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Domingo, 02 de março de 2014 Gazeta do Povo Infância e juventude / Adolescentes usam disque-bebidas para burlar a lei Esquema foi denunciado por pais que estão preocupados e sabem que os amigos dos filhos usam o serviço com frequência. Gazeta do Povo fez o teste e comprovou Diego Ribeiro, Albari Rosa e Alison Martins Adolescentes de Curitiba descobriram mais um jeito para comprar bebidas alcoólicas sem a autorização dos pais: o disque-bebida. Um teste feito pela Gazeta do Povo comprovou a facilidade com que duas das principais empresas de delivery vendem os produtos para menores de 18 anos, mesmo sendo proibido por lei. “Entregam sem pedir identidade, com a maior desfaçatez e não é de hoje que isso ocorre”, explicou uma mãe, que pediu para não ter o nome revelado. O filho dela, de 14 anos, ligou para as empresas “Alô Esquenta” e “Disk-Drink”, a pedido da reportagem. As duas atenderam o adolescente e em momento algum – na ligação ou no momento da entrega – pediram a identidade dele ou a presença dos pais. “Estou preocupada. Pode não ser o meu filho, mas amigos dele estão bebendo”, afirmou a mãe. O teste foi realizado a pedido da própria família que denunciou o caso à reportagem (veja o vídeo do flagrante). Os flagras O adolescente pediu, no Disk-Drink, uma garrafa de vodca, energéticos e cervejas. No “Alô Esquenta”, outra vodca e mais um energético. Ao chegarem à residência do jovem, os entregadores perceberam que o adolescente estava sozinho e, mesmo assim, entregaram a bebida. Em uma das compras, o pagamento foi feito com um cartão de crédito de terceiro. A reportagem apurou que vários estudantes de um colégio de alto padrão da cidade têm usado o serviço desses estabelecimentos com frequência. Os jovens esperam os pais dormirem ou saírem de casa. Então, telefonam para os disque-bebidas. Bebem quase sempre em grupos, mas também consomem sozinhos, conforme contou uma funcionária ligada à escola. “Eles ainda contam no dia seguinte que encheram a cara”, diz. Alerta O psiquiatra Dagoberto Requião aconselha os pais a começar a prestar mais atenção nos filhos. De acordo com ele, é preciso um conjunto de ações. A receita engloba monitoramento, orientação e melhorar a comunicação com os filhos. “É preciso saber aonde os adolescentes vão, conhecer seus amigos, melhorar a orientação e os pais adquirirem mais informação. Além disso, eles precisam restabelecer uma comunicação melhor com os filhos. Hoje, com Facebook e WhatsApp, as pessoas se distanciaram, não conversam mais pessoalmente”, explica. Empresários culpam entregadores Os proprietários dos dois disque-bebidas, “Alô Esquenta” e “Disk-Drink”, negaram que vendam bebida alcoólica para adolescentes e afirmaram que punirão os entregadores por não terem cobrado identidade durante o teste feito pela Gazeta do Povo. Henrique

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Domingo, 02 de março de 2014

Gazeta do Povo Infância e juventude / Adolescentes usam disque-bebidas para burlar a lei Esquema foi denunciado por pais que estão preocupados e sabem que os amigos dos filhos usam o serviço com frequência. Gazeta do Povo fez o teste e comprovou Diego Ribeiro, Albari Rosa e Alison Martins

Adolescentes de Curitiba descobriram mais um jeito para comprar bebidas alcoólicas sem a autorização dos pais: o disque-bebida. Um teste feito pela Gazeta do Povo comprovou a facilidade com que duas das principais empresas de delivery vendem os produtos para menores de 18 anos, mesmo sendo proibido por lei.

“Entregam sem pedir identidade, com a maior desfaçatez e não é de hoje que isso ocorre”, explicou uma mãe, que pediu para não ter o nome revelado. O filho dela, de 14 anos, ligou para as empresas “Alô Esquenta” e “Disk-Drink”, a pedido da reportagem. As duas atenderam o adolescente e em momento algum – na ligação ou no momento da entrega – pediram a identidade dele ou a presença dos pais. “Estou preocupada. Pode não ser o meu filho, mas amigos dele estão bebendo”, afirmou a mãe. O teste foi realizado a pedido da própria família que denunciou o caso à reportagem (veja o vídeo do flagrante).

Os flagras O adolescente pediu, no Disk-Drink, uma garrafa de vodca, energéticos e cervejas. No “Alô Esquenta”, outra vodca e mais um energético. Ao chegarem à residência do jovem, os entregadores perceberam que o adolescente estava sozinho e, mesmo assim, entregaram a bebida. Em uma das compras, o pagamento foi feito com um cartão de crédito de terceiro.

A reportagem apurou que vários estudantes de um colégio de alto padrão da cidade têm usado o serviço desses estabelecimentos com frequência. Os jovens esperam os pais dormirem ou saírem de casa. Então, telefonam para os disque-bebidas. Bebem quase sempre em grupos, mas também consomem sozinhos, conforme contou uma funcionária ligada à escola. “Eles ainda contam no dia seguinte que encheram a cara”, diz.

Alerta O psiquiatra Dagoberto Requião aconselha os pais a começar a prestar mais atenção nos filhos. De acordo com ele, é preciso um conjunto de ações. A receita engloba monitoramento, orientação e melhorar a comunicação com os filhos. “É preciso saber aonde os adolescentes vão, conhecer seus amigos, melhorar a orientação e os pais adquirirem mais informação. Além disso, eles precisam restabelecer uma comunicação melhor com os filhos. Hoje, com Facebook e WhatsApp, as pessoas se distanciaram, não conversam mais pessoalmente”, explica. Empresários culpam entregadores

Os proprietários dos dois disque-bebidas, “Alô Esquenta” e “Disk-Drink”, negaram que vendam bebida alcoólica para adolescentes e afirmaram que punirão os entregadores por não terem cobrado identidade durante o teste feito pela Gazeta do Povo. Henrique

Massaro, dono do “Alô Esquenta”, recebeu a reportagem e explicou que, depois de ser informado da venda ilegal, reforçou os procedimentos do comércio para evitar que outros menores de 18 anos consigam comprar álcool.

Ele informou que agora os entregadores são obrigados a voltar para o estabelecimento com uma nota em mãos assinada pelo comprador com número de identidade, data de nascimento e assinatura. De acordo com Massaro, já havia uma determinação para que o atendente do telefone alertasse o comprador sobre a restrição para menores e para que os motoboys pedissem a identidade na entrega.

Lei Seca “Os funcionários que fizeram isso vão ser demitidos. Eu repudio a venda de bebida alcoólica para menores. Não é o meu público-alvo e não estou aqui para incentivar que eles consumam”, disse Massaro. Segundo ele, a empresa foi criada para “salvar vidas” em razão da Lei Seca no trânsito, e o público-alvo do estabelecimento é formado por pessoas mais velhas, estabelecidas, e universitários maiores de 18 anos. “Abri a empresa para que as pessoas bebam em casa, sem sair e correr risco. Nunca fiz ação de propaganda em porta de escola. Estou há quatro anos no mercado”, enfatiza Massaro.

Disk-Drink Alberto Neto, que se apresentou como proprietário do Disk-Drink ao telefone, também disse que não comercializa bebida alcoólica para adolescentes. Ele ressaltou que muitos tentam com frequência comprar, mas os entregadores voltam para o estabelecimento sem concluir a venda. “[Quando é menor], a gente nem entrega a sacola”, explica. Neto também disse que assim que souber quem foi o funcionário que fez a venda, ele será punido. “Foi erro de funcionário e ele vai ser penalizado”, disse. Por crime, empresa pode ser fechada

A venda de bebida alcoólica para jovens com menos de 18 anos fere pelo menos três artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei Federal 9.294/1996. Vender, fornecer gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, à criança ou adolescente produto que possa causar dependência física ou psíquica gera uma pena de detenção de dois a quatro anos e multa.

Para o coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente, promotor Murillo Digiácomo, as empresas precisam saber para quem estão vendendo. “Tem que ter um controle. É um dever de todos impedir que esse tipo de coisa aconteça. A lei estabelece que é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente”, afirmou o promotor.

Segundo ele, é preciso que os estabelecimentos tomem precauções, como exigir documentos e fazer cadastro rigoroso dos clientes. “Não está tendo uma repressão adequada como deveria. Não adianta estar na lei, se ninguém dá bola. As autoridades policiais tem que atentar para isso. É caso de polícia, tem que haver repressão, fiscalização”, comenta o promotor.

Na avaliação dele, o Ministério Público poderia fazer um termo de ajuste de conduta com as empresas, mas as consequências podem ser ainda mais pesadas. “A empresa que pratica esse tipo de conduta, em última instância, pode até ser fechada. A venda para adolescentes caracteriza um crime. No mínimo, há um dolo eventual”, disse Digiácomo.

O Ministério da Justiça lançou na semana passada uma campanha para pais e comerciantes que é um alerta sobre a venda de bebida alcoólica para adolescentes. A série de vídeos questiona: “E se fosse sua filha?”. A pergunta está acompanhada de uma imagem de adolescentes escorados em um vaso sanitário.

4 crianças ou adolescentes são atendidos por dia no Centro de Atendimento Psicossocial – especializado em infância e juventude – em razão do consumo de álcool e outras drogas, em Curitiba.

Pesquisa / Jovens bebem cada vez mais cedo

A venda ilegal de bebida para adolescentes é parte de um complexo quadro brasileiro sobre consumo de álcool e drogas e tem contribuído para acentuar o problema crônico no país. Cada vez mais cedo, crianças e adolescentes consomem bebida alcoólica. Os dados de Curitiba sobre o assunto revelam a gravidade do tema. Foram atendidos, por dia, quatro crianças e adolescentes no ano passado no Centro de Atendimento Psicossocial – especializado em infância e juventude – em razão do consumo de álcool e outras drogas. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, realizada entre abril a setembro de 2012 pelo IBGE, mostrou que 78% dos 2.153 alunos do 9º ano do ensino fundamental de escolas públicas e particulares entrevistados já consumiram algum tipo de bebida com álcool.

