farmácia cruz viegas - repositório aberto da universidade do … · 2018-11-02 · profissão e a...
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Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas
Relatório de Estágio Profissionalizante
Farmácia Cruz Viegas
07 de Março de 2016 a 09 de Julho de 2016
Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Orientador: Dr.(a) Maria Teresa Viegas
______________________________________
Tutor FFUP: Prof. Doutor Paulo Lobão
______________________________________
Julho 2016
I
Declaração de Integridade
Eu, Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva, abaixo assinado, nº 201302058,
aluno do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da
Universidade do Porto, declaro ter atuado com absoluta integridade na elaboração deste
documento.
Nesse sentido, confirmo que NÃO incorri em plágio (ato pelo qual um indivíduo, mesmo
por omissão, assume a autoria de um determinado trabalho intelectual ou partes dele).
Mais declaro que todas as frases que retirei de trabalhos anteriores pertencentes a
outros autores foram referenciadas ou redigidas com novas palavras, tendo neste caso
colocado a citação da fonte bibliográfica.
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, ____ de ______________ de ______
Assinatura: ______________________________________
II
Agradecimentos
Queria começar por agradecer à Dra. Teresa Viegas pela oportunidade de
estagiar nesta farmácia com quase 90 anos, e por me ter ensinado a valorizar a
profissão e a importância da boa formação de um farmacêutico, foi um enorme prazer.
Ao Dr. Cláudio Cruz, pela paciência para ensinar, pelo apoio em todas as
atividades realizadas e pela experiência partilhada.
À Dra. Mariana pela possibilidade de acompanhamento diário do seu
desempenho que me permitiu aprender bastante sobre o atendimento ao público e pela
partilha de conhecimentos.
À Isilda e ao Gonçalo pela companhia diária na farmácia.
A todos, pelo ótimo ambiente vivido diariamente na farmácia, pela oportunidade
de acompanhamento do atendimento personalizado e pela amizade.
À minha família pelo apoio constante e às minhas amigas pela força transmitida
durante o período de estágio.
III
Resumo
Durante quatro meses tive a oportunidade de realizar o estágio em farmácia
comunitária na Farmácia Cruz Viegas, em Coimbra. Durante este tempo foi possível
compreender a importância do papel do farmacêutico no dia-a-dia de uma farmácia e
como a aplicação dos conhecimentos adquiridos durante o curso constituem fortes
alicerces para a consolidação de todo um entendimento prático complementado pelo
estágio curricular.
Sendo a Farmácia Cruz Viegas a típica farmácia de “bairro” foi possível o
estabelecimento de um contacto muito próximo com os utentes, transcendendo o ponto
de vista estritamente técnico, disponibilizando uma palavra “amiga” sempre aguardada.
Coincidiu com o período de estágio a introdução da modalidade da receita
desmaterializada, iniciada no dia 1 de Abril. Na sequência desta nova modalidade foi
necessária a “educação” da população que frequenta a farmácia. Porque mais distantes
das novas tecnologias, a modalidade gerou dúvidas e alguma confusão num nicho de
utentes mais idosos. Foi possível participar em todas as atividades desenvolvidas na
farmácia, desde a medição de parâmetros como glicémia ou colesterol total
(CheckSaúde), à alteração da disposição dos produtos na montra e em exposição,
realização de encomendas, à conferência do receituário e fecho da faturação com envio
das receitas para o INFARMED.
Os projetos desenvolvidos seguiram o pressuposto do “utente habitual” sendo
implementado o Acompanhamento Farmacêutico para uma população-amostra,
optando-se por três doenças crónicas, de forma a entender as vantagens deste serviço
no atendimento de utentes que são já clientes há diversos anos. Para complementar o
acompanhamento farmacêutico, foram elaborados folhetos específicos para cada
patologia. Cada um possuía uma breve explicação da patologia, de como é realizado o
tratamento, as possíveis complicações derivadas da patologia, uma tabela com valores
de referência e monitorização (no caso de patologias onde é necessária monitorização
de determinados parâmetros), dicas para uma alimentação saudável (permite um estilo
de vida saudável e o controlo da patologia) e exercício físico mais adequado ao estado
de saúde do utente.
Foi realizada também uma formação interna subordinada ao tema
Acompanhamento Farmacêutico de forma a possibilitar a continuação da sua
implementação por parte dos restantes colaboradores da farmácia. Por fim, foram
desenvolvidos esquemas explicativos da preparação de colonoscopias para os
diferentes medicamentos existentes para o efeito, como resposta à dificuldade denotada
da compreensão desta preparação por parte de utentes mais idosos.
IV
Abreviaturas
ADO – Antidiabéticos Orais
ADSE - Direção Geral de Proteção Social aos Funcionários e Agentes da Administração
Pública
AIM – Autorização de Introdução no Mercado
ANF – Associação Nacional de Farmácias
BPF – Boas Práticas Farmacêuticas
DB – Doença de Behçet
DCI – Denominação Comum Internacional
DCV – Doença Cardiovascular
DGS – Direção Geral de Saúde
DM – Diabetes Mellitus
DT – Diretora Técnica
FGP – Formulário Galénico Português
HTA – Hipertensão Arterial
INFARMED – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde
MNSRM – Medicamento Não Sujeito a Receita Médica
MSRM – Medicamento Sujeito a Receita Médica
OF – Ordem dos Farmacêuticos
OMS – Organização Mundial de Saúde
PA – Pressão Arterial
PV – Prazo de Validade
PVP – Preço de Venda ao Público
PVA – Preço de Venda ao Armazenista
PVF – Preço de Venda à Farmácia
SI – Sistema Informático
SNS – Sistema Nacional de Saúde
V
Índice Parte I ........................................................................................................................................... 1
1. Introdução ............................................................................................................................... 1
2. Farmácia Cruz Viegas ........................................................................................................... 2
3. Gestão Farmacêutica ............................................................................................................ 3
3.1 Sistema Informático.................................................................................................... 3
3.2 Gestão de stocks ........................................................................................................ 4
3.3 Aprovisionamento ....................................................................................................... 4
3.4 Receção de Encomendas ......................................................................................... 5
3.5 Reposição de stocks .................................................................................................. 6
3.6 Controlo de Prazos de Validade .............................................................................. 6
3.7 Devoluções .................................................................................................................. 7
3.8 Qualidade ..................................................................................................................... 8
4. Dispensação de Medicamentos e outros Produtos Farmacêuticos ............................... 9
4.1 Medicamentos não sujeitos a receita médica ...................................................... 10
4.2 Medicamentos sujeitos a receita médica .............................................................. 10
4.2.1 Estupefacientes e Psicotrópicos .................................................................... 11
4.2.2 Comparticipação de Medicamentos .............................................................. 12
5. Receituário e Faturação ...................................................................................................... 13
5.1 Receita Eletrónica e manual ................................................................................... 14
5.2 Receita Desmaterializada ....................................................................................... 15
6. Medicamentos Manipulados ............................................................................................... 17
6.1 Manipulação .............................................................................................................. 17
6.2 Rotulagem e Acondicionamento ............................................................................ 17
6.3 Cálculo do Preço ...................................................................................................... 18
7. Cuidados Farmacêuticos .................................................................................................... 18
7.1 Medição da Pressão Arterial ................................................................................... 19
7.2 Medição de Parâmetros Bioquímicos – Glicémia, Colesterol Total,
Triglicerídeos ......................................................................................................................... 19
8. Outros Serviços .................................................................................................................... 19
8.1 Rastreio de Podologia pela Ratiopharm ............................................................... 19
8.2 Consultas de Nutrição pela dieta+ ......................................................................... 20
8.3 Limpezas de pele pela Anjelif ................................................................................. 20
8.4 Valormed .................................................................................................................... 20
8.5 Administração de Vacinas, Injeções ...................................................................... 20
9. Formações Internas ............................................................................................................. 21
VI
10. Cronograma das Atividades Realizadas ........................................................................ 22
11. Considerações finais ......................................................................................................... 23
Parte II ........................................................................................................................................ 24
A. Impacto da implementação do projeto-piloto do Acompanhamento Farmacêutico
de uma população-amostra com três diferentes doenças crónicas ................................. 24
1. Introdução ...................................................................................................................... 24
1.1 Diabetes Mellitus tipo 2 ............................................................................................. 25
1.2 Hipertensão Arterial ................................................................................................... 28
1.3 Doença de Behçet ..................................................................................................... 29
2. Acompanhamento Farmacêutico ................................................................................... 31
3. Discussão e Conclusão ................................................................................................... 31
B. Realização de Folhetos Informativos para cada um dos utentes da mesma
população-amostra, como complemento ao Acompanhamento Farmacêutico ............. 32
1. Introdução ...................................................................................................................... 32
2. Folheto Hipertensão Arterial ....................................................................................... 34
3. Folheto Diabetes Mellitus tipo 2 ................................................................................. 35
4. Folheto Doença de Behçet .......................................................................................... 36
5. Conclusão ...................................................................................................................... 37
C. Formação Interna sobre Acompanhamento Farmacêutico.................................... 37
1. Introdução ...................................................................................................................... 37
2. Organização da Formação .......................................................................................... 37
3. Conclusão ...................................................................................................................... 38
D. Apoio ao utente: Indicações Esquemáticas para realização de Colonoscopias 38
1. Introdução ...................................................................................................................... 38
2. Esquemas Realizados ................................................................................................. 39
3. Conclusão ...................................................................................................................... 40
Bibliografia ................................................................................................................................. 41
Anexos ....................................................................................................................................... 45
VII
Índice de Figuras
Figura 1 – Algumas patologias que possuem comparticipações especiais, representação
de parte da tabela presente no site do INFARMED (13). ............................................ 12
Figura 2 – Rótulos da Farmácia Cruz Viegas para os manipulados produzidos na
mesma. ....................................................................................................................... 18
Figura 3 - Parte exterior e interior, respetivamente, do folheto da hipertensão arterial.
................................................................................................................................... 34
Figura 4 – Parte exterior e interior, respetivamente, do folheto da diabetes mellitus tipo
2. ................................................................................................................................ 35
Figura 5 - Parte exterior e interior, respetivamente, do folheto da doença de behçet. . 36
Índice de Anexos
Anexo I - Antiguidades Farmacêuticas ........................................................................ 45
Anexo II - Exemplo de Recibo para enviar para entidade de comparticipação ............ 46
Anexo III - Receita Manual, Eletrónica e Desmaterializada ......................................... 47
Anexo IV – Verbete, Fatura e Relação Resumo de Lotes ........................................... 50
Anexo V - Formulário Galénico - Exemplo .................................................................. 53
Anexo VI - Certificado de Presença – Formação Gideon Richter ................................ 54
Anexo VII - Declaração de Consentimento Informado – Acompanhamento Farmacêutico
................................................................................................................................... 55
Anexo VIII - Ficha de Acompanhamento Farmacêutico .............................................. 56
Anexo IX - Folheto Hipertensão Arterial ...................................................................... 57
Anexo X - Folheto Diabetes Mellitus tipo 2 .................................................................. 59
Anexo XI - Folheto Doença de Behçet ........................................................................ 61
Anexo XII - Formação Interna ..................................................................................... 63
Anexo XIII - Esquemas Colonoscopias ....................................................................... 65
Índice de Tabelas
Tabela 1- Valores para definição dos estádios de HTA (35). ...................................... 28
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
1 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Parte I
1. Introdução
Segundo o Estatuto da Ordem dos Farmacêuticos, o princípio geral da deontologia
farmacêutica apoia-se no pressuposto de “O exercício da atividade farmacêutica ter
como objetivo essencial o cidadão em geral e o doente em particular”. Desta forma, e
para a compreensão concreta desta caracterização, reconhece-se a importância da
concretização do estágio curricular como etapa final do Mestrado Integrado em Ciências
Farmacêuticas. No decurso destes cinco anos, partiu-se da compreensão dos princípios
e bases da ciência para, numa fase final suceder a aplicação destas bases num contexto
prático (1).
Como é referido pela Ordem dos Farmacêuticos (OF), a valorização da profissão de
farmacêutico tem sofrido bastantes alterações nos últimos anos, sendo muitas vezes
subvalorizada. No entanto, com a preparação do farmacêutico como especialista do
medicamento este possui o conhecimento necessário para prestar aconselhamento
sobre o seu uso racional e correto (2, 3). Esta ideia vai de encontro à definição de
farmacêutico pelo INFARMED, Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de
Saúde, referindo que este tem um papel essencial na promoção da saúde, informação
e uso racional do medicamento, salvaguardando a Saúde Pública.
O Estatuto da Ordem dos Farmacêuticos expõe que o ato farmacêutico é de
exclusiva competência e responsabilidade dos farmacêuticos e, sendo este essencial
para a prática diária de uma farmácia de oficina, é referida, na Lei nº 131/2015, de 4 de
setembro, a obrigatoriedade de existir sempre um farmacêutico durante o horário de
funcionamento de uma farmácia (1). Este estágio possibilitou alargar perspetivas e
perceber a aplicabilidade concreta do conhecimento farmacêutico na farmácia de oficina
e entender a necessidade da presença de um farmacêutico no atendimento direto ao
público, aconselhando de forma pertinente, apesar da existência de outros profissionais
no exercício da atividade diária da farmácia, como técnicos de farmácia ou auxiliares de
técnicos. É importante perceber concretamente, na fase inicial da carreira farmacêutica,
o papel do farmacêutico, de forma a valorizar a profissão e a honrar o bom nome do
farmacêutico, tal como presente no Código deontológico da profissão (1).
É importante não esquecer que o farmacêutico é o último profissional de saúde a
contactar com o utente, sendo cruciais todas as informações partilhadas quanto ao uso
correto da terapêutica (3).
O estágio em farmácia comunitária foi possibilitado pela Farmácia Cruz Viegas, em
Coimbra. Este decorreu durante quatro meses, de 7 de Março a 8 de Julho, após os
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
2 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
dois meses de estágio realizados em farmácia hospitalar, no Centro Hospitalar e
Universitário de Coimbra (CHUC).
Neste relatório de estágio irão ser exploradas não apenas as atividades
desenvolvidas durante o período de estágio como também o papel do farmacêutico no
atendimento ao público e na atividade diária da farmácia.
Somos diariamente confrontados com o facto de a venda de medicamentos não
sujeitos a receita médica (MNSRM) ser também realizada noutros locais que não as
farmácias, como por exemplo os supermercados e as para-farmácias. Desta forma, no
decorrer do relatório será referida a diferença legal e a diferença a nível da dispensa
dos vários medicamentos existentes nas farmácias, segundo a classificação utilizada
pelo INFARMED (4).
Numa primeira parte do relatório serão descritas as atividades diárias decorridas na
farmácia e expostos os conhecimentos adquiridos durante o período de estágio. Na
segunda parte evidenciam-se os projetos desenvolvidos no âmbito do estágio na
farmácia, sendo que será contextualizada a necessidade da sua implementação e a sua
importância tanto para a farmácia como para os utentes. O acompanhamento
farmacêutico é cada vez mais um investimento por parte das farmácias devido à
crescente valorização do ato farmacêutico. Nos tempos que correm nem todas as
pessoas têm possibilidade económica para suportar os custos médicos e, desta forma,
recorrem muitas vezes ao farmacêutico.
2. Farmácia Cruz Viegas
A Farmácia Cruz Viegas, é propriedade da Drª Maria Teresa Viegas, neta do
fundador, e simultaneamente Diretora Técnica (DT).
A Farmácia Cruz Viegas é uma farmácia com longo historial, tendo quase 90 anos
de existência. Na equipa é dada prevalência à existência de farmacêuticos assumindo,
claramente a valorização do ato farmacêutico. A equipa é constituída pela DT, o
farmacêutico substituto, uma farmacêutica, uma assistente de técnica e um gestor. Num
percurso com inicio em 1927, a farmácia era inicialmente um laboratório farmacêutico,
onde concretizavam uma grande diversidade de preparações. Devido a este passado,
a farmácia possui neste momento autênticas “relíquias farmacêuticas” que nos
transportam para um tempo onde a prática farmacêutica era realizada de forma
completamente distinta. Entre estas relíquias encontram-se livros copiadores de
receitas, onde eram registadas todas as preparações realizadas diariamente,
identificando o número do atendimento, o médico que prescreveu e a preparação
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
3 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
farmacêutica. Algumas destas relíquias podem ser consultadas no anexo I, ou mesmo
no Centro de Documentação Farmacêutica da Ordem dos Farmacêuticos (5).
A farmácia mantém a mesma localização desde o seu início,1927, a Rua do Brasil,
onde habitam, na maioria, pessoas de idade. Estes frequentam habitualmente a
farmácia, tendo já uma relação de muita cumplicidade com todos os colaboradores. No
entanto, nos últimos meses, notou-se um aumento crescente da percentagem de jovens
estudantes universitários a habitar a rua e a criarem igualmente uma relação de
confiança com os profissionais da Farmácia Cruz Viegas.
3. Gestão Farmacêutica
Durante todo o período de estágio houve a constante preocupação na clarificação
do funcionamento geral da farmácia, por forma a existir uma preparação total a nível
profissional, para que, no final do estágio, possuíssemos exaustivamente os
conhecimentos necessários para iniciar a carreira profissional em farmácia de oficina. A
área da gestão farmacêutica é das áreas mais exploradas nos últimos tempos pois há
a necessidade de possuir mais conhecimentos relativos ao controlo de todos os
parâmetros respeitantes às transações financeiras, de forma a garantir melhores e
fundamentados investimentos. Tive a oportunidade de conhecer e executar todas as
tarefas respeitantes à gestão de uma farmácia, conhecimentos estes essenciais para
um futuro profissional como farmacêutico.
3.1 Sistema Informático
O Sistema Informático (SI) utilizado é o Sifarma 2000, a última versão do software,
fornecido pela Associação Nacional de Farmácias (ANF), executado pela Glintt.
No primeiro semestre do quinto ano de curso, tive a oportunidade de frequentar um
curso de iniciação ao Sifarma, fornecido pela ANF, onde contactei com todas as
funcionalidades do sistema informático, para que fosse melhorada a performance no
atendimento ao utente, com a utilização do acompanhamento farmacêutico.
Apesar de possuir algum conhecimento relativo ao funcionamento do Sifarma, o
estágio foi crucial para a transformação dos conhecimentos teóricos em práticos e
perceber realmente como se concretiza a gestão da farmácia e a venda de
medicamentos ou produtos farmacêuticos, quer sejam vendas suspensas, com
comparticipação ou não, e até por rebate de pontos. Foi essencial o acompanhamento
do atendimento desde praticamente o primeiro dia de estágio, tendo apenas realizado
atividades no Sifarma quando me senti segura para tal.
De forma a facilitar a identificação de um medicamento, é utilizado o código nacional
do medicamento, como é referido no Artigo 13º do Decreto-Lei nº176/2006, de 30 de
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
4 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Agosto, Estatuto do Medicamento, de forma a aumentar a rapidez de identificação,
autenticação e rastreabilidade (6).
3.2 Gestão de stocks
A gestão de stocks está sob a responsabilidade do farmacêutico substituto, mas
também de um gestor. Esta é feita através do sistema informático presente na farmácia,
estando o stock máximo e mínimo definidos, para cada medicamento ou produto
farmacêutico. Estes limites, máximo e mínimo, permitem que seja realizada uma
encomenda automática quando chegar ao chamado “ponto de encomenda” ou stock
mínimo, necessitando esta sempre de aprovação por parte do responsável pelas
compras. Desta forma, é gerada, diariamente, uma lista de todos os produtos que são
necessários encomendar e o respetivo número de unidades pretendidas. São geradas
listas distintas, consoante o distribuidor para a qual é habitual pedir determinado
produto, sendo que esta atribuição depende dos preços praticados ou dos descontos
que esse distribuidor realiza.
No que refere aos produtos sazonais, a sua gestão é realizada, tal como o nome
indica, de forma diferente consoante a estação do ano. A necessidade em adquirir
determinados medicamentos difere com as variações do tempo e as condições
atmosféricas.
Durante o dia, são também realizadas encomendas excecionais. Respondendo a
um pedido em particular de algum utente. De realçar que dada a sua regularidade são
efetuadas diversas diariamente. É necessário cuidado extremo no que refere à gestão
de stocks, e ter em conta a questão do número médio de embalagens vendido, e
ponderar a razoabilidade económico-financeira e técnica da encomenda.
3.3 Aprovisionamento
A farmácia Cruz Viegas não pertencente a nenhum grupo de farmácias mas, no que
refere aos armazenistas, inclui-se num grupo de compras, que utiliza a Empifarma como
plataforma logística, que guarda o stock de cada farmácia e realiza entregas diárias. O
outro armazenista ao qual a farmácia recorre mais é a Cooprofar.
São utilizados outros distribuidores para pedidos extraordinários, como a Plural ou
mesmo através do contacto direto com os laboratórios que produzem os medicamentos
ou produtos farmacêuticos. A exemplo, medicamentos como o Megestrol que são
fornecidos diretamente do laboratório à farmácia, por ter ocorrido o precedente de casos
de falsificação. Esta venda direta do fabricante à farmácia é permitida pelo Estatuto do
Medicamento, Decreto-Lei 176/2006, de 30 de Agosto (6).
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
5 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Como se trata de uma “farmácia de bairro”, todos os medicamentos de que, à
partida, venham a necessitar os utentes habituais frequentadores da farmácia estarão
acautelados no stock. Da mesma forma, se salvaguarda o stock para os medicamentos
cujo número de unidades vendidas é habitualmente mais elevado.
Durante o meu estágio ocorreu, por diversas vezes, determinados medicamentos
encontrarem-se esgotados ou a sua distribuição ser realizada apenas diretamente pelo
laboratório que os fabrica. O aprovisionamento destes produtos é efetuado de forma
distinta. Nestes casos o contacto é realizado, geralmente, de forma direta para o
laboratório responsável pelo fabrico do medicamento sendo pedidas as unidades
necessárias.
3.4 Receção de Encomendas
A receção de encomendas tem que ser efetuada com seriedade, sendo uma ação
sobre a qual recai uma grande responsabilidade. Aquando a entrada dos medicamentos
no sistema, são confirmados e corrigidos os prazos de validade e os preços de faturação
efetuado pelo armazém à farmácia. Esta confirmação é de importância extrema visto
que, em quase todas as encomendas existem descontos associados, sendo esta uma
das principais razões pela qual é escolhida uma determinada distribuidora pela farmácia,
e muitas vezes este desconto não é respeitado. É rapidamente calculado, através do
preço de faturação à farmácia e da percentagem que corresponde ao desconto
efetuado, corresponde ao desconto acordado entre ambas as partes, farmácia e
distribuidora.
Também a verificação e alteração dos prazos de validade tem de ser realizada de
uma forma cuidada visto as listas dos prazos de validade, que são geradas
automaticamente pelo sistema para que haja devolução de produtos, se basearem nas
validades que foram introduzidas no sistema aquando da receção das encomendas.
Para cada fornecedor, existe uma fatura associada a cada uma das encomendas,
possuindo esta, para além dos dados identificadores de ambas as empresas, o número
de unidades pedidas, o número de unidades recebidas, e respetivos preços (Preço de
Venda ao Público, PVP; Preço de Venda ao Armazenista, PVA; Preço de Venda à
Farmácia, PVF), sendo que a faturação chega sempre em duplicado.
A receção é por encomenda, sendo iniciada através da identificação da fatura,
através do número da mesma, e a introdução do valor total faturado. Após a
identificação da encomenda é iniciada a receção propriamente dita dos produtos. Para
cada item, é verificado: o PVP, caso tenha inscrito na embalagem; a validade, sendo
esta apenas alterada caso o produto a receber tenha uma validade mais curta que a
presente em stock ou quando o stock na farmácia está a zero; o preço de faturação à
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
6 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
farmácia e se o stock está negativo. Caso o stock esteja negativo, significa que se tratou
de uma encomenda com venda prévia, significando que este produto não poderá ser
armazenado em conjunto com os restantes.
Para a receção dos estupefacientes e psicotrópicos é necessário maior atenção.
Estes vêm sempre da distribuidora acompanhados de um documento que identifica o
pedido e a receção dos mesmos, identificando a distribuidora, que é a requisição de
psicotrópicos. Este documento vem sempre em duplicado, voltando um destes, no final
de cada mês, para cada uma das distribuidoras, de forma a garantir que é realizado um
controlo rígido da movimentação deste tipo de medicamentos.
3.5 Reposição de stocks
Importa que a reposição de stocks seja feita o mais prontamente possível visto, hoje
em dia, as farmácias possuírem um reduzido stock no que respeita a maioria dos
medicamentos. No entanto, num tipo de medicamentos cujo número de vendas seja
superior ao normal, justificam um stock proporcional, isto é, mais elevado. É o que
acontece com os medicamentos sazonais, cujo volume de vendas em determinadas
estações do ano justificam um maior investimento de forma a possuir um stock de maior
envergadura para satisfazer as necessidades de uma maior procura.
No entanto, apesar de continuar a ser importante a existência de produtos em
quantidade suficiente para garantir as vendas, com as novas receitas
desmaterializadas, há a vantagem de a farmácia poder vender apenas as unidades que
tem, não perdendo a venda da totalidade dos medicamentos prescritos. Esta nova
metodologia vem trazer bastantes benefícios para as farmácias mais pequenas que até
então perdiam vendas por falta de alguns medicamentos em stock nas quantidades que
eram prescritas.
A reposição de stock, na Farmácia Cruz Viegas, é feita todos os dias, durante a
tarde, pois há a receção de encomendas a partir do inicio da tarde e, por vezes de
manhã, quando é realizada a receção já ao final do dia anterior. É importante participar
na reposição de stock de forma a perceber a organização estrutural da farmácia e
conhecer a totalidade dos medicamentos e produtos farmacêuticos.
3.6 Controlo de Prazos de Validade
O controlo do prazo de validade (PV) é efetuado através de controlo físico, seguindo
uma lista gerada automaticamente pelo Sifarma onde indica os medicamentos que
estarão próximos do final da data de validade, sendo habitualmente gerada uma lista
mensal para os prazos a expirar nos meses seguintes, sendo estes definidos conforme
as necessidades.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
7 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Como referido anteriormente, os PV são introduzidos ou modificados no momento
em que decorre a receção de encomendas, sendo importante a verificação dos prazos
inscritos na embalagem.
É importante que seja efetuado um controlo rigoroso dos PV dos medicamentos pois
é possível a devolução dos mesmos de forma a que a farmácia não perca a totalidade
do investimento realizado nesses medicamentos. No entanto, noutros produtos como
por exemplo os dermocosméticos, a devolução depende dos produtos em questão e do
laboratório para onde é efetuada a devolução dos que se encontram a expirar o prazo
de validade.
Os produtos dermocosméticos e de higiene, são produtos para os quais muitas
vezes não se consegue efetuar devolução e, por isso, é necessário atenção especial
pois o investimento realizado neste tipo de produtos, cujo preço pode ser bastante
elevado, tem de ser pensado estrategicamente de forma a garantir que ocorrerá a venda
dos mesmos, caso contrário poderá ser dinheiro perdido para a farmácia.
Outro facto que torna essencial um controlo rigoroso dos PV são as inspeções por
parte da autoridade nacional, o INFARMED, nunca podendo estar disponíveis na
farmácia produtos fora do prazo ou quase a expirar, e caso existam produtos dentro da
farmácia nesta situação, é necessário que esteja devidamente identificado como
devolução ou quebras de forma a não transgredir as normas.
3.7 Devoluções
Na sequência do referido anteriormente, as devoluções dos medicamentos são uma
importante parte para a gestão da farmácia visto que a maioria dos medicamentos cujo
PV se aproxima do termo é passível de devolução. Porque todas as farmácias se
encontram a passar por uma fase complicada a nível financeiro, todas as oportunidades
de reduzir custos são bem-vindas.
Desta forma, após serem geradas as listas dos prazos de validade, são recolhidas
todas as unidades que se encontram com o PV a expirar, sendo sempre verificado o
número de unidades a retirar e as que permanecem no stock, de forma a efetuar
correções de stock regularmente. Estes produtos a expirar, são colocados em
recipientes, devidamente identificados para o efeito pretendido, seja este devolução ou
quebra, e posteriormente, são enviados para os respetivos laboratórios ou
armazenistas.
