fase 3: a viagem - dc1fbaul1617.files.wordpress.com · nificada, como bem define eça de queirós...

7
1 1 1º ANO [2º semestre] Curso de Design de Comunicação . Professores Sónia Rafael + Victor M Almeida FACULDADE DE BELAS-ARTES . UNIVERSIDADE DE LISBOA . 2016/2017 Fase 3: A Viagem A minha terra é uma grande estrada que põe a pedra entre o homem e a mulher O homem vende a vida e verga sob a enxada O meu país é o que o mar não quer. ~ RUY BELO, Morte ao meio dia Ilustração da Rota da Seda Máquina do Mundo, Escultura, Jardim-Horto de Camões

Upload: vohanh

Post on 01-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Fase 3: A Viagem - dc1fbaul1617.files.wordpress.com · nificada, como bem define Eça de Queirós n’ A Correspondência de Fradique Mendes (1888): ... Aqui, tal figura aparece como

1 1

1º ANO [2º semestre]Curso de Design de Comunicação . Professores Sónia Rafael + Victor M Almeida

FACULDADE DE BELAS-ARTES . UNIVERSIDADE DE LISBOA . 2016/2017

Fase 3: A Viagem

A minha terra é uma grande estradaque põe a pedra entre o homem e a mulher

O homem vende a vida e verga sob a enxadaO meu país é o que o mar não quer.

~RUY BELO, Morte ao meio dia

Ilustração da Rota da SedaMáquina do Mundo, Escultura, Jardim-Horto de Camões

Page 2: Fase 3: A Viagem - dc1fbaul1617.files.wordpress.com · nificada, como bem define Eça de Queirós n’ A Correspondência de Fradique Mendes (1888): ... Aqui, tal figura aparece como

2 2

1º ANO [2º semestre]Curso de Design de Comunicação . Professores Sónia Rafael + Victor M Almeida

FACULDADE DE BELAS-ARTES . UNIVERSIDADE DE LISBOA . 2016/2017

“As primeiras narrativas de viagens europeias, como O Livro das Ma-ravilhas, de Marco Polo, ou O Livro das Maravilhas do Mundo, de Jean de Mandeville, ambos do século XIV, embora torneem-se por uma rota real, caracterizam-se por descrições que aos olhos de hoje pa-receriam pouco críveis, pois atentas eram a mirabilia do mundo lon-gínquo. García Arranz, ao relacionar a expectativa do leitor medieval com a produção dos relatos da época, conclui sobre uma certa “em-briaguez”, «que les incapacita para describir de forma objetiva todo aquello que van descubriendo» (García Arranz, 2006: 23).Mas a cada passo avançado, o homem medieval enfrentava seus limi-tes e suas verdades gradualmente eram postas em causa. O mundo visto pela ótica do mito, a filomitia, esse “espejismo” explicado por Isabel Soler (cf. Soler, 2003: 77), desvanece-se lentamente conforme a escuridão do além-fronteiras se dissipava. A era dos Descobrimen-tos propicia uma ruptura de paradigmas, alterando uma expectativa refratária em relação ao desconhecido para um novo desejo, uma nova ambição de possuí-lo, de ressignificá-lo. É o que Soler define como «el poder de la voluntad» (2003: 163), a força motriz da mundi-vidência renascentista.De modo geral, a literatura medieval admirou um herói predestina-do, fiel às intempéries divinas, pois só Nele o temor terreno encon-traria a verdadeira calmaria. Era um herói assegurado, com pouca margem para erros. Após o êxito das expedições marítimas, a menta-lidade europeia passou a aceitar que o homem, por sua conta e risco, poderia enfrentar os desafios do mundo, mesmo sem abandonar o seu Deus, mas assumindo a si o mérito ou, na pior das hipóteses, a desgraça. Aos poucos, afigurava-se uma nova espécie de herói, o homo viator, o ser ambulante.Essa nova mentalidade europeia edifica-se por inúmeros ingredien-tes advindos dos testemunhos de tais expedições. Para compreendê--la, partimos da síntese proposta por Vitorino Magalhães Godinho, elucidativa quanto aos principais pontos de viragem propiciados pe-las experiências expansionistas. O autor sublinha a nova concepção do espaço, pautado pela noção do ir e voltar, a nova geografia que pôs em causa o então inquestionável saber clássico. Desencadeado pelo reconhecimento da terra, encontra-se a descoberta de um Outro, o espelho convexo que permitiu ao homem europeu entender mais sobre a humanidade e, consequentemente, mais sobre si. Além disso, as novas paisagens, «inventam-se (descobrem-se perceptivamente) formas, volumes, cores, localizações, distâncias» (in Pinto, 1989: 12). E, como a coluna dorsal de um novo raciocínio, a “racionalização de critérios”, a necessidade de se comprovar a experiência por instru-mentos científicos, a argumentação que encontrará na literatura o seu maior campo de debates.” (Fernandes, 2016: 20)