Segundo o psiquiatra Dagoberto Requião, todas as pesquisas de neuroimagem recentes mostram que o cérebro humano amadurece até os 25 anos de idade. “Usar substâncias como o álcool vai interferir nesse processo. Os prontos-socorros brasileiros atendem sempre crianças intoxicadas com álcool e que certamente poderão se tornar doentes alcoólicos”, conta Requião.

O psiquiatra explica que o consumo do álcool compromete funções motoras, cerebrais e compromete relacionamentos interpessoais. “Quando o adolescente usa é como se antecipasse um problema que poderia ter com mais idade”, disse.

Para o psiquiatra, a necessidade de participar do grupo inicia os adolescentes no álcool. Isso é uma regra, mas atualmente, os jovens estão bebendo cada vez mais em menos tempo, de acordo com o especialista. “O que tem importado é o efeito, não o prazer do sabor”. Folha de Londrina Informe Folha / Mais prazo para Fulgêncio

A comissão técnica da Secretaria de Meio Ambiente de Londrina acatou os argumentos do empresário Raul Fulgêncio e ampliou em mais 60 dias o prazo para que o Marco Zero Empreendimentos Imobiliários envie o Plano de Recuperação de Área Degradada (Prad) relativo ao Marco Zero da cidade, que deveria ser entregue até a última quarta-feira. Porém, na solicitação, o empresário argumenta que o plano é de alta complexidade e que havia dúvidas sobre de quem seria a responsabilidade pelos cuidados com o local: o empreendimento ou a Prefeitura de Londrina. Apesar de Fulgêncio afirmar que a área foi entregue à administração municipal, a transação não pode ser concluída porque há ainda passivos ambientais e uma ação trabalhista a serem solucionados.

Mais obrigações para o empreendedor Na esteira da discussão sobre a demora na liberação de alvarás para o funcionamento dos empreendimentos do Marco Zero, que incluiu até a ameaça de uma abertura de Comissão Especial de Inquérito (CEI) na Câmara e o início de trabalhos em conjunto entre Legislativo, Executivo, Ministério Público e outros órgãos, os vereadores aprovaram, em primeira discussão, projeto de lei de Roberto Fu (PDT) que obriga a execução das medidas mitigadoras do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) no mesmo ritmo das obras dos empreendimentos. A proposta já foi aprovada em primeira discussão, mas recebeu emenda elaborada por Sandra Graça (SDD) na última quinta-feira. Com isso, o texto foi retirado de pauta para avaliação das comissões técnicas. Segundo Fu, a ideia é garantir o cumprimento das obrigações dos empresários. "O empreendimento só vai poder ser inaugurado se a creche prevista no EIV também for", disse o vereador.

Mais fiscalização a fazer Mesmo que o projeto de lei de Roberto Fu seja interessante, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (Ippul) avisa, em seu parecer técnico, que terá dificuldades em acompanhar o cumprimento das obrigações no decorrer das obras. Resta saber se isso inviabilizaria a lei antes mesmo de ela nascer.

Contas da Saúde O secretário de Estado da Saúde, Michele Caputo Neto, participa no próximo dia 11 de uma audiência pública na Assembleia Legislativa (AL) do Paraná. A exemplo do que fez a chefe da pasta da Fazenda, Jozélia Nogueira, ele irá apresentar o relatório do terceiro quadrimestre de 2013. A reunião acontece às 11 horas, na Comissão de Saúde da Casa. A expectativa é que Caputo também explique por que o Executivo gastou apenas 10,03% no setor em 2013, valor abaixo do mínimo estipulado pela Constituição Federal, de 12%. Conforme Jozélia, a situação ocorreu devido à alteração na Lei Complementar 141/2012, que excluiu das despesas de saúde os gastos com medicina preventiva, como o Leite das Crianças e o Sistema de Atendimento à Saúde (SAS). A inclusão de tais programas no cálculo, contudo, já tinha sido contestada pelo Tribunal de Contas (TC) em balanços anteriores.

À frente do MPC Michael Reiner foi eleito procurador-geral do Ministério Público de Contas (MPC) para o biênio 2014-2016. Candidato de consenso, ele teve o nome referendado na eleição interna do órgão do Ministério Público que atua junto ao Tribunal de Contas, realizada no último dia 21. O resultado do pleito foi enviado pelo atual procurador-geral do MPC, Elizeu de Moraes Corrêa, ao governador Beto Richa, para homologação. Advogado formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Michael Richard Reiner tem 36 anos e ingressou no MPC paranaense há 11, por meio de concurso público. A previsão é de que a posse ocorra em meados de abril.

Sabatina A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado deverá sabatinar em sua próxima reunião, prevista para o dia 12, três indicados pela presidente Dilma Rousseff para o cargo de ministro de tribunais superiores, entre eles o paranaense Néfi Cordeiro. Após a deliberação da CCJ, as mensagens seguirão para o plenário do Senado. Se forem aprovados pela Casa, Néfi Cordeiro, Douglas Alencar Rodrigues e José Barroso Filho deverão compor, respectivamente, os seguintes tribunais: Superior de Justiça (STJ), Superior do Trabalho (TST) e Superior Militar (STM).

Marqueteiro de Aécio O senador Aécio Neves definiu esta semana que o marqueteiro de sua campanha à presidência da República será o publicitário mineiro Paulo Vasconcellos. O contrato está em fase final de ajustes e será assinado depois do carnaval, quando ele começará a trabalhar com o partido. "Ele é um líder de equipe. Nós nunca tivemos nas campanhas do Aécio marqueteiros centralizadores, como Nizan Guanaes ou Duda Mendonça", diz o deputado Marcus Pestana, presidente do PSDB de Minas. Vasconcellos trabalhou em todas as campanhas de Aécio desde 2002, quando o tucano foi eleito governador pela primeira vez. A primeira opção dos tucanos era Renato Pereira, mas ele foi dispensado no ano passado. Gazeta do Povo Editorial / Baderna patrocinada Ao promover o encontro de Dilma com o MST e prometer novas ajudas ao movimento mesmo depois do confronto com policiais em Brasília, Gilberto Carvalho avisa ao país que a baderna compensa

No dia 12 de fevereiro, o Movimento dos Sem-Terra invadiu não uma fazenda, mas a própria capital federal; 15 mil pessoas participaram da marcha do MST, que se

dirigiu à Praça dos Três Poderes, passando antes pela Embaixada dos Estados Unidos. Já na praça, os sem-terra foram primeiro ao Supremo Tribunal Federal, onde derrubaram cercas e furaram bloqueios de segurança. O tumulto foi tal que o ministro Ricardo Lewandowski, que presidia a sessão naquele dia, suspendeu temporariamente os trabalhos. Depois, eles se dirigiram ao Palácio do Planalto, embora Dilma Rousseff não estivesse no local. Num confronto desigual contra algumas centenas de policiais, os manifestantes usaram paus, pedras portuguesas arrancadas do piso da praça e até martelos, ferindo 30 policiais, oito deles gravemente.

O conflito entre sem-terra e policiais foi o ponto culminante do 6.º Congresso Nacional do MST, evento realizado entre os dias 10 e 14 de fevereiro e que contou com uma generosíssima ajuda de órgãos estatais (ou seja, contribuição do bolso do contribuinte brasileiro): R$ 200 mil da Caixa Econômica Federal, R$ 350 mil do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e R$ 650 mil da Petrobras, em todos os casos sem licitação. Apenas a profunda afinidade ideológica entre o MST e o Partido dos Trabalhadores pode explicar, por exemplo, que uma empresa estatal com sérias dificuldades financeiras, como a Petrobras, encontre no seu caixa mais de meio milhão de reais para patrocinar um evento dos sem-terra.

Mais surpreendente que o patrocínio estatal a um evento que inclui, em seu programa, tentativas de invasão de prédios do governo e confronto com policiais, com direito a depredação e ferramentas arremessadas contra as forças de segurança, foi a reação governamental à baderna. O paranaense Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, fiel a seu estilo condescendente com qualquer forma de vandalismo, desde que promovido por seus parceiros ideológicos (ou contra seus adversários, tanto faz), foi ao encontro dos sem-terra e prometeu-lhes um encontro com Dilma Rousseff, que ocorreu no dia seguinte ao confronto. Em resumo, a mensagem que Carvalho enviou naquele momento – não apenas aos sem-terra, mas a todo o país – é a de que a baderna compensa. Lembremo-nos de que o mesmo ministro, em 2013, manifestou a intenção de “abrir diálogo” com os black blocs, aqueles que agora já carregam na ficha corrida o cadáver do cinegrafista Santiago Andrade.

Aliás, para Carvalho a baderna compensa tanto que o ministro, dias atrás, não apenas elogiou o MST como também defendeu o patrocínio estatal aos sem-terra e afirmou que continuará destinando recursos públicos ao movimento. Carvalho comparou a ajuda ao financiamento dado a feiras agropecuárias Brasil afora. Só se esqueceu de citar algum caso em que os agricultores e expositores dessas feiras tenham promovido um espetáculo remotamente semelhante ao que os sem-terra protagonizaram em Brasília. Para não ter de enfrentar a contradição, limitou-se a classificar de “ideológica e política” a divulgação das informações sobre o dinheiro repassado pela Caixa, pelo BNDES e pela Petrobras ao MST, na esperança de que o rótulo pegue.