Para que a devolução seja possível é necessário prestar atenção aos prazos de
validade variando estes em função do tipo de produto. Regra geral, são aceites dois
meses antes de expirar para as papas, dois meses para os medicamentos e seis meses
para produtos veterinários. No que se refere à dermocosmética, a possibilidade de
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
8 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
devolução depende do laboratório, da relação e condições para com a farmácia.
Contudo, nesta área, a devolução apresenta-se sempre difícil.
Caso sejam laboratórios cujos delegados contactam diretamente a farmácia, a
devolução geralmente é realizada diretamente ao laboratório ao invés dos restantes
medicamentos sem contacto direto com o laboratório, são os armazenistas que tratam
de realizar a devolução, no entanto apenas devolvem o dinheiro após receberem o
respetivo pagamento do laboratório.
Na devolução, apenas uma percentagem do dinheiro investido no medicamento é
devolvido. Esta relação depende de fatores essenciais como, o medicamento em
questão, o laboratório e a relação da farmácia com o laboratório.
Caso não seja possível a devolução dos produtos, é necessário dar quebra dos
mesmos, significando total prejuízo do mesmo para a farmácia.
3.8 Qualidade
A qualidade é muito importante para qualquer etapa do ciclo do medicamento, mas
no que refere à farmácia de oficina, esta qualidade refere-se principalmente à
manutenção da qualidade dos medicamentos e produtos farmacêuticos anteriormente
fabricados ou mesmo aos medicamentos manipulados.
Quanto aos medicamentos em stock, é realizado um registo diário da temperatura e
a humidade no local de armazenamento dos medicamentos, de forma garantir que não
irá existir qualquer alteração física nem funcional do medicamento a dispensar. Para os
medicamentos que necessitam de conservação no frio, para além do próprio frigorífico
possuir um controlo de temperatura que está nos 5ºC, encontra-se também presente
um termómetro cuja temperatura é regularmente controlada para verificar se,
efetivamente, o controlo da temperatura está a ser feito corretamente. Todos os
termómetros, higrómetros são calibrados por uma empresa certificada para que o
controlo seja efetuado da forma correta, sendo necessário guardar todos estes
certificados pois terão de ser apresentados caso ocorra alguma inspeção.
Segundo as Boas Práticas Farmacêuticas (BPF) para a farmácia comunitária, pela
Ordem dos Farmacêuticos, as condições de iluminação, temperatura e humidade de
armazenamento dos medicamentos devem respeitar as exigências específicas de cada
um destes, devendo estas condições ser regularmente verificadas e registadas, de
forma a existir controlo das condições de armazenamento (7). O INFARMED refere que
existem dois tipos de armazenamento, consoante o mais indicado para cada
medicamento, sendo um deles no frio, entre os 2 e os 8ºC, e o outro inferior a 25º ou
30ºC (8).
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
9 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Relativamente aos medicamentos manipulados, a Farmácia Cruz Viegas, das
poucas ainda a efetuar manipulados, faz regularmente alguns tipos de preparações,
desde pomadas a loções capilares. Neste laboratório todos os materiais utilizados na
manipulação se encontram de acordo com as normas, sendo a balança regularmente
calibrada. No laboratório todas as matérias-primas se encontram armazenadas ainda
na embalagem original tal como indicado nas Boas Práticas Farmacêuticas (BPF) para
a farmácia comunitária (7).
4. Dispensação de Medicamentos e outros Produtos
Farmacêuticos
Todos os medicamentos que se encontram na farmácia possuem uma Autorização
de Introdução no Mercado, cuja entidade responsável pela atribuição da mesma é o
INFARMED, a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde. Para que
seja facultada esta autorização, o medicamento de uso humano necessita de cumprir
determinados critérios de qualidade, segurança e eficácia (7, 9).
Como é possível verificar no Circuito interativo do Medicamento de Uso Humano há
a estreita relação entre os diversos intervenientes no ciclo, sejam estes fabricantes,
distribuidores, prescritores, farmácias ou utentes. Há a responsabilidade partilhada
entre os intervenientes referidos anteriormente, estando todos sujeitos a obrigações e
procedimentos a ser respeitados. O INFARMED tem como obrigação a garantia da
aplicação e cumprimento das normas estabelecidas (9).
Segundo a Lei nº11/2012, de 8 de Março, existe o crescente apoio na dispensa de
medicamentos genéricos. Todas as farmácias possuem a obrigatoriedade de deter no
mínimo três medicamentos com a mesma substância ativa, forma farmacêutica e
dosagem dos cinco mais baratos do mesmo grupo homogéneo (10). Sendo a prescrição
médica realizada segundo a Denominação Comum Internacional, DCI, a escolha recai
sobre o utente, possuindo este o direito de optar pelo medicamento, existindo no entanto
exceções (11).
Atualmente constata-se automedicação em grande escala talvez devido à facilidade
de acesso à informação sobre os medicamentos, mas que podem conduzir a um uso
inadequado da terapêutica. No que respeita à medicação sujeita a receita médica, para
a qual existe da mesma forma automedicação, é necessário um trabalho conjunto e
partilhado entre os doentes, as autoridades, os profissionais de saúde e a indústria
farmacêutica (12).
Os medicamentos presentes na farmácia são classificados quanto à dispensa
segundo o Decreto-Lei n.º 176/2006, de 30 de Agosto, Estatuto do Medicamento. Sendo
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
10 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
estes classificados em Medicamento Não Sujeito a Receita Médica (MNSRM),
Medicamento Sujeito a Receita Médica (MSRM), Medicamento Sujeito a Receita Médica
Especial e Medicamento Sujeito a Receita Médica Restrita, esta última apenas de
utilização exclusiva hospitalar (4).
O atendimento é indissociável do dia-a-dia do farmacêutico na farmácia comunitária.
A aprendizagem realizada durante o estágio mostra-se de crucial importância para a
aquisição desses conhecimentos. A posterior aplicação dos mesmos define o papel do
farmacêutico no importante e cada vez mais respeitado ato farmacêutico. Inicialmente
acompanhei e observei os procedimentos realizados pelos farmacêuticos e
colaboradores, e posteriormente coloquei em prática os conhecimentos adquiridos.
4.1 Medicamentos não sujeitos a receita médica
Os MNSRM são, tal como o nome indica, medicamentos que não necessitam da
apresentação de prescrição médica para que sejam dispensados.
Estes medicamentos encontram-se disponíveis para dispensa nas Farmácias mas
também noutros locais de venda, como supermercados e para-farmácias (4).
Estes são os medicamentos mais sujeitos a automedicação e, sendo este um tema
cada vez mais preocupante, é necessário que haja o cuidado por parte dos profissionais
de saúde no ato de dispensa de forma a ser possível perceber realmente qual a
finalidade do produto procurado pelo utente de forma a indicar se se trata ou não da
terapêutica mais adequada (12).
4.2 Medicamentos sujeitos a receita médica
Os medicamentos nomeados de MSRM são, tal como o nome indica, medicamentos
dispensados segundo prescrição médica. Esta prescrição é necessária para
medicamentos que podem constituir um risco para a saúde do utente, por não serem
utilizados com vigilância médica, quando a frequência e a dosagem da terapêutica
possam ser distintas consoante o fim a que se destinam ou que, na constituição,
possuam substâncias cujas reações adversas ou atividade ainda não estão
profundamente estudadas e compreendidas (4). Também os medicamentos destinados
a administração por via parentérica estão sujeitos à apresentação de receita médica,
sendo um tipo de administração que detém mais riscos.
Todos os medicamentos sujeitos a receita médica possuem o Preço de Venda ao
Público, PVP, marcado na embalagem. Desta forma, consoante o Plano de
Comparticipação que o utente possuir, paga parte do valor de PVP anteriormente
estabelecido.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
11 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Numa receita médica eletrónica ou manual podem ser prescritos no máximo quatro
medicamentos, sendo que para cada medicamento existe um máximo de duas unidades
que podem ser prescritas. Excetuando quando se tratam de medicamentos na forma
unitária, acrescendo em duas unidades, podendo ser prescritas quatro unidades para o
mesmo medicamento (4). Para tratamentos prolongados, existe a modalidade da receita
renovável, onde são fornecidas ao utente três vias da mesma receita, com um prazo de
6 meses de validade. Enquanto que para as receitas normais, a validade de prescrição
é de 30 dias, iniciando no dia de prescrição (11).
A receita desmaterializada, que entrou em vigor em Abril do corrente ano, permite
já uma prescrição, na mesma receita, de um maior número de medicamentos como
também mais unidades por cada medicamento prescrito.
A prescrição inclui obrigatoriamente o DCI, forma farmacêutica, dosagem,
apresentação e posologia. Mediante justificações técnicas o médico prescritor poderá
prescrever com a denominação comercial, nomeadamente, caso seja um medicamento
com margem terapêutica estreita, que tenha fundada suspeita, intolerância ou reação
adversa ou caso se trate de tratamento com duração superior a 28 dias. A prescrição é
realizada por via eletrónica, ou manual, em casos excecionais (6, 11).
4.2.1 Estupefacientes e Psicotrópicos
Os medicamentos estupefacientes e psicotrópicos encontram-se sujeitos a uma
receita médica especial, isto porque podem, em caso de uso inapropriado, originar risco
de abuso de medicamentos, gerar toxicodependência ou mesmo tendo em vista um fim
ilegal, como a venda dos mesmos. Desta forma, sempre que se trate de uma substância
que, por força de um não conhecimento completo das suas propriedades, por
precaução, são também prescritas segundo receita médica especial (4).
Assim como referido anteriormente para os MSRM, este tipo de medicamentos
deverá possuir também um PVP estabelecido e marcado na embalagem para que seja
possível a sua venda nas farmácias (4).
Na receção das encomendas, vem juntamente com os medicamentos a
Requisição de Psicotrópicos em duplicado, ficando o original na farmácia, sendo o
duplicado enviado para o armazenista, no final do mês. Ambos os documentos
assinados e carimbados pela DT. Os armazenistas precisam do comprovativo de
movimentação deste tipo de medicamentos. Pois como se tratam de medicamentos com
um maior controlo, é realizada uma maior monitorização das suas dispensas, sendo a
cada dispensa, registados os dados relativos à pessoa que realizou o seu levantamento,
o médico que efetuou a prescrição, os dados da farmácia que efetuou a dispensa, o
medicamento e data de dispensa. É necessário que a farmácia possua cópias das
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
12 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
receitas para dispensa de estupefaciente e psicotrópicos, sendo estas cópias
armazenadas durante três anos, em conjunto com todas as informações que ficaram
registadas e nomeadas anteriormente.
No final do mês, é gerado um balanço de entradas e saídas, a lista de entradas
e lista de saídas, de todos os psicotrópicos, devidamente carimbados e assinados pela
DT, que são enviados para o INFARMED. Relativamente às benzodiazepinas, é enviado
um balanço anual também para o INFARMED.
4.2.2 Comparticipação de Medicamentos
Existem patologias especiais, cuja comparticipação é distinta dos restantes
medicamentos, tendo durante o estágio surgido algumas dispensas para essas
patologias (13).
Antes de um medicamento entrar no mercado é realizada a avaliação da
comparticipação, para concluir se este justifica a comparticipação. É muito importante
para as indústrias conseguir a comparticipação pois isto determina a maioria das vendas
do medicamento.
A maioria das receitas que surgem na farmácia têm atribuído o plano de
comparticipação do Sistema Nacional de Saúde, SNS, ou da Direção Geral de Proteção
Social aos Funcionários e Agentes da Administração Pública, ADSE. Existem depois
Figura 1 – Algumas patologias que possuem comparticipações especiais, representação de parte da tabela presente no site do INFARMED (13).
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
13 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
outros planos de comparticipação para além destes, de outras entidades, como de
empresas.
A comparticipação por parte do Estado, no que refere ao regime geral de
comparticipação, é realizada segundo escalões, sendo o Escalão A equivalente a uma
comparticipação de 90%, o B de 69%, o C de 37% e o D de 15%, tendo como base a
classificação farmacoterapêutica (11).
Os lotes existentes para o receituário organizam-se consoante o Plano de
Comparticipação e o formato da receita apresentada, e são os seguintes:
- Lote 99: inclui receitas eletrónicas, sem erros;
- Lote 98: inclui receitas eletrónicas, na qual foi registado com erros;
- Lote 97: inclui receita desmaterializada, sem identificação de erros;
- Lote 96: inclui receita desmaterializada, na qual foi registado com erros;
- Lote 01: inclui as receitas manuais;
- Lote 48: inclui os pensionistas, pois detêm comparticipação especial;
- Lote 45: inclui Diplomas.
A comparticipação de produtos destinados ao autocontrolo da diabetes mellitus é de
85% do PVP das tiras para os testes da glicémia e 100% das agulhas, seringas e
lancetas (11). Também para as insulinas, para o tratamento da patologia referida
anteriormente, a comparticipação é total (100%). No final do mês, as comparticipações
especiais, como por exemplo de Bancários das ilhas (M9), ou da EDP (Eletricidade de
Portugal), cujas receitas são fotocopiadas e impressas da mesma forma, sendo
assinadas e é identificado o número de sócio da respetiva empresa que efetua a
comparticipação. Estas cópias são enviadas no final do mês para a ANF e esta depois
direciona para cada um dos organismos. Para receitas desmaterializadas, como não há
impressão de receitas, são emitidos recibos com a informação para o organismo, que é
assinado pelo utente, exemplo visível no anexo II.
5. Receituário e Faturação
Área bastante sensível a requerer cuidada aprendizagem. A correção e a
organização do receituário é essencial para confirmar que todas as receitas se
encontram sem erros de modo a que a comparticipação concedida pela entidade
referida na prescrição é realmente paga à farmácia. Observam-se casos em que são
reportados erros nas receitas, mas não se assiste ao seu reenvio para correção. É uma
área de particular importância visto refletir-se nas contas mensais da farmácia. É
necessário obedecer às normas estipuladas para que sejam enviadas as receitas de
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
14 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
forma correta. Durante todo o período de estágio tive a oportunidade de participar
diariamente na conferência de receituário.
5.1 Receita Eletrónica e manual
Para que ocorra a dispensa com comparticipação do estado em determinados
medicamentos, é necessária que a sua dispensa seja realizada segundo prescrição
médica. Esta é passada pelo médico de família ou clínica geral, ou o médico das
urgências ou de especialidade. Nesta vêm nomeados os medicamentos a dispensar ao
utente designado na receita e possui uma validade de, geralmente, três ou seis meses.
Como presente na Portaria nº137-A/2012, de 11 de Maio, na receita vêm prescritos
os medicamentos por Denominação Comum Internacional (DCI), e assim é possível
dissociar patologias de marcas de medicamentos, que até então se encontram muito
referenciados (14). Para promover esta prescrição, foi realizado o incentivo à utilização
de genéricos servindo como estrutura para um uso mais racional do medicamento e
também da poupança nos mesmos. Desta forma é dado ao utente uma maior
relevância/protagonismo no que refere à utilização do medicamento, estando presente
na receita um “código de opção” que é necessário identificar quando o utente escolhe
um medicamento mais caro, dentro das opções que possui.
No entanto, para além desta alteração, é ainda possível a prescrição conter,
excecionalmente, incluir a denominação comercial do medicamento quando ainda não
existe genérico para o medicamento prescrito ou existindo uma justificação técnica do
prescritor. As possíveis justificações técnicas presentes na lei são as exceções a)
Margem ou Índice Terapêutico Estreito sob menção de “Exceção a) do n.º 3 do art. 6.º”;
exceção b) Reação Adversa Prévia sob menção de “Exceção b) do n.º 3 do art. 6.º -
reação adversa prévia”; e exceção c) Continuidade de Tratamento superior a 28 dias
sob menção de “Exceção c) do n.º 3 do art. 6.º - continuidade de tratamento superior a
28 dias” (12, 15).
Os medicamentos que não têm comparticipação, podem ser prescritos através da
denominação comercial (14).
Atualmente as receitas são, na sua generalidade, receitas eletrónicas, existindo
ainda muitas receitas manuais que, na maioria, são prescritas quando há a avaria do
sistema ou quando o médico prescritor passa menos de 40 receitas por mês, exemplo
de ambos os tipos de receitas no anexo III.
Na dispensa de medicamentos com prescrição médica, os que têm a
comparticipação do estado, são dispensados já com a comparticipação, pagando o
utente apenas uma parte do preço do medicamento. Para que a farmácia receba o
correspondente à percentagem de comparticipação do estado para esse medicamento,
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
15 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
é necessário que a receita correspondente a essa dispensa, seja enviada, devidamente
preenchida, para o INFARMED no final de cada mês. Caso seja identificado um erro na
receita, a farmácia não recebe a comparticipação do medicamento cuja receita
apresenta o erro.
Para evitar que ocorram estes erros, os farmacêuticos realizam a conferência de
receituário. São verificadas, uma por uma, as receitas de cada lote, dentro de cada
Plano de Comparticipação e, caso sejam encontrados erros, procede-se à correção das
mesmas. Os erros mais comuns do receituário são: validade expirada, falta de
assinatura do médico, falha no preenchimento da receita e falha na ativação das
exceções. Na receita manual é sempre necessário verificar se esta se encontra
preenchida de forma correta, sendo necessário possuir: nome e número do utente do
SNS, número de beneficiário e se possui regime especial de comparticipação de
medicamentos, representado pelas letras “R”, para utentes pensionistas abrangido por
regime especial de comparticipação, e “O”, para regime especial de comparticipação
tendo obrigatoriamente que referir, junto do nome do medicamento, a menção do
despacho que consagra o respetivo regime (11). Relativamente ao médico prescritor, é
necessário verificar se tem o local de prescrição, a vinheta, assinatura e data. Segundo
o artigo 8.º da Portaria nº 224/2015, de 27 de julho, está prevista a possibilidade de ser
prescrita receita manual caso ocorra: falência informática, inadaptação do prescritor,
prescrição no domicílio ou que prescreve até 40 receitas por mês (15).
Caso haja uma anulação ou reimpressão da parte posterior de cada receita, é
necessária uma justificação do sucedido, na parte lateral da mesma, e a inutilização do
texto que ficará por baixo da nova reimpressão, que será colada no mesmo local da
anterior impressão.
5.2 Receita Desmaterializada
Durante o período de estágio entrou em vigor a receita desmaterializada, a 1 de Abril
de 2016. Esta tipologia de receita, pode ser lida através de um guia de tratamento, que
se encontra impresso, ou por uma mensagem que é enviada para o telemóvel do utente,
onde estão presentes o número da receita, o código de opção e o local de prescrição,
necessários para que seja efetuada a venda comparticipada de medicamentos. É
necessário ressalvar que o guia de tratamento, presente no anexo III, é pessoal e
intransmissível pelo que a farmácia, caso o utilize para a dispensa deverá devolvê-lo no
final (11).
Como é possível verificar no guia de tratamento que acompanha a receita
desmaterializada, presente no anexo III, estão presentes os medicamentos prescritos,
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
16 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
tal como numa receita eletrónica ou manual, o número de unidades por medicamento e
posologia, esta última não exemplificada no guia presente em anexo.
Esta nova modalidade permite a dispensa do medicamento pretendido pelo
utente podendo ser adquirida apenas uma das unidades prescritas, possibilitando que
as restantes sejam levantadas com comparticipação noutras datas e/ou noutro local,
desde que dentro da validade da receita prescrita. É necessária atenção relativamente
aos prazos de validade pois cada medicamento possui uma validade de prescrição. A
receita desmaterializada permite que farmácias mais pequenas, com um stock reduzido,
não deixem de realizar a venda do medicamento por não terem o número de unidades
prescritas na receita.
Há uma maior preocupação a nível ambiental por detrás desta iniciativa, visto
existir menor gasto de papel e de tinta na impressão das receitas após a dispensa dos
medicamentos comparticipados.
5.3 Fecho da Faturação
Durante o primeiro mês de estágio – Março - o fecho da faturação foi ainda realizado
pela farmácia no entanto, a partir do mês de Abril o fecho a faturação era realizado a
nível centralizado, pela ANF.
Após tratamento da faturação e receituário é necessário seguir procedimentos para
o envio correto das receitas para as entidades responsáveis, de forma a obter o
pagamento do valor das comparticipações desse mês. É necessário emitir a fatura, os
resumos de lotes e verbetes de lotes. Para a primeira, é necessário que esta contenha
todos os dados de faturação da farmácia e da respetiva entidade, sendo necessário
enviar o original, o duplicado e o triplicado, devidamente carimbados e assinados. No
que respeita ao resumo de lotes, são enviados três resumos de lotes por cada tipo de
lote, e quanto aos verbetes de lote apenas é necessário um por cada tipo de lote.
Após possuir todos estes documentos, é organizada, para cada entidade,
procedendo da seguinte forma: envolver os lotes de trinta receitas com o respetivo
verbete de lote (o último lote pode não possui a totalidade do número de receitas),
envolver os verbetes de lotes com os três resumos de lote respetivos, envolver no final,
todos os documentos com as três faturas (original, duplicado e triplicado) (16). No anexo
IV é possível observar exemplos destes documentos.
Para a ANF são enviadas receitas para comparticipações por determinadas
entidades como Caixa Geral de Depósitos (CGD), SBC (Sindicato dos Bancários do
Centro), MEDIS, SAVID-S (EDP), SBSI (Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas),
MEDIS-CTT. As restantes receitas são enviadas para o Centro de Conferência de
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
17 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Faturação (CCF), pertencente à Associação Regional de Saúde. Os documentos
referentes à movimentação de psicotrópicos são enviados para o INFARMED.
6. Medicamentos Manipulados
A Farmácia Cruz Viegas realiza medicamentos manipulados com frequência sendo
pedidas diversas preparações distintas nas quais tive a oportunidade de participar.
Alguns exemplos das preparações em que tive a possibilidade de participar foram:
Solução de Minoxidil a 5%, vaselina salicilada, vaselina com enxofre, ATL creme
hidratante com enxofre, Álcool Boricado à saturação.
O Decreto-Lei nº95/2004, de 22 de Abril, regula a prescrição e preparação dos
medicamentos manipulados, reforçando a garantia da sua qualidade (17).
6.1 Manipulação
Para a manipulação é utilizado um laboratório na parte posterior da farmácia,
possuindo todas as condições necessárias à manipulação correta dos diferentes tipos
de medicamentos realizados. Consoante a formulação a preparar, são utilizados
diferentes equipamentos como as pedras de espatulação ou banho-maria. Na Portaria
nº 594/2004, de 2 de Junho, estão presentes as Boas Práticas na preparação de
manipulados, sendo referidas as diversas normas respeitantes aos colaboradores que
podem executar a preparação de medicamentos manipulados, instalações dos
laboratórios, equipamentos, documentação, matérias-primas, embalagem,
manipulação, controlo de qualidade e rotulagem (18).
Na Deliberação nº 1500/2004, 7 de Novembro encontra-se presente uma lista de
equipamento mínimo obrigatório que é necessário existir no laboratório da farmácia, de
forma a estar apto à preparação de medicamentos manipulados (19).
No que refere às matérias-primas utilizadas durante a manipulação e preparação
dos medicamentos manipulados, apenas poderão ser utilizadas matérias-primas
inscritas na Farmacopeia Portuguesa (18).
6.2 Rotulagem e Acondicionamento
A rotulagem e acondicionamento estão dependentes do tipo de formulação e volume
em que é preparado. A rotulagem é realizada segundo as indicações presentes no
Formulário Galénico, visível no anexo V, identificando a farmácia que efetuou a
manipulação, e respetivo contacto, o nome da preparação, os constituintes e as
quantidades em que se apresentam, a validade e a indicação de uso externo a
vermelho, se aplicável (20).
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
18 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
A validade é calculada consoante os constituintes de cada formulação preparada,
estando também indicados o número de dias no Formulário Galénico, a partir do
momento de manipulação.
6.3 Cálculo do Preço
O preço de venda ao público dos medicamentos manipulados é efetuado tendo por
base o valor dos honorários da preparação, que depende de um fator, no valor das
matérias-primas e no valor dos materiais de embalagem utilizados na preparação de
medicamentos manipulados (21). Estes materiais dependem do tipo de formulação que
é realizada e também da quantidade preparada.
O preço é calculado consoante os constituintes da formulação preparada, sendo
calculado utilizando preços já estabelecidos no Sifarma 2000. A fórmula de cálculo do
PVP dos medicamentos é realizada da seguinte forma:
7. Cuidados Farmacêuticos
A prestação de cuidados farmacêuticos na farmácia vai de encontro à evolução
mencionada na Portaria nº1429/2007, de 2 de Novembro. Este enquadramento é
facilmente percecionado nas farmácias nos últimos anos, no facto de terem passado de
meros locais de vendas de medicamentos para locais onde se prestam cuidados de
saúde mais abrangentes, tais como, a prestação de primeiros socorros, administração
de medicamentos e injetáveis, organização de programas de cuidados farmacêuticos e
campanhas de informação (22).
Denota-se uma maior preocupação com a monitorização de determinados
parâmetros, principalmente no núcleo de utentes mais idoso. Muitos destes realizam
Figura 2 – Rótulos da Farmácia Cruz Viegas para os manipulados produzidos na mesma.
Equação 1 – Fórmula de cálculo para preço de medicamento manipulado (21).
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
19 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
monitorização maioritariamente da pressão arterial, pois muitos sofrem de hipertensão,
mas também da glicémia, bastantes detêm pré-diabetes ou mesmo diabetes mellitus
(tipo 2). Para facilitar esta monitorização a Farmácia Cruz Viegas possui cartões
próprios de monitorização dos parâmetros, que fornece de forma gratuita aos utentes
que efetuem as medições, sejam estas pagas ou gratuitas.
Durante o estágio tive a oportunidade de efetuar alguns dos serviços de cuidados
farmacêuticos disponíveis na farmácia como também realizar monitorização de alguns
utentes para determinados parâmetros, utilizando tabelas de registo de valores.
7.1 Medição da Pressão Arterial
A farmácia possui, para além do aparelho de medição tradicional, uma máquina
automática cuja medição é realizada segundo pagamento prévio. Ambas as máquinas
fornecem informações acerca da pressão arterial sistólica e diastólica, mas também da
pulsação no momento da medição.
7.2 Medição de Parâmetros Bioquímicos – Glicémia, Colesterol Total,
Triglicerídeos
Para a medição dos parâmetros bioquímicos, a farmácia possui uma modalidade de
CheckSaúde, onde possui pacotes de medição dos parâmetros, mas também
modalidades de medição individual. A medição da glicémia é realizada de forma gratuita
mas a medição dos triglicerídeos (TG) e do colesterol total (CT) tem um custo devido à
morosidade do serviço. A medição destes parâmetros exige uma atenção diferenciada,
sendo necessários cuidados a nível da proteção do operador, como através da utilização
de luvas e a existência de lixos biológicos, pois como se tratam de lixos com amostras
biológicas, como o sangue, é necessário algum cuidado na sua manipulação.
Logo no início do estágio houve uma pequena formação para que os estagiários
estivessem aptos a realizar estas medições de forma independente mas correta.
8. Outros Serviços
8.1 Rastreio de Podologia pela Ratiopharm
Durante o meu estágio decorreram várias atividades como rastreio de podologia,
referente principalmente à problemática do pé diabético, doença muito prevalente na
população cliente na farmácia, promovido por um dos laboratórios cujos medicamentos
se encontram à venda na mesma.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
20 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
8.2 Consultas de Nutrição pela dieta+
Cerca de duas vezes por mês são realizadas consultas de nutrição e
acompanhamento dietético, efetuado por uma dietista da Dieta+, sendo o
acompanhamento alimentar uma questão muito pertinente visto as taxa de obesidade
no país estarem a aumentar de ano para ano.
8.3 Limpezas de pele pela Anjelif
Uma marca de cosméticos, a Anjelif, pertencente à indústria farmacêutica
ANGELINI, realiza, de três em três meses, limpezas de pele com respetivo
aconselhamento. Durante esta limpeza é realizado o aconselhamento sobre os tipos de
produtos mais adequados consoante o tipo específico de pele e a explicação de como
os aplicar de forma correta. Visto a profissional responsável pela realização destas
limpezas na zona centro ser sempre a mesma, há a possibilidade de existir um
seguimento e acompanhamento dos utentes que assim o desejarem, sendo na sua
maioria, mulheres.
