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363 Posi c ionamento da Unifesp sobre redução de danos E. A. Carli ni J . br a s . p s i qu i a tr . vol . 52 (5) : 363-370, 2003 R e s u m o Na Un i versi dade F ederal de São Paul o (Un i f es p) , vári os grupos atuam na área de uso abusi vo e dependên ci a de ál c ool e outras drogas: a D i sci p li na de Med i ci na e So ci ol og i a do Abuso de Drogas (D i mesad) , cri ada pel a un i ão de doi s setores o Centro Brasil ei ro de I n f ormaç ões sobre Drogas (Cebri d) e a Un i dade de Dependên ci a de Drogas (Uded) , e , vi n c ul ados ao Departamen- to de Psi qui atri a , os setores Programa de Ori entaç ão e Atend i mento a Dependentes (Proad) e a Un i dade de Atend i mento a Dependentes (Un i ad) . Durante a f ase de preparaç ão da reun i ão , vári as d i sc ussões o c orreram nesses setores, sem que exi st i sse um c onsenso sobre a questão . Dada a ri queza das d i sc ussões, optamos por apresentar neste do c umento as d i f erentes ref l exões e o posi ci onamento desses grupos. Unitermos reduç ão de danos; Uni f esp; dependênc i a de droga ; tratamento S u m m a r y I n the Federa l Uni versi ty of São Paul o severa l groups are de a li ng wi th the probl ems of a l cohol and drug abuse: the disci pli ne of Medi ci ne and Soci ol ogy on Drug Abuse (Di mes ad) , composed of the Braz ili an Cent er of I nf ormat i on on Psi cotropi c Drugs (Cebri d) and Uni t e of Dependence of Drug (Uded) , the Program of Att endance and Ori entat i on of Dependent Persons (Proad) and the Uni ty of Att endance of Dependent Persons (Uni ad) . Severa l previ ous meet i ngs and discussi ons among these bodi es were hel d, but a consensus was not re a c hed on harm reduc t i on. As a consequence of this l a ck of consensus, the i ndependent opi ni on of e a c h of these bodi es on the subj ec t were published separat el y. Uniterms harm reduc t i on; Uni fesp; drug addi c t i on; treatment Posici onament o da Disci pli na de Medici na e Soci ol ogi a do Abuso de Drogas Al exandro B. Guerra; Ana Cecíli a P . R. Marques; Ana Regi na Noto; Beatri z M. V. Camargo; Eroy A. Sil va; Hamer A. Pal hares; José Carl os Fernandes Gal duróz; Marl ene Asevedo; Mari a Luci a O. Souz a Formi goni; Sol ange A. Nappo A redução de danos não deve ser conf undi da com os contextos cul turais, ci entífi cos e poti cos nos quais el a ocorre. Consi derando que a f al ta de concei tos cl aros sobre redução de danos possa ser um probl e- ma para sua acei tação, i mpl ementação e avali ação, é preciso discutir de modo aprof undado a questão e avali ar sua ef etivi dade 15 . É i mportante ter cl aro qual dano se quer reduzir e como avali ar ci entifi camente o i mpacto de cada ti po de ação ou estratégi a na mudança de comportamentos de risco e na redu- ção da dissemi nação de epi demi as, assi m como sua i nfl uênci a sobre os concei tos acerca do uso de dro- gas nas comuni dades nas quais essas medi das são adotadas.

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363

Posicionamento da Unifespsobre redução de danos

E. A. Carlini

J . b r a s . p s i q u i a t r . vol. 52 (5): 363-370, 2003

R e s u m o

Na Un iversidade Federal de São Paulo (Un ifesp), vários grupos atuam na área de uso abusivo e dependência de álcool eoutras drogas: a D iscip lina de Med icina e Sociolog ia do Abuso de Drogas (D imesad), criada pela un ião de dois setores – o CentroBrasileiro de Informações sobre Drogas (Cebrid) e a Un idade de Dependência de Drogas (Uded) –, e, vinculados ao Departamen-to de Psiquiatria –, os setores Programa de Orientação e Atend imento a Dependentes (Proad) e a Un idade de Atend imento aDependentes (Un iad). Durante a fase de preparação da reun ião, várias d iscussões ocorreram nesses setores, sem que existisseum consenso sobre a questão. Dada a riqueza das d iscussões, optamos por apresentar neste documento as d iferentes reflexõese o posicionamento desses grupos.