O MST, que evita adquirir personalidade jurídica para não ter de responder pelas ações que comete, tem um longo histórico de desrespeito à propriedade privada e ao poder constituído. Um grupo com essas credenciais jamais poderia ser considerado um interlocutor legítimo em uma sociedade que preza pelos valores democráticos; no entanto, o governo faz do movimento mais que isso, transformando-o em interlocutor privilegiado, quase inimputável, merecedor de patrocínios milionários e que tem desculpadas as suas atitudes mais violentas. Não surpreende que o MST, que chegava à maioridade no momento em que Lula assumia a Presidência, continue se comportando, mesmo aos 30 anos, como uma criança mimada e imatura. Coluna do leitor / Mensalão 1

Causa desgosto essa palhaçada a que estamos assistindo no julgamento do mensalão. Evidências mostram a descarada corrupção daqueles que estão no poder, mas

ao mesmo tempo vemos um Judiciário que – mesmo com exceções – encontra-se com as mãos amarradas por estar subjugado pelo Executivo. Expresso de longe a minha indignação, e fico me perguntando se um dia verei um país diferente, justo, com leis justas e, por mais paradoxal que pareça, com uma Justiça justa. Padre Valdir Meira dos Anjos

Mensalão 2 Desconsiderar e desqualificar a verdade da profusão de provas condenatórias dos mensaleiros é tão insano quanto o evidente ato político da nomeação estratégica dos ministros contrários à condenação. Embora de direito, a despudorada intervenção do governo petista foi perpetuada na história como o marco pútrido e grito retumbante da impunidade parlamentar perante a Justiça. Antonio Fernando Buch

Mensalão 3 De fato, como disse Joaquim Barbosa (Gazeta, 28/2), foi uma tarde triste. Democracia não é somente a eleição e o direito ao voto. Faz parte da democracia também o pleno funcionamento das sagradas instituições do nosso Estado democrático de direito. Do povo, pelo povo e para o povo? Não é isso que Executivo, Legislativo e Judiciário têm demonstrado nos últimos tempos. Do povo são eleitos, pelo povo não trabalham, para o povo só migalhas. Esse último ato do STF demonstra claramente que as três esferas hoje trabalham em prol exclusivamente de um determinado grupo. Jorge dos Santos Avila, administrador

Greve 1 Qualquer trabalhador possui o direito de reivindicar melhores condições de trabalho, mas deve-se cumprir a lei e manter parte dos serviços para que a população não seja totalmente prejudicada. Acho um total desrespeito para com a população que nossos governantes, seja na esfera municipal, estadual ou federal, deixem uma cidade que já foi reconhecida internacionalmente como modelo de transporte coletivo chegar a tal ponto. Essa greve mostra como a população está abandonada pelos governantes. Leonardo Cardoso

Greve 2 A respeito da greve de motoristas e cobradores, a Justiça determinou a circulação de uma frota mínima. Haverá penalização em caso de descumprimento? Empresas e pessoas prejudicadas poderão recorrer à Justiça? Duvido muito... A impunidade é que leva a essa situação por que passamos. Helio Sugai

Drogas A legalização do uso da maconha é um erro. As drogas são, como seu nome diz, drogas. Temos lutado para recuperar muitas pessoas das consequências do uso de drogas e álcool, e agora alguns querem promover a liberação do uso da maconha. A maconha e outras drogas são portas de entrada para outras mais pesadas, como o crack. Não queremos droga alguma! Paulo Roberto Girão Lessa Transporte Coletivo / Motoristas decidem encerrar greve de 4 dias Em assembleia na Praça Rui Barbosa, categoria aceitou proposta feita por magistrada do TRT-9ª de 9,28% de reajuste Flávia Schiochet

Os motoristas e cobradores de Curitiba e região metropolitana, em greve desde a última quarta-feira, aceitaram neste sábado, em assembleia na Praça Rui Barbosa, a proposta apresentada pela magistrada do Tribunal Regional do Trabalho da 9.ª Região (TRT-9.ª), Ana Carolina Zaina, na sexta-feira e aprovada pelo sindicato patronal e a administração municipal. A proposta prevê reajuste salarial de 9,28% (5,26% INPC + 3,82%), abono salarial de R$ 300 e aumento de 10,5% no cartão alimentação, que hoje está em R$ 300 – inicialmente, a categoria pediu 16% de reajuste para motorista e 22% para cobradores. “Se a tarifa de ônibus aumentar, esse acordo vai por água abaixo”, alertou Anderson Teixeira, presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e região metropolitana (Sindimoc), que afirmou também não ter ficado satisfeito com o aumento de R$ 30 no cartão alimentação.

Ele disse que vai manter negociações com o sindicato patronal para, até junho, mês de início da Copa do Mundo, elevar o índice de reajuste – o almejado é que o próximo aumento seja de R$ 67. Caso isso não ocorra, os trabalhadores ameaçam fazer uma nova greve, durante a realização da Copa.

A categoria voltou ao trabalho normal logo depois da assembleia. Os dias parados não serão descontados dos trabalhadores, segundo o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Curitiba e Região (Setransp).

A programação definida pela Urbs para este feriado de carnaval prevê que os ônibus vão operar com horário de sábado na segunda-feira e horário de domingo na terça-feira.

Paralisação Ontem, a greve chegou ao seu quarto dia – caracterizando a paralisação mais severa dos transporte coletivo de Curitiba e Região nos últimos anos. No primeiro, quarta-feira, 100% da frota parou, contrariando a decisão de véspera da Justiça do Trabalho que pediu a manutenção de uma frota mínima na cidade. Na ocasião, o Sindimoc alegou que não tinha sido notificado oficialmente da decisão por isso não a cumpriria de imediato.

Nos demais dias, a categoria foi obrigada a manter 50% do efetivo nos horários de pico e 30% nos demais períodos. Na manhã de sábado, antes de a greve terminar, 68% da frota estava operando. Alternativas / “Caronaço” da prefeitura e carros particulares foram paliativos

Como forma de amenizar a greve e evitar o caos de paralisações anteriores, a Urbs iniciou ainda na quarta-feira um cadastro de carros particulares para atender os passageiros. Até sexta, 514 veículos se cadastraram para prestar o serviço. Eles puderam cobrar até R$ 6 por pessoa e tiveram de adotar como trajeto uma linha de ônibus já existente. As linha scom mais carros cadastrados foram Santa Felicidade-Centro (11), Pinheirinho-Rui Barbosa (7) e Capão Raso-Rui Barbosa (7).

Ainda na quinta-feira, sob a ameaça da prolongação da greve, o prefeito Gustavo Fruet anunciou no Twitter que colocaria carros da frota oficial para ajudar no transporte no dia seguinte. Na sexta-feira, o “caronaço” da Prefeitura de Curitiba teve 304 carros transportando passageiros entre terminais da cidade. O serviço foi oferecido como “de graça”, mas como funcionou entre terminais, quem o utilizou acabou pagando a passagem normal, de R$ 2,70. Facebook / Campanha pede que rótulos informem sobre alérgenos Famílias querem a inclusão de informações claras nos produtos sobre a presença de substâncias perigosas para quem tem alergia alimentar Das agências

Para tornar obrigatória a inclusão de informações claras sobre a presença de alimentos alérgenos ou de traços desses alimentos nos rótulos dos produtos, um grupo de mães se uniu e criou a campanha “Põe no Rótulo” no Facebook. As informações são da Agência Brasil.

A ideia surgiu a partir da troca de informações online de mais de 700 famílias cujos filhos têm alergia alimentar. O grupo resolveu criar o movimento com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre os riscos que a falta de informações nos rótulos pode trazer para quem tem alergia. Dependendo do grau de sensibilidade, o alérgico pode ter choque anafilático, fechamento da glote, além de outras reações graves que podem levar à morte. Em pouco mais de uma semana de campanha, o #poenorotulo já tem cerca de 12 mil curtidas.

Dificuldades Motivada pelas dificuldades encontradas no dia a dia para comprar produtos seguros para seu filho Rafael, de 2 anos, a advogada paulista Maria Cecília Cury Chaddad fez um doutorado em Direito Constitucional abordando a rotulagem de alérgenos nos alimentos. Rafael tem alergia a leite e a soja e nunca consumiu amendoim, oleaginosas e crustáceos, por serem altamente alérgenos. “Comecei a tirar vários alimentos da dieta da família e fiquei impressionada por não achar uma norma sobre o tema”, diz. Ela dá o exemplo de um creme de chantilly que não contém no rótulo o ingrediente leite, e sim, caseinato de sódio, uma proteína do leite. “Quantas pessoas sabem disso e conhecem esses nomes difíceis? A pessoa acha que não tem leite.”

Um estudo conduzido em 2009 pela Unidade de Alergia e Imunologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo mostrou que 39,5% das reações alérgicas a leite de vaca estavam relacionadas a erros na leitura de rótulos. Maria Cecília conta que recai sobre as famílias a responsabilidade da leitura atenta de cada rótulo com uma grande lista de ingredientes, muitas vezes, com letra pequena e termos desconhecidos, para descobrir se aquele alimento pode fazer mal.

Glúten As mães defendem que a informação sobre a presença dos principais alimentos alérgenos ou traços desses alimentos – leite, soja, ovo, trigo, amendoim, oleaginosas, frutos secos e peixes – esteja clara e em destaque nos rótulos, a exemplo do que já ocorre com o glúten, substância que não pode ser ingerida por quem tem a doença celíaca. A Lei 10.674/2003 tornou obrigatória as inscrições “contém glúten” ou “não contém glúten” nas embalagens dos alimentos industrializados. Famílias propõem criação de lei específica

A campanha “Põe no Rótulo” propõe a criação de uma legislação específica sobre o tema ou o estabelecimento de uma norma pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que obrigue a indústria alimentícia a fazer a correta rotulagem de alérgenos.

Mercosul A Anvisa informou que há, no âmbito do Mercosul, uma discussão sobre a obrigatoriedade de se prestar informações sobre alergênicos nos rótulos. A aprovação da proposta, entretanto, depende de consenso entre os países-membros. O tema vai para o quarto ano de discussão, segundo a agência. Nos Estados Unidos, as indústrias são obrigadas a prestar esse tipo de informação desde 2006, na União Europeia, Austrália e Nova Zelândia, desde 2003, e no Canadá, desde 2011. Infância / Centro Marista lança livro sobre violência sexual em Foz

A Rede Marista de Solidariedade, por meio do Centro Marista de Defesa da Infância, está lançando o livro Infância, adolescência e direitos: enfrentamento à violência sexual em Foz do Iguaçu.

De acordo com Luane Natalle, analista de monitoramento do Centro Marista e organizadora do livro, o tema e a região foram eleitos como prioritários a partir de análise de dados nacionais. De janeiro a agosto de 2011, foram registradas quase 2 mil denúncias de violações de direitos de crianças e adolescentes no Paraná. Notas Políticas / Efeito eleitoral

O ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio Mello avalia que a mudança do STF em relação à interpretação de formação de quadrilha no caso do mensalão decepciona sociedade e poderá afetar as eleições de outubro, quando o TSE fará campanha pelo voto consciente. “Quando o Supremo por seis votos a quatro [uma cadeira estava vaga] impôs a condenação, deu-se uma esperança à sociedade quanto ao afastamento da impunidade

dos poderosos. Agora o mesmo tribunal, porque vinga a impessoalidade, deu o dito pelo não dito. Aí transformou a condenação em absolvição, por seis votos a cinco”, afirma o ministro. Para ele, a decisão decepciona as pessoas leigas e abala a credibilidade nas instituições. “Embora o crime de quadrilha tenha uma pena pequena frente à pena da corrupção, do peculato, da lavagem de dinheiro, que pode chegar até a uma dezena ou mais de anos, o simbolismo é muito grande. O leigo vai ficar decepcionado, o que não é bom em termos de fortalecimento e crença nas instituições.”

