gênero, raça, desigualdades e políticas de ação afirmativa no ensino superior

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Revista Brasileira de Ciência Política, nº16. Brasília, janeiro - abril de 2015, pp. 39-64. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0103-335220151603 * É professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). E-mail: <pau- [email protected]>. Paula Cristina da Silva Barreto * Gênero, raça, desigualdades e políticas de ação afirmativa no ensino superior Gender, race, inequalities and affirmative action policies in higher education No que diz respeito à desigualdade racial no ensino superior e às políti- cas de ação afirmativa nessa área, tanto o debate público quanto a literatura acadêmica tratam, principalmente, da situação dos estudantes. A existência, atualmente, de dados disponíveis sobre a composição da população de estu- dantes segundo a cor favoreceu a realização de estudos sobre a desigualdade racial na educação, cujos resultados mostram que as desvantagens dos es- tudantes negros em relação aos brancos crescem a partir do ensino médio e chegam ao ápice no ensino superior e pós-graduação (Silva, 2013; Charão, 2011; Paixão et al., 2010). As demandas antigas e recentes das organizações antirracistas por mais acesso às oportunidades educacionais, bem como o maior apelo do argumento em favor dos estudantes diante da opinião públi- ca também ajudam a explicar por que os estudantes têm sido os principais focos das pesquisas e experiências brasileiras recentes com as políticas de ação afirmativa (Santos, 2012). É inegável que a alteração das regras para o acesso dos estudantes aos cursos de graduação, que resultaram em aumento proporcional de estu- dantes negros através das políticas de ação afirmativa, foi uma mudança institucional importante, pois passou a garantir a esse segmento o acesso a oportunidades sociais que antes lhe eram restritas ou inexistentes (Santos, 2013; Feres Jr. e Zoninsein, 2008; Barreto, 2008; Brandão, 2007). Mas fica

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No que diz respeito à desigualdade racial no ensino superior e às políticasde ação afirmativa nessa área, tanto o debate público quanto a literaturaacadêmica tratam, principalmente, da situação dos estudantes. A existência,atualmente, de dados disponíveis sobre a composição da população de estudantessegundo a cor favoreceu a realização de estudos sobre a desigualdaderacial na educação, cujos resultados mostram que as desvantagens dos estudantesnegros em relação aos brancos crescem a partir do ensino médio echegam ao ápice no ensino superior e pós-graduação (Silva, 2013; Charão,2011; Paixão et al., 2010). As demandas antigas e recentes das organizaçõesantirracistas por mais acesso às oportunidades educacionais, bem como omaior apelo do argumento em favor dos estudantes diante da opinião públicatambém ajudam a explicar por que os estudantes têm sido os principaisfocos das pesquisas e experiências brasileiras recentes com as políticas deação afirmativa (Santos, 2012).

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Revista Brasileira de Cincia Poltica, n16. Braslia, janeiro - abril de 2015, pp. 39-64. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0103-335220151603* professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). E-mail: .Paula Cristina da Silva Barreto*Gnero, raa, desigualdades e polticas de ao afrmativa no ensino superiorGender, race, inequalities and affrmative action policies in higher educationNo que diz respeito desigualdade racial no ensino superior e s polti-cas de ao afrmativa nessa rea, tanto o debate pblico quanto a literatura acadmica tratam, principalmente, da situao dos estudantes. A existncia, atualmente, de dados disponveis sobre a composio da populao de estu-dantes segundo a cor favoreceu a realizao de estudos sobre a desigualdade racial na educao, cujos resultados mostram que as desvantagens dos es-tudantes negros em relao aos brancos crescem a partir do ensino mdio e chegam ao pice no ensino superior e ps-graduao (Silva, 2013; Charo, 2011; Paixo et al., 2010). As demandas antigas e recentes das organizaes antirracistas por mais acesso s oportunidades educacionais, bem como o maior apelo do argumento em favor dos estudantes diante da opinio pbli-ca tambm ajudam a explicar por que os estudantes tm sido os principais focos das pesquisas e experincias brasileiras recentes com as polticas de ao afrmativa (Santos, 2012).inegvelqueaalteraodasregrasparaoacessodosestudantesaos cursosdegraduao,queresultaramemaumentoproporcionaldeestu-dantesnegrosatravsdaspolticasdeaoafrmativa,foiumamudana institucional importante, pois passou a garantir a esse segmento o acesso a oportunidades sociais que antes lhe eram restritas ou inexistentes (Santos, 2013; Feres Jr. e Zoninsein, 2008; Barreto, 2008; Brando, 2007). Mas fca RBCPed16.indd 39 13/04/15 16:0140 Paula Cristina da Silva Barretoa pergunta sobre se, e quanto, as Instituies de Ensino Superior (IES) que adotaram tais polticas esto se transformando, de maneira mais geral, no sentido de promover a igualdade racial, considerando a interface no apenas com a classe social, mas tambm com o gnero.Para abordar esse tema, preciso no restringir a anlise aos benefci-rios das polticas de ao afrmativa adotadas, mas ampliar o enfoque para incluiroutracategoriaimportantenacomunidadeuniversitria,ouseja, aquelaformadaporprofessoreseprofessoras,bemcomoparaincluiros currculos e as relaes construdas no cotidiano. Em outras palavras, se faz necessrio pensar as instituies de ensino superior de uma maneira mais global, e considerar em sua anlise a articulao entre dimenses distintas das desigualdades, com destaque para raa, classe e gnero.Emrelaosituaodocente,Carvalho(2005-2006)jdestacouque nas IES brasileiras h redutos formados quase integralmente por professores brancos, onde os poucos negros existentes so isolados e enfrentam vrias formas de estigmatizao no cotidiano. No entanto, esse tema ainda merece ser objeto de estudos que forneam evidncias empricas sobre a composi-o segundo a cor do corpo docente, e sobre as experincias profssionais e pessoais dos docentes, em especial, dos homens e mulheres negros(as) que construram,emdiferentesmomentos,suascarreirasacadmicasnessas instituies (Santos, 2007). Com a continuidade da realizao de estudos sobre a desigualdade racial no ensino superior, e dez anos depois das primeiras iniciativas de criao das polticas de ao afrmativa, esto surgindo outras demandas quando se trata de promover a igualdade racial nas IES, e outros temas de pesquisa, com destaque para a criao de espaos institucionais e de projetos antirracistas e antissexistas, a inovao nos currculos e a situao dos docentes. Em termos tericos, a preocupao com a interface entre classe, gnero e raa cresceu na pesquisa sobre desigualdade, incentivada, por exemplo, pelos estudos que utilizam a abordagem interseccional. As categorias de