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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL SERRA DOS ÓRGÃOS CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA JANAÍNA PINTO HUMANIZAÇÃO E AFETIVIDADE: UM NOVO OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO NO CONTEXTO HOSPITALAR TERESÓPOLIS JUNHO/2010

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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL SERRA DOS ÓRGÃOS CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA

JANAÍNA PINTO

HUMANIZAÇÃO E AFETIVIDADE: UM NOVO OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO NO

CONTEXTO HOSPITALAR

TERESÓPOLIS

JUNHO/2010

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HUMANIZAÇÃO E AFETIVIDADE: UM NOVO OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO NO

CONTEXTO HOSPITALAR

JANAÍNA PINTO

Dissertação de Monografia apresentada ao Centro Universitário Serra dos Órgãos como requisito ao término da graduação em Pedagogia.

ORIENTADORA: Profª. Ms Gicele Faissal de Carvalho

TERESÓPOLIS

JUNHO/2010

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JANAÍNA PINTO

HUMANIZAÇÃO E AFETIVIDADE: UM NOVO OLHAR SOBRE A EDUCAÇÃO NO

CONTEXTO HOSPITALAR

Trabalho apresentado ao Curso de

Pedagogia do UNIFESO como

requisito parcial para obtenção do

grau de Licenciado em Pedagogia

Aprovado em _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________ Profª. Ms Gicele Faissal de Carvalho (orientadora)

Presidente da Banca Examinadora

_______________________________________________ Profª. Ms Mônica de Motta Salles Barreto Henriques

Centro Universitário Serra dos Órgãos

_________________________________________________ Profª.Drª. Maria Beatriz de Moraes Rocha

Centro Universitário Serra dos Órgãos

TERESÓPOLIS

JUNHO/2010

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DEDICATÓRIA-

Dedico este trabalho primeiramente a Deus, por conduzir minha vida todos

os dias e por ter me sustentado nesta jornada. A minha amada filha Izabella que

teve paciência para entender esse momento na vida de sua mãe, a minha mãe

que abdicou da sua vida, do seu tempo para que eu pudesse realizar esse sonho.

Nunca vou esquecer esse gesto de vocês. Amo muito vocês!

AGRADECIMENTOS

A Deus pela força e sabedoria todos os dias.

Aos meus pais pelo carinho e pelo amor incondicional.

A minha filha por ser de fato um presente de Deus em minha vida. Obrigada pela

colaboração, pela paciência e por entender minha ausência nos momentos em

que precisou de mim Obrigada por participar ativamente de todos os momentos

deste curso. Te amo eternamente!

A minha saudosa e amada tia Nilza (in memória) que me ensinou tudo que sei.

A minha grande e amada amiga Wanessa, que incansavelmente me ajudou e me

ouviu nas horas difíceis dessa caminhada. Você é sem dúvida um ser especial

demais viu?

A minha querida amiga Antonielle pelo incentivo e mesmo pela nossa distância

sempre esteve presente de forma maravilhosa na minha vida

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Ao meu namorado Fábio pelo carinho e paciência. Obrigada por estar ao meu

lado e por me ajudar a concretizar esse sonho.

Aos meus colegas de turma por proporcionar momentos lindos e mágicos na

minha vida e também na vida da minha filha.

À Professora Giceli Faissal de Carvalho, pela paciência, carinho e dedicação

nessa orientação e também pelo incentivo que me deu durante todo curso. Sei

que neste momento as coisas não andam bem e você sempre ao meu lado me

incentivando e me mostrando que vale sempre a pena continuar. Você é

maravilhosa!

As Professoras, Mônica Henriques e Maria Beatriz que foram pessoas

fundamentais durante o curso e que colaboraram muito no meu crescimento,

como educadora e também como pessoa.

Minhas amigas que com paciência souberam entender meus momentos de

grande stress e que me deram colo nas horas difíceis.

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“Os sonhos não determinam o lugar onde vocês vão chegar, mas produzem a força necessária para tirá-los do lugar em que vocês estão. Sonhem com as estrelas para que vocês possam pisar pelo menos na Lua. Sonhem com a Lua para que vocês possam pisar pelo menos nos altos montes. Sonhem com os altos montes para que vocês possam ter dignidade quando atravessarem os vales das perdas e das frustrações. Bons alunos aprendem a matemática numérica, alunos fascinantes vão além, aprendem a matemática da emoção, que não tem conta exata e que rompe a regra da lógica. Nessa matemática você só aprende a multiplicar quando aprende a dividir, só consegue ganhar quando aprende a perder, só consegue receber, quando aprende a se doar”.

Augusto Cury

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RESUMO

Humanização e Afetividade: um novo olhar sobre a educação no contexto

hospitalar tem como princípio buscar identificar como essas ações são

vivenciadas no hospital. Sabemos que o hospital é um lugar onde se busca a

recuperação da saúde e o alívio da dor, que por razões conhecidas ou

desconhecidas o fizeram chegar até aquele lugar.

A razão central que norteou o desenvolvimento da minha pesquisa foi: a falta de

humanização e afetividade por parte de todos que utilizam o sistema único de

saúde e por muitos que acompanham o processo de internação da criança ou

adolescente. Por isso, penso na questão da humanização do ser humano, por

mais estranho que seja - humanizar o humano - contraditório e frágil, mas, é a

urgência do momento.

O estudo tem seu início no breve histórico da Pedagogia Hospitalar e como essa

prática vem sendo aplicada, e de que maneira ela contribui na recuperação das

crianças e adolescentes hospitalizados.

Palavras Chave: pedagogia hospitalar, humanização, afetividade, crianças,

adolescentes.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 8

1. A Pedagogia Hospitalar: um pouco da história................................................. 10

1.1. Práticas pedagógicas já consolidadas no ambiente hospitalar.................. 17

2. A Humanização no tratamento da saúde. ........................................................ 22

2.1 O projeto de humanização no Hospital das Clínicas de Teresópolis

Costantino Otaviano ......................................................................................... 25

2.2. Afetividade e humanização – sentimentos que curam............................... 26

3. A escuta pedagógica – um novo olhar no tratamento ...................................... 29

Considerações Finais:.......................................................................................... 32

REFERÊNCIAS:................................................................................................... 34

ANEXO................................................................................................................. 36

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INTRODUÇÃO

A classe hospitalar vem desde sua criação procurando modificar a

forma com que se recupera a saúde da criança e do adolescente hospitalizados,

assistidos dentro do processo de inclusão, promovendo a continuidade da sua

aprendizagem e valorizando sua vida e também sua história. A inclusão social

será o resultado do processo educativo e reeducativo. A escola é um fator externo

à sua patologia, logo, é um vínculo que a criança mantém com seu mundo

exterior. Se a escola procura dentro das suas políticas pedagógicas ser promotora

da saúde, o hospital pode ser um espaço onde a escolarização poderá acontecer.

A escolarização indica criação de hábitos e fatores que estimulam a auto-estima e

favorecem o desenvolvimento da criança e do adolescente hospitalizados. Sendo

assim, essa pesquisa está inserida no contexto das práticas educativas e sociais.

Como fazer essa relação entre afetividade e aprendizagem, e ainda

proporcionar um atendimento diferenciado e de qualidade, onde se consiga de

fato dar ao cliente hospitalizado uma educação digna e cheia de significados?