No século XIX a viagem, ultrapassadas as epopeias dos descobrimen-tos dos séculos anteriores, segue ora a via da viagem interna (Gar-rett, Herculano e Ortigão), ora a moda europeia do “orientalismo, segundo a acepção de Edward Said (1978), a apropriação simbólica do Oriente pelo Ocidente, vem na esteira de um condicionante basi-lar: a proliferação da infraestrutura para se viajar. Desde os primeiros exercícios do grand tour até a popularização dos relatos pessoais, as tais «rabiscaduras da moda que, com o título de Impressões de Viagem» que Garrett já demarcava a sua oposição; o touriste aos poucos vai emergindo como o antagonista do gênero, a superficialidade perso-nificada, como bem define Eça de Queirós n’ A Correspondência de Fradique Mendes (1888):

Estes touristes da inteligência abundam em França e em Ingla-terra. Somente Fradique não se limitava, como esses, a exa-

mes exteriores e impessoais, à maneira de quem numa cidade de Oriente, retendo as noções e os gostos de europeu, estuda apenas o aéreo relevo dos monumentos e a roupagem das mul-tidões. Fradique (para continuar a sua imagem) transformava--se em «cidadão das cidades que visitava». (Queirós, 2014: 147).

Também é o turista a figura central do nosso próximo exemplo de relato de viagens: As Praias de Portugal (1876), de Ramalho Ortigão. Aqui, tal figura aparece como destinatário de um curioso guia didá-tico que alia a subjetividade do autor/narrador com uma histórica faceta do gênero relacionada a divulgação do saber, remodelada pela pretensa exatidão do cientificismo finissecular. Composto por um conjunto de ensaios centralizados nos aspectos circundantes à ativi-dade banhista em Portugal, tal como preços de hotéis, advertências higiênicas, quadros de atrações, Ortigão aproveita-se das facilidades das novas linhas férreas portuguesas para conduzir o seu leitor por um passeio ameno e instrutivo pelas praias continentais.É interessantíssimo notar como o autor extrai da secura do vocabu-lário enciclopédico notas de um sabor lírico respeitável, por exem-plo, na releitura do mar como metáfora cosmogônica:

«Ele tem o fosfato de cal para os teus ossos, o iodo para os teus tecidos, o bromoreto para os teus nervos, o grande calor vital para o teu sangue descorado e arrefecido.» (Ortigão, 2001: 22).

Zeloso, Ortigão dedica um ensaio inteiro a’ “O tratamento maríti-mo”, e algumas de suas instruções soam hoje com inadvertida graça:

«A água do mar para uso interno pode aplicar-se como me-dicamento alterante e como medicamento purgativo. A dose laxante é de dois a quatro copos. A dose alterante é muito mais fraca e proporcionada à tolerância do estômago.» (Idem: 156).

