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FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica MEDICAMENTOS BIOSSIMILARES: ANÁLISE CRÍTICA DO ATUAL CENÁRIO REGULATÓRIO E DESENVOLVIMENTO DE GUIA EXPLICATIVO Victória Bombarda Rocha Trabalho de Conclusão do Curso de Farmácia-Bioquímica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Orientador(a): Prof.(a). Dr(a) Carlota de Oliveira Rangel Yagui São Paulo 2019

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FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica

MEDICAMENTOS BIOSSIMILARES: ANÁLISE CRÍTICA DO ATUAL

CENÁRIO REGULATÓRIO E DESENVOLVIMENTO DE GUIA

EXPLICATIVO

Victória Bombarda Rocha

Trabalho de Conclusão do Curso de

Farmácia-Bioquímica da Faculdade de

Ciências Farmacêuticas da

Universidade de São Paulo.

Orientador(a):

Prof.(a). Dr(a) Carlota de Oliveira

Rangel Yagui

São Paulo

2019

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SUMÁRIO

Pág.

Lista de Abreviaturas ................................................................... 1

RESUMO ................................................................................... 2

1. INTRODUÇÃO 5

2. OBJETIVOS 8

3. MATERIAIS E MÉTODOS 8

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 10

5. CONCLUSÃO 34

6. BIBLIOGRAFIA 35

7. ANEXOS 38

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LISTA DE ABREVIATURAS

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

CMED Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos

EMA European Medicince Agency

FDA Food and Drug Administration

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RESUMO

ROCHA, V. B. Medicamentos biossimilares: Análise crítica do atual cenário regulatório e desenvolvimento de guia explicativo. 2019. no. 69. Trabalho de Conclusão de Curso de Farmácia-Bioquímica – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.

Palavras-chave: medicamentos biológicos, assuntos regulatórios, registro de medicamentos.

INTRODUÇÃO: Os medicamentos biológicos apresentaram um avanço significativo nos últimos anos, assumindo papel importante entre as opções terapêuticas de muitas doenças. Todavia, a tecnologia de ponta empregada em sua produção resulta em altos custos do produto acabado, resultando em um curto alcance de acesso. Os biossimilares aparecem neste cenário como uma possibilidade de aumentar o acesso a estes tratamentos, sem comprometer a segurança do consumidor. OBJETIVO: O objetivo deste trabalho foi analisar o cenário regulatório dos medicamentos biossimilares. A partir disto, desenvolver guias explicativos, destinados ao setor industrial, aos profissionais da saúde e aos pacientes. MATERIAIS E MÉTODOS: Foram analisados artigos científicos e obtidos por buscas nas bases de dados para a análise crítica. Os dados sobre registros de produtos foram retirados dos sítios eletrônicos oficiais das agências regulatórias, com os quais foram realizadas análises qualitativas. RESULTADOS: Apesar da ANVISA não adotar a denominação “biossimilar” para os medicamentos biológicos desenvolvidos por comparação, o Brasil apresenta um perfil de fármacos registrados como biossimilares bem parecido com a Europa e os EUA, com crescente número de registros. No entanto, apesar do crescimento e dos menores preços, os biossimilares ainda não são preferência da classe médica ao prescrever um tratamento. CONCLUSÃO: Nesse trabalho, o cenário dos biossimilares no Brasil foi avaliado e os requisitos para registro destes produtos foram descritos. Três guias foram produzidos, com conteúdo informativo, com o objetivo de melhorar o entendimento dos profissionais da saúde e pacientes sobre os biossimilares, e especificamente ao setor industrial, sobre os procedimentos de registro de biossimilares.

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1. INTRODUÇÃO

Medicamentos biológicos são, hoje, amplamente utilizados nos

tratamentos de muitas doenças como anemia, diabetes, psoríase, artrite

reumatoide, neoplasias e deficiências hormonais (COHEN et al. 2016; HEALTH

CANADA, 2017). Esta categoria de medicamentos foi apelidada pela

Organização Mundial da Saúde como medicamentos do futuro, devido à rápida

ascensão no mercado e criação de novas opções terapêuticas. Produzidos

pela maquinaria celular de bactérias, fungos e células de mamíferos utilizando

a tecnologia de DNA recombinante, os biofármacos que compõe os

medicamentos biológicos são, em sua maioria, proteínas, regidas pelos

mesmos fundamentos que as proteínas que desempenham papéis

ordinários em qualquer organismo vivo (WHO, 2015).

Os ganhos para a terapêutica que vieram com os medicamentos

biológicos são, ainda, privilégio de poucos. O complexo processo de obtenção

destes produtos resulta em medicamentos com alto valor agregado, os quais

não alcançam o poder de aquisição da maioria dos pacientes e sobrecarregam

o orçamento dos sistemas de saúde (BHATT, 2018). Desta necessidade,

então, surgem os biossimilares (GOMES, 2016).

Biossimilares são produtos biológicos semelhantes ao seu medicamento

biológico de referência, cuja patente está expirada. A definição de idênticos não

é apropriada devido à alta complexidade e variabilidade do processo de

produção de um medicamento biológico (SCHEINBERG et al. 2018). Este

depende da produção celular de um metabólito, majoritariamente proteínas,

dentro de condições específicas, por um organismo sensível a qualquer

alteração do ambiente. Variáveis do processo produtivo como pH, temperatura,

quantidade de luz e oxigênio, purificação, formulação e condições de

armazenamento, impactam diretamente nas características do produto final,

podendo interferir na ação biológica deste. Como os biossimilares são

desenvolvidos uma ou até duas décadas após o lançamento do medicamento

biológico de referência, os dados sobre a produção deste já estão defasados

cientificamente. Ainda há o agravante de que poucos destes dados são

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divulgados, uma vez que são segredos industriais. A falta de informações

completas dificulta ainda mais o desenvolvimento de um processo produtivo

que consiga efetivamente, replicar uma molécula biológica com exatidão

(KIRCHHOFF et al., 2016).

Apesar dos desafios, os biossimilares são projetados com o objetivo de

atingir as mesmas qualificações de segurança, potência e pureza que os

biológicos de origem (RUGO, 2018). A via regulatória de um biossimilar procura

ser simplificada ao mesmo tempo que deve conter todas as exigências

necessárias para garantir segurança e eficácia comparáveis e praticáveis

(CAZAP et al., 2018). A abordagem recomendada pelas agências regulatórias

baseia-se na avaliação do total de evidências, ao invés de análises pontuais

dos resultados apresentados, de forma que o produto como um todo deve

apresentar resultados satisfatórios de semelhança estrutural e funcional

(CHRISTL, WOODCOCK, KOZLOWSKI, 2017; MARKUS et al., 2017).

A EMA foi pioneira na regularização do registro de biossimilares,

lançando seu primeiro em 2006 (EMA, 2017; SCHIESTL, ZAMBRANSKY,

SORGEL, 2017). Desde a inserção de biossimilares no mercado europeu,

houve redução nos custos dos sistemas de saúde e aumento do uso de

medicamentos biológicos (CAZAP et al., 2018). Por outro lado, a agência de

vigilância sanitária americana, FDA, bem como a agência nacional, ANVISA, só

introduziram os biossimilares entre 2013 e 2015 (KONARA et al., 2016).

Ao pensar em um medicamento genérico, o conceito de

intercambiabilidade se torna aplicável devido às características de uma

molécula sintética. Suas condições de produção são muito bem estabelecidas

e reprodutíveis, bem como seu mecanismo de síntese, tornando factível a

produção de uma molécula idêntica (HEALTH CANADA, 2017).

Adicionalmente, apesar de não apresentar a mesma performance

farmacodinâmica de uma molécula biológica, a sintética também apresenta

menor risco de hipersensibilidade (WADHWA, 2015).

A produção de medicamentos biológicos não garante a mesma

reprodutibilidade. Os processos produtivos são sensíveis e quaisquer

interferências levam a modificações moleculares impactantes, as quais podem

2

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alterar diretamente o efeito farmacológico do medicamento (WHO, 2010).

Biossimilares são, portanto, produtos diferentes de genéricos e, por esta

razão, devem seguir uma regulamentação específica (OLECH, 2016).

Mesmo entre estas diferenças, uma característica une biossimilares e

genéricos: ambas categorias foram desenvolvidas com o objetivo de ampliar o

acesso aos medicamentos. Além dos menores custos, a ampliação das

possibilidades de registro aumenta a inserção de diversos produtos no

mercado, o que também gera impacto no preço. Esta consequência, no

entanto, não ocorre somente devido a prática de menores preços nas

prateleiras. O desenvolvimento de produtos aumenta a concorrência entre

as empresas, estimulando também a inovação (GARATTINI et al., 2015).

O mercado de biossimilares, apesar de promissor, encontra desafios

para a absorção de seus produtos pelo mercado. Os menores custos ainda não

superam a desconfiança dos prescritores (ASSIS; PINTO, 2018; SCHEINBERG

et al., 2018), o que reflete não somente nas prescrições dos pacientes, como

no interesse dos sistemas de saúde em incorporar estes produtos. O

continente europeu, que apresenta o maior número de biossimilares

registrados, ainda encontra dificuldade em popularizar o uso desta categoria

(ACHA, MESTRE-FERRANDIZ, 2017). Tendo em vista esta situação, se faz

necessário o desenvolvimento de medidas de divulgação dos requisitos de

registro para desmistificar os biossimilares, assim como ocorreram para os

genéricos (CAZAP et al., 2018, DOWLAT et al., 2016).

O crescimento dos registros de produtos biossimilares se caracteriza

como fator potencial para a ascensão dos medicamentos biológicos. A

aprovação de biossimilares é altamente regulada em todos os países. Apesar

dos diferentes requisitos regulatórios, todas as agências exigem evidências

robustas para a comprovação de que não há diferenças clinicamente

significantes entre o produto similar e sua referência (KIRCHHOFF et al. 2017).

É de extrema importância que as agências regulatórias estejam preparadas,

com regulamentações claras e robustas, para comportar a inserção desta

categoria no mercado, garantindo conformidade da liberação do registro com

os requisitos necessários para atingir as especificações de qualidade,

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segurança e eficácia, equivalente a qualquer outro produto biológico (WHO,

2009).

Paralelamente, é necessário que o setor regulado consiga atender a

legislação exercida. O bom relacionamento e entendimento entre as agências

regulatórias e o setor farmacêutico permitem que cada vez mais produtos

sejam licenciados e, desta forma, passem a agregar às opções terapêuticas do

mercado (CAZAP, 2018).

