eça de queirós - os maias

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Eça de Queirós: Os Maias Personagens (mencionadas por ordem de aparição) 1. Sebastião da Maia (p.7); 2. Condessa de Runa (p.9); 3. Tobias, um são-bernardo; 4. Gato angorá, branco c/ malhas louras, chama-se, sucessivamente, Bonifácio/D. Bonifácio de Calatrava/Reverendo Bonifácio; 5. Vilaça; 6. Vilaça (o Júnior); 7. Manuel Vilaça; 8. Caetano da Maia (Miguelista), pai de Afonso da Maia (Liberal); 9. Jerónimo da Conceição, confessor de Caetano da Maia; 10. As Cunhas, primas de Afonso da Maia; 11. Fanny, tia de Afonso da Maia; 12. D. Maria Eduarda de Runa, filha de um conde; casa com Afonso da Maia, depois da morte do pai deste, Caetano da Maia; 13. Coronel Sequeira, amigo de Afonso da Maia; 14. Pedro da Maia, filho de Afonso da Maia, tem um bastardo aos 19 anos; 15. Avô da mulher de Afonso da Maia (enlouquecera; julgando-se Judas, enforcara-se numa figueira); 16. Tomás de Alencar, amigo de Pedro da Maia; 17. D. João da Cunha, amigo de Pedro da Maia (e de Alencar); 18. Maria Monforte; 19. Manuel Monforte, pai de Maria Monforte, açoreano; 20. André, criado do café Marrare, no Chiado (p.23); 21. O Melo, conhecido de Pedro da Maia (mais tarde amigo de Alencar, Carlos e Cruges); 22. Tancredo, o napolitano que foge com Maria Monforte; 23. O Magalhães, conhecido de Pedro da Maia; 24. Luís Runa, primo de Afonso da Maia; 25. Teixeira, escudeiro (ó mordomo) de Afonso da Maia; 26. Saldanha, personagem aludida, que é demitido do Paço; 27. Maria da Gama, personagem aludida, frequenta Maria Monforte; é uma troca- tintas; 28. André da Ega, personagem aludida, frequenta Afonso da Maia em Sta. Olávia;

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Page 1: Eça de Queirós - Os Maias

Eça de Queirós: Os Maias

Personagens (mencionadas por ordem de aparição)

1. Sebastião da Maia (p.7);

2. Condessa de Runa (p.9);

3. Tobias, um são-bernardo;

4. Gato angorá, branco c/ malhas louras, chama-se, sucessivamente, Bonifácio/D. Bonifácio de Calatrava/Reverendo Bonifácio;

5. Vilaça;

6. Vilaça (o Júnior);

7. Manuel Vilaça;

8. Caetano da Maia (Miguelista), pai de Afonso da Maia (Liberal);

9. Jerónimo da Conceição, confessor de Caetano da Maia;

10. As Cunhas, primas de Afonso da Maia;

11. Fanny, tia de Afonso da Maia;

12. D. Maria Eduarda de Runa, filha de um conde; casa com Afonso da Maia, depois da morte do pai deste, Caetano da Maia;

13. Coronel Sequeira, amigo de Afonso da Maia;

14. Pedro da Maia, filho de Afonso da Maia, tem um bastardo aos 19 anos;

15. Avô da mulher de Afonso da Maia (enlouquecera; julgando-se Judas, enforcara-se numa figueira);

16. Tomás de Alencar, amigo de Pedro da Maia;

17. D. João da Cunha, amigo de Pedro da Maia (e de Alencar);

18. Maria Monforte;

19. Manuel Monforte, pai de Maria Monforte, açoreano;

20. André, criado do café Marrare, no Chiado (p.23);

21. O Melo, conhecido de Pedro da Maia (mais tarde amigo de Alencar, Carlos e Cruges);

22. Tancredo, o napolitano que foge com Maria Monforte;

23. O Magalhães, conhecido de Pedro da Maia;

24. Luís Runa, primo de Afonso da Maia;

25. Teixeira, escudeiro (ó mordomo) de Afonso da Maia;

26. Saldanha, personagem aludida, que é demitido do Paço;

27. Maria da Gama, personagem aludida, frequenta Maria Monforte; é uma troca-tintas;

28. André da Ega, personagem aludida, frequenta Afonso da Maia em Sta. Olávia;

29. D. Diogo Coutinho, personagem aludida, frequenta Afonso da Maia em Sta. Olávia;

30. Dr. Guedes, o médico;

31. Marquesa de Alvenga, personagem referida;

32. Velho Cazoti (deve ser professor de música);

Page 2: Eça de Queirós - Os Maias

33. Gertrudes, governanta de Afonso da Maia;

34. Prima da mulher de Afonso, uma Runa, viúva do visconde de Urigo de la Sierra;

35. Abade Custódio;

36. Carlos Eduardo da Maia, neto de Afonso da Maia;

37. Sr. Brown, preceptor de Carlos Eduardo;

38. D. Ana Silveira (vizinha?), a mais velha, solteira, da família dos Silveiras, da Quinta da Lagoaça;

39. Teresinha Silveira, "namorada" de infância de Carlos Eduardo;

40. D. Cecília Macedo, mulher do escrivão (p.67);

41. Pedra, tia de Carlos Eduardo (p.59);

42. D. Eugénia Silveira, viúva; tem 2 filhos, Teresinha e Eusébiozinho (o papa-livros, descrição na p.69);

43. O doutor delegado, que não se decide a casar ou não com D. Eugénia, havia já 5 anos;

44. O juiz de Direito e D. Augusta, sua mulher;

45. Recorda-se, na tagarelice, Manuel Branco, da família dos Brancos;

46. Mr. de l'Estorade, espadachim (mais tarde chamado Vicomte de Manderville);

47. André Noronha, primo de Afonso da Maia;

48. Catanni, acrobata (com quem Maria foge para a Alemanha);

49. Dr. Trigueiros;

50. João da Ega, sobrinho de André da Ega, amigo de Carlos Eduardo;

51. Serra Torres, adido em Berlim, amigo de Carlos Eduardo;

52. Simão Craveiro, amigo de Carlos Eduardo (e de Ega, também);

53. Gamacho (tocava piano), amigo de Carlos Eduardo;

54. Baptista, criado de quarto de Carlos;

55. Amigos de Carlos Eduardo depois do consultório estabelecido: Taveira, vizinho, empregado no Tribunal de Contas; Cruges, maestro, pianista; marquês de Souselas;

56. Sr. Vicente, mestre-de-obras;

57. Mr. Theodore, chef de Afonso da Maia;

58. Jacob Cohen, director do Banco Nacional;

59. Raquel Cohen, esposa de Jacob Cohen (com quem J. da Ega tem um caso);

60. Craft, filho de um clergyman da igreja inglesa do Porto, amigo de Carlos e de Ega;

61. D. Diogo, amigo do whist de Afonso da Maia;

62. Conde Steinbroken, ministro da Finlândia, visita habitual do Ramalhete;

63. Tarquínio;

64. Marcelino, o padeiro;

65. Marcelina, a mulher do padeiro;

66. Azevedo, jornalista;

Page 3: Eça de Queirós - Os Maias

67. Sá Nunes, jornalista;

68. Gastão, conde de Gouvarinho;

69. Margarida, cozinheira de D. Diogo;

70. Dr. Barbedo;

71. Amigos do Ega: Dâmaso Salcede, amigo do Cohen; 1 primo da Raquel Cohen;

72. Viegas, um dos doentes de Carlos Eduardo;

73. Manuel Pimenta, criado dos Gouvarinho;

74. Tompson, pai da condessa de Gouvarinho;

75. Sra. Josefa, rapariga cozinheira do Ega;

76. Shelgen, um alemão que vivia na Penha de França;

77. Tio Abraão, um comerciante de bricabraque;

78. Castro Gomes, o brasileiro;

79. Joaquim Guimarães, tio de Dâmaso Salcede;

80. Sra. Cândida, dona de uma venda;

81. Mateus, criado negro de Alencar;

82. Dr. Teodósio;

83. Charlie, o filho dos Gouvarinho;

84. Lola e Concha, as espanholas do Eusébiozinho;

85. Palma, amigo do Eusébiozinho;

86. Carvalhosa, amigo do Alencar, que vive em Colares (p.242);

87. Médico Smith;

88. Mª Eduarda, a "esposa" do Castro Gomes;

89. Melanie, criada dos Castro Gomes;

90. Miss Sara, governanta dos Castro Gomes;

91. Rosa (Rosicler), filha de Mª Eduarda;

92. Godefroy, costureiro que fez o fato de Mefistófeles do Ega;

93. Sra. Adélia, criada de Raquel Cohen;

94. Domingos, ex-serviçal do Ramalhete, criado dos Cohen;

95. D. Maria Lima, tia de Gastão Gouvarinho;

96. D. Maria da Cunha, amiga da Gouvarinho;

97. Teles da Gama, amigo dos Gouvarinho;

98. Torres Valente, político da câmara;

99. Miss Jones, tia da Gouvarinho, que lhe emprestara a casa à R. de Sta. Isabel para os seus "encontros" com Carlos;

100. Borges, vizinha de Miss Jones;

101. Manuela (ou, Manueleta), "conhecida" do marquês de Souselas;

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102. Pe. Serafim, padre da família do Ega;

103. Clifford, um sportsman de Córdova;

104. Visconde de Darque, um sportsman português;

105. Viscondessa de Alvim, presente no hipódromo;

106. Joaninha Vilar, presente no hipódromo;

107. As Pedrosos, presentes no hipódromo;

108. Condessa de Soutal, presente no hipódromo;

109. Menina Sá Videira, filha do negociante de sapatos de ourelo, presente no hipódromo;

110. Ministra da Baviera;

111. Baronesa de Craben;

112. Concha, amiga de D. Maria da Cunha;

113. Pancho Calderon, anfitrião de Carlos e Clifford;

114. D. Pedro Vargas, primo do marquês e comissário das corridas de cavalos;

115. Mendonça, juiz das corridas;

116. Pinheiro, o jóquei que montou o "Escocês";

117. Josefina do Salazar, acompanhante do Dâmaso;

118. Bertonni, tenor;

119. Sra. Augusta, porteira (?) do prédio onde mora o Cruges e a Castro Gomes;

120. "Niniche", a cadelinha de Mª Eduarda;

121. Dr. Chaplain, médico de Mª Eduarda em Paris;

122. Romão, criado de Mª Eduarda (tinha sido antes do Dâmaso);

123. Manuelinho, filho do Vicente, mestre-de-obras;

124. Fillon, o fotógrafo;

125. Sr. Sousa Neto, amigo do conde Gouvarinho;

126. Barros, ministro do Reino;

127. Vicenta, criada da Baronesa de Alvim;

128. Julinha, mulher do Carvalhosa;

129. Travassos (deve ser médico);

130. Mr. Antoine, o chef francês;

131. Micaela, cozinheira da casa;

132. Cortês, alfaiate do avô de Carlos;

133. Conde de Landim;

134. Patrick Mac Gren, "marido" de Mria Eduarda em Paris;

135. Silvestre, ajudante no pasquim do Palma;

136. Viscondessa de Cabelas;

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137. Zeferino, conhecido (?) do Dâmaso, a quem Palma pediu emprestado um relógio;

138. Nunes, tabelião do Dâmaso, sito à Rua do Ouro;

139. Neves, político, director d' A Tarde;

140. Dâmaso Guedes, político;

141. Sr. Pereirinha, editor do jornal do Neves;

142. José Clemente e Rufino, políticos aludidos por Neves;

143. Gonçalo, político, conhecido do Neves;

144. Melchior, conhecido do Ega (e do Neves);

145. D. José Sequeira, comissário do sarau da Trindade;

146. O Prata, que fala no sarau (e põe toda a gente a "fugir");

147. Vieira da Costa, correligionário do Gouvarinho;

148. Clemence, uma costureira de Levaillant, com quem Guimarães vive;

149. Simões, um estofador;

150. Visconde de Torral, amigo (ou cliente) do Vilaça;

151. Padre Talloux, confessor de Maria Monforte;

152. Paca e Cármen Filósofa, duas espanholas;

153. Dr. Azevedo, mora ao pé da padaria, perto do Ramalhete;

154. Marquês de Vila Medina, amigo de Carlos;

155. Barradas, pintor do retrato de Cruges;

156. Leonor Barradas, tia do Barradas, já falecida;

157. Homens e mulheres que o Ega conhcera: Lucy Gray, Conrad, Marie Blond, Mr. de Menant, Doubs;

158. Barroso, o amante da mulher de Dâmaso, filha dos condes de Águeda;

159. Adosinda;

160. João Eliseu;

161. Mr. de Trelain, noivo de Mª Eduarda.

Resumo detalhado d'Os Maias

Capítulo I

Descrição e historial do Ramalhete, casa que a família Maia veio habitar em Lisboa, Outono de 1875. Em 1858, quase tinha sido alugada a monsenhor Buccarini pelo procurador dos Maias, Vilaça; nota-se que os Maias eram uma família nobre, mas com sinais de decadência. A casa que tinham em Benfica foi vendida (já pelo Vilaça Júnior) e seu conteúdo passou, em 1870, para o Ramalhete. A Tojeira, outra propriedade, também fora vendida. Poucos em Lisboa sabiam quem eram os Maias, família que vivia até então na Quinta de Santa Olávia, nas margens do Douro.

