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O LETRAMENTO LITERÁRIO NO ENSINO MÉDIO – UMA PROPOSTA DE TRABALHO COM O CLÁSSICO LITERÁRIO O CORTIÇO

Autora: Celia Maria PetriwKruppa1

Orientadora: Prof.ªMs. Patricia Elisabel Bento Tiuman2

RESUMO: A leitura é a porta de entrada para o mundo letrado, considerando que por meio dela podemos enriquecer nosso vocabulário, obter conhecimento, dinamizar nosso raciocínio e interpretação. Considerando que existe certa resistência por parte dos alunos que alegam não gostar leitura literária por ser de difícil compreensão, este estudo reflete sobre qual é o papel do professor na motivação para a leitura dos clássicos literários no Ensino Médio, inserindo-os na sala de aula como forma de incentivo à formação de leitores e não apenas para as necessidades do concurso vestibular. Dessa forma, objetivou-se verificar a receptividade dos alunos possibilitando a formação de leitores utilizando a teoria do letramento literário na escola proposta por COSSON (2007). Para tanto, utilizou-se o livro O cortiço em sua versão original e adaptado para histórias em quadrinhos. Palavras-Chave: Letramento literário. Clássicos. Literatura. Adaptação. Quadrinhos.

1. Introdução

A disciplina de Língua Portuguesa na Educação Básica deve contribuir para

ampliar e aperfeiçoar a competência discursiva dos educandos, a qual envolve a

compreensão do funcionamento e a produção dos diferentes discursos que circulam

na sociedade. Para que essa competência seja desenvolvida, os alunos devem ser

orientados nas práticas de linguagem oral e escrita, de forma intensa, criativa,

questionadora e crítica.

A leitura é imprescindível para a inserção do cidadão no mundo letrado, pois,

por meio dela, podemos enriquecer nosso vocabulário, obter conhecimento,

dinamizar nosso raciocínio e interpretação. O processo de aquisição da leitura é

objeto de intervenção escolar. Existem diversas modalidades de leitura, contudo, a

que abordaremos é a literária.

Em nosso trabalho, em turmas de Ensino Médio, sempre procuramos inserir a

leitura de obras clássicas de literatura, entretanto, constatamos que existe certa

1 Especialista em Língua Portuguesa, graduada em Português/Francês, professora da rede estadual de ensino no Colégio Estadual Prefeito Antonio Witchemichen. 2 Docente do Departamento de Letras da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO. Mestre em Letras pela Universidade Estadual de Maringá – UEM.

resistência, por parte dos alunos, que alegam não gostar dessa modalidade de

leitura por ser de difícil compreensão. Sendo assim, muitas vezes os textos

canônicos são substituídos por outros.

Esse fato nos intriga muito, pois percebemos que além dos alunos sentirem

dificuldade em relação à leitura literária, nós, professores de literatura, também não

sabemos como trabalhar de modo que desperte interesse pelas aulas. A abordagem

dos clássicos no ensino médio, geralmente, tem sido utilizada apenas como requisito

para o exame vestibular, os alunos leem por obrigação sem entender as obras. O

fato de não se sentirem motivados e por lerem, na maioria das vezes, por uma

necessidade classificatória, não lhes permite que atribuam sentido àquilo que estão

lendo. Sendo, portanto, necessário uma intervenção pedagógica efetiva que propicie

os artifícios necessários para a realização da leitura literária.

Hansen (2005) defensor da leitura literária como aquela na qual o leitor é

capaz de refazer os procedimentos do ato de fingir pressupostos na criação literária

explica que:

Para que uma leitura se especifique como leitura literária, é consensual que o leitor deva ser capaz de ocupar a posição semiótica do destinatário do texto, refazendo os processos autorais de intervenção que produzem o efeito de fingimento. Idealmente, o leitor deve coincidir com o destinatário para receber a informação de modo adequado. Essa coincidência é prescrita pelos modelos dos gêneros e pelos estilos que funcionam como reguladores sociais da recepção, compondo destinatários específicos dotados de competências diversificadas; mas a coincidência é apenas teórica, quando observamos o intervalo temporal e semântico existente entre destinatário e leitor. Assim, a leitura literária é uma poética parcial ou uma produção assimétrica de sentido (HANSEN, 2005, p. 19).

Umas das possíveis causas para a falta de interesse pela leitura dos clássicos

literários poderia ser a maneira como o professor conduz seu trabalho e a inserção

desse gênero nas aulas de literatura. É importante destacar que essa leitura exige

do aluno o contato com obras que são de épocas diferentes, que trazem um

contexto diverso da realidade deles e, portanto, exigem uma motivação diferenciada.

A leitura, a partir do ponto de vista do letramento, considera o ato de ler como

prática social, que vai de encontro com as necessidades e demandas do indivíduo

dentro do seu contexto social e cultural. Sabemos que a literatura faz parte da vida

do ser humano enquanto ser social e como forma de humanização do indivíduo.

Sendo assim, a escolha do clássico literário O Cortiço para este estudo, justifica-se

pela sua importância social e pelos ensinamentos e conhecimentos que podem

surgir a partir dessa leitura.

