revista perspectiva fgf - fgf.edu.br · - promover a iniciação científica e apoiar o trabalho de...
TRANSCRIPT
FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA
REVISTA PERSPECTIVA FGF
Revista Científica Multidisciplinar da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza
Revista Perspectiva FGF /Faculdade Integrada da Grande Fortaleza. V. 1, N. 1, Jan./Jun. 2012.
Fortaleza – Ceará 2012
ISSN 2238-524X
Publicação Semestral
Periódico Científico – Faculdade Integrada da Grande Fortaleza
CDD
Endereço:
REVISTA PERSPECTIVA FGF
FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA
CEUDESP - Centro de Educação Universitário e Desenvolvimento Profissional LTDA
Av. Porto Velho, 401 - João XXIII- Fortaleza/CE - CEP: 60.525-571.
Tel. +55 (85) 3299-9900 / Fax. +55 (85) 3496-4384 /
Email: [email protected]
Expediente
Mantenedora Centro de Educação Universitária eDesenvolvimento Profissional – CEUDESP
Eng. José Liberato Barrozo Filho - Diretor Administrativo Financeiro
Eng. Julio Pinto Neto – Diretor de Infra-estrutura
Eng. Adolfo Marinho – Diretor de Expansão
Mantida Faculdade Integrada da Grande Fortaleza - FGF
Eng. José Liberato Barrozo Filho - Diretor Geral
Prof. Ms. Paulo Roberto de Castro Nogueira – Diretor Acadêmico
Editorial Cristina Tonin Beneli Fontanezi [email protected]
Conselho Editorial Adriana Maria Reboucas do Nascimento - [email protected]
Alice Maria Correia Pequeno Marinho - [email protected]
Antonia Ieda de Sousa Prado - [email protected]
Damiao Carlos Nobre Juca - [email protected]
Denise Maia Alves da Silva - [email protected]
Denise Maria Nunes Marcelino - [email protected]
Eugenio Santana Franco - [email protected]
Ingrid Martins Leite Lucio - [email protected]
José Eduardo Ribeiro Honório Junior - [email protected]
Karen Bonfim Hyppolito - [email protected]
Mariana Cavalcante Martins - [email protected]
Marilia Alves Ferreira - [email protected]
Milena Marcintha Alves Braz - [email protected]
Patrícia Maia Cordeiro Dutra - [email protected]
Rosane de Almeida Andrade - [email protected]
Viviane Mamede Vasconcelos – [email protected]
Editora Maria Coeli Saraiva Rodrigues
José Rogério Viana de Oliveira
Revisão Técnica Damiao Carlos Nobre Juca
Projeto Gráfico Célio Gomes Vieira
Impressão: Periodicidade: Semestral Tiragem: XX impressa
Seções
Editorial.................................................................................................................... 01
Artigos
Ciências Sociais Aplicadas
Gestão de Recursos Humanos ou Gestão de Pessoas: o desafio numa empresa autoviária na cidade de Fortaleza - Francisco das Chagas e Nádia Marques Gadelha Pinheiro.............................................................................................................
04 Acidentes de Trabalho e as Doenças Ocupacionais na Construção Civil - Francisco Elivaldo B. do Nascimento e Nádia Marques Gadelha Pinheiro..............................
24
Ciências Jurídicas A Polícia Militar à luz da Constituição Federal de 1988: uma abordagem crítica - Rainer Henrique Abreu Riedel da Costa e João Celso Moura de Castro..................
47
O Princípio Responsabilidade e a Produção de Alimentos Transgênicos no Brasil - Carlos André Barbosa de Carvalho e Luis Alberto Nobre......................................
55
Direitos à Personalidade - Daniel Bezerra Montenegro Girão................................. 61
Ciências da Saúde Profissionalização do Árbitro de Futebol: prós e contras - Adriano Barros Carneiro e Rosane de Almeida Andrade.............................................................................
73
Infecções Hospitalares e a Enfermagem - Gleyciane Tomé Batista e José Eduardo Ribeiro Honório Júnior.......................................................................................
81
Ciências Humanas Panorama das Principais Abordagens e Métodos no Ensino de Língua Estrangeira - Cristiana Gomes de Freitas Menezes Martins.......................................................
92
S
U
M
Á
R
I
O
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
1
EDITORIAL
A Revista Perspectiva FGF é a publicação científica da Faculdade Integrada da
Grande Fortaleza - FGF, criada com o objetivo de promover a publicação docente e discente das áreas de Ciências da Saúde, Sociais Aplicadas, Humanas, Jurídicas e Exatas. Este veículo tem a missão de incentivar a publicação de artigos originais, revisões e reflexões sobre os temas relacionados à formação científica, inovação, tecnologia, recursos humanos e áreas afins, gerando conhecimento amplo, sendo fonte de discussão e de saber de qualidade.
Estes objetivos são fundamentados no regimento interno da FGF, como: I - estimular a criação cultural, o pensamento criativo, divergente, as múltiplas formas de expressão e o desenvolvimento do pensamento reflexivo e da postura científica e ética; III - promover a iniciação científica e apoiar o trabalho de pesquisa objetivando, sem prejuízo de outras vertentes, ampliar o conhecimento sobre o meio em que se insere a FGF; IV - divulgar, por múltiplas formas de comunicação, a cultura, a ciência, a arte e a tecnologia que constituem o patrimônio da humanidade, destacando e enfatizando os aspectos regionais deste patrimônio; V - oferecer, no seu âmbito de ação, oportunidade de formação contínua no campo da ciência, da tecnologia, da cultura, da arte e do lazer.
Esta publicação destina-se à comunidade acadêmica, formada por pesquisadores, professores, alunos e profissionais atuantes nas áreas supramencionadas e em outras correlatas, dando prioridade ao conhecimento regional, aos dados que se referem ao entorno da faculdade e à possibilidade de realização de estudos interdisciplinares, sem prejuízo de estudos realizados em contextos mais amplos.
A Comissão Editorial da Revista Perspectiva FGF agradece aos alunos, professores, à direção da instituição Faculdade Integrada da Grande Fortaleza - FGF e a todos que contribuíram para que essa primeira edição se transformasse em realidade.
Profa Dra Cristina Tonin Beneli Fontanezi
Editora Científica Revista Perspectiva FGF
Coordenadora da Iniciação Científica - FGF
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
2
ARTIGOS
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
3
CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
4
GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS OU GESTÃO DE PESSOAS: O DESAFIO
NUMA EMPRESA AUTOVIÁRIA NA CIDADE DE FORTALEZA
Francisco das Chagas Aluno do curso de Administração na Faculdade Integrada da Grande Fortaleza [email protected] Nádia Marques Gadelha Pinheiro Professora Mestre do curso de Administração na Faculdade Integrada da Grande Fortaleza [email protected]
RESUMO: O objetivo deste trabalho é estudar a gestão de recursos humanos numa empresa autoviária na cidade de Fortaleza e contribuir com uma reflexão sobre a sua importância nas organizações contemporâneas. A discussão teórica aborda os principais conceitos da moderna gestão de recursos humanos e sua oposição com o setor tradicional de Recursos Humanos. O tema da nossa pesquisa está problematizada da seguinte forma: como é desenvolvida a gestão de pessoas na empresa consultada? Visa a valorização dos profissionais e do seu capital humano? A metodologia compreende um estudo de caso com uma abordagem direta com o setor responsável de R.H. Os dados foram colhidos tanto com a observação participante como pela aplicação de um formulário de pesquisas com questões que atenderam ao objetivo desse estudo. Os dados coletados e analisados sinalizam que a empresa por suas especificidades e características desenvolve as práticas de Gestão de Recursos Humanos coerentes com os objetivos globais da organização, mesmo em um ambiente usualmente turbulento, de forma que, tanto as necessidades da organização, quanto as necessidades individuais e coletivas de seus empregados possam ser satisfeitas através da implementação de políticas e práticas compreensíveis e eficazes. Conclui-se que a área de recursos humanos estudada incorpora práticas de valorização do capital humano e reconhece ser este o desafio para se tornar o personagem principal de transformação dentro da organização.
Palavras-chave: Gestão de recursos humanos; estudo de caso, capital humano vulnerável. ABSTRACT: The objective of this work is to study human resource management in a company autoviária in Fortaleza and contribute to a reflection on its importance in contemporary organizations. The theoretical discussion covers the key concepts of modern human resource management and its opposition to the traditional sector of Human Resources. The theme of our research is questioned as follows: how developed people management in the company consulted? Aims at the enhancement of professional and human capital? The methodology includes a case study with a direct approach with the sector responsible for HR data were collected with both participant observation and by applying a form of research on issues that met the objective of this study. The data collected and analyzed by signal that the company develops its specific characteristics and practices of Human Resource Management consistent with the overall objectives of the organization, even in an environment usually turbulent, so that both the organization’s needs, the needs individual and collective employees can be met through the implementation of policies and practices understandable and effective. It is concluded that the areas of human resource practices studyincorporates human capital and recognizes that this is the challenge to become the main character of transformation within the organization. Keywords: Human resource management; Case study; Human capital vulnerable.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
5
1 INTRODUÇÃO
O objetivo geral da moderna
gestão de Recursos Humanos é assegurar
que a organização possa atingir seus
objetivos pela utilização adequada da força
de trabalho. Para tanto, as organizações
necessitam não somente de pessoal
qualificado, mas também de sistemas
eficientes e eficazes e de gestão em que
o empregado possa ser compreendido
como parte fundamental do acúmulo do
capital, portanto um novo elo denominado
de capital humano. O desenvolvimento
institucional requer não só que a pessoa
certa esteja no lugar certo no momento
certo, mas também que a organização
possua um ambiente de trabalho
compatível com os seus sistemas
operacionais e disponibilidade de garantir
novo modelo de humanização das relações
entre capital e trabalho.
Este trabalho foi elaborado
buscando compreender como a gestão de
recursos humanos lida com as turbulências
próprias de uma empresa autoviária na
cidade de Fortaleza, a partir de
informações da própria organização.
Trata-se de um estudo focado numa única
empresa, portanto um Estudo de Caso,
determinado, que pretende contribuir com
uma reflexão crítica no âmbito da
Administração.
A empresa que disponibiliza de
uma gestão de Recursos Humanos
competente tende a garantir controle sobre
conflitos, podendo traçar metas mais
responsivas, e responder as demandas do
mercado, como também estar preparada
para a boa oferta de seus serviços,
reduzindo os custos e ainda buscar ser
socialmente correta.
Com os avanços dos campos de
conhecimentos da moderna Administração
no mundo globalizado, o cenário de
Recursos Humanos passou de um mero
setor ou departamento de pessoal para se
tornar um novo campo discursivo em que
são considerados obsoletos os antigos
paradigmas do modelo de chefia da
administração clássica, que foi constituída
sob os campos ideológicos assentados
numa visão mecanicista, sistemática,
metódica, de controle e obediência.
O discurso que responde ao
contexto do mundo globalizado é superar
essas antigas práticas, e de certa forma
humanizar as relações capital trabalho,
como forma de valorizar a nova categoria
que é o capital humano. Se antes, as
angústias marxistas se debruçavam sobre
as relações de controle e dominação entre
patrão e proletário e consigo toda uma
rede complexa de discussão dos últimos
100 anos, cenário contemporizado por
conflitos ideológicos que dominaram as
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
6
discussões capital trabalho. O século XXI
assiste o desmonte desse modelo. Já não
há proletário, àquela categoria explorada e
aviltada, controlada, dominada, mas ao se
metamorfosear em um novo ente com
novas roupagens, assume a vestimenta de
colaborador aprioristicamente valorizado
como capital humano.
Diante da nova ordem mundial do
capitalismo e o papel da Administração, o
antigo setor de Recursos Humanos parece
ainda sobreviver em algumas práticas
empresariais, denotando que a mudança a
uma nova hegemonia não é um processo
imediato em algumas situações. Esse
embate discursivo entre a tradicional
Administração e as novas ordens
impositivas do mundo global, nos
mobiliza o empreendimento acadêmico
desse breve artigo que tem como objetivo
geral estudar em uma empresa autoviária
na cidade de Fortaleza como esse processo
está sendo efetuado. Especificamente
identificar como é caracterizado o perfil e
do capital humano da empresa,
indicadores salariais, escolarização; e
como a gestão de RH responde aos
desafios de um modelo de gerir pessoas
sob as novas configurações paradigmáticas
da moderna gestão de pessoas.
O tema da nossa pesquisa: Gestão
de Recursos Humanos ou gestão de
pessoas poderá ser problematizada da
seguinte forma: como é desenvolvida a
gestão de pessoas na empresa
consultada? visa a valorização dos
profissionais e do seu capital humano?
Para responder a esse
questionamento tomamos como hipótese
básica de nosso trabalho a seguinte: A
área de Recursos Humanos deixou de ser
um mero departamento de pessoal para se
tornar o personagem principal de
transformação dentro da organização?
2 METODOLOGIA
Para a comprovação dessa hipótese
escolhemos como procedimento
metodológico, um estudo de caso de
coletando dados em Fontes Primárias:
através do contacto direto com o Sujeito
(a) responsável do Setor, que foi travado
pessoalmente, conversando com os
motoristas, trocadores e mecânicos, e a
plicação de um formulário de pesquisa
contendo questões que atenderam ao
objetivo de estudo.
Quanto ao campo de investigação
– abrangeu dois aspectos importantes:
limite no tempo; meses de agosto a
novembro de 2011; quanto ao espaço
geográfico: cidade de Fortaleza. Quanto ao
nível de investigação englobou três
estágios: exploratório, de investigação e
de discussão de hipótese.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
7
A escolha da amostra não é
numérica e nem representativa de todo o
seguimento de autoviárias na cidade de
Fortaleza. A escolha da amostra é apenas
significativa, ou seja, um instrumento que
consiga levantar a problemática
comentada anteriormente, e a partir dessa
problematização, ensejar o
aprofundamento teórico. Aplicamos o
formulário de pesquisa com o
responsável do setor de Recursos
Humanos e mantivemos mais de 5
encontros de 1 hora momentos em que
aprofundamos nossas discussões e dúvidas
quanto às questões preenchidas no
formulário de pesquisa,como também
conseguimos mergulhar com mais
profundidade no cotidiano gerencial do
setor de Recursos Humanos, participando
de conversas habituais com os
motoristas, trocadores, compartilhando de
suas horas de folga no setor de lazer da
organização, acompanhando o cotidiano
de chagada dos profissionais, a saída para a
rua, e sua chegada na hora de entregar o
carro.
A empresa estudada foi escolhida
por ser mais viável estrategicamente aos
interesses dos pesquisadores. Por questões
da ética na pesquisa seu nome não será
mencionado, como também dos sujeitos
participantes do Estudo. Iniciamos a
pesquisa depois dos protocolos éticos
estabelecidos entre Coordenação do
Curso, pesquisadores e aval da
Organização. Esta é localizada cidade de
Fortaleza- Ceará tem um amplo espaço
onde são divididos seus setores, recursos
humanos, treinamentos, garagem, posto
de combustível, ala de descanso, portaria
e almoxarifado. A seguir transcrevemos
texto produzido pelo setor de Recursos
Humanos: (Fonte, Gerente de RH, 2011.
Fortaleza).
Conta com 890 colaboradores sendo 600 no tráfego onde divide-se em motoristas, manobristas, controladores e auxiliares. A manutenção dividi-se em lanterneiros, eletricista, mecânicos, abastecedores de veículos.Por se tratar de uma empresa que lida com o público corpo-a-corpo é trabalhado pelo RH o lado emocional de seus colaboradores para que quando acontecer assaltos, colisão ou situações inusitadas eles estejam preparados para resolver pacificamente.Uma empresa tradicional no ramo de autoviação destaca-se na sociedade por deixar que seus usuários e colaboradores dêem opinião sobre o que acham e esperam da empresa.Atualizando sempre sua frota de veículos visa futuramente proporcionar aos seus usuários carros com ar-condicionado.Por se tratar de uma empresa onde a maioria de seus colaboradores é do sexo masculino, onde é mais propicio a discussão e conflito até mesmo por falta de informação, Visando o bem estar de seus colaboradores onde um de seus espaços esta destinado ao lazer tendo bilhar, pingue- ponguei, jogos de damas, jogos de dominó, totó e tem uma caixa de sugestões onde cada colaborador pode fazer suas observações indicando filmes palestra ou algum outro tipo de diversão.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
8
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Gestão de pessoas
O cenário atual do capitalismo
globalizado demanda alguns focos de
atenção específicos na Gestão de Pessoas
para que as organizações efetivamente
gerenciem seus recursos humanos como
diferencial competitivo e tenham sucesso
na implementação de suas estratégias.
A qualidade da gestão de recursos
humanos exigido no canário
contemporâneo é mais amplo do que os
defendidos e aplicados na tradição do qual
dava conta de responder as demandas
burocráticas de controle de pessoal, e não
investia-se na qualidade e de uma gestão
que respondesse às demandas do capital
humano. A gestão das pessoas deve incluir
esta preocupação. A O antigo setor de
recursos humanos não poderia atender
demandas sobre as quais o mundo do
trabalho e suas novas configurações do
capitalismo em crise. Analisar a Gestão
de Pessoas pode suportar o entendimento
sobre o capital humano no trabalho em
razão do sucesso e dificuldades dessa
gestão em cada contexto organizacional.
Corroborando Sovienski e Stigar (2008, p.
4) argumenta que:
Vivemos na sociedade do conhecimento, onde o talento humano e suas capacidades são vistos como fatores competitivos no
mercado de trabalho globalizado. Porem esse talento e essa capacidade tem que ser vista com outros olhos, olhos de colaboradores e não de concorrentes. Necessitamos assim resgatar o papel do ser humano na organização, a fim de torná-los competentes para atuar em suas atividades como colaboradores. É com este cenário que as organizações devem ter a visão de que o Capital Humano será seu grande diferencial. Assim surge um novo conceito em gestão de pessoas.
Neste contexto, Chiavenato (1999, p. 59) conceitua Administração de Recursos Humanos
(ARH) ou Gestão de Pessoas como sendo:
Um conjunto de políticas e práticas para conduzir os aspectos gerenciais relacionados às pessoas, incluindo recrutamento, seleção, treinamento, recompensas e avaliação de desempenho; uma função administrativa que contrata, treina, avalia e remunera os colaboradores; um conjunto de decisões integradas sobre as relações de emprego que influenciam a eficácia dos colaboradores e das organizações; e uma função na organização que está relacionada à provisão, treinamento, desenvolvimento, motivação e manutenção dos colaboradores.
Gerir as pessoas virou um desafio
estratégico de muitas organizações na
atualidade. Garantir o comprometimento e
desenvolvimento do ativo humano para a
implementação de objetivos estratégicos e
busca de melhores resultados é um
processo complexo que deve ser
arquitetado. As organizações devem
elaborar estratégias, políticas e práticas,
bem como conceber uma estrutura de
Recursos Humanos que contribua com
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
9
essa gestão, buscando novas formas de
gestão e atingir a missão institucional. A
esse respeito Sovienski e Stigar (2008, p.
4) assim se reportam:
Os avanços observados nas últimas décadas têm levado as organizações a buscarem novas formas de gestão com o intuito de melhorar o desempenho, alcançar resultados e atingira missão institucional para o pleno atendimento das necessidades dos clientes. Nota-s também que o sucesso das organizações modernas depende, e muito, do investimento nas pessoas, com a identificação, aproveitamento e desenvolvimento do capital intelectual.
O capital humano contém em seu
sentido igualmente o capital intelectual, as
competências, habilidades, dentre outros
conhecimentos e práticas, o sentido dos
valores morais, sócio ambientais,
ecológicos, humanitários. O trabalhador do
passado visto em sua expressão de
proletário, explorado pelo patrão, pelo
capital, encarna contemporaneamente, as
representações performativas de um
discurso do capitalismo humanizado. Se
antes é o proletário produto de um
capitalismo selvagem, hoje podemos
identificar que a globalização encarna o
mito do capitalismo solidário. Em tempos
de novas crises do sistema capitalista, sua
sobrevivência revasculariza-se em novos
modelos de controle e poder. É à hora da
força valorada do colaborador.
Para Pfeffer (1998) o sucesso
organizacional está em entregar valor aos
funcionários e essa capacidade
organizacional está relacionada de com
como esses são tratados, suas habilidades
e competências e seu comprometimento
com a organização.
De acordo com Arantes (1998,
p.34), administrar ou gerir uma empresa
consiste “em uma ação presente em todos
os departamentos e em todos os níveis da
organização, tendo a mesma por função o
planejamento, a coordenação, a
organização, a direção, o controle assim
como a motivação da atividade
empresarial.”
A Gestão de Pessoas pode ser entendida como a versão atual da Administração de Recursos
Humanos. Segundo Pestana et al., apud Chiavenato (1994, p 77):
Existe uma grande diferença entre gerenciar pessoas e gerenciar com pessoas. No primeiro caso, as pessoas são o objeto da gerência, são guiadas e controladas para alcançar determinados objetivos. No segundo caso, as mesmas são o sujeito ativo da gerência, são guiadas e controladas para alcançar determinados objetivos. No segundo caso, as mesmas são o sujeito ativo da gerência, são elas que guiam e controlam para atingir os objetivos da organização e os objetivos pessoais.
Segundo Fisher e Albuquerque (2001, p 16), gerenciar pessoas ou a gestão de pessoas é:
a preocupação de muitas organizações para que seus objetivos sejam atingidos. O gestor – líder – de um grupo eficaz e motivado deverá ser capaz de enfrentar diversos desafios estratégicos, entre eles manter a motivação e desenvolver
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
10
uma cultura gerencial voltada para a excelência.
A gestão de pessoas,
diferentemente da gestão de recursos
humanos tradicional, tem como tarefa o
desenvolvimento de capacidades
empreendedoras, um novo diferencial que
surge como uma das estratégias de
sobrevivência do capital em crise, no qual
a empregabilidade torna-se a cada dia mais
escassa em todos os lugares do mundo.
O empreendedorismo é a última
inventividade que pode sobrepor-se a um
mundo sem emprego. E o interessante é as
próprias organizações simples ou
complexas exigem e estimulam o
empreendedorismo individual, pois essa
performance é valor que agrega-se ao
mundo competitivo do mercado.
Colaboradores empreendedores, assim
identificados em suas práticas podem
contribuir com as flutuações e crises
internas da própria empresa.
E esta a relação no novo mundo
do trabalho, insegurança e competência
andam de mãos dadas e o
empreendedorismo torna-se de forma um
capital intelectual que pode ser
capitalizado pela gestão. Sovienski e Stigar
(2008, p. 6) argumentam que:
Para isso a gestão de pessoas procura conscientizar esse colaborador de que suas ações devem ser respaldadas nos seguintes princípios: Desenvolvimento
responsável e ético de suas atividades; Capacidade de atuação baseada nos princípios da gestão empreendedora;Capacidade de realização de tarefas que incorporem inovações tecnológicas;Capacidade de trabalhar em rede; Capacidade de atuar de forma flexível. Conhecimento da missão e dos objetivos institucionais das organizações em que atuam; Dominar o conteúdo da área de negócio da organização; Capacidade de atuar como consultor interno das organizações em que trabalham, entre outros.
Para Vergara (2000, p. 97), entre as
capacidades requeridas para o gestor estão
o "compartilhar visão, missão, objetivos,
metas, estruturas, tecnologias e
estratégias", além de ter iniciativa,
comprometimento, atitude sinérgica e
ousadia.
A Gestão de Pessoas, portanto,
baseia-se no fato de que o desempenho de
uma organizaçãodepende fortemente da
contribuição e do esforço das pessoas que
a compõem e da forma como elas são
estimuladas, capacitadas e mantidas num
ambiente de trabalho adequado, o qual
deve permitir a satisfação de suas
necessidades e as da organização.
A falta de atenção às práticas da
gestão de pessoas interfere diretamente
no alcance dos objetivos organizacionais,
principalmente no que tange à
implementação de processos de qualidade.
A qualidade resulta de um comportamento
positivo e concentrado dos colaboradores.
Para alcançar a excelência e a consequente
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
11
e desejada competitividade no mercado,
as organizações precisam considerar
atualmente que gerir pessoas significa
estimular o envolvimento e
desenvolvimento das mesmas. Desta
forma, o comprometimento da
administração da instituição e de seus
colaboradores, assim como o investimento
em melhoria contínua e capacitação destes
são imprescindíveis à sobrevivência da
organização. (MAXIMIANO, 2005).
Conforme Vergara (2000) as
empresas não nascem da terra, do céu
ou do mar, mas das construções sociais.
Dessa forma, penetrar na sutileza das
intenções humanas e tentar desvendar a
teia que tecem é de extrema relevância
para que se possa entender o mundo dos
negócios e nele atuar de forma
consequente.
O enfrentamento do mundo
moderno pelas organizações não pode ser
realizado com uma concepção
exclusivamente econômica, que enxerga o
ser humano como um fator de produção,
um recurso; mas sim com uma
concepção transformadora que considera
o ser humano um parceiro efetivo na
busca dos resultados.
Albuquerque (2002), com essa
argumentação, propõe a estratégia do
comprometimento para direcionar a gestão
das pessoas. Cada vez mais as pessoas
passam a significar o diferencial
competitivo que matem e promove o
sucesso organizacional. Como também a
constituir a competência básica da
organização, a sua principal vantagem
competitiva em um mundo globalizado,
instável, mutável e fortemente
competitivo.
Lacombe (2008) analisa a
abordagem estratégica de Gestão de
Pessoas. Nela, as pessoas são entendidas
como um recurso estratégico para a
obtenção de vantagem competitiva e as
decisões sobre aspectos da relação de
emprego são tomadas no mais alto nível
hierárquico organizacional de forma
planejada e pró-ativa.
Também com o enfoque de
enfrentamento dos desafios de negócio,
Woolf (2005) aponta que as organizações
precisam priorizar o engajamento, além de
terem pessoas fazendo o que é preciso,
quando é preciso. Reconhecendo que as
pessoas podem identificar problemas e
resolvê-los, as organizações devem
priorizar ao máximo, estratégias de gestão
que viabilizem o envolvimento contínuo
das pessoas enfocando o atendimento de
suas necessidades.
Conforme Chiavenato (1999, p.
67), a Gestão de Pessoas é “uma área que
depende de vários aspectos como: a
cultura da organização, da estrutura
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
12
organizacional adotada, das características
do contexto ambiental, do negócio da
organização, da tecnologia utilizada, dos
processos internos e das mudanças”. O
autor refere-se às pessoas como recursos
ou como parceiros da organização. Para
ele, os colaboradores podem ser tratados
como recursos produtivos das
organizações, os chamados recursos
humanos.
Como tais, eles precisam ser
administrados, o que envolve
planejamento, organização, direção e
controle de suas atividades, pois são
consideradas as pessoas passivas nas
organizações, porém podem ser parceiros
das organizações que fornecem
conhecimentos, habilidades, capacidades
e inteligência. A inteligência proporciona
decisões racionais, tornando as pessoas o
capital intelectual da organização. As
empresas bem-sucedidas não tratam seus
colaboradores como simples empregados
contratados, mas como parceiros de
negócios.
3.2 Aspectos fundamentais da moderna
gestão de pessoas
De acordo com Chiavenato (1999,
p. 49), a Gestão de Pessoas se baseia em
três aspectos fundamentais:
1. As pessoas como seres humanos, dotadas de personalidade própria, com histórias particulares e diferenciadas; pessoas como meros recursos da organização; 2. As pessoas como atividades inteligentes de recursos organizacionais, fornecedoras de inteligência, talentos e aprendizados indispensáveis à sua constante renovação e competitividade, em um mundo de mudanças e desafios; e 3. As pessoas, como parceiros da organização, capazes de conduzi-la a excelência e ao sucesso, porque investem seus esforços, dedicação, responsabilidade, esperando um retorno desse investimento, tal como salário, incentivos financeiros ou planos de carreira.