Os Maias, antiga família da Beira, eram, no momento desta narração, constituídos por Afonso da Maia e Carlos Eduardo da Maia, seu neto, que estudava medicina em Coimbra. Meses antes de este acabar o curso, o avô decide vir morar para Lisboa, no Ramalhete. Reforma-se o Ramalhete sob a direcção de um compadre de Vilaça, um arquitecto e político chamado Esteves. Mas Carlos traz também um arquitecto-decorador de Londres, despedindo assim Esteves. A casa é fechada e, só depois de uma longa viagem de Carlos pela Europa, é que é habitada pelo avô e neto, em 1875. Descrição física de Afonso (p.12). Começa-se, através do contar da vida de Afonso, uma analepse (pp.13-95), onde se conta a ida a Inglaterra, a morte do pai, o casamento, o nascimento de Pedro da Maia, o

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retorno e exílio a Inglaterra devido às suas ideias políticas; em Richmond, Afonso fica a saber da morte da mãe, em Benfica. Pedro da Maia é educado pelo padre Vasques, capelão do conde Runa, mandado vir de Lisboa. Morre a tia Fanny. Vão para Roma, Itália. Voltam a Benfica, finalmente. Explica-se porque Afonso se torna ateu (pp.18-20). Pedro cresce; tem um filho bastardo, aos 19 anos. A mãe, esposa de Afonso da Maia, morre; Pedro da Maia entrega-se à bebida e distúrbios. Um ano depois, "acalma-se". Começa a grande paixão de Pedro da Maia (p.22): descrição de Maria Monforte, de origens misteriosas. Alencar vê Pedro e Maria no teatro S. Carlos, no final do I acto do Barbeiro de Sevilha. Pedro pede permissão ao pai para casar com Maria Monforte. Afonso recusa. Pedro casa e vai para Itália.

Capítulo II

De Itália, Pedro e Maria vão para França. Maria engravida e Pedro trá-la para Lisboa; antes, porém, escreve ao pai. Vai para Benfica, mas o pai, em desfeita, já tinha partido para Sta. Olávia. Nasce uma filha a Pedro; mas este já não o comunica ao pai, Afonso; começa um período de cerca de 3 anos, em que pai e filho não se falam. Descreve-se o ambiente das soirées lisboetas em Arroios. Nasce um menino, Carlos Eduardo. Ao ir a uma caçada na Tojeira, Pedro fere um recém-chegado, um napolitano chamado Tancredo. Trata-o em sua casa. Dois dias depois, Tancredo recolhe-se a um hotel. Descrição do napolitano (p.41). M.ª Monforte isola-se, acaba com as soirées, depois de saber que o sogro voltara a Benfica. Passam-se alguns meses, com a presença habitual de Tancredo. A filha tem já 2 anos. Maria Monforte foge com o napolitano e a filha, deixando o filho, Carlos Eduardo e uma carta. Afonso, por causa disto, reconcilia-se com Pedro. Nessa mesma noite e madrugada, Afonso acorda com um tiro. Pedro suicidara-se. É enterrado no jazigo de família em Sta. Olávia.

Capítulo III

Passam-se vários anos. Afonso vive com o neto em Sta. Olávia, o Teixeira e a Gertrudes, escudeiro e governanta, respectivamente. Vive lá também uma prima da mulher de Afonso, uma Runa, que era agora viúva de um visconde de Urigo de la Sierra, e o preceptor de Carlos Eduardo, o Sr. Brown. Refere-se a severa educação inglesa de Carlos, em que não entra a religião, para desgosto do abade Custódio. Descreve-se uma noite em Sta. Olávia com os amigos de Afonso. Fala-se dos arrulhos de Teresinha e Carlinhos (p.72). Menciona-se a Monforte, mãe de Carlos (p.78), que dá pelo nome de Madame de l'Estorade. Não se sabe o que é feito da filha que ela levou. Mais tarde, sabe-se por Alencar que Maria Monforte lhe dissera que sua filha tinha morrido em Londres. Vilaça morre (p.84). Manuel Vilaça, filho do Vilaça, torna-se administrador da casa.

Capítulo IV

Passam-se anos. Carlos faz exames; está prestes a formar-se em Medicina. Contam-se as cenas da vida em Celas, com os amigos. O Teixeira, Gertrudes e o abade já haviam morrido. Descrição de João da Ega (p.92), aluno baldas e grande ateu. Alude-se a uma aventura adúltera passageira de Carlos com uma Hermengarda, mulher de um empregado do Governo Civil. Outra aventura foi com uma espanhola, Encarnacion. Carlos forma-se em Agosto. Parte de viagem para a Europa. Chega o Outono de 1875 e Carlos também. Volta-se ao PRESENTE da narração (p.96). Descrição de Carlos já homem feito (p.96). Carlos instala-se no Ramalhete com toda a sua parafernália de instrumentos de medicina. Passa tudo para um laboratório no Largo das Necessidades e abre um consultório no Rossio. Ninguém lhe aparece para consulta. Ega visita-o no consultório. Diz-lhe que vai publicar um livro, "Memórias de Um Átomo".

Capítulo V

Carlos tem a sua 1ª doente, a mulher do padeiro Marcelino. Descreve-se um dos serões no Ramalhete. Às 2.15 a.m., começam a abandonar o Ramalhete. Carlos começa a ter clientes. Ega aparece-lhe ocasionalmente, para ler uma parte do seu manuscrito, para o convidar a ser apresentado aos Gouvarinhos… Conhece-os, por fim, na frisa do teatro.

Capítulo VI

Carlos visita Ega na sua nova casa, a Vila Balzac, no Largo da Graça, depois da Cruz dos 4 Caminhos. Saem. Encontram Craft. Combinam jantar no Hotel Central, em honra ao Cohen. Chegam os Castro Gomes para se hospedar (p.157). Alencar encontra Carlos da Maia, que tem agora 27 anos. Alencar é contra o Naturalismo e tudo o que lhe cheire a Realismo. Começam a discutir a decadência de Portugal, política e socialmente. Acabam bem o jantar. Ega e Alencar discutem. Reconciliam-se. Saem todos do Hotel Central. Alencar acompanha Carlos até casa. Analepse de uma conversa de Carlos e Ega em que este, bêbado, lhe revelara a verdadeira história da mãe de Carlos. Carlos adormece, pensando na misteriosa senhora do Hotel Central e no Alencar.

Capítulo VII

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Craft tornara-se íntimo no Ramalhete. Carlos, retirado do consultório, passava os dias em casa, escrevendo o seu livro. O Dâmaso pegou-se a ele como uma "lapa". Ega, endividado, vem pedir mais 115 libras a Carlos. Certo dia, o Dâmaso não aparece, nem nos dias seguintes. Carlos acaba por ir procurá-lo. Chegando ao fim da Rua do Alecrim, encontra Steinbroken, que se dirige ao Aterro. Durante a conversa, passa a misteriosa figura do Hotel Central (pp.202-3). No dia seguinte Carlos volta ao Aterro e ela torna a passar, mas agora acompanhada do marido.

A Gouvarinho, a pretexto da "doença" do filho Charlie, visita-o no consultório. Carlos flirta-a abertamente. Reaparece Dâmaso, de repente, numa caleche, dizendo a Carlos ter um "romance divino". Tudo indica serem os Castro Gomes a sua companhia. Aparece na "Gazeta" um artigo de J. da Ega elogiando os Cohen. Discutem-no na soirée. Carlos convida o Cruges a ir a Sintra, depois do Taveira lhe ter dito que Dâmaso e os Castro Gomes se dirigiam para lá.

Capítulo VIII

(Este capítulo demora 2 dias) Viagem a Sintra; instalam-se no Nunes. Apanham o Eusébiozinho com duas espanholas. A Concha faz uma cena quando o Eusébiozinho "se deita de fora" (p.228). Na manhã seguinte, partem em direcção a Seteais detendo-se, porém, em frente ao Lawrence. Pausa de reflexão idílica sobre Sintra. Encontram Alencar (p.234). Na volta, passam pelo Lawrence, vão até o Nunes, e Carlos descobre que Dâmaso e os Castro Gomes já tinham saído no dia antes para Mafra. Pensa disparates românticos sobre a Castro Gomes (p.245). Jantam no Lawrence, um bacalhau preparado segundo o Alencar. Partem de Sintra. Cruges, a meio do caminho, lembra-se de que se tinha esquecido das queijadas.

Capítulo IX

(1 dia) Já no Ramalhete, no final da semana, Carlos recebe uma carta a convidá-lo a jantar no Sábado seguinte nos Gouvarinhos; entretanto, chega Ega, preocupado em arranjar uma espada conveniente para o fato que leva nessa noite ao baile dos Cohen. Dâmaso também aparece de repente, pedindo a Carlos para ver um doente "daquela gente brasileira", i.e., os Castro Gomes. É a menina, visto que os pais haviam partido essa manhã para Queluz. Chega ao Hotel, mas a pequena, chamada Rosicler, não teve mais que um mal-estar passageiro. Carlos dá uma receita a Miss Sara, a governanta.

10 horas da noite: ao preparar-se para o baile, aparece o Mefistófeles Ega a Carlos, dizendo que o Cohen o expulsara (ao que parece, descobrira as cartas de Raquel e Ega). Vão a casa do Craft pedir conselho sobre o "provável" duelo. Ceiam.

(1 dia) No dia seguinte, nada acontece, excepto a vinda da criada de Raquel Cohen, anunciando que ela levara uma coça e que partiam para Inglaterra. Ega dorme nessa noite no Ramalhete.

Na semana seguinte, só se ouve falar do Ega e do mau-carácter que ele é. "Todos caem-lhe em cima" (p.289). Carlos vai progressivamente ficando íntimo dos Gouvarinhos. Visita a Gouvarinho e dá-lhe um tremendo beijo (p.297), mesmo antes da chegada do conde Gouvarinho.