8.4 Valormed
Na Farmácia existe sempre o ponto de recolha da Valormed. Ponto de recolha de
medicamentos fora do prazo ou que já estejam fora de utilização, de forma a promover
a sua reciclagem como opção ao depósito em lixo comum em conjunto com o restante
lixo, e poluindo o ambiente. Sendo a problemática ambiental cada vez mais premente e
a sensibilização das pessoas para a mesma mais atenta, fez com que a adesão a este
tipo de serviço fosse relevante. Esta adesão é visível pela quantidade de pessoas que
realmente efetuam a reciclagem de medicamentos na farmácia. Durante a semana –
salvo uma ou outra semana – é cheio um caixote da Valormed com cerca de 6 kg.
8.5 Administração de Vacinas, Injeções
Nos serviços disponibilizados pela farmácia encontram-se também a administração
de vacinas e de injeções. Estes serviços apenas são realizadas pelos dois
farmacêuticos, ambos possuidores do curso de injetáveis, exigido pela Ordem dos
Farmacêuticos para tornar possível efetuar estes tipos de administrações. O curso de
Administração de Injetáveis, da Ordem dos Farmacêuticos, tem uma validade de cinco
anos, obrigando no seu termo a renovação com novo curso da mesma entidade, de
forma a renovar os conhecimentos sobre este tipo de administrações e validar a aptidão
do farmacêutico para as efetuar.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
21 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
9. Formações Internas
Para cada novo medicamento é realizada uma pequena formação pelo farmacêutico
para que todas as pessoas que realizam o atendimento estejam aptas a responder a
qualquer questão referente ao produto e também para que seja feito o aconselhamento
de forma correta.
Foi-me possível a participação na Assembleia distrital da ANF, no mês de Junho,
que se realizou na sede da Plural, em Coimbra. Apesar de esta assembleia ser dirigida
aos proprietários das farmácias, nenhum participante se opôs à presença de outros
colaboradores das farmácias. A ordem de trabalhos era a seguinte: 1) Contexto Politico
e Relacionamento com o Ministério da Saúde; 2) Prioridades das Farmácias definidas
no Conselho Nacional; 3) Principais assuntos do Distrito e 4) Outros assuntos.
Foi realizada também uma pequena formação interna, preparada por mim, cujo tema
era o acompanhamento farmacêutico. Tendo sido implementada pela primeira vez o
acompanhamento farmacêutico de utentes na farmácia, era importante todos os
colaboradores possuírem formação na área, conducente a uma melhor resposta ao
iniciarem o acompanhamento a um novo utente. Esta formação é importante pois
demonstra que a farmácia tem interesse em dar continuidade ao projeto implantado
durante o estágio.
Tal como referido pela Ordem dos Farmacêuticos, a formação complementar
permite ao farmacêutico uma otimização da sua performance quando em contacto direto
com os utentes e também para a aquisição de técnicas de gestão que hoje em dia são
cruciais para a manutenção de uma farmácia e um bom funcionamento dos serviços
que são prestados ao público (2).
Para além das formações que decorreram na farmácia, participei numa conferência,
diploma presente no anexo VI – levada a cabo pelo laboratório Gedeon Richter
subordinada ao tema “Contraceção sem estrogénios e de emergência”, tendo como
palestrante o Dr. Daniel Pereira da Silva, ginecologista. Foi uma formação bastante
pertinente visto ser um tema que recorrentemente nos é questionado na farmácia por
jovens casais.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
22 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
10. Cronograma das Atividades Realizadas
A gradação de cores corresponde ao grau de envolvimento nas tarefas desempenhadas, sendo mais escuro quando efetuadas com mais
autonomia. Desta forma é possível verificar a evolução da aprendizagem e envolvimento nas atividades diárias na farmácia.
Semanas de estágio
MARÇO ABRIL MAIO JUNHO JULHO
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Ati
vid
ad
es
Verificação de validades
Receção de encomendas
Atendimento
Formações, Assembleias distritais
Receituário
Marketing (Construção de montras e disposição dos
produtos na farmácia)
Preparação de encomendas
Arrumação de stock
Acompanhamento de uma amostra da população de utentes da farmácia com
doenças crónicas
Medição de parâmetros (colesterol, glicémia, tensão
arterial)
Preparação dos projetos a desenvolver no âmbito do
estágio
Medicamentos manipulados e reconstituição
Dia de serviço
Noite de serviço
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
23 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
11. Considerações finais
Em jeito de conclusão, considero que o estágio curricular teve importância extrema
enquanto elemento formativo de atitudes no entendimento da relação profissional
farmacêutico – utente, proporcionando enquadramento e amplitude num contexto de
primeiro contacto prático. Foi crucial o especial cuidado de toda a equipa durante a
duração do estágio. Senti e obtive apoio constante em todas as atividades realizadas e
resposta pronta e esclarecida às dúvidas de principiante sobre procedimentos na
farmácia.
Tive a oportunidade de acompanhar de perto todas as áreas de atuação do
farmacêutico no dia-a-dia da farmácia e perceber realmente o seu importante papel
tanto a nível da gestão farmacêutica como no ato farmacêutico. Constatei um aumento
de confiança no farmacêutico pelos utentes, a que não será alheio o sincero
atendimento de proximidade disponibilizado por todos os colaboradores.
A farmácia Cruz Viegas é uma farmácia de bairro, os utentes que a procuram são,
na sua maioria, idosos. Esta faixa etária, mais do que procurar um serviço estrito, espera
ouvir também uma palavra de alento. Clientes da farmácia, fidelizados há muitos anos,
possuem uma relação de cumplicidade com os colaboradores.
Durante todo o período do estágio, decorreram formações, internas ou não, e uma
assembleia distrital, que me permitiu conhecer o contexto atual das farmácias e ter
noção das problemáticas que se lhes deparam e as dificuldades ainda a ultrapassar. Foi
exposta, nesta assembleia, por parte da ANF, a evolução já ocorrida nos últimos anos
e também projeto futuros a implementar, tendo todos como objetivo a fidelização dos
utentes às farmácias e um incremento num atendimento personalizado, mais
direcionado aos interesses do utente.
Decorrido o estágio, consigo afirmar o quão gratificante foi ter adquirido
conhecimentos que me prepararam para um futuro profissional, abrindo caminho para
honrar a profissão que pratico, respeitando as normas estabelecidas e o seu código
deontológico.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
24 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Parte II
Para os projetos A e B foi utilizada a mesma população de estudo, tendo sido
escolhidas três patologias crónicas e, para cada, um ou dois utentes, como população-
amostra. Estas três patologias são Diabetes mellitus tipo 2, Hipertensão Arterial e
Doença de Behçet.
A. Impacto da implementação do projeto-piloto do
Acompanhamento Farmacêutico de uma população-amostra
com três diferentes doenças crónicas
1. Introdução
O acompanhamento farmacêutico agora, mais do que nunca, é bastante apreciado
e respeitado. É necessário ter em conta que parte significativa da população, que não
tem possibilidades de pagar serviços de saúde em clínicas privadas, tem dificuldade em
conseguir contactar e ter o mesmo acesso tanto a consultas como a prescrições de
medicamentos. Desta forma, como o acesso aos cuidados médicos é cada vez mais
complexo, os utentes recorrem amiúde aos serviços de saúde que se encontram mais
próximos, regra geral os farmacêuticos.
A preparação dos farmacêuticos, orientada para um leque diversificado de
problemáticas de saúde, faculta o melhor aconselhamento, indicando sempre qual a
melhor opção a tomar e o caminho a seguir, incluindo o seu direcionamento para
consultas médicas - caso justifique avaliação médica antes de ser dispensado qualquer
medicamento.
Na continuidade desta necessidade de presença constante e disponibilidade para
qualquer atendimento, privilegiando o utente, decidi implementar o serviço de
acompanhamento farmacêutico, sendo este pioneiro na Farmácia Cruz Viegas. O
acompanhamento farmacêutico é crucial para a concretização de um atendimento
personalizado e para a fidelização dos utentes. Para além deste benefício, é
conquistada a confiança dos utentes no atendimento por parte dos profissionais do outro
lado do balcão.
As vantagens da execução do acompanhamento farmacêutico são diversas, e, para
além da referida fidelização dos utentes, é realizada uma otimização do atendimento,
com um aumento da rapidez de resposta permitindo uma melhor prestação de serviços.
O farmacêutico é o último profissional de saúde a contactar com o utente antes da toma
da medicação e, desta forma, exerce um papel determinante no cumprimento da
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
25 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
terapêutica e garantir que esta é efetuada da forma correta para que exerça o efeito
para a qual foi prescrita. Muitas vezes, infere-se no discurso dos utentes, quando estes
se dirigem à farmácia, a dificuldade de interpretação da posologia ou da função dos
medicamentos que lhe são prescritos. Para atuar também neste campo, através do
acompanhamento, o farmacêutico encontra-se a par do estado clínico do utente tendo
a possibilidade de conhecer o seu histórico terapêutico, através do acesso ao registo
informático dos medicamentos.
Como na Farmácia Cruz Viegas foi implementado o acompanhamento farmacêutico,
no âmbito do estágio, foi necessário um estudo metódico deste serviço, de forma a
reconhecer as vantagens que um serviço com estas características traria não só para a
farmácia mas também para o utente, este último o principal foco no atendimento da
Farmácia Cruz Viegas.
Após um estudo aprofundado, foi possível iniciar o projeto para a implementação
deste serviço na farmácia. Iniciou-se com uma população-piloto, com três patologias
distintas, duas das quais são das doenças mais predominantes, não só entre os utentes
que frequentam a Farmácia Cruz Viegas, como também a nível nacional. A terceira
patologia escolhida trata-se de uma doença rara, visto a informação disponível sobre a
mesma ser reduzida.
As patologias escolhidas foram diabetes mellitus tipo 2 (DM tipo 2), hipertensão
arterial (HTA) e doença de behçet (DB), como já referido anteriormente. Sendo todas
doenças crónicas e com utentes que frequentam a farmácia que as possuem. Para as
duas primeiras patologias referidas, foram selecionados dois utentes, optando-se para
a última, por se tratar de uma doença rara, apenas por um utente como alvo de estudo.
Apesar da amostra escolhida ser reduzida, é expectável que, no final da implementação-
teste, na qual ocorrerá, simultaneamente, a formação de todos os colaboradores, no
intuito da sua aptidão a trabalhar com acompanhamento, ocorra a continuidade da sua
implementação de forma a conseguir o retorno pretendido, para os utentes que assim o
desejarem.
1.1 Diabetes Mellitus tipo 2
A diabetes mellitus tipo 2 (DM tipo 2) é uma doença metabólica crónica, cuja
prevalência tem aumentado de uma forma geral a nível mundial (23). A DM tipo 2
representa cerca de 95% da totalidade das pessoas com diabetes. No entanto, tanto a
DM tipo 1 como a DM tipo 2 têm números continuamente crescentes (24).
Não há cura para a DM tipo 2 mas existe tratamento. Este inclui modificações do
estilo de vida, tratamento da obesidade e uso de agentes hipoglicemiantes orais (23).
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
26 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Esta patologia é caracterizada por hiperglicemia, resistência à insulina e deficiência
relativa de insulina com eventual falha das células β pancreáticas (23).
Pelo facto de existir resistência à insulina, não ocorre a entrada da glucose para as
células hepáticas, musculares e adiposas, não permitindo que, após as refeições, ocorra
o decréscimo dos níveis de glucagon, que se eleva durante o jejum. Desta forma, com
a elevação dos níveis da glicémia, conduz à hiperglicemia (23).
Esta patologia é resultante da interação de fatores genéticos, ambientais e fatores
de risco comportamentais. A incidência de diabetes mellitus tipo 2 varia consoante a
zona geográfica dependendo dos fatores mencionados anteriormente. Fatores de risco
comportamentais mais relevantes são a inatividade física, sedentarismo, tabagismo e
consumo elevado de álcool (23).
O diagnóstico é realizado através da determinação da glicémia, em jejum (para
valores ≥ 126 mg/dL) ou após as refeições (para valores ≥ 200 mg/dL), e
complementado com a determinação da hemoglobina glicada (HbA1C ≥ 6,5), não
podendo esta última ser utilizada de forma independente para o diagnóstico da DM tipo
2 (25). Os testes utilizados para o diagnóstico são os mesmos que se utilizam para
efetuar a monitorização (23). Através do acompanhamento, é possível monitorizar os
valores da glicémia, e verificar a sua evolução ao longo do tempo, averiguando se é ou
não necessário a adequação da terapêutica.
A terapêutica pode recorrer a antidiabéticos orais (ADO) ou, caso não consiga
controlo dos parâmetros, a insulinoterapia (26). Os antidiabéticos não insulínicos
utilizados, ou ADO, são: biguanidas, sulfonilureias, inibidores da DPP4
(Dipeptidilpeptidase-4), tiazolidinedionas, derivados da D-fenilalamina e os inibidores da
alfa-glicosidase. Ainda não insulínicos, novas moléculas de administração por via
subcutânea como o exenatido e o liraglutido (análogos do GLP-1 – glucagon-like
peptídeo-1) têm demonstrado eficácia terapêutica (27). Segundo normas da DGS, a
prioridade no tratamento da DM tipo 2 recai sobre a escolha de ADO, como a metformina
(biguanida), sulfonilureia ou inibidor da DPP4 (26).
Obter o controlo dos níveis de glicémia é claramente uma prioridade nos utentes
com diabetes mellitus tipo 2, mas com algumas terapêuticas efetuadas ocorre
hipoglicemia, podendo esta estar associada a morbilidade aguda a longo-prazo, sendo
necessário definir estratégias para minimizar o risco de ocorrência. Desta forma o
acompanhamento farmacêutico permite uma identificação dos sintomas da hipoglicemia
(como tonturas, suores, fome, palpitações e tremores), através do relato dos mesmos
por parte do utente ao farmacêutico (28).
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
27 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Como referido num relatório da Organização mundial de Saúde (OMS) relativo a
Portugal, publicado em 2013 referente a 2008, cerca de 59% dos adultos com mais de
20 anos têm excesso de peso enquanto 24% sofre de obesidade (29).
A obesidade e diabetes mellitus tipo 2, coexistentes na maioria dos casos, atingem
números continuamente crescentes, estando largamente associados com co
morbilidades cada vez mais graves, entre elas, aterosclerose e morte prematura (23,
30). Desta forma, a perda de peso é um dos principais objetivos no entanto, alguns dos
medicamentos utilizados para o tratamento da DM tipo 2 podem conduzir a uma
exacerbação do peso do utente.
Um estudo realizado recentemente demonstrou que poderá existir uma melhoria
desta patologia através da restrição da ingestão de calorias, máximo de cerca de 600
kcal por dia, dois dias por semana, sendo que nos restantes dias a ingestão de calorias
era no máximo de 2000 ou 2500 kcal, para sexo feminino e masculino respetivamente.
Demonstrou conduzir a uma melhoria da função pancreática e redução da deposição de
triglicerídeos nos vasos sanguíneos, diminuindo possível risco de desenvolver
aterosclerose (30). A restrição de calorias demonstrou melhoria nos níveis de colesterol,
de triglicerídeos e na redução da espessura da íntima da carótida, que conduz muitas
vezes a morbilidades (30).
O benefício da perda de peso para a redução das complicações cardiovasculares é
elevado no entanto, é do conhecimento geral que a redução do peso num individuo com
DM tipo 2 é particularmente difícil (30, 31). Não só a obesidade mas também a
hipertensão arterial e colesterol elevado são condições que exacerbam a DM tipo 2 (23).
O acompanhamento farmacêutico permite, nesta patologia o seguimento do utente,
sendo monitorizados os parâmetros de interesse, como a glicemia, colesterol e
triglicerídeos. O peso poderá ser também monitorizado, avaliando se a alteração do
estilo de vida e da terapêutica está a ter os resultados pretendidos ou se é necessário
chamar a atenção para que ocorra a alteração da terapêutica.
Tendo em conta o estudo da prevalência da Diabetes em Portugal em 2009,
realizado pela Direção Geral de Saúde (DGS) cerca de 11,7% da população possuía
DM, sendo a faixa etária dos 60-79 a que detinha maior percentagem, o
acompanhamento farmacêutico tem grande potencial (32). É importante que seja feito
acompanhamento farmacêutico para estes pacientes porque os números em Portugal
são crescentes e é necessário atuar e responsabilizar os utentes para o controlo da
própria patologia de forma a evitar possíveis complicações secundárias.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
28 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
1.2 Hipertensão Arterial
A hipertensão arterial (HTA), definida como a pressão efetuada pelo fluxo sanguíneo
na parede das artérias, é a doença cardiovascular mais comum a nível mundial,
afetando cerca de mil milhões de pessoas (33). A mortalidade associada a esta
patologia é elevada, tendo sido registadas, pela OMS, cerca de 7 milhões de mortes
prematuras a nível mundial (33).
Segundo a DGS, em Portugal, em 2013, a taxa de prevalência para a hipertensão
arterial (HTA) encontrava-se perto dos 27%, com maior incidência no sexo feminino (34).
Num artigo publicado pela Sociedade Portuguesa de Hipertensão, em 2016, a
prevalência para a hipertensão arterial atingia os 42% da população adulta existindo, de
2013 para 2016, um crescimento da prevalência próximo do dobro (33). Observou-se,
no estudo realizado pela DGS, que a prevalência era superior nos grupos etários mais
idosos, caracterizado por deficiente controlo da HTA, e por elevada prevalência de
diabetes nos hipertensos incluídos no estudo. Tal como a associação referida
anteriormente, também o colesterol total elevado foi identificado em cerca de 50% dos
hipertensos (34).
Sendo a HTA um dos principais fatores de risco modificáveis para as doenças
cardiovasculares, que representam a principal causa de morte no nosso país, é
importante o seu controlo através de tratamento farmacológico, cuja adesão à
terapêutica é problemática em muitos casos (33).
Segundo a OMS e a Sociedade Europeia de Hipertensão existe hipertensão arterial,
em adultos, quando os valores são superiores a 140 e/ou 90 mmHg, para a tensão
sistólica e diastólica, respetivamente (35).
Tabela 1- Valores para definição dos estádios de HTA (35).
Sistólica (mmHg) Diastólica (mmHg)
Hipertensão estadio I (ligeira) 140-159 90-99
Hipertensão estadio II (moderada) 160-179 100-109
Hipertensão estadio III (grave) ≥ 180 ≥ 110
O principal objetivo da terapêutica anti hipertensiva é reduzir os riscos associados à
mesma e atingir, a curto prazo, uma pressão arterial de 140/90 mmHg, segundo a norma
da DGS. Aliada à terapêutica farmacológica encontram-se intervenções a nível do estilo
de vida, com dieta variada e pobre em gorduras, saturadas ou não (36, 37). Ao definir a
terapêutica farmacológica, é necessário ter em conta a coexistência de outras patologias
(DM, síndrome metabólica, doença cardiovascular ou renal) e outros fatores como idade
do utente e lesões existentes (36).
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
29 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
O tratamento de primeira linha pode recair na opção por um diurético tiazídico ou
análogo, um inibidor da enzima de conversão da angiotensina (IECA) ou antagonista do
recetor da angiotensina (ARA), ou um bloqueador da entrada de cálcio (35, 36). A
associação entre um IECA ou ARA com um diurético também pode ser considerado
sendo, no entanto, a última opção dentro dos tratamentos de primeira linha. Está
comprovado que a adesão à terapêutica é superior quando são utilizados regimes de
combinação, existindo uma redução da frequência de tomas e doses necessárias (37).
Quando existe alguma patologia associada como por exemplo doença coronária ou
insuficiência renal, as opções terapêuticas são distintas, não seguindo esta orientação
(36). Vários estudos demonstraram que cerca de 75% dos utentes necessitam de
terapêutica combinada para atingirem os objetivos terapêuticos pretendidos. Devido ao
facto da elevação da tensão arterial ter origem multifatorial, é muito difícil a normalização
dos valores com a atuação num único mecanismo (37).
A importância do acompanhamento em utentes com esta patologia, traduz-se na
tentativa da manutenção dos valores controlados e no despoletar de alertas para a
necessidade de aumento ou diminuição da dose dos anti hipertensores, alcançado
através do controlo e registo da monitorização dos parâmetros no sistema informático.
É essencial o controlo dos valores para diminuir a probabilidade de ocorrência de
complicações cardiovasculares.
1.3 Doença de Behçet
A doença de behçet (DB) é autoimune, crónica e rara, caracterizada por vasculite
multisistémica, existindo em Portugal na proporção de 2,5 em cada 100 mil habitantes
(38). É uma doença inflamatória, na qual sucede inflamação dos vasos sanguíneos,
atingindo mucosas, pele, olhos e articulações (38). A causa da DB é desconhecida mas
pensa-se que esta poderá ser resultante da conjugação de fatores genéticos
predisponentes e ambientais. O antigénio leucocitário humano B51 (HLA-B51) é o fator
genético predisponente mais reconhecido, pois encontra-se de forma mais frequente em
pessoas com a DB do que na população em geral (38).
O diagnóstico para a DB não se baseia em nenhum exame, pois não existem
alterações laboratoriais nem histopatológicas definitivas que indiquem a presença de
DB (38, 39). Desta forma, o diagnóstico assenta no julgamento clínico do médico (38).
Esta patologia caracteriza-se por episódios intermitentes, existindo nestes
episódios, exacerbações clínicas evidentes, cuja frequência e duração são variáveis
(40). As aftas orais estão presentes, na fase ativa, em 99% dos pacientes com esta
patologia, sendo caracterizadas como úlceras orais dolorosas, recorrentes e geralmente
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
30 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
múltiplas, surgindo na maioria das vezes, antes de qualquer outra manifestação da
doença (38, 40).
As principais manifestações são as aftas orais e genitais recorrentes, uveíte ou
vasculite retiniana ou mesmo lesões pápulopostulosas, semelhantes ao eritema nodoso.
Para além destes principais alvos, poderão surgir sintomas nas articulações (artralgia e
artrite), no sistema digestivo, no sistema vascular (tromboflebite, aneurismas, dispneia
e hemoptise) e no sistema nervoso central (meningite e seios venosos cerebrais) (38,
40).
Quando há envolvimento dos olhos, no caso da uveíte, a DB pode ter consequências
mais graves, podendo conduzir a perda de visão, resultado de múltiplas inflamações
(39, 41).
No que refere ao tratamento, este difere consoante o tipo de manifestações na fase
ativa da doença. Quando se trata de manifestação designada de “minor”, que apesar de
afetarem a qualidade de vida não afetam nenhum órgão vital, recorre-se a corticoides
tópicos e colquicina (imunomodelador), devendo estes ser as escolhas de primeira linha.
Para os casos refratários, pode ser necessário recorrer a imunossupressores, como
metotrexato, sulfassalazina, azatioprina e talidomida. Tratando-se de manifestações
“major”, que afetam um órgão vital, são utilizadas doses mais elevadas de corticoides
em conjunto com um fármaco imunossupressor. No caso da uveíte são utilizados
corticoides tópicos. Geralmente, indivíduos do sexo masculino apresentam fases ativas
mais críticas do que o sexo feminino (38).
É particularmente importante o acompanhamento nesta patologia. Pelo facto de se
tratar de uma doença rara, a informação escrita é reduzida e pouco acessível,
subsistindo neste contexto maior desconhecimento e consequentemente mais dúvidas
a esclarecer. O acompanhamento permite uma melhor compreensão da patologia,
complementado com o folheto por mim realizado, facilita a aprendizagem pelo utente no
controlo da patologia e na realização da monitorização adequada conducente a evitar
ou reduzir complicações derivadas da doença. A mortalidade associada à DB possui
níveis muito reduzidos e ocorre principalmente quando se conclui existir já um
envolvimento vascular pulmonar ou a nível do sistema nervoso central (38).
Para além do possível controlo das exacerbações clínicas, através de fármacos,
existem diversos especialistas que recomendam atividade física regular e intensa. Este
facto baseia-se em estudos realizados, que demonstram que o exercício físico conduz
a um aumento da concentração de leucócitos na circulação, pois ocorre a migração de
células do tecido endotelial para o sangue, ou sendo parte da resposta inflamatória às
lesões geradas no tecido muscular durante a atividade física intensa (42).
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
31 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Na DB, ao contrário do que muitas vezes se julga, não se trata de carência de
defesas do organismo mas sim de um excesso da sua atividade, conduzindo a
inflamações imprevisíveis, exageras e não controladas (43). Neste caso, as células do
sistema imunitário estão preferencialmente localizadas debaixo da pele e mucosas,
reagindo excessivamente a qualquer estímulo percecionado (43). Desta forma, embora
ainda não comprovado, julga-se que, com a migração das células imunitárias para o
sangue após realização de exercício físico intenso, poderá contribuir para a diminuição
da probabilidade de ocorrência de reação excessiva por parte do sistema imunitário.
2. Acompanhamento Farmacêutico
O acompanhamento farmacêutico é um serviço delicado de implementar nas
farmácias, apesar de todas as vantagens que traz a longo prazo. Isto porque exige muito
tempo para a sua implementação e para a preparação de todos os colaboradores para
o executarem eficazmente de forma a tirar partido da totalidade das vantagens deste
serviço.
Este é possibilitado pelo Sifarma e, como se encontra inserido no software utilizado
na farmácia, existe sincronização das informações dos utentes que possuem
acompanhamento ativo. Inicialmente, todos os utentes para a qual se realiza o
acompanhamento farmacêutico, necessitam de assinar uma Declaração de
Consentimento Informado, presente para consulta no anexo VII.
Após a obtenção deste documento é possível iniciar o acompanhamento. Como
ponto de partida, preparei “fichas de acompanhamento”, presentes no anexo VIII,
facilitadoras na introdução de informações, a nível de dados pessoais, estados
fisiopatológicos, reações adversas ou alergias a algum medicamento conhecidas, todas,
de relevante referência. Desta forma, através do preenchimento desta ficha é possível
a criação do acompanhamento, sem perda de tempo na altura do atendimento, sendo
arquivadas em conjunto com as declarações de consentimento informado, referidas
anteriormente.
Posteriormente, qualquer atualização é automática, no que refere ao histórico
terapêutico, interações medicamentosas entre os medicamentos prescritos para o
mesmo utente, mas sempre manualmente para atualização de dados referentes aos
resultados de análises clínicas realizadas, idealmente na farmácia, ou mesmo fora.
3. Discussão e Conclusão
O objetivo é a implementação ser realizada gradualmente utilizando população
crónica e frequente na farmácia. Deste modo é possível acompanhar o estado clínico
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
32 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
dos utentes e monitorizar, em conjunto com os próprios a evolução das patologias e dos
parâmetros de controlo. Através deste serviço é facultado ao farmacêutico verificar a
evolução da terapêutica e dos parâmetros para cada utente, avaliando, concretamente,
o efeito de cada medicamento através do registo do histórico na ficha de
acompanhamento individual, que é atualizado automaticamente após nova compra.
Os parâmetros avaliados, sendo bioquímicos ou não, têm que ser inseridos
manualmente. O tempo dispensado nesta fase não é desprezível, tendo de ser visto
como investimento, permitindo, numa fase final, a emissão de relatórios das
determinações e a possibilidade de utilizar, também, o analisador para os diversos
parâmetros determinados. Relativamente à terapêutica, é possível o acesso ao
histórico, sendo permitido filtrar consoante o tipo de medicamentos dispensados
(MSRM, MNSRM, Dispositivos, Manipulados, entre outros), gerar o mapa terapêutico,
auxiliando o cumprimento da terapêutica pelo utente, consultar e imprimir o histórico
terapêutico.
Este serviço é bastante útil para a valorização crescente do papel do farmacêutico
na comunidade, possibilitando-lhe um papel mais ativo na monitorização do estado
clínico dos utentes habituais que pretendam acompanhamento farmacêutico.
B. Realização de Folhetos Informativos para cada um dos utentes
da mesma população-amostra, como complemento ao
Acompanhamento Farmacêutico
1. Introdução
O propósito da concretização destes panfletos, específicos para cada doença, no
contexto em que são explorados, serve um duplo objetivo: a parte explicativa da
patologia em si, para que os utentes entendam o âmbito da patologia e para o incentivo
da monitorização da mesma de forma a evitar complicações, que se encontram
nomeadas nos folhetos. O folheto apresenta conselhos para que sejam controladas as
diferentes patologias. Conselhos de carácter alimentar e de exercício físico, específico
a cada patologia, pois consoante o estado de saúde do utente, os exercícios que
poderão executar são distintos e terão resultados distintos para pessoas diferentes.