No século XX,” fruto de uma nova conjuntura existencial pro-movida por fatores como: o transporte e o mundo aproxima-do, as novas condições laborais e o conceito de férias e, funda-mentalmente, a revolução da reprodutibilidade técnica (visual, sonora, etc.) que, como Walter Benjamin (1936) analisou no ensaio “A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técni-ca”, rompeu os paradigmas de acesso ao conhecimento, pulve-rizando a originalidade, a «aura» do objeto, na difusão do trans-missível; o turista, herdeiro desse cenário, altera as diretrizes do viajar e ressignifica um dos seus principais fundamentos, a descoberta, pela ótica do encontro de expectativas solida-mente oferecidas pelo universo tecnológico ressignifica um dos seus principais fundamentos, a descoberta, pela ótica do encontro de expectativas solidamente oferecidas pelo universo tecnológico. Por essa lógica, toda a semântica da viagem ficaria reduzida a um ob-jeto de consumo, e o turista, o seu agente consumidor. No entanto, ao lermos os relatos de viagens contemporâneos observamos que, ao invés da morte do antigo descobridor, o turista acabou por balizar as novas condições da descoberta, uma descoberta que interioriza-se, que releva da subjetividade e apreende o mundo não pela sua vitrine, e sim, pelas matizes de uma nova percepção. O viajante, o ser lite-rário recriador da realidade, é quem nos interessa. Vejamos algumas maneiras de o compreender.” (Fernandes, 2016: 48-49)

Na aceção de que viajar é também voltar a olhar o nosso território (Portugal) por dentro, nos interstícios, há duas leituras fundamen-tais: As Ilhas Desconhecidas (1926), de Raul Brandão; e Portugal (1950), de Miguel Torga.

Page 3: Fase 3: A Viagem - dc1fbaul1617.files.wordpress.com · nificada, como bem define Eça de Queirós n’ A Correspondência de Fradique Mendes (1888): ... Aqui, tal figura aparece como

3 3

1º ANO [2º semestre]Curso de Design de Comunicação . Professores Sónia Rafael + Victor M Almeida

FACULDADE DE BELAS-ARTES . UNIVERSIDADE DE LISBOA . 2016/2017

As Ilhas Desconhecidas foi “redigido a partir de um formato diarísti-co desproporcionado, fazendo-nos lembrar a Carta de Caminha, por exemplo, dias e horas se estendem e se comprimem, sístole e di-ástole de uma viagem sentimental pelos arquipélagos dos Açores e da Madeira, descrita pelos limites intersemióticos de uma imagética textual, sensorial, sinestésica. Melhor seria compreendê-la a partir de uma escala gradativa: da secura de dados estatísticos, para a abs-tração embebida de sonho e devaneio; corpo costurado paradoxal-mente pela intenção de realidade: «Este livro é feito com notas de viagem, quase sem retoques. Apenas ampliei um ou outro quadro, procurando sempre não tirar a frescura às primeiras impressões.» (Brandão, 1988: 13).Dependendo da posição do sujeito observador, a representação pode esvair-se pela fugacidade, pela imprecisão de contornos alterados pela situação da observação, como acontece através dos meios de transporte:

«Um grande panorama que desfila diante de mim à medida que o barco avança. Às vezes a crosta amarela entreabre-se e pelo rasgão brutal da parede lisa (Fajã do Conde) vê-se um cantinho rústico que faz cismar... ora são os socalcos cavados no paredão temeroso, ora são morros inclinados que ameaçam desabar, ora a imensa muralha violácea sobe a prumo até ao céu (e vacas minúsculas pastam lá em cima à beira do abismo).» (Brandão, 1988 47).

N’ As Ilhas Desconhecidas, a apreensão da realidade é complexa pela ruptura do referente a partir de uma ordem sinestésica: «Não distin-go já o som da cor, o som da luz: tudo se funde no ruído de lágrimas que caem devagarinho no chão.» (Brandão, 1988: 55). Nesse sentido, devemos atentar também a alguns aspectos técnico-compositivos do texto ou a subversão do discurso descritivo, do inventário botânico, zoológico ou toponímico, a partir de uma musicalidade paralela a exposição. Por outras palavras, Raul Brandão procura a sonoridade resultante da acumulação lexical, num lirismo fecundado na cotidia-nidade dos habitantes: «A Ribeira Funda, a da Fazenda, a Seca, a Grande, entre a Fajãnzinha e a Fajã Grande, a de Ponte Delgada, a do Cascalho, a Ribeira da Cruz, a Ribeira da Silva, a do Pomar, a de Barqueiros, e ainda outros veios que dão à ilha uma verdura constan-te e uma voz de oiro.» (Brandão, 1988: 50).

