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MEMORIAL Esta argumentação sobre a constitucionalidade do artigo 28 da lei 11.343, que trata do crime de uso e tráfico de drogas, está dividida em duas partes. A primeira trata de considerações gerais, tratando do contexto atual, dos aspectos científicos e históricos desta questão. A segunda trata de considerações jurídicas sobre o tema. Considerações Gerais As drogas lícitas e ilícitas representam, hoje, o maior problema de saúde pública e de segurança no Brasil. Elas são a maior causa de doenças, de invalidez física e mental e de mortes entre a juventude brasileira. Elas são responsáveis pela maior parte das mortes violentas em toda a população, seja por homicídios, acidentes de trânsito e suicídios. Sem falar na sua responsabilidade pelo recrudescimento de doenças contagiosas e potencialmente fatais, como a AIDS (UNIADUNIFESP) (1). A violência mais frequente e desagregadora, a violência doméstica, que atinge milhões de famílias brasileiras, tem nas drogas, lícitas ou ilícitas, seu principal combustível. Falando em números absolutos, somos recordistas mundiais em mortes violentas! Países com a população muito maior que a nossa como a China, Estados Unidos, Índia e Indonésia tem várias vezes menos mortes por violência do que nós (2). Estamos vivendo uma epidemia, sem precedentes, de violência extrema, cuja origem está na gigantesca epidemia de drogas, também sem precedentes na nossa história. É bom não esquecer que o Brasil tem circunstâncias especialíssimas que favorecem o agravamento desse problema. É o único país do mundo que tem fronteiras, ao mesmo tempo,com todos os países produtores de cocaína existentes e com grandes produtores de maconha. Na ausência de uma política nacional de segurança pública, digna do nome, e em particular, sem qualquer proteção minimamente eficiente para nossas imensas fronteiras, a circulação de drogas ilícitas no Brasil foi multiplicada várias vezes, em especial nos últimos 10 anos, criando essa verdadeira e grave epidemia de consumo. Até 2006, a droga que mais concedia auxílio doença por dependência química, no INSS, (segundo dados do próprio Instituto) ainda era o álcool, principalmente por ser legal e de fácil acesso. Em 2012, a cocaína e o crack já eram responsáveis por três vezes o número de auxílios doença do álcool. E isso sem diminuir o patamar deste (3). As drogas, ao longo da história humana, foram de consumo livre até os governantes começarem a tomar consciência da tragédia social que causam. Até entenderem que o consumo maior daquelas substâncias, pela população, levava ao aumento dos transtornos mentais, da violência e dos problemas sociais. Hoje, as drogas consideradas ilícitas aqui, são proibidas em praticamente todos os países do mundo. A China as proibiu ainda em 1799 (4), e sofreu duas invasões da Inglaterra que pretendia impor sua liberação à força, no século 19. Foram as chamadas Guerras do Ópio, onde a China foi derrotada e a Inglaterra impôs a legalização das drogas. Isso mesmo! A primeira guerra envolvendo drogas foi para legalizar à força seu consumo. A China só conseguiu proibilas novamente, de fato, em 1949 com o advento do regime socialista. Os comerciantes ingleses que

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                                                                                                         MEMORIAL      Esta  argumentação  sobre  a  constitucionalidade  do  artigo  28  da  lei  11.343,  que  trata  do  crime  de  uso  e  tráfico  de  drogas,  está  dividida  em  duas  partes.  A  primeira  trata  de  considerações  gerais,  tratando  do  contexto  atual,  dos  aspectos  científicos  e  históricos  desta  questão.  A  segunda  trata  de  considerações  jurídicas  sobre  o  tema.                  Considerações  Gerais                    As  drogas  lícitas  e  ilícitas  representam,  hoje,  o  maior  problema  de  saúde  pública  e  de  segurança  no  Brasil.  Elas  são  a  maior  causa  de  doenças,  de  invalidez  física  e  mental  e  de  mortes  entre  a  juventude  brasileira.  Elas  são  responsáveis  pela  maior  parte  das  mortes  violentas  em  toda  a  população,  seja  por  homicídios,  acidentes  de  trânsito  e  suicídios.  Sem  falar  na  sua  responsabilidade  pelo  recrudescimento  de  doenças  contagiosas  e  potencialmente  fatais,  como  a  AIDS  (UNIAD-­‐UNIFESP)  -­‐  (1).  A  violência  mais  frequente  e  desagregadora,  a  violência  doméstica,  que  atinge  milhões  de  famílias  brasileiras,  tem  nas  drogas,  lícitas  ou  ilícitas,  seu  principal  combustível.  Falando  em  números  absolutos,  somos  recordistas  mundiais  em  mortes  violentas!  Países  com  a  população  muito  maior  que  a  nossa  como  a  China,  Estados  Unidos,  Índia  e  Indonésia  tem  várias  vezes  menos  mortes  por  violência  do  que  nós  -­‐  (2).  Estamos  vivendo  uma  epidemia,  sem  precedentes,  de  violência  extrema,  cuja  origem  está  na  gigantesca  epidemia  de  drogas,  também  sem  precedentes  na  nossa  história.  É  bom  não  esquecer  que  o  Brasil  tem  circunstâncias  especialíssimas  que  favorecem  o  agravamento  desse  problema.    É  o  único  país  do  mundo  que  tem  fronteiras,  ao  mesmo  tempo,com  todos  os  países  produtores  de  cocaína  existentes  e  com  grandes  produtores  de  maconha.  Na  ausência  de  uma  política  nacional  de  segurança  pública,  digna  do  nome,  e  em  particular,  sem  qualquer  proteção  minimamente  eficiente  para  nossas  imensas  fronteiras,  a  circulação  de  drogas  ilícitas  no  Brasil  foi  multiplicada  várias  vezes,  em  especial  nos  últimos  10  anos,  criando  essa  verdadeira  e  grave  epidemia  de  consumo.  Até  2006,  a  droga  que  mais  concedia  auxílio  doença  por  dependência  química,  no  INSS,  (segundo  dados  do  próprio  Instituto)  ainda  era  o  álcool,  principalmente  por  ser  legal  e  de  fácil  acesso.  Em  2012,  a  cocaína  e  o  crack  já  eram  responsáveis  por  três  vezes  o  número  de  auxílios  doença  do  álcool.  E  isso  sem  diminuir  o  patamar  deste  -­‐  (3).    As  drogas,  ao  longo  da  história  humana,  foram  de  consumo  livre  até  os  governantes  começarem  a  tomar  consciência  da  tragédia  social  que  causam.  Até  entenderem  que  o  consumo  maior  daquelas  substâncias,  pela  população,  levava  ao  aumento  dos  transtornos  mentais,  da  violência  e  dos  problemas  sociais.  Hoje,  as  drogas  consideradas  ilícitas  aqui,  são  proibidas  em  praticamente  todos  os  países  do  mundo.  A  China  as  proibiu  ainda  em  1799  -­‐  (4),  e  sofreu  duas  invasões  da  Inglaterra  que  pretendia  impor  sua  liberação  à  força,  no  século  19.  Foram  as  chamadas  Guerras  do  Ópio,  onde  a  China  foi  derrotada  e  a  Inglaterra  impôs  a  legalização  das  drogas.  Isso  mesmo!  A  primeira  guerra  envolvendo  drogas  foi  para  legalizar  à  força  seu  consumo.  A  China  só  conseguiu  proibi-­‐las  novamente,  de  fato,  em  1949  com  o  advento  do  regime  socialista.  Os  comerciantes  ingleses  que  

