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Abril de 2011

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Disseminação veloz....................26O crescimento da presença de nematoides em áreas de cultivo comercial, como a soja,e o que fazer para enfrentar o problema

Destaques

Índice

Diretas 04

Lagria villosa em feijão 09

Uso de fungicidas em arroz 10

Algodão colorido 12

Aplicação com jato dirigido em algodão 14

Empresas - FMC 17

Corda-de-viola em milho 18

Inseticidas na dessecação 22

Empresas - Pioneer 25

Nematoides em soja 26

Adubação em café 30

Plantas daninhas na entressafra do trigo 32

Empresas - Bayer 34

Coluna ANPII 36

Coluna Agronegócios 37

Mercado Agrícola 38

Inseticidas na dessecação?...................22Saiba as vantagens e em que situações o emprego de inseticidas na dessecação é im-portante para o combate de pragas, antes do estabelecimento de milho, soja e algodão

Expediente

Cultivar Grandes Culturas • Ano XIII • Nº 143 • Abril 2011 • ISSN - 1516-358X

Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.

Por falta de espaço não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: [email protected]

Grupo Cultivar de Publicações Ltda.CNPJ : 02783227/0001-86Insc. Est. 093/0309480Rua Sete de Setembro, 160, sala 702Pelotas – RS • 96015-300

DiretorNewton Peter

[email protected]

Assinatura anual (11 edições*): R$ 157,90(*10 edições mensais + 1 edição conjunta em Dez/Jan)

Números atrasados: R$ 17,00Assinatura Internacional:US$ 130,00Euros 110,00

Nossos Telefones: (53)

Nossas capas

Fungicidas no arroz....................10Confira o papel da aplicação de fungicidas no controle de doenças como a brusone,a mancha parda e a cárie no arroz

Aplicação no alvo.......................14A importância do jato dirigido na luta contra plantas daninhas que afetam o algodoeiro

Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

• Geral3028.2000• Assinaturas:3028.2070• Redação:3028.2060

• Comercial:3028.20653028.20663028.2067

Charles Echer

REDAÇÃO• Editor

Gilvan Dutra Quevedo• Redação

Carolina S. SilveiraJuliana Leitzke

• Design Gráfico e DiagramaçãoCristiano Ceia

• RevisãoAline Partzsch de Almeida

MARKETING E PUBLICIDADE• Coordenação

Charles Ricardo Echer• Vendas

Pedro Batistin

Sedeli FeijóJosé Luis Alves

CIRCULAÇÃO• Coordenação

Simone Lopes• Assistente

Ariane Baquini• Assinaturas

Luciane MendesNatália Rodrigues

• ExpediçãoEdson Krause

GRÁFICAKunde Indústrias Gráficas Ltda.

DMLab

Diretas

04 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

Eduardo Gobbo (centro)

Soja e milhoBruno Welter, Desenvolvimento de Mercado da Bayer CropScience, apre-sentou durante a Expodireto 2011 destaques da empresa para as principais culturas, como soja e milho. Entre os produtos, a Bayer enfocou o herbicida Soberan para o milho, o fungicida Sphere Max para soja e o CropStar Mul-ticulturas. “Trata-se de um inseticida com ampla ação, inclusive no controle de nematoides, além de proporcionar maior enraizamento, vigor diferenciado e efeito antiestresse”, destacou Welter.

PalestrasO pesquisador Daniel Cassetari, fitopatologista da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), palestrou no estande da Bayer CropScience durante a Expodireto 2011. Abordou o controle de pragas iniciais na soja, com enfoque no combate a nematóides, e a importância do tratamento de sementes para evitar nematoides ou reduzir os danos nas lavouras.

EquipeA equipe da Bayer CropScience atendeu aos visitantes da Expodireto em estande voltado para a disseminação de informações sobre as culturas locais. Milho e soja, principais cultivos da região, mereceram destaque especial. Além de apresentar as soluções disponíveis no portfólio da empresa, o evento serviu também para levar conheci-mento técnico aos produtores.

HerbicidasPaulo Luna, gerente de Marketing de Her-bicidas da Milenia, apresentou novidades da empresa durante a Expodireto 2011. Um dos destaques foi o Vezir, produto já utilizado em soja convencional e em fase de registro para o controle de daninhas resistentes ao glifo-sato em variedades transgênicas. A empresa lançou também o Poquer, para combate de folhas estreitas em diversas culturas. Com a chegada do milho RR, esse herbicida ganha importância por ajudar a controlar o milho tiguera que nasce em meio à soja RR.

AtendimentoHeleno Facchin, represen-tante técnico de Vendas Sênior da Milenia, parti-cipou da Expodireto 2011. No estande da empresa, atendeu aos visitantes e es-clareceu dúvidas a respeito das tecnologias oferecidas para culturas como soja, milho e trigo.

FungicidasAdriano Roland, gerente de Marketing de Fungicidas Brasil, da Milenia, foi o respon-sável por apresentar os destaques da empresa nesse segmento. Com foco em trigo e soja, a empresa mostrou o programa Manejo Total que preconiza a rotação de princípios ativos para minimizar o surgimento de resistência. Em trigo, o carro-chefe foi o fungicida Gua-po, com forte ação no combate a manchas foliares. Em soja, destacam-se os kits Azimut e Protech, para controle da ferrugem, o Ben-dazol, contra doenças de final de ciclo, além do kit de identificação da ferrugem asiática, capaz de detectar a presença da doença mesmo sem sintomas aparentes.

Presença Mooli Freiman, diretor global de Planejamento Estratégico da Milenia, e Luiz José Fraga Moreira Traldi, diretor de Planejamento Estratégico Brasil, participaram da Ex-podireto 2011. Durante o evento a empresa apresentou novidades em herbicidas, fungicidas e inseticidas, com enfoque principalmente nas culturas de soja e trigo.

DupontO fungicida Aproach Prima, recomendado para a soja e com registro estendido para culturas como cana, arroz, trigo, café e milho, foi um dos destaques da Dupont na Expodireto. O inseticida Premio também foi enfocado. Altair Fernando Bizzi, coordenador de Marketing e Mercado da Dupont, afirma que o produto mudou o conceito de controle de lagartas nas lavouras de culturas como soja, milho e algodão.

Paulo Luna

Bruno Welter

Adriano Roland

Mooli Freiman e Luiz José Fraga M. Traldi

Heleno Facchin

05www.revistacultivar.com.br • Abril 2011

CheminovaA equipe da Cheminova apresentou na Expodireto o fungicida Battler AZ (estrobilurina + triazol + benzimidazol) com foco na cultura da soja. Em trigo a empresa destacou o inseticida Picus, para tratamento de sementes contra pragas iniciais, juntamente com o fungicida Vincit. Ambos os produtos integram o programa Mais Semente Trigo, da empresa.

MonsantoJúlio Negreli, gerente de Estratégia da Monsanto, destacou na Expodi-reto o sistema Roundup Ready Plus. Baseado em um tripé que contempla proteção química, biotecnologia e manejo, o sistema apresenta ferra-mentas para o controle de plantas daninhas resistentes, além de auxiliar na prevenção de resistência de novas espécies. “Fazemos isso com o objeti-vo de proteger o Roundup Ready, uma tecnologia que não é só nossa, mas do produtor também.”

AgroesteGilmar Vivian, supervisor de Vendas da Agroeste, destacou na Expodireto os híbridos de milho comer-cializados pela empresa, tanto convencionais como os que contam com as tecnologias YieldGard/YieldGard VT PRO.

AgroceresVinícius Faião, gerente regional de Vendas da Agroceres para o Rio Grande do Sul, destacou o milho YeldGard VT PRO. A tecnologia possui duas proteínas de Bt (Ba-cillus thuringiensis) com modos de ação efetivos, o que garante controle das principais pragas da cultura (lagarta-do-cartucho, lagarta-da-espiga e a broca-do-colmo), além de prevenir problemas com resistência. Permite, ainda, a redução do refúgio de 10% para 5% da área plantada com milho convencional.

DekalbFábio Roberto, gerente de Vendas da Dekalb, falou sobre o híbrido de milho DKB 250, precoce, com alto teto pro-dutivo e amplitude, com janela longa de plantio (mais de 30 dias). O material é indicado para a Região Sul do Brasil e deve estar disponível a partir da próxima safra. Na Expodireto o foco principal da empresa foi o híbrido DKB 240, com tecnologia YieldGard VT PRO.

Rali CerradoA Basf, em parceria com a equipe de Ceagro, realizou o rali da soja. O percurso iniciou na cidade de Canarana (MT), passou por Goiatuba (GO), Balsas (MA) e encerrou na cidade de Porto Nacional (TO). Os quatro estados escolhidos para esta edição do rali se destacam por produzir, juntos, aproximadamente dez milhões de hectares de soja.

Opera UltraDurante a Expodireto, a Basf fez o pré-lança-mento do fungicida Opera Ultra, destinado ao manejo de doenças das culturas de soja e trigo, sendo também uma nova opção para o manejo das doenças de algodão, amendoim e feijão. Esta nova versão tem maior veloci-dade de ação, sem diferenciação na dose e na aplicação, além da recomendação contra a giberela no trigo. Clairton Lima Silva, gerente de Vendas da Basf Unidade Sul, esclarece que o produto será integrado ao Sistema AgCelence Soja Produtividade Top.

Novo diretorO engenheiro químico Francisco Luiz Fienga assumiu em 2011 uma nova função na Basf. Iniciou sua carreira na empresa em 1989, como engenheiro de qualidade. Em 1996 coordenou a Basf Plásticos, gerenciando as áreas de marketing e vendas para a América do Sul. Fienga assume, agora, o desafio de tornar a empresa ainda mais próxima dos produtores rurais, aumentando a rapidez e a eficácia do atendimento mais individu-alizado no campo. Passa a responder pela diretoria de Vendas Cereais para o Brasil.

MarketingAndreas Schultz, que ocupava a função de gerente de Marketing nas culturas do arroz e trigo, em 2011, passou a exercer a gerência de Marketing cultivos da Basf. Na Expodireto, Schultz e a equipe Basf destacaram o Sistema AgCelence Soja Produtividade TOP. De acordo com estudos realizados no campo, o novo sistema pode aumentar em até 5% a produtividade. Algo em torno de três sacas por hectare.

Fábio Roberto

Clairton L. Silva

Andreas Schultz

Francisco Luiz Fienga

Júlio Negreli

Gilmar Vivian

Vinícius Faião

06 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

Eduardo Gobbo (centro)

PotencialFabian Gil, presidente da Dow AgroSciences Brasil, Welles Pasco-al, diretor de Vendas, José Eitaro Mendes, gerente de Vendas e consultor de Franquias, e Afonso de Matos, gerente regional de Agroquímicos da companhia, visitaram a Expodireto. “A presença neste evento reitera a importância estratégica do Brasil devido ao seu grande potencial agrícola. Nossa companhia possui muita tecnologia voltada ao milho. Ainda teremos muitas novidades para introduzir neste segmento”, promete Gil.

ExpansãoRolando Alegria, diretor de Sementes, Biotecnologias e Óleos Saudáveis, das marcas Dow AgroSciences e Agromen Tecnologia do Brasil, antecipou du-rante a Expodireto que a empresa fará pesados investimentos no país. Infor-mou que a companhia quer ampliar sua fatia no mercado de sementes de milho para os próximos anos.

SoluçõesA equipe da Dow AgroSciences apresentou sua linha de produtos para soja e milho durante a Expodireto. O objetivo da empresa foi apresentar ao produtor rural ferramentas que o ajudem a tornar seu negócio viável do ponto de vista técnico, econômico e operacional.

TecnologiasA Bunge Fertilizantes participou da Expodireto com ênfase em novas tecnologias de produção e cultivo, produtos diferenciados e agricul-tura de precisão. Em fertilizantes a empresa mostrou produtos para as culturas do arroz, milho, soja, feijão, pastagem e fruticultura, além de palestras sobre fertilidade do solo e agricultura de precisão.

Novos rumosA Agromen Tecnologia reestrutura sua equipe. Com ampla ex-periência no mercado, Diogenes Panchoni assumiu o cargo de Especialista em Marketing e Ricardo Paganeli passou a responder pelo Desenvolvimento de Mercado. Gerson Wilges é o novo res-ponsável pela gerência de Franquias da Agromen Tecnologia, no Rio Grande do Sul.

EquipeA Agromen apresentou aos agricultores híbridos de milho conven-cionais e com a tecnologia Herculex I, indicados para a região Sul. Os destaques foram os produtos que possuem proteção contra a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), principal praga foliar do milho, e contra a broca-da-cana (Diatraea saccharalis).

Pesquisa e desenvolvimento“A Syngenta investe continuamente em pesquisa e desenvolvimento”, observou Milto Facco, Desenvolvimento Técnico de Mercado, durante a Expodireto 2011. “Nosso objetivo é contribuir de forma direta para que os produtores obtenham maior qualidade e produti-vidade em suas lavouras.”

AtendimentoDurante a Expodireto 2011, em Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul, a Syngenta contou com equipe de profissionais especializados no atendimento aos visitantes.

Rolando Alegria

Diogenes Panchoni, Ricardo Paganeli e Gerson Wilges

Milto Facco

ParticipaçãoDurante a Expodireto a Syngenta apresen-tou estande diferenciado. O coordenador de Marketing para a Região Sul, Celso Ba-tistella, destacou apresentação de filmes em 4D e módulos túnel do tempo, para mostrar os dez anos da empresa no Brasil, contados de forma dinâmica e interativa, além da área de sustentabilidade. “É um evento de grande representatividade na região Sul, e a nossa participação é importante porque fortalece o relacionamento com os clientes, parceiros e produtores”, frisou Hugo Alovisi Neto, gerente regional de Vendas.

PrêmioA Syngenta recebeu o "Destaque Empresarial Internacional" durante o Troféu Brasil Expodireto 2011. O diretor comercial da empresa, João Paulo Zampieri, representou a Syngenta. Durante a homena-gem, uma apresentação mostrou a trajetória da empresa no Brasil.

LinhaNa Expodireto a Rigrantec apresentou sua tradicional linha de produtos para tecnologia de aplicação, fertilizantes organo-minerais, corantes e polímeros para tratamento de sementes, peletização e incrustação.

GrupoA Plantécnica, localizada em Pelotas, no Rio Grande do Sul, distri-buidor dos produtos Syngenta, levou um grupo de 45 produtores das cidades de Jaguarão, Arroio Grande, Pedro Osório, Cerrito, Pelotas e Capão do Leão para visitar a Expodireto.

Celso Batistella e Hugo Alovisi

08 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

FMCA FMC foi uma das empresas patrocinadoras da 21ª Abertura da Colheita do Arroz. O evento ocorreu em fevereiro, no município de Camaquã, no Rio Grande do Sul.

AfubraNa Expoagro Afubra a equipe da FMC, juntamente com a revenda Poliagro, apresentou com destaque três produtos. O inseticida Talstar 100 EC e os herbicidas Boral 500 SC e Gamit 360 CS. Os visitantes eram orientados a observar as lavouras para aplicar no momento certo, e nas doses recomendadas. As parcelas de fumo, milho e soja com testemunha, auxiliaram a compreensão dos agricultores.

Laboratório Em um laboratório montado em parceria com a Universidade de Passo Fundo (UPF), a Syngenta mostrou as principais pragas e doenças que atacam as lavouras e as soluções que a empresa oferece para esses problemas.

Clientes e parceirosA Produquímica recebeu em seu estande clientes e parceiros durante a Expodireto. A equipe técnica destacou o Triunfo 515, indicado para soja, milho, sorgo, trigo, algodão, feijão, arroz e café. Outro destaque foi o Sulfurgran 90, que pode ser usado em diversas culturas.

NitrogênioDurante a Expodireto o destaque da Fertilizantes Piratini foi o Super N, Tecnologia Agrotain desenvolvida para melhorar a disponibilidade do N e mantê-lo por mais tempo no solo. “O produtor pode maximizar o seu investimento, tempo e trabalho, gerando mais produtividade e lucro”, afirmou Douglas Zonta, gerente de Marketing Agrotain.

Batida de panoUma das atividades durante os circuitos do Giro FMC, realizado em fevereiro, no Rio Grande do Sul, foi a “batida de pano”. Com este procedimento os produtores puderam acompanhar o desempenho do inseticida Talstar no controle da lagarta da soja.

GerenteMárcia Terzian, gerente de Marketing de Soja da FMC, acompanhou todas as etapas do rali Giro FMC, realizados em oito estados brasileiros. Segundo Márcia, a proposta foi agregar entretenimento ao dia de campo tradicional, permeado por uma experiência inusitada ao longo do dia dedicado à discussão das melhores práticas para manejo de pragas na lavoura de soja, ressaltando produtos consagrados no mer-cado como o inseticida Talstar.

ManualA FMC lançou durante a 21ª Abertura da Colheita do Arroz, o Manual de Identificação de Plantas Infestantes – Arroz. O livro de autoria dos consultores Henrique José da Costa Moreira e Hor-landezam Bellires Nippes Bragança, é fruto de 18 meses de trabalho. O manual traz fotos e descrição que ajudam a iden-tificar as plantas invasoras. A empresa distribuiu mil exemplares ao público.

Márcia Terzian

Douglas Zonta (esq.)