Assim, o educador deve buscar estratégias para desenvolver práticas de

leitura que contribuam para o letramento literário e que possam motivar os alunos

para o processo de formação de leitores, inserindo o clássico literário O Cortiço em

quadrinhos, não como uma obrigação de leitura ou somente para prestar o exame

vestibular, mas como alternativa para desenvolver diferentes capacidades de

compreensão e interpretação tanto dos textos quanto de sua vivência.

A escola, enquanto espaço para construção do conhecimento e

desenvolvimento intelectual, deve oportunizar ao aluno o contato com diferentes

gêneros textuais, sendo que para cada um deles há formatos de leitura distintos.

Propomos a implantação da leitura literária na escola, como prazer e não como

obrigação.

Para formar leitores, não basta que os indivíduos saibam ler, é preciso que

eles saibam fazer uso dessa habilidade. Essa preocupação com o uso da leitura

trouxe uma discussão sobre alfabetização, a prática da leitura e o termo letramento,

pois ser alfabetizado não significa ser letrado.

Nesse contexto, a questão norteadora do trabalho foi: “qual o papel do

professor na motivação para a leitura dos clássicos literários, especificamente O

Cortiço no Ensino Médio, inserindo-o na sala de aula como forma de incentivo à

formação de leitores e não apenas para as necessidades do concurso vestibular?”

Por meio da elaboração do projeto, da unidade didática e da implementação

junto aos alunos do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Prefeito Antonio

Witchemichen, na Linha Marcondes, Zona Rural do Município de Prudentópolis –

PR, foi possível investigar as preferências de gêneros literários, o grau de leitura,

produção, compreensão e interpretação por parte dos alunos e também analisar

como ocorre a prática da leitura no Ensino Médio dentro da proposta curricular.

A possibilidade da produção de novas propostas para a leitura literária na

escola contribuiu para atingir o objetivo central dessa pesquisa que foi desenvolver

estratégias que possibilitassem a leitura literária do texto O Cortiço de Aluísio de

Azevedo em uma turma do terceiro ano do Ensino Médio.

2. A proposta da leitura literária na escola

O ato de ler enquanto prática social, deve ser interiorizado, interpretado com

atribuição de significados, deixando de ser apenas um processo mecânico e

assumindo significação tanto na escola quanto na vida.

Freire (1995, p.44) destaca que:

O leitor será tão mais produtor da compreensão do texto, quando se faça realmente apreensor da compreensão do autor. Ele produz a inteligência do texto, na medida em que ela se torna conhecimento que o leitor criou e não conhecimento que lhe foi justaposto pela leitura do livro.

O aluno pode descobrir o prazer pela leitura, quando perceber que ela lhe

proporciona conhecimento e a capacidade de associar ideias, desenvolver a

inteligência, os sentimentos, o sentido da vida e o estar no mundo. O que se

percebe nos dia de hoje é a ausência da leitura de fruição.

Para que haja uma leitura efetiva, se faz necessário que o leitor atribua

sentido ao que foi lido. O sentido do texto, segundo Iser “representa a totalidade das

referências, tal como implicada pelos aspectos do texto, e deve ser constituído no

percurso da leitura” (ISER, 1999 apud ANDO, p.88), enquanto o significado emerge

no instante em que o leitor absorve o sentido em sua própria existência. Quando

sentido e significado agem juntos, garantem a eficácia de uma experiência que nos

permite constituirmos a nós mesmos constituindo uma realidade que nos era

estranha.

Nesse contexto, trabalhar a leitura literária na sala de aula é proporcionar ao

aluno o contato com grandes autores e suas obras. Para tanto, utilizaremos os

conceitos de letramento literário. Hamze (2012, p. 01) explica que: Letramento é uma tradução para o português da palavra inglesa “literacy” que pode ser traduzida como a condição de ser letrado. Um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado. Alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; letrado é aquele que sabe ler e escrever, mas que responde adequadamente às demandas sociais da leitura e da escrita.

Considerando a visão de letramento exposta acima e especificamente o

letramento literário, Cosson (2011, p.23) explica que para a literatura ser ensinada

na escola:

[...] devemos compreender que o letramento literário é uma prática social e, como tal, responsabilidade da escola. A questão a ser enfrentada não é se a escola deve ou não escolarizar a literatura, como bem nos alerta Magda Soares, mas sim como fazer essa escolarização sem descaracterizá-la, sem transformá-la em um simulacro de si mesma que mais nega do que confirma seu poder de humanização.

Desse modo, quando se trabalha na perspectiva do letramento literário não se

pode simplesmente exigir que o aluno leia a obra literária e ao final faça uma prova,

uma resenha ou um fichamento. Soares (2001, p.111) destaca que, “as relações

entre letramento e escolarização são ainda imprecisas e obscuras”. Assim, o

letramento literário desenvolvido na escola é importante para que as práticas sociais

de leitura de forma geral sejam apropriadas por todos e, para que, durante a

formação dos leitores ocorra a inserção dos clássicos literários no processo ensino-

aprendizagem.

