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RELATÓRIO FINAL APLICAÇÃO DO SISTEMA BIM NO USO AVANÇADO DE TECNOLOGIA DIGITAL EM HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL Universidade Presbiteriana Mackenzie Faculdade de Arquitetura e Urbanismo PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA: FINEP São Paulo Julho / 2013

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Projeto de Pesquisa Caverna Digital - aplicação de programas BIM em projetos do programa Minha Casa Minha Vida. Fabiane Sakai participou como pesquisadora e produziu este relatório final.

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RELATÓRIO FINAL

APLICAÇÃO DO SISTEMA BIM NO USO AVANÇADO DE TECNOLOGIA DIGITAL EM

HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA: FINEP

São Paulo

Julho / 2013

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Fabiane Sakai Ito

Arquitetura e Urbanismo – UPM

Aplicação do Sistema BIM no Uso Avançado de Tecnologia Digital em

Habitação de Interesse Social

Relatório Final apresentado à

Universidade Presbiteriana Mackenzie,

Programa Institucional de Bolsas de

Iniciação Científica, sob orientação do

Prof. Dr. Eduardo Sampaio Nardelli, co-

orientação do Dr. João Tales, e

coordenação do Prof. Dr. Eduardo

Sampaio Nardelli.

São Paulo

Julho de 2012

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Sumário

1. Resumo ...................................................................................................................... 04

2. Introdução .................................................................................................................. 05

3. Metodologia ................................................................................................................ 13

4. Resultados e Discussão ............................................................................................. 15

5. Considerações Finais ................................................................................................. 26

6. Referências bibliográficas .......................................................................................... 28

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1- Resumo

Com um déficit habitacional de mais de 5,5 milhões domicílios no Brasil, o governo federal

lançou em 2009 o programa de moradia popular "Minha Casa, Minha Vida" como

investimento no setor. No entanto, a habitação de interesse social no Brasil tem sido

produzida sem preocupação com aspectos de sustentabilidade, conforto ambiental e

eficiência energética, que muito poderiam contribuir para a melhoria da qualidade de vida

desta população. A moradia popular no Brasil apresenta problemas graves de desconforto

térmico e deficiência de iluminação e ventilação naturais e a consequência disso é o

aumento desnecessário do consumo de energia com iluminação e ventilação artificiais.

Diante desse quadro, este trabalho aborda algumas técnicas sustentáveis para a habitação

de interesse social, através da produção de uma biblioteca de componentes modelados no

sistema BIM, elaborado no programa Autodesk Revit, como complemento à biblioteca Minha

Casa, Minha Vida desenvolvida pelo MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior.

Palavras-chave: HIS; sustentabilidade; BIM; Revit; Minha Casa, Minha Vida.

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2 – Introdução

Os últimos anos são marcados pelo crescimento demográfico nos grandes centros urbanos,

gerando um problema de demanda habitacional. O Estado tenta combater o mesmo com

investimentos na construção de conjuntos habitacionais de interesse social, no entanto,

esses projetos não se utilizam de aspectos de sustentabilidade e levam a impactos

ambientais, econômicos e sociais para seus usuários e a sociedade. A sustentabilidade está

diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico e material sem agredir o meio

ambiente, utilizando-se de recursos naturais de uma forma inteligente para que eles se

mantenham no futuro; na construção, busca-se soluções para a produção de edificações

mais eficientes energeticamente, com adequadas condições de conforto ambiental e que

produzam menos impactos adversos no ambiente em seu processo de produção e uso.

Quando se analisa pela ótica das Habitações de Interesse Social (HIS), se torna mais

relevante a sustentabilidade, devido ao fato do setor sempre demandar novas tecnologias e

métodos de diminuir os custos, não só da construção, mas também operação e manutenção,

como consequência da impossibilidade financeira do segmento ao qual são destinadas tais

habitações. (EWERLING; GALLINA, 2012)

Regiao 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010

Norte 2,29 3,34 3,47 3,7 3,85 2,86 2,09

Nordeste 2,27 2,08 2,4 2,16 1,83 1,31 1,07

Sul 3,25 4,07 3,45 2,48 1,38 1,43 0,87

Sudeste 2,14 3,06 2,67 2 1,77 1,62 1,05

Centro Oeste 3,41 5,36 5,6 4,05 3,01 2,39 1,9

TAXA GEOMÉTRICA DE CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO NAS GRANDES REGIÕES

Tabela 1. Taxa de crescimento da população nas grandes regiões do Brasil. Fonte: IBGE,

Censo demográfico 1950/2010.