Unitermosredução de danos; Unifesp; dependência de droga; tratamento

S u m m a r y

In the Federa l University of São Paulo severa l groups are dea ling with the problems of a lcohol and drug abuse: the discipline of Medicineand Sociology on Drug Abuse (D imesad), composed of the Braz ilian Center of Information on Psicotropic Drugs (Cebrid) and Unite ofDependence of Drug (Uded), the Program of Attendance and Orientation of Dependent Persons (Proad) and the Unity of Attendance ofDependent Persons (Uniad). Severa l previous meetings and discussions among these bodies were held, but a consensus was not reached onharm reduction. As a consequence of this lack of consensus, the independent opinion of each of these bodies on the subject were publishedseparately.

Unitermsharm reduction; Unifesp; drug addiction; treatment

Posicionamento da Disciplina de Medicinae Sociologia do Abuso de Drogas

Alexandro B. Guerra; Ana Cecília P. R. Marques; Ana Regina Noto; Beatriz M . V. Camargo; Eroy A. Silva; Hamer A. Palhares;José Carlos Fernandes Galduróz; Marlene Asevedo; Maria Lucia O . Souza Formigoni; Solange A. Nappo

A redução de danos não deve ser confundida comos contextos culturais, científicos e políticos nos quaisela ocorre. Considerando que a falta de conceitosclaros sobre redução de danos possa ser um proble-ma para sua aceitação, implementação e avaliação,é preciso discutir de modo aprofundado a questão eavaliar sua efetividade15. É importante ter claro qual

dano se quer reduzir e como avaliar cientificamenteo impacto de cada tipo de ação ou estratégia namudança de comportamentos de risco e na redu-ção da disseminação de epidemias, assim como suainfluência sobre os conceitos acerca do uso de dro-gas nas comunidades nas quais essas medidas sãoadotadas.

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como sinôn imos, embora não o sejam . Riscopode ser defin ido como a possib ilidade ou pro-bab ilidade da ocorrência de um evento. Danose refere a uma conseqüência de um evento jáocorrido .

4 )4 )4 )4 )4 ) Preven ç ão e re d u ç ão d e d an osPreven ç ão e re d u ç ão d e d an osPreven ç ão e re d u ç ão d e d an osPreven ç ão e re d u ç ão d e d an osPreven ç ão e re d u ç ão d e d an os – – – – – ao ap li-carmos os conceitos de prevenção à área deuso e abuso de drogas, podemos considerar:š prevenção primária – não existindo o con-

sumo, eng loba as ações que visam a evitarou retardar o in ício do consumo de drogas.Ex.: campanhas educativas, d ivulgação deinformações, educação comun itária, lim ita-ções impostas pela leg islação, etc.;

š prevenção secundária – existindo algum nívelde consumo, as ações de prevenção secundá-ria têm por objetivo evitar o aparecimento deproblemas decorrentes do uso, podendo en-globar tanto ações que visam à redução ou in-terrupção do consumo de drogas como açõesque visam a evitar conseqüências decorrentesdo uso, sem propor alteração do consumo. Ex.:identificação precoce de um padrão de consu-mo prejudicial, informação sobre níveis segu-ros do consumo de álcool, detecção precoceseguida por intervenções breves, campanhasque propõem se beber, não dirija;

š prevenção terciária – em geral d irig ida àspessoas identificadas como dependentes, asações de prevenção terciária ob jetivam re-dução das conseqüências, sejam elas b ioló-g icas, psicológ icas ou sociais. Pode eng lo-bar ações que visem à redução do consumo(ex.: tratamento com meta de abstinência),ou das conseqüências, sem propor altera-ção de consumo. A prevenção terciária en-g loba tratamento, reab ilitação e estratég iasde redução de dano.