Em contrapartida, entender que a humanização depende diretamente da nossa

capacidade de falar e ouvir, pois as coisas do mundo só se tornam humanas

quando passam pelo diálogo com nossos semelhantes.

Será que esses conceitos fazem parte da instituição chamada hospital?

Vejo que esse é o papel da educação e também do educador inserido no

ambiente hospitalar. Como fazer com que esse pensamento se torne parte

integrante de uma área completamente técnica e muito pouco humanizada?

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Percebo o quanto é importante pensar na questão da humanização como

sendo uma prática facilitadora na busca da melhoria da saúde. Ser mais humano

não significa apenas ser bonzinho. Ser humano é poder olhar o outro como sendo

alguém que necessita da sua ajuda e que está ali por alguma enfermidade e não

por que deseja estar ali. Chego à conclusão de que não basta fazer uma revisão

apenas das práticas de saúde, mas sim a revisão geral das atitudes pessoais e

profissionais de todas as pessoas envolvidas neste ambiente.

Para apresentar a discussão deste tema abordo no capítulo 1 a história da

Pedagogia Hospitalar, sua implantação no Brasil e as leis que a legitimam, sua

prática e aplicação dentro dos hospitais. Também destaco neste capitulo as

práticas pedagógicas já consolidadas em muitos hospitais que desenvolvem

atividades educativas às crianças e adolescentes hospitalizados.

No capítulo 2 procuro conhecer como a Humanização passou a ser uma

prática obrigatória dentro dos hospitais no Brasil e logo a seguir apresento o

Projeto de Humanização do Hospital das Clínicas de Teresópolis Costantino

Otaviano e suas atividades, que buscam minimizar o sofrimento dos pacientes

hospitalizados. Faço também neste capítulo um link entre afetividade e a

humanização, buscando perceber como eles auxiliam as práticas pedagógicas.

Logo no capítulo 3 abordarei a escuta pedagógica como ferramenta

fundamental no tratamento e no desenvolvimento das atividades escolares dentro

do hospital.

Nas considerações finais apresento as minhas reflexões sobre os estudos

e práticas realizadas para esta pesquisa e as contribuições disponibilizadas para

futuros aprofundamentos neste campo de atuação a que se destina a Pedagogia

Hospitalar, visto que ainda há muito que fazer para que o atendimento às crianças

e adolescentes hospitalizados possam ter o selo da qualidade do ensino e da

humanização, atrelados à realidade deste trabalho.

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1. A PEDAGOGIA HOSPITALAR: UM POUCO DA HISTÓRIA

Para que se faça compreender melhor toda temática da Pedagogia

Hospitalar, precisamos compreender primeiro como ela surgiu e como se deu a

entrada no Brasil. Com esse percurso, com certeza, teremos maior clareza da sua

importância enquanto espaço não formal de educação.

A educação não formal designa um processo com várias dimensões tais como: a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos; a capacitação dos indivíduos para o trabalho, por meio da aprendizagem de habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades; a aprendizagem e exercício de práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem com objetivos comunitários, voltadas para a solução de problemas coletivos cotidianos; a aprendizagem de conteúdos que possibilitem aos indivíduos fazerem uma leitura do mundo do ponto de vista de compreensão do que se passa ao redor; a educação desenvolvida na mídia e pela mídia, em especial a eletrônica. (GOHN 2006, sp).

O ambiente hospitalar é um espaço não formal de educação, onde

ela deve estar presente por força das leis que amparam e legitimam o direito à

educação, mesmo quando isso acontece fora do contexto escolar.

Dentre essas leis específicas podemos citar:

O Estatuto da Criança e do Adolescente, lei nº 8.069/90 em especial, o

artigo 9, que trata do direito à educação: “Direito de desfrutar de alguma forma de

recreação, programa de educação para a saúde” e a lei dos Direitos das Crianças

e Adolescentes Hospitalizados, através da Resolução n 41 de 13/10/1995. Essas

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leis visam a proteger a infância e a juventude, sendo um instrumento de tentar

garantir uma sociedade mais justa.

Constituição Federal/88, art.205. Que diz no seu Título VIII – Da Ordem Social, em seu Capítulo III – Da Educação, da Cultura e do Desporto, Seção I, artigo 205: Ressalta que “a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Lei n. 6.202, de 17/04/75, que atribui a estudantes em estado de gestação o regime de exercícios domiciliares. Lei n.9.394/96 (Diretrizes e Bases da Educação). Inicialmente essa lei veio apenas como complemento da Constituição e com a idéia de que a educação é de fato para todos, mas logo após percebe-se a grande necessidade de se inserir nela a Classe Hospitalar, tendo em vista as peculiaridades que a mesma tinha. Então essa modalidade passou a ser inserida dentro da educação especial, com uma percepção e ênfase na educação inclusiva, pois é exatamente assim que se percebe essa modalidade não formal. Em seu capítulo V- Artigo 58, §2º “O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular”. Decreto Lei n. 1044/69, art.1º, que dispõe sobre tratamento excepcional para alunos portadores de afecções. Resolução n.41/95 (Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente). Resolução n. 02/01 –(art.13, §1º e 20º) CNE/CEB (Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica). Este documento define como elementos básicos a partir da percepção de que os educandos com necessidades educacionais especiais, são aqueles que apresentam dificuldades de acompanhamento das atividades curriculares por condições e limitações especificas de saúde

Deliberação n. 02/03 – CEE (Normas para Educação Especial).

O documento intitulado Classe hospitalar e atendimento pedagógico

domiciliar: estratégias e orientações, (MEC, 2002, p.14) tem como principio e

objetivo as seguintes especificações:

Têm direito ao atendimento escolar os alunos do ensino básico internados em hospital, em sérvios ambulatoriais de atenção integral à saúde ou em domicilio;

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Alunos que estão impossibilitados de freqüentar a escola por razões de proteção à saúde ou segurança, abrigados em casas de apoio, casas de passagem, casas-lar e residências terapêuticas.

A história da Pedagogia Hospitalar tem seu início em 1935 em Paris,

quando o médico Henri Sallier inaugurou a primeira escola para crianças e/ ou

adolescentes inadaptados que haviam sido mutilados na Segunda Guerra

Mundial. Sallier pensou como seria a vida escolar das crianças e adolescentes

após aquele momento de enfermidade provocado pela terrível guerra, e criou um

espaço onde eles pudessem dar continuidade ou até mesmo iniciar sua jornada

educativa.

Seu exemplo foi seguido na Alemanha, França, Europa e também nos

Estados Unidos. Aqui no Brasil a primeira escola hospitalar foi criada pela

professora de curso primário Lecy Rittmeyer no Rio de Janeiro, no dia 14 de

Agosto de 1950, no Hospital Jesus e se fez necessária, após a percepção de que

as crianças que ficavam um longo período internadas, acabavam interrompendo o

processo educacional escolar e quando retornavam não conseguiam acompanhar

o andamento das disciplinas.

Nesta década surgiu o Departamento Nacional da Criança que mesmo com

recursos insuficientes para atender as necessidades da educação comum, dirigiu-

se à assistência médica higiênica. Houve vários programas e campanhas:

combate à desnutrição, vacinações e diversos estudos e pesquisas de cunho

médico realizadas no Instituto Fernandes Figueira. Era também fornecido auxilio

técnico para a criação, ampliação ou reformas de obras de proteção materno-

infantil, basicamente hospitais e maternidades.