Em alta/ Mensaleiros Os antigos dirigentes petistas José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino foram absolvidos do crime de formação de quadrilha pelo Supremo Tribunal Federal. Com a decisão, eles podem sair da cadeia entre agosto deste ano e março de 2015.

Em baixa / Assembléia Em regime de “tratoraço”, atropelando o debate com a sociedade, a Assembleia do Paraná aprovou na terça-feira a criação do auxílio-moradia para juízes e desembargadores e o projeto que cria a Fundação Estatal de Saúde (Funeas).

Tucano ficou uma arara O ex-governador José Serra rebateu declarações do promotor de Justiça Marcelo Milani, que afirmou ver indícios da participação do tucano no cartel no setor metroferroviário de São Paulo. O ex-governador afirmou, em nota oficial, que, como gestor, merecia ganhar uma “medalha anticartel”. “Ganhou a empresa CAF, que ofereceu o menor preço. O estado economizou cerca de R$ 200 milhões. A fim de anular a concorrência, ela [Siemens] entrou com vários recursos nas áreas administrativa e judicial, mas não teve êxito”, disse o tucano. Judiciário / Nova interpretação do Supremo pode dificultar punição de crimes no país Entendimento dos ministros do STF nas absolvições do mensalão tende a criar requisitos mais duros para os tribunais inferiores fixarem penas por formação de quadrilha Katna Baran

A mudança de interpretação do Supremo Tribunal Federal (STF) a respeito da formação de quadrilha no mensalão pode abrir precedente para futuros julgamentos que envolvam esse tipo de delito – tornando mais difícil punir não apenas casos de corrupção, mas diversos outros casos. Isso porque o STF é a mais alta instância do Judiciário, responsável por interpretar as leis e criar jurisprudência para os tribunais inferiores. Por outro lado, o próprio julgamento do mensalão abriu outras brechas que podem levar ao endurecimento das penas.

Por seis votos a cinco, o STF reverteu na quinta-feira passada a sentença de formação de quadrilha de nove condenados na primeira fase do julgamento do mensalão, em 2012. Os ministros Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Cármen Lúcia, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e Teori Zavascki entenderam que os réus cometeram delitos juntos, mas não se associaram com o objetivo específico de cometer crimes, de forma contínua e prolongada.

Novos requisitos A advogada e pesquisadora da FGV-Rio Adriana Lacombe afirma que a nova interpretação aponta para requisitos mais específicos para o crime de quadrilha. “Um grupo de pessoas cometendo uma série de crimes por si só não constitui uma quadrilha, mas mera coautoria. É preciso que essas pessoas tenham uma organização prévia”, diz. Para Adriana, que coordena um grupo de estudos sobre o caso do mensalão na FGV, a mudança pode gerar impactos: “Se uma pessoa for condenada por um critério diferente desse, terá maiores chances de ter o recurso atendido no STF”.

O professor de Direito Penal Daniel Laufer, da PUCPR, não descarta a possibilidade de a nova interpretação abrir precedentes para outros julgamentos. Mas ele é mais

cauteloso e considera que o voto favorável aos réus pode ter sido apenas para o caso específico do mensalão. “Não me parece que o Supremo tenha dado uma nova definição do que venha a ser quadrilha. O que o STF fez foi uma análise de mérito acerca dos fatos, entendendo que, nesse caso, não havia quadrilha”, diz.

Outra interpretação do caso, feita pelo ministro Barroso, recém-empossado no STF, chamou a atenção de Laufer. “Ele fez cair a fixação da pena sobre o crime de formação de quadrilha acima do que seria justa.” As penas mais duras foram estabelecidas pelo Supremo na primeira fase do julgamento. Barroso, em seu voto, disse que elas foram majoradas em média em 75% a mais apenas com o objetivo de que o crime não prescrevesse.

Para o professor da PUCPR, essa majoração da pena pelo STF também pode abrir precedentes para os demais tribunais – enrijecendo as punições por quadrilha. “Isso [a majoração] é vedado ao juiz de primeiro grau. Mas, na hipótese de que ele centre sua decisão nos argumentos de um ministro do Supremo, pode ser que se passe a considerar a medida admissível.” Exceção / Desde 1988, Supremo nunca havia revertido condenação de quadrilha

Levantamento feito pelo projeto Supremo em Números, da FGV Direito Rio, aponta que a absolvição de réus pelo crime de formação de quadrilha – como ocorreu para nove envolvidos no caso do mensalão – é uma exceção no Supremo. Segundo a pesquisa, de 1988 até junho de 2013, o STF nunca havia revertido uma condenação desse tipo de delito. A informação consta de um artigo do professor de Direito da FGV-Rio Ivar A. Hartmann, publicado na sexta-feira pelo jornal O Globo. A análise da FGV, de acordo com Hartmann, aponta que 85% das tentativas de reverter a condenação por formação de quadrilha nem sequer foram analisadas pelo STF. E, nos 11% dos casos que foram efetivamente julgados pelos ministros, os magistrados optaram por manter a condenação. Os 4% restantes foram dados como prejudicados e não foram julgados. Na cadeia / Governador do DF teve encontro secreto com Dirceu Agência Estado

Alvo de questionamento do Ministério Público (MP) pelas supostas regalias concedidas por seu governo aos condenados do mensalão nas cadeias do Distrito Federal, o governador Agnelo Queiroz (PT) fez uma visita secreta ao ex-ministro José Dirceu (PT-SP) na Penitenciária da Papuda no último dia 20. A informação foi revelada pela revista Veja.

O encontro entre Agnelo e Dirceu não foi divulgado na agenda oficial do governador. O governo do Distrito Federal admitiu a visita, mas alega que ela foi “casual”. Em nota, explicou que Agnelo “aproveitou” uma inauguração em local próximo para, em seguida, fazer uma “inspeção” na Papuda.

“Durante a visita, [o governador] encontrou-se com o ex-ministro e ex-deputado federal José Dirceu. Eles trataram de assuntos pessoais e o ex-ministro manifestou sua expectativa em relação ao julgamento de recurso junto ao Supremo Tribunal Federal (STF)”, informou o governo.

Desde as prisões dos condenados do mensalão, em novembro, essa foi a segunda visita de Agnelo à Papuda. Na primeira, a justificativa do petista foi a de verificar o estado de saúde do ex-presidente do PT José Genoino, que hoje está em prisão domiciliar.

Na semana que passou, o MP pediu à Justiça que oficie Agnelo sobre “ingerências” de seu governo nas cadeias e para que tome providências sobre supostos privilégios

concedidos aos políticos condenados no mensalão. Caso a situação não se resolva, os promotores vão solicitar a transferência dos presos para um presídio federal. Celso Nascimento / Lições da greve do ônibus

Da greve dos motoristas e cobradores que paralisou o transporte coletivo de Curitiba e região metropolitana emergem algumas importantes lições que, se não aprendidas agora, cobrarão preços cada vez mais altos no futuro próximo. Ou se fazem agora mudanças importantes no sistema de financiamento do transporte, ou o colapso será inevitável.

Uma das primeiras lições: por incrível que pareça, para as empresas quase tanto faz dar qualquer porcentual de aumento aos seus empregados, já que, se homologados pela Justiça Trabalhista, tais reajustes estarão automaticamente embutidos na tal tarifa técnica que têm direito de receber a cada fim de dia. O que significa que os concessionários nada perdem, mas obrigam o poder público a aportar subsídios cada vez maiores ou o povo a pagar mais pela passagem.

A primeira lição, portanto, é a que recomenda alforriar a administração pública e a sociedade da escravidão que lhes foi imposta pelos contratos da prefeitura de Curitiba com os consórcios vencedores da licitação de 2010 promovida ainda na gestão do então prefeito Beto Richa.

Outra lição importante que emerge da greve é a contabilidade dos prejuízos sociais e econômicos que ela causou: milhares de cidadãos deixaram de trabalhar ou de ir à escola; muitos perderam consultas médicas; comércio e indústria paralisaram ou reduziram atividades. Apenas no primeiro dia da greve, quarta-feira, o comércio da Rua XV de Novembro deixou de faturar R$ 150 milhões, segundo nota oficial da Associação Comercial do Paraná (ACP).

Logo, é preciso procurar alternativas ao modelo vigente, pelo qual, na prática, ninguém é responsável por financiar o funcionamento pleno, seguro e ininterrupto do transporte coletivo. A comprovação desse fato está, por exemplo, na discussão sobre se o governo estadual deve ou não reconhecer sua parte e subsidiar as linhas metropolitanas. E aí entra outra lição: ônibus, política e eleições se misturam.

Há várias propostas em discussão no país para eliminar essas distorções – uma delas nascida em Curitiba a partir da observação de modelos europeus. Basicamente, consiste em universalizar o vale-transporte rateando o custo do transporte entre todos os empregadores.

Veja o caso de Curitiba e região metropolitana: se o custo mensal para manter o sistema for de R$ 100 milhões, ele poderia ser dividido pelo milhão de empresas instaladas na capital e municípios vizinhos. Em média e proporcionalmente ao número de funcionários, cada empresa (que atualmente já paga vale-transporte) contribuiria com R$ 100,00 por mês recolhidos ao gestor do sistema, no caso a Urbs, sob fiscalização de organizações sociais. Usuários eventuais ou não beneficiários do vale-transporte pagariam tarifas reduzidas.

Como a Lei do Vale Transporte precisa ser alterada, a proposta já foi levada ao Congresso e à presidente Dilma Rousseff. Pode demorar. Enquanto isso, esperemos pela próxima greve.

Olho vivo / Segredos 1 O senador Alvaro Dias quer saber tudo sobre os “empréstimos secretos” que o BNDES concedeu aos governos de Angola e Cuba – a este último cerca de US$ 1 bilhão para construir o porto de Mariel. Primeiro, seguiu a Lei do Acesso à Informação, mas foi surpreendido com a resposta do banco de que estava impedido de prestar informações porque as leis daqueles países impõem sigilo.