Os folhetos realizados pretenderam-se pragmáticos. Seguiram os mesmos
pressupostos, focando os assuntos mais relevantes e dirigidos a cada patologia. A
existência de complicações associadas às diferentes patologias é comum. A
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
33 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
probabilidade de estas acontecerem será bastante superior caso não venha a ocorrer
monitorização e controlo da mesma.
Desta forma, é incentivado o controlo e realçada a importância da monitorização
para evitar o aparecimento destas complicações ou co morbilidades, para algumas das
patologias. Muitos utentes sabem que têm a patologia mas na maioria das vezes não a
entende, ignorando os seus princípios, tornando difícil viver com ela.
É assumido pelos farmacêuticos, que o esclarecimento é palavra de ordem. Para
um bom e correto controlo da patologia, de forma a evitar ou minimizar possíveis
complicações, é necessário que o utente entenda a doença que possui e a importância
da monitorização da mesma e do cumprimento da terapêutica. É necessário que sejam
explicados estes parâmetros, sendo de importância extrema para a evolução do estado
de saúde dos utentes.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
34 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
2. Folheto Hipertensão Arterial
Exposição representativa do folheto da hipertensão arterial encontrando-se em
dimensão mais visível no anexo IX (44, 45).
Figura 3 - Parte exterior e interior, respetivamente, do folheto da hipertensão arterial.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
35 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
3. Folheto Diabetes Mellitus tipo 2
Exposição representativa do folheto da diabetes mellitus tipo 2, podendo observar-
se em maior dimensão no anexo X (25, 46).
Figura 4 – Parte exterior e interior, respetivamente, do folheto da diabetes mellitus tipo 2.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
36 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
4. Folheto Doença de Behçet
Exposição representativa do folheto da doença de behçet, apresentado em maior
dimensão no anexo XI (39, 42, 43).
Figura 5 - Parte exterior e interior, respetivamente, do folheto da doença de behçet.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
37 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
5. Conclusão
Os utentes que receberam os folhetos mostraram-se, desde logo muito interessados
em ser esclarecidos e começar a realizar uma monitorização mais cuidada dos
parâmetros específicos para cada doença. Para além das informações fornecidas nos
folhetos, que permitem um maior controlo da patologia - caso sejam seguidos os
conselhos adequados – incute-se uma responsabilidade aos utentes no controlo da
patologia e obtenção dos valores ideais para os parâmetros pretendidos.
Foi incluído no folheto um quadro para monitorização, para que o utente esteja
continuamente acompanhado do mesmo quando executa a monitorização dos
parâmetros mais relevantes para cada patologia, transportando consigo todas as
informações sobre o controlo da mesma. A nível psicológico, é esperado que, ao ser
confrontado com a necessidade da adoção de medidas preventivas do eventual
desenvolvimento de complicações secundárias à patologia, inicie uma sequência dos
princípios traçados no folheto, no que refere ao estilo de vida.
C. Formação Interna sobre Acompanhamento Farmacêutico
1. Introdução
Tendo o acompanhamento farmacêutico sido implementado de origem na Farmácia
Cruz Viegas, mostrou-se pertinente a concretização de uma formação interna para todos
os colaboradores da farmácia de modo a que estivessem aptos à continuidade e
execução da sua implementação da forma correta.
Este é um projeto que vislumbra resultados a longo prazo. De implementação
complexa, porque muito dependente do público-alvo da farmácia, maioritariamente
caracterizado por uma população idosa, necessita de tempo, para ser apreendido
criando rotinas, tornando-se, então, inquestionavelmente útil.
A otimização do atendimento ao utente permite diversificar e tornar eficaz a
prestação de mais serviços. O acesso objetivo do farmacêutico ao histórico terapêutico
do utente traduz-se num benefício notório, conduzindo também a um menor desperdício
de medicamentos e produtos de saúde.
2. Organização da Formação
A formação pretendia que no final todos os colaboradores conseguissem efetuar o
início do acompanhamento, compreendessem a utilidade da sua implementação e as
vantagens apresentadas tanto para os utentes como para a farmácia, obrigando a um
trabalho conjunto para atingir os objetivos da sua implementação.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
38 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
O início do acompanhamento terá, como primeira etapa, a conceção de ficha de
cliente, e a forma como a executar. Após a obtenção da ficha de cliente, procede-se à
ativação e início do acompanhamento, com a recolha da assinatura do utente, na
declaração de consentimento informado, da ativação do acompanhamento local, e
atualização da situação da ficha de cliente para o estado “ativo”. Posteriormente, após
o preenchimento da ficha de acompanhamento, por mim realizada, passa a ser possível
a introdução destas informações nos locais específicos - dentro da área de
acompanhamento farmacêutico. Passará a ser relevante, daqui em diante, abrir a ficha
do utente, através do número do cartão Saúda+ das Farmácias Portuguesas, para
interpretar eventuais avisos sob a forma de observações que possam surgir, antes de
executar a venda dos medicamentos. No anexo XII, é possível consultar os diapositivos
que serviram de base à formação interna, por mim elaborada e apresentada.
3. Conclusão
A formação cumpriu os objetivos. Os colaboradores da farmácia mostraram-se
empenhados, apreendendo os conhecimentos e mecanismos para a otimização dos
serviços prestados.
Desta forma, com toda a equipa motivada e preparada para executar o
acompanhamento farmacêutico é expectável o retorno deste investimento para a
farmácia, através do reconhecimento por parte dos utentes e da fidelização dos mesmos
à Farmácia Cruz Viegas. Todas as farmácias, no atual contexto, necessitam de
elementos diferenciadores. O serviço personalizado não será uma das áreas de atuação
estranhas à persecução desse objetivo.
Este projeto exige tempo até ocorrer retorno dos resultados do acompanhamento.
Torna-se crucial a manutenção da motivação e empenho dos colaboradores, para que
o número de utentes que usufrui do acompanhamento seja crescente e as suas metas
sejam atingidas.
D. Apoio ao utente: Indicações Esquemáticas para realização de
Colonoscopias
1. Introdução
A realização dos esquemas teve como principal objetivo a sua partilha com os
utentes, de forma a colmatar uma falha que existe na compreensão do processo de
preparação para a realização de uma colonoscopia.
Observei, numa população mais idosa, que a interpretação da preparação para a
realização de uma colonoscopia não se mostrava clara. De forma a ultrapassar esta
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
39 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
lacuna, foi ponderada a concretização de esquemas explicativos com indicações da
preparação que é necessária realizar, para quatro dos medicamentos mais vendidos
para a concretização de colonoscopias, sendo estes o MOVIPREP®, Klean-Prep®,
ENDOFALK® e FLEET® Phospho-soda.
Cada um destes medicamentos possui diferente constituição, recaindo a escolha
para a preparação da colonoscopia, de acordo com as patologias de que o utente é
portador ou as características do procedimento de preparação, pois são distintos para
cada medicamento. O ENDOFALK® é o único medicamento de preparação para este
exame, que permite utilização por utentes que sofram de doenças cardiovasculares e
renais, mais concretamente insuficiências.
Através do esquema, os utentes conseguem compreender muito mais facilmente a
preparação necessária concretizar. De forma explícita são especificadas todas as
etapas para uma preparação bem sucedida.
É importante que ocorra uma correta preparação para que a visualização, durante o
exame, seja satisfatória, não exigindo a repetição do mesmo. Os resultados a obter são
influenciados pela qualidade da visualização. Esta varia na razão direta da preparação
a montante. Numa etapa final de uma correta preparação, o utente deverá evacuar água
límpida. Para que ocorra uma boa preparação, é necessário que o utente compreenda
como a executar e, os esquemas por mim preparados irão relevar como auxiliares de
uma melhor preparação.
2. Esquemas Realizados
Para todos os medicamentos, foi respeitada a mesma organização na
esquematização da informação ao utente. Inicialmente, é identificada a preparação,
consoante o medicamento, e são fornecidas informações acerca dos alimentos
proibidos e permitidos nos dias que precedem a colonoscopia. De seguida é
apresentado o esquema de preparação, identificando de forma clara o horário a
respeitar, tanto a nível da última refeição antes de iniciar a toma como a nível de horários
de tomas das doses necessárias. O esquema encontra-se dividido por dois dias, devido
ao facto de, consoante o horário de execução do exame, as preparações necessitarem
do dia anterior ao exame para iniciar o esvaziamento dos intestinos.
No final é reservado um espaço para observações, que vão depender de utente para
utente. Este espaço será destinado aos casos de utentes que tenham de suspender, no
dia do exame, a toma habitual de algum tipo de medicamentos, sob pena de influenciar
o resultado. Desta forma, é pretendido que, na altura da dispensa do medicamento, o
farmacêutico ou outro colaborador da farmácia, forneça a folha de preparação
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
40 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
correspondente e, consoante as informações fornecidas pelo utente em questão,
preencha os espaços em branco (devidamente identificados), para que os dias e as
horas sejam facilmente identificáveis e os medicamentos que o utente não pode tomar
também.
Caso se trate de um utente que usufrua de acompanhamento farmacêutico na
Farmácia Cruz Viegas, é muito útil para os farmacêuticos pois é possível, de uma forma
rápida, identificar se o utente possui na terapêutica que executa algum medicamento
que possa interferir com os resultados do exame, e que não possa ser tomado no dia
do exame. Encontram-se presentes no anexo XIII os esquemas realizados para cada
um dos quatro medicamentos referidos.
3. Conclusão
Observou-se, no atendimento ao público, que na maioria dos utentes que se dirigiam
à Farmácia Cruz Viegas, independentemente da faixa etária, ocorria dificuldade de
compreensão do procedimento de preparação, pela complexidade do mesmo. As
informações que são geralmente fornecidas aos utentes, por parte das clínicas onde
irão realizar a colonoscopia, apresentam-se apenas sob forma de texto. Resulta daqui
que, não apenas utentes com dificuldades visuais ou analfabetos, mas a maioria dos
utentes tenha dificuldade na compreensão geral dos procedimentos. A ideia dos
esquemas surge pela facilidade natural da sua apreensão.
Ao existir esta possibilidade, que é fornecida de forma gratuita na Farmácia Cruz
Viegas, não só são evitados erros de execução dos procedimentos - evitando repetição
do exame - como também é garantida uma crescente confiança dos utentes no
atendimento farmacêutico.
Hoje em dia, todos os cuidados demonstrados no atendimento ao público, são
valorizados, implementados como modo de atuação que inclua o esclarecimento, geram
um sentimento de gratidão no utente, que fica profundamente sensibilizado pela
disponibilidade demonstrada pelo farmacêutico ou outro colaborador da farmácia. Este
tipo de postura, por parte dos colaboradores, é indispensável na farmácia tornando-se
uma mais-valia, conduzindo à fidelização dos utentes.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
41 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Bibliografia
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2016]. Acessível em:
http://www.ordemfarmaceuticos.pt/scid//ofWebInst_09/defaultCategoryViewOne.asp?c
ategoryID=1909.
3. INFARMED: Farmacêuticos; [Acedido a 25 de Maio de 2016]. Acessível em:
http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/LICENCIAMENTO_DE_ENTIDA
DES/FARMACEUTICOS.
4. INFARMED: Classificação quanto à dispensa ao público; [Acedido a 20 de
Março de 2016]. Acessível em:
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NO/PRESCRICAO_DISPENSA_E_UTILIZACAO/CLASSIFICACAO_QUANTO_A_DIS
PENSA.
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Farmácia Cruz Viegas - Coimbra; [Acedido a 3 de Junho de 2016]. Available from:
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6. Decreto-Lei nº176/2006, de 30 de Agosto de 2006. Diário da República, 1ªSérie,
167, 6297-6383.
7. Boas Práticas Farmacêuticas para Farmácia Comunitária (BPF). 3ª ed: Conselho
Nacional da Qualidade. Ordem dos Farmacêuticos; 2009.
8. INFARMED: Informações sobre a conservação dos medicamentos em caso de
onda de calor; [Acedido a 29 de Maio de 2016]. Acessível em:
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NO/PRESCRICAO_DISPENSA_E_UTILIZACAO/MEDICAMENTOS_E_CALOR/CONS
ERVACAO_MEDICAMENTOS_CALOR
9. INFARMED: Medicamentos de Uso Humano; [Acedido a 10 de Junho de 2016].
Acessível em:
http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MEDICAMENTOS_USO_HUMA
NO
10. Lei nº11/2012, de 8 de Março de 2012. Diário da República, 1ªSérie, nº49.
11. Normas relativas à dispensa de medicamentos e produtos de saúde: Ministério
da Saúde, INFARMED e ACSS; 29 de Outubro de 2015.
12. Despacho nº2245/2003, de 4 de Fevereiro de 2003. Diário da República, 2ªSérie,
nº29.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
42 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
13. INFARMED: Dispensa exclusiva em Farmácia Oficina; [Acedido a 28 de Março
de 2016]. Acessível em:
http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MEDICAMENTOS_USO_HUMA
NO/AVALIACAO_ECONOMICA_E_COMPARTICIPACAO/MEDICAMENTOS_USO_A
MBULATORIO/MEDICAMENTOS_COMPARTICIPADOS/Dispensa_exclusiva_em_Far
macia_Oficina.
14. Portaria nº137-A/2012, de 11 de Maio de 2012. Diário da República, Suplemento,
1ªSérie, nº92.
15. Portaria nº224/2015, de 27 de Julho de 2015. Diário da República, 1ªSérie,
nº144/2015.
16. Manual de Relacionamento das Farmácias com o Centro de Conferência de
Faturas do SNS. Administração Central do Sistema de Saúde; Outubro de 2015.
17. Decreto-Lei nº95/2004, de 22 de Abril de 2004. Diário da República, 1ªSérie-A,
nº95.
18. Portaria nº594/2004, de 2 de Junho de 2004. Diário da República, 1ªSérie-B,
nº129.
19. Deliberação nº1500/2004, de 7 de Dezembro de 2004. Diário da República,
2ªSérie, nº303.
20. Formulário Galénico Português. Associação Nacional de Farmácias; 2001.
21. Portaria nº769/2004, de 1 de Julho de 2004. Diário da República, 2ªSérie-B,
nº153.
22. Portaria nº1429/2007, de 2 de Novembro de 2007. Diário da Repúblic, 1ªSérie,
nº211.
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Hemoglobina Glicada A1c. Direção Geral de Saúde.
26. Norma nº052/2011 de 27 de Novembro de 2011. Abordagem Terapêutica
Farmacológica na Diabetes Mellitus tipo 2 no Adulto. Direção Geral de Saúde.
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Terapêutica Farmacológica Anti-Hipertensora no Centro Hospital Cova da Beira. Revista
Portuguesa de Hipertensão e Risco Cardiovascular. Maio/Junho 2016(53).
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Desporto. 2002:80-90.
43. NEDAI: Doença de Behçet; [Acedido a 5 de Junho de 2016]. Acessível em:
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Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
44 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
44. Fundação Portuguesa de Cardiologia: Hipertensão; [Acedido a 07 de Junho de
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risco/hipertensao/.
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em: http://www.apdp.pt/a-diabetes/a-pessoa-com-diabetes.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
45 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Anexos
Anexo I - Antiguidades Farmacêuticas
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
46 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Anexo II - Exemplo de Recibo para enviar para entidade de
comparticipação
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
47 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Anexo III - Receita Manual, Eletrónica e Desmaterializada
Receita Manual
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
48 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Receita Eletrónica
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
49 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Receita Desmaterializada
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
50 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Anexo IV – Verbete, Fatura e Relação Resumo de Lotes
Verbete de Identificação do Lote
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51 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Fatura - Original
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
52 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Relação Resumo de Lotes
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53 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Anexo V - Formulário Galénico - Exemplo
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54 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Anexo VI - Certificado de Presença – Formação Gideon Richter
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
55 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Anexo VII - Declaração de Consentimento Informado –
Acompanhamento Farmacêutico
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
56 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Anexo VIII - Ficha de Acompanhamento Farmacêutico
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
57 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Parte exterior do folheto relativo à Hipertensão Arterial.
Anexo IX - Folheto Hipertensão Arterial
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
58 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Parte interior do folheto relativo à Hipertensão Arterial.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
59 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Parte exterior do folheto relativo à Diabetes Mellitus tipo 2.
Anexo X - Folheto Diabetes Mellitus tipo 2
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
60 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Parte interior do folheto relativo à Diabetes Mellitus tipo 2.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
61 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Anexo XI - Folheto Doença de Behçet
Parte exterior do folheto relativo à Doença de Behçet.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
62 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Parte interior do folheto relativo à Doença de Behçet.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
63 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Anexo XII - Formação Interna
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
65 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Página 1 da Esquematização para o Fleet® Phospho-soda.
Anexo XIII - Esquemas Colonoscopias
Fleet® Phospho-soda
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
66 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
INFARMED: Folheto Informativo – Fleet® Phospho-soda. [Acedido a: 14 de Julho de 2016].
Acessível em:
http://www.infarmed.pt/infomed/download_ficheiro.php?med_id=3448&tipo_doc=fi
Página 2 da Esquematização para o Fleet® Phospho-soda.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
67 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Endofalk®
INFARMED: Folheto Informativo – Endofalk®. [Acedido a: 16 de Julho de 2016]. Acessível em:
http://www.infarmed.pt/infomed/download_ficheiro.php?med_id=36731&tipo_doc=fi
Esquematização para o Endofalk®.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
68 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Klean-Prep®
Página 1 da Esquematização para Klean-Prep®.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
69 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
INFARMED: Folheto Informativo – Klean-Prep®. [Acedido a: 14 de Julho de 2016]. Acessível em:
http://www.infarmed.pt/infomed/download_ficheiro.php?med_id=4816&tipo_doc=fi
Página 2 da Esquematização para Klean-Prep®.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
70 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
MOVIPREP®
Página 1 da Esquematização para o MOVIPREP®.
Relatório de Estágio em Farmácia Comunitária
71 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
INFARMED: Folheto Informativo – MOVIPREP®. [Acedido a: 18 de Julho de 2016]. Acessível em:
http://www.infarmed.pt/infomed/download_ficheiro.php?med_id=51665&tipo_doc=fi
Página 2 da Esquematização para o MOVIPREP®.
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas
Relatório de Estágio Profissionalizante
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
11 de Janeiro de 2016 a 4 de Março de 2016
Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Orientador: Doutora Marília João Rocha
____________________________________
Março de 2016
I
Declaração de Integridade
Eu, Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva, abaixo assinado, nº 201302058,
aluno do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da
Universidade do Porto, declaro ter atuado com absoluta integridade na elaboração deste
documento.
Nesse sentido, confirmo que NÃO incorri em plágio (ato pelo qual um indivíduo, mesmo
por omissão, assume a autoria de um determinado trabalho intelectual ou partes dele).
Mais declaro que todas as frases que retirei de trabalhos anteriores pertencentes a
outros autores foram referenciadas ou redigidas com novas palavras, tendo neste caso
colocado a citação da fonte bibliográfica.
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, ____ de ____________de ______
Assinatura: ______________________________________
II
Agradecimentos
Queria começar por agradecer à minha orientadora de estágio no hospital, Doutora
Marília Rocha, pela disponibilidade e atenção constantes.
À Dra. Adelaide Lima e ao Dr. Ricardo Grangeia pelos conhecimentos transmitidos
na área da Radiofarmácia.
Ao Dr. Nuno Vilaça Marques, à Dra. Paula Pina e à Dra. Sónia Poitier pelas
explicações da terapêutica citotóxica e da preparação da mesma.
À Dra. Rosa Baptista pelas elucidações durante a preparação de medicamentos na
UMIV.
À Dra. Marta Nabais, à Dra. Sara Vieira, à Dra. Alexandra Figueira e à Dra. Isabel
Gomes pelos conhecimentos que adquiri durante o estágio nos Ensaios Clínicos.
À Dra. Adelaide Abreu e à Dra. Ana Luísa Vital pela abordagem esclarecedora à
área do aprovisionamento e medicamentos de AUE.
A todas as farmacêuticas que tive oportunidade de acompanhar durante a breve
passagem pela distribuição, em particular à Dra. Clara Sequeira, à Dra. Ana Paula Dinis
Simões e à Dra. Alexandra Torres, pelo tempo disponibilizado e atenção.
Quero agradecer a todos os que tive oportunidade de acompanhar durante este
estágio e que me ajudaram a compreender o valor da profissão e o nosso papel na
melhoria da qualidade de vida dos doentes.
À minha família pelo apoio, carinho e por estarem sempre presentes.
III
Resumo
Durante o estágio curricular hospitalar no Centro Hospitalar e Universitário de
Coimbra, durante dois meses, foi possível tomar contacto com diversas áreas dos
Serviços Farmacêuticos e perceber qual o papel do farmacêutico em cada uma.
Ao acompanhar os farmacêuticos responsáveis pelo estágio nas diferentes áreas foi
percetível a importância dos conhecimentos adquiridos durante o curso, tendo estes
sido no entanto, maioritariamente teóricos. Durante o exercício das atividades diárias foi
possível adquirir conhecimentos práticos que desconhecia, ver aplicados os
conhecimentos teóricos que já detinha, como também aprofundar conhecimentos já
existentes.
As áreas em que fui integrada foram: a farmacotecnia (radiofarmácia, unidade de
preparação de citotóxicos (UPC), unidade de mistura de injetáveis (UMIV) e
preparações magistrais), ensaios clínicos, aprovisionamento e distribuição. Pelo facto
de o estágio ter sido realizado em diversas áreas, e ter abrangido os pontos fulcrais do
ciclo do medicamento, contribuiu para uma visão global do funcionamento dos Serviços
Farmacêuticos nesta unidade hospitalar e para conhecer melhor o papel do
farmacêutico em todas as suas áreas.
Neste relatório estão presentes em anexo alguns dos trabalhos desenvolvidos
durante o período de estágio, como o desenvolvimento de dois estudos de casos
clínicos, com doentes do hospital; folhetos informativos de medicamentos cedidos em
ambulatório; tabelas com exemplos dos medicamentos preparados na farmacotecnia;
exemplos de ensaios clínicos que se encontram a decorrer e, medicamentos de
Autorização de Utilização Excecional (AUE). O relatório encontra-se organizado
segundo as áreas nas quais fui integrada, seguindo a ordem do ciclo de vida do
medicamento.
Como estamos perante uma área que está em constante evolução, durante os dois
meses de estágio, assisti à primeira preparação de um medicamento, nunca antes
realizado na UPC. Tal como, me foi possível assistir à primeira visita de um monitor de
um novo ensaio clínico, onde foi explicado todo o ensaio, procedimentos, terapêutica e
onde foi dada uma pequena formação aos farmacêuticos presentes, de forma a que
estes estejam habilitados a esclarecer e elucidar os doentes sobre o tratamento.
Durante o relatório não estão apenas mencionadas as atividades que desempenhei
em cada uma das áreas como também irei explicar o que me foi possível observar e
entender do funcionamento geral de cada setor.
IV
Abreviaturas
AIM – Autorização de Introdução no Mercado
AUE – Autorização de Utilização Excecional
CHUC – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
DCI – Denominação Comum Internacional
FHNM – Formulário Hospitalar Nacional de Medicamentos
HUC – Hospitais da Universidade de Coimbra
INFARMED – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde I.P.
IVA – Imposto de Valor Acrescentado
RCM – Resumo das Características do Medicamento
SF – Serviços Farmacêuticos
SGICM – Sistema de Gestão Integrada do Circuito do Medicamento
SNS – Serviço Nacional de Saúde
UMIV – Unidade de Misturas Intravenosas
UPC – Unidade de Preparação de Citotóxicos
V
Índice
1. Introdução ............................................................................................................................ 1
2. Papel do Farmacêutico ...................................................................................................... 1
3. Ciclo de vida do Medicamento ......................................................................................... 2
4. Aprovisionamento ............................................................................................................... 3
5. Farmacotecnia .................................................................................................................... 5
5.1 Radiofarmácia .................................................................................................................. 6
5.2 Unidade de Preparação de Citostáticos (UPC)......................................................... 10
5.3 Medicamentos Magistrais e Unidade de Preparação de Injetáveis (UMIV) ......... 12
6. Distribuição ........................................................................................................................ 14
6.1 Distribuição a doentes internados .......................................................................... 14
6.2 Distribuição de medicamentos a doentes em regime ambulatório ................... 16
6.3 Urgência Farmacêutica............................................................................................ 17
7. Ensaios Clínicos ............................................................................................................... 17
8. Conclusão .......................................................................................................................... 19
9. Bibliografia ............................................................................................................................. 20
Anexos ....................................................................................................................................... 21
VI
Índice de Figuras
Figura 1- Processo da Produção na UPC. .................................................................. 11
Figura 2 – Circuito da distribuição para internamento. ................................................ 14
Figura 3 – Esquema para pedido de autorização de início de ensaio clínico. ............. 17
Índice de anexos
Anexo I – Temas desenvolvidos e apresentados nas reuniões semanais dos SF ....... 21
Anexo II - Estudos de Casos Clínicos ......................................................................... 22
Anexo III - Análise SWOT do estágio .......................................................................... 34
Anexo IV - Tabelas construídas segundo as áreas de estágio .................................... 35
Anexo V - Folhetos Informativos ................................................................................. 42
Anexo VI - Autorização de Utilização Excecional de Medicamentos de Uso ............... 45
Anexo VII - Regras de Ouro das “Boas Práticas Clínicas” .......................................... 48
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
1 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
1. Introdução
O presente relatório surge no âmbito do estágio curricular hospitalar realizado no
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). O período do estágio iniciou a 11
de Janeiro de 2016 e terminou no dia 4 de Março do mesmo ano, completando assim
os dois meses previstos de estágio hospitalar.
No primeiro dia do estágio foi questionado aos estagiários quais as áreas que
suscitavam mais interesse, sendo estas nas quais pretendíamos estagiar. Desta forma
foi possível a distribuição dos estagiários pelas diferentes áreas que constituem os
Serviços Farmacêuticos (SF) no CHUC. Nas primeiras três semanas estive integrada
na Farmacotecnia, tendo acompanhado as áreas da radiofarmácia, da Unidade de
Preparação de Citostáticos (UPC) e da Unidade de Mistura de Injetáveis (UMIV). Ainda
na Farmacotecnia, estive na farmácia de ambulatório do Hospital de dia. Nas duas
semanas seguintes estive nos Ensaios Clínicos e posteriormente no Aprovisionamento
mais duas semanas. Na última semana, apenas para deter uma visão global do
funcionamento dos Serviços Farmacêuticos, estive na distribuição, mais concretamente
na urgência farmacêutica, ambulatório e distribuição a doentes internados.
Neste relatório irei abordar não apenas as atividades que observei e realizei, como
também irei referir a organização geral dos Serviços Farmacêuticos no CHUC e o
funcionamento das áreas em que tive oportunidade de presenciar o exercício das
atividades diárias. Durante o estágio desenvolvi dois estudos de casos clínicos, um no
âmbito da radiofarmácia e outro no âmbito da farmacocinética, ambos apresentados no
Anexo II. Nos restantes anexos estão presentes outros trabalhos desenvolvidos durante
o período de estágio, e alguns formulários com que tomei contacto, que são referidos
durante o relatório.
Durante todo o período de estágio houve a participação em reuniões semanais, onde
foram apresentados temas propostos, por forma a que ocorra uma constante formação
dos profissionais de saúde. Os estagiários participaram não apenas assistindo, mas
também apresentando temas atuais sendo a sua discussão de importância extrema. Os
temas por mim apresentados, em duas das reuniões semanais realizadas, encontram-
se presentes no Anexo I.
2. Papel do Farmacêutico
Segundo o que se encontra descrito no manual de farmácia hospitalar, um
farmacêutico hospitalar é responsável por garantir aos doentes os medicamentos,
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
2 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
produtos farmacêuticos e dispositivos médicos de melhor qualidade e aos mais baixos
preços.
