grandes culturas- cultivar 172

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Setembro de 2013

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  • Podre ou ardido..........................14A nova legislao que classifica gros ardidos e outras podrides na cultura do milho e as estratgias para manejar esses problemas

    Uso seguro................................10Ferramenta nova e com potencial importante para o manejo de daninhas, o uso de glifosato em milho RR2 demanda pesquisas sobre efeitos de fitotoxidade

    Sombra ou sol?..........................08As vantagens e desafios da conduo do cafeeiro em sistema sombreado em realao ao cultivo a pleno sol

    Destaques

    ndice

    Diretas 04

    Cultivo de caf sombreado 08

    Aplicao de glifosato em milho RR 10

    Gros ardidos e outras podrides em milho 14

    Especial Helicoverpa - Como manejar 18

    Especial Helicoverpa - Ataque de H. armigera em pastagens 30

    Eventos - Premio Colheita Farta 32

    Eventos - 9 edio do Top Cincia 34

    Eventos - Basf busca neutralizar emisso de carbono 36

    Coluna ANPII 38

    Coluna Agronegcios 40

    Mercado Agrcola 42

    Como reagir........................................18As ferramentas disponveis para enfrentar a Helicoverpa armigera, praga que ataca uma gama extensa de cultivos comerciais e no poupa sequer pastagens

    Expediente

    Cultivar Grandes Culturas Ano XV N 172 Setembro 2013 ISSN - 1516-358X

    Os artigos em Cultivar no representam nenhum consenso. No esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos iro, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores sero mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do pas em cada rea. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opinies, para que o leitor julgue. No aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opinies.

    Por falta de espao no publicamos as referncias bibliogrficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edio. Os interessados podem solicit-las redao pelo e-mail: [email protected]

    Grupo Cultivar de Publicaes Ltda.CNPJ : 02783227/0001-86Insc. Est. 093/0309480Rua Sete de Setembro, 160, sala 702Pelotas RS 96015-300

    DiretorNewton Peter

    [email protected]

    Assinatura anual (11 edies*): R$ 187,90(*10 edies mensais + 1 edio conjunta em Dez/Jan)

    Nmeros atrasados: R$ 17,00Assinatura Internacional:US$ 210,00Euros 180,00

    Nossos Telefones: (53)

    Nossa capa

    Fundadores: Milton Sousa Guerra e Newton Peter

    Geral3028.2000 Assinaturas:3028.2070 Redao:3028.2060

    Comercial:3028.20653028.20663028.2067

    REDAO Editor

    Gilvan Dutra Quevedo Redao

    Karine GobbiRocheli Wachholz

    Design Grfico e DiagramaoCristiano Ceia

    RevisoAline Partzsch de Almeida

    MARKETING E PUBLICIDADE Coordenao

    Charles Ricardo Echer

    VendasSedeli FeijJos Luis AlvesRithili Barcelos

    CIRCULAO Coordenao

    Simone Lopes Assinaturas

    Natlia RodriguesFrancine MartinsClarissa Cardoso

    ExpedioEdson Krause

    Lucia M. Vivan

    GRFICA: Kunde Indstrias Grficas Ltda.

  • HistriaNo Insectshow, Antnio So-ares, da Bayer CropScience, apresentou a histria da em-presa no controle de pragas e como primeira no mundo a lanar um inseticida, em 1863. Soares destacou tam-bm o Curbix para o con-trole da cigarrinha-das-razes (Mahanarva fimbriolata). O produto apresenta rpido efei-to de choque, eficcia e maior perodo de controle, alm de pertencer a um novo grupo qumico, ideal para manejo de resistncia.

    04 Setembro 2013 www.revistacultivar.com.br

    Diretas

    TecnologiaA Basf participou do 9 Insectshow, Seminrio Nacional sobre Controle de Pragas da Cana-de-Acar, em julho, em Ribeiro Preto, So Paulo. A companhia ofereceu palestras aos participantes do evento. Os temas das discusses foram o uso de tecnologias para controle de insetos e o incremento de qualidade da matria-prima e produtividade. Daniel Me-deiros falou sobre o controle de Sphenophorus levis e Migdolus fryanus na cana e Andr Luis Mattiello abordou a tecnologia Basf para o controle de doenas e os benefcios AgCelence em cana.

    PresenaA Rotam participou do 9 Insectshow e anunciou investimentos no ramo sucroalcooleiro. O diretor de Marketing da empresa, Jadyr Sousa, destacou que a empresa est h dez anos no Brasil, tem 12 ingredientes ativos registrados, 32 marcas comerciais. A cana um dos principais focos da marca que, em 2013, comemora dez anos de atuao no mercado agroqumico brasileiro.

    PalestraDurante o Insectshow, Joo Ibelli, da Syngenta, palestrou sobre o contro-le de pragas e doenas da cana para incremento de produtividade. Ibelli destacou, ainda, a eficincia dos produtos Actara e Engeo Pleno.

    Tticas e estratgiasTticas e estratgias para o manejo de nematoides foi o tema abordado pelo nemato-logista Jaime Maia, durante o Insectshow. Maia enfatizou a necessidade de estabelecer um manejo adequado com des-truio de restos da cultura, rotao com no hospedeira, pousio da rea e introduo de culturas antagonistas como, por exemplo, a crotolria. Alm disso, recomendou o uso de variedades resistentes e tratamento de sementes.

    AlternativasControle de Sphenophorus foi o tema abordado pelo pesqui-sador Jos Francisco Garcia, da Global Cana, durante o Insectshow. O dano da praga causado pelas larvas que perfuram os colmos, ocasio-nando perdas importantes na cultura da cana-de-acar. Garcia ressaltou a importncia da continuidade de pesquisas na busca por alternativas mais eficazes, sem poluir o meio ambiente.

    Antnio Soares

    Jos Francisco Garcia

    Jaime Maia

    SoluesO gerente tcnico da FMC para Cultura Cana, Ricardo Werlang, abordou os fato-res para um bom manejo de inseticidas e nematicidas no 9 Insectshow. Para controle de nematoides apresentou Furadan e Rugby, para com-bate de Sphenophorus levis o Talisman e contra a Diatrea o inseticida Dipel. Ricardo Werlang

  • TemaCritrios para controle de nematoides foi o tema abordado pelo pesquisador Wilson Novararetti. Estes minsculos parasitas podem reduzir drasticamente os rendimentos dos produtores de cana sem que eles sequer percebam, lembrou.

    PortflioA Bayer CropScience apresentou aos participantes do VIII Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado seu portflio de produtos. Atravs do pro-grama Muito Mais Arroz - que oferece solues integradas para todo ciclo da cultura o gerente de Negcios de Sementes de Arroz da Bayer CropScience, Rodolpho Leal, destacou o arroz hbrido Prime CL e o QM1010 CL, da linha Arize. Durante o congresso a marca enfocou tam-bm o inseticida CropStar, o fungicida Nativo e o herbicida Starice.

    Jantar Com a presena de produtores, pesquisadores e congressistas que participaram do VIII Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, a Basf realizou jantar comemorativo aos dez anos do Sistema Clearfield e o lanamento da variedade de arroz Guri Inta CL. Entre as atraes do evento esteve o humorista gacho Jair Kobe, com o personagem Guri de Uruguaiana.

    FocoA Milenia marcou presena no Insectshow com foco no controle de pragas em cana-de-acar. A empresa tambm ofereceu almoo para mais de 600 participantes do evento.

    Wilson Novararetti

  • 06 Setembro 2013 www.revistacultivar.com.br

    DefensivosA Dow AgroSciences participou da 8 edio do Congresso Brasi-leiro de Arroz Irrigado, com trs de seus defensivos agrcolas mais representativos, as linhas Ricer, Bim e Clincher. Para o responsvel pelo segmento de crop da Dow AgroSciences, Joacir Rossi, a par-ticipao da empresa no evento refora a proximidade e destaca a importncia estratgica da regio e da cultura de arroz. "Buscamos por meio de eventos e programas exclusivos de relacionamento com nossos clientes e distribuidores destacar todas as tendncias e inovaes no mercado", destacou.

    Famlia RoundupA Monsanto levou ao VIII Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado seu sistema Roundup Ready Plus para soluo de manejo, com destaque para o Roundup Transorb R para cultura do arroz.

    Arroz irrigadoO Congresso Brasileiro do Arroz Irrigado che-gou sua oitava edio na cidade de Santa Ma-ria, com destaque para os diferentes cenrios para a produo susten-tvel de arroz irrigado. O presidente do evento, Enio Marchesan, ressal-tou a oportunidade de discutir temas atuais e relevantes para fortale-cer a cadeia produtiva arrozeira.

    ParticipaoA Dimicron marcou presena no VIII Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado que ocorreu em Santa Maria, enfatizando seus produtos voltados para cultura do arroz: A.20, Rice Seeds e Rice Dimistymulus.

    GuriA Basf lanou no VIII Congresso Brasileiro de Arroz a cultivar de arroz Clearfield: Guri Inta CL. De acordo com gerente de Marketing Cultivos Cereais Sul da Basf, Eduardo Gobbo, essa variedade refora o compromisso da empresa em controlar o arroz vermelho e permite melhores ganhos aos agricultores do estado do Rio Grande do Sul. Os estudos para a implantao da variedade iniciaram h quatro safras, baseados nos pilares do Sistema de Produo Clearfield: sementes certi-ficadas, uso dos herbicidas Only e Kifix e Programa de Sustentabilidade do Sistema. Preservamos a tecnologia com essa proposta de manejo e viabilizamos a produo nas melhores reas, afirmou Gobbo.

    SanidadeA Dupont apresen-tou no 9 Insectshow o tema: Altacor, sa-nidade e qualidade de matria-prima. A palestra foi ministra-da por Ivan Jarussi, da Dupont.

    Regional canaEm maio a UPL Brasil oficializou sua entrada no setor de cana-de-acar com o lanamento de uma regional exclusiva para o segmento. Agora, como forma de dar sequncia ao projeto de consolidao no segmento, a empresa realizou seu primeiro Workshop Cana-de-acar, com a pre-sena de alguns dos principais gerentes tcnicos de usinas ao redor do Pas. A entrada da UPL no segmento de cana-de-acar foi uma deciso estratgica. Este o segundo maior mercado brasileiro e, para alcanar nosso objetivo de estar entre as cinco maiores empresas de agroqumicos no mundo, estamos atuando fortemente neste segmento. Nossos pro-dutos podem contribuir muito para o aumento da produtividade dos canaviais, por isso muito importante esse contato com produtores, avalia Diego Arruda, gerente de Produtos da UPL Brasil.

    Enio Marchesan

    Ivan Jarussi

  • 08 Setembro 2013 www.revistacultivar.com.br

    A discusso sobre caf arborizado/sombreado versus caf a ple-no sol vem se desenvolvendo h mais de um sculo e atualmente as informaes disponveis ainda so incon-clusivas. O sistema de cultivo de cafeeiros arborizados surge como alternativa. A explorao de duas culturas (caf e outra espcie) na mesma rea, por meio de um sistema de cultivo adequado, intercalando-as, contribuir para o melhor equilbrio do agrossistema, protegendo o cafeeiro contra ventos frios, geadas, altas tempera-turas e excesso de irradincia. Alm disso, possibilita a gerao de novos empregos diretos e fixos no campo, diversificao da propriedade e agregao de uma fonte de renda extra para os cafeicultores.

