fichamento, resumo e resenha a dificuldade em dicerni-los na graduaÇÃo

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FICHAMENTO, RESUMO E RESENHA: A DIFICULDADE EM DICERNI-LOS NA GRADUAÇÃO Luciana de Lima ARCANJO (UFS) 1 Márcia Regina Curado Pereira MARIANO (DLI/UFS - ORIENTADORA) 2 RESUMO: O trabalho em questão se destina a investigar, principalmente, as dificuldades que os alunos dos cursos de Administração e de Ciências Contábeis apresentam em diferenciar entre os gêneros: fichamento, resumo e resenha, e está circunscrito à área da Linguística Textual. No percurso de nossa pesquisa nos atentaremos a observar a mudança de postura desses alunos, com relação aos gêneros especificados, durante o período em que estiverem cursando a disciplina Produção e Recepção de Texto I, delimitando os seus conceitos, as abordagens trabalhadas e a importância desta na vida acadêmica dos graduandos dos cursos citados anteriormente. Para tanto, iremos considerar o conhecimento de mundo desses alunos e as suas noções acerca dos gêneros em questão a partir das produções textuais coletadas. Além disso, nos deteremos a responder as seguintes indagações: a confusão feita pelos alunos dos cursos de Administração e de Ciências Contábeis com relação aos gêneros fichamento, resumo e resenha, tem relação com os temas referentes ao texto, tão recorrentes em disciplinas como Produção e Recepção de Texto I ou tem a ver com o fato de estes não terem se deparado com um estudo específico sobre os gêneros? Quais as contribuições da disciplina Produção e Recepção de texto I para a vida acadêmica desses graduandos? Como o projeto de monitoria do DLI (departamento de Letras de Itabaiana) da UFS vem a contribuir com o desempenho e com o rendimento desses alunos nas disciplinas referentes ao estudo do texto? Palavras-chave: gêneros textuais; texto; compreensão; produção textual; e ensino de Língua. 1 Graduanda do curso de Letras Português Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe Campus Universitário Profº Alberto Carvalho; monitora bolsista PROGRAD/COGEPLAN. E-mail: [email protected] 2 Professora Doutora do curso de Letras Português - Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe Campus Universitário Profº Alberto Carvalho; pesquisadora LED/DLI/UFS. E-mail: [email protected]

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FICHAMENTO, RESUMO E RESENHA: A DIFICULDADE EM DICERNI-LOS

NA GRADUAÇÃO

Luciana de Lima ARCANJO (UFS) 1

Márcia Regina Curado Pereira MARIANO

(DLI/UFS - ORIENTADORA)2

RESUMO: O trabalho em questão se destina a investigar, principalmente, as dificuldades

que os alunos dos cursos de Administração e de Ciências Contábeis apresentam em

diferenciar entre os gêneros: fichamento, resumo e resenha, e está circunscrito à área da

Linguística Textual. No percurso de nossa pesquisa nos atentaremos a observar a

mudança de postura desses alunos, com relação aos gêneros especificados, durante o

período em que estiverem cursando a disciplina Produção e Recepção de Texto I,

delimitando os seus conceitos, as abordagens trabalhadas e a importância desta na vida

acadêmica dos graduandos dos cursos citados anteriormente. Para tanto, iremos

considerar o conhecimento de mundo desses alunos e as suas noções acerca dos gêneros

em questão a partir das produções textuais coletadas. Além disso, nos deteremos a

responder as seguintes indagações: a confusão feita pelos alunos dos cursos de

Administração e de Ciências Contábeis com relação aos gêneros fichamento, resumo e

resenha, tem relação com os temas referentes ao texto, tão recorrentes em disciplinas

como Produção e Recepção de Texto I ou tem a ver com o fato de estes não terem se

deparado com um estudo específico sobre os gêneros? Quais as contribuições da

disciplina Produção e Recepção de texto I para a vida acadêmica desses graduandos?

Como o projeto de monitoria do DLI (departamento de Letras de Itabaiana) da UFS vem

a contribuir com o desempenho e com o rendimento desses alunos nas disciplinas

referentes ao estudo do texto?

Palavras-chave: gêneros textuais; texto; compreensão; produção textual; e ensino de

Língua.