A unidade hospitalar que possibilitou o meu estágio foi o Centro Hospitalar e
Universitário de Coimbra (CHUC). Esta unidade é composta por quatro hospitais, sendo
estes o Hospital da Universidade de Coimbra, o Hospital Pediátrico, o Hospital Geral
(Covões) e Centro Psiquiátrico do Sobral Cid. O farmacêutico integra os Serviços
Farmacêuticos e é aqui que toda a medicação é validada, preparada e distribuída pelos
diferentes serviços e ambulatório.
Segundo o Manual de Farmácia Hospitalar, os Serviços Farmacêuticos têm como
funções: a seleção e aquisição de medicamentos, produtos farmacêuticos e dispositivos
médicos; o aprovisionamento, armazenamento e distribuição dos medicamentos,
incluindo os experimentais; a produção de medicamentos; análise de matérias-primas e
produtos acabados; participação em Comissões Técnicas; a farmácia clínica,
farmacocinética, farmacovigilância e prestação de cuidados farmacêuticos; colaboração
na prescrição de Nutrição Parentérica e preparação da mesma; a informação de
Medicamentos e o desenvolvimento de ações de formação (1).
Durante os dois meses de estágio, tive a possibilidade de acompanhar as atividades
diárias de vários profissionais de saúde e não apenas dos farmacêuticos. Durante todo
o período de estágio houve a preocupação, por parte de todos os responsáveis em cada
área de nos incluírem e explicarem as tarefas desempenhadas pelo farmacêutico, sendo
que este deverá ter o interesse maior de participar em equipas multidisciplinares,
denotando-se a existência de boa comunicação com diversos profissionais de saúde
dos respetivos serviços dos quais são responsáveis, como enfermeiros e médicos.
3. Ciclo de vida do Medicamento
O ciclo de vida do medicamento no hospital inicia-se pelo aprovisionamento e
armazém, local onde tive oportunidade de estagiar durante duas semanas. De seguida,
a Farmacotecnia ou Produção, onde são utilizadas as matérias-primas presentes no
armazém passíveis de produção de todo o tipo de preparações farmacêuticas, sejam
estas citotóxicas, radiofarmacêuticas, injetáveis, nutrições ou magistrais. Nesta área tive
a possibilidade de estagiar durante três semanas, percorrendo todas as áreas que a
compõem farmacotecnia, nomeadamente a Unidade de Preparação de Citostáticos
(UPC), a Unidade de Misturas Injetáveis (UMIV), a Produção de Medicamentos
Magistrais e a Radiofarmácia, adquirindo conhecimentos muito distintos em cada uma
das áreas visto cada tipo de preparação ter objetivos tão distintos e formas de
preparação diferenciadas. Posteriormente, a distribuição, que canaliza tanto os
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
3 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
medicamentos presentes em armazém, como os produzidos dentro da Unidade
Hospitalar na Farmacotecnia.
4. Aprovisionamento
Neste sector, estive inicialmente na parte do aprovisionamento dedicada aos
medicamentos de Autorização de Utilização Excecional (AUE). Tal como o nome indica,
são pedidos de autorização realizados ao infarmed, para a utilização de determinados
medicamentos que não apresentam em Portugal Autorização de Introdução no Mercado
(AIM), podendo haver importação consoante a justificação apresentada. Como referido
no Artigo 4º do Capítulo I da Deliberação nº 1546/2015 do Infarmed, as autorizações
que são concedidas nestes termos, têm sempre carácter temporário e transitório e, têm
que sofrer alterações sempre que existir alguma mudança nas condições para as quais
foram autorizadas (2). A autorização é requerida para um número determinado de
unidades e, caso ultrapasse, é necessário um aditamento de forma a prolongar a AUE
para mais unidades (2).
Para os medicamentos incluídos no Formulário Hospitalar Nacional de
Medicamentos (FHNM) apenas é necessário enviar o requerimento de AUE assinado
pelo diretor clínico, modelo apresentado no Anexo VI-A, mas caso se tratem de
medicamentos extra-formulário, é necessário o requerimento, referido anteriormente,
em conjunto com uma justificação clínica do diretor do serviço que pretende pedir a AUE
(Anexo VI-B) (3).
Para um medicamento sem autorização ou registo (SAR) em Portugal, a AUE é
válida por dois anos, cessando automaticamente com a comercialização de um
medicamento com a mesma forma farmacêutica, dosagem e indicação terapêutica (4).
Foi possível a consulta de decretos-lei como, o Decreto-Lei nº195/2006, de 3 de
Outubro, sobre a avaliação prévia dos medicamentos de uso exclusivo hospitalar, que,
segundo critérios de natureza técnico-científica, seja demonstrado o valor terapêutico
acrescentado e respetiva vantagem económica. Ou mesmo, como presente no Decreto-
Lei nº176/2006, o Estatuto do Medicamento, a diferença entre um medicamento de
benefício clínico bem reconhecido e medicamento com provas preliminares de benefício
clínico, transposto posteriormente pela Deliberação nº 1546/2015, dado que é
necessária a identificação do tipo de medicamento para a qual se pede a AUE para que
ocorra o processo de avaliação por parte do infarmed (2,5).
Existem também programas de acesso precoce, abordados na Deliberação
nº139/CD/2014, que são programas, aprovados pelo infarmed, onde os medicamentos
são fornecidos de forma gratuita à entidade hospitalar por parte do titular dos direitos do
medicamento, antes da sua comercialização (6). Neste caso a AUE é realizada para um
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
4 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
doente específico, sendo enviadas apenas as suas iniciais nos requerimentos, de forma
a manter o anonimato. Para o acesso precoce, a autorização caduca num prazo de seis
meses ou quando o número de doentes incluídos no protocolo é alcançado.
Durante o tempo restante das duas semanas de estágio na área do
aprovisionamento tive a oportunidade de acompanhar diversos profissionais de forma a
compreender, de uma forma exaustiva, todo o processo desde a receção das
encomendas até à gestão dos stocks e aprovisionamento propriamente dito. Nos
primeiros dias participei nas atividades de armazém, receção de encomendas e analisei
os documentos envolvidos, sabendo quais os que devem ficar nos SF e os que devem
ser assinados pela pessoa que recebe a encomenda (técnicos) e devolvidos ao
fornecedor. A guia de remessa deverá conter a descrição do conteúdo da encomenda,
que posteriormente é verificada antes de armazenar os medicamentos recebidos e
arquivada. Os auxiliares recebem os medicamentos e matérias-primas, e distribuem por
carros que se encontram organizados por ordem alfabética de forma a facilitar a
arrumação no armazém. Os medicamentos são organizados em “maços” com
determinado número de unidades de forma a facilitar o armazenamento dos mesmos.
Desta forma, este período permitiu-me conhecer a oferta de medicamentos apresentada
pelo hospital e a forma como é feito o controlo da receção de encomendas, tendo
participado na confirmação das unidades recebidas. Nesta área está incluída a
reembalagem, apesar de formalmente esta pertencer à Farmacotecnia, sendo que a
medicação é organizada de forma unitária, para facilitar a distribuição dos
medicamentos, onde é utilizado um equipamento semi-automático, o FDS, que realiza
a reembalagem em dosagem unitária.
Ao acompanhar a farmacêutica responsável pelo aprovisionamento foi possível
tomar contacto com o Formulário Hospitalar Nacional de Medicamentos (FHNM), e
perceber, desta forma, quando se trata de medicamentos extra-formulário que exigem
mais formalidades do que as especialidades pertencentes ao mesmo (3). Todos os
medicamentos presentes no armazém encontram-se classificados segundo a
Classificação ABC, onde os medicamentos de Classe A têm um stock normal de 20% e
representam 65% do valor das encomendas, mas são os medicamentos mais caros e
por isso encontram-se em menor quantidade. Os de Classe B apresentam um stock
normal de 30%, representando 25% do valor das encomendas e, por fim, os de Classe
C são os restantes 50% do stock e representam apenas 10% do valor das encomendas.
Esta classificação permite, ao serviço de aprovisionamento, o estabelecimento do ponto
de encomenda para todas as especialidades presentes no armazém, para que não
faltem os medicamentos necessários. O próprio sistema informático, o Sistema de
Gestão Integrada do Ciclo do Medicamento (SGICM), quando o ponto de encomenda é
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
5 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
atingido, gera automaticamente um aviso que terá que ser confirmado pela farmacêutica
responsável para que seja efetuada a encomenda.
Como o CHUC é um hospital público, e devido ao fato de, durante o meu período de
estágio, ainda não existir orçamento, todas as encomendas a realizar foram efetuadas
após pedidos de empréstimo, guiando-se pelos concursos do ano precedente. Os
laboratórios que possibilitam estes empréstimos e que apresentem os preços mais
baratos são os escolhidos para o fornecimento.
Os concursos públicos são realizados consoante os medicamentos presentes no
catálogo, para os quais existe um preço-base dado pelo infarmed. Nas propostas aos
hospitais, o preço sem IVA, tem de ser inferior ou igual ao preço-base estipulado no
concurso. Ocorrem também concursos internos para medicamentos fora do catálogo.
Hoje em dia, a escolha do fornecedor e a adjudicação é realizada segundo o preço mais
baixo apresentado, tendo este a obrigatoriedade de declarar que executará o contrato
em conformidade com o conteúdo mencionado no caderno de encargos, no qual aceita
sem reservas todas as suas cláusulas. Por vezes, poderá existir empate entre
fornecedores, o que aconteceu durante o meu estágio, sendo necessário, para o
desempate, construir um mapa comparativo. Sendo o escolhido o que cumprir o critério
que possibilita a compra unitária, e caso ambos o possibilitem terá de se recorrer a
sorteio, que foi o que sucedeu durante o estágio. Após a comunicação da escolha
através de um relatório, os fornecedores a concurso têm um prazo de cinco dias para
refutar a decisão se encontrarem algum erro, justificando-a. Desta forma, é garantida a
transparência da escolha por parte da entidade hospitalar. Neste relatório, assinado pelo
responsável pelo aprovisionamento e pelo chefe do armazém, são apresentados os
concorrentes analisados pelo júri, a justificação da exclusão para cada um dos
fornecedores e ordenados para efeitos de adjudicação.
Dado o exposto anteriormente, foi possível perceber o funcionamento geral do
departamento, a forma como é realizada a abertura de novos concursos, a maneira
como é realizada a classificação ABC e a determinação do ponto de encomenda, a
necessidade da existência de concursos internos e a importância do controlo realizado
pelo aprovisionamento, de forma a que seja garantido o bom funcionamento dos
serviços farmacêuticos na manutenção dos medicamentos necessários nos serviços de
internamento, hospital de dia e ambulatório.
5. Farmacotecnia
No sector da farmacotecnia existem diferentes áreas, definidas consoante as
preparações realizadas que se destinam a indicações específicas. Assim, são referidas
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
6 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
as seguintes áreas de preparação: magistrais, misturas intravenosas,
radiofarmacêuticas e citotóxicas.
De todas as áreas referidas anteriormente, as preparações magistrais e de misturas
intravenosas estão localizadas no piso -2, onde se encontram os serviços farmacêuticos
centrais do hospital, ao contrário do que acontece com as preparações
radiofarmacêuticas e citostáticas. A radiofarmácia, onde ocorre a preparação de
produtos radiofarmacêuticos, encontra-se incluída no serviço de medicina nuclear, por
necessitar de condições de segurança e estabilidade distintas das restantes unidades
de preparação existentes no hospital. Por outro lado, a preparação dos fármacos
citotóxicos encontra-se no Hospital de Dia, no edifício de S. Jerónimo, visto a sua
preparação ser realizada na UPC, Unidade de Preparação de citostáticos, uma vez que
é nesse local onde a maioria vai ser administrada, havendo maior rapidez na resposta
após prescrição. Desta forma a UPC situa-se junto às salas de tratamento
antineoplásico para que este tempo seja respeitado.
Nesta área foi possível conhecer a organização geral da unidade, assim como, a
legislação vigente e os procedimentos da mesma. Tomei contacto com as fontes de
informação mais utilizadas para as formulações preparadas e com a realização dos
procedimentos de gestão de stocks da unidade. As normas de higienização são
diferentes para cada uma das áreas, por isso foi necessário conhecer cada uma delas,
com posterior verificação das mesmas nas diferentes áreas de laboração.
A reembalagem deveria estar incluída nesta área no entanto, no CHUC a
reembalagem como se encontra a fisicamente mais próxima da distribuição, é realizada
por pessoas que constituem esse sector.
5.1 Radiofarmácia
Durante o estágio tive oportunidade de permanecer durante uma semana na
radiofarmácia, uma área em crescimento, sendo já distinguida como especialidade
farmacêutica em Espanha. Sendo o CHUC, um dos poucos centros hospitalares que
possui radiofarmácia no conjunto das áreas que constituem a farmacotecnia. Também
é um centro propulsor desta área, sendo composto por profissionais com experiência e
que realizam técnicas inovadoras, como a realização da marcação de leucócitos.
Atualmente, cerca de 95% dos radiofármacos existentes têm como finalidade o
diagnóstico e apenas 5% para tratamento, estando esta última percentagem em
crescimento, dada a grande especificidade destes radiofármacos (7). Um radiofármaco
ou medicamento radiofarmacêutico como é referido no Estatuto do Medicamento, é
“qualquer medicamento que, quando pronto para ser utilizado, contenha um ou vários
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
7 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
radionuclidos ou isótopos radioativos destinados a diagnóstico ou a utilização
terapêutica” (7).
Foi possível a compreensão do funcionamento geral desta unidade através do
acompanhamento do exercício das atividades diárias dos farmacêuticos, e restantes
profissionais de saúde e físicos, que constituem o serviço de medicina nuclear, onde se
integra a radiofarmácia no CHUC.
A estabilidade dos radiofármacos é curta para a maioria dos casos. Assim, têm que
ser preparados pouco tempo antes da realização dos exames. Para isso, no final de
cada dia de trabalho, é programada a preparação dos radiofármacos que serão
necessários para os exames a realizar no dia seguinte, de forma a que o dia se inicie
com a sua preparação, excetuando algumas preparações urgentes que possam surgir.
Nesta área tive a oportunidade de adquirir conhecimentos, tanto teóricos como
práticos. No que refere aos conhecimentos teóricos, foi possível verificar que existem já
guidelines que orientam o exercício do farmacêutico, como o guia de boas práticas, na
preparação de radiofármacos. Ao mesmo tempo foi possível a leitura de algumas das
monografias específicas que os radiofármacos possuem na Farmacopeia Portuguesa 9
e livros de especialidade (8).
Considerando que a maioria dos radiofármacos preparados serão para
administração injetável, é necessário respeitar as GMP’s (Good Manufacturing
Practices) para a composição das preparações radiofarmacêuticas (9). Um artigo já
referido anteriormente tem como propósito ser um guia para que sejam respeitas estas
boas práticas, sendo que neste setor são referidas de GRPP (Good Radiopharmacy
Practice), estando nela incluídas algumas indicações, pois não são de carácter
obrigatório, mas surgem como um importante meio que facilita a aplicação das diretivas,
sendo estas de caracter obrigatório ou vinculativo (10).
Na prática assisti à preparação de radiofármacos, ao controlo de qualidade efetuado,
eluição dos geradores, registo dos radiofármacos preparados, leituras de radioatividade,
procedimentos de segurança a seguir pelo farmacêutico na preparação dos
radiofármacos. Acompanhei a realização de cintigrafias renais e tive a oportunidade de,
em conjunto com médicos de medicina nuclear, compreender, através da observação
das imagens, as razões que conduziram às conclusões e diagnóstico efetuado.
Visualizei os resultados obtidos numa PET SCAN (Tomografia de Emissão de
Positrões), que é uma câmara gama, pois deteta radiação gama, sendo a radiação
menos perigosa das existentes.
Os radiofármacos são constituídos por um radionuclídeo e por um fármaco. O
radionuclídeo garante ao radiofármaco radioatividade, que irá ser lida pela câmara que
deteta a radiação emitida, o local e a intensidade com que é emitida (11). Por outro lado,
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
8 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
o fármaco garante a afinidade a determinado tecido ou órgão, devido às características
físico-químicas e biológicas, permitindo assim que o radiofármaco se dirija ao local
pretendido, o que influencia a sua escolha para diagnosticar ou tratar aquela área
específica (11). O método de incorporação do radionuclídeo no fármaco designa-se por
marcação.
A segurança é de importância extrema quando se trata da preparação de
radiofármacos, sendo um dos primeiros temas abordados quando se inicia estágio nesta
área. Devido ao facto destes fármacos possuírem radioatividade, sem a segurança
adequada poderá conduzir a consequências graves para o manipulador. As regras de
proteção do operador são três, sendo a primeira a proteção na fonte, ao invés da
proteção no manipulador. É feita uma proteção primária com o recurso a materiais com
capacidade de travar esta emissão de radioatividade, evitando desta forma a exposição
do manipulador. Estes materiais são ligas metálicas, em que o chumbo é o mais
utilizado, estando presente na constituição da câmara onde se dá a marcação dos
radiofármacos, nas proteções das seringas, dos frascos que albergam as preparações
radiofarmacêuticas, nas barreiras do lixo radioativo. A segurança poderá ser
aumentada, para além desta proteção física, se ocorrer diminuição do tempo de
exposição e na distância de manipulação. Todos os manipuladores têm que usar
obrigatoriamente um dosímetro pessoal, que mede a radiação a que estão expostos
durante um mês, pois existe um limite máximo de exposição. Para além disso ainda
devem usar um anel, que é colocado durante as manipulações, de forma a medir a
exposição nas extremidades.
Os fármacos podem ser designados por frios ou quentes, conforme estão ou não
marcados com radionuclídeos. Fala-se em fármacos frios quando ainda necessitam de
ser marcados com o radionuclídeo, que resulta da eluição dos geradores presentes no
laboratório, constituindo os manipulados efetivamente na radiofarmácia. Os fármacos
quentes são os que já vêm marcados, sendo a sua distribuição feita às unidades
hospitalares por parte do laboratório que os produzem. Esta distribuição tem de ser feita
pouco tempo após a sua preparação, dada a estabilidade reduzida da preparação, mas
ainda assim, suficiente para que se efetue os exames necessários.
No âmbito desta semana de estágio desenvolvi o estudo de um caso clinico de uma
doente adolescente de 16 anos, que tive possibilidade de acompanhar não só na
preparação do radiofármaco utilizado, como também na realização da cintigrafia renal,
acompanhamento da observação dos resultados e explicação dos mesmos por parte do
médico do serviço. Este estudo do caso clínico encontra-se no Anexo II, onde está
realçada a importância da radiofarmácia em determinadas decisões e avaliações
médicas de determinadas situações de saúde.
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
9 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
A preparação de um radiofármaco é realizada seguindo uma metodologia onde todo
o material é limpo com álcool etílico, e só depois estes materiais poderão entrar na
câmara e iniciar a preparação de radiofármacos, que só voltarão a sair da câmara após
término da preparação. Caso seja a primeira preparação é necessário realizar a eluição
dos geradores existentes. Tratam-se de geradores de tecnécio, protegidos com ligas
metálicas. Após eluição é medida e registada a radioatividade dos eluatos, registado o
nome da solução colhida nesse momento e a hora, para que mais tarde seja calculado
o decaimento desta atividade com o tempo. A atividade é medida em mCi, milicurie, ou
em MBq, megabecquerel.
Posteriormente, é possível preparar os radiofármacos, escolhendo o eluato
adequado pois possuem atividades distintas. É retirado um determinado volume de
eluato, com seringa com proteção com chumbo, específico para a preparação a realizar,
confirmado pela informação presente no RCM do medicamento, pois diferentes volumes
correspondem a diferentes atividades, sendo esta confirmada antes de proceder à
marcação do fármaco para garantir que a preparação é efetuada corretamente. Para
algumas preparações é necessária a diluição do eluato com NaCl a 9%, soro fisiológico,
ainda na seringa, perfazendo um determinado volume. Esta preparação é injetada no
frasco com proteção que contém o fármaco frio, dando-se assim a marcação. Segue-se
a agitação do preparado de acordo com o radiofármaco a preparar, sendo que para
alguns é ainda necessária a introdução de um estabilizante como o cobalto (Co), de
forma a aumentar a estabilidade de certas preparações. No final, é medida a atividade
da preparação final, e registada nos rótulos, sendo um para colocar no suporte do frasco
e outro na folha de registo de preparação, de forma a garantir a rastreabilidade.
Foi-nos permitido uma preparação fictícia, sem a manipulação de fármacos com
radioatividade pois representam perigo para a segurança dos manipuladores, para que
tivéssemos uma noção do peso das proteções que são necessárias utilizar nos
materiais.
A radiofarmácia possui um armazém próprio, em que os fármacos frios têm de ser
armazenados em câmara fria, entre os 2 e 8ºC. O controlo de qualidade é necessário e
é realizado tanto aos geradores de tecnécio, no caso do CHUC, como aos fármacos
recebidos. E tive oportunidade de participar neste procedimento. Relativamente ao
gerador é necessário medir a radioatividade, sendo verificada a quantidade de
molibdénio (composto-pai do tecnécio) presente no eluato, através da radiação emitida
pelo mesmo, bloqueando a emissão gama emitida pelo tecnécio. Neste último método
é necessária a leitura da radiação de fundo para comparar com a radiação lida com o
composto. São realizados outros métodos para detetar presença de impurezas no
eluato, recorrendo a cromatografia em camada fina que através dos Rf’s (distancia
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
10 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
percorrida pelo eluato desde o local de início de corrida) de cada elemento, é possível
separar estas substâncias e descobrir a radioatividade de cada uma. São também
utilizados dois métodos colorimétricos, um para determinar o pH e a presença de
alumínio (Al3+).
Durante todo o processo de manipulação e preparação do radiofármaco tem de se
garantir a esterilidade dos materiais, de modo a ter assepsia das preparações, o que é
garantido pelo tipo de câmara de fluxo laminar vertical. Já a proteção do manipulador é
garantida pela existência de pressão negativa na área de produção. Aquando da
receção dos medicamentos, é necessária a verificação do lote recebido e a validade,
para ver se corresponde ao presente na guia de remessa.
Durante a semana de estágio destacaram-se alguns casos. Como a necessidade da
utilização de radiofármacos para a determinar a morte cerebral, com a verificação da
atividade cerebral ou mesmo a determinação do local de lesão que desencadeia as
crises convulsivas em doentes com epilepsia, para possível cirurgia ao local identificado.
5.2 Unidade de Preparação de Citostáticos (UPC)
Durante a segunda semana de estágio hospitalar, estive na unidade de preparação
de citostáticos (UPC) que no CHUC, se encontra no Hospital de Dia (S. Jerónimo). Neste
setor foi possível perceber a dinâmica que envolve toda a preparação de um tratamento
antineoplásico, seguindo uma orientação onde inicialmente decorre a validação, depois
a individualização, preparação e libertação. As validações realizadas por parte do
farmacêutico responsável ocorrem após prescrição médica do protocolo de tratamento.
Estas prescrições realizam-se no próprio dia após a consulta médica com o doente. Na
validação é verificada a prescrição por doente, com observação do percurso de
tratamento antineoplásico por este já realizado, verificando-se se houve alguma
alteração e caso tenha existido, confirmando-se com o médico se essa alteração é para
manter e proceder a um novo tratamento antineoplásico.
Após a validação é enviada a ordem de preparação dos citostáticos. Ocorrendo a
seguir a individualização, onde se prepara o tabuleiro, por doente, com todas as
matérias-primas, fármacos, excipientes e materiais de acondicionamento, que são
introduzidas no sistema, para que haja rastreabilidade, e as quantidades a enviar para
a câmara verificadas de forma a que seja possível a preparação da concentração
prescrita para aquele doente especifico. Neste setor, por se tratarem de fármacos com
citotoxicidade, as concentrações a utilizar são calculadas consoante a superfície
corporal em m2.
Posteriormente decorre a preparação por parte de técnicos, supervisionados por um
farmacêutico, que verifica as preparações, os volumes utilizados, realiza a colocação
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
11 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
dos rótulos e faz a libertação das preparações, tanto para as salas de tratamento como
para o transporte para outras unidades hospitalares. Este processo encontra-se
esquematizado na figura 1.
Figura 6- Processo da Produção na UPC.
As câmaras utilizadas para a preparação de soluções antineoplásicas são câmaras
de fluxo vertical, que protegem tanto o manipulador como o manipulado, não ocorrendo
saída de nenhuma das matérias-primas sem que estejam já na embalagem final e, todos
os materiais que entram apenas são abertos dentro da câmara, já depois do local em
que há a passagem desta corrente vertical para evitar que o material fique contaminado.
Sendo o próprio ambiente de toda a sala controlado, para evitar ao máximo a
possibilidade de possíveis contaminações. Para entrar na sala de preparação
propriamente dita, são necessárias condições especiais para garantir a assepsia das
preparações. Assim, é necessária a utilização de batas esterilizadas, cuja colocação é
realizada de forma específica, de modo a que não seja tocada a parte que ficará para
fora. São utilizadas também proteções para os sapatos. As mãos são lavadas antes de
entrar na sala e são calçadas luvas esterilizadas, cuja colocação é realizada de forma a
que nunca se toque na parte que ficará para o exterior e que contactará com as
preparações. É colocada uma touca, para garantir que não existam cabelos no
ambiente, e por fim, a utilização de uma máscara que cobre nariz e boca.
As pressões entre as diferentes salas na UPC são distintas para que se garanta
assepsia e que não ocorra saída de qualquer substância. Tanto a sala de
individualização, que possui uma ligação à sala de produção por uma pequena
antecâmara que se abre apenas de um lado de cada vez - para minimizar ao máximo o
contacto entre as duas salas - como a antecâmara imediatamente antes da entrada na
sala de produção, possuem pressões negativas para que não ocorra saída de qualquer
substancia que seja manipulada dentro da UPC. A sala de produção, sendo a sala onde
ocorre manipulação, apresenta também pressão negativa, sendo esta ainda mais baixa
que as referidas anteriormente, sendo de -40 Pa.
A estabilidade destas preparações influencia esta dinâmica de programação das
preparações, visto algumas terem poucas horas de estabilidade, sendo necessária e
aconselhada a sua administração o mais rapidamente possível. A maior parte das
preparações realizadas nas câmaras de preparação são para ser administradas nas
salas de tratamento adjacentes à unidade de preparação, tendo inclusivamente
Validação Individualização Preparação Libertação
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
12 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
antecâmaras que permitem a passagem direta destas preparações da zona de
preparação para as duas salas de tratamento existentes. Estes tratamentos são muitas
vezes demorados devido à necessidade de algumas perfusões se prolongarem por
algumas horas e requererem bastante tempo de hidratação. Nesta unidade são
preparados tratamentos oncológicos tanto para tumores sólidos como líquidos, e sendo
tumores com origens bastante distintas, as prescrições são provenientes de vários
serviços. O que leva à utilização de diferentes fármacos indicados para diferentes
neoplasias, sendo necessário um conhecimento muito abrangente e aprofundado sobre
as terapêuticas a realizar, para que a validação destes tratamentos seja adequada:
doses diferentes do mesmo fármaco para neoplasias distintas, vias de administração
diferentes para o mesmo fármaco, etc.
Acompanhei a primeira preparação de um novo fármaco citotóxico realizada nesta
unidade hospitalar, cuja denominação comum internacional (DCI) é pembrolizumab,
tendo sido necessária preparação por parte dos farmacêuticos e técnicos, com a leitura
atenta do procedimento de preparação fornecido no resumo das características do
medicamento (RCM).
No Hospital de dia existe também um ambulatório que dá apoio à UPC, fornecendo
toda a quimioterapia oral, antieméticos, adjuvantes do tratamento, promotores do
crescimento de glóbulos vermelhos e brancos, aos doentes. Aqui existe um atendimento
”de proximidade” com os doentes, havendo uma relação farmacêutico-doente mais
próxima, pois os doentes frequentam aquele local durante algum tempo e ganham
confiança com o farmacêutico e necessitam de vários esclarecimentos.
5.3 Medicamentos Magistrais e Unidade de Preparação de Injetáveis (UMIV)
A última área em que estive na farmacotecnia foi na UMIV e na preparação de
medicamentos magistrais. Esta área da produção encontra-se localizada nos serviços
farmacêuticos centrais do CHUC. Aí são realizadas as preparações magistrais para todo
o hospital e também são produzidas as preparações injetáveis, colírios e as nutrições
parentéricas. Sendo estas duas últimas produzidas na UMIV, dado que aqui são
garantidas as normas para de assepsia das preparações e segurança do manipulador.