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vendiam  o  ópio  "legal"  para  a  China  impuseram  essas  guerras  e  se  tornaram  os  homens  mais  ricos  daquele  século!  Registre-­‐se  que  na  Inglaterra  o  ópio  era  proibido.      Junto  com  a  China,  a  Suécia,  a  Indonésia  e  o  Japão  tiveram  as  drogas  livres  até  meados  do  Século  20.  Diante  de  problemas  sociais,  de  segurança  e  de  saúde  gravíssimos,  precisaram  a  proibi-­‐las,  e  hoje  tem  leis  severíssimas  contra  o  consumo  e  tráfico  de  drogas.  Coincidentemente  estão  entre  os  países  do  mundo,  agora,  com  menores  índices  de  dependência  química  e  mortes  violentas.  Decantada  como  experiência  de  descriminalização  do  uso  que  deu  certo,  a  partir  de  2001,  Portugal  agravou  seus  problemas  de  saúde  e  violência  com  a  liberação  do  consumo.  Com  a  mesma  população  de  Portugal,  a  Suécia,  que  foi  na  direção  oposta,  aumentando  o  rigor  contra  as  drogas,  tem  várias  vezes  menos  homicídios  (UNDOC,  2012),  e  dependentes  químicos  (5).    O  movimento  para  liberação  das  drogas  no  Brasil,  travestido  de  uma  aura  de  "modernidade",  de  “  tentar  alguma  nova    opção”  já  que  “reprimir  não  deu  certo”,  tem  tentado  de  diversas  formas  atingir  seu  intento  cooptando  lideranças  políticas,  setores  do  Governo,  e  parte  da  grande  imprensa  nacional.  Na  sua  campanha,  conta  com  polpudos  recursos  internacionais,  de  investidores  -­‐  (6)  que  desejam  criar  um  grande  e  poderoso  mercado  legal  dessas  substâncias.  Não  estão  preocupados  com  a  saúde  dos  nossos  jovens,  e  sim  com  a  possibilidade  de  abrir  uma  nova  fonte  de  lucros  extraordinários.  Mas  a  população,  que  sofre  no  dia  a  dia  o  desespero  e  a  violência,  se  manifesta,  em  todas  as  pesquisas,  radicalmente  contra  a  liberação  -­‐  (7).    Agora  ocorre  um  novo  capítulo,  uma  nova  tentativa  do  esforço  pró-­‐liberação,  levando  ao  julgamento  do  Supremo  Tribunal  Federal  uma  ação  judicial,  oriunda  de  Diadema/SP.  Na  sua  argumentação  é  alegada  a  inconstitucionalidade  do  artigo  28  da  lei  11343  que  disciplina  a  política  sobre  drogas  no  Brasil.  É  o  artigo  que  criminaliza  o  uso  e  o  tráfico  das  drogas  ilícitas.  É  bom  que  se  diga  e  repita  que  este  artigo  não  determina  a  prisão  do  usuário.  Não  pune  o  simples  consumo  com  prisão,  mas  sim  com  penas  alternativas.  Só  vai  preso  quem  trafica.  No  Rio  Grande  do  Sul,  segundo  dados  do  DENARC  (Departamento  de  Narcóticos),  ao  redor  de  60%  das  pessoas,  abordadas  pela  polícia  portando  drogas,  são  consideradas  usuárias  e  não  são  presas  -­‐  (8).    A  criminalização  do  uso  de  drogas  no  Brasil,  mesmo  sem  a  pena  de  prisão,  é  um  fator  de  freio  e  constrange  sua  disseminação  indiscriminada.  Os  que  propõem  a  liberação  querem  a  descriminalização  do  uso  como  primeira  etapa  (FSP-­‐  Editorial  de  29/06/2011).  Alegam  que  isso  protege  a  liberdade  individual,  garantida  na  Constituição  Federal.  Além  disso,  fazem  as  afirmações  de  sempre,  como  as  que  tal  medida  não  aumentaria  o  consumo  e  reduziria  o  número  de  prisões  e  de  mortes  violentas.  Argumentam  ainda  que,  como  próximo  passo,  deve  ser  estabelecida  uma  quantidade  mínima  de  droga  portada,  para  separar  o  usuário  do  traficante,  pois  a  polícia  seria  incapaz  de  avaliar  essas  circunstâncias  e  estaria  prendendo  muitos  usuários  como  pequenos  traficantes.  Trata-­‐se,  obviamente  de  uma  série  de  contradições:  primeiro  como  permitir  o  uso,  e  não  legalizar  a  venda?  O  uso  de  drogas  não  sendo  punido,  levaria,  obviamente,  ao  aumento  do  número  de  usuários,  fruto  até  de  curiosidade,  como  ocorre  com  as  drogas  lícitas,  

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proporcionando  uma  nova  e  poderosa  onda  de  consumo.  E  quem  abasteceria  esse  mercado  crescente?  Os  traficantes  ilegais,  que  também  aumentariam  mais  ainda  em  numero  e  em  poder.  É  uma  regra  simples  de  mercado.  Além  disso,  eles,  os  traficantes,  teriam  muito  mais  interesse  e  facilidade  de  se  camuflar  em  meio  aos  usuários  pela  simples  ausência  de  penas  para  estes  por  não  ser  crime  o  uso.  A  descriminalização  do  uso  significaria,  na  prática,  a  livre  circulação  das  drogas  no  Brasil.  Os  usuários  poderiam  andar  com  drogas  ilícitas  nas  escolas,  locais  públicos,  e  eventos,  por  exemplo,  sem  qualquer  receio  de  punição.  Isso,  por  si  só,  aumentaria  muitíssimo  a  circulação  e  o  compartilhamento  delas  com  um  número  muito  maior  de  pessoas.  Pessoas  que  não  teriam  esse  contato  com  as  drogas  facilitado,  se  o  uso  fosse  crime!  Os  traficantes,  por  consequência,  também  teriam  aumentadas  suas  vendas,  em  escala  gigantesca.  Em  segundo  lugar,  o  estabelecimento  de  uma  quantidade  determinada  de  drogas  ilícitas  portadas,  para  separar  o  simples  uso  do  tráfico,  teria  consequências  funestas.  De  um  lado,  porque,  coloca  em  dúvida  a  capacidade  da  autoridade  policial  de  avaliar  as  circunstâncias  em  que  acontecem  consumo  e  tráfico.  E  as  circunstâncias  são  decisivas  nesse  caso.  Uma  pessoa  pode  estar  portando  uma  única  pedra  de  crack  no  bolso  e  ter  o  outro  bolso  cheio  de  notas  de  10  reais,  além  de  antecedentes  de  tráfico.  É  muito  mais  provável  que  seja  um  traficante  que  acabou  de  vender  inúmeras  pedras  do  que  um  usuário.  Por  outro  lado,  uma  pessoa  surpreendida  com  200  pedras  de  crack  pode  ser  um  usuário,  se  não  tem  antecedentes  de  tráfico,  se  não  foi  visto  vendendo  parte  dessas  pedras,  nem  estava  em  local  ou  em  atitude  que  sugerisse  intenção  de  vender.  O  efeito  do  crack  dura  de  15  a  20  minutos,  portanto  é  possível,  no  auge  da  compulsão,  um  simples  usuário  fumar  de  40  a  50  pedras  por  dia!    Só  quem  está  no  front,  enfrentando  o  tráfico  no  seu  dia  a  dia,  tem  condições  de  avaliar  adequadamente  tais  circunstâncias.  Ao  colocar  em  dúvida  a  ação  policial  e  o  posterior  julgamento  judicial  dessas  circunstâncias  de  uso  ou  tráfico,  poderíamos  estar  abrindo  precedente  para  colocar  em  cheque  todas  as  demais  ações  de  flagrante  policial  e  decisões  judiciais,  nas  mais  diversas  áreas.  Além  de  facilitarmos  para  que  traficantes  circulassem  e  vendessem,  com  menos  riscos,  suas  drogas  ilícitas.  Nenhum  deles  portaria  mais  do  que  a  quantidade  estabelecida  pela  lei.  A  polícia  não  se  sentiria  mais  autorizada  ou  estimulada  a  investigar,  e  as  drogas,  também  por  isso,  teriam  a  circulação  aumentada.      Para  quem  acha  que  todos  os  seres  humanos  têm  a  mesma  capacidade  de  arbítrio  e  de  controle  de  impulsos,  é  bom  esclarecer  que,  no  Brasil  e  no  mundo,  ao  redor  de  25%  da  população  sofre  de  transtornos  mentais,  em  variados  graus  de  severidade,  que  alteram  e  diminuem  a  capacidade  de  controlar  a  impulsividade.  A  Esquizofrenia,  o  TDAH,  Transtorno  Bipolar,  Transtorno  Borderline,  Depressão  e  Transtorno  de  Conduta,  entre  outros,  tornam  o  indivíduo  mais  impulsivo,  e  assim  mais  frágil  e  vulnerável  ao  consumo  de  drogas,  e  à  dependência  química.  Portanto,  aumentando  a  oferta,  uma  maior  parcela  de  pessoas  mais  vulneráveis  à  compulsão  também  terá  acesso  a  elas,  irá  usar  e  ficar  dependente  com  mais  rapidez  e  facilidade  -­‐  (9).      A  dependência  química  depois  de  instalada  torna-­‐se  doença  crônica  irreversível.  O  cérebro  do  dependente  se  modifica  fisicamente  e  de  forma  permanente.  Ele  forma  novas  