1 Graduanda do curso de Letras Português – Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe –

Campus Universitário Profº Alberto Carvalho; monitora bolsista PROGRAD/COGEPLAN. E-mail:

[email protected]

2 Professora Doutora do curso de Letras Português - Licenciatura pela Universidade Federal de

Sergipe – Campus Universitário Profº Alberto Carvalho; pesquisadora LED/DLI/UFS. E-mail:

[email protected]

Page 2: FICHAMENTO, RESUMO E RESENHA A DIFICULDADE EM DICERNI-LOS NA GRADUAÇÃO

INTRODUÇÃO

O referido trabalho faz parte das atividades desenvolvidas na disciplina

Trabalho de Conclusão de Curso I e tem como finalidade construir um esboço acerca

da pesquisa que será produzida no processo de monografia.

Nosso trabalho se destina a investigar, principalmente, as dificuldades

que os alunos dos cursos de Administração e de Ciências Contábeis apresentam em

diferenciar entre os gêneros: fichamento, resumo e resenha, e está circunscrito à área

da Linguística Textual. No percurso de nossa pesquisa nos atentaremos a observar a

mudança de postura desses alunos, com relação aos gêneros especificados, durante o

período em que estiverem cursando a disciplina Produção e Recepção de Texto I,

delimitando os seus conceitos, as abordagens trabalhadas e a importância desta na

vida acadêmica dos graduandos dos cursos citados anteriormente. Para tanto, iremos

considerar o conhecimento de mundo desses alunos e as suas noções acerca dos

gêneros em questão a partir das produções textuais coletadas. Além disso, nos

deteremos a responder as seguintes indagações: a confusão feita pelos alunos dos

cursos de Administração e de Ciências Contábeis com relação aos gêneros:

fichamento, resumo e resenha, tem relação com os temas referentes ao texto, tão

recorrentes em disciplinas como Produção e Recepção de Texto I ou tem a ver com o

fato de estes não terem se deparado com um estudo específico sobre os gêneros?

Quais as contribuições da disciplina Produção e Recepção de texto I para a vida

acadêmica desses graduandos? Como o projeto de monitoria do DLI (departamento

de Letras de Itabaiana) da UFS vem a contribuir com o desempenho e com o

rendimento desses alunos nas disciplinas referentes ao estudo do texto?

Com o intuito de buscar as respostas para tais questionamentos,

tomaremos como base as produções textuais desses alunos, em especial, os resumos,

recolhidas durante o período em que eles estavam cursando a disciplina Produção e

Recepção de Texto I. Através dessas produções, poderemos identificar as falhas mais

Page 3: FICHAMENTO, RESUMO E RESENHA A DIFICULDADE EM DICERNI-LOS NA GRADUAÇÃO

recorrentes, o nível de conhecimento e a compreensão desses alunos a respeito dos

temas constantes na disciplina e aqueles relacionados aos mecanismos do texto.

Partindo desse pressuposto, procuraremos fazer um recorte de algumas

teorias, como: o estudo acerca dos gêneros textuais, desenvolvido por Luiz Antônio

Marcuschi, um dos principais autores que tratam do tema, a partir do qual

delimitaremos as definições e as funcionalidades dos gêneros; a visão dos PCNs a

respeito dessa questão – já que, no que concerne ao uso de gêneros textuais no

ensino, os PCNs ainda pecam bastante, embora se note pela primeira vez uma

posição determinada e determinante para esse trabalho –, e a relação dos gêneros

textuais na fala e na escrita, além de elucidar a importância dessa prática na sala de

aula; com base nas abordagens de Antônio Joaquim Severino, procuraremos

conceituar e elucidar os gêneros fichamento, resumo e resenha, objetos fundamentais

de nossa pesquisa, a fim de esclarecer em que consiste cada uma dessas atividades,

pontuando os conceitos e os objetivos dessas produções. E para concluir a nossa

abordagem teórica, nos aprofundaremos no gênero resumo, já que ele será o corpus

de nossa análise. Para isso, faremos um recorte dos principais estudos desenvolvidos

na área.

OBJETIVOS

Objetivo geral

Administração e Ciências Contábeis em discernir entre os gêneros fichamento,

resumo e resenha, buscando soluções que possam reduzir ou sanar esse problema.