    No mundo, em 2012 foram colhidos 144,1 milhes de sacas de caf, sendo

    Caf

    maior produtor o Brasil, seguido por Vietnam, Indonsia, Colmbia e Etipia. O Brasil colheu 50,83 milhes de sacas (12,48 milhes de Conilon e 38,34 milhes de Arbica) e exportou um valor superior a oito bilhes de dlares em 2011.

    Culturas arbreas geralmente consor-ciadas com cafeeiro tambm apresentam destaque econmico e ambiental, podendo inclusive desenvolver sistemas agroflores-tais sustentveis. Uma das espcies com potencial de consrcio a seringueira, utilizada para produo de borracha. Em 2011 o Brasil atingiu uma produo recorde de borracha natural, produzindo 135 mil toneladas, estando em plena ex-panso. Contudo, mesmo assim o Brasil grande importador de borracha. O cedro australiano, bem como o mogno, utili-zado no consrcio com cafeeiro e exerce

    grande importncia na economia brasileira atualmente e no futuro.

    Outras culturas utilizadas por agri-cultores como consrcio na formao do cafeeiro tambm apresentam grande importncia, como exemplos o mamo e a banana, que promovem a reduo do custo de implantao do cafeeiro. A pro-duo mundial de banana foi superior a 100 milhes de toneladas, destacando-se o Brasil como quarto maior produtor, com mais de sete milhes de toneladas. Por sua vez, o mamo destaca-se por apresentar grande importncia nos mercados interno e externo brasileiros.

    O cultivo do cafeeiro arborizado exemplo de prtica agrcola sustentvel, pois estudos indicam que no ambiente, em caf cultivado sob sombra h maior biodi-versidade, ao contrrio de cafs cultivados

    Fotos Fbio Partelli

    A conduo de cafeeiro em sistema sombreado apresenta vantagens em relao ao cultivo a pleno sol. Contudo, necessrio aprofundar o conhecimento sobre aspectos como escolha das espcies arbreas adequadas, espaamento, frequncia da poda, nutrio das espcies

    cultivadas e seleo de cultivares de caf mais adaptadas a essas condies de plantio

    Sombra ou sol?

  • de 7,8 x 2,3 metros, indicando que reten-o de luminosidade igual ou superior a 72% atrapalha o desempenho produtivo do cafeeiro. Porm, a produtividade mdia obtida pelo cafeeiro sombreado foi superior mdia nacional e a formao do seringal em espaamento apropriado teve custos reduzidos.

    Existe uma demanda por conheci-mento sobre os sistemas de produo de caf arborizado em termos agronmicos e econmicos. Informaes sobre a escolha das espcies arbreas adequadas, espaa-mento, frequncia da poda, nutrio das espcies cultivadas e seleo de cultivares de caf mais adaptadas a estas condies, ainda no so suficientemente claras para o cultivo totalmente eficiente, necessitando de mais pesquisas.

    a pleno sol. Alm disso, durante a ltima dcada, o caf sombreado tem promovido uma atividade comercial que compatvel com a conservao da floresta e sua fauna, mantendo alta diversidade de espcies de animais e plantas no agrossistema.

    O cultivo de caf sombreado tambm pode proporcionar maior estabilidade da produtividade (menor bienalidade), maior vida til da lavoura, maior facilida-de de certificao como caf sustentvel, diversidade de atividades no campo, me-nor estresse por alta temperatura, maior sequestro de carbono, economia de adubo nitrogenado, quando consorciado com leguminosa, contribuindo com a reduo da dependncia de nitrognio e mitigao do aquecimento global.

    Cafeeiros cultivados na sombra sofrem menos presses ambientais, apresentando maior potencial fisiolgico para a fixao de carbono, melhor desempenho fotos-sinttico em comparao com plantas de caf a pleno sol, produzindo gros maiores,

    melhorando ainda a qualidade organo-lptica dos gros e menor incidncia de cercosporiose.

    Cafs cultivados em sistemas agro-florestais associados com ingazeiro (Inga vera), grevlea (Grevillea robusta) e Gliricidia sepium obtiveram produtividade superior do caf cultivado a pleno sol. Contudo, ou-tras literaturas citam que o sombreamento elevado diminui sua produo. Portanto, o manejo de forma correta fundamental para o sucesso da atividade, sendo o limiar do sucesso ou do fracasso do sistema.

    Trabalhos realizados na Universidade Federal do Esprito Santo, Campus So Mateus, Esprito Santo, com cafeeiro Conilon, arborizado com seringueira, sugerem que o sombreamento influencia diretamente no microclima, reduz a lumi-nosidade e a temperatura sobre a copa do cafeeiro, indicando diminuio do estresse. A produtividade das plantas cultivadas a pleno sol foi superior s plantas arborizadas com seringueira cultivada no espaamento

    CC

    O plantio consorciado com mamo apresenta vantagens por se tratar de uma das culturas que auxilia a reduzir o custo de implantao do cafeeiro

    Fbio Luiz Partelli, Andr Vasconcellos Arajo e Gleison Oliosi,Univ. Federal do Esprito Santo

    A banana agrega valor ao cultivo, uma vez que o Brasil o quarto produtor mundial dessa fruta, com produo de 7 milhes de toneladas

  • 10 Setembro 2013 www.revistacultivar.com.br

    Milho

    Uso seguroFerramenta nova e com grande potencial de utilizao pelos produtores brasileiros para o manejo de plantas daninhas, a aplicao de glifosato sobre milho RR2 ainda necessita de mais pesquisas que favoream sua aplicao sustentvel

    Atualmente essencial aumentar a produo e a distribuio de g-neros alimentcios para alimentar uma populao mundial crescente. Ao mes-mo tempo necessrio reduzir os impactos ambientais e buscar a sustentabilidade dentro do sistema produtivo. Para isso ser alcanado preciso a utilizao responsvel e adequada das descobertas cientficas e de novas tecnologias disponveis, como as plantas transgnicas.

    A cultura do milho, em funo de seu po-tencial produtivo, composio qumica e valor nutritivo, constitui um dos mais importantes cereais cultivados e consumidos no planeta. Segundo a Companhia Nacional de Abasteci-mento (Conab), no Brasil, se forem confirma-das as previses para a primeira e segunda safra de milho (ano agrcola 2012/2013), o cultivo nacional do cereal ser recorde tanto em rea como em produo, alcanando 15,69 milhes de hectares e produo total de 78 milhes de toneladas de gros, dando destaque ao aumento de produtividade que ser de 3,5%, quando comparado safra anterior.

    Quando se relaciona a cultura do milho s tecnologias transgnicas disponveis no Brasil, h os conhecidos eventos que conferem a resistncia a insetos, e mais recentemente

    reas agrcolas significativas cultivadas com milho contendo a tecnologia RR (Roundup Ready 2), que se refere ao milho tolerante ao herbicida glifosato.

    A tecnologia RR muito conhecida no Brasil pela sua grande aceitabilidade por parte dos agricultores em relao cultura da soja. Na safra (2012/2013), juntamente com o crescimento das reas ocupadas pelas lavouras da oleaginosa que atingiram 27,65 milhes de hectares, passando a ser a maior rea j cultivada com soja no pas, ocorreu um elevado incremento das lavouras cultivadas com soja tolerante ao glifosato, chegando-se a aproximadamente 90% de toda rea cultivada, ou seja, 24,45 milhes de hectares.

    Utilizando como exemplo a cultura da soja RR, que apresenta inegvel xito no Brasil e no mundo, resultados na literatura indicam que a aplicao de glifosato pode apresentar alguns efeitos indesejveis. Baseados neste fato, algumas linhas de pesquisas especulam que o mesmo poderia ocorrer com o milho RR2. Porm, pouco se sabe efetivamente sobre este tema at o presente momento.

    Glifosato e o milho RRHoje no mundo existem aproximada-

    mente 30 mil espcies de plantas daninhas que causam danos s culturas comerciais, atravs da competio por nutrientes, gua, espao fsico, luz e liberao de substncias alelopticas, impossibilitando que a cultura expresse todo seu potencial produtivo. Assim, antes do surgimento e expanso das culturas tolerantes a herbicidas, a grande dificuldade no controle de plantas daninhas estava vinculada dificuldade de um herbicida apresentar am-plo espectro de controle e no causar danos cultura de interesse.

    Desta forma, uma das primeiras caracte-rsticas transgnicas a serem incorporadas com sucesso a culturas comerciais foi a tolerncia a herbicida, com o desenvolvimento de culturas tolerantes ao herbicida glifosato, apresentando a tecnologia conhecida como Roundup Rea-dy (RR). Esta tecnologia proporcionou aos agricultores expressivos benefcios, apoiada no eficiente herbicida glifosato. Segundo informaes apresentadas no III Simpsio Internacional Sobre Glifosato, o produto re-presenta de 12% a 14% do mercado mundial de defensivos agrcolas e tem participao entre 38% e 40% no mercado dos herbicidas, com uma produo anual do cido de glifosato em torno de um bilho de quilos, com uma taxa

    Uso seguroFerramenta nova e com grande potencial de utilizao pelos produtores brasileiros para o manejo de plantas daninhas, a aplicao de glifosato sobre milho RR2 ainda necessita de mais pesquisas que favoream sua aplicao sustentvel

  • 11www.revistacultivar.com.br Setembro 2013

    gerar efeitos fitotxicos, afetar a eficincia no uso da gua, na fotossntese, na rizosfera, no acmulo de biomassa, na sntese de amino-cidos e compostos secundrios. A partir deste fato algumas pesquisas recentes recomendam cautela no uso de glifosato na cultura do milho RR2.

    De acordo com pesquisas realizadas no exterior, em algumas situaes o milho RR2 pode apresentar alteraes bioqumicas e fi-siolgicas com a aplicao do produto. Mas ao mesmo tempo outras pesquisas mostram que o glifosato no traz nenhum dano significativo ao milho RR2, quando aplicado dentro das doses recomendadas.

    Segundo informaes tcnicas da Dow AgroScience e Monsanto, herbicidas utiliza-dos normalmente no milho convencional po-dem apresentar maiores danos que o glifosato em milho RR2, devido melhor seletividade neste sistema, alm de proporcionar maior flexibilidade e facilidade no controle das plantas daninhas.

    No Brasil, alguns dos poucos experimen-tos realizados abordando o milho RR2 foram apresentados em 2012, no XXVIII Congresso Brasileiro de Cincia das Plantas Daninhas, em Campo Grande. Um dos trabalhos veri-ficou alteraes nos teores de nutrientes em folhas do milho RR, aps a aplicao de dife-rentes formulaes de glifosato. Outros dois trabalhos conduzidos por uma mesma equipe (da UEM), tambm em vasos, demonstraram efeitos do glifosato sob a taxa fotossinttica e condutncia estomtica no milho RR, alm de prejuzo ao desenvolvimento das razes das plantas.

    Alguns trabalhos tambm destacaram que se deve tomar muito cuidado com as associaes do glifosato com outros herbici-das, inseticidas e fertilizantes foliares, pois dependendo da combinao pode-se poten-cializar a fitointoxicao da cultura, e ainda comprometer a eficincia de controle das

    mdia de crescimento no mercado mundial prxima a 15% ao ano.

    O glifosato um herbicida ps-emergente, pertencente ao grupo qumico das glicinas substitudas, classificado como no seletivo (seletivo somente para culturas RR). Apresen-ta largo espectro de ao controlando plantas daninhas anuais e perenes, tanto de folhas largas como estreitas. Sua ao sistmica, sendo absorvido por folhas e tecidos verdes, e translocado preferencialmente pelo floema, para os tecidos meristemticos da planta. O produto age inibindo a atividade da enzima 5-enolpiruvilshiquimato-3-fosfato sintase (EPSPS), que catalisadora de uma das re-aes de sntese dos aminocidos aromticos fenilalanina, tirosina e triptofano, essenciais ao desenvolvimento da planta.

