função hepática- discussão de casos clínicos

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA CAMPUS DE ROLIM DE MOURA DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA PATOLOGIA CLÍNICA NAYCHE TORTATO VIEIRA DISCUSSÃO DE CASOS CLÍNICOS EM PATOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA ADRIANA REIS CAETANO ALINI OSOWSKI ARTEMIZIA CARNEIRO MIRANDA ROSIVALDO DELFINO ROLIM DE MOURA, RO SETEMBRO, 2013

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caso clinico discussão

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  • FUNDAO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDNIA

    CAMPUS DE ROLIM DE MOURA

    DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINRIA

    PATOLOGIA CLNICA

    NAYCHE TORTATO VIEIRA

    DISCUSSO DE CASOS CLNICOS EM PATOLOGIA CLNICA

    VETERINRIA

    ADRIANA REIS CAETANO

    ALINI OSOWSKI

    ARTEMIZIA CARNEIRO MIRANDA

    ROSIVALDO DELFINO

    ROLIM DE MOURA, RO

    SETEMBRO, 2013

  • Caso 1

    Paciente co, dobermann, fmea castrada, 8 anos de idade.

    Sinais e queixas presentes O animal tem apresentado uma afeco alrgica cutnea

    h dois anos. Foi tratado com corticosterides continuamente o ultimo ano. Hoje, urina

    em grande quantidade frequentemente e bebe muita gua. A pele no est coando hoje,

    mas esta muito seca. O proprietrio acha que o abdmen esta inchado. O paciente foi

    avaliado em outro hospital veterinrio e foram constatados testes hepticos anormais no

    perfil bioqumico, o paciente foi encaminhado a uma avaliao posterior quanto a uma

    hepatopatia ativa crnica, que ocorre na raa dobermann.

    Exame fsico Pele seca e fina; perda dos pelos no dorso; obesidade, aumento do

    volume do fgado palpao.

    Listagem de problemas: 1. Poliria/ polidipsia. 2. Alopecia bilateral. 3.

    Hepatomegalia.

    No houve alteraes no eritrograma. No leucograma observou-se uma

    leucocitose por neutrolifia com linfopenia que pode ser em decorrncia do uso de

    corticides o que explicaria tambm a eosinopenia. O aumento na ALP tambm pode

    ocorrer pelo uso de corticosterides. A ALT aumentada indica hepatopatias por

    esterides, no caso da AST aumentada, pode indicar uma leso heptica severa devido a

    sua localizao ser mitocondrial, isso aps a excluso de leses musculares e cardacas.

    O colesterol aumentado pode ser em decorrncia de uma obstruo heptica ou doenas

    hepatobialiares. Como est havendo uma leso heptica os cidos biliares apresentam-se

    elevados, o que o principal indicativo de leso hepatobiliar. A urina clara e amarelada

    com densidade baixa indica poliria. Como a bilirrubina total esta aumentada e a

    vescula biliar repleta pode ser um indicativo de obstruo extra-heptica. O aumento do

    volume abdominal decorrente da hepatomegalia que esta associada obstruo das

    vias biliares e aumento da gordura.

    Caso 2

    Paciente: co, mestio, fmea castrada, 10 anos de idade

    Sinais e Queixas: inapetncia intermitente no ms passado; fraqueza; parece estar

    bebendo muita gua.

  • Exame fsico: perda de peso; descolorao amarelada da esclera; possvel ascite.

    Listagem dos problemas- 1. Fraqueza generalizada. 2.Ictercia. 3. A radiografia

    abdominal revelou fluido.

    H uma provvel leso no fgado devido s altas concentraes de ALT, com

    leso do fgado este no sintetizara mais albumina indicando nos parmetros uma baixa,

    essa por sua vez responsvel pela regulao da presso hidrosttica e osmtica da

    corrente sangunea resultando em uma ascite. Diminuio da presso osmtica e

    aumento da presso hidrosttica vai fazer com que ative o ADH (hormnio anti-

    diurtico) levando a maior ingesto de gua e reteno de lquido e soluto pelos rins.

    Essa leso no hepatcito, impedir a metabolizao de carboidratos, lipdios e protenas,

    que promove um emagrecimento constante no paciente.

    Os nveis de glicose esto abaixo do normal, esses valores indicam uma perca

    considervel de parnquima heptico funcional, visto que para ser observado alteraes

    em nvel de produo de glicose necessrio perder cerca de 75% de massa heptica. A

    descolorao amarelada da esclera indica uma deficincia hepetica na conjugao e

    eliminao da bilirrubina em fisiologia normal, esse achado se confirma pelo

    hemograma que apresenta CHCM normais, no demonstrando hemlise, que seria um

    fator adicional ao fgado predisponente ictercia. A densidade baixa apresentada na

    urinlise pode ser decorrente do co estar bebendo muita gua.

    Os exames e histria clnica sugerem ento que o paciente tem um caso de

    hepatopatia em estagio terminal, devido a diminuio extensa da massa heptica

    funcional e consequentemente diminuio da gliconeogenese e da glicogenese.