articulao e as interseccionalidades esto cada vez mais presentes no debate terico recente, visando ampliar a compreenso sobre os modos como mltiplas diferenciaes que permeiam o social articulam-se a gnero (Piscitelli, 2008). Na reviso da literatura sobre o tema, Piscitelli destacaqueautilizaodessesconceitosfoiprecedidaporinmerasfor-mulaes crticas aos usos essencialistas dos conceitos de sexo e gnero em RBCPed16.indd 40 13/04/15 16:0141Gnero, raa, desigualdades e polticas de ao armativa no ensino superiordistintas correntes do feminismo, que destacaram a heterogeneidade interna dacategoriamulhereoslimitesdobinarismomasculino/femininonas relaes de gnero. Segundo Piscitelli, os conceitos de categorias de articu-laoedeinterseccionalidadenosoutilizadosdemaneirahomognea entre as autoras que se tornaram mais infuentes na discusso sobre gnero. Creenshaw (2002) analisa a forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opresso de classe e outros sistemas discriminatrios criam desigualdades bsicasqueestruturamasposiesrelativasdemulheres,raas,etniase classes,entreoutras.Ointeressedaautoraseconcentra,especifcamente, sobre a discriminao interseccional. Com uma formulao distinta, Brah (2006) se atm s formas de constituio, contestao e (re)signifcao dos discursos sobre a diferena, destacando que a diferena pode estar associada hierarquia e opresso e tambm igualdade e diversidade.Emboradiferenaedesigualdadeestejamestreitamenteconectadas, possvelnotarqueCreenshawdedicamaioratenodiscussosobrea desigualdade, enquanto Brah aprofunda as refexes sobre a diferena. Essas referncias so importantes para o estudo da discriminao interseccional na educao superior, tema que j fora objeto de estudo em autores como Rosemberg e Andrade (2008), que propuseram o uso do conceito de no sin-cronia entre gnero e raa quando se trata de desigualdade racial na educao.Na literatura sobre gnero e cincia no Brasil, muitos estudos tratam das assimetrias existentes entre homens e mulheres, mas so escassos aqueles que incluem nas anlises questes sobre se, e como, mulheres brancas e negras so afetadas de maneiras distintas (cf. Minella, 2013). A partir do fnal da dcada de 1990, vrios estudos tm descrito essas assimetrias, segundo o gnero, que se mantm nas distintas reas do conhecimento e carreiras cientfcas, muitos dos quais utilizando uma abordagem quantitativa (cf. Lombardi, 2008; Melo e Casemiro, 2004). Tais resultados se inserem em um contexto mais amplo, marcado pela segregao ocupacional por sexo no mercado de trabalho, um fenmeno que ocorre em escala global (cf. DeGraf e Anker, 2004). Os estudos que descrevem as assimetrias no campo cientfco segundo o gnero tm mostrado tambm que crescente a presena de mulheres em reas do conhecimento e carreiras antes restritas aos homens. O aumento gradual da proporo de mulheres nessas reas e carreiras tem sido referi-do como feminizao, e ocorre de maneira mais rpida, por exemplo, nas cincias biolgicas, enquanto se d em ritmo mais lento nas cincias exatas RBCPed16.indd 41 13/04/15 16:0142 Paula Cristina da Silva Barreto(cf. Minella, 2013). Os estudos sobre as trajetrias das mulheres pioneiras, ou que esto inseridas atualmente em contextos que ainda so redutos mas-culinos, trazem evidncias importantes para compreender os arranjos que contribuem para que as mulheres sejam excludas de determinados espaos dentro do campo cientfco, e as estratgias que tm sido usadas para garantir a permanncia das mulheres nesses espaos (cf. Vanin, 2008; Rago, 2007).Argumentamos, no presente artigo, que necessrio reduzir a distncia existente entre a linha de investigao sobre a desigualdade racial e as pol-ticas de ao afrmativa no ensino superior, e a linha de investigao sobre asassimetriasentrehomensemulheresnocampodacincia.Conforme destacouMinella(2013),emcontrastecomavolumosaliteraturasobrea desigualdaderacialepolticasdeaoafrmativanoensinosuperior,so poucos os estudos que incluem a questo racial na discusso sobre gnero e cincia. De modo inverso, na literatura sobre desigualdade racial e polticas de ao afrmativa no ensino superior, poucos estudos tm tratado das dis-paridades entre negros e brancos, homens e mulheres, na categoria docente e nas carreiras acadmicas e cientfcas.A partir das referncias tericas existentes nessas duas linhas de investi-gao que vamos abordar o caso da Universidade Federal da Bahia (UFBa), onde realizamos uma pesquisa para analisar as articulaes entre distintas formasdedesigualdadenocontextoinstitucional,enfatizandoasdimen-ses de raa e gnero. No mbito dessa pesquisa, os conceitos de raa e gnero so entendidos como construes sociais que, historicamente, tm sido associados a formas de estigmatizao e de desigualdade, bem como a processos de identifcao. Alm da reviso da literatura nos campos dos estudos sobre as relaes raciais e de gnero, a parte emprica da pesquisa incluiu a sistematizao de dados sobre a distribuio dos docentes, homens e mulheres, entre as trs maiores reas do conhecimento (cincias humanas, exatas e biolgicas) e, internamente a cada uma delas, nos distintos cursos e departamentos. Embora esses resultados no sejam apresentados no presente artigo,apesquisaabordatambmainstitucionalizaodeprogramasno campo dos estudos africanos e afro-brasileiros e dos estudos sobre mulheres e feminismos na UFBa.A categorizao dos docentes segundo o sexo foi realizada com base nas listascompletasdenomesdisponibilizadaspelainstituio.Emboraseja mais frequente o uso de dados sobre a categorizao por sexo baseados na RBCPed16.indd 42 13/04/15 16:0143Gnero, raa, desigualdades e polticas de ao armativa no ensino superiorautoclassifcao, a heteroclassifcao permite que se tenha um resultado confvel, uma vez que a categorizao por sexo se d tambm de maneira externa, realizada por outras pessoas a partir do uso de convenes e nor-mas que so defnidas coletivamente. No se trata, portanto, de processos de identifcao, mas de categorizao segundo o sexo. A heteroclassifcao tambm utilizada para a categorizao segundo a cor, embora seja mais frequenteousodeautoclassifcao.NocasodaUFBa,ainstituiono disponibilizava informaes sobre a cor dos docentes, assim a categoriza-o da cor com base em heteroclassifcao no foi realizada. Outra fonte consultada foi o documento com a lista de cargos de direo ocupados por docentesefuncionriostcnico-administrativos.Paracomplementaras informaes, foram consultados, ainda, os currculos Lattes dos docentes, disponveis no site do CNPq1. Vale ressaltar que essa a fase inicial de uma pesquisa mais ampla, cujo prximopassoincluiraanlisedasexperinciasdemulheresqueesto construindocarreirasacadmicasnasdistintasreasdoconhecimento descritas neste artigo, com base em entrevistas individuais que incluiro a autoclassifcao por cor e sexo.Nas duas prximas sees, apresentaremos uma breve reviso da literatura sobre a desigualdade racial e de gnero no ensino superior, e sobre as polticas de promoo da igualdade racial e de gnero que, direta ou