Feijão

Lagria villosa (Fabricius 1783), popularmente conhecido como “idiamin”, é um coleóptero de

origem africana, inicialmente classificado na família Lagriidae e após revisão comentada por Vanin & Ide (2002) e Bouchard et al (2005), os membros da família Lagriidae foram incluídos na família Tenebrionidae. Foi registrada a sua primeira ocorrência no estado do Espírito Santo em 1976, sendo a primeira constatação nas Américas (Pacheco et al, 1976).

O nome vulgar da praga “idiamin” foi su-gestivamente inspirado no ditador ugandense Idi Amin Dada, líder político da etnia Kakwa, cuja ditadura foi caracterizada por genocídios, e devido às suas excentricidades, estava em evi-dência no período em que o inseto surgiu no Brasil. Este inseto, de acordo com a região de ocorrência, pode ser vulgarmente conhecido como capixabinha, cantaria, piapa, pimenta, potó grande, potó pimenta e vaquinha (Liz et al, 2009).

São insetos de cor metálica-bronzeada e muitas vezes com pelos, holometábolos, depositando ovos esbranquiçados sobre a terra ou em restos vegetais secos. Dos ovos eclodem larvas também esbranquiçadas durante os primeiros dias, quando então escurecem. As larvas são elateriformes, com cabeça desenvolvida e com três pares de per-

nas, de cor marrom-escura, com pelos de cor acobreada. Os adultos são reconhecidos por ter o corpo alongado, com 10mm a 15mm de comprimento, fórmula tarsal 5-5-4, e pelo formato alongado do segmento apical da antena (Borror e DeLong, 1969).

O inseto “idiamin” é tido por vários auto-res como de hábito detritívoro, alimentando-se de detritos presentes no solo (Araújo et al, 2005). No entanto, nos últimos anos vem assumindo posição controversa quanto à sua função ecológica nos agroecossistemas, sendo relatados casos de ocorrência como praga potencial em cultivos de cafeeiro, soja, abaca-xizeiro, aceroleira, hortaliças, como alface, to-mateiro, morangueiro e em batata (Azeredo et al, 2004; Spilman, 1978 e Buzzi, 2002). Link et al (1981), relatam a ocorrência do inseto na soja, causando destruição de vagens. Existem ainda relatos de ataques de suas larvas em sementes de soja em fase de germinação, no entanto, devido às características morfológicas do inseto serem semelhantes às das larvas de Astylus variegatus, pode estar ocorrendo algu-ma confusão, na sua identificação. Liz et al (2009) relatam a ocorrência do “idiamin” em lavouras de morangueiro, assumindo status de praga de grande importância econômica.

Em São Mateus, Espírito Santo, 39° 43’ 17’’ O e 18° 43’ 59’’ S, no ano de 2010, foram

constatados ataques do inseto em lavouras de feijoeiro, causando perdas expressivas de área foliar e consequente produtividade. Tem sido observado maior ataque da praga nos períodos mais secos e quentes do ano.

Por ser considerado um inseto cosmopo-lita e onívoro, porém de importância secun-dária e em alguns casos até benéfico, deve-se considerar a possibilidade deste inseto assumir importância em várias culturas como praga, tanto pela mudança de seu hábito alimentar como comportamental.

“Ditador”de perdas“Ditador”de perdas

Marcio Paulo Czepak,Edilson Romais Schmildt ePablo Souto Oliveira,Univ. Federal do Espírito Santo

Praga foi detectada em lavourasde feijão no Espírito Santo

CC

Identificado em 2010 em lavouras de feijoeiro no Espírito Santo, Lagria villosa cresce em importância como praga no Brasil. Inseto também é conhecido como “Idiamin”, nome inspirado no ex-líder político da etnia Kakwa cuja ditadura caracterizou-se por genocídios e outras atrocidades cometidas em Uganda

Identificado em 2010 em lavouras de feijoeiro no Espírito Santo, Lagria villosa cresce em importância como praga no Brasil. Inseto também é conhecido como “Idiamin”, nome inspirado no ex-líder político da etnia Kakwa cuja ditadura caracterizou-se por genocídios e outras atrocidades cometidas em Uganda

09www.revistacultivar.com.br • Abril 2011

Fotos Marcio Czepack

O potencial produtivo da cultura do arroz irrigado nas últimas safras está diretamente relacionado às práticas culturais

adotadas pelos produtores. Destaca-se a aplicação de fungicidas, responsável pelo aumento da produtividade e da qualidade

dos grãos. Ao adotar essa ferramenta, além de escolher corretamente o produto o orizicultor precisa estar atento ao

método e à tecnologia empregados, para garantir uniformidade e distribuição do defensivo na superfície alvo

Arroz

10 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

Relação proporcional

O arroz é um dos principais alimen-tos consumidos no mundo e, em termos de balanceamento nutri-

cional, um dos mais completos. No Brasil, a cultura tem grande importância econômica, sendo que na safra 2009/2010 foi cultivada uma área de 2.764,8 mil hectares, com pro-dução de 11.660,9 mil toneladas. O estado do Rio Grande do Sul é o maior produtor, com uma área de 1.079,6 mil hectares, correspon-dendo a 39% do total, e produtividade média em torno de 7.000 mil kg/ha.

Mesmo diante desta produtividade, exis-tem atualmente na lavoura arrozeira fatores

que dificultam o aumento da produção total e também na qualidade dos grãos produzidos. Entre estes aspectos, destacam-se as doenças, principalmente as causadas por fungos. Na presente safra, problemas maiores têm sido verificados com a brusone (Magnaporthe grisea), que atacou seriamente lavouras em todas as regiões produtoras, porém com maior intensidade naqueles locais onde são utilizadas cultivares com baixa resistência à doença. Outro problema que ganha cada vez mais destaque é a mancha parda ou mancha marrom, causada pelo fungo Bipolaris oryzae, considerada a segunda doença em importância

na cultura do arroz irrigado, atrás apenas da brusone.

O potencial produtivo da cultura do arroz irrigado está diretamente relacionado com as práticas culturais adotadas pelo produtor rural. Uma destas ferramentas, a aplicação de fungicidas, tem sido largamente empregada nas últimas safras no estado do Rio Grande do Sul, colaborando com os substantivos aumentos, tanto em produtividade quanto em qualidade de grãos, que tem se verificado desde então.

Este aumento das áreas com aplicação de fungicidas, desde a safra 2002/03 (Gráfico abaixo), ocorreu, em parte, pelo surgimento de epidemias da cárie-do-grão (Tilletia bar-clayana), que atacou com altas severidades até a safra 2005/06, fazendo com que a grande maioria dos produtores realizasse, ao menos, uma aplicação de fungicida.

Na safra 2001/02, o estado do Rio Grande do Sul possuía uma área plantada de arroz em torno de 985 mil hectares, com produti-vidade média de 5.548kg/ha. Nesta safra, a aplicação de fungicidas atingiu uma área de aproximadamente 50 mil hectares, pois as aplicações somente eram realizadas em áreas com histórico de doenças, principalmente brusone. A partir de 2003, iniciou-se um pe-ríodo de crescimento dos níveis de incidência e severidade da cárie-do-grão. As epidemias de cárie apresentaram um incremento ano a ano, tendo sua expressão máxima nas safras 2005/06, com várias cultivares sendo atacadas, principalmente a Irga 422CL, em todas as regiões produtoras, com perdas que chegaram a 60% em algumas áreas.

Relação entre a produtividade, área plantada e área tratada com fungicidas no Estado do Rio Grande do Sul - 1999/2008

11www.revistacultivar.com.br • Abril 2011

Fotos Ivan Dressler da Costa

Nas safras seguintes, muito embora a área semeada tenha se mantido próxima a um milhão de hectares, com o advento das epidemias de cárie, houve aumento contínuo nas aplicações de fungicidas, atingindo, na safra 2009/10, uma área de aproximadamente 750 mil hectares.

Embora estas epidemias de cárie tenham decrescido em severidade, estando atualmente restritas a apenas algumas regiões nas safras recentes, a utilização de aplicações de fungici-das nas lavouras tem se mantido nos mesmos níveis, em função do aumento da qualidade de grãos obtida, e também pela manutenção da sanidade das plantas até o final do ciclo da cultura.

Aplicações aéreas, para o controle de doenças como a brusone ou a mancha parda, têm sido realizadas através de diferentes equi-pamentos, como bicos hidráulicos (cônicos e de impacto) e também por atomizadores rota-tivos. Estes equipamentos apresentam eficácia de controle de doenças muito semelhantes, desde que a aplicação seja realizada dentro dos padrões recomendados pela pesquisa. Um diferencial entre os diversos equipamentos é a possibilidade de aumento do rendimento operacional, com uso de menores taxas de aplicação para atomizadores rotativos, que ficam entre 10 e 25L/ha, enquanto para bicos hidráulicos se situam na faixa de 30 a 40L/ha.

Nos últimos anos, muitos produtos foram desenvolvidos pela indústria agroquímica, para controle de doenças na cultura, porém poucas

mudanças ocorreram na maneira como esses produtos têm sido aplicados, pois a eficiência do tratamento não depende somente da quan-tidade de produto ativo depositado na planta, mas também da uniformidade e distribuição deste produto na superfície alvo.

A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com o apoio do Grupo de Estudos em Tecnologia de Aeroaplicação (Geta), do Centro Brasileiro de Bioaeronaáutica (CBB) e de empresas de agroquímicos, como a Basf e a Bayer CropScience, tem realizado diversos estudos, com relação à efetividade do uso de diferentes tecnologias para aplicação aérea de fungicidas com o objetivo de controlar doen-ças, com atenção a aspectos como formação de gotas e penetração de gotas no dossel de plantas de arroz irrigado. Os resultados obtidos indicam a eficiência do uso destas tecnologias, que oferecem uma ferramenta técnica para os produtores de arroz.

A tecnologia de aplicação se torna eficiente quando permite que a gota gerada por diferen-tes equipamentos de aplicação seja levada até o alvo biológico, em qualquer local em que se encontre. Para a aproximação desta eficiência, se torna necessária a utilização dos equipa-mentos certos e da aplicação nas melhores condições possíveis.

A brusone é a principal doença enfrentadapelos orizicultores em áreas irrigadas

A mancha parda ou mancha marrom é considerada a segunda em importância na cultura

Maiquel Pizzuti Pes,Bruno Giacomini Sari,Joelton Rodrigues eIvan Francisco D. da Costa,Univ. Federal de Santa Maria

A severidade de epidemias de cárie tem diminuído nas últimas safras

Algodão

12 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

Charles Echer

A Embrapa Algodão é consciente que para consolidar a produção de algodão colorido dentro de

um sistema de cultivo orgânico, de ma-neira rentável e sustentável, é necessária a adoção de sistemas estáveis. Os ecologistas afirmam que sistemas naturais estáveis são tipicamente diversos, constituídos de diferentes tipos de plantas, artrópodos, animais, pássaros e microrganismos. Em sistemas estáveis, raramente ocorre cres-cimento populacional de pragas, porque os seus inimigos naturais mantêm as suas populações em níveis de equilíbrio. Os sistemas de cultivo em faixas ou em consórcio, ou de policultura, aumentam a biodiversidade do agroecossistema,

tornando o ecossistema mais estável e re-duzindo o problema de pragas. De acordo com o pesquisador da Embrapa Algodão, Francisco de Sousa Ramalho, evidências experimentais mostram que nesses siste-mas de cultivos existe menor número de pragas que nos de monocultivo. Algumas das razões para que isto ocorra são: (1) no sistema diversificado, permanece um maior número de inimigos naturais, devido à presença contínua de fonte de alimento (presa, hospedeiro, néctar, pólen etc) e um habitat favorável e (2) os insetos-praga que se alimentam de uma única espécie de planta têm menor disponibilidade de alimento em um sistema diversificado de cultivo do que em um sistema de

monocultivo, afetando negativamente a sua reprodução. O sistema de policultura interfere diretamente no comportamento dos insetos-praga, reduzindo a sua capa-cidade de localizar e reconhecer as suas plantas hospedeiras, por exemplo, trípes e mosca-branca são atraídas pelo verde de sua planta hospedeira, com o background marrom (solo), não localizando plantas verdes que apresentem o background tam-bém verde. Outra forma de interferir no comportamento das pragas é a realização de pulverizações com caolim em lavouras de algodão. Estudos conduzidos pelo pesquisador e chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Algodão, Carlos Alberto Domingues da Silva, têm

Cultivo múltiploPlantio de erva-doce surge como alternativa para a rotação de culturas com algodão colorido. Pesquisadores trabalham para melhorar os resultados desse consórcio e aumentar a eficiência do manejo de insetos-praga que afetam as lavouras instaladas nesse sistema

Cultivo múltiploPlantio de erva-doce surge como alternativa para a rotação de culturas com algodão colorido. Pesquisadores trabalham para melhorar os resultados desse consórcio e aumentar a eficiência do manejo de insetos-praga que afetam as lavouras instaladas nesse sistema

13Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

demonstrado que o caolim exerce um efeito controlador sobre o bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis Boheman (Coleoptera: Curculionidae) pelo seu efeito deterrente sobre o comportamento de oviposição do bicudo, impedindo seu contato visual e táctil com a planta hospedeira, tornando-a irreconhecível e atrapalhando sua movi-mentação e alimentação pela adesão de partículas no seu corpo.

Estima-se que acima de 50% da produ-ção de algodão no Nordeste venha sendo obtida em consórcio com outras culturas, notadamente com milho e feijão.

Rotação de cultuRa com eRva-doceUma cultura que poderá ser incor-

porada no sistema de cultivo do algodão, tornando-o diversificado, ecológico e economicamente sustentável, é a da erva-doce, Foeniculum vulgari L. (Um-belliferae), permitindo ao produtor uma maior participação no mercado de produtos industrializados, afirma Rama-lho. A erva-doce tem largo uso tanto na fitoterapia quanto como condimento. Na região Nordeste é cultivada por pequenos produtores, em consórcio com algodão anual, feijão e/ou cowpea, sendo a co-lheita realizada no período de setembro a fevereiro. Após a colheita, as plantas são cortadas a poucos centímetros do solo, visando ao rebrotamento no início das chuvas. A cultivar plantada na região é de origem desconhecida, o espaçamento utilizado é irregular e a adubação das plantas, geralmente, é orgânica e em quantidade variável.

Em 1988/1989, o governo do estado da Paraíba desenvolveu um programa com o objetivo de incrementar a área planta-da com erva-doce, atingindo uma área plantada de 1.000ha. Entretanto, com o aumento da área plantada, começaram a ocorrer problemas causados por insetos-

Criação massal do percevejo Podisus nigrispinus,inimigo natural de lepidópteros-praga

Lavoura de algodão pulverizada com Caolim contra o bicudo, Anthonomus grandis Boheman

Cultivar de algodão colorido BRS Safira consorciada com erva-doce

praga, provocando significativos danos e reduzindo a produtividade dessa cultura. Isto contribuiu para que vários produtores desistissem de continuar a explorar essa cultura.

Um dos principais problemas da cultu-ra de erva-doce é o pulgão Hyadaphis foeni-culi (Passerini), responsável pela redução de 70% da área plantada de erva-doce no Nordeste do Brasil.

Acredita-se que a região Nordeste poderá ser um grande centro de produção de algodão colorido e de erva-doce, desde que se desenvolva um sistema de cultivo diversificado que seja econômico, ecológico e socialmente sustentável.

Baseados nesses fatos, pesquisadores da Embrapa Algodão e do CCA/UFPB buscam desenvolver tecnologias de pro-dução, controle de qualidade de produto e controle de pragas de algodão com fibra colorida consorciado com erva-doce para produtores de baixa renda, de modo a produzir um avanço significativo, a curto, médio e longo prazo, rumo a um sistema sustentável (algodão com fibra colorida consorciado com erva-doce), ga-rantindo qualidade e competitividade ao agronegócio nordestino (Projeto Atecel/Finep/Embrapa – 586/2007 – Convênio 01.08.0084-00).

como objetivos específicos têm-se:1) Definir um sistema racional de con-

sórcio de algodão colorido com erva-doce que maximize a produtividade e reduza a densidade e diversidade de artrópodos fitó-fagos e aumente a densidade e diversidade de seus inimigos naturais. Isto é muito importante, pois irá maximizar a produtivi-dade da terra e garantir o controle biológico das principais pragas dessas culturas;

2) Determinar os efeitos do sistema de consórcio (algodão colorido com erva-doce) na comunidade de pragas e seus inimigos naturais;

3) Gerar conhecimentos sobre o con-trole biológico do bicudo-do-algodoeiro através de parasitoides no sistema de con-sórcio de algodão colorido e erva-doce;

4) Determinar a distribuição vertical e horizontal do pulgão H. foeniculi dentro da planta de erva-doce;

5) Descrever a distribuição espacial e temporal dos pulgões A. gossypii e H. foeniculi e seus inimigos naturais;

6) Quantificar a influência de plantas de algodão colorido e erva-doce no desen-volvimento, reprodução e sobrevivência do predador P. nigrispinus;

7) Analisar a interação Trichogramma x neem para o controle de Alabama argillacea;

8) Avaliar a eficiência da catação de botões florais caídos ao solo e pulverizações com caolim misturado ao fungo Beauveria bassiana contra o bicudo;

9) Definir fatores de qualidade para o óleo de erva-doce: substâncias caracteri-zadas como princípios ativos medicinais e de defesa;

10) Definir padrões de alta qualidade para sementes de erva-doce;

11) Definir padrões de alta qualida-de para sementes de algodão com fibras coloridas

12) Qualificar e quantificar espécies de ácaros em algodoeiro com fibras coloridas consorciado com erva-doce.