As especificidades culturais são de suma im-portância e devem ser consideradas nessas avali-ações à med ida que as primeiras estratég ias deredução de danos forem desenvolvidas, visandoa ating ir usuários de drogas in jetáveis, principal-mente dependentes de op iáceos.

No Brasil, a maioria dos usuários de drogasfaz uso de álcool, maconha ou cocaína, reque-rendo ações adequadas a este perfil. É preciso d is-cutir quais são os nossos principais prob lemas paradeterm inar as ações de redução de danos prioritá-rias e perm itir um adequado p lanejamento de in-vestimentos a curto, méd io e longo prazos. Paraisso é necessário um esforço con junto das autori-dades dos sistemas de saúde, jud iciário, de assis-tência social, da comun idade un iversitária e deprofissionais atuantes na área, a fim de perm itir aadoção de med idas cient ificamente embasadasque perm itam a melhor ap licação possível dos re-cursos humanos e financeiros d ispon íveis.

Em resumo, a redução de danos pode e deveser incluída nos programas de saúde, desde que:• sejam desenvolvidas pesquisas que comprovem

sua necessidade, sua efetividade e sua relaçãocusto /benefício;

• seja contextualizada, pois a cultura de cada lo-cal influencia o modelo e o resultado de qual-quer intervenção;

• não seja considerada o oposto de proibição, comouma proposta de legalização das drogas.

Posicionamento da Unifesp sobre redução de danos Carlini et al.

Conceitos

Antes de enfocar a redução de danos propria-mente d ita, é importante elucidar alguns concei-tos sobre prevenção.1 )1 )1 )1 )1 ) Re d u ç ão d a o f erta – Re d u ç ão d a o f erta – Re d u ç ão d a o f erta – Re d u ç ão d a o f erta – Re d u ç ão d a o f erta – med idas repressivas que

têm como ob jetivo a destruição e a proib içãode produção, importação ou venda de substân-cias psicoativas ilícitas, por meio de policiamen-to e ap licação das leis. Quanto às lícitas, emgeral, o ob jetivo é ag ilizar a vig ilância san itá-ria no controle de prescrições.

2 )2 )2 )2 )2 ) Re d u ç ão d a d e m an d a – Re d u ç ão d a d e m an d a – Re d u ç ão d a d e m an d a – Re d u ç ão d a d e m an d a – Re d u ç ão d a d e m an d a – são med idas p lane-jadas para d im inuir os agravos à saúde decor-rentes do consumo de drogas, além dos fato-res de risco para o ind ivíduo na fam ília, naescola, na comun idade, no trabalho, evitandoou d im inuindo o uso.

3 )3 )3 )3 )3 ) R i s c o e d an oR i s c o e d an oR i s c o e d an oR i s c o e d an oR i s c o e d an o – – – – – o que é dano e como isto serelaciona com risco? Ambos têm sido usados

Redução de danos

A Redução de danos (RD) é um con junto deações ou estratég ias voltadas para d im inuir os ris-cos e os danos decorrentes do uso de drogas apartir de med idas que não envolvem a reduçãodo consumo, não exig indo abstinência20.

Objetivos da RD: as ações de redução de danosvisam , principalmente, a reduzir comportamentosde risco associados ao uso de drogas, sendo prag-máticas e de baixa exigência. Não têm como obje-tivo a redução do consumo, mas sim a de outros

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Carlini et al. Posicionamento da Unifesp sobre redução de danos

Quadro 1 – Estratégias de redução de danos

Prevenção Prevenção Prevençãoprimária secundária terciária

Evitação Redução Redução

do consumo do consumo do consumo

Estratég ias que não envolvem redução

do consumo = redução de danos

problemas a ele associados. Um exemplo clássico

desse tipo de ação é prover os usuários com serin-

gas limpas e preservativos, a fim de se evitar a trans-

m issão de doenças infecto-contagiosas. Redução

de danos e m inim ização dos danos também são

expressões usadas como sinôn imas, sendo maisadequado utilizar o termo redução de danos ao se

referir ao conjunto de estratégias por meio das quaisse poderá m inim izar o dano.

