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FUNDAO GETULIO VARGAS
Escola de Direito FGV DIREITO RIO
Programa de Capacitao em Poder Judicirio
Turma 001
MARCELO MALIZIA CABRAL
CONCRETIZAO DO DIREITO HUMANO DE ACESSO JUSTIA:
IMPERATIVO TICO DO ESTADO DEMOCRTICO DE DIREITO
Trabalho de Concluso de Curso
apresentado ao Programa de Capacitao
em Poder Judicirio. FGV DIREITO RIO.
Porto Alegre, setembro de 2007
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FUNDAO GETULIO VARGAS
Escola de Direito FGV DIREITO RIO
Programa de Capacitao em Poder Judicirio
Turma 001
Trabalho de Concluso de Curso
Ttulo: Concretizao do Direito Humano de Acesso Justia: Imperativo tico do
Estado Democrtico de Direito
Elaborado por Marcelo Malizia Cabral
Aprovado e aceito como requisito parcial para a obteno do certificado de Ps-
Graduao lato sensu, nvel de especializao, em Poder Judicirio
Setembro de 2007
Prof. Dr. Rogrio Gesta Leal - Orientador
3
minha esposa, Anglica,
pelo incentivo, pela compreenso, pelo companheirismo,
pela luz que coloca em minha trajetria,
dedico este trabalho.
4
Minha gratido
aos professores do curso,
ao meu orientador, Doutor Rogrio Gesta Leal,
Fundao Getlio Vargas,
ao Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul.
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O problema fundamental em relao aos direitos do homem, hoje,
no tanto o de justific-los, mas o de proteg-los. 1
1 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Traduo de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 24.
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Resumo
Concretizao do direito humano de acesso justia. Este o tema central do
estudo. Constitui preocupao de todos os povos, em todos os tempos. Inicialmente
tratado apenas no plano formal, como a possibilidade universal de acesso justia.
Aps, com a consagrao do princpio da igualdade material, o tema passou a ser
investigado sob o prisma da possibilidade concreta das populaes terem acesso
justia. Insere-se o acesso justia no rol dos direitos humanos prestacionais.
Examina-se seu contedo e define-se-o de modo bem mais abrangente que o
simples acesso jurisdio formal, integrando-o, tambm, mecanismos consensuais
de resoluo de conflitos, tais como a conciliao, a mediao e a arbitragem. Em
decorrncia de sua caracterizao como direto social, defende-se a necessidade do
desenvolvimento de polticas pblicas e de aes afirmativas de parte do Estado e
da sociedade, garantia do acesso material da humanidade a mecanismos de
pacificao social. Examinam-se os obstculos sua realizao de ordem
econmica, cultural, social e legal e, por fim, apresentam-se propostas de aes
para a concretizao do direito humano de acesso justia. Apregoa-se, ento, a
valorizao das ferramentas consensuais de resoluo de conflitos, com a utilizao
dos recursos humanos e materiais existentes nas comunidades, reservando-se a
jurisdio formal como instrumento subsidirio e complementar realizao da
justia.
Palavras-Chave
Acesso justia; direitos humanos; polticas pblicas; conciliao; mediao;
arbitragem.