2. OBJETIVOS

O primeiro objetivo deste trabalho é realizar uma análise do mercado

atual de medicamentos biológicos e biossimilares através da ótica regulatória.

Paralelamente, este trabalho também visa o desenvolvimento de guias

explicativos, destinados ao setor industrial, aos profissionais da saúde e aos

pacientes, sobre o processo de registro de medicamentos biossimilares. Estes

guias serão elaborados levando em consideração as atuais condições

regulatórias nacionais e abordará o conteúdo de forma prática e sucinta, para

que possa servir como documento de base para o desenvolvimento de um

dossiê de registro e esclarecer dúvidas quanto a esta categoria de

medicamento.

3. MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia empregada para elaboração deste trabalho consistiu na

análise crítica de artigos científicos sobre as atuais condições do sistema

regulatório para os medicamentos biológicos, bem como as perspectivas deste

mercado.

3.1. Estratégias de pesquisa

Foram utilizados artigos científicos e outros documentos obtidos a partir

de buscas nas bases de dados: Pubmed e Web of Science, as quais foram

escolhidas por apresentarem a maior quantidade e variedade de artigos. As

principais palavras-chaves utilizadas foram: “Biotherapeutics”, “Biosimilars”,

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“Biological Drugs”, “Regulatory”, “Regulatory Approval”. Textos informativos das

autoridades sanitárias, guias e a legislação vigente obtidos em sítios

eletrônicos oficiais também foram incluídos.

3.2. Critérios de inclusão

As palavras chave mais apropriadas foram “Biosimilars” e “Regulatory”,

incluídas no campo “título”, em ambas bases de dados escolhidas. Esta

combinação de busca gerou os resultados mais satisfatórios para o objetivo

deste trabalho.

Dos artigos apresentados, foram considerados aqueles publicados nos

últimos seis anos (2012 a 2018), nos idiomas inglês ou português, a fim de

garantir que a informações consultadas sejam referentes ao cenário regulatório

atual.

Dos guias oficiais, legislações e normas técnicas publicadas, foram

consideradas as últimas versões disponibilizadas. Foram incluídos os guias

aplicáveis ao Brasil, Estados Unidos e Europa, bem como os publicados pela

Organização Mundial da Saúde (OMS).

3.3. Critérios de exclusão

Foram desconsiderados os artigos que tratavam na situação regulatória

de países fora do escopo deste trabalho e aqueles que abordavam sobre uma

doença ou síndrome específica.

Foram desconsideradas as versões obsoletas de guias oficiais,

legislações e normas técnicas, e artigos publicados anteriormente a 2012.

3.4. Coleta e análise dos dados

As informações sobre os produtos registrados nas agências de vigilância

sanitária envolvidas neste trabalho, ANVISA, FDA e EMA, foram obtidas em

sítios eletrônicos oficias das bases de dados destas agências. Os filtros

aplicados durante a busca tiveram o objetivo de selecionar apenas os registros

deferidos de biossimilares, de acordo com a definição de cada instituição.

Foi realizada a busca pelas palavras-chave: “biossimilares”, “biosimilars”

e “approved” quando havia disponibilidade de preenchimento de campo para

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busca. Nas situações em que a seleção de filtros era aplicável, foram

escolhidas as categorias “biológicos”, “human”, “authorised” e “biosimilar”.

3.5. Análise qualitativa dos dados

Dados obtidos através de sítios eletrônicos oficiais sobre registros de

produtos foram extraídos e compilados utilizando planilhas em Excel, versão

2013. A mesma ferramenta foi utilizada para a produção dos gráficos presentes

neste trabalho. Os diagramas de Venn foram desenvolvidos através da

ferramenta online Venny 2.1, utilizando as listas elaboradas com as

informações obtidas das bases de dados das agências regulatórias.

3.6. Desenvolvimento dos guias

O conteúdo dos guias foi retirado do corpo de texto deste trabalho,

incluindo todas as referências aplicáveis. O modelo de layout aplicado foi

desenvolvido a partir de modelos pré-existentes no software Microsoft Word,

versão 2013. As imagens presentes foram obtidas por busca online utilizando

as palavras chave “biological medicines”, “proteins” e “medicamento

biossimilar”.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Medicamentos genéricos e produtos biossimilares

Em 1999, a Lei nº 9.787 instaurou a criação dos genéricos no Brasil. O

objetivo foi introduzir no mercado de medicamentos opções mais acessíveis à

população com segurança, eficácia e qualidade equiparáveis aos

medicamentos de referência. Segundo a legislação, o medicamento genérico

nasce a partir do conceito de intercambialidade. Esta categoria de registro

engloba os produtos que apresentam princípio ativo, forma farmacêutica,

indicações e posologias idênticos a um medicamento inovador ou de

referência, o qual é eleito pela ANVISA. O produto ainda deve apresentar

eficácia e segurança equivalentes ao seu referencial, garantindo, desta forma,

similaridade suficiente para o intercâmbio seguro entre os produtos (ANVISA,

2019).

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Os genéricos devem seguir uma regulamentação específica de

nomenclatura, rotulagem e precificação. De acordo com a lei 9787, de fevereiro

de 1999, estes não podem ostentar um nome marca, sendo apenas nomeados

seguindo a Denominação Comum Brasileira (DCB) de seu princípio ativo, ou a

Denominação Comum Internacional (DCI), quando a primeira não se aplica.

Para fins de comercialização, o medicamento genérico deve possuir preço

35% menor que o medicamento referência (ANVISA, 2019).

A prática da intercambialidade é bem estabelecida para os

medicamentos sintéticos devido menor variabilidade de seus processos de

síntese e maior reprodutibilidade. Os fármacos sintéticos são mais simples de

serem isolados e possuem mecanismos de ação melhor descritos. Desta

forma, devido a estas características, é possível garantir que o mesmo fármaco

contido em um medicamento de referência será aquele contido no genérico e

produzirá o mesmo efeito farmacológico. A bioequivalência é, portanto,

aplicável a esta natureza molecular e é a responsável pela simplificação

dos dados clínicos do dossiê de registro (ANVISA, 2018).

No âmbito dos medicamentos biológicos, no entanto, a alta variabilidade

dos processos de produção, junto a imunogenicidade dos princípios ativos, não

permite a intercambialidade entre produtos (TRIFIRÒ, MARCIANÒ,

INGRASCIOTTA, 2018). Os produtos biossimilares são, portanto, comparáveis,

porém não intercambiáveis. Sendo assim, a troca entre produtos praticada

entre medicamento referência e genérico não se aplica para

medicamento biológico comparador e biossimilar (ANVISA, 2018).

A ANVISA, bem como outras agências reguladoras internacionais, optou

por escolher o exercício de comparabilidade, com o objetivo de regulamentar a

introdução no mercado de produtos biológicos com menor custo, os quais

estão sendo cada vez mais utilizados como opções terapêuticas para doenças

crônicas, autoimunes e neoplásicas. O Brasil ainda não aceita oficialmente a

denominação “biossimilar”, para não confundir os prescritores com outras

categorias de medicamentos intercambiáveis (ASSIS & PINTO, 2018). No

entanto, a segregação dos biossimilares dificulta a familiarização dos médicos

e pacientes com estes produtos, uma vez que acabam optando pelos

medicamentos de referência, já que não está claro que a toca entre estes é

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segura (COHEN et al., 2016). Esta situação dificulta a popularização dos

biossimilares (BHATT, 2018).

O controle de preço do medicamento genérico aliado à intercambialidade

resultam na ampliação do acesso. No âmbito dos medicamentos biossimilares,

este resultado é obtido através do menor custo de produção, devido à

simplificação nas etapas iniciais de desenvolvimento do fármaco e estudos de

comprovação de segurança, eficácia e qualidade. Neste contexto, é possível

dizer que a inserção dos biossimilares no mercado tem o potencial de ampliar o

acesso aos medicamentos biológicos (COHEN et al., 2016, OLECH, 2018).

A tabela 1 compara o preço de biossimilares com seus respectivos

biológicos comparadores para produtos com Parecer Público de Avaliação do

Medicamento. Este documento é de acesso livre e descreve o racional de

avaliação do registro, portanto contém a informação do produto comparador

utilizado para cada caso. O preço máximo a ser praticado por um medicamento

também é regulado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos

(CMED).

Tabela 1. Comparação entre os preços dos produtos biossimilares com seus respectivos produtos biológicos comparadores, por unidade de apresentação, sob alíquota de ICMS de 18%, praticada nos estados AM, AP, BA, CE, MA, MG, PB, PE, PI, PR, RN, RS, SE, SP, TO e RJ (apenas para medicamentos da Portaria MS 1318/2002), de acordo com lista publicada pela CMED em 6 de junho de 2019.

Biossimilar Biológico comparador

Unidade de apresentação

Preço do Biossimilar (R$)

Preço do comparador (R$)

INSULIV R Novolin R Frasco 26,98 45,56

VISULIN N Novolin N Frasco 22,98 45,56

BASAGLAR Lantus Carpule 31,83 65,61

RENFLEXYS Remicade Frasco 1745,92 4011,63

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4.2. Registro de medicamentos biológicos no Brasil

No Brasil, a resolução RDC nº55, de 16 de dezembro de 2010, define as

vias de registro de produtos biológicos. São definidas, quatro categorias de

registro, que diferem principalmente na complexidade dos documentos

apresentados, sendo elas: registro de produto biológico, registro de produto

biológico novo, registro de produto biológico pela via de desenvolvimento

individual e registro de produto biológico pela via de comparabilidade.

A categoria de registro de produto biológico deve ser utilizada para

aqueles produtos biológicos alergênicos e para os probióticos. Este assunto de

petição exige uma documentação distinta em relação aos outros assuntos

(ANVISA, 2014). Esta informação, apesar de bem crítica, não está clara no

texto da resolução e foi divulgada no documento “Perguntas e respostas” o

qual faz parte de uma iniciativa da ANVISA de publicar as dúvidas mais

relevantes e frequentes, em formato de guia.

Em seguida, a via de registro de produto biológico novo enquadra os

produtos biológicos que não possuem registro no Brasil. O dossiê apresentado

deve ser completo, com todos os estudos de comprovação de eficácia e

segurança. Por outro lado, os registros de produtos biológicos que já possuem

registro no Brasil podem seguir por duas vias, através da via de

desenvolvimento individual ou pela via de desenvolvimento

por comparabilidade (ANVISA, 2010).