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Região 1970 1980 1991 2000

Belem 4,85 4,3 2,7 2,82

Belo Horizonte 6,25 4,67 2,5 2,4

Curitiba 5,04 5,8 3 3,17

Fortaleza 4,87 4,3 3,4 2,43

Porto Alegre 4,19 3,84 2,6 1,7

Recife 3,93 2,73 1,9 1,5

Rio de Janeiro 3,62 2,45 1 1,15

Salvador 4,77 4,39 3,2 2,15

Sao Paulo 5,53 4,45 1,9 1,63

TAXA GEOMÉTRICA DE CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO NAS REGIÕES

METROPOLITANAS

Tabela 2. Taxa de crescimento da população nas regiões metropolitanas do Brasil. Fonte:

IBGE, Censo demográfico 1950/2010.

Tabela 3. Demanda habitacional brasileira estratificada por salários mínimos. Fonte: Caixa

Econômica Federal (2011)

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Tabela 4. Demanda habitacional brasileira por Estado. Fonte: Caixa Econômica Federal

(2011)

“A perspectiva da sustentabilidade aplicada à produção do ambiente construído tem buscado

o equilíbrio entre os fatores ambientais, sociais e econômicos, através da abordagem de

alguns aspectos, tais como a otimização do uso de recursos naturais, notadamente de

materiais e componentes construtivos, a eficiência energética, a economia de água e a

melhoria da qualidade de vida. John et al (2001) identificaram como principais critérios de

sustentabilidade para a construção civil a abordagem da qualidade ambiental dos edifícios

com base em seu ciclo de vida, a seleção de materiais com menor impacto ambiental (eco-

eficientes), a redução do consumo de recursos naturais através da redução do desperdício e

da gestão de resíduos, o uso racional da água e de energia, e o aumento da durabilidade e

da qualidade das instalações prediais e de infra-estrutura. A aplicação desses critérios

requer uma mudança nas práticas de projeto e construção com base numa mudança de

valores, onde o respeito à cultura e ao ambiente natural locais possam ser incorporados às

concepções de projeto e na produção dos empreendimentos. A vantagem dessa perspectiva

é a de atingir mais eficazmente as metas de redução da informalidade nos processos;

envolvimento e comprometimento da cadeia de fornecedores e produtos com os aspectos de

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eficiência e controle de impactos ambientais; aumento da produtividade com menor uso de

insumos; inovação tecnológica e educação social.” (Assis et al, 2008)

De acordo com Assis et al (2006), a maioria das edificações desperdiça energia e aumenta

seus custos operacionais por não considerar, desde o projeto arquitetônico, sua construção,

até a utilização final, os critérios de desempenho e de produção construtiva derivados da

dimensão bioclimática em arquitetura, bem como materiais, equipamentos e tecnologia

construtiva vinculados à eficiência energética. Alguns aspectos bioclimáticos a serem

observados são: a correta orientação solar e aos ventos dominantes do local; ventilação

cruzada dentro da habitação; iluminação natural dos ambientes, principalmente daqueles

mais utilizados durante o dia; materiais de construção adequados ao clima local (melhor

desempenho térmico); uso de fontes renováveis de energia, como a solar.

Imagem1. Aspectos da arquitetura bioclimática. Fonte: Guia prático da eficiência energética

(2010)

Uma vez considerados no projeto os aspectos bioclimáticos e recursos da arquitetura

passiva, entra em foco outras estratégias de aproveitamento energético na edificação.

