdida devido ao atraso no momento correto do controle das plantas daninhas. Além disto, as plantas daninhas também estarão mais desenvolvidas no momento da aplicação do herbicida, exigindo doses mais altas para o seu controle, podendo desencadear fitointoxicação na soja, principalmente nos locais de repasse. Uma estratégia de manejo interessante para conciliar os objetivos de reduzir o banco de sementes e potencializar o rendimento de grão de soja é a combinação da aplicação de herbi-cidas residuais em pré-emergência com a

aplicação de glifosato no início do período crítico de interferência (estádio V3). Para mais detalhes indicamos os artigos da revista Cultivar Equação possível, de no-vembro de 2011, e O papel renovado dos herbicidas residuais, de setembro deste ano. A soja cultivada nas áreas orizícolas não está isenta das incidências de pragas e moléstias que corriqueiramente ocorrem na cultura em zonas tradicionais, sendo que seu controle fitossanitário deve ser realizado com base em uma estratégia de monitoramento, seguindo as recomenda-ções para a cultura.

O cultivo de soja em solos arrozeiros é uma atividade de risco e o sucesso desta ação depende de um processo construtivo que, entre outros aspectos, pressupõe a capacitação do produtor e seus colabora-dores na cultura e a aquisição de conhe-cimento da espécie e as suas necessidades, garantindo com isto a adoção de práticas de manejo que possibilitem a obtenção de altos rendimentos aliados aos inúme-ros benefícios que incidem sobre o arroz irrigado semeado na sequência.

Cultivares comerciais de soja registradas para o cul-tivo na região 101 do Rio grande do Sul com maior tolerância ao EH e respectivos grupos de maturação relativa. EEA/Irga, safra 2011/12

Grau de reação ao EH

ToleranteToleranteToleranteTolerante ToleranteToleranteToleranteToleranteTolerante

Mediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente Tolerante Mediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente ToleranteMediamente Tolerante

Cultivar

BRS 243 RRBRS Estância RR

Dom Mário 5.8i Apolo RRFundacep 57 RRfundacep 59 RRFundacep 64 RRFundacep 66 RR

Syn 1059 RRTMG 1067 RR

A 6411 RGBrasmax Energia RRBrasmax Potência RR

Brasmax Turbo RRBRS 246 RRBRS 255 RR

BRS Pampa RRCD 214 RRCD 219 RRCD 235 RR

fPS Netuno RRfPS Urano RR

fTS Arapoty RRFundacep 65 RR

Grupo de Maturação Relativa

6,96,15,56,77,56,96,05,96,76,25,36,75,87,26,77,76,78,26,46,36,26,45,9

Lavoura de soja com alta população de plantas daninhas durante período crítico de competição da cultura

Cláudia Erna Lange,Anderson Vedelago,Augusto Kalsing eValmir Gaedke Menezes,Irga

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Milho

21www.revistacultivar.com.br • Especial 2012

Nos últimos anos, o cultivo de milho tem se expandido larga-mente pelas regiões do cerrado

brasileiro. Segundo levantamento realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab, janeiro/2012), na safra 2010/2011, estimou-se para a região Centro-Oeste uma área plantada de 530,2 mil hectares de milho verão e 3,36 milhões de hectares de milho safrinha, ou seja, 10,53% de acréscimo em relação à safrinha do ano anterior. Se por um lado essa expansão gera empregos e movimenta a economia brasileira, por outro, quando não há um planejamento estratégico para implantação e condução das lavouras, pode contribuir de forma significativa para o aumento dos problemas fitossanitários.

Monitoramentos de doenças na cultura

do milho realizados pela Universidade de Rio Verde (Fesurv) têm evidenciado que a mancha de Cercospora, a mancha de Phaeos-phaeria, as ferrugens (ferrugem polissora), as helmintosporioses, a mancha foliar de diplodia e o enfezamento vermelho estão entre as de maior ocorrência em cultivos de safrinha no Cerrado. A pressão e os danos causados por essas doenças, individualmente, têm sido variáveis de ano para ano e até de região para região. Assim, não é possível afirmar que al-guma delas apresente maior importância em relação às demais.

Novos desafios têm surgido ao longo dos anos, como o aumento da ocorrência de podridões de colmo e espigas causadas por Fusarium spp. e Stenocarpella spp., comuns em áreas das regiões Sudeste e Sul do país e,

até então, de pouca importância na maioria das áreas do Centro-Oeste.

Uma vez conhecidas as principais doenças na região e, sabido que normalmente não ocorrem de forma isolada e sim como um complexo, torna-se necessário o estabeleci-mento de estratégias para o manejo. Entre as principais medidas possíveis e viáveis de serem utilizadas pelos produtores, destacam-se a re-sistência genética, o tratamento de sementes, a adubação equilibrada, a densidade adequada de plantas, a rotação de culturas e o uso de fungicidas na parte aérea.

Resistência genética: a utilização de híbri-dos resistentes é a estratégia mais atrativa para o manejo de doenças, uma vez que o seu uso não exige, a princípio, nenhum custo adicional ao produtor. No entanto, sabe-se que o uso de

Planejamento estratégico

Na esteira do crescimento do cultivo de milho nas regiões do cerrado brasileiro, o ataque de doenças também tem se multiplicado. É o caso das manchas foliar de Diplodia, de Phaeosphaeria e de Cercospora, das ferrugens, helmintosporioses e do enfezamento vermelho, podridões de colmo e das espigas. A resistência genética, o tratamento de sementes, a adubação equilibrada, a densidade

adequada de plantas, a rotação de culturas e o uso de fungicidas na parte aérea estão entre as estratégias que devem ser adotadas de forma planejada e conjunta para o sucesso no manejo

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Planejamento estratégico

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estratégias isoladas não proporciona estabili-dade no controle, mesmo porque, na maioria das vezes, as doenças ocorrem na lavoura em forma de complexo e nem sempre isoladamen-te. Neste contexto, também é inexistente um híbrido com resistência satisfatória a todas as doenças da cultura. Assim, a resistência genética deve ser empregada em associação às demais estratégias.

É extremamente importante que não se utilize um único híbrido por safra na sua propriedade ou área cultivada. O ideal é não empregar o mesmo material em mais de 30% da área. Também não se deve lançar mão do mesmo híbrido sucessivamente na mesma área, mas sim buscar a diversificação dos materiais. Esse propósito contribui para maior durabilidade da resistência genética presente nos híbridos comerciais em anos seguintes.

Atualmente, existe grande diversidade de híbridos e variedades comerciais. No endereço eletrônico http://www.cnpms.embrapa.br/mi-lho/cultivares/index.php encontram-se tabelas com 489 cultivares (híbrido e variedades) de milho disponíveis no mercado brasileiro, com as suas características e respectivas reações às principais doenças. A Revista CULTIVAR GRANDES CULTURAS também publica, anualmente, a relação completa desses mate-riais, com todas as informações agronômicas, tolerância e resistência a pragas e doenças, além da capacidade de adaptação às regiões de plantio.

Para escolha do material a ser plantado, o agricultor deverá observar algumas caracterís-

ticas, tais como, se o material é recomendado para determinada região e qual a doença mais limitante em sua área.

Tratamento de sementes: para garantir es-tande adequando em uma lavoura, é essencial o uso de sementes com boa qualidade física, fisiológica e sanitária. Portanto, o tratamento das sementes com fungicidas, além de contro-lar os patógenos, as protege no solo do ataque de fungos ali presentes.

No Brasil, em geral, as sementes fisca-lizadas atendem aos padrões de qualidade estabelecidos pelo Ministério da Agricul-tura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Normalmente, a maioria dessas sementes é comercializada já tratada com fungicidas, para a proteção contra patógenos presentes nas sementes e no solo.

Sabe-se que um dos meios mais eficientes de disseminação de patógenos é via semente. Muitos fungos infestam ou infectam as sementes de milho, destacando-se no Brasil: Fusarium verticillioides (sin. Fusarium mo-niliforme), F. subglutinans, F. graminearum (Gibberella zeae), Acremonium strictum (sin. Cephalosporium acremonium), Stenocarpella macrospora (sin. D. macrospora) e Stenocarpella maydis (sin. Diplodia maydis), Exserohilum turcicum (sin. Helminthosporium turcicum), Bipolaris maydis (sin. Helminthosporium maydis), Phoma spp., além de fungos de arma-zenamento como Aspergillus spp. e Penicillium spp., entre outros.

Adubação equilibrada: nutrição de plantas e suscetibilidade a doenças estão intimamente

relacionadas. Plantas bem nutridas são mais resistentes às doenças. Portanto, plantas com deficiências nutricionais ou com efeitos fitotóxicos, ou injúrias devido ao excesso de nutrientes, estão sempre propícias às infecções e maiores danos pelos patógenos. Segundo Fantin et al (1999), o uso de doses crescentes de nitrogênio a partir de 100kg/ha aumentou a incidência da mancha de Phaeosphaeria. Fancelli (1996) também observou que a severidade desta doença aumenta quando a aplicação de nitrogênio é realizada após a emissão da 12a folha.

Densidade de plantas e espaçamento adequado: a densidade populacional recomen-dada para cada híbrido é muito importante para garantir o desenvolvimento adequado das plantas, manter boa sanidade e proporcionar alta produtividade. Nos cultivos de safrinha de milho no Sudoeste de Goiás, tem se observado maiores severidades de cercosporiose, mancha de Bipolaris maydis e mancha foliar de diplodia em áreas com densidade populacional acima do recomendado para o híbrido (mesmo quando considerado moderadamente resis-tente a algumas dessas doenças).