Algumas técnicas foram empregadas para o fortalecimento das famílias

como: cursos e palestras dirigidos às equipes das instituições enfatizando a

necessidade tanto de que as escolas de serviço social colaborassem no que se

referia ao bem estar da criança nas instituições, quanto a de que todos os

membros de entidades públicas e privadas desenvolvessem modernos conceitos

de assistência infantil.

A partir desta data outros hospitais no Brasil iniciaram trabalhos pontuais

no ramo da Pedagogia Hospitalar:

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Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto, situado em São Paulo, as primeiras

classes foram criadas em 1997. Inicialmente eram duas, que foram vinculadas à

Escola Estadual Drº Aymar Baptista Prado, ampliada em 2002 para mais uma, até

chegar à quarta em agosto de 2005. São quatro professores habilitados em

Educação Especial e o atendimento é feito nos leitos quando as crianças ficam

impedidas de se locomover. O hospital conta com três salas que possuem

recursos pedagógicos diversos.

Instituto Nacional de Câncer (INCA) situado no Rio de Janeiro, essa

instituição é federal e foi criada na década de 30, sendo referência desta sua

criação no tratamento do câncer, que durante muito tempo foi e ainda continuam

sendo uma das maiores causas de mortes no Brasil. A classe hospitalar no INCA

foi implantada no ano de 2000, quando um convênio foi assinado com a

Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.

O trabalho é oferecido aos pacientes da enfermaria de oncologia pediátrica,

hematologia pediátrica, do ambulatório de quimioterapia infantil e atualmente

beneficia crianças e adolescentes que foram submetidos a transplante de medula

óssea. Além disso, o Centro de Oncologia Pediátrica conta o apoio da Fundação

do Câncer, Instituto Ronald McDolnald e também do Inca Voluntário.

No ano de 2008 o setor pediátrico do INCA realizou 9.120 atendimentos

ambulatoriais e 5.556 aplicações de quimioterapia e além de 1.056 internações.

O Centro de oncologia pediátrica possui os seguintes programas: Classe

hospitalar: atendimento escolar da Educação Infantil e do Ensino Fundamental

internado ou em tratamento ambulatorial no Instituto; Brinquedoteca: espaço

lúdico do Hospital de Câncer I; Casa de apoio à criança com câncer: gerenciada

pelo INCA e também pela Associação de apoio à criança com neoplasia, a casa

Ronald Mcdonald, da hospedagem gratuitamente aos pacientes vindos de outros

estados ou municípios, que não tem condições financeiras e que estão em

tratamento ambulatorial; Desenhos de crianças: trabalhos desenvolvidos na sala

de recreação.

Desenvolvendo um maravilhoso trabalho o Hospital Infantil Joana Gusmão,

situado em Florianópolis, no estado de Santa Catarina, iniciou a pedagogia

hospitalar na década de 70 com a criação do Programa de recuperação

neuropsicomotora de crianças severamente desnutridas, onde todo trabalho era

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desenvolvido por uma equipe de multiprofissionais que assistia a criança dentro

de todas as suas especificidades. Em 1999 o hospital fechou uma parceria com a

Secretaria de Educação e deu assim inicio às classes hospitalares em Santa

Catarina.

Atualmente o hospital oferece diversos programas que visam buscar um

atendimento mais humanizado e de qualidade nos aspectos educacionais, são

estes os programas: Ambulatório de dificuldade de aprendizagem: diagnóstico,

orientação e acompanhamento escolar para crianças com atraso neuropsicomotor

e dificuldades na aprendizagem; Atendimento pedagógico em Equipe

Multidisciplinar: atendimento nas unidades, viabilizando a integração entre

equipes multidisciplinar do hospital e o processo escolar; Classe Hospitalar:

continuidade escolar formal e contribuição para a reintegração à escola após alta

do hospital; Recreação: brincar com proposta terapêutica, resgatando a

vitabilidade e autoconfiança; Estímulo essencial: para crianças de 0 a 6 anos com

atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.

Um hospital humanizado é aquele que busca dar aos pacientes dentro de

todas as suas estruturas físicas, tecnológicas, humanas e administrativas,a

valorização, o respeito e a dignidade para a pessoa humana que depende

daquele serviço, seja essa pessoa qual for. Incorporado à esta missão e sendo

referência nacional dentro das propostas da humanização, existe o Hospital

Pequeno Príncipe, situado no Paraná, que tem sua trajetória de sucesso iniciado

no início do século passado. Em plena 1ª Guerra Mundial, um grupo de sábias

mulheres da própria comunidade decide iniciar um inédito atendimento de saúde

para as pessoas carentes da cidade e entre essas pessoas as crianças.

Juntamente com essas mulheres outros profissionais decidem participar

desta idéia e conseguem inaugurar o Dispensário Infantil, que somente em 1919

recebem os primeiros pacientes. E a história não termina por aqui, em seguida,

lançam o projeto de construção do Hospital de Crianças. Foram onze anos de

muito trabalho e de mobilização social e no ano de 1930, o hospital foi inaugurado

e só começou a funcionar mesmo no ano de 1932.

Em agosto de 1956, é criada a então organização mantenedora, a

Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro, que mantém este

nome ate os dias de hoje. Surge então o Hospital Pequeno Príncipe, no início dos

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anos 70, um novo caminho se inicia demonstrando seu amor pelas crianças. E

hoje, este hospital vive incansavelmente na missão de buscar uma humanização

que faça de fato a mudança na vida de todos.

Existem muitos projetos que auxiliam e dão ao Pequeno Príncipe a

referência que lhe é devida e todos foram criados, fundamentados no principio de

humanização como ato de cuidar. Todos os programas que serão relacionados a

seguir estão ligados ao Programa de Humanização do Atendimento: uma questão

de princípio. Família ativa: Este se funde na orientação dos familiares a prestar

assistências aos cuidados da saúde à criança, unindo-os no processo terapêutico

e preparando-os para a continuidade do tratamento quando voltarem para sua

casa. Família feliz: Visa unir todas as famílias e amigos na recuperação do

paciente. Acontecem todos os domingos (através de atividades recreativas).

Resguarda o vínculo afetivo e busca minimizar o sofrimento causado pela

separação. Reforço à presença do familiar/continuidade do tratamento: São casas

de Apoio que oferecem o serviço de hospedagem para crianças e responsáveis.

Em cinco anos já foram atendidas mais de cinco mil pessoas. Educação e

cultura: Promovem atividades educacionais e culturais voltadas para as crianças,

adolescentes, familiares e funcionários.

Existe o serviço de acompanhamento escolar para crianças e adolescentes

internamentos á médio/longo prazo, são desenvolvidas atividades com jogos,

leitura e também contação de histórias, inclusão digital, apresentações de música,

teatro e dança, entre outras ações. Programa biblioteca viva em hospitais: Além

de fornecer um acervo de cerca de 300 livros infantis de alta qualidade, esse

programa capacita funcionários e voluntários da instituição para desenvolverem o

ato de ler para as crianças e também para seus familiares. Realizado em parceria

com a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, Ministério da Saúde e

Citybank.

A Pedagogia Hospitalar na visão de Mugiatti (2008, p77) mostra, portanto,

que é um processo de educação organizada que transcende aos parâmetros

usualmente adotados. Essa modalidade não formal vem crescendo muito nos

últimos anos em todo território nacional e tem sido muito importante na

construção e promoção da qualidade de vida para todas as crianças e/ou

adolescentes hospitalizados. É uma concepção de educação que se destina a

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uma prática aplicada dentro do espaço hospitalar e possibilita a integração do

indivíduo em seu todo buscando proporcionar uma assessoria, um

acompanhamento emocional e humanístico.