Capítulo X

Passam-se 3 semanas. Carlos sai de um coupé, onde acabara de estar com a Gouvarinho. Nota-se que já estava farto dessas 3 semanas e que se quer ver livre da Gouvarinho. Encontra o marquês pela rua, constipado. Fugazmente, vê Rosicler acenando de um coupé adiante do Grémio. Combina com o Dâmaso, no Ramalhete, levar os Castro Gomes a ver o bricabraque do Craft, nos Olivais. Não se concretiza a ideia. Chega o(s) dia(s) das corridas de cavalos. Confusão à porta do hipódromo. Descrição do ambiente dentro do hipódromo (pp.314-320). Confusão com um dos jóqueis que perdera uma corrida. Briga e rebuliço. Encontra a Gouvarinho, que lhe propõe ir até o Porto (seu pai estava mal), dar uma "rapidinha" em Santarém, e daí cada um seguia para o seu lado. Carlos começa a ruminar no absurdo de toda aquela ideia. Fazem-se apostas. Todos apostam contra Vladimiro, cavalo em que Carlos tinha apostado. Vladimiro vence e Carlos ganha 12 libras, facto muito comentado. Encontra Dâmaso, que lhe informa que o Castro Gomes afinal tinha ido para o Brasil e deixara a mulher só por uns 3 meses. Carlos devaneia. Discute com a Gouvarinho, mas acaba por aceder ao desejo do encontro em Santarém. Sempre pensando na mulher de Castro Gomes, vem a Lisboa, com o pretexto de visitar o Cruges (o Vitorino), agora que sabe que ela mora no mesmo prédio, à R. de S. Francisco. O Cruges não está; Carlos vai para o Ramalhete. Tem uma carta da Castro Gomes pedindo-lhe que a visite, por ter "uma pessoa de família, que se achava incomodada". Carlos fica numa agitação (de contentamento).

Capítulo XI

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Carlos vai visitar a Castro Gomes, i.e., Maria Eduarda. É a governanta, Miss Sara, que está doente. Descrição de Maria Eduarda (p.348). Examina Miss Sara. Receita-lhe. Falando com Maria Eduarda, descobre que é portuguesa, não brasileira. "Até amanhã!" é agora no que Carlos só pensa; um recado da Gouvarinho indispõe-no. Começa a "odiá-la". Por sorte, o Gouvarinho decidiu à última da hora ir com a mulher para o Porto, o que convém muito a Carlos, assim como a morte de um tio de Dâmaso em Penafiel, deixando-lhes os "entraves" fora de Lisboa.

Nas semanas seguintes, Carlos vai-se familiarizando com Maria Eduarda, graças à doença de Miss Sara. Falam ambos das suas vidas e dos seus conhecidos. Dâmaso volta de Penafiel; visita Maria Eduarda. "Niniche", aninhada no colo de Carlos, rosna e ladra quando Dâmaso tenta lhe fazer festas. "Desconfianças" de Dâmaso. Sabe-se que, por coincidência, os Cohens voltaram de Inglaterra e que Ega está para chegar de Celorico.

Capítulo XII

O Ega chega e pede "asilo" no Ramalhete. Informa Carlos de que viera com a Gouvarinho, e de que o conde os convidara para jantar na próxima 2ª feira.

(2ª feira) Nesse jantar, a Gouvarinho está mesmo uma chata, mesmo a "pedir nas trombas", com as suas indirectas e quiproquós. O clima suaviza-se durante o jantar, devido aos ditos irreverentes do Ega. A pretexto de um mal-estar de Charlie, a Gouvarinho beija Carlos nos aposentos interiores. Carlos e Ega são os últimos a sair.

(3ª feira) Depois de ter sido "retido" pela Gouvarinho na casa da tia, Carlos chega atrasado à casa de Maria Eduarda. Leva uma "indirecta". No meio da conversa, Domingos anuncia Dâmaso; Maria Eduarda recusa-se a recebê-lo. Fala a Carlos sobre uma possível mudança de casa (Carlos pensa logo na casa do Craft). Carlos deixa escapar que a "adora" depois de uma troca de olhares. Beijam-se.

(4ª feira) Carlos conclui o negócio da casa com o Craft. Maria Eduarda fica um pouco renitente com a pressa de tudo, mas acaba concordando, com um novo beijo.

Ega, depois de se mostrar insultado pelo segredo que Carlos faz de tudo, vem a saber que Carlos está a ter mais do que uma aventura com Maria Eduarda.

Capítulo XIII

(6ª feira) Ega informa a Carlos de que Dâmaso anda a difamá-lo e a Maria Eduarda. Carlos faz os preparativos para a mudança de Maria Eduarda para os Olivais. Encontra Alencar, que refere a crescente antipatia de Dâmaso por Carlos. Aparece Ega. Cumprimentam-se. Do outro lado da rua, aparecem o Gouvarinho, o Cohen e Dâmaso. Carlos atravessa a rua; ameaça Dâmaso.

(Sábado) Maria Eduarda visita a sua nova casa nos Olivais. Descrição da casa. Têm a sua 1ª relação sexual (p.438).

(Domingo) Aniversário de Afonso da Maia. Tagarelice do marquês: Dâmaso estava a namorar a Cohen. Aparece Baptista a informar de que está uma senhora dentro de uma carruagem que quer falar com Carlos. Era a Gouvarinho. Ela tenta uma "rapidinha" mas, ao se lembrar da imagem de Maria Eduarda, Carlos recua. Discutem. Carlos sai. Terminou tudo.

Capítulo XIV

O avô parte para Sta. Olávia. Maria Eduarda instala-se nos Olivais. Ega parte para Sintra por alguns dias. Carlos, só, vai passear depois do jantar. Encontra Taveira no Grémio, que o adverte contra Dâmaso. Taveira arrasta-o até o Price, mas Carlos pouco se demora. Ao sair, encontra Alencar e o Guimarães, tio do Dâmaso.

Sabe-se que Carlos e Maria Eduarda pretendem fugir até Outubro para Itália, mas Carlos pensa no desgosto que dará ao avô. A sua felicidade, por fim, supera o avô nos seus raciocínios. Descreve-se as idas de Carlos aos Olivais: os encontros com Maria Eduarda e as relações que tinham no quiosque japonês (p.456). Isto não é o suficiente: eles querem passar as noites também. A 1ª noite é descrita na p.459. Carlos descobre uma outra casa perto da dos Olivais, que servirá para esperar pelos encontros nocturnos dele e de Maria Eduarda. Numa dessas noites, descobre Miss Sara a fazer sexo no jardim da casa com o que lhe parece ser um jornaleiro. Sente vontade de contar tudo a Maria Eduarda mas, à medida que pensa no caso, compara-o com a furtividade do seu. Decide não dizer nada.

Chega Setembro. Craft, regressado de Sta. Olávia para o Hotel Central, diz a Carlos que pareceu-lhe estar o avô desgostoso por Carlos não ter aparecido por lá. Carlos diz a Maria Eduarda que vai visitar o avô. Ela pede-lhe para visitar o Ramalhete, antes. Combinam isso para o dia em que Carlos

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partirá para Sta. Olávia. Maria Eduarda visita o Ramalhete mas, misteriosamente, desanima-se; Carlos "conforta-a" (p.470). Maria Eduarda refere que às vezes Carlos faz-lhe lembrar a sua mãe (p.471); diz que a mãe era da ilha da Madeira que casara com um austríaco e que tinha tido uma irmãzinha, que morrera em pequena (p.472). Chega Ega. Traz novas de Sintra. Carlos parte para Sta. Olávia. Regressa uma semana depois. Fala a Ega do plano de "amolecer" o avô quanto à relação com Maria Eduarda. Susto! Castro Gomes anuncia-se! Mostra uma carta anónima que lhe haviam mandado para o Brasil, dizendo que a sua mulher tinha um amante, Carlos. Revela não ser marido de Maria Eduarda, que lhe retirava o uso do seu nome, deixando-a apenas como Madame Mac Gren, seu verdadeiro nome. A Carlos "cai o queixo". Ruminando pensamentos, entre escrever uma carta de despedida ou não, Carlos decide confrontar Maria Eduarda nos Olivais. Ao entrar, sabe por Melanie, a criada, que o Castro Gomes já lá tinha estado. Maria Eduarda, em chôro, pede perdão a Carlos de não lho ter contado; conta a verdadeira história da sua vida. Depois de uma grande cena de chôro, Carlos pede-a em casamento.

Capítulo XV

Na manhã seguinte, perguntam a Rosa se quer o Carlos como "papá". Aceita. Maria Eduarda conta toda a sua vida (pp.506-14). Dias depois, ao ir visitar Maria Eduarda com Carlos, Ega diz-lhe pelo caminho que seria melhor esperar que o avô morresse para então se casar. Carlos acalenta a ideia. Jantam nos Olivais e Ega, rodeado deste ambiente, diz querer casar e louva tudo o que até aí era contra (p.523). Aos poucos, os amigos de Carlos (o Cruges, o Ega, o marquês), vão frequentando esses jantares de amizade dados nos Olivais. Meados de Outubro: estava Afonso com ideias de vir de Sta. Olávia (e Carlos de sair dos Olivais), pois o Inverno aproximava-se. Recebe, através do Ega, um n.º da Corneta do Diabo, que o difama em calão "num caso que tem com uma gaja brasileira". Carlos primeiro pensa em matar a quem escreveu mas, reflectindo na verdade dos escritos, pensa se não será melhor não casar com Maria Eduarda. Volta ao 1º pensamento, em matar. Descobre, pelo editor do artigo, o Palma, que tinham sido o Dâmaso e o Eusébiozinho que lho tinham encomendado. Ega e Carlos vão até o Grémio; encontram o Gouvarinho e Steinbroken. Finalmente, aparece Cruges, a quem pedem que faça de padrinho num duelo de Carlos. Sabe-se, a meio disto, que o Governo caíra, pelo Teles da Gama (p.550). Cruges e Ega vão a casa do Dâmaso. Este faz uma cena ao saber do desafio, mas acaba por escrever uma retractação. Ega escreve-lhe a retractação e ele copia-a. Ega entrega-a, ao sair, a Carlos. Satisfeito, Carlos devolve-lha, para usar como lhe aprouver. No dia seguinte, Ega remói a ideia de fazer conhecer a carta do Dâmaso. Chega uma carta anunciando que Afonso voltava ao Ramalhete. Carlos retorna ao Ramalhete e Maria Eduarda à R. de São Francisco. No dia seguinte, chega Afonso à estação de Sta. Apolónia. Ao almoço, Carlos e Ega falam do projecto de uma revista. Ega vai ao Ginásio. Vê a Cohen e o Dâmaso. Sai do Ginásio; dirige-se à redacção d'A Tarde e pede ao Neves para publicar a carta do Dâmaso. Há um ligeiro rumor nos dias seguintes, mas tudo acalma. Dâmaso "vai de férias" a Itália.

Capítulo XVI

Antes do sarau da Trindade, Ega ouve com Carlos e Maria, uma parte de "Ofélia" ao piano, na casa desta. Carlos e Maria "enrolam" Ega para fazerem o seu próprio sarau, ali mesmo. Mas lembram-se do Cruges, e Carlos e Ega acabam por ir ao sarau da Trindade. Ouvem o discurso de Rufino. Entretanto, no botequim, dá-se um conversa entre o Guimarães e Ega, a propósito da carta do sobrinho. Ega volta ao sarau, ouve Cruges e sai quando o Prata sobe ao estrado. Carlos vê o Eusébiozinho saindo. Vai atrás dele e dá-lhe uns "abanões" e um pontapé. Voltam ao sarau, onde Alencar já ia declamar. Alencar arrebata a sala com o seu poema, "Democracia". Ega fica desacompanhado; Carlos, disseram-lhe, já havia saído. O Gouvarinho sai furibundo por causa do poema do Alencar. À saída, de caminho para o Chiado, Ega é parado por Guimarães, que lhe diz ter um cofre da mãe de Carlos para entregar à família. No meio da conversa, descobre inconscientemente uma verdade terrível a Ega: Carlos tem uma irmã; é a Maria Eduarda! (p.615). Guimarães conta a Ega tudo o que sabe sobre M.ª Monforte (p.617), inclusive a mentira que ela dissera a Maria Eduarda sobre a sua origem de pai austríaco. Enquanto Guimarães vai buscar o cofre nessa mesma noite, Ega fica a atormentar-se com os seus pensamentos. Chega ao Ramalhete e deita-se, sempre pensando no incesto como ideia fixa.