Atualmente, a redução do espaçamento de plantio do milho safrinha no Centro-Oeste, seguindo os mesmos espaçamentos utilizados para o plantio da soja, ou seja, 0,45m a 0,50m entre linhas, tem contribuído para a melhor logística de máquinas no período de plantio da safrinha. Contudo, mesmo seguindo as densidades populacionais recomendadas para o híbrido, essa redução no espaçamento também pode contribuir para o aumento na severidade de doenças e propagação do inóculo dos patógenos. Fato que já é comum em muitas áreas do Centro-Oeste.

Rotação de culturas: a escassez de culturas economicamente viáveis para o plantio de sa-frinha no Centro-Oeste, fez com que o cultivo do milho se caracterizasse como monocultura nesta época. Como os restos culturais do milho não se decompõem totalmente de um ano para o outro, ou seja, permanecem por mais de dois anos sobre o solo nas condições do Cerrado, a manutenção e o aumento da concentração de inóculo dos patógenos causadores de doenças

A ferrugem polissora está entre as doenças de maior ocorrência na safrinha de milho do Cerrado

controle altamente eficiente; controle medianamente eficiente; controle pouco eficiente; controle ineficiente.

Tabela 1 - Eficiência de algumas estratégias no controle de doenças na cultura do milho sob condições de safrinha

Resistência genéticaDoençasMancha de cercospora

Mancha de PhaeosphaeriaHelmintosporioses

FerrugensMancha foliar de diplodiaEnfezamento vermelho

Podridões de colmo e espigas“Danping-off” e/ou podridões radiculares

Tratamento de sementes Adubação equilibrada Rotação de culturas

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A mancha de Phaeosphaeria está entre as doenças que desafiam os produtores de milho

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Carregal, Campos e Juliana propõem medidas planejadaspara enfrentar a incidência de doenças em milho

foliares, podridões de colmo e raízes, além das podridões de espigas e grãos, tornam-se uma realidade.

A rotação de culturas reduz o potencial de inóculo na lavoura, além de contribuir para maior durabilidade e estabilidade da resistência genética dos híbridos comerciais em função da menor pressão de patógenos na área cultivada e região.

Uso de fungicidas na parte aérea: muitas doenças foliares podem ser controladas efi-cientemente pela aplicação de fungicidas (Ta-bela 1). Entretanto, o produtor deve atentar-se para aqueles registrados no Mapa, segundo prescrição de um engenheiro agrônomo.

A eficiência desse controle é também dependente da eficiência de aplicação do produto, que pode ser parcialmente limitada pela arquitetura da planta e tecnologia de aplicação adotada. Normalmente, as doenças foliares manifestam-se com maior severidade após o florescimento. A partir deste momento, entende-se que as folhas acima da espiga são importantes para o enchimento dos grãos e, por isso, devem ser protegidas. Portanto, o controle químico precisa impedir que a doença possa atingir essas folhas, reduzindo área fotossintética.

Apenas a escolha do fungicida não ga-

rante sua eficácia. Tecnologia de aplicação e momento da aplicação são determinantes no processo. Infelizmente não existe um momento ou estádio fenológico mágico para a aplicação de fungicidas no milho. Embora maior sucesso venha sendo obtido com aplicações realizadas na fase de pré-pendoamento, o ideal seria o monitoramento periódico da lavoura, verificando-se aspectos como histórico da área, resistência do mate-rial (híbrido) à doença-alvo, pressão de inó-culo em função dos restos de cultura da safra anterior ou de lavouras próximas, condições climáticas no período de desenvolvimento da planta, incidência da doença na planta

(local da planta em que os sintomas estão sendo observados), potencial produtivo da lavoura, valor de comercialização do milho no mercado, custo da aplicação, incluindo despesas com maquinário, funcionários e fungicida. Desta forma, a orientação de um engenheiro agrônomo é fundamental para a tomada de decisão quanto à necessidade e ao momento de aplicação.

Luís Henrique Carregal eHercules Campos,FesurvJuliana Resende Silva, Campos Carregal Pesq. e Tecn. Agr.

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Milho

24 Especial 2012 • www.revistacultivar.com.br

Safrinha ou “safrão”?

Importante apoio para a balança comercial brasileira, a segunda safra agrícola cresce em importância no País. A estimativa para 2013 é de crescimento de um milhão de hectares e produção acima de 39 milhões de toneladas. Com o cenário positivo, resta aos produtores apostar no planejamento, torcer por clima favorável e antecipar a

comercialização para aumentar as chances de lucratividade

A segunda safra brasileira do milho, que normalmente é plantada entre os meses de fevereiro e começo de

março, nasceu batizada de “safrinha”. Poucos acreditavam em sua longevidade, porque o plantio se dava em uma fase de risco, com corte das chuvas em abril nos estados centrais e geadas precoces no Paraná e pontos de São Paulo e Mato Grosso do Sul. O temor vinha do fato de que as cultivares da soja tinham ciclos mais longos e as do milho também possuíam ciclos maiores. Desta forma, ficava difícil encaixar um segundo plantio após a soja de verão, que não representasse grande risco. Mas com muito otimismo dos produtores houve nos últimos cinco anos investimentos fortes na segunda safra. Carinhosamente denominada de “safrinha”, começou tímida, com agricultores do oeste e norte do Paraná (frustrados com o trigo, que vinha amargando prejuízos e produtores da região de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, que eram beneficiados por chuvas precoces e podiam plantar a soja mais cedo e assim ter colheita em janeiro). Começaram a plantar o milho na sequência. Nos primeiros plantios os baixos preços da cultura eram uma constância e os produtores amargavam prejuízos ou tinham

que pedir socorro ao governo, que ano a ano era chamado para criar política de apoio para a comercialização. Pregões de PEP, Pepro, compras diretas para formação de estoques e forte apoio às exportações ocorreram em 2009 e 2010. Com isso se abriu um grande canal internacional, que favoreceu a safra de 2011 para que andasse sozinha e, principalmente, em 2012, tivesse a maior parte do produto negociado antecipado e atrelado às exporta-ções, como se observa nos embarques batendo recordes associados à safrinha. Desta forma criou a independência dos produtores, que agora têm duas safras em um ano só nos locais que antes eram dependentes apenas da soja. A tecnologia melhorou as variedades de soja, que estão mais rápidas e produtivas e junto trouxe cultivares de milho de maior potencial produtivo e qualidade, que atendem ao padrão de exportação. Lembrando que somente em novembro as exportações trouxeram mais de um bilhão de dólares em divisas ao Brasil.

Com lucros, os produtores puderam in-vestir mais e neste último ano houve recorde de colheita da safrinha, que virou “safrão” e superou a produção da safra de verão, com 38 milhões de toneladas contra 35 milhões de toneladas colhidas na primeira safra. Com

isso as exportações avançaram em ritmo for-te, pegando carona na quebra das safras da Argentina, dos EUA e dos principais países produtores do leste europeu. Nestes últimos três meses ocorreram recordes em cima de recordes, com o melhor desempenho conse-guido em novembro de 2012, com 3,9 milhões de toneladas de milho exportadas, superando o recorde de outubro, que tinha sido de 3,66 milhões de toneladas. No final de novembro já havia um acumulado em 2012 de 16,98 milhões de toneladas de milho exportadas e fôlego para quebrar a marca de 20 milhões de toneladas ainda no fechamento de dezem-bro. A expectativa é de superar as projeções apontadas em 22 milhões de toneladas até o final de fevereiro de 2013, que pelo andar dos negócios, poderá superar a marca de 24 milhões de toneladas exportadas entre março de 2012 e final de fevereiro de 2013. Tudo graças ao forte crescimento da safrinha, que teve o plantio em ascensão constante e neste novo ano tende a ter os primeiros cultivos em janeiro podendo chegar próximo de 7,5 milhões de hectares. Mato Grosso, o maior produtor da safrinha, plantou cerca de 2,5 milhões de hectares em 2012 e deverá superar a marca dos 2,7 milhões de hectares neste novo ano. Se a soja sair até o final de fevereiro dos campos, será possível plantar mais, porque se o clima não tivesse mostrado estiagem em outubro o Mato Grosso plantaria mais de três milhões de hectares. O segundo estado em área e produção da safrinha é o Paraná, que em 2012 plantou 2,2 milhões de hectares e tem potencial para chegar aos 2,5 milhões de hectares em 2013. Sendo que o Paraná poderia plantar ainda mais se não tivesse o trigo como alternativa de boa lucratividade neste ano, com boas chances de manter as cotações em alta em 2013 (porque a safra brasileira está próxima de quatro milhões de toneladas e o consumo esperado em mais de 11 milhões de toneladas). Assim, as importações tendem a alcançar mais de sete milhões de toneladas e, desta forma, haverá um mercado internacional com trigo em alta, trazendo boas cotações aos produtores brasileiros, o que servirá de limitante de crescimento acentuado do milho

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safrinha, que poderia avançar no Paraná mais de meio milhão de hectares e agora surgem projeções de números bem mais modestos, entre 200 mil hectares e 300 mil hectares acima do plantio de 2012.