Relativamente ao controlo de qualidade, apenas é realizado para as nutrições
parentéricas, que tanto é realizado para crianças como para adultos. As preparações
aqui realizadas, são na sua maioria para recém-nascidos, crianças, idosos ou doentes
com patologias específicas que obriguem a uma personalização da terapêutica, de
forma a existir uma adaptação da forma farmacêutica ou dose ao seu perfil
farmacoterapêutico.
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
13 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Dentro do laboratório das preparações magistrais, antes de iniciar a produção
propriamente dita é necessário fazer a guia de produção, na qual se acrescenta um
rótulo igual ao colocado na preparação, sendo esta realizada segundo as orientações
presentes na ficha técnica existente no laboratório. Presenciei a preparação de soluções
e suspensões, pomadas e cápsulas e participei no preenchimento da guia de produção
e preparação dos rótulos. A preparação depende da forma farmacêutica, sendo neste
laboratório realizadas bastantes preparações magistrais pois, para além de serem
preparadas para o hospital principal, também são realizadas para o pediátrico, para o
hospital geral e outras unidades.
Quando falta uma matéria-prima a produção pode optar por fazer o pedido ao
armazém, caso seja em grande quantidade, como geralmente acontece, ou à
distribuição, quando se trata de quantidades menores.
Dentro da UMIV, todas as manhãs surgem os pedidos de cada um dos serviços
clínicos, sendo necessário proceder à validação, seguida de individualização em
tabuleiros, devidamente desinfetados com álcool, das coisas necessárias para a sua
preparação, que depois são enviados para dentro das câmaras de preparação. Tive
oportunidade de participar nesta tarefa da preparação das matérias-primas consoante
as preparações a realizar e aprendi a interpretar a constituição das nutrições
parentéricas e a realizar os cálculos das quantidades necessárias de cada constituinte
da nutrição a preparar.
Existem duas salas e câmaras de preparação, uma câmara é de fluxo horizontal,
utilizada com maior frequência, e outra é de fluxo vertical, apenas utilizada quando é
necessária a preparação de produtos que exijam proteção do manipulador, como a
preparação de soro autólogo ou do antivírico ganciclovir que apresenta efeitos
teratogénicos. Já a câmara de fluxo horizontal surge para proteção da assepsia das
preparações injetáveis.
No final das preparações é necessário dar saída das matérias-primas utilizadas, e é
realizada a confirmação de stock todos os dias para que não ocorram erros de
quantidades. Todas as preparações saem da UMIV rotuladas, identificando o doente a
quem será administrada e o serviço, o medicamento, dose e estabilidade, sendo
reembaladas e fechadas numa embalagem final, ficando então prontas a ser enviadas
para o serviço respetivo.
Para além de participar nestas preparações injetáveis e nutrições, também me foi
possível observar a preparação de um injetável em ensaio clinico. Estas preparações
são pouco frequentes e normalmente apenas são executadas após todas as outras
preparações da unidade terem sido realizadas, visto, na sua maioria, não terem
qualquer tipo de urgência.
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
14 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
6. Distribuição
Na distribuição estive apenas durante uma semana, com o objetivo de ter uma visão
global do papel do farmacêutico neste setor e a forma como se encontra organizado.
Foi possível compreender de uma forma geral o circuito do medicamento dentro do
hospital.
A distribuição pode ser efetuada quer para os doentes internados ou em ambulatório.
O regime de distribuição em internamento pode ser programado de forma semanal,
diário ou de urgência, para pedidos extraordinários. Os farmacêuticos no setor da
distribuição estão organizados por serviços e são responsáveis pela validação das
prescrições dos serviços pelos quais são responsáveis.
6.1 Distribuição a doentes internados
Existe a possibilidade de efetuar distribuição por reposição de stock pré-definido,
que se encontra em serviços cuja presença do doente é curta e/ou com elevado número
de alteração de prescrição por dia. É o caso de blocos operatórios, urgência medicina
intensiva. Sempre que necessário serão justificadamente pedidos urgentes e
extraordinários destes serviços. Para além disso existe em todos os serviços carros de
emergência cujo a reposição é imediata após a sua abertura.
Este tipo de reposição de stock pré-definido é efetuado de acordo com a
periodicidade previamente definida, e é realizadaa pelo enfermeiro responsável do
serviço com posterior validação por parte do farmacêutico.
Figura 7 – Circuito da distribuição para internamento.
Prescrição médica (realizada no sistema
informático)
Validação da prescrição pelo farmacêutico
Distribuição dos medicamentos em
gavetas individuais
Envio para o serviço de
internamento
Administração e registo da medicação
Nova avaliação médica
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
15 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Já a distribuição em dose individual diária (circuito exposto na figura 2), presente na
maioria dos serviços clínicos de internamento do pólo HUC, acarreta a obrigatoriedade
de uma prescrição médica ativa por doente, que o farmacêutico tem de validar para
posteriormente o técnico preparar em módulos com uma gaveta por doente, que por fim
será entregue pelo assistente operacional no respetivo serviço. Caso o farmacêutico
detete algum erro na prescrição, deixa uma mensagem ao médico ou entra em contacto
com o mesmo, de forma a que ocorra a correção da prescrição e seja possível a
validação com posterior preparação da medicação. Foi possível realizar a validação de
algumas prescrições sob tutela da farmacêutica responsável.
A rotina da distribuição em dose individual diária tem horários preestabelecidos e
desencadeia-se de acordo com um plano preestabelecido. Esta distribuição diária de
medicamentos, é feita para um período de 24 horas, 6 dias por semana com a cedência
para 48h no fim-de-semana. A preparação da medicação é feita após emissão de mapas
que são fracionados em 3 mapas de acordo com a localização da medicação: sistemas
semi-automáticos como o Kardex (formas orais em monodose e injetáveis) e o FDS
(formas orais reembaladas por doente) e fora dos equipamentos semi-automáticos
(localizados em prateleiras e frigoríficos).
Acompanhei o atendimento de estupefacientes. Estes encontram-se num cofre
numa sala onde só estão farmacêuticos. Após o atendimento, que é realizado por
serviço, é necessária a contagem não só do stock existente do estupefaciente em que
se mexeu como também dos restantes de forma a garantir um controlo efetivo de toda
a movimentação deste tipo de medicamentos.
No último dia de estágio tive a oportunidade de acompanhar uma farmacêutica da
área da distribuição, responsável pelos serviços de transplantação renal e urologia.
Neste dia foi-me possibilitado perceber o papel do farmacêutico numa equipa
multidisciplinar, pois participei nas visitas diárias, realizadas aos quartos dos
transplantados renais, na qual participa o enfermeiro responsável, os médicos do
serviço e a farmacêutica. Esta pode eventualmente ser consultada relativamente à
medicação prescrita ao doente. Nesse dia, no serviço de urologia, nas consultas
periódicas dos transplantados renais, foram realizados inquéritos a alguns dos doentes
presentes, para um estudo efetuado para a Sociedade Portuguesa de Transplantação
para averiguar se os doentes entendem o seu estado, o porquê da necessidade do
transplante, a medicação efetuada, em particular os imunossupressores, e outras
patologias associadas e quando surgiram. É importante o doente ter noção da
medicação que faz de forma a consciencializar-se que, por exemplo, no caso dos
imunossupressores como a prednisolona - que todos os inquiridos faziam - não poderão
deixar de a tomar caso contrario o organismo irá começar a rejeitar o órgão
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
16 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
transplantado. As patologias associadas são também importantes, pois existe
terapêutica como o tacrolímus que apresenta um elevado índice diabetogénico,
havendo registo de muitos dos doentes que têm presente este medicamento na
terapêutica acabarem por desenvolver diabetes mellitus.
Ainda durante esse dia acompanhei a recolha de amostras e tratamento das
mesmas para um ensaio clinico, realizado com pacientes transplantados, da Novartis,
pois a farmacêutica é a coordenadora deste ensaio no CHUC.
6.2 Distribuição de medicamentos a doentes em regime ambulatório
Tal como descrito no manual da farmácia hospitalar, a farmácia de ambulatório no
CHUC encontra-se perto da entrada e do local onde são efetuadas as consultas
externas. Durante o primeiro dia, foi possível tomar contacto com a legislação vigente e
todos os procedimentos da unidade, relativamente aos medicamentos especiais e à
forma de cedência da medicação em ambulatório. O sistema informático existente, o
SGICM, permite validar a prescrição e ceder a mesma. Através da observação da
prática diária foi possível conhecer alguma da medicação cedida e perceber as normas
vigentes para esta cedência.
O facto de existir esta cedência mensal permite que ocorra um maior controlo e
vigilância, em consequência dos efeitos secundários da medicação cedida, da
necessidade de aumentar a adesão à terapêutica. Aqui a medicação cedida tem uma
comparticipação de 100%. O sistema informático permite verificar a medicação cedida
anteriormente, sendo possível desta forma verificar se ocorreu mudança significativa na
prescrição e caso o farmacêutico estranhe, poderá confirmar com o médico a medicação
a realizar pois, por vezes, podem existir erros de prescrição. Nesta prescrição ainda é
possível verificar o diagnóstico do doente, as reações adversas e os custos que o seu
tratamento trará para o hospital.
A medicação existente para o tratamento da hepatite C cedida no ambulatório,
carece de uma prévia seleção dos doentes, realizada pelo médico especialista segundo
critérios já estabelecidos. Para esta patologia o ambulatório tem uma outra base de
dados que se encontra partilhada por todos os farmacêuticos, onde estão registadas
todas as informações relativas ao tratamento de cada doente, incluindo a localização da
medicação, visto estes fármacos se encontrarem organizados em gavetas, identificadas
por doente, separados do resto do stock do ambulatório. Tive a oportunidade de
participar na atualização desta base de dados, com a remoção dos que terminaram o
tratamento e com a introdução de novos doentes.
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
17 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
6.3 Urgência Farmacêutica
Os farmacêuticos são escalados para fazerem a urgência, dois de cada vez das 9h
às 23h e apenas 1 das 23h às 9h, para responderem aos pedidos de informação feitos
via telefónica e às solicitações extraordinárias e urgentes de medicação dos serviços.
Para que se possa atender o pedido é necessário que este seja feito antecipadamente
pelo serviço no SGICM ou esteja prescrito no doente.
Os hemoderivados e os estupefacientes são os únicos completamente realizados
por farmacêuticos, desde a validação, atendimento até à libertação, pois exigem um
maior rigor relativamente aos restantes medicamentos. Os hemoderivados necessitam
ainda de uma prescrição específica, realizado através de um formulário do Ministério da
Saúde, que é entregue em mão ao farmacêutico. Este último, durante o atendimento,
tem que fazer o registo dos lotes libertados, registo do número individual do
atendimento, que é registado numa folha geral que identifica os atendimentos dos
hemoderivados. Esta folha é interna dos SF e descreve o que foi libertado e para que
serviço. Toda a documentação referente a esta libertação fica arquivada para
rastreabilidade.
7. Ensaios Clínicos
Durante duas semanas tive a oportunidade de estar inserida nos Ensaios Clínicos,
tomei contacto com diversos ensaios que se encontravam a decorrer, tanto a nível de
documentação como na cedência da terapêutica aos doentes incluídos no ensaio.
Para a elaboração dos procedimentos internos, como esquematizado na Figura 3, é
pertinente obter toda a informação necessária ao cumprimento do protocolo de forma a
garantir a segurança, eficácia, racionalidade, rastreabilidade, responsabilidade e
transparência. Estes últimos três são os princípios básicos dos ensaios clínicos. Os
protocolos de procedimentos normalizados, com os quais tive oportunidade de contactar
apresentam todas as etapas de execução de um ensaio como também o procedimento
de segurança. Existem uma diversidade de normas, respeitantes aos ensaios, que se
Figura 8 – Esquema para pedido de autorização de início de ensaio clínico.
Promotor pede autorização para a realização de um
ensaio
Entrega a informação aos Serviços
Farmacêuticos
Elaboram procedimentos
internos para gestão e controlo dos
medicamentos experimentais
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
18 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
baseiam na Diretiva Europeia 2001/20/CE, do Parlamento Europeu e referem todo o
controlo e segurança necessários (12).
Acompanhei a receção de encomendas, sendo crucial conferir a guia de transporte
que vem com a encomenda, os certificados, as condições em que é transportada e o
controlador de temperatura, que acompanha a encomenda e regista durante todo o
tempo as variações de temperatura. Estes controladores permitem a transferência
destes dados para o computador, para ser conferido o cumprimento das normas, sendo
apresentado um gráfico com as variações e, caso ocorra alguma variação que excede
os limites, não se poderá garantir a estabilidade das preparações transportadas. Toda
a medicação que é cedida dentro do mesmo estudo é exatamente igual, sendo que nem
os farmacêuticos nem o doente sabem se este se encontra realmente a tomar o
medicamento ou placebo se o estudo for cego. Desta forma é mantida a ocultação do
ensaio, que é obrigatório manter de forma a que não ocorram possíveis alterações dos
resultados finais.
Quando o doente vai levantar a medicação, traz todas as caixas que levou na visita
anterior, pois o farmacêutico obrigatoriamente tem que realizar a contagem das
unidades que permanecem na embalagem para posterior cálculo da percentagem de
adesão ao ensaio, sendo este um fator que poderá influenciar os resultados obtidos.
Assisti a uma primeira visita, isto é, a primeira vez que o monitor se dirige ao centro
de forma a explicar o estudo e procedimentos do mesmo. É a visita que oficializa e torna
o centro num “centro ativo”. Assisti posteriormente, cerca de uma semana depois, à
cedência da primeira medicação deste ensaio.
Foi-me permitido conhecer a organização geral da unidade e a legislação vigente e
os procedimentos. Acompanhei a avaliação financeira dos contratos, que é realizado
por uma farmacêutica, e se baseia na Lei nº 21/2014 de 16 de Abril que aprova a lei da
investigação clínica, tendo sido substituída pela Lei nº73/2015 de 27 de Julho que não
apresenta muitas alterações. Para a obtenção dos contratos financeiros finais, é
necessária a negociação com o promotor do ensaio, que apenas são obtidos após
diversas versões concretizadas. Ainda efetuei a verificação dos valores referidos num
dos contratos financeiros em avaliação, sendo que todos os valores são apresentados
por doente.
Nesta área, as boas práticas clínicas são essenciais para garantir que a integridade
dos doentes é protegida. Para tal, os profissionais guiam-se pela Diretiva 2001/20/CE,
do Parlamento Europeu e do Conselho, onde é descrita a aproximação das disposições
legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados-Membros respeitantes à
condução dos ensaios clínicos de medicamentos de uso humano aplicando as boas
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
19 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
práticas. A ICH E6 é também utilizada como base, sendo uma guideline para boas
práticas clínicas (13).
8. Conclusão
Sendo o objetivo deste estágio tomar contacto com as áreas que constituem os
Serviços Farmacêutico do CHUC e perceber qual o papel do farmacêutico nos mesmos,
foi cumprido. Acompanhei as atividades diárias e tive a possibilidade de aplicar,
realmente, os conhecimentos que adquiri durante o curso. Algumas das áreas como os
Ensaios Clínicos e o Aprovisionamento, são temas que não são muito desenvolvidos
durante o curso. No entanto, através deste estágio pude ampliar os meus
conhecimentos sobre estas áreas. Uma área que é praticamente ignorada durante o
curso é a radiofarmácia, área que este estágio me possibilitou descobrir, uma vez que
esta unidade hospitalar é uma das poucas que possui radiofarmácia, e assim pude
perceber da sua importância e interpretá-la como área em desenvolvimento.
Existem outras áreas como a informação de medicamentos, a farmacocinética e a
farmácia clinica que não tive oportunidade de estagiar, mas que são de extrema
importância para o bom funcionamento dos Serviços Farmacêuticos e para um bom
conhecimento da terapêutica.
No geral, todos os profissionais de saúde possibilitaram a participação dos
estagiários na maioria das tarefas o que permitiu um conhecimento aprofundado sobre
todas as áreas em que fomos integrados. Não só acompanhámos os farmacêuticos
como também os restantes profissionais que integram os Serviços Farmacêuticos, o
que permitiu uma visão abrangente das etapas do ciclo do medicamento nesta unidade
hospitalar e também entender o quão importante é o papel de todos neste ciclo.
O valor do farmacêutico ficou principalmente demonstrado na visita que realizei no
âmbito da distribuição, ao serviço de transplantação renal e urologia, sendo a sua
inclusão nas visitas diárias e na discussão da terapêutica efetuada para cada um dos
doente internados, preponderante, mostrando ainda a importância do funcionamento de
equipas multidisciplinares e a sua repercussão nos cuidados de saúde conducentes ao
maior benefício para o doente, que é o principal objetivo da unidade hospitalar. No anexo
III é apresentada uma análise SWOT do estágio.
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
20 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
9. Bibliografia
1. Conselho Executivo da Farmácia Hospitalar (2005). Manual da Farmácia
Hospitalar. Ministério da Saúde.
2. INFARMED - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I. P.
Deliberação n.º 1546/2015, Capítulo I. Diário da República, 2.ª série — N.º 152
— 6 de agosto de 2015.
3. Coelho, A. et al. (2006) Formulário Hospitalar Nacional de Medicamentos. 9th
ed. Infarmed, Lisboa.
4. INFARMED: Autorização de Utilização Excecional (AUE) e Autorização de
comercialização de medicamentos sem autorização ou registo válidos em
Portugal (SAR). [Acedido a 20 de Fevereiro de 2016 Acessível em:
http://www.infarmed.pt/portal/page/portal/INFARMED/MEDICAMENTOS_USO_
HUMANO/AUTORIZACAO_DE_INTRODUCAO_NO_MERCADO/AUTORIZAC
AO_DE_UTILIZACAO_ESPECIAL.]
5. Decreto-Lei N.º 176/2006, de 30 de Agosto de 2006. Diário da República, 1ª
Série, 167, 6297-6383.
6. Ministério da Saúde (2014). Deliberação nº139/CD/2014. Infarmed, Lisboa.
7. Sociedade Espanhola de Farmácia Hospitalar. Farmacia Hospitalaria – Tomo II
(2002).
8. Farmacopeia Portuguesa 9 (2008). Ministério da Saúde, INFARMED, Lisboa.
9. European Association of Nuclear Medicine (EANM). The Radiopharmacy – A
Technologist’s Guide (2008).
10. Elsinga P, Todde S, Penuelas I, Meyer G, Farstad B, Faivre-Chauvet A, et al.
(2010) Guidance on current good radiopharmacy practice (cGRPP) for the small-
scale preparation of radiopharmaceuticals. European journal of nuclear medicine
and molecular imaging. 1049-62.
11. INFARMED: Preparações Radiofarmacêuticas.. [Acedido a 20 de Janeiro de
2016]. Acessível em:
http://www.infarmed.pt/formulario/navegacao.php?paiid=295.
12. Diretiva 2001/20/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de Abril de
2001. [Acedida a 1 de Março de 2016] Acessível em:
http://ec.europa.eu/health/files/eudralex/vol-1/dir_2001_20/dir_2001_20_pt.pdf.
13. ICH - harmonised tripartite guideline (1996): Guideline for good clinical practice
E6(R1). [Acedida a 28 de Fevereiro de 2016] Acessível em:
http://www.ich.org/fileadmin/Public_Web_Site/ICH_Products/Guidelines/Efficac
y/E6/E6_R1_Guideline.pdf.
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
21 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Anexos
Anexo I
Temas desenvolvidos e apresentados nas reuniões semanais dos SF
1. Radiofarmácia
Exposição aos restantes estagiários sobre em que consiste esta área da
farmacotecnia, a nível de profissionais presentes no setor, tipos e exemplos de
preparações e a forma como são realizadas e as aplicações desta área no diagnóstico
ou tratamento de determinadas patologias.
2. Monitorização da Terapêutica com fármacos antineoplásicos
Apresentação de um artigo de 2014, sobre a vantagem da monitorização da
terapêutica quando há a utilização de fármacos antineoplásicos e as dificuldades e
barreiras da sua implementação.
Referência: Widmer N, Bardin C, Chatelut E, Paci A, Beijnen J, Leveque D, et al. (2014)
Review of therapeutic drug monitoring of anticancer drugs part two--targeted therapies. European
journal of cancer. 2020-36.
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
22 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Anexo II
Estudos de Casos Clínicos
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
23 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Estudo Caso Clínico 1
Avaliação renal com 99mTC-DMSA
Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC)
Introdução
A Radiofarmácia é uma área em expansão e é definida, segundo a Comissão Nacional
da Especialidade Espanhola, como sendo a aplicação da prática farmacêutica, preparação,
controlo e dispensa dos radiofármacos. Esta tem aplicação tanto a nível industrial como
hospitalar (1). Os radiofármacos preparados têm utilização na medicina nuclear e são produtos
obtidos com a finalidade de serem utilizados para diagnóstico (Imagiologia, provas funcionais)
ou para terapêutica de determinadas patologias, sendo que mais de 95% são utilizados para
diagnóstico (2,3). Segundo a Farmacopeia Portuguesa, um radiofármaco, também designado de
preparação radiofarmacêutica, é uma preparação que contém um ou mais radionuclídeos. Um
radiofármaco é constituído por duas partes, um radionuclídeo e um composto químico ou fármaco
(4). Este último tem como função a de dirigir o radiofármaco a um tecido ou órgão concreto para
o qual, devido às suas características físico-químicas e biológicas, apresenta afinidade, podendo
mesmo participar na função biológica. Desta forma, um radiofármaco não apresenta
propriedades farmacodinâmicas mas sim farmacocinéticas, que são essenciais para que o
radiofármaco exerça a sua função corretamente (1).
O Tecnécio (99mTc) é um dos radionuclídeos mais utilizados, sendo obtido na forma de
uma solução salina de pertecnetato (99mTcCO4-Na+) de sódio estéril e apirogénica, pois é sob
esta forma que se liga ao fármaco, a partir da eluição de um gerador de 99Mo / 99mTc com soro
fisiológico (NaCl a 9%) (3). As suas características permitem uma maior utilização devido ao
facto de o tempo de semi-vida ser de 6,02 horas, permitindo uma boa avaliação da fisiologia dos
órgãos em questão, neste caso dos rins. É obtido com facilidade e a um custo acessível por
decair por emissão de radiação gama com uma energia de 140 keV (quilo eletrão volt). Todas as
características apresentadas contribuem para uma favorável penetração tecidular e para a
obtenção de boas imagens cintigráficas permitindo a utilização de uma dose baixa,
posteriormente absorvida pelo doente (1,3).
Objetivo
Neste caso clínico, o objetivo assenta na realização de uma cintigrafia renal de forma a
ser possível a avaliação da função renal diferencial e da presença de eventuais cicatrizes renais,
podendo estas ser resultantes da ocorrência recorrente de infeções urinárias com infeção renal
(pielonefrites), na criança. Para tal, utilizou-se o DMSA ou ácido dimercaptossuccínico, em
conjunto com o radionuclídeo tecnécio (99mTc), sendo o DCI ou nome genérico Tecnécio (99mTc)
succímero (3).
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
24 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Métodos
Após a administração i.v (intravenosa) do 99mTc-DMSA, a sua eliminação ocorre de forma
trifásica, nos doentes que apresentam função renal normal. O tempo de semi-vida deste
radiofármaco na corrente sanguínea é de cerca de uma hora, sendo a sua principal distribuição
e acumulação no córtex renal. A concentração máxima ocorre nas três a seis horas posteriores
à injeção intravenosa, atingindo-se a concentração máxima no rim, com acumulação de cerca
de 40 a 50% da dose. Ficando menos de 3% da dose administrada retida no fígado, podendo no
entanto, esta dose aumentar caso exista um problema da função renal (5). Dado que ocorre
acumulação deste radiofármaco no rim, é possível concluir acerca do estado funcional dos rins
da doente, recorrendo a métodos imagiológicos.
Neste caso clínico foi realizada uma cintigrafia renal com 99mTc-DMSA para a avaliação
da funcionalidade dos rins e para deteção de eventuais cicatrizes renais, decursivas de infeções
urinárias recorrentes com envolvência renal (pielonefrites).
A doente em questão é uma adolescente, com 16 anos de idade, apresenta
antecedentes de hipoparatiroidismo, litíase renal direita, submetida a LEOC (Litotrícia
Extracorpórea por ondas de choque), e hidronefrose, também direita, operada em 2001. Em abril
do ano 2014 teve um episódio de cistite por E. Coli sensível à ATB (antibioterapia) efetuada.
Foram realizados exames imagiológicos, uma ecografia renovesical, que revelou
caliectasias à direita, mais significativas no grupo superior médio, onde a sua morfologia é
balonada, apresentando um bacinete ou pélvis renal com 6 mm. Foi solicitado, de forma a ser
possível a avaliação da função renal diferencial e a presença de eventuais cicatrizes renais, um
estudo tendo por base uma cintigrafia renal.
De forma a preparar a solução de 99mTc-DMSA (Renocis®), tendo em consideração as
precauções relativas à esterilidade e radioprotecção, foi necessária a reconstituição do fármaco
com 6 ml de solução de pertecnetato de sódio estéril e apirogénica (99mTc), com uma atividade
de 30 mCi. Procedeu-se a uma agitação de 5 a 10 minutos, de forma a garantir homogeneidade
da solução. Após a preparação, é essencial aguardar cerca de 1h antes de proceder à
administração, ocorrendo um decaimento de cerca de 10% da radioatividade (valores tabelados),
sendo a atividade, uma hora posterior à preparação, de 27 mCi nos 6 ml. A atividade pretendida
era de 1,9 mCi, sendo necessária a administração de 0,42 ml da solução anteriormente
preparada para garantir essa atividade, utilizando uma seringa com proteção de chumbo. O
estudo foi realizado aos 180 minutos após a administração intravenosa, de forma a ocorrer
distribuição, de 1,9 mCi de 99mTc-DMSA. Foram adquiridas imagens em vistas posteriores e
oblíquas posteriores esquerda e direita, de forma a avaliar corretamente a funcionalidade dos
rins, através de uma análise comparativa.
Resultados e Discussão
Após a realização da cintigrafia renal, recorrendo ao 99mTc-DMSA, foi possível a
obtenção de imagens cintigráficas com as vistas supra mencionadas, apresentadas de seguida:
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
25 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Observando as imagens obtidas é possível verificar uma assimetria na atividade
funcional dos rins, encontrando-se diminuída no rim direito, apresentando-se de uma forma
global hipoativo. Existe uma redução da área de parênquima funcionante e alteração dos seus
contornos, visivelmente menos uniformes, com individualização em diversas áreas hipoativas,
sendo as mais evidentes as que englobam o terço inferior e a vertente lateral do terço superior.
As alterações mencionadas anteriormente são consistentes com a existência de
nefropatia cicatricial.
Estas comparações são realizadas relativamente ao rim esquerdo, que neste caso
apresenta uma boa intensidade de captação, visível pela coloração escura presente neste rim
pois, quanto maior for a captação, mais escura é a imagem, e claramente nas imagens obtidas
verifica-se que o rim esquerdo capta mais radiofármaco que o rim direito, sugerindo que no rim
esquerdo há uma atividade funcional preservada. Neste, a distribuição da atividade é
homogénea, não existindo individualização clara de áreas hipoativas sugestivas de sequelas
cicatriciais.
Através de um programa específico, foi possível o cálculo das percentagens de
funcionalidade apresentadas por cada rim individualmente. Relativamente à função renal
diferencial, o rim esquerdo apresenta funcionalidade de 62%, sendo considerado aceitável,
enquanto, como presumido, o rim direito apresenta uma funcionalidade de 38%.
Conclusão
Após a observação das imagens cintigráficas e das percentagens de função renal
diferencial obtidas para cada um dos rins, é possível afirmar que este estudo é compatível com
nefropatia cicatricial no rim direito. O rim esquerdo apresenta-se normal, sem evidência de
cicatrizes renais valorizáveis.
Figura 9 - Resultados imagiológicos obtidos na cintigrafia renal. 1- Vista posterior; 2- Vista oblíqua posterior esquerda; 3- Vista oblíqua posterior direita.