Segredos 2 Dias achou surreal a resposta: o governo brasileiro opta por obedecer às leis dos países estrangeiros. Por isso, na semana passada, impetrou

mandado de segurança no STF e, já no dia seguinte, Joaquim Barbosa designou o ministro Luiz Fux como relator. O senador espera que o STF obrigue o BNDES a revelar os segredos.

Vaquinha 1 “Para mim, o sinônimo mais correto de socialismo é solidariedade” – postou o senador Roberto Requião em seu Twitter. Ele leva a tão a sério a sua crença que propôs que o estado arque com o pagamento da indenização por danos morais de R$ 75 mil a que foi condenado pela Justiça por ofensas ao ministro Paulo Bernardo. Isto é: o senador quer livrar o próprio bolso e “socializar” o prejuízo.

Vaquinha 2 A alegação de Requião, repelida pelos juízes, é de que as ofensas a Bernardo foram por ele proferidas na condição de governador – posição que ocupava quando acusou o ministro de lhe propor superfaturar uma obra ferroviária. Portanto, segundo seu tortuoso raciocínio, é o estado e não ele, Requião, que deve pagar a indenização. Não seria melhor – a exemplo de Delúbio, Genoíno e Zé Dirceu – fazer uma vaquinha solidária pela internet? Parte da vaquinha poderia ser depositada na conta do advogado Luiz Fernando Pereira, que defendeu o ministro. Pré-mensalão / Grupo de Jefferson teria recebido propina de R$ 150 mil da Siemens

Proibida pela Justiça Federal de participar de licitações públicas no Brasil até julho de 2018 devido a contratos fraudulentos com os Correios, a multinacional alemã Siemens é suspeita de ter pago propina de R$ 150 mil em 2005 ao grupo político do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), condenado no processo do mensalão. Na época, o grupo controlava os Correios e teria recebido a verba para garantir que a Siemens obteria um contrato com a estatal. A informação consta de planilhas que integram a ação penal que trata de corrupção nos Correios envolvendo a multinacional. O contrato era de R$ 5,3 milhões para fornecimento de sistemas eletrônicos de movimentação e triagem de cargas. Foi em meio a denúncias de corrupção nos Correios, em 2005, que Jefferson decidiu denunciar o mensalão. À época, o rumor era de que a acusação havia sido uma retaliação ao PT, que teria vazado à imprensa as denúncias de irregularidades nos Correios para atingir o PTB. Folha de Londrina Opinião / Dependentes e auxílio-doença Embora a liberação do benefício tenha crescido, a maior parte dos dependentes em tratamento está fora dessa estatística

O número de casos de pessoas que conseguiram o benefício do auxílio-doença

para tratamento de transtornos mentais causados por álcool e drogas aumentou 80% no Brasil, nos últimos seis anos. Entre 2007 e 2013 a alta foi de 40% no Paraná, quarto Estado que mais recebeu os auxílios relacionados a esses transtornos, ficando atrás de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Somados, os números de auxílios-doença concedidos a segurados da Previdência dependentes de álcool (14.420 benefícios), cocaína ou crack (8.541) e múltiplas drogas ou substâncias psicoativas (25.510) – aquelas que podem ter ou não prescrição médica – totalizaram 48.471 benefícios no País no ano passado. Em 2007, foram 26.789. No Paraná, o número saltou de 3.035 auxílios-doença pagos em 2007 para 4.256 em 2013.

As informações reveladas na principal reportagem de hoje da Folha de Londrina merecem uma atenção da sociedade e do poder público. Como era de se esperar, o

levantamento mostra que o afastamento do trabalho para tratamento da dependência de cocaína e de crack subiram assustadoramente.

A primeira questão é onde e como as pessoas que buscam o INSS para obter o auxílio-doença estão recebendo atendimento multidisciplinar para vencer o vício? É preciso lembrar que embora a liberação do benefício tenha crescido desde 2007, a maior parte dos dependentes químicos em tratamento está fora dessa estatística. São pessoas que não têm tempo de contribuição junto ao INSS, não têm documentação necessária, não recebem acompanhamento em instituições públicas ou beneficentes, entre outros requisitos.

Em segundo lugar, é preciso questionar a eficiência do tratamento. Em Londrina, a Associação Paranaense de Psiquiatria avalia que a falta de infraestrutura prejudica o serviço dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Muitas vezes, o atendimento representa mais uma consulta de emergência do que a oferta de um programa específico para o tratamento das pessoas com dependência química. Opinião Do Leitor / STF: contra fatos há argumentos

Oito mensaleiros foram absolvidos, pela diferença de um voto, no julgamento dos embargos infringentes pelo STF. Com a substituição de dois ministros, a maioria optou pela absolvição dos acusados, descaracterizando o cometimento do crime de quadrilha. Se os ministros do STF fossem os mesmos que julgaram o mérito na Ação Penal 470, os criminosos teriam a pena aumentada podendo significar o cumprimento da prisão em regime fechado. Os votos de dois ministros que acabaram de chegar no Supremo, Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso, foram decisivos para o resultado. Justificaram com argumentações inexistentes no ordenamento jurídico penal brasileiro, ignorando provas, fatos e documentos existentes nos autos. Ganha o estado democrático de direito, porém a nação perde uma oportunidade espetacular de ver a Justiça sendo aplicada na sua plenitude. Roberto Delalibera (bacharel em Direito) - Londrina ‘Precisamos restabelecer a missão da CDH’ Eleito na última quarta-feira presidente do grupo, paranaense Assis do Couto promete retirar visão "estreita" da gestão passada Mariana Franco Ramos Reportagem Local

Curitiba - Eleito para assumir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDH) da Câmara Federal, após a conturbada gestão de Marco Feliciano (PSC-SP), o paranaense Assis do Couto (PT) disse, em entrevista à FOLHA, que seu primeiro desafio será retirar do colegiado a visão "estreita e conservadora" predominante em 2013. Em disputa apertada na última quarta-feira, o parlamentar recebeu 10 votos, contra 8 de Jair Bolsonaro (PP-RJ). Natural de Santo Antônio do Sudoeste, ele tem 52 anos, é agricultor familiar e está em seu terceiro mandato consecutivo.

"Precisamos restabelecer o compromisso e a missão da comissão, que ficaram comprometidos na gestão passada. Estamos vendo crescer a cultura da violência no Brasil, com os movimentos ditos justiceiros, perigosos. Será um ano de grandes mobilizações, de eventos como a Copa do Mundo, e temos de trabalhar com a cultura de paz e de respeito às diferenças", afirmou.

Entre as prioridades da nova presidência, segundo ele, estão questões como reforma agrária, conflitos no campo, segurança e soberania alimentar, direitos das mulheres, dos indígenas e das pessoas com deficiência. O paranaense contou, ainda, que o colegiado poderá discutir a regulamentação dos protestos, sem interferir, contudo, "no direito legítimo das pessoas se mobilizarem".

De formação católica e atuação pautada pela defesa da agricultura familiar, Assis do Couto foi alvo de críticas por parte da comunidade LGBT (de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), mais simpática a nomes como os de Erika Kokay (PT-DF) e Nilmário Miranda (PT-MG), o último escolhido para a vice-presidência do grupo. No entanto, garantiu que estará aberto ao diálogo com todos os setores da sociedade.

"Algumas questões são de foro íntimo. Tenho um posicionamento pessoal em relação ao aborto, por exemplo: não sou a favor da abertura indiscriminada. Mas, como homem público, não posso fechar os olhos para o debate." De acordo com o petista, que integra a "Frente Mista em Defesa da Vida", ignorar tal questão seria "tampar o sol com a peneira". "Até porque, estamos num Estado laico", completou.

Em relação à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que muda as regras de demarcação de terras indígenas, o deputado declarou que compartilha da mesma posição de seu partido. "O tema indígena nos choca profundamente. São inúmeros os problemas; uma marginalização muito cruel. Mas acredito que a PEC não é o caminho nesse momento", discursou.

Segundo o parlamentar, caso seja aprovada, a matéria poderia incitar "uma enorme situação de violência no País". "Tenho dialogado com os membros da comissão especial (responsável pela análise do tema) e torço para que eles encontrem uma alternativa, outro caminho que restabeleça a justiça para os povos indígenas, mas também para os produtores e a população de agricultura familiar." Motorista é preso em Operação Lei Seca Mais de 300 pessoas foram abordadas e 19 veículos foram apreendidos; ações serão frequentes Celso Felizardo Reportagem Local

Londrina – Uma pessoa foi presa em flagrante por dirigir embriagada na madrugada de sábado durante a segunda Operação Lei Seca, deflagrada pela Polícia Militar (PM) e Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) em Londrina. As blitzes começaram as 14 horas de sexta-feira. Além da prisão, 30 multas foram registradas e 19 veículos foram recolhidos. De acordo com o comandante da Companhia de Trânsito de Londrina, tenente Émerson Castro, 327 pessoas foram abordadas e 288 veículos foram vistoriados.

Segundo Castro, os policiais priorizaram pontos próximos a bares e casas noturnas, como as avenidas Higienópolis e Presidente Faria Lima (zona sul). Na primeira operação, realizada há uma semana, três pessoas foram presas por dirigir embriagadas. "Desta vez percebemos que os motoristas já estão mais conscientes do rigor da fiscalização. A multa é pesada, então, não vale arriscar", advertiu. O movimento no trânsito foi intenso até pouco depois da meia-noite, mas as ruas ficaram vazias logo após.

O comandante garantiu que as operações não vão se restringir ao Carnaval. "Estas ações serão frequentes a partir de agora. Assim, pretendemos coibir a imprudência que gera tantos acidentes de trânsito", pontuou. Ele explicou que as blitzes serão adotadas em dias, horários e lugares alternados. "Será um sistema itinerante. Após a permanência em um ponto principal, parte do pessoal será deslocado para outras rotas conforme a demanda", explicou Castro.

Além da embriaguez, a fiscalização registrou alto número de condutores não habilitados. A falta de documentação foi a responsável por grande parte das apreensões de veículos, a maioria motocicletas. "Nosso objetivo direto é reprimir as imprudências,

mas queremos que as operações despertem a consciência dos motoristas, que eles tomem as medidas preventivas".