A via de desenvolvimento individual enquadra aqueles produtos cujo

princípio ativo já possui registro no país. A abordagem de comprovação de

qualidade, segurança e eficácia não é estabelecida pela comparação com outro

produto já registrado. Os dados apresentados são resultado

do desenvolvimento de metodologias próprias da empresa (ANVISA, 2014).

Por fim, a via de desenvolvimento por comparabilidade enquadra

aqueles produtos cujo princípio ativo já possui registro no país e que apresenta

similaridade com outro produto de referência tal que permite que a

comprovação de eficácia, segurança e qualidade seja realizada através de

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estudos de comparabilidade. O exercício de comparabilidade está intimamente

relacionado com a apresentação do conhecimento sobre as propriedades

bioquímicas, físico-químicas, biológicas do produto a ser registrado em

relação ao seu comparador (ANVISA, 2018).

O sistema de consulta de assuntos de petição da ANVISA, fornece os

documentos de instrução necessários para o registro de produto, dentre eles,

os aplicados aos medicamentos biológicos. Ao observar apenas os

documentos listados, nada difere entre as diferentes opções de via de registro.

Todavia, é dentro do texto da resolução RDC nº 55/10 que são apresentadas

as documentações específicas de cada via. No geral, a documentação inicial,

que caracteriza o medicamento e sua destinação, é a mesma. No entanto, a via

de desenvolvimento individual, como se trata de um princípio ativo já

registrado, os estudos clínicos de fase I e II, nem sempre são necessários e

não precisam ser comparativos, uma vez que o fármaco já é conhecido. Já a

via por comparabilidade apresenta documentação mais focada em ensaios de

comparabilidade.

Segundo a agência, cada via de registro é um assunto de petição

específico, com seu próprio código e descrição. A tabela 2 relaciona cada

código e assunto de petição com o tipo de registro de produto biológico.

Tabela 2. Relação entre os assuntos de petição praticados pela ANVISA com as vias de registro de produtos biológicos.

Código Descrição Característica do produto

1529 PRODUTO BIOLÓGICO - Registro

de Produto

Probióticos e alergênicos

1528 PRODUTO BIOLÓGICO - Registro

de Produto Novo

Princípio ativo ainda não

registrado no Brasil

10370 PRODUTO BIOLÓGICO - Registro

de Produto pela Via de

Desenvolvimento Individual

Princípio ativo já registrado

no Brasil, não foi

desenvolvido a partir de

estudos de comparabilidade.

10

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10369 PRODUTO BIOLÓGICO - Registro

de Produto pela Via de

Desenvolvimento por

Comparabilidade

Princípio ativo já registrado

no Brasil, comprovação de

eficácia e segurança a partir

de estudos de comparação

com um produto também já

registrado no país

10566 PRODUTO BIOLÓGICO - Registro

de Produto (Parceria de

Desenvolvimento Produtivo)

Idem descrição do assunto

1529, envolve um projeto de

transferência de tecnologia

10567 PRODUTO BIOLÓGICO - Registro

de Produto Novo (Parceria de

Desenvolvimento Produtivo)

Idem descrição do assunto

1528, envolve um projeto de

transferência de tecnologia

10568 PRODUTO BIOLÓGICO - Registro

de Produto Biológico pela Via de

Desenvolvimento Individual

(Parceria de Desenvolvimento

Produtivo)

Idem descrição do assunto

10370, envolve um projeto de

transferência de tecnologia

10569 PRODUTO BIOLÓGICO - Registro

de Produto pela Via de

Desenvolvimento por

Comparabilidade (Parceria de

Desenvolvimento Produtivo)

Idem descrição do assunto

10369, envolve um projeto de

transferência de tecnologia

Os quatro últimos assuntos descritos na Tabela 2 são derivados do

programa de transferência de tecnologia entre empresas públicas e privadas

através dos projetos de Parcerias de Desenvolvimento Produtivo (PDP). Esta

iniciativa do Ministério da Saúde tem como objetivo reduzir os custos de

medicamentos estratégicos para ampliar o acesso do Sistema Único de

Saúde (SUS) e fomentar a indústria farmacêutica nacional (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2019).

As parcerias envolvem o compartilhamento de tecnologia entre duas ou

mais instituições públicas ou empresas públicas e privadas e devem objetivar a

produção pública nacional. Os projetos se estendem não somente a

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medicamentos como a qualquer tecnologia estratégica, publicada em lista

oficial pelo SUS e devem ser submetidos para avaliação antes de

serem implantados (SCHEINBERG et al, 2018).

4.2.1.Legislação atual

Os registros de produtos biológicos, bem como o registro pela via de

comparabilidade, são embasados na legislação sanitária vigente. Desta forma,

todos os documentos solicitados para compor o dossiê de registro seguem

suas respectivas resoluções.

A primeira e mais abrangente, a Lei nº 6360, de 23 de setembro de

1976, juntamente com o Decreto 79.094, de 5 de janeiro de 1977, estabelece

que medicamentos, drogas, insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos,

saneantes e outros produtos estão sujeitos às normas da vigilância sanitária.

Determina que o registro junto a Agência de Vigilância Sanitária é mandatório

para a comercialização destes produtos e descreve os principais requisitos

para tal concessão, bem como as consequências do não seguimento das leis.

A resolução RDC nº47, de 8 de agosto de 2009, dispõe sobre as regras

aplicadas aos textos de bula, estabelecendo os requisitos para elaboração,

harmonização e atualização do conteúdo, assim como os processos de

publicação e disponibilização do material. Já a resolução RDC nº71, de 22 de

dezembro de 2009, aborda as regras para a rotulagem dos medicamentos,

determinando todos os critérios para o desenvolvimento dos desenhos de

embalagem primária e secundária.

No processo de criação destes materiais, tanto bula quanto rotulagem, a

harmonização de conteúdo entre estes é fundamental, uma vez que estão em

contato direto com os consumidores. Erros nestes materiais podem estar

sujeitos a penalidades graves, como recolhimento do produto.

A RDC nº305 de 14 de novembro de 2002 descreve os riscos de

contaminação por matérias-primas de origem animal, especificamente

ruminantes, quanto a Encefalopatia Espongiforme Transmissível (EET). Proíbe

a presença de matérias possivelmente contaminantes e exige a apresentação

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de uma declaração para todos os tipos de materiais, constatando que não há

risco.

Por fim, a RDC nº222 de 28 de dezembro de 2006 dispõe sobre o

sistema de peticionamento eletrônico e pagamento de taxas. Descreve o

acesso ao sistema e suas funções e determina o prazo para o pagamento das

taxas e casos de isenção. É no sistema de peticionamento eletrônico que a

Guia de Recolhimento para União deve ser gerada, junto à lista dos

documentos que deverão ser apresentados, de acordo com cada assunto de

petição.

O sistema também comporta envio de documentos eletronicamente, o

qual não é aplicável a todas as petições. Assuntos como notificações de bula

ou rotulagem e Histórico de Mudança de Produto são exemplos de petições

eletrônicas, no entanto, todos os registros, com exceção dos registros de

produtos clone, são realizados através do envio físico da documentação.

Em 2011, foi publicado, pela ANVISA, o Guia para Realização do

Exercício de Comparabilidade para Registro de Produtos Biológicos, que

estabelece a prática do exercício de comparabilidade. O guia é um texto

complementar à resolução regulamentadora da via de registro para produtos

biossimilares, RDC nº 55/2010 e esclarece os critérios de avaliação e requisitos

da via de registro.

O conhecimento da legislação sanitária é essencial para a entrega de

um dossiê robusto. A qualidade da documentação de um produto impacta na

velocidade de deferimento do registro e garante sua inserção e manutenção no

mercado. Vale ressaltar que este conceito é aplicável a todas as categorias de

registro. No entanto, quando se trata de um produto biossimilar, seu registro

depende diretamente de uma boa documentação de comparabilidade. Logo,

pode-se dizer quanto menos fragilidades regulatórias, maior a chance de

sucesso.

4.3. Registro de medicamento biossimilar no Brasil

A primeira ação ao decidir registrar um produto biológico pela via de

desenvolvimento por comparabilidade é compreender se o projeto pretendido

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realmente é contemplado para este tipo de petição. Os estudos de comparação

possuem o objetivo de reduzir a apresentação dos dados clínicos e não-

clínicos do produto (KIRCHHOFF et al., 2017), significando, desta forma, um

dossiê mais simples, agilizando o processo de registro. No entanto, pelo

entendimento da ANVISA, os estudos de comparabilidade podem ser

considerados como adicionais, uma vez que o produto biológico, mesmo que

semelhante a um produto comparador, deve apresentar os mesmos critérios de

qualidade que um produto novo. A comprovação de que o candidato possui

qualidade equivalente ao produto comparador é um argumento para redução

dos estudos clínicos e não clínicos (ANVISA, 2011).

A figura 1 apresenta o fluxograma para definição do assunto de petição,

de acordo com cada tipo de produto e intenção de registro.

Figura 1. Fluxograma para definição da categoria de registro para cada tipo de produto biológico, segundo a RDC nº55/10.

Fonte: autor.

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O fluxograma indica as vias de registro conforme denominação praticada

pela ANVISA, junto a seus códigos de petição. Uma vez definida a via de

registro, é necessário garantir o preparo de toda a documentação para o dossiê

a ser submetido.

4.4. Registro pela Via de Desenvolvimento por Comparabilidade

O desenvolvimento de um produto biossimilar depende essencialmente

da eleição de um produto biológico comparador. No Brasil, ele deve ser um

produto já registrado no país, sendo que o produto biossimilar deve apresentar

a mesma concentração e forma farmacêutica. O produto comparador será

utilizado para a realização de todos os estudos de comparação, do início ao fim

do desenvolvimento. Há flexibilidade para utilizar um produto que não possui

registro no país, neste caso, é necessária consulta prévia com a ANVISA, a fim

de alinhar os riscos do produto e compreender o racional de desenvolvimento.

Após a eleição do produto biológico comparador adequado, devem ser

realizados todos os testes comparativos para caracterização do produto

candidato a registro.

Os tipos de estudo apresentados são dependentes do tipo de produto

biossimilar que se pretende registrar. Eles devem ser consistentes, ou seja,

utilizar técnicas de detecção robustas e sensíveis, apresentar dados suficientes

para comprovar as semelhanças e utilizar amostras de vários lotes do produto

comparador. São exemplos as análises de caracterização físico-química e

biológica, no âmbito da qualidade, uso de amostras recolhidas durante o

processo de fabricação e estudos de estabilidade, incluindo a acelerada e

condições de estresse.

