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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL MIGUEL MOFARREJ FACULDADES INTEGRADAS DE OURINHOS CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA EFEITOS HEMATOLÓGICOS ADVERSOS DECORRENTES DE QUIMIOTERAPIA EM CÃES E GATOS REVISÃO DE LITERATURA MONIQUE CRISTINE COSTA OURINHOS-SP 2017

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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL MIGUEL MOFARREJ FACULDADES INTEGRADAS DE OURINHOS

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

EFEITOS HEMATOLÓGICOS ADVERSOS DECORRENTES DE QUIMIOTERAPIA EM CÃES E GATOS – REVISÃO DE LITERATURA

MONIQUE CRISTINE COSTA

OURINHOS-SP 2017

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MONIQUE CRISTINE COSTA

EFEITOS HEMATOLÓGICOS ADVERSOS DECORRENTES DE QUIMIOTERAPIA EM CÃES E GATOS – REVISÃO DE LITERATURA

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária das Faculdades Integradas de Ourinhos como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Medicina Veterinária. Orientador: Me. Nazilton de Paula Reis Filho

OURINHOS – SP 2017

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Dedico aos meus familiares amados esse trabalho, que deram apoio e auxílio nas horas que mais precisei. Mas dedico esse trabalho, principalmente ao futuro, que mesmo sendo uma caixinha de surpresas, com coisas boas e outras nem tanto, é imensamente lindo.

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“Não se pode ter a cabeça erguida sobre os homens sem antes tê-la baixado sobre os livros.”

Rui Barbosa

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AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar ao meu pai Carlos Henrique Costa, que me

proporcionou a oportunidade de cursar Medicina Veterinária em uma faculdade de

excelência, e que quando, mesmo adulta precisei de uns puxões de orelha, ele o fez

com conversas francas e claras, moldando meu caráter e me ensinando todos os

dias a ser uma pessoa melhor.

Sou grata também à minha mãe Rosa Maria Pereira dos Santos, que teve

paciência de agüentar minhas crises durante a graduação e principalmente ao

escrever esse trabalho.

A Deus, que me deu forças para continuar, mesmo quando me senti

perdida e sozinha, dando conforto e força para lutar por mais um dia.

Agradeço aos meus colegas, que me apoiaram nessa trajetória árdua,

companheiros de estudos, principalmente a Mariana Larissa Batista, que

primeiramente me acolheu quando cheguei de transferência e passamos várias

noites acordadas juntamente com Rubia Berndt, nos auxiliando mutuamente para

estudar para as provas e principalmente para escrever a monografia.

Ao meu professor orientador doutor Nazilton de Paula Reis Filho, pela

paciência comigo e seu imenso carinho, que me deu bronca quando sentiu que eu

precisava e ajudou a me tornar uma pessoa mais responsável e humilde.

Agradeço especialmente o aceite para ser banca da apresentação do

TCC aos professores Feddi Bardella e Breno.

Aos médicos veterinários da clínica veterinária Perdigueiro, Guilherme

Zaia e Wal Neves com muito carinho, lembrando também de toda a equipe,

principalmente a Rafaela Dias, que imprimiu e me ajudou preencher várias

papeladas burocráticas.

Agradeço também aos que duvidaram de mim, sem isso eu não me

desafiaria a conseguir mais essa conquista.

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo principal reunir informações sobre as principais alterações hematológicas encontradas decorrentes da quimioterapia, conhecer como ocorrem, como são diagnosticas e, por fim, como proceder quando estas acontecem. Oncologia é uma área relativamente nova na medicina veterinária, os dados começaram a ser coletados e registrados apenas em 1950. Datada de 500 a.C. em humanos, Hipócrates foi o primeiro a relatar o câncer em Karkínos e carcinoma. A quimioterapia foi desenvolvida em meados de 1914 ao testar o gás de mostarda na primeira grande guerra, na segunda guerra mundial aprofundaram-se os estudos, nos quais se descobriu que o gás diminuía a contagem de leucócitos. A quimioterapia pode ser requerida de várias maneiras distintas, uma delas é como tratamento único ao câncer, outra forma é como neo-adjuvante servindo para reduzir a massa tumoral para tratamento cirúrgico posterior, há também a forma de terapia adjuvante, que é posterior a outro tratamento, além dessas, uma ultima maneira é para melhorar a qualidade de vida de pacientes que possuem tumores inoperáveis. Abordaremos também drogas quimioterápicas e descreverão as alterações hematológicas que essas causam.

Palavras chave: Alterações hematológicas, Oncologia, Quimioterápicos.