Uma organização pode melhor
administrar seus custos e investimentos
em pessoas, compatibilizando políticas e
práticas como exemplificado
anteriormente. Vários outros benefícios
podem ser obtidos pensando
especificamente nas pessoas. Com o
alinhamento das práticas, os funcionários
estarão recebendo mensagens consistentes,
vindas de fontes múltiplas. Para eles, fica
mais fácil entender e atuar de acordo com
o comportamento esperado pela
organização (CHIAVENATO, 1999).
O aspecto social também fica
privilegiado, é possível aprender
observando comportamentos de outros e
as respostas da organização a esses
comportamentos. É, também, mais fácil
atrair pessoas com valores alinhados à
organização e podem-se melhor
administrar questões ligadas a sentimento
de injustiça no tratamento individual que
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
13
são prejudiciais na busca do
comprometimento das pessoas.
(CHIAVENATO, 2005)
3.3. Objetivos da gestão de pessoas
Para Chiavenato (1999), as
organizações estão percebendo que
somente podem crescer se forem capazes
de otimizar o retorno sobre o
investimento de todos os colaboradores,
especialmente o dos funcionários.
Pensando assim, para que os objetivos da
Gestão de Pessoas sejam alcançados, é
necessário que os gerentes tratem as
pessoas como elemento básico para a
eficácia organizacional.
A Gestão de Pessoas é um
processo de toda a organização. Em uma
análise muito simples, pode-se inferir que
quem deve gerir as pessoas são os
responsáveis por elas, os líderes, os
gerentes, os chefes, em um processo de
direcionamento e suporte a execução do
trabalho.
Os objetivos da Gestão de Pessoas
devem contribuir para eficácia
organizacional através dos seguintes
meios: ajudar a organização a alcançar
seus objetivos e realizar sua missão;
proporcionar competitividade à
organização, empregando as habilidades e
capacidade da força de trabalho;
proporcionar à organização colaboradores
bem treinados e bem motivados, dando
reconhecimento às pessoas e não apenas
dinheiro; aumento de autoatualização e a
satisfação dos colaboradores no trabalho
para que o colaborador seja produtivo,
sinta que o trabalho é adequado às suas
capacidades e que está recebendo um
tratamento justo.
Para os colaboradores, o trabalho
é a maior fonte de identidade pessoal.
Assim, os colaboradores satisfeitos não
são necessariamente os mais produtivos,
mas colaboradores insatisfeitos tendem a
desligar-se da empresa, ausentar-se
frequentemente, além de produzir com
má qualidade, o que o diferencia do
empregado satisfeito; desenvolver e
manter qualidade de vida no trabalho,
através de um programa que procura
estruturar o trabalho e o ambiente no
sentindo de satisfazer a maioria das
necessidades individuais do empregado e
tornar a organização um local desejável
e atraente; administrar a mudança através
dos profissionais de recursos humanos;
manter políticas éticas e comportamento
socialmente responsável, sendo que toda
atividade do administrador de recursos
humanos deve ser aberta, confiável e ética
(CHIAVENATO, 1999,).
Dessa forma, os objetivos podem
ser considerados de fundamental
importância para o processo de gestão de
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
14
pessoas, conforme descrito no próximo
tópico.
3.4 Processo de gestão de pessoas e clima
organizacional
Conforme Chiavenato (1999, p. 145), a Administração de Recursos Humanos (ARH) desempenha as quatro funções administrativas:
planejar, organizar, dirigir e controlar. Refere-se às políticas e práticas necessárias para se administrar o trabalho das pessoas. Essas políticas e práticas podem ser resumidas em seis processos básicos na Gestão de Pessoas, como: processo de agregar pessoas: recrutamento e seleção; processo de aplicar pessoas: desenho de cargos, avaliação e desempenho; processo de recompensar pessoas: remuneração, benefícios e serviços; processo de desenvolver pessoas: treinamento, mudanças e comunicação; processo de manter pessoas: disciplina, higiene, segurança, qualidade de vida e reações com sindicatos; processo de monitorar pessoas, através de bancos de dados e sistema de informações gerenciais.
As constantes mudanças que
ocorrem nas empresas exigem das pessoas
que as experienciam alterações em sua
estrutura de crenças e valores pessoais.
Isso as leva a vivenciar situações de perda
de referencial; medo e angústia como
respostas psicológicas comuns a situações
sentidas como ameaçadoras por serem
desconhecidas. Por isso o caráter
performativo do espírito empreendedor
ser essencial diante dessas flutuações e ou
crises nas organizações.
No cenário competitivo da
atualidade, cada vez mais os empregados
são o diferencial de uma empresa para
outra, o capital humano; as pessoas que
nelas trabalham têm se apresentado
expressivamente como um ponto forte ou
fraco das empresas em relação as suas
concorrentes.
Mas não são quaisquer pessoas que
fazem as coisas acontecerem e sim
pessoas com capital intelectual, aptas a
responder aos desafios, a contribuir com
os eventos de crise. O trabalho deve ser
uma adesão integrada à missão da
organização, o que em outras palavras
pode-se recobrar na metáfora: “vestir a
camisa da empresa”, uma relação de afeto,
integração, paixão, garra, poder de lutar,
enfrentar, brigar, enfim encarnar o aparato
ideológico e institucional da organização.
A gestão de pessoas nas
organizações tem percebido que uma
força de trabalho motivada e criativa tem
se tornado o principal ativo intangível que
potencializa a vantagem competitiva
organizacional. Esse ativo intangível,
imaterial, abstrato, se constitui num
valor que passa a ser redimensionado na
esfera simbólica, e não material.
O clima organizacional é um
processo complexo que deve levar em
consideração as diversas variáveis
estruturais como crenças, valores, estilos
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
15
e itens tecnológicos, ou seja: processos e
instrumentos de trabalho. Além disso,
deve-se conhecer a organização como
um todo, tomando como base sua
estrutura, cultura, gestão,
comprometimento dos colaboradores e
objetivos compartilhados entre empresa e
empregados.
O alto nível de comprometimento
e satisfação no trabalho dos
colaboradores e o baixo nível de
rotatividade de pessoal podem estar
relacionados com a ética da organização.
Contudo, deve-se frisar que a questão
ética não é unidirecional e sim de mão
dupla, tanto uma postura individual do
colaborador, como manifestada pela
organização, em todos os aspectos,
direitos trabalhistas, respeito às
diversidades de orientação, entre outros
juízos de valor que devem marcar os
princípios normativos e morais nas
relações políticas e sociais.
Os estudos de Ambrose et al.,
(2008) sobre clima e ética sugerem que
as pessoas se sentem mais empenhadas e
dispostas a ficar em uma organização
quando os seus valores éticos são
congruentes com os da organização,
sendo estes, importantes preditores
das atitudes dos empregados.
O clima organizacional influencia
a motivação, o desempenho e a
satisfação humana para o trabalho. As
pessoas tendem a criar expectativas com
relação a recompensas, satisfação e
frustração conforme suas percepções do
clima organizacional. Estas expectativas
provocam consequências que resultam de
diferentes ações e tendem a conduzir a
motivação (CHIAVENATO, 2005).
Desta forma, a motivação é
definida em dois componentes:
intrínsecos e extrínsecos. Motivação
intrínseca diz respeito às recompensas
que se originam da atividade em si – o
próprio comportamento é
intrinsecamente recompensador.
Motivação extrínseca é
frequentemente associada a práticas de
recursos humanos. É através da
satisfação indireta ou vias externas, e é
normalmente encontrada na tradicional
estrutura de recompensa por
desempenho. Estudos sugerem que uma
combinação entre esses dois tipos de
motivação aumenta sinergicamente o
desempenho global (CHIAVENATO,
2005).
Quando as empresas possuem
um nível mais elevado de clima
inovador, os empregados estão mais
inclinados a aumentar a interação entre
membros organizacionais e a troca e a
partilha de conhecimento
(CHIAVENATO, 2005). Assim, o clima
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
16
organizacional passa, portanto, a ser
derivado do conjunto de
comportamentos das pessoas que se
relacionam na organização. E o
comportamento humano é influenciado
pelas suas percepções, pelas atitudes de
cada indivíduo. Isto significa conhecer a
cultura e a motivação dos indivíduos e do
conjunto.
4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
A empresa autoviária tem 70% do
quadro de colaboradores, do gênero é
masculino e 30% feminino. O fato da
presença do gênero feminino invadir o
espaço laboral que tradicionalmente
pertencia somente ao sexo feminino, é um
evento novo. São questões relacionadas
segundo a empresa pela falta de escassez
da mão de obra masculina.
Por incrível que pareça sobram vagas, e esse é um fato decorrente da oferta de trabalhos por outros grupos que estão realizando obras de infraestrutura da copa do mundo a ser realizada na capital cearense que precisa de profissionais do sexo masculino para o
serviço de transporte e carretas de material pesado, e tem um nível de oferta salarial 100% mais elevada do que o padrão oferecido pelas empresas autoviárias na cidade. (Fonte: Gestão de Recursos Humanos, Empresa pesquisada. Fortaleza. 2011)
A proporção feminina tende a aumentar, pois a empresa:
implantou um serviço de educação e preparo de mulheres tanto para os postos de motoristas, trocador, como para outras atividades correlacionadas. Ainda segundo a gestora, fonte de nossas pesquisas, as mulheres dedicam-se mais ao trabalho com muitas responsabilidades sendo que a maioria são chefes de família. (Fonte: Gestão de Recursos Humanos, Empresa pesquisada. Fortaleza. 2011)
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
17
Gráfico 2 – Quanto a idade
A faixa de idade que predomina em
sua maioria tem até 30 anos.É a faixa mais
produtiva da vida do trabalhador
motorista. Acima de 50 anos o número
de motoristas vai declinando, e são
direcionados ao administrativo e da
conservação e limpeza.
O restante é dividido como
cobradores, manutenção e portaria. Até 30
anos tem 30%, de 30 a 40 anos 27%, de 41
a 50 anos 20% e acima de 50 anos 23%.A
faixa etária acima de 50 anos não é um
impedimento para a função de motorista,
apesar do dispêndio de carga horária
muitas vezes exaustivo (ênfase dada
pelospesquisadores).
Quanto a escolaridade
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
18
Quanto ao nível de escolarização
10% tem o nível fundamental; 50% o
nível médio; nível superior 30%; nível
técnico 8% e especialização 4%. Nível
fundamental é a exigência só pra quem é
da conservação, limpeza e motoristas.
O nível médio em diante é para os
demais cargos e funções administrativas.
Um fato nos chamou a atenção: segundo
informações por nós colhidas, do
motorista é exigida além da experiência,
“a boa aparência” (ênfase dada pelos
pesquisadores): E “boa aparência”
significa ser limpo, tratável, educado.
E um dado interessante é que a
empresa enseja, encoraja e estimula o
crescimento educacional, ofertando bolsas
integrais de ajuda para cursos superiores,
caso algum funcionário deseje estudar em
Instituições superiores inclusive. Esse
dado é uma importante fonte de validação
de que o colaborador pode desenvolver e
adquirir novos itens ao seu capital
intelectual, o chamado capital humano.
Gráfico 4 – Quanto ao salário
De 02 a 04 salários é a classe
que tem o maior número de
colaboradores que engloba cobradores,
porteiros e manobristas. Acima de 8
salários é a direção.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
19
Gráfico 5 – Quanto às expectativas dos colaboradores na escolha da empresa
De acordo com o Gráfico 5, 30%
buscaram trabalhar na empresa por ter
baixo grau de escolaridade, 27% por não
ter experiência de forma alguma na
carteira profissional, 23% acham o salário
compensador para a categoria, 20%
entraram para trabalhar na empresa por ter
uma visão de formação onde a empresa
auxilia na graduação e pós graduação.
Ao analisarmos o gráfico 5
identificamos que a baixa escolaridade é
um item importante que dá acessibilidade
à empresa na função de motorista. Daí
o grande desafio da gestão que quer
ampliar o capital intelectual de seus
colaboradores.
A empresa oferece
sistematicamente cursos de atualização em
direção defensiva, boas práticas de
relações humanas com os clientes,
encorajamento à participação em oficinas
de dinâmicas de grupo entre outras esferas
de aperfeiçoamento. Uma das graves
questões impeditivas de ampliação do
capital humano são as questões familiares.
Muitos funcionários (motoristas,
trocadores) têm problemas com pensões
alimentícias, seu salário fica muito
comprometido pelas obrigações com a
justiça, por isso uma alta rotatividade,
doenças associadas à depressão,
abandono, crises existenciais, entre outras
manifestações de mal estar profissional e
humano. Isso constitui-se de fatores
complicadores e até invibializadores de
pensar-se um clima organizacional
positivo para a organização.
Diante desses eventos, o esforço da
gestão de pessoas torna-se um grande
desafio, de conciliar qualidade externa e
qualidade interna. Baixa escolarização,
questões familiares sob a determinação de
partilhas salariais, no final das contas, a
autoviária conta com o capital mais
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
20
significativo da empresa (motoristas e
trocadores) desfalcado, vulnerável.
Gráfico 6 – Quanto ao conhecimento da empresa para os trabalhadores
O Gráfico 6 corresponde ao nosso
item de questão que indaga de como a
Gestão recolhe dos colaboradores a
informação sobre como recebem
informações sobre vagas na empresa
autoviária. A porcentagem indicada por
amigos, o famoso “boca a boca” tem
grande relevância, e podemos dizer que
uma da variáveis é cada vez mais por
causa da migração desordenada de pessoal
do interior para a capital. O
INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO
DO TRABALHO-SINE que faz as
escolhas preliminares e encaminha os
casos escolhidos. Amigos 30%, SINE
60% SINE, internet 5% e jornais/revista
5%.
Gráfico 7 – Quanto ao lazer
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
21
O Gráfico 6 responde a uma
questão importante na relação trabalho,
qualidade de vida e lazer. A empresa
estimula atividades de lazer dentro da
própria organização, dispõe de campo de
futebol, sendo este sido criado por ter sido
a escolha da grande totalidade dos
colaboradores. Os mesmos utilizam-se em
suas horas livres com partidas
(rachas).Tem também uma quadra para
vôlei e um salão com bilhar e outros jogos.
Identifica-se um esforço de
corresponder e oferecer um clima
organizacional mais humano, sendo que o
lazer é um dos fortes elementos desse
processo. Além das atividades esportivas,
há apoio psicológico tanto para os
profissionais como para as suas famílias, e
essa questão é importante, principalmente
em se tratando de um capital humano que
chamamos de vulnerável.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tema da nossa pesquisa: Gestão
De Recursos Humanos Ou Gestão De
Pessoas pretendeu responder a seguinte
questão de pesquisa: como é
desenvolvida a gestão de pessoas na
empresa consultada? Visaria a
valorização dos profissionais,
potencializando o seu capital humano?
Para responder a esse
questionamento tomamos como hipótese
básica de nosso trabalho a seguinte: A
área de Recursos Humanos deixou de ser
um mero departamento de pessoal para se
tornar o personagem principal de
transformação dentro da organização?
Ao elaborarmos nossas
considerações finais, acreditamos que
nossa hipótese básica de trabalho está
comprovada de acordo com os dados que
colhemos. O mergulho na empresa por
nós empreendido e a geração dos dados
coletados asseguram apriori que a
autoviária estudada se esforça
tenazmente para ser não mais um setor
de recrutamento, e sim um espaço de
gestão de pessoas, pois dialoga
intensamente com a Direção Geral, discute
e coparticipa de ideias de melhorias para
os colaboradores, não descrimina as
diversidades de orientações ideológicas,
políticas, educacionais, enseja o
encorajamento dos cursos de
aperfeiçoamento, conquistou da Direção
para que esta pagasse de forma integral
os estudos dos colaboradores, inclusive na
esfera das Instituições Universitárias
privadas, promove reuniões de apoio
psicoterapêutico com os profissionais e
seus familiares, entre outras atividades
sócio-educacionais.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
22
A gestão de pessoas reconhece a
necessidade de ampliar o capital
intelectual e humano de seus
colaboradores e enfrenta muitas
dificuldades de capitalizar tais recursos,
pois a grande maioria dos profissionais
tem questões judiciais na área do salário
que já é descontando na folha de
pagamento. o que gera um grande
constrangimento e desconforto. Essa é
uma das questões muito relevante, pois os
mesmo pedem muitas escalas extras, o que
torna ilegal o exercício profissional, pois
ao excederem as horas se exaurem, pode
causar acidentes, entre outras questões.
Na empresa a gestão de pessoas é
dirigida por um profissional especialista
na área de psicologia com especialização
em recursos humanos, e isso é um grande
diferencial nesse processo.
Concluímos que de acordo com
nossas questões de pesquisa, a gestão de
pessoas é um grande desafio e por mais
que as epistemologias e teorias aqui
trazidas no referencial teórico sejam
responsivas ao conhecimento da ciência
da Administração, a gestão de pessoas em
cada contexto específico gera suas
próprias estratégias que não podem
servir de parâmetros universais, e sim
locais dadas as especificidades da cultura
organizacional.
O importante é identificar que o
antigo setor de recursos humanos que
tinha apenas como regra capacitações frias
e recrutamentos, é uma questão que não
se coaduna com as novas perspectivas de
gestão no mundo do capitalismo global,
contudo, mesmo diante dessa força de
homogeneização, cada cultura
organizacional alavanca os potenciais
capazes, os empreendimentos possíveis. A
história aqui apresentada não se conclui.
Deve ser continuada em novas pesquisas
no âmbito da ciência da Administração.
REFERÊCIAS ALBUQUERQUE, L. A gestão estratégica de pessoas: in Fleury et al., as pessoas na organização. São Paulo: Editora Gente, 2002. AMBROSE, M. L; ARNAUD, A. e SCHMINKE, M. (2008), Individual Moral Development andEthical Climate: The influence of Person-Organisation Fit on Job Attiudes, Journal of Business Ethics, 77, 323-333. ARANTES, N. Sistemas de gestão empresarial. São Paulo: Atlas, 1998. BERGAMINI, C.; CODA, R. Motivação e Liderança nas Organizações. São Paulo: Atlas, 1997. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999. . Recursos Humanos. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
23
FISCHER, A. L.; ALBUQUERQUE, L. G. de. Relatório de pesquisa tendências de mudanças na gestão de pessoas das empresas brasileiras: DELPHI RH-2010. [São Paulo]: MBA, USP, 2001. GIL, A. C. Administração de recursos humanos: um enfoque profissional. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999. LACOMBE, B. M. B. e CHU, R. A.. Políticas e práticas de gestão de pessoas: as abordagens estratégica e institucional. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rae/v48n1/v48n1a03.pdpdf>. Acesso em: 08 nov. 2011. MAXIMIANO, Antônio César Amaru. Teoria geral da administração: da revolução urbana a revolução digital. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005. PESTANA Maria Cláudia (et al.,). Desafios da sociedade do conhecimento e gestão de pessoas em sistemas de informação. Ci. Inf., Brasília, v. 32, n. 2, p. 77-84, maio/ago. 2003. PFEFFER, J. Seven Practices of Successful Organizacions. California Management. V. 40, no 2, 1998.
RIBEIRO, A. C. et al.,. A implementação de uma metodologia de planejamento estratégico em uma pequena empresa. Anais do XVI Encontro Nacional de Engenharia de Produção e II Congresso Internacional de Engenharia Industrial. Piracicada, set. 1996. SOVIENSKI, Fernanda; STIGAR, Robson. Recursos humanos x gestão de pessoas.Gestão: Revista científica de administração e sistemas de informação. Curitiba, v. 10, n. 10, p. 51-61, jan./jun. 2008. VERGARA, Sylvia Contant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2000. WAGNER III, John; HOLLENBECK, John. Comportamento Organizacional: criando vantagem competitiva. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. WOLFF, S. Informatização do trabalho e reificação: uma análise à luz dos Programas de Qualidade Total. Campinas: Editora da Unicamp; Londrina: Eduel, 2005.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
24
ACIDENTES DE TRABALHO E AS DOENÇAS OCUPACIONAIS NA
CONSTRUÇÃO CIVIL
Francisco Elivaldo B. do Nascimento
Aluno do curso de Administração na Faculdade Integrada da Grande Fortaleza [email protected] Nádia Marques Gadelha Pinheiro Professora Mestre do curso de Administração na Faculdade Integrada da Grande Fortaleza [email protected]
RESUMO: O setor da construção civil apresenta um dos maiores índices de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, muito deles fatais, o que sugere a necessidade de fortalecer a prevenção sob um processo operacional ancorado em pressupostos da moderna gestão de recursos humanos. Discutimos no presente estudo de base teórica e bibliográfica, os acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, pesquisados em base de dados do Ministério do Trabalho (BRASIL. 2011) comparando segmentos da construção civil no Ceará com outras regiões do Brasil no período de 2007 a 2009. Os dados consolidam 723.452 acidentes de trabalho, desses, 17.693 estão relacionados às doenças ocupacionais. Os números fazem parte de um contexto de relações complexas sócio demográficas que demandam políticas institucionais no âmbito do Estado no sentido de garantir aos trabalhadores dignidade e a vida. E no nível local da cultura organizacional, os acidentes e as doenças ocupacionais, resultantes do trabalho devem constar de uma agenda realizada de forma a atender aos objetivos globais da empresa e dos trabalhadores sob um processo integrado da moderna gestão de recursos humanos que possa atender aos imperativos legais e éticos do mundo do trabalho.
Palavras-chave: acidentes de trabalho; doenças ocupacionais; prevenção; construção civil; gestão em recursos humanos.
ABSTRACT: The construction industry has one of the highest rates of workplace accidents and occupational diseases, many of them fatal, which suggests the need to strengthen prevention anchored in a process operating on assumptions of modern human resource management. We discuss the theoretical basis of this study and literature, work accidents and occupational diseases, searched in database of the Ministry of Labour (BRASIL. 2011) comparing segments of the construction sector in Ceará with other regions of Brazil from 2007 to 2009. The data consolidate 723,452 workplace accidents, of which 17,693 are related to occupational diseases. The figures are part of a context of complex relationships sociodemographic requiring institutional policies within the State to ensure workers dignity and life. And at the local organizational culture, accidents and occupational diseases arising from work shall include a schedule performed in order to meet the overall goals of the company and workers in an integrated process of modern human resource management that can meet legal and ethical imperatives of the working world. Keywords: Work Injuries; Occupational Diseases; Prevention; Construction; Management of Human Resources.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
25
1 INTRODUÇÃO
Com o objetivo de apresentar como
uma empresa no ramo da construção civil
deve prevenir os acidentes de trabalho e as
doenças ocupacionais deles resultantes,
realizou-se esta pesquisa tendo como fonte
de dados o Departamento do Serviço
Especializado em Segurança e Medicina
do Trabalho do Ministério do Trabalho do
Brasil, (2011) referente ao período 2007 a
2009. Com isso, foram identificadas as
ocorrências com a precisão de tipo,
quantidade, causas e atividades atingidas.
Consideramos que os dados pesquisados
ensejam um novo olhar sobre as práticas
no mundo do trabalho, representando um
dos principais desafios no exercício de
atividade complexa como é o ramo da
construção civil.
O objetivo da geral desse trabalho
é estudar os acidentes de trabalho e as
doenças ocupacionais na construção civil
no Estado do Ceará no período de 2007 a
2009. Como objetivos específicos
contribuir com uma reflexão sobre como
prevenir acidentes e doenças ocupacionais,
identificar o caráter educativos das normas
operacionais de segurança no trabalho,
enfatizar a importância da moderna gestão
de recursos humanos(BRASIL, 2006)
para que os objetivos da prevenção de
acidentes e do e doenças ocupacionais
sejam alcançados.
A justificativa desse nosso
empreendimento intelectual está ancorada
nas razões de ordem teórica e de ordem
prática que tornaram importantes na
realização da pesquisa.O estágio em que se
encontra a teoria da moderna gestão de
recursos humanos respeitante ao tema,
enfatiza aspectos relevantes para que os
problemas relacionados ao
desencadeamento de acidentes e doenças
ocupacionais no ramo da construção civil
possam de fato ser enfrentados com
sucesso.
As contribuições teóricas que a
pesquisa proporciona é de grande interesse
acadêmico e social, pois aponta para a
possibilidade concreta de que sua
operacionalização possa de fato,
minimizar acidentes e garantir a redução
dessa estatística que reflete entre outras
questões a ineficiência de gestões de
recursos humanos não responsivas aos
novos desafios das relações do mundo do
trabalho.
Se acidentes e doenças
ocupacionais ainda estão presentes nas
estatísticas brasileiras, a despeito de
políticas públicas que defendem e
garantam juridicamente quer no âmbito
nacional como internacional de acordo
com as convenções da Organização
Internacional do Trabalho e Ministério do
Trabalho no Brasil, há nesse contexto no
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
26
mundo das suas aplicabilidades práticas,
necessidade de resolução de pontos
obscuros ainda não clarificados e nem
superados no âmbito da gestão de recursos
humanos.
O tema de nosso trabalho surgiu da
dificuldade prática a partir de nossa
experiência profissional que ao longo de
15 anos lida com a prevenção de
acidentes na construção civil, e
evidentemente, nos últimos anos, muito se
tem conquistado em termos de segurança
no trabalho, e se deve graças a vigilância
política do Ministério do Trabalho no
Brasil que prescreve normas reguladoras,
fiscaliza, multa, enfim, exerce um controle
legal muito grande, contudo, percebemos,
que o sucesso da prevenção, não é apenas
a aplicação de normas operacionais. Entre
o exercício da legalidade jurídica e o
mundo da prática, nos campos de trabalho
na lida diária, um ente é ponto
fundamental para garantia dessas
prescrições: gestão de recursos humanos,
como o aporte científico teórico capaz de
garantir a eficácia e a efetividade das
práticas nas relações diretas dos
trabalhadores em suas práticas cotidianas.
A dificuldade específica com a
qual se defronta e que se pretende resolver
por intermédio de nossa reflexão no
presente trabalho é o que conceituamos
como nosso problema de pesquisa: quais
condições exercem mais influência para
que a gestão de recursos humanos na
construção civil possa garantir a
prevenção de acidentes e doenças
ocupacionais?
Para responder ao problema
formulado propomos uma resposta
provável e provisória, isto é nossa hipótese
de trabalho: Se acidentes de trabalho e
doenças ocupacionais continuam a
ocorrer na construção civil, então há
grande indicação de que a gestão de
recursos humanos não está
operacionalizando práticas responsivas no
âmbito de suas competências.
2 Metodologia
Para responder, ou confirmar nossa
hipótese delimitamos nosso trabalho
quanto ao campo de investigação que
abrange dois aspectos: quanto ao limite no
tempo (período de 2007 a 2009); quanto
ao fato estudado (acidentes de trabalho e
doenças ocupacionais); e quanto ao nível
de investigação, descritiva com coleta de
dados secundários.A amostragem dos
dados secundários refere-se ao universo
estatístico de todas as ocorrências
cadastradas no Ministério do Trabalho no
Brasil referente ao Estado do Ceará e
Regiões.
O método de abordagem é o
hipotético dedutivo; o método de
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
27
procedimento é monográfico e as
Técnicas correspondem a coleta de dados
de documentação indireta, abrangendo a
pesquisa documental e a bibliográfica,
individual na vida real.