    Caso 3

    Paciente Equino, Paso Fino, fmea, 6 anos de idade.

    Sinais e queixas presentes Diarreia e perda de apetite. Duas semanas antes da

    consulta, a gua prenhe de 7 meses foi enviada a Republica Dominicana. Durante a

    quarentena, notou-se que estava anortica e dolorida em todos os quatro membros. A

    consulta ao veterinrio diagnosticou uma laminite e tratou-se o animal com

    fenilbutazona. A gua desenvolveu diarreia e foi tratada com subsalicitato de bismuto,

    leo mineral e antibiticos sem nenhuma melhora.

  • Exame fsico Obesidade; hesitncia em andar; presena de cristas nas paredes do

    casco das patas dianteiras; diarreia aquosa e profusa; desidratao de 10%.

    Listagem dos problemas 1. Diarreia. 2. Excesso de peso. 3. Desidratao moderada.

    4. Dor nas patas. 5. Cristas proeminentes nas paredes do casco das patas dianteiras.

    Como o animal apresentou primariamente uma desordem gastrointestinal e

    subsequentemente constatou-se laminite, a causa desta pode estar associada

    salmonelose o que causou a diarreia, a presena da bactria explicaria a neutrofilia com

    desvio a esquerda regenerativo observada no leucograma ou at mesmo, por exemplo,

    devido dor nos membros pode ter ocorrido uma liberao de corticides endgenos.

    No foi constato nenhuma alterao no eritrograma. O fibrinognio apresentou-se

    elevado em decorrncia da laminite (processo inflamatrio). Na bioqumica srica o

    aumento concomitante dos nveis ALP e GGT indica leso heptica, o que seria

    confirmado tambm pelo aumento nos nveis da enzima AST, pois esta s se eleva em

    casos graves de leso heptica, devido a sua localizao ser na mitocndria. Colesterol

    aumentado indica uma possvel leso hepatobiliar, ou at mesmo obstruo podendo

    ainda ser associado aos altos nveis de bilirrubina que indicaria uma obstruo extra-

    heptica. O paciente apresenta ainda uma leso renal devido ao aumento nos nveis

    sricos de creatinina e uria.

    Caso 4

    Paciente: gato, pelo curto domstico, macho 4 meses de idade

    Sinais e queixas: atacado pelo co do vizinho h dois dias; desde ento, tem estado

    rgido e dolorido.

    Exame fsico: ferimentos no dorso; relutncia em se mover; rigidez generalizada.

    Listagem dos problemas: 1. Dores musculares 2. Contuses

    O Trauma contuso a fonte mais comum de leso heptica em gatos, nesses

    casos pode ocorrer tambm trauma penetrante e atingir o fgado e provocar danos

    considerveis. A partir dos dados de funo heptica, a bioqumica srica demonstrou

    nveis de AST (aspartatoaminotransferase) elevado, esses indicadores esto presentes

    principalmente em casos de leso heptica. Porm, os nveis de AST podem ser

    alterados em casos de leses musculares e ao levar em considerao que a maior

  • quantidade desta enzima encontra-se na mitocndria celular de clulas musculares, esta

    observao importante ressaltar, tendo em vista que seus valores voltam aos nveis

    basais rapidamente caso o quadro no perpetue, pois esta enzima possui baixa meia

    vida.

    Os nveis de ALT em menor grau apresentaram alterados, geralmente essa

    enzima apresenta aumento superior ao de AST, porm em gatos no regra. Deste

    modo os nveis de ALT so encontrados em leses hepticas e essa enzima um

    marcador especfico importante em que discretos aumentos apresentam significncia

    clnica importante.

    Os nveis de LDH (lactato desidrogenase) tambm um marcador relevante, sua

    maior quantidade encontrada nas hemcias cerca de cem vezes mais que no plasma,

    neste caso, como no se observa pelo hemograma um quadro hemoltico, pois o CHCM

    apresenta valores normais. Por descartar de um quadro hemoltico, os nveis de LDH

    podem ser alterados tambm em outras duas situaes como as leses hepticas e

    cardacas, descarta-se um possvel infarto do miocrdio, pois, em pequenos animais essa

    patologia incomum acontecer at mesmo pela idade do animal, mas caso ocorresse um

    infarto, concomitante ao LDH a Creatina Quinase poderia ter seus nveis elevados, e

    neste exame os nveis de CK apresentam-se normais, mesmo estando sujeito a

    alteraes em casos de leses musculares, esta enzima no demonstrou alteraes.

    Esse animal apresenta uma linfopenia evidente, esse fato pode estar relacionado

    ao quadro de estresse que acomete o animal em virtude dos desconfortos da contuso,

    dos ferimentos e dores musculares provocadas pelo ataque do co. A relutncia em se

    mover pode estar associada aos ferimentos e as dores musculares, principalmente a uma

    provvel leso heptica, que pode justificar a rigidez generalizada.

