faculdade integrada da grande fortalezaunigrande.edu.br/wp-content/uploads/2018/11/revista... ·...
TRANSCRIPT
FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA
REVISTA PERSPECTIVA FGFREVISTA PERSPECTIVA FGFREVISTA PERSPECTIVA FGFREVISTA PERSPECTIVA FGF
Revista Científica da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza
Endereço:
REVISTA PERSPECTIVA FGF
FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA
CEUDESP - Centro de Educação Universitário e Desenvolvimento Profissional LTDA
Av. Porto Velho, 401 - João XXIII- Fortaleza/CE - CEP: 60.525-571.
Tel. +55 (85) 3299-9900 / Fax. +55 (85) 3496-4384 /
Email: [email protected]
Revista Perspectiva FGF /Faculdade Integrada da Grande Fortaleza. V. 1, N. 04 Jan./
Jul. 2016. ISSN 2238-524X
Fortaleza – Ceará 2016
Publicação Semestral
1. Periódico científico – Faculdade Integrada da Grande Fortaleza. 2. Artigos diversos.
3. Faculdade Integrada da Grande Fortaleza
Expediente Mantenedora Centro de Educação Universitária e Desenvolvimento Profissional – CEUDESP
Eng. José Liberato Barrozo Filho - Diretor Administrativo Financeiro
Eng. Julio Pinto Neto – Diretor de Infraestrutura
Eng. Adolfo Marinho – Diretor de Expansão
Mantida
Faculdade Integrada da Grande Fortaleza - FGF
Eng. José Liberato Barrozo Filho - Diretor Geral
Prof. Ms. Paulo Roberto de Castro Nogueira – Diretor Acadêmico
Editores Viviane Mamede Vasconcelos (FGF / UFC)
Conselho Editorial Adriana Maria Reboucas do Nascimento
Carlos Jorge Dantas de Oliveira
Cristina Tonin Beneli Fontanezi
Cynthia Barbosa - [email protected]
Daniele Cristine Gadelha Moreno
Diego Martins
Elidiane Martins Freitas
João Celso Moura de Castro
João Cláudio Nunes Carvalho
José Diego Martins de Oliveira e Silva
José Eduardo Ribeiro Honório Junior
Maria Coeli Saraiva Rodrigues
Nádia Marques Gadelha Pinheiro
Phelipe Bezerra Braga
Renato Alves Vieira de Melo
Roberta Oliveira da Costa
Rosane de Almeida Andrade
Tatiana de Lima Rocha
Editora Maria Coeli Saraiva Rodrigues
Taiana Cláudia Nunes Carvalho
Revisão Técnica Maria Coeli Saraiva Rodrigues
Projeto Gráfico Capa
Taiana Cláudia Nunes Carvalho
Diagramação Maria Coeli Saraiva Rodrigues
*As ideias e opiniões emitidas nos artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo,
necessariamente, as opiniões do editor e, ou, da FGF – Faculdade Integrada da Grande Fortaleza
SUMÁRIO
Editorial............................................................................................................................. 04
Artigos
1 – Educação Física Escolar no período noturno: uma investigação sobre a prática
docente - Girliane Lourenço Lira De Freitas e Maria Tatiana de Lima Rocha Felix...............
06
2 – Primíparas e o aleitamento materno: boas práticas de enfermagem no
enfrentamento das dificuldades - Adriana Freitas de Campos Sousa, Iliana Maria de
Almeida Araújo, Karla Maria Carneiro Rolim e Monyque Da Silva Barreto.........................
20
3 – Redução da maioridade penal dentro da perspectiva da inconstitucionalidade -
Alexandre Luís Ximenes Da Silva e Romana Missiane Diógenes Lima.................................
34
4 – O retrato de Dorian Gray: um romance simbolista - Luiz Alexandre Ramos da Silva e
Maria Coeli Saraiva Rodrigues............................................................................................
45
5 – O ambiente linguístico familiar no processo de acesso à complexidade gramatical pe
la criança - Wilson Gonçalves da Cunha e Antenor Teixeira de Almeida Junior.............
61
Resenha
Polidez Linguística: uma perspectiva introdutória - Profª. Me. Adriana Regina Dantas
Martins.........................................................................................................................
79
P á g i n a | 4
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
Editorial
A ciência vem evoluindo com as contribuições das pesquisas e investimentos em
diversas áreas do saber. O pensamento crítico e os questionamentos acerca da realidade
impulsionam novos conhecimentos e descobertas.
Nesse sentido, a Revista Perspectiva FGF é a publicação científica
multiprofissional da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza - FGF, que objetiva
promover a publicação docente e discente das áreas de Ciências da Saúde, Sociais
Aplicadas, Humanas, Jurídicas e Exatas, podendo haver publicações de artigos originais,
revisões e reflexões, gerando conhecimento amplo, sendo fonte de discussão e de saber
de qualidade. Com o progresso da produção científica brasileira e internacional, a Revista
Perspectiva FGF, periódico científico semestral, cumpre seu papel na disseminação do
conhecimento de acadêmicos, docentes e profissionais.
A Comissão Editorial da Revista Perspectiva FGF agradece aos alunos,
professores, à direção da instituição Faculdade Integrada da Grande Fortaleza - FGF e
parabeniza a todos os autores que escolheram a Revista Perspectiva FGF como veículo
de divulgação de suas pesquisas.
Viviane Mamede Vasconcelos
Coordenadora Científica da FGF
P á g i n a | 5
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
ARTIGOS
P á g i n a | 6
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO PERÍODO NOTURNO: UMA
INVESTIGAÇÃO SOBRE A PRÁTICA DOCENTE
Girliane Lourenço Lira De Freitas
Maria Tatiana de Lima Rocha Felix
RESUMO: O objetivo de investigar a Educação Física no ensino noturno é identificar as dificuldades e desafios encontrados na escola e durante as aulas. O presente estudo trata-se de pesquisa de campo, descritiva, de caráter quantitativo e qualitativo e foi desenvolvida por meio de questionário estruturado aplicado com 20 professores atuantes na Educação Física noturna da cidade de Fortaleza-Ceará. Os resultados demonstram que os professores realizam suas aulas em 75% teoria e 25% prática. Em relação às dificuldades encontradas, a evasão e a falta de uniformes adequados são as mais frequentes. Dessa forma, compreende-se a importância da Educação Física escolar como uma disciplina que estimula a expressividade natural de quem a pratica, buscando sempre que possível agregar aulas teóricas juntamente com aulas práticas, em que cabe ao professor optar por ensinar nesse horário ciente de um público diferenciado e que por esforço pessoal buscam melhorias para sua vida por meio da educação. Palavras-chave: Ensino noturno. Educação Física escolar. Professores.
ABSTRACT: The order to investigate the physical education at night school is identify the difficulties and challenges encountered at school and during school. This study it is field research, descriptive, quantitative and qualitative character and was developed through a structured questionnaire applied to 20 teachers working in Education Physical night in the city of Fortaleza, Ceará. The results show that teachers conduct their classes in 75% theory and 25% practice. Regarding the difficulties encountered evasion and the lack of adequate uniforms are the most frequent. Thus one can understand the importance of school physical education as a discipline that stimulates the natural expression of who will practice, always looking for possible add lectures with practical classes where the teacher should choose to teach at that time aware of a different audience and by personal effort seek improvements to their lives through education. Keywords: Physical Education. Evaluation. Learning.
P á g i n a | 7
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
1 INTRODUÇÃO
A Educação Física Escolar
(EFE), componente curricular
obrigatório em toda a educação básica,
amparada pela lei nº 9.394/96 de 20 de
Dezembro de 1996, proporciona
inúmeros benefícios para o
desenvolvimento físico, mental e social
dos alunos, auxiliando também na
formação ética através da cooperação,
socialização, respeito, superação e
autoconhecimento.
A EFE deve estar garantida na
escola independente do turno. O ensino
noturno (EN) é ofertado, em sua maioria,
para pessoas que não terminaram os
estudos no tempo certo, como pais e
mães de famílias, trabalhadores com uma
jornada extensa, público esse que
demandam um esforço grande para
frequentar as aulas. Com isso pode-se
perceber que a educação tem um
significado ainda maior, além de ser um
desafio para o professor ministrá-la por
conta do público e do horário não ser o
mais convencional.
A problemática do estudo
consiste nos seguintes questionamentos:
as escolas que funcionam à noite ofertam
a disciplina de Educação Física como
prevê a lei? Como o professor
desenvolve as suas aulas? Aspectos esses
de extrema importância para uma
legitimação ainda maior da EFE.
A temática escolhida para o
estudo surgiu na ânsia de se identificar,
questionar e relatar questões e
experiências a cerca da prática docente,
ao ministrar a disciplina EFE no turno da
noite, apontando também suas possíveis
dificuldades no processo educacional
bem como a diferença do ensino noturno
para os demais horários.
Sendo assim, esse estudo tem
como objetivo investigar a prática
pedagógica do professor de EFE no
ensino noturno e, mais especificamente,
identificar suas dificuldades e desafios
encontrados na escola e durante as aulas
e, por fim, questionar se há diferença
entre lecionar à noite e nos demais
turnos.
2 METODOLOGIA
A fim de pesquisar a prática
docente da Educação Física escolar no
período noturno, realizou-se um estudo
de campo descritivo de caráter
quantitativo e qualitativo, que segundo
Gil (2008) busca descrever as
características de determinadas
populações ou fenômenos. Uma de suas
peculiaridades está na utilização de
técnicas padronizadas de coleta de
P á g i n a | 8
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
dados, tais como o questionário e a
observação sistemática.
A pesquisa foi realizada no
município de Fortaleza, estado do Ceará,
em escolas públicas estaduais. A
aplicação dos questionários aconteceu
no período referente ao mês de setembro
a novembro de 2015.
O público investigado foram
docentes que ministram aulas de
Educação Física no ensino noturno. A
amostra da pesquisa foi composta por 20
professores de Educação Física no turno
da noite, em seus respectivos locais de
trabalho, sendo (60%) do gênero
masculino e (40%) do gênero feminino.
Foram visitadas 17 escolas, do qual três
escolas trabalhavam dois professores em
dias alternados e a pesquisa foi aplicada
momentos antes do início das aulas na
sala dos professores e, em algumas
escolas, na própria sala de aula.
Como critério de inclusão do
estudo, tem-se professores de Educação
Física que ensinam na escola no turno da
noite. Foram excluídos participantes que
não se encaixassem no perfil para a
pesquisa. Todos os participantes
responderam voluntariamente ao
questionário, sendo esclarecidos de sua
contribuição para a pesquisa.
O questionário, como
instrumento de coleta de dados, pode ser
definido como uma técnica de
investigação social composta por um
conjunto de questões que são submetidas
a pessoas com o propósito de obter
informações sobre conhecimentos,
crenças, sentimentos, valores, interesses,
expectativas, aspirações, temores,
comportamentos presente e passado, o
qual, segundo Gil (2008), é um
instrumento de coleta de informação,
utilizado numa Sondagem ou Inquérito.
O questionário foi composto por 13
questões, sendo 11 objetivas, em que se
busca aproximar da realidade vivenciada
no cotidiano do professor e 02 de caráter
subjetivo, baseado na interpretação
pessoal de cada entrevistado.
Para facilitar a compreensão do
estudo, os professores pesquisados
receberam uma numeração referente à
ordem em que a pesquisa foi realizada, e
serão representados pelas siglas P e um
número. Durante o artigo, as opiniões
retratadas serão identificadas por meio
dessas siglas.
Após recolher os questionários
respondidos, estabeleceu-se a frequência
e a porcentagem das respostas e
confeccionado uma planilha no Excel
(programa do Microsoft Office), a partir
dos resultados recebidos e elaborados as
tabelas.
P á g i n a | 9
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
Para adesão da amostra desse
estudo, foi inicialmente apresentado e
solicitado permissões das instituições
nas coordenações, através do documento
“Autorização para a Pesquisa de Campo”
e entregues aos pesquisados, além do
questionário, o “Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido”, que
contém dados de identificação da
pesquisa e do pesquisador,
estabelecendo e as condições de
participação.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para a pesquisa, foi contabilizado
um total de 20 professores, de 17 escolas
públicas estaduais na cidade de
Fortaleza.
Tabela 1- Perfil dos Professores
Fonte: Dados da Pesquisa (2015).
A Lei de Diretrizes e Base da
Educação, de nº 9.394 de 1996,
estabelece, em seu artigo 13, que os
docentes incumbir-se-ão de participar da
elaboração da proposta pedagógica do
estabelecimento de ensino. Você
conhece e / ou participa da elaboração do
Projeto Político Pedagógico da onde
trabalha?
Tabela 2 – Participação no PPP
Fonte: Dados da Pesquisa (2015).
No Projeto Político Pedagógico
da escola são pensados os principais
problemas e desafios da instituição e
também são elaboradas as possibilidades
de soluções, definição de
responsabilidade, bem como toda a
Gênero Feminino (40%) Masculino (60%)
Média de Idade 30,5 Anos
Tempo de Magistério (Média) 12,2 Anos
Tipo de Escola Pública (100%)
Conhece e participa 11 55% Conhece, não participa 7 35%
Não conhece e não participa 2 10% Não sabe 0 0%
P á g i n a | 10
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
organização estrutural, por esse motivo é
de grande valia o professor de Educação
Física está inserido na elaboração e
planejamento do mesmo.
A maioria dos professores (55%)
afirmaram que conhecem e participam
da elaboração do projeto político
pedagógico da escola, o que nos
demonstra um ponto bastante positivo,
pois sua prática de ensino está ligada
diretamente aos preceitos e concepções
que a escola propõe.
Tabela 3 - Distribuição das Aulas Teóricas e Práticas.
Fonte: Dados da Pesquisa (2015).
Metade dos professores
pesquisados (50%) responderam que
suas aulas são organizadas em (75%)
teoria e (25%) em prática, teve-se ainda
(45%) que afirmam realizar em (50%)
prática e em (50%) teórica. A minoria
dos pesquisados (5%) responderam que
organizam ao inverso: (75%) prática e
(15%) teórica.
Corroborando com os resultados,
Darido e Rangel (2005) afirmam que é
de extrema relevância reconhecer que a
Educação Física, dentro do contexto
escolar, deve levar em conta as
dimensões conceituais, procedimentais e
atitudinais, com a mesma importância,
ou seja, a teoria não deve se dissociar da
prática e vice-versa.
Os dados da pesquisa nos
revelam que grande parte dos
professores dão ênfase em aulas teóricas,
o que muitas vezes pode acarretar em
uma falta de estímulo dos alunos, por
conta que todas as outras disciplinas
também têm a teoria como prevalência.
A Educação Física,
primordialmente, tem como
característica a prática, o fazer pensado e
reflexivo, não deixando de lado os
aspectos conceituais importantes, no
qual irão contribuir de forma ainda mais
significativa na vida dos alunos,
consequentemente acarretarão em um
maior entendimento sobre os conteúdos
que giram em torno da cultura corporal
de movimento.
De acordo com a Lei nº 10.793 de
2003 que estabelece a obrigatoriedade da
Educação Física como componente
curricular obrigatório da Educação
50% teóricas e 50% práticas. 9 45% 75% teóricas e 25% práticas. 10 50% 25% teóricas e 75% práticas. 1 5%
Não sabe. 0 0%
P á g i n a | 11
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
Básica, formulou-se a seguinte pergunta:
Como você analisa a participação dos
alunos nas aulas de Educação Física
Escolar?
Tabela 4 – Participação dos Alunos nas Aulas
Fonte: Dados da Pesquisa (2015).
Os dados levantados com a
pesquisa apontam que, na visão dos
professores de Educação Física, os
alunos têm uma participação entre
regular e boa com (60%) e (40%),
respectivamente. Fato esse que serve
como estímulo para o docente, pois a
participação dos alunos durantes as aulas
teóricas e práticas são essenciais para o
bom andamento da disciplina.
Um estudo realizado por Pereira
e Moreira (2005) com alunos do ensino
médio de escolas no estado de São Paulo
revelou que (37,5%) das aulas de
Educação Física eram iniciadas com um
número significativamente reduzido de
alunos participando, o que segundo os
autores pode ser um reflexo de sua
motivação diante dos conteúdos e
estratégias de ensino utilizadas nas aulas,
tornando a mesma pouco atrativa.
A partir dos dados obtidos nessa
pesquisa, podemos perceber que no caso
das aulas do ensino noturno de Fortaleza,
os resultados são contrários e os
professores avaliam, em sua maioria,
como boa a participação dos alunos nas
aulas.
Tabela 5 – Satisfação no Trabalho Noturno da EFE
Fonte: Dados da Pesquisa (2015).
Conforme afirma Campos
(1995), a motivação e a satisfação é um
fator de extrema importância no
processo educacional, pois os indivíduos
envolvidos nesse processo, professores,
alunos e coordenação devem sentir
Boa 12 60% Ruim 0 0%
Regular 8 40% Não sabe 0 0%
Satisfeito 14 70% Insatisfeito 3 15%
Regular 3 15% Não sabe 0 0%
P á g i n a | 12
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
prazer em estar inseridos nele, sempre
buscando novos meios e estratégias para
alcançar uma melhor performance e
consequentemente sentir-se mais
motivado.
Na pesquisa foi constatado que
(70%) dos professores sentem-se
satisfeitos em trabalhar no ensino
noturno e apenas (15%) estão
insatisfeitos e (15%) dizem estar no nível
regular de satisfação. Para Ramirez
(1999) a motivação produz um ambiente
de aprendizagem eficaz. Com
professores satisfeitos, a produção e o
empenho aumentam, beneficiando assim
os alunos e a escola como um todo.
Tabela 6 – Carga Horária Semanal
Fonte: Dados da Pesquisa (2015).
Com os dados obtidos, observa-
se a prevalência de uma carga horária
muito grande entre os professores, dos
quais (45%) trabalham acima de 40 horas
semanais e outros (35%) responderem
que estão na escola entre 30 e 40 horas.
Uma carga horária de trabalho
excessiva pode acarretar em problemas
futuros para os docentes, que em sua
maioria acabam se esgotando,
principalmente por conta de problemas
nas cordas vocais. Existem professores
da rede pública estadual de Fortaleza que
chegam a trabalhar até 300 horas
mensais, ou seja, leciona nos turnos
manhã, tarde e noite, fato esse que pode
causar impacto no seu desempenho
profissional e até mesmo em sua
qualidade de vida.
Com o processo de globalização
atual que a sociedade está vivendo,
existe um ritmo acelerado de produção
imposto que altera a maneira e as
relações desenvolvidas no campo do
trabalho, provocando por consequência
uma diminuição drástica na qualidade de
vida de trabalhadores, o que conforme
Rocha e Fernandes (2007) tem impacto
também na escola e mais diretamente nos
professores, por ser um sujeito essencial
no processo de educação.
Até 20h 3 15% De 20h á 30h 1 5% De 30h á 40h 7 35% Acima de 40h 9 45%
P á g i n a | 13
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
Tabela 7 – Apoio Institucional
Fonte: Dados da Pesquisa (2015).
A grande maioria dos
pesquisados demonstraram estar
satisfeitos com a escola no qual lecionam
e também com o apoio dos gestores
referente à disciplina de Educação
Física, dos quais (80%) avaliam como
bom e (15%) regular e apenas (5%)
avaliou como ruim.
Um ambiente de trabalho
agradável é um ponto crucial para o bom
desenvolvimento da tarefa docente e,
com o apoio da gestão nas tomadas de
decisões, o professor se sente mais
seguro e amparado na realização de suas
aulas e atividades.
Na Lei nº 9.394 de 1996 (Lei de
Diretrizes e Bases), seu artigo 24 prioriza
a educação em valores e a avaliação
contínua e cumulativa do desempenho
do aluno. Qual o critério avaliativo que
você utiliza para acompanhar o processo
de aprendizagem de seu aluno?
Tabela 8 – Critério Avaliativo
Fonte: Dados da Pesquisa (2015).
Percebeu-se, através da pesquisa,
a preferência dos professores por
avaliarem no ensino noturno de forma
subjetiva e objetiva com (60%), ou seja,
levando em consideração todos os
aspectos trabalhados durantes as aulas
práticas e teóricas, (15%) dos docentes
optam pelos aspectos objetivos ao
avaliarem, realizando trabalhos e provas
teóricas e apenas (10%) realiza de
maneira subjetiva, levando em conta
interesse, participação e a relação entre
os alunos.
No estudo realizado por Vargas
(2009), realizado no Rio Grande do Sul,
encontramos uma situação inversa,
Boa 16 80% Ruim 1 5%
Regular 3 15% Não sabe 0 0%
Aspectos Subjetivos, através de participação, interesse e relacionamento entre os alunos.
2 10%
Aspectos Objetivos, como frequência as aulas, trabalhos e provas teóricas.
5 25%
Aspectos Subjetivos e Aspectos Objetivos. 12 60% Outros 0 0%
P á g i n a | 14
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
(79%) dos professores entrevistados
afirmaram avaliar os alunos do turno da
noite por meio de métodos mais
subjetivos.
Tabela 9 – Planejamento das Aulas
Fonte: Dados da Pesquisa (2015).
Segundo a maioria dos
professores investigados (45%), o
planejamento das suas aulas acontece
anualmente, criando-se um cronograma
de todas as aulas do período letivo, para
(15%) ocorre de maneira trimestral e
(40%) dos docentes planejam de outras
formas.
Os professores que responderam
a opção outros, afirmam planejar suas
aulas em formas mistas, ora planeja-se
para um bimestre completo, ora planeja-
se apenas para o mês, semana e até
mesmo para uma aula em específico.
Moretto (2007), ao falar sobre o
planejamento, afirma que planejar
significa organizar ações e que o mesmo
existe para auxiliar na facilitação do
trabalho docente, gerando assim um
ordenamento dos conteúdos a serem
ministrados durante as aulas.
Os dados obtidos na pesquisa
assemelham-se com o estudo realizado
por Vargas (2009), no qual a maiorias
dos professores (57%) também optam
por planejarem os conteúdos para todo o
ano escolar.