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As edificações no Brasil são responsáveis por cerca de 14% do consumo total da energia

produzida no país e 46% do consumo total de energia elétrica, considerando-se os setores

residencial e comercial. Ainda segundo Assis et al (2006), o Brasil é um dos países com

mais horas de luz/dia (fotoperíodo) do mundo, portanto, um projeto que priorize o

aproveitamento da luz natural é um ponto que auxilia na redução do consumo de energia

elétrica. Depois da crise de 2001, os maiores gastos de energia passaram a se concentrar

no aquecimento de água, ligado ao uso do chuveiro elétrico, em que somente ele responde

por 25% do consumo em uma residência. A fim de reverter esse quadro, indica-se o uso do

aquecimento solar para que se possa resolver ou mitigar esse problema. Dessa forma, cada

residência “produz” a sua energia, aliviando o sistema nacional de produção de energia,

além de haver a redução do gasto de energia. As estratégias bioclimáticas somadas ao uso

de energia solar para aquecimento de água resultam em uma economia estimada de energia

elétrica da ordem de 47% em relação à habitação convencional de mesma área. A

implantação de aquecedores solares de água faz parte da atual política habitacional do

Governo Federal. Nela consta que os sistemas de aquecimento solar deverão ser incluídos

obrigatoriamente nos projetos de habitações unifamiliares (casas) e opcionalmente nos

projetos de habitações multifamiliares localizados em todas as regiões do país.

SETOR CONSUMO

INDÚSTRIA 35,80%

RESIDÊNCIAS 9,40%

SERVIÇOS 4,40%

TRANSPORTES 30%

AGROPECUÁRIA 4,10%

SETOR ENERGÉTICO 9,10%

USO NÃO ENERGÉTICO 7,20%

CONSUMO DE ENERGIA NO BRASIL EM 2011

Tabela 5. Consumo de Energia no Brasil. Fonte: Ministério de Minas e Energia (2011)

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ESPECIFICAÇÃOACUMULADO ANO ATÉ

ABRIL/2013

TOTAL 100%

RESIDENCIAL 27,40%

INDUSTRIAL 38,90%

COMERCIAL 18,50%

OUTROS SETORES 15,10%

CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL

Tabela 6. Consumo de Energia Elétrica no Brasil. Fonte: Ministério de Minas e Energia

(2011)

Outro ponto importante é o uso racional da água por meio do aproveitamento do recurso. No

consumo de água em uma habitação de baixa renda, estima-se que 31% dos 150 litros per

capta é utilizada na bacia sanitária e no tanque. É possível ser feita a captação da água da

chuva através do telhado, por meio de calhas, ou então utilizando grelhas/grades instaladas

no solo. Além de economia, o armazenamento em cisternas ajuda na redução de

alagamentos e inundações.

Imagem 2. Esquema de reuso de água. Fonte: Assis et al, (2008)

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BIM: Building Information Modeling

O sistema BIM tem capacidade de controlar todo o ciclo de vida do projeto de um edifício em

tempo real, permitindo o armazenamento e o compartilhamento dos dados referentes ao

projeto em um único modelo. Ele possibilita maior controle sobre os projetos, atualizando

automaticamente os desen os perante uais uer modi icaç es em elementos de pro eto,

reduzindo desperdícios, erros e omiss es, proporciona a previsibilidade de custos e

desempen o, consentindo maior liberdade e tempo para a e perimentação de alternativas

de projeto e aprimora os resultados finais.

Imagem 3. Esquema de funcionamento da plataforma BIM. Fonte: Revista AU (2011)

Em 2008 o Governo Federal lançou a Política de Desenvolvimento Produtivo, com

coordenação do MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Na

Política para o Setor da Construção Civil estabeleceu-se o Programa de Fortalecimento da

Competitividade, com o objetivo de ampliar e modernizar o setor da construção civil para

reduzir o déficit habitacional e o mercado de obras de infraestrutura, com a meta de

aumentar a produtividade em 50% até 2015. Dentre as propostas, uma ação descrita é a

intensificação do uso de tecnologias de informação, cuja medida é a implantação de normas

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BIM e Classificação de componentes da construção. A partir disso, o MDIC desenvolveu

uma biblioteca de componentes para ser utilizado no Revit, programa BIM da Autodesk.