A organização instrumental da
pesquisa foi através da Documentação
consultada no serviço de informática do
referido Ministério do Trabalho, secção
Delegacia Regional do Trabalho situado
na cidade de Fortaleza. Trata-se de uma
pesquisa em dados secundários em bancos
de dados do Ministério do Trabalho e
Emprego no setor de Serviço
Especializado em Segurança e Medicina
do Trabalho, e na DATAPREVE (órgão
provedor de solução tecnológica de
informação para Previdência Social)
situada na cidade de Fortaleza realizado
nos meses de agosto a setembro de 2011,
com dados contabilizados referentes ao
ano de 2007 a 2009, com informações
sobre as ocorrências de acidentes, causas e
as doenças ocupacionais por idade e sexo.
O instrumento de coleta de dados
foi um Formulário no qual anotamos os
dados notificados de acidentes de trabalho
e doenças ocupacionais na construção
civil, excluídos outras fontes de trabalho.
A análise e interpretação dos dados são
realizadas no nível da Interpretação,
interpretação crítica reflexiva da análise de
discurso segundo Minayo, (1996),
enfatizada pela representação estatística
em Quadros.
O embasamento teórico defende
como teoria de base o aporte e a
contribuição da gestão em recursos
humanos sob as novas constituições da
moderna administração. O referencial e o
diálogo teórico que embasam a discussão
dessas questões apoiam-se no Texto:
Introdução à Gestão de Recursos
Humanos: texto de referência para a área
temática de gestão de pessoas / Ministério
do Planejamento do governo brasileiro –
2006, (BRASIL, 2006) que é referência
desenvolvida no âmbito da Administração
Federal, servindo como parâmetro para
outras esferas de gestão, em contextos
locais e culturais.
3 A moderna gestão em recursos humanos (GRH) e a legislação trabalhista
A moderna GRH garante um novo
olhar sobre o capital humano, antes visto
como um ente automatizado, considerado
apto se respondesse ao treinamento de
habilidades e competências sob
paradigmas cognitivos de base estímulo
resposta de acordo com os pressupostos
clássicos do Behaviorismo radical
(estímulos das necessidades do mundo do
trabalho e a corresponder, em seguida ao
fornecimento de respostas favoráveis ao
lucro, era visto como uma potência
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
28
individual) (SKINER,1994).
Modernamente, o trabalhador é
parte de um todo coletivo que se
compreende como uma ação coletiva,
realizado preferencialmente em equipe,
parte importante de todo o contexto
organizacional (CHIAVENATO, 2005) e
degundo o material elaborado pelo
Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão (2006) , a moderna G. R H.
apresenta as seguintes características:
Os empregados são considerados os recursos mais valiosos da organização; é uma responsabilidade direta dos gestores de linha e está intimamente ligada à gestão de desempenho; baseia-se em valores, fortalecendo o compromisso com a missão e os valores da organização; pauta-se por políticas expressas e documentadas; acredita que os empregados compartilham os mesmos interesses que os empregadores; é estratégica, na medida em que busca identificar as áreas críticas para o desenvolvimento e o sucesso da organização; é guiada pelos objetivos e seu acompanhamento; é orientada processualmente; A avaliação do desempenho gera a melhoria contínua. (BRASIL, M. P.2006, p,11)
A construção civil foco das nossas
análises, historicamente, é um dos ramos
do mundo do trabalho que apresenta um
alto índice de acidentes e de doenças
ocupacionais, o que exige da G. R. H.
esforços epistemológicos que garantam e
minimizem possíveis eventualidades que
possam surgir no intercurso do trabalho,
evitando danos tanto ao trabalhador, na
sua integridade física, como à empresa.
Para manter a organização
produtiva, eficiente e eficaz da empresa, é
imprescindível pensar a gestão
contemporânea sob o planejamento
estratégico que vise garantir o maior grau
de eficiência possível.
As estratégias em Gestão de
Recursos Humanos são um processo
complexo que, ao ser previsto e
estabelecido, sempre exigem a auto-
organização, num fluxo permanente de
análise e crítica que garantam as
eficiências desejáveis na prevenção de
acidentes e doenças ocupacionais dos
trabalhadores. Estratégias preventivas e
corretivas são critérios essenciais para
responder às demandas organizacionais
como esclarece (BRASIL. M.P. 2006. p.
10)
Estratégias de RH são simplesmente os processos que combinam pessoas, planos e programas de atividades, de acordo com esquemas gerais, para realizar os objetivos da organização. O processo de formulação de estratégias é uma maneira de se promover a compatibilização desses diferentes pontos de vista.
Para a garantia da prevenção de
acidentes e de doenças ocupacionais na
construção civil, como em qualquer outra
organização, uma das questões principais
são os recursos financeiros. Só ideias e
boa vontade não conseguirão a excelência
é preciso utilizar adequadamente a força
de trabalho.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
29
Para tanto, as organizações necessitam não somente de pessoal qualificado, mas também de sistemas eficientes e eficazes e de recursos financeiros. O desenvolvimento institucional requer não só que a pessoa certa esteja no lugar certo no momento certo, mas também que a organização possua um ambiente de trabalho compatível com os seus sistemas operacionais e disponibilidade de recursos financeiros adequados. (BRASIL, 2006, p. 9)
A especificidade da construção
civil é um desafio para assegurar um
ambiente de trabalho compatível aos
sistemas operacionais responsivos a
programas de prevenção e doenças
ocupacionais. A grande questão é a
qualificação técnica dos trabalhadores que
são de baixa escolarização, e,
historicamente, no Brasil, essa categoria é
reconhecida, pelo senso comum, como
subemprego.
O esforço é conseguir com que
pessoas mais vulneráveis e, portanto,
resistentes, adiram e incorporem aos
padrões de prevenção de normas técnicas
que garantem minimizar riscos e prevenir
danos fatais. As empresas devem contar
com práticas de desenvolvimento
institucional permanente para qualificar
adequadamente o potencial dessas pessoas.
O capital humano é a base de qualquer
organização, sendo assim merece um
cuidado especial. É importante que a
indústria, os órgãos institucionais
brasileiros e mundiais se preocupem com a
promoção de iniciativas que possibilitem a
redução de potenciais riscos (BORGES;
LIMA, 2000).
Os objetivos da Gestão de
Recursos Humanos devem responder aos
objetivos da organização, daí o caráter de
ser essa gestão um processo integrado e
responsivo no contexto de conflitos,
principalmente, no âmbito da construção
civil.
Os objetivos da GRH devem ser coerentes com os objetivos globais da organização. A finalidade do processo de formulação de objetivos é direcionar as atividades de GRH em ambientes usualmente turbulentos, de forma que, tanto as necessidades da organização quanto as necessidades individuais e coletivas de seus empregados possam ser satisfeitas através da implementação de políticas e práticas compreensíveis e eficazes. (BRASIL,M.P. 2006, p. 9)
As políticas e as práticas, como
componentes desse processo estratégico,
são as bases que sustentam os objetivos de
qualquer empreendimento organizacional.
No caso da construção civil, prevenir
acidentes e doenças ocupacionais deve
caminhar passo a passo com os objetivos
de atender cronogramas e de alcançar a
maximização competitiva no mercado com
respeito à vida das pessoas.
Uma estratégia de GRH é principalmente uma atitude mental de convicção quanto ao valor da clareza de objetivos e da adequação dos planos às finalidades da organização, bem como da necessidade de integração perfeita entre os vários componentes da estratégia adotada. As questões fundamentais em planejamento estratégico são Aonde queremos chegar?
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
30
e o que precisamos fazer para chegar lá? (BRASIL,M.P, 2006, p. 10)
As estratégias de Recursos
Humanos na construção civil para a
prevenção de acidentes e doenças
ocupacionais devem considerar o caráter
sócio educativo das pessoas, seus
colaboradores que, no ramo específico da
área de trabalho, possuem pouca
escolarização, resistências ao uso de
equipamentos de proteção individual,
crenças pessoais que não precisam se
proteger, além da autoconfiança do saber
empírico.
As estratégias diante dessa
especificidade, além das postuladas pelo
Ministério do Trabalho, requerem os
conhecimentos teóricos da moderna
Gestão de Recursos Humanos e da
participação gestores para o satisfatório
desenvolvimento e a implementação de
novas práticas e atitudes no mundo do
trabalho contemporâneo.
O propósito da moderna GRH é assegurar que a organização atraia e retenha as pessoas qualificadas, comprometidas e motivadas, das quais necessita. Quais são essas necessidades e como satisfazê-las é, em síntese, o conjunto de definições que compõem uma estratégia de RH. A implementação da estratégia significa tomar medidas para avaliar e satisfazer as necessidades futuras das pessoas, dando-lhes continuamente oportunidades de desenvolvimento e aprendizagem para que elas reforcem e expandam sua competência, suas contribuições, seu potencial e sua empregabilidade. (BRASIL, M.P.2006, p. 10)
3.1 Acidentes de trabalho e os riscos
ocupacionais
O conceito de acidente do trabalho é
definido pela Lei 8.213/1991 em seu artigo
19, e estabelece o seguinte: Acidente do
trabalho é o que ocorre pelo exercício do
trabalho a serviço da empresa, ou ainda
pelo exercício do trabalho dos segurados
especiais, provocando lesão corporal ou
perturbação funcional que cause morte, a
perda ou redução da capacidade para o
trabalho permanente ou temporário
(MICHEL, 2001. p. 5)
Caracteriza o acidente tipo, ou
macrotrauma, aquele decorrente do
exercício do trabalho gerando lesão
corporal ou perturbação funcional,
podendo resultar em óbito, assim como na
perda ou redução da capacidade
permanente ou temporária para a prática
do trabalho, configurando um evento
único e imprevisto, de consequências
imediatas (MONTEIRO. 1998. p. 10).
As doenças ocupacionais são as
moléstias de evolução lenta e progressiva,
originárias de causa igualmente gradativa
e durável, vinculadas às condições de
trabalho (COSTA, 2009, p, 82) A
legislação em vigor subdivide e equipara
as doenças ocupacionais em: doença
profissional e doença do trabalho,
conforme artigo 20, incisos I e II da Lei
8.213/1991.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
31
As moléstias laborativas
subdividem-se em tecnopatias,
ergonopatias ou doenças profissionais
típicas, inerentes a alguns trabalhos
peculiares ou a determinadas atividades
laborativas, com nexo causal presumido,
razão pela qual o infortunado fica
dispensado de comprovar o mesmo
(Idem). As mesopatias, ou doenças do
trabalho, também denominadas moléstias
profissionais atípicas, normalmente
decorrentes das condições de
agressividade existentes no local de
trabalho, que agiram decididamente, seja
para acelerar, eclodir ou agravar a saúde
do trabalhador. (Ibidem, p. 83).
Visando a prevenção das doenças
ocupacionais e dos acidentes do trabalho,
surgiu por recomendação da Organização
Internacional do Trabalho – OIT, a
Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes – CIPA, transformando-se em
determinação legal no Brasil por meio do
Decreto-lei n. 7.036, de 1944,
determinando em seu artigo 82 que
empresas com número superior a 100
funcionários deveriam instituir a CIPA.
(GALAFASSI, 1998. p. 26.)
As empresas podem e deve valer-
se de programas que previnam acidentes e
doenças, como o Programa de Prevenção
de Riscos Ambientais - PPRA; Programa
de Condições do Meio Ambiente de
Trabalho - PCMAT e o Programa de
Controle Médico e Saúde Ocupacional –
PCMSO (GALLAFASSI, 1998).
Todos estes programas fazem parte
da política nacional de prevenção em
acidentes de trabalho e doenças
ocupacionais estabelecidos pelo Ministério
do Trabalho no Brasil. Os programas
acima citados, implantados e
implementados são fundamentais para de
detectar riscos, prevenir ou proteger os
trabalhadores, entre outros avaliados,
realizados planejamentos, para, assim,
serem implantadas medidas que venham a
eliminar riscos e acidentes. É mediante os
programas deste tipo que se chega a um
ambiente de trabalho saudável e,
consequentemente, à conscientização dos
trabalhadores e empregadores quanto aos
riscos. Conhecer e identificar o que poderá
gerar acidente e doenças ocupacionais é
um dos passos fundamentais do gestor em
recursos humanos para o implemento das
políticas dos PPRA/PCMAT
(GALLAFASSI, 1998)
Nos últimos anos, o número de
acidentes de trabalho no Brasil vem
crescendo. Enquanto em 2001 foram
pouco mais de 340 mil acidentes de
trabalho, em 2007, este número subiu para
659 mil ocorrências. Um aumento de 92%
no número de acidentes de trabalho.
Somente em 2007, foram registrados 2,8
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
32
mil mortes por acidentes de trabalho em
todo o Brasil, são quase oito mortes diárias
(BRASIL.MINISTÉRIO DO
TRABALHO E EMPREGO, 2011).
O crescimento do número de
acidentes de trabalho foi verificado em
todos os setores econômicos e, em 2007,
sofreu influência dos acidentes sem
Comunicações de Acidentes de Trabalho
(CAT), registrados por meio do nexo
técnico epidemiológico. Segundo dados do
Governo Federal, os acidentes e as
doenças do trabalho custam, anualmente,
R$ 10,7 bilhões aos cofres da Previdência
Social, através do pagamento do auxílio-
doença, auxílio-acidente e aposentadorias.
É sempre importante lembrar que estas
estatísticas de acidentes de trabalho
refletem somente os acidentes registrados
pela Previdência Social. Estima-se que
ainda haja, no Brasil, uma alta taxa de
subnotificação de acidentes de trabalho
(BRASIL, 2011).
A saúde do trabalhador pode ser
compreendida como a busca da
compreensão das relações entre o trabalho
e a saúde-doença dos trabalhadores, a
necessidade de mudança nos processos de
trabalho e das condições ambientais no
trabalho, consequência de uma abordagem
multidisciplinar, e os riscos ocupacionais
afetam diretamente a saúde do trabalhador,
expondo-o a adoecimentos e acidentes de
trabalho (BORGES; LIMA, 2000)
Os principais riscos ocupacionais
são riscos físicos, e são sinalizados pelas
cores. O verde indica ruídos, vibrações,
radiações ionizantes, radiações não
ionizantes, frio, pressões anormais,
umidade e calor; o vermelho, riscos
químicos, poeiras, fumos, névoas,
neblinas, gases, vapores e substâncias
compostas ou produtos químicos em geral;
o marrom, riscos biológicos, vírus,
bactérias, protozoários, fungos, parasitas e
bacilos; o amarelo, riscos ergonômicos,
esforço físico intenso, levantamento e
transporte manual de peso, exigência de
postura inadequada, controle rígido de
produtividade, imposição de ritmos
excessivos, trabalho em turno e noturno,
jornadas de trabalho prolongadas,
monotonia e receptividade, riscos de
acidentes; o azul, arranjo físico
inadequado, máquinas e equipamentos
sem proteção, ferramentas inadequadas ou
defeituosas, probabilidade de incêndio ou
explosão, entre outras situações
causadoras de estresse físico e/ou psíquico
ou acedentes (MONTEIRO, 1998).
Mais de 321 mil trabalhadores, em
todo o mundo, morreram, em 2008,
vítimas de acidente de trabalho e mais de 2
milhões por doenças adquiridas no
trabalho. Os dados fazem parte de um
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
33
relatório da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), apresentado durante o 19º
Congresso sobre Segurança e Saúde no
Trabalho em outubro de 2011, na Turquia.
Segundo o relatório, de 2003 a 2008, o
número de mortes por acidentes de
trabalho ficou menor em 37 mil. Já o
número de pessoas que adquiriram
doenças que as levou à morte aumentou
em 70 mil (BRASIL, 2011).
Acidentes de trabalho podem
ocorrer em qualquer tipo de instituição,
setor e profissão. Entretanto, alguns
trabalhadores são mais passíveis de
sofrerem acidentes do que outros. Entre os
ramos de atividade que têm as piores
condições de trabalho está a Indústria da
Construção Civil, apresentando altos
índices de ocorrência em acidentes de
trabalho (MIRANDA, 2010).
As causas dos acidentes de
trabalho podem ser classificadas em
causas humanas, materiais e fortuitas. As
ações perigosas tomadas pelo próprio
homem (causas humanas) têm origem em
fatores, como, incapacidade física ou
mental, falta de conhecimento, de
experiência ou motivação, stress, não
cumprimento das normas e dificuldade em
lidar com a figura de autoridade. As
causas materiais, por sua vez, estão ligadas
a questões técnicas perigosas presentes no
ambiente, ou ainda defeitos de
equipamentos. As causas chamadas de
fortuitas são aquelas que não estão ligadas
nem à fatores humanos ou técnicos, são
eventos raros, relacionados ao acaso e a
fatalidades (MIRANDA, 2010).
Os fatores que motivam os
acidentes são vários, dentre eles: falta de
critério ao recrutar empregados sem
preparação e informações sobre seus
direitos que, em casos de acidentes
acabam por assumir a responsabilidade,
más condições no acesso da obra, acúmulo
e desorganização de materiais pontiagudos
nos canteiros de obra, baixa remuneração,
baixa ingestão de alimentos, trabalhos sob
pressão em ritmo acelerado (MIRANDA,
2010).
5 A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA
A Comissão Interna de Prevenção
de Acidentes – CIPA – tem como objetivo
a prevenção de acidentes e de doenças
decorrentes do trabalho, de modo a tornar
compatível, permanentemente, o trabalho
da preservação da vida e da promoção da
saúde do trabalhador.
Devem constituir a CIPA, por
estabelecimento, e mantê-la em regular
funcionamento as empresas privadas,
públicas, sociedades de economia mista,
órgãos da administração direta e indireta,
instituições beneficentes, associações
recreativas, cooperativas, bem como
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
34
outras instituições que admitam
trabalhadores como empregados, de
acordo com a Classificação Nacional de
Atividade Econômica- CNAE e seu grau
de riscos.
A CIPA será composta de
representantes do empregador e dos
empregados, de acordo com o
dimensionamento previsto no Quadro I da
NR, ressalvadas as alterações disciplinadas
em atos normativos para setores
econômicos específicos. Os
representantes dos empregadores, titulares
e suplentes serão por eles designados.
Os representantes dos empregados,
titulares e suplentes, serão eleitos em
escrutínio secreto, do qual participam,
independentemente de filiação sindical,
exclusivamente, os empregados
interessados. O mandato dos membros
eleitos da CIPA terá a duração de um ano,
permitida uma reeleição.
A CIPA terá reuniões ordinárias
mensais, de acordo com o calendário
preestabelecido. O cumprimento das
normas de segurança é uma
responsabilidade das empresas, ou seja,
tem que haver uma política que atue na
fiscalização quanto ao cumprimento
dessas normas uma vez que as empresas
tendem a obter resultados positivos desde
que haja respeito à vida humana e
planejamento preventivo de acidentes
(PIZZA, 1997).
A Norma Regulamentadora nº 18,
estabelece diretrizes de ordem
administrativa, de planejamento, de
organização, que objetivam a
implementação de medidas de controle e
sistema preventivos de segurança nos
processos, nas condições e no meio
ambiente de trabalho na indústria da
construção conforme seus itens e subitens
(VIEIRA, 2000).
Todas as Normas
Regulamentadoras são imprescindíveis
para um ambiente de trabalho saudável. A
NR 4 trata do Serviço Especializado em
Engenharia de Segurança do Trabalho
SESMT, que é formado por uma equipe
multidisciplinar compostas por técnicos de
segurança do trabalho, engenheiros de
segurança do trabalho, médico do trabalho
e enfermeiro. Este programa é obrigatório
em instituições que admitam empregados
regidos pela Consolidação das Leis do
Trabalho.
O principal objetivo deste
programa é proteger a saúde e a
integridade dos funcionários no local de
trabalho. O objetivo deste procedimento é
definir as ações nas ocorrências de
acidente do trabalho, na metodologia de
investigação e de registro dos mesmos.
Garantindo agilidade no levantamento das
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
35
causas e da aplicação de eficientes
medidas corretivas e preventivas
(ZOCCHIO, 2001).
Com isso, fica nítido que os
funcionários devem receber treinamentos
de capacitação e orientação profissional
para otimizar o ambiente de trabalho e
conceder aos colaboradores a segurança
necessária para as atividades. Estes devem
ocorrer periodicamente para prevenir a
ocorrência.
Vimos, pois que não há
operacionalização estanque que responda
aos interesse de uma missão na
organização que não seja em um processo
holístico integrado ao todo organizacional
e filosófico da organização. Não há como
capacitar pessoas, prevenir acidentes e
doenças ocupacionais, sem que haja um
esforço integrado às políticas globais da
empresa que alcancem todas as instâncias
sobre as quais possam garantir ou impedir
o pleno desenvolvimento das estratégias
de gestão.Nesse contexto, a presença do
profissional qualificado em segurança do
trabalho é um aspecto muito importante
como membro da equipe. (BRASIL,
2011).
O empregado qualificado para
função vai além das capacidades técnicas
(execução das atividades com eficácia), é
necessário o desenvolvimento de
habilidades intelectuais, imprescindíveis
para a execução das tarefas. Um bom
exemplo é o índice de criticidade e atenção
dos colaboradores que poderia evitar a
ocorrência do acidente. Os profissionais de
RH são fundamentais no desenvolvimento
da competência do pessoal para alcançar
os objetivos da organização. (BRASIL,
2006, p. 15).
A capacitação é um processo
multidimensional e complexo que
estabelece a sustentabilidade da
organização como um todo. No caso da
construção civil e sua especificidade de
trabalhar com pessoas de baixa
escolarização, deve ter em mente que o
desenvolvimento de outras competências
técnicas e críticas, para além da biografia
individual de seus aprendizados empíricos
acumulados pela tradição, é uma das mais
desafiadoras questões.
Nesse contexto Bitencourt (2001)
argumenta que a capacitação ou
desenvolvimento de capacidade
compreende as ações que visam a
aumentar às habilidades e competências de
indivíduos, unidades da organização, a
organização como um todo ou um sistema
de organizações, para que possam executar
as suas respectivas missões, funções e
tarefas eficaz e eficientemente.
Conscientizar os colaboradores
sobre a importância da prevenção de
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
36
acidentes e do uso dos Equipamentos de
Proteção Individual é outro processo
decisivo. Muitos colaboradores por serem
antigos, na idade ou na profissão; julgam-
se conhecedores de tudo e acham
insignificantes e repetitivas as
recomendações de segurança no trabalho
que são realizadas por meio de DDS
(Diálogo Diário de Segurança) ou por
treinamento. É necessário assegurar uma
mão de obra diversificada, prover
oportunidades iguais e uma postura ética
na gestão de pessoas, baseada na
preocupação com o ser humano, a justiça e
a tolerância, estabelecendo vários padrões
e normas (BRASIL, 2011).
6 Análise e discussão dos dados
Os quadros apresentados abaixo
apresentam dados numéricos de acidentes
de trabalho, como também, as doenças
ocupacionais por regiões em todos Brasil,
estabelecendo uma comparação com um
dos segmentos de atividades dentro da
construção codificada pela Classificação
Nacional de Atividade Econômica –
CNAE-4212, que se refere à estrutura de
artes e obras especiais – construção de
Metrôs, Tuneis , Barragens, obras pesadas,
na classificação de risco da Norma
Regulamentadora nº 04 (Serviço
Especializado em Segurança e Medicina
do Trabalho).
QUADRO I: QUANTIDADE DE ACIDENTE DE TRABALHO POR CLASSIFICAÇÃ O
NACIONAL DE ATIVIDADE ECONOMICA NO BRASIL.CNAE 4212 - ESTRUTURA DE ARTES E OBRAS ESPECIAIS – ANO 2009
CNAE
ACIDENTE
DE
TRABALHO
DOENÇA
DO
TRABALHO
CNAE
ACIDENTE
DE
TRABALHO
DOENÇA
DO
TRABALHO
TOTAL 723.452 17.693 4.212 2.007 175
Fonte :(BRASIL, MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2011.
O quadro I apresenta dados numéricos ,
mostrando que , com toda tecnologia,
investimento no crescimento e
qualificação do trabalhador, a segurança
do trabalho ainda é ignorada pelos
colaboradores e por seus gestores em
relação a 2007: Número de Acidentes de
Trabalho - 659.523 e Doenças do
Trabalho-22.374, na construção civil, de
acordo com a Classificação Nacional de
Atividade Econômica, código 4212:
Acidentes de Trabalho- 1075 e Doenças
do Trabalho-20.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
37
QUADRO II: QUANTIDADE DE ACIDENTE DE TRABALHO POR C LASSIFICAÇÃO NACIONAL DE ATIVIDADE ECONOMICA POR REGIAO. CNAE 4 212- ESTRUTURA DE
ARTES E OBRAS ESPECIAIS – ANO 2009
CNAE
TOTAL
ACIDENTE
DE
TRABALHO
DOENÇA
DO
TRABALHO
CNAE
4212
ACIDENTE
DE
TRABALHO
DOENÇA
DO
TRABALHO
NORDESTE 90.161 2473 NORDESTE 237 03
SUL 164.420 3418 SUL 107 01
Fonte: (BRASIL, MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2011).
O QUADRO II mostra que
mesmos com as diversidades regionais,
como, cultura , clima e outros; Os
acidentes de trabalho continuam em sua
ascendência. Em 2007 foram 72.801 e, em
2009, 90.161 de acidentes e de doenças
do trabalho. Em 2007, foram 3.747 e, em
2009, 2473, na construção civil, de acordo
com Código Nacional de Atividade
Econômica- 4212: em 2007, foram 114 e,
em 2009, 237. já as Doenças do Trabalho,
em 2007, foram 05, 2009- 03, e estamos
falando apenas da região Nordeste.
Como exposto, as boas práticas de
gestão de RH são fundamentais para
melhorar o desempenho das pessoas, e, em
nosso caso específico, as evoluções
negativas dos dados estatísticos sugerem a
necessidade de que devem ser feitas
mudanças significativas desses números
que atentam contra a ética e contra os
princípios da justiça e da dignidade das
pessoas.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
38
QUADRO III: QUANTIDADE DE ACIDENTE DE TRABALHO POR CLASSIFICAÇÃO NACIONAL DE ATIVIDADE ECONOMICA POR ESTADO. CNAE 4 212- ESTRUTURA DE
ARTES E OBRAS ESPECIAIS – ANO 2009
CNAE
TOTAL
ACIDENTE
DE
TRABALHO
DOENÇA
DO
TRABALHO
CNAE
4212
ACIDENTE
DE
TRABALHO
DOENÇA
DO
TRABALHO
CEARÁ 11.802 324 CEARÁ 07 00
SÃO PAULO 246.448 5669 SÃO PAULO 328 02
Fonte: (BRASIL, MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2011).
O QUADRO III mostra o
crescimento dos acidentes de trabalho em
capitais onde acontecem grandes aberturas
de frente de serviços quer sejam na área
industrial, como na construção civil.
Mostrando dados do Estado do Ceará, em
2007, foram 8333, em 2009, 11.802
acidentes de trabalho. Já sobre a
conscientização na saúde do trabalho
tivemos êxito, em 2007, foram 482 e, em
2009, 324 doenças do trabalho. Na
construção civil CNAE 4212, em 2007,
foram 05 e, em 2009, não foram
registradas doenças do trabalho.
QUADRO IV: QUANTIDADE DE ACIDENTE DE TRABALHO DE AC ORDO COM O CÓDIGO DE CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS (CID-10)N O BRASIL/NORDESTE –
ANO 2009
CID/10 BRASIL NORDESTE CID/10 BRASIL NORDESTE
ACIDENTE
DE
TRABALHO
723.452 72.801
S61-
FERIMENTO
PUNHO/MÃO
76.627 9094
M75-LESÕES
DO OMBRO 20.856 2646
M75-
REAÇÕES
DE STRESS
6246 1076
DOENÇA
DO
TRABALHO
17.693 3747
F33-
TRANSTORNO
DEPRESSIVO
1161 148
Fonte :(BRASIL, MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2011).