Além de Mato Grosso e Paraná, cresce a participação de Goiás e Mato Grosso do Sul, como grandes produtores, que também avançarão forte neste novo ano, com expecta-tivas de mais de 1,4 milhão de hectares sendo plantados com a safrinha do Mato Grosso do Sul e mais de 800 mil hectares sendo planta-dos em Goiás.

O mercado da safrinha se consolidou atre-lado às exportações, porque o milho entra no mercado internacional entre julho e outubro, antes da chegada da safra dos EUA e depois do pico de venda da safra da Argentina (que normalmente ocorre no primeiro semestre e desta forma pega os portos brasileiros com menor ritmo de trabalho e a maior parte dos berços pode ser usada para embarcar o milho, já que a soja tem o seu pico de embarque entre os meses de abril e junho e depois diminuem de ritmo). Assim, o milho veio para comple-mentar os ganhos dos produtores brasileiros.

Em dezembro de 2011 a safrinha de 2012 já mostrava mais de 30% do produto comer-cializado de forma antecipada, sendo que os produtores do Mato Grosso já contavam com mais de 50% negociados e as cotações giravam, no Mato Grosso, próximas dos R$ 20,00. Agora, em 2012, as cotações possíveis estão girando entre os R$ 16,00 e em alguns momentos chegando aos R$ 17,00 nas regiões produtoras do Mato Grosso. Isso porque os fretes subiram, as negociações antecipadas no Mato Grosso estavam pouco acima dos 7% e no restante do Brasil o volume negociado da safrinha 2013 ainda não havia alcançado a casa dos 5%. Portanto, a maior parte ainda está para ser negociada e os produtores tendem a fazer isso quando as cotações lhes forem mais atrativas. Nos portos os indicativos do milho livre e para entregas até fevereiro têm girado entre R$ 35,00 e R$ 37,00, ao passo que os compradores que apareciam para o milho, de julho a agosto de 2013, tentavam fechar na faixa dos R$ 32,00 e até abaixo. Desta forma,

haverá concentração de oferta a partir do perí-odo de plantio. Neste ano o cultivo da safrinha se dará de maneira escalonada porque houve atraso no plantio da soja, que sofreu com a seca de outubro. Assim, será possível obser-var produtores plantando em janeiro, como também em março, período que normalmente aumenta muito os riscos de perder potencial produtivo, devido ao volume menor de chuvas que vêm pela frente e pelo frio e geadas que podem aparecer sobre as lavouras do Paraná, São Paulo e sul do Mato Grosso do Sul. Em Minas Gerais, onde os produtores tiveram bom desempenho com o milho safrinha em 2012, como houve atraso no plantio da soja a maior parte das áreas deverá migrar para o sorgo, que tende a ter crescimento de área e produção.

A Safrinha também está entrando em lavouras do Tocantins, que plantam culti-vares de soja com ciclo abaixo dos 100 dias e permitem entrar com o milho na sequência, o que tem viabilizado as plantações na região de Guaraí, Pedro Afonso e arredores.

Neste primeiro levantamento realizado para descobrir a intenção do plantio da nova safrinha se chegou a um crescimento próxi-mo de um milhão de hectares, sendo que os estados do Centro-Oeste indicam aumento de cultivo e mesmo com o trigo no Paraná, os produtores seguem otimistas com o plantio da safrinha, porque houve avanço da soja em cima de milho de verão, o que abre espaço para crescimento tanto no milho como no trigo. Com indicativos de que se o clima for favorá-vel, haverá uma colheita na faixa de 39 milhões de toneladas (ou até acima), desta forma se

terá um volume maior do que o colhido neste último ano. Mas é preciso lembrar que a safra de 2012 teve as melhores condições de clima desde que se começou a plantar a safrinha, com plantio no período ideal e chuvas alonga-das, indo muito à frente do que normalmente ocorre, sem registro de geadas importantes no Paraná. Desta forma, a produção foi cheia. Agora, o país ingressa em um novo ano em que o quadro começa positivo, mas depende totalmente do clima para que novamente ocorra sucesso na colheita. O importante para os produtores é não deixar para vender a maior parte da safra no período da colheita, porque podem enfrentar um momento de pouca liquidez e de forte pressão negativa se o clima for favorável nos EUA (que estará com a safra em desenvolvimento). Assim, será necessária a comercialização antecipada para não haver riscos de vender abaixo dos custos ou de de-pender de apoio do governo (que terá pouco fôlego para apoiar o setor em 2013).

Os primeiros indicativos mostram boas condições para os produtores e tudo aponta que, com alta tecnologia e clima favorável, haverá bons lucros novamente, porque a demanda mundial está em forte crescimen-to e há espaço para colocar o excedente no mercado internacional antes da chegada da safra dos EUA. Para concluir, a safrinha virou “safrão” e trouxe grande apoio para a balança comercial brasileira, que somente com o milho já faturou mais de quatro bilhões de dólares neste ano.

fonte: Brandalizze Consulting; Informativo Brandalizze Milho

Situação do plantio da safrinha do milho no Brasil

Área 2012 (1.000Ha)2.200400

1.150680

2.500300

7.230

Estados Paraná

São PauloMato grosso do Sul

GoiasMato Grosso

OutrosBRASIL

Produção 2012 (1.000t)10.2001.5006.0504.10015.300

95038.100

Área 2013* (1.000Ha)2.500380

1.400800

2.750350

8.180

Produção 2013* (1.000t)9.5001.5506.5004.40016.5001.00039.450

Vlamir Brandalizze,Brandalizze Consulting

Page 26: Grandes Culturas - Cultivar 164

26 Especial 2012 • www.revistacultivar.com.br

Plantas daninhas

Apesar dos alertas emitidos pelos órgãos de pesquisa, o número de plantas daninhas resistentes

a herbicidas continua a aumentar no Brasil. Os mais novos casos de resistência, relatados, envolvem a espécie daninha Lolium multiflo-rum, popularmente conhecida como azevém. Essa planta daninha adquiriu resistência ao glifosato em 2003, e em 2010 e 2011 se tornou resistente aos herbicidas inibidores da enzima Acetolactato sintase (ALS) e Acetil co-enzima A carboxilase (ACCase), respectivamente. Dentre os herbicidas inibidores da ALS estão as moléculas iodosulfurom, principal herbicida usado em trigo, e nicosulfurom, utilizado em milho, para controle de azevém. Já entre os inibidores da ACCase estão as moléculas clodinafope, para emprego em trigo e cletodim usado em manejo pré-semeadura da soja e do milho para controle de azevém. Com o advento da resistência, essas moléculas perdem a ação sobre o azevém e para obter o controle dessa espécie é necessário o uso de moléculas alternativas como paraquate, tri-fluralina, entre outros. Os biótipos resistentes foram identificados no Rio Grande do Sul em diferentes locais e devem dispersar-se por todo estado nos próximos anos. As medidas de

prevenção e manejo da resistência, se adotadas pelos produtores, podem reduzir a dispersão e prolongar o tempo de uso dos herbicidas a que o azevém adquiriu resistência.

Vale destacar também que no estado do Paraná, no ano de 2010, foram relatados o caso da aveia (Avena fátua) resistente ao clodinafo-pe, um inibidor da ACCase, e o preocupante aumento da população de capim-amargoso (Digitaria insularis), resistente ao glifosato. O capim-amargoso também aumentou sua infestação de forma rápida no sul do Mato Grosso do Sul. As plantas de capim-amargoso são perenes, rizomatosas, formam touceiras, produzem grandes quantidades de semen-tes e vegetam durante todo o ano, embora em maior intensidade no período de verão. Plantas adultas, que se desenvolvem na en-tressafra, são difíceis de serem controladas se os herbicidas não forem utilizados no início do desenvolvimento. Assim, o maior risco está em se tentar o controle de plantas entouceiradas, pois ocorrem rebrotas com muita frequência. Nestes casos é normalmente necessária mais de uma aplicação e, ainda assim, sem garantia de controle. Herbicidas pré-emergentes têm sido utilizados para não permitir a germina-ção de novas plantas após a semeadura das

culturas. O controle de biótipos resistentes de capim-amargoso e aveia envolve o uso de graminicidas pós-emergentes e herbicidas que atuam como pré-emergentes. Além dos problemas com biótipos de capim amargoso resistentes ao glifosato, em muitos casos se verifica o escape de plantas não resistentes, o que pode ser explicado pelo uso de subdoses do glifosato.

SITUAção ATUAL Do AzEvÉMA soja transgênica está presente em

praticamente toda a área cultivada com soja no Rio Grande do Sul. O glifosato é usado de forma repetida (antes da semeadura e na pós-emergência da soja) e, com raras exceções, como único produto e método de controle, impondo grande pressão de seleção de espécies tolerantes e/ou resistentes. O resultado é evi-dente em diversas lavouras, havendo seleção de espécies resistentes como o azevém e a buva. Os dois primeiros casos de resistência ao glifosato no Brasil foram identificados no Rio Grande do Sul (azevém em 2003 e buva em 2005). Casos de biótipos de buva e azevém resistentes ao glifosato também foram identificados no Paraná, assim como de buva em São Paulo. O uso continuado e repetido é

A incidência de plantas daninhas resistentes a herbicidas cresce a cada safra no Brasil. É o caso de azevém, buva, capim amargoso e aveia. Para enfrentar esse problema é

importante que o produtor esteja atento a estratégias como não utilizar, por mais de duas vezes consecutivas, produtos com o mesmo mecanismo de ação, arrancar as plantas

que sobrevivam à aplicação, rotacionar culturas e efetuar a limpeza de máquinas e equipamentos utilizados na operação

Contra a resistênciaContra a resistência

A incidência de plantas daninhas resistentes a herbicidas cresce a cada safra no Brasil. É o caso de azevém, buva, capim amargoso e aveia. Para enfrentar esse problema é

importante que o produtor esteja atento a estratégias como não utilizar, por mais de duas vezes consecutivas, produtos com o mesmo mecanismo de ação, arrancar as plantas

que sobrevivam à aplicação, rotacionar culturas e efetuar a limpeza de máquinas e equipamentos utilizados na operação

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não é controlada pela dose registrada do herbicida para combater a espécie. Assim, o herbicida perde o efeito sobre a espécie e não adianta aumentar a dose do produto, pois não vai ocorrer controle satisfatório.