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ABSTRACT

The main objective of this study is to gather information on the main hematological alterations found in chemotherapy, to know how they occur, how they are diagnosed and, finally, how to proceed when they occur. Oncology is a relatively new area in veterinary medicine, data began to be collected and recorded only in 1950. Dating back to 500 BC in humans, Hippocrates was the first to report cancer in Karkínos and carcinoma. Chemotherapy was developed in mid-1914 when testing for mustard gas in the first major war, in World War II studies were deepened, in which the gas was found to lower leukocyte counts. Chemotherapy may be required in a number of distinct ways, one of which is as a single treatment for cancer, another is as a neoadjuvant serving to reduce tumor mass for further surgical treatment, there is also the form of adjuvant therapy, which is post-adjuvant treatment, in addition to these, one last way is to improve the quality of life of patients who have tumors inoperable. We will also address chemotherapeutic drugs and describe the hematological changes

they cause. Keywords: Hematologic alterations, Oncology, Chemotherapeutic.

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SUMÁRIO

1. RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO ............................................... 10

1.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 10

1.2. DESCRIÇÃO DE LOCAL DE ESTÁGIO ...................................................... 10

1.3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ................................................................. 14

1.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 16

2. REVISÃO DE LITERATURA: ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS APÓS

QUIMIOTERAPIA ...................................................................................................... 17

2.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 17

2.2. QUIMIOTERAPIA ......................................................................................... 19

2.3. ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS ............................................................. 21

2.3.1. Mielossupressão .................................................................................... 24

2.3.2. Leucopenia ............................................................................................ 25

2.3.3. Neutropenia ........................................................................................... 26

2.3.4. LINFOPENIA ......................................................................................... 27

2.3.5. TROMBOCITOPENIA ............................................................................ 27

2.3.6. ANEMIA ................................................................................................. 28

2.3.7. AGRANULOCITOSE ............................................................................. 29

2.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 30

2.5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 31

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Atividades Desenvolvidas Durante o Estágio na Clínica Perdigueiro

Ourinhos ................................................................................................................. 15

Tabela 2 – Classificação de severidade de efeitos de coagulação em pacientes

oncológicos............................................................................................................. 23

Tabela 3 – Efeitos sob as células da medula óssea............................................... 24

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PARTE I - RELATÓRIO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO

1 INTRODUÇÃO

O presente relatório descreve os casos atendidos na clínica veterinária de

animais de companhia Perdigueiro, da cidade de Ourinhos no estado de São Paulo,

durante o período de 28/08/2017 até 12/12/2017, completando um total de 420

horas. O supervisor responsável foi o médico Veterinário Guilherme Manso Zaia,

enquanto o orientador foi o professor mestre Nazilton de Paula Reis Filho. Na clínica

foram feitos acompanhamentos dos atendimentos e cirurgias citados na tabela 1.

Nesse momento, pode-se aplicar o que foi aprendido em teoria na

graduação e dessa maneira adquirir maior conhecimento prático da área,

preparando os discentes para o mercado de trabalho.

2 DESCRIÇÃO DE LOCAL DE ESTÁGIO

A clínica Perdigueiro Ourinhos conta com uma sala de cirurgia climatizada

e equipada com anestesia inalatória, mesa cirúrgica, foco de luz e carrinho de

primeiros socorros que também é usado como mesa para instrumental cirúrgico.

Adjacente à centro cirúrgico tem a sala de pós-operatório com armário de

medicamentos, soro de diversos volumes e equipos, além de injeções e agulhas,

tudo descartável. Ao lado tem uma sala para esterilização de materiais e

paramentação cirúrgica. Tudo isso separados do restante da clínica por uma porta

de vidro.

Figura 1 - Centro cirúrgico da clínica Perdigueiro Ourinhos

Fonte: Arquivo pessoal.

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11 Figura 2 - Sala de paramentação e esterilização de materiais cirúrgicos da clínica Perdigueiro

Ourinhos

Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 3 - Sala de internação da clínica Perdigueiro Ourinhos

Fonte: Arquivo pessoal.

Há um corredor que separa as salas de cirurgia, pós-cirúrgico e

paramentação da entrada do banho e tosa.

Figura 4 - Banho e tosa da clínica Perdigueiro Ourinhos

Fonte: Acervo Pessoal.

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No restante da clínica temos um pequeno hall de entrada com expositores

de algumas marcas mais vendidas e o caixa da clínica com uma prateleira de

medicamentos voltada para o lado de dentro. Ao lado contrário tem-se à passagem

para o salão onde ficam expostas as mercadorias para vendas pet.

Figura 5 - Hall de entrada da clínica Perdigueiro Ourinhos

Fonte: Acervo Pessoal.

Logo após o salão tem-se um corredor onde fica o consultório veterinário,

um pequeno depósito para mercadorias em excesso e pesagem de rações vendidas

à granel e aos fundos os banheiros masculino e feminino.

Figura 6 - Ambulatório da clínica Perdigueiro Ourinhos

Fonte: Acervo pessoal.

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13 Figura 7 - Planta baixa da Clínica Veterinária Perdigueiro Ourinhos

Fonte: Arquivo pessoal.

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3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Durante o período de estágio foram acompanhados diversos

procedimentos de rotina clínica de pequenos animais, dentre eles imunizações,

distocia fetal, castrações, correções de hérnias umbilicais, corpo estranho gástrico,

eventração, uma quimioterapia e cuidados com os animais internados, a casuística

foi ilustrada na tabela 1 e analisada no gráfico 1.