O motorista flagrado bêbado ao volante pode ser multado em R$ 1.915,40 e ter sete pontos subtraídos da carteira de habilitação. Quem se recusar a fazer o teste do bafômetro, também está sujeito às penalidades. Neste caso, o auto de infração é lavrado com base em um documento no qual o policial descreve os sintomas do motorista suspeito, coleta depoimentos de testemunhas e anexa imagens gravadas por meio de câmeras disponibilizadas em cada viatura. Drogas e Providência / Em seis anos, auxílio-doença para dependentes químicos cresce 40% no PR No País, benefícios para trabalhadores afastados por uso de álcool, cocaína e múltiplas drogas aumentaram 80% de 2007 a 2013 Diego Prazeres Reportagem Local

Júlio César Lopes, de 30 anos, decidiu lutar contra o vício em cocaína no final do ano passado. Casado e pai de um menino de 7 anos, ele pediu licença do trabalho de entregador em uma farmácia na zona leste de Londrina para tentar retomar as rédeas da própria vida. "Usava a droga todo dia, de manhã, tarde e noite. Chegou uma hora que meu corpo precisava de um basta", confessa. Por indicação de amigos, internou-se numa comunidade terapêutica mantida pela Paróquia Nossa Senhora de Lourdes numa área de restrito acesso no Conjunto Jamile Dequech (zona sul de Londrina). Faz dois meses que está lá. A entidade deu entrada no pedido de auxílio-doença na Previdência Social e foi atendida. Júlio não sabe ainda quando (e quanto) irá receber o benefício, mas já faz planos. "Quero usar o dinheiro para continuar pagando a prestação da minha casa e a escola do meu filho", adianta.

Casos como o de Júlio Lopes estão se tornando comuns no País. De acordo com dados fornecidos pelo Ministério da Previdência à FOLHA, a quantidade de auxílios-doença paga a segurados afastados do trabalho por transtornos mentais causados por uso de álcool, cocaína e/ou múltiplas drogas (ou demais substâncias psicoativas) aumentou 80% no País nos últimos seis anos. No Paraná, a alta foi de 40% no mesmo período (2007 a 2013). O Estado é o quarto que mais recebeu os auxílios relacionados a esses transtornos, atrás de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Somados, os números de auxílios-doença concedidos a segurados da Previdência dependentes de álcool (14.420 benefícios), cocaína ou crack (8.541) e múltiplas drogas ou substâncias psicoativas (25.510) – aquelas que podem ter ou não prescrição médica – totalizaram 48.471 benefícios no País no ano passado. Em 2007, foram 26.789. No Paraná, o número saltou de 3.035 auxílios-doença pagos em 2007 para 4.256 em 2013.

Classificação A Divisão de Acompanhamento e Controle de Benefício por Incapacidade, vinculada à Diretoria de Saúde do Trabalhador do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), agrupa os auxílios-doença relacionados aos transtornos mentais e comportamentais seguindo os códigos da Classificação Internacional de Doenças (CID). O agrupamento F10 a F19 compreende os distúrbios causados pelo uso de substâncias psicoativas. Estão nessa faixa os transtornos causados pelo uso de álcool (F10), cocaína (F14) e múltiplas drogas (F19).

Somados os auxílios-doença concedidos no agrupamento F10 a F19, a alta no Brasil foi de 50,12% entre 2009 e 2013 (de 32.824 para 49.276). No Paraná, o índice cresceu menos no mesmo período: 18,64% (3.626 para 4.301).

Chamam a atenção o poder e os efeitos da cocaína e do crack nesse levantamento (ambas as substâncias são listadas juntas na classificação utilizada pelo INSS). O índice de benefícios pagos a segurados dependentes de cocaína e/ou crack cresceu absurdos 168% no Brasil de 2007 a 2013 (3.179 para 8.541). No Paraná, a alta foi de 85,7% no

mesmo período (450 para 836, quase o dobro). Entre os dependentes alcoólicos, o salto foi mais tímido: alta de 9,47% no Brasil (13.172 para 14.420) e 13,32% no Paraná (1.516 para 1.718).

Análise Os números impressionam, mas não surpreendem quem está acostumado a lidar com o problema da dependência química no dia a dia. O presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria, André Rotta Burkiewicz, lembra que a incidência da doença vem aumentando muito em todo o mundo. "É um problema, não uma novidade", aponta. O que precisa ser reavaliado, segundo ele, é o critério utilizado pelo INSS para conceder os auxílios-doença aos adictos.

"Um dos motivos desse problema é que existem também deferimentos inadequados de benefícios. A dependência química é uma doença, sem sombra de dúvida, necessita de tratamento. Nos casos mais graves, necessita de internamento e afastamento das atividades laborais. Mas não são em todos", questiona. "Infelizmente, o INSS tem um problema tanto de conceito em relação à dependência química por parte dos peritos quanto também existe um problema estrutural do próprio instituto", pontua o psiquiatra.

Burkiewicz defende mais critério na avaliação pericial e celeridade na periodicidade das análises, de forma a desonerar o sistema e beneficiar o próprio paciente que realmente precisa do auxílio-doença. "Da forma como está, o paciente internado para desintoxicação e tratamento de dependência química só vai conseguir uma perícia do INSS daqui a três meses", analisa."Esse prazo é muito longo para um dependente químico, pois ele necessita muitas vezes da rotina do trabalho para evitar que fique ocioso e volte a recair. Existe uma necessidade de ter um prazo mais curto para ver esses pacientes e uma periodicidade maior", sugere. Diplomados, haitianos sonham com emprego melhor Em Paranavaí, grupo de estrangeiros que trabalha na construção civil e em frigoríficos tenta vencer preconceito e barreira do idioma Bruna Quintanillha e Lucas Emanuel Andrade Equipe Bonde

Quem vê Fenelon Aldophe trabalhando na construção de casas em Paranavaí, noroeste do Estado, não imagina que o haitiano, há oito meses no Brasil, é professor, bacharel em Teologia, ex-policial formado pelas Forças Armadas do Haiti e fluente em quatro línguas.

Assim como milhares de outros compatriotas, Fenelon migrou para o Brasil em busca de uma vida melhor. Desde 2010, ano em que o Haiti foi atingido por um devastador terremoto, milhares de pessoas têm deixado o país. Como o Brasil "abriu as portas" para os haitianos em janeiro de 2012, com a resolução número 97, o país passou a ser destino certo para os caribenhos.

Dos aproximadamente 25 mil haitianos presentes no Brasil, há pelo menos 120 deles em Paranavaí. A maioria trabalhando em frigoríficos ou na construção civil.

Mesmo longe de sua área de conhecimento, Fenelon não reclama do trabalho. "O que os haitianos querem é trabalhar. No Haiti não tem trabalho e no Brasil tem. Queremos é continuar trabalhando".

Ainda assim, não esconde a vontade de voltar a lecionar. "Gosto de estudar. Quero fazer uma faculdade e poder dar aulas aqui no Brasil", comenta Fenelon, que trouxe todos seus diplomas na esperança de conseguir uma boa colocação profissional.

O haitiano possui ainda cursos de segurança, gestão de conflitos e de eletricista e instalação sanitária, esses dois últimos que já o ajudaram a conseguir uma promoção. De servente ele passou para meio-oficial de obra.

Situações como a de Fenelon são comuns entre os imigrantes do Haiti no Brasil. Muitos possuem formação universitária, mas encontram dificuldade de melhores colocações no mercado de trabalho devido ao preconceito e o idioma. No grupo que está em Paranavaí há ainda um professor de francês, um pedagogo e um contador e a maioria deles fala mais de uma língua.

Robinson Clervoyan, que também está no Brasil há oito meses, conta sobre a experiência de trabalhar no abate de frangos. Ele explica que um frigorífico da cidade foi buscá-los no Acre. "Foram cinco dias de viagem de ônibus até Paranavaí. Fiquei seis meses na empresa, mas saí. Eles pagam muito pouco".

É Fenelon quem dá mais detalhes sobre o trabalho. O estrangeiro conta que o primeiro grupo de haitianos ficou apenas três meses na empresa. "Ficamos esse período e depois eles deram um papel e pediram para que a gente assinasse". O documento era a rescisão de contrato após o período de experiência. Isso fez com que os trabalhadores saíssem sem receber qualquer benefício.

Ainda que duro, o trabalho braçal é visto como uma oportunidade única para os haitianos. Depois de um tempo trabalhando no frigorífico, eles resolveram mudar de área e agora contam com melhores salários e carteira assinada.

Os dois encontraram na construção de casas uma nova oportunidade. Na obra visitada pela reportagem, estavam ainda Renel Louisius, Simond Yueny e Wilguens Oxane. Esforçado, o grupo só recebe elogios do mestre de obras Paulo Gonçalves da Silva. "Eles são muito inteligentes e educados. Estão sempre agradecendo e são bastante prestativos".

Mototaxista em Saint-Marc, no Haiti, Robinson disse que só encarou a aventura até o Brasil por causa do trabalho. "Penso que, com o trabalho, vou conseguir mudar de vida no Brasil".

Aulas de português É o pastor Zedequias Cavalcante, da Igreja Assembleia de Deus da Vila Operária, quem dá suporte aos haitianos em Paranavaí. O pastor conheceu os haitianos assim que eles chegaram à cidade e desde então é tido como um pai para os imigrantes.

Zedequias comenta sobre o esforço que tem sido para garantir melhor condição de vida aos haitianos. Ao lado da esposa, Mai Kellen Cavalcante, o pastor iniciou aulas de português aos haitianos. São cerca de 70 alunos que se reúnem todas às terças-feiras em uma sala improvisada no salão da igreja. Vários deles já dominam bem a língua. Fenelon destaca a importância do aprendizado. "Aprendendo o português acho que vamos conseguir condições melhores".

Outra medida adotada pelo pastor é a elaboração de currículos. Zedequias reuniu as informações de todos os haitianos da comunidade. Ele trabalha agora para montar a ficha de cada um e as direcionar para as empresas.