indiretamente, tratam desse nvel educacional. Na ltima seo, descreveremos a situao existente na UFBa em termos das assimetrias na distribuio dos docentes, homens e mulheres, nas trs principais reas do conhecimento. Nas conclu-ses, teceremos algumas consideraes sobre as disparidades de raa e gnero e as polticas para combat-las, no campo cientfco, e na educao superior. As assimetrias de raa e gnero no ensino superiorOs estudos sobre a desigualdade racial na educao apresentam evidncias de que, apesar da reduo que ocorreu entre os anos 2000 e 2010, persistem as desvantagens dos pretos e pardos, quando comparados aos brancos. Por exemplo, o Relatrio Anual das Desigualdades Raciais no Brasil: 2009-2010, utilizandodadosde1988,1998e2008,dapr-escolaps-graduao, demonstraquehsignifcativadiferenaseparandopretosepardosde 1A saber, a pesquisa em questo recebeu apoio do CNPq. Os seguintes assistentes de pesquisa partici-param da equipe: Edilene Santana dos Santos Silva, Simone dos Santos Borges e Yuri Santos de BritoRBCPed16.indd 43 13/04/15 16:0144 Paula Cristina da Silva Barretobrancos em quase todos os indicadores, e que as desvantagens dos pretos e pardos em relao aos brancos aumentam medida que se elevam os nveis de escolaridade, chegando ao pice no ensino superior e ps-graduao (cf. Paixo et al., 2010)2.Em relao taxa de escolaridade lquida no ensino superior, os resulta-dos mostraram que a disparidade existente entre pardos e pretos e brancos aumentoude1988(7,7%contra1,8%)para1998(10,9%contra2%).No perodoseguinte,1998-2008,adiferenaentreastaxasdiminuiu,mas aindacontinuousendo2,6vezesmaiorparaosbrancos(20,5%)quando comparados aos pretos e pardos (7,7%). Em relao ps-graduao, em 1988, eram 88% de brancos e 7% de pretos e pardos; em 1998, 85% e 13%; em 2008, 79% e cerca de 20%. Outro estudo recente compara os anos 2000 e 2010. Segundo os dados apresentados, considerando as pessoas com 15 anos ou mais por curso mais elevado concludo (mestrado/doutorado), em 2010 o percentual de brancos erade80,7%,enquantoodenegroserade17,1%;noensinosuperior,o percentual de brancos era de 73,2% e o de negros era de 24,7%; no ensino mdio, a taxa de brancos era de 54,3% e a de negros, 44,2%; e, apenas no ensino fundamental, a proporo entre brancos (47,6%) e negros (51,0%) era menor (cf. Silva, 2013)3. Essas evidncias confrmam que houve reduo da desigualdade racial na educao nas ltimas dcadas, em especial a partir dos anos 2000, mas que persistem as desvantagens de pretos e pardos quando comparados aos brancos em termos de acesso a oportunidades educacionais: as desvantagens aumentam a partir do ensino mdio e chegam ao mximo no ensino superior (graduao e ps-graduao).Diferentemente do que ocorre no caso de negros e brancos, a comparao entre homens e mulheres mostra que as mulheres brasileiras, de todas as cat-egorias de cor, tm apresentado melhores indicadores educacionais do que os homens, especialmente a partir do ensino mdio. digno de nota que houve crescimento dos anos mdios de estudo, que, na faixa de 15 anos ou mais, passou de 4,5 para 7,4 anos entre 1988 e 2008. No entanto, esse crescimento 2Nesserelatrio,ascategoriasdecorutilizadassopreto,pardoebranco,motivoquenoslevoua mant-las na apresentao dos dados.3Nesse estudo, as categorias de cor utilizadas so negro e branco e, por isso, mantemos a referncia a essas categorias, e no foram apresentados os resultados segundo o sexo. RBCPed16.indd 44 13/04/15 16:0145Gnero, raa, desigualdades e polticas de ao armativa no ensino superiorfoi mais acentuado entre mulheres em relao aos homens, do que entre os pretos e pardos comparados aos brancos. Em 1988, as mulheres dessa faixa etria j se igualavam aos homens em anos de estudo, ultrapassando-os a partir de 1998, resultado que se manteve em 2008. Nesse ano, as mulheres de 15 anos ou mais alcanaram 7,5 anos de estudo e os homens, 7,2 anos; no recorte entre os brancos, as mulheres alcanaram 8,3 anos e os homens, 8,2 anos; enquanto entre os pretos e pardos, as mulheres alcanaram 6,7 anos e os homens, 6,3 anos de estudo (cf. Paixo et al., 2010).No caso do ensino superior, um estudo do IBGE (2012b), que traz a sn-tese dos indicadores sociais da populao brasileira, confrma o que j vinha sendo mostrado nos estudos mencionados. A percentagem de pessoas de 18 a 24 anos, com 11 anos ou mais de estudo, em 2012, no Brasil, era 54,2%, enquanto o percentual de mulheres era de 60,6% e o de homens, 47,9%; o de brancos era 65,0% e o de pretos e pardos, 45,2%. Essas taxas variam de acordo com a regio do pas, mas as disparidades entre homens e mulheres, eentrebrancosepretos/pardos,semantm.OsresultadosdoCensoda Educao Superior mais recentes (Mercadante, 2012) tambm mostram que as mulheres so maioria quando se consideram os ingressos por processo seletivo(45,4%homens;54,6%mulheres),asmatrculas(44,5%homens; 55,5% mulheres) e os concluintes (40,4% homens; 59,6% mulheres).Emsntese,diversosestudoscomprovamque,nosistemadeensino superior brasileiro, o nmero de mulheres maior que o de homens e que elas tm tambm obtido melhor aproveitamento escolar que eles nesse nvel de ensino, e que essa tendncia mais acentuada nos estabelecimentos situ-ados nas regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e entre pretos, pardos e indgenas quando comparados aos brancos (cf. Rosemberg e Andrade, 2008). Essesresultadospermitemafrmarque,considerandoosindicadores educacionaiscitadosanteriormente,asituaodasmulheresnocor-relatasituaodosnegros.Ainexistnciadesincroniaeparidadeentre raa e gnero quando se trata da desigualdade na educao e, em especial, noensinosuperiorjfoidestacadaporRosembergeAndrade(2008)ao afrmaremque,noBrasil,abuscadecompreensosimultneadashier-arquias de gnero, raa e classe tem se baseado, muitas vezes, em modelo paritrio e cumulativo, esperando-se uma associao linear entre os eixos de desigualdade. Tal modelo associativo e paritrio no d conta, porm, da complexidade e das contradies observadas nas instituies educacionais RBCPed16.indd 45 13/04/15 16:0146 Paula Cristina da Silva Barretoonde as dinmicas de gnero, raa, classe e idade no so redutveis umas s outras, evidenciando, muitas vezes, um movimento no sincrnico, no cumulativo de desigualdades e resistncia a elas.No que diz respeito ao ensino superior, embora o nmero de mulheres na populao de estudantes seja to grande quanto, ou at mesmo maior, do que o de homens, a distribuio de homens e mulheres entre os diferentes cursos e carreiras no equilibrada. Os estudantes do sexo masculino esto mais concentrados nos cursos da rea de cincias exatas, enquanto as estudantes do sexo feminino esto mais concentradas em cursos das reas de humanidades e cincias biolgicas. Os resultados do Censo da Educao Superior (Mer-cadante, 2012) revelam que os cursos com maiores nmeros de matrculas de graduao de estudantes do sexo feminino so: pedagogia, enfermagem, servio social, gesto de pessoal e recursos humanos, psicologia, fsiotera-pia e farmcia. Enquanto os