espaço farmacêutico - 04

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AGOSTO 2011 ESPAÇO FARMACÊUTICO EF Anos de História Revista do Conselho Regional de Farmácia do Estado de Santa Catarina Edição 04 Ano 01 Agosto de 2011 FECHAMENTO AUTORIZADO, PODE SER ABERTO PELA ECT

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Revista do CRF/SC

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AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EF

Anos de História

Revista do Conselho Regional de Farmácia do Estado de Santa CatarinaEdição 04 – Ano 01 – Agosto de 2011

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EFSUMÁRIO

31CRF-SC 50 ANOSConselho Regional de Farmácia de Santa Catarina, a presença do farmacêutico promove a saúde do povo catarinense.

4 ESTRANHO NO NINHOA Experiência do farmacêutico na Residência Integrada Multiprofissional em Saúde HU-UFSC

8 ODISSEIA GALÊNICAA dialética farmacêutica consiste em ter de se reiventar completamente século após século para poder reencontrar sua verdadeira natureza, a de uma ciência da saúde próxima da comunidade. De Galeno até hoje, os ciclos do saber farmacêutico são marcados pelo eterno retorno à essência da profissão: a relação das pessoas com o medicamento, em todos os níveis.

46 VIDA CIVILIZADA:ETERNA VIGILÂNCIADIRCEU BARBANO, presidente da ANVISA, explica em uma entrevista exclusiva a ESPAÇO FARMACÊUTICO qual o rumo que a ANVISA escolheu trilhar – e porque a civilização necessita dos regramentos sanitários para não voltar à barbárie.

51 EDUCAR E CRESCEREntrevista com o Presidente da Comissão de Ensino do CRF-SC, o conselheiro federal Paulo Boff tem dedicado esforço e talento na produção de debates que ampliem os conceitos da formação profissional.

54 CUIDADO FARMACÊUTICOUma competência do farmacêutico na promoção do Uso Racional de Medicamentos.

63 VELHA GUARDACRF-SC presta homenagem a profissionais e empresas que constam nos primeiros registros do Conselho e ainda hoje fazem a diferença na sociedade

70 SINDFAR-SC E CRF-SC SINTONIA IMPRESCINDÍVELConhecer o passado, iluminar o presente e traçar o futuro.

65 AVALIAÇÃO DA ACESSIBILIDADE DO SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO USUÁRIO NA FARMÁCIA ESCOLA UFSC/PMF

17A NOVA CONSTRUÇAO DO SUS

Até setembro, os farmacêuticos do Brasil se encontram em reuniões

regionais para preparar uma participação qualificada na 14ª

Conferência Nacional de Saúde. E, com isso, já assumiram a vanguarda

dos debates e desempenham um papel protagonista na construção de

um modelo mais avançado do SUS.

AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

HORTÊNCIA SALETT MÜLLER TIERLINGPRESIDENTE DO CRF-SC

SILVANA NAIR LEITEVICE-PRESIDENTE DO CRF-SC

TÉRCIO EGON KASTENSECRETÁRIO-GERAL DO CRF-SC

PAULO SÉRGIO TEIXEIRA DE ARAÚJOTESOUREIRO DO CRF-SC

DA ESQUERDA PARA A DIREITA:

O TEMPO DA MATURIDADE

A DIRETORIA

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Essa edição especial do Es-paço Farmacêutico celebra os 50 anos de criação e existência do Conselho

Regional de Farmácia de Santa Cata-rina. Foi uma edição concebida para se tornar um documento histórico de registro da linha cientí� ca e política de atuação desta Autarquia Federal, que está na linha de frente de defesa da saúde dos brasileiros e da valorização dos pro� ssionais farmacêuticos.

O CRF-SC notabiliza-se em nível nacional por sustentar de forma in-transigente o conceito da Farmácia Estabelecimento de Saúde, integrada ao SUS como um dos elementos da rede de Atenção. O que implica a atuação dos farmacêuticos como pro� ssionais de saúde em todos os âmbitos e áreas do ofício.

A coisa mais difícil e cansativa é ten-tar explicar o óbvio, dizia o cronista carioca Nelson Rodrigues. A obviedade ululante de que os farmacêuticos são pro� ssionais de saúde - que assim de-

vem ser reconhecidos e posicionados nas esferas de trabalho do SUS – ain-da precisa ser explicada aos gestores públicos, aos formuladores das polí-ticas sanitárias nos diferentes níveis de governo.

Essa é uma das frentes de trabalho do CRF-SC, que atua nos Conselhos de Saúde, nos parlamentos estaduais, no Congresso, nas prefeituras e Câmaras de Vereadores, e em todos os fóruns nos quais pode esclarecer, exortar, in-centivar e pressionar o poder público a incluir a política de Assistência Far-macêutica integral nos planos gover-namentais de saúde.

Outra frente que exige atenção com-plexa é interna. Uma parte da categoria - isolada em laboratórios, assoberbada nas distribuidoras, multi-atarefada nas vigilâncias, pressionada nas farmácias comerciais e privadas - necessita estímu-lo e apoio para, ainda que nessas con-dições estafantes, continuar a exercer, como de fato o faz, seu papel social de guardiã e protetora da saúde de todos

os brasileiros. O CRF-SC está atento a essas demandas dos farmacêuticos.

Essa edição recupera momentos decisivos da pro� ssão farmacêutica no Brasil e no mundo. Explicita qual o pensamento político e � losó� co que tem guiado o CRF-SC e rece-bido a aprovação dos farmacêuticos catarinenses em expressivas votações. E delineia a linha de atuação que se pretende manter: de defesa da saúde pública, integral e gratuita; do direi-to do cidadão brasileiro à Assistência Farmacêutica; do avanço na formação acadêmica; e da postura de assumir um papel de protagonista na formulação das políticas públicas de saúde.

Nesses 50 anos, o CRF-SC apresenta-se como um Egrégio maduro em suas concepções e vigoroso nas intervenções que realiza. Fiscaliza a atuação pro� ssio-nal, guarda a Ética, capacita e quali� ca os farmacêuticos catarinenses, assume responsabilidades e papéis preponde-rantes nas lutas políticas e sociais que envolvem a categoria. A maturidade acontece quando tomamos posse do que nós somos, para aí então poder nos dividir com os outros. Isso faz parte do processo de maturidade. É nesse estágio que o CRF-SC se encontra, com todos os farmacêuticos: no estágio do encontro verdadeiro com a identidade pro� ssional, de tomar posse do que ser farmacêutico representa na saúde, para poder dividir com a sociedade.

EDITORIAL

3AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

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AGOSTO 20114ESPAÇO FARMACÊUTICO

UM ESTRANHONO NINHO

Áreas de atuação do farmacêutico que são pouco desenvolvidas durante o curso de graduação assumem dimensões fascinantes durante a experiência na Residência Integrada Multiprofissional em saúde: do trabalho na emergência hospitalar à detecção de conflitos farmacoterapêuticos, a atuação do farmacêutico demonstra o quanto o SUS precisa do farmacêutico para incrementar o processo de cuidado à saúde do brasileiro. Aumentar essa participação é uma das bandeiras do CRF-SC.

A Experiência do farmacêutico na Residência Integrada Multipro� ssio-nal em Saúde HU-UFSC

por LEANDRA VITAL PIRES

A residência integrada multipro� ssional em saúde (RIMS) é uma modalidade de especia-

lização lato sensu, sob a forma de treinamento em serviço nas áreas de concentração: Atenção Alta com-plexidade e Atenção em Urgência e Emergência. As atividades são desenvolvidas no Hospital Univer-sitário da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC).

A primeira turma iniciou suas atividades em 2010 e o programa tem duração de 2 anos, equivalentes a um total de 5760 horas, sendo 1.152 horas teóricas e 4.608 horas práticas, em regime de dedicação exclusiva do pro� ssional residente, sob supervisão docente-assistencial. Os residentes recebem uma bolsa

auxílio paga pelo Ministério da Educação e de valor isonômico ao da Residência Médica.

O principal objetivo da Residên-cia Integrada Multipro� ssional em Saúde é formar pro� ssionais, por meio da educação em serviço, para atuar em equipe multipro� ssio-nal na atenção de urgência e alta

complexidade fundamentadas nos princípios e diretrizes propostos pelo SUS.

Além das vagas aos pro� ssionais de farmácia e farmácia-bioquímica, a RIMS abrange vagas para outras pro� ssões da área da saúde como enfermagem, fonoaudiologia, nutrição, odontologia, psicologia e

a residente Leandra participou de cirurgias e de todo o cotidiano hospitalarNO CORAÇÃO DOS HOSPITAIS:

EFserviço social. Atualmente são oferecidas 02 vagas para farmácia e 02 vagas para farmácia-bioquímica, sendo 01 vaga de farmácia para Urgência e Emergência e 01 vaga para Alta Complexidade e 01 vaga de farmácia- bioquí-mica para a Urgência e Emergência e 01 vaga para Alta Complexidade.

O acompanhamento das rotinas do serviço da unidade de emergência fazem parte do cronograma do residente farmacêutico da área de emergência. Já o residente farmacêutico da alta complexidade inicia suas atividades acompanhando as rotinas das clínicas internações médicas e clínicas internações cirúrgicas.

As visitas aos diversos setores do hospital para conhe-cer as rotinas e serviços gerais do ambiente hospitalar são também atividades dos residentes de ambas as áreas de concentração. É um momento de ambientação para o residente.

O farmacêutico foi inserido na equipe multipro� s-sional de saúde como o pro� ssional responsável pelo acompanhamento farmacoterapêutico. A Diretriz atual da Organização Mundial de Saúde (OMS) é fortalecer a prática farmacêutica direcionada para o paciente, mudando o paradigma de “ distribuidor do medica-mento” para o “cuidador da farmacoterapia”.

Por esse motivo, no ambiente hospitalar os residentes farmacêuticos devem estar ao lado paciente exercendo atenção farmacêutica por meio de várias atividades como:

• Integração á equipe multipro� ssional em todas as questões envolvendo o paciente, desde a passagem de plantão, passando pela visita á beira dos leitos até sua alta,

• Visita clínica multipro� ssional ao leito,• Visita especí� ca do pro� ssional farmacêutico ao

paciente para o acompanhamento farmacoterapêutico (histórico do uso de medicamentos, orientações ao paciente quanto obtenção, armazenamento domiciliar, administração de medicamentos garantindo a aderência ao tratamento e consequente uso racional do medica-mento).

• Análise das prescrições médicas antes de serem enviadas ao Serviço de Farmácia (padronização dos medicamentos prescritos, dose, via de administra-ção, frequência, interações medicamentosas, interação fármaco-alimento farmacocinética, farmacodinâmica, exames laboratoriais, necessidade de ajuste da dose, alergias e outros).

• Acompanhamento das justi� cativas de uso de anti-microbianos e medicamento de uso restrito.

Em resumo: Fazer intervenções farmacêuticas para a prevenção e correção de problemas relacionados a medi-camentos, fazer o acompanhamento farmacoterapêutico documentado do paciente, com o propósito de alcançar resultados especí� cos que melhorem a sua qualidade de vida.

A residência me trouxe a oportunidade de conhe-cer áreas que o farmacêutico pode atuar e que eu não tive a oportunidade de conhecer durante a graduação em farmácia como por exemplo o trabalho em uma unidade de emergência hospitalar, além de aprimorar os conhecimentos teóricos relacionadas a pro� ssão farmacêutica adquiridos durante o curso de graduação farmácia.

Também desenvolvi uma formação técnica-cientí� ca sólida durante o curso de residência, principalmente na utilização racional e segura dos fármacos e no aprimo-ramento de habilidades clínicas para a detecção, solução e prevenção de problemas relacionados aos medicamen-tos. Cursei a residência do 2º ano da área de concentra-ção Atenção em Urgência e Emergência.

Nas primeiras semanas, eu acompanhei alguns atendi-mentos feitos aos pacientes que procuravam a emergên-cia, desde o acolhimento á atendimentos mais urgentes como os realizados em sala de reanimação.

Aos poucos fui me integrando à equipe, conferindo os medicamentos dos carrinhos de emergência, a dispen-sação dos medicamentos para o atendimento no serviço de emergência, acompanhando o preparo e adminis-tração dos medicamentos pela equipe de enfermagem, auxiliando a equipe com orientações para a correto preparo dos medicamentos.

Fazem parte da minha rotina diária, também, as atividades relacionadas a farmácia clínica como detecção e prevenção de possíveis interações medicamentosas por meio de observação das prescrições médica dos pacien-tes internados na Unidade de Emergência.

Acompanhar a evolução médica e de enfermagem nos prontuários dos pacientes ajuda na detecção e prevenção de possíveis reações adversas aos medicamentos. “Passei também por estágios no Centro de Informações Toxi-cológicas e Núcleo de Vigilância Sanitária Hospitalar para complementar a experiência adquirida durante a vivência na Unidade de Emergência” enfatiza Leandra.

Durante o 2º ano de residência, os residentes farma-cêuticos da área de emergência passarão por estágios mais especí� cos como a Unidade de Terapia Intensiva e alguns estágios fora do Hospital Universitário, como no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, Unidade de Pronto Atendimento e Unidades Básica de Saúde.

O farmacêutico hospitalar Marcos César Wagner, que é preceptor da área de concentração de atenção as

urgências e emergências, além de chefe da dispensação do serviço de farmácia do HU, a� rma que “para nós, preceptores farmacêuticos, é uma experiência nova e de-sa� adora. Aprendemos junto com a residência. Percebo também maior integração do serviço de farmácia com as outros setores do hospital, pois residentes ajudam a fazer esse intercâmbio. Temos que formar profi ssionais que, além de técnicos, sejam integrados com espírito de equipe - pois a residência tem demonstrado a im-portância de toda equipe multiprofi ssional em benefí-cio dos usuários do SUS”

“Enquanto farmacêutica responsável-técnica pelos setores de Nutrição Parenteral, Farmácia Semi-Indus-trial e Quimioterapia e, agora preceptora das atividades do residente em serviços de alta complexidade, posso a� rmar que a RIMS HU/UFSC vem me estimulando a construir novos conhecimentos nestes serviços, inte-ragindo de forma mais dinâmica e respeitosa com os demais pro� ssionais da área da saúde, bem como a bus-car melhorias na qualidade da assistência farmacêutica ao paciente hospitalizado.”, comenta Isabel Canabarro. “Por meio desta experiência, tenho observado que o modelo de residência multidisciplinar tem valorizado a importância da atuação do pro� ssional farmacêutico no contexto hospitalar, uma vez que revela a necessidade real de atenção farmacêutica, por meio da frequente identi� cação de problemas relacionados à farmacotera-pia”, a� rma a farmacêutica Isabel Canabarro.

Todas essas experiências de trabalho enriquecem minha formação pessoal e pro� ssional, pois a residên-cia em atenção em urgências e emergência me permite atuar diretamente em uma equipe multipro� ssional de forma integrada de acordo com os princípios e diretrizes propostos pelo SUS.

residente de Farmácia Hospitalar no Hospital Universitário da UFSC

LEANDRA VITAL PIRES

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7AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

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AGOSTO 20118ESPAÇO FARMACÊUTICO

A ODISSEIA

GALÊNICA A dialética farmacêutica consiste em ter de se reinventar completamente século após século para poder reencontrar sua verdadeira natureza, a de uma ciência da saúde próxima da comunidade. De Galeno até hoje, os ciclos do saber farmacêutico são marcados pelo eterno retorno à essência da profissão: a relação das pessoas com o medicamento, em todos os níveis.

FONTE: informações históricas, teóricas e científi cas de Celso Spada, Doutor em Farmácia pela USP, docente da Universidade Federal de

Santa Catarina; Jair Ribeiro Chagas, Doutor em Biologia Molecular, docente da Universidade Federal de São Paulo/Universidade de Mogi

das Cruzes; Kátia Flávia Fernandes Silva, Doutora em Química Analítica pela Unicamp, docente da Universidade Federal de Goiá; Selma

Rodrigues de Castilho, Doutora em Engenharia Biomédica, docente da Universidade Federal Fluminense; Fabíola Vieira, especialista em

Política e Gestão Pública.

Cláudio Galeno ou Élio Galeno, em latim Claudius Galenus, (Pérgamo, c. 129 - provavelmente Sicília, c. 217), mais conhecido como Galeno de Pérgamo foi um proeminente médico e � lósofo romano de origem grega, e provavelmente o mais talentoso médico inves-tigativo do período romano. Suas teorias dominaram e in± uenciaram a ciência médica ocidental por mais de um milênio. Seus relatos de anatomia médica eram ba-seados em macacos, visto que a dissecção humana não era permitida no seu tempo, mas foram insuperáveis até a descrição impressa e ilustrações de dissecções humanas por Andreas Vesalius em 1543. Galeno escreveu uma pequena obra chamada "O Melhor Médico é Também um Filósofo", e ele via a si próprio como sendo ambos, o que signi� cava embasar a prática médica no aparente conhecimento teórico ou "� loso� a", como era chamado em seu tempo. filósofo que, da observação e contato com os pacientes,

estruturou o conhecimento em ciência.

GALENO:

AGOSTO 20118ESPAÇO FARMACÊUTICO

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9AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

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A Farmácia como pro� ssão parece ter-se origi-nado no mundo Árabe, na primeira metade do século IX, de onde passou ao ocidente latino no século XI, quando se tem notícia

da existência de farmácias públicas. Pouco mais tarde, no ano de 1233, no sul da Itália, foi promulgado o Édito de Frederico II da Suábia, que decretava a separação entre o exercício da medicina e o exercício da farmácia, sendo

portuguesas, francesas ou espanholas aportavam com suas esquadras, onde sempre havia um cirurgião barbeiro ou algum tripulante com uma botica portátil cheia de dro-gas e medicamentos. Com a vinda de ¶ omé de Souza, trazendo autoridades, funcionários civis e militares, tropa de linha e diversos o� ciais, ao todo, aproximadamente mil pessoas se instalaram na Bahia, entre elas Diogo de Castro, primeiro boticário do Brasil, formado pela Universidade de Coimbra. Vieram também nesta armada seis jesuítas, quatro padres e dois irmãos, che� ados por Manuel da Nó-brega. Os jesuítas trataram logo de instituir enfermarias e boticas em seus colégios, colocando um irmão para cuidar dos doentes e outro para preparar remédios.

Em São Paulo, o irmão que preparava os remédios era José de Anchieta, por isso podemos considerá-lo o pri-meiro boticário de Piratininga. Aos poucos, as boticas jesuítas passaram a atender ao povo em, que as preferia, ao invés daquelas dirigidas por meros comerciantes que costumavam errar no aviamento das receitas e não ti-nham escrúpulos em substituir as drogas prescritas. O medicamento extraordinário, no entanto, a penicilina da época, era a Tríaga Brasílica, que se manipulava mediante fórmula secreta, usada contra a mordedura de animais peçonhentos, em doenças febris, e principalmente como antídoto e contraveneno (“exceto os corrosivos”).

No século XVII a pro� ssão farmacêutica já tinha um sig-ni� cado preciso: arte e técnica da combinação de substâncias simples para formar compostos, remédios e antídotos. No século XVIII, botica e boticário eram os vocábulos que identi� cavam a farmácia e aqueles que a ela

se dedicavam. A primeira Farmácia Pública de que se tem notícia foi fundada em Bagdá, pôr ordem do Califa ALI-MAZUR, no ano de 776.D.C.

considerado por muitos, a Carta Magna da Farmácia.No Brasil, Desde o princípio do século XVI as “Orde-

nações do Reino”, conjunto de leis portuguesas que rege-ram o Brasil durante todo o período colonial, impunham regulamentos à matéria farmacêutica, estabelecendo que o comércio das drogas e medicamentos era privativo das boticas e seus boticários. No entanto, o impacto sanitário dessa medida era substancialmente comprometido pela fa-cilidade com que qualquer pessoa podia obter sua “carta de aprovação” para o exercício da pro� ssão. As boticas só foram autorizadas, como comércio, em 1640 e multiplicaram-se, de norte a sul, dirigidas por boticários aprovados em Coimbra pelo físico-mor, ou por seu delegado comissário na capital do Brasil, Salvador.

Remédios da “civilização” só apareciam quando expedições eram preferidas pelo povo, porque os comerciantes erravam o aviamento das receitas.

BOTICAS JESUÍTICAS

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AGOSTO 201110ESPAÇO FARMACÊUTICO

Um século depois, em 1744, foi outorgada legislação, historicamente chamada de “Regimento 1744”, que proibia a distribuição de drogas e medicamentos por estabelecimentos não-autorizados e apreensão de estoques em caso de descumprimento; criava a � gura do pro� ssional responsável, estabelecia critérios mínimos para a estruturação física dos estabelecimentos, criando ainda a � scalização sobre o estado de conservação de drogas e plantas medicinais.

Este regimento, considerado modelar para a sua época, enfrentou sérios obstáculos no seu cumprimento. Foi depois da vinda da família real que os movimentos culturais e cientí� cos europeus � zeram-se sentir mais acentuadamente na colônia. Em 18 de fevereiro de 1808, D. João VI instituiu os estudos médicos no Hospital Militar da Bahia, com ensino de anatomia, cirurgia e dos princípios elementares da matéria médica e farmacêutica.

Formalmente, o ensino farmacêutico iniciou-se com a Lei de 3 de outubro de 1832, que criou os cursos de Far-mácia vinculados às escolas de medicina do Rio de Janeiro e da Bahia e determinou a transformação das academias em escolas ou faculdades médico-cirúrgicas, em que passariam a ser diplomados médicos (seis anos) e farmacêuticos (três anos e mais um ano, concomitante ou não, de prática em botica). Em 1837 foram diplomados os primeiros seis farmacêuticos brasileiros pelo curso de Farmácia da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

A industrialização do medicamento, ocorrida a partir de 1920 e potencializada após a Segunda Guerra Mundial foi responsável pela drástica mudança na Farmácia. Por um lado, a enorme quantidade de medicamentos disponíveis e sua variada ação farmacológica exigiram a formação de um pro� ssional com sólidos conhecimentos, que possibilitassem a racionalidade na comercialização e garantia no uso correto do medicamento.

Os autores Hepler & Strand realizaram uma análise sobre esses três períodos que consideram mais importantes da atividade farmacêutica no século XX, de� nindo-os como: o tradicional, o de transição e o de desenvolvimento da atenção ao paciente. O papel tradicional foi desenvolvido pelo boticário que preparava e vendia os medicamentos, fornecendo orientações aos seus clientes sobre o uso dos mesmos. Era comum prescrevê-los. Conforme a indústria farmacêutica começou a se desenvolver, este papel do farmacêutico paulatinamente foi diminuindo. Começa assim o período de transição. As atividades farmacêuticas voltaram-se principalmente para a produção de medicamentos numa abordagem técnico-industrial. Os países do Primeiro Mundo concentraram-se no desenvolvimento de novos fármacos e o Brasil, que possui um parque industrial farmacêutico predominantemente multinacional, trabalhou a tecnologia farmacêutica adaptando as fórmulas às condições climáticas do país.

A publicação da Lei 5.991/7312, que ainda está em vigor, conferiu às atividades farmacêuticas um enfoque mer-cantilista. Qualquer empreendedor pode ser proprietário de uma farmácia ou drogaria, desde que conte com um pro� ssional farmacêutico que se responsabilize tecnicamente pelo estabelecimento.

Dois deles, Manoel José Cabral e Calixto José de Arieira, fundaram em 1839 o primeiro estabelecimento independente de ensino de farmácia: Escola de Farmácia de Ouro Preto. Na segunda metade do século XIX as boticas, redutos restritos a poucos privilegiados, eram os locais em que, com habilidade e pro� ssionalismo, o farmacêutico preparava os remédios e respondia perguntas sobre seu uso e pro-priedades terapêuticas. É nessa fase que o farmacêutico exerce papel importante suprindo parcialmente a omissão do Estado na atenção individual à saúde. É ele quem responde às demandas por meio da pesquisa, produção, comercialização e da orientação do uso do medicamento, estabelecendo, desta maneira, uma relação intrínseca com a comunidade. Em função disto o ensino ministrado na época era voltado para a prática pro� ssional de responder às necessidades da comunidade levando em conta a atenção individual ao cidadão.

11AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

Este é o marco da perda do papel social desenvolvido pela farmácia, conforme estudo publicado pela farmacêutica Fabíola Vieira, especialista em politicas públicas e gestão. “O estabelecimento comercial farmacêutico voltou-se para o lucro e o farmacêutico começou a perder autonomia para o desempenho de suas atividades. O pro� ssional passou a atuar como mero empregado da farmácia ou drogaria, perdeu o respeito da sociedade e refugiou-se em outras atividades, distanciando-se de seu papel de agente de saúde”, a� rma a especialista. O medicamento passou a ser visto com uma solução "mágica" para todos os problemas humanos, assumindo o conceito de bem de consumo em detrimento ao de bem social.

lei que conferiu um enfoque mercantilista à Farmácia prejudicou a visão do farmacêutico como um agente de saúde.

Aqui (também) se vende medicamentos:

Por outro lado, observou-se uma grande crise nas farmácias e pequenas empresas de capital nacional que não agregavam aos seus métodos e produtos os avanços tecnológicos das grandes empresas internacionais, con-sequência de estruturas de pesquisa bem estabelecidas, e as estratégias de distribuição e divulgação junto à classe médica. Após 1930, na área do ensino, começa a tomar vulto um processo de mudanças na estrutura curricular dos cursos de Farmácia, visando à formação de um farma-cêutico que, além de habilitado ao exercício das atividades tradicionais na Farmácia, estivesse também habilitado a desempenhar suas atividades na indústria e realizar exames

clínico-laboratoriais. Gradativamente o per� l do pro� ssional tradicional foi

se modi� cando, passando o ensino a focar-se na formação para outros setores do âmbito de atividade. Essa tendência se materializa na proposição do primeiro currículo míni-mo (1962), que implementa, em substituição à ênfase ao

farmacêutico, as disciplinas voltadas para as habilitações desse pro� ssional, em especial, a de Bioquímica, voltada para o laboratório de análises clínicas.