A leitura literária exige do leitor o conhecimento e a compreensão de códigos

e convenções que o auxiliam na compreensão do texto, como afirma Hansen:

(...) a leitura literária é uma parcialidade produtora de parcialidades, pois é um trabalho particular de apropriação intelectual que transforma matérias simbólicas produzindo novas versões delas como novas divisões sociais. Dizendo de outro modo, a leitura é uma enunciação que refaz imaginariamente a estrutura simbólica da enunciação do outro. (HANSEN, 2005, p.14)

Desse modo, a análise literária é um processo de comunicação e assim

demanda respostas do leitor num processo interativo. Cosson (2011, p. 29) destaca

que “ao professor cabe criar as condições para que o encontro do aluno com a

literatura seja uma busca plena de sentido para o texto literário, para o próprio aluno

e para a sociedade em que todos estão inseridos”.

Todo esse papel de facilitador e orientador no processo ensino/aprendizagem

faz do professor peça chave para que o aluno se aproprie dos conteúdos

programáticos, atinja os objetivos e, principalmente, consiga fazer uma leitura de

mundo, inovadora, por meio da leitura literária, valorizando os elementos da

narrativa e a riqueza de informações que existem nos textos da nossa literatura.

2.1. Elementos da narrativa

A escola deve ser um espaço que promova o letramento do aluno por

intermédio de uma gama de textos com diferentes funções sociais. Conforme as

Diretrizes Curriculares Estaduais, doravante DCEs, (PARANÁ, 2008, p.50), o

professor de Língua Portuguesa precisa propiciar ao educando a prática, a

discussão, a leitura de textos das diferentes esferas sociais, dentre eles os literários.

Dentro da proposta da leitura literária, o trabalho com jovens deve estar

focado na inovação e na motivação para a leitura dos clássicos literários, deixando

de ser apenas uma obrigação ou uma necessidade para o concurso vestibular.

Nesse contexto, o aluno precisa conhecer e compreender a narrativa literária,

analisando os elementos que a compõem.

Dentre os elementos da narrativa, pode-se destacar o tempo, o espaço,

enredo, personagens e narrador. Nesse contexto, os personagens atuam, o narrador

relata as ações, o tempo e o espaço são elementos importantes na narrativa, uma

vez que são utilizados pelo autor para compor uma história.

Segundo Faro (2010, p.01) “o narrador é o dono da voz ou, em outras

palavras, a voz que nos conta os fatos e seu desenvolvimento. Dependendo da

posição do narrador em relação ao fato narrado, a narrativa pode ser feita em 1ª ou

em 3ª pessoa”.

Já o enredo, é a sucessão de ações e acontecimentos de uma narrativa

obedecendo às leis da causalidade e temporalidade. O enredo dá sustentação à

história, contribui para o desenrolar dos acontecimentos e geralmente está centrado

num conflito, numa oposição entre os elementos da história e cria no leitor uma

expectativa em relação aos fatos.

Quanto aos personagens, Faro (2009, p.01) destaca que são os seres que

participam do desenrolar dos acontecimentos, vivem o enredo. Em geral, um

personagem bem construído representa uma individualidade com traços psicológicos

próprios, representando tipos humanos, identificados pela profissão, pelo

comportamento, pela classe social, enfim, por algum traço distintivo comum a todos

os indivíduos dessa categoria.

Nunes (2009, p. 01) destaca que o tempo assume uma questão conceitual,

sendo uma medida usada para expor a sequência de fatos, intervalo e duração de

eventos. Assim existem diferentes tipos de tempo:

Tempo Físico – quando consideramos como referencial eventos da natureza. Tempo Psicológico – levando em conta a sucessão dos processos psicológicos, temos o tempo psicológico, cuja principal característica é a inadequação aos referenciais objetivos. O tempo psicológico, diferente do tempo físico, é subjetivo, variando de indivíduo para indivíduo. Tempo Cronológico – o referencial no tempo cronológico são eventos naturais cíclicos e de duração determinada, utilizados na regulação de eventos sociais. Anos, que são baseados no intervalo de translação do planeta Terra; Meses, referentes ao intervalo de translação da Lua em torno da Terra; Dias, intervalo de rotação da Terra sobre seu próprio eixo; Horas, Minutos e Segundo; que são subdivisões do Dia, são exemplos de Tempo Cronológico, também chamado de tempo socializado ou público. Tempo Histórico – Representa o intervalo de duração de fatos históricos. Tempo Lingüístico– está ligado intrinsecamente ao discurso. No tempo lingüístico, o presente é o momento da fala, e este é seu eixo central (NUNES, 2009, p. 01).

Outro elemento importante na narrativa é o espaço, o local onde a história

está acontecendo. Para Araújo (2012) o espaço é imprescindível, e deve ser

esclarecido logo no início da narrativa, pois assim o leitor poderá localizar a ação e

imaginá-la com maior facilidade.

Uma narrativa literária pode aparecer em forma de conto, novela ou romance

e para que exista de fato é necessário que se tenha um narrador da história, uma

sequência de fatos: o enredo, as personagens, o espaço ou cenário e o tempo da

narrativa. O trabalho com narrativas em Língua Portuguesa deve valorizar os

elementos presentes para o entendimento da leitura literária dentro da proposta de

um trabalho diferenciado, realizando uma leitura efetiva dos clássicos na escola e

possibilitando a formação de leitores competentes.