e produzem este leite perfumado, que não me canso de beber e que sabe a todas as ervas rasteras que cobrem o chão como um tapete, e que os pastores designam uma a uma pelo nome: sabem ao trevo enamorado de três folhinhas esguias em cada ponta, ao guedilhão, ao azevém, ao feno, à solda de florinhas amarelas, à mão-furada, à liavaca, à lia-vaquinha, à milhã, à erva estrelinha de flores brancas. (Brandão, 1988: 28).

A propósito de A viagem de Miguel Torga, Fernandes (2016: 69) con-sidera-a “caleidoscópica. Restrita ao Portugal continental, à exceção das Berlengas, a organização dos catorze capítulos ensaísticos, mais o poema inicial intitulado “Pátria”, respeita uma trajetória de norte a sul por um território revisto, redescoberto, recriado a partir da subjetividade do viajante. Poderíamos entender Portugal a partir do pressuposto da transcronotopia, por se embasar em paradigmas con-servadores, no que tange a imersão do indivíduo com a terra; realis-tas, por aguçar a crítica social a favor dos desfavorecidos; e autobi-ográficos, sendo a leitura do espaço através dos fios memorialísticos de um sujeito a procura de si através da escrita.”Atentemo-nos ao seguinte excerto: «Felizmente que os poetas, como

os ciganos, são a vergonha do consenso universal. Nunca se demo-ram em cada terra senão o tempo suficiente para colherem nela o fruto mais doirado. Foi o que fiz. Roubei uma maçã da cesta votiva da Fonte do Ídolo e abalei.» (Torga, 1986: 15). Essa passagem por Braga ilustra parte dos procedimentos tomados pelo viajante, maxi-mizando determinados pontos de interesse em prol de uma fluidez narrativa. «Beja tem sua torre de mármore, com uma tribuna para ver meio Portugal; Portalegre os seus palácios barrocos, para encher de solidão; Elvas o seu aqueduto de sede arqueada e a sua feiura para meter medo aos Espanhóis» (Torga, 1986: 124-125).Sobretudo, a amplitude da forma como se viaja só pode ser com-preendida a partir de uma análise macroestrutural dos seus capítulos. Como um caleidoscópio, vemos “O Minho” fugaz, fugidio, aversivo pela maceração doutrinal de um bucolismo patriótico que Torga nãocorrobora – como melhor explicaremos adiante; vemos também, contrastivamente, Trás-osMontes, “Um reino maravilhoso”, circun-scrito no coração do poeta, mais apresentado do que descoberto. Pela via memorialística delineia-se o “O Porto” e as metamorfoses impressivas de um sujeito ao longo da sua vida; já pelo “O Doiro” quem viaja é o rio, através da luta titânica entre a pedra e a água; da água também se constrói “Lisboa”, debruçada sobre o Tejo a con-templar a imagem de si, ao fundo, como um império submerso; im-pério esse ainda embrionário sobre “As Berlengas”, «vejo-as sempre como a primeira estação da longa via sacra que tivemos de percorrer através do grande Oceano.» (Torga, 1986: 101). Se a viagem também é retrospectiva, “Sagres” contém a síntese de um povo e a lição preser-vada nos limites da terra; mesmo que também se viaje sem destino, pelo signo da indiferença, do alheamento turístico proporcionado pelo “O Algarve”.

