fonte de financiamento no terceiro setor

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Fontes de Financiamento Terceiro Setor: Análise Evolutiva 2000 2009 na Pastoral da Criança 124 CAP Accounting and Management -Número 06 Ano 06 Volume 6 2012 Publicação Anual FONTES DE FINANCIAMENTO TERCEIRO SETOR: ANÁLISE EVOLUTIVA 2000 2009 NA PASTORAL DA CRIANÇA Autores Filiação Email Simone Bernardes Voese UFPR [email protected] Leila Lucia Arruda UFPR [email protected] Ana Paula M. S. Cherobim UFPR [email protected] Direitos de cópia - creative commons. Recebido em: 24/10/2012 Aprovado em: 31/10/2012 Disponibilização no site 06/12/2012 Páginas: 124 - 138 ID do artigo 1583 Editor Científico: Prof. Dr. Osni Hoss, Ph.D. RESUMO A ordem sócio-política, até o final do século XX, estava dividida em dois setores distintos - o público e o privado, ou seja, o Estado e o mercado. Porém, devido a problemas enfrentados decorrentes da desigualdade social e incapacidade do Estado de suprir as necessidades básicas da população, surgem ações para redução das disparidades sociais e econômicas, por meio do surgimento do terceiro setor. Neste sentido, a sociedade passa a ser dividida em três setores Estado (Primeiro), o Mercado (Segundo) e o Terceiro Setor, composto por entidades civis sem fins lucrativos e não governamental que visam à necessidade coletiva. Todavia, é importante ressaltar que essas instituições têm dificuldade na captação de recursos para financiar seus projetos. Neste contexto, este artigo tem como objetivo verificar a evolução das fontes de financiamento na Coordenação Nacional da Pastoral da Criança, sediada na cidade de Curitiba, Estado do Paraná, classificada como organização do terceiro setor. A abordagem metodológica é predominantemente qualitativa, e o estudo foi desenvolvido mediante estudo de caso, bem como foram utilizadas para tratamento dos dados a análise de conteúdo e documental. A validação dos achados é feita por múltiplas evidências: revisão teórica, entrevistas, análise das informações contábeis e pesquisa documental. Conclui-se que os acordos de parceria provenientes de instituições privadas são as principais fontes de captação de recursos, que em volume financeiro os principais parceiros são os agentes públicos e, ainda que o terceiro setor também se auto financia. Palavras-Chave: Terceiro Setor. Fonte de Financiamento e Captação de Recursos 1 INTRODUÇÃO A ordem sócio-política, até o final do século XX, estava dividida em dois setores com características distintas: o setor público e o privado. O público, representado pelo Estado e organismos interligados que defendem o interesse público. Em

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  • Fontes de Financiamento Terceiro Setor: Anlise Evolutiva 2000 2009 na Pastoral da Criana

    124 CAP Accounting and Management -Nmero 06 Ano 06 Volume 6 2012 Publicao Anual

    FONTES DE FINANCIAMENTO TERCEIRO SETOR: ANLISE EVOLUTIVA 2000 2009 NA PASTORAL DA CRIANA

    Autores Filiao Email

    Simone Bernardes Voese UFPR [email protected]

    Leila Lucia Arruda UFPR [email protected] Ana Paula M. S. Cherobim UFPR [email protected]

    Direitos de cpia - creative commons. Recebido em: 24/10/2012 Aprovado em: 31/10/2012

    Disponibilizao no site 06/12/2012 Pginas: 124 - 138 ID do artigo 1583 Editor Cientfico: Prof. Dr. Osni Hoss, Ph.D.

    RESUMO

    A ordem scio-poltica, at o final do sculo XX, estava dividida em dois setores distintos - o pblico e o privado, ou seja, o Estado e o mercado. Porm, devido a problemas enfrentados decorrentes da desigualdade social e incapacidade do Estado de suprir as necessidades bsicas da populao, surgem aes para reduo das disparidades sociais e econmicas, por meio do surgimento do terceiro setor. Neste sentido, a sociedade passa a ser dividida em trs setores Estado (Primeiro), o Mercado (Segundo) e o Terceiro Setor, composto por entidades civis sem fins lucrativos e no governamental que visam necessidade coletiva. Todavia, importante ressaltar que essas instituies tm dificuldade na captao de recursos para financiar seus projetos. Neste contexto, este artigo tem como objetivo verificar a evoluo das fontes de financiamento na Coordenao Nacional da Pastoral da Criana, sediada na cidade de Curitiba, Estado do Paran, classificada como organizao do terceiro setor. A abordagem metodolgica predominantemente qualitativa, e o estudo foi desenvolvido mediante estudo de caso, bem como foram utilizadas para tratamento dos dados a anlise de contedo e documental. A validao dos achados feita por mltiplas evidncias: reviso terica, entrevistas, anlise das informaes contbeis e pesquisa documental. Conclui-se que os acordos de parceria provenientes de instituies privadas so as principais fontes de captao de recursos, que em volume financeiro os principais parceiros so os agentes pblicos e, ainda que o terceiro setor tambm se auto financia. Palavras-Chave: Terceiro Setor. Fonte de Financiamento e Captao de Recursos

    1 INTRODUO

    A ordem scio-poltica, at o final do sculo XX, estava dividida em dois setores com caractersticas distintas: o setor pblico e o privado. O pblico, representado pelo Estado e organismos interligados que defendem o interesse pblico. Em

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    contraponto, o setor privado, caracterizado pelo mercado, representado pelas empresas com finalidades lucrativas.