Capítulo XVII

Ega não tem coragem de contar a Carlos. Sai, à procura de Vilaça. Come no Café Tavares e volta à R. da Prata. "Despeja" tudo ao Vilaça. Incumbe-o de contar tudo a Carlos. Abrem a caixa de M.ª Monforte. Encontram um documento provando que Maria Eduarda é filha de Pedro da Maia. Susto! Carlos está em baixo à procura do Vilaça! Ega e Vilaça, atarantados, mandam dizer que não está. Combinam que Vilaça irá ao Ramalhete, às 9 da noite. Mas Carlos não o atende e adia para o dia seguinte, às 11 horas. Ao saber disso, Ega sai para cear no Augusto com o Taveira e duas espanholas. Toma uma carraspana. Acorda ao lado de Cármen Filósofa, uma das espanholas, às 9 da manhã. Chega atrasado ao Ramalhete, às 12 h. Carlos e Vilaça já estavam "lá dentro". Carlos, insensatamente, não acredita no que lhe contam. Mostra ao avô os papéis da Monforte. Mas Afonso não os refuta, dando a

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Carlos uma insegurança de que tudo pode ser verdade. Afonso, no corredor, diz a Ega que sabe que "essa mulher" é a amante de Carlos. No jantar dessa noite, estão todos "murchos". No final do jantar, Carlos escapuliu-se: ia à Rua de São Francisco. Passa pela casa, desce até o Grémio, toma um conhaque e volta à casa de Maria Eduarda; entra. Tenta inventar uma história, mas ela, no quarto, já deitada, puxa-o para si e… Carlos não "resiste". Na festa de anos do marquês, no dia seguinte, Carlos está muito alegre. Ega desconfia. Ega acaba descobrindo que Carlos continua indo "visitar" Maria Eduarda. Na 3ª feira evita Carlos; só aparece no Ramalhete às 9 da noite para se arranjar para o aniversário de Charlie, o filho do Gouvarinho. Afonso da Maia sabe que Carlos continua a encontrar-se com Maria Eduarda. Ega decide partir; pensa melhor: desfaz a mala. Baptista diz-lhe que Carlos parte amanhã para Sta. Olávia. Carlos debate-se com os seus pensamentos: o desejo e a culpa simultâneos (p.664-65); ao vir de Maria Eduarda, às 4 da manhã, encontra o avô e o seu silêncio acusador, como um fantasma (p.667-68). Já era dia, quando dizem a Carlos que o avô estava desacordado no jardim; estava morto (suponho ser trombose, visto que tinha um fio de sangue aos cantos da boca). Carlos culpa-se a si mesmo dessa morte, pois achava que era pelo avô saber tudo que havia morrido. Vilaça toma as providências. Ega escreve um bilhete a informar Maria Eduarda do facto. Reunião dos amigos da família; recordam Afonso. 1878 (p.681) O enterro é no dia seguinte, à uma hora. Carlos, depois do enterro, pede a Ega para falar com Maria Eduarda, contar-lhe tudo e dizer-lhe que parta para Paris, levando 500 libras. Quanto a Carlos, vai para Sta. Olávia, esperar a trasladação do avô; depois, viajará para espairecer. Convida o Ega para tal. Carlos parte. Ega deixa, atabalhoadamente, a revelação a Maria Eduarda e diz-lhe que ela deve partir já para Paris. Encontra-se com ela na estação de Sta. Apolónia, no dia seguinte. Segue no mesmo comboio até o Entroncamento. E nunca mais a vê.

Capítulo XVIII

Passam-se semanas. Sai na "Gazeta Ilustrada" a notícia da partida de Carlos e Ega numa longa viagem. Ano e meio depois (1879), regressa Ega, trazendo a ideia de escrever um livro, "Jornadas da Ásia"; Carlos ficara em Paris. (1886) Carlos passa o Natal em Sevilha; de lá, escreve a Ega que vai voltar a Portugal. Chega nesse ano a Sta. Olávia. (Jan. 1887) Carlos chega a Lisboa e almoça no Hotel Bragança com Ega, que está ficando careca; a mãe deste já morrera. Carlos pergunta pela Gouvarinho. Aparece o Alencar. Aparece o Cruges. Reminiscências desses últimos anos. Ega e Carlos vão visitar o Ramalhete. Antes, descem o Chiado. Encontram o Dâmaso perto da Livraria Bertrand. Aos poucos, Carlos toma consciência do novo Portugal que existe agora, anos passados. Passagem de Charlie (insinuação de que ele é maricas, p.705). Passagem do Eusébiozinho. Às 4 h, tomam uma tipóia para o Ramalhete. Dentro, nota-se que a maior parte das decorações (tapetes, faianças, estátuas) já tinham ou estavam a ser despachadas para Paris, onde Carlos vivia agora. Também no Ramalhete estavam os móveis trazidos da Toca. Sabe-se que Maria Eduarda ia casar. Saem do Ramalhete, descem a Rampa de Santos. Carlos olha para o relógio: 6.15! Está atrasado para o encontro com os amigos no Bragança. Desata a correr, junto com Ega, pela rampa de Santos e Aterro abaixo, atrás de um transporte.

Crítica Social

A Corrida de Cavalos

Objectivos:

Novo contacto de Carlos com a alta sociedade lisboeta, incluindo o próprio rei;

Visão panorâmica dessa sociedade (masculina e feminina) sob o olhar crítico de Carlos;

Tentativa frustrada de igualar Lisboa às capitais europeias, sobretudo Paris;

Cosmopolitismo (fingido) da sociedade;

Possibilidade de Carlos encontrar aquela figura feminina que vira à entrada do Hotel Central.

Existem 4 corridas.

Visão caricatural:

O hipódromo parecia um palanque de arraial;

As pessoas não sabiam ocupar os seus lugares;

As senhoras traziam "vestidos sérios de missa";

O bufete tinha um aspecto nojento;

A 1ª corrida terminou numa cena de pancadaria;

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As 3ª e 4ª corridas terminaram grotescamente.

Conclusões a retirar:

Fracasso total dos objectivos das corridas;

Radiografia perfeita do atraso da sociedade lisboeta;

O verniz da civilização estalou completamente;

A sorte de Carlos, ganhando todas as apostas, é indício de futura desgraça (Sorte no jogo…).

O Jantar dos Gouvarinho

Objectivos:

Reunir a alta burguesia e aristocracia;

Reunir a camada dirigente do País;

Radiografar a ignorância das classes dirigentes.

Os alvos visados neste jantar são:

Conde de Gouvarinho

Voltado para o passado;

Tem lapsos de memória;

Comenta muito desfavoravelmente as mulheres;

Revela uma visível falta de cultura;

Não acaba nenhum assunto;

Não compreende a ironia sarcástica do Ega;

Vai ser ministro.

Sousa Neto

Acompanha as conversas sem intervir;

Desconhece o sociólogo Proudhon;

Defende a imitação do estrangeiro;

Não entra nas discussões;

Acata todas as opiniões alheias, mesmo absurdas;

Defende a literatura de folhetins, de cordel;

É deputado.

Nota-se assim a superficialidade dos juízos dos mais destacados funcionários do Estado; incapacidade de diálogo por manifesta falta de cultura.

A Imprensa

"A Corneta do Diabo":

O director é o Palma "Cavalão", um imoral;

A Redacção é um antro de porcaria;

Publica um artigo contra Carlos mediante dinheiro;

Vende a tiragem do número do jornal onde saíra o artigo;

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Publica folhetins reles, de baixo nível.

"A Tarde":

O director é o deputado Neves;

Recusa publicar a carta de retractação de Dâmaso porque o confunde com um seu correligionário político;

Desfeito o engano, serve-se da mesma carta como meio de vingança contra o inimigo político;

Só publica artigos ou textos dos seus correligionários políticos.

Aspectos a notar: o baixo nível; a intriga suja; o compadrio político; assim como os jornais, está o País.

Sarau do Teatro da Trindade

Objectivos:

Ajudar as vítimas das inundações do Ribatejo;

Apresentar um tema querido da sociedade lisboeta: a oratória;

Reunir novamente as várias camadas das classes mais destacadas, incluindo a família real;

Criticar o ultra-romantismo que encharcava o público;

Contrastar a festa com a tragédia.

Neste sarau, destacam-se dois personagens:

Rufino

O bacharel transmontano;

O tema do Anjo da Esmola;

O desfasamento entre a realidade e o discurso;

A falta de originalidade;

O recurso a lugares-comuns;

A retórica é oca e balofa;

A aclamação por parte do público tocado no seu sentimentalismo.

Alencar

O poeta ultra-romântico;

O tema da Democracia Romântica;

O desfasamento entre a realidade e o discurso;

O excessivo lirismo carregado de conotações sociais;

A exploração do público seduzido por excessos estéticos estereotipados;

A aclamação do público.

N.B.: As classes dirigentes estão alheadas da realidade (nota-se isso pela indignação do Gouvarinho). Caracteriza-se a sociedade como sendo deformada pelos excessos líricos do ultra-romantismo.

Espaço e Cor

O Ramalhete

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O Jardim:

1. A estátua de Vénus Citereia

"Enegrecendo a um canto na lenta humidade das ramagens silvestres" (Cap.I)

"Parecendo, agora, no seu tom claro de estátua de parque, ter chegado de Versalhes" (Cap.I)

"Uma ferrugem verde, de humidade, cobria os grossos membros de vénus Cetereia" (Cap.XVIII)

2. A Cascata

"Uma cascatazinha seca" (Cap.I)

"E desde que a água abondava, a cascatazinha era deliciosa" (Cap.I)

"Por entre as conchas da cascata, o fio de água punha o seu choro lento" (Cap.XVII)

"Mais lento corria o prantozinho da cascata, esfiado saudosamente, gota a gota" (Cap.XVIII)

3. O Cipreste e o Cedro

"Um pobre quintal inculto, abandonado às ervas bravas, com um cipreste, um cedro" (Cap.I)

"O cipreste e o cedro envelhecendo como dois amigos tristes" (Cap.I)

"O cipreste e o cedro envelheciam juntos, como dois amigos, num ermo" (Cap.XVIII)

Os móveis do escritório do Afonso:

"Todos os móveis do escritório do avô desapareciam sob os largos sudários brancos." (Cap.XVIII)

A Toca:

"O melhor é baptizá-la definitivamente com o nome que nós lhe dávamos. Nós chamávamos-lhe a Toca" (Cap.XIII)

"Só meter a chave devagar e com uma inútil cautela na fechadura daquela morada discreta, foi para Carlos um prazer" (Cap.XIII)

"Uma tarde, (…) experimentaram ambos essa chave" (Cap.XIV)

"Tapeçarias, onde desmaiavam, na trama de lã, os amores de Vénus e Marte" (Cap.XIII)

"Onde se distinguia uma cabeça degolada"(Cap.XIII)

"Uma enorme coruja fixava no leito de amor, os deus dois olhos redondos e agoirentos" (Cap.XIII)

"O famoso armário, o móvel divino de Craft" (Cap.XIII)

"Na base quatro querreiros" (Cap.XIII)

"A peça superior era quardada aos quatro cantos pelos quatro evangelistas" (Cap.XIII)

"Espigas, foices, cachos de uvas e rabiça de arados" (Cap.XIII)

"Dois faunos, recostados em simetria, indiferentes aos heróis e aos santos" (Cap.XIII)

"Era ao centro um ídolo de bronze, um Deus bestial" (Cap. XIII)

Os símbolos cromáticos

O Vermelho:

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"Aquela sombrinha escarlate (…) quase o envolvia, parecia envolvê-lo todo - como uma larga mancha de sangue" (Cap.I)

"Ao lado de Maria, com uma camélia escarlate na casaca" (Cap.I)

"Todas as cadeiras eram forradas a repes vermelhos" (Cap.XI)

"Abria lentamente o grande leque negro pintado de flores vermelhas" (Cap.XI)

Amarelo e Dourado:

"Uma senhora loura, os cabelos loiros, de um oiro fulvo" (Cap.I)

"Uma senhora alta, loira" (Cap.VI)

"Era toda forrada, paredes e tecto, de um brocado amarelo, cor de botão-de-oiro" (Cap.XIII)

O Negro:

"Seus olhos muito negros" (Cap.III)

"O negro profundo de dois olhos que se fixaram nos seus" (Cap.VII)

Os Maias - Critica Social

“Em todos os espaços habitados, Eça, privilegia aqueles mais ligados com a trama e/ou personagens, e os que melhor contribuem para retratar a vida portuguesa, familiar e social, urbana, provinciana ou rural, dentro da sua visão crítica.”

