apostila da disciplina educandos e educadores

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  • Rede e-Tec Brasil

    Educadores e educandos: tempos histricos

    Maria Abdia da Silva

    Cuiab - MT2012

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Brasil. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica. B823 Educadores e educandos: tempos histricos /Maria Abdia da Silva, 4.ed. atualizada e revisada Cuiab: Universidade Federal de Mato Grosso/Rede e-Tec Brasil, 2012. 118p.: il. (Curso tcnico de formao para os funcionrios da educao. Profuncionrio; 2) ISBN 85-86290-48-3

    1. Profissionais da educao. 2. Histria da Educao. 3. Formao Profissional. I Silva, Maria Abdia da. II Ttutlo. III. Srie. 2012 CDU 37(09) (81)

  • Presidncia da Repblica Federativa do BrasilMinistrio da Educao

    Secretaria de Educao Profissional e TecnolgicaDiretoria de Integrao das Redes EPT

    Este caderno foi elaborado em parceria entre o Ministrio da Educao e a Universidade Federal de Mato Grosso para a Rede e-Tec Brasil.

    EQUIPE DE ELABORAO

    Universidade Federal de Mato Grosso UFMT

    Coordenao InstitucionalCarlos Rinaldi

    Coordenao de Produo de Material Didtico ImpressoPedro Roberto Piloni

    Designer EducacionalDelarim Martins Gomes

    Designer MasterMarta Magnusson Solyszko

    IlustraoEuridiano Monteiro

    DiagramaoTatiane Hirata

    Reviso de Lngua PortuguesaSuzana Germogeschi Luz

    PROJETO GRFICORede e-Tec Brasil/UFMT

  • Rede e-Tec Brasil

    Prezado estudante,

    Bem-vindo Rede e-Tec Brasil!

    Voc faz parte de uma rede nacional pblica de ensino, a Rede e-Tec Brasil, instituda pelo Decreto n 7.589/2011, com o objetivo de democratizar o acesso ao ensino tcni-co pblico, na modalidade a distncia. O programa resultado de uma parceria entre o Ministrio da Educao, por meio da Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica (Setec), as universidades e escolas tcnicas estaduais e federais.

    A educao a distncia no nosso pas, de dimenses continentais e grande diversida-de regional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas ao garantir acesso educao de qualidade, e promover o fortalecimento da formao de jovens morado-res de regies distantes, geogrfica ou economicamente, dos grandes centros.

    A Rede e-Tec Brasil leva os cursos tcnicos a locais distantes das instituies de ensino e para a periferia das grandes cidades, incentivando os jovens a concluir o Ensino Mdio. Os cursos so ofertados pelas instituies pblicas de ensino e o atendimento ao estu-dante realizado em escolas-polo integrantes das redes pblicas municipais e estaduais.

    O Ministrio da Educao, as instituies pblicas de ensino tcnico, seus servidores tcnicos e professores acreditam que uma educao profissional qualificada inte-gradora do Ensino Mdio e educao tcnica, capaz de promover o cidado com capacidades para produzir, mas tambm com autonomia diante das diferentes di-menses da realidade: cultural, social, familiar, esportiva, poltica e tica.

    Ns acreditamos em voc!Desejamos sucesso na sua formao profissional! Ministrio da Educao Maro de 2012

    Nosso [email protected]

    Apresentao Rede e-Tec Brasil

  • Rede e-Tec Brasil

    Prezado estudante:

    Minha presena no mundo no a de quem

    nele se adapta, mas de quem nele se insere. a

    posio de quem luta para no ser apenas objeto,

    mas sujeito tambm da histria

    Paulo Freire

    A sociedade brasileira vive processos rpidos de mudanas, e as esco-las cada vez mais tm de acompanhar, participar e formar cidados para lidarem com mudanas, continuidades e rupturas. De ns todos que trabalhamos dentro de instituies escolares, exigem-se novas maneiras de atuarmos como profissionais da educao e, nesta tare-fa, sermos educadores e gestores num palco em que tudo acontece muito rpido, a escola.

    Nesse sentido, necessrio saber que espao a escola? Como os funcionrios das escolas podem ser educadores? Como se educa em outros espaos dentro da escola? Como se ensina e como se aprende em outros espaos da escola? Por que a escola diferente de outras instituies sociais? Por que os funcionrios das escolas necessitam de formao profissional?

    Para compreender a si prprio, a sua relao com o outro e com a na-tureza, o homem tornou-se senhor de sua histria e de seus processos educativos num determinado tempo e lugar. No entanto, o desenvol-vimento cultural permitiu aos homens e s mulheres construrem e modificarem a sua histria e as suas formas de educao e organiza-o econmica, poltica e social.

    Sempre ouvimos falar de cursos de capacitao e qualificao dos tra-balhadores como forma de conseguir um emprego ou como forma de melhorar o desempenho das funes no local de trabalho. Hoje em

    Mensagem da professora-autora

    Maria

    Ab

    dia

  • Rede e-Tec Brasil

    dia, aqueles que esto trabalhando deparam-se com novos desafios, exigem-se deles outras atitudes e posturas. Como tomar decises co-letivas nesse contexto? Como agir dentro da escola, de modo a torn--la mais democrtica?

    Na realidade, sabemos que, de maneira geral, aos funcionrios das escolas pblicas, depois de seu ingresso, pouco foi oferecido para a formao continuada e para a compreenso do significado do traba-lho na instituio escolar formal. Tampouco, foram propiciadas condi-es objetivas que contribussem para que o seu fazer profissional se transformasse numa tarefa educativa, de respeito, compartilhamento, cooperao e aprendizagem coletiva e social.

    A vontade e o compromisso de trabalhar na escola pblica no so suficientes. H de se buscar a discusso sobre os processos de traba-lho na escola, as dinmicas de atuao e participao, a valorizao profissional e a formao continuada, entre outros.

    O ingresso na escola o primeiro passo do funcionrio, que deve ser seguido de outros, visto que a escola um espao de formao, cria-o, inveno, inovao, socializao, transmisso e apropriao de valores, princpios e sentimentos. Novas exigncias tm sido cobradas dos que trabalham com educao, em todos os nveis, nos turnos diurno e noturno. Em todas as regies do pas, preciso capacitar as secretrias, as merendeiras, os vigias, os inspetores de estudantes, as auxiliares de servios gerais, os motoristas. No podemos ficar isola-dos, pois temos sempre algo ainda a apreender. Isolados no cresce-mos; quando partilhamos saberes, aprendemos.

    Os tempos de hoje, 2012, demandam, de todos ns, atitudes que educam. Seja nas relaes de ensino-aprendizagem entre professor e estudantes, seja nas relaes profissionais entre funcionrios das esco-las e estudantes, pais e comunidade local. As atividades profissionais dos funcionrios desenvolvidas nos espaos extraclasse podem con-tribuir para o desenvolvimento da escola, dos educandos e dos edu-cadores, por meio da coparticipao nas decises e de aes voltadas para uma educao de homens e de mulheres ativos e solidrios.

    Na verdade, nestes tempos de muita pressa, muito consumo, muita violncia, toda comunidade escolar se v diante de outras situaes

  • Rede e-Tec Brasil

    do criar, recriar, ensinar e aprender. Adultos, jovens e crianas esto dentro da escola. Como se relacionar com eles? Como atra-los com algo que tenha significado em suas vidas? Que saberes e conhecimen-tos voc, funcionrio de escola, precisa adquirir para, com responsa-bilidade e postura educativa, contribuir com a formao de meninos e meninas, homens e mulheres? Voc que, provavelmente, todo dia, est acostumado com seus afazeres gostaria de exercer sua atividade com domnio de conhecimentos da dimenso formativa educativa?

    Na atividade que exerce, enquanto trabalha com meninos e meni-nas na escola, voc pode agir como educador e acrescentar outros elementos na formao dos estudantes. Para isso, uma das maneiras de agir, interagir e intervir com responsabilidade dominar os conhe-cimentos e os saberes tericos e profissionais que nos auxiliam e nos qualificam para educar e tomar as melhores decises diante das ques-tes que acontecem ou que chegam s escolas todos os dias.

    O que sabemos que estamos num rpido processo de mudanas familiares, sociais, polticas, econmicas, ambientais e tecnolgicas. A sociedade brasileira torna-se cada vez mais complexa, plural, dinmica e repleta de diversidades e diferenas. Para compreender a sociedade brasileira, preciso conhecer a sua histria e a histria das instituies escolares.

    Convidamos voc a mergulhar nesta histria e ajudar a constru-la!

  • Rede e-Tec Brasil

    Apresentao da Disciplina

    Voc, funcionrio de escola pblica, est cursando o Profuncionrio, um Curso Tcnico de Formao para os Funcionrios da Educao, que vai habilit-lo a exercer, como tcnico, umas das profisses no docentes da educao escolar bsica. Este o segundo de seis m-dulos da Formao Pedaggica, aos quais se seguiro trs mdulos tcnicos comuns s quatro habilitaes e sete mdulos da formao tcnica especfica de sua profisso.

    Neste segundo caderno, dedicado compreenso da educao, da es-cola e dos processos de construo das instituies escolares ao longo da histria do pas, voc encontrar o texto-base, gravuras, atalhos para internet, bibliografia, informaes complementares e atividades para a reflexo. Observe que, em cada Unidade, vamos desenvolver um pratique. O que um pratique? uma atividade ou um exerccio em que voc pode refletir sobre o que eu escrevi e aquilo que voc encontra na prtica, ao desenvolver seu trabalho no ambiente escolar.

    Voc j leu, nas Orientaes Gerais, que o seu curso tem uma quanti-dade de horas destinadas Pratica Profissional Supervisionada, ento, neste caso, tente conciliar os Pratiques com estas tarefas ou ativida-des. Assim, aproveite estas atividades para aprender, criar, discutir, dis-cordar e propor outras aes que melhorem a sua escola e voc atue como um educador!

    Este curso de formao tem trs elementos essenciais que o distingue de outros, so eles: os pratiques, a prtica profissional supervisionada e o memorial. No processo de formao, eles articulam os saberes e conceitos com a realidade de cada escola, municpio ou regio. H um desafio posto. Sair de onde estamos e querer aprender, buscar e inovar. Ns podemos fazer muito mais e estamos sentido necessidade de formao para posicionar e atuar diante das questes que surgem dentro da escola ou daquelas em que a escola est inserida.

    Vamos recuperar o que voc j sabe e j estudou e acrescentar uma reflexo sobre a organizao da educao e da escola brasileira, por

  • Rede e-Tec Brasil

    meio dos processos histricos, polticos, econmicos e sociais. Duran-te a sua formao e estudos, voc vai perceber as conquistas e as lutas dos trabalhadores em defesa da educao pblica, gratuita, obrigat-ria e democrtica e com qualidade social.

    Escrevi este mdulo para conversar com voc. Junto com autores dos mdulos que viro, andamos por vrios municpios e vimos como este curso solicitado pelos trabalhadores das escolas. Estive junto com os funcionrios cursistas, ouvi experincias, aprendi e ensinei, depois, construmos reflexes em que eles foram se fazendo educadores, pois acreditamos numa escola de qualidade social para nossas crianas, adolescentes e adultos.

    Este curso pretende oferecer subsdios para que voc possa participar e qualificar-se melhor para o desempenho de tarefas educativas no seu local de trabalho e discutir o significado do seu fazer profissional dentro da escola como cidado, tcnico e educador.