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
39
Os dados registrados no quadro IV
destacam as partes do corpo humano que
mais sofrem lesões. No Brasil, de 723.452
acidentes de trabalho, os ferimentos de
punho/mão-76.627 e lesões do ombro-
20.856 têm os maiores índices, equivalem
a 13,47%. Levando também em
consideração a doença do trabalho do tipo
Pertubações mentais, Reações de stress
6246 e transtorno depressivo 1161, que
equivalem a 41,86% de um total de17.693
doenças do trabalho, e cada região com
seus percentuais em relação ao geral. (
BRASIL, MINISTÉRIO DO TRABALHO
E EMPREGO, 2011).
QUADRO V: QUANTIDADE DE ACIDENTE DE TRABALHO POR GR UPO DE IDADE E SEXO.
NO BRASIL E CEARÁ – ANO 2009
BRASIL
ACIDENTE
DE TRABALHO
DOENÇA
DO TRABALHO CEARÁ
ACIDENTE
DE TRABALHO
DOENÇA
DO TRABALHO
MASCULINO 520.926 10.334 MASCULINO 8486 100
FEMININO 202.526 7359 FEMININO 3316 224
BRASIL, MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2011).
O quadro V apresenta a
participação do trabalhador do sexo
feminino nos acidentes de trabalho-
202.526 e doenças do trabalho-7359, que
equivalem, respectivamente, a 28% e
41,5% em todo Brasil. No Ceará, esses
números são de 3316 acidentes de trabalho
e 224 doenças do trabalho, equivalendo a
1,6% e 3 %.
QUADRO VI: QUANTIDADE DE ACIDENTE DE TRABALHO POR G RUPO DE IDADE E
SEXO. E IDADE NO BRASIL E CEARÁ – ANO 2009 DE 20 A 24 ANOS
BRASIL ACIDENTE
DE TRABALHO
DOENÇA
DO TRABALHO CEARÁ
ACIDENTE
DE TRABALHO
DOENÇA
DO TRABALHO
MASCULINO 95.913 679 MASCULINO 1412 10
FEMININO 25.108 555 FEMININO 452 35
TOTAL 121.021 1234 TOTAL 1864 45
BRASIL, MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2011).
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
40
O quadro VI mostra que os jovens
que estão iniciando sua trajetória no
campo de trabalho na faixa etária de 20 a
24 anos são responsáveis, em todo Brasil,
por 121.021 que equivale 16,7% dos
acidentes de trabalho e 1234 que equivale
6,9% das doenças do trabalho. Já o Ceará,
tem sua participação com 1864, isto é ,
0,25% dos acidentes de trabalho e 45 –
0,25 das doenças do trabalho.
QUADRO VII: QUANTIDADE DE ACIDENTE DE TRABALHO POR GRUPO DE IDADE E
SEXO. E IDADE NO BRASIL E CEARÁ – ANO 2009 DE 50 A 54 ANOS
BRASIL
ACIDENTE
DE
TRABALHO
DOENÇA
DO
TRABALHO
CEARÁ
ACIDENTE
DE
TRABALHO
DOENÇA
DO
TRABALHO
MASCULINO 34.113 1123 MASCULINO 525 13
FEMININO 16.386 568 FEMININO 248 10
TOTAL 50.449 1691 TOTAL 773 23
Fonte: BRASIL, MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2011).
O quadro VII mostra trabalhadores que já estão no campo de trabalho há bastante
tempo (experientes) na faixa etária de 50 a 54 anos que são responsáveis em todo Brasil
por 50.499 que equivale 7% dos acidentes de trabalho e 1691 que equivale 9,5% das
doenças do trabalho. Já o Ceará também registra sua participação com 773, isto é , 0,10%
dos acidentes de trabalho e 23 – 0,13% das doenças do trabalho.
Os dados acima descritos nos levam a refletir o quanto o RH tem como
desafio para mudar as estatísticas
que legitimam práticas do mundo do
trabalho que já não são possíveis de serem
legitimadas em nosso contexto
contemporâneo. As abordagens estratégias
de RH devem dinamizar novas ações
coerentes com as demandas processuais de
maximização de ganhos e valores para
todos os colaboradores. Nesse sentido é
importante que se foque:
O RH estratégico versus abordagem funcional tradicional. A moderna GRH é, acima de tudo, de natureza estratégica. Seus objetivos globais são coerentes com a estratégia global (objetivos e planos) da organização. A administração de pessoal tradicional consistia, na maioria das vezes, na aplicação ao pé da letra das normas de pessoal. Era focada no “fazer as coisas direito” em lugar de “fazer as coisas certas”. Os processos de gestão relacionavam-se apenas vagamente com os objetivos e as metas da organização.A moderna GRH relaciona-se fortemente com a visão, a missão e os objetivos operacionais da organização (BRASIL, M.P. 2006, p. 12).
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
41
Se a moderna GRH é acima de tudo
estratégica, e relaciona-se fortemente
com a visão, a missão e os objetivos
operacionais da organização, a adesão
dos trabalhadores ao espírito desse poder
imaterial, simbólico e ideológico se
materializa em práticas sócio políticas na
relação trabalho e trabalhador. Essa
relação é complexa e nem sempre fiel.
O esforço da visão, missão e
objetivos operacionais são assim o tripé
da organização que só pode sustentar-se
na solidez de seus ativos econômicos,
consolidação e respeitabilidade no
mercado.Práticas sociais do trabalho,
ética, direitos, relações mediadas pelo
diálogo, na horizontalidade em
multifaces, das diferenças, assimetrias,
unidos pelo espírito de coesão simbólica
atravessando ciclos de crise e de sucesso,
contingências e perspectivas positivas e
negativas.O ambiente corporativo nem
sempre é o espelho que reflete o sucesso
e nem se eterniza nas vitórias.Mas como
essas questões tão complexas, voláteis,
mutantes, ao fluxo das crises do
capitalismo, podem exigir que os
trabalhadores “façam as coisas certas”? E
em se tratando da construção civil esse
campo movediço, minado de
instabilidades estruturais, e
mercadológicas, um mundo de
empregabilidade nem sempre garantidos?
De acordo com os dados do
Ministério da Previdência Social, durante
o ano de 2009, foram registrados no
Instituto Nacional de Seguridade Social
(INSS), aproximadamente, 723.452 mil
acidentes do trabalho. Em comparação aos
dados de 2007, houve um aumento de
9,7% no número de acidentes. Os
trabalhadores do sexo masculino somam
7,51 % das vítimas de acidentes, e do sexo
feminino, 13,31 %. Em relação aos
acidentes, a faixa etária que mais sofre
acidentes é a de pessoas jovens, de 25 a 29
anos, com 125.270, em 2007, e 131.558,
em 2009, respectivamente, 19 % e 18,2 %
do total de acidentes registrados.(BRASIL,
2011)
Propomos no inicio de nosso
trabalho uma resposta provável e
provisória, isto é nossa hipótese: Se
acidentes de trabalho e doenças
ocupacionais continuam a ocorrer na
construção civil, então há grande
indicação de que a gestão de recursos
humanos não está operacionalizando
práticas responsivas no âmbito de suas
competências.
Após análise dos dados
apresentados cremos ter respondido o
nosso problema de pesquisa reafirmando:
as condições que exercem mais influência
para que a gestão de recursos humanos e
possa colaborar na garantia da prevenção
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
42
de acidentes e doenças ocupacionais estão
relacionados aos pressupostos
paradigmáticos que sustentam a nova
gestão de recursos humano, tais como
valorizar o capital intelectual do
trabalhador não partindo de sua essência
intrínseca, individual, mas estimulada,
fortalecida por uma estratégica pedagógica
da transformação e emancipação tal como
propõe Paulo Freire.
A obra de Paulo Freire, traduzida há vários anos para quase 40 idiomas, postula transformações culturais sumamente importantes em função da liberdade dos povos oprimidos e com suas propostas metódicas de redescobrimento e interpretação da realidade, contribui para reconhecer e iniciar o caminho para transformá-la. Na verdade, não existe nenhuma experiência de mudança sócio-política que não se desenvolva a partir de uma tomada de consciência da realidade. (RÚBIO, 1997,p.13)
Se no passado o recrutamento e a
capacitação eram formas de abordagens
posteriores à seleção do material humano,
hoje torna-se essencial que a capacitação
seja um processo aberto, em constante
transformação. E em se tratando de
profissionais da construção civil,
relacionadas à mão de obra pesada,
serventes, pedreiros e mestres de obras
essa é uma forma crucial no processo,
pois, a grande maioria de trabalhadores é
proveniente da zona rural, pobres, sem
formações especialistas, o que sabem faz
parte do estoque empírico que aplicam na
vida laboral. Acúmulo que se soma da
tradição oral, ver fazer, aprender “ali
mesmo”, compartilhando práticas e
saberes.
A falta de letramentos para que o
conhecimento possa ser textualmente
mediado em contextos sociais do trabalho,
é um fator muito forte, pois, a pouca ou
nenhuma acessibilidades aos bancos
escolares, os tornam deficitários de
múltiplas abordagens tecnicistas e
científicas.
Os acidentes e doenças
ocupacionais refletem esse vazio
educacional, político, social, que afeta
grandemente suas vidas, inclusive pondo-
as em riscos irrecuperáveis quando não, a
própria morte. Não são as fatalidades do
destino que faz despencar trabalhadores ao
solo, pois são cidadãos “com olhos
embotados com cimento e lágrima”, ...e
atravessam a rua com seus passos bêbados
e sobem a construção como se fossem
sólidos, e tropeçam no céu como se
ouvisse música, e se agarram no chão
como um pacote tímido e morrem na
contra mão atrapalhando o público...”
(CHICO BUARQUE DE HOLANDA,
1970).
Se o poeta maior na música
popular brasileira (CHICO BUARQUE)
identificou a desgraça dos trabalhadores na
construção na década de setenta do século
XX, de lá até hoje, muitas conquistas no
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
43
âmbito da legislação e do apoio político do
Estado forçou a diminuição das tragédias
anunciadas, tais como genocídios
silenciados, contudo, se apenas um único
desses homens e mulheres, se apenas um
continuar a despencar nos solos, a
indignidade é tão gigante como a mesma
proveniente dos milhares e milhões que
deram suas vidas acobertados pela
injustiça ao longo das trágicas relações do
mundo do trabalho de ontem e de hoje
suavizadas pelos novos contornos do
capitalismo global.Nossos trabalhadores
da construção civil continuam pobres.
Com pouca ou quase nenhuma
escolarização e respondem com pouco
encorajamento as práticas garantidoras da
prevenção de acidentes.
Segundo o Ministério do Trabalho
e Emprego (BRASIL, 2011), a hora na
qual ocorrem mais acidentes graves ou
não é relacionado ao evento fome nas
primeiras horas da manhã entre 8 e 10
horas, momento esse em que o
metabolismo orgânico prescinde de um
grande investimento energético e calórico
para garantir sua hemodinâmica nos níveis
fisiológicos compatíveis com os esforços
despendidos pela carga laboral extenuante
e árdua da construção civil.
Nesse mister chamamos para o
campo de trabalho a gestão de recursos
humanos que deve se revestir de uma nova
metodologia dessa relação: potencializar a
partir das próprias histórias de vida
individuais e coletivas, essas forças
provindas da miséria; dialogar com as
consciências com pouca escolarização
torná-los críticos e participativos
fortalecendo o papel político de cada um e
uma dessas pessoas.
Uma gestão de recursos humanos
que cumpra seu papel social e não apenas
de recrutar os miseráveis ao seu exército
de reserva de mortos vivos, e sim de
construção e fortalecimento desse capital
intelectual, incentivando a escolarização, o
retorno ao conhecimento especializado no
âmbito da forças produtivas hegemônicas.
6 Considerações finais
Ficou clara a importância da
discussão deste assunto e a necessidade de
métodos preventivos aliados à moderna
gestão em recursos humanos em
organizações que tenham especificidades
de produção, tais como a construção civil.
Capacitação, monitoria, equipamentos e
respeito às leis são fundamentais para
proporcionar a segurança dos
trabalhadores nas organizações. Essa é
uma questão que só se concretiza numa
ação integrada da Gestão de Recursos
Humanos com os objetivos gerais da
empresa.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
44
Os componentes principais de uma
competência são os conhecimentos, as
habilidades, as atitudes e os valores. Estes
últimos unem as pessoas em relações de
aprendizagem. Somente através do
desenvolvimento de competências torna-se
possível assegurar a sustentabilidade dos
resultados de outras ações de capacitação
em sistemas ou procedimentos. (BRASIL,
2006)
Os acidentes de trabalho e as
doenças ocupacionais são temas que
devem constar de uma agenda para GRH,
pois os dados desse estudo apontam para
um aumento estatístico no Brasil, o que
reforça a urgência de se direcionar uma
das soluções no campo da GRH e o o
fortalecimento do papel estratégico que
tem a oferecer. O maior diferencial
competitivo que uma empresa possui são
as pessoas, os seus talentos como espelho
de um investimento saudável e competente
da GRH voltadas para a sustentabilidade,
os valores, e ética.
RERERÊNCIAS
ALMEIDA, Ellen Christian de. et al.,. Riscos ocupacionais: impactos na saúde do trabalhador do calor. Disponível em: <www.abennacional.org.br/2SITEn/Arquivos/N.112.pdf> Acesso em: 20 nov 2011.
BITENCOURT, Cláudia Cristina. A gestão de competências gerenciais: a contribuição da aprendizagem organizacional. 2001. 319 f. Tese (Doutorado em Administração) – Escola
de Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001.
BORGES, J. M. LIMA, L. A. L. Projeto “Saúde e Segurança no Trabalho”, uma propostade atividade extensionista entre Universidade / Empresa. Disponível em: <http://www.coter.eb.mil.br/1sch/seguranca/segsauocup/Artigos/Artigo_SST_conem2000.pdf> Acessado em: 15/11/11.
BRASIL, Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/L8213cons.htm>. Acesso em: 20 nov. 2009.
BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Secretaria de Gestão. Comissão Europeia Introdução à Gestão de Recursos Humanos: Texto de referência para a área temática de gestão de pessoas. Brasília: MP, 2006.
BRASIL. OIT: trabalho causa mais doenças fatais que mortes por acidentes. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/09/12/cresce-numero-de-mortes-por-doenca-adquirida-no-trabalho-diz-oit>. 2009. Acesso em: 18 nov. 2011.
BRASIL. Portaria 3.275 de 21 de setembro de 1989. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/7357261/AtribuiCOes-Do-tEcnico-de-SeguranCa>. Acesso em: 22 nov. 2011.
BRASIL.Ministério do Trabalho e Emprego. Normas Regulamentadoras. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/default.asp> Acessado em: 21/11/2011
CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES – CIPA. Disponível em: <http:www.cipa.uem.br/Nr_05.php>. Acesso em: 12 nov. 2011.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
45
CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DE TRABALHO – CLT. Decreto lei nº 5.214 de 22/12/1977, Art. 154 a 201. Portaria nº 3.214 de 08/06/1978, 6ª ed.
COSTA, Hertz Jacinto. Manual de Acidente do Trabalho. 3. ed. rev. e atual. Curitiba: Juruá, 2009. p. 74-75.
GALAFASSI, Maria Cristina. Medicina do Trabalho: Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (NR-7). São Paulo: Atlas, 1998.
MICHEL, Oswaldo. Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais. 2. ed. rev., ampl. São Paulo: Ltr, 2001
MIRANDA, Jérsica Franciele. Políticas de segurança do trabalho na construção civil : panorama nacional e o caso da CLIP. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/politicas-de-seguranca-do-trabalho-na-construcao-civil-panorama-nacional-e-o-caso-da-clip/45584/>. Acesso em: 19 nov. 2011.
MONTEIRO, Antonio Lopes; BERTAGNI, Roberto Fleury de Souza. Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais: Conceito, processos de conhecimento e de execução e suas questões polêmicas. Saraiva, São Paulo,1998.
PINHEIRO, Adriano Martins. Acidentes de trabalho e doenças ocupacionais. Disponível em: <http://www.artigonal. com/direito-artigos/acidente-de-trabalho-e-doencas-ocupacionais-1061178.html>. Acesso em: 04 set. 2009.
PIZA, Fábio de Toledo. Informações Básicas sobre Saúde e Segurança no Trabalho.São Paulo: CIPA, 1997.
SKINNER, B. F. Ciência e comportamento humano. Tradução de J. C. Todorov & R. Azzi. 9. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994
VIEIRA, Sebastião Ivone (Coord.) Manual de Saúde e Segurança no
Trabalho. Florianópolis: Editora Mestra, 2000.
ZOCCHIO, Álvaro. Segurança e saúde no trabalho: como entender e cumprir as obrigações pertinentes. São Paulo: Editora Ltr, 2001.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
46
CIÊNCIAS JURÍDICAS
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
47
A POLÍCIA MILITAR À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988: UMA
ABORDAGEM CRÍTICA
Rainer Henrique Abreu Riedel da Costa Graduando em Direito pela Faculdade Integrada Grande Fortaleza [email protected] / [email protected] João Celso Moura de Castro Professor Especialista do curso de Direito na Falculdade Integrada da Grande Fortaleza – FGF [email protected]
Resumo: Tendo como escopo a função constitucional da Polícia Militar, este artigo procura apresentar uma perspectiva crítica acerca do papel desempenhado pelas instituições militares estaduais face às demandas democráticas da atualidade. Partindo da objetividade da norma, passando por exemplificações e conceitos, o presente estudo expõe a situação anacrônica ainda existente nessas corporações e a divergência desta com as premissas basilares de um Estado Democrático de Direito. Ademais, apresenta as recentes conquistas de seus profissionais (militares estaduais) e suas aspirações futuras. Palavras-chave: Polícia; Militares; Constituição; Democracia; Segurança Abstract: Having soped the constitutional function of the military police, this article presents a critical perspective on the role played by state military institutions in the face of democratic demands of today. Departing from the norm of objectivity, and passing through exemplifications concepts this study exposes the anachronistic situation still existing in these corporations and this divergence with the basic premise of a democratic state. Moreover, it presents the recent achievements of its employees (military state) and their future aspirations. Keywords: Police; Military; Constitution; Democracy; Security
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
48
1 INTRÓITO: NECESSIDADE DE SEGURANÇA E IMPORTÂNCIA DA POLÍCIA
O homem sempre sentiu a
necessidade de proteger sua integridade
física e seu patrimônio. A autodefesa tem
como consequência a própria preservação
da espécie. Essa necessidade de estar
protegido ensejou a formação de grupos,
nao só na espécie humana, mas em todo o
reino animal. A Polícia, enquanto
instituição da preservação da segurança da
coletividade, nasceu então de uma
demanda social que, através dos tempos e
em diversos espaços, tem evoluído
simultaneamente com as sociedades.
A célebre afirmação de Honoré de
Balzac pode sintetizar a importância da
Polícia: Os governos passam, as
sociedades morrem, a polícia é eterna. A
atividade policial surgiu como decorrência
natural para a promoção do bem-estar e da
segurança dos grupos sociais. A prática
policial é a própria prática da Justiça, se
levarmos em conta que na atuação
primária junto a conflitos entre membros
de uma sociedade, a Polícia atua de forma
a regular a coexistência pacífica entre
esses individuos1.
1 LEAL , Aureliano. Policia Militar do Estado de São Paulo - Apostila de Doutrina de Polícia Ostensiva. SP: APOLICIALBB, 1995, p. 08.
O Desembargador do Tribunal de
Justiça de São Paulo, Diodato Lioy apud
Galli2, comenta:
A Polícia nao deve velar senão pelo progresso da sociedade e dos bons costumes, pelo bem-estar do povo e pela tranquilidade em geral. Ela foi, com a Justiça, instituída para assegurar a execução das leis, e não para as infringir, para garantir a liberdade dos cidadãos e não para cerceá-la, para salvaguardar a segurança dos homens de bem, e nao para envenenar a fonte do bem-estar social. Nao deve ela transpor os limites da segurança pública ou particular, nem sacrificar o livre exercício das faculdades do homem e dos direitos civis, por um violento sistema de precaução.
A Segurança é necessidade vital
para o homem. Se não satisfeita a
contento, as tensões individuais e coletivas
tendem a crescer, e juntas concorrem para
o rompimento do equilibrio social. A
Polícia assim, como a instituição criada
pela sociedade para atender esta demanda
(da Segurança Pública), tem elevada
importância no contexto social. A
instituição Polícia, hoje, exerce funções
além das que legalmente lhe são
atribuídas. É uma “Polícia faz tudo”. As
viaturas policias, por exemplo,
anualmente, têm rodado o equivalente a
cinquenta viagens de ida e volta à Lua,
sendo 90% em assistência à população e
10% no atendimento de ocorrências
2 GALLI , Ítalo - Anais do IV Encontro Nacional dos Delegados de Polícia. SP: Editora São Paulo, 1991.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
49
criminais3, sem falar da situação nos
municípios no interior dos Estados, em
que a Polícia, principalmente a militar,
atua nas áreas de Pronto Socorro,
Assistência Social, Pedagogia e até
Psicologia, quando tem de mediar
situações de conflito.
A sociedade deve encarar a Polícia
como uma instituição que a serve, que está
cotidianamente prezando pela sua
segurança. A Polícia, saída do ventre da
sociedade, é inevitavelmente reflexo desta
e sua atuação, pautada nas aspirações
legais que a sociedade institui, deve
garantir uma das necessidades
fundamentais do ser humano: a segurança.
Mas como garantir essa sensação
de segurança estando a Polícia Militar
ainda ligada ao Exército, subordinada a
regulamentos disciplinares inflexíveis, ao
Código Penal Militar e Código de
Processo Penal Militar; situada assim,
devido à ambiguidade de sua função ser de
natureza eminentemente civil e estar
organizada militarmente, numa linha tênue
entre os vestígios de uma época ditatorial e
os atuais reclames democráticos?
3 SSPDS-CE. Policia Militar do Ceará. Apostila Curso Estágio em Policiamento Comunitário. 2004, p.05.
2 O QUE DIZ A LEX MAIOR?
A Constituição Federal de 1988
reza, eu seu artigo 144, V, que a Polícia
Militar é um dos órgãos responsáveis pela
segurança pública, sendo o seu papel
exercer a polícia ostensiva e a preservação
da ordem pública (art. 144, § 5º). O
parágrafo 6º do mesmo artigo dispõe que
“as polícias militares e os corpos de
bombeiros militares, forças auxiliares e
reserva do Exército, subordinam-se,
juntamente com as polícias civis, aos
Governadores dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios”. Ademais, o
artigo 42 da Carta Magna expressa que “os
membros das polícias militares e corpos de
bombeiros militares, instituições
organizadas com base na hierarquia e
disciplina, são militares dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios”, caput
dado pela Emenda Constitucional nº 18 de
05/02/1998.
Logo percebemos que as polícias
militares exercem uma função dupla, que
analisada minuciosamente, chega a ser
paradoxal. Ao mesmo tempo em que são
órgãos de segurança dos Estados, Distrito
Federal e dos Territórios, são forças
auxiliares e reserva do Exército. Essa
situação mostra a dicotomia existente
dentro de um mesmo órgão que deve zelar
pela segurança interna, mais precisamente,
o policiamento ostensivo e repressivo,
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
50
com técnicas e armamentos próprios
(notadamente não-letais), que lida
diretamente com o cidadão; e, num mesmo
instante, ainda que ocasionalmente, ser
força militarizada subordinada ao Exército
brasileiro (auxiliar e reserva), com
equipamentos pesados, de guerra,
utilizando-se de técnicas que lidam com o
inimigo, para dominá-lo e/ou destruí-lo.
As raízes desta situação
encontram-se no controle que as Forças
Armadas ainda exercem sobre
determinados setores da sociedade
brasileira, como a aviação civil por
exemplo. Estaríamos assim, malgrado a
redemocratização ocorrida em 1988,
inseridos numa semidemocracia. Nesse
sentido, Zaverucha4 afirma que
A semidemocracia, por definição, é uma situação em que uma democracia ‘imperfeita’ caminha rumo a uma democracia com sólidas e responsivas instituições. Seria preciso, portanto, dar tempo à mesma. Contudo, passados 20 anos do fim do regime militar, a semidemocracia brasileira não caminha rumo à superação, de um modo regular, de seus traços autoritários mais marcantes.
As Forças Armadas seriam assim
garantidoras da Lei e da Ordem segundo o
art. 142 da Constituição Federal (não se
extipula qual ordem – interna ou externa),
e estariam influenciando as mais diversas
esferas políticas, não interferindo
4 ZAVERUCHA , Jorge. Semidemocracia. Artigo. Folha de São Paulo, edição de 26/11/2004.
diretamente – a não ser que seus interesses
estejam em jogo. A relação entre a
situação ambígua das polícias militares e
essa influência das Forças Armadas na
sociedade civil é percebida por Zaverucha5
ao afirmar:
Quando se dá a transição para a democracia, há uma preocupação dos novos governantes em tirar a polícia do controle das Forças Armadas. O objetivo é tornar nítida a separação de suas funções: a polícia é responsável pela ordem interna, ou seja, pelos problemas de segurança pública, enquanto os militares federais se encarregam de problemas externos, leia-se, da guerra. A Constituição de 1988 não procurou fazer essa separação. Ao contrário, dificultou-a.
Num primeiro momento havia a
clara separação entre militares estaduais e
militares federais. Contudo, a Emenda
Constitucional nº 18/1998 estipulou que as
duas forças têm as mesmas prerrogativas e
funções, uma vez que dispositivos
relacionados às Forças Armadas são
aplicados às polícias militares (arts. 42 §
1º, 142 §§ 2º e 3º)6. Neste sentido, o
atrelamento anacrônico das forças
ostensivas e repressivas de segurança
pública ao Exército não facilita o pleno
5________. Frágil Democracia: Collor, Itamar, FHC e dos militares (1990-1998). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. 6 LOUREIRO , Ythalo Frota. As Polícias Militares na Constituição Federal de 1988: polícia de segurança pública ou forças auxiliares e reserva do Exército?. Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 486, 5 nov. 2004. Disponível em:<http://jus.uol.com.br/revista/texto/5866>. Acesso em: 13 fev. 2011.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
51
desenvolvimento dos órgãos de segurança
estaduais, como bem observa Loureiro7:
Trata-se da polícia de segurança que pretende assegurar a ordem e a tranquilidade. Esta pretensão de segurança, no Brasil, é exercida, indistintamente pelas polícias estaduais. Os conceitos descritos na Constituição Federal para definir as funções das PMs e das polícias civis, portanto, são insuficientes e não revelam com clarividência suas identidades institucionais.
Melhor seria retirar a influência
que o Exército mantém sobre as polícias
militares, haja vista a polícia ser, lato
sensu, na democracia, polícia urbana, cujo
cliente é o cidadão comum, o homem sem
qualidades8.
Tal gerenciamento das polícias
militares pelo Exército através de um
órgão chamado COTER (Comando de
Operaçãos Terrestres), o qual controla
efetivo, material bélico, mobilização etc.,
pressupõe uma espécie de desconforto
para o princípio federativo de nossa
República. As polícias militares são
“pequenos exércitos locais” que, embora
subordinadas aos Governadores dos
Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios, devem estar prontas para
auxiliarem o Exército e ser reservas deste.