Dessa forma, estudar os elementos da narrativa no contexto da produção

literária é fundamental para o entendimento da leitura literária. E, como alternativa

para desenvolver esse trabalho, utilizaremos a adaptação para história em

quadrinhos do texto O Cortiço como objeto de motivação.

2.2.Adaptação dos clássicos literários

As adaptações de clássicos literários pensando no público infantojuvenil é

realidade há muito tempo no contexto da Literatura. Os jovens precisam de

estímulos para que a prática da leitura se efetive e a adaptação dos clássicos

literários pode se configurar como um instrumento importante para despertar o

prazer em ler.

Segundo Formiga e Barbosa (2012), estudiosos como Figueiredo Pimentel e

Carlos Jansen Müler se destacam na área da tradução e adaptação de clássicos da

literatura universal e, no início do século XX, Monteiro Lobato, surge na literatura

infantojuvenil, não apenas como escritor e editor, mas como tradutor e adaptador

produzindo diversas adaptações dos clássicos literários que contribuíram para a

motivação do jovem leitor daquele contexto.

Nesse mesmo século, surgem várias ideias e produções considerando

fábulas, contos, romances, e, adaptações de produções literárias para histórias em

quadrinhos. Com isso, Formiga e Barbosa (2012) citam outros nomes que já estão

consagrados como adaptadores em nosso país como Carlos Heitor Cony, Ana Maria

Machado, Paulo Mendes Campos e tantos outros menos reconhecidos pela

comunidade acadêmica, considerando que apesar da importância e da

disseminação das adaptações dos clássicos literários ainda são poucos os estudos

acerca disso.

Corso (2007, p. 02) destaca que:

as adaptações de textos clássicos são uma forma de aproximar o leitor das obras consagradas e tentam uma democratização e uma recepção mais “facilitada” para o leitor infanto-juvenil. A adaptação, no sentido de recontar uma história, pertence e é vista muito no campo da marginalidade, tal qual sua literatura, a infanto-juvenil. Nesse sentido, o termo é associado aos conceitos de enxugamento, facilitação, empobrecimento e prejuízos em relação ao original, sem preocupações estéticas. O adaptador, apropriador, quando da adaptação textual, muitas vezes se interessa mais por enxugar o original, alterando o seu imaginário, proporcionando, até mesmo, fendas entre as partes do texto.

Para se visualizar de forma mais clara do processo de adaptação dos

clássicos literários, é importante compreender que a transformação textual é,

segundo Corso (2007), um “jogo de linguagem”, encontrando-se na adaptação um

tipo de processo lúdico, o qual tem o intuito de aproximar o leitor infantojuvenil do

texto literário.

Formiga e Barbosa (2012, p. 01) explicam que:

Essa concepção de que a qualidade do texto pode variar conforme a condição sócio-cultural de quem lê é vista de forma limitada pela política editorial, que desconsidera o leitor e suas práticas de leitura.

É inegável que os dispositivos textuais e formais – os suportes – estão intimamente ligados à “comunidade de leitores”, porém não podemos limitar as distâncias sociais a fatores exclusivos que determinam a materialidade de um texto, pois outros princípios devem marcar as diferenciações: idade, sexo, geração, elementos que precisam ser considerados por alguns editores, que, ao produzirem ou reconstruírem textos para crianças/jovens, representam esse público apenas como grupo hierarquizado, e, mesmo considerando a idade, representam-no como incapaz.

Para Chartier (2001), o texto não atua sobre o leitor por si só, mas por

intermédio de uma materialidade, um formato, imagens, uma capa, uma distribuição

e outros elementos que vão contribuir no processo de construção de sentido do

leitor. Se continuarmos a ignorar outras formas materiais, que implicam formas de

entendimento de texto, estaremos confirmando a autoridade imposta pelo texto, de

que ele só tem uma forma de ser lido, ignorando a relação que se estabelece entre a

leitura, o leitor e sua materialidade de que faz uso no momento de sua produção

cultural.

Partindo desse pressuposto, ao se adaptar um texto ou obra literária deve-se

considerar que à medida que um autor constrói ou realiza uma adaptação a partir de

uma referência, acaba buscando como premissa os objetivos e o conhecimento de

quem será o destinatário, o público leitor. Portanto, a adaptação dos clássicos

literários para histórias em quadrinhos parte dos interesses do públicoinfantojuvenil.

Corso (2007) destaca que apesar de haver muitas adaptações de obras

clássicas da literatura brasileira, em língua portuguesa para leitores mais jovens ou

com menos disposição e vontade de mergulhar no livro original, as adaptações de

livros estrangeiros dificilmente levam o leitor ao texto-fonte, na língua de origem do

escritor. Nesse sentido, alguns leitores podem se aproximar do “original”, muitas

vezes, no máximo por meio da tradução.