A figura 2 esquematiza de forma lúdica o racional para o

desenvolvimento de um biossimilar. Durante este momento, é necessário focar

na caracterização molecular do ativo, de forma a garantir que ele não possui

especificações diferentes do princípio ativo do produto comparador. A partir

desta premissa, infere-se que o risco de provocar uma ação biológica distinta

do comparador é baixo, e, portanto, os produtos são semelhantes.

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Figura 2. Comparação entre as abordagens e desenvolvimento de medicamentos biológicos novos e biossimilares.

Fonte: KIRCHHOFF el al., 2017. Adaptado.

4.5. Exercício de comparabilidade

Além dos resultados, as informações apresentadas devem ressaltar os

prontos críticos nos quais o produto possa perder a qualidade durante o

processo de fabricação e a precisão de todos os controles utilizados durante

este processo. A quantidade e tipos de estudo necessários estão intimamente

ligados à natureza do produto biossimilar e complexidade da molécula

pleiteada (ANVISA, 2011).

O princípio ativo do produto biológico comparador é, na maioria das

vezes, inacessível à empresa que está a desenvolver um produto biossimilar.

Nestes casos, permite-se a execução dos testes de comparabilidade com o

produto acabado, salvo os casos em que algum excipiente exerça interferência

significativa (KIRCHHOFF et al., 2017).

Todas as diferenças encontradas entre os produtos devem ser avaliadas

quanto ao impacto nos resultados clínicos (MARKUS et al., 2017). Dados da

bibliografia ou outros estudos podem ser utilizados como argumento para

justificar a comparabilidade entre os medicamentos. No entanto, a relevância

clínica de algumas diferenças quando desconhecida, deve ser abordada em

estudos antes ou após comercialização (ANVISA, 2011).

16

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A falta de capacidade das técnicas utilizadas para descrever as

diferenças entre os medicamentos e a falta da correlação de quaisquer

características com os requisitos de qualidade, segurança e eficácia podem

resultar no não enquadramento do registro pela via de comparabilidade

(ANVISA, 2011).

4.5.1. Análise da Qualidade

É necessário apresentar o racional das técnicas utilizadas para avaliar

estrutura, função, pureza e heterogeneidade entre os produtos comparados. O

principal objetivo é analisar todas as variantes dos produtos utilizando

diferentes propriedades físico-químicas e biológicas. As limitações das

metodologias utilizadas devem ser consideradas quanto ao exercício de

comparação e as técnicas selecionadas devem ser complementares, a fim de

sanar as fragilidades de análise (ANVISA, 2011).

4.5.2. Caracterização molecular

O mesmo se aplica para a caracterização do princípio ativo, a qual deve

englobar os detalhes sobre as estruturas primária até quaternária, modificações

pós-traducionais e graus de pureza e impurezas, além de descrever a atividade

biológica e propriedades imunoquímicas. Vale ressaltar que há diferenças

estruturais inerentes do princípio ativo purificado e estas não devem impedir o

desenvolvimento do produto biossimilar. Elas são, na verdade, o motivo pelo

qual se pratica o exercício de comparabilidade. Desta forma, todas as

diferenças devem ser descritas e avaliadas quanto ao seu impacto clínico

(ANVISA, 2011).

4.5.3. Atividade biológica

A avaliação da atividade biológica valida as descrições estruturais da

molécula analisada. Os estudos apresentados devem considerar os limites dos

testes biológicos e sua variabilidade, e apresentar dados descritivos e

quantitativos. A potência do produto deve ser expressa em unidades de

atividade e todos os testes necessitam de padronização com um outro produto,

nacional ou internacional, o qual não pode ser utilizado como produto biológico

comparador. As análises para avaliação da atividade dos anticorpos produzidos

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em resposta ao produto também fazem parte do escopo da caracterização

biológica, junto a avaliação das propriedades imunoquímicas, quando o produto

contém anticorpos (ANVISA, 2011).

4.5.4. Processo de fabricação e especificações

O processo de fabricação, por sua vez deve utilizar a tecnologia

necessária para produção de um ativo com qualidade equivalente ao

medicamento de referência. Recomenda-se o uso da mesma linhagem celular

para evitar alterações significativas que resultem em modificações na função

biológica e imunogenicidade. O tipo de célula hospedeira é uma condição para

o registro pela via de comparabilidade. Desta forma, se a célula hospedeira do

produto biossimilar for alterada, ele deverá ser registrado através da via de

desenvolvimento individual (ANVISA, 2011).

As especificações do produto biossimilar podem diferir das empregadas

para seu produto biológico de referência, uma vez que os processos de

fabricação não os mesmos. O requisito é a coerência entre as especificações e

a natureza do produto e a utilização das Boas Práticas de Fabricação (ANVISA,

2011).

4.5.5. Estudos de estabilidade

Os estudos de estabilidade devem ser conduzidos de acordo com a

RDC 50/2011, a qual é aplicável a todas as categorias de produtos biológicos.

Os ensaios de estabilidade devem avaliar as condições de estocagem do

produto biossimilar para garantir seu prazo de validade, desta forma os estudos

de estabilidade em tempo real por comparação não são obrigatórios, contudo

estes são requisitados em ocasiões excepcionais. Por outro lado, os estudos

de degradação acelerada e sob condições de estresse podem ser

apresentados como estudos comparativos, já que podem ser ferramentas úteis

para estabelecer a comparabilidade (ANVISA, 2011).

4.5.6. Estudos clínicos

Segundo a seção II, do capítulo V da RDC nº 55/10, a documentação de

registro pela Via de Desenvolvimento por Comparabilidade deve conter o

relatório completo dos estudos não-clínicos. Quanto aos estudos não-clínicos in

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vivo, devem ser apresentados os relatórios dos estudos de farmacodinâmica

para as indicações terapêuticas pretendidas e de toxicidade cumulativa (dose-

repetida) o qual deve incluir a caracterização dos parâmetros de cinética e

toxicidade. Já no âmbito dos estudos clínicos, devem ser apresentados estudos

de farmacocinética, farmacodinâmica e estudo pivotal de segurança e eficácia

clínica. Os estudos de fase IV não são obrigatórios no momento do registro,

porém devem ser submetidos a ANVISA assim que disponíveis (ANVISA,

2011).

4.6. Produtos registrados pela Via de Comparabilidade

O primeiro registro de produto biológico pela via de registro por

comparabilidade data de 25 de março de 2013. O produto Neocep

(etanercepte) pertenceu à classe dos Anti-inflamatórios e possuía indicação

para artrite reumatoide. No entanto, este registro foi cancelado a pedido da

empresa em outubro de 2013, no mesmo ano de sua publicação, por motivos

não divulgados. Em 2015, o segundo registro pela via de comparabilidade foi

deferido, habilitando o produto Remsima (infliximabe) a ser comercializado. O

mesmo se encontra válido até hoje e seu registro foi divulgado, pela própria

ANVISA, como sendo o primeiro medicamento biológico por comparabilidade

da Agência. O infliximabe tem indicação terapêutica para artrite reumatoide,

artrite psoriásica, espondilite anquilosante, psoríase, Doença de Crohn e colite

ulcerativa (ANVISA, 2015).

Desde esta aprovação, crescem cada vez mais, no Brasil, os registros

de produtos nesta categoria. A figura 3 retrata o crescimento, em quantidade,

dos registros de produtos biológicos pela via de comparabilidade, desde 2009

até o primeiro semestre de 2019.

Figura 3: Número de registros aprovados de produtos biológicos pela Via de Desenvolvimento por Comparabilidade, na ANVISA, entre 2009 até o primeiro semestre de 2019.

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Fonte: autor.

Nota-se que o número de registros aprovados pela via de

comparabilidade aumentou expressivamente desde 2013, até o ano atual,

sofrendo um crescimento abrupto a partir de 2018. Esta diferença pode estar

relacionada com a quantidade de vencimento de patentes deste período. Entre

2012 e 2019, uma quantidade de patentes que somam, aproximadamente, 60

bilhões de dólares chegaram ao fim do período de proteção, abrindo o campo

para o desenvolvimento de produtos similares (KONARA et al., 2016). É

também neste período que estão inclusos os primeiros registros de

biossimilares pelo FDA, anos depois dos primeiros registros europeus.

A figura 4 mostra um comparativo cronológico entre as agências EMA,

FDA e ANVISA quanto a aprovação de produtos pela via de comparabilidade.

Figura 4: Linha do tempo dos registros de produtos biossimilares pelas agências EMA, FDA e ANVISA, entre 2005 e 2016.

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Fonte: KONARA et al., 2016; ANVISA, 2015. Adaptado.

Assim como a categoria de biossimilares, outras como o registro pela via

de desenvolvimento individual e registro de produto biológico novo também

apresentaram curvas de crescimento no mesmo período. A figura 5 apresenta

a quantidade de registros aprovados dentre cada categoria de registro de

produto biológico, estabelecida pela RDC 55/2010.

Figura 5: Número de registros aprovados por cada via de registro de produtos biológicos, na ANVISA, entre 2009 até o primeiro semestre de 2019.

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Fonte: autor.

Observa-se que até o ano de 2012, as categorias de registro utilizadas

eram apenas duas: PRODUTO BIOLÓGICO - Registro de Produto ou

PRODUTO BIOLÓGICO - Registro de Produto Novo. A partir deste período,

outras categorias começaram a aparecer inclusive a via por comparabilidade.

Os registros pelo assunto PRODUTO BIOLÓGICO – Registro de

Produto passaram a ser cada vez menos utilizados. Fato que, provavelmente

se deve à publicação da RDC 55 que determinou para esta via apenas o

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registro dos produtos biológicos alergênicos ou probióticos (ANVISA, 2014).

Pela mesma razão, a via por desenvolvimento individual também passou a

crescer a partir de 2015, sendo que a via de registro de produto novo se

manteve predominante.

Sob a influência do mercado, os produtos biossimilares registrados

possuem um perfil de classes terapêuticas contempladas. O Brasil, que conta

com 16 produtos registrados, apresenta um perfil semelhante aos Estados

Unidos e Europa. EMA e FDA ainda que com perfis um pouco distintos,

possuem como característica comum, muitos produtos para neoplasias e

doenças que afetam o sangue.

As figuras 6, 7 e 8 descrevem como estão distribuídos os produtos

biossimilares quantos às classes terapêuticas contempladas, em cada agência

regulatória.