Foram realizadas imunizações em cães e gatos contra raiva e em cães

foram feitas também imunizações décuplas (v10) e em gatos tríplice (v3).

Diagnosticou-se uma distocia com evolução para maceração fetal em

uma cadela da raça Pinscher, na qual um feto encontrava-se no canal pélvico e o

outro ainda na tuba uterina, ambos foram removidos por cesariana, seguido de

ovário-histerectomia (OH).

As hérnias umbilicais foram detectadas durante os procedimentos eletivos

de orquiectomia e ovario-histerectomia e prontamente corrigidas.

Realizou-se uma gastrotomia de emergência em um Bulldog Francês, de

oito meses, após ingerir uma caixa de chocolates, removeu-se todo o conteúdo

gástrico e realizou-se gastropexia para prevenir vólvulo gástrico.

Chegou à clínica um felino, fêmea, sete meses, apresentando eventração

após um episódio de trauma, realizou-se a redução e posteriormente a miorrafia do

músculo reto abdominal.

Através de teste rápido foi diagnosticado com parvovirose um canino,

macho, SRD, o animal foi encaminhado para tratamento em outra clínica.

Atendeu-se uma cadela, sem raça definida (SRD), resgatada aos redores

da clínica com vários nódulos na região perineal e inguinal, após a citologia e

histopatológico diagnosticou-se tumor venéreo transmissível e iniciou-se o

tratamento com quimioterápicos e remoção cirúrgica de alguns tumores, após o final

do tratamento houve remissão completa dos tumores.

Houveram também alguns diagnósticos de giardíase e erliquiose,

fechados por testes rápidos. Os animais diagnosticados com Giardia sp. e erlichia

sp. Foram tratados com antibióticos, metronidazol e doxiciclina respectivamente.

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Os animais, com exceção do animal diagnosticado com parvovirose,

todos os animais foram acompanhados e tratados na clínica Perdigueiro. Todos os

exames laboratoriais são terceirizados.

Tabela 1 – Atividades Desenvolvidas Durante o Estágio na Clínica Perdigueiro Ourinhos.

Espécie

Procedimentos Cães Gatos

Imunização 57 39 Distocia 1 -

Orquiectomia 32 28 Ovário histerectomia (OH) 22 8

Hérnia Umbilical 12 2 Corpo estranho gástrico 1 -

Eventração - 1 Tumor Venéreo Transmissível (TVT) 1 -

Giardíase 7 - Erliquiose 3 -

Gráfico 1 – Casuística de atividades desenvolvidas de 28 de agosto a 12 de dezembro na clínica veterinária Perdigueiro Ourinhos

57

1

32

22

12

1 0 18

3

39

0

28

82 0 1 0 0 0

Atividades acompanhadas

Cães Gatos

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência foi muito valiosa para minha vida profissional, foi possível

vivenciar a rotina de uma clínica de pequenos animais e acompanhar as consultas

além de auxiliar os profissionais nos procedimentos, adquirindo a prática e

desenvolvendo o senso crítico em diversas situações, lidando com os mais

diferentes tipos de proprietários.

Foi muito prazeroso fazer parte de uma equipe e poder, além de executar

tarefas, dar opiniões e debater sobre os casos e os diagnósticos, mesmo os exames

sendo terceirizados, antes da chegada do resultado, todos sentavam e discutiam

sobre os possíveis diagnósticos e os porquês. Acredito que na prática da profissão

veremos erros e acertos dos colegas, vale saber como e quando falar sobre tais.

Por fim, devemos sempre tirar proveito de todas as situações, sejam elas

boas ou ruins, para continuar crescendo e aprendendo essa profissão que é tão

maravilhosa para sermos competitivos no mercado tão exigente e profissional.

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PARTE II - ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS DECORRENTES DE

QUIMIOTERAPIA - REVISÃO DE LITERATURA

1 INTRODUÇÃO

O câncer é uma doença muito antiga, entretanto, a Organização Mundial

da Saúde (OMS) criou recentemente o órgão que registra a ocorrência de

neoplasias em humanos, o International Union Against Cancer (UICC). Este órgão é

responsável por dados epidemiológicos, esses auxiliam o estudo em cães e gatos,

pode-se com eles sugerir com menor dificuldade ações assistenciais ou tratamentos

adequados, estudados ao longo dos anos, para cada paciente (EISENBERG, 2004).

Uma grande parcela dos animais atualmente é acometida por essa

patologia, isso ocorre por muitos fatores, mas principalmente pelo aumento da

longevidade dos pacientes (WITHROW; MACEWEN, 1996 apud DE NARDI. 2002).

Sabe-se hoje que diversos fatores são relacionados com a prevalência de

tumores em cães e gatos, como raça, sexo e principalmente idade (DE NARDI,

2002). Apesar de existir uma variedade de distintos tumores, estudos mostram que

mais de 46% das avaliações neoplásicas, são de tumores mamários (GILSON;

PAGE, 1998).