Portanto, a adaptação entra como uma forma de atualização de textos e

obras, visando levar os jovens leitores a uma proximidade com os clássicos

universais da literatura. Para Corso (2007, p. 03):

argumentos favoráveis à prática da adaptação para a literatura infanto-juvenil são que ela democratiza a leitura, propicia uma (possível) recepção mais “facilitada” ao leitor, bem como se fortalece no mercado dizendo-se responsável por aproximar o jovem leitor do texto clássico. No entanto, (e agora vêm os argumentos desfavoráveis), o processo de “condensação” ou “enxugamento” do texto, que não deixa de ser uma das características primordiais das

adaptações para esses leitores, pode comprometer e polemizar a fidelidade com relação ao texto-fonte.

Considerando que as adaptações existem e estão disponíveis em bibliotecas

e até mesmo na internet, sendo seu volume representativo dentro da chamada

“indústria do livro” pelo alcance de um público bastante diversificado, a escola não

pode ficar à parte devendo inseri-los na prática da leitura dentro da proposta do

letramento literário.

2.3.Letramento literário

Para se formar leitores, não basta que os indivíduos saibam ler, é preciso que

eles saibam fazer uso dessa habilidade. Essa preocupação com o uso da leitura

trouxe uma discussão sobre alfabetização, a prática da leitura e o termo letramento,

pois ser alfabetizado não significa ser letrado.

Como assevera Soares (2001, p. 19), “alfabetizado nomeia aquele que

apenas aprendeu a ler e a escrever, não aquele que adquiriu o estado ou a condição

de quem se apropriou da leitura e da escrita, incorporando as práticas sociais que as

demandam”.

Analisar a leitura a partir do ponto de vista do letramento é considerar o ato de

ler como prática social, que vai de encontro com as necessidades e demandas do

indivíduo dentro do seu contexto social e cultural. Desse modo, Soares (2001)

destaca duas amplas categorias de definição de letramento: uma individual e outra

social. A leitura do ponto de vista individual de letramento é considerada uma

“tecnologia” adquirida pelo indivíduo e:

estende-se da habilidade de traduzir em sons sílabas sem sentido a habilidades cognitivas e metacognitivas; inclui, dentre outras: a habilidade de decodificar símbolos escritos; a habilidade de captar significados; a capacidade de interpretar seqüências de idéias ou eventos, analogias, comparações, linguagem figurada, relações complexas, anáforas; e, ainda, a habilidade de fazer previsões iniciais sobre o sentido do texto, de construir significado combinando conhecimentos prévios e informação textual, de monitorar a compreensão e modificar o significado do que foi lido, tirando conclusões e fazendo julgamentos sobre o conteúdo. (SOARES, 2001, p. 69)

Considerando a perspectiva do letramento, as habilidades de leitura podem e

devem ser aplicadas a diversos tipos de suportes e textos, sejam de literatura, livros

didáticos, obras técnicas, dicionários, listas, enciclopédias, quadros de horário,

catálogos, jornais, revistas, anúncios, cartas formais e informais, rótulos, cardápios,

sinais de trânsito, sinalização urbana, receitas, contos, fábulas, considerando que

para cada gênero textual pode ser diferenciado.

O trabalho de letramento literário na escola deve conduzir a uma prática de

leitura literária, na qual o aluno goste realmente de ler e leia diferentes gêneros

textuais, levando essa prática para além dos muros da escola. Para que esse

processo seja efetivo, Soares (2001, p.100) explica que existe “um possível

distanciamento entre o letramento escolar – as habilidades de leitura e de escrita

desenvolvidas na escola – e o letramento social – as habilidades demandadas pelas

práticas de letramento que circulam na sociedade”.

O professor de Língua Portuguesa tem um papel importante nesse processo,

principalmente, mudando a prática da leitura trabalhada por muitos anos na escola,

trazendo um novo enfoque dessa prática como construção social e motivando o

aluno para diferentes formas de ler.

Um exemplo disso é a utilização de histórias em quadrinhos adaptados de

clássicos literários para motivar a formação de leitores em que o aluno deve ser

incentivado a ler considerando os aspectos ideológicos de um texto ou de uma

imagem, articulando os discursos e interdiscursos propostos, valorizando o contexto

da produção e as possibilidades de interpretação do texto do autor durante a leitura.

O trabalho com diferentes formas de apresentação do clássico literário, como

por meio de história em quadrinhos, propõe que o público infantojuvenil sinta prazer

em ler e não o faça apenas por necessidade para concursos ou para atribuição de

notas.

3. Estratégias de ação

A implantação do projeto foi realizada ao longo do primeiro semestre de 2013,

com alunos do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Prefeito Antonio

Witchemichen, na Linha Marcondes, Zona Rural do Município de Prudentópolis –

PR. O público-alvo foram alunos provenientes de famílias de pequenos agricultores

das comunidades no entorno do colégio, que têm na escola uma de suas poucas

fontes de informação.

A pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa-ação de abordagem

qualitativa, com revisão bibliográfica e pesquisa de campo por meio da elaboração

de uma unidade didática com a temática “O letramento literário no Ensino Médio –

uma proposta com o clássico literário O Cortiço”.

Para realização desse trabalho foi selecionada a obra O cortiço, um clássico

literário de autoria de Aluízio de Azevedo, optando-se pela adaptação do clássico

em quadrinhos, embasando tanto o trabalho teórico quanto o prático desta pesquisa.