cursos com maiores nmeros de matrculas de graduao de estudantes do sexo masculino so: engenharia civil, cincias da computao, engenharia de produo, engenharia mecnica, formao em professor de educao fsica, engenharia eltrica e gesto logstica.Essa distribuio desigual de estudantes homens e mulheres entre os cur-sos de graduao vai se refetir na distribuio dos professores universitrios e pesquisadores entre os diferentes cursos, j que uma parcela daqueles que vo integrar a categoria docente se mantm em reas prximas s dos cur-sos de graduao concludos. A literatura sobre gnero e cincia apresenta fartas evidncias de que, apesar dos melhores indicadores educacionais no ensino superior, as mulheres esto em desvantagem na carreira acadmica e no campo cientfco, estando ausentes ou menos representadas nas posies de maior prestgio. No entanto, a literatura sobre raa e cincia no aponta resultadosquepermitamdescreveradistribuiodosprofessoresnegros e brancos entre as reas do conhecimento, cursos e carreiras acadmicas.O contraste entre a situao das mulheres e dos negros na educao nos leva a crer que a desigualdade de raa e gnero na educao, em especial no ensino superior, precisa ser analisada considerando os mais variados indica-dores. Evidncias como a taxa de escolaridade lquida no ensino superior e os anos de estudo so importantes, mas no so as nicas a serem utilizadas nas pesquisas. A anlise da distribuio dos estudantes entre os diferentes cursos de graduao, por exemplo, permite evidenciar a desvantagem das mulheresemrelaoaoshomens,quenofoipercebidaquandodados RBCPed16.indd 46 13/04/15 16:0147Gnero, raa, desigualdades e polticas de ao armativa no ensino superiorgeraissobreamdiadosanosdeestudoesuadistribuionosdistintos nveis educacionais foram considerados. E quando se trata da distribuio dos estudantes entre os diferentes cursos de graduao, notamos, como no caso da UFBa que ser abordado adiante , similaridade entre a situao das mulheres e a dos negros, tambm sub-representados em determinados cursos superiores, principalmente naqueles considerados de maior prestgio.As polticas de promoo da igualdade de raa e gnerono ensino superiorOs resultados das pesquisas que confrmam a existncia de desvantagens dos estudantes negros quando comparados aos estudantes brancos, em es-pecial no ensino superior, bem como a mobilizao em prol da criao de cotas para negros nas universidades pblicas brasileiras, foram importantes paraquefossemcriadaspolticasdeaoafrmativanaeducao.Nessa rea,essaspolticasnoselimitamreservadevagasnasuniversidades pblicas,masincluemaesparaaformaodeprofessores,inclusode novos componentes nos currculos escolares, produo de material didtico e paradidtico, realizao de cursos preparatrios para jovens negros e de baixa renda e fnanciamento dos estudos universitrios. Atualmente, h no Brasil um conjunto de dispositivos legais que induzem a construo de uma poltica educacional visando afrmar a diversidade cultural e tornar realidade a educao para as relaes tnico-raciais nas escolas4. Acerca do ensino superior especifcamente, nos anos 2000 comearam a ser criadas polticas de ao afrmativa nas instituies pblicas desse nvel de ensino, surgindo, posteriormente, uma iniciativa voltada s instituies privadas.Analisandobrevementeosestudosquetratamdessaspolticas, verifcamos que tem crescido o interesse em examinar mais detalhadamente aspectos relacionados ao acesso dos estudantes aos diferentes cursos, o que incluiasistematizaodeinformaessociodemogrfcassobreosben-4Esse conjunto de leis inclui: i) a Lei n 10.639/2003, que estabeleceu a obrigatoriedade do ensino da histria e cultura afro-brasileiras e africanas nas escolas pblicas e privadas do ensino fundamental e mdio; ii) o Parecer do CNE/CP n 03/2004, que aprovou as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educao das Relaes tnico-Raciais e para o ensino de histria e cultura afro-brasileiras e africanas; iii)aResoluoCNE/CPn01/2004,quedetalhouosdireitoseasobrigaesdosentesfederados perante a implementao da Lei n 10.639/2003; iv) e a Lei n 11.645/2008, que modicou a Lei n 10.639/2003, estabelecendo a obrigatoriedade da incluso no currculo ocial da rede de ensino da temtica Histria e Cultura Afro-Brasileira e Indgena (cf. Brasil, 2005b).RBCPed16.indd 47 13/04/15 16:0148 Paula Cristina da Silva Barretoefcirios e seus familiares, e a anlise de questes mais diretamente relacio-nadas vida acadmica, como rendimento escolar, taxas de concluso, evaso epermannciadosestudantes(cf.Santos,2013).Nocontextops-aes afrmativas no ensino superior brasileiro, a reviso da literatura comprova que as iniciativas existentes, tanto nas instituies pblicas (federais e es-taduais) como nas instituies privadas, tm-se concentrado no incentivo ao acesso e permanncia de estudantes de renda familiar baixa, oriundos de escolas pblicas, negros, indgenas e quilombolas (cf. Santos, 2012; Feres Jr. e Zoninsein, 2008; Brando, 2007). Esses estudos so importantes por documentar o processo de implemen-tao das polticas de ao afrmativa nas Instituies de Ensino Superior (IES) que criaram esses programas. A existncia de tais evidncias baseadas empesquisaemprica,dezanosapsasprimeirasuniversidadespblicas terem criado tais polticas, nos deixa em melhores condies para ampliar a compreenso sobre as conquistas e as limitaes das mesmas, bem como para levar adiante a agenda de pesquisa, de modo a destacar, por exemplo, a interface entre raa e gnero. Em relao aos programas que criaram alteraes no sistema de ingresso nas universidades pblicas, a literatura recente mostra que h muita diversi-dade, como tambm existem diferenas em relao ao modo de implementa-o, aos segmentos benefciados, aos modos de identifcao e proporo de reserva de vagas (cf. Brando, 2007; Csar, 2007; Feres Jr. e Zoninsein, 2008; Bernardino e Galdino, 2004). Tal diversidade se deve, em parte, ao fato de que essas instituies tiveram autonomia para decidir sobre os seus proces-sos seletivos e que, em cada uma delas, houve debate interno que conduziu criao de um programa de ao afrmativa, considerado o mais apropriado e/ou o que contava com maior apoio da comunidade universitria. O ingresso nas universidades pblicas de um nmero maior de estudantes oriundos de escolas pblicas, de famlias de renda baixa, negros, indgenas e quilombolas, foi motivo de preocupao para alguns crticos das polticas de ao afrmativa, que expressaram o temor de que haveria perda da qualidade de ensino nessas instituies. No entanto, pesquisas que analisaram os dados sobre o rendimento dos estudantes nos cursos, no perodo posterior criao do sistema de reserva de vagas nas universidades pblicas, tm reunido evidncias convincentes de que inexistem diferenas sistemticas de rendimento a favor dos estudantes que no so benefcirios das cotas (cf. Santos e Queiroz, 2013). RBCPed16.indd 48 13/04/15 16:0149Gnero, raa, desigualdades e polticas de ao armativa no ensino superiorO cenrio descrito nos pargrafos anteriores tende