    Segundo registros atualizados do Conselho de Informaes sobre Biotecnologia (CIB), o milho atualmente, no Brasil, a cultura com maior nmero de eventos transgnicos aprova-dos pela Comisso Tcnica Nacional de Bios-segurana (CTNBio), com 18 eventos. Desse total, 13 apresentam algum tipo de tolerncia a herbicidas (glifosato e glufosinato de amnio), 11 contm a tecnologia RR2. A maioria dos eventos combina mais de uma tecnologia, por exemplo, cinco eventos apresentam tolern-cia aos herbicidas glifosato e glufosinato de amnio (tecnologia Liberty Link) somadas a diferentes tipos de resistncia a insetos.

    O milho RR2 amplamente cultivado em pases como Estados Unidos, Canad, Argentina, frica do Sul, Filipinas, Colmbia, Uruguai, Paraguai e importado por Unio Europeia, Japo, Mxico, Austrlia, Nova Ze-lndia, Rssia, Taiwan, Coreia do Sul, China, Malsia e Singapura. O primeiro evento com esta tecnologia foi aprovado no Brasil em 2008, pela CTNBio, mas comercialmente reas significativas foram cultivadas somente em 2011, apresentando grande potencial de aceitao pelos agricultores nos prximos anos,

    a exemplo da soja RR. Existem outros eventos transgnicos que

    esto sendo desenvolvidos para a cultura do milho e estaro disponveis em um futuro pr-ximo. Destaca-se o sistema Enlist (Dow), que trar tolerncia ao glifosato, e a um produto baseado no 2,4-D. Ainda tero alguns eventos que combinaro tolerncias a mais de dois diferentes herbicidas, em uma nica planta, como RR+2,4-D+glufosinato+ACCase. Tudo isso com o objetivo de controlar plantas daninhas resistentes aos herbicidas usuais. Tambm, em um futuro prximo, haver grande dificuldade de controle de plantas vo-luntrias (tigueras) em meio a lavouras, devido tolerncia a grande nmero de herbicidas que apresentaro.

    Pelo fato da utilizao recente do milho RR2, pelos produtores brasileiros, pouco se sabe de forma concreta sobre os possveis efei-tos que o glifosato pode causar a esta cultura, sob as condies edafoclimticas brasileiras. Resultados de pesquisas abordando o efeito de glifosato sob o desenvolvimento da soja RR demonstram que em alguns casos pode, alm de influenciar o balano nutricional,

    Soja RR com sintoma de fitointoxicao em experi-mento com aplicao de altas doses de glifosato

    Resultados de experimentos realizados nas duas ltimas safras, com milho RR2 apresentando menores sintomas defitointoxicao causados pelo glifosato, aplicado em altas doses, quando comparada com a soja RR (UFPR USP/Esalq)

  • 12 Setembro 2013 www.revistacultivar.com.br

    plantas daninhas.Devido escassez de informaes e d-

    vidas que persistem e precisam ser mais bem elucidadas no mbito cientfico e tcnico, relacionadas a possveis efeitos do glifosato sob o desenvolvimento da cultura de milho RR2, est sendo conduzida, atravs de uma parceria entre a USP/Esalq e a UFPR (com apoio da Cooperativa CVale e Pioneer), uma srie de experimentos com o objetivo de analisar o comportamento do milho RR2 submetido a diferentes manejos, formulaes e doses de glifosato. As atividades esto sob a coordena-o dos professores Leandro Paiola Albrecht (UFPR) e Ricardo Victoria Filho (Esalq).

    Nos principais trabalhos em parceira entre a UFPR e a USP/Esalq, esto sendo avaliadas duas formulaes distintas, registradas no mercado para uso em ps-emergncia no milho RR2 (Roundup Ready Milho e Zapp QI) sob cinco doses (0; 720; 1.440; 2.160; 2.880g.e.a./ha), e dois manejos (aplicao nica e sequencial). J em ensaios menores est analisando-se a associao de glifosato com outros herbicidas, sendo avaliadas vari-veis relacionadas ao desempenho das plantas, produtividade, fisiologia, balano nutricional e qualidade dos gros produzidos. Isto vem sen-do feito principalmente em reas de produo

    localizadas no estado do Paran, na primeira e segunda safras.

    Resultados parciais com milho RR2, apre-sentados em 2012 pela equipe, no 29 Con-gresso Nacional de Milho e Sorgo, indicaram uma tendncia de diminuio da clorofila A e B nas folhas (caracterizando visualmente a clorose), com o aumento das doses de glifosato. Outros dados preliminares de experimento re-alizado na safra 2012/2013 indicaram impacto sobre o desenvolvimento da cultura, como a diminuio na altura das plantas quando submetidas a altas doses de glifosato (acima da dose de registro das formulaes). Em breve os resultados completos e conclusivos nos diversos experimentos sero obtidos (safra 2011/12, 2012/13 e 2013/14).

    Por fim, quando se fala de culturas RR, ressalta-se ainda que o uso contnuo de um mesmo produto e de uma mesma tecnologia pode resultar em resistncia de plantas dani-nhas, como tem ocorrido no Brasil com o gli-fosato. Este fator causa prejuzos ao produtor e pode at inviabilizar o uso de tecnologias como as culturas RR. Portanto, deve ser evitado ao mximo. A chave de um controle eficiente destas plantas baseia-se na diversidade, seja de culturas implantadas, prticas de manejo e de produtos utilizados.

    Consideraes finaisInfere-se que, diante da literatura

    disponvel, dentro desta linha de estudo, pouco se sabe sobre o real impacto da apli-cao de glifosato sobre a cultura do milho RR2, em distintas condies de campo dentro do territrio brasileiro. Assim, faz-se necessria a continuidade no processo de gerao de informaes, provenientes da pesquisa dirigida, buscando-se caracterizar a real situao referente ao uso de glifosato em ps-emergncia na cultura do milho RR2, em campo. Isso por meio da obteno de informaes que possam fomentar o posicionamento seguro desta nova tecno-logia. Sem dvida este assunto exige mais pesquisas, com o objetivo de proporcionar condies que favoream o uso sustentvel desta nova ferramenta que apresenta gran-de potencial de utilizao pelos produtores brasileiros, com benefcios relacionados ao manejo de plantas daninhas.

    reas experimentais com Soja RR no centro-norte do Paran (direita) e milho RR2 no oeste do Paran (esquerda). Identifica-se fitointoxicao tanto no milho RR2 (leve) quanto na soja RR (acentuada), diagnosticada por clorose e menor desenvolvimento vegetativo (no lado esquerdo de cada foto para cada cultura), em doses superiores a 2.160g.e.a./ha

    rea experimental com milho RR2 em So Paulo (Piracicaba - SP, USP/Esalq), com comparativo entre milho RR2 (esquerda na imagem) e milho convencional (direita na imagem) 20 dias aps a aplicao de glifosato. Experimento com milho RR2 no estado do Paran (imagem direita)

    Alfredo Junior Paiola Albrecht, EsalqLeandro Paiola Albrecht,UFPR - PalotinaRicardo Victoria Filho USP/Esalq

    CC

  • 14 Setembro 2013 www.revistacultivar.com.br

    Milho

    Podre ou ardidoA partir deste ms de setembro est prevista nova legislao para estabelecer os limites mximos de tolerncia de gros ardidos, quebrados ou carunchados na cultura do milho.

    Reflexo das podrides de espigas, causadas principalmente por fungos presentes no campo, a doena alm de afetar a produtividade constitui risco sade humana e animal pela

    produo de micotoxinas. Sua preveno passa por programas de controle com fungicidas, uso de variedades resistentes e densidades adequadas de plantio

    Nos ltimos anos, notadamente a partir do final de dcada de 90, as doenas tm se tornado uma grande preocupao para tcnicos e produtores envolvidos no cultivo do milho. Relatos de perdas na produtividade devido ao ataque de patgenos tm sido frequentes nas principais regies produtoras do Pas.

    importante entender que o desenvol-vimento das doenas do milho est estreita-mente relacionado evoluo do sistema de produo desta cultura no Brasil. Modifica-es ocorridas no sistema de produo, que resultaram no aumento da produtividade da cultura, foram, tambm, responsveis pelo crescimento da incidncia e da severidade das doenas. Desse modo, a expanso da fronteira agrcola, a ampliao das pocas de plantio

    (safra e safrinha), a adoo do sistema de plantio direto, o aumento do uso de sistemas de irrigao, a ausncia de rotao de cultura e o uso de materiais suscetveis tm promo-vido modificaes importantes na dinmica populacional dos patgenos, resultando no surgimento, a cada safra, de novos problemas para a cultura relacionados ocorrncia de doenas (Zambolim et al, 2000).

    Neste caso, os fungos causadores de podrides do colmo e da espiga tm recebido destaque nos ltimos anos pelo aumento de sua incidncia e pelas perdas provocadas na produtividade, por afetarem diretamente a qualidade do produto final.

    De acordo com a Instruo Normativa n 60 do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa) de 22/12/2011,

    que revoga a de n 845, de 8 de novembro de 1976, e a Portaria SDR n 11, de 12 de abril de 1996, que estabelece o Regulamento Tcnico para Cultura do Milho, os gros ou pedaos que se apresentam atacados por insetos considerados pragas de gros armaze-nados em qualquer de suas fases evolutivas so classificados como Carunchados. J os considerados Avariados so os gros que se apresentarem mofados, gessados, germi-nados, fermentados, imaturos, chochos ou ardidos. Sendo que sero considerados ardidos os gros ou pedaos que apresentam escurecimento total, por ao do calor, umi-dade ou fermentao avanada atingindo a totalidade da massa do gro, sendo tambm considerados como ardidos, devido se-melhana de aspecto, os gros totalmente

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  • 15www.revistacultivar.com.br Setembro 2013

    os gros de cor marrom, de baixo peso e com crescimento micelial branco entre as fileiras de gros. No interior da espiga ou nas palhas das espigas infectadas, h a presena de numerosos pontos negros (picndios), que so as estruturas de frutificao do pa-tgeno. Uma caracterstica peculiar entre as duas espcies de Diplodia que apenas a S. macrospora ataca as folhas do milho (Pinto; Santos; Wruck, 2006).

    A precisa distino entre essas espcies s possvel mediante anlises microscpicas, pois comparativamente os esporos de S. macrospora so maiores e mais alongados do que os de S. maydis (Casa, R. T., Reis, E. M.; Zambolim, L., 2006). Os esporos desses fun-gos sobrevivem dentro dos picndios no solo e nos restos de cultura contaminados e, nas sementes, na forma de esporos e de miclio dormente, sendo essas fontes primrias de

    queimados. Inicialmente, era para esta IN entrar

    em vigor em 1/7/2012, porm, a Portaria do Mapa n 611 de 4/7/2012 prorroga e estabelece o incio em vigor a partir de 1 de setembro de 2013. Assim, os limites mximos de tolerncia para cada tonelada de gro so expressos em porcentagem na Tabela 1.

    Os gros ardidos em milho so o reflexo das podrides de espigas, causadas princi-palmente pelos fungos presentes no campo. Esses fungos podem ser divididos em dois grupos: aqueles que podem apenas produzir gros ardidos e aqueles que, alm da produ-o de gros ardidos, so biossintetizadores de micotoxinas.