Objetivos específicos

Administração e Ciências Contábeis, em especial os resumos, que serão a base de

nossa pesquisa;

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Produção e Recepção de texto I na formação desses alunos;

área à qual pertencem, e como eles reagem diante de temas direcionados à sua área e

daqueles que não tratam de temas corriqueiros em seu curso;

analisar o impacto de disciplinas relacionadas à produção textual

enquanto estão sendo cursadas. Se estas foram capazes de alterar a percepção do

aluno, fazendo-o compreender os conceitos e os tipos de produção textual, além dos

gêneros textuais: fichamento, resumo e resenha, e como o apoio da monitoria vem a

contribuir com esse processo.

JUSTIFICATIVA

A escolha dessa pesquisa partiu da necessidade de se buscar respostas

para alguns problemas relacionados às produções textuais de alunos dos cursos de

Administração e Ciências Contábeis da UFS – Campus Universitário Profº Alberto

Carvalho, detectadas nas aulas de Produção e Recepção de Texto I. Por meio do

processo de monitoria do Departamento de Letras da referida instituição, foi possível

entrar em contato com a escrita desses alunos e perceber alguns déficits e as

principais dificuldades apresentadas por eles, além de poder intervir no processo,

dando apoio através da assistência estudantil que o programa oferece. Porém, apesar

da necessidade de recorrer ao monitor, a procura era pouco frequente, o que

dificultava o processo de fixação dos conteúdos e de refacção dos textos.

O foco primordial de nossa investigação é a confusão que os alunos

fazem diante dos gêneros textuais fichamento, resumo e resenha, tão recorrentes nos

cursos de graduação. Dúvidas como estas também levantam questões como: será que

o professor, ao pedir uma dessas produções aos alunos, sabe mesmo a que se refere

cada uma delas? Ou o problema está nos alunos, que não fixaram cada gênero? Ou,

ainda mais grave, será que esses graduandos tiveram a oportunidade de entrar em

Page 5: FICHAMENTO, RESUMO E RESENHA A DIFICULDADE EM DICERNI-LOS NA GRADUAÇÃO

contato com esses gêneros, de forma a compreender cada um deles, até se depararem

com uma disciplina específica sobre o texto, os seus tipos e os seus mecanismos?

Enfim, indagações como estas, motivaram-nos a ir em busca das

respostas e, conforme for se enveredando a pesquisa, talvez, encontrar soluções que

possam diminuir as dificuldades apresentadas por esses graduandos, ou até, sanar o

problema.

Nossa pesquisa se debruçará sobre um referencial teórico que pretende

esclarecer alguns conceitos-chave, no que se refere ao texto e à sua elaboração, além

de elucidar as concepções de gênero textual e delimitar os gêneros: fichamento,

resumo e resenha.

Os estudos sobre os gêneros apesar de terem se destacado bastante nas

últimas décadas, não são recentes como muitos supõem, tiveram início com as

teorias acerca dos gêneros do discurso de Aristóteles. Atualmente, esses estudos tem

sido enfatizados sob um novo olhar, diferentemente da perspectiva aristotélica, e

encara os gêneros como forma de ação social. Isto é, correspondem a uma atividade

comunicativa que envolve processos cognitivos, aspectos culturais e manifestações

sociais, ao qual o uso da língua engloba.

De acordo com as teorias de Marcuschi acerca das definições e das

funcionalidades dos gêneros textuais, observa-se que eles são processos

intrinsecamente ligados ao cotidiano cultural e social dos sujeitos: “[...]

Caracterizam-se como eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos.

Surgem emparelhados a necessidades e atividades socioculturais...” (MARCUSCHI,

2002, p.19). Desse modo, podemos afirmar que há uma relação entre os gêneros e a

época em que se realizam, entre a cultura e o meio social onde se desenvolvem,

sendo assim, as suas funções e as suas intenções surgem com o intuito de atenderem

as especificidades de cada grupo social. Ou seja, não há comunicação verbal sem o

uso de algum gênero textual, de acordo com o viés discursivo e comunicativo da

língua, vista aqui como atividade social, histórica e cognitiva. Sendo assim, os

gêneros textuais correspondem:

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“[...] A uma noção propositalmente vaga para referir os textos

materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam

características sócio-comunicativas definidas por conteúdos,

propriedades funcionais, estilo e composição característica. [...]”

(MARCUSCHI, 2002, p.22-23).

