grandes culturas - cultivar 154

40

Upload: grupo-cultivar

Post on 24-Jul-2016

254 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Março de 2012

TRANSCRIPT

Associação nefasta.....................10Os esforços da pesquisa para identificar e conter nematoides das galhas, causadoresde prejuízos em arroz irrigado

Destaques

Índice

Diretas 04

Supressão do bicudo em algodoeiro 08

Nematoides das galhas em arroz 10

Fixação biológica de nitrogênio em feijoeiro comum 12

Desafio Máxima Produtividade de Soja - Cesb 15

Panorama da ferrugem asiática em soja 18

Nossa capa - Revisão no manejo de percevejos 22

Informe - Novo híbrido de milho 25

Influência do espaçamento em doenças em soja e milho 26

Resistência de plantas daninhas a herbicidas 29

Mancha amarela na cultura do trigo 32

Coluna ANPII 36

Coluna Agronegócios 37

Mercado Agrícola 38

Revisão necessária..............................22O que precisa ser aprimorado no manejo de percevejos em soja, diante das constantes alterações ocorridas na cultura e no ataque dessas pragas

Expediente

Cultivar Grandes Culturas • Ano XIV • Nº 154 • Março 2012 • ISSN - 1516-358X

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: [email protected]

Grupo Cultivar de Publicações Ltda.CNPJ : 02783227/0001-86Insc. Est. 093/0309480Rua Sete de Setembro, 160, sala 702Pelotas – RS • 96015-300

DiretorNewton Peter

[email protected]

Assinatura anual (11 edições*): R$ 157,90(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 17,00Assinatura Internacional:US$ 130,00Euros 110,00

Nossos Telefones: (53)

Nossa capa

Foco na supressão......................08Saiba como enfrentar de forma correta o combate ao bicudo nas lavouras brasileiras

Incidência imprevisível...............18Os fatores que influenciaram na menor presença de focos da ferrugem asiática nas lavouras de soja brasileiras na safra 2011/12

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

• Geral3028.2000• Assinaturas:3028.2070• Redação:3028.2060

• Comercial:3028.20653028.20663028.2067

REDAÇÃO• Editor

Gilvan Dutra Quevedo• Redação

Carolina S. SilveiraJuliana Leitzke

• Design Gráfico e DiagramaçãoCristiano Ceia

• RevisãoAline Partzsch de Almeida

MARKETING E PUBLICIDADE• Coordenação

Charles Ricardo Echer• Vendas

Pedro Batistin

Sedeli FeijóJosé Luis Alves

CIRCULAÇÃO• Coordenação

Simone Lopes• Assinaturas

Natália RodriguesFrancine SoaresFrancine Martins

• ExpediçãoEdson Krause

GRÁFICAKunde Indústrias Gráficas Ltda.

Charles Echer

04 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

Diretas

SistemaSenio José Napoli Prestes, De-senvolvimento de Produto, da Basf, destacou durante o Show Rural Coopavel o Sistema AgCelence Soja Produtividade Top, programa de manejo fi-tossanitário que prevê o uso do fungicida/inseticida Standak Top e dos fungicidas Comet e Opera para aumentar a qualidade e a produtividade da cultura.

Nutrição de plantasO gerente de Novos Negócios da Syn-genta, Marcelo Gregorin, e a gerente de Promoção, Propaganda e Marketing, Renata Moya, destacaram no Show Ru-ral Coopavel o lançamento da primeira tecnologia da empresa para a nutrição de plantas. De aplicação foliar, o produto Quantis fornece macronutrientes, mi-cronutrientes e aminoácidos, com o uso da cana-de-açúcar como matéria-prima. Inicialmente recomendado para soja e feijão, se encontra em fase de registro para milho, algodão e café.

LançamentoA Bayer CropScience aproveitou o Show Rural Coopavel para anunciar o registro do fungicida Fox para a região Sul do Brasil. Em 2011 o produto havia sido lançado para o Centro-Oeste. À base da nova classe química Triazolinthiona, o defensivo é indicado para o combate ao complexo de doenças fúngicas em soja, como ferrugem asiática, oídio, mancha alvo e antracnose. Segundo o diretor de Operações de Negócios Brasil da Bayer CropScience, Gerhard Bohne, a empresa trabalha para obter o registro do fungicida também nas culturas de algodão, feijão, trigo e milho.

Tratamento industrialA Bayer CropScience levou para o Show Rural Coopavel um equipamento de-monstrativo de tratamento industrial de sementes. “Como não podemos manipular químicos dentro da feira, realizamos uma simulação com uma máquina pequena, com capacidade para tratar apenas cinco quilos de sementes”, explicou o gerente de Portfólio Tratamento de Sementes da Bayer CropScience, Luis Henrique Feijó. A máquina utilizada pela Bayer, com tecnologia Gustafson, pode tratar até 20 toneladas de sementes por hora.

Evolução genéticaA Monsoy levou para o Show Rural Co-opavel um demonstrativo da evolução da tecnologia e da produtividade no cultivo de soja no Brasil. Edson Jatti, representante de Licenciamento da empresa, explicou que em 1990, com sistema de plantio convencional a produtividade alcançada era de aproximada-mente 26 sacas por hectare. Na safra 2010/11 com plantio direto e 90% das áreas com soja RR, a produtividade saltou para 50 sacas por hectare. Para 2030, a projeção é de que se alcance a marca de 100 sacas por hectare.

Tecnologia preservadaCarlos Henrique Dalmazzo, Desenvolvimento de Tecnologia da Monsanto para a Região Sul, destacou no Show Rural Coopavel o Sistema Roundup Ready Plus, para o manejo de plantas daninhas. Focado em três pilares, o sistema se alicerça na biotecnologia, com Intacta, Milho Bt Pro, Algodão Bolgard, o uso de defensivos como Roundup (em conjunto com outros herbicidas para evitar problemas de resistência), além do fator humano, através do treinamento para garantir o bom uso da tecnologia. “Não se trata de uma ferramenta apenas da Monsanto, mas de todo o agricultor brasileiro, por isso a impor-tância de preservá-la”, frisou Dalmazzo.

BiotecnologiaGuilherme Lobato, gerente de Biotecnologia de Soja da Monsanto para a região Sul, apresentou o pré-lançamento do Intacta, segundo evento de biotecnologia para o agricultor brasileiro, com potencial de combate às principais pragas nessa cultura e tolerância ao herbicida glifosato. Em par-ceria com produtores de todo o Brasil, a Monsanto mantém 500 áreas cultivadas com a tecnologia. A expectativa é de que a comercialização seja liberada ainda em 2012, mas há necessidade de autorização dos países importadores de soja brasileira, como China e União Europeia.

PresençaEduardo Fadel Gobbo, gerente de Vendas Agro da Basf, apresentou as novidades da empresa durante o Show Rural 2012. Entre os destaques esteve o novo Digilab 2.0, com versão para smartphone, o Sistema Soja Produtividade Top e o fungicida Aba-cus, HC, para a cultura do milho.

Público maiorO presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, comemorou o sucesso do Show Rural 2012, que teve público 5% maior em relação ao ano passa-do e registrou recorde do número de visitantes desde a criação da feira, em 1989. Foram 197,9 mil participantes contra 187,7 mil em 2011.Dilvo Grolli

Eduardo Fadel Gobbo

Guilherme Lobato

Carlos Henrique Dalmazzo

Edson JattiSenio José Napoli Prestes

Marcelo Gregorin e Renata Moya

Luis Henrique Feijó

05www.revistacultivar.com.br • Março 2012

ParticipaçãoA Embrapa apresentou no Show Rural Coopavel tecnologias que refor-çam seu compromisso com a sustentabilidade da produção brasileira. Na Casa da Embrapa, o visitante teve a oportunidade de conhecer algumas dessas tecnologias e recebeu orientação sobre como acessar as informa-ções tecnológicas produzidas pela empresa. Na Vitrine de Tecnologias estiveram expostas cultivares de soja, milho, sorgo, feijão e forrageiras. Outra novidade foi a Estação do Conhecimento, onde foram realizadas miniapresentações relacionadas a temas técnicos de várias culturas, como manejo integrado de pragas, benefícios da inoculação e manejo de doenças e estratégias de controle.

BiológicosA Novozymes apresentou no Show Rural Coopavel seu portfólio de produtos para controle biológico de doenças de plantas e insetos-praga. “Oferecer mais uma opção no manejo, preservando o meio ambiente, é o objetivo da nossa empresa”, afirmou William Yassume Yassumoto, gerente de Marketing. Marcelo Kerkhof, gerente nacional de Vendas, destacou o TrichoderMax, produto que contém o fungo de ocorrência natural Trichoderma asperellum para o combate de doenças.

HíbridosA Agromen apresentou durante o Show Rural Coopavel híbridos de milho convencionais e com tecnologia Herculex. Os produtos com a tecnologia Herculex oferecem proteção contra a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), principal praga foliar do milho, e combatem a broca-da-cana (Diatraea saccharalis). Durante o evento a empresa destacou ainda os híbridos 30A16 e 30A68.

MicronutrientesA Produquímica apresentou no Show Rural Coopavel sua linha de micronutrientes vegetais. Paulo César Cau, diretor de Negócios Agrícolas da empresa, disse que o evento é um dos mais importantes do setor. “Por isso, estamos sempre presentes. É aqui que o produtor encontra novas tecnologias e oportunidades para o crescimento de seu negócio”, finalizou.

Meio ambiente “Dez anos com toda dedicação ao meio ambiente e à agricultura.” Esse foi o enfoque utilizado pelo Instituto Nacional de Processamento de Embala-

PlataformaA Syngenta apresentou no Show Rural Coopavel sua plataforma integrada de defensivos agrícolas e sementes, com produtos como Priori Xtra, Avicta Completo, Cruiser e Engeo Pleno, além do lança-mento de três variedades de soja (SYN 1152RR, SYN 1157RR e SYN 1158RR) e dos híbridos de milho Maximus Viptera, Status, Truck, Fórmula e Feroz, desenvolvidos com a tecnologia Agrisure Viptera. “A Coopavel é uma importante vitrine tecnológica, além, é claro, de promover um contato direto com os agricultores, ampliando nossos laços de aproximação e conhecimento de suas necessidades”, afirmou Celso Batistella, coordenador de Marketing da Syngenta.

InseticidaDurante o Show Rural Coopavel, Roberto Dib, gerente de Negócios Tratamento de Sementes da Syngenta, frisou a importância do inseticida Cruiser para o tratamento de sementes na cul-tura da soja. “As pragas iniciais podem destruir a semente em processo de germinação ou até as plântulas, afetando o desenvolvimento da planta. Isso pode resultar em perdas significativas de pro-dutividade”, alertou Dib, que destacou ainda que o produto auxilia no controle de pragas iniciais, além de proporcionar vigor e maior produtividade.

gens Vazias (Inpev) du-rante o Show Rural Coo-pavel. O estande contou com exposição sobre a história do instituto e do sistema, composta por linha do tempo, vídeos institucionais e educati-vos e materiais reciclados a partir das embalagens pós-consumo.

Roberto Dib

06 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

TemáticoDurante o Show Rural Coopavel a Milenia Agrociências apresentou mo-delo de estande com objetivo de reproduzir o dia a dia do produtor rural. Segundo Milena Holthausen, gerente de Comunicação e Branding, e Pedro Singer, gerente de Desenvolvimento de Mercado, o projeto teve como finalidade propor um ambiente em formato de "fazenda", valorizando o campo e tendo a área social no formato de uma varanda de fazenda. Aspec-tos visuais de uma propriedade agrícola foram projetados para transmitir a mensagem de ambiente rural. A porteira de entrada colocou o campo em evidência. Outro aspecto foi a ausência de materiais e equipamentos corporativos para traduzir melhor a realidade do campo.

EquipeA equipe da Milenia Agrociências apresentou lançamentos, realizou pales-tras técnicas e explanações sobre vivência no campo para os produtores e visitantes da Coopavel 2012. Durante a feira foi realizado o pré-lançamento do fungicida Horos para o controle da ferrugem da soja e do inseticida Galil, para o combate de percevejos, sem metamidofós. Tiveram destaques, ainda, o herbicida graminicida pós-emergente Poquer e o herbicida pós-emergente Vezir, que atuam no controle de plantas daninhas e já estão sendo comercializados.

VisitaGustavo Haruki Kume, gerente de Marketing da América Lati-na da Clariant, esteve no Show Rural Coopavel acompanhando as novidades tecnológicas e os lançamentos do setor de agroquímicos voltados para pequenos, médios e grandes produtores rurais.

Pré-lançamentoRodrigo Égea de Miranda, diretor de Marketing, e Walmor Roim, RTV Região Londrina, da Milenia Agrociências, destacaram o pré-lançamento do fungicida Horos durante o Show Rural Coopavel. Segundo Roim, o produto, que está em fase de registro amparado por RET, atua no controle da ferrugem da soja, tem como princípio ativo o tebuconazole + picoxis-trobina e sua comercialização está prevista para julho de 2012.

Gustavo Haruki Kume

Rodrigo Égea de Miranda e Walmor Roim

Milena Holthausen e Pedro Singer

SistemaAirton Leites, gerente técnico de Desenvolvi-mento de Mercado da Basf, e Gilberto Lopes, RTV em Santa Maria, Rio Grande do Sul, des-tacaram na 22ª Abertu-ra Oficial da Colheita do Arroz o Sistema de Produção Clearfield, tec-nologia que auxilia no combate ao arroz verme-lho, um dos principais problemas enfrentados pelos orizicultores.

HerbicidasA FMC apresentou na 22ª Abertura da Colheita do Arroz os herbici-das Gamit e Permit. Esta tecnologia auxilia no controle das principais plantas daninhas da cultura do arroz irrigado como capim arroz, capim marmelada, capim colchão e angiquinho. Outros produtos destacados foram os inseticidas Talisman e Mustang.

HíbridosA Bayer CropScience destacou na Abertura Oficial da Colheita do Arroz os híbridos Arize Prime, Arize BHX 0074 e Arize QM1010 (indicado para semeadura entre 15 de setembro e 15 de novembro, com ciclo entre 125 e 145 dias). Além das sementes, a empresa também destacou o fungicida Nativo, utilizado para combater as principais doenças do arroz irrigado.

Airton Leites e Gilberto Lopes

07www.revistacultivar.com.br • Março 2012

ProteçãoPresente na Abertura Oficial da Colheita do Arroz a DuPont des-tacou o inseticida Altacor. Altair Fernando Bizzi, coordenador de Desenvolvimento de Mercado, lembrou que o produto protege a lavoura das lagartas e age no controle dos principais insetos-praga em cana-de-açúcar, café, maçã, pêssego e arroz.