Outras ações de redução de danos envolvem

med idas que visam:

• à redução de acidentes (automob ilísticos ou

por overdose);

• à redução de conseqüências sociais (como assalas para uso de drogas supervisionadas pelosistema de saúde);

• à redução de conseqüências legais (ex.: mudan-

ça da lei, diferenciando usuários de traficantes).

A D imesad entende que estratég ias de re-

dução de danos podem ser ut i l izadas na pre-

venção secundária e terc iária , como resum ido

no QQQQQ u a d r ou a d r ou a d r ou a d r ou a d r o 1 1 1 1 1.

Posicionamento da Unidade de Atendimentoa Dependentes (Uniad)

Marcelo Ribeiro; Ronaldo Ramos Laranjeira

Em relação à prevenção, existem dois braçosimportantes:

1) redução do suprimento – med idas repressivasque têm como ob jetivo a destruição, a proib i-ção da produção, a importação e a venda de

SPP ilícitas por meio de policiamento e ap lica-

ção das leis. Quanto às lícitas, em geral o ob je-

tivo é ag ilizar a vig ilância san itária no controlede prescrições e exig ir a amp liação das bulas e

a capacitação dos comerciantes de reméd iosquanto ao uso do álcool nas formulações;

2) redução da demanda – são med idas p laneja-

das para d im inu ir o consumo , d im inu indo ,conseqüentemente, os riscos para o ind ivíduo,para a fam ília e para a comun idade. Essa for-

ma de prevenção foi desenvolvida a partir do

modelo de doença e, portanto, propõe como

med idas preventivas a abstinência (prevenção

primária); a d im inuição do uso (prevenção se-

cundária) e o tratamento com abstinência (pre-

venção terciária). Todos esses n íveis de preven-

ção adotam a abstinência como meta e, maistarde, com a evolução do modelo de uso, am-

p liam sua intervenção para técn icas de redu-

ção do consumo e terap ias de substituição para

alguns pacientes. A proposta de beber mode-

radamente é um exemp lo, assim como a tera-

p ia de reposição com adesivos de n icotina.

A redução de danos é um modelo de cuidadoscom a saúde cujas ações ou estratégias estão volta-

das para diminuir os riscos e os danos decorrentesdo uso de drogas, a partir de medidas gerais, sem

reduzir o consumo8, 7, 17-19). Portanto esse modelonão exige abstinência21. A redução de danos não

deve ser confundida com os contextos ideológicos,culturais, científicos ou políticos nos quais ela ocor-

re, mas é necessário assimilá-los5, 9, 13, 14.

Existem alguns pressupostos éticos e teóricosque consideramos fundamentais:

1) é importante preservar a vida humana e me-

lhorar os n íveis de saúde do ind ivíduo e da po-

pu lação;

2) não ex istem soc iedades que não fazem ne-

nhum uso de drogas, portanto isto não deve

ser ignorado ou crim inalizado;

3) tanto drogas lícitas como ilícitas podem promo-

ver danos com impacto individual e/ou social;

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4) as pessoas têm d ireito à informação sobre dro-gas com base em evidências científicas inte-gradas ao contexto social;

5) os efeitos das drogas variam de acordo comcaracterísticas ind ividuais, podendo influenci-ar seu equ ilíbrio e relações sociais, gerandodano ind ividual e/ou social;

6) em decorrência da variab ilidade ind ividual esocial, estratég ias de baixa exigência precisamser utilizadas;

7 ) quando o ind iv íduo não ace i ta ou não con-segue reduz ir o uso , ap l i ca-se o mode lo deredução da demanda de prob lemas , a re-dução de danos , na qua l o consumo não éabordado .