    Todavia, devido a problemas enfrentados em face da desigualdade social e geradas a partir da industrializao e da incapacidade do Estado de suprir as necessidades bsicas da populao, surgem aes para reduo das disparidades sociais e econmicas. Essas aes ocorreram por meio da mobilizao de indivduos solidrios que, mediante a organizao e constituio de entidades, fizeram desencadear o surgimento do terceiro setor.

    O desenvolvimento desse Setor, conforme Sandrin et al.(2009), ocorreu devido, incapacidade do Estado de suprir a populao de recursos bsicos; diversas pessoas se sensibilizaram e buscaram maneiras de mudar as perspectivas futuras para o pas. Uma das maneiras encontradas para tal foi a solidariedade, ou seja, o suprimento de necessidades do pas por meio de recursos doados por voluntrios.

    Sobre as primeiras organizaes sem fins lucrativos, pode-se destacar, no perodo da colonizao, a criao das Santas Casas amparadas pela coroa portuguesa, e atuando na rea de prestao de servios de sade aos necessitados. Assim, a primeira instituio beneficente, fundada em 1543 por Braz Cubas, foi a Santa Casa de Misericrdia de Santos mantida pela Igreja Catlica (MILANI FILHO 2009).

    Dessa forma a sociedade civil brasileira, passou a ser divida em trs setores. Assim tem-se o pblico representado pelo Estado, o privado pelas empresas lucrativas e o terceiro setor caracterizado pelas organizaes no governamentais e/ou sem fins lucrativos, consideradas de interesse pblico. Porm, no Brasil, somente em 1999, esse setor tem seu marco histrico com a regulamentao da Lei n. 9.637, de 15 de maio de 1998, e a Lei n. 9.790, de 23 de maro de 1999. Conforme Costa, Penalva e Leite (2004), com a presso por parte das ONGs, novas leis para abonos fiscais foram institudos pelo Estado, instigando as empresas a realizarem doaes para o terceiro setor.

    Em 1999 com a vigncia da Lei n 9790, de 19 de janeiro de 1999, foi definida a qualificao de OSCIPS Organizaes das Sociedades Civis de Interesse Pblico. Essa qualificao concedida pelo Ministrio Pblico para organizao sem fins lucrativos que tenham interesse e se enquadrem nos dispositivos da lei, possibilitando, assim, a realizao de termos de parceira com rgos pblicos. Esse fato caracterizou um novo marco no contexto do terceiro setor.

    Esse setor tambm pode ser entendido e caracterizado pelo NO, pois, no pblico, no privado e no tem fins lucrativos. Outra individualidade a heterogenia que, devido s instituies que o compem terem finalidades diversas, dificulta o consenso de informaes e, por conseguinte, da contabilidade. Ponto relevante que os modelos utilizados na contabilidade foram elaborados assumindo preceitos pertinentes ao primeiro e segundo setores. Assim, foi necessrio fazer adaptaes da contabilidade desses setores para as organizaes que compem o terceiro setor. Segundo Sandrin et al. (2009), As entidades do terceiro setor devem controlar receitas, custos e despesas como as entidades do segundo setor. Entretanto, deve-se ponderar que nem todos os benefcios gerados para a comunidade podem ser mensurveis economicamente e ainda, nem sempre; o resultado fruto de receitas e despesas.

    Um dos pontos adotados pela contabilidade, principalmente a que rege o setor privado, refere-se origem dos recursos ou fontes de financiamento. As fontes de financiamento designam o conjunto de capitais internos e externos organizao,

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    utilizados para financiamento dos investimentos realizados. No caso do terceiro setor essas fontes no seguem o mesmo preceito de gerao de receitas e despesas, porm geram benefcios sociais sociedade, difceis de mensurar, visto que o escopo dessas instituies minimizar a desigualdade social.

    Diante desse contexto surge como questo norteadora de pesquisa: Qual a evoluo das fontes de financiamento utilizadas pelo terceiro setor na Pastoral da Criana de Curitiba entre os anos de 2000 a 2009?

    O objetivo deste trabalho verificar a evoluo das fontes de financiamento na Coordenao Nacional da Pastoral da Criana, sediada na Cidade de Curitiba, organizao filantrpica do terceiro setor, evidenciadas nas demonstraes contbeis entre os anos de 2000 a 2009.

    Pretende-se que este trabalho contribua para o meio acadmico tendo em vista a singularidade de material existente nessa rea, do terceiro setor e a necessidade de disseminao de informaes nesta rea de conhecimento. A contribuio para a sociedade fica explcita ao demonstrar a importncia da parceria pblico-privada com o terceiro setor, em prol de aes que mobilizam a comunidade em busca do resgate da cidadania.