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conexões  entre  os  neurônios,  sob  o  estímulo  repetido  da  droga.  Elas  organizam  os  novos  circuitos  de  memória  de  longo  prazo,  nos  dependentes,  relacionados  à  sensação  que  a  substância  causa  inicialmente.  Qualquer  objeto  ou  cena  que  evoque  aquela  sensação  pode  desencadear  a  compulsão,  mesmo  depois  de  anos  em  abstinência.    A  dependência  é  devastadora  tanto  para  o  usuário,  quanto  para  sua  família  e  para  a  sociedade  como  um  todo.  O  melhor  resultado  do  tratamento  é  manter  o  dependente  em  abstinência,  pelo  maior  tempo  possível.  Mas  as  recaídas  são  a  regra  para  a  maioria  dos  que  ficam  viciados.      A  descriminalização  do  uso  pelo  Supremo,  até  pelo  seu  sentido  simbólico,  passaria,ainda,  uma  mensagem  subliminar  de  que  não  tem  problema  no  uso  de  drogas  em  geral,  propiciando  que  enormes  contingentes  de  jovens  inexperientes  se  sintam  estimulados  a  experimentá-­‐las  sem  qualquer  constrangimento.  Essa  percepção  de  inofensividade  e  de  legalidade  no  uso  contribuiriam,  fortemente,  para  aumentar  o  número  de  dependentes,  sobrecarregando  mais  nosso  combalido  sistema  de  saúde  e  de  assistência  social,  sem  falar  no  aumento  da  violência  doméstica,  da  violência  no  trânsito,  dos  homicídios  por  motivos  fúteis,  dos  furtos,  assaltos,  latrocínios,  suicídios  etc...A  percepção  do  risco  é  fator  fundamental  na  prevenção  do  uso  de  drogas.  Pesquisa  longitudinal  da  Universidade  de  Michigan,  feita  durante  35  anos,  com  alunos  do  ensino  médio  nos  EUA,  mostra  que  quanto  menor  a  percepção  de  risco  na  sociedade,  maior  é  o  consumo  de  maconha  entre  os  estudantes  -­‐  (10).  Não  é  por  outro  motivo  que  se  estima,  hoje,  ao  redor  de  25  a  30  milhões  de  dependentes  químicos  de  álcool  e  tabaco  no  Brasil,  pelo  simples  fato  de  não  haver  crime  no  seu  uso.  Estima-­‐se  que  as  drogas  ilícitas  somadas  tenham  sete  milhões  de  dependentes  no  nosso  país  -­‐  (11).  Descriminalizadas  poderão,  rapidamente,  ultrapassar  os  30  milhões  de  dependentes!  Aumentariam  em  grande  monta  suas  consequências  danosas  à  saúde  de  quem  as  usa  e  para  as  potenciais  vítimas  de  comportamento  alterado  que  terão.  Em  pesquisa  realizada  pelo  Hospital  de  Clínicas  de  Porto  Alegre,  em  2009,  junto  aos  maiores  prontos-­‐socorros  da  Região  Metropolitana,  comprovou-­‐se  que  a  droga  com  maior  influência  em  acidentes  fatais  não  é  o  álcool,  é  a  maconha.  O  álcool  fica  em  segundo  lugar!  (SENAD,  2012)  -­‐  (12).  Imagine-­‐se  a  maconha  liberada!  A  China,  do  ópio  liberado,  chegou  a  ter  1/3  da  população  dependente,  mais  de  140  milhões  de  pessoas,  em  meados  do  século  19.  A  maioria  deles  não  conseguia  mais  nem  sair  de  casa,  os  serviços  públicos  entraram  em  colapso  -­‐  (13)  e  os  soldados  não  conseguiam  sequer  sair  dos  alojamentos,  o  que  motivou  um  ofício  desesperado  do  comandante  do  exército  ao  imperador!  -­‐  (14)    A  descriminalização  do  uso,  sob  todos  os  aspectos  produzirá  enormes  prejuízos  a  todos.  Vai  agravar  muito  a  situação  atual  de  violência  e  desagregação  social.  Toda  a  violência  relacionada  às  drogas  só  é  possível  porque,  antes  de  tudo,  antes  inclusive  da  questão  do  tráfico,  existe  uma  multiplicação  do  número  de  pessoas  com  percepção  distorcida  da  realidade,  e  com  uma  diminuição  importante  do  controle  de  impulsos  e  da  capacidade  de  antecipar  as  consequências  do  que  fazem.    Outro  argumento  dos  que  querem  liberar  é  o  de  que  prender  traficantes  nada  resolve.  Ele  é  falacioso,  contraria  o  fato  histórico  de  que  somente  os  países  que  têm  leis  rigorosas  contra  as  drogas,  e  ação  governamental  efetiva,  reduzem  a  oferta  e  o  número  de  doentes,  

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além  de  serem  países  com  reduzidíssimas  taxas  de  mortes  violentas.  Os  liberacionistas  confundem,  propositalmente,  inação  governamental,  no  Brasil,  com  impossibilidade  de  agir.      Também  agitam  o  surrado  argumento  que  a  Lei  11343,  de  2006,  encheu  os  presídios  brasileiros,  que  estão  superlotados  e  o  trafico  não  diminuiu.  Portanto  a  guerra  está  perdida.  Seria  um  mal  menor  liberar,  esvaziaria  as  prisões,  acabaria  com  o  tráfico,  geraria  mais  impostos,  etc.  Porém  como  explicar  que  um  aumento  de  60%  no  tempo  da  pena,  tenha  gerado  300%  de  aumento  no  número  de  traficantes  presos?!  A  causa  maior,  não  revelada  ou  não  admitida  nos  discursos  liberacionistas,  é  a  explosão  da  epidemia  do  crack,  que  de  2006  para  cá  multiplicou  muitas  vezes  a  oferta  desta  e  de  outras  drogas.  Multiplicou  também  o  número  de  usuários,  de  dependentes  químicos,  e  por  consequência  de  traficantes  para  abastecê-­‐los!  Mesmo  que  a  lei  11.343  não  tivesse  sido  promulgada,  esse  problema  existiria  da  mesma  forma.  Numa  epidemia  viral  temos  que  reduzir  a  quantidade  de  vírus  circulante  para  diminuir  o  número  de  doentes.  Com  as  drogas  não  é  diferente.  Numa  epidemia  grave,  com  as  nossas  enormes  fronteiras  abertas  ao  tráfico,  temos  que  reduzir  a  oferta  de  drogas  na  rua,  para  diminuir  a  contaminação,  principalmente  dos  nossos  jovens.  Maior  oferta  produzirá  mais  dependentes.    Recente  pesquisa  publicada  no  Lancet  mostra  que  nos  Estados  americanos  onde  foi  liberada  a  maconha  para  uso  dito  "medicinal",  o  consumo  entre  jovens  é  muito  maior  que  nos  Estados  onde  existe  a  proibição  do  consumo  e  tráfico  -­‐  (15).    Quanto  à  sobrecarga  do  sistema  penitenciário,  que  tem  servido  de  desculpa  para  abrandar  penas  e,  por  consequência,  aumentar  o  número  de  vítimas,  é  bom  dizer  que  dos  atuais  607.000  apenados  brasileiros,  só  40%  estão  em  regime  fechado.  60%  estão  em  regimes  que  permitem  circular  na  rua,  em  relativa  liberdade,  e  estes  têm  altíssima  taxa  de  reincidência!  Segundo  a  Secretaria  de  Segurança  do  Rio  Grande  do  Sul,  grande  parte  dos  crimes  violentos  da  Região  Metropolitana  de  Porto  Alegre,  são  cometidos  por  apenados  que  ainda  estão  no  Regime  Semiaberto  -­‐  (  16  ).  Além  disso,  o  Brasil  tem  uma  grande  população,  portanto  é  natural  que  tenha  um  número  minimamente  significativo  de  apenados,  e  esteja  em  quarto  lugar  ou  quinto  lugar  entre  os  países  da  ONU  em  números  absolutos  de  presos.  Mas  se  verificarmos  a  taxa  de  apenados  por  100.000  habitantes,  o  Brasil  fica  em  trigésimo  quarto  lugar!  -­‐  (17).  Então,  nada  de  extraordinário!  O  que  falta  nessa  área  é  um  mínimo  de  investimentos,  para  comportar  o  número  necessário  de  presos  em  condições  dignas.    Países  como  a  Suécia  e  o  Japão,  durante  suas  epidemias  de  drogas,  multiplicaram  várias  vezes  seu  número  de  apenados  por  tráfico  e  consumo.  A  Suécia  na  década  de  1970,  e  o  Japão  na  década  de  1950,  mercê  das  leis  duras  que  criaram  para  enfrentar  o  problema.    Como  consequência,  a  prisão  em  massa  de  traficantes  e  usuários  (lá  o  uso  é  punido  com  prisão),  levou  a  uma  diminuição  do  tráfico,  de  circulação  das  drogas,  e  ao  fim  da  epidemia  -­‐  (18  ).  Em  2014,  a  Suécia  pôde  fechar  quatro  presídios,  pela  diminuição  da  população  carcerária.  