Carlos Alberto D. da Silva,Embrapa Algodão

CC

Nascimento, A.R.B.

Ram

alho

, F.S

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Algodão

14 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

Foto

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Aplicação dirigida

Aplicações tardias de herbicidas em pós-emergência, dirigidas às entre linhas do

algodoeiro, também conhecidas como “jato dirigido”, constituem-se em ferramenta

importante para o combate de plantas daninhas na cultura. Contudo, alguns aspectos precisam

ser considerados ao adotar essa estratégia

As plantas daninhas constituem um dos principais proble-

mas à cultura do algodoeiro, em função da sensibilidade à matocompetição, dificul-dade de controle e prejuízo econômico gerado. Na fase inicial da cultura, reduzem acentuadamente o desenvol-vimento e o vigor das plantas, acarretando em diminuição da produtividade. No final do ciclo, a presença de plantas daninhas como corda-de-viola (Ipomoea spp.) e apaga-fogo (Alternanthera tenella) dificulta a operação de colheita e ocasiona baixo rendimento de trabalho. Outras provocam a de-preciação da fibra, seja pela conta- minação por impurezas e órgãos reprodutivos que ade-rem à pluma, como picão-preto (Bidens pilosa),

ou pela per-da das qua-lidades físicas da fibra, devido ao grande poten-cial competitivo de espécies como caruru (Amaranthus spp.).

Desde o plantio e ao longo do ciclo da cultura é realizada a combinação de estratégias de con-trole que evitem a interferência das plantas daninhas. Para que não haja competição no início do ciclo, o controle neste momento é realizado por herbicidas seletivos empregados em pré-emergência da cultura e pós-emergência em área total. Para permitir que a colheita seja realizada sem a interferência de plantas daninhas, aplicações tardias de herbicidas são realizadas em pós-emergência dirigidas às entre linhas da cultura, aplicação conhecida como “jato dirigido”. Em

função da limitada oferta de herbicidas seletivos à cultura e da extrema sensibili-dade do algodoeiro a herbicidas no início do seu desenvolvimento (quase sempre empregados em subdosagens), muitas vezes o controle inicial de todas as plantas daninhas na área não é o ideal, mesmo quando utilizadas variedades resistentes a herbicidas. Desta forma, a aplicação

em jato dirigido assume lugar de destaque na cadeia produtiva do algodoeiro, pois se

consegue por meio desta estratégia eliminar as plantas daninhas remanescentes de aplica-ções anteriores, além de garantir que a cultura encerre seu ciclo sem interferências.

As aplicações em jato dirigido geralmente são realizadas próximas aos 50 dias após a emergência da cultura, quando a planta se encontra entre 50 e 60 centímetros de altura. A aplicação é direcionada às entre linhas de plantio, de forma que a calda não atinja grande porção da cultura, apenas a parte inferior do caule (já lignificado), cruzando as linhas de semeadura do algodoeiro (“cruzando canela”). Aplicações em jato dirigido podem ser realiza-das antes mesmo deste período. No entanto, a cultura não deve ser atingida quando produtos não seletivos são utilizados, lançando mão de acessórios que protejam as plantas do leque de

Figura 1 - Injúrias ocasionadas pelas aplicaçõesem jato dirigido. Chapadão do Sul (MS), 2010

15Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

aplicação (jato dirigido protegido).

alteRnativas de heRbicidasA aplicação de herbicidas em jato dirigido

é uma arma eficaz, nas mãos dos cotoni-cultores, contra as plantas daninhas. Nesta modalidade de aplicação há a possibilidade de uso de herbicidas não seletivos à cultura, com maior espectro de ação, promovendo ainda a rotação de herbicidas com diferentes mecanis-mos. Geralmente empregam-se herbicidas que proporcionam bom controle pós-emergente das principais plantas daninhas, problemas presentes na área. Preferencialmente, adi-cionam também produtos que apresentam atividade residual no solo, importante para controlar eventuais fluxos de plantas daninhas que possam vir a emergir após esta última aplicação. Entre os herbicidas mais utilizados em jato dirigido estão diuron, prometrina, flumioxazin, MSMA, glufosinato de amônio, paraquat, carfentrazone-ethyl, glifosato. Na maioria das aplicações é realizada a mistura entre estes herbicidas. Como é sabido, para o controle pós-emergente, principalmente de trapoeraba e de corda-de-viola, carfentrazone-ethyl se faz uma ótima opção. Então, é muito comum a utilização deste herbicida nas aplicações em jato dirigido, como se tratam de plantas daninhas de grande ocorrência no cerrado. Flumioxazin demonstra bons resul-tados para o controle de poaia, picão e outros, além da atividade residual que este produto apresenta. Paraquat tem grande espectro de controle em pós-emergência, por isso é muito utilizado nestas aplicações. Diuron e prome-trina proporcionam bom controle residual de leitero e caruru. Uma opção de herbicida empregado pelos cotonicultores nos últimos anos é a adição de atrazina, em função de sua ação pós-emergente, da atividade residual e do baixo custo deste herbicida. Fomesafen também tem sido adicionado recentemente a estes tratamentos em razão de proporcionar bom controle residual de leiteiro e picão-preto, além da ação pós-emergente. Portanto, os cotonicultores formulam o melhor tratamento de acordo com a comunidade infestante, sen-do comum a adição de dois ou três (até quatro herbicidas) em uma única operação.

Trabalho desenvolvido na safra 2009/2010

tabela 1 - controle das plantas daninhas pelos diferentes tratamentos em jato dirigido. chapadão do sul (ms), 2010

obs.: em todos os tratamentos herbicidas foi adicionado óleo mineral (1,0l/ha).

15 daa100,0099,16100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,000,00

15 daa100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,000,00

dose (ml ou g i.a. ha-1)

50750 + 20 + 16

750 + 20 + 16+ 100500 + 1800 + 16

1000 + 1800 + 16375 + 1800 + 16

300 + 750300 + 1000300 + 375

-dose (ml ou g i.a. ha-1)

50750 + 20 + 16

750 + 20 + 16+ 100500 + 1800 + 16

1000 + 1800 + 16375 + 1800 + 16

300 + 750300 + 1000300 + 375

-

3 daa83,3380,1695,0079,8381,8379,3367,5062,1680,160,00

3 daa72,5073,8384,4671,8376,6668,8360,0048,3369,160,00

Flumioxazinatrazina + Flumioxazin + carfentrazone-ethyl

atrazina + Flumioxazin + carfentrazone-ethyl + Paraquatatrazina + msma + carfentrazone-ethyldiuron + msma + carfentrazone-ethyl

Fomesafen + msma + carfentrazone-ethylGlufosinato de amônio + AtrazinaGlufosinato de amônio + diuron

Glufosinato de amônio + Fomesafentestemunha no mato (sem herbicida)

Flumioxazinatrazina + Flumioxazin + carfentrazone-ethyl

atrazina + Flumioxazin + carfentrazone-ethyl + Paraquatatrazina + msma + carfentrazone-ethyldiuron + msma + carfentrazone-ethyl

Fomesafen + msma + carfentrazone-ethylGlufosinato de amônio + AtrazinaGlufosinato de amônio + diuron

Glufosinato de amônio + Fomesafentestemunha no mato (sem herbicida)

15 daa100,0099,16100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,000,00

15 daa100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,000,00

3 daa83,3380,1695,0079,8381,8379,3367,5062,1680,160,00

3 daa72,5073,8384,4671,8376,6668,8360,0048,3369,160,00

Picão-preto leiteiro

caruru trapoeraba

demonstra o desempenho de algumas alter-nativas de tratamentos para aplicação em jato dirigido, formadas pela misturas entre os herbicidas carfentrazone-ethyl, flumioxazin, paraquat, glufosinato de amônio, MSMA, fomesafen, atrazina e diuron, em relação ao controle de plantas daninhas e seletividade à cultura. Leiteiro, picão-preto, caruru e trapoeraba, foram espécies avaliadas em pós-emergência (Tabela 1) e somente para leiteiro e picão-preto, avaliado o controle resi-dual (Tabela 2). Misturas com a presença de atrazina proporcionaram controle semelhante aos demais, se fazendo uma opção atraente aos cotonicultores pelo fator econômico deste herbicida. Fomesafen se destacou dentre os demais tratamentos devido ao ótimo controle residual de picão-preto e leiteiro, sendo a me-lhor opção de controle residual no trabalho. Tradicionalmente utilizado em aplicações em jato dirigido, diuron demonstrou excelente controle residual de leiteiro. As misturas de glufosinato de amônio com diuron, ou

atrazina, ou ainda o fomesafen, são opções interessantes para integrar o sistema de ma-nejo de plantas daninhas para variedades de algodão Liberty Link, pela elevada eficiência no controle observado e maior seletividade que proporcionarão a estas variedades. Fica claro que cada opção de herbicida na mistura tem suas características. A adição de paraquat à mistura entre atrazina + flumioxazin + carfentrazone-ethyl proporcionou maior velocidade de controle. Flumioxazin isolado (50g i.a. ha-1) proporcionou controle pós-emergente, semelhante às misturas estudadas e boa atividade residual para o controle de picão-preto e principalmente de leiteiro. Em resumo, os tratamentos analisados são alter-nativas eficientes para o controle da maioria das principais plantas daninhas presentes nas áreas de algodão no Cerrado brasileiro.

Quanto à seletividade foram observadas manchas negras no caule, necrose e queda de folhas do baixeiro atingidas pela calda de pulverização (Figura 1). Esses danos não se

Figura 2 - Fitointoxicação visual provocada por aplicação de atrazina (2.000g i.a. ha-1) em jato dirigido: A = 14 DAA, B = 28 DAA, C = 35 DAA. Chapadão do Sul (MS), 2010

16 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

tabela 3 - Produtividade de algodão em caroço submetido aos diferentes tratamentos em jato dirigido. chapadão do sul (ms), 2010

obs.: em todos os tratamentos herbicidas foi adicionado óleo mineral (1,0l/ha).

dose (ml ou g i.a. ha-1)50

750 + 20 + 16750 + 20 + 16+ 100

500 + 1800 + 161000 + 1800 + 16375 + 1800 + 16

300 + 750300 + 1000300 + 375

-

Produtividade (@/ha)280,86288,58280,09286,27287,81289,35285,49289,35287,04289,35

Flumioxazinatrazina + Flumioxazin + carfentrazone-ethyl

atrazina + Flumioxazin + carfentrazone-ethyl + Paraquatatrazina + msma + carfentrazone-ethyldiuron + msma + carfentrazone-ethyl

Fomesafen + msma + carfentrazone-ethylGlufosinato de amônio + AtrazinaGlufosinato de amônio + diuron

Glufosinato de amônio + Fomesafentestemunha no capinada

tabela 4 - Produtividade de algodão em caroço sub-metido aos diferentes tratamentos em jato dirigido. chapadão do sul (ms), 2010

obs.: em todos os tratamentos herbicidas foi adicionado óleo mineral (1,0l/ha).

dose (ml ou g i.a. ha-1)0,0

500750

10002000

Produtividade (@/ha)289,35

287,04287,81283,18257,72

testemunha sem herbicida

AtrazinaAtrazinaAtrazinaAtrazina

refletiram em queda de produtividade (Tabela 3), sendo todos os tratamentos considerados seletivos à cultura.

Como introduzidos recentemente às aplicações em jato dirigido, alguns herbicidas como atrazina e fomesafen criam insegu-ranças e desorientação aos cotonicultores na tocante à dose a ser empregada. Outro estudo, conduzido a campo na última safra, avaliou a toxicidade e a produtividade do algodoeiro após aplicação em jato dirigido do herbicida atrazina, em doses isoladas (0, 500, 750, 1.000 e 2.000g i.a. ha-1). Injúrias visuais nas plantas de algodão foram proporcionadas pela maior dose (2.000g i.a. ha-1) e que, doses abaixo, não promoveram injúrias visuais quaisquer. Estas injúrias se caracterizam por manchas cloróticas que tomam aspecto de mosaico nas folhas não tratadas, pois a maior parte

deste produto é absorvida via raiz, algumas progredindo para necrose (Figura 2). Vale res-saltar que nos primeiros dias após a aplicação ocorreram precipitações em torno de 80mm, o que pode ter contribuído para o aparecimento dos sintomas, uma vez que o herbicida fica mais disponível na solução do solo e, assim, maior a probabilidade de ser absorvido pelo algodoeiro. Em casos onde o solo se encontra compactado estes sintomas podem ocorrer em níveis mais elevados, pois há o acúmulo do herbicida na solução do solo, acima da camada compactada.

Como consequência no rendimento, a maior dose de atrazina (2.000g i.a. ha-1) promoveu queda de aproximadamente 31

arrobas/ha de algodão em caroço em relação à testemunha sem herbicida (Tabela 4). Em doses menores, o algodoeiro tolerou muito bem o herbicida atrazina, sem diferenças de produtividade em relação à testemunha, mostrando que a dose usualmente emprega-da nesta aplicação, 750g i.a. ha-1, parece ser seletiva à cultura do algodoeiro.

Os danos de herbicidas à cultura podem ser agravados quando um mesmo herbicida, ou diferentes herbicidas, mas com mesmo mecanismo de ação, são empregados repetida-mente no decorrer das aplicações. É comum a utilização de diuron em pré-emergência da cultura, prometrina em pós-emergência precoce e atrazina ou prometrina em pós-emergência tardia em jato dirigido. Esta situação, principalmente em solos argilosos, poderá proporcionar acúmulo e somatório dos resíduos destes herbicidas, uma vez que são produtos semelhantes, provocando injú-rias no algodoeiro, devendo-se atentar para a dose máxima recomendada por ano ou por ciclo da cultura.

É importante, também, que os cotonicul-tores estejam atentos a outro aspecto quanto à escolha dos herbicidas a serem utilizados em jato dirigido. Trata-se da questão da persistência dos produtos no solo, o que pode inviabilizar a semeadura de certas culturas em sucessão ao algodão.

tabela 2 - número de plantas emergidas por m2 de picão-preto e leiteiro aos 42 dias após aplicação (daa) dos tratamentos em jato dirigido na cultura do algodão. chapadão do sul (ms), 2010

obs.: em todos os tratamentos herbicidas foi adicionado óleo mineral (1,0l/ha).

leiteiro1,332,001,002,330,661,332,331,001,3321,00

dose (ml ou g i.a. ha-1)

50750 + 20 + 16

750 + 20 + 16+ 100500 + 1800 + 16

1000 + 1800 + 16375 + 1800 + 16

300 + 750300 + 1000300 + 375

-

Picão-preto2,663,334,336,004,002,008,664,331,6627,00

Flumioxazinatrazina + Flumioxazin + carfentrazone-ethyl

atrazina + Flumioxazin + carfentrazone-ethyl + Paraquatatrazina + msma + carfentrazone-ethyldiuron + msma + carfentrazone-ethyl

Fomesafen + msma + carfentrazone-ethylGlufosinato de amônio + AtrazinaGlufosinato de amônio + diuron

Glufosinato de amônio + Fomesafentestemunha no mato (sem herbicida)

42 dias após aplicação

Aspecto visual de controle observado na testemunha sem herbicida aos 15 DAA (A) e pela mistura entre atrazina + flumioxazin + carfentrazone-ethyl aos 15 DAA (B) e 28 DAA (C). Chapadão do Sul (MS), 2010

Michel Alex, Luiz Henrique e Jamil são pesquisadores da Universidade Estadual de Maringá

Michel Alex Raimondi, Luiz Henrique M. Franchini eJamil Constantin,Universidade Estadual de MaringáRubem César Staudt,Astecplan

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Empresas

Um grupo de aproximadamente 1,6 mil produtores participou da 3ª edição do Giro FMC

no cultivo da soja, evento que percorreu lavouras de oito estados brasileiros. Mato Grosso do Sul, Paraná, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul e Maranhão estão entre os contemplados com a proposta de agregar entretenimento à discussão de práticas para manejo de pragas na cultura.

Durante o evento foram recolhidas 500 cestas básicas, doadas a instituições de caridade das cidades que receberam os ralis. Foram percorridos, em média, 300 quilômetros, com paradas técnicas, onde os consultores da FMC apresentaram estações tratadas com produtos da empresa.

Um dos defensivos demonstrados pelos consultores foi o inseticida Talstar 100 EC,

produto que age por contato e ingestão e proporciona controle de percevejos e lagartas. Possui baixa solubilidade, o que confere persistência maior nas folhas da soja.

Mais um inseticida destacado pelos consultores é o Dipel, produto biológico indicado para manejo de resistência, ideal para rotação de inseticidas de choque, pois completa a ação, com residual, além de não afetar insetos benéficos ou predadores de pragas.

Também mereceram destaque os herbicidas, como o Boral, pré-emergente, eficaz no controle de plantas daninhas de folhas largas de difícil controle, Aurora, pós-emergente de contato completo, para o manejo de plantas tolerantes, e o Gamit, pré-emergente para controle de folhas largas e estreitas. Seu efeito residual evita

Rali tecnológicoGrupo de aproximadamente 1,6 mil produtores participa da

3ª edição do Giro FMC no cultivo da soja, em oito estados brasileiros

17www.revistacultivar.com.br • Abril 2011

Foram percorridos aproximadamente 300 quilômetros, comparadas técnicas para apresentação dos resultados nas lavouras

a matocompetição inicial. Em fungicidas, os consultores apre-

sentaram o Emerald, para controle da ferrugem asiática da soja, com poder de translocação e seletividade à cultura.