Pré-lançamentoPresentes na 22ª Abertura da Colheita do Arroz o ATV Tomas Ademir Silva Machado, o gerente regional do Rio Grande do Sul, Edson José de Lara, e o representante comercial Waldir Geraldo Mees, acompanharam o pré-lançamento do inoculante líquido Nodofix AZP, além dos destaques da Spraytec com os fertilizantes Ultra Plus Mn Fosfito e Fulltec Mais.

DestaqueDurante a 22ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz a Syngenta deu ênfase a diferentes produtos utilizados na cultura, com atenção especial ao herbicida Zapp QI, o Cruiser destinado ao tratamento de sementes; o inseticida Actara; e os fungicidas Priori e Score. “Nossa equipe técnica apresentou aos produtores as tecnologias desenvolvidas para atender às demandas dos orizicultores. Traze-mos para o arroz a tecnologia que faz diferença”, destacou Adilson Jauer, Desenvolvimento Técnico de Mercado para a cultura do arroz irrigado, da Syngenta.

PortfólioA Ihara apresentou na 22ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz portfólio completo para a cultura, com destaque para o manejo do arroz pré-germinado e enfoque no controle de chapéu de couro re-sistente e grama boiadeira. A empresa aproveitou o evento, também, para o lançamento do inseticida Safety.

InvasorasA Dow AgroSciences destacou durante a 22ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz os herbicidas Ricer e Clincher. “Também apre-sentamos nossa linha de fungicidas destinados à cultura, como Bim 750 BR e Alterne”, frisou Otavio Torres, da Dow.

Novos rumosO engenheiro agrônomo Mar-cos Queirós, que já atuou em Marketing e Vendas na Syngenta, assumiu a Gerên-cia Regional de Vendas da Companhia em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. O ob-jetivo de Queirós é expandir a participação da empresa na metade sul do Rio Grande do Sul, principalmente na cultura do arroz.

Direção A Spraytec Fertilizantes participou do Show Rural Coopavel com toda sua linha de complexos nutricionais. Diego Parodi, sócio-diretor superintendente; Julio Abbá, gerente comercial; Juraci Pinheiro, sócio-diretor comercial e Flávio Shirata, sócio-diretor financeiro, acompanharam os lançamentos do Ultra Zinco, Fulltec Enxofre e Ultra Max. O gerente nacional, Julio Abba, destacou que o Ultra Zinco é totalmente compatível com atrazinas e glifosato.

Marcos Queirós

Algodão

08 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

O bicudo do algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman, apresenta eleva-da capacidade de sobrevivência,

reprodução e dispersão. Essas características fisiológicas e comportamentais explicam por que o inseto tem sido responsável por severos prejuízos econômicos à cotonicultura nacio-nal, sendo, por isto, considerada a principal praga de estruturas frutíferas dessa cultura no Brasil. Estimativas indicam que um hectare de algodão pode produzir mais de 1,5 milhão de adultos do bicudo. Em condições de altos níveis populacionais as técnicas de controle são economicamente inviáveis.

O bicudo foi registrado pela primeira vez no Brasil em fevereiro de 1983, no município de Campinas, São Paulo. Em julho de 1983, o inseto foi encontrado no município de Ingá, Paraíba e no ano seguinte, nos municípios de Barra do Jacaré e Maringá, no Paraná. Na atualidade, encontra-se disseminado por todas as regiões produtoras de algodão do país, acarretando aumentos severos no custo de produção.

A prAgAO adulto de A. grandis é um besouro de

coloração marrom a cinza-escuro, com cerca de 4mm a 9mm de comprimento e 7mm de envergadura, caracterizados por apresentarem coloração acinzentada ou castanha, com apa-relho bucal mastigador em forma de tromba.

Os botões florais são as estruturas pre-feridas para alimentação e oviposição do A. grandis, mas ao final do ciclo da cultura, as fêmeas podem depositar seus ovos tanto em botões florais como nas maçãs. As fêmeas de A. grandis depositam seus ovos entre as ante-ras dos botões florais de tamanho médio ou na parede carpelar das maçãs, na densidade de um ovo por estrutura reprodutiva, exceto

quando sua densidade populacional é alta. O orifício de oviposição é fechado por uma mistura de substância antimicótica e resídu-os provenientes do botão floral, formando uma protuberância ou calo. Os botões florais normalmente caem aos cinco/nove dias após o dano.

ControleNo Brasil, a principal forma tática de

controle do bicudo é a química, por meio da aplicação de inseticidas que, na maioria das vezes, tem sido realizada de forma recorrente e abusiva, resultando em baixa qualidade nas aplicações, identificada pelos produtores de algodão como uma das principais causas de insucesso no controle da praga e por aumen-tos nos custos de produção. Essa situação tem criado uma falsa expectativa por parte de alguns cotonicultores e extensionistas de que a solução para controlar o bicudo seria a implantação de um plano de erradicação dessa praga no Brasil, a exemplo do que tem sido feito nos Estados Unidos. No entanto, falta

informá-los sobre os riscos e as dificuldades a serem enfrentados na implantação desse tipo de programa

Nesses programas, os dados de densidade populacional da praga raramente são publica-dos e o monitoramento do inseto tende a ser encerrado quando a praga é declarada erradi-cada. Há também uma tendência de se em-pregar a palavra "erradicação" (erradicação= consiste na aplicação de medidas fitossanitá-rias para eliminar uma praga de determinada área), quando é óbvio que os recursos dispo-níveis para o programa e a heterogeneidade dos ecossistemas e de uso da terra são tais que é praticamente impossível eliminar cada indivíduo da praga, especialmente em um país tropical, com as dimensões e a diversidade climática e bióta que tem o Brasil.

Por isto, o termo mais adequado a ser empregado para controlar o bicudo e que vem dando resultados é a supressão que consiste na aplicação de medidas fitossanitárias para redu-zir populações de uma praga em determinada área infestada. Essas medidas fitossanitárias

Foco na supressãoPrincipal praga na cultura do algodoeiro, o controle do bicudo é um desafio árduo

enfrentado pelos produtores. Diante da impossibilidade de erradicar totalmente o inseto, suprimi-lo através da redução populacional em áreas infestadas surge como alternativa

adequada para manejar e conviver com o problema

Botões florais são as estruturas preferidas do bicudo para alimentação e oviposição

e, assim, responder a questões básicas que irão contribuir para a melhoria das táticas de MIP. Questões, como: (1) Qual a eficácia dos tipos de destruição de restos de cultura comumente empregados pelos produtores no controle do bicudo? (2) Como o bicudo sobrevive na entressafra no bioma cerrado e caatinga e qual o custo energético dessa sobrevivência sobre sua capacidade reprodutiva? (3) Como o grupo químico e o horário de aplicação de inseticidas afetam a eficiência desses produtos contra essa praga? (4) Como a redução do espaçamento afeta a população do bicudo e de seus inimigos naturais? (5) Como o algodão adensado pode ser uma estratégia de manejo do bicudo? Permanecem obscuras e precisam ser respondidas para se otimizar o manejo de parasitoides, predadores, micoinseticidas e de cultivares de algodão resistentes ao bicudo.

As respostas a essas perguntas, além de esclarecer as dúvidas de pesquisadores e extensionistas, poderão ser diretamente incorporadas ao sistema de cultivo adotado pelos produtores brasileiros de algodão, aumentando a eficácia de controle do bicu-do. É importante ressaltar que nada disso será factível se a pesquisa não contar com o apoio dos governos estaduais e federais e da iniciativa privada.

09www.revistacultivar.com.br • Março 2012

Charles Echer

Os botões florais normalmente caem entre cinco e nove dias após o ataque do inseto

O algodão caído às margens das rodovias durante o transporte pode servir para a proliferação da praga

vêm sendo adotadas nos estados da Bahia, Goiás e Mato Grosso, com algumas variações e consistem basicamente em um conjunto de ações sistemáticas, como o mapeamento e monitoramento de populações do bicudo com armadilhas de feromônio; aplicações de inseticidas para controle do bicudo no início da formação dos botões florais e ao final da safra (cut out) e a destruição dos restos de cultura e de eventuais plantas remanescentes na área cultivada e/ou de plantas vegetando às margens das rodovias, em carreadores, prove-nientes de transportes de algodão em caroço (fardos) ou do caroço de algodão.

Esses programas de supressão do bicudo têm sido realizados com o apoio das associa-ções de produtores e de técnicos da Embrapa e de outras instituições de pesquisa e extensão presentes nesses estados e estão fundamen-tados na tecnologia conhecida por Manejo Integrado de Pragas (MIP), que consiste na utilização simultânea de diferentes técnicas de redução populacional, objetivando manter os insetos em uma condição de “não praga”, de forma econômica e harmoniosa com o ambiente.

No Brasil, as principais estratégias de manejo integrado de pragas recomendadas para o controle do bicudo são: (1) uniformi-

dade da época de plantio sempre que possível em áreas e períodos comprovadamente com menor incidência da praga; (2) utilização de cultivares de ciclo curto; (3) controle climático; (4) catação de botões florais caídos ao solo; (5) destruição dos restos de cultura e (6) aplicação de inseticidas químicos seletivos e somente quando necessário, ou seja, quando a lavoura apresentar 10% de botões florais danificados por orifício de alimentação e/ou oviposição. Muitas dessas tecnologias foram desenvolvidas e/ou adaptadas por pesquisa-dores brasileiros baseadas em informações geradas por pesquisadores americanos ao longo de mais de 100 anos de convivência com essa praga. No entanto, muitas delas têm sido ignoradas ou aplicadas de forma incorreta pelos produtores brasileiros. Talvez pelo fato dessas tecnologias serem pouco entendidas, avaliadas e difundidas. Isto pode explicar, em parte, por que o controle químico é a principal estratégia empregada para reduzir os surtos populacionais do bicudo em lavouras de algodão no Brasil. Por isto, além dos progra-mas de supressão do bicudo, será necessário aumentar os investimentos em pesquisa com o objetivo de aprimorar os conhecimentos teóricos sobre a praga, especialmente nos as-pectos relacionados à sua bionomia e ecologia

Carlos Alberto D. da Silva,Embrapa Algodão

CC

Fotos Carlos Alberto Domingues da Silva

Arroz

10 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

Muitos nematoides fitoparasitas são encontrados em associação com a cultura do arroz irriga-

do, afetando o desenvolvimento das plantas e a produção. Entre os mais frequentes na cultura, citam-se os gêneros Meloidogyne, Aphelenchoides, Pratylenchus, Hirschman-niella, Criconemella, Helicotylenchus, dentre outros (Prot et al, 1994). Os nematoides das galhas, gênero Meloidogyne, formam o grupo de maior importância econômica na agricultura. No arroz irrigado, atacam as raízes de onde extraem nutrientes para seu crescimento e desenvolvimento. Em decor-rência do parasitismo das raízes por esses nematoides ocorre a formação de pequenos engrossamentos nas pontas, denominados de galhas, cuja presença do patógeno dificulta a absorção de água e nutrientes necessários para o bom desenvolvimento das plantas.

Entre as espécies do nematoide das galhas que afetam o arroz irrigado, Meloidogyne gra-minicola é considerado o principal causador de danos (Padgham et al., 2004).

Plantas de arroz atacadas por M. gramini-cola apresentam grande quantidade de galhas nas raízes. O aspecto das raízes fica semelhan-te a pequenos cabos de guarda-chuva (Gomes et al, 1997). Além disso, o M. graminicola pode provocar o amarelecimento foliar na parte aérea, crescimento lento e porte redu-zido, resultando na diminuição da produção (Padgham et al, 2004). Dependendo do nível de infestação, há floração precoce e murcha-mento das plantas (Sperandio e Monteriro, 1991), por vezes, levando-as à morte (Steffen et al, 2007). Em condições de campo são verificadas manchas em reboleiras contendo plantas menores, associadas ou não a algum sintoma anteriormente descrito. Os prejuízos

causados pelo nematoide das galhas variam de acordo com o grau de resistência das plantas, sua densidade populacional no solo e com o manejo da água na área de irrigação (Gomes et al, 1997). Apesar de o arroz ser parasitado, pelo menos, por seis espécies do gênero Meloidogyne (Bridge et al, 2005), M. graminicola tem sido a espécie mais estudada na cultura irrigada. Em países asiáticos, em áreas de cultivo de arroz irrigado, perdas na produção decorrentes do ataque do M. graminicola variam entre 20% e 80% (Soriano e Reversat, 2003). Porém, nas condições brasileiras, as perdas ainda não foram estimadas.

Embora no Rio Grande do Sul existam relatos da ocorrência do nematoide das galhas em arroz irrigado desde a década de 80 (Ribeiro et al, 1984) em relação à espécie, somente nos anos 90 foi reportada a pre-sença M. graminicola na cultura (Sperandio

Uma extensa gama de nematoides está associada ao cultivo do arroz irrigado no Brasil. Meloidogyne graminicola, popularmente conhecido como nematoide das galhas, é o

principal causador de prejuízos. Contudo, pesquisadores têm mobilizado esforços para identificar outras espécies potencialmente danosas à cultura

Associação nefastaAssociação nefasta

Fotos Rafael Negretti

arroz no país (Agrofit, 2011).

O que está sendO realizadO No momento estão sendo conduzidos

levantamentos nematológicos em todas as regiões orizícolas do estado do Rio Grande do Sul e no Baixo Médio Vale do Itajaí em Santa Catarina com o objetivo de identificar quais espécies de Meloidogyne encontram-se associadas e quais são potencialmente dano-sas à cultura do arroz irrigado. Esse trabalho pode contribuir significativamente para o conhecimento de espécies do nematoide que ocorrem na lavoura arrozeira do Sul do Brasil e consequentemente direcionar estudos de re-sistência genética associados ao melhoramento genético da cultura. Além disso, estudos quan-to à hospedabilidade de outras culturas e de plantas daninhas na entressafra e ou durante o período de cultivo do arroz, permitirão a geração de novas estratégias de manejo e de controle da praga. Com o intuito de investigar essas questões e propor táticas de manejo ao nematoide das galhas na cultura, projetos de pesquisa nessa linha estão sendo conduzidos pela Embrapa Clima Temperado, Pelotas, Rio Grande do Sul, em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Fitossanidade da Uni-versidade Federal de Pelotas (UFPel).

11www.revistacultivar.com.br • Março 2012

M. graminicola pode provocar o amarelecimento foliar na parte aérea, crescimento lento e porte reduzido

e Monteiro, 1991). No Brasil, o primeiro levantamento do nematoide das galhas em arroz irrigado foi realizado no Rio Grande do Sul por Steffen et al (2007). Nesse estudo, os autores, detectaram a ocorrência generalizada de M. graminicola (Est. VS1) em lavouras da depressão central do estado. A seguir, Gomes et al (2009) relataram a presença de M. gra-minicola em arroz irrigado em Santa Catarina (SC), confirmada recentemente por Negretti et al (2011). Nesse último trabalho, os autores detectaram, também, em Santa Catarina, a ocorrência do fenótipo de esterase I1, típico de M. incognita de F2b (Meloidogyne sp.), cuja identificação das espécies não foi confirmada no estudo.