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Na  segunda  guerra  mundial  o  governo  japonês  distribuía  gratuitamente  aos  operários  das  fábricas  de  armamentos,  a  metanfetamina.  Para  aumentar  a  produtividade!  O  resultado  gerou  dois  milhões  de  dependentes  químicos  no  pós-­‐guerra,  acompanhados  por  uma  explosão  de  violência  e  tráfico.  Em  1948,  o  governo  japonês  baixou  uma  lei  duríssima  que  prendia  inclusive  os  usuários.  Só  em  1954  foram  presas  mais  de  55.600  pessoas  no  Japão  por  tráfico  ou  uso  de  drogas.  E  o  país  tinha  100  milhões  de  habitantes!  Mas  em  1958,  quatro  anos  depois,  só  271  pessoas  foram  presas  pelo  mesmo  motivo  -­‐  (18  ).  A  explicação  lógica  é  a  de  que,  com  o  rigor  da  lei,  diminuiu  muito  a  circulação  de  drogas  e  a  epidemia  acabou.  Hoje  o  Japão  é  o  país  com  uma  das  menores  taxas  de  dependência  química  e  homicídios  no  mundo.    No  que  diz  respeito  à  liberdade  individual,  é  bom  lembrar  também  que  o  dependente  químico  é  um  fator  de  sobrecarga  e,  com  frequência,  de  desagregação  familiar  e  social.  A  liberdade  dele  para  se  drogar,  produz  a  perda  da  liberdade  de  seus  familiares  que  acabam  tendo  que  trabalhar  mais  do  que  necessitariam  para  alimentá-­‐lo,  vesti-­‐lo,  cuidar  de  seus  filhos,  quando  os  têm,  e,  além  disso,  bancar  seu  difícil  tratamento.  Isso  sem  falar  nos  crimes  cometidos  sob  o  transtorno  causado  pelas  drogas,  como  o  abandono  dos  filhos.                -­‐  (  19    ),  agressões,  roubos,  assaltos,  latrocínios,  no  crescente  número  de  parricídios  e  no  enorme  custo  para  o  bolso  de  todos  os  contribuintes.  Assim,  por  todos  os  aspectos,  baseados  na  experiência  histórica  e  científica,  não  existe  exemplo  no  mundo,  de  que  liberando  drogas  melhore  a  vida  das  pessoas.  Ao  contrário.  Repetimos,  as  únicas  experiências  históricas  de  sucesso,  na  questão  da  redução  do  consumo  de  drogas  e  seus  crimes  conexos,    foram  a  dos  países  que  aumentaram  o  rigor  e  diminuíram  a  oferta  nas  ruas!    Podemos  afirmar  que,  considerar  inconstitucional  o  artigo  28  da  Lei  11343,  por  parte  do  STF,  certamente  liberará,  na  prática,  a  circulação  das  drogas,  produzirá  um  agravamento  das  questões  sociais,  de  saúde  pública  e  de  segurança  em  todo  o  Brasil,  com  graves  consequências  para  nosso  futuro,  principalmente  para  nossa  juventude.  A  dependência  química  atinge  com  muito  mais  intensidade  os  adolescentes,  pelo  estágio  imaturo,  ainda,  de  sua  organização  cerebral.  Segundo  o  NIDA  (National  Institute  of  Drug  Abuse  dos  EUA)  50%  dos  adolescentes  que  usam  maconha,  com  a  frequência  de  pelo  menos  uma  vez  por  semana,  se  tornam  dependentes  para  o  resto  da  vida  -­‐  (  20  ).  No  universo  dos  adultos  que  iniciam  seu  uso,  essa  dependência  fica  ao  redor  de  9  %.      A  maconha,  que  para  seus  adeptos  é  leve,  produz  mais  câncer  e  danos  pulmonares  que  o  tabaco  -­‐  (  21  ),  desencadeia  mais  psicoses  incuráveis  que  as  demais  drogas  juntas,  além  de  aumentar  os  suicídios  e  ser  responsável  por  mais  acidentes  de  trânsito  fatais  que  o  álcool.  Sem  falar  na  dependência  química  e  déficit  cognitivo  permanente  -­‐  (  22  ).    Seu  cigarro  contém  mais  de  400  substâncias  químicas  que  causam  dano  ao  corpo  e  ao  cérebro.    É  possível  que  uma  dessas  substâncias,  o  canabidiol,  possa  ter  efeito  benéfico  em  casos  raros  de  epilepsia.  Ainda  falta  comprovação  científica  irrefutável  disso.  Mas  mesmo  assim,  se  houver  comprovação,  é  o  caso  de  separar  o  canabidiol  e  usá-­‐lo  como  medicação  a  parte.  Não  poderá  servir  de  desculpa  para  fumar  maconha  "por  que  é  remédio"!  Segundo  

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o  relatório  da  UNDOC  (braço  da  ONU  para  estudo  de  Drogas  e  Crime)  "Cannabis,  a  Short  Review"  de  2013,  que  resume  mais  de  uma  centena  de  publicações  científicas  internacionais  sobre  o  assunto,    a  maconha  foi  a  primeira  droga  ilícita  usada  por  83%  dos  dependentes  de  heroína  e  cocaína,  no  mundo.  Diz  esse  relatório  na  sua  conclusão:    "Recentes  dados  de  pesquisa  sobre  fumar  cannabis,  mostra  que  produz  danos  à  saúde  e  é  perigoso.  O  uso  de  cannabis  é  vinculado  à  dependência  química,  déficit  cognitivo,  deficiência  de  habilidades  motoras,  a  problemas  respiratórios,  cardiovasculares  e  transtornos  mentais,  e  tem  sido  demonstrado  como  causador  de  danos  específicos  no  cérebro  imaturo,  ainda  em  desenvolvimento.  A  experiência  internacional  com  o  aumento  de  casos  nas  emergências  hospitalares  e  no  tratamento  para  a  dependência  da  cannabis  demonstra  o  grande  perigo  da  cannabis  de  maior  potência,  produzida  atualmente.  E  seu  crescente  potencial  de  risco,  tanto  para  a  saúde  quanto  para  a  segurança  pública..."    Uma  decisão  do  STF,  de  declarar  inconstitucional  o  artigo  28  da  lei  11.343,  que  aparentemente  teria  efeito  limitado  a  casos  específicos,  terá  enorme  consequência  social,  na  saúde  pública  e  na  segurança  do  país.  Uma  decisão,  com  tal  repercussão  na  vida  de  todas  as  famílias  brasileiras,  merece  uma  profunda  reflexão,  compartilhada  com  toda  a  sociedade.  Os  Estados  americanos  que  liberaram  a  maconha  e  o  Uruguai  criaram  regras  legais  por  plebiscito  ou  por  decisão  do  parlamento.  Compartilharam  a  responsabilidade  da  decisão,  e  de  todas  suas  graves  consequências  com  a  população,  ou  com  seus  com  representantes.  Em  nenhum  deles  o  peso  dessa  decisão  recaiu  exclusivamente  sobre  os  ombros  dos  membros  da  Corte  Suprema.  Esses  são  alguns  dos  aspectos  que  gostaríamos  de  ponderar  sobre  a  questão  da  descriminalização  do  uso  de  drogas  no  Brasil.    (1)  Pesquisa  de  acompanhamento  longitudinal  de  usuários  de  crack  em  São  Paulo.  Mostrando  que  25%  morre  ou  desaparece  nos  primeiros  5  anos  de  uso.  J  Subst  Abuse  Treat.  2011  Oct;  41(3):273-­‐8.  doi:  10.1016/j.jsat.2011.03.008.  Epub  2011  May  6.  (2)  Mortality  rate  among  crack/cocaine-­‐dependent  patients:  a  12-­‐year  prospective  cohort  study  conducted  in  Brazil.  Dias  AC1,  Araújo  MR,  Dunn  J,  Sesso  RC,  de  Castro  V,  Laranjeira  R.    Abstract  Mortality  is  a  significant  outcome  among  Brazilian  crack/cocaine-­‐dependent  patients  yet  not  well  understood  and  is  under  investigated.  This  study  examined  a  range  of  mortality  indicators  within  a  cohort  of  131  crack/cocaine-­‐dependent  patients  admitted  into  treatment  and  meeting  criteria  for  dependence  of  crack  (Diagnostic  and  Statistical  Manual  of  Mental  Disorders,  Fourth  Edition).  After  12  years  of  treatment  discharge,  107  individuals  were  reassessed  and  27  death  cases  were  confirmed  by  official  records,  wherein  in  its  majority  were  caused  by  homicide  (n  =  16).  In  this  group,  survival  rate  was  0.77  (95%  confidence  interval  [CI]  =  0.74-­‐0.81)  and  previous  history  of  IV  cocaine  use  was  identified  as  a  predictor  of  mortality  (2.5,  95%  CI  =  1.08-­‐5.79).  High  mortality  rates  among  Brazilian  crack/cocaine-­‐dependent  patients,  exposure  to  violence,  and  HIV/AIDS  were  topics  discussed  in  this  study.  This  research  highlights  the  importance  of  ongoing  