Tabela 10 - Integração Espaço Físico e Atividades Recreativas
Fonte: Dados da Pesquisa (2015).
Na nona questão da pesquisa, foi
indagado aos professores a respeito da
integração entre as atividades e o espaço
para a realização, no qual a grande
maioria dos pesquisados (85%)
responderam que existe sim essa
integração e outros (15%) responderam
que não.
Com base na LBD (1996), deve-
se ter padrões mínimos para a garantia de
Anual / diário 9 45% Trimestral / diário 3 15%
Não planeja 0 0% Outros 8 40%
Sim 17 85% Não 3 15%
P á g i n a | 15
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
uma boa qualidade de ensino, como
instrumentos adequados indispensáveis
para o desenvolvimento da aula,
quantidades de alunos. Esse aparato em
relação às condições de trabalho do
professor são primordiais para que se
desenvolva uma melhora no ensino e no
aprendizado do aluno.
Segundo Freitas (2014) um dos
fatores fundamentais para a realização de
uma boa aula de Educação Física na
escola é a estrutura física e os recursos
materiais, em especial uma quadra
poliesportiva coberta, sala de atividades
corporais, local para guardar os
materiais, entre outros.
Tabela 11 – Espaço Utilizado para Atividades
Fonte: Dados da Pesquisa (2015).
Com relação ao espaço da escola
mais utilizado durante as aulas, (75%)
afirmaram utilizar mais a sala de aula,
outros (15%) utilizam mais a quadra e
(5%) faz uso do pátio.
Podemos perceber com os dados
que a maioria dos professores utilizam a
sala para o desenvolvimento das aulas,
prevalecendo, assim, mais a realização
de atividades teóricas do que práticas,
fato esse confirmado na questão 2 desse
mesmo estudo, mostrando que (50%) dos
docentes aplicam mais aulas teóricas no
ensino noturno.
Tabela 12 – Conteúdo com mais Participação
Fonte: Dados da Pesquisa (2015).
Os conteúdos trabalhados
durantes as aulas e a metodologia
utilizada pelo professor são pontos muito
importante para uma boa participação
dos alunos, segundo os dados obtidos,
(80%) dos professores percebem maior
participação da turma quando são
trabalhados conteúdos relacionados ao
esporte, (10%) atividades de recreação, e
Quadra 3 15% Pátio 1 5%
Sala de aula 15 75% Outro 1 5%
Desporto (futebol, lutas, basquete, etc) 16 80% Dança, Ginástica 1 5%
Recreação 2 10% Jogos 1 5%
P á g i n a | 16
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
apenas (5%) dança, ginástica e outros
jogos.
A preferência pelo esporte é
nítida, especialmente o futebol/futsal,
que são os mais praticados no Brasil
atualmente. Na pesquisa de Vargas
(2009), no qual os professores relataram
quais conteúdos mais trabalham durante
suas aulas no período noturno, (43%) da
amostra respondeu realizar aulas teóricas
abordando os esportes, explicando suas
regras e modos de jogo.
Tabela 13 – Principais Dificuldades
Fonte: Dados da Pesquisa (2015).
Em relação às dificuldades
encontradas nas aulas de Educação
Física à noite, (45%) dos professores
responderam que os alunos faltam muito
e frequentam as aulas sem roupas
adequadas, (25%) afirmam que o
principal desafio é por conta da falta de
material e infraestrutura, (10%), por
desinteresse dos alunos e turmas
numerosas e os outros (10%) afirmaram
serem outros os motivos.
Analisando as respostas de um
estudo realizado por Neto et. al (2015) no
ensino médio, encontramos as mesmas e
até dificuldades diferentes das
levantadas nesse estudo, dos professores
investigados, (34%) responderam que é a
questão do horário das aulas o que mais
atrapalha o bom andamento das aulas,
(28%) a disciplina dos alunos, 21%
materiais disponíveis e 17% o espaço
físico.
Na questão de número treze desse
estudo, foi indagado aos professores, de
maneira subjetiva, qual seria, na opinião
deles, a maior diferença entre lecionar
Educação Física à noite e nos demais
turnos, manhã e tarde.
As principais respostas para a
questão foram:
P2: “A idade dos alunos da noite.
A disposição desses alunos após o
trabalho. A maturidade de alguns alunos
para a realização das atividades
propostas”.
P4: “O perfil dos alunos exige
uma adaptação de proposta curricular.
Por serem normalmente mais velhos ou
oriundos de Educação para Jovens e
Adultos e terem uma rotina mais
Falta de material e de infraestrutura. 5 25% Faltas dos alunos e roupas inadequadas 9 45% Desinteresse dos alunos e turmas muito
numerosas. 2 10%
Outros 4 20%
P á g i n a | 17
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
desgastante deixando o trabalho ou a
vida familiar, as atividades precisam ser
direcionadas para conteúdos mais
práticos e que agreguem conhecimento
que poderão ser aplicados no dia a dia
para que haja interesse. Os métodos de
avaliação também precisam ser mais
flexíveis, visto que a maioria não
obedece aos prazos ou não se interessam
em cumprir as atividades”.
P13: “Os alunos do turno
noturno, na sua maioria, trabalham, já
chegam cansados na escola e encontram-
se totalmente desinteressados para
estudarem as atividades das aulas de
Educação Física”.
P14: “No turno manhã e tarde as
aulas são 2h semanais distribuídas em 1h
teórica e 1h prática, facilitando o
trabalho no quesito conteúdo e os alunos
são mais fáceis de trabalhar já que,
nesses turnos, é obrigatório a prática da
Educação Física e no Ensino Noturno
além do desinteresse, pois muitos alunos
trabalham e chegam cansados na escola,
a Educação Física não é obrigatória
nesse turno para muitos desses alunos”.
P20: “A maioria dos alunos da
noite relatam estarem casados do dia de
trabalho e pouco demonstram interesse
em participar e os alunos do turno diurno
sempre estão interessados e dispostos”.
Realizando uma síntese das
principais respostas apontadas pelos
professores, percebemos que a maior
diferença entre ministrar aula no período
noturno está no tipo de público ao qual
se ensina, em sua maioria são alunos fora
de faixa, adultos, pais e mães de família
que trabalham o dia inteiro e quando
chega a noite ainda vão para a escola.
Sousa Júnior e Darido (2009)
relatam em seu estudo que uma das
condições para garantir que os alunos
não se distanciem e participem das aulas
é a qualidades das mesmas, fazendo um
comparativo com esse estudo, podemos
entender que apesar do cansaço dos
alunos, se aulas forem atrativas e
convidativas, prevalecendo o seu aspecto
prático, os alunos poderiam ter uma
maior disposição.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se com a pesquisa que, a
didática mais aplicada na realização da
EFE no ensino noturno são as aulas
teóricas. De fato é onde cabe ao
professor dinamizar os conteúdos devido
ao público ser composto por alunos em
idades avançadas, na maioria das vezes
atrasadas em relação aos demais
escolares de outros turnos.
P á g i n a | 18
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
Diversos obstáculos rodeiam o
quotidiano do professor de Educação
Física do ensino noturno, predomina
como uma das maiores dificuldades
encontradas pelos professores, os alunos
faltarem muito e frequentarem as aulas
sem a roupa adequada para a realização
de atividades práticas.
Independente do turno, o
professor torna-se personagem principal
em levar aos alunos uma Educação
Física escolar norteadora em princípios
éticos e morais. O fato dos alunos, em
sua grande maioria, trabalharem durante
o dia e serem os responsáveis por suas
famílias é visto pelos professores como a
principal diferença do público no
período noturno em relação aos demais
turnos.
Compreende-se a importância da
Educação Física escolar como uma
disciplina que estimula a expressividade
natural de quem a pratica, buscando
sempre que possível agregar aulas
teóricas juntamente com aulas práticas,
em que cabe ao professor optar por
ensinar nesse horário ciente de um
público diferenciado e que por esforço
pessoal buscam alcançar melhorias para
sua vida por meio da educação.
Devido à carência de pesquisas
relacionadas ao tema abordado em
questão, torna-se relevante sua
abordagem, a fim de quebrar paradigmas
no que diz respeito a EFE no EN,
buscando conhecer mais de forma
aprofundada os alunos que por inúmeros
motivos ainda buscam concluir, mesmo
que à noite, o ensino básico, professores
que se sobrecarregam e que trabalham
até três turnos, são essas questões a se
pesquisar em prol de uma educação com
prazer e respeito a todos.
REFERÊNCIAS
CAMPOS, Roberto Wagner Scherr. A prática técnico-pedagógica do professor de educação física em referência à análise da qualidade do ensino em escolas públicas de 2º grau. 1995. 160f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Motricidade Humana) Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, 1995. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. ______, Lei de Diretrizes e Bases. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. ______. Ministério da Educação. Lei nº 10.793, de 1º de dezembro de 2003. ______. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC, 1997. DARIDO, S. C., e RANGEL I. C. A. Implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
P á g i n a | 19
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
FREITAS, H. B. A importância do espaço físico e materiais pedagógicos para as aulas de Educação Física na escola pública do município de Unaí – MG . 2014. 36 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Educação Física) – Universidade de Brasília. Minas Gerais, 2014. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008. MORETTO, V. P. Planejamento: planejando a educação para o desenvolvimento de competências. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. NETO, V. S. et al. Aulas de Educação Física no ensino médio: a questão do interesse. Revista Uniplac, v. 3, n. 1, 2015. PEREIRA, R. S.; MOREIRA, E. C. A participação de alunos do ensino médio em aulas de Educação Física: algumas considerações. Revista da Educação Física/UEM. Maringá, v. 16, n. 2, p. 121-127. 2005. ROCHA, V, M,; FERNANDES, M. H. Qualidade de vida de professores do ensino fundamental: uma perspectiva para a promoção da saúde do trabalhador. Jornal Brasileiro de Psiquiatria. 2008, 57(1): 23-27. SOUZA JR, O. S.; DARIDO, S. C. Dispensas das aulas de Educação Física: apontando caminhos para minimizar os efeitos da arcaica legislação brasileira. Revista Pensar a Prática, v. 12, n. 2, 2009. VARGAS, José Eduardo Nunes. Educação Física no ensino médio noturno na região sul do Rio Grande do Sul: realidades de possibilidades. 2009. 125 f. Dissertação (Mestrado em
Educação Física) – Universidade Federal de Pelotas, Grande do Sul. 2012.
P á g i n a | 20
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 - ISSN 2238-524X
PRIMÍPARAS E O ALEITAMENTO MATERNO: BOAS PRÁTICAS DE
ENFERMAGEM NO ENFRENTAMENTO DAS DIFICULDADES
Adriana Freitas de Campos Sousa
Aluna do Curso de Enfermagem da Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
Iliana Maria de Almeida Araújo Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade Grande Fortaleza (FGF). Pesquisadora do
Grupo de Pesquisa Saúde e Qualidade de Vida do Binômio Mãe e Filho (UNIFOR/CNPq)
Karla Maria Carneiro Rolim
Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Chefe da Divisão de Pesquisa da Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Líder do Grupo de Pesquisa Saúde e Qualidade de Vida do Binômio Mãe e Filho (UNIFOR/CNPq).
Monyque Da Silva Barreto
Aluna do Curso de Enfermagem da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza RESUMO: Objetivou-se com o estudo analisar a produção científica acerca do aleitamento materno em primíparas, e as ações de enfermagem no enfrentamento das dificuldades. Revisão integrativa, coleta de dados ocorreu no período de fevereiro a abril de 2015, em artigos publicados com recorte atemporal. A técnica utilizada para obtenção dos dados foi por meio de um levantamento bibliográfico junto aos bancos de dados MEDLINE/PubMed, LILACS, SCIELO. Percebeu-se ser inegável a importância do trabalho educativo, realizado pelos enfermeiros, com as mulheres gestantes, em especial com as gestantes primigestas que por não contarem com a experiência prévia, podem estar mais sujeitas às inseguranças decorrentes do não domínio da situação. Boas práticas assistenciais baseadas no diálogo e no respeito à opinião da mulher, que considerem o contexto em que essa se insere e o saber popular, podem ser esclarecedoras da motivação para o aleitamento materno e sua manutenção pela mulher no papel de mãe. Descritores: Aleitamento Materno. Mães. Cuidados de Enfermagem. Humanização da Assistência. ABSTRACT: The objective of the study to analyze the scientific literature about breastfeeding in mothers, and nursing actions in confronting the difficulties. Integrative review collection occurred in the period from February to April 2015, in articles published with timeless clipping. The technique used to obtain the data was through a bibliographical survey with the databases MEDLINEPubMed, LILACS, SCIELO. It was noticed to be undeniable the importance of educational work, performed by nurses, with pregnant women, in particular pregnant women primigestas that by not having prior experience may be more subject to uncertainties arising from the domain not the situation. Assistance based on best practices and dialogue in respect to the opinion of women, consider the context in which this falls and popular knowledge, can be instructive of motivation for breastfeeding and its maintenance for the woman in the role of mother. Keywords: Breastfeeding. Mothers. Nursing care. Humanization of Assistance.
P á g i n a | 21
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
1 INTRODUÇÃO
O Programa de Assistência
Integral a saúde da Mulher (PAISM),
lançado no início dos anos 80 deu ênfase
aos cuidados básicos de saúde e destacou
a importância das ações educativas no
atendimento à mulher, trazendo assim, a
marca diferencial em relação a outros
programas. Segundo pesquisadores, a
dimensão educativa é, sem dúvida, um
dos aspectos mais inovadores do
PAISM, pois objetiva contribuir com o
acréscimo de informações que as
mulheres possuem sobre seu corpo e
valorizar suas experiências de vida.
Desse modo, como um dos componentes
das ações básicas de saúde, a ação
educativa deve ser desenvolvida por
todos os profissionais que integram a
equipe da unidade de saúde, estar
inserida em todas as atividades e deve
ocorrer em todo e qualquer contato entre
profissional de saúde e a clientela, com o
objetivo de levar a população a refletir
sobre a saúde, adotar práticas para sua
melhoria ou manutenção e realizar
mudanças, novos hábitos para a solução
de seus problemas [2].
Portanto, o profissional deve ser
um instrumento para que a cliente
adquira autonomia no agir, aumentando
a capacidade de enfrentar situações de
estresse, de crise e decida sobre a vida e
a saúde. E um dos momentos na vida
dessa mulher, em que ela vivencia uma
gama de sentimentos, é durante a
gravidez que, se desejada, traz alegria, se
não esperada pode gerar surpresa,
tristeza e, até mesmo, negação.
Ansiedade e dúvidas com relação às
modificações pelas quais vai passar,
sobre como está se desenvolvendo a
criança, medo do parto, de não poder
amamentar, entre outros, são também
sentimentos comuns presentes na
gestante.
A amamentação é um advento
social, influenciado por costumes e
valores mutáveis, transmitidos de
geração para geração e, portanto
ultrapassa os limites do querer, embora a
decisão materna de amamentar possa
influenciar diretamente na concretização
desse ato. O nascimento de um filho
desperta muitos sentimentos nos pais, e
ao exercer a maternidade pela primeira
vez é comum à mulher demonstrar
desconhecimento, falta de habilidade e
defronta-se com muitas tarefas para o
bem estar do recém-nascido (RN).
As orientações para as puérperas
primíparas devem ser iniciadas desde o
pré-natal, seguir no alojamento conjunto
e reforçados no momento da alta
hospitalar, momento em que o
P á g i n a | 22
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
enfermeiro tem grande oportunidade de
observar, orientar, educar e dar espaço
para a mãe expor os seus sentimentos, a
fim de evitar a ocorrência de
determinados riscos desnecessários
causados pela falta de preparo e
inabilidade e proporcionar maior
segurança e melhor desempenho nos
cuidados com o RN.
A prática não se restringe apenas
ao binômio mãe/filho, mas possui
consequências em nível de sociedade,
pois uma vez a criança adequadamente
nutrida tem-se repercussões na redução
dos índices de morbimortalidade
neonatal e infantil. Este fato está
confirmado em um estudo realizado no
sul de Nepal, quando se evidenciou que
o início precoce do aleitamento materno
entre RN em uma comunidade rural está
associado com a redução do risco de
mortalidade neonatal.
O aleitamento materno (AM) é
mundialmente considerado um dos
fatores preponderantes na promoção e
proteção da saúde das crianças. O leite
humano é o alimento mais adequado ao
RN, proporcionando seu
desenvolvimento, proteção imunológica
e estimulando o vínculo com a mãe.
Segundo pesquisadores, surgem a cada
dia novos fatos sobre os benefícios da
amamentação, não se restringindo
apenas ao período da lactação, mas
estendendo estes benefícios para a vida
adulta com repercussões na qualidade de
vida do ser humano. A relevância do AM
confirma-se no que preconizam a
Organização Mundial de Saúde (OMS),
o Fundo das Nações Unidas para a
Infância (UNICEF) e o Ministério da
Saúde (MS): AM exclusivo (AME) até
os seis meses de idade e complementado
com outros alimentos dos seis aos vinte
e quatro meses ou mais.
Embora menos conhecidos e
difundidos, merecem destaque os
benefícios do AM também para a saúde
da mãe. Evidências científicas apontam
menor risco de câncer de mama e ovário,
menores índice de fraturas de quadril por
osteoporose e contribuição para o maior
espaçamento entre gestações. Vários
fatores são determinantes do sucesso da
amamentação. Pesquisas recentes
mencionam especialmente o nível de
informação, situação socioeconômica, o
apoio recebido da família (especialmente
do pai da criança) e condições de
trabalho. Porém, a falta de informação
pode acarretar dificuldades no AM e
desconfortos para a mulher como uma
discreta dor no início das mamadas, o
que pode ser considerado normal. No
entanto, mamilos muito dolorosos e
machucados, apesar de ser um achado
P á g i n a | 23
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
muito comum, não são considerados um
fato normal e, na maioria das vezes, é
causado por má-técnica da amamentação
(posicionamento ou pega incorreta).
Este estudo visa a mostrar a
importância do cuidado de enfermagem
e das ações educativas do enfermeiro e
sua equipe no AME até os seis meses de
idade, para que seja bem sucedido,
sobretudo em mães primíparas, de forma
a amenizar suas dúvidas e dificuldades
pela falta de experiência, além das
vantagens para a criança e para a mãe,
possibilitando a diminuição das taxas de
mortalidade infantil e o desmame
precoce. Assim, diante do exposto, as
questões norteadoras que buscaremos
responder no estudo é: “Quais são os
fatores estão relacionados às
dificuldades da primípara em relação à
amamentação?” e “quais ações de
enfermagem são utilizadas no
enfrentamento dessa dificuldade?”
Diante das dificuldades observadas com
as primíparas, percebe-se a importância
do enfermeiro em promover apoio,
orientação, proteção e incentivo para o
sucesso do AM, desde o pré-natal,
salientando a importância da
amamentação exclusiva até os seis meses
de idade e os benefícios obtidos para a
mãe e para o bebê. Diante das
considerações o objetivo do estudo foi
analisar a produção científica acerca das
primíparas e o AM, e as ações de
enfermagem no enfrentamento das
dificuldades.
2 TRAÇADO METODOLÓGICO
Estudo descritivo com
abordagem qualitativa, realizada a partir
de uma pesquisa integrativa, a qual tem
por finalidade reunir e sintetizar
resultados de pesquisas sobre um
determinado tema ou questão. A revisão
integrativa é um método de revisão mais
amplo, pois permite incluir literatura
teórica e empírica bem como estudos
com diferentes abordagens
metodológicas (quantitativa e
qualitativa). Os estudos incluídos na
revisão são analisados de forma
sistemática em relação aos seus
objetivos, materiais e métodos,
permitindo que o leitor analise o
conhecimento pré-existente sobre o tema
investigado.
A coleta de dados ocorreu no
período de fevereiro a abril de 2015. A
técnica utilizada na pesquisa para
obtenção dos dados foi por meio de um
levantamento bibliográfico, com recorte
atemporal, junto aos bancos de dados
MEDLINE/PubMed, LILACS,
SCIELO, e BIREME, que
proporcionaram um amplo acesso a
P á g i n a | 24
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
periódicos e artigos científicos, a partir
dos descritores: “primíparas” or “ recém-
nascido” or “aleitamento materno” and
“mães”, utilizando os termos para
artigos publicados em inglês, espanhol
ou português. Como critérios de inclusão
para análise, foram considerados os
artigos que abordam de forma mais clara
a temática. Os artigos foram
selecionados por intermédio de seu título
e resumo.
Foram encontrados 120 artigos,
mas somente os pertinentes à revisão
foram avaliados na íntegra. Também foi
realizada uma busca manual em livros-
texto de referência e outras fontes,
visando permitir uma exposição didática
do trabalho, procurando abordar pontos
ainda não explicitados. Após uma leitura
exaustiva dos textos, foi realizada a
síntese de cada artigo e agrupado de
acordo com os temas previamente
elaborados. Os dados obtidos foram
analisados e discutidos de acordo com a
literatura pertinente.
3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
A partir de uma leitura criteriosa,
foram selecionados 27 artigos. Foram
destacados ao final do trabalho todos os
resultados obtidos para se chegar uma
determinada conclusão, de forma geral
do que foi descrito pelos artigos,
procurando por meio desse estudo
compreender as primíparas e
dificuldades relacionadas com o AM.
3.1 O Enfermeiro E As Ações
Educativas Com As Mulheres
Gestantes
O trauma mamilar é uma
importante causa de desmame e, por isso,
a sua prevenção é primordial. O
enfermeiro é o profissional que mais
estreitamente se relaciona com a mãe
neste período, portanto, deve preparar a
gestante para o aleitamento, facilitando
sua adaptação na fase puerperal,
evitando assim dúvidas, dificuldades e
possíveis complicações. É fundamental,
portanto, o trabalho e ações educativas
com as mulheres gestantes, em especial
com as gestantes primigestas que por não
contarem com a experiência prévia,
podem estar mais sujeitas às
inseguranças decorrentes do não
domínio da situação.