Nas áreas onde ocorrem plantas resisten-tes recomenda-se:

a) não usar, mais do que duas vezes segui-das na mesma área, herbicidas com o mesmo mecanismo de ação;

b) implantar um sistema de rotação de mecanismos de ação de herbicidas eficazes sobre as espécies-problema;

c) após a aplicação do herbicida, as plantas que sobreviverem devem ser arrancadas, capi-nadas, roçadas, ou seja, controladas de alguma forma para evitar a produção e disseminação de sementes na área;

d) implantar programa de rotação de culturas. A rotação de culturas oportuniza a utilização de um número maior de mecanis-mos de ação herbicidas;

e) limpar máquinas e equipamentos para evitar a disseminação das plantas daninhas resistentes. Cuidados especiais devem ser adotados nos condomínios agrícolas, onde as máquinas são usadas de forma comunitária.

CoNTRoLE DE BUvADe forma geral recomenda-se que o mane-

jo de buva resistente ao glifosato seja realizado continuamente e com ações comunitárias como a eliminação de plantas que crescem nas margens de estradas, pois suas minúscu-las sementes disseminam-se pelo vento com muita facilidade. Aproveitar as oportunidades de manejo de buva (no inverno, na dessecação pré-semeadura e controle ou catação na pós-emergência da cultura de verão) é fundamen-tal para ter sucesso no controle.

Biótipos de buva com resistência aos ini-bidores da ALS (clorimurom, metsulfurom e nicosulfurom) foram identificados no Paraná. Esses biótipos são resistentes ao glifosato e aos inibidores da ALS. A implicação desta resis-

considerado a principal causa para seleção de espécies tolerantes e/ou resistentes.

Com o advento da resistência do azevém ao glifosato os herbicidas inibidores da enzima ACCase (Tabela 1) tornaram-se a principal ferramenta para controle do azevém no ma-nejo pré-semeadura (dessecação) da soja e do milho. Assim, nos últimos anos, os herbicidas inibidores da ACCase foram usados repetida-mente para controlar azevém e, como já era esperado, selecionaram biótipos resistentes. Paralelamente, em áreas cultivadas com trigo e cevada, o herbicida iodosulfurom foi utili-zado como única ferramenta de controle do azevém. Da mesma forma que aconteceu com o uso repetido dos inibidores da ACCase e do glifosato, o iodosulfurom selecionou biótipos de azevém resistentes aos herbicidas inibido-res da enzima ALS (Tabela 1). Atualmente existem no Rio Grande do Sul biótipos de azevém resistentes ao glifosato e aos inibidores da ACCase e biótipos resistentes ao glifosato e inibidores da ALS. Até o momento não foram encontrados biótipos que resistem aos três me-canismos de ação, simultaneamente (glifosato, inibidores da ACCase e ALS).

IMPACTo DA RESISTêNCIAMúLTIPLA Do AzEvÉMO impacto da seleção de espécies está,

principalmente, no custo de produção, já que o produtor terá que utilizar outros herbicidas na área, normalmente aumentando o custo de produção e com menor eficiência, resultando em maior gasto com herbicida, menor controle e perdas na produção. No caso de resistência de azevém ao glifosato necessita-se usar her-bicidas inibidores da ACCase ou ALS, que possuem custo até dez vezes maior do que o gasto com glifosato. No caso de resistência múltipla de azevém ao glifosato e aos inibido-res da ACCase resta ao produtor apenas uma alternativa, que são os herbicidas inibidores da enzima ALS. Da mesma forma, no caso de resistência múltipla de azevém ao glifosato

e aos inibidores da ALS, a alternativa são os herbicidas inibidores da enzima ACCase.

É importante salientar que a existência de biótipos resistentes ao glifosato e aos inibidores da ACCase ou glifosato e aos inibidores da ALS indica que a resistência múltipla aos três mecanismos (glifosato + ACCase + ALS) vai ocorrer em poucos anos. No caso da ocorrên-cia de azevém resistente aos três mecanismos as opções de controle do azevém restringem-se aos produtos pré-emergentes, como triflurali-na e pendimetalina, e produtos não seletivos de contato, como o paraquate.

O maior impacto da resistência de azevém a glifosato e ALS será nas culturas do trigo e do milho, em que os herbicidas iodosulfurom e nicosulfurom, inibidores da enzima ALS, são os principais utilizados, respectivamente. Na cultura do trigo, para controle de azevém, a alternativa é o uso do herbicida clodinafope e na cultura do milho o uso de herbicidas pré-emergentes como a atrazina.

Vale destacar que alguns herbicidas gra-minicidas podem apresentar residual de solo e afetar as culturas como milho, trigo e cevada. Para evitar problemas devem-se respeitar os períodos de carência recomendados, que variam de dez dias a 15 dias entre a aplicação e a semeadura de cereais de inverno.

MANEJo E CoNTRoLE DASPLANTAS RESISTENTESA planta é considerada resistente quando

Azevém resistente (esquerda) e azevémsensível a herbicidas (direita)

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28 Especial 2012 • www.revistacultivar.com.br

tência é grave, pois os herbicidas inibidores da ALS são os principais produtos utilizados para controle de buva no inveno e em pré e pós-emergência da soja.

MANEJo No INvERNoPlantas pequenas de buva são controladas

com maior facilidade do que plantas grandes. O cultivo da área e o uso de herbicidas são alternativas eficientes.

CULTIvo DA ÁREAO cultivo da área com trigo, centeio ou

aveia diminui o número de plantas de buva quando comparado com áreas não cultivadas, deixadas em pousio. A implantação de cultu-ras que permitam a colheita de grãos, como trigo ou espécies que possam ser utilizadas somente para cobertura do solo, como aveia, ervilhaca ou nabo forrageiro, entre outras, são boas alternativas. A Brachiaria ruziziensis também é uma boa opção para regiões mais quentes como Paraná, e o seu uso pode ser feito no sistema lavoura-pecuária, junto com o milho safrinha ou mesmo apenas para ocupação de área e formação de cobertura morta.

USo DE HERBICIDASA associação do efeito supressor das

culturas, com uso de herbicidas proporciona controle satisfatório de buva, na maioria dos casos. Os herbicidas usados na cultura do trigo, como iodosulfurom, metsulfurom e o 2,4-D (Tabela 2) controlam buva, mas seu uso deve atender às recomendações para a cultura e para a planta daninha com relação ao estádio, época de aplicação e dose. Metsulfurom deve ser utilizado, no mínimo, 60 dias antes da semeadura da soja ou do milho, pois a decomposição deste produto no solo pode ser reduzida, pela falta de umidade ou por temperaturas muito baixas por longos períodos, exigindo, assim, intervalo maior entre a sua aplicação e a semeadura da soja.

Áreas utilizadas para alimentação de animais devem ser manejadas com cuidado para evitar intoxicação. Além disso, o pastejo mantém a forrageira a baixa altura e, com isso, haverá espaço para a buva se estabelecer. Os animais também podem danificar plantas de buva, quebrando caules e galhos, dificultando a ação dos herbicidas.

O controle manual, por meio de capina ou arranquio, e aplicações localizadas de her-bicidas são boas alternativas e que ajudam no manejo integrado.

MANEJo PRÉ-SEMEADURA (DESSECAção)O controle eficiente de buva tem sido

obtido com 2,4-D (1,5L/ha a 2,0L/ha de produto comercial) ou clorimurom (60g/ha a 80g/ha de produto comercial) associados ao glifosato (na dose de 1,0kg/ha) (Tabela 2). As aplicações sequenciais têm apresentado excelentes resultados. Nesse caso, o glifosato associado ao 2,4-D ou ao clorimurom é apli-cado dez a 15 dias antes da segunda aplicação, que deve ser feita um a dois dias antes da semeadura, usando-se dicloreto de paraquate (2,0L/ha de produto comercial) ou dicloreto de paraquate + diurom (1,5L/ha a 2,0L/ha de produto comercial) ou, ainda, amônio-glufosinato (1,5L/ha a 2,0L/ha de produto comercial) (Tabela 2). Aplicações sequenciais usando somente produtos de contato como amônio-glufosinato, dicloreto de paraquate ou paraquate + diurom (na dose de 1,5L/ha a 2,0L/ha de produto comercial) apresentam alta eficiência, desde que usados em plantas pequenas. Nestes casos, pode ser empregado o mesmo produto na primeira e na segunda aplicação ou alternar produtos. Vale destacar que misturas de tanque não são recomenda-das. Assim, as associações devem ser realizadas aplicando-se os produtos isoladamente.