    Este artigo est estruturado em cinco sees: a parte introdutria, seguida do referencial terico sobre o terceiro setor, fontes de financiamento; a terceira seo trata da metodologia de pesquisa utilizada; na quarta so evidenciados os resultados obtidos e, por fim, as consideraes finais.

    2 REVISO TERICA

    O embasamento terico necessrio para desenvolvimento do tema envolve: conceituar o terceiro setor, compreender as fontes de financiamento e diferenciar as fontes tradicionais daquelas especficas para o terceiro setor e verificao de uma unidade para a conferncia das fontes de financiamento.

    2.1 Terceiro setor

    Com o crescimento da sociedade e a busca por melhores condies sociais, destacam-se grupos de pessoas que se unem para a realizao de aes sociais em favor do prximo, tentando suprir necessidades coletivas. Essas pessoas se organizaram em entidades e surge o que se denomina de terceiro setor.

    O terceiro setor, segundo Paes (2006), definido como aquele que no pblico e tampouco privado. Contudo, considera-se que exista uma relao simbitica entre ambos, na medida em que deriva sua prpria identidade da conjuno entre metodologia da rea privada com as finalidades da rea pblica.

    Sobre o surgimento do terceiro setor, Teixeira (2001) afirma que as grandes mobilizaes em prol da melhoria social esto perdendo fora, principalmente naquilo que se refere ao fracasso do Estado em lidar com as questes sociais. Assim verificou-se a necessidade de redefinir as formas de atuao na busca de sucesso nesse direcionamento.

    Segundo Moraes (2008), o terceiro setor uma verso mais eficiente da prtica da caridade, mas considerado como um promovedor de mudanas na qualidade de vida de pessoas socialmente carentes. Essa mudana pode resultar e proporcionar condies delas competirem no mercado de trabalho, bem como de contribuir para a

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    insero e facilitao do convvio social. O universo do terceiro setor, no mundo ou no Brasil, composto por um

    elevado nmero de organizaes que tem como caracterstica marcante a heterogeneidade. Ressaltam Fischer e Falconer (1998, p.12) que: O terceiro setor foi se ampliando sem que esse termo, usado para design-lo, seja suficientemente explicativo da diversidade de elementos componentes do universo que abrange.

    Segundo Paes (2006, p. 131), o terceiro setor compe-se de entes coletivos, pessoas jurdicas de direito privado, configurados, de acordo com o Cdigo Civil Brasileiro, em associaes civis e fundaes de direito privado. Colabora Zanluca (2006, p. 19) afirmando que o terceiro setor constitudo por organizaes sem fins lucrativos e no governamentais, que tm como objetivo gerar servios de carter pblico.

    Fundamentalmente essas instituies, sejam fundaes ou associaes, sobrevivem tambm a partir de recursos prprios e provenientes das receitas de doaes, mas tambm de contratos e convnios firmados com o poder pblico, com agncias de fomento e com instituies privadas, que vislumbram novas oportunidades de parceria.

    2.2 Fontes de Financiamento

    De acordo com Saito et al. (2008, p. 41):

    A estrutura de capital est diretamente relacionada s fontes de financiamento da empresa, que se dividem em dois grandes grupos: o capital prprio, representado pelos recursos que os acionistas aplicaram na empresa, e o capital de terceiros, que so constitudos por diferentes formas de endividamento a longo prazo.

    As entidades do setor privado, para financiar suas atividades necessitam de capitais prprios e de terceiros. No que se refere a capital prprio alude-se ao patrimnio lquido, gerado pela reteno de lucros, constituio e aumento de capital. Observa-se que o capital prprio pertence aos acionistas e podem estar registrado de vrias formas (SAITO et al. 2008).

    Segundo Lemes Jnior et al. (2010), o aumento do capital prprio ocorre mediante a autogerao de recursos e reinvestimento na empresa, pela subscrio e integralizao de capital social ou pela emisso de aes, no caso de empresas de capital aberto, ofertadas na Bolsa de Valores.

    Quando se trata de capital de terceiros busca-se a anlise e a referncia ao endividamento da empresa, avaliando a origem dos recursos junto a terceiros. Nesse contexto necessrio fazer uma anlise do montante de recurso, do prazo de pagamento e dos encargos financeiros incidentes. De acordo com o tipo de origem de recursos, o capital de terceiros pode ser classificado como crdito comercial e crdito financeiro.

    De acordo com Lemes Jnior et al. (2010), o crdito comercial decorrente de negociaes entre a empresa e seus fornecedores. Pode ter origem por meio de fontes, como crdito de fornecedores, de impostos e obrigaes sociais e outros crditos operacionais. J o crdito bancrio representado pelas chamadas operaes de emprstimo e pode ser feito por bancos comerciais. Tambm, existem empresas de factoring, capazes de suprir recursos em curto prazo, porm no so

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    consideradas instituies financeiras.

    2.3 Fontes de Financiamento no Terceiro Setor

    Nas entidades que compem o terceiro setor as decises financeiras no seguem a tica de maximizao da riqueza do acionista, mas como precisam de recursos para o desenvolvimento das atividades acabam seguindo teorias que sustentam a gesto financeira.