    OBJETIvO Espera-se possibilitar aos estudantes a aquisio de conhecimentos hist-ricos e de interpretaes da escola e da educao como espaos coleti-vos de formao humana, de contradies, de diversidade tnico-cultural. Espera-se que o cursista compreenda a educao e a escola como parte da cultura de um povo, num determinado tempo e espao. Alm disso, que a histria construda por homens e mulheres em movimentos constantes de transformao, de rupturas ou de continuidades.

    EMEnTAA educao e a escola pblica atravs dos processos histricos. A cons-truo, organizao e o significado das instituies escolares. Educa-o e Ensino. Funes da escola na sociedade capitalista. As relaes entre classes sociais e educao. Processos educativos: continuidades e descontinuidades. Movimentos sociais de mudanas e de resistn-cia. Direitos sociais. Diversidade tnico-cultural: homens e mulheres sujeitos histricos. Governo, mercado e educao.

  • Rede e-Tec Brasil

    Indicao de cones

    Os cones so elementos grficos utilizados para ampliar as formas de linguagem e facilitar a organizao e a leitura hipertextual.

    Ateno: indica pontos de maior relevncia no texto.

    Saiba mais: remete o tema para outras fontes: livro, revista, jornal, artigos, noticirio, internet, msica etc.

    Dicionrio: indica a definio de um termo, palavra ou expresso utilizados no texto.

    Em outras palavras: apresenta uma expresso de forma mais simples.

    Pratique: so sugestes de: a) atividades para reforar a compreenso do texto da Disciplina e envolver o estudante em sua prtica; b) ativi-dades para compor as 300 horas de Prtica Profissional Supervisionada (PPS), a critrio de planejamento conjunto entre estudante e tutor.

    Reflita: momento de uma pausa na leitura para refletir/escre-ver/conversar/observar sobre pontos importantes e/ou questio-namentos.

  • Rede e-Tec Brasil

    Contents

    Unidade 1- Para que estudar e compreender a educao por meio da

    histria? 17

    Unidade 2- Educao construda pelos padres da Companhia de Jesus 23

    Unidade 3-Aulas rgias: a educao dirigida pelo Marqus de Pombal 29

    Unidade 4- A famlia real portuguesa e a educao das elites 37

    Unidade 5- A Educao escolar nas provncias e a descentralizao do

    ensino 43

    Unidade 6- A repblica dos coronis e as presses populares pela educa-

    o escolar 59

    Unidade 7- Manifestos de educao: ao povo e ao governo 67

    Unidade 8- O golpe militar e a educao pblica 75

    Unidade 9- Redemocratizao: cidados e consumidores 85

    Unidade 10- Identidade profissional e o projeto poltico-pedaggico 93

    Unidade 11- Polticas para a educao pblica: direito e gesto 103

    Palavras Finais 111

    Bibliografia bsica 113

    Currculo da professora-autora 117

    Sumrio

  • Unidade 1

    Para que estudar e compreender a educao por meio da histria?

  • Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 18

    Em todo o pas, as escolas pblicas vivem momentos de ressignifica-o de suas funes socioculturais, polticas e pedaggicas. cada vez maior a responsabilidade das escolas pblicas com a formao integral dos estudantes de todas as classes sociais, para que eles co-nheam seus direitos e deveres e saibam participar com autonomia nas decises da comunidade.

    A escola o lugar para onde enviamos nossas crianas e adolescentes, a fim de que aprendam a cultura j produzida, aprendam a conviver com o outro e possam tambm criar e inventar objetos, vivenciar valores, sentimentos e sonhos. A escola o lugar de aprendizagens compar-tilhadas e colaborativas entre todos os seus integrantes. Ser que as instituies escolares, ao longo da histria, tm cumprido esse papel?

    Na conversa de hoje, vamos dialogar sobre quando, como e de que forma as instituies escolares foram criadas no Brasil, ao longo de nossa histria, e discutir o significado de dois conceitos: educao e ensino. Vamos conversar tambm sobre a especificidade da escola na formao humana.

    Nossas crianas e adolescentes cada vez mais necessitam de orientaes, estmulos, vivncias de cooperao e de solidariedade, de responsabilida-de e de cidadania, que nos fazem humanos, solidrios e autnomos. Nos-sos adultos, aqueles que, por vrias razes, somente agora tm acesso formao escolar, so nossos companheiros nesta tarefa coletiva, que educar a prpria sociedade e intervir nas decises do bairro e do munic-pio, nas decises sobre o uso do meio ambiente, da floresta e do lixo, bem como na expresso sobre diversos temas, como a construo das escolas.

  • Rede e-Tec BrasilUnidade 1 - Para que estudar e compreender a educao por meio da histria? 19

    Como estarmos preparados para contribuir na educao de nossas crianas e adolescentes? O que podemos fazer durante nossas atividades na escola para contribuir na formao dos estudantes? Como os funcionrios podem contribuir? Como podemos ser educadores e gestores na escola?

    De vrias maneiras. Hoje em dia, ns todos temos responsabilidades sociais em aes, vivncias, prticas pedaggicas, prticas de espor-tes, viagens planejadas, atividades de campo, na alimentao que ser-vimos, no zelo pelo nosso patrimnio cultural, nas formas de comu-nicao, enfim, somos todos convidados a educar socialmente a ns mesmos e a sociedade.

    Estamos nas escolas todos os dias. Convivemos diariamente com me-ninos e meninas. Em sua escola, a cozinha, o ptio, a quadra de es-portes, a secretaria, a biblioteca, a rea livre, os banheiros, o refeitrio, o auditrio, a sala de reunies, entre outros, so alguns espaos para propor e desenvolver prticas educativas e de responsabilidade social.

    Antes de prosseguir, vamos explicar dois significados: ensino escolar e educao. Ensino escolar significa uma atividade ofertada numa esco-la credenciada pelos rgos competentes, na qual se vivencia e se par-tilha saberes e conhecimentos, numa relao entre professor e alunos, de maneira intencional, organizada e sistemtica, com a finalidade de possibilitar que o estudante conhea, questione, interaja e no apenas se aproprie da cultura produzida, mas, tambm, a inove, participando das decises e invente novas formas culturais.

    Quando falamos em educao, estamos falando de vrias formas de apropriao de conhecimentos. A educao ocorre em todos os lu-gares: nos hospitais, no estdio de futebol, no Palcio da Justia, nas associaes de bairros, nas igrejas, no trnsito, nas viagens, nos meios de comunicao, nos conselhos de sua cidade ou estado, nas mar-chas, nas passeatas, nos sindicatos, nas greves, nos partidos polticos, na floresta, nos parques da cidade, no supermercado, no consultrio mdico, nas escolas e em vrios outros lugares em que haja contato social.

  • Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 20

    A educao uma prtica social de homens e mulheres e adotada com o objetivo de socializ-los e humaniz-los culturalmente. Signifi-ca que homens e mulheres, enquanto vivem, produzem valores, co-nhecimentos, linguagens, cincias, crenas, tcnicas, artes, danas, smbolos e rituais. Inventam, constroem, inovam, semeiam, sonham, desejam, fazem tudo que os constituem como pessoa, num territrio, numa cidade, numa fazenda, num Estado. Significa que ns somos seres histricos, produzimos nossa histria, memria, cultura, valores, crenas, sonhos e utopias.

    A educao acontece em vrios lugares e uma prtica social. O en-sino escolar caracteriza-se por prticas pedaggicas realizadas dentro da escola formal por meio da relao entre professores, funcionrios e alunos, de maneira sistemtica, programada e intencional, tendo como resultado a obteno de certificados, diplomas ou ttulos.

    A escola uma instituio social. Sua principal atividade o ensino e a aprendizagem de maneira socialmente reconhecida.

    Todos ns nos educamos, coletivamente, por meio de aes, atitu-des, vivncias, programas, projetos, propagandas, exposies, livros, filmes, marchas, passeatas, viagens, teatro, festas juninas, rituais re-ligiosos, comcios, excurses, palestras e outras tantas maneiras de apropriar-se daquilo que homens e mulheres produzem e sonham.

    As escolas fazem parte de um conjunto de instituies que compem a sociedade. Por exemplo: as igrejas, os hospitais, os partidos polti-cos, o Ministrio Pblico, o Senado Federal e outros.

    Atualmente, percebemos muitas mudanas nas famlias, na economia, na poltica, na religio, no trabalho. As escolas pblicas ou privadas tambm mudam, modificam-se. Como parte das mudanas sociais,

  • Rede e-Tec BrasilUnidade 1 - Para que estudar e compreender a educao por meio da histria? 21

    as escolas passaram a ter funes muito importantes, alm de ensinar a ler, a escrever, a contar, agora, exige-se de todos os profissionais da educao uma prtica voltada para o respeito s diferenas, para saber conviver com a diversidade de culturas e para a construo cole-tiva de prticas de uma gesto democrtica. Portanto, preciso criar, inventar, modificar rotinas, propor, construir, alm de aprender a res-peitar o meio ambiente, as florestas, o patrimnio pblico, as culturas diferentes, a diversidade tnica, os valores morais e ticos e de solida-riedade. Observe que compreender quando, como e onde acontece a educao, pode nos auxiliar a ler o mundo e agir sobre ele, como nos ensinou Paulo Freire. Portanto:

    Compreender como ocorrem os processos educativos na formao huma-na de homens e de mulheres ao longo de sua histria, possibilita conhecer como nos constitumos, o que somos e como agimos em nossa cultura.

    A cultura de um povo, de uma civilizao, sobrevive pelas prticas de recriao e de transmisso quando os mais velhos comunicam aos mais novos as suas tradies, rituais, crenas, cerimnias, festas e ma-neira de falar, enfim, a cultura. A transmisso, as trocas, a socializao e a produo de alternativas para melhorar a convivncia e o dilogo com o outro possibilitam que a cultura e a educao caminhem jun-tas. A memria torna-se viva e ativada por meio de aes, de atos, de atitudes e de prticas, que so processos educativos.

    Alguns acontecimentos so esquecidos rapidamente, outros perma-necem na memria das pessoas. As escolas vivem momentos de mu-danas e de ressignificao de suas funes sociais, pedaggicas e polticas. As transformaes locais, regionais e nacionais podem ex-pressar processos de continuidades ou rupturas com a ordem econ-mica e social. a nossa capacidade de anlise crtica e interpretativa que nos auxilia a compreender os processos de mudanas ou se esta-mos diante de processos de continuidades, e assim desvendamos os mecanismos que perpetuam as desigualdades sociais e econmicas.

    Por que temos no pas tantos analfabetos, gente sem terra para morar, gente sem assistncia mdica e odontolgica e gente na pobreza e na misria?

    Voc pode acessar uma retrospectiva do sculo XX no endereo eletrnico http://www. estadao.com.br/divirtaseonline/fotos/retrospectiva/index.frm

    Para voc refletir mais sobre os conceitos de educao e sobre as formas de organizao da educao dos povos, leia VIEIRA PINTO, Alvaro, no livro Sete lies sobre educao de adultos. So Paulo: Editora Cortez, 1982, e HILSDORF, Maria Lucia. S. Histria da educao brasileira: leituras. So Paulo: Pioneira Thompson, 2003.

  • Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 22

    A educao das pessoas, de homens e de mulheres, transformada em conhecimento, auxilia a desvendar as desigualdades sociais, regionais e econmicas. O conhecimento adquirido contribui para que possamos exigir nossos direitos no trabalho, na escola, no supermercado, no nibus, no posto de sade, alm de facilitar e aperfeioar a nossa participao nas decises do conselho da escola, na associao de moradores do bairro e no oramento par-ticipativo de nossos municpios.

    Podemos intervir nos rumos da escola onde trabalhamos ou onde nos-sos filhos, afilhados e amigos estudam. E para que estudar e compre-ender a educao e a histria na sociedade brasileira?

    RESUMOPodemos dizer que a histria permite enxergar nossas razes e com-

    preender por que as civilizaes, os povos, organizaram-se de deter-

    minada maneira, o que foram e como se transformaram naquilo que

    so. Neste sentido, a educao como parte da cultura, ilumina em

    ns a inteligncia humana e permite sermos criadores, inventores e

    construtores de objetos, smbolos, linguagens e valores.

    Assim, como vamos estudar e compreender a organizao da educa-

    o e da escola no Brasil? O que os funcionrios das escolas precisam

    saber sobre a educao? Como os funcionrios, em efetivo exerccio

    nas escolas, podem ser educadores? Como transformar nossas roti-

    nas em processos educativos? Estas questes so fundamentais, e

    vamos durante este curso ajudar voc a compreend-las.

    1.Apresente trs sugestes de ao para que todo funcionrio de escola que lida com a alimentao escolar ou que desen-volve as mesmas tarefas que voc deva realizar para vir a se

    transformar num educador.

    2.Leia as sugestes dos seus colegas e monte uma lista com as compe-tncias especficas e relacionais necessrias nesta transformao do funcionrio em educador.

  • Unidade 2

    Educao construda pelos padres da Companhia de Jesus

  • Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 24

    O tema do nosso encontro de hoje como se organizou a educao no Brasil durante a colonizao portuguesa.

    Quando os colonizadores ocuparam estas terras, j habitadas pelos povos nativos, vieram com eles os padres da Companhia de Jesus e os padres das outras ordens religiosas: dominicanos, beneditinos, agostinianos, franciscanos, carmelitas e capuchinhos, com os seguin-tes objetivos evangelizar os nativos, catequizar, propagar a f crist, difundir valores, dogmas e princpios cristos, introduzir o princpio do trabalho como instrumento de dignificao do homem e contribuir com a Coroa Portuguesa no processo de colonizao e de explorao das terras.

    A ideia de que todos os homens devem trabalhar para o seu sustento e o de sua famlia serviu aos interesses dos padres jesutas e outros reli-giosos, que incutiam nos homens a obrigao de trabalhar duramente e produzir a riqueza e serviu tambm aos colonizadores que aprovei-taram para disciplinar os homens, as mulheres e as crianas, de acordo com as premissas do modo de produo capitalista.

    Antes mesmo da ocupao dos colonizadores portugueses, o territrio brasileiro j era habitado por numerosos povos indgenas, os quais ti-nham formas prprias de organizao social e vivncias de processos educativos na tribo, por meio de tradies, cdigos de linguagens, dan-

  • Rede e-Tec BrasilUnidade 2 - Educao construda pelos padres da Companhia de Jesus 25

    as, festas e rituais religiosos. O esprito comunitrio, a participao da mulher nos rituais religiosos e na agricultura e a ausncia de castigos na educao dos filhos, intrigaram os colonizadores .

    A educao formal no Brasil comea em 1549, com a chegada dos pa-dres e irmos coadjutores. Estes religiosos, no litoral brasileiro, criaram dezessete colgios, seminrios e internatos e ofereceram quatro cur-sos: Elementar, Humanidades, Cincias e Artes e Filosofia e Teologia destinados educao das elites, aos filhos de portugueses nascidos aqui, aos filhos dos fazendeiros e aos filhos dos senhores de enge-nho. A educao ensinada formava novos padres para continuarem os trabalhos missionrios ou servia para preparar administradores locais. Eles aprendiam contedos humansticos nos cursos de latim, de gra-mtica portuguesa, de retrica e de filosofia.

    Os jesutas criaram tambm os aldeamentos e os recolhimentos des-tinados catequese, evangelizao e preparao de mo-de-obra, civilizando as tribos indgenas para que colaborassem na explorao da riqueza das terras. Uma importante estratgia para a civilizao dos ndios foi a alfabetizao e, at mesmo, para os julgados mais inteligentes, os estudos destinados aos filhos das elites. Por ordem da Coroa Portuguesa, os jesutas celebravam os rituais religiosos nas aldeias, batizavam os nativos, ensinavam a estes a lngua portuguesa, os bons costumes e o catecismo, alm de for-los ao trabalho.

    A corte portuguesa permitia que os indgenas hostis e rebeldes fossem aprisionados pelos portugueses. Os prprios soldados ficavam com boa parte deles, pondo-os ao seu servio ou vendendo-os aos fazen-deiros do Par e do Maranho, onde era crnica a falta de braos, ou seja, de mo-de-obra para o trabalho.

    O projeto de colonizao dos portugueses centrava-se nas capitanias hereditrias, nas sesmarias, nas grandes propriedades rurais, na uti-lizao da mo-de-obra dos nativos e dos escravos e na explorao e apropriao dos bens naturais. Entretanto, um outro aspecto do projeto de colonizao tratava de ideias, de valores morais e ticos, de comportamento adequado e de verdades a serem difundidas por meio da estrutura social e da poltica transplantada de Portugal para a colnia.

    Voc ter mais informaes sobre a hostilidade dos portugueses em relao aos ndios que recusavam-se a receber a educao/civilizao portuguesa no livro do professor BRETAS, Genesco F. Histria da instruo pblica em Gois. Goinia: CEGRAF/UFG.1991.

    Voc pode acessar o link http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/povoamento/constrterrit/cap_hereditarias.html e obter maiores informaes sobre capitanias hereditrias.

    Aldeamentos ou Recolhimentos eram locais onde os padres jesutas arregimentaram e confinaram vrias tribos indgenas capturadas ou amansadas para a catequese, a evangelizao e para o trabalho.

  • Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 26

    Os colonizadores portugueses, auxiliados pelos padres jesutas e pe-las ordens religiosas, edificaram aqui uma sociedade hierarquizada e autoritria, em que o poder de mandar centrava-se no monarca e nas autoridades catlicas. Para executar um plano econmico de explo-rao, os portugueses impuseram os padres da cultura europeia e trataram de desprezar o modo de vida dos povos nativos. Com isso, ao mesmo tempo, introduziram hbitos de trabalho e noes de valor comercial aos objetos e produtos.

    Como os indgenas apresentavam grande resistncia ao projeto coloni-zador, a partir de 1550 os portugueses passaram a importar negros para o trabalho nos canaviais, nos engenhos e na minerao. A palavra im-portar significa que havia uma mentalidade dominante em relao s pessoas negras tratadas como mercadoria ou objeto de valor monetrio.

    Havia muitas diferenas entre a cultura dos portugueses, dos africanos escravizados e a dos nativos. Conflitos, divergncias e contestaes foram inevitveis. Tribos indgenas inteiras foram dizimadas, outras se rebelaram e resistiram, e outras se aculturaram. Os portugueses posicionaram-se como seres superiores, senhores que sabiam a forma correta de se viver e de organizar a sociedade. As formas de resistn-cia, tanto dos ndios como dos negros africanos, foram duramente reprimidas. Mesmo assim, os indgenas e povos africanos buscaram outras formas de manter e guardar suas culturas.

    Johann Moritz Rugendas Fundao Oswaldo Cruz - FIOCRUZ

    Para saber mais sobre a histria dos jesutas no Brasil acesse o

    endereo eletrnico http://www. jesuitas.com.br/Historia/brasil.htm

  • Rede e-Tec BrasilUnidade 2 - Educao construda pelos padres da Companhia de Jesus 27

    Era preciso mudar os hbitos e fazer com que os nativos assumissem comportamentos de civilizados. Logo, trataram de conhecer a lngua das tribos indgenas para, em seguida, impor a lngua portuguesa como oficial, moldar condutas, negar as suas formas de organizao, tradies, rituais e prazeres. Enfim, negar toda a sua cultura. Os colo-nizadores no s desprezaram a maneira dos nativos educarem seus prprios filhos; foram alm: ocultaram seus direitos e negaram a iden-tidade indgena.

    Portanto, os processos de socializao e as prticas sociais decorrentes da colonizao portuguesa, incluindo a institucionalizao da escola, tinham como princpios: a transmisso dos valores, a transplantao da cultura e da viso de mundo dos europeus e a doutrinao e evan-gelizao catlica dos povos conquistados.

    O ensino oferecido em colgios e seminrios respondia aos interesses das elites dirigentes, enquanto as camadas populares permaneciam sem acesso, alheias e excludas dos conhecimentos que pudessem lev--las a questionar a ordem e os privilgios.

    Nesse cenrio, a escola era necessria somente para alguns, uma vez que a inteno dos colonizadores era a dominao e a ocupao das terras sem despesas para a Coroa. Os colgios, os seminrios e os con-ventos criados pelos religiosos foram as primeiras escolas destinadas apenas a alguns.

    E quanto aos funcionrios destes colgios, seminrios e conventos?

    Dentro dos colgios havia uma hierarquia das tarefas. Uns religiosos exerciam o ministrio do sacerdcio, outros, irmos missionrios que fizeram os votos, dedicavam-se s tarefas nos teares, na agricultura, nas hortalias e na pecuria. Alm disso, medida que o patrimnio da Companhia crescia, foram agregados os indgenas e, em seguida, os africanos como trabalhadores braais nos afazeres domsticos e na rotina dos trabalhos no campo.

    Os padres da Companhia de Jesus introduziram, na colnia, uma con-cepo de educao voltada para a manuteno das estruturas hierr-quicas e de privilgios para alguns, acompanhada da disseminao de formas de explorao e de comportamentos a serem assumidos por

  • Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 28

    aqueles que realizavam tarefas e trabalhos com as mos. Uma educa-o para perpetuar as desigualdades sociais e de classe e consolidar as estruturas de privilgios e enriquecimento dos dominantes.

    RESUMONesta unidade, foi possvel compreender que a educao, durante o

    perodo colonial, foi uma estratgia dos colonizadores portugueses

    para negar a identidade indgena e seus processos educativos para

    implantar, na colnia, a viso europeia de mundo: sua cultura, seus

    valores e sua religio.

    Compreendemos, ainda, que as escolas, refletindo a sociedade hie-

    rrquica e autoritria da poca, eram organizadas da mesma forma:

    as funes nobres de educar eram reservadas aos sacerdotes; aos

    irmos missionrios os funcionrios poca eram reservados os

    trabalhos braais para a sustentao das escolas; depois, ndios e

    escravos foram incorporados como funcionrios e os irmos missio-

    nrios passaram a ser seus chefes. A tarefa de educar ficou sempre

    nas mos dos sacerdotes e religiosos.

    1. Procure, no seu municpio, em locadoras de vdeo, os se-guintes filmes: a) A misso ou b) Desmundo. So filmes que retratam as relaes entre colonizadores e povos nativos. As-

    sista ao menos um e, em seguida, discuta com os outros funcionrios da sua escola a seguinte questo: como ocorreram as relaes entre os colonizadores e os nativos?