    Caso 5

    Paciente: co, skye terrier, macho, 4 meses de idade.

    Sinais e queixas presentes: letargia desde que adquirido; diarreia; algumas vezes,

    fraqueza nas pernas traseiras e arriamento.

    Exame fsico: magreza excessiva; pouca resposta a estmulos circunvizinhos;

    incoordenao durante a marcha.

  • Listagem dos problemas: 1. Letargia. 2. Ataxia. 3. Magreza.

    Atravs da USG foram encontrados cistos hepticos e microhepatia. Deste modo

    possvel ter noo das causas que este animal apresenta. Alteraes no parnquima

    heptico por qualquer tipo de anomalia celular dependendo das dimenses podem

    desencadear diversas alteraes sistmicas.

    Os Achados bioqumicos, hematolgicos, relacionados com a USG norteiam

    algumas hipteses bastante interessantes para o caso. Alguns relatos de caso descrevem

    que a presena de cistos hepticos pode alterar a irrigao porto sistmica, dependendo

    do local, do volume e extenso dos cistos no parnquima heptico e que venha

    influenciar na produo de diversas protenas, metabolizao de excretas etc.

    possvel correlacionar o estado fsico do animal com os achados do

    hemograma, o VCM (volume corpuscular mdio) encontra-se inferior aos parmetros

    normais, esse dado evidencia um tamanho celular eritrocitrio inferior ao tamanho

    normal para um animal saudvel. Esse achado nos leva a crer em duas hipteses: a

    primeira a alimentao do animal que esta sendo insuficiente, pela prpria patologia, e

    esse animal encontra-se em estado de anorexia ou num quadro de inapetncia que

    contribui para o agravo do quadro. A segunda hiptese norteia uma produo

    insuficiente de elementos para constituio celular, que reflete em VCM inferior ao

    normal, ou ate mesmo pela alimentao deficiente associado a uma hapatopatia.

    Com relao ao hemograma constatou alteraes nas concentraes de protenas

    plasmticas, diversos motivos podem levar a um quadro de queda das protenas, como

    hemorragias intensas, nefrose, parasitoses e disfunes hepticas, gastrintestinais, etc.

    que devem ser levadas em considerao e examinadas mais a finco, pois, pode agravar o

    quadro clinico e levar a um diagnstico equivocado.

    A bioqumica srica apresentou alteraes de aumento de ALP, Protena Total,

    cidos biliares em jejum, cidos biliares aps refeio, diminuio de Albumina,

    colesterol e Uria.

    Os nveis de ALP ou Fosfatase Alcalina (FA) apresentaram-se alterados. Os

    nveis sricos de FA so alterados principalmente em casos de leso heptica,

    osteomalcias, hepatites virais, tumores sseos, hiperadrenocorticismo e raquitismo,

  • porm, nenhum dado adicional na ficha clinica traz dados de qualquer uma dessas

    patologias, sendo necessria uma melhor investigao do caso.

    A interpretao poderia ser mais fcil se estivesse associado aumento da GGT

    concomitante a FA, sua alterao evidencia uma leso hepatobiliar corrente, j que a FA

    uma enzima encontrada em outros rgos e pode ser influenciada por outras

    patologias que no leses hepticas.

    Acredita-se que se trata de uma colestase como causa secundria, esse fato pode

    ter como causa primria a obstruo dos canalculos biliares e ocupao do parnquima

    funcional heptico pelos cistos verificados na USG. A colestase tem como sinais o

    aumento dos cidos biliares na corrente sangunea bem como o aumento de FA e/ou

    GGT ambas que so enzimas hepatobiliares e em decorrncia da destruio dos

    hepatcitos ou canalculos biliares por obstruo, por exemplo, pode ter seus nveis

    sricos aumentados.

    Os baixos nveis de ureia indica que o fgado encontra-se com problemas de

    metabolizao da amnia, visto que este rgo o principal responsvel por metabolizar

    esse composto. Esse fato atribui ainda mais que o cisto heptico tem reduzido as

    unidades funcionais de metabolizao, no s da amnia mais de outros compostos

    proteicos como a albumina, protenas de manuteno basal e o colesterol.

    A micro-hepatia pode ser decorrente da obstruo dos vasos sanguneos pelos

    cistos hepticos, esse fato provoca uma deficincia de nutrio dos hepatcitos e

    consequentemente no seu desenvolvimento.

    Na urinlise encontrou-se um aumento nos cristais de biurato de amnio, essa

    substncia em condies normais seria biotransformada pelo fgado. Alguns sinais

    gastrintestinais como diarreia, vmito e anorexia, disfagia, podem ser observados em

    decorrncia da deficincia de metabolizao desses compostos.

    A letargia, Ataxia e Magreza so resultados da falta de metabolizao de

    elementos essenciais para manuteno do organismo (protenas, por exemplo), bem

    como a deficincia na eliminao dos metabolitos prejudiciais ao organismo.