A tendência à fragmentação do conteúdo a ser trans-mitido na formação do farmacêutico, evidenciado no currículo de 1962, foi fortalecida no currículo de 1969 sob a égide da Reforma Sanitária de 1968 (Lei n° 5.540 de 28 de novembro de 1968). Este currículo representou ainda o atendimento aos preceitos contidos no acordo MEC/USAID. No Parecer 287/69 do Conselho Federal de Educação, o distanciamento das atividades da Farmácia é justi� cado pelo fato de que: “... a indústria farmacêutica moderna é uma indústria de transformação, enquanto a Farmácia representa um estabelecimento predominante-mente comercial, com um artesanato técnico em involução”. Desta concepção resultou a estrutura curricular dividida em ciclo pré-pro� ssional, primeiro ciclo pro� ssional e se-gundo ciclo pro� ssional, correspondendo respectivamente às modalidades: Farmacêutico, Farmacêutico-Industrial e Farmacêutico-Bioquímico”.

O afastamento do pro� ssional das farmácias e drogarias � ca evidente ao considerar-se que, já em 1973, 97% dos estudantes de Farmácia do País haviam optado pela área de análises clínicas, tentados por melhores salários, por promessas de bons empregos e desmotivados pelas críticas à atuação pro� ssional na assistência farmacêutica.

Até o � nal dos anos 60, ± oresceu, no Brasil, a farmácia da botica e do boticário, com sua o� cina. Esse estabe-lecimento era também o núcleo central das cidades, uma espécie de polo magnético que atraía todos da comunidade. O farmacêutico era a � gura central e das mais acreditadas. Mas a ebulição industrial arruinou, junto com os laboratórios das farmácias, o histórico prestígio do farmacêutico como pro� ssional da saúde, sanitarista por excelência, conselheiro e con� dente.

11AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

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AGOSTO 201112ESPAÇO FARMACÊUTICO

A década de 80 foi marcada por profundas mudan-ças na área da saúde que culminaram com a realização, em 1986, da VIII Conferência Nacional de Saúde. Em 1988 foi promulgada a Constituição da República e com ela nasceu o Sistema Único de Saúde – SUS, regulado pela Lei Orgânica da Saúde nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Nasce com o SUS a participação social, por meio das instâncias colegiadas de controle social do SUS, Conferências e Conselhos de Saúde, criados pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Paralelamente, os estudantes de Farmácia, a partir do X Encontro Nacional dos Estudantes de Farmácia – X ENEF, iniciaram um processo de discussão sobre a identidade do pro� ssional farmacêutico, desencadeando ainda uma profunda re± exão sobre o processo de formação desse pro� ssional. Com esse objetivo, a Executiva Nacional dos Estudantes de Farmá-cia – ENEFAR promoveu cinco seminários nacionais no período de 1987 a 1993.

Mas, en� m, o farmacêutico em meio a uma grave cri-se de identidade pro� ssional iniciou sua reação fazendo nascer nos anos 80 a prática da farmácia clínica. Passou a se conscientizar do seu papel para a saúde pública. A prática farmacêutica volta a orientar-se para a atenção ao paciente e o medicamento passa a ser visto como um meio ou instrumento para se alcançar um resultado, seja este paliativo, curativo ou preventivo. Ou seja, a � nalidade do trabalho deixa de focalizar o medicamento enquanto produto farmacêutico e passa a ser direcionada ao paciente, com a preocupação de que os riscos inerentes à utilização deste produto sejam minimizados. O lamentável desastre ocorrido em 1962, em virtude do uso da talidomida por gestantes, ocasionando uma epidemia de focomelia, de-

sencadeou um novo olhar sobre o uso dos medicamentos e foi o marco para o surgimento das ações de farmacovi-gilância. Passou-se então ao período de desenvolvimento da atenção ao paciente.

No Brasil, a partir de meados dos anos 1990, a presença marcante das ações dos conselhos de farmácia e vigilância sanitária em estabelecimentos comerciais farmacêuticos está mudando o panorama nacional. A exigência da presença do farmacêutico no setor privado está trazendo-o para o desempenho de suas funções em farmácias e drogarias. O mesmo está ocorrendo no serviço público, embora de forma muito mais lenta. Hoje, mais do que nunca, é possível encontrar farmacêuticos desempenhando funções dentro das secretarias municipais da saúde, mas o número de pro� ssionais está muito aquém das reais necessidades. Ainda não está garantida a sua presença em todas as uni-dades básicas de saúde, mesmo existindo dispositivo legal que determine isto.

No sentido da necessidade de fomento à qualidade da assistência farmacêutica, em 1990, Hepler & Strand propuseram um conceito de atenção farmacêutica que difundiu-se mundialmente: "é a provisão responsável do tratamento farmacológico com o propósito de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida do paciente". Em 1993, a Organização Mundial da Saúde publicou o documento conhecido como "Declaração de Tóquio", resultado do trabalho do grupo que se reuniu nesta cidade para discutir o papel do farmacêutico no sis-tema de atenção à saúde. Abre-se espaço sem precedentes para a ampliação da prática farmacêutica. Este novo modo de pensar a atenção ao paciente pelo farmacêutico tem se difundido com rapidez e tem sido debatido com relação às potencialidades para a saúde pública. O farmacêutico está voltando a cumprir o seu papel perante a sociedade, corresponsabilizando-se pelo bem estar do paciente e tra-balhando para que este não tenha sua qualidade de vida comprometida por um problema evitável, decorrente de uma terapia farmacológica. Este é um compromisso de extrema relevância, já que os eventos adversos a medica-mentos são considerados hoje uma patologia emergente.

Em agosto de 2001, realizou-se em Brasília o Fórum Nacional de Avaliação das Diretrizes Curriculares para os Cursos de Farmácia. Neste Fórum, representantes das IES, dos estudantes e das entidades farmacêuticas aprovaram a proposta de formação do Farmacêutico Generalista. Apro-vada com pequenas modi� cações pelo Conselho Nacional

profissionais se afastam das farmácias e migram para a área das Análises Clínicas, atraídos por melhores salários e perspectivas na carreira.

Na década de 1970,

13AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EFde Educação (Parecer CNE 1300/2001) e homologada pelo Ministro da Educação (Resolução CNE/CES 02/2002) as diretrizes de� nem um per� l multipro� ssional e mul-tidisciplinar, conforme preceitos do SUS, e estabelece as competências e habilidades necessárias para o exercício da pro� ssão.

atenção farmacêutica é provisão responsá-vel do tratamento farmacológico com o pro-pósito de alcançar resultados concretos que melhorem a qualidade de vida do paciente.

Bem conceituado:

Contribuição da profissão farmacêutica para a promoção da saúde

Dentro deste novo contexto da prática farmacêutica, no qual a preocupação com o bem estar do paciente passa a ser a viga mestra das ações, o farmacêutico assume papel fundamental, somando seus esforços aos dos outros pro-� ssionais de saúde e aos da comunidade para a promoção da saúde.

Os autores James & Rovers identi� caram quatro categorias de iniciativas que podem ser implantadas pelos farmacêu-ticos para a melhoria do estado de saúde da comunidade:

• Acompanhamento e educação do e para o paciente;• Avaliação dos seus fatores de risco;• Prevenção de doenças;• Promoção da saúde e vigilância das doenças.

Ainda segundo os autores , a promoção da saúde pode ser feita através de três domínios que dão suporte aos serviços oferecidos à população:

Disposição de serviços de prevenção clínica; Vigilân-cia e publicações em saúde pública e Promoção do uso racional de medicamentos pela sociedade. A abordagem de James & Rovers está alinhada aos tópicos relacionados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em relação a medidas que podem ser adotadas para a promoção da saúde.

Transpondo para a nossa realidade as estratégias defendidas mundialmente, é possível dizer que o farmacêutico (da drogaria, farmácia comercial ou farmácia privativa dos hospitais e unidades ambulatoriais de saúde) pode tra-balhar sob três pontos básicos: reorientando o serviço de farmácia, desenvolvendo as habilidades da comunidade e incentivando os indivíduos à ação comunitária.

Reorientação do serviço de farmácia

Estudo realizado em farmácias e drogarias sobre o ma-nejo da diarréia utilizando a terapia de re-hidratação oral concluiu que estes estabelecimentos podem se tornar postos avançados de saúde quando bem utilizados. Este potencial acena para o desempenho de um importante papel para a saúde pública, diferente da prática rotineira até então observada.

Nos últimos 30 anos, a farmácia privativa e as drogarias decifraram e entregaram aos usuários do serviço os pro-dutos correspondentes, quase sempre sem qualquer tipo de orientação sobre o uso dos mesmos. A manipulação de fórmulas também não fugiu a esta regra. Em relação aos serviços públicos, os governos e dirigentes discutem a questão do abastecimento de medicamentos e as estra-tégias de � nanciamento, mas poucos reconhecem que os medicamentos são apenas um instrumento da prestação de um serviço e geralmente não se preocupam com a estruturação e a organização deste serviço. A maioria das farmácias de unidades básicas de saúde funciona porque um leigo ou pro� ssional com parcos conhecimentos sobre

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AGOSTO 201114ESPAÇO FARMACÊUTICO

Vale lembrar que a ausência de serviço de farmácia adequado, que zele pelo uso racional de medicamentos em parceria com os demais serviços e pro-fissionais do sistema de saúde, constitui um problema importante de saúde pública. Faz-se necessário atentar para o uso racional dos medicamentos, de forma que os pacientes recebam os medicamentos para a indicação apropria-da, nas doses, via de administração e duração apropriadas; que não existam contra-indicações; que a probabilidade de ocorrência de reações adversas seja mínima; que a dispensação seja correta e que haja aderência ao tratamento. Está comprovado que os serviços farmacêuticos de atenção primá-ria contribuem para a diminuição da internação ou do tempo de permanência no hospital, à assistência aos portadores de doenças crônicas, à prática de educação em saúde e, para uma intervenção terapêutica mais custo-efetiva .

Dentro desta lógica, o serviço de farmácia deve assumir papel complementar ao serviço médico na atenção à saúde. O paciente que sai do consultório com uma receita terá maior resolução de seus problemas se tiver acesso ao tratamento prescrito e se a prescrição atender à racionalidade terapêutica. Mas não é só isto. Também é necessário avaliar os fatores que potencialmente podem interferir em seu trata-mento, como: hábitos alimentares, tabagismo, histórico de reações alérgicas, uso de outros medicamentos ou drogas, outras doenças, etc. ou até mesmo a falta de adesão. Esta avaliação, com a possibilidade de intervenção visando à efetividade terapêutica, pode ser alcançada com a implantação da atenção farmacêutica.

O farmacêutico pode ser o primeiro ou o último profissional de saúde que tem contato direto com o paciente – ou seja, antes ou depois da decisão médica pela terapia farmacológica. Desta forma, torna-se co-responsável pela sua qualidade de vida. Tanto o usuário quanto o profissional devem ser vistos na totalidade do seu ser e por isso os conceitos de pessoa, responsabilidade, respeito, verdade, consciência, autonomia, justiça, devem ser interiorizados para mo-delar a conduta profissional.

medicamentos atua na dispensação (auxiliares de enfermagem, auxiliares administrativos, de cozinha, entre outros).Em meio a inúmeras necessidades e demandas, os serviços de farmácia não têm sido devidamente considerados

prioritários na disputa por recursos nos orçamentos da saúde. Talvez a sua importância ainda não esteja explicitada para a maioria dos gestores. Isto é possível constatar pelas condições físicas e de recursos humanos em que se encontram, embora estudos sobre o tema sejam necessários. Dentro da estrutura das unidades de saúde, a farmácia geralmente ocupa pequenos espaços, muitas vezes sem as condições mínimas necessárias para o armazenamento adequado de medicamentos. Ainda é possível encontrar farmácias em que há grades separando o usuário do serviço e o pro� ssio-nal que faz o atendimento. Além disso, falta pessoal quali� cado. Assim, não há condições apropriadas para que este serviço desempenhe a sua função e para que de fato as relações sejam mais humanizadas.

essa é a essência, nobre e fundamental, da atenção farmacêutica.

CO-RESPONSABILIDADE PELA VIDA:

o farmacêutico assume papel fundamental no processo de atenção à saúde, e avalia de forma holística o paciente.

Na concepção histórica,

15AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

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A participação organizada e democrática da sociedade no processo de construção do SUS tem demonstrado o pepel essencial e estratégico do controle social na de� nição e implementação das políticas públicas no campo da saúde.

Nesse contexto, a atuação de cerca de 2.500 delegados presentes na 11ª Conferência Nacional de Asssistência Farmacêutica, em Brasília, no ano de 2005, foi essencial para o aprofundamento das questões referentes à de� nição das diretrizes e mecanismos necessários à inserção da Assistência Farmacêutica nas ações de saúde.

“Esse processo identi� cou como essencial o debate sobre a Assistência Farmacêutica e o modelo de atenção à saúde, com ênfase sobre as questões inerentes à distribuição, à dispensação e ao uso racional de medicamentos, nas perspectiva da promoção da saúde”, analisa o farmacêutico Norberto Rech. “ E devemos conduzir esse debate de forma a que não seja marcado pela submissão aos interesses das grandes potências internacionais e aos interesses mercantis, pelo desemprego e pela exclusão social, mas seja construída na perspectiva correta de um País soberano, independente e cuja nacção tenha acesso garantido a condições dignas de saúde, de

dos Conselhos de Saúde, com planejamento nas três esferas de governo.,“Também � cou evidenciado que ainda persistem grandes apreensões,

como: até que ponto é possível avançar sem criar incompatibilidades com a área econômica? Até onde será garantida a possibilidade de regular em campos onde as multinacionais são donas de mercado e as redes de farmácia privada dominam? Como superar a dependência de matéria-prima e implementar projetos de pesquisa sem revogar ou enfrentar a Lei de Propriedade Industrial?”, comenta a coordenadora-geral da CNMAF, Clair Castilhos.

Nesse aspecto, a área da saúde é estratégica. “ A saúde carrega consigo imensas possibilidades pedagógicas de demonstração das desigualdades, de desvelamento das injustiças sociais, além de uma inestimável capacidade mobilizadora que só a consciência do direito à vida pode gerar”, observa Clair Castilhos. “Não é mais possível adiar a discussão fundamental, que trata das questões estruturais de economia política, e novas reordenações do estado, uma vontade que � cou explícita na CNMAF”.

trabalho e de vida”, conclui Rech.A Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica

foi resultado de um trabalho de articulação política, técnica e opera-cional. Ao traçar um quadro real dessa área no SUS, a Conferência teve um caráter exploratório dos problemas e das ações inovadoras, dos entraves e das soluções criativas, da interface técnica e econômica, comercial e cientí� ca.

Entre as propostas aprovadas estão:

- o acesso do usuário e das administrações municipais a medicamentos seguros, e� cazes, produzidos com qualidade de acordo com a necessidade local, com regularidade, su� ciência e orientação para o uso correto. Para isso é necessário implantar e organizar os serviços farmacêuticos, contratar e capacitar pessoal, educar o usuário, desenvolver ciência e tecnologia e assegurar � nanciamento.- Elaborar normas e protocolos para a assistência farmacêutica, explici-tando suas diretrizes, prioridades e linhas estratégicas de ação.- Equipar as farmácias, em todos os níveis de complexidade, com pro� s-sional farmacêutico e com recursos materiais para a garantia da qualidade da assistência farmacêutica prestada para a população.- Estruturar os serviços de assistência farmacêutica nos municípios.- Implantar uma política única de Assistência Farmacêutica, sob � scalização

ação do farmacêutico é proteção para a sociedade na relação entre médicos, indústria e usuários.

Salvaguarda:

Até que ponto é possível avançar nas regulações sem criar conflitos com a área econômica?

Apreensões:

Equipar as farmácias, em todos os níveis de complexidade, com profissional far-macêutico e com recursos materiais para a garantia da qualidade da assistência farmacêutica prestada para a população.

Aprovado e Homologado:

OS AVANÇOS DA CONFERÊNCIA NACIONAL DE MEDICAMENTOS E ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

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AGOSTO 201116ESPAÇO FARMACÊUTICO

A POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

APROVADA pelo Plenário do Conselho Nacional de Saúde na Resolução N ° 388 de 6 de maio de 2004, a Política nacional de Assistência Farmacêutica se estabelece com base nos princípios de ser parte integrante da Política Nacional de Saúde, envolvendo um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde e garantindo os princípios da universalidade, integra-lidade e equidade.

A Assistência Farmacêutica é compreendida como uma política pública que norteia a formulação de políticas setoriais, como as de medicamentos, ciência, tecnologia, desenvolvimento industrial e formação de recursos humanos. Também envolve o medicamento como insumo essencial, visando o seu acesso e uso racional, e a interação direta do farmacêutico com o usuário, visando uma far-macoterapia racional e a obtenção de resultados de� nidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida.

A Política Nacional de Assistência Farmacêutica engloba eixos estratégicos como a garantia de acesso, a manutenção dos serviços de assistência farmacêutica na rede pública de saúde, nos diferentes níveis de atenção e a descentralização das ações, com de� nição das responsabilidades das diferentes instâncias gestoras, visando a superação da fragmentação em programas desarticulados.

Entre os demais eixos da PNAF, estão a modernização e ampliação da capacidade instalada dos Laboratórios O� ciais, para suprir o SUS com produção adequada e cumprir o papel de referência de custo e qualidade da produção de medicamentos. A RENAME deve ser atualizada periodicamente para servir de instrumento racionalizador das ações no âmbito da assistência farmacêutica.

A Resolução do Conselho Nacional de Saúde, homologada pelo Ministério da Saúde, também prevê a implementação de forma inter-setorial de uma política pública de desenvolvimento cientí� co e tecnológico, com o objetivo de desenvolver inovações que atendam aos interesses nacionais. E a construção de uma política de Vigilância Sanitária que garanta o acesso a produtos seguros, e� cazes e com qualidade, o que passa pela promoção do uso racional de medicamentos, por intermédio de ações que disciplinem a prescrição, a dispensação e o consumo.

política nacional trata de um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletivo, tendo o medicamento como insumo essencial e a pesquisa, desenvolvimento, produção, seleção, programação, aquisição, distribuição, dispensação e garantia de qualidade monitorados pelos profissionais farmacêuticos.

Assistência Farmacêutica:

17AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EFA NOVA CONSTRUÇÃO

DO SUSAté setembro, os farmacêuticos do Brasil se encontram em reuniões regionais para preparar uma participação qualificada na 14ª Conferência Nacional de Saúde. E, com isso, já assumiram a vanguarda dos debates e desempenham um papel protagonista na construção de um modelo mais avançado do SUS

A conquista de uma posi-ção preponderante e ativa dentro do Sistema Único de Saúde não se dá com

apenas uma ação isolada ou um golpe de sorte. Ao contrário, é algo que se constrói com centenas de pequenas ações. E isso é ainda mais difícil e com-plicado de se fazer, porque pressupõe coordenação de esforços, discurso uni-� cado, consenso de opiniões.

Mais de uma vez, ao longo da his-tória, os farmacêuticos perderam a oportunidade de expor à sociedade sua capacitação e importância no processo de cuidado à Saúde. E perderam porque

não foram unidos o su� ciente para apresentar um discurso consistente e pactuado aos gestores públicos.

Dessa vez, não será assim.Uma iniciativa da Fenafar, com apoio

imediato da Enafar e dos Conselhos Regionais de Farmácia está permitindo aos farmacêuticos realizar encontros regionais por todo Brasil, e dessa forma debater e apresentar posições de con-senso sobre a visão que os farmacêuticos têm do SUS e do papel que pretendem desempenhar na Saúde Pública.

O que há de estimulante e, mesmo, de belo nesses encontros, é que eles de imediato inserem os farmacêuticos na

vanguarda do pensamento progressista de construção de um modelo de Saúde

“A ação dos farmacêuticos é a Saúde do Brasil”: uma bandeira a erguer

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AGOSTO 201118ESPAÇO FARMACÊUTICO

Pública universal, integral e gratuito – uma concepção social tão avançada e generosa que ultrapassa os modelos dos países mais desenvolvidos do mundo.

Entenda agora, acompanhando o pensamento de alguns de nossos colegas farmacêuticos, como esta 14ª Con-ferência de Saúde pretende ampliar as conquistas da maior revolução no sistema de Saúde que esse país já viveu em sua história: a implantação do SUS.

“HÁ UMA BANDEIRA que os farmacêuticos precisam levantar”, diz Silvana Nair Leite, presidente da Escola Nacional dos Farmacêuticos. “Ela está pronta, mas ainda não foi

erguida por toda a categoria – e essa bandeira é: A Ação do Farmacêutico é a Saúde do Brasil”. Esta concepção ideológica, � losó� ca, essa postura a ser � rmada diante da sociedade brasileira ainda não foi erguida porque ainda não foi completamente assimilada e introjetada entre os pro� ssionais far-macêuticos brasileiros.

Um valor inerente a essa bandeira é a apresentação do farmacêutico como um pro� ssional de saúde indispensá-vel dentro do SUS. “O número de farmacêuticos já é insu� ciente para atender todas as 75 áreas de atuação da categoria, por causa do aumento

da demanda. No entanto, é no SUS que essa defasagem na presença do pro� ssional farmacêutico alcança ní-veis alarmantes, colocando em risco a saúde e o bem-estar das pessoas”, avalia Silvana Nair Leite.

A participação dos farmacêuticos na 14ª Conferência Nacional de Saúde pode fazer a diferença, liderar a van-guarda, conforme entende a presidente da Enafar. “Precisamos sinalizar com clareza nossa posição sobre a ampliação do acesso e a humanização dos servi-ços, avançar nesse movimento que é a construção de um sistema público de saúde e� caz para todos os brasileiros”.

ANTES DO CONTROLE SOCIAL DO SUS, eram apenas os gestores públicos que de� niam como e quando seria prestada assistência à saúde aos brasileiros. De acordo com a farmacêutica Célia Chaves, diretora da Fenafar, a Conferência Nacional de Saúde existe há 70 anos – a primeira foi realizada em 1941, durante o governo Getúlio Vargas, ainda com uma concepção inteiramente curativa, não preventiva, voltada para ações de defesa sanitária da população, imunizações, proteção da maternidade, da infância e da adolescência. “A � nalidade primordial documen-tada sobre essa Primeira Conferência era estabelecer um programa nacional de saúde, estudar as bases do que isso seria, e então decidiu-se realizar a Conferência de dois em dois anos.... mas a próxima, na verdade, só foi correr em 1950, nove anos depois”, expõe Célia Chaves.

farmacêuticos querem liderar a vanguarda na 14ª Conferência Nacional de Saúde.

UMA PARTICIPAÇÃO PARA FAZER A DIFERENÇA:

19AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

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4ª Conferência Nacional de Saúde – 1967 – a questão central eram os Recursos Humanos para as atividades de saúde no país. A Conferência era na verdade uma reunião de trabalho restrita a gestores públicos para definir um programa de saúde para o país.

5ª CNS – 1975 – debateu a constituição de um sistema nacional de saúde e apresentou a proposta de uma política nacional.

6ª CNS – 1977 - Pela primeira vez, a Conferência teve a representação dos prestadores de saúde, de hospitais e profissionais de saúde, no entanto prevalecia a representação dos governos. Debateu o controle de endemias.

7ª CNS – 1980 – debateu os conceitos de serviços básicos de saúde.

8ª CNS – 1986 – Foi a vanguarda do pensamento sanitário do Brasil. Participaram todas as representações de todas as categorias de profissionais de saúde, mais prestadores e usuários. Nesta Conferência, foram formuladas as ações e políticas dos Sistema Nacional de Saúde que resultaram na Carta Constitucional de 1988, e deram origem às leis orgânicas 8080 e 8142.

9ª CNS – 1992 - fez parte da agenda o CONTROLE SOCIAL, que passou a ser parte integrante do SUS. Discutiu os caminhos da municipalização da gestão da saúde pública no Brasil.

10ª CNS – 1996 – Reforça o controle social e cria norma de operação básica, construindo o modelo de atenção.

11ª CNS – 2000 - Re toma o tema do controle social, com ênfase no acesso, qualiadde e humanização.

12ª CNS – 2003 – Na realidade, essa Conferência estava agendada para 2004, mas o governo Lula, que estava começando, antecipou a CNS para poder ouvir todos os setores e empregar as deliberações da 12ª CNS no estabelecimento das políticas públicas federais de saúde. Teve como foco, justamente, a gestão participativa.

13ª CNS – 2007 – centrou o foco na saúde, na qualidade de vida, políticas de estado e no desenvolvimento sanitário com centro no direito humano à saúde, no SUS no contexto da seguridade social e no pacto pela saúde.

14ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE – 2011 – TODOS PELO SUS! O SUS COMO PATRIMÔNIO DO POVO BRASILEIRO – se propõe a debater como o SUS se integra como política pública e a defender o SUS como patrimônio do povo, quer apontar a necessidade de discutir a atuação das instâncias e atores do controle social como protagonistas da reforma sanitária no país. Apresenta a noção de Saúde Pública como um interesse e necessidade social que depende da transformação das condições de vida dos brasileiros. Tem a proposição de dotar os Conselhos Nacionais de Saúde de maior legitimidade e autonomia junto aos diversos setores da sociedade para formular, fiscalizar e aplicar as políticas públicas para a área da saúde.

SAINDO DO LABIRINTO: 14ª Conferência Nacional de Saúde quer dar pleno cumpri-mento às concepções originais do SUS, que se perderam ou foram desvirtuadas na sua aplicação, nas gestões públicas que se sucederam desde 1986

A Terceira Conferência teve um hiato ainda maior – 13 anos. Dez anos após a criação do Ministério da Saúde, no ano de 1963, começou-se a discuritr a proposta inicial de descentralização da área da sáude e a participação e atribui-ções de estados e municípios na gestão púbica do setor. Veja no quadro como se desenvolveram os debates até 2011.

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AGOSTO 201120ESPAÇO FARMACÊUTICO

“O QUE PRECISA MELHORAR NO CONTROLE SOCIAL” defende Célia Chaves, “é encarar de frente o desa� o da inexistência de Conselhos Municipais de Saúde em milhares de municípios brasileiros”. De fato, conforme observa Ronald Ferreira dos Santos, conselheiro no Conselho Nacional de Saúde, tanto em estados e municípios ocorre de a composição dos Conselhos não respeitar a paridade." A participação da sociedade tem que se dar através das suas organizações, que têm a atribuição legítima de construir as intervenções coletivamente", explica Ronald.