    2. Se preferir, faa a seguinte atividade: converse com os outros fun-cionrios de sua escola. Converse tambm com a coordenadora pe-daggica ou a diretora sobre quais so as escolas mais antigas no seu municpio. Sendo possvel, v conhec-la e aproveite para conversar com os funcionrios e conte a eles sobre seu curso. Registre no seu memorial.

  • Unidade 3

    Aulas rgias: a educao dirigida pelo Marqus de Pombal

  • Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 30

    Nesta unidade, vamos estudar e compreender como a educao esco-lar formal se desenvolveu e quando houve a transplantao do mode-lo portugus para a colnia.

    Geralmente, os professores de Histria estudam com seus alunos os fatos econmicos, polticos, religiosos e sociais.

    Desta vez, vamos apresentar e analisar os principais momentos da educao, da escola e do ensino, ou seja, partindo-se da Histria que voc j estudou, priorizaremos as questes sociais e educacionais. Va-mos colocar mais luz nos aspectos da educao escolar.

    Para isso, temos de compreender as mudanas e as transformaes econmicas, polticas, filosficas, cientficas, sociais e ticas que ocor-riam na Europa no sculo XVIII, entre 1740 e 1789. Nesse perodo, ocorreram vrias manifestaes de contestao do modo de enxergar o mundo, de expressar, de agir e de relacionar-se com a natureza e com outros povos. Os filsofos e os cientistas pregaram que a razo, acompanhada do raciocnio sistemtico e rigoroso, era a forma de iluminar as aes dos homens.

    Alguns filsofos dessa poca, tambm chamados de iluministas, opu-nham-se s explicaes divinas e religiosas, s supersties e aos mi-tos. Criticavam o poder absoluto dos reis, a interferncia do Estado na economia e os privilgios concedidos nobreza e ao clero. Alm disso, propuseram um projeto de sociedade que conduziria moder-nidade, baseado na individualidade, na liberdade econmica (laissez--faire - laissez-passer ...), na propriedade privada, na laicizao, no sufrgio masculino, na liberdade religiosa e na igualdade perante as leis constitucionais. Todos os cidados, incluindo os governantes, deveriam estar submetidos s leis constitucionais elaboradas por um parlamento de representantes eleitos.

    Observe o mapa poltico europeu e note que ocorreram dois movi-mentos, um de delimitao geogrfica das fronteiras dos pases e, ou-tro, uma circulao de ideias e pensamentos de filsofos, sbios, ma-temticos e religiosos que buscavam interpretar e dar uma explicao para as mudanas econmicas e os conflitos sociais que apareciam.

    LAISSEZ-FAIRE - LAISSEZ-PASSER

    - significa deixai fazer, deixai passar. Sntese da

    doutrina do liberalismo econmico do sculo XVIII,

    a qual pregava a no-interferncia do Estado na vida econmica. Seu principal representante foi Adam Smith (1723-1790), que publicou o

    clebre livro A riqueza das Naes. Segundo

    ele, a economia deveria ser dirigida pelo jogo livre da oferta e da procura de

    mercado.

    LAICIZAO - tornar laico, leigo. Subtrair a educao da influncia

    religiosa.

    SUFRGIO MASCULINO - direito de voto para homens, poca era

    apenas para os proprietrios de terras.

  • Rede e-Tec BrasilUnidade 3 - Aulas rgias: a educao dirigida pelo Marqus de Pombal 31

    Esse movimento intelectual, cientfico, artstico e cultural que flores-ceu na Europa Ocidental,no sculo XVIII, conhecido como Ilustrao.

    Seus protagonistas, embora fizessem parte do mesmo movimento cultural, no defendiam as mesmas ideias, principalmente no que se refere aos direitos sociais, incluindo a educao pblica. Os filsofos , os artistas e os cientistas compartilhavam a defesa pelo direito vida, propriedade, tolerncia religiosa e educao universal, inspira-dos em bases cientficas como elemento fundamental para explicar o progresso humano.

    Os impactos desse movimento intelectual, cientfico e cul-tural assumiram caractersticas especficas nos diferentes pases. Em Portugal, por exemplo, o movimento deparou--se com uma monarquia enfraquecida e subordinada aos dogmas e s verdades da igreja catlica, alm da corrupo instalada, com os desvios de impostos e taxas e de uma poltica mercantilista num Estado incapaz de responder s novas exigncias no comrcio e na indstria.

    Contudo, ao mesmo tempo, em Portugal tornou-se cres-cente o nmero dos adeptos do pensamento ilustrado como instrumento para guiar o caminho dos homens e das naes. O movimento visava a um pas governado por leis constitucionais e no pela vontade de determinados homens. A Corte portuguesa equilibrava-se entre manter as estruturas conservadoras, as prticas da inquisio e a f inabalvel nos dogmas religiosos, ao

    Mapa poltico da Europa Ocidental Brock University Map Library - Software Edition, St. Catharines

    Alguns filsofos PerodoIsaac Newton 1642-1727John Locke 1632-1704Montesquieu 1689-1755Franois Quesnay 1694-1774David Hume 1711-1775Voltaire 1694-1778Denis Diderot 1713-1784DAlembert 1717-1783Jean Jacques Rousseau 1712-1778Emile Durkheim 1858-1917John Dewey 1859-1952Adam Smith 1723-1790Emanuel Kant 1724-1804Frederich Hegel 1770-1831Karl Marx 1818-1883Antonio Gramsci 1891-1937

    Se desejar aprofundar suas informaes, utilize um programa de busca, como o Google Acadmico (scholar.google.com.br), para pesquisar sobre os filsofos abaixo

  • Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 32

    mesmo tempo em que procurava aderir s novas mentalidades e a um novo modo de enxergar o mundo e nele agir.

    Ento, o monarca de Portugal D. Jos I, que reinou entre 1750 e 1777, nomeou como primeiro-ministro Sebastio de Carvalho e Mello, tam-bm chamado Marqus de Pombal ou Conde de Oeiras, o qual estava disposto a reformar Portugal. O Marqus de Pombal era um homem pragmtico que, em contato com o pensamento ilustrado europeu, pretendia colocar Portugal no mesmo patamar que outras naes eu-ropeias - na modernidade.

    Durante o movimento de Ilustrao, os conflitos entre monarquia por-tuguesa, clero e nobreza acirraram as vises de mundo. As disputas e os interesses econmicos encabeados por burgueses, as presses dos adeptos do pensamento ilustrado e as questes mercantis entre os padres jesutas e a Coroa tomaram tamanha dimenso que levaram o Marqus de Pombal a fortalecer o poder real, reduzir os privilgios da nobreza e do clero, aumentar a cobrana de impostos, reformar a Uni-versidade de Coimbra, expulsar a Companhia de Jesus de Portugal e de seus reinos e reafirmar a autoridade real, civil e laica, sobre a religiosa.

    O que tm a ver os atos do Marqus de Pombal com a educao na colnia?

    Algumas das medidas tomadas em Portugal atingiram diretamente a colnia. E quais foram estas medidas? Foram expulsos os padres da Companhia de Jesus e confiscados todos os seus bens, em 3 de setembro de 1759; foi instituda a lngua portuguesa como idioma oficial da colnia; em 5 de maio de 1768, foi criada a Real Mesa Cen-sria, com o objetivo de censurar os livros indesejveis; foi proibida a circulao de materiais pedaggicos dos padres jesutas; e pelo Alvar de 10 de novembro de 1772, criou-se o imposto chamado Subsdio Literrio, cobrado sobre aguardente destilada nos engenhos e carnes cortadas nos aougues para custear o pagamento dos professores.

    Na mesma poca, foram criadas as aulas rgias avulsas. Estas, de nvel secundrio e para meninos, ofereciam contedos de gramtica latina, grega e hebraica, de retrica e de filosofia, a serem ministradas por professores escolhidos em concurso pblico e pagos pelo Errio R-gio e, portanto, contratados como funcionrios do Estado.

    O Errio Rgio, criado no reinado de D. Jos

    I, concentrava todas as operaes financeiras da

    Coroa.

  • Rede e-Tec BrasilUnidade 3 - Aulas rgias: a educao dirigida pelo Marqus de Pombal 33

    A educao escolar conduzida por Marqus de Pombal utilitria e pro-fissional. Assim deveria ser na colnia. A esta cabia copiar e imitar os sistemas educacionais das naes europeias. De fato, o rompimento com a Companhia de Jesus pode ser considerado, naquele momento, o marco inicial de instaurao do processo de laicizao da vida poltica e, espe-cificamente da educao. A laicizao a separao entre as aes e os poderes que caberiam ao Estado e as aes e os poderes que caberiam igreja catlica. O que de fato estava em jogo era qual das duas insti-tuies definiria as regras de conduta, os princpios, os valores ticos e morais a serem assimilados por todos e que, ao mesmo tempo, ajudavam a contribuir na implantao do modo de produo capitalista. Ser que, ainda hoje, Estado e igrejas disputam essas prerrogativas?

    A Universidade de Coimbra

    A Universidade foi criada em Lisboa, em 1290 e transferida para Coimbra, em 1308. Por ter origem francesa, as influncias inte-lectuais predominantes nos primrdios da Universidade foram de orientaes jurdicas francesas e italianas, profundamente marca-das pelo direito romano. Em 1384, D. Joo I, o Mestre de Avis, re-tornou a Universidade a Lisboa, ao mesmo tempo em que lanava sobre ela o controle governamental atravs da nomeao real do Provedor. A partir de D. Joo II, os reis foram declarados Protetores da Universidade e terminou a livre escolha de reitores. Somen-te em 1537, a Universidade voltou Coimbra. Teve ento incio um perodo de dois sculos de controle jesutico, durante o qual a Universidade se isolou da influncia do progresso intelectual e cientfico europeu. Os jesutas obtiveram o controle do Colgio das Artes, cuja frequncia se tornou obrigatria para todos os que quisessem cursar leis e cnones. A situao s iria modificar-se novamente em 1759, quando os jesutas foram expulsos de Por-tugal e das colnias pela ao de Sebastio de Carvalho e Melo. expulso seguiu-se vasta e profunda reforma da educao portu-guesa em todos os nveis. Finalmente, em 1772, veio a reforma da Universidade de Coimbra, sob a direo do reitor brasileiro Fran-cisco de Lemos, com o apoio do Marqus de Pombal, nomeado visitador. Alguns brasileiros que estudaram nesta Universidade: Jos Bonifcio e Bispo Azeredo Coutinho. (Carvalho, Jos Murilo, A construo da Ordem. Braslia: Editora UnB, 1981, p. 51 e 52.).

    Universidde de CoimbraFonte: http://www.sxc.hu/pho-to/863203

  • Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 34

    Ainda sobre a educao na colnia vale considerar que :

    1. De 1759, quando os padres jesutas foram expulsos, at 1772, quando foram criadas as aulas rgias avulsas, a colnia j era habitada por inmeras tribos indgenas e por portu-gueses, holandeses, franceses, tambm desembarcados aqui. Pouco se fez para oferecer educao populao que traba-lhava e cultivava a terra. As elites oligrquicas, aquelas que recebiam terras e ttulos da Coroa, mandavam seus filhos para estudar em Coimbra, Porto e Lisboa.

    2. Entre 1501 e 1810, a mo-de-obra para as lavouras, para os engenhos e para a minerao era capturada e trazida da fri-ca para as Amricas. Aproximadamente 6.265.000 africanos aqui desembarcaram para o trabalho forado, uma prtica de explorao e de comrcio que rendia lucros para as metr-poles europeias (Cf. Cardoso, Ciro Flamarion. A afro-Amrica: a escravido no Novo Mundo. So Paulo: Editora Brasiliense, 1982).