Em Os Maias, os episódios do Hotel Central, das Corridas de Cavalos e do Sarau da Trindade são espaços de uma severa crítica à sociedade lisboeta.

Apoiando-se num só desses episódios, comente numa composição bem estruturada, a justeza da afirmação feita.

N’Os Maias, a intriga trágica entrelaça-se com a crónica de costumes. O título – Os Maias – liga-se à história trágica e o subtítulo – Episódios da Vida Romântica – sugere o retrato da sociedade, feito criticamente e com fina ironia.

A visão crítica incide sobre o mundo social, político, económico e cultural do século XIX e da Lisboa finissecular. Há uma ampla análise do Portugal da Regeneração, marcado pelo conservadorismo, pelo espírito romântico frustrado e pessimista, pela corrupção dos costumes.

São diversos os ambientes que permitem o contacto com múltiplas cenas e casos típicos da vida e da sociedade romântica da época da Regeneração: o jantar no Hotel Central, as corridas de cavalos, o jantar em casa do conde de Gouvarinho, o episódio na redacção do jornal A Tarde, o sarau literário do Teatro da Trindade.

O jantar no Hotel Central permite abordar a crítica literária e a literatura, a situação financeira do País e a mentalidade limitada e retrógrada. Aí se retrata a polémica que marcou a Questão Coimbrã, na discussão de Ega e Alencar, defensores do Realismo/Naturalismo e da moral do Ultra-romantismo, respectivamente.

As corridas são uma verdadeira sátira ao desejo de imitar o que se faz no estrangeiro, por um esforço de cosmopolitismo, e ao provincianismo do acontecimento. As corridas no hipódromo permitem, igualmente, apreciar de forma irónica e caricatural uma sociedade burguesa que vive de aparências. São um pretexto para Eça de Queirós, uma vez mais, satirizar a mentalidade e o comportamento da alta burguesia lisboeta, onde se percebe um verdadeiro contraste entre o ser e o parecer.

No jantar do Gouvarinho, as conversas permitem observar a degradação dos valores sociais, o atraso intelectual do País, a mediocridade mental de algumas figuras da alta burguesia e da aristocracia. No jantar podemos apreciar duas concepções opostas sobre a educação das mulheres, a superficialidade das opiniões de Sousa Neto, e o fascínio pelo que é estrangeiro.

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A parcialidade e a dependência política do jornalismo da época surgem perfeitamente retratadas no episódio do jornal A Tarde.

O episódio do sarau do Teatro da Trindade serve para Eça desferir a sua crítica sobre a superficialidade dos temas de conversa, a insensibilidade artística, a ignorância dos dirigentes, a oratória oca dos políticos e os excessos do Ultra-Romantismo.

Podemos concluir que a estrutura d’Os Maias obedeceu, prioritariamente, à vontade de Eça fazer uma desenvolvida crónica da vida social lisboeta do seu tempo, embora integrando-a na história de uma família. A par do enredo trágico-amoroso da obra, os episódios do Hotel Central, das Corridas, da ida a Sintra, do sarau do Teatro da Trindade, do jornal A Tarde ou dos jantares dos Gouvarinhos permitem uma análise crítica e objectiva à sociedade. Graças a eles podemos observar a corrupção, a frivolidade, a superficialidade, a ignorância e as mentalidades retrógradas da segunda metade do séculoXIX.

Ao recorrer à crítica social e ao procurar agitar as ideias sociais, políticas e literárias, Os Maias constituem um verdadeiro fresco caricatural da sociedade portuguesa da época, conservando actualidade, apesar dos contextos serem um pouco diferentes.

Os Maias surge como um romance realista ao retratar os espaços sociais da sociedade romântica estando patente nesta obra uma comédia de costumes.

Personagens

Caetano da Maia é o pai de Afonso. Miguelista convicto e antijacobino ferrenho, dominado pelos valores tradicionais e conservadores, não perdoa ao filho as aventuras contestatárias da mocidade e expulsa-o de casa, desterrando-o para Santa Olávia. Esperava que o jovem ganhasse juízo, o que aconteceu e Afonso, depois de perdoado, regressa a Lisboa e parte para Inglaterra, abandonando os seus correligionários de lides políticas à intervenção militante e activa, enquanto ele vai assistindo às corridas de Epson.

Afonso da Maia é filho de Caetano, conservador, na sua juventude defendeu valores opostos aos de seu pai, convicções essas inconsistentes e que revelam um grande egoísmo. Ávido na leitura, prefere Tácito e Rabelais, tendo já apreciado Rousseau, Volney, Helvetius e a Enciclopédia. Casa com Maria Eduarda Runa e, durante as lutas liberais, vê o seu domicílio invadido pelos miguelistas, assim, sentindo-se ultrajado exila-se em Inglaterra com a mulher e o filho, Pedro, tomando contacto com a sociedade e culturas britânicas. A sua vida em Inglaterra fica marcada pelo inconformismo da mulher que, amante do sol, estranha o tempo, definhando e se entrega à religião beata e incondicionalmente, o que faz Afonso regressar. Contra o fanatismo e a ignorância da mulher nada consegue fazer. Após a morte da mulher e do filho regressa a Santa Olávia e aí tentará dar uma educação diferente ao neto que lhe foi entregue pelo filho, do que a educação que permitiu que a mulher ministrasse ao filho. Representante do liberalismo, simboliza a integridade moral e a rectidão de carácter. O seu sentido de moralidade nada tem a ver com o medo da divindade, mas com o respeito pelos homens. É rígido, puro, austero, puritano, sereno e risonho. Ama o progresso fruto de um esforço sério; é generoso para com os amigos e os necessitados, o que o faz também amar a natureza e o que é pobre e fraco. Orna com requinte os seus palácios. Crítico em relação à forma de estar na vida de Carlos e até de Ega, contesta a sua inactividade e o seu diletantismo, incitando-os à acção. Contudo, não existe por parte de Afonso, patriota na forma e na essência, qualquer iniciativa para curar os males do país, sendo também ele um pouco diletante. Como ele próprio reconhece, não é “um varão esforçado das idades heróicas” mas somente “um antepassado bonacheirão que amava os seus livros, o conchego da sua poltrona, o seu whist ao canto do fogão”. Não é mais do que a representação de um eco e um reflexo do passado glorioso, incarnado apenas os valores de outrora; revela-se incapaz de se adaptar às mudanças que se avizinham. Representa o português íntegro, associado a um passado nacional heróico, mas cuja vitalidade se esgotou nesse mesmo tempo. Simboliza a incapacidade de regeneração do país, que vive na ilusão desse tempo áureo, alimentando-se dessa imagem perdida. Irá desiludir-se com a corrente liberal e ansiar por uma aristocracia Tory para repor a ordem, o progresso e a moral, moral essa que lhe é tão querida lhe há-de custar a vida ao saber do incesto dos netos. Morre de apoplexia, no Ramalhete, casa tão funesta aos Maias, envolto em tristeza por saber do incesto dos netos. É o personagem mais simpático e aquele que Eça mais valorizou, pelos que os seus defeitos são registados com indulgente simpatia, surgindo em contraste com algumas qualidades dos mais novos; é ainda um modelo de autodomínio, e tal como o neto individualista. Fisicamente é maciço, não muito alto, de ombros quadrados e fortes, de cara larga, nariz aquilino e pele corada, cabelo branco muito curto e barba comprida também branca.

Maria Eduarda Runa, uma verdadeira lisboeta, era pequenina e trigueira, pálida, magra e melancólica. Extremamente devota, era uma mulher triste. Influenciou a educação deformada do filho.

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Pedro da Maia vai ser objecto de uma caracterização naturalista. Herdou da mãe o seu temperamento nervoso, as suas crises de melancolia, os seus sentimentos exagerados e a sua instabilidade emocional. Desenvolvera-se lentamente, sem curiosidades, indiferente a brinquedos, animais, flores e livros. Educado pelo padre Vasques, a quem tomara birra devido ao ensino tradicional e retrógrado deste, nunca foi capaz de lhe desobedecer. Sente um amor quase doentio pela mãe, pelo que quando esta morre mergulha num estado próximo da loucura, mas, quando reage adopta uma vida devassa e vulgar, a qual abandona pouco depois, regressando à sua vida soturna e a ler livros religiosos. Deixou-se encadear por um amor à primeira vista que o conduziu a um casamento, de estilo romântico, com Maria Monforte. Este enlace precipitado levá-lo-ia mais tarde ao suicídio – após a fuga da mulher – por carecer de sólidos princípios morais (a religião que a mãe lhe transmitiu era feita de sentimentalismos vagos) e de força de vontade que o deveriam levar à aceitação da realidade e à superação daquele contratempo. Fisicamente é pequeno, de rosto oval, tem os bonitos olhos dos Maias, mas é murcho, amarelo e tem grandes olheiras, tendo um corpo frágil capaz de reflectir a fragilidade da alma, extremamente sensível e melancólica. Aproxima-se do físico dos Runas, contrapondo-se ao físico dos Maias. É o protótipo do herói romântico, é ainda uma personagem-tipo.

Maria Monforte é filha de Manuel Monforte, e é conhecida em Lisboa por “a negreira”, alcunha ligada à forma como o seu pai enriqueceu, transportando escravos. Deslumbrará Pedro com a sua beleza (alta, cabelos loiros, de um oiro fulvo, testa curta e clássica, olhos azuis e carnação de mármore, comparável às deusas) e contra a vontade de Afonso casar-se-á com ele. Viaja com Pedro pela Itália e pela França, de regresso a Portugal, o casal vai viver para Arroios, onde iniciam uma intensa vida social. Salienta-se o seu gosto pelo luxo e a sua capacidade de se fazer admirar: os amigos de Pedro idolatravam-na e Alencar sentia por ela uma paixão platónica. A instabilidade instala-se quando Pedro recolhe, em sua casa, Tancredo a quem ferira involuntariamente num acidente de caça. Mulher volúvel e insatisfeita, abandona Pedro fugindo com Tancredo e levando consigo a primeira filha do casal, Maria Eduarda. Radicam-se em Viena e Manuel Monforte vai suportando a vida caprichosa de ambos; partem para o Mónaco onde Tancredo morre num duelo e, Manuel Monforte, já totalmente arruinado, morre também. Sem meios de subsistência parte para Londres e mais tarde para Paris, deixando a filha num convento em Tours e indo viajar pela Alemanha, Terra Santa e Oriente, até se fixar definitivamente em Paris onde abrirá uma casa de jogo e posteriormente uma segunda, na qual Maria Eduarda conhecerá o seu primeiro amante, um irlandês, Mac Green, do qual terá Rosa. Após a guerra franco-prussiano em que Mac Green morre, muda-se para Londres com a filha e a neta. Antes de morrer confia a uma velho amigo, Guimarães, o cofre com o documentos que comprovam a verdadeira identidade de Maria Eduarda, a quem nunca confessara a verdade sobre a sua origem. É descrita em quatro adjectivos “pobre, formosa, doida, excessiva”, sendo que pobre só na fase final da vida. É o protótipo da cortesã: leviana e amora, sem preocupações culturais ou sociais; tem uma personalidade fútil mas fria, caprichosa, cruel e interesseira. É nela que radicam todas as desgraças da família Maia, mas não faz o mal por maldade, mas antes por paixão. É uma personagem-tipo.