A presidente do Sindfar – SC e conselheira do Conselho Estadual de Saúde de Santa Catarina, Caroline Junckes da Silva, também reforça essa percepção ao revelar que “os Conselhos carecem de autonomia � nanceira necessária para exercerem a autonomia política”. Sem um orçamento

de� nido, pondera Caroline, “as atividades propostas pelos Conselhos são por vezes ignoradas porque a execução delas depende do aval do gestor público”.

Não é uma realidade isolada de Santa Catarina. O pró-prio secretário estadual de Saúde do Paraná, farmacêutico Michele Caputto, que assumiu o cargo no governo Beto Richa , expõe que nos oito anos anteriores os gestores pú-blicos simplesmente ignoraram as deliberações do Conselho Estadual de Saúde. “Agora, há que se lembrar também a responsabilidade do conselheiro em ter a capacitação necessária para desempenhar adequadamente seu papel, o que induz obrigatoriamente a uma formação continuada e constante para ser apto a elaborar as políticas públicas de saúde”, diz Caputto.

os Conselhos de Saúde ainda carecem de orçamento para poder exercer a autonomia política

AUTONOMIA FINANCEIRA: Paulo Sérgio Teixeira de Araújo e Tércio Egon Paulo Kasten são conselheiros estaduais de saúde.

21AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EFPELA PERSPECTIVA DA FENAFAR, essa 14ª Con-

ferência Nacional de Saúde deve trabalhar uma política nacional de assistência farmacêutica em todos os níveis de atenção, com manutenção dos serviços quali� cados e a ob-servância das prioridades regionais de� nidas nas instâncias gestoras do SUS. “Assistência farmacêutica não é comprar medicamentos, mas gerir todo o processo de cuidado à Saúde. Por isso devemos insistir nesse ideal de compor a Farmácia Estabelecimento de Saúde e o farmacêutico um pro� ssional de saúde presente na rede hospitalar, nas farmácias municipais, participando de câmaras técnicas em todos os municípios e organizando as farmácias como unidades de saúde, padronizando as condutas terapêuticas e promovendo o uso racional de medicamentos”, propõe

Denise Bueno, diretora da Enafar.“Esses eventos preparatórios colocam os farmacêuticos

em uma situação de destaque, já que a categoria pro� s-sional toma a frente na discussão da pauta dessa Confe-rência”, argumenta Irene Prazeres, da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul. Ela alega ser importante compreender a conjuntura em que se dá essa edição da CNS. “Temos, na República, a primeira presidente mulher, comprometida com uma política de erradicação da miséria como estratégia de desenvolvimento. E, vigorando no país, uma lei de responsabilidade � scal que impõe limites para a contratação de mais pro� ssionais na área da saúde. Também temos um histórico sub� nanciamento para todo o setor e, ao mesmo tempo, uma transição demográ� ca importante, com o envelhecimento da população, idosos usando com mais frequência o sistema de saúde e a diminuição das taxas de fecundidade”, contextualiza Irene Prazeres, ao apresentar os números do setor da saúde.

Apesar desse dé� cit, o Governo Federal abre mão de R$ 10 bi por ano em imposto de renda de pessoa física com abatimentos de gastos privados em saúde, e paga R$ 2,5 bi anuais aos servidores federais dos três poderes para poderem � nanciar seus gastos com saúde.

“Construímos, nesses 22 anos de SUS, um modelo de saúde pública universal, gratuito, com grandes redes de serviço, ações de promoção, vigilância epidemiológica, programas de saúde mental, saúde da criança, da mu-lher, do idoso, dos trabalhadores, projetos de reabilitação, produção de insumos, vacinas... en� m, um modelo que tem sido referência para o mundo, até para os países mais desenvolvidos”, a� rma Irene Prazeres.

O desa� o que se apresenta aos farmacêuticos nessa 14ª Conferência Nacional de Saúde é compreender interna-mente, e divulgar, que o SUS é um patrimônio de toda a população brasileira, e que os farmacêuticos são uma parte inseparável desse conjunto de ações, programas, redes e serviços. Os farmacêuticos se preparam para apresentar uma proposta de gestão do SUS mais articulada, que atualize os patamares de qualidade, integridade e equidade, ampliando o acesso aos serviços e insumos. “Queremos centrar o foco na pessoa como um todo, e aprimorar o sistema de forma a acabar com a necessidade do cidadão de correr de um serviço a outro tentando resolver seus problemas”, explica a presidente do Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina, Hortência Salett Müller Tierling.

A presidente do CRF-SC sustenta que há uma necessida-

tem vínculo empregatício com a área da Saúde. O setor representa 8% do Produto Interno Bruto (PIB) e movimenta R$ 160 bilhões por ano. A indústria nacional ainda precisa ser estimulada e desenvolvida nesse setor. O déficit na balança comercial de produtos da área de saúde é de 7 bilhões de dólares por ano.

Cerca de 10% da população brasileira economicamente ativa

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AGOSTO 201122ESPAÇO FARMACÊUTICO

gumentando que os farmacêuticos precisam ocupar esses vácuos no sistema de saúde, e mostrar a diferença que a assistência farmacêutica em todas as áreas de atuação pode fazer em favor da saúde pública. Lembra, no entan-to, que o começo da estrutura é a atenção primária. “A municipalização que defendemos e apoiamos trouxe uma

responsabilidade para os municípios, que colocam até 20% do orçamento em saúde. Mas os estados e a união não acompanham esse investimento, ao contrário, é evidente que tem havido uma queda nos recursos destinados para a área, há uma defasagem e um achatamento em todos os níveis do SUS”, avalia Michelle Caputto.

Para o secretário de saúde do Paraná, é preciso regulamentar com urgência a Emenda Constitucional 29 (EC29). “Só que é preciso � car alerta. A ques-tão não é só regulamentar, mas como regulamentar, para não tirar dinheiro

DOENÇAS CRÔNICAS - aumento exponencial, e principal causa de morte entre as populações mun-diais. No Brasil, transição demográfica exige novas políticas de saúde voltadas para a prevenção.

de de evoluir rapidamente por causa da complexidade do momento, que combina transição demográ� ca acelerada com o aumento de fatores de risco de doenças crônicas. A evolução das doenças crônicas não-transmissíveis passou de 22% para 43% nas populações mundiais, onde quase metade das mortes não-violentas são decorrentes de agra-vos de doenças crônicas, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O gestor Michelle Caputo faz eco a esse raciocínio, ar-

E NECESSIDADE DE NOVAS POLÍTICAS: CRF-SC defende um modelo de SUS mais integrado, em que a assistência farmacêutica sirva de apoio para as redes de acesso.

ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO

23AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EFde estados e municípios. Caputto também considera ne-cessário fazer um enfrentamento com o poder judiciário a respeito da dispensação por via judicial, que já representa 25% das despesas com medicamentos. “Também devemos estimular por todo o Brasil uma estratégia que deu certo no Paraná e já vai completar 12 anos: o sistema de consór-cio de municípios para a compra dos medicamentos. Os resultados são animadores pois, com a gestão entregue a farmacêuticos, os municípios têm feito economias relevan-tes nas compras de insumos, e as programações respeitam as necessidades de cada cidade: não há denúncia de falta de medicamento básico nos municípios paranaenses, e a presença dos farmacêuticos impede que ocorram desar-ranjos na dispensação”

Hortência Tierling, presidente do CRF-SC, esse exemplo bem-sucedido prova que a assistência farmacêutica deve constituir-se como parte da política das re-des. “Em Santa Catari-na, nos últimos 6 anos,

conseguimos expandir a presença do farmacêutico nas unidades de saúde em mais de 240 municípios. Antes apenas 36 prefeituras estavam inscritas com pro� ssional farmacêutico no CRF-SC”. A vice-presidente do CRF-SC, Silvana Nair Leite, também presidente da Enafar, pondera que esse não é um processo que ocorre à toa. “Foi necessário um árduo trabalho junto aos gestores públicos, com o CRF-SC induzindo à compreensão de que não dá para fazer gestão de saúde sem assistência farmacêutica. O trabalho ativo do CRF-SC moldou o cenário mais positivo de hoje, que ainda necessita de avanços, como

na área de vigilância sanitária, na qual o CRF-SC exerce forte pressão política e social para proteger a sociedade com a presença farmacêutica”.

“PARA ISSO SÃO NECESSÁRIOS PROFISSIONAIS preparados, capacitados, com formação adequada para atuar no Sistema Único de Saúde”, re± ete a professora da UFSC e coordenadora do Centro de Informações Toxi-cólogicas (CIT-SC), Marlene Zanin. Se há um consenso nos debates dos farmacêuticos, é o de que a graduação não proporciona essa qualidade exigida pela sociedade. “Muitas vezes, o que faz a diferença no SUS não é o mestrado ou o doutorado – que concentram maior valor acadêmico – mas sim a qualidade da formação e da residência, que não tem � nalidade acadêmica mas tem o mesmo peso de um mestrado no cotidiano do SUS”, a� rma Marlene Zanin. Conforme a experiência da coordenadora do CIT-SC, que atua dentro do Hospital Universitário da UFSC, por vezes os farmacêuticos egressos das faculdades, que fazem residência no HU, não têm uma noção clara da intervenção que é esperada deles.

Outro caso que chama a atenção, segundo Ronald, é a questão da vigilância em saúde. A Comissão de Vigilância Sanitária do Conselho Nacional de Saúde reuniu-se, ao longo de 17 anos, somente oito vezes. “Nesse meio tempo, gestores públicos, ou a Abrasco, implementaram diversas

se há um consenso entre os farmacêuticos, é o de que a graduação em Farmácia precisa avançar na formação de profissionais de saúde habilitados a atender as centenas de demandas do SUS que hoje permanecem no vácuo por falta de intervenção farmacêutica.

CONSENSO:

Gestão da assistência farmacêutica: não se faz saúde pública sem isso.

COTIDIANO:residência farmacêutica pode ter valor prático equivalente ao doutorado dentro do SUS.

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AGOSTO 201124ESPAÇO FARMACÊUTICO

ações, a Anvisa foi criada, mas o controle social estava afastado do processo de discussão e re± exão. Essa ausência se re± ete hoje nas di� culdades participação do processo de vigilância em saúde na estruturação das políticas públicas de saúde”.

Esse processo de vigilância tem que se integrar com os esforços de estruturar o SUS. "Por que o Componente Estratégico da Assistência Farmacêutica � ca lá separado na ponta dos demais componentes da AF? E por que os laboratórios centrais não dialogam com o processo de atenção?", indaga Ronald. “Temos que integrar os esforços e ver como a Anvisa, e a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde podem construir uma intervenção mais articulada. Uma questão central que tem que emergir, é essa demanda de se ter uma política nacional de vigi-lância sanitária.”

Esse ano de 2011 coincide dois processos importantes: a Conferência Nacional de Saúde e a construção dos PPAs e dos Planos de Saúde, que vão materializar em metas e diretrizes a lógica da atenção à saúde. “É com esses instrumentos que vamos construir juntos as respostas. Pois boa parte delas não existe, são respostas que precisam ser inventadas; e a ciência do nosso ofício farmacêutico reúne as condições de dar grandes contribuições”, vislumbra o diretor da Fenafar, Ronald Ferreira dos Santos.

ações da vigilância em saúde perpassam o monitoramento da qualidade do ar, da água e do solo. Já faltam farmacêuticos para atuar nas dezenas de demandas do SUS.

O PREÇO DA LIBERDADE É A ETERNA VIGILÂNCIA:

25AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EFA VIGILÂNCIA EM SAÚDE NO PROCESSO DE ATENÇÃO A SAÚDE, na concepção de Jeanine Rocha

Woycicki, é analisar permanentemente a saude da população, organizando e executando práticas de saúde adequadas ao enfrentamento dos problemas. “Devemos concentrar esforços para constituir indicadores de saúde, avaliar como está o acesso, a morbidade, conhecer as doenças que circulam no território, monitorar a qualidade da água, do solo, entender como os desastres naturais estão afetando diretamente a saúde da população, conhecer que pro� ssões estão fazendo com que certa classe de trabalhadores adoeça, que determinantes são esses, e como a gente agrega tudo isso para trabalhar de forma mais sistêmica”. Essas são condições obrigatórias para construção da integralidade.

ALGUMAS PEÇAS PARA MONTAR O QUEBRA-CABEÇAS DA RECONSTRUÇÃO DO SUS

- compatibilização dos territórios das equipes, com a gradativa inserção das ações de vigilância sanitária.- planejamento, programação, monitoramento e avaliação integrados.- reestruturação dos processos de trabalho como linha de cuidado, clínica ampliada, apoio matricial, projetos terapêuticos, protocolos.- educação permanente dos profissionais de saúde.- análise de situação de saúde como subsidiadora do processo de planejamento.- organização para respostas rápidas em emergências de saúde publica.- induzir processos de trabalho que contribuam para a construção da integralidade na atenção à saúde.- Enfrentamento do subfinanciamento do SUS.- 14ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE: é dessa arena do campo das ideias que saem as ações estruturantes, esse é o cenário de criação de consenso, de aparar arestas de disputas e de compreender entre os muitos caminhos qual é o que resulta em maior benefício e menor custo. É onde se descobre como fazer muito com o pouco que temos, e estabelece-se os critérios de recomposição gradativa do financiamento, acesso, acolhimento, qualidade, controle social e gestão do SUS.

25AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

AGOSTO 201126ESPAÇO FARMACÊUTICO

PAINEL I - A POLÍTICA NACIONAL DE ASSITÊNCIA FARMA-CÊUTICA NO CONTEXTO DO ACESSO E PROCESSO DE ATEN-ÇÃO À SAÚDE NO SUS

1.Para que a assistência farmacêutica exerça seu papel para a garantia da integrali-dade da atenção à saúde é necessário :1.1.O farmacêutico atuar como profissional de saúde, contribuindo com suas espe-cificações para uma atenção integral;1.2.Promover a autonomia dos sujeitos;1.3.Criticar e protagonizar a promoção e recuperação da saúde, visualizando o in-divíduo como um todo;1.4.Fortalecer a criação da CFT para seleção de medicamentos, com base em evidên-cias científicas e nos critérios epidemiológicos da região;1.5.Elaborar e disponibilizar protocolos e formulários terapêuticos;1.6.Garantir a adesão ao tratamento, continuidade e manutenção da saúde com acompanhamento da doença;1.7.Promover o acesso e assegurar o uso racional dos medicamentos, selecionados com base em critérios de segurança e eficácia, de acordo com o perfil epidemioló-gico da população;1.8. Promover a integralidade e interdisciplinaridade na assistência farmacêutica, tendo por entendimento de que a integralidade compreende a inserção do farma-cêutico na APS (gestão, ESF, NASF, Farmácia Básica) e a interdisciplinaridade inclui a atuação com os demais profissionais de saúde e gestores na promoção da saúde e uso racional de medicamentos;1.9.Garantir o acesso qualificado ao usuário a medicamentos seguros e eficazes com a prestação de uma assistência farmacêutica de qualidade;1.10.Sensibilizar os gestores e outros profissionais de saúde para URM;1.11.Possibilitar o trabalho farmacêutico junto a população para o URM;1.12.Inserir o farmacêutico em toda a assistência primária, com ampliação do qua-dro de funcionários, através de concurso público, e com foco na melhoria das con-dições de trabalho;

2. Para a Assistência Farmacêutica se inserir na atenção primária em saúde é ne-cessário:2.1. Promover a inserção na equipe multiprofissional do NASF;2.2.Garantir a dispensação de medicamentos por farmacêuticos nas UBS;2.3.Permitir a integração necessária entre os diversos profissionais de saúde para acesso e uso racional dos medicamentos;

2.4.Atuar na educação e promoção da saúde;2.5.Inserir o profissional farmacêutico nas equipes multidisciplinares desenvolven-do ações de promoção a saúde e atividades de educação em saúde individuais e coletivas;2.6.A educação em saúde contempla a atenção no atendimento personalizado, in-serindo o cuidado ao usuário do sistema e de medicamentos;2.7.Cumpre seu dever de proporcionar todas as orientações sobre o uso dos medica-mentos e o acompanhamento (monitoramento) dos problemas de saúde;2.8. Estabelecer condições para que a assistência farmacêutica gerencie todos os processos relacionados incluindo orçamento, pessoas, processos de trabalho, servi-ços em conjunto com o gestor;2.9.Educar a população para exigir o direito do acesso ao medicamento;

3.Os desafios da Gestão do Trabalho e da Educação na Assistência Farmacêutica são:3.1.Lutar por salários dignos, como bandeira da unidade dos trabalhadores, para estimular a atuação do profissional no serviço público;3.2.Formar equipes multiprofissionais e oferecer boas condições de trabalho;3.3.Implementar um plano de cargos e salários;3.4.Garantir a capacitação de profissionais por meio de cursos de especialização; 3.5.Valorizar a residência;3.6.Formar professores, que atuam na graduação, tendo por foco o SUS, a AF e as relações interpessoais;

3.7. Diminuir a lacuna que ainda existe entre o serviço e a universidade;3.8.Promover a educação “in loco” levando o aluno para a prática ainda na gra-duação;

3.9.Promover a pesquisa dentro da rede que apresente discussão e propostas para resolver os vários problemas existentes no dia-a-dia do serviço;

3.10.Garantir a formação generalista, com foco para a atenção primária;

3.11.Ampliar as residências, especializações, programas de mestrado e doutorado voltados à gestão e prática farmacêutica no âmbito do SUS;

3.12.Buscar o reconhecimento pelos conselhos profissionais das residências com formação em saúde da família e comunidade;

3.13.Valorizar os profissionais com experiência em APS;

3.14.Formar e qualificar os trabalhadores para atuarem com pessoas aplicando, com eficiência, todos os conhecimentos teóricos;

3.15.Promover a formação com foco em relações interpessoais (paciente-gestor-outros profissionais), inclusive para docentes;

3.16.Preparar os alunos para enfrentarem as relações humanas;

3.17.Levar para o graduando,desde o início da faculdade, a vivência do que é a AF e políticas de saúde (no contato direto com a população) para que com a continuação da formação até o profissional, independe da área a ser seguida, as discussões, pontos de trabalho, atenção primária, prevenção e integralidade do serviço de saúde já façam parte da vida profissional;

3.18.Elaborar currículos voltados para a formação de trabalhadores para o SUS, incluindo gestão e assistência farmacêutica;

3.19.Investir em capacitação e promover educação permanente do profissional;

3.20.Reconstruir a pós-graduação para formação do SUS com pesquisas voltadas às necessidades do sistema e da população;

3.21.Garantir a qualidade de trabalho com recursos humanos capacitados para auxiliar os serviços farmacêuticos em número suficiente ao atendimento a esta de-manda;

3.22. Interiorizar os cursos presenciais aproveitando a rede de universidades;

3.23.Efetivar processos de educação permanente e interdisciplinar do conhecimento em seu quadro profissional e levar esse conhecimento aplicado nas práticas locais;

3.24.Promover e efetivar a interdisciplinaridade entre as áreas das ciências da saúde e humanas pelo menos como processo de construção coletiva do conhecimento, entendendo o ser humano como um sistema complexo;

3.25.Promover a conscientização de farmacêuticos e demais profissionais da saúde de que as lutas são comuns a todos; existe a necessidade do trabalho multiprofissio-nal e que isto está inserido no conceito da assistência farmacêutica;

4. Os gestores devem contratar farmacêuticos para as ESF que ainda não possuem esse profissional;

5.Os planos de saúde privados devem proporcionar o acesso qualificado ao produto, desde medicamentos como também o acompanhamento das doenças crônicas;

ENCAMINHAMENTOS DOS PAINÉIS DAS REUNIÕES DE FARMACÊUTICOS PARA A 14ª CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE

AGOSTO 201126ESPAÇO FARMACÊUTICO

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27AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

6.Elaborar protocolos clínicos e revisão permanente das REMUMES, com a preocu-pação da disponibilização de medicamentos com uso racional e acompanhamento terapêutico;

7. A assistência farmacêutica deve ter participação ativa na construção social e téc-nica do Plano de Saúde, ampliando seu horizonte à coletividade e interdisciplinari-dade, preservando e ampliando suas características técnico-profissionais juntamente com os gestores e outros autores envolvidos neste processo;

8.A AF, dentro dos planos de saúde, deve agir como promotor da formação dos mes-mos, bem como revisores para melhoria dos planos de saúde ofertados à população, inserindo o farmacêutico neste processo.

9.Sensibilizar os gestores para a estruturação e construção de organograma que inclua a AF nos municípios.

PAINEL II - A VIGILÂNCIA EM SAÚDE NO PROCESSO DE ATENÇÃO A SAÚDE

1.Formalizar e estruturar as vigilâncias em Saúde nos conselhos em todos os níveis (nacional/estadual/municipal);

2.Construir uma Política Nacional de Vigilância em Saúde integralizando seus com-ponentes; 3.A Vigilância em Saúde deve ser norteadora das ações em saúde com transparência e controle social (transversal das ações e elaboração de indicadores de planeja-mento, monitoramento e avaliação) - ampliando o diálogo com a rede de atenção. (exemplo: participação do farmacêutico na análise dos indicadores do município);

4.Criação da Residência multiprofissional com ênfase em Vigilância em saúde;

5.A vigilância em saúde deve ser parte integrante do conteúdo dos cursos de gra-duação e pós graduação;

6.A farmacoeconomia deve servir como uma ferramenta para maior efetividade às ações de vigilância, contando com a responsabilidade dos diferentes atores da vigi-lância em saúde (desde a coordenação do sistema nacional de vigilância em saúde, com a participação das universidades, dos profissionais de saúde, e representantes da sociedade); 7.Esclarecer sobre a dispensação de medicamentos para os diferentes segmentos sociais, enquanto ato do profissional farmacêutico;

8.Que os profissionais de saúde e os que atuam na área de vigilância em saúde se caracterizem como Carreira de Estado;

9.Que o sistema nacional de informação em saúde registre os dados das ações tanto do sistema público como do privado;

10.Que conste no mapeamento da saúde do Brasil as ações e serviços farmacêuti-cos, bem como o número de profissionais;

11.Dentre os desafios da gestão do trabalho e educação em vigilância em saúde deve pautar estratégias e ações para a educação do usuário;

12.Garantir o acesso aos bancos de dados, tanto para os profissionais de saúde quanto para a população, mas de forma melhorar a efetividade dos treinamentos para manuseio dos dados/sistema; 13.Que se constitua um S.N. de Assistência Farmacêutica e este seja uma ferramenta de vigilância em saúde para doenças e agravos não transmissíveis, enfocando o levantamento da efetividade dos tratamentos na rede; 14.Pleitear o acesso do portal CAPES aos profissionais da saúde inseridos na rede;

15.Esclarecer, por meio da educação continuada, os benefícios que o profissional farmacêutico pode trazer para a sociedade, esclarecendo o papel do mesmo; 16.Incentivar ações de educação em saúde voltadas para a população dando visi-bilidade as ações de vigilância em saúde, de forma que a vigilância não seja vista apenas com ações pontuais (ex. campanhas de vacinação); 17.Promover a integração da assistência farmacêutica com a vigilância em saúde como condição primeira para a garantia da integralidade da atenção;

18.Implementar uma política nacional de laboratórios de saúde publica que defina estratégias que fomentem a manutenção e desenvolvimento dos laboratórios de saúde pública nos níveis federal,estaduais e municipais;

19.Transformação do conceito de farmácia comercial para um estabelecimento de saúde, com apoio ao PL 4385¹94.

O CONTROLE SOCIAL NO ACESSO AOS SERVIÇOS E PRODU-TOS NA SAÙDE

Como fazer com que o povo brasileiro se aproprie do SUS?

1.Realizar campanha de informação e valorização do SUS, abrangente em vários níveis incluindo profissionais de saúde, gestores, conselheiros e população em geral, contando com a parceria da imprensa:1.1. Realizar oficinas de discussão;1.2. Elaborar cartilhas com linguagem de fácil entendimento pelo usuário, que con-templem a história, o processo de construção do SUS, importância das conferências, destacando-se de que o SUS é patrimônio da humanidade;

2.Que o ministério da educação insira no currículo formal do ensino médio a história da construção do SUS e o capitulo da constituição federal que trata da seguridade social;

3.Reconhecer a educação como prioridade aos indivíduos e sociedade em geral;3.1. Através do fomento à informação, educação, participação solidária, incentivar a fiscalização contínua do processo de construção do SUS.

4. Promover e incentivar debates “on line” (vídeo conferências) entre conselhos de saúde;

5. Incentivar a participação da comunidade em todas as instâncias do controle social, desde o nível local, como forma de todos vivenciarem e se sentirem parte integrante do SUS:5.1.Incentivar a participação dos usuários nas atividades nas unidades de saúde (reuniões, grupos de trabalho, comissões,dentre outros);5.2. Constituir grupos de trabalho que desenvolvam trabalhos educativos, esclarece-dores quanto aos direitos e deveres de todos frente ao SUS;

27AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

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AGOSTO 201128ESPAÇO FARMACÊUTICO

Qual o papel das organizações do povo brasileiro para efetivação do SUS?

6. Que as organizações incorporem o discurso e o conceito do SUS engajando-se em atividades em defesa do sistema único de saúde;

7. Desenvolver trabalhos de conscientização de todos de forma que se elejam políti-cos, em todos os âmbitos federativos, comprometidos com o bem comum;

8. As organizações devem ter o dever de prepararem-se para a promoção do enten-dimento do SUS:8.1.Divulgar as necessidades e promover bandeiras de luta do povo, tanto nas ins-tâncias de controle social como nos seus âmbitos de atuação; 8.2.As organizações devem apoiar campanhas desenvolvidas para a valorização do SUS;8.3. Os representantes das classes trabalhadoras necessitam assumir o compromisso no conjunto da sociedade em defesa do SUS;8.4.As organizações têm por obrigação participarem dos fóruns de decisão,exercendo, de forma efetiva, o seu papel no controle social, inclusive no acompanhamento das atividades de fiscalização dos conselhos de saúde;8.5. As organizações necessitam assumir o papel de vigilantes de forma que os princípios do SUS sejam incorporados no dia-a-dia da população;

9. Incentivar a participação popular na construção e fiscalização das políticas pú-blicas no âmbito dos conselhos de saúde, tendo-se o entendimento do SUS como patrimônio do povo;10.Os conselhos de saúde têm que cobrar a execução da legislação vigente em relação ao SUS, sendo crítico aos assuntos de relevância e urgentes da saúde do povo brasileiro:10.1.Exigir que os serviços públicos sejam gratuitos e resolutivos;10.2.Ter o compromisso de implementar as ações definidas ao SUS;

11.Os participantes das organizações devem atuar como agentes para efetivação do SUS no âmbito do controle social;

12.Que se passe exigir, no estágio probatório, a inclusão da educação permanente com abordagem em torno do SUS;

Como as novas tecnologias de comunicação podem contribuir para o Controle So-cial?