Plantas hOsPedeiras de M. graMinicOlaAlém do arroz irrigado, outras culturas

hospedam M. graminicola como aveia-preta, trigo, soja, tomate, pimenta e cebola (Bajaj e Dabur, 2000). Outro fator que merece atenção são as plantas daninhas presentes nas lavouras de arroz irrigado, pois, além de competirem com as culturas por água, luz e nutrientes, podem ser hospedeiras de outras pragas, aumentando os danos futuros sobre o potencial produtivo da cultura. Várias plantas daninhas podem abrigar o nematoide, entre elas Echinochloa colonum (Golden e Birchfield, 1965), Echinochloa crusgalli, Eleusine indica, Fimbristylis miliacea, Cyperus difformis, Pa-nicum spp. (Bajaj e Dabur, 2000). O nema-

toide sobrevive e se reproduz na entressafra, em campos de pousio, contribuindo com o aumento da densidade populacional no solo, para depois parasitar a cultura do arroz na estação seguinte. No entanto, as plantas da-ninhas muitas vezes são negligenciadas pelos produtores devido à falta de sintomas visíveis na parte aéra das plantas.

Em lavouras orizícolas do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina pouco se sabe sobre quais as plantas daninhas em que M. graminicola se hospeda e sobrevive de uma safra para outra. No Brasil, esta espécie já foi encontrada parasitando raízes de Echino-chloa crusgalli, Cyperus difformis e Cyperus iria (Esperandio e Amaral, 1994). Além de essa espécie sobreviver em plantas hospedeiras alternativas, existe o perigo de disseminação através do movimento da água, equipamentos agrícolas contaminados e utensílios. Atenção especial deve ser dada ao manejo da água de irrigação em áreas infestadas.

adOçãO de Medidas de cOntrOle A fim de reduzir os prejuízos causados

pelo nematoide das galhas é necessário um diagnóstico seguro de sua presença na área em conjunto com a identificação correta da(s) espécie(s) associada(s) à cultura. Entre as medidas de controle, o uso de variedades resistentes, a rotação de culturas e o uso de nematicidas são mais efetivos e economica-mente viáveis no controle de Meloidogyne spp. No entanto, para o manejo de M. graminicola, não há variedades resistentes disponíveis no mercado brasileiro e, tampouco, existem pro-dutos químicos registrados para a cultura do

O aspecto das raízes atacadas por Meloidogyne graminicola é semelhante a pequenos cabos de guarda-chuva

Rafael Roberto D. Negretti,Roberta Manica-Berto eDirceu Agostinetto,Faem/UFPelCesar Bauer GomesFaem/UFPelEmbrapa Clima Temperado

CC

Feijão

A prática da inoculação das sementes de leguminosas representa uma alternativa de baixo custo para

aumentar o rendimento das culturas, além de evitar a contaminação dos recursos hídricos pela diminuição da quantidade de adubo nitrogenado utilizado e diminuir a emissão de gases de efeito estufa. É comprovadamente uma tecnologia barata, de simples utilização e com significativo retorno econômico, prin-cipalmente em culturas em que o N mineral pode ser 100% substituído pela Fixação Bioló-gica de Nitrogênio (FBN), como na soja.

A simbiose com o feijoeiro comum (Phaeseolus vulgaris L.) é complexa. Embora exista grande diversidade de estirpes de rizó-bio eficientes no processo de FBN, apesar de muitas delas também apresentarem susce-tibilidade a fatores ambientais, a planta do feijoeiro comum possui baixa seletividade, o que resulta em desvantagem competitiva para o inoculante em relação à população nativa de rizóbio. Entretanto, diversos resultados de pesquisas têm indicado respostas positivas à inoculação (Figura 1), representando um estí-

mulo à prática e à continuidade dos trabalhos de campo e de pesquisa.

Entre os sistemas biológicos envolvendo planta e microrganismos, a simbiose das legu-minosas – rizóbio, é a de maior expressão. Em razão da importância econômica e social do feijoeiro comum no Brasil e da potencialidade e necessidade de incrementar sua produtivi-dade, estudos com o objetivo de otimizar o processo de nodulação e, consequentemente, da FBN, como forma de melhorar a oferta de nutrientes às plantas, é uma prática de grande

importância e muito necessária para promover a sustentabilidade da atividade.

FixaçãO BiOlógica de nitrOgêniOO nitrogênio (N) é o nutriente absorvido

em maior quantidade pelo feijoeiro comum, contudo, nem sempre a aplicação de N mine-ral nos solos tropicais pode apresentar resposta na produtividade. A maior parte das reservas de nitrogênio do solo é proveniente da fixação biológica (Tabela 1). Portanto, a simbiose das leguminosas com as bactérias de gênero Rhi-zobium contribui de forma significativa com a incorporação do N2 fixado ao ecossistema. Estima-se que 20% do N2 fixado anualmente na terra provém da associação Rhizobium x leguminosas.

O N necessário à cultura pode provir de três fontes: do solo, incluindo a matéria orgânica e uma pequena fração resultante da decomposição de rochas, dos fertilizantes ni-trogenados e da fixação biológica do nitrogênio (FBN). O solo representa uma fonte limitada do nutriente, facilmente esgotável após alguns cultivos. Já os fertilizantes nitrogenados apre-

Simbiose nutritiva

A Fixação Biológica de Nitrogênio em feijoeiro comum apresenta resultados promissores e desafios a serem transpostos para que sua eficiência atinja resultados

similares aos obtidos em soja. A realização de mais pesquisas, que selecionem estirpes eficientes e competitivas, associadas a genótipos altamente produtivos e à difusão da tecnologia junto ao produtor, são avanços necessários para melhorar o

desempenho da Fixação Biológica de Nitrogênio nessa cultura

O feijoeiro comum também é capaz de estabelecer simbiose com bactérias fixadoras de nitrogênio

12 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

Fotos Enderson Ferreira

A Fixação Biológica de Nitrogênio em feijoeiro comum apresenta resultados promissores e desafios a serem transpostos para que sua eficiência atinja resultados

similares aos obtidos em soja. A realização de mais pesquisas, que selecionem estirpes eficientes e competitivas, associadas a genótipos altamente produtivos e à difusão da tecnologia junto ao produtor, são avanços necessários para melhorar o

desempenho da Fixação Biológica de Nitrogênio nessa cultura

Simbiose nutritiva

e “infectam” as raízes da planta hospedeira, provocando a formação de nódulo onde ocorre a fixação do N2 (Figura 2).

Atualmente, o inoculante comercial para o feijoeiro comum no Brasil é produ-zido com o Rhizobium tropici, uma espécie de rizóbio adaptada aos solos tropicais, resistente a altas temperaturas, acidez do solo e altamente competitiva, ou seja, em condições de cultivo favoráveis é capaz de formar a maioria dos nódulos da planta, predominando sobre a população de rizó-bio presente no solo.

A inoculação do feijoeiro comum é, mui-tas vezes, limitada, devido a características intrínsecas da planta, como baixa capacidade de FBN e alta suscetibilidade a estresses ambientais, ao ataque de pragas e doenças, à ineficiência das estirpes de rizóbio nativas no

sentam custo elevado (produto e aplicação). O nitrogênio proveniente da fixação biológica, por sua vez, não apresenta custo direto ao pro-dutor, podendo ser considerado um pequeno gasto, frente ao preço dos demais insumos.

O aproveitamento do N do fertilizante é normalmente inferior a 50%, podendo, em determinadas situações, em solos arenosos, atingir entre 5% e 10%. A oferta de N mineral às plantas está na dependência direta da con-tínua decomposição da matéria orgânica (mi-neralização do N) e da adubação nitrogenada. Por sua vez, o processo de FBN atmosférico ocorre livremente no solo ou em associação com espécies vegetais e microrganismos.

Em ambientes tropicais, a importância da FBN está relacionada com a baixa disponibi-lidade de nitrogênio nos solos, agravada pela lixiviação desse macronutriente. No entanto, a otimização da FBN requer estudos de sele-ção de associações eficientes e adaptáveis às condições regionais.

O FeijOeirO cOMuM e a FBnComo muitas espécies de leguminosas,

o feijoeiro comum também é capaz de esta-belecer simbiose com bactérias fixadoras de nitrogênio, podendo, assim, garantir parte de suas exigências desse nutriente por meio do

processo de fixação biológica. Resultados de pesquisa apontam que a cultura do feijoeiro comum se beneficia, no campo, da FBN, de forma diferente em relação aos genótipos de feijoeiro comum e às estipes de bactérias. As-sim, um dos grandes desafios é conseguir um manejo adequado dessa simbiose (genótipo x estipe x ambiente), com o objetivo de au-mentar a sua eficiência em níveis próximos ou similares aos obtidos com a cultura da soja.

Há um conceito geral de que o feijoeiro comum possui baixa capacidade fixadora de nitrogênio em associação com as bactérias do gênero Rhizobium. Várias espécies de rizóbio são capazes de nodular o feijoeiro comum, incluindo R. leguminosarum, R. phaseoli, R. tropici, R. gallicum, R. giardinii e R. etli. Quan-do as bactérias estão presentes no solo, natu-ralmente ou via inoculação, “reconhecem”

tabela 1 – Fluxo global do n no solo

Milhões de toneladas de nitrogênio/ano320 (100)175 (56)85 (26)20 (6)40 (12)

ProcessoPerdas totais

desnitrificaçãodeposição de nh3

lixiviação erosão

Processoadições totais

Fixação biológicaFertilizantes

deposição atmosféricaantropogênica

números entre parênteses são contribuições relativas de cada processo em relação ao total. Fonte: Paul e clark (1996).

Milhões de toneladas de nitrogênio/ano312 (100)135 (43)62 (20)90 (29)25 (8)

14 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

solo, entre outras. Porém, alguns resultados de pesquisa constataram incrementos expressivos na produtividade, devido à inoculação do feijoeiro comum.

FatOres que aFetaM a inOculaçãO nO FeijOeirO cOMuMO feijoeiro comum tem sido cultivado

extensivamente em solos ácidos das regiões tropicais, embora seja considerada uma cultu-ra sensível a condições ácidas, exigindo a corre-ção do pH para garantir a sua produtividade. Além do efeito da acidez em si, dependendo do tipo de solo, as deficiências nutricionais normalmente associadas às condições ácidas do solo, como de cálcio (Ca), magnésio (Mg), molibdênio (Mo) e fósforo (P), e a toxidez provocada pela elevação nos níveis de alumínio (Al) e manganês (Mn) são fatores limitantes à cultura e, consequentemente, à simbiose.

Além da calagem, é importante proceder a correção do solo com os demais nutrientes. Ressalta-se a importância do fornecimento de fósforo, deficiente na maioria dos solos tropicais, que tem efeito marcante sobre a atividade da nitrogenase (enzima responsável pela FBN), devido ao alto dispêndio energé-tico promovido pelo processo de fixação. O molibdênio (Mo) é um micronutriente que apresenta efeito marcante sobre a eficiência da simbiose, sendo constituinte estrutural da enzima nitrogenase, daí a sua grande impor-tância para as leguminosas em geral.

Em experimentos de identificação e quantificação da população de rizóbios no solo ainda não se identificou se a dominância de R. tropici em solos ácidos ocorre porque essa

espécie é mais competitiva ou se a tolerância intrínseca dessa espécie à acidez apenas fa-vorece sua sobrevivência e, pela vantagem numérica, a ocupação dos nódulos aumenta.

A tolerância à acidez do solo não é neces-sariamente correlacionada à tolerância ao Al do solo. Níveis elevados de Al no solo dimi-nuem a taxa de crescimento de quase todas as estirpes de rizóbio que apresentam tolerância a baixos níveis de pH do solo. A toxidez de Al só se torna importante a pH 5,0 ou mais baixo, onde vai interferir principalmente nas simbioses onde a planta e o rizóbio sejam to-lerantes a estes níveis de pH. Poucos isolados de rizóbio são capazes de crescer em níveis de pH menores do que 4,5.

O processo de FBN também é comprome-tido com a ocorrência de deficiências hídricas, pois, durante a seca o ciclo de cultivo do feijoeiro comum é prejudicado em diferentes etapas do processo de nodulação e na atividade nodular, além de afetar a sobrevivência do rizóbio no solo.

Um dos fatores limitantes à simbiose rizóbio-leguminosa, em condições tropicais, é a ocorrência de altas temperaturas no solo e no ambiente, que atingem médias supe-riores a 38ºC, considerando-se as camadas superficiais do solo, região onde se concentra a nodulação de leguminosas como o feijoeiro comum e a soja. Altas temperaturas afetam a sobrevivência do rizóbio no solo, o processo de infecção, formação dos nódulos e ainda a atividade de FBN.

A temperatura elevada é mais agravante no início do desenvolvimento da cultura, quando o solo está descoberto, afetando no

estágio mais sensível, que é o da infecção das raízes pelo rizóbio, sendo este problema acen-tuando em período de estiagem. Para a maioria das espécies de rizóbio a temperatura ótima de crescimento está entre 28ºC e 31ºC, com muitas espécies incapazes de crescer abaixo de 10ºC ou acima de 31ºC.

Plantas de feijoeiro comum crescidas com N mineral são menos afetadas pelas altas temperaturas comparadas às que não recebem adubação. A eficiência da FBN depende das condições fisiológicas da planta hospedeira que fornece a energia necessária para que a bactéria possa realizar eficientemente este processo.

Em regiões que se caracterizam por apre-sentar teores baixos de N no solo, a prática da inoculação pode resultar em incrementos na produtividade e, por isso, deve ser incentivada. Por isso, há necessidade de mais pesquisas que selecionam estirpes eficientes e competitivas associadas a genótipos altamente produtivos de feijoeiro comum. Posteriormente, não me-nos importante, essas tecnologias e informa-ções devem chegar ao principal interessado: o agricultor, auxiliando assim a uma agricultura mais sustentável.

Figura 1 - Plantas de feijoeiro comum cultivar BRS Pérola crescidas em vaso Leonard com solução nutritiva de Norris. Plantas 1 a 3: inoculadas com as estirpes BR 520 e BR 322 de Rhizobium tropici; Planta 4: não inoculada

Figura 2 - Raiz de feijoeiro comum cultivar BRS Pérola apresentando nodulação em função da inoculação com as estirpes BR 520 e BR 322 de Rhizobium tropici

Cláudia Fabiana A. Rezende e Eliana Paula FernandesUniversidade Federal de GoiásFábio Luiz Partelli,Univ. Federal do Espírito SantoEnderson Petrônio de B. Ferreira,Embrapa Arroz e Feijão

CC

Fotos Enderson Ferreira

as tecnologias viáveis economicamente são transferidas para a área de lavoura e a pesquisa tem no Desafio um campo de provas.