1 2
3
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
26 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Agradecimentos
Ao serviço de Medicina nuclear, em especial à Dra. Adelaide Lima, ao Dr. Ricardo
Grangeia e ao Dr. Tiago Saraiva, pela disponibilidade e apoio na aquisição de informações
relativas a este caso clínico.
Bibliografia
1. Sociedade Espanhola de Farmácia Hospitalar. Farmacia Hospitalaria – Tomo II (2002).
2. European Association of Nuclear Medicine (EANM). The Radiopharmacy – A Technologist’s
Guide (2008).
3. INFARMED: Preparações Radiofarmacêuticas.. Acessível em:
http://www.infarmed.pt/formulario/navegacao.php?paiid=295. [Acedido a 20 de Janeiro de 2016].
4. Farmacopeia Portuguesa 9 (2008). Ministério da Saúde, INFARMED, Lisboa.
5. Renocis® – Technical Leaflet: Summary of Product Characteristics (2010). Iba Molecular.
Acessível em: http://www.ibamolecular.eu/sites/default/files/RENOCIS%20SPC.pdf
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
27 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Estudo de Caso Clínico 2
Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC)
NOME: LMMT
Data Nascimento: 34 anos
Serviço Internamento: Hematologia Entrada: 15-09-2015 Saída: 15-02-2016 (Morte)
Diagnóstico
Leucemia mieloblástica aguda, LMA-M4, realizado a 24/08/2015 após estudo da
medula óssea no Hospital de Dia de Hematologia;
Cariótipo com trissomia do cromossoma 21.
Tabelas 1 e 2 - Resultados dos estudos de imunofenotipagem, para conclusão de diagnóstico.
Observando os resultados do exame realizado e, através da avaliação feita pelo técnico
superior responsável, é possível concluir, pela percentagem elevada de blastos da linha mieloide,
que a doente apresenta uma leucemia mieloblástica aguda.
Sinais Vitais
Foi recomendada a monitorização dos sinais vitais da doente, sendo estes a frequência
cardíaca (ppm), a saturação de oxigénio (O2), a temperatura (ºC), a tensão arterial (mmHG) e a
frequência respiratória (cpm). Este último apenas foi monitorizado no último dia de internamento
no serviço de hematologia, antes da transferência para a medicina intensiva, no dia 12 de
Fevereiro, tendo sido neste dia de 24 cpm. A frequência cardíaca no dia 6 de Fevereiro variou
entre 63 e 90 ppm, mas desde esse dia até ao dia 12 esteve sempre elevada, tendo a doente
taquicardia, no dia 12 entre os 136 e 150 ppm. Relativamente à saturação de O2 esteve sempre
muito elevada sendo os valores sempre muito próximos dos 100%. Na tensão arterial as
alterações não foram também significativas variando sempre entre os 119 e 142 mmHG para a
sistólica e 70-85 mmHG para a diastólica, exceto o último dia, dia 12, que ambas se encontravam
mais diminuídas. A temperatura manteve-se sempre entre os 35 e 37ºC exceto esporádicas
ocasiões em que se encontrava mais elevada, perto dos 40ºC.
Exames Complementares
Foram realizados diversos exames complementares, tanto a nível de análises por
Patologia clínica, pelo laboratório de hematologia, por cardiologia durante todo o período de
Citometria de Fluxo
Imunofenotipagem Resultado Avaliação
Celularidade Presença de: 15% de eritroblastos, 18% de
neutrófilos, 25% de monócitos, 7% de linfócitos, 2% de eosinófilos e 32% de blastos
O estudo fenotípico da medula óssea revelou a presença de 32% de blastos de linha mieloide, o que é compatível com leucemia mieloblástica aguda. 45%
dos blastos apresentam maturação para a linha a neutrófilo (cMPO), 20% para a linha monocítica
(CD64 e CD36), 9% para célula dendrítica plasmacitoide, 2% para a linha eritroide, 2% para a
linha megacariocítica e 0,3% para a linha a mastócito. Cerca de 8% de todos os blastos tem um fenótipo
misto (cCD79a, CD19, CD7, CD13 e CD117). Observou-se um aumento de células de linha
monocítica, que representavam 25% das células da medula óssea, bem como, alterações na maturação nas linhas a neutrófilo, monocítica e eritroide, pelo que se sugere descartar-se a possibilidade de ser
uma LMA secundária a LMMC.
Neutrófilos Bloqueio na maturação em metamielócito
Monócitos Bloqueio na maturação
Eritroblastos Expressão assincrónica de CD71
Células T, B, NK, Plasmócitos
Fenótipo normal
Blastos
Positivos: CD45 de baixa expressão, CD117, HLA-DR, 84% eram CD34, CD13, CD71, CD33, CD64 de expressão parcial, C36 de expressão
parcial, CD123, cMPO de expressão parcial, CD7 de expressão parcial.
Negativos: CD11b, CD10, CD16, CD14, CD35,
IREM-2, CD105, CD15, 7.1 (NG2), CD203c, cCD3, CD3, CD19, cCD79a
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
28 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
internamento de janeiro a fevereiro, mês do falecimento da doente. Para além das análises,
foram realizados exames imagiológicos e exames de medicina nuclear (uma angiografia de
radionuclídeos de equilíbrio). Análises da bacteriologia tinham já identificado uma bactéria em
Dezembro, sendo esta uma Klebsiella pneumoniae suscetível. No entanto, no mês de Fevereiro,
foi identificada a mesma bactéria mas ao contrário da anterior, esta apresentava
multirresistência. No dia 13 de Fevereiro, a doente foi transferida para a Medicina Intensiva, até
ao falecimento da mesma a 15 de Fevereiro.
Tratamento médico
Ciclos de quimioterapia realizados desde Setembro de 2015, cerca de um mês após o
diagnóstico de LMA, até Janeiro de 2016. As doses dos fármacos utilizados no tratamento são
calculados em função da superfície corporal em m2. Pois, como se tratam de fármacos com
citotoxicidade, é necessário que a dose seja mais controlada e específica para cada doente.
Tabela 3 - Constituição dos protocolos de quimioterapia usados no tratamento da doente. Protocolo de
Quimioterapia Constituição do Protocolo Função
Ciclo de tratamento
Observações
ICE
Citarabina 42.5 mg + Cloreto de
sódio 9mg/ml 50 ml (Intra-tecal)
Agente antineoplásico, Intra-tecal
16 Set. – 21 Set. 2015
-
Citarabina 170 mg + Cloreto de
sódio 9mg/ml 100 ml
Agente antineoplásico I.V.
Etoposido 170 mg + Cloreto de
sódio 9mg/ml 50 ml
Agente antineoplásico, inibidor da
topoisomerase II
Idarrubicina 17 mg + Cloreto de
sódio 9mg/ml 100 ml
Agentes Antimitóticos e
citotóxicos
FLAG
Ondansetrom 8.0 mg; 8/8h Antiemético 20 Out. – 26 Out.
2015 -
Fludarabina 50 mg + Cloreto de
sódio 9mg/ml 500ml Agente antineoplásico
24 Nov. – 30 Nov. 2015
-
Citarabina 3400 mg + Cloreto de
sódio 9mg/ml 1000ml Agente antineoplásico
22 Dez. – 28 Dez. 2015
Não foi realizado. Análises da doente
demonstraram existência de neutropenia acentuada.
Prednisolona + neomicina 1 gota; 8/8h
Colírio, Adjuvante
Hipromelose 5 mg/ml gotas 8/8h Colírio, Hidratante
oftálmico 20 Jan. – 26 Jan. 2016
Dose de Fludarabina
utilizada foi inferior às anteriores, tendo
sido de 48 mg.
Para o tratamento antineoplásico da doente recorreu-se a dois protocolos distintos
segundo as guidelines internacionais de tratamento de neoplasias, sendo que, inicialmente, o
ciclo de indução de quimioterapia realizado em setembro, foi com o protocolo ICE. Este protocolo
é constituído por uma combinação de agentes antineoplásicos, como a Citarabina, recomendada
para casos de leucemia mieloide aguda em associação com outros citostáticos, pois induz a
remissão de leucemias, e a Idarrubicina, também recomendada para o tratamento de leucemias.
Depois passou para ciclos de manutenção, onde o protocolo a utilizar no tratamento da doente
foi alterado, tendo sido adotado, a partir do segundo ciclo de quimioterapia em Outubro, o
protocolo FLAG para os restantes tratamentos. Estes protocolos incluem, para além dos
quimioterápicos, tratamentos adjuvantes e anti eméticos. Todos os ciclos do tratamento têm uma
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
29 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
duração de 5 dias de tratamento citotóxico, mais 2 dias de tratamento adjuvante, completando
sete dias de tratamento. Os ciclos eram repetidos de 3 em 3 semanas, sendo que a contagem
se inicia a partir do último dia dos sete dias do tratamento. O ciclo de quimioterapia previsto para
o mês de dezembro não foi realizado, devido ao facto de, nas análises de hematologia da doente
no dia 18, esta apresentar uma neutropenia acentuada. Os leucócitos apresentam-se com
valores muito reduzidos, 0,1x109/L, valor que já mantinha desde o dia 11 do mesmo mês, possuía
uma anemia ligeira, eritrócitos a 2,90x1011/L, uma trombocitopenia, plaquetas a 16x109/L, e febre,
que terá impedido a realização do tratamento nesse mês. Durante o tratamento com o protocolo
FLAG ocorreu uma alteração da dose de fludarabina utilizada, sendo eu diminuiu de 50 mg para
48 mg apenas para a realização do último ciclo, realizado em Janeiro, face ao peso que a doente
apresentava no momento. Esta diminuição ter-se-á devido também ao facto de, nas análises
realizadas, existir uma leucopenia sem neutropenia, leucócitos a 2.8x109/L, anemia ligeira,
eritrócitos a 2.75x1012/L, mas as plaquetas encontravam-se aceitáveis, devido possivelmente a
uma transfusão de sangue.
Análises Tabela 4 – Resultados das análises ao sangue, nos dias 15/01, 14/02 e 15/02 do presente ano.
Observando os resultados apresentados na tabela anterior, é possível verificar a
existência de uma insuficiência renal nos últimos dias até ao falecimento. A função hepática
encontrava-se também alterada, visível pelos níveis das enzimas hepáticas, cujos valores estão
muito acima do que seria recomendado, indicando uma possível lesão do fígado ou doença
hepática. Os valores de albumina encontram-se quase sempre inferiores aos valores
pretendidos, e a bilirrubina também elevada, tanto a total como a direta, indicando novamente
alteração da função hepática. Nas últimas três análises, existiu uma hiperazotémia, com ureia
elevada no sangue, o que é geralmente concordante com insuficiência renal, tano por causas
pré como pró-renais. A existência de infeção poderá justificar os valores elevados da proteína C
Lab. Urgência Unidades Valor de
referência
15 Janeiro
2016
10:34h
14 Fevereiro
2016
07:54h
15 Fevereiro
2016
07:56h
15 Fevereiro
2016
11:57
Azoto ureico mg/dl
mmol/L
7.94-20.9
1.3-3.5
8.7
1.4
78
13.0
7
1.2
96
16.0
Creatinina mg/dl
μmol/L
0.55-1.02
48.02-90.17
0.56
49.50
1.52
134.37
0.51
45.08
1.60
141.44
Sódio mmol/L 136-146 139 148 138 151
Potássio mmol/L 3.5-5.1 3.6 3.4 4.1 2.9
Glucose mg/dl
mmol/L
60-109
3.3-6.0
167
9.3
151
8.4
112
6.2
164
9.1
Cálcio mg/dl
mmol/L
8.8-10.6
2.2-2.6
9.3
2.3
6.7
1.7
8.5
2.1
7.3
1.8
Proteínas Totais g/dl
g/L
6.6-8.3
66.0-83.0
8.0
80.0
3.7
37.0
6.2
62.0
3.8
38.0
Albumina g/dl
g/L
3.5-5.2
35.0-52.0
4.2
42.0
2.3
23.0
3.2
32.0
2.2
22.0
LDH U/L 125-220 181 722 324 431
AST (GOT) U/L <31 30 99 63 48
ALT (GPT) U/L <34 101 93 67 56
Fosfatase Alcalina U/L 40-150 276 39 128 41
GGT U/L <38 63 28 307 26
Bilirrubina Total mg/dl
μmol/L
0.3-1.2
5.1-20.5
1.8
30.8
18.1
309.5
0.8
13.7
17.5
299.3
Bilirrubina Direta mg/dl
μmol/L
0.1-0.5
1.7-8.6
0.7
12.0
11.1
189.8 -
11.0
188.1
C.K U/L <145 13 366 173 314
Proteína C Reativa mg/dL 0-0.5 - 44.0 7.90 42.8
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
30 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
reativa, pois esta indica a ocorrência de inflamação. A procalcitonina, nos dias 10 e 11 de
fevereiro, quando foi determinada, detinha valores muito superiores aos valores de referência,
tendo sido entre 20 e 25 ng/mL quando deveria ser entre 0 e 0,5 ng/mL. Esta encontra-se
associada à proteína C reativa em processos de infeção grave, sendo usado como biomarcador
de prognóstico de sépsis grave.
No dia 4 de Fevereiro, uma análise bacteriológica confirmou a existência de infeção por
Klebsiella pneumoniae, sendo neste caso uma bactéria multirresistente. A doente já tinha tido
uma infeção pela mesma bactéria em Dezembro no entanto, nesta fase a bactéria era ainda
suscetível.
O hemograma no dia 11 de fevereiro apresentava a existência de uma leucopenia
acentuada, uma anemia, trombocitopenia e protrombinémia, que se mantém até ao falecimento
da doente, exceto a trombocitopenia, pois efetuou-se algumas transfusões de sangue.
Tabela Terapêutica – último internamento (15-01-2016 a 12-02-2016)
Tabela 5 – Terapêutica realizada no último mês de internamento da doente.
Medicamento FF Dose Via adm Freq. Horário Qt.
Filgastrim 30 M.U.I/0,5 ml Sol inj Ser 0,5 ml IV SC
Sol. inj. 30 M.U.I S.C. 1 id 23h 1
Furosemida 20 mg/2 ml Sol inj Fr 2 ml IM IV*1
Sol. inj.
20 mg
I.V.
SOS3 SOS até 3 id 3
Toma única (8/02/16)
22h 1
4 id 7h – 13h – 17h –
23h 4
40 mg Toma única
(8/02/16) 17h 2
An
tib
iote
rap
ia
Amicacina 500 mg/2 ml Sol
inj Fr 2 ml IM IV*1 Sol. inj.
1500 mg
I.V. 1 id
11h (08/02/2016) 3
1000 mg 9h (11/02/2016) 2
2000 mg 9h (12/02/2016) 4
Vancomicina 1000 mg Pó
sol inj Fr IV*1 Pó sol. inj. 1000 mg I.V.
2 id 10h – 22h (01-
05,11,12/02/2016) 2
3 id 9h – 16h – 23h
(06,07-09/02/2016)
Vancomicina 500 mg Pó sol
inj Fr IV*1 Pó sol. inj.
500 mg
I.V.
2 id 10h – 22h (04,09-
12/02/2016) 2
3 id 9h – 16h – 23h (09/02/2016)
250 mg 3 id 9h – 16h – 23h (06-
07/02/2016) 2
Linezolida 600 mg/300 ml Sol inj Fr 300 ml IV
Sol. inj. 600 mg I.V. 12/12h 10h – 22h
(12/02/2016) 2
Meropenem 1000 mg Pó sol inj Fr IV
Pó sol. inj. 1000 mg I.V. 8/8h 7h - 15h – 23h 3
Metronidazol 5 mg/ml Sol inj Fr 100 ml IV
Sol. inj. 500 mg I.V. 8/8h 7h – 15h – 23h 3
Tigeciclina 50 mg Pó sol inj Fr IV
Pó sol. inj. 50 mg I.V. 2 id 8h – 20h (11, 12/02/2016)
2
Colistimetato de sódio 1000000 U.I. Pó sol inj ou sol
neb Fr IV Inalatória*1
Pó sol. inj. ou sol. neb.
2000000 U.I. I.V. 8/8h 7h – 15h - 23h
6
3000000 U.I 9
Ciprofloxacina 200 mg/100 ml Sol inj Fr 100 ml IV
Sol. inj. 400 mg I.V. 12/12h 11h – 23h 4
Micafungina 100 mg Pó sol inj Fr IV
Pó sol. inj. 100 mg I.V. 1 id 19h 1
Albumina humana 200 g/l Sol inj
Fr 50 ml IV*1 Sol. inj. 20 g I.V.
8/8h 7h – 15h – 23h
(12/02/16) 6
1 id 17h (11/02/16) 1
Fibrinogénio humano 1000 mg Pó sol inj Fr IV
Pó sol. inj. 2000 mg I.V. 1 id 21h 2
Proteínas coagulantes Pó sol inj Fr IV
Pó sol. inj. 500 U.I. I.V. Toma Única 20h 1
Proteínas coagulantes Pó sol inj Fr IV
Pó sol. inj. 1000 U.I. I.V. 3 id 7h - 15h - 23h
6
Diosmina 450 mg Comp. Comp. 450 mg Oral 2 id 11h -23h 2
Policresaleno 50 mgl/ml + Cinchocaína 10 mg/g Pom rect.
Bisnaga Pomada 1 UNID Rectal 3 id 10h – 17h – 23h 3
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
31 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Metoclopramida 10 mg/2 ml Sol inj Fr 2 ml IM IV
Sol. inj. 10 mg I.V. Antes ref. Antes das ref. 3
Protocolo FLAG Ciclos de quimioterapia mensais desde setembro A
dju
va
nte
s d
a
qu
imio
tera
pia
Posaconazol 40 mg/ml Susp. Oral Fr 105 ml
Susp. Oral 200 mg Oral 3 id 9h – 16h – 23h 1
Solução Iões Fosfato e
cálcio Supersaturados Sol. Top Frs
Sol. garg. 1 UND Bucal 4 id 10h - 13h- 16h – 19h 4
Clemastina 2 mg/ml Sol. inj Fr 2 ml IM IV
Sol. inj. 2 mg I.V. 2 id 11h - 23h 1
Alopurinol 300 mg Comp. Comp. 300 mg Oral 1 id Almoço 1
Clorohexidina 2 mg/ml Sol. lav.boca Fr 300 ml
Sol. lav. boca
15 ml Dental 3 id Peq. Almoço,
Almoço e Jantar 1
Aciclovir 800 mg COMP Comp. 800 mg Oral 1 id 10h 1
Cloreto de potássio 75 mg/ml Sol.
inj Fr 10 ml IV*1 Sol. inj.
30 mEq I.V.
1 id 7h 3
20 mEq Toma única 18h 2
Sulfato de magnésio 2000 mg/10 ml Sol inj Fr 10 ml IM IV
Sol. inj. 16 mEq I.V. 12/12h 7h – 19h 2
Co
rtic
oid
es
Dexametasona 4 mg/ml Sol inj Fr 1 ml IArticular IM
ISinovial IV Sol. inj 4 mg I.V. Toma única 22h 1
Hidrocortisona 100 mg Pó sol inj Fr IM IV
Pó sol. inj. 200 mg I.V. Toma única 12h 2
Metilprednisolona 40 mg Pó sol inj Fr IM IV
Pó sol. inj. 40 mg I.V. SOS2 SOS até 2 id 2
Budesonida 1 mg/2 ml Susp inal neb Fr 2 ml
Susp. inal. neb.
1 mg Inalatória 12/12h 10h – 22h 2
Diazepam 5 mg Comp. Comp. 5 mg Oral SOS1 9h 1
23h 1
An
alg
és
ico
s Fentanilo 25 μg/h Sist transd
Sistema trandérmico
4,2 mg Trandérmico 72/72h 12h 1
Clonixina 100 mg/2ml Sol. inj Fr 2 ml IM IV
Sol. inj. 100 mg I.V. 3 id 7h – 15h - 23h 3
Paracetamol 10 mg/ml Sol inj Fr 100 ml IV
Sol. inj. 1000 mg I.V. SOS4 SOS até 4 id 4
Tramadol 100 mg/2 ml Sol inj Fr 2 ml IM IV SC
Sol. inj. 100 mg I.V. SOS3 SOS até 3 id 3
Ácido aminocapróico 2500 mg/10
ml Sol inj Fr 10 ml IV Sol. inj. 5000 mg I.V. 6/6h 5h – 11h – 17h 8
Noradrenalina 1 mg/ml Sol inj Fr 5 ml IV
Sol. inj. 15 mg I.V. Contínuo 7h 3
Pantoprazol 40 mg Pó sol inj Fr IV Pó sol. inj. 40 mg I.V. 1 id 9h 1
Cloreto de cálcio 100 mg/ml Sol inj Fr 10 ml IV
Sol. inj. 1 g I.V. 2 id 11h - 23h 2
Brometo de ipatrópio 0,25 mg/ml Sol inal neb Fr 1 ml
Sol. inal. neb.
0,5 mg Inalatória 4 id 0h – 6h – 12h – 18h 8
Etinilestradiol 0.03 + Gestodeno
0.075 mg Comp.*2 Comp. 1 UND Oral 1 id 9h 1
Cloreto de sódio 9 mg/ml Sol inj Fr/Sac 1000 ml
Sol. inj. 1000 ml I.V. 1 id 11h 1
*1- Medicação que sofreu alteração de doses ou de regime de tomas durante o período do último internamento, de 15 de
Janeiro a 12 de Fevereiro de 2016, sendo que após o dia 12 de Fevereiro a doente foi transferida para o serviço de
Medicina Intensiva. *2- Contracetivo oral, visto a doente ter 34 anos e se encontrar em idade fértil.
Observando a terapêutica prescrita à doente no último mês de vida, de 15 de Janeiro a 15
de Fevereiro do ano presente, não estando todos os medicamentos apresentados prescritos ao
mesmo tempo. Alguns dos fármacos que se encontram com células com cor distinta das
restantes, representam os fármacos que sofreram alterações da dose durante as prescrições do
último mês.
Na prescrição está presente o Filgrastim, medicamento essencial nesta terapêutica pois está
indicado em neutropenias resistentes, de forma a ocorrer recuperação dos neutrófilos após
quimioterapia mielossupressora, que sucedia com a nossa doente, tendo sido utilizado até ao
falecimento da doente. A furosemida, um diurético, é prescrita possivelmente devido a edema,
apresentando diversos efeitos secundários sendo os mais frequentes: o aumento dos níveis de
creatinina e de ácido úrico, com aumento das crises de gota. Como a doente tinha bastantes
dores, a minimização da mesma era realizada através da administração de clonixina (comumente
usada na LMA avançada), fentanilo (para dor disruptiva) e tramadol (dores fortes). Foi necessária
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
32 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
a administração de fibrinogénio, encontrando-se indicado nas leucemias agudas, infeções e
sépsis, na profilaxia de síndrome de desfibrinação, sendo a sua utilização bastante adequada ao
estado clinico da doente, desde o dia 11 ao dia 13 de fevereiro. Durante o mesmo período foi
necessário recorrer a proteínas coagulantes e albumina. Como a doente foi mãe em agosto, era
ainda necessária a toma de determinados medicamentos anti-hemorroidais e venotrópicos, como
o policresaleno com a cinchocaína e a diosmina, desde o momento do parto até ao último mês
de vida.
Como adjuvantes da quimioterapia são prescritos, a clemastina, um anti-histamínico, a
solução de iões fosfato e cálcio supersaturados, tratamento para mucosite, o posaconazol, pois
está indicado na profilaxia de infeções fúngicas invasivas e na diminuição da sua ocorrência em
doentes com neutropenia que realizem quimioterapia citotóxica para leucemia mieloide aguda.
Também a cloro-hexidina está integrada nos adjuvantes, para lavagem da boca de forma a
diminuir ulceração e por fim, o alopurinol, para evitar acumulação de ácido úrico, também útil
devido ao facto da furosemida poder levar ao aumento de ácido úrico, mas sobretudo por devido
à apoptose celular característica destas doenças com libertação deste produto celular. Por
último, o aciclovir, um antivírico, é também sempre incluído neste conjunto de adjuvantes.
Relativamente à antibioterapia que, como é possível concluir pelo quadro apresentado, foi
bastante extensa, surge tanto para tratamento como para profilaxia, protocolo face à
pancitopenia. O metronidazol, com dose indicada para insuficiência renal, e a micafungina
surgem devido a fasceíte necrosante presente no braço esquerdo. Esta surgiu nos últimos dias
de internamento da doente possivelmente devido a neutropenia, tendo inclusivamente ido ao
bloco operatório no dia 12 de fevereiro para tentar travar a progressão da mesma. A tigeciclina
e o colistimetato de sódio, que sofreu aumento de dose de 2000000 U.I. para 3000000 U.I., estão
presentes na terapêutica pois foram os antibióticos para os quais a Klebsiella pneumoniae se
demonstrou suscetível, estando ambas indicadas no tratamento desta infeção, segundo
bibliografia. Anteriormente a ter-se determinado a suscetibilidade desta bactéria, foi utilizado o
meropenem, também indicado no tratamento deste infeção, cujo ajuste farmacocinético indica a
administração em perfusões prolongadas como foi proposto, no entanto, o exame cultural revelou
que a bactéria era resistente ao meropenem.
A vancomicina foi introduzida no dia 31 de janeiro e retirada dia 12 de fevereiro, tendo uma
janela terapêutica bastante alargada. A dose utilizada foi sempre superior a 500 mg, devendo a
velocidade de administração ser superior a 10 mg/ml. Este antibiótico é bicompartimental, sofre
uma fase inicial de distribuição e esta só fica completa após a ocorrência de uma redistribuição,
que só fica completa após 1 hora de terminar a perfusão, ou seja após duas horas após a
administração. Após este tempo considera-se que o pico das concentrações séricas se encontra
completo, sendo possível efetuar o doseamento para determinar pico e posteriormente o vale
antes da próxima administração. Os efeitos secundários poderão ser agravados com a toma
conjunta com um aminoglicosídeo, como a amicacina, que foi prescrita neste caso, devendo
sofrer monitorização de forma a existir a deteção de sinais de neurotoxicidade e ototoxicidade.
A amicacina está indicada em infeções graves com bacterémia ou pneumonia grave nosocomial
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
33 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
e também indicada no tratamento da fasceíte necrosante. Este antibiótico é potencialmente
nefrotóxico, ototóxico e neurotóxico, sendo este risco aumentado pela toma conjunta com a
vancomicina, como referido anteriormente. Para a monitorização da amicacina o doseamento é
realizado 30 minutos antes da administração para determinar o vale e cerca de 30 minutos a 1
hora após a administração para o pico. Ambos os antibióticos, vancomicina e amicacina, têm
tempos de semivida curtos, e apenas devem ser doseados após a terceira toma altura em que
se atinge o estado de equilíbrio, o que aconteceu. Realizou-se diversas alterações de doses
destes antibióticos desde o dia 1 de fevereiro até ao dia 12, sendo que estas alterações surgiram
pois as concentrações dos picos e vales não eram adequadas, tendo a vancomicina tido quatro
alterações de dose e a amicacina três alterações a maioria delas por infradosificação, tendo sido
interrompida a sua toma em quatro dias, para evitar toxicidade. Todas estas alterações foram
propostas muito tempo antes de se ter efetuado a alteração da prescrição, tendo por vezes
demorado cerca de dois dias a realizar a alteração das mesmas. Este período de tempo, no que
respeita a infeções bacterianas, é crucial para que o tratamento tenha resultados e eficácia
clinica, e para que a doente não entre em declínio devido ao facto de as doses utilizadas não
serem as corretas para a situação clinica com rápido agravamento de baterémia para sépsis e
resistências bacterianas. No dia 12 foi retirada a vancomicina e introduzida a linezolida, visto
esta ter melhor penetração pulmonar e pelo facto de a vancomicina se encontrar prescrita à
quase 15 dias, mas tem como possíveis efeitos secundários anemia e trombocitopenia.
Os restantes fármacos são incluídos na terapêutica da doente de forma a minimizar tanto os
efeitos da medicação como efeitos de outras patologias de que a doente sofria.
Tabela 6 – Interações entre fármacos utilizados no tratamento da doente.