7 __________. Idem 8 MONJADET , Dominique. O que faz a Polícia: Sociologia da Força Policial. Tradução de Mary Amazonas Leite de Barros. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003 (Série Polícia e Sociedade nº10)
As polícias militares também estão
subordinadas ao Código Penal Militar e
Código de Processo Penal Militar, e tem
regulamentos disciplinares idênticos aos
do Exército. Tais normas, quando
aplicadas aos policiais militares em
determinados casos, transparecem a
incongruência que há no sentido de que a
força que é responsável diretamente pela
segurança dos cidadãos é regida por
disposições normativas incompatíveis com
as liberdades públicas. Senão vejamos o
exemplo que nos dá Loureiro9:
[...] se um policial militar comete crime de deserção, previsto no art. 187 do Código Penal Militar (‘Ausentar-se o militar, sem licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve permanecer, por mais de oito dias’) pode ser punido com detenção, de seis meses a dois anos e se oficial, a pena é agravada. Para este tipo de crime nao se aplica a suspensão condicional da pena, sursi (Art. 87, inciso II, letra ‘a’ do CPM), ou seja, deverá o policial militar apenado cumprir a pena de restrição de liberdade. Por outro lado, se o mesmo policial militar comete crime de lesão corporal contra um civil, no exercício da função (art. 209 do CPM – ‘Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem’) pode levar uma pena de detenção de três meses a um ano e ainda pode ser beneficiado pela suspensão condicional da pena.
Pelo exemplo podemos perceber
que se valoriza mais a instituição do que a
própria dignidade do ser humano, se
levarmos em conta as sanções impostas
aos atos tipificados acima. Não
acreditamos serem viáveis tais dispositivos
9 LOUREIRO , Ythalo Frota. Ibidem
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
52
legais num Estado Democrático de
Direito, principalmente no tocante à
corporações que zelam pela segurança
pública dos homens comuns.
Apontamos como alternativa a este
modelo, que está em desacordo com as
aspirações democráticas da atualidade, o
desvinculamento das polícias militares
estaduais ao Exército, para que as mesmas
possam desenvolver-se enquanto
instituições garantidoras da sensação de
segurança, e para que seus profissionais
sejam mais valorizados enquanto
trabalhadores e cidadãos com direitos e
obrigações.
Recentes mobilizações de
profissionais da segurança pública
(policiais militares e civis, bombeiros
militares etc.) no intuito de adquirir
direitos, alicerçadas em premissas
democráticas, demonstram a vontade
gritante destes profissionais em fazer com
que os órgãos de segurança pública sejam
balizados por princípios democráticos.
Neste sentido, reconhecemos a
importância da 1º CONSEG – Conferência
Nacional de Segurança Pública, realizada
em 2009 pelo Ministério da Justiça e pela
Secretaria Nacional da Segurança Pública,
após intensos debates nos entes federados,
no qual foram estabelecidos princípios e
diretrizes para a Política Nacional de
Segurança Pública, entre os quais
destacamos:
Diretriz nº 12. Realizar a transição da segurança pública para atividade eminentemente civil; desmilitarizar as polícias; desvincular a polícia e corpos de bombeiros das forças armadas; rever regulamentos e procedimentos disciplinares; garantir livre associação sindical, direito de greve e filiação político-partidária; criar código de ética único, respeitando a hierarquia, a disciplina e os direitos humanos; submeter irregularidades dos profissionais militares à justiça comum.(grifos nossos)
Importante citarmos também a
Portaria Interministerial da Secretaria
Especial de Direitos Humanos da
Presidência da República nº 2, de 15 de
dezembro de 2010, publicada no DOU de
16.12.2010, a qual estabelece as Diretrizes
Nacionais de Promoção e Defesa dos
Direitos Humanos dos Profissionais de
Segurança Pública, que no seu anexo,
dentre outras ações, estipula:
DIREITOS CONSTITUCIONAIS E PARTICIPAÇÃO CIDADÃ
1) Adequar as leis e regulamentos disciplinares que versam sobre direitos e deveres dos profissionais de segurança pública à Constituição Federal de 1988.
2) Valorizar a participação das instituições e dos profissionais de segurança pública nos processos democráticos de debate, divulgação, estudo, reflexão e formulação das políticas públicas relacionadas com a área, tais como conferências, conselhos, seminários, pesquisas, encontros e fóruns temáticos.
3) Assegurar o exercício do direito de opinião e a liberdade de expressão dos profissionais de segurança pública, especialmente por meio da Internet, blogs, sites e fóruns de discussão, à luz da
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
53
Constituição Federal de 1988. (grifos nossos)
O mesmo anexo da Portaria dispõe
também sobre o direito à Educação dos
profissionais de segurança:
EDUCAÇÃO
45) Estimular os profissionais de segurança pública a frequentar programas de formação continuada, estabelecendo como objetivo de longo prazo a universalização da graduação universitária .
[...]
47) Promover nas instituições de segurança pública uma cultura que valorize o aprimoramento profissional constante de seus servidores também em outras áreas do conhecimento, distintas da segurança pública.(grifo nosso)
Não é demais citarmos o Relatório
sobre os Direitos Humanos no Brasil,
aprovado pela Comissão Interamericana
de Direitos Humanos da OEA
(Organização dos Estados Americanos),
realizada em 29/09/199710, o qual afirma,
em relação à real função das polícias
militares, que:
5. As polícias estaduais dividem-se em polícia civil e polícia "militar". Esta última cumpre tarefas próprias das polícias civis típicas, subordina-se diretamente ao Poder Executivo (Governador e Secretário de Segurança Pública de cada estado) e não é uma força interna do aparato militar nacional. Contudo, mantém o nome de polícia "militar" que lhe foi atribuído ao ser criada em 1977 no decorrer do período de governo militar. Insistindo-se em que não
10 http://www.cidh.org/countryrep/brazil-port/Cap%203.htm#Estrutura, acesso em 13 fev. 2011.
se trata propriamente de uma força militar e em que se subordina diretamente ao Poder Executivo de cada estado, figurará neste relatório entre aspas.
6. A "polícia militar" tem a responsabilidade do policiamento ostensivo e da preservação da ordem pública, ou seja, ela se ocupa, primordialmente, das tarefas diárias de patrulhamento e de perseguição de criminosos. Quanto à subordinação, as polícias estaduais, tanto "militares" quanto civis, subordinam-se aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (Artigo 144, parágrafo 6 da CF). O chefe das polícias estaduais é o Secretário de Segurança Pública, auxiliar direto do Governador e responsável pelos atos que pratica ou referenda no exercício de seu cargo.
Malgrado a legislação
infraconstituicional disponha de tais
avanços no âmbito dos órgãos de
segurança pública, principalmente em
relação às polícias militares, somos
sabedores de que enquanto estas
corporações forem vinculadas ao Exército
e reguladas por códigos militares,
avançaremos muito pouco no tocante ao
desenvolvimento da Segurança Pública e à
conquista de direitos para os profissionais
desta área.
3 À GUISA DE CONCLUSÃO: PARA MUITO ALÉM DA CASERNA
As polícias devem se utilizar de
técnicas próprias e seguir modelos
próprios de organização e controle,
otimizando a prestação do serviço de
segurança pública – necessidade tão
basilar para a sociedade. Suas ações são
voltadas para lidar com o cidadão e não
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
54
com o inimigo, e devem ser pautadas
tendo em vista os direitos e garantias
fundamentais do homem.
A ideologia militar ainda impera
nas polícias militares estaduais. Isso por
conta, quiçá, dos resquícios advindos de
um período de exceção um tanto recente.
Contudo, a democratização dos órgãos de
segurança pública é inevitável, e isso é
plenamente notado com as manifestações e
conquistas adquiridas, embora diminutas,
nestes últimos tempos pelos homens e
mulheres que fazem a segurança pública
no Brasil. Não demorará muito, assim
esperamos, para que nossa Carta Magna se
adapte, em relação às polícias militares, às
demandas atuais de um Estado
Democrático de Direito.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ANGHER, Anne Joyce (org.). Vade Mecum de Direito. 6. ed. São Paulo: Ed. Rideel, 2008.
BRASIL. Comissão Interamaericana de Direitos Humanos: Organização dos Estados Americanos. Disponível em: <dhttp://www.cidh.org/countryrep/brazil-
port/Cap%203.htm#Estrutura>. Acesso em 13 fev. 2011.
GALLI, Ítalo. Anais do IV Encontro Nacional dos Delegados de Polícia. São Paulo: Editora São Paulo, 1991.
LEAL, Aureliano. Polícia Militar do Estado de São Paulo: Apostila de Doutrina de Polícia Ostensiva. São Paulo: APOLICIALBB, 1995, p. 08
LOUREIRO, Ythalo Frota. As Polícias Militares na Constituição Federal de 1988: polícia de segurança pública ou forças auxiliares e reserva do Exército?. Teresina: Jus Navigandi, ano 9, n. 486, 5 nov. 2004.
MONJADET, Dominique. O que faz a Polícia: Sociologia da Força Policial. Tradução de Mary Amazonas Leite de Barros. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2003 (Série Polícia e Sociedade nº10)
REVISTA JUS. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/5866>. Acesso em: 13 fev. 2011
SSPDS-CE. Policia Militar do Ceará: Apostila Curso Estágio em Policiamento Comunitário, 2004, p.05.
ZAVERUCHA, Jorge. Semidemocracia. Artigo. Jornal Folha de São Paulo, edição de 26/11/2004.
____________. Frágil Democracia: Collor, Itamar, FHC e dos militares (1990-1998). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
55
O PRINCIPIO RESPONSABILIDADE E A PRODUÇÃO DE ALIMEN TOS
TRANSGÊNICOS NO BRASIL
Carlos André Barbosa de Carvalho Graduando em Direito pela Faculdade integrada da Grande Fortaleza [email protected] Luis Alberto Nobre Professor Mestre do curso de Direito na Falculdade Integrada da Grande Fortaleza – FGF [email protected]
RESUMO: A biopesquisa, em particular, o desenvolvimento de plantas transgênicas, vem provocando em diversos segmentos uma série de questionamentos sobre resultados alcançados, provocando reações positivas, em torno das beneses visionadas, bem como reações negativas, quanto ao “potencial destrutivo” da nova tecnologia. Esse último está relacionado aos riscos tanto econômicos como científico, por não se ter a dimensão dos males que os OGM’s¹ podem causar ao ser humano. Surge então outro questionamento quanto ao vazio ético e moral existente nos interesses dos grandes produtores, laboratórios, bem como ambientalistas e sociedade civil organizada, embora com visões contrárias, traçaram as bases e construíram o que mais tarde denominaríamos de Lei da Biossegurança a qual instituiu o CTNBio². Diante uma verdadeira “briga de gigantes” resta ao consumidor que nada sabe, que não superficialmente, sobre as consequências desses “novos alimentos” e seus efeitos no corpo e no meio ambiente. ABSTRACT: The biopesquisa, in particular, the development of transgenic plants, has led in several segments a series of questions about results, causing positive reactions around the beneses screened, as well as negative reactions about the "destructive potential" of new technology. The latter is related to both economic and scientific risk by not having the magnitude of the evils that ¹ GMOs may cause to humans. Another question then arises as to the moral and ethical vacuum exists in the interests of large producers, laboratories as well as environmentalists and civil society, albeit with opposing views, provided the foundation and built what would later term it the Biosecurity Act which established the CTNBio. Faced with a real "battle of giants" left to the consumer who knows nothing, not superficially, on the consequences of these "new foods" and their effects on the body and the environment.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
56
1 INTRODUÇÃO
O que seria então biotecnologia? A
técnica utilizada para produzir,
transformar ou modificar organismos
vivos, sendo a transgenia, a manipulação
de organismos vivos de espécies
diferentes. Salienta-se que mesmo com
todo o avanço tecnológico alcançado até
hoje não se conseguiu, com precisão, a
necessária segurança e informações sobre
os efeitos dos transgênicos quando
consumidos pelo ser humano e no contato
deste com o meio ambiente, ou seja, se for
respeitado o que reza o Código de Defesa
do Consumidor, a Constituição Federal,
dentre tantas outras normas que trazem
positivamente ou em suas entre linhas o
principio da precaução produtos
transgênicos não poderiam circular no
mercado brasileiro, posto que é “proibido”
colocar em circulação qualquer que seja o
produto ou serviço que sabe, ou deveria
saber, apresentar alto grau de
periculosidade ou nocividade à saúde ou a
segurança do consumidor devendo o
fornecedor das amplo conhecimento nos
meios de comunicação e comunicando às
autoridades competentes quando souber de
alguma periculosidade apresentada pelo
produto já comercializado.
Com a massificação do acesso a
Internet, que se mostra como uma grande
teia de alcance para disseminar
rapidamente qualquer assunto, não há
porque não informar ao consumidor as
variantes em torno dos alimentos
transgênicos. No entanto nem as empresas
envolvidas no processo de biotecnologia e
nem mesmo o Poder Público divulgam
informações suficientes para orientar o
consumidor sobre os transgênicos.
Vale frisar que a discussão sobre o
tema não gira apenas em torno da ética e
da pressão política existente na
desvirtualização da proteção a saúde e ao
meio ambiente, mas também da economia
onde diversos grupos opositores seguem a
ideologia em que as grandes
multinacionais teriam o controle total das
patentes e distribuição dos OGM’s
enquanto os países subdesenvolvidos e em
desenvolvimento ficariam em
desvantagem frente à nova ordem.
Acontece que se tratando de
alimentos transgênicos as empresas
detentoras da tecnologia não têm o
interesse em divulgar e esclarecer as
indagações a respeito do assunto e o Poder
Público que deveria pressioná-los sobre
essas informações simplesmente liberam a
comercialização e o cultivo de
transgênicos causando um verdadeiro caos
em diversos segmentos sociais fazendo
surgir os mais variados mitos bem como
discussões e debates acerca do assunto
sobre o consumo ou não de transgênicos.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
57
Diante toda essa problemática
empresas envolvidas nos processos
biotecnológicos ousam abrir discussões
pontuais sobre o tema levando a encontros,
por eles organizados, doutores e experts
sobre o assunto enquanto no público
presente estão magistrados e
desembargadores que muitas vezes são
ludibriados pela titulação e argumentação
dos palestrantes que demonstram com
fantasiosa falácia a transgenia como a
única solução para acabar com a fome e a
descobertas de medicamentos a diversos
males, enfim, fazendo tudo parecer
simples e “natural” com o propósito
desiderato de conseguir sentenças e
acórdãos a favor da liberação de
transgênicos, como está acontecendo, por
exemplo, no Estado do Rio Grande do Sul.
Um caso prático aconteceu no
Estado do Ceará, na Escola Superior da
Magistratura, ESMEC, quando
representantes do CIB, Conselho de
Informação sobre Biotecnologia organizou
um encontro com o judiciário cearense
para exporem “suas teorias e os grandes
benefícios dos transgênicos” chegando
inclusive a falar sobre o desenvolvimento
de tabaco transgênico inofensivo a saúde
humana.
Hoje sabemos que cientistas, em
seus laboratórios, conseguem com
segurança, em relação às técnicas de
experimentações, desenvolverem OGM’s
o que não acontece em relação à liberação
destes no meio ambiente e mais ainda ao
consumo humano. Mesmo assim temos
circulando no mercado produtos como o
óleo de soja produzido a partir da soja
transgênica produzida no Brasil bem como
outros derivados e decorrentes. Onde
estaria então a aplicação do princípio da
precaução? Estaria afastado pelo principio
da equivalência substantiva e do benefício
da dúvida como nos Estados Unidos?
Mesmo com o Protocolo de Cartagena
(2000), assinado por representantes de
mais de 180 países, protocolo esse aderido
pelo Brasil em 2003, que em 2005
aprovou a Lei de Biossegurança, que
estabeleceu regras e positivou princípios,
além de mecanismos de segurança e
fiscalização de atividades envolvendo
OGM’s sem falar da Constituição Federal
de 88, onde todas estas reunidas são
consideradas a mais completa e avançada
legislação sobre transgênicos do Mundo as
quais trazem em si o princípio da
precaução que fundamenta-se em outros
princípios, entre eles, da responsabilidade
que está intrinsecamente conectado com a
ética que juntos buscam que o avanço do
desenvolvimento de novas tecnologias
cientificas não avance ou se contraponha
sobre a preservação da vida e do meio
ambiente saudável e equilibrado para a
presente e futuras gerações. Na verdade o
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
58
que os debates éticos buscam não é a
segurança absoluta, pois esta seria uma
meta inatingível, o que se quer na verdade
é que os produtos provenientes das
técnicas transgênicas sejam tão seguros
quanto os produtos convencionais ou ao
menos equivalentes.
Assim afirmou Hans Jonas: “creio
que certas transformações em nossas
capacidades acarretam uma mudança na
natureza do agir humano. E, já que a ética
tem a ver com o agir, a consequência
lógica disso é que a natureza modificada
do agir humano também impõe uma
modificação na ética”.
A discussão vai mais além se
preocupando com o meio ambiente, pois
na ausência de certeza cientifica,
vislumbra-se seja os OGM’s uma ameaça
que “poderá” causar danos sérios e
irreversíveis merecendo então proteção
antecipada a biodiversidade postos não
suficientes os experimentos e argumentos
disponibilizados pelos produtores e
cientistas pró transgênicos.
2 OBJETIVO
Avaliar o princípio da
responsabilidade e da precaução ao se
confrontar os interesses envolvendo os
diversos atores na elaboração de normas e
pesquisas envolvendo alimentos
transgênicos no Brasil, diante a
desconsideração de princípios
constitucionais e o afrontamento ao
Código de Defesa do Consumidor.
3 METODOLOGIA
O estudo realizado apresenta os
problemas envolvendo as lacunas
existentes entre ética, responsabilidade e o
suporte jurídico criado pelo legislador
brasileiro frente aos novos cenários que
apontam na economia mundial, os
alimentos transgênicos, e a necessidade de
respeitar o meio ambiente para as futuras
gerações.
Este trabalho resulta de pesquisas
em sites, livros, anais de congressos e a
síntese de discussões dentro do grupo G-
Teias. Tivemos ainda como foco principal
o livro Hans Jonas; “O princípio
responsabilidade”, o qual nos serviu como
base para questionar a realidade do
consumidor, dos juristas e da aplicação
dos princípios inerentes a proteção do
meio ambiente.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Essa nova realidade social a qual já
vem gerando diversos conflitos e
polemicas faz com que o jurista busque o
conhecimento necessário justamente nos
debates e discussões que devem
sobrepesar bem os dois lados nunca
afastando o bom senso e a ética em
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
59
detrimento de fatores econômicos atuais e
pontuais.
O Estado deve estar atento como
agente fiscalizador no tocante a liberdade
dada aos cientistas no desenvolvimento
das pesquisas e planejador no que se refere
às políticas públicas para o
desenvolvimento do país e o suprimento
de mercados consumidores.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante o exposto observa-se que a
sociedade carrega o peso do maniqueísmo
entre o “certo” e o “errado”, entre o “bem”
e o “mal”, entre o “justo” e o “injusto”.
Ora o tema não deve ser tratado assim,
pois o que é justo para certa comunidade
pode ser injusta para outra ou mesmo, em
um país com dimensões continentais como
o Brasil, variar esse conceito entre classes
sociais, regiões ou Estados, ou até mesmo
sofrer variações no tempo a cada geração.
Diante todo o exposto concluímos
que deveria o Estado agir positivamente
pautando-se na responsabilidade. As
normas e leis são justamente o “dever ser”
no questionamento envolvendo Ética x
Progresso, no que afirmou Hans Jonas, no
livro O princípio responsabilidade:
“Continuamos a discutir a técnica do
ponto de vista da verdade antropológica
quer no sentido de ela realizar o
verdadeiro sentido do humano, quer,
opostamente no sentido de ela constituir a
própria negação do ser humano ou da
natureza”.
Então como trabalhar a certeza dos
vários benefícios em contra ponto com a
dúvida dos limites do controle dos
transgênicos? E é justamente nessa lacuna
a fronteira nebulosa que a moral e a ética
devem iluminar com prudência aqueles
que se encontram no poder. Vale destacar
quando Hans Jonas analisa que essa
liberdade de pesquisa apoia-se no fato de
que a atividade investigativa e o
conhecimento, devem estar separados da
esfera da ação, pois na hora da ação,
naturalmente, toda liberdade tem suas
barreiras na responsabilidade, nas leis e
nas considerações sociais.
Conclui-se que a liberdade
demasiada afastada da ética tem a
capacidade de transformar-se em armas
poderosas com resultados inimagináveis
pelo ser humano e ainda, nas mãos da
minoria que já, por sua força, controla a
maior parte do poder.
É extremamente importante
considerar tanto a opinião daqueles que
condenam a introdução no mercado dos
transgênicos como daqueles que a
defendem, o que não é tarefa fácil, pois
quando se trata de transgênico a mídia ao
fazer qualquer abordagem costuma tratá-lo
com sensacionalismo o que prejudica a
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
60
população que por não ter uma abordagem
sensata e segura sobre o tema a acaba por
não refletir não formando sua própria
opinião, deixando se orientar, o que deixa
a grande maioria da população fora do
debate sobre o próprio respeito à vida.
REFERÊNCIA
ALMEIDA JR. J. M. G. de. Um Novo Paradigma de Desenvolvimento Sustentável. Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. Revista Estudos Legislativos: Brasília. Setembro, 2000.
AZEVEDO, F. de C. Nosso Futuro Comum – Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988.
BENJAMIN, A. H. de V. Introdução ao Direito Ambiental Brasileiro. Revista de Direito Ambiental . São Paulo: Revista dos Tribunais, nº 14: 48-82, abr./jun. 1999.
BONAVIDES, P. Direito Constitucional. 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2002.
BRASIL. Constituição Federal. Coleção de leis de direito ambiental [Organização, editoria jurídica da Editora]. São Paulo: Manole, 2004.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
GRINOVER, A.P. et al.,. Código Brasileiro do Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto. 6. ed. Atual. Rio de Janeiro: Forense 2000.
JONAB, H. O principio responsabilidade. Ensaio de uma ética para a civilização tecnológica, 2006.
LEFF, H. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade e complexidade. Petrópolis: Rio de Janeiro: Vozes, 2001.
PESSANHA, L.D.R; WILKINSON, J. Cadernos de Ciência e Tecnologia. v. 20, n.2, Brasília: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, maio/ago 2003. p. 263-303.
ROCHA, J. C. de C. Direito Ambiental e Transgênicos: princípios fundamentais da biossegurança – Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
61
DIREITOS À PERSONALIDADE Daniel Bezerra Montenegro Girão Bacharel em Direito; Advogado; Especialista em Direito e Processo Tributário; Professor da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza. [email protected]
RESUMO: O presente trabalho aborda o tema direito à personalidade o qual assegura diversos direitos e garantias fundamentais elementares e constitui uma categoria especial de direitos subjetivos ao titular dessa personalidade para que possa usá-la e desenvolvê-la plenamente. A teoria majoritária a respeito da personalidade apregoa que, para ser sujeito de direito, precisa ter aptidão e todo aquele que tem aptidão adquire personalidade, na medida em que ter personalidade é ter essa qualidade. Por esse motivo, surgiu uma nova reflexão para sustentar uma recente ideia de personalidade. Esse renovado entendimento sustenta a ideia de que personalidade jurídica não pode ser as titularizações das relações, porque se pode conseguir titularizar relação mesmo sem a personalidade jurídica. Pode-se afirmar que o direito de personalidade é tudo aquilo que for imprescindível para se viver com dignidade sob o prisma da relação privada. Sendo assim, é exemplificativo o rol, embora doutrinadores entendam que os direitos à personalidade não brotam com o ordenamento jurídico, não são positivistas, mas nascem de uma ordem preexistente ao direito. Os direitos da personalidade são ingênitos, pois o ser humano já nasce com esse direito. Em regra, o momento em que uma pessoa adquire sua personalidade está contido no artigo segundo do código civil. Existem algumas teorias que se esgrimem ao responder a simples pergunta: O nascituro tem personalidade jurídica? Sobre esse assunto, existem três teorias: natalista, concepcionista e a condicionalista. Este artigo é uma pesquisa qualitativa, de cunho bibliográfico. A abordagem é fundamentada em estudos jurídicos jurisprudenciais, doutrinários e consultas às legislações: nacional e internacionais. Palavras-chave: Direitos; Personalidade nascitura; Natalista; Concepcionista; Condicionalista. ABSTRACT: This paper addresses the issue right personality which ensures many fundamental rights and guarantees elementary and constitutes a special category of subjective rights to the holder of personality so you can use it and develop it fully. The theory about personality majority proclaims that to be subject to law, must have aptitude and whoever has acquired fitness personality, insofar as having personality is to have this quality. For this reason, a new reflection emerged to sustain a recent idea of personality. This renewed understanding supports the idea that legal personality can not be securitisations relations, because it can get securitize relationship even without legal personality. It can be said that the right personality is all that is necessary to live with dignity through the prism of the relationship private. Thus, the list is exemplary, although scholars understand that the personality rights do not spring with the legal system, are not positivists, but born of a preexisting order the right. The rights of personality are ingênitos because humans are born with that right. As a rule, the time when a person acquires his personality is contained in the second article of the Civil Code. There are some theories that wield to answer the simple question: The unborn have legal personality? On this subject, there are three theories: natalist, and Conceptionist conditionalist. This article is a qualitative research, bibliographic die. The approach is based on studies legal jurisprudence, doctrinal and consultations with legislation: national and international. Keywords: Rights; Personality Unborn; Natalist; Conceptionist; Conditionalist.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
62
1 INTRODUÇÃO
Este artigo discute um tema
relevante e explica que os direitos da
personalidade constituem uma matéria
basilar do Direito Civil, ou seja, a
personalidade e os seus direitos têm
ensinamentos reconhecidos e exercidos
por todo ser humano.
O direito à personalidade assegura
diversos direitos e garantias fundamentais
elementares. Nesse ensinamento, os
direitos à personalidade constituem uma
categoria especial de direitos subjetivos ao
titular dessa personalidade para que possa
usá-la e desenvolvê-la plenamente.
O principal objetivo deste trabalho é
demonstrar a importância da
personalidade, porque o sujeito, só é
sujeito de direito, quando é dotado de
personalidade. Tanto a pessoa natural,
denominada física, quanto à pessoa
jurídica, consideradas sujeitos de direito,
são necessariamente dotadas de
personalidade, porque a personalidade é a
qualidade para ser sujeito de direito.
No Brasil, não é pacifico o
entendimento sobre a aquisição da
personalidade natural, haja vista a
existência de várias teorias e inúmeros
doutrinadores digladiando a respeito do
tema como: Eduardo Espínola, Vicente
Ráo, Silvio Venosa, Silvio Rodrigues,
Teixeira de Freitas, Clóvis Beviláqua,
Silmara Chinelato, Maria Helena Diniz.
2 PERSONALIDADE E CAPACIDADE JURÍDICA
Na vigência do Código de 1916, os
juristas brasileiros tinham a ideia de que
possuir personalidade era ter aptidão,
atributo para ser titular de direitos, ou seja,
aptidão para titularizar relações jurídicas,
ou melhor, ser sujeito de direito.
No Código de Beviláqua, a teoria
majoritária a respeito da personalidade era
ter aptidão para ser sujeito de direito e
todo aquele que tivesse esse atributo teria
personalidade, na medida em que ter
personalidade era ter essa aptidão. Nessa
época, a doutrina confundia a ideia de
personalidade com a titularização das
relações jurídicas. Para explicar melhor,
para titularizar relações jurídicas, a aptidão
teria que ser reconhecida a alguma pessoa
que pudesse ou não confirmar
pessoalmente essas relações. Nesse
momento, surgiu o conceito capacidade
jurídica, que se apresentava como medida
da personalidade.