Carlos da Maia é o protagonista, segundo filho de Pedro e Maria Monforte. Após o suicídio do pai vai viver com o avô para Santa Olávia, sendo educado à inglesa pelo preceptor, o inglês Brown. Sairá de Santa Olávia para tirar Medicina em Coimbra. Descrito como um belo jovem da Renascença com olhos negros e líquidos próprios dos Maias, alto, bem feito, de ombros largos, com uma testa de mármore sob os anéis dos cabelos pretos, barba muito fina, castanho escura, rente na face, aguçada no queixo e com um bonito bigode arqueado aos cantos da boca, era admirado pelas mulheres, elegante na sua toilette e nos carros que guia. Durante o seu período de estudos experimenta um interlúdio amoroso com Hermengarda, que abandona por sentir compaixão do marido e do filho, e mais tarde com uma prostituta espanhola. Depois do curso acabado, viaja pela Europa, indo visitar os Lagos escoceses com Mme. Rughel, uma holandesa separada. Regressando a Lisboa traz planos grandiosos de pesquisa e curas médicas, que abandona ao sucumbir à inactividade, pois, em Portugal, um aristocrata da sua estirpe não é suposto ser médico, e, ainda porque por ser um belo jovem desencadeava a desconfiança dos maridos que não lhe queriam confiar as mulheres enfermas. Apesar do entusiasmo e das boas intenções fica sem qualquer ocupação e acaba por ser absorvido por uma vida social e amorosa que levará ao fracasso das suas capacidades e à perda das suas motivações. É um diletante que se interessa por imensas coisas, demonstrando um comportamento dispersivo. Carlos transforma-se numa vítima da hereditariedade (visível na sua beleza e no seu gosto exagerado pelo luxo, herdados da mãe e pela tendência para o sentimentalismo, herdada do pai) e do meio em que se insere, mesmo apesar da sua educação à inglesa e da sua cultura, que o tornam superior ao contexto sociocultural português, revelando-se um gentleman. Será absorvido pela inércia do país, assumirá o culto da imagem, numa atitude de dândi. A sua superioridade e distância em relação ao meio lisboeta é traduzida pela ironia e pela condescendência. O dandismo revela-se em Carlos num narcisismo que se alia ao gosto exagerado pelo luxo e também na auto-marginalização voluntária em relação à sociedade, motivada pelo cepticismo e pela consciência do absurdo e do vazio que governa o mundo daqueles que o rodeiam. A Condessa de Gouvarinho surge como o primeiro fio da teia que irá aprisionar Carlos, ao se entregar a ele em busca de uma aventura que apimentasse o seu casamento. Carlos entregar-se-á ao prazer sensual do qual se entedia. A sua verdadeira paixão nascerá em relação

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a Maria Eduarda, que compara a uma deusa e jamais esquecerá. Por ela dispõe-se a renunciar a preconceitos e a colocar o amor no primeiro plano. Ao saber da verdadeira identidade de Maria Eduarda consumará o incesto voluntariamente por não ser capaz de resistir à intensa atracção que Maria Eduarda exerce sobre ele. Acaba por assumir que falhou na vida, tal como Ega, pois a ociosidade dos portugueses acabaria por contagiá-lo, levando-o a viver para a satisfação do prazer dos sentidos e a renunciar ao trabalho e às ideias pragmáticas que o dominavam quando chegou a Lisboa, vindo do estrangeiro. Simboliza a incapacidade de regeneração do país a que se propusera a própria Geração de 70. Não teme o esforço físico, é corajoso e frontal, amigo do seu amigo, parece incapaz de fazer uma canalhice. No final da obra afirma-se partidário do “fatalismo muçulmano”, ou seja, “nada desejar e nada recear... não se abandonar a uma esperança, nem a um desapontamento.” Eça terá querido personificar em Carlos o ideal da sua juventude, a que fez a Questão Coimbrã e as Conferências do Casino, e que acabou no grupo dos Vencidos da Vida, de que Carlos é um bom exemplo. É uma personagem modelada.

Maria Eduarda é apresentada como uma deusa (Juno), completa e talvez demasiado idealizada. Ignorando a sua verdadeira identidade, entra na sociedade lisboeta pela mão de Castro Gomes, com quem partilhava a sua vida, havia três anos. Dizendo-se viúva de Mac Green, sabia apenas que a sua mãe abandonara Lisboa, levando-a consigo para Viena, quando contava apenas um ano e meio de idade. Da sua união com Mac Green, que durara quatro anos, tivera uma filha, Rosa, a quem amava com desvelo e por quem sacrifica a sua felicidade aliando-se a Castro Gomes a fim de lhe dar estabilidade económica. Mónaco, Londres e Paris foram cidades onde viveu antes de vir para Lisboa, onde se dá o infortunado encontro com Carlos que consuma a desgraça predita por Vilaça, quando Afonso resolve habitar de novo o Ramalhete, ignorando as suas lendas e agouros. À sua perfeição física alia-se a faceta moral e social que tanto deslumbram Carlos. A sua dignidade, a sensatez, o equilíbrio e a santidade são características fundamentais da sua personagem, às quais se juntam uma forte consciência moral e social aliadas a uma ideologia progressista e pragmática, fazendo ressaltar a sua dualidade aristocrática e burguesa. Salienta-se ainda a sua faceta humanitária e a compaixão pelos socialmente desfavorecidos, motivando a comparação que Carlos entre ela e o avô. A súbita revelação da verdadeira identidade da sua deusa vai provocar em Carlos estupefacção e compaixão, posteriormente o incesto consciente, e depois deste a repugnância. A separação é a única solução para esta situação caótica a que se junta a morte de Afonso, consumando as predições de Vilaça. A sua apresentação cumpre os modelos realista e naturalista, é o exemplo acabado de que o indivíduo é um produto do meio, pelo que coincidem no seu carácter e no espaço físico que ela ocupa duas vertentes distintas da sua educação: a dimensão culta e moral, construída aquando da sua estadia e educação num convento, e a sua faceta demasiado vulgar, absorvida durante o convívio com sua mãe, proprietária de uma casa de jogo onde toma contacto com uma realidade sórdida que se manifesta na jóia de cocotte e no “Manual de Interpretação dos Sonhos”. Ela é o último elemento feminino da família Maia e simboliza, tal como as outras mulheres da família, a desgraça e a fatalidade, assim, em vez de significar fecundidade criadora, a mulher é na obra um elemento estéril. É a terceira figura feminina na panóplia de três gerações da família Maia apresentadas na obra. Simbolicamente o número três é o número da completude e implica a conjugação de três momentos temporais: o passado, o presente e o futuro, ou seja a mulher surge na obra como um factor de transformação do mundo masculino, conduzindo à esterilidade e à estagnação; o terceiro elemento feminino torna-se a revelação simbólica dos outros que foram nefastos à família. Eça não lhe estuda muito o carácter, mas o que transparece é bom: sem defeitos, a não ser os que a vida nela marcou. É de uma enorme dignidade, principalmente quando não quer gastar o dinheiro de Castro Gomes por estar ligada a Carlos. Adivinha-se bondosa e terna, culta e requintada no gosto. Talvez seja a figura feminina que mais na obra, pela dignidade que assume e a tragédia que a atinge. No final da obra, parte para Paris onde mais tarde de saca com Mr. de Trelain, casamento considerado por Carlos o de dois seres desiludidos. É uma personagem-tipo.

Ega, filho de uma viúva rica e beata de Celorico de Basto, escandalizava e chocava esse pequeno meio com o seu espírito sacrílego. Amigo inseparável de Carlos, que conhece em Coimbra, onde se licenciou em Direito, fala por ele, sofre por ele, aprecia em Carlos as qualidades a que ele lhe faltam; comparsa no drama de Carlos, seu confidente, sua consciência, seu companheiro nas angústias e nos prazeres. Alter-ego de Eça, que ao nível físico brinca com a sua magreza, com o seu monóculo e com o bigode arrebitado, e ao nível intelectual revela a sua dualidade romântica e regeneradora. Partidário do Naturalismo opõe-se ao poeta ultra-romântico, Alencar. Embora defensor dos valores realistas, revela-se um romântico, no pior sentido, incapaz de fazer fosse o que fosse. Irreverente, revolucionário, boémio, excêntrico, exagerado, caricatural, provocador, cínico, sarcástico, crítico, anarquista sem moral e sem Deus, satânico, positivista e romântico, um pobre diabo apaixonado, que interpretará o mensageiro funesto dos amores incestuosos de Carlos e Maria Eduarda, ao tornar-se depositário das missivas e dos papéis que confirmam os laços de sangue entre ambos. Assume-se como um dândi, mas também como um literato falhado, começa a escrever “Memórias de um Átomo”, história das grandes fases da Humanidade e do Universo, “O Lodaçal” para se vingar de Cohen, mas nunca os acaba, mostra ainda vontade de escrever “As Jornadas da Ásia”, não chegando sequer a iniciá-lo, bem como uma revista que revolucionasse o ambiente cultural português; o intelectual das grandes ideias, das

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revoluções facínoras, das grandes alterações sociais, porém nada faz, vivendo num amplo parasitismo, refugiando-se por detrás de Carlos. Cultiva a sua própria imagem, excêntrica e exuberante, o que se evidencia na decoração da Vila Balzac. Saliente-se ainda a sua faceta sensual. O seu discurso demolidor serve a Eça para atingir as instituições e os valores que pretendia denunciar. Permitiu a Eça escrever as passagens mais hilariantes da obra. No final da obra assume grande importância na intriga por ser o depositário da carta reveladora da identidade de Maria Eduarda. É uma personagem modelada pois tem densidade psicológica, evidenciada ao tecer considerações sobre a situação incestuosa de Carlos e Maria Eduarda. Fisicamente pouco se sabe, tem um nariz adunco.

Alencar é o poeta romântico à portuguesa que exerce grande influência na geração de Pedro, aconselhando a Maria Monforte o tipo de novelas a ler. É o autor de “Vozes d’Aurora”, “Elvira” e “Flor de Martírio”. Era frequentador assíduo das soirées de Arroios. Identificado com os valores do romantismo hiper-sentimental, tem uma paixão literária por Maria Monforte. É caricato e exagerado e denuncia uma feição sentimental e pessimista do ultra-romantismo. Tem uma atitude poética declamatória e teatral, cheio de tiques, os seus versos são caricatos, condizendo com a sua atitude melancólica. “Muito alto, todo abotoado numa sobrecasaca preta, com uma face escaveirada, olhos encovados, e sob o nariz aquilino, longos, espessos, românticos bigodes grisalhos; já todo calvo na frente, os anéis fofos de uma grenha muito seca caíam-lhe inspiradamente sobre a gola; e em toda a sua pessoa havia alguma coisa de antiquado, de artificial e de lúgrube.”, tinha uma voz grossa e macilento. Levava uma vida boémia. Serve a Eça para figurar as discussões de escola entre naturalistas e românticos, numa visão caricatural da Questão Coimbrã. Não se lhe conhecem defeitos e tem um grande e generoso coração, é bondoso e sentimental, idealista e sincero. É o informador do destino de Maria Monforte. É uma personagem-tipo, representando os artista das letras e a sobrevivência dos valores ultra-românticos na geração de 70. A vitalidade desta personagem é atestada pela reacção de Bulhão Pato, que nela se sentiu retratado e contra-atacou violentamente Eça em vários textos.

