foi um sonzinho que passou na minha vida

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Foi um sonzinho que passou na minha vida! (de Sinal Fechado à Brasil engarrafada) Dia desses, engarrafado dentro de um busão (sim, minha gente: de vez em quando desço ao mundo, tipo Zeus engravidando e pegando geral!) e achei ter visto um ex, num Tempra! Primeiro pensei: - Como pode alguém ter um Tempra? Ainda Respondi pra mim mesmo: - O arquibrega do Fulano!!!! Ele é daqueles que vc jura que é milhão da mega sena e vale menos que a rifa da 3 a . série! Bom, eu erro!!! Às vezes! Interessa mesmo é que ele, apesar de beijar mal, ser bobo, bunda mole (literalmente) e ter pau pequeno, tem, como característica maior um ouvido fodamente maravilhoso. Sim, meu povo, Os Céus tinham de dar alguma qualidade praquilo, né? Nos conhecemos desde priscas eras, pq eu o via dançar, novinho, sempre sozinho, no canto do baile funk onde eu ia em são Gonçalo. Qual não foi minha surpresa em descobrir que ele não era surdo (já viram aparelhagem de equipe de funk?), mas que ficava ali marcando o compasso! Era um metrônomo humano para que djs menos experientes na arte da mixagem não perdessem o beat e o pit. E ele ficava ali, parado-dançando, não pegava ninguém (era gay, né?) e ninguém perdia o tom da música, porque era uma época em que dj tocava com disco de novela, coletânea de rádios etc, em toca-discos grandes, sem glam, sem camarote, virtual dj, traktor e coisas do tipo. E o ex-bophy estava lá, minha gente! E aí lembrei que se ele continuasse com aquele baita ouvido bom pra música, sempre com uma novidade, sempre lendo algo, escrevendo pro tom e pro tarik (no email! Era o período pré- cretácio, menin@s), de papo com malrboro e tals, então talvez valesse a pena esticar os ouvidos e ter olhos de ver e sentir! O ouvido dele, repito, valia a pena, o resto não! Mas não importa agora! Rs! O som era o de casal romântico da novela das 21h, bem mela cueca na versão global. A dele, não! Coisa phyna,

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Page 1: Foi Um Sonzinho Que Passou Na Minha Vida

Foi um sonzinho que passou na minha vida!(de Sinal Fechado à Brasil engarrafada)

Dia desses, engarrafado dentro de um busão (sim, minha gente: de vez em quando desço ao mundo, tipo Zeus engravidando e pegando geral!) e achei ter visto um ex, num Tempra! Primeiro pensei:

- Como pode alguém ter um Tempra? AindaRespondi pra mim mesmo:

- O arquibrega do Fulano!!!! Ele é daqueles que vc jura que é milhão da mega sena e vale menos que a rifa da 3a. série! Bom, eu erro!!! Às vezes! Interessa mesmo é que ele, apesar de beijar mal, ser bobo, bunda mole (literalmente) e ter pau pequeno, tem, como característica maior um ouvido fodamente maravilhoso. Sim, meu povo, Os Céus tinham de dar alguma qualidade praquilo, né?

Nos conhecemos desde priscas eras, pq eu o via dançar, novinho, sempre sozinho, no canto do baile funk onde eu ia em são Gonçalo. Qual não foi minha surpresa em descobrir que ele não era surdo (já viram aparelhagem de equipe de funk?), mas que ficava ali marcando o compasso!Era um metrônomo humano para que djs menos experientes na arte da mixagem não perdessem o beat e o pit. E ele ficava ali, parado-dançando, não pegava ninguém (era gay, né?) e ninguém perdia o tom da música, porque era uma época em que dj tocava com disco de novela, coletânea de rádios etc, em toca-discos grandes, sem glam, sem camarote, virtual dj, traktor e coisas do tipo.E o ex-bophy estava lá, minha gente! E aí lembrei que se ele continuasse com aquele baita ouvido bom pra música, sempre com uma novidade, sempre lendo algo, escrevendo pro tom e pro tarik (no email! Era o período pré-cretácio, menin@s), de papo com malrboro e tals, então talvez valesse a pena esticar os ouvidos e ter olhos de ver e sentir! O ouvido dele, repito, valia a pena, o resto não! Mas não importa agora! Rs! O som era o de casal romântico da novela das 21h, bem mela cueca na versão global. A dele, não! Coisa phyna, fia!, diria outro de ouvido bom (não, não foi namorado!), Joshana de Stocohlm, o meu Junior e Josh pra quem veio depois do mIrc. Troquei de lugar e pulei pra trás, pra poltrona do 497 que mais parecia um buraco afrodescendente, de tão largo e grande! Sempre fui assim!