13.Usar ferramentas de comunicação objetivando atingir o maior número de pesso-as e promovendo discussões em torno das propostas do SUS de forma:13.1.Divulgar o SUS, em especial os aspectos relacionados às experiências positivas, em prol da população, bem como quaisquer irregularidades;13.2. Troca de informações, experiências e denúncias entre os usuários, os gestores e conselhos de saúde que contribuam inclusive com as ações de fiscalização;13.3.Buscar dados, informações e estatísticas que balizem os projetos e ações de saúde;

14. Os conselhos de saúde devem utilizar ferramentas de comunicação para divulgar seu papel,suas ações e resultados;

15.As mídias sociais e fóruns virtuais devem ser ferramentas de divulgação e infor-mação sobre o controle social;15.1.As redes sociais devem ser melhor aproveitadas para o atingimento do público jovem utilizando a linguagem própria dos mesmos, inclusive para explicar seguri-dade social;

16.As reuniões dos conselhos municipais e estaduais devem buscar ser transmitidas, via internet, a exemplo do CNS;

17.Solicitar às redes de comunicação, em caráter de utilidade pública, que repassem informações sobre o SUS;

18. Os conselhos de saúde têm por papel:18.1.Fazer o levantamento de necessidades, ouvindo a população;18.2.Formular políticas públicas;18.3. Fazer cumprir as deliberações definidas pelos seus plenários;18.4.Fiscalizar;18.5. Encaminhar denúncias e fazer as devolutivas;18.6.Posicionar-se contra a privatização do SUS;18.7. Defender o SUS como patrimônio do povo brasileiro;18.8.Buscar a liberação dos representantes dos diversos segmentos que compõem o conselho de saúde para que os mesmos exerção as suas atividades na condição de conselheiro de saúde;

20. Os conselhos de saúde devem ser os protagonistas na inserção de toda a popu-lação no controle social, como exemplo a participação efetiva de deficientes visuais, através dos sistemas de informação existentes, principalmente na área de informáti-ca, que possibilita a sua participação.

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ESPAÇO FARMACÊUTICO

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29AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

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A gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) será reorganizada para garantir melhoria no acesso à saúde em todo o país. Um Decreto da presidenta Dilma Rousseff instituiu mecanismos de controle mais eficazes e instrumentos para que o Ministério da Saúde atue na pactuação e no monitoramento das ações realizadas na rede pública. Com isso, a perspectiva é que os serviços oferecidos pelo SUS ganhem em qualidade, proporcionando à população atendimento mais rápido e eficiente.

Construído a partir de diálogo com os estados (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), os municípios (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) e o Conselho Nacional de Saúde (CNS), o decreto regulamenta a Lei Orgâ-nica da Saúde, que entrou em vigor em 1990. "O decreto é o reconhecimento de que o centro do SUS é o cidadão e que ele tem direito de participar da definição das políticas públicas de saúde e exercer o controle social da execução dessas políticas", garante o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.

Uma das mudanças introduzidas pelo decreto é a criação do contrato de ação pública, que definirá as atribuições e responsabilidades, inclusive financeiras, dos municípios, dos estados e do Governo Federal na prestação de serviços de saúde, o financiamento e as metas para cada ação. Os contratos vão propiciar ao Ministério da Saúde a concessão de estímulos financeiros aos municípios e estados que tiverem bom desempenho nos programas e ações da saúde.

"Estamos dando mais transparência à estrutura do SUS e garantindo maior segurança jurídica para que municípios, estados e União atuem de forma harmônica e integrada", detalha o ministro.

Para Padilha, a regulamentação é marco de um novo modelo de gestão do SUS. O decreto inova ao instituir política permanente de atendimento em rede, com serviços complementares para ampliar os benefícios aos usuários do sistema. Exemplo desta nova dinâmica é a Rede de Atenção ao Câncer e Mama e de Colo de Útero, lançada em março, que ofere-cerá prevenção, rastreamento e tratamento de forma sistêmica dentro de uma mesma região de saúde. A regulamentação contribuirá também para mais transparência ao Ministério Público e ao Poder Judiciário sobre as responsabilidades dos entes federativos na gestão de saúde.

Assistência regionalizada – O decreto define e consolida o modelo de atenção regional, em que municípios vizinhos deverão se organizar para ofertar atendimento de saúde às suas populações. Cada uma das 419 regiões identificadas deverá ter condições para realizar desde consultas de rotina até tratamentos complexos. Caso não haja capacidade física instalada naquela região para a execução de determinado procedimento, os gestores daquela rede têm de fechar parceria com outras regiões, que atenderão sua demanda.

Como referência, os gestores terão a Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde do SUS (Renases), que compreende todas as ações e serviços que o SUS oferece ao cidadão e é revisada a cada dois anos, e a Relação Nacional de Medica-mentos Essenciais (Rename), que contém a lista de medicamentos indicados e custeados pelo SUS.

responsabilidades, inclusive financeiras, dos municípios, dos estados e do Governo Federal na prestação de serviços de saúde

Decreto definirá as atribuições e

29AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

DEPOIS DE 20 ANOS, DECRETO PRESIDENCIAL REGULAMENTA O SUS

AGOSTO 201130ESPAÇO FARMACÊUTICO

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AGOSTO 201130ESPAÇO FARMACÊUTICO

FATOS E FOTOS

Em 2006, é lançada em Santa Catarina a campanha Farmácia Estabelecimento de Saúde, em uma sessão da Assembleia Legislativa. Palestras, conferências, mobilizações marcaram o ritmo dessa campanha de esclarecimento e convencimento da sociedade sobre o verdadeiro papel das farmácias na rede de proteção à saúde das pessoas. Brasília, o palco das decisões, passou a receber caravanas de todo o Brasil exigindo a aprovação da lei que faz das Farmácias Estabeleci-mentos de Saúde.

A Biomarchesini foi fundada em 03 de Abril de 1989 com o objetivo de fornecer produtos, equipamentos e acima de tudo, soluções para o ramo de diagnósticos. O seu esforço visa satisfazer inteiramente as ne-cessidades de seus parceiros e clientes, provendo produtos e prestando serviços de Assistência Técnica e Assessoria Científica, que facilitem o dia a dia dos laboratórios. A qualidade percebida por nossos clientes é a medida do nosso desempenho. Entendemos que o sucesso no mercado depende da nossa capacidade em fornecer produtos e serviços que satisfaçam ou superem as expectativas

Todos os nossos colaboradores estão focados nos clientes, comprometidos com a excelência em qualidade e abertos a mudanças, baseando as ações em fatos e com visão a longo prazo. Essa é uma responsabilidade individual e uma filosofia presente na cultura e valores da Biomarchesini. São 22 anos de uma ciência muito humana e totalmente dedicada a todos os que fazem parte desta história de sucesso. BIOMARCHESINI acredita na importância das relações fortalecidas por atos de amor, atenção e cuidado pelas pessoas!

31AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

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CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DE SANTA CATARINAA presença do farmacêutico promove a saúde do povo catarinense.

O CRF-SC se destaca em âmbito nacional pela defesa in-transigente da Farmácia Estabelecimento de Saúde e pela intensificação dos mecanismos de fiscalização da Assistência Farmacêutica com presença do profissional farmacêutico du-rante todo o horário de funcionamento dos estabelecimentos.

Em Santa Catarina, criou uma rede de capilaridade, descen-tralizada, para estar presente nos 293 municípios do estado de forma permanente e atuante.

AGOSTO 201132ESPAÇO FARMACÊUTICO

Em Santa Catarina, o Conselho Regional de Farmácia foi criado e instalado em 1961, para registrar pro� ssionais e empresas, � scalizar o exercício pro� ssional e zelar pela ética. A missão

de valorizar o farmacêutico é uma bandeira que o CRF-SC assumiu com a categoria. Compõem o plenário dos CRF: 12 conselheiros e três suplentes eleitos pelo voto direto dos farmacêuticos inscritos. Entre os conselheiros, quatro compõe a diretoria. São eles:

Hortência Salett Muller Tierling, presidente do CRF/SC, trabalha na vigilância sanitária municipal de Chapecó. É especialista em saúde pública pela ENSP/Fiocruz e foi diretora do Sindicato dos Farmacêuticos e do Departa-mento de vigilância sanitária de Chapecó. É Membro do comitê assessor da ANVISA/MS para o programa Farmácia Noti� cadora, como representante do CRF/SC, conselheira do Conselho Municipal de Saúde de Chapecó.

Silvana Nair Leite Contezini, vice-presidente do CRF/SC, foi consultora do Departamento de Assistência Farma-cêutica do Ministério da Saúde, é diretora do Sindicato dos Farmacêuticos, gestora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Inovação Farmacêutica e avaliadora dos cursos de Farmácia pelo MEC.

Tércio Egon Paulo Kasten, diretor-secretário geral do CRF/SC, é farmacêutico-bioquímico com MBA em Gestão Empresarial Financeira e de Marketing. Além de conselheiro, é tesoureiro do Sindicato dos Laboratórios e membro do Conselho Estadual de Saúde.

Paulo Sérgio Teixeira Araújo, diretor-tesoureiro do CRF-SC, é farmacêutico-bioquímico, mestre em Educa-ção e Cultura pela UDESC, foi proprietário de farmácia, diretor da Associação dos Farmacêuticos Proprietários de Farmácia e do Sindicato dos Farmacêuticos, é conselheiro

do Conselho Estadual de Saúde, tesoureiro-adjunto da ASCOP, Associação dos Conselhos Pro� ssionais e membro efetivo da Farma & Farma.

ConselheirosJosé Miguel do Nascimento Júnior, Luiz Henrique da

Costa, Eduardo Comeli Goulart, Laércio Batista Júnior, Silvana Nair Leite, Maria Elisabeth Menezes, Karen Berenice Denez, Renate Schaefer, Lea Regina Conrado Costa Lima.Suplentes: Álvaro Luiz Parente, Carlos Roberto Merlin.

Conselheiro Federal Paulo Roberto BoÇ é farmacêutico-bioquímico, especia-

lista em Administração e mestre em Farmácia pela UFSC. Especialista em Saúde Coletiva pela Unisul, onde é profes-sor e gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão. É professor substituto no Departamento de Ciências Farmacêuticas da UFSC e diretor do Sindfar-SC. Anna Paula de Borba Batschauer é conselheira federal suplente.

O TRABALHO DAS COMISSÕESEm Santa Catarina atuam nove � scais, todos graduados

em farmácia. Por dia são � scalizados, em média, 120 esta-belecimentos. A conduta ética do pro� ssional, em acordo com o código deontológico, é acompanhada por comissão especí� ca. A Comissão de Ética oportuniza o diálogo entre pro� ssionais e CRF/SC nos casos de infração ética do farmacêutico. Pro� ssionais dos diversos setores far-macêuticos compõem as comissões, presidida em âmbito estadual pela professora da UNIVILE e funcionária da Vigilância Sanitária, Corina Charlotte Keller.

Há 7707 farmacêuticos inscritos no CRF/SC. A Comissão

formulação de conceitos e análise do eixo central de formação dos farmacêuticos.

Comissão de ensino:

AGOSTO 201132ESPAÇO FARMACÊUTICO

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33AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EFde Ensino do CRF/SC discute a formação em farmácia no âmbito da graduação e da pós-graduação, especialmente em Santa Catarina. Conselheiros e docentes da rede pú-blica e privada de educação compõe a comissão. Fortalecer o diálogo com as instituições, professores e estudantes, contribuir na política educacional de farmácia e promover a quali� cação pro� ssional, são as suas principais ações.

As Universidades que, em território catarinense, oferecem o curso de Farmácia são: UFSC – Florianópolis; UNIVA-LI – Itajaí; UNIVILLE – Joinville; FURB – Blumenau; UNISUL – Tubarão; UNESC – Criciúma; UNOESC – Videira e São Miguel do Oeste; UNOCHAPECÓ – Cha-pecó; UNIARP -Caçador; UNC – Concórdia e Canoinhas; FACVEST – Lages; UNIBAVE – Orleans; ESTÁCIO DE SÁ – São José

A Comissão de Farmácia elabora e desenvolve ações para que a farmácia seja reconhecida como Estabelecimento de Saúde. Representantes do setor comercial, de manipulação, homeopático e hospitalar, entre outros, compõem o espaço de debates. O estímulo à farmacovigilância – programa de monitoramento de reações adversas – e a adequação para a venda de medicamentos fracionados, são outros enfoques. Paulo SérgioTexeira Araújo, Diretor Tesoureiro do CRF/SC, é o presidente da Comissão.

Em Santa Catarina, os farmacêuticos são proprietários ou responsáveis técnicos de 90% dos laboratórios de análises

clínicas, de acordo com dados do próprio Conselho. O associativismo no setor, a adequação as novas resoluções da Anvisa, a empregabilidade e a remuneração dos farma-cêuticos são eixos fundamentais da Comissão de Análises Clínicas. A conselheira-federal suplente Anna Paula Borba Batschauer é a presidente da Comissão.

No ano de 2007, o CRF-SC inaugurou um novo espaço para interlocução com o farmacêutico atuante na indús-tria. A Comissão de Indústria tem trabalhado, neste ano, na orientação aos farmacêuticos responsáveis técnicos de indústrias para implantação das regras de farmacovigilância industrial determinadas na Resolução n°04 da Anvisa, uma normatização inédita no setor, que através do monitora-mento dos efeitos do medicamento permite criar padrões de segurança e qualidade para o usuário.

A Comissão foi idealizada pela então vice-presidente do CRF-SC, Hortência Tierling, com um grupo de far-macêuticos industriais após a edição do I Seminário da Indústria Farmacêutica. A referida comissão se destaca pela realização de eventos da área com expressiva adesão de farmacêuticos e acadêmicos.

Para elaborar estratégias de inserção dos farmacêuticos no SUS, o CRF-SC criou a Comissão de Assistência Farmacêu-tica no Serviço Público, presidida por Cristiane Ropelatto.

assessora o CRF-SC em que stões políticas e técnicas.Comissão de Análises Clínicas:

elabora e desenvolve ações para que a farmácia seja reconhecida como Estabelecimento de Saúde. Representantes do setor comercial, de manipula-ção, homeopático e hospitalar, entre outros, compõem o espaço de debates

Comissão de Farmácia:

Rename do SUS

33AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

Comissão de Indústria: de olho nas regras da farmacovigilância

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AGOSTO 201134ESPAÇO FARMACÊUTICO

Todas as atividades do CRF-SC têm o poder de alcance a todos os municípios catarinenses através da capilaridade per-mitida pelas seccionais. Há pelo menos 6 anos o CRF-SC vem implementando uma política de aumento gradual de seccionais e de � scais. Hoje, a estrutura conta com:

Seccional Oeste - em Chapecó - e-mail: [email protected] Seccional Sul - em Criciúma - e-mail: [email protected] Seccional Norte - em Joinville - SC - e-mail: [email protected] Seccional Serrana - e-mail: [email protected] Seccional Vale do Itajaí - e-mail: [email protected] Seccional Meio Oeste - e-mail: [email protected]

Nas seccionais trabalham 12 funcionários. Em Florianópolis, o CRF-SC trabalha e atende em sede própria, no centro, com 35 funcionários. As Plenárias ocorrem uma vez por mês, ordinariamente, ou quantas vezes forem neces-sárias, em reuniões extraordinárias, conforme prevê o estatuto.

A REPRESENTATIVIDADE DEMOCRÁTICA DO CRF-SC E A MISSÃO DELEGADA PELA CATEGORIA AOS CONSELHEIROS E DIRETORES

OS farmacêuticos catarinenses determinaram o rumo de atuação que desejam para o Conselho Regio-nal de Farmácia de Santa Catarina nos próximos anos. Os farmacêuticos votaram por um CRF-SC atuante na valorização do trabalho da Assistência Farmacêutica e pela defesa da Saúde Pública.

Essa valorização do trabalho de Assistência Farmacêutica só se concretiza com um posicionamento tático bem esclarecido e decidido do CRF-SC em relação a dois pontos: capacitação pro� ssional e � scalização do exercício pro� ssional.

Ambas ações encaminham para a conquista de um mercado de trabalho aberto e regulado, nos setores público e privado, e para a prestação do serviço de Assistência Farmacêutica como um direito social.

Em recente pesquisa online no site do CRF-SC, 48% dos participantes informaram que gostariam que o CRF-SC realizasse 10 inspeções por ano em cada estabelecimento. A categoria compreende que a � scalização defende os bons pro� ssionais e os bons empresários, além de proporcionar aos usuários a segurança e proteção do cuidado farmacêutico.

Na área de capacitação, o CRF-SC já está percorrendo diligentemente todo o estado de Santa Catarina para realizar palestras de Orientação Farmacêutica, e desta forma permitir a atualização e reciclagem dos conhecimentos dos cole-gas farmacêuticos sobre as legislações sanitária e pro� ssional vigentes. A Comissão de Análises Clínicas do CRF-SC

CRF-SC promove cursos e palestras em todas as regiões para atualizar e qualificar o farmacêutico catarinense.

CAPACITAÇÃO:

AGOSTO 201134ESPAÇO FARMACÊUTICO

criada em 2010 e presidida pelo farmacêutico Marcos Somer para ajudar o CRF-SC a planejas

ações de melhoria no transporte e armazena-mento de fármacos.

Comissão de Logística:

35AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EFtambém tem feito reuniões itinerantes, e o Conselho tem regularmente promovido palestras e workshops sobre temas de alto interesse ao saber farmacêutico, como as Resoluções da Anvisa, o desenvolvimento industrial de medicamentos, e o uso racional de antimicrobianos, entre tantos outros.

Na arena política, o Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina tem atuado nas linhas de frente na batalha em favor dos interesses dos farmacêuticos e na defesa da Saúde Pública. Representantes do CRF-SC estão em ligação direta e constante com parlamentares, pressionando pela aprovação da Emenda Constitucional 29, que garantirá mais recursos ao SUS; pela aprovação do projeto de lei de autoria do deputado Ivan Valente que de� ne as Farmácias como Estabelecimentos de Saúde; na defesa das atribui-ções farmacêuticas ameaçadas pela lei conhecida como Ato Médico; e no trabalho da Comissão de Ensino ajudando a de� nir novos parâmetros para a formação farmacêutica, a Comissão de Análises clinicas luta por melhor remuneração e menos impostos na área.

Desde 2003, quando o presidente do CRF-SC era o far-macêutico José Miguel do Nascimento Júnior, o Conselho de Farmácia de Santa Catarina apoia e realiza, conjunta-mente com o Sindfar/SC, o evento FARMAPOLIS, hoje na 15ª edição. O FARMAPOLIS é um encontro técnico e cientí� co capaz de indicar, aos participantes, os caminhos

e menos impostos na área.

que os farmacêuticos vão trilhar como categoria nos pró-ximos dois ou três anos, nas áreas da política pro� ssional, regulação sanitária, formação acadêmica, investimentos industriais, dentre outros.

A FISCALIZAÇÃO

Para espanto de alguns, nos últimos anos o Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina incrementou as atividades de fiscalização em todo o estado. Este trabalho é consequência natural e direta da Lei 3.820 de 1960, que criou o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Farmácia. A lei preconiza que os Conselhos estão destinados a “zelar pela fiel observância dos princípios da ética e da disciplina da classe”. E no artigo 10, a lei determina que é atribuição dos Conselhos “fiscalizar o exercício da profissão, impedindo e punindo as infrações à lei”. Atribuição. Não é algo que os Conselhos possam escolher ou não fazer. É um dever. É para isso que os Conselhos existem.

Mas há quem se incomode, e levante a voz contra a fiscalização. Com ideias supostamente sedutoras, como “menos regulação e menos multa”, “mais liber-dade de ação”, essas vozes confundem aqueles que não estão suficientemente informados sobre os riscos de tal comportamento.

A atividade do fiscal é benfazeja, protetora da categoria dos farmacêuticos

e dos empresários que se esforçam para atuar em sintonia com as leis do país. Esses empresários honestos sofrem uma concorrência desleal daqueles outros que não respeitam a mesma legislação.

Um exemplo recorrente: duas farmácias se inscrevem no CRF-SC, registrando o horário de funcionamento. Uma delas informa que vai trabalhar das 9hs às 22hs, e contrata os farmacêuticos necessários para cumprir esta jornada. Essa farmácia gera emprego e provê assistência farmacêutica em tempo integral para seus clientes, respeita a categoria e a sociedade. A outra farmácia informa que vai trabalhar só em horário comercial. Mais tarde, a fiscalização do CRF-SC aparece lá às 23hs e flagra a farmácia funcionando – sem farmacêutico. Esse último proprietário reclama quando é autuado.

A auto-regulação é um conceito derivado da Teoria do Liberalismo Econômi-co. Mesmo sem saber, é algo muito presente nas nossas vidas. Difundida pelo escocês Adam Smitt, em meados do século XVIII, a teoria defende que a “mão invisível do mercado” regula melhor todas as atividades do que as intervenções de um poder público.

protagonismo do CRF-SCProtesto em Chapecó contra Ato Médico:

RESOLUÇÕES DO CONSELHO FEDERAL DE FAR-MÁCIA RESOLUÇÃO Nº 3 DE 31 DE AGOSTO DE 1961

Ementa: Criação Conselho Regional deFarmácia do Estado de Santa Catarina.

O CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA, usan-do das atribuições que lhe confere a alínea “o” do artigo 7º da lei 3.820, de 1960,RESOLVE:Art. 1º - Criar o décimo primeiro Conselho Regional de Farmácia, dotado de personalidade jurídica de direito público e autonomia administrativa e fi nanceira, cuja siglaserá CRF-11, com jurisdição no Estado de Santa Catarina e sede em Floria-nópolis.Art. 2º - A presente Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

JAYME TORRESPresidente

35AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

AGOSTO 201136ESPAÇO FARMACÊUTICO

Embora a ideia tenha sido aplicada com sucesso ao setor de telecomunicações e da indústria automobilística, por exemplo, é um erro aplicar a teoria a esta-belecimentos ligados à saúde.

A presença do farmacêutico nas farmácias não se trata de uma reserva de mercado nem um capricho do Conselho. É uma medida reconhecida em lei federal como obrigatória para a manutenção da saúde pública. Não há como o mercado se “auto-regular” neste quesito. A única regulação possível é a que obedece à lei. E a única postura digna do Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina é exercer uma fiscalização vigilante, alerta e até intransigente sobre todos que insistem em atuar à margem da lei, desrespeitando a sociedade e a categoria dos farmacêuticos.

A maioria dos farmacêuticos que trabalha na dispensação de medicamentos em farmácias costuma receber bem os colegas farmacêuticos-fiscais do CRF-SC. Entendem que o fiscal valoriza a profissão e defende a criação de postos de trabalho necessários para a categoria e para o público.

Não há motivo para espanto, portanto, no incremento da fiscalização ordenado pela diretoria deste Conselho. É apenas uma medida profilática, de proteção aos colegas e da sociedade. A redução desta atividade daria margem à proliferação de estabelecimentos sem farmacêuticos, de acordos ilícitos para assinatura de responsabilidade técnica sem a presença física do profissional e a outras irregularidades que não só implicam risco à saúde pública, mas também aviltam a categoria e os salários. Ou seja, seria o caminho do abismo.

Redução de processos éticos

Fiscalização em Farmácias de Florianópolis:Saúde para o usuário, valorização do farmacêutico.

Ação do CRF-SC é de orientação e aconselhamento.

ORIENTAÇÃO FARMACÊUTICA

“Desde 2007, o CRF-SC vem realizando a aplicação das fichas de orientação e verificação das condições do exercício profissioal, com o intuito de orientar os profissionais farmacêuticos nas diversas áreas de atuação profissional em relação à legislações sanitária e profissional vigentes” relata a presidente do CRF-SC, Hortência Tierling. “Ainda estamos realizando orientações individuais nas seccionais do CRF-SC e na sede, onde o fiscal designado orienta farmacêuticos que possuem ausências com o objetivo de instruí-los em relação ao código de ética profissional e demais normas”, conclui a presidente. Este trabalho tem a intenção de reduzir o número de processo éticos por ausência. O fiscal orienta o colega e dá os encaminhamentos, se necessário, por exemplo ao Sindfar, se o colega não está prestando assistência por falta de pagamento do seu salário. “Ainda estamos realizando diversos cursos de reciclagem profissional de forma regionalizada, procurando consultar os profissionais, através do site do Conselho, sobre os interesses mais preementes da categoria no estado para atualizações”, informa a presidente Hortência Tierling. Em março de 2011, foi criado o Depar-tametno de Ética e Orientação Farmacêutica, coordenado pelo farmacêutico Xênio Marques, como consequência do sucesso do trabalho nos anos de 2009

e 2010 e a redução de problemas éticos por ausência.

AGOSTO 201136ESPAÇO FARMACÊUTICO

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37AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

Ação do CRF-SC com o Ministério Público:promotor Alexandre Herculano de Abreu recebe representação do CRF-SC e do Sindfar/SC.

ATUAÇÃO DO CRF-SC NO ÂMBITO DOS MUNICÍPIOS

O Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina deu entrada com uma representação no Centro de Apoio Operacional da Cidadania e Fundações, que opera como suporte técnico-jurídico no Ministério Público Estadual, para que ocorra intervenção do MP na questão das Farmácias Públicas Municipais, bem como vigilâncias sanitárias municipais e regionais de saúde. A presidente do CRF-SC, Hortência Tierling, junto com a assessoria jurídica e a chefia do Departamento de Fiscalização (DFI) do CRF-SC solicitaram ao Centro de Apoio do MP que atue no sentido de regular o funcionamento dos serviços públicos.