A classificação entre classes terapêuticas foi uniformizada de acordo

com a utilizada pela ANVISA e reflete a indicação do produto, porém em uma

divisão entre grupos maiores. As classes que apareceram para os produtos

biológicos foram: antidiabéticos, antineoplásicos, antitrombóticos, outros

produtos que atuam no sangue e hematopoese, hormônio paratireoidiano,

hormônios gonadotróficos e outros estimulantes da ovulação, anti-inflamatórios

e anti-inflamatórios antirreumáticos,

Figura 6: Porcentagem de produtos biológicos registrados como biossimilares pela EMA, por classe terapêutica, seguindo a classificação ANVISA.

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Fonte: autor.

Figura 7: Porcentagem de produtos biológicos registrados como biossimilares pelo FDA, por classe terapêutica, seguindo a classificação ANVISA.

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Fonte: autor.

Figura 8. Porcentagem de produtos biológicos registrados pela via de comparabilidade no Brasil por classe terapêutica, seguindo a classificação ANVISA.

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Page 30: FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Curso de …...medicamentos biológicos são, em sua maioria proteínas, regidas pelos , mesmos fundamentos que as proteínas que desempenham

Fonte: autor.

A partir das figuras 6, 7 e 8, é possível inferir que há uma maior

variabilidade entre as classes terapêuticas nos medicamentos biossimilares

registrados pela EMA. As maiores porcentagens pertencem às classes dos

antineoplásicos e outros produtos que atuam no sangue e hematopoese. No

entanto, as classes hormônio paratireoidiano e hormônios gonadotróficos não

estão presentes na lista do FDA ou da ANVISA.

O perfil dos produtos registrados pelo FDA (Figura 8) é pouco variado.

São observadas quatro grandes classes terapêuticas, as quais são cada vez

mais representadas por medicamentos biológicos. A classe dos antineoplásicos

apresenta a maioria dos registros, seguida dos anti-inflamatórios e produtos

que atuam no sangue e hematopoese juntos, sendo que a classe dos anti-

inflamatórios apresenta a menor porcentagem dos registros. A ausência da

classe dos antidiabéticos não é consequência da ausência do registro de

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insulinas biossimilares. O FDA entende que, como as insulinas possuem

segurança e eficácia bem conhecidos e são bem estabelecidas no mercado,

seu registro é abordado como biossimilar de menor complexidade e os

biossimilares são registrados com requisitos de medicamentos genéricos

(JOHNSON, 2009). Além das insulinas, hormônios de crescimento e heparinas

de baixo peso molecular também são categorias de moléculas inclusas nas

vias de registro simplificado (KONARA et al, 2016).

Observa-se que a maioria dos medicamentos biossimilares no Brasil

pertence à classe dos antineoplásicos. Em seguida, aparecem também em

quantidade expressiva as classes antidiabéticos e anti-inflamatórios, seguindo

o perfil internacional. Adicionalmente, foram registrados no Brasil produtos

pertencentes à classe de imunoglobulinas e imunomoduladores, ambas as

quais não estão presentes nas listas de registros internacionais comparadas.

Figura 9. Diagrama de Venn entre os produtos biológicos registrados nas Agências Sanitárias ANVISA, FDA e EMA.

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Fonte: autor.

O diagrama de Venn apresentado na Figura 9 mostra os princípios

ativos em comum entre as agências regulatórias analisadas, que foram

registrados como produtos biossimilares. Os biofármacos registrados nas três

agências fazem parte das classes terapêuticas antineoplásicos (Infliximabe,

trastuzumabe, rituximabe e bevacizumabe), anti-inflamatórios antirreumáticos

(adalimumabe) e produtos que atuam no sangue e hematopoese (filgrastim). Já

pegfilgrastim e alfaepoetina (outros produtos que atuam no sangue e

hematopoese), são comuns entre FDA e EMA, porém não foram registrados

como biossimilares pela ANVISA. Apenas entre a agência brasileira e o FDA

não há moléculas em comum, no entanto, entre ANVISA e EMA, aparecem

insulina glargina (antidiabético), etanercepte (antinflamatório), insulina lispro

(antidiabético), enoxaparina sódica (antitrombótico) e somatropina (hormônio

recombinante do crescimento humano).

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Ao aplicar a mesma análise para as empresas que possuem registros

nestas agências é possível observar quais empresas estrangeiras conseguiram

inserir os biossimilares no Brasil.

Figura 10. Diagrama de Venn entre as empresas com produtos biológicos registrados nas Agências Sanitárias ANVISA, FDA e EMA.

Fonte: autor.

O diagrama da figura 7 evidencia que quatro empresas possuem

registros licenciados nas três agências: Celltrion Healthcare Distribuição de

Produtos Farmacêutico do Brasil Ltda., Sandoz do Brasil Indústria

Farmacêutica Ltda., Samsung Bioepis BR Pharmaceutical Ltda., e Amgen

Biotecnologia do Brasil Ltda.

4.7. Adesão dos biossimilares pela classe médica

A ascensão dos biossimilares como opção terapêutica promete reduzir

os custos dos sistemas de saúde juntamente com a possibilidade de fornecer

opções terapêuticas mais seguras e eficazes, pelo uso dos medicamentos

biológicos (PETERSON et al. 2017). Mesmo apresentando custos menores,

quando comparados aos medicamentos de referência, os biossimilares ainda

não são a escolha de muitos médicos.

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Assim como ocorreu com a criação dos genéricos, a classe médica

sente a necessidade de informações claras e confiáveis sobre a segurança

atribuída a esta nova classe de medicamentos (COHEN et al., 2016). Além da

falta da prescrição, como os biossimilares não são intercambiáveis, o paciente

também não consegue acessar estes produtos no momento da dispensação. O

FDA permitiu a intercambialidade entre alguns biossimilares, desde que os

documentos fornecidos em registro evidenciem que os riscos e a eficácia do

biossimilar não são maiores que as do produto comparador. No entanto, esta

prática não é permitida em muitos estados e ainda apresenta moldes bem

restritivos (TRIFIRÒ, MARCIANÒ, INGRASCIOTTA, 2018).

A divulgação de informações sobre os biossimilares, incluindo definição,

racional de desenvolvimento e requisitos de aprovação, é essencial para

estabelecer estes produtos como uma opção segura e eficaz do mercado e,

desta forma, ser considerada pelos prescritores no momento de escolha de

tratamento (CAZAP et al., 2018). Somente assegurando que os biossimilares

produzem os mesmos efeitos terapêuticos que seus comparadores, é possível

conquistar o setor médico e efetivar a absorção destes produtos pelos sistemas

de saúde, levando a redução de custos a longo prazo (MESTRE-FERRANDIZ;

TOWSE; BERDUD, 2016).

4.8. Guias Informativos

Considerando o descrito anteriormente é necessário centralizar as

informações a respeito dos registros de medicamentos biossimilares e

aumentar a conscientização sobre este tipo de medicamento. Portanto, foram

desenvolvidos guias informativos sobre esta categoria de registro, destinados

ao produtor do medicamento, aos profissionais da saúde e ao paciente, sendo

que cada guia contém as informações pertinentes a cada público alvo.

O guia destinado ao setor industrial contém informações sobre a

documentação técnica de um produto e, desta forma, é destinado àqueles que

desejam compreender quais os requisitos para obtenção do registro. Os guias

para o profissional da saúde e para o paciente contém, com adequação de

linguagem entre cada público, informações sobre definição, uso e segurança

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dos biossimilares, sendo, portanto, destinado àqueles que irão utilizar ou

prescrever o produto.

4.8.1. Guia para o setor industrial

Anexo 1.

4.8.2. Guia para o profissional da saúde

Anexo 2.

4.8.3. Guia para o paciente

Anexo 3.

5. CONCLUSÃO

Este trabalho traz uma análise dos produtos caracterizados como

biossimilares pela ANVISA, e agências de vigilância sanitárias estrangeiras

FDA e EMA, bem como apresenta os caminhos para registro em território

nacional. Ademais, três guias propostos sobre registro de biossimilares foram

produzidos de acordo com as necessidades de cada público alvo escolhido,

sendo estes o setor industrial, os profissionais da saúde e os pacientes.

Os produtos biossimilares são, em comparação, muito novos no

mercado, o que leva a regulamentações incompletas e falta de experiência dos

órgãos responsáveis ao avaliar este tipo de produto. Todavia, tanto o Brasil,

quanto o mundo, apresentam uma curva crescente para o desenvolvimento dos

biossimilares, bem como um movimento favorável das agências de vigilância.

Considerando o disposto, é possível concluir que o sucesso dos

biossimilares depende não somente do setor regulado, mas também das

agências regulatórias. Fica sob responsabilidade das agências o

desenvolvimento de normas claras e robustas, que funcionem como uma

ferramenta de introdução de medicamentos biossimilares seguros e eficazes,

como válidas opções terapêuticas para a população. Por sua vez, o setor

regulado fica com a responsabilidade de desenvolver um produto que cumpra

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com os requisitos exigidos pela vigilância sanitária, que traga benefícios à

população e que mantenha as características se segurança, qualidade e

eficácia aprovadas em registro. Adicionalmente, é crucial que haja

transparência e divulgação de informações sobre os produtos biossimilares, a

fim de construir confiança na eficácia destes medicamentos e levar a expansão

de seu uso.

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z/parcerias-para-o-desenvolvimento-produtivo-pdp#instancias Acesso em: 28

de junho de 2019

MARKUS, R. et al., Developing the Totality of Evidence for Biosimilars:

Regulatory Considerations and Building Confidence for the Healthcare

Community. Biodrugs, v. 31, p. 175-187, jun. 2017

MESTRE-FERRANDIZ J., TOWSE A., BERDUD M., Biosimilars: How Can

Payers Get Long-Term Savings?, Pharmaco Economics, v. 24, p. 609-616,

2016

OLECH, E. Biosimilars: Rationale and current regulatory landscape, Seminars in Arthritis and Rheumatism, v. 45, p. S1-S10, abr. 2016

PETERSON, J., et al. Biosimilar Products in the Modern U.S. Health Care and

Regulatory Landscape. Journal of Managed Care & Specialty Pharmacy. v.

23, p. 1255-1259, 2017.

34

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ANEXO 1

GUIA PARA O SETOR INDUSTRIAL

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1

GUIA PARA

REGISTRO DE

PRODUTOS

BIOSSIMILARES

NO BRASIL

Este guia tem como objetivo de informar e esclarecer

as principais dúvidas sobre o registro de

medicamentos biossimilares no Brasil.