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programs  to  manage  crack/cocaine  use  along  with  other  treatment  features  within  this  population.    (2)  Fontes:  MACRODATA  e  UNDOC  (Organismo  das  Nações  Unidas  para  Drogas  e  Crime)  CHINA:  1.367.820.000  habitantes  (2012)  13.410  homicídios/ano  -­‐  taxa  1/100.000  (2010)  IDH  89  em  180  PIB  per  capita  -­‐  5.699  euros    ÍNDIA  1.267.401.859  habitantes  (2012)  43.355  homicídios/  ano  (2012)  -­‐  taxa  3,5/100.000  PIB  per  capita  -­‐  1.277  euros  (2014)  IDH  129  em  180.    ESTADOS  UNIDOS  319.047.000  habitantes  (2012)  14.827  homicídios/  ano  (2012)  -­‐  taxa  4,5/100.000  PIB  per  capita  -­‐  41000  euros  (2014)  IDH  5  em  180  INDONÉSIA    252.812.245  habitantes  (2012)  1.456  homicídios/ano  (2012)  -­‐  taxa  0,6  /100.000  PIB  per  capita  -­‐  2.644  euros  IDH  104  em  180.    BRASIL  202.769.000  habitantes  (2012)  50.108  homicídios/  ano  segundo  a  UNDOC  e  56.337  homicídios/ano  SIM/MS  (2012)  Taxas,  de  respectivamente  25  e  27,5/100.000  PIB  per  capita  -­‐  8.705  euros  (2014)  IDH  79  em  180.          

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(3)      Gráfico  do  auxílio  doença  do  INSS,  publicado  na  capa  de  "O  Globo"  em  2013.  

               (4)  "O  ópio  tem  causado  danos.  O  ópio  é  um  veneno,  que  destrói  nossos  bons  costumes  e  moralidade.  Seu  uso  é  proibido,  agora,  por  lei..."Edito  do  Imperador  Jianqing  da  dinastia  chinesa  Qing,  no  final  de  1799”.                            (5)  "A  droga  dos  rótulos".  Dados  comparativos  entre  Suécia  e  Portugal  nas  políticas  sobre  drogas.    Com  mais  dados  e  fontes  no  artigo  do  Blogspot:  osmarterra.blogspot.com.br    

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 (6)  Grandes  investidores  financiam  ONGs  que  defendem  a  liberação  das  drogas  no  Brasil  e  no  mundo.  

                                   Wiktor  Dabkowski/Xinhua                            George  Soros  durante  um  discurso  na  Bélgica,  em  2014      FERNANDA  MENA  Enviada  especial  ao  Rio  26/04/2015        Megainvestidor  e  filantropo  de  peso  ao  mesmo  tempo,  George  Soros,  84,  esteve  no  Brasil  na  semana  passada  para  a  abertura  do  primeiro  escritório  de  sua  fundação,  a  Open  Society,  na  região.  Dirigido  por  Pedro  Abramovay,  ex-­‐secretário  nacional  de  Justiça  (2011),  o  braço  latino  americano  da  entidade  filantrópica  recebeu  investimento  de  cerca  de  R$  106  milhões,  pequena  parcela  dos  mais  de  R$  2,5  bilhões  gastos  pela  fundação  apenas  em  2014.  

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Terceiro  magnata  mais  rico  do  mundo,  renomado  como  "o  homem  que  quebrou  o  Banco  Central  Britânico",  Soros  hoje  está  afastado  da  administração  dos  fundos  de  investimento  nos  quais  fez  fama  e  fortuna.  Está  mais  interessado  promover  a  caridade  e  aperfeiçoar  sua  teoria  filosófica  que,  diz,  sempre  guiou  seus  negócios  e  suas  doações.  Em  entrevista  à  Folha,  Soros  explicou  porque  investe  em  temas  polêmicos,  como  a  legalização  das  drogas,  e  avaliou  que  o  Brasil  precisa  de  legislação  favorável  para  ver  seu  crescente  número  de  bilionários  dividirem  parte  de  suas  riquezas.  Leia  a  seguir.  Folha  -­‐  Você  é  um  dos  maiores  investidores  e  filantropos  do  mundo.  A  imagem  do  capital  especulativo,  no  entanto,  parece  não  combinar  com  a  ideia  de  altruísmo.  George  Soros  -­‐  O  meu  sucesso  no  mercado  financeiro  veio  primeiro.  Era  um  administrador  de  fundos  muito  bem-­‐sucedido,  mas  não  podia  dispor  daquele  dinheiro.  Tinha  apenas  de  multiplicá-­‐lo.  Quando  tive  dinheiro  suficiente  para  fazer  filantropia,  foi  o  que  fiz.  Filantropia  não  é  apenas  uma  maneira  de  limpar  a  barra  de  negócios  que  causam  danos  e  crises?  Muitas  vezes,  é  exatamente  isso  o  que  ocorre.  Mas  eu  não  acho  que  tivesse  nada  para  limpar  por  meio  da  filantropia.  O  que  ocorre  é  que  tenho  uma  filosofia  que  me  guiou  tanto  em  ganhar  dinheiro  como  em  usá-­‐lo  para  filantropia.                    Que  filosofia  é  essa?  Fui  orientado  pelo  filósofo  Karl  Popper  (1902-­‐1994),  que  escreveu  "Open  Society  and  Its  Enemies"  (A  Sociedade  Aberta  e  Seus  Inimigos,  ed.  Itatiaia),  e  por  suas  ideias  a  respeito  do  pensamento  crítico  e  do  fato  de  que  nosso  entendimento  da  realidade  é  sempre  imperfeito.  Entendi  que  há  conexões  reflexas  entre  a  percepção  que  as  pessoas  têm  da  realidade  -­‐  que  nunca  é  a  realidade  em  si-­‐,  e  o  impacto  que  essas  pessoas  exercem  sobre  a  realidade,  modificando-­‐a  a  partir  daquela  noção  particular  do  real.  Passei  a  confrontar  a  teoria  econômica  que  prega  eficiência  dos  mercados  e  expectativas  racionais.  Assim  como  questiono  a  divisão  entre  política  e  economia,  que  são  conectadas  de  forma  reflexiva,  do  meu  ponto  de  vista.  O  tipo  de  mercado  financeiro  que  temos  é  grande  fonte  de  incertezas  porque  não  é  perfeito  nem  estável.  Mas  precisamos  tomar  decisões  neste  ambiente.  E  isso  gerou  o  tripé  no  qual  é  baseada  minha  filosofia:  incerteza,  falibilidade  e  reflexividade.  Foi  com  esse  pensamento  que  eu  antecipei  e  expliquei  a  crise  financeira  de  2008  melhor  do  que  muita  gente.  E  passei  a  acreditar  que  minhas  ideias  podem  contribuir  para  o  entendimento  da  realidade.                    Mas  o  que  essa  filosofia  tem  a  ver  com  filantropia?  Essa  filosofia  faz  com  que  eu  esteja  atento  à  natureza  insolúvel  de  muitos  dos  problemas  do  mundo,  que  emergem  das  contradições  e  dos  impasses  da  sociedade  contemporânea,  mas  que  podem  ser  ajustados.  Pegue  o  direito  a  privacidade  e  o  direito  à  segurança,  na  expressão  da  proteção  contra  o  terrorismo,  por  exemplo.  Não  se  pode  atingir  privacidade  absoluta  nem  segurança  absoluta  contra  o  terrorismo.  É  preciso  fazer  acordos  para  reconciliar  uma  coisa  a  outra.  A  Open  Society  Foundation  foi  criada  para  se  envolver  naquilo  que  eu  considero  serem  os  principais  problemas  que  afetam  a  humanidade  e  atingem  especialmente  as  pessoas  mais  vulneráveis,  que  já  são  as  que  mais  sofrem.  Empresas  tendem  a  investir  em  temas  pouco  arriscados  na  área  de  responsabilidade  social.  Você  escolhe  temas  controversos.  Por  quê?  