Segundo Marcuschi, ao se dominar um gênero textual, o que está sendo

dominado, efetivamente, é uma forma particular de realizar linguisticamente

“técnicas” peculiares relacionadas a contextos sociais específicos, uma vez que, os

gêneros textuais caracterizam-se enquanto atividades sócio-discursivas. São, ainda,

heterogêneos e possuem uma relação de intertextualidade intergêneros (um gênero

com a função de outro) e de heterogeneidade tipológica (um gênero com a presença

de vários tipos textuais).

No que diz respeito ao ensino de Língua, Marcuschi afirma que não

existem gêneros textuais específicos para se trabalhar em sala de aula, mas enquanto

uns são mais apropriados para a produção textual, outros estão mais voltados para a

leitura. Outra questão com relação ao uso dos gêneros na escola diz respeito aos

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) lançados pelo MEC para o ensino

fundamental e médio, pois trazem uma visão redutora acerca de como se trabalhar

com os gêneros, como bem destaca Marcuschi:

“Em muitos outros aspectos os PCNs são inovadores e muito claros, mas

no que tange aos gêneros, há uma sugestão pouco clara do seu tratamento,

embora esteja aí pela primeira vez uma posição determinada e

determinante para esse trabalho. O que eu critico aqui é a forma como

isso vem sendo trabalhado nos PCNs.” (MARCUSCHI, 2008, p.207).

Nesse sentido, observa-se que os PCNs apresentam algumas falhas e

algumas confusões ao tratar dos gêneros textuais. A primeira delas está relacionada à

distinção entre tipo textual e gênero textual, pois não há uma elucidação a esse

respeito. A segunda é reduzir os gêneros apenas a uma realização linguística mais

formal. Sem contar com a confusão entre oralidade e escrita, que não são claramente

distinguidas. Além disso, os PCNs não exploram a diversidade dos gêneros,

deixando de lado principalmente aqueles relacionados ao cotidiano dos alunos, isto é,

que se aproximam da realidade deles, o que proporcionaria um processo de ensino-

Page 7: FICHAMENTO, RESUMO E RESENHA A DIFICULDADE EM DICERNI-LOS NA GRADUAÇÃO

aprendizagem mais produtivo. Outro fator relacionado a essa questão, é a pequena

quantidade de gêneros sugeridos para as atividades de produção textual, o que

reforça o descaso da maioria das instituições acerca do exercício da produção textual

baseada em gêneros.

“Na realidade, aqui há um problema de ordem metodológica paradoxal:

por um lado, quando os PCNs propõem conteúdos programáticos

mostrando-se inevitavelmente redutores e, por outro, quando concretizam

as ações, tornam-se homogeneizadores, sugerindo que todos os

professores trabalhem determinados fenômenos. O fato é que para planos

dessa ordem dever-se-ia operar no nível conceitual, explanatório e não de

conteúdos. Nesses casos, estratégias e processos com as respectivas

exemplificações são mais importantes do que conteúdos específicos. O

caso dos gêneros textuais é apenas um exemplo paradigmático disso.”

(MARCUSCHI, 2008, p.211).

Seguindo ainda esse viés, Bernard Schneuwly e Joaquim Dolz defendem

a inserção e a importância dos gêneros textuais no processo de ensino-aprendizagem:

“[...] Os gêneros textuais, por seu caráter genérico, são um termo de

referência intermediário para a aprendizagem, o gênero pode, assim, ser

considerado um mega-instrumento que fornece um suporte para a

atividade nas situações de comunicação e uma referência para os

aprendizes. [...]” (SCHNERWLY e DOLZ, 1999, p.07).

Também compartilhando dos postulados se Schneuwly e Dolz, Anna

Rachel Machado complementa:

“[...] O ensino de produção e compreensão de textos deve centrar-se no

ensino de gêneros, sendo necessário, para isso, que se construa,

previamente, um modelo didático do gênero, que defina, com clareza,

tanto para o professor quanto para o aluno, o objeto que está sendo

ensinado, guiando, assim, as intervenções didáticas.” (MACHADO, 2005,

p. 139).