(Texto maioritariamente retirado da dissertação de mestrado de Daniel Cruz Fernandes “Do Mar à Terra: Viagem a Portugal, de José Saramago, e o retorno da literatura de viagens”, disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/30442/1/miolo_final.pdf)

BIBLIOGRAFIA:BENJAMIN, Walter (2012). “A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica”. In Sobre arte, técnica, linguagem e política. Trad. Maria Luz Moi-ta, Maria Amélia Cruz e Manuel Alberto. Lisboa: Editora Relógio D’Água, pp. 59-96.BRANDÃO, Raul (1988). As Ilhas Desconhecidas: notas e paisa-gens. Prefácio e notas de Pedro da Silveira. Lisboa: Perspectivas e Realidades.GARCÍA ARRANZ, José Julio (2006). “El monstruo como fenómeno fron-terizo em la cartografia y los libros de viajes medievales: el caso de los ci-nocéfalos”. In LEAL, Maria Luísa; FERNÁNDEZ, Maria Jesús; GARCÍA BENITO, Ana Belén (org.), 2006, pp. 21-42.GARRETT, Almeida (2010). Viagens na Minha Terra. Edição crítica organizado por Ofélia Paiva Monteiro. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda.ORTIGÃO, Ramalho (2001). As Praias de Portugal: guia do banhista e do viajante. Lisboa: Frenesi.SAID, Edward W. (2003). Orientalismo. Trad. María Luisa Fuentes. Barce-lona: Debolsillo. SARAMAGO, José (1981). Viagem a Portugal. Lisboa: Círculo de Leitores.SOLER, Isabel (2003). El Nudo y la Esfera: el navegante como artífice del mundo moderno. Barcelona: Acantilado.SONTAG, Susan (2007). Sobre a Fotografia. São Paulo: Companhia das Letras.TORGA, Miguel 1986). Portugal. 5ª edição. Coimbra: Coimbra.

Nota: a negrito os livros de leitura aconselhada.

Page 4: Fase 3: A Viagem - dc1fbaul1617.files.wordpress.com · nificada, como bem define Eça de Queirós n’ A Correspondência de Fradique Mendes (1888): ... Aqui, tal figura aparece como

4 4

1º ANO [2º semestre]Curso de Design de Comunicação . Professores Sónia Rafael + Victor M Almeida

FACULDADE DE BELAS-ARTES . UNIVERSIDADE DE LISBOA . 2016/2017

Monomito ou a Jornada do Herói

O monomito (também designado de “Jornada do Herói”) é um con-ceito de jornada cíclica presente em mitos, de acordo com o antro-pólogo Joseph Campbell. Como conceito de narratologia, o termo aparece pela primeira vez em 1949, no livro de Campbell The Hero with a Thousand Faces (O Herói de Mil Faces). No entanto, Campbell era um conhecido estu-dioso da obra de James Joyce (em 1944 publicara, em co-autoria com Henry Morton Robinson, a resenha de A Skeleton Key to Finnegans Wake, “Uma Chave-Mestra para Finnegan’s Wake”) e apropriou-se do termo monomyth (monomito) do conto Finnegan’s Wake, do autor irlandês.Campbell e outros académicos, tais como Erich Neumann, descre-vem as narrativas de Gautama Buddha, Moisés e Cristo em termos do monomito e Campbell afirma que os mitos clássicos de muitas culturas seguem esse padrão básico. O padrão do monomito foi ado-tado também por George Lucas para a criação da saga Star Wars, tanto na trilogia original quanto nas respectivas prequelas.O arguentista de Hollywood e executivo da indústria cinematográ-fica Christopher Vogler também usou as teorias de Campbell para criar um memorando para os estúdios Disney, depois desenvolvido no livro The Writer’s Journey: Mythic Structure For Writers “A Jornada do Escritor: Estrutura Mítica para argumentistas”. Este trabalho influenciou os 10 filmes produzidos pela empresa en-tre 1989 (A Pequena Sereia) e 1998 (Mulan), além da trilogia Matrix dos irmãos Wachowski.