Através da conscientização das
mães, programas de incentivos, quebra
de tabus, treinamento de profissionais
para auxílio adequado à amamentação,
ética no marketing, dentre outros, o
perigo do desmame precoce pode ser
P á g i n a | 25
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
convertido em estímulo à amamentação,
podendo assim alcançar à meta
idealizada pela OMS. A amamentação é
uma prática natural e eficaz, um direito
inato do RN e cujo sucesso depende, em
grande parte, das experiências
vivenciadas no mundo da mulher e do
compromisso e conhecimento técnico-
científico e ético dos profissionais de
saúde envolvidos.
Neste contexto, é relevante que a
equipe de saúde conheça a realidade
familiar da mulher para discutir e
implementar a atuação de acordo com a
vivência da nutriz, não estabelecendo
ações baseadas em pressupostos e ideias
pré-concebidas. No cotidiano
assistencial, encontramos muitas
puérperas, mães pela primeira vez, que
iniciam a amamentação, mas não se
queixam de dificuldades. Entretanto,
algumas precisam de apoio, incentivo e
até mesmo de orientação, pois se sentem
inseguras diante do novo desafio de
nutrir, apresentando sentimentos
ambivalentes que associam poder,
feminilidade e medo.
Não há dúvida de que o AM é o
melhor e o mais seguro método para
alimentar lactentes. O leite materno é o
único alimento totalmente indicado para
crianças até seis meses, protegendo
contra as infecções e estabelecendo os
fundamentos básicos para um
desenvolvimento psicológico sadio. Os
países desenvolvidos há muito já
reconheceram o valor deste importante
método natural de alimentar crianças.
Nos últimos anos, muitas
atividades foram dirigidas para a
investigação da alimentação infantil, e
divulgação do AM. Segundo
pesquisadores, há alguns séculos o AM
era comercializado através das amas-de-
leite, as quais muitas vezes moravam na
casa dos nobres para poder amamentar
seus filhos, e muitas vezes essa prática
era a única forma para o seu próprio
sustento. As amas-de-leite eram
escolhidas conforme sua personalidade,
como bom caráter e dignidade, pois
acreditava-se que essas qualidades eram
transmitidas através do leite materno.
Nos últimos anos, tem-se
assistido, em muitos países,
principalmente nos países
desenvolvidos, à implementação de
ações dirigidas ao incentivo do AM. Na
verdade, trata-se de um retorno às
campanhas empreendidas, desde o
século XVIII até o início do atual, por
enfermeiros, psicólogos, médicos,
escritores e educadores, dentre outros.
De acordo com autores, inúmeras
estratégias foram elaboradas e
implementadas no Brasil, com o objetivo
P á g i n a | 26
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
de reduzir os índices de
morbimortalidade infantil através do
combate ao desmame precoce, visto que
a amamentação se transformou em um
dos principais objetos de preocupação
para os formuladores de políticas
públicas em favor da saúde da criança. É
muito importante a experiência e o
incentivo dentro da própria casa.
A mãe de uma mulher que
amamentou corretamente e teve uma
experiência positiva e agradável na
amamentação, irá incentivar a filha
quando sua hora de amamentar chegar.
Por outro lado, uma mãe que não teve
uma experiência tão boa assim, na sua
amamentação, não terá uma boa história
para contar e certamente transmitirá seus
medos e inseguranças a sua filha na hora
de amamentar, o que provavelmente
levará ao desmame precoce do bebê. A
gravidez é um momento especial na vida
da mulher, de seu parceiro e da família.
É um período de mudanças físicas e
emocionais que cada mulher vivenciará
de forma diferente. A gestação constitui
uma das experiências humanas mais
belas, e, se bem acompanhada, torna-se a
realização de um sonho para a maioria
das mulheres.
Nesse contexto, os profissionais
da área de saúde têm um difícil papel a
ser desempenhado, visto que ao mesmo
tempo em que devem respeitar a
individualidade de cada uma, devem
humanizar o atendimento à mulher, ao
RN e à família. Assim, como fator
importante na gravidez, o pré-natal é um
conjunto de medidas preventivas e
curativas que tem por objetivo
proporcionar à gestante e sua família
condições de bem estar físico, psíquico e
social, além de acompanhamento
materno/fetal.
Para alguns autores, cabe aos
profissionais da saúde identificar os
riscos e os problemas surgidos, tanto
biológicos, quanto sociais e psicológicos
das grávidas, fornecendo, assim, as
orientações adequadas para as soluções
das possíveis complicações da futura
mamãe que, deverá segui-las
corretamente. Depois dessa
argumentação, entende-se que o
enfermeiro, na qualidade de profissional
da área de saúde, tem o papel de
conscientização das mães para a
importância do aleitamento materno
exclusivo (AME), pelo menos nos
primeiros seis meses de vida do bebê,
abolindo a água, os chás e
complementos, e se possível, até o
segundo ano de vida da criança,
associando-o com alimentação adequada
para cada etapa do crescimento infantil.
P á g i n a | 27
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
O enfermeiro deve fornecer informações
claras, objetivas e coerentes sobre o AM.
No que diz respeito ao desmame
precoce, percebe-se que na maioria das
vezes são causados por problemas
mamários que, costumam ser comuns
para algumas mulheres e podem ser
solucionados com orientações durante o
pré-natal. Dentre os problemas
destacam-se o ingurgitamento mamário,
mamilos doloridos, mastite, abscesso
mamário, trabalhadoras formais, mães
adolescentes e primíparas. Durante o
pré-natal os profissionais da saúde têm
que levar em conta todos os seus
conhecimentos, práticas, experiências
pessoais e vivência social e familiar da
gestante, promovendo, dessa forma,
educação em saúde para orientação
adequada sobre o AM, garantindo a
vigilância e efetividade à mulher no pós-
parto.
O Programa Nacional de
Incentivo ao Aleitamento Materno
(PNIAM), coordenado pelo Ministério
da Saúde (MS), teve início no começo
dos anos 80, com ênfase na informação
aos profissionais de saúde e ao público
em geral, adoções de leis para proteção
da mulher no trabalho no período de
amamentação e o combate a livre
propaganda de leites artificiais para
bebês. O enfermeiro é o profissional da
saúde que mais se relaciona com a
gestante e tem o papel principal nos
programas de pré-natal. Ele é quem vai
dar as orientações sobre o AM, para
tranquilizar as futuras mães, evitando
assim, dúvidas e complicações.
O enfermeiro deverá estar
próximo durante e após o parto,
auxiliando as mães nas primeiras
mamadas do RN, de forma que o AM
seja iniciado o mais precoce possível, de
preferência imediatamente após o parto.
É, portanto, este profissional que irá
observar se a pega do bebê está correta.
Os primeiros dias após o parto são de
fundamental importância para o
aleitamento satisfatório e sem
intercorrências, pois é nessa hora que se
estabelece a relação entre a mãe e o seu
bebê.
Por essa razão é tão importante
que o enfermeiro preste a assistência
adequada à nutriz, realizando visitas
domiciliares, após a alta hospitalar;
palestras; grupos de apoio e
aconselhamento, para incentivar o AME,
visto que é nesse momento que ocorrem
as dúvidas e inseguranças da mulher em
relação ao seu filho. Cabe ao enfermeiro
transmitir e reforçar as orientações sobre
o autocuidado, o aleitamento, os
cuidados com o bebê e planejamento
familiar; como fazer a retirada do leite,
P á g i n a | 28
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
sua conservação e armazenamento, e,
dessa forma, ela possa continuar
amamentando após o fim da licença
maternidade e voltar a sua rotina de
trabalho, evitando o desmame precoce.
3.2 Gestação Primigesta
A gestação está associada a
mudanças biológicas e somáticas, mas
também psicológicas e sociais, que
influenciam a dinâmica psíquica
individual e relacional da gestante. Além
disto, a maneira como a gestante vive
estas mudanças repercute intensamente
na construção da relação mãe/bebê. As
gestantes vivenciam intensos
sentimentos em relação ao tornar-se mãe
e durante todo o período gestacional o
processo de constituição da maternidade
está em franco desenvolvimento.
Na abordagem da psicologia a
gestação é revestida de grande relevância
por representar um momento existencial
de extrema importância no ciclo vital da
mulher, a exemplo da adolescência e do
climatério, em função das perspectivas
de mudanças em seu papel social e da
necessidade de adaptações e
ajustamentos requeridos nesse processo.
A organização dos serviços do atual
modelo de assistência à saúde tende a
reduzir a assistência à maternidade ao
cuidado exclusivo com o corpo grávido
da mulher, visando, sobretudo à
vitalidade do concepto.
Logo que constatada a gravidez,
a mulher começa a ser submetida a uma
sucessão de procedimentos que se
destinam a avaliar as funções do corpo
materno, tendo em vista,
prioritariamente, a garantia das
condições vitais do feto e da criança, em
detrimento de uma assistência que
também contemple as necessidades e
expectativas manifestadas pelas
mulheres. Como transição para a
parentalidade, para grande parte das
mulheres, as mudanças e processos de
adaptação que ocorrem na gravidez
associam ao período o aumento da
sensibilidade e ansiedade.
A espécie humana é a única entre
os mamíferos em que a amamentação e o
desmame não são processos
desencadeados unicamente pelo instinto.
Por isso, eles devem ser aprendidos.
Atualmente, sobretudo nas sociedades
modernas, as mulheres têm poucas
oportunidades de obter o aprendizado
relacionado à amamentação, já que as
fontes tradicionais de aprendizado -
mulheres mais experientes da família -
foram perdidas à medida que as famílias
extensivas foram sendo substituídas
pelas famílias nucleares. Como
P á g i n a | 29
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
consequência, as mulheres tornam-se
mães com pouca ou nenhuma habilidade
em levar adiante a amamentação, o que
as deixa mais vulneráveis a apresentarem
dificuldades ao longo do processo. O
profissional de saúde tem um papel
importante na prevenção e manejo
dessas dificuldades, o que requer
conhecimentos, atitudes e habilidades
específicos.
3.3 Amamentação: Aspectos
Fisiológicos e Vantagens
A amamentação é essencial para
sobrevivência e a qualidade de vida da
criança no primeiro ano de vida, pois o
leite materno em sua composição
apresenta todos os nutrientes necessários
para o crescimento e desenvolvimento da
criança assim como a proteção contra
patologias e infecções. O Ministério da
Saúde utiliza as mesmas categorias de
AM sugeridas pela OMS, assim
definidas: Aleitamento materno
exclusivo – quando a criança recebe
somente leite materno, diretamente da
mama ou extraído, e nenhum outro
líquido ou sólido, com exceção de gotas
ou xaropes de vitaminas, minerais e / ou
medicamentos; Aleitamento materno
predominante – quando o lactente
recebe, além do leite materno, água ou
bebidas à base de água, como sucos de
frutas e chás; Aleitamento materno –
quando a criança recebe leite materno,
diretamente do seio ou extraído,
independente de estar recebendo
qualquer alimento ou líquido, incluindo
leite não humano.
O documento da OMS sobre a
estratégia global para a alimentação de
crianças enfatiza a ação conjunta de
governos, organizações internacionais,
instituições dos profissionais de saúde e
sociedade civil – que inclui ONGS e
grupos baseados na comunidade, para a
promoção à boa alimentação das
crianças.
O conjunto de ações que a mulher
executa e as decisões que ela toma em
relação a amamentar ou desmamar seu
filho, não são resultados de fatores
isolados e dependentes exclusivamente
dos conhecimentos e habilidades no
manejo da amamentação. O que
determina a ação de amamentar, sua
qualidade e duração é o significado que
a mulher atribui a essa experiência.
Significado este, determinado pela
relação percebida pela mulher, do ato de
amamentar com os símbolos
representados nos elementos de
interação vivenciados por ela em seu
contexto.
P á g i n a | 30
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
Na origem do processo de
lactação observa-se certo número de
fenômenos ditos reflexos, em resposta e
estímulos externos. A descida do leite
depende da prolactina, hormônio
secretado pela hipófise. A sucção do seio
pelo bebê estimula a produção do leite e
deve ser oportunizado o mais cedo
possível. A demora em colocar o bebê ao
seio pode, ao contrário, provocar a
involução da lactação. A própria
demanda da criança regula a quantidade
de leite secretado e conduz a
amamentação estimulando a produção
de prolactina. Consoante o pensamento
do autor, é durante a primeira hora de
vida também que o reflexo de sucção
está em seu máximo. Ele diminui
progressivamente a partir da sexta hora,
para se tornar novamente eficaz a partir
da quadragésima oitava hora. Além de
seu efeito sobre a lactação, a sucção do
seio tem ainda efeito sobre a
contratilidade uterina, fazendo diminuir
o sangramento pós-parto na mãe.
Ao analisar a composição do leite
humano, distinguem-se o colostro, o leite
de transição e o leite maduro. Cada qual
bioquimicamente adequado às
necessidades de um determinado período
de vida do lactente. Considera-se
colostro a secreção láctea que permanece
em média até o sétimo dia pós-parto, tem
alta concentração de proteína, de sódio e
de anticorpos contra bactérias e vírus;
menos gordura e açúcar quando
comparado ao leite maduro. O leite de
transição é a secreção láctea do sétimo ao
14º dia sua composição varia com o
decorrer dos dias das características do
colostro às do leite maduro. O leite
maduro é produzido após o 15º dia,
contém menos proteínas e sais minerais
e maior quantidade de açúcar e gorduras.
As vantagens do AM são, na
atualidade, amplamente difundidas e a
ciência tem contribuído para o seu
resgate como prática indispensável na
saúde materna e infantil e sua
reafirmação como estratégia
simplificada na atenção primária para a
redução da morbidade e mortalidade
infantil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o desenvolvimento do
estudo percebeu-se ser inegável a
importância do trabalho educativo,
realizado pelos enfermeiros, com as
mulheres gestantes, em especial com as
gestantes primigestas que por não
contarem com a experiência prévia,
podem estar mais sujeitas às
inseguranças decorrentes do não
domínio da situação. Contudo, as ações
P á g i n a | 31
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
educativas desenvolvidas pelos serviços
de saúde poderiam ser mais
significativas se estruturadas a partir da
identificação de necessidades do próprio
grupo a que se destina.
As ações relacionadas à
promoção do AM devem não somente
ser incentivadas, mas pensadas enquanto
estratégias que (re)conheçam o sentido
da amamentação para as mulheres e
(re)considerem a ordem de importância
das causas do desmame precoce
específicas para cada município. Com
isso, haveria uma aproximação do
profissional de saúde à realidade das
mães, o que propiciaria um cuidado mais
efetivo.
Concluí-se com a revisão
integrativa que muitos profissionais de
saúde se encontram despreparados para
lidar com o AM, por ser este um ato
cultural, social e político de múltiplas e
amplas dimensões. Além disso,
estratégias isoladas não propiciam a
extensão do AM, que só pode ser
adequadamente promovido através da
combinação de intervenções colocadas
em prática em todo ciclo gravídico-
puerperal.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, I. S. et al. AMAMENTAÇÃO PARA MÃES PRIMÍPARAS: PERSPECTIVAS E INTENCIONALIDADES DO ENFERMEIRO AO ORIENTAR. Cogitare enferm, v. vol.15 , n. no.1, enero/mar 2010. ALVES, C. R. L. et al. Fatores de risco para o desmame entre usuárias de uma unidade básica de saúde de belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, entre 1980 e 2004. Cad. Saúde Pública , v. vol.24 , n. no.6 , June 2008. ANTUNES, L. D. S. et al. Amamentação natural como fonte de prevenção em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 103, n. 109, 13(1) 2008. ARAÚJO, O. D. D. et al. Aleitamento materno: fatores que levam ao desmame precoce. Rev. bras. enferm., v. vol.61, n. no.4 , July/Aug. 2008. BRASIL. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada. Série A. Normas e Manuais Técnicos. ed. Brasília: Brasília: Ministério da Saúde, 2006. EO, K.; BOÉCIO M; MARTINS RS. O papel do enfermeiro na orientação da amamentação... Revista de Enfermagem UNIANDRADE, v. 5(8):, n. 89-94, 2009. FALEIROS, F. T. V.; TREZZA, E. M. C.; CARANDINA, L. Aleitamento materno: fatores de influência na sua decisão e duração. Rev. Nutr, v. vol.19 , n. no.5 , Sept./Oct 2006. FS, K. boasaúde, 2007. Disponivel em: <>. Acesso em: 2 fev 2015.
P á g i n a | 32
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
GIUGLIANI, E. R. J. O aleitamento materno na prática clínica. J PediatrJ Pediatr (Rio J), v. 76(Supl.3), n. :s238-s52, 2000. HERNANDEZ, J. A. E.; HUTZ, C. S. Gravidez do primeiro filho: papéis sexuais, ajustamento conjugal e emocional. Psic.: Teor. e Pesq., v. vol.24 , n. no.2 , Apr./June 2008. PENNA, L. H. G.; PROGIANTI, J. M.; CORREA, L. M. Enfermagem obstétrica no acompanhamento pré - natal. Rev. bras. enferm., v. vol.52, n. no.3, July/Sept. 1999. SONEGO, J. et al. Experiência do desmame entre mulheres de uma mesma família. Rev. esc. enferm. USP, v. vol.38 , n. no.3 São Paulo, Sept. 2004. MENDES, K. D. S.; SILVEIRA, R. C. C. P.; GALVÃO, C. M. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto contexto - enferm., v. vol.17 , n. no.4, Oct./Dec. 2008. MOURA, E. R. F.; RODRIGUES, M. S. P. Comunicação e informação em Saúde. interface - Comunic, Saúde, Educ, v. v7, n. n13, ago 2003. MULLANY, L. C. et al. Breast-Feeding Patterns, Time to Initiation, and Mortality Risk among Newborns in Southern Nepal. Breast-Feeding Patterns, Time to Initiation, and Mortality Risk among Newborns in Southern Nepal, 138, n. (3), Dec 2008. 599-603. NAKANO, A. M. S. As vivências da amamentação para um grupo de mulheres: nos limites de ser “o corpo para o filho” e de ser “o corpo para si”.. Cad. Saúde Pública, v. S355, n. S363, 19(Sup. 2) 2003.
NARCHI, N. Z. et al. Variáveis que influenciam a manutenção do aleitamento materno exclusivo. Rev Esc Enferm USP, v. 43, n. 87-90, jan. 2009. NOZAWA, M. R.; SCHOR, N. O discurso de parto de mulheres vivenciando a experiência da primeira gestação. Saúde Sociedade, v. 89, n. 119, 5(2) 1996. OLIVEIRA, A. P. R. D.; PATEL, B. N.; FONSECA, M. D. G. M. Dificuldades na amamentação entre puérperas atendidas no hospital Inácio Pinto dos Santos - HIPS, Feira de Santana/BA. Feira de Santana, 2004. Sitientibus, v. n°30, n. p.31-36, Jan/Jun 2004. PICCININI CA, E. A. Gestação e a constituição da maternidade. Psicologia em estudo, v. 63, n. 72, 13(1): 2008. POMPEO, D. A.; ROSSI, L. A.; GALVÃO, C. M. Revisão integrativa: etapa inicial do processo de validação de diagnóstico de enfermagem. Acta paul., v. vol.22, n. no.4, 2009. REA, M. F. Os benefícios da amamentação para a saúde da mulher. Jornal de Pediatria, v. 0021, n. 7557, -05-Supl 2004. SANDRE-PEREIRA, G. et al. Conhecimentos maternos sobre amamentação entre puérperas inscritas em programa de pré-natal. Cad. Saúde Pública, v. vol.16, n. n.2, Apr./June 2000. SAÚDE., M. D. Guia alimentar para crianças menores de dois anos. Série A. Normas e Manuais Técnicos n°107. ed. Brasília: Ministério da Saúde., 2002. SILVA, A. P. D.; SOUZA,. Prevalência do aleitamento materno. Rev. Nutr., v. vol.18, n. no.3, May/June 2005.
P á g i n a | 33
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
SILVA, I. A. Enfermagem e aleitamento materno: combinando práticas seculares. Rev.Esc.Enf. USP, v. v.34, n. n.4, dez. 2000.
TERRA, D. L. H.; JARDIM OKASAKI, E. D. L. F. Compreensão de puérperas primíparas sobre os cuidados domiciliares com o recém-nascido. Rev Enferm UNISA , v. 15, n. 20, jul. 2006.
P á g i n a | 34
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL DENTRO DA PERSPECTIVA DA
INCONSTITUCIONALIDADE
Alexandre Luís Ximenes Da Silva Bacharel em Direito pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza
Romana Missiane Diógenes Lima
Mestre em Direito Constitucional e professora de Direito da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza
RESUMO: A redução da maioridade penal tem repercussão imediata na ordem jurídica positivada, principalmente sobre a Constituição Federal de 1988. A inimputabilidade penal é considerada, pela maioria dos doutrinadores, como um direito fundamental inserido nas chamadas cláusulas pétreas, previsto no artigo 60, § 4º, IV, em consonância a uma interpretação sistêmica do artigo 1°, III combinado com o art. 228, todos da Lei Maior. Conquanto presente essa interpretação implícita sobre a impossibilidade de rebaixamento da idade penal, tramitam na Câmara dos Deputados e do Senado Federal propostas de emendas à Constituição objetivando a incidência do Código de Penal e de Processo Penal aos maiores de dezesseis e menores de dezoito anos, numa clara subtração do princípio da dignidade da pessoa em condição peculiar de desenvolvimento físico, intelectual, moral, etc. O artigo pretende apontar soluções contra a supressão desse direito fundamental. Quanto à metodologia, procedeu-se a uma pesquisa bibliográfica e documental. PALAVRAS-CHAVE: Princípio da dignidade da pessoa humana. Redução da maioridade penal. Inconstitucionalidade.