“O Giro FMC atinge cada vez mais adeptos pelo caráter descontraído como foi elaborado. A proposta inicial da em-presa era aproximar-se de seus parceiros de negócios, buscando uma forma mais prática de demonstrar produtos consa-grados no mercado como Talstar. Mas o evento superou todas as expectativas ao proporcionar uma conexão emocio-nal com os clientes”, declara Márcia Terzian, gerente de Marketing de Soja da FMC.

A 3ª edição do Giro FMC no cultivo da soja é uma realização da FMC em parceria com a Case IH.

Equipe que participou de uma das etapas dorali, realizada no estado do Rio Grande do Sul

CC

Fotos Pedro Batistin

Milho

18 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

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USP

Ao se fazer menção às plantas infestantes da cultura do milho, várias são as espécies mono e dico-

tiledôneas lembradas, para as quais, métodos distintos de manejo têm sido pesquisados e difundidos. Com a adoção de práticas de controle de plantas daninhas na implantação do sistema de cultivo, e o aparente sucesso na supressão da comunidade infestante em pré-emergência da cultura, vários produtores acabam por ser negligentes com infestações tardias, ao ignorar a forma escalonada de emergência de algumas plantas. Essa ação pode criar nichos para o estabelecimento de espécies daninhas, que, por sua vez, têm a capacidade de causar vultosos prejuízos eco-nômicos, quando da ausência de estratégias de manejo ou, ainda, manejos precoces sem ponderação das características ecofisiológicas dessas espécies.

Nesse âmbito, uma espécie cujo potencial de infestação se destaca na cultura do milho é a corda-de-viola, da família das Convolvu-laceae, também conhecida como campainha, corriola, jetirana ou glória-da-manhã. Essa terminologia compreende plantas dos gêne-ros Ipomea ssp. e Merremia spp., tais como I. grandifolia, I. purpurea, I. nil, I. quamoclit, I. hederifolia, M. cissoides e M. aegyptia. Mais de 150 espécies (entre Ipomeas e Merremias) desses gêneros foram reportadas no Brasil, na produção de culturas anuais e perenes, culti-vadas em todas as regiões. Somente na região Sudeste do país, foi relatada a ocorrência de 78 espécies de Ipomoea ssp.

As Ipomoeas e Merremias são espécies trepadeiras, que se desenvolvem sobre um suporte, para então alcançarem a luz. Desse modo, em função de seu hábito de crescimen-to, bem como pelo longo ciclo de vida ineren-te às espécies, relatos dos danos causados a equipamentos durante a colheita de culturas de valor econômico pelas cordas-de-viola são triviais. Isso, especialmente, nas culturas da cana-de-açúcar e de cereais. Essas espécies são também favorecidas pela presença de palhada, devido ao microclima criado, em função do aumento da umidade e de redu-ções da luz incidente no dossel da cultura e consequentemente na temperatura.

Embora nem sempre apareça em altas densidades nas lavouras de milho, o potencial competitivo individual da corda-de-viola é alto, conferindo-lhe vantagem na competição interespecífica. Na cultura da cana-de-açúcar foi verificada redução de rendimento de até 50%, ao passo que no milho e na soja 70% e 55%, respectivamente, além dos vários danos causados aos equipamentos e aumento do tempo durante as operações de colheita e manejo.

Outro fator de suma relevância consiste na época crítica de convivência com a cultura,

Convivência desarmoniosaConvivência desarmoniosaPlantas daninhas, como corda-de-viola, apresentam alto potencial de infestações na cultura do milho e prejudicam o desenvolvimento e a produtividade das lavouras. Para o manejo da espécie, a escolha acertada do método está intimamente ligada ao sistema produtivo empregado pelo produtor

Plantas daninhas, como corda-de-viola, apresentam alto potencial de infestações na cultura do milho e prejudicam o desenvolvimento e a produtividade das lavouras. Para o manejo da espécie, a escolha acertada do método está intimamente ligada ao sistema produtivo empregado pelo produtor

Fotos Décio Karam

19www.revistacultivar.com.br • Abril 2011

ou seja, o período máximo em que a presença da comunidade infestante não interfere na produtividade da cultura. Para as plantas infestantes da cultura do milho, esse período é relativamente curto, em média de 30 dias. Além disso, há de se atentar ainda para pos-síveis reinfestações, que poderão prejudicar a produção de grãos.

O nome Ipomoea descende do grego “ips”, que quer dizer volúvel, em detrimento da morfologia dos caules e ramos da maior parte das espécies, e “homios” que significa semelhante. Já o termo Merremia faz alusão ao botânico, matemático e físico alemão Blasius Merrem.

bioloGia O gênero Ipomoea ssp. compreende apro-

ximadamente 700 espécies ocorrentes em todo o mundo, cujas importâncias econômi-cas vão desde a infestação de áreas marginais de rodovias, colonização em diferentes condi-ções e habitats, ornamentação, uso medicinal até na alimentação, como é o caso da espécie Ipomoea batatas (batata-doce).

As Ipomeas são plantas de ciclo C-3, concentrando esse gênero, espécies anuais e perenes. As plantas apresentam caules e ramos volúveis em sua maioria, embora exista uma pequena proporção de espécies prostradas e eretas, reproduzidas vegeta-tivamente. As plantas podem produzir de cinco mil a seis mil sementes, com poder de germinar a até 10cm da superfície do solo em diferentes épocas, sofrendo alta influência de umidade e temperatura. A faixa ótima de desenvolvimento deste gênero está entre 20°C e 30°C. No que concerne ao sistema radicular, existem os do tipo pivotante ou tuberoso, sendo este último mais comum a espécies perenes.

Há alta variabilidade também no formato e tamanho das folhas, inclusive em um mes-mo indivíduo, devido a fatores genéticos e/ou influência da iluminação do ambiente em que se desenvolve. Isso faz com que apenas no estádio de plântula possa se conhecer aspectos taxonômicos de uma espécie através da caracterização das folhas. Nos últimos anos, estudos têm sido conduzidos no sen-tido de se conhecer mecanismos de defesa das Ipomeas, tais como óleos essenciais e ceras protetivas da cutícula foliar. Tem-se reconhecido nessas substâncias, característi-cas potencialmente inibidoras de patógenos, selagem da superfície das folhas que possibi-lita diminuição da perda por transpiração e ação de contaminantes e produtos químicos. O que posteriormente pode representar um problema para a eficiência do manejo químico das espécies desse gênero feito com herbicidas hidrofílicos.

Uma estrutura que sempre chama a

atenção em se tratando das cordas-de-viola são as flores, em função de sua notória beleza. Diversificadas são as cores e os tamanhos, que podem diferir ainda de espécie para espécie ou também numa mesma planta, conforme o período em que essas estruturas se encon-tram abertas. A abertura das flores geralmen-te ocorre durante o dia, embora existam raras espécies em que isso ocorre à noite.

Cruzamentos naturais podem ser vistos em Ipomoeas, o que justifica sua plasticidade na ocupação de vários ambientes, agressivida-de e capacidade de competição com a cultura. As espécies desse gênero toleram amplo espectro de solos e clima, sendo algumas aquáticas. As Merremias, por sua vez, são boas colonizadoras de solos úmidos e áreas sombreadas com boa fertilidade.

Os resultados da competição isolada e interações da comunidade espontânea com a cultura do milho ressaltam a incompati-bilidade na convivência desse cereal com a corda-de-viola. Também o longo ciclo de vida das Ipomoeas e Merremias (em média 150 dias), atenta para a importância de um manejo adequado dessas dicotiledôneas.

métodos de manejo Para o manejo das cordas-de-viola na cul-

tura do milho a escolha acertada do método está intimamente ligada ao sistema produtivo empregado. De modo geral são adotados o manejo químico em pré (aproveitando-se efeitos residuais) e pós-semeadura do milho, o mecânico ou físico, por meio da capina mecânica ou manual, e ainda o cultural, que com base nos fatores ambientais e caracte-rísticas das plantas concorrentes, favorece o potencial competitivo da cultura. No sistema de plantio direto, a atenção deve ser redobra-da, visto que a presença da cobertura morta já foi dada como facilitadora da emergência de plântulas destas espécies.

Além de diferentes densidades de plantas e espaçamentos da cultura, tem sido avaliada também a eficiência de técnicas alternativas para o manejo de plantas daninhas, como o aproveitamento de propriedades alelopáticas de espécies vegetais, cuja matéria verde é pos-ta em cobertura ou incorporada ao solo.

Outra opção ao manejo de corda-de-viola é constituída pelo método preventivo, o qual com simples cuidados e mudanças de hábitos nas práticas agrícolas é eficaz na redução do estabelecimento e propagação da corda-de-viola. Dentre as ações do manejo preventivo, se citam a limpeza de máquinas e equipamentos que ingressam nas áreas

O potencial competitivo individual da corda-de-viola é alto nas lavouras de milho

O período máximo de convivência de infestantes na cultura domilho, sem causar prejuízos, é curto e não ultrapassa os 30 dias

com as normas regulamentadoras do Mapa, garantindo qualidade ao trabalho e segurança à saúde e ao ambiente.

Os herbicidas de pré-emergência devem ser aplicados após o plantio da cultura e antes da emergência das plantas daninhas, ponderando-se as propriedades residuais da molécula ou do conjunto selecionado. Estas aplicações são influenciadas pela umidade do solo no momento da aplicação, da ocorrência de chuvas após a aplicação e da temperatura e tipo de solo.

Aplicações dos herbicidas pós-emer-gentes devem ser realizadas geralmente quando as plântulas se encontram nos estádios entre duas a oito folhas, sob dependência também do ingrediente a ser utilizado. Estas aplicações podem ser precoces, quando as plantas daninhas se encontram com duas a quatro folhas com-pletamente desenvolvidas, em condições normais ou, tardias, quando as plantas estiverem com mais de quatro folhas de-senvolvidas, restringindo-se as limitações dos herbicidas a serem utilizados.

manejo PRévio à colheitaNas lavouras de milho com alta infesta-

ção de cordas-de-viola no período da colheita ocorre comumente a parada de colhedeiras devido ao embuchamento da plataforma. Uma alternativa à redução dos efeitos desse problema consiste numa prévia aplicação direcional ou localizada de herbicidas (nas entrelinhas do milho) que complementa o manejo de espécies com emergência escalo-nar e tardia. De modo geral as moléculas mais

20 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

agrícolas de milho após seu uso e a observação prévia ao plantio, quanto à contaminação das sementes.

Na seleção do método, além da oferta de recursos e dos elementos previamente men-cionados, devem ser considerados a época de plantio e o período crítico de interferência da corda-de-viola na cultura, as operações empregadas, o histórico de métodos adotados e a necessidade de manutenção recrutada pelo método.

Na pós-emergência é recomendada a execução de práticas de manejo até o fecha-mento das entrelinhas da cultura, devendo ser prioritariamente executado entre dez dias e 45 dias após a germinação.

manejo mecânicoNo sistema de plantio convencional, em

pré-emergência da cultura, se o controle se der através de uma capina manual ou mecâ-nica, existe a possibilidade de ocorrer outras infestações, requerendo novas intervenções. Tal fato ocorre porque o revolvimento do solo traz à superfície as sementes, que antes estavam muito profundas e não dispunham de condições adequadas para a germinação. Posteriormente à ação de ascensão no perfil do solo, essas sementes estão em condições apropriadas para a germinação. Manutenções periódicas da área devem ser realizadas, a fim de conter o desenvolvimento de novas plantas e consequentemente problemas de interferência.

manejo cultuRalO uso de cobertura morta como meio

de controle de plantas daninhas influencia a incidência de luz, a temperatura e a umidade do solo. O efeito da cobertura pode ocorrer da forma química através de compostos secundários liberados (aleloquímicos), que podem apresentar efeitos deletérios à germi-nação e desenvolvimento de algumas plantas daninhas. O efeito de qualquer aleloquímico está diretamente relacionado à quantidade e à qualidade da cobertura do material

vegetal (cobertura morta), do tipo de solo, da população (densidade e composição) de plantas daninhas presentes, da população microbiana do solo e principalmente das condições ambientais às quais a cobertura vegetal é exposta. Vários efeitos aleloquímicos são conhecidos para uso no controle de plan-tas daninhas. No sistema de plantio direto sabe-se que a grande maioria das sementes das plantas daninhas encontra-se próxima à camada superficial, enquanto no sistema de plantio convencional as sementes ficam distribuídas ao longo do perfil do solo. Tra-balhos relatam a emergência de plântulas de corda-de-viola sob várias profundidades, que, diferentemente da maior parte das espécies espontâneas, não é afetada pela cobertura do solo.

manejo químicoEmbora vários herbicidas estejam regis-

trados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o controle de corda-de-viola (Tabela 1) em milho, esta espécie é de difícil controle. Com o objetivo de reduzir os riscos de insucessos quando do uso de moléculas herbicidas, alguns cui-dados devem ser tomados. Recomenda-se que as aplicações sigam critérios técnicos, devidamente indicados por profissionais habilitados para prescrever a receita agronô-mica. Equipamentos devem ser adequados, calibrados e operadores devidamente trei-nados e aparatados (com uso de EPIs). Um fator não menos importante é o descarte de embalagens e soluções remanescentes. Esse procedimento deve estar em conformidade

Flores são estruturas que chamama atenção em corda-de-viola

tabela 1

ingredientes ativos registrados no ministério da agricultura Pecuária e abastecimento para o controle da genero ipomoea nem todos os produtos comerciais com os ingredientes ativos estão registrados para o controle destas espécies. consultar um técnico para verificação do produto comercial registrado para controle

i. acuminata

X

i. aristolochiaefoliaXXX

XX

X

X

2,4-d 2,4-d dimetilaminealachlor + atrazine

ametrineamicarbazone

atrazine+ simazineatrazine

atrazine + nicosuklfuronbetazon

carfentrazon-ethylforansulfuron + iodosulfuron methyl

gliphosateglyphosate isopropilaminaglyphosate sal potássicoglufosinato sal amônioimazapic + imazapyr

mcPamesotrionenicosulfurontembotrione

i. grandifoliaXX

XXXXXXX

XXXXXXXX

i. hederifolia

X

XX

i. indivisa i. nilX

X

X

XXXX

X

XX

i. purpureaX

X

XXX

XX

XX

i. quamoclit

X

X

apropriadas são as que agem pelo contato, sem efeito residual. O mercado atualmente já dispõe de equipamentos apropriados para aplicações localizadas que minimizam os riscos de intoxicação da cultura. Nos casos próximos à colheita, que ainda apresentam infestação de corda de viola, não há muito que ser feito, pois o manejo depende de equipamentos apropriados que pulverizem a alturas acima da cultura, evitando a con-taminação ambiental e do aplicador.

manejo Pós-colheitaPara evitar ou minimizar o aumento da

população de plantas daninhas o produtor deve adotar técnicas como a rotação de cul-turas e a semeadura de cobertura. Culturas de cobertura como milheto, nabo forrageiro e sorgo, assim como outras, na entressafra, têm grande capacidade de supressão na emergência e de desenvolvimento das plantas daninhas.

Operações de pós-colheita, como o uso de roçadeiras, ou a aplicação de herbicidas para dessecação das plantas daninhas devem ser realizadas, evitando-se a produção de sementes ou propágulos de plantas daninhas. Devemos relembrar que devido ao uso inten-sivo de determinados grupos de herbicidas

tem sido observado o surgimento de plantas daninhas tolerantes e resistentes.

O manejo químico desta espécie em pós-colheita, na maioria dos casos está associado a herbicidas 2,4D e paraquat, principalmente pelo porte que a planta apresenta nesta época.

O uso de glifosato isolado no manejo de áreas que apresentam esta espécie tem contribuído para o aumento da infestação observada nos últimos anos, pois tem sido

observada a tolerância de algumas espécies do gênero das Ipomoeas a este herbicida.

eFiciência e meio ambienteContemplando-se os aspectos atinentes a

estas espécies, bem como as interações com demais elementos do sistema e do método escolhido, poderá se obter maior produtivi-dade da cultura do milho. Ademais, deve-se impedir possíveis ações de remediação que podem nem sempre ser eficazes no manejo de plantas daninhas em milho. Em se tratando de manejo químico, a inobservância de pra-zos, normas e adoção de práticas de manejo recomendadas pode resultar na degradação dos recursos ambientais, contaminação do solo e da água e ainda o comprometimento do reuso das áreas agricultáveis. Esse conjunto de fatores há de comprometer a performance da atividade, render insucesso e conferir ainda caráter pouco sustentável à produção e no meio ambiente, afetando a imagem da propriedade.