A ideia de monomito em Campbell explica sua ubiquidade por meio de uma combinação entre o conceito junguiano de arquétipos, for-ças inconscientes da concepção freudiana, e a estruturação dos ritos de passagem de Arnold van Gennep. Desde o final dos anos 1960, com o pós-estruturalismo, teorias como as do monomito (que estão dependentes de abordagens baseadas no estruturalismo) perderam terreno nos círculos académicos. Este padrão da “jornada do herói” ainda é influente entre artistas e in-telectuais, o que pode indicar a utilidade e a influência ubíqua dos trabalhos de Campbell (e assim como evidência sobre a importância e validade dos modelos psicológicos freudiano e especialmente jun-guiano).O monomito encontra-se dividido em três partes: Partida (por ve-zes chamada Separação), Iniciação e Retorno.A Partida revela o herói que deseja a sua jornada; a Iniciação contém as várias aventuras do herói ao longo de seu caminho; e o Retorno é o momento em que o herói volta a casa com o conhecimento e os poderes que adquiriu ao longo da jornada.Estes princípios foram estabelecido por Joseph Campbell na primei-ra parte de O Herói de Mil Faces, intitulada “A Aventura do Herói”. A tese do autor é de que todos os mitos seguem essa estrutura em algum grau. Para citar alguns exemplos, as histórias de Prometeu, Osíris, Buda e Jesus Cristo seguem este paradigma quase exatamen-te, enquanto a Odisseia apresenta repetições frequentes da Iniciação (...). Adpt. de Wikipédia – Monomito.

Um herói arrisca-se a sair do seu dia-a-dia comum para uma região de maravilha sobre-

natural: forças fabulosas estão lá para ser encontradas e uma vitória decisiva está a ser ganha: o herói volta a partir desta misteriosa aventura com o poder de conceder bênçãos

sobre os seus companheiros.~

Campbell

Mito

de

Prom

eteu

Page 5: Fase 3: A Viagem - dc1fbaul1617.files.wordpress.com · nificada, como bem define Eça de Queirós n’ A Correspondência de Fradique Mendes (1888): ... Aqui, tal figura aparece como

5 5

1º ANO [2º semestre]Curso de Design de Comunicação . Professores Sónia Rafael + Victor M Almeida

FACULDADE DE BELAS-ARTES . UNIVERSIDADE DE LISBOA . 2016/2017

Finn

egan

s Wak

e de

Jam

es Jo

yce

Os 12 Estágios da Jornada do Herói "The Writer's Journey" (Christopher Vogler)

1. Mundo Comum - O mundo normal do herói antes da história começar.2. O Chamamento da Aventura - O problema que se apresenta ao herói: um desafio ou aventura.3. Reticência do Herói ou Recusa do Chamamento - O herói recusa ou demora a aceitar o desafio ou aventura, geralmente porque tem medo.4. Encontro com o mentor ou Ajuda Sobrenatural - O herói encontra um mentor que o faz aceitar o chamamento e o informa e treina para sua aventura.5. Cruzamento do Primeiro Portal - O herói abandona o mundo comum para entrar no mundo especial ou mágico.6. Provações, aliados e inimigos ou A Barriga da Baleia - O herói enfrenta testes, encontra aliados e enfrenta inimigos, de forma que aprende as regras do mundo especial.7. Aproximação - O herói tem êxitos durante as provações.8. Provação difícil ou traumática - A maior crise da aventura, de vida ou morte.9. Recompensa - O herói enfrentou a morte, sobrepõe-se ao seu medo e agora ganha uma recompensa (o elixir).10. O Caminho de Volta - O herói deve voltar para o mundo comum.11. Ressurreição do Herói - Outro teste no qual o herói enfrenta a morte, e deve usar tudo que foi aprendido.12. Regresso com o Elixir - O herói volta para casa com o "elixir", e usa-o para ajudar todos no mundo comum.