Assim, com a inserção da Pedagogia Hospitalar, consegue-se uma integração valiosa entre teoria e prática, bem como entre a prática e a teoria. Por outro lado esta experiência pode vir a capacitar para uma futura dedicação profissional quando a sociedade se aperceber da necessidade também de pedagogos nos centros hospitalares e espaços de saúde. (ibid., p81)

A prática pedagógica no hospital tem como principio permitir que mesmo

hospitalizado, esse aluno consiga ter contato com o mundo exterior, privilegiando

suas relações sociais e aumentando seu vínculo familiar. Pensar no binômio

hospital/ escola nos remete pensar que a educação passa não só a ter

importância no que se reflete ao atendimento pedagógico-educacionalmente, mas

sim, em atividades que busquem autenticidade no desenvolvimento psíquico e

cognitivo da criança e/ou adolescente hospitalizado.

Na visão de Sampaio (2004, p.69) educar é dar sentido às práticas e atos

do cotidiano. É mais que desenvolver a inteligência e habilidades. É fazer do

indivíduo um ser útil à sociedade e ao mundo. É através dessa missão que a

educação irá ganha importância e credibilidade no seio da sociedade.

Essa visão de educação se faz necessária ainda mais dentro do espaço

hospitalar, pois é ali que o aluno pode reencontrar todos os sentidos e objetivos

da educação e também o educador encontrará no aluno um novo sentido para

fazer educação.

“Não se trata de formar educadores, como se eles não existissem. Como se houvessem escolas capazes de gerá-los, ou programas que pudessem trazê-los à luz.[...] É necessário acordá-los”. (ALVES, apud SAMPAIO, 2004, p 69.)

Ainda citando o mesmo autor (2004, p.70) este retrata perfeitamente como

se deve entender a educação: A educação emocional é fundamental na formação

do educador, para que possa ampliar a clareza da sua missão e possa agir

coerente com ela, exercitando as habilidades e competências emocionais que lhe

dê uma estrutura capaz de comprometer-se e responsabilizar-se pela formação

dos seus alunos. Estrutura essa que eleve o respeito por si próprio, sua auto-

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estima e automotivação na compreensão da sua importância para transformação

do homem e da própria sociedade.

Como propõe Mugiatti (2008, p.29) o momento pede que se mude o

enfoque construído em torno da noção de doença, a fim de que se comece a dar

maior prioridade à saúde. Essa atenção induzirá ao indivíduo a se tornar mais

participativo, ativo, envolvido e comprometido.

1.1. Práticas pedagógicas já consolidadas no ambiente hospitalar

A prática da Pedagogia Hospitalar vem com uma proposta de modificar

situações e atitudes junto às crianças e aos adolescentes internados, envolvendo-

os em ambiente de modalidades de intervenção e ação; com programas

adaptados às capacidades e disponibilidades de cada um. O que essa prática

propõe é uma quebra no antigo paradigma do pedagogo para dar lugar ao novo

profissional que busca uma nova prática transdisciplinar entre o educador e o

profissional da saúde. O trabalho pedagógico para muitas crianças que estão no

hospital é uma oportunidade única de receber atendimento pedagógico, já que em

muitas classes iniciais de escolas públicas ou também particulares não possuem

professores com formação pedagógica adequada.

Matos e Mugiatti (2006, p. 127) destacam algumas práticas pedagógicas

que são utilizadas nos hospitais para melhorar e auxiliar no tratamento da saúde

dos alunos que estão hospitalizados. São projetos que vem dando certo e que

servem de referência para tantos outros.

Projeto Mirim de Hospitalização Escolarizada: Este projeto teve seu início

no ano de 1989, após a percepção da equipe técnica de que se necessitava de

uma medida eficaz no acompanhamento dos alunos que permaneciam durante

um longo período hospitalizado. O que se tornou um grande desafio também foi

motivar as crianças, os pais ou responsáveis em participar desta proposta.

A idéia deste projeto era de não deixar que o aluno hospitalizado deixasse

de dar continuidade ao seu estudo. A sua organização se dava da seguinte

maneira, através do serviço social, a pedagoga ou então professora hospitalar

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fazia o primeiro contato com a escola de origem do aluno, e se construía um

processo de acompanhamento desse aluno e também uma manutenção desse

acompanhamento. O que se buscava era não deixar que o aluno ficasse fora do

que estava sendo aplicado em sala de aula e que também quando voltasse

pudesse acompanhar a turma sem perdas significativas.

As atividades podem ser desenvolvidas tanto no leito quanto na classe

hospitalar, e é uma particularidade desse projeto, que necessita muito da

avaliação do médico que diz na verdade em que situação clínica o aluno se

encontra, daí então se aplica a atividade.

As avaliações são feitas de forma diferenciada, se o aluno estiver ainda

hospitalizado ele fará no hospital e se já estiver saído, essa avaliação se dá

dentro da sua escola de origem. É bom lembrar sempre da posição do hospital:

ele não é escola, apenas funciona como uma ponte para que o aluno não perca

seu direito de acesso à educação.

Projeto Sala de Espera: Este projeto é o segundo componente do processo

educacional, criado no ano de 1993, com objetivo de criação de um ambiente

lúdico, procurando envolver as crianças e os adolescentes que aguardam o

atendimento para uma consulta médica na sala de espera. O ambiente da sala de

espera não é diferente do hospital, ele remete sempre a pensar na dor, no medo e

traz consigo todas as sensações de tensão que o hospital traz. Diante deste

impasse e também frente a demora no atendimento é que se pensou realizar um

trabalho pedagógico que, por meio da ludicidade, envolvesse as crianças, os

adolescentes e os adultos na sala de espera.

Uma das primeiras mudanças foi à mudança no espaço físico da sala de

espera e também dos consultórios. O que se buscou foi proporcionar um espaço

mais alegre e descontraído e também atividades que consigam promover a

interação entre os pacientes e os professores que estão no local. A sala de

espera vai se transformar para que de fato faça parte de um novo cenário, uma

sala com mesinhas, cadeirinhas, mural interativo, jogos, livros, fantoches,

revistas, desafios, músicas e muitas outras coisas que fazem parte do mundo

infantil.

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Ações como estas fazem do hospital ou do consultório um lugar melhor de

se estar, passa de um lugar cansativo e assustador para um local de alegria, e

aprendizado, onde o lúdico, a arte e a educação se tornam um grande atrativo.

Projeto Literatura Infantil: Criado em 1994 esse projeto surgiu após se

perceber que as crianças hospitalizadas ficavam cativas nos leitos, fato este que

acaba tornando o tempo interminável dentro do hospital. Por conta disto se

buscou neste projeto desenvolver uma atividade que colaborasse com todos e

também que ele pudesse minimizar os efeitos que o hospital traz. Vale ressaltar

que esse projeto também surge como fonte terapêutica no auxilio ao tratamento

das crianças e adolescentes hospitalizados e também serve de aliado ao

processo humanizador do hospital, o que aumenta o laço entre mães e filhos.

O projeto é conduzido da seguinte maneira: os livros são levados aos

leitos, de acordo com as faixas etárias e também área de interesse. Também

pode acontecer como esquema de empréstimo com crianças maiores e que

conseguem fazer a leitura sozinha.