Victória Bombarda Rocha

2019

Material desenvolvido para Trabalho de Conclusão de Curso. Uso somente para este propósito. Divulgação não autorizada. 37

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1

Sumário

1. Introdução ........................................................................................................... 2

2. Via de Registro de Medicamento Biossimilar no Brasil ............................................. 2

3. Registro pela Via de Desenvolvimento por Comparabilidade ................................... 5

4. Exercício de comparabilidade .................................................................................. 7

4.1. Análise da Qualidade ........................................................................................ 7

4.2. Caracterização molecular .................................................................................. 8

4.3. Atividade biológica ............................................................................................ 8

4..4. Processo de fabricação e especificações ........................................................... 8

4.5. Estudos de estabilidade..................................................................................... 9

4.6. Estudos clínicos ................................................................................................. 9

4. Organização do dossiê de registro e submissão ........................................................ 9

5. Adesão dos biossimilares pelo mercado ................................................................. 12

6. Referências ............................................................................................................ 13

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1. Introdução

A rápida ascensão dos produtos biológicos chama a atenção para as oportunidades de mercado.

Neste contexto, os medicamentos biossimilares crescem juntamente com seus medicamentos de

referência, considerando inclusive a demanda cada vez maior pelo uso dos biológicos na terapêutica.

(WHO, 2015)

A fim de garantir o registro de um produto biológico junto à Agência de Nacional de Vigilância

Sanitária (ANVISA), é mandatório cumprir com a legislação vigente e apresentar a documentação

necessária para comprovar que o produto pleiteado é uma opção segura e eficaz para ser introduzida

no mercado.

No caso do registro de um biossimilar, a caracterização do produto candidato a registro bem

como a avaliação dos parâmetros de qualidade, é essencial para que a redução dos estudos clínicos e

não-clínicos seja suficiente para respaldar seu licenciamento. Os estudos apresentados devem

estabelecer uma comparação, através de métodos coerentes, que sejam sensíveis o suficiente para

detectar diferenças entre os produtos comparados. A comparação é uma ferramenta para comprovar

que o biossimilar é semelhante em termos de qualidade e eficácia com o seu comparador. No entanto,

o produto biossimilar deve seguir os mesmos requisitos que um produto novo no que se refere à

qualidade (ANVISA, 2011).

Este guia tem como objetivo centralizar as informações necessárias para o registro de produtos

biossimilares no Brasil e é destinado aqueles que possuem interesse em registrar produtos biológicos.

2. Via de Registro de Medicamento Biossimilar no Brasil

No Brasil, a resolução RDC nº55, de 16 de dezembro de 2010, define as vias de registro de

produtos biológicos. São definidas, quatro categorias de registro, que diferem principalmente na

complexidade dos documentos apresentados, sendo elas: registro de produto biológico, registro de

produto biológico novo, registro de produto biológico pela via de desenvolvimento individual e registro

de produto biológico pela via de comparabilidade.

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Tabela 1. Relação entre os assuntos de petição praticados pela ANVISA com as vias de registro

de produtos biológicos.

Código Descrição Característica do produto

1529 PRODUTO BIOLÓGICO - Registro de Produto Probióticos e alergênicos

1528 PRODUTO BIOLÓGICO - Registro de Produto

Novo

Princípio ativo ainda não registrado no

Brasil

10370 PRODUTO BIOLÓGICO - Registro de Produto

pela Via de Desenvolvimento Individual

Princípio ativo já registrado no Brasil, não

foi desenvolvido a partir de estudos de

comparabilidade.

10369 PRODUTO BIOLÓGICO - Registro de Produto

pela Via de Desenvolvimento por

Comparabilidade

Princípio ativo já registrado no Brasil,

comprovação de eficácia e segurança a

partir de estudos de comparação com um

produto também já registrado no país

10566 PRODUTO BIOLÓGICO - Registro de Produto

(Parceria de Desenvolvimento Produtivo)

Idem descrição do assunto 1529, envolve

um projeto de transferência de tecnologia

10567 PRODUTO BIOLÓGICO - Registro de Produto

Novo (Parceria de Desenvolvimento

Produtivo)

Idem descrição do assunto 1528, envolve

um projeto de transferência de tecnologia

10568 PRODUTO BIOLÓGICO - Registro de Produto

Biológico pela Via de Desenvolvimento

Individual (Parceria de Desenvolvimento

Produtivo)

Idem descrição do assunto 10370, envolve

um projeto de transferência de tecnologia

10569 PRODUTO BIOLÓGICO - Registro de Produto

pela Via de Desenvolvimento por

Comparabilidade (Parceria de

Desenvolvimento Produtivo)

Idem descrição do assunto 10369, envolve

um projeto de transferência de tecnologia

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No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) não reconhece o termo biossimilar

para via de registro. Os produtos registrados no país que foram desenvolvidos em comparação com um

produto biológico de referência foram registrados através da Via de Desenvolvimento por

Comparabilidade, uma das quatro vias possíveis para licenciamento de produtos biológicos.

A primeira ação ao decidir registrar um produto biológico pela via de desenvolvimento por

comparabilidade é compreender se o projeto pretendido realmente é contemplado para este tipo de

petição. Os estudos de comparação possuem o objetivo de reduzir a apresentação dos dados clínicos e

não-clínicos do produto, significando, desta forma, um dossiê mais simples, agilizando o processo de

registro. No entanto, pelo entendimento da ANVISA, os estudos de comparabilidade podem ser

considerados como adicionais, uma vez que o produto biológico, mesmo que semelhante a um produto

comparador, deve apresentar os mesmos critérios de qualidade que um produto novo. A comprovação

de que o candidato possui qualidade equivalente ao produto comparador é um argumento para redução

dos estudos clínicos e não clínicos.

A figura 1 apresenta o fluxograma para definição do assunto de petição, de acordo com cada

tipo de produto e intenção de registro.

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Figura 1. Fluxograma para definição da categoria de registro para cada tipo de produto

biológico, segundo a RDC nº55/10.

Fonte: autor.

O fluxograma indica as vias de registro conforme denominação praticada pela ANVISA, junto a

seus códigos de petição. Uma vez definida a via de registro, é necessário garantir o preparo de toda a

documentação para o dossiê a ser submetido. Mais informações sobre como organizar o dossiê vide

item 4. Organização do dossiê de registro e submissão.

3. Registro pela Via de Desenvolvimento por Comparabilidade

O desenvolvimento de um produto biossimilar depende essencialmente da eleição de um produto

biológico comparador. No Brasil, ele deve ser um produto já registrado no país, sendo que o produto

biossimilar deve apresentar a mesma concentração e forma farmacêutica. O produto comparador será

utilizado para a realização de todos os estudos de comparação, do início ao fim do desenvolvimento.

Há flexibilidade para utilizar um produto que não possui registro no país, neste caso, é necessária

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consulta prévia com a ANVISA, a fim de alinhar os riscos do produto e compreender o racional de

desenvolvimento. Após a eleição do produto biológico comparador adequado, devem ser realizados

todos os testes comparativos para caracterização do produto candidato a registro.

Os tipos de estudo apresentados são dependentes do tipo de produto biossimilar que se

pretende registrar. Eles devem ser consistentes, ou seja, utilizar técnicas de detecção robustas e

sensíveis, apresentar dados suficientes para comprovar as semelhanças e utilizar amostras de vários

lotes do produto comparador. São exemplos as análises de caracterização físico-química e biológica,

no âmbito da qualidade, uso de amostras recolhidas durante o processo de fabricação e estudos de

estabilidade, incluindo a acelerada e condições de estresse.

A figura 9 esquematiza de forma lúdica o racional para o desenvolvimento de um biossimilar.

Durante este momento, é necessário focar na caracterização molecular do ativo, de forma a garantir

que ele não possui especificações diferentes do princípio ativo do produto comparador. A partir

desta premissa, infere-se que o risco de provocar uma ação biológica distinta do comparador é

baixo, e, portanto, os produtos são semelhantes.

Figura 2. Comparação entre as abordagens e desenvolvimento de medicamentos biológicos

novos e biossimilares.

Fonte: KIRCHHOFF el al., 2017. Adaptado.

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4. Exercício de comparabilidade

Além dos resultados, as informações apresentadas devem ressaltar os prontos críticos nos quais

o produto possa perder a qualidade durante o processo de fabricação e a precisão de todos os

controles utilizados durante este processo. A quantidade e tipos de estudo necessários estão

intimamente ligados à natureza do produto biossimilar e complexidade da molécula pleiteada

(ANVISA, 2011).

O princípio ativo do produto biológico comparador é, na maioria das vezes, inacessível à empresa

que está a desenvolver um produto biossimilar. Nestes casos, permite-se a execução dos testes de

comparabilidade com o produto acabado, salvo os casos em que algum excipiente exerça

interferência significativa (KIRCHHOFF et al., 2017).

Todas as diferenças encontradas entre os produtos devem ser avaliadas quanto ao impacto nos

resultados clínicos (MARKUS et al., 2017). Dados da bibliografia ou outros estudos podem ser

utilizados como argumento para justificar a comparabilidade entre os medicamentos. No entanto, a

relevância clínica de algumas diferenças quando desconhecida, deve ser abordada em estudos antes

ou após comercialização (ANVISA, 2011).

A falta de capacidade das técnicas utilizadas para descrever as diferenças entre os medicamentos

e a falta da correlação de quaisquer características com os requisitos de qualidade, segurança e

eficácia podem resultar no não enquadramento do registro pela via de comparabilidade (ANVISA,

2011).

4.1. Análise da Qualidade

É necessário apresentar o racional das técnicas utilizadas para avaliar estrutura, função, pureza

e heterogeneidade entre os produtos comparados. O principal objetivo é analisar todas as variantes

dos produtos utilizando diferentes propriedades físico-químicas e biológicas. As limitações das

metodologias utilizadas devem ser consideradas quanto ao exercício de comparação e as técnicas

selecionadas devem ser complementares, a fim de sanar as fragilidades de análise (ANVISA, 2011).

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4.2. Caracterização molecular

O mesmo se aplica para a caracterização do princípio ativo, a qual deve englobar os detalhes

sobre as estruturas primária até quaternária, modificações pós-traducionais e graus de pureza e

impurezas, além de descrever a atividade biológica e propriedades imunoquímicas. Vale ressaltar

que há diferenças estruturais inerentes do princípio ativo purificado e estas não devem impedir o

desenvolvimento do produto biossimilar. Elas são, na verdade, o motivo pelo qual se pratica o

exercício de comparabilidade. Desta forma, todas as diferenças devem ser descritas e avaliadas

quanto ao seu impacto clínico (ANVISA, 2011).