Page 6: Fase 3: A Viagem - dc1fbaul1617.files.wordpress.com · nificada, como bem define Eça de Queirós n’ A Correspondência de Fradique Mendes (1888): ... Aqui, tal figura aparece como

6 6

1º ANO [2º semestre]Curso de Design de Comunicação . Professores Sónia Rafael + Victor M Almeida

FACULDADE DE BELAS-ARTES . UNIVERSIDADE DE LISBOA . 2016/2017

FASE 3: A VIAGEM

Nesta Fase 3 pretende-se que os grupos de trabalho relatem a viagem que se inicia para todas as embarcações no dia 26 de abril, início da fase lunar quarto minguante.Esse relato, sob a forma de diário de bordo, incide sobre as relações e as atividades da tripulação a bordo da embarcação, os contactos com outras embarcações ou povos, e sobre as ações específicas determinadas pela natureza da viagem. Tratando-se de um registo fundamental para a divulgação da viagem, solicita-se que os grupos desenvolvam um conjunto de objetos de comunicação com características complementares de modo a informarem e comunicarem adequadamente a viagem. O diário de bordo (DdB) é o objeto físico que melhor documenta a viagem uma vez que os seus registos escritos e desenhados são, como o próprio nome indica, diarísticos. A bordo da embarcação poderão existir vários diários de bordo que constroem uma visão plural dos acontecimentos (e.g. poderá haver um DB do comandante com a visão do detentor do poder, um do escriba incumbido da tarefa de relatar oficialmente a viagem, e outro de alguém mais liberto dos constrangimentos funcionais anteriores e que poderá ser a voz populi). Todos estes DB, em conjunto, relatam a viagem e fornecem o conteúdo essencial para divulgação online (site + facebook) que permite às pessoas que ficaram ‘em terra’ irem acompanhando os acontecimentos. Enquanto o diário de bordo é para a memória futura o site é a plataforma online de divulgação just in time para a comunidade exterior à embarcação. A página de facebook serve de partilha de notícias entre a embarcação e a comunidade de familiares e de amigos.

OBJETIVOS

O desenvolvimento projetual e os objetos relativos à Fase 3 são determinantes para a configuração do processo de comunicação. Nesta fase, os alunos, inseridos em trabalho de grupo, aferirão as potencialidades de cada um dos objetos indicados (diário de bordo, site online e página de Facebook) no que concerne à sua construção, implementação e manutenção. Cada um destes objetos será observado na sua fase work in progress até à sua estabilização no final da Fase 3. Enquanto o DdB com o relato da viagem fornece o conteúdo para o site online, a página de Facebook permite um tipo de registo de acontecimentos mais informal e quiçá mais próximo das pessoas envolvidas na viagem. O FB pode ser o local de questionamento das atitudes a bordo ou de registo de pormenores que escapam ao DdB.

OBJETOS

1—DIárIO DE BOrDOO DB é uma publicação editada com recursos digitais e analógicos e produzida para ser impressa em papel.

CONDICIONANTES DO LIVRO DE BORDOO DdB é desenvolvido em work in progress e só estará completo no final da viagem (Fase 3). Todavia há que produzí-lo em suporte físico e apresentá-lo nesta fase ainda em ‘branco’.Não existem condicionantes formais. A principal condicionante é aquela que determina que o DdB deva sobreviver a qualquer tragédia, em especial, a um naufrágio. Como é sabido, se o livro não for protegido da água e do fogo, a viagem correrá o risco de não ficar documentada. Para que tal não aconteça, os grupos apresentarão uma

proposta de DdB à prova de água e de fogo, uma espécie de black box à maneira do século XIX.

2—SITE OnlInEO site da embarcação deverá permitir aceder a informação pertinente da viagem (e.g. missão, roteiro, tipo de embarcação, tripulação), a imagens em direto e em deferido (e.g. diretos a partir do convés, entrevistas, relatos da vida a bordo) e a um feedback oficial da viagem (análises diárias do comandante).

CONDICIONANTES DO SITEO Site é desenvolvido no Adobe Dreamwaver com recurso às linguagens HTML, CSS e Javascript. Estas linguagens são requisito básico para desenvolvimento Front End.Para a planificação e desenvolvimento e implementação do Site devem ser consideradas as seguintes fases:

2.1. design researchFase preliminar de pesquisa que integra a arquitectura da informação e o design research.A arquitectura da informação contém informações sobre:_definição dos objectivos,_identificação do público alvo,_conceito/metáfora (tanto descritivo/textual como visual e todos os elementos desenvolvidos para a comunicação devem enquadrar-se no conceito/metáfora definida)_referências tanto formais como funcionais_organograma ou mapa de navegação

REGISTO: documento.PDFDesenvolvimento: 1 semana

LINK: THE INFORMATION ARCHITECTURE INSTITUTE (www.iainstitute.org/what-is-ia)

2.2 Primeiros esboços/Wireframes/UXPrimeiros esboços da interface e Wireframes com indicação dos workflows, funcionalidade e definição da estrutura de navegação. Informação detalhada de User Experience (UX) e das formas de interacção previstas.