A Promotoria de Justiça recebeu um ofício do DFI informando que a legislação pertinente demonstra a obrigação do ente público de manter em suas farmácias (que insistem em chamar de dispensários de medicamentos) profissionais farmacêuticos devidamente registrados no CRF, bem como a obrigatoriedade da sua inscrição no órgão de classe. A lei pretende, com isso, garantir ao usuário o acesso seguro ao medicamento, tanto no setor público quanto no privado.

O CRF-SC quer que o Ministério Público interfira para que todas as Farmácias Públicas Municipais, – presentes, geralmente, no interior das unidades básicas de sáude dos municípios - vigilâncias municipais e regionais de saúde de Santa Catarina possam contar com a presença do profissional farmacêutico, o que não vem ocorrendo por desobediência de alguns gestores estaduais e municipais à legislação.

O Tribunal de Contas do Estado já se manifestou a respeito, após realizar uma auditoria operacional na Secretaria de Estado da Saúde. O TCE decidiu e relatou como medida de alto impacto “a permanência de responsável técnico em cada farmácia, durante todo o período de dispensação, com certificado de responsabilidade técnica concedido pelo Conselho Regional de Farmácia”(relatório n°001/2008).

Quando o Movimento Superação assumiu a diretoria do CRF-SC, em 2003, eram 36 municípios com profissionais inscritos no CRF-SC em Santa Catarina. Hoje são mais de 240, dos 293 municípios. Isso é resultado de um trabalho constante de fiscalização e de visitas a gestores municipais de saúde, em audiências nas quais a diretoria do CRF-SC esclarece e reafirma a importância da presença do profissional farmacêutico nos serviços públicos de saúde.

O CRF-SC, no entanto, com frequência recebe denúncias envolvendo erros na dispensação de medicamentos causados por inexistência de farmacêuticos nas farmácias das Unidades Públicas de Saúde. Cópias dessas denúncias foram entregues ao Promotor de Justiça.

37AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

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AGOSTO 201138ESPAÇO FARMACÊUTICO

A representação do CRF/SC que levou o Ministério Público a recomendar a anulação do edital que

resultou na contratação da empresa Laboratório Diagnósticos da Améri-ca Latina S/A (DASA) pela Prefeitura Municipal de Florianópolis teve reper-cussão na edição do jornal Valor Eco-nômico do dia 14 de junho. Segundo matéria publicada no periódico, um dos mais importantes da área econômica, a resistência catarinense do CRF e dos laboratórios locais pode ser fundamen-tal para garantir o cumprimento da Constituição em outros estados e muni-cípios no país. "Os episódios em Santa Catarina podem abrir precedentes em outras praças em que a Dasa já atua ou pretende entrar", diz a reportagem. Veja abaixo a reprodução na íntegra:

AÇÕES POLÍTICAS E INSTITUCIONAIS

DO CRF-SC

GRUPO DE LABORATÓRIOS TENTA BARRAR DASA

Beth Koike | De São PauloValor Econômico - 14/06/2011 A Dasa, maior empresa de medicina diagnóstica do país, enfrenta difi culdades para entrar na área da saúde pública de Santa Catarina. Os laboratórios de Florianópolis e São José, e entidades locais como o Conselho Regional de Farmácia (CRF), alegam, judicialmente, que a Dasa tem sócios estrangeiros e por isso não pode operar em postos de saúde públicos. O MP de Santa Catarina já recomendou a anulação do contrato entre a prefeitura de Florianópolis e a Dasa, com sede em

CRF-SC está à frente do movimento que impediu a entrada e atuação de laboratório com capital estrangeiro em Santa Catarina. É a lei, e lei existe para ser cumprida.

“Gringos, go home”:

39AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EFSão Paulo. Em São José, um grupo de laboratórios locais obteve decisão liminar favorável na justiça, que impede a atuação da Dasa, que pode recorrer. A decisão tomou como base leis que determinam que empresas de capital estrangeiro estão impedidas de participar de licitações no setor de saúde pública. "A lei orgânica da saúde e a Constituição Federal são claras e vedam a participação de empresas com capital estrangeiro, direta e indiretamente, em licitações de saúde. Só há exceção para planos de saúde", diz o advogado Dagoberto Lima, espe-cializado em legislação na área da saúde. "Laboratórios com capital de fora, normalmente, constituem empresa nacional para participar de licitações, mas se alguém questionar, a licitação pode ser facilmente anulada", diz Lima. Os episódios em Santa Catarina podem abrir precedentes em outras praças em que a Dasa já atua ou pretende entrar. Com pelo menos 45% do capital nas mãos de investidores estrangeiros, a Dasa tem contratos com 36 secretarias de saúde nos Estados de São Paulo, Rio, Espírito Santo, Minas Gerais e Tocantis. No ano passado, a divisão da Dasa que atua em postos públicos por meio da marca Cientifi caLab, gerou receita de R$ 186 milhões, um aumento 8,4% sobre 2009 - um dos maiores crescimentos dentro da companhia. A Cientifi caLab representa 11,4% do faturamento total da companhia, que somou R$ 1,6 bilhão no ano passado. O mercado brasileiro de laboratórios é bastante pulverizado com cerca de 8 mil empresas de medicina diagnóstica, sendo que a maioria é de pequenos laboratórios que normalmente têm difi culdades de enfrentar grandes grupos. Em Santa Catarina, houve uma movimentação conjunta. Em Florianópolis, oito laboratórios - Unidos, Trindade, Santa Luzia, Gênesis, Pró-Vida, Nossa Senhora de Fátima, Ciência e Diagnóstico - se reuniram e passaram a ser conhecidos como "G-8". O grupo ganhou recentemente mais um integrante, o laboratório São Clemente. "Um dos nossos associados pediu que o Conselho Regional de Farmácia entrasse com uma representação no Ministério Público [ de Santa Catarina]. O MP recomendou a anulação do contrato fi rmado entre a prefeitura de Florianópolis e a Dasa. Nossa alegação é que a Dasa tem capital estrangeiro", explicou Sérgio Gomes Simões Junior, advogado do CRF de Santa Catarina, cujo parecer favorável aconteceu há cerca de 10 dias. "Nossa recomendação foi de anulação, mas o administrador local [prefeitura] fez ponderações, alegando que a Vita Lâmina já atuava na área pública antes de ser comprada pela Dasa e que, portanto, poderia continuar prestando serviços. Diante disso, solicitei ao administrador que consultasse o órgão federal responsável pelo SUS ", explicou o promotor Aor Steffens Miranda, da 31ª Promotoria de Justiça da Comarca da Capital, referindo-se ao Ministério da Saúde. "Agora, cabe ao órgão federal decidir se a atuação da Dasa fere ou não a lei do SUS, que impede a participação de empresas com capital estrangeiro em licitações", complementou. Procurada pela reportagem do Valor, a Dasa informou, por meio de comunicado, que "por ser uma empresa de capital difuso e também com o objetivo de preservar todas as partes envolvidas, não se manifesta sobre processos licitatórios e concor-rências que estão em andamento." A Dasa já atua no mercado privado em várias cidades catarinenses desde 2001, quando comprou o Lâmina. De acordo com os integrantes do "G-8", o edital da licitação também exige que a empresa ganhadora tenha laboratório em Florianópolis. E, segundo o grupo, a Dasa envia seus exames a São Paulo. A movimentação contra a atuação da Dasa na área pública começou por São José, cidade catarinense em que os laboratórios Bioclínico, Continente e Santa Filomena conseguiram impedir a presença da Dasa no município há cerca de 60 dias. "Entra-mos na justiça comum com uma ação bloqueando a participação da Dasa nos postos de saúde de São José. O contrato é de cerca de R$ 250 mil, por mês", disse Vlademir Marques, dono do laboratório Continente. A liminar foi concedida pela Vara da Fazenda Pública da Comarca de São José. Segundo Marques, os laboratórios de Joinville também estão se movimentando para impedir a entrada da Dasa na cidade. O grupo paulista de medicina diagnóstica Biofast, com forte atuação na área pública, também vem se movimentado. "Entra-mos com impugnações junto ao Tribunal de Contas contra a Dasa há cerca de um ano. Alguns contratantes alegam que a proibição de grupos com capital estrangeiro não está explicito no edital e deixam passar, mas a lei é bem clara", disse Rogério Saladino, presidente da Biofast.

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AGOSTO 201140ESPAÇO FARMACÊUTICO

CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE MANIFESTA APOIO A ADIN QUE CONTESTA OS'S

O Conselho Nacional de Saúde declarou-se favorável à Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) 1.193 im-petrada no Supremo Tribunal Federal (STF) que contesta a legalidade das organizações sociais (OSs) como gestoras dos serviços públicos de saúde. A decisão foi manifestada em Moção de Apoio aprovada pelos conselheiros durante a 222ª Reunião Ordinária no dia 08 de junho. A reunião também debateu as metas do governo para a saúde.

De acordo com o texto da Moção, as Organizações Sociais vem sendo defendidas como medidas que mo-dernizam as gestões, mas na verdade reforçam e ampliam “a ação patrimonialista e clientelista”, “enfraquecem o Estado brasileiro” e criam “distorções na remuneração de pessoal, precarizando as relações de trabalho bem como desconstruindo e inviabilizando quase que por completo, a possibilidade de atuação sinérgica e produtiva da equipe multipro� ssional em saúde”.

A reunião também apreciou a pré-proposta para o Plano Plurianual de Aplicação (PPA) 2012/2015. A proposta de� ne as metas e objetivos que o governo buscará alcançar através de projetos e programas na área da saúde pelos próximos anos. Depois de consolidada e apreciada pelas casas legislativas federais, essa peça de planejamento vira Lei para orientar o Gestores Públicos na execução dos gastos e na aplicação dos investimentos.

A pré-proposta do PPA 2012/2015 foi elaborada a partir das diretrizes estratégicas da Presidência da República, orientadas para a inclusão social e redução das desigual-dades regionais; crescimento com geração de trabalho, emprego e renda, ambientalmente sustentável e redutora das desigualdades regionais; e promoção e expansão da

cidadania e fortalecimento da democracia. Acompanhar a elaboração da proposta é uma das atribuições do CNS como órgão máximo do controle social da saúde no Brasil.

As sugestões de alteração propostas pelos Conselheiros Nacionais serão encaminhadas para análise da Comissão Permanente de Orçamento e Financiamento (Co� n) que tem até o � m de junho para repassar à Secretaria Executiva do Ministério da Saúde. O documento � nal voltará a ser apresentado na próxima reunião do CNS nos dias 5 e 6 de julho.

entrega de hospitais públicos para gestão de Organizações Sociais causa “distorções na remuneração de pessoal, precarizando as relações de tra-balho bem como desconstruindo e inviabilizando quase que por completo, a possibilidade de atuação sinérgica e produtiva da equipe multiprofissio-nal em saúde”

CNS SE POSICIONA:

41AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

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UMA VISÃO DO FUTURO: A INCLUSÃO MACIÇA DOS FARMACÊUTICOS NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

O CRF-SC, através de sua diretoria, procura incentivar os colegas a participarem dos Conselhos Municipais de Saúde. "Fazendo isso, os farmacêuticos podem defender consistentemente e progressivamente uma política de assis-tência farmacêutica a nível municipal", a� rma a presidente Hortência Tierling. Diversos municípios já contam com farmacêuticos, inclusive como representantes do CRF-SC nos seus Conselhos Municipais de Saúde, o que também tem contribuído no processo de inclusão dos farmacêuticos no SUS. No ano de 2010 foi criada a COMISSÃO DE FARMACÊUTICOS DO SUS, presidida pela farmacêutica Cristiane Ropelatto, de Rio do Sul, que tem o objetivo de fornecer ao CRF-SC as informações e análises estratégicas e políticas que vão ajudar a constituir planos de ação internos e externos para o fortalecimento da presença dos farmacêuticos no SUS e a sua consequente capacitação continuada.

CRESCIMENTO INSTITUCIONAL DO CRF-SC De 2003 até agora, o número de � scais atuantes em todas as regiões do estado triplicou. Passou de 3 para 9 � scais.

O mesmo ocorreu com o número de seccionais, que passou de 2 para 6. A sede do CRF-SC em Florianópolis passou por reforma. O CRF-SC promoveu concurso público, conforme manda a lei, para ampliar o quadro de funcionários, e renovou a política de comunicação interna ( da qual essa edição de Espaço Farmacêutico faz parte e é um exemplo).

DADOS DO DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO E CONTROLE EM JUNHO DE 2011

5250 ESTABELECIMENTOS REGISTRADOS NO CRF-SC2856 DROGARIAS404 FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO OU HOMEOPÁTICAS458 LABORATÓRIOS DE ANÁLISES CLÍNICAS380 POSTOS DE COLETA264 FARMÁCIAS HOSPITALARES117 DISTRIBUIDORAS14 TRANSPORTADORAS9 INDÚSTRIAS FARMACÊUTICAS

70% dos farmacêuticos atuantes em SC são mulheres.41% JOVENS ATÉ 30 ANOS

AGOSTO 201142ESPAÇO FARMACÊUTICO

“Construir hoje a profissão valorizada de amanhã”O Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina é um incansável

articulador e mobilizador político na defesa da Farmácia Estabeleci-mento de Saúde. Foi a partir de Santa Catarina que o Brasil conheceu a campanha “Farmácia não é um simples comércio. Sua vida não tem preço”, difundida pelo CRF-SC. Há mais de uma década o CRF-SC vem ajudando a construir, passo a passo, o novo contrato social que passará a reger o funcionamento de farmácias e drogarias: o substituto ao PL 4.384/94 de autoria do deputado Ivan Valente (PSOL_SP).

Em 1994 havia apenas 1.378 farmacêuticos inscritos no CRF-SC. Hoje são mais de 7 mil. Aqueles futuros farmacêuticos que eram crianças ou adolescentes na década de 1990 não não tinham ideia do estrago que representava para a sua futura profissão a proposta apresentada naquele ano pela Senadora Marluce Pinto (PMDB/CE) para alterar a Lei 5991/73, que dispõe sobre controle de drogas, medicamentos e insumos farmacêuticos. Essa lei é o contrato que ainda hoje rege o funcionamento das farmácias.

O projeto eliminava a obrigatoriedade da presença do farmacêutico nos estabelecimentos que fazem a dispensação de medicamentos. Nos casos de drogarias e ervanários, a responsabilidade técnica tanto poderia ser do farmacêutico, como do oficial de farmácia ou até mesmo do auxiliar de farmácia com curso profissionalizante de nível médio. No final das contas, farmacêutico viraria peça decorativa, absolutamente dispensável nos estabelecimentos. “Um verdadeiro descaso com a profissão farma-ceutica e a saúde pública”, afirma a presidente do CRF/SC, Hortência Sallet Müller Tierling.

Em 1997, as organizações de profissionais farmacêuticos do país começaram a dar forma a um substitutivo que integrasse as farmácias ao Sistema Único de Saúde e colocasse o farmacêutico como peça cen-tral do serviço. A proposta foi apresentada pelo deputado Ivan Valente (PSOL) a pedido da categoria. A aprovação do substitutivo é uma batalha: compete com o lobby da indústria farmacêutica e dos empresários do setor. “Se precisamos construir a profissão farmacêutica de amanhã, a nossa tarefa, hoje, é defender o substitutivo”, alerta Ronald dos Santos, dirigente da Fenafar, assessor técnico do CRF/SC.

"Assistência farmacêutica é prioridade", diz Padilha

O Ministro da Saúde Alexandre Padilha revela que projeto farmácia estabelecimento de saúde irá avançar e diz que não há dúvidas sobre a eficiência do farmacêutico na rede pública.

Padilha é médico infectologista e o mais jovem ministro do governo,

com 39 anos. Foi diretor nacional de saúde indígena da Fundação Na-cional de Saúde (Funasa), chefe de gabinete da subchefia de Assuntos Federativos da Presidência da República e ministro das Relações Insti-tucionais do governo Lula. Reproduzimos aqui suas declarações para a Revista do Farmacêutico, do CRF-SP.

Revista do Farmacêutico - Durante a posse, o senhor falou sobre o caráter ousado do Ministério da Saúde e sobre o amadurecimento do SUS. Qual será a postura do Ministério em relação ao assunto?

Alexandre Padilha - Estabeleci como prioridade da gestão o acesso aos serviços de saúde. Essa será a minha obsessão como ministro e divido esse desafio com toda a equipe do Ministério da Saúde. Estudos demonstramque o usuário do SUS, quando faz a consulta e passa pelos serviços, considera o atendimento satisfatório. O que deixa a desejar é a agilidade.Por esse motivo, queremos garantir o acolhimento dos pacientes com qualidade e no tempo adequado. Estamos trabalhando na criação deum indicador de garantia de acesso que possa mensurar o andamento das políticas públicas de saúde e o impacto delas na vida das pessoas,

ATUAÇÃO POLÍTICA: FARMÁCIA ESTABELECIMENTO DE SAÚDE

AGOSTO 201142ESPAÇO FARMACÊUTICO

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43AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

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nacional e regionalmente. Precisamos avaliar o que o SUS consegueresolver, em que medida o acesso à saúde é de qualidade e qual o nível de satisfação do usuário. Essa avaliação nos dará a dimensão exata dasáreas em que é preciso reforçar serviços. Queremos trabalhar o indicador e as ações que serão determinadas a partir dessa análise junto aos estados e municípios, criando redes de saúde nos espaços que necessitam de apoio. A proposta é centralizar a gestão das redes de saúde nesses espaçosfazendo contratos entre estados e municípios, com objetivos e metas clarasa serem cumpridos e acompanhados conforme a realidade regional.

O PL 4385/94, do deputado Ivan Valente, é uma das prioridades do Ministério.

RF - Muitas farmácias mantidas pelopoder público não contam com a assistência farmacêutica. Como o senhor avalia essa situação?

AP - Existe um esforço constante por parte do Ministério da Saúde em aprimorar os serviços farmacêuticos.Desde o início de 2010 começamos a trabalhar com um novo sistema de informações, o Sistema Hórus,que integra dados das farmácias, unidades de saúde e almoxarifados da rede pública local e serve para ajudar o gestor no planejamento emonitoramento das ações de assistência farmacêutica. Elegemos 16 es-tados como pilotos para testar e aprimorar a ferramenta e mais de 750 cidades já optaram por aderir ao projeto. Outra ação importante nessa área são os cursos de capacitação em assistência farmacêutica promovidos pelo Ministério da Saúde para o desenvolvimento de conhecimento e qualificação dos serviços. As iniciativas, desde 2009 até o fim desseano, devem envolver cerca de 3.000 farmacêuticos. Uma das propostas em andamento é o curso de Especialização em Gestão da Assistência Farmacêutica, cuja primeira turma começou em 2010 e este ano deve-

remos abrir novas turmas.

RF - Em sua opinião, como o farmacêutico se insere na promoção à saúde?

AP - A assistência farmacêutica pode contribuir de forma efetiva para ampliar o acesso da população a medicamentos, bem como para pro-mover o uso racional desses produtos. Em unidades de saúde, o bomgerenciamento das farmácias pode ajudar, inclusive, na redução dos custos, seja pela revisão das listas de oferta de medicamentos, pela possibilidadede o farmacêutico manipular ou fracionar o produto, entre outras ações. Não há dúvida que a eficiência desse serviço impacta positivamente naqualidade do tratamento e no melhor aproveitamento dos recursos para o setor.

RF - Qual a sua opinião sobre o substitutivo apresentado pelo deputadoIvan Valente ao PL 4385/94, que transforma a farmácia em um esta-belecimento de saúde?

AP - O Ministério da Saúde entende que drogarias e farmácias são estabelecimentos que cumprem um papel social importante na saúde e integrado à lógica de funcionamento do setor. A assistência farmacêutica é um direito da população e esses estabelecimentos, ao garantirem a oferta de medicamentosà sociedade, têm um papel social importante acumprir. Sendo assim, a proposta da PL 4385 é um assunto que está entre as prioridades do Ministério e que vamos avançar.

RF - Como o Ministério cobrará o cumprimento da Portaria nº 4.283/2010,que traz diretrizes para a organização do serviço de farmácia nos hospitais?

AP - A Portaria atende a uma antiga demanda do setor farmacêutico e foi

Farmácia Estabelecimento de Saúde vai aumentar.

PADILHA:

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AGOSTO 201144ESPAÇO FARMACÊUTICO

resultado do diálogo com diferentes atores. Formamos um grupo de trabalho com a participação de gestores estaduais, municipais e representantes das entidades profissionais e de saúde para elaboração conjunta da Portaria. As diretrizes definidas na nova legislação orientamos gestores do SUS a aprimorarem o funcionamento das farmácias hospitalares. Entre outras ações, incentiva a participação do farmacêutico na avaliação da necessidade de aquisição ou substituição de medicamentos,a manipulação e o fracionamento dos produtos, uma vez que eles são os profissionais habilitados para esta atividade. Em junho deste ano,realizaremos um fórum sobre o assunto, em que haverá troca de experiências e debate sobre a qualificação das farmácias hospitalares.

RF - Qual é a real dimensão do problema do uso irracional de antibióticos no Brasil?

AP - O objetivo da Anvisa, ao ampliar o controle sobre os antibióticos, é contribuir para a redução da resistência bacteriana entre a população.Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que mais de 50% das prescrições de antibióticos no mundo são inadequadas.

RF - O Ministério pretende ampliar o programa “Aqui Tem Farmácia Popular”?

AP - É crescente o número de farmácias e drogarias credenciadas ao Aqui Tem Farmácia Popular. Hoje, são mais de 15 mil estabelecimentosprivados vinculados ao programa. O Farmácia Popular do Brasil, considerando unidades próprias e rede privada, beneficia mais de 2,3 milhões debrasileiros por mês. O sistema desenvolvido para viabilizar a oferta de produtos com descontos e gratuitos – no caso de medicamentos para hi-pertensão e diabetes – está em constante aperfeiçoamento, de forma a garantir o bom funcionamento da iniciativa e evitar fraudes. O Ministérioda Saúde oferece todo o suporte e acompanhamento necessário para a implantação do sistema nas farmácias. O compromisso dessa gestão é conti-nuar trabalhando para o crescimento do Farmácia Popular do Brasil. Estamos implantando 75 novas unidades próprias em todo o país e, este ano, inovamos com o lançamento do Saúde Não Tem Preço. Desde fevereiro, a população tem acesso gratuito a medicamentos para hipertensão e diabetes nas unidades do programa. Em um mês, houve um aumento de 61,4% das retiradas de produtos para hipertensão e de 50% de medicamentos para diabetes. A iniciativa alavancou, inclusive, a distribuição dos demais produtos, que são disponibilizados com até 90% de desconto. De forma geral, com a gratuidade, houve crescimento de 57% no total de autorizações.

leis só são feitas com aticulação e mobilização da categoriaPRESSÃO SISTEMÁTICA:

45AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

45AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EFFATOS E FOTOS

O protagonismo é uma característica do CRF-SC, o que significa dizer que o Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina faz a hora, não espera acontecer. Nos gabinetes de autoridades ou no contato direto com a população, nas ruas; reunido com a categoria o CRF-SC delineia ações transformadoras nas esferas política, sanitária e social.

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AGOSTO 201146ESPAÇO FARMACÊUTICO

“...por trás dessa onda politicamente correta há uma intenção velada de impor um padrão de conduta às pessoas. No ano passado houve dezenas de resoluções da Anvisa com o espírito de faça isso, não faça aquilo. Esse órgão se tornou o caso exemplar nesse aspecto. Ele se autoconsagrou o grande tutor do cidadão brasileiro, aquele que sabe tudo e a quem devemos obediência cega. A intromissão da Anvisa da vida dos brasileiros é coisa de esquizofrênicos”

Denis Lerrer Rosen� eld, � lósofo, em entrevista à revista VEJA 11/05/2011

VIDA CIVILIZADA: ETERNA VIGILÂNCIA

Atacada pelo establishment liberal e incompreendida até pelas categorias que busca defender, a ANVISA gradualmente se legitima em um cenário no qual a lógica do controle foi estigmatizada. DIRCEU BARBANO, presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, explica nessa entrevista exclusiva a ESPAÇO FARMACÊUTICO qual o rumo que a ANVISA escolheu trilhar – e porque a civilização necessita dos regramentos sanitários para não voltar à barbárie.

clama o pensamento liberal, defendido pelo establishment da mídia e da indústria farmacêutica, ou do tabaco. Porém as mães de adolescentes com anorexia discordam, e os filhos de pais cancerígenos também. Até onde o estado deve intervir para salvar?

“O CIDADÃO SABE O QUE É MELHOR PARA SI",

47AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EFFARMÁCIA HOSPITALAR

NINGUÉM SE ESPANTE com a virulência liberal ca-mu± ada de “defesa dos direitos individuais” que emana das páginas amarelas da VEJA, na entrevista com Denis Lerrer Rosen� eld, � lósofo gaúcho que foi garimpado em meio a milhares de outros para corroborar as hipóteses do maior semanário brasileiro. Desde a década de 1990, VEJA adotou esse hábito de substituir o jornalismo pela sustentação de teses em suas páginas - e na imensidão de ecos da diversidade de pensamentos só faz sintonia com as vozes convenientes a sua estreita maneira de ver o mundo.

É por essa razão que apoiou enfaticamente o então minis-tro da Saúde José Serra, quando foi enviado ao Congresso Nacional o projeto de lei 3.156, de 2000, que tornava mais rigorosa a política antitabagista no Brasil, com a proibição da publicidade e a introdução das imagens de impacto em embalagens de cigarro. Aprovado o projeto, foi sancionado dando origem à Lei nº 10.167, de 2000, regulamentada em 2001 pela Anvisa.

Agora, porém, a mesma revista endossa o pensamento segundo o qual o papel da Agência em fazer valer as leis aprovadas é um “ranço ideológico” de partido esquerdista. Para a revista, até as medidas que tentam proteger não-fumantes da emanação tóxica da fumaça do cigarro estão impregnadas de “autoritarismo”. Uma formidável mudança de ponto de vista dessa contumaz atiradora de pedras que, no entanto, sempre revela seus próprios telhados de vidro – nesse caso, nos fóruns empresariais em que reclama a perda de receita publicitária com a indústria do tabaco.