O tecido subcutâneo e a pele são os locais mais comumente acometidos

por câncer (ROGERS; et. al, 1994). De acordo com RUSLANDER, 1994 et. al. A cor

da pelagem do animal também interfere na ocorrência da doença, animais de

pelame branco ou claro são mais acometidos por carcinoma de células escamosas

os principais fatores são exposição prolongada à luz ultravioleta, deficiência de

pigmento na pele, alopecia ou rarefação pilosa, onde ocorre maior incidência direta

de luz (GOLDSCHIMIDT, 2002).

Os tratamentos mais aceitos atualmente são a cirurgia, criocirurgia,

quimioterapia, radioterapia, eletroquimioterapia e terapia fotodinâmica. Cirurgia é a

ablação da neoplasia, com margens de segurança convenientes no centro cirúrgico,

com auxilio de equipe especializada. A criocirurgia é uma técnica do tipo ablação

que nada mais é, que a destruição de tecidos biológicos pelo congelamento, com

temperaturas de -50ºC, enquanto o nitrogênio está a -195,8ºC. A quimioterapia é a

administração de fármacos específicos para destruir ou cessar o crescimento

tumoral, com possíveis efeitos colaterais (ALBERTSSON; LANNERNA; NORBY

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apud STEFFENON, 2014). Enquanto a eletroquimioterapia é um auxílio à

quimioterapia, incidindo um feixe elétrico no ponto com necessidade de maior

atuação do fármaco. Radioterapia é o tratamento com ondas ionizantes, ondas

radioativas ou implantes radioativos a fim de curar ou amenizar os sintomas do

tumor. Finalmente a terapia fotodinâmica é a aplicação de uma luz, causando uma

reação em um agente fotodinâmico inserido no tecido-alvo para destruição seletiva.

(DALECK; DE NARDI; RODASKI, 2010).

A quimioterapia é tratamento recomendado em linfoma de cães e gatos,

mastocitoma de cães e gatos, osteossarcoma e hemangiossarcoma em cães,

carcinoma de células escamosas de gato em cavidade oral e fibrossarcoma de cães

e gatos, além de ser indicada como tratamento para outros tumores. Cerca de 80%

dos animais tratados com a quimioterapia, quando não há malignidades não-

ressecáveis ou metastáticas, respondem positivamente à quimioterapia (NELSON;

COUTO, 1994). Um fator interessante é que, em média, 5% a 40% dos cães e gatos

tratados com quimioterapia apresentaram efeitos colaterais após as sessões, valor

este bem menos significativo quando comparado aos humanos, que tem

percentagem de 75% a 100% (LANORE; DELPRAT apud STEFFENON, 2014). Os

efeitos colaterais observados podem ser divididos em imediatos e cumulativos.

Dentre imediatos os mais importantes são a hipersensibilidade, náusea e vômito Já

os cumulativos podem ser observados com frequência as disfunções hepáticas,

distúrbio renais, disfunções gástricas e distúrbios cardíacos, além de

mielossupressão (GUSTAFSON; PAGE, 2013).

O presente trabalho tem como objetivo principal reunir informações sobre

as principais alterações hematológicas encontradas após a quimioterapia, conhecer

como ocorrem, como são diagnosticas e, por fim, como proceder quando estas

acontecem.

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2 QUIMIOTERAPIA

A quimioterapia é a aplicação de fármacos, sistêmica ou regionalmente,

que tem capacidade de destruir ou reduzir a multiplicação de células tumorais

(DALECK; DE NARDI; RODASKI, 2010).

A dose e duração da quimioterapia são de extrema importância nesses

casos, cada paciente deverá receber, embora o tumor possa ter o mesmo tamanho

e ser de mesma etiologia, tratamentos diferentes, que sejam adequados à resposta

daquele animal. Isso depende do estadiamento clínico do paciente (CÁPUA; et. al,

2011). Diferente de outros medicamentos onde a posologia é miligrama por quilo

(mg/kg), a prescrição de um quimioterápico é descrita por miligrama por metro

quadrado (mg/m²), acredita-se que dessa maneira o fármaco se distribui mais

adequadamente, pois o quimioterápico tem sua dose terapêutica muito próxima a

sua dosagem tóxica e deve ser administrado em dose máxima tolerada e por menor

tempo possível. (DALECK; DE NARDI; RODASKI. 2010).

A quimioterapia deve ser calculada para cada paciente após seu

estadiamento clínico e após administração dos antineoplásicos deve-se fazer

intervalos de 9 a 10 dias, na maioria dos fármacos, para a recuperação medular se

completar, tempo esse, para repovoamento celular pela medula óssea, não

suficiente para células tumorais se regenerarem (DALECK; DE NARDI, 2016).

