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FRUTICULTURA I ESCOLA PROFISSIONAL AGRÍCOLA CONDE DE S. BENTO

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FRUTICULTURA I

ESCOLA PROFISSIONAL AGRÍCOLA CONDE DE S. BENTO

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FICHA TÉCNICA

Apontamentos para a disciplina de “Produção Agrícola – Módulo 7 – Fruticultura I” do curso de Técnico de Produção Agrária.

Professores:

Anabela Correia Quadrado

Madalena Barroso

Francisco Rodrigues

Escola Profissional Agrícola Conde de S. Bento

Largo Abade Pedrosa nº 1

4780 Santo Tirso

Telefone: 252 808690

Fax: 252 808699

2013/2014

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Índice

1.Importância e distribuição geográfica da Fruticultura 02 2.Generalidades 05

2.1. As fruteiras como plantas perenes 09 2.2. Período de actividade vegetativa anual 09 2.3. Órgãos de vegetação e frutificação 11

3.Poda 17 3.1. Fundamentação 18 3.2. Principais funções 19 3.3. Ferramentas de corte 19 3.4. Tipos de corte ou supressões e efeitos nas plantas: atarraque; desramação e atarraque sobre ramo lateral 20 3.5. Técnica de execução dos cortes 22 3.6. Cicatrização de feridas da poda 23 3.7. Tipos de poda e efeitos nas plantas 24

4.Operações complementares da poda 39 4.1. Empa 39 4.2. Anelamento 40 4.3. Incisões 40 4.4. Torção de ramos 40 4.5. Lenha da poda 40

5. Propagação vegetativa 41 5.1. Importância 41 5.2. Métodos de propagação 41

6. Factores determinantes na instalação de um pomar 55 6.1. Sistemas culturais 57 6.2. Seleção das espécies a serem plantadas 57 6.3. Escolha do terreno 58 6.4. Mobilizações e correcções 63 6.5. Plantação 66

Bibliografia e Webgrafia 79

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1.Importância e distribuição geográfica da Fruticultura A fruticultura pode ser entendida como sendo o conjunto de técnicas e práticas aplicadas adequadamente com o objetivo de explorar comercialmente plantas que produzam frutos comestíveis.

Segundo Tamaro (1936), fruticultura é a arte de cultivar racionalmente as plantas frutíferas.

Além do conceito de fruticultura, o conceito de fruta e fruto também é variável conforme o autor. Segundo Ferreira (1993), fruta é a designação comum às frutas, pseudofrutos e infrutescências comestíveis, com sabor adocicado. Já o fruto é o órgão que resulta do desenvolvimento do ovário depois da fecundação e onde se encontram as sementes.

Para facilitar a leitura, será adotado o termo fruta.

O cultivo de plantas frutíferas, ou fruteiras, caracteriza-se por apresentar aspetos importantes no contexto socioeconómico de um país, tais como:

a) Utilização intensiva de mão-de-obra;

b) Possibilitar um grande rendimento por área, sendo por isso uma ótima alternativa para pequenas explorações agrícolas;

c) Possibilitar o desenvolvimento de agro-indústrias, tanto de pequeno quanto de grande porte;

d) Contribuir para a diminuição das importações;

e) Possibilitar o aumento nas divisas com as exportações;

f) As frutas são de importância fundamental como complemento alimentar, sendo fontes de vitaminas, sais minerais, proteínas e fibras indispensáveis ao bom funcionamento do organismo humano.

A fruticultura é uma actividade agrícola que está a renascer no nosso país.

Actualmente verifica-se uma enorme revitalização do sector, que se desenvolve por fileiras, dando um grande contributo para o equilíbrio da balança comercial portuguesa. O artigo que se segue mostra bem o dinamismo e êxito do sector:

“Surpresa na crise: a fruta está a vender como pãezinhos quentes. Legumes e fruta nacionais são preferidos

20/07/2013 | Dinheiro Vivo

Os portugueses são grandes compradores de fruta: por semana, compram entre 2 e 5 kg, aos quais se somam cerca de 2 kg de vegetais e legumes e 2 a 5 kg de batata. A grande novidade é que os portugueses são exigentes na hora de escolher aqueles produtos e não há promoção que os convença a comprar fruta espanhola ou legumes franceses. “O consumidor escolhe primeiro o que é português, não por ser patriótico, mas porque tem consciência de que os produtos portugueses são bons e até mais seguros do que os importados”, adianta Domingos dos Santos, presidente da Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP).

Não é uma questão de patriotismo e as exportações do sector comprovam a competitividade dos produtos hortofrutícolas portugueses. Este ano poderão duplicar em relação a 2010. “Exportámos 600 milhões de euros em 2010, 800 milhões em 2011 e em 2012 ficámos pelos 920 milhões. Este ano, vamos bem encaminhados e vamos ultrapassar os mil milhões”, congratula-se Domingos dos Santos.

A fruta portuguesa não pode ser imitada. O Atlântico arrefece o clima e dá mais tempo à fruta na árvore e, por isso, tem mais paladar do que a fruta espanhola”, explica o produtor. O Brasil está

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completamente rendido à pera rocha, que representa, sozinha, entre 10 e 15% das exportações do sector.”

Graças à qualidade e especificidade dos nossos frutos, 14 deles já foram distinguidos com Designação de Origem Protegida (DOP) ou Indicação Geográfica Protegida (IGP). São eles os seguintes:

O gráfico seguinte mostra as produções totais das principais espécies de fruteiras em Portugal, obtidas em 2008 (valores estatísticos oficiais mais recentes). Os valores são expressos em toneladas.

No que se refere à uva de mesa, embora não constando das estatísticas oficiais, sabe-se que em 2012 só a empresa Vale da Rosa (Alentejo) vendeu em Portugal 4500 toneladas de uva de mesa e exportou 1200 toneladas, das quais quase metade sem grainha.

Mais informação em:

http://www.frutaviva.net/portal/

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Fonte: Anuário Agrícola 2011

As principais zonas de produção são as seguintes:

• Em Trás os Montes predominam os frutos secos e a oliveira.

• No Entre Douro e Minho predomina a policultura onde, para além das uvas para vinho, há uma enorme produção de Kiwis e recentemente de pequenos frutos.

• A Região do Ribatejo e Oeste é o solar da pêra Rocha, de várias variedades de maçãs e de pêssegos e nectarinas. Na zona de Santarém há uma forte tradição na produção de melancia e melão.

• Na Beira Interior predomina a maçã (solar da variedade Bravo de Esmolfe), os frutos secos (especialmente a avelã) a cereja e os pêssegos.

• No Alentejo tem havido um forte investimento em fruticultura desde as uvas, quer para vinho, quer de mesa, aos pêssegos e damasco e pequenos frutos.

• No Algarve a principal produção é de laranja, amêndoa e alfarroba. A diversificação passa por frutos tropicais como abacate e manga.

• A Madeira é a única região portuguesa onde se cultiva banana.

• Os Açores têm uma forte produção de ananás em estufa e de maracujá, que se consome em fresco mas que é maioritariamente destinado à indústria (sumos e licores).

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• A vinha para produção de vinho é cultivada em todas as regiões, dando origem a vinhos de características muito variadas mas todos eles de alta qualidade.

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Área ocupada pelas principais espécies e respetivas produções (2011- 2012)

2.Generalidades A maioria dos frutos é o resultado do desenvolvimento do ovário da flor após a fecundação, originando assim as sementes. Algumas frutas, porém, resultam do amadurecimento do ovário mesmo sem fecundação, produzindo frutos partenocárpicos, como é o caso da banana, do abacaxi e de algumas cultivares de uvas e citrinos.

Quedas fisiológicas das frutas

Ao longo de todo o processo de desenvolvimento dos frutos, ocorrem uma série de fenómenos fisiológicos, que provocam a queda dos mesmos. Também podem ocorrer, em qualquer momento, as quedas acidentais que são provocadas por ventos, chuvas de granizo, doenças, pragas, entre outras.

a) Queda das frutas no vingamento – nesta fase ocorre a queda de flores e frutos mal fecundados. Pode acontecer uma queda de até 95% da floração total. Esta situação pode ser agravada quando ocorrerem, simultaneamente, geadas, chuvas em excesso ou falta de polinização;

b) Queda no crescimento dos frutos - neste período ocorre uma competição entre os frutos, normalmente no final do período de multiplicação celular e início do engrossamento da fruta. Neste período podem cair de 10 a 30% dos frutos presentes na planta. Esta situação pode ser agravada por problemas nutricionais e climáticos;

c) Queda pré-colheita - forma-se uma camada de abscisão entre o fruto e o pedúnculo, o que facilita a queda dos frutos. Este processo é mais comum em algumas espécies frutíferas, como a macieira e a pereira. Alguns fenómenos climáticos podem agravar ainda mais a situação, tais como períodos de seca, ventos, pragas e doenças. Os frutos caem antes do tempo e, quase sempre, estão ainda inadequados para o consumo.

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O uso de fito hormonas, tais como o ácido naftaleno acético (ANA), em baixas concentrações na forma de pulverizações, pode diminuir os efeitos da queda pré-colheita.

Na Tabela são apresentadas as principais espécies frutíferas cultivadas com o respetivo nome científico, nome da família e subfamília.

NOME COMUM NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA SUB-FAMÍLIA

FRUTAS COM SEMENTES

Macieira Pereira Marmeleiro Nêspera-japonesa Nêspera-comum

Malus domestica Pyrus communis Cydonia oblonga Eryibotria japonesa Mespilus germanica

Rosácea Rosácea Rosácea Rosácea Rosácea

Pomoidea Pomoidea Pomoidea Pomoidea Pomoidea

FRUTAS COM CAROÇO

Pessegueiro Nectarineira

Ameixeira japonesa Ameixeira europeia Damasqueiro Amendoeira

Prunus persica Prunus persica var. Nucipersica Prunus salicina Prunus domestica Prunus armeniaca Prunus amygdalus

Rosácea Rosácea Rosácea Rosácea Rosácea Rosácea

Prunoidea Prunoidea Prunoidea Prunoidea Prunoidea Prunoidea

FRUTAS COM SEMENTES CARNOSAS

Romãzeira Punica granatum Punicácea

FRUTAS EM BAGAS

Videira europeia Videira americana Groselheira Quivizeiro

Vitis vinifera Vitis labrusca Ribes grossularia Actinidia deliciosa

Vitácea Vitácea Saxifragácea Actinidácea

Ribesoidea

FRUTAS EM HESPIRÍDIO

Laranja doce Limoeiro Tangerineira Cidreira Laranja azeda Toranja

Citrus sinensis Citrus limon Citrus reticulata Citrus medica Citrus aurantium Citrus grandis

Rutácea Rutácea Rutácea Rutácea Rutácea Rutácea

Auranteoidea Auranteoidea Auranteoidea Auranteoidea Auranteoidea Auranteoidea

MULTIFRUTOS

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Framboesa Rubus spp. Rosácea Rosoidea

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NOME COMUM NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA SUB-FAMÍLIA

INFRUTESCÊNCIAS

Figueira Amoreira branca Amoreira-preta

Ficus carica Morus alba Morus nigra

Morácea Morácea Morácea

Artocarpoidea Moroidea Moroidea

FRUTAS SECAS

Nogueira europeia Nogueira americana Castanheiro Amendoeira Aveleira

Juglans regia Carya illinoensis Castanea sativa Prunus amygdalus Corylus avellana

Jungladácea Jungladácea Fagácea Rosácea Betulácea

- - - Prunoidea

FRUTAS TROPICAIS E SUBTROPICAIS

Bananeira Abacaxizeiro Mangueira Mamoeiro/papaeira Maracujazeiro Goiabeira Abacateiro americano

Musa spp. Ananas comosus Mangifera indica Carica papaya Passiflora edulis Psidium guajava Persea americana

Musácea Bromeliácea Anacardiácea Caricácea Passiflorácea Mirtácea Laurácea

- - - - - - -

Com o conhecimento trazido pela globalização, as novas técnicas aplicadas à produção e a nossa diversidade climática é possível produzir em Portugal fruteiras de climas temperados mas também as de clima sub tropical e tropical. É pois importante conhecê-las.

a) Fruteiras de clima temperado - as principais características apresentadas por essas plantas são:

• Hábito caducifólio (plantas de folha caduca); • Só dão fruto uma vez por ano; • Necessidade de frio para haver indução floral; • Maior resistência às baixas temperaturas; • Necessidade de temperatura média anual entre 5 e 15°C para crescimento e desenvolvimento.

As principais plantas frutíferas de clima temperado são pessegueiro, macieira, pereira, videira, ameixeira, marmeleiro, quivi, cerejeira, nogueira, entre outras.

b) Fruteiras de clima subtropical - as principais características apresentadas por essas plantas são:

• Nem sempre apresentam hábito caducifólio; • Têm mais de uma produção por ano; • Menor resistência a baixas temperaturas; • Pouca necessidade de frio no período de inverno; • Necessidade de temperatura média anual de 15 a 22°C.

As principais frutíferas de clima subtropical são os citrinos (laranja, limão, tangerina), abacateiro, diospireiro, nespereira, entre outras.

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c) Fruteiras de clima tropical - as principais características apresentadas por essas plantas são:

• Podem ter mais que uma produção por ano; • Apresentam folhas persistentes; • Não toleram temperaturas baixas necessitando de temperatura média anual entre 22 e 30°C.

As principais frutíferas de clima tropical são bananeira, cajueiro, abacaxizeiro, mamoeiro/papaeira, mangueira, maracujazeiro, coqueiro, entre outras.

Quadro resumo – exigências climáticas das principais espécies.

Exigências climáticas das principais espécies

(Adaptado de Saraiva 1992)

ESPÉCIES ÍNDICES OTIMIZADOS

Alfarrobeira Espécie de comportamento bastante bizarro típico do clima mediterrânico de duas estações bem marcadas e estilo cálido, mas onde possa dispor de suficientes reservas de água no solo e ar.

Ameixeira No semestre seco (Abril a Setembro) para as variedades europeias com destino à secagem, a soma das temperaturas médias mensais devem ser de 120 a 130ºC; precipitações esporádicas inferiores a 180mm e nitidamente escassas no vingamento; insolação acima das 1700 horas.

Amendoeira/ Oliveira Temperatura média superior a 22ºC durante todo o Verão, com a evaporação a ultrapassar os 600mm; insolação de Abril a Setembro superior a 1750 horas; neste período a precipitação deverá estar abaixo dos 170mm e ser dispersa; no Verão, humidade relativa média menor que 45%.

Aveleira Gradiente térmico entre as médias de Janeiro e Julho superior a 14ºC; precipitação anual acima de 800mm (maior que 230mm no semestre seco); fotoperíodo específico em que a insolação média deverá oscilar entre as 14,6 e as 15 horas no mês de Julho e 9 a 9,4 horas durante Dezembro; evaporação menor que 750mm no semestre seco.

Castanheiro Pluviosidade anual superior a 800mm. A média das temperaturas de Dezembro, Janeiro e Fevereiro inferior a 7ºC. Altitude máxima de 1100m. Temperaturas muito elevadas nos meses de Julho e Agosto, associadas a uma escassez de água no solo, dão origem a um menor vingamento do fruto.

Cerejeira Temperaturas médias em Janeiro inferiores a 8ºC; gradiente entre Janeiro e Julho superior a 13ºC; a partir do início de Maio e durante o Verão, temperatura média mensal acima dos 15ªC. Precipitação anual maior que 800mm, mas com épocas de vingamento do fruto relativamente secas ou com movimento do ar.

Figueira Temperaturas elevadas durante o dia, acompanhadas de alguma precipitação a partir da segunda quinzena de agosto, prejudicam o bom desenvolvimento do fruto, já que forçam a sua maturação.

Ginjeira A partir do início de Maio e durante o Verão, temperatura média mensal acima dos 15ªC; requer protecção dos ventos gelados no Inverno. A poda deve ser realizada no Verão para evitar o aparecimento de doenças.

Macieira Dormência obrigatória entre Novembro e Fevereiro; humidade relativa do ar superior a 60%, mesmo no período de intensa actividade vegetativa. Temperaturas médias anuais entre os 10 e 16ºC, embora com variações.

Medronheiro A produção de medronho está bastante dependente das geadas em virtude da floração ocorrer entre Outubro e Dezembro. Por esse facto a frutificação é bastante irregular.

Nogueira Somatório térmico médio do semestre seco entre 105 e 120ºC. Curtas quedas pluviométricas (de horas) nesse período. Luminosidade entre 1500 a 2050horas. É importante não haver geada entre a formação dos frutos e até que estes atinjam os 20mm de diâmetro, seguidas de altas temperaturas para manter a sua epiderme.

Pereira Somatório das temperaturas médias mensais entre Outubro e Janeiro de 40 e 60ºC. As

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exigências em humidade relativa são idênticas às ad macieira: Temperaturas médias anuais entre 13 e 17ªC

As espécies fruteiras podem apresentar tamanho e formas muito diferentes. Assim elas podem ser:

a) Arbóreas - apresentam grande porte e tronco lenhoso. Exemplos: macieira, pessegueiro, cerejeira, mangueira, abacateiro, nespereira e nogueira.

b) Arbustivas - apresentam porte médio e caule menos resistentes. Exemplos: figueira, amoreira e romãzeira.

c) Trepadeiras - apresentam caule sarmentoso e/ou provido de gavinhas. Exemplos: videira, maracujazeiro e quivi.

d) Herbáceas - apresentam porte baixo, rasteiras ou com pseudo caules. Exemplos: bananeira, morangueiro e abacaxizeiro.

2.1. As fruteiras como plantas perenes As fruteiras são na sua esmagadora maioria árvores ou arbustos perenes.

Como é bom de ver, para que o pomar se desenvolva como desejado é necessário garantir não só um bom arranque, preparando o terreno para tal, como todos os anos se devem fazer as manutenções necessárias para que a árvore cresça equilibradamente e, após o início da frutificação, as produções sejam regulares e de qualidade.

A árvore é sensível a todas as alterações que possam afectar o seu sistema radicular, a sua copa ou ainda o meio em que vive (ecossistema agrário). Uma boa condução do pomar é indispensável para esse equilíbrio. As intervenções são em geral as seguintes:

- Manutenção do pomar, onde se incluem as mondas, as regas e a protecção das plantas contra pragas e doenças;

- As adubações de manutenção;

- As podas, que consistem na supressão ou corte de ramos, folhas e/ou frutos, com vista a obter uma árvore com a maior quantidade possível de frutos comerciáveis, isto é, frutos com características e tamanho, aceites na comercialização dessa espécie/variedade.

2.2. Período de actividade vegetativa anual Para caracterizar o período de actividade vegetativa anual há que ter em conta que as árvores se agrupam em dois grandes grupos – as caducifólias, ou árvores de folha caduca e as perenifólias, ou árvores de folhas persistentes.

2.2.1 Caducifólias ou árvores de folha caduca Estas árvores têm um período de dormência que corresponde de um modo geral ao inverno e vai desde a queda das folhas até ao principiar da rebentação na primavera seguinte, quando o calor provoca o recomeço da actividade dos meristemas.

Neste período as necessidades das plantas são mínimas, a absorção radicular é nula ou insignificante e pequeníssimo o consumo de substâncias necessárias à vida. As reservas (hidratos de carbono produzidos na fotossíntese) deixam de se formar embora se continuem a deslocar e a depositar no caule e nas raízes.

É esta a melhor altura para se efectuarem podas, transplantações e tratamento químicos mais agressivos (tratamentos de inverno com calda bordalesa, por exemplo) porque a vida vegetativa está particamente paralisada e a árvore ressente-se muito pouco.

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Enquanto as folhas não estiverem desenvolvidas, a planta recorre às suas reservas para se alimentar. Estas reservas, que foram produzidas pelas folhas no período vegetativo anterior, actuam em todas as zonas da planta, até que as novas folhas atinjam tamanho suficiente para elaborarem mais seiva elaborada.

Os acidentes atmosféricos (geadas, granizos, ventos, frios, etc..) podem provocar prejuízos importantes nesta altura.

É durante a maior parte da primavera e do verão que se verifica a maior actividade vegetativa da planta.

Enquanto os ramos e os frutos crescem, vão-se reduzindo as reservas em nutrientes e água do solo. A falta de qualquer destes elementos no terreno pode paralisar os crescimentos dos ramos e dos frutos e até provocar a queda destes.

O enfraquecimento da actividade vegetativa ocorre normalmente durante o outono e é influenciado pela redução da humidade do solo, pelo abaixamento da temperatura e pela menor duração dos dias. A seiva elaborada passa a ser superior às necessidades de consumo da planta e, como ainda é produzida com abundância, dá-se a sua acumulação sob a forma de reservas, tanto no caule como nas raízes. Os ramos endurecem com a lenhificação dos seus tecidos. A planta prepara-se assim para entrar num novo período de dormência.

LENHIFICAÇÃO DOS RAMOS POR ACUMULAÇÃO DE RESERVAS

Ramo herbáceo na primavera Ramo lenhificado no outono

2.2.2 Perenifólias ou árvores de folha persistente As principais fruteiras de folhas persistentes são: laranjeira, limoeiro, tangerineira (citrinos) e oliveira.