Plantas de Ipomoeas têm a capacidade de produzir de cinco a seis mil sementes

Décio Karam e Israel Alexandre Pereira Filho, Embrapa Milho e SorgoJéssica Aline Alves Silva,Unifemm/Faped

CC

Fotos Décio Karam

Capa

22 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

Embora seja uma prática comum no campo, o uso de inseticidas na época de dessecação da área para

formação da palha para o plantio direto (com o objetivo de reduzir a população de pragas, principalmente lagartas, no início do ciclo de cultivo da soja, milho e algodão e com isso diminuir os danos provocados pelas pragas na fase de estabelecimento destas culturas), é uma prática que ainda não tem o suporte sufi-ciente de trabalhos científicos que comprovem sua real necessidade e validade. Os principais questionamentos são de que, na palha, as lagartas não teriam mais alimento disponível

e, consequentemente, não sobreviveriam. Entretanto, trabalhos de pesquisas desenvol-vidos pelo professor Geraldo Papa e sua equipe têm constatado a presença de significativas populações de lagartas, principalmente do gênero Spodoptera, que sobrevivem na palha e provocam danos no início do desenvolvimento da cultura recém-emergida.

Nos sistemas agrícolas constituídos por

soja, milho e algodão ocorre uma disponi-bilidade constante de alimentos a insetos polífagos, como é o caso de espécies do gênero Spodoptera (Santos, 2001). A sucessão de culturas, o plantio escalonado de diversas culturas e a existência de culturas irrigadas, principalmente na região de cerrado, prolonga no tempo a sobrevivência de insetos, aumen-tando o número de gerações neste tipo de

O monitoramento é importante para a tomada de decisão sobre a aplicação de inseticidas

A palha formada para o plantio direto resulta em excelente abrigo e esconderijo de pragas como lagartas do gênero Spodoptera, nas culturas de soja, milho e algodão. Nesse contexto, o uso de inseticidas na época de dessecação surge como estratégia interessante. Contudo, a decisão de aplicar deve estar condicionada ao monitoramento da cobertura verde do solo para verificar se há presença de populações de insetos que justifiquem lançar mão dessa ferramenta

número de lagartas, s. frugiperda, vivas por tratamento, após aplicação de inseticidas na época da dessecação preparatória para o plantio direto aos 10 dias após a semeadura. ilha solteira

Inseticida ao dessecar?Inseticida ao dessecar?A palha formada para o plantio direto resulta em excelente abrigo e esconderijo de pragas como lagartas do gênero Spodoptera, nas culturas de soja, milho e algodão. Nesse contexto, o uso de inseticidas na época de dessecação surge como estratégia interessante. Contudo, a decisão de aplicar deve estar condicionada ao monitoramento da cobertura verde do solo para verificar se há presença de populações de insetos que justifiquem lançar mão dessa ferramenta

Fotos Geraldo Papa

A equipe de pesquisa coordenada por Geraldo Papa, da Unesp de

Ilha Solteira, tem desenvolvido trabalhos com o objetivo de verificar a real necessi-dade da aplicação de inseticidas na época da dessecação que antecede a semeadura nos sistemas de plantio direto, visando encontrar respostas para os seguintes ques-tionamentos: 1) As lagartas que sobrevivem na palha diminuem significativamente o estande dos cultivos? 2) A aplicação de inseticidas na dessecação preparatória para o plantio direto diminui significativamente a infestação de lagartas no início do ciclo da cultura? 3) As cultivares transgênicas tolerantes ao ataque de lepidópteros são danificadas pelas lagartas de terceiro ou quarto instar que sobreviveram na palha? A produtividade de soja, milho e algodão é afetada pelos danos provocados pelas lagartas que sobrevivem na palha? 4) Exis-tem benefícios aos agricultores em utilizar inseticidas na dessecação preparatória para o plantio direto?

Para condução destas pesquisas foi

PESQUISAsemeado milheto e, 60 dias após, foram re-alizadas amostragens, onde constatou-se a presença de alta população de lagartas, com predomínio da espécie Spodoptera frugiper-da. Procedeu-se a aplicação de herbicida dessecante e três dias após foram aplicados inseticidas na área com milheto e semeadas parcelas com soja, algodão e milho. Os parâmetros avaliados foram: número de lagartas na área antes da dessecação; o número de lagartas encontradas sob a palha após a formação da palha; número de plantas cortadas pelas lagartas após a emergência de soja, algodão e milho; porcentagem de desfolha provocada pelas lagartas nas culturas da soja, milho e al-godão e produtividade média das culturas. Pela análise dos resultados concluiu-se que a aplicação de inseticidas na época da des-secação preparatória para o plantio direto de soja, milho e algodão foi eficiente no controle da S. frugiperda, proporcionando menor número de plantas atacadas pelas lagartas, melhor estande das culturas e maior produtividade.

Palha retirada da linha de plantio após a avaliação

Lagarta encontradasob a palhada

agroecossistema. Essa situação favorece o pro-cesso migratório das mariposas entre lavouras formadas por espécies vegetais semelhantes, naquelas implantadas em épocas diferentes e, também entre diferentes espécies botânicas (Santos, 2003; Barros e Torres, 2009).

As espécies do gênero Spodoptera são amplamente distribuídas no mundo e das 30 espécies descritas, a metade é considerada praga de variadas culturas de importância econômica (Pogue, 2002). Destaca-se a lagarta-militar, Spodoptera frugiperda, por se alimentar de mais de 80 espécies de plantas, incluindo algodão, milho e soja (Capiner, 2002). Apesar da amplitude hospedeira ela é considerada praga importante de plantas da família Poaceae (gramíneas) como milho, ar-roz, trigo, entre outras. Entretanto, seus surtos têm ocasionado perdas significativas em outras plantas como algodão, soja e solanáceas culti-vadas (Latorre, 1990; Bastos e Torres, 2004), além de utilizar hospedeiros alternativos para se manter nos agroecossistemas.

A lagarta-militar, S. frugiperda, ocorre em quase todo o continente americano e constitui-se em sério problema fitossanitário. Essa praga tem provocado prejuízos econômicos a uma

série de culturas de importância econômica. É considerada a principal praga dos campos de milho no Brasil (Cruz, 1995), mas nos últimos anos este inseto tem se destacado como impor-tante problema fitossanitário nas culturas do algodão e da soja, principalmente nas regiões produtoras dos cerrados brasileiros. O fato de o milho ser plantado o ano todo no país (safra/safrinha/inverno), somado à existência de várias outras culturas que podem hospedar a S. frugiperda, proporciona a esta praga condi-ções para atravessar pontes biológicas entre os ciclos produtivos para encontrar condições de proliferação e tornar-se uma espécie bastante frequente nos cultivos do cerrado, cuja época de meados do ciclo de cultivo coincide com a colheita do milho de primeira safra e plantio

da safrinha (Papa, 2005).Além da S. frugiperda, a espécie S. eridania,

que tradicionalmente não era praga importan-te para os cultivos do Cerrado, é uma praga

produção de biomassa. Assim, com o cresci-mento da fronteira agrícola para o Cerrado e com expansão do sistema de semeadura direta, o cultivo do milheto também cresceu como planta de cobertura (Garcia e Duarte, 2009). Neste cenário, a lagarta-militar, S. frugiperda, tem se beneficiado, pois tem a capacidade de se reproduzir nas plantas de milheto e, após sua dessecação e plantio comercial da cultura, as lagartas se abrigam na palhada junto ao solo e passam a cortar as plântulas recém-emergidas, podendo causar redução do estande. Nesse contexto, o controle das pragas iniciais passa a ser importante. Os inseticidas mais utilizados nesta estratégia de controle são os de menor custo como piretroides, carbamatos e orga-nofosforados. Entretanto, geralmente, estes grupos de inseticidas apresentam a desvan-tagem de não serem seletivos aos inimigos naturais das pragas. Assim, novas moléculas inseticidas mais modernas e mais seletivas aos mamíferos e aos artrópodos benéficos estão sendo introduzidas na agricultura, inclusive para uso na época da dessecação, período preparatório ao plantio direto.

24 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

em expansão nas culturas de algodão e de soja, necessitando de estudos para subsidiar os programas de manejo. Nessa região, as lagartas migram das plantas de soja em final de ciclo e passam para plantas invasoras e também para soja e algodão (Santos, 2005).

A pesquisa tem investido com o objetivo de melhorar a qualidade e a produtividade dos cultivos agrícolas, o que tem se revertido em importantes resultados, pois a produtividade vem aumentando. Inicialmente desenvolveu o Plantio Direto na cultura da soja e, poste-riormente, em milho e algodão, sendo o Brasil a referência nessa modalidade de plantio, que muito ajudou no aumento da produtividade. Através de órgãos de pesquisas privadas e oficiais, melhorou-se a genética de cultivares, além da modernização de implementos e ma-quinários aliados ao investimento de empresas de defensivos agrícolas que têm aportado recursos em novas moléculas inseticidas, com objetivo de ofertar aos produtores para que garantam o potencial produtivo da cultura.

Neste cenário de modernização do sistema produtivo e de sustentabilidade, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) é a forma mais racional de controle, com garantia da produtividade dos cultivos, minimizando os

efeitos nocivos ao ambiente. Trata-se de uma estratégia de controle múltiplo de infestações que se fundamenta no controle ecológico e nos fatores de mortalidades naturais, onde se pro-cura desenvolver táticas de controle que inter-firam minimamente com esses fatores, tendo o objetivo de diminuir as chances de os insetos se adaptarem a alguma prática defensiva em especial (Alves, 1998). Neste contexto o uso de inseticidas de forma preventiva contraria os princípios do MIP e é uma prática que deve ser evitada. Assim, para a tomada de decisão do uso de inseticidas na época da dessecação, é necessário que sejam realizadas amostragens, ainda na cobertura verde do solo antes da apli-cação do dessecante, para verificar a existência ou não de populações significativas de pragas que justifiquem a aplicação de inseticidas na época da dessecação.

A utilização de culturas de cobertura do solo como o milheto, semeado anteriormente ao plantio comercial, é uma prática frequente no Cerrado brasileiro. Atribui-se este fato à sua fácil instalação e à adaptação às condi-ções desfavoráveis de cultivo, destacando-se: tolerância à seca, crescimento rápido, maior capacidade de ciclagem de nutrientes e alta

Foto mostra uma plantação de soja 20 dias após a semeadura

Geraldo Papa aborda a aplicação de inseticidas durante a fase de dessecação

Detalhe de lagarta-militar (Spodoptera frugiperda)

Geraldo Papa eFernando Juari Celoto,Unesp/Campus de Ilha Solteira-SP

CC

Fotos Geraldo Papa

Lagarta-militar (Spodoptera frugiperda) encontrada sob a palhada

Empresas

Oferecer opções de novos híbridos para o cultivo no Sul do Brasil, soluções em biotecnologia e pro-

dutos para garantir a sanidade das lavouras, aliado a informações técnicas para que o agricultor possa utilizar a tecnologia disponível para maximizar os resultados e produzir ali-mentos com qualidade. Essas são algumas das estratégias da Pioneer, empresa especializada no fornecimento de sementes de soja e milho, focada em pesquisa genética, tecnologia de manejo e informação agronômica.

Em milho, um dos destaques da empresa é o híbrido P1630, hiper precoce, destinado ao estado do Rio Grande do Sul, para plantio no cedo. Com essa característica, o material pro-porciona um segundo cultivo de soja, feijão ou do próprio milho sobre milho. “É um híbrido para produtores que buscam hiperprecocidade e que precisam colher cedo”, explica o gerente de Negócios da Pioneer para o Rio Grande do Sul, João Artur Trindade Filho.

Outro ponto forte do híbrido reside na produtividade. “Temos resultados de colhei-ta nessa safra, na região de Não-Me-Toque e Carazinho, no Rio Grande do Sul, onde obtivemos uma média de 10 a 12 mil quilos por hectare. Em alguns casos alcançamos até 14 mil quilos por hectare”, comemora Trindade Filho.

As opções da empresa em biotecnologia e tratamento de sementes também são promis-soras. A Pioneer comercializa híbridos com a tecnologia Herculex I, tolerantes às principais pragas como lagarta do cartucho, lagarta rosca, elasmo, broca-da-cana-de-açúcar e lagarta da espiga. Dentro da biotecnologia, a Pioneer oferece sua principal linha de híbridos com a tecnologia Bt, nas marcas Yieldgard e Her-culex I. A tecnologia Bt controla as principais lagartas que atacam a cultura do milho, como

a lagarta-do-cartucho e a broca-da-cana-de-açúcar, pragas estas responsáveis por severos danos econômicos à cultura do milho em várias regiões do Brasil. No caso do Herculex I, esta tecnologia ainda oferece resistência à aplicação de herbicidas formulados com glufosinato de amônio, registrados no Brasil com a marca Liberty Link.

Uma das expectativas da empresa é de passar a comercializar no Rio Grande do Sul a tecnologia Roundup Ready aliada ao Herculex. Mas para isso, aguarda a liberação do cadastro estadual do defensivo. "O Roun-dup Ready é almejado principalmente pelos produtores que cultivam em minifúndios e trabalham com a monocultura, plantando apenas milho", explica André Keller, Coorde-nador Técnico da Pioneer.

Para que as tecnologias não sejam utiliza-das de forma isolada, a Pioneer oferece aos pro-dutores o Sistema de Solução Completa, um pacote de serviços que envolve a combinação de híbridos em associação com a tecnologia de marcadores moleculares, tecnologia Bt e Tratamento de Sementes Industrial. Tudo para facilitar o trabalho do produtor na hora de plantar, ou seja, a semente pronta pra o plantio.

silaGem de qualidadePara atingir a cadeia completa, do plantio à

produção de alimento de qualidade, a Pioneer oferece orientações técnicas aos produtores. É o caso da avaliação da silagem, de modo a identificar os principais erros e apontar correções.

Em eventos, como a Expodireto, realizada em março, no Rio Grande do Sul, a empresa tem demonstrado na prática os principais er-ros e cuidados que precisam ser tomados pelo produtor. Um dos equívocos mais comuns é o

Opções para o SulHíbridos novos, soluções em biotecnologia e repasse de informações técnicas são

algumas das estratégias adotadas pela Pioneer para fortalecer laços com os produtores

25www.revistacultivar.com.br • Abril 2011

corte antecipado do milho, quando o grão ain-da se encontra no estágio leitoso. “Nessa etapa o agricultor só aproveita 50% do potencial produtivo, por colher no momento em que a lavoura está iniciando o enchimento de grãos”, alerta o consultor João Ricardo Pereira.

Outro aspecto que precisa ser levado em consideração pelo produtor é a qualidade do corte, já que a má regulagem da máquina ensiladeira interfere negativamente no pro-duto final.

maRcas ReGistRadasMarcas registradas pela Pioneer Hi-

Bred®:- YieldGard é marca registrada utilizada

sob licença da Monsanto Company®.- Roundup Ready é marca registrada

utilizada sob licença da Monsanto Company Tecnologia de proteção contra insetos

- Herculex® I desenvolvida pela Dow AgroSciences e Pioneer Hi-Bred®.

- Herculex® I e o logo HX são marcas registradas da Dow AgroSciences LLC®.

- Liberty Link é marca registrada e utiliza-da sob licença da Bayer AgroScience.

André Keller, coordenador técnico da Pioneer,falou das tecnologias oferecidas pela empresa

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CC

Consultor João Ricardo Pereira explicou erros cometidos quanto ao estágio de colheita do milho para a silagem

Daniela Boelter Didone, do Departamento de Marketing da Pioneer, e João Artur Trindade Filho, gerente de Negócios para o Rio Grande do Sul

Soja

26 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

Renato Andrade Teixeira

Existem mais de 100 espécies de nematoides que envolvem aproxi-madamente 50 gêneros, associados

à cultura da soja. No Brasil, as espécies que causam maiores danos são Meloidogyne java-nica, M. incognita, Heterodera glycines, Praty-lenchus brachyurus e Rotylenchus reniformis. A importância dessas espécies para o país se deve a aspectos relevantes, como a presença endêmica em diversas regiões produtoras de soja (M. javanica e M. incognita), elevada varia-bilidade genética (H. glycines) e risco potencial de dano com o incremento da área cultivada com espécies suscetíveis (P. brachyurus e R. reniformis).

Os sintomas relacionados ao ataque des-ses fitoparasitas se assemelham muito. Em áreas com a presença de nematoide é comum encontrar reboleiras com plantas atrofiadas e cloróticas. Em casos extremos, com densida-des populacionais elevadas, há tendência de ocorrer a morte de plantas. No entanto, esses indicativos não podem ser únicos para diag-nosticar uma área com fitonematoides, pois a presença de reboleiras também pode estar as-sociada a manchas de calcário e à clorose com uma deficiência nutricional, déficit hídrico e compactação do solo. Dessa forma, realizar a identificação correta do nematoide presente na área é de extrema importância para manejar de forma eficaz essa importante praga.

nematoide de cisto da soja (heteRodeRa Glycines)O fitonematoide H. glycines é um dos

principais patógenos que afetam a cultura da soja nos principais países produtores. Na região Central do Brasil, em condições de altas populações, em especial quando associado ao excesso de calagem, as perdas causadas pelo nematoide de cisto da soja chegam a atingir 100%. No entanto, os níveis de danos causados são variáveis, em função de diversos fatores como a fertilidade e o manejo do solo, o grau de suscetibilidade das cultivares, o tempo de presença do nematoide na área e a adoção de práticas de controle, como a rotação de culturas com espécies não hospedeiras e a utilização de cultivares resistentes.