No último dia 30 de janeiro, o pastor Zedequias, Fenelon e alguns outros haitianos se reuniram com Raphael Otávio Bueno Santos, titular da Procuradoria da República de Paranavaí, para discutir a situação dos imigrantes na cidade. Durante o encontro, os haitianos conheceram seus direitos trabalhistas e abordaram algumas dificuldades enfrentadas no dia a dia. MPF buscará qualificação com bolsas universitárias Equipe Bonde

O Ministério Público Federal em Paranavaí fez uma reunião em janeiro para discutir a presença dos haitianos na cidade. O procurador da República Raphael Otávio Bueno Santos conversou com os estrangeiros sobre os direitos e as responsabilidades

deles. O procurador se comprometeu a buscar solução para alguns problemas apontados pelos imigrantes.

Muitos disseram ter diplomas no país natal, por isso têm a intenção de continuar estudando no Brasil para conseguir posição melhor no mercado de trabalho. O MPF pretende levantar universidades dispostas a oferecer bolsas aos haitianos. O procurador explicou as dificuldades que os próprios brasileiros enfrentam. Por isso, orientou os estrangeiros a buscarem melhor condição de vida com o trabalho.

Para o procurador Raphael Bueno, a reunião foi importante "para que o MPF conheça os problemas enfrentados pelos haitianos, os quais possuem a condição de refugiados, devendo ser-lhes garantidos todos os direitos inerentes a esta condição".

A defensora pública federal Fernanda Hahn comentou, por e-mail, a situação de desamparo dos imigrantes. "Não observamos uma efetiva política pública específica para eles. O Brasil, embora seja um país de acolhida, carece de meios para propiciar a inclusão social e integração dos refugiados. Mesmo que haja a legislação de proteção, fato é que as instituições públicas e também privadas não estão preparadas e conscientizadas da importância de oferecer um acolhimento a essas pessoas".

Fernanda Hann comentou ainda os obstáculos para a inserção social. "O principal problema dos solicitantes de refúgio é a dificuldade de reconhecimento de tal condição para permanecerem no Brasil. Muitos deles não se enquadram nas condições legais. Saem de seu país de origem por conta de problemas ambientais e pela miséria", explicou.

"Estas hipóteses não são consideradas aptas ao reconhecimento do refúgio. Por tal motivo, foi dado visto humanitário a muitos haitianos, para que fosse regularizada a sua presença no Brasil. Cabe a nós acolhê-los e garantir a dignidade dos mesmos, em respeito aos direitos humanos. Além disso, tanto para os solicitantes como para os refugiados, os principais problemas que relatam são o acesso aos serviços públicos, como saúde, documentação, abrigos, alimentação adequada", afirmou.

A carência de moradias aos haitianos também foi relatada na reunião com o MPF. Fenelon Aldophe contou em entrevista a surpresa de ter chegado em Paranavaí sem contar com um endereço. "Pensei que no Brasil iríamos ter casas para morar". O pastor Zedequias Vieira Cavalcante destacou a dificuldade para encontrar imóveis para os trabalhadores. "Não conseguimos alugar devido à burocracia. Por isso reuni o pessoal da igreja e viabilizamos casas para eles. Quem tinha imóvel ofereceu para aluguel sem a necessidade de ter fiador".

A defensora pública abre uma esperança aos haitianos. "Recentemente, ajuizamos Ação Civil Pública (ação coletiva) para buscar que refugiados tenham acesso ao Programa Minha Casa Minha Vida, independentemente de um tempo mínimo de permanência no Brasil", revelou . Trazer a família, projeto que conforta Pastor planeja campanha de arrecadação de fundos para custear viagem de mulheres e filhos para o Brasil Bruna Quintanilha e Lucas Emanuel Andrade Equipe Bonde

Os haitianos buscam na fé e na família a força para lutar por uma nova vida no Brasil. Robinson Clervoyan destaca como principal objetivo trazer a esposa para morar com ele em Paranavaí. Pai de quatro filhos, ele traça como meta reunir toda a família na cidade paranaense. "É muito importante para mim. Sou cristão e o cristão não pode cometer pecado, o cristão precisa ficar com sua mulher".

Visto como um "líder" dos haitianos em Paranavaí, Fenelon é enfático quando lembra da família. Com os olhos cheios de lágrimas, conta que se no prazo previsto não

conseguir o visto de permanência, volta ao Haiti para buscar a esposa e os filhos. "Prefiro sofrer aqui para que minha família não sofra no Haiti".

É no contato com a família que eles relatam os principais problemas. A comunicação é o principal empecilho. Tanto Robinson quando Fenelon reclamam que é inviável conversar com as esposas por celular. "Você coloca crédito e não consegue conversar mais do que dois minutos", diz o primeiro.

O meio-oficial de obra revela também o problema para enviar dinheiro. Além de arcar com as despesas em Paranavaí, a cada remessa de dinheiro, pagam uma taxa de R$ 50 pelo serviço, independente do valor enviado. E ainda precisam fazer isso em Maringá. Outro fator agravante, é que a moeda corrente no país caribenho é o dólar. Assim, o dinheiro que eles ganham no Brasil acaba ficando ainda mais desvalorizado.

Nem mesmo a viagem, nem mesmo o trabalho pesado, nem mesmo a dificuldade para manter contato com a família desanima os haitianos. Robinson já decidiu que vai permanecer no Noroeste. "Fui muito bem recebido, as pessoas são simpáticas e me tratam bem. Nunca passei por qualquer tipo de preconceito. Quero trazer minha família para morar aqui".

A esperança, depositam nas mãos do pastor Zedequias Cavalcante. Foi ele quem abriu as portas de sua igreja para que os haitianos se reunissem. Todos os domingos os imigrantes se encontram na Assembleia de Deus para participarem de um culto feito à maneira haitiana. "Eles fazem a celebração da maneira deles, tudo em crioulo haitiano e com músicas de lá. É muito bonito de ver a fé que eles têm", comenta Zedequias. Para que ninguém fique fora, o pastor conseguiu ainda um ônibus para transportar os haitianos de casa até a igreja.

A grande missão do pastor, no entanto, é trazer a família dos haitianos. Ele falou à reportagem que busca com empresários financiamento para que os estrangeiros consigam pagar o visto dos familiares no Haiti e evitar a longa jornada até o Acre. Rota ilegal envolve outros quatro países Equipe Bonde

Uma resolução do Conselho Nacional de Imigração do Ministério do Trabalho e

Emprego, em 2013, determinou a emissão ilimitada de vistos até janeiro de 2014 pela embaixada brasileira no Haiti. Apesar disso, a maioria dos imigrantes encara uma rota alternativa para chegar ao território nacional devido a falta de recursos, a burocracia e a demora para a emissão do visto. O trajeto que começa em Porto Príncipe, no Haiti, passa por outros quatro países antes de chegar ao Brasil.

Fenelon Aldophe afirma que a viagem até o Acre foi o momento mais difícil até então. "De Porto Príncipe fui para Santo Domingo, na República Dominicana. Depois passei pelo Panamá, Equador e Peru". A falta de recursos dos imigrantes é um dos fatores que fazem com que a viagem se torne ainda mais longa e exaustiva. "As vezes chegamos em um lugar e acaba o dinheiro. Então temos que trabalhar para conseguir juntar e continuar a viagem".

A estadia no Peru é relembrada com tristeza por Fenelon. "Nos tiram tudo. Se tem dinheiro, pegam o dinheiro, se tem relógio pegam o relógio".

Ao chegar no Acre os haitianos são levados até um abrigo com capacidade para 400 pessoas, mas que sempre está superlotado. "No Acre é muito difícil. Há muitos problemas para comer, para dormir, para ir ao banheiro", conta Fenelon.

Longe da esposa e dos quatro filhos, Fenelon tem esperança de trazer a família ao Brasil, mas avisa que não vai permitir que os familiares façam o mesmo trajeto que ele fez. "Prefiro voltar do que ver minha família passar pelo que passei".

'Caps estão mal estruturados', diz especialista Para Associação Paranaense de Psiquiatria, apoio oficial a dependentes funciona como uma porta giratória, sem avanço efetivo em cada passagem Diego Prazeres Reportagem Local

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são instituições públicas que vieram substituir os hospitais psiquiátricos e seus métodos de atendimento na saúde mental, conforme determinação da Lei Antimanicomial 10.216, de 2001.

Os Caps AD (Álcool e Drogas) prestam atendimento específico a dependentes químicos. O objetivo, fornecer atenção integral e continuada às pessoas com necessidades em decorrência do uso de álcool, crack e outras drogas, além de auxiliá-las no processo de reinserção à sociedade.

Só que na prática o atendimento está longe de ser o ideal, avalia a Associação Paranaense de Psiquiatria. "Os Caps estão extremamente mal estruturados", afirma o presidente da entidade, André Rotta Burkiewicz.

Ele critica a falta de acompanhamento adequado aos pacientes que adquirem o auxílio-doença ou àqueles que necessitam de um tratamento mais complexo por parte dos centros.

"O paciente acaba entrando no Caps, consegue o benefício e permanece lá. Quando recebe alta, sai novamente, muitas vezes volta a usar drogas e retorna para o Caps. Isso é uma norma que a gente chama de porta giratória: o paciente fica entrando e saindo do Caps, mas tratamento efetivo não tem, porque já tem o benefício", critica. "A estrutura está muito baseada no assistencialismo", encerra Burkiewicz, para quem essas unidades deveriam ser mais eficientes nas ações voltadas à reinserção dos pacientes à sociedade.

Em Londrina, o Caps/AD atende em média 350 pacientes por mês. A coordenadora da unidade, assistente social Marica Avelar, reconhece que o espaço físico poderia ser maior, mas defende o tratamento multidisciplinar realizado com os dependentes químicos. "É preciso lembrar que o Caps é um bebê, sua concepção é recente e é claro que estamos em processo de construção. Mas temos feito um tratamento adequado com os pacientes, inclusive envolvendo as famílias, dando condições a eles de continuarem o tratamento em meio aberto, ou seja, promovendo a inserção deles no convívio social. Temos conseguido diminuir bastante o número de internações", afirma. Segundo Avelar, o Caps/AD passará a funcionar 24 horas quando a nova instalação, que está sendo construída num terreno ao lado da unidade atual, nas proximidades da barragem do Lago igapó, for inaugurada. Gastos com benefícios passam de R$ 14,8 bilhões

No levantamento fornecido pelo Ministério da Previdência sobre os valores dos auxílios-doença pagos pelo INSS, não estão discriminados os gastos com segurados dependentes químicos.