    Assim essas entidades precisam captar recursos para o financiamento das atividades, que podem ser de vrias formas. Para Paes (2006), a captao de recursos mediante incentivos fiscais so formas de participao do poder pblico, das empresas e das pessoas fsicas. Alm dessa forma de captao, tambm pode ocorrer por meio de apoios, patrocnio, auxlios, subvenes, contribuies, assistncia governamental, e so observadas nas organizaes sem fins lucrativos.

    Destarte, Olak e Nascimento (2009, p.31) afirmam que as subvenes constituem-se na maior fonte de receita para muitas entidades sem fins lucrativos. mediante estes recursos que muitas entidades conseguem cumprir suas finalidades sociais. A destinao desses recursos diversa, desde o pagamento da folha de pessoal, aquisio de material de consumo, at a aplicao em novos investimentos.

    No tocante s contribuies so, conforme Zanluca (2006), as transferncias derivadas da lei oramentria e concedidas por entes governamentais a autarquias e fundaes e a entidades sem fins lucrativos, destinadas aplicao em custeio e manuteno destas, sem contrapartida direta do beneficirio dos recursos em bens e servios ou determinadas por lei anterior, para o atendimento de servios ou inverses financeiras.

    O Pronunciamento Tcnico, do CPC, n. 07, em harmonizao com as Normas Internacionais de Contabilidade, IAS 20 (IASB), traz as definies de Assistncia Governamental e Subveno Governamental, que so idnticas s que constam no item 3 da NBC T 19.4, aprovada pela Resoluo CFC 1.143/08:

    Assistncia governamental a ao de um governo destinada a fornecer benefcio econmico especfico a uma entidade ou a um grupo de entidades que atendam a critrios estabelecidos. No inclui os benefcios proporcionados nica e indiretamente por meio de aes que afetam as condies comerciais gerais, tais como o fornecimento de infra-estruturas em reas em desenvolvimento ou a imposio de restries comerciais sobre concorrentes.

    Subveno governamental uma assistncia governamental geralmente na forma de contribuio de natureza pecuniria, mas no s restrita a ela, concedida a uma entidade normalmente em troca do cumprimento passado ou futuro de certas condies relacionadas s atividades operacionais da entidade. No so subvenes governamentais aquelas que no podem ser razoavelmente quantificadas em dinheiro e as transaes com o governo que no podem ser distinguidas das transaes comerciais normais da entidade.

    Por fim, destaca-se, que dentre as fontes de financiamento do terceiro setor, considera-se como doao a transferncia gratuita em carter definitivo, pessoa fsica ou pessoa jurdica de natureza cultural, sem fins lucrativos, de numerrio, bens ou servios, para a realizao de projetos culturais, vedado o uso de publicidade paga para a divulgao deste ato (PAES, 2006, p. 674).

    Esclarece-se que as fontes de recursos, sejam elas prprias ou decorrentes de

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    doaes, subvenes ou contribuies, devem ser bem controladas, a fim de manter transparncia dos recursos recebidos. Nesse sentido colabora Zanluca (2006), afirmando que tais fontes devem ser registradas em contas prprias, segregadas das demais contas da entidade.

    Alm disso, a organizao tambm precisa prestar contas da destinao dos recursos junto aos seus mantenedores e agentes financiadores. Assim, para Campos (2003), o aumento do volume dos recursos arrecadados pelas entidades sem fins lucrativos deve ser acompanhado por uma maior necessidade de transparncia quanto sua aplicao.

    De acordo com Carvalho (2000), nos ltimos anos foi nitidamente percebido a melhoria da imagem do Brasil no exterior, pas emergente e prspero. Se, por um lado, pode ter trazido vantagens na atrao de capital estrangeiro, por outro lado se mostrou nefasto para o fluxo de doaes de organismos internacionais para as ONGs brasileiras. Diante da prosperidade alardeada do Brasil os vultosos investimentos nos projetos do Terceiro Setor migraram para a Amrica Central e principalmente para o continente africano.

    Apesar da perda do mpeto nos financiamentos internacionais, aumentou a contribuio pblica nas organizaes do terceiro setor. Seja por meio de recursos ou por abonos fiscais, e por consequncia as empresas privadas veem financiar as organizaes do terceiro setor. Domingos (2007) esclarece que foram repassados pelo Governo Federal em 2006, s organizaes no governamentais e OSCIPS, cerca de R$ 3 bilhes de reais, o que corresponde a 1,29% do PIB nacional.

    3 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS

    A abordagem desta pesquisa predominantemente qualitativa, em que o objeto de estudo no reduzido e as variveis so estudadas, na totalidade e na complexidade. Conforme Martins e Thephilo (2009, p. 141), a pesquisa qualitativa tem como preocupao central descries, compreenses e interpretaes dos fatos ao invs de edies. No entanto, ao tratar os dados com a estatstica descritiva se tem como preocupao a mensurao, e onde os dados so filtrados, organizados e tabulados para anlise e interpretao. Por isso classifica-se tambm como pesquisa quantitativa.