Essa biblioteca é formada por elementos construtivos de estrutura, vedação, caixilharia,

equipamentos, acessórios e representação gráfica.

“O pro eto ob etiva a di usão da tecnologia BIM nos setores da construção civil do país. A

tecnologia BIM tem sido apontada como um forte fator de incremento da produtividade, pois

leva à redução de erros e prazos de projeto, além de trazer inúmeros benefícios para a

gestão e posterior manutenção das edificações. Normas como estas já são utilizadas em

outros países e tem comprovada sua efetividade. Entretanto, não existem no Brasil. A

proposta de tradução e adaptação das normas BIM ao quadro brasileiro permitirá a sua

adoção futura como padrão nos projetos governamentais. Deste modo, o poder de compra

do Estado pode contribuir para sua disseminação, à semelhança do que vem ocorrendo em

outros países. Uma parte importante da proposta vincula-se ao desenvolvimento de um

sistema de classificação de informação da construção, que inclui produtos e componentes

da edificação, inexistente no Brasil e essencial para os sistemas propostos. A edição de uma

Norma Brasileira sobre este ponto, que posteriormente poderá ser exigida nos sistemas e

projetos governamentais, é um facilitador importante para a melhoria de desempenho de

pro etos e do gerenciamento de obras.” (Retirado do site Construir Desenvolvimento, do

MDIC, em abril/2012)

Diante do que foi abordado, tem-se como objetivo da pesquisa relacionar o BIM à

sustentabilidade, através do desenvolvimento de uma biblioteca de famílias paramétricas no

Revit como complemento à biblioteca existente da Minha Casa, Minha Vida, elaborada pelo

MDIC, com a proposta de introdução de técnicas ligadas à sustentabilidade na construção

para a habitação de interesse social.

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3 – Metodologia

Para o desenvolvimento dos componentes da biblioteca BIM, partiu-se da pesquisa e análise

de estudos de casos de habitações sociais sustentáveis, suas técnicas empregadas e

materiais; a partir disso foram elencados os objetos a serem modelados, como complemento

à biblioteca Minha Casa, Minha Vida, desenvolvida pelo MDIC – Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Foi estudada a biblioteca de famílias do Autodesk Revit existente do MDIC e desenvolvida a

modelagem de uma habitação padrão do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida de

37m². Aos materiais de todos os componentes foram adicionadas propriedades térmicas

para futuras simulações termoacústicas. Em seguida, foram selecionadas duas experiências

voltada para a habitação de interesse social.

A primeira delas é a Casa Acqua, projeto do arquiteto Rodrigo Mindlin Loeb apresentado

durante a Feicon 2009. O projeto considerou ações de sustentabilidade, tanto nos processos

produtivos, quanto no desenvolvimento de produtos que reduzem os impactos ambientais,

tendo como foco a ação integrada com vistas à eficiência. A habitação de 40m², dividida em

quarto, sala, cozinha e banheiro, foi concebida para demonstrar, na prática, que é possível

implementar soluções sustentáveis em projetos para a baixa renda. Entre as soluções

sustentáveis adotadas, estão: um sistema de reutilização da água de chuva, formado por

solo permeável e uma cisterna; o aquecedor solar para chuveiro; a telha de fibra de celulose;

e tijolos de solo-cimento, que conferem rapidez à execução dos fechamentos devido à

modulação dimensional das peças e não utilizam argamassas de assentamento, reduzindo

os custos. O próprio teto inclinado e com fendas foi projetado para aproveitar a luz e o ar

naturais na residência. Já na parte interna foram utilizados produtos “amigáveis com o meio

ambiente”, como a placa cimentícia de madeira mineralizada, que não precisa de

acabamento, e o revestimento de algumas paredes com embalagem Tetra Pak reciclada. A

casa ainda possui vaso sanitário com caixa acoplada e descarga de duplo fluxo, que

reduzem o gasto com água, além de lâmpadas fluorescentes. A construção da Casa Aqua

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levaria entre 30 a 60 dias para ser concluída com o custo de R$45.000,00. De acordo com

os desenvolvedores da casa, a construção com as soluções ecoeficientes fica apenas R$ 5

mil mais cara.