Castro Gomes, um fidalgo brasileiro, é o elemento catalisador da catástrofe ao desvendar o passado de Maria Eduarda, de quem fora amante em Paris durante três anos. É o responsável pela entra da dela na sociedade lisboeta. Após a descoberta do romance de Maria Eduarda com Carlos abandona Portugal sem grande pesar.

Craft é filho de um clérigo de uma igreja inglesa, facto que o aproxima de Carlos e da sua forma de estar no mundo, pelo que entre eles nascerá uma amizade espontânea. De diminuta importância, de temperamento byroniano, dedica o seu tempo a viajar e a coleccionar obras de arte juntando-as na casa que possuía nos Olivais, passatempos deverás em conformidade com a sua fortuna herdada de um tio. É um gentleman que herdou da sua cultura britânica, a bravata a defesa de ideias, a rectidão de carácter e a correcção; é o arquétipo do que deve ser um homem, e Eça não esconde as suas simpatias por ele. É marcado pelo diletantismo e desocupação que, à semelhança de Carlos, o irão vitimar. Tem uma posição de nítida superioridade e desdém face aos demais. A última menção ao seu nome é para, implicitamente, conduzir o leitor à conclusão de que este amante do Belo e do xadrez acabará os seus dias em Richmond, sucumbindo ao álcool. Tal como Carlos e Ega é um boémio, mas ao contrário destes é uma personagem-tipo.

Cruges é uma personagem secundária que simboliza o músico idealista, que sucumbe à mediocridade cultural nacional. O seu objectivo é compor uma ópera que o imortalizasse, mas falta-lhe a motivação, devido ao meio em que se insere, e que pode ser comprovado pela sua afirmação “Se eu fizesse uma ópera, quem é que ma representava?”, demonstrando-se sem génio criativo, esmagado pelo meio obsoleto. É moralmente são e tímido. É uma personagem-tipo representando os artistas da música.

Guimarães é um antigo trabalhador do jornal Rappel, fundado por Victor Hugo e Rochefort, e tio de Dâmaso. Democrata e simpatizante do comunismo, ele é uma personagem-tipo. É o portador da desgraça da família Maia, tendo conhecido Maria Monforte em Lisboa, encontrando-a posteriormente em Paris, onde recebe a caixa que encerra o segredo da verdadeira identidade de Maria Eduarda, caixa essa que mais tarde entregará a Ega. É uma encarnação do Destino, assumindo o papel de destinador pela sua acção meramente casual, recusando o êxito a Carlos, a quem inviabiliza os seus amores com Maria Eduarda, ferindo também Afonso, que aliás morre na sequência da revelação por Guimarães proporcionada.

Vilaça (pai e filho) são os procuradores da família Maia. Apesar de empregados da casa dos Maias, foram sempre tratados com familiaridade. Vilaça é o arauto da fatalidade que ensombra a família e o Ramalhete. Após a morte do pai, Manuel Vilaça assume a função de procurador, com escritório na Rua da Prata, desejando ser vereador, ou talvez deputado. Embora de condição subalterna, este burguês diligente e empreendedor, mas calmo, torna-se o mensageiro da fatalidade ao revelar a Carlos a identidade de Maria Eduarda, função que lhe fora incumbida por Ega, que não tivera coragem. Ambos

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são de uma lealdade sincera à família Maia. É uma personagem-tipo representando o burguês típico e conservador, honesto e prudente.

Dâmaso Salcede é o personagem mais caracterizado por Eça, tornando-se um cabide de defeitos: defeitos de origem (filho de um agiota); presumido; cobarde; não tem dignidade (porta-se como uma rafeiro sabujo); mesquinho; enfatuado e gabarola; provinciano e tacanho, somente com uma preocupação na vida: o “chique a valer”. Fisicamente é baixote, gordo, frisado como um noivo de província, mas a quem não falta pretenciosismo. Aproxima-se de Carlos, que admira e inveja, por interesse e desejo de condição social. Tenta convencer-se e convencer os outros do seu fascínio irresistível face ao sexo oposto, não obstante as suas conquistas estarem confinadas a espanholas de reputação muito duvidosa. Possuidor de grande bazófia e sendo um enorme cobarde, difama pública e anonimamente Carlos, mas retracta-se logo em seguida. Nada tem de inteligente, de honrado ou de nobre. Consegue casar com uma filha dos Condes de Águeda que se apressa a traí-lo. Condensa toda a estupidez, futilidade e ausência de valores da sociedade. Decalca qualquer comportamento importado do estrangeiro, principalmente de França.

Eusèbiozinho, vizinho de Carlos, é inicialmente o negativo de Carlos no que toca à educação. Leva uma existência doentia, mergulhado nos alfarrábios, sem qualquer contacto com a natureza. Tornou-se “molengão e tristonho”, com as perninhas flácidas. Depois de viúvo procurava os bordéis para se distrair. Fidalgo de província sem vontade própria. É uma personagem-tipo representando a educação retrógrada portuguesa.

Tancredo é um napolitano que dizia ser sobrinho dos príncipes de Sória, participou numa conspiração contra os Bourbons e por isso teve que abandonar Itália, vindo para Portugal. É um homem fatal pela sua extraordinária beleza, ocasionando uma sedução irresistível. Além de fatal, era demoníaco, com o seu olhar taciturno e orgulhoso, a sua figura pálida que atrai para depois aniquilar, para provocar desassossego, desespero e morte (vejamos o caso de Pedro).

Conde de Gouvarinho é ministro e par do Reino, personagem-tipo que representa o político incompetente. Casou com a filha de um comerciante rico do Porto, aliado o seu título ao dinheiro dela, pelo que é um casamento de conveniência.

Condessa de Gouvarinho é amante de Carlos até este se enfastiar e resolver abandoná-la, sensual e provocante, é uma personagem-tipo simbolizando as mulheres adúlteras. É uma aristocrata que corporiza a decadência moral e a ausência de escala de valores da alta sociedade, é uma mulher fatal.

Steinbroken é o ministro da Finlândia, entusiasta da Inglaterra, grande entendedor de vinhos, uma autoridade no whist e um bom barítono. Parece resumir as suas funções diplomáticas a duas preocupações: a de exercer com zelo, formalidades e praxe o seu cargo e o de se remeter a uma neutralidade constante e prudente, comodamente conseguido à custa da repetição de frases-chave, despidas de conteúdo: o inevitável “c’est grave” ou “c’est excessivement grave”. Não deixa de constituir um juízo muito significativo da Finlândia sobre o universo político português, já que ao confiar no labor de tal embaixador, o país estrangeiro que ele representa revela um conhecimento razoável do carácter monótono e repetitivo da vida pública portuguesa. É uma personagem-tipo representante dos diplomatas.

Taveira é um empregado no Tribunal de Contas tipificando os funcionários públicos, pelo que é uma personagem-tipo. É a única personagem com funções definidas.

Neves é o director d’A Tarde, deputado e político. Personagem-tipo símbolo do jornalismo político e parcial.

Palma Cavalão é o director d’A Corneta do Diabo, personagem-tipo símbolo do jornalismo corrupto, devasso, insultuoso e sem fidedignidade. O seu acompanhante em sociedade é Eusèbiozinho, ambos consideram assaz importante conviver e saber lidar com prostitutas espanholas.

Jacob Cohen é um judeu banqueiro, director do Banco Nacional, casado com Raquel. Considera que Portugal caminha para a bancarrota, mas não hesita aproveitar a situação económica do país em proveito próprio. É uma personagem-tipo representando a alta finança.

Raquel Cohen é uma mulher adúltera, bela e refinada que não hesita a pôr em prática o seu poder de sedução. Amante de Ega, até o caso ser descoberto, precisamente no dia em que Cohen ia dar um baile de máscaras praticamente organizado por Ega.

Rufino é deputado por Monção, símbolo da oratória parlamentar, usando e abusando de uma retórica balofa e oca com uma mentalidade profundamente provinciana e retrógrada. É uma personagem-tipo.

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Sousa Neto é representante da Administração Pública, é ignorante e nunca saiu de Portugal, personagem-tipo da burocracia, tacanhez intelectual e ineficácia da Administração. É amigo e próximo do Conde de Gouvarinho.

Os Maias – Simbolismo

Maria Eduarda é a terceira figura feminina na panóplia de três gerações da família Maia apresentadas na obra. Simbolicamente, o número três é o número da completude e implica a conjugação de três momentos temporais: o passado, o presente e o futuro, ou seja, a mulher aparece na obra como um factor de transformação do mundo masculino, conduzindo à esterilidade, à estagnação. O terceiro elemento feminino torna-se a revelação simbólica dos outros dois que foram nefastos à família.

Ainda relacionado com este simbolismo, é interessante ver a relação simbólica que, metonimicamente, se pode estabelecer entre os três lírios brancos que Carlos vê dentro de um vaso do Japão, quando, pela primeira vez, tem acesso ao espaço físico onde Maria Eduarda se move, a sua casa, na Rua de S. Francisco, e as três mulheres que penetram na família Maia. Apesar da brancura dos lírios (conotada na tradição oriental com o luto), as flores murcham num vaso do Japão. A cultura europeia presente na decoração contracena com a cultural oriental, na qual a alvura representa a morte: a morte física de Maria Eduarda Runa e de Maria Monforte e a morte moral e espiritual (num tempo futuro) de Maria Eduarda Maia. Os lírios brancos, à partida conotados com a pureza, perdem a sua conotação positiva ao murcharem e passam e simbolizar a morte. O lírio concentra a ideia de prosperidade da raça, continuada de geração em geração. Por outro lado, o facto dos três lírios brancos se encontrarem num vaso do Japão aponta já para o incesto, pelo exotismo que representa esta peça decorativa, pois insere no espaço físico de Maria Eduarda uma cultura estranha à cultura ocidental.

Saliente-se que Carlos e Maria Eduarda terão os seus encontros quer na Toca, marcada por uma decoração excêntrica e exuberante, quer no quiosque japonês, pelo que retoma a simbologia de uma cultura estranha neste espaço.

A Toca é o nome dado à habitação de certos animais, apontando desde logo para o carácter animalesco do relacionamento amoroso entre Carlos e Maria Eduarda. Carlos introduz a chave no portão da Toca com todo o prazer, sugerindo não só poder mas também o prazer das relações incestuosas (é de lembrar que a chave é um símbolo fálico). Da segunda vez que se alude à chave, os dois amantes experimentam-na o que passa a simbolizar a aceitação e entrega mútua. Os aposentos de Maria Eduarda simbolizam a tragicidade da relação, estando carregados de presságios: nas tapeçarias do quarto “desmaiavam, na trama de lã, os amores de Vénus e Marte”, de igual modo este amor de Carlos e Maria Eduarda estava condenado a desmaiar e desaparecer; “... a alcova resplandecia como o interior de um tabernáculo profano...” misturando o sagrado e o profano para simbolizar o desrespeito pelas relações fraternas. Assim, a descrição do quarto tem traços próprios de um local dedicado ao culto: a porta de comunicação “em arco de capela”, donde pendia “uma pesada lâmpada da Renascença” conferindo maior solenidade. Com o sol, o quarto “resplandecia como (...) um tabernáculo. Carlos mostrava-se indiferente aos presságios, inconsciente e distante, mas Maria Eduarda impressiona-se ao ver a cabeça degolada de S. João Baptista, que foi degolado por ter denunciado a relação incestuosa de Herodes, e a enorme coruja a fitar, com ar sinistro, o seu leito de amor (lembre-se que a coruja é considerada uma ave de mau agoiro, que surge aqui para vaticinar um futuro sinistro para este amor). O ídolo japonês que há na Toca remeta para a sensualidade exótica, heterodoxa, bestial desta ligação incestuosa. Os guerreiros simbolizam a heroicidade, os evangelistas, a religião e os troféus agrícolas, o trabalho que terão existido na família Maia (e no Portugal). Os dois faunos simbolizam os dois amantes numa atitude hedonista e desprezadora de tudo e de todos. Na primeira noite de amor entre Carlos e Maria Eduarda, a qual se dá precisamente na Toca, dá-se uma grande trovoada como que a pressagiar um mau ambiente que se criaria resultante deste incesto.