    3. A educao escolar formal: as aulas de primeiras letras ou ensino elementar continuaram existindo de maneira insu-ficiente e sazonal. Eram ministradas por professores leigos, membros das ordens religiosas, professores pagos com im-postos municipais ou contratados por fazendeiros. Alm da ortografia, da gramtica da lngua portuguesa e da doutrina crist, eram ministradas aulas de histria ptria, aritmtica aplicada ao estudo de moedas, pesos, medidas e fraes, nor-mas de civilidade, visando formao do homem polido e ci-vilizado, ou seja, aquele que assimilaria os padres civilizat-rios e a viso de mundo dos europeus.

    4. No caso das aulas rgias ou aulas avulsas, as de nvel m-dio foram insuficientes. Mesmo com professores enviados de Portugal, pouco prosperaram. Ensinavam Gramtica Latina, Matemtica, Geometria, Potica, Retrica, Lgica e Filosofia, alm de aulas de Comrcio.

    5. A partir de 6 de novembro de 1772, o Marqus de Pombal introduziu a poltica das 44 aulas rgias avulsas, sendo dezes-

  • Rede e-Tec BrasilUnidade 3 - Aulas rgias: a educao dirigida pelo Marqus de Pombal 35

    sete de primeiras letras, quinze de gramtica latina, seis de retrica, trs de gramtica grega e trs de filosofia.

    6. O Seminrio de Olinda, criado em 1800, no mesmo prdio do antigo Colgio dos Jesutas, pelo ex-aluno da Universida-de de Coimbra reformada, o bispo Jos Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho, um exemplo da aplicao dos princpios ilustrados no Brasil. Outro exemplo foram as Academias Lite-rrias que congregavam letrados e intelectuais que tinham simpatia pelas ideias ilustradas.

    RESUMONesta unidade voc se deu conta de que o movimento iluminista eu-

    ropeu provocou uma revoluo na maneira dos seres humanos inter-

    pretarem o mundo e as relaes sociais. O centro organizador dessa

    viso de mundo deixa de ser o Deus judaico-cristo e passa a ser a

    razo humana. Esse processo que se difunde aos poucos pelos pases

    europeus tem reflexos em suas respectivas colnias.

    No caso de Portugal, as aes de Marqus de Pombal instituram

    aqui na colnia um modelo de organizao das escolas e de con-

    tratao de professores, alm da aplicao das ideias iluministas na

    organizao do Estado Portugus. As medidas polticas, econmicas

    e educacionais estabelecidas por Pombal acirraram os conflitos com

    os jesutas e resultou na sua expulso de Portugal...

    1. Converse com professores de histria de sua escola sobre a presena das Congregaes Religiosas ou dos seminrios dos padres catlicos em seu municpio ou regio. Escreva ao menos uma pgina a partir da seguinte questo: quais atividades educacio-nais os religiosos desenvolveram em seu municpio ou regio?

    2. Se preferir, faa esta outra atividade: converse com os outros funcio-nrios de sua escola sobre a trajetria escolar de cada um deles. Depois, escreva a sua trajetria no memorial, destacando: (a) suas alegrias, na relao com os colegas, professores e diretores que teve; (b) como era a escola onde voc estudou? Voc recorda quem eram os funcionrios? (c) Registre uma lembrana, um caso que marcou sua trajetria.

    Seminrio de Olinda

  • Rede e-Tec BrasilUnidade 3 - Aulas rgias: a educao dirigida pelo Marqus de Pombal 37

    Unidade 4

    A famlia real portuguesa e a educao das elites

  • A famlia real portuguesa veio morar na Colnia, ser verdade?

    Sim, verdade!

    Em 1808, novamente, Portugal encontrava-se em dificuldades polti-cas e econmicas e o resultado foi que as tropas napolenicas inva-diram Portugal. Antes que isso ocorresse, D. Joo VI e toda a Corte portuguesa, apressadamente, aportaram-se em Salvador, em 1808, e depois seguiram para o Rio de Janeiro, permanecendo aqui at 1820.

    Como foi conduzida e construda a educao escolar durante a estadia da Corte portuguesa no Brasil? O que fez D. Joo VI no que se refere educao formal? Aps a separao pol-tica de Portugal, que medidas foram tomadas para educao escolar no Brasil? Quais eram as instituies escolares? Quem eram os professores? Quem eram os funcionrios das escolas? Quem frequentava as escolas? Qual era o lugar social da es-cola pblica e seu significado? Quais eram as funes sociais e polticas da escola? Que concepes de educao foram di-fundidas?

    Vamos relembrar as caractersticas da sociedade brasileira naquela po-ca. Pode-se dizer que, durante sculos, permaneceu patriarcal, agroex-portadora, fundada nas grandes propriedades rurais, na fora do traba-lho dos africanos e seus descendentes, na monocultura e na extrao de minrios. Durante o sculo XIX, ocorreu o crescimento das cidades,

    o fluxo das exportaes dos produtos primrios: fumo, algodo, acar e caf, e medidas polticas foram ado-tadas para favorecer o comrcio com os ingleses e ga-rantir os emprstimos externos para o Brasil.

    Uma parte da sociedade brasileira as elites dirigentes desejava viver com os costumes e os hbitos euro-peus. Vivia-se, segundo Ansio Espndola Teixeira, entre

    os valores proclamados e os valores reais, ou seja, alguns pretendiam viver do mesmo modo que os europeus. At mesmo as suas casas eram construdas com os materiais importados: azulejos, madeiras, vitrais, ba-

    Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 38

  • nheiras, mveis e decoraes. Compravam, ainda, tapetes, pratarias, louas, roupas, luvas e perucas, o que no combinava com o estilo de vida e com o clima nos trpicos.

    Segundo Joo Monlevade, autor do 1 mdulo deste curso, vivamos o subdesenvolvimento cultural, fruto de uma sociedade que prescindiu da escola pblica para sobreviver e se reproduzir nos sertes nordes-tinos, nos latifndios de acar, nos engenhos, nas manufaturas, na casa-grande e nas senzalas, no pastoreio e nos roados. A diviso social alimentou vaidades, desde a importao de produtos suprfluos da Eu-ropa, construes nas cidades, igrejas, edifcios e palcios, evidencian-do a hierarquia social, at o nmero de africanos trazidos de Angola, Congo e Guin Bissau e de imigrantes italianos e alemes para trabalho nas lavouras.

    Parte dos fazendeiros, cafeicultores, polticos e senhores de engenho enviavam os seus filhos para estudar em Coimbra ou Lisboa, em Portu-gal, para depois retornarem letrados. A grande maioria da populao brasileira daquela poca era composta de tribos indgenas, africanos e seus descendentes, homens e mulheres brancos, pobres e livres, ne-gros alforriados, imigrantes, boticrios, comerciantes, lavradores, me-eiros, colonos, barqueiros, carreiros, oleiros, maquinistas, fiandeiras, parteiras, vaqueiros, pastoreios, pescadores, pees, camponeses, alfaia-tes, teceles, artesos, bispos capeles, juzes de vintena, manufatu-reiros, abatedores, carregadores, destiladores, purgadores, caixeiros, feitores, prostitutas, benzedeiras e amas-de-leite. Era a sociedade de classes sociais que emergia e adquiria os seus contornos. Nela, os bens de produo e o capital permaneciam nas mos de poucos, e grande maioria restava vender a sua fora de trabalho permanecendo distante dos direitos sociais.

    Tambm verdade que a populao oprimida e explorada organizou-se ao seu modo. Por exemplo: o Quilombo dos Palmares (1630), a Con-jurao Baiana (1798), a Inconfidncia Mineira (1789), a Confederao do Equador (1824) foram movimentos de contestao das estruturas conservadoras, de oposio ordem poltica e econmica vigente de norte a sul do pas. Com estas experincias de contestao, nota-se que de diferentes maneiras a populao excluda manifestava ds des-contentamento com as medidas adotadas pelo governo.

    As mulheres tambm cuidavam da agricultura, dos animais, das manufaturas, teares e da produo de alimentos principalmente milho e mandioca. Alm disso cuidavam da famlia e viviam cercadas e vigiadas no ambiente domstico

    Juzes de vintena: tambm chamados de vintaneiros ou juizes pedneos, eram anualmente eleitos pelas cmaras dos muni-cpios onde existiam aldeias com populao excedentes de vinte moradores, arredadas uma ou mais lguas das cidades ou vilas, e competia-lhes decidir verbal-mente sem apelao nem agravo as contendas entre os habitantes da sua aldeia; podiam prender os criminosos e entreg-los aos juzes ordinrios.Purgadores: trabalhadores que, junto s fornalhas, limpam as impurezas do melado para a fabricao do acar.

    Rede e-Tec BrasilUnidade 4 - A famlia real portuguesa e a educao das elites 39

  • Nessa poca, 1808 a 1824, quais eram as instituies escolares e quem frequentava as escolas? Pode-se dizer que D. Joo VI dedicou-se edu-cao de elites, bacharis e magistrados. Criou a Academia Real da Marinha (1808), a Academia Real Militar (1810), os cursos superiores profissionalizantes de Medicina em So Paulo (1813) e na Bahia (1815). O curso de Direito, em So Paulo e Olinda, em 1827, e o curso de En-genharia na Academia Real Militar (Rio de Janeiro, 1810). E, antes de retornar a Portugal, em 1820, fundou a Academia de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

    Os cursos de Direito foram criados imagem de Coimbra e os pri-meiros professores eram ex-alunos. A poltica era formar no apenas juristas, mas tambm advogados, deputados, senadores, diplomatas e funcionrios do Estado e, de maneira geral, as aes foram dirigidas para a criao de cursos de formao jurdica, militar, mdica e eclesi-stica. Da a expresso de Jos Murilo Carvalho:

    a elite era uma ilha de letrados num mar de analfabetos. Portanto, durante a estadia da Corte portuguesa na colnia e no Imprio, temos que refletir: quem no frequentava a escola e por quais razes?

    Para estas academias ou escolas supe-riores, os professores eram trazidos da Europa ou eram os filhos das elites que retornavam ao pas, aps seus estu-dos. Para realizar trabalho de limpeza e vigilncia, nestas escolas buscavam-se aqueles que trabalhavam nas casas de famlia ou eram escravos que tinham bom comportamento. Nessa poca,

    havia uma mentalidade de desprezo por qualquer tipo de trabalho feito com as mos. Ento, aqueles que assim trabalhavam eram tidos como inferiores, incapazes de aprender, restando-lhes apenas ativi-dades rudes, pesadas e braais no plantio, nas colheitas, nas constru-es, na abertura de estradas, no preparo do gado, no transporte, etc.

    A educao formal conduzida por D. Joo VI tinha por finalidade for-mar os quadros dirigentes para a administrao pblica. As estruturas

    Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 40

  • econmica e social permaneceram inalteradas. As aes de D. Joo VI estavam voltadas para a educao daqueles que, por serem de fa-mlia nobre, deveriam estudar para continuar os negcios do pai, o proprietrio das terras. Para tanto, alguns fazendeiros contratavam um preceptor para ensinar seus filhos, em suas prprias residncias. Enquanto isso, a maioria da populao indgenas, africanos e bran-cos pobres espalhada pela zona rural, trabalhava nas lides da terra e permanecia distante da escola.