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Escolho  os  temas  para  os  quais  acho  que  nossa  contribuição  pode  ir  além  do  dinheiro,  promovendo  um  melhor  entendimento  dos  problemas.  A  questão  da  tomada  de  decisão  em  condições  de  incerteza  é  a  base  do  meu  sucesso  no  mercado  financeiro.  A  mesma  base  funciona  no  êxito  que  obtemos  como  organização  filantrópica.  É  onde  a  minha  filosofia  se  conecta  com  a  filantropia.  Nossos  programas  lidam  com  questões  tão  diversas  como  mudanças  climáticas  e  regulação  dos  recursos  cibernéticos,  migrações  e  política  de  drogas.  Seus  críticos  dizem  que  você  teria  uma  agenda  secreta  no  debate  sobre  legalização  das  drogas.  Quais  são  seus  interesses  nesta  questão?  Acho  que  dependência  de  drogas  é  um  problema  insolúvel  porque,  de  alguma  maneira,  é  inerente  à  natureza  humana.  Nem  todo  mundo  se  torna  dependente  de  drogas,  mas  algumas  pessoas,  sim.  E  eu  não  conheço  a  solução  para  isso,  mas  sei  que  a  guerra  às  drogas,  que  trata  aqueles  que  sofrem  de  dependência  como  criminosos,  tem  causado  mais  danos  do  que  a  dependência  em  si.  Um  dos  objetivos  da  fundação  é  o  que  chamamos  de  redução  de  danos.  Neste  caso,  então,  esforços  têm  sido  apontar  os  efeitos  danosos  da  guerra  às  drogas.  Como  avalia  as  mudanças  ocorridas  neste  campo  no  mundo?  Acho  que  temos  sido  bem-­‐sucedidos  neste  campo.  Houve  grande  avanço,  especialmente  vindo  da  América  Latina,  quando  o  presidente  Fernando  Henrique  Cardoso  se  aposentou  e  reuniu  outros  ex-­‐presidentes  latinos  americanos  para  tratar  dos  problemas  da  proibição  às  drogas.  Depois  de  25  anos  de  esforços  da  fundação  neste  debate,  considero  que  tivemos  avanços.  Os  EUA  vão  legalizar  a  maconha?  Acho  que  a  legalização  da  maconha  está  praticamente  assegurada  nos  EUA.  Já  ocorreu  em  três  Estados  e  deve  irradiar  para  o  restante  do  país  independente  da  atuação  de  organizações  como  a  minha.      Qual  é  o  próximo  passo?  Agora  temos  que  fazer  algo  a  respeito  das  chamadas  drogas  pesadas,  para  as  quais  a  legalização  parece  não  se  aplicar.  Neste  caso,  a  descriminalização  parece  ser  uma  boa  resposta.  Assim,  o  caminho  seria  distinguir  quem  usa  de  quem  produz  e  vende  drogas,  explorando  a  fraqueza  dos  dependentes,  que  são  mais  vulneráveis  porque  são  tratados  como  criminosos  quando  são  vítimas.  Este  será  o  foco  de  atuação  do  escritório  da  fundação  no  Rio?  Estamos  expandindo  nossas  atividades  na  América  Latina,  investindo  US$  36  milhões.  Criamos  um  conselho  para  a  América  Latina,  formado  por  pessoas  daqui,  que  é  a  instância  que  vai  decidir  qual  será  a  agenda  do  escritório  regional.  O  número  de  bilionários  brasileiros  cresceu,  e  sabe-­‐se  alguns  deles  fazem  doações  para  a  Universidade  de  Harvard  e  para  o  MOMA,  de  Nova  York,  mas  não  praticam  filantropia  por  aqui.  Por  quê?  Acho  que  é  por  causa  da  estrutura  fiscal  do  Brasil.  Nos  EUA,  eu  posso  doar  metade  do  meu  salário  para  filantropia  e  abater  esses  valores  do  meu  imposto  de  renda.  O  dinheiro  que  iria  para  a  receita  federal  acaba  indo  para  a  filantropia,  o  que  é  uma  grande  indução  à  

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doação.  Os  impostos  pesados  sobre  heranças  também  podem  ser  doados  para  filantropia.  Tenho  a  impressão  de  que  o  Brasil  precisa  de  uma  legislação  similar.  Nem  todo  bilionário  é  um  filantropo,  mas  haverá  um  número  maior  de  bilionários  brasileiros  inclinados  à  filantropia  se  houver  uma  legislação  favorável.  O  Brasil  poderia  aumentar  impostos  sobre  heranças,  dando  isenção  para  quem  doar  esse  montante  para  filantropia.  Taxas  e  impostos  devem  servir  para  redistribuir  renda  dos  mais  ricos  para  os  mais  pobres  RAIO-­‐X  Nascimento:  12/8/1930,  na  Hungria  (tem  nacionalidade  americana)  Carreira:  presidente  da  Soros  Fund  Management  LLC;  fundador  da  Open  Society  Foundations  Formação:  London  School  of  Economics  Livro:  "O  Novo  Paradigma  para  os  Mercados  Financeiros:  A  Crise  Atual  e  o  que  Ela  Significa"                    (7)  pesquisa  DATAFOLHA  sobre  opinião  da  população  da  legalização  das  drogas.  

         (8)  Dados  oficiais  da  Secretaria  de  Segurança  do  Rio  Grande  do  Sul.  

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       (9)  Andres  J.  Pumariega  e  cols.  (Substance  Abuse,  A  Comprehensive    Textbook,  Cap.62,  pag.1027)  "Transtornos  do  Humor,  incluindo  Depressão  e  Transtorno  Bipolar,  tem  alta  co-­‐morbidade  com  abuso    de  drogas  na  adolescência......Entre  60  e  80%  dos  adolescentes  com  dependência  química  tem  alguma  outra  forma  de  psicopatologia...."  

     

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     (10)  Pesquisa  longitudinal  da  Universidade  de  Michigan,  que  durante  35  anos  pesquisou  a  relação  entre  consumo  de  maconha  com  a      percepção  do  risco,  mostrando  que  quanto  menor  a  percepção  maior  o  consumo.  

           (11)  O  Segundo  Levantamento  Nacional  de  Álcool  e  Drogas  no  Brasil  mostra  a  gravidade  do  problema.  

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           (12)  Pesquisa  feita  pela  equipe  do  Hospital  de  Clínicas  de  Porto  Alegre  sobre  drogas  e  acidentes  de  trânsito.  Mostra  a  maconha  com  maior  incidência  nos  acidentes  do  que  o  álcool.  Divulgada  pela  SENAD  em  2012  

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(13)  Panfleto  do  Imperador  da  China  alertando  a  população  para  a  devastação  causada  pelo  comércio  livre  do  ópio,  em  18/03/1839.  "...1/3  da  população  chinesa  já  não  consegue  sair  de  casa.  Os  serviços  públicos  entraram  em  colapso,  pelo  vício  do  Ópio..."  Imperador  Daoguang,  da  dinastia  Qing  (1820-­‐1850).          (14)  "Majestade,  o  preço  da  prata  está  caindo  por  causa  do  pagamento  da  droga.  Em  breve,  vosso  império  estará  falido.  Quanto  tempo  ainda  vamos  permitir  este  jogo  com  o  diabo?  Logo  não  teremos  mais  moeda  para  pagar  armas  e  munição.  Pior  ainda,  não  haverá  soldados  capazes  de  manejar  uma  arma  porque  estarão  todos  viciados."    Carta  do  Comandante  do  Exército  Chinês  ao  Imperador,  no  início  de  1839.              (15)  Estudo  da  revista  Lancet,  publicada  neste  ano,  mostra  maior  consumo  de  maconha  nos  Estados  Americanos  onde  o  uso  medicinal  é  permitido,  em  relação  aos  Estados  onde  uso  éproibido.      

   

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(16)  matéria  de  Zero  Hora,  relatando  casos  de  algumas  das  centenas  de  pessoas  assassinadas  por  criminosos  que  cumprem  pena  no  regime  semi-­‐aberto,  só  neste  ano    .  

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 (17)  Dados  do  Centro  Internacional  de  Estudos  Prisionais,  ICPS  na  sigla  em  inglês.    

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 (18)    Nils  Berjerot,  M.D.  (do  livro  "ADDICTION-­‐An  Artificially  Induced  Drive",  1972  (da  Pág.  44  a  59).    

   

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(19)    Série  da  Globonews  mostrando  a  rápida  superlotação  dos  berçários  reservados  a  crianças  filhas  de  dependentes  químicas.  