No que se refere à distinção entre os gêneros fichamento, resumo e

resenha, recorreremos à coleção de Antônio Joaquim Severino Metodologia do

Trabalho Científico, onde alguns autores descrevem os procedimentos referentes a

cada uma dessas atividades. De acordo com a autora Rosana Morais Weg, o

fichamento “[...] é uma forma organizada de registrar as informações obtidas na

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leitura de um texto. [...]” (SEVERINO, 2000, p. 13). Consiste na elaboração de um

segundo texto a partir do texto-base e serve de material de consulta para a construção

de um terceiro texto ou simplesmente para organizar as leituras já feitas, assim, caso

necessite recorrer a elas futuramente não será necessário ler novamente o texto, uma

vez que, as ideias principais já estão registradas no fichamento. Já o resumo, segundo

Marli Quadro Leite, corresponde ao processo de enumerar as ideias principais do

texto-base e a partir delas elaborar um segundo texto apresentando somente os

conceitos-chave do primeiro. É uma forma de registrar as informações adquiridas

através da interação com o texto antes que elas se apaguem da memória e assim

como o fichamento, também serve como material de consulta. Vale frisar ainda, que

o processo de resumir um texto está diretamente ligado as “competências” do leitor.

E por fim, a resenha que, de acordo com a autora Maria Lúcia C. V. O. Andrade

trata-se de um trabalho mais minucioso, pois, além de sintetizar as ideias centrais do

texto, deve expor a visão crítica do resenhista acerca do texto-base, concordando ou

discordando com o que está sendo abordado por ele. Além desses aspectos, a resenha

também deve conter dados biográficos do autor do texto-base em seu paragrafo

introdutório e um parecer do leitor sobre a importância e as contribuições da obra e

do autor para o meio em que ela está inserida.

Já que o corpus de nossa pesquisa são as produções textuais referentes ao

gênero resumo, lhe daremos um enfoque maior em nossa fundamentação teórica e no

decorrer de nossas análises, confrontando e/ou reafirmando as teorias de diversos

estudiosos da área. De antemão, assim como frisa a autora Anna Rachel Machado, é

importante explorar as definições comumente atribuídas ao gênero resumo. Para isso,

tomaremos com fonte o “Novo Aurélio – Dicionário de Língua Portuguesa” on line,

que fornece os seguintes significados para o gênero:

“resumo. [Dev. De resumir.] S. m. 1. Ato ou efeito de resumir (-se). 2.

Exposição abreviada de uma sucessão de acontecimentos, das

características gerais e de alguma coisa, etc., tendente a favorecer sua

visão global: síntese, sumário, epítome, sinopse: O repórter fez um bom

resumo das últimas ocorrências. 3. Apresentação concisa, do conteúdo de

um artigo, livro, etc., a qual, precedida de sua referencia bibliográfica,

visa a esclarecer o leitor sobre a conveniência de consultar o texto

Page 9: FICHAMENTO, RESUMO E RESENHA A DIFICULDADE EM DICERNI-LOS NA GRADUAÇÃO

integral. Ao contrario da sinopse (2) (q. v.), o resumo aparece em

publicação à parte e é redigido por outra pessoa que não o autor do

trabalho resumido. 4. Recapitulação em poucas palavras; sumário: Esta

gramatica tem um resumo claro no fim de cada capítulo. 5. Fig.

Compendio (3).” (MACHADO, 2005, p. 142- 143)

Através dessas definições podemos constatar que o resumo pode ser

socialmente reconhecido como gênero textual, que sua produção corresponde a

situação comunicacional a qual se dirige e que ele abarca vários sentidos devido aos

vários contextos em que o gênero é habitualmente usado – fator que justifica a

confusão terminológica que o cerca. Por isso, faz-se necessário aqui, por exemplo,

elucidar a distinção entre o processo de sumarização e o de produção de resumos,

frequentemente confundidos no ensino. O primeiro está ligado à compreensão da

leitura e corresponde ao resumo mental do texto construído pelo leitor no qual ele

arquiva as informações pertinentes e descarta as dispensáveis para chegar ao sentido

global do texto, ou seja, é o primeiro passo para a elaboração de um resumo. Já o

segundo diz respeito à materialização dessa sumarização, onde se deve ter em vista

os objetivos, o receptor e as condições de produção, levando em consideração as

regras/estratégias referentes ao gênero em questão.

