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FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA

REVISTA PERSPECTIVA FGFREVISTA PERSPECTIVA FGFREVISTA PERSPECTIVA FGFREVISTA PERSPECTIVA FGF

Revista Científica da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza

Endereço:

REVISTA PERSPECTIVA FGF

FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA

CEUDESP - Centro de Educação Universitário e Desenvolvimento Profissional LTDA

Av. Porto Velho, 401 - João XXIII- Fortaleza/CE - CEP: 60.525-571.

Tel. +55 (85) 3299-9900 / Fax. +55 (85) 3496-4384 /

Email: [email protected]

[email protected]

Revista Perspectiva FGF /Faculdade Integrada da Grande Fortaleza. V. 1, N. 04 Jan./

Jul. 2016. ISSN 2238-524X

Fortaleza – Ceará 2016

Publicação Semestral

1. Periódico científico – Faculdade Integrada da Grande Fortaleza. 2. Artigos diversos.

3. Faculdade Integrada da Grande Fortaleza

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Expediente Mantenedora Centro de Educação Universitária e Desenvolvimento Profissional – CEUDESP

Eng. José Liberato Barrozo Filho - Diretor Administrativo Financeiro

Eng. Julio Pinto Neto – Diretor de Infraestrutura

Eng. Adolfo Marinho – Diretor de Expansão

Mantida

Faculdade Integrada da Grande Fortaleza - FGF

Eng. José Liberato Barrozo Filho - Diretor Geral

Prof. Ms. Paulo Roberto de Castro Nogueira – Diretor Acadêmico

Editores Viviane Mamede Vasconcelos (FGF / UFC)

Conselho Editorial Adriana Maria Reboucas do Nascimento

[email protected]

Carlos Jorge Dantas de Oliveira

[email protected]

Cristina Tonin Beneli Fontanezi

[email protected]

Cynthia Barbosa - [email protected]

Daniele Cristine Gadelha Moreno

[email protected]

Diego Martins

[email protected]

Elidiane Martins Freitas

[email protected]

João Celso Moura de Castro

[email protected]

João Cláudio Nunes Carvalho

[email protected]

José Diego Martins de Oliveira e Silva

[email protected]

José Eduardo Ribeiro Honório Junior

[email protected]

Maria Coeli Saraiva Rodrigues

[email protected]

Nádia Marques Gadelha Pinheiro

[email protected]

Phelipe Bezerra Braga

[email protected]

Renato Alves Vieira de Melo

[email protected]

Roberta Oliveira da Costa

[email protected]

Rosane de Almeida Andrade

[email protected]

Tatiana de Lima Rocha

[email protected]

Editora Maria Coeli Saraiva Rodrigues

Taiana Cláudia Nunes Carvalho

Revisão Técnica Maria Coeli Saraiva Rodrigues

Projeto Gráfico Capa

Taiana Cláudia Nunes Carvalho

Diagramação Maria Coeli Saraiva Rodrigues

*As ideias e opiniões emitidas nos artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo,

necessariamente, as opiniões do editor e, ou, da FGF – Faculdade Integrada da Grande Fortaleza

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SUMÁRIO

Editorial............................................................................................................................. 04

Artigos

1 – Educação Física Escolar no período noturno: uma investigação sobre a prática

docente - Girliane Lourenço Lira De Freitas e Maria Tatiana de Lima Rocha Felix...............

06

2 – Primíparas e o aleitamento materno: boas práticas de enfermagem no

enfrentamento das dificuldades - Adriana Freitas de Campos Sousa, Iliana Maria de

Almeida Araújo, Karla Maria Carneiro Rolim e Monyque Da Silva Barreto.........................

20

3 – Redução da maioridade penal dentro da perspectiva da inconstitucionalidade -

Alexandre Luís Ximenes Da Silva e Romana Missiane Diógenes Lima.................................

34

4 – O retrato de Dorian Gray: um romance simbolista - Luiz Alexandre Ramos da Silva e

Maria Coeli Saraiva Rodrigues............................................................................................

45

5 – O ambiente linguístico familiar no processo de acesso à complexidade gramatical pe

la criança - Wilson Gonçalves da Cunha e Antenor Teixeira de Almeida Junior.............

61

Resenha

Polidez Linguística: uma perspectiva introdutória - Profª. Me. Adriana Regina Dantas

Martins.........................................................................................................................

79

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Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X

Editorial

A ciência vem evoluindo com as contribuições das pesquisas e investimentos em

diversas áreas do saber. O pensamento crítico e os questionamentos acerca da realidade

impulsionam novos conhecimentos e descobertas.

Nesse sentido, a Revista Perspectiva FGF é a publicação científica

multiprofissional da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza - FGF, que objetiva

promover a publicação docente e discente das áreas de Ciências da Saúde, Sociais

Aplicadas, Humanas, Jurídicas e Exatas, podendo haver publicações de artigos originais,

revisões e reflexões, gerando conhecimento amplo, sendo fonte de discussão e de saber

de qualidade. Com o progresso da produção científica brasileira e internacional, a Revista

Perspectiva FGF, periódico científico semestral, cumpre seu papel na disseminação do

conhecimento de acadêmicos, docentes e profissionais.

A Comissão Editorial da Revista Perspectiva FGF agradece aos alunos,

professores, à direção da instituição Faculdade Integrada da Grande Fortaleza - FGF e

parabeniza a todos os autores que escolheram a Revista Perspectiva FGF como veículo

de divulgação de suas pesquisas.

Viviane Mamede Vasconcelos

Coordenadora Científica da FGF

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Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X

ARTIGOS

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Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO PERÍODO NOTURNO: UMA

INVESTIGAÇÃO SOBRE A PRÁTICA DOCENTE

Girliane Lourenço Lira De Freitas

Maria Tatiana de Lima Rocha Felix

RESUMO: O objetivo de investigar a Educação Física no ensino noturno é identificar as dificuldades e desafios encontrados na escola e durante as aulas. O presente estudo trata-se de pesquisa de campo, descritiva, de caráter quantitativo e qualitativo e foi desenvolvida por meio de questionário estruturado aplicado com 20 professores atuantes na Educação Física noturna da cidade de Fortaleza-Ceará. Os resultados demonstram que os professores realizam suas aulas em 75% teoria e 25% prática. Em relação às dificuldades encontradas, a evasão e a falta de uniformes adequados são as mais frequentes. Dessa forma, compreende-se a importância da Educação Física escolar como uma disciplina que estimula a expressividade natural de quem a pratica, buscando sempre que possível agregar aulas teóricas juntamente com aulas práticas, em que cabe ao professor optar por ensinar nesse horário ciente de um público diferenciado e que por esforço pessoal buscam melhorias para sua vida por meio da educação. Palavras-chave: Ensino noturno. Educação Física escolar. Professores.

ABSTRACT: The order to investigate the physical education at night school is identify the difficulties and challenges encountered at school and during school. This study it is field research, descriptive, quantitative and qualitative character and was developed through a structured questionnaire applied to 20 teachers working in Education Physical night in the city of Fortaleza, Ceará. The results show that teachers conduct their classes in 75% theory and 25% practice. Regarding the difficulties encountered evasion and the lack of adequate uniforms are the most frequent. Thus one can understand the importance of school physical education as a discipline that stimulates the natural expression of who will practice, always looking for possible add lectures with practical classes where the teacher should choose to teach at that time aware of a different audience and by personal effort seek improvements to their lives through education. Keywords: Physical Education. Evaluation. Learning.

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1 INTRODUÇÃO

A Educação Física Escolar

(EFE), componente curricular

obrigatório em toda a educação básica,

amparada pela lei nº 9.394/96 de 20 de

Dezembro de 1996, proporciona

inúmeros benefícios para o

desenvolvimento físico, mental e social

dos alunos, auxiliando também na

formação ética através da cooperação,

socialização, respeito, superação e

autoconhecimento.

A EFE deve estar garantida na

escola independente do turno. O ensino

noturno (EN) é ofertado, em sua maioria,

para pessoas que não terminaram os

estudos no tempo certo, como pais e

mães de famílias, trabalhadores com uma

jornada extensa, público esse que

demandam um esforço grande para

frequentar as aulas. Com isso pode-se

perceber que a educação tem um

significado ainda maior, além de ser um

desafio para o professor ministrá-la por

conta do público e do horário não ser o

mais convencional.

A problemática do estudo

consiste nos seguintes questionamentos:

as escolas que funcionam à noite ofertam

a disciplina de Educação Física como

prevê a lei? Como o professor

desenvolve as suas aulas? Aspectos esses

de extrema importância para uma

legitimação ainda maior da EFE.

A temática escolhida para o

estudo surgiu na ânsia de se identificar,

questionar e relatar questões e

experiências a cerca da prática docente,

ao ministrar a disciplina EFE no turno da

noite, apontando também suas possíveis

dificuldades no processo educacional

bem como a diferença do ensino noturno

para os demais horários.

Sendo assim, esse estudo tem

como objetivo investigar a prática

pedagógica do professor de EFE no

ensino noturno e, mais especificamente,

identificar suas dificuldades e desafios

encontrados na escola e durante as aulas

e, por fim, questionar se há diferença

entre lecionar à noite e nos demais

turnos.

2 METODOLOGIA

A fim de pesquisar a prática

docente da Educação Física escolar no

período noturno, realizou-se um estudo

de campo descritivo de caráter

quantitativo e qualitativo, que segundo

Gil (2008) busca descrever as

características de determinadas

populações ou fenômenos. Uma de suas

peculiaridades está na utilização de

técnicas padronizadas de coleta de

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dados, tais como o questionário e a

observação sistemática.

A pesquisa foi realizada no

município de Fortaleza, estado do Ceará,

em escolas públicas estaduais. A

aplicação dos questionários aconteceu

no período referente ao mês de setembro

a novembro de 2015.

O público investigado foram

docentes que ministram aulas de

Educação Física no ensino noturno. A

amostra da pesquisa foi composta por 20

professores de Educação Física no turno

da noite, em seus respectivos locais de

trabalho, sendo (60%) do gênero

masculino e (40%) do gênero feminino.

Foram visitadas 17 escolas, do qual três

escolas trabalhavam dois professores em

dias alternados e a pesquisa foi aplicada

momentos antes do início das aulas na

sala dos professores e, em algumas

escolas, na própria sala de aula.

Como critério de inclusão do

estudo, tem-se professores de Educação

Física que ensinam na escola no turno da

noite. Foram excluídos participantes que

não se encaixassem no perfil para a

pesquisa. Todos os participantes

responderam voluntariamente ao

questionário, sendo esclarecidos de sua

contribuição para a pesquisa.

O questionário, como

instrumento de coleta de dados, pode ser

definido como uma técnica de

investigação social composta por um

conjunto de questões que são submetidas

a pessoas com o propósito de obter

informações sobre conhecimentos,

crenças, sentimentos, valores, interesses,

expectativas, aspirações, temores,

comportamentos presente e passado, o

qual, segundo Gil (2008), é um

instrumento de coleta de informação,

utilizado numa Sondagem ou Inquérito.

O questionário foi composto por 13

questões, sendo 11 objetivas, em que se

busca aproximar da realidade vivenciada

no cotidiano do professor e 02 de caráter

subjetivo, baseado na interpretação

pessoal de cada entrevistado.

Para facilitar a compreensão do

estudo, os professores pesquisados

receberam uma numeração referente à

ordem em que a pesquisa foi realizada, e

serão representados pelas siglas P e um

número. Durante o artigo, as opiniões

retratadas serão identificadas por meio

dessas siglas.

Após recolher os questionários

respondidos, estabeleceu-se a frequência

e a porcentagem das respostas e

confeccionado uma planilha no Excel

(programa do Microsoft Office), a partir

dos resultados recebidos e elaborados as

tabelas.

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Para adesão da amostra desse

estudo, foi inicialmente apresentado e

solicitado permissões das instituições

nas coordenações, através do documento

“Autorização para a Pesquisa de Campo”

e entregues aos pesquisados, além do

questionário, o “Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido”, que

contém dados de identificação da

pesquisa e do pesquisador,

estabelecendo e as condições de

participação.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para a pesquisa, foi contabilizado

um total de 20 professores, de 17 escolas

públicas estaduais na cidade de

Fortaleza.

Tabela 1- Perfil dos Professores

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

A Lei de Diretrizes e Base da

Educação, de nº 9.394 de 1996,

estabelece, em seu artigo 13, que os

docentes incumbir-se-ão de participar da

elaboração da proposta pedagógica do

estabelecimento de ensino. Você

conhece e / ou participa da elaboração do

Projeto Político Pedagógico da onde

trabalha?

Tabela 2 – Participação no PPP

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

No Projeto Político Pedagógico

da escola são pensados os principais

problemas e desafios da instituição e

também são elaboradas as possibilidades

de soluções, definição de

responsabilidade, bem como toda a

Gênero Feminino (40%) Masculino (60%)

Média de Idade 30,5 Anos

Tempo de Magistério (Média) 12,2 Anos

Tipo de Escola Pública (100%)

Conhece e participa 11 55% Conhece, não participa 7 35%

Não conhece e não participa 2 10% Não sabe 0 0%

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organização estrutural, por esse motivo é

de grande valia o professor de Educação

Física está inserido na elaboração e

planejamento do mesmo.

A maioria dos professores (55%)

afirmaram que conhecem e participam

da elaboração do projeto político

pedagógico da escola, o que nos

demonstra um ponto bastante positivo,

pois sua prática de ensino está ligada

diretamente aos preceitos e concepções

que a escola propõe.

Tabela 3 - Distribuição das Aulas Teóricas e Práticas.

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

Metade dos professores

pesquisados (50%) responderam que

suas aulas são organizadas em (75%)

teoria e (25%) em prática, teve-se ainda

(45%) que afirmam realizar em (50%)

prática e em (50%) teórica. A minoria

dos pesquisados (5%) responderam que

organizam ao inverso: (75%) prática e

(15%) teórica.

Corroborando com os resultados,

Darido e Rangel (2005) afirmam que é

de extrema relevância reconhecer que a

Educação Física, dentro do contexto

escolar, deve levar em conta as

dimensões conceituais, procedimentais e

atitudinais, com a mesma importância,

ou seja, a teoria não deve se dissociar da

prática e vice-versa.

Os dados da pesquisa nos

revelam que grande parte dos

professores dão ênfase em aulas teóricas,

o que muitas vezes pode acarretar em

uma falta de estímulo dos alunos, por

conta que todas as outras disciplinas

também têm a teoria como prevalência.

A Educação Física,

primordialmente, tem como

característica a prática, o fazer pensado e

reflexivo, não deixando de lado os

aspectos conceituais importantes, no

qual irão contribuir de forma ainda mais

significativa na vida dos alunos,

consequentemente acarretarão em um

maior entendimento sobre os conteúdos

que giram em torno da cultura corporal

de movimento.

De acordo com a Lei nº 10.793 de

2003 que estabelece a obrigatoriedade da

Educação Física como componente

curricular obrigatório da Educação

50% teóricas e 50% práticas. 9 45% 75% teóricas e 25% práticas. 10 50% 25% teóricas e 75% práticas. 1 5%

Não sabe. 0 0%

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Básica, formulou-se a seguinte pergunta:

Como você analisa a participação dos

alunos nas aulas de Educação Física

Escolar?

Tabela 4 – Participação dos Alunos nas Aulas

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

Os dados levantados com a

pesquisa apontam que, na visão dos

professores de Educação Física, os

alunos têm uma participação entre

regular e boa com (60%) e (40%),

respectivamente. Fato esse que serve

como estímulo para o docente, pois a

participação dos alunos durantes as aulas

teóricas e práticas são essenciais para o

bom andamento da disciplina.

Um estudo realizado por Pereira

e Moreira (2005) com alunos do ensino

médio de escolas no estado de São Paulo

revelou que (37,5%) das aulas de

Educação Física eram iniciadas com um

número significativamente reduzido de

alunos participando, o que segundo os

autores pode ser um reflexo de sua

motivação diante dos conteúdos e

estratégias de ensino utilizadas nas aulas,

tornando a mesma pouco atrativa.

A partir dos dados obtidos nessa

pesquisa, podemos perceber que no caso

das aulas do ensino noturno de Fortaleza,

os resultados são contrários e os

professores avaliam, em sua maioria,

como boa a participação dos alunos nas

aulas.

Tabela 5 – Satisfação no Trabalho Noturno da EFE

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

Conforme afirma Campos

(1995), a motivação e a satisfação é um

fator de extrema importância no

processo educacional, pois os indivíduos

envolvidos nesse processo, professores,

alunos e coordenação devem sentir

Boa 12 60% Ruim 0 0%

Regular 8 40% Não sabe 0 0%

Satisfeito 14 70% Insatisfeito 3 15%

Regular 3 15% Não sabe 0 0%

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prazer em estar inseridos nele, sempre

buscando novos meios e estratégias para

alcançar uma melhor performance e

consequentemente sentir-se mais

motivado.

Na pesquisa foi constatado que

(70%) dos professores sentem-se

satisfeitos em trabalhar no ensino

noturno e apenas (15%) estão

insatisfeitos e (15%) dizem estar no nível

regular de satisfação. Para Ramirez

(1999) a motivação produz um ambiente

de aprendizagem eficaz. Com

professores satisfeitos, a produção e o

empenho aumentam, beneficiando assim

os alunos e a escola como um todo.

Tabela 6 – Carga Horária Semanal

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

Com os dados obtidos, observa-

se a prevalência de uma carga horária

muito grande entre os professores, dos

quais (45%) trabalham acima de 40 horas

semanais e outros (35%) responderem

que estão na escola entre 30 e 40 horas.

Uma carga horária de trabalho

excessiva pode acarretar em problemas

futuros para os docentes, que em sua

maioria acabam se esgotando,

principalmente por conta de problemas

nas cordas vocais. Existem professores

da rede pública estadual de Fortaleza que

chegam a trabalhar até 300 horas

mensais, ou seja, leciona nos turnos

manhã, tarde e noite, fato esse que pode

causar impacto no seu desempenho

profissional e até mesmo em sua

qualidade de vida.

Com o processo de globalização

atual que a sociedade está vivendo,

existe um ritmo acelerado de produção

imposto que altera a maneira e as

relações desenvolvidas no campo do

trabalho, provocando por consequência

uma diminuição drástica na qualidade de

vida de trabalhadores, o que conforme

Rocha e Fernandes (2007) tem impacto

também na escola e mais diretamente nos

professores, por ser um sujeito essencial

no processo de educação.

Até 20h 3 15% De 20h á 30h 1 5% De 30h á 40h 7 35% Acima de 40h 9 45%

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Tabela 7 – Apoio Institucional

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

A grande maioria dos

pesquisados demonstraram estar

satisfeitos com a escola no qual lecionam

e também com o apoio dos gestores

referente à disciplina de Educação

Física, dos quais (80%) avaliam como

bom e (15%) regular e apenas (5%)

avaliou como ruim.

Um ambiente de trabalho

agradável é um ponto crucial para o bom

desenvolvimento da tarefa docente e,

com o apoio da gestão nas tomadas de

decisões, o professor se sente mais

seguro e amparado na realização de suas

aulas e atividades.

Na Lei nº 9.394 de 1996 (Lei de

Diretrizes e Bases), seu artigo 24 prioriza

a educação em valores e a avaliação

contínua e cumulativa do desempenho

do aluno. Qual o critério avaliativo que

você utiliza para acompanhar o processo

de aprendizagem de seu aluno?

Tabela 8 – Critério Avaliativo

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

Percebeu-se, através da pesquisa,

a preferência dos professores por

avaliarem no ensino noturno de forma

subjetiva e objetiva com (60%), ou seja,

levando em consideração todos os

aspectos trabalhados durantes as aulas

práticas e teóricas, (15%) dos docentes

optam pelos aspectos objetivos ao

avaliarem, realizando trabalhos e provas

teóricas e apenas (10%) realiza de

maneira subjetiva, levando em conta

interesse, participação e a relação entre

os alunos.

No estudo realizado por Vargas

(2009), realizado no Rio Grande do Sul,

encontramos uma situação inversa,

Boa 16 80% Ruim 1 5%

Regular 3 15% Não sabe 0 0%

Aspectos Subjetivos, através de participação, interesse e relacionamento entre os alunos.

2 10%

Aspectos Objetivos, como frequência as aulas, trabalhos e provas teóricas.

5 25%

Aspectos Subjetivos e Aspectos Objetivos. 12 60% Outros 0 0%

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(79%) dos professores entrevistados

afirmaram avaliar os alunos do turno da

noite por meio de métodos mais

subjetivos.