Os vencedores do 3º Desafio serão anunciados em um evento integrado ao Congresso Brasileiro de Soja, no dia 13 de junho, em Cuiabá (MT). Serão premiados três produtores com uma viagem técnica de sete dias aos Estados Unidos. “Assim, damos a oportunidade aos ganhadores de visitar propriedades de alta produtividade e que utilizam novas tecnologias, para que eles, ao retornarem, tragam ainda mais novidades para a agricultura brasileira”, explica Martins.

cOngressO BrasileirO de sOjaRealizado de 11 a 14 de junho, no

Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá (MT), o Congresso Brasileiro de Soja terá como tema Soja: fator de integração nacional e desenvolvimento sustentável.

A perspectiva é que o evento reúna em média dois mil participantes entre profissionais, empresas privadas, insti-tuições públicas e produtores líderes, para debater os desafios atuais e as pers-pectivas que se impõem a este segmento da agricultura.

Eventos

CC

As inscrições se encerraram e o desafio foi lançado: aumentar a produtividade para colher

acima de 90 sacas por hectare de soja. Para alcançar esta meta, os participantes do 3º Desafio Nacional de Máxima Pro-dutividade 2011/2012, promovido pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), deverão se empenhar em desenvolver e utilizar as mais diversas técnicas e tecnologias.

Com mais de 1,314 mil áreas inscri-tas, de 13 estados brasileiros, o desafio busca, segundo o presidente do Cesb, Orlando Martins, apresentar maneiras simples e eficientes para conseguir tecnologias novas e que, aplicadas ao campo, deem resultado direto. “Até este ano, a descoberta mais produtiva foi o plantio cruzado, ganhadora das duas edições anteriores do evento”, revela.

As lavouras participantes são avalia-das individualmente por uma auditoria do Cesb. O presidente do comitê explica que cada participante, ao prever que sua colheita gerará 90 sacas por hectare ou mais, deverá destinar dez hectares de sua área para que a equipe oficial possa acompanhar e analisar as técnicas uti-lizadas neste processo e os resultados obtidos.

“Acreditamos que o agricultor tem condições para desenvolver novos cami-

nhos, por isso o desafiamos a participar do desenvolvimento de tecnologias”, diz Martins, que prevê em no máximo cinco anos disseminar essas novidades, para continuar a elevar o nível de produção nacional. O Desafio, por sua vez, esti-mula os produtores a usar a área desti-nada como um grande laboratório, onde

Desafio à produtividadeCesb promove a terceira edição do Desafio Nacional de Máxima Produtividade para safra 2011/2012 de soja

A adoção de novas técnicas de cultivo, como o plantio cruzado e o manejo correto da lavoura, é estratégia adotada para maximizar a produtividade

Martins explica os critérios para a avaliação das áreas inscritas no concurso promovido pelo Cesb Carolina Silveira/Cultivar

15www.revistacultivar.com.br • Março 2012

Fotos Divulgação

Soja

18 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

A safra de soja 2011/12 se enca-minha para o período final na maioria das regiões de cultivo,

mas ainda há lavouras que podem demorar mais de 40 dias para a colheita. Com base nos números relatados pelo Consórcio Antiferrugem (CAF - www.consorcioanti-ferrugem.net) é possível fazer uma análise comparativa da situação da ferrugem com as outras safras.

A safra atual apresentava, até o dia 17 de fevereiro, 240 relatos de ocorrência de ferrugem, o menor número desde a safra 2005/06 (Figura 1). Até o dia 17 de feverei-ro, a doença foi registrada oficialmente em dez estados e no Distrito Federal (Figura

2), com destaque para os estados de Goiás e do Mato Grosso, com o maior número de relatos.

A estiagem, que atingiu as regiões produtoras dos estados da região Sul, bem como na região sul do Mato Grosso do Sul e sul de São Paulo, desfavorecendo o desenvolvimento da cultura, é um dos principais fatores para o baixo número de ocorrências relatadas nesses estados. Nos estados de Goiás e do Mato Grosso, onde as condições climáticas favoreceram o bom desenvolvimento das lavouras, o número de relatos foi semelhante ao da safra 2010/11, porém, inferior ao da safra 2009/10 (Figura 3). Epidemias de

ferrugem são favorecidas por chuvas bem distribuídas durante a safra, quando o inóculo está presente na área.

Com relação à sobrevivência do inóculo do fungo no período de entressafra, de maneira semelhante ao inverno de 2010, as chuvas no inverno de 2011 foram abaixo da normal climatológica, contribuindo para aumentar a eficiência do vazio sanitário na maioria das regiões, exceto no norte do Mato Grosso (Figura 4). Na região Sul, as precipitações no trimestre julho-agosto-setembro foram acima da normal climatológica, porém, a forte estiagem a partir de novembro e as altas temperatu-ras desfavoreceram o estabelecimento das

ImprevisívelA estiagem em importantes regiões produtoras de soja do Brasil foi um dos principais

responsáveis pelo menor número de relatos de ocorrências da ferrugem asiática registrados pelo Consórcio Antiferrugem desde a safra 2005/2006. Apesar da trégua, é fundamental que o

produtor permaneça atento às recomendações do vazio sanitário e ao manejo correto da doença

Rafa

el M

. Soa

res

Figura 2 – número de relatos de ocorrências de ferrugem-asiática, por estado, registrados no site do consórcio antiferrugem, safra 2011/12. Fonte: site do consórcio antiferrugem (www.consorcioantiferrrugem.net)

19www.revistacultivar.com.br • Março 2012

epidemias. A safra com o maior número de ocorrências, 2009/10, apresentou um inverno com precipitações acima da normal climatológica, o que favoreceu a sobrevivência do fungo e o aparecimento mais cedo da doença.

Contudo, apesar das condições desfa-voráveis para a sobrevivência de plantas de soja voluntárias na entressafra em função da ausência de chuvas, é fundamental que se proceda a eliminação destas plantas no período do vazio sanitário, principalmente em áreas de cultivo irrigado, onde é comum a ocorrência de soja guaxa em outras cul-turas, permitindo a sobrevivência do fungo da ferrugem, como se tem observado em algumas regiões de Goiás e do Distrito Federal.

Na safra atual, as situações mais problemáticas têm sido observadas, até o momento, na região norte do estado do Mato Grosso, nos municípios de Sinop e Sorriso. Períodos ininterruptos de chuvas no mês de janeiro impediram a aplicação de fungicida no momento correto. Em decorrência da menor eficiência dos fun-gicidas do grupo dos triazóis, observada a partir de 2007, as misturas de triazóis e estrobilurinas, atualmente utilizadas, têm grande parte do seu controle baseada no grupo das estrobilurinas, com carac-terística predominantemente preventiva. Dessa forma a ação curativa dos fungicidas disponíveis atualmente é pouco eficiente e os atrasos em aplicações e reaplicações podem comprometer o controle de forma mais acentuada do que no passado, quando havia boa eficiência curativa dos triazóis. Na maioria das regiões do cerrado, as pulverizações foram realizadas de forma preventiva e apresentaram bom nível de controle.

Além da alta frequência de chuvas que prejudica as aplicações, a extensa janela de semeadura, especialmente praticada

no Mato Grosso e Goiás, resulta em la-vouras em diferentes estádios fenológicos, contribuindo assim para maior pressão de inóculo do fungo nas lavouras semeadas mais tarde. Quando há oferta hídrica, as primeiras semeaduras se iniciam logo após o término do vazio sanitário (15 de setem-bro) e essas lavouras vão iniciar a multipli-cação do fungo para as lavouras semeadas mais tarde. Uma ferramenta de manejo que poderia auxiliar a reduzir as perdas nessas situações é a utilização de cultivares com gene de resistência, como, por exemplo, a BRSGO 7560. Essas cultivares não dispen-sam a utilização de fungicidas, mas podem trazer maior estabilidade de produção em situações de atraso de controle, por causa das condições climáticas desfavoráveis.

MOnitOraMentO e PrevisãO de riscO da FerrugeMDurante a safra, têm sido oferecidos no

site do CAF informativos com mapas de previsão e monitoramento do risco climático para a ocorrência da doença, cujos resulta-dos são sumarizados na sequência para os

Figura 1 – evolução do número de ocorrências de ferrugem-asiática em diferentes safras no Brasil. Fonte: site do consórcio antiferrugem (www.consorcioantiferrrugem.net)

estados mais afetados. A Figura 5 apresenta mapas de monitoramento de risco no perí-odo entre 18/11/2011 e 1º/2/2012. No Rio Grande do Sul, na maior parte do estado, o risco se manteve baixo durante quase todo o período, chegando a moderado e alto apenas em regiões limitadas e onde o cultivo de soja é inexpressivo. No Paraná, as regiões produtoras permaneceram com baixo risco na maior parte do período, chegando a moderado principalmente entre 20/12/11 e 18/1/12, mas voltando a uma condição mais seca quando se considerou o período entre 3/1 e 1º/2. Os estados do Mato Grosso do Sul e de São Paulo tiveram baixo risco prin-cipalmente entre novembro e dezembro, especialmente na região sul desses estados. No Mato Grosso, apenas as regiões mais ao sul tiveram períodos de baixo e moderado risco, sendo que a maior parte do estado es-teve sob alto ou muito alto risco. Em Goiás, as regiões ao sul do estado apresentaram risco predominantemente moderado, sendo que o centro-norte esteve sob condição de risco alto a muito alto. Em Minas Gerais, no extremo oeste, foi estimada predominância

Figura 3 - distribuição dos relatos de ocorrências de ferrugem-asiática, por estado, até o dia 16 de fevereiro, nas safras 2009/10, 2010/11 e 2011/12. Fonte: site do consórcio antiferrugem (www.consorcioantiferrrugem.net)

20 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

de risco moderado, enquanto que na maioria das demais regiões o risco variou de alto a muito alto. O Tocantins esteve sob risco alto e muito alto durante todo o período considerado. Na Bahia, com exceção do extremo oeste, na divisa com Goiás, onde o risco permaneceu alto ou muito alto, o risco oscilou entre moderado e baixo na maior parte do período.

ControleAs estratégias de manejo recomendadas

para ferrugem devem ser adotadas de forma conjunta, por meio da utilização de cultiva-res de ciclo precoce e semeaduras no início da época recomendada; da eliminação de plantas de soja voluntárias e a ausência de cultivo de soja na entressafra (vazio sanitá-rio); do monitoramento da lavoura desde o início do desenvolvimento da cultura; da utilização de fungicidas (misturas de triazóis e estrobilurinas) e do emprego de cultivares resistentes, quando disponíveis.

Em safras com estiagem, como está ocorrendo nos estados do Sul do país, o monitoramento da lavoura e das condições que influenciam a ocorrência de ferrugem pode ser mais relevante na tomada de de-cisão para a aplicação de fungicidas do que em anos de clima normal. Têm sido comum nestas situações, aplicações desnecessárias em consequência da calendarização prévia das aplicações. Na região Centro-Oeste, as condições climáticas mais estáveis e a grande extensão das áreas de cultivo têm justificado as aplicações a partir do florescimento ou no estádio vegetativo, quando detectada a doença, utilizando misturas de triazóis e estrobilurinas. O CAF não recomenda aplicações isoladas de fungicidas do grupo das estrobilurinas na cultura da soja, por causa do risco de seleção de populações resistentes do fungo a esse grupo, como já observado para os triazóis.

cOnsiderações FinaisMais uma safra de soja está finalizan-

do e, novamente, os números levantados pelo CAF mostram que cada safra é uma situação particular, pois depende da inte-

Figura 4 - desvios de precipitação trimestral (julho, agosto e setembro) em 2009, 2010 e 2011. Fonte: instituto nacional de Meteorologia (inMet) (http://www.inmet.gov.br)

ração de vários fatores que influenciam no momento em que as epidemias se iniciam bem como a severidade. As perdas em produtividade, causadas pela ferrugem, têm sido reduzidas ao longo das safras e a situação não deve ser diferente nesta. O custo ferrugem, que engloba o custo do controle com fungicidas mais as perdas em produtividade, nas últimas safras cor-respondeu principalmente ao custo com o controle da doença e, em decorrência

Figura 5 - Mapas de previsão e monitoramento do risco climático para a ocorrência da ferrugem-asiática da soja, no período entre 18/11/2011 e 01/02/2012. Fonte: site do consórcio antiferrugem (www.consorcioantiferrrugem.net)

da calendarização das aplicações, não se espera uma mudança significativa nesses números para a safra atual.Rafael Soares,Cláudia Godoy,Claudine Seixas eMaurício Meyer,Embrapa Soja Emerson Del Ponte eFelipe Dalla Lana,UFRGS

CC

Capa

22 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

A soja está em constante transfor-mação e os percevejos (grupo mais agressivo) são pragas cujos

danos devem ser rediscutidos, revisados e atualizados. O manejo dos percevejos deve considerar que atualmente a oleaginosa é cultivada em grande amplitude de épocas e lo-cais, construindo “pontes verdes hospedeiras” que, associadas ao plantio direto, protegem algumas espécies. O amplo uso de cultivares de hábito de crescimento indeterminado e de grupos de maturação 3.0 e 4.0 torna a cultura mais vulnerável aos percevejos que, aparen-temente, estão mais difíceis de controlar, seja pela soma destes fatores ou pela redução dos ingredientes ativos disponíveis. O manejo dos percevejos é dificultado pela adoção de um nível de controle demasiadamente elevado e inflexível. As ações de manejo considerando um nível elevado são, muitas vezes, tardias e ineficazes.

Os danos dos percevejos já foram muito estudados e existem inúmeras formas de avaliar as injúrias e o resultado de seus efeitos. Foi abordado o efeito de ninfas e adultos de distintas espécies; em campo, semicampo ou em laboratório, sobre diversas cultivares de soja, por períodos que variaram entre sete e até mais de 50 dias (Tabela 1). Mesmo com base nesses resultados é de alto risco estabelecer

um valor fixo de dano. A intensidade dos danos dos percevejos depende: (1) da espécie de percevejo; (2) do nível populacional; (3) do estágio de desenvolvimento do percevejo; (4) do estádio fenológico da soja no ataque; (5) da duração do ataque; (6) da cultivar e (7) das variáveis ambientais, entre outros.

A maior vulnerabilidade aos percevejos ocorre entre o começo da frutificação (R3) e a máxima acumulação de matéria seca no grão (R7). O intervalo mais vulnerável às perdas é a partir de R4 (final do desenvolvimento das vagens) até R5.5 (final do enchimento de grãos), com base em resultados de estudos analisados (Figura 1). A Tabela 1 mostra variação de perdas de 49kg/ha a 125kg/ha de soja para 1 percevejo/m2 ou 10 mil percevejos/ha, em trabalhos desenvolvidos na Argentina, no Brasil e nos Estados Unidos, dando uma ideia do impacto desta praga.