Maria Eduarda tem receios, desconhece a sua verdadeira identidade, mas que perscruta o futuro através da análise de pequenos pormenores das coisas ou das pessoas, análise essa que assume um valor simbólico ou premonitório, como acontece quando ela descobre semelhanças entre Carlos e a sua mãe.

O Ramalhete está simbolicamente ligado à decadência moral do Portugal da Regeneração. O ramo de girassóis que ornamenta a casa simboliza a atitude do amante, que como um girassol, se vira

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continuamente para olhar o ser amado; girando sempre, numa atitude de submissão e de fidelidade para com o ser amado, o girassol associa-se à incapacidade de ultrapassar a paixão e a falta de receptividade do ser amado, ligando-se assim a Pedro e a Carlos. Os móveis do escritório de Afonso estão cobertos de panos brancos que são comparados a mortalhas com que se envolvem cadáveres, prenunciam já a morte que se abaterá na família Maia. Concentra em si o peso da fatalidade familiar, que lhe foi atribuída por Vilaça num relatório sobre a casa que enviou a Afonso, o qual se riu da observação; mas de facto é lá que morre Pedro na sequência do abandono de Maria Monforte, e é lá também que Afonso vai morrer de desgosto após descobrir o incesto dos netos.

O jardim do Ramalhete é rico em simbologias. Numa primeira e última fase, este espaço evidencia a tristeza e o abandono, e na desolação do jardim, sobressaem três símbolos do amor puro e imortal. O cipreste (símbolo da morte) e o cedro (símbolo do envelhecimento), unidos entre si por laços quase míticos que se perdem nos anais da mitologia grega, inseparáveis em vida, envolvidos num amor puro e forte e cuja recompensa foi a união incorruptível das suas raízes, que a tudo resistem, emblematizando o Amor Absoluto; podendo ainda estar ligados ao mundo romântico por serem árvores de cemitério conotadas com a morte; acabam por simbolizar duas personagens românticas mas que na teoria se dizem realistas e que no final da obra ficam tão sós como estas duas árvores: Carlos e Ega. Velada por este par imortal, encontramos Vénus Citereia, deusa do amor, ligada à sedução e à volúpia, liga-se às três fases do Ramalhete: numa primeira fase relaciona-se com a morte de Pedro “enegrecendo a um canto”; numa segunda fase e após a remodelação, aparece em todo o seu esplendor simbolizando a ressurreição da família para uma vida feliz e harmónica (a sua recuperação coincide com o aparecimento de Maria Eduarda), deixando adivinhar prenúncios de uma desgraça futura, enquanto símbolo da feminilidade perversa; na terceira e última fase, enquanto símbolo do Amor e do Feminino, aparece aos nossos olhos coberta “de ferrugem”, simbologia negativa, assumindo-se como duplo de Maria Eduarda, último elemento feminino que, através do amor, destruiu para sempre a frágil harmonia da família Maia. O facto da estátua ser de mármore simboliza o universo clássico, numa nítida tentativa de relembrar a tragédia clássica; por outro lado, o mármore liga-se ao cemitério por ser frio como a morte, e por ser o material usado nas campas. A cascata é, na tradição judaico-cristã, símbolo de regeneração e de purificação; cheia de água, conota-se com o choro, com as lágrimas, num nítido prenúncio da tristeza que se abatera sobre os Maias; como numa clepsidra, a água fluirá gota a gota, marcando a passagem inexorável do tempo e, acentuando melancolicamente, o implacável Destino d’Os Maias, condenados ao desaparecimento, após a doçura ilusória de uma “instante” que durou dois anos.

“Maria Eduarda, Carlos Eduardo... Havia uma similitude nos seus nomes. Quem sabe se não pressagiava a concordância dos seus destinos!” Pressagiava de facto, mas de maneira trágica. Também a semelhança do nome das três figuras femininas centrais parece apontar para que todas elas são fatais, à sua maneira, aos homens da família Maia – Maria Eduarda Runa, Maria Monforte, Maria Eduarda – todas Maria e, a primeira e a última Maria Eduarda, concorda também nos seus próprios destinos, todas morreram, se bem que as duas primeiras fisicamente e a última psicologicamente.

Há ainda que salientar a similitude física entre Carlos e Maria Monforte, sugerida por Maria Eduarda, e a semelhança de carácter de Afonso e Maria Eduarda, sugerida por Carlos quando vê que Maria Eduarda é tão bondosa como o avô – Maria Eduarda pede-lhe para ir ver a irmã da sua engomadeira que tinha reumatismo, e o filho da Sr.ª Augusta, a velha do patamar, que estava tísico; Carlos cumpria estes encargos com o fervor de acções religiosas.

Afonso encontra sérias semelhanças entre seu filho, Pedro, e um tio da família Runa que endoideceu e se enforcou. Estas semelhanças agoiravam já o futuro de Pedro que, tal como o tio, se suicidou, mas este com um tiro na cabeça, morrendo alagado numa poça de sangue.

Maria Monforte estava lendo uma novela sugerida por Alencar, em que o herói era o último Stuart, o romanesco príncipe Carlos Eduardo, como estava fascinada por ele, quis dar esse nome a seu filho, pois parecia ser pleno de um destino de amores e façanhas. De facto, Maria Monforte estava certa, o incesto era o destino amoroso de Carlos que acabou por levar a que este seja o último dos Maias. Contrariamente a Maria Monforte, Pedro queria chamar Afonso ao filho, mas acabou por aceder a Carlos Eduardo.

Afonso recebe, por Vilaça, a notícia do casamento de Pedro, com o qual não concordara, e quando se senta “à mesa do almoço posta ao pé do fogão” vê que “ao centro um ramo esfolhava-se num vaso de Japão, à chama forte da lenha”. Isto pressagiava o fim do “romance” de Pedro e Maria Monforte pois este enlace iria desfazer-se e desaparecer, como aquelas folhas secas que à chama forte da lenha se esfolhavam no vaso de Japão. E Pedro, um dos Maias, separar-se-ia depois, pelo suicídio, do tronco familiar.

Carlos com um profundo sentimento de culpa dirige-se da Rua de S. Francisco para o Ramalhete pensando que, depois de ter cometido o incesto consciente, é-lhe impossível recomeçar a sua vida, tranquilamente, na presença do avô e de Ega.

No momento da chegada de Carlos ao Ramalhete, no exterior “os candeeiros ainda ardiam”, porém o advérbio de tempo “ainda” indica que a escuridão está prestes a acabar, dando lugar à luz do dia. Mas no interior reinava a escuridão, e Carlos procurava uma luz para iluminar os seus passos e o se comportamento, é que moralmente sentia-se também às escuras.

Page 22: Eça de Queirós - Os Maias

Neste momento de hesitação surge o avô com uma luz, manifestada primeiro como claridade que vai crescendo, e depois se torna num clarão, numa luz bem definida. Podemos descortinar nesta luz um simbolismo: o avô sempre representou a luz uma luz para Carlos que lhe dissipava os momentos de incerteza e o orientava na vida. Mas agora “estava lívido”, descorado pelas dúvidas, os seus olhos estavam vermelhos, não só por ter passado a noite em claro, mas pelo sofrimento. A luz de antigamente apagara-se e agora o avô não se encontrava ali para orientar mas para pedir contas, para recriminar.

A luz do avô agora assustava Carlos porque este, cedendo ao prazer pecaminoso, tornou-se cúmplice do mal e do poder das trevas. Não admira que entrasse no quarto às escuras, sem rumo, desorientado, tropeçando num sofá, sem saber o que fazer. A imagem do avô ficou gravada no neto, sobretudo através de duas cores: o lívido do rosto e o vermelho da vela e dos olhos, ambas de natureza negativa que apontam para a morte. A partir desta confrontação, a vida perdera todo o sentido para ele.

Foi preciso ser anunciado o sol e a luz do dia para ele reagir a este estado depressivo que o dominava e adormecer. Através da evasão do sono, logrou fechar as portas à luz do dia e da razão, e mergulhar na escuridão que é o antegosto da morte.

Um prolixo cromático povoa Os Maias, cumprindo não só os postulados do impressionismo, mas também os do simbolismo.

O vermelho tem na obra um carácter duplo: ora feminina e nocturna, centrípeto, ora masculina e de poder centrífugo. Maria Monforte e Maria Eduarda são portadoras de um vermelho feminino, fogo que desencadeia a libido e a sensibilidade, espalham a morte provocando o suicídio de Pedro, a morte física de Afonso e a morte psicológica de Carlos. Já os olhos vermelhos de Afonso e a vela vermelha que ele trazia na mão incomodaram tanto Carlos que este anteviu a morte, que de facto estava para acontecer no jardim do Ramalhete.

A casa do Ega, a Vila Balzac, tem uma grande concentração de cores, dispostas em espaços bem definidos: “verde feio e triste” na sala, sala de jantar amarela, quarto vermelho, cozinha verde e branca. O vermelho do quarto é tão intenso que indica a dimensão essencialmente libidinosa, carnal e efémera dos encontros de amor com Raquel Cohen. O amarelo/dourado indica o carácter ardente da paixão, tendo um significado duplo: cor do ouro de essência divina; cor da terra simbolizando o Verão e o Outono, anunciando a velhice, o Outono e a proximidade da morte.

Maria Monforte e Maria Eduarda conjugam o vermelho (leque negro [negro conotado com morte e luto] pintado com flores vermelhas, sombrinha escarlate) com o amarelo/dourado (cabelos de ouro), pelo que, tanto simbolizam a vida como a morte, o divino e o humano.

Afonso vê Pedro e Maria Monforte juntos num passeio. Maria Monforte traz um vestido cor-de-rosa que cobria os joelhos de Pedro, condizendo com as fitas do chapéu, também cor-de-rosa, simbolizando a vida romântica em que Pedro se deixou enlear. O azul dos olhos de Maria que, embora azuis da cor do céu, eram de um “azul sombrio” prevendo sombras, tristezas e complicações para este amor. O caminho por onde estes passeavam era verde e fresco, mas a ramagem que o circundava pareceu, a Afonso, de um verde triste, prenunciando luto e tristeza que ensombraria aquela união; embora o verde seja símbolo da primavera, e por isso devia ser alegre, este verde é sombrio, pressagiando que a primavera da vida de Pedro também vai ser sombria. A sombrinha vermelha que envolvia Pedro lembrou a Afonso “uma larga mancha de sangue” em que, de facto, Pedro vai morrer. O presságio do sangue pode ainda ser visto à luz dos netos de Afonso que, sendo do mesmo sangue, se vão envolver numa relação incestuosa, manchando a honra familiar dos Maias.

Durante as corridas de cavalo, Carlos que apostara em Vladimiro, uma pileca, acaba por ganhar várias apostas, quando vai cobrar a dívida à ministra da Baviera que lhe diz, em tom de presságio “Vous connaissez le proverbe: heureux au jeau...” azar no amor. De facto, Carlos pode ter sorte ao jogo, mas acaba por falhar no amor ao se apaixonar pela própria irmã.

A obra afasta-se dos postulados naturalistas, submetidos a um forte racionalismo, ao aceitar e introduzir uma entidade transcendente que tudo faz para destruir Carlos e Maria Eduarda, depois de os ter aproximado. O destino compraz-se, assiste atento e ciumento, à felicidade do par e, quando nada o fazia prever, aparece abertamente através do Sr. Guimarães.