Nessa confusão de conceitos, quem
tinha personalidade poderia ser sujeito de
direito, da mesma forma de quem se
dispunha de direito poderia titularizar
relações jurídicas e, se pudesse titularizar
relações jurídicas pessoalmente ou não,
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
63
teria capacidade. Assim, pode-se
conceituar que personalidade é a aptidão
genérica para se titularizar direitos e
contrair obrigações na ordem jurídica, ou
seja, é a qualidade para ser sujeito de
direito.
Na década de 70 e 80, do século
passado, Pontes de Miranda, refletiu sobre
esse tema e indagou-se como ficaria a
situação dos entes despersonalizados.
Nessa estrutura complicada: Como colocar
os entes desprovidos de personalidade,
como por exemplo, a herança vacante,
jacente, sociedade de fato, massa falida e o
condomínio? Dessa forma, um ente
despersonalizado é aquele que não tem
personalidade e quem não tem essa
característica, não poderá ser sujeito de
direito, porque ter personalidade é
consequentemente ser sujeito de direito. É
nesse caso que a doutrina moderna crítica
essa compreensão do código de 1916.
Pontes de Miranda reconhece o deslize
dessa teoria que conceitua a personalidade
como ter aptidão para ser sujeito de
direito.
Ao se analisar a figura do
condomínio edilício, verifica-se que este
ente despersonalizado pode ser
contribuinte, empregador, consumidor e
até ser parte em uma relação processual
jurídica. Contudo, sabe-se que somente
sujeito de direitos pode constituir esses
atos e conclui-se que o condomínio pode
ser sujeito de direitos.
Agora, surge a indagação: Qual
mecanismo sustenta essa teoria e em que
base os entes despersonalizados podem ser
sujeito de direitos? A resposta está no
artigo 12 do Código de processo civil que
diz:
Art. 12. Serão representados em juízo, ativa e passivamente: I – a união, os estados, o Distrito Federal e os territórios, por seus procuradores; II – o Município, por seu Prefeito ou Procurador; III – a massa falida, pelo síndico; IV – a herança jacente ou vacante, por seu curador; V – o espólio, pelo inventariante; VI – as pessoas jurídicas, por quem os respectivos estatutos designarem, ou, não os designando, por seus diretores; VII – as sociedades sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração dos seus bens; VIII – a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil (artigo 88, parágrafo único); IX – o condomínio, pelo administrador ou pelo síndico. § 1o Quando o inventariante for dativo, todos os herdeiros e sucessores do falecido serão autores ou réus nas ações em que o espólio for parte. § 2º As sociedades sem personalidade jurídica, quando demandadas, não poderão opor a irregularidade de sua constituição. § 3o O gerente da filial ou agência presume‑se autorizado, pela pessoa jurídica estrangeira, a receber citação inicial para o processo de conhecimento, de execução, cautelar e especial.
O artigo supracitado confirma essa
teoria. É claro que, na sua leitura, o
condomínio pode ser parte no processo e
será representado pelo síndico. Nesse caso,
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
64
não há a menor possibilidade de se errar
em se falar que o condomínio edilício
pode ser sujeito de direitos e o mesmo se
diga dos demais entes despersonalizados
citados.
Isso se confirma na crítica de Pontes
de Miranda, quando diz que entes podem
ser sujeitos de direitos mesmo sem ter
personalidade. Conclui-se que existe uma
confusão conceitual no que tange à
personalidade. Pontes de Miranda, 1974,
p. 284-285, chama a atenção para o
seguinte:
O ser pessoa depende do sistema jurídico. Desde o momento em que regra jurídica, que a êle pertence, diz que A pode ter direitos, ainda que só o direito b, A é pessoa, porque a possibilidade de ter direito já é direito de personalidade. Se nem sempre há direito à personalidade, é tautológico que ter personalidade é ter direito de personalidade. Na verdade, não há pessoa sem direito; quem é pessoa pode ser sujeito de direito, e já o é do direito de personalidade.
Pode-se entender que ter
personalidade é ser sujeito de direito e, se
titularizar pessoalmente ou não essa
relação, é ter capacidade, portanto não
necessita ter personalidade para ser sujeito
de direito.
Dessa forma, o Código Civil de
2002 acata a teoria de Pontes de Miranda,
inaugura um novo conceito de
personalidade e também de capacidade.
Esse código, quando atribuiu um novo
conceito de personalidade, indiretamente
mexeu também no conceito de capacidade
e fez surgir uma recente reflexão para
sustentar a renovada ideia de
personalidade. Nesse novo entendimento
se sustenta a ideia de que a personalidade
jurídica não pode ser a titularização das
relações, porque se pode titularizar
relações, ainda que sem a personalidade
jurídica. Essa teoria diz que ter
personalidade jurídica é ter proteção
fundamental; é ter direitos básicos que são
os direitos da personalidade, porque os
direitos da personalidade correspondem à
proteção fundamental, básica e elementar
para quem dispõe de personalidade. Em
suma, aquele ser que tem personalidade
dispõe de uma proteção fundamental e
essa proteção elementar são os direitos à
personalidade.
Nota-se que os direitos à
personalidade constituem um escudo para
que o titular exerça sua personalidade.
Portanto, não é difícil perceber que os
direitos da personalidade se apresentam
em nível meramente existencial. Trata de
uma relação jurídica existencial, porque se
toda pessoa tem personalidade,
consequentemente toda ela tem os direitos
da personalidade.
Esses direitos são necessários para
que as pessoas pratiquem sua
personalidade. É interessante notar que os
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
65
entes despersonalizados não têm
personalidade, porque, seu o seu
representante legal, não titularizam
relações existenciais.
A Constituição portuguesa, no Art.
26, reconhece o direito à personalidade e
estabelece que:
A todos são reconhecidos os direitos a identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade, a capacidade civil, a cidadania, ao bom nome e reputação, a imagem, a palavra, a reserva da intimidade da vida privada e familiar e a proteção legal contra qualquer forma de discriminação.
Ainda assim, não se pode confundir
personalidade com a capacidade jurídica.
Esta é a possibilidade de titularizar
pessoalmente relações jurídicas. No
entanto não se refere a qualquer relação,
uma vez que a capacidade somente é
possível para relações jurídicas de
conteúdo patrimonial. Com esse
entendimento, pode-se diferenciar
capacidade de personalidade. A
personalidade está em relação a situações
existenciais e a capacidade, nas
patrimoniais.
Dessa forma, os entes
despersonalizados não exercitam os
direitos à personalidade, porque não têm
personalidade. Entretanto, possuem
capacidade, porque, para obter capacidade
não carece de personalidade. Aquele que
exerce direitos de personalidade pode
titularizar relações patrimoniais, mas o
caso inverso não condiz com a verdade,
porque quem tem capacidade
obrigatoriamente não tem personalidade, a
exemplo as relações existenciais como: a
privacidade, imagem e honra.
O condomínio edilício que pode ser
empregador, consumidor e contribuinte
tem capacidade e pode titularizar
pessoalmente as relações jurídicas
patrimoniais. Em caso de uma revista, uma
pessoa aponte ou insinue que o
condomínio é caloteiro, este poderá sofrer
dano moral? A resposta afirmativa a essa
indagação é simples, não porque o
condomínio é um ente despersonalizado,
logo não dispõe de personalidade, mas,
porque tem capacidade e assim, pode
titularizar relações patrimoniais e nunca
relações existenciais.
Diferentemente da época de
Beviláqua, hoje, existe uma evolução
conceitual. Agora, a Doutrina faz uma
proteção à pessoa, ao dizer que toda
pessoa tem personalidade e ter
personalidade é garantia fundamental.
Nesse contexto, o Art. 1º, do Código Civil,
de 2002 diz: “Toda pessoa é capaz de
direitos e deveres na ordem civil.”
Já o Código Civil, de 1916, como
ideologia principal, protegia o patrimônio
e era totalmente partidário do
individualismo. Nesse caso, o velho
código não conceituou a personalidade,
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
66
não reconheceu os seus direitos e nem
valorizou as relações existenciais, apenas
se limitou a conceituar a capacidade.
No código elaborado por Miguel
Reale, diferentemente do ordenado por
Clovis Beviláqua, prestigia a
personalidade. Por esse motivo, o Código
Civil, de 2002, parte do silogismo de que a
base fundamental jurídica do sistema é o
direito à personalidade. Ao se defender e
preservar aquele que dispõe de
personalidade é que se cria um sistema
voltado à pessoa. Nesse momento,
verifica-se uma ideia de eticidade e
dignidade da pessoa humana.
3 ROL EXEMPLIFICATIVO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
Os direitos à personalidade é uma
teoria recente, nascida e construída a partir
da Segunda Grande Guerra Mundial,
precisamente na Alemanha, com a
intenção de que os militares não
praticassem mais aquelas atrocidades e
assim fossem evitadas suas repetições.
Com esse intuito, foram constituídos os
direitos à personalidade, voltados à
proteção da pessoa humana, ou melhor, à
dignidade da pessoa humana.
Nessa ênfase, surge uma questão
relevante. Esses direitos os quais
estabelecem esse escudo fundamental
constituem um rol taxativo ou
exemplificativo? A doutrina é pacifica no
entendimento de um rol meramente
exemplificativo?
Ao dissertar sobre esse tema, o
doutrinador Carlos Roberto Gonçalves,
2010, p. 188, nos deu um exemplo claro,
quando ensina: “O direito de
personalidade vai, pois além das
prerrogativas catalogadas na Constituição
e na legislação ordinária”.
Sabe-se que, no rol exemplificativo,
há o direito à personalidade, mas não
tipificado no ordenamento jurídico.
Também, pode-se afirmar que o direito da
personalidade é tudo aquilo que for
imprescindível para se viver com
dignidade sob o prisma da relação privada.
Sendo assim, é exemplificativo o rol.
Nesse sentido, o Enunciado 274, da
Jornada de Direito Civil, confirmando o
caráter exemplificativo:
Art. 11. Os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação.
Esse Enunciado ensina que a
dignidade da pessoa humana constitui a
base de todo o ordenamento jurídico e
todos os direitos devem estar conectados a
esse principio.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
67
4 FONTES DO DIREITO À PERSONALIDADE
O termo fonte dá ideia de inicio,
nascente, origem e a Doutrina é rica em
conceituar fonte. Miguel Reale, 1999, p
120, ensina que o termo fonte seja:
O termo fonte do direito deve indicar somente os processos de produção da norma jurídica, vinculados a uma estrutura do poder, o qual, diante de fatos e valores, opta por dada solução normativa e pela garantia do seu cumprimento. A estrutura de poder é um requisito essencial ao conceito de fonte. A luz deste conceito, quatro são as fontes do direito: o processo legislativo, a jurisdição, os usos e costumes jurídicos e o poder negocial.
Com base em Maria Helena Diniz e
Pablo Stolze, o nascedouro, a origem, a
fonte do direito da personalidade, advém
do jusnaturalismo. Esses doutrinadores
entendem que os direitos da personalidade
não brotam com o ordenamento jurídico,
não são positivistas, nem nascem de uma
ordem que preexiste ao direito, mas são
ingênitos, isto é, o ser humano já nasce
com esse direito.
Faz-se necessário comparar a
doutrina majoritária com a minoritária
para o conhecimento acadêmico.
Defendida por Gustavo Tepedino e Pontes
de Miranda, a posição minoritária dá a
ideia de que o nascimento dos direitos da
personalidade é natural do sistema
jurídico, nasce com o ordenamento
jurídico. Essa teoria positivista diz que
esses direitos são decorrentes da própria
sistematização jurídica.
5 AQUISIÇÃO DA PERSONALIDADE
Em regra, o momento em que uma
pessoa adquire sua personalidade está
contido no Art. 2º, do Código Civil, de
2002 que diz: “A personalidade civil da
pessoa começa do nascimento com vida;
mas a lei põe a salvo, desde a concepção,
os direitos do nascituro”.
Nesse caso, a pessoa adquire a sua
personalidade do nascimento com vida. E
o que se entende do nascimento com vida?
Qual a intenção do artigo supracitado?
Para responder essas indagações é
necessário verificar uma resolução antiga
do Conselho Nacional de Saúde, de Nº
01/1988, em seu artigo 29, inciso VI, que
diz:
Art. 29 - Além dos requisitos éticos genéricos para pesquisa em seres humanos, as pesquisas em indivíduos abrangidos por este capítulo, conforme as definições que se seguem, devem obedecer às normas contidas no mesmo.
VI- Nascimento Vivo – é a expulsão ou extração completa do produto da concepção quando, após a separação, respire e tenha batimentos cardíacos, tendo sido ou não cortado o cordão, esteja ou não desprendida a placenta.
Nesse artigo se traduz que, se o
recém-nascido vem à luz e entra em
atividade o seu aparelho
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
68
cardiorrespiratório, ele obtém
personalidade jurídica, ainda que venha a
morrer logo depois.
Segundo o ordenamento juridico
espanhol, para obter a personalidade
jurídica, o recém-nascido tinha que ter a
forma humana e o tempo mínimo de 24
horas fora do ventre materno. Assim dizia
o Art 30, do Código Espanhol:
Art 30. Para los efectos civiles, sólo se reputará nacido el feto que tuviere figura humana y viviere veinticuatro horas enteramente desprendido del seno materno.
Para seguir as tendências
ocidentais modernas, o código civil
hispânico foi alterado, recentemente, no
dia 21.07.2011 e sua nova redação reza:
Art. 30 La personalidad se adquiere en el momento del nacimiento con vida, una vez producido el entero desprendimiento del seno materno.
Essa nova redação do código
espanhol está em conformidade ao
entendimento brasileiro, ou seja, segue as
linhas brasileiras, quando se refere ao total
desprendimento do recém-nascido do
ventre materno. Em outras palavras, o
cordão umbilical tem que estar rompido.
Segundo Menezes (2008, p.191):
O marco inicial da pessoa, sujeito de direitos e deveres para a ordem civil, é o nascimento com vida, muito embora se ponha a salvo o direito do nascituro, desde a concepção. Porém, com as técnicas atuais de manipulação genética, surgem situações que não se enquadram nas fattispecies
previstas pelo Código Civil Brasileiro e que receberam regulamentação incipiente pela Lei de Biossegurança. Questões como o congelamento de embriões, estudos científicos e pesquisas com células embrionárias.
A grande contradição que existe no
Código Brasileiro é que, a princípio, a
personalidade civil começa com o
nascimento com vida. Depois ele garante
direitos ao nascituro. Caio Mario indaga-
se: Como ser possível ter obrigações e
direitos sem ser sujeito de direito? O
nascituro é considerado uma pessoa? Para
responder essas indagações a doutrina
elaborou várias teorias.
a. Teorias Explicativas do Nascituro
Nascituro é o ser em estado rudimentar, inicial, mas ainda não nascido. O melhor conceito atualmente é o de De Plácido e Silva, 1999, p. 549, que ensina:
Derivado do latim nasciturus, particípio passado de nasci, quer precisamente indicar aquele que há de nascer. Designa, assim, o ente que está gerado ou concebido, tem existência no ventre materno: está em vida intra-uterina. Mas não nasceu ainda, não ocorreu o nascimento dele, pelo que não se iniciou sua vida como pessoa. Embora o nascituro, em realidade não se tenha como nascido, porque como tal se entende aquele que se separou, para ter vida própria, do ventre materno, por uma ficção legal é tido como nascido, para que a ele se assegurem os direitos que lhe cabem, pela concepção. [...] Mas, para que se tenha o nascituro como titular dos direitos que lhe são reservados ainda em sua vida intra-uterina, é necessário que nasça com vida.
A doutrina é clara na alusão que
não tem a mesma definição embrião e
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
69
nascituro. Embrião é um ente que está
conservado em recintos adequados para
paralisar o seu desenvolvimento. Com
outras palavras, embrião é aquele ser que,
em principio de desenvolvimento, está
congelado em laboratório.
Coelho, 2003, v. 1, p. 148-152,
ensina que o embrião só passará a ter
direito, quando for introduzido no útero
feminino:
O embrião pode ou não ser destinado ao ciclo biológico do ser humano; ter existência jurídica, sem ser sujeito de direito, mas iniciado este processo tem seus direitos resguardados desde a fertilização. Diante desta retroação de seus direitos a data da fertilização, a solução mais justa parece ser a que reconhece direito sucessório ao filho advindo desse embrião ainda que nasça depois da morte de seu pai.
Existem algumas teorias que se
esgrimem responder uma simples
pergunta: O nascituro tem personalidade
jurídica? A primeira teoria é a natalista, a
segunda concepcionista e por ultima a
condicionalista.
i. Teoria Natalista
Essa teoria é defendida por
inúmeros autores como, por exemplo:
Eduardo Espínola, Silvio Rodrigues e
Sílvio Venosa. Essa doutrina ensina que o
nascituro não é uma pessoa, apenas goza
de esperança de direito, uma vez que é a
partir do nascimento com vida que se
adquire a personalidade jurídica.
Com esse pensamento Fiúza, 2004,
p. 114, ensina:
O nascituro não tem direitos propriamente ditos. Aquilo a que o próprio legislador denomina ‘direitos do nascituro’ não são direitos subjetivos. São, na verdade, direitos objetivos, isto é, regras impostas pelo legislador para proteger um ser que tem a potencialidade de ser pessoa e que, por já existir pode ter resguardados eventuais direitos que virá a adquirir.
Essa teoria entende que os direitos
à personalidade são adquiridos com o
nascimento com vida.
5.1.1 Teoria Conceptista
Inaugurada por Teixeira de Freitas e
pelo Código Civil Argentino, a Teoria
Concepcionista tem como adeptos: Clóvis
Beviláqua, Maria Helena Diniz, Nabuco
de Araújo e Clovis Carlos de Carvalho e,
aos poucos, conquistou espaços no direito
e adquiriu inúmeros simpatizantes.
Pode-se citar um dos seus
seguidores, o doutrinador Carlos Roberto
Gonçalves (2010, p. 210) que diz:
A teoria concepcionista, surgiu sob influência do direito francês. Para os adeptos dessa corrente, dentre os quais se encontram Teixeira de Freitas e Clóvis Beviláqua, a personalidade começa antes do nascimento, pois desde a concepção já há proteção dos interesses do nascituro, que devem ser assegurados prontamente.
Dessa forma, a Teoria
Concepcionista tem ideia de que, com a
concepção, o nascituro é uma pessoa, com
os direitos patrimoniais e adquire a
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
70
personalidade jurídica. Essa teoria teve
grande influencia do direito argentino e
francês. Com base nela, o nascituro poderá
acolher legado, herança ou doação. Cesar
Fiúza, 2004, p 117, diz: "a personalidade
começa desde a concepção da vida no
útero materno". Com outras palavras, o
nascituro tem muitos direitos, inclusive
patrimonial e não uma mera expectativa.
5.1.2 Teoria Condicionalista
Essa Teoria defende que a
personalidade do nascituro está
condicionada à vida. Nela encontra-se a
doutrina clássica, com seus autores
renomados como: Caio Mário,
Washington de Barros Monteiro, dentre
outros. Eles concordam que o nascituro
tenha esses direitos patrimoniais e que,
desde a concepção, já dispunha desses
direitos, mas, para obtê-los, terá que
nascer com vida.
Para Chinelato, 2001, p.3:
Os direitos absolutos da personalidade, como o direito a vida, o direito a integridade física (stricto sensu) e a saúde, espécies do gênero “direito a integridade física” (lato sensu), independem do nascimento com vida. A personalidade – que não se confunde com capacidade – não e condicional. Apenas determinados efeitos de certos direitos, notadamente dos direitos patrimoniais materiais, como a herança e a doação, dependem do nascimento com vida. A plenitude da eficácia desses direitos fica resolutivamente condicionada ao nascimento sem vida. O nascimento com vida, enunciado positivo de condição suspensiva, deve entender-se como enunciado negativo de uma condiçao resolutiva, isto e, o nascimento sem vida.
No REsp 399028/SP, o STJ decidiu
reconhecer os direitos da personalidade do
nascituro. Essa é a posição do STJ.
REsp 399028/SP - Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA - T4 - QUARTA TURMA - DJ 15/04/2002
DIREITO CIVIL. DANOS MORAIS. MORTE. ATROPELAMENTO. COMPOSIÇÃO FÉRREA. AÇÃO JUIZADA 23 ANOS APÓS O EVENTO. PRESCRIÇÃO INEXISTENTE. INFLUÊNCIA NA QUANTIFICAÇÃO DO QUANTUM. PRECEDENTES DA TURMA. NASCITURO. DIREITO AOS DANOS MORAIS. DOUTRINA. ATENUAÇÃO. FIXAÇÃO NESTA INSTÂNCIA. POSSIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
I - Nos termos da orientação da Turma, o direito à indenização por dano moral não desaparece com o decurso de tempo (desde que não transcorrido o lapso prescricional), mas é fato a ser considerado na fixação do quantum.
II - O nascituro também tem direito aos danos morais pela morte do pai, mas a circunstância de não tê-lo conhecido em vida tem influência na fixação do quantum.
III - Recomenda-se que o valor do dano moral seja fixado desde logo, inclusive nesta instância, buscando dar solução definitiva ao caso e evitando inconvenientes e retardamento da solução jurisdicional.
Atualmente, a doutrina e a
jurisprudência brasileira caminham lado a
lado e dizem que o direito à personalidade
jurídica é a partir da concepção uterina e
não a de laboratório.
CONCLUSÃO
Na esteira dessa problemática
acerca do direito à personalidade,
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
71
verificou-se a diferença entre
personalidade e capacidade jurídica e
constatou-se que são instituições
totalmente diferentes.
Debateu-se sobre o direito à
personalidade e conclui-se que esse direito
é meramente exemplificativo e tem por
fundamento o principio da dignidade da
pessoa humana. Ao ser um direito
meramente exemplificativo, pode-se
encontrá-lo em todo ordenamento jurídico.
Com relação às fontes do direito à
personalidade, se identificou duas teorias:
a jusnaturalista que diz esse direito já
preexiste no homem, com a qual
compactuo e a positivista que considera o
seu nascimento juntamente com o
ordenamento jurídico.
No tópico aquisição da
personalidade, se conceituou embrião e
nascituro e se debateu sobre a diferença
entre eles. Durante a pesquisa, verificou-se
a existência de várias teorias a respeito da
aquisição da personalidade, tanto do
embrião, quanto do nascituro. Dentre elas,
a teoria concepcionista, mais humanizada
e com a qual me identifico, porque o
nascituro é tratado como se fosse uma
pessoa.
A respeito da aquisição da
personalidade jurídica do nascituro já
existem vários artigos disseminados no
novo Código Civil Brasileiro, como
também o seu reconhecimento pelo
Superior Tribunal de Justiça.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DE PLÁCIDO E SILVA. Dicionário jurídico - Revista e Atualizada por Nagib Slaibi Filho. Rio de Janeiro: Editora Forense, 15. ed., 1999.
FIÚZA, César. Direito Civil - curso complemento. Belo Horizonte: Editora Del Ray, 8. ed. rev., atual, 2004.
GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil – com abrangência do Código de 1916 e o novo Código Civil. São Paulo: Editora Saraiva. 3. ed. vol. I – Parte Geral, 2003.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro : Parte Geral. São Paulo: Editora Saraiva. vol I, 2010.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Editora Forense, 23. ed. v. I, 2011
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de Direito Privado – Parte Geral – Tomo I - Introdução. Pessoas Físicas e Jurídicas. São Paulo: RT, 4. ed., 1974.
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito . São Paulo: Editora Saraiva. 19. ed., 1999.
RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil – Parte geral. São Paulo: Editora Saraiva. 34. ed., vol. I, 2007.
TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil . Rio de Janeiro: Editora Renovar. 2. ed. Rio de Janeiro, 2001
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil – Parte Geral. São Paulo: Editora Atlas, 3. ed. vol. I, 2003.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
72
CIÊNCIAS DA SAÚDE
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
73
PROFISSIONALIZAÇÃO DO ÁRBITRO DE FUTEBOL: PRÓS E CO NTRAS
Adriano Barros Carneiro Graduando em Educação Física pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza [email protected] Rosane de Almeida Andrade Professora Mestre do curso de Educação Física na Faculdade Integrada da Grande Fortaleza [email protected]
RESUMO: Arbitrar bem uma partida de futebol é fazer cumprir as regras do jogo, o regulamento da competição e manter o espírito esportivo entre os atores do espetáculo. Para se tornar árbitro se tem de abdicar diversas coisas, principalmente o sentimento de torcedor de clube de futebol. As exigências para se formar um árbitro hoje são inúmeras: nível superior, falar outros idiomas, nome limpo no comércio, além de excelente preparação física. Há escolas de futebol que ensinam os interessados a ser árbitro ou assistente, onde há o preparo para se aprender outros idiomas, as regras do jogo, psicologia do esporte, noções de preparação física, redação de súmulas e relatórios. Baseado no exposto há uma grande discussão quanto à profissionalização ou não do árbitro de futebol, já que hoje ele tem que se doar inteiramente à arbitragem para galgar posições na elite, além de se tornar um atleta de alto nível. Por meio de uma pesquisa bibliográfica, o presente estudo teve como objetivo citar os prós e os contras dessa profissionalização. Ao final desse estudo, concluiu-se que ter o hobby de árbitro de futebol como profissão poderá gerar corrupção no meio futebolístico, gerar submissão do árbitro à federação a qual pertence, mas também terá seus direitos trabalhistas garantidos, maior dedicação ao trabalho e mais tempo disponível para realização de seus treinos físicos já que é um atleta de alto nível. Por isso não é fácil vida de árbitro de futebol, pelo contrário, a exigência aumenta a cada dia, pois o futebol é o esporte mais praticado e admirado do mundo, envolve diversos segmentos e muito dinheiro. E o árbitro é o responsável pela direção do espetáculo, o diretor, logo tem o poder e a supremacia em suas mãos, quer dizer, no som do seu apito e na tinta da caneta e, quanto menos errar, melhor.
PALAVRAS-CHAVE : Árbitro; Futebol; Profissionalização. ABSTRACT: Arbitrate and a football match is to enforce the rules of the game, the rules of the competition and keep the spirit of sportsmanship among the actors of the show. To become a referee has to give up many things, especially the feeling of a fan of football club. The requirements to form an arbitrator today are many: higher, speaking other languages, a clean trade, and excellent fitness. There are schools that teach football stakeholders to be a referee or assistant, where there is a preparation for learning other languages, the rules of the game, sports psychology, fitness concepts, writing summaries and reports. Based on the above there is a big discussion as to whether or not the professional football referee, since now he has to give himself entirely to arbitration to reach the top positions in the elite, as well as becoming a top athlete. Through a literature review this study was to mention the pros and cons of professionalization. At the end of this study it was found to have the hobby of football referee as a profession may generate corruption in the soccer world, generating official submission to the federation to which it belongs, but also have their labor rights guaranteed greater dedication to work and more time available for achieving your physical training since it is a top athlete. So life is not easy for a soccer referee, on the contrary, the demand increases every day, because football is the sport most practiced and admired the world involves several segments and a lot of money. And the referee is responsible for directing the show, the director, So has the power and supremacy in their hands, that is, the sound of his whistle and pen and ink, the fewer mistakes the better. KEYWORDS : Referee; Football; Professional.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
74
1 INTRODUÇÃO
Por muito tempo, o árbitro de
futebol foi considerado uma figura
secundária no futebol. Com o passar dos
anos, observou-se que o árbitro é a pessoa
que realmente pode decidir uma partida. O
árbitro é imprescindível para este esporte,
pois uma decisão equivocada pode retirar
de um campeonato uma equipe que
investiu milhões de dólares na compra e
no preparo dos jogadores, restando para
esta equipe apenas a lamentação. Devido à
relevância do árbitro para o futebol, a
comunidade científica passou a investigá-
lo nos últimos anos e a publicar trabalhos
que possam fundamentar a sua
importância e a fornecer dados para
melhor prepará-lo.