Primeiramente, foi trabalhada a música “Humilde Residência” de Michel Telo e

também a canção “Saudosa Maloca”de Adoniram Barbosa que tematizam a moradia

e o processo de urbanização dos grandes centros urbanos. O objetivo do trabalho

com essas músicas foi propor a análise de diferentes tipos de moradia e dos

diferentes centros urbanos verificando uma possível intertextualidade com o clássico

literário O Cortiço.

Foi feita uma apresentação oral do autor e obra, partindo do conhecimento

dos alunos sobre o livro e buscando elencar as estratégias de trabalho com o

clássico literário. Na sequência, utilizando recursos multimídia, foram apresentadas

imagens de residências do século XIX e XX para que os alunos relacionassem com

a músicas analisadas. A leitura em si, ocorreu num terceiro momento, sendo lidas

em sala de aula, as primeiras páginas do livro que trazem a apresentação dos

elementos da narrativa.Antes disso, os alunos apreciaram o vídeo “A menina que

odiava livros” e a partir desse trabalho receberam o livro O Cortiço adaptado em

quadrinhos.A proposta foi trazer para a sala de aula uma vivência diferenciada dos

alunos em relação aos clássicos literários, optando-se pelos adaptados para história

em quadrinhos, que fazem parte do cotidiano de muitas gerações. Os alunos tiveram

um tempo determinado (1 semana) para leitura da obra na íntegra, leitura esta que

foi realizada em grupos, considerando a disponibilidade de exemplares na escola.

As reflexões e discussões sobre o clássico O Cortiço adaptado para história

em quadrinhos, foram abordadas desde o reconhecimento do clássico no contexto

das capas e imagens, até a análise e interpretação do mesmo utilizando formulário

para análise do livro.

O encaminhamento metodológico com o clássico literário tomou como base a

identificação dos elementos da narrativa: espaço, personagens, contexto histórico de

produção e dos conhecimentos e valores morais. Visando ampliar a capacidade

leitora dos educandos foi proposta a análise em grupo dos capítulos do clássico com

posterior socialização com os colegas, por meio do diálogo entre os alunos

identificando o movimento literário ao qual o livro pertence. As atividades

contribuíram para aprofundar os conhecimentos sobre os movimentos literários,

focando no Naturalismo.

Na prática, por meio da pesquisa-ação, foi trabalhada a compreensão e

interpretação de forma a promover um aprofundamento e a integração das práticas

de leitura. Nesse contexto, foi trabalhada a pesquisa de diversos acontecimentos no

Brasil e no Mundo na segunda metade do século XIX, trabalhando com pesquisa e

leitura de diferentes fontes, de modo interdisciplinar.

Com essa estratégia pretende-se investigar o grau da leitura, a compreensão

e interpretação de diferentes tipos de textos e informações, assim, foi ampliada a

pesquisa para dados referentes à distribuição de renda, saneamento básico, renda

familiar, relacionando esses dados com a situação de vida apresentada no livro em

análise, promovendo um novo olhar para a leitura, motivando a formação do leitor

crítico em sala de aula.

Complementando a atividade, foi proposta a leitura de imagem, utilizando a

fotografia de um cortiço no centro do Rio de Janeiro, de 1906 e também do vídeo

tema da novela “Lado a Lado” da Rede Globo, propondo a intertextualidade dessas

imagens com a descrição das músicas “Humilde residência”, “Saudosa maloca” e do

livro O Cortiço.

A proposta seguinte foi a pesquisa sobre a condição feminina da mulata no

século XIX até o século atual, propondo uma relação entre as fontes literárias e as

músicas estudadas com a sensibilidade de leitor trabalhando a percepção do aluno

sobre a mulher citada nas obras analisadas.

Ao final do trabalho, os alunos, em grupos, escolheram cenas do livro O

Cortiço, ensaiaram e apresentaram para os colegas trabalhando com a interpretação

e produção artística na escola. As apresentações foram filmadas e assistidas por

toda a turma contribuindo para motivar e fortalecer a comunidade de leitores.

4. Resultados e discussões

Durante a apresentação do projeto para os alunos e foi aplicado o pré-teste

com o intuito de verificar o nível de interesse desses pela leitura e sua motivação

para o aprendizado durante as ações previstas nessa pesquisa. Na concepção de

75% alunos a leitura é uma forma de conhecimento, 13,5% considera prazer, 8%

consideram divertimento, ao passo que para 3,5% alunos é obrigação e

necessidade, conforme destacado no gráfico abaixo:

Gráfico 1 – Concepção dos alunos sobre a leitura

Fonte: Dados da pesquisadora.

Quanto à importância da leitura, os alunos destacaram que por meio dela é

possível conhecer novos lugares, sem sair do lugar; também, citaram que além de

conhecimentos ajuda a melhorar o vocabulário tanto escrito quanto falado; ajuda na

compreensão e promove o aprendizado; desenvolve a imaginação e contribui para

conhecer novas culturas. Sendo assim, percebe-se que a leitura é analisada sob um

viés positivo e como fonte de conhecimento e entretenimento.