O período de menor actividade vegetativa corresponde ao de dormências das caducifólias, mas nas perenifólias não existe verdadeiramente um período de dormência, porque as suas folhas não cessam completamente de elaborar, apesar dos crescimentos nos ramos poderem não ser evidentes. Como praticamente não se efectuam crescimentos, a seiva elaborada neste período de inverno tem pouco consumo e continua a depositar-se sob a forma de reservas que mais tarde poderão ser utilizadas.

Nestas plantas as folhas são sempre úteis, até mesmo no inverno, facto a que devemos atender ao escolhermos a época de poda.

No fim do inverno, início da primavera a árvore utiliza as reservas armazenadas para auxiliar a alimentação dos tecidos em desenvolvimento.

A maior actividade vegetativa ocorre no final da primavera, princípio de verão. Neste período são enormes as exigências em água e substâncias minerais. Durante o resto do verão o crescimento dos frutos pode ainda continuar mas o dos ramos cessa, a não ser nos citrinos regularmente regados e adubados.

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Apesar do papel que a acumulação de reservas tem na futura rebentação das árvores de ambos os grupos, a sua importância é maior nas caducifólias que completam o seu armazenamento mais cedo.

2.3. Órgãos de vegetação e frutificação A grande maioria das plantas fruteiras passa por duas fases distintas:

- A primeira é a juvenil ou de crescimento ativo. Nesta fase só produzem gomos foliares e/ou mistos, aqueles que irão dar origem a folhas e a ramos.

- A segunda é a fase adulta ou reprodutiva. Nesta fase além dos gomos foliares produz também gomos florais.

2.3.1 Estudo resumido dos gomos (ou olhos) Classificação quanto á sua:

-Natureza

Com respeito à sua natureza podem dividir-se em florais, foliares, mistos ou compostos.

Os gomos florais, também chamados “botões”, são no

geral mais curtos, arredondados e dão origem

às flores.

Os gomos foliares, também chamados “folheares” ou

“olhos”, são mais compridos e dão origem às

folhas.

Os gomos mistos, dão origem a folhas, a ramos e a

flores.

-Posição

• Os terminais ou apicais, situam-se no topo dos ramos. • Os axilares ou laterais, situam-se aos lados das varas ou ramos. É por eles que estas se

ramificam. • Os adventícios, nascem ao acaso em qualquer parte do tronco ou dos ramos e dão origem aos

“ladrões”.

-Número

• Se apenas existir um em cada axila, chamam-se solitários. • Grupados, quando existem vários em cada axila.

-Posição em relação à copa

• Internos, quando nascem virados para a parte interior da copa. • Externos, quando nascem virados para a parte exterior da copa. • Laterais, se estão virados para os ramos próximos que constituem a armação da copa.

Gomo

fl l Gomo

fl l

Gomo

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-Evolução

• Quando se formam e evoluem no mesmo período vegetativo, chamam-se de formação pronta.

• Se forem formados num ano e evoluírem no ano seguinte, são hibernantes. • Dormentes, se só evolucionam passados vários anos — por vezes muitos —, depois de se

terem formado. Podem mesmo nunca evolucionar. Tornam-se úteis se se pretendem renovar a copa envelhecida ou mutilada.

2.3.2 Ramos das fruteiras As ramificações mais grossas da copa que partem do tronco, denominam-se pernadas. Nestas inserem-se os braços que se subdividem em ramos sucessivamente mais delgados, até chegar aos ramos do ano.

-Ramos guias

Lançamentos das extremidades das principais ramificações que têm por função assegurarem o seu crescimento.

-Ramos de madeira

São lisos, compridos, com entrenós afastados e gomos regularmente distribuídos.

-Polas

São os rebentos de touça ou de raiz. A sua supressão denomina-se despolamento.

-Ramos ladrões

Provenientes de gomos dormentes (ou adventícios), nascem frequentemente nos ramos mais velhos. São vigorosos, direitos e crescem na vertical, tornando-se dominantes e competitivos em relação aos outros. Devem ser eliminados ou dobrados para perderem força.

Certas fruteiras frutificam em ramos frutíferos, que são ramos especializados de duração mais ou menos longa. Estes, no geral, devem poupar-se na poda.

As fruteiras de clima temperado como a pereira, macieira, ameixoeira, ginjeira, cerejeira, damasqueiro, amendoeira, alfarrobeira, frutificam nestes ramos. Classificam-se em:

-Dardos

São ramos curtos, com entrenós muito próximos, de casca engelhada e cheia de cicatrizes. O seu crescimento é lento e apresenta um gomo foliar (pontiagudo) na extremidade. Podem dar origem a novos dardos, ramos de madeira, esporões ou a verdascas.

Se não se transformam, é sinal de fraqueza da árvore e, devem fazer-se podas mais curtas e adubações equilibradas. O seu comprimento, em geral, não vai além de oito centímetros.

-Esporões

Os dardos, em geral, no terceiro ano transformam-se em esporões. Estes têm, na sua extremidade, um gomo floral (arredondado) que desabrocha na Primavera seguinte e dá origem a flores. Os esporões da pereira, macieira e cerejeira podem produzir durante muitos anos, chegando a ultrapassar os 20 anos.

Muitas vezes, os esporões no quarto ano dão fruto e um dardo e, no quinto, esse dardo transforma-se de novo em esporão. Podem em casos especiais, formar-se no segundo ano, quando provenientes de gomos de formação pronta. Os esporões podem ser retos, tortuosos ou em ramalhete. Por vezes

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formam-se “bolsas” que não são mais que engrossamentos devidos à acumulação de reservas. Nestas podem aparecer “verdascas”.

Os esporões prolongam-se sempre por gomos laterais pois, como se disse, o último é floral.

-Verdascas

São ramos delgados, flexíveis, compridos e terminados por um gomo floral. São ramos frutíferos. No primeiro ano não dão fruto mas podem transformar-se em ramos frutíferos.

-Ramos mistos

Trata-se de ramos mais ou menos compridos e providos de gomos florais, foliares ou mistos. Estes ramos têm uma função dupla, porque não só asseguram a frutificação com os seus gomos florais como os gomos foliares garantem a expansão da copa.

2.3.3 Ramos de fruto em caducifólias 2.3.3.1 Pomóideas - Macieiras (Malus domestica) e Pereiras (Pyrus communis)

Os ramos que se destinam essencialmente à frutificação são os dardos, os esporões e as verdascas. Cada gomo floral dá origem a um número variável de flores (corimbo), podendo resultar vários frutos presos no mesmo sítio e oriundos de um só gomo Em relação ao seu tamanho, os dardos podem apresentar elevado número de folhas que, elaborando grandes quantidades de seiva, permitem a transformação do gomo terminal num gomo floral.

Evolução normal de um esporão de pereira até ao 5º ano. Geralmente são precisos dois anos para se obterem esporões a partir de gomos foliares

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A figura mostra um esporão tortuoso com 8 anos e as bolsas resultantes da acumulação de reservas no sítio onde se criaram os frutos. A – Gomos florais B – Gomos foliares C – Cicatrizes deixadas pelos pedúnculos dos frutos

2.3.3.2 Prunóideas

Ameixeiras (Prunus domestica e Prunus salicina)

A B C

A – Ameixeira do tipo europeu

B – Ameixeira do tipo japonês

C – Esporões de uma ameixeira americana com 9 anos

As ameixeiras pertencem a grupos diferentes: ameixeiras do tipo europeu (Rainha Cláudia), do tipo japonês e do tipo americano.

As ameixeiras do tipo europeu frutificam sobre esporões e ramos mistos.

As outras frutificam apenas sobre esporões e só raramente apresentam gomos florais nos ramos do ano.

Os ramos de madeira abundam nas variedades europeias sendo muito raros nas outras, onde os lançamentos anuais são em regra ramos mistos.

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Na ameixeira abundam os gomos dormentes e adventícios pelo que emite ramos ladrões com muita facilidade.

Os esporões apresentam muitas vezes o aspecto de ramalhete, sendo o gomo terminal e alguns laterais foliares e os restantes florais.

Os esporões novos dão frutos melhores do que os muito velhos.

O mais frequente é cada gomo floral da ameixeira dar origem a 2 flores.

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Cerejeira (Prunus avium)

Os ramos de fruto da cerejeira são essencialmente esporões em ramalhete com crescimento recto, que apresentam gomos com configurações e tamanho semelhante, sendo todos florais, excepto o central que é foliar e orienta o crescimento na mesma direcção (por vezes chegam a atingir o comprimento de um metro).

Os ramos do ano são ramos de madeira que, quando vigorosos, apresentam frequentemente na extremidade gomos foliares muito juntos que dão origem à característica ramificação em ramalhete (fig. C).

A fig. A mostra um pedaço de um ramo de dois anos com um dardo, 2 esporões e um ramo de madeira.

A fig. B representa um esporão de 4 anos, em boas condições de frutificação.

Pessegueiro (Prunus pérsica)

O pessegueiro possui como órgãos de frutificação, ramos mistos, verdascas e esporões em ramalhete. Os ramalhetes são muito pequenos e geralmente só duram um ano e portanto não garantem a frutificação no futuro.

Se bem que todos os ramos do ano do pessegueiro sejam em rigor mistos, convém distingui-los para efeito da poda:

- Os ramos relativamente vigorosos com 2 ou 3 gomos em cada nó, que tanto asseguram a frutificação como o desenvolvimento lenhoso, são na prática considerados ramos mistos.

- Os ramos mais ou menos compridos mas com pouca tendência para a frutificação e com menor vigor, são considerados ramos de madeira

- Os ramos mais curtos com 5 a 15cm e com grande tendência para a frutificação podem ser considerados como verdascas.

Os ramos mistos são os que oferecem maior garantia de frutificação e a sua renovação anual é o processo mais eficaz para assegura a produção.

Os ramos ladrões podem ser úteis para a

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renovação da copa mas também a podem desequilibrar

2.3.3.3 Outras Fruteiras Nogueira (Juglans regia)

A nogueira não tem esporões e apresenta os gomos florais masculinos separados e diferentes dos mistos, que originam os gomos florais femininos. Os ramos nitidamente de madeira (ao centro na imagem) são pouco frequentes na árvore adulta. As flores femininas abrem primeiro que as masculinas e, nalgumas variedades, o pólen destas não vem a tempo de as fecundar. Geralmente é indispensável haver árvores de uma outra variedade que produza pólen com abundância. São as chamadas “polinizadoras”. Nas árvores de copa muito densa a frutificação predomina na zona periférica, melhor iluminada. A nogueira suporta mal a poda e as feridas cicatrizam com dificuldade Legenda da imagem: A – Gomo misto B – Gomo foliar C – Gomo floral masculino D – Cicatrizes deixadas pelas nozes

2.2.4 Ramos de fruto em perenifólias

Laranjeira (Citrus x sinensis) e outros citrinos Oliveira (Olea europaea)

Estas espécies frutificam a partir de gomos mistos e de exclusivamente florais que se encontram na axila das folhas situadas nos ramos com menos de um ano. A laranjeira e tangerineira frutificam principalmente na zona exterior da copa. Nestas espécies é frequente aparecerem ramos verticais e vigorosos de folhas largas que se comportam como ramos ladrões

A oliveira frutifica sobre os gomos hibernantes existentes nas axilas das folhas dos ramos de um ano, que no fim do inverno se transformam em florais. Os ramos de dois ou mais anos não produzem ramos florais. Convém estimular o aparecimento de ramos do ano, através dos cuidados culturais. É importante evitar parti-los durante a colheita. Suporta grandes podes mas

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reage produzindo muitos ramos ladrões na base da árvore.

3.Poda A PODA é o conjunto de cortes executados numa árvore, com o objetivo de regularizar a produção, aumentar e melhorar os frutos, mantendo o completo equilíbrio entre a frutificação e a vegetação normal.

A poda é uma das práticas culturais realizadas em fruticultura que, juntamente com outras atividades, como a fertilização, irrigação e drenagem, controlo fitossanitário, afinidade entre enxerto e porta-enxerto e condições edafoclimáticas, torna o pomar produtivo.

Para que a poda produza resultados satisfatórios é importante que seja executada levando-se em consideração a fisiologia e a biologia da planta e seja aplicada com moderação e oportunidade.

Épocas de poda Árvores de folha caduca

A poda faz-se quando se encontram despidas de folhas. Nas regiões frias e onde são frequentes os gelos e geadas, deve fazer-se mais tardiamente para que a cicatrização não fique prejudicada. As podas tardias provocam muitas vezes a “chora” (“sangrar” de seiva).

Árvores de folha persistente

Faz-se depois da colheita dos frutos e antes do abrolhamento dos gomos. Devem ser feitas durante o período de repouso vegetativo. Não se deve podar com tempo de vento forte e frio, nem de geada.

Podas de Verão

Os citrinos podem ser podados nesta altura, quando não tiver sido possível podar no curto intervalo de tempo que vai da colheita à nova floração.

As podas de Verão são podas em verde e servem para suprimir ramos ladrões (em Maio e Junho), despontar alguns ramos e fazer poda de formação.

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Efeitos da poda 1 - Sem poda A árvore fica maior e entra mais cedo em frutificação. No entanto fica mal formada, com má disposição de pernadas e ramos e copa mal iluminada. Dá muitos frutos mas pequenos.

2 – Poda severa Boa distribuição das pernadas, ramos, folhas e frutos. No entanto só inicia a frutificação muito tarde, quando estiver enfraquecida pelos cortes severos. Os ramos ficam com curvaturas e feridas e a árvore dura menos. Este tipo de poda só se admite no início da formação da árvore pois é a situação mais desfavorável.

3 – Poda mediana Pernadas, braços e ramos bem localizados. Copa bem iluminada. Frutos maiores com mais cor. Com uma arborescência semelhante à natural, a árvore viverá mais anos.

3.1. Fundamentação A poda não é uma ação unilateral.

A planta vai ensinando a quem a está a executar. Mas, para isso, é preciso respeitar o seu ritmo, entender e conhecer a sua fisiologia, saber qual é o momento certo da intervenção.

A poda baseia-se em princípios de fisiologia vegetal, princípios fundamentais que regem a vida das fruteiras. Um desses princípios mais importantes é a relação inversa que existe entre o vigor e a produtividade.

O excesso de vegetação reduz a quantidade de frutos, e o excesso de frutos é prejudicial à qualidade da colheita. Assim, conseguimos entender que a poda, visa justamente estabelecer um equilíbrio entre esses extremos.

Mas deve ser efetuada com extremo cuidado. Se efetuada no momento impróprio, ou de forma incorreta, a poda pode gerar uma explosão vegetativa muito grande, causando um problema ainda maior para o produtor.

Não esquecer que:

a) A seiva dirige-se com maior intensidade para as partes altas e iluminadas da planta;

b) A circulação da seiva é mais intensa em ramos direitos e verticais;

c) Quanto mais intensa for a circulação de seiva, maior será o vigor nos ramos, maior será a vegetação e, ao contrário, quanto maior a dificuldade na circulação de seiva mais gomos florais serão formados;

d) Cortada uma parte da planta, a seiva fluirá para as partes que ficam, aumentando-lhe o vigor vegetativo;

e) Podas curtas (severas) têm a tendência de provocar desenvolvimento vegetativo, retardando a frutificação;

f) Diminuindo a intensidade de circulação de seiva, o que ocorre no período após a maturação dos frutos, verifica-se uma correspondente maturação de ramos e de folhas. Nesse período, acumulam-se

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grandes quantidades de reservas nutritivas, que são utilizadas para transformar os gomos foliares em gomos florais;

g) O vigor dos gomos depende da sua posição e do seu número nos ramos, geralmente os gomos terminais são mais vigorosos;

h) O vigor e a fertilidade de uma planta dependem, em grande parte, das condições climáticas e edáficas;

i) Deve haver um equilíbrio na relação entre copa e sistema radicular. Este equilíbrio afeta o vigor e a longevidade das plantas.

A redução do sistema aéreo pela poda, qualquer que seja o método utilizado, leva consigo uma perda mais ou menos importante das reservas contidas na madeira suprimida e na diminuição do número de folhas, ou seja, de órgãos que realizam a fotossíntese.

Nos primeiros anos de vida, toda a energia produzida é gasta para o próprio crescimento da planta (mais azoto que carbono). Depois de formadas as estrutura da planta, então começa a sobrar seiva elaborada, que se transforma em reserva e é armazenada na planta (mais carbono que azoto).

Então, a planta, através destas reservas, pode transformar os gomos foliares em botões florais.

Esta acumulação é maior nos ramos novos e finos, do que nos ramos velhos e grossos.

O equilíbrio entre a fase vegetativa e a fase reprodutiva é esquematizado na Tabela seguinte, onde se considera a relação entre o carbono e o azoto nas diferentes fases da vida da planta.

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Relação esquemática entre carbono (C) e azoto (N) em diferentes fases da vida da planta

PERÍODO MANIFESTAÇÃO DA PLANTA

CAUSAS PRÁTICAS A APLICAR

I (C < N)

Crescimento vigoroso e pouca produção

Planta jovem; planta adulta em terreno fértil e adubado

Pouco adubo azotado; pouca poda

II (C = N)

Bom desenvolvimento Planta equilibrada com ótimas condições de vegetação e produção

Boa adubação; poda média; monda dos frutos

III (C > N)

Crescimento estacionado; produção escassa e inconstante

Planta velha; planta pouco podada; planta que produziu muito

Fortes adubações; podas severas; monda dos frutos

3.2. Principais funções

Resumindo, a poda tem como principais funções:

- Controlar o vigor da planta;

- Equilibrar a produção de ramos vegetativos com os ramos frutíferos;

- Facilitar a entrada de luz e ar no interior da copa;

- Suprimir ramos ladrões, doentes e improdutivos;

- Facilitar os cuidados culturais e a colheita;

- Evitar a alternância de safras (safra e contra safra), garantindo produções regulares.

3.3. Ferramentas de corte

Para realização de uma boa poda, é necessário que se disponha de :

1 – Tesoura de poda para ramos finos

2 – Tesoura de sebe

3 – Serrote de poda

4 e 5 – Tesouras de poda para ramos grossos

E ainda são necessários: • Canivete

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• Escada

Os instrumentos utilizados na poda devem ser leves, para maior facilidade de manuseamento e para menor esforço do operador. Devem estar afiados, limpos, lubrificados e desinfectados.

A desinfeção é cada vez mais importante para evitar a transmissão de vírus, fungos e bactérias. Num dia de poda é aconselhável que os utensílios sejam desinfetados a meio e ao fim do dia.

As árvores de um pomar com desenvolvimento anormal devem ser podadas só no final. Em geral, utiliza-se o álcool como desinfetante.

Convém recordar que nas tesouras só se afia a lâmina e que esta também só é afiada do lado de fora. A lubrificação da tesoura reduz o esforço do operador na execução dos cortes e aumenta a durabilidade do equipamento.

É necessário que, juntamente com os instrumentos, se disponha de uma pasta cicatrizante (pasta bordalesa, por exemplo), que deve ser pincelada sobre os cortes acima de 3,0cm de diâmetro para evitar a penetração de micro organismos patogénicos (que provocam doenças).

Hoje em dias em muitas explorações a poda é mecânica, o que representa um grande rendimento. No entanto, o uso de máquinas não permite que se tenha uma poda seletiva de ramos.

3.4. Tipos de corte ou supressões e efeitos nas plantas: atarraque; desramação e atarraque sobre ramo lateral

Em geral, inicia-se o processo de poda pela eliminação dos ramos secos, doentes, quebrados ou mal posicionados. Como última operação, faz-se o atarraque dos ramos que permaneceram.

Ramos a eliminar:

1 – Ramos que se dirigem para o interior e fecham muito a copa

2 – Ramos que se tocam ou se cruzam

3 – Ramos que se emaranham uns nos outros

4 – Ramos que crescem paralelos

5 – Ramos ladrões e os que pelo alongamento desequilibram a copa

6 – Muitos ramos inseridos no mesmo ponto

A intensidade da poda depende da idade da planta, número de pernadas, vigor e hábito de vegetação, da distância entre os gomos e do estado nutricional da planta. Quanto à intensidade a poda pode ser classificada em:

a) Curta - supressão quase total do ramo, deixando-se apenas de 1 a 2 gomos;

b) Longa - supressão de parte do ramo, deixando-o com 40 a 60cm de comprimento;

c) Média - supressão de 50% do comprimento do ramo, em média.

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Operações e métodos de poda O conhecimento das diferentes operações da poda é da maior importância, porque a sua oportuna aplicação permite encaminhar determinado ramo para s frutificação ou para o desenvolvimento lenhoso, segundo as conveniências.

As operações da poda tanto incidem sobre os ramos atempados (poda de inverno) como sobre os ramos herbáceos (poda de verão ou poda em verde).