Tabela 9 – Planejamento das Aulas

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

Segundo a maioria dos

professores investigados (45%), o

planejamento das suas aulas acontece

anualmente, criando-se um cronograma

de todas as aulas do período letivo, para

(15%) ocorre de maneira trimestral e

(40%) dos docentes planejam de outras

formas.

Os professores que responderam

a opção outros, afirmam planejar suas

aulas em formas mistas, ora planeja-se

para um bimestre completo, ora planeja-

se apenas para o mês, semana e até

mesmo para uma aula em específico.

Moretto (2007), ao falar sobre o

planejamento, afirma que planejar

significa organizar ações e que o mesmo

existe para auxiliar na facilitação do

trabalho docente, gerando assim um

ordenamento dos conteúdos a serem

ministrados durante as aulas.

Os dados obtidos na pesquisa

assemelham-se com o estudo realizado

por Vargas (2009), no qual a maiorias

dos professores (57%) também optam

por planejarem os conteúdos para todo o

ano escolar.

Tabela 10 - Integração Espaço Físico e Atividades Recreativas

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

Na nona questão da pesquisa, foi

indagado aos professores a respeito da

integração entre as atividades e o espaço

para a realização, no qual a grande

maioria dos pesquisados (85%)

responderam que existe sim essa

integração e outros (15%) responderam

que não.

Com base na LBD (1996), deve-

se ter padrões mínimos para a garantia de

Anual / diário 9 45% Trimestral / diário 3 15%

Não planeja 0 0% Outros 8 40%

Sim 17 85% Não 3 15%

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Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X

uma boa qualidade de ensino, como

instrumentos adequados indispensáveis

para o desenvolvimento da aula,

quantidades de alunos. Esse aparato em

relação às condições de trabalho do

professor são primordiais para que se

desenvolva uma melhora no ensino e no

aprendizado do aluno.

Segundo Freitas (2014) um dos

fatores fundamentais para a realização de

uma boa aula de Educação Física na

escola é a estrutura física e os recursos

materiais, em especial uma quadra

poliesportiva coberta, sala de atividades

corporais, local para guardar os

materiais, entre outros.

Tabela 11 – Espaço Utilizado para Atividades

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

Com relação ao espaço da escola

mais utilizado durante as aulas, (75%)

afirmaram utilizar mais a sala de aula,

outros (15%) utilizam mais a quadra e

(5%) faz uso do pátio.

Podemos perceber com os dados

que a maioria dos professores utilizam a

sala para o desenvolvimento das aulas,

prevalecendo, assim, mais a realização

de atividades teóricas do que práticas,

fato esse confirmado na questão 2 desse

mesmo estudo, mostrando que (50%) dos

docentes aplicam mais aulas teóricas no

ensino noturno.

Tabela 12 – Conteúdo com mais Participação

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

Os conteúdos trabalhados

durantes as aulas e a metodologia

utilizada pelo professor são pontos muito

importante para uma boa participação

dos alunos, segundo os dados obtidos,

(80%) dos professores percebem maior

participação da turma quando são

trabalhados conteúdos relacionados ao

esporte, (10%) atividades de recreação, e

Quadra 3 15% Pátio 1 5%

Sala de aula 15 75% Outro 1 5%

Desporto (futebol, lutas, basquete, etc) 16 80% Dança, Ginástica 1 5%

Recreação 2 10% Jogos 1 5%

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apenas (5%) dança, ginástica e outros

jogos.

A preferência pelo esporte é

nítida, especialmente o futebol/futsal,

que são os mais praticados no Brasil

atualmente. Na pesquisa de Vargas

(2009), no qual os professores relataram

quais conteúdos mais trabalham durante

suas aulas no período noturno, (43%) da

amostra respondeu realizar aulas teóricas

abordando os esportes, explicando suas

regras e modos de jogo.

Tabela 13 – Principais Dificuldades

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

Em relação às dificuldades

encontradas nas aulas de Educação

Física à noite, (45%) dos professores

responderam que os alunos faltam muito

e frequentam as aulas sem roupas

adequadas, (25%) afirmam que o

principal desafio é por conta da falta de

material e infraestrutura, (10%), por

desinteresse dos alunos e turmas

numerosas e os outros (10%) afirmaram

serem outros os motivos.

Analisando as respostas de um

estudo realizado por Neto et. al (2015) no

ensino médio, encontramos as mesmas e

até dificuldades diferentes das

levantadas nesse estudo, dos professores

investigados, (34%) responderam que é a

questão do horário das aulas o que mais

atrapalha o bom andamento das aulas,

(28%) a disciplina dos alunos, 21%

materiais disponíveis e 17% o espaço

físico.

Na questão de número treze desse

estudo, foi indagado aos professores, de

maneira subjetiva, qual seria, na opinião

deles, a maior diferença entre lecionar

Educação Física à noite e nos demais

turnos, manhã e tarde.

As principais respostas para a

questão foram:

P2: “A idade dos alunos da noite.

A disposição desses alunos após o

trabalho. A maturidade de alguns alunos

para a realização das atividades

propostas”.

P4: “O perfil dos alunos exige

uma adaptação de proposta curricular.

Por serem normalmente mais velhos ou

oriundos de Educação para Jovens e

Adultos e terem uma rotina mais

Falta de material e de infraestrutura. 5 25% Faltas dos alunos e roupas inadequadas 9 45% Desinteresse dos alunos e turmas muito

numerosas. 2 10%

Outros 4 20%

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desgastante deixando o trabalho ou a

vida familiar, as atividades precisam ser

direcionadas para conteúdos mais

práticos e que agreguem conhecimento

que poderão ser aplicados no dia a dia

para que haja interesse. Os métodos de

avaliação também precisam ser mais

flexíveis, visto que a maioria não

obedece aos prazos ou não se interessam

em cumprir as atividades”.

P13: “Os alunos do turno

noturno, na sua maioria, trabalham, já

chegam cansados na escola e encontram-

se totalmente desinteressados para

estudarem as atividades das aulas de

Educação Física”.

P14: “No turno manhã e tarde as

aulas são 2h semanais distribuídas em 1h

teórica e 1h prática, facilitando o

trabalho no quesito conteúdo e os alunos

são mais fáceis de trabalhar já que,

nesses turnos, é obrigatório a prática da

Educação Física e no Ensino Noturno

além do desinteresse, pois muitos alunos

trabalham e chegam cansados na escola,

a Educação Física não é obrigatória

nesse turno para muitos desses alunos”.

P20: “A maioria dos alunos da

noite relatam estarem casados do dia de

trabalho e pouco demonstram interesse

em participar e os alunos do turno diurno

sempre estão interessados e dispostos”.

Realizando uma síntese das

principais respostas apontadas pelos

professores, percebemos que a maior

diferença entre ministrar aula no período

noturno está no tipo de público ao qual

se ensina, em sua maioria são alunos fora

de faixa, adultos, pais e mães de família

que trabalham o dia inteiro e quando

chega a noite ainda vão para a escola.

Sousa Júnior e Darido (2009)

relatam em seu estudo que uma das

condições para garantir que os alunos

não se distanciem e participem das aulas

é a qualidades das mesmas, fazendo um

comparativo com esse estudo, podemos

entender que apesar do cansaço dos

alunos, se aulas forem atrativas e

convidativas, prevalecendo o seu aspecto

prático, os alunos poderiam ter uma

maior disposição.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se com a pesquisa que, a

didática mais aplicada na realização da

EFE no ensino noturno são as aulas

teóricas. De fato é onde cabe ao

professor dinamizar os conteúdos devido

ao público ser composto por alunos em

idades avançadas, na maioria das vezes

atrasadas em relação aos demais

escolares de outros turnos.

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Diversos obstáculos rodeiam o

quotidiano do professor de Educação

Física do ensino noturno, predomina

como uma das maiores dificuldades

encontradas pelos professores, os alunos

faltarem muito e frequentarem as aulas

sem a roupa adequada para a realização

de atividades práticas.

Independente do turno, o

professor torna-se personagem principal

em levar aos alunos uma Educação

Física escolar norteadora em princípios

éticos e morais. O fato dos alunos, em

sua grande maioria, trabalharem durante

o dia e serem os responsáveis por suas

famílias é visto pelos professores como a

principal diferença do público no

período noturno em relação aos demais

turnos.

Compreende-se a importância da

Educação Física escolar como uma

disciplina que estimula a expressividade

natural de quem a pratica, buscando

sempre que possível agregar aulas

teóricas juntamente com aulas práticas,

em que cabe ao professor optar por

ensinar nesse horário ciente de um

público diferenciado e que por esforço

pessoal buscam alcançar melhorias para

sua vida por meio da educação.

Devido à carência de pesquisas

relacionadas ao tema abordado em

questão, torna-se relevante sua

abordagem, a fim de quebrar paradigmas

no que diz respeito a EFE no EN,

buscando conhecer mais de forma

aprofundada os alunos que por inúmeros

motivos ainda buscam concluir, mesmo

que à noite, o ensino básico, professores

que se sobrecarregam e que trabalham

até três turnos, são essas questões a se

pesquisar em prol de uma educação com

prazer e respeito a todos.

REFERÊNCIAS

CAMPOS, Roberto Wagner Scherr. A prática técnico-pedagógica do professor de educação física em referência à análise da qualidade do ensino em escolas públicas de 2º grau. 1995. 160f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Motricidade Humana) Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, 1995. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. ______, Lei de Diretrizes e Bases. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. ______. Ministério da Educação. Lei nº 10.793, de 1º de dezembro de 2003. ______. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC, 1997. DARIDO, S. C., e RANGEL I. C. A. Implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

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FREITAS, H. B. A importância do espaço físico e materiais pedagógicos para as aulas de Educação Física na escola pública do município de Unaí – MG . 2014. 36 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Educação Física) – Universidade de Brasília. Minas Gerais, 2014. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008. MORETTO, V. P. Planejamento: planejando a educação para o desenvolvimento de competências. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. NETO, V. S. et al. Aulas de Educação Física no ensino médio: a questão do interesse. Revista Uniplac, v. 3, n. 1, 2015. PEREIRA, R. S.; MOREIRA, E. C. A participação de alunos do ensino médio em aulas de Educação Física: algumas considerações. Revista da Educação Física/UEM. Maringá, v. 16, n. 2, p. 121-127. 2005. ROCHA, V, M,; FERNANDES, M. H. Qualidade de vida de professores do ensino fundamental: uma perspectiva para a promoção da saúde do trabalhador. Jornal Brasileiro de Psiquiatria. 2008, 57(1): 23-27. SOUZA JR, O. S.; DARIDO, S. C. Dispensas das aulas de Educação Física: apontando caminhos para minimizar os efeitos da arcaica legislação brasileira. Revista Pensar a Prática, v. 12, n. 2, 2009. VARGAS, José Eduardo Nunes. Educação Física no ensino médio noturno na região sul do Rio Grande do Sul: realidades de possibilidades. 2009. 125 f. Dissertação (Mestrado em

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PRIMÍPARAS E O ALEITAMENTO MATERNO: BOAS PRÁTICAS DE

ENFERMAGEM NO ENFRENTAMENTO DAS DIFICULDADES

Adriana Freitas de Campos Sousa

Aluna do Curso de Enfermagem da Universidade de Fortaleza (UNIFOR)

Iliana Maria de Almeida Araújo Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade Grande Fortaleza (FGF). Pesquisadora do

Grupo de Pesquisa Saúde e Qualidade de Vida do Binômio Mãe e Filho (UNIFOR/CNPq)

Karla Maria Carneiro Rolim

Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Chefe da Divisão de Pesquisa da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Líder do Grupo de Pesquisa Saúde e Qualidade de Vida do Binômio Mãe e Filho (UNIFOR/CNPq).

Monyque Da Silva Barreto

Aluna do Curso de Enfermagem da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza RESUMO: Objetivou-se com o estudo analisar a produção científica acerca do aleitamento materno em primíparas, e as ações de enfermagem no enfrentamento das dificuldades. Revisão integrativa, coleta de dados ocorreu no período de fevereiro a abril de 2015, em artigos publicados com recorte atemporal. A técnica utilizada para obtenção dos dados foi por meio de um levantamento bibliográfico junto aos bancos de dados MEDLINE/PubMed, LILACS, SCIELO. Percebeu-se ser inegável a importância do trabalho educativo, realizado pelos enfermeiros, com as mulheres gestantes, em especial com as gestantes primigestas que por não contarem com a experiência prévia, podem estar mais sujeitas às inseguranças decorrentes do não domínio da situação. Boas práticas assistenciais baseadas no diálogo e no respeito à opinião da mulher, que considerem o contexto em que essa se insere e o saber popular, podem ser esclarecedoras da motivação para o aleitamento materno e sua manutenção pela mulher no papel de mãe. Descritores: Aleitamento Materno. Mães. Cuidados de Enfermagem. Humanização da Assistência. ABSTRACT: The objective of the study to analyze the scientific literature about breastfeeding in mothers, and nursing actions in confronting the difficulties. Integrative review collection occurred in the period from February to April 2015, in articles published with timeless clipping. The technique used to obtain the data was through a bibliographical survey with the databases MEDLINEPubMed, LILACS, SCIELO. It was noticed to be undeniable the importance of educational work, performed by nurses, with pregnant women, in particular pregnant women primigestas that by not having prior experience may be more subject to uncertainties arising from the domain not the situation. Assistance based on best practices and dialogue in respect to the opinion of women, consider the context in which this falls and popular knowledge, can be instructive of motivation for breastfeeding and its maintenance for the woman in the role of mother. Keywords: Breastfeeding. Mothers. Nursing care. Humanization of Assistance.

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1 INTRODUÇÃO

O Programa de Assistência

Integral a saúde da Mulher (PAISM),

lançado no início dos anos 80 deu ênfase

aos cuidados básicos de saúde e destacou

a importância das ações educativas no

atendimento à mulher, trazendo assim, a

marca diferencial em relação a outros

programas. Segundo pesquisadores, a

dimensão educativa é, sem dúvida, um

dos aspectos mais inovadores do

PAISM, pois objetiva contribuir com o

acréscimo de informações que as

mulheres possuem sobre seu corpo e

valorizar suas experiências de vida.

Desse modo, como um dos componentes

das ações básicas de saúde, a ação

educativa deve ser desenvolvida por

todos os profissionais que integram a

equipe da unidade de saúde, estar

inserida em todas as atividades e deve

ocorrer em todo e qualquer contato entre

profissional de saúde e a clientela, com o

objetivo de levar a população a refletir

sobre a saúde, adotar práticas para sua

melhoria ou manutenção e realizar

mudanças, novos hábitos para a solução

de seus problemas [2].

Portanto, o profissional deve ser

um instrumento para que a cliente

adquira autonomia no agir, aumentando

a capacidade de enfrentar situações de

estresse, de crise e decida sobre a vida e

a saúde. E um dos momentos na vida

dessa mulher, em que ela vivencia uma

gama de sentimentos, é durante a

gravidez que, se desejada, traz alegria, se

não esperada pode gerar surpresa,

tristeza e, até mesmo, negação.

Ansiedade e dúvidas com relação às

modificações pelas quais vai passar,

sobre como está se desenvolvendo a

criança, medo do parto, de não poder

amamentar, entre outros, são também

sentimentos comuns presentes na

gestante.

A amamentação é um advento

social, influenciado por costumes e

valores mutáveis, transmitidos de

geração para geração e, portanto

ultrapassa os limites do querer, embora a

decisão materna de amamentar possa

influenciar diretamente na concretização

desse ato. O nascimento de um filho

desperta muitos sentimentos nos pais, e

ao exercer a maternidade pela primeira

vez é comum à mulher demonstrar

desconhecimento, falta de habilidade e

defronta-se com muitas tarefas para o

bem estar do recém-nascido (RN).

As orientações para as puérperas

primíparas devem ser iniciadas desde o

pré-natal, seguir no alojamento conjunto

e reforçados no momento da alta

hospitalar, momento em que o

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Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X

enfermeiro tem grande oportunidade de

observar, orientar, educar e dar espaço

para a mãe expor os seus sentimentos, a

fim de evitar a ocorrência de

determinados riscos desnecessários

causados pela falta de preparo e

inabilidade e proporcionar maior

segurança e melhor desempenho nos

cuidados com o RN.

A prática não se restringe apenas

ao binômio mãe/filho, mas possui

consequências em nível de sociedade,

pois uma vez a criança adequadamente

nutrida tem-se repercussões na redução

dos índices de morbimortalidade

neonatal e infantil. Este fato está

confirmado em um estudo realizado no

sul de Nepal, quando se evidenciou que

o início precoce do aleitamento materno

entre RN em uma comunidade rural está

associado com a redução do risco de

mortalidade neonatal.

O aleitamento materno (AM) é

mundialmente considerado um dos

fatores preponderantes na promoção e

proteção da saúde das crianças. O leite

humano é o alimento mais adequado ao

RN, proporcionando seu

desenvolvimento, proteção imunológica

e estimulando o vínculo com a mãe.

Segundo pesquisadores, surgem a cada

dia novos fatos sobre os benefícios da

amamentação, não se restringindo

apenas ao período da lactação, mas

estendendo estes benefícios para a vida

adulta com repercussões na qualidade de

vida do ser humano. A relevância do AM

confirma-se no que preconizam a

Organização Mundial de Saúde (OMS),

o Fundo das Nações Unidas para a

Infância (UNICEF) e o Ministério da

Saúde (MS): AM exclusivo (AME) até

os seis meses de idade e complementado

com outros alimentos dos seis aos vinte

e quatro meses ou mais.

Embora menos conhecidos e

difundidos, merecem destaque os

benefícios do AM também para a saúde

da mãe. Evidências científicas apontam

menor risco de câncer de mama e ovário,

menores índice de fraturas de quadril por

osteoporose e contribuição para o maior

espaçamento entre gestações. Vários

fatores são determinantes do sucesso da

amamentação. Pesquisas recentes

mencionam especialmente o nível de

informação, situação socioeconômica, o

apoio recebido da família (especialmente

do pai da criança) e condições de

trabalho. Porém, a falta de informação

pode acarretar dificuldades no AM e

desconfortos para a mulher como uma

discreta dor no início das mamadas, o

que pode ser considerado normal. No

entanto, mamilos muito dolorosos e

machucados, apesar de ser um achado

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muito comum, não são considerados um

fato normal e, na maioria das vezes, é

causado por má-técnica da amamentação

(posicionamento ou pega incorreta).

Este estudo visa a mostrar a

importância do cuidado de enfermagem

e das ações educativas do enfermeiro e

sua equipe no AME até os seis meses de

idade, para que seja bem sucedido,

sobretudo em mães primíparas, de forma

a amenizar suas dúvidas e dificuldades

pela falta de experiência, além das

vantagens para a criança e para a mãe,

possibilitando a diminuição das taxas de

mortalidade infantil e o desmame

precoce. Assim, diante do exposto, as

questões norteadoras que buscaremos

responder no estudo é: “Quais são os

fatores estão relacionados às

dificuldades da primípara em relação à

amamentação?” e “quais ações de

enfermagem são utilizadas no

enfrentamento dessa dificuldade?”

Diante das dificuldades observadas com

as primíparas, percebe-se a importância

do enfermeiro em promover apoio,

orientação, proteção e incentivo para o

sucesso do AM, desde o pré-natal,

salientando a importância da

amamentação exclusiva até os seis meses

de idade e os benefícios obtidos para a

mãe e para o bebê. Diante das

considerações o objetivo do estudo foi

analisar a produção científica acerca das

primíparas e o AM, e as ações de

enfermagem no enfrentamento das

dificuldades.

2 TRAÇADO METODOLÓGICO

Estudo descritivo com

abordagem qualitativa, realizada a partir

de uma pesquisa integrativa, a qual tem

por finalidade reunir e sintetizar

resultados de pesquisas sobre um

determinado tema ou questão. A revisão

integrativa é um método de revisão mais

amplo, pois permite incluir literatura

teórica e empírica bem como estudos

com diferentes abordagens

metodológicas (quantitativa e

qualitativa). Os estudos incluídos na

revisão são analisados de forma

sistemática em relação aos seus

objetivos, materiais e métodos,

permitindo que o leitor analise o

conhecimento pré-existente sobre o tema

investigado.

A coleta de dados ocorreu no

período de fevereiro a abril de 2015. A

técnica utilizada na pesquisa para

obtenção dos dados foi por meio de um

levantamento bibliográfico, com recorte

atemporal, junto aos bancos de dados

MEDLINE/PubMed, LILACS,

SCIELO, e BIREME, que

proporcionaram um amplo acesso a

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periódicos e artigos científicos, a partir

dos descritores: “primíparas” or “ recém-

nascido” or “aleitamento materno” and

“mães”, utilizando os termos para

artigos publicados em inglês, espanhol

ou português. Como critérios de inclusão

para análise, foram considerados os

artigos que abordam de forma mais clara

a temática. Os artigos foram

selecionados por intermédio de seu título

e resumo.