a mudar bastante em razo da promulgao da Lei no 12.711, de 29 de agosto de 2012, que dispesobreoingressonasuniversidadesfederaisenasinstituies federaisdeensinotcnicodenvelmdio.AchamadaLeidasCotas determina que as instituies federais de educao superior, vinculadas aoMinistriodaEducao,reservem,emcadaconcursoseletivopara ingresso nos cursos de graduao, por curso e turno, no mnimo 50% de suas vagas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino mdio em escolas pblicas. E, no preenchimento dessas vagas, 50% deve-ro ser reservados aos estudantes oriundos de famlias com renda igual ouinferiora1,5salriomnimopercapita.Almdisso,asvagassero preenchidas, por curso e turno, por autodeclarados pretos, pardos e in-dgenas, em proporo, no mnimo, igual a de pretos, pardos e indgenas na populao da unidade da federao onde est instalada a instituio, segundo o ltimo censo do IBGE. digno de nota que as polticas de ao afrmativa citadas no incluem a ps-graduao. Apenas recentemente o Ministrio da Educao criou o Programa de Desenvolvimento Acadmico Abdias Nascimento, que prev a criao de cursos preparatrios para a seleo de mestrado e a oferta de bolsasparagraduandosedoutorandosemuniversidadesestrangeiras(cf. Brasil, 2014). No entanto, desde 2002, o Programa Internacional de Bolsas de Ps-Graduao da Fundao Ford (Programa IFP), desenvolvia atividades no Brasil e se apresentava como um programa de ao afrmativa na ps--graduao (Rosemberg e Andrade, 2008).Em suma, quando se trata do ensino superior no pas, foram os estudantes de graduao os principais benefcirios das polticas de ao afrmativa, as quais deixaram de considerar os professores e professoras que integram a categoria docente. Noquedizrespeitoagnero,noschamaaindaaatenoinexistirem polticas de ao afrmativa nas IES pblicas ou privadas visando comba-teradesigualdadedegnero.Anicainiciativagovernamentalnarea oProgramaMulhereCincia,lanadoem2005peloConselhoNacional de Desenvolvimento Cientfco e Tecnolgico (CNPq) em parceria com a SecretariaEspecialdePolticasparaasMulheres(SPM),oMinistrioda Cincia, Tecnologia e Inovao (MCTI), o Ministrio da Educao (MEC), o Ministrio da Sade (MS) e a ONU Mulheres (cf. Brasil, 2005a). RBCPed16.indd 49 13/04/15 16:0150 Paula Cristina da Silva BarretoAs polticas de ao afrmativa na Universidade Federal da BahiaAssim como ocorreu em outras IES pblicas brasileiras, na UFBa os estudos e o debate poltico se concentraram nas disparidades existentes na composio da populao de estudantes de graduao, em termos de raa. Desde 2004, a UFBa alterou o processo seletivo para ingresso dos estudantes nos cursos de graduao, criando um sistema de cotas para candidatos que cursaram os trs anos do ensino mdio e mais um ano do ensino fundamental na rede pblica de ensino. Alm disso, foi estabelecido o percentual de 43% das vagas para todos os cursos, considerando a condio tnico-racial do estudante com a seguinte distribuio: 85% dessa reserva, ou seja, 36,5% do total eram direcionadas para os autodeclarados pretos e pardos, e 15% (6,5%) aos autodeclarados no negros (brancos e/ou amarelos). Um percentual de 2% era destinado aos indiodescen-dentes, e uma reserva de duas vagas extras, em cada curso, para ndios aldeados e estudantes oriundos de comunidades quilombolas (cf. Santos e Queiroz, 2013). Essa medida ocasionou mudanas signifcativas na composio da populao de estudantes de graduao, provocando aumento proporcional de estudantes oriundos de escolas pblicas e de estudantes negros e quilombolas. No entanto, conforme demonstra Santos e Queiroz (2013), o impacto des-sa medida se deu, principalmente, nos cursos considerados de alto prestgio, cujas vagas eram objeto de maior disputa: medicina, odontologia, psicologia, direito, bacharelado em cincias da computao, engenharia civil, eltrica, mecnica e qumica, administrao e arquitetura. Nesses cursos, at 2004, aparticipaodeestudantesdosistemapblicodeensinovariavaentre 10% e 25%, e a participao de estudantes negros, quilombolas e indgenas tambm era reduzida, em comparao de brancos. Porm, gnero no foi um critrio considerado na medida. Os dados atuais mostram que, nos cursos de alto prestgio analisados, a quantidade de estudantes do sexo masculino representa mais da metade dos selecionados nos ltimos nove anos. Entre os anos de 2004 e 2012, Santos e Queiroz (2013) apontam que houve signifcativa mudana a partir do ano de 2008: o percentual de mulheres em 2007 era de 48,4%; no ano seguinte, chegou a 52,2%; aumentando a cada ano, at alcanar, em 2012, 55,9%. No entanto, nos cursos de alto prestgio, o nmero de homens ultrapassa o de mulheres,oque,segundoosautores,seexplicapelaconstruohistrica de profsses exercidas por homens, mas tambm aponta para uma busca dessemelhante de carreiras de alto prestgio entre os gneros.RBCPed16.indd 50 13/04/15 16:0151Gnero, raa, desigualdades e polticas de ao armativa no ensino superiorEm 2012, em razo da promulgao da Lei no 12.711, a UFBa fez alte-raesemseuprogramadereservadevagas.Mas,paraalmdareserva devagasparaestudantesdegraduao,importanteconsiderarcomo, de maneira mais geral, a instituio tem se colocado no que diz respeito criao e consolidao dos espaos institucionais voltados especifcamente para a formao acadmica e poltica em questes de raa/antirracismo e de gnero/feminismo. A UFBa possui uma Pr-Reitoria de Aes Afrmativas eAssistnciaEstudantil(PROAAE),masestadispedepoucosrecursos humanos e fnanceiros, e tem a sua atuao muito restrita s aes de carter assistencial, com apenas uma iniciativa, o Programa Permanecer, visando ao apoio permanncia dos estudantes. Em sntese, no caso da UFBa, como parte das polticas de ao afrmativa, nenhuma ao visando aos estudantes de ps-graduao, ou categoria do-cente, foi implementada. As polticas existentes se restringem promoo do acesso de estudantes de graduao, e consideram apenas os critrios de renda e tnico-raciais, inexistindo aes que tenham como benefcirias as mulheres. As assimetrias de gnero na categoria docente na Universidade Federal da BahiaTendo em vista a lacuna existente de estudos tratando da categoria docente na UFBa, que nos propusemos a abordar o tema atravs de pesquisa em-prica. A distribuio dos docentes, homens e mulheres, nas reas de exatas (I), biolgicas (II) e humanidades (III) da UFBa aqui apresentada deve ser situada em um contexto mais amplo, marcado pela heterogeneidade interna, caracterstica da instituio como um todo, e de cada unidade universitria em particular, que se refete na composio da categoria docente. Inicialmente, importante considerar, de maneira geral, a distribuio dos docentes, segundo o sexo e a classe, em todas as reas do conhecimento nessa universidade. Os docentes esto divididos em cinco classes que, na ordem apresentada, vo do incio ao fnal da carreira: auxiliar (gradua-o), assistente (mestrado), adjunto (doutorado), associado (doutorado) etitular(doutorado).Emboravarieopercentualdedocentessegundo asclasses,homensemulheresestoproporcionalmentedistribudos