As operações executadas na poda de inverno são:

- Desramações, atarraques, atarraques sobre ramo lateral

As operações mais importantes da poda em verde são:

- Desladroamentos, desramações e despontas.

Quera poda de inverno, quer a poda em verde, podem ser complementadas por:

- Empas e inclinações

Atarraque – suprime unicamente uma parte do ramo, cortando-o em qualquer ponto do seu comprimento. Estimula a formação de crescimentos vigorosos o que é muito importante para as árvores que frutificam em ramos mistos. Permite encurtar os ramos. Facilita a correcção da tendência para frutificação nas extremidades. Favorece a formação de esporões vigorosos. Obriga as árvores a ramificarem-se onde for mais conveniente.

Desramação – Consiste em suprimir determinado ramo, cortando-o pela base, ou seja, junto ao ramo mais idoso onde se insere. Estimula crescimentos lenhosos regulares. Aumenta a frutificação. Não evita o excessivo alongamento dos ramos nem a frutificação nas extremidades.

Atarraque sobre ramo lateral – consiste em suprimir a parte de um ramo situada além do ponto de inserção dum outro mais novo ou mais pequeno que nele esteja inserido. Apresenta vantagens intermédias entre o atarraque e a desramação.

Desponta – consiste em suprimir a extremidade dos lançamentos ainda herbáceos, às vezes sem necessidade de uma tesoura. Usa-se muito na vinha.

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Desladroamento

Consiste na supressão dos rebentos provenientes de gomos adventícios, gomos dormentes ou do porta enxerto, como na figura à esquerda (ramo 1)

Na vinha é habitual fazer o desladroamento mecânico (figura à direita)

Empa – consiste na curvatura dos ramos. Altera a evolução natural dos gomos ao longo do ramo. Origina a emissão de maiores lançamentos no ponto mais alto da curvatura. Antecipa a formação de dardos e esporões na zona descendente e terminal do ramo.

Inclinação – consiste na modificação da inclinação do ramo em relação à vertical. Diminui a tendência para a vegetação e aumenta a tendência para a frutificação

3.5. Técnica de execução dos cortes

Os cortes devem ser feitos de uma só vez, ficando com uma superfície lisa e inclinada, a fim de facilitar a cicatrização e contrariar infecções. É por isso preferível cortar tudo o que se possa com uma tesoura evitando o uso do serrote.

Resultado de um corte mal feito

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Nos atarraques os cortes devem fazer-se com uma inclinação regular (figura A) começando do lado oposto ao gomo, mas ao seu nível, e terminando 0,5 a 1cm acima dele, conforme a grossura do ramo.

Na afigura B vemos um mau corte por ter sido feito abaixo do nível do gomo, ocasionando o enfraquecimento da inserção do novo ramo e a interrupção dos vasos condutores da seiva. Diz-se popularmente que o gomo fica “descalço”.

A figura C mostra outro corte errado, porque deixa um coto muito alto que seca e apodrece, impedindo a cicatrização.

Atarraques em ramo do ano representando-se a negro o ramo atarracado e a ponteado o resultado ano seguinte A – Boa inserção e cicatrização B – Cicatrização dificultada e inserção enfraquecida C – Impossibilidade de cicatrização e provável apodrecimento do galho.

Corte de ramos grossos e pesados

As desramações devem-se fazer bem rentes, sem exagerar a extensão da ferida, para facilitar a cicatrização e evitar o posterior aparecimento de ladrões.

Na figura acima só o corte representado pela letra F está correto

Iniciar como na figura B, fazendo dois cortes. Assim, ao partir, fica como em C, evitando esgaçar como em A.

Para finalizar a supressão do ramo continua-se a serrar por 2, procurando deixar o corte o mais liso possível.

O corte de ramos de grandes dimensões sem esta técnica danifica o tronco, pois provoca o descascamento ou remoção do lenho.

3.6. A cicatrização de feridas da poda

As feridas resultam da poda anual, da remoção de partes da estrutura da planta com vista à restauração da mesma, de gelo, ou surgem naturalmente na madeira mais velha da planta.

A protecção de feridas de poda tem um papel importante na protecção de pomares com forte incidência de doenças do lenho, como forma de impedir a contaminação de novas plantas que estejam próximas.

A protecção e/ou desinfecção das feridas também facilita a sua cicatrização o que melhora a saúde da árvore.

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Esta protecção é defendida por um grande número de autores, havendo a considerar dois tipos de desinfecção:

• Protecção mecânica, em que apenas se recobre a ferida com um selante. Esta protecção deverá ser feita imediatamente após a poda e funciona como uma barreira física impedindo a entrada dos esporos dos fungos. Não desinfecta e não cura.

• Protecção química, que poderá ter uma acção apenas de contacto, ou algum efeito sistémico. No nosso país encontra-se homologado, para protecção e desinfecção (contacto) de feridas de poda (em geral) o fungicida cúprico “Gafex” (Pó molhável (WP) com 26,6% de cobre sob a forma de oxicloreto de cobre, aplicado como pasta (1kg de produto para um litro de água).

A Sapec também comercializa um produto para este fim que se chama ESCUDO®. O ESCUDO®, é actualmente a única especialidade fitossanitária homologada para a protecção das feridas de poda contra a Esca e Eutipiose da vinha, autorizado em Protecção Integrada.

Ferida de poda na vinha protegida com ESCUDO®

3.7. Tipos de poda e efeitos nas plantas: A poda acompanha a planta desde o início da vida até a sua decrepitude. As necessidades de poda vão sofrendo alterações à medida que a idade da planta vai avançando.

3.7.1 Poda de educação É executada normalmente no viveiro tendo como objectivo obter plantas com a altura desejada e/ou ramificações bem distribuídas. O ideal é que o transplante se faça com a planta muito jovem (um ano).

As plantas poderão ser formadas em haste única, comum em macieira e pereira. Nesse caso todos os ramos laterais são eliminados no viveiro.

Outra opção é a formação da planta com um tronco já com três ou quatro rebentos, espaçados entre si de 3 a 5 cm, como no caso dos citrinos.

3.7.2 Poda de transplantação É feita na altura da plantação.

Eliminam-se os lançamentos que estejam a mais deixando, quando for o caso, três a quatro ramos bem distribuídos. Faz-se a desponta dos ramos longos, com o cuidado de executar o corte acima de um gomo voltado para fora da copa.

Quando a planta vem só com uma haste, faz-se a desponta à altura desejada, normalmente dependendo da maneira como a planta irá ser conduzida no pomar. Geralmente é feita a cerca de 80-100cm.

Cortam-se também as raízes muito longas, quebradas e tortas, procurando que haja um equilíbrio entre a copa e o sistema radicular.

3.7.3 Poda de formação A poda de formação é realizada nos primeiros anos de vida da planta, o que para a maioria das plantas frutíferas se prolonga até o 3º ou 4º ano e serve para dar forma à copa das árvores.

Durante esta etapa o importante é criar um bom esqueleto que aguente o peso dos frutos sem se quebrar e que garanta uma boa exposição à luz e um bom arejamento. Nesta fase a produção não é importante, nem desejada.

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Poda de formação durante os três primeiros anos

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3.7.3.1 Formas livres

No caso das árvores de folha caduca, as duas principais formas usadas hoje em dia nos pomares industriais, são o VASO e a PIRÂMIDE (também conhecida como EIXO CENTRAL), cada um com vantagens e inconvenientes e continuando a dar muita polémica. Como em muitos outros casos na agricultura, não há verdades absolutas.

Seguem-se breves considerações sobre ambos os sistemas de condução.

Preferencialmente a árvore deve ser transplantada com um ano de idade, não só para garantir um bom pegamento e um bom arranque da vegetação, como também para evitar a poda de formação no viveiro que nem sempre satisfaz.

VASO - Para obter a forma em VASO, começa-se por atarracar a vareta à altura conveniente. Também aqui não há consenso e essa altura pode ir de 50cm a 150cm.

Este sistema de condução é utilizado para pessegueiro e ameixeira, podendo também ser utilizado em macieiras, pereiras e marmeleiros.

Nos casos mais felizes desenvolvem-se ramos bem localizados que permitem estabelecer o vaso com 3 a 4 pernadas, logo ao segundo ano.

Quando isso não acontece, ou quando queremos mais pernadas, é necessário que um lançamento seja levado à vertical a fim de prolongar o eixo da planta e obter as restantes pernadas.

Árvore com 2 anos, formada em vaso com 3

pernadas

À esquerda árvore com 2 anos formada em vaso, já com 3 pernadas e um

lançamento na vertical para obtenção de mais pernadas no 3º ano (imagem da

direita)

1º ANO

Atarraque da vareta e

2º ANO

Atarraque das 3 pernadas

3º ANO

Vaso formado

2º ANO 3º ANO

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eliminação dos gomos da base

obtidas

Pormenor da inserção das pernadas num

pessegueiro conduzido em vaso Pomar de pessegueiros

conduzidos em vaso

PIRÂMIDE ou EIXO CENTRAL REVESTIDO

Para este sistema de formação das árvores podemos fazer só a poda de inverno ou podemos complementar a poda de inverno com a poda em verde.

O Eixo Central Revestido, como o nome indica, resulta numa árvore que cresce em altura e onde há vários andares com pernadas distribuídas equilibradamente por esse Eixo. Nas árvores cuja forma natural se aproxima da pirâmide, como as macieiras, é muito fácil obter esta forma. Em Produção Integrada é este o sistema de condução aconselhado por ser o mais adequado à forma das árvores, exigir pouca mão de obra nos primeiros anos e entrar em frutificação o mais cedo possível o que geralmente se consegue ao fim de 3 anos. As produções obtidas tão cedo são absolutamente necessárias não só para amortizar investimentos, mas também para proporcionar a auto regulação da árvore.

Com este sistema de condução em pomoídeas é possível não efetuar as podas clássicas de formação durante os cinco primeiros anos. A poda em verde é fundamental neste período inicial. As ligeiras intervenções em verde, para corrigir a árvore, devem efetuar-se apenas quando absolutamente necessárias e sempre antes da diferenciação floral que, normalmente, tem lugar cinco semanas após a plena floração.

Para o obter começa-se por atarracar após a plantação a vareta a cerca de 80cm. Todos os gomos abaixo de 50cm são esmagados para garantir que não haja lançamentos muito baixos. Com este procedimento geralmente é possível obter 3 ou 4 bons ramos logo no primeiro ano para formar o 1º andar de pernadas.

Na altura da poda em verde, além dos lançamentos para o 1º andar de pernadas, deve ser deixado um lançamento, que se leva à vertical e que vai garantir a continuação do eixo e a formação do 2º andar de pernadas. Para obter bons resultados este lançamento deve ser atarracado a 50-70cm. Para que o eixo central fique na vertical é geralmente necessário um tutor.

Todos os rebentos a mais devem ser eliminados ou empados. A empa dos ramos em excesso tem a vantagem de diminuir o crescimento vegetativo normal nas plantas jovens e antecipar a sua frutificação. Estes ramos, que devem ser sempre empados para o exterior da copa, serão suprimidos mais tarde se adensarem demasiado essa zona, mas só quando a planta já estiver a frutificar nos andares definitivos.

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Formação da pirâmide Pirâmide - Resultado final

Na poda de formação é indispensável interpretar as principais aptidões dos ramos para conseguirmos favorecer o desenvolvimento de uns ramos e diminuir o desenvolvimento de outros.

Assim, é importante não esquecer que:

• Os últimos gomos do ramo são os que dão origem a lançamentos maiores; Quando se cortam os gomos terminais favorece-se o desenvolvimento dos ramos laterais;

• Os ramos que crescem na vertical geralmente não frutificam; • Os ramos próximos da horizontal, ou caídos, são os que têm maior tendência para frutificar; • As curvas e cicatrizes numerosas nos ramos prejudicam o seu desenvolvimento; • A rebentação dos ramos podados é tanto mais vigorosa quanto mais intensos forem os

atarraques; • A rebentação dos ramos (podados ou não) diminui se houver ramos perto com frutos;

Quando se atarracam os ramos das árvores em formação, deve-se ter cuidado com o sítio por onde se corta. O último gomo, ou os dois últimos, deixados devem ficar dirigidos para o lado que se deseja preencher. Por isso:

• Se um ramo estiver demasiado na vertical atarraca-se por um gomo que esteja virado para fora para que o faça abrir;

• Se estiver muito na horizontal, o último gomo deixado deverá estar virado para dentro para o fechar mais;

• Quando o ramo está perto de um vazio na copa que se pretende preencher, atarraca-se sobre um gomo dirigido nessa direcção.

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Muitas vezes é vantajoso usar tutores e canas para obrigar alguns dos ramos principais a ficarem numa posição mais conveniente (nem demasiado fechada, nem demasiado aberta).

ANÁLISE DE VÁRIAS SITUAÇÕES

O corte correto é o B, em que o ramo guia fica nitidamente maior que o outro.

O corte C está mal porque o ramo guia ficou mais curto que o lateral. Qualquer uma das outras opções está correta.

Na situação de dois ramos a crescerem quase paralelos (G, H e I) só deve ficar um deles. Portanto o corte G está mal.

A situação J é admissível pois o ângulo de inserção é maior e nesse caso os dois ramos podem crescer equilibrados sem fazerem concorrência um ao outro.

Quando dois ramos se cruzam um deve ser eliminado. Deve-se deixar aquele que mantém a copa mais equilibrada.

A situação L está errada.

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Quando há dois ramos que crescem do mesmo lado e estão inseridos muito próximos um do outro, um deve ser sempre eliminado.

A situação P está errada.

Neste caso é possível deixar os dois ramos porque a sua inserção é suficientemente afastada para não fazerem concorrência um ao outro. Não esquecer que o inserido mais abaixo deve sempre ficar mais curto.

Quando dois ramos formam um ângulo muito aberto, o que está mais na horizontal deve ser podado curto e por um gomo que favoreça o fecho desse ângulo.

A situação R está errada.

A situação mostrada em T é admissível quando houver necessidade de aproveitar duas ramificações laterais para encher a copa, mas a situação ideal é a U, com ramos laterais mais afastados que proporcionam uma inserção mais sólida.

A situação V não é correta por se terem deixado para o mesmo lado, e relativamente próximos, dois ramos laterais. A poda correta está indicada em X onde se suprimiu um daqueles ramos.

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3.7.3.2 Formas presas – casos particulares das VIDEIRAS e KIWIS

Das espécies mais cultivadas, as duas que têm formas presas são as videiras e os Kiwis. O maracujazeiro também tem.

Quer as videiras, quer os Kiwis têm sistemas de condução semelhantes e que são variações da RAMADA ou do BARDO ou CORDÃO.

A ramada é geralmente mais alta e desenvolve-se na vertical e na horizontal. Ainda é muito usada na cultura do kiwi, mas hoje em dia já não se fazem vinhas novas com este sistema de condução pois dificulta os amanhos, e os frutos ganham menos açúcar.

O bardo ou cordão é mais baixo e desenvolve-se somente na vertical, formando linhas bem definidas. Este sistema de condução permite uma mecanização de muitos trabalhos na vinha, uvas mais ricas em açúcar e tratamentos fitossanitários mais eficazes. Além disso a poda e colheita podem ser feitas do solo o que aumenta a rapidez e diminui a quantidade de mão de obra necessária.

Vinha em Ramada Vinha em Bardo ou Cordão

Pomar de Kiwis – uma das possíveis formas de condução

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Para que as plantas cheguem aos suportes procura-se numa primeira fase de vida promover o aparecimento de lançamentos vigorosos que possam adquirir a estrutura desejada, privilegiando a função vegetativa em relação à produtiva.

No ano seguinte à enxertia ou no ano seguinte à plantação caso se trate de enxertos-prontos, as plantas possuem normalmente dois bons lançamentos. Na poda selecciona-se o lançamento mais forte, vertical e de inserção mais próxima da zona de enxertia.

Quando este lançamento atinge a altura desejada, arqueia-se suavemente e estende-se sobre o suporte, amarrando-o nos locais considerados mais adequados tendo em atenção que na poda de formação não se devem poupar atilhos.

A partir desta fase e já no ano seguinte, elege-se para guia um lançamento bem constituído, situado o mais à frente possível.

3.7.3.3 Normas gerais sobre a poda de formação nas árvores de folha persistente

Neste grupo incluem-se os citrinos, a oliveira e a nespereira.

As normas para a poda destas árvores são diferentes das de folha caduca, não só porque têm um ciclo vegetativo diferente, mas também porque o seu desenvolvimento inicial é muito lento. Assim sendo podá-las nos primeiros anos de vida é muito prejudicial quer no desenvolvimento da parte aérea, quer no desenvolvimento das raízes.

Como estas espécies se ramificam facilmente e as inserções dos seus ramos principais são geralmente boas e sólidas, não há uma grande necessidade de poda de formação.

A poda de transplantação é nestes casos mais severa e pode ser usada desde logo para se dar uma forma à árvore.

Durante os 4 ou 5 anos após a plantação deve permitir-se a maior expansão possível à copa. As podas de inverno deverão ser evitadas e as podas de verão serão usadas para suprimir ramos ladrões, despontar alguns ramos de crescimento desequilibrado ou que se pretende que se ramifiquem.

3.7.4 Poda de frutificação É iniciada depois da copa estar formada. Para a fazer correctamente temos a necessidade de conhecer a constituição dos órgãos da planta para saber o que se elimina e porque se elimina. Assim, assegura-se uma regularidade e melhoria da frutificação através de um controle rigoroso do equilíbrio entre as funções vegetativa e reprodutiva. A importância da poda de frutificação está intimamente relacionada com o hábito de frutificação da planta. Assim sendo, a poda de frutificação é mais importante para aquelas espécies que produzem em ramos novos, ou seja, ramos do ano, como é o caso do pessegueiro, da figueira, da videira e do quivizeiro.

A poda de frutificação é bastante variável com a espécie, cultivar, espaçamento, vigor da planta, estado nutricional e fitossanitário, condições climáticas, épocas, entre outras. É essencial para as fruteiras das zonas temperadas, que vegetam abundantemente, precisam de um período de dormência para frutificar e possuem ramos que produzem uma única vez pelo que o seu corte é recomendado logo de seguida. As fruteiras das zonas tropicais e subtropicais, ao contrário, crescem, florescem e frutificam de forma contínua na parte terminal dos ramos. O cuidado aqui é manter o arejamento no interior da copa para evitar doenças ou a frutificação exclusivamente periférica.

Não esquecer que podas intensas aceleram a circulação da seiva e provocam excesso do crescimento vegetativo, com redução de flores e frutos. Mas uma poda mais leve pode gerar excesso de frutos, com uma colheita de má qualidade.

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Esta poda deve ser acompanhada de uma adubação equilibrada e manutenção de água disponível no solo.

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Poda de frutificação das principais fruteiras

Árvores de folha caduca

Pomóideas - Macieira e pereira

Principal sistema de condução: eixo central revestido

Neste sistema de condução é natural o aparecimento de lançamentos vigorosos na zona superior. Por isso não se devem fazer atarraques mas sim supressões ou atarraques sobre ramos laterais para favorecer a emissão de lançamentos com capacidade de frutificação e a iluminação de toda a copa. Os andares devem manter entre si o afastamento necessário para que os inferiores não envolvam e ensombrem os que estão por cima.

Com o envelhecer das árvores começa a ser necessário fazer uma poda mais intensa, especialmente na pereira que tem tendência para a diminuição dos lançamentos anuais ficando a árvore repleta de órgãos de frutificação. Como são necessárias folhas para alimentar os frutos, esta situação não é desejável. Devem-se então fazer atarraques e poda de esporões.

Por vezes é necessário fazer incisões acima dos gomos dormentes situados no eixo para preencher por completo o eixo e assim evitar zonas improdutivas. Na figura à direita vê-se uma incisão e o resultado no ano seguinte.

Prunóideas

Ameixeira

Principal sistema de condução: vaso

Após a poda de formação devem-se evitar os atarraques dos ramos guias para não provocar a rebentação de fortes lançamentos lenhosos. Nas ameixeiras em vaso são frequentes lançamentos maiores que 50cm. Por isso, a cada 2 ou 3 anos, há necessidade de rebaixar esses ramos, não porque a frutificação seja excessiva, mas sim para evitar que esses ramos muito alongados e cheios de esporões deformem ou partam com o peso.

Como a ameixeira reage com vigor aos cortes, só se devem deixar próximo da extremidade do ramo encurtado, os ramos, verdascas ou esporões convenientes à sua ramificação, suprimindo os outros bem rentes, para que surja um amontoado de ramos inseridos no mesmo ponto.

Para manter o equilíbrio numa árvore adulta e vigorosa uma boa prática é fazer uma poda pouco intensa na parte superior da copa (onde normalmente reage mais, roubando energia ao resto da planta) e uma poda mais intensa na zona inferior.

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Prunóideas

Cerejeira

Quando a árvore já em plena produção mas ainda jovem, é conduzida sob a forma de vaso e apresenta tendência para se desenvolver muito em altura e pouco em diâmetro, devem efectuar-se rebaixamentos, de preferência sobre ramos de 2 ou 3 anos, desde que não haja perigo de ataques de gomose.