A quimioterapia é uma das várias formas de tratamento antineoplásico e

pode ser usada como única forma de tratamento ou como auxílio a outros

tratamentos, podendo ser adjuvante que consiste no auxílio ao tratamento cirúrgico

ou radioterapia, após a retirada da massa tumoral para reduzir o risco de metástase

ou recidiva das massas, neo-adjuvante que é utilizado para reduzir o tamanho e

magnitude da massa tumoral para posterior ablação, quando em lugares de difícil

acesso até mesmo aumentar a sobra de pele para redução de tensão de sutura,

lembrando que não altera as margens cirúrgicas nesse tipo de utilização, ou ainda a

forma paliativa que objetiva dar qualidade de vida à pacientes com tumores

inoperáveis. Todas essas formas de quimioterapia têm como objetivo aumentar a

sobrevida do paciente além de melhorar sua qualidade de vida (DALECK; DE

NARDI; RODASKI. 2010).

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O proprietário é peça fundamental do tratamento quimioterápico, ele deve

ser esclarecido do tipo e objetivo do tratamento, além de informar sobre o

estadiamento clínico do paciente e a possibilidade ou não de recorrência do tumor

(REIS FILHO, 2016).

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3 ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS

Os quimioterápicos, em geral, agem na multiplicação celular tumoral, com

isso reduzindo sua multiplicação genética, tanto de ácido desoxirribonucléico (DNA)

quanto ácido ribonucléico (RNA). Entretanto, estes efeitos não ficam restritos às

células neoplásicas, o que acaba culminando em efeitos colaterais (FARO; et. al,

2008). Do total de quimioterápicos conhecidos até o momento, aproximadamente

78% deles causam algum tipo de efeito colateral medular. (DALECK; DE NARDI;

RODASKI, 2010)

O nadir é período de menor contagem de células hematológicas após a

administração de um medicamento citotóxico. Cada fármaco possui um período de

nadir distinto, sendo que a maioria dos quimioterápicos tem nadir entre 9 a 10 dias

após a administração. (DALECK; DE NARDI; RODASKI, 2010).

As diferentes classes de quimioterápicos agem de forma distinta na

replicação celular. Os agentes alquilantes produzem efeitos citotóxicos na fase de

mitose ou em G1, embora possam também agir em G0. Todas as medicações

representantes dessa classe produzem efeitos colaterais hematológicos como

leucopenia, neutropenia, trombocitopenia e anemia, exceto a ifosfamida

(FERDINANDI; FERREIRA, 2009).

Dentre os fármacos antimetabólitos, apenas o 5-fluoracil não representa

risco para medula óssea. Os demais geralmente causam mielossupresão

representada por leucopenia, neutropenia, linfopenia, trombocitopenia e/ou anemia

(DALECK; DE NARDI; RODASKI, 2010).

Já os medicamentos naturais derivados de alcaloides, bloqueiam a

polimerização do DNA agindo na metáfase da duplicação e os medicamentos

naturais derivados de Taxusbrevifolia também atuam na mitose, porém em

processos inespecíficos. Desses medicamentos usados como quimioterápicos

existem três atuais representantes que são altamente danosos à medula óssea, e o

mais agressivo é o sulfato de vincristina, causando mielossupressão evidenciando

leucopenia, anemia e trombocitopenia (DALECK; DE NARDI; RODASKI, 2010).

Dos antibióticos usados como antitumorais, todos eles são danosos à

medula óssea em maior ou menor grau, pois interferem diretamente na síntese de

DNA e RNA, impedindo a duplicação celular (DALECK; DE NARDI; RODASKI,

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2010). Com isso podem causar efeitos colaterais hematológicos dose dependentes,

reversíveis com a suspensão do tratamento como aplasia de medula óssea

(NEUWALD, 2009).

Entre os hormônios quimioterápicos apenas a hidroxiuréia causa

mielossupressão, esse quimioterápico atua quebrando o DNA em células sensíveis.

(REAGAN; ROVIRA; DENICOLA, 2011).

Os efeitos de coagulação, sob medula óssea e células sanguíneas,

segundo o VCOG, são mensuráveis em cinco níveis, do mais leve para o mais grave

considerando efeitos adversos como coagulação intravascular disseminada (CID),

tempo de protrombina (utilizado na avaliação da via comum e extrínseca de

coagulação) e tempo parcial de tromboblastina parcial ativada (exame utilizado para

avaliar a via comum e intrínseca de coagulação). O VCOG (Veterinary co-operative

oncology group) trata-se de um grupo de especialistas da área de oncologia que

criaram diretrizes para auxiliar na prática de tratamentos oncológicos na veterinária,

tanto para melhorar a qualidade de vida do paciente, aplicando tratamentos

adequados para cada tipo de neoplasia, auxiliar a identificação das neoplasias e

como avaliar os efeitos adversos dos tratamentos escolhidos, o VCOG também

orienta os profissionais a alucidar a melhorar a maneira do proprietário lidar com

esses animais portadores de neoplasias (BISHOP; et. al. 2016). Ilustrados nas

tabelas 2 e 3 (DALECK; DE NARDI, 2016).

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Tabela 2 – Classificação de severidade de efeitos de coagulação em pacientes oncológicos.