Foram encontrados 120 artigos,

mas somente os pertinentes à revisão

foram avaliados na íntegra. Também foi

realizada uma busca manual em livros-

texto de referência e outras fontes,

visando permitir uma exposição didática

do trabalho, procurando abordar pontos

ainda não explicitados. Após uma leitura

exaustiva dos textos, foi realizada a

síntese de cada artigo e agrupado de

acordo com os temas previamente

elaborados. Os dados obtidos foram

analisados e discutidos de acordo com a

literatura pertinente.

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

A partir de uma leitura criteriosa,

foram selecionados 27 artigos. Foram

destacados ao final do trabalho todos os

resultados obtidos para se chegar uma

determinada conclusão, de forma geral

do que foi descrito pelos artigos,

procurando por meio desse estudo

compreender as primíparas e

dificuldades relacionadas com o AM.

3.1 O Enfermeiro E As Ações

Educativas Com As Mulheres

Gestantes

O trauma mamilar é uma

importante causa de desmame e, por isso,

a sua prevenção é primordial. O

enfermeiro é o profissional que mais

estreitamente se relaciona com a mãe

neste período, portanto, deve preparar a

gestante para o aleitamento, facilitando

sua adaptação na fase puerperal,

evitando assim dúvidas, dificuldades e

possíveis complicações. É fundamental,

portanto, o trabalho e ações educativas

com as mulheres gestantes, em especial

com as gestantes primigestas que por não

contarem com a experiência prévia,

podem estar mais sujeitas às

inseguranças decorrentes do não

domínio da situação.

Através da conscientização das

mães, programas de incentivos, quebra

de tabus, treinamento de profissionais

para auxílio adequado à amamentação,

ética no marketing, dentre outros, o

perigo do desmame precoce pode ser

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convertido em estímulo à amamentação,

podendo assim alcançar à meta

idealizada pela OMS. A amamentação é

uma prática natural e eficaz, um direito

inato do RN e cujo sucesso depende, em

grande parte, das experiências

vivenciadas no mundo da mulher e do

compromisso e conhecimento técnico-

científico e ético dos profissionais de

saúde envolvidos.

Neste contexto, é relevante que a

equipe de saúde conheça a realidade

familiar da mulher para discutir e

implementar a atuação de acordo com a

vivência da nutriz, não estabelecendo

ações baseadas em pressupostos e ideias

pré-concebidas. No cotidiano

assistencial, encontramos muitas

puérperas, mães pela primeira vez, que

iniciam a amamentação, mas não se

queixam de dificuldades. Entretanto,

algumas precisam de apoio, incentivo e

até mesmo de orientação, pois se sentem

inseguras diante do novo desafio de

nutrir, apresentando sentimentos

ambivalentes que associam poder,

feminilidade e medo.

Não há dúvida de que o AM é o

melhor e o mais seguro método para

alimentar lactentes. O leite materno é o

único alimento totalmente indicado para

crianças até seis meses, protegendo

contra as infecções e estabelecendo os

fundamentos básicos para um

desenvolvimento psicológico sadio. Os

países desenvolvidos há muito já

reconheceram o valor deste importante

método natural de alimentar crianças.

Nos últimos anos, muitas

atividades foram dirigidas para a

investigação da alimentação infantil, e

divulgação do AM. Segundo

pesquisadores, há alguns séculos o AM

era comercializado através das amas-de-

leite, as quais muitas vezes moravam na

casa dos nobres para poder amamentar

seus filhos, e muitas vezes essa prática

era a única forma para o seu próprio

sustento. As amas-de-leite eram

escolhidas conforme sua personalidade,

como bom caráter e dignidade, pois

acreditava-se que essas qualidades eram

transmitidas através do leite materno.

Nos últimos anos, tem-se

assistido, em muitos países,

principalmente nos países

desenvolvidos, à implementação de

ações dirigidas ao incentivo do AM. Na

verdade, trata-se de um retorno às

campanhas empreendidas, desde o

século XVIII até o início do atual, por

enfermeiros, psicólogos, médicos,

escritores e educadores, dentre outros.

De acordo com autores, inúmeras

estratégias foram elaboradas e

implementadas no Brasil, com o objetivo

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de reduzir os índices de

morbimortalidade infantil através do

combate ao desmame precoce, visto que

a amamentação se transformou em um

dos principais objetos de preocupação

para os formuladores de políticas

públicas em favor da saúde da criança. É

muito importante a experiência e o

incentivo dentro da própria casa.

A mãe de uma mulher que

amamentou corretamente e teve uma

experiência positiva e agradável na

amamentação, irá incentivar a filha

quando sua hora de amamentar chegar.

Por outro lado, uma mãe que não teve

uma experiência tão boa assim, na sua

amamentação, não terá uma boa história

para contar e certamente transmitirá seus

medos e inseguranças a sua filha na hora

de amamentar, o que provavelmente

levará ao desmame precoce do bebê. A

gravidez é um momento especial na vida

da mulher, de seu parceiro e da família.

É um período de mudanças físicas e

emocionais que cada mulher vivenciará

de forma diferente. A gestação constitui

uma das experiências humanas mais

belas, e, se bem acompanhada, torna-se a

realização de um sonho para a maioria

das mulheres.

Nesse contexto, os profissionais

da área de saúde têm um difícil papel a

ser desempenhado, visto que ao mesmo

tempo em que devem respeitar a

individualidade de cada uma, devem

humanizar o atendimento à mulher, ao

RN e à família. Assim, como fator

importante na gravidez, o pré-natal é um

conjunto de medidas preventivas e

curativas que tem por objetivo

proporcionar à gestante e sua família

condições de bem estar físico, psíquico e

social, além de acompanhamento

materno/fetal.

Para alguns autores, cabe aos

profissionais da saúde identificar os

riscos e os problemas surgidos, tanto

biológicos, quanto sociais e psicológicos

das grávidas, fornecendo, assim, as

orientações adequadas para as soluções

das possíveis complicações da futura

mamãe que, deverá segui-las

corretamente. Depois dessa

argumentação, entende-se que o

enfermeiro, na qualidade de profissional

da área de saúde, tem o papel de

conscientização das mães para a

importância do aleitamento materno

exclusivo (AME), pelo menos nos

primeiros seis meses de vida do bebê,

abolindo a água, os chás e

complementos, e se possível, até o

segundo ano de vida da criança,

associando-o com alimentação adequada

para cada etapa do crescimento infantil.

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O enfermeiro deve fornecer informações

claras, objetivas e coerentes sobre o AM.

No que diz respeito ao desmame

precoce, percebe-se que na maioria das

vezes são causados por problemas

mamários que, costumam ser comuns

para algumas mulheres e podem ser

solucionados com orientações durante o

pré-natal. Dentre os problemas

destacam-se o ingurgitamento mamário,

mamilos doloridos, mastite, abscesso

mamário, trabalhadoras formais, mães

adolescentes e primíparas. Durante o

pré-natal os profissionais da saúde têm

que levar em conta todos os seus

conhecimentos, práticas, experiências

pessoais e vivência social e familiar da

gestante, promovendo, dessa forma,

educação em saúde para orientação

adequada sobre o AM, garantindo a

vigilância e efetividade à mulher no pós-

parto.

O Programa Nacional de

Incentivo ao Aleitamento Materno

(PNIAM), coordenado pelo Ministério

da Saúde (MS), teve início no começo

dos anos 80, com ênfase na informação

aos profissionais de saúde e ao público

em geral, adoções de leis para proteção

da mulher no trabalho no período de

amamentação e o combate a livre

propaganda de leites artificiais para

bebês. O enfermeiro é o profissional da

saúde que mais se relaciona com a

gestante e tem o papel principal nos

programas de pré-natal. Ele é quem vai

dar as orientações sobre o AM, para

tranquilizar as futuras mães, evitando

assim, dúvidas e complicações.

O enfermeiro deverá estar

próximo durante e após o parto,

auxiliando as mães nas primeiras

mamadas do RN, de forma que o AM

seja iniciado o mais precoce possível, de

preferência imediatamente após o parto.

É, portanto, este profissional que irá

observar se a pega do bebê está correta.

Os primeiros dias após o parto são de

fundamental importância para o

aleitamento satisfatório e sem

intercorrências, pois é nessa hora que se

estabelece a relação entre a mãe e o seu

bebê.

Por essa razão é tão importante

que o enfermeiro preste a assistência

adequada à nutriz, realizando visitas

domiciliares, após a alta hospitalar;

palestras; grupos de apoio e

aconselhamento, para incentivar o AME,

visto que é nesse momento que ocorrem

as dúvidas e inseguranças da mulher em

relação ao seu filho. Cabe ao enfermeiro

transmitir e reforçar as orientações sobre

o autocuidado, o aleitamento, os

cuidados com o bebê e planejamento

familiar; como fazer a retirada do leite,

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sua conservação e armazenamento, e,

dessa forma, ela possa continuar

amamentando após o fim da licença

maternidade e voltar a sua rotina de

trabalho, evitando o desmame precoce.

3.2 Gestação Primigesta

A gestação está associada a

mudanças biológicas e somáticas, mas

também psicológicas e sociais, que

influenciam a dinâmica psíquica

individual e relacional da gestante. Além

disto, a maneira como a gestante vive

estas mudanças repercute intensamente

na construção da relação mãe/bebê. As

gestantes vivenciam intensos

sentimentos em relação ao tornar-se mãe

e durante todo o período gestacional o

processo de constituição da maternidade

está em franco desenvolvimento.

Na abordagem da psicologia a

gestação é revestida de grande relevância

por representar um momento existencial

de extrema importância no ciclo vital da

mulher, a exemplo da adolescência e do

climatério, em função das perspectivas

de mudanças em seu papel social e da

necessidade de adaptações e

ajustamentos requeridos nesse processo.

A organização dos serviços do atual

modelo de assistência à saúde tende a

reduzir a assistência à maternidade ao

cuidado exclusivo com o corpo grávido

da mulher, visando, sobretudo à

vitalidade do concepto.

Logo que constatada a gravidez,

a mulher começa a ser submetida a uma

sucessão de procedimentos que se

destinam a avaliar as funções do corpo

materno, tendo em vista,

prioritariamente, a garantia das

condições vitais do feto e da criança, em

detrimento de uma assistência que

também contemple as necessidades e

expectativas manifestadas pelas

mulheres. Como transição para a

parentalidade, para grande parte das

mulheres, as mudanças e processos de

adaptação que ocorrem na gravidez

associam ao período o aumento da

sensibilidade e ansiedade.

A espécie humana é a única entre

os mamíferos em que a amamentação e o

desmame não são processos

desencadeados unicamente pelo instinto.

Por isso, eles devem ser aprendidos.

Atualmente, sobretudo nas sociedades

modernas, as mulheres têm poucas

oportunidades de obter o aprendizado

relacionado à amamentação, já que as

fontes tradicionais de aprendizado -

mulheres mais experientes da família -

foram perdidas à medida que as famílias

extensivas foram sendo substituídas

pelas famílias nucleares. Como

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Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X

consequência, as mulheres tornam-se

mães com pouca ou nenhuma habilidade

em levar adiante a amamentação, o que

as deixa mais vulneráveis a apresentarem

dificuldades ao longo do processo. O

profissional de saúde tem um papel

importante na prevenção e manejo

dessas dificuldades, o que requer

conhecimentos, atitudes e habilidades

específicos.

3.3 Amamentação: Aspectos

Fisiológicos e Vantagens

A amamentação é essencial para

sobrevivência e a qualidade de vida da

criança no primeiro ano de vida, pois o

leite materno em sua composição

apresenta todos os nutrientes necessários

para o crescimento e desenvolvimento da

criança assim como a proteção contra

patologias e infecções. O Ministério da

Saúde utiliza as mesmas categorias de

AM sugeridas pela OMS, assim

definidas: Aleitamento materno

exclusivo – quando a criança recebe

somente leite materno, diretamente da

mama ou extraído, e nenhum outro

líquido ou sólido, com exceção de gotas

ou xaropes de vitaminas, minerais e / ou

medicamentos; Aleitamento materno

predominante – quando o lactente

recebe, além do leite materno, água ou

bebidas à base de água, como sucos de

frutas e chás; Aleitamento materno –

quando a criança recebe leite materno,

diretamente do seio ou extraído,

independente de estar recebendo

qualquer alimento ou líquido, incluindo

leite não humano.

O documento da OMS sobre a

estratégia global para a alimentação de

crianças enfatiza a ação conjunta de

governos, organizações internacionais,

instituições dos profissionais de saúde e

sociedade civil – que inclui ONGS e

grupos baseados na comunidade, para a

promoção à boa alimentação das

crianças.

O conjunto de ações que a mulher

executa e as decisões que ela toma em

relação a amamentar ou desmamar seu

filho, não são resultados de fatores

isolados e dependentes exclusivamente

dos conhecimentos e habilidades no

manejo da amamentação. O que

determina a ação de amamentar, sua

qualidade e duração é o significado que

a mulher atribui a essa experiência.

Significado este, determinado pela

relação percebida pela mulher, do ato de

amamentar com os símbolos

representados nos elementos de

interação vivenciados por ela em seu

contexto.

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Na origem do processo de

lactação observa-se certo número de

fenômenos ditos reflexos, em resposta e

estímulos externos. A descida do leite

depende da prolactina, hormônio

secretado pela hipófise. A sucção do seio

pelo bebê estimula a produção do leite e

deve ser oportunizado o mais cedo

possível. A demora em colocar o bebê ao

seio pode, ao contrário, provocar a

involução da lactação. A própria

demanda da criança regula a quantidade

de leite secretado e conduz a

amamentação estimulando a produção

de prolactina. Consoante o pensamento

do autor, é durante a primeira hora de

vida também que o reflexo de sucção

está em seu máximo. Ele diminui

progressivamente a partir da sexta hora,

para se tornar novamente eficaz a partir

da quadragésima oitava hora. Além de

seu efeito sobre a lactação, a sucção do

seio tem ainda efeito sobre a

contratilidade uterina, fazendo diminuir

o sangramento pós-parto na mãe.

Ao analisar a composição do leite

humano, distinguem-se o colostro, o leite

de transição e o leite maduro. Cada qual

bioquimicamente adequado às

necessidades de um determinado período

de vida do lactente. Considera-se

colostro a secreção láctea que permanece

em média até o sétimo dia pós-parto, tem

alta concentração de proteína, de sódio e

de anticorpos contra bactérias e vírus;

menos gordura e açúcar quando

comparado ao leite maduro. O leite de

transição é a secreção láctea do sétimo ao

14º dia sua composição varia com o

decorrer dos dias das características do

colostro às do leite maduro. O leite

maduro é produzido após o 15º dia,

contém menos proteínas e sais minerais

e maior quantidade de açúcar e gorduras.

As vantagens do AM são, na

atualidade, amplamente difundidas e a

ciência tem contribuído para o seu

resgate como prática indispensável na

saúde materna e infantil e sua

reafirmação como estratégia

simplificada na atenção primária para a

redução da morbidade e mortalidade

infantil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o desenvolvimento do

estudo percebeu-se ser inegável a

importância do trabalho educativo,

realizado pelos enfermeiros, com as

mulheres gestantes, em especial com as

gestantes primigestas que por não

contarem com a experiência prévia,

podem estar mais sujeitas às

inseguranças decorrentes do não

domínio da situação. Contudo, as ações

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educativas desenvolvidas pelos serviços

de saúde poderiam ser mais

significativas se estruturadas a partir da

identificação de necessidades do próprio

grupo a que se destina.

As ações relacionadas à

promoção do AM devem não somente

ser incentivadas, mas pensadas enquanto

estratégias que (re)conheçam o sentido

da amamentação para as mulheres e

(re)considerem a ordem de importância

das causas do desmame precoce

específicas para cada município. Com

isso, haveria uma aproximação do

profissional de saúde à realidade das

mães, o que propiciaria um cuidado mais

efetivo.

Concluí-se com a revisão

integrativa que muitos profissionais de

saúde se encontram despreparados para

lidar com o AM, por ser este um ato

cultural, social e político de múltiplas e

amplas dimensões. Além disso,

estratégias isoladas não propiciam a

extensão do AM, que só pode ser

adequadamente promovido através da

combinação de intervenções colocadas

em prática em todo ciclo gravídico-

puerperal.

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REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL DENTRO DA PERSPECTIVA DA

INCONSTITUCIONALIDADE

Alexandre Luís Ximenes Da Silva Bacharel em Direito pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza

Romana Missiane Diógenes Lima

Mestre em Direito Constitucional e professora de Direito da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza

RESUMO: A redução da maioridade penal tem repercussão imediata na ordem jurídica positivada, principalmente sobre a Constituição Federal de 1988. A inimputabilidade penal é considerada, pela maioria dos doutrinadores, como um direito fundamental inserido nas chamadas cláusulas pétreas, previsto no artigo 60, § 4º, IV, em consonância a uma interpretação sistêmica do artigo 1°, III combinado com o art. 228, todos da Lei Maior. Conquanto presente essa interpretação implícita sobre a impossibilidade de rebaixamento da idade penal, tramitam na Câmara dos Deputados e do Senado Federal propostas de emendas à Constituição objetivando a incidência do Código de Penal e de Processo Penal aos maiores de dezesseis e menores de dezoito anos, numa clara subtração do princípio da dignidade da pessoa em condição peculiar de desenvolvimento físico, intelectual, moral, etc. O artigo pretende apontar soluções contra a supressão desse direito fundamental. Quanto à metodologia, procedeu-se a uma pesquisa bibliográfica e documental. PALAVRAS-CHAVE: Princípio da dignidade da pessoa humana. Redução da maioridade penal. Inconstitucionalidade.

ABSTRACT: The reduction of the legal age has rebound in immediate legal order positively valued, mainly about the Federal Constitution of 1988. The criminal unaccountability and considered by most scholars, as a fundamental right inserted called entrenchment clauses provided for in article 60, § 4, IV, in line one a systemic interpretation of article 1º, III combined with art. 228, all of the Largest Law. While present this implied interpretation on the impossibility of stopping the criminal age, proceed through the house of representatives proposed amendments to Constitution aiming at the impact of the Penal Code and Criminal Procedure to people who´s more sixteen years, in clear subtraction of the person's dignity in principle peculiar condition of physical development, intellectual, moral, etc. The article intends to point solutions against suppression of this fundamental right. As for methodology, it was proceeded to a bibliographic and documentary research. KEYWORDS: Principle of human dignity. Reduction of legal age. Unconstitutionality.

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1 INTRODUÇÃO

Alguns anos se passaram desde

a introdução da Proposta de Emenda

Constitucional (PEC) 171 de 1993, tendo

como objetivo alterar o texto do artigo

228 da Constituição Federal de 1988,

com o intuito de modificar a

imputabilidade penal, para alcançar

pessoas menores de dezoito anos,

praticantes de condutas penalmente

ilícitas.

Em razão dessa proposição,

muitos debates jurídicos se agigantam

entorno da problemática, ressurgindo em

ciclos, sempre que condutas altamente

gravosas são cometidas pelos chamados

menores infratores e repercutidas

exaustivamente pelos meios midiáticos,

numa tentativa de se criar uma sensação

de ineficácia do Estado no combate da

criminalidade. Chega-se a estimular que

a resposta estatal mais rápida no controle

da violência crescente seja pela

exacerbação do sistema repressivo. Por

esse viés, critica-se, com veemência, o

Estatuto da Criança e do Adolescente

(ECA) que, aparentemente, já não

responde de forma adequada no

contingenciamento dos chamados

delinquentes precoces.

Partindo das premissas acima

ventiladas, foi feita uma inquirição

pertinente à possiblidade de modificar a

maioridade penal e se isso desembarcaria

numa constitucionalidade.

Indubitavelmente, rasgar-se-ia a

Constituição se a tese da redução

prosperasse, justamente porque a

inimputabilidade penal dos menores de

dezoito anos protege a dignidade da

criança e do adolescente, vetor basilar da

ordem constitucional vigente.

Desdobrando-se a pesquisa,

confirma-se que o objetivo geral pela

escolha da tese da inconstitucionalidade,

em caso de êxito nas casas legislativas,

seja a redefiniçao da moldura

constitucional da imputabilidade,

justamente por atacar um direito

fundamental individual dos menores,

portanto, um direito pétreo.