    No primeiro grupo, encontram-se os fungos Drechslera zeicola, Cladosporium herbarum, Ustilago maydis, Nigrospora oryzae, Colletotrichum graminicola, entre outros. No segundo grupo, se tem os fungos Stenocar-pella maydis (=Diplodia maydis), Stenocarpella macrospora (=Diplodia macrospora), Fusa-rium verticillioides (=Fusarium moniliforme), F. subglutinans, F. graminearum, F. sporotri-chioides e Gibberella zeae.

    Ocasionalmente no campo pode haver produo de gros ardidos e de micotoxinas pelos fungos Penicillium oxalicum, Aspergillus flavus e A. parasiticus. Os fungos F. grami-nearum, F. sporotrichioides e Stenocarpella maydis so mais frequentes nos estados do Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; e F. verticillioides, F. subglutinans e Stenocar-

    pella macrospora nas demais regies produtoras de milho (Pinto, 2005; Mario; Reis, 2001).

    Espcies do gnero Fusarium, como F. verticillioides, F. graminea-rum, F. sporotrichioides, F. nivale, F. culmorum, F. poae, F. proliferatum, entre outras, requerem nos gros umidades acima de 20% para o seu

    Tabela 1 Limites mximos de tolerncia expressos em percentual (%). Brasil, 2012

    ardidos1235

    Total6101520

    Gros Quebrados

    345

    >5

    enquadramento

    Tipo 1Tipo 2Tipo 3

    fora de tipo

    Carunchados

    2348

    Matrias estranhas e impurezas

    11,52

    >2

    Gros avariadoso

    desenvolvimento. J a podrido na espiga predomina em anos em que prevalecem condies midas aps a polinizao ou onde ocorrem seca ou danos de insetos nas espigas (Pinto, 2005).

    Como principais fontes de inculo de Fusarium spp. tem-se os restos de cultura de milho, como colmos e espigas, as sementes de milho contaminadas, as gramneas de inverno (trigo, aveia e cevada) e tambm o solo. A disseminao dos esporos se d atravs do vento e de insetos e o perodo de maior suscetibilidade ocorre de sete dias a dez dias aps a polinizao dos estigmas (Pinto, 2005).

    Sintomatologicamente pode ocorrer uma pigmentao rosa (F. verticillioides) ou roxa (F. graminearum) entre os gros, sendo que as espigas que no dobram aps a ma-turidade fisiolgica dos gros e aquelas com mau empalhamento, so as mais suscetveis. Quando ocorrem fortes chuvas aps o estdio da maturidade fisiolgica dos gros e tam-bm h a postergao na colheita do milho, normalmente a incidncia de gros ardidos supera esse limite de tolerncia mxima, cujos valores tm atingido frequentemente 10% a 20% em algumas cultivares (Pinto, 2005).

    Podrido BranCa da esPiGaA podrido branca da espiga causada

    pelos fungos Stenocarpella maydis e S. ma-crospora. As espigas infectadas apresentam

    Presena de estruturas de frutificao do patgeno picndios

    Sintoma de mancha de diplodia com picndios na folha do milho

    Crescimento micelial branco entre as fileiras de gros na espiga causado por Stenocarpella spp.

  • 16 Setembro 2013 www.revistacultivar.com.br

    inculo para a infeco das espigas. A infec-o geralmente comea na base da espiga e avana at o pice. No entanto, as espigas mal empalhadas ou com palhas frouxas ou que no se dobram aps a maturidade fisiolgica so as mais suscetveis.

    A alta precipitao pluviomtrica na poca da maturao dos gros favorece o aparecimento dessa doena. A evoluo da podrido praticamente cessa quando o teor de umidade dos gros atinge 21% a 22% em base mida. O manejo integrado para o controle desta podrido de espiga envolve a utilizao de cultivares resistentes, de se-mentes livres dos patgenos, da destruio de restos culturais de milho infectados e da rotao de culturas, visto que o milho o nico hospedeiro desses patgenos (Pinto, 2001).

    Podrido rosada da esPiGa causada por Fusarium moniliforme ou

    por Fusarium subglutinans apresentando ele-vado nmero de plantas hospedeiras, sendo

    considerados parasitas no especializados. A infeco pode se iniciar pelo topo ou por qualquer outra parte da espiga, mas sempre associada a alguma injria (insetos, pssaros). Com o desenvolvimento da doena, uma massa cotonosa avermelhada pode recobrir os gros infectados ou a rea da palha atingida. Em alguns gros, pode haver o aparecimento de estrias brancas no pericarpo, causadas pela ao do fungo. Quando a infeco ocorre atravs do pednculo da espiga, todos os gros podem ser infectados, mas a infeco s se desenvolver naqueles que apresentarem alguma injria no pericarpo (Reis et al, 2004. Pereira, 1997).

    Quando o teor de umidade dos gros atinge 18% a 19%, paralisa o desenvol-vimento do patgeno, em base mida. Embora esses fungos sejam frequente-mente isolados das sementes, essas no so a principal fonte de inculo. Como os fungos possuem a fase saproftica ativa, sobrevivem e se multiplicam na matria orgnica, no solo, sendo essa a fonte prin-

    cipal de inculo.

    Podrido da PonTa da esPiGa causada pelo patgeno Gibberella zeae,

    comum em regies de clima ameno e de alta umidade relativa, principalmente com ocorrncia de chuvas aps a polinizao. A doena inicia-se com uma massa cotonosa avermelhada na ponta da espiga e pode pro-gredir para a base da espiga. A palha pode ser colonizada pelo fungo e tornar-se colada na espiga. Ocasionalmente, essa podrido pode iniciar-se na base e progredir para a ponta da espiga, confundindo o sintoma com aquele causado por Fusarium moniliforme ou F. subglutinans (Pinto, 2001).

    Chuvas frequentes no final do desen-volvimento da cultura, principalmente em lavoura com cultivar com espigas que no dobram, aumentam a incidncia dessa po-drido de espiga. Esse fungo sobrevive nas sementes na forma de miclio dormente. A forma anamrfica de G. zeae denominada Fusarium graminearum.

    Produo de MiCoToxinasA infeco dos gros de milho pode

    ocorrer em duas condies especficas, isto , em pr-colheita (podrides de espigas com a formao de gros ardidos) e em ps-colheita dos gros durante o beneficia-mento, armazenamento e transporte (gros mofados ou embolorados) (Pinto, 2003).

    No processo de colonizao dos gros, muitas espcies denominadas de fungos toxignicos podem, alm dos danos fsicos (descoloraes dos gros, redues nos contedos de carboidratos, de protenas e de acares totais), produzir substncias txicas denominadas de micotoxinas. im-portante ressaltar que a presena do fungo toxignico no implica necessariamente na produo de micotoxinas, que esto intimamente relacionadas capacidade de biossntese do fungo e das condies am-bientais predisponentes, como em alguns casos, da alternncia das temperaturas diurna e noturna (Embrapa, 2005).

    As perdas qualitativas por gros ardidos so motivos de desvalorizao do produto e uma ameaa sade dos rebanhos e humana. O gnero Fusarium tem uma faixa de temperatura tima para o seu desenvolvi-mento situada entre 20C e 25C. Contudo, suas toxinas so produzidas a temperaturas baixas (Pinto, 2001).

    Isso significa que Fusarium produz as micotoxinas sob o efeito de choque tr-mico, principalmente com alternncia das temperaturas diurna e noturna. Fungo do gnero necessita de temperaturas em torno de 25C para crescer, mas para a biossntese das toxinas necessrio que as temperaturas

    Na podrido branca da espiga a infeco geralmente comea na base e avana at o pice

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    sejam mais amenas ou frias, geralmente abaixo de 16C-18C e o teor de umidade mais elevado para se desenvolver (Jay, 2005, Julliatti, 2007).

    As principais micotoxinas que tm sido relatadas contaminando o milho na pr-colheita so as aflatoxinas (Aspergillus flavus e A. parasiticus), a ocratoxina (Asper-gillus ochraceus) e as toxinas de Fusarium: zearalenona (produzida por F. graminearum e F. roseum), deoxinivalenol - DON ou vomitoxina (F. graminearum e F. verticillio-ides), toxina T-2 (F. sporotrichioides) e as fumonisinas (F. verticillioides, F. subgluti-nans e F. proliferatum). O gnero Fusarium , basicamente, constitudo de fungos de campo que geralmente infectam os gros de milho em pr-colheita. As fumonisinas (B1, B2, B3, B4 e C1) so o resultado da ao de Fusarium subglutinans, F. verticillioides e F. proliferatum em gros de milho (Pinto, 2005).

    MiCoToxiCosesMicotoxicoses o nome dado s enfer-

    midades causadas pelos fungos que acome-tem humanos e animais, por metablitos secundrios txicos (micotoxinas) que so produzidos por algumas espcies fngicas (Gimeno e Martins, 2007). As micotoxico-ses podem promover, nos animais doms-ticos e em humanos, danos como reduo no crescimento, interferncias nas funes vitais do organismo, produo de tumores malignos etc (Embrapa, 2005).

    Para citar alguns exemplos, o efeito txico das aflatoxinas (B1, B2, G1 e G2), denominado de aflatoxicose, pode ser de curta durao (aflatoxicose aguda) ou de longa durao (aflatoxicose crnica). Bo-vinos, sunos e aves podem ingerir raes formuladas com gros de milho contami-nadas com aflatoxinas, converter a toxina em seus metablitos txicos, que entraro na cadeia alimentar humana via consumo de leite, carne e ovos. Quando gros de milho tornam-se contaminados com afla-

    toxinas, por exemplo, a aflatoxina B1, que um carcingeno, pode via arraoamento animal ser convertida em outro carcingeno potencial (aflatoxina M1) e ser liberada no leite (Pinto, 2005).

    A contaminao por fumonisinas (B1, B2, B3, B4, A1 e A2.) em gros de milho extremamente malfica alimentao de sunos (edema pulmonar) e em equinos (leucoencefalomalcea - a toxina destri as clulas cerebrais, formando grandes orif-cios no crebro do animal) (Pinto, 2005). As fumonisinas tm sido, em humanos, associadas com a incidncia de cncer do esfago.

    Por outro lado, sunos, bovinos, aves e ovelhas so muito sensveis zearalenona, que causa o hiperestrogenismo em sunos, pois a sua molcula semelhante da pro-gesterona (hormnio feminino). Quanto toxina T-2, causa m formao ssea nas pernas de frangos de corte.

    estRatGias de manejoA preveno contra a infeco dos

    gros de milho por fungos promotores de gros ardidos deve levar em considerao um conjunto de medidas: cultivares de

    milho resistentes/tolerantes aos fungos dos gneros Fusarium e Stenocarpella. Rotao de culturas com espcies de plan-tas no suscetveis (evitar principalmente gramneas). Sementes so as principais fontes de inculo: qualidade sanitria e fungicida. No utilizar altas densidades de plantio. Evitar desbalano N K, irrigao no florescimento e danos por insetos nas espigas. Preferncia a hbridos com bom empalhamento de espiga. Utilizao de cultivares de milho com espigas que dobram aps a maturidade fisiolgica dos gros pode auxiliar. No retardar a colheita e/ou colher espigas de plantas tombadas. Quando poss-vel, realizar o enterrio de restos de culturas de milho infectado. Programa de controle com fungicidas: folha limpa reduz inculo para espiga.