Devido à grande paixão pelo
futebol, característica do povo brasileiro, a
“profissão” de juiz está constantemente em
alta. Com a exigência do curso de
formação de juízes, esse hobby torna-se,
ao mesmo tempo, mais competitivos, com
maiores critérios diferenciais que
proporcionarão uma melhor escolha por
parte das instituições de esporte do país.
Para adquirir reconhecimento é importante
que o candidato a juiz busque uma atuação
marcante em seu estado ou região, para
posteriormente apitar partidas de âmbito
nacional. De norte a sul do país, as ligas
regionais têm força para preparar esses
juízes, sendo que estados com maior
número de ligas, como o Estado de São
Paulo, facilita a sua entrada em um
mercado de trabalho promissor. Com isso,
é importante obter este papel de destaque,
para alcançar um reconhecimento, até,
internacional.
Assim, esse artigo se preocupou
com a necessidade de buscar informações
sobre um tema atual e de importante
relevância para o futebol brasileiro: a
profissionalização do árbitro de futebol. Já
que a FIFA divulgou recentemente que só
utilizará na copa do mundo de 2014
árbitros profissionais, ou seja, com a
profissão regulamentada, como é o caso da
lnglaterra. Entretanto, no Brasil, isto
parece está muito longe de acontecer, pois
há uma lei que tramita no Congresso
Nacional há muito tempo, desde 1979, e
nunca foi colocada em pauta para
discussão.
O objetivo principal desse artigo é
citar e discutir os pontos positivos e
negativos da regulamentação da profissão
do árbitro de futebol no Brasil. Fato este
que gera discussões quanto a ser benéfico
ou não para o árbitro.
2 METODOLOGIA
Foi realizada uma pesquisa
bibliográfica em sites, revistas, jornais,
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
75
livros e artigos científicos para a obtenção
das respostas referente ao nosso objetivo
principal.
3 RESULTADOS
Segundo a Confederação Brasileira
de Futebol (CBF) e a Federação
Internacional de Futebol (FIFA) é exigida
a formação do segundo grau para a
efetivação do “juiz” nos quadros de
arbitragem destas instituições. A FIFA
também exige que os árbitros falem o
idioma Inglês para exercer sua função.
Além disso, para fazer parte das
Federações de Futebol dos diversos
estados brasileiros, é necessário, que o
candidato a juiz, com o diploma de
segundo grau em mãos, se submeta a uma
prova escrita, avaliação do perfil físico e
diagnóstico psicológico para fazer o curso
de árbitros, que tem duração mínima de
um ano e a inscrição é feita na própria
federação ou pelo site. Assim, ele estará
apto a atuar em partidas de futebol oficiais
de todo o país.
De acordo com o Projeto de Lei no
6.405, de 2002, de autoria do Senado
Federal, que “Regula a profissão de árbitro
de futebol e dá outras providências” o
interessado deverá ter pelo menos 18 anos
e ensino médio completo. Outro requisito
solicitado é a apresentação de atestado de
saúde física e mental emitido pelas
federações. Porém, como o projeto ainda
não foi aprovado, estes pré-requisitos
técnicos ainda não são requeridos para
qualificar-se na profissão, de acordo com o
Ministério do Trabalho. Porém, essa não-
regulamentação não elimina as condições
que devem ser apresentadas às federações
de Futebol para tornar-se árbitro, dado que
a Instituição é quem determina seus pré-
requisitos para ingresso de candidatos a
árbitro em seus cursos de formação.
Sem a profissionalização os juízes
não conseguem viver apenas dessa
atividade (o que se exige hoje), porque só
são pagos quando apitam jogos: um árbitro
machucado tem que fazer tratamento e
fisioterapia por sua própria conta e
enquanto isso fica parado.
O presidente da Associação
Nacional dos Árbitros de Futebol, Marco
Antônio Martins, diz que, além de fazer
justiça, o reconhecimento da profissão
poderá beneficiar o futebol brasileiro,
porque os juízes poderão se dedicar ao
aperfeiçoamento profissional. "Com a
profissionalização, a gente vai poder
dispor de todo o tempo para a
arbitragem.", disse.
Pontos positivos da
profissionalização: O árbitro poderá se
dedicar mais aos treinos físicos (já que
está entre atletas de alto nível, também
precisa se dedicar como tais), técnicos e
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
76
táticos. Disporá totalmente de seus direitos
trabalhistas. Será mais valorizado e
respeitado.
Pontos negativos da
regulamentação da profissão: Existem
várias divisões (classificações/ranking) no
futebol profissional em cada estado (por
exemplo, no Ceará a FCF possui 1ª, 2ª e 3ª
divisão profissional), isso dificultará a
instalação de um teto base para os árbitros.
O árbitro poderá se tornar corrupto diante
dessa situação, manipular resultados
(figura 1), além de ficar submisso à
federação a qual pertence.
Muitos árbitros possuem um
trabalho paralelo a atividade de árbitro de
futebol. Fato esse que impede o árbitro de
treinar consistentemente como um atleta
de alto nível, fazendo-o ser reprovado no
teste FIFA (figura 2). Quando escalados
têm que abdicar de seu trabalho para
cumprir as determinações das suas
federações e assim são obrigado a
pagarem pessoas para lhes substituírem no
seu emprego formal. Pouco tempo têm
para ler a regra e se disporem totalmente a
sua prática. Logo, a profissionalização
traria mais benefícios que inconsistências.
4 DISCUSSÃO
Bracht (2000) afirma que o
conceito de rendimento está presente em
toda a prática esportiva. Entretanto, o
esporte é considerado de rendimento
quando este é elevado ao objetivo central,
ao elemento que define as ações. O
objetivo a atingir passa a ser o resultado
máximo, não o possível ou o ótimo.
Com isso, o atleta acaba por
submeter-se a um sistema de vida
científico e tecnológico (dieta, treino etc.)
fazendo com que deixe de ter vida própria,
Figura 01 – Trio de arbitragem planejando manipular
resultados. Fonte: oindefectivel.blogspot.com –
01/09/2009. Acesso em 01/10/2011.
Figura 02 – Árbitro FIFA lamentando reprovação no
teste físico. Fonte: www.globoesporte.globo.com.
Acesso em 14/10/2011.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
77
para tornar-se um artefato em busca da
superação de seus limites. Por decisão
própria, o atleta precisa alcançar uma
dominação sobre si mesmo, o que vai
acontecer pelo treinamento contínuo. O
organismo precisa aproveitar totalmente a
energia para que se desenvolva ao
máximo, resultando num atleta mecânico e
quantitativo (Santin, 1994). Logo, o
árbitro se encaixa direitinho nesse padrão.
O árbitro de futebol tem que seguir
os padrões que as partidas de futebol estão
exigindo. Muita velocidade e preparo
físico, mental e psicológico apurado.
Dentro de campo atuam jogadores de alto
nível, logo o árbitro deve estar igual ou
superior à condição física daqueles. Fora
de campo são inúmeras câmeras e olhos
vigiando toda a movimentação que o
árbitro realiza. Mas, o árbitro tem que ser
o mais profissional possível, embora não
lhe seja dada toda a atenção necessária
para que isso se realize. Contudo, como se
preparar em alto nível sem equipamentos e
profissionais necessários para a realização
das atividades? Como cobrar tanto daquele
que é o mais mal remunerado dentro de
campo? Se a profissionalização no Brasil
não acontecer logo muitos apaixonados
desistirão dessa carreira tão virtuosa.
No último dia 25 de outubro de
2011 deputados, árbitros e ex-árbitros se
reuniram em busca de uma definição sobre
o projeto de lei que regulamenta a
profissão de árbitro de futebol e dá outras
providências. O presidente da Conaf,
Sérgio Correia, salientou sobre a
necessidade da profissionalização dos
árbitros acontecer, e para isso é necessário
acelerar a tramitação dos projetos na
Câmara dos Deputados. O presidente da
Anaf, Marcos Antônio, lamentou que
apenas os jogadores e técnicos de futebol
têm regulamentação da profissão e os
árbitros ainda não.
O deputado Afonso Hamm
ressaltou a importância desse debate e o
anseio da categoria no que se refere à
profissionalização da arbitragem sendo
essencial já que muitos árbitros dependem
de outras atividades para busca de
melhores rendimentos. “A
profissionalização irá contribuir nos
melhores salários e também na melhor
condição técnica para que os árbitros
tenham melhor desempenho”, observa o
parlamentar ao enfatizar sobre a
necessidade de ter um sistema de
arbitragem eficiente, tendo em vista que o
Brasil em 2014 será cenário da Copa do
Mundo de Futebol.
Segundo disse o ex- árbitro FIFA,
Carlos Eugênio Simon, quando da
presença na Audiência Pública supracitada
acima, conforme figura abaixo, a
reivindicação unânime dos árbitros de
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
78
futebol é a aprovação da regulamentação
da profissão, prevista em projeto de lei que
tramita no Congresso desde 1979.
4.1.1 A profissionalização na
Inglaterra
Cada árbitro passou a ter contrato
de dois anos para apitar na Liga Inglesa de
Futebol. Um detalhe importante: além do
processo seletivo rigoroso para ser
contratado, os árbitros que apresentam
deficiências nos jogos são rebaixados de
categoria e, dependendo das avaliações
semanais realizadas por especialistas em
arbitragem, o contrato pode não ser
renovado ao seu final.
O processo teve início com 18
árbitros e 36 árbitros assistentes
contratados ao custo de 8,25 milhões de
euros anualmente. Na atualidade o número
de árbitros e assistentes acentuou-se e os
valores financeiros duplicaram. Estão
incluídos neste montante as taxas de
arbitragens, diárias, seminários, material
de treinamento, uniforme e toda a
infraestrutura necessária para que os
árbitros tenham uma ótima performance
nas tomadas de decisões no campo de
jogo.
A profissionalização da arbitragem
na Premier League propiciou maior tempo
de bola em jogo, transformando as partidas
num espetáculo de entretenimento como
quer a FIFA, menor número de faltas e
queda significativa nos cartões amarelos
de 7,4 por jogo para 3,2. É óbvio que o
modelo inglês é inviável em muitos países
em função das peculiaridades de cada um,
Figura 03 – Áudiência na Câmara Federal sobre a regulamentação da profissão de árbitro no Brasil. Fonte: agora-online.com.br/jornal/2011/10/31/arbitros-querem-reconhecimento-da-profissao. Acesso em 02/11/2011.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
79
porém, há que se criar um modelo próprio
de acordo com a realidade das leis e
economia de cada nação, pois caso isso
não ocorra a arbitragem em âmbito
mundial continuará a passos de cágado e
refém das federações, associações,
confederações e, sobretudo dos cartolas
que utilizam de forma estratosférica o
árbitro e seus assistentes para justificarem
o fracasso de suas equipes quando perdem
uma partida.
5 CONCLUSÃO
Ser árbitro de futebol não é para
quem quer, é, pois para aqueles que têm
mais jeito e o demonstram, o
desenvolvem, o lapidam e se esforçam. A
ideia de que qualquer pessoa pode ir para
um campo de apito na boca ou bandeirola
na mão afigura-se, pois completamente
errada.
Em primeira instância estão as
condicionantes do perfil psicológico ou
temperamental. Cada pessoa tem o seu
caráter, a sua autoconfiança, que nem
sempre é imune ao choque da relação com
o público. Um árbitro deve ter total
controle do seu equilíbrio emocional, para
nos momentos mais complicados não
vacilar.
Depois vem a condição física.
Antigamente tínhamos o mal falado teste
Cooper, autêntica dor de cabeça que tirava
horas de sono a muitos, mas daí já se fez
história e os atuais testes físicos não são
nada dóceis. Se alguém chega aos 20 anos
e adere à arbitragem, não tendo hábitos
desportivos de rotina ou preparação física
adequada então vai ter um árduo caminho
a percorrer. Em seguida o gosto pelo
futebol também é importante, um árbitro é
amador, é aquele que ama o que faz. Um
árbitro tem que gostar muito de futebol.
Entendê-lo, percebê-lo, saber a sua história
e a sua gênese, que lhe dará no terreno
maior astúcia e perspicácia. Um árbitro
tem que ler o jornal desportivo e estar
atualizado com o desporto rei. Um Árbitro
para além de ser preparado para julgar, é
um ser humano com vida pessoal. E aqui
também se toca num ponto essencial. Não
se é só árbitro no estádio. É se árbitro toda
a semana e toda e qualquer atitude menos
própria no nosso dia a dia nos pode
porventura nos descredibilizar.
Enfim, além de tudo que foi
supracitado, regulamentar a profissão de
árbitro de futebol poderia acabar com os
desrespeitos e desvalorizações feitas ao
árbitro, aumentar seu salário e sua
disposição, porém, em nada melhorará sua
condição de trabalho se não passar a ser
tratado como um atleta de alto nível, ou
seja, não tiver acompanhamento de um
fisiologista, educador físico,
fisioterapeuta, cardiologista, profissionais
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
80
referendados ao esporte. Um centro de
treinamento para a arbitragem deve ser
prioridade. Não se basta regulamentar a
profissão e não equiparar o árbitro a um
jogador de futebol. Somente uma
categoria de árbitros pode dizer que se
dedica 100% à arbitragem de futebol, são
os árbitros do quadro internacional, os
FIFA, como são conhecidos. Esses sim,
por apitarem em média 08 jogos de
campeonato brasileiro por mês (quarta e
domingo – série A, por exemplo), faturam
uma média de R$ 20.000,00 reais por mês.
Logo, pra que “emprego” melhor do que
esse? Mas, para chegar ao seleto grupo
onde esses se encontram, a ralação e a
dedicação devem ser 24 horas por dia.
Então, dá pra chegar lá sem
profissionalizar a arbitragem? Impossível,
devido as tantas necessidades elencadas
durante todo esse trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REBELO. A (et al.,). Stress físico do árbitro de futebol no jogo. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, Lisboa: Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física Universidade do Porto, vol. 2, n. 5, 2002. p. 24–30. Disponível em: <http://www.educacaofisica.com.br/biblioteca/stress-fisico-do-arbitro-de-futebol-no-jogo.pdf>. Acesso em 20 mar. 2011.
BRACHT, V. Esporte na Escola e Esporte de Rendimento. Revista Movimento, Porto Alegre: UFRGS, n. 12, 2007. p. 2000/1.
SANTIN, S. Educação Física: da alegria do lúdico à opressão do rendimento. Porto Alegre: Edições EST/ESEF, 1994.
SILVA da, Alberto Inácio (et al.,). O árbitro de futebol – Uma abordagem histórico crítica. Revista da Educação Física, Maringá: UEM, v. 13, n. 1, 2002. p. 39-45.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
81
INFECÇÕES HOSPITALARES E A ENFERMAGEM
Gleyciane Tomé Batista Graduanda em Enfermagem pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza [email protected] José Eduardo Ribeiro Honório Júnior Professor Mestre do curso de Enfermagem da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza [email protected]
Resumo: A enfermagem presta um serviço importante aos pacientes, acompanhando sua evolução nas unidades de saúde. Assim, o conhecimento dos microrganismos responsáveis pela infecção hospitalar(IH) e os meios de inibir a sua propagação, são de grande importância para esses profissionais. Os principais microrganismos responsáveis pela IH são Escherichia coli, Pseudomonas SP., Staphylococus aureus, S. epidermitis, Candida albicans, vírus da hepatite B e C dentre outros. Outros fatores como idade do paciente, falta de tratamento de esgoto e lixo hospitalar e uso incorreto dos equipamentos de proteção hospitalar por parte dos profissionais da saúde aumentam a propagação da IH. Os pacientes propensos a IH são aqueles com longos períodos de internação, que sofram de grandes queimaduras, desnutrição e deficiência imunológica. A enfermagem tem um papel importante na avaliação da evolução desses pacientes e nas comissões de controle de infecções hospitalares, elaborando medidas para controle e prevenção das infecções hospitalares. Palavra-Chave: Infecção Hospitalar, Enfermagem, Microrganismos Abstract: Nursing provides an important service to patients, following their evolution in healthcare facilities. Thus, knowledge of the microorganisms responsible for hospital infections (HI) and the means to inhibit their spread is of great importance for these professionals. The main microorganisms responsible for HI are Escherichia coli, Pseudomonas sp., Staphylococcus aureus, S. epidermitis, Candida albicans, Hepatitis B and C.Other factors such as patient age, lack of sewage treatment and hospital waste and misuse of protective equipment by the hospital health professionals increase the spread of the HI. Patients prone to HI are those with prolonged hospitalization, suffering from major burns, mal nutrition and immune deficiency. Nursing hás an important role in the evaluation ofthese patients and in the committees of hospital infection control, developing measures to control and prevent nosocomial infections. Keyword: Hospital Infections, Nursing, Microorganisms.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
82
1 História da infecção hospitalar
A historia da infecção hospitalar
(IH) é tão antiga, quanto o surgimento dos
primeiros hospitais, relatos históricos
apontam que por volta do ano 330 a.C. no
Império Romano, foi construída o
primeiro hospital urbano que na realidade
não servia ao propósito de restaura a saúde
dos enfermos, mais somente isolá-lo da
sociedade, conforme Oliveira (2008).
Couto; Pedrosa e Pedrosa Grillo (2003)
aponta que as primeiras referenciam a
existência de hospitalar foram por volta de
325 d.C.
Em situações onde não era possível
identificar a doença os pacientes eram
confinados em hospitais sem separação
por nosologia e muitas vezes ocorriam o
agravamento da patologia devido às
infecções cruzadas, na idade media o
Concílio de Niceia, determinou que os
hospitais fossem construídos próximos às
catedrais, atribuindo um caráter caridoso, à
assistência aos pobres, inválidos,
peregrinos e diversos doentes (COUTO;
PEDROSA; PEDROSA GRILLO, 2003).
Neste local de exclusão,
funcionava como albergues ou asilos,
sendo considerada fonte fecunda de
doença muito provavelmente devido à
ausência de condições sanitárias
adequadas e pela assistência precárias, não
apresentavam médicos e nem qualquer
atividade terapêutica, em decorrência das
condições precárias dos hospitais até
metade do século XVIII, se observou a
ocorrência das infecções hospitalares
levaram os doentes assistidas nos
hospitais, a desenvolverem outras doenças
em função da hospitalização (OLIVEIRA,
2008).
Em virtude das precárias condições
de higiene nos hospitais do século XIX a
população provida de recursos financeiros
era tratada em casa tendo como vantagem
os custos baixos e principalmente
diminuição dos riscos de infecção,
observando que para aquele período
mesmo com poucas tecnologias e
informações já havia uma preocupação
com a infecção hospitalar (UJAVARI,
2003).
No ano de 1843, Oliver Wendel
Holmes em suas observações no ambiente
hospitalar constatou que a infecção
puerperal que leva muitas mulheres ao
óbito era resultado da falta de higienização
dos médicos que faziam a autopsia de
mulheres que vieram ao óbito por febre
puerperal e depois atendiam normalmente
outras pacientes que acabavam adquirindo
a infecção (OLIVEIRA 2008).
Debré (1995) relata seu livro que
as salas de cirurgias da Europa do século
XVIII apresentavam resultados
catastróficos, pois um grande número de
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
83
pacientes morria no pós-operatório em
decorrência de infecções. Em geral, as
salas cirúrgicas eram anfiteatros cheios de
espectadores, ou salas escuras, úmidas,
atulhadas de móveis e pó; muitas delas
com vazamentos e mofo nas paredes. Em
ambientes acadêmicos, ficavam próximas
às salas de necropsia, e era comum
interromper-se a cirurgia para que se
fizessem comparações com o cadáver na
sala ao lado. Os aventais dos cirurgiões,
usadas com as mangas arregaçadas até os
cotovelos, eram pretos e sujos de sangue e
pus, e era neles que esfregavam as mãos
para continuar o procedimento. Os
instrumentos e fios eram retirados dos
bolsos, e muitas vezes os cirurgiões
prendiam o bisturi entre os dentes para
poderem manusear melhor vísceras e
órgãos (UJAVARI, 2003).
Na Inglaterra, no final do Séc.
XIX, Florence Nightingale representou
importância papel histórico com sua
contribuição na (re)organização dos
hospitais e, consequentemente, na
implantação de medidas para o controle
das infecções hospitalares, como a
preocupação voltada para os cuidados de
higienização, o isolamento dos enfermos,
o atendimento individual, a utilização
controlada da dieta e a redução de leitos
no mesmo ambiente, instituindo medidas
de organização, sistematização do
atendimento e treinamento de pessoal,
especialmente as práticas higiênico
sanitárias que estabeleceu e que
colaboraram para a redução das taxas de
mortalidade hospitalar da época
(OLIVEIRA; MARUYAMA, 2008).
Florence coordenou a reforma no
superlotado hospital britânico improvisado
em Escutári, no estreito de Bósforo,
durante a Guerra da Crimeia. A limpeza
que Florence impôs causou redução da
taxa de mortalidade hospitalar: de 427
para 22 óbitos em cada mil pacientes
(UJVARI, 2003).
2 Infecção Hospitalar
Na infecção hospitalar, o
hospedeiro é o elo mais importante da
cadeia epidemiológica, pois alberga os
principais microrganismos que na maioria
dos casos desencadeiam processos
infecciosos (FERNANDES et al., 2000).
As infecções nosocomiais têm sido
um sério problema de saúde que afeta 3%
a 6% dos pacientes hospitalizados nos
Estados Unidos, resultando em aumento
no tempo de internação, nos custos
hospitalares e uma estimativa de 20.000
óbitos por ano. Representam nesse país a
sexta causa de óbitos por ano
(CARVALHO; MARQUES, 1999). No
Brasil a taxa é de 1,5% a 15% de acordo
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
84
com a Secretária de Saúde do Estado de
São Paulo.
Em 1994, em um estudo realizado
em 103 hospitais terciários, localizados
nas capitais brasileiras, observou um taxa
de infecção hospitalar de 13 %. A
prevalência de IH da UTI neonatais foi a
mais alta com 46,9%, seguida da unidade
de queimados com 38,2% e da UTI
pediátrica com 32,9% (PRADO et al.,
1995).
De acordo com Maluf e
colaboradores (2002) no Brasil, embora os
dados sejam incompletos, estima-se que
elas sejam responsáveis por cerca de
45.000 órbitos e prejuízo da ordem de
bilhões de reais anualmente.
O surgimento de cepas bacterianas
multiresistentes, tem como uma das
consequências importante seu efeito direto
na infecção hospitalar, ainda conforme
Anvisa (2007) aproximadamente 10% dos
pacientes infectam-se frequentemente em
consequência de procedimentos invasivos
ou de terapia imunossupressoras.
BRASIL (1998) e Garner (1998)
definem infecção hospitalar como aquela
adquirida após a admissão do paciente e
que se manifesta durante sua internação ou
mesmo após alta, deste que ocorra no
período de 72 horas e possa ser
relacionada com a internação ou
procedimentos hospitalares conforme a
Portaria nº 2616 de 13 de maio de 1998.
Após a promulgação da portaria
196/83, o Ministério da Saúde elaborou
um estudo em que foram avaliados 8.624
pacientes com mais de 24 horas de
internação, cujo tempo médio de
permanência foi 11,8 dias. O número de
pacientes com infecção hospitalar
encontrado foi 1.129, com taxa de
pacientes com infecção hospitalar de 13%.
Os maiores índices de infecção foram
obtidos nos hospitais públicos, 18,4%, e os
menores nos hospitais privados sem fins
lucrativos, 10%. Essa diferença se dá em
parte porque os hospitais públicos
normalmente atendem casos de maior
complexidade, enquanto que os privados
são responsáveis por casos mais seletivos
e de menor complexidade. Por região,
estes mesmos índices mostraram a região
sudeste com 16,4%, seguida do nordeste
com 13,1%, norte 11,5%, sul 9% e centro
oeste 7,2% (MOURA et al., 2008)
Ainda de acordo com Valle e
colaboradores (2010) e ANVISA (2007) a
infecção hospitalar (IH) classificada como:
Infecção endógena: é a que se verifica a
partir de microorganismos do próprio
paciente, geralmente imunodeprimido.
Corresponde a 2/3 das infecções
hospitalares; Infecção exógena: é a
adquirida a partir de microorganismos
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
85
estranhos ao paciente, sendo veiculada
pelas mãos da equipe de saúde,
nebulização, uso de respiradores, vetores,
por medicamentos ou alimento
contaminado; Infecção cruzada:
transmitida de paciente a paciente,
geralmente através das mãos da equipe de
saúde.
Diferentes microrganismos como
bactérias, fungos, e vírus causam infecções
hospitalares (fig 01). O grupo de
patógenos, no entanto, que se destaca é o
das bactérias que constituem a flora
humana e que normalmente não trazem
risco a indivíduos saudáveis, devido sua
baixa virulência, mas que podem causar
infecção em indivíduos com estado clínico
comprometido denominadas assim de
bactérias oportunistas (ANVISA, 2007).
As Enterobacteriáceas e Pseudomonas
aeruginosas dominaram o cenário das IHs,
além dos estafilococos como agentes
relacionados às infecções de ferida
operatória e de cateteres venosos
(MARTINS, 2006).
As infecções causadas por fungos
(leveduras) nos hospitais têm constituído
um problema crescente em muitos países,
nos Estados unidos, de acordo com o
Sistema de Vigilância de Infecções desse
país, a prevalência de IH por fungos
passou de 6% em 1998 para 10,4% em
1990 (MALUCHE; SANTOS, 2007). No
Brasil, os fungos são responsáveis por
aproximadamente 8% das infecções
hospitalares (ANVISA, 2007). Os
principais agentes são Candida albicans,
C. parapsilosis e C. tropicalis
(OLIVEIRA, et al., 2001; VALLE et al.,
2010). A C. albicans é uma bactéria
comensal da vagina e do trato
gastrointestinal de seres humanos, é a
espécie que predomina nas infecções
superficiais e invasivas de diferentes sítios
anatômicos (Valle et al., 2010). Nos
Hospitais americanos no período de 1980
a 1990 constatou que a Candida passou de
sexto para quarto microrganismo mais
comum nas Unidades de Tratamento
Intensivo. O principal sítio de Infecção por
essa levedura foi o trato urinário,
envolvidos em 46% dos casos estudados
(JARVIS, 1995).
Dentre as viroses, o vírus da
hepatite B e C, enteroviroses e viroses
associadas com pneumonia hospitalar são
comumente registrados. As viroses
representam por volta de 5% das
infecções. (ANVISA, 2007)
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
86
FIGURA 01
Fonte: ANVISA, 2007
Nas ultimas décadas a resistência
bacteriana tem se tornado comum no
ambiente hospitalar, isto porque, as
bactérias apresentam diversos mecanismos
de resistênciaenzimáticos. No ambiente
nosocomisal a Klebsiella pneumoniae, é
uma das bactérias Gram-negativas de
maior prevalência e que por tanto foi
exposta a uma diversidade de antibióticos,
estes induziram a resistência das mesmas e
atuaram selecionando as cepas bacterianas
mais adaptadas, hábil e que apresentam
uma diversidade de enzimas de
resistência(MOTA et al., 2005).