No que concerne aos objetivos

específicos da pesquisa, listou-se uma

serie de argumentos jurídicos favoráveis

e contrários à antecipação da maioridade

penal, e posicionou-se pelo contrário a

redução; criticou-se o debate entorno da

matéria no que tange às casas legislativas

federais, apontando-se algumas

irregularidades no processo

constitucional de elaboração do diploma

legislativo referente à alteração da

inimputabilidade, e refutou-se o

argumento de que a redefiniçao da

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maioridade implicaria na redução da

violência.

Justifica-se a escolha do tema

pela carga valorativa intensa que se

deflui quando uma questão tão sensível

entra na pauta de discussões legislativas

e também em função da sensação de

impunidade que se estalou no Brasil,

fazendo-se acreditar, que somente pelo

tratamento mais duro aos menores

infratores seria uma solução efetiva em

um curto prazo para solucionar a

problemática da criminalidade.

Atualmente, embora seja uma

proposta iniciada em 1993, a PEC 171

representa a ferramenta mais próxima no

que diz s respeito da reformulação da

idade penal, em que se propõe a redução

da maioridade dos 18 anos para 16 anos.

No bojo dessa medida, existe toda a sorte

de argumentos contrários e favoráveis

discutindo a constitucionalidade ou

inconstitucionalidade da redução como a

efetividade da medida de força no

combate da criminalidade.

Em relação ao referencial

teórico, o primeiro subcapítulo revela

que já houve no Brasil, em vários

momentos do ordenamento, regra que

delimitava a idade penal, que a depender

do período de regência e dos valores da

época, era bastante modulável.

Atualmente, são inimputáveis os

menores de dezoito anos, como confirma

a Constituição da República Federativa

do Brasil (CRFB) de 1988, o Decreto-

Lei (CP) nº 2.848, de 7 de dezembro de

1940 e o Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA).

O segundo subcapítulo refere-

se aos princípios constitucionais da

dignidade da pessoa humana e da

prioridade absoluta da proteção integral

do menor, inclusive, servindo de

anteparo jurídico impeditivo da atuação

legislativa de modificação da maioridade

penal.

Por fim, o cerne da pesquisa

enceta-se em refutar os argumentos

favoráveis à redução da maioridade, por

que afastam a referência constitucional

interpretativa que demarca a questão da

idade penal como um direito individual

fundamental pétreo, insuscetível de

modificação por emendas

constitucionais. Sendo assim, estaria

eivada de inconstitucionalidade a

tramitação da PEC da maioridade penal

no Congresso Nacional.

2 METODOLOGIA

O arcabouço metodológico

desenvolveu-se sobre a hipótese

confirmada que, qualquer tentativa de

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modificação do artigo 228 da

Constituição Federal de 1988 restará

infrutífera, porque o que se defende no

dispositivo é uma cláusula pétrea, e

nenhum instrumento normativo do

ordenamento jurídico brasileiro tem o

condão de remodelar a imputabilidade

para os maiores de 16 anos.

Além do mais, qualquer outro

argumento periférico que tente justificar

a alteração da idade penal, com a

finalidade de a mudança ser um melhor

controle social das condutas lesivas

altamente reprovadas, é criar uma ideia

falaciosa que basta mudar a lei, que se

mudará a realidade violenta atual.

Nesse prisma, as hipóteses

foram investigadas através de pesquisa

bibliográfica, das lavras de renomados

doutrinadores nacionais, tais como

Fernando Galvão, Karyna Batista

Sposato, Paulo Henrique Aranda Fuller,

Guilherme Madeira Dezem, Flávio

Martins Alves Nunes Junior, mediante a

literatura já publicada em forma de

livros, publicações avulsas, documentos

e até disponibilizada na Internet, por

meio de leis, enfim, matérias diretamente

ligadas ao ramo jurídico denominado

maioridade penal.

A tipologia da pesquisa,

segundo a utilização do resultado, é pura,

tendo por finalidade aumentar o

conhecimento do pesquisador para uma

nova tomada de posição no que diz

respeito aos aspectos inconstitucionais

concernentes à redução da

inimputabilidade penal.

Quanto à abordagem, é

qualitativa, posto que não se eleja um

critério numérico, e sim uma maior

compreensão dos fatores jurídicos e

sociais que giram em torno da

simbologia exagerada no direito

punitivo. No que tange aos objetivos da

pesquisa, ela é descritiva e exploratória.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Estudar a inimputabilidade

penal é debruçar-se sobre um plexo de

princípios e regras que gravitam em

torno da condição peculiar das crianças e

do adolescente que visam protege-los

com intuito que estes alcancem uma

proteção integral de seus direitos e

desenvolvam suas potencialidades,

mediante o apoio de uma legislação que

os valorizem como seres humanos.

Nesse diapasão, o princípio

constitucional da dignidade da pessoa

humana representa o postulado

necessário para que o legislador, ao

confeccionar leis ou ao intérprete, ao

aplica-las, não se esqueçam de que os

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menores, ainda que cometam

comportamentos desviantes, merecem

um tratamento especial desses atores

sociais com fim de resgate da condição

humana desses indivíduos e sua

reinserção na sociedade, recuperados.

Fuller, Dezem e Nunes Junior

(2012, p. 32 e 33) apontam a

envergadura do supra princípio da

dignidade humana, sendo as crianças e

os adolescentes igualmente considerados

sujeitos de direitos e merecedores de

proteção especial pelo Estado, pela

sociedade e pela família, para

preservarem a integridade física, moral e

espiritual e fomentem o atingimento

pleno de suas potencialidades:

A dignidade da pessoa humana, como fundamento do Estado Democrá- tico de Direito, está prevista no art. 1.°, III, da CE Significa, no dizer de Ingo Wolfgang Sarlet, que se trata "da própria condição humana (e, portanto, do valor intrínseco reconhecido às pessoas no âmbito das suas relações intersubjetivas) do ser humano, e desta condição e de seu reconhecimento e proteção pela ordem jurídico-constitucional decorre de um complexo de posições. jurídicas fundamentais" (Ingo Wolfgang Sarlet, Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988, p. 147). Reconhecer a dignidade da pessoa humana implica em que se tome o indivíduo como centro de inúmeras potencialidades, e, assim, não pode ser "coisificado", tem valor superior às coisas.

A alteração da idade penal

corresponde a uma tentativa do Estado

de não tratar o problema da delinquência

juvenil pelo expediente adequado.

Combater os efeitos sem ponderar uma

solução para as causas, além de ser

inócuo, ainda fere o direito fundamental

dos menores de serem julgados por

processo diferenciado dos adultos.

Evidente que a Proposta de

Emenda à Constituição que tramita no

Congresso Nacional, não deve prosperar

porque fulminará um dos fundamentos

da CRFB/88, que elege o postulado da

dignidade humana como norte a

obstaculizar a modulação da idade penal

e introdução do adolescente no

deteriorado sistema penitenciário

brasileiro.

Assim, Souza May (2015, on

line, paginação irregular), consigna o

malferimento da ordem constitucional e

legal se proposta da maioridade vingar

nos moldes de sua atual tramitação:

Outrossim, a PEC da maioridade penal infringe o princípio da dignidade da pessoa humana, que oportunizou à Constituição Federal trazer o homem, enquanto pessoa, para o centro de todos os princípios e direitos fundamentais. Alterar a Constituição, diminuindo a maioridade para “alguns” adolescentes de 16 anos e 17 anos, colocando-os no sistema criminal, fere profundamente o princípio da

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dignidade da pessoa humana, o que fica nítido, principalmente, quando ponderado que já existe uma legislação especial que prevê responsabilização A TODOS OS ADOLESCENTES ATÈ 18 ANOS, com observância de seu estágio de desenvolvimento, fase de profundas transformações, personalidade, estrutura psicológica, etc. (grifo do autor)

Outra mudança de perspectiva,

trazida pela CRFB/88, e repetida pelo

Estatuto da Criança e do Adolescente,

trata-se do princípio insculpido no artigo

art. 227, que traça uma obrigatoriedade

imposta à sociedade, à família e ao

Estado quanto ao dever de promover

com prioridade absoluta à proteção

integral desses seres em condição

peculiar de desenvolvimento.

A reprodução do princípio da

proteção integral que substituiu a teoria

da situação irregular do menor encontra

guarida na Lei nº 8.069, de 13 de julho

de 1990, especificamente no art. 4° do

referido diploma legal. Segundo Vilas-

Bôas (2011, on line, paginação irregular)

também enfoca na família como

caminho a ser fortalecido para contribuir

na formação de jovens saudáveis e

cumpridores da ordem jurídica e social:

No art. 4º da Lei 8.069/90 temos que é dever da família, comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à

educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Sabemos que o problema da criança e do adolescente, antes de estar centradas neles, encontra-se centrado na família. Assim, a família deve ser fortalecida. E com isso acontecendo os seus membros menores não serão privados da assistência que lhes é devida.

Na hermenêutica

constitucional, qualquer instrumento

normativo em vigência ou em processo

de elaboração, que contrarie a CF/88 do

ponto de vista formal ou material, é

considerado ato normativo “natimorto”,

porquanto na configuração interpretativa

atual a Constituição de 1988 representa a

norma suprema de fundamentação de

todo o ordenamento brasileiro.

Apesar de sua função de validar

qualquer espécie normativa, o

dispositivo 228 da CF/88 é motivo de

acaloradas discussões doutrinárias, em

que de um lado, se sustenta o argumento

que é perfeitamente possível modificar a

estrutura do artigo sem incorrer em

nenhuma espécie de vicio de

inconstitucionalidade e, de outro turno,

os defendentes afirmam pela

impossibilidade de discussão de norma

estabelecedora de uma cláusula pétrea.

Galvão (2013, p. 442) insiste

em afirmar que o que está protegido é o

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limite de idade para o indivíduo

responder criminalmente, e não a

cristalização da inimputabilidade aos

menores de dezoito anos, propondo

inclusive, a possibilidade de alteração da

idade penal sem que se configure quebra

de cláusula pétrea constitucional.

No outro lado da análise

constitucional da maioridade penal, o

ponto fulcral na defesa de permanecerem

inimputáveis os menores de 18 anos,

calca-se na ideia que tal norma

representa um direito individual desses

seres em formação, e, em consequência

desse fato, a idade penal não pode sofrer

qualquer tipo de alteração, haja vista

assumir a face de um direito de pedra,

insculpido na norma do artigo 60, § 4º,

IV da Constituição Federal de 1988. O

manto da imutabilidade protege esse

direito etário.

Assim, constatam-se

manifestações que interpretam o

dispositivo 228 da CF/88 como direito

individual, mesmo estando fora do rol do

artigo 5º, isso significa, em outras

palavras, que os indivíduos absoluta e

relativamente incapazes, que cometem

atos desviantes, têm o direito de serem

submetidos a uma legislação especial e

não ao Código Penal, blindando a idade

penal de qualquer interferência da

atividade legiferante.

Andrade (2013, on line,

paginação irregular) foi feliz em seu

argumento, ao considerar o artigo 228 da

CF/88, como matéria pertinente ao

direito pétreo constitucional.

Moreira (2014, on line, p. 7)

desenvolveu a ideia da imutabilidade que

envolve o rebaixamento da idade penal,

criticando, inclusive, a movimentação

das casas legislativas nas tentativas de

alteração do regramento constitucional.

Depois de anos de debate na

Câmara dos Deputados acerca da

imputabilidade penal, a PEC da

maioridade penal ganhou um novo sopro

de vida. Numa manobra regimental

inédita, no que atine ao processo

constitucional de produção legislativa, a

proposta de emenda à Constituição que

fora rejeitada no primeiro turno de

votação, foi alterada em apenas alguns

pontos e reapresentada em um segundo

turno pela Comissão Especial

responsável pelo trato da matéria em

questão.

Detalhando parcialmente o

evento, o que houve foi que, em um

primeiro momento, foi rejeitado o

substitutivo proposto pela Comissão

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Especial, e em um intervalo recorde de

24h, reapresentou-se outro substitutivo,

que foi aprovado pela mesma Comissão,

retirando partes da proposta anterior

apenas alguns crimes.

Substancialmente, nada foi

alterado. O argumento sustentado pelo

parecer do novo substitutivo diz que, ao

promover a supressão de crimes de

tortura, terrorismo, lesão corporal grave,

tráfico de drogas e roubo qualificado,

automaticamente, uma nova matéria foi

apresentada diferente da anterior,

possibilitando uma nova votação,

inclusive, com êxito desse texto alterado.

Com bastante propriedade,

Gamil Föppel El Hireche e Alan Siraisi

Fonseca (2015, on line, paginação

irregular) repudiam a falta de técnica na

produção de normas tão nobres que

alteram a roupagem constitucional,

profundamente, defendendo o

argumento da mácula insuperável da

inconstitucionalidade formal do parecer

substitutivo aprovado, em segundo

turno, pela Comissão Especial e enviado

ao Senado Federal:

Em primeiro lugar, pela própria questão formal da votação: apenas um dia antes, em 30 de junho de 2015, a mesmíssima Casa Legislativa rejeitou proposta substancialmente idêntica, referente ao substitutivo proposto pela Comissão Especial, cuja única

mudança em relação ao texto aprovado é a previsão contida naquele de responsabilização penal do menor de idade também quanto aos crimes de tortura, terrorismo, lesão corporal grave, tráfico de drogas e roubo qualificado. Vê-se, portanto, sem muitas dificuldades, que a proposta recusada engloba a que foi posteriormente aprovada, tão-somente 24 horas depois. Trata-se, com efeito, de violação a expresso comando constitucional previsto no artigo 60, parágrafo 5°, que é induvidoso ao consignar: “A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa”. Pois bem. A Câmara dos Deputados rejeitou a proposta de alteração constitucional e, sob o argumento da supressão dos crimes de tortura, terrorismo, lesão corporal grave, tráfico de drogas e roubo qualificado, que não desnaturam o fato de a Casa Legislativa também ter rejeitado as demais previsões que foram mantidas na posterior emenda aglutinativa, deliberou por realizar nova votação, em que a Proposta de Emenda Constitucional foi aprovada. É dizer, a emenda aprovada não apresenta qualquer inovação e simplesmente aproveita matéria rejeitada.

Neste trabalho, posiciona-se

pela argumentação contrária daqueles

que defendem ser possível a modificação

da idade penal. Como já fora

mencionado, tal direito é considerado

individual, embora esteja fora do rol dos

direitos e garantias individuais do

dispositivo 5º da Constituição Federal de

1988.

Afinal, a própria fórmula do §

2º do artigo 5º prescreve que “os direitos

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e garantias expressos nesta Constituição

não excluem outros decorrentes do

regime e dos princípios por ela adotados,

ou dos tratados internacionais em que a

República Federativa do Brasil seja

parte”.

Em outras palavras, os menores

de dezoito anos têm um direito

individual, portanto, pétreo, de não

serem submetidos ao processo criminal

comum, porque existe o Estatuto da

Criança e Adolescente como a lei de

regências de seus atos infracionais, não

podendo o instituto da maioridade penal

sofre interferência do Poder Legislativo.

Vale ainda acrescer que, se o

processo de tramitação continuar da

forma como atualmente está posto, em

algum momento, o guardião da

Constituição Federal de 1988, que é o

Supremo Tribunal Federal, será

provocado a se manifestar, a fim de

reprimir um instrumento normativo

eivado pelo vício formal da

inconstitucionalidade.

Diante dos dados coletados da

pesquisa bibliográfica elaborada, parte-

se da falsa premissa que somente pela

redução da maioridade penal haverá

necessariamente a diminuição dos

índices de criminalidade.

O fato é que, toda vez que um

adolescente comete um ato infracional

grave, como homicídio, estupro ou

roubo, se ganha esse ato um sobrepeso

midiático da espetacularização que induz

a sociedade aterrorizada a clamar por

uma resposta mais ágil do Estado

punidor.

Evidentemente, alguns

parlamentares, sabedores dessa sensação

de impunidade e o clima de terror

explorado pelos meios de informação

quanto à segurança pública, aproveitam

a oportunidade para alcançar seus fins

eleitorais, e passam a retratar que a

solução imediata de controle da

criminalidade crescente, repousando na

ideia de que somente com

endurecimento da ordem jurídica vigente

dos menores infratores haverá de ser a

ferramenta de controle social mais eficaz

no enfrentamento da violência

desproporcional.

Observar o fenômeno por uma

ótica reducionista, desprezando outros

vetores de contextualização social, como

a educação, oportunidade de empregos,

entre outros, só demonstra total falta de

interesse em resolver, ontologicamente,

o problema da criminalidade infanto-

juvenil. Esquecem que focar somente nas

consequências e deslembrar as causas é

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tratar um tema sensível de forma

inadequada e sem uma perspectiva de

uma solução em longo prazo.

Em virtude desse quadro de

suplantar interesses privativos de

perpetuação nos cargos eletivos, muitos

parlamentares esquecem que vige uma

Constituição Federal, protetora dos

direitos e garantias individuais,

catalizadoras dos chamados direitos

pétreos e a idade penal, por ser um

direito dessa envergadura, não pode

servir de joguetes políticos.

CONCLUSÃO

Conquanto polêmicas as

diretrizes jurídicas deflagradoras dos

posicionamentos doutrinários, é de suma

importância levar em consideração o

encaixe na sistemática do ordenamento

jurídico brasileiro, que até o presente

momento considera a idade penal de

dezoito anos uma questão de direito

pétreo, logo insuscetível de modificação

no plano legislativo.

Respeitando todas as opiniões

em contrário, não se pode olvidar que o

arcabouço jurídico-penal brasileiro foi

estruturado para absorver as condutas

ilícitas, antijurídicas e culpáveis dos

maiores de dezoitos anos. A realidade

carcerária hodierna também não permite,

como simples ato de mágica, a

introdução de menores infratores, devido

à gritante falta de estrutura para absorver

mais uma camada de indivíduos nos

presídios brasileiros.

Outro dado importante, que

vale refletir, refere-se às pessoas que

estejam na faixa entre doze e dezoito

anos de idade, pois respondem pelos atos

lesivos cometidos contra a sociedade.

Elas receberão uma sanção de natureza

especial, chamada de medidas

socioeducativas para os comportamentos

mais graves.

Malgrado a existência de um

arcabouço jurídico constitucional posto,

uma corrente doutrinária vem ganhando

corpo e voz entre os parlamentares que

defendem a bandeira da redução legal da

maioridade penal como única medida

eficaz de subjugar o fenômeno social das

condutas altamente lesivas à sociedade.

Destarte, essa pesquisa defende

que, pela forma como está tramitando a

PEC 171/93, desemborcará num

desvirtuamento grave da Lei Maior, no

plano procedimental, pois ao

desconsiderar a prescrição constitucional

de proibição de propostas de emendas

rejeitadas, na mesma sessão legislativa,

taxada estará de um vício formal.

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Possivelmente, caso ultrapasse

o controle de constitucionalidade prévio,

futuramente será abortado do

ordenamento pelo Poder Judiciário, no

exercício do controle difuso ou

concentrado de proteção constitucional.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Luís Fernando de. A impossibilidade da redução da maioridade penal no Brasil. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 109, fev 2013. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12825 > Acesso em 27 de Fevereiro de 2016. BRASIL. Constituição Federal Brasileira de 5 de outubro de 1998. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em 27 de Fevereiro de 2016. _______. Lei nº 8.069, de 13 de Julho de 1990. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm>. Acesso em 06 de Maio de 2016. FONSECA, Alan Siraisi; HIRECHE, Gamil Föppel El. Sem Fundamentos: 171 é a PEC que reduz a maioridade penal e gera a frustração de garantias. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2015-jul-07/pec-171-reduz-maioridade-penal-gera-frustracao garantias> Acesso em 28 de Fevereiro de 2016.

FULLER, Paulo Henrique Aranda; DEZEM, Guilherme Madeira; NUNES JUNIOR, Flávio Martins Alves. Difuso e coletivo: estatuto da criança e adolescente. 2. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012. GALVÃO, Fernando. Direito penal: parte geral. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. MOREIRA, Carine. A inconstitucionalidade da redução da maioridade penal. Disponível em: < http://www.emerj.tjrj.jus.br/paginas/trabalhos_conclusao/1semestre2014/trabalhos_12014/CarineMoreira.pdf >. Acesso em 27de Fevereiro de 2016. SOUZA MAY, Brigitte Remor de. PEC da maioridade penal versus princípios constitucionais e estatutários. Disponível em: < http://emporiododireito.com.br/pec-da-maioridade-penal-versus-principios-constitucionais-e-estatutarios-por-brigitte-remor-de-souza-may/ >. Acesso em 05 de Maio de 2016. SPOSATO, Karyna Batista. Direito penal de adolescentes: elementos para uma teoria garantista. São Paulo: Saraiva, 2013. VILAS-BÔAS, Renata Malta. A doutrina da proteção integral e os Princípios Norteadores do Direito da Infância e Juventude. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 94, nov 2011. Disponível em: < http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10588&revista_caderno=12>. Acesso em 06 de Maio 2016.