ABSTRACT: The reduction of the legal age has rebound in immediate legal order positively valued, mainly about the Federal Constitution of 1988. The criminal unaccountability and considered by most scholars, as a fundamental right inserted called entrenchment clauses provided for in article 60, § 4, IV, in line one a systemic interpretation of article 1º, III combined with art. 228, all of the Largest Law. While present this implied interpretation on the impossibility of stopping the criminal age, proceed through the house of representatives proposed amendments to Constitution aiming at the impact of the Penal Code and Criminal Procedure to people who´s more sixteen years, in clear subtraction of the person's dignity in principle peculiar condition of physical development, intellectual, moral, etc. The article intends to point solutions against suppression of this fundamental right. As for methodology, it was proceeded to a bibliographic and documentary research. KEYWORDS: Principle of human dignity. Reduction of legal age. Unconstitutionality.
P á g i n a | 35
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
1 INTRODUÇÃO
Alguns anos se passaram desde
a introdução da Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) 171 de 1993, tendo
como objetivo alterar o texto do artigo
228 da Constituição Federal de 1988,
com o intuito de modificar a
imputabilidade penal, para alcançar
pessoas menores de dezoito anos,
praticantes de condutas penalmente
ilícitas.
Em razão dessa proposição,
muitos debates jurídicos se agigantam
entorno da problemática, ressurgindo em
ciclos, sempre que condutas altamente
gravosas são cometidas pelos chamados
menores infratores e repercutidas
exaustivamente pelos meios midiáticos,
numa tentativa de se criar uma sensação
de ineficácia do Estado no combate da
criminalidade. Chega-se a estimular que
a resposta estatal mais rápida no controle
da violência crescente seja pela
exacerbação do sistema repressivo. Por
esse viés, critica-se, com veemência, o
Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) que, aparentemente, já não
responde de forma adequada no
contingenciamento dos chamados
delinquentes precoces.
Partindo das premissas acima
ventiladas, foi feita uma inquirição
pertinente à possiblidade de modificar a
maioridade penal e se isso desembarcaria
numa constitucionalidade.
Indubitavelmente, rasgar-se-ia a
Constituição se a tese da redução
prosperasse, justamente porque a
inimputabilidade penal dos menores de
dezoito anos protege a dignidade da
criança e do adolescente, vetor basilar da
ordem constitucional vigente.
Desdobrando-se a pesquisa,
confirma-se que o objetivo geral pela
escolha da tese da inconstitucionalidade,
em caso de êxito nas casas legislativas,
seja a redefiniçao da moldura
constitucional da imputabilidade,
justamente por atacar um direito
fundamental individual dos menores,
portanto, um direito pétreo.
No que concerne aos objetivos
específicos da pesquisa, listou-se uma
serie de argumentos jurídicos favoráveis
e contrários à antecipação da maioridade
penal, e posicionou-se pelo contrário a
redução; criticou-se o debate entorno da
matéria no que tange às casas legislativas
federais, apontando-se algumas
irregularidades no processo
constitucional de elaboração do diploma
legislativo referente à alteração da
inimputabilidade, e refutou-se o
argumento de que a redefiniçao da
P á g i n a | 36
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
maioridade implicaria na redução da
violência.
Justifica-se a escolha do tema
pela carga valorativa intensa que se
deflui quando uma questão tão sensível
entra na pauta de discussões legislativas
e também em função da sensação de
impunidade que se estalou no Brasil,
fazendo-se acreditar, que somente pelo
tratamento mais duro aos menores
infratores seria uma solução efetiva em
um curto prazo para solucionar a
problemática da criminalidade.
Atualmente, embora seja uma
proposta iniciada em 1993, a PEC 171
representa a ferramenta mais próxima no
que diz s respeito da reformulação da
idade penal, em que se propõe a redução
da maioridade dos 18 anos para 16 anos.
No bojo dessa medida, existe toda a sorte
de argumentos contrários e favoráveis
discutindo a constitucionalidade ou
inconstitucionalidade da redução como a
efetividade da medida de força no
combate da criminalidade.
Em relação ao referencial
teórico, o primeiro subcapítulo revela
que já houve no Brasil, em vários
momentos do ordenamento, regra que
delimitava a idade penal, que a depender
do período de regência e dos valores da
época, era bastante modulável.
Atualmente, são inimputáveis os
menores de dezoito anos, como confirma
a Constituição da República Federativa
do Brasil (CRFB) de 1988, o Decreto-
Lei (CP) nº 2.848, de 7 de dezembro de
1940 e o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA).
O segundo subcapítulo refere-
se aos princípios constitucionais da
dignidade da pessoa humana e da
prioridade absoluta da proteção integral
do menor, inclusive, servindo de
anteparo jurídico impeditivo da atuação
legislativa de modificação da maioridade
penal.
Por fim, o cerne da pesquisa
enceta-se em refutar os argumentos
favoráveis à redução da maioridade, por
que afastam a referência constitucional
interpretativa que demarca a questão da
idade penal como um direito individual
fundamental pétreo, insuscetível de
modificação por emendas
constitucionais. Sendo assim, estaria
eivada de inconstitucionalidade a
tramitação da PEC da maioridade penal
no Congresso Nacional.
2 METODOLOGIA
O arcabouço metodológico
desenvolveu-se sobre a hipótese
confirmada que, qualquer tentativa de
P á g i n a | 37
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
modificação do artigo 228 da
Constituição Federal de 1988 restará
infrutífera, porque o que se defende no
dispositivo é uma cláusula pétrea, e
nenhum instrumento normativo do
ordenamento jurídico brasileiro tem o
condão de remodelar a imputabilidade
para os maiores de 16 anos.
Além do mais, qualquer outro
argumento periférico que tente justificar
a alteração da idade penal, com a
finalidade de a mudança ser um melhor
controle social das condutas lesivas
altamente reprovadas, é criar uma ideia
falaciosa que basta mudar a lei, que se
mudará a realidade violenta atual.
Nesse prisma, as hipóteses
foram investigadas através de pesquisa
bibliográfica, das lavras de renomados
doutrinadores nacionais, tais como
Fernando Galvão, Karyna Batista
Sposato, Paulo Henrique Aranda Fuller,
Guilherme Madeira Dezem, Flávio
Martins Alves Nunes Junior, mediante a
literatura já publicada em forma de
livros, publicações avulsas, documentos
e até disponibilizada na Internet, por
meio de leis, enfim, matérias diretamente
ligadas ao ramo jurídico denominado
maioridade penal.
A tipologia da pesquisa,
segundo a utilização do resultado, é pura,
tendo por finalidade aumentar o
conhecimento do pesquisador para uma
nova tomada de posição no que diz
respeito aos aspectos inconstitucionais
concernentes à redução da
inimputabilidade penal.
Quanto à abordagem, é
qualitativa, posto que não se eleja um
critério numérico, e sim uma maior
compreensão dos fatores jurídicos e
sociais que giram em torno da
simbologia exagerada no direito
punitivo. No que tange aos objetivos da
pesquisa, ela é descritiva e exploratória.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Estudar a inimputabilidade
penal é debruçar-se sobre um plexo de
princípios e regras que gravitam em
torno da condição peculiar das crianças e
do adolescente que visam protege-los
com intuito que estes alcancem uma
proteção integral de seus direitos e
desenvolvam suas potencialidades,
mediante o apoio de uma legislação que
os valorizem como seres humanos.
Nesse diapasão, o princípio
constitucional da dignidade da pessoa
humana representa o postulado
necessário para que o legislador, ao
confeccionar leis ou ao intérprete, ao
aplica-las, não se esqueçam de que os
P á g i n a | 38
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
menores, ainda que cometam
comportamentos desviantes, merecem
um tratamento especial desses atores
sociais com fim de resgate da condição
humana desses indivíduos e sua
reinserção na sociedade, recuperados.
Fuller, Dezem e Nunes Junior
(2012, p. 32 e 33) apontam a
envergadura do supra princípio da
dignidade humana, sendo as crianças e
os adolescentes igualmente considerados
sujeitos de direitos e merecedores de
proteção especial pelo Estado, pela
sociedade e pela família, para
preservarem a integridade física, moral e
espiritual e fomentem o atingimento
pleno de suas potencialidades:
A dignidade da pessoa humana, como fundamento do Estado Democrá- tico de Direito, está prevista no art. 1.°, III, da CE Significa, no dizer de Ingo Wolfgang Sarlet, que se trata "da própria condição humana (e, portanto, do valor intrínseco reconhecido às pessoas no âmbito das suas relações intersubjetivas) do ser humano, e desta condição e de seu reconhecimento e proteção pela ordem jurídico-constitucional decorre de um complexo de posições. jurídicas fundamentais" (Ingo Wolfgang Sarlet, Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988, p. 147). Reconhecer a dignidade da pessoa humana implica em que se tome o indivíduo como centro de inúmeras potencialidades, e, assim, não pode ser "coisificado", tem valor superior às coisas.
A alteração da idade penal
corresponde a uma tentativa do Estado
de não tratar o problema da delinquência
juvenil pelo expediente adequado.
Combater os efeitos sem ponderar uma
solução para as causas, além de ser
inócuo, ainda fere o direito fundamental
dos menores de serem julgados por
processo diferenciado dos adultos.
Evidente que a Proposta de
Emenda à Constituição que tramita no
Congresso Nacional, não deve prosperar
porque fulminará um dos fundamentos
da CRFB/88, que elege o postulado da
dignidade humana como norte a
obstaculizar a modulação da idade penal
e introdução do adolescente no
deteriorado sistema penitenciário
brasileiro.
Assim, Souza May (2015, on
line, paginação irregular), consigna o
malferimento da ordem constitucional e
legal se proposta da maioridade vingar
nos moldes de sua atual tramitação:
Outrossim, a PEC da maioridade penal infringe o princípio da dignidade da pessoa humana, que oportunizou à Constituição Federal trazer o homem, enquanto pessoa, para o centro de todos os princípios e direitos fundamentais. Alterar a Constituição, diminuindo a maioridade para “alguns” adolescentes de 16 anos e 17 anos, colocando-os no sistema criminal, fere profundamente o princípio da
P á g i n a | 39
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
dignidade da pessoa humana, o que fica nítido, principalmente, quando ponderado que já existe uma legislação especial que prevê responsabilização A TODOS OS ADOLESCENTES ATÈ 18 ANOS, com observância de seu estágio de desenvolvimento, fase de profundas transformações, personalidade, estrutura psicológica, etc. (grifo do autor)
Outra mudança de perspectiva,
trazida pela CRFB/88, e repetida pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente,
trata-se do princípio insculpido no artigo
art. 227, que traça uma obrigatoriedade
imposta à sociedade, à família e ao
Estado quanto ao dever de promover
com prioridade absoluta à proteção
integral desses seres em condição
peculiar de desenvolvimento.
A reprodução do princípio da
proteção integral que substituiu a teoria
da situação irregular do menor encontra
guarida na Lei nº 8.069, de 13 de julho
de 1990, especificamente no art. 4° do
referido diploma legal. Segundo Vilas-
Bôas (2011, on line, paginação irregular)
também enfoca na família como
caminho a ser fortalecido para contribuir
na formação de jovens saudáveis e
cumpridores da ordem jurídica e social:
No art. 4º da Lei 8.069/90 temos que é dever da família, comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Sabemos que o problema da criança e do adolescente, antes de estar centradas neles, encontra-se centrado na família. Assim, a família deve ser fortalecida. E com isso acontecendo os seus membros menores não serão privados da assistência que lhes é devida.
Na hermenêutica
constitucional, qualquer instrumento
normativo em vigência ou em processo
de elaboração, que contrarie a CF/88 do
ponto de vista formal ou material, é
considerado ato normativo “natimorto”,
porquanto na configuração interpretativa
atual a Constituição de 1988 representa a
norma suprema de fundamentação de
todo o ordenamento brasileiro.
Apesar de sua função de validar
qualquer espécie normativa, o
dispositivo 228 da CF/88 é motivo de
acaloradas discussões doutrinárias, em
que de um lado, se sustenta o argumento
que é perfeitamente possível modificar a
estrutura do artigo sem incorrer em
nenhuma espécie de vicio de
inconstitucionalidade e, de outro turno,
os defendentes afirmam pela
impossibilidade de discussão de norma
estabelecedora de uma cláusula pétrea.
Galvão (2013, p. 442) insiste
em afirmar que o que está protegido é o
P á g i n a | 40
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
limite de idade para o indivíduo
responder criminalmente, e não a
cristalização da inimputabilidade aos
menores de dezoito anos, propondo
inclusive, a possibilidade de alteração da
idade penal sem que se configure quebra
de cláusula pétrea constitucional.
No outro lado da análise
constitucional da maioridade penal, o
ponto fulcral na defesa de permanecerem
inimputáveis os menores de 18 anos,
calca-se na ideia que tal norma
representa um direito individual desses
seres em formação, e, em consequência
desse fato, a idade penal não pode sofrer
qualquer tipo de alteração, haja vista
assumir a face de um direito de pedra,
insculpido na norma do artigo 60, § 4º,
IV da Constituição Federal de 1988. O
manto da imutabilidade protege esse
direito etário.
Assim, constatam-se
manifestações que interpretam o
dispositivo 228 da CF/88 como direito
individual, mesmo estando fora do rol do
artigo 5º, isso significa, em outras
palavras, que os indivíduos absoluta e
relativamente incapazes, que cometem
atos desviantes, têm o direito de serem
submetidos a uma legislação especial e
não ao Código Penal, blindando a idade
penal de qualquer interferência da
atividade legiferante.
Andrade (2013, on line,
paginação irregular) foi feliz em seu
argumento, ao considerar o artigo 228 da
CF/88, como matéria pertinente ao
direito pétreo constitucional.
Moreira (2014, on line, p. 7)
desenvolveu a ideia da imutabilidade que
envolve o rebaixamento da idade penal,
criticando, inclusive, a movimentação
das casas legislativas nas tentativas de
alteração do regramento constitucional.
Depois de anos de debate na
Câmara dos Deputados acerca da
imputabilidade penal, a PEC da
maioridade penal ganhou um novo sopro
de vida. Numa manobra regimental
inédita, no que atine ao processo
constitucional de produção legislativa, a
proposta de emenda à Constituição que
fora rejeitada no primeiro turno de
votação, foi alterada em apenas alguns
pontos e reapresentada em um segundo
turno pela Comissão Especial
responsável pelo trato da matéria em
questão.
Detalhando parcialmente o
evento, o que houve foi que, em um
primeiro momento, foi rejeitado o
substitutivo proposto pela Comissão
P á g i n a | 41
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
Especial, e em um intervalo recorde de
24h, reapresentou-se outro substitutivo,
que foi aprovado pela mesma Comissão,
retirando partes da proposta anterior
apenas alguns crimes.
Substancialmente, nada foi
alterado. O argumento sustentado pelo
parecer do novo substitutivo diz que, ao
promover a supressão de crimes de
tortura, terrorismo, lesão corporal grave,
tráfico de drogas e roubo qualificado,
automaticamente, uma nova matéria foi
apresentada diferente da anterior,
possibilitando uma nova votação,
inclusive, com êxito desse texto alterado.
Com bastante propriedade,
Gamil Föppel El Hireche e Alan Siraisi
Fonseca (2015, on line, paginação
irregular) repudiam a falta de técnica na
produção de normas tão nobres que
alteram a roupagem constitucional,
profundamente, defendendo o
argumento da mácula insuperável da
inconstitucionalidade formal do parecer
substitutivo aprovado, em segundo
turno, pela Comissão Especial e enviado
ao Senado Federal:
Em primeiro lugar, pela própria questão formal da votação: apenas um dia antes, em 30 de junho de 2015, a mesmíssima Casa Legislativa rejeitou proposta substancialmente idêntica, referente ao substitutivo proposto pela Comissão Especial, cuja única
mudança em relação ao texto aprovado é a previsão contida naquele de responsabilização penal do menor de idade também quanto aos crimes de tortura, terrorismo, lesão corporal grave, tráfico de drogas e roubo qualificado. Vê-se, portanto, sem muitas dificuldades, que a proposta recusada engloba a que foi posteriormente aprovada, tão-somente 24 horas depois. Trata-se, com efeito, de violação a expresso comando constitucional previsto no artigo 60, parágrafo 5°, que é induvidoso ao consignar: “A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa”. Pois bem. A Câmara dos Deputados rejeitou a proposta de alteração constitucional e, sob o argumento da supressão dos crimes de tortura, terrorismo, lesão corporal grave, tráfico de drogas e roubo qualificado, que não desnaturam o fato de a Casa Legislativa também ter rejeitado as demais previsões que foram mantidas na posterior emenda aglutinativa, deliberou por realizar nova votação, em que a Proposta de Emenda Constitucional foi aprovada. É dizer, a emenda aprovada não apresenta qualquer inovação e simplesmente aproveita matéria rejeitada.
Neste trabalho, posiciona-se
pela argumentação contrária daqueles
que defendem ser possível a modificação
da idade penal. Como já fora
mencionado, tal direito é considerado
individual, embora esteja fora do rol dos
direitos e garantias individuais do
dispositivo 5º da Constituição Federal de
1988.
Afinal, a própria fórmula do §
2º do artigo 5º prescreve que “os direitos
P á g i n a | 42
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
e garantias expressos nesta Constituição
não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados,
ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja
parte”.
Em outras palavras, os menores
de dezoito anos têm um direito
individual, portanto, pétreo, de não
serem submetidos ao processo criminal
comum, porque existe o Estatuto da
Criança e Adolescente como a lei de
regências de seus atos infracionais, não
podendo o instituto da maioridade penal
sofre interferência do Poder Legislativo.
Vale ainda acrescer que, se o
processo de tramitação continuar da
forma como atualmente está posto, em
algum momento, o guardião da
Constituição Federal de 1988, que é o
Supremo Tribunal Federal, será
provocado a se manifestar, a fim de
reprimir um instrumento normativo
eivado pelo vício formal da
inconstitucionalidade.
Diante dos dados coletados da
pesquisa bibliográfica elaborada, parte-
se da falsa premissa que somente pela
redução da maioridade penal haverá
necessariamente a diminuição dos
índices de criminalidade.
O fato é que, toda vez que um
adolescente comete um ato infracional
grave, como homicídio, estupro ou
roubo, se ganha esse ato um sobrepeso
midiático da espetacularização que induz
a sociedade aterrorizada a clamar por
uma resposta mais ágil do Estado
punidor.
Evidentemente, alguns
parlamentares, sabedores dessa sensação
de impunidade e o clima de terror
explorado pelos meios de informação
quanto à segurança pública, aproveitam
a oportunidade para alcançar seus fins
eleitorais, e passam a retratar que a
solução imediata de controle da
criminalidade crescente, repousando na
ideia de que somente com
endurecimento da ordem jurídica vigente
dos menores infratores haverá de ser a
ferramenta de controle social mais eficaz
no enfrentamento da violência
desproporcional.
Observar o fenômeno por uma
ótica reducionista, desprezando outros
vetores de contextualização social, como
a educação, oportunidade de empregos,
entre outros, só demonstra total falta de
interesse em resolver, ontologicamente,
o problema da criminalidade infanto-
juvenil. Esquecem que focar somente nas
consequências e deslembrar as causas é
P á g i n a | 43
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
tratar um tema sensível de forma
inadequada e sem uma perspectiva de
uma solução em longo prazo.
Em virtude desse quadro de
suplantar interesses privativos de
perpetuação nos cargos eletivos, muitos
parlamentares esquecem que vige uma
Constituição Federal, protetora dos
direitos e garantias individuais,
catalizadoras dos chamados direitos
pétreos e a idade penal, por ser um
direito dessa envergadura, não pode
servir de joguetes políticos.
CONCLUSÃO
Conquanto polêmicas as
diretrizes jurídicas deflagradoras dos
posicionamentos doutrinários, é de suma
importância levar em consideração o
encaixe na sistemática do ordenamento
jurídico brasileiro, que até o presente
momento considera a idade penal de
dezoito anos uma questão de direito
pétreo, logo insuscetível de modificação
no plano legislativo.
Respeitando todas as opiniões
em contrário, não se pode olvidar que o
arcabouço jurídico-penal brasileiro foi
estruturado para absorver as condutas
ilícitas, antijurídicas e culpáveis dos
maiores de dezoitos anos. A realidade
carcerária hodierna também não permite,
como simples ato de mágica, a
introdução de menores infratores, devido
à gritante falta de estrutura para absorver
mais uma camada de indivíduos nos
presídios brasileiros.
Outro dado importante, que
vale refletir, refere-se às pessoas que
estejam na faixa entre doze e dezoito
anos de idade, pois respondem pelos atos
lesivos cometidos contra a sociedade.
Elas receberão uma sanção de natureza
especial, chamada de medidas
socioeducativas para os comportamentos
mais graves.
Malgrado a existência de um
arcabouço jurídico constitucional posto,
uma corrente doutrinária vem ganhando
corpo e voz entre os parlamentares que
defendem a bandeira da redução legal da
maioridade penal como única medida
eficaz de subjugar o fenômeno social das
condutas altamente lesivas à sociedade.
Destarte, essa pesquisa defende
que, pela forma como está tramitando a
PEC 171/93, desemborcará num
desvirtuamento grave da Lei Maior, no
plano procedimental, pois ao
desconsiderar a prescrição constitucional
de proibição de propostas de emendas
rejeitadas, na mesma sessão legislativa,
taxada estará de um vício formal.
P á g i n a | 44
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
Possivelmente, caso ultrapasse
o controle de constitucionalidade prévio,
futuramente será abortado do
ordenamento pelo Poder Judiciário, no
exercício do controle difuso ou
concentrado de proteção constitucional.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Luís Fernando de. A impossibilidade da redução da maioridade penal no Brasil. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 109, fev 2013. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12825 > Acesso em 27 de Fevereiro de 2016. BRASIL. Constituição Federal Brasileira de 5 de outubro de 1998. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em 27 de Fevereiro de 2016. _______. Lei nº 8.069, de 13 de Julho de 1990. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm>. Acesso em 06 de Maio de 2016. FONSECA, Alan Siraisi; HIRECHE, Gamil Föppel El. Sem Fundamentos: 171 é a PEC que reduz a maioridade penal e gera a frustração de garantias. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2015-jul-07/pec-171-reduz-maioridade-penal-gera-frustracao garantias> Acesso em 28 de Fevereiro de 2016.