    De acordo com Cherobim, Silveira e Martins (2003) os problemas administrativos que ocorrem em realidades difusas, ainda pouco estudadas, como o caso das organizaes do terceiro setor, em especial em seus aspectos financeiros (foco desse estudo), no podem ser abordados a partir de mtricas quantitativas, buscando relaes de causalidade como exige o rigor metodolgico proposto por Comte (1988) e Durkheim (1987). As realidades administrativas pouco exploradas demandam estudos investigatrios para compreender e interpretar o curso dos acontecimentos e seus efeitos, conforme Weber (1992).

    Na dimenso do tempo considerado um estudo longitudinal, que conforme Cooper e Schindler (2003, p. 129) a vantagem que ele pode acompanhar mudanas com o decorrer do tempo), e esta pesquisa apresenta a evoluo das fontes de financiamento da Pastoral da Criana no perodo de 2000 a 2009. Tambm utiliza-se a pesquisa de campo, visto que pode ser o nico modo de entender verdadeiramente as relaes entre as variveis e as consequncias das prticas em contabilidade gerencial (ITTNER E LARCKER 2002).

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    Quanto aos procedimentos para coleta e tratamento dos dados fez-se uso primeiramente de uma pesquisa bibliogrfica que, conforme Beuren et al.(2008, p. 87), abrange todo o referencial j tornado pblico em relao ao tema de estudo, desde publicaes avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, dissertaes, teses, entre outros. Tambm sustentou esse estudo a pesquisa documental que, de acordo com Fachin (2006 p.146), consiste na coleta, classificao, seleo difusa e utilizao de toda a espcie de informaes, compreendendo tambm as tcnicas e os mtodos que facilitam a sua busca e sua identificao. Neste artigo buscou-se no endereo eletrnico, nos relatrios de auditoria e nos demonstrativos contbeis as informaes necessrias para constatar as fontes de financiamento utilizadas pela instituio.

    Nesse caso torna-se importante para o aprofundamento e o conhecimento da organizao pesquisada, a anlise de contedo, que de acordo com Duriau et al., (2010) justificvel em virtude desta metodologia estar assegurada por trs aspectos. Primeiro ao permitir a correo das falhas, em seguida por envolver critrios e categorias, e em terceiro pela possibilidade de serem utilizados outros mtodos em conjunto, com a finalidade de triangulao. Assim, destaca-se que procedeu-se leitura e anlise de documentos , em seguida foram selecionados separados categoria os elementos dos demonstrativos. A partir de ento foram tabulados em software excel considerando-se as origens dos recursos, ou seja, privado, pblico e terceiro setor.

    No que se refere a abordagem de comunicao deu-se por meio da entrevista semi-estruturada, para conduo da coleta de dados, servindo de orientao aos questionamentos. No entanto, foi mantida a margem de flexibilidade que os estudos qualitativos requerem.

    Com relao amplitude e profundidade do estudo, classifica-se como estudo de caso. De acordo com Yin (2005, p.32), um estudo de caso uma investigao emprica que investiga um fenmeno contemporneo dentro do seu contexto, especialmente quando os limites entre o fenmeno e o contexto no esto claramente definidos.

    Esta pesquisa est sob a gide da teoria institucional, em funo de buscar observar no fenmeno os aspectos normativos, coercitivos, regulativos, temporalidade e estabilidade dos processos, sempre diante de um nvel social sistmico (LAWRENCE, WINN E JENNINGS, 2001).

    4 ESTUDO DE CASO

    Esta parte do trabalho divide-se em apresentao da Pastoral da Criana, locus do estudo de caso; anlise qualitativa da gesto financeira e das fontes de financiamento e anlise quantitativa dos recursos, a partir dos Demonstraes Contbeis dos anos de 2000 a 2009, obtidos no stio eletrnico da Pastoral da Criana.

    4.1 Pastoral da Criana

    A Pastoral da Criana um organismo de ao social da Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil CNBB. caracterizada como organizao do terceiro setor, constituda sob a forma de uma sociedade civil de direito privado, sem fins lucrativos e de natureza filantrpica. Est constituda como sendo de durao ilimitada e possui como objetivo o desenvolvimento integral das crianas, promovendo em

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    funo delas, tambm suas famlias e comunidades, sem distino de raa, cor, profisso, nacionalidade, sexo, credo religioso ou poltico, por meio de programas que sirvam s suas finalidades.

    Foi fundada pela mdica Zilda Arns Neumann em 1983 na cidade de Florestpolis, no Paran, a Pastoral da Criana. Em consequncia do trabalho diferenciado e colaborativo que a Pastoral da Criana presta sociedade, e por estar vinculada Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil, ocorreu a expanso rpida de suas atividades pelo pas. Atualmente a sede nacional est situada em Curitiba, Estado do Paran, ocupando um imvel com 5.000 m2 de rea construda, concedido instituio desde 1999, na forma de comodato, pelo Governo do Estado do Paran.

    No ano de 2010, perodo de anlise desta pesquisa, a Pastoral da Criana estava presente em quase 40 mil comunidades, acompanhando mais de 1.251.929 famlias. Alm disso, atendeu a cerca de 1.584.344 crianas de zero a seis anos e mais de 80 mil gestantes.