Nas formas em eixo revestido (a que é utilizada nos pomares modernos), procura-se aproximar os andares laterais tanto quanto possível da horizontal, com atarraques sobre ramos laterais, de modo a afastá-los convenientemente uns dos outros.

A publicação, cuja imagem da Capa se encontra à esquerda, pode ser encontrada na página da Cerfundão (www.cerfundao.com) e nela se encontra da mais recente e importante informação sobre pomares de cerejeira.

Pessegueiro

Principal sistema de condução: vaso com 3 pernadas (em pomares intensivos também se usa o eixo central revestido).

O pessegueiro é uma espécie com crescimento muito acelerado cujo tronco envelhece mais rapidamente que a raiz. É uma planta muito exigente em luz. Produz nos ramos do ano e, por isso, é preciso preservá-los para garantir a regularidade e qualidade da produção. A pequena duração dos esporões e a grande importância dos ramos mistos na frutificação exigem uma poda durante toda a vida.

Nos pessegueiros em plena frutificação os ramos guias cimeiros devem ser atarracados a pelo menos 20cm. Os laterais podem ficar mais curtos.

Como os ramos mistos se alongam muito anualmente, a frutificação desloca-se para a periferia da copa, pelo que há necessidade de contrariar constantemente essa tendência. Deste modo os encurtamentos são frequentes nas árvores adultas.

As estruturas vigorosas situadas no cimo da árvore devem ser suprimidas e as bifurcações aí localizadas devem ser evitadas. A rectificação dos excessos de vigor no cimo das pernadas só é possível com podas no Verão.

Videira Principal sistema de condução: bardo (cordão unilateral ou cordão bilateral)

Nas varas, os gomos do terço médio são os mais produtivos (embora se verifique uma variação consoante a casta) por isso, torna-se essencial conhecer os hábitos de frutificação para determinarmos a intensidade da poda a praticar. Assim, o sistema de poda mais utilizado é a poda mista uma vez que existe o talão a dois gomos e a vara de vinho (com quatro a seis gomos para poda livre e com seis a

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Videira (cont.)

Capa de um excelente livro sobre este tema, da autoria do Professor Urbano Moreira, 2011-Publindústria.

Pode ser consultado na Biblioteca da EPA Conde de S. Bento – Santo Tirso

oito gomos para a amarrada). Desta forma, garante-se a estabilidade anual da produção e facilita-se a alimentação da videira, uma vez que as varas de vinho não se afastam do eixo da videira permitindo que a sua renovação se faça através do talão, não recorrendo assim à realização da empa.

Cuidados a ter com a escolha das varas de vinho:

- Devem-se eliminar as varas mais vigorosas dado que o seu excesso de vigor provoca o desavinho;

- Devem-se escolher as varas que se encontram inseridas na madeira do ano anterior e que possuam um nível médio de vigor.

Determinação da carga (nº de gomos) a deixar na poda:

- Se na videira o número de varas desenvolvidas for inferior ao número de gomos deixados, a poda deverá efectuar-se de forma mais intensa e com carga inferior;

- Se todos os gomos rebentaram com varas de elevado vigor e deram origem ao aparecimento de netas e ladrões, a poda, pelo contrário, deverá ser feita com menos intensidade e com uma carga mais elevada.

Hoje em dia a necessidade de simplificar os trabalhos têm conduzido a podas só a talão, mesmo na região dos vinhos verdes, e com bons resultados.

Actinídea (Kiwi)

Principal sistema de condução: variantes de ramada baixa ou parral

A actinídea produz frutos sobre ramos de um ano. Os ramos ideais para produzir são os de crescimento determinado e entrenós curtos, gomos bem desenvolvidos e bem expostos.

A poda de produção inclui uma poda no Inverno e outra no Verão.

Poda de Inverno: realiza-se de meados de Dezembro a meados de Fevereiro. Consiste na eliminação dos ramos que apresentam as seguintes características: i) frutificação no ciclo vegetativo anterior; ii) inserção demasiado na vertical; iii) excedentes, em relação aos que se pretendem para produzirem.

A poda das plantas machos só é realizada após a floração.

Poda de Verão: embora, não haja consenso entre os

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investigadores sobre o efeito positivo desta poda, ela continua a ser praticada, consistindo fundamentalmente no seguinte: i) corte a partir das 2 ou 3 folhas dos ramos demasiado vigorosos, de modo a evitar que partam pela acção do vento, e a permitir a rebentação de varas menos vigorosas, ii) corte após a 3ª- 4ª folha, contada a partir do último fruto, dos ramos frutíferos de modo a privilegiar o crescimento dos frutos relativamente ao crescimento dos ramos.

Entre varas deve existir pelo menos uma distância aproximada de 20 cm. Cada vara deve conter no máximo 15 a 20 gomos.

Actinídea (Kiwi) - continuação

Porção de um ramo principal de Kiwi (as folhas não estão desenhadas para simplificar o esquema). Os traços a vermelho marcam o local da poda de inverno.

A – Vara de renovação que não frutificou:-poda-se a 15-20 gomos

B – Ramo que frutificou e tem uma vara de renovo na base (é o normal):-mantém-se a vara de renovo podando-a 10-20 gomos e eliminando o resto.

C – Spur (verdasca) não ramificado:-não se poda pois produz fruto

D – Não existe vara de renovo:-despontam-se todas as varas

Árvores de folha persistente

Laranjeira, Tangerineira e Limoeiro

Principal sistema de condução: esfera oca

Requerem apenas poda extensiva. Procura-se estimular a emissão anual de lançamentos com gomos florais e manter uma copa equilibrada.

Com o recurso às desramações e atarraques sobre ramos laterais suprimem-se os ramos novos em excesso que adensam a periferia da copa, de modo a que os restantes componham toda a superfície externa tocando-se levemente sem ficarem apertados e a roubarem luz uns aos outros.

Suprimem-se todos os ramos secos e envelhecidos que se encontram no interior da copa, assim como os ramos débeis sem condições de frutificação. Os ladrões também se cortam rentes a não ser que sejam úteis para preencher algum vazio. Neste caso atarracam-se à altura

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Pomar de laranjeiras

conveniente. As zonas dos ramos mortas pelas geadas são também suprimidas. Os ramos desgarrados que desequilibram a copa, encurtam-se sobre lateralmente.

Nas árvores novas é particularmente importante suprimir os ramos ladrões e encurtar os que ameaçam crescer demasiadamente sem se ramificarem, a fim de favorecer o desenvolvimento dos ramos de crescimento mais lento e com direcção aproximada da horizontal.

A melhor época de poda é a que se segue à colheita dos frutos, sem coincidir com a floração.

Oliveira

Principal sistema de condução:

• Cultura extensiva e intensiva – vaso

• Cultura super intensiva – eixo central revestido

Árvore de desenvolvimento muito lento nas primeiras idades, tem no entanto vida muito longa e resistente.

Na oliveira é muito frequente a alternância de colheitas.

As fertilizações do terreno e a regularidade de cultivo e da poda concorrem para atenuar as contra-safras. Além disto as podas ligeiras realizadas anualmente mantêm a árvore com vegetação regular e tornam-se menos demoradas do que uma poda bienal cuidadosa, repartindo-se o trabalho sem agravar o seu custo.

Como a frutificação só aparece nos ramos com 1 ano, torna-se indispensável a sua renovação anual.

Quando a oliveira com a forma de vaso anda submetida a podas anuais convenientes e a cultivos do terreno regulares e adequados, apresenta-se com uma copa completamente revestida de ramos frutíferos que se distribuem uniformemente, dando uma sensação de leveza e de certa transparência que contrasta tanto com as copas excessivamente despidas pelas podas violentas, como com a ramagem densa e apertada das árvores submetidas à severidade das podas bienais ou trienais.

As ramificações (borlas) que se suprimem, são as que se apresentam mais tortuosas, com maior quantidade de raminhos secos e pendentes.

Quando na ramagem lateral e principalmente na parte superior da copa aparecem lançamentos verticais com mais de 50 cm, em contraste com os ramos menos vigorosos e mais horizontais da restante copa, há ne-cessidade de os encurtar sobre lateralmente ou mesmo de os atarracar, para impedir o seu alongamento e moderar o respectivo vigor, obrigando-os a ramificarem-

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Ramos de oliveira (borlas) antes e depois da poda.

se.

A época da poda estende-se do final da colheita ao princípio da Primavera, antes de se intensificar a circulação da seiva.

Atendendo a que devido aos custos, a colheita mecânica será imprescindível, deveremos ter em atenção a altura do tronco (0,8/1 m), local onde se fará a cruz com 2, 3 ou 4 pernadas principais.

Na formação e frutificação devemo-nos preocupar, com a localização do fruto, por forma a facilitar a colheita. Também deverá merecer atenção o arejamento e a iluminação de toda a copa, para facilitar a polinização, o desenvolvimento dos frutos e dificultar o ataque e a disseminação de pragas e doenças.

Pequenos frutos

Mirtilo

Poda do arbusto durante os 2-5

primeiros anos no campo

Locais onde se deve cortar para remover

os ramos fracos de um arbusto adulto

Principal sistema de condução: vaso

Como no mirtilo a poda de formação funciona já como uma poda de frutificação, no texto aparecem as duas em conjunto.

1. Formação

Eliminar as ramificações finas e débeis que situadas até 30 cm de altura do solo. Assegurar a formação de ramos vigorosos

Eliminar as flores e os frutos durante os dois primeiros anos

Na poda do primeiro ano, seleccionar três/quatro ramos mais vigorosos. No segundo ano, podar os ramos a 40/50 cm de altura, para formação das pernadas (ramos primários), que assegurarão a produção durante os anos seguintes

2. Manutenção

Remover os ramos fracos, bem como os que estejam inseridos muito abaixo, nas hastes principais. Despontar os ramos mais fracos, podando-os sobre um bom lançamento lateral jovem

Podar os ramos secos e os que se desenvolveram no interior da copa

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Framboesa

Principal sistema de condução: bardo

A poda é uma operação cultural muito importante para a manutenção da produtividade das plantas e para a eliminação de varas doentes e/ou com pragas e de varas em excesso ou com pouco vigor.

No caso das variedades não remontantes, a poda principal deve ser realizada logo após o fim da colheita ou no fim do inverno e devem ser eliminadas todas as varas que deram fruto, cortando-as mesmo junto ao solo. De janeiro a princípios de março, todas as varas novas (varas do ano) com pouco vigor, partidas, doentes ou com sinais da presença de insetos devem ser eliminadas. Além disso, todas as varas novas que se encontram fora de uma faixa de 25 a 30 cm de largura ao longo da linha devem também ser eliminadas. Por fim, as varas novas selecionadas para produção devem ser cortadas de modo a ficarem com cerca de 1,8 m de comprimento, e devem ser atadas ao sistema de suporte (Strik, 2008).

As variedades remontantes devem ser podadas logo a seguir ao fim da colheita, cortando-se todas as varas junto ao solo. Depois, na primavera seguinte, surgirão novos lançamentos que frutificarão nesse mesmo ano (Strik, 2008).

3.7.5 Poda de rejuvenescimento Tem por finalidade livrar as plantas frutíferas de ramos doentes, atacados por pragas ou renovar a copa através do corte total da mesma, deixando-se apenas as ramificações principais

Este tipo de poda é frequente em pomares abandonados, mas de vigor ainda razoável, como, por exemplo, laranjeiras, macieiras e pereiras. Normalmente, cortam-se as pernadas principais, deixando-as com 40 a 50cm. Posteriormente, selecionam-se os ramos que irão permanecer, através da poda verde. Os cortes maiores são realizados no inverno, ocasião em que são aplicadas pastas fungicidas no local que foi cortado.

3.7.6 Poda de limpeza É uma poda leve que consiste na eliminação de ramos secos, atacados por doenças, pragas ou mal localizados. É realizada em frutíferas que requerem pouca poda, como é o caso de laranjeiras e mangueiras, entre outras. Esta prática normalmente é realizada em períodos de baixa atividade fisiológica da planta, ou seja, durante o inverno ou, como no caso dos citrinos, logo após a colheita das frutas.

3.7.7 Poda das netas É a retirada dos lançamentos secundários que surgem nas axilas das folhas da figueira e videira e que devem ser arrancados manualmente durante o desenvolvimento da planta

3.7.8 Desponta Consiste em diminuir o tamanho dos ramos mais promissores de modo a reduzir assim a quantidade de frutos a serem produzidos. Esse encurtamento reduz de 1/3 a 2/3 o tamanho normal do ramo.

3.7.9 Desfolha

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Muito comum na videira consiste na eliminação das folhas que se situam mais próximas dos cachos. É uma operação que deve ser realizada com precaução, uma vez que pode alterar a actividade fotossintética da planta. Além disso, as folhas eliminadas devem ser as mais desenvolvidas e menos jovens para que o fornecimento de nutrientes ao cacho não fique comprometido. Os principais objectivos da desfolha são o arejamento, a redução da probabilidade de podridões nos cachos e o aumento da sua exposição solar, essencial para melhorar a coloração e permitir a maturação dos bagos.

3.7.10 Monda dos frutos Para garantir uma boa produção sem alternância devemos realizar a monda dos frutos, que também é uma poda, e vale praticamente para todas as frutíferas. Esta monda deve ser realizada de cima para baixo, deixando-se os frutos mais bem formados e mais sadios, eliminando-se preferencialmente os frutos do interior da copa.

Para os pessegueiros deve-se deixar os frutos voltados para baixo e mais próximos de ramos maiores.

Para a monda, em qualquer espécie, os frutos devem ter cerca de 1 a 2 cm de diâmetro. A quantidade de frutos que permanecem é variável, sendo regra geral não deixar nenhum fruto em plantas com menos de dois anos. Recomenda-se a monda para todas as plantas com muita carga ou plantas muito jovens, pois a manutenção de muitos frutos pode ocasionar a quebra de galhos, baixo rendimento médio ao longo dos anos, diminuição do vigor da planta e até a morte prematura da planta. Com a monda correta garante-se uma boa produção, com qualidade e principalmente durante muito tempo.

É importante salientar que, quando a monda é realizada dentro do período de divisão celular da fruta, ocorre a formação de um maior número de células, com consequente maior tamanho da fruta, comparado com a monda realizado após a fase de divisão celular, na qual o tamanho da fruta é dado somente pelo aumento do volume das células. Assim, os efeitos benéficos da monda serão tanto maiores quanto mais cedo for realizada esta operação.

A época mais adequada para realização da monda é variável com a espécie, porém pode-se considerar que à volta de 30 a 40 dias após a plena floração ou quando as frutas tiverem de 1 a 2cm de diâmetro como a melhor época para realização da monda, para a maioria das espécies frutíferas. Normalmente, as plantas apresentam uma queda natural de frutas até 30 dias após a plena floração, por isso não é recomendável realizar a monda durante este período.

Para a cultura da pereira, recomenda-se iniciar a monda 60 dias após a plena floração, devido ao fato de que esta espécie apresenta a iniciação floral mais tardia.

Outro facto que deve ser levado em consideração é o tempo que será gasto para execução da monda. No caso de pomares maiores, nos quais a operação é mais demorada, deve-se antecipar o início da monda para evitar-se que as frutas já estejam muito desenvolvidas no final da operação e a monda não tenha efeito.

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Monda de frutos em ramos de pessegueiro

Monda em macieiras deixando-se um fruto em cada ramalhete

4. Operações complementares da poda

4.1 Empa A empa é uma operação que se realiza em simultâneo com a poda e que consiste em dobrar a vara que se deixa e amarrá-la a um arame. Sem a empa os gomos das pontas receberiam a maior parte da seiva, enquanto os da base ficariam sem “alimento”, impossibilitando o seu correcto desenvolvimento.

As varas da videira devem ser dobradas ou curvadas com cuidado para evitar que as varas se partam. A acção de curvar a videira designa-se “gemer”. A vara deve gemer-se ao terceiro gomo, contudo não deverá ficar demasiado curvada, porque dessa forma a vegetação ficará muito cerrada.

A empa tem como contribuição positiva para o processo produtivo, o facto de permitir uma regularização da rebentação. No entanto, provoca um aumento de mão-de-obra, o que naturalmente se reflecte nos custos de produção.

4.2 Anelamento É a remoção de um anel bem fino em ramos contendo frutos, com a finalidade de acumular a seiva elaborada na parte superior do ramo. Essa técnica é realizada no início da maturação para melhorar a fixação, tamanho, coloração e sabor dos frutos (Fig. A e B). Deve ser feita com moderação, pois uma série de interrupções de seiva poderá causar um enfraquecimento da planta. Para que essa técnica seja eficiente na sua aplicação, é necessário que ocorra a cicatrização do anel, após o efeito desejado (Fig. C).

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Figura A Figura B Figura C

4.3 Incisões

A incisão é realizada acima de um gomo e tem o objetivo de quebrar a dominância apical e fazer com que esse gomo abrolhe. A dominância é quebrada pela interrupção do fluxo de auxinas que são sintetizadas nos ápices dos ramos e que se translocam para as raízes das plantas.

4.4 Torção de ramos Consiste numa ligeira torção dos ramos durante o período vegetativo, com o objetivo de quebrar a dominância apical e assim estimular as brotações laterais.

4.5. Lenha da poda Nos pomares em boas condições sanitárias, recomenda-se que a lenha de poda seja triturada e deixada à superfície do solo. Esta prática promove o aproveitamento da matéria orgânica e reduz a saída de nutrientes do pomar.

Em caso de necessidade de mobilizações do solo para incorporação de matéria orgânica, ou quando a permanência da lenha proveniente da poda possa potenciar problemas fitossanitários, é permitido remover a lenha de poda. Na mobilização preferir as alfaias que não degradem a estrutura do solo.

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5. Propagação vegetativa 5.1. Importância

A propagação é um conjunto de práticas destinadas a perpetuar as espécies de forma controlada. O seu objetivo é aumentar o número de plantas, garantindo a manutenção das características agronómicas essenciais das cultivares.

A propagação das plantas frutíferas reveste-se de grande importância na fruticultura. Essa talvez seja a etapa mais importante na implantação de um pomar. Para que se tenha sucesso, é necessária a adoção de técnicas que visam a obtenção de plantas de qualidade.

5.2. Métodos de propagação Os métodos de propagação podem ser agrupados em dois tipos:

• Propagação sexuada ou seminal, que se baseia no uso de sementes; • Propagação assexuada ou vegetativa, baseada no uso de estruturas vegetativas.

5.2.1. Propagação sexuada A propagação sexuada é o principal processo de multiplicação das plantas uma vez que é o modo natural de disseminação, havendo espécies em que a semente é a única forma de propagação viável. Com este tipo de multiplicação obtêm-se plantas muito vigorosas, formadas por um sistema radicular desenvolvido. As plantas obtidas por sementes apresentam grandes variações, sendo distintas dos pais (planta mãe) e também entre si uma vez que resultam de uma polinização cruzada.

Em fruticultura, a utilização de sementes basicamente está restrita à obtenção de porta-enxertos e ao melhoramento genético (obtenção de novas variedades), pois, comercialmente, poucas espécies frutíferas têm as plantas obtidas por este método.

Vantagens e desvantagens da propagação sexuada em fruticultura

Vantagens Desvantagens

Maior longevidade Heterogeneidade entre plantas devido à segregação genética

Desenvolvimento vigoroso Frutificação mais tardia e porte elevado

Sistema radicular mais vigoroso e profundo Irregularidade da produção, cor, caraterísticas organoléticas e tamanho

Fonte: Fachinello et al. (1995)

5.2.2. Propagação assexuada ou vegetativa A propagação assexuada ou vegetativa, que em fruticultura desempenha um papel de destaque, baseia-se no uso de estruturas vegetativas (raiz, caule, folhas, gomos) que não a semente.

A multiplicação vegetativa pode ser natural, formando-se as novas plantas a partir de partes da planta mãe (ex.: folhas, estolhos, rizomas, raízes tuberculosas, tubérculos, bolbos, bolbilhos, gomos aéreos, caules rastejantes) ou artificial como o método da estaca, a mergulhia e a enxertia.

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Por exemplo, o Morangueiro reproduz-se por multiplicação vegetativa natural através de estolhos.

Ao recorrer-se à multiplicação vegetativa, não só é possível obter uma grande quantidade de descendentes a partir de um progenitor, como também se verifica que as suas características se mantêm inalteradas. Por estas razões, estamos perante um processo de clonagem muito usado na multiplicação de fruteiras.

Na fruticultura, as principais estruturas são estolhos, rebentos e rizomas que são úteis na propagação de algumas espécies, como, por exemplo, o morangueiro, a bananeira, a framboesa e a amoreira-preta.

Para além da propagação vegetativa natural, acima descrita, é também possível proceder à propagação vegetativa artificial, baseada no mecanismo de reprodução assexuada.

O principal objetivo da multiplicação vegetativa artificial é propagar espécies vegetais, procurando melhorar e aumentar a sua produção. Entre os vários métodos utilizados podemos destacar: estacaria, enxertia, mergulhia, alporquia e micropropagação (cultura in vitro).