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O RETRATO DE DORIAN GRAY: UM ROMANCE SIMBOLISTA

Luiz Alexandre Ramos da Silva Licenciado em Letras pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza

Maria Coeli Saraiva Rodrigues

Doutora em Linguística pela Universidade Federal do Ceará e Coordenadora do Grupo de Pesquisa Analisis (FGF)

RESUMO: O presente trabalho tem o objetivo de analisar o livro O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde como uma obra simbolista. Pois, se justifica pelo fato de os livros paradidáticos e algumas editoras não divulgarem a obra como romance simbolista. Para isso, será feito uma analise na obra com o objetivo de encontrar características centrais da estética simbolista como: individualismo, hermetismo, hedonismo, sugestão, símbolo e outras. Também serão abordadas características predominantes da estética do Romantismo, mas que foram aprofundadas pelo Simbolismo como: egocentrismo, subjetivismo, idealização da mulher e isolamento. Com isso, poderá se traçar as diferenças estéticas entre um romance romântico e um romance simbolista para poder se julgar adequadamente O Retrato de Dorian Gray como romance simbolista.

Palavras-Chave: O Retrato de Dorian Gray; Romance; Simbolista.

ABSTRACT: The present work aims to analyze the book The Picture of Dorian Gray by Oscar Wilde as a symbolist novel. It is justified by the fact of textbooks and a few publishers don't disclose the literary work as symbolist novel. For this, an analysis will be made in the literary work to find central features of the Symbolism as: individualism, hermetism, hedonism, suggestion and the symbol. The predominant characteristics will also be discussed of the Romanticism, but which were deepened by the Symbolism as: egocentrism, subjectivism, idealization of women and isolation. With this, you can trace the aesthetic differences between a romantic novel and a symbolist novel to be able to judge properly The Picture of Dorian Gray as Symbolist novel.

Keywords: The Picture of Dorian Gray; Novel; Symbolist.

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1 INTRODUÇÃO

A escola literária que marcou o

final do século XIX nas duas últimas

décadas foi o Simbolismo que fazia

frente ao Realismo, Naturalismo e

Parnasianismo. Sua estética nasceu na

França através de Charles Baudelaire e

depois divulgada para outros países

como: Inglaterra, Alemanha, Áustria,

Itália, Rússia, Espanha, Portugal, Cuba,

Brasil, Chile, Argentina e outros.

Essa estética de hermetismo é

extremamente requintada, por isso seus

escritores foram chamados de a

aristocracia da aristocracia (SODRÉ,

1997). Pois, eles se isolavam do resto da

sociedade mantendo vínculos apenas

com os artistas e intelectuais em geral.

Como foi citado, anteriormente, na

Inglaterra também se divulgou o

Simbolismo e o Irlandês Oscar Wilde

herdou suas características já que viveu a

maior parte de sua vida na Inglaterra.

O presente trabalho tem o

objetivo de analisar O Retrato de Dorian

Gray de Oscar Wilde como uma obra

simbolista, pois se justifica pelo fato de

prosas como, os romances simbolistas

terem sidos deixados de lado, ou seja,

ignorados pela maioria da crítica e

esquecidos no tempo; já que os livros

paradidáticos e algumas editoras como a

Landmark e Abril Cultural não divulgam

a obra como sendo romance simbolista e

sim como apenas um romance

romântico. O que nos remete a pensar

que pertenceria a estética do

Romantismo. O que é errado. Pois, a

outra justificativa para o artigo

científico, é que a prosa ou a narrativa era

o principal gênero literário da escola

simbolista segundo o crítico e teórico

Wilson Martins (1991).

Dessa forma, pretende-se

analisar O Retrato de Dorian Gray como

um romance dentro da estética

simbolista através das características do

movimento como: sugestão, o símbolo,

individualismo, hermetismo, hedonismo

e entre outras que fazem parte do gênero

do movimento. Também serão usadas

características que fazem parte da

estética do romantismo, mas que foram

intensificadas e modificadas pela escola

simbolista. Com isso, poder-se-á avaliar

o gênero do romance para saber a que

escola literária a obra pertence sem cair

em erros de comodismo de várias

editoras e de críticos que não deram a

devida importância a essa obra pelo fato

de estarem presos a uma sociedade

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puritana e moralizante como foi à

Inglaterra do século XIX.

2 ROMANTISMO E SIMBOLISMO

Duas das escolas literárias que

marcaram o século XIX foram o

Romantismo e o Simbolismo, a primeira

na metade do século a segunda nas duas

últimas décadas trazendo uma grande

riqueza cultural para a sociedade.

O Romantismo no Brasil foi

dividido em três fases: a primeira fase

Nacionalista, a segunda ultrarromântica,

e a terceira Condoreira, enquanto o

Romantismo Frances não foi dividido.

Nessa pesquisa serão abordadas as

características da segunda fase do

Romantismo Inglês que é a mesma que

influenciou o Romantismo Frances e a

segunda fase do Romantismo Brasileiro.

O Ultrarromantismo tem outros

nomes como: Byronismo e Mal do

Século. Seus escritores foram chamados

de byronianos devido à influência do

escritor inglês Lord Byron que

praticamente fundou o

Ultrarromantismo. Suas características

são: egocentrismo, subjetivismo,

isolamento, idealização da mulher. Seus

precursores foram Lord Byron, Percy

Bysshe Shelley e Mary Shelley.

Já o Simbolismo no começo de

sua aparição era chamado de

Decadentismo, pois era formado por um

grupo de intelectuais chamados de

poetas decadentes, pois resgatavam

certos valores ultrarromânticos devido a

sua estética fundamentada em valores

espirituais e formada em um clima de

desilusões. Suas características são:

retorno da subjetividade por meio do

símbolo, sugestão, radicalização do

isolamento que se torna hermetismo,

individualismo, hedonismo, pessimismo,

idealismo entre outras. Seus precursores

foram o norte-americano Edgar Allan

Poe e os franceses Charles Baudelaire e

Stéphane Mallarmé que influenciaram os

ingleses Walter Pater, Arthur Symons e

Oscar Wilde. Pois, esses ingleses

chegaram até a frequentar a casa do

professor Mallarmé na França.

Nesse artigo se abordará a

questão do retorno da subjetividade por

meio do símbolo, que é uma das

características centrais do Simbolismo.

Para isso, se usará a citação do prefácio

da obra O Retrato de Dorian Gray de

Wilde que é: “[...] Toda arte por si é

superfície e símbolo. Aqueles que vão

além da superfície o fazem sob seu

próprio risco. Aqueles que desvendam o

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símbolo o fazem sob seu próprio risco.”

(2012, p. 13-14). Aqui fica claro o uso do

símbolo possível pela retomada do

subjetivismo, porém mais radicalizado

do que no Ultrarromantismo, pois está

em uma forma de plurissignifacado onde

o autor fala de arte em geral, da sua obra

e também pode se inferir ao retrato do

protagonista Dorian Gray. O Wilde

também fala em desvendar o símbolo,

pois segundo Gomes (1994, p. 30, grifo

do autor):

Concebendo o símbolo como um "disfarce das idéias" [sic], os simbolistas pretendiam encontrar as perfeitas correspondências entre o mundo sensível e o mundo abstrato. Desse modo, o símbolo deixa de ser apenas uma palavra ou uma coisa significando outra; mais que isso, é uma palavra ou um conjunto de palavras que serve para evocar um estado de espírito indefinido e cuja tradução jamais é imediata.

Dessa forma, visa-se deixar

evidente que teve uma retomada do

subjetivismo de forma radicalizada por

meio do símbolo e que o símbolo é uma

característica simbolista encontrada

dentro do romance O Retrato de Dorian

Gray.

Nessa mesma linha de

pensamento será abordada a

característica sugestão. Para isso, se

usará um trecho do romance de Wilde

(2012, p. 22, grifo do autor):

“Basil, isso é deveras maravilhoso! Eu preciso ver Dorian Gray”. Hallward levantou-se e caminhou a esmo pelo jardim. Depois de algum tempo retornou. “Você não compreende, Harry”, ele disse. “Dorian Gray, para mim é somente um tema dentro da arte. Ele nunca está mais presente em meu trabalho do que quando nenhuma imagem dele está lá. Ele é simplesmente uma sugestão, como eu disse, de um novo método. Eu o vejo nas curvas de certas linhas, nas graças e nas sutilezas de determinadas cores. Isso é tudo”.

Uma das principais diferenças

entre os dois estilos literários é objetivar o

subjetivo, que é uma característica própria

do Simbolismo, que consiste segundo

Mallarmé (apud WILSON, 2004, p. 44):

“[...] adivinhar pouco a pouco; sugeri-lo,

evocá-lo – isto é o que encanta a

imaginação.”, para mostrar um estado de

alma ou escolher um objeto e extrair dele um

estado de alma. E isso é feito nesse trecho,

quando a personagem Basil afirma que o

Dorian é uma sugestão que influencia sua

arte apenas como imagem praticamente o

fazendo de objeto e extraindo dele um estado

de alma. Pois justificado por Gomes (1994,

p. 62-63, grifo do autor):

[...] Sugestão: como a evocação, a sugestão foi bastante praticada pelos simbolistas, que procuravam, através dela, uma forma indireta de dizer as coisas. É o que Mallarmé propõe, ao fazer referência ao procedimento alusivo, neste fragmento: “penso ser preciso [...] que haja somente alusão”.

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Assim, pretende-se deixar

evidente que o romance de Wilde

apresenta a característica da sugestão

simbolista.

Abordaremos mais uma

característica simbolista dentro da obra

de Wilde, o hermetismo. Para isso, se

abordará outro trecho do romance. Pois,

segundo afirmação da personagem Basil

“[...] Eu não queria nenhuma influência

externa em minha vida.” (WILDE, 2012,

p. 19). Aqui fica visível que o

personagem não queria apenas se isolar

fisicamente e emocionalmente como um

simples romântico, mas que, além disso,

ele queria isolar suas ideias de criação

sobre arte para não sofrer influência de

outra consciência. Conforme Sodré

(1997, p. 445): “[...] E o seu

distanciamento do meio, dos seus

motivos e dos seus problemas, é ponto

pacífico. O distanciamento, aliás, estava

até no que ouve de mais característico no

simbolismo de origem, aquele que

forneceu o modelo”. Esse

distanciamento que Sodré fala é

justamente o hermetismo. Pois, também

conforme Moisés (2003, p. 210): “Agora

os simbolista se voltam para dentro de si

à procura de zonas mais profundas,

iniciando uma viagem interior de

imprevisíveis resultados”. Isso é o

hermetismo feito para alcançar uma arte

livre de influências.

Com isso, visa-se deixar

evidente mais uma característica

simbolista no livro O Retrato de Dorian

Gray.

Também poderá se analisar que

o individualismo radical do Simbolismo

acaba ultrapassando o egocentrismo do

Byronismo. Já que nesse trecho da obra

a personagem Harry diz: “[...] O

verdadeiro problema do casamento é que

ele elimina o egoísmo de alguém.”

(WILDE, 2012, p. 49). Aqui é visível

que para o simbolista era uma péssima

ideia um homem anular seu ego ou sua

vontade em prol da mulher. Sendo assim,

o individualismo chega ao grau mais

elevado e exagerado do que no

Byronismo. Porque conforme Afrânio

Coutinho (1969, p. 8-9):

O simbolismo foi assim uma forma de espírito romântico, sob certos aspectos uma sua continuação, um Romantismo indireto e extremado, tanto quanto ele fugindo do mundo exterior por acreditar que só é real aquilo que é refletido pela consciência individual. Destarte, para o simbolista o que importa são os estados de alma e destes somente os que podem ser reconhecidos - os seus próprios.

Portanto, pretende-se analisar o

extremado individualismo na obra O

Retrato de Dorian Gray para classificá-

lo como uma característica simbolista.

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O Hedonismo é outra

característica a ser analisada. Pois, é

encontrado no trecho do romance de

Wilde (2012, p. 39):

[...] Eu tinha uma paixão pelas sensações. Uma noite, perto das sete horas, decidi sair em busca de alguma aventura. Senti que esta cinza e monstruosa Londres, com sua miríade de pessoas, seus pecadores esplêndidos e seus sórdidos pecados, como você bem disse uma vez, tinha alguma coisa guardada para mim. Imaginei mil coisas. O mero perigo me dava uma sensação de prazer.

Pois, conforme Hauser (1998,

p. 930): “[...] Seu sensualismo e

hedonismo, seu propósito de gozar a vida

e deixar-se arrebatar por ela, de fazer de

cada hora da vida uma experiência

inesquecível e insubstituível, adquirem

freqüentemente [sic] um caráter anti-

social [sic] e amoral”. Assim, esse

caráter antissocial com propósito de

gozar a vida é a filosofia hedonista que

se encontra no trecho do romance. Pois,

é perceptível que o protagonista Dorian

Gray demonstra um caráter antissocial

quando adjetiva pecadores de

esplêndidos visando buscar prazeres

para gozar a vida.

Com isso, tem-se o objetivo de

deixar evidente mais uma característica

simbolista no livro O Retrato de Dorian

Gray.

O outro ponto a ser abordado no

artigo é o pessimismo, pois os

byronianos não acreditavam na

superação das desigualdades sociais e os

simbolistas presumiam que a decadência

da sociedade era algo inerente ao ser

humano (HAUSER, 1998). O

pessimismo de Basil pela sociedade é

visível neste trecho do romance: “[...]

Com um paletó de noite e uma gravata

branca, como você me disse uma vez,

qualquer um, até um corretor de valores,

pode ganhar reputação de ser civilizado.”

(WILDE, 2012, p. 18). Aqui Wilde

mostra que sua personagem Basil

acredita que a desigualdade social é algo

inerente, ou seja, algo característico do

ser humano. Por isso, seu comentário à

personagem Harry se referindo a um

costume da sociedade se faz de forma

comum e com desprezo. Com isso,

pretende-se deixar perceptível que o

pessimismo na obra é de caráter

simbolista, porque se revela de forma

sutilmente irônica, porém mais

resignado do que os ultrarromânticos.

O idealismo é a penúltima

característica a ser analisada, pois o

Simbolismo a herdou também.

Conforme a personagem Basil “[...] A

harmonia do corpo e da alma - quanto há

disso! Nós, em nossa loucura, separamos

os dois e inventamos um realismo que é

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bestial, um idealismo que é vazio.”

(WILDE, 2012, p.22). Note que nesse

trecho do romance o autor deixa

explícito o descontentamento da

personagem Basil com o idealismo de

sua época. Pois nessa passagem Basil

acusa o pensamento da sociedade de

realismo bestial pelo fato de sua

sociedade está presa a um racionalismo

positivista; já que o racionalismo teria

resposta para tudo na metade do século

XIX até chegar às duas últimas décadas,

quando os simbolistas começaram a

discordar (GOMES, 1994). Basil no

fragmento do romance de Wilde também

deixa claro que acredita em uma

harmonia entre corpo e alma. Diferente

do pensamento da sua sociedade que

separa corpo e alma e valoriza mais o

corpo se esquecendo dos valores

espirituais. Novamente conforme Gomes

(1994, p. 13-14):

[...] De fato, a estética simbolista tem íntima relação com a romântica, ou ainda a estética simbolista tem raízes dentro do movimento romântico, a começar que aquele movimento recupera o idealismo, o espiritualismo deste. Não é à toa que muitos simbolistas passam a criticar o Realismo, [...].

Conforme pode se notar, o

idealismo da personagem Basil tem raiz

no romantismo por resgatar o valor

espiritual da alma. Entretanto, é

percebido que Basil fala em harmonia do

corpo e da alma. E é fato que a harmonia

não é valorizada pelos Byronianos,

porque ao escreverem suas obras

exageravam em seu sentimentalismo. Já

os simbolistas buscaram mais equilíbrio

em suas emoções. Pois, mais uma vez

conforme Gomes (1994, p.18):

Com base no que vimos até agora, verifica-se que o Simbolismo aproveita do Romantismo algumas características fundamentais, como o senso do mistério, o espiritualismo, mas rejeita o sentimentalismo, as manifestações subjetivas exageradas e, sobretudo, as manifestações poéticas grandiloqüentes [sic]. Devido a isso, o Simbolismo implicará uma revolução poética em relação ao movimento romântico, na medida em que aprofundará alguns aspectos desse movimento e, por conseqüência [sic], não cairá nas armadilhas das emoções superficiais. [...].

Dessa forma, pretende-se deixar

visível que o idealismo estético da obra

de Wilde é caracteristicamente

simbolista.

A idealização da mulher que os

byronianos e os simbolistas também

abordaram é a última característica a ser

tratada no romance. Ela é nítida quando

o protagonista Dorian dialoga com

Harry:

[...] Já a vi em todas as épocas e em cada moda. As mulheres comuns não atraem a imaginação de alguém. Estão limitadas ao seu século. Nenhum encanto as transfigura. Conhece-se

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suas mentes tão facilmente quanto se conhecem suas toucas. Sempre se podem encontrá-las. Não há mistério em nenhuma delas. Elas cavalgam no Parque pelas manhãs e fofocam durante o chá à tarde. Elas têm seu sorriso estereotipado e seus modos em voga. São muito óbvias. Mas uma atriz! Como uma atriz é diferente! Por que você não me disse que a única que vale a pena amar é uma atriz?” “Porque já amei muitas delas, Dorian”. (WILDE, 2012, p. 41, grifo do autor)

Nesse trecho é perceptível que

a idealização da mulher está entrelaçada

com a arte, porque até quando ele vai

amar uma mulher o herói simbolista tem

seu sentimento subordinado à arte. Pois,

Dorian se apaixona por uma atriz.

Característica que não era regra para os

ultrarromânticos. Já para os simbolistas

amar vai está subordinado à arte. Pois,

conforme Hauser (1998, p.910):

[...] Mas supera o romantismo; não só renuncia à vida por amor à arte mas busca na própria arte a justificação da vida. Considera o mundo da arte a única compensação verdadeira para os desapontamentos da vida, a genuína realização e consumação de uma existência intrinsecamente incompleta e inarticulada.

Hauser deixa clara a

importância da arte para o simbolista. E

por meio disso se pode entender o

motivo dos simbolistas se apaixonarem

por atrizes e deles colocarem nas suas

obras seus protagonistas para amarem

atrizes. Desse modo, pretende-se deixar

explícito que esta idealização da mulher

tem característica simbolista no romance

O Retrato de Dorian Gray.

Depois de analisadas todas

essas características se tem o objetivo de

classificar O Retrato de Dorian Gray de

Oscar Wilde como um romance

simbolista.

3 SUBJETIVISMO E SÍMBOLO

A questão do retorno da

subjetividade por meio do símbolo, que

é uma das características centrais do

Simbolismo, é nítida no prefácio que é

um tratado de arte da obra O Retrato de

Dorian Gray de Wilde no seguinte

trecho: “[...] Toda arte por si é superfície

e símbolo. Aqueles que vão além da

superfície o fazem sob seu próprio risco.

Aqueles que desvendam o símbolo o

fazem sob seu próprio risco.” (2012, p.

13-14). Aqui fica claro o uso do símbolo

possível pela retomada do subjetivismo,

porém mais radicalizado do que no

Ultrarromantismo. Porque está em uma

forma de plurissignifacado onde o autor

fala de várias coisas tais como: arte em

geral, da sua obra e também pode se

inferir ao retrato do protagonista Dorian

Gray pintado pela personagem Basil

Hallward. Porque, o retrato é usado

como símbolo que é uma das principais

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bases da escola simbolista. Portanto, o

centro da obra vai girar em torno do

símbolo: que é o quadro e o protagonista

ao mesmo tempo, já que os dois estão

fundidos de uma forma que fica difícil

afirmar se o símbolo é o quadro ou o

protagonista. Porque, o quadro

envelhece e fica apodrecido como carne,

enquanto o corpo do protagonista Dorian

Gray fica sempre jovem. Entretanto o

quadro é a representação da sua alma,

pois cada pecado cometido resulta no

envelhecimento e apodrecimento do

quadro, que logo é percebido pelo

próprio Dorian ao olhar seu retrato.

Assim sendo, como o quadro pode ser a

representação da alma se mostra a

imagem de corpo envelhecido e podre?