    Dentre os programas desenvolvidos por aquela entidade destacam-se: a) sobrevivncia e desenvolvimento integral da criana, por meio de aes

    bsicas de sade, nutrio, educao e comunicao, sobretudo nos bolses de misria;

    b) formao humana e crist das famlias e lderes comunitrios, agentes voluntrios da Pastoral da Criana e apoio especial s pessoas da terceira idade que participam de suas atividades;

    c) promoo dos Direitos da Criana e do Adolescente, reduo da violncia familiar e comunitria;

    d) gerao de renda para auto-sustentao das famlias acompanhadas; ajuda mtua entre elas; capacitao da mulher em economia domstica e nos cuidados com a criana, com a famlia e consigo mesma;

    e) alfabetizao de jovens e adultos que participam da Pastoral da Criana; f) documentao e informao sobre a situao da criana e da famlia no

    Brasil; pesquisa nas reas de referncia programtica. Por meio do servio voluntrio, a Pastoral da Criana desenvolve aes de

    sade, nutrio, educao, cidadania e espiritualidade de forma ecumnica nas comunidades pobres. As atividades visam a promover o desenvolvimento integral das crianas, desde a concepo aos seis anos de idade, e melhoria da qualidade de vida das famlias.

    4.2 Gesto Financeira da Pastoral da Criana

    As informaes qualitativas sobre a gesto financeira foram obtidas em entrevista com o contador da Pastoral da Criana, realizada no segundo semestre de 2010. O entrevistado atua na Pastoral da Criana desde 1991 e relatou que at 1995 os convnios, como forma para captao de recursos, eram firmados entre as organizaes e a CNBB, para posterior repasse Pastoral da Criana. Somente a partir de setembro de 1995, com a aquisio da personalidade jurdica, que a instituio passou a ser responsvel pelos convnios e contratos.

    A gesto financeira da instituio se baseia nas anlises das informaes coletadas ao longo do exerccio social, que ocorre de setembro a setembro, ocasio do encerramento das demonstraes financeiras. No perodo de outubro a dezembro realizada a assembleia geral, quando so analisados os resultados e definidos em reunio o planejamento e o oramento anual do exerccio seguinte.

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    Os recursos financeiros para a manuteno dos projetos assistenciais das comunidades, advm de doaes de pessoas jurdicas e fsicas. Entretanto, no existem despesas com folha de pagamento, visto a inexistncia de empregados registrados,sendo que os colaboradores da Pastoral so cedidos pela Associao de Amigos da Pastoral da Criana (Aapac), ou ainda so voluntrios.

    A Pastoral da Criana, a partir da necessidade de ser autosustentvel, produtiva e eficiente, mudou sua forma de gerenciamento. Isso aconteceu para poder competir na captao dos recursos dos diferentes financiadores, o que resultou no estabelecimento de equipes de gesto para a captao, elaborao e apresentao de prestao de contas dos recursos recebidos. Consequentemente, pode-se observar uma profissionalizao dessa instituio devido crescente exigncia dos financiadores. Assim, a Pastoral da Criana comea a funcionar nos moldes das empresas lucrativas, respeitando sua peculiaridade e caractersticas, pois contam com a Aapac que disponibiliza um quadro fixo de profissionais especializados e remunerados para gerir a instituio.

    Analisando as fontes de financimento, no que se refere aos convnios, normalmente so estabelecidos com o Governo nas esferas municipal, estadual e federal. Os convnios estabelecidos com o Estado so firmados mediante instrumentos jurdicos prprios e pleiteados por meio de formulrios exclusivos. O entrevistado observa que, em algumas vezes, no so encaminhados projetos para solicitao de recursos junto a alguns rgos pblicos devido ao excesso de burocracia, seja na contratao ou na prestao de contas. O entrevistado exemplifica citando um caso ocorrido no Estado de Santa Catarina, em que era exigido o pagamento das compras ou servis exclusivamente mediante cheques, independente do montante a ser movimentado.

    Quando se analisa a captao de recursos provenientes de pessoas fsicas e jurdicas, usualmente ela acontece por meio de doaes, conforme evidenciado na entrevista. Na Pastoral da Criana essas doaes so recebidas diretamente via conta corrente, ou, ainda, por meio do convnio estabelecido com as Companhias de Energia Eltrica. AS doaes e contribuies podem ser tanto para pessoa fsica qunato para as jurdicas.

    De forma anloga, as empreas pblicas podem disponibilizar recursos por meio de subveno, contribuio ou doao, no sendo possvel identificar o instrumento jurdico que sustenta a transferncia de recursos. De forma similar acontece com empresas privadas que podem transferir recursos mediante doaes e contribuies, alm dos acordos de parceria. Contudo, nas Demosntraes Financeiras no so apresentadas a distino entre as modalidades de fontes de financiamento, sendo apenas destacada a origem da fonte, como pessoa fsica, jurdica ou entidades pblicas.