4.3. Atividade biológica

A avaliação da atividade biológica valida as descrições estruturais da molécula analisada. Os

estudos apresentados devem considerar os limites dos testes biológicos e sua variabilidade, e

apresentar dados descritivos e quantitativos. A potência do produto deve ser expressa em unidades

de atividade e todos os testes necessitam de padronização com um outro produto, nacional ou

internacional, o qual não pode ser utilizado como produto biológico comparador. As análises para

avaliação da atividade dos anticorpos produzidos em resposta ao produto também fazem parte do

escopo da caracterização biológica, junto a avaliação das propriedades imunoquímicas, quando o

produto contém anticorpos (ANVISA, 2011).

4..4. Processo de fabricação e especificações

O processo de fabricação, por sua vez deve utilizar a tecnologia necessária para produção de um

ativo com qualidade equivalente ao medicamento de referência. Recomenda-se o uso da mesma

linhagem celular para evitar alterações significativas que resultem em modificações na função

biológica e imunogenicidade. O tipo de célula hospedeira é uma condição para o registro pela via de

comparabilidade. Desta forma, se a célula hospedeira do produto biossimilar for alterada, ele deverá

ser registrado através da via de desenvolvimento individual (ANVISA, 2011).

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As especificações do produto biossimilar podem diferir das empregadas para seu produto

biológico de referência, uma vez que os processos de fabricação não os mesmos. O requisito é a

coerência entre as especificações e a natureza do produto e a utilização das Boas Práticas de

Fabricação (ANVISA, 2011).

4.5. Estudos de estabilidade

Os estudos de estabilidade devem ser conduzidos de acordo com a RDC 50/2011, a qual é

aplicável a todas as categorias de produtos biológicos. Os ensaios de estabilidade devem avaliar as

condições de estocagem do produto biossimilar para garantir seu prazo de validade, desta forma os

estudos de estabilidade em tempo real por comparação não são obrigatórios, contudo estes são

requisitados em ocasiões excepcionais. Por outro lado, os estudos de degradação acelerada e sob

condições de estresse podem ser apresentados como estudos comparativos, já que podem ser

ferramentas úteis para estabelecer a comparabilidade (ANVISA, 2011).

4.6. Estudos clínicos

Segundo a seção II, do capítulo V da RDC nº 55/10, a documentação de registro pela Via de

Desenvolvimento por Comparabilidade deve conter o relatório completo dos estudos não-clínicos.

Quanto aos estudos não-clínicos in vivo, devem ser apresentados os relatórios dos estudos de

farmacodinâmica para as indicações terapêuticas pretendidas e de toxicidade cumulativa (dose-

repetida) o qual deve incluir a caracterização dos parâmetros de cinética e toxicidade. Já no âmbito

dos estudos clínicos, devem ser apresentados estudos de farmacocinética, farmacodinâmica e

estudo pivotal de segurança e eficácia clínica. Os estudos de fase IV não são obrigatórios no

momento do registro, porém devem ser submetidos a ANVISA assim que disponíveis (ANVISA, 2011).

4. Organização do dossiê de registro e submissão

A documentação deve ser apresentada na ordem da lista apresentada no portal online da

ANVISA, no momento do peticionamento ou através do sistema de consulta de assuntos. A tabela 1

apresenta a lista para o assunto de petição 10369 – PRODUTO BIOLÓGICO - Registro de Produto pela

Via de Desenvolvimento por Comparabilidade.

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Tabela 2. Transcrição da lista de documentos necessários para montagem do dossiê de registro

referente ao assunto de petição 10369 – PRODUTO BIOLÓGICO - Registro de Produto pela Via de

Desenvolvimento por Comparabilidade, de acordo com legislação vigente.

Relação de Documentos de Instrução

1 - Formulários de petição de registro - FP1 e FP2 devidamente preenchidos

2 - Via original do comprovante de pagamento da Taxa de Fiscalização de Vigilância

Sanitária (GRU)

3 - Cópia de Licença de funcionamento da empresa ou alvará sanitário atualizado

4 - Cópia do Certificado de Autorização de Funcionamento da Empresa ou de sua

publicação em D.O.U

5 - Cópia do Certificado de Responsabilidade Técnica – CRT

6 - Justificativa técnica para o registro do produto

7 - Cópia do CBPF, expedido pela ANVISA para todos os fabricantes do princípio ativo,

do produto biológico a granel, do produto biológico em sua embalagem primária, do

produto biológico terminado, do diluente e do adjuvante.

8 - Cópia do CBPF, emitido pela autoridade sanitária competente do país onde se

localiza o fabricante do princípio ativo, do produto biológico a granel, do produto

biológico em sua embalagem primária, do produto biológico terminado, do diluente

e do adjuvante

9 - Histórico da situação de registro em outros países, quando for o caso

10 - Cópia do comprovante do registro do país de origem do produto biológico,

emitido pela respectiva Autoridade Sanitária competente

11 - Bula do país de origem aprovada pela autoridade do país de origem e sua

tradução juramentada

12 - Código de barra (GTIN) para todas as apresentações ou mecanismos de

identificação e segurança de acordo com a legislação vigente

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13 - Cópia do compêndio nacional, internacional ou interno da empresa com a

determinação das especificações do produto biológico terminado

14 - Documento indicando nome e endereço de todos os fabricantes envolvidos na

produção do princípio ativo; do produto biológico a granel; do produto biológico em

sua embalagem primária; do produto biológico terminado, do diluente, do adjuvante

e do local de liberação do lote

15 - Informações adicionais de acordo com a legislação vigente sobre o controle de

EET, quando aplicável

16 - Modelos de bula e embalagens primária e secundária, de acordo com a legislação

vigente

17 - Plano de farmacovigilância e plano de minimização de risco

18 - Relatório de Experimentação Terapêutica

19 - Relatório de farmacovigilância

20 - Relatório do estudo de imunogenicidade

21 - Relatório Técnico do Produto

22 - 1(um) CD-ROM com a mesma informação documentada gravada em linguagem

eletrônica tipo pdf

23 - Documentação de Produção e Controle de Qualidade, conforme seções III, IV, V,

capítulo III da RDC 55/2010

Como é possível observar, na lista de documentos de instrução há tópicos específicos para a

apresentação dos documentos de comparação. Recomenda-se que o dossiê seja organizado com os dados

de comparabilidade ao final de toda a documentação, apresentando primeiro a caracterização completa

do produto candidato a registro e, em seguida, definindo como este é semelhante ao produto biológico

comparador. Esta recomendação está descrita tanto no Guia para Realização do Exercício de

Comparabilidade para Registro de Produtos biológicos, quanto no artigo 43, da seção I, do capítulo V, da

RDC nº 55/10.

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5. Adesão dos biossimilares pelo mercado

Mesmo apresentando custos menores, quando comparados aos medicamentos de referência,

os biossimilares ainda não são a escolha de muitos médicos.

Assim como ocorreu com a criação dos genéricos, a classe médica sente a necessidade de

informações claras e confiáveis sobre a segurança atribuída a esta nova classe de medicamentos (COHEN

et al., 2016). Além da falta da prescrição, como os biossimilares mão são intercambiáveis, o paciente

também não consegue acessar estes produtos no momento da dispensação.

A divulgação de informações sobre os biossimilares, incluindo definição, racional de

desenvolvimento e requisitos de aprovação, é essencial para estabelecer estes produtos como uma

opção segura e eficaz do mercado e, desta forma, ser considerada pelos prescritores, no momento de

escolha de tratamento (CAZAP et al., 2018). Somente assegurando que os biossimilares produzem os

mesmos efeitos terapêuticos que seus comparadores, é possível conquistar o setor médico e efetivar a

absorção destes produtos pelos sistemas de saúde, levando a redução de custos a longo prazo (MESTRE-

FERRANDIZ; TOWSE; BERDUD, 2016).

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6. Referências

ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Guia para Realização do Exercício de Comparabilidade

para Registro de Produtos biológicos. Brasília, 2011

ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Intercambialidade entre produtos registrados pela via

de desenvolvimento por comparabilidade (“biossimilares”) e o produto biológico comparador. Nota de

esclarecimento nº 003/2017. Brasília, 2018

ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Produtos Biológicos: Perguntas e Respostas. Brasília,

2014

CAZAP, E., et al., Global Acceptance of Biosimilars: Importance of Regulatory Consistency, Education,

and Trust. Oncologist, v. 23, p. 1188-1198, out. 2018

COHEN H. et al., Awareness, Knowledge, and Perceptions of Biosimilars Among Specialty Physicians.

Advanced Therapie, v. 33, p. 2160–2172, set. 2016

MESTRE-FERRANDIZ J., TOWSE A., BERDUD M., Biosimilars: How Can Payers Get Long-Term Savings?,

Pharmaco Economics, v. 24, p. 609-616, 2016

WHO, World Health Organization. Biotherapeutics and biosimilars. Norms and standards. Geneva. Vol.

29, No. 2, 2015

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ANEXO 2

GUIA PARA O PROFISSIONAL DA SAÚDE

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MEDICAMENTOS BIOSSIMILARES

Guia para profissionais da saúde

Material desenvolvido para

Trabalho de

Conclusão de Curso. Uso

somente para este

propósito. Divulgação não

autorizada.

Este guia tem como objetivo de informar e esclarecer as

principais dúvidas dos profissionais da saúde sobre os

medicamentos biossimilares.

Victória Bombarda Rocha

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Fonte: Biossimilares Brasil, 2019. Disponível em: https://www.biossimilaresbrasil.com.br/wp-

content/uploads/2016/10/slider-hero-1.jpg

Sumário

Medicamentos biológicos ____________________________ 3

Medicamentos Biossimilares _________________________ 4

Comparabilidade, Segurança e eficácia _______________ 6

Intercambialidade e acesso __________________________ 8

Após prescrever um biossimilar _____________________ 10

Referências ________________________________________ 11

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Medicamentos biológicos

Os medicamentos biológicos estão ganhando cada vez mais

espaço nos tratamentos de doenças crônicas, como diabetes e

distúrbios de coagulação, neoplasias, e doenças autoimunes

(WHO, 2015, EMA, 2017).

Os ganhos para a terapêutica que vieram com os

medicamentos biológicos, são, ainda, privilégio de poucos. O

complexo processo de obtenção destes produtos resulta em

medicamentos com alto valor agregado, os quais não alcançam o

poder de aquisição da maioria da população mundial. Desta

necessidade, então, surgem os biossimilares (GOMES, 2016).