    Marcelo Madalosso,Instituto Phytus/URI SantiagoCaroline Gulart,Instituto PhytusDiego Dalla Favera,Francis Maffini eRicardo Balardin,Univ. Federal de Santa Maria

    CC

    Cultivar

  • 18 Setembro 2013 www.revistacultivar.com.br

    Especial Helicoverpa

    O Brasil tem batido recordes seguidos de produo de gros nas ltimas safras, podendo, em breve, segundo as previses oficiais, tor-nar-se o maior produtor mundial. Na safra 2012/2013 a produo brasileira de gros foi de 184,1 milhes de toneladas, um aumento de 10,8% em relao safra 2011/2012, com possibilidade de crescer mais ainda na safra 2013/2014 (Conab, 2012).

    Entretanto, esse cenrio de expectativa crescente de produo agrcola poder no se concretizar em decorrncia dos pro-blemas fitossanitrios que os produtores brasileiros vm enfrentando ultimamente. Uma das questes que tm atormentado os produtores agrcolas, especialmente das regies Norte, Nordeste e Centro-Sul do Pas, a ocorrncia de lagartas da subfamlia Heliothinae, que tm atacado intensamente diferentes culturas de importncia econmi-ca nessas regies, como soja, algodo, milho,

    feijo e tomate, independentemente dessas plantas cultivadas serem transgnicas, que expressam as protenas Bt, ou convencio-nais (Czepak et al, 2013). Trs espcies de lagartas da subfamlia Heliothinae tm sido observadas causando danos nessas culturas, sendo elas: Heliothis virescens (Fabricius), Helicoverpa zea (Boddie) e Helicoverpa armigera (Hbner).

    H. virescens uma espcie de longa ocorrncia no Brasil, sendo sua fase larval conhecida, popularmente, como lagarta-das-mas-do-algodoeiro e que tradicio-nalmente ataca cultivos de algodo, soja e tomate. A espcie H. zea, cuja fase larval denominada de lagarta-da-espiga-do-milho ou por alguns como broca-do-tomateiro, tem sido observada causando danos em botes florais, flores e mas do algodoeiro, bem como em frutos verdes e maduros do tomateiro, nas extremidades das espigas do milho, alimentando-se dos gros em forma-

    o, em plntulas e estruturas reprodutivas da soja (Czepak et al, 2013). J H. armigera uma espcie que at pouco tempo era considerada praga quarentenria A1 no Brasil, mas que foi recentemente detectada nos estados de Gois, Bahia e Mato Grosso, associada principalmente s culturas do algodo e da soja (Czepak et al, 2013), sen-do esta constatao o primeiro registro de ocorrncia no Continente Americano.

    h. aRmiGeRaA espcie H. armigera um inseto holo-

    metbolo, ou seja, de metamorfose comple-ta, em que o seu desenvolvimento biolgico passa pelas fases de ovo, lagarta, pr-pupa, pupa e adulta. Os ovos de H. Armigera (Fi-gura 1) so de colorao branco-amarelada com aspecto brilhante logo aps a sua de-posio no substrato, tornando-se marrom-escuro prximo do momento de ecloso da larva. A poro apical do ovo lisa, porm,

    Responsvel por prejuzos graves na safra 2012/13 a lagarta Helicoverpa armigera tem ceifado lucros e tirado o sossego de produtores brasileiros de soja, algodo, milho e outros cultivos

    comerciais. Manejar essa praga demanda estratgias integradas, de modo racional, com sustentao tcnica e capaz de produzir resultados sustentveis

    Como reagir

    Cul

    tiva

    r

  • especialmente para os produtos que tm ao de contato, como piretroides, orga-nofosforados e carbamatos. Em adio, a lagarta de H. armigera, quando tocada, apresenta o comportamento de encurvar a cpsula ceflica em direo regio ventral do primeiro par de falsas pernas, provavel-mente exibindo comportamento de defesa (Figura 3).

    A fase de pr-pupa compreende o pe-rodo entre o momento em que a lagarta cessa a sua alimentao, at a fase de pupa. A pupa de H. armigera do tipo obtecta

    o restante da sua superfcie esculpido em forma de nervuras longitudinais. O perodo de incubao dos ovos , em mdia, de 3,3 dias, com o seu comprimento variando de 0,42mm a 0,60mm e a largura de 0,40mm a 0,55mm (Ali; Choudhury, 2009). As fmeas realizam a oviposio normalmente durante o perodo noturno e colocam seus ovos de forma isolada ou em pequenos agrupamentos preferencialmente na face adaxial das folhas ou sobre talos, flores, frutos e brotaes terminais com superfcies pubescentes (Mensah, 1996).

    O perodo larval de H. armigera com-pletado com o desenvolvimento de seis distintos instares. Os primeiros instares lar-vais, que apresentam colorao variando de branco-amarelada a marrom-avermelhada e cpsula ceflica entre marrom-escuro e preto, alimentam-se inicialmente das partes mais tenras das plantas, onde podem pro-duzir um tipo de teia ou at mesmo formar um pequeno casulo (Figura 2). Este seria o momento adequado para o controle qumico da praga, pois quando as lagartas esto mais expostas e tambm mais suscetveis ao contato dos produtos qumicos aplicados em pulverizao.

    medida que as larvas crescem, adqui-rem diferentes coloraes (Figura 3), varian-do do amarelo-palha ao verde, apresentando listras de colorao marrom lateralmente no trax, abdmen e na cabea, podendo o tipo de alimentao utilizado pela lagarta in-fluenciar na sua colorao (Ali; Choudhury, 2009). A partir do quarto instar, as lagartas apresentam tubrculos abdominais escuros e bem visveis na regio dorsal do primeiro segmento abdominal, que so dispostos na

    forma de semicrculo, aparentando formato de sela (Figura 4), sendo esta caracterstica determinante para a identificao de la-gartas de H. armigera (Matthews, 1999). Outra caracterstica detectvel nas lagartas desta espcie diz respeito textura do seu tegumento, que se apresenta com aspecto levemente coriceo, diferindo das demais espcies de Heliothinae que ocorrem no Brasil (Czepak et al, 2013). Esta caracte-rstica no tegumento da lagarta pode estar relacionada capacidade de resistncia que o inseto apresenta aos inseticidas qumicos,

    19www.revistacultivar.com.br Setembro 2013

    Figura 1 - Ovos de Helicoverpa armigera recentemente depositados sobre o substrato

    Figura 2 - Lagartas pequenas de Helicoverpa armigera na folha de soja

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    Tabela 1 - Produtos autorizados emergencialmente pelo Ministrio de agricultura, Pecuria e abastecimento at 30 de agosto de 20131 para o controle de Helicoverpa spp. no Brasil

    ingrediente ativoflubendiamida

    Lambda-cialotrina + ClorantraniliproleClorfenapir

    Zeta-cipermetrina + BifentrinaZeta-cipermetrina

    Bifentrina + CarbosulfanoMetoxifenozida

    Bifentrinaespinosade

    Bacillus thuringiensis aizawaiBacillus thuringiensisBacillus thuringiensisBacillus thuringiensisBacillus thuringiensisBacillus thuringiensisBacillus thuringiensisBacillus thuringiensis

    Baculovirus sp.Baculovirus sp.

    Baculovirus sp. (VPn-HzsnPV)(Z)-11-Hexadecenal; (Z)-9-Hexadecenal

    Cultura autorizadaalgodo e sojaalgodo e sojaalgodo e sojaalgodo e Milhoalgodo e soja

    algodoalgodo

    algodo e feijoalgodo e soja

    algodo e sojaalgodo e sojaalgodo e sojaalgodo e sojaalgodo e sojaalgodo e sojaalgodo e sojaalgodo e sojaalgodo e sojaalgodo e sojaalgodo e sojaalgodo e soja

    nome comum ou comercialBelt

    ampligoPirateHero

    Mustang 350 eCTalisman

    intrepid 240 sCTalstar 100 eC

    TracerProdutos biolgicos e feromnios

    agreeThuricide

    Bac-control WPdipel

    dipel WGdipel WP

    BMP 123 (2x WdG)BMP 123 (2x WP)

    HzsnPV CCaBGemstar LC

    GemstarBio Helicoverpa (feromnio sexual)

    Produtos qumicos

    1outros produtos podero ser autorizados a partir desta data, ou at mesmo a extenso de uso para outras culturas dos produtos j aprovados. fonte: MaPa

  • 20 Setembro 2013 www.revistacultivar.com.br

    (Figura 5); apresenta colorao marrom-mogno e superfcie arredondada nas partes terminais. Este estgio dura entre dez e 14 dias (Ali; Choudhury, 2009). O desenvolvi-mento pupal ocorre no solo e, dependendo das condies climticas, pode entrar em diapausa (Karim, 2000).

    As mariposas fmeas de H. armigera apresentam as asas dianteiras amareladas, enquanto as dos machos so cinza-esver-deadas com uma banda ligeiramente mais escura no tero distal e uma pequena man-cha escurecida no centro da asa, em formato de rim. As asas posteriores so mais claras, apresentando uma borda marrom na sua ex-tremidade apical (Figura 6). As fmeas apre-sentam longevidade mdia de 11,7 dias e os machos de 9,2 dias (Ali; Choudhury, 2009). Os adultos de H. armigera so fortemente atrados por flores que produzem nctar, sendo esse recurso importante na seleo do hospedeiro, que tambm influencia a sua capacidade de oviposio (Cunningham et al, 1999). Outros compostos secundrios (semioqumicos) que so produzidos pelas plantas hospedeiras tambm influenciam o comportamento de colonizao de H. armigera (Firempong; Zalucki, 1991). Cada fmea, durante o perodo de oviposio, que de cerca de 5,3 dias, pode colocar de 2.200 ovos at 3.000 ovos sobre as plantas hospedeiras (Naseri et al, 2011; Reed, 1965), o que caracteriza o elevado potencial reprodutivo desta espcie.

    disTriBuio GeoGrfiCa e plantas hospedeiRasH. armigera apresenta ampla distribui-

    o geogrfica pelo mundo, sendo registrada

    em praticamente toda a Europa, sia, frica, Austrlia e Oceania (Guo, 1997; Guoqing et al, 2001; Zalucki et al, 1986). Nas amricas, essa praga no havia sido detectada at 2013, quando sua ocorrncia foi registrada em vrias regies agrcolas do Brasil (Czepak et al, 2013). Existe a possibilidade de que H. armigera j esteja disseminada por todo o Pas, o que refora a necessidade da realizao de estudos de le-vantamento taxonmicos com o objetivo de conhecer sua real distribuio geogrfica no territrio brasileiro, em especial nas regies de importncia agrcola. Essas informaes, quando devidamente obtidas e catalogadas, fornecero subsdios para o planejamento e a implementao de estratgias no manejo integrado dessa praga.

    A grande capacidade de disperso de H. armigera est estreitamente relacionada habilidade com que os adultos desta espcie apresentam de se dispersar em condies de campo, podendo-se nesta fase migrar a uma distncia de at 1.000km (Pedgley, 1985). Associado a isso, esta espcie tambm apresenta alta capacidade de sobrevivncia em condies ambientais adversas, tais como excesso de calor, frio ou seca, sendo possvel ter vrias geraes ao longo do ano, uma vez que o ciclo de ovo a adulto pode ser completado dentro de quatro a cinco semanas (Fitt, 1989).