Imagem 4. Corte Transversal da Casa Acqua. Fonte: Piniweb (2010).

A segunda experiência é a do Projeto Casa Alvorada, que iniciou-se em 1997. Esse projeto

de habitação de interesse social teve como base princípios de permacultura e integrou, na

concepção da moradia, conceitos de conforto ambiental (térmico, acústico e luminoso),

eficiência energética e de análise de impacto ambiental de materiais construtivos, tais como

cerâmicos e madeira. Protótipos foram construídos, permitindo o acompanhamento dos

custos e a avaliação pós-ocupação. O projeto inclui dois dormitórios, sala e cozinha

conjugadas, banheiro, área de serviço e uma área de acesso coberta por pérgula. As

técnicas de sustentabilidade empregadas foram: sistema de captação e aproveitamento da

água de chuva, sistema de tratamento das águas, instalação de um coletor solar

experimental para aquecimento de água, aquecedor com fonte de biomassa, lâmpada

fluorescente compacta e tijolo de solo-cimento ou de resíduo de papel (tijolo de termoargila).

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Imagem 5. Casa Alvorada. Fonte: EWERLING; GALLINA (2012).

3 – Resultados e discussão

A maior parte das estratégias bioclimáticas para alcançar uma construção sustentável

depende das decisões tomadas na fase de desenho do projeto. No entanto, é possível

aumentar o desempenho energético através de algumas soluções como a escolha dos

materiais. A partir do estudo de materiais ecologicamente corretos, foram listados os

seguintes componentes para a modelagem:

1. Coletor solar térmico:

Sistema composto por um reservatório térmico e coletor solar. Representa uma redução de

até 70% no consumo de energia elétrica; economia de 30% comparada ao chuveiro elétrico.

Foram modelados os elementos principais do sistema, separados, o reservatório térmico

com corpo interno em aço inox, revestimento externo em alumínio e isolante térmico em

EPS, e o coletor solar, um quadro externo em perfil de alumínio, aletas coletoras em

alumínio, radiador interno em cobre, isolamento térmico em lã de rocha e fechamento

superior em vidro de 3 mm. O coletor solar deve ser inserido sobre um hospedeiro do tipo

cobertura, ajustando-se à sua inclinação de projeto. Muitas vezes essa inclinação não é

adequado para a melhor captação dos raios solares, por isso o componente modelado

possui o parâmetro de regulagem da angulação do painel.

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Imagem 6. Família de coletor solar – perspectiva,corte e parâmetro de inclinação.

A família do coletor solar se encai a na categoria do tipo “com base no tel ado”, com o

parâmetro que define o ângulo de inclinação em relação ao sol. O reservatório térmico

possui parâmetros de dimensão, permitindo a alteração de seu diâmetro e comprimento, de

acordo com a escolha do produto do fabricante.

Imagem 7. Coletor térmico modelado – parâmetros, corte e perspectiva.

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Imagem. Criação de tipos de família do reservatório térmico com as diferentes dimensões de

mercado (marca GET)

2. Painel fotovoltaico:

Dispositivo utilizado para converter a energia da luz do Sol em energia elétrica. Sua

modelagem consiste no mesmo processo do coletor solar, diferenciando na constituição das

suas camadas: vidro de alta transparência e temperado, acetato de etil vinila (EVA), células

solares, filme de fluoreto de polivinila (Tedlar) e um marco de alumínio. Apenas foi modelado

o painel fotovoltaico, sem o sistema de fiação elétrica, que deverá ser especificado no

projeto.

Imagem 8. Painel fotovoltaico – Perspectiva e corte

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3. Cisterna:

Sistema de reutilização da água de chuva, através da armazenagem de água coletada em

áreas de telhado. Após tratada, essa água pode ser utilizada para fins não potáveis, como

lavagem de pisos e carros, irrigação de jardins e descarga de vasos sanitários. Esta família

inclui apenas a parte da cisterna enterrada, envolta de terra compactada e a tampa de

inspeção, deve ser inserida no nível da laje sobre o solo natural. As tubulações e locação

dos demais equipamentos do sistema devem ser feitas nos projetos específicos. Foram

configurados os parâmetros de dimensões, podendo ser ajustadas de acordo com o manual

do fabricante, que indica o diâmetro, altura, altura da escavação e largura do talude que

define a área da terra compactada ao redor da cisterna.