nointeriordecadaclasse,comexceodaclassedetitular,naqualas mulheres correspondem metade dos docentes. Quando analisamos os dados gerais sobre a distribuio dos docentes apenas para as trs maiores RBCPed16.indd 51 13/04/15 16:0152 Paula Cristina da Silva Barretoreas do conhecimento tratadas nesta pesquisa rea I (exatas), rea II (biolgicas) e rea III (humanidades) , os resultados so semelhantes, mostrandoquehparticipaorelativamenteequilibrada:51%deho-mens e 49% de mulheres5. No entanto, os resultados so muito distintos quando comparamos a distribuio dos docentes entre as grandes reas do conhecimento selecionadas, e mais ainda quando verifcamos de ma-neira detalhada como os docentes esto distribudos entre as unidades de ensino que integram essas reas, e entre os departamentos que compem cada uma das unidades de ensino. Vale ressaltar que nessas trs reas do conhecimento esto cerca de 85% dototaldedocentesdaUFBa.Osresultadosmostramqueemnenhuma delas se repete a distribuio equilibrada que foi mostrada quando os dados gerais foram considerados. Ou seja, em cada uma dessas reas, varia a pro-poro entre homens e mulheres: nas reas I (exatas) e III (humanidades), os homens esto em maior nmero, resultado que se inverte apenas na rea II(biolgicas).Asassimetriasexistentesentrehomensemulheresvose tornando mais evidentes medida que passamos da anlise dos dados mais gerais para os mais especfcos. Na UFBa a rea I, cincias exatas, formada pelas seguintes unidades de ensino: Escola Politcnica (165 docentes), Instituto de Fsica (72 docentes), Instituto de Matemtica (133 docentes) e Instituto de Qumica (77 docentes). Ver Tabela 1.Tabela 1 Docentes homens e mulheres, por unidade universitria, da rea I (Abs. / %) unidade universitria homens mulheres totalEscola Politcnica 126 (76,3%)39 (23,6%) 165 (100%)Instituto de Matemtica 75 (56,4%) 58 (43,6%) 133 (100%)Instituto de Qumica 36 (46,8%) 41 (53,2%) 77 (100%)Instituto de Fsica 61 (84,7%) 11 (15,3%) 72 (100%)total 298 (67%) 149 (33%) 447 (100%) Fonte: Elaborao prpria.5Esses resultados j mostram uma leve inverso da proporo entre homens e mulheres na populao brasileira. Dados da PNAD (IBGE, 2012a), mostram que, em 2012, ramos 51,5% de mulheres e 48,5% de homens.RBCPed16.indd 52 13/04/15 16:0153Gnero, raa, desigualdades e polticas de ao armativa no ensino superiorA rea I aquela que apresenta maior disparidade na proporo entre homens e mulheres docentes, estas em bem menor nmero, em um total de 447 docentes. A comparao entre as unidades de ensino que compem a rea I mostra que no Instituto de Fsica e Escola Politcnica, onde esto os cursos de engenharia com maior contingente de estudantes e de professores, a presena masculina maior. No Instituto de Matemtica, os homens tambm so maioria, mas tm uma participao menor do que a mdia geral na rea I.OInstitutodeQumicaonicoquediferedosdemais,apresentando maior nmero de docentes mulheres. Alguns estudos tm documentado as experincias das mulheres em reas tidas tradicionalmente como masculinas, como as engenharias (Cabral e Bazzo, 2005; Saraiva, 2005; Lombardi, 2005, 2006 e 2008), e em outras reas mais recentes, como a qumica (Azevedo et al., 2004) e a informtica (Ra-pkiewicz, 1998). Eles trazem destacadas a presena e atuao das mulheres nascinciasexatasefocalizamasrelaesentrehomensemulheresnos ambientes de trabalho. Por exemplo, Faulkner (2006) comprovou que, na maioria das empresas de engenharia, so poucas as mulheres nos ambientes dominados pela pre-senamasculinaenestesasmulheresengenheirasenfrentamoparadoxo da in/visibilidade, ou seja, so to visveis como mulheres que muitas vezes so invisveis como engenheiras. Nesse contexto, mesmo engenheiras expe-rientes precisam enfatizar as suas credenciais na engenharia a cada encontro com um novo colega, algo que no acontece com engenheiros em situao semelhante. O paradoxo da in/visibilidade coloca as mulheres diante de uma dupla presso: por um lado, elas so chamadas a se integrar, no sentido de se adaptar s regras tcitas de um ambiente masculinizado, e, por outro lado, so cobradas a no perder a feminilidade. A rea II (cincias biolgicas) a maior da UFBa, entre as trs selecio-nadas na pesquisa, com um total de 910 docentes, e nela esto as seguintes unidadesdeensino:EscoladeEnfermagem(87docentes),EscoladeNu-trio(69docentes),FaculdadedeFarmcia(57docentes),Faculdadede Odontologia (94 docentes), Instituto de Biologia (67 docentes), Instituto de Cincias da Sade (148 docentes), Instituto de Sade Coletiva (35 docentes), Escola de Medicina Veterinria e Zootecnia (79 docentes) e Faculdade de Medicina (274 docentes). Ver Tabela 2.RBCPed16.indd 53 13/04/15 16:0154 Paula Cristina da Silva BarretoTabela 2 Docentes homens e mulheres, por unidade universitria, da rea II (Abs. / %) unidade universitria homens mulheres totalFaculdade de Medicina 151 (55%) 123 (45%) 274Instituto de Cincias da Sade 59 (40%) 89 (60%) 148Faculdade de Odontologia 35 (37%) 59 (63%) 94Escola de Enfermagem 7 (8%) 80 (92%) 87Escola de Medicina Veterinria e Zootecnia 42 (53%) 37 (47%) 79Escola de Nutrio 11 (16%) 58 (84%) 69Instituto de Biologia 27 (40%) 40 (60%) 67Faculdade de Farmcia 21 (37%) 36 (63%) 57Instituto de Sade Coletiva 10 (28,6%) 25 (71,4%) 35total 363 (39,9%) 547 (60,1%) 910Fonte: Elaborao prpria.Na maioria das unidades de ensino da rea II, h mais mulheres docentes do que homens, e a Escola de Enfermagem a unidade de ensino onde h predominncia de mulheres. No entanto, isto no ocorre na Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia e na Faculdade de Medicina. Esta ltima, a maior em termos numricos, concentra cerca de 30% do total de docentes dessa rea. A distribuio dos docentes entre os nove departamentos que compem a Faculdade de Medicina tambm no equilibrada: existem trs departamentos com maioria de homens, um departamento exclusivamente masculino e cinco departamentos com maioria de mulheres. A baixa participao das mulheres na medicina tem sido documentada (Melo e Casemiro, 2004)6, assim como a atuao das mulheres que foram pioneirasnessarea(Rago,2007;Vanin,2008),easdifculdadesqueas mulheres enfrentam para a construo da carreira profssional nesse campo (cf. Santos, 2010). AreaIIIformadapordezunidadesdeensinodiferentes,comum total de 588 docentes: Instituto de Psicologia e Servio Social (47 docentes), Faculdade de Direito (95 docentes), Escola de Administrao (56 docentes), Instituto de Cincias da Informao (25 docentes), Faculdade de Educao 6Segundo Melo e Casemiro (2004), a Academia Nacional de Medicina s teve cinco mulheres eleitas para membro titular ao longo de 173 anos da instituio, enquanto existiram 612 scios titulares do sexo masculino. No caso da Academia Brasileira de Cincias, as mulheres representavam 9,8% do total de 571 scios. RBCPed16.indd 54 13/04/15 16:0155Gnero, raa, desigualdades e polticas de ao armativa no ensino superior(88docentes),FaculdadedeComunicao(35docentes),Faculdadede Cincias Contbeis (28 docentes), Faculdade de