FULLER, Paulo Henrique Aranda; DEZEM, Guilherme Madeira; NUNES JUNIOR, Flávio Martins Alves. Difuso e coletivo: estatuto da criança e adolescente. 2. Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012. GALVÃO, Fernando. Direito penal: parte geral. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. MOREIRA, Carine. A inconstitucionalidade da redução da maioridade penal. Disponível em: < http://www.emerj.tjrj.jus.br/paginas/trabalhos_conclusao/1semestre2014/trabalhos_12014/CarineMoreira.pdf >. Acesso em 27de Fevereiro de 2016. SOUZA MAY, Brigitte Remor de. PEC da maioridade penal versus princípios constitucionais e estatutários. Disponível em: < http://emporiododireito.com.br/pec-da-maioridade-penal-versus-principios-constitucionais-e-estatutarios-por-brigitte-remor-de-souza-may/ >. Acesso em 05 de Maio de 2016. SPOSATO, Karyna Batista. Direito penal de adolescentes: elementos para uma teoria garantista. São Paulo: Saraiva, 2013. VILAS-BÔAS, Renata Malta. A doutrina da proteção integral e os Princípios Norteadores do Direito da Infância e Juventude. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 94, nov 2011. Disponível em: < http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10588&revista_caderno=12>. Acesso em 06 de Maio 2016.
P á g i n a | 45
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
O RETRATO DE DORIAN GRAY: UM ROMANCE SIMBOLISTA
Luiz Alexandre Ramos da Silva Licenciado em Letras pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza
Maria Coeli Saraiva Rodrigues
Doutora em Linguística pela Universidade Federal do Ceará e Coordenadora do Grupo de Pesquisa Analisis (FGF)
RESUMO: O presente trabalho tem o objetivo de analisar o livro O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde como uma obra simbolista. Pois, se justifica pelo fato de os livros paradidáticos e algumas editoras não divulgarem a obra como romance simbolista. Para isso, será feito uma analise na obra com o objetivo de encontrar características centrais da estética simbolista como: individualismo, hermetismo, hedonismo, sugestão, símbolo e outras. Também serão abordadas características predominantes da estética do Romantismo, mas que foram aprofundadas pelo Simbolismo como: egocentrismo, subjetivismo, idealização da mulher e isolamento. Com isso, poderá se traçar as diferenças estéticas entre um romance romântico e um romance simbolista para poder se julgar adequadamente O Retrato de Dorian Gray como romance simbolista.
Palavras-Chave: O Retrato de Dorian Gray; Romance; Simbolista.
ABSTRACT: The present work aims to analyze the book The Picture of Dorian Gray by Oscar Wilde as a symbolist novel. It is justified by the fact of textbooks and a few publishers don't disclose the literary work as symbolist novel. For this, an analysis will be made in the literary work to find central features of the Symbolism as: individualism, hermetism, hedonism, suggestion and the symbol. The predominant characteristics will also be discussed of the Romanticism, but which were deepened by the Symbolism as: egocentrism, subjectivism, idealization of women and isolation. With this, you can trace the aesthetic differences between a romantic novel and a symbolist novel to be able to judge properly The Picture of Dorian Gray as Symbolist novel.
Keywords: The Picture of Dorian Gray; Novel; Symbolist.
P á g i n a | 46
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
1 INTRODUÇÃO
A escola literária que marcou o
final do século XIX nas duas últimas
décadas foi o Simbolismo que fazia
frente ao Realismo, Naturalismo e
Parnasianismo. Sua estética nasceu na
França através de Charles Baudelaire e
depois divulgada para outros países
como: Inglaterra, Alemanha, Áustria,
Itália, Rússia, Espanha, Portugal, Cuba,
Brasil, Chile, Argentina e outros.
Essa estética de hermetismo é
extremamente requintada, por isso seus
escritores foram chamados de a
aristocracia da aristocracia (SODRÉ,
1997). Pois, eles se isolavam do resto da
sociedade mantendo vínculos apenas
com os artistas e intelectuais em geral.
Como foi citado, anteriormente, na
Inglaterra também se divulgou o
Simbolismo e o Irlandês Oscar Wilde
herdou suas características já que viveu a
maior parte de sua vida na Inglaterra.
O presente trabalho tem o
objetivo de analisar O Retrato de Dorian
Gray de Oscar Wilde como uma obra
simbolista, pois se justifica pelo fato de
prosas como, os romances simbolistas
terem sidos deixados de lado, ou seja,
ignorados pela maioria da crítica e
esquecidos no tempo; já que os livros
paradidáticos e algumas editoras como a
Landmark e Abril Cultural não divulgam
a obra como sendo romance simbolista e
sim como apenas um romance
romântico. O que nos remete a pensar
que pertenceria a estética do
Romantismo. O que é errado. Pois, a
outra justificativa para o artigo
científico, é que a prosa ou a narrativa era
o principal gênero literário da escola
simbolista segundo o crítico e teórico
Wilson Martins (1991).
Dessa forma, pretende-se
analisar O Retrato de Dorian Gray como
um romance dentro da estética
simbolista através das características do
movimento como: sugestão, o símbolo,
individualismo, hermetismo, hedonismo
e entre outras que fazem parte do gênero
do movimento. Também serão usadas
características que fazem parte da
estética do romantismo, mas que foram
intensificadas e modificadas pela escola
simbolista. Com isso, poder-se-á avaliar
o gênero do romance para saber a que
escola literária a obra pertence sem cair
em erros de comodismo de várias
editoras e de críticos que não deram a
devida importância a essa obra pelo fato
de estarem presos a uma sociedade
P á g i n a | 47
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
puritana e moralizante como foi à
Inglaterra do século XIX.
2 ROMANTISMO E SIMBOLISMO
Duas das escolas literárias que
marcaram o século XIX foram o
Romantismo e o Simbolismo, a primeira
na metade do século a segunda nas duas
últimas décadas trazendo uma grande
riqueza cultural para a sociedade.
O Romantismo no Brasil foi
dividido em três fases: a primeira fase
Nacionalista, a segunda ultrarromântica,
e a terceira Condoreira, enquanto o
Romantismo Frances não foi dividido.
Nessa pesquisa serão abordadas as
características da segunda fase do
Romantismo Inglês que é a mesma que
influenciou o Romantismo Frances e a
segunda fase do Romantismo Brasileiro.
O Ultrarromantismo tem outros
nomes como: Byronismo e Mal do
Século. Seus escritores foram chamados
de byronianos devido à influência do
escritor inglês Lord Byron que
praticamente fundou o
Ultrarromantismo. Suas características
são: egocentrismo, subjetivismo,
isolamento, idealização da mulher. Seus
precursores foram Lord Byron, Percy
Bysshe Shelley e Mary Shelley.
Já o Simbolismo no começo de
sua aparição era chamado de
Decadentismo, pois era formado por um
grupo de intelectuais chamados de
poetas decadentes, pois resgatavam
certos valores ultrarromânticos devido a
sua estética fundamentada em valores
espirituais e formada em um clima de
desilusões. Suas características são:
retorno da subjetividade por meio do
símbolo, sugestão, radicalização do
isolamento que se torna hermetismo,
individualismo, hedonismo, pessimismo,
idealismo entre outras. Seus precursores
foram o norte-americano Edgar Allan
Poe e os franceses Charles Baudelaire e
Stéphane Mallarmé que influenciaram os
ingleses Walter Pater, Arthur Symons e
Oscar Wilde. Pois, esses ingleses
chegaram até a frequentar a casa do
professor Mallarmé na França.
Nesse artigo se abordará a
questão do retorno da subjetividade por
meio do símbolo, que é uma das
características centrais do Simbolismo.
Para isso, se usará a citação do prefácio
da obra O Retrato de Dorian Gray de
Wilde que é: “[...] Toda arte por si é
superfície e símbolo. Aqueles que vão
além da superfície o fazem sob seu
próprio risco. Aqueles que desvendam o
P á g i n a | 48
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
símbolo o fazem sob seu próprio risco.”
(2012, p. 13-14). Aqui fica claro o uso do
símbolo possível pela retomada do
subjetivismo, porém mais radicalizado
do que no Ultrarromantismo, pois está
em uma forma de plurissignifacado onde
o autor fala de arte em geral, da sua obra
e também pode se inferir ao retrato do
protagonista Dorian Gray. O Wilde
também fala em desvendar o símbolo,
pois segundo Gomes (1994, p. 30, grifo
do autor):
Concebendo o símbolo como um "disfarce das idéias" [sic], os simbolistas pretendiam encontrar as perfeitas correspondências entre o mundo sensível e o mundo abstrato. Desse modo, o símbolo deixa de ser apenas uma palavra ou uma coisa significando outra; mais que isso, é uma palavra ou um conjunto de palavras que serve para evocar um estado de espírito indefinido e cuja tradução jamais é imediata.
Dessa forma, visa-se deixar
evidente que teve uma retomada do
subjetivismo de forma radicalizada por
meio do símbolo e que o símbolo é uma
característica simbolista encontrada
dentro do romance O Retrato de Dorian
Gray.
Nessa mesma linha de
pensamento será abordada a
característica sugestão. Para isso, se
usará um trecho do romance de Wilde
(2012, p. 22, grifo do autor):
“Basil, isso é deveras maravilhoso! Eu preciso ver Dorian Gray”. Hallward levantou-se e caminhou a esmo pelo jardim. Depois de algum tempo retornou. “Você não compreende, Harry”, ele disse. “Dorian Gray, para mim é somente um tema dentro da arte. Ele nunca está mais presente em meu trabalho do que quando nenhuma imagem dele está lá. Ele é simplesmente uma sugestão, como eu disse, de um novo método. Eu o vejo nas curvas de certas linhas, nas graças e nas sutilezas de determinadas cores. Isso é tudo”.
Uma das principais diferenças
entre os dois estilos literários é objetivar o
subjetivo, que é uma característica própria
do Simbolismo, que consiste segundo
Mallarmé (apud WILSON, 2004, p. 44):
“[...] adivinhar pouco a pouco; sugeri-lo,
evocá-lo – isto é o que encanta a
imaginação.”, para mostrar um estado de
alma ou escolher um objeto e extrair dele um
estado de alma. E isso é feito nesse trecho,
quando a personagem Basil afirma que o
Dorian é uma sugestão que influencia sua
arte apenas como imagem praticamente o
fazendo de objeto e extraindo dele um estado
de alma. Pois justificado por Gomes (1994,
p. 62-63, grifo do autor):
[...] Sugestão: como a evocação, a sugestão foi bastante praticada pelos simbolistas, que procuravam, através dela, uma forma indireta de dizer as coisas. É o que Mallarmé propõe, ao fazer referência ao procedimento alusivo, neste fragmento: “penso ser preciso [...] que haja somente alusão”.
P á g i n a | 49
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
Assim, pretende-se deixar
evidente que o romance de Wilde
apresenta a característica da sugestão
simbolista.
Abordaremos mais uma
característica simbolista dentro da obra
de Wilde, o hermetismo. Para isso, se
abordará outro trecho do romance. Pois,
segundo afirmação da personagem Basil
“[...] Eu não queria nenhuma influência
externa em minha vida.” (WILDE, 2012,
p. 19). Aqui fica visível que o
personagem não queria apenas se isolar
fisicamente e emocionalmente como um
simples romântico, mas que, além disso,
ele queria isolar suas ideias de criação
sobre arte para não sofrer influência de
outra consciência. Conforme Sodré
(1997, p. 445): “[...] E o seu
distanciamento do meio, dos seus
motivos e dos seus problemas, é ponto
pacífico. O distanciamento, aliás, estava
até no que ouve de mais característico no
simbolismo de origem, aquele que
forneceu o modelo”. Esse
distanciamento que Sodré fala é
justamente o hermetismo. Pois, também
conforme Moisés (2003, p. 210): “Agora
os simbolista se voltam para dentro de si
à procura de zonas mais profundas,
iniciando uma viagem interior de
imprevisíveis resultados”. Isso é o
hermetismo feito para alcançar uma arte
livre de influências.
Com isso, visa-se deixar
evidente mais uma característica
simbolista no livro O Retrato de Dorian
Gray.
Também poderá se analisar que
o individualismo radical do Simbolismo
acaba ultrapassando o egocentrismo do
Byronismo. Já que nesse trecho da obra
a personagem Harry diz: “[...] O
verdadeiro problema do casamento é que
ele elimina o egoísmo de alguém.”
(WILDE, 2012, p. 49). Aqui é visível
que para o simbolista era uma péssima
ideia um homem anular seu ego ou sua
vontade em prol da mulher. Sendo assim,
o individualismo chega ao grau mais
elevado e exagerado do que no
Byronismo. Porque conforme Afrânio
Coutinho (1969, p. 8-9):
O simbolismo foi assim uma forma de espírito romântico, sob certos aspectos uma sua continuação, um Romantismo indireto e extremado, tanto quanto ele fugindo do mundo exterior por acreditar que só é real aquilo que é refletido pela consciência individual. Destarte, para o simbolista o que importa são os estados de alma e destes somente os que podem ser reconhecidos - os seus próprios.
Portanto, pretende-se analisar o
extremado individualismo na obra O
Retrato de Dorian Gray para classificá-
lo como uma característica simbolista.
P á g i n a | 50
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
O Hedonismo é outra
característica a ser analisada. Pois, é
encontrado no trecho do romance de
Wilde (2012, p. 39):
[...] Eu tinha uma paixão pelas sensações. Uma noite, perto das sete horas, decidi sair em busca de alguma aventura. Senti que esta cinza e monstruosa Londres, com sua miríade de pessoas, seus pecadores esplêndidos e seus sórdidos pecados, como você bem disse uma vez, tinha alguma coisa guardada para mim. Imaginei mil coisas. O mero perigo me dava uma sensação de prazer.
Pois, conforme Hauser (1998,
p. 930): “[...] Seu sensualismo e
hedonismo, seu propósito de gozar a vida
e deixar-se arrebatar por ela, de fazer de
cada hora da vida uma experiência
inesquecível e insubstituível, adquirem
freqüentemente [sic] um caráter anti-
social [sic] e amoral”. Assim, esse
caráter antissocial com propósito de
gozar a vida é a filosofia hedonista que
se encontra no trecho do romance. Pois,
é perceptível que o protagonista Dorian
Gray demonstra um caráter antissocial
quando adjetiva pecadores de
esplêndidos visando buscar prazeres
para gozar a vida.
Com isso, tem-se o objetivo de
deixar evidente mais uma característica
simbolista no livro O Retrato de Dorian
Gray.
O outro ponto a ser abordado no
artigo é o pessimismo, pois os
byronianos não acreditavam na
superação das desigualdades sociais e os
simbolistas presumiam que a decadência
da sociedade era algo inerente ao ser
humano (HAUSER, 1998). O
pessimismo de Basil pela sociedade é
visível neste trecho do romance: “[...]
Com um paletó de noite e uma gravata
branca, como você me disse uma vez,
qualquer um, até um corretor de valores,
pode ganhar reputação de ser civilizado.”
(WILDE, 2012, p. 18). Aqui Wilde
mostra que sua personagem Basil
acredita que a desigualdade social é algo
inerente, ou seja, algo característico do
ser humano. Por isso, seu comentário à
personagem Harry se referindo a um
costume da sociedade se faz de forma
comum e com desprezo. Com isso,
pretende-se deixar perceptível que o
pessimismo na obra é de caráter
simbolista, porque se revela de forma
sutilmente irônica, porém mais
resignado do que os ultrarromânticos.
O idealismo é a penúltima
característica a ser analisada, pois o
Simbolismo a herdou também.
Conforme a personagem Basil “[...] A
harmonia do corpo e da alma - quanto há
disso! Nós, em nossa loucura, separamos
os dois e inventamos um realismo que é
P á g i n a | 51
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
bestial, um idealismo que é vazio.”
(WILDE, 2012, p.22). Note que nesse
trecho do romance o autor deixa
explícito o descontentamento da
personagem Basil com o idealismo de
sua época. Pois nessa passagem Basil
acusa o pensamento da sociedade de
realismo bestial pelo fato de sua
sociedade está presa a um racionalismo
positivista; já que o racionalismo teria
resposta para tudo na metade do século
XIX até chegar às duas últimas décadas,
quando os simbolistas começaram a
discordar (GOMES, 1994). Basil no
fragmento do romance de Wilde também
deixa claro que acredita em uma
harmonia entre corpo e alma. Diferente
do pensamento da sua sociedade que
separa corpo e alma e valoriza mais o
corpo se esquecendo dos valores
espirituais. Novamente conforme Gomes
(1994, p. 13-14):
[...] De fato, a estética simbolista tem íntima relação com a romântica, ou ainda a estética simbolista tem raízes dentro do movimento romântico, a começar que aquele movimento recupera o idealismo, o espiritualismo deste. Não é à toa que muitos simbolistas passam a criticar o Realismo, [...].
Conforme pode se notar, o
idealismo da personagem Basil tem raiz
no romantismo por resgatar o valor
espiritual da alma. Entretanto, é
percebido que Basil fala em harmonia do
corpo e da alma. E é fato que a harmonia
não é valorizada pelos Byronianos,
porque ao escreverem suas obras
exageravam em seu sentimentalismo. Já
os simbolistas buscaram mais equilíbrio
em suas emoções. Pois, mais uma vez
conforme Gomes (1994, p.18):
Com base no que vimos até agora, verifica-se que o Simbolismo aproveita do Romantismo algumas características fundamentais, como o senso do mistério, o espiritualismo, mas rejeita o sentimentalismo, as manifestações subjetivas exageradas e, sobretudo, as manifestações poéticas grandiloqüentes [sic]. Devido a isso, o Simbolismo implicará uma revolução poética em relação ao movimento romântico, na medida em que aprofundará alguns aspectos desse movimento e, por conseqüência [sic], não cairá nas armadilhas das emoções superficiais. [...].
Dessa forma, pretende-se deixar
visível que o idealismo estético da obra
de Wilde é caracteristicamente
simbolista.
A idealização da mulher que os
byronianos e os simbolistas também
abordaram é a última característica a ser
tratada no romance. Ela é nítida quando
o protagonista Dorian dialoga com
Harry:
[...] Já a vi em todas as épocas e em cada moda. As mulheres comuns não atraem a imaginação de alguém. Estão limitadas ao seu século. Nenhum encanto as transfigura. Conhece-se
P á g i n a | 52
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
suas mentes tão facilmente quanto se conhecem suas toucas. Sempre se podem encontrá-las. Não há mistério em nenhuma delas. Elas cavalgam no Parque pelas manhãs e fofocam durante o chá à tarde. Elas têm seu sorriso estereotipado e seus modos em voga. São muito óbvias. Mas uma atriz! Como uma atriz é diferente! Por que você não me disse que a única que vale a pena amar é uma atriz?” “Porque já amei muitas delas, Dorian”. (WILDE, 2012, p. 41, grifo do autor)
Nesse trecho é perceptível que
a idealização da mulher está entrelaçada
com a arte, porque até quando ele vai
amar uma mulher o herói simbolista tem
seu sentimento subordinado à arte. Pois,
Dorian se apaixona por uma atriz.
Característica que não era regra para os
ultrarromânticos. Já para os simbolistas
amar vai está subordinado à arte. Pois,
conforme Hauser (1998, p.910):
[...] Mas supera o romantismo; não só renuncia à vida por amor à arte mas busca na própria arte a justificação da vida. Considera o mundo da arte a única compensação verdadeira para os desapontamentos da vida, a genuína realização e consumação de uma existência intrinsecamente incompleta e inarticulada.
Hauser deixa clara a
importância da arte para o simbolista. E
por meio disso se pode entender o
motivo dos simbolistas se apaixonarem
por atrizes e deles colocarem nas suas
obras seus protagonistas para amarem
atrizes. Desse modo, pretende-se deixar
explícito que esta idealização da mulher
tem característica simbolista no romance
O Retrato de Dorian Gray.
Depois de analisadas todas
essas características se tem o objetivo de
classificar O Retrato de Dorian Gray de
Oscar Wilde como um romance
simbolista.
3 SUBJETIVISMO E SÍMBOLO
A questão do retorno da
subjetividade por meio do símbolo, que
é uma das características centrais do
Simbolismo, é nítida no prefácio que é
um tratado de arte da obra O Retrato de
Dorian Gray de Wilde no seguinte
trecho: “[...] Toda arte por si é superfície
e símbolo. Aqueles que vão além da
superfície o fazem sob seu próprio risco.
Aqueles que desvendam o símbolo o
fazem sob seu próprio risco.” (2012, p.
13-14). Aqui fica claro o uso do símbolo
possível pela retomada do subjetivismo,
porém mais radicalizado do que no
Ultrarromantismo. Porque está em uma
forma de plurissignifacado onde o autor
fala de várias coisas tais como: arte em
geral, da sua obra e também pode se
inferir ao retrato do protagonista Dorian
Gray pintado pela personagem Basil
Hallward. Porque, o retrato é usado
como símbolo que é uma das principais
P á g i n a | 53
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
bases da escola simbolista. Portanto, o
centro da obra vai girar em torno do
símbolo: que é o quadro e o protagonista
ao mesmo tempo, já que os dois estão
fundidos de uma forma que fica difícil
afirmar se o símbolo é o quadro ou o
protagonista. Porque, o quadro
envelhece e fica apodrecido como carne,
enquanto o corpo do protagonista Dorian
Gray fica sempre jovem. Entretanto o
quadro é a representação da sua alma,
pois cada pecado cometido resulta no
envelhecimento e apodrecimento do
quadro, que logo é percebido pelo
próprio Dorian ao olhar seu retrato.
Assim sendo, como o quadro pode ser a
representação da alma se mostra a
imagem de corpo envelhecido e podre?