Projeto Enquanto o Sono não Vem: Ele foi criado quando se percebeu que

o processo de hospitalização passa por uma dura rotina de acordar cedo, fazer

exames, hora de café, almoço e jantar. Horário de visita, recreação e também de

ver televisão, mas e enquanto o sono não chega? O que fazer? Foi daí que no

ano de 2000 ele nasceu, partiu da idéia de contar histórias no horário em que a

criança vai dormir. A intenção dessa atividade é muito mais do que contar uma

simples história ou um novo jeito de contar. Este projeto veio inovar o ato de

contar histórias, no mundo mágico das palavras a sutileza de levá-los ao caminho

de uma esperança em dias melhores e de trazer a paz para cada um.

É importante destacar que Rubem Alves lançou no mercado literário uma

coleção de livros para crianças com histórias próprias para serem trabalhadas no

ambiente hospitalar. Todas trazem uma mensagem de conforto e reflexão sobre o

momento da hospitalização.

A história A operação de Lili foi contada na enfermaria pediátrica do

Hospital das Clínicas de Teresópolis Costantino Otaviano durante a realização do

projeto de trabalho do curso de Pedagogia do UNIFESO, trouxe um grande bem

estar para as crianças ali internadas, assim como para as mães e responsáveis

que as acompanhavam.

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Este trabalho não é só função do pedagogo, ele deve praticado e ter a

participação de um grupo multil/inter/transdisciplinar para que de certa forma,

todos consigam dar ao paciente um novo significado a sua vida e também

promover uma recuperação saudável e de qualidade.

Brinquedoteca Hospitalar: Este talvez seja um dos grandes projetos da

Pedagogia Hospitalar, afinal essa prática é uma das mais utilizadas dentro de

diversos hospitais, além disso, se tem observado com estudos científicos que a

brincadeira auxilia e muito na recuperação da saúde do hospitalizado.

A Brinquedoteca Hospitalar é prevista pela lei federal 11.104, de 21/03/05,

que passou a vigorar em 180 dias após sua publicação, o que torna obrigatória a

instalação de brinquedotecas em hospitais que oferecem internação pediátrica.

Se pensarmos no imaginário infantil, veremos que a brincadeira é parte

fundamental e estrutural no desenvolvimento, portanto, não é tolice pensar que

essa brincadeira também auxilia todo processo de socialização, criatividade,

decisões e também em todas as descobertas do mundo.

Desta sua implantação, muito se vem estudando no quanto a brincadeira

ajuda na recuperação das crianças e dos adolescentes hospitalizados. O brincar

dentro do hospital não necessita ser apenas uma fonte de recreação, ela pode

ajudar outros profissionais a levantar algumas questões sobre aquele paciente.

A brinquedoteca deve ser organizada de maneira coerente com as faixas

etárias, deve ser mantida a higiene e também possuir uma intervenção variada, já

que dentro do ambiente hospitalar se encontrará uma grande diversidade de

crianças e também uma variedade de patologias.

“O brincar dá oportunidade à criança de entender tantas coisas através do brincar e se entender através de tantas maneiras de brincar”. (ABRAMOVICH, apud MUGIATI, 2008, p 153.)

O brincar em muitos momentos envolve diversas infinidades de atitudes

criativas que auxiliam e melhora o ambiente hospitalar e também a qualidade de

vida das crianças e dos adolescentes hospitalizados, a brincadeira consegue

resgatar a auto-estima e sua identidade como ser humano, a brincadeira é uma

maneira muito sadia de enfrentar alguma dificuldade que não se enfrentaria em

outra situação. O que devemos buscar é utilizar as brincadeiras, para alterar o

ambiente hospitalar, promovendo assim um lugar mais alegre e menos doloroso,

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utilizando assim ferramentas para que sua vida cotidiana seja sempre a mais

próxima possível e sempre buscar manter sua identidade humana.

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2. A HUMANIZAÇÃO NO TRATAMENTO DA SAÚDE.

“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que não arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável.O sofrimento é opcional.”(Carlos Drummond de Andrade)

O que é humanização?

Um dos conceitos mais apresentados é o termo utilizado para descrever a

aquisição ou assimilação de características humanas positivas por uma pessoa

ou grupo de pessoas.

Em 2002 o Ministério da Saúde lançou o Programa Nacional de

Humanização Hospitalar (PNHAH), que tinha como proposta, promover uma série

de ações que visavam mudar o padrão de assistência para os usuários nos

hospitais públicos em todo território nacional.

No ano de 2003 o programa ganha dimensão de política pública e passa se

chamar Programa Nacional de Humanização da Gestão e da Atenção, este

programa acaba indo de encontro aos princípios norteadores do SUS (Sistema

Único de Saúde), que enfatiza a necessidade de dar ao indivíduo atenção integral

e também de aumentar sua condição aos seus direitos e também da sua

cidadania: melhorar a qualidade, produzindo efeitos benéficos nos serviços que

são prestados; buscar sempre a excelência no serviço, procurando mudar a visão

do que é estar na condição de doente; promover uma melhor qualidade no

tratamento qualificando os profissionais que prestam esse serviço, que muitas

vezes se tornam duros no que se refere ao processo de doença, naturalizando a

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dor e o medo. Essas mudanças seriam fundamentais na melhora do doente e

também na sua família.

Pensar nas questões da humanização sempre nos remete pensar no ser

num âmbito global, e não somente olhar para o corpo e as necessidades físicas,

mas as afetivas e sociais do individuo.

Este pensamento deve ser pautado no contato com o ser humano, de uma

forma cada vez mais acolhedora e sem juízo de valores, na sua integralidade

como ser humano. O que muitas vezes parece ser tão natural no meio hospitalar,

para nós, profissionais da educação, é cada vez mais desafiador pensar em

humanização, pelo simples fato de ver e pensar o ser humano por diversas

formas e diferentes universos, onde cada um faz a leitura do que é e o que o ser

humano representa na sua totalidade.

Segundo Pivatto ( 2007, p.150) o ponto de partida pode ser difícil, quando

se quer fundamentá-lo e justificá-lo, mas pode ser igualmente fácil, se for tomado

como despertado momento criativo auto-referente.

Sem dúvida, é fundamental tomar como ponto de partida o próprio existir e

conviver, o fato de que nasci, de que vivo no seio de uma família, em meio a tudo

o que a civilização produziu e guardou. Todos nós chegamos ao mundo da vida

com uma herança genética e cultural inegáveis. Não existe tabula rasa. O que

existe de fato é o ser humano, ele sem dúvida é o único a quem devemos nos

propor a desvendar seus diversos contextos.

Viegas (2007, p.49) retrata que falar de humanização é fácil, o difícil é

praticá-la. Essa prática deve se aplicada como medicamento fitoterápico, em

pequenas doses, com paciência e com carinho, assim se conseguirá produzir em

todos os envolvidos o sentido da humanização.

Schilke (2007, p.16) aponta que segundo a Organização Mundial de

Saúde, “saúde é o total bem estar bio-psico-social do homem e não somente a

ausência de doença”.

Fica claro então que o principal objetivo em um complexo hospitalar não

deve ser, apenas, recuperar a saúde física do indivíduo. É aí que entra a

humanização, entre os espaços da recuperação e na promoção da saúde do

aluno hospitalizado. Não se pode pensar na humanização sem pensar nas

questões do afeto e do carinho.