Na Un iad , a estratég ia de redução de danos éutilizada na prevenção terciária, dentro do trata-mento formal, cuja meta ideal é a abstinência. As-sim , é ap licada em uma etapa in icial e ou inter-med iária, visando à abstinência.

Posicionamento do Programa de Orientaçãoe Atendimento a Dependentes (Proad)

Fernanda Moreira; Dartiu Silveira

O Programa de Orientação e Atend imento aDependentes (Proad), fundado em 1987, é umserviço do Departamento de Psiquiatria da EscolaPaulista de Med icina (Un ifesp). Ao longo de suaexistência, o Proad vem desenvolvendo ativida-des de assistência, ensino, pesquisa e prevençãona área das dependências de substâncias lícitas eilícitas e algumas dependências não-quím icas, taiscomo jogo patológ ico e sexo compulsivo. O Proadfoi a primeira instituição ligada à un iversidade ainstituir um programa de redução de danos noBrasil. Já contávamos, desde 1990, com um pro-grama de formação de outreach workers – hojechamados redutores de danos –, profissionais quesaíam às ruas nos locais de concentração de usu-ários de drogas in jetáveis para ensinar-lhes técn i-cas de desinfecção de agulhas e seringas. Devidoaos imped imentos legais, não foi possível, na épo-ca, adotar a troca de seringas e agulhas, regula-mentação que ocorreu somente em 1998.

Em 1994, com o estabelecimento de um con-vên io com o M in istério da Saúde (DST/Aids), oProad passou a coordenar ações preventivas rela-cionadas ao abuso de drogas e à infecção peloHIV em n ível nacional, com subsíd ios da Organ i-zação das Nações Un idas (UN DCP-O NU)/BancoMund ial. Atualmente, estamos reestruturando oprograma de d ispon ib i l ização de seringas aosusuários de drogas in jetáveis, o Programa de Re-dução de Danos (PRD/Proad). Nesse programa,identificamos, na rede de pacientes atendidos peloProad , aqueles com potencial para atuarem como

Posicionamento da Unifesp Carlini et al.

voluntários no PRD/Proad . Esses pacientes podemser usuários de drogas in jetáveis (UDI) ou ex-UDI,ou, ainda, usuários de drogas que tenham pene-tração na rede social dessa população-alvo. A par-t ir dessa ident if icação , os redutores de danos(agentes de saúde) serão capacitados, pela equi-pe do Proad e por profissionais co laboradores,para abordar usuários de drogas in jetáveis, d istri-bu ir seringas e agu lhas estére is e descartáve is,promovendo práticas de uso seguro de drogas eaconselhamento para a prática de sexo livre deriscos. Contamos, há cinco anos, com um grupode acolh imento de redução de danos dentro denossa sede. Esse grupo é voltado para usuários dedrogas ilícitas, entre 18 e 25 anos, que não dese-jam , em princíp io, interromper o uso de drogas,mas d iscut ir formas de uso contro lado com oob jetivo de realizá-lo com o menor risco possível.Freq üen te m ente o bservam os q ue vár ios d osfreqüentadores desse grupo acabam se engajandono tratamento , visando a abandonar o uso dedrogas. Segundo dados do M in istério da Saúde,23% dos usuários atend idos pelos PRD procuramtratamento para dependência quím ica.

Nossa instituição vem desenvolvendo trabalhosde pesquisa na área que incluem os seguintes proje-tos, concluídos ou em andamento: uso terapêuticode cannabis na dependência do crack; investigaçãodo risco de contaminação pelo HIV entre usuáriosde crack; a overdose de cocaína na perspectiva dousuário; fatores preditivos de suicídio entre depen-dentes de álcool e drogas; transtorno de atenção