Essa é uma relação de dualismo do

quadro que lembra a do Dorian que está

sempre dividido entre o prazer e o que é

correto moralmente. Logo, pode se dizer

que este símbolo é de difícil tradução ou

intraduzível como o que Baudelaire e os

outros simbolistas usavam, por causa do

seu plurissignifacado. Tendo em vista

isso, o autor Wilde também fala em

desvendar o símbolo, pois de acordo com

Gomes (1994, p. 30, grifo do autor):

Concebendo o símbolo como um "disfarce das idéias" [sic], os simbolistas pretendiam encontrar as perfeitas correspondências entre o mundo sensível e o mundo abstrato. Desse modo, o símbolo deixa de ser

apenas uma palavra ou uma coisa significando outra; mais que isso, é uma palavra ou um conjunto de palavras que serve para evocar um estado de espírito indefinido e cuja tradução jamais é imediata.

Dessa forma é evidente que teve

uma retomada do subjetivismo de forma

radicalizada por meio do símbolo usado

pelos simbolistas e que o símbolo é uma

característica puramente simbolista

encontrada dentro do romance O Retrato

de Dorian Gray.

4 SUGESTÃO

A característica sugestão é

visível no trecho do romance de Wilde

(2012, p. 22, grifo do autor):

“Basil, isso é deveras maravilhoso! Eu preciso ver Dorian Gray”. Hallward levantou-se e caminhou a esmo pelo jardim. Depois de algum tempo retornou. “Você não compreende, Harry”, ele disse. “Dorian Gray, para mim é somente um tema dentro da arte. Ele nunca está mais presente em meu trabalho do que quando nenhuma imagem dele está lá. Ele é simplesmente uma sugestão, como eu disse, de um novo método. Eu o vejo nas curvas de certas linhas, nas graças e nas sutilezas de determinadas cores. Isso é tudo”.

Aqui é notável que uma das

principais diferenças entre os dois estilos

literários é objetivar o subjetivo, que é

uma característica própria do

Simbolismo, que consiste segundo

Mallarmé (apud WILSON, 2004, p. 44):

“[...] adivinhar pouco a pouco; sugeri-lo,

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evocá-lo – isto é o que encanta a

imaginação.”, para mostrar um estado de

alma ou escolher um objeto e extrair dele

um estado de alma. E isso é feito nesse

trecho, quando a personagem Basil

afirma que o Dorian é uma sugestão que

influencia sua arte apenas como imagem

praticamente extraindo dele um estado

de alma e o fazendo de objeto quando

menciona que o vê “[...] nas curvas de

certas linhas, nas graças e nas sutilezas

de determinadas cores.” (WILDE, 2012,

p. 22). Pois justificado por Gomes (1994,

p. 62-63, grifo do autor):

[...] Sugestão: como a evocação, a sugestão foi bastante praticada pelos simbolistas, que procuravam, através dela, uma forma indireta de dizer as coisas. É o que Mallarmé propõe, ao fazer referência ao procedimento alusivo, neste fragmento: “penso ser preciso [...] que haja somente alusão”.

No caso do Byronismo se faz de

um estado de alma um objeto. Assim

sendo, é evidente que o romance de

Wilde apresenta a característica da

sugestão simbolista.

5 HERMETISMO

Pode-se dizer que tanto o

Ultrarromantismo como o Simbolismo

tem alguns pontos em comuns tais como

o subjetivismo e o isolamento. Por isso,

abordar-se-á mais uma característica

simbolista que tem base romântica

dentro da obra de Wilde, o hermetismo.

Para isso será usado outro trecho do

romance. Pois, segundo afirmação da

personagem Basil “[...] Eu não queria

nenhuma influência externa em minha

vida.” (WILDE, 2012, p. 19). Aqui fica

visível que a personagem não queria

apenas se isolar fisicamente e

emocionalmente como um simples

romântico, mas que, além disso, ele

queria isolar suas ideias de criação sobre

arte para não sofrer influência de outra

consciência e estado de alma que não

fosse o dele próprio. Pois, de acordo com

Sodré (1997, p. 455): “[...] E o seu

distanciamento do meio, dos seus

motivos e dos seus problemas, é ponto

pacífico. O distanciamento, aliás, estava

até no que houve de mais característico

no simbolismo de origem, aquele que

forneceu o modelo”. Esse

distanciamento que Sodré fala é

justamente o hermetismo que faz com

que o simbolista se feche em si mesmo

se distanciando da sociedade.

Pois, também conforme Moisés

(2003, p. 210): “Agora os simbolista se

voltam para dentro de si à procura de

zonas mais profundas, iniciando uma

viagem interior de imprevisíveis

resultados”. Isso é o hermetismo feito

para alcançar uma arte livre de

influências.

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Com isso, fica evidente mais

uma característica simbolista no livro O

Retrato de Dorian Gray.

6 INDIVIDUALISMO

Também pode se observar que o

individualismo radical do Simbolismo

acaba ultrapassando o egocentrismo do

Byronismo. Já que nesse trecho da obra

a personagem Harry diz: “[...] O

verdadeiro problema do casamento é que

ele elimina o egoísmo de alguém.”

(WILDE, 2012, p. 49). Aqui é visível

que para o simbolista era uma péssima

ideia de um homem anular seu ego ou

sua vontade em prol da mulher. Sendo

assim, o individualismo chega ao grau

mais elevado e exagerado do que no

Byronismo. Porque, conforme Afrânio

Coutinho (1969, p. 8-9):

[...] O simbolismo foi assim uma forma de espírito romântico, sob certos aspectos uma sua continuação, um Romantismo indireto e extremado, tanto quanto ele fugindo do mundo exterior por acreditar que só é real aquilo que é refletido pela consciência individual. Destarte, para o simbolista o que importa são os estados de alma e destes somente os que podem ser reconhecidos - os seus próprios.

Portanto, o extremado

individualismo na obra O Retrato de

Dorian Gray é mais uma característica

simbolista.

7 HEDONISMO

Os prazeres sempre estiveram

ligados à boêmia romântica pelo gosto da

bebida alcoólica e do sexo com as

prostitutas. Mas, é com os Decadentes

Ingleses que esses prazeres vão se tornar

uma filosofia de vida chamada

hedonismo. Pois, conforme Hauser

(1998, p. 930): “[...] Seu sensualismo e

hedonismo, seu propósito de gozar a vida

e deixar-se arrebatar por ela, de fazer de

cada hora da vida uma experiência

inesquecível e insubstituível, adquirem

freqüentemente [sic] um caráter anti-

social [sic] e amoral”. Assim, esse

caráter antissocial com propósito de

gozar a vida é a filosofia hedonista que

se encontra neste trecho do romance:

[...] Eu tinha uma paixão pelas sensações. Uma noite, perto das sete horas, decidi sair em busca de alguma aventura. Senti que esta cinza e monstruosa Londres, com sua miríade de pessoas, seus pecadores esplêndidos e seus sórdidos pecados, como você bem disse uma vez, tinha alguma coisa guardada para mim. Imaginei mil coisas. O mero perigo me dava uma sensação de prazer. (WILDE, 2012, p. 39).

Assim, é perceptível que o

protagonista Dorian Gray demonstra um

caráter antissocial quando adjetiva

pecadores de esplêndidos visando buscar

prazeres para gozar a vida. Portanto, fica

evidente no romance O Retrato de

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Dorian Gray o hedonismo da estética

simbolista.

8 PESSIMISMO

O outro ponto é o pessimismo,

pois os byronianos não acreditavam na

superação das desigualdades sociais e os

simbolistas presumiam que a decadência

da sociedade era algo inerente ao ser

humano (HAUSER, 1998). Neste trecho

do romance é notório o pessimismo de

Basil pela sociedade: “[...] Com um

paletó de noite e uma gravata branca,

como você me disse uma vez, qualquer

um, até um corretor de valores, pode

ganhar reputação de ser civilizado.”

(WILDE, 2012, p. 18). Aqui Wilde

mostra que sua personagem Basil

acredita que a desigualdade social é algo

inerente, ou seja, algo característico do

ser humano. Por isso, seu comentário à

personagem Harry referente a um

costume da sociedade se faz de forma

comum e com desprezo quando ele

especifica que: “[...] qualquer um, até um

corretor de valores, pode ganhar

reputação de ser civilizado.” (WILDE,

2012, p. 18). Logo, é perceptível o

pessimismo de caráter simbolista, pois

revela-se de forma sutilmente irônica,

porém mais resignado do que os

ultrarromânticos.

9 IDEALISMO

O idealismo é uma das

características mais importantes do

Ultrarromantismo e é claro que o

Simbolismo a herdou. Pois Segundo a

personagem Basil “[...] A harmonia do

corpo e da alma - quanto há disso! Nós,

em nossa loucura, separamos os dois e

inventamos um realismo que é bestial,

um idealismo que é vazio.” (WILDE,

2012, p.22). Note que nesse trecho do

romance o autor deixa explícito o

descontentamento da personagem Basil

com o idealismo de sua época que por

coincidência ou não é a mesma do autor.

Pois nessa passagem Basil acusa o

pensamento da sociedade de realismo

bestial pelo fato de sua sociedade está

presa a um racionalismo positivista, já

que o racionalismo teria resposta para

tudo. Pois conforme Gomes (1994, p. 8):

[...] O progresso industrial, que trouxe inegáveis benefícios à humanidade, tem seu paralelo numa concepção científica e materialista das coisas, que procurava explicar o sentido do universo quase que exclusivamente através da razão. Durante a vigência da Revolução Industrial surge, portanto, uma geração de intelectuais que despreza a metafísica, em nome do conhecimento experimental da realidade. O mais importante deles foi Auguste Comte, criador do Positivismo, teoria científica, baseada na sociologia, que defendia a aproximação positiva, objetiva da realidade.

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Basil no fragmento do romance

de Wilde também deixa claro que

acredita em uma harmonia entre corpo e

alma. Diferente do pensamento da sua

sociedade que separa corpo e alma e

valoriza mais o corpo, ou seja, a matéria

se esquecendo dos valores espirituais.

Novamente conforme Gomes (1994, p.

13-14):

[...] De fato, a estética simbolista tem íntima relação com a romântica, ou ainda a estética simbolista tem raízes dentro do movimento romântico, a começar que aquele movimento recupera o idealismo, o espiritualismo deste. Não é à toa que muitos simbolistas passam a criticar o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo, porque esses movimentos negavam o sentido de mistério, muito caro aos românticos e aos simbolistas.

Conforme pode se notar, o

idealismo da personagem Basil tem raiz

no romantismo. Logo, é uma

característica vinda do Ultrarromantismo

por resgatar o valor espiritual da alma e

do corpo. Entretanto, é percebido que

Basil fala em harmonia do corpo e da

alma. E é fato que a harmonia não é

valorizada pelos Byronianos, porque ao

escreverem obras exageravam em seu

sentimentalismo. Já os simbolistas

buscaram mais equilíbrio em suas

emoções. Pois, mais uma vez conforme

Gomes (1994, p.18, grifo do autor):

Com base no que vimos até agora, verifica-se que o Simbolismo aproveita do Romantismo algumas características fundamentais, como o senso do mistério, o espiritualismo, mas rejeita o sentimentalismo, as manifestações subjetivas exageradas e, sobretudo, as manifestações poéticas grandiloqüentes [sic]. Devido a isso, o Simbolismo implicará uma revolução poética em relação ao movimento romântico, na medida em que aprofundará alguns aspectos desse movimento e, por conseqüência [sic], não cairá nas armadilhas das emoções superficiais. Mas, para tanto, será necessário que reinvente a metáfora poética, através da prática do que se convencionou chamar de "símbolo".

Dessa forma é visível que o

idealismo estético da obra de Wilde é

caracteristicamente simbolista.

10 IDEALIZAÇÃO DA MULHER

A última característica a ser

tratada no romance O Retrato de Dorian

Gray é a idealização da mulher que os

byronianos e os simbolistas também

abordaram. Isso é explícito quando a

personagem Dorian dialoga com o

protagonista Harry:

[...] Já a vi em todas as épocas e em cada moda. As mulheres comuns não atraem a imaginação de alguém. Estão limitadas ao seu século. Nenhum encanto as transfigura. Conhece-se suas mentes tão facilmente quanto se conhecem suas toucas. Sempre se podem encontrá-las. Não há mistério em nenhuma delas. Elas cavalgam no Parque pelas manhãs e fofocam durante o chá à tarde. Elas têm seu sorriso estereotipado e seus modos em voga. São muito óbvias. Mas uma atriz! Como uma atriz é diferente! Por que você não me disse que a única que vale a pena amar é uma atriz?”

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“Porque já amei muitas delas, Dorian”. (WILDE, 2012, p. 41, grifo do autor)

Portanto, nesse trecho é

perceptível que a idealização da mulher

está entrelaçada com a arte, porque até na

hora de amar uma mulher o herói

simbolista tem seu sentimento

subordinado a arte. Pois, Dorian se

apaixona por uma atriz e diz que a única

que vale a pena amar é uma atriz.

Característica que não era regra para os

ultrarromânticos. Para os simbolistas

amar vai está subordinado à arte. Pois, de

acordo com Hauser (1998, p.910):

[...] Mas supera o romantismo; não só renuncia à vida por amor à arte mas busca na própria arte a justificação da vida. Considera o mundo da arte a única compensação verdadeira para os desapontamentos da vida, a genuína realização e consumação de uma existência intrinsecamente incompleta e inarticulada.

Hauser deixa clara a

importância da arte para o simbolista. E

por meio disso se pode entender o

motivo dos simbolistas se apaixonarem

por atrizes e deles colocarem nas suas

obras seus protagonistas para amarem

atrizes como: o caso do herói Dorian

Gray e sua amada atriz Sybil Vane no

romance de Wilde. Desse modo, fica

explícito que esta idealização da mulher

tem característica simbolista no romance

O Retrato de Dorian Gray.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Depois, dessa análise feita

sobre O Retrato de Dorian Gray na visão

ultrarromântica e simbolista; pode-se

dizer que a obra é um romance

simbolista. Pois, foi encontrada a

característica do símbolo que traz o

retorno da subjetividade de forma

radicalizada no plurissignifacado da

palavra fazendo do objeto um estado de

espírito indefinido como é a relação do

quadro com o protagonista.

Além disso, a sugestão é outra

característica que consiste em ir

adivinhado pouco a pouco, sugerir para

mostrar um estado de alma ou escolher

um objeto e extrair dele um estado de

alma. Ela é encontrada na obra quando a

personagem Basil diz para Harry que

Dorian: é apenas uma sugestão que

influencia sua arte apenas como imagem.

Desse modo extrai dele um estado de

alma e o faz de objeto quando menciona

que o vê nas curvas de certas linhas.

Assim sendo, é uma característica

simbolista encontrada no romance de

Wilde.

Mais uma característica tratada

foi o hermetismo do simbolista que

supera o isolamento do ultrarromântico

quando a personagem pintor Basil diz

que não queria nenhuma influência

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externa em sua vida. Com isso, é visível

que a personagem não queria apenas se

isolar fisicamente e emocionalmente

como um simples romântico. Mas que,

além disso, ele queria isolar suas ideias

de criação sobre arte para não sofrer

influência de outra consciência há não

ser a própria. Dessa maneira, é mais uma

característica simbolista encontrada no

romance.

Também foi tratado o

individualismo do simbolista que é

explícito quando a personagem Harry diz

que o problema do casamento é que ele

elimina o egoísmo de alguém. Isso

mostra que para o simbolista anular seu

ego ou sua vontade em prol da mulher

não é bom. Além disso, mostra também

que o individualismo simbolista é um

grau mais elevado do que o egocentrismo

do Byronismo. Portanto, é mais uma

característica simbolista encontrada no

romance.

Outra característica é o

hedonismo que foi encontrado no trecho

do romance. Onde é perceptível que o

protagonista Dorian demonstra um

caráter hedonista quando adjetiva

pecadores de esplêndidos visando buscar

prazeres para gozar a vida. Portanto, fica

evidente no romance mais uma

característica simbolista.

Mais uma característica é o

pessimismo que Wilde mostra em sua

personagem Basil que acredita que a

desigualdade social é algo inerente, ou

seja, algo característico do ser humano.

Por isso, seu comentário à personagem

Harry referente a um costume da

sociedade se faz de forma comum e com

desprezo. Portanto, é perceptível o

pessimismo de caráter simbolista, pois se

revela de forma sutilmente irônica,

porém mais resignado do que os

ultrarromânticos.

A penúltima é o idealismo que

conforme pôde se notar tem raiz no

romantismo. No entanto, foi analisado

que o idealismo da harmonia entre alma

e corpo não é valorizado pelos

ultrarromânticos, porque ao escreverem

exageravam em seu sentimentalismo. Já

os simbolistas buscaram equilíbrio em

suas emoções idealizando o controle da

harmonia do corpo e da alma.

A última característica é a

idealização da mulher, onde em um

trecho do romance o protagonista Dorian

deixa explícito que está amando uma

atriz. Portanto, fica mais perceptível que

a idealização da mulher está entrelaçada

com a arte, quando ele diz que uma atriz

é a única mulher que vale apena amar.

Isso mostra que ele tem seu sentimento

subordinado a arte; já que ele ama uma

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mulher que está sempre fazendo arte.

Assim, esta é uma característica

simbolista no romance.

Dessa forma, essas

características simbolistas ficaram

provadas que fazem parte do romance O

Retrato de Dorian Gray; e por isso, pode

se dizer que é um romance simbolista e

não romance ultrarromântico ou

romance romântico como algumas

editoras deixam aparentar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil: Era realista. 2. ed. Rio de Janeiro: Sul Americana, V.IV. 1979. GOMES, Álvaro Cardoso. O Simbolismo. São Paulo: Ática, 1994.

HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura . Trad. de Álvaro Cabral. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. MARTINS, Wilson. Pontos de Vista: crítica literária. São Paulo: T.A. Queiroz, V.5.1991. MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa. 32. ed. São Paulo: Cultrix, 2003. SODRÉ, Nelson Werneck. História da Literatura Brasileira : seus fundamentos econômicos. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997. WILSON, Edmund. O Castelo de Axel: estudo sobre a literatura imaginativa de 1870 a 1930. Trad. José Paulo Paes. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. Trad. Marcella Furtado. São Paulo: Landmark, 2012.

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O AMBIENTE LINGUÍSTICO FAMILIAR NO PROCESSO DE ACESSO À

COMPLEXIDADE GRAMATICAL PELA CRIANÇA

Wilson Gonçalves da Cunha

Graduando em Letras pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza

Antenor Teixeira de Almeida Junior Doutor em Linguística pela Universidade Federal do Ceará

RESUMO: O presente estudo visa analisar a relação do ambiente linguístico familiar e a aquisição da linguagem por crianças a partir dos três anos de idade. Utilizamos como pressuposto teórico para nossa pesquisa os trabalhos de Kail (2013) e Bortoni-Ricardo (2004). Segundo Chomsky, a criança já nasce com o conhecimento inato da gramática universal (GU), e o processo da interação adulto-criança vai ser muito importante para o acesso à complexidade gramatical. Por isso consideramos importante a compreensão das interações comunicativas da criança no seu desenvolvimento e a influência da fala materna no ambiente linguístico familiar. A pesquisa foi estruturada através do método qualitativo, com o registro de entrevistas não estruturadas, realizadas com 10 mães de alunos matriculados na Escola Sebastião Bezerra dos Santos, uma escola situada na cidade de Caucaia, município do Ceará. Para a avaliação dos dados, foi adotado o método de análise de conteúdo (BARDIN, 1977), categorizando as informações de acordo com os objetivos da pesquisa. Verificamos que as mães, principalmente aquelas cujos filhos não têm sucesso na escola, se acham impotentes em ajudar os filhos, colocando a responsabilidade do êxito no professor. Algumas definem o sucesso dos seus filhos à família e à escola. O resultado desse trabalho apresentou que a família, principalmente os pais, são pessoas que por conviverem diretamente com a criança podem exercer um papel decisivo no desenvolvimento gramatical. “Partindo da linguagem dirigida à criança, ela vai extrair modelos e construir sua própria língua”, esse processo de exposição segundo (AIRMAD: 1998. P. 92) chama de “banho de linguagem”. Palavras - chave: Linguagem. Interação. Família. Desenvolvimento.

ABSTRACT: The following study aims to analyze the relationship between linguistic family environment and language acquisition by children as young as three years old. The theoretical assumption for our research works of Kail (2013) and Bortoni-Ricardo (2004). According to Chomsky, the child is born with innate knowledge of universal grammar (UG), and the adult-child interaction process will be very important for access to grammatical complexity. Therefore we consider it important to understand the communicative interactions of the child in its development and the influence of maternal speech and familiar linguistic environment. The research was structured through qualitative methods with the registration of unstructured interviews with 10 mothers of students enrolled in the School Sebastião Bezerra dos Santos, a school in the city of Caucaia, Ceará municipality. For the evaluation of the data was adopted content analysis method (Bardin, 1977), categorizing the information according to the research objectives. We found that mothers, especially those whose children do not succeed in school, find themselves powerless to help the children, placing the responsibility of success on teacher. Some define the success of their children family and school. The result of this study showed that the family, especially parents, are persons who live together directly with the child may play a decisive role in the grammar development. "From the language directed at children, they will extract models and build your own language," this process of exposure, second (AIRMAD: 1998. Pg 92) calls "language bath". Keywords: Language. Interaction. Family. Development.