O nematoide de cisto da soja se caracte-riza pela facilidade de disseminação. A praga penetra nas raízes da planta de soja e dificulta a absorção de água e nutrientes, o que a condiciona a um porte e número reduzido de vagens, clorose e baixa produtividade. O sistema radicular fica reduzido e infestado por minúsculas fêmeas do nematoide com formato de limão, ligeiramente alongado. Inicialmente de coloração branca, a fêmea, posteriormente, adquire a coloração amarela. Quando a fêmea morre, seu corpo se trans-forma em uma estrutura dura denominada

cisto, de coloração marrom-escura, cheia de ovos, altamente resistente à deterioração e à dessecação e muito leve, que se desprende da raiz e fica no solo. O cisto pode sobreviver no solo, na ausência de planta hospedeira, por mais de oito anos. Assim, é praticamente impossível eliminar o nematoide nas áreas onde a praga ocorre.

A gama de espécies hospedeiras do H. gly-cines é limitada, destacando-se a soja (Glycine max), o feijão (Phaseolus vulgaris) e o tremoço (Lupinus albus). Algumas plantas daninhas também podem ser hospedeiras desse fitone-matoide. A maioria das espécies cultivadas, tais como milho, sorgo, arroz, algodão, girassol, mamona, cana-de-açúcar, trigo, assim como as demais gramíneas, é resistente.

O ciclo de vida do nematoide de cisto da soja varia em função de uma série de fatores. Considerando a temperatura do solo variando de 23°C a 25°C, o ciclo de H. glycines dura em torno de 21 dias a 24 dias. Dessa forma, é possível a obtenção de quatro a cinco gerações em um único ciclo da cultura.

A rotação de culturas é uma medida de controle indicada mesmo quando se tem oferta de cultivares resistentes. Essa rotação permite manter baixas as densidades popula-cionais dos fitonematoides e, com isso, possível incluir a utilização de cultivares suscetíveis em esquema de rotação de cultivares. A utilização

Disseminação velozDisseminação velozCresce a importância do ataque de nematoides em diversas lavouras comerciais do Brasil. Na soja esses fitoparasitas, que possuem extensa gama de hospedeiros, têm o poder de provocar prejuízos severos e em casos extremos levar as plantas à morte. Rotação de culturas e a busca por materiais resistentes estão entre as alternativas para o manejo

Cresce a importância do ataque de nematoides em diversas lavouras comerciais do Brasil. Na soja esses fitoparasitas, que possuem extensa gama de hospedeiros, têm o poder de provocar prejuízos severos e em casos extremos levar as plantas à morte. Rotação de culturas e a busca por materiais resistentes estão entre as alternativas para o manejo

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de cultivares suscetíveis é de fundamental importância para evitar ou diminuir a pressão de seleção sobre a população do nematoide, evitando a “mudança” da raça presente no local.

No Centro-Oeste, as principais culturas utilizadas na rotação são milho, arroz e algo-dão. É importante salientar que as culturas da mandioca e do amendoim, mesmo não sendo hospedeiras do nematoide de cisto da soja, não devem ser cultivadas em áreas infestadas, devido à grande movimentação do solo durante a colheita que permite o espalha-mento e disseminação de cistos presente no solo. Dessa forma, manejar adequadamente o solo é essencial para evitar a disseminação de cisto para outras áreas e de fundamental importância para diminuir os danos causados por esse fitonematoide.

Atualmente existem aproximadamente 42 cultivares de soja resistentes ao H. glycines, para a região Central do Brasil. As cultivares recomendadas, no entanto, em sua grande maioria, são resistentes somente às raças 1 e 3, e moderadamente resistentes à raça 14. Assim, é importante a identificação da raça presente na área, pensando no manejo para o controle de H. glycines, antes de se utilizar cultivares resistentes e as cultivares de empresas privadas e as transgênicas (Tabela 1).

nematoide de Galhas(meloidoGyne sPP.)As espécies Meloidogyne javanica e M.

incognita têm sido constatadas com maior frequência no norte do Rio Grande do Sul, sudoeste e norte do Paraná, sul e norte de São Paulo e sul do Triângulo Mineiro. Na região Central do Brasil, o problema é crescente, com severos danos em lavouras do Mato Grosso do Sul e Goiás.

As folhas das plantas afetadas normalmen-te apresentam manchas cloróticas ou necroses entre as nervuras, caracterizando a folha "carijó". Às vezes, pode não ocorrer redução no tamanho das plantas, mas, por ocasião do florescimento, nota-se intenso abortamento de vagens e amadurecimento prematuro das

plantas atacadas. Na ocorrência de "verani-cos", principalmente na fase de enchimento de grãos, os danos tendem a ser maiores. Nas raízes das plantas atacadas observam-se galhas em números e tamanhos variados, dependen-do da suscetibilidade da cultivar de soja e da densidade populacional do nematoide.

O ciclo de vida dos nematoides do gênero Meloidogyne depende de alguns fatores, sendo a temperatura um dos mais importantes. A temperatura ótima, para a maioria das espé-cies, oscila entre 15°C e 30°C. De modo geral o ciclo completa-se em aproximadamente 25 dias sob temperatura de 27°C, mas pode se tornar mais longo em temperaturas mais elevadas ou inferiores.

Todas as medidas de controle devem ser executadas antes da semeadura, pois ao constatar que a lavoura de soja está atacada, o produtor nada poderá fazer naquela safra. Todas as observações e todos os cuidados de-verão estar voltados para os próximos cultivos na área. A identificação correta da espécie de Meloidogyne predominante na área é essencial para se proceder o manejo desse nematoide. Amostras de solo e raízes de soja com galhas devem ser coletadas em pontos diferentes da reboleira, até formar uma amostra composta

de aproximadamente 500g de solo e pelo menos cinco sistemas radiculares da planta de soja. A amostra, acompanhada do histó-rico da área, deve ser encaminhada, o mais rapidamente possível, a um laboratório de nematologia credenciado.

O controle dos nematoides de galha pode ser realizado com a rotação/sucessão de culturas, a adubação verde e a utilização de cultivares resistentes. A rotação de culturas para controle de nematoide das galhas deve ser bem planejada, uma vez que a maioria das espécies cultivadas e das plantas daninhas é hospedeira e/ou atacada.

A utilização de cultivares resistentes é uma alternativa eficiente e de baixo custo. Atualmente várias cultivares de soja resistentes e moderadamente resistentes a M. javanica e/ou M. incognita estão disponíveis no mercado. Como o nível de resistência dessas cultivares não é muito elevado, em casos onde a po-pulação do nematoide no solo estiver muito alta, o emprego de cultivar resistente deve ser precedido de rotação com uma cultura não hospedeira de Meloidogyne.

nematoide das lesões RadiculaRes(PRatylenchus bRachyuRus)O nematoide das lesões radiculares

(Pratylenchus brachyurus) é disseminado por todo o Brasil. No caso da soja, especialmente na região Central, as perdas têm aumentado muito nas últimas safras. No entanto, quase não existem estudos sobre os efeitos do seu parasitismo nas diversas culturas. O nema-toide foi favorecido por mudanças no sistema de produção e a incorporação de áreas com solos de textura arenosa (>85% de areia). O P. brachyurus pode parasitar outras culturas de grande interesse econômico como o mi-lho, o milheto, o girassol, a cana-de-açúcar, o algodão, o amendoim, a aveia, alguns adubos verdes e a maioria das plantas daninhas. Essa ampla gama de hospedeiros dificulta muito a rotação de culturas.

Além da sintomatologia geral, já descrita O nematoide de cisto da soja se caracteriza

pela facilidade de disseminaçãoO controle dos nematoides de galha pode ser realizado com a rotação/sucessão de culturas

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Avaliações em casa de vegetação e em campo naturalmente infestado têm mostrado que entre as duas há bastante diferença com relação à capacidade de multiplicar o nematoide

Fernando Godinho de Araújo

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28 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

tabela 1 - Relação de cultivares de soja resistentes ao nematoide de cisto da soja (h. glycines) para a região central do país

* Resistência: R = resistência à raça ou às raças / mR = moderadamente resistente à raça. Fonte: embrapa soja (2008).

Resistência a h. glycines*R 1,3 mR 14

R 1,3R 1,3 mR 14

R 1,3R 1,3

R 1,3 mR 14R 1,3R 1,3

R 1,2,3,4,5,14R 3R 3

R 3,14R 3

R 1,3R 3

R 1,3R 3R 3

R 1,3 mR 14R 3R 3

cultivares de sojaFmt cacharaFmt matrinxãFmt tabarana Fmt tucunaréFoster (iac)m-soy 7901m-soy 8001m-soy 8200m-soy 8400m-soy 8757nK7059RRnK7074RRnK412113

P98n71P98n82

tmG113RRtmG115RRtmG117RRtmG121RR

v-maX

Resistência a h. glycines*R 1,3R 1,3R 1,3

R 1,3 mR 14R 3R 3

R 1,3R 3R 3R 3R 3R 3R 3

R 1,3R 3

R 1,3R 1,3 mR 14

R 3R 1,3 mR 14

R 3

cultivares de sojabRs 231bRs 262

bRs 263 (diferente) bRs 8460RR

bRs invernadabRs jiripocabRs Piraíba

bRsGo araçubRsGo chapadões

bRsGo edéiabRsGo iara

bRsGo ipameribRsGo Raíssa

bRsmG 250 (nobreza)bRsmG 251 (Robusta)

bRsmG 810 cbRsmG 811cRR

bRsmG liderançabRsmt Pintado

cd 217cs 801

para nematoides, é possível observar nas raízes atacadas por essa praga a presença de áreas necrosadas. Isto ocorre em função do ataque às células do parênquima cortical, onde o nematoide injeta toxinas durante o processo de alimentação. Sua movimentação dentro das raízes também causa a destruição celular, o que favorece a invasão por fungos e bactérias, resultando em lesões necróticas. Não há a for-mação de galhas, contudo, o sistema radicular das plantas de soja fica reduzido.

As medidas de controle envolvendo o P. brachyurus ainda estão, em sua grande maioria, em fases iniciais de estudo. Espécies resistentes, como algumas crotalárias (Cro-talaria spectabilis, C. breviflora, C. mucronata e C. ochroleuca), devem ser preferidas para semeadura nas áreas infestadas. Na ausência de espécies vegetais resistentes, o agricultor deve optar por semear genótipos que multipli-quem menos o nematoide, como, por exemplo, alguns híbridos de milheto.

A interação de P. brachyurus com a soja é menos complexa, não havendo necessidade de formação de nenhuma célula especializada de alimentação, como ocorre com os nematoides de cisto e de galhas, assim, as chances de se encontrar fontes de resistência são menores. O comportamento das cultivares brasileiras de soja em áreas infestadas não tem indicado a existência de materiais resistentes ou toleran-tes. Todavia, avaliações em casa de vegetação e em campo naturalmente infestado têm mos-trado que entre as duas há bastante diferença com relação à capacidade de multiplicar o nematoide. Considerando que na maioria das lavouras afetadas, as populações do parasita são muito elevadas, o uso de cultivar de soja mais resistente deve ser sempre precedido de, pelo menos, um ano de rotação com uma espécie vegetal não hospedeira.

nematoide ReniFoRme (Rotylenchulus ReniFoRmis)Nos últimos 15 anos o nematoide reni-

forme tem aumentado sua importância na cultura da soja, em especial no centro-sul de Mato Grosso do Sul. Já é considerado um dos principais problemas em Maracaju e Aral Moreira e está disseminado em outros 19 municípios do estado. O algodão é a cultura mais afetada por R. reniformis, parasitando também o abacaxi, o feijão, o maracujá e outras culturas.

Os sintomas nas plantas parasitadas por R. reniformis diferem em parte da-queles causados por outros nematoides. Embora não induza a formação de galhas nas raízes, prejudica a translocação de água e nutrientes das raízes para as folhas. Por não induzir a formação de galhas, a de-tecção do nematoide reniforme no campo é praticamente impossível, sendo neces-sária análise de solo/raiz em laboratório especializado. Lavouras de soja cultivadas em solos infestados caracterizam-se pela desuniformidade, com extensas áreas de plantas subdesenvolvidas e não ocorrência de reboleiras típicas. Ao serem arrancadas, as raízes parecem permanecer sujas mesmo após serem lavadas em água corrente; isto devido ao fato de a argila do solo aderir às massas de ovos dos nematoides. Ocorre tanto em solos arenosos quanto em argilo-sos e os danos são comuns em áreas de boa fertilidade em solos de textura argilosa.

Como principais alternativas de controle do nematoide reniforme figuram a rotação/sucessão com culturas não hospedeiras e a

utilização de cultivares resistentes. O milho, o arroz, o amendoim e a braquiária apresentam potencial de utilização em um esquema de integração lavoura/pecuária, pois são resisten-tes e podem ser utilizados em rotação com a soja ou o algodão. Das plantas cultivadas no outono/inverno e utilizadas como coberturas em sistemas de semeadura direta, são resis-tentes a braquiária, o nabo forrageiro, o sorgo forrageiro, a aveia preta, o milheto e o capim pé-de-galinha. Pelo fato de o nematoide reni-forme ser muito persistente no solo, depen-dendo da densidade populacional, pode haver necessidade de mais de dois anos de cultivo com espécie não hospedeira para se diminuir o nível populacional do nematoide.

Com relação ao uso da resistência gené-tica, normalmente as principais fontes de resistência ao nematoide de cisto da soja, exceto a PI 88788, também conferem resis-tência a R. reniformis. Portanto, devem ser exploradas nos programas de melhoramento que objetivam a resistência. As cultivares de soja resistentes a H. glycines já liberadas no Brasil, especialmente aquelas derivadas de ‘Peking’ (‘Custer’, ‘Forrest’, ‘Sharkey’, ‘Lamar’, ‘Pickett’, ‘Gordon’, ‘Stonewall’, ‘Thomas’, ‘Foster’, ‘Kirby’ e ‘Padre’, dentre outras), da PI 90763 (‘Cordell’) ou da PI 437654 (‘Hartwig’) têm grande potencial de também serem resistentes ao nematoide reniforme.

Na soja, especialmente na região Central, as perdas por nematoides têm aumentado muito nas últimas safras

Fernando Godinho de Araújo, Universidade Federal de GoiásFábio Luiz Partelli,Univ. Federal do Espírito Santo

Fernando Godinho de Araújo

CC

Café

30 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

Adubação de inverno

A aplicação suplementar de fertilizantes, como o nitrogênio, em meses de temperaturas mais baixas surge como

alternativa promissora na cultura do cafeeiro, com impacto positivo nas taxas de crescimento e na produtividade

Um sistema pouco usual de adubações consiste na “adu-bação de inverno”, época em

que a planta paralisa o desenvolvimento da parte aérea sem cessar o crescimento radicular, pois no solo não há limitação por baixas temperaturas. Uma adubação nitrogenada de inverno visaria apenas o desenvolvimento radicular das plantas,

que teriam um maior desenvolvimen-to inicial da parte aérea no início do período chuvoso. No verão também se tem observado que o uso de adubações líquidas em períodos de estiagem pode proporcionar maior desenvolvimento vegetativo e maiores produtividades.

Durante o inverno ocorre redução paulatina do crescimento da parte aérea

do cafeeiro, que segue até sua completa paralisação nos meses de julho a setem-bro. Esta limitação está relacionada com o aumento do número de horas com temperaturas abaixo de 12,5°C (Amaral et al, 1987). Contudo, esta redução no desenvolvimento da parte aérea não é afetada pela expansão do fotoperíodo, pela irrigação e pela adubação nitroge-nada de inverno (Amaral, 1991).

Entretanto, as taxas de crescimento das plantas que recebem nitrogênio suplementar no inverno, tanto sob a forma nítrica quanto amoniacal, são quase o dobro daquelas taxas em cafeeiros apenas adubados durante o verão. Sendo assim, a produtividade é, também, significativamente maior nas plantas adubadas no inverno. Portanto, há algum efeito sob a influência do nitrogênio aplicado durante o inverno (Amaral et al, 1987; Matta et al, 1999). As raízes continuam a crescer no in-verno quando se aplica nitrogênio, pois durante este período a temperatura do solo dificilmente cai abaixo de 15°C e normalmente permanece acima de 17°C

Divulgação

Com a fertirrigação de inverno são supridos fatores que limitam odesenvolvimento do cafeeiro, como carência de água e de nitrogênio

39Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

boa parte do dia (Amaral, 1991). Plan-tas que recebem adubação nitrogenada de inverno têm prosseguimento normal de muitos fenômenos biossintéticos, especialmente a assimilação de nitrogê-nio, via atividade da redutase do nitrato (Amaral et al, 1987). Utilizando-se da fertirrigação de inverno, os fatores que limitam o desenvolvimento radicular, como água e nitrogênio, são supridos. Desta forma, as plantas de cafeeiros acumulam vários compostos nitrogena-dos, como aminoácidos e reguladores de crescimento, os quais são transportados para a parte aérea, permitindo um maior desenvolvimento das plantas, quando a temperatura ambiente tornar-se favorá-vel (Matta et al, 1999).

Esse tipo de adubação é uma inova-ção que se mostra promissora, por per-mitir um possível maior desenvolvimen-to dos cafeeiros quando do retorno das chuvas e das maiores temperaturas.