RISCO ELEVADO
1.1. Noradrenalina & Linezolida Aumento da pressão arterial
1.2. Amicacina & Colistimetato Aumento dos efeitos secundários à medicação (Perda de audição; Tonturas; Cãibras), poderá conduzir a dano renal ou neurológico (Convulsões). 1.3. Furosemida & Amicacina
1.4. Amicacina & Sulfato de magnésio Toma conjunta, aumenta risco de existir paralisia muscular, provocada ocasionalmente pela amicacina. Poderá causar fraqueza muscular e
dificuldades respiratórias.
1.5. Ciprofloxacina & Hidrocortisona Risco aumentado para tendinite ou rutura do tendão. (Geralmente para adultos com idade > 60 anos que sofreram transplantação) 1.6. Ciprofloxacina & Metilprednisolona
1.7. Fentanilo & Linezolide Risco aumentado de depressão respiratória, diminuição da pressão
sanguínea, síndrome da serotonina. Casos mais severos podem levar a come e morte.
1.8. Cloreto de potássio & Clemastina Risco aumentado para os efeitos irritativos do potássio, a nível intestinal e
estomacal.
1.9. Metilprednisolona & Posaconazol
Aumenta significativo os níveis sanguíneos de metilprednisolona. Efeitos secundários como inchaço, ganho de peso, elevação dos níveis sanguíneos de glucose e pressão sanguínea, fraqueza muscular, depressão, acne, perda
de densidade óssea, cataratas.
Risco moderado
1.10. Amicacina & Vancomicina Risco renal aumentado e perda de audição.
Conclusão
Situações como esta continuam a acontecer nos hospitais, a utilização de doses insuficientes
de antibiótico e a má otimização do plano de cobertura antimicrobiana e a sua monitorização
sérica e não sérica, conduzem ao descontrolo da infeção e consequentemente à morte do
doente. Um doente neutropénico rapidamente acaba por se infetar, mesmo por uma bactéria
seria inofensiva, e caso não seja efetuada uma cobertura antibiótica adequada e atempada passa
de bacterémia com sinais SIRS (Síndrome de resposta inflamatória sistémica), a sépsis e em
poucas horas a choque séptico e a morte.
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
34 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Anexo III
Análise SWOT do estágio
1. Vasta gama de áreas onde é possível estagiar;
2. Possibilidade de aplicação dos conheciemntos adquiridos durante
o curso;
3. Formação contínua nas reuniões semanais;
4. Existência de equipas multidiscplinares.
1. Pouca possibilidade de participação nas tarefas diárias
em todas as áreas;
2. O facto de não ser possível percorrer todas as áreas
existentes;
3. Tempo de estágio muito inferior ao necessário para a aquisição de conhecimentos que permitissem colocar em prática muitos outros
estudados.
1. Contactar com novas áreas em crescimento, como a radiofarmácia;
2. Oportunidade de participar em equipas multidisciplinares no serviço
de transplantação renal;
3. Perceber a importância do papel do farmacêutico na manutenção de
um bom serviço prestado pelos hospitais.
1. Ambiente geral de descontentamento, por existência
de poucos profissionais para o trabalho necessário;
2. Atitude depreciativa de alguns profissionais relativamente à nossa
profissão.
S W
O T
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
35 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Anexo IV Tabelas construídas segundo as áreas de estágio
Área do Aprovisionamento
Tabela 2- Tabela construída no âmbito do estágio realizado na área do aprovisionamento, com a avaliação de três medicamentos existentes em armazém.
Substância(s) Ativa(s)
Colquicina Interferão beta-1a
Dihidroclorato de Trientina
(Pedido de Medicamento AUE para
uso pediátrico)
Nome do medicamento
Colchicine® Avonex®
Dihidroclorato de Trientina cápsulas
300mg
Classificação Farmacoterapêutica
9.3 Medicamentos usados para o
tratamento da gota
16.3 Imunomodeladores
Não referido
Classificação ATC (OMS)
MO4ACO1 L03AB07 Não referido
Dosagem 1 mg 6 M.U.I./0.5 ml 300 mg
Forma farmacêutica Comprimido Solução injetável em
caneta pré-cheia Cápsulas duras de
gelatina
Via de administração Oral Intramuscular Oral
Posologia e modo de administração
Gota: - 1º dia: 3
comprimidos
(manhã, meio dia e noite)
- 2º e 3º dias: 2 comprimidos
(manhã e noite) - 4º dia e restantes: 1 comprimido/dia
Via oral
Esclerose múltipla:
- Adultos: 30 μg (1 ml), Via
intramuscular, 1 x por semana
Crianças:
Dose dependente da idade e peso, adequando a dose
consoante a resposta clínica. Iniciar com doses
entre 0,6 e 1,5 g. Adultos:
1,2 a 2,4 g (4-8 cápsulas), diariamente, dividida entre 2
a 4 tomas, preferencialmente 30
minutos antes das refeições;
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
36 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Mecanismo de ação
Diminui o fluxo leucocitário, inibe a
fagocitose dos microcristais de
uratos e impede a produção de ácido láctico mantendo o pH neutro no local.
Ligação a recetores específicos na
superfície das células humanas, com início
de uma cascata complexa de fenómenos
intracelulares, conduzindo à expressão de
numerosos produtos genéticos e
marcadores induzidos pelo interferão. Possuem uma
atividade imunomoduladora
bimodal (depende da dose e do tempo de administração), que se traduz na ação sobre o linfócito T,
células K, células NK, macrófagos e linfócitos B.
Responsável pela deleção do cobre, por ação quelante
promove a eliminação do cobre presente no
organismo através da formação de um complexo
estável e solúvel que é eliminado por excreção renal. Tratamento da
doença de Wilson, onde ocorre acumulação de
cobre devido à existência de excesso do mesmo.
Farmacocinética
-Sofre ciclo enterohepático;
- Pico da concentração
plasmática atigido dentro de 2h e
tempo de semi-vida de 17h;
- Volume de distribuição de
2L/Kg; - Metabolizado pelo
fígado; - Excretado
principalmente pelas fezes e 10 a
20% pela urina.
- Pico dos níveis séricos de atividade antiviral: 5-15h após
administração. - Tempo de semi-
vida: 10h - Biodisponibilidade
de cerca de 40%
Não referido no RCM
Indicações Terapêuticas
Gota; Doença de Behçet; Febre Mediterrânea
Familiar
Esclerose múltipla (EM) surto-remissão;
Acontecimento desmielinizante único
associado a um processo inflamatório
Tratamento de doentes com Doença de Wilson
intolerantes à penicilamina
Condições de utilização
Caso a caso, mediante
justificação
Caso a caso, mediante justificação
Mediante protocolo específico
Duração do tratamento
O tratamento com colquicina deve
manter-se até pelo menos um mês após
redução da concentração de urato no sangue. É comum a cobertura profilática
durante 3 a 4 meses.
Tratamento que pode ser usado para o
resto da vida.
Tratamento geralmente usado para o resto da
vida.
Custo unitário por dose administrada
0,163€ + iva(6%)/compri
mido
183,6375€ + iva(6%)/caneta
39,90 € + iva(6%)/cápsula
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
37 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Previsão do número de
tratamentos/doente
Exemplo para 4 meses, segundo
posologia indicada no RCM:
124 comprimidos. Preço total
tratamento= 21,425€ (c/iva)
Tratamento geralmente crónico. Simulando para 1 mês (4 semanas),
tratamento com 4 canetas.
Preço total tratamento= 778,623€
/mês
Tratamento geralmente crónico. Simulando para
1 mês (4 semanas), tratamento com 2 a 5
cápsulas/dia.
Preço total tratamento= 2.537,64€ a 6.344,1€
Terapêutica atualmente utilizada
com a mesma indicação
Alopurinol
Interferão beta-1b Fingolimod (Gilenya®) Acetato de glatirâmero
(Copaxone®)
Acetato de zinco Penicilamina (Kelatine®)
(Graves efeitos secundários)
Área da Farmacotecnia
Tabela 3- Avaliação da Preparação de Medicamentos Magistrais/Oficinais.
Fármaco Forma
farmacêutica
Indicação Compone
ntes Lote
Conservação e
Validade
Técnica de
controlo
Nº de Unidades preparadas e tempo
gasto
Vaselina e
Lanolina
7%
Pomada
(7%)
É emoliente,
facilitando a
absorção de
fármacos
usados na
dermatologia
Vaselina
sólida
(Dimor®) +
Lanolina
anidra
(Fagron®)
02/20
16
Temperat
ura
ambiente
(<25ºC).
Sem
validade
pois é
para
utilização
praticame
nte
imediata
Não se
realiza.
11
Preparaçõ
es. 30
Minutos
Hipoclorit
o de
sódio
0,0125%
Solução
aquosa
(Frasco 5L)
Desinfeção
de
incubadoras
na UCIRN
Hipoclorito
de sódio a
1% + água
destilada
01/20
16
Temperat
ura
ambiente
(<25ºC).
P.V: 09-
02-2016
4
Preparaçõ
es. 30
Minutos
Nistatina,
Lidocaína
2%,
Bicarbona
to de
sódio
1,4%
Suspensão
oral
Mucosite
oral
Nistatina,
Lidocaína
2%,
Bicarbonat
o de sódio
1,4%
05/16
Temperat
ura
<25ºC.
P.V: não
se coloca
40
Preparaçõ
es
± 1hora e
30 Minutos
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
38 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Propranol
ol 0,5%
(5mg/ml)
(Inderal®)
Suspensão
oral
Anti-
hipertensor
Propranolo
l, água
destilada,
xarope
comum
01/20
16
Conserva
r entre 2-
8ºC. P.V:
25/02/20
16
1
Preparaçã
o
10 Minutos
Tabela 4- Avaliação da Preparação de Medicamentos na UMIV (Unidade de Preparação de Medicamentos Injectáveis).
Fármaco
Dose/ Frequência
/ Via de administraç
ão
Indicação Mecanismo
de ação Componente
s Lote
Técnica de controlo (1)
Conservação e
Validade
Inflixima
b
10 mg/ml/
/i.v
Doença de
Crohn
Inibe fator
de necrose
tumoral alfa
(TNFα),
reduzindo a
ocorrência
de
processos
inflamatórios
Infliximab +
Cloreto de
sódio 9mg/ml
13/
16
Não
se
realiza
2-8ºC
P.V:
05/2017
Cefazoli
na 5%
50mg/ml/8
dias/ocular
Infeções
de pele e
tecidos
moles
Inibe síntese
da parede
celular
bacteriana
Cefazolina+Ál
cool poli-
vinílico+
Água ppi
15/
16
Não
se
realiza
2-8ºC
P.V:31/11/2
016
Ciclospo
rina
0,5
mg/ml/Depe
nde do
estado/ocula
r
Transplant
ação
Atua
especifica e
reversivelme
nte sobre os
linfócitos,
inibe
produção de
anticorpos
dependente
s de células-
T. Inibe
produção e
libertação
de linfocinas
(Incluindo
IL-2, fator de
crescimento
das células
T)
Lágrimas
artificiais
(TEARS) +
Ciclosporina
50 mg
15/
16
Não
se
realiza
2-8ºC
P.V:04/02/2
016
(1) Apenas se realiza controlo de qualidade microbiológico para as nutrições parentéricas,
utilizando um meio de cultivo líquido. No entanto deveria ser realizado para todas as
preparações, idealmente, sendo que na prática não é possível.
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
39 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Tabela 5- Avaliação da Preparação de ciclos de Quimioterapia.
Fármaco
Dose/ Frequência /
Via de administraç
ão
Indicação
Mecanismo de ação
Componentes Lote
Técnica de
controlo
Conservação e
Validade (2)
Docetaxel
Actavis
(Docetaxel
)
20 mg/ml /
Dependente
do protocolo/
i.v
Carcino
ma da
mama
operáve
l
Promove a
agregação
da
tubulina
em
microtúbul
os
estáveis
Docetaxel +
Solução de
glucose para
perfusão (5%)
+ Solução de
cloreto de
sódio para
perfusão
(0,9%)
5LF5
071
Apenas
se faz
verificaç
ão dos
volumes
À
temperatur
a
ambiente.
P.V:
05/2017
(Até 8h
após
preparaçã
o à Tamb)
Perjeta
(Pertuzum
ab)
420 mg/14ml
/Dependente
do protocolo/
i.v
Em
conjunt
o com
docetax
el e
trastuzu
mab em
carcino
ma da
mama
HER-2
É um
anticorpo
monoclon
al
humaniza
do
recombina
nte que
bloqueia a
dimerizaçã
o
dependent
e do
ligando do
HER-2
Pertuzumab +
Solução de
cloreto de
sódio para
perfusão
(0,9%)
H011
7B05
À
temperatur
a
ambiente.
P.V:
04/2017
(Até 24h
após
preparaçã
o
Entre 2-
8ºC)
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
40 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Erbitux
(Cetuxima
b)
5 mg/ml /
Dependente
do protocolo/
i.v
Cancro
colorret
al
metastá
tico
RAS
não
mutado
É um
anticorpo
IgG1
monoclon
al
quimérico
específico
contra
recetor do
fator de
cresciment
o
epidérmic
o
Cetuximab +
Solução de
cloreto de
sódio para
perfusão
(0,9%)
2037
19
À
temperatur
a
ambiente.
P.V:
06/2019
(Até 24h
após
preparaçã
o entre 2-
8ºC)
(2) As preparações devem ser utilizadas o mais rapidamente possível, de preferência logo após
a preparação, do ponto de vista microbiológico. Geralmente é o que acontece pois as
preparações saem diretamente para as salas de tratamento, exceto as para outros serviços.
Tabela 6- Avaliação da Preparação em Radiofarmácia.
Fármaco Dose/ Frequência /
Via de administração
Indicação
Componentes Lote Técnica
de controlo
Conservação e
Validade
Ceretec
(99mTc-
HMPAO)
20 mCi/toma
única/i.v Epilepsia
Exametazima
+ Tecnécio
1298
5950/
1302
0750
Cromatogr
afia em
camada
fina
Entre 2-
8ºC.
P.V:
29/07/2016
Nanocoll
(99mTc-
Albumina
nanocoloida
l)
5-12 mCi/toma
única/i.v
Gânglio
sentinela
Partículas
coloidais de
albumina
humana +
Tecnécio
F002
1501
7
Cromatogr
afia em
camada
fina
Entre 2-
8ºC.
P.V:
06/08/2016
Macrotec
(99mTc-
MAA)
3 mCi (1-5
mCi)/toma única/ i.v
Função
pulmonar
Macroagregad
os de
albumina
humana
F005
1500
1
Cromatogr
afia em
camada
fina
Entre 2-
8ºC.
P.V:
12/08/2016
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
41 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Área dos Ensaios Clínicos
Tabela 7- Avaliação de Medicamentos de Ensaios Clínicos.
Nome do Ensaio
Clínico FOURIER CAROLINA
CAIN 457 A3302
(OPTIMISE STUDY)
Sponsor Amgen Boehringer Ingelheim Novartis
Pharmaceuticals
Fármaco(s) em
estudo Evolocumab + Atorvastatina
Linagliptina
Glimepirida
Secukinumab
(Cosentyx®)
Área de estudo Cardiologia
(Dislipidémia)
Cardiologia
(DM Tipo 2)
Dermatologia
(Psoríase em Placas)
Desenho do estudo
Distribuição: Randomizada
Classificação dos Endpoints: Estudo de Segurança/Eficácia
Modelo de Intervenção: Atribuição paralela
Mascaramento: Duplamente cego
Objetivo primário: Tratamento
Fase de
desenvolvimento Fase 3 Fase 3 Fase 3
Tarefas elaboradas
na cedência do
medicamento
Participei na dispensa de
medicação, na contagem das
embalagens entregues pelo
doente.
(Avisar que teria que subir
novamente para a enfermaria
para que lhe fosse
administrada a medicação)
Participei na dispensa
de medicação, na
contagem das
embalagens entregues
pelo doente.
Participei na
dispensa de
medicação, na
contagem das
embalagens
entregues pelo
doente.
Assistiu a alguma
visita de
monitorização? (3)
Sim Não Sim
(3) Assisti a uma primeira visita, que é a primeira vez que o monitor se dirige ao centro de forma
a explicar o estudo e procedimentos do mesmo. É a visita que oficializa e torna o centro num
“centro ativo”. Assisti posteriormente, cerca de uma semana depois, à cedência da primeira
medicação.
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
42 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Anexo V
Folhetos Informativos
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
43 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
GRUPO FARMACOLÓGICO (ATC): Medicamentos antineoplásicos e
imunomoduladores; Citotóxicos; Alquilantes; (L01AA09).
INDICAÇÃO: Em leucemia linfóide crónica (onde fludarabina não
adequada), linfomas não-Hodgkin (onde não resultou terapia com
rituximab) e mieloma múltiplo (em idades > 65 anos; associação com
prednisolona).
APRESENTAÇÃO: Pó para concentrado para solução para perfusão,
apresentado em frascos para injetáveis em vidro castanho com tampa
de borracha e cápsula de abertura fácil em alumínio. Pó microcristalino
branco.
VIA DE ADMINISTRAÇÃO: Via Intravenosa.
CONSERVAÇÃO: Manter o frasco para injetáveis dentro da embalagem
exterior para proteger da luz. As soluções para perfusão preparadas de
acordo com as indicações dadas no fim deste folheto são estáveis em
sacos de polietileno mantidos à temperatura de 25ºC / 60% de humidade
relativa, durante 3,5 horas; no frigorífico (2ºC – 8ºC), são estáveis
durante 2 dias. Levact® não contém conservantes não devendo as
preparações ser usadas após período referido.
MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Perfusão intravenosa durante 30-60
minutos. Necessita de ser administrada sob a supervisão de um médico
qualificado e com experiência no uso de quimioterapia.
POSOLOGIA: O tratamento não deve ser iniciado se o seu número de
glóbulos brancos (leucócitos) tiver diminuído para menos de 3.000
células/μl e/ou se o número de plaquetas tiver diminuído para <75.000
células/μl. Em Leucemia linfóide crónica em monoterapia: 100 mg/ml2
de área corporal no 1º e 2ºdias, cada 4 semanas; em Linfoma não-
Hodgkin indolente: 120 mg/ml2 de área corporal no 1º e 2ºdias, cada 3
semanas; Mieloma múltiplo: 120-150 mg/ml2 de área corporal no 1º e
2ºdias e prednisolona 60 mg/ml2 de área corporal do 1º ao 4ºdia, cada 4
semanas.
EM CASO DE SOBREDOSAGEM: Dose máxima tolerada de 280
mg/ml2, após esta dose aparecem efeitos cardíacos limitadores de dose
e trombocitopenia de grau 4.
EM CASO DE OMISSÃO DE DOSE: Manter o esquema de dosagens
normal.
EFEITOS ADVERSOS: Os mais frequentes são: leucocitopenia,
diminuição da hemoglobina, trombocitopenia, infeções, náuseas,
vómitos, inflamação das mucosas, aumento do valor de creatinina no
sangue, aumento do valor de ureia no sangue, febre e fadiga.
INTERACÇÕES COM MEDICAMENTOS: Potencia a supressão da
medula óssea quando associado a mielossupressores.
Imunossupressão excessiva, com risco de linfoproliferação, com
associação com ciclosporina ou tacrolimus.
CONTRAINDICAÇÕES: Em casos de hipersensibilidade à
bendamustina ou a qualquer excipiente, durante a amamentação,
afeção hepática grave, supressão grave da medula óssea e alterações
graves do hemograma, entre outros.
MONITORIZAÇÃO DE PARÂMETROS: Recomenda-se a
monitorização rigorosa do hemograma durante os intervalos em que a
terapêutica não está a ser administrada.
BENDAMUSTINA 2,5mg/ml Levact®
Relatório de Estágio em Farmácia Hospitalar
44 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
GRUPO FARMACOLÓGICO (ATC): Medicamentos antineoplásicos,
inibidores da proteína cinase (L01XE18).
INDICAÇÃO: Tratamento de esplenomegalia ou sintomas relacionados
com a doença em doentes adultos com mielofibrose primária,
mielofibrose pós-policitemia vera ou mielofibrose pós-trombocitemia
essencial. Também indicado no tratamento de doentes adultos com
policitemia vera, resistentes ou intolerantes a hidroxiureia.
APRESENTAÇÃO: Comprimidos redondos, curvos, brancos a quase
brancos, com 7,5 mm de diâmetro, gravados em baixo relevo com “NVR”
numa face e com “L5” na outra face.
VIA DE ADMINISTRAÇÃO: Via oral.
CONSERVAÇÃO: Não conservar acima dos 30ºC.
MODO DE ADMINISTRAÇÃO: Administrado por via oral, com ou sem
alimentos.
POSOLOGIA: Dose inicial recomendada na mielofibrose é de 15 mg
2x/dia, para doentes com contagem de plaquetas entre 100.000/mm3 e
200.000/mm3 e 20 mg 2x/dia para doentes com uma contagem de
plaquetas > 200.00/mm3. Para policitemia vera é de 10 mg 2x/dia. Dose
máxima de Jakavi® é de 25 mg 2x/dia.
EM CASO DE OMISSÃO DE DOSE: o doente não deve tomar uma dose
adicional, mas deve tomar a dose seguinte, como habitualmente.
SE TOMAR MAIS DO QUE DEVERIA: Não se conhece antídoto para
sobredosagens. Doses repetidas superiores às recomendadas estão
associadas a um aumento de mielossupressão, incluindo leucopenia,
anemia e trombocitopenia. Deve ser administrado tratamento de suporte
adequado.
EFEITOS ADVERSOS: Os mais frequentes são trombocitopenia,
anemia, neutropenia, hemorragia e infeções.
INTERACÇÕES COM MEDICAMENTOS: Inibidores potentes da
CYP3A4 ou inibidores duplos das enzimas CYP3A4 e CYP2C9 (ex:
Fluconazol), pois são as enzimas responsáveis pela eliminação do
Ruxolitinib.
CONTRAINDICAÇÕES: Não deve ser utilizado durante a amamentação
e gravidez. Hipersensibilidade à substância ativa ou qualquer um dos
excipientes da formulação.
MONITORIZAÇÃO DE PARÂMETROS: Monitorização do hemograma
completo, incluindo contagem diferencial dos leucócitos, deve ocorrer
em intervalos de 2-4 semanas até as doses de Jakavi® estarem
estabilizadas e posteriormente conforme clinicamente indicado.
RUXOLITINIB 5mg Jakavi®
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45 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
Anexo VI
A- Autorização de Utilização Excecional de Medicamentos de Uso
Humano – Impresso de uso obrigatório pelos requerentes
B- Autorização de Utilização Excecional – Justificação Clínica
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AUTORIZAÇÃO DE UTILIZAÇÃO EXCECIONAL
MEDICAMENTOS DE USO HUMANO
IMPRESSO DE USO OBRIGATÓRIO PELOS REQUERENTES
Exmº. Senhor
Presidente do Conselho Diretivo do INFARMED, I.P.
Pretende esta entidade licenciada para a aquisição directa de medicamentos, ao abrigo do disposto na alínea a) do artigo 92.º
do Decreto-Lei nº 176/2006, de 30 de Agosto, na sua atual redação, solicitar AUTORIZAÇÃO DE UTILIZAÇÃO EXCECIONAL para o
medicamento abaixo indicado, ao abrigo do despacho:
Deliberação n.º 1546/2015 a) Medicamentos de benefício clínico bem
reconhecido
b) Medicamentos com provas preliminares de benefício
clínico
SIGLA DO DOENTE:
SEXO: FEMININO MASCULINO
OBTIDO CONSENTIMENTO INFORMADO
Por se tratar de um medicamento que não possui AUTORIZAÇÃO DE INTRODUÇÃO NO MERCADO (AIM) em Portugal e se destinar a
doentes em tratamento neste estabelecimento de saúde, com vista a satisfazer as necessidades para o próximo ano de................,
solicito a V. Exª. se digne autorizar a sua utilização especial, nos seguintes termos:
Requerente:
Morada:
Código postal: Tel S.F.: Fax S.F.:
V/ Nº de Pedido: V/data:
Nome do medicamento:
Substância(s) Activa(s):
Forma farmacêutica:
Dosagem: Pertence ao F.H.N.M.:
SIM
Não
Quantidade: Apresentação:
Preço por unidade (c/IVA): Estimativa/Despesa (c/IVA):
Titular da A.I.M.: País da A.I.M.:
Fabricante: País/fabrico:
Libertador de lote*: País/lib. de lote*:
Distribuidor do país de procedência: País/Procedência:
Distribuidor em Portugal*: Alfândega*:
INSTRUÇÃO AO ABRIGO DO ARTIGO 12.º DA DELIBERAÇÃO N.º 1546/2015.
Documentação enviada ao INFARMED pelo requerente ou por outra entidade_____________________________
juntamente com a AUE n.º __________ autorizada para o ano ___________.*
PEDIDO DE ALTERAÇÃO DA QUANTIDADE inicialmente requerida na AUE nº ______, autorizada em ___/___/___
Justificação:___________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________________________________________
___________________
Aceito, para efeitos do previsto no artigo 9.º Decreto-Lei n.º 128/2013, de 5 de Setembro, que as comunicações com o
INFARMED no âmbito do presente pedido sejam feitas através das seguintes caixas electrónicas: [email protected] do INFARMED
e _______________________________________ ( e-mail) do requerente;
Igualmente aceito que as comunicações por correio electrónico feitas nos termos do parágrafo anterior, independentemente
da indicação dos nomes dos colaboradores de ambas as entidades que, em concreto, as elaboraram, revestem valor probatório
e a respectiva autoria é atribuída à parte remetente;
As comunicações feitas nos termos dos parágrafos anteriores, consideram-se recebidas pelo seu destinatário no segundo dia
útil posterior ao seu envio, sendo suficiente para prova de envio o “print” retirado do sistema do seu remetente donde conste a
data e hora de envio.
A
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47 Francisca de Barros Bastos Gaudêncio e Silva
AUTORIZAÇÃO DE UTILIZAÇÃO EXCECIONAL
Alínea a) artigo 92.º
JUSTIFICAÇÃO CLÍNICA
Estabelecimento de saúde:
Serviço proponente:
Deliberação n.º 1546/2015
a)– Medicamentos de benefício clínico bem reconhecido
b) – Medicamentos com provas preliminares de benefício clínico
Nome do medicamento:
Substância(s) Activa(s): Pertence ao F.H.N.M.: SIM NÃO
Dosagem: Apresentação:
Quantidade:
Indicações Terapêuticas
para as quais se pretende
o medicamento e
posologia:
Estratégia terapêutica para
a situação em causa:
Listagem de terapêuticas
alternativas existentes no
mercado e motivos da sua
inadequação à situação
em análise:
Fundamentação científica
da utilização do
medicamento:
A PREENCHER APENAS NO CASO DE SE TRATAR DE UM PEDIDO AO ABRIGO DA ALÍNEA B) SUPRACITADA
Está a decorrer, na instituição, algum ensaio clínico envolvendo este medicamento? SIM * NÃO
* Justificação da
impossibilidade de
inclusão em ensaio clínico:
Provas experimentais
preliminares de eficácia e
segurança que façam
pressupor a actividade do
medicamento na situação
clínica em causa:
Número de doentes a
tratar:
Dose diária por doente:
Duração prevista para o
tratamento:
Quantidade total de
medicamento a utilizar:
Identificação dos Doentes:
Assinatura do Director de Serviço (deverá ser identificada sob a forma de carimbo e/ou vinheta):
Assinatura do Director Clínico (deverá ser identificada sob a forma de carimbo e/ou vinheta):
B
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Anexo VII
Regras de Ouro das “Boas Práticas Clínicas”:
1. Obter, ler e aderir ao protocolo de ensaio;
2. Discutir as exigências do protocolo com o investigador e monitor de ensaio;
3. Formatar áreas, registos e ficheiros específicos para o ensaio;
4. Manter um ficheiro detalhado dos produtos de ensaio recebidos pelo promotor;
5. Manter registos detalhados e rigorosos das dispensas;
6. Atribuir a medicação por sujeito em estrita ordem numérica;
7. Verificar regularmente as condições de stock;
8. Manter um ficheiro relativo à medicação devolvida pelo doente;
9. Manter a cegueira do estudo;
10. Destruir apenas a medicação de ensaio com autorização do promotor.
Referência:
Hutchinson D. (2005). 10 Golden GCP Rules for Pharmacists. 2nd ed. Canary
Publications.