CoNTRoLE EM PRÉ-EMERgêNCIAO uso de herbicidas pré-emergentes como

o flumioxazin, o diclosulam e o sulfentrazo-na (Tabela 2) apresentam controle de buva proveniente do banco de sementes do solo. Esses herbicidas, quando utilizados na pré-emergência da soja (semear/aplicar ou aplicar/semear), proporcionam controle residual de 20 dias ou mais, dependendo das condições de solo e clima.

CoNSIDERAçõES fINAIS O relato dos casos de resistência de azevém

aos herbicidas inibidores da ALS e inibidores da ACCase é impactante. As alternativas de controle desses biótipos restringem-se aos produtos de contato ou aos “velhos” produtos pré-emergentes como a trifluralina. O relato de biótipos de buva com resistência aos ini-bidores da ALS (clorimurom, metsulfurom e nicosulfurom) foi identificado no Paraná. Esses biótipos são resistentes ao glifosato e aos inibidores da ALS. A implicação desta re-sistência é grave, pois os herbicidas inibidores da ALS são os principais produtos utilizados para controle de buva no inverno e em pré e pós-emergência da soja.

De forma geral, o manejo dos biótipos resistentes, como azevém e buva, deve ser feito com mecanismos alternativos, não repetindo uso, em um mesmo ano, de mecanismos de ação, evitando a utilização dos produtos para os quais os biótipos possuem resistência. Já o manejo de espécies tolerantes, como leiteiro, corriola, trapoeraba e poaia-branca, deve ser feito em estágios iniciais de desenvolvimento dessas espécies e com uso da dose correta, indicada na bula dos produtos.

Grupo químico

Ariloxifenoxi-propionatos

(fop’s)

Ciclohexanodionas(dim’s)

Sulfoniluréia

BipiridíliosÁcido fosfínico

Ingrediente ativo

FluazifopeHaloxifope

PropaquizafopeFenoxaprope

DiclofopeCletodimSetoxidim

IodosulfuromNicosulfurom

ParaquateAmônio-glufosinato

Tabela 1 - Alternativas de herbicidas graminicidas para uso em um programa de controle químico de azevém resistente

Mecanismo de ação

Inibidores da

ACCase

Inibidores da ALS

Inibidores do fS IInibidores da gS

• Para definição da dose e da melhor alternativa a ser utilizada, consulte um engenheiro agrônomo

HEBICIDAS gRAMINICIDAS

HEBICIDAS Não SELETIvoS

Grupo químico

Sulfonilureia

Ácido ariloxialcanoico

Bipiridílios

Homoalanina substituída

Ácido ariloxialcanoico

TriazolopirimidinaTriazolonaFtalimidas

Ingrediente ativo

iodosulfurom-metílicometsulfurom-metílico

2,4-D

paraquatedicloreto de paraquate

+ diuromamônio-

glufosinato2,4-D

diclosulamsulfentrazonaflumioxazin

Tabela 2 - Alternativas de herbicidas para uso em um programa de controle químico de buva resistente e sensível ao glifosato

Mecanismo de ação

Inibidor da ALS

Mimetizador de auxinas

Inibido dofS I

Inibidor da gS

Mimetizador de auxinas

Inibidor da ALSInibidor

de PROTOX

• Para definição da dose e da melhor alternativa a ser utilizada, consulte um engenheiro agrônomo

CONTROLE NO INVERNO

NA DESSECAção PRÉ-SEMEADURA

NA PRÉ-EMERgêNCIA EM SoJA

Leandro Vargas, Embrapa TrigoDionísio Pisa Gazziero,Embrapa SojaDirceu Agostinetto,UFPelDécio Karam,Embrapa Milho e Sorgo

CC

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Trigo

Folhas manchadasDoenças foliares, como a mancha amarela, provocam extensos danos à cultura do trigo, com redução da área fotossinteticamente ativa, morte dos tecidos, menor produção de

fotoassimilados e diminuição do tamanho e da qualidade dos grãos. O tratamento de sementes com fungicidas, realizado de forma criteriosa, é uma das alternativas para o manejo da

doença, que deve aliar, também, práticas culturais e, sempre que possível, resistência genética

A cultura do trigo caracteriza-se por ser atacada por várias doenças, des-de os estádios iniciais de desenvol-

vimento até completar seu ciclo. Dentre estas doenças, a ocorrência de manchas foliares é um fator de preocupação cada vez maior para técnicos e produtores, principalmente após a adoção do sistema de plantio direto. As principais manchas foliares do trigo, no Sul do Brasil, são a mancha amarela ou mancha bronzeada da folha, causada por Drechslera tritici-repentis, a mancha marrom, provocada por Bipolaris sorokiniana, e a septoriose, cau-sada por Septoria tritici.

De forma geral, a predominância de uma doença em determinado local está ligada às condições climáticas da região, que podem ser mais ou menos favoráveis às exigências do patógeno. A mancha marrom não é consi-derada uma doença severa à cultura do trigo em locais de clima mais ameno, assumindo assim importância maior no Paraná e na região Centro-Oeste, onde encontra condições mais adequadas para seu desenvolvimento. A sep-toriose é uma doença cosmopolita, ocorrendo em mais de 50 países, especialmente Estados Unidos, Canadá, Egito, Argentina, Uruguai, Brasil e muitos países da Europa. Sua ocorrên-cia está atrelada a temperaturas acima de 18ºC e precipitação frequente. Já a mancha amarela não exige um tipo de clima específico para o seu desenvolvimento, ocorrendo em países como Austrália, Canadá, Estados Unidos, Brasil, Paraguai e Uruguai. No Brasil, é mais importante na região Sul, ocorrendo princi-palmente no Paraná e destacando-se como a mancha foliar mais comum nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.

CoNDIçõES PREDISPoNENTESAs manchas foliares ocorrem com maior

intensidade quando são utilizadas sementes infectadas ou quando o trigo é cultivado em monocultura no sistema de plantio direto. No caso de D. tritici-repentis, por ser um fungo considerado necrotrófico (com capacidade de sobreviver sobre os restos culturais), sua ocorrência é fortemente atrelada ao sistema de plantio direto. A mancha amarela encontra

Doenças foliares, como a mancha amarela, provocam extensos danos à cultura do trigo, com redução da área fotossinteticamente ativa, morte dos tecidos, menor produção de

fotoassimilados e diminuição do tamanho e da qualidade dos grãos. O tratamento de sementes com fungicidas, realizado de forma criteriosa, é uma das alternativas para o manejo da

doença, que deve aliar, também, práticas culturais e, sempre que possível, resistência genética

Folhas manchadas

condições ótimas para seu desenvolvimento quando a temperatura situa-se entre 18ºC e 28ºC e quando há período de molhamento superior a 30 horas.

foRMAS DE DISPERSão/INfECçãoAs sementes e os restos culturais são as

principais fontes de inóculo primário para a ocorrência da manha amarela. Os restos culturais permitem a sobrevivência do fungo de uma safra para outra na mesma área e, as sementes infectadas, são importantes na disseminação da doença a longas distâncias. Sob condições favoráveis e sem a utilização de fungicidas, conídios são produzidos na superfície das lesões, constituindo fonte de inóculo secundário. A disseminação a curtas distâncias é realizada por respingos de chuva, que transportam ascósporos e conídios de plantas atacadas para plantas sadias.

SINToMAToLogIAOs sintomas da mancha amarela po-

dem surgir logo após a emergência do trigo, em torno de 25 e 30 dias após semeadura. Inicialmente, aparecem pequenas manchas cloróticas nas folhas que, com o passar do tempo, expandem-se formando lesões elíp-ticas, de coloração amarelada ou de aspecto bronzeado, que coalescem tornando-se de coloração marrom-clara a marrom-escura, tendo aproximadamente 12mm, circundadas por um halo amarelo. No centro destas lesões, sob condições de alta umidade, são formados conidióforos do fungo, apresentando colora-ção marrom-escura. Em alguns genótipos, uma extensa clorose espalha-se por toda a folha, podendo coalescer e resultar na morte da folha.

DANoSOs danos causados pela mancha amarela

estão associados, principalmente, à diminui-ção da área fotossinteticamente ativa, através de lesões que causam a morte dos tecidos e, consequentemente, menor produção de fotoassimilados, diminuindo o tamanho e a qualidade dos grãos. A magnitude dos danos no rendimento de grãos depende basicamente

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da severidade com que a doença ocorre, sendo influenciada pela suscetibilidade que cada cultivar apresenta e as condições ambientais sob as quais são cultivadas. Os danos no trigo devido à doença podem chegar a 50%, explicados em grande parte pela redução no tamanho e peso dos grãos. Estudos para avaliar o controle de manchas foliares com fungicidas verificaram rendimentos até 59% superiores aos da testemunha, quando a predominância foi de mancha amarela.

Apesar de a doença poder se manifestar desde o início do desenvolvimento das plantas, danos mais severos são observados a partir do estádio de elongamento. A planta torna-se mais vulnerável à infecção por patógenos a partir desse estágio, em função da maior trans-locação de nutrientes para o desenvolvimento da espiga e enchimento dos grãos. Em anos chuvosos, os danos podem ser mais severos, devido às condições serem propícias ao desen-volvimento do patógeno e também pela maior dificuldade de se realizar o controle químico com fungicidas, em função da dificuldade de entrada de máquinas na lavoura.