Em busca de mais esclarecimentos sobre o assunto, atualmente está sendo conduzido na Fazenda Experimental da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em Patrocínio, um ensaio com adubação nitrogenada e

adubação NPK de inverno em relação à adubação tradicional ou em substituição em épocas diferentes para a cultura do cafeeiro. As quantidades dos fertilizan-tes são aplicadas em função da análise de solo em doses recomendadas igual-mente para todos os tratamentos. É im-portante salientar que os fertilizantes na época de inverno são sempre aplicados após serem solubilizados, utilizando-

se de equipamentos para aplicação de herbicidas, fazendo-se aplicação em faixa sob a projeção da copa das plantas. Brevemente serão divulgados resultados conclusivos deste ensaio conduzido em campo. CC

Kaio Gonçalves de Lima Dias eThiago Henrique Pereira Reis,Ufla

SLC Agrícola

32 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

TrigoC

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A cultura do trigo desponta como uma das mais importantes no cultivo de inverno, especialmente

no Sul do Brasil. Nessa região é característico o uso do sistema de plantio direto, que requer o uso de herbicidas para o manejo das plan-tas daninhas em operações que vão desde o controle em pré-semeadura, em pré e em pós-emergência.

Outra característica do cultivo do trigo é a rotação de culturas, onde em algumas regiões a semeadura ocorre após a colheita da soja e em outras após a do milho (que em algumas regi-ões é a mais frequente). Sendo assim, desde a colheita do milho (entre fevereiro e abril) até o plantio do trigo (maio a julho) as lavouras costumam ficar sem cultura, o que favorece a emergência e o desenvolvimento de plantas daninhas, sem a competição das culturas. Esse período de dois a quatro meses sem uma cultura comercial ou sem o controle de plantas daninhas poderá resultar em problemas na semeadura do trigo, pois podem ocorrer várias espécies de plantas daninhas que, em geral, se encontram bem desenvolvidas e que podem dificultar o seu controle. A recomendação para a época e o modo para realizar a dessecação

em pré-semeadura é muito ampla, pois varia em função de diversos fatores como época de semeadura do trigo, número e espécies das plantas daninhas, nível tecnológico do agricul-tor, entre outros. Entre as opções do manejo em pré-semeadura, duas se destacam como as mais usuais: a dessecação em aplicação única na véspera da semeadura do trigo e a desseca-ção de pós-colheita da safra de verão (manejo outonal) seguida de mais uma dessecação antes da semeadura do trigo.

O manejo outonal é uma opção bastante utilizada e que tem mostrado excelentes resultados. Esse manejo consta da aplicação de herbicidas não seletivos alguns dias após a colheita do milho ou da soja, em geral de duas a três semanas depois, uma aplicação que tem por objetivo o controle das espécies que emergiram ao final do ciclo, principalmente do milho e daquelas que rebrotaram após o corte da colhedora. Essa operação propicia uma área mais limpa na época da semeadura do trigo e o manejo em pré-semeadura é realizado com menor número de plantas daninhas, menos desenvolvidas e consequentemente de mais fá-cil controle. No entanto, independentemente do manejo outonal, várias espécies de plantas

daninhas podem emergir no período entre a colheita da cultura de verão e a semeadura do trigo, destacando-se a aveia-preta e o azevém, que são bastante utilizados como pastagem e/ou como cobertura no sistema de rotação de culturas. Tanto a aveia-preta como o azevém apresentam características semelhantes às do trigo e seus controles, quando o trigo já está no campo, requerem o uso de herbicidas específicos. No manejo dessas espécies antes da semeadura do trigo alguns herbicidas não seletivos (por exemplo, o glifosato e o paraquat) podem ser utilizados em aplicação única ou sequencial.

O manejo em aplicação única é realizado poucos dias antes da semeadura do trigo, devendo-se considerar, nesse caso, que outras espécies ocorrem junto com a aveia-preta e o azevém e muitas vezes o uso do glifosato isolado nem sempre controla adequadamen-te todas as espécies presentes, requerendo a complementação do controle com outros herbicidas, em geral latifolicidas.

O manejo mais sustentável e adequado é a dessecação sequencial, com o uso do glifosato de 20 a 30 dias antes da semeadura do trigo, seguido de uma aplicação de paraquat ou de

Manejo eficazManejo eficazO período de pré-semeadura do trigo, de fevereiro a abril, até o plantio, entre maio e julho, favorece a emergência e o desenvolvimento de plantas daninhas porque as áreas costumam permanecer ociosas, sem cultura comercial. Estratégias estão disponíveis para que o produtor possa realizar o controle satisfatório nesse estágio

O período de pré-semeadura do trigo, de fevereiro a abril, até o plantio, entre maio e julho, favorece a emergência e o desenvolvimento de plantas daninhas porque as áreas costumam permanecer ociosas, sem cultura comercial. Estratégias estão disponíveis para que o produtor possa realizar o controle satisfatório nesse estágio

de milho RR. É importante destacar que o produtor que semear trigo após soja RR terá que adicionar outro herbicida latifolicida ao glifosato, preferencialmente 2,4-D, pois existem no mercado cultivares de soja cha-madas STS que, além de serem resistentes ao glifosato, também são tolerantes aos herbicidas do grupo das sulfonilureias. Para o controle de milho RR o produtor prova-velmente terá um custo maior, pois deverá utilizar herbicidas inibidores da ACCase. Em ambos os casos, resteva de soja RR e de milho RR, existe a possibilidade de se utilizar herbicidas de contato como paraquat e para-quat + diuron, desde que as plantas de soja ou milho não estejam em estádios avançados de desenvolvimento.

33www.revistacultivar.com.br • Abril 2011

CC

paraquat + diuron, próxima ou até no dia da semeadura. É importante destacar que o uso de glifosato isoladamente nem sempre promo-ve o controle adequado de todas as espécies, o que exige a complementação com outros herbicidas na primeira aplicação do manejo sequencial, o que pode onerar a operação de manejo.

Outro problema que pode afetar subs-tancialmente o manejo de plantas daninhas em pré-semeadura do trigo é a ocorrência de espécies resistentes. Devido ao crescente uso de glifosato em culturas resistentes a esse herbicida, como a soja RR, torna-se cada vez mais comum a seleção de plantas daninhas resistentes ao glifosato, que vêm aumentan-do sua frequência e requerem um manejo diferenciado. Na região Sul do Brasil já são encontrados problemas com azevém (Lolium multiflorum), buva (Conyza spp.) e capim-amargoso (Digitaria insularis) resistentes ao herbicida glifosato.

A ocorrência do azevém resistente ao glifosato tem aumentado na região Sul e tornou-se um problema tanto na dessecação em pré-semeadura do trigo como de outras culturas de verão. Quando não resistente, o azevém é controlado com o glifosato, porém, nos biótipos resistentes outros herbicidas devem ser associados ao glifosato, o que onera o custo da operação e com o agravante de que os herbicidas que controlam o azevém nem sempre são recomendados para trigo e/ou para aplicação de manejo. No entanto, o azevém resistente ao glifosato deve ser eliminado e são recomendadas estratégias para evitar que afete a semeadura e a pro-dução do trigo.

Alguns herbicidas inibidores da ACCase são eficientes no controle do azevém resis-tente, especialmente quando associados ao glifosato. Nesse caso, quando do uso desses produtos deve se atentar para o intervalo entre a aplicação e a semeadura do trigo para evitar danos de carryover. Esse intervalo pode variar de sete até 30 dias, dependendo do herbicida utilizado. Dentre os herbicidas

que apresentam excelente controle de aze-vém resistente e que se apresentam seguros no ponto de vista de carryover destaca-se o cletodim. No manejo de buva resistente ao herbicida glifosato o problema se agrava, já que quanto maior for o intervalo entre a co-lheita da cultura de verão e a semeadura do trigo a buva tem mais tempo para se desen-volver, o que torna necessário maior atenção ou estratégias mais precisas para o controle dessa espécie. É importante destacar que o estádio de aplicação é determinante para o sucesso do controle. O uso do 2,4-D associa-do ao glifosato complementado com paraquat + diuron é uma das maneiras mais eficientes no controle da buva resistente desde que as plantas apresentem estádios precoces de desenvolvimento (10cm de altura). A partir desse estádio o controle diminui e em alguns casos não ocorre efetivamente.

Outro agravante no manejo em pré-semeadura do trigo é a ocorrência de plantas voluntárias de soja RR e, mais recentemente,

Azevém (Lolium multiflorum) resistente ao herbicida glifosato na operaçãode dessecação. Penckowski & Fernandes. Fundação ABC, Safra 2009/2010

controle de azevém (lolium multiflorum) resistente ao herbicida glifosato. Pencko-wski, Podolan & Fernandes. Fundação abc, castro (PR), safra 2009/2010

controle de soja (Glycine max) voluntária resistente ao herbicida glifosato na operação de desse-cação. Penckowski, Podolan & Fernandes. Fundação abc, Ponta Grossa (PR), safra 2009/2010

Jeferson Zagonel,UEPGLuis Henrique Penckowski eEliana Cuéllar Fernandes, Fundação ABC

Fundação ABC

Empresas

A Bayer CropScience coloca no mercado brasileiro o fungicida Fox, maior lançamento da empresa no Brasil, desenvolvido a partir de um novo grupo químico, que poderá ser

também uma ferramenta no manejo à resistência da ferrugem asiática

Seguindo a política anunciada na Alemanha, em setembro de 2010, de oferecer produtos baseados

em novas moléculas, a Bayer CropScience lançou no Brasil o fungicida Fox, produto que vem para atuar no manejo de ferrugem asiática e de outras doenças da soja, como mancha-alvo e antracnose.

O Fox, que vem sendo tratado pela Bayer CropScience como o maior lança-mento da história da empresa no Brasil, é um novo fungicida composto da associação entre a estrobilurina (trifloxistrobina) e a triazolintiona (protioconazol). Desde o surgimento da ferrugem no Brasil, em 2001, o manejo da doença era feito com uso de triazóis e de estrobilurinas aplicados separadamente ou em misturas.

Segundo o pesquisador da Universida-de de Rio Verde, Luis Henrique Carregal, que participou do processo de testes com o novo produto, a estrobilurina é a mesma presente em outros fungicidas da empresa e atua inibindo o transporte de elétrons na mitocôndria. Esses fungicidas inibem a produção de energia e o fungo morre. Mas a grande novidade está no protioconazol, classificado como triazolintiona (registro junto ao Mapa). Embora também seja um inibidor da desmetilação (IDM), sua prin-

cipal diferença é a presença de molécula de enxofre em sua estrutura química, o que o torna mais eficaz no controle de doenças como a ferrugem asiática. A forma com que o proticonazol se liga à enzima C14 desmetilase é diferente dos triazóis, o que pode auxiliar no manejo da resistência. Além disso, segundo informações dos pes-quisadores da Bayer, o risco de resistência cruzada entre o protioconazol e os triazóis é significativamente menor que entre triazóis. Somente com a exposição do pro-tioconazol em grandes áreas, será possível verificar a real contribuição no manejo da resistência e, para que isso ocorra, é fun-damental que os agricultores sigam à risca as recomendações do fabricante.

O novo produto vem sendo testado por pesquisadores no Brasil desde 2006, onde apresentou controle superior às demais marcas comerciais testadas em campos ex-perimentais. Nos experimentos realizados por Carregal, os resultados obtidos com aplicações preventivas, comparados com outros dois produtos e testemunha, mos-tram que a severidade da doença chegou a 8,08% com uso de Fox, contra 20,28% e 69,20% para os demais produtos e 100% na parcela testemunha. Neste mesmo ensaio, a produtividade na parcela com Fox chegou

a 53,95 sc/ha, contra 47,82 sc/ha e 30,34 sc/ha para os demais produtos e 20,43 sc/ha na parcela testemunha.

Experimentos conduzidos pelo pesqui-sador Daniel Cassetari, da Universidade Federal do Mato Grosso, também mostra-ram controle superior do Fox em relação aos demais produtos testados. “Com duas aplicações preventivas, começando no estágio R1, o produto mostrou controle superior às parcelas com outros aplicados nos mesmos estágios com fenológicos”, explica.

“Além da eficácia para o manejo da fer-

Novidade contra a ferrugemNovidade contra a ferrugem

Para Gerhar Bohne, o lançamento do Fox é omaior já feito pela Bayer CropScience no Brasil

34 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

Cultivar

35www.revistacultivar.com.br • Abril 2011

Para Carregal, o Fox será uma ferramenta que possibilitará a rotação completa de fungicidas

Lançamento oficial contou com a presença de pesquisadores de instituiçõesdo Cerrado, diretores da Bayer e do Ferrugem, garoto-propaganda do Fox

rugem, o Fox apresenta controle superior da mancha alvo e da antracnose, e que dispensa adição de fungicidas do grupo químico dos benzimidazóis, até então considerados eficientes no controle destas doenças”, garante Gerhard Bohne, diretor de Operações de Negócios Brasil da Bayer CropScience.

“Avaliando todas as condições enfren-tadas pelas lavouras de soja no Brasil, a empresa, que acompanha a evolução da ferrugem ao longo dos anos, por meio do seu programa Base Line, conseguiu de-senvolver um fungicida diferenciado para o manejo da ferrugem e do complexo de doenças da soja. É uma grande satisfação anunciar que este é o maior lançamento da história da Bayer CropScience Brasil e temos certeza de que o Fox chega para revolucionar o segmento de fungicidas na cultura da soja no Brasil", acrescenta Bohne.

lançamentoPara apresentar o produto aos produ-

tores brasileiros, a Bayer vai fazer ações em mais de 50 cidades nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Dis-trito Federal, Tocantins, Maranhão, Minas Gerais e São Paulo. Os eventos contarão com o Cinetransformer, uma carreta que se transforma em sala de cinema 3D, com capacidade para acomodar até 92 pessoas

Os fungicidas são produtos químicos capazes de inibir

processos metabólicos vitais aos fungos, causando sua morte. O local de ação (sí-tio de ação) de cada grupo químico pode variar grandemente, o que é saudável para evitar ou até mesmo para o manejo da resistência. É importante salientar que grupos químicos diferentes podem atuar sobre o mesmo sítio do patógeno, o que aumenta o risco de resistência cruzada. Conforme tem se verificado a campo, o fungo causador da ferrugem asiática apresenta menor sensibilidade

COMO ATUA O NOVO FUNGICIDAaos triazóis, o que exige a introdução de novos produtos no mercado e que sejam diferentes daqueles utilizados atualmente.

O novo grupo químico protioconazol é um inibidor da desmetilação (IDM), sua principal diferença é a presença de molécula de enxofre em sua estrutura química, o que o torna mais eficaz no controle de doenças como a ferrugem asiática. A forma com que o proticona-zol se liga à enzima C14 desmetilase é diferente dos triazóis, o que pode auxiliar no manejo da resistência.

Mais de 50 cidades receberão eventos de lançamento do produto, explica Eduardo Mazzieri

simultaneamente, que transmitirá vídeos promocionais do novo produto para os pro-dutores e filmes infantis para as crianças da cidade, explica Eduardo Mazzieri, gerente de Produtos Fungicidas para Soja.

Toda a campanha de marketing terá

como garoto-propaganda o Ferrugem, es-trela infantil dos anos 80, que vai personi-ficar o fungo da ferrugem. A Bayer também preparou para safra 2010/2011 mais de 700 áreas demonstrativas em oito estados para apresentar os resultados do produto. CC

Fotos Edilon Carmo

36 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

Coluna ANPII

eixos estratégicos

A Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes tem participado

das reuniões da Câmara Temática de Insumos Agropecuários (CTIA), criada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Esta Câmara tem a finalidade de propor estratégias e ações para a maior produtividade e rentabilidade do agronegócio brasileiro. Participam da CTIA, além do próprio Mapa, 25 associações representativas do setor de insumos.

Em 2011 foi proposto que os diversos setores traçassem seus eixos estratégicos para os próximos cinco anos, fornecendo

tores). Para os inoculantes destinados às gramíneas, por serem ainda muito novos no mercado, não há como se fazer uma previsão para os próximos anos, por falta de dados históricos que permitam uma projeção para um médio prazo. Somente com mais um ou dois anos de comerciali-zação será possível projetar números para o futuro.

No que tange à pesquisa, desenvolvi-mento e inovação, os eixos norteadores das ações nesta área são onze:

• Seleção de estirpes de bactérias fixadoras, tanto em leguminosas como em plantas de outras famílias.

• Seleção de cultivares adaptadas à

Solon de AraujoConsultor da ANPII

A falta de apoio à assistência técnica, talvez seja o maior gargalo para a adoção plena do uso de inoculante

O histórico da FBN no Brasil tem de-monstrado que os grandes avanços na área sempre foram oriundos da colaboração entre governo e iniciativa privada, sendo este trabalho conjunto responsável pelo elevado padrão de qualidade do inoculante comercializado no Brasil.

A falta de apoio à assistência técnica, talvez seja o maior gargalo para a adoção plena do uso de inoculante. E a ANPII apontou isto, mostrando os pontos onde há necessidade de reforço para que a tecno-logia seja repassada de forma continuada e dentro de padrões de atualidade para os assistentes técnicos, sejam das EMATERs, sejam de cooperativas ou de consultorias

ANPII participa das discussões da Câmara Temática de Insumos Agropecuários (CTIA) e entre as estratégias propõe atingir no prazo de cinco anos a

comercialização de 27 milhões de doses de inoculante para leguminosas

subsídios para o estabelecimento de uma política de médio prazo para os insumos agropecuários no Brasil. Atendendo a esta necessidade a ANPII traçou os eixos estratégicos da área de produção de inocu-lantes, baseando seu trabalho nos grandes eixos sugeridos pelo Mapa: estatísticas, pesquisa e desenvolvimento e inovação, assistência técnica, governança da cadeia, comercialização e outros.