Analisando a frequência com que os alunos leem, observa-se:

Gráfico 2 –Frequência de leitura dos alunos

Fonte: Dados da pesquisadora. Analisando as respostas dos alunos, a leitura não é um hábito frequente na

turma analisada, embora tenham uma concepção que valorize a leitura, na pratica

ela não ocorre. Sendo assim, as respostas dadas pelos alunos embasaram a

aplicação do projeto, focando as estratégias de ação na motivação para a leitura de

modo a contribuir para a formação de leitores.

Quando questionados, sobre quantos livros leem no ano, as respostas foram

as apresentadas no gráfico 3:

Gráfico 3 – Quantidade de livros lidos anualmente por aluno

Fonte: Dados da pesquisadora.

Apesar da frequência de leitura não ser alta, a quantidade de livros é

representativa, destacando-se que 40,5% dos alunos leem de 1 a 5 livros por ano,

seguidos de 19% dos alunos que leem mais de 5 livros ao ano. Os alunos quando

questionados sobre o último livro que leram e seu conteúdo, 86% dos alunos tiveram

respostas satisfatórias lembrando do título e do que se tratava, enquanto 14% dos

alunos não lembravam do título, ou até mesmo da história.

Os gêneros mais lidos pelos alunos são os romances, seguidos das

mensagens e dos contos. Os alunos têm preferências diferenciadas quando

procuram a leitura o que demonstra a necessidade de, em sala de aula, apresentar

propostas de leitura diferenciadas para motivá-los a lerem. Como podemos

comprovar com as informações presentes no gráfico 4:

Gráfico 4 –Tipos de gêneros lidos pelos alunos

Fonte: Dados da pesquisadora

As funções da literatura apontadas pelos alunos foram: informar, divertir,

passar sentimentos, trazer novos conhecimentos e informações, emocionar,

promover o interesse pela leitura e entretenimento.Essas diversas concepções sobre

literatura demonstram que existe um desafio para se trabalhar essas produções em

sala de aula, primeiro partindo do pressuposto da necessidade dos alunos

conhecerem o que é a literatura para sentirem-se motivados para ler. Em se tratando da leitura de literatura em quadrinhos, a maioria dos alunos

informou que já leu e gostou dessa forma de apresentação da história, destacando

inclusive que a partir desse tipo de leitura, gostaram mais de ler por ser divertida e

estimulante. Os alunos que ainda não haviam lido literatura em quadrinhos

informaram que têm curiosidade nesse tipo de leitura.

Quando questionados sobre o gosto pelas aulas de literatura, os alunos

responderam que gostam pouco e apenas um aluno informou que não gosta das

aulas, conforme exposto no gráfico 5:

Gráfico 5 –Gosto dos alunos pelas aulas de literatura

Fonte: Dados da pesquisadora

Considerando as atividades realizadas após a aplicação do pré-teste, os

alunos sentiram motivação, principalmente ao levar para sala de aula músicas que

fazem parte do seu cotidiano como “Humilde residência”. A inclusão de clássicos da

música brasileira como “Saudosa Maloca” contribuiu para que os alunos

conhecessem outras produções musicais e foram importantes para introduzir a

discussão sobre os diferentes tipos de moradia, chegando ao livro O Cortiço.

A leitura do clássico literário adaptado aos quadrinhos foi recebida pelos

alunos como algo diferente e a oportunidade de, a partir dessa leitura, promover

discussões da temática apresentada no livro, o estudo do movimento literário

conhecido como Naturalismo, instigou atividades de pesquisa propondo a

interdisciplinaridade com a História e Geografia.

A descoberta durante a aplicação do projeto foi a de que a leitura do livro do

clássico O cortiço foi mais bem aceita de que o livro adaptado ahistória em

quadrinhos, concluindo-se, portanto, que o diferencial da pesquisa foi a motivação

para leitura, assim se existe motivação para ler, independente de ser um quadrinho,

jornal, revista, o leitor fará a leitura com entusiasmo.

Após trabalhar com a leitura em quadrinhos e a leitura do livro original, foi

realizado um trabalho para análise das duas versões da narrativa. Dos 33 alunos

que responderam essa atividade, todos eles consideraram o livro original mais

interessante e destacaram como maior fonte de informações e detalhes. Abaixo

seguem transcrições das respostas dos alunos: “Comparando a obra “O Cortiço” nas duas versões, eu acho que a obra em quadrinhos confunde muito no sentido dos personagens, pois quando a historia estava começando a ficar interessante de repente ela muda.”(Aluno 1) “O livro original do Cortiço é muito melhor para se ler e entender do que o livro em quadrinhos. Nos quadrinhos você se interessa mais pelas imagens do que pela história”. (Aluno 2) “Na história do Cortiço original conta melhor a história de cada personagem, enquanto no outro livro você apenas percebe que o personagem atua na história, mas não compreende corretamente o que ele é na história, até algumas cenas que tem na história original não acontecem no livro em quadrinhos. Para mim o livro original tem muito mais a compreender”. (Aluno 3)

O trabalho com a leitura de imagens contribuiu para que os alunos

relacionassem as características dos imóveis e a condição social e econômica

apresentada nas diferentes fontes de pesquisa. Os alunos discutiram e debateram

de modo crítico e realista o vídeo da abertura da novela Lado a Lado,

desenvolvendo a percepção e sensibilidade para analisar a mensagem apresentada

no vídeo.