                 

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(18)  Resumo  das  principais  evidências  científicas  a  respeito  da  maconha,  publicadas  pelo  NIDA  (National  Institute  of  Drug  Abuse)  dos  EUA.  É  o  maior  centro  de  pesquisas  sobre  drogas  no  mundo.                                                      

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(19)  Dados  de  pesquisa  longitudinal  feita  pela  Fundação  de  Pneumologia  da  Grã-­‐Bretanha,  sobre  danos  pulmonares  causados  pela  maconha.  

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(20)  Pesquisa  mostrando  as  probabilidades  (Odds  Ratio)  de  determinados  problemas  pelo  início  precoce  no  uso  da  maconha.  (Fergusson,  2013).    

                             

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A  CONSTITUCIONALIDADE  DO  ARTIGO  28          Cid  Vieira  de  Souza  Filho      A  manutenção  do  denominado  porte  de  entorpecente  para  uso  próprio,  atualmente  aplicado  à  conduta  de  adquirir,  guardar,  ter  em  depósito,  transportar  ou  trazer  consigo,  para  consumo  pessoal,  drogas  sem  autorização  ou  em  desacordo  com  determinação  legal  ou  regulamentar  encontra  justificativa  por  não  ser  considerado  um  atentado  contra  a  saúde  individual  daquele  que  pratica  tal  conduta,  mas  sim  por  considerar-­‐se  um  atentado  contra  a  saúde  pública.  Em  que  pese  o  fato  do  usuário  da  droga  prejudicar  sua  própria  saúde,  não  podemos  nos  olvidar  de  que  a  coletividade,  como  um  todo,  também  é  colocada  em  risco.  O  vício  das  drogas  tem  o  potencial  de  desestabilizar  o  sistema  vigente.  Nessa  linha  de  raciocínio,  necessário  se  faz  consignar  elucidativa  lição  do  eminente  Vicente  Greco  Filho  (2011):  “(...)  a  punição  do  simples  porte  se  insere,  como  parte  no  todo,  no  quadro  geral  e  no  ciclo  operativo  completo,  da  luta,  com  meios  legais,  em  todas  as  frentes,  contra  o  alto  poder  destrutivo  do  uso  de  estupefacientes  encontra  a  difusão  de  seu  contágio  que  alcançam  o  nível  de  manifestações  criminosas  tais  que  suscitam,  em  medida  cada  vez  mais  preocupante,  a  perturbação  da  ordem”.  (grifo  nosso).  E  continua  o  renomado  autor  (2011):  “A  razão  jurídica  da  punição  daquele  que  adquire,  guarda  ou  traz  consigo  para  uso  próprio  é  o  perigo  social  que  sua  conduta  representa.  Mesmo  o  viciado,  quando  traz  consigo  a  droga,  antes  de  consumi-­‐la,  coloca  a  saúde  pública  em  perigo,  porque  é  fato  decisivo  na  difusão  dos  tóxicos.  Já  vimos  ao  abordar  a  psicodinâmica  do  vício  que  o  toxicômano  normalmente  acaba  traficando,  a  fim  de  obter  dinheiro  para  aquisição  da  droga,  além  de  psicologicamente  estar  predisposto  a  levar  outros  ao  vício,  para  que  compartilhem  ou  de  seu  paraíso  artificial  ou  de  seu  inferno”.  Da  não  ofensa  aos  direitos  e  garantias  fundamentais  Com  efeito,  a  Constituição  Federal  de  1988  garante  a  todos  a  inviolabilidade  da  intimidade,  da  vida  privada,  da  honra  e  da  imagem.  Analisemos,  pois,  a  redação  do  art.  5.º,  X  da  Constituição  Federal:  “Art.  5.º  Todos  são  iguais  perante  a  lei,  sem  distinção  de  qualquer  natureza,  garantindo-­‐se  aos  brasileiros  e  aos  estrangeiros  residentes  no  País  a  inviolabilidade  do  direito  à  vida,  à  liberdade,  à  igualdade,  à  segurança  e  à  propriedade,  nos  seguintes  termos:  (...)  X  –"  são  invioláveis  a  intimidade,  a  vida  privada,  a  honra  e  a  imagem  das  pessoas,  assegurado  o  direito  a  indenização  pelo  dano  material  ou  moral  decorrente  de  sua  violação;”  Os  direitos  à  intimidade  e  a  própria  imagem  formam  a  proteção  constitucional  à  vida  privada,  salvaguardando  e  tutelando  um  espaço  íntimo  intransponível  por  intromissões  ilícitas  externas.  A  intimidade  é  tudo  aquilo  quanto  diga  respeito  única  e  exclusivamente  à  pessoa  em  si  mesma,  a  seu  modo  de  ser  e  de  agir,  ou  seja,  envolve  as  relações  familiares  e  de  amizades.  

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Ao  passo  que  a  vida  privada  diz  respeito  ao  modo  de  viver  de  cada  pessoa.  É  o  reconhecimento  de  que  cada  um  tem  direito  a  seu  próprio  estilo  de  vida.  A  liberdade  da  vida  privada  envolve  a  possibilidade  de  realização  da  vida  sem  ser  molestado  por  terceiros,  ou  seja,  sem  ser  agredido  por  intromissão  alheia.  Isso  implica  a  uma  proibição,  dirigida  tanto  à  sociedade  quando  ao  Poder  Público,  de  imiscuir-­‐se  na  vida  privada.  Entretanto,  mister  se  faz  ressaltar  de  que  os  direitos  e  garantias  fundamentais,  consagrados  no  art.  5.º  da  Constituição  Federal  não  são  absolutos.  Em  outras  palavras,  referidos  direitos  e  garantias  sofrem  limitações.  Além  disso,  o  argumento  de  que  a  norma  penal  incriminadora  contida  no  art.  28  da  Lei  de  Tóxicos  afronta  o  princípio  da  igualdade  na  medida  em  que  estabelece  distinção  de  tratamento  penal  a  drogas  ilícitas  e  não  penais  a  drogas  lícitas,  com  efeitos  psicotrópicos  mais  lesivos  que  muitas  drogas  ilícitas,  a  exemplo  do  tabaco  e  das  bebidas  alcoólicas,  não  merece  prosperar.  Punir  aquele  que  tem  a  posse  da  droga  para  uso  próprio,  como  a  cocaína,  não  implica  em  tratar  com  desigualdade  os  iguais,  de  modo  que  aquele  que  a  possuísse  legalmente,  embora  com  a  mesma  potencialidade  lesiva,  estaria  praticando  conduta  lícita.  Nessa  mesma  linha  de  raciocínio  é  o  entendimento  de  Guilherme  de  Souza  Nucci  (2006,  p.756):  “A  expressão  sem  autorização  ou  em  desacordo  com  determinação  legal  ou  regulamentar  constitui  fator  vinculado  à  ilicitude,  porém  inserido  no  tipo  incriminador  torna-­‐se  elemento  deste  e,  uma  vez  que  não  seja  preenchido,  transforma  o  fato  em  atípico.  Portanto,  adquirir,  guardar,  ter  em  depósito  (etc.)  drogas,  para  consumo  pessoal,  devidamente  autorizado,  é  fato  atípico.”  É  que,  na  verdade,  são  desiguais  e  estão  sendo  tratados  nos  limites  de  sua  desigualdade.  Os  princípios  garantidores  da  intimidade  e  da  vida  privada  não  podem  servir  de  salvo-­‐conduto  para  a  prática  de  infrações  penais,  evitando,  com  isso,  a  sensação  de  impunidade,  bem  como  conferindo  um  caráter  de  prevenção  geral,  no  sentido  de  compreender  a  punição  do  agente  que,  porta  substância  entorpecente,  para  consumo  pessoal,  sem  autorização  ou  em  desacordo  com  determinação  legal  ou  regulamentar,  como  um  instrumento  de  intimidação  geral  dos  indivíduos  que,  diante  da  ameaça  abstrata  e  concreta  da  imposição  de  pena,  malgrado  não  seja  privativa  de  liberdade,  ficariam  motivados  a  não  transgredir  a  norma  penal.  Sobre  esse  ponto,  precisa  é  a  lição  do  eminente  Alexandre  de  Moraes  (2009,  p.  32):  “Os  direitos  humanos  fundamentais,  dentre  eles  os  direitos  e  garantias  individuais  e  coletivos  consagrados  no  art.  5.º  da  Constituição  Federal,  não  podem  ser  utilizados  como  um  verdadeiro  escudo  protetivo  da  prática  de  atividades  ilícitas,  tampouco  como  argumento  para  afastamento  ou  diminuição  da  responsabilidade  civil  ou  penal  por  atos  criminosos,  sob  pena  de  total  consagração  ao  desrespeito  a  um  verdadeiro  Estado  de  Direito”.      Do  posicionamento  do  Supremo  Tribunal  Federal      