    Os acordos de parceria provenientes de instituies privadas so as principais fontes de captao de recursos no terceiro setor. No caso da Pastoral da Criana no perodo comprendido entre os anos de 2000 a 2009, eles importam em R$ 41.667.655,05 (quarenta e um milhes, seiscentos e sessenta e sete reais, seiscentos e cinquenta e cinco reais e cinco centavos) e representam 13,43% do total dos recursos obtidos no perodo.

  • Simone Bernardes Voese, Leila Lucia Arruda, Ana Paula M. S. Cherobim

    133 CAP Accounting and Management - Nmero 06 Ano 06 Volume 6 2012 Publicao Anual

    Grfico 1 Volume Financeiro em R$

    Fonte: Autores (2011)

    Conforme o Grfico 1 verifica-se a predominncia de recursos advindos de entidades pblicas como fontes financiadoras da Pastoral da Criana, sendo que atinge o pice em 2002 com o percentual de 90,05% de toda a arrecadao da instituio.

    No que se refere ao volume de recursos, o ano de 2009 apresenta o maior financiamento por parte das instituies financiadoras num total de R$ 44.352.499,41 (quarenta e quatro milhes, trezentos e cinquenta e dois mil, quatrocentos e noventa e nove reais e quarenta e um centavos), sendo que R$ 34.618.612,00 (trinta e quatro milhes, seiscentos e dezoito mil, seiscentos e doze reais) provenientes das entidades pblicas, ou seja, um percentual de 75,13 % de todos os recursos captados.

    De 2004 a 2009 percebe-se a presena de um agente financiador do terceiro setor no cenrio das fontes financiadoras da Pastoral da Criana. Este agente o Sebrae que, conforme seu estatuto, uma instituio privada de direitos pblicos sem fins lucrativos, como consequncia uma entidade do terceiro setor. No ano de 2008, o Sebrae fez o maior repasse para a Instituio, cujo valor de R$ 557.739,00 (quinhentos e cinquenta e sete mil, setecentos e trinta e nove reais), representando 1,51% de todo o recurso arrecadado. Assim, pode-se identificar a existncia de entidades do terceiro setor transferindo recursos para financiar as atividades de outras entidades, tambm do terceiro setor.

    O maior percentual apresentado de doaes das entidades privadas, sejam pessoas jurdicas ou fsicas, para a Pastoral da Criana foi encontrado no ano de 2007, com 34,11 % de toda a arrecadao.

    Em relao mobilizao de agentes financiadores da Pastoral da Criana, fica evidenciado no Grfico 2 a decrescente participao das instituies privadas como agentes financiadores a partir do ano de 2007.

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    Volume Financeiro em RS

    Entidades Pblicas Entidades Privadas SEBRAE

  • Fontes de Financiamento Terceiro Setor: Anlise Evolutiva 2000 2009 na Pastoral da Criana

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    Grfico 2 Mobilizao de financiadores por empresas de fomento

    Fonte: Autores (2011).

    Conforme o grfico 2, a mobilizao do segundo setor, ou seja, a quantidade de pessoas jurdicas, com finalidades lucrativas e as pessoas fsicas que transferiram recursos para a Pastoral da Criana, no perodo de 2004 a 2009, so superiores do primeiro setor (Estado). Porm, ao comparar com o grfico 1 (referente ao montante financeiro) percebe-se a predominncia do Poder Pblico. Assim, mesmo com menor quantidade de entidades repassando recursos, o volume financeiro mais significativo no setor pblico.

    Em 2008, o segundo setor (entidades privadas) tem a participao do dobro de entidades mobilizadas do que o primeiro setor. No entanto, no que se refere arrecadao o resultado o inverso, ou seja, naquele ano apresentam-se como agentes financiadores quatro instituies pblicas, dentre as quais destaca-se o Ministrio da Sade, com arrecadao de R$ 21.600.000,00 (vinte e um milhes e seiscentos mil). Em contrapartida existiam oito instituies privadas como fontes financiadoras, com destaque para a Rede Globo (Projeto Criana Esperana), HSBC e Gol Linhas Areas, que somam R$ 6.903.614,07 (seis milhes , novecentos e trs mil, seiscentos e quatorze reais e sete centavos). Dessa forma, percebe-se que essas empresas privadas tiveram maior mobilizao, embora no repasse de recursos o Estado ainda seja o maior fomentador.

    Nas organizaes do terceiro setor, especificamente na Pastoral da Criana, as fontes de financiamento so a base de sustentabilidade e so provenientes das receitas de convnios, como o caso da parceria com as Companhias de Energia Eltrica. As doaes espontneas s entidades filantrpicas no tm vinculao com a contraprestao de servios, e constituem atos voluntrios do exerccio da cidadania e tem grande alcance social.