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Schilke (2007, p.20) ainda nos mostra que o efeito do ambiente, sobre o

estado emocional da criança depende dos pais e dos profissionais de saúde. É

impossível impedir o choro, gritos e os barulhos de alguns equipamentos. Nestas

situações, a presença do familiar é fundamental já que pode distrair e confortar a

criança atenuando as situações. Nós educadores não podemos jamais esquecer

de que amar é também lidar com todos os monstros que habitam no hospital.

Agressividade afasta o amor, a alegria, a confiança, a esperança, o carinho. O

respeito aproxima e faz do trabalho pedagógico hospitalar, um trabalho grandioso

e prazeroso.

A humanização vai muito além do saber e do conhecer, ela é aquilo que

temos de mais valor e mais precioso como seres humanos. Ela depende da

capacidade de falar e de ouvir as coisas, pois as atitudes só se tornam humanas

quando passam pelo diálogo e pela integração.

“Me movo como educador porque, primeiro, me movo como gente. Posso saber pedagogia, biologia como astronomia, posso cuidar da terra como posso navegar. Sou gente. Sei que ignoro e sei que sei. Por isso, tanto posso saber o que ainda não sei como posso saber melhor o que já sei. E saberei tão melhor e mais autenticamente quanto mais eficazmente construa minha autonomia em respeito à dos outros. (FREIRE, 1996,p.94)

Isso é sem dúvida a essência da humanização, respeitar o outro sem

esquecer de que ele é um ser em constante formação e sempre na busca

incansável do crescimento.

A humanização é sem dúvida um processo que deve ser vivenciado por

todos os profissionais envolvidos dentro de todo contexto hospitalar, mas muitas

vezes isso só acontece ou só existe no papel e não no cotidiano do hospital. É

complicado pensar em humanizar sem que não se consiga compreender primeiro

que importância isso tem e qual é o seu significado de fato.

Se pudéssemos resumir a missão da humanização num sentido geral, além

claro da recuperação do paciente, dentro de todos os campos possíveis,

definiríamos como união e colaboração interdisciplinar de todos os profissionais

envolvidos, assim como a participação nos processos de prevenção e de

promoção à saúde. Humanizar não é apenas minimizar os efeitos do trauma da

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hospitalização, humanizar é quebrar o paradigma da inumanidade. É recriar uma

nova maneira de cuidar do outro.

2.1 O projeto de humanização no Hospital das Clínicas de Teresópolis Costantino Otaviano

O projeto de humanização do Hospital das Clinicas de Teresópolis

Costantino Otaviano, nasceu a partir do decreto do Ministério da Saúde no ano de

1999 para que todos os hospitais participassem deste do projeto, visando sempre

a melhoria no atendimento a saúde do usuário e também qualidade no serviço

que esses serviços vinham prestando. E foi com base neste decreto é que o

Hospital das Clínicas de Teresópolis Constantino Otaviano passou a desenvolver

ações que fossem de acordo com as normas e também com a sua clientela,

assim o hospital tem trabalhado dentro dos seguintes objetivos:

Manter espaços de onde se estabeleçam discussões, e também a criação de novas modalidades que visem a uma assistência humanizada; Buscar dar apoio a mais iniciativas humanizadoras; Acompanhar e avaliar os projetos em desenvolvimento e os que ainda serão desenvolvidos; Promover a participação da comunidade.

O hospital também tem desenvolvido ações que visam qualificar o serviço

prestado e também melhorar o atendimento e a recuperação dos pacientes

hospitalizados.

Te ofereço uma canção: são feitas distribuições mensais de letras de

canções em forma de texto, para os pacientes e também para a equipe de

funcionários do hospital. Acolhendo a família: São promovidos encontros

semanais do setor de serviço social e também do serviço da enfermagem com os

acompanhantes dos pacientes internados para uma conversa.

Sessão pipoca: São feitas apresentações de filmes a cada 30 dias, que

buscam dar um novo sentido à rotina de trabalho.

HCTCO “ouvindo você”: É composto por uma equipe multiprofissional que

se coloca à disposição para atender as reclamações, sugestões e também elogios

ao atendimento. O que possibilita a visão e a leitura de como anda o processo de

trabalho do hospital. Satisfação do cliente: Foi elaborado um formulário de

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avaliação a cerca do serviço que vem sendo prestado. Esse formulário deve ser

preenchido pela família ou também pelo próprio paciente.

HCTCO “comemorando com você”: datas festivas que contemplam tanto o

trabalhador quanto o usuário (natal, páscoa, dia da mulher, pais, mães,

crianças...). Coral HCTCO: O coral é composto por funcionários da instituição

(intersetorial) e faz suas apresentações em datas comemorativas. Homenagear

“uma forma de valorizar”: São feitas as homenagens às profissões que atuam em

ambiente hospitalar. Essas comemorações são seguidas conforme calendário

nacional.

Quem cuida do cuidador: São feitos encontros regulares com equipes

multiprofissionais para levantar os fatores que podem gerar tensão no ambiente

de trabalho e possibilitar amenizá-los. Hospital amigo da criança – Este título foi

dado após ações que foram desenvolvidas na promoção do Aleitamento Materno

e também com o incentivo ao Parto Humanizado

Ações integradas: Existem algumas ações que ajudam a concretização do

projeto de humanização e ajudam na promoção de qualidade de vida. São estes:

Projeto Alegria, que é um projeto que tem a função de levar alegria e

recreação aos leitos do hospital. O grupo é formado por estudantes dos diversos

cursos da instituição e acontecem aos domingos logo após as visitas.

Responsabilidade Social; acontece uma vez ao ano e tem como proposta

levar à cidade de Teresópolis ações de promoção, prevenção e proteção à saúde

e também garantia dos seus direitos. A parceira também é feita com todos os

cursos da instituição. Tem sempre a participação da população da cidade e conta

com a colaboração e envolvimento dos estudantes.

2.2. Afetividade e humanização – sentimentos que curam

“... a reverência pela vida exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir”. Rubem Alves

Ouvir, sentir e tocar o outro fazem parte da natureza humana e também do

seu desenvolvimento social. Afeto é um sentimento que buscamos em todas as

nossas relações e esse sentimento não pode ser diminuído ou escondido por nós,

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nem ao menos ser confundido como uma fraqueza pessoal ou como falta de

iniciativa. Todo ser humano é incompleto e passa a vida buscando nos outros sua

completude.

Cuidar do outro é zelar para que esta dialogação, esta ação diálogo – eu- tu seja libertadora, sinérgica e construtora de aliança perene de paz e de amorização (BOOF 2001:139 apud PORTO, 2008:17)

O autor aqui faz referência a uma condição ética da filosofia do amor como

forma de amorização. Exerça o amor e o afeto como forma de reconhecer no

outro o olhar de cooperação, da simpatia e da boa convivência. O diálogo deve

ser sempre compreendido como forma de transformar o outro, transformação que

dá qualidade e que muda a vida do outro de maneira significativa. O homem é um

ser social que necessita de outros seres para conviver em sociedade.