    H. armigera considerada uma espcie altamente polfaga, ou seja, que apresenta a capacidade de se desenvolver em ampla gama de plantas hospedeiras. Suas larvas tm sido registradas se alimentando e/ou causando danos em mais de 100 espcies de plantas, sejam elas cultivadas ou no,

    compreendendo cerca de 45 famlias, in-cluindo Asteraceae, Fabaceae, Malvaceae, Poaceae e Solanaceae (Ali; Choudhury, 2009; Fitt, 1989; Pawar et al, 1986; Pogue, 2004; Reed; Powar, 1982). No Brasil, as lagartas de H. armigera j foram constata-das se alimentando de vrias culturas de importncia econmica, tais como algodo, soja, milho, tomate, feijo, sorgo, milheto, guandu, trigo e crotalria, bem como em algumas espcies de plantas daninhas. Pelo fato de ser uma espcie polfaga, alm das plantas hospedeiras preferenciais em que as fmeas, normalmente, realizam as posturas, outros hospedeiros alternativos presentes nos arredores das lavouras assumem papel decisivo na sobrevivncia e dinmica sazonal da praga, uma vez que do suporte manu-teno de suas populaes em determinada regio (Fitt, 1989).

    danos nos CuLTiVosAs lagartas de H. armigera podem se

    alimentar tanto dos rgos vegetativos como reprodutivos de vrias espcies de plantas de importncia econmica. Estima-se que a perda mundial causada por lagartas de H. armigera, nas diferentes culturas em que atacam, chega anualmente a cinco bilhes de dlares (Lammers; Macleod, 2007. Sharma et al (2008) relataram que a perda anual causada por H. armigera supera dois bilhes de dlares apenas na regio dos trpicos semiridos da Europa e que o custo anual da aplicao de inseticidas nas lavouras, para o controle dessa praga, de 500 milhes de dlares.

    No Brasil, as maiores intensidades de danos econmicos causados por lagartas

    Figura 3 - Lagartas de Helicoverpa armigera de diferentes coloraes

    Figura 4 - Desenho esquemtico ilustrando a presena de tubrculos escuros no primeiro esegundo segmento abdominal de Helicoverpa armigera, caracterizando o formato de uma cela

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  • 22 Setembro 2013 www.revistacultivar.com.br

    foi observado um ataque severo dessa praga, durante os estdios iniciais de desenvolvi-mento da soja.

    A safrinha de milho de 2013 foi tambm marcada por elevados surtos de lagartas de H. armigera nas principais regies produto-ras, talvez a maior j registrada desde o incio da comercializao das sementes de milho geneticamente modificado (Bt) no Brasil. Alm da lagartado-cartucho, Spodoptera frugiperda, as lagartas de Helicoverpa spp. passaram a ser as grandes vils nos cultivos de milho. Na regio oeste do estado do Para-n, mais precisamente na regio de Campo Mouro, foi constatada alta incidncia de lagartas de Helicoverpa, provavelmente H. armigera, causando danos em plantas de soja safrinha (Figura 9) ou em plantas de milho Bt circundadas por plantas novas de soja tiguera (Figura 10). Inicialmente, as lagartas estavam se alimentando na soja tiguera, porm, aps a dessecao da soja, as lagartas migraram para as plantas do milho. Em algumas regies dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, vrios produ-tores de milho safrinha tambm relataram a ocorrncia de lagartas de Helicoverpa sp. em lavouras de milho Bt, notadamente na cultivar transgnica Herculex (Hx), sendo tambm observada certa preferncia do in-seto por materiais que apresentavam espigas com estigmas claros.

    de H. armigera tm-se verificado, at ento, nas culturas de algodo, milho, soja, feijo, tomate e sorgo (Figura 7). As lagartas podem se alimentar de folhas e hastes dessas plan-tas, mas tm preferncia pelas estruturas reprodutivas como botes florais, frutos, mas, espigas e inflorescncias, causando deformaes ou podrides nestas estruturas ou at mesmo a sua queda. Essa inerente capacidade de H. armigera causar danos nas partes reprodutivas das culturas, em associao sua habilidade de atacar grande nmero de hospedeiros, fator que eleva o status de importncia econmica da praga (Cunningham et al, 1999). Na Espanha, H. armigera tambm considerada espcie devastadora nos cultivos de tomate para a indstria (Arn et al, 1999).

    Na safra 2011/2012 foi registrado um grande surto de lagartas de H. armigera na regio oeste da Bahia, especialmente no algodoeiro, quando foram constatadas per-das de at 80% da produo desta cultura, segundo relatos dos produtores. Outras culturas como a soja e o milho, sejam estas transgnicas (Bt) ou no, tambm foram atacadas por essa praga na ocasio. Na safra 2012/2013 foram verificadas novamente incidncias de H. armigera nos cultivos da Bahia, em especial nas lavouras de soja irrigada, algodo e feijo, quando os produ-tores tiveram de realizar vrias aplicaes de inseticidas para o seu controle. Em funo dos problemas decorrentes da ocorrncia de lagartas de H. armigera nos cultivos da Bahia, foi realizado no dia 22 de fevereiro de 2013, na cidade de Lus Eduardo Maga-lhes, um frum regional sobre Helicoverpa para avaliar a situao da incidncia das lagartas desse gnero na regio, bem como para definir estratgias efetivas de convi-vncia e de manejo do inseto (Czepak et al, 2013). O evento contou com a presena de mais de 1,5 mil profissionais do setor, en-volvendo produtores, consultores agrcolas, estudantes e pesquisadores ligados rea de entomologia.

    No evento, os produtores relataram prejuzos da ordem de R$ 140,00 por hectare na produo da safra 2012/2013, alm da necessidade de aplicaes extras de inseticidas nas lavouras, pois, segundo esses produtores, seriam necessrias apro-ximadamente trs aplicaes a mais de inseticidas nas culturas, em comparao safra 2011/2012.

    Na mesma safra de 2012/2013 foram constatados ataques de lagartas de H.

    armigera em cultivos de soja dos estados do Maranho e Piau. Em Mato Grosso, essa praga foi tambm observada atacando lavouras de algodo, soja e milho, enquanto em Gois os danos foram mais acentuados nas lavouras de tomate e soja. Na cultura da soja, as larvas de H. armigera podem atacar as folhas, mas tm preferncia pelas vagens, sejam elas em desenvolvimento ou j com-pletamente formadas (Figura 8). No Estado de Mato Grosso do Sul, lagartas de H. armi-gera foram verificadas causando danos em lavouras de algodo e soja, apenas na regio dos Chapades (entorno de Chapado do Sul), enquanto na regio sul do estado do Paran, abrangendo especialmente a rea do entorno do municpio de Ponta Grossa,

    Figura 5 - Pupa de Helicoverpa armigera

    Figura 6 - Adulto de Helicoverpa armigera

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  • 24 Setembro 2013 www.revistacultivar.com.br

    estRatGias de manejo Para se obter controle eficiente de

    lagartas de H. armigera nos sistemas de produo necessrio conhecer a dinmi-ca populacional do inseto no tempo e no espao, bem como entender os principais fatores ambientais ou biolgicos que po-dem interferir, facilitando ou dificultando seu desenvolvimento. O princpio bsico atacar a praga no seu ponto de fraqueza. Outra questo importante a ser considera-da a necessidade da correta identificao da espcie. Uma identificao errnea da praga em condies de campo pode comprometer seriamente o sucesso do seu manejo ou no ter efeito algum sobre o inseto, uma vez que a estratgia de controle adotada poder no ser adequada.

    monitoRamento O monitoramento efetivo de ovos,

    lagartas, pupas e de adultos de H. armi-gera considerado o fator-chave para a implementao com xito das estratgias

    de manejo dessa praga. Atravs do conheci-mento dessas informaes que as decises ou as tticas de controle sero definidas, como, por exemplo, a oportunidade de se executar ou no o controle qumico em um determinado momento, a escolha do produto e da dose a serem empregados, o tipo de pulverizao requerida etc.

    Os adultos de H. armigera podem ser monitorados com o uso de armadilhas lu-minosas, como tambm armadilhas iscadas com o seu feromnio sexual. Nas arma-dilhas luminosas so coletados machos e fmeas do inseto, enquanto nas armadilhas de feromnio so capturados apenas ma-chos. A intensidade de captura de adultos de H. armigera em uma determinada rea fornece previso do potencial de ocorrncia de ovos e de lagartas e, consequentemente, dos danos nos cultivos da regio. Para que a captura de adultos nas armadilhas tenha importncia como instrumento orientador do manejo, necessrio que os valores dessa captura sejam correlacionados com

    os valores de amostragens de ovos e de lagartas nas plantas da cultura, em tempo real ou nos dias subsequentes a esta captu-ra. Sharma et al (2012) encontraram uma alta correlao (r = 0,83) entre a captura de machos de H. armigera em armadilhas iscadas com o seu feromnio sexual e a densidade de larvas nas plantas de gro-de-bico (Cicer arietinum L.).

    O feromnio sexual de H. armigera pode ser tambm empregado como estra-tgia de controle dessa praga atravs da tcnica de confundimento de machos. A impregnao deste feromnio sexual em vrios pontos da lavoura em que se deseja proteger desorienta o inseto macho na busca da fmea para acasalar e, consequen-temente, de reproduzir. Todavia, apesar da oferta no mercado do feromnio sexual de H. armigera, a sua utilizao no foi ainda devidamente implementada, necessitando, provavelmente, de ajustes na composio e/ou formulao dos componentes do produto, com o objetivo de obter melhor bioatividade para as populaes dessa praga no Brasil (Czepak et al, 2013).

    A estratgia de manejo de pragas em grandes reas geogrficas constitui outra alternativa interessante e poderia tambm ser empregada para o controle de H. armigera nos diferentes sistemas de cultivos, pois esse sistema adequado para o manejo de insetos que apresentam polifagia e grande mobilidade, como o caso dessa praga. Dentre as vantagens que esta abordagem de controle apresenta, destaca-se a reduzida ressurgncia da praga no ambiente manejado, a maximizao do controle biolgico natural e a reduo do nmero de aplicaes de inseticidas nas lavouras.

    plantas ResistentesO uso de plantas resistentes, transg-

    nicas ou no, com o objetivo de manejar uma determinada praga, considerado uma das bases do manejo integrado. As plantas transgnicas Bt, especialmente para aqueles materiais que expressam mais que uma protena, constituem tecnologia bastante promissora para ser utilizada no controle de lagartas de H. armigera. No entanto, para que no ocorra o desenvolvimento de resis-tncia do inseto aos materiais transgnicos Bt e, consequentemente, prolongar a vida til dessas tecnologias, imprescindvel a utilizao de reas de refgios nas unidades de produo agrcola. Assim, recomenda-

    Figura 7 - Danos de lagartas de Helicoverpa armigera na cultura doalgodo (A), milho (B), soja (C), feijo (D), tomate (E) e sorgo (F)

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    nvel de controle da praga. Nas aplicaes de inseticidas qumicos, de importncia fun-damental rotacionar os modos de ao dos ingredientes ativos para reduzir a presso de seleo e o desenvolvimento de resistncia dos insetos aos produtos. O controle de adultos de H. armigera pode tambm ser realizado utilizando-se iscas txicas base de melao ou acar + inseticida carbama-to, podendo essas misturas ser aplicadas nas bordaduras das lavouras.