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em usuários de drogas; comportamento sexual derisco para Aids entre usuários de cocaína e crack;fatores de risco para a infecção pelo HIV e outrasdoenças sexualmente transmissíveis (DST) entre de-pendentes; comportamentos autodestrutivos emusuários de álcool e drogas; violência familiar e abu-so de álcool e drogas; fatores de risco para abuso dedrogas em crianças de rua; alterações psiquiátricase neuropsicológicas em adolescentes usuários deayahuasca em contexto ritual religioso; alteraçõeseletrocardiográficas em pacientes usuários de coca-ína (monitorização eletrocardiográfica ambulatorial– holter); prevenção do uso indevido de drogas (co-nhecimentos e atitudes de coordenadores pedagó-gicos de escolas públicas de ensino fundamental dacidade de São Paulo) redução de danos ou guerraàs drogas, comparando-se modelos de prevenção;situações relacionadas ao uso indevido de drogasnas escolas públicas da cidade de São Paulo (umaabordagem do universo escolar).

Em sua tese, Bravo2 afirma existirem atualmentedois discursos contrapostos a respeito do consumode drogas: o discurso tradicional, ligado a posturasrepressivas, focalizando predominantemente as dro-gas ilegais e criminalizando o usuário – a chamadaguerra às drogas; e um novo discurso, denominadoredução de danos, que não tem como objetivo aeliminação total do consumo, mas a diminuição dosefeitos prejudiciais do mesmo, priorizando a saúdedos sujeitos e da comunidade em geral. Esse movi-mento aceita que “bem ou mal, as drogas lícitas eilícitas fazem parte deste mundo, e escolhe traba-lhar para minimizar seus efeitos danosos ao invés desimplesmente ignorá-los ou condená-los”6. Na RD,o critério de sucesso de uma intervenção não seguea lei do tudo ou nada, sendo aceitos objetivos parci-ais. As alternativas não são impostas de cima parabaixo, por leis ou decretos, mas são desenvolvidascom participação ativa da população beneficiária daintervenção. O denominador comum das ações den-tro da RD é a postura compreensiva e inclusiva, asabordagens amigáveis ao usuário12. Cabe ressaltarque, na visão partilhada pelo Proad, a RD não secontrapõe ao modelo que visa à abstinência de dro-gas, mas o considera uma das estratégias possíveisentre várias outras.

O Q ua dro 2 Q ua dro 2 Q ua dro 2 Q ua dro 2 Q ua dro 2 compara a política de guerra àsdrogas com o movimento de redução de danos,tendo sido elaborado com informações sintetiza-das por Wodak22 e apresentadas por Bravo2.

Segundo Silveira e Silveira16, o movimento daredução de danos apresenta como objetivos gerais:evitar, se possível, que as pessoas se envolvam como uso de substâncias psicoativas; se isto não for pos-sível, evitar o envolvimento precoce com o uso dedrogas, retardando-o ao máximo; para aqueles quejá se envolveram, ajudá-los a evitar que se tornemdependentes; para aqueles que já se tornaram de-pendentes, oferecer os melhores meios para quepossam abandonar a dependência; e se, apesar detodos os esforços, eles continuarem a consumir dro-gas, orientá-los para que o façam da maneira me-nos prejudicial possível. Dessa forma, consideramosa redução de riscos e a redução de danos partes deum mesmo continuum onde estão englobadas asestratégias de prevenção nos vários níveis – primá-rio, secundário e terciário – bem como todas as in-tervenções de atendimento ao usuário, incluindo tra-tamento e reinserção social.

Na visão do Proad , em um tratamento da de-pendência quím ica pautado nos princíp ios da re-

Carlini et al. Posicionamento da Unifesp

Redução de danos:o ponto de vista do Proad

No século passado, três ocorrências favoreceramuma nova forma de abordar o problema do usoindevido de substâncias psicoativas no mundo: em1926, no Colégio de Médicos Britânicos/Com itêRolleston, começou-se a prescrever heroína e serin-gas para os dependentes de heroína; em 1984, naepidemia de HIV e hepatite B entre usuários de dro-gas injetáveis na Holanda, medidas sanitárias derru-baram o preconceito de que os dependentes quími-cos não responderiam a intervenções de prevenção;e houve expansão da estratégia de troca de seringasem vários países do mundo.