É preciso situar assim, em perspectiva e conjuntura, os ataques às regulamentações da Anvisa para poder entender algo que acontece de forma discreta, subliminar e não-confessada: a revolta comercial do mercado contra um Agência Nacional de Vigilância Sanitária que se propõe a agir precisamente em sua função precípua, ignorando os interesses individuais que estigmatizam a lógica do controle.

À frente dessa tarefa está o farmacêutico Dirceu Brás Aparecido Barbano, formado na PUC de Campinas e com 20 anos de experiência pro� ssional na iniciativa pri-vada e no setor público. Foi diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde e gestor de hospitais � lantrópicos, conselheiro do Conselho Federal de Farmácia e diretor do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo. Desde abril de 2007, é membro da Câmara Setorial de Medicamentos da Anvisa.

De fala tranquila e ponderada, muito didático em suas exposições, Barbano não tem, no entanto, o vício diplo-mático de muito falar e pouco dizer. Em entrevista ao CRF-SC, conclamou seus pares farmacêuticos a escolhe-rem um lado da trincheira para atuar. Não é um discurso fácil nem conciliador, mas deve saciar aqueles que dizem ter fome de verdade – embora poucos desses apreciem o gosto quando ela é servida.

EF - As Resoluções de controle de uso de antibióticos e anorexígenos foram recebidas com críticas até mesmo entre categorias profi ssionais ligadas à Saúde. Como a Anvisa responde à alegação de que é um ente excessiva-mente regulador?

DIRCEU BARBANO - A Anvisa ainda precisa ser percebida pelo o que ela é: uma ação de governo desenvolvida no âmbito do sistema público de saúde. A governança pública pressupõe atuações compostas, e a Vigilância Sanitária é uma ação delegada à Anvisa pela União. Essa é uma con-quista da sociedade, e muito recente, pois foi formalizada na Constituição Federal de 1988. É compreensível que os � lósofos devam � losofar, e a liberdade de pensamento e expressão é inerente à � loso� a e à democracia. Mas não há qualquer tentativa, velada ou não, de regulação das liberdades individuais. O que há é o entendimento de que a Vigilância Sanitária é parte das ações de saúde. Então, você não pode querer que as atividades da Vigilância Sa-nitária sejam desvencilhadas daquelas que visam a cuidar as pessoas que têm problemas de saúde. A Anvisa atua no âmbito na minimização ou eliminação de risco. O uso irracional e inadequado de antibióticos vinha produzindo riscos graves à saúde público com o aumento da resistên-cia bacteriana. Além disso, representava um desperdício econômico: milhões de reais investidos pelas pessoas em tratamentos que não curavam – ou porque não havia bac-térias a combater, somente vírus, ou porque o tratamento era interrompido antes do tempo. O controle da Anvisa é mais que acertado, é providencial. O mesmo raciocínio de redução de riscos se repete nas resoluções de restrição de anorexígenos.

EF - Quais as ações projetadas da Anvisa para contribuir com o esforço do Ministério da Saúde no sentido da am-

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AGOSTO 201148ESPAÇO FARMACÊUTICO

pliação do acesso, garantia de qualidade e humanização das terapias?

DIRCEU BARBANO - A Anvisa tem tratado de poten-cializar as ações mais emergenciais na área da saúde. Ela funciona como um elo para que diversas ações de governo na área da prevenção, acompanhamento, e manutenção da saúde funcionem bem. Por exemplo, a Anvisa está presente no programa Rede Cegonha, que se propõe a cuidar da gestante brasileira desde o momento da concepção até à assistência pós-parto. Quando um programa desse nível começa a operar, imediatamente percebem-se as fragili-dades no campo sanitário, e a Anvisa entra em ação para potencializar e concretizar o objetivo central da ação de governo. Também é assim nos projetos em andamento para restabelecer a saúde das pessoas devastadas pelas drogas, no desa� o do crack, do álcool... você tem que intervir com as ações de Vigilância Sanitária para que o trabalho

precípuo aconteça. A Anvisa, portanto, tem atuações pro-jetadas para dar suporte ao Ministério da Saúde, de forma que os projetos estratégicos de ampliação do acesso sejam bem-sucedidos.

EF - O Ministério da Saúde lançou a campanha “A saúde não tem preço”, cuja mensagem publicitária é acompa-nhada de novas ações de ampliação do acesso. Algumas delas, por ironia, travam porque o preço para fornecer saúde de graça é muito caro...

DIRCEU BARBANO - Quando o Ministério da Saúde lançou essa campanha “ A Saúde não tem preço” a Anvisa teve uma participação essencial no diálogo com os setores produtivos e com a cadeia farmacêutica. Estudamos mi-nuciosamente o impacto econômico das ações para poder ofertar medicamentos na rede popular. De fato, há um preço a pagar pela saúde pública gratuita, e ele não é ba-

quando o uso é irracional e o medicamento faz mais mal que bem, não é de bom senso, e até providencial, restringir o acesso?A LÓGICA DO CONTROLE:

49AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EFEFrato, mas um investimento com o melhor retorno que se pode esperar: mais vida, e mais qualidade de vida para os brasileiros. Agora, dinheiro não é tudo. Estamos avaliando a questão das mamogra� as realizadas no país. Descobrimos que o número de aparelhos para realizar mamogra� as dis-ponível na rede pública é su� ciente para atender três vezes mais que a demanda atual! No entanto, a produção está abaixo da esperada, e existem demoradas fi las de espera para ter acesso ao exame... Por quê isso ocorre? Por vezes, uma peça que estragou mantém o aparelho por meses inativo! A Anvisa está integrando uma força-tarefa para avaliar e tomar medidas concretas nesses casos. A parti-cipação ativa da Vigilância Sanitária no sistema público de saúde oferece condições de superação dos limites que agora se apresentam – a gestão, e não só os recursos, é que faz a diferença.

EF - O que nos remete a outra questão: é sabido que uma difi culdade operativa é imposta pela variabilidade

de qualifi cação, remuneração e formação, entre os agentes de Vigilância Sanitária dos três níveis de governo. Como alcançar, lá na ponta, a efetiva realização da função pre-cípua da Anvisa, se falta gente e qualifi cação?

DIRCEU BARBANO - Eu tenho uma visão muito par-ticular a esse respeito: na esfera federal, com a criação da Anvisa, o Brasil passou a ter uma organização com muita estrutura e capacidade técnica – mas nos últimos 20 anos ainda não foi possível resolver o problema de quadros nas esferas estadual e municipal. Eu entendo que temos que enfrentar o problema central, que é a precarização das re-lações de trabalho e a melhoria das condições técnicas. Isso passa por estabilidade do servidor e remuneração adequada ao seu regime de dedicação exclusiva. O caminho que seguimos até agora, de permitir aos estados e municípios estabelecerem e conduzirem livremente as políticas de vigi-lância sanitária, nos conduziu à uma situação generalizada: temos problemas com capacitação técnica e quali� cação de

a Anvisa participou ativamente das negociações com a cadeia produtiva para poder ampliar o acesso da população aos medicamentos.

VISÃO SISTÊMICA:

49AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

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AGOSTO 201150ESPAÇO FARMACÊUTICO

agentes de vigilância sanitária em praticamente todos os estados e municípios brasileiros. Então, � ca difícil atingir as pessoas com as ações projetadas, por melhores que sejam.

A solução para chegar lá na ponta é compreender que a vigilância sanitária precisa, tanto quanto as outras áreas da saúde pública, passar por uma remodelação de capacitação, com estabelecimento de competências. É fundamental que as ações de vigilância sanitária estejam compreendidas pelos gestores públicos como parte do problema e da solução. Temos 30 mil equipes de saúde de família. Médicos, en-fermeiros, e os demais pro� ssionais integrantes, precisam alcançar o entendimento que ações de vigilância fazem parte dos dia a dia deles e precisam desenvolver compe-tências para isso....porque a vigilância não poder uma ação paralela ou desconectadas das realidades de situações de trabalho nos estados ou municípios..

EF - E, na sua visão particular, quais seriam os primeiros passos?

DIRCEU BARBANO - No campo da gestão, o primeiro passo é obter mapas de situações para de� nir de manei-ra mais clara as necessidades em cada local. Também é urgente que estdos e municípios contratem agentes de forma apropriada, no sentido de acabar com a precari-zação das relações de trabalho. Devemos nos concentrar em concluir a remodelação da esfera do � nanciamento, para que os níveis da federação possam suportar essa res-ponsabilidade, e a aprovação da Emenda Constituicional 29 é fundamental para isso. A Anvisa tem o desejo que todos os locais e produtos ou serviços relacionados com a saúde sejam acolhedores, humanos e que cumpram seu papel. No caso dos farmacêuticos, a Anvisa está atenta a regulamentos que possam manter a farmácia próxima dessa responsabilidade.

EF - O que supõe a concepção da farmácia como esta-belecimento de saúde...

DIRCEU BARBANO - Sim, a Anvisa trata a farmácia como Estabelecimento de Saúde e acredita que o pro� ssional farmacêutico precisa se reconhecer como pro� ssional de saúde, e as entidades que se relacionam com esses pro-� ssionais devem chamá-los a uma atenção especial para o que isso representa. Para que os farmacêuticos possam entender e cumprir melhor o papel que se dispuseram a

cumprir dentro do sistema público de saúde. Pois temos recebido críticas de farmacêuticos em relação às decisões regulatórias, e muitas delas nos parecem consequência de uma certa confusão dos farmacêuticos em relação à função que querem desempenhar. É preciso que os Conselhos de classe, e as entidades representativas dos farmacêuticos si-nalizem de forma muito clara a pactuação que pretendem dentro do SUS. A Anvisa está empenhada em aprovar no Congresso o projeto de lei do senador Humberto Costa que cria a lei de responsabilidade sanitária. Para impedir a constumeira transferência de responsabilidade – “não, isso não é comigo, é com o estado; não, é com o município, é com o governo federal”. Esse momento todo é impor-tante, não sei quanto tempo vai demorar, mas precisamos estar focados. Queremos radicalizar o processo de descen-tralização do sistema de vigilância sanitária, fortalecer e responsabizar as esferas estaduais e municipais, com apoio da Anvisa. E estabelecer agendas de regulação sanitária que sejam claras em relação ao desenvolvimento econômico e social do país. Nós temos que reconhecer que a expansão da indústria da saúde é necessária para o bem-estar do país, precisamos uma indústria que produza insumos de saúde aqui no Brasil a preços acessíveis, gerando inovação, conhecimento, desenvolvimento econômico.

o presidente da Anvisa conclama os farmacêuticos a as-sumirem seus postos de profissionais da saúde no SUS

BARBANO:

51AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EDUCAR E CRESCER

EF - As diretrizes curriculares generalistas já estão implantadas na maioria das faculdades. Qual a necessidade de fazer um Fórum de Educação e debatê-las?

PB - Nós temos uma longa história na organização de fóruns de educação farmacêutica em SC, que começou no � nal dos anos 90, na UFSC, quando tínhamos três faculdades de farmácia no Estado. A profa. Mareni da Rocha Farias foi uma das líderes desse movimento e, com apoio do SINDAFAR/SC, outras escolas foram incorporadas aos debates na medida em que foram surgindo. Esse movimento objetivava contribuir para o fortalecimento, em Santa Catarina, de um sistema de educação farmacêutica mais homogênea e de qualidade. A intenção era não dissipar os pontos centrais da formação farmacêutica. Então, passamos a discutir mais sistematicamente as diretrizes CNE/CES 02/02. Como fazer esse processo de implantação, que se apresentava tão radicalmente diferente: mudar a formação tecnicista e fragmen-tada, para uma integrada, “generalista”, e com foco na atenção à saúde? Era uma mudança paradigmática difícil de imaginar. Isso exigia uma alteração de concepção de educação, de metodologia, de articulação dos projetos pedagógicos – e, o mais difícil, uma mudança de mentalidade, sobretudo das pessoas que iriam estar à frente dessa nova proposta. Era necessário mudar tudo. Então, fomos construindo essa proposta de mudança por meio de vários Fóruns – o último foi em 2006, no qual � zemos uma análise dos projetos pedagógicos implantados à luz das novas diretrizes. Esse Fórum concluiu pela necessidade de identi� carmos um eixo norteador para a formação farmacêutica. Faltava um eixo central de formação e, sem ele, corríamos o risco de perder a identidade. Os debates ocorridos durante o Fórum resultaram em duas publi-cação: “A educação farmacêutica no Brasil e em Santa Catarina (Cordeiro & Leite, 2008); “A identidade do farmacêutico em foco: resultados do Fórum de Educação Farmacêutica do CRF/SC (COFA, Nov/dez, 2006).Por conta da complexidade da matriz curricular resultante das novas diretrizes, o Fórum destacou a necessidade de enfatizar um eixo de formação comum a todos – centrado no medicamento, porque além de ser esta a origem da pro� ssão, é também a nos-sa área privativa de atuação. Estipulamos que todos os demais eixos de formação deveriam orbitar em torno desse, central, e

todas as outras atividades pro� ssionais farmacêuticas deveriam ser formadas em caráter de complementaridade. Pois assim seria possível dar conta de promover um conjunto de competências e habilidades farmacêuticas, capaz de responder as demandas da sociedade brasileira, ou seja, a de formar um farmacêutico que o Brasil de fato necessita.Passado praticamente cinco anos do último Fórum, a Comissão de Educação do Conselho Regional de Farmácia entende que já é tempo de (re)avaliar o que esta acontecendo com as Faculdades de Farmácia de Santa Catarina. Naquele momento tínhamos 09 escolas de farmácia, nem todas formando sob a égide das novas diretrizes. Hoje são 16 cursos espalhado pelo Estado e, por isso, é urgente organizarmos um novo Fórum de Educação e Formação Farmacêutica em 2011.

EF - Quais os passos a seguir para que, desta análise, resultem ações transformadoras?

PB - O próximo passo é a organização do VIII Fórum de Edu-cação para que as escolas possam responder algumas perguntas norteadoras, e questões centrais que precisamos debater. Iremos solicitar às escolas que respondam a um protocolo previamente e estrategicamente elaborado pela própria Comissão de Educação. Vamos convidá-las para que apresentem o que estão fazendo em termos de educação farmacêutica, pois hoje temos 16 escolas de Farmácia no Estado, e é necessário aproveitar esse momento para conhecer a realidade da formação de cada escola. O Fórum vai delimitar onde devemos intervir com mudanças de rumos, e é por isso que ele termina com workshops em grupos de trabalho.

EF - Que perguntas precisam ser respondidas?

PB - Entendendo que a formação do farmacêutico a partir das novas Diretrizes deve ser generalista, crítica, re± exiva, humanís-tica, capacitando o egresso ao exercício de atividades referentes ao âmbito do medicamento, das análises clínicas e tecnologia de alimentos; deve dotar o pro� ssional dos conhecimentos requeridos para o exercício de competências e habilidades gerais, destacando a atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação, liderança, administração e gerenciamento e, educação permanente; deve

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Presidente da Comissão de Ensino do CRF-SC, o conselheiro federal PAULO BOFF tem dedicado esforço e talento na produção de debates que ampliem os conceitos da formação profissional. Com a garantia da presença dos farmacêuticos nas farmácias, a exigência que se apresenta agora nos mercados de trabalho público e privado é de qualificar a Assistência Farmacêutica. A receita para isso não está pronta. Tem que ser elaborada em conjunto com todos os colegas.

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EFdotar o pro� ssional de competências e habilidades especí� cas, que totalizam 34 atividades. Essa situação leva a uma re± exão angus-tiante, pois não há como saber o tipo de formação que cada egresso está recebendo na sua escola. Quais competências e habilidades efetivamente ele domina? Assim, a pergunta central é: como montar uma proposta que oriente, por meio de conteúdos, práticas, etc., o desenvolvimento dos Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPCs) de forma a garantir a formação central do farmacêutico, tendo que formar também para as demais áreas? Se não respondermos a essa pergunta, por melhor que seja a formação promovida pelas escolas de farmácia, o farmacêutico corre um sério risco de perder a sua identidade, pois a formação poderá ocorrer de forma muito díspar nas 16 escolas de SC. Imaginem isso nas mais de 400 escolas espalhadas por este País. Sem de� nição, de uma formação de eixo central presente em todas as escolas, ou uma estratégia essencial de formação comum a todos, o farmacêutico terá di� culdades de responder as ações que a sociedade dele demanda.

EF - Afi nal de contas, as Novas Diretrizes trouxeram avanços para e educação farmacêutica? Elas orientam a formação do far-macêutico que o Brasil necessita?

PB - Como já falei anteriormente, precisamos “entregar” à sociedade brasileira de norte a sul do País, um pro� ssional capaz de atender as necessidades de saúde demandadas por esta sociedade, em minha opinião, centrada nas questões relacionadas aos medi-camentos e a assistência farmacêutica. Evidentemente que ao adotar-se esse tipo de estratégia de formação, deve-se deixar espaço para uma formação ± exível que atenda as diferenças regionais. Por � m, é preciso deixar registrado que as diretrizes provocaram sim avanços importantes como por exemplo: o esforço de docentes, estudantes e escolas na promoção de estudos interdisciplinares e, fundamentalmente a inserção da pro� ssão no sistema de saúde (SUS). No entanto, precisamos discutir, por meio do levantamento e análise de indicadores, se as atuais diretrizes precisam ser revisadas. Dada a complexidade do âmbito pro� ssional farmacêutico, é necessário de� nir quais atividades todos os farmacêuticos devem efetivamente apresentar competências e habilidades para o exer-cício quali� cado da sua função - as atividades que são do âmbito privativo (?), ou o quê (?); d) é necessário de� nir quais atividades podem receber formação complementar e qual deve ser a proposta que oriente esta formação para os diferentes aspectos do âmbito.

a construção do conhecimento nas escolas de Farmácia passa pela elaboração teórica e filosófica do que é o eixo central da profissão.

A presidente do CRF-SC, Hortência Tierling, e o Conselheiro Federal por SC, Paulo Boff:

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Dayani Galato1; Noemia Liege Maria Cunha Bernardo2; Laércio Batista Junior3

1 Professora do Curso de Farmácia da Unisul – Coorde-nadora do Núcleo de Pesquisa em Atenção Farmacêutica e Estudos de Utilização de Medicamentos – Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – Universidade do Sul de Santa Catarina.2 Professora do Curso de Farmácia da UNIVALI – Coor-denadora da Farmácia UNIVALI – Coordenadora da Pós-Graduação em Atenção Farmacêutica do Instituto Racine em Santa Catarina3 Conselheiro do Conselho Regional de Farmácia de San-ta Catarina. Proprietário de farmácia em Joinville e diretor da Associação Brasileira de Farmacêuticos Proprietários de Farmácias e Drogarias. Integra a Comissão Assessora de Far-mácia do CRF/SC.

Este artigo foi construído com base na atividade educa-tiva promovido pelo Conselho Regional de Farmácia de

Santa Catarina em comemoração aos 50 anos de fundação.Nos últimos cinquenta anos muitas coisas mudaram,

entre elas destacamos que o número de brasileiros saltou de algo em torno de 20 milhões para mais de 190 mi-lhões. Ao mesmo tempo, identi� camos uma transição demográ� ca mostrando claramente a diminuição de jovens e um aumento de pessoas adultas e idosas. Observa-se também um aumento na expectativa de vida de 54,6 anos no início da década de 60 para 73,2 anos em 2010, o que representa um aumento de mais de 30% deste parâmetro neste período (IBGE, 2010).

Esta transição demográ� ca também é re± exo da dimi-nuição do número de � lhos que na década de 60 era de 4 a 6 � lhos por casal e nos dias de hoje diminuiu para 1 ou 2 (IBGE, 2010). Outro dado relevante é a diminuição da mortalidade infantil que caiu de 66 por mil para 25 por mil entre os anos de 1995 e 2005. No entanto, este dado ainda está distante daqueles observados em países como Cuba que é na faixa de 5 óbitos por mil nascidos vivos (BRASIL, 2011).

Muitos destes resultados relacionados a saúde têm a ver com a melhora nos atendimentos em saúde, em especial, como a implantação do Sistema Único de Saúde na década de 90. No entanto, com o envelhecimento da população, aliado aos problemas relacionados à síndrome metabóli-ca (obesidade, diabetes, hipertensão e dislipidemias); aos problemas relacionados ao envelhecimento (Parkinson e Alzheimer); aos problemas de saúde psiquiátricos (em especial a depressão); além do câncer, temos um per� l de mortalidade que se aproxima cada vez mais daqueles observados nos países desenvolvidos (IBGE, 2009).

Num outro contexto paralelo, nestes cinquenta anos, desde a criação do Conselho Regional de Farmácia, muitas legislações relacionadas à atividade farmacêutica foram criadas, inclusive algumas destas já desatualizadas quando observado o contexto atual de saúde no Brasil. Sem querer esgotar a todas as legislações deste período, selecionamos algumas que consideramos importantes no contexto do Cuidado Farmacêutico, conforme observamos no Quadro 1.

O CUIDADO FARMACÊUTICO: Uma competência do farmacêutico na promoção do Uso Racional de Medicamentos.

promoção e restauração da saúde.

Competência Farmacêutica:

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EFQuadro 1. Legislações brasileiras relacionadas ao Cuidado Farmacêutico publi-cadas nos últimos 50 anos.

LEGISLAÇÃO/ANO ASSUNTO CONTRIBUIÇÃO

Lei 3820 de 11/11/1960 Cria o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Farmácia, e dá outras Providências.

Organização do Código de Deontologia Farmacêutica e fiscalização profissional.

Lei 5991/1973Dispõe sobre o Controle Sanitário do Comércio de Drogas, Medicamentos, Insumos Farmacêuticos e Correlatos, e dá outras Providências.

A farmácia e a drogaria terão, obrigatoriamente, a as-sistência de técnico responsável, inscrito no Conselho Regional de Farmácia.

Decreto nº 85.878 de 07/04/1981Estabelece normas para execução de Lei nº 3.820, de 11 de novembro de 1960, sobre o exercício da profissão defarmacêutico.

A farmácia e a drogaria terão, obrigatoriamente, a as-sistência de técnico responsável, inscrito no Conselho Regional de Farmácia.

Constituição Federal – 1988 No Artigo 196 “A saúde é um direito de todos e um dever do Estado...”

O Estado é responsabilizado pela garantia de cuidado a saúde da população.

Lei 8080/1990Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.

Criação do Sistema Único de Saúde.

Portarias 27 e 28/1986 Controle da dispensação e prescrição de Medicamentos controlados. Controle dos medicamentos psicotrópicos.

Lei 9778/ 1999

Altera a Lei no 6.360, de 23 de setembro de 1976, que dispõe sobre a vigilância sanitária, estabelece o medicamento genérico, dispõe sobre a utilização de no-mes genéricos em produtos farmacêuticos e dá outras providências.

Lei dos genéricos – inicia a discussão de biodisponi-bilidade, bem como, define critérios para a realização intercambialidade dos medicamentos pelo profissional farmacêutico.

Portaria 344/ 1998 Aprova o Regulamento Técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial.

Novo controle de medicamentos psicotrópicos. Proibindo a prescrição e o aviamento de fórmulas contendo asso-ciações medicamentosas das substâncias anorexígenas.

RDC 27/2007 Dispõe sobre o SNGPC - Sistema Nacional de Gerencia-mento de Produtos Controlados.

O controle dos medicamentos passa a ser realizado por um sistema informatizado.

Resolução 44/2009

Dispõe sobre Boas Práticas Farmacêuticas para o controle sanitário dofuncionamento, da dispensação e da comercialização de produtos e da prestação deserviços farmacêuticos em farmácias e drogarias e dá outras providências.

Insere o conceito dos serviços farmacêuticos e a neces-sidade de registro de algumas ações do farmacêutico dentro deste contexto.

Resolução 44/2010Dispõe sobre a dispensação e retenção de receita para vendas de antibióticos em farmácias e drogarias e re-gistro no SNGPC.

Passa a exigir a retenção de receita de antimicrobianos como ação para o Uso Racional destes Medicamentos.

Resolução 20/2011Dispõe sobre o controle de medicamentos antimicrobia-nos de uso sob prescrição e substitui todas as normas anteriores que abrangiam o tema.

Transmite ao farmacêutico a responsabilidade maior sobre a garantia do uso racional destes medicamentos, além de apenas controlar a sua dispensação.

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AGOSTO 201156ESPAÇO FARMACÊUTICO

direito de todos os brasileiros.

ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA:

Em relação aos medicamentos, muitas mudanças também ocorreram nos últimos 50 anos, algumas delas estão destacadas no Quadro 2, o qual também não possui o objetivo de esgotar os acontecimentos relacionados a este tema.

ANO - ACONTECIMENTO CONTRIBUIÇÃO

1961 - Retirada da Talidomida do mercado Início das pesquisas clínicas envolvendo medicamentos.

1961 - Comercialização do primeiro anticoncepcional oral A mais importante contribuição para a inserção da mulher no mercado de trabalho.

1963 - Início da comercialização do diazepam Inserção de um medicamento mais seguro que os barbitúricos no controle da ansiedade e da insônia.

1970 -1980 - Início do uso do Metilfenidato para o tratamento do déficit de atenção e hiperatividade

Intensificado nos anos 90, hoje o uso deste medicamento é utilizado como indica-dor da medicalização da sociedade, em especial, nas crianças.

1986/7 - Inserção da Fluoxetina na Europa e nos Estados Unidos Inicia a utilização de uma medicação para o tratamento da depressão, posterior-mente identificam-se novas indicações terapêuticas.

1987 - Inserção do primeiro antirretroviral (Zidovudina – AZT) para o tratamento da Aids Aumento importante da sobrevida dos pacientes portadores de HIV/AIDS.

1992 - Inserção da primeira estatina (sinvastatina) Controle mais adequado dos níveis de colesterol

1998 - Lançamento do sidenafil como medicamento para o tratamento de proble-mas de impotência

Inserção de uma medicação eficaz e com via de administração oral, revolucionando o tratamento deste problema de saúde. Posteriormente é identificado o uso irracio-nal por homens mais jovens e o aumento de doenças sexualmente transmissíveis, incluindo a Aids na terceira idade.

1998 - Inserção da insulina Lispro no BrasilMais uma opção de insulina no controle da Diabetes, sem necessariamente possuir evidências de melhor controle da doença. Posteriormente, inicia-se um processo de judicialização para a garantia de acesso.