Imagem 9. Cisterna – perspectiva e corte.

4. Telha de fibra de celulose:

Feita a partir de fibras vegetais recicladas e impermeabilizada, é leve, prática de instalar e

muito resistente, de ondulação regular e resistentes à ação dos raios UV. São usadas fibras

vegetais de madeiras, como pinho e eucalipto, e de não-madeiras, como sisal, bananeira e

coco, empregadas no reforço dos materiais cimentícios. Também podem ser usadas na

fabricação fibras de papel reciclado. É possível a modelagem do perfil da telha no editor de

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famílias, mas por ser uma família de sistema, a configuração do material e conjunto da

cobertura se dá apenas pelo arquivo de template, ou seja, para utilizar esta família é preciso

trabalhar o projeto no template da biblioteca.

Imagem 10. Telha de fibra de celulose – perspectiva e planta.

5. Telha Tetra Pak:

Trata-se de um novo tipo de cobertura para construção civil feita de papel, alumínio e

plástico reciclados, tem como matéria-prima caixas de leite longa-vida (Tetra Pak®).

Composta por seis camadas de proteção, sendo: polietileno (proteção contra a umidade

externa), papel (estrutura e resistência), polietileno (aderência entre as camadas internas),

alumínio (evita a passagem de oxigênio, luz e microrganismos) e mais duas camadas de

polietileno. “Os resultados e perimentais, mesmo realizados sob condiç es adversas,

apontam as embalagens Tetra Pak® como boas refletoras da radiação solar e, também,

como uma alternativa prática e de baixo custo para ser utilizada como isolante térmico por

amílias de bai a renda.” (TRINDADE; MARTINI, 2009). A modelagem é a mesma que a

telha de fibra de celulose, diferenciando-se pela definição do material.

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Imagem 11. Telha Tetra Pak – perspectiva e planta.

6. Lâmpadas fluorescentes compactas:

Consideradas lâmpadas de baixo consumo, poupam cerca de 80% de energia em

comparação com as incandescentes e duram oito vezes mais que as tradicionais. Esta

família deve ser inserida como componente na planta de forro e está configurada também

para funcionar como iluminação artificial na renderização.

LÂMPADA

CONVENCIONAL A

SUBSTITUIR

LÂMPADA DE BAIXO CONSUMO

COM A MESMA INTENSIDADE

DE LUZ

ECONOMIA EM kWh

DURANTE A VIDA DE UMA

LÂMPADA

25W 5W 160

40W 9W 248

60W 11W 392

75W 15W 480

100W 20W 640

Tabela 7. Comparação de consumo de energia de lâmpada fluorescente e convencional.

Fonte: Guia Prático da Eficiência Energética (2010).

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Foram modelados dois tamanhos de lâmpada padrões, uma de 127V, com 15cm, e outra de

220V, com 18cm.

Imagem 12. Lâmpada fluorescente compacta. Fonte: Decorwatts.

Imagem 13. Lâmpada fluorescente compacta modelada.

7. Bloco de concreto celular:

O concreto celular autoclavado é produzido a partir da mistura de cimento, areia, cal e pó de

alumínio,com propriedade expansora que forma células de ar e torna o material mais leve e

com desempenho maior em relação a conforto térmico e acústico, de 8 a 10 vezes mais

eficiente do que os blocos convencionais. Seu tamanho superior possibilita ganhos de

produtividade e dispensa revestimento de regularização. Foram modeladas dois tipos de

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famílias, como componentes para inserção independente, e como família de sistema de

parede com a espessura e o material correspondente.

Imagem 14. Bloco de concreto celular – componentes soltos.

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Imagem 15. Parede de alvenaria de concreto celular.