    ContRole CultuRalO controle cultural consiste na mani-

    pulao do ambiente da cultura ou do solo, de maneira a torn-lo desfavorvel para a praga que se deseja manejar e favorvel para os seus inimigos naturais (Fathipour; Sedaratian, 2013). Considerando-se que H. armigera uma espcie que apresenta elevada capacidade reprodutiva e que se reproduz em diferentes hospedeiros, a presena de pontes verdes durante o perodo da entressafra de culturas como a soja, o algodo e o milho pode favorecer a sobrevivncia das lagartas neste perodo e servir de focos de infestaes para os cultivos implantados em sucesso. Neste sentido, o planejamento na entressafra de um perodo sem a presena de plantas hospedeiras de H. armigera, estratgia essa conhecida como vazio sanitrio, poder se constituir em importante alternativa com-plementar para o manejo dessa praga. Este vazio sanitrio dever ser realizado entre os meses do ano com menor incidncia de cultivos agrcolas em uma determinada regio, sendo o perodo de agosto a outubro o mais adequado para a sua implementa-o, especialmente para as regies Norte,

    se a adoo de refgios estruturados em pelo menos 20% da rea cultivada com os transgnicos Bt, utilizando-se nestas reas materiais convencionais (no Bt) que apre-sentam fenologia, ciclo e manejo semelhante aos materiais transgnicos. Nas reas de refgio, o combate a H. armigera dever ser realizado sempre que o inseto atingir o nvel de controle. Outra opo para o manejo da resistncia reside na utilizao de refgios alternativos, que consistem em plantar uma espcie hospedeira de H. armigera di-ferente da cultura principal (exemplo sorgo, milheto, guandu etc), podendo realizar ou no o controle da praga nesta cultura alternativa.

    ConTroLe QuMiCoO controle de H. armigera com insetici-

    das qumicos tem sido largamente utilizado nos ambientes agrcolas em que essa praga ocorre, em razo de ser, muitas vezes, uma alternativa de controle de ao rpida, con-fivel e econmica. Na ndia e na China, cerca de 50% dos inseticidas utilizados na agricultura desses pases so direcionados para o controle de H. armigera (Building; Arhabhata, 2007).

    Como estratgia complementar do ma-nejo integrado de H. armigera nos sistemas de produo, recomenda-se a utilizao de inseticidas em tratamento de sementes para o controle de pragas iniciais, tais como cole-pteros desfolhadores, lagarta-elasmo, per-cevejo barriga-verde, pulges, tripes etc. Os inseticidas aplicados nas sementes garantem o controle desse complexo de pragas iniciais e, consequentemente, reduzem o nmero de pulverizaes foliares durante os estdios iniciais de desenvolvimento da cultura.

    Outra importante estratgia de manejo a possibilidade de retardar ao mximo a pri-meira aplicao de inseticida nas lavouras, obedecendo sempre que possvel os nveis de controle estabelecidos pela pesquisa. Asso-ciado a isso, recomenda-se tambm utilizar, sempre, produtos seletivos aos inimigos naturais at um determinado estdio da cultura, como, por exemplo, at os 70 dias aps a emergncia do algodo ou at o incio de florescimento da soja, evitando sempre o uso de inseticidas fosforados e piretroi-des neste perodo, por serem considerados normalmente de alta toxicidade para os inimigos naturais. Essas aes seletivas de manejo permitiro o estabelecimento inicial dos inimigos naturais (predadores e parasi-toides) no agroecossistema, proporcionando reflexos positivos nos estdios mais avana-dos das culturas, em razo da manuteno do equilbrio biolgico.

    No incio do ano de 2013, o Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa) aprovou, em carter emergencial, o registro temporrio de algumas substncias, para serem utilizadas no controle de H. ar-migera. Na Tabela 1 so listados os principais ingredientes ativos em fase de testes para serem empregados no manejo dessa praga. A aplicao desses produtos para o controle de H. armigera tem sido sugerida quando houver predominncia de lagartas pequenas nas culturas. Este o momento em que as lagartas esto mais expostas e tambm mais suscetveis ao dos produtos qumicos. Quando for constatada alta infestao de H. armigera em uma determinada cultura, especialmente quando houver incidncia de lagartas grandes, pulverizaes sequenciais podero ser necessrias para se obter melhor

    Figura 8 - Lagartas de Helicoverpa armigera alimentando-se de vagensde soja em formao (A) e em vagens completamente j formadas (B)

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  • 28 Setembro 2013 www.revistacultivar.com.br

    Nordeste e Centro-Sul do Brasil. Cabe salientar que o sucesso da utilizao do vazio sanitrio como estratgia de controle de pragas ter maior efeito se for normati-zado por instrumento legal e contar com a fiscalizao dos agentes responsveis pelo sistema de defesa vegetal da regio.

    Uma nova estratgia de controle cul-tural de pragas, denominada de push and pull, tem sido utilizada para o controle de H. armigera, especialmente em cultivos de algodo na Austrlia. Esta estratgia de ma-nejo baseia-se na manipulao comporta-mental da praga atravs da implementao de tcnicas que repelem (push) ou atraem (pull) o inseto. Essa manipulao base-ada em estmulos visuais e de compostos volteis emitidos pelas plantas hospedeiras ou que so pulverizados sobre estas com o objetivo de intensificar ou reduzir a oviposio e/ou alimentao do inseto nas plantas manejadas (Fathipour; Sedaratian, 2013). O sistema push and pull consti-tudo basicamente de duas culturas, sendo uma considerada a cultura principal, a que se deseja proteger contra a praga, e outra a cultura armadilha, para onde a praga dever ser atrada e, posteriormente, con-trolada. Como exemplo, pode-se imaginar a cultura do algodo como cultura principal e o guandu como a cultura armadilha plan-tada nas reas adjacentes ao algodoeiro. Quando se pulveriza azadiractina (leo de neem) sobre o algodoeiro e acar ou feromnio de agregao de H. armigera so-bre as plantas de guandu, os adultos dessa praga evitaro ovipositar no algodoeiro (efeito push) e intensificaro a oviposio nas plantas de guandu (efeito pull). Da mesma forma, as lagartas que estiverem presentes no algodoeiro tero dificuldade de se alimentar nesta cultura devido ao

    fagodeterrente do leo de neem (efeito push), mas se alimentaro normalmente no guandu (efeito pull). Para finalizar essa estratgia de manejo, as lagartas de H. armigera devem ser controladas na cultura armadilha (guandu), antes que o inseto atinja o estgio de pupa, podendo para isso utilizar um inseticida qumico efetivo ou at mesmo um produto biolgico como o baculovrus de H. armigera, que apresenta seletividade aos inimigos naturais da praga. Alguns produtos, quando aplicados na cultura principal que se deseja proteger, podem afetar negativamente a capacidade de colonizao de H. armigera. Mensah (1996) verificou que pulverizao do pro-duto comercial Environfeast na cultura do algodo reduziu significativamente a inten-sidade de oviposio de H. armigera nesta cultura (efeito push) quando comparado s reas adjacentes de algodo pulverizadas com apenas gua.

    Outra estratgia de controle cultural importante a possibilidade de os produ-tores de uma determinada regio estabele-cerem um calendrio organizado de plantio para as diferentes culturas exploradas eco-nomicamente e que so hospedeiras de H. armigera. Considerando o perodo inicial e final da poca estipulada no calendrio de plantio de uma determinada cultura (exemplo soja, algodo, milho), quanto mais estreita for a janela de plantio, maior ser o efeito desta estratgia no manejo da praga, pois a condensao dos plantios contribuir para reduzir a incidncia e os danos da praga nas culturas. Como estrat-gia complementar para o controle cultural de lagartas de H. armigera, recomenda-se a eliminao de plantas tigueras e de rebro-tas, especialmente da soja e de algodo na ps-colheita, uma vez que essas plantas

    servem como substratos para o desenvol-vimento do inseto. O revolvimento do solo tem sido tambm recomendado para a des-truio de pupas de H. armigera em reas com alta infestao da praga, especialmen-te em sistemas irrigados, sendo o ms de agosto o mais adequado para realizar esta operao. As pupas de H. armigera ficam normalmente localizadas cerca de 10cm da superfcie do solo e a mortalidade dessas formas imaturas, quando se faz o revolvi-mento do solo, causada pela sua exposio ao calor e aos inimigos naturais.

    ConTroLe BioLGiCoEmbora ainda no tenham sido condu-

    zidos no Brasil trabalhos cientficos para avaliar a magnitude do controle biolgico em ovos, lagartas e pupas de H. armigera, estas informaes so abundantes na literatura internacional. Fathipour e Se-daratian (2013) relataram 36 parasitoides, 23 predadores e nove patgenos associados s formas imaturas de H. armigera, sendo constatados nveis de controle biolgico natural por estes inimigos naturais varian-do de 5% a 76%, dependendo da cultura e do estgio de desenvolvimento da praga. Segundo Andr Shimohiro (comunicao pessoal), na safrinha de milho de 2013 foi constatada, no estado do Paran, uma ele-vada ocorrncia de parasitismo em lagartas de Helicoverpa, provavelmente H. armigera, quando se observou que cerca de 50% das lagartas coletadas apresentaram-se parasita-das por moscas da famlia Tachinidae. Estes resultados evidenciam o alto potencial de controle biolgico natural que pode ser ex-plorado, especialmente quando se utilizam mtodos de controle seletivos para o manejo de H. armigera.

    O controle biolgico de H. armigera, utilizando-se tticas de conservao ou de incremento dos inimigos naturais no agroecossistema, bem como pela imple-mentao do controle biolgico clssico ou tambm atravs do controle biolgico aplicado, uma realidade que necessita ser investigada e explorada nas condies bra-sileiras. O baculovrus de H. armigera um inseticida biolgico que tem apresentado boa eficincia no controle desta praga em vrios pases da Europa e da sia (Sun et al, 2004). Esse vrus foi regulamentado pelo Mapa, para uso emergencial no controle de lagartas de Heliothinae, podendo o produ-to estar disponvel na prxima safra para uso no Brasil, uma vez que vrias empresas

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    Figura 9 - Lagartas de Helicoverpa armigera alimentando-se de plantas jovens de soja cultivada na safrinha de 2013, em Ubirat (PR)

  • de defensivos j se mostraram dispostas a realizar a sua importao.

    Trabalhos na literatura evidenciam que os parasitoides do gnero Trichogramma apresentam grande associao com ovos de espcies da subfamlia Heliothinae, que abrange H. armigera. Existe a possibilidade real de multiplicao e liberao a campo dos parasitoides deste gnero para o con-trole de ovos de H. armigera, especialmente em cultivos de soja, milho e algodo, como j foi mencionado por especialistas que trabalham com estes inimigos naturais durante o frum regional de Helicoverpa, que ocorreu na Bahia.

    Considerando-se tambm que H. ar-migera uma praga extica para o Brasil, esforos da pesquisa deveriam ser direcio-nados com o objetivo de buscar inimigos naturais exticos nas regies de origem de ocorrncia dessa praga, para serem utili-zados como agentes biolgicos de controle nos sistemas de produo agrcola.

    CaPaCiTao eM Manejo de PraGasA possibilidade real de implementao

    de um manejo efetivo para H. armigera nas diferentes culturas em que essa praga

    causa danos poder ser conseguida atravs da utilizao de estratgias de controle seguras, saudveis e econmicas. No en-tanto, a consolidao do manejo integrado dessa praga nas diferentes regies do Pas somente acontecer com o envolvimento de profissionais adequadamente treinados e/ou familiarizados com as caractersticas de identificao dessa praga, com o en-tendimento dos fatores que determinam a dinmica populacional do inseto no campo, bem como com o conhecimento das tcni-cas de monitoramento e de controle para os diferentes sistemas de cultivos. Neste

    sentido, imprescindvel criar um am-biente para realizao de cursos de manejo integrado de pragas, dirigidos a profissio-nais que atuam nesta rea, com o objetivo de capacitar monitores sobre as diferentes tticas a serem empregadas para o controle de H. armigera, especialmente nas culturas do algodo, da soja e do milho.