REGISTO: documento.PDF

LINK: THE UX DESIGN PROCESS (blog.careerfoundry.com/ux-design/the-ux-design-process-an- actionable-guide-to-your-first-job-in-ux)

2.3. design da inTerface (Ui)/design VisUaLMockups com o design da interface (um template por cada página- tipo).

REGISTO: documento.PDFDesenvolvimento: 1 semana

LINK: WEB STYLE GUIDE ONLINE (princípios de design para ecrã) (www.webstyleguide.com/wsg3/index.html)

Page 7: Fase 3: A Viagem - dc1fbaul1617.files.wordpress.com · nificada, como bem define Eça de Queirós n’ A Correspondência de Fradique Mendes (1888): ... Aqui, tal figura aparece como

7 7

1º ANO [2º semestre]Curso de Design de Comunicação . Professores Sónia Rafael + Victor M Almeida

FACULDADE DE BELAS-ARTES . UNIVERSIDADE DE LISBOA . 2016/2017

2.4. desenVoLVimenTo e imPLemenTaçÃoDesenvolvimento e implementação em Adobe Dreamweaver.Entrega: nas aulas de 17.05

Entrega da Fase 3: semana#13, nas aulas de 17.05.

BIBlIOGrAFIA

COUSINEAU, Phil (ed.) (1990). The Hero’s Journey: Joseph Campbell on His Life and Work. Nova York: Harper and Row. JOYCE, James (1939). Finnegans Wake. MOYERS, Bill & FLOWERS, Betty Sue (eds.) (1988). The Power of Myth.SEIXO, Maria Alzira & Carvalho, Alberto (org.) (1996). A História Trágico-Marítima (Análises e Perspectivas). Lisboa: Cosmos (Col. Viagem, nº 1).SEIXO, Maria Alzira (1997). A Viagem na Literatura. Lisboa: Publicações Europa-América.VOGLER, Christopher (1998). The Writer’s Journey: Mythic Structure For Writers. Studio City: Michael Wiese Productions.

BIBlIOGrAFIA ESPECÍFICA

COOPER, A.; REINMANN, R.; & CRONIN, D. (2007). About Face 3: The Essentials of Interaction Design. Indianapolis: Wiley Publishing. HARTSON, R. (2012). The UX Book. USA: Morgan Kaufmann.KRUG, S. (2006). Don’t Make Me Think: A Common Sense Approach to Web Usability. Berkeley: New Riders Publishing.LEVIN, M. (2014). Designing Multi-Device Experiences. Sebastopol: O’Reilly Media.

LUNENFELD, P. (1998). The Digital Dialectic. New Essays on New Media. Mass: MIT Press.MOGGRIDGE, B. (2007). Designing Interactions. Mass: MIT Press. UNGER, R.; CHANDLER, C. (2009). A Project Guide to UX Design. Berkeley: New Riders.WARFEL, T. Z. (2009). Prototyping: a Practitioner’s Guide. USA: Rosenfeld Media.

rEFErÊnCIAS OnlInE

INTERACTION DESIGN FOUNDATION_www.interaction-design. orgCREATIVE APPLICATION NETWORK_www.creativeapplications. netUX MAGAZINE_uxmag.comUX MASTERY_uxmastery.com UXDESIGN.CC_uxdesign.ccUX BOOTH_www.uxbooth.com DRIBBBLE_dribbble.comLOVELY UI_www.lovelyui.comINSPIRED UI_nspired-ui.comSMASHING MAGAZINE_www.smashingmagazine.com/

Hermes