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1 INTRODUÇÃO

Uma das formas de comunicação

das pessoas é pelo uso organizado das

palavras. O acesso ocorre a partir da

influência da fala materna e do meio no

processo comunicacional da criança com

o ambiente linguístico. Essa interação

familiar e social pode delimitar o

desenvolvimento dela em relação à

linguagem e o acesso à complexidade

gramatical. A interação adulto-criança

envolvendo aspectos biológicos junto

com os processos sociais são fatores que

a criança adquiri na sua primeira

linguagem, por isso a relação no seu

ambiente linguístico familiar pode ser

fundamental no desenvolvimento de

suas habilidades linguísticas.

Porém, segundo os inatistas, essa

participação do adulto como interlocutor

poderia prejudicar o desenvolvimento

gramatical da criança, pois a fala dos

adultos apresentada às crianças muito

cedo é mal formada, limitada e contém

hesitações (KAIL, 2013). Essa crítica

partiu principalmente de Chomsky

(1973), segundo ele, a linguagem teria

origem do mecanismo inato.

Para alguns psicolinguísticos,

citando a afirmação inicial de Chomsky

(1973), a forma como os pais interagem

com seus filhos leva em conta fatores

sociais, comunicativos e culturais. Sendo

a mãe o elemento familiar que mais

convive com o filho, poderia existir

grande influência na delimitação ao

acesso à gramática, e isso futuramente

seria evidenciado no desenvolvimento

escolar. Então, se existe o argumento

essencial chamado “Argumento de

pobreza do estímulo”, o input fornecido

à criança pelo ambiente linguístico seria

muito incompleto e inconsciente para

determinar o acesso à complexidade

gramatical. Além de que as raras

correções dos adultos aos erros da

criança não permitiriam explicar o

desempenho alcançado (KAIL, 2013),

O estudo das relações entre o

ambiente familiar e o desempenho

escolar tornou-se um tema de discussão

entre vários pesquisadores da área

educacional (POLONIA e DESSEN,

2005). Esses estudos levaram a algumas

polêmicas no Brasil na década de 70,

entre elas a ideia de que crianças

provenientes de famílias de baixo nível

socioeconômico e cultural seriam a

principal causa do péssimo desempenho

escolar, foram estudadas pela Psicologia.

No entanto, a partir da década de 80, esse

estereótipo tem sofrido várias críticas

pelos estudiosos da antropologia,

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linguística e psicologia escolar, que teve

nos trabalhos de Patto (1990; 1997) uma

das principais representações. Outros

fatores podem influenciar a

aprendizagem de uma criança, dentre

eles podemos destacar variáveis da

escola, da própria criança, o ambiente

familiar linguístico no qual a mãe

interage com a criança e o ambiente

social.

Outros fatores podem influenciar a

aprendizagem de uma criança, dentre

eles pode-se destacar variáveis da escola,

da própria criança, o ambiente familiar

linguístico no qual a mãe interage com a

criança e o ambiente social.

Consideras-se nesse trabalho que é

fundamental a ligação entre a escola e a

família para o desenvolvimento

linguístico da criança. Não basta apenas

passar a responsabilidade do

aprendizado ao professor, a criança,

mesmo com a construção da própria

língua, precisa da interação no seu

ambiente familiar e social. As práticas

familiares podem incidir num bom

rendimento escolar da criança, mas é

preciso que os pais e a família, que

passam a maior parte do tempo com a

criança, demonstrem interesse pelas

atividades e pelos conteúdos escolares.

É no ambiente familiar que a

criança pode se sentir protegida diante

dos riscos que pode afetar o seu

desenvolvimento. Muitas crianças

convivem com a fragilidade do seu

vínculo social e isso pode causar prejuízo

ao seu desenvolvimento linguístico e

social

Estudos consideram os ambientes

que incluem baixos níveis interacionais

entre adultos e crianças e níveis mínimos

de organização familiar um risco para o

desenvolvimento educacional da

criança. Segundo Ré (2006, p.25),

inspirando-se em Vygotsky, “o

interacionalismo social propõe, então,

que a criança não seja apenas um

aprendiz passivo, mas um sujeito que

constrói seu conhecimento (mundo e

linguagem) pela mediação do outro”.

Entende-se que a interação pode ser de

um adulto ou de uma outra criança.

Naturalistas em suas várias

pesquisas da fala dirigida à criança,

realizadas nas décadas de 1970 e 1980

com oposição às frases agramaticais de

Chomsky (1973), apontam modificações

na fala adulta. Segundo eles essa é a fala

que a mãe utiliza com a criança com

entonação exagerada, cheia de

reduplicações de sílabas, frases curtas

acabam afetando a fala dirigida a ela.

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Nesse caso, se existe uma dependência

da criança em relação ao enunciado

anterior do adulto, é preciso que aquele

que ela interage faça com que ela

desenvolva sua linguagem independente.

O processo de diálogo entre mãe e

criança, em que a primeira caracteriza-se

como mediadora entre a criança e os

objetos que a cerca no ambiente, faz com

que a criança exercite esse diálogo. No

entanto, a eficácia da ação do

interlocutor é importante para a criança

construir a sua própria linguagem.

Elas constroem sua linguagem

através do internacionalismo, é por esse

meio que ela incorpora linguagem e

conhecimento do mundo, num ambiente

familiar onde a mãe tem esse papel

decisivo desde os primeiros anos de vida.

A incorporação da linguagem da criança

e a fala da mãe poderá ajudar na

independência e construção da sua

própria linguagem.

Assim, considera-se que o

desenvolvimento da linguagem depende

não somente das condições biológica

inata de cada indivíduo, como a

influência sofrida através de fatores

ambientais que estão presentes no meio

em que as crianças estão inseridas, e

esses ambientes são a escola e a família.

Crianças que convivem com os

pais num ambiente de interação

usufruem de melhor qualidade de

estimulação, sendo a família,

independente de sua formação, o

elemento essencial para o

desenvolvimento da criança, onde o

indivíduo tem seu primeiro contato com

o mundo e com a linguagem, de forma

que, para que a criança tenha sucesso no

meio escolar, é fundamental esse

convívio familiar.

Diante da importância do ambiente

familiar na construção da linguagem pela

criança, o presente estudo teve como

objetivo analisar como a criança constrói

as relações da forma e das funções da sua

língua e o desempenho cognitivo da

criança, verificando até que ponto o

ambiente familiar pode intervir no seu

desenvolvimento gramatical. Com base

nesse estudo, iremos agora seguir com a

fundamentação teórica e análise.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Família e a aquisição da

complexidade gramatical

Segundo Polonia e Dessen (2005,

p.9), pesquisas mostram que sem a

participação da família, não é possível

uma educação adequada e completa. A

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relação adulto-criança tem sido estudada

não só pela longa história da psicologia,

bem como pelos estudiosos e

pesquisadores da linguística. Segundo

Gervilla (2001), no seu livro sobre

Educação e Família, “a família é o pilar

fundamental para o crescimento da

criança”.

Assim, a família exerce seu papel

educador proporcionando uma ação

valiosa que pode proporcionar resultados

significativos, tais como: contínuo

progresso na aprendizagen e no

desenvolvimento mental. E decorrente

desses estudos têm surgido vários

elementos que permitem avaliar o

contexto familiar no desenvolvimento

cognitivo da criança.

Sobre um desses fatores, a

diferença de classes sociais, Valmaseda

(1995) afirma que as crianças

provenientes de ambientes familiares

que proporcionam significativas

oportunidades para aprendizagem da

linguagem estão mais capacitadas para a

aprendizagem propriamente dita, não

acontecendo o mesmo com crianças que

trazem de sua infância experiência mais

ou menos deficientes, com maior

propensão de fracasso escolar.

Logicamente, segundo o pesquisador,

haveria exceções, mas um meio mais

motivador permite resultados bem

melhores. Ainda conforme Maturano

(1998)

A influência do ambiente familiar no aprendizado escolar é amplamente reconhecida. Porém, não se deve atribuir a ela toda a carga de responsabilidade pelo desempenho escolar do aluno, características da criança e o ambiente escolar também influenciam nesse aprendizado. Nesse sentido, uma criança que sai do seu ambiente familiar e é inserida no ambiente escolar pode sofrer esse impacto da mudança.

O autor observou que o progresso

no aprendizado escolar está associado à

supervisão e à organização das rotinas no

lar, às oportunidades de interação com os

pais e a oferta de recursos no ambiente

físico.

Evidentemente um ambiente mais

estruturado com condições de

desenvolvimento cultural seria de grande

ajuda à criança, entende-se que quanto

mais condições oferecidas à criança,

maior seria a possibilidade de

desenvolvimento. Mas segundo

pesquisas, somente isso não é o

suficiente para garantir o desempenho

escolar satisfatório, pois a criança

precisa de estímulo para interagir. De

acordo com Mussen (1970)

Oas valores associados às classes e grupos étnicos refletem-se nas motivações, nas características das personalidades e nas atitudes das crianças. O autor relata a diferença das classes sociais na realização dos seus filhos. Pais de classe média em

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geral valorizam seus filhos na sua capacidade os recompensando de alguma forma, enquanto pais de classes inferiores, não o fazem, Assim existe um maior interesse das crianças de classe média estudar pelo estímulo e motivação.

Patto (1997. P.285) postula que a

psicologia afirma, através da teoria da

carência cultural, que “[...] o ambiente

familiar na pobreza é deficiente de

estímulos sensoriais, de interações

verbais, de contatos afetivos entre pais e

filhos, de interesse dos adultos pelo

destino das crianças, num visível

desconhecimento da complexidade e das

nuances da vida que se desenrola nas

casas dos bairros mais pobres”.

Uma visão totalmente

preconceituosa, uma vez que a falta de

atenção e interação pode acontecer em

qualquer ambiente familiar independente

de classe social, famílias com boa

estrutura financeira em função do seu

trabalho podem dispor de pouco tempo

para educar e acompanhar essa

educação.

Segundo Maturano (1998, p.73), “É

preciso cautela para não adotar posições

extremas, seja isentando a família de

qualquer influência, seja atribuindo a ela

toda a responsabilidade pelo

desempenho escolar do aluno”

Faz-se agora uma relação direta entre

as posições elencadas acimas e o acesso

à complexidade gramatical.

2.2 A influência dos pais no acesso à

complexidade gramatical

Em seu trabalho de aquisição da

complexidade gramatical, a criança

precisa dar conta de duas tarefas

essenciais, segundo Kail (2013, p. 49):

segmentar os elementos gramaticais da

língua e as regras que presidem sua

ordem e determinar o sentido das

diferentes estruturas sintáticas. Enquanto

o conhecimento referente à aquisição da

sequência das palavras está bem

sistematizado, o conhecimento relativo

aos morfemas está ainda pouco

documentado. Esse aspecto de

sistematização denomina-se de

complexidade gramatical em que entram

em ação dois movimentos já citados

anteriormente: o inatismo moduralista de

Chomsky e as teorias que concebem a

importância do papel do ambiente no

progressivo domínio da língua.

Em nosso trabalho, dar-se ênfase

ao papel do ambiente familiar para o

acesso à complexidade gramatical. O

próprio Chomsky afirma que “o

principal argumento para mostrar que a

criança aprende devido a existência de

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um módulo cognitivo especializado

independente dos outros sistemas” é a

“pobreza de estímulos” vinda do

ambiente linguístico, isso mostra que a

participação da família neste

aprendizado daria conta de estímulos

muito mais significativos para a

sistematização das estruturas gramaticais

complexas como a sintaxe.

Ratner (1988) num estudo sobre a

influência dos pais e das mães sobre um

grupo de crianças teve a comprovação de

que “os pais utilizavam um vocabulário

comum às suas necessidades sociais,

enquanto as mães adaptavam sua fala às

produções infantis”. Assim, segundo o

autor, a mãe participa mais efetivamente

do desenvolvimento inicial da fala

infantil. As mães, ao interagirem com as

crianças, normalmente usam aspectos

morfológicos e sintáticos que

contribuem para a sistematização da

gramática pelas crianças.

Bortoni-Ricardo (2004), nos

lembra de que, no segundo momento

após a fase familiar do aprendizado, cabe

à escola permitir a sistematização das

regras linguísticas da gramática

prestigiada socialmente e a enriquecer o

seu repertório linguístico, de modo a

permitir a eles o acesso pleno à maior

gama de recurso para que possam

adquirir uma competência comunicativa

cada vez mais ampla e diversificada.

Partindo do pensamento da autora,

podemos verificar que a criança ingressa

na escola com a linguagem adquirida, o

professor começa a trabalhar outras

variações, no entanto alguns insistem em

considerar a primeira linguagem da

criança gramaticalmente errada, e

colocam a culpa no ambiente familiar.

Quando na verdade, as pesquisas

mostram que esse estímulo inicial

facilita o acesso ao complexo mundo da

organização da língua.

Segundo Aimaird (1998. p. 92) “a

criança não inventa a linguagem”.

Mesmo reconhecendo que a criança já

possui aptidões inatas para o

desenvolvimento da linguagem, a

criança não irá se desenvolver bem

linguisticamente se ela não for exposta a

situações com as quais ela interaja.

Negrine (1994. p. 20), em seus

estudos sobre aprendizagem e

desenvolvimento infantil, afirma que

“quando a criança chega à escola, traz

consigo toda uma pré-história,

construída a partir de suas vivências,

grande parte delas através da atividade

lúdica”. Segundo esse autor, é

fundamental que os professores tenham

conhecimento do saber, pois, esse

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conhecimento, a criança construiu na

interação com o ambiente familiar e

sociocultural para formular sua prática

pedagógica, é partindo dessa interação

que a criança constrói sua própria

linguagem.

Quando uma criança se identifica com seus pais, primeiros seres significantes para ela adquire muitas das características, pensamentos e sentimentos deles”. Assim podemos dizer a maneira como os pais interagem com a criança no seu ambiente familiar, poderia determinar o acesso a complexidade gramatical, ou ao tipo de linguagem dessa criança. (BERGGER E LUCKMANN, 1996)

Sabe-se, no entanto, que muitas

vezes nem sempre a criança chega à

escola oriunda de um ambiente onde

estes estímulos sejam os mais “ricos

possíveis”. Segundo Bortoni-Ricardo

(2004). As crianças, quando chegam à

escola, já sabem falar bem a sua língua

materna, isto é, sabem compor sentenças

bem formadas e comunicar-se nas

diversas situações, mas não têm uma

gama muito ampla de recursos

comunicativos.

Assim podemos dizer que a criança

já chega à escola com conhecimentos

linguísticos que adquiriu no seu convívio

familiar, no entanto, esses

conhecimentos podem não ser

suficientes para que ela possa ter a

competência comunicativa.

Segundo Marturano (1998), “a

participação da criança rotineira no lar e

a formação de hábitos também são

importantes na aquisição dos requisitos

para a aprendizagem, pois estimulam a

organização interna e a habilidade para o

“fazer”, de maneira geral.”

São as experiências familiares que

proporcionam a formação inicial de

repertórios comportamentais, de ações e

resoluções de problemas (Dessen e

Polônia, 2007). Essas experiências

podem determinar a maneira como a

criança vai se comportar diante de outros

meios, principalmente no ambiente

escolar. Lahire (apud, ZAGO, 2000,

p.21) afirma que:

(...) a criança constitui seus esquemas comportamentais, cognitivos e de avaliação através de forma que assumem as relações de interdependência com as pessoas que a cercam com mais frequência e com mais tempo, ou seja, os membros da família. (...) Suas ações são reações que ‘se apóiam’ relacionalmente nas ações dos adultos que, sem sabê-lo, desenham, traçam espaços de comportamento e de representações possíveis para ela.

A boa relação entre a criança e o

ambiente escolar como num todo,

substitui a convivência com uma família

mal estruturada, mas essa substituição

jamais vai substituir a experiência da

criança de relacionamentos afetivos

familiar, pois esses são essenciais para

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uma boa construção da identidade da

criança e sua própria língua.

A relação entre estímulos sociais

relacionados ao ambiente familiar e à

sistematização da complexidade

gramatical será tratada no capítulo de

análise após avaliado os questionários da

pesquisa.

3 METODOLOGIA

Atualmente, a escola pede a

presença da família para acompanhar a

criança e participar do seu

desenvolvimento, mas acaba indo de

encontro a resistência dos pais nessa

participação. Através dessa resistência,

essa pesquisa foi realizada para

podermos analisar se o ambiente

familiar linguístico é um meio no

acesso gramatical pela criança.

Buscando uma explicação para a

dificuldade gramatical pela criança,

selecionamos meios de investigar se o

ambiente familiar seria essa causa. A

presente pesquisa foi realizada em uma

escola pública de educação infantil e

fundamental, localizada numa cidade

do interior do estado do Ceará.

3.1 Participantes

Para colher dados, foi utilizado o

método observacional, partindo da

observação dos fatos a serem

analisados e questionários fechados

com 20 mães e duas professoras, sendo

uma que ministra aulas para essas

crianças, e a outra professora da língua

portuguesa na própria escola na qual

tem seu filho matriculado no 4º ano.

3.2 Instrumentos

Os instrumentos utilizados são

observações, situações pedagógicas,

situações projetivas, entrevistas com

professores e com famílias dos alunos,

através dos questionários.

Ao buscar os dados fornecidos

pelo questionário, teve-se a preocupação

de solicitar a autorização das mães para

esse trabalho, e utilizou-se de leituras de

diversos autores e pesquisas que

abordavam o tema, principalmente

autores, para que nossa pesquisa fosse

fundamentada.

Nesse estudo, a escolha do

questionário foi uma importante fonte.

Aplicou-se o questionário para as mães,

e entrevistou-se os professores, com o

cuidado de preservar os alunos nessa

pesquisa.

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As questões contidas no

questionário foram a respeito da

constituição familiar, condições

socioeconômicas, educacionais da

família e relação família escola. Usando

a entrevista por ser a estratégia mais

usada no processo de trabalho de campo,

tendo como objetivo construir

informações pertinentes para um objeto

de pesquisa foi usada a técnica de

entrevista fechada, mesmo algumas

mães se sentindo à vontade para se

manifestar abertamente.

Para chegar a uma análise, considera-

se sucesso escolar e insucesso,

diferenciando junto com a professora,

aqueles alunos com bom aproveitamento

e os com mal aproveitamento, sem

participar as mães com a preocupação de

não constringir os pais e muito menos as

crianças começa-se o trabalho com o

objetivo de analisar se o mal

aproveitamento seria em função do

ambiente linguístico.

Esse foi o principal motivo da

pesquisa, embora, segundo a professora,

pela sua experiência em sala de aula e

contatos com as mães, os alunos que

tinham melhor aproveitamento eram

aqueles que as mães acompanhavam.

4 ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS

DADOS

Após a análise das respostas das

mães e professoras, passa-se a exposição

a seguir de acordo com a nossa pesquisa.

4.1 A relação família-escola

O insucesso gramatical, fica

claro nas respostas de algumas mães, que

a responsabilidade das orientações

adequadas é do professor. Dessa forma

os filhos podem vencer a complexidade

lexical e sintática. Conforme os relatos,

as mães desses alunos não estão alheios

aos problemas dos filhos, apenas não

sabem de que forma ajudá-los.

A maioria dos pais acredita que só

uma orientação adequada por parte da

escola e dos professores poderia auxiliá-

los na tarefa de orientar os filhos.

Algumas se sentem excluídas dessa

parceria tão teórica em que a família

precisa caminhar junto com a escola.

Mas que para isso aconteça, a mudança

de mentalidade precisa partir de dentro

da escola e dos próprios professores.

Segundo o relato de uma mãe: “Sei que

ele não gosta de estudar, só estuda se eu

pegar no pé dele, não quer fazer as

tarefas e a professora acha que a culpa

é minha. Mas eu acho que a professora

devia exigir mais dele, como eu posso

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ajudar se ela não me diz direitinho o que

eu tenho que fazer, ele até agora não

sabe ler e passa de ano assim mesmo,

sempre foi assim, fala errado, não

escreve direito, mas eu também não

estudei e o pouco que ele sabe aprendeu

comigo. Para que serve a escola?