As cultivares de soja com hábito de cres-cimento indeterminado e de grupo de matu-ração 3.0 e 4.0 (precoces) apresentam maior suscetibilidade aos danos de percevejos (Ga-mundi et al, 2007), na Argentina. Com esses resultados o Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (Inta) definiu níveis de controle, considerando estádio de desenvolvimento, hábito de crescimento, grupo de maturação das cultivares e destino da produção de soja

(Tabela 2). Estes NC “flexíveis”, ao conside-rarem o hábito de crescimento e o grupo de maturação das cultivares de soja, sofreram abaixamento dos seus valores absolutos. Com essa redução, o início do manejo ocorre mais cedo, gerando resultados mais eficazes na diminuição das populações.

Cultivares de florescimento mais precoce e/ou hábito de crescimento indeterminado proporcionam a ocorrência de legumes por mais tempo. Assim, a emissão de novos nós, com novas flores, ocorre concomitantemente ao desenvolvimento dos legumes, até a emissão do último nó, ampliando o período reproduti-vo “real” da cultivar. Comparando cultivares como BRAGG e IAS-5 (determinadas) com as cultivares NS 4823 RR e BMX Potência RR (indeterminadas) se verifica que o perí-odo de emissão de nós é de seis a sete dias, nas cultivares antigas, e entre 25 e 30 dias, nas novas cultivares (Streck et al, informação pessoal). Essa grande diferença no tempo de emissão de flores aumenta o período favorável ao desenvolvimento dos percevejos.

nível de danO ecOnôMicO (nde) e de cOntrOle O nível de dano econômico (NDE) deter-

mina o nível de controle (NC), que é menor que o primeiro. Na soja, para percevejos, as

Revisão necessáriaRevisão necessáriaAs constantes transformações na cultura da soja e no ataque de percevejos, que causam danos severos às lavouras, tornam necessário revisar as estratégias de manejo. Adotar métodos de amostragem mais rápidos e eficazes, reavaliar o nível de controle e combater o uso aleatório e indiscriminado de inseticidas estão entre as alternativas para obter resultados eficientes e duradouros na luta contra a praga

As constantes transformações na cultura da soja e no ataque de percevejos, que causam danos severos às lavouras, tornam necessário revisar as estratégias de manejo. Adotar métodos de amostragem mais rápidos e eficazes, reavaliar o nível de controle e combater o uso aleatório e indiscriminado de inseticidas estão entre as alternativas para obter resultados eficientes e duradouros na luta contra a praga

Dirceu Gassen

indicações técnicas da soja no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina (RTP-Soja-Sul, 2010) recomendam o NC de dois percevejos por metro de fileira (adultos ou ninfas gran-des). Em lavouras de produção de sementes, este nível deve ser de um percevejo por metro de fileira.

Esses valores não podem ser fixos ou imutáveis, ainda mais considerando que foram estabelecidos há mais de 20 anos, sob um ce-nário muito diferente de hoje. Nesse período, se alterou o custo dos tratamentos (inseticida + serviços) e o valor econômico resultante (valor da soja x produtividade). Pode haver discussão a respeito, mas há fatos incontestes, como: 1) a soja tem hoje maior valor por saca;

2) se produz atualmente muito mais soja por unidade de área; 3) o resultado produtividade × preço é muito maior, portanto, a relação custo do controle × risco se alterou sensi-velmente; 4) os tratamentos inseticidas estão mais baratos; 5) se conhece melhor a biologia, a ecologia, o comportamento e os danos das espécies, em relação aos anos 80 e 90.

ManejO dOs PercevejOs da sOjaO Manejo Integrado de Pragas (MIP) pre-

coniza o uso harmônico de diferentes métodos de controle, a partir do momento em que a população da praga atinja níveis que causem danos à cultura. Sua adoção envolve muitos aspectos, como a espécie de inseto, o nível de controle e, sobretudo, amostragem das pragas. A amostragem de pragas é a única forma de se conhecer a densidade e a distribuição das populações de pragas e sua ausência determina aplicações preventivas e/ou aleatórias de inse-ticidas, muitas vezes, juntamente com outros agroquímicos.

A amostragem indicada pela RTP-Soja-Sul, 2010, deve ser feita com o pano de batida, com duas tomadas em uma fileira de soja (1m); fazendo seis amostras para áreas de até 10ha, oito amostras para áreas de 11ha a 30ha e dez amostras para áreas de 30ha a 100ha, para áreas superiores a 100ha. Entretanto, a quantificação mais eficiente dos percevejos da

soja deve ser feita usando pano de batida largo ou com o pano de batida vertical, de emprego mais prático e eficaz. A comparação entre métodos de amostragem em soja demonstrou maior capacidade de coleta do pano de batida vertical em relação ao pano de batida “antigo” (Guedes et al, 2006). Estudo mais recente aponta a necessidade de amostrar 20 pontos ou mais por lavoura, para estimar com maior precisão os percevejos da soja, independente-mente do tamanho da área (Stürmer, 2012), e confirma a maior eficiência amostral do pano de batida vertical (Figura 2).

cOntrOle quíMicO O controle químico dos percevejos da soja

apresenta muitas dificuldades, considerando os aspectos relacionados à tolerância das espécies aos inseticidas, o elevado potencial reprodutivo, o hábito alimentar peculiar e a sua distribuição agregada. Também interferem no manejo, os aspectos ambientais, especial-mente a oferta de abrigo e alimento, além dos hospedeiros em diferentes épocas do ano. O controle torna-se difícil, pelas características da soja, como: densidade de plantas, índice de área foliar elevado e períodos reprodutivos mais longos (com emissão de flores por mais de 25 dias a 30 dias nas sojas “modernas”). Por fim, os aspectos operacionais do controle, como a redução do número de ingredientes

Figura 1 - Período de risco de danos (baixo – médio – alto) dos percevejos da soja

24 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

Figura 2 - Pano de batida vertical com calha de PVC na base

tabela 1 - dano (kg/ha) de 1 percevejo/m2, sob diferentes situações, em soja

Fases de convivência1

r5a partir r5.1a partir r5.1

r2 - r5.5r1 - r6r5 - r8

cultivar

centennialdareBraggBragg

adM 4800 rruFv -1

Período2 (dias)

?71330??

Dano(kg/ha)

90,949,066,049,9125,072,3

referência3

Boethel et al. (2002)McPherson et al. (1979)

Morosini (1978)costa & corseuil (1979)gamundi et al. (2003)

villas Bôas et al. (1990)

espécie

nezara viridulanezara viridula

Piezodorus guildiniiPiezodorus guildinii

n. viridula; P. guildinii euschistus heros; P. guildinii; n. viridula

1 estádios de desenvolvimento da soja. 2 alguns trabalhos não apresentam a informação. 3 as referências bibliográficas podem ser solicitadas à redação – [email protected]

tabela 2 - níveis de controle de percevejos da soja. inta. (gamundi et al., 2008)

grupo de maturação vi e vii determinados1,4 4,0

grupo de maturação iii, iv e v indeterminados0,7(1,2)

2,1

estádio de desenvolvimentoda soja

r3 – r5.5r6 – r7

1 Percevejos/m de linha (espaçamento 0,52m). 2 Produção de sementes – reduzir valor à metade em todo o período reprodutivo.

cultivares

ativos e de grupos químicos disponíveis, os métodos de pulverização eficazes no alcance do alvo, o início tardio do controle e os erros de aplicação dificultam ainda mais o controle dos percevejos.

O percevejo-marrom apresenta maior tolerância aos inseticidas e esta dificuldade desencadeou as primeiras reclamações a res-peito do controle químico. Adicionalmente, esta espécie começou a apresentar resistência a alguns inseticidas, entre eles, Endosulfan, Monocrotofós e Metamidofós. Os casos de resistência, somados ao lançamento de novos inseticidas, criaram as condições para proibi-ção da comercialização de Monocrotrofós e Metamidofós. O cancelamento desses inse-ticidas determinou mudanças nas estratégias de controle, pois com a impossibilidade da sua utilização o produtor teve que lançar mão de um menor “cardápio” de alternativas, com muitos riscos.

A aplicação de piretroides para o controle de percevejos apresenta efeito de choque, entretanto, estes inseticidas produzem severo efeito deletério sobre a fauna benéfica, como parasitoides, predadores e também sobre polinizadores. Tanto o uso de acefato, quanto das misturas piretroide + neonicotinoide são muito utilizados e mesmo sem grande inova-ção, podem ser eficazes quando adotados no momento (populacional) adequado, ou seja, no início do crescimento das populações de percevejos.

As espécies apresentam variação de tole-rância às doses dos inseticidas e o percevejo-marrom é mais difícil de controlar que o per-cevejo-verde-pequeno e que o percevejo-verde, embora acefato não siga este padrão (Figura 3). Também há uma distinta reação das fases de vida dos percevejos, aos inseticidas. As ninfas de primeiro, segundo e terceiro instar apresentam menor movimentação e alimen-

tação, o que dificulta o seu controle. As ninfas de quarto e quinto instar de P. guildinii, por exemplo, se movimentam e se alimentam de forma similar aos adultos, permanecendo mais nos estratos médio e superior das plantas, que as tornam mais suscetíveis ao controle.

nOvOs cenáriOs: nOvO ManejOOs novos cenários da cultura e das pragas

da soja determinam alterações do manejo dos percevejos da soja. O futuro do manejo deve ser revisado frente à nova realidade econômica da soja e aos novos conhecimentos sobre os percevejos.

Esta nova visão do manejo de perce-vejos deve ser sistêmica, considerando todas as dimensões, levando em conta também as outras pragas da soja, além da realidade e da diversidade da lavoura de soja brasileira.

É premente que se discuta e conside-re: adotar métodos de amostragem mais rápidos e eficazes; reavaliar o nível de controle em função das espécies de perce-vejos; reavaliar o nível de controle para os diferentes hábitos de crescimento e grupos de maturação da soja; adaptar e adotar as tecnologias de precisão no manejo de pragas; retomar ou desenvolver o manejo localizado das populações (bordaduras, beira de matos, banhados e reboleiras); buscar a inovação, a integração e o uso de novas tecnologias de manejo; e combater o uso aleatório e indiscriminado de inse-ticidas em soja.Jerson Carús Guedes,Jonas André Arnemann, Mauricio Bigolin, Clérison Régis Perini, Deise Cagliari e Regis Felipe Stacke,Univ. Federal de Santa Maria

CC

Figura 3 - doses de registro e proporção/percentual para controle de cada espécie de percevejo

Jers

on G

uede

s

Informe

O híbrido de milho BX967YG acaba de ser lançado pela Nidera Semen-tes. Possui tecnologia YieldGard,

que se caracteriza pela expressão da proteína Cry1Ab em seu tecido. Algumas lagartas, ao ingerirem esta proteína, têm seu tubo digestivo afetado, o que causa a ruptura das membranas do sistema gástrico do inseto, resultando em morte por inanição. Esta tecnologia promove o controle da broca-do-colmo (Diatraea saccharalis) e supressão da lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) e da lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea). É um híbrido de ciclo superprecoce, possui folhas semieretas, grão semiduro avermelhado, bom empalhamento, cuja finalidade é a produção de grãos. O florescimento masculino (50% dos pendões florescidos) ocorre aos 55 DAS (dias após semeadura) para o médio-norte do Mato

Novo híbrido

Grosso e aproximadamente 60 DAS para as demais regiões do Centro-Oeste (pode oscilar conforme a época de plantio e a condição climá-tica de cada região). A soma térmica necessária para atingir o florescimento masculino equivale a 766 graus-dia. O conhecimento do ciclo até o florescimento possui importância na escolha do híbrido e no planejamento da época de semea-dura, de maneira que este estádio coincida com o período de menor probabilidade de ocorrência de déficit hídrico do solo (Farinelli et al, 2003).

A cultura do milho, mesmo sendo conside-rada tolerante à ação dos agentes de estresse, seja de natureza biótica ou abiótica, tem apresentado

grande sensibilidade à incidência de patógenos em função do cultivo sucessivo (Fancelli e Dourado Neto, 2000). Desta forma, é funda-mental a utilização de híbridos sadios. Dentre as qualidades do BX967YG, pode-se destacar a decumbência das espigas e sanidade de colmo. Decumbência é a capacidade da espiga virar o ápice para baixo após sua maturação, onde ocorre o escorrimento da água acumulada e, por consequência, a diminuição de grãos ardidos na espiga. A sanidade do colmo é uma característica fundamental, que contribui ao evitar o acama-mento das plantas, além de dificultar a entrada indireta de novos patógenos.

Plantas do BX967YG atingem altura de aproximadamente 200cm, com inserção das espi-gas, em média, de 100cm. As espigas formam em média 14 fileiras com 38 grãos cada, totalizando cerca de 530 grãos por espiga. Para segunda safra, a população recomendada deste híbrido é de 55-60 mil plantas por hectare. O potencial de produtividade de grãos do BX967YG é alto se plantado antes do dia 25 do mês de fevereiro. Na Tabela 1 são apresentadas as produtividades de grãos para Centro-Oeste do Brasil.

Foto

s N

ider

a Se

men

tes

O BX967YG possui tecnologia que auxilia no controle de lagartas,é superprecoce, possui folhas semieretas e grão semiduro avermelhado

As plantas de BX967YG podem atingir até dois metros de altura

tabela 1 - Produtividades de grãos do híbrido Bx967Yg para o centro-Oeste do Brasil

Produção sc/ha132,8124,0118,3114,3113,4107,5107,4100,7

Plantio

20/02/201115/02/201115/02/201109/02/201126/02/201109/02/201109/02/201112/03/2011

nidera sementes ltda – equipe desenvolvimento de Produtos centro.

local

unaí (Mg)Montividiu (gO)Montividiu (gO)

lucas do rio verde (Mt)campo verde (Mt)

lucas do rio verde (Mt)lucas do rio verde (Mt)

são gabriel do Oeste (Ms)

População de plantas55 mil64 mil50 mil47 mil58 mil60 mil64 mil46 mil Híbrido apresenta bom rendimento produtivo

e desempenho ao ataque de pragas

Danilo Pinceli Chaves, José Márcio Sutil, Flávio Roberto Lamanna, Fernando Jorge M. Oliveira e Davi Pereira Caixeta de Castro,Nidera Sementes Centro

CC

25www.revistacultivar.com.br • Março 2012

Soja e Milho

26 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

Com o decorrer do tempo surgem novas tecnologias e modificações variadas na forma de cultivo de

determinadas espécies vegetais de interesse agrícola. Essas “novidades” são interessantes por, na maioria das vezes, serem criadas pelo produtor rural. Dessa forma, o agricultor revela seu anseio por aumentar a produti-vidade e sobreviver no mercado, cada vez mais competitivo. Como elos de uma mes-ma corrente, pesquisadores devem avaliar os riscos gerados pelas novas mudanças e buscar torná-las viáveis ou ajustá-las a uma condição que gere menos riscos, por meio de experimentos agrícolas.