MANEJoO manejo da doença deve ser realizado

utilizando-se todas as ferramentas disponíveis, conforme preconiza o conceito de manejo integrado de doenças (MID). No caso da mancha amarela do trigo, os métodos mais eficazes de controle se baseiam, principalmen-te, em práticas culturais, resistência genética e controle químico.

Nos últimos anos, com a ampla utilização do plantio direto houve melhoria das condi-ções de sobrevivência de D. tritici-repentis no solo. Nesse sistema, devido à manutenção dos resíduos culturais sobre a superfície da terra, sua mineralização tornou-se lenta, o que

propiciou a sobrevivência de patógenos por um período de tempo maior. Com o plantio direto, a rotação de culturas transformou-se em prática ainda mais importante do que já era quando, predominantemente, realizava-se o preparo convencional do solo, com o enterrio dos restos culturais. A rotação de culturas com espécies não hospedeiras por um, dois ou mais anos consecutivos permite a redução da população do patógeno no solo, sendo uma das principais práticas preventivas de manejo da mancha amarela do trigo.

O uso de sementes de boa qualidade fitossanitária é altamente recomendado para evitar a introdução na área de patógenos com capacidade de disseminação por sementes, como é o caso de D. tritici-repentis. Isso é válido, principalmente, em áreas onde é realizada a rotação de culturas e o nível de contaminação do solo pelo patógeno é baixo. Aliado a isso, recomenda-se a realização do tratamento das sementes com fungicidas que apresentam comprovada eficácia contra D. tritici-repentis. Previamente ao tratamento, é importante realizar o levantamento dos patógenos que estão associados às sementes através de análise laboratorial. Isso auxilia na escolha do fungicida mais apropriado para

cada situação.O tratamento de sementes com fungicidas

objetiva, principalmente, proteger a plântula contra o ataque de patógenos que estão vincu-lados às sementes e também contra a infecção por aqueles que se encontram no solo. Entre-tanto, para que o tratamento de sementes seja eficaz, não basta apenas utilizar um produto com alta fungitoxicidade, mas também deve ser realizada uma boa aplicação. O grau de co-bertura da superfície das sementes e a homo-geneidade de distribuição da calda fungicida são parâmetros determinantes do sucesso ou fracasso do tratamento. Falhas na cobertura da superfície das sementes pelo produto oferecem oportunidades de desenvolvimento aos patógenos. Já a distribuição heterogênea do produto entre as sementes pode acarretar, além de baixa eficácia de controle, problemas com fitotoxicidade em plântulas oriundas de sementes que receberam doses excessivas de produto.

A oferta de cultivares de trigo com resis-tência completa à mancha amarela é limitada. Ainda assim, a utilização de cultivares com re-sistência moderada é uma medida de controle importante, desde que associada às demais práticas de manejo integrado. A necessidade de aplicações foliares de fungicidas para o controle da mancha amarela ocorre, princi-palmente, quando não realizadas as práticas culturais de controle e/ou são utilizadas culti-vares altamente suscetíveis à doença.

A associação de práticas culturais, carac-teristicamente de baixo custo, com o manejo químico, e a resistência genética quando pos-sível, podem resultar em um controle eficaz da mancha amarela. Como resultado, preserva-se o potencial produtivo das cultivares e, prin-cipalmente, a viabilidade e a lucratividade do cultivo do trigo, mesmo sob condições favoráveis ao ataque de doenças, como ocorre na região Sul do Brasil.

31www.revistacultivar.com.br • Especial 2012

Lesões de aspecto bronzeado ou coloração amarelada são características da doença

Folha de trigo afetada pelo ataque de D. tritici-repentis

Fotos Divulgação

Ricardo Balardin,Simone Minuzzi eGiuvan Lenz,UFSMNédio Tormen,Instituto Phytus

Balardin, Lenz, Simone e Tormen abordam as estratégias contra a mancha amarela em trigo

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Cana-de-açúcar

32 Especial 2012 • www.revistacultivar.com.br

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As espécies de plantas daninhas co-nhecidas popularmente pelo nome de corda de viola são infestantes

frequentes em canaviais. Em áreas de manejo inadequado de sua infestação podem provocar sérias limitações de expressão do potencial produtivo da cultura e dificultar a colheita mecanizada sem queima da palhada. Na pá-gina seguinte na foto bem abaixo à esquerda podem ser observados os prejuízos potenciais que esta planta daninha pode causar quando sua infestação é elevada.

A corda de viola pertence à família bo-tânica Convolvulaceae, que compreende 55 gêneros e mais de 600 espécies de plantas. No entanto, as principais espécies de corda de viola que infestam os canaviais brasileiros são Ipomoea nil, Ipomoea hederifolia, Ipomoea triloba, Ipomoea purpurea, Ipomoea quamoclit, Merremia aegyptia e Merremia cissoides. Ao lado direito pode ser visualizada a foto de uma plântula de Ipomoea triloba. As plantas de corda de viola têm hábito de crescimento com ramos volúvies (trepadeiras), sendo que sua identificação pode ser baseada principalmente nos aspectos visuais das folhas das plantas jovens e nas suas sementes.

Dentre os aspectos biológicos, ambientais e culturais que favorecem as altas infestações da corda de viola em cana de açúcar destacam-se fluxos tardios de emergência em relação ao plantio e corte da cana, exigindo assim medi-das de manejo de logo residual; baixa exigência de luz para a germinação-emergência, possi-bilitando sua infestação sob a palhada e após o “fechamento” do canavial; hábito de cresci-mento trepador; espaçamentos mais largos da cultura adotados recentemente em função da exigência para a colheita mecanizada e baixa eficácia em seu controle por alguns herbicidas

mais comumente utilizados na cultura.

MANEJo E CoNTRoLEO controle da corda de viola exige medidas

integradas de manejo durante a condução da cultura. No preparo de solo para o plantio da cultura, medidas de redução do banco são recomendadas com o objetivo de facilitar o controle pós-plantio, através da aplicação de herbicidas residuais em pré-plantio incorpo-rado (PPI). Nesta modalidade de aplicação a incorporação é feita com o objetivo de aumentar o contato do produto com a se-mente, destacando-se para isso os herbicidas amicarbazone e sulfentrazone. Após o plantio, herbicidas residuais podem ser utilizados, com o objetivo de controlar os primeiros fluxos de emergência da planta daninha, sendo então recomendados herbicidas residuais de ação latifolicida como, por exemplo, a formulação comercial de diuron + hexazinone. A dose e a formulação a serem utilizadas destes herbici-das no plantio é função do tipo de solo e condi-ção climática no momento da aplicação. Nesta aplicação é importante que seja considerada a aplicação de um herbicida com ação graminici-da em associação com o diuron + hexazinone

Plântula de Ipomoea triloba em área de palhada

Corda destoanteA corda de viola é uma planta daninha de difícil controle, que não manejada adequadamente reduz o potencial produtivo dos canaviais e dificulta a operação de colheita. Seu combate exige medidas planejadas, adotadas no período correto, com o emprego de herbicidas e ações específicas para cada fase da cultura

Corda destoanteA corda de viola é uma planta daninha de difícil controle, que não manejada adequadamente reduz o potencial produtivo dos canaviais e dificulta a operação de colheita. Seu combate exige medidas planejadas, adotadas no período correto, com o emprego de herbicidas e ações específicas para cada fase da cultura

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variam de 1,5kg/ha a 1,75kg/ha, dependendo do tipo de solo.

Na pós-emergência a corda de viola pode ser controlada por herbicidas como o 2,4-D, mesotrione e carfentrazone. O 2,4-D pode ser aplicado em qualquer fase do desenvolmento da planta daninha, através de aplicações tratorizadas ou manuais. Já os herbicidas me-sotrione e carfentrazone podem ser aplicados via aérea para áreas pré-colheita. Esta moda-lidade de aplicação é feita para situações onde a colheita mecanizada é impossibilitada pela alta infestação de corda de viola, que provoca dificuldade na operacionalidade da máquina de colheita de cana.

Sendo assim, o controle da corda de viola

CC

caso a infestação de gramíneas seja também frequente na área. Se for feita a aplicação de ppi, o uso de amicarbazone (exceto em solos argilosos) e sulfentrazone (para qualquer tipo de solo, porém com variação de dose de acordo com a textura), poderá também ser utilizado em pré-emergência pós-plantio. É necessário destacar que as doses e recomendações destes herbicidas devem ser baseadas nas recomen-dações oficiais de bula dos produtos ou na consulta à assistência técnica das respectivas empresas fabricantes. Após a operação de sistematização do solo para a colheita, feita através da operação de cultivo, conhecida popularmente como “quebra-lombo”, há normalmente a necessidade de utilização de herbicidas residuais de controle de corda de viola. Esta modalidade de aplicação é chama-da de aplicação de um extensor de residual ou segunda aplicação de herbicida. Pode ser feita conjugada ao equipamento de cultivo ou separada através de operação específica de aplicação de herbicidas. Em ambas as possibi-lidades de aplicação, a condição de solo/clima pode ser de situação de baixa ou alta umidade no solo. Sendo assim, a recomendação do herbicida e/ou dose nesta aplicação é baseada nas características físico-químicas do herbicida (principalmente solubilidade em água) e sua tolerância à seca.