Observamos que as mães tentam de

alguma forma ajudar, mas não

conseguem atingir seus objetivos, e são

vários os motivos, falta de orientações,

como disse a mãe, não estarem

preparadas pedagogicamente, nível

escolar baixo, insegurança e receio de

sofrer discriminação ou preconceito ao

ensinar a tarefa errada ao filho. E assim

o auxílio torna-se bem difícil. Os pais

auxiliam seus filhos de acordo com as

experiências da própria vida que trazem

na memória de muitos anos, e muitas

vezes um conhecimento que deixa muito

a desejar para os dias atuais, pois

sabemos que a língua está sempre em

evolução e evidentemente tem grandes

dificuldades quando a família tem um

nível escolar baixo ou até mesmo

ausente.

De acordo com essa análise, muitas

mães se sentem impotentes em ajudá-los,

outras tentam de várias formas conduzi-

los na tarefa de Língua Portuguesa e se

sentem orgulhosas quando conseguem,

mesmo confessando não ser muito fácil.

Segundo Kail (2013, p. 3), ao falar do

efeito do vocabulário sobre o processo

cognitivo da categorização, “a criança

pode ser encorajada, por meio da

intervenção da linguagem, a constituir

novas categorias conceituais”. Mães que

se consideram com pouco conhecimento

da língua não se sentem seguras diante

da complexidade gramatical, e muitas

vezes isso faz com que elas entreguem

essa responsabilidade para a escola.

Kail (2013, p. 53) postula que “as

informações fonológicas, prosódicas,

sintáticas e semânticas aprendidas antes

da entrada da criança na escola podem

fornecer uma ponte de acesso a outros

níveis da organização linguística”, logo

todo contato da mãe com a criança se

revela útil para o acesso dela a níveis

gramaticais mais complexos,

principalmente os sintáticos.

Ainda segundo Kail (2013), a

sensibilidade às regularidades

estatísticas da língua e o entendimento

precoce seriam o primeiro marco da

aquisição sintática e a relação familiar

nesse formação é relevante, porque

permite à criança perceber elementos de

ligação entre as primeiras palavras que se

iniciariam no nível mais silábico e

passaria a um nível mais verbal.

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4.2 A importância dos pais no auxilio

as tarefas escolares de Língua

portuguesa

Para algumas mães, os filhos que

apresentam dificuldades escolares não

têm cuidado com seu material escolar e

não têm gosto pelo estudo. No entanto,

justificam da seguinte forma: “As tarefas

eu não faço porque ele que tem que

fazer. Mas olho a bolsa dele e fico triste

em ver que aquilo não é bolsa de gente.

Eu não sei por que esse tipo de pobrema.

Fico em cima dele pra vê se toma gosto,

mas não consigo, queria muito que ele

fosse mais interessado, cuidasse do seu

material e pelo menos aprendesse a falar

direito como alguns colegas falam.”

Considera-se que o auxilio nas

tarefas da criança é uma forma de

participação dos pais na construção das

“pontes” citadas por Kail (2013, p.64)

que levariam a criança a uma progressão

no diversos níveis gramaticais, mesmo

diante de relatos em que revelam que a

mãe que não sabe ler nem escrever

recorre a ajuda de irmãos, parentes, e

outras pessoas do convívio familiar para

contribuir, mostrando interesse.

A maioria das mães entrevistadas

considerou o trabalho da escola

insatisfatório. Muitas falaram da

precariedade de determinadas escolas

públicas que tinham péssimas condições,

citando professores despreparados, e

afirmando que os professores colocavam

a culpa do desempenho dos seus filhos

em famílias mal estruturadas, pais

analfabetos e problemas sociais, como o

relato a seguir: “Ah! Sou mãe solteira, sei

que um pai é importante, isso prejudica

ele tanto na escola como na rua. Mas

vejo tantos filhos sem pai e mesmo assim

não são burros e nem bandidos. Pra mim

ele não aprende por causa dos

professores, nessa escola do governo ele

vai ficar uma criança burra. Se eu

tivesse dinheiro, pagava uma escola

particular, lá tem menos alunos na

classe e eles iam ensinar, ensinar é dever

da escola, o menino não sabe ler nem

escrever e está no 4º ano. Tudo que ele

aprendeu foi ouvindo eu falar, sei que

muitas coisas ele fala errado por minha

culpa, pois eu não sei falar direito.”

Diante desse relato, é possível

analisar que essa mãe coloca a culpa no

sistema de ensino, pois mesmo vendo

seu filho aprovado para a série seguinte

tem a consciência de que ele não está

preparado. Pergunta-se, se a mãe

despreparada entende que o filho não

deveria ir para uma série seguinte com

deficiência está claro que ela entende a

importância de um bom

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desenvolvimento da criança no ensino da

língua.

4. 3 Relação professor-aluno

Para uma melhor participação da

escola no acesso à complexidade

gramatical, seria necessária uma melhor

qualificação do professor no processo de

aquisição da linguagem para o estágio I

(reguralidades da língua/produção dos

primeiros morfemas e estruturais

sintáticas) e estágio dois das frases mais

complexas. Todavia a contribuição da

família se reveste de uma ajuda

fundamental na sistematização de cada

uma dessas fases. Segundo Kail (2013,

p.73), “o domínio do processamento de

frases cada vez mais complexas em um

tempo tão breve, demonstraria que esse

continuum inicia-se na família e termina

na escola”.

4.4 A forma como a fala da mãe é

dirigida a criança

Percebe-se, na nossa pesquisa, que

algumas crianças quando são inseridas

no ambiente escolar, já trazem consigo

uma linguagem que aprenderam com sua

convivência no ambiente familiar e na

minha entrevista com a professora do

1ºano sobre se ela teria como analisar as

razões do porquê a criança antes do

conhecimento padrão da língua falava

com essa linguagem não padrão, ela

dessa forma me respondeu: “Geralmente

todo ano eu recebo para alfabetizar

crianças que chega com uma linguagem

totalmente fora do padrão, ensinar a

essa criança a forma padrão da língua é

uma das tarefas mais complicadas.

Acredito que é pelo fato delas passarem

apenas algumas horas comigo e a maior

parte do dia num ambiente aonde a

linguagem padrão não é tão usada. Não

estou colocando a culpa dessa

dificuldade na família, mas o que você

acha quando uma criança chega falando

“eu fazi, Ingual, arvi, pranta, zoio.etc.”

A criança quando chega à escola

encontra uma comunidade que fala um

dialeto diferente do que ela aprendeu

com a convivência no seu ambiente

familiar e dependendo da sua classe

social poderá sofrer preconceitos no seu

modo de falar, se comportar, se vestir.

Vai acreditar que isso acontece por ser

pobre, pois é assim que foi criada,

tivemos a oportunidade de analisar nessa

nossa pesquisa que mães se colocam

nessa posição e passam isso para os

filhos.

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4. 5 O sucesso escolar em dois grupos

de família

4.5.1 Alunos com sucesso no acesso à

complexidade

a) Relação família-escola

Os pais se preocupam com a forma

de organização dos filhos em relação às

atividades e ao comportamento deles em

sala de aula, se participam, fazem as

atividades tirando suas dúvidas e tarefas

de casa. Participam das atividades extra-

sala quando são convidadas pela escola.

b) A importância dos pais no auxilio

das tarefas escolares

Verificamos que as mães, por terem

maior possibilidade de estarem mais

tempo com os filhos, são as que mais

ajudam nas tarefas, orientam os filhos

para que prestem atenção nas aulas e de

alguma forma estão sempre estimulando.

c) Rendimento escolar

Rendimento escolar bom: Ao serem

inseridos no ambiente escolar já

começam a apresentar um bom

desenvolvimento. Para os pais a base

familiar é sinônimo de continuidade na

vida escolar com sucesso, Mas para isso

a escola precisa ser a continuação do

ambiente familiar e vice-versa.

d) Relação professor-aluno

Na visão dos pais, o professor é

fundamental no processo de

aprendizagem, mas não eximindo a

escola dessa responsabilidade e a

família. Verificamos que as mães por

terem maior possibilidade de estarem

mais tempo com os filhos são as que

mais ajudam nas tarefas, orientam os

filhos para que prestem atenção nas aulas

e de algumas formas estão sempre

estimulando.

e) O forma como a fala dos pais é

dirigida a criança

Segundo algumas mães com melhor

nível de escolaridade, corrigem os filhos

quando ele fala errado, em relação a essa

atitude elas responderam que faziam

questão do filho falarem de maneira

correta, pois é assim que se aprende na

escola e foi dessa forma que ela

aprendeu.

4.6 O segundo grupo familiar

4.6.1 Alunos com insucesso na escola

a) Relação família – escola

Mesmo se preocupando com a

forma de organização dos seus filhos e

comportamento se sentem inseguros e de

certa forma constrangidos em participar

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das atividades dos filhos. Acredita-se por

falta de interação com a escola.

b) A importância dos pais no auxilio

das tarefas escolares

Algumas mães afirmam não terem

tempo para ajudarem seus filhos em

virtude de estarem muito ocupadas pelas

tarefas domésticas e com os outros

filhos, mas não negam que orientam os

filhos para que prestem atenção nas

atividades em sala.

c) Rendimento escolar

Inseridos no ambiente escolar,

levam consigo toda a sua linguagem

adquirida no ambiente familiar, têm

dificuldade em se desenvolver no seu

dialeto, mas isso não quer dizer que

gramaticalmente aconteça o mesmo.

d) Relação professor-aluno

Que o professor é fundamental no

processo de aprendizagem todos

admitem, mas nesse caso os pais se

eximem dessa responsabilidade de

ajudar o professor na tarefa. Pode ser que

se não seja por não querer, mas por não

se sentirem seguros.

e) A forma como a fala dos pais é

dirigida à criança

A criança quando chega à escola

leva consigo um dialeto não padrão que

por muitas vezes aprendeu ouvindo

dentro do seu ambiente familiar, mesmo

não sendo considerado erro, poderá

prejudicar seu aprendizado, pois partir

dessa linguagem para a padrão é um

processo bastante lento.

CONCLUSÃO

Para chegar a uma conclusão,

tivemos que fazer uma revisão profunda

da função social da escola, dificuldades

de aprendizagem, estrutura familiar e

outros fatores relatados na presente

pesquisa. Partindo do ponto de que a fala

da mãe poderia ou não delimitar o acesso

à complexidade gramatical foi preciso

analisar outros aspectos que estavam

totalmente ligados a esse tema. Não

poderia separar dessa pesquisa a questão

social, cultural, e o próprio ambiente

familiar e sua estrutura.

Os resultados obtidos são evidentes

em relação à questão positiva e negativa

da escola. Questões que podem

determinar que tipo de relações a família

e o aluno podem ter com a escola e vice

versa. O envolvimento dos pais nesse

processo educacional se torna

fundamental quando existe uma

interação família-escola. Muitas famílias

têm uma visão da escola tradicional,

aquela que tem a obrigação de educar

seus filhos, mas, por outro lado, a visão

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inovadora a cerca da escola e essas

mudanças que tanto são importantes para

seus filhos ainda não foi conscientizada

nos pais. Poderíamos suspeitar que a

forma como as crianças chegam a escola

auxiliadas por pais que foram educados

com dificuldades recorrente da

escolaridade baixa repassam para seus

filhos essas mesmas dificuldades,

mesmo tentando ajudar não conseguem

por sentirem que são incapazes e sem

orientação.

No entanto, essa diferença de nível

de escolaridade entre pais de alunos não

delimitam o grau de sucesso ou

insucesso. Poderíamos pensar que ajudar

o aluno seria com boa interação,

estímulo, e uma boa estrutura familiar.

No entanto teríamos muitos outros

motivos para pensar que existem outros

fatores que podem ocorrer tanto numa

família de baixa escolaridade quanto na

de nível de escolaridade elevado.

Analisamos que uma criança que

constrói sua linguagem num ambiente e

chega à escola com a fala não padrão,

pode demorar a entender a forma padrão,

mas isso não quer dizer que enquanto o

seu dialeto precisa ser colocado na forma

padrão, ela não poderá se desenvolver

satisfatoriamente no sistema da escrita,

ao começar a entender que existem

outras formas de comunicação padrão da

sua língua tanto quanto uma criança que

é inserida na escola, conhecendo a norma

padrão pelo seu convívio familiar e no

entanto com dificuldades em estruturas

gramaticais.

Muitas crianças não têm a

oportunidade de frequentarem uma

escola ou nela permanecerem por causa

do preconceito social por serem pobres

ou analfabetos. Ao fazermos uma análise

real sobre esse assunto, concluímos que

a sociedade condena uma pessoa pelo

uso da sua própria língua. Uma pessoa

que vive numa região rural é condenada

por sua fala, quando na verdade está

usando o falar da sua origem. Como

separar origem da língua? O que é falar

correto? A sociedade cobra esse falar

correto, pois ele lhe dá prestígio.

Toda criança adquire sua forma de

falar no seu ambiente familiar e esse que

vai determinar a linguagem que ela vai

chegar à escola. A criança chega à escola

com a ilusão de que vai aprender coisas

novas, pois lhe foi dito isso, no entanto,

ao chegar no ambiente escolar ela

descobre que tudo que aprendeu foi

errado, ela fala errado, se veste errado, se

comporta errado, e isso faz com que ela

pense que vai ter que esquecer tudo que

aprendeu na sua vida e aprender

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novamente de maneira “adequada”,

nesse momento ela se desespera e

começa a detestar a gramática. Por isso

cabe a nós, futuros professores, termos

muito cuidado com essa linguagem

adquirida no ambiente familiar.

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RESENHA

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POLIDEZ LINGUÍSTICA: UMA PERSPECTIVA INTRODUTÓRIA

Profª. Me. Adriana Regina Dantas Martins

KERBRAT-ORECCHIONI, Catherine. A Polidez: Aspectos Teóricos; As manifestações Linguísticas da polidez; A polidez: balanço. In: Análise da conversação princípios e métodos. São Paulo: Parábola, 2006. Páginas 75-102.

A linguista francesa Catherine Kerbrat pesquisa, entre outros tópicos, a enunciação linguística e a interação verbal com foco na polidez e nos atos ameaçadores e antiameaçadores de face dos interagentes em um determinado contexto enunciativo. Ela escreveu vários livros, entre eles: La Connotation (1977), Les Interactions Verbales (1990), Os Atos de Linguagem no Discurso (2005), Análise da conversação princípios e métodos (2006) que é o foco dessa resenha.

O livro “Análise da Conversação” é composto de quinze capítulos e discute assuntos interessantes e relevantes, todavia o foco da resenha é sobre polidez linguística, o que justifica a discussão apenas dos capítulos 8, 9 e 10. Por uma questão de organização textual e melhor compreensão, os capítulos, que são complexos, serão discutidos separadamente. Iniciamos pelo capítulo 8: A polidez: aspectos teóricos, que discute que a polidez é um fenômeno linguisticamente pertinente, pois recobre todos os aspectos do discurso que são regidos por regras em que a função é preservar o caráter harmonioso da relação interpessoal, que pode ser relativo ao comportamento verbal ou não verbal, porém aqui a ênfase é exclusivamente ao código verbal.

Nesse capítulo, Catherine chama a atenção para o modelo de Brown e Levinson, que desde 1970, estudam a polidez e desenvolveram um quadro, a fim de analisar os eventos comunicativos sob a luz da teoria da polidez. Esse modelo se desdobra em 4 temas: a) A noção de face; b) A noção de FTA (face treating act); c) A noção de face want; d) A noção de face work. Logo após apresentar esses tópicos a autora discute o aperfeiçoamento do modelo sob o aspecto da noção de “antiFTA (ou FFA), e a diferença entre polidez positiva e negativa.

A noção de face para Brown e Levinson significa que todo indivíduo possui duas faces: a negativa (que significa os territórios do eu, os saberes secretos) e a face positiva (que são o conjunto de imagens que os interlocutores constroem de si e que tentam impor durante a interação); a noção de FTA defende que em qualquer interação quatro faces são postas em presença. E que no decorrer da interação os interlocutores são levados a realizar certo número de atos verbais e não verbais que para Brown e Levinson são atos “que ameaçam as faces”, dessa forma os atos de fala se dividem em quatro categorias: atos que ameaçam a face negativa do emissor; atos que ameaçam a face positiva do emissor; atos que ameaçam a face negativa do receptor; atos que ameaçam a face positiva do receptor. É importante ressaltar que um mesmo ato pode se inscrever simultaneamente em diversas categorias, e que é indispensável considerar o contexto de cada situação, pois esse “contexto” define “onde” esse ato se insere.

A noção de face want, seria a tentativa de manutenção de faces, esse tópico não é bem explicado e é difícil de compreender a essência desse conceito; que é seguido pela

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noção de face work, que seria um trabalho de “figuração”, em outras palavras é tudo que uma pessoa empreende para que suas ações não impliquem perda diante de alguém (nem de si mesma). Essa estratégia depende de três fatores: o grau de gravidade do FTA; a “distância social”; sua relação de “poder”.

O que a autora salienta é que mesmo que esse modelo seja positivo alguns aperfeiçoamentos devem ser incorporados, como por exemplo, o aperfeiçoamento do modelo, que se desdobra na noção de “antiFTA” (ou FFA), que seria o conjunto de atos de fala que se dividem em duas grandes famílias, os que produzem efeitos essencialmente negativos para as faces (como a ordem crítica), ou os positivos (como o elogio ou agradecimento). O outro desdobramento se refere à polidez positiva versus a negativa, que distingue a polidez negativa como sendo de natureza abstencionista ou compensatória e a positiva de natureza produtiva, embora que, ambas sejam antagônicas ocupam um lugar importante no sistema global. Até porque, dependendo do contexto essa noção de positivo e negativo pode variar.

No capítulo 9, sobre as manifestações linguísticas da polidez, o assunto se refere à polidez negativa e suas subdivisões; e sobre a polidez positiva e suas subdivisões. Sobre a polidez negativa o que a autora deixa claro é que há meios de minimizar esse aspecto com a estratégia de evasão e consequentemente os suavizadores. Esse ponto é interessante e de fácil compreensão, pois todo falante faz uso dessas estratégias: voz mansa, sorriso e inclinação lateral, da cabeça ou do corpo, em momentos interativos. Um fator que a autora não levou em consideração foram os “usos irônicos” que são utilizados pelos interlocutores em diferentes momentos de interação. Isso pode ser considerado uma lacuna, pois esses usos mudam completamente o lugar que cada enunciado ocupa nessas categorias citadas anteriormente, já que, em determinada situação, dependendo da intenção do falante, o valor de verdade e mentira são questionáveis. Considerando as nuances irônicas, Leech (1983) propõe o princípio da ironia (IP), que também não é explorado por ele, talvez por considerar que sistematizar atos de fala irônicos seja uma tarefa inexequível, considerando o complexo de elementos que participam de um momento interativo.

Considerando a outra face, a polidez positiva consiste em produzir algum ato que tenha um caráter essencialmente antiameaçador para o seu destinatário, por exemplo: acordo, oferta, convite, elogio, agradecimento, boas-vindas, etc. A autora ressalta que o funcionamento é bem mais simples que o da polidez negativa, pois existe a preocupação em “agradar” o interlocutor.

Adentrando o capítulo 10: A polidez: balanço, a autora traça um discurso para ressaltar a importância da Polidez nos estudos linguísticos e a colaboração dessa teoria nos estudos da linguagem. Ressalta que a Polidez é um conjunto de procedimentos que o falante utiliza para poupar ou valorizar seu parceiro de interação; e que a polidez funciona como ponto de equilíbrio ou norma para uma “boa interação”. Como norma, deixa claro que os comportamentos impolidos são “marcados” em relação aos comportamentos polidos e que os encadeamentos positivos são mais polidos que os negativos. O capítulo ainda faz uma breve explicação sobre o principio da modéstia e sobre a noção de “dupla coerção”, informando que esses dois princípios são convencionados socialmente e fazem parte do processo interativo. Essa noção de dupla coerção não é bem explicada pela autora deixando também uma lacuna para os leitores. A última parte desse capítulo é sobre “As

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funções da polidez” em uma perspectiva social, isso significa que a polidez é primordial para a comunicação e que respeitar o outro e preservar a si é um estado de equilíbrio.

Na conclusão do capítulo, a universalidade da polidez é ressaltada como um fator primordial para que a interação funcione adequadamente, e que o respeito a essas regras é um principio de racionalidade que garante a paz entre os interagentes.

Após essas discussões, pode-se concluir que a leitura desses capítulos é complexa e densa e em alguns momentos de difícil compreensão, principalmente para quem não tem intimidade com este tema. Para iniciantes, essa leitura, a meu ver, precisa ser acompanhada de um texto introdutório e mais explicativo.

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