    RESUMO

    1. A poltica para a educao conduzida por D. Joo VI expressou,

    novamente, a disposio de transportar o modelo de educao das

    elites europeias para o Brasil. Embora alguns pases europeus j

    houvessem iniciado a constituio dos seus sistemas nacionais de

    educao e a concebessem como direito social, por meio do qual

    homens e mulheres em sua existncia produzem conhecimentos, va-

    lores, tcnicas, cincia, artes, crenas, enfim, tudo o que constitui o

    saber historicamente produzido. Contudo, a colonizao portuguesa

    priorizou a educao somente para as elites.

    2. Embora j existissem concepes de que a educao parte da

    cultura e, por meio da cultura, o homem relaciona-se com a natureza,

    modifica e modificado por ela, o caminho escolhido pela monarquia

    foi o de prescindir-se da educao da populao que trabalhava e

    produzia a riqueza.

    3. Durante a estadia da Corte Portuguesa no Brasil Colnia, a edu-

    cao escolar destinada s elites foram as aulas rgias avulsas e,

    depois, alguns eram enviados para Coimbra e vora para terminar os

    estudos. Para a maioria restaram classes de primeiras letras irregula-

    res e algumas escolas de ensino secundrio.

    1. Leia, com ateno, no endereo https://sites.google.com/site/aihca02/oficios, as profisses existentes em um engenho de acar no Brasil colonial. Na sua opinio, as escolas fundadas por D. Joo VI formavam esses profissionais?

    2. Converse com um colega que trabalha junto com voc sobre a

    Rede e-Tec BrasilUnidade 4 - A famlia real portuguesa e a educao das elites 41

  • Corte portuguesa veio morar na colnia. Sim. Ento, que escolas fo-ram criados por D. Joo VI? Quem no frequentava a escola? Porqu? Escreva uma pgina no seu Memorial.

    3. Organize-se para assistir o Filme: Guerra de Canudos. Direo Srgio Resende. Depois faa um debate no Frum.

    Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 42

  • Unidade 5

    A Educao escolar nas provncias e a descentralizao do ensino

  • Vamos conversar sobre a educao escolar quando D. Pedro I assu-miu a conduo do pas. Denominamos este perodo de Primeiro Rei-nado (1821 a 1831). D. Pedro I foi um dos precursores do movimento de separao do Brasil de Portugal. Conversaremos, tambm, sobre os anos que seguiro o governo de Dom Pedro I at a instituio da Repblica.

    Aps a separao poltica de Portugal, em 1822, houve presses ex-ternas e internas, das foras econmicas e polticas das provncias, para que fossem organizadas leis nacionais. Ento, vamos compreen-der como D. Pedro I e os polticos que o apoiaram criaram as leis, os decretos e as normas jurdicas para o pas funcionar. Vamos priorizar a educao pblica. Quais foram as medidas tomadas para as classes de primeiras letras? E para o ensino secundrio? Quem eram os estudan-tes destas escolas? O que fizeram os presidentes das provncias para a educao formal?

    Vamos relembrar como a sociedade brasileira estava organizada. Do ponto de vista da economia, o Brasil continuava rural, com grandes fazendas de caf, engenhos de acar, criao de gado, pequenas manufaturas, teares, pecuria de pequenos animais e agricultura de subsistncia. Do ponto de vista poltico, prevalecia a fora das oligar-quias rurais e, nas provncias, ocorriam intensas rebelies sociais na base popular que desejava mudanas.

    Alguns movimentos, como a Praieira (1844-1848), Balaiada (1838-1841), a Cabanagem (1835-1840), a revolta dos Mals (1835), a Sabinada (1837-38), e a Guerra dos Farrapos (1835-1845), eram ex-presses e manifestaes contra a prepotncia e a arrogncia das oligarquias dominantes que, aliadas ao governo centralizador de D. Pedro I, sufocavam as provncias com impostos, leis arbitrrias e com a nomeao de governantes, mesmo com a recusa dos moradores.

    Entre as principais reivindicaes do movimento chamado Praieira destacam-se: o voto livre e universal do povo brasileiro; a plena e ab-soluta liberdade de comunicar os pensamentos por meio da imprensa; o trabalho como garantia de vida para o cidado brasileiro; o comr-cio s para cidados brasileiros; a inteira e efetiva independncia dos poderes constitudos; a extino do Poder Moderador e do direito de agraciar; o elemento federal na nova organizao.

    Dom Pedro I nasceu em Lisboa, no dia 12 de

    outubro de 1798. Veio para o Brasil com nove

    anos de idade, em 1808, quando houve a invaso

    de Portugal pelos franceses.

    A famlia real retornou Europa em 26 de abril

    de 1821, ficando D. Pedro I como prncipe

    regente do Brasil. A corte de Lisboa

    despachou ento um decreto exigindo que

    o prncipe retornasse a Portugal. Essa deciso

    provocou um grande desagrado popular. D. Pedro I resolveu

    permanecer no Brasil, no dia que ficou

    conhecido como o Dia do Fico (9/1/1822). Em 7 de setembro de

    1822, recebeu uma correspondncia de

    Portugal, comunicando que fora rebaixado da

    condio de regente a mero delegado

    das cortes de Lisboa. Revoltado, junto ao riacho do Ipiranga,

    resolveu romper definitivamente

    contra a autoridade paterna e declarou

    a independncia do Imprio do Brasil,

    rompendo os ltimos vnculos entre Brasil e

    Portugal. Morreu de tuberculose, no Palcio de Queluz, com apenas

    36 anos de idade, em 24 de setembro de 1834.

    Oligarquia rural: significa regime poltico em que o poder exercido

    por um pequeno grupo de pes-soas. No Brasil era formada por

    grupo de grandes fazendeiros que controlavam as decises econmi-cas e polticas, durante o imprio e

    primeira Repblica.

    Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 44

  • Os cabanos se rebelaram contra a extrema misria do povo paraense e a irrelevncia poltica qual a provncia foi relegada aps a Indepen-dncia do Brasil. A denominao Cabanagem remete ao tipo de ha-bitao da populao ribeirinha mais pobre, formada principalmente por mestios, escravos libertos e ndios. Por sua vez, a elite fazendeira do Gro-Par, embora morasse muito melhor, ressentia-se da falta de participao nas decises do governo central, dominado pelas provn-cias do Sudeste e do Nordeste.

    As insurreies envolviam os vrios setores descontentes. Uns, propu-nham o fim da escravido, reagiam cobrana de altos impostos, e s atitudes de coronis e fazendeiros que impunham a sua vontade aci-ma da lei. Tambm eram contra a distribuio de terras aos imigrantes e as pssimas condies de vida da populao. Outros, lutavam por melhores preos para seus produtos e desavenas nas atividades de comrcio e exportao, contra a nomeao de presidentes de provn-cias e, ainda, contra a presena de foras militares.

    De 1831 a 1840, nas provncias, os liberais e os conservadores, que eram grupos polticos que defendiam interesses distintos, reagiram contra medidas autoritrias dos regentes padre Diogo Feij e Arajo Lima. Naquela poca, as decises de alguns coronis tornavam-se leis, as quais favoreciam alguns e geravam um distanciamento ainda maior entre quem tinha propriedades rurais e quem trabalhava e produzia na terra e nas pequenas fbricas.

    Para conter as revoltas e como tentativa de dar um rumo ao pas, o gru-po que apoiava a monarquia resolveu antecipar a posse de D. Pedro II, colocando-o para dirigir o pas com seus quatorze anos. Ento, D. Pedro II governou de 1840 at a Repblica, em 1889. Denominamos este pe-rodo como Segundo Reinado.

    No Brasil, entre 1836 e 1837, formaram-se dois partidos polticos: o Partido Conservador e o Partido Liberal. O primeiro era formado por grandes proprietrios de terras e de escravos, por altos funcionrios da monarquia, muitos deles portugueses e por comerciantes brasilei-ros, ingleses e portugueses favorecidos com as atividades comerciais. Eles defendiam a centralizao monrquica, os direitos agrrios, os interesses econmicos da lavoura e o direito de voto apenas para os possuidores de grandes quantidades de terra e para os detentores do

    Na madrugada do dia 7 de abril de 1831, Dom Pedro I abdica do trono a favor de seu filho (Dom Pedro II), que tem apenas cinco anos de idade. A Constituio da-quela poca determinava que, para ocupar o trono brasileiro, o imperador deveria ter dezoito anos ou ento o pas deveria ser governado por um prncipe da famlia im-perial, de no mnimo 25 anos. Como na famlia real no havia ningum que atendesse a essas exigncias, a alternativa foi nomear regentes de Dom Pedro II. Em 12 de outubro de 1835, o Padre Diogo Antonio Feij tomou posse como regente nico do imprio do Brasil. Em 19 de se-tembro de 1837, o Padre Feij renuncia a seu cargo de regente nico e assume interinamente Pedro de Arajo Lima. No ano de 1840, foi antecipada a maioridade de Dom Pedro II para que ele pudesse assumir o governo do Imprio.

    Rede e-Tec BrasilUnidade 5 - A educao escolar nas provncias e a descentralizao do ensino 45

  • capital. O Partido Liberal era formado por pequenos comerciantes, funcionrios pblicos, profissionais liberais, militares, bacharis, arte-sos e padres favorveis abolio dos escravos e autonomia das provncias e separao do Brasil de Portugal.

    A partir de 1850, a Inglaterra aumentou as presses para o fim do trfico de escravos da frica. O preo do escravo aumentava cada vez mais e a introduo dos trabalhadores livres, principalmente os imi-grantes europeus, foi a alternativa encontrada pelos grandes fazen-deiros para continuar tendo suas propriedades rentveis e produtivas.

    Na verdade, neste momento, os comerciantes do trfico de mo-de--obra trazida da frica corriam muitos riscos de serem multados pe-los ingleses. Internamente, nas fazendas por todo o pas, cresciam as formas de resistncia dos negros africanos e multiplicavam-se os incidentes de fugas, rebelies, motins, mortes e alforrias concedidas ou compradas pelos escravos. Afinal, como poderiam continuar justi-ficando o comrcio de africanos?

    Sobre estes e outros elementos voc pode se aprofundar fazendo uma outra leitura e outras interpretaes dos livros de Histria do Brasil.

    Agora vamos conversar sobre os aspectos da educao escolar no pe-rodo de 1822 a 1889, ou seja, da posse de Dom Pedro I at a institui-o da Repblica.

    Iniciaremos com a Constituio Federal de 1824. Ela foi outorga-da por D. Pedro I. O art. 179, 32, determinava que a instruo primria gratuita a todos os cidados. Entretanto, sabemos que a realidade era outra. Cidados, naquela poca, eram aqueles que possuam propriedades, terras, bens e participavam do governo local, nas cmaras municipais. Estes eram agraciados com privilgios, honra-rias, ttulos honorficos e brases de distino, constituindo um misto de poder local e central. Ser cidado significava ser proprietrio de grandes latifndios, explorar a terra, exportar produtos e fazer parte do grupo dos homens que pela sua prpria vontade impunham leis e mantinham seus privilgios sociais e polticos.

    Lembre-se de que a Constituio Federal em vigor a de 5 de outubro de 1988.