Neste texto há o relato de resultados de pesquisas que buscaram avaliar o comporta-mento de importantes doenças em sistemas de cultivo que implicaram em um aumento da população em plantas de milho e soja e que estão em evidência neste momento. Sabe-se que doenças de plantas ocorrem pela existência, ao mesmo tempo, de uma

planta suscetível (não resistente), a presença de agentes causadores de doenças (fungos, bactérias, nematoides, vírus e similares) e

de fatores ambientais favoráveis. Quando ocorrem condições de temperatura, umida-de e sombreamento favoráveis ao causador

Espaçamento e doençasNa busca por maior produtividade cresce a adoção de novas tecnologias e formas de cultivo, como a diminuição no espaçamento de milho e o plantio cruzado da soja. Apesar dos benefícios, produtores e pesquisadores precisam transpor desafios como a maior incidência de mancha de cercospora e ferrugem asiática

Figura 1 – Sintomas da mancha de cercospora em milho. UFMS-CPCS. Chapadão do Sul (MS)

Espaçamento e doençasNa busca por maior produtividade cresce a adoção de novas tecnologias e formas de cultivo, como a diminuição no espaçamento de milho e o plantio cruzado da soja. Apesar dos benefícios, produtores e pesquisadores precisam transpor desafios como a maior incidência de mancha de cercospora e ferrugem asiática

Charles Echer

Fotos Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

da doença muito próximo das folhas pode haver aumento considerável da quantidade de doença nas plantas.

Foram abordados o caso do milho cul-tivado em espaçamento reduzido, de 45cm entre linhas, e o da soja semeada em linhas cruzadas ou “soja cruzada” e sua relação com a mancha de cercospora e a ferrugem asiática da soja, respectivamente. O conhecimento

gerado foi fruto de pesquisas realizadas no Campus de Chapadão do Sul, da Uni-versidade Federal de Mato Grosso do Sul (18º46’17,8” de latitude sul, 52º37’27,7” de longitude oeste e com altitude de 813m).

MilhO adensadOA mancha de cercospora pode ser causa-

da pelos fungos Cercospora zeae maydis, Cer-

cospora zeina e Cercospora sorghi var. maydis e é uma doença de grande importância para o cultivo do milho, pois é considerada como uma das que mais limitam a produtividade dessa espécie no Brasil (Figura 1).

O experimento foi realizado na “safri-nha” 2009/10, com os híbridos Agroceres Yieldgard AG 9010 YG (AG 9010 YG) e Advance NK Agrisure TL (Bt11). Foram

Figura 2 - severidade da mancha de cercospora do milho em função de cultivares e da densidade de plantas – safrinha 2009/10. uFMs-cPcs. chapadão do sul (Ms)

Figura 3 – Lavoura de soja semeada em linhas cruzadas, no estádio reprodutivo. UFMS-CPCS. Chapadão do Sul (MS)

28 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

utilizadas duas densidades de cultivo de plantas, com diferentes espaçamentos entre linhas: 90cm (convencional), contendo sete plantas/metro (78 mil plantas/ha); 45cm (adensado), com quatro plantas/metro (100 mil plantas/ ha). Foram realizadas duas ava-liações da severidade da mancha de cercospo-ra e a estimativa do rendimento de grãos das plantas foi realizada com as espigas colhidas das quatro linhas centrais das parcelas com espaçamento de 90cm e de oito linhas, nas parcelas com espaçamento de 45cm.

A área abaixo da curva de progresso da doença mostrou não haver diferença em relação à resistência dos híbridos avaliados, porém, houve mais doença quando se em-pregou o maior espaçamento entre linhas (Figura 2). Acredita-se que o maior espa-çamento entre linhas pode ter favorecido a dispersão dos esporos do fungo pela pas-sagem mais livre das correntes de vento, o que facilitou sua maior deposição nas folhas superiores. O contrário pode ter ocorrido no espaçamento adensado, em que as folhas so-brepostas umas às outras barraram o vento, interceptando os esporos e impedindo que fossem levados para as folhas superiores. O rendimento de grãos dos híbridos, ao contrário da severidade da cercosporiose, foi significativamente maior com o aumento da densidade populacional.

Os resultados obtidos permitiram concluir que o aumento na população de plantas esteve relacionado com a redução da severidade da mancha de cercospora e con-tribuiu para o aumento do rendimento de grãos. Apesar disso, deve-se ficar atento às demais doenças e ao histórico da área quan-do o espaçamento reduzido for empregado, pois sabe-se que pesquisadores de Santa Catarina descobriram que pode haver maior número de plantas doentes por podridão da base da espiga nesta condição.

Figura 5 - severidade da ferrugem asiática da soja em função de cultivares e do sistema de semeadura – safra 2010/11. uFMs-cPcs. chapadão do sul (Ms)

Figura 4 – Pústulas provocadas por Phakopsora pachyrhizi, fungo causadorda ferrugem asiática da soja. UFMS-CPCS. Chapadão do Sul (MS)

“sOja cruzada” Preocupados com o aceite da con-

figuração de semeadura popularmente denominada de “soja cruzada”, em que o produtor semeia a soja formando um quadriculado ou um “tabuleiro de xadrez” buscando aumentar a quantidade de plantas por área (Figura 3), foi conduzido experimento durante a safra 2010/11 para investigar a viabilidade do sistema e se Phakopsora pachyrhizi, fungo causador da ferrugem asiática (Figura 4), ocorreria em maior intensidade.

Foram avaliadas duas cultivares (FMT Anta 82 RR e Monsoy M 7211), duas dosagens de adubo (400kg/ha e 800kg/ha) e duas densidades (15 e 30 sementes por metro) em semeadura cruzada, com mais dois tratamentos adicionais, formados pela semeadura das duas cultivares em linhas não cruzadas.

Constatou-se que a severidade da ferru-gem asiática foi significativamente superior em plantas cultivadas em linhas cruzadas do que em linhas paralelas. A severidade nas plantas cultivadas foi em torno de 15 (FMT Anta 82 RR) e 19% (Monsoy M 7211) superior no sistema de semeadura cruzada em relação ao sistema convencional (Figura 5). Verificou-se que o crescimento na severidade ocorreu devido ao aumento de tecidos infectados apenas na parte inferior das plantas FMT Anta 82 RR, cultivadas em linhas cruzadas. Houve maior severidade da ferrugem asiática da soja nos folíolos localizados na parte inferior das plantas, in-dependentemente do genótipo e do sistema de produção, possivelmente por favorecer a criação de microclima favorável ao fungo pelo adensamento das plantas.

Houve diferença significativa entre as médias de severidade em função do genótipo empregado, e o mais suscetível

à doença foi o FMT Anta 82 RR. Além disso, percebeu-se que a diferença entre os genótipos ocorreu apenas na metade inferior das plantas. Recentemente, descobriu-se, nos Estados Unidos que Phakopsora pa-chyrhizi é favorecido pelo sombreamento das folhas, independentemente da umi-dade. Estas observações indicaram que a condição gerada pelo aumento das plantas por área contribuiu com o crescimento da ferrugem nas folhas e que esta configuração de semeadura deverá ser melhor estudada sob diversos aspectos para que se tenha um controle satisfatório da doença.

A produção da soja cruzada foi superior em relação à semeada em linhas paralelas, porém, percebeu-se que no trabalho con-duzido este crescimento não foi suficiente para cobrir os custos com aumento do número de sementes e adubo. É fato que mais informações estão sendo buscadas na UFMS, em Chapadão do Sul, e, em pouco tempo, será possível indicar a viabilidade econômica do sistema, qual a melhor tecnologia de aplicação de fungicidas para que as pústulas iniciais, no baixeiro das plantas, sejam alcançadas e o progresso da doença reduzido, assim como qual o melhor genótipo a ser cultivado nesta configuração de semeadura em função da arquitetura das plantas e resistência à ferrugem asiática da soja.

Desafios para a pesquisa que, com o tempo, deverão ser vencidos para que os produtores possam gerar alimentos com me-nores riscos ao ambiente e, principalmente, econômicos.

Gustavo de Faria Theodoro, Maurício Bavaresco, Kennedy Salomão Silva e Rafael Rodrigues da Silva,Univ. Fed. de Mato Grosso do Sul

CC

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Plantas daninhas

29www.revistacultivar.com.br • Março 2012

O controle químico é atualmente o principal método de manejo de plantas daninhas utilizado em

grandes culturas, devido à sua praticidade e ao baixo custo. Porém, a eficácia de alguns herbi-cidas vem sendo comprometida pelos casos de plantas daninhas resistentes que têm surgido no Brasil e no mundo. O conceito de resis-tência pode ser definido como “a capacidade inerente e herdável de alguns biótipos, dentro de determinada população, de sobreviver e se reproduzir após exposição à dose de um herbicida que normalmente seria letal a uma população normal (suscetível) da mesma es-pécie” (Christoffoleti; Lopez-Ovejero, 2008). Trata-se de um processo seletivo, causado pelo uso de herbicidas, em que o produto atua como agente de seleção. Primeiramente são eliminadas as plantas suscetíveis, restando apenas as resistentes, que se reproduzem através de sementes e, portanto, aumentam a sua população (Figura 1).

Já a tolerância de plantas daninhas é a característica inata da espécie, de sobrevi-ver a aplicações de um herbicida, na dose recomendada que normalmente seria letal às demais espécies. Uma das formas de dife-

renciar resistência, de tolerância, é verificar se há ocorrência de biótipos ou populações da mesma espécie, com resposta suscetível a determinado produto no mesmo local onde existem biótipos que não são afetados pela aplicação da mesma dose do herbicida. Se a resposta for positiva, ou seja, se houver populações da mesma espécie que são con-troladas e populações que não são, há elevada possibilidade de se tratar de um caso de resistência. Com resposta negativa, ou seja, se todas as populações conhecidas não forem controladas ou tiverem a mesma forma de resposta à aplicação do herbicida, considera-se uma situação de tolerância (Christoffoleti; Carvalho, 2009).

A resistência pode aparecer com maior frequência em locais onde são utilizados herbicidas altamente eficientes e específicos, com atividade residual longa, ou seja, que são mais persistentes no solo, pois estes produtos exercem maior pressão de seleção sobre as plantas daninhas existentes na área. É im-portante ressaltar que o uso continuado de produtos com o mesmo mecanismo de ação, a alta variabilidade genética das espécies e a baixa dormência de sementes também podem contribuir com o aumento da pressão de sele-ção. Além destes fatores, a frequência inicial do gene resistente e a densidade de plantas daninhas na área, também influenciam no aparecimento da resistência.

Figura 1 - Evolução da resistência. População de biótipos resistentes ( ) X população de biótipos suscetíveis ( )

Falha ou resistência?Plantas daninhas resistentes têm ameaçado a eficiência do controle químico, principal

ferramenta utilizada para manejar o problema em grandes culturas. Identificar

se realmente houve resistência ou se o herbicida aplicado falhou, adotar medidas

preventivas e de manejo, estão entre as estratégias para conviver com esse entrave,

que limita o desempenho das lavouras

Falha ou resistência?Plantas daninhas resistentes têm ameaçado a eficiência do controle químico, principal

ferramenta utilizada para manejar o problema em grandes culturas. Identificar

se realmente houve resistência ou se o herbicida aplicado falhou, adotar medidas

preventivas e de manejo, estão entre as estratégias para conviver com esse entrave,

que limita o desempenho das lavouras

Pedro Christoffoleti

mais destas questões, existe a possibilidade de ocorrer resistência.

cOMO cOnFirMar a resistência?Diversas Instituições de pesquisa brasileira

estão recebendo amostras de sementes de plantas daninhas consideradas suspeitas em relação à resistência a determinados herbici-das, bastando o produtor coletar aproximada-mente mil sementes das plantas daninhas com suspeita de resistência e das plantas suscetíveis e enviar algumas delas para que o teste seja realizado através da semeadura e aplicação do herbicida em doses crescentes, ou seja, metade da dose, dose comercial, duas vezes a dose e quatro vezes a dose.

As datas de avaliações variam conforme o herbicida aplicado, mas em todos os casos, se houver diferença no controle das plantas da-ninhas suscetíveis em relação às consideradas suspeitas, na dosagem comercial do produto, a resistência se confirma. Caso seja confirmada a resistência, deve-se, inicialmente:

• Erradicar as plantas remanescentes ou usar práticas para reduzir o acréscimo de sementes ao solo (dessecações, capina e/ou roguing);

• Colocar em prática o programa de ma-nejo da resistência;

• Evitar disseminação de pólen e se-mentes.

cOMO Prevenir Ou Manejar a resistência?• Diversificar mecanismos de ação;• Fazer aplicações sequenciais;• Utilizar mistura em tanque ou formula-

da com herbicidas de diferentes mecanismos de ação e de destoxificação;

• Fazer rotação de culturas;• Alternar métodos de controle (cultural,

mecânico e químico);• Usar sementes certificadas;• Fazer rotação do tipo de preparo de

solo;• Evitar a reprodução de plantas daninhas

com suspeita de resistência;• Acompanhar mudanças na flora.

30 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

cOMO identiFicarO produtor deve levantar informações

relacionadas à aplicação do herbicida e ana-lisar se o controle ineficiente das plantas daninhas na área não foi consequência de uma baixa qualidade desta aplicação. Para isto, deve-se considerar:

1) Produto utilizado – Produto, dose, formulação, uso de adjuvantes;

2) Planta daninha alvo – Estádio de desenvolvimento na aplicação, espécies não controladas, sintomas após aplicação, reinfestação;

3) Tecnologia de aplicação – Método, calibração, tipo de bico, qualidade da água e preparo da calda, efeito guarda-chuva;

4) Condições climáticas – Chuva an-tes e após a aplicação, irrigação, umidade relativa do ar, temperatura, ocorrência de ventos, horário da aplicação;

5) Condições edáficas - Tipo de solo (textura), pH, porcentagem de matéria orgânica do solo;

6) Tipo de plantio – Convencional ou direto, espécie vegetal na cobertura do solo.

Se confirmada a qualidade da aplicação

do herbicida, o produtor deve responder a algumas questões relacionadas ao herbicida aplicado antes de atestar um possível caso de resistência:

1) Tem sido aplicado o mesmo herbici-da ou o mesmo mecanismo de ação?

2) O herbicida vem perdendo efici-ência?

3) Existem casos de plantas resistentes a este herbicida?

4) O herbicida não perdeu eficiência sobre outras espécies?