Efeito adverso Grau

1 2 3 4 5

Coagulação

intravascular

disseminada

-

Achados

laboratoriais

sem

sangramento

Achados

laboratoriais e

sangramento

Achados

laboratoriais, risco

de óbito ou

consequência

incapacitante (P. ex.

hemorragia no

sistema nervoso

central, lesão de

órgãos, ou perda de

sangue significativa)

Morte

Tempo de

protrombina

> 1 a 1,5 x

LSN

> 1,5 a 2 x

LSN > 2 x LSN - -

Tempo parcial de

tromboplastina

> 1 a 1,5 x

LSN

> 1,5 a 2 x

LSN > 2 x LSN - -

Outro

(especificar) Leve Moderado Grave

Risco de óbito,

incapacidade Morte

LSN – Limite superior de normalidade. DALECK; DE NARDI, 2016.

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24 Tabela 3 – Efeitos sob as células da medula óssea.

Efeito adverso Grau

1 2 3 4 5

Celularidade da

medula óssea

Levemente

hipocelular, <

25% de

redução da

celularidade

normal de

acordo com a

idade

Moderadamente

hipocelular, 25 a

50% de redução

da celularidade

normal de

acordo com a

idade

Hipocelularidade

grave, >50% de

redução da

celularidade

normal de

acordo com a

idade

- -

Hemoglobina

Cão: 10 g/dℓ

a < LIN

Cão: <10 a 8

g/dL

Cão: < 8 a 6,5

g/dL

Cão: < 6,5

g/dL -

Gato: 8 g/dℓ a

< LIN

Gato: <8 a 6,5

g/dℓ

Gato: < 6,5 a 5

g/dℓ

Gato: < 5

g/dℓ

Hematócrito

(Volume

globular)

Cão: 30% a <

LIN Cão: 25 a < 30% Cão: 20 a < 25% Cão: < 20% -

Gato: 25% a

< LIN

Gato: 20 a <

25%

Gato: 15 a <

20% Gato: < 15% -

Neutropenia 1.500/µℓ a <

LIN

1.000 a 1.499

/µℓ 500 a 999/µℓ < 500/µℓ -

Trombocitopenia 100.000/µℓ a

< LIN

50.000 a

99.000/µℓ

25.000 a

49.000/µℓ < 25.000/µℓ -

Outro

(Especificar) Leve Moderado Grave

Chance de

óbito,

incapacidade

Morte

LIN – Limite inferior de normalidade DALECK; DE NARDI, 2016

3.1 Mielossupressão

Temos como definição de mielossupressão a diminuição abaixo dos

níveis normais de células produzidas pela medula óssea (THRALL, 2007), que sofre

com efeitos tóxicos causados pela quimioterapia (MOORE; FRIMBERGER, 2004

apud STEFFENOM, 2014). A mielossupressão pode ser representada por

leucopenia, neutropenia, linfopenia, trombocitopenia, anemia e agranulocitose,

dentre outros. As drogas que causam mielossupressão de maneira geral são a

Ciclofosfamida, Cisplatina, Citosina-arabinosídea (Citarabina), Sulfato de Vincristina,

Sulfato de Vimblastina e Idarrubicina (DALECK; DE NARDI, 2016).

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A medula óssea, por ter alto índice mitótico e fração proliferativa, é

sensível à maioria dos fármacos utilizados na quimioterapia. O efeito tóxico pode ser

revertido interrompendo o tratamento, pois as células de linhagens pluripotentes

ficam insensíveis à quimioterapia quando em repouso e voltam ao ciclo celular

produzindo novas células maduras saudáveis (LANORE; DELPRAT, 2004).

3.2 Leucopenia

Consiste na diminuição de leucócitos abaixo do limite inferior à

normalidade. Diferenciais importantes de leucopenia são hemoprotozoários (Babesia

Spp, Ehrlichia canis e Anaplasma platys) e a própria síndrome paraneoplásica.

A leucopenia pode ser causada por diversos fármacos antineoplásicos

como: Ciclofosfamida, Melfalano, Lomustina, Dacarbazina, Metotrexato, Sulfato de

Vimblastina, Paclitaxel, Doxorrubicina, Actinomicina-D (Dactinomicina) e Hidroxiuréia

(RODASKI; DE NARDI; PIEKARZ, 2010).

Contudo, a leucopenia pode ser considerada intensa e deve ser

interrompido o protocolo quimioterápico, quando a contagem de granulócitos está

abaixo de 1.000 µL, moderada, quando está entre 1.000 e 2.000 granulócitos/µL faz

com que a dose do fármaco seja reduzida em 50%. A dosagem completa dos

medicamentos é retomada, nos dois casos quando a contagem leucocitária é

restabelecida aos valores de referência 5.000 granulócitos/µL (RODASKI; DE

NARDI, 2008).

Após o estabelecimento do diagnóstico secundário à quimioterapia,

algumas medicações podem ser utilizadas na tentativa de reverter mais rapidamente

o quadro.