    Figura 10 - Lagartas de Helicoverpa armigera alimentando-se em plantasde milho Bt (A), circundado de plantas tigueras de soja (B), em Ubirat (PR)

    Crbio Jos vila,Embrapa Agropecuria OesteLcia Madalena Vivan,Fundao MTGermison Vital Tomquelski,Fundao Chapado

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  • 30 Setembro 2013 www.revistacultivar.com.br

    Especial Helicoverpa

    Com as viagens e os transportes cada vez mais globalizados torna-se fcil a entrada de pragas exti-cas no pas e o Brasil com suas extensas reas fronteirias extremamente vulnervel. Por sua vez, a fiscalizao de produtos proibidos pela Vigilncia Sanitria Vegetal e Animal fica quase que exclusivamente na dependncia da obedincia do cidado, que, por falta de responsabilidade, acaba burlando as regras e ignorando os enormes prejuzos que pode cau-sar economia do Pas. Das inmeras pragas e doenas introduzidas, apesar da fiscalizao existente, o servio dificultado quando o ma-terial proibido propositadamente escondido nas bagagens e uma pequena quantidade suficiente para desencadear, depois, na natu-reza, uma exploso de descendentes.

    Assim aconteceu tambm com a nova lagarta Helicoverpa armigera, terrvel praga devoradora das mais variadas espcies ve-getais, de expressivo valor econmico, como soja, algodo, fumo, tomate, milho e outras gramneas, como as das pastagens, cuja rea ocupa mais de 198 milhes de hectares. Ad-mitindo que mais da metade dessa rea esteja em regies adequadas ao desenvolvimento do

    inseto, sua abrangncia ser enorme.Alm disso, as pastagens, diferentes de

    outras culturas, recebem pouco ou quase ne-nhum defensivo, o que permite a essa lagarta maiores chances de sobrevivncia. Outro aspecto preocupante o fato de suas pupas se alojarem no subsolo, protegidas pelo ema-ranhado de palha que sobra da alimentao dos animais, oferecendo um nicho ideal ao seu desenvolvimento. Esse hbito tambm motivo de preocupao no sistema de plantio direto em que o solo no revolvido, deixando intactas as pupas, para posterior transforma-o em mariposas.

    A mariposa mede cerca de 45mm de en-vergadura com as asas de colorao varivel de marrom-avermelhado a oliva com pontuaes escuras. As asas posteriores so mais claras com margem marrom-escura.

    A postura de ovos parcelada durante seis a oito dias e varia de 500 a trs mil ovos, dependendo da alimentao recebida na sua fase larval e da qualidade do vegetal consu-mido. A ecloso se d entre trs e cinco dias, dependendo da temperatura, e as lagartas recm-nascidas alimentam-se inicialmente dos tecidos tenros, localizados nas brotaes

    das plantas. Na medida em que crescem, procuram se alojar sob as folhas, em botes ou frutos em desenvolvimento, dependendo da natureza da planta hospedeira.

    Esta praga produz vrias geraes por ano, provavelmente cinco ou seis, em funo das condies climticas, o que a torna mais importante no Brasil por conta da tempera-tura que a favorece e um curto perodo de inverno.

    Existem muitas pesquisas j realizadas com esta lagarta em soja, algodo, fumo e mesmo tomate no exterior, pois a praga est largamente distribuda por vrios pases da sia, Europa, frica e Austrlia h longo tempo.

    As lagartas que so as formas prejudiciais, passam por seis trocas de pele e, a cada troca, vo crescendo, aumentando o consumo de alimento, completando essa fase em cerca de 21 dias, quando ento possuem cerca de 40mm de comprimento. Sua colorao bastante varivel, dependendo do local onde esteja se alimentando e da quantidade de lagartas convivendo no mesmo nicho, pois a concorrncia na alimentao excita o seu sistema nervoso, provocando alterao na

    J detectada em ataque a diversos cultivos comerciais e plantas voluntrias, com uma gama extensa de hospedeiros, a lagarta Helicoverpa armigera tambm se constitui em srio problema em pastagens, com alto poder destrutivo, condies favorveis para o

    desenvolvimento e enormes limitaes para que se efetue o controle

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    Come at pastoJ detectada em ataque a diversos cultivos comerciais e plantas voluntrias, com uma gama extensa de hospedeiros, a lagarta Helicoverpa armigera tambm se constitui em srio problema em pastagens, com alto poder destrutivo, condies favorveis para o

    desenvolvimento e enormes limitaes para que se efetue o controle

  • Essa praga tem causado problemas no milho, na soja e no algodo transgnicos, pois o bacilo incorporado nessas plantas no produz efeito em seu organismo. Os pro-dutos recomendados para controle no so permitidos em pastagens e no podem ser empregados por problemas toxicolgicos. A praga extremamente agressiva e em poucos dias tem produzido enormes desfolhas nas pastagens dessas regies.

    sua colorao. No caso de pastagens como a braquiria, as lagartas atacam as folhas e o consumo passa a ser significativo a partir da 4 troca de pele, quando ento consumiram apenas 40% do total de folhas exigidas. Da em diante, passam a consumir os 60% restantes, sendo consideradas as fases mais prejudiciais. Estima-se que cada lagarta consome aproxi-madamente 100cm2 de folhas de braquiria com peso equivalente a dois gramas.

    Considerando que um boi consome o equivalente a 21 quilos de capim/dia, seriam necessrias 10,5 mil lagartas para esse consu-mo ou 1.050 lagartas em dez dias para essa equivalncia.

    Para uma mariposa que consegue ovipo-

    sitar em mdia 1,5 mil ovos, seriam necess-rias apenas sete a oito delas para atingir essa quantia, muitas vezes encontrada na forma de pupa em 1m2 de subsolo, em pastagem, nas regies de Mato Grosso e Bahia.

    Em pastagem, a situao se agrava porque os defensivos que poderiam ser empregados no seu controle, no podem comprometer o capim que serve de ali-mento ao gado, e um dos lagarticidas mais recomendados para esse tipo de atividade o Bacillus thruringiensis, que neste caso no tem efeito.

    As mariposas de Helicoverpa armigera apresentam variao de colorao

    As lagartas da praga tambm apresentam multiplicidade de cor

    Octavio Nakano eLucas Ferreira de Oliveira,Esalq/USP

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  • Ocorreu em So Paulo, em agosto, a final do programa DuPont Colheita Farta Safra 2012/13. O projeto premia anualmente, por regio pro-dutora, os sojicultores que obtm os melhores ndices de produtividade atrelados ao manejo qumico preventivo da ferrugem asitica. Do grupo de vencedores regionais, sai o campeo nacional. Quase 250 produtores estiveram inscritos no programa neste ano.

    DuPont Colheita Farta um projeto idealizado pela empresa com o objetivo de dis-seminar medidas contra a ferrugem asitica, baseadas na aplicao do fungicida Aproach Prima. Dados da Associao Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) apontam que nos ltimos dez anos os produtores brasileiros amargam prejuzos de aproximadamente 25 bilhes de dlares com a doena.

    De acordo com o vice-presidente da DuPont Produtos Agrcolas, Mario Tenerelli, os indicadores apurados pela empresa com o programa evidenciam o peso que o con-trole adequado da ferrugem exerce sobre os nmeros de produo que so obtidos pelos agricultores no final da safra. O agricultor fica mais competitivo e aumenta a rentabilidade de seu negcio com o manejo preventivo contra a ferrugem, resumiu o executivo.

    Lanado no Brasil h pouco mais de trs anos, Aproach Prima, de acordo com a DuPont, tem como principais diferenciais o efeito sistmico age no interior da planta - e a forte tolerncia lavagem por chuvas, fator que proporciona prolongado perodo de

    Colheita fartaPrograma da Dupont premia produtores de soja

    com melhores ndices de produtividade

    Eventos

    32 Setembro 2013 www.revistacultivar.com.br

    controle da doena com reduzido nmero de aplicaes por safra.

    CaMPeo do Paran A maior produtividade do Programa Co-

    lheita Farta foi atingida pelo produtor Renato Paulo Zaika, do Paran, que alcanou a marca de 98,33 sacas por hectare. A rea avaliada foi de 50 hectares, de um total de 600 hectares cultivados na fazenda que ainda conta com 600 hectares de milho e outros 500 hectares dedicados ao feijo.

    Zaika, que trabalha h 38 anos com agricultura, credita o bom resultado em produtividade a uma sucesso de fatores. Correo do solo, matria orgnica, boa adubao e So Pedro tambm ajudou, relata bem-humorado ao se referir ao clima favorvel durante a safra.

    O controle preventivo da ferrugem asi-tica foi outro aspecto apontado por Zaika,

    que tratou toda a rea com Aproach Prima. Sempre buscamos aumentar a produtividade e quando a ferrugem comea a aparecer em cidades vizinhas adotamos medidas para prevenir, conta.

    pResena femininaEntre os vencedores do Programa Colheita

    Farta est Norma Gatto, de Mato Grosso, com produtividade de 64,40 sacas por hectare. A rea avaliada contabiliza 50 hectares, de um total de 12,2 mil hectares que cultiva h 13 anos.

    O fungicida Aproach Prima foi utilizado em toda a propriedade contra a ferrugem, bem como o Sistema Dupont para o manejo de doenas, com quatro aplicaes. Fertili-zante com dosagem correta, anlise de solo, semente de qualidade, manejo de pragas e doenas esto entre os aspectos atribudos pela produtora para a boa produtividade. Um dos grandes trunfos, segundo Norma, reside no cuidado com o momento da aplicao de defensivos. preciso aplicar na hora certa para obter o melhor resultado. O sistema Aproach uma importante ferramenta para controle de doenas em soja, especialmente ferrugem. A combinao das tcnicas j em-pregadas na fazenda com o produto facilita a obteno de boas produtividades e tem sido uma sugesto agronmica de manejo para a fazenda. No entanto, o maior desafio para que esta ferramenta seja mais representativa em abrangncia de rea est em relao a aspectos de custo e condies comerciais que precisam ser melhorados a benefcio do produtor, opinou. CC

    1) Pr Leste: renato Paulo Zaika Mdia de 98,33 sacas/ha

    2) rs/sC: roberto Baseggio Mdia de 89,33 sacas/ha

    3) Pr norte: ivan Ccere Mdia de 89,06 sacas/ha

    4) Ms: Zlio antnio Pessato Mdia de 82,32 sacas/ha

    5) sP/MG: sidney Hideo fujivara Mdia de 80,63 sacas/ha

    6) Mapitoba: alvaro Kagawa Mdia de 80,57 sacas/ha

    7) Br Central: deonir finkler Mdia de 80,21 sacas/ha

    8) Go/Ba: johnny alberto Quesinski Mdia de 79,13 sacas/ha

    9) MT norte: adelmo nunes Mdia de 74,59 sacas/ha

    10) MT sul: norma Gatto Mdia de 64,60 sacas/ha

    Vencedores da safra 2012/13

    Norma, de Mato Grosso, foi a nica mulher premiada no Programa

    Zaika foi o primeiro colocado, com produtividade de 98,33 sacas por hectare, no Paran

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  • A Unidade de Proteo de Cultivos da Basf realizou nos dias