Sendo afirmativa a resposta de uma ou

tabela 1 - lista das espécies de plantas daninhas resistentes a herbicidas identificadas no Brasil até outubro de 2011

num123467891011121314151617

18192021

22232425

2627

28

espécieseuphorbia heterophylla

Bidens pilosaBidens subalternans

Brachiaria plantagineaechinochloa crus-galli

echinochloa crus-pavonissagitaria montevidensis

cyperus difformisFrimbristylis miliacea

raphanus sativusdigitaria ciliaris

euphorbia heterophyllalolium multiflorum

eleusina indicaParthenium hysterophorus

euphorbia heterophylla (resistência múltipla)

conyza bonariensisconyza canadensis

euphorbia heterophyllaBidens subalternans (resistência múltipla)

Oryza sativaeuphorbia heterophylla

digitaria insularisechinochloa crus-galli (resistência múltipla)

lolium multiflorumlolium multiflorum

digitaria insularis

nome comumamendoim-bravo, leiteiro

Picão pretoPicão branco

capim marmeladacapim arrozcapim arroz

sagitaria, Flechajunça

junquinhonabiça

capim colchãoamendoim-bravo, leiteiro

azevémcapim pé-de-galinha

losna brancaamendoim-bravo, leiteiro

BuvaBuva

amendoim-bravo, leiteiroPicão branco

arroz vermelhoamendoim-bravo, leiteiro

capim-amargosocapim arroz

azevémazevém

capim-amargoso

ano de identificação1992199319961997199919991999200020012001200220022003200320042004

2005200520052006

2006200720082009

20102010

2010

Mecanismo de ação do herbicidainibidor da alsinibidor da alsinibidor da als

inibidor da accaseMimetizador de auxinaMimetizador de auxina

inibidor da alsinibidor da alsinibidor da alsinibidor da als

inibidor da accaseinibidor da als

glicinasinibidor da accase

inibidor da alsinibidor da als

inibidores da PrOtOxglicinasglicinasglicinas

inibidor da alsinibidor do Fotossistema ii

inibidor da alsinibidor da als

glicinasinibidor da als

Mimetizador de auxinainibidor da als

inibidor da accaseglicinasglicinas

Fonte: adaptada de hrac (2011)

Pedro Christoffoleti,Ana Beatriz Campos A. Prado e Camila Schorr Reinert, Esalq/USP

Planta jovem de buva, espécie com histórico de resistência a aplicação de herbicidas

Pedro, Ana e Camila destacam a importância do manejo correto para preservar a eficiência do controle químico

CC

Foto

s Pe

dro

Chr

isto

ffol

eti

ESALQ - Departamento de Produção VegetalAv. Pádua Dias, 11 - Caixa Postal 09 - Piracicaba, CEP 13418-

900A capacidade de testes é limitada, havendo interesse apenas

para trabalhos de pesquisa. Consultar previamente o Prof. Dr. Pedro J. Christoffoleti, pelo

telefone: (19) 3429-4190; E-mail [email protected]

EMBRAPA SOJARod. Carlos João Strass, acesso Orlando Amaral - Caixa Postal

231 - Londrina - CEP 86001-970Certificar-se primeiro de que a falha de controle não é devida

a outras causas.Consultar previamente: Dionísio L. P. Gazziero, pelo telefone

(43) 3371-6270; E-mail [email protected]

EMBRAPA TRIGO - Manejo de Plantas DaninhasBR-285 - km 174 - Caixa Postal 569 - CEP 99001-970 - Passo

FundoConsultar previamente o Dr. Erivelton S. Roman, pelo telefone

(54) 3113-444 R. 205

INStItuIçõeS de peSquISA brASIleIrAS que reAlIzAM o teSte de reSIStêNCIA

E-mail: [email protected]

EMBRAPA CLIMA TEMPERADOBR-392 - Km 78 - Caixa Postal 403 - CEP 96001-970 - Pe-

lotasConsultar previamente o Dr. André Andres, pelo telefone (55)

3275-8476E-mail: [email protected]

UFRGS - FACULDADE DE AGRONOMIA - Cadeira de Herbo-logia

Av. Bento Gonçalves, - Caixa Postal 776 - CEP 90001-970 - Porto Alegre

Consultar previamente: Prof. Dr. Ribas Vidal, pelo telefone (51) 316-6753

E-mail: [email protected]

EPAGRI - ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE ITAJAÍCaixa Postal 277 - CEP 88301-970, ItajaíConsultar previamente: Dr. José Alberto Noldin, pelo telefone

(47) 346-5244E-mail: [email protected]

32 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

Trigo

Folhas manchadasDoenças foliares, como a mancha amarela, provocam extensos danos à cultura do trigo, com redução da área fotossinteticamente ativa, morte dos tecidos, menor produção de

fotoassimilados e diminuição do tamanho e da qualidade dos grãos. O tratamento de sementes com fungicidas, realizado de forma criteriosa, é uma das alternativas para o manejo da

doença, que deve aliar, também, práticas culturais e, sempre que possível, resistência genética

A cultura do trigo caracteriza-se por ser atacada por várias doenças, des-de os estádios iniciais de desenvol-

vimento até completar seu ciclo. Dentre estas doenças, a ocorrência de manchas foliares é um fator de preocupação cada vez maior para técnicos e produtores, principalmente após a adoção do sistema de plantio direto. As principais manchas foliares do trigo, no Sul do Brasil, são a mancha amarela ou mancha bronzeada da folha, causada por Drechslera tritici-repentis, a mancha marrom, provocada por Bipolaris sorokiniana, e a septoriose, cau-sada por Septoria tritici.

De forma geral, a predominância de uma doença em determinado local está ligada às condições climáticas da região, que podem ser mais ou menos favoráveis às exigências do patógeno. A mancha marrom não é consi-derada uma doença severa à cultura do trigo em locais de clima mais ameno, assumindo assim importância maior no Paraná e na região Centro-Oeste, onde encontra condições mais adequadas para seu desenvolvimento. A sep-toriose é uma doença cosmopolita, ocorrendo em mais de 50 países, especialmente Estados Unidos, Canadá, Egito, Argentina, Uruguai, Brasil e muitos países da Europa. Sua ocorrên-cia está atrelada a temperaturas acima de 18ºC e precipitação frequente. Já a mancha amarela não exige um tipo de clima específico para o seu desenvolvimento, ocorrendo em países como Austrália, Canadá, Estados Unidos, Brasil, Paraguai e Uruguai. No Brasil, é mais importante na região Sul, ocorrendo princi-palmente no Paraná e destacando-se como a mancha foliar mais comum nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.

cOndições PredisPOnentesAs manchas foliares ocorrem com maior

intensidade quando são utilizadas sementes infectadas ou quando o trigo é cultivado em monocultura no sistema de plantio direto. No caso de D. tritici-repentis, por ser um fungo considerado necrotrófico (com capacidade de sobreviver sobre os restos culturais), sua ocorrência é fortemente atrelada ao sistema de plantio direto. A mancha amarela encontra

Doenças foliares, como a mancha amarela, provocam extensos danos à cultura do trigo, com redução da área fotossinteticamente ativa, morte dos tecidos, menor produção de

fotoassimilados e diminuição do tamanho e da qualidade dos grãos. O tratamento de sementes com fungicidas, realizado de forma criteriosa, é uma das alternativas para o manejo da

doença, que deve aliar, também, práticas culturais e, sempre que possível, resistência genética

Folhas manchadas

A mancha amarela não exige clima específico para seu desenvolvimento, mas a temperatura ideal para a doença situa-se entre 18ºC e 28ºC

condições ótimas para seu desenvolvimento quando a temperatura situa-se entre 18ºC e 28ºC e quando há período de molhamento superior a 30 horas.

FOrMas de disPersãO/inFecçãOAs sementes e os restos culturais são as

principais fontes de inóculo primário para a ocorrência da manha amarela. Os restos culturais permitem a sobrevivência do fungo de uma safra para outra na mesma área e, as sementes infectadas, são importantes na disseminação da doença a longas distâncias. Sob condições favoráveis e sem a utilização de fungicidas, conídios são produzidos na superfície das lesões, constituindo fonte de inóculo secundário. A disseminação a curtas distâncias é realizada por respingos de chuva, que transportam ascósporos e conídios de plantas atacadas para plantas sadias.

sintOMatOlOgiaOs sintomas da mancha amarela po-

dem surgir logo após a emergência do trigo, em torno de 25 e 30 dias após semeadura. Inicialmente, aparecem pequenas manchas cloróticas nas folhas que, com o passar do tempo, expandem-se formando lesões elíp-ticas, de coloração amarelada ou de aspecto bronzeado, que coalescem tornando-se de coloração marrom-clara a marrom-escura, tendo aproximadamente 12mm, circundadas por um halo amarelo. No centro destas lesões, sob condições de alta umidade, são formados

conidióforos do fungo, apresentando colora-ção marrom-escura. Em alguns genótipos, uma extensa clorose espalha-se por toda a folha, podendo coalescer e resultar na morte da folha.

danOsOs danos causados pela mancha amarela

estão associados, principalmente, à diminui-ção da área fotossinteticamente ativa, através de lesões que causam a morte dos tecidos e, consequentemente, menor produção de fotoassimilados, diminuindo o tamanho e a qualidade dos grãos. A magnitude dos danos no rendimento de grãos depende basicamente da severidade com que a doença ocorre, sendo influenciada pela suscetibilidade que cada cultivar apresenta e as condições ambientais sob as quais são cultivadas. Os danos no trigo devido à doença podem chegar a 50%, explicados em grande parte pela redução no tamanho e peso dos grãos. Estudos para avaliar o controle de manchas foliares com fungicidas verificaram rendimentos até 59% superiores aos da testemunha, quando a predominância foi de mancha amarela.

Apesar de a doença poder se manifestar desde o início do desenvolvimento das plantas, danos mais severos são observados a partir do estádio de elongamento. A planta torna-se mais vulnerável à infecção por patógenos a partir desse estágio, em função da maior trans-locação de nutrientes para o desenvolvimento da espiga e enchimento dos grãos. Em anos chuvosos, os danos podem ser mais severos, devido às condições serem propícias ao desen-volvimento do patógeno e também pela maior dificuldade de se realizar o controle químico com fungicidas, em função da dificuldade de entrada de máquinas na lavoura.

ManejOO manejo da doença deve ser realizado

utilizando-se todas as ferramentas disponíveis, conforme preconiza o conceito de manejo

33www.revistacultivar.com.br • Março 2012

Lesões de aspecto bronzeado ou coloração amarelada são características da doença

Folha de trigo afetada pelo ataque de D. tritici-repentis

Fotos Divulgação

34 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

integrado de doenças (MID). No caso da mancha amarela do trigo, os métodos mais eficazes de controle se baseiam, principalmen-te, em práticas culturais, resistência genética e controle químico.

Nos últimos anos, com a ampla utilização do plantio direto houve melhoria das condi-ções de sobrevivência de D. tritici-repentis no solo. Nesse sistema, devido à manutenção dos resíduos culturais sobre a superfície da terra, sua mineralização tornou-se lenta, o que propiciou a sobrevivência de patógenos por um período de tempo maior. Com o plantio direto, a rotação de culturas transformou-se em prática ainda mais importante do que já era quando, predominantemente, realizava-se o preparo convencional do solo, com o enterrio dos restos culturais. A rotação de culturas com espécies não hospedeiras por um, dois ou mais anos consecutivos permite a redução da população do patógeno no solo, sendo uma das principais práticas preventivas de manejo da mancha amarela do trigo.

O uso de sementes de boa qualidade fitossanitária é altamente recomendado para evitar a introdução na área de patógenos com capacidade de disseminação por sementes, como é o caso de D. tritici-repentis. Isso é

válido, principalmente, em áreas onde é realizada a rotação de culturas e o nível de contaminação do solo pelo patógeno é baixo. Aliado a isso, recomenda-se a realização do tratamento das sementes com fungicidas que apresentam comprovada eficácia contra D. tritici-repentis. Previamente ao tratamento, é importante realizar o levantamento dos patógenos que estão associados às sementes através de análise laboratorial. Isso auxilia na escolha do fungicida mais apropriado para cada situação.

O tratamento de sementes com fungicidas

objetiva, principalmente, proteger a plântula contra o ataque de patógenos que estão vincu-lados às sementes e também contra a infecção por aqueles que se encontram no solo. Entre-tanto, para que o tratamento de sementes seja eficaz, não basta apenas utilizar um produto com alta fungitoxicidade, mas também deve ser realizada uma boa aplicação. O grau de co-bertura da superfície das sementes e a homo-geneidade de distribuição da calda fungicida são parâmetros determinantes do sucesso ou fracasso do tratamento. Falhas na cobertura da superfície das sementes pelo produto oferecem oportunidades de desenvolvimento aos patógenos. Já a distribuição heterogênea do produto entre as sementes pode acarretar, além de baixa eficácia de controle, problemas com fitotoxicidade em plântulas oriundas de sementes que receberam doses excessivas de produto.

A oferta de cultivares de trigo com resis-tência completa à mancha amarela é limitada. Ainda assim, a utilização de cultivares com re-sistência moderada é uma medida de controle importante, desde que associada às demais práticas de manejo integrado. A necessidade de aplicações foliares de fungicidas para o controle da mancha amarela ocorre, princi-palmente, quando não realizadas as práticas culturais de controle e/ou são utilizadas culti-vares altamente suscetíveis à doença.

A associação de práticas culturais, carac-teristicamente de baixo custo, com o manejo químico, e a resistência genética quando pos-sível, podem resultar em um controle eficaz da mancha amarela. Como resultado, preserva-se o potencial produtivo das cultivares e, prin-cipalmente, a viabilidade e a lucratividade do cultivo do trigo, mesmo sob condições favoráveis ao ataque de doenças, como ocorre na região Sul do Brasil.

Balardin, Lenz, Simone e Tormen abordam as estratégias contra a mancha amarela em trigo

Ricardo Balardin,Simone Minuzzi eGiuvan Lenz,UFSMNédio Tormen,Instituto Phytus

CC

Fotos Divulgação

36 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

Coluna ANpII

alta tecnologia

Certa vez, conversando com um produtor de feijão, per-guntei a ele se utilizava

inoculante na cultura. Resposta: “Não, eu uso nitrogênio, pois faço cultivo de alta tecnologia”. Por que será que os inoculantes, como os demais produtos biológicos, são considerados produtos para baixa tecnologia ou até mesmo de baixa tecnologia?

Talvez por seu baixo preço de venda ou por erros de posicionamento dos

de vegetação e experimentos de campo em rede nacional. Os perfis bioquímicos e genéticos das bactérias são aferidos e descritos, garantindo cepas de elevada eficiência e pureza. Há todo um aparato científico dentro de cada pacote ou sachê de inoculante.

Após todos estes trabalhos prelimi-nares, o material é oferecido às indús-trias, que também contam com pessoal altamente capacitado em microbiologia industrial e com equipamentos sofistica-

Solon de AraujoConsultor da ANPII

do produto, sendo este, portanto, um insumo para agricultores de bom nível tecnológico.