A timomodulina (Leucogen®) estimula o sistema imunológico em casos de

doenças infecciosas, bacterianas e/ou virais intensas e recorrentes. Atua como

imunomodulador, podendo ser administrada na dose de 15mg/kg por via oral

durante cinco dias após a sessão de quimioterapia, mostrou-se eficaz (SCHMIDT,

2016), as contra-indicações são para pacientes com hipersensibilidade à

timomodulina. As indicações do fabricante são de que o medicamento deve ser

armazenado em local limpo e seco entre 15º e 30º C, protegido de luz e umidade. A

medicação é muito segura e não há relatos de reações adversas (ACHÉ, 2016).

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Filgrastim que age como fator de crescimento de granulócitos, utilizado

desde 1991, em Portugal e vem ganhando fronteiras a partir daí. A eficácia do

produto depende tanto dos parâmetros de qualidade habituais como impureza,

contaminantes, quanto de seu método de conservação que deve ser conservado de

2º a 8º C em seu frasco original para não perder sua eficácia (GOUVEIA, 2012).

O filgrastim apresenta meia-vida de 2 à 8 horas quando administrado por

via endovenosa e de 2,5 a 5,8 horas quando por via subcutânea, ao ser

administrado dessa maneira se liga a uma molécula análoga à metionina formando o

pegfilgrastim no qual essa nova molécula possui meia vida de 27 à 47 horas

(LONGO, 2015).

A administração geralmente é feita via subcutânea em dose de 5µg/kg/dia

até aumentar os neutrófilos para 10.000/µL. Quando o uso é de obtenção de

mobilização de células tronco, a dose deve ser de 10µg/kg/dia ou 5µg/kg a cada

12h. O medicamento mostra-se extremamente efetivo para reestabelecer a

hematopoiese (LONGO, 2015).

A toxicidade aguda associada ao filgrastim é mínima, embora alguns

pacientes pudessem apresentar dor óssea e em indivíduos saudáveis, que

necessitam da estimulação de células tronco para doação, pode ocorrer

esplenomegalia, e, raramente ocorrer ruptura esplênica, contudo esses pacientes

devem ser monitorados a procura de dor abdominal (LONGO, 2015).

As lesões causadas pela quimioterapia às células hematopoiéticas podem

ser regeneradas de maneira mais rápida, além disso, quando o tratamento

quimioterápico é associado ao filgrastim, ocorre um significativo aumento nos

índices de mielodisplasia e leucemia aguda (LONGO, 2015).

O mecanismo preciso do efeito do filgrastim não é bem esclarecido.

Acredita-se que seus efeitos anti-apoptóticos, o medicamento sustenta as células

danificadas vivas. Porém, independente do mecanismo envolvido o aumento

duplicado no risco de leucemia e/ou mielodisplasia é suficiente para motivar os

médicos a utilizarem o agente de maneira cuidadosa e apenas quando há indicação

(LONGO, 2015).

3.3 Neutropenia

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É caracterizada por contagem anormalmente baixa de neutrófilos. A meia

vida dos neutrófilos é de 6 a 12 horas, por esse motivo a neutropenia é a primeira

alteração a ser notada nos protocolos de quimioterapia. O nadir dos neutrófilos

ocorre em geral sete dias após quimioterapia (ANAI, 2011). A neutropenia limita a

dosagem do fármaco, de maneira geral, pois ocasionalmente pode levar a sepse,

que confere risco de morte aos cães, enquanto em gatos raramente ocorre sepse

por neutropenia que possa ser visualizada clinicamente (COUTO, 1994). No caso da

quimioterapia, pode ser advindo de drogas como: Ciclofosfamida, Clorambucil,

Carboplatina e Mitoxantrona (RODASKI; DE NARDI; PIEKARZ, 2010).

O Filgrastim pode ser utilizado no caso de neutropenia, em veterinária,

para acelerar a recuperação de neutrófilos em dois ou três dias, restabelecer a

recuperação medular e diminuir os períodos de neutropenia após a quimioterapia

(LONGO, 2015), já que a neutropenia advinda de quimioterapias é o fator que causa

suspensão temporária ou permanente do quimioterápico, sendo capaz de gerar

resistência das células neoplásicas ao tratamento e comprometer a sobrevida do

paciente (LUCIDI e TAKAHIRA, 2007), além de tornar também os períodos de

trombocitopenia mais curtos (LONGO, 2015).

3.4 Linfopenia

Definida como diminuição de linfócitos a níveis abaixo do mínimo normal.

Ciclofosfamida e Clorambucil são os quimioterápicos que causam essa alteração

(DALECK E DE NARDI, 2016). Como referido anteriormente os linfócitos podem ser

estimulados em nível de produção e maturação por Filgrastim® (GOUVEIA, 2012).

Linfopenia é uma alteração hematologica amplamente observada,

inclusive o estresse pode causar essa alteração pela liberação de corticosteróides,

denominando o leucograma de estresse que pode ocorrer em cães e em gatos

(MEYER et. al., 1995). Na quimioterapia, essa alteração ocorre por perda ou

diminuição da função da medula óssea, por atuação de ciclofosfamida e clorambucil

(DALECK; DE NARDI; RODASKI, 2010)

3.5 Trombocitopenia

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Consiste na redução da taxa de plaquetas do sangue, essencial

principalmente para coagulação sanguínea (THRALL, 2007). A trombocitopenia

pode ocorrer por distúrbios de produção, distribuição ou destruição de plaquetas

(REBAR, et. al. 2003).