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SUMRIO
INTRODUO ............................................................................................................08
1 ANTECEDENTES HISTRICOS DO ACESSO JUSTIA...................................13
1.1 A preocupao com o acesso justia no mundo............................................13
1.2 Origem e desenvolvimento do acesso justia no Brasil .................................17
2 CONTEDO DA EXPRESSO ACESSO JUSTIA............................................20
2.1 A significao brasileira e suas conseqncias ................................................20
2.2 As investigaes do direito comparado.............................................................23
3 CONCEITUAO DE ACESSO JUSTIA...........................................................28
4 O ACESSO JUSTIA COMO DIREITO HUMANO ..............................................37
4.1 Contedo e significao dos direitos humanos ..................................................37
4.2 A consagrao dos direitos humanos prestacionais na ordem
constitucional ...........................................................................................................38
4.3 O acesso justia na ordem constitucional e sua natureza de direito
humano prestacional .........................................................................................40
4.4 O desafio da concretizao dos direitos humanos............................................43
5 OBSTCULOS CONCRETIZAO DO DIREITO HUMANO DE ACESSO
JUSTIA..............................................................................................................45
5.1 bices de natureza econmica.........................................................................45
5.2 bices de natureza cultural e social ................................................................49
5.3 bices de natureza legal...................................................................................54
6 CONCRETIZANDO O DIREITO HUMANO DE ACESSO JUSTIA ....................56
6.1 O papel dos movimentos sociais .......................................................................56
6.2 A necessidade de aes afirmativas e de polticas pblicas ............................59
6.3 Aes para a superao dos obstculos de natureza econmica ....................62
6.4 Aes para a superao dos obstculos de natureza cultural e social ............66
6.5 Aes para a superao dos obstculos de natureza legal ..............................71
REFLEXES FINAIS ..................................................................................................73
REFERNCIAS...........................................................................................................77
ANEXOS .....................................................................................................................80
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INTRODUO
O acesso justia constitui um dos temas que maior ateno tem
despertado nas sociedades contemporneas.
A evoluo dos povos tem apontado para um gradativo crescimento das
atribuies dos poderes estatais.
A insegurana e a incompreenso ocasionadas por uma produo
legislativa sem precedentes, aliadas a uma exigncia crescente de aes negativas
e positivas do Poder Executivo no respeito s liberdades pblicas e na
concretizao de um extenso rol de direitos sociais, culturais e econmicos, tm
provocado um crescimento vertiginoso da demanda do Poder Judicirio.
Sobre esta hipertrofia do Poder Judicirio, com peculiar clareza
manifestou-se o ento Ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Mrio da Silva
Velloso:
Eu ouvi, e j mencionei isto por mais de uma vez, de um magistrado carioca radicado em So Paulo, o eminente juiz Amrico Lacombe, no seu discurso de posse na Presidncia do Tribunal Federal da 3 Regio, afirmativa que achei muito interessante. Disse ele que, se os sculos XVIII, este a partir da segunda metade, e XIX, foram os sculos do Poder Legislativo e, se o sculo XX tem sido o sculo do Poder Executivo, o sculo XXI haver de ser o sculo do Poder Judicirio. [...] Vejam os Senhores porque eu penso que isso vai acontecer. As reformas constitucionais que se fazem contemporaneamente, conferem cidadania um novo sentido. As novas Constituies querem o exerccio consciente da cidadania, que se traduz na obrigao de o cidado fiscalizar, cada vez mais, o Poder. O cidado o grande fiscal do Poder, mesmo porque o Poder existe em razo dele e para satisfazer as suas necessidades. Acontece que essa fiscalizao se exerce mediante a ao do Poder Judicirio, vale dizer, mediante medidas judiciais. As reformas constitucionais que se fazem contemporaneamente visam a viabilizar esse desiderato.2
Alm dessa novel participao popular na coordenao e na fiscalizao
dos atos do Estado, este tem prometido efetivar uma srie de direitos
consagrao da cidadania, confiando-se a garantia de sua concretizao, tambm,
ao Judicirio.
2 JUSTIA: PROMESSA E REALIDADE: o acesso justia em pases ibero-americanos. Organizao Associao dos Magistrados Brasileiros, AMB; traduo Carola Andra Saavedra Hurtado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1996, p. 14-15.
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a emergncia mundial do Estado social, o welfare state, a expandir os
poderes e as competncias dos rgos legislativo e executivo, reclamando o pronto
controle judicirio da atividade do Estado.3
Ao lado das exigncias decorrentes do crescimento da atividade do
Estado, o mundo contemporneo inaugurou a massificao da economia, dos
negcios,