A KPC (Klebsiella Pneumoniae
Carbapenemasi) é uma enzima produzida
por uma enterobacteria gram-negativa
(Klebsiella pneumoniae) que causa a
resistência a vários antibióticos do grupo
das carbapenêmicos, além de inativar a
penicilina, cefalosporinas e
monobactâmicos (MOLAND et al., 2003;
DIENSTMANN et al., 2011). Outras
bactérias como as Enterococus sp.
Apresentam cepas resistentes a vários
antibióticos, é o caso da Enterococus
resistente a vancomicina , que além da
vancomicina, já mostra resitencia a
ampicilina, estrptomicina, rifampicina e
linizolida em hospitais de Porto Alegre
(KOBAYASHI et al., 2011). E por este
motivo, e outros, se faz necessário estudar
os tipos de resistência, como proceder para
evitar ou como prevenir sua propagação.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
87
3 Atuação da enfermagem no controle e prevenção da infecção hospitalar
Os problemas universais no
controle de infecção ocorrem em países
desenvolvidos e em desenvolvimento e
compreende número inadequado de
pessoal, recursos financeiros inadequados,
relutância dos funcionários do hospital em
modificar condutas e uso excessivo de
agentes antimicrobianos. Por outro lado,
os problemas mais agudos nos países em
desenvolvimento são água contaminada,
falta de materiais descartáveis (agulhas e
equipamentos), falta de controle de sangue
e seus derivados, suporte microbiológico
inadequado, falta de medicação,
manutenção inadequada dos equipamentos
hospitalares, educação continuada
ineficiente, barreiras culturais e sociais e
interferência governamental. (VALLE et
al., 1999). As principais patologias de base
que favorecem a ocorrência da IH por
afetar os mecanismos de defesa são:
grande queimado; acloridria gástrica;
desnutrição; deficiências imunológicas;
bem como o uso de alguns medicamentos
e os extremos de idade. Também
favorecem o desenvolvimento das
infecções os procedimentos invasivos
terapêuticos ou para diagnósticos, podendo
veicular agentes infecciosos no momento
de sua realização ou durante a sua
permanência (FERNANDES et al., 2000).
Segundo Moura e Gir (2007) é de
vital importância sanar quais quer dúvida a
respeito da propagação de bactérias
multiresistentes como uma forma de
adesão dos profissionais de saúde às
medidas de controle e prevenção de
bactérias multiresistentes. Segundo
Machado (2001) todos os profissionais de
saúde devem ter por objetivo a prevenção
da infecção hospitalar e que para tanto, o
conhecimento dos meios de transmissão e
lavagem das mãos constitui algumas das
medidas de prevenção e controle da
infecção hospitalar.
De acordo com Cardoso e Silva
(2004) deste o inicio da enfermagem
moderna com Florence Nightingale, em
1863, surgiu uma preocupação com a
qualidade da assistência aos pacientes
internados e do ambiente de internação,
Florence propôs diminuir os riscos para
infecção, segundo Lacerda e Egry (1997)
para que a ideia de Nightingale tomasse
forma, ela descreveu manuscritos onde
relatou suas experiências na Guerra da
Crimeia onde diminuiu o risco de infecção
hospitalar, experiência que constituíram a
base do conhecimento para a criação de
seus inúmeros princípios e adoção de
pesquisa epidemiológica das doenças
infecciosas antecipando o período
bacteriológico. Os fundamentos de
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
88
Florence Nightingale até hoje são
observadas para o controle das infecções
hospitalares.
Tirrini (2002) e Santos e
colaboradores (2008) afirmam que para o
controle da infecção hospitalar (CIH) é
importante a atuação efetiva da Comissão
de Controle de Infecção Hospitalar
(CCIH) setor que emprega uma equipe de
multiprofissionais, e que a enfermagem
pode ser inserida contribuindo de forma
ativa no controle e prevenção da IH alem
de favorecer uma qualidade na assistência
ao paciente (AGUIAR et al., 2008).
As infecções hospitalares são
multifatoriais, e toda a dificuldade de
como reduzi-las, consiste na falta de
informação e atualização dos profissionais
de saúde sobre a IH e de como intervir em
situações de surto e de como manter sob
controle as infecções dentro de uma
instituição de saúde, a prevenção e
controle da IH deve ser resultado de um
trabalho de equipe. (AZAMBUJA et al.,
2004; PEREIRA et al., 2005).
4 CONCLUSÃO
A enfermagem pode atuar na CCIH
contribuindo para a elaboração de medidas
eficazes para o controle e prevenção da
infecção hospitalar e na vigilância destas
medidas, por se tratar de uma categoria
que por mais tempo acompanha a
evolução do paciente, também contribui
com sua visão holística do mesmo
identificando os pontos fracos inerente ao
tratamento ou atendimento.
A partir da observância das
medidas de controle e prevenção das IH e
de biossegurança e com adoção de
protocolos elaborados por cada setor do
hospital, a enfermagem pode direcionar
sua atenção para melhorar estes protocolos
de assistência e de acordo com suas
observações e vivenciam diárias,
cooperando desta forma para elevar a
qualidade e eficiência dos serviços
prestados pela equipe de enfermagem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA) (BR). Investigação e controle de bactérias multirresistentes. Brasília (DF); 2007. 21 p.
AGUIAR, D. F.; LIMA, A. B. G.; SANTOS, R. B. Uso das precauções padrões na assistência de enfermagem: um estudo retrospectivo. Escola Anna Nery de Enfermagem. setembro. n. 12, v. 3 ,p. 571-575, 2008.
AZAMBUJA, E. P.; PIRES, D. P.; VAZ, M. R. C. Prevenção e controle da infecção hospitalar: as interfaces com o processo de formação do trabalhador. Revista Texto & Contexto Enfermagem.; v. 13, n. supl., p. 79-86. 2004
BRASIL. Portaria nº2616 de 13 de maio de 1998. Diário oficial da República Federativa do Brasil, 15 de maio de 1998.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
89
CARDOSO, R. S., SILVA, M. A. A percepção dos enfermeiros acerca da comissão de infecção hospitalar: desafios e perspectivas Texto Contexto Enferm,, n. 13, p. 50-7, 2004.
CARVALHO, E.S; MARQUES, S.R. Infecção hospitalar,vigilância epidemiológica, medidas de controle. Jornal de pediatria. n. 75, p.31-S45, 1999.
COUTO, PEDROSA e NOGUEIRA. Infecção Hospitalar e outras complicações não infecciosas da doença. Editora MEDSI ; cap.1-2 pag. 3-28. 2003.
Debré, P. Pasteur. São Paulo: Scritta, 1995, cap. 10.
DIENSTMANN, R., PICOLI, S. U., MEYER, G,.SCHENKEL, T.,STEYER, J., Fenótipos de betalactamases em Klebsiella pneumoniae de hospital de emergência de Porto Alegre, Jounal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v. 47, n. 1, p. 25-31, 2011.
FERNANDES AT, RIBEIRO FILHO N, BARROSO EAR. Conceito, cadeia epidemiológica das infecções hospitalares e avaliação custo benefício das medidas de controle. In: FERNANDES AT, FERNANDES MOV, RIBEIRO FILHO N, Organizadores. Infecção hospitalar e suas interfaces na área da saúde. São Paulo: Atheneu; 2000. p. 215-65.
GARNER JS, JARVIS WR, EMORI TG, HORAN TC, HUGHES JH. CDC definitions for nosocomial infections. American Journal of Infection Control , n. 16, p. 128-40, 1998.
JARVIS WR. Epidemiology of nosocomial fungal infections, with emphasis on Candida species. Clinical Infectious Diseases n. 20, p.1526-30, 1995.
KOBAYASHI, C.C.B.A., SADOYAMA, G., VIEIRA, J.D.G., PIMENTA, F.C. Resistência antimicrobiana associada em Enterococcus spp. Revista da Sociedade
Brasileira de Medicina Tropical, n. 44, v. 3, p. 344-348, mai-jun, 2011.
LACERDA, R.; EGRY, E. Y. As infecções hospitalares e sua relação com o desenvolvimento da assistência hospitalar: reflexões para análise de suas práticas atuais de controle. Revista Latino-Americano de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 5, n. 4, p. 13-23, outubro 1997.
MALUCHE, M.E.; DOS SANTOS, J. I.,CANDIDA SP. E Infecção hospitalares: Aspectos Epidermiológicos e Laboratóriais. Revista Brasileira de Análise Clínica. n. 40, v. 1, p. 65-67, 2008.
MALUF, M.E.Z.; MALDONADO, A. F.; BERCIAL, M. E.; PEDROSO, S. A. Stethoscope: a friend or an enemy? São Paulo Medical Journal, v. 120, n. 1, p. 13-15, 2002.
MARTINS P. Epidemiologia das infecções hospitalares em centro de terapia intensiva de adulto. [dissertação]. Belo Horizonte (MG): Fac. Medicina - UFMG; 2006.
MOLAND, E.S., HANSON, N.D., HERRERA, V.L., BLACK, J.A., LOCKHART, T.J., HOSSAIN, A., JOHNSON, J.A.,. GOERING,R.V., THOMSON,K.S. Plasmid-mediated, carbapenem-hydrolysing β-lactamase, KPC-2, in Klebsiella pneumoniae isolates. Journal of Antimicrobial Chemotherapy, v. 51, p. 711–714. 2003.
MOTA R. A., SILVA, K.P., FREITAS, M.F.L., PORTO, W.J.M., SILVA, L.B.G., Utilização indiscriminada de antimicrobianos e sua contribuição a multirresistência bacteriana. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v.42,n 6,p 465-470, 2005.
MOURA MEB, TAPETY FI, CARVALHO CMRS, OLIVEIRA JNP, MATOS FTC, MOURA LKB. As representações sociais das infecções hospitalares elaboradas pelos profissionais
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
90
de saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, jul-ago; n. 61, v. 4, p. 418-22, 2008.
MOURA, J. P.; GIR, E. Conhecimento dos profissionais de enfermagem referente à resistência bacteriana a múltiplas drogas. Acta Paulista de Enfermagem, 2007; 20(3): 351-354.
OLIVEIRA, R; MARUYAMA, S. A. T. Controle de infecção hospitalar: histórico e papel do estado. Revista Eletrônica de Enfermagem, 775-83, 2008.
PEREIRA, M. S.; PRADO, M. A.; SOUZA, A. C. S.; TIPPLE, A. F. V. A infecção hospitalar e suas implicações para o cuidar da enfermagem. Revista Texto & Contexto Enfermagem, abril/junho 2005; 14(2): 250-257.
PRADE SS, OLIVEIRA ST, RODRIGUEZ R, NUNES FA, NETTO EM, FÉLIX JQ. Estudo brasileiro da magnitude das infecções hospitalares em hospitais terciários. Revista do Controle de Infecção Hospitalar. Ministério da Saúde, p.11-24, 1995.
SANTOS,A.M.R., CABRAL, L.A.F., BRITO, D. S., MADEIRA, M.Z.A., COSTA E SILVA, M.E.D., CARVALHO E MARTINS, M.C. As representações sociais da infecção hospitalar elaboradas por profissionais de enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, julho/agosto, n. 61, v. 4, p. 441-446, 2008;
TURRINI, R.N.T. Infecção hospitalar e mortalidade. Revista da Escola de Enfermagem da USP; 36(2): 177-83. 2002.
UJARAVI, S.C. A História e suas epidemias. A convivência do homem com os microorganismos. 2ª Ed. Senac Rio. 2003.166-167p.
VALLE, G C; RENDE, J.C.; OKURA, M. Estudo da incidência do gênero Candida em hospitais públicos universitários. Newlab. n. 101,p. 202-222, 2010.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
91
CIÊNCIAS HUMANAS
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
92
PANORAMA DAS PRINCIPAIS ABORDAGENS E MÉTODOS NO ENSINO DE
LÍNGUA ESTRANGEIRA
Cristiana Gomes de Freitas Menezes Martins Professora Mestre do Curso de Letras da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza [email protected]
RESUMO: No presente artigo, apresentamos de forma panorâmica as principais abordagens e métodos no ensino de Língua Estrangeira (LE). Proporcionamos uma visão histórica das mudanças ocorridas desde a primeira abordagem conhecida com Método da Gramática e da Tradução usada para o ensino das línguas clássicas como o grego e o latim e chegamos ao século XXI com a proposta de uma Abordagem Eclética. Vemos que essa última não se fundamenta em uma só teoria, pois se acredita que nenhuma abordagem contém toda a verdade. Numa Abordagem Eclética se faz necessário o conhecimento dos princípios, métodos, técnicas de ensino de LE existentes para que, de forma sábia, o professor possa adaptar técnicas novas e velhas de acordo com a sua realidade de ensino. Palavras-chave: Abordagem; Método; Ensino; Língua Estrangeira; Eclética. ABSTRACT: In the present article, we present, in a panoramic form, the main approaches and methods in the foreign language teaching. We provide a historical overview of the changes that have occurred since the first approach known as the Grammar-Translation Method used to teach the classical languages like Greek and Latin and we get to the XXI century with the proposal of an Eclectic Approach. We see that the latter is not based on only one theory, because it is believed that no approach contains the total truth. In an Eclectic Approach, it is necessary the knowledge of existing principles, methods, techniques of foreign language teaching, so that, in a wise way, the teacher can adapt new and old techniques according to his teaching reality.
Keywords: Approach; Method; Teaching; Foreign Language; Eclectic.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
93
1 INTRODUÇÃO
O crescente número de abordagens
e métodos no ensino de Língua
Estrangeira (LE) tem levado professores
cada vez mais a discutir sobre que escolha
fazer entre uma grande variedade de
opções metodológicas a serem usadas em
sua prática de pedagógica. Entretanto, faz
necessário, antes de tudo, uma análise
dessas opções levando-se em consideração
as necessidades dos alunos, as preferências
do professor e as restrições da escola ou
do ambiente educacional onde esses estão
inseridos para que uma escolha adequada
seja feita.
O primeiro passo ao fazermos uma
análise sobre as principais abordagens e
métodos no ensino de LE é ter em mente a
diferença entre abordagem e método. Para
Almeida Filho (2007), abordagem é um
conjunto nem sempre harmônico de
pressupostos teóricos, de princípios e até
de crenças, ainda que só implícitas, sobre
o que é uma língua natural, o que é
aprender e o que é ensinar outras línguas.
Método é a materialidade do ensino, a
fórmula estável da ação pedagógica. De
acordo com Harmer (2007), abordagem
refere-se a teorias sobre a natureza da
língua e da sua aprendizagem que são a
fonte das maneiras como as coisas são
feitas na sala de aula e que fornecem as
razões para usá-las. Método é a realização
prática de uma abordagem. Nesse se
define os tipos de atividades e materiais a
serem usados, os papéis do professor e
aluno, as técnicas e procedimentos a serem
utilizados.
A primeira e mais antiga
abordagem servia para ensinar as línguas
clássicas como o grego e o latim. Essa
abordagem, que vigorou exclusiva até o
final do século XIX, tinha como objetivo
transmitir um conhecimento sobre a
língua, permitindo o acesso a textos
literários e a um domínio da gramática
normativa. Para isso, pontos gramaticais
específicos eram explicados e
exemplificados através de sentenças. Essas
sentenças eram traduzidas da LE para a
Língua Materna (LM) do aluno e vice-
versa. A leitura e a escrita eram as
habilidades da língua estudadas.
Conhecida como Método da Gramática e
da Tradução, não teve como
fundamentação nenhuma teoria linguística,
psicológica ou educacional (RICHARDS ;
RODGERS, 1999).
No início do Século XX, há um
aumento de viagens de pessoas pelo
mundo. Sentenças ainda eram o objeto de
estudo, mas era vital que somente a LE
fosse usada em sala de aula. Passa-se a
estudar as habilidades de falar e ouvir, sem
jamais recorrer à tradução. Para se explicar
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
94
uma palavra, fazia-se uso de
demonstrações, figuras, objetos,
associação de ideias. A correta pronúncia
era enfatizada, assim como a gramática.
Somente eram ensinadas palavras e
sentenças usadas no dia a dia. Segundo
Brown (1994), a Abordagem Direta,
conhecida como Método Direto, apesar da
sua popularidade, principalmente na
Europa, foi muito criticada por não ter
fundamento teórico.
Nos anos 30, houve um declínio no
uso da Abordagem Direta tanto na Europa
como nos Estados Unidos. Voltou-se ao
uso da Abordagem da Gramática e da
Tradução ou da Abordagem para a Leitura,
conhecida também como Método para a
Leitura, que enfatizava a leitura da LE. A
tradução volta ser utilizada em sala de aula
e nenhuma atenção é dada à pronúncia. A
gramática é ensinada para facilitar a
leitura. Prator (1979) e Leffa (1988) fazem
uso da metáfora do pêndulo para descrever
as mudanças ocorridas nas abordagens no
ensino de LE. Se pensarmos no
movimento que o pêndulo exerce,
podemos observar que esse vai e volta
sempre para o mesmo lugar sem haver
nenhum progresso. Brown (1994) e
Marckwardt (1972) veem as mudanças nas
abordagens no ensino de LE como o
movimento da areia das dunas na praia
ocasionado pelos ventos. Essa se move de
um lugar para outro, mas nunca forma
uma duna igual à anterior. O mesmo
ocorre com as abordagens. Cada nova
abordagem que surge emerge de uma
anterior, trazendo dessa abordagem
aspectos positivos.
Com a Segunda Guerra Mundial,
na década de 40, surge a necessidade de se
ensinar LEs com o objetivo de tornar o
aluno proficiente na conversação em
pouco tempo. A necessidade de se
repensar as abordagens e métodos de
ensino de LEs torna-se crucial. O “Método
do Exército”, que se desenvolveu no que
hoje é conhecido como Método
Audiolingual, aparece em 1943 como um
grande programa didático intensivo para se
ensinar LEs em apenas dois anos tornando
o aluno fluente nas habilidades orais e
auditivas.
Baseada na Teoria Behaviorista ou
Comportamentista de Skinner (1945), a
Abordagem Audiolingual, chamada de
Método Audiolingual, via a aprendizagem
como um processo mecânico de formação
de hábitos: estímulo-resposta-reforço.
Nessa abordagem, a língua era
considerada como um conjunto de hábitos
condicionados que se adquiria através de
um processo mecânico de estímulo e
resposta. Cada resposta certa dada pelo
aluno era imediatamente reforçada pelo
professor. A língua era ensinada através de
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
95
exercícios de repetição, onde os erros eram
evitados a todo custo (NUNAN, 1995).
Na década de 60, com o
surgimento da Teoria da Gramática
Gerativo-Transformacional de Noam
Chomsky (1957), a aprendizagem passa a
ser vista como um processo mental ativo.
O aluno deveria ser estimulado a formular
as regras gramaticais de uma LE por si só
através de um raciocínio indutivo. Pela
primeira vez, as quatro habilidades falar,
ouvir, escrever e ler eram trabalhadas com
o aluno de LE. O aluno mais insumo
compreensível o aluno receber, maior será
o seu aprendizado (RICHARDS;
RODGERS, 1999).
A partir dos anos 70, cresce o
número de estudo sobre o ensino-
aprendizagem de LE. Aparece uma série
de métodos inovadores: a) Sugestologia;
b) Método Silencioso; c) Resposta Física
Total; d) Método da Aprendizagem por
Aconselhamento. O Sugestologia
desenvolvido por Georgi Lozanov
preocupou-se com o ambiente físico onde
ocorria a aprendizagem. Na sala de aula,
tocava-se uma música suave de fundo. O
aluno deveria se sentir confortável e
relaxado. Quanto mais relaxado o aluno,
mais ele aprendia. As ideias de Georgi
Lozanov podem ser relacionadas com a
Hipótese do Filtro Afetivo desenvolvida
por Stephen Krashen em sua Teoria de
Aquisição de Segunda Língua (SL)
reformulada em 1987. Um alto nível de
ansiedade cria um bloqueio mental no
aluno e evita que o aprendizado ocorra.
Na visão de Caleb Gattegno, no
seu Método Silencioso, a aprendizagem se
dava através de descobertas. Esse método
preocupou-se em tornar o aluno
independente, autônomo e responsável
pela sua aprendizagem. Segundo ele, o
professor deveria ficar em silêncio na
maior parte do tempo. A pronúncia e o
vocabulário eram ensinados através do uso
de barras de Cuisinaire (pequenas varetas
de madeira de diversas cores) e gráficos
coloridos (LARSEN-FREEMAN, 1986).
O Método Silencioso tinha por
fundamento não uma teoria linguística e,
sim, uma teoria de aprendizagem que se
baseava na maneira de em como os adultos
aprendem. Na verdade, nem o Método
Silencioso, nem a teoria de aprendizagem
na qual tinha por base foram objetos de
estudos empíricos.
O Método Resposta Física Total de
James Asher enfatizava atividades de
compreensão auditiva onde as respostas do
aluno eram dadas apenas através de
movimentos. Esse método tinha por base
princípios de aquisição segundo o qual a
criança passa por períodos de silêncio e de
respostas físicas na aprendizagem de uma
língua. A criança desenvolve primeiro sua
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
96
compreensão auditiva para depois
desenvolver a prática oral. A maioria das
estruturas gramaticais e do vocabulário
eram ensinados através do uso de
imperativo, pois, na visão de James Asher,
o verbo era o centro ao redor do qual a
língua era organizada. O Método Resposta
Física Total levava em consideração o
Estruturalismo como teoria linguística.
Charles Curran, inspirado nos
princípios de educação de Carl Rogers,
desenvolveu o Método da Aprendizagem
por Aconselhamento. Nesse método, os
alunos em sala de aula eram vistos como
um grupo de clientes que precisava de
conselhos e de terapia. O professor era
visto como um conselheiro que devia dar
atenção às necessidades de seus clientes,
os alunos, ajudando-os a torná-los
independentes e autônomos. Durante as
aulas o uso da tradução era frequente. O
aluno falava em sua LM o que queria
expressar em LE e o professor traduzia. O
aluno repetia o que era traduzido pelo
professor direcionando-se à pessoa com
quem queria se comunicar.
Ainda na década de 70, surgiu a
Abordagem Natural que tinha como
fundamento as Hipóteses da Aquisição X
Aprendizagem, do Monitor e do Input
desenvolvidas por Stephen Krashen na sua
Teoria de Aquisição de SL. Na visão dessa
abordagem, a fala deveria surgir
naturalmente, sem a pressão do professor.
Deveria ocorrer a aquisição da língua e,
não, a aprendizagem. A aquisição da
língua referia-se ao processo inconsciente
que envolvia o desenvolvimento da
proficiência em uma língua através da
compreensão e do uso dessa língua em
situações comunicativas. Por outro lado, a
aprendizagem referia-se ao processo
consciente de regras sobre como a língua
era desenvolvida. De acordo com a
Hipótese do Monitor, o aluno recorreria ao
conhecimento já aprendido para corrigir a
si mesmo ao se comunicar. A Hipótese do
Input propunha que o aluno necessitava
ser exposto à língua (input) para que
houvesse a sua aquisição (BROWN,
1994).
De acordo com Richards e Rodgers
(1999), a partir de meados da década de
70, linguistas como Michael Halliday,
John Firth, Henry Widdowson veem a
necessidade de não mais centralizar o
ensino de línguas no simples domínio de
estruturas gramaticais e, sim, na
competência comunicativa dessa. Estudos
linguísticos passam a ver língua como um
instrumento de comunicação, sujeito às
pressões de uso provenientes de diferentes
situações comunicativas, podendo vir a
alterar algum aspecto de sua estrutura
gramatical. Surge a Abordagem
Comunicativa que tem como objetivo
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
97
desenvolver no aluno competência
comunicar-se na língua. O ensino de LE
passa a ser através da comunicação e não
mais através de um conjunto de palavras
ou estruturas. Linguagem autêntica e
atividades que envolvam o aluno em
situações de comunicação real (atividades
comunicativas) são usadas em sala de aula.
A LM do aluno somente é usada quando
necessária e as quatro habilidades falar,
ouvir, ler e escrever são trabalhadas sem
ordem de preferência.
Harmer (2007) considera a
Apresentação-Prática-Produção (PPP) e o
Ensino de Língua Baseada em Tarefas
(TBLT) como modelos de procedimentos
atualmente usados na sala de aula de LE.
Segundo ele, no PPP o professor inicia
uma lição apresentando uma situação que
contextualiza a LE. Em seguida, o aluno
pratica a LE através de exercícios de
repetição contextualizados. Ao final da
lição, o aluno formula suas próprias
sentenças. No TBL, primeiramente o
professor dá uma tarefa ao aluno para ser
realizada e somente quando essa está
completa, o professor discute a LE usada
fazendo as correções e os ajustes
necessários. Harmer (2007) afirma, ainda,
que o TBL é uma extensão natural da
abordagem comunicativa e o PPP, do
Método Audiolingual.
A Abordagem Lexical surge nos
anos 90 (HARMER, 2007). Segundo essa
abordagem, a língua não consiste em
gramática ou vocabulário, ela consiste em
blocos pré-fabricados de palavras variadas.
O professor não analisa a LE em sala de
aula, ele concentra a atenção do aluno
nesses blocos de palavras. Através dessa
abordagem, busca-se a compreensão da
natureza do léxico na forma natural como
ele é usado na LE.
Chegamos ao século XXI com toda
uma gama de abordagens e métodos no
ensino de LE propostos, vivenciados,
discutidos, avaliados, repensados ao longo
de todo esse tempo por pesquisadores,
linguistas, professores, entre outros, e é
desse ponto que os professores de LE têm
que escolher as opções metodológicas a
serem utilizadas em sua prática
pedagógica. Brown (1994), Celce-Murcia
e McIntosh (1991), Richards e Rodgers
(1999) apresentam a ideia de uma
Abordagem Eclética onde essa abordagem
não se fundamenta em uma só teoria, pois
esses autores acreditam que nenhuma
abordagem contém toda a verdade.
Segundo eles, o professor é que sabe o que
é bom para um grupo de alunos e o que
não é útil. Assim, ele é que deve adaptar
técnicas novas e velhas de acordo com a
sua realidade de ensino. Mas para fazer
isso, é necessário que o professor tenha
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
98
conhecimento de princípios, métodos,
técnicas de ensino de LE. Somente assim,
ele poderá adaptá-los, de forma sábia, para
sua prática pedagógica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS
ALMEIDA FILHO, J.C.P. Linguística aplicada: ensino de línguas e comunicação. Campinas: Pontes Editores, 2007.
BROWN, H.D. Teaching by principle. Englewood Cliffs: Prentice Hall Regents, 1994.
CELCE-MURCIA, M.; MCINTOSH, L. Teaching english as a second or foreign language. New Jersey: Heinle, 1991.
HARMER, J. The practice of english language teaching. Essex: Pearson Education Ltd, 2007.
LARSEN-FREEMAN, D. Techniques and principles in language teaching. New York: OUP, 1986.
LEFFA, V. J. Metodologia do ensino de línguas. In BOHN, H. I.; VANDRESEN, P. Tópicos em linguística aplicada: O ensino de línguas estrangeiras. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1988. p. 211-236.
MARCKWARDT, A.D. Changing winds and shifting sands. New York: MST, 1972.
NUNAN, D. Language teaching methodology: a textbook for teachers. Englewood Cliffs: Prentice Hall Regents, 1995.
PRATOR, C. H. An outline of language teaching approaches. In: CELCE-MURCIA, M.; MCINTOSH, L. Teaching english as a second or foreign language. New Jersey: Heinle, 1991, p. 3-5.
RICHARDS, J.C.; RODGERS, T.S. Approaches and methods in language teaching. Cambridge: CUP, 1999.
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
99
Revista Perspectiva FGF – 2012.1 |ISSN 2238-524X
100