Vantagens e Desvantagens da propagação assexuada em fruticultura

Vantagens Desvantagens

Perpetuação de caracteres agronómicos Transmissão de doenças

Redução da fase juvenil Risco de mutação das gemas/gomos

Obtenção de plantas uniformes Risco de danos generalizados na área de produção.

Combinação de clones na enxertia Fonte: Fachinello et al. (1995)

5.2.2.1. Estacaria/ estaquia A estacaria consiste em regenerar uma planta a partir de um órgão ou fragmento de órgão vegetativo que não seja especializado para a propagação. Consoante o tipo de órgão a partir do qual se preparam, as estacas classificam-se em:

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1. Foliares ou estaca de folha;

2. Caulinares ou estaca de ramo (caule)

3. Radiculares ou estacas de raiz

Estacas foliares – não é um tipo de estaca usado na propagação das fruteiras mais comuns. Pode ser usado na Piteira (cacto que dá frutos) muito vulgar na Madeira, Algarve e em África.

Estaca de folha com raiz

Estacas de raiz - Muitas espécies com dificuldade de enraizamento por estaca, têm grande potencial de enraizamento através de rebentos de raiz.

Estacas caulinares - O uso de estacas caulinares é a principal técnica de propagação vegetativa de plantas.

A estacaria é também uma operação frequentemente necessária à propagação por enxertia, uma vez que a maioria dos porta-enxertos é obtida a partir de estacas.

Na propagação por estacas caulinares utilizam-se segmentos de caules contendo gomos terminais ou laterais, que são colocados em condições adequadas à produção de raízes adventícias.

As estacas caulinares classificam-se em função do grau de lenhificação do caule. Assim, podem ser herbáceas, semilenhosas e lenhosas

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Estacas herbáceas – são colhidas no período de crescimento vegetativo. (primavera/verão), quando os tecidos apresentam alta atividade meristemática e baixo grau de lenhificação

Estas estacas são preparadas a partir de caules herbáceos, com cerca de 7 a 10 cm, frequentemente com folhas. Nas estacas herbáceas o enraizamento tende a ser mais fácil, mas exige maior controlo ambiental. Após o enraizamento devem ser repicadas para um ambiente menos húmido e em substrato próprio.

O enraizamento requer elevada humidade relativa. Sob condições adequadas, o enraizamento tende a ser rápido, com elevadas percentagens de sucesso. A utilização de hormonas de enraizamento não é indispensável, mas melhora a uniformidade da distribuição das raízes.

Estacas semilenhosas – são colhidas no final do verão e início do outono.

São preparadas a partir de espécies lenhosas de folha persistente ou de material de espécies de folha caduca desde que colhido no Verão.

As estacas são preparadas com 7 a 15 cm de comprimento, com folhas. Em geral, o termo “semilenhosas” refere-se a estacas intermediárias entre as herbáceas e lenhosas.

Estacas lenhosas – são colhidas no final do período de dormência (inverno), quando estas se apresentam altamente lenhificadas.

As estacas lenhosas são menos perecíveis do que as anteriores, pelo que exigem menos cuidados na sua preparação e não exigem controlo ambiental durante o enraizamento.

Utilizam-se na propagação de espécies lenhosas de folha caduca e em gimnospérmicas.

Nas espécies de folha caduca, as estacas colhem-se entre a queda da folha e a rebentação primaveril. Deve-se descartar a ponta dos ramos, normalmente pobre em reservas, e preferir a parte central e basal. As estacas lenhosas variam muito em comprimento, podendo ir de 10 a 70 cm.

As estacas caulinares lenhosas podem ainda ser:

• Simples, • Com talão, • Em cruzeta.

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A estaca simples é a mais frequente e dá bons resultados na maioria dos casos.

Nalguns casos o enraizamento é favorecido pela presença de um talão (pequena porção de madeira velha) ou de uma cruzeta (secção do caule de madeira mais velha).

5.2.2.2. Enxertia

Enxertia - é o método de propagação assexuada que consiste em unir duas ou mais porções de tecido de modo que a união destas partes venha a constituir-se numa nova planta. É um dos principais métodos de propagação e é largamente utilizado num grande número de espécies, tais como videira, citrinos, kiwi, pessegueiro, ameixeira, macieira, pereira, entre outros.

As partes que compõem uma planta propagada por enxertia são:

Porta-enxerto ou cavalo - parte que confere o sistema radicular à planta propagada, podendo ser proveniente de sementes ou de propagação vegetativa. Porta-enxertos oriundos de sementes, em geral, são mais vigorosos e apresentam sistema radicular mais profundo. Porta-enxertos oriundos de propagação vegetativa como a estacaria ou a mergulhia podem ser menos vigorosos, porém são geneticamente mais uniformes;

Enxerto, borbulha, garfo ou cavaleiro - parte que irá originar a parte aérea da planta e pode ser constituída por um segmento de ramo com um ou dois gomos (garfo) ou de um gomo com uma pequena porção de casca (borbulha).

As plantas de onde irão ser colhidos os garfos devem ser criteriosamente escolhidas durante a fase de produção para que se possam escolher as que:

• Apresentem as melhores características da variedade a propagar; • Se apresentem bem conformadas; • Apresentem frutos perfeitos; • Garantam qualidade e quantidade de produção; • Não sejam muito novas nem demasiado velhas; • Estejam equilibradas em termos vegetativos; • Não apresentem sintomas de doenças e viroses.

Cada uma das partes possui características próprias:

- O porta-enxerto tem a função de dar suporte mecânico à planta, retirar água e nutrientes do solo, e em muitos casos beneficiar a copa pela resistência a pragas e doenças de solo, seca ou a solos encharcados.

- O enxerto ou copa é responsável pela fotossíntese que irá alimentar toda a planta para garantir uma boa produção.

A - Simples

B - Talão

C - Cruzeta

D - Gomo

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O sucesso da cicatrização entre as partes depende da espécie; da habilidade do enxertador; da atividade fisiológica do enxerto e do porta-enxerto; das condições a que as plantas serão submetidas durante e após a enxertia; dos problemas de pragas e doenças e da incompatibilidade que possa ocorrer entre as partes.

É importante destacar também que existem alguns limites na enxertia relacionados com a combinação enxerto e porta-enxerto. A maior facilidade da enxertia ocorre entre plantas de um mesmo clone, aumentando o grau de dificuldade à medida que se enxertam diferentes variedades da mesma espécie, diferentes espécies e diferentes géneros.

Para o sucesso da enxertia, seja qual for o tipo utilizado, é necessário que os tecidos meristemáticos (câmbios) tanto do enxerto como do porta-enxerto fiquem em contacto. Por esta razão, deve-se sempre fazer coincidir a casca do enxerto com a casca do porta-enxerto, em pelo menos um dos lados.

Fatores que condicionam o sucesso da enxertia

• Proximidade botânica • Temperatura e humidade • Ritmos de atividade dos tecidos em contacto • Superfície de contacto dos câmbios • Estado sanitário dos simbiontes • Polaridade da enxertia • Incompatibilidade

O que é necessário para ter sucesso numa enxertia?

• Utilizar garfos e cavalos compatíveis • Colocar em contacto os câmbios de ambos os simbiontes • O cavalo e o garfo devem ser preparados no estado fisiológico ideal • Todas as superfícies cortadas devem ser protegidas dos excesso de calor e ser mantidas com

uma humidade relativa elevada • Dar atenção as fases após a enxertia

Tipos de enxertia

São três os tipos de enxertia:

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1 - Enxertia de borbulha ou de gomo - o enxerto é um gomo

2 - Enxertia de garfo – enxerto é um pedaço de ramo ou garfo destacado da planta mãe com um ou mais gomos

3 - Enxertia de encosto – resulta da união de duas plantas inteiras.

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1 - Enxertia de borbulha ou de gomo

A borbulha consiste na justaposição de um gomo sobre um porta-enxerto enraizado. Embora haja vários tipos de borbulha, apenas serão descritas as formas em “T” normal, “T” invertido, placa ou escudo

Épocas para a realização das enxertias de gomo

Início do outono - Os ramos de onde se preparam os gomos para a enxertia devem ter um vigor moderado, estar isentos de doenças, especialmente viroses e conter gomos vegetativos bem desenvolvidos.

Início da primavera - Deve realizar-se logo que começa o ciclo vegetativo anual utilizando-se garfos armazenados, recolhidos durante o período de dormência.

Junho/Julho - Particularmente adaptada à enxertia de prunóideas em regiões de dias longos. Utilizam-se os ramos do ano para retirar os gomos, pelo que não existe necessidade de armazenamento.

a - “T “normal b -“T” invertido c - Placa d -Escudo

O “T” normal - no porta-enxerto é feito uma incisão transversal e outra longitudinal, onde será inserida a borbulha (gomo). A borbulha é um fragmento retirado da planta mãe após o corte do ramo que a contém, também chamado de ramo porta-borbulha. Esse fragmento deve ter dimensões proporcionais ao corte em “T” efetuado no porta-enxerto.

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O “T” invertido - é muito parecido, apenas o sentido do corte é que o difere do anterior, sendo o corte horizontal feito na extremidade inferior do corte perpendicular do porta-enxerto. A atadura deve iniciar-se de baixo para cima no porta-enxerto. Neste sistema a facilidade operacional é maior, além de se impedir a acumulação de água nos cortes, por isso é o tipo mais utilizado quando comparado ao corte em “T” normal.

Placa/escudo - são feitas no porta-enxerto duas incisões transversais e duas longitudinais, de modo a libertar a região a ser ocupada pela borbulha. A borbulha é retirada do garfo praticando-se também duas incisões transversais e duas longitudinais no ramo, de modo a obter um escudo idêntico à parte retirada do cavalo. A borbulha é a seguir embutida no rectângulo vazio e deve ficar inteiramente em contacto com os tecidos do cavalo. A seguir o enxerto é amarrado.

Enxertia em placa

Caso particular de um anel

Enxertia em escudo

Resumo do processo

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2 - Enxertia de Garfo

Enxertia no campo

Se for feita em grande escala exige o esforço de vários trabalhadores.

Numa primeira fase temos o trabalhador que escava e descobre o cavalo. Este deverá escavar em torno do cavalo, descobri-lo, limpá-lo e cortar-lhe as raízes superficiais.

Em seguida, o enxertador fende o cavalo e coloca o garfo:

• Começa por decotar o bacelo no lugar mais conveniente e efectua a incisão no cavalo no sentido do alinhamento das cepas ou de acordo com o maior diâmetro quando o lenho não é regular.

• Depois faz-se a cunha no garfo, tendo em atenção que os cortes sejam feitos um de cada lado do gomo e, se possível, de uma só vez, para que as faces da cunha fiquem lisas e planas.

• Seguidamente faz-se a introdução do garfo na fenda aberta no cavalo até deixar a descoberto a parte superior da cunha.

• Finaliza- se atando o enxerto com ráfia para manter um melhor contacto e evitar deslocamentos.

Após os trabalhos anteriores, cobrem-se os enxertos com terra (amontoa).

O sucesso da enxertia também depende muitas vezes da sua manutenção. Portanto, cerca de um mês e meio depois deverá proceder-se à verificação das soldaduras e do aperto da ráfia, não excluindo a limpeza dos rebentos do cavalo e raízes do garfo.

Regras para a preparação dos garfos:

• A extremidade superior do garfo deverá ser cortada com uma inclinação contrária à inserção do gomo e afastada deste cerca de um centímetro;

• O entrenó basal deverá possuir um mínimo de cerca de 4 a 5 vezes o diâmetro do garfo;

• O garfo deverá ser talhado fazendo 2 cortes, partindo 1cm abaixo do gomo basal e de cada lado deste, convergindo numa linha diamétrica a cerca de 4- 5 cm abaixo do início do corte. Este corte deverá ser executado com um só golpe para que as faces fiquem lisas e planas;

• As faces da cunha deverão constituir planos paralelos ao plano de inserção dos gomos e numa perpendicular a estes.

Finalizado o trabalho fica-se com duas faces planas resultantes dos cortes e duas arredondadas, normalmente designadas por “costas” da cunha.

Pode-se ter:

• Costa Externa - costa do lado do gomo, porque normalmente fica para o lado de fora quando é introduzida a cunha na fenda do porta-enxerto;

• Costa Interna - costa que fica no interior da fenda, com excepção da enxertia de fenda cheia.

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Os tipos mais comuns de enxertia em garfo no campo são:

Enxertia de Fenda Cheia

Este é o tipo de enxertia praticado quando o cavalo e o garfo têm o mesmo diâmetro.

O garfo deve ser talhado de forma a ficar com uma secção triangular, ficando com a costa interna e com a costa externa da mesma largura.

Enxertia de Fenda Simples

É utilizada quando o cavalo tem um diâmetro superior ao do garfo, mas, mesmo assim, não suporta dois garfos.

O garfo deve ficar com a costa do lado externo mais grossa do que a outra, para que seja possível unir o outro lado da fenda sem que haja alterações ou dessecação.

Enxertia de Fenda Dupla e em Coroa

É utilizada quando o diâmetro do porta-enxerto permite a introdução de dois ou mais garfos.

Os garfos devem possuir o mesmo comprimento e a mesma dimensão das costas, com os gomos basais voltados para fora.

Enxertia de Fenda Dupla Enxertia em Coroa

Enxertia de Fenda Inglesa

Só se utiliza esta técnica quando o garfo e o cavalo têm o mesmo diâmetro. A sua vantagem vem do facto de possibilitar uma maior superfície de contacto dos câmbios, facilitando a soldadura e diminuindo o perigo de dessecação.

• Deverá fazer-se um corte em bisel no garfo e no cavalo, com inclinação e superfície idênticas. O comprimento do bisel deverá ser no máximo 2 vezes o diâmetro do garfo.

• É conveniente, mas não obrigatório, fazer-se no garfo e no cavalo uma fenda em bisel com 5 mm de profundidade a dois terços do seu cumprimento, orientada transversalmente a este,

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para permitir o encaixe entre as duas partes e possibilitar o ajustamento das superfícies e câmbios.

• Finaliza-se, atando a zona de enxertia com uma ligadura larga.

A imagem mais à esquerda ilustra os cortes feitos para uma fenda inglesa simples.

As duas imagens do meio ilustram um processo mais complexo onde em ambas as partes se talha um encaixe par tornar o conjunto mais sólido.

Neste tipo de enxertia a atadura idealmente será em forma de banda larga e não fio ou ráfia como é comum nos outros tipos de enxerto (imagem mais à direita).

Enxertia de encosto

É um processo usado quando as árvores têm dificuldade em serem enxertadas pelos outros processos, mais fáceis e mais rentáveis. Estão neste caso duas árvores subtropicais muito importantes: a mangueira e o cajueiro.

Para facilitar a soldadura ambas as plantas ficam ligadas às suas raízes até que se tenha a certeza que a soldadura se fez. O cavalo está geralmente envasado e quando o processo termina o vaso é levado para um local no viveiro onde possa continuar a crescer.

O “desmame” do garfo da sua planta mãe deve ser cauteloso e muitas vezes a separação é progressiva. Quanto ao cavalo, toda a parte aérea acima da zona de enxertia é eliminada tal como na enxertia por gomo.

Garfo Cavalo Garfo Cavalo Cavalo

Enxertia na mesa (Enxertia em Omega e Dentada)

O encaixe do garfo de um só gomo no cavalo é feito através de um entalhe em forma da letra “Omega” ou em forma de “Dentada”. Para que fique perfeito, é feito numa máquina que corta no garfo e no cavalo entalhes que encaixam perfeitamente um no outro.

Este tipo de enxertia exige que a estaca enxertada, antes de ser levada para o campo, seja preparada para passar algum tempo numa câmara quente e húmida onde se dá a soldadura do enxerto. Só depois irá para o campo para enraizar.

Garfo

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Caso particular da enxertia na mesa em videira

É realizada a colheita do material de espécies americanas para estacas e este tem de estar limpo de gavinhas e netas para que seja possível a sua segmentação.

Estes segmentos devem ser cortados em troços de 40cm de comprimento, feitos do lado basal e a 0,5cm do gomo inferior.

Em seguida, escolhem-se as estacas enxertáveis (com diâmetro superior a 6-7 mm), fazem- se molhos de 200 unidades e depois de desgomados mergulham-se em água durante 24 horas.

Com madeira conservada durante o Inverno, prepara-se o garfo de um só gomo. A segmentação faz-se de forma a que o corte seja feito 0,5cm acima do gomo, conservando a parte do entre–nó inferior para se realizar a fenda para a enxertia.

Para hidratarem, os garfos deverão ser mergulhados em água durante 24 horas e de seguida, juntamente com as estacas, são colocados numa solução de 0,5% de sulfato de quinoleína e potássio durante 6-7 horas, para desinfecção.

Na máquina, o garfo entra pelo lado direito com o gomo virado para cima e o cavalo é colocado na máquina pelo lado esquerdo com a ferida do gomo voltada para baixo, sendo fendido o cavalo e fixado o garfo em simultâneo.

Fenda em ómega

Enxerto pronto

Depois de executados, os enxertos são mergulhados numa solução de parafina e lanolina a 0,05% a uma temperatura de 85ºC, passando-os de imediato por água fria (FIG. A).

As estacas enxertadas são então armazenadas em caixas que permitam um bom arejamento e intercaladas com um material poroso (turfa húmida) de forma a que estas fiquem orientadas verticalmente com o garfo para cima e a caixa forrada com o material acima mencionado (FIG. B e C).

Por fim, a parte superior das caixas é coberta com areia e regada, para posteriormente irem para uma estufa climatizada, onde lhe são fornecidas as condições ideais de soldadura (FIG. C)

FIG. A

FIG. B

FIG. C

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Em 25 dias o calo de cicatrização está formado e procede-se à retirada dos enxertos da caixa para enraizarem em viveiro para que, desta forma, se criem as condições necessárias para o desenvolvimento do sistema radicular e do rebento do gomo do garfo.

A plantação deverá ser feita tendo em conta um espaçamento de 10 cm entre cada enxerto na linha. A manutenção deverá ser sempre feita tendo em conta os cuidados de rega, cavas, limpeza de infestantes, corte de raízes e tratamentos anti míldio.

5.2.2.3. Mergulhia

A mergulhia é uma técnica de propagação vegetativa que consiste em promover a formação de raízes adventícias num caule, colocando-o em contacto com o solo ou com um substrato, enquanto ele ainda se encontra ligado à planta mãe. Foi uma técnica muito utilizada em plantas em que sucesso da estacaria era baixo.

A mergulhia é feita no solo, vaso ou canteiros, quando os ramos das espécies são flexíveis e de fácil manejo.

5.2.2.4. Alporquia ou mergulhia aérea

A alporquia é um método de propagação em que se faz o enraizamento de um ramo ainda ligado à planta mãe (parte aérea), que só é destacado da mesma após o enraizamento.

É utilizado quando o ramo não pode ser levado ao solo.

O método consiste em selecionar um ramo da planta, de preferência com um ano de idade e diâmetro médio. Nesse ramo, escolhe-se a região sem gomos e faz-se um anel, de aproximadamente dois centímetros de largura, retirando toda a casca e expondo o lenho. Depois disso, deve-se cobrir o local exposto com substrato humedecido, e envolvê-lo com plástico, cuja finalidade é evitar a perda de água,

Recomenda-se que a alporquia seja feita de preferência na época em que as plantas estejam em plena atividade vegetativa, após a colheita dos frutos, devendo a zona do alporque manter-se sempre húmida.

5.2.2.5. Micropropagação

A técnica consiste em retirar um fragmento de tecido vegetal – explante - , colocá-lo num meio nutritivo e provocar o desenvolvimento de uma plântula, graças a um equilíbrio adequado dos elementos do meio. Explante é a parte da planta a partir da qual se inicia a cultura. Os explantes podem ser de vários tipos: meristemas, gemas, flores, pétalas, anteras, pedaços de folhas (pecíolo ou limbo), raízes, etc., e mesmo uma única célula ou protoplastos (células sem parede celular)

É uma técnica realizada em laboratório que requer condições assépticas e pessoal especializado. A sua utilização permite no entanto obter, no mesmo espaço de tempo, uma quantidade de plantas muito maior do que aquela que se obtém quando se utilizam técnicas de multiplicação tradicionais.

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A multiplicação "in vitro" é possível graças a uma propriedade das células vegetais designada totipotência celular, da qual resulta que toda a célula vegetal viva, possuindo um núcleo, é capaz, qualquer que seja a sua «especialização» atual, de reproduzir fielmente a planta inteira da qual provém.

A micropropagação é a técnica "in vitro" mais difundida. Atualmente um grande número de espécies é multiplicado quase exclusivamente por este método.

Esta técnica compõe-se de várias fases, recorrendo-se em cada uma delas a meios de cultura apropriados ao fim a que se destinam:

Fase da multiplicação ou repicagem- consiste em obter o maior número possível de "futuras plantas", a partir da uma célula ou aglomerado de células, colocados num meio apropriado à divisão celular.