Algumas drogas usadas no tratamento quimioterápico como:

Ciclofosfamida, Melfalano, Melfalano, Lomustina, Dacarbazina, Carboplatina,

Metotrexato, Sulfato de Vimblastina, Paclitaxel, Doxorrubicina, Actinomicina-D

(Dactinomicina), Mitoxantrona e Hidroxiuréia causam a trombocitopenia (COUTO,

1994).

Alguns diagnósticos diferenciais devem ser levados em conta em relação

à trombocitopenia como doenças auto-imunes (neoplasias, lúpus entre outros),

infecciosas (erliquiose, FeLV, FIV), reações pós-vacinais e intoxicações (LEONEL,

et. al. 2008; FERREIRA NETO, et. al. 1981).

As contagens normais de plaquetas estão situadas entre 100.000 e

800.000 /µL sendo os menores valores na espécie equina e os maiores na espécie

bovina. A hemorragia espontânea só ocorre quando a contagem de plaquetas está

abaixo de 10.000 a 50.000 células/µL (THRALL, 2007).

Os sinais clínicos podem ser tardios com aparecimento em meses ou

súbito em dias. Mesmo em cães com menos de 3.000 plaquetas/µL podem não ter

sinais clínicos aparentes. Os mais comuns são epistaxe, equimose, hemorragia,

gastrintestinal (melena, hematêmese e hematoquezia), sangramento oral,

sangramento vaginal, sangramento ocular e cegueira (hifema ou hemorragia

subretinal), hematúria, letargia, fraqueza, colapso ou anorexia (BRITES, 2007).

3.6 Anemia

Anemia é alteração de glóbulos vermelhos do sangue, conhecidos como

hemácias, essas carreiam oxigênio aos tecidos quando saudáveis. Ciclofosfamida,

Melfalano, Lomustina, Dacarbazina, Carboplatina, Metotrexato, Sulfato de

Vimblastina, Doxorrubicina, Actinomicina-D (Dactinomicina), Mitoxantrona e

Hidroxiuréia são quimioterápicos que podem danificar as hemácias, fazendo com

que essas sejam sequestradas pelo baço, órgão responsável por armazenar e

destruir essas células sanguíneas quando necessário (RODASKI, DE NARDI e

PIEKARZ, 2010).

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Os sinais clínicos descritos são mucosas e conjuntivas pálidas, apatia,

cansaço fácil, hipóxia e cianose, dispineia ou taquipneia, taquicardia e sopro.

Quando a anemia está relacionada a doenças auto-imunes pode-se observar sinais

clínicos como hemoglobinúria e hemoglobinemia. Por meio de anamnese, exame

físico e observação dos sinais clínicos, a etiologia da anemia por ser estimada, não

dispensando hemograma para confirmar o diagnóstico, podendo determinar se a

origem é primária ou secundária (DRUMOND, 2013).

As hemácias possuem nomes diferentes, de acordo com seu grau de

maturação, onde a mais jovem é denominada proeritroblasto, eritroblasto basófilo,

eritroblastopolicromatico, eritroblasto acidófilo, reticulócito até a mais madura

hemácia. Essas podem estar diminuídas quando ocorre mielossupressão durante a

quimioterapia (WEISER, 2006).

Após os exames laboratoriais confirmarem a anemia de etiologia medular

por consequência da quimioterapia, pode-se fazer fluidoterapia quando o

hematócrito estiver abaixo de 37% e/ou tratar com transfusão sanguínea quando o

hematócrito está abaixo de 15% e o animal estiver apresentando sintomatologia

clínica (SOARES, et. al, 2012).

3.7 Agranulocitose

Estado mórbido agudo que se caracteriza pela diminuição ou

desaparecimento dos leucócitos polimorfonucleares (frequentemente menos de 500

granulócitos por µL) e se manifesta por ulcerações nos intestinos ou em outras

mucosas, na garganta e na pele (FERREIRA; et. al, 2013).

Apenas a Dacarbazina, droga administrada para controle de melanomas e

linfomas, desencadeia essa alteração hematológica (DALECK; DE NARDI, 2016).

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com essa revisão, podemos concluir que os quimioterápicos, de maneira

geral, são citotóxicos para diferentes sistemas. Conseguimos reunir informações

sobre as principais alterações hematológicas encontradas após a quimioterapia,

como leucopenia, neutropenia, linfopenia, trombocitopenia, anemia e agranulocitose,

conhecer como elas ocorrem, como são diagnosticas e como proceder quando estas

acontecem.

Contudo, é de suma importância o acompanhamento laboratorial para

prever as reações de cada paciente frente à quimioterapia. Ajustando as doses

corretas para cada um deles.

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