|| Lembro que da primeira vez em que vim a SP passei uns 4 minutos parado na praça do correio, onde ainda tem loja de discos e cd´s, ouvindo uma versão de keep on mooving (London version), com Bob Marley, que hoje sei ter sido uma de suas últimas gravações: baixo marcando, bateria com grave fabuluoso, interminável groove. Fiquei na loja até cansar. Fui em pé pra onde estava, pq meus amigos entraram no bus e sentaram e eu fui beeeeem, depois, sem lugar, fazendo a linha soniabraganodamadalotação. Mas de rego suado de tanto rebolar de mansinho dentro daquela loja! ||

estiquei a cabeça! O piloto nem aí pra mim, pq deve estar bem acostumado com aquilo, dado o calor e o estado de alguns dos ônibus do Rio. E era A Música, sem o efeitozinho de voz (vocooder, acho) que dá um reverbero

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chato e excessivamente Radio Mundial FM, bem anos 70. O ritmo, claramente a base de sending all my love (linear), mas bem equipada, apetrechada, com uns efeitos que pareciam psicato de tchelo. A voz da nega, um cristal, daquelas que de vez em quando deixam o respiro sair antes da nota só pra mostrarem que escutou Bessie e Ella um dia na vida! Quase desci e gritei “fulanooooo que saudades”!

O transito andou e em como Sinal Fechado, uma algo faltando ou por dizer, ainda! Lembrei dos exMesmo (tem aquela categoria que vai eternamente dizer que me namorou! Duvidem, pq todos sabem onde encontrar meus ex e a exceção de dois ou três, não fazem questão de manter proximidade comigo, não! Sou a revisão da máxima militar dos anos 70, vocês sabem: AME-O OU DEIXE-O!): sem exceção me trouxeram uma contribuição musical para a vida e que foram para mim a herança maior do afeto que houve, mas que acabou: da house farofa dos anos 1990, a fineza de Mahler e Nina Simone, a bandinha alternativa e natimorta de SP, DJ Dolores e os pernambucanos high tec... isso ficou e reverbera. Eu ouço, como ouço agora, de propósito um som de apolos dionizíacos, bom, criativo, 124 bpm de pura magia, de propósito. Dica de que se ocupara a boca antes de me beijar! Ouvi e Guardei.

Cheguei a rodoviária. Na fila, uma cara alto, bem alto, com a filha de uns dois anos nos ombros. Ouvi sua voz, reconheci de algum lugar, mas deixei... fui entregar as malas e voltei e dou de cara com o tal cara: DJ Marlboro! Eu olhos de lágrimas. ele sorriu. a filha berrou e ele riu com os fatos. Brinquei:

- quando eu fizer 50, cê toca na minha festa! Anota!Deu o tel do contato e blá, blá, blá! Entrei subi e não o vi mais!

Minutos depois, desço para ir ao banheiro e ouço, pela porta entreaberta das poltronas leito, a música que o ex de mau feitio ouvia minutos antes. Ri! Pq o empiastro continua péssimo, e cada vez mais pós-apocalípitico, mas bem relacionado!

Ps: Mas, na boa: quero mesmo é quem toque música boa pra mim todo o dia, o resto da vida, que prime pela Beleza também musical! Até pq música boa, tem de ser partilhada, vivida no plural. Se não, que graça tem!? Pq só assim deixa de ser um feixe sonoro e vira afeto soante.