A sumarização, juntamente com o ensino da produção de resumos, são

métodos fundamentais para o desenvolvimento da compreensão de leitura. Portanto,

“[...] Uma vez que admitimos que os usos sociais dos resumos de texto,

tanto em contexto escolar quanto não escolar, são os mais diversos e em

quantidades significativa, eles se constituem como um objeto de ensino

pertinente e, para que esse ensino seja eficaz, é necessário que

aprofundemos nossas reflexões sobre sua produção. [...]” (MACHADO,

2005, p. 138).

É importante ressaltar que, como afirma Machado, o gênero resumo

possui “subgêneros” que seriam os vários tipos de resumos que circulam na

sociedade em geral – resumo jornalístico, resumo literário, resumo escolar, resumo

de livro, etc. – e que variam de acordo com o objetivo, com o contexto em que estão

inseridos, com a situação comunicacional a que se referem e com a área a qual se

dirigem. Dessa forma:

Page 10: FICHAMENTO, RESUMO E RESENHA A DIFICULDADE EM DICERNI-LOS NA GRADUAÇÃO

“Subgêneros de resumos de textos podem ser identificados, de acordo

com a instituição social em são produzidos e em que circulam e, portanto,

de acordo com seus destinatários, o que nos permite distinguir entre

resumos jornalísticos, científicos etc.” (MACHADO, 2005, p. 150).

Já para Marcuschi o resumo é um processo de “retextualização”, visto

aqui não como um mero processo mecânico, mas como “[...] um processo que

envolve operações complexas que interferem tanto no código como no sentido e

evidenciam uma série de aspectos. [...]” (MARCUSCHI, 2007, p.46). Dessa forma, a

retextualização abrange as relações entre os gêneros e os textos – intertextualidade –

bem como, as relações entre discursos – a interdiscursividade. O resumo, como

mencionado anteriormente, é a elaboração de um segundo texto a partir das ideias

principais do texto-base; é o mesmo que registrar a nossa compreensão acerca

daquilo que foi lido e por mais que não caiba em especial nesse processo (resumo) a

nossa visão crítica, não deixa de ser a exposição de nossas percepções sobre o

conteúdo e as informações que extraímos da leitura relacionados ao conhecimento

que possuímos decisivos para a sua efetivação. Dessa forma, a compreensão torna-se

um fator importantíssimo não só no processo de resumir um texto como também em

outras modalidades que envolvem leitura, escrita, oralidade ou interpretação, uma

vez que, é impossível relatar ou discorrer a respeito daquilo que não compreendemos

ou não sabemos interpretar.

“Há nestas atividades de retextualização um aspecto geralmente ignorado

e de uma importância imensa. Pois para dizer de outro modo, em outra

modalidade ou em outro gênero o que foi dito ou escrito por alguém, devo

inevitavelmente compreender o que esse alguém disse ou quis dizer.

Portanto, antes de qualquer atividade de transformação textual, ocorre

uma atividade cognitiva denominada compreensão. Esta atividade, que

em geral se ignora ou se dá por satisfeita e não problemática, pode ser a

fonte de muitos problemas no plano da coerência no processo de

retextualização. [...]” (MARCUSCHI, 2007, p.47).

O resumo “[...] seria a representação reduzida de um texto a resumir,

sendo o problema da escrita reduzido a um simples ato de transcodificação da

compreensão do texto. [...]” (SCHNERWLY e DOLZ, 1999, p.14). Além disso, por

possuir um objetivo e um destinatário específicos, deixa marcas linguísticas

específicas no texto:

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“[...] O exercício „resumo‟ deve ser considerado um gênero que leva ao

extremo a atitude metalinguística em face de um texto em que é preciso

reconstruir a lógica enunciativa, sendo a situação escolar de comunicação

precisamente, aquela que solicita a demonstração da capacidade desta

atitude.” (SCHNERWLY e DOLZ, 1999, p.14).

METODOLOGIA

O corpus da pesquisa em questão será os resumos coletados durante o

período de atuação da monitoria na disciplina Produção e Recepção de Texto I,

desenvolvido pelo programa de assistência estudantil da Universidade Federal de

Sergipe – Campus Profº Alberto Carvalho, referente a alunos dos cursos de

Administração e de Ciências Contábeis. Com base nessas produções, faremos um

estudo de caso, de cunho qualitativo e quantitativo, que pretende avaliar o nível de

compreensão desses alunos acerca dos gêneros fichamento, resumo e resenha, a fim

de identificar se realmente há uma confusão entre os gêneros e a persistência dela ou

não no decorrer da disciplina em questão.