Fase do desenvolvimento da parte aérea- consiste em colocar as "futuras plantas" num meio de cultura apropriado ao desenvolvimento da parte aérea da planta, para que ocorra a formação de caules e folhas. Ao contrário do que é habitual, o desenvolvimento da parte aérea acontece antes da formação da raiz.

Fase do enraizamento- consiste em colocar as "futuras plantas" num meio de cultura apropriado ao enraizamento. Este meio é constituído pelos nutrientes e por carvão activo, que escurece o meio de cultura, induzindo a formação de raízes.

Fase da aclimatação- consiste em colocar as "novas plântulas em diferentes estádios de adaptação até chegarem ao solo, no campo.

O esquema seguinte pretende representar, de forma simplificada, as diferentes fases deste processo de micropropagação.

Este método de propagação apresenta muitas vantagens relativamente aos métodos tradicionais de propagação referidos anteriormente. Entre essas vantagens podem ser enumeradas as seguintes:

• Maior velocidade de propagação; • As culturas são iniciadas por explantes de reduzidas dimensões, pelo que se consegue obter

números elevados de plantas em espaços reduzidos; • O efeito das estações do ano pode ser eliminado; • As plantas obtidas têm um tamanho muito homogéneo; • A propagação é realizada em condições assépticas; • Salvação de espécies em vias de extinção; • Campo de potenciais aplicações no melhoramento.

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6. Factores determinantes na instalação de um pomar

“Fruticultura - Caso de sucesso

A empresa agrícola Casal de S. José, Sociedade Agrícola, Lda. e em especial a sua directora geral – Eng.ª Mónica Fialho é sem dúvida um caso de sucesso da fruticultura do Oeste. O seu segredo é bem capaz de ser a sua capacidade de gerir a empresa de uma forma multifacetada.

O Casal de S. José, Sociedade Agrícola, Lda. está localizado em Freiria, concelho de Torres Vedras, tendo uma área total de 60ha, dos quais 20ha são de pomar e 36ha são de vinha.

A partir de 1995, foi Mónica de Azevedo Fialho, licenciada em Engenharia Agrícola pela Universidade de Évora, quem assumiu a gestão desta exploração agrícola familiar.

Na qualidade de jovem agricultora recém-licenciada, recorreu a projectos de investimento e procurou conciliar as culturas/variedades pretendidas com as características edafoclimáticas da região e com as previsões de evolução comercial das mesmas.

O aumento da área de pomar foi acompanhado da introdução de rega gota a gota totalmente automatizada. Os novos pomares foram instalados em sistema semi-intensivo e intensivo, recorrendo-se a técnicas inovadoras na região – porta enxertos, intensificação cultural, aramação e quebra ventos mistos (naturais e artificiais).

Introduziram-se também alguns equipamentos, não usuais na altura, como a máquina eléctrica de empa, o balde da vindima, o distribuidor de estrume, carrinhos de colheita, bem como a utilização de máquina de vindimar no regime de aluguer.

Paralelamente, foram ou têm vindo a ser implementadas as seguintes medidas:

- Não mobilização: foi feito o enrelvamento dos pomares e de parte da vinha, com o objectivo de reduzir a erosão e aumentar a fertilidade do solo bem como a fauna e flora auxiliares.

- Produção Integrada: as práticas de produção integrada foram iniciadas em 1997.

- EUREPGAP: a exploração é certificada desde 2003.

- Agricultura Biológica: iniciou-se em 2005 a conversão de um pequeno pomar (1,3 ha) de pereira rocha convencional em modo de produção biológico.

Por outro lado, desde o início que se procurou ultrapassar a postura individualista tradicional, através do associativismo e da partilha de equipamentos e experiências estando integrada como associada na Adega Cooperativa da Azueira, e na organização de produtores Campotec, SA

Desde 2005 o controlo técnico-financeiro das actividades da exploração é feito com o apoio do programa de software agrícola “AGROGESTÃO”. Este programa permite obter em qualquer momento os seguintes resultados de exploração: contas de cultura, gestão de stocks, gestão de fornecedores e clientes, etc.”( VIDA RURAL - n.º 1728 Ano 55 - Junho 2007)”.

Hoje, a fruticultura tem de ser vista como um negócio e, assim, todas as etapas que envolvem questões técnicas, económicas e ecológicas devem ser consideradas antes da decisão de plantar, pois os custos são elevados, os mercados são exigentes em qualidade e muito competitivos. Portanto, todos os riscos devem ser calculados e analisados antes da plantação do pomar.

O pomar requer grandes investimentos no momento da implantação. Os custos envolvem o valor da terra e a sua preparação, plantas, factores de produção (sementes correctivos e fitofármacos), equipamentos, infra-estruturas e mão-de-obra, fazendo com que esta atividade tenha um alto investimento inicial.

O sucesso de um pomar baseia-se em:

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a) Ter condições adequadas de clima e solo;

b) Plantar espécies adaptadas;

c) Usar técnicas apropriadas para a preparação do solo e manutenção do solo e da planta;

d) Dispor de recursos humanos e financeiros;

As práticas realizadas no pomar necessitam de mão-de-obra qualificada e em grande quantidade. Para tanto, é necessário que se faça uma pesquisa com antecedência da disponibilidade de mão-de-obra na região. Com isso evitam-se prejuízos devido à não realização de uma atividade por falta de pessoal, ou mesmo a má realização desta, devido à falta de experiência.

e) Dispor de condições de transporte e armazenamento;

As frutas caracterizam-se por serem bastante perecíveis e sensíveis ao manuseamento. Isso exige que se tenha estradas que permitam o transporte rápido do local de produção ao destino final da fruta, quer seja a indústria ou o consumo em fresco.

Somente a rapidez não é suficiente, é preciso ter-se estradas em boas condições de tráfego, além de veículos e embalagens adequadas. Os cuidados devem ser iniciados no momento da colheita, procurando-se evitar, de todas as formas, os danos nos frutos, que irão depreciá-los no momento da comercialização, causando até mesmo a sua devolução.

f) Existir mercado para o consumo em fresco ou existir condições de armazenamento para médio-longo prazo e/ou existir indústria transformadora.

Antes de instalar um pomar deve-se ter informações sobre procura regional, nacional e até internacional; os períodos do ano em que as frutas alcançam melhores preços; sobre as variedades de preferência do consumidor, principalmente em relação ao tamanho, cor e sabor das frutas. Como curiosidade se informa que frutas de pele vermelha, como é o caso de algumas cultivares de maçã, têm um mercado mais garantido, pois as cores avermelhadas chamam mais atenção do que as cores esverdeadas.

As frutas destinados ao mercado em fresco alcançam preços mais elevados do que as frutas destinados à indústria, porém requerem embalagem adequada e maiores cuidados na manipulação por parte dos produtores.

Deve-se também considerar a distância do pomar ao centro de consumo, a perecibilidade das frutas e a existência de indústria que possa fazer o aproveitamento do excedente.

Assim, antes de implantar um pomar, devemos tentar encontrar respostas para as seguintes perguntas:

• Que tipo de pomar? • O que plantar? • Onde plantar? • Qual será o mercado existente ou potencial? • Em quanto tempo teremos o retorno do investimento?

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6.1. Sistemas culturais A produção de frutos pode ser feita de um modo tradicional, ser feita em produção intensiva ou até super intensiva.

Considera-se um sistema tradicional ou extensivo, quando não existe sistema de rega e há pouca preocupação com a manutenção da fertilidade do solo. Para que as árvores possam ter alguma produção, o espaço entre elas é grande, muitas vezes nem estão alinhadas ou até são exemplares isolados. Esta situação ainda se verifica principalmente para a oliveira, castanheiro, nogueira e figueira. Estas árvores são geralmente grandes, difíceis de podar e de fazer a colheita. A sua produção total é pequena, embora muitas vezes tenha características únicas.

Os pomares industriais mais antigos, especialmente de macieiras, pereiras, pessegueiros e videiras, foram instalados com árvores de porte mais baixo, perfeitamente alinhadas, têm um sistema de rega e todos os anos são mantidos e a sua fertilidade corrigida. São os pomares semi intensivos.

Hoje em dia a tendência é para continuar a reduzir quer o tamanho das árvores (usando variedades naturalmente mais pequenas e porta enxertos ananicantes) quer os compassos na linha e na entrelinha. A adubação é feita na água da rega, variando ao longo do ciclo vegetativo de acordo com as necessidades específicas de cada fase. A necessidade em rega é determinada pelo uso de tensiómetros. A polinização é garantida quer por colmeias de abelhas, quer pelo espalhamento artificial de pólen adquirido (prática comum nos pomares de kiwis).

Em muitos casos o pomar é conduzido com vista à mecanização, quer da poda, quer da colheita havendo casos, como na cerejeira ou oliveira, em que o sistema de condução deixou de ser vaso (com um crescimento em 3 dimensões) para passar a ser eixo revestido para que o crescimento seja o mais linear possível. Na vinha essa tendência já existe há muitos anos e traduziu-se na passagem da condução em ramada ou pescoço de girafa, para o cordão simples ou duplo. Podemos neste caso falar em pomares intensivos.

Por vezes os compassos são tão apertados e há uma utilização tão grande de factores de produção que os pomares são considerados super intensivos. Estão neste caso alguns dos mais recentes olivais.

A maneira como se instala, se faz a manutenção do solo e das árvores e se protegem as plantas evoluiu muito nos últimos anos com vista a proteger o solo, a água e os seres vivos (desde os fungos micorrizas ao agricultor…). Com os conhecimentos que temos actualmente é imperdoável não se fazer uma agricultura sustentável optando pela Produção Integrada, pela Produção em Modo Biológico ou outras similares e com o mesmo objectivo (GLOBALGAP, por exemplo).

Para colaborar no propósito de uma agricultura mais sustentável muita da informação que se segue consta dos Manuais editados pelo Ministério da Agricultura com as normas para a Produção Integrada das várias fruteiras (ver Bibliografia)

6.2. Seleção das espécies a serem plantadas

6.2.1 Valor cultural

Diz respeito à resistência das plantas a doenças, produtividade, resistência ao transporte, vigor e precocidade sabendo que nem sempre é possível juntar todas estas características na mesma cultivar.

6.2.2 Valor comercial

Diz respeito à preferência do mercado, tamanho, cor, aspecto da fruta e destino da produção. Tradicionalmente, em qualquer parte do mundo, os frutos destinados ao consumo em fresco, alcançam melhores preços que aqueles destinados à indústria.

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6.2.3 Época de amadurecimento

No caso de frutas destinados ao consumo em fresco, deve-se procurar utilizar espécies que apresentem o pico de maturação em épocas diferentes das cultivares existentes na região, por exemplo, no caso de laranjas, deve-se dar preferências às cultivares tardias, pois, para as cultivares precoces e de meia estação, o mercado já está saturado.

Já no caso de pomares destinados à indústria, que geralmente se caracterizam por serem pomares mais extensos, normalmente recomenda-se utilizar cultivares com época de maturação diferente, pois com isso evita-se a concentração de atividades no mesmo período. Além disso, diminui-se o risco de grandes perdas devido à ocorrência de geadas, granizos, entre outros.

Sempre que possível, recomenda-se fazer um escalonamento da produção, plantando cultivares precoces, medianas e tardias. É importante lembrar que as cultivares precoces, ou seja, aquelas em que as frutas amadurecem no cedo, necessitam de menores gastos com a produção, pois geralmente escapam ao ataque das pragas e doenças. Um exemplo típico acontece com a mosca da fruta que ataca menos as cultivares precoces de pêssegos, de ameixas e de nectarinas, pois as gerações desta praga ainda são insuficientes para um ataque muito severo, já que ainda não foi atingido o somatório de temperaturas necessário ao desenvolvimento da praga.

Por outro lado, o escalonamento da colheita das frutas aproveita melhor o equipamento e a mão-de-obra disponível.

6.2.4. Aquisição de plantas

Alguns cuidados devem ser tomados com relação à aquisição das plantas:

a) Escolher um viveirista idóneo e certificado;

b) Encomendar as plantas com um ano de antecedência;

c) Comprar plantas dentro de padrões estabelecidos pelo Ministério da Agricultura;

d) Escolher os porta-enxertos adaptados às condições edafo climáticas da exploração e que sejam compatíveis com a cultivar desejada.

6.3. Escolha do terreno

6.3.1 Solo

Para instalação de pomares, deve-se dar preferência para solos francos, profundos e bem drenados, evitando-se solos encharcados ou sujeitos a encharcamento ou que possuam camada que impeçam a drenagem.

Deve-se evitar a plantação em áreas que antes foram cultivadas com frutíferas, procurando realizar rotação de culturas com plantas anuais e só depois de 3 anos voltar a plantar espécies frutíferas, de preferência, de família botânica diferente da anterior. Quando são plantadas frutíferas em solos previamente ocupados pela mesma espécie ou por espécie intimamente afim, pode resultar um crescimento deficiente. Os sintomas são um pequeno sistema aéreo e um sistema radicular fraco, com raízes frequentemente descoloridas, com poucas ramificações laterais e poucos pêlos absorventes.

6.3.2 Água

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A propriedade deve possuir água de qualidade e em quantidade para realização de irrigações, tratamentos fitossanitários, para o consumo humano, entre outros.

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6.3.3 Exposição do terreno e topografia

Em solos planos este item não tem importância, porém, em solos mais inclinados, deve-se escolher a exposição sul, devido à melhor insolação e à menor incidência de vento. De preferência na meia encosta, evitando-se a plantação em áreas muito acidentadas, com declives acima de 20%.

Quanto à disposição das plantas no pomar deve-se ter em conta o melhor aproveitamento da luz solar, já que as plantas que receberem uma maior quantidade de luz solar serão também as mais produtivas.

6.3.4 Condições climáticas

6.3.4.1 Temperatura

As plantas necessitam de diferentes valores de temperaturas para cada um de seus períodos fenológicos, tais como dormência, rebentação, floração, frutificação, vegetação e maturação dos frutos.

As plantas de clima temperado necessitam de um período de baixas temperaturas no inverno para que haja uma quebra da dormência (temperaturas inferiores ou iguais a 7,2°C). Hoje, sabe-se que as temperaturas de até 11ºC também são efetivas e que o mais importante são os frios contínuos durante o período de repouso vegetativo, pois temperaturas acima de 21ºC são prejudiciais neste período. Durante o repouso vegetativo, as temperaturas acima de 21°C anulam as horas acumuladas de frio. Na Tabela abaixo são apresentadas as necessidades de frio para diferentes espécies frutíferas.

Necessidade de frio no inverno para a quebra da dormência em diferentes espécies (as variações correspondem à variabilidade existente entre as cultivares)

ESPÉCIE Nº DE HORAS DE FRIO < 7,2 °C

Pessegueiro Marmeleiro Cerejeira Ameixeira Europeia Ameixeira Japonesa Figueira Macieira Pereira Videira

Mirtilo

Kiwi

100 a 1250 90 a 500 500 a 1700 800 a 1500 100 a 1500 90 a 350 200 a 1700 200 a 1400 90 a 400

400 a 800 (variedades do norte)

700

As baixas temperaturas são mais limitantes para as plantas de folhas persistentes do que para as de folhas caducas.

6.3.4.2 Chuvas

A distribuição pluviométrica ao longo do ano é importante pois o excesso de chuvas num determinado período pode provocar o aparecimento de doenças. Chuvas pesadas podem também provocar o aparecimento de zonas encharcadas no interior do pomar, o que pode ser muito prejudicial às plantas frutíferas, visto que a maioria delas não suporta períodos prolongados com solos alagados. Por outro

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lado, a falta de chuvas no período que antecede à colheita pode causar diminuição do tamanho e até mesmo queda dos frutos.

Quando as médias das precipitações pluviométricas forem consideradas altas (± 1500mm por ano), todos os cuidados devem ser tomados em relação a doenças, conservação do solo e polinização, caso contrário os danos poderão ser de grandes proporções.

Tradicionalmente as zonas produtoras de frutas em todo o mundo são áreas com baixas precipitações, menores que 500mm por ano, onde a necessidade hídrica é complementada com irrigação.

6.3.4.3 Humidade relativa do ar

Locais com humidade relativa do ar elevada aumentam os riscos e prejuízos com doenças.

Já plantas como o quivizeiro, não se adaptam a locais com baixa humidade relativa do ar, devido à perda de água pelas folhas.

6.3.4.4 Ventos

Os ventos dominantes danificam as plantas, principalmente os ramos novos, aumentando os riscos de doenças pela facilidade na disseminação das mesmas. No caso de bacterioses em rosáceas (Xanthomonas pruni) e mesmo doenças fúngicas como é o caso da antracnose na videira entre outras, podem ser reduzidas de forma importante com a presença de uma cortina vegetal (sebe corta vento).

Além disso, o vento causa quebra de ramos, quebra das plantas no ponto de enxertia, queda de frutas, entre outros.

Durante o período de floração, o vento pode dificultar o trabalho de insetos polinizadores, como, por exemplo, das abelhas, diminuindo a polinização e, consequentemente, a frutificação.

Recomenda-se implantar quebra-ventos para os ventos dominantes, de preferência na forma de L.

Normalmente o quebra-vento protege uma área anterior quatro vezes maior do que sua altura e uma área posterior de até 20 vezes, ou seja, se as plantas do quebra-vento tiverem 5 metros de altura, a proteção do pomar será de aproximadamente 100 metros.

As plantas utilizadas para a formação do quebra-vento devem ser de preferência melíferas, que apresentem crescimento rápido, boa ramificação, folhas perenes e sistema radicular pouco agressivo, devendo serem dispostas em filas duplas ou triplas para fornecer melhor proteção.

Quando forem utilizadas espécies de crescimento lento, recomenda-se que o quebra-vento seja implantado de 1 a 3 anos antes da plantação da cultura. Como isso nem sempre é possível, pode-se utilizar uma espécie de porte mais baixo, porém com crescimento inicial rápido. Com isso, consegue-se uma proteção na fase inicial da cultura, que é uma fase bastante delicada para a maioria das espécies. Depois, com o passar do tempo, podem-se eliminar essas +plantas mais baixas, deixando-se o quebra-vento definitivo.

Utilização de quebra-vento em pomares.

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Diversos efeitos conseguidos com diferentes tipos de quebra-ventos:

A - Quebra-vento semipermeável, protegendo uma área de 15 a 20 vezes a sua altura;

B - Quebra-vento impermeável, a área protegida é menor e provoca remoinho

C - Quebra-vento sem proteção na base

6.3.4.5 Granizos e geadas

O controlo de granizo é muito difícil e, em locais sujeitos a chuvas de granizo, não se recomenda a plantação de frutíferas. Uma solução que vem sendo utilizada é o emprego de telas de proteção colocadas ao longo das filas, em locais onde as chuvas de granizo são frequentes e para pomares com grande retorno económico, como uvas de mesa.

O prejuízo provocado por geadas, depende do estádio fenológico da planta. Geadas do cedo ou tardias são mais prejudiciais à planta e o seu controlo envolve grandes despesas com energia.

Para se controlar o efeito da geada nas plantas, têm-se empregado diversos métodos, entre eles os métodos passivos, biológicos e ativos. Passivos

São medidas preventivas que envolvem o tipo de solo, local de plantação, cobertura do solo, textura do solo, entre outros. Os solos descobertos perdem calor com mais facilidade durante a noite. Biológicos

Envolvem o conhecimento da dormência, a utilização de métodos que visam retardar a floração, manutenção da folha em bom estado nutricional e sanitário, variedades de florescimento tardio e humidificação do ambiente.

No caso do pessegueiro e da ameixeira, os programas de melhoramento têm sempre em conta como ponto fundamental que as novas cultivares floresçam mais tarde que as cultivares tradicionais.

Vista esquemática de um vale com plantas no fundo, e na encosta.

Nas noites claras, calmas e com fortes perdas de calor por radiação, ocorre um arrefecimento do ar da superfície do solo. O ar denso e frio que se forma ocupa o fundo do vale, obrigando o ar quente a subir e a perder-se em

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altura. Assim, em noites de geadas origina-se uma inversão térmica que favorece as plantas situadas em encostas (adaptado de WESTWOOD, 1982)

Ativos

- Um deles visa suprir a perda de calor através do aquecimento ou pela utilização da energia liberada pela passagem da fase líquida da água para a fase sólida (gelo), que é de 80cal/g É aqui se enquadra o uso da irrigação por aspersão.

O método de irrigação por aspersão tem sido largamente utilizado em alguns países, resultando num método eficiente e económico. O início da irrigação deve ser feito quando a temperatura se aproxima de 0°C.

- Outro método visa evitar a perda de calor noturno através do uso de neblina.

- Um terceiro, visa quebrar a camada de inversão de temperatura na atmosfera, que se forma durante a noite, através do uso de ventiladores.

- Existem outros métodos tais como: interceptação da radiação terrestre (nebulização aquosa e oleosa) e cobertura (arborização, plástico ou vidro).