São informados apenas os custos com o número total de benefícios concedidos no País. E aí fica clara a influência da Região Sul na disparada dos gastos previdenciários. Os índices nos três Estados superam o nacional.

No Brasil, a alta nos valores pagos pelos benefícios foi de 22,5% de 2007 para 2012 (passou de R$ 12,1 bilhões para R$ 14,8 bilhões). Só no Rio Grande do Sul, o aumento chegou a 62%, o maior do País, contra 58% de Santa Catarina e 46% do Paraná (que passou de R$ 645,8 milhões para R$ 945,4 milhões).

Líder no número de auxílios-doença pagos a dependentes químicos pelo INSS em 2013, São Paulo viu um recrudescimento nos gastos com benefícios nesses últimos seis anos: caiu de R$ 4,5 bilhões para R$ 4,1 bilhões.(D.P.) Em comunidades terapêuticas, benefícios são mais raros

Se por um lado psiquiatras creditam à falta de rigor da Previdência Social o aumento do número de auxílios-doença concedidos a dependentes químicos nos últimos anos, por outro comunidades terapêuticas reclamam da dificuldade em conseguir os benefícios para seus internos.

No Instituto Pró-Love, entidade assistencial mantida pela Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, o entregador Júlio César Lopes é o único dos 28 internos que teve o pedido aprovado pelo INSS. "Nós damos entrada no pedido e levamos o paciente até a agência da Previdência para fazer a perícia. E geralmente o pedido é negado. Muitos não têm documentos suficientes, outros não possuem o tempo de contribuição necessário (12 anos) para receber o auxílio", afirma o coordenador da comunidade, Rogério Nascimento França, ele mesmo um ex-dependente químico.

Para o psiquiatra André Rotta Burkiewicz, presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria, a questão é que em muitas comunidades terapêuticas os pacientes não recebem tratamento multidisciplinar, com acompanhamento clínico adequado, razão para que o auxílio-doença não seja concedido.

"Somos até favoráveis às comunidades terapêuticas, mas sem o tratamento médico a pessoa pode ficar nove meses a um ano internada que não vai se livrar das drogas. Nesse caso, não tem por que afastar um paciente de sua ocupação profissional, porque ele não está se tratando, ele está simplesmente isolado do convívio social", afirma.(D.P.) Diário dos Campos Polícias do PR distribuem material contra a violência infantil

As polícias Civil e Militar do Paraná integram a campanha de não violência contra crianças e adolescentes, durante este feriado de Carnaval. Nos principais pontos do Litoral e em algumas cidades do Estado serão distribuídos panfletos de orientação sobre a questão. A ação é uma parceria com a Secretaria da Família e Desenvolvimento Social. Um dos materiais traz as “Sete maneiras de acabarmos com a violência infantil no Paraná”. Outro cita as principais formas de violação dos direitos humanos dessa faixa etária: discriminação, trabalho infantil, negligência, abandono, tortura, tráfico de pessoas, violência física, violência institucional, violência psicológica e violência sexual. Ambos os materiais incentivam a população a denunciar casos de abuso contra crianças, pelos telefones 181 ou 100.

O governador Beto Richa formalizou a adesão do Paraná à Agenda de Convergência, um protocolo de ações proposto pela Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente com o objetivo integrar as ações nos estados e municípios para o combate às violações de direitos de crianças e adolescentes no período da Copa do Mundo e outros grandes eventos.

A policial civil e representante da Secretaria da Segurança Pública no Comitê, Patrícia Andréa de Oliveira Santos, ressalta a importância de ações como esta. “É um trabalho constante de conscientização e de prevenção à violência contra crianças. Dessa forma, a população também pode conhecer os canais de comunicação mais fáceis para denunciar esse tipo de crime, que não pode ficar impune”, afirma ela.

Adolescentes terão que seguir novas regras nas casas noturnas de Irati Melissa Eichelbaun

A Polícia Militar e donos de casas noturnas em Irati decidiram novas regras para a entrada de adolescente nos locais. De acordo com informações da polícia, as medidas tomadas visam melhorar a segurança dos jovens e evitar que eles consumam bebida alcoólica. As novas medidas decretam que a partir de 16 anos os adolescentes poderão frequentar as casas noturnas, acompanhados dos pais ou responsáveis. Se o jovem estiver com um responsável ele terá que apresentar uma autorização dada pelos pais e registrada em cartório.

Além disso, eles terão que usar uma pulseira vermelha que os identifique e alerte os vendedores para não venderem bebidas alcoólicas. Segundo informações dos policiais, os donos se comprometeram em cumprir as mudanças e também irão criar um cadastro para registrar a entrada e frequencia dos adolescentes nos locais.

Bombeiros O prefeito de Irati, Odilon Burgath, solicitou um novo caminhão de Bombeiros para a cidade. Em reunião com o comandante do Corpo de Bombeiros do Paraná, coronel Juceli Simiano Junior, ele pediu que um novo veículo seja entregue para melhorar a frota de Irati e atender mais moradores. O comandante que irá viabilizar o caminhão, mas não tem um prazo para a entrega do mesmo. STJ obriga fornecimento de fraldas descartáveis a doentes Da Redação

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que o governo de Santa Catarina forneça fraldas descartáveis para as famílias com parentes portadores de deficiência e que não têm condições de comprá-las. A decisão foi garantida em um recurso do Ministério Público (MP) para que o benefício, dado a uma família de Santa Catarina, tenha validade para todos os casos semelhantes.

Os ministros julgaram um processo de uma família que não tem condições de pagar R$ 400 por mês em fraldas para um jovem de 21 anos, que tem uma doença crônica e necessita das fraldas. O juiz de primeiro grau aceitou pedido da família para que o governo garantisse o fornecimento, mas a decisão foi revertida pelo Tribunal de Justiça. Na decisão, os desembargadores concluíram que o Judiciário não pode impor aos municípios o custo do fornecimento das fraldas. No entanto, o STJ mudou a decisão e determinou o fornecimento das fraldas a todos que precisam. (Agência Brasil) Folha de S. Paulo Procuradoria do RJ abre brecha para pagar supersalários Mudança de nomenclatura da verba de gabinete permite agora vencimentos acima do teto, de R$ 29,4 mil mensais São contemplados na alteração procuradores e promotores que têm cargos comissionados no Ministério Público Italo Nogueira Do Rio

Uma medida adotada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro abriu uma brecha

para que procuradores e promotores que ocupam cargos comissionados na instituição possam receber vencimentos acima do teto constitucional, de R$ 29,4 mil.

A decisão foi divulgada em janeiro pelo procurador-geral de Justiça do Estado, Marfan Martins Vieira, aos membros da Promotoria.

Por meio de um processo administrativo, ele mudou o caráter da verba de gabinete recebida por aqueles que têm cargo comissionado.

Antes considerados parte da verba remuneratória, esses montantes passaram a ter caráter indenizatório.

De acordo como resolução do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), verbas de caráter indenizatório ficam excluídas do teto constitucional.

A alteração permitiu a procuradores e promotores que ocupam cargos comissionados receber vencimentos acima do que ganham ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), o que é vedado pela Constituição.

Até o início do ano, os contracheques acima de R$ 29,4 mil contavam com o desconto chamado de "abate teto", o que não ocorrerá mais nos casos em que a verba de gabinete for responsável por ultrapassar o limite.

Outras Vantagens Além de não estar mais sujeita ao limite remuneratório, a verba também não terá cobrança de imposto de renda.

A medida foi anunciada logo após de o Ministério Público fluminense reduzir as exigências para o auxílio-moradia e quadruplicar seu valor, como revelou a Folha.

Mais de 90% dos membros da Promotoria pediram o benefício, enquanto sob as regras antigas cerca de 25% recebiam.

A verba de gabinete a que os membros da Promotoria têm direito ao serem indicados aos cargos varia de R$ 1.000 a R$ 6.000.

Recebem o pagamento assessores, assistentes, coordenadores, subcoordenadores, consultor e secretários.

O salário base dos membros do Ministério Público varia de R$ 24 mil a R$ 26,6 mil.

A instituição não respondeu aos questionamentos enviados pela reportagem. O mesmo ocorreu quando a Folha revelou mudanças no auxílio-moradia. Revisão criminal é pouco provável, dizem especialistas Advogados estudam a possibilidade de recorrer a último recurso para tentar reverter as condenações do mensalão no Supremo De São Paulo

Para especialistas ouvidos pela Folha, a revisão criminal do julgamento do

mensalão pelo STF (Supremo Tribunal Federal) é pouco provável de ser aceita no tribunal.

A possibilidade já está sendo estudada pelos advogados dos condenados, embora nada deva ser feito já nos próximos meses.

O pedido de revisão é um direito de todo condenado, que pode pedi-la a qualquer momento após a conclusão do julgamento.

Sua aceitação, porém depende de uma série de critérios: a apresentação de novas provas, a descoberta da existência de documentos falsos no processo que resultou na condenação ou quando houver evidência clara de que lei ou trecho do processo foi contrariado na sentença.

A última hipótese, que os advogados poderiam alegar, é a de mais difícil revisão, segundo o doutor em processo penal Pedro Ivo Gricoli Iokoi. "Possível é, mas é pouco provável", afirma.

A docente de direito penal da USP Janaína Paschoal afirma não ver possibilidade jurídica para essa revisão. "Tem que ser um caso de erro flagrante. Como alguém ser condenado por um homicídio e depois se descobrir que a vítima está viva", exemplifica.

Além disso, Paschoal diz que a revisão seria ruim para a imagem do STF. "Passa uma sensação de falta de confiança nas instituições", afirma.

Penas Ainda que a revisão criminal fosse aceita pela corte, os condenados no mensalão continuariam cumprindo suas penas até a determinação de uma nova sentença.

Na quinta, o STF livrou oito réus do mensalão da condenação por formação de quadrilha. O presidente da corte, Joaquim Barbosa, chamou de "pífios" os votos dos colegas que derrubaram o crime.

Por isso, segundo disseram advogados reservadamente à Folha, eventuais pedidos de revisão das sentenças do mensalão só devem ser feitos depois que Barbosa se aposentar e deixar o tribunal.

O julgamento do mensalão foi marcado por uma série de enfrentamentos entre ministros do Supremo. Por isso, os advogados também dizem que é preciso esperar as tensões serem reduzidas no tribunal antes de qualquer medida.