A partir daí foram levantados os principais problemas e oportunidades do setor, verificando-se quais pontos da cadeia necessitam maiores investimentos para tornar a fixação biológica do nitro-gênio uma prática agrícola utilizada na só na cultura da soja, mas também em diversas outras, não só leguminosas como em gramíneas, com o advento dos novos inoculantes.

Em termos de estatística, foi feita uma projeção para que se atinja, no prazo de cinco anos, a comercialização de 27 milhões de doses de inoculante para legu-minosas (em um cenário otimista, no qual se mantenham os preços das comodities em patamares rentáveis para os agricul-

FBN.• Avaliação dos níveis de N fixado

pelas diversas estirpes, em diferentes con-dições e culturas.

• Interação de microrganismos• Suporte científico ao Mapa para o

registro de inoculantes. • Caracterização genética das bacté-

rias usadas em inoculantes.• Novas formulações de inoculantes,

mais fáceis de usar.• Compatibilização da inoculação

com o uso de sementes tratadas indus-trialmente.

• Compatibilização do uso do ino-culante com defensivos usados nas sementes.

• Desenvolvimento de tecnologias que permitam a inoculação com antecipação ao plantio.

• Mais dados de pesquisa mostrando as vantagens do uso da inoculação em gramíneas.

Dentro destas ações, algumas são executadas pelos órgãos de pesquisa, ou-tras pelas empresas e outras em projetos conjuntos entre pesquisa oficial e privada.

privadas. Somente com a transmissão de dados de pesquisa sempre atuais os agrô-nomos e técnicos agrícolas que orientam os agricultores poderão transmitir as novas tecnologias que estão surgindo seguida-mente no horizonte da fixação biológica do nitrogênio.

Em vários outros pontos a ANPII apresenta sua visão e suas propostas de ações: marketing, defesa agropecuária, legislação, interação com outras cadeias. Desta forma, a associação colabora com o Mapa para que seja implantada uma política consistente de insumos agropecuários, pois no atual momen-to da agricultura brasileira (onde o agronegócio atinge uma importância fundamental no desenvolvimento do país) não se pode mais trabalhar com improvisações, exigindo-se elevada competitividade internacional, o que será muito facilitado com planejamento de médio prazo. CC

Coluna Agronegócios

37www.revistacultivar.com.br • Abril 2011

Produção sustentável

O termo "sustentável" provém do latim sustentare (susten-tar; defender; favorecer, apoiar;

conservar, cuidar). O conceito moderno de sustentabilidade começou a ser delineado na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972. Foi a primeira oportunidade em que a ONU patrocinou uma reunião para discutir o impacto das atividades humanas sobre o meio ambiente.

Embora a expressão "desenvolvimento sustentável" ainda não fosse usada na época, a declaração já abordava a necessidade de defender e melhorar o ambiente humano para as atuais e futuras gerações, um objetivo a ser alcançado juntamente com a paz e o desenvolvimento econômico e social. Verifica-

sustentabilidade global no século XXI.A Cúpula da Terra sobre Desenvolvimento

Sustentável, realizada em 2002 em Joanesbur-go, reafirmou os compromissos da Agenda 21, propondo a maior integração das três dimen-sões do desenvolvimento sustentável (econô-mica, social e ambiental). Avançou além do proposto na ECO-92 ao propor programas e políticas centrados nas questões sociais e nos sistemas de proteção social.

sustentabilidade e aGRoPecuáRiaIntegrando os aspectos sociais, ambientais

e econômicos, derivados das considerações anteriores, entendo que a agricultura sus-tentável provê as necessidades da sociedade de produtos agrícolas de qualidade, com respeito ao meio ambiente e remunerando as

aumenta a insegurança da produção, por força das mudanças climáticas globais. Esta é a síntese das questões ambientais envolvidas na produção agropecuária.

A grande saída que o mundo dispõe para aumentar a produção - diminuindo o custo dos alimentos e mantendo a renda dos agricultores - é a tecnologia adequada e seu corolário prático, a produtividade agrícola. Este é o desafio econô-mico. Felizmente, a produtividade agrícola pode atender adequamente aos três pilares da susten-tabilidade, desde que os sistemas de produção sejam intrinsicamente sustentáveis.

sustentabilidade e meRcado Este dueto configura um casamento

duradouro. Para garantir espaço no mercado, será necessário demonstrar a sustentabilida-

Décio Luiz GazzoniO autor é Engenheiro Agrônomo,

pesquisador da Embrapa Soja

A grande saída que o mundo dispõe para aumentar a produção - diminuindo o custo dos alimentos e mantendo a renda dos agricultores - é a tecnologia adequada e seu corolário prático

se que, desde a sua gênese, o conceito de sustentabilidade envolve um tripé fundindo indissoluvelmente aspectos ambientais, sociais e econômicos. Nada será sustentável se deixar de atender a um dos quesitos, perfeitamente harmonizado com os demais. Uma elaboração complexa, inteligente e integradora.

A definição correntemente aceita de sustentabilidade na agropecuária deriva do “Relatório Brundtland” preparado a pedido da ONU e publicado em 1987 com o título Our Common Future, e reza que “o uso sus-tentável dos recursos naturais deve suprir as necessidades da geração presente sem afetar a possibilidade das gerações futuras de suprir as suas”. A Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (RIO-92 ou ECO-92), consolidou o conceito de desenvolvimento sustentável, plasmando em definitivo meio ambiente e desenvolvimento quando se trata de sustentabilidade, consolidando a iniciativa esboçada na Conferência de Estocolmo. A RIO-92 adotou, oficialmente, o conceito de desenvolvimento sustentável, elaborado pela Comissão Brundtland. Na ECO-92 tam-bém foi elaborada a Agenda 21, um amplo e abrangente programa de ação, visando a

cadeias produtivas de forma a mantê-las em atividade.

Eatabelecido o introito, passemos a dis-cutir o conceito de sustentabilidade aplicado à agropecuária. O crescimento populacional – embora declinando progressivamente até a estabilização, na metade deste século - e a inserção social – que aumentará progressiva-mente, rumo à eliminação da fome estrutural no mundo - serão os principais vetores da demanda de produtos agrícolas, nas próximas décadas. Estas premissas constituem o fulcro da questão social da sustentabilidade na agropecuária, ou seja, o mercado de produtos agrícolas cresce essencialmente por inserção social, até que a população do mundo tenha suas necessidades nutricionais atendidas. Para tanto, é necessário aumentar significativamen-te a produção agrícola.

Entretanto, destarte o aumento da deman-da de alimentos e de outros produtos agrícolas - em especial pela inserção social - no médio e longo prazos acentuam-se as restrições físicas e ambientais à incorporação de novas áreas, pois as áreas agricultáveis do mundo estão atingindo sua fronteira e as que sobraram são ambientalmente sensíveis. Ao mesmo tempo,

de na produção agrícola. E o Brasil vem se preocupando com esta questão. Para ilustrar cito duas iniciativas que apoiam a busca da sustentabilidade na cultura da soja:

1) Desafio Soja – Trata-se de uma inicia-tiva pioneira da Oscip, o Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb) que, desde 2008, propugna o incremento constante da produtividade sustentável da soja brasileira, com observância dos requerimentos trabalhistas e ambientais, e lastreada em tecnologia intrinsicamente sustentável;

2) Soja Plus – Trata-se de um sistema de certificação voluntária, lançado em 2011, que inclui aspectos trabalhistas e ambientais na produção de soja, e que envolve diversos atores da cadeia de soja, tanto públicos quanto privados.

A sustentabilidade será fundamental para o contínuo crescimento do agronegócio brasileiro, e o agricultor contará cada vez mais com as iniciativas como as citadas, para orientá-lo no rumo de sempre produzir de forma sustentável. CC

Coluna Mercado Agrícola

mundo de olho na nova safra americana

TRIGO - As negociações com trigo mostraram correções nos indicativos internos, mas que não serviram para estimular os produtores, principalmente do Paraná, ao aumento ou à manutenção da área. Assim, a safrinha de milho, mesmo atrasada, ganhou espaço que deveria ser do trigo. Os indicativos seguiam acima dos R$ 460,00 no Rio Grande do Sul e na casa dos R$ 510,00 no Paraná, com pouca pressão de compra pelos moinhos. Com isso houve grande avanço nas exportações de trigo neste último mês de março. Se houver problemas no mercado externo, poderemos ter uma forte alta nas cotações, mas até lá o cenário é de calmaria, com o plantio começando a andar e produtores vendo que terão de melhorar a produtividade e a qualidade neste novo plantio.

ALGODÃO - O mercado se manteve com indicativos do fardo da pluma na faixa dos R$ 130,00 nas principais regiões produtoras. Somente no Mato Grosso o plantio está avançando em aproximadamente 50%, frente à safra passada e quase dobrando a área em relação há dois anos. Com grande parte da produção já travada na exportação, o que dá tranquilidade aos produtores. Já há negócios para entrega em 2012 e também para 2013, garantindo o bom momento.

EUA - As primeiras sementes estão sendo plantadas e tudo aponta para cresci-mento no milho e leve queda na soja. Mas também deverá ocorrer bom crescimento no algodão, o que faz com que as próximas semanas sejam muito importantes para o mercado internacional. O inverno americano foi forte e se tivermos um verão quente e seco, poderemos ter novas notícias positivas para as cotações. Caso o clima se mantenha normal haverá acomodação dos indicativos.

milhoSafra chegou e safrinha está indefinida O mercado do milho viu a primeira safra chegar e

já se encaminha para o final da colheita. Os indicativos vinham se mantendo estabilizados (porque os compra-dores na exportação estavam ávidos por milho e desta forma dificultavam a queda, tradicional neste momento de colheita, com os produtores colhendo e entregando os contratos e também vendendo parte para fazer caixa), com leve pressão de baixa vista no final de março em fun-ção do aumento das ofertas no Sul, onde os agricultores têm dado preferência à venda do milho, retendo a soja. Com a safrinha em desenvolvimento, verifica-se pequeno avanço na área do Paraná, que fica anulada por conta da queda no Mato Grosso. Observa-se, em todas as regiões, um plantio realizado muito adiante do período ideal e dessa forma a produção segue indefinida. No Paraná, São Paulo e sul do Mato Grosso do Sul, existe o risco de geadas na fase de formação das espigas. No restante do Centro-Oeste, os produtores esperam que as chuvas se alonguem e assim todos torcem para que o clima seja favorável. Cenário que o mercado percebe como um fator de suporte contra grandes baixas nas cotações. Há muito milho contratado para embarque entre julho e setembro, o que dá suporte às cotações.

sojaCom estabilidade em boas cotações A soja, nestas últimas semanas, passou por mo-

mentos de pressão negativa, quando houve o terremoto

e o tsunami no Japão. Mas rapidamente se recuperou e segue dentro de seus limites, porque mesmo com perdas no Brasil, seguimos com uma grande safra. O mesmo ce-nário ocorre na Argentina e no Paraguai e desta forma, a demanda continua atrelada ao mercado chinês que con-trola as importações e não mostra interesse em cotações disparando. Seguimos entre os níveis dos 13,00/14,00 dólares por bushel em Chicago, com raros momentos acima ou abaixo e mantendo patamares ao redor dos R$ 50,00 nos portos brasileiros. Não houve apoio do dólar, que também mostra pouco fôlego para avanços, porque o Brasil continua sendo um dos melhores locais do mundo para deixar o dinheiro rendendo em “berço esplêndido” e sem riscos, com altos juros. Fato que acaba servindo para limitar avanços ou queda da soja em “terras tupiniquins”. Somente com problemas na nova safra dos Estados Unidos é que poderemos ter um fator novo para dar apoio a avanços que possam empurrar os indicativos acima do que já estão sendo praticados.

FeijãoCom avanço antecipado das cotações O mercado do feijão, que vinha em queda livre nas

primeiras semanas do ano, conseguiu reverter a onda negativa em março e já mostra estabilidade e espaço para algum ganho. Com pouco produto de boa qualidade no mercado, grandes perdas provocadas pelas chuvas que ca-íram entre janeiro e março e muitos prejuízos na primeira safra, se prepara para uma segunda safra, com poucas áreas plantadas e bom potencial de cotações. Seguiremos

com boa demanda do produto nobre, com fôlego para se manter acima dos R$ 100,00 e assim favorecer o plantio da terceira safra irrigada que vem pela frente.

ARROZSem apoio do governo pouco muda O arroz fecha uma grande colheita no Sul. A

maior safra da história gaúcha, com mais de oito milhões de toneladas. Tratam-se das melhores pro-dutividades e qualidades já vistas. Enquanto isso os produtores amargam cotações muito baixas, que não cobrem as despesas totais. Para piorar, ainda há grandes safras oriundas do Uruguai e da Argentina, países que têm custos menores que os nossos e devem disputar espaço no mercado brasileiro. Desta forma, as indústrias se veem obrigadas a manter cotações do fardo abaixo dos custos e o pacote do arroz nas gôndolas dos supermercados entre os R$ 6,00 e os R$ 9,00 (números menores do que os praticados quando começou o Plano Real!). Assim, para garantir apoio e liquidez o setor terá de receber grande suporte do governo, através da política de garantia de preços mínimos. Porque no Sul as cotações estavam varian-do dos R$ 20,00 aos R$ 22,00 e com o avanço da colheita e supersafra, haverá falta de armazéns. Esse cenário acaba servindo para segurar ainda mais as co-tações. A demanda existe, estamos com a economia fluindo bem, a pleno emprego e grande espaço para o consumo, mas os produtores necessitam de caixa agora e isso dificulta a reação das cotações.

CURTAS E BOASCHINA - As importações agora crescem em cima do milho. O país está com

aperto no abastecimento, forte queda nos estoques e desta forma passou a comprar grandes volumes, nas últimas semanas, no mercado dos Estados Unidos e também na América do Sul. A soja segue em crescimento e já indica fechamento de 57 milhões de toneladas importadas no último ano. Além disso, caminha para alcançar mais de 60 milhões de toneladas neste novo ano, porque há expectativa de leve crescimento no plantio do milho em detrimento das áreas de soja, que podem perder 11% e o milho ganhar pouco mais de 2%. A demanda de alimentos cresce em ritmo maior do que avança a economia local e desta forma há necessidades crescentes, acima das 50 milhões de toneladas de grãos por ano, enquanto a produção local já se encontra no limite.

ARGENTINA - O clima trouxe perdas na safra de milho, que indicava um poten-cial acima das 25 milhões de toneladas no plantio e agora tende a fechar abaixo das 20 milhões de toneladas. A soja, das 55 milhões de toneladas potenciais, caminha para 49 milhões de toneladas. Dessa forma o quadro segue menos positivo do que no ano anterior, mas com grande colheita e crescimento nas exportações.

CLIMA - Será o fator mais importante neste mês de abril e principalmente em maio, porque ocorre o plantio da safra dos Estados Unidos e qualquer anormalidade que prejudique a safra americana irá consolidar novos patamares de preços para os produtores agrícolas e trazer mais lucros aos produtores brasileiros. Por aqui, temos a safrinha do milho plantada muito além do período ideal e também muito dependente de clima favorável. Por enquanto, o quadro se apresenta positivo aos produtores.

38 Abril 2011 • www.revistacultivar.com.br

Vlamir [email protected]

Estamos no início do plantio da safra americana, que vai de abril ao começo de junho (sendo que o período ideal para o milho começa em 20 de abril e vai até 20 de maio e a soja tem o mês de maio como ideal para se plantar e colher o melhor potencial produtivo das lavouras). Neste ano o clima mostra inverno alongado, com frio ainda em grande parte das regiões produtoras, o que dificulta as primeiras semeaduras. Mas o mercado internacional estará de olho no que virá dos campos americanos, que inicialmente têm indicativos de plantar mais milho, entre 1,5 a dois milhões de hectares (acima dos 35,6 milhões que foram planta-dos no ano passado). Tudo aponta para um quadro de estabilidade para a soja, mas grande parte dos operadores aposta em queda (na faixa dos 30,5 milhões de hectares contra os 31,3 milhões plantados no ano passado). Com a grande necessidade de milho e altas cotações no mercado americano, os produtores estão mais motivados com o cereal e desta forma abrem espaço para dar fôlego à soja, que teve problemas com a colheita no Brasil e mostra perdas no potencial produtivo. Os indicativos são de que fechará abaixo das 70 milhões de toneladas, enquanto a demanda internacional segue aquecida. Como exemplo de demanda, temos o Japão, que sofreu com terremoto, tsunami e já está se reconstruindo e tudo indica que irá necessitar de maiores importações de alimentos. A China busca crescer em compras como soja e também apareceu no mercado do milho, ou seja, os asiáticos estão buscando alimentos e a crise dos países árabes parece estar passando ao largo, porque deixou de ter importância. Por conta disso o mundo volta os olhos para a nova safra dos Estados Unidos, que ditará as regras para as cotações no segundo semestre deste ano e para o primeiro semestre de 2012. Existem grandes chances de vermos as cotações se manterem em níveis bastante atrativos e com poucos espaços na linha de baixo. Somente uma supersafra de milho nos Estados Unidos (algo como 360 milhões de toneladas) poderia trazer pressão na linha baixista das principais commodities agrícolas. O quadro continua mostrando bons ventos para as próximas semanas.