Em cana-soca o controle da corda de viola é normalmente feito em condição de pré-emergência da planta daninha e da cul-tura através da aplicação de herbicidas. Os herbicidas aplicados na época seca devem ter suas caracteríscas físico-químicas favoráveis para esta modalidade de aplicação. Já os utilizados em época chuvosa normalmente são empregados em misturas formuladas ou associações de herbicidas. O herbicida amicar-bazone é normalmente empregado em grande frequência pelos produtores, principalmente durante o período seco do ano nas doses que

exige planejamento de manejo e utilização de herbicidas para a cultura, medidas de pré-plantio, aplicação de herbicidas em cana-planta logo após o plantio e depois da operação de quebra lombo, além de uso de herbicidas específicos para soqueiras, de acordo com a situação hídrica do solo. A corda de viola é uma planta daninha que, não manejada adequadamente, reduz consideravelmente o potencial produtivo da cultura, além de dificultar a colheita, exigindo grande atenção por parte do setor de tratos culturais de uma unidade.

Aplicação de herbicida conjugada à operação de sistematização do solo para a colheita em cana-planta

Infestação de corda de viola (Ipomoea hederifolia) em soqueiras de cana-de-açúcar (esquerda) e controle de infestação tardia de corda de viola com 2,4-D (direita)

Pedro Jacob Christoffoleti eMarcelo Nicolai,Esalq/USP

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Arroz

34 Especial 2012 • www.revistacultivar.com.br

No manejo de insetos-praga, a identificação da espécie causa-dora dos sintomas aparentes é

uma etapa fundamental. Quando os danos ocorrem nas folhas ou nas panículas, os insetos podem ser facilmente identificados. Porém, quando o ataque se dá nas raízes, a identificação não é tão simples, e é necessário o conhecimento dos sintomas para uma correta amostragem e adoção de práticas de manejo. Esta pode ser uma das dificuldades em áreas onde ocorre o pulgão-da-raiz, Rhopalosiphum rufiabdominale.

Segundo trabalhos do Instituto Riogran-dense do Arroz (Irga), o pulgão-da-raiz é uma espécie que causa preocupação aos produtores desde 1987. Atualmente, é um dos principais insetos no Rio Grande do Sul, com ataque a áreas expressivas, com perdas econômicas. Nas últimas safras, a sua população tem aumen-tado e a ocorrência se dá principalmente na região da Fronteira Oeste, Campanha, Depres-

são Central e na Planície Costeira Externa. Em alguns municípios da Fronteira Oeste, até 70% da área de arroz irrigado é atacada.

Os pulgões são insetos de corpo mole, que apresentam em média 2mm de comprimento, coloração verde-escura na parte anterior do corpo e vermelho-alaranjado no segmento posterior. Possuem aparelho bucal do tipo picador-sugador e se multiplicam rapidamen-te, sendo favorecidos por temperatura amena a elevada e clima seco. Vivem em colônias nas raízes, em profundidade de 2cm a 3cm, sendo estas formadas por adultos (fêmeas) alados ou ápteros e por ninfas de diferentes tama-nhos. A dispersão é realizada principalmente pelo vento, portanto, podem atingir grandes distâncias.

Durante a entressafra com as condições climáticas desfavoráveis, estes insetos ficam abrigados, sendo os principais locais de hibernação a roseta (Soliva pterosperma), o capim-rabo-de-burro (Andropogon bicornis),

o capim-arroz (Echinochloa spp) e o arroz espontâneo (Oryza sativa).

Os pulgões não resistem ao encharca-mento do solo. Assim, são característicos de solos arenosos e bem drenados. Após o alagamento, podem permanecer nos locais mais altos da lavoura, como taipas, coroas e bordaduras. Tanto as formas adultas como as ninfas atacam as plantas, tornando-as fracas,

Identificação corretaFacilmente confundido com outros sintomas, como a fitotoxidade provocada por herbicidas, o ataque do pulgão-da-raiz pode ser tratado de forma equivocada em áreas de arroz irrigado. Por

isso, o monitoramento adequado da lavoura é o primeiro passo para o sucesso no manejo da praga

Nas últimas safras a presença do pulgão-da-raiz tem aumentado nas regiões produtoras de arroz irrigado

Identificação correta

Fotos Jaime Vargas de Oliveira

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Jaime Vargas de Oliveira, Thais Fernanda S. de Freitas, Sintia da Costa Trojan e Gustavo Cantori Hernandes,Irga

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Tabela 1 - Número de tratamentos, doses de produtos em tratamento das sementes, avaliações, número de pulgões e percentagem de controle do pulgão-da-raiz em arroz irrigado. IRgA, Uruguaiana, RS, 2011.

DosemL/100kg semente

5010015080120--

N2

0,00,00,00,02928

40das1

100 100 100 100 0 0

Tratamentos

1. tiametoxam (neonicotinóide) 350fS 2. tiametoxam (neonicotinóide) 350fS3. tiametoxam (neonicotinóide) 350fS4.imidacloprido (neonicotinóide) 600fS

5. fipronil (pirazol) 250fS6. Testemunha

1 Dias após a semeadura; 2 Número médio de pulgões

N1

0,00,00,02325

55das97 100 100 100 9 0

Avaliações (% controle)

com estatura reduzida e folhas cloróticas. O ataque às plantas pode começar logo após a emergência, alimentando-se principalmente das raízes, mas tende a ocorrer também na base do colmo. É um sintoma comum do ataque as linhas mais altas das taipas ficarem amareladas, até totalmente alaranjadas, po-dendo chegar à morte. Muitas vezes o ataque do pulgão-da-raiz é confundido com a fitoto-xidade provocada por herbicidas.

O monitoramento deve ser realizado após a emergência do arroz, começando pelas partes mais altas da lavoura e concentrando-se prin-cipalmente nas taipas. O número de amostras e o tamanho da área de coleta serão determi-nantes na precisão do método. Em regra geral, quanto maior o número de amostras, maior será a precisão. A determinação da população de insetos pode ser feita através da coleta de no mínimo 20 amostras representativas da área.

Na coleta do inseto, deve-se fazer um exa-me detalhado do sistema radicular, pois, pela sua coloração escura, os pulgões são difíceis de serem encontrados. Para determinar os pulgões, deve-se arrancar as plantas e dividir as raízes em partes, facilitando desse modo a constatação do inseto. Também pode ser colocado um papel branco e em cima agitar as plantas. Os pulgões desprendem-se das raízes e movimentam-se facilitando a sua identifi-cação. Muitas vezes, como o solo está muito seco, ao arrancar as plantas algumas raízes rompem-se. Logo, nestes casos o emprego de enxada ou pá auxilia a coleta dos insetos.

MANEJoAs estratégias de manejo devem começar

com o adequado monitoramento da lavoura por parte do produtor. Conhecer os sinais do ataque, os hábitos do inseto e os locais mais prováveis de sua atividade são requisitos básicos para que o produtor saiba o local e o momento de procurá-las.

REDUção DAS PLANTAS DANINHASAs plantas hospedeiras junto aos canais

de irrigação, sobre as ruas e nas bordas da lavoura, devem ser cortadas fazendo com

que os insetos fiquem expostos no período da hibernação, quando as condições climáticas são desfavoráveis. Porém, não devem ser eliminadas totalmente, pois inimigos naturais ali abrigados podem ser afetados, provocando sua redução.

DESTRUIção DA RESTEvAA eliminação da resteva após a colheita

através de roçadeira, incorporação por grade ou a colocação de animais, vai auxiliar na redução de população dos insetos existentes. Também, a palha do arroz, concentrada nas áreas mais altas da lavoura, forma locais favo-ráveis ao abrigo dos insetos.

MANEJo DE ÁgUAO manejo da irrigação, com a entrada da

água mais cedo ou através da manutenção de lâmina de água uniforme em toda a área, sem permitir a existência de coroas ou partes da lavoura no seco, vai reduzir a população. Em taipas altas, como a água não atinge a

parte superior, a redução do pulgão-da-raiz é baixa.

CoNTRoLE qUíMICoNão existem inseticidas registrados para

controle do pulgão-da-raiz em arroz irrigado. Na busca por produtos eficientes foi realizado um estudo via tratamento das sementes, onde avaliou-se o comportamento de algumas molé-culas de menor perfil toxicológico no controle deste inseto-praga. Os resultados experimen-tais obtidos, conforme Tabela 1, mostram que os inseticidas tiametoxam (neonicotinoide) 350FS e imidacloprido (neonicotinoide) 600FS, em leituras realizadas até 55 dias após a semeadura, foram eficientes no controle do pulgão-da-raiz, Rhopalosiphum rufiabdominale em arroz irrigado.

Após o alagamento os insetos podem permanecer nos locais mais altos da lavoura, como taipas

Sintomas do ataque de pulgão-da-raiz em plantas de arroz irrigado

CC

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Café

36 Especial 2012 • www.revistacultivar.com.br

Barreira vegetal

O bicho-mineiro, Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville & Perrottet, 1842) (Lepi-

doptera: Lyonetiidae) é, talvez, a prin-cipal praga do cafeeiro (Coffea spp.) na atualidade, principalmente nas regiões de temperaturas mais elevadas e de maior déficit hídrico. As lesões cau-sadas pelas lagartas do bicho-mineiro nas folhas reduzem a capacidade de fotossíntese em função da diminuição da área foliar. Em geral, as plantas que sofrem intensa ação do bicho-mineiro apresentam o terço superior completa-mente desfolhado, podendo, no entanto, resultar em desfolha total e, em conse-quência, haverá redução da produção.