1999 - Inserção dos anti-inflamatórios seletivos da COX 2 (Coxibs)Neste período esta classe de medicamentos foi considerada segura e trazendo benefícios principalmente por possuir menores efeitos colaterais relacionados ao trato-gastrointestinal.

Quadro 2. Informações relevantes sobre medicamentos dos últimos 50 anos.

57AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EF2000 - Retirada da Fenilpropalonamina do mercado brasileiro

A retirada deste vasoconstrictor foi devido a ocorrência de problemas relacionados a hemorragias cerebrais. Isto levou a necessidade de alteração na formulação de boa parte dos medicamentos utilizados no tratamento sintomático de gripes e resfriados.

2003 - Insulina Lantus entra no BrasilNova insulina para o manejo do Diabetes, sem necessariamente possuir evidências de melhor controle da doença, levando posteriormente a judicialização para garantia de acesso.

2004 - Início da retirada dos anti-inflamatórios Coxibs do mercado mundial Dados de farmacovigilância demonstram a insegurança destes medicamentos relacionada ao aparecimento de transtornos cardiovasculares.

2011 - Discussão sobre a retirada de sibutramina e outras substâncias anorexíge-nas do mercado brasileiro

No Brasil a ANVISA tem promovido uma discussão sobre a retirada da sibutramina do mercado, e como se prevê um possível aumento no consumo derivados anfeta-mínicos, também e discute a possibilidade da retirada destes medicamentos, o que tem gerado grande polêmica entre as sociedades médicas.

2009 - O Clonazepam é considerado o segundo medicamento mais comercializado no Brasil

Neste período, esta medicação perdia apenas para uma formulação de anticoncep-cional oral. Este fato é também reflexo da medicalização da sociedade, em especial de pacientes adultos e idosos.

2010 - Retirada da sibutramina do mercado Europeu A retirada desta medicação ocorreu em função de um ensaio clínico que mostrou maior risco cardiovascular em pacientes com contraindicação ao uso desta medi-cação.

Fluoxetina vira blockbuster do mercado mundial de fármacos.banida do mercado mundial.

FELIZES PARA SEMPRE?EFEITOS DA TALIDOMIDA:

Neste contexto de grandes modi� cações a Federação Internacional dos Farmacêuticos descreve que o pro� ssional deva possuir as seguintes características: ser um profi ssional cuidador; prestador de serviços; possuir conhecimento, habilidades e atitudes; possuir competência para atuar na promoção da saúde; capacidade para aprender a aprender e também para ensinar novas gerações de farmacêuticos (FIP, 1997).

Mas a� nal, qual é nossa missão quando somos considerados o profi ssional do medicamento? Defendemos que seja promover o Uso Racional de Medicamentos.

Neste contexto, uso racional de medicamentos é a situação em que “O paciente recebe o medicamento apropriado a sua necessidade clínica, na dose e posologia correta, por um período de tempo adequado e ao menor custo para si e para a comunidade” (WHO, 1998).

Quadro 2. Continuação.

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AGOSTO 201158ESPAÇO FARMACÊUTICO

PERÍODO - PRÁTICA CONCEITO

1968 - Farmácia Clínica

É uma disciplina de ciências da saúde em que os farmacêuticos prestam assistência ao paciente buscando otimizar a terapia medicamentosa, promover saúde, bem estar e prevenção de doenças. A prática de farmácia clínica combina a orientação com cuidados terapêuticos especializadosconhecimento, experiência, julgamento e para o fim de assegurar resultados positi-vos em pacientes (AMERICAN COLLEGE OF CLINICAL PHARMACY, 2008).

1990 - Atenção Farmacêutica A provisão responsável da farmacoterapia como o propósito de alcançar resultados definidos que melhorem a qualidade de vida do pacientes (HEPLER; STRAND, 1990).

1993 - Atenção Farmacêutica Um conceito de prática profissional no qual o usuário é o principal beneficiário das ações do farmacêutico. É um compêndio de atitudes, de comportamentos, das responsabilidades e habilidades do farmacêutico na prestação da farmacoterapia, com o objetivo de alcançar resultados (WHO, 1993).

2002 - Atenção Farmacêutica – Conceito Brasileiro

Um modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da Assistência Farmacêutica. Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e corresponsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recu-peração da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitando as suas especificidades biopsicossociais, sob a ótica da integralidade das ações de saúde (IVAMA et al., 2002, p.16 ).

1998 - Automedicação responsável - OMS

“Prática por meio da qual os indivíduos tratam seus problemas e circunstâncias com as drogas que estão aprovadas e disponíveis sem prescrição, e que são seguras e eficazes quando usadas conforme sua finalidade. Requer que os medica-mentos usados sejam: seguros, com qualidade e eficácia comprovadas; indicados para as circunstâncias que são reconhecidas pelo próprio indivíduo e para algumas circunstâncias crônicas ou recorrentes, após o diagnóstico médico inicial; em todos os casos, eles devem ser projetados especificamente para a finalidade a que se destinam e requererão formulários apropriados de dose e de dosagem" (WHO, 1998)

2001- Dispensação de medicamentos - Legislação brasileira A dispensação é o ato farmacêutico de distribuir um ou mais medicamentos a um paciente, geralmente mediante à apresentação de uma prescrição elaborada por um profissional autorizado. Nesse ato, o farmacêuticos informa e orienta o pacien-te sobre o uso adequado do medicamento (BRASIL,2001).

- Educação em saúdeA educação em saúde são experiências de aprendizagem que ajudam os indivíduos e as comunidades a melhorarem sua saúde, aumentando o conhecimento ou influenciando em suas atitudes (WHO, 2011).

E podemos promover o uso racional de medicamentos através do processo de Cuidado Farmacêutico. Considera-se Cuidado Farmacêutico toda a atividade do farmacêutico voltada a promoção do uso racional de medicamentos, seja através da automedicação responsável, da dispensação de medicamentos, da educação em saúde, da farmácia clínica, bem como, da atenção farmacêutica, O quadro 3 apresenta uma evolução histórica e conceitos destas práticas.

Quadro 3. Evolução histórica e conceitos relacionados ao Cuidado Farmacêutico.

59AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

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Quadro 4. Etapas do processo de dispensação.

Como apresentado anteriormente, defende-se que o Cui-dado Farmacêutico deve ser realizado como processo, com etapas a serem seguidas. Este processo na Dispensação pode ocorrer seguindo os passos apresentados no Quadro 4.

Fonte: Galato et al. 2008.

- Acolhimento.

- Quem estamos atendendo?

Paciente ou cuidador

Cliente

- Avaliação da prescrição.

- Informações necessárias para o uso correto do medicamentos.

- Avaliação da efetividade e segurança dos medicamentos, no caso

de reutilização ou do uso contínuo.

- Necessidade de acompanhamento do atendimento (concluindo o

atendimento)

- Farmacovigilância caso seja identificados problemas de segurança.

Processo semelhante ocorre na Automedicação Responsável (GALATO et al, 2009), que consideramos um cuidado muito complexo, já que nesta situação a alternativa terapêutica será selecionada em um acordo entre farmacêutico e paciente/cuidador. Lembramos que sempre informamos aos nossos pacientes que “... o que é bom para o seu vizinho pode não ser bom para você...”, no entanto, quando automedicamos alguém usamos a seguinte frase “... use este, eu já usei e é muito bom!” Qual é a diferença? Isto merece uma profunda re± exão de nossa prática! Mas, é um assunto a ser trabalhado em outro momento.

A Farmácia Clínica foi possivelmente a primeira aproximação formal do farmacêutico com a equipe de saúde bus-cando um trabalho multidisciplinar. Neste contexto, este pro� ssional atuou como apoio da equipe no monitoramento laboratorial do paciente. No entanto, esta atuação, mesmo que de suma importância, era voltada mais a equipe, do que propriamente ao paciente e a sua execução geralmente ocorria nos pacientes hospitalizados.

Já a Atenção Farmacêutica foi desenvolvida como prática centrada no paciente, e mesmo que haja a interação com outros pro� ssionais de saúde, em especial através das intervenções, esta interação ocorre através do paciente.

Sendo assim, quando abordamos o Cuidado realizado durante a Atenção Farmacêutica, defendemos que esta prática é nova, no entanto, o processo já é desenvolvido por outras pro� ssões da saúde mudando apenas o objeto de trabalho, mas não o sujeito. O que é novo na verdade, é o farmacêutico atuando na clínica.

Para sermos mais claros, vamos exempli� car. Quando um paciente vai ao dentista, este pro� ssional inicia seu aten-dimento coletando dados do paciente (nome, idade e sexo), em seguida avalia a saúde bucal e elabora um diagnóstico (dentes careados, presença de tártaro, etc), em seguida realiza uma intervenção (processo de limpeza, extração de dente), posteriormente realiza a análise dos resultados (através do acompanhamento ou retorno para nova avaliação) e o que é muito importante, este pro� ssional registra suas ações. Se pensarmos neste processo para um outro pro� ssional da saúde (médico, enfermeiro, psicólogo, etc.) observaremos que o processo é o mesmo, e a única coisa que muda é a ferramenta utilizada nas suas respectivas práticas.

No caso do farmacêutico, quando este pro� ssional faz Atenção Farmacêutica a sua ferramenta será os medicamentos e o seu objetivo é avaliar a necessidade, efetividade e segurança dos mesmos. O Diagnóstico será a identi� cação das

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AGOSTO 201160ESPAÇO FARMACÊUTICO

Figura 1. Processo de atendimento clinico.

COLETAR DADOSPESSOAIS

ANALISAR OS RESULTADOS

IDENTIFICAR A SITUAÇÃO

DESAÚDE

TRAÇARDIAGNÓSTICO

REALIZAR UMAINTERVENÇÃO

necessidades relacionadas com os medicamentos, o que alguns chamam de Problemas Relacionados com Medica-mentos. As intervenções serão as ações que buscam resolver ou prevenir estes problemas e o acompanhamento é o processo de medida dos resultados destas intervenções. A Figura 1 demonstra o processo de atendimento clínico que pode ser aplicado aos pro� ssionais da saúde, e também ao farmacêutico no processo de Atenção Farmacêutica.Já o processo de Educação em Saúde ocorre quando o far-macêutico pratica ações individuais ou coletivas de promo-ção à saúde através do repasse de informações. Estas ações podem ser individuais, o que geralmente ocorre no balcão durante o processo de dispensação ou da automedicação.

São exemplos, a orientação para o uso do preservativo durante a dispensação da anticoncepção de emergência ou mesmo a informação quanto a necessidade de adoção de medidas não farmacológicas para pacientes hipertensos e diabéticos na dispensação dos seus medicamentos de uso contínuo. No entanto, esta Educação em Saúde pode ocorrer de forma coletiva através de palestras na comunidade, o que muitas vezes ocorre em grupos já constituídos como, por exemplo, grupos de idosos e de hipertensos. Neste momento, o farmacêutico sai da farmácia e coloca-se na comunidade como educador, passando a ser reconhecido como provedor de saúde.Destacamos que vivemos em uma sociedade medicaliza-da que busca nos medicamentos a solução de problemas do cotidiano, e isto tem in± uência direta da indústria de medicamentos, principalmente através da propaganda.

Usamos Ritalina ® para manter nossos � lhos presos em apartamentos, Desobesi ® para não praticar exercícios fí-sicos, vitaminas para não comer verduras e muitas outras coisas. Continuamos buscando a felicidade na farmácia através do Prozac®, mas será que felicidade se compra?Fechando esta linha de raciocínio queremos demostrar que nos últimos 50 anos muitas coisas mudaram na nossa pro� ssão, em especial, relacionadas aos medicamentos. Isto exige que o farmacêutico seja um pro� ssional atualizado, que busque informações baseadas em evidências. Além disso, em todo Cuidado Farmacêutico é imprescindível que o farmacêutico tenha competência, isto se traduz em ter conhecimento a respeito dos problemas de saúde e das alternativas terapêuticas, ter habilidades comunicativas e atitudes para fazer da sua prática uma promoção do uso racional de medicamentos.Portanto, caros colegas, estamos em constante formação!

REFERÊNCIASAMERICAM COLLEGE OF CLINICAL PHARMACY. ¶ e de� nition os clinical Pharmacy. Pharmacotherapy. V.28, n.6, p.816–817, 2008.

BRASIL – Ministério da Saúde. Evolução da Mortalidade Infantil no Brasil. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=24437. Acesso em julho de 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria no 27, de 24 de outubro de 1986. Baixar instruções sobre a produção, comercialização, importação, exportação, prescrição e uso de drogas e especialidades capazes de produzir modi� cações nas funções nervosas superiores ou por exigirem efetiva orientação médica continuada devido à possibilidade de induzirem efeitos colaterais indesejáveis. DOU, Seção 1, p. 16361-16364, 1986a.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria no 28, de 13 de novembro de 1986. Baixar instruções com vistas a normatizar os procedimentos referentes ao controle das atividades correlacionadas a estas substâncias e / ou produto. DOU, Seção 1 p. 17205-17212, 1986b.

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Lei nº 5.991, de 17 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o controle sanitário do comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos, e dá outras providências.Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/legis/consolidada/lei_5991_73.htm. Acesso em: julho de 2011.

BRASIL. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Lei nº 9.787, de 10 de fevereiro de 1999. Altera a Lei no 6.360, de 23 de setembro de 1976, que dispõe sobre a vigilância sanitária, estabelece o medicamento genérico, dispõe sobre a utilização de nomes genéricos em produtos farmacêuticos e dá outras providências. http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/110786/lei-dos-genericos-lei-9787-99 Acesso em: julho de 2011.

BRASIL. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária Portaria n. 344, de 12 de maio de 1998. Aprova o Regulamento Técnico sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. Diário O� cial da União. Brasília, 15 maio 1998. Disponível em: <http://e-legis.anvisa.gov.br/leisref/public/showAct.php?id=20054&word=#'>. Acesso em: julho de 2011.

BRASIL. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n. 44, de 17 de agosto de 2009. Dispõe sobre Boas Práticas Farmacêuticas para o controle sanitário do funcionamento, da dispensação e da comercialização de produtos e da prestação de serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias e dá outras providências. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/divulga/noticias/2009/pdf/180809_rdc_44.pdf. Acesso em: julho de 2011.

BRASIL. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n. 27 de 30 de março de 2007. Dispõe sobre o Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados. Disponível em: http://www.sngpc.com/sngpc_rdc27.html. Acesso em : julho de 2011.

BRASIL - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC Nº 44, de 26 de outubro de 2010. Dispõe sobre o controle de medicamentos à base de substâncias classi� cadas como antimicrobianos, de uso sob prescrição médica, isoladas ou em associação e dá outras providências. Disponível em:< http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/c13443804478bef68eefcf7d15359461/resolucao+antibioticos.pdf?MOD=AJPERES>Acesso em: 13 de mai. de 2011.

BRASIL - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC Nº 20, de 5 de maio de 2011. Dispõe sobre o controle de medicamentos à base de substâncias classi� cadas como antimicrobianos de uso sob a prescrição, isoladas ou em associação. Disponível em:< http://pfarma.com.br/noticia-setor-farmaceutico/legislacao-

61AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

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AGOSTO 201162ESPAÇO FARMACÊUTICO

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AGOSTO 201162ESPAÇO FARMACÊUTICO

FATOS E FOTOS

Atualização: o CRF-SC lidera debates das questões políticas da categoria, e age para a construção conjunta do conhecimento. Palestras, seminários, programas, fóruns, cursos, são ferramentas para compartilhar saberes e informações, e disseminar os modelos bem-sucedidos do Fazer Farmacêutico. Esta é a marca do CRF-SC.

63AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

PARTALA: PIONEIRO DO MEIO-OESTE

A VELHA GUARDACRF-SC PRESTA HOMENAGEM A PROFISSIONAIS E EMPRESAS QUE CONSTAM NOS PRI-MEIROS REGISTROS DO CONSELHO E AINDA HOJE FAZEM A DIFERENÇA NA SOCIEDADE

Aloísio Partala tem 78 anos e o registro nº13 do CRF-SC. Há mais de 50 anos ele é responsável pela farmácia Partala, em Papanduva, no meio-oeste catarinense. "O povo se acostumou, é tudo comigo", diverte-se o pioneiro e veterano farmacêutico, que ainda hoje chega às 8hs pontualmente e só sai no final do expediente. "A cidade tinha 2.500 habitantes quando comecei, hoje tem 18 mil". A farmácia já era uma referência na principal avenida de Papanduva quando esta mesma avenida não passava de uma uma estrada de bois alargada, e de chão batido. A população de Papanduva reconhece na pessoa de Aloisio Partala um arquétipo do farmacêutico em sua manifestação mais pura: a do profissional de saúde capacitado para prestar assistência farmacêutica, orientar, educar e monitorar a recuperação da saúde. "Há uma boa razão para eles confiarem tanto: é que eu fiz mais de dois mil partos na cidade e o pessoal realmente me conhece desde que nasceu", ri Partala, que foi um parteiro de mão cheia quando ainda não havia médicos atuando no município, lá na distante década de 1960.

O responsável-técnico pela Farmácia Partala conserva ainda hoje a au-toridade moral e profissional conquistada ao longo dos anos. A farmácia de Aloísio Partala já foi um reduto de políticos e empresários, lugar pre-ferido para conversas e discussões sobre os rumos do município. Daqueles balcões, ribombavam decisões políticas que teriam impacto na vida social de Papanduva. Não à toa, o farmacêutico Aloísio Partala acabou também sendo conduzido à vida pública, e exerceu cargo de prefeito na cidade, eleito em 1966 e em 1974.

A SAÚDE EM BOAS MÃOS:SUL BRASIL, A FARMÁCIA DE MANIPULAÇÃO DE CURITIBANOS

A cidade de Maravilha não era nenhuma maravilha em 1984, último ano do regime militar e década considerada "perdida" pelos economistas que estudam o desenvolvimento econômico do país. Sob nenhum aspecto que se analisasse, as condições eram favoráveis ao empreendimento ou investimento. Havia turbulência institucional, inflação crescente, insta-bilidade monetária, insegurança nos meios bancários. E, com tudo isso, Egor João Breda, um empreendedor que havia começado no ramo de farmácia com o tio, inaugurou na Avenida Sul Brasil a primeira farmácia de manipulação do município. Desconsiderando os riscos e apaixonado pela atividade, desenvolveu o setor em Maravilha durante três anos, e então mudou-se para a cidade de Curitibanos, onde os filhos cuidam da farmácia até hoje. A Sul Brasil de Curitibanos é uma farmácia de manipulação com sete funcionários, administrada por Leonardo e Luciano, que desde garotos acompanham o pai nas atividades farmacêuticas. A Sul Brasil se inscreveu no CRF-SC em sete de dezembro de 1970. Completa este ano 41 anos de atividade e, acompanhando o crescimento de Curitibanos, que está com 40 mil habitantes, os filhos de Egor João Breda estão abrindo filiais da farmácia.

63AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

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AGOSTO 201164ESPAÇO FARMACÊUTICO

O esboço do que viria a ser a Minancora de hoje começou a ser delineado no início do século XX, quando o farmacêutico português Eduardo Augusto Gonçalves chegou ao Brasil. Em Manaus, ele teve a oportunidade de conhecer a diversidade da fauna e da flora brasileira, encontrando ali matérias-primas que mais tarde serviriam para a produção de remédios populares. Em 1912, Eduardo aportou em Joinville, norte de Santa Catarina, para trabalhar como gerente de farmácia. Lá conheceu a jovem Adelina Moreira com quem se casou dois anos mais tarde. Ao lado de sua mulher, Eduardo iniciou a fabricação caseira de uma pomada anti-séptica, que batizou com o nome de Minancora, uma mescla dos nomes Minerva, a deusa grega da sabedoria, e âncora, palavra que aludia a sua permanência definitiva em solo brasileiro.

No ano de 1915, Eduardo registrou a fórmula da Pomada Minancora no Departamento Nacional de Saúde Pública. Em seguida passou a viajar por todo o país para vender esse e outros medicamentos de sua autoria, como o Xarope Doméstico, o Lombrigueiras e o Remédio Minancora contra a Embriaguez. Durante as viagens do marido, Adelina cuidava da fabricação artesanal dos produtos. A partir daí a marca Minancora tornou-se nacionalmente conhecida. Em 1929, foi construída a sede da em-presa, em um dos pontos mais tradicionais de Joinville: a Rua do Príncipe, esquina com a Rua das Palmeiras, cartão-postal da cidade. A princípio, funcionavam no local - que também servia como residência da família - a farmácia e a produção dos remédios. Hoje, o prédio de dois andares é considerado patrimônio histórico-cultural joinvilense, motivo pelo qual as características originais de sua fachada foram preservadas, de acordo com o que estabelecem o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Joinville (IPPUJ) e a Fundação Catarinense de Cultura (FCC). Com a morte de Eduardo, em 1977, sua filha Lady Gonçalves Dória assumiu a presidência da Minancora. Em 1992, Lady convidou a neta e advogada Lourdes Maria Dória para exercer um cargo executivo na empresa, que até então fabricava apenas a já consagrada Pomada Minancora. A indústria se inscreveu no CRF-SC em agosto de 1964. Em 1994, inaugurou a unidade industrial da Minancora em Pirabeiraba (distrito de Joinville) e iniciou o desenvolvimento de pesquisas para o lançamento de novos produtos

João Di Bernardi nasceu em 2 de fevereiro de 1893 em Santo Amaro da Imperatriz.

Aos 12 anos veio para esta capital estudar e iniciou-se como praticante de farmácia no estabelecimento do Dr. Luiz D’Acampora.

Formou-se em Farmácia pelo Instituto Politécnico de Florianópolis em 1924.

A Farmácia João Di Bernardi é com certeza um dos mais tradicionais estabelecimentos do ramo da homeopatia no Brasil e o mais antigo de Santa Catarina.

Fundada em 1920 por João Di Bernardi, teve sua primeira sede instalada na rua Trajano, em Florianópolis, com o nome de Drogaria e Farmácia da Fé.

Em 1940, quando se mudou para a Praça XV, passou a denominar-se Farmácia João Di Bernardi. Premiada com medalha de bronze na Exposição Internacional do Centenário em 1922 e medalha de ouro na 1ª Feira de Produtos e Industrias Catarinenses em 1932.

A partir dos anos 70, seu neto, Paulo Di Bernardi e esposa Mari Léa, assumiram a administração do estabelecimento, sendo fundamental para a continuidade e modernização desta que hoje está na sua terceira geração e continua sendo uma referência como farmácia homeopática em Santa Catarina.

FARMÁCIA HOMEOPÁTICA JOÃO DI BERNARDI: DE GOTA EM GOTA, UMA HISTÓRIA DA HOMEOPATIA

O LABORATÓRIO QUE SE TORNOU UM MITO ENTRE ADOLESCENTES MINÂNCORA, A INDÚSTRIA POP

AGOSTO 201164ESPAÇO FARMACÊUTICO

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ESPAÇO FARMACÊUTICOESPAÇO FARMACÊUTICO

EFAVALIAÇÃO DA ACESSIBILIDADE DO SERVIÇO

DE ATENDIMENTO AO USUÁRIO DO COMPONENTE ESPECIALIZADO DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NA FARMÁCIA ESCOLA UFSC/PMF

Dia 15 de junho a Farmácia Escola comemorou seus 3 anos de trabalho com palestra da Profa Maria do Carmo Lessa Guimarães da UFBA e a presença do Prefeito de Florianópolis Dário Berger, o Secretário de Saúde Cândido, o Vice-Reitor Prof. Paraná, farmacêuticos, professores e estudantes

MEIRA, Bianca Daniela1; MENDES, Samara Jamile2; THOMAZ, Sany3; LEITE, Silvana Nair4

1 - Graduanda, do curso de farmácia da Universidade Federal de Santa Catarina2 - Graduanda, do curso de farmácia da Universidade Federal de Santa Catarina3 - Graduanda, do curso de farmácia da Universidade Federal de Santa Catarina4 - Farmacêutica, docente do curso de farmácia da Universidade Federal de Santa Catarina

INTRODUÇÃO

A integração entre serviços de saúde e o sistema de ensino pro� ssional é um desejo, uma política e uma necessidade há tempos percebida e reclamada e que recentemente tem se concretizado em alguns municípios e universidades catarinenses, bene� ciando usuários dos serviços de saúde, a gestão do sistema local, e os estudantes dos cursos de graduação e pós-graduação da área da saúde. O estudo aqui apresentado desenvolveu-se em um serviço que é fruto desta integração: a Farmácia Escola da Universidade Federal de Santa Catarina e da Secretaria de Saúde do Município de Florianópolis, responsável pelo atendimento das solicitações de medicamentos do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica para todo o território municipal e de medicamentos da Assistência Farmacêutica Básica, desde 2008.

A organização da assistência farmacêutica no SUS está dividida em três componentes: Componente Básico, Com-ponente Estratégico e o Componente Especializado (CEAF), que garante o tratamento medicamentoso integral, em nível ambulatorial, com linhas de cuidado de� nidas em Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas, publicadas pelo Ministério da Saúde (VIEIRA, 2010). A execução do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica é articu-lada pela União, Estado e municípios, sendo que cada esfera de governo é responsável por algumas etapas, dependendo do grupo em que se encontra o medicamento dentro do Componente Especializado. Doenças como Hepatite C, Artrite reumatóide, Epilepsia, Esquizofrenia refratária, Esclerose e os pacientes que receberam transplantes de órgãos

AGOSTO 201166ESPAÇO FARMACÊUTICO

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AGOSTO 201166ESPAÇO FARMACÊUTICO

são alguns dos exemplos de situações que são atendidos mediante protocolos clínicos pelo CEAF (BRASIL, 2010).No município de Florianópolis a solicitação e dispensação dos medicamentos que compõe este grupo vem sendo

realizada na Farmácia Escola UFSC/PMF, que encontra-se localizada no campus universitário. A estrutura conta com área de acolhimento ao usuário; área de atendimento com guichês individuais, onde é possível manter vinculo e privacidade com o usuário do serviço; apresenta sistemas informatizados (SISMEDEX e INFOSAÚDE); e conta com salas onde são realizados procedimentos administrativos, como recebimento e conferência de documentos para abertura de processos para o início do recebimento dos medicamentos. A equipe compreende 3 docentes do Centro de Ciências da Saúde/UFSC, 3 farmacêuticos da Prefeitura Municipal de Florianópolis, 4 farmacêuticos da Universidade Federal de Santa Catarina, 3 técnicos administrativos e 1 técnico de enfermagem, além de 17 bolsistas, estudantes do curso de graduação em farmácia da UFSC.