6.3. Adaptação do local Como já foi referido, as árvores geralmente reagem muito mal a encharcamentos do solo, especialmente se a situação se mantiver mais de 24 horas. Por isso o enxugo do terreno é obrigatório na instalação de um pomar. Quando o pomar é instalado em socalcos ou terrenos ligeiramente inclinados a drenagem ocorre de forma natural. Quando tal não acontece é necessário garantir uma drenagem forçada. O processo para tal vai da simples plantação num terreno armado em camalhões, à construção de uma rede de drenagem superficial ou subterrânea (Ver Apontamentos de PA4 – Rega e Drenagem).

Se o terreno tiver estado ocupado com um pomar da mesma espécie é obrigatório fazer uma rotação, no mínimo de 3 anos, com culturas arvenses.

Deve-se planear o traçado de caminhos de acesso e circulação de máquinas na parcela de modo a racionalizar os futuros trajectos de cada operação cultural.

6.3.1 Local de mata, ou com construções ligeiras ou há muitos anos abandonado

Quando pretende-se instalar um pomar em terrenos com estas características as práticas de preparação do terreno envolvem:

a) Retirada de raízes, tocos de árvores e de pedras - As pedras constituem um obstáculo ao trabalho e à manutenção do pomar, já os tocos, além de constituírem uma barreira mecânica, são também hospedeiros de fungos de raízes, que podem atacar o sistema radicular das plantas frutíferas;

b) Subsolagem – rompimento profundo do solo sem haver reviramento;

d) Lavoura profunda e incorporação de corretivos até 40cm de profundidade; e) Adubação de fundo e gradagem; f) Cultivo de uma gramínea anual por um período de 1 a 2 anos antes da plantação da espécie frutífera – com o objectivo de reequilibrar o ecossistema, tão modificado pelas mobilizações e correções, e quebrar o ciclo de pragas e doenças que possam existir nesse terreno.

6.3.2 Terras trabalhadas

Quando se pretende instalar um pomar em áreas já cultivadas, as práticas de preparação do terreno envolvem:

a) Subsolagem para remover a camadas compactadas por lavoura frequentes (calo de lavoura);

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b) Lavoura profunda e incorporação de corretivos até 40cm de profundidade; c) Adubação de fundo e gradagem.

6.4. Mobilizações e correções Como para qualquer cultura a instalar de novo, é obrigatório o estudo do perfil do terreno e fazer análises à água e ao solo. (Ver Apontamentos de PA3 – Preparação do Solo)

O estudo do perfil do solo e a colheita de amostras de terra deve ser feito na segunda quinzena de Maio, segunda quinzena de Junho.

A preparação do solo para implantação do pomar deve ser feita quando este se encontra no estado de sazão, preferencialmente antes das primeiras chuvas.

As mobilizações do solo devem ser reduzidas ao mínimo indispensável, a fim de minimizar os riscos de erosão e compactação, devendo ser efetuadas segundo as curvas de nível nos solos com um declive de 15 a 25% (IQFP igual a 3), não devendo nunca ser feitas no sentido do maior declive.

Embora ainda haja produtores que fazem um reviramento profundo do solo antes da plantação, essa prática não é permitida em Produção Integrada. Havendo necessidade de romper camadas impermeáveis esse trabalho deve ser feito sem reviramento das camadas do solo, ou que pelo menos este não seja total (subsolagem). Assim evita-se desequilibrar completamente o ecossistema do solo, assim como se evita trazer para a superfície pedras (sempre prejudiciais) e/ou solo de camadas mais fundas (muitas vezes inadequado às culturas).

Os pomares apresentam um longo período produtivo, em geral superior a 12 anos. Isso faz com que sejam necessários cuidados especiais em relação às correções de deficiências, ou excessos, de nutrientes no solo.

Para análise de solo, as amostras devem ser colhidas a duas profundidades: de 0 a 20cm e de 20 a 40-50cm, pois a maioria das raízes das plantas localizam-se nesta área.

A análise do solo é repetida, no mínimo, a cada cinco anos.

Para algumas espécies, como é o caso da macieira ou videira, recomenda-se a aplicação de micronutrientes no solo, principalmente o boro, como forma de corrigir deficiências futuras.

Durante a preparação do solo, antes da plantação, é a melhor ocasião para incorporar os corretivos em profundidade, tendo em vista que os mesmos são pouco móveis no solo e que depois de implantado o pomar, as dificuldades para os colocar à disposição do sistema radicular serão aumentadas.

A preparação do solo de maneira superficial dificulta a penetração do sistema radicular da planta e limita a disponibilidade de nutrientes e água, provocando menor crescimento das mesmas, podendo, em algumas situações, aumentar o risco de erosão pela menor retenção de água das chuvas.

6.4.1 Preparação do solo com subsolagem e lavoura profunda

Este sistema permite colocar os nutrientes em maiores profundidades e à disposição das raízes das plantas, melhorando o arejamento do solo e a infiltração de água, além de romper camadas compactadas, o que facilita a penetração e o desenvolvimento do sistema radicular das plantas.

Este sistema não é o mais indicado para solos delgados, pedregosos ou que apresentem horizontes compactados. Exige máquinas apropriadas e apresenta um custo inicial elevado. Em terrenos pedregosos ou muito acidentados a preparação normalmente é feita em covas.

O calcário e os outros corretivos podem ser aplicados em duas etapas: - metade da quantidade antes da subsolagem e a outra metade antes da lavoura.

Quando for usado um fosfato natural, deve-se aplicá-lo antes da aplicação do calcário, pois em meio ácido esta fonte de fósforo solubiliza-se mais facilmente, aproveitando desta forma a acidez natural do solo.

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Os corretivos são aplicados em toda a área e por ocasião da plantação abrem-se pequenas covas, com tamanho suficiente para acomodar o sistema radicular da planta, não havendo necessidade de adubação nas covas.

A plantação depende do declive do terreno e poderá ser:

a) Segundo as cuvas de nível, quando o declive do terreno for menor do que 3%;

b) Com construção de terraços, quando o declive for menor do que 20%;

c) Em patamares, quando o declive for superior a 20%.

6.4.2 Preparação convencional do solo seguido ou não de abertura de covas

Neste sistema o solo é preparado e corrigido só até uma profundidade de 20 a 25cm. Em seguida são abertas covas de 60 x 60 x 60 ou 80 x 80 x 80cm. Os fertilizantes são utilizados de acordo com o volume do solo e os resultados da análise do mesmo.

Este sistema pode ser utilizado em situações onde não é possível realizar a preparação do solo, devido à presença de impedimentos à mecanização, tais como pedras e declive acentuado, ou quando a espécie a ser cultivada não apresenta um sistema radicular profundo.

No entanto, em solos mal drenados ou muito argilosos a utilização de covas pode provocar acúmulo de água e morte das raízes por asfixia.

Por outro lado, a adubação na cova cria um ambiente propício ao desenvolvimento da planta e por vezes não permite que haja uma expansão lateral das raízes, quer por problemas mecânicos (parede espessa) ou químicos (maior disponibilidade de nutrientes na cova).

6.4.3 Preparação convencional seguido da construção de camalhões

O solo é preparado até uma profundidade de 20 a 40cm, ao mesmo tempo em que é realizada a correção de acordo com os resultados da análise ao solo.

Sobre o solo previamente preparado são construídos camalhões, ou seja, terraços de base estreita com 2,0 a 3,0m de largura e 40 a 60cm de altura, sobre os quais se faz a plantação.

Os camalhões são construídos com trator equipados com arados reversíveis. A distância entre eles pode ser de 2 a 10m dependendo da espécie a ser cultivada.

Permitem um bom desenvolvimento radicular da planta, pois aumentam a quantidade de solo arável a ser explorado; contribuem para o controlo da erosão e auxiliam a drenagem em solos planos.

Proteção do solo nas entrelinhas do pomar

Para qualquer das situações anteriores e para manter o solo protegido da erosão e compactação, as entrelinhas manter-se-ão obrigatoriamente revestidas com um coberto vegetal herbáceo, que poderá ser semeado ou de vegetação espontânea, ou com outra prática de proteção do solo, pelo menos entre 15 de novembro e um de março. Fora desta época o coberto vegetal poderá ser controlado através de meios mecânicos.

Para um bom coberto vegetal, recomenda-se a sementeira de uma associação de gramíneas com leguminosas. Existem no mercado português várias misturas, adequadas às diferentes condições edafo climáticas.

Na instalação do coberto permanente deverão eliminar-se previamente as infestantes vivazes, como gramas, junça, corriola e outras. As infestantes com períodos de floração coincidentes com o das cultivares do pomar devem ser controladas, especialmente quando as suas flores sejam muito atrativas para os insetos polinizadores.

Recomenda-se que os cortes sejam efetuados quando 10 a 20% das flores das árvores do pomar já estiverem abertas, a fim de evitar que os insetos polinizadores desviem a sua atenção para o coberto vegetal. Esta é, também a altura recomendada para efetuar a distribuição das colmeias no pomar. A

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erva cortada deve ficar espalhada sobre a superfície do terreno. Recomenda-se que a faixa de vegetação tenha uma largura superior à bitola/rodado do trator.

Não esquecer que o coberto vegetal nos pomares implica uma maior atenção às infestações com ratos, principalmente nas parcelas junto a linhas de água, lixeiras, matas, pecuárias ou pomares abandonados.

Nas linhas

Recomenda-se deixar-se uma faixa de terreno, que pode ir até cerca de um metro para cada lado da linha, livre de vegetação herbácea que possa concorrer com as árvores. A manutenção desta faixa torna-se importante nos pomares jovens. O controlo das infestantes pode ser efetuado por meios mecânicos, químicos ou físicos, no momento em que estas se encontram mais sensíveis e sempre antes de produzirem sementes

Em qualquer das opções, é de deixar a manta morta no terreno, de forma a proteger o solo, reduzindo, simultaneamente, as perdas de água por evaporação e a erosão. No caso de utilização de herbicidas, a sua aplicação deverá ser efetuada com cuidados acrescidos, de forma a não afetar as jovens plantas.

O solo sob as fruteiras pode ainda ser coberto por palhagem ("mulching"). A palhagem pode resultar do espalhamento de resíduos vegetais, tais como palhas isentas de sementes, cascas e aparas de madeira. O coberto vegetal deve ser mantido baixo, com altura inferior a 0,10 m, devendo-se, no caso das macieira, prestar especial atenção ao controlo dos ratos. No caso de palhagem vegetal, o terreno deve ser previamente limpo de infestantes, sobretudo quando existam infestantes vivazes.

6.4.4 Preparação do solo em faixas

Consiste em preparar apenas uma faixa do terreno, na qual será plantada a espécie frutífera. A faixa de preparação pode ser segundo as curvas nível e ter uma largura até 2,5m.

Nesta faixa são aplicados todos os corretivos e a planta é plantada sobre o solo preparado. À medida que a planta vai crescendo, a faixa de cultivo pode ser ampliada. Entre as duas filas de plantas pode permanecer uma faixa de vegetação espontânea, cortada periodicamente.

A preparação do solo pode ser com subsolagem e lavoura profunda ou ainda lavoura convencional seguida da construção de camalhões.

Sistema de cultivo onde as linhas de plantas são mantidas limpas e as entrelinhas com cobertura vegetal

Este sistema tem um custo menor na instalação do pomar e permite um bom controlo da erosão do solo. Como desvantagem, não permite a instalação de culturas intercalares no pomar.

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6.4.5 Cuidados a ter na mecanização dos trabalhos no pomar

Para diminuir os riscos de erosão, compactação do solo e danos sobre as plantas, associados à mecanização recomenda-se:

a) Evitar o uso de máquinas pesadas, pois provocam a compactação no solo (especialmente se este estiver demasiado húmido) e danificam as plantas;

b) Evitar o uso contínuo de equipamentos que pulverizam o solo, como as fresas, pois contribuem para a destruição da estrutura do solo e consequente aumento da erosão. Também contribuem para o aumento da população de infestantes que se propagam vegetativamente;

c) Depois do pomar instalado, os trabalhos no solo devem ser evitados (diminuir o risco de erosão e de desequilibrar o ecossistema) ou, quando absolutamente necessários, serem superficiais (para não danificarem as raízes)

d) Os equipamentos devem ser apropriados para as atividades dentro do pomar (tractores vinhateiros, por exemplo).

6.5. Plantação

6.5.1. Época de plantação e principais cuidados A principal época de plantação é o outono/inverno ou início da primavera, para as plantas que vêm do viveiro com raiz nua. Este é o período de baixa atividade fisiológica da planta e quando o solo apresenta um bom teor de humidade.

Recomenda-se que a plantação seja efetuada até 30 dias antes da época previsível do abrolhamento.

Se as plantas vierem envasadas, esse período pode ser alargado desde que seja possível garantir rega durante a fase de pegamento e adaptação ao novo local.

Cuidados com a plantação

Devem-se abrir covas com tamanho suficiente para acomodar todo sistema radicular, evitando-se que as raízes fiquem dobradas.

Quando a adubação for realizada na cova, deve ser proporcional ao volume de solo, tendo-se o cuidado de fazer um bom espalhamento. Os adubos devem-se misturar com o solo com uma antecedência de cerca de 60 dias antes da plantação.

A planta deve ser mantida na posição vertical e distribuir o sistema radicular dentro da cova. Devem-se eliminar as bolsas de ar, através de uma leve compactação do solo, e irrigação abundante logo após a plantação.

Recomenda-se ainda que a zona de enxertia das árvores fique voltada para a direção dos ventos dominante; e que a zona de enxertia fique acima da superfície do solo, a uma altura que depende do vigor do simbionte (cultivar/porta-enxerto).

Cuidados pós-plantação

As plantas devem ser tutoradas e receber irrigação de acordo com as condições de humidade do solo.

No início do abrolhamento (gomos a abrir), deve-se ter cuidado com o controlo de infestantes, roedores que poderão causar danos na casca das plantas e vigiar o aparecimento de pragas e doenças.

Normalmente, a percentagem de reposição das plantas é da ordem de 5%. Esta percentagem de plantas deve ser adquirida com antecedência para reposição quando for necessário.

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Resumo dos cuidados com a plantação e pós plantação (neste caso de uma planta envasada):

A – Tirar a planta do vaso e se necessário arejar um pouco o torrão e podar algumas raízes.

B – Colocar a planta e o tutor na cova. O tutor deve ficar bem enterrado e chegar aos primeiros ramos.

C – Encher a cova e atar a planta ao tutor com uma amarração em 8 invertido

D – Regar abundantemente

6.5.2. Técnica de execução

6.5.2.1. Alinhamento, marcação e espaçamento

As plantas frutíferas podem ser dispostas no pomar de várias formas. Esta disposição, basicamente, está relacionada com:

a) Topografia;

b) Densidade de plantação;

c) Tipo de mecanização;

d) Porte do porta-enxerto e cultivar;

e) Necessidade de aproveitamento da área disponível.

Alinhamento

Em terrenos não sujeitos à erosão, ou seja, em terrenos com pouco declive, as plantas frutíferas podem ser dispostas em desenhos geométricos. Já em terrenos com acentuada inclinação, as plantas devem ser dispostas de maneira que formem filas perpendiculares ao sentido da maior inclinação do terreno.

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Esquema de um pomar na forma de rectângulo

Atualmente este sistema é o mais utilizado em terrenos planos, por facilitar o trânsito interno no pomar. O sistema de rectângulo permite melhor aproveitamento das adubações pelas plantas e, quando permitido, torna viável a cultura intercalar de plantas anuais nos primeiros anos de implantação do pomar, propiciando um retorno financeiro enquanto as fruteiras estão improdutivas.

Esquema de um pomar implantado segundo as curvas de nível

Esta solução ajuda a diminuir os problemas de erosão em terrenos com algum declive. Apresenta a inconveniência da variabilidade do afastamento das filas de plantas, o que faz surgir filas mortas. Para evitar este tipo de problema, podem-se aproximar as plantas na linha quando estas se afastam na entre linha.

Esquema de um pomar implantado num terraço construído segundo as curvas de nível

Construir terraços segundo as curvas de nível é uma solução obrigatória quando o terreno é muito inclinado. As plantas são depois plantadas em filas paralelas. Esta forma de disposição das plantas permite que se mantenha constante a distância entre filas

Marcação ou piquetagem

Trata-se da operação que precede todo o trabalho de preparação do terreno, desde a incorporação total dos fertilizantes até ao alisamento da superfície do solo. Esta operação tem em linha de conta a orientação, o compasso (linhas x entrelinhas), as vias de comunicação e o sistema de condução escolhido.

A marcação deve ser feita com o maior rigor, recorrendo a aparelhos específicos (por exemplo o teodolito) ou à fita métrica, para que sejam obtidos alinhamentos perfeitos, factor determinante para a mecanização do pomar.

Começa-se por dividir o terreno em figuras geométricas regulares, quadrados e/ou rectângulos, cujos lados paralelos tenham o mesmo comprimento. Para determinar as suas perpendiculares, recorre-se ao teorema de Pitágoras (o quadrado da hipotenusa (h) é igual à soma do quadrado dos catetos (a + b)).

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Representação Geométrica do Teorema de Pitágoras

Espaçamento

O espaçamento é definido como sendo a distância existente entre plantas da mesma fila (espaçamento entre plantas) ou entre plantas de filas diferentes (espaçamento entre linhas).

O espaçamento é bastante variável entre as espécies e, mesmo para uma mesma espécie, entre as cultivares. Está também relacionado com diversos fatores, como, por exemplo, a tecnologia adotada, a maquinaria disponível na propriedade, o vigor do porta-enxerto e da cultivar, disponibilidade de área, entre outros.

A densidade de plantação (quantidade de plantas por hectare) pode ser alta ou baixa

Vantagens da baixa densidade de plantação

a) Menor custo de implantação por unidade de área;

b) Maior longevidade do pomar;

c) Melhores condições de luminosidade e arejamento;

d) Condução da planta mais livre, o que proporciona menor necessidade de mão-de-obra.

Vantagens da alta densidade de implantação

a) Melhor aproveitamento do solo, fertilizações e mão-de-obra;

b) Maior produção por unidade de área;

c) Maior facilidade na manutenção das plantas por apresentarem porte mais reduzido;

d) Maior precocidade, devido ao menor período improdutivo;

e) O sombreamento diminui a ocorrência de plantas infestantes;

f) Torna viável o uso de terrenos excepcionais que tenham necessidade de cuidados culturais de alto custo, como irrigação, controlo de granizo, etc.

Desvantagens do sistema de alta densidade

a) Altos custos de implantação;

b) Exige melhor preparação técnica;

c) O controlo fitossanitário deve ser mais rigoroso.

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6.5.2.2. Aramação e tutoragem

Aramação

Entende-se por aramação todos os materiais utilizados para o suporte físico da vegetação.

Esteios ou Postes

Os esteios são os suportes principais. Podem ser feitos de granito, lousa, cimento (geralmente designados por “esteios”), ou madeira e metal galvanizado (geralmente designados por “postes”).

Os 3 primeiros são os materiais mais antigos mas estão a ser abandonados porque, além de caros, são difíceis de transportar e colocar, partem-se com facilidade e não permitem a colocação de acessórios que hoje em dia existem no mercado e que facilitam muito os trabalhos posteriores.

Por esse motivo os principais suportes hoje utilizados são os postes de madeira ou metal galvanizado, pois são fáceis de manobrar e permitem o uso de acessórios.

O tamanho do esteio ou poste deve ser adaptado ao compasso e ao comprimento das linhas. Como a sua colocação deve ter em conta os alinhamentos, devem ser enterrados de modo a que a estrutura não ceda.

A distância entre os esteios ou postes é variável com os compassos na linha e o tipo de solo, não devendo ultrapassar os 7,5 metros.

A sua colocação pode ser manual ou mecânica, caso se tratem de postes de madeira ou galvanizados (recurso ao bate estacas).

As cabeceiras, ou seja, os topos dos bardos ou linhas, devem ser sempre em madeira, independentemente dos restantes materiais, visto que não parte ao toque do tractor.

Arames

Podem ser de vários tipos (zincados, galvanizados e plásticos). A sua escolha deve ter em conta a sua conservação e economia de manutenção (os galvanizados não ganham ferrugem).

O número de fiadas a colocar e a respectiva mobilidade deve ser definida tendo em conta o compasso e a forma escolhida para manter o pomar. O arame compra-se em função do seu número. Desta forma, quanto maior for o número do arame menor é o seu diâmetro, por exemplo um arame nº 13 é mais fino que um arame n.º 11.

Espias

São utilizadas nas cabeceiras das linhas com a função de manter os postes fixos, de modo a poder-se esticar convenientemente os arames.

É importante salientar que na vinha a colocação dos esteios e espias deve ser feita no ano da plantação, ficando a aplicação dos arames e acessórios condicionada ao período pós-enxertia.

Acessórios

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Gripple (Esticador de arame) Pragueta

Tutoragem

Após a plantação, deve fazer-se a tutoragem das plantas, para que a zona a enxertar ou já enxertada, mantenha a verticalidade, impedindo assim que o futuro tronco fique defeituoso bem como para proteger as plantas de eventuais acidentes.