Essa é uma relação de dualismo do
quadro que lembra a do Dorian que está
sempre dividido entre o prazer e o que é
correto moralmente. Logo, pode se dizer
que este símbolo é de difícil tradução ou
intraduzível como o que Baudelaire e os
outros simbolistas usavam, por causa do
seu plurissignifacado. Tendo em vista
isso, o autor Wilde também fala em
desvendar o símbolo, pois de acordo com
Gomes (1994, p. 30, grifo do autor):
Concebendo o símbolo como um "disfarce das idéias" [sic], os simbolistas pretendiam encontrar as perfeitas correspondências entre o mundo sensível e o mundo abstrato. Desse modo, o símbolo deixa de ser
apenas uma palavra ou uma coisa significando outra; mais que isso, é uma palavra ou um conjunto de palavras que serve para evocar um estado de espírito indefinido e cuja tradução jamais é imediata.
Dessa forma é evidente que teve
uma retomada do subjetivismo de forma
radicalizada por meio do símbolo usado
pelos simbolistas e que o símbolo é uma
característica puramente simbolista
encontrada dentro do romance O Retrato
de Dorian Gray.
4 SUGESTÃO
A característica sugestão é
visível no trecho do romance de Wilde
(2012, p. 22, grifo do autor):
“Basil, isso é deveras maravilhoso! Eu preciso ver Dorian Gray”. Hallward levantou-se e caminhou a esmo pelo jardim. Depois de algum tempo retornou. “Você não compreende, Harry”, ele disse. “Dorian Gray, para mim é somente um tema dentro da arte. Ele nunca está mais presente em meu trabalho do que quando nenhuma imagem dele está lá. Ele é simplesmente uma sugestão, como eu disse, de um novo método. Eu o vejo nas curvas de certas linhas, nas graças e nas sutilezas de determinadas cores. Isso é tudo”.
Aqui é notável que uma das
principais diferenças entre os dois estilos
literários é objetivar o subjetivo, que é
uma característica própria do
Simbolismo, que consiste segundo
Mallarmé (apud WILSON, 2004, p. 44):
“[...] adivinhar pouco a pouco; sugeri-lo,
P á g i n a | 54
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
evocá-lo – isto é o que encanta a
imaginação.”, para mostrar um estado de
alma ou escolher um objeto e extrair dele
um estado de alma. E isso é feito nesse
trecho, quando a personagem Basil
afirma que o Dorian é uma sugestão que
influencia sua arte apenas como imagem
praticamente extraindo dele um estado
de alma e o fazendo de objeto quando
menciona que o vê “[...] nas curvas de
certas linhas, nas graças e nas sutilezas
de determinadas cores.” (WILDE, 2012,
p. 22). Pois justificado por Gomes (1994,
p. 62-63, grifo do autor):
[...] Sugestão: como a evocação, a sugestão foi bastante praticada pelos simbolistas, que procuravam, através dela, uma forma indireta de dizer as coisas. É o que Mallarmé propõe, ao fazer referência ao procedimento alusivo, neste fragmento: “penso ser preciso [...] que haja somente alusão”.
No caso do Byronismo se faz de
um estado de alma um objeto. Assim
sendo, é evidente que o romance de
Wilde apresenta a característica da
sugestão simbolista.
5 HERMETISMO
Pode-se dizer que tanto o
Ultrarromantismo como o Simbolismo
tem alguns pontos em comuns tais como
o subjetivismo e o isolamento. Por isso,
abordar-se-á mais uma característica
simbolista que tem base romântica
dentro da obra de Wilde, o hermetismo.
Para isso será usado outro trecho do
romance. Pois, segundo afirmação da
personagem Basil “[...] Eu não queria
nenhuma influência externa em minha
vida.” (WILDE, 2012, p. 19). Aqui fica
visível que a personagem não queria
apenas se isolar fisicamente e
emocionalmente como um simples
romântico, mas que, além disso, ele
queria isolar suas ideias de criação sobre
arte para não sofrer influência de outra
consciência e estado de alma que não
fosse o dele próprio. Pois, de acordo com
Sodré (1997, p. 455): “[...] E o seu
distanciamento do meio, dos seus
motivos e dos seus problemas, é ponto
pacífico. O distanciamento, aliás, estava
até no que houve de mais característico
no simbolismo de origem, aquele que
forneceu o modelo”. Esse
distanciamento que Sodré fala é
justamente o hermetismo que faz com
que o simbolista se feche em si mesmo
se distanciando da sociedade.
Pois, também conforme Moisés
(2003, p. 210): “Agora os simbolista se
voltam para dentro de si à procura de
zonas mais profundas, iniciando uma
viagem interior de imprevisíveis
resultados”. Isso é o hermetismo feito
para alcançar uma arte livre de
influências.
P á g i n a | 55
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
Com isso, fica evidente mais
uma característica simbolista no livro O
Retrato de Dorian Gray.
6 INDIVIDUALISMO
Também pode se observar que o
individualismo radical do Simbolismo
acaba ultrapassando o egocentrismo do
Byronismo. Já que nesse trecho da obra
a personagem Harry diz: “[...] O
verdadeiro problema do casamento é que
ele elimina o egoísmo de alguém.”
(WILDE, 2012, p. 49). Aqui é visível
que para o simbolista era uma péssima
ideia de um homem anular seu ego ou
sua vontade em prol da mulher. Sendo
assim, o individualismo chega ao grau
mais elevado e exagerado do que no
Byronismo. Porque, conforme Afrânio
Coutinho (1969, p. 8-9):
[...] O simbolismo foi assim uma forma de espírito romântico, sob certos aspectos uma sua continuação, um Romantismo indireto e extremado, tanto quanto ele fugindo do mundo exterior por acreditar que só é real aquilo que é refletido pela consciência individual. Destarte, para o simbolista o que importa são os estados de alma e destes somente os que podem ser reconhecidos - os seus próprios.
Portanto, o extremado
individualismo na obra O Retrato de
Dorian Gray é mais uma característica
simbolista.
7 HEDONISMO
Os prazeres sempre estiveram
ligados à boêmia romântica pelo gosto da
bebida alcoólica e do sexo com as
prostitutas. Mas, é com os Decadentes
Ingleses que esses prazeres vão se tornar
uma filosofia de vida chamada
hedonismo. Pois, conforme Hauser
(1998, p. 930): “[...] Seu sensualismo e
hedonismo, seu propósito de gozar a vida
e deixar-se arrebatar por ela, de fazer de
cada hora da vida uma experiência
inesquecível e insubstituível, adquirem
freqüentemente [sic] um caráter anti-
social [sic] e amoral”. Assim, esse
caráter antissocial com propósito de
gozar a vida é a filosofia hedonista que
se encontra neste trecho do romance:
[...] Eu tinha uma paixão pelas sensações. Uma noite, perto das sete horas, decidi sair em busca de alguma aventura. Senti que esta cinza e monstruosa Londres, com sua miríade de pessoas, seus pecadores esplêndidos e seus sórdidos pecados, como você bem disse uma vez, tinha alguma coisa guardada para mim. Imaginei mil coisas. O mero perigo me dava uma sensação de prazer. (WILDE, 2012, p. 39).
Assim, é perceptível que o
protagonista Dorian Gray demonstra um
caráter antissocial quando adjetiva
pecadores de esplêndidos visando buscar
prazeres para gozar a vida. Portanto, fica
evidente no romance O Retrato de
P á g i n a | 56
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
Dorian Gray o hedonismo da estética
simbolista.
8 PESSIMISMO
O outro ponto é o pessimismo,
pois os byronianos não acreditavam na
superação das desigualdades sociais e os
simbolistas presumiam que a decadência
da sociedade era algo inerente ao ser
humano (HAUSER, 1998). Neste trecho
do romance é notório o pessimismo de
Basil pela sociedade: “[...] Com um
paletó de noite e uma gravata branca,
como você me disse uma vez, qualquer
um, até um corretor de valores, pode
ganhar reputação de ser civilizado.”
(WILDE, 2012, p. 18). Aqui Wilde
mostra que sua personagem Basil
acredita que a desigualdade social é algo
inerente, ou seja, algo característico do
ser humano. Por isso, seu comentário à
personagem Harry referente a um
costume da sociedade se faz de forma
comum e com desprezo quando ele
especifica que: “[...] qualquer um, até um
corretor de valores, pode ganhar
reputação de ser civilizado.” (WILDE,
2012, p. 18). Logo, é perceptível o
pessimismo de caráter simbolista, pois
revela-se de forma sutilmente irônica,
porém mais resignado do que os
ultrarromânticos.
9 IDEALISMO
O idealismo é uma das
características mais importantes do
Ultrarromantismo e é claro que o
Simbolismo a herdou. Pois Segundo a
personagem Basil “[...] A harmonia do
corpo e da alma - quanto há disso! Nós,
em nossa loucura, separamos os dois e
inventamos um realismo que é bestial,
um idealismo que é vazio.” (WILDE,
2012, p.22). Note que nesse trecho do
romance o autor deixa explícito o
descontentamento da personagem Basil
com o idealismo de sua época que por
coincidência ou não é a mesma do autor.
Pois nessa passagem Basil acusa o
pensamento da sociedade de realismo
bestial pelo fato de sua sociedade está
presa a um racionalismo positivista, já
que o racionalismo teria resposta para
tudo. Pois conforme Gomes (1994, p. 8):
[...] O progresso industrial, que trouxe inegáveis benefícios à humanidade, tem seu paralelo numa concepção científica e materialista das coisas, que procurava explicar o sentido do universo quase que exclusivamente através da razão. Durante a vigência da Revolução Industrial surge, portanto, uma geração de intelectuais que despreza a metafísica, em nome do conhecimento experimental da realidade. O mais importante deles foi Auguste Comte, criador do Positivismo, teoria científica, baseada na sociologia, que defendia a aproximação positiva, objetiva da realidade.
P á g i n a | 57
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
Basil no fragmento do romance
de Wilde também deixa claro que
acredita em uma harmonia entre corpo e
alma. Diferente do pensamento da sua
sociedade que separa corpo e alma e
valoriza mais o corpo, ou seja, a matéria
se esquecendo dos valores espirituais.
Novamente conforme Gomes (1994, p.
13-14):
[...] De fato, a estética simbolista tem íntima relação com a romântica, ou ainda a estética simbolista tem raízes dentro do movimento romântico, a começar que aquele movimento recupera o idealismo, o espiritualismo deste. Não é à toa que muitos simbolistas passam a criticar o Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo, porque esses movimentos negavam o sentido de mistério, muito caro aos românticos e aos simbolistas.
Conforme pode se notar, o
idealismo da personagem Basil tem raiz
no romantismo. Logo, é uma
característica vinda do Ultrarromantismo
por resgatar o valor espiritual da alma e
do corpo. Entretanto, é percebido que
Basil fala em harmonia do corpo e da
alma. E é fato que a harmonia não é
valorizada pelos Byronianos, porque ao
escreverem obras exageravam em seu
sentimentalismo. Já os simbolistas
buscaram mais equilíbrio em suas
emoções. Pois, mais uma vez conforme
Gomes (1994, p.18, grifo do autor):
Com base no que vimos até agora, verifica-se que o Simbolismo aproveita do Romantismo algumas características fundamentais, como o senso do mistério, o espiritualismo, mas rejeita o sentimentalismo, as manifestações subjetivas exageradas e, sobretudo, as manifestações poéticas grandiloqüentes [sic]. Devido a isso, o Simbolismo implicará uma revolução poética em relação ao movimento romântico, na medida em que aprofundará alguns aspectos desse movimento e, por conseqüência [sic], não cairá nas armadilhas das emoções superficiais. Mas, para tanto, será necessário que reinvente a metáfora poética, através da prática do que se convencionou chamar de "símbolo".
Dessa forma é visível que o
idealismo estético da obra de Wilde é
caracteristicamente simbolista.
10 IDEALIZAÇÃO DA MULHER
A última característica a ser
tratada no romance O Retrato de Dorian
Gray é a idealização da mulher que os
byronianos e os simbolistas também
abordaram. Isso é explícito quando a
personagem Dorian dialoga com o
protagonista Harry:
[...] Já a vi em todas as épocas e em cada moda. As mulheres comuns não atraem a imaginação de alguém. Estão limitadas ao seu século. Nenhum encanto as transfigura. Conhece-se suas mentes tão facilmente quanto se conhecem suas toucas. Sempre se podem encontrá-las. Não há mistério em nenhuma delas. Elas cavalgam no Parque pelas manhãs e fofocam durante o chá à tarde. Elas têm seu sorriso estereotipado e seus modos em voga. São muito óbvias. Mas uma atriz! Como uma atriz é diferente! Por que você não me disse que a única que vale a pena amar é uma atriz?”
P á g i n a | 58
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
“Porque já amei muitas delas, Dorian”. (WILDE, 2012, p. 41, grifo do autor)
Portanto, nesse trecho é
perceptível que a idealização da mulher
está entrelaçada com a arte, porque até na
hora de amar uma mulher o herói
simbolista tem seu sentimento
subordinado a arte. Pois, Dorian se
apaixona por uma atriz e diz que a única
que vale a pena amar é uma atriz.
Característica que não era regra para os
ultrarromânticos. Para os simbolistas
amar vai está subordinado à arte. Pois, de
acordo com Hauser (1998, p.910):
[...] Mas supera o romantismo; não só renuncia à vida por amor à arte mas busca na própria arte a justificação da vida. Considera o mundo da arte a única compensação verdadeira para os desapontamentos da vida, a genuína realização e consumação de uma existência intrinsecamente incompleta e inarticulada.
Hauser deixa clara a
importância da arte para o simbolista. E
por meio disso se pode entender o
motivo dos simbolistas se apaixonarem
por atrizes e deles colocarem nas suas
obras seus protagonistas para amarem
atrizes como: o caso do herói Dorian
Gray e sua amada atriz Sybil Vane no
romance de Wilde. Desse modo, fica
explícito que esta idealização da mulher
tem característica simbolista no romance
O Retrato de Dorian Gray.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Depois, dessa análise feita
sobre O Retrato de Dorian Gray na visão
ultrarromântica e simbolista; pode-se
dizer que a obra é um romance
simbolista. Pois, foi encontrada a
característica do símbolo que traz o
retorno da subjetividade de forma
radicalizada no plurissignifacado da
palavra fazendo do objeto um estado de
espírito indefinido como é a relação do
quadro com o protagonista.
Além disso, a sugestão é outra
característica que consiste em ir
adivinhado pouco a pouco, sugerir para
mostrar um estado de alma ou escolher
um objeto e extrair dele um estado de
alma. Ela é encontrada na obra quando a
personagem Basil diz para Harry que
Dorian: é apenas uma sugestão que
influencia sua arte apenas como imagem.
Desse modo extrai dele um estado de
alma e o faz de objeto quando menciona
que o vê nas curvas de certas linhas.
Assim sendo, é uma característica
simbolista encontrada no romance de
Wilde.
Mais uma característica tratada
foi o hermetismo do simbolista que
supera o isolamento do ultrarromântico
quando a personagem pintor Basil diz
que não queria nenhuma influência
P á g i n a | 59
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
externa em sua vida. Com isso, é visível
que a personagem não queria apenas se
isolar fisicamente e emocionalmente
como um simples romântico. Mas que,
além disso, ele queria isolar suas ideias
de criação sobre arte para não sofrer
influência de outra consciência há não
ser a própria. Dessa maneira, é mais uma
característica simbolista encontrada no
romance.
Também foi tratado o
individualismo do simbolista que é
explícito quando a personagem Harry diz
que o problema do casamento é que ele
elimina o egoísmo de alguém. Isso
mostra que para o simbolista anular seu
ego ou sua vontade em prol da mulher
não é bom. Além disso, mostra também
que o individualismo simbolista é um
grau mais elevado do que o egocentrismo
do Byronismo. Portanto, é mais uma
característica simbolista encontrada no
romance.
Outra característica é o
hedonismo que foi encontrado no trecho
do romance. Onde é perceptível que o
protagonista Dorian demonstra um
caráter hedonista quando adjetiva
pecadores de esplêndidos visando buscar
prazeres para gozar a vida. Portanto, fica
evidente no romance mais uma
característica simbolista.
Mais uma característica é o
pessimismo que Wilde mostra em sua
personagem Basil que acredita que a
desigualdade social é algo inerente, ou
seja, algo característico do ser humano.
Por isso, seu comentário à personagem
Harry referente a um costume da
sociedade se faz de forma comum e com
desprezo. Portanto, é perceptível o
pessimismo de caráter simbolista, pois se
revela de forma sutilmente irônica,
porém mais resignado do que os
ultrarromânticos.
A penúltima é o idealismo que
conforme pôde se notar tem raiz no
romantismo. No entanto, foi analisado
que o idealismo da harmonia entre alma
e corpo não é valorizado pelos
ultrarromânticos, porque ao escreverem
exageravam em seu sentimentalismo. Já
os simbolistas buscaram equilíbrio em
suas emoções idealizando o controle da
harmonia do corpo e da alma.
A última característica é a
idealização da mulher, onde em um
trecho do romance o protagonista Dorian
deixa explícito que está amando uma
atriz. Portanto, fica mais perceptível que
a idealização da mulher está entrelaçada
com a arte, quando ele diz que uma atriz
é a única mulher que vale apena amar.
Isso mostra que ele tem seu sentimento
subordinado a arte; já que ele ama uma
P á g i n a | 60
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
mulher que está sempre fazendo arte.
Assim, esta é uma característica
simbolista no romance.
Dessa forma, essas
características simbolistas ficaram
provadas que fazem parte do romance O
Retrato de Dorian Gray; e por isso, pode
se dizer que é um romance simbolista e
não romance ultrarromântico ou
romance romântico como algumas
editoras deixam aparentar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COUTINHO, Afrânio. A Literatura no Brasil: Era realista. 2. ed. Rio de Janeiro: Sul Americana, V.IV. 1979. GOMES, Álvaro Cardoso. O Simbolismo. São Paulo: Ática, 1994.
HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura . Trad. de Álvaro Cabral. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. MARTINS, Wilson. Pontos de Vista: crítica literária. São Paulo: T.A. Queiroz, V.5.1991. MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa. 32. ed. São Paulo: Cultrix, 2003. SODRÉ, Nelson Werneck. História da Literatura Brasileira : seus fundamentos econômicos. 4. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997. WILSON, Edmund. O Castelo de Axel: estudo sobre a literatura imaginativa de 1870 a 1930. Trad. José Paulo Paes. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2004. WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray. Trad. Marcella Furtado. São Paulo: Landmark, 2012.
P á g i n a | 61
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
O AMBIENTE LINGUÍSTICO FAMILIAR NO PROCESSO DE ACESSO À
COMPLEXIDADE GRAMATICAL PELA CRIANÇA
Wilson Gonçalves da Cunha
Graduando em Letras pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza
Antenor Teixeira de Almeida Junior Doutor em Linguística pela Universidade Federal do Ceará
RESUMO: O presente estudo visa analisar a relação do ambiente linguístico familiar e a aquisição da linguagem por crianças a partir dos três anos de idade. Utilizamos como pressuposto teórico para nossa pesquisa os trabalhos de Kail (2013) e Bortoni-Ricardo (2004). Segundo Chomsky, a criança já nasce com o conhecimento inato da gramática universal (GU), e o processo da interação adulto-criança vai ser muito importante para o acesso à complexidade gramatical. Por isso consideramos importante a compreensão das interações comunicativas da criança no seu desenvolvimento e a influência da fala materna no ambiente linguístico familiar. A pesquisa foi estruturada através do método qualitativo, com o registro de entrevistas não estruturadas, realizadas com 10 mães de alunos matriculados na Escola Sebastião Bezerra dos Santos, uma escola situada na cidade de Caucaia, município do Ceará. Para a avaliação dos dados, foi adotado o método de análise de conteúdo (BARDIN, 1977), categorizando as informações de acordo com os objetivos da pesquisa. Verificamos que as mães, principalmente aquelas cujos filhos não têm sucesso na escola, se acham impotentes em ajudar os filhos, colocando a responsabilidade do êxito no professor. Algumas definem o sucesso dos seus filhos à família e à escola. O resultado desse trabalho apresentou que a família, principalmente os pais, são pessoas que por conviverem diretamente com a criança podem exercer um papel decisivo no desenvolvimento gramatical. “Partindo da linguagem dirigida à criança, ela vai extrair modelos e construir sua própria língua”, esse processo de exposição segundo (AIRMAD: 1998. P. 92) chama de “banho de linguagem”. Palavras - chave: Linguagem. Interação. Família. Desenvolvimento.
ABSTRACT: The following study aims to analyze the relationship between linguistic family environment and language acquisition by children as young as three years old. The theoretical assumption for our research works of Kail (2013) and Bortoni-Ricardo (2004). According to Chomsky, the child is born with innate knowledge of universal grammar (UG), and the adult-child interaction process will be very important for access to grammatical complexity. Therefore we consider it important to understand the communicative interactions of the child in its development and the influence of maternal speech and familiar linguistic environment. The research was structured through qualitative methods with the registration of unstructured interviews with 10 mothers of students enrolled in the School Sebastião Bezerra dos Santos, a school in the city of Caucaia, Ceará municipality. For the evaluation of the data was adopted content analysis method (Bardin, 1977), categorizing the information according to the research objectives. We found that mothers, especially those whose children do not succeed in school, find themselves powerless to help the children, placing the responsibility of success on teacher. Some define the success of their children family and school. The result of this study showed that the family, especially parents, are persons who live together directly with the child may play a decisive role in the grammar development. "From the language directed at children, they will extract models and build your own language," this process of exposure, second (AIRMAD: 1998. Pg 92) calls "language bath". Keywords: Language. Interaction. Family. Development.