O que observamos no nosso dia a dia é que a afetividade é sem dúvida a

base sobre qual se constrói todo nosso conhecimento racional. Crianças que

possuem uma boa relação afetiva são crianças mais seguras, possuem mais

interesse pelo mundo que as cerca, conseguem compreender melhor sua

realidade e tem um desenvolvimento muito melhor. Segundo Rossini (2008,

página 15) “O ser humano pensa. , sente, age. Ele pode ter um quociente

intelectual (QI) altíssimo, porém se o seu SENTIR estiver comprometido ou

bloqueado, a sua AÇÃO não será energizante, forte, eficaz, produtiva.

É preciso direcionar a educação das crianças ao que mais diretamente

afeta o seu desenvolvimento global, por isso necessitamos de uma educação

mais humanista voltada para o ser humano em todas as suas características.

Aprender deve estar ligado ao ato afetivo, deve ser gostoso, prazeroso e forte

capaz de produzir de fato um desenvolvimento completo.

A ausência do afeto leva à rejeição aos livros, à carência de motivação

para aprendizagem e uma ausência de vontade de crescer. Quando a inteligência

e o afeto são usados em conjunto, todos os atos humanos passam a ser

construídos de maneira sublime. Quando se combina coração amoroso com

conhecimento, produziremos uma educação onde se sabe respeitar as opiniões e

os direitos dos outros.

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É por isso que podemos nos compreender como realidades processuais, isto é, estamos em constante processo de feitura. O ser humano se constrói aos poucos. Tudo já está nele, mais é preciso conquistar-se, alcançar a essência; caso contrário, corre-se o risco de morrer sem ter chegado ao que essencialmente se é. (MELLO, 2010: 84)

Percebemos a todo instante que o ser humano vive uma busca incansável

de um sentido e de um significado para sua vida. Isso se busca desde o

surgimento da espécie humana. Dentro do hospital, essa busca se concentra

ainda mais e se faz muito mais intensa, mesmo em situações difíceis, a

consciência trabalha para buscar esse sentido e esse significado. Repensar a

afetividade dentro do hospital, deve ser um exercício diário ou se continua

cuidando do hospitalizado de forma mecânica ou passa a cuidar do ser humano

em toda sua totalidade.

A afetividade deve ser utilizada e praticada como parte de integração e de

superação desse momento de dificuldade e dor. Propor a todo o momento uma

integração desse indivíduo com o ambiente, promovendo uma integração do

espaço físico em um espaço significativo para que o aluno consiga produzir de

forma expressiva tudo que lhe for transmitido. Este conceito se aplica também

dentro da escola, levando em conta que o hospital representa para o aluno um

ambiente de dor e de medo constante, por essas razões a afetividade torna-se um

elemento fundamental na construção e no alívio da dor daquele aluno.

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3. A ESCUTA PEDAGÓGICA – UM NOVO OLHAR NO TRATAMENTO

A presença do professor dentro do hospital tem sido muito valorizada e tem

sido motivo de diversas discussões, afinal à figura do professor é sempre vista na

escola e não sendo parte do universo da saúde. Diversos autores têm buscando

levantar questões que reforcem sempre o professor como sendo uma peça

fundamental fora e também dentro do hospital, já que a própria lei garante na sua

Política Nacional de Educação Especial (Brasil, 1994) e seus desdobramentos

que estão nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação

Básica (Brasil, 2001), estes documentos procuram defender e legitimar a prática

pedagógica em classes hospitalares.

O que se tem procurado ressaltar e valorizar é a presença dos

professores dentro dos hospitais para que os mesmos possam dar as crianças e

adolescentes hospitalizados a oportunidade continuar seu processo de

escolarização. A busca por manter este profissional no hospital é para que se

consiga diminuir os índices de fracasso, de repetência e da evasão escolar que

sempre acontecem quando a criança ou adolescente passa por um longo período

de internação.

O trabalho pedagógico no espaço hospitalar apresenta diversas

formas de atuação e consegue compreender um universo que faz parte da

formação do educador. Com base no que diz o Ministério da Saúde, o hospital

não é apenas um lugar de recuperação da saúde, também deve ser espaço onde

se busque a educação.

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Hospital é a parte integrante de uma organização médica e social, cuja função básica consiste em proporcionar à população assistência médica integral, curativa e preventiva, sob quaisquer regimes de atendimento, inclusive o domiciliar, constituindo-se também em centro de educação, capacitação de recursos humanos e de pesquisas em saúde, bem como de encaminhamento de pacientes, cabendo-lhe supervisionar e orientar os estabelecimentos de saúde a ele vinculados tecnicamente. (Brasil, 1997, p.3.929)

A classe hospitalar busca dentro de todos os componentes legais procura

recuperar a socialização da criança por um processo de inclusão, dando

continuidade a sua aprendizagem e valorizando sua vida e sua historia. A

inclusão social será o resultado do processo educativo e reeducativo. A escola é

um fator externo à patologia, logo, é um vínculo que a criança mantém com seu

mundo exterior. Se a escola deve ser promotora da saúde, o hospital pode ser um

espaço para escolarização. E a escolarização indica criação de hábitos, respeito à

rotina; fatores que estimulam a auto-estima e o desenvolvimento da criança e do

adolescente.

Taam (apud Fontes, 2000, p.121) defende a idéia de que o conhecimento

contribui para o desenvolvimento do bem estar físico psíquico e emocional da

criança que se encontra enfermo, mas não necessariamente o conhecimento

curricular que é ensinado no espaço escolar. Segundo ela, o conhecimento

escolar é o “efeito colateral” de uma ação que visa, primordialmente, à

recuperação da saúde. O trabalho do professor é ensinar, não há dúvida, mas

isso será feito tendo-se em vista um objetivo maior: a recuperação da saúde, pela

qual trabalham todos os profissionais de um hospital.

Podemos compreender que a pedagogia hospitalar tem muitos benefícios a

oferecer e pode contribuir de maneira diferenciada, a atuação do pedagogo no

hospital poderá ocorrer em ações inseridas nos projetos e também em programas

de cunho pedagógico e formativo: nas unidades onde acontecem as internações;

no espaço de recreação do hospital; para as crianças que necessitarem de uma

estimulação essencial; com a classe hospitalar de escolarização para que se

possa dar continuidade aos estudos e também no atendimento ambulatorial. Pode

oferecer ainda, assessoria e atendimento emocional e humanístico tanto para as

crianças e adolescentes quanto para seus familiares ou acompanhantes que

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muitas vezes apresentam problemas de afetividade e também a própria ausência

do seu lar, estes problemas e outros também, podem prejudicar a adaptação da

criança no espaço hospitalar.

O professor que atua dentro do hospital deve ter acima de toda formação a

sabedoria de estar com o outro e para o outro. E com base neste principio, quero

compartilhar da fala de uma profissional maravilhosa que trabalha no INCA, que

consegue dar muito mais que uma aula, ela consegue refletir sobre a vida dos

alunos na esperança de dias melhores.

A entrevista foi feita través de uma pesquisa qualitativa, utilizando como

instrumento um questionário estruturado com perguntas abertas (em anexo) trago

a fala de uma psicóloga sobre sua atuação na classe hospitalar. Este contato foi

realizado através de mensagem eletrônica pela dificuldade de um encontro

presencial devido à distância de domicílio e disponibilidade da entrevistada.

Após a leitura das respostas, pude constatar que o trabalho pedagógico

que se realiza no ambiente hospitalar é um trabalho muito mais humanista do que

realmente um trabalho de transmissão de conhecimentos. No momento da

internação o que a criança realmente precisa é do carinho e da escuta

pedagógica, bases para que o conhecimento escolar aconteça naturalmente.