    Conforme a regulamentao da Agncia de Energia Eltrica - ANEEL n. 456, de 29 de novembro de 2000, o seu artigo 84, pragrafo nico estabelece que fica tambm facultado incluir a cobrana de outros servios, de forma discriminada, aps autorizao do consumidor. A Copel Companhia Paranense de Energia Eltrica do Paran, foi a pioneira no setor eltrico brasileiro em promover arrecadaes para entidades que prestam servio comunidade por meio de sua fatura de energia. A

  • Simone Bernardes Voese, Leila Lucia Arruda, Ana Paula M. S. Cherobim

    135 CAP Accounting and Management - Nmero 06 Ano 06 Volume 6 2012 Publicao Anual

    primeira entidade beneficiada com esse tipo de convnio foi a Pastoral da Criana, a partir de 1998. Apesar da representatividade em relao ao total da receita bruta no ser, aparentemente, de extrema relevncia, como mostra o Grfico 3, essa modalidade de fonte de financiamento para a Pastoral da Criana possui significncia no volume financeiro movimentado e na quantidade de entidades que contribuem.

    Com esta parceria Copel e Pastoral da Criana- o montante arrecadado foi de R$ 20.224.593,83 (vinte milhes, duzentos e vinte e quatro mil, quinhentos e noventa e trs reais e oitenta e trs centavos), o equivalente a 6,5 % durante os timos dez anos, apresentando um aumento de 59,72 % de arrecadao do ano de 2000 para o ano de 2009. Porm, no que se refere receita bruta da Pastoral da Criana, no ano de 2000 as doaes de usurios de Energia Eltrica correspondeu a 12,40% e no ano de 2009, a 19,02 %. O aumento em dez anos foi de 6,62 %.

    Grfico 3 Convnio Cia. de Energia Eltrica em R$

    Fonte: Autores (2011)

    Assim, na pesquisa percebe-se o esforo conjunto das instituies pblicas e privadas, mediante o total de recursos captado, em busca de aes de desenvolvimento social, para minimizar os problemas e as desigualdades da sociedade. Para facilitar a transparncia e a prestao de contas os agentes financiadores, seja eles pblicos ou privados, so movimentados em contas bancrias distintas. Dessa forma, os provimentos que tem como fonte financiadora o Estado so administrados por contas autnomas no Banco do Brasil, porm os providos por empresas e pessoas fsicas so movimentadados por meio de conta especfica no Banco HSBC.

    5 CONSIDERAOES FINAIS

    Este estudo foi desenvolvido como objetivo de verificar, por meio da metodologia de estudo de caso, a evoluo das fontes de financiamento na Pastoral da Criana no perodo de 2000 a 2009. Foi realizado mediante pesquisa documental efetivada com as demonstraes financeiras divulgadas no sitio eletrnico da organizao, e ainda sustentada no mtodo de estudo de caso com a realizao de entrevista semi-estruturada. Diante dos dados obtidos percebe-se uma evoluo na

  • Fontes de Financiamento Terceiro Setor: Anlise Evolutiva 2000 2009 na Pastoral da Criana

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    receita bruta de 39% de 2000 para o valor de arrecadao de 2009. Os agentes financiadores podem ser pessoas fsicas ou jurdicas que

    depositam diretamente na conta bancria do Banco HSBC, ou ainda fazer as doaes mediante conta da energia eltrica. Entretanto, os maiores parceiros so os agentes pblicos, que participam por meio de convnios com a aprovao de projetos especficos.

    Ressalta-se que muitas entidades pblicas foram parceiras da Pastoral da Criana no perodo analisado. Um grande destaque consiste no Ministrio da Sade, que se manteve parceiro em todos os anos pesquisados e contribui com recursos que representam 88 % (oitenta e oito por cento) da arrecadao total das entidades pblicas naquele perodo. Outras entidades pblicas tambm mantiveram sua participao no perodo, como acontece com o Ministrio da Educao MEC, PROMOSUL Estado do MS, BNDES, entre outros.

    Alm disso, cabe destacar a importncia das pessoas jurdicas como parceiros, os quais representam 13,43% ( treze vrgula quarenta e trs por cento) da arrecadao bruta total nos anos estudados. Entre as entidades privadas torna-se importante enfatizar a participao da Rede Globo, por meio do projeto social Criana Esperana. Essa entidade torna-se o principal agente financiador entre as empresas privadas, representando um total de 31,96% de toda a arrecadao proveniente das parcerias com empresas privadas. De forma tambm importante observa-se a presena de outras empresas como a TELESC, Tim Sul S.A., Gol Linhas Areas, Kraft Foods, Nestl.

    Na anlise conjunta, verifica-se que as fontes de financiamento, ou seja, o conjunto de capitais internos e externos organizao utilizados para financiamento dos investimentos realizados nas instituies filantrpicas basicamente advindo de doaes. Logo, acontece a transferncia de vantagens ou bens do patrimnio do doador para o patrimnio do donatrio com a aceitao explcita ou tcita do donatrio, conforme o artigo 538 do novo Cdigo Civil.

    Ressalta-se que esta foi uma pesquisa realizada, por meio de estudo de caso na Pastoral da Criana situada na cidade de Curitiba. Diante do trabalho social que a organizao desenvolve, ressalta-se sua importncia, refletindo o compromisso com as aes. Portanto, sugere-se que novas pesquisas sejam realizadas com esta e outras instituies de cunho social, fomentando e consolidando a disseminao do conhecimento sobre a temtica do terceiro setor, aumentando e diversificando assim as publicaes acadmicas.

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