Para a realização da tutoragem, pode-se recorrer a estacas de madeira previamente preparadas, ou seja, descarnadas e afiadas (normalmente de eucalipto), de ferro, ou mais recentemente a tubos de plástico, que também assumem um papel importante na diminuição das doenças causadas por fungos.

O material a utilizar na amarração das plantas deve ser degradável e suficientemente flexível para evitar o estrangulamento das mesmas. O ideal é que a árvore fique ligada ao tutor por uma amarração em 8 (oito).

Pormenor da amarração em 8 deitado

TUTORAGEM

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6.5.2.3. Poda de plantação

As plantas têm de ser previamente preparadas através de uma operação que se designa por poda de transplantação e que consiste em:

- Eliminar a parte aérea, deixando geralmente apenas um lançamento do ano, que será o mais bem inserido e vigoroso e que é atarracado à altura conveniente para a formação do sistema de condução desejado.

- Despontar o sistema radicular. O sistema radicular é despontado com maior ou menor intensidade, dependendo do tipo de plantação a realizar.

Plantação à cova ou covacho

Abertura, manual ou mecânica (recorrendo à broca), de um buraco com uma profundidade de 40 a 60cm. Esta forma de plantação tem como vantagens permitir que as raízes fiquem mais compridas, o que é muito importante, principalmente no que respeita à realização de plantações tardias, pois ficam maior quantidade de reservas e permite fazer uma adubação de fundo localizada.

Na plantação à cova, faz-se uma desponta ligeira, deixando a raiz com cerca de 10 cm, eliminando as raízes mais compridas e defeituosas.

Hidro-injector

Consiste na abertura de uma pequena cova,

Amarração em forma de 8 deitado

Tutor fixado abaixo da terra fofa da cova

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através do recurso a um aparelho simples, que consta da utilização simultânea da força do operador e de um jacto de água sob pressão, que provém de um pulverizador que é acoplado ao tractor. Na plantação com hidro-injector a desponta é mais severa, deixando a raiz com cerca de 3-5 cm.

6.5.2.4. Fertilização

Fertilização de instalação

Antes ou na altura da plantação do pomar é obrigatório proceder-se, sempre que recomendado pela análise de terra efetuada, a uma adequada fertilização do solo, com o objetivo de corrigir algumas das suas características físicas, químicas e ou biológicas. Ao melhorar a sua fertilidade, no sentido de a ajustar, tanto quanto possível, às exigências da cultura, serão proporcionadas condições mais favoráveis ao crescimento e desenvolvimento das árvores.

Aplicação de adubos

São proibidas aplicações de azoto, na forma de adubo mineral, na adubação de instalação, por se perder antes de ser utilizado pelas plantas, com o risco de contaminação de lençóis freáticos.

A aplicação de doses relativamente elevadas de fósforo não traz, geralmente, inconvenientes para as plantas, a menos que, e dependendo das características do solo, possam induzir carências de ferro ou de zinco.

A adubação potássica deverá ser efetuada tendo em consideração a textura do solo e a sua capacidade de troca catiónica. Assim, antes da plantação, não devem ser aplicadas quantidades de potássio superiores a 120 kg de K2O por hectare. Caso a recomendação de fertilização seja superior àquele valor, deverá o restante adubo ser aplicado após a plantação.

Salvo casos excecionais devidamente justificados, é proibido aplicar à instalação mais de 200 kg de P205 e 300 kg de K20, por hectare.

A adubação magnesiana far-se-á conjuntamente com a adubação fosfatada e a adubação potássica.

Quantidades de fósforo, de potássio e de magnésio recomendadas à instalação do pomar, consoante a classe de fertilidade do solo (kg/ha).

Classes de Fósforo Potássio Magnésio

fertilidade P2O5 K2O Mg

MB 200 300 60

B 150 225 45

M 100 150 30

A 50 50 15

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MA 0 0 0 Observações:

MB - muito baixa; B - baixa; M - média; A - alta; MA - muito alta

Aplicação de corretivos

Corretivos alcalinizantes

As fruteiras beneficiam com a realização da calagem, especialmente quando o pH do solo se situa abaixo de 5,5. A aplicação de corretivos alcalinizantes, ao elevar o pH do solo, permite não só melhorar as condições de absorção de diversos nutrientes essenciais, como o fósforo, potássio, cálcio e magnésio, mas também melhorar a estrutura do solo e favorecer a sua atividade microbiana.

Sempre que a calagem seja necessária e os teores de magnésio no solo sejam baixos (inferiores a 61ppm de Mg), deve-se aplicar calcário magnesiano. Esta é a fonte mais económicas de magnésio, mas também a de efeito mais duradouro.

Corretivos orgânicos

A matéria orgânica desempenha um papel muito importante nas características físicas, químicas e biológicas do solo, contribuindo grandemente para a sua fertilidade.

Aconselha-se a sua aplicação sempre que os teores sejam inferiores a 1,0 %, em pomares de sequeiro e 1,5 % em pomares de regadio. Esta aplicação é obrigatória em solos de textura grosseira com teores de matéria orgânica inferiores a 1,6%.

A aplicação de corretivos orgânicos é obrigatória para um nível muito baixo ou baixo de matéria orgânica no solo, sempre que o valor de pH seja inferior a 6,0 e o teor de cobre extraível superior a 20mg/kg.

Se for necessário aplicar corretivos orgânicos, deve ser dada prioridade àqueles que tenham origem nas explorações agro-pecuárias, devendo os estrumes ser bem curtidos. Estes corretivos deverão ser, sempre que possível, previamente analisados, para que a sua composição nos diversos nutrientes possa ser devidamente considerada no programa de fertilização.

Em Produção Integrada são proibidos, à instalação do pomar, aplicações superiores a 30 t por hectare de estrume de bovino bem curtido, ou quantidade equivalente de outro corretivo orgânico permitido.

Técnica de aplicação dos fertilizantes

A aplicação dos fertilizantes, incluindo os corretivos orgânicos, deve ser efetuada após a sistematização do terreno ou após as obras de drenagem, quando efetuadas. Recomenda-se que a sua distribuição seja feita a lanço, incorporando metade a um terço das quantidades recomendadas com a mobilização profunda e o restante com a regularização do terreno.

Sempre que a mobilização profunda seja desaconselhada, os fertilizantes poderão ser espalhados à superfície e incorporados com a intervenção mais adequada. No caso da aplicação dos fertilizantes em bandas coincidentes com as linhas de árvores a plantar, as quantidades indicadas no Quadro da página anterior deverão ser proporcionalmente reduzidas, considerando a área das bandas ou faixas a fertilizar.

A aplicação dos fertilizantes (adubos e corretivos) não deve ser efetuada em períodos chuvosos.

Fertilização após a instalação

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A fertilização do pomar deverá ter em consideração não apenas as necessidades de nutrientes relativas à produção de frutos, mas, também, as referentes ao crescimento e formação das árvores.

A partir da entrada em plena produção, a fertilização a praticar visa, em condições normais, a restituição ao pomar das quantidades de nutrientes que ele vai perdendo, em especial através das colheitas, e será orientada, especialmente, pelos resultados da análise foliar e pelas produções esperadas. São ainda ponderados os resultados das análises de terra, os resultados das amostras de água (em pomares regados), bem como os da análise de frutos.

Sempre que se proceda à instalação de um coberto vegetal permanente na entrelinha, recomenda-se, uma fertilização dirigida ao mesmo, que deverá ser fundamentada em análise de amostra terra colhida à profundidade de 0 - 0,2 m.

Recomenda-se que este coberto vegetal seja composto por uma mistura equilibrada de espécies de gramíneas e de leguminosas. Independentemente da composição da mistura a instalar, a quantidade de azoto a aplicar para o efeito não deverá ultrapassar os 40 kg por hectare.

Para a manutenção do coberto vegetal na entrelinha, a quantidade anual de azoto a aplicar não deverá, igualmente, exceder os 40 kg por hectare, devendo ser reduzida à medida que as espécies leguminosas se vão tornando dominantes.

Unidade de amostragem

Com o objetivo de otimizar a fertilização do pomar através da observação e controlo do estado de nutrição de um número reduzido de árvores, há que proceder, obrigatoriamente, da seguinte forma:

• Dividir o pomar, recém instalado ou em produção, em frações homogéneas no que respeita ao tipo de solo, topografia, exposição, cultivar e porta-enxerto, idade e técnicas culturais anteriormente aplicadas;

• Em cada uma destas frações marcar ao acaso pelo menos 15 árvores, que passarão a estar identificadas de forma permanente. Cada conjunto de 15 ou mais árvores, assim identificadas, constituirá uma unidade de amostragem, onde serão efetuadas, periodicamente, colheitas de amostras de folhas e de terra para análise;

• Fazer um esquema do pomar, ou fração deste, onde figurem as 15 árvores marcadas, em que existam referências (estradas, poços, casas, postes, etc.) que permitam localizá-las rapidamente, mesmo em caso de perda das respetivas marcações.

Cada unidade de amostragem não deve ser representativa de mais de cinco hectares de pomar nas condições atrás descritas.

A partir da entrada em produção deve-se proceder anualmente à análise foliar de amostras colhidas nas árvores que constituem a unidade de amostragem.

É igualmente obrigatório proceder à análise de terra (no outono/inverno), de quatro em quatro anos.

Fertilização azotada

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A partir do primeiro ano podem-se aplicar doses crescentes de azoto.

Até à entrada em produção efetiva, a aplicação do adubo azotado deve fazer-se de forma fraccionada. Se o pomar é regado por gravidade, o adubo pode ser aplicado por duas vezes, em partes iguais, uma na primavera e outra no verão, no caso de solos de textura média ou fina. No caso de solos arenosos, devem ser efetuadas duas aplicações na primavera e duas no verão.

As quantidades de fertilizantes a aplicar durante o período de formação das árvores serão geralmente menores e nesta fase os adubos devem ser aplicados durante a primavera e o verão, de forma a tirar partido das épocas do ano em que se verifica maior capacidade de absorção radicular.

Em fertirrigação utiliza-se o mesmo princípio do fracionamento, embora este possa ser maior, sendo que as quantidades de azoto recomendadas devem ser aplicadas, quando exista produção, preferencialmente, entre o abrolhamento e o fim da fase de multiplicação celular que, geralmente, corresponde a frutos com cerca de 15mm de diâmetro (em regra, quatro a cinco semanas após a floração).

No cálculo das quantidades de azoto a aplicar, é obrigatório considerar as quantidades do nutriente fornecido pela água de rega.

Deve ser tida igualmente em conta as quantidades de azoto fornecidas pela matéria orgânica do solo. Cada 1% de matéria orgânica existente no solo fornece por ano cerca de 30kg de Azoto/hectare.

O azoto é o nutriente que pode causar mais problemas ambientais. A fertilização azotada deverá, por isso, merecer um especial cuidado, não só no que respeita às doses a aplicar, que devem ser apenas as estritamente necessárias, mas, também, no que se refere às épocas de aplicação, que deverão ser aquelas que conduzam a um melhor aproveitamento do azoto pelas árvores.

Fertilização com fósforo, potássio e outros nutrientes

O fósforo, o potássio e o magnésio poderão ser fornecidos através de uma aplicação no início da primavera, espalhando os adubos em volta das árvores e incorporando-os com uma mobilização superficial do solo com este em estado de sazão.

Sempre que as amostras de terra, colhidas antes da instalação do pomar, revelem teores baixos de boro, dever-se-á proceder à sua aplicação ao solo, após a plantação. Pode, assim, aplicar-se 0,5 a 1,5 kg de boro (B) por hectare, se possível através de pulverização ao solo, para permitir a sua distribuição homogénea.

Só em situações especiais, em que seja muito difícil corrigir carência por via radicular (ex: raízes danificadas, entre outras) as aplicações de macro e micronutrientes serão feitas por via foliar.

A avaliação do estado de nutrição do pomar em produção é efetuada anualmente através dos resultados da análise foliar feitas em folhas adultas, inteiras, sãs, colhidas no terço médio dos lançamentos do ano, na época usual de colheita.

Modo de aplicação dos fertilizantes

Aplicação dos fertilizantes em pomares de sequeiro ou com rega tradicional

No caso do fósforo, as aplicações deverão ser efetuadas fora do ciclo vegetativo (entre a colheita e a rebentação), em períodos sem chuva, quando o estado de humidade do solo o permitir, incorporando o adubo no terreno com a mobilização adequada.

As aplicações de potássio e de magnésio, sempre que recomendadas, deverão ser realizadas simultaneamente com as de fósforo. No entanto em solos de textura ligeira, recomenda-se que o potássio seja aplicado no final do inverno, juntamente com o azoto.

Em solos de textura média ou fina, o fósforo e o potássio podem ser aplicados de forma localizada. Neste caso, e particularmente nos pomares de sequeiro, é recomendável que a aplicação destes

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nutrientes seja feita de três em três, ou de quatro em quatro anos, aplicando de cada vez as quantidades suficientes para aquele período. Estas aplicações localizadas deverão ser efetuadas em linhas alternadas, de forma a diminuir o efeito negativo dos danos causados pela mobilização do solo no sistema radicular das árvores.

A aplicação de micronutrientes ao solo, quando necessária, deve ser feita até meados de março. Em solos calcários, a eficácia das aplicações ao solo de ferro, manganês e zinco é reduzida, pelo que é conveniente que as mesmas se efetuem sob a forma de quelatos, especialmente se veiculados na água de rega. Sempre que tal se justifique, podem também ser aplicados por via foliar.

Recomenda-se a aplicação ao solo de corretivos orgânicos, à razão de 20 a 30 t por hectare, de dois em dois ou de três em três anos, sempre que o resultado da análise de terra o aconselhe. A sua aplicação, tal como de corretivos minerais, deverá ter lugar entre a colheita e a rebentação, evitando períodos chuvosos, espalhando o corretivo uniformemente sobre o terreno e incorporando-o, logo de seguida, através de uma mobilização superficial. Os períodos de enterramento após o seu espalhamento são, obrigatoriamente, de um máximo de 24 horas para o estrume e de quatro horas para o chorume.

Aplicação dos fertilizantes em pomares com fertirrega

As doses recomendadas de fósforo, tal como as de azoto, devem ser aplicadas entre o abrolhamento e o fim da fase de multiplicação celular que, geralmente, corresponde a frutos com cerca de 15mm de diâmetro (em regra, quatro a cinco semanas após a floração). As aplicações de potássio poderão ser aplicadas até mais tarde.

A administração dos fertilizantes através da água de rega só deverá iniciar-se depois de se ter aplicado um quarto a um quinto da dotação de rega e deverá cessar quando faltar apenas 10 a 20 % da água a aplicar.

Dado que a aplicação de fertilizantes, nomeadamente azotados, através da água de rega, aumenta a sua eficiência, recomenda-se uma redução de 25 % a 50 % das quantidades indicadas para cada situação.

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6.5.2.5. Rega

As regiões tradicionalmente produtoras de frutas de todo o mundo utilizam a irrigação como um fator de produção importante para garantir a produtividade e a qualidade dos frutos. Os sistemas de irrigação disponíveis permitem que se tenham projetos eficientes, com economia hídrica e permitindo que sejam aplicados os fertilizantes através da água de irrigação, a chamada fertirrigação.

A fertirrigação é o processo pelo qual os fertilizantes são aplicados junto com a água de rega. Esta prática converteu-se em rotina e é um componente essencial dos modernos sistemas de irrigação. Nestes sistemas são aplicados os macro e micronutrientes para as fruteiras, para isso é necessário que os mesmos sejam solúveis em água.

Recomenda-se que o pomar seja regado, exceto em condições muito particulares em que o lençol freático permita a ascensão capilar da água até à zona das raízes. A primeira rega deverá ter lugar logo após a plantação. A rega de plantação é indispensável para obter uma rebentação homogénea e reduzir as falhas de plantação.

Os terrenos deverão ter bom escoamento superficial de águas ou um sistema de drenagem adequado, para evitar o encharcamento prolongado após a ocorrência de fortes precipitações.

Na seleção do sistema de rega, deve ter-se em conta o tipo de solo, o declive e a sensibilidade das espécies e cultivares a doenças radiculares, que desaconselhem o humedecimento do tronco das árvores, durante a referida operação.

Recomenda-se que a definição dos setores de rega tenha em consideração a variação da fertilidade do solo nas diferentes parcelas e as necessidades hídricas da cultura.

Em solos de textura ligeira (arenosa e franco-arenosa) é proibida a rega por gravidade; nos restantes tipos de solo a rega pode efetuar-se através de sulcos ou caldeiras, por gravidade, desde que não provoque erosão do solo.

A rega localizada por mini-aspersão consegue uma alimentação hídrica regular das árvores, possibilita a fertirrega e o trabalho do solo na linha. No entanto, a água é mais facilmente arrastada pelo vento, podendo ocorrer perdas significativas por evaporação e favorecer as doenças do colo das árvores.

A rega gota-a-gota é a que permite melhor eficiência. Com este sistema deve-se antecipar um pouco o começo das regas, sem esperar que a humidade do solo se aproxime dos limites críticos.

Dado que o sistema radicular das fruteiras em plantações regadas não é muito profundo, toma-se necessário garantir uma boa fixação da árvore ao solo. o que obriga a que os dispositivos de distribuição da água sejam colocados a alguma distância do tronco, promovendo o bom desenvolvimento das raízes na horizontal e, desta forma, também a sua fixação. Este procedimento contribui igualmente para a prevenção de doenças radiculares, a que muitos porta- enxertos são sensíveis. Os sistemas de mini-aspersão devem, assim, ser utilizados com precaução, evitando que durante a rega o tronco seja humedecido.

Os sistemas de distribuição da água deverão ser mantidos em bom estado de conservação, a fim de evitar perdas de água. Sempre que através do sistema de rega se faça a aplicação de fertilizantes fitofármacos é obrigatório a instalação de uma válvula anti retorno.

As dotações de rega e a frequência das mesmas deverão estar de acordo com a precipitação, a capacidade de retenção de água do solo e a evapotranspiração local, a fim de evitar perdas de água em profundidade e a consequente lixiviação de nutrientes. As regas desequilibradas, com grandes períodos sem fornecimento de água, podem ser prejudiciais às árvores e à qualidade dos frutos, quer na árvore quer após colheita, durante a sua conservação.

A rega localizada, especialmente a gota-a-gota, permite uma redução de cerca de 30% nas dotações de rega a aplicar.

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Sempre que exista disponibilidade de água é recomendável que a rega se prolongue após a colheita, até ao final do verão.

Controlo de humidade do solo

É recomendada a utilização de dispositivos de controlo de humidade do solo, de forma a racionalizar a utilização de água. O mesmo pode ser realizado através de diversos equipamentos, tais como sondas ou tensiómetros.

Nos pomares devem-se colocar dois tensiómetros, a diferentes profundidades, em cada ponto a controlar.

O tensiómetro mais superficial informa-nos sobre a quantidade de água disponível para a planta e deve ser colocado a 10cm do gotejador.

O tensiómetro mais profundo serve para sabermos as perdas de água que existem e como a água se infiltra no perfil do solo, isto é, se chega a todas as raízes, quer em profundidade, quer lateralmente.

O número e a posição desses equipamentos numa parcela diferem de acordo com as características do solo.

Idealmente não devem ser retirados do solo durante toda a época de rega. No entanto, é conveniente mudá-los de lugar a cada 2 anos.

Recomenda-se que a tensão de água no solo seja mantida entre os 5 e os 30 centibares ou, quando a evaporação é muito elevada (junho - agosto), entre os 5 e os 20 centibares.

Qualidade da água de rega

É obrigatória a análise da água de rega de quatro em quatro anos, salvo nos casos em que os resultados analíticos da amostra anterior apresentem valores de alguns parâmetros que excedam os limites máximos recomendados, caso em que é obrigatória a monitorização daqueles parâmetros anualmente, durante o período de rega.

Recomenda-se a não utilização de águas cuja condutividade elétrica seja superior a 3 dS/m; a razão de adsorção de sódio ajustada deverá ser inferior a nove e a concentração de iões cloreto inferior a 355mg/l. Também não é aconselhável a utilização de águas com concentrações de boro superiores a 0,75 mg/l.

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- Peixe, Augusto, 2005 “Arboricultura I”, Universidade de Évora

- Vários, “Vitivinicultura – Manual do Formando”. IEFP

- Revista “Voz do Campo”, Nov./Dez 2010, pag. 31 e 32

www.dgadr.mamaot.pt/mediateca (Normas Técnicas para a Produção Integrada e outros documentos)

www.cpact.embrapa.br/publicacoes/download/livro/fruticultura_fundamentos_pratica/4.4.htm (José

Carlos Fachinello, Jair Costa Nachtigal & Elio Kersten)

www.infovini.com

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http://contamaisconsultoria.wordpress.com/ - “Condução e poda de mirtilo_reformulado”

http://www.cothn.pt

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