Muitas vezes também há uma con-fusão sobre a produtividade, aliando-se o produto químico a produções elevadas, relegando-se o biológico a um segundo plano. Nada mais errado. Os inoculantes são insumos que propiciam elevadas pro-dutividades, conforme está provado por centenas de trabalhos de pesquisa e por milhões de hectares de soja cultivados

Equivocadamente identificados como insumos de segunda categoria, os inoculantes contam com elevado aparato tecnológico, que proporcionam

expressivos incrementos de produtividade

Os inoculantes são insumos que propiciam elevadas produtividades, conforme está provado por centenas de trabalhos de pesquisa

próprios fabricantes, consolidou-se este conceito de que produtos biológicos são para baixa tecnologia e os produ-tos químicos são os “modernos”, para agricultura avançada tecnologicamente. Entretanto, uma análise mais acurada sobre esta postura mostra o quanto esta percepção está errada.

Claro que nada contra os fertilizan-tes químicos, muito pelo contrário, pois se sabe perfeitamente que o agricultor ainda não dispõe de produtos biológicos para substituir o fósforo e o potássio de origem mineral. Mas quando se fala em nitrogênio, nas leguminosas já definido e nas gramíneas em parte, os produtos biológicos fornecem ferramentas ade-quadas para que se faça uma agricultura de alto padrão.

Desde sua produção até o uso no campo, os inoculantes apresentam uma elevada tecnologia. As bactérias são sele-cionadas pelas instituições de pesquisa, obedecendo a rígidos protocolos, pas-sando por testes em laboratórios, casas

dos, permitindo a obtenção de caldos de cultura puros e altamente concentrados. O desenvolvimento de substratos que permitam longa vida de prateleira para os produtos também é um capítulo que requer muitos estudos, testes e aferi-ções, para que se chegue a um produto adequado às necessidades do agricultor. Finalmente, o controle de qualidade é dos mais técnicos, pois se está contando microrganismos, com todo seu potencial de contaminantes que causam erros ou mesmo invalidam uma contagem. É muito mais complexo que se avaliar uma formulação de produtos químicos, onde pode haver um elevado grau de padronização.

Quanto ao uso, também o inocu-lante requer um agricultor com nível de atenção muito mais elevado, pois se deve sempre ter em conta que o inoculante é um produto vivo, necessitando de cuida-dos em seu transporte, armazenamento e uso. Somente quem tiver bem claro estas percepções poderá fazer bom uso

tendo o inoculante como sua principal, e muitas vezes única, fonte de nitrogênio. Até agora ainda não se chegou ao limite de produção de grãos de soja por hectare com o uso de inoculantes como fonte de nitrogênio (70, 80 sacas/ha são obtidas com o uso de inoculante).

É muito comum, também, falar dos produtos biológicos como “produtos alternativos”, dando uma clara cono-tação de insumos de segunda escolha. Entretanto, em especial no caso das le-guminosas, os inoculantes são a primeira opção, sendo o nitrogênio químico, este sim, a alternativa. No caso de algum erro no uso de inoculantes ou mesmo quando não é usado, aí se pode recor-rer ao N químico, mas, sem dúvida, o nitrogênio biológico é o produto eleito como primeira opção, como a opção de tecnologia mais avançada e de maior valor agregado para o agricultor. CC

Coluna Agronegócios

37www.revistacultivar.com.br • Março 2012

já somos mais de sete bilhões

E, em mais 40 anos, seremos mais de nove bilhões. As estimativas mais otimistas

tantes. Até 2050 não seremos apenas mais dois bilhões de habitantes. Espero que, antes desta data, seja quitada a dívida social com cerca de um bilhão de seres humanos em estado de insegurança alimentar, que varia desde a fome quase absoluta, com extremos de morte por inanição, até desbalanços nutricionais graves. De imediato, a conta sobe para três bilhões de estômagos adicionais. Há mais: a expectativa de vida cresce conti-nuamente, no mundo todo. Logo, mes-mo que a taxa de natalidade decresça, a população como um todo continuará a se incrementar, pelos óbitos em idade mais avançada. Esta população da quarta idade terá amealhado meios financeiros para sofisticar seu consumo, em especial proteínas animais, frutas e hortaliças.

pressionando por áreas marginais, com uso de irrigação (em um contexto em que a água será ainda mais escassa que a terra!), será difícil expandir além de 30% da área atual. A demanda energética dos próximos 40 anos crescerá ainda mais que a de alimentos, devendo quase dobrar o consumo atual. Ocorre que este cresci-mento não poderá depender das mesmas fontes fósseis, poluentes, que serviram à humanidade no último século. A busca por energia renovável, sustentável, não poderá prescindir de bioeletricidade e de biocombustíveis, tornando a equação agrícola ainda mais complexa.

Para solucionar o que, aparentemente, é uma inequação, será necessário lançar mão de dois quesitos fundamentais. O primeiro, que tarda a chegar, é o dueto

Décio Luiz GazzoniO autor é Engenheiro Agrônomo,

pesquisador da Embrapa Soja

A demanda energética dos próximos 40 anos crescerá aindamais que a de alimentos, devendo quase dobrar o consumo atual

países mais pobres – ou com grande desi-gualdade - justamente os que enfrentam as maiores dificuldades para prover condi-ções dignas de vida a seus cidadãos.

O desafio é: como conferir dignidade a uma população crescente? Como fornecer alimento, energia, saúde, educação, trans-porte e saneamento aos novos habitantes? Os países ricos sempre encontram fórmu-las para manter o problema equacionado, mesmo que à custa de deprimir as opor-tunidades de outros países. Trata-se de não mais que 10% da população, porém com consumo físico quase equivalente aos demais 90%. O que remete à questão central: qual a capacidade de suporte de seres humanos do planeta Terra? E se a desigualdade for sanada com nivelamento pelo consumo dos mais ricos? A resposta é complexa, mas, de forma estereotipa-da, depende da pressão exercida sobre os recursos naturais. O que se desdobra em duas vertentes: a exploração destes recursos e a reciclagem de recursos finitos, não renováveis.

aliMentOsAlgumas considerações são impor-

Para produzir um quilograma de carne bovina, gastam-se recursos equivalen-tes à produção de sete quilogramas de grãos.

Para alimentar mais três bilhões de pessoas, 43% acima da população atual, a FAO estima que será necessário expandir a produção em até 70%, em um cenário com dois reptos brutais: as áreas mais propícias à agricultura já foram ocupa-das, e as Mudanças Climáticas Globais se encarregarão de encolhê-las, nos pró-ximos anos, por alterações dos regimes pluviométricos e de temperatura. Assim, é lícito esperar que a área de produção de alimentos se expandirá não mais que 25% em relação ao atual, exigindo ganhos agregados de produtividade superiores a 40% para atender à demanda.

OutrOs PrOdutOsMas nem só de pão vive o homem!

Da agricultura do futuro espera-se, também, que produza energia, flores e plantas ornamentais, produtos florestais, essências e plantas medicinais, entre outras demandas. Logo, aquela conta anterior precisa ser revista. Mas, mesmo

reciclagem e redução do desperdício. Es-tima-se que quase um terço do alimento do mundo desaparece entre a lavoura e a mesa. Este desperdício precisará ser redu-zido a números civilizados, e a reciclagem deverá ser um marco da cultura do futuro, o mesmo valendo para ganhos ambiciosos em termos de eficiência energética.

O segundo aspecto, que fala direta-mente a nós que vivemos do agronegócio, é o incremento da produtividade agrícola e a melhoria dos índices zootécnicos, com lastro em tecnologias essencialmente sustentáveis. Não bastará, tão somente, produzir mais. Devemos fazê-lo com inovações que aliem os ganhos de produ-tividade com redução do uso de insumos, em especial agroquímicos, fertilizantes e água. Devido às enormes restrições topográficas, edáficas e climáticas em outros países, o Brasil terá a enorme res-ponsabilidade de ser um dos principais provedores de produtos da Terra. Esta é a missão que nos espera para os próximos 40 anos. CC

...indicam que, a partir de meados deste século, a população da espaçonave Terra se estabilizará e, após, entrará em leve e contínuo declínio, fruto da taxa de nata-lidade global que convergirá para valores inferiores ao necessário para reposição da população.

Entrementes, a população do plane-ta vai continuar crescendo no sudeste asiático, cuja locomotiva será a Índia, que deverá ser o país mais populoso do mundo na próxima década; e na África, onde ainda existem países como Malaui ou Niger, em que, em média, cada mulher tem seis filhos. Exceção feita à América Latina, a população mundial crescerá nos

Coluna Mercado Agrícola

inverno rigoroso no hemisfério norte favorecerá agronegócio brasileiro em 2012

TRIGO - O mercado do trigo brasileiro traz projeções de que a safra deste ano ficará muito abaixo do que foi colhido no ano passado. Sem interesse em plantar, produtores de estados como o Paraná têm migrado para a cultura do milho. Desta forma, tudo aponta para uma produção restrita. Some-se a isso o mercado internacional mais forte, que pode trazer boas cotações (que permaneceram entre R$ 370,00 e R$ 420,00 por tonelada nestes últimos meses).

ALGODÃO - Os produtores plantaram a safra e já têm mais de 60% do que pretendem colher negociados. Agora olham para o mercado como um ano de crescimento em tecnologia e produtividade, além de manter alta qualidade, para atender às necessidades internacionais. O mês de fevereiro navegou próximo de um dólar por libra, bem abaixo do que esperam os produtores do Mato Grosso e da Bahia.

EUA - A safra nova vem com crescimento forte no plantio do milho e queda nos demais grãos. Tudo indica que haverá redução da área da soja em favor do cereal, porque a demanda mundial de milho está em crescimento e desta forma os americanos (que já exportaram mais de 60 milhões de toneladas anuais e neste último ano ficaram ao redor das 40 milhões de toneladas), agora podem

MilhOColheita chegando e mercado calmoOs produtores estão colhendo a primeira

safra do milho no Sul do país. De março em diante começa a colheita no Sudeste, o que tende a deixar o mercado calmo, dando aos compradores argumentos para pressionar os indicativos para baixo, mesmo porque houve grandes perdas na safra do Sul do país, com prejuízo que supera a marca dos quatro milhões de toneladas. Os indicativos tendem a seguir a linha dos valores que liquidam na exportação (que em fevereiro estavam girando ao redor dos R$ 28,00, patamar que os compradores indicavam para as posições CIF indústria, com queda nos indicativos para as posições FOB). Mesmo com a pequena queda prevista, o grão seguirá com boas cotações neste ano. Os produtores, agora, estão mais interessa-dos em plantar a safrinha, que comandará o mercado no restante de 2012. Se houver clima favorável irá limitar a alta e se ocorrer algum problema, antecipará a alta.

sOjaSeca derrubando safra no Sul e poucos negóciosO mercado da soja, em fevereiro,

esteve atrelado à entrega dos contratos programados de vendas via insumos e fixações antes do plantio. Desta forma, pouco produto foi ofertado no mercado livre. Com as perdas no Paraná, nem este estado, que normalmente tem soja para negociar na colheita, mostrava ofertas. Em março a colheita tende a andar forte em todos os estados e dessa forma pode haver algumas ofertas de soja livre, principalmente por parte de produtores que buscam fazer posições de insumos, já neste mês. Principalmente no que se refere a fertilizantes, que têm motivado boas alternativas de trocas e geram ex-pectativa de avanço no mês de março. Há perdas na safra do Sul, devido à seca, situação que pode continuar em março. O mercado externo tem se mantido com boas cotações, acima dos 12 dólares e com potencial para chegar aos 13 dólares em Chicago.

FeijãOProdutores ganhando e plantando novamenteO mercado do feijão teve um fevereiro de

calmaria. Mesmo assim, as cotações foram favoráveis e tudo indica que seguirá dando

boas posições aos produtores em março, quando se espera por avanço na demanda e mais pressão de alta chegando. A tendência é que ocorram os melhores momentos do ano no mês de março.

arrOzSafra chega forte e mercado estávelO mercado do arroz está em fase de

colheita da safra no Sul do país. Mesmo em queda frente ao ano passado, a região aponta grandes volumes do cereal che-gando aos armazéns. Com esse cenário será necessário usar muitos silos, bolsas para atender às necessidades de armaze-nagem, porque ainda há muito arroz da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) nos armazéns gaúchos e prin-cipalmente nas regiões que vão colher os maiores volumes, como a Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Os produtores esperam que neste mês o governo traga apoio para dar liquidez aos negócios. E cotações que fiquem entre R$ 27,00 e R$ 28,00 e, a partir da metade do ano, alcancem mais de R$ 30,00. Será um ano muito melhor do que foi 2011 para os produtores de arroz.

CURTAS E BOASrecuperar parte do que perderam, porque há prejuízos grandes na Argentina e no Brasil e estes dois países devem ter menor partici-pação no mercado internacional em 2012.

chInA - As importações devem continuar crescentes, porque além do avanço forte do consumo de ração que o país vinha apresentando em função do crescimento econômico, agora a China passou por um inverno rigoroso, com temperaturas muito baixas, nevascas, in-dicativos de que há perdas na safra de trigo e aumento no consumo de alimentos, junto com crescimento no consumo de ração devido ao frio. Com indicativos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) apontando que os chineses irão importar 4,5 milhões de toneladas de milho e que a soja tende a superar as indicações de 56,5 milhões de toneladas importadas.

ARGEnTInA - O clima, que passou janeiro castigando as plantações com seca, trouxe chuvas pontuais em fevereiro e leve melhoria no quadro da soja e do milho. O cenário volta a indicar um quadro irregular em março e desta forma mais pressão de perdas sobre as lavouras, o que abre espaço para nova alta no mercado internacional, porque haverá menos grãos para exportar em 2012. Bom para os produtores do Brasil.

38 Março 2012 • www.revistacultivar.com.br

Vlamir [email protected]

O mercado de grãos começou o ano com o pé no acelerador. E em fevereiro teve novo apoio fundamental, com o inverno se alongando, com temperaturas muito baixas no Hemisfério Norte. Houve nevascas e temperaturas que chegavam a superar os 40 graus negativos, o que trouxe indicativos de que houve comprometimento da safra regional do trigo, o que irá refletir em menor volume de produto em oferta, tanto para o consumo humano como para ração. Esse fator trouxe apelo importante para milho e soja, que se refletiu em ganhos ou recuperação dos níveis no mercado internacional em fevereiro. Tudo isso aliado à quebra da safra da América do Sul, devido ao clima seco, que trouxe projeção de um quadro ajustado entre oferta e demanda neste ano, que ainda está começando. O clima frio no Norte favorece a demanda, porque aumenta o consumo de ração. Os animais, que estariam consumindo pastagens em fevereiro, permaneceram em estábulos, alimentados com ração. Junto a isso, o inverno forte aumentou o consumo de ração por parte de frangos e suínos, por conta das temperaturas baixas. Tudo, portanto, aponta para um quadro de maior consumo e menor oferta de alimentos. Fato que motivou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) a anunciar em fevereiro que espera crescimento nas cotações de alimentos, sinalizando que novamente haverá bom ano para os produtores brasileiros, que poderão investir em melhores tecnologias, buscando avançar em produtividade e qualidade dos grãos produzidos, com aumento de ganhos. O Brasil caminha para um ótimo 2012 no setor do agronegócio.