P á g i n a | 62
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
1 INTRODUÇÃO
Uma das formas de comunicação
das pessoas é pelo uso organizado das
palavras. O acesso ocorre a partir da
influência da fala materna e do meio no
processo comunicacional da criança com
o ambiente linguístico. Essa interação
familiar e social pode delimitar o
desenvolvimento dela em relação à
linguagem e o acesso à complexidade
gramatical. A interação adulto-criança
envolvendo aspectos biológicos junto
com os processos sociais são fatores que
a criança adquiri na sua primeira
linguagem, por isso a relação no seu
ambiente linguístico familiar pode ser
fundamental no desenvolvimento de
suas habilidades linguísticas.
Porém, segundo os inatistas, essa
participação do adulto como interlocutor
poderia prejudicar o desenvolvimento
gramatical da criança, pois a fala dos
adultos apresentada às crianças muito
cedo é mal formada, limitada e contém
hesitações (KAIL, 2013). Essa crítica
partiu principalmente de Chomsky
(1973), segundo ele, a linguagem teria
origem do mecanismo inato.
Para alguns psicolinguísticos,
citando a afirmação inicial de Chomsky
(1973), a forma como os pais interagem
com seus filhos leva em conta fatores
sociais, comunicativos e culturais. Sendo
a mãe o elemento familiar que mais
convive com o filho, poderia existir
grande influência na delimitação ao
acesso à gramática, e isso futuramente
seria evidenciado no desenvolvimento
escolar. Então, se existe o argumento
essencial chamado “Argumento de
pobreza do estímulo”, o input fornecido
à criança pelo ambiente linguístico seria
muito incompleto e inconsciente para
determinar o acesso à complexidade
gramatical. Além de que as raras
correções dos adultos aos erros da
criança não permitiriam explicar o
desempenho alcançado (KAIL, 2013),
O estudo das relações entre o
ambiente familiar e o desempenho
escolar tornou-se um tema de discussão
entre vários pesquisadores da área
educacional (POLONIA e DESSEN,
2005). Esses estudos levaram a algumas
polêmicas no Brasil na década de 70,
entre elas a ideia de que crianças
provenientes de famílias de baixo nível
socioeconômico e cultural seriam a
principal causa do péssimo desempenho
escolar, foram estudadas pela Psicologia.
No entanto, a partir da década de 80, esse
estereótipo tem sofrido várias críticas
pelos estudiosos da antropologia,
P á g i n a | 63
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
linguística e psicologia escolar, que teve
nos trabalhos de Patto (1990; 1997) uma
das principais representações. Outros
fatores podem influenciar a
aprendizagem de uma criança, dentre
eles podemos destacar variáveis da
escola, da própria criança, o ambiente
familiar linguístico no qual a mãe
interage com a criança e o ambiente
social.
Outros fatores podem influenciar a
aprendizagem de uma criança, dentre
eles pode-se destacar variáveis da escola,
da própria criança, o ambiente familiar
linguístico no qual a mãe interage com a
criança e o ambiente social.
Consideras-se nesse trabalho que é
fundamental a ligação entre a escola e a
família para o desenvolvimento
linguístico da criança. Não basta apenas
passar a responsabilidade do
aprendizado ao professor, a criança,
mesmo com a construção da própria
língua, precisa da interação no seu
ambiente familiar e social. As práticas
familiares podem incidir num bom
rendimento escolar da criança, mas é
preciso que os pais e a família, que
passam a maior parte do tempo com a
criança, demonstrem interesse pelas
atividades e pelos conteúdos escolares.
É no ambiente familiar que a
criança pode se sentir protegida diante
dos riscos que pode afetar o seu
desenvolvimento. Muitas crianças
convivem com a fragilidade do seu
vínculo social e isso pode causar prejuízo
ao seu desenvolvimento linguístico e
social
Estudos consideram os ambientes
que incluem baixos níveis interacionais
entre adultos e crianças e níveis mínimos
de organização familiar um risco para o
desenvolvimento educacional da
criança. Segundo Ré (2006, p.25),
inspirando-se em Vygotsky, “o
interacionalismo social propõe, então,
que a criança não seja apenas um
aprendiz passivo, mas um sujeito que
constrói seu conhecimento (mundo e
linguagem) pela mediação do outro”.
Entende-se que a interação pode ser de
um adulto ou de uma outra criança.
Naturalistas em suas várias
pesquisas da fala dirigida à criança,
realizadas nas décadas de 1970 e 1980
com oposição às frases agramaticais de
Chomsky (1973), apontam modificações
na fala adulta. Segundo eles essa é a fala
que a mãe utiliza com a criança com
entonação exagerada, cheia de
reduplicações de sílabas, frases curtas
acabam afetando a fala dirigida a ela.
P á g i n a | 64
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
Nesse caso, se existe uma dependência
da criança em relação ao enunciado
anterior do adulto, é preciso que aquele
que ela interage faça com que ela
desenvolva sua linguagem independente.
O processo de diálogo entre mãe e
criança, em que a primeira caracteriza-se
como mediadora entre a criança e os
objetos que a cerca no ambiente, faz com
que a criança exercite esse diálogo. No
entanto, a eficácia da ação do
interlocutor é importante para a criança
construir a sua própria linguagem.
Elas constroem sua linguagem
através do internacionalismo, é por esse
meio que ela incorpora linguagem e
conhecimento do mundo, num ambiente
familiar onde a mãe tem esse papel
decisivo desde os primeiros anos de vida.
A incorporação da linguagem da criança
e a fala da mãe poderá ajudar na
independência e construção da sua
própria linguagem.
Assim, considera-se que o
desenvolvimento da linguagem depende
não somente das condições biológica
inata de cada indivíduo, como a
influência sofrida através de fatores
ambientais que estão presentes no meio
em que as crianças estão inseridas, e
esses ambientes são a escola e a família.
Crianças que convivem com os
pais num ambiente de interação
usufruem de melhor qualidade de
estimulação, sendo a família,
independente de sua formação, o
elemento essencial para o
desenvolvimento da criança, onde o
indivíduo tem seu primeiro contato com
o mundo e com a linguagem, de forma
que, para que a criança tenha sucesso no
meio escolar, é fundamental esse
convívio familiar.
Diante da importância do ambiente
familiar na construção da linguagem pela
criança, o presente estudo teve como
objetivo analisar como a criança constrói
as relações da forma e das funções da sua
língua e o desempenho cognitivo da
criança, verificando até que ponto o
ambiente familiar pode intervir no seu
desenvolvimento gramatical. Com base
nesse estudo, iremos agora seguir com a
fundamentação teórica e análise.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Família e a aquisição da
complexidade gramatical
Segundo Polonia e Dessen (2005,
p.9), pesquisas mostram que sem a
participação da família, não é possível
uma educação adequada e completa. A
P á g i n a | 65
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
relação adulto-criança tem sido estudada
não só pela longa história da psicologia,
bem como pelos estudiosos e
pesquisadores da linguística. Segundo
Gervilla (2001), no seu livro sobre
Educação e Família, “a família é o pilar
fundamental para o crescimento da
criança”.
Assim, a família exerce seu papel
educador proporcionando uma ação
valiosa que pode proporcionar resultados
significativos, tais como: contínuo
progresso na aprendizagen e no
desenvolvimento mental. E decorrente
desses estudos têm surgido vários
elementos que permitem avaliar o
contexto familiar no desenvolvimento
cognitivo da criança.
Sobre um desses fatores, a
diferença de classes sociais, Valmaseda
(1995) afirma que as crianças
provenientes de ambientes familiares
que proporcionam significativas
oportunidades para aprendizagem da
linguagem estão mais capacitadas para a
aprendizagem propriamente dita, não
acontecendo o mesmo com crianças que
trazem de sua infância experiência mais
ou menos deficientes, com maior
propensão de fracasso escolar.
Logicamente, segundo o pesquisador,
haveria exceções, mas um meio mais
motivador permite resultados bem
melhores. Ainda conforme Maturano
(1998)
A influência do ambiente familiar no aprendizado escolar é amplamente reconhecida. Porém, não se deve atribuir a ela toda a carga de responsabilidade pelo desempenho escolar do aluno, características da criança e o ambiente escolar também influenciam nesse aprendizado. Nesse sentido, uma criança que sai do seu ambiente familiar e é inserida no ambiente escolar pode sofrer esse impacto da mudança.
O autor observou que o progresso
no aprendizado escolar está associado à
supervisão e à organização das rotinas no
lar, às oportunidades de interação com os
pais e a oferta de recursos no ambiente
físico.
Evidentemente um ambiente mais
estruturado com condições de
desenvolvimento cultural seria de grande
ajuda à criança, entende-se que quanto
mais condições oferecidas à criança,
maior seria a possibilidade de
desenvolvimento. Mas segundo
pesquisas, somente isso não é o
suficiente para garantir o desempenho
escolar satisfatório, pois a criança
precisa de estímulo para interagir. De
acordo com Mussen (1970)
Oas valores associados às classes e grupos étnicos refletem-se nas motivações, nas características das personalidades e nas atitudes das crianças. O autor relata a diferença das classes sociais na realização dos seus filhos. Pais de classe média em
P á g i n a | 66
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
geral valorizam seus filhos na sua capacidade os recompensando de alguma forma, enquanto pais de classes inferiores, não o fazem, Assim existe um maior interesse das crianças de classe média estudar pelo estímulo e motivação.
Patto (1997. P.285) postula que a
psicologia afirma, através da teoria da
carência cultural, que “[...] o ambiente
familiar na pobreza é deficiente de
estímulos sensoriais, de interações
verbais, de contatos afetivos entre pais e
filhos, de interesse dos adultos pelo
destino das crianças, num visível
desconhecimento da complexidade e das
nuances da vida que se desenrola nas
casas dos bairros mais pobres”.
Uma visão totalmente
preconceituosa, uma vez que a falta de
atenção e interação pode acontecer em
qualquer ambiente familiar independente
de classe social, famílias com boa
estrutura financeira em função do seu
trabalho podem dispor de pouco tempo
para educar e acompanhar essa
educação.
Segundo Maturano (1998, p.73), “É
preciso cautela para não adotar posições
extremas, seja isentando a família de
qualquer influência, seja atribuindo a ela
toda a responsabilidade pelo
desempenho escolar do aluno”
Faz-se agora uma relação direta entre
as posições elencadas acimas e o acesso
à complexidade gramatical.
2.2 A influência dos pais no acesso à
complexidade gramatical
Em seu trabalho de aquisição da
complexidade gramatical, a criança
precisa dar conta de duas tarefas
essenciais, segundo Kail (2013, p. 49):
segmentar os elementos gramaticais da
língua e as regras que presidem sua
ordem e determinar o sentido das
diferentes estruturas sintáticas. Enquanto
o conhecimento referente à aquisição da
sequência das palavras está bem
sistematizado, o conhecimento relativo
aos morfemas está ainda pouco
documentado. Esse aspecto de
sistematização denomina-se de
complexidade gramatical em que entram
em ação dois movimentos já citados
anteriormente: o inatismo moduralista de
Chomsky e as teorias que concebem a
importância do papel do ambiente no
progressivo domínio da língua.
Em nosso trabalho, dar-se ênfase
ao papel do ambiente familiar para o
acesso à complexidade gramatical. O
próprio Chomsky afirma que “o
principal argumento para mostrar que a
criança aprende devido a existência de
P á g i n a | 67
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
um módulo cognitivo especializado
independente dos outros sistemas” é a
“pobreza de estímulos” vinda do
ambiente linguístico, isso mostra que a
participação da família neste
aprendizado daria conta de estímulos
muito mais significativos para a
sistematização das estruturas gramaticais
complexas como a sintaxe.
Ratner (1988) num estudo sobre a
influência dos pais e das mães sobre um
grupo de crianças teve a comprovação de
que “os pais utilizavam um vocabulário
comum às suas necessidades sociais,
enquanto as mães adaptavam sua fala às
produções infantis”. Assim, segundo o
autor, a mãe participa mais efetivamente
do desenvolvimento inicial da fala
infantil. As mães, ao interagirem com as
crianças, normalmente usam aspectos
morfológicos e sintáticos que
contribuem para a sistematização da
gramática pelas crianças.
Bortoni-Ricardo (2004), nos
lembra de que, no segundo momento
após a fase familiar do aprendizado, cabe
à escola permitir a sistematização das
regras linguísticas da gramática
prestigiada socialmente e a enriquecer o
seu repertório linguístico, de modo a
permitir a eles o acesso pleno à maior
gama de recurso para que possam
adquirir uma competência comunicativa
cada vez mais ampla e diversificada.
Partindo do pensamento da autora,
podemos verificar que a criança ingressa
na escola com a linguagem adquirida, o
professor começa a trabalhar outras
variações, no entanto alguns insistem em
considerar a primeira linguagem da
criança gramaticalmente errada, e
colocam a culpa no ambiente familiar.
Quando na verdade, as pesquisas
mostram que esse estímulo inicial
facilita o acesso ao complexo mundo da
organização da língua.
Segundo Aimaird (1998. p. 92) “a
criança não inventa a linguagem”.
Mesmo reconhecendo que a criança já
possui aptidões inatas para o
desenvolvimento da linguagem, a
criança não irá se desenvolver bem
linguisticamente se ela não for exposta a
situações com as quais ela interaja.
Negrine (1994. p. 20), em seus
estudos sobre aprendizagem e
desenvolvimento infantil, afirma que
“quando a criança chega à escola, traz
consigo toda uma pré-história,
construída a partir de suas vivências,
grande parte delas através da atividade
lúdica”. Segundo esse autor, é
fundamental que os professores tenham
conhecimento do saber, pois, esse
P á g i n a | 68
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
conhecimento, a criança construiu na
interação com o ambiente familiar e
sociocultural para formular sua prática
pedagógica, é partindo dessa interação
que a criança constrói sua própria
linguagem.
Quando uma criança se identifica com seus pais, primeiros seres significantes para ela adquire muitas das características, pensamentos e sentimentos deles”. Assim podemos dizer a maneira como os pais interagem com a criança no seu ambiente familiar, poderia determinar o acesso a complexidade gramatical, ou ao tipo de linguagem dessa criança. (BERGGER E LUCKMANN, 1996)
Sabe-se, no entanto, que muitas
vezes nem sempre a criança chega à
escola oriunda de um ambiente onde
estes estímulos sejam os mais “ricos
possíveis”. Segundo Bortoni-Ricardo
(2004). As crianças, quando chegam à
escola, já sabem falar bem a sua língua
materna, isto é, sabem compor sentenças
bem formadas e comunicar-se nas
diversas situações, mas não têm uma
gama muito ampla de recursos
comunicativos.
Assim podemos dizer que a criança
já chega à escola com conhecimentos
linguísticos que adquiriu no seu convívio
familiar, no entanto, esses
conhecimentos podem não ser
suficientes para que ela possa ter a
competência comunicativa.
Segundo Marturano (1998), “a
participação da criança rotineira no lar e
a formação de hábitos também são
importantes na aquisição dos requisitos
para a aprendizagem, pois estimulam a
organização interna e a habilidade para o
“fazer”, de maneira geral.”
São as experiências familiares que
proporcionam a formação inicial de
repertórios comportamentais, de ações e
resoluções de problemas (Dessen e
Polônia, 2007). Essas experiências
podem determinar a maneira como a
criança vai se comportar diante de outros
meios, principalmente no ambiente
escolar. Lahire (apud, ZAGO, 2000,
p.21) afirma que:
(...) a criança constitui seus esquemas comportamentais, cognitivos e de avaliação através de forma que assumem as relações de interdependência com as pessoas que a cercam com mais frequência e com mais tempo, ou seja, os membros da família. (...) Suas ações são reações que ‘se apóiam’ relacionalmente nas ações dos adultos que, sem sabê-lo, desenham, traçam espaços de comportamento e de representações possíveis para ela.
A boa relação entre a criança e o
ambiente escolar como num todo,
substitui a convivência com uma família
mal estruturada, mas essa substituição
jamais vai substituir a experiência da
criança de relacionamentos afetivos
familiar, pois esses são essenciais para
P á g i n a | 69
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
uma boa construção da identidade da
criança e sua própria língua.
A relação entre estímulos sociais
relacionados ao ambiente familiar e à
sistematização da complexidade
gramatical será tratada no capítulo de
análise após avaliado os questionários da
pesquisa.
3 METODOLOGIA
Atualmente, a escola pede a
presença da família para acompanhar a
criança e participar do seu
desenvolvimento, mas acaba indo de
encontro a resistência dos pais nessa
participação. Através dessa resistência,
essa pesquisa foi realizada para
podermos analisar se o ambiente
familiar linguístico é um meio no
acesso gramatical pela criança.
Buscando uma explicação para a
dificuldade gramatical pela criança,
selecionamos meios de investigar se o
ambiente familiar seria essa causa. A
presente pesquisa foi realizada em uma
escola pública de educação infantil e
fundamental, localizada numa cidade
do interior do estado do Ceará.
3.1 Participantes
Para colher dados, foi utilizado o
método observacional, partindo da
observação dos fatos a serem
analisados e questionários fechados
com 20 mães e duas professoras, sendo
uma que ministra aulas para essas
crianças, e a outra professora da língua
portuguesa na própria escola na qual
tem seu filho matriculado no 4º ano.
3.2 Instrumentos
Os instrumentos utilizados são
observações, situações pedagógicas,
situações projetivas, entrevistas com
professores e com famílias dos alunos,
através dos questionários.
Ao buscar os dados fornecidos
pelo questionário, teve-se a preocupação
de solicitar a autorização das mães para
esse trabalho, e utilizou-se de leituras de
diversos autores e pesquisas que
abordavam o tema, principalmente
autores, para que nossa pesquisa fosse
fundamentada.
Nesse estudo, a escolha do
questionário foi uma importante fonte.
Aplicou-se o questionário para as mães,
e entrevistou-se os professores, com o
cuidado de preservar os alunos nessa
pesquisa.
P á g i n a | 70
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
As questões contidas no
questionário foram a respeito da
constituição familiar, condições
socioeconômicas, educacionais da
família e relação família escola. Usando
a entrevista por ser a estratégia mais
usada no processo de trabalho de campo,
tendo como objetivo construir
informações pertinentes para um objeto
de pesquisa foi usada a técnica de
entrevista fechada, mesmo algumas
mães se sentindo à vontade para se
manifestar abertamente.
Para chegar a uma análise, considera-
se sucesso escolar e insucesso,
diferenciando junto com a professora,
aqueles alunos com bom aproveitamento
e os com mal aproveitamento, sem
participar as mães com a preocupação de
não constringir os pais e muito menos as
crianças começa-se o trabalho com o
objetivo de analisar se o mal
aproveitamento seria em função do
ambiente linguístico.
Esse foi o principal motivo da
pesquisa, embora, segundo a professora,
pela sua experiência em sala de aula e
contatos com as mães, os alunos que
tinham melhor aproveitamento eram
aqueles que as mães acompanhavam.
4 ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS
DADOS
Após a análise das respostas das
mães e professoras, passa-se a exposição
a seguir de acordo com a nossa pesquisa.
4.1 A relação família-escola
O insucesso gramatical, fica
claro nas respostas de algumas mães, que
a responsabilidade das orientações
adequadas é do professor. Dessa forma
os filhos podem vencer a complexidade
lexical e sintática. Conforme os relatos,
as mães desses alunos não estão alheios
aos problemas dos filhos, apenas não
sabem de que forma ajudá-los.
A maioria dos pais acredita que só
uma orientação adequada por parte da
escola e dos professores poderia auxiliá-
los na tarefa de orientar os filhos.
Algumas se sentem excluídas dessa
parceria tão teórica em que a família
precisa caminhar junto com a escola.
Mas que para isso aconteça, a mudança
de mentalidade precisa partir de dentro
da escola e dos próprios professores.
Segundo o relato de uma mãe: “Sei que
ele não gosta de estudar, só estuda se eu
pegar no pé dele, não quer fazer as
tarefas e a professora acha que a culpa
é minha. Mas eu acho que a professora
devia exigir mais dele, como eu posso
P á g i n a | 71
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
ajudar se ela não me diz direitinho o que
eu tenho que fazer, ele até agora não
sabe ler e passa de ano assim mesmo,
sempre foi assim, fala errado, não
escreve direito, mas eu também não
estudei e o pouco que ele sabe aprendeu
comigo. Para que serve a escola?
Observamos que as mães tentam de
alguma forma ajudar, mas não
conseguem atingir seus objetivos, e são
vários os motivos, falta de orientações,
como disse a mãe, não estarem
preparadas pedagogicamente, nível
escolar baixo, insegurança e receio de
sofrer discriminação ou preconceito ao
ensinar a tarefa errada ao filho. E assim
o auxílio torna-se bem difícil. Os pais
auxiliam seus filhos de acordo com as
experiências da própria vida que trazem
na memória de muitos anos, e muitas
vezes um conhecimento que deixa muito
a desejar para os dias atuais, pois
sabemos que a língua está sempre em
evolução e evidentemente tem grandes
dificuldades quando a família tem um
nível escolar baixo ou até mesmo
ausente.
De acordo com essa análise, muitas
mães se sentem impotentes em ajudá-los,
outras tentam de várias formas conduzi-
los na tarefa de Língua Portuguesa e se
sentem orgulhosas quando conseguem,
mesmo confessando não ser muito fácil.
Segundo Kail (2013, p. 3), ao falar do
efeito do vocabulário sobre o processo
cognitivo da categorização, “a criança
pode ser encorajada, por meio da
intervenção da linguagem, a constituir
novas categorias conceituais”. Mães que
se consideram com pouco conhecimento
da língua não se sentem seguras diante
da complexidade gramatical, e muitas
vezes isso faz com que elas entreguem
essa responsabilidade para a escola.
Kail (2013, p. 53) postula que “as
informações fonológicas, prosódicas,
sintáticas e semânticas aprendidas antes
da entrada da criança na escola podem
fornecer uma ponte de acesso a outros
níveis da organização linguística”, logo
todo contato da mãe com a criança se
revela útil para o acesso dela a níveis
gramaticais mais complexos,
principalmente os sintáticos.