Nossa ideia inicial é, dentre as produções coletadas, selecionar seis

resumos (parte quantitativa da pesquisa) de cada semestre em que a monitoria atuou

como apoio extra à disciplina Produção e Recepção de Texto I, ministrada pela

professora Márcia Regina Curado Pereira Mariano, nos semestres: 2011/2, 2011/3 e

2012/1. Caso ocorra de esse número de produções ser exagerado e/ou insuficiente,

faremos as devidas alterações no decorrer da pesquisa, como diminuir, aumentar ou

até mesmo mantermos esse número, o que irá variar de acordo com as necessidades

ou dificuldades que o trabalho for apresentando.

O processo de seleção dos resumos se dará da seguinte maneira: de cada

grupo de seis produções, escolheremos as três que apresentaram problemas mais

graves e as três que apresentaram dificuldades mais amenas, sempre levando em

consideração aspectos textuais relacionados à compreensão, a interpretação, ao uso

da língua, a adequação da estrutura do texto ao gênero resumo, e não somente ao uso

da gramática, que também é importante e que não deixaremos de lado, mas que não é

Page 12: FICHAMENTO, RESUMO E RESENHA A DIFICULDADE EM DICERNI-LOS NA GRADUAÇÃO

o foco principal de nossa investigação (parte qualitativa). Nessa etapa de análise dos

resumos e levantamento dos dados, bem como na observação da adequação ao

gênero em questão, tomaremos como base a coleção de Severino (SEVERINO,

2000) onde as autoras Rosana (WEG, 2006), Marli (LEITE, 2006) e Maria Lúcia

(ANDRADE, 2006) fazem a distinção entre os gêneros fichamento, resumo e

resenha, respectivamente, esclarecendo os pontos primordiais dessas atividades; e as

teorias de

Marcuschi (MARCUSCHI, 2007) e Machado (MACHADO, 2005)

acerca do gênero resumo, sob o qual nos deteremos e aprofundaremos nossa análise.

Feito todo esse levantamento, discorreremos brevemente acerca de cada déficit

encontrado, questionando e analisando cada erro. Em seguida, partiremos para os

questionamentos que nos propusemos a responder no início de nossa pesquisa, com o

intuito principal de detectar a causa da confusão dos estudantes dos cursos de

Administração e de Ciências Contábeis acerca dos gêneros tão cobrados na

academia.

Por fim, a partir das produções textuais coletadas, mais precisamente as

do gênero resumo, faremos um levantamento das dificuldades e dos desvios mais

frequentes apresentados pela escrita desses alunos e através deles, faremos uma

comparação do desempenho dos alunos antes, durante e depois de terem cursado a

disciplina. Dessa forma, poderemos detectar se os conceitos fornecidos pela

disciplina Produção e Recepção de Texto I, juntamente com o apoio da monitoria,

estão contribuindo para o aprimoramento da escrita desses discentes e contribuindo,

assim, para a formação acadêmica deles. Além disso, com base nessas análises,

procuraremos fornecer algumas sugestões no sentido de diminuir a incidência do

problema e/ou erradicá-lo.

REFERÊNCIAS

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Parábola Editorial, 2009.

Page 13: FICHAMENTO, RESUMO E RESENHA A DIFICULDADE EM DICERNI-LOS NA GRADUAÇÃO

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BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, Mikhail. Estética da

criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 261-306.

MACHADO, Anna Rachel. Revisitando o conceito de resumos. In: DIONÍSIO,

Ângela Paiva, MACHADO, Anna Rachel e BEZERRA, Maria Auxiliadora (orgs).

Gêneros textuais & ensino. 4. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. p.138-150.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização.

8ª ed. São Paulo: Cortez, 2007.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In:

DIONÍSIO, Ângela Paiva, MACHADO, Anna Rachel e BEZERRA, Maria

Auxiliadora (orgs). Gêneros textuais & ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p.

19-36.

LEITE, Marli Quadros. Resumo. São Paulo: Paulistana, 2006.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão.

São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

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SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 21ª ed. rev. E

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WEG, Rosana Morais. Fichamento. São Paulo: Paulistana, 2006.