A essa nova abordagem deu-se o nome de re-dução de danos. Atualmente o movimento de re-dução de danos (RD) vai muito além dos progra-mas de disponibilização de seringas para usuáriosde drogas injetáveis. Podemos pensá-lo como umparadigma que permeia diversos aspectos do traba-lho na área de uso e abuso de substâncias psicoativas.

Segundo Andrade1, “redução de danos é umapolítica de saúde que se propõe a reduzir os prejuí-zos de natureza b iológ ica, social e econôm ica douso de drogas, pautada no respeito ao ind ivíduoe no seu d ireito de consum ir drogas” .

A posição do Proad foi considerar a reduçãode danos como um parad igma que permeia todoo seu trabalho.

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dução de danos, os usuários são acolh idos den-

tro das suas demandas e possib ilidades. Isso in-

clui a possib ilidade de mod ificação do padrão de

uso e da substituição da droga de abuso por ou-

tra com a qual o usuário consiga estabelecer um

padrão de uso menos danoso, sem excluir a pos-

sib ilidade da abstinência. A substituição de dro-

gas pode incluir tanto drogas lícitas (prescrição

de metadona para usuários de op ióides e de ben-

zod iazep ínicos para dependentes de álcool) quan-

to ilícitas (acompanhar o uso de maconha que

usuários de crack e cocaína fazem no sentido de

tentar controlar sua fissura). As metas intermed i-árias são destinadas aos pacientes que não dese-

jam ou não conseguem , temporariamente ou não,abandonar o uso de drogas. A busca pelo uso

moderado ou controlado da substância em ques-

tão é, em princíp io, uma estratég ia possível no

atend imento ao dependente de qualquer substân-

cia. No enfoque da RD , a ind ividualidade do usu-

ário é considerada e ele participa da construção

do seu modelo de recuperação, podendo ainda

vir a atuar como redutor de danos na recupera-

ção de seus pares (outros usuários). O Proad con-

sidera essencial a continuidade das pesquisas so-

bre essas novas formas de intervenção.

Ao colocarmos o status legal das drogas em

uma posição secundária nesta d iscussão, estamosassum indo uma posição bastante clara: no tocante

à leg islação, o Proad defende a descrim inalização

do usuário de qualquer droga, assum indo que o

ato de consum ir drogas, por si só, não pode ser

considerado um delito. Somente poderia ser pe-

nalizado o usuário que eventualmente viesse a co-

m e t er u m c r i m e 11 . C a b e es c l are c er q u e

descrim inalizar d iz respeito a despenalizar (não

mais tornar alvo de sanção penal) o ind ivíduo que

usa ou porta a droga para uso próprio, não im-

portando se é um usuário ocasional ou um de-

pendente. D iferentemente, legalizar refere-se a

medidas mais amplas que despenalizam igualmen-

te a produção e a comercialização dos tóxicos4.O Proad considera a descrim inalização das dro-

gas uma importante med ida de redução de da-

nos: “a descrim inalização do uso de drogas, em

nosso entender, poderia ser, por um lado, fator

de integração do usuário na sociedade e, por ou-

tro , acabaria com o estigma marg inalizante da

droga”4. Dentro da mesma linha de coerência, oProad coloca-se frontalmente contra intervençõescoercitivas junto a usuários, como a justiça tera-

pêutica. Essa proposta “baseia-se numa relação

Posicionamento da Unifesp Carlini et al.