Ainda segundo Kail (2013), a
sensibilidade às regularidades
estatísticas da língua e o entendimento
precoce seriam o primeiro marco da
aquisição sintática e a relação familiar
nesse formação é relevante, porque
permite à criança perceber elementos de
ligação entre as primeiras palavras que se
iniciariam no nível mais silábico e
passaria a um nível mais verbal.
P á g i n a | 72
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
4.2 A importância dos pais no auxilio
as tarefas escolares de Língua
portuguesa
Para algumas mães, os filhos que
apresentam dificuldades escolares não
têm cuidado com seu material escolar e
não têm gosto pelo estudo. No entanto,
justificam da seguinte forma: “As tarefas
eu não faço porque ele que tem que
fazer. Mas olho a bolsa dele e fico triste
em ver que aquilo não é bolsa de gente.
Eu não sei por que esse tipo de pobrema.
Fico em cima dele pra vê se toma gosto,
mas não consigo, queria muito que ele
fosse mais interessado, cuidasse do seu
material e pelo menos aprendesse a falar
direito como alguns colegas falam.”
Considera-se que o auxilio nas
tarefas da criança é uma forma de
participação dos pais na construção das
“pontes” citadas por Kail (2013, p.64)
que levariam a criança a uma progressão
no diversos níveis gramaticais, mesmo
diante de relatos em que revelam que a
mãe que não sabe ler nem escrever
recorre a ajuda de irmãos, parentes, e
outras pessoas do convívio familiar para
contribuir, mostrando interesse.
A maioria das mães entrevistadas
considerou o trabalho da escola
insatisfatório. Muitas falaram da
precariedade de determinadas escolas
públicas que tinham péssimas condições,
citando professores despreparados, e
afirmando que os professores colocavam
a culpa do desempenho dos seus filhos
em famílias mal estruturadas, pais
analfabetos e problemas sociais, como o
relato a seguir: “Ah! Sou mãe solteira, sei
que um pai é importante, isso prejudica
ele tanto na escola como na rua. Mas
vejo tantos filhos sem pai e mesmo assim
não são burros e nem bandidos. Pra mim
ele não aprende por causa dos
professores, nessa escola do governo ele
vai ficar uma criança burra. Se eu
tivesse dinheiro, pagava uma escola
particular, lá tem menos alunos na
classe e eles iam ensinar, ensinar é dever
da escola, o menino não sabe ler nem
escrever e está no 4º ano. Tudo que ele
aprendeu foi ouvindo eu falar, sei que
muitas coisas ele fala errado por minha
culpa, pois eu não sei falar direito.”
Diante desse relato, é possível
analisar que essa mãe coloca a culpa no
sistema de ensino, pois mesmo vendo
seu filho aprovado para a série seguinte
tem a consciência de que ele não está
preparado. Pergunta-se, se a mãe
despreparada entende que o filho não
deveria ir para uma série seguinte com
deficiência está claro que ela entende a
importância de um bom
P á g i n a | 73
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
desenvolvimento da criança no ensino da
língua.
4. 3 Relação professor-aluno
Para uma melhor participação da
escola no acesso à complexidade
gramatical, seria necessária uma melhor
qualificação do professor no processo de
aquisição da linguagem para o estágio I
(reguralidades da língua/produção dos
primeiros morfemas e estruturais
sintáticas) e estágio dois das frases mais
complexas. Todavia a contribuição da
família se reveste de uma ajuda
fundamental na sistematização de cada
uma dessas fases. Segundo Kail (2013,
p.73), “o domínio do processamento de
frases cada vez mais complexas em um
tempo tão breve, demonstraria que esse
continuum inicia-se na família e termina
na escola”.
4.4 A forma como a fala da mãe é
dirigida a criança
Percebe-se, na nossa pesquisa, que
algumas crianças quando são inseridas
no ambiente escolar, já trazem consigo
uma linguagem que aprenderam com sua
convivência no ambiente familiar e na
minha entrevista com a professora do
1ºano sobre se ela teria como analisar as
razões do porquê a criança antes do
conhecimento padrão da língua falava
com essa linguagem não padrão, ela
dessa forma me respondeu: “Geralmente
todo ano eu recebo para alfabetizar
crianças que chega com uma linguagem
totalmente fora do padrão, ensinar a
essa criança a forma padrão da língua é
uma das tarefas mais complicadas.
Acredito que é pelo fato delas passarem
apenas algumas horas comigo e a maior
parte do dia num ambiente aonde a
linguagem padrão não é tão usada. Não
estou colocando a culpa dessa
dificuldade na família, mas o que você
acha quando uma criança chega falando
“eu fazi, Ingual, arvi, pranta, zoio.etc.”
A criança quando chega à escola
encontra uma comunidade que fala um
dialeto diferente do que ela aprendeu
com a convivência no seu ambiente
familiar e dependendo da sua classe
social poderá sofrer preconceitos no seu
modo de falar, se comportar, se vestir.
Vai acreditar que isso acontece por ser
pobre, pois é assim que foi criada,
tivemos a oportunidade de analisar nessa
nossa pesquisa que mães se colocam
nessa posição e passam isso para os
filhos.
P á g i n a | 74
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
4. 5 O sucesso escolar em dois grupos
de família
4.5.1 Alunos com sucesso no acesso à
complexidade
a) Relação família-escola
Os pais se preocupam com a forma
de organização dos filhos em relação às
atividades e ao comportamento deles em
sala de aula, se participam, fazem as
atividades tirando suas dúvidas e tarefas
de casa. Participam das atividades extra-
sala quando são convidadas pela escola.
b) A importância dos pais no auxilio
das tarefas escolares
Verificamos que as mães, por terem
maior possibilidade de estarem mais
tempo com os filhos, são as que mais
ajudam nas tarefas, orientam os filhos
para que prestem atenção nas aulas e de
alguma forma estão sempre estimulando.
c) Rendimento escolar
Rendimento escolar bom: Ao serem
inseridos no ambiente escolar já
começam a apresentar um bom
desenvolvimento. Para os pais a base
familiar é sinônimo de continuidade na
vida escolar com sucesso, Mas para isso
a escola precisa ser a continuação do
ambiente familiar e vice-versa.
d) Relação professor-aluno
Na visão dos pais, o professor é
fundamental no processo de
aprendizagem, mas não eximindo a
escola dessa responsabilidade e a
família. Verificamos que as mães por
terem maior possibilidade de estarem
mais tempo com os filhos são as que
mais ajudam nas tarefas, orientam os
filhos para que prestem atenção nas aulas
e de algumas formas estão sempre
estimulando.
e) O forma como a fala dos pais é
dirigida a criança
Segundo algumas mães com melhor
nível de escolaridade, corrigem os filhos
quando ele fala errado, em relação a essa
atitude elas responderam que faziam
questão do filho falarem de maneira
correta, pois é assim que se aprende na
escola e foi dessa forma que ela
aprendeu.
4.6 O segundo grupo familiar
4.6.1 Alunos com insucesso na escola
a) Relação família – escola
Mesmo se preocupando com a
forma de organização dos seus filhos e
comportamento se sentem inseguros e de
certa forma constrangidos em participar
P á g i n a | 75
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
das atividades dos filhos. Acredita-se por
falta de interação com a escola.
b) A importância dos pais no auxilio
das tarefas escolares
Algumas mães afirmam não terem
tempo para ajudarem seus filhos em
virtude de estarem muito ocupadas pelas
tarefas domésticas e com os outros
filhos, mas não negam que orientam os
filhos para que prestem atenção nas
atividades em sala.
c) Rendimento escolar
Inseridos no ambiente escolar,
levam consigo toda a sua linguagem
adquirida no ambiente familiar, têm
dificuldade em se desenvolver no seu
dialeto, mas isso não quer dizer que
gramaticalmente aconteça o mesmo.
d) Relação professor-aluno
Que o professor é fundamental no
processo de aprendizagem todos
admitem, mas nesse caso os pais se
eximem dessa responsabilidade de
ajudar o professor na tarefa. Pode ser que
se não seja por não querer, mas por não
se sentirem seguros.
e) A forma como a fala dos pais é
dirigida à criança
A criança quando chega à escola
leva consigo um dialeto não padrão que
por muitas vezes aprendeu ouvindo
dentro do seu ambiente familiar, mesmo
não sendo considerado erro, poderá
prejudicar seu aprendizado, pois partir
dessa linguagem para a padrão é um
processo bastante lento.
CONCLUSÃO
Para chegar a uma conclusão,
tivemos que fazer uma revisão profunda
da função social da escola, dificuldades
de aprendizagem, estrutura familiar e
outros fatores relatados na presente
pesquisa. Partindo do ponto de que a fala
da mãe poderia ou não delimitar o acesso
à complexidade gramatical foi preciso
analisar outros aspectos que estavam
totalmente ligados a esse tema. Não
poderia separar dessa pesquisa a questão
social, cultural, e o próprio ambiente
familiar e sua estrutura.
Os resultados obtidos são evidentes
em relação à questão positiva e negativa
da escola. Questões que podem
determinar que tipo de relações a família
e o aluno podem ter com a escola e vice
versa. O envolvimento dos pais nesse
processo educacional se torna
fundamental quando existe uma
interação família-escola. Muitas famílias
têm uma visão da escola tradicional,
aquela que tem a obrigação de educar
seus filhos, mas, por outro lado, a visão
P á g i n a | 76
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
inovadora a cerca da escola e essas
mudanças que tanto são importantes para
seus filhos ainda não foi conscientizada
nos pais. Poderíamos suspeitar que a
forma como as crianças chegam a escola
auxiliadas por pais que foram educados
com dificuldades recorrente da
escolaridade baixa repassam para seus
filhos essas mesmas dificuldades,
mesmo tentando ajudar não conseguem
por sentirem que são incapazes e sem
orientação.
No entanto, essa diferença de nível
de escolaridade entre pais de alunos não
delimitam o grau de sucesso ou
insucesso. Poderíamos pensar que ajudar
o aluno seria com boa interação,
estímulo, e uma boa estrutura familiar.
No entanto teríamos muitos outros
motivos para pensar que existem outros
fatores que podem ocorrer tanto numa
família de baixa escolaridade quanto na
de nível de escolaridade elevado.
Analisamos que uma criança que
constrói sua linguagem num ambiente e
chega à escola com a fala não padrão,
pode demorar a entender a forma padrão,
mas isso não quer dizer que enquanto o
seu dialeto precisa ser colocado na forma
padrão, ela não poderá se desenvolver
satisfatoriamente no sistema da escrita,
ao começar a entender que existem
outras formas de comunicação padrão da
sua língua tanto quanto uma criança que
é inserida na escola, conhecendo a norma
padrão pelo seu convívio familiar e no
entanto com dificuldades em estruturas
gramaticais.
Muitas crianças não têm a
oportunidade de frequentarem uma
escola ou nela permanecerem por causa
do preconceito social por serem pobres
ou analfabetos. Ao fazermos uma análise
real sobre esse assunto, concluímos que
a sociedade condena uma pessoa pelo
uso da sua própria língua. Uma pessoa
que vive numa região rural é condenada
por sua fala, quando na verdade está
usando o falar da sua origem. Como
separar origem da língua? O que é falar
correto? A sociedade cobra esse falar
correto, pois ele lhe dá prestígio.
Toda criança adquire sua forma de
falar no seu ambiente familiar e esse que
vai determinar a linguagem que ela vai
chegar à escola. A criança chega à escola
com a ilusão de que vai aprender coisas
novas, pois lhe foi dito isso, no entanto,
ao chegar no ambiente escolar ela
descobre que tudo que aprendeu foi
errado, ela fala errado, se veste errado, se
comporta errado, e isso faz com que ela
pense que vai ter que esquecer tudo que
aprendeu na sua vida e aprender
P á g i n a | 77
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
novamente de maneira “adequada”,
nesse momento ela se desespera e
começa a detestar a gramática. Por isso
cabe a nós, futuros professores, termos
muito cuidado com essa linguagem
adquirida no ambiente familiar.
REFERÊNCIAS
AIMARD, Paule. O Surgimento da Linguagem na Criança. Trad. de Claúdia Schilling. Porto Alegre Artemd, 1998.
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolingüística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004 (Col. Linguagem, nº. 4) 112 p. ISBN: 85-88456-17-6.
BARDIN. L. (1977). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70.
CHOMSKY, N. (1973). Linguagem e pensamento. Petrópoles, RJ: Vozes.
BERGER, Peter L. e LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade – Tratado e Sociologia do conhecimento. 13.a ed. Rio de Janeiro, Editora Petrópolis, 1996.
DEL RÉ, Alessandra. Aquisição da Linguagem: uma abordagem psicolingüística. São Paulo: Contexto, 2006.
GERVILLA, A. (2001). Família y Educacion 2. Málaga: Gráficas San Pancrácio.
KAIL, Michèle (2013). Aquisição da linguagem / Michèle kail; [tradução marcos Marcilio].- 1. Ed.- São Paulo: parábola, 2013. Il.;23cm. (Estratégia de ensino ;41)
MARTURANO, E.M. (1998). Ambiente familiar e aprendizagem escolar. In C.A.R. Funayama (Org.). Problemas de
aprendizagem: enfoque multidisciplinar (pp. 73-90). Ribeirão Preto: Legis Summa.
_____. Recursos no ambiente familiar e dificuldades de aprendizagem na escola. In:Psicologia: teoria e pesquisa, v. 15, n.2, p. 135-142, mai - ago./1999.
MUSSEN, P.H. O desenvolvimento psicológico da criança, 5. ed. Rio de Janeiro, 1970, 54-131p
NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil. Porto Alegre: Propil, 1994.
PATTO, M.H.S. (1997). A família pobre e a escola pública: anota- ções sobre um desencontro. In Introdução à Psicologia Escolar (3ª ed.): (pp. 281-296). São Paulo: Casa do Psicólogo.
POLONIA E DESSEN (2005). http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141385572005000200012&script=sci_arttext
_____. (2007). A família e a escola como contextos de desenvolvimento humano. Paideia – Cadernos de Psicologia e Educação, 17, 36, 21-32.
RATNER, N. B. - Patterns of parental vocabulary selection in speech to very young children - Journal of Child Language, 15 (1988), 481-492.
VALMASEDA, M. Os problemas de linguagem na escola In Desenvolvimento Psicológico e Educação, Vol. 3. Porto Alegre: Artes médicas, 1995, 83-99p
ZAGO, N. (2000). Processos de escolarização nos meios populares: as contradições da obrigatoriedade escolar. In M.A. Nogueira, & G. Romanelli (Orgs.). Família e escola: trajetórias de escolari-zação em camadas médias e populares (pp. 17-43). Petrópolis: Vozes.
P á g i n a | 78
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
RESENHA
P á g i n a | 79
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
POLIDEZ LINGUÍSTICA: UMA PERSPECTIVA INTRODUTÓRIA
Profª. Me. Adriana Regina Dantas Martins
KERBRAT-ORECCHIONI, Catherine. A Polidez: Aspectos Teóricos; As manifestações Linguísticas da polidez; A polidez: balanço. In: Análise da conversação princípios e métodos. São Paulo: Parábola, 2006. Páginas 75-102.
A linguista francesa Catherine Kerbrat pesquisa, entre outros tópicos, a enunciação linguística e a interação verbal com foco na polidez e nos atos ameaçadores e antiameaçadores de face dos interagentes em um determinado contexto enunciativo. Ela escreveu vários livros, entre eles: La Connotation (1977), Les Interactions Verbales (1990), Os Atos de Linguagem no Discurso (2005), Análise da conversação princípios e métodos (2006) que é o foco dessa resenha.
O livro “Análise da Conversação” é composto de quinze capítulos e discute assuntos interessantes e relevantes, todavia o foco da resenha é sobre polidez linguística, o que justifica a discussão apenas dos capítulos 8, 9 e 10. Por uma questão de organização textual e melhor compreensão, os capítulos, que são complexos, serão discutidos separadamente. Iniciamos pelo capítulo 8: A polidez: aspectos teóricos, que discute que a polidez é um fenômeno linguisticamente pertinente, pois recobre todos os aspectos do discurso que são regidos por regras em que a função é preservar o caráter harmonioso da relação interpessoal, que pode ser relativo ao comportamento verbal ou não verbal, porém aqui a ênfase é exclusivamente ao código verbal.
Nesse capítulo, Catherine chama a atenção para o modelo de Brown e Levinson, que desde 1970, estudam a polidez e desenvolveram um quadro, a fim de analisar os eventos comunicativos sob a luz da teoria da polidez. Esse modelo se desdobra em 4 temas: a) A noção de face; b) A noção de FTA (face treating act); c) A noção de face want; d) A noção de face work. Logo após apresentar esses tópicos a autora discute o aperfeiçoamento do modelo sob o aspecto da noção de “antiFTA (ou FFA), e a diferença entre polidez positiva e negativa.
A noção de face para Brown e Levinson significa que todo indivíduo possui duas faces: a negativa (que significa os territórios do eu, os saberes secretos) e a face positiva (que são o conjunto de imagens que os interlocutores constroem de si e que tentam impor durante a interação); a noção de FTA defende que em qualquer interação quatro faces são postas em presença. E que no decorrer da interação os interlocutores são levados a realizar certo número de atos verbais e não verbais que para Brown e Levinson são atos “que ameaçam as faces”, dessa forma os atos de fala se dividem em quatro categorias: atos que ameaçam a face negativa do emissor; atos que ameaçam a face positiva do emissor; atos que ameaçam a face negativa do receptor; atos que ameaçam a face positiva do receptor. É importante ressaltar que um mesmo ato pode se inscrever simultaneamente em diversas categorias, e que é indispensável considerar o contexto de cada situação, pois esse “contexto” define “onde” esse ato se insere.
A noção de face want, seria a tentativa de manutenção de faces, esse tópico não é bem explicado e é difícil de compreender a essência desse conceito; que é seguido pela
P á g i n a | 80
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
noção de face work, que seria um trabalho de “figuração”, em outras palavras é tudo que uma pessoa empreende para que suas ações não impliquem perda diante de alguém (nem de si mesma). Essa estratégia depende de três fatores: o grau de gravidade do FTA; a “distância social”; sua relação de “poder”.
O que a autora salienta é que mesmo que esse modelo seja positivo alguns aperfeiçoamentos devem ser incorporados, como por exemplo, o aperfeiçoamento do modelo, que se desdobra na noção de “antiFTA” (ou FFA), que seria o conjunto de atos de fala que se dividem em duas grandes famílias, os que produzem efeitos essencialmente negativos para as faces (como a ordem crítica), ou os positivos (como o elogio ou agradecimento). O outro desdobramento se refere à polidez positiva versus a negativa, que distingue a polidez negativa como sendo de natureza abstencionista ou compensatória e a positiva de natureza produtiva, embora que, ambas sejam antagônicas ocupam um lugar importante no sistema global. Até porque, dependendo do contexto essa noção de positivo e negativo pode variar.
No capítulo 9, sobre as manifestações linguísticas da polidez, o assunto se refere à polidez negativa e suas subdivisões; e sobre a polidez positiva e suas subdivisões. Sobre a polidez negativa o que a autora deixa claro é que há meios de minimizar esse aspecto com a estratégia de evasão e consequentemente os suavizadores. Esse ponto é interessante e de fácil compreensão, pois todo falante faz uso dessas estratégias: voz mansa, sorriso e inclinação lateral, da cabeça ou do corpo, em momentos interativos. Um fator que a autora não levou em consideração foram os “usos irônicos” que são utilizados pelos interlocutores em diferentes momentos de interação. Isso pode ser considerado uma lacuna, pois esses usos mudam completamente o lugar que cada enunciado ocupa nessas categorias citadas anteriormente, já que, em determinada situação, dependendo da intenção do falante, o valor de verdade e mentira são questionáveis. Considerando as nuances irônicas, Leech (1983) propõe o princípio da ironia (IP), que também não é explorado por ele, talvez por considerar que sistematizar atos de fala irônicos seja uma tarefa inexequível, considerando o complexo de elementos que participam de um momento interativo.
Considerando a outra face, a polidez positiva consiste em produzir algum ato que tenha um caráter essencialmente antiameaçador para o seu destinatário, por exemplo: acordo, oferta, convite, elogio, agradecimento, boas-vindas, etc. A autora ressalta que o funcionamento é bem mais simples que o da polidez negativa, pois existe a preocupação em “agradar” o interlocutor.
Adentrando o capítulo 10: A polidez: balanço, a autora traça um discurso para ressaltar a importância da Polidez nos estudos linguísticos e a colaboração dessa teoria nos estudos da linguagem. Ressalta que a Polidez é um conjunto de procedimentos que o falante utiliza para poupar ou valorizar seu parceiro de interação; e que a polidez funciona como ponto de equilíbrio ou norma para uma “boa interação”. Como norma, deixa claro que os comportamentos impolidos são “marcados” em relação aos comportamentos polidos e que os encadeamentos positivos são mais polidos que os negativos. O capítulo ainda faz uma breve explicação sobre o principio da modéstia e sobre a noção de “dupla coerção”, informando que esses dois princípios são convencionados socialmente e fazem parte do processo interativo. Essa noção de dupla coerção não é bem explicada pela autora deixando também uma lacuna para os leitores. A última parte desse capítulo é sobre “As
P á g i n a | 81
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X
funções da polidez” em uma perspectiva social, isso significa que a polidez é primordial para a comunicação e que respeitar o outro e preservar a si é um estado de equilíbrio.
Na conclusão do capítulo, a universalidade da polidez é ressaltada como um fator primordial para que a interação funcione adequadamente, e que o respeito a essas regras é um principio de racionalidade que garante a paz entre os interagentes.
Após essas discussões, pode-se concluir que a leitura desses capítulos é complexa e densa e em alguns momentos de difícil compreensão, principalmente para quem não tem intimidade com este tema. Para iniciantes, essa leitura, a meu ver, precisa ser acompanhada de um texto introdutório e mais explicativo.
P á g i n a | 82
Revista Perspectiva Jurídica 2016.2 – ISSN 2238-524X