Cincias Econmicas (37 docentes),FaculdadedeFilosofaeCinciasHumanas(108docentes)e Instituto de Geocincias (69 docentes). Ver Tabela 3.Tabela 3 Docentes homens e mulheres, por unidade universitria, da rea III (Abs. / %) unidade universitria homens mulheres totalFaculdade de Filosofa e Cincias Humanas 54 (50%) 54 (50%) 108Faculdade de Direito 71 (75%) 24 (25%) 95Faculdade de Educao 35 (40%) 53 (60%) 88Instituto de Geocincias 51 (74%) 18 (26%) 69Escola de Administrao 35 (63%) 21 (37%) 56Instituto de Psicologia e Servio Social 10 (21%) 37 (79%) 47Faculdade de Cincias Econmicas 32 (86%) 5 (14%) 37Faculdade de Comunicao 24 (69%) 11 (31%) 35Faculdade de Cincias Contbeis 19 (68%) 9 (32%) 28Instituto de Cincias da Informao 6 (24%) 19 (76%) 25total 337 (57,3%) 251 (42,7%) 588Fonte: Elaborao prpria.Os resultados revelam que, em trs das unidades de ensino que integram a rea III, as mulheres so maioria Instituto de Psicologia e Servio Social, Instituto de Cincias da Informao e Faculdade de Educao , enquanto em seis delas os homens so maioria: Faculdade de Cincias Econmicas, Faculdade de Direito, Instituto de Geocincias, Faculdade de Cincias Con-tbeis, Faculdade de Comunicao, e Escola de Administrao. Apenas na Faculdade de Filosofa e Cincias Humanas existe uma distribuio equili-brada de docentes segundo o sexo.As Faculdades de Direito, Economia e Escola de Administrao concen-travam grande parte dos docentes que ocupavam cargos na administrao pblica,enquantoaFaculdadedeEducaoconcentravadocentesque ocupavam postos de prestgio dentro da prpria universidade. Em ambos os casos, havia uma predominncia masculina. Para citar alguns exemplos, na Faculdade de Direito havia dez docentes juzes contra duas docentes ju-zas e sete promotores e procuradores de justia contra duas promotoras ou procuradoras. Na administrao pblica, havia sete homens ocupantes, ou RBCPed16.indd 55 13/04/15 16:0156 Paula Cristina da Silva Barretoantigos ocupantes, de cargos de assessoria, presidncia de empresa pblica, secretaria ou superintendncia, tanto no governo estadual como no federal, contra apenas duas mulheres, uma ex-secretria estadual e outra vice-prefeita de Salvador. Nos postos de prestgio dentro da universidade, havia quatro mulheres desempenhando funes relevantes: coordenao e presidncia de comisses permanentes na administrao central, presidncia da associao de professores e a prpria reitora. Por outro lado, havia apenas um homem, um pr-reitor. No entanto, cabe destacar novamente que, exceo da prpria reitora, o cargo de maior prestgio era o de diretor de unidade, onde havia, no momento da pesquisa, exclusividade masculina na rea III7.Alguns estudos tm documentado a situao das mulheres em carreiras de prestgio, como medicina, direito, engenharia e arquitetura (cf. Bruschini e Lombardi, 1999), ou em determinadas instituies de ensino superior (Velho e Lon, 1998), e os resultados confrmam que a participao feminina dimi-nui nas carreiras de maior status e nas posies mais elevadas da hierarquia ocupacional,enquantoaparticipaomasculinacrescenasocupaesde maior prestgio e mais bem remuneradas. Outras pesquisas que analisaram a distribuio de bolsas de produtividade por sexo, entre as distintas reas do conhecimento, confrmam haver menos bolsistas mulheres do que ho-mens, diminuindo proporcionalmente a participao das mulheres quanto mais altos os estratos da escala utilizada pelo CNPq (cf. Melo, 2010; Melo e Lastres, 2006; Leta, 2003)8.Asevidnciasdequeasmulheresestomenospresentesnasreasde maior prestgio, que remuneram melhor, ocupando em menor proporo os cargos de direo, e sendo menos contempladas com bolsas de produti-vidade, indicam que as chances de sucesso e ascenso na carreira acadmica e cientfca so menores para as mulheres (cf. Leta, 2003).O caso da Faculdade de Medicina da UFBa mostra que imprescindvel considerar as caractersticas especfcas das vrias carreiras que integram as 7No conjunto de docentes que ocupam, ou ocuparam, posies de prestgio, a includas as j citadas e tambm outros casos, como de presidncia de associaes de pesquisa, representao em conselhos superiores, coordenao de cursos de graduao e ps-graduao e outros vrios, foram identicados 76 docentes, sendo 23 mulheres (30%) e 53 homens (70%).8Melo (2010) analisou o sistema de concesso de bolsas de pesquisa do CNPq, no perodo de 2001 e 2008, e concluiu que, em relao s bolsas de produtividade, o percentual de homens (22%) era o dobro do de mulheres (11%), e que os postos mais elevados da hierarquia acadmica continuavam sendo ocupados majoritariamente por homens.RBCPed16.indd 56 13/04/15 16:0157Gnero, raa, desigualdades e polticas de ao armativa no ensino superiorgrandes reas do conhecimento. Algo semelhante pode ser notado na rea de cincias humanas, onde, na Faculdade de Direito da UFBa, por exemplo, os homens so maioria. No Brasil, as profsses de mdico e de advogado tmaltoprestgio,sotradicionais,eaimagemdoschamadosdoutores que atuam nessas reas, at recentemente, era associada a homens, de classes mdias e altas, e brancos.A distribuio de docentes, homens e mulheres, em trs reas distintas doconhecimentodaUFBaaquiapresentadaumaaproximaodoque seencontravanomomentoemqueolevantamentofoirealizadoe,em linhas gerais, reitera o que tem sido mostrado em inmeros estudos sobre o tema. Ou seja, quando se trata de carreiras acadmicas, em especial em instituies de ensino superior pblicas, os homens so maioria nos cursos considerados de maior prestgio e mais tradicionais, independente da rea do conhecimento, enquanto as mulheres esto mais concentradas nos cursos associados ao cuidar, de menor prestgio e menos tradicionais. No entanto, a participao feminina pode ser comprovada mesmo em cursos da rea de cincias exatas que, no passado, eram redutos exclusivamente masculinos. Concluses AsevidnciasproduzidasnapesquisarealizadanaUFBaconvidama refetir sobre a desigualdade racial e de gnero, e as polticas para combat--las, nas Instituies de Ensino Superior (IES). Inicialmente, foi visto que, considerando alguns indicadores educacionais, a situao das mulheres no era correlata situao dos negros, inexistindo sincronia e paridade entre raa e gnero quando se trata da desigualdade na educao e, em especial, no ensino superior. No entanto, quando a distribuio dos estudantes entre os diferentes cursos foi considerada, observou-se uma relativa aproximao entreasituaodeambos,nosentidodequeasvantagensdasmulheres quando comparadas aos homens deixavam de existir, situao similar dos negros quando comparados aos brancos. Ao deslocar a ateno para a categoria docente, foi visto que no havia uma distribuio equilibrada dos docentes segundo o sexo, de maneira que as mulheres estavam concentradas em algumas unidades de ensino, cursos e departamentos, e ausentes dos cargos de direo e de prestgio, seja den-troouforadaUFBa.Aassimetrianadistribuiodosdocentes,homens e mulheres, contribui para a manuteno de esteretipos e categorizaes RBCPed16.indd 57 13/04/15 