Quadro 2 – Comparação entre a política de guerra às drogas e o movimento de redução de danos

Redução de riscos e danos Guerra às drogas

Aceita a inevitab ilidade de um determ inado nível de consumo na sociedade, Parte do pressuposto de que é possível se chegar a uma

define seu ob jetivo primário, como reduzir as conseqüências adversas desse sociedade sem drogasconsumo

Enfatiza a obtenção de metas subótimas a curto e méd io prazos Enfatiza a obtenção de metas ótimas a longo prazo

Ação dentro da visão trad icional da saúde púb lica Predom inância de ações juríd ico-políticas, sendo restritasas de saúde

Vê os usuários como membros da sociedade e almeja reintegrá-los Vê os usuários de drogas como marg inais perante a

à comunidade sociedade

Enfatiza a mensuração de resultados no âmb ito da saúde e da vida em Enfatiza o enfoque na mensuração da quantidade de

sociedade, freqüentemente com metas definidas e ob jetivos determ inados droga consum ida

Imp lementa as suas intervenções com envolvimento relevante As intervenções são p lanejadas fundamentalmente por

da população-alvo autoridades governamentais

Enfatiza a importância da cooperação intersetorial entre instituições do âmb ito Orientação política populista

juríd ico-político e da saúde

Enfatiza a prevenção e o tratamento de usuários de drogas, fazendo com que Enfatiza a elim inação da oferta de drogas sem adm itir aas atividades de repressão se d irijam basicamente ao tráfico em grande escala existência de d iferentes padrões de uso das mesmas

Julga que as atividades educativas referentes às drogas devam ser de As atividades educativas veiculam uma mensagem única:

natureza factual, ter cred ib ilidade junto à população-alvo, basear-se em Não às Drogaspesquisas e traçar ob jetivos realistas

Inclui drogas lícitas como o álcool e o tabaco Restringe-se ao uso de drogas ilícitas

Dá preferência à utilização de term inolog ia neutra, não-pejorativa e científica Dá preferência à utilização de termos veementes e valorativos

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crime e castigo, obrigatoriedade e pun ição, numafilosofia que ingenuamente acred ita que uma leicrim inal é capaz de per se in ib ir o uso” , não d ife-renciando o dependente quím ico do usuário oca-sional, além de propor uma forma de tratamentoque não adm ite a possib ilidade da recaída comofenômeno inerente ao processo de recuperação10.

Quanto às práticas de redução de danos na co-munidade, os benefícios da prática de disponibi-lização de seringas e demais insumos aos usuáriosde drogas injetáveis, de eficácia amplamente com-provada, levam o Proad a considerar imprescindívelsua adoção dentro de um modelo de intervençãoabrangente. Com relação à distribuição de cachim-bos para usuários de crack, faltam ainda pesquisasque justifiquem ou condenem a prática.

Na op in ião do Proad , a redução de danos nãodeve se restring ir às drogas ilícitas, defendendono entanto que as muitas in iciativas já existentesdevam ser reforçadas, como as campanhas paraevitar a d ireção de veículos sob efeito de álcool e

a restrição de venda de beb idas alcoólicas a me-nores e em estradas.

Indiscutivelmente, a redução de danos é umtópico importante no campo das dependências quí-m icas, seja como parad igma de referência, sejacomo conjunto de estratégias de intervenção. OProad propõe ainda que a RD seja incluída no cur-rículo de todos os cursos na área de dependênciasquím icas. Defende ainda o estímulo à produçãode conhecimento no campo da redução de danos.

Segundo Carlin i-Cotrim3, “houve um aumen-to de quase 12 vezes, entre as décadas de 1960 e1980, na quantidade de artigos pub licados (nojornal O Estado de São Paulo) sobre drogas, álco-ol e tabaco” . Tal interesse da m ídia, por outro lado,não se traduziu em melhoria da qualidade das re-portagens, que muitas vezes veiculam informa-ções d istorcidas e tendenciosas. O Proad reconhe-ce, assim , a necessidade de um trabalho contínuojunto à m íd ia, visando a reduzir os danos relacio-nados à veiculação de informações equivocadas.

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Endereço para correspondência

Ana Cecília P. R. MarquesRua Napoleão de Barros 925/térreoCEP 04024-002 – São Paulo-SPTel.: (11) 5539-0155 rama l 163

Jornal Brasileiro de Psiquiatria

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