    Voc poder acessar a Cons-tituio de 1824 no endereo

    eletrnico http://www.presiden-cia.gov.br/ccivil_03/Constituicao/

    Constitui%C3%A7ao24.htm

    Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 46

  • As oligarquias representavam poderes regionais e indicavam repre-sentantes dentro da provncia. Os cargos de representao nas vilas e nas cidades deveriam ser preenchidos pelos nobres da terra com atestado de pureza de sangue e que no exercessem profisses que englobassem ofcios manuais. Estas oligarquias tornavam-se voz ativa na defesa dos interesses econmicos, das demandas provinciais e dos polticos que se revezavam no comando.

    As oligarquias rurais, unidas por relaes de compadrio, lealdade e fidelidade, gabavam-se de seu poder, exercido pela fora e pela co-ero. Acertavam entre si as decises polticas em relao s expor-taes, emprstimos externos, construo de ferrovias, iluminao e construo de estradas para carros de bois, captao de gua nos rios, plantio e arado das terras, derrubadas da mata, roados, criao de animais domsticos e contratao de trabalhadores braais.

    As escolas continuavam insuficientes, isoladas e irregulares. Faltavam espaos adequados para sala de aula e para moblias. Ainda, faltavam professores, materiais pedaggicos e recursos financeiros. Alm do pouco reconhecimento da escola como lugar de formao de ho-mens, os pais se recusavam a mandar suas filhas para as escolas. Os custos com alimentao, vestimentas e transporte, bem como a viso machista de que os estudos para nada serviam distanciaram ainda mais o acesso das mulheres s escolas e aos bens culturais.

    Coero o ato de induzir, pressionar ou compelir algum a fazer algo pela fora, intimidao ou ameaa.

    Relaes de compadrio: relaes familiares estabelecidas entre grandes fazendeiros na defesa de seus interesses econmicos e polticos.

    Rede e-Tec BrasilUnidade 5 - A educao escolar nas provncias e a descentralizao do ensino 47

  • Assim como as mulheres, os escravos e seus descendentes continua-ram excludos do acesso s escolas. Observe o que diz a Lei Geral do Ensino, de 15 de outubro de 1827:

    Art. 1 Em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos, havero as

    classes de primeiras letras que forem necessrias.

    [...]

    Art. 4 As escolas sero de ensino mtuo nas capitais das provncias;

    e tambm nas cidades, vilas e lugares populosos, em que for possvel

    estabelecerem-se.

    Art. 5 Para as escolas de ensino mtuo sero utilizados os edifcios,

    arranjando-se com os utenslios necessrios custa da Fazenda pblica

    e os professores que no tiverem a necessria instruo deste ensino,

    iro instruir-se em curto prazo custa dos seus ordenados nas escolas

    das capitais.

    [...]

    Art. 11. Havero escolas de meninas nas cidades e vilas mais populosas,

    em que os Presidentes em Conselho julgarem necessrio este estabele-

    cimento.

    Este trecho demonstra que o monarca D. Pedro I, envolto nos confli-tos polticos, arranjou uma resposta para as autoridades externas e as presses locais. Pouco se fez pela educao.

    Mais tarde, em 12 de outubro, o Ato Adicional de 1834, uma emenda Constituio de 1824, introduziu a descentralizao do ensino no nvel da educao elementar. No texto do Ato, estava prevista, em seu art. 8, a criao das Assembleias Provinciais e, no art. 10, o texto dizia que competia s Assembleias Provinciais legislar sobre a instru-o pblica e estruturar estabelecimentos prprios para promov-la. Com esta deciso, o regente padre Diogo Feij descentralizou o en-sino elementar, atribuindo s provncias toda a responsabilidade de financiamento, oferta e organizao. Os ensinos secundrio e superior continuavam sob a responsabilidade do Imprio.

    Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 48

  • O Estado brasileiro, entendido como Imprio, estava, ento, deso-brigado da educao primria pblica, que ficava a cargo de cada provncia. Cabia s provncias desprovidas de recursos humanos e fi-nanceiros arcarem com o financiamento, a organizao e a oferta do ensino primrio.

    De forma desigual, as Provncias organizaram classes e turmas, intro-duziram o mtodo de ensino mtuo ou lancasteriano. Este mtodo, ela-borado por Joseph Lancaster, educador ingls no final do sculo XVIII, era adequado aos interesses dos governos locais, pois proporcionava a economia de recursos com a contratao de professores, reduzia as despesas com a educao. Esse mtodo propunha que um professor desse uma aula, em separado, para os melhores alunos, chamados de monitores digamos, dez , os quais, a seguir, repetiriam essa aula para outros alunos digamos, dez alunos por monitor. Em sntese, um nico professor educava, nesse exemplo hipottico, 110 alunos.

    Como se v, os governantes tentaram construir a sociedade sem ga-rantir a escolarizao de sua populao. Omitiram-lhes o direito de acesso aos bens culturais e patrimoniais. Negaram populao o di-reito formao humana. Em outros pases, os governos assumiam a educao como tarefa de Estado, parte de sua cultura, ou seja, torna-vam dever do Estado disponibilizar a educao para todos. Aqui, no Brasil, a educao foi um privilgio dos filhos dos abastados, sendo que o restante da populao teve de lutar para ter direito ao acesso escola e aos bens culturais e patrimoniais.

    Do espao da fazenda ao grupo escolar

    Estudos recentes indicam que as escolas provinciais isoladas e em espaos acanhados, eram escolas cujos professores eram reconhecidos ou nomeados pelos rgos dos governos respon-sveis pela instruo. Funcionavam em espaos improvisados, geralmente, na casa dos professores, os quais, algumas vezes, recebiam uma pequena ajuda para ao pagamento do aluguel. Temos indcios da existncia de uma rede de escolarizao do-mstica, ou seja, de ensino e aprendizagem da leitura, da escri-ta e do clculo, que atendia a um nmero superior ao da rede pblica estatal. Outro modelo de educao escolar que, no de-

    Rede e-Tec BrasilUnidade 5 - A educao escolar nas provncias e a descentralizao do ensino 49

  • correr do sc. XIX, vai se configurando aquele em que os pais, em conjunto, resolvem criar uma escola e, para ela, contratam coletivamente, um professor ou uma professora. Este modelo semelhante ao primeiro tem uma diferena fundamental: essa escola e seu professor no tm vnculo com o Estado. Em to-das as escolas , geralmente, proibida a frequncia de crianas negras, mesmo livres e, em algumas regies do pas, as mulhe-res tambm eram proibidas de frequentarem as escolas. (FARIA FILHO, Luciano Mendes. Instruo elementar no sculo XIX. No livro: 500 anos de educao no Brasil. Belo Horizonte, Editora Autntica, 2000, p. 142).

    O Grupo Escolar Tiradentes

    onde a professora, Jlia Wan-derley, a primeira mulher a frequentar a escola normal no Paran, dedicou grande parte de sua carreira. O Grupo Esco-lar Tiradentes foi inaugurado em 1895.

    Foto1: vista Geral do Grupo Escolar Lencio Correia Correia - Sem data. Acervo: Colgio Estadual Lencio Correia. Paran.

    Fonte: Grupo Escolar Tiradentes Edificao 1895

    Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 50

  • No Segundo Reinado, entre 1840 e 1889, espalharam-se por todas as provncias do Imprio os liceus, as escolas normais, as escolas pa-roquiais, as escolas domsticas ou particulares, os seminrios, os col-gios masculinos e femininos e os internatos. Em So Paulo, no ano de 1890, foi criado o primeiro grupo escolar.

    Alguns liceus pblicos ofereciam instruo secundria e exames prepa-ratrios para os cursos superiores. s vezes, no mesmo estabelecimento, funcionava o curso normal, frequentado inicialmente por homens e que, em seguida, transformados em escolas normais, passaram a ser frequen-tados tambm por mulheres e destinados formao de professores. J seminrios, mosteiros, colgios, internatos e externatos eram estabeleci-mentos religiosos destinados formao de padres, bispos e arcebispos, exemplos de vida moral, vida santa e dos bons costumes.

    Com relao ao ensino secundrio, criou-se em 1837, o colgio D. Pedro II, no Rio de Janeiro, de carter humanista clssico, que era destinado s elites proprietrias e servia como via de acesso aos cursos superiores.

    Para demonstrar como a diviso de classes sociais ocorria e como se-tores de pobres e negros foram excludos, veja o que diziam dois decretos do Imprio:

    O Decreto n 1.331, de 17/02/1854, 69 estabeleceu que, nas escolas

    pblicas do pas, no seriam admitidos escravos e a previso de instru-

    o para adultos dependia da disponibilidade de professores.

    O Decreto n 7.031-A, de 06 de 08/1878, estabelecia que os negros li-

    bertos, maiores de 14 anos, s podiam estudar nos cursos noturnos e as

    despesas com as luzes das salas de estudos tinham que ser pagas pelo

    Ministrio do Imprio.

    As mulheres tiveram de vencer os obstculos e transgredir regras e normas estabelecidas pela Igreja Catlica, pelos governos e pelos pol-ticos para terem direito de acesso educao escolar. Os pais recusa-vam-se a envi-las para as escolas e, quando permitiam, procuravam as congregaes religiosas na certeza de que suas filhas seriam educa-das na doutrina crist e nos bons costumes.

    Esta desobrigao ou ineficincia do Estado abriria caminho para as

    Saiba mais sobre os decretos no site

    http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/3_

    Imperio/artigo_004.html

    Rede e-Tec BrasilUnidade 5 - A educao escolar nas provncias e a descentralizao do ensino 51

  • congregaes religiosas criarem escolas confessionais. As congrega-es religiosas no pas praticaram a doutrina crist catlica e tambm criaram suas instituies escolares, onde ofereciam cursos e aulas para meninos e meninas. Algumas congregaes religiosas instalaram-se na regio do tringulo mineiro. Foram as congregaes das Irms Do-minicanas (1885). Observe que os nomes das escolas esto atualiza-dos e, segundo o autor, h evidncias de outras escolas fundadas no perodo, mas das quais no h informaes sobre a data de fundao.

    Nome da escola Municpio UF Ano Mantenedora/Congregao

    Col. Diocesano Padre Rolim Cajazeiras PB 1827 Mitra Diocesana Diocese de Cajazeiras

    Col. da Providncia Rio de Janeiro RJ 1853 Associao S. Vicente de Paulo

    Colgio Diocesano So Paulo SP 1856 Mitra Diocesana de So Paulo

    Colgio Santa Teresa Olinda PE 1857 Irms de So Vicente

    Educandrio S. Vicente de Paulo Recife PE 1858 Santa Casa de Misericrdia do Recife

    Colgio de So Bento Rio de Janeiro RJ 1858 Mosteiro de So Bento

    Colgio N. Sra. do Patrocnio Itu SP 1859 Irms Congregao S. Jos de Chambry

    Escola Corao de Maria Rio Grande RS 1861 Educandrio Corao de Maria

    Instituto N. Senhora da Salete Salvador BA 1862 Instituto Nossa Senhora da Salette

    Colgio Imaculado Corao de Maria

    Fortaleza CE 1865 Irms Vicentinas

    Colgio So Lus So Paulo SP 1867 Sociedade Brasileira de Educao

    Colgio So Francisco Xavier Recife PE 1867 Jesutas

    Colgio Santa Isabel Petrpolis RJ 1868 Irms Vicentinas

    Ginsio N. Sra. da Conceio So Leopoldo RS 1870 Jesutas

    Escola Domstica de Nossa Senhora do Amparo

    Petrpolis RJ 1871 Escola Domstica de N. Sra. do Amparo

    Colgio Santa Cruz Escola de 1 e 2 Graus

    Santa Cruz do Sul RS 1871 Unio sul Brasileira de Educao e Ensino

    Colgio So Jos Escola de 1 e 2 graus

    So Leopoldo RS 1872 Soc. Caritativa e Literria S. Francisco de Assis ZC

    Col. Sagrado Corao de Jesus Esc. De 1 e 2 Graus

    Santa Cruz do Sul RS 1874 Soc. Caritativa e Literria S. Francisco de Assis ZC

    ASVP Colgio Santa Isabel Petrpolis RJ 1875 Associao de So Vicente de Paulo

    Colgio So Paulo Blumenau SC 1877 Pe. Jos Maria Jacobs

    Colgio Santo Antnio Belm PA 1877 Provncia Franciscana da Imaculada Concei-o do Brasil

    Asilo So Luiz Piedade MG 1878 Pe. Domingos Pinheiro

    Colgio Salesiano Santa Rosa Niteri RJ 1883 Salesianos

    Colgio N. Sra. das Dores Uberaba MG 1885 Sociedade Educadora Infncia e Juventude

    Liceu Corao de Jesus So Paulo SP 1885 Salesianos

    Colgio Anchieta Nova Friburgo RJ 1886 Jesutas

    Colgio SantAna Gois GO 1889 Colgio Santa Rosa de Lima

    Escola de 1 Grau So Francisco de Assis

    Pelotas RS 1889 Soc. Caritativa e Literria So Francisco de Assis

    Fonte: MOURA, 2000, p. 90-91.

    Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 52

  • A educao escolar refletia os conflitos entre a Igreja Catlica e o Es-tado, sobre quando, como e de que maneira educar e, tambm, sobre quem tinha direito educao. Em outras palavras, na construo da sociedade brasileira, as autoridades que governavam no sentiam necessidade da escola, e a educao acontecia em todos os lugares. A formao humana adquirida na escola era destinada a poucos. Am-pla maioria ficou excluda. Autoridades polticas e religiosas, desde o incio da colonizao, introduziram ideias, hbitos, valores e condutas, e pela coero, punio e controle pretendiam que todos os trabalha-dores estivessem disciplinados, civilizados, acostumados ao trabalho. Portanto, no havia tempo para os estudos.

    Era preciso mudar hbitos domsticos e faz-los aceitar as novas re-gras sociais pblicas da vida nas cidades. Era como se arrancassem homens e mulheres de suas rotinas e de seu modo de vida, regido pelo tempo da natureza, e os lanassem numa situao estranha, que exigia comportamentos e saberes desconhecidos. Homens e mulheres tinham de se relacionar com as cidades, com as normas, as regras, as leis, as instituies. Muitos se sentiam estranhos, envergonhados e inferiores. Precisavam conhecer e discernir o que era privado e o que era pblico, mas no conseguiam, no sabiam. Como se comportar na praa e nos espaos pblicos? A quem escutar? Aos governos ou Igreja Catlica?

    Enquanto polticos e autoridades do governo discutiam pela imprensa e jornais a necessidade de escolarizao da populao trabalhadora, esta pouco conseguia enxergar a sua necessidade e significado. Al-guns diziam ser uma perda de tempo, outros que as escolas deveriam formar boas mes e esposas, outros ainda sentiam que teriam seus lucros reduzidos, caso os filhos dos lavradores fossem para as escolas

    Nome da escola Municpio UF Ano Mantenedora/Congregao

    Col. Diocesano Padre Rolim Cajazeiras PB 1827 Mitra Diocesana Diocese de Cajazeiras

    Col. da Providncia Rio de Janeiro RJ 1853 Associao S. Vicente de Paulo

    Colgio Diocesano So Paulo SP 1856 Mitra Diocesana de So Paulo

    Colgio Santa Teresa Olinda PE 1857 Irms de So Vicente

    Educandrio S. Vicente de Paulo Recife PE 1858 Santa Casa de Misericrdia do Recife

    Colgio de So Bento Rio de Janeiro RJ 1858 Mosteiro de So Bento

    Colgio N. Sra. do Patrocnio Itu SP 1859 Irms Congregao S. Jos de Chambry

    Escola Corao de Maria Rio Grande RS 1861 Educandrio Corao de Maria

    Instituto N. Senhora da Salete Salvador BA 1862 Instituto Nossa Senhora da Salette

    Colgio Imaculado Corao de Maria

    Fortaleza CE 1865 Irms Vicentinas

    Colgio So Lus So Paulo SP 1867 Sociedade Brasileira de Educao

    Colgio So Francisco Xavier Recife PE 1867 Jesutas

    Colgio Santa Isabel Petrpolis RJ 1868 Irms Vicentinas

    Ginsio N. Sra. da Conceio So Leopoldo RS 1870 Jesutas

    Escola Domstica de Nossa Senhora do Amparo

    Petrpolis RJ 1871 Escola Domstica de N. Sra. do Amparo

    Colgio Santa Cruz Escola de 1 e 2 Graus

    Santa Cruz do Sul RS 1871 Unio sul Brasileira de Educao e Ensino

    Colgio So Jos Escola de 1 e 2 graus

    So Leopoldo RS 1872 Soc. Caritativa e Literria S. Francisco de Assis ZC

    Col. Sagrado Corao de Jesus Esc. De 1 e 2 Graus

    Santa Cruz do Sul RS 1874 Soc. Caritativa e Literria S. Francisco de Assis ZC

    ASVP Colgio Santa Isabel Petrpolis RJ 1875 Associao de So Vicente de Paulo

    Colgio So Paulo Blumenau SC 1877 Pe. Jos Maria Jacobs

    Colgio Santo Antnio Belm PA 1877 Provncia Franciscana da Imaculada Concei-o do Brasil

    Asilo So Luiz Piedade MG 1878 Pe. Domingos Pinheiro

    Colgio Salesiano Santa Rosa Niteri RJ 1883 Salesianos

    Colgio N. Sra. das Dores Uberaba MG 1885 Sociedade Educadora Infncia e Juventude

    Liceu Corao de Jesus So Paulo SP 1885 Salesianos

    Colgio Anchieta Nova Friburgo RJ 1886 Jesutas

    Colgio SantAna Gois GO 1889 Colgio Santa Rosa de Lima

    Escola de 1 Grau So Francisco de Assis

    Pelotas RS 1889 Soc. Caritativa e Literria So Francisco de Assis

    Rede e-Tec BrasilUnidade 5 - A educao escolar nas provncias e a descentralizao do ensino 53

  • e no para o trabalho nos roados, para o plantio de gros e para a colheita.

    Mesmo sem escolas formais, a educao acontecia nos sermes dos padres na missa dominical, por meio das regras de comportamento social, pelas palavras dos coronis, na verdade pronunciada pela boca de um juiz ou pelo bispo. A educao acontecia tambm nas famlias, no trabalho dirio dos trabalhadores, nas rebelies, nas fugas, nas tentativas de organizao dos trabalhadores, nos rituais e nas festas religiosas, nas manifestaes populares e culturais.

    Quando e como os funcionrios passaram a ser vistos pelo poder p-blico?

    O jurista, advogado, deputado, senador e ministro da Fazenda, Rui Bar-bosa, subiu por diversas vezes tribuna do Parlamento para denunciar o nmero de analfabetos e defender a importncia do ensino normal, dos jardins de infncia, da criao do Ministrio para a instruo pbli-ca, bem como a obrigatoriedade e a frequncia escolar, alm de propor a criao de um museu pedaggico para fins de documentao e um fundo escolar fundamental para o desenvolvimento do ensino. Tam-bm de sua autoria foi a Lei Saraiva, de 1882, que exigia para o voto maior quantidade de renda, idade mnima de 21 anos e sexo mascu-lino. As mulheres e os analfabetos, parcela significativa da populao, no podiam votar para escolher seus representantes. Essas medidas, na prtica, excluram quase todos dos processos eleitorais. Na Reforma do Ensino Primrio de 1883, proposta por Rui Barbosa, encontramos a presena dos funcionrios. Observe os seguintes pargrafos:

    22. Em cada escola normal haver um diretor, um secretrio, um cen-

    sor, um amanuense, que acumular as funes de bibliotecrio e arqui-

    vista, um preparador para os gabinetes de fsica, qumica e histria na-

    tural, um porteiro, um contnuo e os serventes precisos.

    27. O governo fixar em regulamento, as atribuies dos funcionrios

    das escolas normais.

    Fonte: Ministrio da Educao e Sade. Obras complementares de Rui

    Barbosa. Reforma do ensino primrio. Rio de Janeiro. Vol. X; tombo IV,

    1883, p. 108-109.

    Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 54

  • Desde o final do imprio, o jurista Rui Babosa denunciava as precrias condies em que se encontrava a educao do pas. O censo escolar de 1980 apontava a existncia de 14 milhes de habitantes dos quais 80% eram analfabetos.

    De fato, no Brasil, as oligarquias rurais e urbanas combinaram os interesses nacionais e locais com os interesses dos pases capitalis-tas desenvolvidos e desconsidera-ram a cultura da populao. Para continuar no comando, os go-vernantes e as elites dominantes propuseram polticas e medidas que visavam implementao de processos de desenvolvimen-to desigual, associando estrutu-ras arcaicas, prticas clientelsti-cas e de privilgios combinadas com a insero subordinada aos interesses dos pases capitalistas.

    Relatrios de 1834 de Chicorro da Gama - Ministro do Imprio sobre a educao

    Insistia na insuficincia do mtodo mtuo ou lancasteriano. Re-clamava a criao do cargo de inspetor de estudos, ao menos na capital do Imprio, porque era impraticvel o ministro presidir a exames e fiscalizar escolas, enquanto tinha que organizar a administrao pblica, pois tnhamos herdado um mau sistema administrativo da colnia. Como a fiscalizao da instruo era feita pelas Cmaras Municipais, rgo inadequado e, portanto, ineficiente, seria necessrio um inspetor e diversos delegados para fazerem com que os professores desempenhassem melhor suas obrigaes e os alunos aproveitassem mais as aulas (FREI-RE, Ana Maria. A. Analfabetismo no Brasil. So Paulo, Editora Cortez, 1993, p. 59).

    O Liceu Maranhense fun-dado em 1838 em So Luis-MA pelo presidente da provncia do Maranho, vicente Thomaz de Figuei-redo Carvalho por meio da Lei n 17, no dia 24 de ju-lho de 1838.

    Escola normal de Ribeiro Preto ( SP)- 1940

    Rede e-Tec BrasilUnidade 5 - A educao escolar nas provncias e a descentralizao do ensino 55

  • Educadores e educandos: tempos histricosRede e-Tec Brasil 56

    RESUMO1. Na sociedade brasileira, a escola pblica no tinha lugar, nem sig-

    nificado, nem reconhecimento. Foram as transformaes econmicas,

    polticas e sociais que geraram a sua necessidade e as suas funes.

    Assim, sendo uma das instituies sociais, as escolas reproduzem ou

    buscam transformar as relaes do modo de produo capitalista,que

    ento comeava a ser organizar.

    2. As prticas educacionais e pedaggicas foram instrumentos de dis-

    seminao de valores morais, religiosos, dos comportamentos ade-

    quados e da viso de mundo.

    3. As provncias criaram algumas escolas em nmero insuficiente e

    de acesso restrito. As funes eram modelar as condutas e os hbitos

    alm de pr