8. Tijolo solo cimento:

O solo-cimento é um material alternativo de baixo custo, obtido pela mistura de solo, água e

um pouco de cimento. Apresenta boas condições de conforto, comparáveis às construções

de alvenaria tradicionais. É um material de boa resistência e perfeita impermeabilidade,

resistindo ao desgaste do tempo e à umidade.A aplicação do chapisco, emboço e reboco

são dispensáveis, devido ao acabamento liso das paredes monolíticas, em virtude da

perfeição das faces (paredes) prensadas e a impermeabilidade do material. Confere-se

rapidez na execução dos fechamentos devido à modulação dimensional das peças e não

utilizam argamassas de assentamento, reduzindo os custos. Foram modeladas dois tipos de

famílias, como componentes soltos para inserção independente, e como parede com a

espessura e o material correspondente

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Imagem 16: blocos de solo cimento – bloco inteiro, meio tijolo e canaleta.

Imagem 17: Parede de alvenaria de solo-cimento

9. Placa cimentícia de madeira mineralizada:

Para ambientes internos, é constituída de fibra longa de madeira quimicamente tratada, que

a torna incombustível e imputrescível, misturada com cimento e prensada. É um material

leve e resistente, evita a propagação de ruídos e resiste as altas temperaturas; de fácil

instalação, dispensando mão-de-obra especializada e reduzindo custos de montagem e

acabamento. Modelada como parede, com espessura e material correspondentes.

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Imagem 18. Parede de placa cimentícia de madeira mineralizada.

Estes componentes foram aplicados à habitação padrão de 37m², anteriormente modelada

com as famílias da biblioteca do MDIC. Assim, a utilização desses componentes se dá não

apenas a novos projetos como também aos existentes através da edição por substituição

dos componentes do modelo, e permite a comparação do desempenho energético através

de simulações termoacústicas, uma vez que foram configurados todos os materiais dos

elementos inclusive os dos componentes da biblioteca do MDIC, o uso dessa ferramenta

pode influenciar nas decisões finais de projeto.

Imagem 19. Inserção das famílias modeladas na habitação padrão.

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Imagem 20. Teste de funcionamento do componente de lâmpada fluorescente compacta em

renderização no modo de ambiente interno com iluminação artificial.

4 – Considerações finais

Este trabalho buscou utilizar os conceitos de arquitetura sustentável na habitação de

interesse social, utilizando materiais ecológicos para minimizar os custos e impactos ao

meio-ambiente. Vale lembrar que durante o processo de desenho da arquitetura, devem ser

considerados primeiramente os aspectos bioclimáticos e as técnicas solares passivas,

aquelas que se utilizam das condições climáticas do local para atingir os níveis desejados de

conforto ambiental e eficiência energética. A tecnologia digital é introduzida como ferramenta

de suporte para o gerenciamento de projetos, seu desenvolvimento é importante mas não

deve deixar de considerar as necessidades sociais e ambientais.

A disponibilização do material desenvolvido não só vem como uma alternativa às bibliotecas

existentes no mercado, como também tem a intenção de incentivar a conscientização do

profissional quanto à importância da sustentabilidade na construção e o conforto dos

usuários na edificação. Este trabalho representa um passo para o prosseguimento da

produção de mais componentes ligados ao tema, além de contribuir ao bom

desenvolvimento da difusão da tecnologia BIM nos setores da construção civil no Brasil,

adaptado às condições locais. O uso desse sistema traz um incremento à produtividade, ao

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reduzir erros e prazos de projeto, e benefícios para a gestão e posterior manutenção das

edificações. Sua introdução ao quadro brasileiro pode acarretar em um processo de

produção de projetos com mais qualidade e redução de custos, e deste modo, ajudar a

combater o déficit habitacional do país de maneira mais sustentável.

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7 – Referências Bibliográficas

- ASSIS, Eleonora Sad; PEREIRA, Elizabeth Marques Duarte; VIEIRA, Roberta Gonçalves

de Souza; DINIZ, Antônia Sônia Alves Cardoso Diniz. Habitação social e eficiência

energética: um protótipo para o clima de Belo Horizonte. In: Anais do II congresso

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