16:0158 Paula Cristina da Silva Barretobaseados em sexo, e para a menor frequncia da convivncia entre eles, o que impede, ou difculta, haver mudanas no cenrio descrito neste artigo (cf. Gofman, 1977). Por exemplo, nos cursos da rea de sade mais difcil romper as associaes entre a representao do mdico como homem e da enfermeira como mulher. Por outro lado, possvel esperar que a presena de mulheres em reas antes exclusivamente masculinas contribua para alterar tais esteretipos e categorizaes.Como o levantamento sobre a distribuio dos docentes segundo a cor na UFBa no foi realizado, impossvel estabelecer um contraste e explorar as aproximaes e discrepncias existentes em termos de gnero e raa. No entanto, importante considerar que a participao de homens e mulheres, assim como de negros e brancos, nas carreiras acadmicas deve ser analisada no apenas em termos quantitativos, com base nos nmeros existentes em distintas reas do conhecimento, unidades de ensino e cursos. Paraaprofundaracompreensosobreosignifcadodaparticipao de homens e mulheres, e de negros e brancos, nas carreiras acadmicas e cientfcas, importante analisar as suas experincias, destacando aspectos subjetivosesimblicos.Comofoivistoanteriormente,jexistemmuitos estudos que documentam as experincias das mulheres na linha de inves-tigaosobregneroecincia.Estudosrecentessobreasexperinciasde docentes negros na rea acadmica esto reduzindo a lacuna existente no que diz respeito s refexes sobre raa e cincia e permitiro aprofundar acompreensosobreotema(cf.Cruz,2009;Gomes,2004;Santos,2007; Laborne, 2009). Nesse sentido, um aspecto que merece ser considerado a existnciadeesteretiposquedesqualifcamindivduosnegroscomodo-centes e pesquisadores, deixando-os em desvantagem em relao aos pares quando se trata de competio pela autoridade cientfca (cf. Hooks, 1995). Anossover,importantedocumentarosprocessosatravsdosquais instituies como as universidades contribuem para reproduzir, ou reduzir, desigualdades durveis, como as de gnero e raa. Nesse sentido, a UFBa destaca-se pela criao, em 2004, de uma poltica de ao afrmativa voltada ao acesso de estudantes de graduao, que dever seguir as orientaes da chamada Lei de Cotas (de 2012), o que representa compromisso da insti-tuio com a promoo da igualdade racial. No entanto, os professores no foramcontempladosatomomentonapolticaexistente,enohuma RBCPed16.indd 58 13/04/15 16:0159Gnero, raa, desigualdades e polticas de ao armativa no ensino superiorpoltica correlata, tratando de estudantes e/ou de professores, voltada para a promoo da igualdade de gnero. AsrefexesdeRidgeway(1997)soteisparaanalisarmosocenrio ps-aes afrmativas em que novos arranjos institucionais foram criados nas IES, e esto sendo revistos a partir da promulgao da Lei de Cotas. Segundo a autora, para explicar como a desigualdade de gnero persiste mesmo quando mudanas estruturais mais amplas esto em curso, preciso levar em conta que, apesar da criao de novos arranjos institucionais, a desigualdade pode ser reescrita atravs da mediao da desigualdade de gnero por processos interacionais que no so objeto de refexo e so aceitos como algo dado. As concluses a que a autora chega tratando da desigualdade de gnero so teis para analisar a desigualdade racial nas instituies. Osresultadossobreainterfaceentreasdisparidadesdegneroeraa no ensino superior devem ser levados em considerao na discusso sobre as polticas de promoo da igualdade no ensino superior. Foi visto que as polticas de ao afrmativa nas IES se limitaram muito reserva de vagas para estudantes de graduao, no incluindo aes que tivessem os estudantes deps-graduao,ouosprofessorescomobenefcirios.Assimcomofoi visto que faltam iniciativas que focalizem as disparidades de gnero e que alcancem as instituies como um todo. As evidncias apresentadas no caso da UFBa ilustram bem esse cenrio nacional. Levaradianteaanlisesobreainterfaceentreasdesigualdadesdeg-nero e raa nas IES brasileiras coloca diante de ns uma dupla tarefa. Por umlado,precisodispordeinformaessobreaclassifcaosegundoa cor dos docentes, para que se possa saber como estes se distribuem entre os distintos cursos e departamentos, e, em paralelo, discutir formas de incluso dacategoriadocentenodebatesobreaspolticasdeaoafrmativacom recorte tnico-racial. Por outro lado, preciso analisar trajetrias, e focalizar as experincias das mulheres e dos negros, usando metodologia qualitativa, para entender melhor os processos interacionais.Referncias bibliogrfcasAZEVEDO,Naraetal.(2004).Gneroecincia:acarreiracientfcade Ada Hassn-Voloch. Cadernos Pagu, n. 23, p. 356-87.BARRETO,PaulaCristinadaSilva(2008).Mltiplasvozes.Racismoe RBCPed16.indd 59 13/04/15 16:0160 Paula Cristina da Silva Barretoanti-racismonaperspectivadeuniversitriosdeSoPaulo.Salvador: Editora da UFBa.BERNARDINO, Joaze & GALDINO, Daniela (orgs.) (2004). Levando a raa a srio: ao afrmativa e universidade. Rio de Janeiro: DP&A.BRAH, Avtar (2006). Diferena, diversidade, diferenciao. Cadernos Pagu, n. 26, p. 329-65.BRANDO, Andr Augusto (org.) (2007). Cotas raciais no Brasil: a primeira avaliao. Rio de Janeiro: DP&A. BRASIL. Ministrio da Cincia, Tecnologia e Inovao (MCTI). Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfco e Tecnolgico (CNPq) (2005a). Programa Mulher e Cincia. Disponvel em: . 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Na primeira sesso, apresenta uma sntese dos resultados de pesquisas sobre a situao de negros e brancos, e homens e mulheres, no ensino superior. Em seguida, comenta sobre as polticas de ao afrmativa criadas no Brasil, principalmente, nesse nvel educacional. Na seo seguinte, apresenta as evidncias produzidas atravs de pesquisa emprica realizada sobre a distribuio de homens e mulheres na categoria docente da Universidade Federal da Bahia. Nas concluses, so tecidas consideraes sobre a interface e as tenses existentes entre as dimenses raciais e de gnero das desigualdades, tratando, especifcamente, das instituies brasileiras de ensino superior.Palavras-chave: desigualdade, ao afrmativa, gnero, raa, ensino superior.Abstract Thearticleapproachestheinteractionbetweenthedimensionsofgenderandracial inequality and afrmative action policies in higher education. In the frst session, it pre-sents a summary of research fndings on the situation of blacks and whites, and men and women, in higher education. Then it comments on afrmative action policies created in Brazil mainly in higher education. The next section presents the evidence produced by empirical research about the distribution of men and women among professors of the Federal University of Bahia. In its conclusions, it presents considerations about the inter-face and the tensions between racial and gender dimensions of inequality, specifcally the Brazilian higher education institutions. Keywords: inequality, afrmative action, gender, race, higher education.Recebido em 30 de setembro de 2014.Aprovado em 9 de fevereiro de 2015.RBCPed16.indd 64 13/04/15 16:01