Os medicamentos biossimilares são uma categoria

de medicamentos que surgiu para ampliar o acesso a

fármacos biológicos, a partir do registro pelo

exercício da comparabilidade com um medicamento

biológico de referência.

Medicamentos biológicos:

Princípio ativo: molécula biológica, em sua maioria

proteínas, produzida por um organismo vivo (célula de

mamífero, fungos ou bactérias), utilizando tecnologia de

DNA recombinante (CAZAP et al, 2017);

Exemplos: insulinas, anticorpos monoclonais e fatores de

coagulação.

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Medicamentos Biossimilares

Biossimilares são produtos biológicos semelhantes ao seu

medicamento biológico de referência, cuja patente está expirada.

A definição de idênticos não é apropriada devido à alta

complexidade e variabilidade do processo de produção

de um medicamento biológico (SCHEINBERG et al.

2018).

Variáveis do processo produtivo como pH, temperatura, quantidade

de luz e oxigênio, purificação, formulação e condições de

armazenamento, impactam diretamente nas características do

medicamento final, podendo interferir em sua ação biológica.

A figura 1 esquematiza as diferenças entre os lotes de um

mesmo princípio ativo, ilustrando as dificuldades de reproduzir

exatamente a mesma molécula biológica.

Figura 1. Esquema representando a variabilidade entre lotes de um

mesmo medicamento biológico

Fonte: European Medicine Agency, 2017

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Pág. 05

Apesar dos desafios, os biossimilares são projetados com o

objetivo de atingir as mesmas qualificações de segurança,

potência e pureza que os biológicos de origem (RUGO, 2018).

A via regulatória de um biossimilar procura ser simplificada ao

mesmo tempo que deve conter todas as exigências necessárias

para garantir segurança e eficácia comparáveis e praticáveis

(CAZAP et al., 2018).

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Comparabilidade, Segurança e eficácia

A segurança e eficácia de um medicamento biossimilar é definida

através do exercício de comparabilidade com seu medicamento

biológico de referência.

A comparação é uma ferramenta para validar que o biossimilar é

semelhante em termos de qualidade e eficácia com o seu

comparador.

Os estudos de comparação possuem o objetivo de reduzir a

apresentação dos dados clínicos e não-clínicos do produto,

significando, desta forma, um dossiê mais simples, agilizando o

processo de registro.

Sendo assim, é possível concluir que devido a prática

do exercício de comparabilidade, os medicamentos

biossimilares são aprovados com dados de segurança e

eficácia suficientes. O registro sanitário destes produtos

é uma comprovação de que há segurança e vigilância

quanto ao efeito farmacológico destes produtos.

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Figura 2. Comparação entre as abordagens e desenvolvimento

de medicamentos biológicos novos e biossimilares.

Fonte: KIRCHHOFF el al., 2017. Adaptado.

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Intercambialidade e acesso

A mesma intercambiabilidade praticada entre os medicamentos sintéticos, referência, genérico e similar, não é praticada entre medicamentos biológicos e biossimilares.

A alta variabilidade dos processos de produção do princípio ativo

biológicos não permite a intercambialidade entre produtos.

Os produtos biossimilares são, comparáveis, porém não

intercambiáveis. (ANVISA, 2018)

A prática da intercambialidade é bem estabelecida para os

medicamentos sintéticos, porque eles são mais simples de serem

isolados e possuem mecanismos de ação melhor descritos. A

bioequivalência é, portanto, aplicável a esta natureza molecular e é a

responsável pela simplificação dos dados clínicos do dossiê de

registro. (ANVISA, 2018)

No entanto, a escolha de prescrever um medicamento biossimilar

pode ser mais vantajosa para o paciente devido ao menor preço

praticado, pelo mesmo efeito terapêutico.

Ao considerar um biossimilar, no momento da prescrição, aumenta-

se o acesso ao tratamento, uma vez que o paciente não terá a

possibilidade de escolher a opção de menor custo no momento da

dispensação.

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A tabela 1 compara o preço de biossimilares com seus

respectivos biológicos comparadores. Os dados foram retirados da

tabela de preços da Câmara de Regulação do Mercado de

Medicamentos (CMED), a qual determina preço máximo a ser

praticado por um medicamento.

Tabela 1. Comparação entre os preços dos produtos

biossimilares com seus respectivos produtos biológicos

comparadores, por unidade de apresentação, sob alíquota de

ICMS de 18%, praticada nos estados AM, AP, BA, CE, MA, MG,

PB, PE, PI, PR, RN, RS, SE, SP, TO e RJ (apenas para

medicamentos da Portaria MS 1318/2002), de acordo com lista

publicada pela CMED em 6 de junho de 2019.

Biossimilar Biológico comparador

Unidade de apresentação

Preço do Biossimilar (R$)

Preço do comparador (R$)

Insuliv R Novolin R Frasco 26,98 45,56

Visulin N Novolin N Frasco 22,98 45,56

Basaglar Lantus Carpule 31,83 65,61

Renflexys Remicade Frasco 1745,92 4011,63

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Prescrevendo um biossimilar

Fonte: Biored Brasil, 2019. Disponível em:

https://www.bioredbrasil.com.br/wp-

content/uploads/2019/03/PG_10_biossimilares_NET_OK.jpg

Assim como qualquer medicamento, os biossimilares

também podem causar efeitos adversos e podem não alcançar as

respostas terapêuticas desejadas. Mantenha contato com seu

paciente para acompanhar seu tratamento e fazer os ajustes

á i

Ao optar pelo uso de um biossimilar, informe seu paciente

a respeito desta categoria de medicamentos. Desta forma, ele

obterá todas as informações que precisa de uma fonte segura e

t á fi t d t t t

A bula de um medicamento biossimilar contém as

informações sobre seu medicamento de referência. Como a

ANVISA são aceitou a denominação “biossimilar”, o termo

“medicamento comparador” e medicamento registrado pela via

de comparabilidade serão utilizados para referenciar biossimilar

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Referências

ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Intercambialidade entre

produtos registrados pela via de desenvolvimento por comparabilidade

(“biossimilares”) e o produto biológico comparador. Nota de esclarecimento nº

003/2017. Brasília, 2018

CAZAP E., et al. Global Acceptance of Biosimilars: Importance of Regulatory

Consistency, Education, and Trust. The Oncologist, v 23, p. 1188–1198, 2018

European Medicines Agency (EMA). Medicamentos Biossilimares na EU. Guia

informativo para profissionais de saúde. Londres, 2017

KIRCHHOFF C. F. et al. Biosimilars: Key regulatory considerations and similarity

assessment tools. Biotechnology and Bioengineering. v. 114, p. 2696-2705, dez.

2017.

RUGO H., RIFKIN R. M., DECLERCK P., BAIR A. H., MORGAN G., Demystifying

biosimilars: development, regulation and clinical use. Future Oncology. Edição

especial, p. 1479 – 1495, nov. 2018

WHO, World Health Organization. Biotherapeutics and biosimilars. Norms and

standards. Geneva. Vol. 29, No. 2, 2015

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ANEXO 3

GUIA PARA O PACIENTE

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Fonte: Biossimilares Brasil, 2019. Disponível em: https://www.biossimilaresbrasil.com.br/wp-content/uploads/2016/10/slider-hero-1.jpg

Medicamentos biossimilares O que são medicamentos biológicos?

Medicamentos biológicos possuem, como princípio ativo, substâncias produzidas por organismos vivos, como células, bactérias e fungos. Os exemplos mais famosos de medicamentos biológicos são os anticorpos monoclonais e as insulinas.

Biossimilares

São classificados como medicamentos biossimilares aqueles medicamentos biológicos que possuem como princípio ativo, uma molécula muito semelhante à de outro medicamento biológico já registrado.

As moléculas de origem biológica utilizadas como medicamentos são, em sua maioria, grandes e complexas. Desta forma, devido à variabilidade biológica, não é possível replicar uma mesma molécula de forma idêntica.

No entanto, é possível produzir uma molécula com semelhança suficiente para reproduzir o mesmo efeito terapêutico.

GUIA PARA O PACIENTE

Este guia tem como objetivo esclarecer suas principais

perguntas, para que você se sinta mais seguro quando usar um medicamento biossimilar.

Via Bombarda Rocha, 2019

Material desenvolvido para Trabalho de Conclusão de Curso. Uso somente para este propósito. Divulgação não autorizada.

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Fonte: Biored Brasil, 2019. Disponível em: https://www.bioredbrasil.com.br/wp-content/uploads/2019/03/PG_10_biossimilares_NET_O

Font

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Caso meu médico não tenha prescrito um biossimilar, posso comprar um do mesmo princípio ativo direto na farmácia?

Não. Os medicamentos biossimilares não são intercambiáveis com os medicamentos biológicos de referência. Isto quer dizer que não é permitida a compra ou o uso de um biossimilar se seu médico lhe prescreveu um medicamento biológico.

Caso deseje realizar esta substituição, converse com seu médico. Juntos, vocês devem avaliar as melhores opções para seu tratamento.

Como sei que o medicamento é um biossimilar?

A bula de seu medicamento biossimilar fará referência ao medicamento comparador, de referência. Caso tenha dificuldade de encontrar esta informação, pergunte ao seu médico ou farmacêutico.

Biossimilares são genéricos?

Não. Genéricos são medicamentos cujos princípios ativos são moléculas de origem sintética. Moléculas sintéticas tem menor complexidade que as moléculas de origem biológica, por esta razão é possível reproduzir a mesma substância.

Biossimilares são seguros?

Sim. Os medicamentos biossimilares passam por avaliações de comparabilidade com os medicamentos biológicos de referência para atestar que possuem segurança e eficácia.

Bem como qualquer outro medicamento, os biossimilares também são avaliados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) antes e após serem lançados no mercado.

Referências

Biossimilares Brasil. O que são medicamentos biossimilares? Disponível em: https://www.biossimilaresbrasil.com.br/no-brasil-e-no-mundo/regulamentacao-no-brasil/ Acesso em 26 de julho de 2019

European Medicines Agency (EMA). Medicamentos Biossilimares na EU. Guia informativo para profissionais de saúde. Londres, 2017

WHO, World Health Organization. Biotherapeutics and biosimilars. Norms and standards. Geneva. Vol. 29, No. 2, 2015

Vale sempre lembrar que no caso de qualquer dúvida, deve-se

procurar um médico ou farmacêutico, para maiores

informações.

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