Já foi constatada, no sul de Minas Gerais, uma redução na produção de café da ordem de 52% devido à desfolha de 67%, no mês de outubro, em conse-quência do ataque do bicho-mineiro, ocasião em que ocorre uma das maiores floradas do cafeeiro. Posteriormente, também foram observados altos preju-ízos, como redução na produção entre 34,3% e 41,5%.

MANEJo DA PRAgAA predação, controle natural das la-

gartas do bicho-mineiro, feita por vespas predadoras (Hymenoptera: Vespidae), apresenta aproximadamente 70% de eficiência. A preservação de áreas de vegetação natural próximo a cultivos de cafeeiro pode desempenhar papel importante na estratégia de conservação e aumento das vespas predadoras. Áre-as de vegetação adjacentes às culturas possibilitam que espécies sensíveis às práticas culturais encontrem refúgio em seu interior. A definição de táticas de manejo dessas plantas próximas da cultura do cafeeiro poderá ser usada como uma das estratégias complemen-tares na regulação populacional de artrópodes-praga, contribuindo para a redução gradual da dependência de produtos fitossanitários, promovendo o desenvolvimento sustentável do agroe-cossistema do cafeeiro. A utilização de faixas (aleias) de leguminosas (Poaceae) arbóreas como quebra-ventos pode reduzir o ataque de pragas em virtude de oferecer barreiras que dificultarão a entrada de insetos que são propagados pelo vento, como o bicho-mineiro, e aumentar a incidência de inimigos naturais por oferecer abrigo e alimento alternativo.

Foi objetivo deste trabalho estudar a influência de aleias de leguminosas (Fabaceae) arbóreas (quebra-ventos) na

Barreira vegetalO bicho-mineiro é uma das principais pragas que afetam o cafeeiro, principalmente em regiões com temperaturas mais altas e que registram déficit hídrico. Na luta para combater a praga, o uso de quebra-ventos de leguminosas arbóreas como Leucena e Guandu é ferramenta eficiente na prevenção da presença do inseto nos cafezais, por dificultar a infestação e auxiliar na conservação de inimigos naturais

O bicho-mineiro é uma das principais pragas que afetam o cafeeiro, principalmente em regiões com temperaturas mais altas e que registram déficit hídrico. Na luta para combater a praga, o uso de quebra-ventos de leguminosas arbóreas como Leucena e Guandu é ferramenta eficiente na prevenção da presença do inseto nos cafezais, por dificultar a infestação e auxiliar na conservação de inimigos naturais

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foram determinadas quais as espécies de vespas presentes, o que foi feito pela captura de espécimes com armadilhas adesivas de cor amarela (24cm x 9,5cm) distribuídas nas unidades amostrais no mês de outubro de cada ano (pico da praga), colocadas penduradas no centro de cada parcela e na mesma altura das plantas de cafeeiro.

RESULTADoSEstão apresentados e discutidos os

resultados obtidos em 2009 após uma poda das aleias na altura dos cafeeiros no ano anterior (2008), e em 2010 com as leguminosas já no seu porte normal. Em 2009 o bicho-mineiro apresentou nível de controle (NC = 30% de folhas minadas) desde o mês de maio até final

incidência de bicho-mineiro em cafeeiro e sua predação por vespas. O experi-mento foi instalado na Fazenda Experi-mental da Epamig, em São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais. Foram utilizadas duas linhagens de café de porte baixo, com espaçamento adensado na linha (3,4m x 0,5m), com uma população de 5.882 plantas/ha, sendo uma resistente à ferrugem (Oeiras) e outra suscetível (Topázio). As leguminosas utilizadas como aleias, ou quebra-ventos, no ex-perimento foram: o Guandu (Cajanus cajan Millsp.), Gliricídea [Gliricidia se-pium (Jacq.) Steud], Leucena [Leucaena leucocephala (Lam.) De Wit] e Acácia (Acacia mangium Willd), plantadas perpendicularmente ao sentido dos ventos predominantes. As leguminosas Gliricídea e Acácia foram plantadas em três linhas com espaçamento de 3m entre plantas e 1,5m entre linhas. O Guandu foi cultivado em quatro linhas no espaçamento de 1,20m entre linhas com cinco sementes por metro linear; a Leucena em três linhas no espaçamen-to de 1,5m entre linhas e 0,50m entre plantas. Os cafeeiros foram plantados em cinco linhas paralelas e entre as faixas de leguminosas. Cada cultivar compôs subparcelas com 30 plantas (três linhas de dez plantas), sendo as dez plantas centrais, da linha central, consideradas como parte útil, com três repetições. Tanto o cafeeiro quanto as leguminosas foram plantados na mesma época (dezembro de 1999), exceto a Gli-ricídea, plantada em dezembro de 2007 em substituição à Bracatinga (Mimosa scabrella Benth.), cujo plantio de 1999 foi totalmente perdido. O cafeeiro foi conduzido de maneira tradicional, com as adubações aplicadas de acordo com a recomendação técnica para Minas Gerais. As avaliações da incidência de

bicho-mineiro foram feitas mensalmen-te entre os meses de abril e outubro, sendo abril o início da infestação e outubro o pico da praga na região. Foi feito o levantamento da incidência do ataque do bicho-mineiro através da con-tagem de folhas minadas em 100 folhas coletadas no terço mediano de cinco plantas na parte útil de cada subparcela (20 folhas em cada planta), sem levar em conta que eram duas cultivares ou duas subparcelas, o que resultou em 200 folhas por parcela. Foram avaliados o número de minas intactas e o número de minas com sinais de predação. A incidência da predação por vespas foi avaliada com a contagem de minas "pre-dadas", pela observação das rasgaduras feitas pela vespa nas lesões. Também

Figura 4 - A) Raízes de planta sadia de cafeeiro cv. Mundo Novo; B) destruição causada por P. jaehni

Figura 1 - Evolução da infestação de bicho-mineiro, expressa em porcentagem de folhas minadas nos cafeeiros sob influência das diferentes espécies de leguminosas utilizadas como quebra-ventos em 2009, após uma poda em 2008. obs.: NC = Nível de controle (30 % de folhas minadas)

Figura 2 - Evolução da infestação de bicho-mineiro, expressa em porcentagem de folhas minadas nos cafeeiros sob influência das diferentes espécies de leguminosas utilizadas como quebra-ventos em 2010, com porte normal. obs.: NC = Nível de controle (30 % de folhas minadas)

As lesões causadas pelo bicho-mineiro nas folhas reduzem a capacidade de fotossíntese

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Reis

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de setembro, em todos os tratamentos, ocorrendo a redução de folhas minadas somente em outubro com o início das chuvas na região, quando ocorre o início de um novo enfolhamento. Não tendo sido observada, portanto, diferença entre o efeito dos diversos tipos de quebra-ventos e o tratamento controle ou testemunha sem quebra-ventos (Fi-gura 1). Em 2010 foi observado que os cafeeiros, sob influência da Acácia e da Gliricídia, já com os quebra-ventos no

seu porte normal, apresentaram menor infestação da praga até o mês de julho, igualando-se ao controle, e aqueles sob a influência do Guandu e Leucena até o final do mês de setembro, período em que geralmente começam as chuvas, mostrando que não haveria necessidade

da utilização de nenhuma outra medida de controle à praga que não a natural-mente exercida pelos inimigos naturais e pelas condições de microclima nessas duas leguminosas (Leucena e Guandu) (Figura 2). Resultados semelhantes já foram observados em 2006 (sem poda) e 2007 (após a poda) no mesmo expe-rimento. Os resultados obtidos mostra-ram também que as espécies de vespas predadoras (Vespidae) mais abundantes foram: Polybia scutellaris (White, 1841) (44,7%), Brachygastra lecheguana (La-treille, 1824) (23,8%), Protonectarina sylverae Saussure, 1854 (10,5%), Polybia ignobilis (Haliday, 1836) (7,9 %), Polybia sericea (Olivier, 1791) (2,6%) e Polybia sp. (10,5%).

CoNCLUSão Pode-se concluir, portanto, que

quebra-ventos, como Leucena e Guan-du, são eficientes na prevenção da in-festação do bicho-mineiro em cafezais, quer seja por dificultar a infestação dos cafeeiros, constituindo uma barreira física, quer pela conservação de inimigos naturais ou pelas condições de micro-clima nos cafeeiros sob sua influência. Além desses resultados, do ponto de vista da redução do ataque da praga, as plantas de múltiplo uso que servem de quebra-ventos podem ser utilizadas como lenha para secar o café em seca-dores mecânicos e de cobertura morta, incorporando nutrientes aos cafeeiros, após a decisão de podá-los, tornando a cultura mais autossustentável.

Este trabalho foi desenvolvido com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig); Consórcio Pesquisa Café (CBP&D/Café) e INCT do Café - CNPq/Fapemig.

Plantas de cafeeiro atacadas severamente pela praga acabam sofrendo desfolhamento

A diminuição na produção é uma das consequências da presença do inseto nos cafezais

Armadilha adesiva de cor amarela, pendurada na mesma altura das plantas para monitoramento da praga

Reis avaliou o uso de quebra-ventos de leguminosas para prevenção ao bicho-mineiro

Paulo Rebelles ReisEpamig Sul de Minas/EcoCentroPesquisador do CNPq

CC

Fotos Paulo Rebelles Reis

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