A Farmácia Escola realiza cerca de 300 atendimentos por dia, sendo que grande parte corresponde a usuários do Componente Especializado e alguns medicamentos do Componente Básico e Estratégico. Dados de abril de 2011 mostram que a Farmácia Escola UFSC/ PMF atende cerca de 4.329 usuários no CEAF, considerando que grande parte destes retira o medicamento mensalmente. Já a Farmácia Básica, atende em média 3.079 usuários por mês. Estes dados levam a um número de 7.538 atendimentos por mês.

A farmácia Escola é um espaço fértil para o desenvolvimento de atividades de ensino-aprendizagem, assistência e pesquisa. Surgiu com o objetivo de trazer a realidade social para dentro da universidade, ao mesmo passo que leva a universidade para atuar na comunidade. (SATURNINO; FERNANDEZ-LIMÓS, 2009).

Sendo espaço de aprendizagem ao mesmo tempo em que tem o compromisso de atender as demandas dos munícipes, preocupa-se em avaliar seus processos de trabalho e resultados, buscando re± etir sobre si própria e buscar inovações que tragam benefícios para o serviço, para os usuários e para o processo de aprendizagem.

A avaliação em saúde tem como pressuposto a estimativa da e� ciência, e� cácia e efetividade das estruturas, processos e resultados relacionados ao risco, acesso e satisfação dos cidadãos frente aos serviços públicos de saúde. (Viacava et al, 2004). Segundo Travassos (2004), o acesso indica o grau de facilidade com que as pessoas obtêm cuidados de saúde.

A avaliação do serviço de atendimento ao usuário do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica na Farmácia Escola UFSC/PMF tem como objetivo principal analisar o grau de satisfação do usuário e o impacto gera-do sobre a acessibilidade a este serviço, principalmente no que diz respeito ao sistema de agendamento de horários implantado em novembro de 2010, que foi criado para diminuir o tempo de espera do usuário para ser atendido.

METODOLOGIA

A primeira etapa da coleta de dados baseou-se na contagem dos usuários que vieram ou não no horário agendado através do registro do agendamento de horários para atendimento do Componente Especializado da Assistência Far-macêutica na Farmácia Escola UFSC/PMF, entre os meses de novembro de 2010 e maio de 2011.

A segunda etapa consistiu na aplicação de um formulário aplicado durante o primeiro semestre de 2011 aos usuá-rios que procuraram o serviço com horário agendado ou não, sendo que, metade dos participantes recrutados foram oriundos do atendimento com senha e a outra metade foram os que vieram no horário agendado. Três estagiárias/pesquisadoras atingiram ao � m uma amostra de 100 participantes, limitada pelo tempo disponível para realizar a pesquisa. Os dados obtidos foram analisados através de métodos estatísticos descritivos. O projeto de pesquisa foi submetido à aprovação do Comitê de Ética da UFSC sob o parecer N°1936/2011.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na gestão do sistema de saúde, a avaliação é essencial para detectar os problemas e permitir melhorias no serviço. Com este objetivo, analisou-se a acessibilidade percebida, os processo de trabalho e o sistema de agendamento de

67AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EFtipos de serviços disponíveis (TRAVASSOS, 2004), além das condições de transporte, de organização urbana, e dos compromissos pro� ssionais e familiares das pessoas.

Dos participantes que alguma vez não vieram no horário agendado e foram depois atendidos por sistema de senha na sala de acolhimento, 58% disseram demorar até 30 minu-tos para serem atendidos e 42 % mais que 30 minutos. A pesquisa ainda mostra que 77% não tentaram contato para reagendar, dos que tentaram 71% conseguiram. Portanto, o fato de não vir no agendamento não gera uma barreira importante para o acesso ao medicamento, diferentemente do que ocorre em outros serviços como consultas médicas.

Além disso, 52% procuram o serviço depois da data agendada, 34% no mesmo dia, mas em outro horário, 10% antes da data agendada e 5% quando falta o medicamen-to. Dos participantes da pesquisa 48% alegaram que tem sobra do medicamento em casa, 4% disseram que falta um tempo antes e 48% não falta ou sobra medicamento. Espera-se, no entanto, que não haja falta ou sobra de medicamentos no dia agendado para nova dispensação, que é calculado sobre este parâmetro. Tal resultado indica possíveis problemas de adesão ao tratamento e coloca para a Farmácia Escola a demanda de buscar estratégias para evitar tais problemas. O aumento do vínculo entre usu-ário e o serviço farmacêutico pode detectar os problemas relacionados com os medicamentos para prevenir e resolver os resultados negativos associados à terapia e melhorar a qualidade de vida do paciente (AMARANTE et al, 2010).

Dos participantes, 87% optaram pelo agendamento men-sal no momento do atendimento como a melhor forma de organizar o serviço, 8% preferem a ordem de chegada (senha), e outros optaram pelo agendamento pela internet ou por telefone. Visto que 95% dos participantes avaliam como bom o sistema de agendamento, considera-se que o

horários, que foi implantado na Farmácia Escola UFSC/PMF em novembro de 2010.

Dos participantes deste estudo, 55% eram cuidadores dos usuários dos medicamentos, 32 % eram os próprios usuários e 11 % outras pessoas que vinham retirar os me-dicamentos. A grande maioria, 66 % eram indivíduos com idades entre 30 e 60 anos e 68 % dos participantes possuem acesso a internet, demonstrando que essa ferramenta pode ser utilizada futuramente na organização do serviço.

Estes dados caracterizam o usuário do serviço, mos-trando que a grande maioria destes não é necessariamente usuário do medicamento, o que pode ser explicado pelas características das doenças contempladas no Componente Especializado que algumas vezes tornam o usuário do me-dicamento incapaz de ir buscá-lo na farmácia. Isto remete ao conceito de acesso potencial (BERMUDEZ; LUIZA, 2004), que representa tanto as características do sistema de saúde, quanto às características da população de risco como idade, sexo, educação, ocupação, local de residência e atitude em relação ao cuidado da saúde e estado de saúde.

Um levantamento dos dados baseado no registro do agendamento, desde novembro de 2010 até maio de 2011 mostrou que em média 35% dos usuários do serviço não comparecem no horário do agendamento. Comparado ao estudo de Bender, Molin e Mello( 2010) em que 34,4% de usuários faltam no horário agendado para consultas médicas especializadas, os resultados obtidos podem ser considerados positivos, já que a constituição de serviços farmacêuticos é bastante recente, sendo até pouco tempo, em nosso país, entendido como simples entrega de produ-to. O agendamento para atendimento em uma unidade farmacêutica não é habitual, sendo ainda muito recente conhecida, e mesmo assim tem uma adesão dos usuários semelhante aos agendamentos para consultas médicas.

No formulário aplicado aos usuários da Farmácia Escola UFSC/PMF, conforme observa-se no grá� co 1, 38% re-lataram chegar no horário agendado todas às vezes, 51% mais da metade das vezes, 10% menos da metade e 1% nenhuma vez. Os motivos para o não comparecimento no horário são variados: do esquecimento aos problemas logísticos para chegar no horário. Deste modo, nota-se que o acesso não depende apenas do serviço de farmácia, pois existem outros fatores relacionados, como o compor-tamento do indivíduo que utiliza o serviço, do pro� ssional que o recebe, da organização do sistema de saúde e dos

ensino e aprendizagem, assitência e pesquisa.FARMÁCIA ESCOLA:

EF

AGOSTO 201168ESPAÇO FARMACÊUTICO

usuário do serviço está satisfeito com a organização deste. Assim, esses dados podem ser positivos para aceitabili-dade, uma das dimensões do acesso, que é o ajuste entre as características do serviço e a expectativa do usuário (TRAVASSOS, 2004).

Como pode-se observar no grá� co 2, quanto à estrutura física, horário de atendimento, localização, os usuários consideram bom em mais de 80% dos casos. Algumas su-gestões indicadas foram ampliação da área de acolhimento e atendimento, criação de um estacionamento rotativo e a implantação de outros serviços de dispensação do CEAF. Segundo Bermudez e Luiza (2004), o conceito de acesso abriga também dimensões como a disponibilidade de ser-viços e acessibilidade geográ� ca, que relaciona a localização potencial do usuário e do serviço.

No quesito cortesia e atenção, 100% responderam que o serviço é bom. Quanto à regularidade da entrega dos medicamentos, observa-se que 73% consideraram boa, 22% avaliaram como regular e 5% julgaram este serviço como ruim, demonstrando as situações em que o repasse dos medicamentos pelo Ministério da Saúde ou Secretaria Estadual de Saúde (responsáveis pela aquisição da maioria dos medicamentos) sofre atrasos.

Dos participantes, 60 % a� rmaram que o medicamento do Componente Especializado foi prescrito pelo serviço de saúde do tipo particular, e 40 % utilizam o serviço público, como está descrito no grá� co 3. Este resultado chama a atenção para possíveis problemas no atendimento das ne-cessidades das pessoas que sofrem com as doenças atendidas pelos protocolos e diretrizes terapêuticas do CEAF, pois os munícipes buscam serviços privados nestes casos ou os serviços públicos não estão su� cientemente esclarecidos quanto ao Componente Especializado da Assistência Far-macêutica e disponibilidade dos medicamentos na própria rede pública de saúde.

CONCLUSÃO

Através desta pesquisa foi possível caracterizar o usuário do serviço do Componente

Especializado de Assistência Farmacêutica da Farmácia Escola UFSC/PMF sendo que grande parte destes não são os usuários do medicamento, gerando o termo usuário do serviço e para este usuário, com estas características, que a Farmácia Escola precisa desenvolver serviços e estraté-gias que facilitem o acesso e melhorem a utilização dos

medicamentos. Identi� cou-se que a maioria dos usuários do serviço

aderiram ao agendamento de horários e o avaliam como uma boa forma para a organização do serviço, porém alguns participantes da pesquisa optam pelo não agendamento, utilizando o sistema de senha (por ordem de chegada). Portanto este sistema funciona como um complemento do atendimento por agendamento de horários, que visa ao � m, facilitar o acesso ao serviço e nunca di� cultá-lo, compreendendo que o interesse do serviço é que os usuários sejam atendidos em suas necessidades individuais e possam fazer o melhor uso dos medicamentos disponibilizados.

Visto que a avaliação do serviço deve ser constante, os usuários da Farmácia Escola recebem os números da ouvidoria da Prefeitura e da UFSC e responderão com certa freqüência formulário de avaliação da satisfação e de sugestões para o serviço. As avaliações só tem sentido ao resultar em encaminhamentos concretos de busca de soluções que possam sanar os problemas identi� cados, tendo sempre como base conceitual o respeito máximo ao direito do cidadão e a certeza de que é a satisfação de suas necessidades a razão de ser dos serviços de saúde.

AGRADECIMENTOS

Deixamos expressos nossos sinceros agradecimentos aos farmacêuticos da Farmácia Escola UFSC/PMF, abaixo des-critos, pelo incentivo ao desenvolvimento deste trabalho, pela receptividade, apoio e pelas valiosas discussões e su-gestões no decorrer do trabalho: Alexandre Luiz Pereira, Aline Foppa, Karina Matsuda, Leila Nery dos Santos Souza, Marcio Schneider Wagner, Mariela Aparecida Kroth Gil Cardoso, Marina Rover.

ensino e aprendizagem, assitência e pesquisa.

Componente Especializado da Assistência Farmacêutica:

69AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

69AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EFREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASAMARANTE, L.C.; et al. A infl uência do acompanhamento farmacoterapêutico na adesão à terapia anti-hipertensiva e no grau de satisfação do paciente. Revista de Ciências Farma-cêuticas Básica e Aplicada, Alfenas, v. 31, n. 3, 2010, pp. 209 -215.

BENDER, A. S.; MOLINA, L. R., SCHAEFER, A.L. Absenteísmo na atenção secundária e suas implicações na atenção básica. Revista Espaço para a Saúde, Londrina, v. 11, n. 2, p. 56-65, jun. 2010.

BERMUDEZ, J. A. Z.; OLIVEIRA, M. A.; ESCHER, A. Acesso a Medicamentos: Derecho Fundamental, Papel Del Estado. Rio de Janeiro, 2004

BRASIL, Ministério da Saúde. Da Excepcionalidade às linhas de cuidado: O Componente Especializado da Assistência Farmacêutica. Brasília, 2010.

TRAVASSOS, C.; MARTINS,M. Uma revisão sobre os conceitos de acesso e utilização de serviços de saúde. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20 Sup 2:S190-S198, 2004.

VIACAVA, F.; et al. Uma metodologia de avaliação do desempenho do sistema de saúde brasileiro. Ciências saúde coletiva [online]. 2004, vol.9, n.3, pp. 711-724.

VIEIRA, F. S. Assistência farmacêutica no sistema público de saúde no Brasil. Revista Panam Salud Publica. Brasília, v. 27, n. 2, 2010, pp. 149-156.

Porcentagem de vezes que o usuárioveio no horário agendado

Todas

3 ou mais

Menos de 3

Nenhuma

51%

38%

10%

1%

Bom Regular Ruim

0

20

40

60

80

100

120

Resultados da avaliação do serviço na FE

Estrutura Física

85% 87%

9%4%

15%

1%

100%

73%

0% 0%

22%

5%

Localização Cortesia Regularidade na entrega demedicamentos

Serviço médico que prescreveu osmedicamentos atendidos pelo CEAF

0 5

27

33

10

4

26

10 15 20 25 30 35

Particular

%

Plano de Saúde

Posto de Saúde

Policlínica

Hospital

EF

AGOSTO 201170ESPAÇO FARMACÊUTICO

Em 1997, o CRF de Santa Catarina sofreu intervenção do CFF. A vontade dos farmacêuticos catarinenses expressa nas urnas foi desrespeitada e substituída por quatro anos de ostracismo e paralisia. As lutas pelo avanço da pro� ssão e da saúde pública

foram relegadas ao esquecimento. Até mesmo a � scalização do exercício da pro� ssão � cou prejudicada.

Neste período, a junta interventora tentou rescindir o convênio entre o SindFar e o CRF/SC para homologação dos contratos de trabalho dos responsáveis técnicos pelo sindicato. Na prática, a medida liberava os patrões para estabelecerem regras conforme melhor lhe conviessem, sem precisar respeitar piso salarial ou direitos básicos dos trabalhadores farmacêuticos. Esse retrocesso apenas não ocorreu porque representantes legitimamente eleitos conselheiros não permitiram.

Enquanto isso, a pro� ssão farmacêutica atravessava encruzilhadas his-tóricas e, à parte da apatia do CRF/SC, os farmacêuticos catarinenses garantiam sua contribuição fundamental em todos os embates através do seu sindicato.

A partir da 11ª CNS, houve a convocação da I Conferência Nacional de Assistência Farmacêutica em 2001, que veio a estabelecer as diretri-zes fundamentais dessa política no país através de etapas municipais, estaduais com a participação de todos os segmentos. No mesmo ano, os estados brasileiros também elaboravam a política de farmacovigilância para a Conferência Nacional de Vigilância Sanitária. Entre as propostas defendidas, a não-normatização das drugstores.

Desa� os locais também punham à prova a mobilização dos farma-cêuticos. A abertura de cursos de Farmácia sem a quali� cação exigida, a reformulação dos currículos dos cursos já existentes em Santa Catarina e a busca de garantias de presença do farmacêutico nos serviços municipais de saúde tiveram o SindFar na linha de frente em defesa da pro� ssão e do trabalhador farmacêutico.

Dez anos depois, nós, farmacêuticos catarinenses, enfrentamos obs-táculos a caminho da valorização pro� ssional, mas contamos com a sintonia do CRF/SC e do SindFar como aliados. A parceria entre o

órgão que � scaliza o exercício da pro� ssão e o que defende os direitos do trabalhador bene� cia o farmacêutico. Promove suas lutas e as da saúde pública, faz evoluir a quali� cação do ensino farmacêutico e valorizar a presença do pro� ssional nas suas 74 áreas de atuação.

O SindFar foi fundamental no resgate do CRF/SC como estrutura atuante na defesa da pro� ssão farmacêutica e hoje colabora nas suas ações.

25 anos de reconstrução do SINDFAR

Todos os dias, o Sindicato dos Farmacêuticos abre suas portas para ajudar o(a) trabalhador(a) farmacêutico(a). Nenhum contrato de traba-lho é homologado sem que o sindicato � scalize a jornada e o salário do pro� ssional. Assim, apesar do salário do farmacêutico não ter alcançado o patamar que consideramos justo, o piso é respeitado em nosso estado - o que não é a realidade de muitos estados.

Mas essa história nem sempre foi assim. Fundado em 1971, o SIN-DFAR praticamente deixou de existir no começo dos anos 80. Sem sede e com patrimônio dilapidado, o sindicato naufragava, e com ele, o maior instrumento de luta dos farmacêuticos catarinenses por melhorias nas condições salariais e de trabalho.

Em 2010, o SindFar completou 25 anos dessa história de recons-trução. uma história que queremos convidá-lo a conhecer. Por que o passado também tem o poder de nos fazer lembrar que há um futuro por construir. Um futuro em que cada farmacêutico/a seja valorizado como trabalhador e como pro� ssional. Um futuro que apenas podemos buscar juntos.

A ruína

Na primeira metade da década de oitenta, o SINDFAR enfrentava sérias di� culdades. Não existia atuação política, função primordial de um sindicato. A má gestão dos recursos � nanceiros e a utilização da entidade para � ns alheios à defesa da categoria dilapidaram o seu pa-trimônio. As enchentes que atingiram o Vale do Itajaí e marcaram a história do povo catarinense também ajudaram a escrever esse capítulo trágico da história do SINDFAR. Àquela época, o sindicato planejava um congresso em Blumenau quando a cidade foi destruída pelas chuvas. As dívidas geradas pelo evento adiado e a má gestão � nanceira foram o golpe fatal. Arruinado, o sindicato perdeu sua sede para credores. Sem

SINDFAR-SC E CRF-SC sintonia imprescindível

avanços importantes sob o foco da assistência farmacêutica. Determinou políticas como o fortalecimento das farmácias populares, o incentivo à utilização dos me-dicamentos genéricos e o investimento em práticas alternativas e medicamentos naturais.

Brasil vivia sua 11ª Conferência Nacional de Saúde, edição que trouxe

Conhecer o passado, iluminar o presente e traçar o futuro.

71AGOSTO 2011ESPAÇO FARMACÊUTICO

EFespaço físico, o sindicato perdeu documentos importantes e, com isso, parte da sua história.

O recomeço

A luta do movimento estudantil por mudanças no sistema político e melhorias na educação abraçou de� nitivamente o movimento sindical dos farmacêuticos, encerrando uma longa fase de apatia e imobilidade.

O sindicato foi retomado e realizou diversas ações em defesa do pro-� ssional. Numa manifestação de rua, chegou a promover o fechamento simbólico de uma farmácia no centro da capital, denunciando a falta de farmacêuticos nos estabelecimentos de Santa Catarina. Em 1992, o I Encontro Catarinense de Farmacêuticos, o maior evento técnico-cientí� co da categoria organizado no estado, que hoje conhecemos como FARMAPOLIS.

Onde o SINDFAR está:

Do esforço de farmacêuticos atuantes no SINDFAR, nascem ideias que viram políticas de saúde para melhorar a vida dos colegas e da população. A atuação do SINDFAR é referência para a formulação de políticas sanitárias e farmacêuticas em Santa Catarina e no Brasil. Ideias propostas e amadurecidas em conjunto com os colegas farmacêuticos das diferentes áreas da pro� ssão vem balizando políticas públicas como a RDC 44/2009 da Anvisa.

Alguns dos espaços onde o SINDFAR atua em defesa dos farmacêu-ticos e da saúde pública:

- Câmara Técnica de Plantas Medicinais- Federação Nacional dos Farmacêuticos- Conselho Regional de Farmácia- Conselho Nacional de Saúde- Conselho Estadual de Saúde- Colegiado do curso de Farmácia da UFSC - Direção estadual e nacional da Central dos Trabalhadores e Trabalha-doras do Brasil (CTB)

Serviços prestados

O SINDFAR existe para defender os pro� ssionais farmacêuticos de Santa Catarina. É no seu sindicato que você esclarece dúvidas trabalhistas, resolve problemas jurídicos, se insere nas lutas da categoria farmacêutica e dos trabalhadores brasileiros.

Homologação de contratos - O SINDFAR é o único sindicato do país que analisa todos os contratos de trabalho dos farmacêuticos a � m de garantir o cumprimento da jornada de trabalho e do piso salarial. Essa prerrogativa é garantida por uma parceria estabelecida com o CRF/SC. Por isso, o piso e a jornada, em Santa Catarina, respeitam a lei.

Assessoria Jurídica - Rescisões contratuais para todos os farmacêuticos e ajuizamento de ações trabalhistas para associados

Parcerias com empresas para descontos em clínicas, laboratórios, aca-

demias, salões de beleza, escolas de informática, etc.

Principais lutas

- Jornada de 30 horas

- Não à privatização do SUS- Contra o Ato médico

- Valorização do pro� ssional farmacêutico - Projeto Farmácia Estabelecimento de Saúde

Participe!

A única forma de tornar o Sindicato uma entidade com atuação cada vez mais marcante é participando dele.

- FIlie-se! Para lutar pelos seus interesses políticos e econômicos (valo-rização pro� ssional, mais vagas de trabalho, quali� cação, jornada e piso salarial justos) o SINDFAR precisa estar fortalecido pelos seus � liados. - Participe das assembleias, instância máxima de discussão e decisão sobre os assuntosque dizem respeito à pro� ssão.- Sugira empresas e novas parcerias- Envie textos de opinião para o sítio eletrônico e par o jornal do SINDFAR- Envolva-se nas campanhas e lutas em favor da categoria- Assine o boletim eletrônico do SINDFAR

o entusiasmo da abertura política. Pelos quatro cantos do Brasil, o protagonismo dos jovens reconstruía a história. Carregando esse espírito de luta represado pela Ditadura Militar recentemente derrotada, um grupo de estudantes e jovens farmacêuticos decidiu assumir as rédeas do futuro da profissão em Santa Catarina.

O ano era 1985 e o país vivia

AGOSTO 201172ESPAÇO FARMACÊUTICO

Anos de História

Espaço Farmacêutico Publicação do Conselho Regional de

Farmácia de Santa CatarinaISSN 2175 - 134X

Travessa Olindina Alves Pereira, 35 - Centro Florianópolis - SC

Cx Postal 472 CEP 88020-100

Fone: (48) 3222.4702Website: www.crfsc.org.brE-mail: [email protected]

DIRETORIAPresidente: Hortência S. Müller Tierling

Vice-presidente: Silvana Nair Leite Secretário Geral: Tércio Egon Paulo Kasten. Tesoureiro: Paulo Sérgio Teixeira de Araújo.

CONSELHEIROSJosé Miguel do Nascimento Júnior, Luiz

Henrique da Costa, Eduardo Comeli Goulart, Laércio Batista Júnior, Silvana

Nair Leite, Maria Elisabeth Menezes, Karen Berenice Denez, Renate Schaefer, Lea

Regina Conrado Costa Lima.Suplentes: Álvaro Luiz Parente, Carlos

Roberto Merlin.Conselheiro Federal: Paulo Roberto Boff,

Anna Paula de Borba Batschauer.

ASSESSORIA TÉCNICACaroline Junckes da Silva

Ronald Ferreira dos Santos

JORNALISTA RESPONSÁVELIuri Luconi Grechi

Mtb 7491- RS

TIRAGEM10.000 exemplares

Editora CatarinaRua Sérgio Gil,477Florianópolis - SCCEP 88075-340(48) 3024.3432

EXPEDIENTE

O PAPEL DO FARMACÊUTICO

Monteiro Lobato

A Diretoria

50 ANOS CRF/SC

• CHAPECÓ – 12/08/2011 (Atividade rua)/ 13/08/2011 Jantar/Baile• JOINVILLE - 17/08/2011• BLUMENAU – 19/08/2011• CAÇADOR - 20/08/2011• CRICIÚMA – 24/06/2011• LAGES – 26/08/201• FLORIANÓPOLIS – 31/08/2011 • RIO DO SUL – 10/09/2011

MANHÃ: ATIVIDADES NA RUA – em conjunto com acadêmicos e profissio-nais farmacêuticos. O CRF-SC realizará trabalhos nas ruas, orientando a população sobre o uso racional de medicamentos, distribuindo materiais orientativos para a população.

TARDE : SOLENIDADE NA CÂMARA DE VEREADORES com entrega das comendas do Mérito Farmacêutico e homenagens, com a presença de autoridades locais, estudantes e profissionais farmacêuticos.

3. NOITE: serão realizados jantares dançantes.

No dia 31/08/2011, em Florianópolis, a solenidade será na Assembléia Legislativa de SC, seguido de coquetel no mesmo local.

INGRESSOS PARA OS JANTARES DANÇANTES PODEM SER ADQUIRIDOS NAS SECCIONAIS OU SEDE DO CRF/SC.

Fique atento à programação no site www.crfsc.org.br e venha brindar com toda a categoria os 50 anos do CRF-SC.

O papel do Farmacêutico no mundo é tão nobre quão vital. O Farmacêutico re-presenta o órgão de ligação entre a medicina e a humanidade sofredora. É o atento guardião do arsenal de armas com que o Médico dá combate às doenças. É quem atende às requisições a qualquer hora do dia ou da noite. O lema do Farmacêutico é o mesmo do soldado: servir.

Um serve à pátria; outro serve à humanidade, sem nenhuma discriminação de cor ou raça. O Farmacêutico é um verdadeiro cidadão do mundo. Porque por maiores que sejam a vaidade e o orgulho dos homens, a doença os abate - e é então que o Farmacêutico os vê. O orgulho humano pode enganar todas as criaturas: não engana ao Farmacêutico. O Farmacêutico sorri filosoficamente no fundo do seu laboratório, ao aviar um receita, porque diante das drogas que manipula não há distinção nenhuma entre o fígado de um Rothschild e o do pobre negro da roça que vem comprar 50 centavos de maná e sene.