A experiência teatral com a releitura do livro e escolha das cenas para

apresentação em grupo aproximou os alunos da produção teatral e foi uma atividade

que rendeu bons resultados em termos de valorização da arte e da literatura.

Durante a aplicação do pós-teste, os alunos analisaram as atividades

desenvolvidas e expuseram sua visão e percepção sobre o trabalho desenvolvido.

Destacaram que gostaram do trabalho realizado com a obra O Cortiço por ter sido

interessante e pela oportunidade de discutir temas da atualidade e praticar o teatro

na escola. Outro fato salientado foi de que no início, ficaram apreensivos pelo

detalhamento da obra, tinham poucas expectativas, mas que aos poucos, foram

sendo motivados para ler e participar das atividades e gostaram da experiência

diferenciada de leitura de obra literária. Essas informações podem ser comprovadas

por meio do gráfico 6:

Gráfico 6 –Aceitação dos alunos pelo trabalho realizado com a obra “O cortiço”

Fonte: Dados da pesquisadora

Os alunos aprenderam a ler e gostar de clássicos literários, considerando que

as aulas de literatura ficaram mais interessantes com essa metodologia diferenciada.

Quanto a diferenciar e conhecer mais sobre o Naturalismo, os alunos disseram que

são capazes de compreender suas características, fato comprovado pelas respostas

no pós-teste, sistematizadas no gráfico 7.

Segundo eles, esse trabalho de leitura literária ajudou a conhecer e

compreender mais sobre a literatura, sobre autores e obras e motivando para novas

leituras. Também destacaram por unanimidade que as aulas de Literatura ficaram

mais interessantes utilizando essa metodologia.

O trabalho aguçou a curiosidade para a leitura de clássicos literários que

segundo os alunos, estava esquecida, não era prioridade nas atividades de leitura. A

metodologia utilizada contribuiu para despertar a percepção para riqueza de

detalhes da obra e assim prestando mais atenção a tudo isso, os alunos relataram

que passaram a gostar mais de ler, pois nunca tinham analisado detalhadamente

uma obra literária.

Gráfico 7 –Capacidade dos alunos para identificarem o Naturalismo e suas características

Fonte: Dados da pesquisadora

5. Considerações finais

A seleção da obra O Cortiço se deve ao fato de ser um livro incluso no

conteúdo programático do Ensino Médio e que tem adaptações para os quadrinhos,

apresentando histórias que fazem parte do cotidiano de muitas gerações.

Esse estudo foi implementado com o objetivo de contribuir para a formação e

o desenvolvimento de leitores críticos e criativos, capazes de compreender e

interpretar textos, posicionar-se diante do lido, tornando-se sujeitos atuantes no

processo de ler e não apenas decodificadores.

As reflexões e discussões sobre o clássico O Cortiço adaptado para história

em quadrinho foram trabalhadas desde o reconhecimento dos aspectos físicos do

livro, considerando as capas e imagens, até a análise e interpretação da obra

literária, buscando enfoques como a obra original e o clássico em quadrinhos que

contribuíram para desenvolver o gosto pela leitura.

O trabalho com o clássico literário tomou como base a identificação dos

espaços, personagens, contexto histórico, produção e dos conhecimentos e valores

morais, trabalhando o enredo da obra. A partir dele foi ampliada a capacidade leitora

dos educandos, propondo a análise em grupo dos capítulos do clássico, posterior

socialização com os colegas, produção artística utilizando o teatro e produção

escrita, trabalhando com o potencial criativo do aluno inserindo discussões do

cotidiano dos alunos nas aulas.

Na prática, por meio da pesquisa-ação, foi trabalhada a compreensão e

interpretação de forma a promover um aprofundamento e a integração das práticas

de leitura buscando investigar o grau da leitura, a compreensão e interpretação de

diferentes tipos de textos, promovendo um novo olhar para a leitura, motivando a

formação do leitor crítico em sala de aula.

Por meio dessa pesquisa, considerando desde a elaboração do projeto,

criação da unidade didática e implementação das atividades foi possível trazer para

a sala de aula textos de qualidade estética, possibilitando reflexões e discussões,

sobre diversos temas que contribuem para desenvolver o interesse pela leitura e

discutir temas relevantes para a vida em sociedade.

Podem-se utilizar em sala de aula diferentes gêneros textuais para o trabalho

com a leitura, interpretação e produção de textos, sendo uma alternativa

interessante o trabalho com obras literárias, músicas, filmes, permeado de

informações e que traz para a sala de aula um pouco da cultura das populações.

Portanto, o trabalho com o gênero literário romance contribuiu para que o

aluno pudesse desenvolver suas capacidades discursivas, além de permitir ao

docente a determinação de critérios que propiciaram a intervenção eficaz no

processo de ensino e aprendizagem da literatura.

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