Citando Fontes (2000, p.122) “desmistificar o ambiente hospitalar,

ressignificando suas práticas e rotinas como uma das propostas de atendimento

pedagógico em hospital, o medo da criança, que paralisa as ações e cria

resistência, tende a desaparecer, surgindo em seu lugar, a intimidade com o

espaço e a confiança naqueles que ali atuam”.

Articular a educação dentro do hospital é sem dúvida um grande desafio,

que ultrapassa muito a nossa capacidade de ensinar, ela exige de nós

educadores, aquilo que nem sempre conseguiremos dar. A educação no hospital

precisa ser muito mais que uma aula, ela é constituída de uma dedicação, do

amor, da entrega, da esperança e acima de tudo de um ser humano embutido de

uma humanização na sua alma, para que se prossiga nesse caminho longo é

árduo chamado educação.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Após o trabalho de pesquisa bibliográfica e algumas inserções no ambiente

hospitalar como aluna do curso de Pedagogia, na realização de projetos de

trabalhos, solicitados na disciplina Pedagogia Hospitalar, penso que essa

discussão deve prolongar-se enquanto não atinge a todos os hospitais tanto da

rede pública quanto da rede privada. Tratar-se de um tema embasado na Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394, de 20/12/96, capítulo V

Educação Especial, que protege e legitima o atendimento educacional a todos os

alunos que necessitam de um atendimento diferenciado.

Os primeiros trabalhos voltados a esse atendimento tinham somente o

cunho assistencialista atendendo as necessidades da época, o que durante esse

estudo percebi e valorizei o esforço e o empenho daqueles pioneiros que

desenvolveram um trabalho que hoje é a base de estudos e atividades que

pensam no bem estar da criança e do adolescente hospitalizados.

A ótica humanista destacada no atendimento às crianças hospitalizadas

deve ser bastante enfatizada nas atividades realizadas pela equipe

multiprofissional que atua no ambiente hospitalar. No encontro com as crianças

internadas e os seus responsáveis durante a realização dos projetos de trabalho,

observei a necessidade desse novo olhar “humanizador” no tratamento e no

acolhimentos deste “público” tão fragilizado e esperançoso nas questões de

saúde.

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As atividades realizadas por conta dos projetos de trabalho tinham em

média duas horas de duração, o que me proporcionou bastante oportunidade de

observar a conduta dos profissionais da saúde no tratamento e acolhimento aos

pacientes e responsáveis, nem sempre tão humanizados como deveriam ser.

Penso que pela necessidade dos procedimentos curativos terem maior relevância

para os profissionais de saúde, as relações acentuam-se muito mais de maneira

técnica do que afetiva.

As minhas andanças virtuais levaram-me a conhecer hospitais que

trabalham com a Pedagogia Hospitalar desenvolvendo atividades e projetos com

a preocupação de melhorar o atendimento às crianças e adolescentes

hospitalizados sobre a escolarização e outros aspectos relacionados a sua

internação.

Outro ponto de grande relevância que destaco neste trabalho é a

sensibilidade aflorada que o profissional da Pedagogia Hospitalar deve ter, o que

foi muito bem colocado pela profissional entrevistada do INCA “Sem dúvida, o

mais difícil é lidar com a morte, com a nossa impotência e a nossa finitude.

Sentimos muita dificuldade, também, no planejamento, trabalhar ao mesmo tempo

com crianças de educação infantil e ensino fundamental é desafiante.Quanto ao

envolvimento, na minha opinião, não existe o não envolvimento, existe o não

detalhamento, a gente sabe da doença, mas é possível escolher o quanto se quer

saber”.

Sobre a escuta pedagógica, a partir deste estudo, proponho a todos os

profissionais que pensam em trabalhar em classes ou escolas hospitalares, que

se deixem ser tocados por essa atitude interativa que compreende o resgate da

subjetividade e contribui para a saúde da criança hospitalizada.

Sem pretender concluir este trabalho deixo uma reflexão sobre a releitura

do papel da educação dentro do hospital, ela sempre será educação em qualquer

lugar que esteja, e sua função não pode ser mudada. A educação tem a visa

modificar o individuo e dar ao mesmo a possibilidade de melhorar sua qualidade

de vida. Não podemos deixar de pensar nos propósitos e nos objetivos pela qual

a educação se propõe o que temos que fazer sempre é qualificar e aprimorar

todos os dias a nossa maneira de fazer, pensar e agir educação.

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GOHN, Maria da Glória - Educação não-formal, participação da sociedade

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ANEXO

Entrevista com questões abertas:

1-Em que momento se percebeu a necessidade de implantar classe hospitalar?

2- Como acontece esse contato com as crianças e como vocês trabalham asquestões de humanização dentro do hospital?

3- Desta sua implantação, o que de mais marcante aconteceu dentro da classe que mudou a prática docente dos professores?

4 - Como trabalhar com a morte e com a vida todos os dias sem deixar que isso mude a rotina de vocês dentro da classe?

5 - Em que momento é mais difícil ser professor dentro do hospital? Como não se envolver com a doença do aluno?

6- Afetividade e humanização: Como essas duas práticas são vividas dentro do hospital?

Foram obtidas as seguintes respostas:

Uma enfermeira de nome Ana Alves, começou a se preocupar com os pacientes sobreviventes de câncer, que estavam fora da rede regular de ensino devido ao longo período de tratamento. Ela deu o primeiro passo, fez contato coma Secretaria Municipal de Educação do município e o processo teve início.

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Qual contato, da escola? As crianças iniciam o tratamento, que consiste em internações e tratamento ambulatorial, a professora se apresenta, fala da classe, coleta informações acerca da vida escolar da criança e propõe atividades pedagógicas que lhe permitam realizar uma avaliação inicial do nível de desenvolvimento dessa criança.

Em muitas situações o trabalho tem que ser reformulado, quando desenvolvemos um tema que não interessa muito, quando planejamos algo para uma determinada criança e ela sai de alta, quando acontecem óbitos inesperados também temos q nos refazer. Mas se precisar de um exemplo específico, já tentamos dividir o horário da sala de modo a ficarmos apenas com alunos da educação infantil e tivemos que reformular porque o quantitativo era pequeno, às vezes duas crianças apenas e elas se sentiam desestimuladas.

Temos um foco específico na aprendizagem, isso não quer dizer que não acolhemos o que as crianças trazem, mas pra nossa surpresa, elas não falam na sala de aula sobre morte, doença ou coisa parecida. Quanto a nós, sofremos sim, mas temos também a satisfação de saber que estamos fazendo o melhor por aquela criança enquanto ele estiver conosco, não importando o quanto ela vai viver. É bastante significativo ouvir uma criança, poucos dias antes de sua morte, dizer que ela sentia muito não poder mais ir à escola.

Sem dúvida, o mais difícil é lidar com a morte, com a nossa impotência e a nossa finitude. Sentimos muita dificuldade, também, no planejamento, trabalhar ao mesmo tempo com crianças de educação infantil e ensino fundamental é desafiante. Quanto ao envolvimento, na minha opinião, não existe o não envolvimento, existe o não detalhamento, a gente sabe da doença, mas é possível escolher o quanto se quer saber.

Elas andam juntas obrigatoriamente, mas a política de humanização na saúde está ligada a assistência, e a implantação de Classes Hospitalares só vêm corroborar com essa política.