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No  ano  de  2007,  ao  apreciar  o  RE  430105/QO/RJ  (Relator  Min.  Sepúlveda  Pertence)  o  Pretório  Excelso  se  posicionou  sobre  a  matéria  em  apreço.  Veja-­‐se:  “A  Turma,  resolvendo  questão  de  ordem  no  sentido  de  que  o  art.  28  da  Lei  11.343/2006  (Nova  Lei  de  Tóxicos)  não  implicou  abolitio  criminis  do  delito  de  posse  de  drogas  para  consumo  pessoal,  então  previsto  no  art.  16  da  Lei  6.368/76,  julgou  prejudicado  recurso  extraordinário  em  que  o  Ministério  Público  do  Estado  do  Rio  de  Janeiro  alegava  a  incompetência  dos  juizados  especiais  para  processar  e  julgar  conduta  capitulada  no  art.  16  da  Lei  6.368/76.  Considerou-­‐se  que  a  conduta  antes  descrita  neste  artigo  continua  sendo  crime  sob  a  égide  da  lei  nova,  tendo  ocorrido,  isto  sim,  uma  despenalização,  cuja  característica  marcante  seria  a  exclusão  de  penas  privativas  de  liberdade  como  sanção  principal  ou  substitutiva  da  infração  penal.  Afastou-­‐se,  também,  o  entendimento  de  parte  da  doutrina  de  que  o  fato,  agora,  constituir-­‐se-­‐ia  infração  penal  sui  generis,  pois  esta  posição  acarretaria  sérias  consequências,  tais  como  a  impossibilidade  de  a  conduta  ser  enquadrada  como  ato  infracional,  já  que  não  seria  crime  nem  contravenção  penal,  e  a  dificuldade  na  definição  de  seu  regime  jurídico.  Ademais,  rejeitou-­‐se  o  argumento  de  que  o  art.  1º  do  DL  3.914/41  (Lei  de  Introdução  ao  Código  Penal  e  à  Lei  de  Contravenções  Penais)  seria  óbice  a  que  a  novel  lei  criasse  crime  sem  a  imposição  de  pena  de  reclusão  ou  de  detenção,  uma  vez  que  esse  dispositivo  apenas  estabelece  critério  para  a  distinção  entre  crime  e  contravenção,  o  que  não  impediria  que  lei  ordinária  superveniente  adotasse  outros  requisitos  gerais  de  diferenciação  ou  escolhesse  para  determinado  delito  pena  diversa  da  privação  ou  restrição  da  liberdade.  Aduziu-­‐se,  ainda,  que,  embora  os  termos  da  Nova  Lei  de  Tóxicos  não  sejam  inequívocos,  não  se  poderia  partir  da  premissa  de  mero  equívoco  na  colocação  das  infrações  relativas  ao  usuário  em  capítulo  chamado  ‘Dos  Crimes  e  das  Penas’.  Por  outro  lado,  salientou-­‐se  a  previsão,  como  regra  geral,  do  rito  processual  estabelecido  pela  Lei  9.099/95.  Por  fim,  tendo  em  conta  que  o  art.  30  da  Lei  11.343/2006  fixou  em  dois  anos  o  prazo  de  prescrição  da  pretensão  punitiva  e  que  já  transcorrera  tempo  superior  a  esse  período,  sem  qualquer  causa  interruptiva  da  prescrição,  reconheceu-­‐se  a  extinção  da  punibilidade  do  fato  e,  em  consequência,  concluiu-­‐se  pela  perda  de  objeto  do  recurso  extraordinário”  (STF,  1º  Turma,  RE  430105  QO/RJ,  rel.  Min.  Sepúlveda  Pertence,  13.2.2007.    Informativo  n.  456.  Brasília,  12  a  23  de  fevereiro  de  2007).  Ao  apreciar  o  RE  635660  SP  (Relator  Min.  Carlos  Ayres  Britto)  a  Suprema  Corte  ratificou  o  entendimento,  acima  mencionado,  sobre  a  matéria  objeto  do  presente  ensaio.  Vejamos:  “A  punição,  na  hipótese,  é  de  rigor  para  salvaguardar  a  sociedade  do  mal  potencial  causado  pelo  porte  de  droga,  apto  a  ensejar  o  incremento  do  tráfico  de  entorpecentes,  a  par  de  outros  delitos  associados  ao  uso  indevido  da  droga.  Ademais,  deve  ser  ponderado  que  o  E.  Supremo  Tribunal  Federal,  a  quem  compete  o  controle  de  constitucionalidade  das  normas,  em  momento  algum  reconheceu  a  indigitada  inconstitucionalidade,  razão  pela  qual  o  dispositivo  de  lei  há  que  ser  observado  e  cumprido.”  (STF,  RE  635660  SP,  rel.  Min.  Carlos  Ayres  Britto,  22.3.2011).  Conforme  podemos  ver  na  análise  dos  pronunciamentos  do  Supremo  Tribunal  Federal,sobre  a  matéria  tratada  no  presente  ensaio,  não  paira  qualquer  dúvida  acerca  da  constitucionalidade  do  art.  28  da  Lei  de  Tóxicos.  A  suprema  corte  brasileira,  data  máxima  

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venia,deixou  de  joelhos  qualquer  argumento  contrário,  malgrado  a  força  com  que  é  defendido.  Linhas  acima,  afirmou-­‐se  que  o  uso  de  substâncias  entorpecentes  é  tão  antigo  quanto  à  humanidade.  Naquela  época,  dado  o  seu  contexto  histórico  e  cultural,  fazia-­‐se  o  uso  de  substâncias  entorpecentes  em  rituais,  festas  etc.,  entretanto,  de  forma  moderada  e  de  acordo  com  as  necessidades  de  cada  caso.  Ao  longo  dos  anos,  o  uso  dessas  substâncias  passou  a  se  dar  de  forma  desregrada  e,  em  razão  do  mal  potencial  causado  pelo  uso  a  torto  e  a  direito,  viu-­‐se  a  necessidade  de  uma  regulamentação,  não  podendo,  assim,  o  Poder  Público  manter-­‐se  inerte  ante  o  anseio  da  coletividade  de  pôr  fim  –  se  possível  –  a  tal  situação.  Daí  é  que  se  acabou  por  considerar  o  porte  de  substâncias  entorpecentes  para  consumo  pessoal,  sem  autorização  ou  em  desacordo  com  determinação  legal  ou  regulamentar,  crime.                  CONSIDERAÇÕES  FINAIS      Finalmente  se  nota  a  identificação  no  sentido  de  que  o  dispositivo  que  cuida  do  porte  de  substância  entorpecente  para  consumo  próprio  (art.  28  da  Lei  11.343/06)  é  constitucional,  identificando-­‐se,  este  entendimento,  com  as  decisões  dos  tribunais  pátrios,  destacando-­‐se  o  posicionamento  fincado  pelo  Supremo  Tribunal  Federal,  em  razão  da  não  aplicação  do  princípio  da  insignificância,  bem  como  considerando  que  a  norma  instituída  no  dispositivo  sob  análise  cuida  de  interesse  coletivo,  e  não  individual,  não  perdendo  de  vista,  por  fim,  que  se  trata  de  infração  de  mera  conduta,    a  qual  descreve,  pura  e  simplesmente,  um  comportamento,  sem  qualquer  menção  a  qualquer  resultado,  consumando-­‐se,  portanto,  com  a  mera  prática  de  qualquer  das  condutas  previstas  no  referido  dispositivo  legal.  Conforme  foi  exaustivamente  demonstrado,  o  bem  juridicamente  tutelado  pela  norma  contida  no  art.  28  da  Lei  11.343/06  é  a  saúde  pública.  Assim,  no  Estado  Democrático  de  Direito  em  que  vivemos  é  completamente  inadmissível  que  um  mero  interesse  privado  em  fazer  uso  de  substâncias  entorpecentes  se  sobreponha  a  um  interesse  coletivo  de  se  combater  o  uso  das  drogas  e  de  seus  malefícios.  Dessa  forma,  o  interesse  privado  sucumbe  ante  ao  interesse  de  toda  uma  coletividade  em  se  combater  a  difusão  do  uso  de  drogas.  A  norma  tutela  interesse  coletivo,  que  se  sobrepõe  ao  direito  individual  de  liberdade,  constitucionalmente  assegurado.  A  posse  de  substância  entorpecente  representa  perigo  para  a  saúde  pública,  o  que  autoriza  o  apenamento  da  conduta  do  agente  sem  que  resulte  ferido  o  seu  direito  à  intimidade,  como  bem  entendeu  o  Supremo  Tribunal  Federal.